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Série Teologia Wesleyana Brasileira Todos falam da centralidade do tema da salvação em John Wesley, entretanto, sem conseguir um acordo sobre a forma da missão. O livro oferece um novo olhar que contempla a vida e obra de John Wesley de forma ampla. Transparece a salvação como social, na dinâmica da sinergia divino- humana, por meio da comunhão eclesiástica em prol do compromisso com a humanidade e a criação. Nos últimos 50 anos, nota-se o esforço para enquadrar a reflexão wesleyana sobre a igreja em algum esquema prévio de interpretação. De conservador a radical, quase todas as qualificações já foram atribuídas a Wesley. Essa obra se concentra em sua eclesiologia prática e funcional, examinando tanto o que se encontra explícito em seus escritos sobre a igreja, quanto o que está implícito em sua práxis social e missionária. Mosaico Apoio Pastoral — Ano 18, nº. 46 — Faculdade de Teologia da Igreja Metodista — UMESP — janeiro/junho de 2010 — ISSN 1676-1170-43 9 771676 117002 6 4 ISSN 1676-1170 2010 NESTA EDIÇÃO Os 100 ano de Edimburgo Evangelho + ismo ou + ação? Missão na Bíblia Missão e diaconia Missão e unidade Sermão Oração pela Palestina Dia do Meio Ambiente Magali do Nascimento Cunha Nicanor Lopes Paulo Garcia Jane Blackburn Jacques Matthey Luiz Carlos Ramos Suzel Tunes Natanael Garcia Marques pág. 3 pág. 7 pág. 10 pág. 13 pág. 15 pág. 18 pág. 21 pág. 23 F A C U L D A D E D E T E O L O G I A D A I G R EJ A M E T O D I S T A apoio pastoral Lançamentos Editeo 1º. semestre 2010 Revista Caminhando Volume 15 - nº. 1 - 1º. Semestre Missão de Deus hoje Informações e Vendas • Livraria da Editeo: Tel (11) 4366-5982 / 4366-5787 • Fax (11) 4366-5988 E-mail: [email protected] Rua do Sacramento, 230 – Rudge Ramos 09640-000 – São Bernardo do Campo – SP 1 0 5 25 75 95 100 0 5 25 75 95 100 0 5 25 75 95 100 0 5 25 75 95 100 D:\Metodista\Mosaico\capa_1.cdr quarta-feira, 12 de maio de 2010 09:13:40 Perfil de cores: Perfil genérico de impressora CMYK Composição Tela padrão

Deus hoje - Universidade Metodista de São Paulo...Festa e revisão de caminhos em pauta A propósito dos 100 anos da Conferência Missionária de Edimburgo Magali do Nascimento Cunha

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Ano 18, nº 46, janeiro/junho de 2010

Editorial

Mosaico Apoio

Pastoral

Ano 18, nº 46,Janeiro/Junho de 2010

Publicação da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista/Universidade Me-todista de São Paulo (UMESP).

Universidade Metodista de São Paulo - Reitor: Márcio de Mo-raes

Faculdade de Teologia: Rei-tor/Diretor: Rui de Souza Josgrilberg Vice-Reitor: Paulo Roberto Garcia Diretor Administrativo: Otoniel Lu-ciano Ribeiro

Editeo - Comissão EditorialBlanches de Paula, Helmut Renders (coordenador), José Carlos de Souza, Magali do Nascimento Cunha, Tércio Machado Siqueira

Editora do Mosaico: Magali do Nascimento Cunha

Projeto gráfi co: Luiz Carlos Ra-mos; Editoração e Arte fi nal: Marcos Brescovici; Capa: Marcos Brescovici Edição e montagem de imagens: Marcos Brescovici; Imagens: sites: www.corbis.com, www.sxc.hu, www.oikoumene.org, www.vozderondonia.com.br Tiragem deste nú me ro: 2.000 exem plares. Dis tri bui ção gra tu i ta.

** * *

*

Mosaico Apoio PastoralEDITEO

Caixa Postal 5151, Rudge Ramos, São Bernardo do Campo, CEP

09731-970

Fone: (0__11) 4366-5958

[email protected]

Editorial

Os 100 anos da Conferência Mun-dial de Missão de

Edimburgo são excelente oportunidade para festejar e para refl etir sobre um tema fundamental para a Pastoral: a missão. A re-vista MOSAICO APOIO PAS-TORAL oferece uma contri-buição a este momento e à Semana Wesleyana pro-movida tradicionalmente, pela FATEO, cujo tema é A MISSÃO DE DEUS HOJE. A Missão é a razão de ser da igreja; as pessoas que realizaram aquela confe-rência em 1910 ainda não tinham plena consciência desta afi rmação teológica. Sabiam, sim, que tinham algo importante por reali-zar como cumprimento da vontade Deus. De lá para cá muita coisa se transfor-mou tanto na compreen-são do sentido da Missão quanto na própria prática,

mas o desafio continua no horizonte: participar dos propósitos salvífi cos de Deus. Nas páginas de MOSAICO, há reflexões muito ricas que apontam caminhos para a refl exão deste tema na caminhada do século XXI.

Outras contribuições também são oferecidas neste número da revista, e que podem ser também diretamente relacionadas ao seu tema central: um sermão que leva a pensar sobre o compromisso cristão, uma chamada à oração pela paz com justi-ça na Palestina e em Israel e um apelo ao engajamen-to nas ações de cuidado com o meio ambiente. Desta forma, nossos/as leitores/as envolvidos na ação pastoral podem, mais uma vez, contar com o apoio de MOSAICO. Boa leitura!

Festa com refl exão

MOSAICO APOIO PASTORAL oferece

uma contribui-ção à Semana

Wesleyana, cujo tema é A Missão

de Deus hoje.

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Ano 18, nº 46, janeiro/junho de 2010

Missão Hoje

Festa e revisão decaminhos em pauta

A propósito dos 100 anos da Conferência Missionária de Edimburgo

Magali do Nascimento Cunha

Este 2010, que fe-cha a primeira década do século

XXI, será marcado pelo centenário da Conferên-cia Missionária Mundial, realizada em Edimburgo (Escócia). Este evento é paradigmático para a re-fl exão em torno da missão cristã e seus desafi os con-temporâneos, e também, e com maior destaque, para os esforços em tor-no da busca pela unidade visível do corpo de Cristo, tendo sido Edimburgo 1910 a primeira grande reunião formal de cristãos de diferentes continentes, em torno de uma causa comum.

O século XIX foi o período em que o movi-mento missionário pro-testante deflagrado no século XVIII, em direção aos continentes não-cris-tianizados, se consolida e se amplia. Missioná-rios, muitos formados em escolas de teologia que se abriram para o liberalismo teológico, ex-perimentam o cotidiano de uma nova realidade sociopolítica, econômica e cultural, e refl etem so-bre ele, e constroem uma consciência do que deno-

minaram “o escândalo da divisão dos cristãos”.

Essa consciência se explica pelo fato de o movimento missionário protestante ter tornado possível não só a presença e a expansão dos protes-tantes por todo o planeta como também que a di-visão entre os cristãos se tornasse mais visível.

O despertar para a consciência do escândalo da divisão e a necessidade de cooperação e unidade no trabalho evangelístico representou a gênese do que hoje conhecemos como movimento ecumê-nico. Nomes como Robert Wilder, John Mott, Robert Speer, J. H. Oldman, Mar-tin Kähler, Hugh Clarence Tucker fazem parte da lista de pessoas que, engajadas no trabalho missionário, se defrontaram com a necessidade de superar o divisionismo entre os cristãos em nome de um testemunho mais coerente da proposta do Evangelho diante do mundo. Nesse espírito, reconheceram que a unidade era uma questão de fé e passaram a afi rmar que a desunião re-presentava mais uma manifesta-

ção de descrença. Busca-va-se, nestes primórdios, práticas que tornassem possível a dimensão da unidade visível do corpo de Cristo, com base na oração de Jesus expressa no Evangelho de João capítulo 17, versículo 21:

“... que eles sejam um para que o mundo creia”.

O espírito de Edimburgo

A Conferência Mis-sionária Internacional de Edimburgo abriu cami-nho para a realização de outras que construíram uma teologia da missão e caminhos de unidade no trabalho missionário. Convocada pelas socie-

dades missioná-rias européias e

norte-americanas refl etia a hegemonia destes dois continentes no campo da missão. Foram 1400 delegados de grande parte dos países da Europa e da América do Norte; apenas 17 eram do hemisfério sul. Nela se revelou a busca de

caminhos de cooperação entre as sociedades mis-sionárias e de minimização do escândalo da divisão. A conferência contribuiu também na ultrapassagem dos interesses institucio-nais limitados e imediatos e tornou-se marco no processo de afi rmação da missão como desejo re-dentor de Deus e natureza do ser Igreja. O tema geral foi: “A evangelização do mundo nesta geração” e a partir dele foram debati-

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dos os seguintes subtemas: Levando o trabalho a todo o mundo não-cristão; A Igreja no campo missioná-rio; Educação relacionada com a cristianização da vida nacional; A prepa-ração de missionários; A rede das missões; Missões e governos; Cooperação e promoção da unidade; A mensagem missionária em relação com as religiões não-cristãs.

A partir desta temática, pode-se perceber como Edimburgo foi, de fato, uma reunião com intenções pragmáticas: unidade em busca de resultados. De-notou um espírito otimista dos missionários com a propagação do Evange-lho pelo mundo: a missão ocidental é avaliada com sucesso e como um poder incontestado da Igreja.

Duas das consequ-ências fortes de Edim-burgo foram criação da INTERNATIONAL REVIEW OF MISSION [Revista In-ternacional de Missão], em 1912, e a inauguração do processo de criação do Conselho Missionário In-ternacional (EUA, 1921). É desta forma que Edim-burgo 1910, a propósito da causa missionária, e dos acordos em torno da cooperação para se es-palhar o Evangelho pela face da terra sem escan-dalizar os “missionados” com as divisões entre os

cristãos, em especial os protestantes, passa a ser compreendida como a gênese do movimento ecumênico contempo-râneo.

A decisão pela não-participação de missioná-rios atuantes na América Latina (entendido como continente já cristianiza-do) tem como conseqü-ência a articulação mis-sionária latino-americana: o Congresso Missionário do Panamá (1916), marco do movimento ecumênico no continente.

Caminho antes traçado

Além do movimento missionário, dois outros serão responsáveis pela concretização dos es-forços por unidade do início do século XX, e contribuíram para a con-solidação do movimento ecumênico tal como o conhecemos hoje.

Recordemos, pois, os movimentos Aliança Mundial

para a Promoção da Ami-zade Internacional através das Igrejas e Vida e Ação, ambos gerados pelos mo-vimentos internacionais cristãos pela paz, que in-tensificaram suas ações durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). É fato que a tradição ociden-tal predominantemente individualista, da pregação da separação igreja e mun-do e da não preocupação com as “questões terre-nas”, havia fortalecido a tendência de pensar a missão da igreja como a

pregação espiritualizada da mensagem cristã, com fi ns de conversão e ade-são de novos fiéis. Isto se refl etiu nas atividades das igrejas, cuja maioria estava voltada para a sua vida interna.

No entanto, expres-sões teológicas como a do Evangelho Social nos EUA na passagem do século XIX para o sé-culo XX, influenciaram

na transforma-ção desse qua-

dro. Filho do liberalismo teológico, o Evangelho Social nasceu como uma resposta à crise urbana resultante das transfor-mações econômicas nos EUA após a Guerra de Secessão. Teólogos como Walter Rauschenbusch, entre outros, buscavam elaborar uma reflexão teológica que respondesse à situação dos pobres e dos trabalhadores explo-rados nas grandes cidades estadunidenses. Surgem por intermédio dessa re-fl exão conceitos como “a implantação do reino de Deus na terra”, “a socie-dade redimida” e “trans-formação da sociedade por meio da ação cristã”, conceitos baseados numa releitura dos evangelhos e do ministério de Jesus Cristo.

As ações desses movi-mentos levaram, ao fi nal da Primeira Guerra, à realização da Conferência Cristã Internacional sobre Vida e Trabalho (Estocol-mo, 1925, 600 delegados, de 37 países), e motiva-ram as igrejas a atentarem para a necessidade de se buscar um cristianismo prático como testemunho de unidade para o mundo. Desenvolveu-se então o conceito que marcaria a trajetória do movimento ecumênico que é o da responsabilidade social cristã, ou, a responsabi-Missão Hoje

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lidade cristã em realizar a vontade de Deus na sociedade.

Outro movimento que vai trabalhar a dimensão do diálogo e da coopera-ção em outra direção, é o Movimento Fé e Ordem, que tem origens em 1910, a partir das articulações em Edimburgo, cujo mo-mento marcante foi a realização da Conferência Mundial sobre Fé e Or-dem, em 1927, na cidade suíça de Lausanne. Os princípios deste movi-mento baseavam-se no diálogo teológico com a finalidade de identificar acordos e desacordos em questões doutrinárias en-tre as diferentes famílias confessionais. Dali nasceu a Comissão Fé e Ordem, organizadora de novas conferências, promotora de diálogos bi e multila-terais (estes já em curso desde 1717). Uma forte consequência deste pro-cesso foram as infl uências teológicas mútuas tanto das famílias confessionais nas bases teológicas do movimento ecumênico quanto na formação de tendências na reflexão teológica no interior das famílias confessionais.

Desde 1910, o movi-mento, depois, Comissão Fé e Ordem, dedica-se ao tratamento de temas con-troversos entre os cristãos: a compreensão e a prática

do batismo, da eucaristia e do ministério ordenado; a igreja e os conceitos de sua unidade; a intercomu-nhão; Escritura e tradição; o papel e a importância dos credos e confi ssões; a ordenação de mulheres; infl uência dos chamados fatores não-teológicos sobre os esforços para a unidade das igrejas.

Fé e Ordem também trabalha temas de interes-se comum ou fundamen-tais para a comunhão, tais

como: Culto e espiritua-lidade; Esperança cristã para hoje; Interrelação entre os diálogos bi e mul-tilaterais; além de oferecer assessoria às igrejas unidas ou em união.

O documento mais importante, resultante desses esforços, é BATIS-MO, EUCARISTIA E MINIS-TÉRIO, fi nalizado e aprovado em

Lima (Peru), em 1982. Destaca-se ainda uma a produção nos estudos da eclesiologia: A natureza e a missão da Igreja – uma etapa no caminho para uma declaração comum.

Um processo que gera frutos

Um dos frutos mais destacados deste processo é o Conselho Mundial de Igrejas, resultante da ar-ticulação do Movimento Vida e Ação e da Comis-

são de Fé e Ordem com o, que avaliando positiva-mente a experiência ecu-mênica que vivenciavam, envolvendo as igrejas, formam um comitê, em 1937, com sete membros de cada segmento, para trabalhar pela criação de um Conselho Ecumênico de Igrejas. Em 1961, Con-

selho Missionário Internacional que

até então participava em apoio mantendo sua auto-nomia, decide pela adesão ao CMI e torna-se a Co-missão de Missão e Evan-gelização do organismo.

O CMI completou 60 anos de existência em 2008 em meio a celebra-ções e discussões tensas quanto ao seu lugar num mundo de marcante plu-ralidade de experiências eclesiais que não está nu-mericamente representada no organismo, em espe-cial no que diz respeito aos grupos pentecostais. O próprio movimento ecumênico revela-se bas-tante plural, com uma diversidade extensa de grupos e organizações que expressam formas as mais distintas de cooperação e atuação conjunta, muitos deles não formalmente atrelados ao CMI, como ocorreu com movimentos do passado.

Entretanto, os frutos não podem deixar de ser nominados. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, desde l908, reve-la-se uma prática exemplar de segmento do desejo de Jesus revelado em João 17.21. Ações diaconais, herança de Vida e Ação, continuam a revelar que a unidade pode acontecer na prática concreta de promo-ção da vida, por meio do CMI e de muitas outras organizações e grupos. Missão Hoje

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Diálogos bi e multilaterais continuam a acontecer entre as famílias confes-sionais com a produção de estudos e pronunciamen-tos comuns.

E a Igreja Católica Romana?

Quando recordarmos a história destes 100 anos desde Edimburgo, é preci-so registrar que boa parte dela não conta com a participação dos católicos-romanos. O movimento ecumênico é idealizado e consolidado pelos grupos protestantes, com adesão dos cristãos ortodoxos, no período inicial. A Igre-ja Católica Romana se mantém distante destas iniciativas por décadas, quadro que é alterado somente nos anos 60, com o Concilio Vaticano II que gera a criação do Secretariado para a Pro-moção da Unidade dos Cristãos (1960), seguido da publicação do Decreto sobre Ecumenismo Uni-tatis Reintegratio (1965). Em 1989, o Secretariado é elevado à Categoria de Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Estas ações represen-tam uma “virada de pági-na” na atitude dos católi-cos-romanos em relação à unidade visível do corpo de Cristo, a começar pela

consideração da plurali-dade deste corpo e pelo incentivo ao encontro e à ação conjunta. A partir daí a Igreja Católica passou a ser membro de vários conselhos e de igrejas e organizações ecumênicas em países e continentes. Não se tornou membro do CMI mas participa como observadora em Assembléias e reuniões importantes, tendo repre-sentação plena na Comis-são de Fé e Ordem.

Esta relação de pouco mais de quatro décadas também não acontece sem tensões. Segmentos mais tradicionalistas do catoli-cismo advogam fi delidade ao princípio de “única igreja”, à classifi cação das demais experiências ecle-siais como “seitas”, e à compreensão de que a unidade passa pelo Papa. E documentos re-centemente pu-

blicados como a Declaração Dominus Iesus, acaba por alimentar estas tensões. Segmentos católicos mais abertos ao ecumenismo, ainda aprendendo desta história, e buscando criar identidade própria nela, acabam também alimen-tando tensões quando defendem compreensões de ecumenismo que termi-nam por minimizar a base da unidade cristã, classi-fi cando-a como “microe-cumenismo”, desde que é

cunhado o termo “macro-ecumenismo” entre esses segmentos para expressar uma dimensão considera-da mais ampla que inclui o diálogo interreligioso. Ter-mo que difi cilmente entra no vocabulário dos grupos protestantes e ortodoxos herdeiros de Edimburgo e seus desdobramentos que enxergam o princí-

pio ecumênico construído pela

história como um princí-pio que traz no seu sentido três dimensões: a unidade cristã, a promoção da vida e o diálogo interreligioso como testemunho da fi -delidade a Cristo.

Daqui para a frente...

Os 100 anos celebra-dos em 2010 são excelente oportunidade para apren-der, de novo, do fato de que a missão foi uma cau-sa comum que gerou ini-ciativas pró-unidade cristã, especialmente num tempo em que a concorrência entre grupos cristãos e os conflitos no campo religioso estão acirrados. Tempo de rever caminhos: um kairós. São também momento de afirmar a causa da unidade visível e que, apesar de tantas tensões, o movimento ecumênico é fato que não se restringe ao desejo de participação deste ou da-quele grupo mas se abre cada vez mais às diferentes expressões que brotam da sensibilidade de cristãos àquele desejo um dia ex-presso em oração e que continua ecoando: “que eles sejam um...”

MAGALI DO NASCIMENTO CUNHA é jornalista metodista, professora da FATEO e membro do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas representando a Igreja Metodista e as igrejas-membro da América Latina.

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A fé cristã é uma fé em ação. As refl e-xões em torno da

ação missionária da Igreja cristã gerou uma pequena confusão na compreensão desta fé em ação. Não é possível negar o problema conceitual entre os termos Evangelismo e Evangeli-zação. Alguns missiólogos afi rmam que a utilização do termo Evangelismo é desaconselhável. As ra-zões para este tipo de compreensão é que, ge-ralmente, o uso do sufi xo “ismo” se disseminou para designar movimentos sociais, ideológicos, políti-cos, opinativos, religiosos e personativos, através dos nomes próprios repre-sentativos, ou de nomes locativos de origem, e se chegou ao fato concreto de que potencialmente há para cada nome próprio um derivado. Para os que defendem esta posição, o correto é utilizar o termo Evangelização que signi-fi ca “ação de difundir o Evangelho; ato ou efeito de evangelizar” .

Porém, como não há consenso nesta discussão e o termo evangelismo já se disseminou pela igreja Igreja Cristã. Por sinal te-

mos uma infi nidade com-plementos, por exemplo, quem nunca ouviu falar de: Evangelismo pesso-al, evangelismo criativo, evangelismo infantil, evan-gelismo explosivo, evange-lismo de rua, evangelismo urbano e por último, temo ouvido falar de evangelis-mo por fogo [livro de Rei-nhard Bonnke]. Em outras

palavras evangelismo se tornou, como se diz nos espaços eclesiásticos, “uma estratégia” para o cresci-mento das denominações eclesiásticas.

Portanto no contexto das refl exões desta revista pretendo oferecer alguns pontos de vista para o nosso crescimento quanto ao tema da Evangelização ou do Evangelismo. Para isso vou transitar nos dois termos.

Evangelismo no contexto da missão

O primeiro destaque na refl exão é que necessi-tamos entender a missão como algo mais abran-gente que o Evangelismo. Se por um lado a tarefa do Evangelismo é construir fundamentos para a ação

evangelizadora, por outro lado a missão tem um caráter mais global que o Evangelismo. A missão não é uma estratégia hu-mana ou das igrejas para conquistar fiéis para as denominações, ela é um desejo amoroso de Deus. E, a resposta humana para este amor fi cou re-gistrado na instrução de

Jesus aos seus discípulos em João 13., 34-35:

“Novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei amai-vos também uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros.”. Por isso, evan-gelismo não pode ser pra-ticado como estratégia para seduzir pessoas para projetos eclesiásticos. O evangelismo não deveria ser colocado no mesmo pé de igualdade com a missão, é necessário man-ter as devidas proporções, uma vez que é impossível dissociá-lo da missão mais ampla da Igreja.

Porém, o evangelismo é tema essencial da missão. E, este conceito firma-se com consistência, em especial para a América Latina, a partir do Con-gresso da Obra Cristã na América Latina (conhe-cido como Congresso do Panamá), em 1916. Este evento representa um marco missiológico para os protestantes da América Latina, uma vez que defi niu a presença e as estratégias de ação para a expansão do protestan-tismo latino-americano. Pois, “a evangelização pro-

Qual prática deve a Igreja exercitar: Evangelho + ismoou Evangelho + ação?

Nicanor Lopes

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testante anterior a esse acontecimento dependia em grande parte da visão de pequenas sociedades missionárias, em particular da iniciativa de indivídu-os. Somente após 1916 procuraram consolidar esses esforços” (Arturo Piedra).

Outro evento signi-ficativo que relaciona Evangelismo no contexto da missão foi o Con-gresso Internacional de Evangelização, realizado em Lausanne, Suíça, em 1974. Dentro de suas teses principais estão: a Natureza da Evangeliza-ção; a Igreja e a Evange-lização; Cooperação na Evangelização; Esforço

Conjugado de Igreja na Evangelização; Urgência na tarefa Evangelística e Evangelização e Cultura.

Visto que o Evange-lismo procura construir um conhecimento na ação evangelizadora da Igreja, e que muitas vezes esta construção é negligencia-

da por reducionismo da experiência religiosa, onde as comunidades de fé em seus contextos próprios por razões culturais cons-tituem-se numa comuni-dade de iguais, o missió-logo David Bosch oferece um referencial importan-te, a saber: “a pessoa que evangeliza é uma testemunha, não um juiz”.

Evangelização como estilo de vida da comunidade cristã

Partindo do paradig-ma que a Evangelização consiste na tarefa de proclamar a boa notícia, cabe-nos refletir sobre a relação entre a Missão e a Evangelização. Por isso, pretende-se avan-çar com o conceito de que as ações missioná-rias são ações evangeli-zadoras. Refletir sobre quais são essas ações e a quem elas se destinam são tarefas da Igreja de Cristo.

A Evangelização é uma tarefa intransfe-rível. O povo de Deus que acolhe a mensagem de salvação num gesto de gratidão testemunha para o mundo os feitos de Deus e como parte integrante da identidade cristã, tem no testemu-nho seu estilo de vida. Por tanto, é necessá-rio que a Igreja Cristã, na sua tarefa reflexiva possa oferecer “pistas” para as ações evange-l izadoras, i s to então

nos r eme te a ref lexão sobre Evangelismo.

Evangelizaçãoe encarnação

A encarnação, na teo-logia de missão, signifi ca ponto de partida para toda a discussão missio-nária. O Evangelho de João, que não faz parte dos evangelhos sinóticos, revela na introdução de sua teologia a dimen-são da encarnação: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus [...]. E o Verbo se fez carne, e ha-bitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1. 1 e 14). A própria en-carnação é evangelização, no contexto da literatura joanina é o amor de Deus que o torna humano e vem habitar com a huma-nidade, porém “o grande desafi o do Cristianismo é a encarnação, diante da tentação permanente da ‘desencarnação’. A encar-nação do Verbo não se re-duz à natureza humana de Cristo, mas envolve uma realidade humana mais ampla e permanente” (Tadeu Grings). A evan-gelização na dinâmica da encarnação permite que as dimensões culturais, no processo evangelizador, sejam respeitadas.Missão Hoje

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Por exemplo, as di-mensões continentais do Brasil, revelam, em alguns casos, que as igrejas cris-tãs se articulam de forma desencarnada. Não é sem motivos que muitos his-toriadores, antropólogos entre outros, fazem críti-cas ácidas aos processos de evangelização de nosso continente quando mi-lhares de culturas foram dizimadas. Este equívoco chamado aqui de ‘desen-carnação’ foi praticado tanto pelo catolicismo romano no período do império como pelas mis-sões protestantes no fi nal do século XIX e início do século XX. Hoje procu-ramos uma evangelização sem rupturas com a cul-tura, uma evangelização encarnada pelos laços do amor, como revela João em seu evangelho.

Evangelização e inculturação

Em especial, no mun-do evangélico, ainda está presente o espírito de evangelização ou missio-nário na perspectiva da aventura. Muitos divul-gam, promovem e buscam recursos para manter mis-sionários em culturas dife-rentes do missionário. Há uma paixão por uma evan-

gelização em culturas não nativas do missionário. O grande problema é como se realiza esta evangeliza-ção levando-se em conta o tema da inculturação. A exemplo do continente latino-americano muitas outras culturas sofreram agressões no processo evangelizador. No contex-to desta refl exão, foi muito mais uma estratégia ideo-lógica que uma ação evan-gelizadora. Esse equívoco é observado em dois gran-des momentos: Se por um lado a ação evangelizadora dos católicos, no século XVI, foi motivada pelas estratégias de colonização do continente, por outro lado, a ação protestante, no fi nal do século XIX e inicio do século XX, foi motivada pelo interesse estadunidense em domi-nar o “novo continente”. Pastoralmente eu tenho a suspeita que as disputas religiosas no Brasil refl e-tem esses dois momentos. E, a pergunta, ainda em tom pastoral, que faço é: quando teremos sensibili-dade cristã para uma ação missionária que contemple uma proposta de reconci-liação? Pois, qual a razão de uma estratégia evange-lística que em vez de reconciliar os proclamadores

do Evangelho os separa e impõe disputas?

Indicações

Os paradigmas da evangelização e do evan-gelismo como prática mis-sionária da Igreja contem-plam temas essenciais da

vida cristã, tais como os temas da cultura da encar-nação e do amor de Deus. Muitas vezes as estratégias missionárias não sensíveis aos paradigmas acima se utilizaram de ideologias dominantes para procla-mar suas “boas novas”.,

Para aferir se esta mi-nha afi rmação faz sentido de vida em nossos tempos, reserve um tempo para a

seguinte refl exão: o que as pessoas

estão lendo, ouvindo e assistindo nas mídias re-ligiosas de nossos dias? Esses areópagos virtuais proclamam um estilo de vida anunciado por Jesus como o “novo manda-mento” ou se utilizam de estratégias de dominação ideológicas para fazer com

que pessoas mudem a sua “bandeira” denomina-cional?

Peço a Deus em ora-ção que nos ensine a viver o Evangelho como fruto da ação da Graça Divina em nosso meio.

NICANOR LOPES é pastor metodista, coordenador do Curso de Teologia EAD e professor de Missão e Evan-gelização na FaTeo.

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Os desafios da Missãopara o discipulado

Uma abordagem a partir de Mateus 28.16-20Paulo Roberto Garcia

Alguns textos bí-blicos são co-nhecidos univer-

salmente entre os cris-tãos das mais diversas Igrejas e Movimentos. Textos como o Salmo 23, a oração do Pai Nosso, e outros, são conhecidos e citados, inclusive, por pessoas de religiões não-cristãs. No cristianismo, o texto de Mateus 28.19-20, conhecido como a

“grande comissão”, é um destes que todos citam e conhecem. Se por um lado, isso é positivo, tor-nando o texto bíblico co-nhecido, por outro lado, acaba determinando um sentido e um uso para o texto que não permitem novas abordagens.

Deste modo, o tex-

to da grande comissão está sempre vinculado ao desafi o missionário. É li-gado às grandes missões e, em geral, sustenta os sermões e as publicações que desafi am os cristãos a deixar a cidade, o país e dirigirem-se a novas fronteiras para evange-lizar. Será que a grande comissão pode ser vista somente neste ângulo? Que novas abordagens

ela nos aponta? Esse é o desafio deste artigo. Abordar o texto de Ma-teus na busca de novos sentidos e desafi os para o cotidiano da vida cris-tã, tendo como chave hermenêutica a pergunta pelo discipulado. Para isso, precisamos percor rer um

caminho de exame do texto bíblico.

Dois desafi os para a compreensão

Como o texto de Ma-teus 28.19-20 é citado normalmente isolado do restante do capítulo, aca-ba-se por não discutir a delimitação da perícope (nome técnico para seção ou parágrafo de texto sagrado). Embora muitos dividam o texto a partir do v. 18, onde principia a fala de Jesus, entendemos que a perícope tem início no v. 16. Esse versículo marca uma ruptura com a perícope anterior, mu-dando o espaço da ação (de Jerusalém para a Ga-liléia), os personagens (das autoridades da Judéia para os discípulos). Com isso, podemos perceber que a última perícope do evangelho de Mateus tem início no versículo 16. O que nos chama a atenção nessa perícope, que é a da despedida de Jesus, é que o cenário é um mon-te na Galiléia. Em Ma-teus, a geografi a aparece

sempre com um papel teológico

importante. As referências topográfi cas sempre de-sempenham uma função complementar importante na transmissão da men-sagem.

Nessa discussão sobre a topografi a, ganha des-taque a importância dos montes. O ministério de Jesus tem início com o Sermão do Monte (capí-tulos 5-7) que é proferido na Galiléia. Ao fi nal do sermão as multidões fi-caram maravilhadas com o ensino (didach) dele, pois ele ensinava com autoridade (exousia). Do mesmo modo, a última instrução aos discípulos acontece em um monte da Galiléia (“foram ... para o monte o qual or-denou”) e Jesus afirma ter autoridade (exousia) e, também, envia os dis-cípulos para ensinar (en-sinando – dida,skontej). Há uma relação direta de topografia e de temas. Porém, a preferência de Mateus pelos montes, tem uma razão teológica. Na tradição judaica, o monte é o lugar da manifestação de Deus. Grandes en-vios e grandes instruções divinas estão ligadas a esse espaço privilegiado. Missão Hoje

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Mateus, localizando essas duas instruções de Jesus no monte, afirma para sua comunidade o caráter revelatório da instrução divina para os ouvintes, ou seja, essas instruções são fala de Jesus que revela a vontade de Deus para os discípulos.

Com isso, estamos com uma perícope que se reveste de um signifi cado especial. É a última instru-ção de Jesus, acontece em um espaço que é entendi-do pela tradição como o lugar onde Deus se revela (para instruir e desafiar seu povo), e tem sua base na autoridade de Jesus. Ou seja, é um texto de transmissão de autoridade (de Jesus para os discípu-los) que acontece em um espaço da manifestação desafi adora de Deus. Com isso, percebemos que a introdução ao comissio-namento dos discípulos vem marcada por signos de fé da comunidade. Na tradição veterotestamen-tária, ninguém sai de um encontro com Deus em um monte sem um desafi o que muda radicalmente sua vida. O comissiona-mento dos discípulos irá transformar a vida deles. Isso é o que nos aponta os versículos 19 e 20.

A grande comissão –um problemade tradução

Quando trabalhamos com o texto de Mateus 28.19-20, ele é chamado, muitas vezes, do “grande ide”, enfatizando o “ide” como uma ordenança mis-sionária para os discípulos. O problema é que temos quatro verbos principais

nesses versículos: o verbo ir (v. 19); o verbo discipu-lar (v. 19); o verbo batizar (v. 19) e o verbo ensinar (v. 20). O único verbo que aparece no imperativo é o verbo discipular, os demais verbos aparecem todos no particípio grego. Deste modo, o verbo ir deve ser traduzido na di-nâmica do verbo batizar e ensinar.

Vejamos um pouco mais detalhadamente cada um desses verbos.

Discipular: este ver-bo (maqhteu,sate) apa-rece em nossas Bíblias traduzido como “fazei discípulos” na frase “fa-zei discípulos de todas as nações” (maqhteu,sate pa,nta ta. }eqnh). Essa é uma opção correta de tradução, mas esconde um pouco o processo

dinâmico e contínuo do discipular. Dá uma impressão estanque da ação missionária. A ação de fazer discípulos pode levar a uma interpreta-ção equivocada do final de que o final da ação discipuladora se dá na profissão de fé daquele ou daquela que foi alvo

da ação do discí-pulo. Por outro

lado, quando traduzimos por discipular (discipulai todas as nações) isso coloca o caráter mais contínuo e permanente da ação, a qual tem ou-tras dimensões que são expressas nos outros verbos desses versículos. Resumindo, podemos afirmar que o grande im-perativo desta comissão é o de discipular – ato contínuo e processual.

Ir, Batizar e En-sinar: Os demais três verbos principais des-ses versículos aparecem no particípio grego. Te-mos então as traduções possíveis como “indo” (poreuqe,ntej); “batizan-do” (baptizontej); “en-sinando” (dida,skontej). O particípio grego pode ser traduzido em portu-guês na forma de nosso particípio ou como ge-rúndio (que é a forma que cabe nesses ver-bos). Uma característica do particípio grego é a ênfase ao habito, à repetição. O uso do par-ticípio grego, portanto, apresenta o conceito da cotidianidade desses verbos. Deste modo o imperativo do discipular se dá na cotidianidade do indo, do batizando e do ensinando.

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Discipular em três dimensões

Essas dimensões do cotidiano apresentam de-safi os que se complemen-tam. A pergunta pode ser, por que esses três verbos? Podemos afi rmar que esses verbos apontam dimensões distintas do cotidiano dos discípulos. Vejamos essas dimensões, abordando os verbos a partir do que aparece por último.

Ensinando: Essa é uma dimensão facilmente percebida. A dimensão da didaquê, do ensino. No Sermão do Monte, em seu fi nal, percebemos as mul-tidões maravilhadas com o ensino de Jesus. O ensino é uma dimensão impor-tante do discipulado, é a continuidade da própria ação de Jesus. O discipu-lado tem uma importante faceta didática.

Batizando: Nesse ponto aparece a dimensão sacramental. O batismo, como marca do ingresso no movimento de Jesus, é mar-ca do discipulado. Batizar é proporcionar o ingresso, o acolhimento daqueles que, sendo parte de todas as etnias, são alcançados na ação discipuladora dos/as discípulos/as de Jesus.

Indo: Finalmente, o verbo que geralmente é traduzido no imperativo. Deixamos esse verbo para o fi nal uma vez que é o verbo que tem um número maior de pré-interpreta-ções. Normalmente ele é usado para justifi car a ação discipuladora como uma ruptura com um lugar e um tempo. Ide! acaba por signifi car saia de um lugar e vá para outro. Quando

traduzimos por indo, essa idéia estanque acaba por dar lugar a uma outra concepção. A ação disci-puladora é uma constante na vida do povo cristão. O que se enfatiza, portanto, é a dimensão do cotidia-no. O imperativo para discipular se concretiza na dimensão do cotidia-no. No dia-a-dia encontra-se o es-

paço da ação que dá sen-tido ao discipulado. Deste modo, embora se enfatize muito a ação sacramental – do batismo – e a ação didática – do ensino – a dinâmica do fazer discípu-los se inscreve no cotidia-no da realidade humana. Com isso, o imperativo fazer discípulo ganha uma abrangência universal – afi nal o alvo são todas as etnias – e uma abrangência

na vida do povo de Deus, isso por que todas as ações são discipuladoras. Não é só o ensino (que é im-portante), não são só os atos sacramentais (que são igualmente importantes) mas todas as atividades das comunidades de fé e do povo que compõe essas comunidades são

atividades dis-cipuladoras. Fi-

nalmente, o discipulado não tem como final do processo a profissão de fé. Ele continua sendo um desafi o por toda a vida dos/as discípulos/as.

Deste modo, fazer dis-cípulos é uma ação inte-gradora. Integra a comu-nidade em todas as suas dinâmicas do cotidiano. Integra os participantes da comunidade, fazen-do com que as práticas comunitárias e as práti-cas do cotidiano ganham igual importância no ato de testemunhar a fé e proclamar o Cristo. In-tegra, finalmente, todos os povos, na medida em que cada um e cada uma das pessoas das mais di-versas etnias são alvo da ação testemunhadora e proclamadora do Cristo, a partir da vida cotidiana das comunidades de fé e de seus participantes que são, portanto, desafi adas a fazerem discípulos, indo entre todas as pessoas, ba-tizando e ensinando. Uma ação que se desenvolve por toda a vida cristã.

Paulo Roberto Garcia é pastor me-todista, professor de Bíblia (novo Testamento) e coordenador do Curso de Teologia (Presencial) da FATEO. Adaptado de texto publicado na revista VOZ MISSIONÁRIA.

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Missão e Diaconia

Jane Menezes Blackburn

Há uns seis anos, u m a I g r e j a Evangélica situ-

ada num bairro da perife-ria de Recife me convidou para ajudar a escrever um projeto de ação social. A idéia era a distribuição de uma sopa uma vez por semana para uma popu-lação muito pobre com a fi nalidade de “evange-lização”. Sugeri que eles convidassem alguém da comunidade que receberia a sopa para participar do planejamento. Maria (aqui um codinome), uma cata-dora de lixo que precisava lutar com garra pela vida cada dia, chegou e as per-guntas que essa mulher fez durante a reunião foram realmente evangelizadoras. Ela achou a idéia da sopa muito boa, mas levantou questões como: “por que vocês estão querendo dar essa sopa pra gente?”; “por que vocês querem que quem vai receber a sopa entre na Igreja?”; “como a gente vai achar que Deus gosta da gente se vocês dão a sopa e não muda nada? Vocês conti-nuam ricos e nós no maior sufoco?”; “por que a gente ia querer assistir um culto depois, se nesse culto não tiver mais sopa?” E ela tentava entender o projeto e continuava a fazer co-

mentários de uma maneira muito simples que nunca vamos esquecer.

A partir dessa expe-riência, da minha cami-nhada como diaconisa na Igreja Metodista – Região Missionária do Nordeste e claro, da palavra de Deus, gostaria de pensar algu-mas coisas sobre Missão e Diaconia.

A razão de serda Igreja

A missão é a razão de ser da Igreja e dife-rentemente das outras instituições, a missão da Igreja não é dela mesma, mas de Deus. Pensar em missão é reconhecer o movimento de Deus en-tre nós e através de nós na sociedade.

É interessante como chamamos cada área de ação da Igreja de minis-térios. Somos uma Igreja de dons e ministérios e somos ministros/as da boa notícia do Reino de Deus. Isso não pode ser uma oferta de acomoda-ção, de paz espiritual ou de mobilidade social e econô-mica, mas de valorização da vida, das pessoas e um desafi o para que conhe-cendo e amando a Deus as pessoas cuidem umas das outras. Precisa ser boa notícia

para a vida. “... Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? .... E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.” (João 21:17)

A nossa fé se expressa num contexto de Igreja como organização huma-na e numa realidade onde esta Igreja está inserida.

Vivemos numa sociedade onde a prática é animada por uma ideologia de isola-mento, de individualismo, de consumo, de mercado, e dentro dessa realidade as Igrejas precisam de for-talecimento institucional para sobreviver e se vol-tam muito para si mesmas. Nós, cristãos/ãs somos

inseridos/as aí para vivermos o

modelo de Jesus onde nunca houve separação da fé e da ação em favor de quem sofre.

Não podemos dizer que a comunidade de fé onde congregamos seja um lugar fácil, mas sabe-mos que é o melhor lugar pra se viver. É um espaço onde quando as pessoas erram não é porque es-colheram o erro como um valor. Mesmo assim,

animar a atitude de servir dentro da Igreja é hoje um desafi o porque é um en-frentamento da ideologia de consumo tão presente na cultura religiosa atual.

Fora deste espaço os problemas parecem tão grandes e impossíveis de resolver e é um grande desafi o animar a atitude de servir fora da Igreja. Como servir uma juven-Missão Hoje

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tude envolvida em drogas e roubos, sem esperança para o futuro? Como ser-vir mulheres que sofrem violência? As crianças que carecem de vínculos afeti-vos seguros e de limites? Como garantir a imple-mentação das políticas pú-blicas especialmente nas áreas de saúde e educação? Sabendo que o serviço/diaconia muda a vida de quem serve e de quem é alcançado pelo serviço, sentimo-nos impotentes e temos a tentação de vol-tarmos para o espaço mais seguro da Igreja. A ten-dência é nos limitarmos a pequenas ações assisten-cialistas como entrega de cestas básicas, reconstru-ção de casas etc.

Para a nossa consideração urgente

Sem negar a impor-tância destas ações, nós precisamos considerar:

1. Servir é a identidade da pessoa que segue a Cristo. Servir é uma op-ção de vida, uma atitude. Servir em cada coisa que fazemos ou participamos. Como servir é muito con-fundido com “servil”, e inclui a idéia de inferiori-dade, muitas vezes temos dificuldade de nos con-vertermos e assumirmos a identidade de servidor/a,

mas precisamos saber que é isso que queremos ser: servos/as. E Deus me escolheu para ser servo da Igreja e me deu uma mis-são que devo cumprir em favor de vocês. Essa mis-são é anunciar, de modo completo, a mensagem dele. (Cl 1.25).

2. Servir é a identidade de Cristo. É muito bom ler a Bíblia e ir percebendo, na forma como Cristo se re-lacionava com as pessoas, um modelo possível. Claro que a realidade de hoje é diferente, mas o amor que permeia os relacionamen-tos na prática de Jesus é a nossa referência. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente .(Mc 10.45)

3. Servir é a identi-dade da Igreja, como no lema: “Igreja Metodista, Comunidade Missionária a serviço do povo”. Ser-vir a Deus só se refl ete no serviço às pessoas e serviço não supõe troca como questionou Maria no projeto da sopa. Ser-viço é serviço, de graça como a graça de Deus. Em nós não há nada que nos permita afi rmar que somos capazes de fazer esse trabalho, pois a nossa capacidade vem de Deus. É ele quem nos torna capazes de

servir à nova aliança. (2 Co 3. 5- 6)

4. O serviço precisa ser efetivo. Quando dese-jamos muito alguma coisa, nós focalizamos o objeti-vo, os meios para alcançá-lo e se alguma coisa não dá certo, procuramos criar as condições para conseguir. Se o nosso coração estiver no projeto missionário, lá estarão nossos recursos, nosso tempo e o acom-panhamento para que o resultado seja “sobremo-do excelente” para a glória de Deus. “... procurai, com zelo, os melhores dons. E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente”. (1 Co 12.31); “Se é o dom de servir, então devemos servir”. ( Rm 12.7).

5. O serviço é relacio-nal e comunitário. Precisa-mos cuidar uns dos outros porque o serviço não é uma atividade de uma pes-soa. Deus não é apenas o meu Deus, mas um Deus que ama a todos e o Seu Reino supõe uma vida co-munitária com base no seu amor. “Portanto, acolhei-vos uns aos outros”. (Rm 15.7); “Perdoando-vos uns aos outros”. (Ef 4.32); Sujeitando-vos uns aos ou-tros no temor de Cristo”. (Ef 5.21)

Quando Maria per-guntava por que q u e r i a m q u e

quem recebesse a sopa entrasse na Igreja, tentava compreender o que estava por trás do projeto: se estavam interessadas no bem de quem receberia a sopa ou em fortalecer a sua Igreja/denominação? Compreender se era uma troca ou se era um serviço por amor.

A conversa nos lem-brou que:• Se há inferiorização de

um grupo, não comuni-camos a ele o amor de Deus;

• Se tivermos a compreen-são de que somos iguais diante de Deus e juntos/as debaixo da Sua graça nós podemos enfren-tar os desafios desta sociedade, poderemos exercer a diaconia;

• Os problemas são com-plexos, mas podemos desenvolver uma ação efetiva para intervir;

• O lugar do serviço é onde as pessoas estão sofrendo e Deus está lá antes de nós;

• É Deus quem nos sus-tenta na missão.

JANE MENEZES BLACKBURN é diaconisa metodista, agente da organização Diaconia, em Recife/PE.

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Sou um teólogo suí-ço, pastor da Igreja Protestante de Ge-

nebra e trabalhando com o CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS (CMI) na área de Missão e Evangelização. Tenho alguma experi-ência de ecumenismo, já que tenho estado en-volvido em uma série de conferências mundiais de missão do CMI desde 1973. Também trabalhei por 18 anos no depar-tamento de missão das Igrejas Protestantes Suí-ças, onde experimentei as alegrias e as difi culdades da parceria em missão entre o Norte e o Sul. Para mim, a missão é fi el quando também é um testemunho da unidade que Deus tornou possí-vel em Cristo.

Missão: três defi nições

O que eu quero dizer quando falo de “mis-são”? O termo tem mui-tos significados, alguns dos quais tentarei explicar brevemente.

PRIMEIRO: missão refe-re-se à própria identidade de Deus como relacional, trinitário; um Deus que oferece total comunhão e relações reconciliadas

a todos os seres huma-nos que as aceitam. O mundo no qual vivemos é permeado pelas dinâmi-cas da própria missão de Deus que visa a “reunir todas as coisas em Cris-to” (Ef 1.9-10) no fi nal dos tempos. O horizonte da missio Dei, então, é a total unidade e comu-nhão com Deus e entre os seres humanos, apesar da realidade do mal e do julgamento de Deus.

SEGUNDO: há um segun-do signifi cado do termo, também muito valorizado em círculos ecumênicos. Como parte da missão mais ampla de Deus, que-remos falar da “missão da igreja”, querendo signifi car a sua apostolicidade, o seu envio. Missão, então, é a dinâmica que permeia tudo o que as igrejas vivem, pensam e fazem: pregar, ensinar, curar, celebrar, lutar por justiça, por paz e pelo respeito à criação de Deus.

TERCEIRO: agora, que-ro me concentrar num terceiro, mais limitado, uso do termo “missão”. Quero me referir a três tarefas específicas da igreja, que são parte do seu chamado geral, mas são freqüente-

mente negligenciados ou praticadas de uma forma que parece infi el para mim.

Missão como cura e reconciliação

Cada igreja é chamada em Cristo para se tor-nar uma comunidade de cura e reconciliação. No movimento ecumênico, enfatizamos agora o evan-gelho como uma oferta de reconciliação, de cura de relacionamentos, com Deus, entre nós e com a criação. O pecado, como líderes ortodoxos e ecu-mênicos reafi rmam, tem a ver com relacionamen-tos destruídos. A missão local da igreja significa tornar possível uma vida comunitária moldada pelo poder curador do Espírito e a ação reconciliadora de Cristo. Tais espaços seguros de espiritualidade permitem que pessoas encontrem signifi cado na vida, abrigo do mal e da miséria, nova força para testemunhar e se envolver na família, no trabalho, na sociedade e na política. Manter e aumentar a atra-ção irradiadora de igrejas locais já foi o eixo das pre-

ocupações dos

apóstolos em suas cartas.Uma igreja, porém,

compromete a credibilida-de do evangelho quando pratica sua missão local em confl ito com ou em oposição a outras igrejas que crêem no mesmo Deus Promotor da Paz. Como podemos pretender ser reconciliados em fé por Cristo, se nós não so-mos capazes de trabalhar seriamente pela reconci-liação entre igrejas, deno-minações e movimentos de missão conflitantes? Nossa desunião coloca o corpo de Cristo em risco.

Evangelismo vs. proselitismo

O evangelho não pode ser apenas vivido, mas tam-bém partilhado. Eu, então, enfatizo a importância do “evangelismo”, entendi-do como uma expressão intencional da mensagem de Cristo, convidando to-dos a considerá-lo como uma oferta de mudança e modelagem de vida. Evangelismo é convite, não obrigação. Oferta, não imposição. Graça, não julgamento. Na missão da igreja, há uma forma de proclamação que é mais crítica, mais aguda. É a “profecia”, a denúncia do

Ecumenismo e missão:conceitos indissociáveis

Jacques Matthey

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pecado pessoal, do coleti-vo ou do estrutural. Evan-gelismo, enquanto carrega um apelo por transfor-mação, principalmente anuncia “boas-novas”, isto é, a proximidade a Deus de graça e cuidado que derrama uma luz nova sobre a minha e a sua vida e permite mudança.

Muitas igrejas grandes tradicionais envolvidas no movimento ecumê-nico perderam o gosto e o amor pela partilha do evangelho com aqueles que não o conhecem e são hesitantes sobre evangelis-mo, em princípio. Penso que elas não são fi éis ao seu chamado. Se você crê que Cristo faz diferença, por que não partilhar sua mensagem?

Num outro lado do spectrum, há um proble-ma diferente: aquele em que a paixão missionária e a militância freqüentemen-te levam à agressividade e ao proselitismo.

Por “proselitismo” quero referir-me a dois diferentes, mas relacio-nados, anti-testemunhos: um é visar consciente-mente a trazer cristãos de uma igreja para a minha própria. Como se não houvesse pessoas sufi-cientes no mundo que nunca tivessem ouvido de Cristo, muitos cha-

mados “evangelistas” dirigem suas mensagens a cristãos! Isto cria ten-são e hostilidade, e até inimizade entre igrejas. Para qual resultado?

O segundo signifi cado de proselitismo é o uso de métodos contrários à forma como o próprio Cristo viveu e agiu. Ele se recusou a usar poder para reforçar o reconhecimen-to de sua messianidade, como a história da tenta-ção nos fala claramente. Algumas tentações mis-sionárias são verdadeira-mente satânicas!

Então, eu apelo por um evangelismo que seja uma partilha autêntica da graça de Deus, da vida em abundância oferecida em Cristo por meio do Espí-rito, e que não pode des-truir a comunidade nem aumentar o ódio. Como o CMI disse em 1982: missão na forma de Cristo.

A Missão Mundial

Terceiro, penso que cada igreja tem que fa-zer parte no que chama-mos “missão mundial”. A grande comissão (Mt 28) é dirigida a “todos os discípulos”. É, então, a tarefa comum de todos os cristãos e igrejas. A missão mundial tem a ver com a consciência de que o evangelho de Jesus Cristo, o caminho de vida e dos valores do Reino de Deus, seja partilhado a tantos lugares geográfi cos, espaços de vida e a tantas pessoas quanto possível. Os principais atores são as igrejas que estão mais próximas dos lugares e das pessoas em questão. Igre-jas em outras partes do mundo devem cooperar com essas igrejas locais, por exemplo, intercam-

biando recursos e testemunhos in-

terculturais. Eu tenho ex-perimentado por mais de 15 anos como isso pode ser feito. É necessário ter paciência, sensibilidade in-tercultural e muita oração e diálogo para evitar o uso equivocado do poder.

O mundo se tornou um lugar de competição quanto à caridade e à re-ligião, um mercado onde você cresce se você alarga a sua identidade e sabe como mostrar que você é melhor do que outros. Esta não é a lógica do evange-lho, que nos chama “em humildade, a considerar os outros como melhores que nós mesmos” (Fl 2.3). A forma de cooperarmos com outras igrejas mostra o Deus em quem acredi-tamos. Forçar a porta de outros lugares, onde igrejas pacientemente lutaram por anos para fazer a diferença, pode destruir o trabalho de missão por décadas, apesar de história aparentemente bem-sucedidas. Para quê?

Busca de unidade visí-vel como parte do evange-lho integral

Para quê, na verdade? Minha compreensão é a seguinte: a Missão pode ser bem-sucedida em ter-mos de números quando feita agressivamente, se-guindo os métodos “do mundo”, baseada nas es-tratégias de marketing, Missão Hoje

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atingindo povos especí-fi cos, oferecendo vanta-gens materiais e por aí em diante. Se tais métodos ganham convertidos, mas arruínam relacionamentos com outras igrejas, eu digo que eles trabalham contra a Missão de Deus. Porque eles não testemunham “o evangelho integral”. Permita-me tentar explicar isto em três pontos.

Unidade como resultado da Unidade e da Diversidade de Deus

Na sua oração final, Jesus chama os discípulos a serem um, não pela uni-dade simplesmente, mas para que “eles fossem um assim como nós somos um” e para que o mundo pudesse crer “que tu me enviaste” (Jo 17). A unida-de visível entre cristãos e entre igrejas cristãs aponta para a realidade de Deus como um em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. Igrejas separadas de facto apontam para um Deus dividido, e dão a imagem de um evangelho parcial e deteriorado. A Missão não apenas chama à fé, mas à fé e vida em comunhão com Deus e outros cristãos. A comunhão entre igrejas é um sinal e conseqüência

da comunhão em e com Deus. A desunião não permite que os humanos se apropriem mais do mis-tério da própria unidade e diversidade de Deus.

A cruz com fi m das divisões

Quando leio os hinos das cartas aos Colossenses e aos Efésios, tomo cons-ciência de que a morte e a ressurreição de Jesus não apenas traz perdão para os meus pecados pessoais – sim, traz, graças a Deus! Por meio de sua morte, Cristo quebrou os muros que dividem a humanidade em grupos de confl ito com desrespeito e ódio entre si. Na cruz, as divisões huma-nas perdem o seu caráter absoluto. Que testemunho à unifi cadora morte na cruz nós damos como cristãos divididos, quando nossa própria identidade denomi-nacional é mais importante para nós do que o amor por nossos irmãos e irmãs em fé?! O evangelho integral da morte e ressurreição de Jesus implica mais do que conversão pessoal e crença individual. Claro, Cristo vence o meu (e o seu) peca-do. Mas ele também torna possível que pessoas de to-das as origens vivam juntas em comunidade, como Mateus 28

afi rma: faça discípulos de “todas as nações”. Isto implica também igrejas compostas por pessoas de todas as nações e origens, que superaram divisões humanas.

O amor é a essência da unidade

O Cristo ressurreto envia do Espírito Santo de Deus para manifestar a presença curadora de Deus e dá poder às igrejas para testemunhar. Como sabemos, uma variedade de dons de graça, os “ca-rismas”, são dados aos crentes em e depois de Pentecostes. Muitas igrejas precisam recapturar essa ampla variedade e riqueza de dons de Deus, que inclui cura divina e exorcismo, falar em línguas, profecia, discernimento etc. Di-visões entre igrejas têm resultado da negligência da variedade de carismas. Mas, novamente, vamos distin-guir o que realmente faz diferença, em termos do evangelho. A marca fi nal da autenticidade é perdão e amor. Este é o dom últi-mo do Espírito que jamais acaba (I Co 13). O vínculo da unidade é o amor como o Novo Testamento afi r-

ma. Somos até chamados a amar

os nossos inimigos. En-tão por que não começar com a nossa família cristã? A Missão que não prega amor não leva ao perdão e à unidade não testemunha o “evangelho integral” mas uma versão da mensagem salvadora de Cristo parcial e distorcida.

A título de conclusão

Para mim, missão em unidade tem prioridade sobre o sucesso. A fi de-lidade para a qual nós fomos chamados pode nem sempre levar ao cres-cimento numérico – olhe-mos para o próprio minis-tério de Jesus. Mas pode, sim. De qualquer forma, esta não é a questão mais importante. O ponto que quero ressaltar é que a real paixão pela missão ligada à real paixão pela unidade será mais fi el ao evangelho integral do Reino do que ecumenismo sem missão ou missão sem unidade.

JACQUES MATTHEY é pastor da Igreja Protestante de Genebra, missiólo-go, diretor do Programa Unidade, Missão, Evangelização e Espir-itualidade do Conselho Mundial de Igrejas. Como integrante da equipe do CMI liderou a Conferência Mis-sionária Mundial de Atenas (2005). Este texto é a palestra que Matthey proferiu no Congresso Ecumênico Latino-Americano de Estudantes de Teologia (São Leopoldo/RS, 10 a 25 de fevereiro de 2006). Tradução do inglês por Magali do Nascimento Cunha.

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Introdução

Pela leitura dos primei-ros versículos do capítu-lo 20 de João, podemos perceber os confl itos que transparecem na narrativa, dando-nos conta de que, desde os inícios, o cristia-nismo teve que aprender a lidar com diferenças e pre-ferências: uns atendiam à liderança de Pedro, outros, à do pequeno João, mas outros se espelhavam em Maria Madalena.

A leitura dos versí-culos finais do mesmo capítulo nos permite am-pliar essa rede de intrigas e disputas. É que agora entra em cena Tomé.

José Saramago, no seu livro, “O evangelho segundo Jesus Cristo”, respaldado por pesquisas e consultas aos textos apó-crifos atribuídos a Tomé, insere em sua fi cção lite-rária, uma lenda a respeito de Jesus e Tomé:

Certa feita, Jesus e os dis-cípulos estariam na praia e o assunto a respeito do qual conversavam era a vo-cação messiânica de Jesus. Tomé tentava dissuadi-lo dessa missão impossível. Então, Jesus começou a esculpir pássaros com a areia da praia. Depois, jo-gou uma rede de pesca sobre os pássaros de areia e, voltando-se para Tomé, disse-lhe: “Tomé, liberte

Crer com os dedos

(Sermão baseado no texto de João 20.19-31)Luiz Carlos Ramos

O primeiro encontro do res-suscitado com o grupo de discípulos, mas sem Tomé (vv. 19-25); e o segundo encontro, oito dias depois, desta vez estando Tomé com os demais (26-29).

Essa estrutura sugere a tensão entre os que crêem para compreender, de um lado, e os que querem compreender para crer, de outro — foi Santo Agos-tinho (354-430), quem primeiro pôs a questão nesses termos: Intellige

ut credas, crede ut intelli-ga — “Entende e crerás, crê e entenderás” (Ser-mão 43). Questão essa tratada reiteradamente pelos principais teólogos em diferentes épocas da história da Igreja.

Analisemos com aten-ção essas duas classes de pes-Sermão

os passarinhos.” Tomé, tentou, meio sem jeito, poupar Jesus também desse constrangimento. Mas Jesus insistiu: “Tomé, liberte os passarinhos.” Como Tomé não tivesse alternativa, num gesto rápido, tirou a rede. No mesmo instante, os passarinhos saíram voando. Então, escreve Saramago, Tomé caiu aos pés de Jesus, e confessou: “Senhor meu e Deus meu!” Ao que Jesus lhe respondeu: “Por causa do milagre você crê? Pois eu lhe digo que maior milagre seria você não precisar de milagres para crer!” (Re-construção não literal)

Ao longo da história, Tomé sempre foi consi-derado uma personalidade controvertida. Depreciado por uns, como sendo cé-tico e incrédulo e, pelas mesmas razões, respeitado e honrado por outros.

A perícope se estrutu-ra em duas partes muito evidentes:

soas. Comecemos com os seguidores de João…

Os que crêem para compreender

Vale a pena voltarmos uns poucos versículos. Lembram-se que, na ma-drugada daquele domingo, todos correram para o se-pulcro onde deveria estar o corpo de Jesus? Vocês se lembram também de um detalhe, pequeno, mas de modo algum insignifi can-te a respeito do menino João que, justamente por ser o mais jovem, chegou primeiro, mas que não entrara imediatamente no sepulcro? (cf. Jo 20.4-8).

João é o primeiro a crer. Conquanto o tex-to afi rme que ele “viu e creu”, parece muito mais descrever antes o que ele não viu, pois o túmu-lo estava vazio, lá havia somente a mortalha e o sudário. Poderíamos, por-tando, reescrever o verso oito assim: “Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e [não] viu [Je-sus], e creu.” (v. 8)

Retomando: À noiti-nha do mesmo domingo, os discípulos estavam reu-nidos no cenáculo, com as portas bem trancadas, por-

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que estavam com medo de uma iminente perseguição. Então… o inesperado, o impensável, acontece: “Veio Jesus, pôs-se no meio” (v. 19).

Em pé, na postura que desde então se tornou simbólica do ressuscita-do, braços estendidos, mãos espalmadas, Jesus lhes oferece a paz, e sem que ninguém lhe peça, mostra-lhes as marcas em suas mãos e a ferida no peito (v. 20).

É surpreendente que, de acordo com a narrati-va, o que teria chamado a atenção dos discípulos, não foram as cicatrizes. Pois o texto diz: “Alegra-ram-se, portanto, os discí-pulos ao verem o Senhor” (no mesmo v. 20).

Os discípulos, e certa-mente João entre eles, ti-veram mais prazer em ver o seu amigo e Senhor vivo do que em contemplar as feias chagas da cruz.

Ao longo da história, muitos exercitaram des-sa mesma forma a sua fé. Atribui-se a Tertulia-no (155-222) a máxima: “Credo quia absurdum”, que pode ser traduzida por “Creio, mesmo que absurdo”, ou ainda me-lhor: “Creio, justamente porque é absurdo”. Na verdade, a fé é necessária justamente quando não há evidências. Havendo

provas, não é preciso crer, basta constatar.

Quem se contenta com provas, ou sinais, é como aquele que olha para o dedo que aponta as estrelas, e deixa de ver as estrelas, que são muito mais bonitas que o dedo.

Uma religião que não necessite, que não cobre, e que não dependa de evidencias, de sinais, ou de milagres, é constituída de fi éis mais felizes. Essa fé é duradoura, ao passo que aquela que depende de sinais estará sempre em busca de mais, cada vez mais, sinais. Superavit de milagres, não impli-ca necessariamente em abundância de fé. É o evangelista João mesmo quem o diz: “E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não cre-ram nele” (Jo 12.37). Além do que, prodígios podem ser feitos por qualquer um, inclusive por inimigos de Cristo, isto está dito por São Mateus: “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24.24).

Os discípulos alegra-ram-se — literalmente, fi caram “felizes” — não porque viram provas e obtiveram evi-dências, mas por-

que reviram seu amigo e reencontraram o seu Senhor.

Mas não nos preci-pitemos, e não sejamos injustos ou demasiada-mente severos com Tomé. Procuremos conhecer melhor, agora, os que lhe seguem o exemplo…

Os que querem compreender para crer

Vejamos: oito dias depois, isto é, no segun-do domingo depois da Páscoa (como o que co-memoramos hoje), no mesmo cenáculo, se dá um novo encontro… Desta vez Tomé está com os outros. Jesus repete sua visita e, ao que parece, só pra satisfazer o capricho de Tomé, que antes havia, com bravatas, afi rmado: “Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acredita-rei” (v. 25).

Jesus toma a iniciativa e se dirige a Tomé. Dá-lhe a esperada ocasião para ver com os dedos: “Põe aqui o dedo e vê” (v. 27). E então lhe pede para que não seja incrédulo, mas que seja crente. Note que não lhe pede que seja

crédulo, pois ser crente é muito

mais do que ser crédulo. Jesus respeita a dúvida de Tomé, que é a de quem quer compreender para crer.

O contraponto é que a credulidade também pode ser uma forma de descren-ça, uma vez que coloca no mesmo nível dos grandes sinais divinos outros fenô-menos menores, ingenua-

mente entendidos (ou, não tão ingenuamente assim, desentendidos).

O poeta inglês Alfred Tennyson certa vez escre-veu: “Há mais fé em uma dúvida honesta, / Creiam-me, do que em metade dos credos”.Sermão

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E Tomé tinha essa vir-tude:

“Negava-se completamente a dizer que cria quando isso não era verdade. Jamais diria que entendia o que cria quando não entendia, [ou] quando não cria. […] Jamais apaziguaria as dúvi-das simulando que elas não existem. Jamais repetiria um credo, como se fosse um papagaio, sem entender o que dizia. Tinha que estar certo, e de que tinha razão” (1974, p. 301-302).

Hoje, os que buscam milagres não precisam se esforçar muito pra os en-contrar. Em cada esquina, dezenas de taumaturgos e prestidigitadores travesti-dos de pastores, bispos, apóstolos, patriarcas, pa-pas e sabe-se lá o que mais hão de inventar, em cada esquina, repito, estão a performar fenômenos mal-explicados, numa ba-nalização sem precedentes das coisas de Deus.

Tomé, no fundo, era uma criança que sempre está a perguntar: O que é isso? Como assim? Mas Por quê? As crianças exer-citam o mesmo tipo de dúvida que, ao fi nal, pode conduzir à certeza mais límpida. E é justamente da boca de Tomé que sai a mais bela fórmula ou afi rmação de fé de todo o Novo Testamento: “Se-nhor meu e Deus Meu!” É a primeira grande síntese teológica das duas natu-

a Índia por um rei para construir um palácio. Re-cebeu uma grande soma em dinheiro para realizar a obra. Mas diz-se que Tomé distribuiu todo o dinheiro entre os pobres. De tempos em tempos o rei mandava chamá-lo para saber como ia o an-damento da construção. “Vai bem”, dizia ele. Até que o rei desconfi ou e foi tirar a cisma. Quando des-cobriu o que tinha aconte-cido com seu dinheiro, a princípio fi cou furioso, e perguntou: “Onde está o meu palácio”. Tomé teria respondido: “Agora o se-nhor não pode vê-lo, mas o verá um dia na glória”. O rei acabou abraçando o Evangelho.

Daí em diante, Tomé se dedicaria a pastorear aquele rebanho em terras longínquas. Até o dia em que, enquanto viajava pelo interior da Índia pregando o evangelho, seria tras-passado por uma lança, tal como a que um dia, na cruz, traspassara o corpo do seu Senhor e Deus, corpo que, num certo domingo de primavera, ele mesmo havia tocado com seus próprios dedos. Mostrou, fi nalmente, quão sincero tinha sido quando disse, um dia: “Vamos nós também para morrer-

mos com ele” (Jo 11.16).

rezas de Cristo: a humana (Senhor meu), e a divina (e Deus meu).

Esse maravilhoso rela-to evangélico seria muito importante para os cris-tãos de segunda geração, posto que estes não her-daram somente uma fé hipotética, mas uma fé que havia sido testada e havia sobrevivido ao ceticismo de gente inteligente como Tomé.

Também é fundamen-tal para nós, hoje, pois oscilamos entre o ceticis-mo estéril e a credulidade ingênua, que nos cercam e nos angustiam. E o exem-plo de Tomé nos ajuda a exercitarmos uma fé inte-ligente, como é inteligente o Criador do Universo, a formularmos um credo digno da inteligência do nosso Senhor Jesus Cris-to, e a praticarmos uma fé igualmente consistente com a inteligência do Es-pírito soprado por Cristo sobre seus discípulos, na-quele ato recriador que inaugurou um novo gêne-sis na história da salvação do universo.

ConclusãoReza a lenda que Tomé

foi o apóstolo que levou o Evangelho para a Ín-dia. Dizem que, como Jesus, era carpinteiro de profissão. Teria sido levado para

Quem de nós poderá dizer que alguém assim como Tomé tem uma fé débil ou frágil? Nós, hoje, podemos nos considerar bem-aventurados e felizes porque não vimos, contu-do, cremos, mas, pela gra-ça de Deus, temos pra nós o testemunho de alguém que teve a coragem e a dig-nidade de apresentar suas dúvidas honestas diante do Senhor da Vida, para que, com ele, pudéssemos também nós, com con-fi ança, sem a necessidade de milagres, afi rmar diante do ressuscitado: “Senhor meu, e Deus Meu!”

Graças a esse Salvador, divino-e-humano, que nos visita em nossas dúvidas, nós podemos hoje com-preender para crer e crer para compreender.

LUIZ CALOS RAMOS é pastor meto-dista e professor de Homilética na FATEO onde coordena a Coorde-nação de Liturgia e Arte. Sermão pregado pela primeira vez na FATEO, no culto do dia 7 de abril de 2010, a propósito do Segundo Domingo de Páscoa. Referência bibliográfica: BARCLAY, W. O Novo Testamento Comentado por William Barclay: Juan II, v. 6 (caps. Viii AL xxi). Bue-nos Aires: Editorial La Aurora.

Sermão

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Oração

Ações pela Paz naPalestina e em Israel

Suzel Tunes

Quando as pala-vras “Palestina” e “Israel” estão

juntas em uma mesma notícia, é muito provável que uma terceira palavra as acompanhe: conflito. Existem, porém, novas palavras florescendo no Oriente Médio, a partir do diálogo promovido por lideranças religiosas de todo o mundo, sobre as quais, lamentavelmente, pouco ou nada sabemos.

Foi para trazer infor-mações e proporcionar a refl exão sobre o tema que a FACULDADE DE TE-OLOGIA DA UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO trouxe à sua tradicional atividade Diálogo Comu-nitário, promovida pelo Programa de Extensão, dois representantes dos esforços de paz entre Is-rael e Palestina: Michel Nseir, membro da IGREJA ORTODOXA ANTIOQUINA, e Manuel Quintero Pérez, membro da Igreja Presbi-teriana Reformada, ambos representantes do CONSE-LHO MUNDIAL DE IGREJAS, CMI. Eles estiveram na Fa-culdade de Teologia no dia 23 de março de 2010 para momentos de diálogo com a comunidade acadêmica e convidados/as sob o tema: “Di-

álogo para a Paz: ações para superar o confl ito em Palestina e Israel”.

Michel Nseir atua como executivo de pro-grama do FÓRUM ECUMÊ-NICO PALESTINA-ISRAEL, uma plataforma criada pelo CMI em 2007 para coordenar as iniciativas das igrejas em favor da paz. Nascido no Líbano e formado em teologia, ele trabalha na sede do Con-selho Mundial de Igrejas, em Genebra. Em sua pa-lestra, ele falou da situação das igrejas cristãs que existem na região desde que surgiram os primeiros seguidores de Jesus. São igrejas que, espalhadas por Israel, Líbano, Síria, Jordânia, Egito e Iraque aprenderam a conviver num contexto multirreli-gioso e multicultural.

Hoje, os cristãos pa-lestinos são marginali-zados sob o rótulo de “terroristas” que a mídia internacional ajudou a criar, especialmente após o 11 de Setembro. “Vivem uma situação de desespe-ro, pois todas as tentativas de negociação falharam até agora. No entanto, eles ainda pronunciam uma palavra de fé, amor

e esperança, em um documento

chamado Kairós Pales-tina”, diz Michel. Neste documento, eles falam da dura vida sob a ocupação israelense:

Nosotros, un grupo de palestinos cristianos, después de haber rezado, refl exionado e intercambiado opiniones delan-te de Dios sobre la prueba que vivimos sobre nuestra tierra, bajo ocupación israelí, hacemos oír hoy nuestro grito, un grito de esperanza en ausencia de toda esperanza, unido a nuestro ruego y nuestra fe en Dios que vela, en su Divina Providencia, sobre todos los habitantes de esta tierra. Movidos por el misterio del amor de Dios por todos y de aquel de su presencia divina en la historia de los pue-blos y, más particularmente, en esta nuestra tierra, queremos decir hoy nuestra palabra como cristianos y como palestinos, una palabra de fe, de esperanza y de amor.

Manuel Quintero é coordenador internacional do PROGRAMA ECUMÊNICO DE ACOMPANHAMENTO À PALESTINA E ISRAEL (EAPPI, da sigla em inglês), uma iniciativa do CMI que tem como objetivo apoiar os esforços locais e inter-nacionais para por fi m à ocupação israelense, com base nas resoluções da ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Cubano, formado

Semana Mun-dial de Oração:

29 de maio a 4 de junho de

2009

Ação conjun-ta por uma paz

justa convocada pelo Conselho

Mundial de Igre-jas

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em Comunicação Social, Quintero foi diretor de comunicações do Conse-lho Latinoamericano de Igrejas (CLAI).

Ele explicou que o programa EAPPI recebe voluntários do mundo todo. Eles monitoram e informam sobre a viola-ção de direitos humanos e as leis humanitárias in-ternacionais. Uma das tarefas destes voluntários é acompanhar os pales-tinos que passam pelos postos de controle todas as vezes em que, para ir de uma cidade palestina a outra, são obrigados a ingressar em terra israe-lense (as áreas palestinas vistas no mapa, parecem pequenas ilhas em meio ao solo israelense). Os voluntários chegam até mesmo a acompanhar crianças palestinas que vão a escola e sentem medo de passar pelos postos de controle, onde costumam ser hostilizadas pelos co-lonos israelenses.

“Não há mocinhos nem bandidos. Todos so-frem”, diz Quintero, que faz questão de lembrar que o Conselho Mundial de Igrejas não está toman-do partido de nenhum grupo, mas buscando a paz. É também o que afi r-

ma o Código de Conduta do PROGRAMA ECUMÊNICO DE ACOMPANHAMENTO À

PALESTINA E ISRAEL, o EAP-PI: “Não tomamos partido neste confl ito e não dis-criminamos ninguém, po-rém, não somos neutros quanto aos princípios dos direitos humanos e do direito hu-

manitário internacional. Estamos fi elmente com os pobres, os oprimidos e os

marginalizados. Queremos servir a todas as partes, de maneira justa e imparcial, em palavras e ações”.

“Nossas metas ba-seiam-se na convicção de

que a ocupação é prejudicial não

apenas para os palestinos, mas também para os is-raelenses, e derivam de nossa preocupação pelo sofrimento que experi-mentam ambos os povos. O programa demonstra nossa solidariedade com as pessoas de ambos os lados deste confl ito que se esforçam de maneira não violenta para por fi m à ocupação e alcançar uma paz justa”, diz o site do EAPPI.

A partir do diálogo do EAPPI com igrejas cris-tãs da América Latina, o EAPPI abrirá vagas para voluntários latinoameri-canos. Para participar do programa, os voluntários terão que passar por um treinamento que inclui conhecimentos históricos e geográficos da região, direito internacional e téc-nicas de “não violência”.

Para ler o documento Kairós Palestina, acesse: http://www.metodista.br/fateo/noticias/fateo/noticias/kairos_palestina.doc

SUZEL TUNES é jornalista metodista e atua na Assessoria de Comuni-cação da FATEO. É também edi-tora do JORNAL EXPOSITOR CRISTÃO, da Igreja Metodista.

Oração

Como parte deste processo de promoção da paz com justiça, o Conselho Mundial de Igrejas convida as igrejas a unirem-se à semana de sensibillização e ação a favor de uma paz justa na Palestina e em Israel e pela cura das feridas pelas quais sofrem os dois povos. A semana que unirá cristãos em oração será a de 29 de maio a 4 de junho.

Para saber mais sobre a Semana de Oração e aces-sar materiais que podem subsidiar este momento veja http://www.oikoumene.org/es/events-sections/semana-mundial-para-la-paz.html.

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Page 23: Deus hoje - Universidade Metodista de São Paulo...Festa e revisão de caminhos em pauta A propósito dos 100 anos da Conferência Missionária de Edimburgo Magali do Nascimento Cunha

Cuidar do planeta – uma prática cristã

A propósito do Dia Mundial do Meio-Ambiente (5 de junho)Natanael Garcia Marques, pastor metodista da 6ª Região Eclesiástica

Alegrai-vos, pois, e regozijai-

vos para sem-pre com aquilo que estou para

criar. (Isaias 65.18)

A vida em sociedade exige o cumpri-mento de certas

regras, que são os deveres. Afi nal, do mesmo modo que têm direitos, todas as pessoas têm também obrigações. Respeitar as outras pessoas, suas es-colhas e opiniões é uma delas.. Jogar lixo nos luga-res apropriados, preservar a natureza também são deveres de todos nós.

No Antigo Testamen-to a justiça (sedaqad) e o direito (michipat) não an-dam sozinhos; com eles caminha: a fi delidade, a fé, a confi ança, a bondade, a graça, a honradez, a cor-reção, a paz, a vida plena, o estatuto, a instrução e a integridade.

O povo de Deus no Antigo Testamento estava visivelmente preocupado com a presença da justiça no dia-a-dia. Para eles e elas a implementação da

ordem do mundo aconte-cia através da sedaqad (jus-tiça), michipat (direito), hesed (bondade), emunah (fi delidade), shalom (paz, vida plena), aplicados em cada âmbito da socieda-de. A preocupação com a justiça foi comum aos historiadores, sábios, legis-ladores, profetas e o povo simples que experimenta-vam a fé, seja no culto, seja nas crises do dia-a-dia.

O que vimos acima foram exemplos de como é possível trabalhar a par-tir da Bíblia o tema atual dos Direitos Humanos, da prática da justiça, do desejo de vida digna e abundante. Existem mui-tas possibilidade quando partimos deste eixo, por-que esse é tema central na Bíblia, entre elas a cons-ciência universal sobre a importância do cuidado com o meio ambiente. Nunca se proclamaram tão alto esses cuidados e ao mesmo tempo nunca foram tão sistematicamen-te violados como nos nos-sos tempos. A luta para conservá-las fi rmemente na consciência dos indi-víduos e dos povos passa obrigatoriamente pelo processo educativo.

A fé metodista desper-ta nas pessoas a inconfor-

midade com as situações degenerativas da vida, seja por meio da destruição do meio ambiente, da miséria, da exploração do trabalhor/a, da desinte-gração de valores como a solidariedade e a justiça e de tantas outras situações aviltantes à vida.

A responsabilidade pe-las outras pessoas, pela sociedade, pela natureza, implica na organização de um mundo com vida sau-dável. A identidade desta organização se constrói prioritariamente com pro-pósito público. Ou seja, não haverá sobrevivência da so-ciedade humana sem uma ética, sem uma experiência de coletividade, voltada para o bem estar de todas as pessoas e do planeta.

Temos que ter um cui-dado todo especial com nosso planeta, pois só o temos para viver e morar. Portanto, cada ser huma-no precisa descobrir-se como parte do ecossis-tema e desenvolver uma consciência coletiva que pesa sobre o nosso belo planeta e para cuidar dele precisamos passar por uma alfabetização ecoló-gica e rever nossos hábitos de consumo, ao mesmo tempo desenvolver uma ética do cuidado.

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