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Departamento de Artes e Design DESIGN EMOCIONAL & ENVELHECIMENTO: UM ESTUDO SOBRE AÇÕES PROJETUAIS INOVADORAS PARA A PROMOÇÃO DE BEM-ESTAR PARA MAIORES DE 60 ANOS. Aluna: Mariana Peixoto Orientadora: Vera Damazio Colaboração: Marília Ceccon Introdução Este trabalho investiga o potencial do campo conhecido como Design Emocional em contribuir para a promoção do envelhecimento saudável e teve como base dois pressupostos: o primeiro é o de que a população brasileira está envelhecendo e vivendo cada vez mais, mas suas demandas não estão atendidas como deveriam pelo Design. Como bem observa a antropóloga Guita Grin (2000), está ocorrendo um processo de transformação em relação ao público de mais de 60 anos e “em vez de momentos de perdas, a velhice passou a ser considerada um momento de lazer, de novas experiências e projetos". As bengalas, asilos e pictogramas entre outros produtos e serviços que dominam o universo material destinado a este público, contudo, ainda dão relevo às perdas e aspectos negativos desta fase da vida, que merecia ser celebrada, mais do que lamentada. O segundo pressuposto, confirmado em nossos estudos, é que produtos e serviços mediam práticas sociais, ações cotidianas, relações interpessoais, experiências e ao mesmo tempo que refletem, podem também moldar nosso comportamento e atitudes (DAMAZIO, 2014; CSIKSZENTMIHALYI, 1995). Esta visão é reforçada pelo designer Jorge Frascara (2010) quando atenta que todas as ações desempenhadas pelos designers carregam uma dimensão simbólica. Concluímos, assim, que para mudar a visão da sociedade sobre envelhecimento, é preciso redesenhar a dimensão simbólica de tudo o que diz respeito ao envelhecimento associado à ideia negativa. Neste contexto, o Design apresenta-se como uma poderosa ferramenta de transformação social. Em fases anteriores deste estudo, foram identificadas seis importantes perspectivas para o campo do Design Emocional (CECCON, 2009; SANTOS, 2010): 1. Sociabilidade, que inclui produtos que tem como efeito facilitar e harmonizar o convívio, promover e fortalecer relações sociais, entre outras ações relacionadas ao bem viver em uma sociedade plural.

DESIGN EMOCIONAL & ENVELHECIMENTO: UM ESTUDO SOBRE AÇÕES ... · O projeto Conectando Gerações surgiu em 2014, a partir da proposta do engenheiro de softwares Mórris Litvak e

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DESIGN EMOCIONAL & ENVELHECIMENTO:

UM ESTUDO SOBRE AÇÕES PROJETUAIS INOVADORAS PARA A

PROMOÇÃO DE BEM-ESTAR PARA MAIORES DE 60 ANOS.

Aluna: Mariana Peixoto

Orientadora: Vera Damazio

Colaboração: Marília Ceccon

Introdução

Este trabalho investiga o potencial do campo conhecido como Design Emocional em

contribuir para a promoção do envelhecimento saudável e teve como base dois pressupostos:

o primeiro é o de que a população brasileira está envelhecendo e vivendo cada vez mais, mas

suas demandas não estão atendidas como deveriam pelo Design. Como bem observa a

antropóloga Guita Grin (2000), está ocorrendo um processo de transformação em relação ao

público de mais de 60 anos e “em vez de momentos de perdas, a velhice passou a ser

considerada “um momento de lazer, de novas experiências e projetos". As bengalas, asilos e

pictogramas entre outros produtos e serviços que dominam o universo material destinado a

este público, contudo, ainda dão relevo às perdas e aspectos negativos desta fase da vida, que

merecia ser celebrada, mais do que lamentada. O segundo pressuposto, confirmado em nossos

estudos, é que produtos e serviços mediam práticas sociais, ações cotidianas, relações

interpessoais, experiências e ao mesmo tempo que refletem, podem também moldar nosso

comportamento e atitudes (DAMAZIO, 2014; CSIKSZENTMIHALYI, 1995). Esta visão é

reforçada pelo designer Jorge Frascara (2010) quando atenta que todas as ações

desempenhadas pelos designers carregam uma dimensão simbólica. Concluímos, assim, que

para mudar a visão da sociedade sobre envelhecimento, é preciso redesenhar a dimensão

simbólica de tudo o que diz respeito ao envelhecimento associado à ideia negativa.

Neste contexto, o Design apresenta-se como uma poderosa ferramenta de

transformação social. Em fases anteriores deste estudo, foram identificadas seis importantes

perspectivas para o campo do Design Emocional (CECCON, 2009; SANTOS, 2010):

1. Sociabilidade, que inclui produtos que tem como efeito facilitar e harmonizar o

convívio, promover e fortalecer relações sociais, entre outras ações relacionadas ao

bem viver em uma sociedade plural.

Departamento de Artes e Design

2. Cidadania, que inclui produtos que tem como efeito promover a civilidade, a

responsabilidade social, ações humanitárias, mudança de comportamentos e atitudes,

entre outras ações em prol do bem coletivo.

3. Humor, que inclui produtos engraçados, surpreendentes e que tem como efeito

tornar a rotina mais divertida.

4. Identidade, que inclui produtos que tem como efeito promover a autonomia, a

independência e a auto expressão.

5. Bem Estar, que inclui produtos que tem como efeito reduzir o stress e promover

estados de calma;

6. Auto Estima, que inclui produtos que tem como efeito promover a avaliação

positiva de si mesmo e o autocuidado.

O presente trabalho foi norteado (1) pelas perspectivas acima apresentadas; (2) pelo

“Estudo para identificação de demandas e geração de ideias de novos produtos e serviços

‘para’ e com idosos moradores da Gávea”, conduzido pelo Laboratório de Design, Memória

e Emoção da PUC-Rio (LabMemo) e no qual foram realizadas visitas à casa de nove idosos

moradores da Gávea, no Rio de Janeiro e (3) pelos resultados da dissertação de mestrado de

Marília Ceccon, intitulada “Design & Envelhecimento: Técnicas para identificação de

demandas dos maiores de 60 anos” (CECCON, 2015), Em sua dissertação, Ceccon (2015)

apresenta dados do envelhecimento, alertando que em pouca décadas teremos mais pessoas

idosas do que jovens no Brasil e questiona a forma como o Design vai tratar dessa inédita e

nova realidade. É fácil supor que se tratada de forma positiva, esta realidade trará benefícios à

sociedade e vice-versa.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontam um crescimento

exponencial da população idosa no país. Isso demonstra que estamos envelhecendo, e rápido.

Estima-se que em 2025 o país terá mais de 32 milhões de idosos. O Design pode contribuir

com a identificação e o desenvolvimento de ações projetuais para atender as demandas desse

crescente grupo, assim como para a mudança de visão sobre o envelhecimento.

Os estudos que nortearam este trabalho trouxeram subsídios para identificar demandas

dos maiores de 60 anos e perceber que grande parte delas não é de ordem mecânica. Uma

vez identificadas essas demandas, foi construído o protótipo “PUC-Rio mais de 50, serviço de

educação continuada para maiores de 50 anos desenvolvido pelo Laboratório de Design

Memória e Emoção da PUC-Rio (LabMemo) em parceria com a Coordenação Central de

Extensão (CCE) e apoio do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE). Este

projeto contemplou, sob a forma de atividades variadas, as demandas identificadas no “Estudo

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para identificação de demandas e geração de Ideias de novos produtos e serviços ‘para’ e

com idosos moradores da Gávea” acima citado. Os detalhes da criação e conceituação do

projeto serão expostos na última fase deste relatório.

Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é colaborar com subsídios metodológicos para o

desenvolvimento de produtos destinados ao envelhecimento saudável e à promoção de

qualidade de vida da população com mais de 60 anos. Seus objetivos específicos são:

1. Localizar produtos com foco no envelhecimento saudável e nas perspectivas do

design emocional, acima apresentadas;

2. Identificar os atributos e efeitos dos produtos localizados;

3. Identificar perspectivas do design emocional próprias para o desenvolvimento de

produtos e serviços destinados ao envelhecimento saudável e bem viver do público

maior de 60 anos;

4. Colaborar com processo de prototipagem de design de serviço com vistas nos

achados da pesquisa;

5. Organizar dados e elaborar texto de apresentação dos resultados.

Metodologia

Este trabalho foi realizado em quatro fases.

1ª fase e 2a fase

A primeira fase foi dedicada ao levantamento de produtos, serviços e outras soluções

derivadas de processos projetuais caracterizadas pela promoção de qualidade de vida para a

população de maiores de 60 anos. Ela foi realizada a partir de acompanhamento do noticiário

e consultas na internet, visando inovações sociais e tecnológicas. A segunda fase foi dedicada

à identificação dos atributos e efeitos dos produtos localizados. Ela foi realizada a partir de

fichamento, observação e análise do material levantado na 1ª fase e entrevistas especialmente

com pessoas maiores de 60 anos.

Foram levantados cerca de 80 produtos, serviços e outras soluções derivadas de

processos projetuais organizados conforme ilustrado a seguir:

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1. Sociabilidade:

Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que

tem por fim facilitar e harmonizar o convívio, promover e fortalecer relações sociais, entre

outras ações relacionadas ao bem viver em uma sociedade plural.

“Conectando Gerações”

O projeto Conectando Gerações surgiu em 2014, a partir da proposta do engenheiro de

softwares Mórris Litvak e teve como objetivo aproximar gerações, promover a troca de

experiências e a sociabilidade de idosos solitários. Ele propõe que jovens conversem uma vez

por semana, durante 30 minutos via web cam com idosos que moram sozinhos em casa ou em

lares de idosos.1

"Documentário Ciber-Seniors"

Cyber-Seniors é um documentário e foi desenvolvido a partir de um projeto escolar de

duas irmãs, Macaulee e Kascha Cassaday, em 2009. Ele apresenta os episódios da jornada

extraordinária de um grupo de idosos aprendendo a usar ferramentas do computador e da

internet com a ajuda de mentores jovens. Ao longo do documentário pode-se perceber o

desenvolvimento de novos vínculos entre os voluntários do projeto e os maiores de 60 anos e

como um aprende com o outro por meio da socialização.2

1 Veja mais https://queminova.catracalivre.com.br/sem-categoria/site-conecta-jovens-a-idosos-solitarios-para-

trocar-experiencias/ 2 Veja mais em: https://www.youtube.com/watch?v=bemDf6wuHJ0

Departamento de Artes e Design

2. Cidadania:

Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que

tem como fim promover a civilidade, a responsabilidade social, ações humanitárias, entre

outras ações em prol do bem coletivo.

"Providence Mount St. Vincent"

Iniciativa do lar para idosos Providence Mount St. Vincent, em Seattle, que visa trazer

o carinho e a alegria das crianças e, ao mesmo tempo, desenvolver nelas respeito e admiração

pelos moradores da casa. As crianças até cinco anos interagem diariamente com os idosos, em

atividades ministradas pelas professoras do Intergenerational Learning Center (programa

responsável pelos cuidados com as crianças). O projeto é interessante, pois além de evitar o

isolamento e o sentimento de inutilidade, não incomuns entre o público idoso, traz aos

participantes um sentido de responsabilidade e participação da educação das crianças. 3

3 Veja mais em: http://www.ideafixa.com/e-a-creche-que-fica-no-mesmo-lugar-que-um-lar-para-idosos/

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"Minneapolis Recreation Development Inc"

Iniciativa do aposentado de 70 anos, Allan Law, dedicada a ajudar moradores de rua

levando sanduíches todas as noites há mais de 15 anos. A instituição, Minneapolis Recreation

Development Inc, recebe doações e voluntários que ajudam Allan a servir a comunidade

marginal de Minneapolis, levando suprimentos, necessidades básicas e encorajamento. 4

3. Humor:

Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que

tem como fim divertir, surpreender e tornar a rotina mais divertida.

“Lata 65”

O Lata 65 foi criado pelos organizadores do Woolfest (festival de arte urbana da cidade de

Corvilhã, em Portugal) e teve como objetivo trazer a arte de rua como mais uma opção de

lazer para o público idoso. O grupo oferece oficinas para ensinar técnicas da arte de rua, como

o grafitti, para os maiores de 60 anos. 5

4 Veja mais em: http://www.hypeness.com.br/2015/04/o-aposentado-que-esta-ha-15-anos-distribuindo-

sanduiches-para-moradores-de-rua-da-sua-cidade/ 5 Veja mais em: http://www.hypeness.com.br/2015/05/workshops-de-street-art-pra-idosos-em-portugal/

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“Calendário de filmes famosos”

O calendário criado pelo Asilo Contilia em Essen, na Alemanha, traz imagens de seus

moradores, recriando cenas famosas e emblemáticas do cinema, como Titantic e Rocky. O

Calendário Asilo Contilia ganhou repercussão internacional, promovendo uma visão de que

em qualquer idade é possível ser livre, manter o espírito jovem e se divertir com a vida. 6

4. Identidade:

Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que

tem como fim promover a autonomia, a independência e a auto expressão.

“Hogeweyk"

Hogeweyk é o nome da vila projetada em Weesp, nos Países Baixos, para idosos

especialmente com doenças degenerativas, como Alzheimer, e que tem como objetivo

promover a independência, a privacidade e a autonomia de seus moradores. Dentro da vila

que tem supermercado, restaurante e áreas de lazer, trabalham médicos, enfermeiros e

6 Veja mais em: http://www.buzzfeed.com/ryanhatesthis/a-german-retirement-community-did-a-calendar-

where-seniors-a

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especialistas da saúde que cuidam de mais de 100 residentes. Eles não usam uniformes e

assumem funções como atendentes de loja, vizinhos, entre outras profissões pertinentes à

rotina de uma cidade comum. Os idosos transitam livremente pela vila, fazem suas compras

no supermercado e saem para jantar em restaurantes em um espaço projetado para dar mais

relevo à qualidade de vida e rotina de seus moradores do que à doença. 7

“Objects from another age”

Criados pela designer francesa Eva Rielland, os Objects from another age trabalham

conceitos de objetos antigos com novas tecnologias com o objetivo de aproximar o idoso de

modernidades que ele talvez receie em conhecer. Os objetos possuem apenas uma

funcionalidade cada, como, por exemplo, o tablet de bate-papo, que na parte de trás vem com

um espelho. A ideia é que a pessoa maior de 60 anos olhe para o tablet e veja a si mesma ou a

outra pessoa. Esses objetos visam o entendimento do idoso e sua autonomia no uso de objetos

tecnológicos, por meio de sua semelhança com outros produtos conhecidos. 8

7 Veja mais em: http://awebic.com/cultura/asilo-e-coisa-do-passado-conheca-a-vila-holandesa-projetada-para-

idosos-com-alzheimer/#.VXeawMJbGsc.facebook 8 Veja mais em : http://www.fastcodesign.com/1664664/simple-genius-intuitive-tech-devices-for-the-elderly#1

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"Google Accessibility"

O Google Accessibility View foi uma iniciativa criada por Eduardo Battiston para o

concurso Creative Sandbox do Google que beneficia cadeirantes, idosos e qualquer pessoa

que tenha dificuldade de locomoção. Ele tem como objetivo mapear calçadas das cidades,

criando uma street view do ponto de vista de cadeirantes para facilitar a locomoção de pessoas

com mobilidades reduzidas nas ruas da cidade. O novo serviço contará com a colaboração de

todos, cadeirantes ou não, que utilizarão tags para marcar os pontos críticos das cidades em

tempo real. A partir dessas tags, o Google Maps determina as melhores rotas a pé. 9

5. Bem Estar:

Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que reduzem

o stress, promovem estados de calma e o cuidado com a saúde.

9 Veja mais em: www.youtube.com/watch?v=OO4L1lpbuu8

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“TeleHelp”

Trata-se de um serviço de teleassistência que funciona através de um conjunto que

inclui um aparelho instalado na residência do idoso e um dispositivo em forma de colar ou

pulseira com botão de emergência sem fio e à prova d’água. Caso o idoso necessite de ajuda,

ele pressiona o botão para avisar a uma central de atendimento 24h, que por sua vez

comunicará o ocorrido a pessoas pré-selecionadas pelo idoso (familiares, amigos ou vizinhos)

e também a profissionais especializados. Esse serviço já é utilizado por milhares de idosos em

mais de 19 países e tem contribuído para sua independência e segurança. 10

“Medicine Management System”

10

Veja mais em http://telehelp.com.br/

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O Medicine Management System foi criado por Ying-Lin Chien, Yue-Hua e Li Wei-

Yin Su como uma maneira de lembrar os idosos de tomar seus medicamentos. Trata-se de um

sistema composto por compartimentos para os comprimidos e cápsulas mediado por um tablet

por meio do qual é possível escanear o código de barras dos medicamentos para cadastrá-los

e os médicos podem transmitir informações sobre os remédios para o paciente. 11

6. Auto Estima:

Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que

promovem a avaliação positiva de si mesmo e o autocuidado.

“Série de desenhos Newent House”

Este projeto da artista Alice Moloney reune ilustrações em aquarela feitas durante sua

estadia de uma semana no lar para idosos Newent House, em Londres. Os desenhos retratam o

dia-a-dia dessas pessoas, suas relações e identidades. Em entrevista para o site de notícias

Huffington Post, Moloney revelou que suas intenções mudaram ao longo de sua visita,

chegando à conclusão de que a série tinha se tornado muito mais um retrato do vigor dos

residentes, do que simplesmente um estudo de como eles interagiam entre si. 12

11

Veja mais em: http://www.yankodesign.com/2009/12/04/managing-medicines/ 12

Veja mais em: http://www.huffingtonpost.com/2014/02/21/alice-

moloney_n_4818251.html?utm_hp_ref=pt&src=sp&comm_ref=false

Departamento de Artes e Design

"Speaking Exchange"

É uma dinâmica criada pela FCB Brasil para a rede de escolas de idiomas CNA,

voltada para a prática da conversação e que possibilita o encontro de estudantes brasileiros e

idosos americanos que vivem em asilos, por meio de vídeo chat. O diálogo começa a partir de

perguntas sugeridas pelos professores e prossegue de forma espontânea com o surgimento de

novos assuntos e do interesse mútuo. Além de aprimorar o inglês dos alunos, o encontro

favorece a criação de vínculos afetivos entre os jovens e seus interlocutores idosos.

Importante ressaltar ainda que, mais do que um sentido de utilidade, o projeto promove a

autoestima de seus participantes. 13

3a fase

O objetivo da terceira fase foi identificar perspectivas do Design Emocional próprias

para o desenvolvimento de produtos e serviços destinados ao envelhecimento saudável e bem

viver do público maior de 60 anos. Ela foi norteada pelos achados da dissertação de Marília

Ceccon acima apresentada (CECCON, 2015) e se deu a partir do cruzamento dos dados

13

Veja mais em: http://educacao.estadao.com.br/blogs/ponto-edu/alunos-brasileiros-aprendem-ingles-com-

idosos-de-asilo-nos-estados-unidos/

Departamento de Artes e Design

levantados na segunda fase. Os exemplos acima apresentados foram reorganizados de acordo

com as perspectivas do design emocional renovadas com foco no envelhecimento saudável e a

qualidade de vida do público maior de 60 anos. As perspectivas descritas a seguir foram

ilustradas com passagens de depoimentos do público com mais de 60 anos que participou do

estudo.

Design para a renovação da sociabilidade

No estudo realizado junto ao publico com mais de 60 anos, foi percebida a valorização

da convivência com outras pessoas, seja em família ou com amigos. Há também receptividade

para novas relações e amizades, para que possam ampliar seus círculos sociais, e porque

muitos se sentem sozinhos sem ter alguém para conversar:

"Minhas amigas estão morrendo e é difícil conhecer gente nesta idade. Meu filho e a nora

ligam, mas é coisa rápida, só pra saber como estou. Eu entendo. Eles tem a vida deles (...)

Gosto de conversar, mas passo semanas sem ter ninguém para dar um bom dia."

Design para a renovação da sociabilidade inclui ações, produtos e serviços que facilitem e

favoreçam a convivência, o fortalecimento de vínculos afetivos, a ampliação e renovação das

interações sociais dos maiores de 60 anos.

Design para a revitalização da cidadania

Foi percebido o ressentimento dos idosos ao serem percebidos como "pesos para a

sociedade". Os entrevistados participam ou gostariam de participar mais ativamente da vida

social, política, econômica e cultural do país e do mundo, trabalhando com remuneração ou

como voluntários. Alguns demonstraram temor em se sentirem inúteis:

"A velhice pode trazer um sentimento de inutilidade e de não servir mais. Gosto de colaborar.

Sempre que posso participo de uma causa, ajudo alguém. Tenho 70 anos e muita vida pela

frente! Não dá pra ficar parado…”

Design para a revitalização da cidadania inclui ações, produtos e serviços que criem

oportunidades de trabalho, seja ele remunerado ou voluntário, para os maiores de 60 anos.

Esta perspectiva favorece formas e meios de promover sua participação social, engajamento

cívico e pleno exercício de seus direitos e deveres, revitalizando a visão e identificação

própria desse público.

Departamento de Artes e Design

Design para humor

Foi percebida a importância que os entrevistados dão à atitude de encarar a vida com

leveza e otimismo. Constatou-se que saber rir de si mesmo e de situações adversas resultaram

em um "excelente remédio" para se contornar obstáculos e vivenciar momentos memoráveis:

"Eu penso assim: tudo na vida tem um lado bom. Mas pra ver o lado bom, tem que parar de

ver o lado ruim. Eu penso como aquela música que diz que é melhor ser alegre que ser triste,

alegria é a melhor coisa que existe!"

Design para o humor inclui ações, produtos e serviços que tornem a rotina dos maiores

de 60 anos mais divertida e criam oportunidades de entretenimento, diversão e descontração.

Design para afirmação da identidade

Foi percebida a importância dada pelos entrevistados de continuar a ser o que sempre

foram e de manter suas identidades. Eles expressaram, também, a vontade de experimentar

coisas novas e de fazer o que gostariam de ter feito e que não tiveram a oportunidade quando

jovens. Um bom exemplo foi:

"Todo mundo quer mandar no velho. Mas, ora bolas, quem sabe de mim, sou eu! Chegou a

hora de fazer o que eu sempre quis fazer (...) Não quero morar com minha filha. Quero morar

onde sempre morei, quero aprender a tocar piano, quero pular de paraquedas e quero ver quem

vai me segurar!"

Design para a afirmação da identidade inclui ações, produtos e serviços que promovam

a independência, a autonomia, a segurança e oportunidades para do público maior de 60 anos

de ser e fazer o que ele bem desejar.

Design para o bem-estar

Foi percebida que o estado de bem-estar se relaciona diretamente com a manutenção

tanto física quanto mental e espiritual. Alguns entrevistados contaram que a consciência da

existência de "algo maior" veio com a idade:

"Estava desenganado e me curei inexplicavelmente. Hoje vejo a vida por outro ângulo e busco

formas de vivenciar essa ligação com o que chamam de Deus... Comer bem, respirar bem,

rezar, andar são meios de estar bem.”

Departamento de Artes e Design

Design para o bem-estar inclui ações, produtos e serviços que promovam estados e

experiências de relaxamento, calma, solitude e o cuidado mais amplo com a saúde para os

maiores de 60 anos.

Design para o autocuidado

Foi percebida a importância dada pelos entrevistados a três ações relacionadas às

mudanças resultantes da idade: tomar consciência, aceitar e se adaptar. Existe risco à

integridade física, mental e financeira ao não se dar conta dessas questões, como revelado em:

“Demorei a perceber que não podia mais fazer certas coisas. Precisei levar muito tombo, bater

de carro e ser roubado pra perceber que tinha mudado. Parar de dirigir foi o pior, mas aceitei,

me adaptei, acostumei e hoje está tudo ótimo.”

Design para o autocuidado inclui ações, produtos e serviços que favorecem a

conscientização, a aceitação e principalmente a adaptação dos idosos às suas novas condições

físicas e mentais.

Design para o aprendizado

Foi percebida a ocorrência das expressões "quero me aprofundar", "quero conhecer

melhor", "faço aulas de", "gostaria de saber mais” e "tenho interesse em” repetidas vezes nas

entrevistas. Isso demonstra a relevância do desejo de aprender e ganhar conhecimento dos

maiores de 60 anos para manter o "espírito jovem":

"Ser velho é um sentimento, não tem nada a ver com corpo. Tenho 78 anos, mas sou mais

jovem do que muito garoto de 20. Tenho espírito jovem! Gosto de aprender, de mudar de

opinião, de trocar minhas ideias por outras melhores. Velho é quem acha que sabe tudo e não

tem mais nada a aprender..."

Design para o aprendizado inclui ações, produtos e serviços que promovem a troca, a

aquisição e o aprofundamento de saberes dos maiores de 60 anos. Pode-se ver aqui a semente

do projeto “PUC-Rio Mais de 50”.

4ª fase

A quarta fase se deu a partir do levantamento de grupos de pesquisa e metodologias

projetuais com foco na promoção do envelhecimento saudável. Esta fase deu-se, também, a

partir de acompanhamento do projeto "PUC-Rio Mais de 50" e incluiu a metodologia

designada "design participativo", centrada no usuário e que abrange métodos de pesquisa

Departamento de Artes e Design

qualitativa como observação participante, grupos focais e visitas etnográficas. O programa de

educação continuada surgiu da junção entre as demandas encontradas no “Estudo para

identificação de demandas e geração de Ideias de novos produtos e serviços ‘para’ e com

idosos moradores da Gávea”, o interesse da Coordenação Central de Extensão (CCE) em

desenvolver projetos para esse público e pesquisas em artigos e livros que apontavam a

educação continuada como um dos meios de promover o envelhecimento saudável.

Com o objetivo de atender as demandas encontradas na pesquisa de campo citada

acima, o projeto promove cursos, oficinas, eventos exploratórios e colaborativos de educação

continuada. As atividades que são voltadas para o público com mais de 50 anos são oferecidas

por alunos de pós-graduação e professores da universidade. O nome, "PUC-Rio mais de 50"

foi escolhido devido à desconfiança do público em relação a expressões como “terceira

idade”, “melhor idade”, gerontolescência, entre outros considerados estranhos e

discriminativos. Ser um "maior de 50" foi bem mais aceito do que “maiores de 60”, tal como

revelado pelos participantes do programa posteriormente, por faze-los acreditar – em

comunhão com os conteúdos dos cursos - que não se tratava de programa que iria infantiliza-

los ou trata-los como doentes e ultrapassados.

A primeira edição do projeto foi realizada entre os meses de setembro e dezembro de

2014, em parceira com a Coordenação Central de Extensão (CCE) e com o Centro de Estudo

e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE). As perspectivas do Design emocional voltadas para o

público maior de 60 anos – apresentadas na terceira fase desse relatório – , principalmente a

do Design para o aprendizado e a do Design para a renovação da sociabilidade, foram

aplicadas e nortearam as atividades do projeto. Foram realizados sete cursos, divididos em

cinco domínios baseados nas áreas de interesse identificadas ao longo da pesquisa de campo

com idosos moradores da Gávea. É importante destacar que esses cursos foram gratuitos, e

que o número de matriculados foi maior que o esperado, mesmo com pouca divulgação.

Segue abaixo as motivações para a criação dos domínios e as atividades oferecidas na

primeira edição:

Atualidades e Conhecimentos Gerais: esse domínio surgiu a partir da perspectiva do

Design para afirmação da identidade. Os temas tratados são relacionados ao País, a assuntos

tratados no noticiário e novos lugares e culturas. Na primeira edição foram oferecidos os

seguintes cursos: “Os Conflitos Atuais do Oriente Médio” ministrado pelo ex-reitor da PUC-

Rio e grande estudioso do tema; “A Repercussão Gráfica da Passagem do Graf Zeppelin pelo

Brasil”, objeto de pesquisa da aluna da pós-graduação em Design e “Fenômenos Físicos

Extraordinários da Natureza”, ministrado por professor do Departamento de Física.

Departamento de Artes e Design

Cultura Religiosa: esse domínio surgiu a partir da perspectiva do Design para o bem-

estar e o interesse dos entrevistados por histórias bíblicas, temas religiosos e espiritualidade.

A atividade oferecida foi o curso “Doenças, Curas e Medicina na Perspectiva da Bíblia”,

ministrado pelo ex-reitor da PUC-Rio e professor do Departamento de Teologia.

Arte e Entretenimento: esse domínio surgiu a partir da perspectiva do Design para

humor e o interesse demonstrado pelos entrevistados em se divertir, praticar e aprender

atividades ligadas à música, teatro e dança. A atividade oferecida foi o curso “The Beatles:

História, Arte e Legado” ministrado por professor do Departamento de Ciências dos Materiais

e grande conhecedor e estudioso da famosa banda inglesa.

Revitalização Profissional: este domínio surgiu a partir da perspectiva do Design

para a revitalização da cidadania e da percepção que alguns entrevistados, depois de

aposentados, buscavam aprimoramento profissional ou novas competências, fontes de renda e

prazer. O domínio tem por fim favorecer novos projetos profissionais e foi inaugurado com o

curso “Exposição e Comercialização de Produtos: potencializando seu negócio”, ministrado

por professora do Departamento de Artes & Design.

Oficinas Digitais: este domínio surgiu com base na categoria sociabilidade e o

interesse dos entrevistados em usar ferramentas digitais para manter, fortalecer e criar novos

vínculos sociais. Ele foi inaugurado com o curso “Vídeo chamadas por Skype”, ministrado

por alunas da pós-graduação em Design.

A divulgação da primeira edição foi controlada e reduzida e feita por meio de cartazes,

email marketing e espaço disponibilizado no site da CCE com informações das atividades

oferecidas. A edição contou com cerca de 160 alunos matriculados.

Ao final do protótipo reunimos alguns alunos para uma sessão de avaliação do projeto.

Os alunos deram sugestões de melhoria que foram incorporadas na segunda edição,

acompanhada de maio a julho de 2014. O projeto ganhou um terceiro parceiro, a Associação

de Antigos Alunos (AAA), por ser um elo em comum com o público, e principalmente com

pessoas que passaram pela PUC-Rio, aproximando elas de novo da instituição e divulgando

para outros interessados. Percebemos na versão anterior que, mesmo com um grande número

de matrículas, poucas pessoas realmente apareciam para o curso. Por sugestão dos próprios

alunos foi estabelecida uma taxa de comprometimento, ou matrícula para cada curso. A

divulgação da 2ª edição foi feita a partir de distribuição de cartões micas, cartazes, busdoor,

envio de email marketing, publicações no Facebook e espaço disponibilizado no site do CCE

com detalhes e informações sobre as atividades. Com as alterações de divulgação e o

acréscimo da taxa de comprometimento percebemos maior comparecimento dos alunos.

Departamento de Artes e Design

Na segunda versão foram oferecidos os seguintes cursos: (1) “Os Conflitos Atuais do

Oriente Médio” ministrado pelo Pe. Jesus Hortal, professor do Departamento de Teologia; (2)

“A Repercussão Gráfica da Passagem do Graf Zeppelin pelo Brasil”, ministrado por Nádia

Leschko, doutoranda do Departamento de Design; (3) “Bossa Nova de Bach a Baden”

ministrado por Fabrício Eyler doutorando do Departamento de Letras; (4) “Caminho de

Santiago de Compostela: história e relatos”, ministrado pelo Prof. Sergio Fontoura do

Departamento de Petróleo e Gás; (5) “Por uma história da amizade: possibilidades antigas e

contemporâneas”, ministrado pela Profa. Flávia Eyler do Departamento de História; (6)

Tomada de decisão e Xadrez, ministrado pelo Prof. Roberto Cintra do Departamento de

Engenharia Industrial; (7) Cidadania & Práticas Sustentáveis na Cidade e no Campo,

ministrado pelo Prof. Fernando Betim do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e (9)

Madame Bovary: encontro com o diretor do espetáculo e ex-aluno da universidade, Bruno

Lara Resende.

No decorrer da segunda edição do programa identificamos que a divulgação não havia

sido tão eficiente quando poderia ser para atingir o público com mais idade. Os posts no

Facebook foram os que trouxeram mais resultados de matrícula. No total, a segunda edição

teve 204 alunos matriculados nos cursos.

A terceira edição estava em fase de planejamento por ocasião da elaboração deste

relatório e será o foco da continuidade deste estudo.

Conclusões

O presente trabalho resultou em um acervo de produtos e serviços destinados à

promoção do envelhecimento saudável e uma revisão das perspectivas de design emocional

com foco no público maior de 60 anos. Este trabalho abrangeu, também, participação em

estudo de design emocional com base em visitas etnográficas que resultou no projeto "PUC-

Rio mais de 50": programa de educação continuada que tem como objetivo promover a troca

de saberes e atender demandas do público com mais de 50 anos através de cursos, oficinas e

eventos exploratórios, colaborativos e interativos. Esta participação resultou no

desenvolvimento de produtos de natureza digital e gráfica destinados à divulgação do projeto

para o público idoso, atendendo suas singularidades e práticas de comunicação.

Departamento de Artes e Design

Referências

CECCON, M. Design & Envelhecimento: técnicas para identificação de demandas dos

maiores de 60 anos. 2015. 138f. Dissertação (Mestrado em Design). Pontifícia Universidade

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forma de projetar. In: XVII Seminário de Iniciação Científica da PUC-Rio, 2009, Rio de

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rio.br/pibic/relatorio_resumo2009/relatorio/ctch/art/marilia.pdf>

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DAMAZIO, V. M. ; CECCON, M. ; NOGUEIRA, S. . Envelhecimento Ativo: novas

perspectivas e oportunidades para o campo do design emocional. In: 11º Congresso

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