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osAno XII - Número 111 - 01 de julho de 2015
Nota: série construída utilizando a última classificação dos itens do IPCA, conforme divulgado no boxe “Atualizações das Estruturas de Ponderação do IPCA e INPC e das Classificações do IPCA” do Relatório Trimestral de Inflação de dezembro de 2011.
Esperamos importante descompressão da inflação de serviços em 2016, respondendo ao enfraquecimento do mercado de
trabalho
Inflação de Serviços variação em 12 meses 2004-2015
Fonte: IBGEElaboração: BRADESCO
Myriã Tatiany Neves Bast
O comportamento da inflação de serviços tem concentrado as atenções da grande maioria dos economistas nos últimos anos. E já há algum tempo, as surpresas têm sido altistas, ainda mais diante da frustração recente com o desempenho da economia brasileira1 e do
ajuste da política monetária. Nossa expectativa é de razoável descompressão para esses itens até o final do ano que vem, tendo em vista a dinâmica esperada para o mercado de trabalho, com aumento da taxa de desemprego e desaceleração dos rendimentos.
1 Considerando a expectativa mediana dos economistas.2 Poderíamos considerar mais subdivisões, já que de 2007 a 2008 também era possível observar rápida aceleração do grupo, que foi temporalmente interrompida com a crise internacional.
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Podemos separar o desempenho da inflação de serviços em ao menos dois períodos diferentes na ultima década2: se até 2010 observamos uma elevação anual média de 6,60%, o período até 2015 registra uma alta média aproximadamente 2 p.p. superior. O grupo apresentou maior elevação em novembro de 2011, quando atingiu 9,93% e, desde então, tem mostrado forte rigidez ao redor de 8,5%. A inflação desse grupo tem registrado resultados bem mais elevados do que o IPCA como um todo. Esse comportamento é comum e observado também em outros países, já que os ganhos de produtividade em outros setores da economia são mais elevados do que no setor de serviços, o que
leva a aumentos menores dos preços dos outros bens em relação aos preços de serviços.
Diversos são os vetores que levaram a essa mudança de patamar da variação dos preços de serviços nos últimos anos, dentre os quais destacamos a produtividade do setor e os ganhos salariais. Identificamos, primeiramente, que os itens que têm apresentado elevações mais expressivas ao longo desses anos são aqueles ligados aos setores com aumento mais forte de demanda, como passagens aéreas, hotéis, empregado doméstico, cursos de idiomas e mesmo tratamento para animais.
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Inflação anual de serviçosmédia 2004-2010
Fonte: POF 2008/09Elaboração: BRADESCO
Relação entre percentil de renda per capita e percentual de gastos com serviços em relação ao gasto total
Fonte: IBGEElaboração: BRADESCO
Média até 2010Ingresso para jogo 17,56%Empregado doméstico 10,37%Excursão 9,76%Hotel 9,63%Lubrificação e lavagem 9,57%Depilação 9,51%Motel 8,69%Alimentação fora do domicílio 8,63%Costureira 8,60%Estacionamento 8,52%Passagem aérea 8,14%Mudança 7,74%Médico 7,61%Manicure 7,26%Cabeleireiro 7,09%
Média 2010-2014Passagem aérea 23,52%Mudança 16,24%Depilação 12,53%Hotel 11,95%Empregado doméstico 11,47%Estacionamento 11,35%Manicure 10,94%Aluguel residencial 10,33%Tratamento de animais 10,26%Médico 10,21%Mão-de-obra 10,02%Alimentação fora do domicílio 9,96%Cursos diversos 9,40%Dentista 9,00%Clube 8,67%
Inflação anual de serviços média 2010-2014
Com esses dados, uma hipótese bem aceita entre os economistas3 é de que a crescente mobilidade social da última década e a rápida queda da taxa de desemprego permitiram que uma crescente parcela da população tivesse acesso aos mais diferentes serviços, principalmente aqueles mais intensivos em mão de obra. Assim, a demanda por serviços como manicure, hotéis, passagens aéreas e empregados domésticos, teria crescido muito nos últimos anos, acima até do crescimento de produtividade do setor, pressionando os preços – majoritariamente via aumento de salários.
Apesar de essa hipótese ser bem aceita, um recente texto para discussão4 traz uma perspectiva alternativa: ainda que o crescimento da classe média tenha sido
expressivo, as classes de renda mais alta aumentaram os gastos com serviços de tal maneira que esse movimento foi mais importante do que aquele gerado pela nova classe média. Portanto, para conter as pressões sobre serviços, deveríamos observar uma desaceleração dos ganhos de rendimento de todos os estratos sociais.
Analisando os dados da POF 2008/09 (Pesquisa de Orçamento Familiar), podemos observar a relação positiva – e esperada – entre os percentis de renda per capita e a participação dos gastos com serviços no gasto total. Isto é, aqueles com renda mais elevada gastam proporcionalmente mais com serviços do que aqueles com menor renda.
3 Como pode ser visto na Carta de Conjuntura de outubro de 2014 do IPEA: “Uma nota sobre a natureza da inflação de serviços no Brasil (1999-2014)” e no Relatório Trimestral de Inflação de junho de 2011: “Pressões de Demanda e de Custos sobre os Preços de Serviços no IPCA”. Os textos podem ser consultados em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/3817 e http://www.bcb.gov.br/htms/relinf/port/2011/06/ri201106b1p.pdf, respectivamente.4 Trabalho para discussão 381: “Demand for Services Rendered to Families in Brazil in 2000’s: An Empirical Analysis of Consumer Patterns and Social Expansion”. O texto pode ser consultado em: http://www.bcb.gov.br/pec/wps/ingl/wps381.pdf
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Fonte: IBGEElaboração: BRADESCO
PIB a preços de mercado: variação acumulada em 4 trimestres
Classe E Classe D Classe C Classe B Classe A GeralServiços 7,70% 8,81% 12,51% 15,48% 17,10% 13,56%Aluguel 2,54% 2,64% 2,71% 2,73% 2,78% 2,72%Manutenção do lar 0,28% 0,26% 0,27% 0,25% 0,18% 0,24%Manutenção do veículo 1,25% 1,53% 2,18% 2,55% 3,06% 2,36%Saúde 0,69% 0,82% 0,91% 0,75% 0,95% 0,88%Educação 0,45% 0,68% 1,65% 2,83% 2,96% 2,01%Recreação e esportes 0,26% 0,32% 0,53% 0,72% 0,77% 0,59%Pessoais (cabelereiro, manicure, etc) 0,72% 0,80% 0,98% 0,99% 0,85% 0,91%
Participação de cada despesa de serviço no gasto total por classe social
Fonte: POF 2008/09Elaboração: BRADESCO
As mudanças sociais da última década não devem ser revertidas nos próximos anos, mas os ganhos reais bastante acima da inflação devem ser minimizados, contendo as pressões de custos sobre os serviços e diminuindo a demanda de alguns setores considerados menos essenciais. É natural esperar que, em momentos de baixo crescimento, com aumento de desemprego e diminuição nos rendimentos do trabalho, as famílias diminuam gastos com viagens, cursos de idiomas, manicure e outros. Uma evidência desse comportamento está sendo observada nos dados recentes de viagens internacionais nas contas externas, que têm mostrado brasileiros gastando menos no exterior.
No entanto, há vários trimestres observamos moderação no crescimento da economia doméstica e, mesmo assim, a inflação de serviços permaneceu persistentemente ao redor de 8,5%, porque nesse período o mercado de trabalho seguiu resiliente. A diferença daqui para frente é que esperamos que o mercado de trabalho mostre
substancial enfraquecimento. Isso é fundamental para a expectativa de menor inflação de serviços em 2016: o baixo crescimento será acompanhado por taxas de desemprego em elevação, com consequente redução do rendimento. O impacto negativo sobre o mercado de trabalho não tinha sido observado até agora, mas os dados mais recentes de rendimento da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e os dados do Caged já mostram piora do mercado de trabalho. Nos primeiros cinco meses deste ano, o Caged já reportou destruição líquida de 570 mil postos formais de trabalho, enquanto que o rendimento do trabalho cedeu de uma alta de 9% em dezembro de 2014 para outra de 7,8% em maio, na média de 12 meses. De fato, esperamos que a taxa de desemprego atinja 8,2% em 2016. Além disso, neste ano, observamos o consumidor reportando maior dificuldade em encontrar emprego, segundo dados da FGV, o que contribui para a desaceleração de demanda mesmo antes da piora da taxa de desemprego. De fato, nos últimos trimestres temos observado desaceleração da demanda das famílias no PIB.
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PIB A PREÇOS DE MERCADO: CRESCIMENTO ACUMULADO EM 4 TRIMESTRES - %Fonte: IBGE
Elaboração: Bradesco
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Taxa de desemprego dessazonalizada – mensal (%)
Fonte: IBGEElaboração: BRADESCO
Renda habitualmente recebida (PME) e renda
média dos admitidos (Caged) defasada em
8 meses – variação interanual da média
trimestral
Fonte: MTE, IBGEElaboração: BRADESCO
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TAXA DE DESEMPREGO DESSAZONALIZADA E TENDÊNCIA (%)Fonte: IBGEElaboração: Bradesco
Com essa expectativa, o hiato do emprego ficará negativo, isto é, a taxa de desemprego observada será maior do que a taxa de desemprego que não gera pressões inflacionárias (NAIRU)5. Quando isso acontece, teoricamente há pressão para a “desinflação” dos serviços – e da inflação como um todo.
Em nossas estimativas, esse hiato não entrou em campo negativo desde 2008, o que explica em parte a manutenção da inflação de serviços em patamares muito elevados nos últimos anos. Considerando nossa projeção para a taxa de desemprego, esperamos o maior hiato do emprego registrado na série da PME (desde 2002). Isso nos dá conforto em relação à expectativa de descompressão dos preços de serviços.
Uma questão muito relevante quando discutimos a inflação de serviços é a inércia inflacionária, que tende a ser maior do que em outros grupos do IPCA. Esse comportamento rígido é parcialmente explicado por
itens que são reajustados pela inflação passada, como mensalidades escolares e aluguel residencial, o que dificulta grandes movimentos de convergência de um ano para outro. O longo período em que a inflação ficou acima do centro da meta e o resultado muito elevado que o IPCA deverá registrar neste ano também têm um custo sobre a convergência de serviços. De fato, os reajustes de vários “insumos” importantes para serviços estão sendo elevados, como energia elétrica, tarifas de água, combustível e aluguel, dificultando a desaceleração das altas desses preços. Isso também deve ser considerado para o ano que vem, dado que vários setores fazem um reajuste por ano e ainda deverão incorporar parte desses aumentos no custo de seu serviço final.
Levando em conta todos os argumentos aqui apresentados, acreditamos que a variação dos preços de serviços deverá ceder de uma alta de 7,7% no final deste ano para outra próxima de 6,5% em 2016. Esse ritmo de descompressão será um dos
5 Ainda que se possa discutir qual é a NAIRU no Brasil e, portanto, qual o tamanho desse hiato.
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Renda habitualmente recebida (PME) e renda média dos admitidos - variação em ermos nominais (3m, yoy)
Renda (PME, 3m a/a)
Renda (CAGED t-8, 3m a/a)
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maiores já observados na série histórica, mas nossa expectativa em relação ao mercado de trabalho justifica essa dinâmica. Um risco potencial para esse cenário é o tamanho dos efeitos secundários
que o realinhamento de preços administrados pode ter sobre o custo de serviços, mas esperamos que o ritmo da atividade seja suficiente para circunscrever esses efeitos a 2015.
Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos EconômicosMarcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivoEconomia Internacional: Fabiana D’Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs PiresEconomia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves BastAnálise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi BarufiEstagiários: Ariana Stephanie Zerbinatti / Thomaz Lopes Macetti / Victor Hugo Carvalho Alexandrino da Silva / Davi Sacomani Beganskas / Ives Leonardo Dias Fernandes / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves
Equipe Técnica
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