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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC SP Jeanny Meiry Sombra Silva Diferentes caminhos para formação docente: estratégias empregadas por coordenadores pedagógicos Educação: Psicologia da Educação SÃO PAULO 2019

Diferentes caminhos para formação docente: estratégias ... · A minha amiga Elisa Bonafé: por sua parceria na monitoria e nos estudos sobre o coordenador pedagógico. Aos colegas

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Page 1: Diferentes caminhos para formação docente: estratégias ... · A minha amiga Elisa Bonafé: por sua parceria na monitoria e nos estudos sobre o coordenador pedagógico. Aos colegas

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

Jeanny Meiry Sombra Silva

Diferentes caminhos para formação docente: estratégias

empregadas por coordenadores pedagógicos

Educação: Psicologia da Educação

SÃO PAULO

2019

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Jeanny Meiry Sombra Silva

Diferentes caminhos para formação docente: estratégias empregadas por

coordenadores pedagógicos

Doutorado em Educação: Psicologia da Educação

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial

para obtenção do título de DOUTORA em Psicologia da

Educação, sob a orientação da Profa. Dra. Laurinda

Ramalho de Almeida.

São Paulo

2019

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Banca Examinadora

_________________________________

Profª Dra. Laurinda Ramalho de Almeida

________________________________________

Profª Dra. Marli Eliza Dalmazo Afonso de André

______________________________________________

Profª Dra. Vera Placco Vera Maria Nigro de Souza Placco

___________________________________

Profª Dra. Luiza Helena da Silva Christov

______________________________________________

Profª Dra. Maria Lúcia Marcondes Carvalho Vasconcelos

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O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001;

This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior – Brasil (CAPES) – Finance Code 001.

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Dedico este trabalho a todos os coordenadores da rede

pública de ensino do Estado de São Paulo

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AGRADECIMENTOS

À querida profa. Laurinda, minha orientadora, pela amizade e pelas palavras sempre plenas de

sentidos carinhosos e sinceros, valorizando meu percurso, acreditando na minha capacidade e

compreendendo minhas fragilidades. Obrigada por sua sabedoria, dedicação incansável e

pelos momentos maravilhosos que passamos juntas.

À profa. Marli André: pelas valiosas contribuições no exame de qualificação, que me fizeram

rever escolhas metodológicas; por ter compartilhado muito de seu saber e ter tido paciência

com meu aprendizado; por não desistir de mim ao longo do Doutorado; por me lançar

questionamentos, fazendo-me refletir no meu papel de formadora e pesquisadora.

À Profa. Vera Placco: pela grandiosidade de suas aulas; pelas ricas contribuições no momento

da qualificação que me fizeram dar um novo rumo à pesquisa; pela atenção que sempre

dispensou a mim; por sua inspiradora dedicação à formação docente.

À profa. Maria Lúcia: por sua persistência de anos em liderar e manter no Mackenzie o

grupo de pesquisa sobre os estudos de Paulo Freire. Suas aulas me ensinaram, desde o

mestrado, que na educação pública não se pode deixar de “sonhar sonhos possíveis”.

Obrigada por estar ao meu lado na qualificação desta pesquisa, me ajudando a encontrar os

rumos que deveria seguir.

À profa. Luiza Christov, presente há tempos como referência em minha formação e prática

profissional. Grata pela leitura atenta do trabalho de qualificação e pelos preciosos

ensinamentos que espero ter sido capaz de alcançar.

Meu reconhecimento ao Prof. Nelson Gimenes, por sua disponibilidade para ler meu

questionário da pesquisa Survey, indicando sugestões e ampliando a minha compreensão

sobre a tabulação dos dados.

À profa. Laurizete Ferragut Passos: por ter me acolhido no grupo de estudos “Narrativas

(auto)biográficas, pesquisa e formação de professores”. Grata também aos colegas membros

do grupo, que carinhosamente escutaram minhas angústias e me ajudaram a entender melhor

o método (auto)biográfico.

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À profa. Bárbara Nakayama, que gentilmente aceitou fazer parte da banca como suplente e

que me ajudou a entender a narrativa como uma forma legítima de pesquisar e formar, minha

admiração e gratidão.

A minha amiga Elisa Bonafé: por sua parceria na monitoria e nos estudos sobre o coordenador

pedagógico.

Aos colegas que fiz no FORMEP e no PED-PUC. Foram tantos que seria injusta em

mencionar apenas alguns.

Aos meus colegas da Escola de Formação de Professores – EFAP, que comigo

compartilharam seus saberes. Gratidão especial ao DEPEC, que na pessoa de Cristina

Mabelini, Silene Kuin e Adriano Marangoni viabilizaram grande parte da coleta dos dados

desta tese.

Aos colegas professores coordenadores do Núcleo Pedagógico da Diretoria Centro Sul,

companhias fundamentais no meu percurso de (auto)formação.

E, por fim, ao meu marido, Edson Silva, meu grande amor e companheiro de jornada: pelo

apoio incondicional a todos os meus projetos, por suportar minha ausência e por sempre

cuidar de mim, em todos os aspectos.

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SILVA, Jeanny M. S. Diferentes caminhos para formação docente estratégias empregadas

por coordenadores pedagógicos. 279f. 2019. Tese (Doutorado em Educação: Psicologia da

Educação), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2019.

RESUMO

No bojo das discussões sobre o desenvolvimento profissional docente, as reuniões pedagógicas

que ocorrem semanalmente na escola vêm sendo apontadas como espaço privilegiado para

formação de professores. Nesse âmbito, o coordenador pedagógico desempenha o papel

fundamental de planejar, organizar e conduzir o encontro; possibilitando boas situações de

aprendizagem entre todos. O interesse em conhecer e analisar as propostas formativas empregadas

nas reuniões coletivas das escolas públicas de São Paulo deu início a esta pesquisa de Doutorado.

O estudo tem por objetivos identificar quais estratégias de formação docente estão sendo

utilizadas pelos coordenadores pedagógicos nos encontros coletivos que ocorrem semanalmente

na escola e analisar as concepções de formação que norteiam as ações desses profissionais.

Por estratégia, nos baseamos na definição de Roldão: uma concepção global, intencional e

organizada de uma ação ou conjunto de ações tendo em vista a consecução das finalidades de

aprendizagens visadas. Os métodos mistos foram utilizados como procedimentos metodológicos e

permitiram combinar olhares quantitativos e qualitativos à pesquisa, quais foram: Survey,

observação e entrevista narrativa. Os sujeitos participantes foram 380 coordenadores pedagógicos

do Ensino Fundamental e Médio, profissionais que atuam como formadores de professores nas

escolas da região metropolitana da rede estadual de ensino. Os dados do questionário da dimensão

quantitativa foram tratados estatisticamente bem como analisados por meio da Análise de

Conteúdo. Já a dimensão qualitativa utilizou como procedimento os princípios da Análise do

Discurso de linha francesa. Os dados foram fundamentados em autores do campo da formação

docente, entre os quais: André, Almeida, Marcelo Garcia, Nóvoa, Pérez Gómez e Placco. O

estudo apontou que os coordenadores têm diferentes entendimentos do que são estratégias de

formação; dentre algumas mencionadas por eles: tematização da prática, estudo de caso, leitura de

textos teóricos, saídas culturais, assistir a documentários; e revelou que a seleção e/ou elaboração

de estratégias de formação está fundada, em grande medida, em teorias implícitas e

idiossincrasias, assim como em familiaridades presumidas com o ofício e formações advindas

de órgãos centrais da SEE-SP mais do que em uma análise precisa e partilhada da realidade

das situações concretas de sala de aula e dos recursos teórico-metodológicos utilizados pelo

professor. O estudo evidenciou, ainda, que nos discursos e nas ações dos coordenadores estão

presentes princípios tanto da racionalidade técnica quanto da racionalidade prática e crítica.

Palavras-chave: Estratégias de Formação Docente. Concepções de Formação. Coordenador

Pedagógico. ATPC. Desenvolvimento Profissional.

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SILVA, Jeanny M. S. Different paths for teacher training strategies employed by pedagogical

coordinators. 279f. 2019. Thesis (Doctorate in Education: Educacional Psychology), Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2019.

ABSTRACT

In the context of discussions about professional teacher development, weekly pedagogical

meetings at school have been identified as a privileged space for teacher training. In this

context, the pedagogical coordinator plays the fundamental role of planning, organizing and

conducting the meeting; enabling good learning situations among all. The interest in knowing

and analyzing the formative proposals employed in the public meetings of public schools in

São Paulo started this PhD research. The objective of this study is to identify which strategies

of teacher training are being used by pedagogical coordinators in the collective meetings that

occur weekly in the school and to analyze the conceptions of formation that guide the actions

of these professionals. By strategy, we are based on the definition of Roldão: a global,

intentional and organized conception of an action or set of actions with a view to achieving

the purposes of targeted learning. The mixed methods were used as methodological

procedures and allowed to combine quantitative and qualitative looks at the research, which

were: survey, observation and narrative interview. The subjects were 380 pedagogical

coordinators of Elementary and Middle School, professionals who act as teacher trainers in

the schools of the metropolitan region of the state education network. The quantitative

dimension questionnaire data were treated statistically as well as analyzed through Content

Analysis. On the other hand, the qualitative dimension used the principles of French Speech

Analysis as a procedure. The data were based on authors of the field of teacher education,

among them: André, Almeida, Marcelo Garcia, Nóvoa, Pérez Gómez and Placco.

The study pointed out that coordinators have different understandings of what training

strategies are; among them some mentioned by them: thematization of the practice, case

study, reading of theoretical texts, cultural outings, watching documentaries; and revealed that

the selection and / or elaboration of training strategies is based to a large extent on implicit

theories and idiosyncrasies, as well as on familiarities presumed with the craft and formations

coming from SEE-SP central bodies rather than on an analysis accurate and shared

understanding of the reality of concrete classroom situations and of the theoretical-

methodological resources used by the teacher. The study also showed that in the discourses

and in the actions of the coordinators, principles of both technical rationality and practical and

critical rationality are present.

Key words: Teacher Training Strategy. Training Conception. ATPC. Professional

development.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Agrupamento dos modelos de formação elaborado por Nóvoa ............................ 38

Figura 2 - Resultados de busca em pesquisas correlatas ......................................................... 68

Figura 3 - Estratégias de formação docente em diferentes autores ......................................... 74

Figura 4 - Região das Diretorias de Ensino da SEE-SP na capital paulista ............................ 96

Figura 5 - Cópia do bilhete produzido pela CP Adriana ....................................................... 154

Figura 6 - Registro de atividades realizadas na ATPC da Escola A .................................... 231

Figura 7 - Materiais utilizados pelos professores na ATPC da Escola B.............................. 238

Figura 8 - Foto da sala de reuniões da ATPC da Escola C ................................................... 247

Figuras 9 - Fotos de uma atividade de matemática .............................................................. 248

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Faixa etária dos coordenadores .......................................................................... 102

Gráfico 2 - Tempo no magistério ...........................................................................................103

Gráfico 3: Quantidade de coordenadores por ano na função .................................................104

Gráfico 4 - Segmento de ensino em que atuam os coordenadores .........................................105

Gráfico 5 - Formação inicial dos coordenadores ...................................................................106

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Módulo de Professores Coordenadores nas Unidades Escolares ......................... 95

Quadro 1 - Categorias e Subcategorias ................................................................................. 109

Quadro 2 modelo do plano de ensino de Júlia ...................................................................... 167

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quantidade de escolas da SEE-SP em cada Diretoria Regional da capital

paulista e quantidade de coordenadores ...................................................... 96

Tabela 2 Agrupamento dos eixos temáticos da categoria: Estratégias de formação

docente ........................................................................................................... 110

Tabela 3 Agrupamento dos eixos temáticos da categoria: O que se lê e o que se vê em

ATPC?............................................................................................................. 118

Tabela 4 Agrupamento dos eixos temáticos da Categoria: Por trás das ações dos

coordenadores .......................................................................................... 128

Tabela 5 Fases principais da entrevista narrativa ....................................................... 140

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LISTA DE SIGLAS

AAP – Avaliação de Aprendizagem em Processo

ATPC – Aula de Atividade Pedagógica Coletiva

BDTD – Biblioteca Brasileira de Teses e Dissertações

CEFOP – Centro de Formação de Professores

CGEB – Coordenadoria de Gestão da Educação Básica

CIMA - Coordenadoria de Informação Monitoramento e Avaliação Educacional

CP – Coordenador Pedagógico

DE – Diretoria de Ensino

DRE – Diretoria Regional de Ensino

EFAP – Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores

EF – Ensino Fundamental

EN – Entrevista Narrativa

HTPC – Horário de Trabalho Técnico Pedagógico

IDESP – Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo

MGME – Programa: Melhor Gestão, Melhor Ensino

MMR – Programa: Método de Melhoria de Resultados

SARESP - Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo

SEE-SP – Secretária da Educação do Estado de São Paulo

PCNP – Professor Coordenador de Núcleo Pedagógico

OT – Orientação Técnica

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 16

CAPÍTULO 1 – PARADIGMAS DO CAMPO DA FORMAÇÃO DOCENTE .....

28

1.1 A influência do pensamento científico na Educação ............................................... 33

1.2 Paradigmas de formação docente ............................................................................. 35

1.3 Apontamentos sobre a história recente da formação de professores ........................ 36

1.3.1 Modelo comportamentalista ........................................................................... 39

1.3.2 Modelo tradicional .......................................................................................... 39

1.3.3 Modelo universitário ....................................................................................... 40

1.3.4 Modelo escolar ............................................................................................... 41

1.3.5 A lógica por trás dos modelos estruturantes: a racionalidade técnica ............ 42

1.3.6 Modelo personalista ........................................................................................ 47

1.3.7 Modelo contratual ........................................................................................... 48

1.3.8 Modelo interativo-reflexivo ............................................................................ 49

1.3.9 Modelo investigativo e seus desdobramentos para uma formação reflexiva.. 50

1.3.10 A lógica por trás dos modelos construtivistas: a racionalidade prática ........ 52

1.3.11 A reflexão nos modelos da racionalidade crítica: embate de ideias?............ 56

1.4 A formação para um novo desenvolvimento profissional ................................. 59

CAPÍTULO 2 - CAMINHOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ............

65

2.1 Definições de estratégias nas pesquisas correlatas ................................................... 67

2.1.1 Com qual definição estamos trabalhando? ..................................................... 68

2.1.2 Qual papel das estratégias no processo de formação docente?....................... 70

2.2 Estratégias: um levantamento na literatura recente do campo .................................

2.3 Estratégias de formação de professores ...................................................................

74

75

2.3.1 Tematização da prática ................................................................................... 76

2.3.2 Homologia de processos ................................................................................ 77

2.3.3 Pesquisa-ação enquanto dispositivo de formação ........................................ 79

2.3.4 Diário de itinerância ....................................................................................... 80

2.3.5 Análise de bons modelos ................................................................................ 82

2.3.6 Estudo de casos de ensino ..............................................................................

2.3.7 Incidentes críticos ...........................................................................................

83

85

2.4 Interlocução entre teoria e prática ............................................................................ 88

CAPÍTULO 3 – A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA ................................................ 91

3.1 Origens da coordenação pedagógica em São Paulo: situando o sujeito da pesquisa

3.1.1 Quem é o coordenador da rede estadual de ensino? ......................................

3.1.2 O objeto e o contexto do estudo .....................................................................

93

95

98

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CAPÍTULO 4 – DIMENSÃO QUANTITATIVA: PESQUISA DO TIPO

SURVEY .......................................................................................................................

4.1 Caracterização do coordenador da rede pública estadual de SP .............................

4.2 A condução da ATPC: o que se faz, como e por quê? Um olhar para as respostas

por meio da Análise de Conteúdo...................................................................................

100

102

108

4.2.1 Categoria: estratégias de formação apontadas pelos coordenadores.............. 109

4.2.2 Categoria: o que se lê e o que se vê em ATPC? ........................................... 117

4.2.3 Categoria: por trás das ações dos coordenadores............................................ 127

CAPÍTULO 5 - DIMENSAO QUALITATIVA: ENTREVISTAS (AUTO)BIO-

GRÁFICAS E OBSERVAÇÃO DAS REUNIÕES DE ATPC, ANALISANDO

OS CAMINHOS TRILHADOS POR QUATRO COORDENADORES ................

137

5.1 Combinando técnicas de coleta de dados: Observação ............................................

5.2 Combinando técnicas de coleta de dados: Entrevista Narrativa ..............................

5.3 Procedimentos de análise da dimensão qualitativa ..................................................

5.3.1 Análise do Discurso: princípios centrais .......................................................

5.3.2 Análise do Discurso: procedimentos metodológicos adotados ......................

5.4 O contato com os coordenadores e a seleção das escolas ........................................

5.4.1 A Escola A e a coordenadora Adriana ...........................................................

5.4.2 ATPC e entrevista da coordenadora Júlia ......................................................

5.4.3 A Escola B e a coordenadora Eliane ..............................................................

5.4.4 A formação do coordenador João na Escola ..................................................

5.5 As histórias dos coordenadores: os complementos de significação .........................

5.5.1 A aprendizagem da alteridade e a influência do modelo de formação ..........

5.5.2 Formação em ATPC frente à demanda de programas da SEE: significados

e sentidos .................................................................................................................

5.5.3 Coisas que aprendi em ATPC? Não me lembro! Esquecimentos e a

memória impedida ...................................................................................................

5.5.4 Arremate conclusivo: meus aprendizados ......................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................

APÊNDICES ..................................................................................................................

137

138

143

143

144

147

148

160

169

181

192

192

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198

199

203

209

224

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INTRODUÇÃO

Um pouco do tema e de mim situam a discussão

Sou um pouco de todos que conheci,

um pouco dos lugares que fui,

um pouco das saudades que deixei

e sou muito das coisas que gostei.

(O pequeno príncipe de Antoine de Saint-Exupéry)

O objeto de estudo desta Tese se inscreve no campo da formação de professores. Foi

nesse campo que construí minha trajetória docente e no qual venho compondo minha

identidade profissional. Nesse processo, minha aprendizagem foi se tecendo nos espaços

sociais, nas relações que estabeleci entre as pessoas e delas com o contexto vivido;

parafraseando a epígrafe de Saint-Exupéry: somos feitos de pedaços de outros, uma

construção que envolve a dimensão pessoal e profissional. A minha experiência pessoal é o

alicerce essencial para as questões e objetivos que trago neste estudo. Inicio contextualizando

a origem de minhas inquietações.

A literatura que trata da formação docente, no que diz respeito à dimensão

epistemológica, tem apresentado nas últimas décadas um conjunto de críticas ao paradigma da

racionalidade técnica, o que tem propiciado a emergência de um novo modelo teórico para a

formação do professor. Trata-se de uma perspectiva de formação que possibilite ao professor

refletir sobre sua prática. O motivo pelo qual o professor é chamado a refletir e a pesquisar

sobre a própria prática é justamente o fato de que a prática coloca problemas para os quais

muitas respostas não estão dadas, o que leva o professor a acionar os saberes da experiência,

os saberes do contexto e os saberes advindos dos referenciais teóricos. O desafio está

justamente em como criar condições para formar professores acionando tais saberes, sem cair

na tentação de sistematizar tudo e transformá-los em cumpridores de tarefas.

Cabe salientar que a formação, vista dessa forma, não se situa apenas na esfera da

atualização profissional. Sua função não é compensar as deficiências da formação inicial do

professor ou disseminar práticas pedagógicas mais atuais. A formação do professor necessita

mais do que um curso preparatório, pois a bagagem de conhecimento com que o futuro

docente sai de um curso de licenciatura será sempre insuficiente para desempenhar a tarefa

em sala de aula. A formação deve ser entendida, portanto, como um processo permanente de

desenvolvimento profissional, com o objetivo de assegurar um ensino de melhor qualidade

aos alunos.

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Na rede pública estadual de São Paulo, destina-se um espaço na jornada semanal de

trabalho do professor para a formação em serviço1. São reuniões pedagógicas em que o grupo

docente se reúne, em determinados horários estipulados pela equipe gestora. Dependendo de

sua carga horária de trabalho, o professor pode participar de até três horas2 de reunião

semanal. No caso da rede estadual paulista, o momento de formação é chamado de ATPC

(aula de atividade pedagógica coletiva).

Documentos normatizadores especificam o objetivo da ATPC:

Espaço de formação continuada dos educadores, propulsor de momentos

privilegiados de estudos, discussão e reflexão do currículo e melhoria da

prática docente; trabalho coletivo de caráter estritamente pedagógico,

destinado à discussão, acompanhamento e avaliação da proposta pedagógica

da escola e do desempenho escolar do aluno (SÃO PAULO, 2009, p. 21).

A organização e o planejamento da ATPC ficam a cargo do coordenador3 em sintonia

com toda equipe gestora da escola. Assim, dentre suas muitas funções, o coordenador é o

responsável por realizar a formação dos professores de sua unidade escolar. Espera-se

também que esse profissional organize as ações de formação com conteúdos voltados às

metas da escola e à melhoria do desempenho dos alunos além de

Articular os diversos segmentos da escola [...]; fortalecer a unidade escolar

como instância privilegiada do aperfeiçoamento de seu projeto pedagógico;

(re) planejar e avaliar as atividades de sala de aula, tendo em vista as

diretrizes comuns que a escola pretende imprimir ao processo; construir e

implementar o projeto pedagógico da escola; articular as ações educacionais

desenvolvidas pelos diferentes segmentos da escola, visando à melhoria do

processo ensino-aprendizagem; identificar as alternativas pedagógicas que

concorrem para a redução dos índices de evasão e repetência; possibilitar a

reflexão sobre a prática docente; favorecer o intercâmbio de experiências;

promover o aperfeiçoamento individual e coletivo dos educadores;

acompanhar e avaliar, de forma sistemática, o processo ensino-aprendizagem

(SÃO PAULO, 2014, p. 14).

Como professora efetiva no ensino público estadual paulista desde 2004, pude

observar nas diversas escolas nas quais lecionei, que muitos professores utilizavam esse

momento para conversar, fazer refeições, vender produtos, navegar na internet, etc. Também

havia aqueles que procuravam se ocupar de atividades pedagógicas como preencher diários,

corrigir atividades dos alunos, planejar aulas e atender pais, essas últimas eram realizadas de

1Nesse casso, chama-se reunião em serviço porque o horário do encontro compõe a jornada remunerada de

trabalho do professor. 2Hora aula. Dependendo da duração do turno que pode ser 50 ou 45 minutos/hora aula.

3 Na rede estadual paulista não existe o cargo de coordenador e sim a função assumida por um professor. Neste

texto utilizaremos somente o termo coordenador para nos referir ao professor coordenador.

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maneira individual; por não haver um momento coletivo de discussão, perdia-se a

oportunidade de planejar ações em conjunto.

Os coordenadores, por sua vez, tinham dificuldades em realizar ações de formação. No

período em que atuei em sala de aula, tive vários coordenadores e, invariavelmente, a mesma

atuação se repetia com quase todos: o encontro era usado para discutir comportamento e

indisciplina dos alunos, para dar recados sobre algum evento da escola e, vez por outra, se

realizava a leitura de um texto qualquer relacionado à educação. Às vezes, sem aviso prévio

ou motivo, a reunião era cancelada.

Demorei muito para entender o que de fato deveria ser a ATPC. Claro que vez por

outra passava um coordenador disposto a discutir questões de aprendizagem dos alunos, mas

isso era feito de maneira pontual. Para mim, aquilo que vivenciei era a rotina normal do

encontro. Segundo Wallon, “observar é evidentemente registrar o que se pode ir verificando”

(1975, p. 16). Hoje tenho clareza que minha concepção de ATPC estava incorreta e que faltou

problematizar o que eu observava, mas “para registrar o observado e fazer perguntas ao real, é

necessário orientação segura” (idem). Faltava isso para mim naquele momento: segurança e

formação pedagógica.

Fiz vários cursos e em 2008 ingressei no mestrado em Letras. No ano seguinte, fui

convidada a compor a equipe técnica de língua portuguesa do núcleo pedagógico da Diretoria

de Ensino e somente nesse período, fui percebendo o caráter estritamente pedagógico da

ATPC. Aprendi que havia instruções e documentos que norteavam a ação do coordenador.

Constatei, também, ao visitar algumas escolas, que vários coordenadores conseguiam fazer

desses encontros momentos de formação. Esse foi meu momento de “tomada de consciência:

resultado de um processo de conscientização que ocorre no ser humano, quando ele interage e

se defronta consigo mesmo e com o mundo, de maneira refletida e transformadora, pela ação

e pelo trabalho” (VASCONCELOS; BRITO, 2006, p. 187).

Nessas escolas, onde ocorria a formação em ATPC, era perceptível a mudança do foco

nas discussões. As questões em relação à indisciplina do aluno também ocorriam, mas numa

perspectiva de se pensar as dificuldades pedagógicas do estudante e de como isso podia

impactar em seu comportamento. Havia discussão sobre avaliação e desempenho,

planejamento coletivo, tomada de decisão conjunta, articulação da equipe por parte do

coordenador, enfim, priorizava-se a formação. Evidentemente, nem tudo acontecia às mil

maravilhas, havia problemas no processo de formação. Mas o que diferenciava essas escolas

era o fato de o coordenador ter clareza de seu papel formador e os professores, em sua

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maioria, tinham consciência de que esse espaço, se bem aproveitado, poderia contribuir para

suas demandas profissionais.

Canário (2002), ao tratar de formação centrada na escola, destaca que o espaço escolar

é um locus privilegiado para ações de formação, pois tem como referência a realidade do

fazer docente.

As escolas constituem os lugares onde os professores aprendem a sua

profissão. Essa perspectiva aponta para a necessidade de construir relações

estratégicas entre a formação e o trabalho, a partir da exploração das

potencialidades formativas do exercício profissional. As atividades de

formação têm de ser mais envolventes, mais práticas, estando diretamente

relacionadas com problemas profissionais (p. 152).

Não se pode desconsiderar o potencial formador dos espaços escolares, nele a

formação pode se configurar como um processo de aprendizagem do qual emergem

competências individuais e também competências de natureza coletiva.

Os vários anos como professora me possibilitaram a compreensão de que, para ser

prático e eficiente, o professor precisa de formação teórica permanente e consistente. Tal

formação deve instituir e alimentar relações de autonomia tanto entre educadores quanto entre

esses e as teorias estudas; deve incluir a criação de estratégias, a experimentação, a análise

compartilhada, a partir da interpretação que se faz da teoria e da realidade em que se está

inserido.

Da minha experiência como formadora de coordenadores pedagógicos, na função de

Professora Coordenadora do Núcleo Pedagógico (PCNP), constatei a dificuldade de realizar

formações4. Meus colegas e eu não dispúnhamos de referenciais sólidos que pudessem

fundamentar nossas ações e que nos ajudassem a analisar e refletir sobre nossa atuação nos

momentos da formação. De vez em quando éramos convocados a participar de orientações

técnicas promovidas pelos órgãos centrais da SEE com intuito de receber formação. Aprendi

muito nesses encontros, sobretudo quando havia parceria entre a SEE e a Universidade.

4 A diretoria regional, da qual eu fazia parte, atende a 72 escolas de Ensino Fundamental I, II e Médio da rede

estadual de São Paulo. Havia uma divisão entre os segmentos do ensino fundamental. Os professores pedagogos

compunham a equipe de PCNP de Fund. I e os licenciados nos componentes curriculares específicos faziam

parte da equipe que ‘cuidava’ das 44 escolas de Fund. II e Médio. No início da minha designação em 2009, os

PCNP eram responsáveis somente pela formação dos professores de suas respectivas disciplinas (no meu caso,

língua portuguesa, conforme previsto na Resolução SE - 91, de 19-12-2007). Posteriormente, em 2010, com base

na política de formação do programa ‘Educação Compromisso de São Paulo’ foi instituída a ação “A Gestão da

Escola Aprendente” que tinha por objetivo realizar formação com as equipes gestoras das escolas consideradas

vulneráveis (as que possuíam valores do IDESP entre os 5% mais baixos do Estado). Maiores detalhes em

http://www.educacao.sp.gov.br/noticias/secretaria-da-educacao-desenvolve-acao-para-apoiar-as-escolas-mais-vulneraveis).

Começava nesse período, por força de normatizações, a formação para os coordenadores, através do núcleo

pedagógico. Por fim, a Resolução SE 75, de 30-12-2014 regulamenta o trabalho de formação do núcleo

pedagógico para esse público.

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20

Entretanto, essas formações, na maioria das vezes, eram pontuais e não nos davam o suporte

necessário para lidar com as dificuldades sentidas pela equipe de coordenadores pedagógicos

das escolas sob a nossa jurisdição na diretoria de ensino. Assim, cada um de nós PCNP

buscava por conta própria subsídios que pudessem nos ajudar com nossas demandas. Foi

nessa ocasião que uma colega PCNP de matemática me apresentou o livro ‘O coordenador

pedagógico e a formação docente’ (BRUNO; ALMEIDA; CHRISTOV, 2003). Lembro-me

das palavras dela “esse livro vai nos ajudar muito em nosso próximo encontro com os

coordenadores”. De fato ajudou. A partir disso, debrucei-me sobre a literatura que tratava da

temática da coordenação pedagógica buscando caminhos para formação docente.

Depois de quatro anos atuando como PCNP, fui convidada a compor uma das equipes

dos órgãos centrais responsáveis pela formação de professores e gestores5. O universo da

formação docente se abriu aos meus olhos, pude começar a ter um olhar macro para a

educação. Estar ‘do outro lado’ me fez compreender a dificuldade que os profissionais

atuantes nos órgãos centrais enfrentam ao propor programas de formação. Esbarrávamos,

frequentemente, em decisões de políticas públicas, na estrutura organizacional, na

desarticulação entre os departamentos, na burocracia das licitações e contratos, etc. Minha

equipe, bem mais enxuta do que na DE, era responsável pela gestão e implementação de

programas de formação na modalidade EaD. O grupo era academicamente qualificado, mas

também necessitávamos de formação profissional.

Recebíamos formações esporádicas que nos ajudavam a compreender como gerenciar

programas e projetos políticos voltados à formação de professores e diretores de escolas6,

esses eram demandados por diferentes coordenadorias da SEE. A formação, desenvolvida em

meu departamento, em sua maioria, se concretizava por meio de cursos virtuais ou

semipresenciais. Os conteúdos, desenho instrucional e demais atividades dos cursos eram

elaborados por profissionais da educação, geralmente especialistas em determinadas áreas,

contratados pela EFAP. Antes de disponibilizar o curso para a rede pública estadual, nós o

avaliávamos. Nessas situações frequentemente me questionava: o desenho instrucional

propicia um olhar crítico do professor? Será que as atividades elaboradas podem auxiliá-lo a

refletir em sua prática, ou são meramente prescritivas? Os conteúdos são, de fato, pertinentes?

5 Fui para o CEFOP (Centro de formação de professores) da EFAP (Escola de formação e aperfeiçoamento dos

professores da SEE/SP). Trabalhei nesse departamento por dois anos até 2016, ocasião em que me afastei para

me dedicar ao doutorado. 6 Dentre alguns de que participei diretamente: MGME (Melhor Gestão, Melhor Ensino); Curso específico de

formação aos docentes ingressantes de concurso público; o projeto Mecanismos de Apoio ao Processo de

Recuperação de Aprendizagem.

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21

O curso vai ao encontro das necessidades docentes? Enfim, sobravam dúvidas. Assim, não

bastavam conhecimentos técnicos para administrar os ambientes virtuais de aprendizagem, era

fundamental conhecimento do campo da formação docente. Nos órgãos centrais, as equipes

técnicas recebem menos formação que as equipes dos órgãos regionais. Novamente cada um

de nós buscava sua própria maneira de suprir suas carências de aprendizagem. Foi nessa

ocasião que entrei no Doutorado na PUC.

As diversas experiências que tive, observando as ATPC nas escolas e nos demais

departamentos pelos quais passei, me fizeram concluir a importância de se fazer nos

encontros coletivos de formação, um movimento que envolvesse todos os professores da

escola para pensarem e atuarem no desenvolvimento do trabalho pedagógico, como um

grande processo: amplo complexo e contínuo, em que os diferentes momentos se interligam,

em que diferentes fatores interagem. Um processo cooperativo em que uns dão suporte às

ideias dos outros, enfrentando juntos as incertezas, ganhando segurança pelo apoio e

reconhecimento dos colegas, sendo ajudados nas falhas e supridos nas inconsistências,

aprendendo a receber e fazer críticas de modo construtivo, a enfrentar as próprias limitações.

Tal movimento pode sustentar o desenvolvimento profissional dos professores e do

coordenador. Isso porque acredito que o conhecimento de uma determinada profissão não

nasce de um conjunto de teorias (por mais importantes que elas sejam), nem de um conjunto

de autores, de um conjunto de livros, de um conjunto de cursos, nasce, de fato, da experiência;

nasce da reflexão sobre a experiência.

Em certa ocasião, enquanto atuava como PCNP, fizemos uma entrevista com 20

(vinte) professores que acabavam de ser designados para a função de coordenador7. Uma das

perguntas da entrevista era: “o que motivou você a querer assumir essa função?”. Essa

questão foi respondida por escrito. Depois da entrevista eu e meus colegas lemos as respostas.

A essência dos comentários de todos era “tornei-me coordenador para ajudar o professor”.

Isso evidenciou para nós a preocupação e disposição que muitos coordenadores têm em ajudar

sua equipe. O conjunto de respostas das entrevistas nos indicou que não estava claro para

aquele grupo (assim como para a maioria dos coordenadores que assumem a função) no que

consistia tal ajuda, não tinham clareza de seu papel.

O coordenador pedagógico é um formador de professores, um coautor do trabalho que

acontece na sala de aula e, simultaneamente, um profissional que sustenta o processo de

7 Todo início de ano havia recondução ou cessação da função do coordenador, dessa forma, esse período era

marcado por muita rotatividade entre esses profissionais. Nessa ocasião realizávamos uma entrevista com os

novos.

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desenvolvimento do projeto pedagógico da escola. Cabe a ele não apenas ajudar no

direcionamento do trabalho, responder às dúvidas e inseguranças dos professores, ajudá-los na

busca de respostas, mas, fundamentalmente, formular as questões que perpassam o trabalho

da escola e que orientam o percurso da equipe docente. Trata-se de formar um professor como

um profissional prático-reflexivo, que ao se defrontar com as situações de incerteza, tão

comuns na vida em sala de aula, seja capaz de recorrer à investigação como um caminho para

decidir e para intervir de forma prática em tais situações (IMBERNÓN, 2011). O coordenador

tem uma condição especial de compreender tais questões, por conta do papel que ocupa. A

escola, por ser um espaço onde se entrecruzam as questões de diferentes naturezas do trabalho

pedagógico exige que o coordenador mobilize forças em torno de desafios comuns.

Tendo clareza do seu papel e do que deve fazer, o grande desafio para o coordenador

é: como fazer? Como conduzir os encontros de formação coletiva na perspectiva que foi

discutida até então? Sem dúvida, os aspectos metodológicos, isto é, os procedimentos que o

coordenador utiliza, em reunião, têm um papel fundamental para alcançar seus objetivos.

Placco, Almeida e Souza (2011) realizaram pelo Brasil uma pesquisa em grande

escala, intitulada “O Coordenador Pedagógico e A Formação de Professores: Intenções,

Tensões e Contradições” com coordenadores de várias regiões do país e concluíram que

poucos assumem a função de formadores de professores. Talvez por não se sentirem

preparados para isso. A pesquisa aponta que é comum aos coordenadores demonstrarem

dúvidas sobre como lidar com a demanda de formação. Em relação à pergunta “Quais são os

principais problemas que você enfrenta na coordenação pedagógica da sua escola?”, 14% dos

entrevistados apontaram a categoria “gestão da aprendizagem”. Vários coordenadores

evidenciam em suas respostas que suas dificuldades envolvem as questões metodológicas, ou

seja, em saber “como” fazer a formação em serviço. A pesquisa descreve coordenadores

carentes dos conhecimentos disciplinares e pedagógicos para produzir os resultados esperados

de sua função. De fato, muitos desses profissionais têm dificuldades para discernir os

diferentes níveis de sua atuação, sobretudo no que concerne a formação de professores.

Conforme problematizado neste texto, isso ocorre porque a grande maioria não recebe

formação prévia para exercer a função. É o que consideram também Groppo e Almeida (2013,

p. 94):

O início da carreira tem sido árduo para muitos professores coordenadores.

Acostumados a cuidar da sua própria sala de aula, passam a conviver com

uma diversidade imensa de obrigações e a visualizar não somente a sua

classe, mas também o conjunto de classes de uma escola, com toda a sua

complexidade, inserida em um sistema escolar mais amplo. O momento da

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passagem do papel de professor para o de coordenador é, via de regra, um

momento de turbulência afetiva.

Diante da problemática exposta é possível perceber as dificuldades enfrentadas pelo

coordenador pedagógico e a necessidade que esses profissionais têm de subsídios que possam

ajudá-los na organização dos momentos de formação na escola, bem como na dinâmica que se

estabelece nos encontros coletivos.

A esse respeito, Pessoa e Roldão (2013, p. 116) destacam: “que não se promove a

formação de professores de qualquer modo, isso todos sabemos. A grande questão é: como

fazê-la? Como alcançar efetivamente os professores para que possam oferecer o bom ensino

aos alunos?”. As autoras consideram que o trabalho do coordenador resulta mais fácil quando

ele tem domínio de estratégias de formação. Para o termo estratégia, Roldão (2010, p. 68)

apresenta a seguinte definição: “a estratégia significa uma concepção global, intencional e

organizada de uma ação ou conjunto de ações tendo em vista a consecução das finalidades de

aprendizagens visadas”. Numa perspectiva parecida, García (1999, p. 42) usa a seguinte

definição: “o termo estratégia tem a ver com a planificação da ação, assim como com o

antecipar da sua implementação de acordo com a análise realizada”.

Planificar a ação significa que o coordenador deve planejar os procedimentos que

serão realizados durante a formação. A primeira etapa é definir a intencionalidade da

formação (o que eu pretendo nesse encontro?); para alcançar tal objetivo, é necessário pensar

em quais atividades serão propostas, quem as realizará e de que forma; quais intervenções

serão conduzidas pelo coordenador e em que momento; quais recursos, quanto tempo será

necessário; como será feita a avaliação do encontro e, principalmente, como analisar se o

encontro atingiu sua finalidade. Enfim, estratégia não é uma atividade isolada, mas um

conjunto de ações organizadas previamente e realizadas de forma processual para atender um

objetivo.

Durante o tempo em que acompanhei os coordenadores nas reuniões de ATPC,

observei que alguns lançavam mão de estratégias formativas. Desde aquela época, tive o

desejo de me aprofundar nesse tema. Comecei a investigar na literatura de formação docente,

os aspectos relacionados aos encaminhamentos metodológicos que poderiam ser utilizados

pelo coordenador na formação em grupo, notadamente em momentos específicos de formação

no contexto escolar, como é o caso da ATPC na rede pública estadual. Iniciei minhas leituras

com as seguintes indagações: quais estratégias de formação podem ser utilizadas pelo

coordenador no papel de formador de professores? Quais procedimentos didático-

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metodológicos podem levar o professor a ser um coparticipante do processo formativo? Que

encaminhamentos podem ser utilizados de modo a possibilitar uma reflexão crítica da prática

de ensino? Como o coordenador pedagógico pode aproveitar essas reuniões para ajudar o

professor em seu desenvolvimento profissional?

Há pouco material que documente as estratégias de formação utilizadas pelos

coordenadores nos momentos das reuniões coletivas. Ao realizar o levantamento em

pesquisas correlatas, no site da biblioteca digital brasileira de teses e dissertações, foi possível

encontrar apenas 11 (onze) estudos que tratam da temática estratégia de formação8. Nos

estudos, os pesquisadores descrevem estratégias utilizadas pelos coordenadores em momentos

e espaços diferenciados do contexto escolar: observação da sala de aula, elaboração de pauta,

produção de materiais didáticos, avaliação, reunião de planejamento escolar, reunião de pais.

Mas nenhum estudo tratava, especificamente, da utilização de estratégias na condução da

reunião coletiva semanal. Outro ponto observado é que o termo estratégia é apresentado de

maneira polissêmica. A compreensão do que vem a ser estratégia de formação varia muito

conforme o pesquisador.

Também no levantamento dos materiais elaborados pela SEE/SP como apoio e

referência ao trabalho do coordenador, foi possível perceber que eles não explicitam o que são

estratégias de formação, muito menos orientam como desenvolvê-las. No entanto, em vários

documentos há indicação da proposição delas por parte do coordenador.

Dificuldades de aprendizagem são, hoje, um grande problema. É necessário,

ao coordenador, tratá-las como tal, e enfrentar a complexidade de suas

causas, não importa o nível de sua abrangência (individual, grupal ou

coletiva) e a importância de sua resolução nos limites em que isso é possível.

Quais são as dificuldades mais comuns? [...] Como desenvolver estratégias

de formação para corrigir fracassos? (SÃO PAULO, 2008, p. 32) (grifo

nosso).

De fato, não só as estratégias de formação são pouco exploradas, mas também,

pesquisas e propostas formativas que possam subsidiar o coordenador em seu papel de

formador de professores9, como considera André (2012b, p. 215):

Embora extremamente importante, a formação de formadores é um território

pouco conhecido e pouco explorado. [...] Em alguns países, como nos

Estados Unidos, a preocupação com a formação profissional dos formadores

é grande, e há longo tempo vêm sendo desenvolvidas ações com essa

finalidade. Entretanto, nos países da América Latina as iniciativas mais

8 O detalhamento deste levantamento será feito no capítulo 2.

9 Entendemos que a formação do coordenador é um dos componentes de sua profissionalização, pois conforme

Imbernón (2011, p. 31), o “conhecimento pedagógico especializado unido à ação é um conhecimento prático,

que é o que diferencia e estabelece a profissão e que precisa de um processo concreto de profissionalização”. No

capítulo 1, esse assunto será aprofundado.

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sistemáticas de cursos e de constituição de uma carreira do formador

começaram a ser implantadas muito recentemente. No Brasil, há estudos que

abordam o papel e a atuação do coordenador pedagógico, mas não discutem

mais amplamente a profissionalização do formador.

Segundo Placco, Almeida e Souza (2011, p. 23), os estudos acerca da

profissionalização da coordenação pedagógica ainda são considerados insuficientes. Para as

autoras, há urgência no desenvolvimento de pesquisas nessa direção, uma vez que a presença

do coordenador na escola é uma conquista da qual não se pode abrir mão, por isso há muita

“[...] necessidade de compreender suas atribuições e práticas e, ao mesmo tempo, fundamentar

princípios para suas ações”.

Em vista disso, um dos temas a serem estudados, nesta tese, será a utilização de

estratégias formativas. Lembro-me de que realizamos, na Diretoria de Ensino, um seminário

de boas práticas. Nossa ideia era socializar entre os coordenadores algumas práticas de

formação que eles estavam realizando nas escolas. Na ocasião, foram selecionadas dez

escolas para apresentar as práticas que eles haviam considerado como bem-sucedidas.

Algumas dessas práticas eram recortes de ações realizadas em ATPC. Havia, de fato, muita

coisa boa sendo realizada nas escolas, mas o que mais me chamou a atenção foi a maneira

distinta de cada um conceber a formação. Por exemplo, em determinada escola havia dois

coordenadores do mesmo segmento (Ensino Médio), atuando em horários distintos, um deles

fazia a formação com os professores da manhã e o outro com o grupo da noite. Eles

preparavam juntos a pauta formativa, selecionavam os mesmos materiais, o mesmo

referencial para estudo, as mesmas atividades, a mesma estratégia de formação. Contudo, a

apresentação deles no seminário evidenciou que a condução de cada um era totalmente

diferente da do outro. Não era simplesmente o fato de terem características pessoais distintas,

mas principalmente, em como eles enxergavam a função da educação, o papel da escola e a

avaliação; enfim, a diferença estava em suas concepções de formação. A concepção deles

refletia diretamente em sua atuação.

Com o tempo, passei a compreender melhor que, subjacente à estratégia de formação

utilizada pelo coordenador, encontra-se um conjunto de ideias que o orientam e que refletem

no seu modo de atuação com os professores. Mesmo que o coordenador não tenha consciência

dessas concepções, elas estão presentes e repercutem no processo de formação. Conforme

García (1992, p. 54), toda formação de professores se apoia em uma concepção: “quando

falamos de formação de professores estamos assumindo determinadas posições

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(epistemológicas, teóricas, ideológicas, culturais) relativamente ao ensino, aos professores e

aos alunos”.

Escolhi relatar brevemente, nesta introdução, algumas situações profissionais que

vivenciei, pois delas foram surgindo questões intrigantes, questões que, ao longo do tempo,

foram se transformando em situações problemáticas; situações que transformei em problemas

de pesquisa. Como afirma Imbernón (2011, p. 40) “É difícil generalizar situações de docência

já que a profissão não enfrenta problemas e sim situações problemáticas contextualizadas”. É

certo que foi a reflexão sobre minhas experiências como formadora que fomentou o desejo de

buscar algumas respostas que pudessem contribuir com a melhoria dos processos formativos.

Assim, com base nessa contextualização, esta pesquisa investigou as seguintes

questões: O que os CP consideram por estratégia de formação? Quais estratégias de formação

têm sido utilizadas pelos coordenadores durante as reuniões de ATPC? Quais concepções de

formação estão subjacentes em suas práticas? Será que os encaminhamentos utilizados pelo

CP nesses encontros de ATPC possibilitam uma formação crítico-reflexiva?10 Tais questões se

entrelaçam e sustentam os objetivos da investigação:

detectar indícios das concepções de formação nas ações e nos discursos dos

coordenadores;

observar de que forma tais concepções afetam seus procedimentos de formação;

identificar o que os sujeitos apontam como estratégia de formação;

analisar se as estratégias utilizadas pelos coordenadores estão na perspectiva de

formar professores críticos-reflexivos.

Nosso intento consiste, portanto, em identificar quais estratégias estão sendo utilizadas

pelos coordenadores pedagógicos em reuniões de ATPC e analisar as concepções de formação

que norteiam as ações dos coordenadores.

Visando conhecer um pouco mais dos coordenadores que estão na rede pública

estadual de São Paulo, ao longo da pesquisa realizei um levantamento com algumas questões

de caracterização. Esses dados se mostraram tão promissores que foram acrescidos também

como objetivo de estudo, a saber:

10

Utilizamos o conceito de dimensão crítico-reflexiva de Placco (SOUZA; PLACCO, 2016, p. 32), ao afirmar

que ela “envolve processos metacognitivos, pensar sobre os nossos pensamentos e também sobre o nosso agir e

sentir”, nesta dimensão, a formação visa fornecer aos professores os meios de um pensamento autônomo,

conduzindo à dinâmica de autoformação colaborativa que possibilita a troca de experiências, a partilha dos

saberes e a produção desses saberes, transformando o professor no construtor de sua formação.

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caracterizar os coordenadores pedagógicos da SEE/SP em termos de idade, tempo no

magistério, tempo na coordenação, área do curso de licenciatura e pós- graduação.

O estudo se concentrou nas reuniões de ATPC por considerar este momento como

privilegiado para desenvolver a formação docente. Temos clareza de que a dinâmica da

reunião não se deve unicamente ao coordenador. No entanto, seu modo de agir como

mediador pode ditar o ritmo do encontro, favorecendo ou não atingir os objetivos propostos

para formação. Assim, o objeto de estudo desta tese é a condução realizada pelo coordenador

durante a reunião de ATPC. Os sujeitos pesquisados serão os coordenadores do Ensino

Fundamental e Médio da rede pública estadual de São Paulo. Destacamos como foco de

observação deste objeto as ações do CP durante a reunião: ele faz formação docente? Como

são suas intervenções? Utiliza estratégias formativas; se sim, quais? De que maneira esse

sujeito faz as mediações entre as estratégias propostas e o grupo com o qual ele está se

relacionando?

Para responder aos questionamentos que deram origem a essa pesquisa, foi preciso

fazer algumas escolhas. Qual direção seguir?

Alice continuou:

―Poderia me dizer, por favor,

que caminho devo tomar para ir embora daqui?

―Depende bastante de para onde quer ir, respondeu o Gato.

―Não me importa muito onde, disse Alice.

―Então não importa que caminho escolher, disse o Gato,

qualquer caminho serve.

(CARROLL, 2002, p. 63).

As escolhas que fizemos ao longo deste estudo: desde a bibliografia até os

procedimentos metodológicos; as experiências que vivenciamos e relatamos; a seleção dos

dados coletados, as escolas visitadas, os sujeitos selecionados, enfim, nada foi ao acaso.

Nossas decisões foram cuidadosamente planejadas e se constituíram em um caminho, nos

conduzindo até a formulação da tese deste estudo, a saber: os procedimentos didático-

metodológicos adotados pelo coordenador em ATPC podem favorecer a aprendizagem

docente, por isso é importante conhecer e fazer uso de diferentes estratégias formativas. O que

orienta a ação do CP é a concepção de formação, dessa forma é importante compreender as

teorias implícitas na ação, fundamentá-las, revisá-las e reconstruí-las. Defendemos que a

concepção de formação pautada no paradigma do desenvolvimento profissional possibilita

uma prática crítico-reflexiva.

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CAPÍTULO 1

PARADIGMAS DO CAMPO DE FORMAÇÃO DOCENTE

Que o “bom ensino” produz melhor aprendizagem, ninguém provavelmente

discordará. A discordância surge quando quiser se chegar ao acordo sobre

o que é “bom ensino”. (OLIVEIRA-FORMO-SINHO, 2009, p. 228)

A ideia de escrever um capítulo sobre concepção de formação partiu de minha

experiência profissional. Frequentemente acompanho coordenadores em seu trabalho de

ATPC. Nesse acompanhamento é comum notar o empenho e o comprometimento desses

profissionais. Há uma disposição, na maioria dos casos, de querer realizar uma boa formação,

bem como discutir propostas de bom ensino em sala de aula. Mas o que é um ‘bom ensino’? E

ainda, o que se configura uma ‘boa formação’? Nossas observações mostraram que o

entendimento do que é ‘bom’ ensino ou ‘boa’ formação varia de coordenador para

coordenador. Isto é, da sua concepção de formação.

Conforme citamos na introdução desta tese, toda formação de professores se apoia em

uma concepção “o que o professor pensa sobre o ensino influencia a sua maneira de ensinar,

pelo que se torna necessário conhecer as concepções dos professores sobre o ensino”

(GARCÍA, 1992, p. 65). De fato, subjacente à prática pedagógica, tanto do professor quanto

do coordenador, encontra-se um conjunto de ideias que os orientam e que refletem no seu

modo de atuação. Mesmo que o coordenador não tenha consciência dessas ideias, dessas

concepções, elas estão presentes e repercutem no processo de formação.

Tais concepções se desenvolvem ao longo da vida por meio de diversos fatores: as

interações com pessoas de diferentes meios sociais como família, trabalho, religião, amigos;

representações sociais; a educação escolar, incluindo professores marcantes, as teorias

estudadas, leituras; as memórias; os locais vividos. Enfim, aprendizagens, experiências,

contexto histórico e relações sociais são alguns dos elementos que contribuem para que um

sujeito desenvolva suas concepções. Ítalo Calvino (1990, p. 138) sintetiza bem essa ideia:

“Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de

informações, de leituras, de imaginações? Tudo pode ser continuamente remexido e cada vida

é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos

reordenados de todas as maneiras possíveis”.

Pensando no contexto educacional, García (1999, p. 196) afirma que os professores

desenvolvem, ao longo de sua experiência docente, teorias implícitas e concepções

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pedagógicas que contribuem para dar-lhes um ‘contexto de estabilidade’, de tal modo que

muitas vezes aparecem como explicações interiorizadas, embora tácitas, da prática docente.

Estas teorias e concepções podem estar profundamente enraizadas no

pensamento do professor – remontando aos seus anos de estudante – e a sua

mudança implica um processo de autoconsciência e autorreflexão que deve

ser considerado por aqueles que planificam atividades de desenvolvimento

profissional.

García considera ainda que os professores desenvolvem suas concepções a partir de

constructos pessoais e teorias implícitas11. Os primeiros referem-se a um modo particular de

compreender os fenômenos. Cada indivíduo constrói estruturas interpretativas capazes de

oferecer explicações razoáveis para os eventos que ocorrem consigo mesmo e com as outras

pessoas. Nas palavras do autor, os constructos são “esquemas de ação interiorizados [...]

objetos mentais que permitem ‘ordenar’ o mundo e estabelecer relações com ele”. Podem ser

constituídos por diversos fatores, tais como as experiências sociais, os diferentes contextos de

trabalho ou formação, a interação com outros, as aprendizagens dentro ou fora da escola.

García (Idem, p. 157) conclui que “os professores vão modificando os seus constructos em

função das experiências que vão tendo, como também em consequência de uma autorreflexão

ou mediante reflexão em grupo”.

Em relação às teorias implícitas, elas constituem um elemento estrutural do

pensamento do professor. Podem ser definidas como “conhecimentos e crenças, cuja ativação

tem uma certa recorrência, na medida em que permitem interpretar o currículo e pô-lo em

prática. Tais conhecimentos e crenças são abstraídos a partir de conjuntos de experiências

episódicas relativas ao ensino” (Idem, p. 158).

Um indivíduo, seja professor ou coordenador, é exposto ao longo de sua vida a

repetidas situações de aprendizagem culturalmente organizadas, das quais se repetem certos

padrões de ensino. A regularidade dessas situações contribui para o desenvolvimento de

representações intuitivas sobre o processo de formação, tanto de alunos quanto de professores.

As experiências episódicas vivenciadas pelo professor ou pelo coordenador geram

determinados hábitos que incidirão no exercício da profissão. (PLACCO; SOUZA, 2006).

Ao discutir sobre a prática profissional pedagógica do professor em sala aula, Pérez

Gómez (2007) considera que o docente, em sua vida profissional, apoia-se nas teorias

11

Não queremos com essa breve discussão, correr o risco de sermos reducionistas e apresentar uma definição

única de como se formam as concepções de formação dos professores e coordenadores, sabemos que essa

temática tem sido amplamente discutida no campo da psicologia, filosofia e sociologia (GARCÍA 1999;

MARRERO, 1993; POZO et al 2006). Além disso, García (1999) considera que ainda há muita confusão

semântica acerca da palavra concepção.

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implícitas que conscientemente ou não construíram ao longo de sua experiência, na maioria

das vezes de forma tácita. Afirma ainda que:

O professor/a, sob a pressão das múltiplas e simultâneas demandas da vida

da aula, ativa seus recursos intelectuais no mais amplo sentido da palavra

(conceitos, teorias, crenças, dados, procedimentos, técnicas) para elaborar

um diagnóstico rápido da mesma, valorizar seus componentes, planejar

estratégias alternativas e prever, na medida do possível, o curso futuro dos

acontecimentos (Idem p. 369).

Assim, é possível entender que o professor, “via de regra, intuitiva e empiricamente

constrói a sua própria didática calcada nos modelos que conheceu como aluno e no bom senso

que o ajuda a ‘filtrar’ os procedimentos que ‘funcionam”. Desse processo resulta, com o

passar do tempo, um ‘jeito’ de organizar e conduzir o ensino que, geralmente, não chega a ser

tomado como reflexão pelo professor (GRIGOLI, 1990, p. 41).

Assim, no âmbito do trabalho docente, as teorias implícitas “são teorias pedagógicas

pessoais reconstruídas sobre a base de conhecimentos pedagógicos historicamente elaborados

e transmitidos através da formação e da prática pedagógica” (MARRERO, 1993, p. 245).

Dessa forma, as teorias implícitas oferecem princípios e proposições que subjazem e que

guiam as apreciações, decisões e ações dos professores, bem como dos coordenadores,

mobilizando-os em suas decisões instrucionais, na condução das formações, no uso de

estratégias de ensino, no relacionamento com os professores e todos que estão envolvidos no

processo educacional.

Carlos Marcelo (2009, p. 14) destaca que, nos processos formativos cujo intuito seja a

formação para o desenvolvimento profissional, “têm-se dado uma especial atenção à análise

das crenças que os professores em formação trazem quando iniciam o seu percurso

profissional”. Explica que as crenças ou concepções são premissas que o professor tem sobre

aquilo que considera verdadeiro e estão relacionadas com a afetividade. As crenças, ao

contrário do conhecimento proposicional, não necessitam da condição de verdade refutável e

influenciam na forma como os professores aprendem e nos processos de mudança que eles

possam iniciar. “As crenças que os professores já trazem consigo, afetam diretamente a

interpretação e valorização que os professores fazem das suas experiências de formação de

professores” (Idem, p. 15). Sob essa perspectiva, pode-se dizer que a concepção de formação

é um elemento constituinte do conhecimento profissional.

O olhar do professor em relação às questões sobre como os alunos aprendem, como se

apropriam do conhecimento e avançam em suas dificuldades determinará seu planejamento.

Por exemplo, quando um professor de língua portuguesa entende que o aluno só aprende por

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31

meio de memorização, irá trabalhar com listas e mais listas de verbos, pedindo-lhes que os

conjuguem repetidamente no caderno; quando um professor de matemática compreende que a

fixação é a única forma para a classe entender uma operação, irá priorizar em seu trabalho os

exercícios do tipo “arme e efetue”; por sua vez, se um professor de história acredita que o

aluno só aprende por meio de suas explicações, adotará como prática a aula expositiva. Ou

seja, as concepções sobre como se estabelece a aprendizagem determinam o planejamento do

professor, bem como a maneira de ensinar. Portanto, a concepção de aprendizagem do

professor vai determinar sua concepção de ensino. Um movimento similar ocorre com o

coordenador pedagógico na função de formador de professores.

Quando um coordenador entende que para os professores se apropriarem de

determinado conceito basta realizar a leitura de um referencial teórico, seu ATPC será repleto

de textos teóricos, como se a teoria, dissociada de uma reflexão fundada sobre a prática, fosse

capaz de modificar atuações. Ou, citando um exemplo mencionado por Christov e Lara (2017,

p. 182) acerca da importância de diagnosticar as necessidades do grupo: “um professor não

percebe que tem dificuldade para realizar a escuta dos alunos em sala de aula; mas ao narrar

algumas de suas atividades ou ao convidar o coordenador para participar de algumas aulas

essa necessidade pode ficar evidente”. Tal necessidade só será evidente para um coordenador

que entende a importância do dialogismo das relações de ensinar-aprender, contudo, para o

coordenador cuja concepção é a de que os alunos, de fato, devem ficar em silêncio durante a

aula, a constatação feita não é encarada como diagnóstico de algo que precisa ser melhorado.

Ao realizar os encontros formativos na escola, é imprescindível que o coordenador

conheça os professores com os quais trabalha. Isso envolve saber identificar as concepções de

ensino e de aprendizagem do grupo, bem como diagnosticar suas necessidades pedagógicas.

Além disso, é necessário também que o coordenador evidencie em seus projetos sua própria

visão de educação e escola, ou seja, sua concepção de formação. Para dar conta dessa

demanda são necessárias condições de desenvolvimento profissional e de qualificação por

parte do coordenador.

Nos últimos anos, têm ocorrido no Brasil um investimento maior em políticas de

formação docente. No âmbito do governo federal, o campo da formação dos profissionais da

educação tem sido foco de atenção de várias iniciativas políticas, ao lado de outras tantas

conduzidas pelos governos estaduais e municipais. Entretanto, os programas e projetos de

formação no âmbito da esfera pública ainda evidenciam a proposição de metas inadequadas,

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32

ter poucos focos prioritários que se tornem factíveis, projetos sem avaliação pertinente etc.

(GATTI, 2016).

Nossa experiência,12 atuando em coordenação de projetos de formação de professores

e gestores pedagógicos em órgãos centrais da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo,

permitiu constatar que existem iniciativas do poder público na promoção de políticas de

formação. Por outro lado, observamos também uma significativa pulverização de ações,

algumas com interfaces entre si, porém sem a necessária complementariedade entre elas. São

ações que envolvem dirigentes de redes de ensino e de instituições escolares, professores,

pais, alunos, além de coordenadorias de órgãos centrais, que não evidenciam a articulação e

não demarcam, de maneira clara, qual concepção de formação docente, de escola e de

educação as orienta.

Conforme Gatti (2016), as questões pendentes que temos até hoje com relação à

formação de professores, a carreira do magistério e suas condições de trabalho são históricas e

recorrentes. Fazendo um balanço das políticas educacionais dos estudos realizados sobre a

temática analisada, nas últimas décadas, a autora conclui “não se esteve inerte durante esse

tempo, mas parece que não se acerta o alvo” (p. 45).

De fato, podemos entender a formação de professores como elemento constitutivo das

mudanças educacionais. Contudo, é importante destacar que tal formação é parte inerente das

necessidades do trabalho docente, no que tange os desafios sociais, profissionais,

educacionais e interesses pessoais do professor. Portanto, não são as necessidades definidas

autoritariamente por instâncias sociais e políticas que impulsionarão o processo de mudanças

educacionais, e sim aquelas construídas na relação entre os professores e o contexto

socioprofissional.

O coordenador pedagógico tem um papel importante nesse processo de mudança.

Retomando a epígrafe deste capítulo, o que esse profissional deseja é realizar “uma boa

formação” (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2009, p. 228). Sem dúvida, seus esforços vão em

direção de tentar “acertar o alvo”. Quando se realiza uma boa formação docente, quem se

beneficia é o aluno. Aliás, ele deve ser o foco do trabalho. Para que esse processo ocorra

efetivamente, entendemos que o coordenador deve fundamentar suas concepções de formação

e não realizar seu trabalho de forma espontaneísta. Ter clareza teórico-conceitual e

epistemológica dos fundamentos que devem orientar sua ação possibilitará ao coordenador

12

Em diferentes momentos trabalhamos em departamentos de formação da SEE-SP.

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33

criar condições para que os professores se apropriem de conhecimentos e métodos necessários

ao seu amplo desenvolvimento.

Para formar o professor, o coordenador deve primeiro investir em sua própria

formação. O campo da formação docente ainda está se constituindo e não há muita literatura

disponível que traga aportes teóricos específicos para os coordenadores. Há, no entanto, vasta

bibliografia que trata de formação de professores. Nesse processo autoformativo, é importante

desenvolver um olhar crítico para muitos manuais de formação; saber que toda teoria de

formação (bem como de ensino e aprendizagem) traz consigo um paradigma do qual decorre

um sistema de valores que influencia não somente o processo de construção do conhecimento,

mas também a maneira de ser, de fazer e de viver/conviver.

Essa discussão preliminar permite situar uma das questões problema desta tese: quais

estratégias formativas têm sido utilizadas pelos coordenadores durante a reunião de ATPC?

Partimos do pressuposto que as ações do coordenador são determinadas por suas concepções

de formação. Acreditamos que, ao analisar e discutir o corpus desta pesquisa, as concepções

de formação dos sujeitos investigados emergirão como variáveis que não podem ser

ignoradas. Assim, a outra questão problema é: quais concepções de formação estão

subjacentes em tais práticas?

Isso posto, queremos aprofundar a reflexão em um dos elementos que alicerçam as

concepções do coordenador pedagógico em seu papel de formador: os modelos de formação.

Neste capítulo, discorreremos sobre alguns paradigmas ou modelos de formação docente que

têm orientado as práticas formativas, bem como as principais tendências teóricas que se

destacam no campo da formação docente. Na sequência, apresentaremos os aspectos que

constituem a formação direcionada para a reflexão sobre a prática docente.

1.1 A influência do pensamento científico na Educação

Behrens (1999) separa em dois blocos os paradigmas que influenciaram, e ainda

influenciam o percurso histórico da educação: os paradigmas conservadores e os inovadores.

A autora vai chamar de paradigma conservador as tendências pedagógicas calcadas no

pensamento científico newtoniano-cartesiano.

Esse paradigma contaminou por muitos anos a sociedade e, em especial, a

escola, em todos os níveis de ensino. O pensamento newtoniano-cartesiano

propôs a fragmentação do todo e por consequência as escolas repartiram o

conhecimento em áreas, as áreas em cursos, os cursos em disciplinas, as

disciplinas em especificidades. A repartição foi tão contundente que levou os

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professores a realizarem um trabalho docente completamente isolados em

suas salas de aula (BEHRENS, 1999, p. 384).

A crença de que a soma do conhecimento das partes resultará no conhecimento do

todo originou a criação de cursos fragmentados que dividiram o conhecimento em áreas:

humanas, exatas, biológicas e sociais aplicadas. Caracterizada pela fragmentação, a prática

pedagógica propõe ações mecânicas aos alunos, provocando um ensino assentado no escute,

leia, decore e repita. A hipótese subjacente a essa concepção é a de que o aluno precisa

memorizar e fixar informações – as mais simples e parciais possíveis que devem ir se

acumulando com o tempo. Privilegia-se também a lógica, a sequenciação e a ordenação dos

conteúdos, visando disciplinar a mente e a formação de hábitos.

A escola do século XIX e de grande parte do século XX, sedimentada no paradigma

vigente em seu período e atendendo aos interesses de uma sociedade de produção de massa,

fruto da Revolução Industrial, alicerçou uma prática pedagógica assemelhada à produção de

uma fábrica (SAVIANI, 2013). A escola que nasce junto com a linha de montagem industrial,

cuja principal característica é ser seriada, espelha-se no modelo de parcelamento da produção:

cada professor passa a ser responsável apenas pelo pedaço de conhecimento que deve

transmitir. Esse parcelamento aliena tanto operários como professores do seu trabalho: torna-

os peças de uma grande engrenagem sobre a qual eles não têm poder.

Saviani (2013) destaca que o pensamento newtoniano-cartesiano e os ideais

positivistas que influenciaram o cenário escolar brasileiro desde os primórdios da escola

jesuítica ainda estão presentes na contemporaneidade.

No final do século XIX, a visão mecanicista do mundo decorrente do paradigma

cartesiano-newtoniano começava a perder o seu poder de. A ciência clássica nascida com o

propósito de desvendar as leis da natureza como verdades absolutas, deu-se com a descoberta

de que as verdades absolutas não existem. Descobre-se que as verdades científicas são

descrições limitadas a dados recortes da realidade, portanto provisórias.

À medida que o século XX avançava, sucessivos acontecimentos científicos foram,

pouco a pouco, corroendo os alicerces do paradigma newtoniano-cartesiano. As descobertas

relacionadas à Teoria da Relatividade e à Teoria Quântica, somadas a outros pensamentos

revolucionários, provocaram reviravoltas na forma de enxergar o mundo, trazendo profundas

implicações sobre o processo de construção do conhecimento. Os avanços tecnológicos e

científicos ocasionaram mudanças e afetaram todas as áreas do conhecimento humano e,

consequentemente, a vida social, e não mais se conseguem controlar os paradoxos apenas por

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regras reducionistas, simplificadas e rígidas (ROLDÃO, 2016). Desse movimento emergiu o

paradigma inovador.

Essa breve retrospectiva ilustra como o pensamento científico, somado a outros

fenômenos sociais e econômicos, influencia a Educação, a Escola e o Currículo Escolar. Sem

dúvida, influencia também os processos formativos, envolvendo professores e alunos.

Queremos nos deter no próximo tópico aos paradigmas de formação de professores.

1.2 Paradigmas de formação docente

Diversos autores têm-se ocupado, nas últimas décadas, em identificar os modelos ou

orientações genéricas que têm permeado o terreno da formação docente (ZEICHNER, 1983;

LISTON e ZEICHNER, 1993; DEMAILLY, 1992; GARCÍA, 1992, 1999; NÓVOA, 2002,

dentre outros). Latente a cada modelo estão concepções sobre o que é e como se desenvolve o

conhecimento profissional dos professores.

Pensando no contexto da formação docente, Zeichner (1983, p. 3) afirma que os

paradigmas podem ser entendidos como “uma matriz de crenças e suposições sobre a natureza

e os propósitos da escola, do ensino, dos professores e da sua formação, que configuram um

conjunto de características específicas na formação de professores”. Os programas de

formação que se integram num dado paradigma são suportados por um conjunto de

pressupostos comuns.

Demailly (1992), por sua vez, considera que para pensar a formação docente é

necessário entender as diferentes concepções existentes nesse campo e todo o contexto que

envolve sua prática. Para a autora, as diversas teorias existentes em relação à formação

docente acabam por delimitar diferentes modelos.

Os programas de formação de professores estão assentados na concepção de formação

veiculada pelos formadores que os organizam e pelas instituições de formação. No decorrer

da história, tais programas têm elaborado seus projetos visando definir o perfil do profissional

que se queria desenvolver, uma vez que “toda formação encerra um projeto de ação. E não há

projetos sem opções” (NÓVOA, 1992, p. 31). Nessa perspectiva, nos projetos de formação de

professores, encontra-se, de forma explícita ou implícita, sua concepção de educação, o perfil

de professor que se quer formar e as estratégias que serão utilizadas para obter tal formação.

Os programas de formação que se integram num dado paradigma são suportados por um

conjunto de pressupostos comuns. Mas quais são esses pressupostos? Qual a lógica por trás

de cada modelo de formação?

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36

1.3 Apontamentos sobre a história recente da formação de professores

Deslocando o debate sobre formação de professores de uma perspectiva

excessivamente centrada nos aspectos curriculares e disciplinares para uma perspectiva

centrada no terreno profissional, Nóvoa (2002) faz no capítulo Concepções e práticas de

formação contínua de professores um mapeamento dos principais modelos que se

configuraram no campo da formação docente.

Utilizando-se das colaborações de vários autores em suas investigações em diferentes países,

Nóvoa considera que na acepção atual do termo, só tem sentido falar de formação de

professores a partir dos anos de 1970. A partir da década de 80, há uma explosão de

programas de formação de professores em várias partes do mundo. Nesse período, prolongou-

se uma lógica de formação docente “articulada, essencialmente com objetivos de

desenvolvimento do sistema educativo e não com objetivos de desenvolvimento profissional

docente” (idem, p. 52). Concomitantemente a esse período, foram realizados diversos estudos

sobre os modelos de formação docente. O autor considera importante o resgate desses

estudos, pois

O processo de formação está dependente de percursos educativos, mas não

se deixa controlar pela pedagogia. O processo de formação alimenta-se de

modelos educativos, mas asfixia quando se torna demasiado educado. A

formação vai e vem, avança e recua, construindo-se num processo de relação

ao saber e ao conhecimento que se encontra no cerne da identidade pessoal

(NÓVOA, 1992, p. 25).

Sublinhando o papel da concepção de formação no desenvolvimento da

profissionalização docente, Nóvoa (2002, p. 53) resgata os estudos sobre os modelos de

formação de Zeichner e Demailly (1992).

Zeichner, em suas investigações sobre os paradigmas da formação de professores

identifica tendências no currículo e nas práticas dos formadores, das quais ele classifica como

“tradicional, comportamentalista, personalista e investigativo” (NÓVOA, 2002, p. 53).

Por sua vez, Lise Demailly (1992, p. 144) analisou o documento francês Plano Anual

de Formação Contínua de Professores e constatou diferentes concepções de formação. Numa

síntese dessas concepções, a autora utiliza o termo “modelo de formação” dos quais destaca:

forma universitária, forma escolar, forma contratual e forma interativo-reflexiva.

Assim, apoiando-se principalmente nesses dois autores, Nóvoa (2002, p. 54) constata a

existência de duas grandes categorias de formação que chamou de “modelos de formação

contínua”. São eles: estruturantes e construtivistas. Ainda que esses modelos não apareçam no

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cenário educacional em seu estado puro é possível reuni-los, pois apresentam concepções

comuns:

Os modelos estruturantes (tradicional, comportamentalista, universitário,

escolar), organizados previamente a partir de uma lógica de

racionalidade científica e técnica, e aplicados aos diversos grupos de

professores.

Os modelos construtivistas (personalista, investigativo, contratual,

interativo-reflexivo), que partem de uma reflexão contextualizada para a

montagem dos dispositivos de formação contínua, no quadro de uma

regulação permanente das práticas e dos processos de trabalho (Idem, p.

54).

Nóvoa (2002) destaca que esse esforço em mapear os modelos formativos devem ser

entendidos como um movimento teórico para análise das concepções intrínsecas a esses

modelos, e não como propostas de intervenção na formação. Considerando que no processo

formativo esses modelos não se apresentam de forma linear, tampouco uniforme, o autor

levanta algumas possibilidades para a conformação de uma nova perspectiva para a formação

de professores, ancorada nos pressupostos teóricos do construtivismo. Pressupostos que, ao

valorizarem o sujeito e seus saberes nos processos de aprendizagem, podem contribuir para a

ressignificação da prática docente. Nóvoa se posiciona a favor dessa perspectiva:

Pessoalmente, situo-me na linha dos modelos do ‘paradigma investigativo’ e

na ‘forma interactivo-reflexiva’. Baseio esta opção na necessidade de

conceber uma formação contínua que contribua para a mudança educacional

e para a redefinição da profissão docente. Não ignoro que os modelos

estruturantes são mais eficientes a curto prazo, tal como as estratégias de

‘formação de professores por competências’ amplamente demonstram. Mas

estes modelos tendem a reproduzir as realidades educacionais existentes,

dificultando o trabalho de intervenção (e de produção) de uma ‘nova’ escola

e de um ‘novo’ professor. (Ibidem, 2002, p. 55).

Os modelos construtivistas partem de uma reflexão contextualizada para a montagem

dos dispositivos de formação, com intuito de propiciar um processo de regulação permanente

das práticas e do trabalho do professor.

A concepção que embasa os modelos construtivistas é a de que o conhecimento é

constituído pela interação do indivíduo com o meio físico e social e se constitui por força de

sua ação, e não por dotação apriorística. O aluno é compreendido como alguém que sabe

algumas coisas e que, diante de novas informações significativas, realiza um esforço para

assimilá-las. Pensando assim, caberá ao professor criar situações que permitam aos alunos

vivenciar os usos sociais do conhecimento, promover atividades de ensino potencialmente

provocadoras do conflito cognitivo e garantir em sala de aula a máxima circulação das

informações.

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Solé e Coll (2009) advertem que o construtivismo deve ser visto como uma teoria

sobre o conhecimento e a aprendizagem, e não como uma teoria de ensino. Destacam que o

pensamento construtivista oferece ao professor um referencial para analisar e fundamentar

muitas das decisões adotadas no planejamento e no decorrer do ensino. Além disso, o quadro

teórico proporciona elementos para compreender o que acontece na aula: por que razão um

aluno não aprende; por que determinada atividade, cuidadosamente planejada, não funcionou;

como intervir adequadamente quando um aluno não compreende determinado conteúdo, etc.

Nesse sentido, um dos princípios elementares dos modelos construtivistas é que os

projetos de formação docente devem estimular o professor a desenvolver uma postura

investigativa; o formador deve ajudar o professor a formular perguntas nucleares concernentes

ao processo de ensino, permitir responder a elas e oferecer critérios para analisar suas

respostas. Esse movimento valoriza a reflexão crítica sobre a prática pedagógica, é o elemento

fundamental para repensar o trabalho docente, assim como para redimensioná-lo. Os saberes

profissionais são valorizados, instaurando-se relações menos verticalizadas no processo de

produção e socialização do conhecimento (SOLÉ; COLL, 2009).

A observaçao mais apurada de cada um dos modelos que compõem o agrupamento

estruturante e construtivista proposto por Nóvoa (2002) poderá nos ajudar a compreender as

concepções que subjazem as práticas de formação de professores, bem como entender

algumas mudanças que se vem processando no campo teórico-prático da formação.

Figura 1 - agrupamento dos modelos de formação elaborado por Nóvoa (2002)

Fonte: a autora

MODELOS ESTRUTURANTES

- comportamentalista - tradicional

(ZEICHNER, 1983)

- universitário; - escolar

(DEMAILLY, 1992)

MODELOS CONSTRUTIVISTAS

- personalista - investigativo

(ZEICHNER, 1983)

- contratual e interativo-reflexivo (DEMAILLY, 1992)

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1.3.1 Modelo comportamentalista

O modelo comportamentalista, conforme Zeichner (1983), se estrutura pelos

princípios de uma epistemologia positivista e uma psicologia comportamentalista. Esse

pensamento dominou os programas de formação de professores nos Estados Unidos nas

décadas de 60 e 70. A formação partia do pressuposto de que o “conhecimento, as técnicas e

as competências a serem ensinadas aos futuros professores são aquelas que se considera serem

as mais relevantes em relação ao papel da formação” (ZEICHNER, 1983, p. 7).

A partir dessa perspectiva passou-se a elaborar uma extensa lista de competências

que o professor deveria possuir para realizar de forma eficaz seu labor, a maioria delas estava

relacionada com sua ação didática em sala de aula. Outra característica era a utilização de

manuais de formação com propostas padronizadas cujo intuito era prescrever as ações

didáticas do professor. A ideia desse modelo era, segundo Liston e Zeichner (1993),

instrumentalizar os professores com técnicas de ensinar os conteúdos e, em consequência,

melhorar o rendimento dos alunos. Está subjacente a esse modelo a ideia da educação como

uma ciência a aplicada.

1.3.2 Modelo tradicional

No modelo tradicional, o conhecimento do conteúdo disciplinar e/ou científico é tido

como suficiente para que o professor ensine, e os aspectos práticos do ato de ensinar podem

ser aprendidos em serviço. Liston e Zeichner (1993, p. 136) afirmam que “esta orientação da

formação de professores acentua o papel do professor enquanto acadêmico e especialista das

matérias de estudo (conteúdo de ensino)”.

Fusari (1988) apresenta um registro da influência do tradicionalismo nos programas de

formação docente que ocorriam no contexto brasileiro a partir da década de 80. O termo

usado era ‘treinamento’ e neles realizavam-se atividades que valorizavam a prática como um

produto assimilável de forma individual, sem a preocupação de abrir espaço para reflexão.

Os treinamentos eram planejados, tendo como referencial determinados tipos

de textos (frequentemente traduzidos), acompanhados por folhas-tarefa, que

seriam trabalhadas individualmente e em grupos, visando à aplicação da

teoria à prática. [...] As folhas-tarefa, até bem formuladas, organizadas e

interessantes, quase sempre eram executadas pelos participantes muito mais

como tarefa a ser cumprida do que realmente como um momento de reflexão

e estudo da educação (FUSARI, 1988, p. 132).

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O papel do formador, nesse modelo, se restringia a cumprir o programa, coordenando

os professores para que realizassem todas as atividades propostas, enfatizando as ideias

presentes nos textos e suas possibilidades de aplicação na prática. “A dicotomia entre teoria e

prática era bastante nítida, e o papel do formador era ‘vender’ muito bem as vantagens da

aplicação da teoria à prática escolar” (Idem, p. 133).

O modelo tradicional ainda tem ocupado um lugar de destaque na forma de se

conceber os projetos de formação de professores. Para Sacristán e Pérez Gómez (2000, p.

363) “atualmente, e ainda que suas proposições teóricas pareçam obsoletas, continua sendo

um enfoque vivo que exerce notável influência no pensamento comum da sociedade e no

pensamento e ação dos próprios professores”.

1.3.3 Modelo universitário

Demailly (1992) considera que o modelo universitário está relacionado com a ideia

tradicional de formação continuada (isto é, como uma etapa complementar da formação que

ocorre antes do início da carreira), vinculada a uma instituição formadora que possibilite uma

titulação específica, como é o caso da universidade. Nesse modelo, a formação é voluntária. O

interesse pelos saberes adquiridos e o prestigio decorrente da formação são motivos que

levam o indivíduo a tomar a iniciativa em buscar determinado curso ou especialização. A

finalidade essencial do modelo universitário é a transmissão do saber e da teoria. “Mestres e

discípulos estão em relação imediata com um terceiro termo, o saber, a ciência, de que os

mestres são os produtores diretos através da investigação, e não somente difusores” (Idem p.

143). Dessa forma, os mestres são produtores do saber, tendo como responsabilidade a

transmissão de seus conhecimentos teóricos e de seu conhecimento já constituído e o

formando assume o lugar de receptor dos conhecimentos.

Para Demailly, no modelo universitário “as noções de plano de formação (de

necessidades objetivas de formação), são inadequadas” (Ibidem p. 150), dentre alguns

motivos, salienta que o papel dos formadores é cumprir o conteúdo programático previamente

definido no plano de formação da instituição. Tal modelo se assemelha aos cursos de

atualização, capacitação e aperfeiçoamento, realizados nas instituições universitárias.

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1.3.4 Modelo escolar

No modelo escolar, as formações são organizadas e definidas por um “poder legítimo

exterior aos professores: Igreja, Estado ou Nação” (Op. Cit., p. 143). A estruturação dos

programas de formação docente é centralizada em instâncias superiores, tais como autarquias,

estabelecimentos de ensino público, ou qualquer outra instância legítima ou ainda delegada

para organizações privadas, caso das conhecidas empresas do terceiro setor que passam a

desempenhar um papel institucional.

Os objetivos e interesses são de caráter superior, ou seja, interesses institucionais em

que o papel do formador é transmitir saberes que não exprimem, necessariamente, seus

próprios posicionamentos pessoais e sim de um programa oficial, isto é, o formador apenas

propaga conhecimentos que se constituem a partir de conteúdos determinados a priori pela

instituição responsável pelo programa de formação. A esse respeito, “os formadores não

podem ser considerados como pessoalmente responsáveis pelo programa que ensinam, ou

pelas posições que exprimem, pois ambos relevam uma obrigação à qual, do mesmo modo do

que seus alunos, estão sujeitos”. (Idem, p. 145, grifo da autora).

As características desse modelo são muito próximas das formações da Secretaria

Estadual de Educação de São Paulo, uma vez que as formações voltadas para os professores e

gestores têm por objetivo propagar e implementar na escola os programas elaborados em

políticas educacionais, cujos programas são pouco negociáveis, definidos a priori por

instâncias públicas que contratam ou designam os formadores para ‘ensinar’ conteúdos

estabelecidos em programas oficiais que, por vezes, estão desarticulados das necessidades da

escola. Para exemplificar essa discussão, retomamos um comunicado publicado nos manuais

orientadores de formação dos coordenadores, na ocasião do lançamento do programa São

Paulo Faz Escola.

A Secretaria da Educação considera que a coordenação pedagógica constitui-

se em um dos pilares estruturais da sua atual política de melhoria da

qualidade de ensino e que os Professores Coordenadores devem atuar como

gestores implementadores dessa política com os objetivos de: ampliar o

domínio dos conhecimentos e saberes dos alunos, elevando o nível de

desempenho escolar evidenciado pelos instrumentos externos e internos de

avaliação; intervir na prática de sala de aula, incentivando os docentes a

diversificarem as oportunidades de aprendizagem, visando à superação das

dificuldades detectadas junto aos alunos; promover o aperfeiçoamento e o

desenvolvimento profissional dos professores designados, com vistas à

eficácia e à melhoria de seu trabalho (SEE, 2008, p. 6).

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1.3.5 A lógica por trás dos modelos estruturantes: a racionalidade técnica

É possível perceber que a concepção de formação docente implícita nos modelos

estruturantes é a de que basta instrumentalizar o professor com procedimentos técnicos para a

renovação da prática. Para isso, as ações de formação são padronizadas, além disso, há uma

operacionalização de objetivos a partir de esquemas previamente formulados. Um elemento

em comum desses modelos é a organização racional dos meios, ocupando o formador e

professor posição secundária, relegados à condição de executores de um processo cuja

concepção, planejamento coordenação e controle ficam a cargo de especialistas supostamente

habilitados, neutros, objetivos, imparciais. A organização do processo de formação converte-

se na garantia da eficiência, compensando e corrigindo as deficiências do professor e

maximizando os efeitos de sua intervenção.

Não é difícil notar uma lógica comum em todos os modelos: o princípio da

racionalidade técnica. “A racionalidade técnica é uma epistemologia da prática derivada da

filosofia positivista, construída nas próprias fundações da universidade moderna, dedicada à

pesquisa” (SCHÖN, 2007, p. 15). Para Pérez Gómez (1992, p. 96), “trata-se de uma

concepção epistemológica da prática, herdada do positivismo, que prevaleceu ao longo de

todo o século XX”, fundamentada na ideia de que o progresso humano seria decorrência do

desenvolvimento científico, no sentido de criar tecnologias voltadas para o bem estar das

pessoas e da sociedade.

Calcada no pensamento científico do paradigma conservador (BEHRENS, 1999), os

princípios da racionalidade técnica se tornaram referenciais para formação de muitos

profissionais em geral, inclusive professores. Conforme Saviani (2013), foi esta a concepção

dominante no período do fordismo/taylorismo, devido a sua organicidade, às formas de

divisão social e técnica do trabalho, pois contribuía para reprodução do mundo do trabalho no

que diz respeito à reprodução de sua estrutura verticalizada e rigidamente hierarquizada de

aspecto estritamente técnico.

Para a racionalidade técnica, a atividade do profissional é sobretudo

instrumental, dirigida para a solução de problemas mediante a aplicação

rigorosa de teorias e técnicas científicas. Para serem eficazes, os

profissionais da área das ciências sociais devem enfrentar os problemas

concretos que encontram na prática, aplicando princípios gerais e

conhecimentos científicos derivados da investigação (PÉREZ GÓMEZ,

1992, p. 96).

Nessa perspectiva, acreditava-se ser possível explicar o processo de ensino e

aprendizagem a partir do uso do método científico que se baseia nos pressupostos da

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objetividade, racionalidade e neutralidade colocados como condição de cientificidade.

Conforme Diniz-Pereira (2014), a visão de educação como uma ciência aplicada não é nova.

Durante o século XIX e início do XX, muitas pesquisas foram desenvolvidas na tentativa de

comprovar que o ensino melhoraria pela aplicação do método científico. Procuraram-se os

fundamentos científicos da intervenção técnica do professor em áreas mais básicas do

conhecimento, especialmente na Psicologia. Skinner, juntamente com outros psicólogos

comportamentalistas, foi um dos mais influentes defensores desse pensamento. “De acordo

com essa visão, a prática educacional é baseada na aplicação do conhecimento científico e

questões educacionais são tratadas como problemas ‘técnicos’ os quais podem ser resolvidos

objetivamente por meio de procedimentos racionais da ciência” (DINIZ-PEREIRA, 2014, p.

35).

Pérez Gómez (1992) destaca que a maior parte da investigação educacional nos

últimos trinta anos desenvolveu-se a partir dessa concepção epistemológica da prática

entendida como racionalidade técnica ou instrumental. “A concepção do ensino como

intervenção tecnológica, a investigação baseada no processo-produto, a concepção do

professor como técnico e a formação de professores por competências são indicadores

eloquentes da amplitude temporal e espacial do modelo da racionalidade técnica” (p. 98).

O objetivo prioritário da racionalidade era alcançar a eficácia na atuação do professor,

tentando regular a prática de ensino como um modelo de intervenção tecnológica que se

apoiasse nas atividades do conhecimento científico. No que se refere à didática,

predominaram as preocupações sobre como ensinar, de forma cientificamente embasada, que

buscavam identificar procedimentos e recursos didáticos com eficiência máxima no controle

da atenção e aprendizagem dos alunos como se observa:

Na perspectiva da racionalidade técnica, a prática profissional configura-se

como portadora de soluções instrumentais que se resolvem mediante a

aplicação de conhecimentos teóricos e técnicos. A docência resume-se à

aplicação de normas e técnicas derivadas de um conhecimento especializado.

O profissional docente não é visto como um produtor de conhecimento, mas

como um consumidor do que é produzido pela ciência, e enquanto técnico

sua ação se reduz à utilização de decisões tomadas por outros especialistas

(ANDRÉ, 2012, p. 12).

Pérez Gómez (1992) assinala que, gradativamente, foi sendo implementado no

processo educativo um conjunto de conhecimentos científicos com objetivo de moldar a

atuação do professor, de forma que esse viesse a ser tão previsível como os procedimentos

utilizados para produzir uma máquina.

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A formação concentrava-se em capacitar os professores, ou seja, dotá-los de recursos

oriundos de um componente científico-cultural, para assegurar o conhecimento do conteúdo a

ensinar, e de um componente psicopedagógico, para aprender a atuar eficazmente em sala de

aula. Nas práticas assim orientadas, eram comumente utilizadas as expressões eficiência e

eficácia para qualificar o desempenho dos professores e de seus alunos, em face dos critérios

de racionalidade previamente definidos (FUSARI, 1988).

Nóvoa (2002), opondo-se à racionalidade técnica, aponta, no entanto, para a

importância que a racionalização do ensino teve na história da educação, ao representar um

avanço em relação ao modelo empírico, visto que defende a aplicação do conhecimento do

método científico na análise da prática e na regulação da intervenção do professor.

O esforço de racionalização do ensino saldou-se por ganhos muito

significativos e, nalguns casos, decisivos. Mas pelo caminho caiu-se na

tentação de reduzir o trabalho pedagógico a uma dimensão exclusivamente

racional. Como se o ato educativo se inscrevesse necessariamente no

prolongamento de um raciocínio científico. Como se fosse possível (e

desejável) instaurar uma qualquer razão educativa, limitando ao mínimo os

fatores aleatórios do cotidiano escolar (Idem, 2002, p. 33).

Ou seja, em que pese as contribuições da racionalidade técnica, seus princípios

receberam várias críticas, por exemplo, os problemas sociais que perpassavam a prática

pedagógica não eram levados em consideração no contexto educacional, uma vez que os

critérios de validação científica eram mais importantes na definição de suas funções. Nessa

perspectiva, “um profissional competente está sempre preocupado com problemas

instrumentais. [...] e sua eficácia é medida pelo sucesso em encontrar, em cada instância, as

ações que produzem os efeitos pretendidos, consistentes com seus objetivos”. (SCHÖN, 2007,

p. 37). Nessa visão, a competência profissional consiste na busca dos meios mais adequados

para a conquista de fins, na aplicação de teorias e técnicas derivadas da pesquisa sistemática,

preferencialmente científica, à solução de problemas instrumentais da prática.

Em vista desses e outros aspectos, Pérez Gómez (1992) destaca os limites e lacunas

profundas no pensamento pautado pela racionalidade técnica “a realidade social não se deixa

encaixar em esquemas preestabelecidos do tipo taxonômico ou processual” (Idem, p. 99), haja

vista que os fenômenos sociais são permeados de complexidade, incerteza, instabilidade,

singularidade e conflito de valores. Para o autor:

Há duas razões fundamentais que impedem a racionalidade técnica ou

instrumental de representar, por si, só, uma solução geral para os problemas

educativos: em primeiro ligar, porque qualquer situação de ensino quer seja

no âmbito da estrutura das tarefas acadêmicas, ou no âmbito da estrutura da

participação social, é incerta, única, variável, complexa e portadora de um

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conflito de valores na definição de metas e na seleção dos meios; em

segundo lugar, porque não existe uma teoria científica única e objetiva, que

permita uma identificação unívoca de meios, regras e técnicas a utilizar na

prática, uma vez identificado o problema e clarificado as metas (Id., p. 100)

O conhecimento produzido pelas pesquisas em educação não pode traduzir a realidade

educacional, limitando-se à simples aplicação da teoria à prática, pois isso não atende

efetivamente às demandas dos professores no desempenho de sua ação com os alunos.

A prática educativa não pode ser reduzida a questões instrumentais. Por essa razão, a

formação docente não pode se limitar a receitas e estratégias curriculares produzidas por uma

estrutura pré-determinada.

Essas zonas indeterminadas da prática – a incerteza, a singularidade e os

conflitos de valores – escapam aos cânones da racionalidade técnica. Quando

uma situação problemática é incerta, a solução técnica de problemas depende

da construção anterior de um problema bem delineado, o que não é, em si só,

uma tarefa técnica. Quando um profissional reconhece uma situação como

única não pode lidar com ela apenas aplicando técnicas derivadas de sua

bagagem de conhecimento profissional. E, em situações de conflito de

valores, não há fins claros que sejam consistentes em si e que possam guiar a

seleção técnica dos meios (SCHÖN, 2007, p. 17).

As formações baseadas na racionalidade técnica revelaram, ao longo do tempo, sua

incapacidade para resolver e tratar tudo o que é imprevisível, tudo o que não pode ser

interpretado como um processo de decisão e atuação regulado segundo um sistema de

raciocínio, a partir de um conjunto de premissas. Por isso, desconsidera os aspectos da prática

que têm a ver com o imprevisto, a incerteza, os dilemas e as situações de conflito tão comuns

no cotidiano dos professores. Ou seja, com todas as situações das quais as regras técnicas e os

cálculos não são capazes de dar conta e para os quais se requerem outras capacidades

humanas que têm de ser entendidas e não desprezadas. Os estudos sobre profissionalização

docente, por exemplo, têm apresentado contribuições importantes para a melhor compreensão

da especificidade do trabalho do professor que, ao se realizar através das relações

interpessoais, adquire um grau de complexidade que extrapola a questão técnica, criando um

desafio que precisa ser enfrentado. (ALMEIDA, 2010).

A concepção implícita na perspectiva da racionalidade técnica, de que o professor é

apenas um canal de transmissão de saberes produzidos por outros, é muito simplista, negando

a subjetividade e saberes dos professores e dos alunos como agentes no processo educativo e

parecendo desconhecer a crise de paradigmas no campo do conhecimento científico das

últimas décadas. A rigidez com que se entende a razão na perspectiva positivista e a aplicação

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de regras definidas para alcançar resultados já previstos provoca a incapacidade de atender às

necessidades docentes.

O regate histórico que fizemos, bem como o apanhado do que configura a

racionalidade técnica contribuíram para que possamos entender os motivos que levaram a

questão do saber adquirir importância central nos debates e pesquisas educacionais e o

significado das mudanças operadas no campo da formação docente. O coordenador

pedagógico não pode desconsiderar que muitos professores foram formados no paradigma

conservador calcado nos princípios da racionalidade técnica.

Considerar essa época a partir da perspectiva atual aventura-me a dizer que

foi um período em que o modelo hegemônico de educação e formação foi

tão difundido e incrível, que marcou toda uma geração de professores que

ainda padecem das contradições evidentes entre o que fizeram e o que

atualmente pensam que se deveria fazer. Esses docentes foram formados no

autoritarismo, com fundo positivista e com uma visão técnica de um ofício

no qual havia soluções teóricas para tudo e para todos. Acreditaram nisso ou

se forçaram a crer, para depois colocar tudo em quarentena. Alguns ainda

não superaram isso (IMBERNÓN, 2010, p. 19).

Esse modelo hegemônico de formação explicitou-se claramente nos programas de

formação de professores nas décadas de 70 e 80, no Brasil, mas a presença da racionalidade

técnica ou instrumental, no processo educacional, é ainda mais antiga, podendo ser observada

através da abordagem comportamentalista do ensino, que se desenvolveu a partir da década de

1960 e que ganhou um incentivo especial a partir da LDB 5692/71 (SAVIANI, 2013).

Ainda que estejamos nos referindo à racionalidade técnica como estando circunscrita a

um determinado período na história da educação, temos consciência de que, na verdade, seus

princípios ainda estão fortemente presentes até hoje. De fato, “com uma ou outra adaptação, a

maioria dos programas de formação de professores integram-se dentro deste esquema”

(PÉREZ GÓMEZ, 1992, p. 98).

Em diferentes países do mundo, mesmo considerando algumas variações, a

maioria dos currículos de formação de professores é construída de acordo

com o modelo da racionalidade técnica. Instituições internacionais de

fomento, tais como o Banco Mundial (BM), são as principais responsáveis

pela promoção de reformas conservadoras em programas de formação de

professores, especialmente em países em desenvolvimento. Certamente, o

Banco Mundial tem sido um dos mais importantes veículos de divulgação da

racionalidade técnica e científica em reformas educacionais e mais

especificamente na formação de professores no mundo (DINIZ-PEREIRA,

2014, p. 36).

A citação de Diniz-Pereira nos faz refletir sobre o jogo de interesses que está por trás

da manutenção do paradigma conservador nos programas de formação docente. A formação

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do professor, quando restrita a uma atividade instrumental, cria margem para um currículo

que desconsidera as dimensões políticas, sociais e antropológicas que revestem o ensino e a

formação docente (SAVIANI, 2013). A resistência para a mudança e a continuidade na

propagação da racionalidade técnica por organismos legitimados socialmente como sendo

responsáveis pela criação de propostas de formação docente é justificada por Pérez Gómez

(2007, p. 364) da seguinte forma:

O conhecimento profissional, acumulado ao longo de décadas e séculos,

saturado de senso comum, destilado na prática, encontra-se inevitavelmente

impregnado de vícios e obstáculos epistemológicos do saber de opinião,

induzidos e formados pelas pressões explícitas da cultura e ideologia

dominantes. Nasce subordinado aos interesses sócio-econômicos de cada

época e aparece saturado de mitos, preconceitos e lugares-comuns nada

fáceis de questionar.

Seriam esses os motivos? Talvez. Mas o que sabemos é que a discussão realizada até o

momento aponta para a necessidade de repensar a formação de professores, não mais

ancorada nos modelos pertencentes ao paradigma conservador cujo pensamento científico

predominante é o da racionalidade técnica, mas uma formação que considere o professor

como ator e autor de sua prática pedagógica.

1.3.6 Modelo personalista

O modelo personalista, conforme Zeichner (1983) e Liston e Zeichner (1993), está

baseado no pensamento científico da psicologia do desenvolvimento humano. Nesse modelo,

considera-se que o ensino é, essencialmente, um processo de comunicação pessoal cuja meta

primordial da educação do aluno e da formação dos professores é o desenvolvimento da

pessoa em sua totalidade e não apenas nos aspectos cognitivos.

Com base nessa perspectiva, os programas de formação desse modelo têm como

pressuposto orientar o professor a aprender por si mesmo, partindo da compreensão ativa de

suas necessidades pessoais para buscar seu próprio estilo de ensinar, sabendo como modificar

suas decisões e enfrentar as adversidadedes que surgem em relação à aprendizagem dos

alunos. No processo formativo há uma preocupação com as necessidades e interesses dos

professores e não na aquisião de competências provenientes de comportamentos pré-

estabelecidos.

Esse modelo não considera o formando como uma tábula rasa, mas um sujeito dotado

de saberes e experiências. O currículo da formação docente não está predeterminado, uma vez

que se atribui ao professor uma participação ativa em sua construção.

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Os princípios formativos do modelo personalista são muito próximos à teoria do

desenvolvimento humano do psicólogo francês Henri Wallon (2007). Para ele, o

desenvolvimento humano implica conjuntos integrados: a afetividade, o cognitivo e a

motricidade. Nessa perspectiva, a formação não pode encarar o professor de maneira

fragmentada, mas compreendê-lo em sua totalidade, um indivíduo que é produto de múltiplas

determinações: estrutura orgânica, contexto social, trajetória de vida pelos diferentes meios

por que passou.

1.3.7 Modelo contratual

O modelo contratual caracteriza-se por uma negociação entre os diferentes atores

envolvidos na formação; negociação que vai desde a estruturação do programa até as

modalidades materiais e pedagógicas. Os contratos são formalizados mediante diferentes

parcerias, concretizando-se em distintas modalidades de formação desenvolvidas conforme

negociação realizada entre os parceiros. “O modelo contratual caracteriza-se por uma

negociação (sob modalidades diversas), entre diferentes parceiros ligados por uma relação

contratual, do programa pretendido e das modalidades materiais e pedagógicas da

aprendizagem” (DEMAILLY, 1992, p. 144).

Embora reconhecendo que, no âmbito do sistema educativo, o puro modelo contratual

é muito limitado, a autora admite que, muitas vezes, há uma espécie de modelo “contratual

escolarizado”, no qual a legitimidade do formador não se baseia principalmente no contrato

celebrado (modelo contratual), nem na competência pessoal (modelo universitário), “mas

numa autoridade institucional que ultrapassa o próprio formador” (Id., p. 148).

É possível afirmar que existem muitas características do modelo contratual

escolarizado na rede pública estadual de São Paulo. A SEE, costumeiramente contrata

instituições para elaborar projetos de formação, faz parcerias com universidades ou

especialistas em determinadas áreas do Currículo. Há uma negociação acerca dos objetivos da

formação, produção de materiais de apoio e formas de avaliar os resultados. As formações

contratadas ocorrem em diversos espaços: escolas, diretorias de ensino, universidades, ou

ainda na modalidade a distância por meio de ambientes virtuais de aprendizagem. O público

alvo são professores e gestores e o conteúdo da formação, bem como os procedimentos

realizados, varia de acordo com o contrato estipulado entre os parceiros.

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1.3.8 Modelo interativo-reflexivo

O último modelo mencionado por Demailly é o interativo-reflexivo (1992, p. 144) que

“abrange as iniciativas de formação ligadas à resolução de problemas reais, com a ajuda

mútua entre formandos e uma ligação à situação de trabalho”. Um princípio por trás desse

modelo é que a formação deve possibilitar que o professor ressignifique sua prática através da

reflexão sobre o seu cotidiano. A ligação das iniciativas da formação com a situação de

trabalho realiza-se por meio de resolução de problemas reais, nos quais saberes são postos e

discutidos com o grupo com base em uma bibliografia sobre o tema em questão. Nesse

sentido, novos saberes são produzidos a partir da atividade reflexiva e da análise das

problemáticas vivenciadas em uma constante relação com o aporte teórico. “A competência

estimulada neste modelo é a capacidade de resolução de problemas, isto é, um misto de

saberes com estatutos muito diversos, que são parcialmente produzidos e não transmitidos na

relação pedagógica que caracteriza a formação” (Idem, p. 145).

“Na forma interativo-reflexiva, o coordenador seria visto como um técnico de apoio

dos professores, em que os saberes fossem produzidos em cooperação e devessem ajudar a

resolver problemas práticos. Tratar-se-ia de uma aprendizagem em situação” (TORRES,

2010, p. 48). A formação é elaborada pelo coordenador, mas contando com a participação

direta dos professores, com base em suas demandas pedagógicas específicas. A escola é o

lócus privilegiado para a aprendizagem em situação.

Apoiando-se nas considerações de Demailly, Canário (2010, p. 166) afirma “que as

competências só podem ser produzidas em contexto, a partir da experiência de trabalho”.

Assim, o processo formativo que pretende transformar as experiências em aprendizagens

depende, portanto, de um contexto para as reflexões sobre as práticas. O potencial formativo

dos contextos de trabalho – transformação da experiência em saber – implica fazer do

trabalho um objeto de reflexão e pesquisa coletiva.

Esses e outros fatores fazem com que Demailly (1992) considere esse modelo

universitário mais eficiente para quem deseja uma formação individual; mas no plano

coletivo, o modelo interativo-reflexivo parece adequar-se mais às demandas presenciadas no

cotidiano pedagógico dos professores, visto que estimula “a capacidade de resolução de

problemas, isto é, um misto de saberes com estatutos muito diversos, que são produzidos e

não transmitidos na relação pedagógica que caracteriza a formação.” (Idem, p. 145), ou seja,

possibilita a construção de novos saberes profissionais frente aos problemas encontrados.

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1.3.9 Modelo investigativo e seus desdobramentos para uma formação reflexiva

Os princípios do modelo interativo-reflexivo são muito próximos do modelo

investigativo (ZEICHNER, 1983). A concepção de formação desse último é a preparação dos

professores para serem investigadores da sua prática profissional, para darem prioridade ao

desenvolvimento de pesquisas sobre o ensino e sobre os contextos nos quais o mesmo se

processa. A formação deve estimular a capacidade dos professores de analisar e interrogar as

situações profissionais que se fazem presentes em seu cotidiano escolar. Zeichner (1983)

considera que em todo o processo de ensino há questões fundamentais que todo professor

deveria investigar, e indagar: “quem é o meu aluno, o que ele sabe? o que eu devo ensinar?

Como proceder com turmas tão heterogêneas?” (Id., p. 6). Os problemas a serem tomados

como objetos de investigação serão, assim, os problemas reais que afligem a vida escolar e

seus sujeitos, e não abstrações formuladas pelos pesquisadores.

O trabalho de Dewey é considerado a semente de muitos dos atuais escritos acerca da

reflexão sobre a prática em educação. A ideia de um ensino voltado para o desenvolvimento

da reflexão ou do pensamento reflexivo foi introduzida na educação por ele, no início do

século XX. Zeichner (1993) considera que, para Dewey, a ação reflexiva é um processo que

implica mais do que a busca de soluções lógicas e racionais para os problemas. A reflexão

implica intuição, emoção e paixão. Para Dewey “a reflexão não consiste num conjunto de

passos ou procedimentos específicos a serem usados pelos professores. Pelo contrário, é uma

maneira de responder aos problemas [...]; não é, portanto, nenhum conjunto de técnicas que

possa ser empacotado e ensinado aos professores.” (Id., p. 18). Ao desdobrar essa ideia,

Zeichner (1993) afirma que, quando o professor não reflete sobre seu ensino acaba se

resignando frente aos problemas cotidianos da escola, e concentra seus esforços em atingir os

objetivos que outras pessoas definiram em seu lugar.

Na virada do milênio, os estudos de Schön (2007) retomam o pensamento de Dewey.

Suas discussões sobre ‘conhecimento na ação e reflexão na ação’ recolocam as noções de

Dewey na ordem do dia, trazendo os termos ‘professor reflexivo e ensino reflexivo’ para a

pauta da educação contemporânea, contribuindo, inclusive, para que tais noções fossem

disseminadas em vários países do mundo, até como slogans de reformas educacionais

(ZEICHNER, 1993).

Mas não é somente das ideias de Dewey que se embasa o pensamento de Schön, suas

ideias sobre profissional reflexivo fundamentam-se também no pensamento freireano, no

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cognitivismo e outros. A esse respeito, Tardif e Moscoso (2018) fazendo um giro nas

correntes filosóficas, sociológicas e epistemológicas dos anos 1960 aos 1980 concluem que

A concepção das ideias de Schön se nutre dos grandes temas e referenciais

teóricos e científicos que estruturam as ciências humanas e sociais de sua

época: a crítica da racionalidade tecnocientífica, a reflexividade das práticas

sociais, o retorno do ator, as dimensões cognitivas da ação, os aspectos

artísticos, criadores e construtivos da atividade, entre outros. O pensamento

de Schön não remonta apenas a Dewey, mas se encontra no cruzamento de

sua época que, em grande parte, também é a nossa (Id., p. 389).

A distinção entre os processos de ‘conhecer na ação’ e de ‘reflexão na ação’, para

Schön, pode parecer sutil. O conhecimento na ação é o componente que está diretamente

relacionado com o saber fazer, é espontâneo, implícito e que surge na ação, ou seja, um

conhecimento tácito. Contudo, o que distingue a reflexão na ação de outras formas de refletir

é que o profissional, ao refletir sobre uma situação inesperada e incerta, estabelece um diálogo

com seu pensamento e sua ação, transformando tanto sua atuação como sua forma de

compreensão da situação, podendo adequar melhor os meios e os fins. Quanto à reflexão

sobre o agir, refere-se à “análise que o indivíduo realiza a posteriori sobre as características e

processos de sua própria ação. É a utilização do conhecimento para descrever, analisar e

avaliar os vestígios deixados na memória por intervenções anteriores” (PÉREZ GÓMEZ,

1992, p. 105). Portanto, a reflexão é um processo que ocorre antes, durante e depois de

alguma ação realizada pelo professor.

Schön reconhece que esses ‘tipos’ de reflexão estão presentes tanto na vida cotidiana

como em uma prática profissional, o que os diferencia é que o conhecer-na-ação, ou o saber

tácito de um profissional “tem suas raízes no contexto social e institucionalmente estruturado

do qual compartilha uma comunidade de profissionais” (SCHÖN, 2007, p. 37).

Nessa perspectiva, quando o professor problematiza sua experiência prática -

buscando alternativas para os desafios enfrentados, testando-os, observando as reações dos

alunos, procurando entender o significado de suas perguntas e respostas, avaliando-os e,

sobretudo, avaliando as próprias ações – aprende e aperfeiçoa seus conhecimentos. Ou seja,

ao refletir sobre a prática, o professor desenvolve uma atividade investigativa que irá

caracterizá-lo como produtor de conhecimentos práticos sobre o ensino, e não mais como um

especialista técnico que apenas reproduz estes conhecimentos. É o que afirma Schön (2007, p.

68): “Quando alguém reflete na ação, ele torna-se um pesquisador no contexto prático. Ele

não é dependente de categorias teóricas e técnicas preestabelecidas, mas constrói uma nova

teoria de um caso único”.

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Zeichner (1998) dá continuidade ao pensamento de Dewey e Schön de prática

reflexiva e adiciona, no processo formativo, o conceito do professor pesquisador, o qual, por

meio da pesquisa-ação, é capaz de refletir e investigar concretamente sua prática e ainda

produzir conhecimentos acerca de sua experiência. Conhecimentos que servirão de

parâmetros para ação do professor, sem deixar de considerar, segundo ele, os aspectos do

contexto social e político, no qual a escola está inserida.

A proposta de Zeichner de ensino reflexivo dá continuidade às ideias anteriormente

desenvolvidas por Schön e Dewey de prática reflexiva, mas lhes empresta novos formatos e

novos significados, ao incorporar em seu pensamento as teses dos reconstrucionistas sociais e

a concepção de pesquisa-ação desenvolvida pelos pesquisadores australianos, como Carr e

Kemmis (DINIZ-PEREIRA, 2011).

1.3.10 A lógica por trás dos modelos construtivistas: a racionalidade prática

O resgate das características dos modelos construtivistas nos fez perceber elementos

comuns a todos: investigação da prática (modelo investigativo), enfatizando a capacidade de

análise e resolução de problemas ligados à prática e ao contexto (modelo interativo reflexivo)

com vistas ao desenvolvimento do professor em sua totalidade, e não apenas nos aspectos

cognitivos (modelo personalista). “Esses modelos procuram superar as barreiras colocadas

pelo modelo positivista de formação de professores. De fato, novas formas de pensar a

formação de professores tentam romper com concepções tradicionais e dominantes na

formação docente” (DINIZ-PEREIRA, 2011, p. 32).

Os modelos construtivistas articulam certos entendimentos de professor, de ensino e

de conhecimento que engendram pressupostos, como as ideias de: professor ativo, criativo e

construtor de conhecimento; ensino como prática social e reflexiva; importância do

conhecimento que advém da prática e da pesquisa como instrumento mediador, ou articulador

da relação entre teoria e prática. Esses pressupostos passam a orientar diversas propostas de

formação de professores, não apenas no Brasil13, mas em vários lugares do mundo.

A concepção de professor como sujeito ativo, criativo e construtor de conhecimentos

orienta uma abordagem formativa cuja base é a prática reflexiva. Essa abordagem postula que

o conhecimento do professor advém de sua prática profissional, ou seja, a experiência ou a

13

Por exemplo, “a partir do ano de 2001 com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de

Professores da Educação Básica, o paradigma da ‘epistemologia da prática’ é expresso na obrigatoriedade da

prática desde o início dos cursos de licenciatura; é reconhecido como fundante da competência para o ensino,

devendo ser traduzido em medidas reais no chão da sala de aula por meio dos Projetos Pedagógicos dos cursos

de formação de professores” (THERRIEN, 2010, p. 309).

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ação docente cotidiana em sala de aula. Portanto, a lógica por trás dos modelos construtivistas

é a da racionalidade prática.

Assim, com base na perspectiva de Schön (2007), Zeichner (1993), Tardif (2002) e

outros, entendemos que a ideia não é transformar o conhecimento em prática pedagógica, mas

de transformar a prática em conhecimento profissional docente. Nesse movimento, não há

mera transposição didática, ao contrário, trata-se de um processo de reflexão sobre a prática,

ou seja, teorizar a prática. A dimensão prática deixa de ser compreendida como local de

aplicação de teorias técnico-científicas e se converte em ponto de partida e de chegada das

investigações educativas dos professores. Desse modo se resolve o velho dilema entre teoria e

prática, e se introduz uma dimensão de síntese entre esses dois polos; de uma teoria que nasce

a partir de uma reflexão sobre a prática, uma teoria que nasce sobre a reflexão da experiência,

que não é pura e simples reprodução da experiência, mas a capacidade de refletir sobre a

experiência.

A pesquisa, realizada pelo próprio professor na sua prática de ensino, é vista como o

instrumento que possibilita a articulação entre teoria e a prática do professor (ZEICHNER,

1998). Nessa perspectiva, o processo de formação é, na verdade, autoformação, uma vez que

os professores reelaboraram os saberes iniciais em confronto com suas experiências práticas,

cotidianamente vivenciadas nos contextos escolares. “É nesse confronto e num processo

coletivo de troca de experiências e práticas que os professores vão constituindo seus saberes

como praticum, ou seja, aquele que constantemente reflete na e sobre a prática.” (PIMENTA,

2009, p. 29)

Dessa maneira, entende-se que a formação do professor não se dá em momentos

distintos - primeiro a formação teórica e depois a experiência prática, mas no diálogo da

prática com a teoria, “no quadro de uma regulação permanente das práticas e dos processos de

trabalho” (NÓVOA, 2002, p. 54).

Na racionalidade prática, a formação docente ultrapassa a necessidade de

conhecimento meramente acadêmico-científico e o professor é visto como “investigador ou

pesquisador” (ZEICHNER, 1993), “prático-reflexivo” (SCHÖN, 2007), envolvendo-se afetiva

e cognitivamente em suas atividades, “questionando as suas próprias crenças e explicações,

propondo e experimentando alternativas, participando da reconstrução permanente da

realidade escolar” (PÉREZ GÓMEZ, 1992, p. 112). A prática pedagógica torna-se processo

de “investigação na ação”, o núcleo da formação docente e o “lugar de produção do saber”

(NÓVOA, 1992).

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54

Contudo, estudos realizados nos últimos anos põem em evidência algumas críticas à

racionalidade prática. Por exemplo, Libâneo (2002), ao delinear os sentidos do termo

‘reflexividade’ pondera que tem havido um reducionismo em sua interpretação. Para ele, o

que norteia a noção de reflexividade é a capacidade racional dos seres humanos como sujeitos

de pensamento; o que permite a todos pensarem sobre si próprios. Libâneo também destaca

que, embora não seja possível contestar as contribuições que as teorizações sobre o professor-

reflexivo trouxeram, elas também podem incorrer em não valorização dos conhecimentos

teóricos ou na utilização desses como recursos para instrumentalizar a prática. Nessa

perspectiva, André (2006) alerta para os riscos de os profissionais da educação utilizarem as

pesquisas científicas como instrumento para encontrar respostas prontas, como se fossem

receitas prescritivas, para os dilemas que afetam o cotidiano do trabalho escolar. O

pressuposto de que a produção do conhecimento seja orientada para subsidiar a ação pode

incorrer na noção de que a teoria se orienta para um fim útil, o que viria a conferir-lhe um

caráter de instrumentalidade.

Outra crítica apontada é que ao se colocar em destaque o protagonismo do sujeito

professor nos processos de mudanças e ressignificação da prática gera-se uma concepção

individual de reflexão. A ênfase na reflexão individual da própria prática pode levar ao

espontaneísmo ingênuo, com poucas chances de transformar a atuação. “Não é a curiosidade

espontânea que viabiliza a tomada de distância epistemológica. [...] Essa rigorosidade

metódica é que faz a passagem do conhecimento do senso comum para o conhecimento

científico. [...] A rigorosidade se acha no método de aproximação do objeto” (FREIRE, 2003,

p. 78).

Pimenta (2002), em seus estudos sobre professor reflexivo no Brasil, aponta que,

embora os conceitos de Schön tenham trazido enormes avanços para o campo da formação

docente, a incompreensão da essência de suas proposições, bem como a apropriação

inadequada de algumas de suas ideias fez com que, em muitos programas de formação

docente, tenha havido uma supervalorização da prática, não como objeto de análise crítica,

mas a prevalência da prática em detrimento da teoria; dessa forma, incorre-se no praticismo

estratégico que valoriza a prática como condição necessária e suficiente para a construção do

saber docente.

Sem dúvida, ao colocar em destaque o protagonismo do sujeito professor nos

processos de mudanças e inovações, essa perspectiva pode gerar a

supervalorização do professor como indivíduo. Nesse sentido diversos

autores têm apresentado preocupações quanto ao desenvolvimento de um

possível "praticismo" daí decorrente, para o qual bastaria a prática para a

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construção do saber docente; de um possível "individualismo", fruto de uma

reflexão em torno de si próprio; de uma possível hegemonia autoritária, se se

considera que a perspectiva da reflexão é suficiente para a resolução dos

problemas da prática; além de um possível modismo, com uma apropriação

indiscriminada e sem críticas, sem compreensão das origens dos contextos

que a gerou, o que pode levar a uma banalização da perspectiva da reflexão

(PIMENTA, 2002, p. 22).

As críticas apontadas indicam que a racionalidade prática tem contribuído para a

tendência de proceder a uma tecnização da reflexão, a partir de sua operacionalização em

inúmeras competências a serem desenvolvidas no processo de formação de professores, sem a

devida apropriação e articulação de uma base teórica sólida.

Não valorizar a dimensão teórica na formação do professor, bem como desconsiderar a

necessidade da reflexão coletiva e a compreensão dos contextos institucionais em que se atua

resulta em consequências prejudiciais ao processo formativo. Como alertam Miranda e

Resende (2006, p. 517),

[...] uma grave consequência do praticismo é que sua defesa vem

alimentando a retórica reformista da educação e seus efeitos se vêm fazendo

sentir nas diversas expressões de repúdio à teoria e à cultura acadêmica.

Outra vez, são muitos os riscos: o aligeiramento da formação, a

descaracterização da universidade como agência de formação de professores,

a banalização da pesquisa, a redução das condições de autonomia e rigor

para o exercício da crítica.

De acordo com Pimenta (2002), a utilização generalizada e sem critérios dos conceitos

de reflexividade, propostos por Schön e por outros estudiosos, têm transformado os conceitos

de professor reflexivo em um mero termo, expressão de uma moda. Sobretudo nas reformas

educacionais há uma tendência a se apropriar desse termo esvaziando-o de seu potencial

político-epistemológico. Nessa perspectiva, a autora alerta que as políticas educacionais dos

governos neoliberais desqualificam a formação profissional dos professores, propõem

aligeiramento da formação e não oferecem condições objetivas de trabalho, contribuindo para

consolidar uma falsa ideia de desenvolvimento do professor e de sua autonomia, o professor-

reflexivo se torna, nesse contexto, objeto de mera retórica.

Essas e outras críticas não desqualificam os princípios da racionalidade prática e as

potencialidades do conceito de professor reflexivo. Como elucida André (2016, p. 17), o

problema não está no consenso acerca da importância dessa proposta, mas na “pouca

concordância sobre como implementá-la. Existem várias questões que precisam ser

respondidas, como [...] desenvolvê-la nos cursos de formação inicial? E nos programas de

formação continuada? Que condições tem o professor para desenvolver pesquisa na escola?”.

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1.3.11 A reflexão nos modelos da racionalidade crítica: embate de ideias?

Em face dos questionamentos anteriormente apresentados, Diniz-Pereira (2011)

assinala a manifestação de embates no campo da formação de professores com a emergência

de posições no sentido da ruptura da hegemonia tanto da racionalidade técnica como da

racionalidade prática e em favor da construção de uma contra-hegemonia pela racionalidade

crítica.

Posicionando-se a favor da racionalidade crítica está Contreras (2002), para quem a

reflexão precisa assumir uma forma crítica que possibilite a análise e o questionamento das

estruturas institucionais em que se realiza o trabalho docente, em suas implicações sociais,

econômicas e políticas. O autor advoga que os professores devem assumir o papel de

intelectuais críticos que reconhecem e questionam a natureza do seu trabalho.

Conceber o trabalho dos professores como trabalho intelectual quer dizer,

portanto, desenvolver um conhecimento sobre o ensino que reconheça e

questione sua natureza socialmente construída e o modo pelo qual se

relaciona com a ordem social, bem como analisar as possibilidades

transformadoras implícitas no contexto social das aulas e do ensino

(CONTRERAS, 2002, p. 173-174).

Logo, o intelectual crítico é aquele com condições formativas para questionar tanto a

sua prática, quanto as condições nas quais ela se estabelece.

Baseando-se nos estudos de Carr e Kemmis, Diniz-Pereira (2011, p. 34) define que na

racionalidade crítica a educação é

Historicamente localizada – ela acontece contra um pano de fundo sócio-

histórico e projeta uma visão do tipo de futuro que nós esperamos construir –

, uma atividade social – com consequências sociais, não apenas uma questão

de desenvolvimento individual –, intrinsecamente política – afetando as

escolhas de vida daqueles envolvidos no processo – e, finalmente,

problemática.

Um dos modelos de formação docente baseado nos princípios da racionalidade crítica

é o sociorreconstrucionista. Zeichner se posiciona nesse modelo (LISTON; ZEICHNER

1993), cuja ideia principal é o caráter político do ensino com vistas ao processo de mudança

social14

. Essa vertente defende que os programas de formação docente podem contribuir,

junto com outros projetos educativos e políticos, na construção de uma sociedade mais justa e

14

Segundo Libâneo (2002, p. 66), o reconstrucionismo social é “um movimento nascido nos Estados Unidos no

final dos anos de 1950 sob a liderança principal de Theodore Brameld, um filósofo influenciado pelas ideias de

Dewey, mas que desenvolveu uma teoria própria baseada no caráter transformador da educação tendo em vista

uma nova ordem social”.

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acolhedora. Conforme Zeichner (2011), o objetivo do processo formativo é auxiliar o

professor no desenvolvimento de uma consciência crítica, democrática e emancipatória. A

reflexão sobre a prática, base dos modelos da racionalidade prática, também está presente,

contudo a ideia é ajudar o professor a cultivar a capacidade de examinar sua prática para além

do que ocorre em sala de aula, ou seja, a ideia de reflexão como prática social, de modo a

incluir um olhar de compromisso com as dimensões sociais e políticas de seu trabalho.

Diniz-Pereira (2011) situa o pensamento freireano entre os modelos da racionalidade

crítica, uma vez que suas ideias se posicionam a favor do compromisso com a transformação

da educação e da sociedade, na medida em que concebe a prática educativa como um ato

político.

Dessa forma, é interessante notar que a proposta de o professor refletir sobre sua

prática não é algo novo no contexto educacional brasileiro. Diniz-Pereira (2011) considera

que Freire, ao propor seu método do “diálogo do levantamento de problemas” no processo de

ensino e aprendizagem, bebeu em fontes como Dewey e Piaget, mas suas ideias avançam,

justamente por defender processos formativos que contribuam para a formação de professores

autônomos, críticos e conscientes do seu papel social, capazes de transformar, no processo

educativo, as estruturas de injustiça contra as camadas populares. Ou seja, é no pensamento

freireano que se sobressai o caráter político da atividade docente. Diniz-Pereira (Idem, p. 37)

ainda afirma que o método freireano serve de base para se instaurar na escola “uma

comunidade de professores-pesquisadores, com estudantes como co-investigadores,

estabelece um processo democrático e centrado no aluno, por meio do qual o currículo é

construído ‘de baixo para cima’ ao invés de ser construído ‘de cima para baixo’”.

Assim, os modelos de formação docente, cuja lógica seja a racionalidade crítica,

concebem a educação como atividade histórica e social, intrinsecamente política e

problemática, e vinculam a pesquisa ao ensino e ao currículo. Para tanto, a pesquisa deve ser

realizada pelo próprio professor, e este é visto como alguém que levanta problemas.

Problemas que explicitam questões políticas; que visam à transformação da sociedade e à

justiça social.

Contudo, para que o professor possa desenvolver de fato sua consciência crítica e

emancipatória, como é o pressuposto dessa racionalidade, é necessário que seja um intelectual

crítico (CONTRERAS, 2002), ou seja, isso requer ter uma sólida formação educacional,

repertório histórico e cultural, bem como a compreensão de fatos políticos. Do contrário, a

reflexão corre o risco de cair no senso comum. A fragilidade na formação da grande maioria

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dos professores, no Brasil, pode ser um fator limitante em relação à proposta da racionalidade

crítica. A esse respeito, o próprio Freire reconhece:

Como é possível a formação de um educador sem uma excelente base de

linguagem – não digo língua, porque a linguagem é bem mais que isso – e

sem uma excelente base do discurso? E sem o conhecimento de história?

Como você pode ser um bom educador, se não tem noção da história do seu

país, da história da sua cultura, se nunca teve informações sobre as raízes

autoritárias do país? (FREIRE, 2001, p. 240).

A formação para justiça social, outra premissa da racionalidade crítica, passou a ser

usada amplamente em programas de formação docente que são voltados à reconstrução social.

Zeichner e Flessner (2012) fazem uma crítica a esse ponto e consideram que o termo já virou

um slogan entre os formadores de professores que se identificam com uma agenda

progressista.

Chegou-se ao ponto em que é muito difícil encontrar um programa de

formação de professores que não alegue ter uma agenda de justiça social e

que prepara os professores para trabalhar com as desigualdades na

escolarização e na sociedade. Um perigo da transformação de tudo em

slogans e que surgiu em torno do conceito de justiça social na formação de

professores é que a expressão “justiça social” perderá seu significado próprio

e passará a justificar e a moldar uma variedade de trabalhos educacionais

que representam diferentes comprometimentos (ZEICHNER; FLESSNER,

2012, p. 321).

Em relação ao processo reflexivo na racionalidade crítica, é possível concluir que,

tanto os modelos de formação da racionalidade prática quanto os da racionalidade crítica

utilizam-se da reflexão, mas em perspectivas teóricas diferentes: a racionalidade prática se

assenta no pensamento de Schön (2007), isto é, na ação-reflexão-ação; já a racionalidade

crítica acrescenta ao processo reflexivo o elemento axiológico do ensino e da educação como

prática social, tal como preconiza Zeichner (1998, 2011), isto é, a reflexão crítica-

emancipatória.

Após termos exposto, ainda que sumariamente, os pressupostos que sustentam os

modelos da racionalidade técnica, prática e crítica e como eles se fazem presentes na

formação docente, apresentamos a seguir quais princípios de formação podem, em nossa

perspectiva, desencadear um processo de desenvolvimento profissional e ampliar o nível de

qualidade dos processos formativos.

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1.4 A formação para um novo desenvolvimento profissional

As investigações recentes que estão conquistando consenso entre profissionais da

educação, vêm centrando suas discussões no conceito de desenvolvimento profissional

docente. Por exemplo, Huberman (1995), em seus estudos sobre o ciclo de vida profissional

dos professores, descreve fases que caracterizam o percurso formativo. Considera que existem

grandes diferenças de anseios e necessidades entre o docente em fase inicial, entre o que

adquiriu uma considerável experiência pedagógica e o que já se encaminha para a

aposentadoria. O autor chama a atenção para o fato de que as sequências estabelecidas na

descrição da carreira docente ocorrem de maneira continua, ou seja, pressupõe uma

aprendizagem ao longo de toda a vida, em contextos diversificados, em que o professor

assume o papel de protagonista dos conhecimentos adquiridos em cada uma das fases. Assim,

o desenvolvimento de uma carreira é um processo e não uma série de acontecimentos.

Na mesma direção, Carlos Marcelo (2009) considera que o conceito de

desenvolvimento tem uma conotação de evolução e continuidade e define o termo

desenvolvimento profissional como um percurso evolutivo de aperfeiçoamento da prática

docente que engloba não apenas o professor, mas também toda a comunidade escolar.

Nessa perspectiva, não é mais possível entender a formação docente como dois

momentos separados: a formação inicial que ocorre no contexto acadêmico e é responsável

pelos conhecimentos básicos e elementares do professor e a continuada, vista como uma etapa

que ocorre após o ingresso na docência, como uma forma de ascender na carreira, e que

muitas vezes é concebida como um meio de acumulação de cursos, conhecimentos ou

técnicas.

Essa separação historicamente marcou a concepção tradicional da formação docente

trazendo consequências negativas para a carreira do magistério. “Essa separação cristalizou a

ideia de que ao terminar a formação inicial a pessoa estaria formada, o que resultou em muitas

críticas à formação inicial e até em abandono da profissão” (ANDRÉ, 2016, p. 30).

Justamente rompendo com a tradicional justaposição entre formação inicial e

continuada, os autores vêm centrando suas discussões no conceito de desenvolvimento

profissional docente. Essa preferência é justificada por Marcelo (2009), pois marca mais

claramente a concepção de profissional do ensino que se forma ao longo da carreira e que

integra diferentes tipos de oportunidades e experiências. O autor afirma “O conceito de

desenvolvimento profissional tem vindo a modificar-se durante a última década, sendo essa

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mudança motivada pela evolução da compreensão de como se produzem os processos de

aprender e ensinar”. (Idem, p. 10). A esse respeito, André (2016, p. 30) explica que

A concepção que temos hoje é a de que a formação inicial é apenas uma fase

de um processo de desenvolvimento profissional, que se prolonga ao longo

de toda a vida profissional. Quem se dispõe a trabalhar como docente deve

entender que continuará seu processo de aprendizagem ao longo da vida,

pois a docência exige estudo e aperfeiçoamento profissional para que possa

responder às demandas da educação escolar inserida em uma realidade em

constante mudança.

Assim, a ideia é superar a retórica do inacabamento presente no termo formação

continuada para assumir uma perspectiva mais emancipatória. Dessa forma, os termos

formação inicial e formação continuada estão sendo substituídos gradativamente na literatura

do campo da formação de professores por desenvolvimento profissional docente.

Contudo, mais importante do que a alteração dos termos é entender de que forma o

conceito de desenvolvimento profissional afeta a concepção de formação docente. García

(1999) explica que o conceito de desenvolvimento profissional docente pressupõe uma

abordagem na formação de professores que valorize o seu caráter contextual, organizacional e

orientado para a mudança. “Esta abordagem apresenta uma forma de implicação e de

resolução de problemas escolares a partir de uma perspectiva que supera a característica

tradicionalmente individualista das atividades de aperfeiçoamento dos professores” (Id., p.

137).

Dessa forma, o contexto de trabalho docente passa a ser o lócus privilegiado para as

ações de formação. Pensando no potencial formativo do contexto de trabalho para o

desenvolvimento profissional de professores, Canário (1998) destaca a importância de se

conceber a formação como um processo de aprendizagem coletiva do qual emergem novas

competências. O autor considera que a formação centrada na escola atribui grande valor aos

saberes adquiridos por via experiencial, que desempenham um papel de âncora na realização

de novas aprendizagens. Nesse sentido, valorizar a experiência significa aprender a aprender

com a experiência. A pertinência da formação centrada na escola tem como base o

pressuposto de que os professores aprendem a sua profissão nas escolas e que essa

aprendizagem coincide com um processo largo, contínuo e multiforme, de socialização

profissional. Afirma ainda que a formação centrada na escola promove a ideia de formação da

equipe “no sentido de se transformarem em comunidades profissionais de aprendizagem,

marcadas por uma cultura colaborativa” (Idem, p. 17), superando os modelos que centravam a

atenção apenas no professor como indivíduo, deslocado de seu contexto de ação.

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Nóvoa (1995), ao afirmar, de um modo geral, que os programas de formação têm

ignorado tanto o desenvolvimento pessoal do professor, quanto a articulação entre a formação

e os projetos das escolas, para adquirir como eixo de referência o desenvolvimento

profissional, constata que, tanto numa perspectiva individual como coletiva, é necessário

considerar três dimensões: produzir a vida do professor (desenvolvimento pessoal), produzir a

profissão docente (desenvolvimento profissional) e produzir a escola (desenvolvimento

organizacional). Essas dimensões são importantes para adquirir como eixo de referência o

desenvolvimento dos professores na dupla perspectiva: do professor individual e do coletivo

docente.

Para produzir a vida do professor, o autor propõe a formação na perspectiva crítico-

reflexiva que fornece aos professores os meios de um pensamento autônomo e conduz à

dinâmica de autoformação participada, possibilitando a troca de experiências, a partilha e a

produção desses saberes, transformando o professor no construtor de sua formação. Produzir

a profissão docente envolve “[...] valorizar paradigmas de formação que promovam a

preparação de professores reflexivos, que assumam a responsabilidade do seu próprio

desenvolvimento profissional e que participem como protagonistas na implementação das

políticas educativas.” (Id., p. 27). Para isso é necessário produzir a escola como espaço de

trabalho e formação, o que implica gestão democrática e práticas curriculares participativas,

possibilitando a constituição de redes de formação contínua.

Assim, o item reflexão, ou o conceito de professor reflexivo, presentes nos modelos da

racionalidade prática e crítica ainda é frequente na abordagem de formação para o

desenvolvimento profissional. Contudo, também há uma evolução na compreensão desse

termo. Como afirma André (2016, p. 20), “a ideia do professor reflexivo evoluiu ao longo do

tempo para reforçar a ideia de uma escola reflexiva”, cujos integrantes – alunos, professores,

gestores e demais profissionais – estejam envolvidos em ações de leitura crítica da prática,

não somente da sua prática individual, mas da prática social que perpassa toda a realidade do

contexto em que estão inseridos.

Um dos princípios que subjazem a essa ideia-chave é o de autonomia.

Pretende-se formar sujeitos autônomos, ou seja, pessoas que tenham ideias

próprias, pensem por si mesmas, sejam capazes de escolher entre

alternativas, decidam o caminho a ser seguido, implementem ações e tenham

argumentos para defender suas escolhas e suas ações. Ao exercer sua

autonomia, essas pessoas vão se sentir cada vez mais livres das amarras do

poder político e econômico (ANDRÉ, 2016, p. 20).

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O trabalho reflexivo sobre a prática docente é entendido como uma forma de

reconstrução permanente de uma identidade pessoal e profissional em interação direta com a

cultura escolar, com sujeitos do processo e com os conhecimentos acumulados sobre a área da

educação.

Na formação docente, em uma perspectiva do desenvolvimento profissional, os

processos formativos são orientados para a descoberta e produção do conhecimento próprio,

por meio da investigação e análise da prática educativa. Nessa abordagem, a prática educativa

escolar é um marco importante para discutir teorias, além disso, são consideradas como parte

do processo formativo as diferentes experiências individuais e coletivas vivenciadas pelos

professores, como pessoas e profissionais.

Para Nóvoa (1995), todo processo de formação deve ter como referencial o saber

docente, o reconhecimento e valorização desse saber. A esse respeito, Placco e Souza (et al,

2006, p. 86) discutem como o saber e o aprender estão mutuamente imbricados no processo

reflexivo da prática cujo “aprender envolve atribuir significações e engendra relações únicas

com o saber. [...] as experiências, podem constituir-se em saberes e, a um só tempo, ser

significadas por esses saberes e gerar novos saberes, em um movimento constante e

contínuo”. Em vista disso, ressaltam que o formador de professores, no caso o coordenador

pedagógico, deve levar em consideração os saberes do grupo de professores da escola e

“oferecer pistas para que novas atribuições de significado possam ser realizadas pelos

sujeitos” (Id., p. 86).

O aprendizado profissional configura-se, portanto, como um processo permanente de

construção de saberes e competências para a realização do trabalho docente que não se

encerra na formação inicial, mas se faz presente ao longo de sua trajetória pessoal e

profissional.

Essa compreensão implica a necessidade das instituições escolares criarem espaços e

tempos institucionalizados que favoreçam processos coletivos de reflexão e intervenção na

prática pedagógica, através de reuniões pedagógicas, dentro da carga horária dos

profissionais, construção coletiva do projeto político-pedagógico da escola e avaliação

coletiva dele. Cabe, também, criar uma forma de incentivo à sistematização de práticas de

formação cuja proposta esteja centrada no papel do professor como pesquisador.

Nesse aspecto, André (2016, p. 28) faz uma ressalva,

[...] a pesquisa que se faz no trabalho, voltada mais para a prática da sala de

aula, para melhorar o próprio trabalho, é diferente da pesquisa que se faz

como exigência de um mestrado, um doutorado, uma pesquisa acadêmica

com outra finalidade. O objeto é diferente, a academia tem um compromisso

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com o avanço da teoria, a pesquisa da prática volta-se para a realidade para

conhecê-la melhor e modificá-la. Ambas, porém, exigem rigor na concepção,

no desenvolvimento e na comunicação.

Dominando os instrumentos e processos da pesquisa, os professores poderão, por

exemplo, sistematizar melhor suas experiências educativas exitosas e socializá-las tanto entre

seus pares na escola, como nos veículos próprios das comunidades acadêmico-científicas da

área da educação. Quando a escola abre espaço para ações desse tipo, o processo formativo

pode-se constituir num instrumento poderoso de fortalecimento da profissão docente.

Conforme Zeichner (1998), é necessário eliminar a linha divisória entre pesquisadores

acadêmicos e professores. O autor considera que a academia pode ser um espaço onde

professores e pesquisadores tenham oportunidades de interlocução, gerando, compartilhando

conhecimentos, no contato com realidades diferentes e ampliando a compreensão do processo

educativo e formativo.

A ideia de professor pesquisador também sofreu ajustes à medida que estudos foram

contribuindo para delinear o papel da investigação feita pelo professor. Conforme André

(2016, p. 28), a visão atual desse conceito é de que a pesquisa seja realizada em colaboração,

“para a constituição de comunidades investigativas”. A autora conclui ainda que “esses

conceitos de professor e escola reflexiva, de pesquisar a prática em colaboração, precisam ser

discutidos em um quadro dinâmico de crescimento contínuo, de aprendizado ao longo da vida.

Aí surge o conceito de desenvolvimento profissional.” (idem, p. 30)

Implementar na escola ações de formação voltadas para o desenvolvimento

profissional docente exigirá, portanto, que o coordenador pedagógico desenvolva “um plano

sistemático para melhorar a prática de trabalho, as crenças e conhecimentos profissionais com

o propósito de aumentar a qualidade docente, investigativa e de gestão” (IMBERNÓN, 2010,

p. 47). Tal plano sofrerá entraves ou correrá o risco de esavaziar seu sentido se não houver

parceria da gestão na formação (PLACCO; SOUZA, 2015).

Finalizamos este capítulo retomando a epígrafe apontada no inicío: “Que o bom ensino

produz melhor aprendizagem, ninguém provavelmente discordará. A discordância surge

quando quiser se chegar ao acordo sobre o que é bom ensino.” (OLIVEIRA-FORMOSINHO,

2009, p. 228). Nesta tese, não há discordância, defendemos como boa: a formação para o

desenvolvimento profissional que se baseia

na concepção de um professor pesquisador, que vai se orientar para

compreender as teorias implícitas na ação, fundamentá-las, revisá-las e

reconstruí-las. Isso exige um aprendizado de leitura crítica da prática, de

análise fundamentada da situação para entendê-la e encontrar caminhos para

reestruturá-la, tornando-a melhor (ANDRÉ, 2016, p. 32).

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64

A mudança de paradigma sobre o fazer docente repercute em uma nova perspectiva

para se pensar o aprendizado profissional do professor, pois se exige dele uma prática crítico-

reflexiva para que seja o próprio autor de sua formação e produtor de conhecimento.

Ressaltando que o desenvolvimento profissional do professor não ocorre sem o coletivo.

Mediante tudo que foi discutido neste capítulo, concluímos que a concepção de

formação voltada para o desenvolvimento profissional se situa nos modelos construtivistas, tal

como pensado por Nóvoa (2002). Também é possível afirmar que essa abordagem resgata

princípios dos modelos da racionalidade prática e da racionalidade crítica, mas amplia seus

conceitos, aperfeiçoando-os e rompendo, definitivamente, com as ideias difundidas pelo

paradigma conservador.

Resta saber como é possível realizar encontros formativos na direção discutida até o

momento? Que estratégias formativas podem ser utilizadas pelo coordenador em momentos

de ATPC de forma a contemplar o desenvolvimento profissional docente? Trataremos dessas

e outras questões no próximo capítulo.

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CAPÍTULO 2

CAMINHOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

“O coordenador não sabe liderar as reuniões e ficamos sem proposta...”

“É perda de tempo ... é Horário de tempo perdido e não Horário de

Trabalho Pedagógico...”

“Não se aprende nada ...”

Os coordenadores pedagógicos, por sua vez, queixam-se:

“Os professores não gostam de ler ...”

“Os professores não gostam muito de falar das dificuldades de sua prática

...”

“Os professores querem aproveitar o encontro para vender coisas ...”

“Os professores só querem se lamentar sobre os problemas das classes.”

(BRUNO; CHRITOV, 2003, p. 55)

Os relatos acima evidenciam os significados atribuídos por alguns sujeitos sobre como

consideram as reuniões coletivas que ocorrem no cotidiano escolar. Evidentemente, nem todas

as pessoas que participam dessas reuniões apresentam opiniões similares.

A incorporação da ATPC na jornada de trabalho representa um avanço no sentido de

ampliar as discussões coletivas a respeito do funcionamento da escola, bem como das

questões pedagógicas. Em que pesem as diferentes estruturas organizacionais e as impressões

pessoais, nossa experiência tem mostrado que o cenário de insatisfação acerca dessas reuniões

se sobressai no contingente de coordenadores.

O que está por trás desse cenário? Não se pode apontar um fator único, há de se levar

em conta as condições de trabalho, as relações interpessoais, a extenuante rotina da escola,

etc. Afinal, as reuniões pedagógicas são parte do todo escolar, cuja dinâmica se constrói

mediante múltiplas determinações. Estudos sobre o cotidiano escolar evidenciam essa

imbricação (ANDRÉ, 2003). Sem perder de vista essa questão, nosso olhar, atuando como e

com profissionais da área, permitiu fazer algumas inferências sobre os motivos de haver tanta

insatisfação nos encontros coletivos, dentre elas está o fato de que a maioria dos

coordenadores não recebe a preparação adequada para exercer a função de formadores

(PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011), consequentemente, há grande fragilidade nos

processos formativos, em decorrência, um quadro de frustração para todos os envolvidos. Para

Wallon (2007), em situações de imperícia, em que o indivíduo não possui habilidade,

experiência ou competência para agir, as emoções prevalecem e ofuscam a razão, em

momentos em que deveria se sobressair para melhor conduzir a ação.

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O relato de uma coordenadora do Ensino Fundamental ilustra bem o cenário que

estamos apresentando:

Recebi uma visita surpresa na escola, de responsáveis pelo acompanhamento

pedagógico da Diretoria de Educação. Ficariam para assistir minha reunião

de formação de professores. Naquele dia, o tema era Educação Especial, e

havia separado um texto de uma revista pedagógica sobre o assunto. Tirei

cópia do texto para todos e encaminhei a reunião fazendo a leitura coletiva e

discussão de cada item do texto, contribuindo com exemplos para meus

professores [...]. Após uma semana, eu, a outra coordenadora pedagógica e o

diretor fomos chamados na Diretoria Regional de Educação. A reunião foi

para nos chamar a atenção para o planejamento da formação de professores:

que não era adequado; passar os dias lendo e discutindo textos, mesmo que

com temas interessantes, pouco contribuía para a prática do professor [...]

(ALMEIDA, 2015, p. 33).

Essa experiência exemplifica como é, na maioria das vezes, conduzida a formação na

escola: leitura e discussão sobre textos teóricos. Entendemos que o “problema” não está na

leitura do texto, mas em como é encaminhada a discussão a partir dele. O hábito de ‘transmitir

conteúdos’ sem priorizar a reflexão e a interlocução com a prática ronda muitas situações de

formação. Na continuação do depoimento, a coordenadora relata que para ela esse era o jeito

“certo” de conduzir a reunião e o apontamento da inadequação dessa prática lhe causou

surpresa “falando dos meus sentimentos, eu tive, sim, uma sensação de fracasso pelo erro, e a

certeza de que não poderia mais repeti-lo” (Idem, p. 34). Essa constatação a impulsionou a

buscar caminhos para melhorar sua prática, investiu em sua formação ao se inscrever no

mestrado profissional de formação de formadores da PUCSP. Suas conclusões são o mote

para este capítulo,

Passei a desenvolver algumas certezas: sem formação e acompanhamento, o

CP pode errar e nunca melhorar. O mesmo ocorre com o professor: de nada

adiantam formações se não houver o acompanhamento para “acertar o rumo”

quando necessário. Outra certeza para mim, hoje, é que uma boa formação

depende de boas estratégias formativas (óbvio, depois do domínio do

formador sobre o assunto), e foi nisso que decidi me aprofundar (Ibidem, p.

35) (grifo nosso).

Para ter sua atuação legitimada, o coordenador deve investir numa formação sólida, na

qual possa encontrar subsídios que o orientem na organização e na condução das reuniões

pedagógicas semanais. O coordenador precisa se capacitar, entendendo capacitação, tal como

postulam Vasconcelos e Brito (2006, p. 52) “capacitar não é treinar, é oportunizar o ato

cognoscente relativo a determinados procedimentos, necessários ao bom desempenho de dada

ação ou tarefa”. Nesse movimento de autoaprendizagem, é importante conhecer as estratégias

de formação docente, pois partimos do pressuposto de que, quando fundamentadas em

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67

referenciais teóricos, tais estratégias podem ajudar a interpretar situações típicas da sala de

aula, bem como constituir um caminho para alcance dos objetivos do projeto formativo. Mas

o que estamos chamando de estratégias de formação?

2.1 Definições de estratégias nas pesquisas correlatas

Fizemos um levantamento bibliográfico das teses e dissertações produzidas em

programas de pós-graduação de universidades brasileiras na biblioteca digital brasileira de

teses e dissertações (BDTD) acerca do tema estratégia de formação. Utilizamos como

palavras-chave: estratégias de formação, coordenador pedagógico e práticas formativas. Para

essa busca não utilizamos filtro por área nem por período. Os termos pesquisados foram

observados em mais de 200 estudos. Depois de ler todos os resumos, pudemos constatar que

apenas 1115 pesquisas estavam relacionadas com nosso interesse de investigação, isto é,

estratégias de formação utilizadas por coordenadores pedagógicos.

Subitamente, algo chamou nossa atenção: a polissemia do termo estratégia. Por

exemplo, Tamassia (2011, p. 25) classifica como estratégia de formação docente

“planejamento de aula, sequências didáticas e projetos, observação de aula, análise de

materiais didáticos [...] documentação do percurso formativo”. Pimenta (2007), por sua vez,

identifica por estratégias formativas a realização de projetos de trabalho, desenvolvimento de

habilidade comunicativa e pessoal, fruição cultural, aplicação de avaliações, etc. Outros

pesquisadores chamam de estratégias as práticas de observação da sala de aula, estudos de

textos específicos, tematização da prática, conquistar o professor e agir como parceiro mais

experiente, auxiliar o professor a superar suas próprias dificuldades, organizar pauta

formativa, dentre outras.

Acrescentamos outros termos à busca, uma vez que, em seus estudos, os autores

tratavam de formação docente de maneira ampla e em diferentes contextos educacionais, tais

como as que ocorrem durante o Planejamento escolar, na observação da sala de aula, em

conversa particular com o professor, cursos oferecidos pela Secretaria, etc. Não houve

menção sobre as estratégias utilizadas pelos coordenadores nos encontros coletivos entre

professores. Assim, acrescentamos as palavras-chave ‘reunião pedagógica’ e ‘reunião’. Dessa

15

Em relação aos aspectos metodológicos dessas pesquisas: os sujeitos foram professores e coordenadores dos

segmentos da Educ. Infantil (três trabalhos), Fundamental I (quatro trabalhos), Fundamental II (três trabalhos) e

Ensino Médio (um trabalho). As técnicas de coleta foram questionário, entrevista e grupo focal. Objeto das

pesquisas: currículo de formação; propostas formativas; estratégias formativas e ações do coordenador. Corpus:

depoimentos dos professores; currículo de formação de um Município; pautas formativas do coordenador.

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68

vez surgiram inúmeras pesquisas cujo conteúdo fugia ainda mais do nosso interesse.

Delimitando a busca para momentos de reunião coletiva, ATPC ou HTPC, não foi possível

encontrar nenhum registro de estudos, como se observa na figura 2:

Figura 2 - Resultados de busca em pesquisas correlatas

Fonte: BDTD

O exercício de busca em pesquisas correlatas nos fez pensar sobre as contribuições

que nosso estudo poderá trazer para o campo da formação docente. Fala-se tanto sobre

estratégias, mas explicam-se superficialmente questões como: o que eu chamo de estratégia?

Para usar quando? Para quem? Como utilizá-las? Com qual objetivo? Que potencialidades

formadoras se pode desencadear nos procedimentos de determinada estratégia?

2.1.1 Com qual definição estamos trabalhando?

Para Perrenoud (et al 2001, p. 22), “As estratégias a serem empregadas são prioridade

para os formadores de professores do Maternal à Universidade”. Conforme alguns

dicionários, a palavra estratégia vem do grego estratego cuja origem está vinculada ao campo

militar. Nos dias atuais, o termo assume significados como plano, método,

manobras ou estratagemas usados para alcançar um objetivo ou resultado específico.

Estratégia é um termo que pode ser aplicado com diferentes finalidades, a depender do

contexto e da intencionalidade. Para Imbernón (2011, p. 18) existem “estratégias específicas”,

dentre elas o autor cita, por exemplo: estratégia de planejamento curricular, estratégias de

formação de grupos, de pesquisa, de resolução de problemas, de comunicação etc. Nesta tese

estamos nos referindo às estratégias de formação que podem ser utilizadas em reuniões de

ATPC.

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69

Os assuntos que serão discutidos ao longo das reuniões precisam obedecer a uma

sequência lógica em função da intencionalidade das formações. Assim, é importante planejar

roteiros formativos para as reuniões de ATPC. No roteiro podem-se incluir objetivos,

conteúdos, recursos, materiais necessários, desenvolvimento e avaliação do encontro; todas as

etapas devem estar articuladas entre si, e é nesse contexto que se situam as estratégias.

No campo da formação docente, as estratégias podem ser conhecidas como

dispositivos de formação “entendidos como a implementação de meios capazes de incentivar

a atividade de sujeitos em relação aos objetivos fixados” (BARBIER, 2013, p. 59). García

(1999, p. 42) usa a seguinte definição: “o termo estratégia tem a ver com a planificação da

ação, assim como com o antecipar da sua implementação de acordo com a análise realizada”.

Numa perspectiva parecida, Roldão (2010, p. 68) explica que “a estratégia significa uma

concepção global, intencional e organizada de uma ação ou conjunto de ações tendo em vista

a consecução das finalidades de aprendizagens visadas”.

Todas essas definições são muito próximas, mas escolhemos adotar, em nosso estudo,

a definição de Roldão, pois sua explicação é mais abrangente. Estratégia não é uma atividade

isolada, mas uma ação ou conjunto de ações organizadas previamente e realizadas de forma

processual para atender um objetivo. Isso significa que na proposição de uma situação de

aprendizagem docente, recorre-se ao planejamento de uma série de etapas sequenciais,

racionais e analíticas.

Considera-se assim, nesta perspectiva, o conhecimento didático, ou didático-

pedagógico aproximando o conceito da formulação de Shulman – expressão

do saber como ensinar – como o núcleo central do conhecimento

profissional docente, ancorado e contextualizado por todos os restantes

componentes [...] (ROLDÃO, 2017, p. 1144).

A mobilização informada dos vários tipos de conhecimento (SHULMAN, 2004)

necessários ao saber agir, saber como proceder a formação dos professores “configura a

escolha sustentada do modo estratégico de atuar do formador em cada situação” (ROLDÃO,

2017, p. 1147).

Para tanto, os coordenadores acionam os saberes procedimentais para diagnosticar as

necessidades pedagógicas do seu grupo de professores, além de pensar em quais estratégias

metodológicas são mais apropriadas para tratar os diferentes conteúdos, qual o melhor

referencial teórico, qual a melhor maneira de verificar as aprendizagens conquistadas e como

avaliar os resultados da formação. Nesse sentido, as estratégias são diretivas “existindo, para

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70

ela, objetivos pré-determinados a serem alcançados. Toda ação que envolva alvos a serem

atingidos representa uma ação diretiva” (VASCONCELOS; BRITO, 2006, p. 76).

É possível lançar mão de estratégias de formação que estejam na perspectiva de

formação crítico-reflexiva? Sim, desde que não se pense em estratégias como portadoras de

soluções instrumentais que se resolvem mediante a aplicação de conhecimentos teóricos e

técnicos, como é comum na racionalidade técnica. Para uma formação visando ao

desenvolvimento profissional, García (1999, p. 144) considera que o formador deve-se

revestir de uma atitude permanente de pesquisa, de questionamento e busca de soluções, e

utilizar “estratégias que facilitem a reflexão dos professores sobre a sua própria prática, que

contribuam para que os professores gerem conhecimento prático, estratégico e sejam capazes

de aprender com a sua experiência”.

2.1.2 Qual papel das estratégias no processo de formação docente?

Para Amaral (et al., 1996, p. 100), as estratégias de formação podem ser “um meio de

formar professores reflexivos, isto é, professores que examinam, questionam e avaliam

criticamente a sua prática”. Essa é uma das justificativas de se utilizar estratégias nos

encontros de formação docente.

É certo que ainda há muitos professores que trabalham na perspectiva da racionalidade

técnica em sala de aula. Para que possam ressignificar sua atuação e mudar seus

procedimentos na direção de adotar uma prática crítico-reflexiva, é necessário que eles

tenham consciência de suas teorias implícitas, de suas concepções de ensino e aprendizagem.

Ter consciência de sua atuação basta? Não, mas pode ser o ponto de partida. A mudança não é

instantânea, e sim processual na qual uma das etapas é o desenvolvimento de autoconsciência,

ou seja, que o professor tenha noção clara de sua prática e de como está trabalhando os

conteúdos curriculares em sala de aula. Assim: saber o que faz, como faz e porque faz é ter

consciência da ação. Consciência não é sinônimo de experiência; conforme Dewey (1959, p.

199), a simples atividade não constitui experiência. “Experimentar é diferente de repetir”. É

importante que o pensamento reflexivo entre em jogo a fim de que a experiência se constitua.

Para exemplificar nossa discussão, apresentamos um episódio de uma professora que

adotava em sua prática o ensino das operações matemáticas, por meio de exercícios do tipo

“arme e efetue”. Essa ação talvez tenha sido vivenciada por ela quando aluna, ou talvez tenha

sido assimilada à medida que observava outros colegas professores atuando assim, ou ainda, o

livro didático que utilizava em sala de aula poderia sugerir isso. O fato é que esse modo de

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71

trabalhar o conteúdo matemático (introduzindo o algoritmo desarticulado de uma situação

problema) se incorporou em sua prática, fazendo com que ela rotineiramente reproduzisse

uma ação da qual se habituou.

No domingo eu ia ao cinema, e na porta sempre encontrava um menino que

era meu aluno, vendendo balas. Eu comprava. Dava uma nota de 50 para

comprar um saco de balas que custava 17, e ele nem piscava. Fazia a conta

mais rápido do que eu e dava o troco na mesma hora: 3 para fazer 20, depois

mais 10, para fazer 30, e seguia até chegar aos 50, como faz todo mundo que

dá troco. Na segunda-feira eu botei na lousa um problema “João tem 5

figurinhas, comprou mais três, quantas figurinhas João têm?”, e esse mesmo

menino me perguntava: “fessora, é de mais ou é de menos?”. Aquilo me

deixou perplexa. “Mas você não sabe? Se eu te der tanto e depois te der mais

tanto ...”. Ele responde: “Sei”. “E por que aqui você não sabe?” (WEISZ,

2009, p. 11).

Nessa ocasião, a professora se deu conta de que “o passo-a-passo mecânico, utilizado

(até então) sem questionamento”, nos exercícios de “arme e efetue” não estavam ajudando os

alunos a entenderem o raciocínio por trás da técnica que haviam memorizado (Idem, p. 11).

Muitas vezes, as aprendizagens mais significativas que vivenciamos como adultos

professores são resultantes de eventos como esse. No relato da professora, percebemos que o

episódio provocou nela questionamentos sobre sua maneira de pensar e agir. Tal

questionamento pode ser inicialmente, desconfortável, ocasionando incertezas e

desestabilização, “mas geralmente, será o motivo para nossa decisão de mudar aspectos de

nossa prática” (BROOKFIELD, 2001, p. 23). Numa explicação parecida, Nóvoa (2014, p. 160)

considera que o professor vivencia em sua prática cotidiana “momentos de ruptura” que o

fazem deixar de se identificar com aquilo que faziam costumeiramente. O momento da

“desidentificação” promove reflexão. “Esta reflexão retroativa tem como consequência uma

‘tomada de consciência’”.

O movimento metacognitivo vivenciado pela professora forneceu-lhe um quadro de

referência para avaliação de sua metodologia, provocando mudanças conceituais. Nesse

sentido, podemos afirmar que a tomada de consciência foi o disparador que a impulsionou a

modificar sua forma de ensinar. O alicerce para tudo isso: a reflexão após a ação (SCHÖN,

2007).

O pensamento reflexivo, fundamentado, deve ser a engrenagem que movimenta a

experiência docente; possibilitando a ressignificação da prática. Em outras palavras,

Mizukami e Reali (2002, p. 77) explicam esse processo:

A aprendizagem profissional dos professores envolve “mudanças internas –

mudanças conceituais ou o estabelecimento de novas teorias pessoais – que

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72

estariam estreitamente vinculadas às situações onde novas aprendizagens

podem ocorrer. Assim, crenças e concepções podem tanto servir de barreiras

para mudanças como também podem oferecer quadros de referência para

elas e até mesmo constituírem-se pontos de partida para interpretar e avaliar

situações novas. Nessa perspectiva, as mudanças ocorrem quando os

professores reconhecem discrepâncias entre a sua própria visão e a de outros

participantes sobre os componentes do processo de ensino-aprendizagem”.

Mas, nem sempre, o professor reflete em sua prática rotineira ao ponto de adquirir tal

consciência. Às vezes, essa reflexão precisa ser estimulada. Certa ocasião, assistindo a uma

aula de uma professora de língua portuguesa cujo conteúdo era artigo de opinião, deparei-me

com uma situação que ajuda a entender essa discussão. Era uma classe de ensino médio, e a

professora estava fazendo um trabalho sistemático de produção de texto, pois a maioria da

turma tinha-se inscrito para participar do ENEM, processo de seleção em que a redação é um

elemento classificatório do exame. A professora, muito empenhada, trazia em toda aula um

tema atual que serviria de base para construção do texto, fazia a discussão do tema com os

alunos para ver se estavam compreendendo o assunto e encaminhava muito bem a atividade

para a produção escrita. No entanto, sua devolutiva se limitava a circular com caneta

vermelha os erros ortográficos dos alunos e a escrever ao lado de alguns parágrafos a palavra

‘confuso’. Quando questionada sobre o motivo de proceder assim, sua resposta foi “eles

precisam entender onde estão errando, no ENEM tiram pontos dos erros ortográficos”. Essa

atuação refletia a teoria implícita dessa professora sobre correção de texto, sua prática estava

calcada no paradigma conservador (BEHRENS, 1999). Quando a prática de revisão de texto

do professor está carregada da convicção de que seu papel é, fundamentalmente, o de corrigir

o aluno, fica evidente que, para ele, aprender é substituir respostas erradas por respostas

certas. Atrás dessa proposta, existe a compreensão de que, se o erro ortográfico tiver

permanência ele poderá fixar-se na memória dos alunos. Essa forma de lidar com o erro, ou

seja, se a correção for feita somente dessa maneira, responde a uma concepção que supõe a

memorização como núcleo na aprendizagem (LERNER, 2002).

Assim, não adiantaria, naquele momento, fazer um discurso explicando que essa forma

de correção textual era inadequada. Aquela não era a hora apropriada de explicar-lhe a

importância de elaborar uma grade de revisão que levasse em conta aspectos discursivos

como coerência, coesão, progressão temática, características do gênero etc. Para que essa

professora modificasse sua atuação, era necessário primeiro estimulá-la a realizar uma

autorreflexão sobre sua prática. Esse processo poderia ocorrer na formação em ATPC,

utilizando-se de uma estratégia que a mobilizasse a refletir a respeito de perguntas como: por

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73

que corrigimos textos assim? O que esperamos com essa intervenção? Será que não estamos

reproduzindo uma tradição escolar? Será que essa maneira de corrigir textos ajuda os alunos a

suplantar suas dificuldades? Enfim, é necessário conhecer o que o professor pensa e ajudá-lo a

perceber suas convicções, para depois realizar um trabalho na direção de modificar sua

prática. Garcia (1999, p. 158) considera que para mudar as teorias implícitas, é necessário

ajudar o professor a interpretar seus conhecimentos e suas crenças “o processo de formação

deve tentar melhorar a sua articulação consciente, procurando elaborá-la e torná-la susceptível

de mudança”.

Portanto, nos encontros de formação docente, os coordenadores podem utilizar

estratégias como um meio para mobilizar a prática reflexiva, ou seja, a ação permanente do

professor de refletir e avaliar criticamente a sua prática no sentido de compreendê‐la e

ressignificá‐la.

Longe de defendermos uma posição tecnicista de instrumentalizar a ação do formador,

entendemos que o conhecimento de estratégias ou dispositivos de formação é um componente

importante do trabalho do CP. De fato, Nóvoa (2014, p. 175) defende que um dos princípios

de referência no âmbito da formação de formadores é a utilização de estratégias: “A formação

deve ter um cariz essencialmente estratégico, preocupando-se em desenvolver nos formandos

as competências necessárias para mobilizarem em situações concretas os recursos teóricos e

técnicos adquiridos durante a formação”.

Nos eventos de formação docente, algumas estratégias têm-se mostrado eficazes na

proposição de problemas e na tomada de consciência de teorias implícitas que sustentam o

fazer cotidiano do professor, tais como: homologia de processos, tematização da prática,

incidentes críticos, dupla conceitualização, entre outras. Qual estratégia o coordenador pode

escolher para utilizar num momento de formação em ATPC? Conforme Nóvoa (2014, p. 150),

“devemos formular questões que nos permitirão definir uma estratégia de formação adequada,

do seguinte modo: que potencialidades formadoras [a estratégia] podem desencadear?”.

Se o que queremos é a ressignificação da prática do professor para ajudá-lo em seu

desenvolvimento profissional,

Três condições são necessárias para conduzir mudanças conceituais, nas

teorias pessoais ou, ainda, em crenças. A primeira delas refere-se à

possibilidade de os professores terem oportunidade de considerar o porquê

de novas práticas e refletir sobre os valores e crenças a elas associadas são

melhores do que seus enfoques anteriores. A segunda diz respeito a observar

exemplos destas novas práticas e, preferencialmente, vivenciá-las. A terceira

condição está relacionada a ideia de que os professores necessitam de apoio

e orientação para empreenderem mudanças, sobretudo aqueles que estão em

início de carreira (MIZUKAMI; REALI, 2002, p. 77).

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74

Com essas considerações em mente, fizemos um levantamento na literatura mais

recente do campo da formação docente e destacamos as estratégias mencionadas por

diferentes autores.

2.2 Estratégias: um levantamento na literatura recente do campo

Para além da discussão conceitual da importância da formação para o

desenvolvimento profissional, encontramos em diferentes autores nas coletâneas organizadas

por André (2016), Cardoso et al. (2012), bem como Paquay et al. (2001), proposições práticas

de como formadores têm trabalhado com estratégias formativas, em função de seus objetivos

e contexto de atuação. Também encontramos sugestões de estratégias em Marcelo Garcia

(1999) e dispositivos de formação em Barbier (2013). Agrupamos essas informações na

Figura 3:

Figura 3: Estratégias de formação docente em diferentes autores

Fonte: elaborada pela autora desta tese a partir dos autores referidos na figura.

Todas as estratégias destacadas na figura 3 estão associadas a modelos construtivistas

(NÓVOA, 2002).

Em uma abordagem construtivista de formação, é necessário considerar os esquemas

de partida dos professores, isto é, seus saberes, suas teorias implícitas; dar-lhes oportunidade

de manifestá-los, de testá-los por meio de atividades problematizadoras; ter clareza que a

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transmissão do conhecimento não promove a reflexão e que vivenciar as atividades (fazer

junto) possibilita maior compreensão da proposta; por fim, que o formador não é o detentor

do conhecimento o que significa privilegiar a circulação da informação, por meio das

discussões em grupo.

O que torna interessante as estratégias mencionadas por esses autores são os

procedimentos elaborados para que os formadores evitem a armadilha da mera transmissão de

conteúdo16. Os princípios que as sustentam são a problematização e reflexão da prática, a

construção do conhecimento de maneira significativa, e a relação teoria e prática que

caminham juntas de um modo produtivo.

É importante ressaltar que as etapas de cada estratégia não podem ser percebidas como

uma lista de aquisições lineares, cuja soma equivale ao todo. Pelo fato de compreender um

conjunto de tarefas complexas e exigir saberes experimentais, tais estratégias, devem ser

encaradas numa relação dialógica com os saberes dos professores e na organização

personalizada de aprendizados. Por fim, percebemos em todos os autores consultados que as

estratégias não podem ser vistas como fórmulas acabadas, mas como dispositivos que são

construídos e reconstruídos na situação e entre as situações, respeitando sempre as

idiossincrasias.

2.3 Estratégias de formação de professores

O que me interessa fortemente [...] não é dar receitas, mas é propor

desafios, é discutir aspectos que eu considero necessários e

permanentemente presentes na prática docente, que eu chamei de saberes

fundamentais.

Paulo Freire17

Neste tópico cabem duas ressalvas: as estratégias não devem funcionar como uma lista

de exercícios ou dinâmicas para envolver os professores; a chave para uma boa formação não

está na estratégia, mas na concepção do coordenador sobre o processo de formação. De nada

16 Entendemos que o conteúdo - aquilo que faz parte da cultura historicamente acumulada - é fundamental na formação

de professores (LIBÂNEO, 2015). O que se questiona neste trabalho é a mera transmissão de conteúdo, tal qual como

concebida por Freire ao utilizar o termo “educação bancária”. Na educação bancária, “o único papel do educador é o de

expor/impor conhecimentos, não havendo espaço para discussão ou reflexão, sua missão é meramente informativa

(VASCONCELOS; BRITO, 2006, p. 83).

17

Trecho de entrevista concedida por Paulo Freire ao programa Salto para o Futuro em 1997, referindo-se ao

livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Disponível em

http://nead.uesc.br/arquivos/pedagogia/estagio_supervisionado_III/material_apoio/apostila-

coordenacao_pedagogica_em foco.pdf

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adianta o coordenador conhecer as etapas da estratégia Diário de Itinerância, por exemplo, se

sua concepção de formação for pautada na racionalidade técnica.

2.3.1 Tematização da prática

A tematização da prática consiste em analisar situações didáticas vivenciadas por

professores em sala de aula e registradas em vídeo.

O trabalho de tematização é uma análise que parte da prática documentada

para explicitar as hipóteses didáticas subjacentes. Chamamos a esses

trabalho de tematização da prática porque se trata de olhar para a prática de

sala de aula como objeto sobre o qual se pode pensar. A tematização da

prática é um instrumento de formação que vai na direção contrária à da

tradicional visão aplicacionista de formação de professores (WEISZ, 2009,

p. 123)18.

A análise de situações de sala de aula é uma estratégia que fornece dados para

reflexão. O uso adequado desse recurso propicia a construção de uma prática de analisar

situações que acontecem na sala de aula de tal maneira que permite compreender as ideias e

as hipóteses que guiam os atos do professor, ainda que ele não tenha consciência disso. Uma

pequena amostra da prática real da sala de aula torna possível abordar a complexidade do

objeto que se deseja estudar, pois permite propor problemas sobre a leitura e a escrita como

práticas sociais e escolares “sobre a concepção do ensino e da aprendizagem que estão por

trás da atividade proposta” (LERNER, TORRES, CUTER, 2012, p. 103). O trabalho de

tematizar a prática é exatamente “fazer aflorar essa consciência, ultrapassando a dicotomia

certo ou errado que costuma marcar a análise da prática docente” (WEISZ, 2009, p. 125).

Para trabalhar a tematização da prática com base nos registros das aulas gravadas em

vídeo, é importante que o formador estabeleça combinados claros com relação ao destino do

material gravado: primeiramente, há uma discussão com o professor envolvido na filmagem

para só depois levar ao grupo, seguindo as etapas:

Preparar a análise da experiência pedagógica antes da reunião:

a) o ponto de partida de cada tematização é um evento significativo da experiência pedagógica

que se pretende aprimorar, e não uma situação indefinida;

b) o formador vê a gravação com antecedência, prepara a discussão, transformando os pontos

críticos em boas perguntas para serem feitas aos professores. Para isso, é preciso conseguir

18

Telma Weisz, pesquisadora e formadora em alfabetização - com base em contribuições de Délia Lerner (2002)

- deu forma e sentido a essa estratégia e a tem desenvolvido em diferentes programas de formação das redes

públicas de São Paulo.

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77

captar os pontos centrais e saber onde se quer colocar o “olhar do professor”, de maneira a

desencadear uma reflexão importante.

c) É fundamental escolher um referencial teórico adequado que servirá de apoio para a

discussão.

Um dos pontos que diferencia a tematização de outras estratégias de análise de

situações de aula gravada em vídeo é a utilização de perguntas por parte do formador

(LERNER, TORRES, CUTER,2012). Perguntas que evidenciem a necessidade da pesquisa,

da busca de respostas fundamentadas teoricamente e estejam a serviço do que os professores

necessitam resolver ou compreender melhor. É importante pensar nas questões como um

cerco epistemológico, cuja tentativa é apreender o objeto e compreendê-lo nas suas relações

com outros objetos, tal como propõe Freire (2003).

Durante a reunião de formação:

a) pede-se aos professores que analisem a situação com base em suas experiências e

conhecimentos prévios. Nesse momento eles descrevem o que fazem, nomeiam as suas ações,

explicam porque tomaram uma direção, e não outra, etc. A ideia nesse momento, não é

corrigir conceitos equivocados, mas sim ouvir com atenção para ter acesso às concepções e

conhecimentos dos professores, procede-se com o registro de suas impressões para

posteriormente confrontá-las na etapa da sistematização;

b) O formador propõe discussões em subgrupos, circulando pela sala. Ajuda o grupo a

entender e a antecipar as possíveis dúvidas e questões que emergirão, para melhor preparar

para a discussão de ideias e teorias no momento da socialização no coletivo.

c) Destaca da gravação aspectos não observados pelos professores, com intuito de ajudá-los a

processar novos conhecimentos. A interpretação de qualquer situação é sempre feita com base

nos referenciais teóricos que permitam significá-la. O formador tem, então, o papel de

pesquisador, questionador e orientador das discussões.

A etapa final da tematização consiste na sistematização, uma vez que durante a

discussão várias ideias dos professores foram expostas, é o momento de “costurá-las”. Para

isso, o formador faz uma síntese, explicitando os pontos principais da discussão, trazendo

para o plano das conceitualização aquilo que os professores puderam concluir.

2.3.2 Homologia dos processos

Outra estratégia na direção do ensino reflexivo é a “homologia de processos, segundo

a qual se recomenda que o formador ou o coordenador pedagógico utilize, nos encontros de

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reflexão com os professores, as mesmas dinâmicas e os mesmos objetivos que deveria ser

trabalhado com os alunos” (BRUNO; CHRISTOV, 2003, p. 60).

Esse conceito, originado na obra de Schön (2007), estabelece a homologia entre os

procedimentos dos professores com sua observação e assimilação das atitudes e métodos dos

formadores. Schön não usa o termo homologia de processos, mas fala de simetria invertida. O

conceito de simetria invertida engloba a homologia de processos. Uma das dimensões da

simetria invertida considera que a experiência como aluno, não apenas no curso de formação,

mas ao longo de toda a sua trajetória formativa, é constitutiva do papel que exercerá

futuramente como profissional. Conforme Alarcão (1996), o paralelismo com a situação da

prática profissional, em que o formador e o formando movem-se em situações isomorfas, é

descrito por muitos autores como homologia de processos.

Duas são as premissas por trás desse conceito: o futuro professor aprende a profissão

num lugar similar ao qual vai atuar, e isso se dá numa situação invertida. A ideia básica é que

o professor, na posição de um aluno, vivencie ou experimente em seu próprio processo de

formação, as práticas didáticas, que podem ser desempenhadas em sala de aula. Afirma

Schön (2007, p. 88) “ao observar o processo de ação, tentando fazer como vi uma pessoa

habilidosa fazer, reflito-na-ação tanto sobre o processo que observei quanto sobre minhas

tentativas de reproduzi-lo. ‘O que ele está realmente fazendo?’ e, ao tentar fazer o que ele fez,

pergunto, ‘O que estou realmente fazendo?’”.

Nas diretrizes curriculares para formação de professores a influência das ideias de

Schön: experimentação em conjunto, demonstração acompanhada de reflexão, experiência e

análise de situações homológicas estão presentes. A esse respeito, Almeida (2004, p. 24)

afirma:

Ao definir como ensinar, é oportuno lembrar o conceito de simetria

invertida, relacionado nas “Diretrizes curriculares para formação inicial de

professores” proposta pelo Ministério da Educação e inspirado por Donald

Schön. Enfatiza o documento que a preparação do professor tem duas

peculiaridades muito especiais: primeiro, o formando aprende a profissão no

próprio meio no qual vai atuar, porém numa situação invertida. Isso implica

que deve haver coerência entre o que se faz na formação e o que se espera

dele como profissional. Segundo, o formando já viveu como aluno,

provavelmente, a etapa da escolaridade na qual vai atuar. A compreensão

desses fatos deve ensejar atividades para que o futuro professor experencie,

como aluno, atitudes, modelos e modos de organização que se pretende

venham se concretizar mais tarde.

Há várias situações em que se pode utilizar essa estratégia nas reuniões de formação

coletiva, por exemplo, quando se percebe que há dificuldade, por parte do corpo docente em

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79

realizar leitura compartilhada com os alunos em sala, o coordenador pode iniciar os encontros

formativos realizando essa modalidade de leitura. Seu comportamento leitor vai ser mais

elucidativo do que conceitualizar as etapas dessa proposta de leitura.

2.3.3 Pesquisa-ação enquanto dispositivo de formação

A pesquisa-ação é outra estratégia na linha de se formar professores como

investigadores de sua prática. Ela é muito utilizada em estudos da área social como tipo de

pesquisa denominada pesquisa-ação, na qual há todo um procedimento metodológico

específico (TRIPP, 2005). Entretanto, também é possível utilizar a espiral comum desse tipo

de pesquisa: planejar-agir-observar-e-refletir, como “uma ferramenta de ensino para

formadores de professores que querem trabalhar rumo a uma melhor educação para todos os

alunos dentro do contexto de um programa de formação docente” (ZEICHNER, 2011).

Nessa estratégia, a tarefa do formador é ajudar os professores a desenvolverem suas

teorias práticas de docência para guiar sua atuação com os alunos. Zeichner (2011) considera

que ela fornece de fato um meio de professores em formação engajarem-se na análise de sua

própria prática de ensino de modo que tal análise possa tornar-se a base para o

aprofundamento e a expansão de seu pensamento. O autor explica como ele desenvolve essa

estratégia nas disciplinas de estágio em cursos de licenciatura na Universidade de Wisconsin,

No início do semestre letivo, os alunos em estágio identificam um aspecto de

sua prática, com o qual querem trabalhar e passam por ciclos de ação e

reflexão durante o semestre, culminando na apresentação de sua pesquisa ao

final do semestre em um seminário [...]. Um seminário semanal para os

estudantes em estágio fornece um fórum para que esses futuros professores

discutam sua pesquisa e recebam tanto auxílio quanto desafio de seus

colegas (idem, p. 54).

Para trabalhar com essa estratégia nos encontros formativos, o coordenador pode

solicitar que cada professor identifique uma situação de ensino que considere problemática.

Pode-se estipular com o grupo um período para início e término da pesquisa. O professor

registra todo o movimento das etapas da espiral da pesquisa-ação por meio de relatos em

diários de pesquisa. O papel do coordenador seria acompanhar e orientar todo o processo. A

ênfase dessa estratégia recai em ajudar os professores a adquirir hábitos e habilidades para

conduzir a pesquisa realizada em sala de aula e não em um produto de pesquisa acabado.

Assim, é interessante que o coordenador oriente e auxilie o professor no

desenvolvimento das etapas da pesquisa. Isso deve ocorrer paralelamente aos encontros de

formação com o grupo. É provável que o foco de pesquisa levantado pelos professores mude

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80

até o final, uma vez que é parte natural do processo de pesquisa-ação ocorrer alterações no

objeto de análise da investigação enquanto os dados são coletados.

Todo esse acompanhamento demandará bastante tempo e atenção do coordenador, em

vista disso, acreditamos que os objetivos dessa estratégia são mais bem alcançados com

grupos menores de professores, como é o caso dos encontros de formação de muitas escolas

particulares.

2.3.4 Diário de itinerância

É muito comum nas reuniões de formação o coordenador privilegiar a aquisição de

saberes, ou seja, o cognitivo. De um modo geral a escola faz isso e dá menos importância a

outras dimensões que interferem no cognitivo. Wallon (2007) postula em sua psicogênese do

desenvolvimento que afetividade, cognição e motricidade são dimensões que, integradas,

constituem a pessoa. A afetividade é entendida como tudo aquilo que afeta o ser humano e é

expressa de três maneiras: por meio da emoção, do sentimento e da paixão.

O êxito no projeto formativo ocorre quando se leva em consideração a pessoa por

inteiro, isso envolve estar atento aos sentimentos manifestados pelos professores durante as

reuniões coletivas.

Certa ocasião, participando de uma ATPC, presenciei uma professora entrar na sala de

reunião chorando, ela havia acabado de ter tido uma discussão acalorada com um aluno em

sala de aula. A coordenadora voltou sua atenção para ela e pediu para que relatasse o que

havia acontecido. Foi o que a professora fez, era perceptível que naquele momento suas

emoções sobressaiam e sufocavam sua razão, seu cognitivo. Depois de ouvi-la, a

coordenadora, provavelmente contagiada pela emoção, dispara “mas como é que você foi

permitir que as coisas chegassem a esse ponto?” Fiquei chocada com a resposta, não estava

concordando com a atitude da professora, menos ainda, com a falta de sensibilidade que a

sucedeu. É certo que a coordenadora tinha-se preparado para o encontro e a situação trazida

estava atrapalhando seus planos, talvez uma simples reposta como “sei que está chateada

agora, em seu lugar eu também estaria, que tal ir para casa e passar em minha sala amanhã

para conversamos sobre o ocorrido?” poderia ter permitido que ela continuasse com sua pauta

sem prejuízos maiores.

O fato é que episódios assim são muito comuns no cotidiano escolar. Os professores

precisam de momentos para se expressar, para falar das coisas que os afetam, precisam ser

ouvidos. “Se o binômio afetividade-aprendizagem é bem resolvido, promove uma

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aprendizagem pervagante, que perpassa o outro por inteiro: afetividade, cognição,

movimento” (ALMEIDA, 2012, p. 253). Mas como conduzir o encontro nessa perspectiva

sem pender em transformar a reunião em um “muro de lamentações?”. Um possível caminho

é a escrita clínica sobre a prática (CIFALI, 2001), como é o caso da estratégia Diário de

Itinerância, pois ela permite o resgate das memórias predominantemente afetivas como

alavanca para o trabalho com textos teóricos, oportunizando a teorização da prática.

Proposto como técnica de pesquisa-ação por René Barbier, o diário de itinerância

consiste em "um bloco de apontamentos no qual cada um mostra o que sente, o que pensa, o

que medita, o que poetiza, o que retém de uma teoria, de uma conversa, o que constrói para

dar sentido à sua vida" (BARBIER, 2007, p. 132). É composta por três etapas: Diário

rascunho na qual a pessoa escreve tudo o que tem vontade de anotar no momento da leitura;

diário elaborado em que as reflexões acrescidas à leitura podem ser mais bem elaboradas para

ser comunicadas na forma de um texto para um interlocutor; diário comentado ou socializado:

“Durante toda a fase do diário elaborado eu estou em contato imaginário com um leitor

virtual. Eu escrevo para mim e para outrem. Eu sou, por excelência, um ser social. [...] Eu

ofereço para leitura ou exponho o fragmento (ou totalidade) do diário elaborado para o leitor

ou o grupo de leitores que tenho diante de mim” (BARBIER, 2007, p.142).

A professora Laurinda Ramalho de Almeida adapta a técnica e a utiliza como recurso

na formação docente “Ao ler Barbier, refleti que, embora apresentado como técnica de

pesquisa, seus diários poderiam ser utilizados como estratégia formativa” (ALMEIDA, 2017,

12). A autora explica que ao criar condições para que o professor revisite suas experiências,

articulando-as com textos acadêmicos, evocam-se os “saberes não sabidos”. Nessa

perspectiva de atuação, o coordenador valoriza os conhecimentos dos professores, consegue

perceber quais são suas teorias implícitas, suas concepções de ensino e de escola. O principio

por trás dessa proposta é compreender como as descrições, as reflexões e até mesmo os

sentimentos realçados pelos autores em seus diários podem ser transformados em

conhecimentos da e para a docência.

Almeida relata como realizou essa estratégia em um curso de pós-graduação stricto

sensu voltado para a formação de formadores:

Cada semana deveriam ler um dos textos indicados na ementa do curso; o

texto seria lido em casa, registrando o que lhes parecesse importante. Na

sequência, os alunos relacionariam esses registros com suas experiências

vividas, tanto pessoais quanto profissionais (diário rascunho). Passava-se a

uma elaboração de um texto próprio, preocupando-se com a clareza da

mensagem a ser transmitida, pois seria apresentado ao grupo (diário

elaborado). Na aula, os textos individuais seriam lidos e discutidos (diário

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comentado ou socializado). A partir dessa discussão, os formandos poderiam

reelaborar seus escritos, levando em conta os comentários dos colegas

(ALMEIDA, 2017, p. 14).

Uma coordenadora, aluna do curso e participante dessa experiência, relata que a

dinâmica resultou para ela em “um processo formativo muito prazeroso”, que “contemplou

várias dimensões simultaneamente [...]”. E não termina aí: esta dinâmica de formação ainda

permite desfrutar a riqueza de aguçar a escuta ao ouvir o texto do outro, saber como o outro se

traduz em suas palavras e, ao mesmo tempo, permite o desvelar-se a si mesmo. (ALMEIDA;

SILVA; BONAFÉ, 2017, p. 15).

É possível notar, em um trecho do diário elaborado de outra aluna, fruto de suas

interpretações a partir da leitura de um texto teórico articulado a suas experiências no papel de

coordenadora pedagógica, a função reflexiva dessa estratégia:

O senso de autossuficiência, o agir no imediatismo, as verdades “absolutas”,

a intolerância, os prazos e cronogramas estão nos afastando quando mais

deveríamos nos aproximar, pois as questões que afetam a um são inerentes a

todos. Em tempos de conexão e facilidades na comunicação; percebo o quão

rara e deficitária tem sido nossa relação com o outro. O PEA (Projeto

Especial de Ação) que norteia as atividades formativas na escola em que

atuo, tem como temática a comunicação em suas mais variadas formas [...],

mas será que eu e os professores estamos escutando o que os jovens estão

dizendo? Como estão dizendo? O que querem nos dizer? E como nós

estamos entendendo e respondendo a isso? Inclusive os silêncios, o que os

diversos tipos de silêncio querem nos dizer? (OLIVEIRA, 2017, p. 58).

A escrita sobre o vivido é uma maneira de aprender a atividade profissional, pela

reflexão, pois permite atribuir significados à ação e construir conhecimentos necessários à

prática (ZABALZA, 2007), aspecto evidenciado pela aluna em seu relato ao abordar a

importância da comunicação no planejamento e implementação de projetos pedagógicos.

Assim, o diário de itinerância é uma estratégia formativa e de autoformação, é um recurso

para potencializar a metacognição e a empatia. É ainda um recurso para estabelecer vínculos,

quando é compartilhada com companheiros de formação.

2.3.5 Análise de bons modelos

Essa estratégia possibilita observar atividades didáticas realizadas por professores na

qual contenham os princípios de uma situação de aprendizagem na perspectiva construtivista.

Inspirada nesses princípios, Délia Lerner (2012) considera ser mais produtivo escolher boas

situações de classe, pois essas “permitem analisar o modelo didático com que se trabalha,

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83

porque a reflexão sobre elas torna possível discutir a respeito das condições didáticas

requeridas para o ensino”.

Para utilizar essa estratégia são necessárias algumas etapas. No planejamento, o

coordenador pesquisa vídeos ou relatos escritos de boas práticas de professores19, elege uma

situação que esteja de acordo com as necessidades do grupo docente, prepara sua intervenção

com perguntas que possibilitem inferir as hipóteses por trás da ação didática analisada, os

limites e alcances da proposta etc., bem como seleciona um aporte teórico que permita

fundamentar a discussão.

Durante a reunião coletiva, os professores assistem ao vídeo ou fazem a leitura do

material selecionado pelo coordenador e a partir dele, discute-se a natureza dos

encaminhamentos presentes na situação didática, os procedimentos pedagógicos realizados no

modelo, estabelecem-se relações com a prática vigente na escola e organizam-se discussões,

com base no aporte teórico, que permitam refletir sobre situações de ensino e aprendizagem.

O modelo é uma boa referência para ser compreendido, não como exemplo a ser

seguido, e sim como objeto de análise e de estudo. Esse dispositivo (análise das práticas) “é

um procedimento de formação centrado na análise e na reflexão das práticas vivenciadas, o

qual produz saberes sobre a ação e formaliza os saberes de ação” (ALTET, 2001, p. 33).

2.3.6 Estudo de casos de ensino

A análise de episódios corriqueiros do cotidiano escolar é uma estratégia que permite

aos professores refletir sobre situações práticas. Essa é uma estratégia bem comum de

encontrarmos na rede pública estadual. Alguns autores a chamam de estudo de casos ou casos

de ensino (MIZUKAMI, 2000); para outros, o dispositivo é conhecido como incidentes

críticos (ESTRELA; ESTRELA,1994; LOFREDI; SILVA,1984 e ALMEIDA, 2009) e

Merseth (2018) nomeia casos de professores como as narrativas escritas por docentes. Embora

haja uma variedade de definições e formas composicionais de escrita, todos se referem a

episódios escolares que possibilitam a reflexão da prática docente.

O que define um caso é a descrição de uma situação com alguma tensão que possa ser

aliviada; uma situação que possa ser estruturada e analisada a partir de diversas perspectivas.

Mizukami apoia-se nos estudos de Lee Shulman (2004) para definir casos de ensino:

19

Essas produções geralmente estão disponíveis na internet ou em matérias de recursos para formadores

disponibilizados pela SEE/SP ou SME/SP.

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84

Um caso tem uma narrativa, uma história, um conjunto de eventos que

ocorre num tempo e num local específicos. Inclui, provavelmente,

protagonistas humanos, embora não seja necessário que isso ocorra. Em

geral, essas narrativas de ensino têm certas características partilhadas: têm

um enredo – começo, meio e fim – e talvez uma tensão dramática, que deve

ser aliviada de alguma forma; são particulares e específicas; colocam

eventos num referencial temporal e espacial – são localizadas e situadas;

revelam o trabalho de mãos, mentes, revelam motivos, concepções,

necessidades, falsas concepções, frustrações, ciúmes, falhas humanas;

refletem os contextos sociais e culturais nos quais cada evento ocorre

(MIZUKAMI, 2000, P. 151).

Podemos entender melhor essa estratégia ao observar um exemplo de um caso descrito

por Lofredi e Silva (1984, p. 21)

Fora da sala!

Terças e sextas-feiras eram dias difíceis para a coordenadora de turno da

escola: a professora de Desenho invariavelmente expulsava alunos de sala, já

tendo acontecido de ficar de fora da aula um grupo de dez alunos, por não

levarem o material de que precisava para as atividades programadas. É claro

que os alunos ficavam no corredor, fazendo barulho e perturbando as outras

aulas. O inspetor de alunos já não sabia mais o que fazer e vivia se

queixando à coordenadora [...].

Esse é um exemplo pensado para formação de orientadores educacionais, ou

coordenadores pedagógicos. A sugestão dada pelas autoras, para esse caso, é encaminhar a

discussão para identificar a causa do problema, podendo ser feitas perguntas de reflexão, tais

como: (se todos os alunos tivessem comprado o material, o problema estaria sanado?).

Adiantaria se a escola desse o material para os alunos? Feito isso, a próxima etapa seria ajudar

os formadores a pensar em possibilidades de atuação (resolveria levar a situação adiante para

o supervisor ou diretor da escola? E levar o caso para uma reunião de professores para o

grupo decidir o que é melhor? Será que isso não iria expor a professora? Que implicações isso

poderia acarretar?). Com base na sugestão das autoras é possível notar que toda a intervenção

deve ser feita na direção de problematizar a situação, para por fim, construir junto com o

grupo, a melhor possibilidade de atuação. No episódio descrito, a melhor alternativa seria

procurar uma solução para o problema junto com a professora envolvida. Ouvi-la para

compreender quais são suas reais dificuldades, ajudá-la a compreender “as causas e as

consequências de sua atitude” (Idem, p. 23).

A dinâmica desse tipo de formação é a problematização da prática, ou seja, os

profissionais são desafiados a acionar seus conhecimentos e experiências para resolver

problemas, têm decisões a tomar. Na resolução do caso o professor testa suas hipóteses e

enfrenta contradições para questões que talvez não houvesse parado para pensar. A reflexão

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também ocorre quando o professor observa como os outros a resolvem e tenta entender a

solução que os outros dão.

O estudo de casos de ensino é uma estratégia para o trabalho de conteúdos atitudinais.

Sua proposição envolve planejamento. Na escolha de um caso o CP “deve ter claro o objetivo

da discussão, antecipar os caminhos que ela pode tomar e considerar o perfil, os interesses e

os conhecimentos dos participantes, para planejar a probabilidade de surgirem certos tópicos”

(MERSETH, 2018, p. 15).

Assim, ao propor um caso para ser discutido na reunião, o coordenador deve pensar na

intencionalidade, elaborar o caso tendo apenas um foco, uma situação problemática, do

contrário corre-se o risco de se perder; tomar o devido cuidado para não expor as pessoas.

Pensar também nas possibilidades de respostas dos professores e realizar perguntas e

intervenções que ajude o grupo a perceber a causa do problema. Para que a discussão entre os

professores não fique apenas no senso comum, é importante introduzir um embasamento

teórico adequado ao tema, para confrontar ou ratificar as decisões do grupo ao final da

discussão.

2.3.7 Incidentes críticos

Almeida (2009; 2015) tem utilizado a estratégia denominada por ela como “incidente

crítico na modalidade crise” em cursos de formação de professores no contexto acadêmico.

Por incidente crítico a autora entende:

[...] momentos e episódios altamente significativos que têm enormes

consequências para o desenvolvimento e mudanças pessoais. Não são

planejados, antecipados ou controlados. São flashes que iluminam

fortemente alguns pontos problemáticos. São essenciais na socialização de

professores e do seu processo de desenvolvimento, dando-lhes maior

segurança em sala de aula (WOODS, 1993, p. 3).

Os incidentes podem ser, em conjunto: a) fatos individuais que, por

incontornáveis, estabelecem a identidade; b) acontecimentos críticos que

promovem a mudança dessa identidade e c) resultados de acontecimentos

que reafirmam uma parte da identidade original e repelem a outra. Os

incidentes críticos fazem com que o indivíduo reconheça em si mesmo

coisas que antes lhe escapavam (BOLÍVAR, 2002, p. 62).

Incidentes críticos são, pois, acontecimentos que determinam decisões ou rumos das

trajetórias profissionais ou pessoais, momentos marcantes atribuídos pelo próprio sujeito aos

acontecimentos por ele vivenciados.

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A vivência como monitora de Almeida em uma disciplina do Mestrado Profissional –

FORMEP da PUC-SP me permitiu adaptar essa estratégia para o contexto da ATPC. A

estratégia considera a dimensão do relato escrito como construção da experiência do sujeito.

O pressuposto dessa estratégia é a dimensão reflexiva que exige a construção de uma

narrativa capaz de por em evidência os aspectos formadores da experiência; possibilitando

que cada sujeito, ao narrar seu incidente, volte-se para si ao refletir sobre suas experiências e

interpretar seu percurso de formação. “Na apresentação de si mesmo por meio do relato, o

indivíduo se faz intérprete dele mesmo: ele explicita as etapas e os campos temáticos de sua

própria construção biográfica” (DELORY-MOMBERGER, 2006, p. 369).

Para iniciar a discussão em reunião, é interessante que o CP produza ou escolha uma

narrativa de professores e leia para o grupo. Exemplos de narrativas podem ser encontrados

em Almeida (2009, 2014, 2015). Essa etapa tem duplo objetivo: familiarizar o grupo com as

características deste gênero textual e servir como disparador para escrita do próprio texto.

A escolha da narrativa docente deve ser adequada à intencionalidade do formador e ao

contexto da formação. Apresentamos um exemplo de um relato vivenciado e narrado por uma

aluna do FORMEP. Este é um incidente adequado para formação de coordenadores:

Entraves na condução da reunião de formação coletiva

Em uma escola pública de Fund. I fui eleita como coordenadora; vivenciei,

assim, minha primeira experiência no cargo. Ao pesquisar material para a formação,

encontrei um documentário institucional o qual mostrava escolas de Educação

Fundamental da rede Municipal de São Paulo com experiências e práticas diferenciadas

que achei bem interessante. O objetivo de passar o vídeo ao grupo de professores era

mostrar que práticas inovadoras, com uma concepção de infância integradora, eram

possíveis na escola pública.

O vídeo mostrava práticas educativas e projetos que envolviam a exploração de

espaços e da natureza. Apresentava a organização de ambientes que favoreciam a

aprendizagem e a expressão das diferentes linguagens infantis. Era bem aproximado ao

que eu percebia ser necessário trabalhar com aquele grupo.

Após o término do vídeo aconteceu o inesperado: os professores se puseram a

fazer severas críticas! Disseram que a realidade das escolas eram bem diferentes e que

os projetos apresentados já eram consolidados e recebiam apoio e assessoria de

Secretaria Municipal de Educação. Além do mais as professoras se sentiram

desprestigiadas ao interpretarem que eu as estava comparando com os profissionais

apresentados no vídeo.

Ao final daquela fatídica reunião comecei a refletir no que deu errado. Dei-me

conta de que não realizei um planejamento para o trabalho formativo com o

documentário e que não houve de minha parte, uma comanda específica sobre o olhar

que o grupo deveria ter para o vídeo, nem mesmo um roteiro de observação. Não realizei

previamente uma discussão a partir da realidade local e nem mesmo das boas práticas já

consolidadas na nossa escola. Foi um “tiro no pé”.

Este episódio me marcou, mas resultou em transformação. Repensei minha

atuação enquanto formadora. Procurei aprimorar o olhar a respeito do grupo e de suas

necessidades formativas e assim fui em busca de melhores caminhos para planejar e

realizar os encontros formativos.

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Após a leitura, o formador inicia a discussão. Preparar e conduzir uma discussão nessa

estratégia requer um trabalho significativo. O coordenador precisa estar familiarizado com o

incidente, entendendo os personagens, suas concepções e posições e refletindo sobre a

influência do contexto e os possíveis pontos de dilemas ou tensões. Precisa, também,

identificar relações entre os participantes e criar um ambiente favorável para discussão: sem

críticas e julgamentos. Atentando-se para as diferentes soluções levantadas pelo grupo, o CP

pode complementar a discussão com um suporte teórico mais adequado ao contexto do relato

e aos objetivos da formação.

Com base nos resultados dessa discussão preliminar, o CP pode convidar os

professores a escreverem seus incidentes. É fundamental que o coordenador participe da

atividade. A consigna elaborada por Almeida (2015, p. 28) pede:

Busque na memória de sua trajetória profissional um episódio que não foi

planejado por você, mas que foi muito significativo, porque trouxe

mudanças em sua atuação profissional. Descreva-o com detalhes,

procurando identificar os sentimentos vivenciados (de tonalidades

agradáveis ou desagradáveis), as aprendizagens e as repercussões do

episódio para você e seu entorno.

No encontro seguinte, é o momento para cada professor ler seus relatos, se assim o

desejarem. Durante a escuta do relato, o coordenador deve ficar atento aos dizeres de cada

professor, pois esses são indicadores do seu sistema de valores, das suas representações e

concepções de ensino e aprendizagem: um caminho para acessar a subjetividade do professor

e detectar necessidades formativas.

Após a leitura, é importante tomar o cuidado de não corrigir seus textos, ou avaliar

suas ações, mas questioná-los: o que você pensou ao escrever esse trecho? Como você se

sentiu nesse momento? O que fez a partir de então? Por que isso foi significativo para você?

O mais importante não é o episódio narrado, mas os sentimentos experimentados entre

o eu-próprio e o passado recomposto, isto é, o aprendizado e as mudanças decorrentes dele.

Assim, o CP pode destacar aos professores as atitudes interiores indispensáveis à dinâmica de

elaboração de seus textos: o efeito surpresa ocasionado pelo imprevisto da experiência,

possibilitando a suspensão do automatismo; a reflexão do vivido; o alargamento do campo da

consciência; e o processo de mudança.

Conforme a disponibilidade e envolvimento dos professores pode-se solicitar que

reescrevam seus textos para tornar mais evidentes esses componentes essenciais do incidente

crítico: aprendizagem e mudança. “Porque a narrativa de formação obriga a um balanço [...]

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ela nos permite tomar consciência da fragilidade das intencionalidades e da inconsistência dos

nossos desejos” (JOSSO, 2004, p. 45). Caso essa etapa aconteça, pode-se, na ATPC seguinte,

convidar os professores a socializar suas narrativas reelaboradas. Essa dinâmica propicia o

ouvir, a alteridade, o distanciamento das próprias histórias; permite transformar vivência em

experiência.

Saber fazer da narrativa uma história articulada não é uma tarefa fácil. O convite à

escrita dos incidentes tem também o potencial de fazer o grupo enxergar o aluno na sala de

aula, compreendendo suas dificuldades de escrita.

Para realização dessa estratégia preveem-se, no mínimo, três encontros de ATPC; a

quantidade vai depender da dinâmica estabelecida entre os participantes, intencionalidades do

formador e respostas do grupo docente.

A maneira de se trabalhar com narrativas de/dos professores assume perspectivas

diferentes. Mas o que torna singular a estratégia Incidente Crítico é o convite para que o

narrador identifique a situação que o afetou e seus próprios sentimentos. Essa é uma maneira

de afetar o grupo, começando por fatos que dizem respeito a cada um, por isso são

significativos, para a eles adicionar teorias, pesquisas e a visão do outro, para que possam

avançar no seu desenvolvimento profissional.

2.4 Interlocução entre teoria e prática

Existem ainda outras estratégias além das descritas nos tópicos anteriores, bem como

das que estão agrupadas na figura 3, que podem ser utilizadas em reuniões de ATPC.

Provavelmente algumas nem estão documentadas. Também há estratégias diferenciadas para

outras modalidades de formação: observação da sala de aula, devolutiva da observação,

reunião de planejamento, conselho de escola, propostas para melhorar as relações

interpessoais etc. Enfim, cada ação mobiliza estratégias diferentes. Sem perder de vista que o

mais importante, como já mencionado, não é a estratégia e sim a concepção de formação do

coordenador.

A escolha de qual estratégia utilizar vai depender do projeto formativo do coordenador

e da proposta pedagógica da escola; também deve ser levado em consideração o currículo da

instituição, as necessidades de aprendizagem dos professores e alunos, as demandas dos

órgãos centrais. É de suma importância também, a escuta ativa, a valorização do diálogo para

uma comunicação efetiva com o grupo docente. A esse respeito, vale destacar que “as

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relações pedagógicas não podem ser entendidas separadamente das relações interpessoais,

pois se implicam mutualmente” (SILVA, RABELLO, ALMEIDA, 2017, p. 96).

Outro fator de interferência é a organização tempo-espaço. Em escolas muito grandes

ou com poucos encontros formativos, talvez a estratégia Diário de Itinerância não seja a mais

recomendada; para esses casos, a mais adequada seria a Observação de Bons Modelos, uma

vez que sua dinâmica é mais pontual.

Anastasiou (2005, p. 70) também destaca que “outra referência é a lógica do conteúdo:

um conteúdo predominantemente factual exigirá uma estratégia diferente de um

procedimental”. Enfim, são muitos os aspectos que devem ser levados em consideração, o que

exigirá do coordenador acionar diferentes saberes relativos às circunstâncias específicas

(TARDIF, 2002).

Ao circunstanciar a escolha da estratégia, é importante que o CP tenha consciência de

que, de modo geral, existe entre os professores,

um habitus de trabalho com a predominância na exposição do conteúdo. [...]

Esse habitus reforça uma ação de conteúdos prontos, acabados e

determinados. [...] Quando o professor é desafiado a atuar numa nova visão

em relação ao processo de ensino e aprendizagem, poderá encontrar

dificuldades, até mesmo pessoais, de se colocar numa diferenciada ação

docente. Geralmente, essa dificuldade se inicia pela própria compreensão da

necessidade de ruptura com o repasse tradicional (ANASTASIOU, 2005, p.

71).

Esse habitus de trabalho não pode ser desconsiderado, nem desrespeitado, mas pode

ser ressignificado. Às vezes, é possível partir de uma atividade tradicional, amplamente

arraigada na prática docente, para introduzir, no encontro formativo, uma estratégia que esteja

associada aos modelos construtivistas (NÓVOA, 2002).

Placco relatou20 como fez isso, ao realizar um encontro formativo com um grupo

docente de Educação Infantil:

Numa ocasião, as professoras estavam trabalhando com os alunos uma atividade

composta por uma folha com a figura de um coelho, cuja comanda era “leve a

cenourinha até o coelho”. Enquanto coordenadora, percebi a inadequação dessa

atividade, mas sabia que as professoras estavam habituadas a trabalhar assim. De modo

que, perguntei ao grupo “o que a criança aprende com isso?”. As respostas me

motivaram a discutir sobre outras maneiras em que elas poderiam fazer essa atividade.

De repente, a sala virou um caminho de cadeiras e carteiras em que a criança deveria se

localizar para fazer um monte de coisas, começando com o comando ‘vamos levar o

coelhinho até a cenoura’ e continuou por atividades completamente diferentes, que

exploravam objetivos de aprendizagem como lateralidade, organização de espaço e

tempo, etc. Ao final, as professoras disseram “de fato, não precisa da folhinha”.

20 O relato de Placco foi registrado na ocasião do exame de qualificação. A autora concordou que nós o

utilizássemos.

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90

A coordenadora partiu de uma atividade que o grupo conhecia, para, então,

ressignificá-la. Ressignificar uma ação significa a possibilidade de criar, de trazer um novo

sentido para o que fazemos. Esse exemplo ressalta o fato de que não podemos classificar as

estratégias, afirmando: “essa é uma estratégia puramente construtivista” ou “essa é uma

conservadora”. É importante exercitar um olhar dialético a esse respeito, bem como ter

clareza de que, conforme discutimos ao longo deste capítulo, o mais importante não são as

estratégias, mas a concepção de formação do coordenador.

Portanto, as diferentes estratégias de formação esboçadas neste capítulo sustentam que

o aprendizado de um ofício complexo como o ensino deve compreender, ao mesmo tempo,

uma teoria associada à prática e uma prática decorrente de uma teoria. Tal forma de

articulação proposta implica que o formador suscite em seu próprio meio a emergência de

aspectos teóricos ligados às problemáticas vividas pelos professores em suas práticas.

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91

CAPÍTULO 3

A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA

A opção metodológica num trabalho científico não se caracteriza apenas por uma

escolha de técnicas a serem aplicadas, mas, principalmente, um processo de reflexão sobre o

próprio ato de pesquisar em função do problema a ser estudado. A esse respeito, Gatti (2002,

p. 53) afirma: “Aí está a questão do método, que não é apenas uma questão de rotina de

passos e etapas, de receitas, mas de vivência de um problema, com pertinência e consistência

em termos de perspectivas e metas”. (grifo nosso)

Como apontado na introdução, a proposta desta pesquisa nasceu em virtude da minha

própria experiência como e com coordenadores pedagógicos da rede pública estadual de São

Paulo, desenvolvendo projetos para formação contínua dos docentes na escola. A vivência

com os problemas cotidianos enfrentados por esses profissionais, no tocante à formação

docente, possibilitou formular os objetivos da pesquisa. Nossa perspectiva não se limita à

identificação das estratégias que estão sendo utilizadas pelos coordenadores pedagógicos e na

análise das concepções de formação que norteiam suas ações. Mais do que coletar

informações, nossa intenção também é dar voz ao formador, para compreender a formação

desde sua perspectiva (PLACCO; SOUZA, 2018). Esperamos poder contribuir, por meio dos

‘achados’ deste estudo, para o fortalecimento do papel do coordenador pedagógico como

gestor da formação continuada que ocorre na escola e para a melhora no processo de ensino e

aprendizagem discente.

Por ocasião da reunião de qualificação desta pesquisa, as professoras participantes da

banca deram uma sugestão: “explique para o leitor quem é o coordenador do Ensino

Fundamental e Médio da rede pública estadual” – o sujeito da pesquisa. Voltei a olhar para

estudos que interpelam sua ação e seu desenvolvimento profissional. Fiz também uma

investigação em documentos legais que me revelou como se foi constituindo a figura desse

profissional ao longo dos anos.

Em princípio, minha investigação envolvia as duas redes públicas: estadual e

municipal. No entanto, minha orientadora e eu consideramos prudente focalizar a atenção no

sistema de ensino estadual. Essa decisão se mostrou bem acertada, pois conheço bem a

estrutura organizacional da SEE, seu currículo oficial, as demandas formativas dos órgãos

centrais (e suas implicações na autonomia da escola), a infinidade de siglas que fazem parte

do vocabulário da rede, etc. A ideia não foi somente facilitar o trabalho de pesquisa e análise,

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92

mas principalmente porque, a compreensão desses e outros elementos puderam fornecer

subsídios importantes na coleta de dados e, posteriormente na análise.

Assim, neste capítulo apresento, em linhas gerais, as origens da coordenação na rede

pública do Estado de São Paulo e a atuação do CP na condução das reuniões de formação que

ocorrem semanalmente na escola.

Outra orientação muito importante da banca foi em relação à metodologia da pesquisa.

Desde o início da Tese, já havia pensado em fazer um levantamento das estratégias de

formação utilizadas pelo CP nos encontros coletivos com os docentes, para isso, a opção da

survey se manteve, mas explorando melhor a análise quantitativa dos dados. A observação da

reunião de formação foi outro método mantido, entretanto, as professoras me ajudaram a

delimitar meu olhar para essa observação e a constituir o objeto do estudo: a condução da

reunião realizada pelo coordenador.

Para conhecer as concepções de formação do CP, havia pensado, também, em realizar

com alguns sujeitos uma entrevista semiestruturada. Mas o comentário da professora Marli

André me fez mudar de rumo: “para entender a concepção de formação do CP, suas teorias

implícitas por trás da prática e das possíveis estratégias que ele utilize, você tem que olhar

para a história dele. Para isso, vá para a pesquisa narrativa”. A entrevista narrativa foi a via

utilizada para ter acesso às teorias implícitas do sujeito.

Tendo por base as considerações apresentadas, este estudo se enquadra no que

Moscoso (2017, p. 633) caracteriza como “pesquisa com métodos mistos”, na qual dados

quantitativos e qualitativos são usados de forma complementar. Assim, a pesquisa associa

duas dimensões: uma que cobre um maior volume de dados por meio de survey; e outra mais

delimitada que permite um olhar mais aprofundado para o objeto de estudo. Para esta última,

utilizamos duas técnicas: observação e entrevista narrativa. Os procedimentos metodológicos

de coleta e análise dos dados, para cada dimensão, serão mais bem explicitados nos capítulos

4 e 5.

A perspectiva epistemológica que orienta a pesquisa é a que valoriza o papel ativo do

sujeito na produção do conhecimento e concebe a realidade como uma construção social

(ANDRÉ, 2005, p. 47), assim interessa conhecer o mundo dos sujeitos e os significados que

atribuem a suas experiências cotidianas relacionadas à formação de professores.

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93

3.1. Origens da coordenação pedagógica em São Paulo: situando o sujeito da pesquisa

Em termos de história da educação, o nosso sujeito de pesquisa tem um histórico

muito recente. No Brasil, a função de coordenador pedagógico tem suas raízes na supervisão

pedagógica, ela nasce das habilitações do curso de pedagogia (FUSARI, 1997).

A figura de um profissional de coordenação pedagógica surge nos anos 60, ainda que

de forma embrionária, da necessidade de se implementar, em escolas específicas, projetos

experimentais de políticas educacionais: “nos anos de 1960, floresceram no Brasil inúmeras

linhas de ‘escolas experimentais’, decorrentes da abertura oferecida pela Lei n. 4024/1961”

(ALMEIDA, 2010b, p. 12). Em São Paulo, dentre algumas dessas “escolas experimentais”

estavam o Colégio de Aplicação da USP, os Ginásios Vocacionais e o Ginásio Experimental

Dr. Edmundo de Carvalho (conhecido como Experimental da Lapa) (ALMEIDA, 2010b;

FUSARI, 1997).

A promulgação da primeira LDB descrevia, no artigo 33: “A formação de

administradores, planejadores, orientadores, inspetores, supervisores e demais especialistas de

educação será feita em curso superior de graduação, com duração plena ou curta, ou de pós-

graduação” (BRASIL, 1971). Dessa forma, assentava-se a base para criação de cargos

técnicos dos chamados “especialistas em educação”, profissionais do quadro do magistério,

cuja função principal seria inspecionar e supervisionar as ações realizadas nas unidades

escolares, bem como no sistema de ensino do qual estavam alocados (FUSARI, 1997).

Conforme a região do país, esses profissionais recebiam diferentes denominações: supervisor

escolar, orientador educacional, inspetor escolar etc. No entanto, a Lei não fazia referência ao

cargo ou função de coordenador pedagógico. A atuação desses profissionais foi marcada por

diretrizes de governos autoritários, provenientes da ditadura militar que predominavam desde

1964 (até 1985), tais diretrizes influenciaram o cenário educacional como um todo

(SAVIANI, 2013).

Em São Paulo, a partir da segunda metade de 1970 até o final dos anos 80, diferentes

gestores da rede pública estadual “delinearam projetos para atender a um conjunto de escolas,

e não à totalidade da rede, projetos que previam a figura do coordenador pedagógico ou

professor coordenador para articular ações” (ALMEIDA, 2010b, p. 22), conforme a autora,

alguns desses foram: projetos para as “escolas carentes”, Ciclo Básico, Projeto Noturno. É

nesse período que, pela primeira vez, um decreto da rede estadual (SP, Estado, 1976) faz

referência direta à função do coordenador pedagógico, não como cargo, e sim como função;

que poderia ser assumida por um professor efetivo, mediante indicação do diretor da escola.

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94

Vale destacar que o Estatuto do Magistério Público do Estado (SP, Estado, 1974)

previa a figura do professor coordenador como função. É no Estatuto de 1978 (SP, Estado,

1978) que se passa a definir o cargo de coordenador pedagógico dentro da classe de

especialista, com provimento mediante concurso público, tendo como requisitos a licenciatura

plena, com especialização em supervisão escolar e cinco anos de experiência na docência.

Com a democratização veio a Constituição de 1988, trazendo em seu bojo prenúncio

de reformas educacionais. O debate em torno da educação pautava-se sobre a necessidade da

participação crítica dos profissionais na organização da escola. As bandeiras dos educadores

concentravam-se na expansão da educação com qualidade e a gestão democrática nas escolas.

Nesse período é homologada, em 1996, a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional - LDBEN.

Diante desse contexto, em 1996, a rede estadual de São Paulo, no âmbito de uma

reforma educacional gerencial – Programa “Escola de Cara Nova” (SP, Estado, 1996)

expande a coordenação pedagógica para todas as escolas, contudo, não como cargo, mas

como função. Dessa forma, por meio da Resolução SE nº 28/1996 (alterada na sequência pela

Resolução SE n.º 76, de 13 de junho de 1997), todas as unidades escolares com mais de dez

classes em funcionamento contaria com a presença do professor coordenador pedagógico

(PCP21). Assim foi definido o primeiro processo seletivo do PCP:

Artigo 2º - Poderá exercer a função de Coordenação Pedagógico o Professor

habilitado que:

I – contar com, no mínimo, 3 anos de experiência docente;

II – tenha sido selecionado, em nível de Delegacia de Ensino, em prova

escrita elaborada pela Secretaria da Educação;

III – tenha sido indicado pelo corpo docente da unidade escolar mediante

apresentação de proposta de trabalho;

IV – tenha sua indicação ratificada pelo Conselho da Escola da unidade

pretendida.

(SP, Estado, 1997)

Desde a criação da função de coordenador na SEE/SP22, suas atribuições e condições

de trabalho têm sofrido mudanças ao longo das gestões que se seguiram, devido, em parte, à

descontinuidade das políticas educacionais que caracteriza as gestões da estadual de São

21 A sigla PCP é decorrência do processo seletivo, por não ser cargo e sim função; quem assume o posto é um

professor da rede. Com o tempo a nomenclatura mudou pra PC (professor coordenador). Como explicado na

introdução desta tese, para facilitar o entendimento do leitor e por ser mais comumente usado em outros âmbitos

de atuação, escolhemos uniformizar as siglas e utilizar CP ou simplesmente coordenador para nos referirmos a

esses profissionais da rede estadual.

22 Na rede pública municipal, o cargo de coordenador pedagógico é criado pela Lei Nº 9.874 (SP, Cidade, 1985)

e o provimento do cargo sempre foi feito mediante concurso público.

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95

Paulo. Alterações legais significativas foram observadas nas resoluções e decretos que

regulamentam a atuação desse profissional na escola (mudanças no processo seletivo, no

plano de carreira, na gratificação, nas atribuições pedagógicas, na quantidade de

coordenadores por escola etc.).

Após a recente oficialização da função de CP ampliaram-se as demandas de trabalho

para esse profissional, bem como as pesquisas sobre sua atuação, cada vez mais associada à

formação do docente na escola, situação que vem se consolidando do ponto de vista

institucional e administrativo, ressignificando o papel da formação de professores e os

conhecimentos para a formação em serviço.

Não é proposta deste estudo detalhar todas as mudanças. Entretanto, é importante

situar para o leitor um panorama geral da coordenação no momento atual, uma vez que essa

informação impacta diretamente na recolha e análise dos dados.

3.1.1 Quem é o coordenador da rede estadual de ensino?23

O panorama apresentado neste tópico é resultado de uma pesquisa documental em

textos legais mais recentes disponíveis no site da SEE-SP, por ocasião da escrita deste

capítulo (desde o início de 2017 até julho de 2018).

O último documento legal que trata do módulo de coordenadores nas escolas (SP,

Estado, 2017) explica que as escolas com menos de oito classes não têm direito a coordenação

pedagógica e somente as unidades com mais 31 salas de aula podem manter dois

coordenadores, independente do segmento de ensino. O quadro 1 apresenta o módulo atual de

coordenadores por unidade escolar na SEE/SP:

Quadro 1- Módulo de Professores Coordenadores nas Unidades Escolares

Número de

classes

Número de

Turnos

Número de

segmentos

Professor

coordenador

8 a 15 independente independente 1

16 a 30 independente Sem anos iniciais 1

16 a 30 independente Com anos iniciais *2

A partir de 31 independente independente 2

Fonte: (SP, Estado, 2017)

O asterisco referido no quadro 1 apresenta a seguinte informação: “somente farão jus a

dois coordenadores as escolas que contarem com 16 a 30 classes e que, independente do

23 Por ter diretrizes específicas, e por se tratar de um projeto que atende a uma pequena parcela de escolas da

rede estadual de ensino, excluímos da investigação os textos legais do Programa de Ensino Integral (PEI).

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número de turnos, ofereça anos iniciais de Ensino Fundamental, além de outros

segmentos/níveis de ensino” (SP, Estado, 2017). Isso significa que não há mais coordenador

por segmento, nem por turno, e sim por escola.

É possível visualizar na figura 4 o mapa das diretorias regionais da capital de São

Paulo e na tabela 1 a quantidade de coordenadores da rede estadual de ensino por DE.

Optamos por apresentar somente as informações da capital, uma vez que a survey foi

realizada com esse público.

Figura 4 - Região das Diretorias

de Ensino da SEE-SP na capital paulista

Fonte: http://www.educacao.sp.gov.br

Tabela 1 – Quantidade de escolas da SEE-

SP em cada Diretoria Regional da capital

paulista e quantidade de coordenadores

Diretorias Regionais de Ensino da Capital

Escolas estaduais em cada DRE

Quantidade de coordenadores designados em cada DRE

Sul 1 90 153 Sul 2 92 188 Sul 3 90 148 Centro 62 121 Centro Sul 72 130 Centro Oeste

75 133

Norte 1 106 195 Norte 2 74 131 Leste 1 92 156 Leste 2 92 187 Leste 3 75 139 Leste 4 75 138 Leste 5 76 136 1071 1955

Fonte: dados fornecidos pelo GCTEC -

Grupo de Cooperação Técnica e Pesquisa

da Escola de Formação e Aperfeiçoamento

dos Professores do Estado de São Paulo –

EFAP em 12/09/2018.

A leitura do quadro 1, tabela 1 e figura 4 evidencia uma informação relevante: está se

reduzindo drasticamente o número desse profissional na escola. Principalmente quando se

comparam essas mesmas informações com as Resoluções anteriores de contratação de

professor coordenador.

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O cenário é preocupante, sobretudo em escolas cujo módulo de classes só comporte

um CP. Como um coordenador poderá atender os três turnos de uma escola? Como estará

ciente das necessidades de aprendizagem dos alunos dos três segmentos? Como realizar a

formação dialogando com as especificidades dos currículos do Fundamental I, II e Médio? As

inquietações são inúmeras. Sem dúvida, esses fatores incidem na maneira de se conduzir a

formação em ATPC e nas estratégias utilizadas.

Alterações legais significativas foram observadas também no processo de seleção dos

coordenadores. Diferente da rede municipal, a rede estadual, até hoje não considera como

cargo e sim como função designada. A nomenclatura atual utilizada para esse profissional na

SEE é professor coordenador (PC). Qualquer docente que desejar assumir o posto de trabalho

na coordenação passa por um processo seletivo fundamentado na Resolução SE 75 (SP,

Estado, 2014) que envolve: ser licenciado, ter três anos de experiência no magistério público,

apresentar uma proposta de trabalho de coordenação (sem critérios definidos) e passar por

uma entrevista com o diretor da escola. Quando selecionado, o coordenador recebe, além do

salário docente, uma gratificação (aproximadamente um salário mínimo) e pode permanecer

na função até quando desejar ou quando tiver a designação cessada pelo diretor.

Esse modo de contratação traz implicações para o trabalho do coordenador. Estar

numa função não gera o mesmo compromisso de estar num cargo; esse é um dos fatores que

geram tanta rotatividade entre os coordenadores na escola. Outra questão é que, muitas vezes,

para tentar “agradar” o diretor, e assim poder ser reconduzido no final do ano letivo, alguns

coordenadores abdicam de seu papel formador e assumem tarefas designadas pela direção.

Souza e Placco (2017) consideram como as relações de poder dentro da equipe gestora afetam

a identidade do coordenador. Distante das concepções de gestão democrática e participativa,

alguns diretores impõem sua liderança por meio de autoritarismo e ameaças.

As atribuições legais da função do coordenador também sofreram alterações nas

atividades desse profissional, conforme apontam as diferentes Resoluções disponíveis no site

da SEE/SP. Inicialmente a SE 76 (SP, Estado, 1997) estabelecia como principal “atuar no

processo de articulação e mobilização escolar na construção do projeto pedagógico da

unidade escolar”. Na última Resolução dedicada às atribuições do CP (SE 75) encontramos,

no artigo 5º, 18 itens que determinam o que se espera de um professor nessa função. Dentre as

indicações: “fortalecimento das ações de orientação e aperfeiçoamento do fazer pedagógico

em sala de aula, pilar básico da melhoria da qualidade do ensino” (SP, Estado, 2014).

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O texto das últimas resoluções sedimenta de forma mais clara as fronteiras

originalmente híbridas entre coordenação e supervisão escolar. Hoje, as tarefas do

coordenador estão mais voltadas à formação docente. Não se pode desconsiderar que isso foi

um avanço, não só em termos de constituição da identidade desse profissional, mas também

evidencia, por parte dos legisladores educacionais, uma preocupação maior com as questões

pedagógicas. No entanto, nota-se nas funções esperadas, um forte direcionamento para o

cumprimento das determinações oficiais (cumprimento a projetos da Pasta da SEE,

atendimento a demandas de órgãos centrais etc.). Em meio a tantas exigências, muitas vezes,

o trabalho do coordenador se estabelece numa dinâmica que acaba sendo desordenada e de

isolamento. Para esses profissionais, as ações do cotidiano escolar se concentram

especialmente nas urgências, que demandam respostas ágeis e pouco planejadas, em

detrimento de práticas reflexivas que partem das necessidades do grupo discente e docente. A

dedicação à formação de professores, tarefa primeira e essencial para assegurar a realização

do Projeto Pedagógico da escola, não ocupa o lugar devido.

3.1.2 O objeto e o contexto do estudo

A ação formadora, ou seja, a condução da formação realizada pelo coordenador

durante a reunião coletiva é o objeto de estudo desta tese. Para dar corpo a esses objeto é

importante entender: o que são essas reuniões? Quem participa delas e qual é o papel do

coordenador nesses encontros?

Dentro da jornada de trabalho do professor, um terço de sua carga horária é destinada

a atividades pedagógicas extraclasse (BRASIL, 2008). Na prática, isso significa que a cada 10

a 27 horas na sala de aula, os docentes devem dedicar duas horas semanais para reuniões

pedagógicas com o coletivo de professores da escola, e três no caso de 28 a 33 horas de aula.

Na rede estadual, esse momento ocorre por meio da ATPC24

. O objetivo primordial dessas

reuniões é criar um espaço de discussão e formação para fortalecer o projeto político-

pedagógico da escola. Isso significa articular as disciplinas, estudar, atender a problemas

enfrentados pelos docentes, trocar experiências, discutir planejamento e avaliação e estimular

a reflexão sobre a prática docente. Para que isso aconteça, é importante haver uma boa

estrutura para discussão coletiva, com objetivos e cronogramas.

24

Na rede estadual de ensino, a Lei Complementar 836/1997 regulamenta a Hora de Trabalho Pedagógico

Coletivo (HTPC). Em 2012, para adequar a carga horária dos docentes com a Lei Federal Nº 11.738/2008, foi

publicada a Resolução SE Nº 08, que passa a chamar a HTPC de Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo

(ATPC). Assim, cada ATPC corresponde ao tempo de aula oferecida aos alunos: 50 minutos.

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Nesse contexto, o coordenador pedagógico desempenha o papel fundamental de

planejar, organizar e conduzir o encontro; possibilitando boas situações de aprendizagem

entre todos. Temos clareza de que a dinâmica do encontro não se deve unicamente a esse

profissional, no entanto, cabe a ele elaborar a pauta, conduzir as discussões, selecionar as

estratégias, controlar o tempo; seu modo de agir como mediador pode ditar o ritmo da

reunião, favorecendo ou não a formação. De fato, espera-se que o CP assuma um papel de

líder no encontro.

A transformação das reuniões que acontecem na escola em espaços de

reflexão e produção de saberes sobre a docência exige uma metodologia

proposta e dirigida pelo coordenador pedagógico, cuja liderança é essencial

para que tais reuniões não assumam a condição de Horário de Trabalho

Perdido (BRUNO; CHRISTOV, 2003, p. 61).

Assim entendemos a função do coordenador pedagógico no contexto da reunião de

formação coletiva: é ele quem, num espírito de parceria e coletividade, conduz o processo,

participa, discute, ouve, orienta, propõe, informa, assume e partilha responsabilidades com os

professores, indica ações, enfim, exerce, nesse sentido, uma posição de liderança.

Estudar a condução da reunião realizada pelo coordenador nos faz interessar, portanto,

pelas estratégias formativas que ele utiliza (ou não) durante o encontro.

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CAPÍTULO 4

DIMENSÃO QUANTITATIVA: PESQUISA DO TIPO SURVEY

A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la

Eduardo Galeano

Para a etapa quantitativa utilizamos a Survey que se configura como uma pesquisa do

tipo levantamento de dados, que visa “descrever ou explicar características ou opiniões de

uma população através de uma amostra representativa” (May, 2004, p.109). Trata-se de um

estudo de abordagem quantitativa, cujo interesse é abranger um grande número de

participantes. Em nosso caso, isso foi viabilizado pela utilização de software específico:

SurveyMonkey.

Convencionalmente associada à área social, esse tipo de pesquisa guarda, conforme

Babbie (2003), semelhanças ao tipo de pesquisa de “censo”. O que diferencia as duas é que a

survey examina uma amostra da população, enquanto o censo geralmente implica uma

enumeração da população toda25.

O instrumento de coleta de dados, o questionário, foi elaborado tendo em vista

caracterizar os coordenadores em relação à idade; segmento de atuação da educação básica;

formação inicial e complementar; tempo no magistério, tempo de atuação na coordenação.

Utilizamos uma questão aberta: Ao conduzir as reuniões de ATPC, que estratégias de

formação docente você costuma (costumava) utilizar? Fique à vontade para escrever o quanto

desejar.

Em relação à finalidade da survey, Babbie (2003, p. 95) esclarece que são “três

objetivos gerais: descrição, explicação e exploração. Um survey pode visar (e usualmente

visa) atingir mais de um desses objetivos”. Assim, a pergunta aberta foi elaborada com

objetivo de: a) explorar os discursos dos coordenadores, o que de fato eles classificam pelo

termo ‘estratégia’, e possibilitar mapear quais estratégias estão sendo utilizadas nas escolas; b)

permitir aos coordenadores descrever ações que realizam no encontro formativo; c) explicar,

25

A ideia de fazer um levantamento tipo censo para colher dados empíricos de um povo já era difundida na

antiga civilização egípcia (BABBIE, 2003). Registros bíblicos também evidenciam a antiguidade dessa prática

com outros povos, por exemplo, quando os hebreus foram libertados do Egito, Moisés recebe uma incumbência

divina de fazer um censo em toda a nação: “Façam um censo de toda a assembleia de Israel, cabeça por cabeça

deles, segundo as suas famílias, segundo as suas casas paternas, alistando todos os homens por nome. Você e

Arão devem registrar por divisões todos os de 20 anos de idade para cima que podem servir no exército de

Israel” (Números, capítulo 1, versículos 2 e 3).

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por meio da análise, certos traços ou modelos de formação realizados por eles, bem como

traços de suas concepções de formação por trás das práticas apontadas nas respostas.

Foi elaborada uma versão preliminar do questionário, ela foi pré-testada em situação

similar a real e com base nas informações, foi reformulado. Após novo teste e nova

calibração, o instrumento foi inserido na plataforma SurveyMonkey. Participaram nessa etapa

28 coordenadores.

O critério para participação na pesquisa foi que o sujeito tivesse experiência de ao

menos seis meses na coordenação pedagógica da educação básica, isto é, que atue ou que

tenha atuado como coordenador no Ensino Fundamental I, II e Médio26

. Atendendo a esses

critérios, consideramos que qualquer sujeito que estivesse disposto poderia participar.

O levantamento de dados teve início em abril de 2018. Em princípio, nosso contato

com os sujeitos foi feito por e-mail, mensagens pessoais e por redes sociais (Facebook e

WhatsApp). O questionário produzido através da ferramenta online SurveyMonkey permitiu

que os participantes pudessem, por meio de um link de internet, acessar as perguntas; o que

facilitou o processo. Mesmo assim, as respostas foram lentas, por isso, para agilizar o acesso,

adotamos outra estratégia de captação: o recurso “bola de neve”.

Quando a população é muito distribuída ou itinerante [...] a amostragem bola

de neve pode ser a única maneira de obter dados da pesquisa. Nessa

abordagem o contato inicial pode ser feito com um membro da população

que levará o pesquisador a outros membros, da mesma população [...] o

método tem se mostrado valioso (MAY, 2004, p. 117).

Visando alcançar um número maior de sujeitos, iniciamos, em agosto de 2018, o

contato com os órgãos regionais (diretorias de ensino e coordenadorias pedagógicas da rede

pública estadual) de São Paulo, solicitando a eles que encaminhassem o link da pesquisa para

o e-mail dos coordenadores.

A contribuição maior veio por meio do GCTEC (Grupo de Cooperação Técnica e

Pesquisa) da EFAP (Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado de

São Paulo) que acolheu a pesquisa de doutorado entendendo sua contribuição para rede

estadual. Esse órgão encaminhou um e-mail institucional a todos os coordenadores da DRE da

capital, em atuação no ano letivo de 2018, convidando-os para participar da pesquisa.

Visto que a rede pública estadual conta com aproximadamente dois mil coordenadores

na capital27

, tencionávamos coletar as informações de ao menos dez por cento dessa

26 Nossa experiência indica que um semestre é o tempo mínimo para que o coordenador adquira experiência

profissional. 27 Ver figura 4 e tabela 1.

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102

população. Ao final, obtivemos uma participação de 402 sujeitos, desses foi necessário excluir

22 respondentes por não atenderem aos critérios deste estudo ou por não terem completado

todo o questionário; assim, considerou-se para o levantamento um total de 38028

sujeitos,

parcela que representa 19% da população de coordenadores da rede pública estadual, na

capital paulista.

O cálculo teve por base os dados fornecidos pela EFAP/SEE-SP que, em setembro de

2018, registrava em sua base de dados, aproximadamente, dois mil coordenadores designados

na região metropolitana de São Paulo. Os dados apresentados nos próximos itens referem-se a

tabulação das respostas de 380 participantes desta região.

4.1 Caracterização do coordenador da rede pública estadual de SP

Faixa etária

Observa-se no gráfico um que o maior percentual dos coordenadores, 52%, situa-se

entre 35 e 45 anos. Isso significa que no contingente dessa população há uma parcela jovem

de profissionais atuando na coordenação.

Gráfico 1 – Faixa etária dos coordenadores

28 Dentre os excluídos estavam oito coordenadores do Programa de Ensino Integral (PEI). Esse público não era

objeto de nosso estudo, pois sua atuação difere da maioria dos CP da Rede.

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103

Tempo no magistério

Nos apontamentos do gráfico dois, as respostas abrangem o período total do

magistério, ou seja, desde o início da docência ao tempo que seguem exercendo a função de

coordenador; uma vez que na rede pública estadual o CP é designado para coordenação, mas é

mantido no registro funcional como um profissional pertencente ao QM (quadro do

magistério).

Gráfico 2 - Tempo no magistério

Tempo na coordenação

O gráfico três apresenta os dados da pergunta: “Quanto tempo de experiência você tem na

coordenação?”. Pode-se inferir que quando o docente ingressa nessa nova atividade tende a

manter-se nela por pelo menos alguns anos, pois se observa nestes gráficos uma evolução na

permanência desses sujeitos. Para 152 coordenadores (40%) o período entre quatro e seis anos

é o tempo de maior permanência na função. Esse dado refuta o censo comum de que o CP

permanece pouco tempo na função.

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104

Gráfico 3 - Quantidade de coordenadores por ano na função

O tempo na profissão não é fator decisivo para que o sujeito seja considerado capaz de

exercer bem as atividades que a sua função exige (BARBIER, 2013); o tempo não é sinônimo

de competência. No entanto, Garcia (1992) destaca que o início de qualquer nova atividade,

como no caso da coordenação, “é um tempo de tensões e aprendizagens intensivas, durante o

qual os principiantes devem adquirir conhecimentos profissionais para além de conseguirem

manter um certo equilíbrio pessoal” (p. 66). Assim, coordenadores principiantes tendem a

apresentar maior fragilidade em sua atuação.

Segmento de ensino dos coordenadores

Para a pergunta “Na coordenação, atua (ou atuou) em quais segmentos?”, os

participantes poderiam apontar mais de uma resposta, visto que atualmente na rede pública

estadual o coordenador não é designado para um segmento de ensino específico, mas para

uma escola29. Uma vez na escola, o CP poderá atuar paralelamente tanto no Ensino

Fundamental I, quanto no Ensino Fundamental II, e a depender do número de turmas da

29

No capítulo 3 desta tese há um detalhamento de como se procede à contratação do CP com base na legislação

atual.

13

20

31

39

51

56

45

33

26

5

23

3 4 4 6

8

3 3 4 2 1

C

O

O

R

D

E

N

A

D

O

R

E

S

ANOS

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105

unidade, também poderá atuar no Ensino Médio. Assim, o gráfico cinco apresenta os

segmentos nos quais o CP trabalha atualmente ou já trabalhou.

Gráfico 4 - Segmento de ensino em que atuam os coordenadores

Ter vivência em mais de um segmento de ensino amplia a visão do coordenador para

questões que envolvem a alfabetização, avaliação, desenvolvimento infanto-juvenil, etc. No

entanto, os segmentos exigem atendimentos pedagógicos específicos, sobretudo o Ensino

Fundamental I, cujo Currículo (Ler e Escrever) não é o mesmo do EF II e Médio. Elaborar um

roteiro de formação que contemple as especificidades de cada segmento que atenda às

necessidades formativas dos diferentes professores é uma tarefa difícil, sobretudo porque essa

forma de trabalho não favorece a formação docente. É o que se constata em um trecho do

depoimento da CP Eliane.

Na terça-feira de manhã eu tenho um grupo maior de professores do

Fundamental II. Então eu vou trabalhar com [...] Mas eu tenho três

professores do Médio [neste mesmo grupo]. Então eu também tenho que

fazer um gancho da discussão pra eles, por que senão eles se sentem

desprestigiados. Essa diminuição dos módulos das escolas prejudicou muito.

Tinha que ser por segmento, como era antes. (CP Eliane/por ocasião da

entrevista narrativa).

Formação inicial

Para a questão “Qual sua formação inicial?”, a composição dos respondentes distribui-

se pelas seguintes áreas de conhecimento: Pedagogia (106), Ciências Biológicas (34), Física

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106

(1), Química (13), Matemática (54), Letras (76), Artes (20), Educação Física (25), História

(21), Geografia (17), Filosofia (10), Sociologia (3).

Gráfico 5 - Formação inicial dos coordenadores

No campo observações da pergunta sobre a formação inicial, os coordenadores

apontaram também outras licenciaturas; destas a maioria incide nos cursos de Pedagogia,

Letras e Matemática. É possível concluir que o principal motivo de haver um número maior

de licenciados em pedagogia é que os coordenadores que atuam no Fundamental I, em sua

grande maioria, são professores desse segmento, para o qual é exigida essa formação.

Minhas observações empíricas trabalhando com coordenadores permitem afirmar que

o CP traz consigo muito de sua formação inicial no trabalho em ATPC. Contudo, com o

decorrer do tempo “seja qual for a formação inicial recebida (e as suas formas são

extremamente variadas), os professores citam em primeiro lugar a influência de sua formação

pratica, que lhes faz adquirir ‘o conhecimento do que é preciso fazer e como fazê-

lo’”(ALTET, 2001 p. 32).

Formação complementar

Para identificar a formação complementar foi proposta uma questão aberta: “Você

possui pós-graduação? Se sim, especifique o curso”. Ao tabular todas as respostas, foi

possível destacar que 174 coordenadores o equivalente a 46% informaram que já realizaram

cursos de pós-graduação. Destes, a grande maioria de respostas, 68, se concentra em

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107

especializações de gestão da educação/ do currículo/pedagógica. A segunda especialização

mais apontada foi psicopedagogia com 31 indicações, seguida de docência para ensino

superior, 19 e coordenação pedagógica, 12. Em relação ao curso de especialização em

coordenação, cinco respondentes mencionaram a instituição UFSCAR e PUC-SP.

A quantidade expressiva de coordenadores com formação suplementar é fator

importante, ainda que

A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou

de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as

práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso

é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência

(NÓVOA, 1992, p. 25).

O autor considera, entretanto, que a formação continuada é um elemento

preponderante para um melhor entendimento e conhecimento do papel de formador no âmbito

escolar.

Em relação a pós-graduação stricto sensu, 36 coordenadores indicaram ter feito

Mestrado; a maioria em Educação (14), seguido de Letras (8) e Matemática (7)30

. Isolei os

dados dos respondentes que fizeram mestrado em Educação e encontrei em suas declarações

uma maior preocupação em utilizar estratégias de formação pautadas reflexão da prática

docente. Selecionei dois para ilustrar:

De forma geral, utilizo como estratégia formativa a "tematização da

prática", com apresentação de situações concretas vivenciadas no cotidiano

escolar e problematização (questionamentos que fomentam a busca por

soluções) Em uma das etapas da ação formativa há sessão de estudo, [...]

(CP 196)

[...] Estratégias como a tematização da prática são utilizadas com

frequência, porém buscando refletir sobre as teorias que subjazem tais

práticas e/ou que podem configurar-se como subsídios para ressignificação

das práticas existentes. (CP 367).

A CP 196 tem sete anos na função, sua formação inicial é em Química e o Mestrado é

em Gestão e Práticas Educacionais. Já o respondente 367 atua há seis anos como CP, sua

formação inicial é em Pedagogia e o mestrado em Educação foi realizado no FORMEP.

Em relação ao Doutorado, sete coordenadores indicaram que fizeram ou estão

cursando. Os cursos apontados foram: Psicologia da Educação; Ciências - área de Física

aplicada; Educação Especial e Inclusiva; Língua Portuguesa; Letras; e 2 em Educação.

Por fim, os dados do levantamento possibilitaram compor um quadro com a

caracterização desses 380 sujeitos participantes da Survey: são coordenadores relativamente

30

A tabela completa com todos os cursos de Mestrado indicados pelos coordenadores encontra-se no apêndice J.

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108

jovens (entre 35 e 45 anos de idade); a maior concentração dos respondentes tem entre quatro

e seis anos na função, atuando nos três segmentos de ensino (Fundamental I, II e Médio). A

graduação preponderante é em Pedagogia, Letras e Matemática.

4.2 A condução da ATPC: o que se faz, como e por quê? Um olhar para as respostas por

meio da Análise de Conteúdo

A pergunta principal do questionário: “Ao conduzir as reuniões de ATPC, que

estratégias de formação docente você costuma (ou costumava) utilizar? Fique à vontade para

escrever o quanto desejar”; permitiu contemplar os objetivos elencados neste estudo. Após

extrair do aplicativo SurveyMonkey todas as respostas dos coordenadores para essa questão,

iniciei o processo de análise, utilizando como balizador deste estudo, a técnica de Análise de

Conteúdo (BARDIN, 2016), cujas etapas são: pré-análise; exploração do material;

tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

Em princípio, me detive nas leituras das cem primeiras respostas na tentativa de criar

uma ‘base’ para análise. Nessa amostra foi possível perceber a recorrência dos temas; assim,

selecionei as respostas mais frequentes em blocos temáticos, o que permitiu a construção de

índices e indicadores. Prossegui com a classificação das respostas que convergiam para criar

categorias preliminares.

O volume de material gerou uma grande quantidade de categorias, o que poderia

fragmentar muito os dados. Assim, optei pelos princípios organizatórios de Franco (2003, p.

54) “categorias mais amplas ou molares, para depois classificar os indicadores (categorias

moleculares) em módulos interpretativos menos fragmentados”. Mediante esse procedimento,

as categorias iniciais, fragmentadas, passaram a ser indicadoras das categorias mais amplas.

Feito isto com a amostra, retornei nas demais respostas para por fim chegar às categorias

definitivas, conforme se observa no Quadro 2.

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109

Quadro 2 - Categorias e Subcategorias

CATEGORIAS

Subcategorias

1

Estratégias de formação docente

Prática docente como objeto de estudo

Análise de produções de alunos e propostas didáticas

2

O que se lê e o que se vê em

ATPC?

Fonte, conteúdo e finalidade das leituras

Maneiras de conduzir a leitura de textos e vídeos

3

Por trás das ações dos

coordenadores

Ações definidas com base nos interesses da Escola

Ações definidas com base nas formações da DE

Ações definidas com base nas demandas da SEE -SP

Fonte: a autora, com base na incidência das respostas e no número total de 380 participantes. As

categorias não são excludentes e as respostas aparecem em mais de uma categoria.

As subcategorias (categorias mais amplas) também foram organizadas em quadros

para, subsequentemente, desenvolver a análise qualitativa do material. Por último, interpretei

os documentos agrupados com apoio na sistematização dos dados dos quadros, creditando os

sentidos que os indicadores inferem ao objeto do estudo.

O referencial teórico utilizado nos primeiros capítulos serviu como um guia;

possibilitando elaborar um conjunto de proposições válidas e sustentáveis, que contribuíram

não apenas para a construção de hipóteses que foram surgindo ao longo da análise, mas

também para o seu descarte, reformulação e combinação.

4.2.1 Categoria: estratégias de formação apontadas pelos coordenadores

Varias respostas apontavam indícios de ações e estratégias de formação realizadas

pelos coordenadores em ATPC. Agrupei as mais recorrentes em eixos temáticos, o que fez

surgir subcategorias e por fim a categoria um: “Estratégias de formação docente”. A Tabela 2

apresenta essa organização:

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110

Tabela 2 - Agrupamento dos eixos temáticos da categoria

“Estratégias de formação docente”

Subcategoria: Prática docente como objeto de estudo Nº %

EIX

OS

TE

TIC

OS

Análise de práticas 30 8%

Troca de experiências/ socialização/discussão/relato de experiências sobre a prática 49 13%

Debate 24 6%

Roda de conversa 13 3%

Grupo colaborativo 6 2%

Tematização da prática 25 7%

Estudo de caso 24 6%

Narrativas de professores 2

Problematização/ dinâmicas/ atividades desafiadoras/ sistematização 36 10%

Seminários/aulas/oficinas de práticas realizadas pelos professores 10 3%

EIX

OS

T

EM

ÁT

ICO

S

Subcategoria: Análise de produções de alunos e propostas didáticas

Homologia de processos

21

6%

Dupla conceitualização 18 5%

Análise de textos/ atividades dos alunos/ avaliações 17 5%

Fonte: a autora. As porcentagens foram calculadas com base na incidência de respostas e no

número total de 380 respondentes

Subcategoria: Prática docente como objeto de estudo

Nessa subcategoria estão agrupadas todas as respostas relacionadas ao eixo temático:

análise/reflexão/ problematização da prática. Um ponto em comum nesse eixo é que a

formação do CP parte de situações problemáticas dos próprios professores, tendo por foco o

estudo da prática docente.

Uma das estratégias mencionadas (8%) foi a análise de práticas. No contexto das

respostas, infere-se que a expressão ‘prática’ está comumente sendo utilizada pelos sujeitos

como situações didáticas dos professores. Analisar envolve compreender as ações utilizadas

pelos docentes no cotidiano da sala de aula. Para efeito de ilustração, separei duas respostas:

Solicito aos professores os desafios que enfrentam, as soluções encontradas

por eles e que conceitos teóricos usaram para solucionar os desafios que se

lhe apresentaram. Como segunda etapa, [...] estudamos os conteúdos

teóricos pra contextualizá-los na prática de sala de aula [...] (CP 91).

Utilizo estratégias de acordo com o tema da reunião e com as necessidades

dos professores. Costumo utilizar a tematização, a troca de experiências e

grupo colaborativo. Atualmente estamos analisando as práticas dos

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111

professores da própria escola. Eles apresentam o que estão fazendo e as

dificuldades que estão tendo na sala de aula, então a gente discute quais

atividades deram certo ou não, e quais são as mais adequadas. Percebo que

assim consigo envolvê-los numa reflexão, explicitando a necessidade de

estudar um conteúdo teórico (CP 161).

Para analisar a prática docente, é possível perceber que os CP buscam os saberes de

cada professor, por meio da observação do que eles apresentam, bem como solicitando que

informem os desafios e as soluções encontradas. A estratégia possibilita, conforme o CP 161,

envolver o grupo para discutir o que está dando certo ou não. Nota-se, nesse movimento, que

ele não parte do estudo teórico, ao contrário, a teoria é introduzida para fundamentar a prática,

dessa forma o CP afirma que está conseguindo envolver o grupo numa reflexão.

Para análise das práticas os coordenadores frequentemente associam a expressão troca

de experiência ou sinônimos como relato de prática, socialização, discussão de prática. Esses

termos reunidos surgiram em 23% das respostas como observado a seguir:

Aprendizagem dialógica; Relatos de Prática; vídeos. Tento fazer coisas para

estimular eles a participar do HTPC, pra eles trocarem experiências da

prática. Quando eu era professora, sentia que a sala de aula era muito

solitária. No HTPC é o único momento em que tá todo mundo mais junto.

Sair da solidão é prioridade, tem que haver tempo para os educadores

conversarem entre si (CP 347).

O horário de ATPC é destinado para promover a troca de experiência

profissional possibilitando a reflexão sobre a pratica docente. Articular

ações educacionais desenvolvidas pelos diferentes segmentos da escola.

Acompanhar de forma sistemática o processo de ensino aprendizagem (CP

181).

O relato envolve expor, narrar, descrever ou comunicar experiências vivenciadas. É

comum, em reuniões coletivas, os professores contarem o que estão realizando em sala de

aula, seus trabalhos e projetos. Percebe-se, nas respostas dos CP 181 e 347, que essa ação é

utilizada por eles de maneira intencional, com objetivo de “possibilitar a reflexão sobre a

prática docente”.

A troca de experiência de práticas profissionais é empregada por Charlier (2012, p. 95)

como uma estratégia de formação: “a explicitação de sua prática permite ao professor tomar

um distanciamento em relação a ela. A confrontação com as vivências dos colegas pode ser

tanto uma fonte de reforços das teorias que subjazem à ação como estar no centro de um

conflito e fomentar um questionamento”. Nóvoa (2009) considera que a socialização de

práticas é um passo importante, mas que a experiência de cada um só se transforma em

conhecimento através da análise sistemática das práticas.

Assim, a estratégia possibilita a socialização dos saberes docentes; promove a

articulação entre os participantes da ATPC e cria condições para que os professores “saiam da

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112

solidão”, pois apesar de estarem inseridos em um ambiente com outros profissionais, o

professor trabalha, quase sempre, isolado em sua sala de aula, como constata o CP 347.

Outras estratégias relacionadas à interação do grupo sobre aspectos da prática de sala

de aula foram o debate (6%), a roda de conversa (3%) e o grupo colaborativo (2%). O CP 372

explica como faz uso do debate: [...] além das discussões frequentes sobre questões

colocadas por mim aos professores, eles também socializam suas práticas. Gosto de usar o

debate de temas polêmicos, como no caso da avaliação e da indisciplina. Ouvir o que o outro

tem a dizer amplia os horizontes.

Conforme Lerner (2012, p. 246), o debate a partir de questões sobre uma prática

pedagógica, colocadas intencionalmente pelo formador, torna-se uma estratégia fecunda

quando é utilizada de modo a “problematizar o ensino; por colocar explicitamente questões

que merecem ser objeto de reflexão, por promover a partir delas o diálogo entre os diversos

conhecimentos dos professores participantes, bem como entre estes e os saberes que se

pretende ensinar”. A estratégia privilegia a expressão e a capacidade de argumentação dos

professores.

Em relação aos coordenadores que mencionaram grupo colaborativo, suas respostas

são similares as do CP 132 “Trabalho com diferentes estratégias para incentivar e valorizar

os saberes dos professores. Estas estratégias vão desde [...] apresentação dos professores aos

seus pares [sobre] um determinado tema abordado, grupos colaborativos. [...]”. Ou seja, a

resposta não fornece elementos que permitam compreender se eles fazem uso dessa estratégia

como preconiza Passos (2016)31.

Outra estratégia cujo objeto de estudo é o fazer docente é a tematização da prática

mencionada por 7% dos coordenadores. Na maioria das vezes, os respondentes associam tal

estratégia ao estudo de práticas

Costumo trabalhar temas que possam contribuir para melhorar o

aprendizado dos alunos. As estratégias são variadas. Quase sempre

começamos a reunião com uma leitura inicial, ou leitura compartilhada. Às

vezes uso o estudo de caso, oficina de práticas dos professores, análise de

práticas, como é o caso da tematização da prática. Leitura e estudo de

textos teóricos quase sempre para complementar a discussão que fazemos

do vídeo da aula que a gente assiste na tematização. Principalmente para os

professores que trabalham com a alfabetização, destaco que é importante

que eles saibam que, por trás de suas práticas pedagógicas, sempre há uma

concepção de ensino e de aprendizagem (CP 7).

31 Para Passos (2016), os grupos colaborativos são formados por pessoas que têm interesses comuns por

determinado tema ou assunto, ainda que nem todos estejam interessados em abordá-lo com a mesma visão, pois

a diversidade de opiniões contribui muito para a aquisição de novos conhecimentos.

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113

O estabelecimento de diálogo por acreditar que o processo formativo

dialógico e dialético é aquele que, de fato, provoca mudanças. Estratégias

como a tematização da prática são utilizadas com frequência, porém

buscando refletir sobre as teorias que subjazem tais práticas e/ou que

podem configurar-se como subsídios para ressignificação das práticas

existentes (CP 367).

A análise de boas aulas documentadas, geralmente em vídeo, é uma característica

particular da tematização da prática. O potencial dessa estratégia, conforme Weisz (2009) é o

estudo sistemático de situações que acontecem na sala de aula de tal maneira que permita ao

CP compreender as ideias e as hipóteses que guiam os atos do professor. Nota-se, nas

respostas dos CP 7 e 367, essa preocupação em que os professores tenham consciência de

suas teorias implícitas. O trabalho de tematizar a prática possibilita fazer aflorar essa

consciência, ultrapassando a dicotomia certo ou errado que costuma marcar a análise da

prática docente. Nesses dois comentários, a discussão sobre a análise/tematização da prática é

fundamentada por meio de “leitura e estudo de textos” e “refletir nas teorias”, com objetivo

de criar condições para que os professores ressignifiquem suas ações. Tal ação pode oferecer

quadros teóricos de referência ou constituírem-se pontos de partida para interpretar e avaliar

situações novas. A ressignificação ou mudanças na prática, desejadas pelo CP 367, ocorrem,

nessa perspectiva, “quando os professores reconhecem discrepâncias entre a sua própria visão

e a de outros participantes sobre os componentes do processo de ensino-aprendizagem”

(MIZUKAMI; REALI, 2002, p. 77).

Para 6% dos coordenadores o Estudo de Caso é uma estratégia relevante para refletir

sobre casos de ensino e para estimular a participação do grupo, como menciona o CP 262:

[...] o bacana é fazer estudos de caso, pois os professores gostam bastante de participar. O

CP 214 descreve como faz o trabalho com essa estratégia:

Sempre no início de cada semestre, realizo o levantamento das necessidades

de formação dos professores e as principais defasagens dos alunos quanto a

aprendizagem. Em determinados momentos solicito aos professores a leitura

prévia de texto para serem debatidos posteriormente (no momento da

formação), mas em outros momentos, leituras realizadas no momento da

formação. Após a discussão com o grupo de professores (que pode durar

mais de 2 htpcs) solicito a análise de um caso de ensino (estudo de caso) em

grupo, com fundamentação na leitura e discussão realizada. Assim, após as

analise, ocorrem as socializações das discussões em grupo (CP 214).

O CP 245 explica como consegue compor seu material para trabalhar com os

professores: [utilizo] estudo de caso (casos trazidos por mim, procurados na internet, ou os

casos podem ser de alunos da própria escola); [...].

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114

O trabalho com narrativas de professores foi mencionado apenas por dois

coordenadores (CP 315 e 375). A baixa adesão a essa estratégia talvez se justifique pela não

compreensão do potencial formativo desse dispositivo, ou pelo desconhecimento de como

operacionalizar sua ação em ATPC. A esse respeito, Nóvoa (2004, p. 12) destaca que o

trabalho com narrativas ainda carece de material de apoio aos investigadores e aos formadores

“que ilustrem a utilização desta abordagem na concepção de dispositivos de formação”.

Os coordenadores também citaram em 9% de suas respostas muitas atividades como:

problematização, dinâmicas, atividades desafiadoras32, sistematização, entre outros; estas

atividades não são exatamente estratégias formativas, mas procedimentos metodológicos que

podem ser utilizados pelo formador durante as atividades. A problematização, por exemplo,

pode ocorrer quando o CP faz intervenções planejadas, por meio de perguntas que estimulem

o exercício metacognitivo; quando questiona colocações feitas pelos educadores, procurando

fazê-los pensar nas concepções subjacentes; quando retoma uma discussão inicial para a qual

não se deu fechamento ou informações conclusivas, para que o próprio grupo tente concluir

com os recursos de que dispõe. É o que parece fazer o CP 196:

De forma geral, utilizo como estratégia formativa a "tematização da

prática", com apresentação de situações concretas vivenciadas no cotidiano

escolar e problematização (questionamentos que fomentam a busca por

soluções). Em uma das etapas da ação formativa há sessão de estudo, sendo

utilizados referenciais da Secretaria da Educação, para qualificar as

reflexões (CP 196).

A postura problematizadora exige que o formador analise previamente a atividade que

será discutida “formulando algumas questões que servem como uma espécie de roteiro para

discussão [...] o objetivo é ajudar a explicitar, a tornar observáveis as ideias que, de forma

consciente ou não, sustem o fazer do professor” (WEISZ, 2009, p. 126).

Os coordenadores também apontaram estratégias em que os professores são os

protagonistas na elaboração e desenvolvimento de atividades que acontecem em ATPC, tais

como: seminários, aulas realizadas por professores e oficinas de práticas; o conjunto dessas

respostas foi de 3%.

Gosto de deixar os professores ‘dar aula no HTPC’, percebi que quando

eles só explicavam o que faziam não dava para entender muito bem suas

32 “desafiador é aquilo que é difícil e possível ao mesmo tempo, ‘se queremos que os educadores expressem suas

opiniões, temos que saber lidar com elas, especialmente quando são equivocadas, segundo o nosso ponto de

vista. Não é possível, ao mesmo tempo, pretender que as pessoas falem e ‘corrigi-las’ publicamente quando elas

o fazem, porque dessa forma elas com certeza deixarão de falar ou assumirão um papel de oposição. Por outro

lado, é preciso saber ‘dosar o nível de desafio’” (BRASIL, 2001)..

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115

atividades. Fazendo o passo a passo fica mais claro e dá pra discutir melhor

as atividades. [...] (CP 99).

Oficinas de práticas realizadas pelos professores, para dinamizar e tornar

interessante a formação com conteúdos sugeridos pelo grupo [...] (CP 280)

Conforme o CP 99, quando o professor se coloca em outra posição, assumindo a tarefa

do formador no momento da reunião consegue mobilizar o grupo na discussão das atividades.

Quando os docentes se tornam coparticipantes do processo formativo, não somente realizando

as tarefas, mas “sugerindo o conteúdo” da reunião, conforme propõe o CP 280, é mais fácil

que se sintam motivados, pois é algo que parte deles, de suas necessidades.

Subcategoria: Análise de produções de alunos e propostas didáticas

Nessa subcategoria, separei todas as respostas relacionadas às condições didáticas

necessárias para ensino de um conteúdo em sala de aula. Uma característica comum nas

estratégias desse eixo temático é que o objeto de estudo não é especificamente a prática

docente, mas as atividades discentes. Assim, analisam-se as produções dos alunos com

objetivo de planejar ou adequar propostas didáticas.

Lerner (2012b, p. 67) justifica a pertinência de atividades desse tipo no processo

formativo “a tensão entre as necessidades relativas à aprendizagem dos alunos e as relativas à

formação dos professores se apresenta de forma recorrente no processo formativo”; a análise e

a elaboração conjunta da produção discente “permite atender simultaneamente aos dois polos

da tensão”.

Nessa direção, dezessete coordenadores diferentes (5%) informaram que em ATPC

coletivamente: analisam textos/ atividades dos alunos/ avaliações discentes.

A análise de textos produzidos pelos alunos em sala de aula “é uma estratégia que

fornece dados para reflexão porque ajuda o professor a pensar e a investigar possibilidades de

resolução e problematizar para que possa levantar hipóteses e buscar novas alternativas de

ação” (MARTINS; LUCAS; MIRANDOLA, 2016, p. 118). É o que sinaliza o CP 236:

Primeiro iniciamos a reunião com uma leitura compartilhada; depois

fazemos análise de situações de ensino e das atividades dos alunos para

discussão e reflexão do grupo. Uso bastante para isso as estratégias de

tematização da prática e a dupla conceitualização. Por fim, fazemos a

sistematização das discussões. Sempre há um registro do encontro que é

feito por um professor por vez (CP 236).

Analisar o valor e a qualidade de uma atividade de ensino, principalmente quando é

preciso justificar os critérios de análise, não é uma tarefa fácil para o formador. Conforme

Lerner, Torres e Cuter (2012) envolve saberes procedimentais e conceituais. O êxito da tarefa

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116

depende da capacidade de avaliar não só a qualidade do material em si, mas a coerência

pedagógica, a pertinência e a adequação à série, ao grupo de alunos a que se destina.

A estratégia homologia de processos foi citada por 6% dos coordenadores33. Lerner

(2012, p. 188) afirma: “como temos observado em numerosas experiências, a imitação de

certas intervenções do formador parece contribuir para a assimilação, por parte dos

professores, do papel do docente em um modelo didático que concebe o aluno como produtor

do conhecimento”.

Costumo utilizar dupla conceitualização...partindo do conhecimento de

práticas do grupo para o conhecimento que se tem o objetivo que se

pretende incluir em sua pratica didático pedagógica, atividades de estudo

em grupo complementadas com questões norteadoras para guiar os estudos

e discussões. Preparar com o grupo apresentação de práticas que deram

resultados em sala de aula, modelização de algumas atividades, e outras

[...] (CP 92).

[...] vivência de atividades e discussão dos processos vivenciados

(homologia de processos); [...] planejamento coletivo das atividades a

serem desenvolvidas na semana (agrupamento de professores por ano/série)

[...] (CP 309).

Percebe-se, nessas duas respostas, o movimento realizado pelos coordenadores: os

professores vivenciam atividades, no papel de alunos, experimentando e problematizando no

seu próprio processo de formação as práticas didáticas que podem ser desempenhadas em sala

de aula. Também em comum, nos dois comentários, está a mobilização da discussão coletiva

oportunizada pela estratégia.

O comentário do CP 92 também aponta para outra estratégia mencionada por 5% dos

coordenadores: a dupla conceitualização. Esse dispositivo de formação possibilita dois

aprendizados simultâneos: sobre o objeto de ensino e sobre as condições didáticas para

ensiná-lo34.

33 Apenas dois CP tenham utilizaram a expressão homologia de processos, o restante (19 sujeitos) empregou o

termo modelização. Ainda assim, as respostas parecem indicar que as duas expressões se referem ao mesmo

procedimento sistematizado por Schön (2007). Com efeito, o autor utiliza a expressão simetria invertida. A

descrição das características da estratégia Homologia de Processos encontrara-se no capítulo 2 desta tese.

34 Conforme Lerner, Torres e Cuter (2012), a estratégia envolve duas etapas principais: na primeira, o

coordenador propõe aos professores vivenciar uma situação de aprendizagem e identificar os conhecimentos que

estão em jogo para ensinar determinado conteúdo. Na segunda etapa, o formador mostra como ensinar. Com

base na atividade feita pelo grupo, promove-se uma discussão sobre as condições necessárias para realizá-la. Ao

final, espera-se que os professores sejam capazes de planejar uma sequência didática para os alunos dentro da

perspectiva estudada.

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117

Pode-se concluir, portanto, que a quantidade expressiva de respostas agrupadas na

categoria 1 evidencia indícios da concepção de formação destes coordenadores. As estratégias

mencionadas por eles guardam princípios dos modelos construtivistas; uma vez que os

encaminhamentos previstos em tais estratégias, de acordo com o levantamento que fiz na

literatura do campo da formação docente, possibilitam uma postura investigativa do professor,

bem como uma reflexão crítica da prática de ensino. Isso significa que a ação desses

coordenadores não resvale nos modelos estruturantes? (NÓVOA, 2002). Talvez. No entanto,

o enfoque de suas respostas ou a perspectiva que eles apontam sobre a formação, permite

inferir que suas concepções estão mais distantes do paradigma da racionalidade técnica.

4.2.2 Categoria: o que se lê e o que se vê em ATPC?

A leitura de textos e o uso de vídeos em ATPC foram amplamente mencionados pelos

coordenadores. Será que essas ações podem ser consideradas estratégias formativas?

Conforme Lerner (2002), a depender de como é conduzida a leitura esta pode tornar-se

uma importante estratégia de formação. Para autora, incorporar leituras de referenciais

teóricos às reuniões de ATPC tem duplo propósito no processo de formação: criar condições

para que os docentes possam se aprofundar e ampliar seus conhecimentos sobre diferentes

conteúdos relevantes para sua prática em sala de aula e transformar a leitura em uma

ferramenta para sua formação permanente.

A leitura profissional se inclui no processo de formação como objeto de

ensino: a autonomia no uso dessa ferramenta é considerada um ponto de

chegada, um objetivo cuja concretização só se fará possível por meio de um

trabalho sistemático e compartilhado. Longe de ser construída de forma

solitária, a autonomia se conquista por meio da interação constante com

outros membros – ou aspirantes a sê-lo – da comunidade de leitores

(LERNER, 2012, p. 175).

Em relação ao uso de vídeos em ATPC, por que tantos coordenadores associaram o

trabalho com vídeo como sendo uma estratégia de formação docente? O vídeo pode ser

considerado um dispositivo de formação ou é um recurso a ser utilizado na reunião? Encontrei

em Altet (2001, p. 33) a resposta; a autora explica que o trabalho com algumas estratégias,

como é o caso da “análise das práticas” pode ser realizado com a ajuda de “dispositivos

mediadores”, o vídeo é um destes dispositivos.

De acordo com Carvalho e Gonçalves (2000), o vídeo tem potencial formador quando

seu objetivo central for problematizar situações didáticas; refletir nos pressupostos

subjacentes ao ensino e aprendizagem de um determinado conteúdo; analisar atividades de

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práticas docentes. Ao analisar o vídeo, o formador pode explorar como o conteúdo é

apresentado, as intervenções do professor, como se desenvolvem as interações dos alunos

com o conteúdo – e entre si na relação com o conteúdo, etc. Dessa forma, percebe-se que o

vídeo não é fim, mas um meio de formação.

Mas que tipo de textos e vídeos são mais usados pelos coordenadores? Em que fonte

eles selecionam esse material? Como eles conduzem a leitura na reunião? Estas questões

nortearam meu olhar para seleção das respostas agrupadas nesta subcategoria; conforme

detalhado na Tabela 3.

Tabela 3 - Agrupamento dos eixos temáticos da categoria

‘O que se lê e o que se vê em ATPC?’

Subcategoria: fonte, conteúdo e finalidade das leituras Nº %

E

IXO

S T

EM

ÁT

ICO

S

EIX

OS

TE

TIC

OS

Fonte consultada

Internet: revista nova escola/ blogs/portais voltados para educação/ cursos da

EFAP

Artigos acadêmicos/ Livros

Textos/vídeos trazidos pelos professores

Oficiais: legislação da SEE-SP

17

12

7

13

5%

3%

2%

3%

Conteúdo

Textos/vídeos do cotidiano escolar: indisciplina/ relações /motivacional/

avaliação/ notícias )

66 18%

Textos/vídeos de cunho artístico e literário

Textos/vídeos sobre informes e comunicados internos da escola

15

18

4%

5%

Subcategoria: maneiras de conduzir a leitura de textos e vídeos

Leitura inicial para abrir o encontro

Leitura compartilhada

Leitura de textos teóricos para fundamentação/discussão/socialização de

reflexões

Vídeos de aulas para análise

Vídeos como apoio/base/suporte/reflexão do tema do encontro

Apresentação de slides com textos para leitura e acompanhamento da

discussão

14

25

71

32

68

27

5%

7%

19%

9%

18%

7%

Fonte: a autora. As porcentagens foram calculadas com base na incidência de respostas e no

número total de 380 respondentes

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Subcategoria: Fonte, conteúdo e finalidade dos textos e vídeos

Dezessete respondentes (5%) mencionaram que escolhem textos e vídeos que circulam

na internet, tais como: sites voltados para educação, blogs de coordenadores ou em portais

que tratem de temas voltados à condução da reunião pedagógica; como é o caso do CP 20

“Procuro me apropriar de textos tirados da internet e conduzo o ATPC com leitura e reflexão

dos mesmos. [...]”.

Além disso, a fonte dos conteúdos que utilizam em ATPC são provenientes também

de cursos online realizados no ambiente virtual da EFAP:

[...] envio material (textos, vídeos, links de sites) via e-mail para estudo do

professor, deixo claro que não é obrigatório, mas importante para o seu

desenvolvimento profissional e aprimoramento de sua prática profissional.

Esse material geralmente retiro dos cursos que faço na escola de formação,

plataforma AVA-EFAP, Currículo +, sites voltados à educação os quais

estou cadastrado (CP, 219).

Os comentários do CP 20 e 219 ilustram a disposição que os coordenadores têm em

trazer para o encontro textos35 que possam contribuir para a aprendizagem dos professores,

seja em formato digital ou impresso. Buscar, selecionar e estudar conteúdos retirados da

internet leva tempo e exige paciência; o CP 219 parece se esforçar nessa busca, pois se

cadastra em diferentes sites voltados à educação e encaminha o material pesquisado

diretamente para o e-mail dos professores; faz isso por considerar ser “importante para o

desenvolvimento profissional”; demonstra ainda seu cuidado ao falar com os professores

“deixo claro que não é obrigatório”; subentende-se por trás dessa declaração que pode haver

resistência ou incômodo por parte dos docentes quando o assunto é leitura.36

É certo que alguns sites e portais voltados para educação apresentam informações

relevantes para formação docente e alguns funcionam como comunidades virtuais de

aprendizagem. Em algumas dessas comunidades, os coordenadores e professores costumam

trocar experiências sobre propostas de ATPC e conteúdos voltados ao cotidiano escolar

35 Estou utilizando a expressão ‘leitura de texto’ não no sentido apenas de textos impressos, mas leitura de textos

inseridos no conceito de ‘práticas sociais de leitura’, que envolvem a leitura de textos multimodais. Como

preconiza Rojo [200-?] “Na era do impresso, reservou-se a palavra texto principalmente para referir os textos

escritos, impressos ou não; na vida contemporânea, em que os escritos e falas se misturam com imagens estáticas

(fotos, ilustrações, gráficos, infográficos) e em movimento (vídeos) e com sons (sonoplastias, músicas), a palavra

texto se estendeu a esses enunciados híbridos de “novo” tipo, de tal modo que hoje falamos também em textos

orais e em textos multimodais, como as notícias televisivas e os vídeos de fãs no YouTube.”

36 A esse respeito, Lerner (2012) sugere que uma possibilidade para motivar os professores a realizarem a leitura

é incorporar o material estudado na reunião de ATPC, encaminhando junto com o texto uma orientação de

leitura.

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120

(SILVA; KUIN, 2014). No entanto, nem tudo que circula na internet é confiável ou relevante.

O que vai orientar a ação do CP nessa busca é sua concepção de formação; caso seu olhar seja

crítico e sua postura seja reflexiva há chances de encontrar em diversos sites, materiais que

contribuam para fundamentar a formação docente.

Também há menção direta a sites específicos, como é o caso da revista Nova Escola:

Utilizo-me principalmente de fontes ligadas à educação como as pesquisas e

reportagens veiculadas pela revista nova escola [...] (CP 101).

Leitura de textos (excertos de textos acadêmicos, textos de revistas

comerciais de educação como a Nova Escola) [...] (CP 309).

Outra fonte específica citada foi o livro “Professor nota 10”. O que faz com que alguns

CP se utilizem dessas fontes?37 Será o fato de apresentarem um conteúdo de fácil adaptação à

situação de formação?

3% dos coordenadores também mencionaram que buscam os conteúdos de leitura em

livros e artigos acadêmicos, mas sem referência ao autor. Os respondentes que mencionaram a

fonte “artigos acadêmicos” (cinco CP diferentes) apontaram no questionário que haviam feito

cursos de pós-graduação voltados para área da Educação. Isso talvez seja um indicador de

como a formação complementar subsidia a ação desse profissional; é o que se percebe no

depoimento do CP 94: Nas minhas ATPCs costumo diversificar as estratégias sempre com a

utilização de textos acadêmicos [...] sempre buscando destacar metodologias para auxiliar o

ensino em sala de aula.

Poucos coordenadores, apenas 2%, mencionaram que utilizam textos e vídeos trazidos

por professores da própria escola. Apoiar iniciativas como essa é um dos caminhos para se

implementar uma cultura leitora na escola (LERNER, 2012).

Os textos oficiais, tais como os retirados do Diário Oficial, as Resoluções, Decretos e

Informes da SEE-SP, foram mencionados por 3% dos coordenadores. Essas leituras muitas

vezes trazem informações sobre a rotina da escola, como no caso da organização do

calendário escolar. Além disso, muitos desses documentos tratam de aspectos relacionados à

vida funcional dos professores; talvez esses fatores expliquem os motivos de se privilegiar a

leitura desse tipo de texto em ATPC.

Quanto ao conteúdo dos textos/vídeos, os temas mais mencionados nas respostas

(18%) foram: avaliação, indisciplina, relações interpessoais, motivacionais, e notícias sobre

37 Até recentemente a SEE assinava e encaminhava para todas as escolas da Rede as revistas Nova Escola e

Gestão Escolar (ambas da mesma editora). O livro ‘Professor Nota 10’, faz parte do programa biblioteca do

professor e compõe o acervo da escola. O acesso fácil, talvez esse seja um indicativo dos motivos de os

coordenadores fazerem referência a esse material.

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121

educação. Agrupei essas respostas no item textos/vídeos sobre assuntos relacionados ao

cotidiano docente. Destaco algumas respostas:

[...] costumamos usar vídeos com temas pertinentes a realidade da escola

como: Gestão de sala de aula, indisciplina, avaliação, analises de

resultados, projetos interdisciplinares (CP 57);

[...] leitura de textos teóricos variados, relacionados com questões de

avaliação e desempenho dos alunos. Vídeos sobre educação (CP 313);

[...] temas relativos a aprendizado, avaliação e disciplina dos alunos.

Também temas comportamentais relativos aos professores (CP 334).

Sempre trago alguns textos, pois o ATPCs é um momento de estudo entre os

professores, o mais solicitado e necessário são textos que falem sobre

indisciplina, motivação, avaliação (CP 223).

É importante que os professores identifiquem no conteúdo dos textos/vídeos assuntos

relacionados com seu próprio cotidiano. Percebe-se no comentário do CP 223, o valor

atribuído pelos professores de sua escola aos momentos de leitura “eles solicitam”. A

proposta de decidir coletivamente quais são os textos considerados essenciais favorece a

discussão entre os participantes e lhes permite aproximar-se progressivamente de uma

interpretação consensual e autônoma.

Textos e vídeos de cunho artístico e literário foram apontados por 4% dos

respondentes.

[...] uso de diferentes linguagens para reflexão (vídeos, poesia,

dramatização, textos literários) (CP 357).

Leitura de textos, pois a leitura é premissa para formação; [...] trabalho

com obras de arte, poemas, músicas, movimento (CP 375).

Conforme Lerner (2012) é também desejável que as leituras de conteúdos culturais

mais amplos, que ultrapassam o domínio disciplinar tenham vez na pauta das reuniões de

formação como parte da inserção cultural dos professores.

Outro tema recorrente nas respostas relaciona-se com a organização do calendário

escolar, quais sejam: datas de avaliações internas e externas como Saresp e AAP, cronograma

de projetos e outros. As respostas desse tipo somaram 5% e estão no item textos/vídeos sobre

informes e comunicados internos da escola.

[...] conduzo a pauta com base na agenda e de acordo com o calendário

escolar. Formações (assuntos) pertinentes ao cotidiano escolar do professor

(CP 52).

Conduzo as ATPC's na sequência de recados de calendários, cronogramas,

ações praticadas dentro da escola, a fim de atualizar os professores dos

acontecimentos da escola. [...] (CP 128).

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122

Ainda que não sejam conteúdos de leitura para aprendizagem, mas de informação e

recados, esse parece ser um dos principais tópicos da pauta das reuniões. Será que os

coordenadores consideram os informes e recados como estratégia formativa? É provável que

não. Ocorre que grande parte das respostas apresenta uma descrição de como o CP conduz

habitualmente a reunião de ATPC. Nesse sentido, a menção a essa temática justifica-se, pois

uma das funções da coordenação é organizar a rotina interna da escola, adequando as semanas

de provas, as reuniões de pais, a entrega das notas e as finalizações dos projetos didáticos ao

calendário fixado pela Secretaria de Educação. De fato, o planejamento dos professores

depende dessas definições.

De modo geral, o conteúdo dos textos/vídeos foi associado à finalidade. A esse

respeito, Rojo (2012) explica que quando um professor seleciona um texto para ser lido com

seus alunos, não o faz por acaso, não é apenas uma questão de idiossincrasia, há também uma

intencionalidade. O mesmo se aplica ao coordenador. Talvez por isso, muitas vezes tenham

utilizado expressões que denotam finalidade da escolha:

[...] utilizamos vídeos, textos e dinâmicas para conduzir assuntos

relacionados ao cotidiano escolar, bem como conteúdos a serem

ministrados por ocasião do desempenho escolar no Saresp. (CP 67).

[...] utilizando sempre textos que elevem a autoestima dos professores,

deixando claro que somos uma equipe e que necessitamos trocar

experiências (CP 82).

[...] uso de textos de pedagogos, filósofos e sociólogos para conhecimento e

análise da sociedade brasileira e as mudanças que acontecem no mundo[...]

(CP 160).

Encadear a leitura com a discussão de diferentes textos que abordam as questões do

cotidiano escolar, bem como as necessidades dos professores a partir de diferentes

perspectivas, favorece a apropriação de comportamentos típicos da leitura profissional pelos

docentes: “consultar diferentes fontes, tecer relações entre ideias expressas pelo mesmo autor

em diferentes obras, assim como entre perspectivas de diferentes autores que permitem

reorganizar e matizar a visão que se vai construindo sobre o tema estudado” (LERNER, 2012,

p. 190).

Poucos coordenadores fizeram menção a escolha dos textos/vídeos com base nas

observações de classe realizadas por eles, como faz o CP 216: Procuro trazer assuntos

pertinentes ao que percebo nas observações de sala de aula. Decorrente disso, uso textos e

vídeos para que os professores reflitam e consigam melhorar sua prática. Os registros dos

professores e dos próprios coordenadores, feitos durante as observações das aulas, dão uma

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123

base mais concreta à tomada de decisão das ações de formação e da seleção dos conteúdos a

serem lidos em ATPC.

Subcategoria: Maneiras de conduzir a leitura de textos e vídeos

Além de mencionar ‘o que/para que’ leem, os CP também descreveram como leem,

isto é a maneira de conduzir a leitura. A forma de organização indicada por eles para o

trabalho de leitura contempla diversas atividades. Nessa subcategoria agrupei as mais

recorrentes.

A leitura inicial para abrir o encontro foi mencionada em 5%. Talvez os textos

literários sejam os mais utilizados nesse modo de conduzir a leitura.

Houve bastante menção (7%) à leitura compartilhada ou colaborativa; trata-se de uma

atividade que leva em conta a mediação do outro, na apreensão dos sentidos do texto. Lerner,

Torres e Cuter (2012, p. 78) consideram que essa atividade também pode ser considerada uma

estratégia formativa, na medida em que o formador modeliza os procedimentos didáticos que

favorecem a compreensão de um texto, por isso afirmam as autoras: “a leitura compartilhada

constitui uma estratégia insubstituível para a formação de professores-leitores”.

Selecionei os respondentes que mencionaram trabalhar com leitura compartilhada,

bem como com a leitura para abrir o encontro, e comparei com os dados da formação inicial.

Minha hipótese era de que a maioria dos coordenadores que apresentaram essas respostas era

da área de Letras, no entanto, quase todos eram da pedagogia38 e atuam no segmento do

Ensino Fundamental. Esse percentual talvez se justifique pelo fato dos coordenadores do

Ciclo I participarem do programa Ler e Escrever39 no qual a leitura é proposta como uma

estratégia de formação.

A leitura de textos teóricos para fundamentação/discussão/socialização das reflexões

do grupo também foi outra forma bastante citada 18%.

Planejamos antecipadamente o tema a ser estudado na próxima semana.

Cada semana um professor é o responsável pela condução da leitura ou

apresentação de um texto de apoio. Geralmente o professor que traz e texto

é quem faz a leitura compartilhada, às vezes a gente lê em pares (de acordo

com a área do conhecimento). Sempre há discussão e troca de ideias (CP

338).

Leitura coletiva, discussão em grupo, apreciação de vídeos e imagens, [...] e

troca de experiências das leituras [...] (CP 354).

38

19% dos 39 que mencionaram estas duas modalidades de leitura. 39

Ler escrever é um programa de formação quinzenal da SEE-SP destinado aos CP desse segmento. Decreto nº

54.553 - D.O.E de 16/07/2009 Disponível em http://lereescrever.fde.sp.gov.br

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124

Nesses dois comentários, bem como em outros, nota-se um movimento de ‘vaivém’

entre a leitura coletiva/dupla e socialização. Com efeito, expressões como: troca, discussão,

debate estão associadas na maioria das respostas que indicam o trabalho com a leitura. Pode-

se inferir que a condução da leitura dá lugar tanto à interação pessoal dos professores com o

texto, quanto com a troca de impressões com o colega da dupla, finalizando com um

confronto entre as interpretações de todos os integrantes do grupo. Nesse movimento, a

intervenção do CP pode despertar uma atitude crítico-reflexiva no grupo se ele se posicionar

para esclarecer, convalidar ou questionar, indicar aspectos fundamentais no texto lido.

Ainda nesse item, a maior parte das respostas faz referência à fundamentação teórica

para subsidiar a prática docente, como nos exemplos:

Geralmente existem algumas leituras e formações obrigatórias, tais como:

legislações, gestão de sala de aula, motivação x indisciplina, evasão,

participação, recuperação das competências e habilidades. Todavia, é

fundamental, observar a prática de sala de aula, e levar considerações ao

ATPC, fazer a discussão e buscar fundamentação teórica para a melhoria

da prática pedagógica (CP 250).

Dentro do tema do projeto político pedagógico da escola (Educação em

Valores e Educação em Direitos Humanos) procuramos utilizar diversas

estratégias com o grupo. Porém, sempre com o objetivo de unir a teoria com

a realidade local (CP 292).

[...] começamos muitas vezes por intermédio de "textos base" a temática a

ser desenvolvida, nunca desprezando o referencial bibliográfico (CP 192).

Num primeiro momento realizo um levantamento dos conhecimentos prévios

do grupo com relação ao tema, em seguida socializamos os apontamentos.

Trago alguma teoria e bons modelos para que o grupo possa refletir sobre.

Sugiro sempre um exercício prático e para finalizar realizamos uma

discussão baseada na prática e na teoria, para chegarmos às mesmas

conclusões, ou não (CP 353).

Ao lado da palavra leitura, o termo vídeo apareceu numa grande quantidade de

respostas. Como os CP realizam o trabalho com o vídeo? As respostas foram bem diversas.

9% deles mencionaram utilizar vídeos de aulas de professores para análise de

situações didáticas.

Preparo formações sobre temas que os professores sentem-se fragilizados

ou que verifico a necessidade. Trago textos, vídeos modeladores com aulas

de professores para discussão e troca de experiências. Procuro sempre

utilizar um bom referencial teórico para apoio das discussões (CP 9).

[...] escolho sempre uma boa leitura para deleite com referência do autor,

apresento a pauta, lemos o registro reflexivo do ATPC anterior e,

normalmente, o movimento começa com o levantamento de conhecimentos

prévios sobre o assunto [...] assistimos a um vídeo com uma boa prática (CP

68).

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125

Antigamente costumava decidir pautas de acordo com a demanda da escola,

geralmente de direção, outras vezes por conta da necessidade que eu

percebia. Hoje procuro partilhar as necessidades com os docentes, o que

tem sido muito mais produtivo porque eles se envolvem na discussão e não

percebem como algo imposto. Utilizo como estratégias o estudo de casos,

leitura de textos, vídeos com aulas de professores para serem analisadas,

dinâmicas de grupo, etc. dependendo da temática (CP 314).

Outras finalidades no uso de vídeo também foram indicadas em 18% das respostas,

tais como: ampliar a compreensão de conceitos e fomentar a discussão sobre temas

educacionais. Essas foram agrupadas no item: Vídeos como apoio/base/suporte/reflexão do

tema do encontro, no qual o conteúdo dos vídeos mais citados foram documentários, filmes,

animações, etc. Como é o caso do CP 301 que afirma: Trabalho com textos pedagógicos

variados, textos de filósofos que discorrem sobre educação. Além disso, assistimos e

discutimos alguns filmes sobre educação, o último utilizado foi o documentário Nunca me

Sonharam [...].

Algumas respostas desse item parecem evidenciar o uso do vídeo apenas como um

recurso de sensibilização, como é o caso do CP 278 que diz: Utilizo vídeo motivacional na

abertura da reunião; ou como o CP 354 que “trabalha com vídeos para apreciação de

imagens.

Em muitas respostas a informação foi genérica, com comentários parecidos aos do CP

371 utilizo Vídeos, clipes, filmes, documentários [...]; o que não me permitiu inferir de que

maneira estão trabalhando com vídeos (e por isso não foram agrupados em nenhum item

dessa subcategoria).

Quando o modelo de formação do coordenador é pautado em metodologias de

resolução de problemas, o vídeo tem outras funções além de simplesmente comunicar

informações úteis ou como recurso para o entretenimento. A organização do trabalho de

discussão e aprofundamento dos conteúdos presentes no vídeo deve contribuir para o processo

de aprendizagem de todos. Seu principal uso deve ser para desencadear a reflexão sobre a

prática pedagógica. Isso exige preparação cuidadosa do CP, planejando intervenções que

favoreçam uma discussão de fato produtiva sobre os conteúdos abordados.

Utilizando-se de um outro suporte para veiculação dos textos em ATPC, os

coordenadores mencionaram fazer uso da ferramenta PowerPoint contendo excertos de

fundamentação teórica para orientar a discussão. Agrupei todas as respostas (7%) no item

apresentação de slides com textos para leitura e acompanhamento da discussão.

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126

Vídeos temáticos e autoinstrucionais. [...] PowerPoint com conceitos

teóricos e estratégias para atingir/esclarecer as dificuldades encontradas.

[...] (CP 323).

[...] além de utilizar slides com conteúdos sobre a teoria de pensadores (CP

187).

A preocupação com estudos teóricos, em oportunizar espaços para leitura e reflexão é

um indicativo de que para esses coordenadores a ATPC é um momento de formação. Parecem

compreender também que o referencial teórico contribui apontando caminhos para

ressignificar a prática.

Talvez esses sejam os motivos que levem tantos coordenadores a apoiarem suas ações

formativas em “leituras de textos”. Além de observar a recorrência dessa ação, é importante

notar como alguns respondentes a qualificam: como premissa para formação (CP 375), para

ampliar o universo (CP 355), para sair do senso comum, para aprofundar a prática (CP 83).

Algumas declarações suscitam reflexão, como afirma a CP 368: É um desafio buscar

instrumentos de formação que não use apenas a leitura como recurso. Esse comentário

acentua a ideia do quão presente a prática de leitura de textos está, não apenas nas respostas

dos sujeitos investigados, mas na atuação cotidiana dos coordenadores nas escolas; se o

desafio está em buscar outros instrumentos, pode-se subentender que a ação de ler textos

teóricos nos encontros é o instrumento mais fácil.

A constatação feita por outro coordenador, CP 365: o grupo não tolera a teoria pela

teoria, revela o ponto de vista dos professores acerca desse assunto. Nessa mesma direção,

outras respostas apontam como os professores se comportam diante de atividades dessa

natureza:

Resolver problemas de salas. Não tem jeito, indisciplina é o tema que os

professores querem discutir. Às vezes até trago leituras de textos teóricos

para discussão e interpretação (para aprendizado), mas não é isso que os

professores querem (CP 276).

[...] Já há um tempo os professores estão muito frustrados com os textos de

teóricos que os fazem se sentir incompetentes, então quando em discussão

aparecem sugestões [dos próprios professores] estas são aceitas com mais

facilidade (CP 318).

O CP 276 refere-se a leitura para aprender, considerando-a como conteúdo de ensino.

Já o CP 318 relata as representações que o seu grupo de professores têm sobre a leitura. Para

esses coordenadores, parece haver uma valorização maior das experiências do grupo em

detrimento da aprendizagem teórica.

Será que a rejeição está sobre o conteúdo da leitura ou na maneira de conduzir a

atividade? Se o modelo de formação do CP for revestido de concepções da racionalidade

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técnica, a leitura será realizada de uma maneira transmissiva; uma vez que em tal modelo “o

docente não é visto como um produtor de conhecimento, mas como um consumidor do que é

produzido pela ciência, e enquanto técnico sua ação se reduz à utilização de decisões tomadas

por outros especialistas”. (ANDRÉ, 2012, p. 12).

A atividade teórica por si só não leva à ressignificação da prática. Por outro lado, o

saber docente não é formado apenas da prática, sendo também nutrido pelas teorias da

educação. Dessa forma, a teoria tem importância fundamental na formação dos docentes, pois

dota os sujeitos de variados pontos de vista para uma ação contextualizada, oferecendo

perspectivas de análise para que os professores compreendam os diversos contextos

vivenciados por eles.

De fato, a leitura de materiais teóricos, a depender da sua utilização, pode ser

considerada uma estratégia formativa. No entanto, essas não podem ser conduzidas numa

lógica transmissiva, mas num confronto dialético entre teoria e prática; criando condições

para que os professores possam, por meio da leitura de textos multimodais, compreender

melhor as situações de ensino e utilizar esses conhecimentos em sua prática. Portanto, a

leitura deve ter espaço na ATPC.

4.2.3 Categoria: por trás das ações dos coordenadores

A definição das estratégias formativas, bem como do que se lê e do que se vê em

ATPC, é decorrente de alguns aspectos, dentre eles: plano pedagógico do CP, seu roteiro

formativo, PPP, Currículo, necessidades da escola e demandas da SEE-SP. Tais aspectos

puderam ser observados nas respostas; destaco, na Tabela 4, os mais recorrentes.

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128

Tabela 4 - Agrupamento dos eixos temáticos da Categoria

“Por trás das ações dos coordenadores”

Subcategoria: Ações definidas com base nos interesses da Escola Nº %

EIX

OS

TE

TIC

OS

Definidas pelos coordenadores com base nas necessidades dos professores/escola 32 9%

Definidas pelos professores/ elaboradas conjuntamente entre coordenadores e

professores

14 4%

Tendo por base o Currículo 28 7%

EIX

O

TE

TIC

O

Subcategoria: Ações definidas com base nas formações da DE

Adaptação/replicação da pauta formativa elaborada pelos PCNP do Núcleo

pedagógico da DE 64 17%

Subcategoria: Ações definidas com base nas demandas da SEE-SP

EIX

O

TE

TIC

O

Relacionadas às proposições da SEE para análise de índices e melhoria de

resultados: Programa MMR; plataforma SED - Foco Aprendizagem; AAP;

SARESP; IDESP

57

15%

Fonte: a autora. As porcentagens foram calculadas com base na incidência de respostas e no número total de 380 respondentes

Subcategoria: Ações definidas com base nos interesses da Escola

Para o termo “interesses da Escola” agrupamos as respostas cuja definição da ação

formativa do CP partisse dos interesses dos professores, bem como do Currículo.

As respostas mostraram que 32 coordenadores diferentes (9%) levam em consideração

os interesses dos professores ao definir suas estratégias. Como se percebe nestes comentários:

Busco saber dos professores suas maiores dúvidas e necessidades do seu dia

a dia. A partir disso, construo propostas de formação utilizando as

estratégias mais adequadas, podendo ser a dupla conceitualização,

tematização, estudo de casos. Sempre priorizando a troca de experiências

(CP 104).

Procuro identificar, junto ao grupo de professores, quais são as suas

necessidades a curto, médio e longo prazo. Dessa forma, consigo priorizar

as demandas mais urgentes, mas não deixar de lado as demais (CP 248).

As formações são organizadas tendo como referência as necessidades

formativas dos professores. Identificadas as necessidades, um Plano de

Ação é elaborado [...] (CP 133).

O CP 248 dá um sentido estratégico à formação, pois não se preocupa apenas “com as

urgências”, mas encara a formação como um processo permanente cuja chave é a integração

com o grupo. Esses coordenadores parecem compreender que a efetividade da formação em

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129

serviço é muito maior, seja para melhorar as práticas docentes ou para a aprendizagem dos

alunos, quando derivadas das necessidades docentes, a partir de questões concretas da escola

(GARCIA, 1992).

Entretanto, não basta ouvir o que os docentes desejam privilegiar em seu estudo. Ao

considerar suas necessidades, não se pode cair no risco de transformá-las em numa “tábua dos

dez mandamentos da formação”; como bem definido no estudo destes autores:

Advertimos que o emprego do termo necessidades formativas procura se

afastar de uma noção hermética ou excessivamente pragmática, o que

significa que não consideramos que aquilo que os professores declaram

como sendo necessário se transforme em “uma tábua dos dez mandamentos

da formação”. Ao contrário, o que os professores declaram como sendo

fundamental para as suas práticas precisa ser analisado criticamente pelas

CPs. E essa análise precisa articular uma leitura a respeito de como os

professores fazem o seu trabalho e o desafio que enfrentam (PEREIRA,

PLACCO, 2018, p. 92).

Assim, é preciso observar se o foco do interesse é pertinente, se tem relação com o

projeto pedagógico se permite melhorar as aprendizagens dos alunos. Para atender os

interesses da escola, a elaboração e definição das ações formativas podem ser discutidas

conjuntamente entre equipe gestora e docentes. É o que parece fazer 4% dos coordenadores,

que mencionaram em suas respostas que partem das necessidades dos professores e elaboram

conjuntamente com o grupo a pauta formativa do encontro. Como relata o CP 214:

Antigamente costumava decidir pautas de acordo com a demanda da escola,

geralmente de direção, outras vezes por conta da necessidade que eu

percebia. Hoje procuro partilhar as necessidades com os docentes, o que

tem sido muito mais produtivo porque eles se envolvem na discussão e não

percebem como algo imposto [...].

Pode-se inferir que o CP 214 aposta no fortalecimento de sua equipe, abrindo espaço

para colaboração nos quais todos possam planejar a pauta, o que tem sido, em sua visão, algo

mais produtivo.

De fato, não é difícil receber ajuda dos professores para decidir os focos da formação

quando eles percebem a ATPC como momento de aprendizagem, cujo objetivo principal é

qualificar as práticas e as relações com o ensino.

A proposição da formação voltada aos interesses da escola tendo por base o Currículo

foi mencionada por 7% dos coordenadores. Na maioria das respostas desse item, as escolhas

das estratégias estão relacionadas ao estudo do currículo: expectativas de aprendizagem,

matriz de competências e habilidades, aspectos metodológicos abordados em situações de

aprendizagem do currículo, etc. As respostas desse item são bem variadas, algumas

declarações são vagas, em outras é possível perceber como o CP aborda a temática:

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130

As estratégias são definidas com base das necessidades dos professores e da

escola. Sempre partindo de uma sondagem dos professores para me

assegurar quais são seus saberes, o que eles pensam sobre o ensino e a

aprendizagem, também com base no acompanhamento na sala de aula.

Sempre tendo com fio condutor o currículo oficial (CP 289).

Estratégias e formação com base nas necessidades de aprendizagem dos

alunos alinhadas com o Currículo Oficial do Estado de São Paulo. Trabalho

realizado junto aos professores para a compreensão das expectativas de

aprendizagem de cada ano/série. Estudo coletivo sobre metodologias de

ensino; sobre como abordar os conteúdos de modo a desenvolver as

competências e habilidades que os alunos apresentam dificuldades (CP 2).

Ambos partem das necessidades da escola – tanto dos professores quanto dos alunos.

Buscam conhecer quais são os “saberes” dos docentes da unidade, sua concepção de ensino.

Decorrente desse diagnóstico, a formação terá por “base” ou como “fio condutor” o currículo.

Esses coordenadores parecem compreender que na escola é importante que os

professores “falem a mesma língua”, no sentido de trabalharem juntos para ajudar os alunos

no aprendizado e aquisição de competências correspondentes ao ano/série. Esse aspecto

ressalta-se ainda mais no Ensino Fundamental I, pois nesse segmento os materiais do

Currículo Ler Escrever têm uma proposta de letramento baseado na concepção construtivista.

No entanto, não é incomum observar em uma mesma escola professores trabalhando com o

método silábico de alfabetização ao lado de outros que utilizam o método do currículo Ler

Escrever. Não se discute aqui a padronização das ações pedagógicas, mas ter princípios

didáticos comuns para não prejudicar a aprendizagem do aluno. Como destaca Weisz (2009,

p. 59) “como fica a cabeça de uma criança da primeira série que passa seis meses estudando

com um professor que orienta seus métodos na psicogênese da língua escrita e de repente este

professor é substituído por outro, no meio do ano, quem vem trabalhar com a cartilha?”.

Em que pesem essas considerações, a análise do conjunto de respostas desse eixo

temático parece indicar uma preponderância ao modelo interativo-reflexivo (DEMAILLY,

1992), uma vez que “na forma interativo-reflexiva, o coordenador seria visto como um

técnico de apoio dos professores, em que os saberes fossem produzidos em cooperação e

devessem ajudar a resolver problemas práticos. Tratar-se-ia de uma aprendizagem em

situação” (TORRES, 2010, p. 48), nesta, a formação é elaborada pelo coordenador, mas

contando com a participação direta dos professores, com base em suas demandas pedagógicas

específicas, tendo por fio condutor o currículo.

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131

Subcategoria: Ações definidas com base nas formações da DE

Um número considerável de coordenadores (17%) definem as estratégias e ações da

ATPC tendo por base as orientações técnicas (OT) realizadas pelos professores coordenadores

de Núcleo Pedagógico (PCNP) das Diretorias Regionais de Ensino. O conteúdo de parte das

respostas parece revelar que alguns CP reproduzem em ATPC as formações advindas da DE,

como é o caso do CP 82 “[...] Geralmente aproveito as OT que temos nas diretorias e replico

as orientações recebidas [...]”; ou no caso do CP 171 que afirma: “costumo preparar a ATPC

utilizando o material dos cursos ou OT da oficina pedagógica”. Já em outras respostas há uma

conotação de adaptação da formação recebida para atender as especificidades da escola; como

indica este comentário:

As formações que são realizadas na escola onde atuo sempre são momentos

de estudos e aprendizados. São trabalhadas as pautas advindas das

capacitações realizadas na Diretoria de Ensino, que são realizadas pelos

PCNP, e ajustadas de acordo com as necessidades e realidades da nossa

escola. Os temas abordados são previamente estudados e é elaborada uma

pauta, [bem como] materiais necessários para favorecer um momento de

estudos e reflexão sobre a prática (CP 173).

Cada DE é responsável por elaborar um projeto de formação40 para ministrar as

orientações técnicas aos coordenadores das escolas. Integram-se a esse projeto as demandas

da própria regional, bem como dos órgãos centrais. Em casos de implementação de programas

de política educacional da SEE (como no caso o MMR41, curso dos ingressantes, etc.) os

PCNP são convocados por instâncias superiores (CGEB ou EFAP) para receber e replicar

conteúdos desses programas. Trata-se de uma lógica de formação em cascata, Gatti e Barreto

(2009, p. 202) explicam as características desse modelo:

Não raro o modelo de capacitação segue as características de um modelo

“em cascata”, no qual um primeiro grupo de profissionais é capacitado e

transforma-se em capacitador de um novo grupo que por sua vez capacita

um grupo seguinte. Mediante esse procedimento, que geralmente percorre os

diferentes escalões da administração dos extensos sistemas de ensino, corpo

técnico-pedagógico, supervisores regionais, professores especialistas,

embora permita envolver um contingente profissional bastante expressivo

em termos numéricos, tem-se mostrado pouco efetivo quando se trata de

40 No Núcleo Pedagógico em que trabalhei, os planos de ação do Fundamental II e Médio subdividiam-se em

dois eixos: avaliação e currículo. No primeiro, concentrávamos ações relacionadas aos resultados das avaliações

externas. Nosso foco de atenção, nesse eixo, eram as unidades cujo IDESP estava abaixo do esperado, estas eram

classificadas como “escolas prioritárias”. Já no eixo Currículo, os temas eram mais variados: dificuldades de

aprendizagem, inclusão, componentes curriculares, relação professor aluno/conteúdo, etc. Ao menos uma vez

por mês os CP eram convocados para comparecer aos encontros formativos de oito horas de duração.

41 Programa Método de Melhoria de Resultados. Mais informações disponíveis em

www.educacao.sp.gov.br/gestaoemfoco

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132

difundir os fundamentos de uma reforma em suas nuances, profundidade e

implicações.

Numa perspectiva de formação para o desenvolvimento profissional esse modelo é

pouco efetivo, conforme complementam as autoras “ensinar a ensinar requer estratégias mais

complexas e demoradas que as disponibilidades de capacitação oferecem” (Idem, p. 202).

Para que haja apropriação da aprendizagem, e não apenas um repasse de informações, o corpo

de formadores (tanto os de base, quanto os intermediários) precisa participar da elaboração

das propostas e estar envolvido em todo o processo.

Não é interesse deste estudo discutir a pertinência desse modelo, no entanto, ao se

propor a estudar a ação do CP da rede pública estadual, não se pode olhar apenas para o micro

– escola –, pois ela está inserida em um sistema macro de ensino. De fato, esse aspecto

impacta nas condições de trabalho desse profissional. Na lógica da “cascata”, o papel do CP é

propagar e implementar na escola conteúdos estabelecidos em programas oficiais que, por

vezes, estão desarticulados das necessidades da escola. Para exemplificar essa discussão,

retomo um comunicado publicado nos manuais orientadores de formação dos coordenadores,

na ocasião do lançamento do programa São Paulo Faz Escola no qual institui o Currículo

Oficial.

A Secretaria da Educação considera que a coordenação pedagógica constitui-

se em um dos pilares estruturais da sua atual política de melhoria da

qualidade de ensino e que os Professores Coordenadores devem atuar como

gestores implementadores dessa política com os objetivos de: ampliar o

domínio dos conhecimentos e saberes dos alunos, elevando o nível de

desempenho escolar evidenciado pelos instrumentos externos e internos de

avaliação; intervir na prática de sala de aula, incentivando os docentes a

diversificarem as oportunidades de aprendizagem, visando à superação das

dificuldades detectadas junto aos alunos; promover o aperfeiçoamento e o

desenvolvimento profissional dos professores designados, com vistas à

eficácia e à melhoria de seu trabalho (SEE, 2008, p. 6).

Alguns coordenadores parecem assumir esse papel, como se observa neste relato:

No ano de 1996, quando foi implantado o professor coordenador não tinha

muita orientação. O trabalho era desenvolvido a partir das necessidades da

Escola. A gente ficava muito em cima de discutir os problemas dos alunos.

Agora as reuniões, as estratégias, tudo que acontece na escola, vem por

conta do Currículo [...] (CP 222).

Para esse CP, a necessidade da escola representa “discutir problemas dos alunos”.

Deduz-se no comentário que as “orientações” se desencadeiam a partir da implementação do

Currículo. Nesse prisma, em que não há clareza do que ele entende por formação continuada,

o Currículo e as orientações normativas passam a configurar a “cartilha” norteadora das

ações.

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133

É certo que não se pode generalizar e afirmar que todos os coordenadores que

relataram basear suas ações nas OT do Núcleo Pedagógico mantêm concepções de formação

similares. Muito menos dizer que são reprodutores autômatos dos conteúdos e estratégias

advindas dessas orientações. Conforme se discutiu ao longo desta Tese, o CP tem capacidade

de se apropriar do conhecimento oferecido e atribuir-lhe novos sentidos, a partir da própria

história pessoal e particular, adicionando a esse conhecimento saberes experienciais, num

processo de ressignificação dialético.

Entretanto, pode-se afirmar que a lógica de formação da “cascata” da qual estão

expostos é similar a do modelo tradicional (ZEICHNER, 1983), pois não há preocupação em

abrir espaço para reflexão; bem como do modelo escolar (DEAMAILLY, 1992). A esse

respeito, Nóvoa (2014, p. 144) constata: “apesar das importantes mudanças pedagógicas

ocorridas no último século, o modelo escolar manteve-se incólume praticamente até os nossos

dias, não sendo abusivo afirmar que grande parte dos educadores atuais considera ainda que o

seu trabalho consiste em moldar a cera mole”. Apesar dos esforços em romper tal paradigma,

ele se perpetua “segundo uma lógica escolarizante” na qual se trabalha “fundamente em torno

de uma formação institucionalizada” (Idem, p. 151).

Subcategoria: Ações definidas com base nas demandas da SEE/SP

Nessa subcategoria foram relacionadas todas as respostas (15%) que indicavam ações

que os CP realizam em ATPC tendo por base as proposições da SEE para análise de índices e

melhoria de resultados, tais como o Programa MMR; a utilização da plataforma SED - Foco

Aprendizagem; as avaliações internas como AAP e externas como SARESP.

Algumas declarações enfatizam o valor da avaliação para tomar decisões em relação

às estratégias de formação. O desempenho dos estudantes norteia as ações da escola, por isso

a recorrência do tema na fala dos coordenadores.

As estratégias partem dos estudos dos resultados. Identificamos as

habilidades e competências em defasagem e estudamos os temas, depois os

professores montam atividades coletivamente aplicam em sala de aula e no

próximo encontro acontece a socialização com apresentação das evidencias,

ou seja, do que eles fizeram em sala de aula a partir do que planejamos. Os

índices da escola estão melhorando com isso (CP 226).

De acordo com os resultados obtidos nas avaliações do desenvolvimento das

habilidades esperadas para aquele momento (Série/ano) em que o aluno se

encontra são definidas as linhas de intervenção como: retomadas de

conceitos, intensificar o que não ficou claro ainda e também aplicar o que

faltou. É realizado um acompanhamento de acordo com a Matriz Curricular

da SEE, Planejamento Anual e Replanejamento, Planos de Ação em

Andamento e PPP da Unidade Escolar. Planejamento de ações contínuas de

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134

formação visando essas necessidades apontadas nos diagnósticos

(avaliações) com aprofundamento adequado e inserção na rotina escolar até

o assunto estar consolidado dentro do grupo (CP 98).

Os dois CP parecem fazer uso dos resultados para (re)planejar o que fazer a partir

deles; no comentário do CP 226 há um movimento circular de avaliar, planejar, aplicar e

avaliar; já o CP 98 menciona que os resultados das avaliações servem como indicadores de

múltiplos planos de ação, evidenciando como o tema é inserido “na rotina escolar até estar

consolidado dentro do grupo”. Em ambos, infere-se que avaliação consome grande parte do

tempo do cotidiano dos professores e alunos e mobiliza as ações formativas do CP. Outros

depoimentos evidenciam um controle sistemático dos resultados, por meio de planilhas,

gráficos e registros.

Discutir sobre avaliação não obstaculariza a aprendizagem; pelo contrário, pode

promover um avanço nos conhecimentos docentes sobre o assunto. Entretanto, é importante

planejar situações de formação em que os professores não sejam colocados apenas para ler ou

ouvir dados do diagnóstico realizado, pois a simples constatação dos resultados não promove

a reflexão. Olhar para os resultados em termos de erros e acertos evidencia uma concepção

tradicional de ensino. É necessário debruçar-se sobre os dados e questioná-los: o que indicam

sobre o processo de aprendizagem do aluno? Houve retrocesso em comparação a última

avaliação? O que isso indica sobre o ensino? Que decisões serão tomadas em conjunto para

promover avanços?

O levantamento de habilidades defasadas por série/turma com base nos resultados da

AAP é um procedimento que ganha destaque nas respostas. Como faz o CP 40: [...] Utilizo

também para nortear os trabalhos os resultados das avaliações de aprendizagem em

processo (AAP). Busco sempre informações que subsidiam o desenvolvimento das

competências e habilidades. Essa prova avalia língua portuguesa e matemática.

É preciso estar atento para os efeitos que as avaliações podem causar na escola,

reduzindo toda a ideia de formação em serviço aos resultados de português e matemática, sem

levar em conta outros componentes curriculares. Esse estreitamento gera desequilíbrio e

hierarquiza as disciplinas. Como os professores dos outros componentes se sentem em relação

a isso? Numa pesquisa realizada com quarenta professores de três escolas públicas da rede

estadual, Silva, Rabello e Almeida (2017, p. 103) constataram que muitos docentes sentem

suas disciplinas desvalorizadas pelo sistema, pela escola e pelos próprios colegas docentes;

como revelam estes depoimentos:

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135

A começar pelo Estado já percebemos a desvalorização, [...] disciplinas

como português e matemática são aquelas que ‘valem mais’ não só para

professores e coordenadores, como também para os alunos (Anderson, prof.

de Sociologia).

Português e Matemática, infelizmente, são o centro da escola (Lúcia, profa.

de língua portuguesa).

As orientações da SEE/SP sobre os programas de avaliação de resultados, como no

caso do MMR mencionado por 4% dos CP, ainda que tenham um caráter vertical descendente

não devem ser simplesmente executadas pela escola. Podem e devem ser discutidas pelos

gestores de cada unidade para que haja consenso sobre como tais programas serão

apresentados aos docentes e incluídos na pauta de formação. Da mesma forma, as

necessidades dos professores que dependam de providências da Secretaria devem ser levadas

pelo coordenador ao diretor para que faça a interlocução com a Rede. Dessa maneira, o CP

terá informações mais detalhadas para planejar suas ações.

É fato que há uma pressão das diferentes instâncias para melhora dos resultados da

escola, o que acaba impactando o trabalho do CP42

. Atribuir valor apenas ao que é mensurável

corrobora o discurso de educação utilitarista da racionalidade técnica, para o qual o mais

importante é o conhecimento técnico e científico. A avaliação padronizada em larga escala

como no caso do SARESP tem sua função, mas não se pode considerar que números

absolutos são verdades homogeneizantes, pois se deixa de conhecer as singularidades

intrínsecas do processo avaliativo. Em vista disso, é importante que o coordenador faça

sempre um autoquestionamento sobre sua função e sobre o papel que porventura assume43

nessa questão.

Portanto, a investigação mais detalhada das respostas agrupadas nesta categoria

permitiu compreender que por trás das ações dos coordenadores, das estratégias utilizadas (ou

não) por eles, incidem diversos fatores que devem ser considerados quando se propõe a

discutir a condução da ATPC. Pode-se concluir que as bases que sustentam os processos

formativos pelos quais passam os CP nas orientações técnicas promovidas pelos Núcleos

Pedagógicos, bem como as proposições da SEE para análise de índices e melhoria de

resultados, afetam decisivamente na concepção de formação desses profissionais e nos

42

Com a publicação das resoluções nos 88/2007 e 90/2007, os coordenadores passaram a ser responsabilizados

pela elevação dos níveis de desempenho escolar expressos nos resultados das avaliações externas.

43 A esse respeito, Fernandes (2011) adverte que, a depender de sua atuação, o coordenador pode assumir um

papel gerencialista, perpetuando o monitoramento do Estado.

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modelos de formação continuada que desenvolvem junto aos professores. Por outro lado,

constatou-se que embora estejam inseridos num sistema no qual se privilegia a lógica da

formação em cascata, há coordenadores que priorizam suas ações com base nos interesses dos

professores e da escola.

Finalizo este capítulo com um verso que serve para ilustrar essa etapa da pesquisa:

É preciso ver a floresta e as árvores.

Se eu olho somente as árvores não tenho visão da floresta

(Peter Wohlleben, A vida secreta das árvores)

Em sentido metafórico, a pesquisa do tipo survey me ajudou a enxergar a floresta. Tal

visão panorâmica possibilitou achados importantes. Mas era necessário ter uma visão da

árvore em seu solo, enxergar o CP no chão da escola. Assim agreguei a esta investigação as

técnicas de coleta da pesquisa qualitativa, estas me permitiram complementar minha

percepção dos resultados quantitativos, bem como aprofundar a compreensão dos sujeitos e

do objeto estudado (MOSCOSO, 2017). No próximo capítulo explico os procedimentos

adotados em detalhes.

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137

CAPÍTULO 5

DIMENSÃO QUALITATIVA: ENTREVISTAS (AUTO)BIOGRÁFICAS E

OBSERVAÇÃO DAS REUNIÕES DE ATPC, ANALISANDO OS CAMINHOS

TRILHADOS POR QUATRO COORDENADORES

5.1 Combinando técnicas de coleta de dados: Observação

Ao eleger a formação contínua na escola e a ação formadora do coordenador

pedagógico como interesse principal da investigação, tinha clareza que precisaria adentrar no

momento/espaço em que o CP estivesse mais envolvido com o grupo docente: a reunião

coletiva. Para isso, utilizei a observação como técnica de coleta de dados, tendo como foco, a

condução da reunião realizada pelo coordenador.

A técnica permitiu o registro do comportamento dos sujeitos em seu contexto de

tempo-espaço, “visando descrever e compreender o que está ocorrendo numa dada situação de

formação” (ALVES-MAZZOTI; GEWANDSZNAJDER, 2001, p. 165). Não foi utilizado

roteiro, a observação foi do tipo não estruturada “na qual os comportamentos a serem

observados não são predeterminados, eles são observados e relatados da forma como

ocorrem” (Idem).

No entanto, para orientar a observação utilizei as sugestões de Lüdke e André (1986,

p. 30) a respeito do que incluir como conteúdo observado. Na parte descritiva, tomei o

cuidado para fazer um “registro detalhado do que ocorre no campo” (descrição dos sujeitos,

reconstrução dos diálogos, descrição de locais, de eventos específicos, descrição das

atividades e comportamentos do observador); na parte reflexiva das anotações, inclui “as

observações pessoais do pesquisador, feitas durante a fase de coleta: suas especulações,

sentimentos, problemas, ideias, impressões, preconcepções, dúvidas, incertezas, surpresas e

decepções” (Ibid., p. 31).

Durante as visitas nas escolas, o foco da observação foi a atuação e as intervenções

dos coordenadores junto aos professores durante a ATPC. Atenta ao foco e adotando os

procedimentos de Lüdke e André (1986), fui registrando algumas notas no período em que

estive no ambiente escolar. Além de registrar as interações entre o coordenador e os sujeitos,

descrevia também a realização das atividades e as características do ambiente em que as

reuniões foram realizadas. Em alguns momentos gravei áudio das interações que considerei

relevantes. Ao chegar em casa, reescrevia minhas observações e escutava os áudios

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138

considerando minhas impressões, conversas com os sujeitos e todos os detalhes que pudessem

contribuir para este estudo. Textualizei todas essas informações de modo a compor um relato

descritivo de cada encontro44

.

As situações concretas que ocorreram no cotidiano da formação puderam fornecer dados que

ajudaram a detectar indícios das concepções de formação do coordenador, bem como perceber sua

estratégia formativa.

5.2 Combinando técnicas de coleta de dados: Entrevista Narrativa

Ancorada no método (auto)biográfico, a opção pela pesquisa narrativa foi uma

sugestão acertada da banca, pois esse tipo de investigação permitiu acessar as concepções dos

coordenadores, através das experiências narradas.

Passeggi (2003, p. 02), assim explica a relevância do método: “a narrativa

(auto)biográfica é para o narrador, lugar de reconstrução de saberes profissionais e identitários

e torna-se, por essa mesma razão, um método privilegiado para o pesquisador ter acesso ao

universo da formação e à subjetividade do adulto”.

Contudo, apropriar-me do conceito de pesquisa narrativa não foi uma tarefa fácil.

Muitos autores não explicitam de forma clara e coesa a orientação teórica e metodológica da

abordagem. Identifiquei em várias dissertações e teses um pluralismo de perspectivas

metodológicas no que confere ao uso do método (auto)biográfico. Os termos biografias,

(auto)biografias, histórias de vida, narrativas de formação, pesquisa-formação, memórias de

professores, relatos de vida, entre outros, são comumente empregados nas investigações cujo

eixo comum é o percurso de experiências de vida, pessoais e profissionais, de sujeitos no

terreno educacional. De fato, Nakayama e Passos (2018, p. 9) consideram esse um método de

investigação bastante fértil no campo das ciências sociais, mas que ainda “vem se

desenvolvendo”.

Um ponto fundamental, após várias horas de leitura, foi ter compreendido que há

quatro grandes orientações do movimento45 (auto)biográfico no Brasil:

A primeira considera as narrativas autobiográficas como um fenômeno

antropológico [...]. A segunda orientação utiliza as narrativas como fonte e

método de investigação qualitativa, indagando-se sobre práticas sociais, não

apenas para produzir conhecimento sobre essas práticas, mas para perceber

como os indivíduos dão sentido a elas. A terceira orientação faz uso dessas

narrativas como dispositivos de pesquisa-formação, instituindo o sujeito

44

Os relatos da observação de cada ATPC estão nos Apêndices. 45 Explicam Passeggi e Souza (2017) que as potencialidades dos estudos com histórias de vida em Educação fazem surgir no

Brasil, a partir dos anos 1990, grupos de estudo que vão se configurando no movimento (auto)biográfico.

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139

como pessoa interessada no conhecimento que ela produz para si mesma

(Souza, 2006). Finalmente, a quarta orientação estuda a natureza e a

diversidade discursiva das escritas (grafias) da vida (bios) (PASSEGGI;

SOUZA, 2017, p. 10).

Esta tese se situa, prioritariamente, na segunda vertente, recorrendo às narrativas

(auto)biográficas46 dos coordenadores como fonte e método de investigação qualitativa.

Em relação à fonte de recolha de dados, também foi necessário fazer escolhas, pois “há

uma variedade de fontes no trabalho com pesquisa narrativa, que se organizam em três campos

distintos que dialogam entre si, a saber: narrativas orais (entrevistas, relatos), escritas (cartas, diários,

ateliês biográficos) e imagéticas (fotografias, imagens, desenhos, pinturas)” (SOUZA;

MEIRELES, 2018, p. 25). Algumas das fontes priorizam a escrita de si e outras estão

centradas em narrativas orais. Preferimos uma técnica cuja base fosse a narrativa oral, e assim

elegemos a entrevista narrativa.

A técnica supera a “clássica dicotomia perguntas-respostas” (SOUZA; MEIRELES,

2018, p. 28) tão comuns em entrevistas que se utilizam de um roteiro estruturado. Visa

encorajar e estimular o entrevistado a contar algo sobre algum acontecimento importante de

sua vida, a partir das quais emergem histórias de vida, tanto do sujeito como as entrecruzadas

no contexto situacional, possibilitando assim, uma interpretação dos fatos biográficos e dos

acontecimentos vividos.

As entrevistas narrativas foram inicialmente apresentadas pelo sociólogo alemão Fritz

Schütze, nos anos 1970, num estudo cujo interesse era investigar os efeitos de uma política

local. A técnica está fundada num conjunto de tradições tais como sociologia fenomenológica,

interacionismo simbólico e etnometodologia (WELLER; ZARDO, 2013), ela parte do

pressuposto de que há uma “profunda relação entre o desenvolvimento da identidade de um

indivíduo e suas versões narrativas de experiências históricas de vida” (SCHÜTZE, 2010, p.

8).

No contexto educacional, diferentes autores têm utilizado a técnica de Schütze,

ampliando ou reelaborando a proposta conforme seus interesses de pesquisa. Dentre eles

46

Cabe ressaltar que, neste estudo, será utilizado o termo (auto)biografia com o prefixo entre parênteses, pois,

além de ter um sentido mais abrangente, por incluir as biografias, autobiografias, webgrafias,. Destacam

Passeggi e Souza (2017), que a grafia deste termo abarca o sentido de reflexão por parte do sujeito que narra e

por se tratar de uma expressão já consagrada no Brasil. Outro ponto a destacar é que, em Literatura, a

autobiografia é um gênero literário, já em Educação esse termo é substituído, geralmente, por uma expressão

mais ampla – narrativas autobiográficas que incluem todos os gêneros autorreferenciais.

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140

Jovchelovich e Bauer (2002); Passeggi (2014); Souza (2011); Souza e Almeida (2012);

Weller (2009, 2013).

Nesta pesquisa, utilizo a abordagem de Jovchelovich e Bauer (2002), conforme

delineado na Tabela 5. Os procedimentos adotados em cada fase serão explicitados neste

tópico por meio de um estudo realizado por Passeggi; Nascimento e Oliveira (2016) no qual

realizaram entrevistas narrativas com professoras de classes hospitalares sobre suas atividades

pedagógicas e os desafios cotidianos enfrentados por elas.

Tabela 5 - Fases principais da entrevista narrativa

A preparação envolve criar familiaridade com o campo de estudo, bem como a

elaboração de questões exmanentes, ou seja, com base nos interesses da pesquisa são

montados tópicos de assuntos referentes ao tema em estudo. Essas questões não são

verbalizadas ao entrevistado, mas servem para orientar o pesquisador. Preferi, para isso, fixar

a atenção em duas indagações orientadoras da tese: o que o CP entrevistado aponta como

estratégia formativa e como ele conduz a ATPC?

Na fase da iniciação, o entrevistador apresenta um tópico inicial que estimule uma

narração extemporânea e não respostas pontuais. Para elaboração deste tópico, é importante

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141

seguir algumas orientações, dentre elas: a) fazer parte da experiência do sujeito, para garantir

o seu interesse e uma narração rica em detalhes; b) ser de significância pessoal e social; c) ser

suficientemente ampla para permitir ao narrador desenvolver uma história que, a partir de

situações iniciais, passando por acontecimentos passados, leve à situação atual. A esse

respeito, Passeggi; Nascimento e Oliveira (2016, p. 121) explicam como procederam:

“Utilizamos perguntas orientadas para a própria experiência de quem narra, por exemplo: ‘O

que te levou a ser professora em ambiente hospitalar?’”.

Seguindo essas sugestões, não elaborei questões, mas orientações em forma de

comanda47

. Para isso, a escolha das palavras da comanda exigiu bastante cuidado, uma vez

que orientações dadas podem induzir relatos mais descritivos, explicativos, argumentativos

(Delory-Momberger, 2012). Queria que o texto da comanda estimulasse o resgate das

memórias, de tal modo que permitisse investigar como os coordenadores dão forma a suas

experiências e os sentidos que atribuem ao que vivenciam na escola.

Comanda 1

Como professor, você certamente já participou de inúmeras reuniões de ATPC,

em diferentes formatos e com diferentes objetivos. Conte um episódio que tenha te

afetado, a ponto de trazer mudanças em sua atuação profissional.

Comanda 2

Estou pesquisando métodos de condução de formação em ATPC e gostaria de sua

contribuição. Faz parte de sua trajetória como coordenador, ocasiões que você

tenha feito a formação dos professores em ATPC. Conte um episódio que foi

muito significativo para você como formador. Para isso, peço que você narre sua

história com detalhes, procurando identificar o que o levou a fazer a formação

dessa maneira, os sentimentos que vivenciou, as aprendizagens e as repercussões

de episódio para você e seu entorno. Para que você conte sua história livremente,

eu não vou interrompê-lo. Você deve me dizer quando a história acabou e

somente depois eu farei algumas perguntas para esclarecer o que não entendi

bem. Certo?

47

Ou consignas

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142

As comandas foram apresentadas separadamente. Iniciando-se pela primeira e somente

após a finalização de sua narração é que introduzia a seguinte.

Durante a fase da narração central o narrador não deve ser interrompido, pois é

importante não atrapalhar o fluxo do seu pensamento: “a professora-narradora é quem sinaliza

que concluiu sua fala com uma coda narrativa: Foi assim; Então, era isso”. (PASSEGGI;

NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2016, p. 121). A conduta do entrevistador é fundamental,

mantendo uma escuta comprometida que permita obter pistas das experiências relatadas.

“Quando o informante indica o coda no final da história, investigue por algo mais: ‘É tudo o

que você gostaria de me contar?’ ou ‘Haveria ainda alguma coisa que você gostaria de

dizer?’” (JOVCHELOVICH E BAUER, 2002, p 99).

Após a indicação do narrador de que a história terminou, dá-se início a fase das

perguntas imanentes. Nesse momento, a ideia é explorar temas e tópicos trazidos pelo

entrevistado em sua fala, fazendo uso exclusivamente da própria linguagem do entrevistado.

Para essa fase, não se deve fazer perguntas do tipo ‘por quê?’, mas empregar perguntas que se

refiram a acontecimentos. Não é apropriado, nesse momento, perguntar sobre “opiniões,

atitudes ou causas, pois isto convida a justificações e racionalizações. Toda narrativa irá

incluir determinadas justificações e racionalizações; contudo, é importante ver como elas

aparecem espontaneamente” (Idem, 2002, p. 99).

Damos prosseguimento, passando para um segundo momento: a entrevista,

para explorar “os fios temáticos narrativos transversais” (Schütze, 2010),

anunciados na abertura, valorizando o que diz a professora-narradora de

modo que ela possa prosseguir narrando o que deseja contar, argumentar,

discordar. A intervenção da entrevistadora é sempre pontual e seu propósito

é incentivar a refletir sobre sua prática educativa nas classes hospitalares, de

modo que descrevam com mais detalhes aspectos de sua relação com a

criança e a relação da criança com a escola em ambiente hospitalar

(PASSEGGI; NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2016, p. 121).

Na última etapa, se necessário, são utilizadas as perguntas do tipo “por que?” que

geram respostas de argumentação, racionalização e teorização da parte do entrevistado sobre

seus motivos, razões para proceder de tal modo. As perguntas são elaboradas conforme o

interesse do pesquisador, com cuidado de utilizar a linguagem do entrevistado. “O

fechamento da entrevista acontece quando, após uma nova coda narrativa, desligamos o

gravador e damos continuidade ao diálogo, de maneira informal. Os registros no diário de

campo reúnem as observações sobre a entrevista e esses momentos finais” (Idem, 2016, p.

121).

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143

Por fim, Jovchelovich e Bauer (2002, p. 103) consideram que as etapas da entrevista

narrativa não devem ser vistas de maneira engessada: “Na prática, a EM muitas vezes exige

um compromisso entre narrativa e o questionamento”. Neste capítulo, explico como a técnica

guiou as entrevistas narrativas realizadas e os aprendizados obtidos. Os aprendizados, os

processos reflexivos e de ressignificação das experiências, nessa modalidade de pesquisa

qualitativa, foram importantes tanto para os coordenadores que narraram suas histórias,

quanto para quem às escutou. Destaco que foi um processo de formação dupla: do

pesquisador que se forma com a pesquisa e do sujeito que dela participa.

5.3 Procedimentos de análise da dimensão qualitativa

Por ser tratar de um estudo de métodos mistos (MOSCOSO, 2017) utilizei para cada

dimensão diferentes procedimentos de análise. Para dimensão qualitativa, me apoiei nos

princípios metodológicos da Análise do Discurso (AD).

5.3.1 Análise do Discurso: princípios centrais

A AD se desenvolve a partir de diferentes tradições teóricas (GILL, 2002). Esse

estudo está baseado na tradição de linha francesa, na qual se considera a AD herdeira de três

áreas do conhecimento: psicanálise, linguística e materialismo histórico de Marx.

Para Pêcheux (2002), a língua está permeada de história. Quando aprendemos um

idioma, aprendemos sua estrutura e todo o conjunto de sentidos que forma a matriz semântica

pela qual atribuímos sentido ao mundo “as palavras, expressões, proposições, etc., mudam de

sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam, o que quer dizer que

elas adquirem seu sentido em referência a essas posições, isto é, em referência às formações

ideológicas” (p. 160). Discursos nos habitam e falamos sempre atualizando seus sentidos já

postos, por isso Foucault (2000) considera os discursos como práticas de pensamento: nós não

nascemos racistas, sexistas, de esquerda, de direita; as condições sóciohistóricas determinam

os discursos. Isso significa que todo discurso reflete visões de mundo determinada.

Os indivíduos, vivendo em sociedade, são dialeticamente moldados pelas

práticas discursivas, sobre as quais eles também podem atuar, remodelando-

as. O discurso é, portanto, compreendido como prática política e prática

ideológica. [...] O discurso manifesta-se por meio da linguagem, mais

precisamente, do texto (falado ou escrito) e é gerado no meio dos processos

e práticas sociais, quer sejam elas econômicas, políticas ou institucionais

(VASCONCELOS, 2006, p. 90).

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144

Nesse sentido, o discurso é uma prática social de sujeitos ideológicos. Como atores

sociais, estamos continuamente nos orientando pelo contexto interpretativo em que nos

encontramos e construímos nosso discurso para fazer parte desse contexto.

Materializando-se na linguagem, a ideologia48 é mostrada como o princípio norteador

das matrizes de sentidos presentes nas formações discursivas49. Vale dizer que todo discurso

nasce de um trabalho sobre outros discursos, todos com caráter subjetivo e marcados

ideologicamente, pois, segundo Bakhtin (1992, p. 35), a “consciência individual é um fato

sócioideológico”. A partir da análise de alguns aspectos do discurso, chega-se ao mais

importante: o sentido. Na AD, importa compreender os “os efeitos de sentido” que o sujeito

manifesta através do seu discurso; um sentido que não é traduzido, mas produzido.

Assim, em AD o interesse não é apenas saber o que se fala, envolve saber quem fala,

para quem fala, como falam e para que falam, pois o discurso pode ter inúmeras funções e

significados.

5.3.2 Análise do Discurso: procedimentos metodológicos adotados

Considero importante apresentar os procedimentos utilizados, pois não existe, em AD,

“uma única ‘análise de discurso’, mas muitos diferentes estilos de análise, e todos reivindicam

o nome” (GILL, 2002, p. 244). De fato, é importante assumir uma posição, pois “existe

provavelmente ao menos 57 variedades de análise de discurso”. (Idem, p. 246).

Utilizei os princípios da abordagem metodológica proposta por Souza (2014) e Gill

(2002). Para os autores, os discursos são circunstanciais, por isso é importante considerar o

contexto de produção; cada sujeito produz um discurso único permeado por sua visão de

mundo, por sua subjetividade, assim não interessa ‘fechar’ os discursos produzidos por

diferentes sujeitos em blocos e categorizá-los. Com essa perspectiva em mente, apresento os

passos dados para análise:

48 A ideologia em AD é entendida como o posicionamento do sujeito quando se filia a um discurso, sendo o

processo de constituição do imaginário que está no inconsciente, ou seja, o sistema de ideias que constitui a

representação. A AD absorve o conceito originário de ideologia de Marx, mas a esse conceito incorpora

contribuições de autores como Althusser, Foucault e Paul Ricoeur. Para esse último a ideologia é a visão de

mundo, “a ideologia, enquanto concepção de mundo, apresenta-se como forma legítima, verdadeira de pensar

esse mundo” (RICOEUR apud BRANDÃO, 2004, p. 27). Este estudo se filia a essa definição.

49

Como a ideologia não é acessível diretamente, ela precisa tomar forma de algo que dê vazão. É a língua que

funciona como esse elemento carregador da ideologia. Em outras palavras: “a ideologia se organiza na língua em

formações discursivas (FDs). As FDs são manifestações das formações ideológicas no discurso em uma situação

de enunciação específica” (FOUCAULT , apud SOUZA, 2014, p. 21).

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145

a) Fiz a transcrição das entrevistas narrativas realizadas com os coordenadores, mantendo

o cuidado de registrar na íntegra cada discurso (com pausas, hesitações, expressões de

apoio, características da linguagem falada);

b) Transformei o registro das observações de cada ATPC em relatos, intercalando neles

partes descritivas e reflexivas;

c) Os relatos (auto)biográficos, proveniente das entrevistas narrativas de cada sujeito e os

relatos da observação de cada ATPC configuraram-se como corpus de análise;

d) Delimitei o foco da leitura: interessava-me principalmente saber o que os

coordenadores estavam apontando como estratégia de formação e detectar indícios de

suas concepções de formação;

e) Realizei repetidas leituras, atentando a informações que ajudassem a apreender a

subjetividade dos participantes da pesquisa;

f) Uma vez que o sentido do todo foi apreendido, e como é impossível analisá-lo de uma

só vez, voltei ao começo do corpus uma vez mais, pondo em evidência os significados

que ia percebendo, em razão do foco de leitura. Obtive, assim, unidades de

significado, ou como chamamos em AD, recortes textuais50 nos relatos de cada sujeito.

Os recortes dos relatos (auto)biográficos ocuparam mais tempo e exigiram muito

cuidado. Antes de explicar como procedi, é importante ressaltar que em AD não se pode

analisar os gêneros discursivos da mesma maneira; não se analisa um anúncio publicitário da

mesma forma que se analisa um poema, ou um ofício jurídico. Nas entrevistas, foi proposto

aos coordenadores que se narrassem, e eles se narram por meio de relatos. Assim, ao analisar

um gênero do tipo relato (auto)biográfico51

, é necessário levar em consideração que

O relato, cujo fundamento e princípio de organização é constituído pelo

discurso narrativo acolhe muitas outras formas de discurso que descrevem,

explicam, argumentam, avaliam as ‘ações’ relatadas. É da maior importância

reconhecer essa pluralidade discursiva do relato, pois é no entrecruzamento

das formas de discurso que ele apresenta que se tornam potencialmente

acessíveis os sistemas de tematização e de valorização utilizados pelo

narrador (DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 525).

50 “O recorte é uma unidade significado: fragmento correlacionado de linguagem – e – situação. O texto é o todo

que organiza os recortes [...]. Os recortes são feitos na (e pela) situação de interlocução” (ORLANDI, 1988,

p.140). Os recortes permitem ao pesquisador selecionar da vastidão de seu corpus aquelas informações que estão

relacionadas aos objetivos da pesquisa.

51 Conforme Bakhtin (2003), os gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados (carta, receita, tabela,

tese, etc.) cuja forma composicional, estilo e conteúdo temático lhes conferem certas regularidades discursivas.

Para fins didáticos, Dolz e Schneuwly (2004) agruparam os gêneros que mantém características em comum. Na

ordem do relatar “representações pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo e no espaço”, estão

gêneros tais como notícia, reportagem, testemunho, relato de viagem, crônica esportiva, relato autobiográfico

etc. (p. 60).

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146

No gênero relato (auto)biográfico, é importante observar, nas sequências discursivas, o

que Delory-Momberger (2016, p. 136) chama de “temporalidade biográfica”, isto é, o

narrador apresenta seu relato por meio de uma sucessão temporal de situações e

acontecimentos: “algo começa, se desenrola, chega ao fim, em uma sucessão, uma

acumulação, numa sobreposição indefinida de episódios, de provocações e de experiências”.

(grifo nosso).

Feitas essas considerações, é possível explicar como fiz os recortes textuais: destaquei

no relato (auto)biográfico de cada CP, bem como no relato descritivo de sua respectiva

ATPC, alguns episódios principais, os quais transformei em tópicos.

A partir disso, novas e repetidas leituras. A todo o momento me perguntando: que

características dos relatos produzem a interpretação que estou tendo? Assim, procurei destacar

os indicadores textuais que estabeleciam efeitos de sentido para os recortes. Para essa seleção

levei em consideração:

Ao trabalhar com a palavra e não só com ela, mas com o que está por trás dela, busca-

se desvendar o que está escondido por trás do discurso, podendo para isso adotar

indicadores de natureza semântica (a frequência com que aparecem certos termos); de

natureza linguística (o mapeamento da ordem de sucessão dos elementos

significantes) ou, ainda, de natureza paralinguística (a atenção para as pausas e

entonações dos entrevistados) (VASCONCELOS, 2006, p. 94).

Buscar regularidades discursivas ou padrão nos dados; observar como o sujeito

investigado se projeta no discurso, qual papel social que assume, quais referências usa

para falar de si e de outros (alteridade), como se dirige ao interlocutor, que linguagem

é empregada, que dimensões ressaltam e que argumentos utilizam; as entrelinhas do

discurso, ou seja, as intenções não verbalizadas, mas inseridas na prática discursiva,

entre outros pontos. (ORLANDI, 2005).

Terminada a etapa da escrita da análise de cada participante, foi realizada uma nova

leitura, dessa vez observando como os tópicos se relacionavam uns com os outros, se a

textualização permitiria ao leitor identificar um fio condutor que o levasse a compreender o

todo, e não apenas um discurso fragmentado.

Durante a análise, fui percebendo que os tópicos, associados ao foco de leitura,

permitiram extrair o que os coordenadores consideravam por estratégias e detectar indícios de

suas concepções de formação.

Por fim, cabe salientar que as etapas acima mencionadas não foram limitantes como

uma “camisa de força”, mas serviram como um caminho cuja base era a hermenêutica, pois

entendo que:

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147

Todos os protocolos metodológicos têm, ao mesmo tempo, seu alcance e

seus limites. Qualquer que seja seu grau de tecnicidade e de sofisticação, sua

utilização não acontece sem uma dose de bricolagem (no sentido em que

Lévi-Strauss usa esse termo). E essa bricolagem é, afinal, o signo e a

garantia de uma busca “humana” de compreensão e de conhecimento

empreendida por seres singulares e endereçada a outros seres singulares

(DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 535).

Tal como um bricoleur, atuei com base nos procedimentos metodológicos, mas a eles

conjuguei minha subjetividade.

5.4 O contato com os coordenadores e a seleção das escolas

A escolha das escolas e dos respectivos coordenadores foi um processo cuidadoso. A

primeira decisão foi em relação a quem eu não iria selecionar como sujeito para observação e

entrevista. Meu trabalho na EFAP e como PCNP da Diretoria de Ensino me permitiu

acompanhar de perto as formações realizadas por alguns bons coordenadores; em um primeiro

momento tive vontade de entrar em contato com eles, pois seria tudo mais fácil. No entanto,

levei em consideração que essa proximidade talvez comprometesse os dados, uma vez que

poderiam não dissociar minha figura institucional, queria que ficasse claro que eu estava ali

como pesquisadora.

Assim, entrei em contato com o núcleo pedagógico de duas Diretorias de Ensino

diferentes da que trabalhei como PCNP. Expliquei os objetivos e metodologia da pesquisa e

solicitei a indicação de escolas cujos coordenadores atendessem aos seguintes critérios: a)

coordenadores que estivessem à frente dos projetos de formação de professores no horário

coletivo; b) coordenadores conhecidos por seu compromisso em privilegiar uma formação

reflexiva, voltada para investigação da prática docente; e que c) permitissem a observação de

seu trabalho durante a condução da ATPC.

Obtive a indicação de uma lista de escolas; entrei em contato por telefone com sete

delas e expliquei ao diretor (ou vice) os meus interesses. Todos autorizaram meu acesso à

unidade; então pedi para falar com os coordenadores, mas todos estavam impossibilitados de

me atender no momento, foi necessário deixar meu contato. Depois do retorno deles, fui

agendando as visitas. As quatro primeiras escolas que me retornaram foram as selecionadas

para este estudo. Por fim, me concentrei em três delas, pois dispunham da quantidade de

sujeitos necessária para este estudo.

No primeiro contato com os coordenadores, eu me apresentava como pesquisadora e

colega da diretora do núcleo pedagógico da DE. Explicava que minha pesquisa exigia que eu

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assistisse reuniões de ATPC de bons coordenadores e que seu nome havia disso indicado.

Explicava rapidamente meus objetivos e pedia permissão para acompanhar uma ou duas

reuniões. Todos concordaram prontamente.

A partir disso, montei um cronograma de visitas para cada escola, com base nos dias e

horários de ATPC. No dia combinado para o encontro, conversei melhor sobre meus objetivos

com os coordenadores, antes da ATPC, e pedi para eles me apresentarem para o grupo

docente como uma pesquisadora. Todos concordaram. Uma das coordenadoras disse: “não

tem problema, porque eles tão bem acostumados com gente vindo fazer pesquisa aqui”.

Toda essa primeira etapa foi muito tranquila. As dificuldades, no entanto, surgiram

com as surpresas que tive quando cheguei a alguns encontros. Visto que meu objeto de

observação era a condução da reunião, expliquei aos coordenadores por telefone que gostaria

de participar de uma ATPC conduzida por eles. Mas alguns encontros agendados para eu

assistir não foram realizados pelo CP, mas por pessoas de fora da escola. Fiquei um pouco

desapontada, mas achei que seria indelicado ir embora, assim assisti às formações realizadas

por profissionais externos; isso não foi completamente ruim, pois consegui observar a

interação entre os coordenadores e o grupo, consegui também captar indícios, ainda que

indiretamente, das ações do CP. Posteriormente, após ter realizado as entrevistas e em

conversas informais, entendi que convidar um palestrante de fora é algo corriqueiro na rotina

dessas escolas e para uma das coordenadoras, essa prática é considerada como uma estratégia

de formação.

As três escolas estão situadas na região metropolitana de São Paulo e serão

caracterizadas neste estudo como escola A, B e C. Todas as visitas para observação das

reuniões foram realizadas no mês de agosto. As entrevistas foram realizadas na própria escola,

após a fase da observação.

Nos próximos itens apresento a análise, lembrando que transformei em tópicos os

episódios centrais das narrativas de cada sujeito, associando a estes as observações que fiz de

suas respectivas ATPC.

5.4.1 A Escola A e a coordenadora Adriana

Situada na zona Sul da região metropolitana de São Paulo e localizada praticamente

dentro de uma grande comunidade, a Escola A atende a 1143 alunos do Ensino Fundamental

II e Médio. O Fund. II é ofertado somente no período da tarde e o EM pela manhã e à noite.

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Por sua quantidade de salas em funcionamento, 37 nos três períodos, a escola comporta dois

coordenadores.

No núcleo pedagógico me disseram: “as duas coordenadoras dessa escola fazem um

bom trabalho, são sérias e comprometidas com a formação”. Assim, combinei de assistir a

ATPC de ambas, que era realizada em dias e horários diferentes. Uma das coordenadoras,

Adriana52

, trabalha no período das 7h às 15h, e Júlia, a outra CP, no horário das 15h às 23h.

Ambas pouco se encontram na escola e cada uma delas coordena dois diferentes horários de

ATPC. As reuniões não são por segmento de ensino, os professores escolhem o dia e horário

mais conveniente à rotina deles.

A coordenadora Adriana

Adriana tem aproximadamente 40 anos, é formada em Letras e lecionou língua

portuguesa para jovens do Fundamental II e Médio. Por quatro anos trabalhou em uma única

escola da rede pública, até que se removeu como professora para escola atual (escola A), onde

lecionou por dois anos e há quase quatro exerce a função de coordenadora na mesma unidade.

A ATPC de Adriana: o episódio inesperado, contextualizando

A entrevista de Adriana ocorreu logo depois da primeira ATPC que observei, na qual

estavam presentes 23 professores, e foi realizada na mesma sala da reunião. Enquanto eu a

ajudava a organizar a sala (desligar projetor, arrumar as carteiras, apagar a lousa, etc.)

conversamos bastante sobre um episódio ocorrido durante o encontro que ela definiu como

“muito desagradável”.

A reunião desse dia foi conduzida por um professor de engenharia de uma

universidade. Na pauta do encontro estava o assunto: projetos. Adriana afirma:

“[...] como eu prometi pra vocês, hoje o professor Valentim53 veio falar sobre projetos,

como eu disse pra vocês, alguns dos nossos projetos estão muito bons, mas outros

precisam de mais informação. Qual deve ser a estrutura de um projeto? E será que

quando a gente trabalha com projetos a gente deixa de lado os conteúdos? Aproveitem a

fala do professor pra tirar suas dúvidas, para perguntar”.

O convidado apresentou o relato de uma prática realizada entre sua universidade e

uma escola pública. Os professores pareciam estar prestando atenção, notei que alguns

estavam fazendo anotações. Mas todos estavam em silêncio, não estavam interagindo. Até que

uma professora fez uma crítica à maneira de como a escola A vem trabalhando projetos

52

Os nomes dos coordenadores foram alterados. 53 Nome alterado

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didáticos com os alunos. A coordenadora tenta argumentar com ela sobre como os professores

estão trabalhando com os projetos. Contrapondo-se aos argumentos da CP a professora

responde:

Pois é, mas a riqueza dessa experiência que você (aponta para o professor

convidado) tá apresentando é justamente o contrário. Ao que a CP diz:

Olha você poderia ter se posicionado em nossas reuniões de planejamento.

Eu tô só fazendo uma colocação, você não disse que era pra gente

perguntar?

Nesse momento um dos professores presentes na reunião diz: “Vamos

deixar disso. Não precisa ser assim.”

O bate papo

Terminada a reunião, percebi que Adriana estava chateada e perguntei se preferia

deixar nossa conversa para outro dia. Ela fez silêncio. Contei pra ela uma situação similar que

enfrentei e como me senti na ocasião. A partir disso, Adriana começou a conversar, me fez

muitas perguntas, senti que não eram apenas perguntas desconfiadas sobre quem eu era ou o

que estava fazendo ali, suas perguntas me pareceram revelar seu interesse sincero não apenas

em querer aprender com o outro, mas verificar a possibilidade de poder partilhar suas

angústias. Nosso bate-papo durou mais tempo que a entrevista, mas não foi um diálogo

desobrigado, e sim a problematização da realidade da qual Adriana enfrentava. Freire (1983,

p. 52), “o que se pretende com o diálogo, em qualquer hipótese, [...] é a problematização do

próprio conhecimento em sua indiscutível reação com a realidade concreta na qual se gera e

sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicá-la, transformá-la”.

Comecei a guardar minhas coisas para ir embora, nisso Adriana perguntou: “mas você

não vai fazer a entrevista?”. Por fim fiquei. Iniciei explicando para ela a proposta da

entrevista e li a comanda: “Como professor, você certamente já participou de inúmeras

reuniões de ATPC, em diferentes formatos e com diferentes objetivos. Conte um episódio que

tenha te afetado, a ponto de trazer mudanças em sua atuação profissional”.

Memórias de ATPC: da informação à cobrança da formação

Adriana escuta a comanda, mas hesita para responder, repete algumas vezes “episódio

que tenha me afetado enquanto eu era professora?” “precisa ser na hora da ATPC?”. Noto

que ela tem dificuldade de resgatar em suas memórias um episódio envolvendo a formação na

qual tenha vivenciado como professora. Inicia assim seu relato:

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Você sabe o que que eu sinto? Que a ATPC tem tomado assim uma

importância maior, digamos. [...] eu acho que antes a gente tinha o ATPC

não como um momento formativo, a gente tinha aquele momento aonde a

gente ia se reunir muito pra falar de aluno, sabe? Pra comentar algumas

coisas, pra recados [...]. Mas não existia uma formação mesmo para os

professores. Então, eu não me lembro de ter participado de ATPCs

formativos.

As expressões “reunir-se pra falar de aluno” e “não existia formação mesmo para o

professor” denotam a dualidade entre o par “ATPC não formativo” e “ATPC formativo”.

Para Adriana o ATPC significa momento de formação. Ao iniciar sua resposta pela expressão

“o que eu sinto”, o verbo sentir - perceber através dos sentidos – denota a forma como os

sujeitos significam situações vivenciadas. “Os sentidos dizem respeito à interpretação que

cada sujeito dá aos significados” (PLACCO;SOUZA, 2006, p. 44). As ATPCs por qual

Adriana participou, ao longo de seis anos como professora, não tiveram significado formativo

para ela, por isso não consegue resgatar em suas lembranças nenhum episódio.

A compreensão de que a reunião poderia ser diferente parece surgir quando Adriana

evoca uma lembrança:

Eu lembro da minha coordenadora antes de eu vir pra cá, eu lembro dela dizendo que a

partir daquele momento estava havendo uma cobrança da Secretaria e que a partir desse

momento ela ia ter que começar a fazer algumas formações em ATPC [...] acho que faz

uns sete ou oito anos. Foi logo depois que teve o currículo, você lembra?

A regularidade de ações desse ATPC informativo onde circulavam “recados” parece

ser abalada no momento em que a coordenadora de Adriana (a única lembrada por ela)

menciona que teria que “começar a fazer algumas formações em ATPC”. A utilização do

pronome indefinido “algum” demonstra que essa formação não ocorreria em todas as

reuniões; mas precisava “fazer algumas” não porque desejava ou entendia sua importância,

mas porque “estava sendo cobrada” revelando, nesse aspecto, uma disposição de

heteronomia. Essa nova exigência tem um momento marcado nas memórias de Adriana “logo

depois que teve o currículo”.

O currículo a que se refere é o da SEE, implantado como proposta em 2008 e tornou-

se um documento oficial em 2009. A menção que ela faz “foi logo depois do currículo”

despertou minhas lembranças. Recordo-me como, de fato, a implantação do currículo alterou

substancialmente a dinâmica de trabalho de quem era coordenador. Em dezembro de 2008, a

SEE cessa a designação de todos os coordenadores da Rede. No primeiro semestre de 2009

foi realizada uma avaliação (uma prova com inúmeras questões de múltipla escolha), que

tinha, dentre seus objetivos, avaliar a compreensão da implantação das novas diretrizes e

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propostas curriculares da SEE. Eu fiz essa prova. Lembro-me de que vários colegas

coordenadores não atingiram a pontuação mínima e, portanto não puderam voltar, naquele

momento, a exercer esse papel.

Para entender melhor a fala de Adriana, resgatei alguns documentos oficiais da época,

nos quais encontrei as seguintes informações “[...] Este ano será um ‘divisor de águas’ para a

educação paulista. Começamos o ano com uma proposta curricular organizada e integrada, em

que os gestores, terão um papel muito importante” (SEE, 2008, p. 3)54

.

Ressaltando a mudança de expectativas em relação à função do coordenador, o mesmo

documento (SEE, 2008, p. 7) afirma: “até hoje, o Professor Coordenador exerceu a liderança

num contexto que não privilegiava suas atividades nas questões pedagógicas de fato, por falta

de uma política clara sobre sua função na escola”. Afirma ainda que, a partir daquele

momento, passariam a ser divulgadas instruções e resoluções que configurariam “um novo

perfil” para esse profissional, cujo caráter seria pedagógico e mais formativo.

O processo de análise e reflexão desse trecho do relato de Adriana despertou em mim

várias indagações: será que essa política pública de implantação do currículo, referendou o

caráter pedagógico da ATPC? Será que isso fez com o coordenador tivesse mais clareza de

seu papel na ATPC? Será que o que se faz hoje em ATPC é diferente do que se fazia dez anos

antes?

Na visão de Adriana, desde a implantação do currículo a formação em ATPC passou a

ter mais foco “então de lá pra cá, a gente percebe que a questão da formação está cada vez

mais sendo cobrada, né?”; ou passou a ser mais cobrada.

A passagem de professora à coordenadora: aprendizagens e conflitos

A compreensão do caráter formativo da ATPC só se revelou à Adriana no momento

em que ela se viu no papel de coordenadora.

Quando eu me tornei coordenadora foi que eu comecei a entender como é importante a

ATPC, é um momento que a gente pode estudar, que a gente pode discutir, é um momento

de reavaliar o que que tá acontecendo, se está certo ou se está errado, entendeu? Então,

quando eu comecei a entender essa importância dai que eu comecei a fazer a formação.

Mas não foi automático.

O advérbio ‘quando’ marca a circunstância temporal para essa aprendizagem: o

exercício da nova profissão. Frente a uma nova situação “começa a entender”, mas não há

nem nesse trecho, nem no restante do seu relato, referências de como se deu esse

54

Disponível em http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/portals/18/arquivos/caderno_gestor_final_red.pdf

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entendimento, ou sua aprendizagem; revela, no entanto, que “não foi automático”, portanto

um processo. Os verbos “estudar, discutir, avaliar, reavaliar” pontuam ações que a CP

considera importante no momento de reunião de ATPC; deixando transparecer um aspecto de

sua concepção de formação.

Em outro trecho de seu relato, Adriana expõe algumas dificuldades enfrentadas nesse

início de função:

Quando eu comecei a ser coordenadora, eu enfrentei uma situação chata de dois

professores batendo boca entre si. [...] Isso me deixou assustada. Não era para ser assim.

Mas foi uma construção. Eu tive que ir mostrando o que realmente queria, e ter pé no

chão, no sentido de não começar a viajar muito, porque a gente tem que saber muito bem

qual é a realidade do professor em sala de aula, respeitar muito isso.

Os conflitos são inerentes às relações. Não há como evitá-los, mas a maneira de lidar

com eles revela muito sobre o pensamento de Adriana. É no contexto de intenso dinamismo

da ATPC, na qual surgem as “situações chatas” que provocam emoções, sentimentos e

paixões que o pedagógico e o relacional se imbricam. Diante do “susto” ao presenciar

professores “batendo boca entre si”, Adriana se posiciona “não era para ser assim”.

Conforme Bruno e Almeida (2008, p. 100), as relações pedagógicas não podem ser entendidas

separadamente das relações interpessoais, pois se implicam mutuamente. “É no bojo dessas

relações que se travam os embates, estabelecem-se os conflitos, lapidam-se os desejos,

constroem-se os projetos, enfim, é nesse movimento - entre pessoas - que se dá, de fato, a

ação educativa”. Adriana parece compreender este ponto. As metáforas: “ter pé no chão” e

“não dá para viajar” a colocam no papel de uma pessoa realista, que não desanima frente aos

obstáculos advindos das relações interpessoais, compreendendo que eles devem ser

enfrentados com “respeito” e empatia.

Os verbos ir e ter nas expressões “foi uma construção” e “tive que” empregados no

pretérito perfeito parecem indicar que o maior incômodo ficou para trás, no início da carreira

da CP; nesse aspecto, outros trechos de seu relato são construídos com verbos no presente,

indicando uma ação rotineira que ainda consome bastante de seu tempo: “eu fico muito triste

com essas coisas, com a questão das críticas”; “então essa é a forma que eu tenho

conseguido lidar com esse grupo, não é fácil, é uma construção”. O substantivo ‘construção’

aparece duas vezes, nesse trecho de seu discurso, e transmite a ideia de edificação, de pessoas

envolvidas em uma empreitada. Assim, infere-se que ela tem dedicado tempo para lapidar as

relações. Conforme Almeida (2017), o líder se constitui no e pelo grupo, nesse processo de

legitimação ele pode lançar mão de estratégias comunicacionais e relacionais.

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O cuidado com as relações pode ser observado no pequeno bilhete que a CP elaborou

e deixou disponível na carteira de cada professor antes de iniciar a reunião de ATPC:

Figura 5 - cópia do bilhete produzido pela CP Adriana

Fonte: CP Adriana

Quando pergunto a ela o motivo dessa ação, responde: “faço porque gosto, porque de

alguma forma toca positivamente, você ser bem recepcionado, acho que nunca é demais,

né?”. Sua atitude, aparentemente simples, está carregada de intencionalidade: tocar

positivamente. A recepção ao grupo, não se restringiu ao bilhete, estava presente também na

disposição das carteiras (formato de U), na pauta escrita na lousa, na preparação do kit

multimídia; ou seja, quando os professores chegaram o ambiente já estava todo organizado.

Complementa sua resposta afirmando: “apesar de todas as nossas dificuldades, às

vezes de nossas diferenças, a gente vai ter que conviver, não vai? Então que seja de forma

harmoniosa”. O comentário feito por um professor ao se deparar com o bilhete em sua

carteira “ah, obrigada você é muito fofa” parece indicar que os esforços da CP na construção

coletiva de relações mais harmoniosas têm produzido resultados positivos.

O tema das relações interpessoais tomou grande parte do relato de Adriana. Quando

me indicaram sua escola na Diretoria de Ensino disseram: “as meninas de lá fazem um bom

trabalho, o único, porém é que o grupo de professores é muito difícil”. Sim, é fato que cada

escola tem contextos diferentes, e, portanto dinâmicas relacionais diferentes. É importante

encarar a reação dos professores como fenômenos indicativos que podem fornecer elementos

para compreensão dos conflitos, isto é, “compreender de que forma as relações interpessoais

existentes na escola interferem nas práticas profissionais de coordenadores pedagógicos,

influenciando seus processos formativos”. (SILVA; RABELLO; ALMEIDA, 2017, p. 96).

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Depois que entendi a importância da ATPC comecei a fazer formação

Em um determinado trecho de seu relato Adriana menciona que somente depois de ter-se

tornado coordenadora é que entendeu a importância da ATPC; a partir de então, começa a

fazer formação. Peço para ela contar o que fez a partir desse momento.

Tudo que a gente trabalha aqui na escola está relacionado com nossos resul ...

necessidades, eu ia falar resultados, mas não são os resultados, são as nossas

necessidades. Tanto é que a gente tá no programa do MMR. [...] Então todos os projetos,

tudo que acontece na escola está correlacionado a esse programa, e assim, todas as

ATPCs que nós fazemos trabalhamos com as ações, com as etapas do programa. [....]

O MMR ao qual a coordenadora se refere é o “Método de Melhoria de Resultados” e

consiste em uma das ações do programa “Gestão em Foco”. Programa que faz parte de uma

política educacional implementada pela SEE-SP em julho de 2017.

O objetivo do Gestão em Foco é melhorar o aprendizado de 1 milhão de

estudantes do Ensino Fundamental e Médio com a formulação de planos de

trabalho personalizados e monitorados pela própria comunidade escolar. O

método [MMR] é utilizado desde o planejamento estratégico para o ano

letivo e passa por etapas como identificar os desafios, planejar formas de

superá-los e implantar as soluções elaboradas. (SEE-SP, 2017)55

.

Ao afirmar: “a gente tá no programa” significa que a escola apresenta baixos índices

no SARESP e no IDESP. Estar no programa, nesse caso, não é uma opção; de acordo com

documentos oficiais da SEE, todas as escolas da capital cujos resultados estão aquém do

esperado são convocadas para adotar o programa.

No trecho “nossos resul ... necessidades” Adriana interrompe a verbalização da

palavra ‘resultados’ substituindo-a por outra que julga mais apropriada: “eu ia falar

resultados, mas não são os resultados, são as nossas necessidades”.

É possível analisar este trecho dando ênfase não somente ao que ‘é dito’, mas a ‘como

é dito’. O não-dito56, isto é, o que está implícito no discurso só é suscetível de um possível

reconhecimento através do contexto que, ao ser desvelado, atua como forma de complemento

do dito; esse, por sua vez, se define na sua relação com o restante de seu dizer. No contexto da

fala de Adriana está o MMR. Nos materiais57 produzidos para orientar os gestores na

aplicação desse programa de governo, é frequente a seguinte ideia: os resultados são

consequência da não aprendizagem do aluno, portanto eles exprimem as necessidades da

55 Informação disponível no portal da SEE-SP: http://www.educacao.sp.gov.br/gestaoemfoco/ 56

“O implícito é o não-dito que se define em relação ao dizer” (ORLANDI, 2002, p. 106). 57 https://midiasstoragesec.blob.core.windows.net/001/2018/05/guia-unificado.pdf

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escola. A expressão utilizada por ela “tanto é que” introduz uma ideia de justificativa; é

possível parafrasear este trecho e compreender o implícito: ‘por causa de nossos resultados

estamos no programa’.

A palavra “necessidades” é polissêmica, sua definição está sempre vinculada ao

contexto histórico e social (carrega valores ideológicos, políticos, morais). Em se tratando de

necessidades formativas assinaladas por professores, Garcia (1992) apoia-se em Hewton

(1986) para apontar quatro tipos: as relativas aos alunos; as relativas ao currículo; as

necessidades dos próprios professores e as da instituição educadora como organização.

No contexto da fala de Adriana, o termo “necessidades” relaciona-se às necessidades

da instituição que, por sua vez, estão imbricadas ao programa MMR. Assim as demandas de

formação em ATPC, bem como “todos os projetos, tudo que acontece na escola está

correlacionado a esse programa”. Direcionar todo o foco do trabalho formativo para atender

apenas as necessidades da instituição/programa pode fazer com que o coordenador não

observe o que está em relevo, de modo a não se atentar às outras dimensões necessárias à

formação (SOUZA; PLACCO, 2016).

A formação significativa

Quando instada a relatar, com base na comanda seguinte, uma formação que tenha

realizado como coordenadora, da qual tenha considerado significativa, Adriana afirma:

Pra te falar de uma formação que a gente deu que eu gostei, porque acho o tema

importante, foi na qual eu trouxe uma pessoa pra falar das metodologias ativas.

Adriana está se referindo a um professor de uma universidade com quem a escola tem

uma parceria, segundo ela “já faz tempo que a gente começou essa parceria com essa

faculdade”. Quando utiliza o pronome ‘nós’ em sua forma ‘a gente’, Adriana se projeta no

discurso incluindo uma terceira pessoa (eu + ele)58. O termo ‘a gente’ representa Adriana + o

professor convidado. Apesar de se incluir na realização da formação “a gente deu”, seu

discurso evidencia papeis diferentes: a ela coube o papel de trazer “eu trouxe”, mas quem

falou “das metodologias ativas” foi ‘ele’, ou seja, foi o professor de fora que conduziu a

ATPC.

58 Para Benveniste (1995), o nós não é uma coleção de ‘eus’, mas uma junção entre o eu e o não-eu. Esse não-eu pode ser o

você ou o eles. Dessa forma, quando o nós inclui o interlocutor, temos o nós inclusivo (eu + você) e, quando o interlocutor

não é incluído, temos o nós exclusivo (eu + eles).

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Esse trecho também indica que o conteúdo da formação foi selecionado pela CP: “por

que acho o tema importante”. Não há indicação de que a temática do encontro tenha sido

pensada devido às necessidades formativas do grupo.

A ação de trazer alguém de fora parece ser recorrente na ATPC de Adriana, pois

menciona “vir alguém de fora é sempre bom”. De fato, a reunião de que participei como

observadora também foi conduzida por um professor da universidade parceira. Adriana

apresenta em sua entrevista o motivo de tê-lo convidado, explica que pediu ao grupo para

desenvolver projetos que incentivassem o protagonismo dos alunos do ensino médio.

Eles foram fazendo nos horários de ATPC. Daí eu li projetos que eles me entregaram.

Alguns estavam bem bacanas, outros nem tanto. Percebi que alguns professores

precisavam compreender melhor o que tem que ter num projeto. Por isso eu achei que

seria legal vir esse professor da São Judas. [...] Então eu expliquei pro grupo sobre os

motivos que achava importante ele vir. Os professores gostaram.

A CP identifica uma necessidade do grupo: “precisavam compreender” os elementos

que compõem um projeto didático. Esse diagnóstico surge a partir de suas leituras “eu li os

projetos”. A expressão “eles foram fazendo nos horários de ATPC” não indica a participação

da coordenadora no desenvolvimento da atividade. O diagnóstico se deu depois que “eles me

entregaram”. Numa perspectiva de formação interativo-reflexiva (NÓVOA, 2002), o

formador elabora e desenvolve as atividades formativas junto com o grupo, criando condições

para testar conhecimentos, problematizando e encontrando soluções junto com o grupo. Numa

perspectiva diferente, Adriana prefere trazer um convidado de fora.

No entanto, a vinda do professor universitário não foi algo imposto ao grupo, houve

uma consulta por parte da CP e uma aceitação por parte dos professores “eles gostaram”. O

movimento estabelecido entre CP + professores + Universidade assemelha-se ao que

Demailly (1992) classifica como modelo contratual. A formação foi negociada entre a CP e os

docentes, mediante uma relação contratual de parceria com a instituição de ensino superior.

Mas como foi conduzida essa formação? Ainda que meu objeto de investigação não

fosse a condução realizada por um convidado, não pude deixar de registrar algumas de suas

falas e reações do grupo. Na abertura de sua apresentação, o convidado explica seus objetivos:

“eu vim aqui pra falar sobre projetos”59

. De fato, foi o que fez, falou por todo o tempo, os

professores, por sua vez, permaneceram em silêncio, não houve interação.

59

O relato da observação desta ATPC encontra-se nos apêndices.

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Qual a concepção de formação de Adriana?

Adriana tem clareza do papel da ATPC “momento que a gente pode estudar, que a

gente pode discutir, é um momento de reavaliar” e que não é momento de “reunir-se pra

falar de aluno” nem momento de “recado”. Na ATPC que observei, ficou claro para mim

que ela tinha uma intencionalidade: ajudar os professores a compreender “qual deve ser a

estrutura de um projeto”. Em sua perspectiva, a temática da reunião surge a partir das

necessidades diagnosticadas no grupo “percebi que alguns professores precisavam

compreender melhor o que tem que ter num projeto”. Para atingir seu objetivo, planeja e

organiza um encontro cujo conteúdo foi ministrado por um professor de uma universidade. O

convidado inicia sua fala com um relato de uma experiência interessante, mas conclui

prescrevendo os itens que eles (professores da escola) devem incluir em seus projetos.

Para entender a concepção de formação de Adriana é importante fazer algumas

perguntas: Por que a CP traz alguém de fora para explicar sobre projetos sendo que

mencionou “alguns projetos estavam bons”. Por que não partir das experiências dos

professores da escola, valorizando seus conhecimentos e utilizando-os como elementos

disparadores?

A observação das marcas textuais nos recortes no relato de Adriana permitem inferir

que sua atuação se assemelha muito ao comportamento comum no modelo tradicional de

formação, na qual, um dos aspectos é a valorização do conhecimento da academia, pois nela

estão os “especialistas das matérias de estudo” (LISTON; ZEICHENER, 1993, p. 136).

Modelo cuja relação mestre - aprendiz é vista como o veículo próprio para a transmissão do

conhecimento cultural detido por professores da acadêmica.

Adriana considera importante que os professores conheçam a estrutura dos projetos

didáticos. Mas será que conhecer a estrutura de um projeto garante que eles entendam sua real

função? Como a CP compreende a aprendizagem do adulto professor? Um indício está na

resposta “então, pode ser que o professor não assimile tudo da formação, mas alguma coisa

vai ficando e enquanto alguma coisa vai ficando neles, acho que valeu a pena”. Acreditar

que o conhecimento do conteúdo é suficiente para professor ensinar; apresentar conhecimento

para aplicação, sem possibilitar a participação dos professores e não promover a reflexão é

outro aspecto comum na lógica do modelo tradicional. A esse respeito, Silva e Maia (2018, p.

67), baseando-se no conceito freireano de apreensão da realidade explicam:

Quando se acredita que o motor da aprendizagem é o esforço do sujeito para

dar sentido à informação que está disponível, tem-se uma situação bastante

diferente daquela em que o estudante teria de permanecer passivo para

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introjetar a informação que lhe é fornecida. Numa concepção de ensino que

se preocupa com a apreensão da realidade, o educando tem de apropriar da

informação de forma a analisá-la criticamente, compará-la com o mundo que

o cerca e utilizá-la como instrumento de transformação.

É provável que Adriana não tenha clareza teórico-conceitual dos fundamentos que

orientam sua ação. Em seu discurso manifesta a compreensão da importância de propiciar no

espaço da ATPC o estudo, a discussão e a reflexão, mas sua prática mostrou uma atitude

contrária. Sua fala, no desfecho da reunião “agora podemos voltar para nossos projetos e ver

o que precisamos arrumar” corrobora com esse ponto.

Como Adriana não conduziu o encontro, não foi possível observar que estratégias de

formação são utilizadas por ela. Pareceu-me, no entanto, que em sua perspectiva, convidar

palestrantes é uma estratégia de formação.

Seria necessário observar outras ATPCs para ter uma melhor visão das estratégias que

ela utiliza ou que não utiliza.

Tentativas frustradas

Como meu intuito era observar uma reunião conduzida por Adriana, combinei que eu

viria na semana seguinte para participar de seu ATPC. No entanto, mais uma vez não houve

formação. Nesse dia, a diretora abriu a reunião dizendo: “eu pedi pra Adriana deixar eu dar

apenas um recadinho pra vocês...” o recadinho que, de início, era sobre o recadastramento

docente se estendeu por quase trinta minutos; na sequência a diretora foi dando outras

informações: alunos que estavam chegando atrasado na escola ... alunos que foram

transferidos porque estavam ‘aprontando’... os pais que compareceram na reunião de sábado...

A coordenadora pouco falava. Os professores, por sua vez, falaram muito sobre alunos

indisciplinados, cobravam uma atitude da escola. No final do encontro Adriana pareceu

querer se justificar para mim “a diretora pouco vem na reunião, daí quando vem os

professores aproveitam”.

A atuação da diretora evidencia como ela encara o horário de ATPC. O fato de

Adriana pouco se manifestar durante essa reunião e ‘concordar’ em ceder seu horário de

formação para diretora remete a pensar na relação direção/coordenação e em como isso pode

afetar o trabalho do CP. Num estudo a esse respeito, Christov (2003, p. 66) conclui: “trata-se

obviamente de uma relação de poder com a direção ocupando o cargo que a coloca em

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posição privilegiada para exercer domínio sobre os demais profissionais da escola e para

atribuir funções e distribuir tarefas”.

Novamente combinamos que eu viria para assistir a reunião da semana seguinte. No

entanto, Adriana me encaminha uma mensagem informando que seria convocada para uma

reunião na DE e que a vice-diretora iria conduzir a ATPC.

Ao tentar agendar outro encontro, Adriana me explicou por telefone, que ela seria

convocada para comparecer a Diretoria de Ensino por mais algumas semanas, às segundas-

feiras (que era o dia de seu ATPC com o maior número de professores). Assim, não consegui

participar de outra reunião desta CP.

5.4.2 ATPC e entrevista da coordenadora Júlia

Júlia tem 36 anos é formada em artes cênicas e pós-graduada em teatro. Fez também

uma licenciatura em Fundamentos da Arte em Educação. Por cinco anos foi professora de

Artes para alunos do Fundamental e Médio e há um ano e meio é coordenadora pedagógica na

escola A.

A reunião marcante: a teia das relações

Júlia não tem dificuldade em lembrar o episódio mais marcante que participou como

professora em ATPC; o episódio resgatado por ela envolve uma dinâmica que seu CP realizou

com objetivo de mobilizar os professores a pensar as relações interpessoais no cotidiano da

escola.

A gente chegou pra reunião e se deparou com uma sala num formato diferente, pela

primeira vez não tava naquele formato da gente sentar e todo mundo ficar ouvindo ele

passar os recados, e dar textos pra gente ler. As paredes da sala estavam cheias de

pregos [...] daí ele pegou barbante e foi trançando nos pregos, era como se fosse uma

teia [...].

Júlia evoca em seu discurso um dos seus coordenadores que, segundo ela,

costumeiramente realizava a ATPC no mesmo formato: transmitindo recados e dando textos

para os professores lerem. A subversão dessa rotina “pela primeira vez não tava naquele

formato” surpreendeu Júlia. Mas o que mais a afetou não foi a dinâmica elaborada, e sim o

que sucedeu nela:

Daí a gente ia lendo essas frases, que falavam sobre trabalho em grupo, sobre a fofoca, a

importância da convivência, assim por diante. No final da teia, a gente tinha que falar

umas das frases e explicar, de acordo com a frase que a gente escolheu como aquilo se

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aplicava com nosso trabalho, com nosso cotidiano na escola. Foi uma coisa tão

diferente, porque todo mundo começou a falar.

A simbologia da teia provocando intersecções nodais parece possibilitar a Júlia lembrar

que as relações sociais se dão num tecido formado por uma multiplicidade de conexões ou por

uma pluralidade de vínculos. As frases escolhidas para essa dinâmica têm um tema em

comum: as relações. A escolha delas revela a intencionalidade por trás da ação: despertar o

grupo para a importância da convivência harmônica. Júlia justifica o que a afetou “porque

todo mundo começou a falar”. A experiência tem mostrado que pouco se valoriza a voz do

professor na escola (NÓVOA, 2014). Os discursos que mais circulam na ATPC são aqueles

concernentes aos alunos, disciplina, notas, resultados, aulas, materiais didáticos... mas pouco

se oportuniza o discurso de si, ou seja, o discurso em que o professor tenha oportunidade de

se narrar, falar de suas experiências, saberes, trajetórias, suas percepções sobre as relações na

escola, sobre como ele se vê como indivíduo e como se percebe no grupo. Talvez por isso

Júlia afirme: “Foi uma coisa tão diferente”.

Decorrente dessa estratégia que permitiu a livre expressão dos professores, Júlia

aponta as repercussões deste episódio para ela e para o grupo:

Na reunião seguinte, ele voltou a fazer o HTPC normal, como ele estava acostumado, só

que foi totalmente diferente depois desse dia, porque o clima entre nós mudou. [...] eu

percebi o quanto isso é importante [...] isso me marcou muito.

A “mudança” valorizada por Júlia não foi apenas o fato de o CP ter adotado uma

formação diferente, pois ela menciona (sem utilizar nenhuma expressão de desaprovação) que

na reunião seguinte, “ele voltou a fazer o HTPC normal”. A mudança mais valorizada,

portanto, foi a relação que se estabeleceu entre os docentes depois desse dia: “o clima entre

nós mudou”. Júlia conclui seu aprendizado: “eu percebi o quanto isso é importante”. A

percepção da CP encontra eco no que postula Placco sobre uma das dimensões que não pode

ser desconsiderada nos processos de formação: a dimensão humano-interacional que

considera “o corpo e o movimento – bem como a comunicação -, que são dimensões da

mutualidade da informação, da compreensão e afetos entre os sujeitos, da identidade e da

alteridade, em processo de troca contínua”. (SOUZA, PLACCO, 2016, p. 29). De fato, na

manifestação das pluralidades, as identidades e as diferenças se encontram e vão ampliando

novas formas relacionais.

Tem que fazer a pessoa ir para dentro. Entende?

Em outro episódio de seu relato, Júlia descreve uma formação que participou na

diretoria de ensino, agora no papel de CP. Ao longo desse trecho e em outros momentos de

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seu discurso utiliza a expressão “tudo pra fazer ir pra lá”. Eu pergunto: “Ir pra lá é o que?”.

Ao que ela responde:

A cabeça tá lá fora, o corpo tá lá fora, o professor muitas vezes não quer tá lá dentro, lá

na reunião. Tipo: “por que eu tô aqui dentro? Que saco, eu vou ouvir recados, eu vou

ouvir falar de coisas que são maçantes”. Então, às vezes a cabeça dele não tá lá, dá para

ver isso, dá para perceber pelo jeito deles.

Na fala de Júlia, o termo mente parece simbolizar sentidos e pensamentos; e corpo,

transmite uma ideia de movimento. Nesse par metafórico, mente e corpo - estão longe;

ilustrando fuga. O trecho denota que o professor participa da reunião de maneira contrariada,

por isso a ideia de fuga do ambiente. Novamente Júlia descreve o papel que cabe ao professor

na reunião: ouvir. E o que ele ouve? “recados” e “coisas maçantes”. A não oportunidade de

expressão e participação ocasiona o desinteresse e o descompromisso “não é possível um

compromisso autêntico se a realidade se apresenta como algo dado, estático e imutável. Se

este olha e percebe a realidade enclausurada em departamentos estanques” (FREIRE, 1983, p.

21).

Para tentar despertar no professor o interesse e o comprometimento em “ir pra lá”, ou

seja, participar da reunião, Júlia explica o que faz:

Às vezes eu uso de artifícios pra pessoa ir pra lá, do tipo: ou passar um vídeo,

uma música, ou eu dou para os professores mensagens, que eles abrem e aí tem

alguma atividade, alguma tarefa. Tudo para fazer a pessoa ir pra lá por inteiro,

entende?

Esse comentário revela indícios da concepção de Júlia: valoriza atividades e tarefas de

cunho lúdico que envolva corpo e mente; a pessoa por inteiro. No final desse trecho de seu

relato, ela justifica essa valorização: “motiva não só a mente, mas o corpo, os sentidos”. A

esse respeito, sua atuação dialoga com Wallon (2007), que em sua psicogenética considera a

importância de entender o indivíduo como uma pessoa completa, cujas dimensões motora,

afetiva e cognitiva estão de tal forma entrelaçadas que cada parte é constitutiva de outra.

O aprendizado que surge da narrativa da própria experiência

Júlia relata outro episódio marcante que vivenciou conduzindo a formação de seu

grupo. Ela explica que o grupo estava bem apreensivo devido a uma Resolução da SEE-SP

sobre a municipalização das escolas. “Então a gente resolveu usar a reunião para entender

essa Lei. Para entender como a gente ia ser afetado”. A utilização do pronome “a gente”,

nesse caso é ‘nós inclusivo’ (EU CP + eles professores). Júlia se inclui na decisão de ler e

entender o texto da Lei junto com os professores; a proposta de discutir a temática é algo que

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surge a partir da realidade social circundante do grupo, e não uma decisão imposta por ela.

Atividades formativas que “tomem como referência as dimensões coletivas contribuem para a

emancipação profissional e para a autonomia na produção de seus saberes e dos seus valores”

(NÓVOA, 1992 p. 27). Estimulados, os professores pedem para continuar a discussão na

próxima ATPC:

Aquilo rendeu tanto, que cinquenta minutos foi pouco. Eu tive que separar outras

resoluções e outros textos que estavam relacionados com esse assunto, porque os

professores pediram mais textos de apoio para continuar a discussão. Então pra reunião

seguinte eu trouxe reportagens e outros documentos que relatavam a história da

municipalização em São Paulo. Conhecer esses fatos históricos foi muito interessante,

tinha professor que tinha vivenciado essa experiência, daí eles começaram a contar suas

histórias.

Resoluções, Decretos e outros documentos que circulam na escola também podem ser

considerados como conteúdo de formação, pois trazem contribuição à profissionalização. Mas

como Júlia escolhe fazer a discussão? Ela dá voz aos professores “eles começaram a contar

suas histórias”; histórias que tinham vivenciado. Em sua fala é possível perceber seu

reconhecimento de que o professor é portador de uma história de vida e que, da mesma forma

que a formação profissional influencia a história de vida da pessoa, seu baú de experiências

interfere na construção do profissional (JOSSO, 2014).

O estímulo à expressão verbal do professor também foi notada na reunião de ATPC da

qual eu observei; nessa ocasião Júlia iniciou o encontro perguntando ao grupo: “como foi o

final de semana de vocês?” Ela se detém para ouvi-los. A atitude de Júlia perante os

professores revela bastante sobre como pensa a relação interpessoal no grupo. No seu relato e

na condução da ATPC, ela faz o que Placco (2003, p. 52) chama de “interlocução

participada”, isso implica ouvir o professor “dialogar com ele, olhar uns nos olhos do outro,

com atenção, cuidado, predisposição para o atendimento mútuo”.

Em sua entrevista, ao finalizar o episódio sobre a discussão da municipalização com o

grupo docente, afirma: “foi uma aula! Eu aprendi muito”. Percebe-se nesse comentário, a

importância que Júlia confere às histórias dos professores: suas histórias foram aulas. No

entanto, o aprendizado da CP não se limitou à ocasião da reunião.

Agora que eu tô falando eu tô pensando, a contribuição dos professores de História

nesse momento foi essencial, eu acho que nem eles se deram conta disso. E cada um deu

pitaco, olha que muito louco, não tinha pensado nisso, cada um deu pitaco que tinha

muito a ver com sua disciplina. Até porque eu falei muito a respeito da época da ditadura

e dos artistas. Obvio né?! Eu não poderia falar sobre outra coisa. Agora que eu estou me

tocando como vai, né? pra sua área. Eu não tinha percebido. [...] Que interessante

[contar], faz refletir, que coisa!

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O discurso de Júlia ilustra seu movimento de reflexão sobre uma experiência vivida,

acerca da qual ainda não havia pensado com mais profundidade. Depois de algum tempo,

relacionando essa experiência ao trabalho organizado e intencional percebeu novos contornos

ao vivido. “Agora que eu tô falando eu tô pensando”. Nesse movimento de pensar no

pensado, ela reinterpreta a situação e outorga um novo sentido ao que vivenciou: “Agora que

eu estou me tocando”.

Em seu exercício metacognitivo, Júlia se apercebe que, embora a temática fosse a

mesma para todos (municipalização do ensino), cada professor olhava para o assunto

interpelado por seus conhecimentos da área curricular: “cada um deu pitaco que tinha muito a

ver com sua disciplina”. Compreende ainda que, em sua própria interlocução resgata

experiências advindas de sua área de conhecimento “Até porque eu falei muito a respeito da

época da ditadura e dos artistas”. Conforme Imbernón (2011, p. 57), os conhecimentos

adquiridos na formação inicial, sobretudo das disciplinas básicas da licenciatura contribuem

para “construção de esquemas, imagens e metáforas sobre a educação [...] é ali que se geram

determinados hábitos que incidirão no exercício da profissão”.

A entrevista narrativa permitiu à Júlia organizar mentalmente os acontecimentos,

construir relações entre eles, atribuindo um significado novo à situação. Ela se apercebe desse

novo aprendizado e por fim, conclui: “Que interessante [contar], faz refletir, que coisa!”

Destaca-se assim o potencial (auto)formativo da entrevista narrativa.

O que fazemos quando narramos nossa história? Coletamos, ordenamos,

organizamos, vinculamos as situações e os acontecimentos de nossa

existência, damos a eles uma forma unificada e associada a uma vivência

proteiforme, heterogênea, incerta, inapreensível e, através dessa formatação,

interpretamos e outorgamos sentido ao que vivemos. [...] pela narrativa

organizamos os acontecimentos no tempo, construímos relações entre eles,

damos um lugar e um significado às situações e experiências que vivemos.

(DELORY-MOMBERGER, 2011, p. 341)

O caso da BNCC: o confronto cotidiano

Júlia quis relatar outro episódio que, segundo ela, marcou muito sua trajetória de CP.

Refere-se a uma instrução que recebeu da SEE, por meio da DE, para discutir com o grupo

docente a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O resultado dessa discussão

deveria culminar com o preenchimento de um documento sobre as impressões da escola

acerca da nova Base. Explica como foi a tarefa:

A tarefa que a gente recebeu da DE foi a seguinte: dividir os professores por área de

conhecimento e pedir para explicarem se as habilidades e competências da área estavam

claras ou não, além de dizer como estas habilidades e competências promoviam

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integração entre as disciplinas da área. Se eles achassem que não era pertinente, ou que

não estava claro, eles deveriam justificar.

Entretanto ao relatar a atividade, Júlia explica que os professores começaram a fazer

vários questionamentos sobre as alterações estruturais que a nova proposta traria, não somente

para o Currículo, sobretudo para o funcionamento da escola. Diante dos questionamentos,

Júlia afirma: “Eu também não sei ... eu não tinha respostas”. Em sua declaração, Júlia assume

sua incerteza, coloca-se na mesma posição do grupo “também não sei”; não se preocupa em

transmitir uma imagem de detentora do saber.

Júlia consegue perceber o que estava por trás das questões do grupo; consegue

enxergar o pensamento político dos professores: “preencher o documento, o que poderia

significar? Que a gente leu concordou e a escola está de acordo... então, goela abaixo.” O

confronto surgido fez com ela refletisse sobre algo que ela ainda não havia pensado ao

retransmitir a tarefa solicitada pela DE. A consciência crítica do grupo a contagia e faz com

que ela assuma os mesmos questionamentos “Era isso que a gente queria?” bem como uma

posição democrática: “Então não vamos tocar nessa documentação sem antes entender

nossas principais questões.”

Em relação ao confronto cotidiano, Placco (2003, p. 54) alerta que muitas vezes nós

educadores “pela própria natureza de nossa ação pedagógica julgamos inadequado o

confronto, ou o tememos, como agressivo ao outro”. No entanto, é importante compreender

que “o confronto com os outros, consigo mesmo e com a mudança tem também um papel

essencial na formação e no desempenho do educador, pois o convoca a repensar e

reposicionar sua consciência de sincronicidade” (idem, p. 53).

Talvez o fato de os professores perceberem que Júlia não assumiu uma atitude

autoritária diante do confronto, mas no mesmo patamar que eles, partilhando das mesmas

dúvidas, isso fez com que o grupo assumisse para si a incumbência de se informar e estudar

mais o assunto. “Então os professores propuseram se informar mais sobre isso. Daí na ATPC

seguinte, eles trouxeram bastante material que explicava as mudanças. Eu também trouxe

bastante material. Nós lemos muito”.

Como resultado de suas investigações, o grupo se sentiu seguro em posicionar-se

contrariamente à tarefa exigida pela SEE-SP.

E no fim, nós todos fomos contra o preenchimento do documento da Secretaria. Então

nós fizemos uma carta, explicando os motivos de a escola inteira ter se negando a

preencher a documentação da Secretaria sobre a BNCC. Todos assinaram a carta. A

diretora também se posicionou e ficou ao nosso favor.

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Provavelmente, os professores poderiam ter tomado três atitudes: omitir-se diante da

tarefa (o que faria com que a CP preenchesse sozinha o documento); cumprir a contragosto (e

de qualquer jeito); ou posicionar-se criticamente. Eles escolheram a terceira opção. Por quê?

Talvez por encontrarem na CP e na equipe gestora o apoio necessário para seu pensamento

crítico. A esse respeito Vasconcelos (2006, p. 26) afirma que o autoritarismo “provoca

subserviência, medo e ansiedade no grupo [...] ignora o aspecto formador do processo

educativo, transformando-o em simples adestramento/treinamento, claramente favorável à

manutenção da ordem estabelecida”. O comportamento de Júlia revela autoridade e não

autoritarismo.

Na conclusão do episódio, é possível notar os sentimentos, as aprendizagens e a

repercussão do incidente para Júlia e para seu entorno:

Esse episódio foi extremamente marcante, porque foi um posicionamento. Eu tenho 36

anos. Eu participei de algumas paralizações, passeatas. Mas essa questão do

posicionamento coletivo e de se colocar frente a decisões é novo para mim. Infelizmente

eu não sou de uma época em que os jovens foram lá e batalharam e protestaram contra

alguma forma política, como a ditadura, por exemplo. Eu não sou dessa época, na minha

época não aconteceu nada disso. Então, esses poucos posicionamentos são marcantes,

porque você se sente parte, né? Eu estou fazendo alguma coisa, eu posso, ainda que eu

seja um grãozinho. Então, esse tipo de acontecimento que ocorreu aqui na escola foi

importante.

O que foi mais marcante para ela nesse caso? O posicionamento politicamente crítico

do grupo. Ela planejou a ATPC para realizar a demanda solicitada, mas a reação dos

professores a pegou de surpresa. Tal atitude foi algo “novo” para ela. O disparador de sua

tomada de consciência foi decorrente do questionamento dos professores; algo que Júlia

provavelmente vai lembrar quando enfrentar situações similares, pois como afirma: entendi

que “eu posso”.

Assim, o conteúdo de sua reflexão assemelha-se ao discurso da racionalidade crítica,

no qual se estabelece, segundo Garcia (1992, p. 62), no nível das considerações éticas,

que passa pela análise ética ou política da própria prática, bem como das

suas repercussões contextuais; este nível de reflexão é imprescindível para o

desenvolvimento de uma consciência crítica nos professores sobre as suas

possibilidades de ação e as limitações de ordem social, cultural e ideológica

do sistema educativo.

Nota-se os sentimentos de empoderamento de um sujeito que se percebe “um

grãozinho” frente às pressões de diferentes instâncias políticas, mas que encontra na

coletividade o fortalecimento necessário para posicionar-se. As mudanças sociais estão

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visíveis nesse trecho; nele é possível perceber também as repercussões positivas do episódio

não apenas para ela, mas também para os professores e escola.

A reunião de Júlia: qual estratégia?

A reunião de ATPC que observei tinha duas horas-aula e aconteceu na sala dos

professores. O grupo era pequeno, tinha oito pessoas. A proposta do encontro, segundo Júlia,

era realizar uma das ações do MMR. Assim os professores, de cada disciplina,

individualmente teriam que identificar as habilidades em que os alunos haviam apresentado

dificuldades na AAP60 e pensar em atividades para ajudá-los a avançar. Júlia distribui cópias

de ‘planos de ensino’ aos professores e diz:

Hoje a gente vai preencher os planos de ensino seguindo as ações do MMR. [...] Peguem

a folha que eu dei. Tão vendo? Pra facilitar vocês podem preencher a partir desse

modelo, ou se quiserem podem usar outro.

Fiz a reprodução dos modelos de plano ao qual ela se refere. Era uma planilha que

deveria ser preenchida conforme os seguintes itens do Quadro 3:

Quadro 3 - modelo do plano de ensino de Júlia

Série Data Atividade Habilidade

Fonte: CP Júlia

Ao preencherem a coluna “habilidade”, os professores consultavam uma pasta que a

CP levou para sala. Nela estavam presentes todas as habilidades da última AAP com gráficos

60 Como os todos os coordenadores citaram a AAP é importante fazer uma nota explicativa. A AAP (Avaliação

de Aprendizagem em Processo) é uma prova elaborada de forma colaborativa entre a Coordenadoria de

Informação e Monitoramento (CIMA), a Coordenadoria de Gestão da Educação Básica (CGEB) e um grupo de

Professores Coordenadores dos Núcleos Pedagógicos (PCNP) de diferentes Diretorias de Ensino do Estado de

São Paulo. Eu fiz parte do grupo de PCNP que elaborou em 2012 a primeira versão da AAP. Na ocasião desta

edição piloto, dez. PCNP de LP e dez. de Mat. foram convocados por dois meses para elaborar a AAP. Nossa

tarefa era pensar numa avaliação que pudesse ajudar o professor de LP e matemática na avaliação diagnóstica de

seus alunos. A SEE contratou o prof. Dr. Nilson José Machado do IMEU/USP e a profa. Dra. Jacqueline Peixoto

Barbosa da Unicamp para nos ajudar. Não tínhamos muita certeza em como elaborar essa prova, em determinado

momento fomos nos dando conta de que era necessário utilizar descritores para cada questão. Utilizamos como

descritores as habilidades mais recorrentes nos currículos de LP e Mat. (São Paulo Faz Escola). A Rede aceitou

muito bem a prova e esta avaliação passou a fazer parte do calendário letivo das escolas; sendo aplicada no

Fund. II e Médio no primeiro e no terceiro bimestre. A AAP passou por readequações ao longo dos anos de

modo a dialogar com as principais avaliações externas pelas quais a rede pública de educação do Estado de São

Paulo participa, como o SARESP e o SAEB. A partir de 2016 foi elaborada pela CGEB uma Matriz de

Avaliação Processual (MAP) e partir da 11ª edição da AAP 80% das questões da Avaliação da Aprendizagem

em Processo foram formuladas com base nos conteúdos e habilidades constantes da referida Matriz. Outros 20%

contemplaram “habilidades da Matriz de Avaliação do SARESP, selecionadas conforme desempenho na

plataforma Foco Aprendizagem” (SÃO PAULO, 2016).

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por série. Os gráficos registravam as habilidades que os alunos mais haviam errado por sala e

por série.

Os professores preencheram a folha. Notei que alguns estão consultando o livro

didático e outros, os cadernos do professor (material que compõe o Currículo). Consultam

também a pasta que ela trouxe.

A construção do coletivo em um grupo perpassa pela implicação, pela parceria e pela

participação (FREIRE, 1992). Durante a observação da ATPC de Júlia, percebi que os

professores pareciam estar comprometidos com a atividade que ela propôs. No entanto, as

falas de dois professores “será que vão ler tudo isso?” e “esse MMR tá dando trabalho” me

fizeram pensar se aquela atividade fazia sentido para o grupo. Entendo que quando um

professor realiza uma atividade, mas não atribui sentido a ela, não encontra algo que seja seu,

não consegue avançar, avaliar, refletir sobre seu papel e o trabalho que vem desenvolvendo;

acaba por realizar um trabalho alienado.

Foi possível perceber que sua reunião tinha uma intencionalidade: fazer com que o

grupo preenchesse uma folha intitulada por ela como “plano de atividades do bimestre”; tal

intencionalidade estava relacionada a uma das atividades do programa MMR. O objetivo do

encontro foi atingido, pois todos preencheram a folha. Também houve preparação e um

planejamento de sua parte, pois elaborou as folhas de tarefa e selecionou materiais que os

professores poderiam consultar.

O que Júlia fez pode ser considerada uma estratégia formativa? Não na perspectiva de

Roldão (2010, p. 68), para quem a estratégia envolve “uma ação, ou conjunto de ações tendo

em vista a consecução das finalidades de aprendizagens visadas”, ou seja, a estratégia

formativa tem por finalidade a aprendizagem. Será que o preenchimento de folhas cria

condição para aprendizagem? Enquanto realizavam a tarefa, todos conversaram bastante,

entre si e com Júlia, havia um clima descontraído na sala. Mas não houve mediação formativa

da CP com vistas a promover reflexão e aprendizagem do grupo docente.

Indícios da concepção de formação da CP Júlia

Em seu relato, Júlia explicita o que entende por ATPC: “não é um momento de recado,

é um momento de formação, de discutir conhecimentos. É um momento que se para pra isso,

pra estudar”. Se para ela a ATPC envolve formação e estudo, por que Júlia conduziu a

reunião dessa forma? Será essa a maneira que ela entende a formação? Esse ponto não ficou

claro para mim.

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Em sua entrevista, nos três episódios que mencionou sobre formação significativa,

desde sua perspectiva, os conteúdos dos encontros foram Leis e Resoluções. Será esse o

conteúdo de estudo que mais valoriza como conhecimento? Eu precisaria assistir ao menos

mais duas ATPC dela para tentar entender. Contudo, isso não foi possível, pois tal como

ocorreu com a outra CP de sua escola, Júlia estava sendo convocada para reuniões na

Diretoria de Ensino nos dias de sua ATPC.

Ainda assim, seu relato revela indícios de seus desejos e preocupações “fazer um bom

trabalho” e para isso “A gente fica numa busca incessante sobre o que e como trabalhar a

formação. Haja caloria pra gastar”. O efeito da expressão “busca incessante” associada a

figura de linguagem sinestésica “haja caloria pra gastar” cria uma imagem do esforço

intenso mobilizado pela CP. Além disso, o trecho “A gente precisa de formação [...] pra

poder multiplicar” revela ainda a consciência sobre as fragilidades de sua autoformação. Tal

esforço poderia ser redimensionado por incluir os professores no processo, como sugere

Souza (2003, p. 108) “como me mobilizar para discutir com os professores determinado texto,

para refletir sobre nossas práticas na sala de aula e na escola?” (grifos da autora). Uma vez

que a formação em ATPC não depende, exclusivamente, do coordenador, mas de todos os

professores que estão inseridos e envolvidos com a escola.

O relato e a observação da ATPC de Júlia permitem fazer algumas inferências sobre

suas teorias implícitas envolvendo a formação docente. O perfil do coordenador traduzido

pelas expressões “foi importante porque todo mundo começou a falar”; “motiva não só a

mente, mas o corpo, os sentidos”; “a pessoa ... por inteiro” harmonizam-se bem com o

paradigma personalista de Zeichner (1983).

Sua atuação também revela princípios da racionalidade crítica reconhecendo e

questionando a natureza de seu trabalho, compreendendo o caráter político da Educação e

enxergando a importância da função do CP para transformação social. Mas sua atuação

também transita nos princípios da racionalidade técnica, quando propõe soluções

instrumentais para o grupo mediante ao preenchimento de uma “folha tarefa”; dissociando da

atividade o componente reflexivo (ANDRÉ, 2012).

5.4.3 A Escola B e a coordenadora Eliane

A escola B está situada na zona Norte de São Paulo e atende 1007 alunos. O espaço

físico da escola é pequeno, só há um bloco com dez salas de aulas. No período da manhã e

tarde funciona o fundamental II e Médio e no período da noite funcionam cinco salas de EJA.

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Além disso, a escola ainda atende nove salas do sistema prisional61 feminino. Pela quantidade

de salas em funcionamento, 34 no total, a escola pode contar com dois coordenadores; no

entanto só há uma coordenadora na escola.

A coordenadora Eliane

Eliane aparenta ter aproximadamente de 35 anos, é licenciada em História e tem uma

pós-graduação em gestão escolar. Atua como coordenadora por aproximadamente quatro anos

e há dois anos e meio é CP na escola B. Por treze anos foi professora do Fundamental II e

Ensino Médio. Sua entrevista ocorreu logo depois da última ATPC que observei.

Conversamos bastante antes de sua entrevista, em um determinado momento, Eliane me conta

sobre sua rotina. Gravei essa conversa e transcrevi parte dela. Decidi colocar aqui um trecho,

ainda que não fizesse parte da entrevista original, pois, por meio da sensibilidade de seu

discurso, consegue-se caracterizar melhor a escola B, além de compreender a coordenadora e

suas condições de trabalho.

Minha escola é pequena, mas todas as salas estão ocupadas, nos três turnos e com os

três segmentos: fundamental II, médio, EJA; e ainda tem o prisional que é EJA, mas é

outro sistema. Para dar conta de tudo é bem difícil e ainda tem a papelada burocrática, o

sistema prisional é uma pedra no meu sapato. Eu tenho que responder por muita coisa.

São salas de aula só para mulheres. Temos quatro salas lá. Elas querem muito

frequentar as aulas. Acho que por vários motivos, dentre eles é porque têm redução de

pena. Mas pra isso, elas não podem ter faltas e tem que ter boas notas. Então eu tenho

que acompanhar minuciosamente os diários de todos os professores que dão aula lá.

Preencher vários relatórios; o registro de informações sobre as presas é bem

burocrático. Alguns desses relatórios vão para DE, outros vão para o SAP e outros ficam

aqui na escola. É muita coisa, mas eu não posso deixar de fazer e nem posso errar,

porque é de vida de pessoas que estamos falando.

Eu não aprendi com coordenadores, mas sim com meus colegas professores

Instada a narrar, com base na comanda 1, um episódio que a tenha afetado como

professora participando da ATPC, Eliane hesita bastante. Explica que teve vários

coordenadores, mas não tem lembranças de reuniões formativas. Ressalta que nas reuniões de

61

De acordo com informações disponíveis no site da SEE/SP a rede estadual mantém 615 salas de aula para

atender jovens e adultos em situação de privação de liberdade. As salas de aula do Sistema Prisional do Estado

de São Paulo são administradas pela SEE/SP em parceria com a Secretaria da Administração Penitenciária –

SAP. A SEE designa algumas escolas (geralmente as mais próximas da penitenciária) para dar todo o suporte

administrativo e pedagógico. A modalidade de ensino ofertada é a EJA. Os professores que trabalham neste

sistema são da rede pública estadual e devem realizar a ATPC na escola vinculadora, como é o caso da escola B.

Mais informações estão na Resolução Conjunta SE-SAP-2, de 30-12-2016 disponível em

http://www.educacao.sp.gov.br/lise/sislegis/detresol.asp?strAto=20161230002

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que participou se falava muito de alunos “sobretudo de indisciplina”. Sua fonte de

aprendizagem na ATPC foi outra, conforme relata:

Alguns comentários de colegas durante a reunião me faziam refletir em como eu estava

trabalhando. Então, a troca de experiências, quando eu escutava os professores

contando um pro outro, o que estavam fazendo em sala de aula, isso sim rendia. Essas

conversas informais, e até mesmo banais, foram fonte de aprendizado para mim. Às vezes

um professor dizia: “ah, o fulaninho tá difícil, parece que ele não entende o que eu falo

... daí vinha o outro e dizia eu tô trabalhando assim assim na sala com ele e tá dando

certo” [...] Então sabe essas dicas, me ajudavam muito.

A expressão “troca de experiências” está qualificada em seu discurso, refere-se às

experiências didático-metodológicas. Ainda que as “dicas” não tenham sido dadas

exclusivamente para ela, pois menciona que “escutava um falando para o outro”, Eliane

reconhece o potencial “dessas conversas banais”, prestando atenção a elas. Esse trecho evoca

a imagem do professor iniciante, carente de apoio de profissionais mais experientes.

Até que um professor lhe dá atenção individual “ele me explicava”. Suas explicações,

descritas em detalhes por Eliane, também giram em torno de procedimentos didático-

metodológicos “ele trazia uma notícia... discutia... fazia assim...”. Foi esse professor que

ganhou maior contorno em suas memórias. A respeito dele, diz:

Teve um colega que foi especial, foi um espelho no meu começo de profissão. Era um

professor de geografia, que os alunos respeitavam muito. Nessa época a gente

trabalhava com EJA, eram adultos. Eu percebi que os alunos o respeitavam pelo que

fazia, pelo que demonstrava de conhecimento; ele sempre ia muito bem preparado pra

aula e dava aquelas aulas maravilhosas. Então eu comecei a me espelhar muito nisso.

Eliane utiliza a metáfora do espelho ao se referir ao professor marcante, nesse contexto,

o emprego de tal metáfora aproxima-se da interpretação de Lacan (1998, p. 96), para quem o

simbolismo do espelho representa identificação; e o reflexo, “a transformação produzida no

sujeito quando ele assume uma imagem”. Eliane percebe que “as aulas maravilhosas” desse

professor eram fruto de seu conhecimento (do conteúdo) e preparação, e a consequência disso

era o respeito dos alunos. Ela se identifica com essa imagem de bom professor, assume para si

o mesmo comportamento: “Eu comecei a usar isso em História” e transformar sua prática a

ponto de obter o reconhecimento dos alunos e legitimação da direção da escola.

As situações de aprendizagem, nos espaços das escolas, podem ocorrer

independentemente do coordenador. O grupo docente também pode ser uma fonte de

aprendizado. Para isso, “é fundamental que os professores sejam apoiados por seus colegas”

(IMBERNÓN, 2010, p. 32). O auxílio dos colegas de trabalho é importante para que o

professor desenvolva os saberes experienciais (TARDIF, 2002), ainda mais em se tratando de

um professor iniciante que está adentrando em um novo contexto de trabalho.

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Fui encontrando os caminhos ...

Finalizando o episódio em que comenta seu aprendizado com colegas professores

durante a ATPC, Eliane diz “hoje eu entendo”. A utilização do advérbio ‘hoje’ cria um efeito

de demarcação temporal; assim ela parece fazer um exercício valorativo de sua memória,

atribuindo ao ‘hoje’ um novo sentido ao vivido:

Ás vezes a gente espera isso que o coordenador nos dê as rédeas, mas não existe, não tem

como, hoje eu consigo entender, mas eu esperava isso e não tive, porque não tem mesmo,

enquanto professora eu esperava que o coordenador me desse a diretriz [...] Isso não

existe, a gente que encontra nosso caminho, né?

Em outro trecho, novamente ela faz uso do advérbio temporal na expressão “hoje eu

consigo entender”. Seu pensamento anterior coloca o coordenador no papel de alguém que

tem o controle das situações, “que dê as rédeas”. Sua trajetória profissional fez com que ela

compreendesse que a identidade docente é um processo, uma construção que envolve a

dimensão pessoal e profissional. Nessa trajetória, o papel do ‘outro’ (como de seu colega, o

professor de Geografia), o contexto temporal-espacial (as escolas nas quais trabalhou), suas

vivências educativas (dentro e fora da escola) contribuíram para ela “encontrar seus

caminhos”. A esse respeito, é possível estabelecer um diálogo com o que afirma Nóvoa:

Quem forma o formador? O formador forma a si próprio através de uma

reflexão sobre os seus percursos pessoais e profissionais (auto-formação); o

formador forma-se na relação com os outros, numa aprendizagem conjunta

que faz apelo à consciência, aos sentimentos e às emoções (hetero-

formação); o formador forma-se através das coisas (dos saberes, das

técnicas, das culturas, das artes, das tecnologias) e da sua compreensão

crítica (eco-formação) (NÓVOA, 2004, p. 16).

Formação para compreender a ‘plataforma foco aprendizagem’: a vivência

ganhou status de experiência

Em relação a comanda dois da entrevista em que se solicitava a Eliane narrar um

episódio significativo vivenciado, agora no papel de coordenadora, ela relata que muitas

reuniões de formação não partem das necessidades dos professores, mas de demandas da

SEE-SP: “às vezes a gente é obrigada a trabalhar”. Uma dessas demandas, na qual se viu

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obrigada a cumprir foi “a plataforma foco aprendizagem62

”. Nessas ocasiões o tema, segundo

ela, deve ser tratado com maior cuidado, pois:

Quando a gente vem falar [pros professores] de mais uma imposição da Secretaria [...]

vai ter uma visão negativa de imediato “ah porque é mais uma coisa que eu vou ter que

fazer, porque é mais trabalho”. E eu não queria que eles vissem dessa forma.

Parafraseando as outras vozes que permeiam seu discurso, Eliane reforça e repete o

sentido que vem sendo construído em seu relato: de que a obrigatoriedade em trabalhar

determinados conteúdos ou temáticas muitas vezes gera insatisfação tanto nela quanto no

grupo.

No caso do tema que deveria tratar em ATPC: “a plataforma foco aprendizagem”

Eliane explica que quem alimenta as informações na plataforma são os professores. Talvez

essa fosse a preocupação da CP, porque de fato seria “mais trabalho” para o professor. Mas

por que afirma: “eu não queria que eles vissem dessa forma”? Nesse trecho também está o

‘não dito’; na tentativa de atribuir significados a esse silenciamento resgato minha experiência

pessoal na coordenação: muitas vezes não há como se desvencilhar de cumprir exigências

externas. Ainda que a escola esteja fervilhando de problemas internos, ou que o CP esteja no

meio de uma sequência formativa em ATPC cuja proposta seja contemplar as demandas do

grupo docente; há que se parar tudo e cumprir com as solicitações feitas pelas diferentes

instâncias: DE, supervisão de ensino, órgãos centrais etc. Faz parte do contrato do CP

responder por essas exigências (o que não significa que ele tenha de ser apenas um cumpridor

de tarefas externas). Muitas vezes, eu e meus colegas coordenadores buscávamos dar sentidos

para aquilo que éramos obrigados a cumprir. Nessa busca, às vezes uma tarefa que

aparentemente é apenas burocrática pode ser ressignificada e tratada do ponto de vista

pedagógico.

É o que parece fazer Eliane: “tive que estudar pra entender, porque no começo

parecia só mais uma planilha para preencher”. Em seus estudos descobre outras nuances que

a fazem perceber sentidos para realização da tarefa “daí eu esquematizei [na plataforma] os

dados da escola e ficou muito fácil de visualizar e isso me agradou de cara, porque eu

consigo ver o aluno ali”. A expressão metonímica “ver o aluno ali” significa ver nos

62 É uma plataforma criada pela SEE para que os professores e gestores tenham acesso aos resultados do Saresp,

Idesp e AAP. Os resultados da AAP são visualizados por meio de gráficos e tabelas que indicam as

potencialidades e as fragilidades nas habilidades das matrizes de avaliação; permitindo ter um diagnóstico de

cada aluno, sala, série e escola. Mas para isso, a plataforma precisa ser alimentada, ou seja, é necessária a

digitação dos resultados da AAP no ambiente. Mais informações em:

http://homologa.escoladeformacao.sp.gov.br/portais/Portals/84/docs/Tutorial_Foco_Aprendizagem.pdf

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resultados das avaliações AAP o desempenho do aluno, em que medida está o progresso de

sua aprendizagem, ao longo dos bimestres.

Como um dos trabalhos a ser realizado pelo CP é o acompanhamento dos resultados

das avaliações internas, a “esquematização” ou preenchimento dos dados na plataforma,

segundo ela, facilita acompanhar o desempenho do aluno. Por fim, os sentidos atribuídos por

Eliane à tarefa (preenchimento dos dados na plataforma foco aprendizagem) fazem com que

ela trabalhe a temática em ATPC desde sua perspectiva.

Eu queria que vissem como uma ferramenta de apoio, como algo que ia nos ajudar,

porque sistematizou uma coisa que pra gente é tão comum na sala de aula, mas difícil de

visualizar, então olha: “tal turma tem dificuldade nisso e nisso, então é por aqui que a

gente vai começar”.

Transfere sua percepção e desejos (verbo querer) para o professor. A utilização do

discurso indireto livre, introduzido pela expressão “então olha” cria o efeito de um monólogo

interno, permitindo acessar seus sentimentos e pensamentos. Seu desejo parece ser que eles

“olhem” ou percebam os aspectos pedagógicos da tarefa.

Nesse trecho de sua narrativa há uma longa sequência descritiva que permite entender

como ela trata o assunto na reunião. Intercalando-se a descrição, estão trechos que conduzem

o leitor à intencionalidade de sua formação, por exemplo: “o mais importante era entender

essas habilidades63

, o que representava cada uma em termos de aprendizagem”.

A esse respeito, Gatti (1987, p. 39) explica que a discussão de resultados de testes e

avaliações pode ter um caráter pedagógico desde que se agregue a ela uma interpretação

crítica que “passa não só pelo conhecimento e domínio de técnicas de medidas educacionais e

modelos, como pelo conhecimento dos conteúdos envolvidos, da realidade a que se reportam,

dos pressupostos educacionais em que se baseiam e dos objetivos de ensino privilegiados”.

Eliane descreve também o percurso da formação nas diferentes etapas, desde a

organização do espaço, até algumas atividades realizadas “levei o grupo pra sala de

informática pra gente fazer junto, eu não queria só ficar expondo, queria fazer o passo a

passo junto com eles”. A preocupação em não querer só expor, de se incluir na realização da

tarefa (fazer junto), de realizar as tarefas paulatinamente (passo a passo) cria um efeito de

imbricação efetiva entre o ‘aprender’ e o ‘fazer’.

Seu relato do episódio sobre a formação para compreender a ‘plataforma foco

aprendizagem’ apresenta diferentes níveis de avaliação, na qual consegue:

63

Habilidades, nesse contexto, refere-se aos descritores da Matriz de Referência da AAP e do Currículo.

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a) Avaliar os professores no momento da formação - “eu fui descobrindo coisas que eles

conheciam e que não conheciam: ‘ah Eliane, então é isso? Habilidade é isso?’”;

b) Avaliar as repercussões de sua atuação formativa para o grupo - “antes eu entregava

tudo pra eles na mão ‘olha tá aqui, seu aluno está com essa e essa dificuldade’ daí

eles olhavam aquilo e nem davam bola, porque não fazia sentido pra eles. Depois

desse dia eu não faço mais isso, eu não preciso mais fazer.”; “vejo que eles sabem o

que fazer a partir dos resultados, que não adianta ficar avançando com a matéria se o

aluno ainda não aprendeu”.

c) Avaliar como o professor individualmente se apropriou da temática em situação de

trabalho – “tem professor de história que está fazendo trabalho interdisciplinar com

professor de português para contemplar as habilidades do currículo, então eles já se

articulam entre si, refletem juntos, buscam formas de como ajudar o aluno”;

d) Avaliar a reunião em função dos seus objetivos - “eu consegui passar isso pros

professores, eles entenderam que a plataforma ajuda a mapear as necessidades do

aluno”; “entenderam como usá-la”; “claro que não atingi cem por cento do grupo,

mas a maioria sim”.

Consegue também identificar os sentimentos que vivenciou relacionado com essa

ATPC: “acho que meu sentimento maior naquele momento foi o de segurança ‘estou pronta

pra falar disso’, e sem medo de ter algo negativo vindo dos professores”. Novamente ela

parafraseia seu monólogo interno ocorrido durante a preparação da reunião. De fato, percebe-

se nesse episódio e em outros trechos de sua narrativa a evolução de um diálogo interior

consigo mesma sob a forma de um percurso de conhecimento e das transformações da sua

relação com este. Esse recorte adquire um sentido maior quando ligado ao todo desse

episódio, pois em vários momentos ela utiliza expressões como: “estudei muito”, “me

preparei bastante”, “fui entendendo que” etc.

Na tentativa de explicar para mim, sua interlocutora, o que passou em sua ATPC,

Eliane faz um movimento de voltar-se para si, fazendo-se interprete dela mesma; o que

oportuniza a seguinte reflexão: “Sabe [pausa] agora eu tô pensando aqui uma coisa, a minha

segurança veio disso né? Da minha preparação [risos]”.

A compreensão da origem de seu sentimento de segurança revela-se por meio de sua

aprendizagem. Nesse sentido, pode-se considerar que Eliane teve uma experiência formadora,

pois segundo Josso (2004, p. 48), “as vivências atingem o status de experiência a partir do

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momento que fazemos um certo trabalho reflexivo sobre o que passou e sobre o que foi

observado, percebido e sentido.”

A reunião de ATPC nos entrelaçamentos de uma pesquisa

Uma das reuniões de ATPC que participei como observadora foi destinada a

apresentar os resultados de uma pesquisa de doutorado intitulada “Educação mediada pelas

referências musicais dos alunos”, cujos sujeitos foram os alunos da escola B. A reunião desse

dia ficou a cargo do pesquisador. Ele não se limitou a apresentar os dados quantitativos; fez

várias atividades utilizando imagens, músicas e clipes para envolver os professores no

assunto, em determinado momento propiciou uma reflexão baseada em conceitos freireano.

Os professores interagiram bastante.

Ao final da fala do pesquisador, Eliane pergunta ao grupo: “vocês gostaram de saber

disso? O que vocês acham que tudo isso tem a ver com a gente?”.

As perguntas formuladas contêm sugestivas informações: convocam os professores a

pensar no conteúdo apresentado, mas não apenas no papel de ouvintes passivos, e sim como

sujeitos capazes de pensar no próprio contexto e verificar a pertinência de transformar a

informação em um objeto de ensino. Mediante isso, um dos professores respondeu: “muita

coisa pra mim foi novidade ... a gente está cada vez mais distante do universo dos alunos, a

gente fala tanto em conhecimentos prévios, mas a gente não conhece eles...”. Outras respostas

foram dadas na mesma direção.

Por alguns minutos os professores se concentraram em expor suas opiniões com base

nestas perguntas direcionadas por Eliane. Ela, por sua vez, falou muito pouco. Vez por outra

um professor fazia uma indagação mais provocativa: “essa geração quer fazer tudo ao mesmo

tempo, escutar música e estudar, como é isso?”. Mas ela permanecia calada e esperava que o

próprio grupo respondesse.

Eles interagiram bastante entre si, mas aos poucos a discussão começou a pender para

falar de indisciplina. A coordenadora intervém e diz: “ok, esses são os alunos que a gente tem.

Vocês acham que a gente pode aproveitar isso que foi trazido pra fazer algum trabalho com

eles?".

A intervenção parece ter dupla função. A primeira sentença cria um efeito de

concordância e empatia. Na segunda, por meio de outra pergunta, ela resgata a atenção do

grupo e os direciona para uma nova discussão que pretende estabelecer. Dessa vez a interação

maior foi do pesquisador, ele fez comentários e observações pontuais. No momento da

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observação, eu fiz um registro nas minhas anotações “mas por que não é ela quem faz essas

intervenções?”. Recordo que, naquele momento, tive a impressão de que quem estava

conduzindo a reunião não era ela, e sim o pesquisador. Entretanto, no momento da escrita da

análise, olhando com mais atenção para os dados, tenho uma interpretação diferente: o grupo

estava interagindo positivamente aos comentários do pesquisador. De fato, as colocações

estavam fazendo com que os professores refletissem. Talvez, Eliane tenha se dado conta disso

naquele momento:

Um professor responde: “acho que dá pra fazer uma discussão legal, mas primeiro a

gente precisa conhecer essas letras”. A coordenadora então afirma: “concordo com você

professor” e voltando-se para o pesquisador “você pode voltar aqui outro dia pra ajudar

a gente com isso?”.

Percebendo a mobilização dos professores, Eliane resolve continuar o assunto em

outra reunião, solicitando ao pesquisador que retorne para pensar junto com o grupo algumas

propostas. Pareceu-me que, para o próximo encontro, seu objetivo seria avançar na discussão

e planejar ações didáticas para se trabalhar com as canções que fazem parte do repertório dos

alunos.

Pareceu-me que a produção do conhecimento do pesquisador não foi assimilada pela

CP como um instrumento para encontrar respostas prontas, pois a interação iniciada por ela

suscitou muitas outras indagações. Outro ponto importante da sua condução foi deixar o

grupo muito à vontade para falar de suas próprias crenças, criando condições para que eles se

envolvessem afetiva e criativamente na atividade (PÉRES GÓMEZ, 1992). Nesse sentido, seu

discurso e sua ação parecem se apoiar nos princípios do modelo interativo-reflexivo, cuja

competência estimulada é a resolução de problemas ligados à situação de trabalho, com a

ajuda mútua entre os professores (DEMAILLY, 1992).

No entanto, será que a problemática levantada pelo pesquisador em seus achados de

pesquisa, eram problemas reais da escola? Eram demandas do grupo docente? Não se

questiona a relevância da proposta de prosseguir a discussão trazida pelo pesquisador e

elaborar ações didáticas para trabalhar com essa temática junto aos alunos, mas será que a

continuação da discussão visava abranger o que André (2016, p. 32) chama de “projeto

institucional de formação”, cujas etapas contemplem as metas planejadas pela CP?

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A ATPC com os professores do sistema prisional e suas condições de trabalho

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

Carlos Drummond de Andrade

Impossível não recordar dos versos de Drummond ao ler algumas declarações de

Eliane ao se referir ao sistema prisional.

Para dar conta de tudo é bem difícil e ainda tem a papelada burocrática, o sistema

prisional é uma pedra no meu sapato. Eu tenho que responder por muita coisa.

A figura de linguagem utilizada por ela dimensiona os obstáculos inseridos em sua

rotina. Ao descrever suas atividades cotidianas percebe-se, tanto nesse recorte, quanto em

todo o seu relato, o pouco tempo que acaba sendo dedicado à formação docente em ATPC.

A segunda reunião que observei, em 30 de agosto, tinha por público seis professores

do sistema prisional. Neste dia, por exemplo, o encontro estava sendo realizado em paralelo

ao grupo docente que estava reunido em outra sala, ou seja, Eliane devia estar em dois locais

ao mesmo tempo.

Representando-se por meio da expressão “eu sinto como se estivesse sendo atropelada

com tanta demanda”, Eliane se encontra em uma posição em que se vê obrigada a lidar com

diversas pressões exercidas por diferentes órgãos da SEE. As questões administrativas e

burocráticas parecem subjugar as pedagógicas. As condições existentes no meio em que ela

está inserida acabam por impedir que ela realize plenamente seu trabalho de formadora, como

afirma: “não consigo atender os professores em suas necessidades”, o que gera insatisfação

nela “eu fico frustrada”, pois se vê impossibilitada de realizar aquilo que acredita ser capaz.

As condições de trabalho, sem dúvida, interferem no desempenho do coordenador e na

condução da formação. É o que constataram Placco, Souza e Almeida (2015, p. 14) em seu

estudo com coordenadores pedagógicos: “o acompanhamento do planejamento, sua execução

e avaliação – tarefas potencialmente formativas – são postergadas ou anuladas e outras

funções, predominantemente relacionadas às relações interpessoais ou administrativas, são

priorizadas”.

A constatação das autoras também foi percebida por mim. A maior parte da reunião de

Eliane com esse grupo foi para tratar de assuntos administrativos: das listas de frequência das

alunas, transferências, matrículas, etc.

Paradoxalmente afirma: “a burocracia não me incomoda, é muita, mas já me

acostumei”. O que faz com que ela afirme isso? Uma possibilidade de entendimento está na

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continuação de sua declaração: “eu me atolo em serviço porque não sei dizer não pra eles

[professores]”. Em seu estudo sobre as representações dos coordenadores em contexto de

trabalho, as autoras Placco, Almeida e Souza (2015), apoiando-se no conceito de atribuição e

pertença de Dubar (1997)64 explicam que é no exercício da atividade profissional, na interação

com seus pares, que o coordenador se identifica ou não com os diversos papeis que vivencia.

Essas diferentes situações permitem que ele aceite ou não a imagem, as funções, os papeis

sobre o que é ser coordenador, existentes no meio ao qual pertence e no qual está integrado.

Talvez o grupo atribua a Eliane o papel de ‘faz tudo’, ela parece assumi-lo, na medida em que

afirma que se atola “para não dizer não para eles”.

Em sua reunião com os professores do prisional, algumas perguntas feitas por ela

“como está o concurso de redação?”; “até que data é para entregar as redações?”; “vocês

podem trazer algumas aqui pra gente ler na semana que vem?” para o grupo, não geraram

reflexão nem ação, só justificativas.

O pensamento de que em ATPC também se aprende com os colegas professores, e não

exclusivamente por meio de ações formativas realizadas pelo CP, parece ainda acompanhar a

prática de Eliane. Em determinado momento de sua condução ela diz a um professor “Igor

você pode explicar pra professora (de matemática) aquela sequência didática que você

trabalhou usando o material dourado?”. O professor concorda e convida sua colega: “Eu tô

com ela aberta aqui na tela (do computador), quer vim ver? É o que tá no EMAI ...”.

Saí de lá com a sensação de que Eliane não havia se preparado para o encontro. Mas a

CP parece estar consciente do que é preciso aperfeiçoar, pois reconhece “o prisional fica

sempre à margem”.

As teorias implícitas na ação e no discurso de Eliane

Eliane valoriza a “troca de experiências” entre os professores, entendendo que o papel

do CP na ATPC não é o detentor do saber, mas que tem uma função mediadora, no sentido de

revelar/desvelar os significados das propostas curriculares, para que os professores elaborem

seus próprios sentidos. Compreende a importância da mediação, mas entende que são os

professores que vão encontrar “os caminhos”; por isso, nas reuniões que relatou e nas que

64

Placco e Souza (2010) explicam que para Dubar, a identidade se revela e se constitui a partir da relação

dialética entre os atos de atribuição e pertença. Os primeiros se referem à identidade para o outro – o que é

atribuído ao sujeito pelos outros, definindo-o e estabelecendo seu papel no grupo. Já os atos de pertença referem-

se à identidade para si. Nesse jogo, há um movimento de adesão ou de incorporação daquilo que é atribuído

pelos outros.

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observei, não há indícios de que sua condução seja expositiva. Ela se preocupa em

sistematizar os resultados das avaliações, mas com objetivo de “ver o aluno”, seu

aprendizado. É consciente de que muito que se faz em ATPC é para cumprir demandas

externas, mas busca dar inteligibilidade a essas situações “dar sentido” a elas, imprimindo-

lhes um caráter pedagógico.

Em seu discurso, ficou claro que ela valoriza a preparação, pois compreende que isso

lhe proporciona um sentimento de segurança ao conduzir o encontro. Também na ATPC

evocada em sua narrativa, notam-se indícios de um roteiro formativo, com objetivos,

conteúdos, recursos, dando ênfase para avaliação do processo. As etapas mencionadas por ela,

para essa reunião que ficou impressa em suas memórias, dão evidências de uma preocupação

em “fazer junto com eles” e não uma ação transmissiva de conteúdos sem abrir espaço para

reflexão.

No entanto, nas reuniões que observei não pude perceber esses elementos. No episódio

da ATPC que contou com a participação do formador, pareceu-me que os objetivos foram se

formando ao longo do encontro. Na ATPC com os professores do sistema prisional, não ficou

claro o objetivo do encontro. Parece que o momento foi aproveitado para discutir as listas e

frequência das alunas.

Quais foram as estratégias formativas utilizadas por ela? Não consegui identificar.

Souza (2010, p. 29) explica: “uma vez definido ‘o que’ trabalhar nas reuniões de formação

contínua, é o momento de estabelecer ‘como’ – a forma que irá favorecer o desenvolvimento

dos objetivos propostos.” Em não ocorrendo a primeira etapa, fica difícil apreender o ‘como’,

ou seja, as estratégias.

Em sua entrevista, Eliane assim define o termo estratégia: “é a metodologia, é a forma

como trabalhar um conteúdo abordado”. Ela ainda dá alguns exemplos: pesquisa de campo;

construção de jogos; ir à sala de informática, passar um filme. Mas estas atividades, inseridas

em uma lista de exemplos não permitem entender se são atividades soltas ou se fazem parte

de um roteiro de formação.

Relacionando os episódios destacados e analisados ao todo do relato, é possível

perceber que suas ações resvalam em princípios da racionalidade prática. Mas há também

traços marcantes do modelo escolar (DEMAILLY, 1992), uma vez que evidencia forte

preocupação em trabalhar como conteúdo da formação os programas elaborados pelas

políticas educacionais da SEE/SP.

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5.4.4 A formação do coordenador João na Escola C

Situada na região central da capital de São Paulo a escola C atende 980 alunos do

Ensino Fundamental I e II, nos períodos da manhã e tarde. Tem 25 salas de aulas em

funcionamento e dois coordenadores; cada um deles atende um segmento de ensino. Participei

das reuniões do Fund. II.

O coordenador João tem aproximadamente 40 anos, por doze anos foi professor de

língua portuguesa do Ensino Fundamental II e Médio em diferentes escolas da rede pública e

particular. Há três anos atua como coordenador na escola C. Paralelamente, é professor de

língua portuguesa em uma instituição privada. Fez especialização em didática do ensino

superior. Iniciou o mestrado em Letras, mas trancou no primeiro semestre depois que a

Secretaria Estadual cortou a verba destinada ao programa bolsa mestrado. Assisti a duas

ATPC dele e sua entrevista ocorreu logo depois da 2ª reunião.

Lembranças de uma boa coordenadora: aquela que prestava atenção no

professor

Quando instado a relatar, com base na comanda um, a reunião mais significativa da

qual participou como professor, João também teve dificuldades de recordar. Por fim, evoca

em suas lembranças a figura de uma coordenadora, sem, no entanto, relatar uma formação

específica realizada por ela: “ela era muito humana, ela conseguia provocar discussões

interessantes, porque ela era muito atenta, ela lia bastante. Eu sentia que o grupo gostava”.

Nesse trecho, nota-se que João justifica a escolha por essa coordenadora não apenas pelas

qualidades que lhe agradavam - humanidade, atenção e leitura -, mas também porque o grupo

de professores ao qual ele pertencia a legitimava. Na sequência do relato, diz:

Teve uma ocasião que foi bem especial. Foi no final do ano letivo, ela nos presenteou

com um CD personalizado. Ela prestava atenção na gente, em todos os sentidos, ela

conseguiu perceber o gosto musical de cada professor e gravou um CD para cada um.

Eu lembro que fiquei bem emocionado.

A expressão “atenção” ganha destaque nesse episódio de sua narrativa, sendo

mencionada várias vezes por ele. De acordo com certo dicionário, o termo atenção pode ser

entendido como um mecanismo que controla e regula os processos cognitivos. No processo de

formação, esse mecanismo envolve, conforme Almeida (2008, p. 15), um olhar atento; um

ouvir ativo; um falar de reconhecimento, que não provoque bloqueios; por fim “um prezar

que, a partir do olhar atento, do ouvir ativo, do falar com o outro e não sobre o outro,

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apreenda o sujeito em sua totalidade, e não fragmentariamente”. Foi esse tipo de atenção que

afetou João, ao ponto de deixá-lo emocionado.

As imagens que foram instituídas, sobre sua coordenadora, permanecem na memória

discursiva de João e assentam uma base para sua atuação profissional, pois afirma: “Quando

eu virei PC eu lembrei bastante dela e pensei que este era o caminho”. Conforme Garcia

(1992), os professores, durante suas trajetórias, constroem matrizes pedagógicas que não são

apagadas pelas práticas de formação. O mesmo pensamento se aplica aos coordenadores: se

apegam a modelos do que para eles foram bons coordenadores; é o que se percebe no CP

entrevistado: “Eu tento trazer isso na minha prática hoje”.

Após apresentar o que para ele foi um bom coordenador, João apresenta o que parece

ser sua visão de “mau” CP. Em suas palavras:

Tive outros coordenadores, mas sempre foi uma coisa maçante, não aprendi nada com

eles. Eles nos largavam na sala do HTPC e ficavam a maior parte do tempo fazendo

outras coisas. Acho que até eram coisas inventadas na hora. Eu não sentia que eles

estavam presentes. Eu lembro que na época isso me incomodava muito.

A expressão “coisa maçante” carrega uma ideia implícita dos motivos que faziam a

reunião se tornar momentos “incômodos”: o despreparo dos coordenadores, pois faziam

“outras coisas ... inventadas na hora”. Por sua vez, as expressões explícitas: “largar na sala”,

“não estavam presentes” reforçam a característica do CP que João não admira, ou seja, aquele

que não dava atenção aos professores; não fazia da ATPC um momento de aprendizado.

Nota-se, então, nessa sequência argumentativa um efeito de oposição entre o “bom” e o

“mau” coordenador.

Embora João acredite que sua vivência nas diferentes reuniões de formação pelas

quais passou não o tenham ‘constituído’ “não aprendi nada com eles”, na verdade, todas

essas experiências lhe foram inevitavelmente constitutivas, tanto que ele a rememora para

denegá-las, uma vez que afirma que não é assim que funciona em sua prática pedagógica.

Ao falar do outro, João revela um pouco de sua história e, ao mesmo tempo, narra um

fazer pedagógico, evidenciando o que considera ser importante em um encontro formativo:

prestar atenção ao professor. Seu discurso evidencia um entrelaçamento de seu fazer com o

fazer de outros, uma história dentro de outras histórias, história de outro(s). Cabe dizer: revela

subjetividades e suas múltiplas identificações.

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A formação negativa que eu conduzi e o que eu aprendi

Com base na segunda comanda, João passa a contar outro episódio significativo para

ele, dessa vez no papel de coordenador. Trata-se de uma formação conduzida por ele e que,

em sua percepção, não foi produtiva.

Foi uma [proposta de] formação da DE, mas eu não senti muita firmeza [...] Eu assisti

ao vídeo que eles indicaram, analisei o conteúdo e pensei ‘bacana’, mas eu não senti

firmeza, porque eu conheço meu grupo, eu já imaginei que eles não iam gostar. Mas

como é uma indicação da Diretoria de Ensino eu coloquei na pauta do planejamento.

Dito e feito foi rechaçado. Então é assim, eu sinto o grupo [...] Então eu aprendi que

tenho que podar o que vem de lá [Diretoria de Ensino].

Linguisticamente, a conjunção adversativa ‘mas’ tem a função de estabelecer uma

relação de contraste entre duas orações argumentativas, em que a segunda se impõe sobre a

primeira. No fio discursivo desse recorte, muitos dizeres são introduzidos através desse

elemento linguístico. Com isso, além de sinalizar imagem de contraste, o enunciador vale-se

dela como estratégia de tomada da palavra e argumentação em sua direção.

A avaliação do grupo docente parece funcionar como elemento balizador da ação de

João, o que lhe dá “firmeza”. Por conhecê-los se antecipa e “imagina” seus interesses em

relação ao conteúdo da formação - o que “gostam” ou não. O advérbio ‘lá’ empregado nesse

contexto cria um efeito de distanciamento entre os espaços. Assim, o ‘lá’ - Diretoria de

Ensino - é distante do ‘cá’ – Escola. A avaliação dos professores faz João perceber qual

espaço deve privilegiar ao elaborar sua pauta. Ao afirmar: “eu aprendi que tenho que podar o

que vem de lá”; o verbo podar utilizado em seu sentido figurado deixa subentendido que João

ainda permanecerá utilizando como base as formações propostas pela DE, mas

eliminando/suprimindo partes, ou assuntos, que não estiverem indo ao encontro do que o

grupo gosta (de seus interesses).

Ao resgatar em suas memórias um episódio negativo de formação para ele, João deixa

transparecer o movimento de autoavaliação; iniciativa importante que revela disponibilidade

para rever a própria prática. Essa é uma condição central para um processo reflexivo da ação

(SCHÖN, 2007).

Colocar sua atuação como foco de análise permitiu que ele compreendesse os fatores

efetivos necessários para mudanças. O diagnóstico de sua forma de agir lhe possibilitou um

aprendizado; assim pôde refazer rotas e diretrizes na direção de suas intenções e de suas

concepções. Nesse movimento não traz consigo apenas a sua voz, ou seja, refletiu sobre o que

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fez e o que os outros professores disseram sobre o que ele fez, revelando assim um discurso

polifônico.

Conforme Tardif e Moscoso (2018), o profissional da educação confronta-se a uma

situação particular, o trabalho com o outro/para o outro dentro de um grupo.

Isso significa que sua reflexão não trata de sua “prática”, mas de uma prática

profissional vivida e compartilhada com outros, uma prática que precisa ser

reconhecida pelos outros se quiser aspirar a se realizar com eles. Em outras

palavras, não só deve refletir sobre sua prática, mas também sobre a reflexão

dos outros, sobre as práticas dos outros, sobre o modo como os outros

recebem sua prática e refletem a partir dela, de maneira simultânea (p. 406).

Assim, percebe-se que João demonstra autopercepção de si mesmo e dos professores

com quem trabalha; tem facilidade para identificar as manifestações do grupo: “a gente

percebe quando eles gostam. Dá para ver pelo olhar, pela forma que eles reagiam, atenção,

comentários deles, pelas perguntas que fizeram”. Ele nota também os resultados da mudança

de sua prática, conforme destaca em outro episódio em que conduziu a formação, dessa vez

partindo das necessidades dos professores de sua escola:

Hoje eu entendo ... a formação tem que partir das necessidades do grupo

Quando eles percebem que é uma necessidade que eu senti do grupo, que está presente

no grupo; então quando eles sentem isso, a aceitação deles em relação ao conteúdo que

eu vou trabalhar é muito maior. Porque daí eles sabem que eu estou atento, que é uma

necessidade do grupo. Como foi o caso da formação sobre competências e habilidades.

Eu senti que essa era uma necessidade do grupo.

No novo episódio relatado por João, há uma detalhada descrição de como trabalhou

com o conteúdo “competências e habilidades”; explica que esse assunto surgiu das

necessidades do grupo. O termo “necessidades” aparece três vezes apenas nesse recorte e

também em outros momentos de seu discurso.

Conforme já discutido na análise do relato da CP Adriana, o termo necessidades é

polissêmico. Na literatura do campo da formação docente, ele aparece com diferentes

conotações. Não é interesse deste estudo discutir tal ponto, mas compreender o que os

coordenadores apontam para o termo. Assim, esse recorte suscita alguns questionamentos:

como João define o que é necessidade do grupo? Justaposto ao termo necessidade está o verbo

sentir – perceber através do sentir; o CP afirma que “sente” o que os professores precisam,

mas como sentir isso? Em outro trecho ele qualifica a expressão modalizadora “sentir”:

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A gente sente, né? Pelas conversas deles, pelos diários de classe; eles só registravam

como objetivo de aula os conteúdos. E onde estavam as habilidades do currículo? Então

isso era algo que a gente precisava discutir, mas só que não podia ser algo imposto,

senão elas já iam torcer o nariz [...].

Portanto, nota-se que João ficou atento, sensível ao que emergia do grupo. Essa

sensibilidade é o ponto de partida para elaborar um diagnóstico das necessidades formativas

dos professores.

As necessidades formativas podem emergir, assim, na relação que os

professores estabelecem com os estudantes, com seus pares, com a gestão

escolar, com o currículo, com os espaço-lugares da escola, a partir das suas

crenças e experiências, bem como das expectativas que têm em relação ao

processo de formação e em como poderiam subsidiar seu trabalho, como

profissional do ensino (PEREIRA; PLACCO, 2018, p. 93).

A formação em ATPC torna-se mais significativa e apresenta maiores condições de

propiciar mudanças na prática pedagógica quando o CP toma como ponto de partida à prática

e o contexto de trabalho do professor. Mas tomar a necessidade como ponto de partida é o

suficiente para que o professor se sinta comprometido e motivado para engajar-se na

formação? A fala de João indica que é necessário levar algo mais em consideração: não pode

ser algo imposto.

A ação de impor algo a outro, remete ao papel de um sujeito autoritário. Quando o CP

assume esse papel promove uma “relação que causa dependência e submissão, impedindo o

pleno desenvolvimento do indivíduo ou do grupo, pois não há espaço para inovação, para o

diálogo questionador, para curiosidade ou para criatividade individual.” (VASCONCELOS,

2006, p. 23). Não é esse o papel que João assume em seu discurso, pois a utilização do termo

“senão” associado à expressão popular “torcer o nariz” permite inferir que ele não quer

propor uma formação que resulte em reprovação ou aborrecimento do grupo. Para que não

haja imposição é necessário negociação, o que implica mobilizar os saberes relacionais

(TARDIF, 2002). Implica também uma relação pautada nos princípios da pedagogia da

autonomia (FREIRE, 1996), que promova a construção coletiva e colaborativa da pauta

formativa.

Que aspecto é fundamental em uma boa aula ... o que vocês acham?

Essa foi a pergunta introdutória da primeira ATPC de João a que assisti. Para apoiar a

discussão ele diz: “vamos assistir a um vídeo de uma menina que tá bombando na internet,

vocês já ouviram falar da matemaníaca Julia Jaccoud?”. Após o vídeo, os professores

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opinam bastante: “É uma aula expositiva, não tem nada de mais”; “a linguagem que ela usa

... atende os jovens ...”; “Ela fala pra um determinado público, por isso tem seguidores...”.

Pareceu-me que três fatores confluíram para gerar a participação do grupo: o vídeo da

aula de matemática ministrada pela youtuber, como situação observada, permitiu que os

professores se distanciassem da ação e se colocassem num comportamento reflexivo; o vídeo

apresentava uma forma muito diferente da usual de enfocar o ensino da matemática; e a

consigna do CP, que incita a considerar criticamente a aula, à luz dos propósitos sociais e

didáticos da prática em questão.

Durante a discussão, um professor afirma:

“Mas também o aluno que vai assistir a esses vídeos é o aluno esforçado ... ela dá todo o

passo a passo e se o menino tiver dúvidas é só dar pause e voltar na explicação ... ’’. “Se

a gente fizesse isso na sala de aula, os alunos aprenderiam melhor? O que vocês

acham?”. Pergunta o CP.

No recorte, percebe-se que João demonstra atenção aos comentários dos professores,

pois se aproveita da afirmação de um deles para introduzir uma nova pergunta, que parece

indicar uma das conceitualizações que pretende gerar com a discussão: as condições didáticas

(passo a passo) e as intervenções do docente necessárias ao desenvolvimento da situação

estudada (voltar na explicação).

Iniciar a pergunta por meio de uma condicional “se” tem o efeito de gerar hipóteses.

Por meio do ‘nós inclusivo’ (a gente, eu+vocês) o CP se coloca na ação, reveste-se do papel

de professor gerando um efeito de cumplicidade e empatia. O reforço positivo também é

salientado pela expressão “aprender melhor” na qual deixa subtendido que considera a

aprendizagem dos alunos.

A questão: “o que vocês acham?” feita ao grupo, recoloca nas mãos deles o problema

debatido, sem dar uma resposta prescritiva que acabaria com a discussão, dando a questão por

resolvida.

João faz várias perguntas ao grupo. Alguns de seus questionamentos parecem ser

improvisados, pois surgem com base nas colocações dos professores. Em outros, no entanto,

nota-se que houve planejamento prévio decorrente de sua preparação: “Perceberam que [no

vídeo] para ela introduzir o assunto ela contextualiza?”.

Essa interrogação permitiu que o grupo confrontasse sua experiência com a ação

realizada pela professora no vídeo, contribuindo para tornar observáveis outros aspectos:

ampliar a reflexão sobre componentes didáticos de ensino (contextualização), bem como para

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o modo de intervenção da professora do vídeo. Assim, as perguntas do CP promoveram

discussão e pareceram gerar reflexão no grupo65.

De fato, notei que o grupo se comportou de maneira participativa; alguns falavam ao

mesmo instante. Em alguns momentos, João chamava a atenção deles com a expressão “olha

a bola”; para garantir o foco da discussão. Em sua fala conclusiva da reunião, afirma:

Por muito tempo o professor foi um guardador de informação, ele adquiria uma

informação e guardava pra passar pro outro, pro aluno; pra dar a informação pronta.

[...] Hoje em dia a internet está assim, cheia de aulas prontas. [...] O que a gente pode

fazer de diferente como professor é perguntar, estimular o pensamento crítico e não

apenas transmitir informações.

Guardador é aquele que guarda, que protege. Nesse contexto, o professor é colocado

no papel de um protetor de um bem: a informação. Pelo uso do pronome de terceira pessoa

‘ele’, é possível perceber que João não se coloca nesse papel. Os marcadores temporais

evidenciam que para ele esse tipo de professor está no passado, ou seja, não tem espaço “na

era da internet”.

Implícito nesse recorte está a ideia de que para esse professor “guardador de

informação”, o ensino é como diz Freire (1987), uma atividade bancária, uma analogia que

compara o aluno a uma conta de banco, o conhecimento representa o dinheiro, e o professor o

depositante. Não há, por parte do aluno, nenhum trabalho a ser feito: basta receber e está

concluída a operação. Para Freire, o conhecimento real somente se consolida como algo

significativo se o aluno for implicado como parte do processo; assimilando a informação e

transformando-a em conhecimento para mudança de sua realidade. Portanto, propor e resolver

exercícios com o estudante não é perda de tempo; pode ser considerada a essência do processo

educativo. Aprender, nessa perspectiva, é resolver problemas e ensinar é dar devolutivas de

modo a construir seu conhecimento (SILVA; MAIA, 2018).

É provável que o intuito de João, no desfecho da ATPC, fosse o de ajudar o grupo a

perceber que “hoje”, com o advento da internet, essa necessidade do professor como fonte de

informação perdeu o sentido. Não há nenhum assunto que não esteja a um clique de distância

do aluno. Na ótica do CP, o papel do professor não é mais de um transmissor, mas de um

debatedor; um sujeito capaz de “estimular o pensamento crítico e não apenas transmitir

informações”.

65 A afirmação segura de que houve, de fato, reflexão dos professores implicaria em realizar a análise discursiva de suas

respostas, o que foge aos interesses deste estudo. Entretanto, suas colocações sugerem que eles intuíram a relação existente

entre as intervenções de João e os propósitos didáticos do vídeo.

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Essa foi a leitura que eu fiz do trecho conclusivo da fala de João. Talvez essa tenha

sido sua intenção ao colocar na pauta do encontro a pergunta: “Que aspecto é fundamental em

uma boa aula?”. Mas senti que faltou concluir a discussão; fazer uma síntese dos aspectos

levantados por todos e responder a pergunta inicial proposta. Além disso, um aporte teórico

teria ajudado a fundamentar as problematizações suscitadas e permitiria que a discussão

avançasse para além das opiniões pessoais.

A segunda ATPC: socialização de práticas didáticas

Antes de iniciar a ATPC, João me explica que no dia do replanejamento, os

professores ficaram com a tarefa de elaborar um plano de ensino pensando em como trabalhar

os conteúdos do bimestre com foco no desenvolvimento das habilidades que os alunos mais

demonstravam dificuldade na AAP de matemática. A reunião então seria para os professores

socializarem as propostas que haviam elaborado.

Dos 19 professores, cinco apresentaram seus planos66. Após o término da apresentação

da sequência didática da professora de matemática, João diz: “gostei muito, porque eu acho

que fazendo assim [...] os alunos se envolvem mais, fica real pra eles”.

O comentário de João carrega um conteúdo de reconhecimento da ação da professora

perante o grupo. Nota-se que ele usa a mensagem em primeira pessoa ao se dirigir à

professora descrevendo resumidamente sua ação “fazendo assim ...”; apresenta o efeito

concreto sobre o desempenho dela: “os alunos aprendem mais”; e menciona o sentimento

provocado nele “gostei muito”. Sua maneira de falar lembra muito os princípios do conceito

de Rogers (1992) sobre a abordagem centrada na pessoa. Para o autor, toda relação

interpessoal pode ser facilitadora de crescimento, desde que apresente certas características:

empatia, consideração e autenticidade, e que elas sejam comunicadas ao outro.

Joao faz também algumas perguntas a esta professora de matemática:

“Essa proposta casa com as expectativas de aprendizagem do Currículo?”; “você sentiu

dificuldade em adaptar o conteúdo para alcançar as habilidades?”; “quantas aulas você

vai precisar para trabalhar com esse conteúdo”.

Suas questões, por sua vez, também evidenciam um conhecimento de conteúdo e

estrutura do Currículo da SEE (as habilidades são as expectativas de aprendizagem). As

indagações formuladas parecem favorecer o diálogo com os conhecimentos prévios da

professora com suas demandas em sala de aula. Trouxe a baila alguns conhecimentos

66 No relato deste encontro faço um registro mais amplo da interessante apresentação e interação dos professores. Neste

espaço vou me deter a analisar as intervenções de João.

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didáticos importantes que possivelmente contribuirão com as decisões que ela irá tomar diante

das situações do ensino de conteúdo na perspectiva do Currículo.

No entanto, suas perguntas foram dirigidas a um único interlocutor – a professora que

fez a apresentação. Isso fica evidente por meio da quantidade de vezes que João usa o

pronome ‘você’. Não houve espaço para que os outros professores pudessem interagir nessa

interlocução, lançando dúvidas, sugestões ou elogios.

Na sequência, outro professor de matemática explica como está trabalhando o

conteúdo proporcionalidade com os alunos. Em sua apresentação, ele trouxe alguns sorobans

e folhas com as atividades que os alunos estavam fazendo67

. Ele pede para que os professores

tentem resolver os exercícios utilizando o soroban. Essa parte foi muito interessante, pois os

professores interagiram bastante; alguns tiveram dificuldade de realizar a atividade e

precisaram de ajuda dos professores de matemática presentes na sala.

Fiquei em um dos grupos que realizava a atividade e percebi como os professores a

solucionavam; houve bastante interação entre eles. Nesse momento todos estavam no papel de

aluno. Por três ocasiões pediram ajuda ao professor de matemática. Notei que a tarefa

permitia aos professores pensar nos comportamentos dos alunos e nas intervenções de ensino.

A discussão realizada no grupo que eu estava evidenciou que a mesma intervenção pode ser

útil para um e não para outro, pois as dúvidas deles foram diferentes, da mesma forma isso

ocorre em sala de aula.

Ao final da realização da atividade e da apresentação do plano de aula do professor de

matemática, João fez algumas perguntas: “como você avaliou se o aluno aprendeu?”; “como

está sendo a participação dos alunos?” Novamente as perguntas foram direcionadas ao

professor. A reflexão compartilhada permitiria ampliar o leque de situações possíveis para

ajudar os alunos a avançarem no desenvolvimento da habilidade em questão. João poderia

destacar que para desenvolver a atividade os professores cooperaram entre si, e que o papel da

cooperação entre os pares é um componente importante para o desenvolvimento de

habilidades (do currículo) e não apenas o conteúdo em si.

Durante as outras três apresentações restantes, o movimento de João foi o mesmo: os

professores expuseram suas propostas, ele fez comentários e questionamentos que

possibilitavam a reflexão. Todas as suas perguntas pareceram estar revestidas de algumas

ideias centrais: ajudar os professores que apresentaram a pensar no sentido das ações que

planejaram, que realizaram ou da forma de se avaliar; refletir sobre as razões e as finalidades

67 A foto desta folha de atividades encontra-se nos apêndices.

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que sustentam cada decisão, isto é, sobre “por que e para que” se faz, considerados à luz da

natureza do objeto de ensino e do processo de aprendizagem do aluno. Reparei que os

professores não demonstraram incômodo ou desconforto ao responder-lhe, mas também não

responderam todas as questões. Pareceu-me que grupo tinha uma sintonia harmônica entre si e

com o coordenador.

Ainda que talvez tenha faltado ao CP estimular a discussão sobre as diferentes

propostas, para que os demais professores pudessem opinar, apontar suas considerações,

houve bastante interação entre os professores durante esta ATPC. Sua condução da reunião

favoreceu o pensar sobre a prática.

Discutir retrospectivamente sobre o que ocorreu durante a aula favorece a

tomada de decisões futuras, a antecipação ou a compreensão de

determinados problemas ou a descoberta de novas soluções, tanto no que diz

respeito ao planejamento das situações de sala de aula pelo professor, quanto

ao planejamento das futuras situações do formador

(LERNER;TORRES;CUTER, 2012, p. 127).

Nesse sentido, a reflexão como uma forma de relação com o saber não é realizada

somente sobre a experiência de um único indivíduo, mas também sobre a experiência alheia e

sobre o meio em que esta é desenvolvida, ou seja, pela socialização no grupo.

Concepções e estratégia de formação de João

Durante a entrevista pude compreender melhor algumas de suas ações. Segundo ele, o

objetivo principal da última reunião era perceber as ações dos professores em relação aos

planos de ensino que elaboraram. Isso forneceria a ele elementos para poder compor o plano

de ação da escola. Tal plano fazia parte de uma das demandas do programa MMR, que exigia

dele um prazo a cumprir. Assim, explorar detalhes nas apresentações dos professores e

ampliar a discussão para o grupo, durante a ATPC, talvez não permitisse cumprir a demanda

no prazo. Em suas palavras:

Então eu tenho que tirar dos professores os trabalhos que estão sendo realizados em sala

[...] É importante que não só eu, mas que o grupo tenha a visão do todo, do que os outros

professores estão trabalhando. Assim eles também podem ter ideias. Na hora das

apresentações [dos professores] eu fui fazendo anotações, com algumas observações,

mas não era o momento de interromper.

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A construção ter que + infinitivo é considerada uma forma de expressar necessidade

imperiosa de realização de uma ação imposta ao falante (modalidade deôntica68). Nesse

contexto, a ação imposta vem por meio do programa MMR. Com base nessa demanda, é

necessário ‘tirar’ dos professores seus trabalhos.

O meio empregado para isso é a socialização de boas práticas; dispositivo formativo

que propicia o falar de si e, portanto, permite um desvelar-se. A estratégia de “socialização

das próprias práticas permite ao formador acompanhar os professores no desenvolvimento de

sua tarefa [...] trata-se de trabalhar com o professor em ação”. (LERNER;TORRES;CUTER,

2012, p. 127). Em sua fala, João justifica sua escolha por tal estratégia: “ele e o grupo

precisam ter a visão do todo”.

A atuação do CP põe em evidência seu papel de articulador, pois oferece condições

para que os professores trabalhem coletivamente as propostas curriculares; atua também como

transformador, pois é evidente o seu compromisso com o questionamento, de modo a

fomentar no grupo a avaliação de suas práticas; em relação à dimensão formadora, é possível

perceber que ele cria condições para que os professores discutam aspectos didáticos do

ensino, bem como se aprofundem no conhecimento sobre a estrutura do currículo da rede

pública (ALMEIDA;PLACCO, 2009b). Sua consciência da importância da formação é

perceptível neste comentário:

Hoje eu tenho consolidado comigo que esse espaço é de formação, é uma aula, a ATPC é

um horário de aula, e eu não abro mão disso. Eu tento incutir isso nos professores,

porque ainda tem esse ranço ‘ah, deixa a gente a gente corrigir prova, preencher diário’.

Ainda que não se dê conta, João tem uma teoria implícita sobre o que é (e o que não é)

formação. Recorre a sigla ATPC para explicitar o que deve e o que não deve acontecer num

horário de aula; deixando evidente sua clareza da função principal do coordenador. Tem

consolidado que a formação deve partir das necessidades dos professores tendo por finalidade

melhorar a aprendizagem discente; nessa direção atua como mediador entre as demandas dos

órgãos centrais e os interesses do corpo docente. Sabe que o bom CP é aquele que presta

atenção em cada um, como indivíduo e como grupo; é capaz de reinventar sua prática a partir

da avaliação dos outros com quem trabalha.

Por meio da análise de seu discurso e da observação do seu modo de conduzir a

ATPC, foi possível apreender indícios de sua concepção de formação. Pelo discurso de João,

a formação é compreendida não como acúmulo de informações repetitivas, como um

68

“No domínio deôntico, a obrigação externa é respaldada por princípios, convenções e normas compartilhadas

pelo locutor, ou seja, a noção de obrigatoriedade é imposta a si mesmo pelo próprio locutor, envolvendo,

portanto, um grau maior de subjetividade” (BARROS; PAIVA, 2014, p. 93).

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conteúdo a ser transmitido por um detentor do saber, mas como um saber-fazer em

movimento, no qual se valoriza a experiência, o relacional, e a construção coletiva do projeto

formativo. Na atuação, por sua vez, utilizou como estratégia a socialização de ações didática e

como recurso um vídeo de conteúdo educacional. A base destas ações foi: a problematização

da prática e a reflexão mútua.

Levando em consideração todos esses elementos, é possível situar a prática desse

coordenador nos modelos construtivistas de formação docente (NÓVOA, 2002).

5.5 As histórias dos coordenadores: os complementos de significação

Pontos em comum surgiram nas narrativas dos coordenadores e me mobilizaram a

querer compreender melhor os significados por trás de seus discursos/ações. Destaco alguns,

nos três próximos tópicos:

5.5.1 A aprendizagem da alteridade e a influência do modelo de formação

Um elemento recorrente em todos os relatos é que os coordenadores consideram que

tudo o que de relevante têm aprendido de suas profissões, aprenderam no seu exercício;

sobretudo por meio das trocas de experiências entre os pares (professores e coordenadores).

De fato, os processos de aprendizagem são desencadeados de forma dinâmica, na interação

com o outro, no convívio entre pessoas nas diferentes experiências vividas (VIGOTSKI,

2003).

Adriana, Eliane e Júlia, não fazem menção a cursos de formação continuada, ou a

alguma contribuição de fundamentações teóricas. Apenas Marcos faz referência a um curso de

extensão que o ajudou na elaboração de uma pauta formativa. As entrevistas mostraram que

os coordenadores se apoiam nas referências de seu cotidiano de trabalho para elaborar suas

propostas de formação docente; assim o exemplo positivo (ou não) de outros coordenadores

ganhou destaque em suas narrativas.

O fato de não explicitarem “seus fundamentos livrescos” (JOSSO, 2004, p. 71)

significa que eles não os têm? Será que não atribuem valor a aprendizagem vinda de seus

cursos de formação? A esse respeito, algumas hipóteses de respostas podem ser encontradas

em André (2012, p. 15) que, baseando-se em Tardif (2002) explica que os professores, o que

também se aplica aos coordenadores, “tendem a hierarquizar os saberes em função de sua

utilidade na profissão. Nessa ótica, os saberes oriundos da experiência de trabalho cotidiano

são considerados os mais importantes”.

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Assim, percebe-se o valor conferido aos saberes experienciais69; estes são, conforme

Tardif (2002), resultantes do próprio exercício da atividade profissional e são produzidos por

meio da vivência de situações específicas relacionadas ao espaço da escola e às relações

estabelecidas com alunos e colegas de profissão. Carbonneau e Hétu (2001, p. 68) explicam

que “depois de um certo tempo de prática, o saber acadêmico torna-se o segundo, enquanto a

prática profissional torna-se o primeiro na conduta empreendida pelo profissional para

continuar a construir sua competência”. Nesse sentido, a experiência é o fundamento do saber,

considerando-se como o “alicerce da prática e das competências profissionais” (TARDIF,

2002, p. 21).

Nessa direção, outro ponto em comum destacado nos relatos é a constante menção que

os entrevistados fazem às formações recebidas nos órgãos centrais. Assim, ao mencionarem

as orientações técnicas ou capacitações realizadas pelos PCNP nas diretorias regionais

explicam que estas orientam ou direcionam o planejamento da formação docente em ATPC. É

o que se percebe nestes depoimentos:

“A gente tem uma orientação técnica na DE semana que vem e depois, em cima disso,

monto a pauta”. (João)

“Então eles começaram a ensinar a gente a como usar aquilo (plataforma foco

aprendizagem) [...] pra identificar as dificuldades dos nossos alunos e com isso montar

nossos projetos de recuperação [...] Eu achei ótimo”. (Eliane)

“A gente tem pouca OT na DE. [...] A gente precisa de formação, pra poder

multiplicar”. (Júlia)

“Nós tivemos OT na DE pra montar as ações corretivas porque nós não atingimos os

resultados”. (Adriana)

O que fez com que eles destacassem as formações advindas do Núcleo Pedagógico?

Nas expressões “orientação técnica para: montar pauta, montar ações”; e “ensinar para:

montar projeto”; ou ainda “aprender para: multiplicar”, a preposição ‘para’ tem valor de

finalidade uma ação prática. A ênfase que os coordenadores dão às ações práticas permite

inferir um aspecto apreciado por eles nas formações que receberam nas diretorias regionais:

nelas é possível fazer o movimento de aplicação de atividades na reunião de ATPC.

Isso corrobora com os achados de Placco, Almeida e Souza (2015, p. 18) em uma

pesquisa realizada com coordenadores em âmbito nacional:

Quem planeja e organiza a formação de professores das escolas, em geral,

são as Secretarias de Educação do Estado e do Município. A participação

69 A partir de pesquisas realizadas com o propósito de compreender o que pensam os professores sobre os seus saberes,

Tardif considera que o saber docente (reflexão que também pode se aplicar para o caso do coordenador pedagógico) é um “saber plural, formado de diversos saberes provenientes das instituições de formação, da formação profissional, dos

currículos e da prática cotidiana” (p.54).

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dos CPs nesse planejamento e execução da formação, em alguns Estados, se

resume ao oferecimento de sugestões e, eventualmente, ao repasse ou

proposição de discussões sobre os conteúdos que foram estudados, nas

formações das Secretarias.

Nessa maneira de proceder a formação, o coordenador assume o papel de

“multiplicador”, propagando conhecimentos que se constituem a partir de conteúdos

determinados a priori pela instituição responsável pelo programa de formação. E qual é o

conteúdo dessas formações? Todos eles mencionaram: “MMR, AAP, competências e

habilidades do currículo, resultados do SARESP”, ou seja, basicamente são conteúdos

relacionados a programas de políticas educacionais da Secretaria. Não houve na fala de

nenhum coordenador, menção a conteúdos pedagógicos ou de referenciais teóricos advindos

das formações na DE. A prática vista dessa maneira é entendida apenas como saber fazer, e

para a qual os conteúdos teóricos não apresentam nenhuma contribuição.

Esse movimento situa a ação dos quatro coordenadores entrevistados, na lógica do

modelo escolar (DEMAILLY, 1992) que tem princípios da racionalidade técnica.

A esse respeito, Imbernón (2011, p. 64) explica que a formação para assimilar um

conhecimento profissional básico atua como uma espécie de “currículo oculto da

metodologia”. Ou seja, os modelos com os quais o coordenador aprende assentam a base de

suas concepções e estratégias de formação, eles “perpetuam-se com o exercício de sua

profissão já que esses modelos se convertem, até de maneira involuntária, em pauta de sua

atuação” (p. 65). O autor considera ainda que no desenvolvimento do conhecimento

profissional, a metodologia deveria fomentar os processos reflexivos sobre a educação e a

realidade social por meio de diferentes experiências. Um pensamento parecido encontra-se

neste trecho:

Um profissional não pode se contentar com seguir “receitas” ou “aplicar” os

conhecimentos teóricos anteriores à ação realizada, pois cada situação

profissional que vive é singular e exige de sua parte uma reflexão em e sobre

a ação, ação construída em parte pelo profissional que lhe deve dar sentido,

precisamente o que Schön denomina problem setting.

(TARDIF;MOSCOSO, 2018, p. 391)

Por outro lado, minha experiência atuando como PCNP numa Diretoria Regional de

Ensino me fez vivenciar o mesmo dilema enfrentado pelos coordenadores entrevistados70,

uma vez que as equipes responsáveis pela formação dos coordenadores na DE não dispunham

70 Conforme discutido no capítulo introdutório desta tese, os órgãos centrais (EFAP, CGEB da SEE-SP) subministravam

orientações quanto ao conteúdo a ser apresentado aos coordenadores pedagógicos e acompanhavam nossas ações com vistas

a identificar os resultados alcançados em nosso trabalho (por meio de gráficos e tabelas de desempenho que apresentavam os índices obtidos pelas escolas), mas não tínhamos o suporte necessário para lidar com as necessidades sentidas pela equipe de

coordenadores pedagógicos das escolas sob a nossa jurisdição na DE.

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de referenciais sólidos que os fundamentassem em suas ações e a partir dos quais pudessem

analisar e refletir “em e sobre” a própria ação de formação.

5.5.2 Formação em ATPC frente à demanda de programas da SEE: significados e

sentidos

Na fala dos coordenadores um dado recorrente foi à referência ao programa MMR

(bem como algumas outras demandas da SEE-SP); utilizaram expressões como “é algo

imposto”; “vem de cima”; “não tem como escapar”, etc. Tais expressões permeadas de

modalizadores discursivos carregam um valor semântico negativo; criando um efeito de

desaprovação e contrariedade.

No entanto, observando ‘o todo’ de seus relatos foi possível notar que os sujeitos

enunciadores não assumem uma posição de subserviência ao que “vem de cima”. Em algumas

falas parece haver anuência a essa demanda, como no caso do que afirma a CP Eliane:

“Por conta do MMR a gente teve que fazer essa reflexão pra preencher uma planilha

com nosso plano de recuperação, então foi algo imposto, mas eu achei bem produtivo,

porque a gente teve que parar e pensar: qual habilidade meu aluno está tendo mais

dificuldade?” (Eliane)

Em outros recortes a discordância surge de maneira velada e a anuência não é tão

explícita. Mas há uma apropriação do discurso das normas oficiais provenientes de projetos

de política da secretaria:

“Hoje a gente vai preencher os planos de aula seguindo as ações do MMR. Então hoje a

gente vai olhar pra nossa disciplina e vai pensar: quais competências e habilidades eu

vou priorizar para trabalhar com os alunos?” (Júlia em ATPC)

“Bem essa é uma prática que está atrelada ao MMR também, e diante dos números, ai

pegando a AAP [Avaliação de Aprendizagem em Processo] a matemática está com os

índices baixos, então o nosso foco para 2018 é a metodologia diversificada. Mas tudo

fica com a nossa cara.”... “não é algo que ache ruim, acho que é importante pra escola

discutir índices e resultados de avaliações. Mas a gente tem tanta coisa importante pra

discutir”. (João)

O que faz com Eliane ache essa demanda “bem produtiva”? Será que Júlia segue as

ações do programa porque vê nele um direcionamento para o professor “pensar ... o trabalho

com os alunos?”.

João parece ter uma visão sistêmica dos índices da escola (provenientes da AAP e

MMR) e com base neles propõe um “foco para 2018”. Explica que sua prática “está atrelada

ao MMR”, para essa expressão é possível ter algumas leituras: que as ações do CP estão

subordinadas ao programa; ou que o CP tem uma prática (maneira pessoal de conduzir a

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formação docente), mas a adapta para imbricar-se com as ações do programa. A conjunção

adversativa “mas” ligando as orações deixa transparecer uma ideia de modificação da

demanda para ficar com a cara do grupo. Portanto, a segunda leitura parece mais plausível.

Por fim, seu depoimento apresenta pontos de concordância com o programa, pois considera

importante discutir os resultados da escola. Novamente a adversativa ‘mas’ introduz uma

discordância; para João a discussão na escola não deve apenas girar em torno disso, pois

afirma: “Mas a gente tem tanta coisa importante pra discutir”.

Esses e outros recortes suscitaram em mim alguns questionamentos. Acredito que a

falta de consciência ou a falsa consciência em torno da fragmentação do próprio trabalho pode

interferir na ação do coordenador, aprisionando-o em uma alienação em torno de si próprio e

do seu fazer (FREIRE, 1983)71

. Mas será que os comentários revelam uma visão alienada?

Que peso tem as relações institucionais (DE, supervisores, diretores, professores) na aceitação

ou na resistência a essas normas de programas da SEE? Que processos são gerados no dia a

dia escolar para responder às demandas das políticas educacionais?

É certo que as exigências impostas à escola condicionam o trabalho do CP e

influenciam nas ações de formação. Mas é certo afirmar que o coordenador é apenas um

gerencialista a serviço das demandas dos órgãos centrais como fazem os estudos de Cação e

Mendonça (2011) e de Rodrigues (2011)? Ou “meros executores e cumpridores dos

programas estabelecidos pelos órgãos superiores” (VERA, 2017, p. 89)?

É possível encontrar algumas respostas estabelecendo um diálogo com Vaillant e

Marcelo (2012):

O desenvolvimento profissional docente implica interação com os contextos

espacial e temporal. O contexto espacial refere-se ao ambiente social,

organizativo e cultural no qual se realiza o trabalho dos docentes. Dentro

desses ambientes, são produzidas múltiplas interações sociais, que envolvem

companheiros, pais e diretores. Dessa forma, as condições de trabalho

influenciam no desenvolvimento profissional docente, promovendo-o ou

inibindo-o. Entretanto, essas condições não devem ser entendidas como uma

relação de causa e feito, mas como elementos mediadores (p. 169)

A formação continuada que ocorre em ATPC pode contribuir para o desenvolvimento

profissional do professor. Não se pode desconsiderar o contexto social e espacial ao investigar

a condução da formação do CP na ATPC. Nos achados deste estudo foi possível perceber que

as demandas políticas exercem influência nas condições de trabalho desse profissional; mas

como Vaillant e Marcelo, essas condições não devem ser entendidas como uma relação de

71 Apoiando-se em Freire, Vasconcelos e Brito (2006, p. 42) assim explicam o conceito de alienação: “é o estado não-

reflexivo do indivíduo sem consciência do seu próprio ‘eu’ perante a sociedade, passivo em suas decisões e ignorante de suas

possibilidades”.

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causa e efeito, mas como elementos mediadores. A escola é orgânica, as múltiplas interações

existentes neste espaço são atravessadas pela subjetividade72

de cada pessoa, o que permite

aos profissionais que nela atuam realizar mediações e transformações nas situações de

trabalho. O comentário de Adriana amplia essa leitura:

“Mas é o que eu falo pros professores: “nós temos que sim cumprir com toda parte

burocrática do MMR, mas já que nós temos que cumprir isso vamos utilizar ao nosso

favor, entende?” (CP Adriana)

Adriana tem um posicionamento explícito em relação ao programa MMR, afirma que

é “burocrático”; ao mesmo tempo dá voz ao pensamento oficial: “temos que cumprir sim”.

No entanto, a expressão “vamos utilizar” associada ao complemento “ao nosso favor” traz

subentendido uma apropriação do objeto (MMR) transformando-o para atender aos interesses

do grupo que atua como seus interlocutores “os professores”.

A esse respeito, a pesquisadora Vera Trevizan e seu grupo após uma investigação de

seis anos numa escola pública afirmam:

Na mediação, os sujeitos em relação se apropriam dos significados que os

outros atribuem aos fatos ou eventos e não dos fatos ou eventos em si, ou

seja, configuram também o modo como os outros da relação vivenciam a

realidade. Ao fazer essa apropriação, no entanto, o fazem de maneira

singular, de acordo com sua experiência, com sua história. Então é possível

dizer que no processo de significação o sujeito se apropria dos significados

que a cultura confere a fatos ou eventos. (SOUZA; PETRONI; DUGNANI,

2015, p. 59).

Os coordenadores compreendem as demandas dos órgãos centrais, entendem seus

significados. Mas esses profissionais têm a capacidade de fazer a mediação entre tais

demandas e o contexto espacial escolar. Os saberes experienciais, a concepção de formação,

as teorias implícitas, as vivencias, as relações, enfim, diversos são os fatores para a

permanente constituição da subjetividade do profissional coordenador. Conferindo a ele

capacidade de atribuir sentidos a essas demandas, ressignificando-as de maneira singular. Foi

isso que fizeram os coordenadores que participaram deste estudo.

72

Por subjetividade utilizo a seguinte definição: “característica própria de cada um em permanente constituição,

construída nas relações sociais, que permite à pessoa um modo próprio de funcionar, de agir, de pensar, de ser no

mundo, modo que a faz atribuir significados e sentidos singulares às situações vividas. É o que faz cada um ser

diferente do outro, diferença que tem origem nas significações atribuídas às experiências vividas, que por sua

vez são produzidas no social.” (PLACCO; SOUZA, 2006, p. 43)

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198

5.5.3 Coisas que aprendi em ATPC? Não me lembro! Esquecimentos e a memória

impedida

O desvelar-se a partir da profissionalidade, com base na comanda - Como professor,

você certamente já participou de inúmeras reuniões de ATPC, em diferentes formatos e com

diferentes objetivos. Conte um episódio que tenha te afetado, a ponto de trazer aprendizagens

em sua atuação -, exigiu dos coordenadores um exercício de resgate das memórias de tempos

passados, e também presentes - memórias que são imbricadas por vários episódios que

denotam os caminhos percorridos. Mas quando instados a rememorar episódios que os tinham

afetado, enquanto professores em situação de ATPC, três deles fizeram alusão a

esquecimentos:

“Episódio que tenha me afetado enquanto eu era professora?[pausa

prolongada]” “precisa ser na hora da ATPC?”. (Adriana)

“Olha pensando na ATPC formativa ... difícil ... [nova pausa prolongada]

não me lembro, porque eu tive ATPCs muito ruins, eu não tenho boas

lembranças.” (Eliane)

“Eu tenho doze anos de magistério, tanto na rede particular quanto no

Estado, nesse tempo todo eu só me lembro de uma coordenadora boa.”

(João)

Para entender os significados do não dito, dos apagamentos, do ‘não se lembrar’

recorri a Paul Ricouer (2007); o autor, fazendo um contraponto entre o pensamento de

Bergson (1999) e Freud (1982), considera que o esquecimento também é constitutivo do

processo rememorativo. Para Ricouer, as lembranças perdidas não estão realmente

desaparecidas. “esquecemos muito menos coisas do que acreditamos ou tememos” (p. 450). O

esquecimento, sobretudo de experiências traumáticas, é um recurso de sobrevivência. Por

diferentes motivos, alguns fatos ou acontecimentos ficam temporariamente esquecidos ou

permanecem em seu silêncio. “o cérebro contribui para recordar a lembrança útil, mas mais

ainda para afastar todas as outras” (idem, p. 448). Assim, o processo rememorativo possibilita

tanto uma seleção do que deve ser lembrado, quanto do que deve ser esquecido, protegendo os

sujeitos de entrar em contato novamente com situações de extrema dor e difíceis de suportar.

O ‘não dito’ de Adriana, a expressão “não me lembro” de João e a frase “não tenho

boas lembranças” de Eliane, foram suas primeiras falas para essa comanda. Eu poderia ter

perguntado, ao final da entrevista: mas você não se lembra de nada mesmo? No entanto, eles

não foram pressionados a narrarem aquilo que no momento não se sentiam à vontade de

compartilhar, pois compreendo, com base em Ricouer (2007, p. 455) que “assim como é

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impossível lembra-se de tudo, é impossível narrar tudo. A ideia de narração exaustiva é uma

ideia performativamente impossível. A narrativa comporta necessariamente uma dimensão

seletiva”.

Nesse movimento seletivo, a narrativa de memórias, segundo o autor, dá destaque a

fatos significativos, episódios que tenham sido marcantes para o narrador, que o tenham

afetado positiva ou negativamente. Assim, “a memória filtra, distorce, seleciona e, por vezes,

cuida afetivamente melhor de algumas coisas do que de outras” (PLACCO, SOUZA, 2006, p.

29).

Narrar-se requer um movimento de "voltar-se para si mesmo", analisando/refletindo

sobre as experiências e, também, sobre as relações que foram estabelecidas com outros

sujeitos em busca de significados, num processo que Josso (2004, p. 40) intitula como

"recordações-referências”73. Nessas recordações dos CP, um fato interessante é que foram

afetados muito mais pelas ações do que pelas palavras. Isso indica a importância de o

formador prestar atenção não somente ao conteúdo da formação, mas sobretudo ao seu modo

de agir comunicativamente com o grupo.

Nesse sentido, é possível fazer várias inferências às expressões verbais relacionadas

aos esquecimentos dos coordenadores. Uma delas é que, na memória, “só fica o que significa”

(PLACCO, SOUZA, 2016, p. 38).

5.5.4 Arremate conclusivo: meus aprendizados

Peço desculpas de me expor assim, diante de vós; mas considero que é mais

útil contar aquilo que vivemos do que estimular um conhecimento

independente da pessoa e uma observação sem observador. Na verdade, não

há nenhuma teoria que não seja um fragmento, cuidadosamente preparado,

de uma qualquer autobiografia. (PAUL VALERY, apud NÓVOA, 2004, p. 14)

Ao relatarem episódios significativos ocorridos em reunião de ATPC, os

coordenadores falaram de experiências diversas, tanto pessoais quanto profissionais; das

descobertas na nova função, e da tomada de consciência de significados novos e

enriquecedores para a compreensão de si próprios ou do ambiente que os rodeia. As

73

Conforme Josso (2004, p. 40), “Falar de recordações-referências é dizer, de imediato, que elas são simbólicas

do que o autor compreende como elementos constitutivos da sua formação. [...] A recordação-referência pode ser

qualificada de experiência formadora, porque o que foi aprendido (saber-fazer e conhecimentos) serve, daí para a

frente, quer de referência a numerosíssimas situações do gênero, quer de acontecimento existencial único e

decisivo na simbólica orientadora de uma vida”.

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200

recordações fizeram surgir pessoas marcantes, predominaram entre essas lembranças as

características dessas pessoas, bem como a complexidade e as ambiguidades das relações.

Ao se narrarem, os coordenadores não apenas descreveram os acontecimentos, mas

atribuíram sentidos a eles. Nesse processo, conscientemente ou não, trouxeram em seu

discurso diferentes vozes que lhes permitem dar um outro sentido ao vivido, deslocando,

inevitavelmente, o saber sobre si e sobre o seu fazer, revelando que as vicissitudes de seus

anseios se misturam com outras histórias, com outras experiências, com vozes que marcam

sua trajetória.

Como a memória é modulada pela emoção, alguns momentos de suas falas evidenciam

tristeza, frustração e cansaço. Mas há também sentimento de esperança, animação, orgulho e

envolvimento; são esses sentimentos que mobilizam coordenadores na sua labuta, a transpor

os obstáculos que se apresentam em sua rotina.

A perspectiva de análise adotada neste estudo obrigou a observar os relatos de história

dos coordenadores não como dados completos, acabados, possíveis de categorização conjunta,

mas sim como histórias individuais – a história do sujeito. Consciente de que um fragmento é

sempre um pedaço, uma parte, um pequeno intervalo de acontecimento, teci minhas

impressões tomando como ponto de reflexão a narrativa do acontecimento, do episódio.

Consciente também de que no discurso narrativo, o dizer não busca ser obsessivamente

“transparente”, o que o torna polissêmico, aberto, portanto, a uma multiplicidade de sentidos.

A abertura à polissemia exige uma atividade interpretativa mais intensa. Demorei muito nesta

atividade e estou certa que outras leituras poderiam ser feitas.

O processo de análise, bem como o de coleta de dados me proporcionou muitos

aprendizados. Como PCNP participei de muitas observações de ATPC, mas nunca havia

parado para escutar as histórias dos coordenadores. Aprendi com esses sujeitos.

Eliane com seu jeito calado me fez ver que é importante falar menos, não preciso

responder a todas as perguntas ou asserções feitas pelos professores durante a reunião, posso

esperar para ver se as respostas surgem do grupo, e se não surgirem posso convocá-los a

pensar sobre. Júlia me ensinou a importância de adicionar mais descontração aos momentos

de reunião. João ratificou meu pensamento de que prestando atenção ao professor e aos alunos

se consegue apreender as demandas formativas da escola. Com Adriana eu relembrei a

necessidade de cuidar das relações, de fato, o cerne da função de articulador do coordenador

pedagógico se encontra nas relações interpessoais, pois articular depreende ação de unir,

desmontar, de encaixar.

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201

Inserir-me numa pesquisa narrativa não foi fácil, desde a compreensão dos

pressupostos epistemológicos que envolvem esse tipo de estudo até a composição do método

de coleta foi um longo processo. Amparei-me em um referencial

(JOVCHELOVITCH;BAUER, 2002) para me aventurar na entrevista narrativa, mas não

demorou muito para eu perceber que não é uma técnica simples. Por exemplo, na entrevista

piloto não expliquei de antemão à coordenadora como seria sua participação por meio dessa

técnica, em vista disso, ela se limitou a responder muito brevemente as duas questões e se

manteve calada esperando que eu fizesse mais perguntas. Eu também me mantive em silêncio,

na expectativa de que ela se narrasse; mas isso não ocorreu, até que me disse: “você não tem

mais nada para me perguntar?”.

Percebi que precisava estudar mais. Compreendi com Delory-Momberger (2012) que a

comanda da entrevista deve ser elaborada de tal modo que propicie o disparar de uma

narrativa, algo que minha consigna não favorecia e que, portanto, precisei refazer. Entendi

também que é importante explicar em detalhes o método ao entrevistado. Voltei a essa mesma

escola, dessa vez para fazer a entrevista a João. Quando a entrevistada que participou da

entrevista-piloto me ouviu explicando a seu colega como seria o procedimento, disse-me

sorrindo: “então era isso que você queria? Eu não estava entendendo seu jeito de fazer

entrevista”.

Outro fator importante percebido diz respeito ao local de se realizar a entrevista.

Todos os coordenadores foram interrompidos no momento em que estavam fazendo seus

relatos. Percebi que isso prejudicou o fluxo de suas narrativas e fez com que eles se

apressassem para concluir suas histórias. Foi o que aconteceu principalmente com Júlia, não

consegui chegar à fase da fala conclusiva do método (JOVCHELOVITCH;BAUER, 2002, p.

100) e empregar as questões do tipo “por quê”. Faltou saber sobre aspectos de sua condução

da reunião que eu havia observado.

A insegurança em relação aos dados biográficos produzidos também foi grande.

Houve momentos dos relatos que dominou a sequência argumentativa e não tanto a narração

como se espera no relato oral, que é muito mais improvisado. Conforme Delory-Momberger

(2016, p. 140), é assim mesmo que funciona o relato dos acontecimentos vividos: “todas as

experiências não exibem a mesma biograficidade”. Busquei, portanto, nas sequências

argumentativas, identificar uma linha da história para apreender a singularidade de uma

experiência no todo de cada relato.

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202

Por fim, fui compreendendo que mais do que um método de investigação qualitativa, a

entrevista narrativa é um dispositivo que produz conhecimento para o outro, não somente para

o entrevistador, mas também para o sujeito que narra. Por isso é um dispositivo de pesquisa-

formação.

A entrevista de pesquisa biográfica instaura assim um duplo

empreendimento de pesquisa, um duplo espaço heurístico que age sobre cada

um dos envolvidos: o espaço do entrevistado na posição de entrevistador de

si mesmo; o espaço do entrevistador, cujo objetivo próprio é criar as

condições e compreender o trabalho do entrevistado sobre si mesmo

(DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 527).

De fato, foram várias as lições adquiridas da experiência dessa empreitada, no

percurso fui me compreendo, transformando minha vivência em experiência autoformadora.

Saio desse processo “como um si mesmo transformado”, como reitera Josso (2004).

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203

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há quatro anos, quando comecei a escrever este trabalho, trazia comigo uma questão

central: como formar professores: o que fazer, como e por que fazer? Não demorou para eu

perceber que para formar eu precisava formar-me. Encontrei, na literatura do meu campo de

estudos, orientações que me ajudaram a sedimentar as bases para uma reflexão sobre o que

significa ser formador. Nesse processo, minha aprendizagem foi se tecendo nos espaços

sociais, nas relações que estabeleci entre as pessoas e delas com o contexto vivido. Foi

observando a atuação de bons coordenadores em ATPC que passei a me interessar por suas

estratégias formativas. Algumas tinham o potencial de desencadear, no grupo de professores,

reflexões críticas sobre a prática, outras nem tanto. Assim, partindo da premissa de que os

procedimentos didático-metodológicos adotados pelo coordenador podem favorecer a

aprendizagem docente, este estudo buscou identificar quais estratégias estão sendo utilizadas

pelos CP em reuniões de ATPC e analisar as concepções de formação que estão subjacentes a

suas ações, tendo como referência os seguintes objetivos específicos:

caracterizar os coordenadores pedagógicos da SEE/SP;

detectar indícios das concepções de formação nas ações e nos discursos dos

coordenadores;

observar de que forma tais concepções afetam seus procedimentos de formação;

identificar o que os sujeitos apontam como estratégia de formação;

analisar se as estratégias utilizadas pelos coordenadores estão na perspectiva de

formar professores crítico-reflexivos.

No levantamento realizado com os 380 participantes, foi possível compor um quadro

com a caracterização desses sujeitos: coordenadores relativamente jovens (entre 35 e 45 anos

de idade); a maior concentração dos respondentes tem entre quatro e seis anos na função,

atuando nos três segmentos de ensino (EF e Médio). A graduação preponderante é Pedagogia,

Letras e Matemática. Os dados revelaram ainda que esse público tende a buscar cursos de

pós-graduação, sobretudo na área de Educação. Assim, a componente survey possibilitou

conhecer melhor o coordenador da região metropolitana da SEE-SP, as condições em que se

inserem profissionalmente na coordenação e apresentou aspectos que podem ser melhor

explorados em estudos mais aprofundados sobre o perfil desse profissional.

A Survey também possibilitou identificar o que os sujeitos apontam por estratégia de

formação, dentre algumas: estudo de caso, análise de bons modelos, tematização da prática,

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leitura compartilhada, dupla conceitualização. Isso significa que a grande maioria dos

coordenadores demonstra conhecer e fazer uso dos dispositivos mencionados. Nem todas as

respostas, porém, permitiram identificar os procedimentos formativos adotados pelos CP,

algumas foram muito genéricas e outras indicaram apenas a utilização de recursos como

vídeos, textos teóricos e apresentação de PowerPoint.

Os dados obtidos revelaram as dificuldades que os coordenadores têm em fazer da

ATPC um momento de estudos, como indica o CP 276: Resolver problemas de salas. Não tem

jeito, indisciplina é o tema que os professores querem discutir. Às vezes até trago leituras de

textos teóricos para discussão[...]. Também estou procurando conhecer estratégias eficientes,

quando vocês acharem, por favor, me avisem. As discussões sobre o comportamento e a

indisciplina dos alunos parece ser o foco de interesse para muitos professores. De fato, os

quatro coordenadores que acompanhei mais de perto nas escolas A, B e C também

sinalizaram esse fenômeno. É possível abordar essa problemática de uma maneira

pedagógica? Sim. O referencial apresentado ao longo deste estudo demonstrou caminhos. O

CP 276 conclui que o que falta é “conhecer estratégias eficientes”. Mas será que somente isso

é suficiente? Não. A teoria e o conhecimento didático-pedagógico colaboram para aprimorar

nosso olhar e a capacidade de interpretar o que está se passando na escola; ajudam a

compreender de forma mais fundamentada aquilo que está ocorrendo na interação do aluno

com o conhecimento. Portanto, não se trata de entender as estratégias como uma aplicação ou

prescrição, elas não devem funcionar como uma lista de exercícios ou dinâmicas para

envolver os professores. O caminho para a formação crítico-reflexiva não está na estratégia,

mas na concepção do coordenador sobre o processo de formação. Se a concepção do

coordenador se baseia na formação para o desenvolvimento de um profissional crítico e

reflexivo, ele não conceberá o professor como alguém que aplica técnicas, ao contrário, sua

ação será na perspectiva de ajudar o professor a avaliar, refletir e analisar criticamente sua

prática.

A análise das estratégias mencionadas na Survey, à luz do referencial teórico deste

estudo, evidenciou que elas têm o potencial de mobilizar o grupo docente para uma reflexão

crítica sobre a prática, uma vez que os encaminhamentos metodológicos previstos nesses

dispositivos formativos possibilitam uma postura investigativa do professor, bem como uma

reflexão crítica sobre seu trabalho em sala de aula. Mas de que modo esse processo está sendo

conduzido? Se, de fato, os coordenadores estão conseguindo, por meio das estratégias

mencionadas, promover junto ao grupo tal postura e a reflexão desejada é algo que este estudo

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não deu conta de verificar. Ainda que esse não fosse meu objetivo, penso que seria muito

importante colocar o foco nessa questão. Ao concluir o levantamento, percebi respostas de

diferentes níveis de reflexividade; respostas que apresentavam uma compreensão mais ampla

da questão. O que me levou a pensar quão importante seria aprofundar a compreensão desse

aspecto. Tive vontade de selecioná-las e acompanhar de perto a prática desses sujeitos. O que

foi impossível no espaço-tempo de meu Doutorado.

Entretanto, considero que o levantamento foi muito importante, pois revelou o

interesse dos coordenadores no foco que é meu objeto de pesquisa. Por exemplo, vários

mencionaram buscar informações sobre estratégias formativas; para isso, vasculham na

internet, cadastram-se em comunidades virtuais para trocar experiência com outros colegas da

profissão, outros mencionaram que baseiam suas propostas de formação em cursos e leituras

que eles próprios fazem. Ou seja, há indícios de preocupação por parte de muitos CP da rede

pública em estudar o ‘como fazer’ a formação, isto é, não ficar só nas diretrizes, mas chegar à

operacionalização do processo.

Em relação a detectar indícios das concepções de formação nas ações e nos discursos

dos coordenadores, outro objetivo desta pesquisa, é possível afirmar que a análise do conjunto

das informações coletadas permitiu considerar que os princípios subjacentes à prática de

formação dos CP são bastante diferenciados. Indícios dos modelos construtivistas foram

percebidos tanto nas respostas do questionário quanto na observação e entrevista dos

coordenadores. Por outro lado, os modelos estruturantes ainda estão presentes na atuação de

muitos desses profissionais, como se percebe em alguns comentários: “Você forma o

professor e ele vai aplicar na sala de aula” (CP Adriana); afirmação que denota uma

concepção de que prática se resume no conjunto de aplicações teóricas disponíveis a priori

que visam à resolução instrumental dos problemas apresentados na situação de ensino. Formar

para um ofício, visar ao desenvolvimento profissional é, sem dúvida, muito diferente de uma

conduta clássica de transmissão de saberes disciplinares. Não há como ensinar “saberes

profissionais”, eles são construídos pelos profissionais.

Portanto, os resultados da investigação apontam para a necessidade de aprofundar o

conhecimento das estratégias e procedimentos da formação de professores, numa perspectiva

que supere a lógica da racionalidade técnica, bem como a superação de práticas de formação

que levem em conta apenas a intuição e a experiência, desconsiderando o conhecimento

científico disponível.

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Para observar de que forma as concepções dos CP afetam os procedimentos de

formação docente, foi necessário recorrer à dimensão qualitativa da pesquisa. A técnica de

observação da ATPC associada à entrevista narrativa viabilizou contemplar esse objetivo. Dos

coordenadores participantes dessa dimensão, João foi o que demonstrou maior domínio dos

princípios construtivistas em sua condução da ATPC. Em Júlia, Eliane e Adriana, foi possível

observar, tanto nas ações realizadas quanto em seus discursos, indícios da lógica tradicional,

do modelo contratual escolarizado, mas também aspectos dos modelos investigativo e

interativo-reflexivo. Ou seja, os mesmos sujeitos não apresentaram um pensamento

homogêneo no que diz respeito à concepção de formação, e sim uma alternância de direções,

evidenciando que suas práticas transitam ora nos princípios da racionalidade técnica, ora nos

da racionalidade prática e crítica. Será que eles se dão conta de que suas teorias implícitas

afetam seus procedimentos de formação? Geralmente, não.

A clareza das teorias implícitas que movem a ação do CP não se dá da noite para o dia.

É um processo que demanda estudo, autoanálise, metacognição e tomada de consciência.

Nesse processo, os modelos de formação aos quais os coordenadores estão mais expostos

(como ocorre na lógica da formação em cascata ao qual estão inseridos na SEE-SP) incidem

fortemente na concepção desses profissionais e, subsequentemente nas propostas de formação

continuada que desenvolvem junto aos professores. O comentário do CP 291 ilustra bem essa

discussão: “No início da carreira, utilizava apenas exposição e leitura e discussão de textos

teóricos. Depois, com o passar dos anos e da minha participação nos Programas Letra e Vida

(o que ocorreu no meu quarto ano de exercício na coordenação), e Ler e Escrever74

passei a

utilizar registros de observação de aulas, tematização da prática, ações modelares por dupla

conceitualização e, sobretudo casos de ensino. Essas últimas estratégias contribuíram muito

para que meu vínculo com o grupo de professoras se fortalecesse. Passei a me sentir mais

seguro para desenvolver minhas tarefas e minha identidade como formador foi também se

movimentando de um jeito que eu passei a me sentir um formador [...]”.

Escolhi trazer o depoimento do CP 291, neste espaço, pois ele corrobora os achados

desta tese: há bons programas de formação propostos pelos órgãos centrais. Os dados

revelaram a contribuição desses para o desenvolvimento profissional do CP. Por isso este

estudo alerta para que essas instâncias não se preocupem apenas com o repasse de

informações de programas educacionais. É necessária a implantação de políticas públicas

74 Letra e Vida e Ler e Escrever são programas de formação da SEE-SP.

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relativas a uma formação específica para o coordenador, para que ele possa alicerçar suas

concepções educacionais e fundamentar sua prática como formador.

A esse respeito, também cabe um alerta ao CP: para ter sua atuação legitimada pelo

grupo, é necessário que ele invista em sua própria formação. O percurso de (auto)formação

esboçado neste trabalho sustenta que o aprendizado de um ofício complexo como a formação

docente, deve compreender, ao mesmo tempo, uma teoria associada à prática e uma prática

decorrente de uma teoria. Tal forma de articulação proposta implica que cada coordenador

suscite, em seu próprio meio, a reflexão sobre a prática e sobre os aspectos teóricos ligados às

problemáticas vividas pelos docentes.

Ao final da análise e das reflexões a partir das respostas e observação das reuniões dos

sujeitos, pude concluir que a seleção e/ou elaboração de estratégias de formação está fundada,

em grande medida, em teorias implícitas e idiossincrasias, assim como em familiaridades

presumidas com o ofício, mais do que em uma análise precisa e partilhada da realidade das

situações concretas de sala de aula e dos recursos teórico-metodológicos utilizados pelo

professor.

Em vista disso, acredito ser importante investir em estudos que ajudem o formador a

conceitualizar seu processo formativo, interrogando os fundamentos de uma formação

profissional de professores: o que eu entendo por formação? Como eu me constituí

formadora? Como as experiências vividas por mim em meu contexto de trabalho contribuíram

para esse processo? No próximo estudo que eu realizar, penso em me aprofundar nessas

questões. Vou-me concentrar também em utilizar o método (auto)biográfico, pois a entrevista

narrativa foi a técnica que melhor acessou as concepções dos CP e possibilitou a eles

momentos de reflexão sobre a prática formadora. Concordo com Placco e Souza (2018), elas

consideram que muito se tem estudado sobre formação docente na perspectiva de quem

recebe a formação, mas faltam estudos para compreender a concepção de formação do

formador.

Ainda que não tenha sido objetivo deste estudo, entendo que esta investigação oferece

subsídios ao formador, à medida que apresenta: a) uma definição clara do que é formação

crítico-reflexiva, a partir da literatura do campo; b) diferentes caminhos para uma formação

docente na perspectiva crítico-reflexiva. Esses elementos podem auxiliar o CP na elaboração

de seu plano de formação e na condução da ATPC.

Nesta trajetória de estudos e pesquisa, tenho clareza de que deixei muitos aspectos a

serem desvelados, de que existem questões a serem formuladas e esclarecidas. Acima de tudo,

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alerto para as condições que precisam ser dadas ao coordenador para que ele, de fato, fique

circunscrito nas atribuições formativas.

Por fim, após essas considerações, posso defender com mais convicção minha tese: os

procedimentos formativos adotados pelo coordenador em ATPC podem favorecer a

aprendizagem docente, por isso é importante conhecer e fazer uso de diferentes estratégias

formativas. O que orienta a ação do CP é a concepção de formação, dessa forma é importante

compreender as teorias implícitas na ação, fundamentá-las, revisá-las e reconstruí-las. Tarefa

que não é fácil, mas é possível, o exemplo desta pesquisadora atesta essa possibilidade e

fortalece a convicção de que a formação pautada no paradigma do desenvolvimento

profissional pode promover a reflexão e conduzir a uma prática intencional e planejada.

A questão que implantei no início deste texto não é nova, e sua resolução não é fácil.

Será que meu percurso me permitiu encontrar a resposta que eu tanto procurava? Termino-o

sabendo como formar professores? Posso afirmar que, ao longo desses quatro anos, encontrei

alguns caminhos, outros eu descartei... mas a busca sempre vai continuar.

Se as coisas são inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos, se não fora

A presença distante das estrelas!

(Mario Quintana)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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224

APÊNDICES

A aprendizagem é um simples apêndice de nós mesmos;

onde quer que estejamos,

está também nossa aprendizagem.

WILLIAM SHAKESPEARE

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225

APÊNDICE A

Relato de Observação da ATPC de Adriana

Adriana abriu a reunião transmitindo alguns informes sobre o calendário letivo:

reposição de dias por causa da copa, os dias da reunião de pais, etc. Em seguida lê a pauta que

está na lousa e diz: “como eu prometi pra vocês, hoje o professor Valentim75

veio falar sobre

projetos, como eu disse pra vocês, alguns dos nossos projetos estão muito bons, mas outros

precisam de mais informação. Qual deve ser a estrutura de um projeto? E será que quando a

gente trabalha com projetos a gente deixa de lado os conteúdos? Aproveitem a fala do

professor pra tirar suas dúvidas, para perguntar”.

Nesse momento me dei conta que a formação não seria realizada por ela! O palestrante

era um professor de engenharia e coordenava um departamento de projetos estudantis em sua

universidade. Ele apresenta o relato de uma prática realizada entre sua universidade e uma

escola pública; tratava-se de oficinas temáticas realizadas no contra turno das aulas e nos fins

de semana. Os alunos do último ano de licenciatura de matemática idealizaram a proposta do

projeto junto com os alunos da escola pública. Os vídeos e as fotos apresentados por ele

pareciam indicar bons resultados dessa experiência. O professor era bem eloquente, ao longo

de sua fala, de forma dinâmica, apresentou como elaborar projetos, como trabalhar os

conteúdos, etc. Os professores pareciam estar prestando bastante atenção, notei que alguns

estavam fazendo anotações. Mas todos estavam em silêncio, não estavam interagindo. Até que

uma professora disparou:

Olha esse jeito que você está apresentando os projetos é interessante, pode

até ser que funcione. Vocês fizeram um projeto só pra toda escola, certo? Mas aqui, dá

uma olhada (aponta para lousa) olha quantos projetos, têm mais de quinze. Eu consigo

trabalhar bem com um projeto, mas com quinze ao mesmo tempo. Quem consegue?.

A coordenadora intervém:

Não é você quem vai escolher os projetos são os alunos, eles que vão dizer com quais querem trabalhar nesse bimestre. Os professores estão fazendo assim: estão

organizando a produção desses projetos durante suas aulas; mas os alunos vão fazer tudo

fora da aula. Isso não vai te atrapalhar. Diz a CP.

Pois é, mas a riqueza dessa experiência que você (aponta para o professor

convidado) tá apresentando é justamente o contrário. Ao que a CP responde: Olha você poderia ter se posicionado em nossas reuniões de planejamento.

Eu tô só fazendo uma colocação, você não disse que era pra gente perguntar?

Nesse momento um dos professores presentes na reunião diz:

Vamos deixar disso. Não precisa ser assim. O professor convidado diz:

- Eu sei que eu venho de uma realidade diferente de vocês, eu sou engenheiro

por formação, mas gosto de dar aula. Na universidade a gente também tem problema,

principalmente com aluno, lá também tem aluno que não quer estudar. Que tá lá só

porque o pai quer ou para tirar o diploma, mas o meu departamento encontrou no

trabalho com projetos uma forma de motivar a molecada. Nesse último vídeo que eu

queria mostrar pra vocês para encerrar minha fala ...

Segue sua fala como se nada tivesse acontecido. Começa um murmurinho entre

alguns professores, mas não consegui registrar o que estavam falando.

No final do encontro, Adriana diz: “agora podemos voltar para nossos projetos e ver

o que precisamos arrumar”.

75 Nome alterado

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APÊNDICE B

Entrevista Narrativa com a coordenadora Adriana

Entrevistadora: Apresento a comanda 1 “Como professor, você certamente já

participou de inúmeras reuniões de ATPC, em diferentes formatos e com diferentes objetivos.

Conte um episódio que tenha te afetado, a ponto de trazer mudanças em sua atuação

profissional”.

Olha já faz tempo que eu sou professora, tem pelo menos dez anos ... [pausa na fala de

aproximadamente 15 segundos] algo que tenha me marcado? [nova pausa]. Você sabe o que

que eu sinto? Que o ATPC tem tomado assim uma importância maior, digamos. Eu não sei se

eu posso falar dessa forma, mas eu acho que antes a gente tinha o ATPC não como um

momento formativo, a gente tinha aquele momento aonde a gente ia se reunir muito pra falar

de aluno, sabe? Pra comentar algumas coisas, pra recados, algumas trocas assim. Mas não

existia uma formação mesmo para os professores. Então, eu não lembro de ter participado de

ATPCs formativos, eu lembro da minha coordenadora antes de eu vir pra cá, eu lembro dela

dizendo que a partir daquele momento estava havendo uma cobrança da Secretaria e que a

partir desse momento ela ia ter que começar a fazer algumas formações em ATPC, então de lá pra cá, a gente percebe que a questão da formação está cada vez mais sendo cobrada, né? Só

que assim, se a gente não tomar cuidado a gente só fica falando de aluno, a gente começa a

ficar dando ênfase só em recados, né? Mas dá sim pra gente também trabalhar a formação,

que eu acho que é muito importante.

Entrevistadora: você mencionou que se lembra da sua coordenadora dizendo que a

partir daquele momento teria que começar a fazer algumas reuniões de formação porque ela

estava sendo cobrada para isso. Você se recorda quando isso começou a acontecer? E como

foram as reuniões a partir de então?

Olha, eu acho que faz uns sete ou oito anos. Foi logo depois que teve o currículo, você

lembra dessa época? [Faço que sim com a cabeça] então a gente começou a falar sobre o

currículo na reunião. Ela trazia uns textos pra gente ler e depois fazia uma discussão em cima

disso. Não me lembro bem, acho que não foi nada muito interessante porque não me lembro.

Entrevistadora: Comanda 2 “Faz parte de sua trajetória como coordenador, ocasiões

que você tenha feito a formação dos professores em ATPC. Conte um episódio que foi muito

significativo para você como formador. Para isso, peço que você narre sua história com

detalhes, procurando identificar o que o levou a fazer a formação dessa maneira, os

sentimentos que vivenciou, as aprendizagens e as repercussões de episódio para você e seu

entorno”.

Faz quase quatro anos que sou coordenadora, eu era professora aqui dá casa, eu dava

aula no ensino fundamental no período da tarde, aí no primeiro momento fui convidada para

assumir a coordenação, mas eu não me sentia preparada, de verdade eu achava que não ia

conseguir. O grupo era muito grande, eu também era nova aqui na escola por isso não quis

assumir. Depois de dois anos eu fui convidada de novo, foi numa época que teve copa, nessa

época eu fiz um projeto aqui na escola e aí a diretora meio que me incentivou, ela falou: “ah,

não, vamos tentar” e tal. Daí eu falei: “ah, não, num posso falar não de novo, já recebi o

convite duas vezes”. Daí eu aceitei, mas eu gosto muito de ser coordenadora, tanto é que no

ano retrasado eu tive a oportunidade de ir para vice-direção e não aceitei, porque eu gosto de

trabalhar como coordenadora. Quando eu me tornei coordenadora foi que eu comecei a

entender como é importante a ATPC, é um momento que a gente pode estudar, que a gente

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pode discutir, é um momento de reavaliar o que que tá acontecendo, se está certo ou se está

errado, entendeu? Então, quando eu comecei a entender essa importância dai que eu comecei

a fazer a formação. Mas não foi automático.

Agora, pra te falar de uma formação que a gente deu que eu gostei, porque acho o

tema importante, foi na qual eu trouxe uma pessoa pra falar das metodologias ativas, porque é

assim, quando eu trago a proposta de trazer gente de fora, não sei se você reparou, eu já

começo a falar da questão da troca, que alguma coisa vai ficar, por que quando vem um

professor de uma universidade ou de uma outra realidade eu já explico pro profissional, antes

mesmo dele chegar aqui, eu preparo ele, sempre digo: “pé no chão, não esquece que aqui é

uma escola pública e que os professores vão se queixar de material, de falta de interesse dos

alunos, não se assuste”. Ok, também acho que tem falta de interesse dos alunos, só que assim,

a gente tem professores dando aula pras mesmas turmas, um faz maravilhas e o outro não sai

do lugar, só reclama, entende? Então essa última formação que nós fizemos em parceria com

uma universidade foi muito boa, essa de metodologias ativas, porque eu acho que tocou os

professores. Nessa vez teve professor que saiu, mas que queria ficar, como foi o caso da

professora de Física, ela só tem um ATPC comigo, então ela sempre sai na metade da reunião,

mas dessa vez ela disse: “Ah, Adriana, eu queria tanto poder ficar, mas eu tenho horário [pra

dar aula]”. Isso me deixa feliz, quando vejo que eles gostaram, quando tá interessante eles

ficam, porque o professor não vai querer ficar além do horário dele, né? Então, pode ser que o

professor não assimile tudo da formação, mas alguma coisa vai ficando e enquanto alguma

coisa vai ficando neles, acho que valeu a pena. Mas o que desgasta muito são situações como

essa que você presenciou hoje, você percebeu que chato?

Entrevistadora: Faço que sim com a cabeça e digo: você pode relatar um pouco mais

desse episódio? Tente identificar o que deste ocorrido te deixou chateada.

Ah, foi isso que você viu, a gente prepara o grupo, traz o professor de fora e daí no

meio da fala dele, aquela professora vem com aqueles questionamentos, sabe? Eu fiquei

chateada, porque não foi só o questionamento, mas foi o tom. E é assim, eu não trago

ninguém sem antes preparar meus professores, então a gente estava trabalhando com projetos,

dentro dessa ideia das metodologias ativas, então eu pedi para o grupo desenvolver projetos

que incentivassem o protagonismo dos alunos do ensino médio. Então cada professor

elaborou um projeto sobre esse assunto que estivesse relacionado com sua disciplina, alguns

quiseram fazer projetos sozinhos e outros quiseram fazer em parceria. Eles foram fazendo nos

horários de ATPC. Daí eu li projetos que eles me entregaram. Alguns estavam bem bacanas,

outros nem tanto. Percebi que alguns professores precisavam compreender melhor o que tem

que ter num projeto. Por isso eu achei que seria legal vir esse professor da São Judas, já faz

tempo que a gente começou essa parceria com essa faculdade. E vir alguém de fora é sempre

bom. Então eu expliquei pro grupo sobre os motivos que achava importante ele vir. Os

professores gostaram, e essa professora que fez isso estava presente quando a gente

combinou, ela sabe que estamos trabalhando com projetos, como é que ela vem afirmar

naquela hora que não acha que esse jeito que a gente [da escola] tá trabalhando com projeto é

apropriado? Se ela achava que não estava certo, porque ela não trouxe isso pra gente antes?

Por isso que disse: “Você teve oportunidade de estar aqui e de opinar, mas não estava, você

pouco participou de nossas discussões”. Porque é assim, a pessoa tá sempre lá na ATPC, mas

tá sempre mexendo no celular ou fazendo qualquer coisa menos prestar atenção, daí na hora

que tem alguém de fora fala coisas desse tipo, parece que é para atingir, sabe? Eu fico muito

triste com essas coisas, com a questão das críticas, porque parece que nada que a gente busca

fazer pra escola vai surtir efeito, a tendência é sempre olhar pelo lado negativo “ah, isso não

vai dar certo”. Sabe assim? Eu sinto muito isso. E isso eu acho muito ruim nas reuniões em

geral. Se a gente não toma cuidado a gente começa só a valorizar aquilo que não tá bom. Só

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que assim, nos meus ATPCs eu não abro espaço muito pra isso, eu procuro escutar, eu tento,

sabe, mas eu não fico dando bola. Mas por outro lado, me fortalece quando os professores

que estão ao lado apoiam, quando dizem: “não é por aí”.

Entrevistadora: você disse no início de sua fala, que quando começou a compreender

a importância da ATPC começou a fazer formação, você poderia me contar o que fez a partir

desse momento?

Tudo que a gente trabalha aqui na escola está relacionado com nossos resul ...

necessidades, eu ia falar resultados, mas não são os resultados são as nossas necessidades.

Tanto é que a gente tá no programa do MMR. Mas é o que eu falo pros professores: “nós

temos que sim cumprir com toda parte burocrática do MMR, mas já que nós temos que

cumprir isso vamos utilizar a nosso favor, entende? Então todos os projetos, tudo que

acontece na escola está correlacionado a esse programa e assim, todos as ATPCs que nós

fazemos trabalhamos com as ações, com as etapas (do programa) que a gente precisa

direcionar, dar os encaminhamentos, então é sempre pautado naquilo que a gente tem

programado para o ano inteiro. Então, antes das férias nós tivemos OT na DE pra montar as

ações corretivas porque nós não atingimos os resultados, então a gente teve que rever e

colocar outras ações, mas tudo é sempre voltado pro nosso trabalho mesmo. É muito real. Eu

falo pra eles: “pra não ficar cansativo tem que ser dentro da nossa necessidade”, né?

Entrevistadora: teve algum outro episódio que você se recorda, envolvendo situação

de formação em ATPC que você gostaria de relatar?

Olha eu vou te falar de quando eu comecei a ser coordenadora, eu enfrentei uma

situação chata de dois professores batendo boca entre si. Daí um deles bateu na mesa e disse:

“ah, deixa eu sair daqui”. Isso me deixou assustada. Não era para ser assim. Mas foi uma

construção. Eu tive que ir mostrando o que realmente queria, e ter pé no chão, no sentido de

não começar a viajar muito, porque a gente tem que saber muito bem qual é a realidade do

professor em sala de aula, respeitar muito isso, sabe? Então a gente tem que tomar muito

cuidado com muitas coisas, muitas coisas mesmo. Então eu lembro desses episódios, de como

o grupo não aceita o novo. O grupo não aceita o novo. E é assim: se você traz coisa nova, é

porque é nova, se é sempre a mesma coisa, é porque é a mesma coisa, você entende? E a

gente tem que trabalhar tudo isso, e continuar na calma, na amizade porque é o que eu falo pra

minha diretora “eu preciso dos professores, preciso muito dos professores”. Hoje não tinha

uma professora aqui, mas desde que eu comecei ela fala assim pra mim: “o jeito com que

você lida com a gente, com que você pede as coisas, por muitas vezes a agente acha que nem

é possível, mas a gente faz por conta de como você trata a gente, ou da forma como você vai

conduzindo as coisas”. Então essa é a forma que eu tenho conseguido lidar com esse grupo,

não é fácil, é uma construção. Mas é assim, são situações como essa que você presenciou que

eu aprendi a lidar. Sabe assim? Na hora eu fico chateada porque, eu não sei se é impressão

minha, mas parece que precisa sempre levar prum outro caminho. E não é, a gente pode

conversar, a gente pode rever, eu sou extremamente aberta a ideias e tudo. Mas infelizmente

não acontecem as coisas, entende? Então é difícil, né?

Entrevistadora: terminada essa última frase, Adriana fica calada. Introduzo uma

pergunta de opinião: quando cheguei aqui na sala eu vi que em todas as mesas havia esse

pequeno bilhete (mostro o bilhete). Você gostaria de comentar o porquê de preparar esse

bilhete para os professores?

Eu não faço isso em toda reunião, mas faço naquelas que considero, digamos assim,

mais importante, ou em ocasiões mais especiais eu busco fazer isso. Antigamente eu colocava

toda segunda-feira um recadinho assim na minha pauta, mas daí a gente mudou o formato da

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pauta e agora não cabe mais. No replanejamento nós fizemos um mimo pra eles, colocamos

bilhetes para cada e junto um chocolate prestígio. Porque eu acho que o professor se sente

muito desvalorizado e a sala de aula é muito difícil hoje. É comum eles falarem assim: “ah eu

me sinto muito sugado, eu tô muito cansado, etc”. Então eu acho assim, por que não? Sabe

assim, apesar de todas as nossas dificuldades, às vezes de nossas diferenças a gente vai ter que

conviver, não vai? Então que seja de forma harmoniosa. Mas assim, faço porque gosto,

porque que de alguma forma toca positivamente, você ser bem recepcionado, acho que nunca

é demais, né? É isso.

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APÊNDICE C

Relato de Observação da ATPC de Júlia

Um de seus horários de ATPC acontece às segundas-feiras no período das 10h50 às

12h50. Neste dia, a reunião foi realizada na sala dos professores. O grupo que participa desse

horário é pequeno tem apenas 8 pessoas. Pelo que percebi, os professores eram todos do

Fundamental II. Na reunião deste dia o grupo preencheu planos de aula seguindo as ações do

MMR.

Júlia inicia o encontro perguntando: “como foi o final de semana de vocês?”. Por

alguns minutos a conversa entre eles gira em torno disso. Enquanto falam, Júlia distribui

cópias de planos de aulas para os professores e diz: “Hoje a gente vai preencher os planos de

aula seguindo as ações do MMR. Então hoje a gente vai olhar pra nossa disciplina e vai

pensar: quais competências e habilidades eu vou priorizar para trabalhar com os alunos? Que

conteúdo do bimestre casa bem com essa habilidade? Quais atividades vocês vão

desenvolver? Peguem a folha que eu dei. Tão vendo? Pra facilitar vocês podem preencher a

partir desse modelo, ou se quiserem podem usar outro. Pra facilitar ainda mais eu tirei copia

de alguns bons planos de aula que os professores da noite fizeram, é só pra vocês terem uma ideia. Não é pra copiar (risos). Ficou alguma dúvida? Aqui tem também a pasta com os

resultados da AAP”.

Fiz uma reprodução dos modelos de plano de aula ao qual ela se refere. Era uma

planilha que deveria ser preenchida:

Série Data Atividade Habilidade

Para coluna “habilidade” os professores consultavam uma pasta que a CP levou para

sala. Nela estavam presentes todas as habilidades da última AAP com gráficos por cada série.

Os gráficos registravam as habilidades que os alunos mais haviam errado por sala e por série.

Ninguém pergunta nada. Um dos professores diz: “-Ah , esse MMR tá dando muito

trabalho”. Outra comenta: “será que eles vão ler esse monte de coisa que a gente tá

mandando?”.

Os professores preenchem a folha. Percebo que alguns estão consultando o livro

didático e outros os cadernos do professor (do Currículo). Consultam também a pasta que ela

trouxe. Duas professoras começam a conversar sobre uma atividade que estão realizando na

mesma sala (são fotos que os alunos estão tirando da escola). Júlia não faz mais nenhuma

intervenção na atividade que estão realizando.

O grupo conversa muito entre e sim e com ela, surgem vários assuntos: criação de

filhos, dois deles contam sobre o filme que foram assistir no cinema (mama mia). A conversa

de todos passa a girar em torno do filme. Em determinado momento, Júlia diz: “olha que

legal pessoal, eu tô aqui pensando, vocês acham que dá pra usar esse filme pra trabalhar em

sala de aula?” Uma professora diz: “precisa ficar disponível, ainda tá no cinema”, outro

completa: “eu consigo baixar, mas o que você sugere”. Os professores se animam: “uma vez

eu trabalhei com filme assim ...”; “ah, mas esse filme é terrível, muito chato ...ah mais tem

aquela trilha sonora, lembra ...”. Júlia imita o jeito de uma personagem de um dos filmes que

mencionam (depois eu descubro que ela é atriz de teatro).

Faz uma pausa para um lanche. Ela me explica nesse momento que os professores

saem direto da ATPC para aula, que começa às 13h. “Eles precisam comer, né? Rsrs”.

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Até o final da reunião os professores entregam pra Júlia a folha preenchida, somente

uma professora diz que vai entregar depois porque precisa planejar duas atividades com a

professora de geografia. “Vamos amadurecer a ideia do filme, em!”. Despede-se do grupo.

Ao final do encontro pergunto pra Júlia sobre a atividade que os professores estavam

realizando. Ela diz: “são do MMR, você sabe o MMR?” e aponta para um dos painéis da sala.

Tirei foto dos painéis, como se observa na figura 6.

Fonte: a autora

“A gente fez uma das etapas hoje, na semana seguinte a gente vai fazer outra etapa do

MMR”. Aponta para o quadro, mas não consegui entender muito bem. Guardei a dúvida para

o momento da entrevista.

Figura 6 - Registro de atividades realizadas na ATPC escola A

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APÊNDICE D

Entrevista Narrativa com a coordenadora Júlia

A entrevista foi realizada na sala da coordenação. A sala é pequena e houve um entra e

sai de gente. Júlia parece não se importar com isso. A entrevista com ela foi a mais longa.

Durou mais de uma hora, no entanto houve muita interrupção de pessoas, ora alunos pedindo

pra falar com ela, ora professores pedindo algum material, ora algum funcionário da escola.

Entrevistadora: iniciei a entrevista a partir da comanda 1. Júlia foi logo falando,

diferente dos outros entrevistados que fizeram uma pausa antes de começar suas narrativas.

Uma das reuniões de ATPC mais interessantes que eu vivenciei, que me marou

positivamente, foi uma em que o coordenador da escola fez algo muito inusitado. Sabe eu

não sou muito antiga na educação, por isso não participei tanto de reuniões de ATPC. Eu sou

formada em artes cênicas, depois fui fazer pós-graduação em teatro, fiz licenciatura por fazer,

porque gostava de estudar. Vivi uma vida inteira no teatro e no circo. Em 2011 eu sofri um

assalto horroroso e aí quebraram a minha perna. Daí eu tive que dar uma pausa na carreira.

Ainda bem que eu tinha feito licenciatura, pois bem nessa época abriu o concurso para

professores. Eu já tinha muitos anos de CLT, 12 anos, mas no Brasil não dá para viver só de

Arte; ainda mais em licença médica. Passei de primeira no concurso, fui chamada logo na

primeira lista. Fiquei muito feliz. Entrei num mundo novo, dei de cara com a educação.

Percebi, ao longo desses cinco anos, que nesse universo eu podia exercitar todas as artes. Só

que ao mesmo tempo eu comecei, dentro das escolas que trabalhei - porque eu nunca fiquei só

em uma escola no mesmo período, nunca dá para você completar a carga numa escola só né?

– eu queria mais, eu queria encabeçar projetos, eu queria dar palpite em tudo, eu queria ser

uma pessoa mais participativa no que estava acontecendo na escola. E desde o começo as

pessoas diziam “menina, mas o seu jeito é coordenação!”. Quando eu vim aqui para esta

escola, como professora, há três anos, eu continuei com esse meu jeito. Daí, de repente,

surgiu a oportunidade, porque a coordenadora que estava aqui no ano passado teve um

problema de saúde e precisou sair. E meus colegas daqui ficavam me incentivando: ‘vai, que

você tem jeito’. Sabe, eu fui mais porque as pessoas ficaram me incentivando. Eu pensei: por

que não? Então eu me inscrevi. Daí eu fiz a entrevista e passei!

Na coordenação eu me encontrei, não pelo fato de liderança, mas de poder buscar

mais, mais, mais, mais pra escola. Me envolver, fazer a escola participar das coisas , de

projetos de Arte, por exemplo. Trazer palestras para professores, para os alunos; fazer a escola

estar em outros lugares, poder sair [os alunos] desse espaço. Eu adoro isso. Só que nove horas

nunca dá, né? Nove horas não é nada pra gente conseguir fazer o que quer e o que precisa.

Mas o que eu tava te falando? [risos] Ah, da reunião de ATPC mais interessante.

Então, foi uma em que o coordenador da escola fez algo muito inusitado. A gente chegou pra

reunião e se deparou com uma sala num formato diferente, pela primeira vez não tava

naquele formato da gente sentar e todo mundo ficar ouvindo ele passar os recados, e dar

textos pra gente ler. As paredes da sala estavam cheias de pregos (eu acho que depois ele teve

que tirar e colocar muita massinha para cobrir tanto buraco!); daí ele pegou barbante e foi

trançando nos pregos, era como se fosse uma teia. E ao longo da teia, ele colou um monte de

velcro e vários post-it, com umas frases. Então, ele pediu pra nós professores, colocarmos um

monte de bolinha de velcro também na nossa roupa e caminhar por entre a teia de barbante, e

à medida que a gente ia caminhando aquele velcro pegava, sabe quando gruda? Quando isso

acontecia, a gente tinha que parar e ler o que estava escrito no post-it, que estava mais perto

do velcro. Daí a gente ia lendo essas frases, que falavam sobre trabalho em grupo, sobre a

fofoca, a importância da convivência, assim por diante. No final da teia, a gente tinha que

falar umas das frases e explicar, de acordo com a frase que a gente escolheu como aquilo se

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aplicava com nosso trabalho, com nosso cotidiano na escola. Foi uma coisa tão diferente,

porque todo mundo começou a falar. Na reunião seguinte, ele voltou a fazer o HTPC normal,

como ele estava acostumado, só que foi totalmente diferente, depois desse dia, porque o clima

entre nós mudou. Então, ou seja, ele usou uma dinâmica. E eu percebi o quanto isso é

importante, ele usou uma dinâmica pra fazer a pessoa ir para lá. E isso me marcou muito.

Então de vez em quando eu uso aqui, não do jeito que eu queria, porque não dá tempo.

Eu acho que o ATPC não é um momento de recado, é um momento de formação, de discutir

conhecimentos. É um momento que se para pra isso, pra estudar. Dá muita vontade de fazer

essas coisas, igual nessa história que eu te contei, mas não dá tempo. Agora eu entendo o

porquê dos ATPCs que passei não serem tão interessantes. Porque não dá tempo do

coordenador planejar e preparar do jeito que tem que ser.

Mas às vezes eu uso de artifícios pra pessoa ir pra lá, do tipo: ou passar um vídeo, uma

música, ou eu dou para os professores mensagens, que eles abrem e aí tem alguma atividade,

alguma tarefa. Tudo para fazer a pessoa ir pra lá por inteiro, entende?

Entrevistadora: Ir prá lá é o que?

A cabeça tá lá fora, o corpo tá lá fora, o professor muitas vezes não quer tá lá dentro,

lá na reunião. Tipo: “por que eu tô aqui dentro? Que saco, eu vou ouvir recados, eu vou ouvir

falar de coisas que são maçantes”. Então, às vezes a cabeça dele não tá lá, dá para ver isso, dá

para perceber pelo jeito deles, por exemplo, quando ficam no celular, quando a gente pergunta

e eles dizem com um tom de voz assim: tá, entendi, sei (vocaliza o tom que detona

impaciência). Então essa ATPC foi bem interessante.

Entrevistadora: e o que aconteceu então, a partir dessa reunião que você mencionou?

O clima que ficou depois do encontro. Ficou um clima amistoso entre as pessoas. A

gente estava precisando. Na Diretoria de Ensino aconteceu uma coisa parecida, posso contar?

Entrevistadora: Claro!

Várias vezes eu já fui convocada para ir lá, mas às vezes eu não estava com cabeça. Às

vezes a gente tá cansada, e geralmente as OTs [orientação técnica] são das 8h às 6h da tarde.

É muito tempo! Tá cheio de serviço na escola, e a gente tem que estar lá. Mas daí, quando eu

estou lá, aprendo muito. Eles sempre fazem a gente refletir sobre coisas da educação, da nossa

prática. Outro dia eu fui numa OT maravilhosa na DE, os PCNP começaram a OT com uma

música, depois fizeram uma dinâmica, sabe aquele jogo passa ou repassa? Que tem aquele

negocinho de apertar o botão e fazer um barulho? Então, tocava uma música lá que era de

filme e a gente tinha que apertar e falar de qual filme que era. Aquilo já fez todo mundo ir pra

lá, entende? Então toda vez eles fazem alguma coisa que nos motiva; motiva não só a mente,

mas o corpo, os sentidos. Entende?

Entrevistadora: Entendo sim. A próxima comanda é muito parecida, mas agora

gostaria que você pensasse como coordenadora. Leio a comanda 2 com ela na tela do

notebook.

Olha ... teve algumas que foram bem marcantes para mim. Mas eu tenho que contar

uma só? Bem, teve uma ocasião que foi bem bacana. Lembra quando saiu aquele comunicado

sobre a municipalização das escolas? Então, isso ocasionou muita apreensão entre o grupo.

Então a gente resolveu usar a reunião para entender essa Lei. Para entender como a gente ia

ser afetado. Eu trouxe o texto dessa Lei pro encontro e fiz a leitura com eles. Aquilo rendeu

tanto, que em cinquenta minutos foi pouco. Eu tive que separar outras resoluções e outros

textos que estavam relacionadas com esse assunto, porque os professores pediram mais textos

de apoio para continuar a discussão. Então eu trouxe reportagens e outros documentos que

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relatavam a história da municipalização em São Paulo. Conhecer esses fatos históricos foi

muito interessante, tinha professor que tinha vivenciado essa experiência, daí eles começaram

a contar suas histórias: “em mil novecentos e oitenta e não sei o que, eu estava começando no

magistério e aconteceu assim”; dai vinha outro e emendava sua história “porque isso

aconteceu comigo lá na escola”. Daí os outros começavam a perguntar. Olha, eu só sei que

duas horas foram pouco. E foi uma aula! Eu aprendi muito, inclusive com os professores de

História. Eu acho que todo mundo de suas disciplinas (pausa) e se vê, olha que interessante eu

não tinha pensado nisso. Agora que eu tô falando eu tô pensando, a contribuição dos

professores de História nesse momento foi essencial, eu acho que nem eles se deram conta

disso. E cada um deu pitaco, olha que muito louco, não tinha pensado nisso, cada um deu

pitaco que tinha muito a ver com sua disciplina. Até porque eu falei muito a respeito da época

da ditadura e dos artistas. Obvio né?! Eu não poderia falar sobre outra coisa. Agora que eu

estou me tocando como vai, né? para sua área. Eu não tinha percebido. Nossa que falta de

percepção horrorosa. Eu podia ter trabalhado algo em cima disso, né? Que interessante

[contar], faz refletir, que coisa!

Entrevistadora: mas é assim mesmo, isso que você está fazendo, que é parar para

refletir no que você fez é um aprendizado muito legal, né? É por isso que minha proposta é ir

para linha da entrevista narrativa.

É faz refletir. Que coisa! Eu podia ter usado alguma coisa de acordo com sua

disciplina; refletir sobre interesses né? De acordo com sua disciplina, como sua área do

conhecimento contribui nessa discussão?

Entrevistadora: então essa foi uma história que você sentiu que te marcou

positivamente. Há outra história que você queira comentar?

O dia da BNCC. Foi agora, nesse mês. A DE mandou um material da Secretaria, com

um power point, orientando como os professores tinham que preencher um documento a

respeito do último texto da BNCC. A tarefa que a gente recebeu da DE foi a seguinte: dividir

os professores por área de conhecimento e pedir para explicarem se as habilidades e

competências da área estavam claras ou não, além de dizer como estas habilidades e

competências promoviam integração entre as disciplinas da área. Se eles achassem que não

era pertinente, ou que não estava claro, eles deveriam justificar.

Eu fiz isso na ATPC: levei o material para os professores e passei as orientações. Mas

daí, as dúvidas começaram a surgir. Os professores começaram a se perguntar: e como vai ser

isso? Se as únicas disciplinas obrigatórias são português e matemática como ficarão os

professores das outras áreas do conhecimento? Se a escola vai ter que se organizar para

oferecer os itinerários optativos, então como o aluno faz? Supondo que o que ele opte por

estudar não esteja sendo oferecido aqui nesta escola, ele vai ter que ir para outro bairro

estudar, talvez até tenha que atravessar a cidade. Será que ele vai? Será que isso não vai

prejudicá-lo? Como funcionaria a carga horária? Enfim, os professores foram levantando

questionamentos. Mas a gente [coordenador] não teve espaço lá na DE para discutir essas

dúvidas. Então eu disse pra eles: eu também não sei. Eu não tinha respostas para isso.

Daí logo os professores falaram: a gente não quer discutir habilidade e competência. A

gente já conhece isso de trás pra frente. O Currículo do Estado já trabalha assim, não tem nada

de diferente. E naquele momento, nós entendemos que preencher o documento, o que poderia

significar? Que a gente leu concordou e a escola está de acordo. Era isso que a gente queria?

Então não vamos tocar nessa documentação sem antes entender nossas principais questões.

Porque com essa documentação na mão o que que os interessados em fazer passar essa

Base vão dizer: “olha aqui, tá vendo? As escolas todas leram a BNCC”. Eles [MEC] jogaram

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um documento de mais de 150 páginas na internet, tá liberado para consulta pública, todas as

escolas do EM de SP leram preencheram esse documento, então, goela abaixo.

Então os professores propuseram se informar mais sobre isso. Daí na ATPC seguinte,

eles trouxeram bastante material que explicavam as mudanças. Eu também trouxe bastante

material. Nós lemos muito e no fim, nós todos fomos contra o preenchimento do documento

da Secretaria. Então nós fizemos uma carta, explicando os motivos de a escola inteira ter se

negando a preencher a documentação da Secretaria sobre a BNCC. Todos assinaram a carta.

A diretora também se posicionou e ficou a nosso favor.

Esse episódio foi extremamente marcante, porque foi um posicionamento. Eu tenho 36

anos. Eu participei de algumas paralizações, passeatas. Mas essa questão do posicionamento

coletivo e de se colocar frente a decisões é novo para mim. Infelizmente eu não sou de uma

época em que os jovens foram lá e batalharam e protestaram contra alguma forma política,

como a ditadura, por exemplo. Eu não sou dessa época, na minha época não aconteceu nada

disso. Então, esses poucos posicionamentos são marcantes, porque você se sente parte, né? Eu

estou fazendo alguma coisa, eu posso, ainda que eu seja um grãozinho. Então, esse tipo de

acontecimento que ocorreu aqui na escola foi importante.

Mas claro que nesse tempo que estou na coordenação teve também momentos que me

marcaram não de maneira positiva. Teve uma vez, não foi só uma vez que aconteceram coisas

não tão boas, mas essa foi a primeira, então eu senti mais. Eu havia preparado todo um

material para reunião. Foi numa ocasião em que havia mudado uma aluna trans para escola.

Isso estava dando muito bochicho. Eu e a outra coordenadora achamos que era bom trazer

isso para discussão dos professores na reunião. Eu trouxe uma legislação que explicava como

a escola tem que fazer em casos assim. Mas os professores não estavam levando a sério, tinha

alguns fazendo piadinha, sabe quando tem na classe aquela turma do fundão? Eu lembro que

pensei: ‘por que eles estão se comportando assim? Isso era algo sério. Para piorar veio uma

professora e começou a por em dúvida o assunto que eu estava tratando. Ela dizia “mas lá na

outra escola que eu trabalho é assim”. Mas cada escola tem sua realidade. Eu não soube lidar

com aquilo, era minha colega, não estava preparada. Fiquei mal. Daí, na próxima ATPC a gente já

chega mal, vem mais insegura. Por que a gente se cobra, né? Com o tempo eu fui aprendendo.

Hoje, se alguém reage assim eu agrego o comentário ao que estou falando, mas não deixo mais a

pessoa ficar no foco. A pior coisa é perder o controle, assim, sabe aquela dispersão, quando os

professores não estão mais prestando atenção? Isso é horrível, às vezes, até hoje, quando termina

a reunião eu paro e fico pensando “o que que eu fiz de errado?” É impressionante como a gente se

cobra. E por que não é problema dele [professor], que não está prestando atenção? É um assunto

da escola do trabalho dele, ele que deveria estar prestando atenção, a culpa não é minha. Acho que

é assim que a gente deveria pensar. Só que na hora é muito difícil né?

Ao mesmo tempo em que essas coisas acontecem, eu sinto que a gente não tem

suporte. A gente devia ser mais preparado, ter mais formação. A gente tem pouca OT

[orientação técnica] na DE. Por exemplo, hoje, a gente chamou um professor da São Judas pra

falar sobre projetos para os professores na ATPC, porque a escola entrou em contato. A gente

precisa de formação sobre esses e outros assuntos, pra poder multiplicar. Ok, dentro da rotina

do coordenador estão inclusas as horas de estudo. Mas que horas? Só se for da meia noite às

seis da manhã. Não tem como. Mas a gente que é coordenador quer fazer um bom trabalho. A

gente fica numa busca incessante sobre o que e como trabalhar a formação. Haja caloria pra

gastar. [risos]

Entrevistadora: nesse momento da entrevista um professor entra na sala e pede ajuda de

Júlia para pegar um material. Ela precisou sair dala e demorou muito para voltar. Quando

retornou me pediu desculpas e pergunta se eu gostaria de continuar a entrevista em outro

momento, pois acabar de irromper um problema entre alunos.

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APÊNDICE E

Relato de observação da ATPC de Eliane

A reunião do dia 15/08

Dentre as várias opções de horários de ATPC de Eliane, escolhi participar da reunião

que ela realizaria na quarta no período das 12h30 às 13h10.

O contato com Eliane ocorreu da mesma forma como nas outras escolas. Na Diretoria

de Ensino deram boas referências dela. O primeiro dia combinado para eu participar da ATPC

foi em 14/08. A reunião seria realizada na sala dos professores, não consegui registrar quantos

professores estavam participando do encontro, pois havia muita circulação de professores na

sala. Nesse dia, no entanto, não houve reunião de formação, pois alguns professores insistiram

em utilizar esse horário para corrigir a AAP76

(Avaliação de Aprendizagem em Processo).

Eliane concorda com eles e diz “ok, é melhor mesmo, assim já fica tudo pronto pra gente

discutir os resultados da AAP na próxima semana”. Eliane me diz: “esta avaliação mobiliza a

escola inteira, os professores das outras disciplinas também participam na correção”. Explica-

me que precisa resolver um assunto urgente e pergunta se eu quero ficar na sala com os

professores. Combino com ela para voltar na semana seguinte.

A reunião do dia 21/08 - terças no período das 11h às 13h

Ao chegar à escola fico sabendo que a reunião desse dia seria para discutir os

resultados de uma pesquisa de doutorado intitulada “Educação mediada pelas referências

musicais dos alunos”. Estavam presentes 17 professores na reunião. A ATPC foi na sala de

multimídia. O pesquisador da ECA-USP aplicou um questionário que foi respondido por 534

alunos da escola B e neste dia foi apresentar aos professores e coordenação os achados de sua

pesquisa. Dentre eles: 67% dos alunos da escola ouvem música durante a aula; destacou quais

foram as preferências musicais apontadas pelos alunos (o principal foi k-pop); suas

percepções sobre as músicas trabalhadas pelos professores, etc. o pesquisador não se limitou a

apresentar os dados quantitativos; fez várias atividades com imagens, músicas e clipes para

envolver os professores no assunto, em determinado momento propiciou uma reflexão

baseada em conceitos freireanos. Os professores interagiram bastante. A CP participou da

reunião realizando as mesmas atividades propostas aos professores. Ao final da fala do

pesquisador, Eliane pergunta aos professores: “vocês gostaram de saber disso?”; “o que

vocês acham que tudo isso tem a ver com a gente?”. Um dos professores respondeu: “muita

coisa pra mim foi novidade ... a gente está cada vez mais distante do universo dos alunos, a

gente fala tanto em conhecimentos prévios, mas a gente não conhece eles...”; outros

professores comentaram: “essa geração quer fazer tudo ao mesmo tempo, escutar música e

estudar, como é isso?”; outro afirma: “essa é a geração Z, eles perdem o interesse

rapidamente, gostam tanto de uma música hoje e amanhã nem lembram mais dela, na sala de

aula é a mesma coisa, perdem o interesse muito rápido”.

A partir disso começou uma discussão entre os professores sobre conflitos de geração.

Eles interagiram bastante rememorando sua própria juventude, ou falando dos filhos

adolescentes que tinham em casa. Alguns começaram a trazer exemplos de alunos da escola.

A discussão começou a pender para falar de indisciplina. A coordenadora intervém e diz: “ok,

esses são os alunos que a gente tem. Vocês acham que a gente pode aproveitar isso que foi

trazido pra fazer algum trabalho com eles?". Uma professora respondeu “dá pra gente mostrar

76 Avaliação institucional de língua portuguesa e matemática da SEE/SP Mais informações em

http://www.educacao.sp.gov.br/avaliacao-aprendizagem

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o como a cultura deles é inútil (risos), sinceramente, as músicas desse MC Kevinho são

verdadeiras bobagens”. O pesquisador pergunta ao grupo: “mas será que eles entendem a

letra?”, “ah, entendem sim, eles só não entendem matemática”, diz outra professora. “Mas e

se trabalhar uma análise crítica da letra, fazendo eles perceberem como a mulher ou negro ou

o nordestino é caracterizado?”, pergunta novamente o pesquisador. Os professores dão

algumas respostas. O pesquisador faz outros comentários e novas perguntas. Um professor

responde: “acho que dá pra fazer uma discussão legal, mas primeiro a gente precisa conhecer

essas letras”. A coordenadora então afirma: “concordo com você professor” e voltando-se

para o pesquisador “você pode voltar aqui outro dia pra ajudar a gente com isso?”. O

pesquisador concorda.

Finalizada a reunião, Eliane me explica que achava importante saber o resultado da

pesquisa e que entrou em contato com o pesquisador para agendar um retorno “mas ele só

tinha esse dia”. Na terça seguinte, segundo ela, seriam discutidos os dados da AAP. Pergunto

se posso vir em seu ATPC de quinta-feira; ela hesita um pouco “é que de quinta é o prisional,

mas se você quiser pode vir”.

A reunião do 30/08

No combinado compareci ao encontro de ATPC. A reunião estava programada para

começar às 10h50 e terminar às 12h50. Às 11h15, Eliane me levou até a sala de informática,

local da reunião, e me apresentou aos professores; todos estavam mexendo no computador,

eram quatro professoras e dois professores. A CP me diz para eu ficar à vontade que

retornaria logo. No entanto, Eliane só voltou às 11h50. Depois fiquei sabendo o motivo de seu

atraso: ela tinha outro grupo de professores fazendo ATPC em outra sala. Depois da reunião

ela me explicou: “quinta-feira é o único dia que os professores do prisional vem para escola a

gente montou dois horários porque a gente achou que logo teria outro coordenador para ficar

com eles, mas nunca veio ninguém, então eu juntei os dois grupos, mas não tava dando certo.

O prisional tem uma demanda específica, os professores precisam de mais ajuda, são todos

categoria O. Daí a vice-diretora e eu a gente se reveza, enquanto ela fica com o outro grupo de

professores eu fico aqui com o prisional, mas hoje ela foi convocada pra uma reunião, daí eu

tive que ir lá um pouquinho no outro grupo”. Durante a ausência dela fiquei conversando

bastante com esses professores, nunca havia tido a oportunidade de conversar com professores

deste sistema, aprendi muita coisa nova.

Eliane chega e pede desculpas pelo atraso, logo pergunta ao grupo “eu verifiquei as

listas de vocês, mas tem umas brechas, tem aluna que tá na lista do Igor77

que não tá lista da

Júlia. Outra coisa são as alunas que foram transferidas, essas não podem estar mais com

presença, lembra que a gente conversou?”. A partir disso, os professores abrem seus diários e

começam a verificar e conversar sobre os nomes de alunos mencionados por Eliane.

Finalizada essa etapa, Eliane pergunta: “Como está o concurso de redação?” eu não

consegui entender qual era a proposta deste concurso. Os professores conversavam entre e si e

com a coordenadora ao mesmo tempo, o barulho de fora da sala era intenso. Uma professora

afirma: “agora tá mais fácil porque eles trouxeram um material pra gente trabalhar com elas, é

esse aqui” peço para tirar foto de parte do material. Começo a entender que o concurso que a

CP menciona é um projeto de identidade e gênero da Secretaria de Justiça e da Defesa da

Cidadania. Eliane faz várias perguntas sobre o material.

77 Os nomes foram alterados

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238

Figura 7: Materiais utilizados pelos professores na ATPC da escola B

Fonte: professores da escola B

“E o que vocês estão achando de trabalhar com esse material?” “ah tá mais fácil,

porque tem as etapas”, outra profa. diz: “eu to adaptando e fazendo do meu jeito, elas ficam

fazendo muita piadinha, não entendem as coisas de um jeito sério”. Os professores vão

expondo suas opiniões, Eliane escuta bastante e fala pouco.

Até que data é para entregar as redações? Vocês podem trazer algumas aqui pra

gente ler na semana que vem? (CP)

E você Júlia, gostou do material do EMAI que eu te passei? (CP, voltando-se para a

profa. de matemática)

Gostei, mas a mulher lá disse que não pode ficar levando outros livros pra lá assim

não.

- Que mulher lá?

- A mulher lá do SAP, porque elas têm o controle dos livros que têm lá.

Não gente, vocês têm autonomia para trabalhar o material que vocês quiserem. Eu

vou falar com ela. Igor você pode explicar pra professora aquela sequência didática que você

trabalhou usando o material dourado?

Eu tô com ela aberta aqui na tela, quer vim ver? É o que tá no EMAI ... (prof. Igor)

Na sequência segue uma enxurrada de comentários sobre as interferências dos

funcionários do SAP ao trabalho que estavam realizando. Os professores olhavam muito para

mim enquanto falavam. Eliane escuta e pede para eles terem paciência; pede para os

professores registrarem por escrito o que consideram ser abusivo e diz que vai entrar em

contato com a supervisora.

APÊNDICE F

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239

Entrevista Narrativa com a coordenadora Eliane

Antes da entrevista, enquanto eu preparava a gravação, estávamos conversando sobre

a rotina de Eliana. Achei interessante registrar uma parte dessa fala.

Minha escola é pequena, mas todas as salas estão ocupadas, nos três turnos e com os

três segmentos: fundamental II, médio, EJA e ainda tem o prisional que é EJA78

, mas é outro

sistema. Para dar conta de tudo é bem difícil e ainda tem a papelada burocrática, o sistema

prisional é uma pedra no meu sapato. Eu tenho que responder por muita coisa. São salas de

aula só para mulheres. Temos quatro salas lá. Elas querem muito frequentar as aulas. Acho

que por vários motivos, dentre eles é porque têm redução de pena. Mas pra isso, elas não

podem ter faltas e tem que ter boas notas. Então eu tenho que acompanhar minuciosamente os

diários de todos os professores que dão aula lá. Preencher vários relatórios; o registro de

informações sobre as presas é bem burocrático. Alguns desses relatórios vão para DE, outros

vão para o SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) e outros ficam aqui na escola. É

muita coisa, mas eu não posso deixar de fazer e nem posso errar, porque é de vida de pessoas

que estamos falando.

A gente tem direito a outro coordenador, toda hora abre edital, mas desde o ano

passado ainda não surgiu ninguém. Enquanto isso, eu vou tocando. Tenho cinco ATPC por

semana, em horários diferentes. Mas assim, a formação dos professores do sistema prisional

eu não consigo fazer direito. Eu oriento os professores a trabalhar por projetos, mas eu sinto

que eles estão sempre à margem. Eu fico frustrada, porque não dá tempo de fazer como eu

queria: organizar pauta, ATA, legislação específica deles, material específico, atividades

interessantes, enfim, fazer direitinho.

Entrevistadora mas por que a escola montou tanto horário diferente de ATPC?

Para facilitar para os professores. Porque antes, no horário deles tinha muita janela; daí

tava tendo muita falta deles nas aulas. Esse ano a gente tentou organizar de um jeito que

tivesse menos período ocioso pro professor e que também atendesse ao acúmulo com a

prefeitura. Então é assim, eu sinto como se estivesse sendo atropelada com tanta demanda. O

que eu mais queria era poder me reunir só com os professores do Fund II, depois só com os do

EM, e com calma, com os professores do prisional. Porque não é só cada segmento que tem

necessidades diferentes, mas também o período. A escola da manhã é uma e da tarde é outra.

Os professores precisam ser atendidos em suas necessidades. Às vezes, eu começo a falar

alguma coisa pros professore do Fundamental, sobre um projeto que eles querem partilhar

porque estão empolgados, daí os professores do Médio começam a dispersar e dizem “ah

porque isso não me interessa”, outro diz: “posso sair? Porque tem isso aqui pra eu ver”. Você

não consegue organizar um projeto interdisciplinar, bem fechadinho, bem montado, com tanto

professor. Eu tenho professor que vem aqui para completar a jornada, que só tem uma sala.

Então na ATPC não dá, se tem que fazer isso nos corredores “ô professor para um minutinho

que eu quero falar uma coisa”, no intervalo, ou então assistir a aula deles e depois conversar

com eles em particular. Mas precisa da integração, né?

Na terça-feira de manhã eu tenho um grupo maior de professores do fundamental.

Então eu vou trabalhar com os índices deles, com os resultados da AAP. Mas eu tenho três

professores do médio. Então eu também tenho que fazer um gancho da discussão pra eles, por

que senão eles se sentem desprestigiados. Essa diminuição dos módulos das escolas

prejudicou muito. Tinha que ser por segmento, como era antes.

78 Nesta modalidade de EJA a escola atende o Fundamental I e II

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240

[...]

Entrevistadora: deu-se início à entrevista narrativa. Com a leitura da comanda 1.

Olha pensando na ATPC formativa ... [pausa] difícil ... [nova pausa prolongada] não

me lembro, porque eu tive ATPCs muito ruins, eu não tenho boas lembranças. Estou há treze

anos no magistério. Trabalhei em uma única escola, esta é a segunda, mas eu só vim para cá

como coordenadora, não trabalhei aqui como professora. Fiquei nove anos como professora

na outra escola. Assumi a coordenação lá e fiquei mais um ano e meio. Depois vim pra cá,

onde estou há três anos. Tive vários coordenadores nessa escola, mas eu não tenho uma

experiência ou lembranças de ATPCs formativos; que me influenciaram na minha prática em

sala de aula. A gente tinha ATPCs curtos, não tinha essa exigência, em princípio, de ser

ATPCs de duas horas sequenciais. E era muita informação. A gente recebia informação de

como atualizar as listas dos alunos removidos, transferidos, LM, enfim. Indisciplina, a esse

sim era um tema recorrente. Quase toda reunião era: “ah o fulano tá dando problema, o que a

gente vai fazer com ele?”. Então não me lembro de algo que tenha me influenciado

positivamente em minha prática. Sabe, eu já pensei nisso uma vez, principalmente quando

comecei na coordenação, fiquei tentando puxar na memória alguma coisa que tivesse

acontecido nas reuniões que participei, alguma coisa que me impulsionou a fazer algo

diferente. Mas isso não aconteceu.

Porém, alguns comentários de colegas durante a reunião me faziam refletir em como

eu estava trabalhando. Então, a troca de experiências, quando eu escutava os professores

contando um pro outro, o que estavam fazendo em sala de aula, isso sim rendia. Essas

conversas informais, e até mesmo banais, foram fonte de aprendizado para mim. Às vezes um

professor dizia: “ah, o fulaninho tá difícil, parece que ele não entende o que eu falo ... daí

vinha o outro e dizia eu tô trabalhando assim assim na sala com ele e tá dando certo”; ou

então às vezes eu falava pro um professor alguma coisa e ele me dizia: “trabalha em grupo

com eles, eu faço assim, coloco os alunos que têm mais dificuldades junto com outros mais

adiantados, daí eles se ajudam”. Então sabe essas dicas, me ajudavam muito. Eu lembro que

consegui reproduzir boas experiências de colegas. Teve um colega que foi especial, foi um

espelho no meu começo de profissão. Era um professor de geografia, que os alunos

respeitavam muito. Nessa época a gente trabalhava com EJA, eram adultos. Eu percebi que os

alunos o respeitavam pelo que fazia, pelo que demonstrava de conhecimento; ele sempre ia

muito bem preparado pra aula e dava aquelas aulas maravilhosas.

Então eu comecei a me espelhar muito nisso. E ele trazia isso pro ATPC, ele me

explicava “ah, eu trago uma notícia da atualidade, algo que tá acontecendo, na época tinha a

questão da primavera árabe, os conflitos na Síria, os acontecimentos no Oriente. Então ele

trazia essas noticias e deixava os alunos discutirem, e dessa discussão ele ia percebendo as

capacidades [de aprendizagem] dos alunos, tinha uns que tinham mais argumento, mais

compreensão e outros com mais dificuldades; então ele os separava em grupos e trabalhava de

uma maneira diferente. Nas aulas seguintes, dentro do currículo dele, os grupos trabalham

com produção de texto, a partir de questões reflexivas, enquanto ele ia aprofundando esses

temas com os outros que ainda não tinham essa habilidade [reflexiva] desenvolvida. Com os

grupos que tinham maior dificuldade de interpretação, ele começava com questões mais

diretas, tipo ‘localize ou identifique no texto’. E isso trazia um resultado legal. Eu comecei a

usar isso em História, que é a minha disciplina, e chegou num ponto, já no segundo ano que

eu trabalhei com esse professor, que os alunos, ainda bem, gostavam bastante das aulas de

História e Geografia; e eles falavam pra direção da escola: “ah eu só venho por causa das

aulas da professora de História e por causa do professor de Geografia”. Então, quando foi

uma época que a gente [escola] começou a perder alunos de EJA, então a diretora falou assim:

“vocês não vão mais poder dar aula no mesmo dia, vou colocá-los em dias diferentes, porque

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241

se eles vem pra escola por causa da aula de vocês, então geografia vai ser no mesmo dia de

biologia, e história com outra matéria. Não vou mais colocar os dois juntos”. Dai a gente

acabou trabalhando o ano inteiro separados. Então é isso, eu acho que os colegas contribuíram

muito mais, pra mim, do que realmente um coordenador na hora de dar sua formação.

Hoje eu entendo, porque as atribuições do coordenador são tantas que é difícil a gente

ter um tempo para fazer uma formação que você fala: “não essa vai ser fundamental pra eles,

é o que eles estão precisando nesse momento”. É difícil, a gente costuma dizer que a agente

aprende na prática, ninguém ensina nada pro professor, o coordenador não ensina a gente, não

tem fórmula, “você vai entrar na sala de aula e fazer isso isso e isso”. Ás vezes a gente espera

isso que o coordenador nos dê as rédeas, mas não existe, não tem como, hoje eu consigo

entender, mas eu esperava isso e não tive, porque não tem mesmo, enquanto professora eu

esperava que o coordenador me desse a diretriz, “você vai entrar em sala de aula, você vai

fazer primeiro a chamada, sabe aquela rotininha? Isso não existe, a gente que encontra nosso

caminho, né? Então eu acho que o coordenador precisa muito mais partilhar mesmo, dar

espaço pra essa troca, é ..., mostrar as estratégias que existem, mas ele não tem como dizer o

que fazer, como fazer, cada um acha seu caminho. É isso.

Entrevistadora: diante do silêncio da entrevistada, pergunto: você gostaria de

comentar mais alguma coisa sobre essa comanda? [a comanda está na tela do computador]

mais alguma experiência nesse aspecto? Fique à vontade.

Teve um episódio interessante, foi no meu primeiro ano como professora a gente

usava, aí vai mais na questão organizacional do que pedagógica, mas fez eu mudar minha

forma de trabalhar de organizar, a gente não tinha um sistema digital, então a gente passava as

notas no final do bimestre pro coordenador na tarjeta de papel, você sabe como é, né? E aí o

coordenador montava aquele mapão pra gente fazer conselho e tudo, e quando tinha erro

naquela tarjeta você tinha que refazer a tarjeta (risos) graças a Deus isso não existe mais. Eu

ali aprendendo, meu primeiro ano, nossa, refiz tarjeta até dizer chega, todo conselho era: “Ah

a Eliana precisa corrigir a tarjeta, porque o aluno tava transferido e você pôs nota, então isso

me ajudou, mudou minha atuação nessa questão de organização, eu passei a preencher o

diário e fazer registros de uma outra maneira, nunca mais fui fazendo direto, sem consultar

minhas anotações sobre o aluno. Comecei a fazer registros mais detalhados, consultá-los e só

depois passar pra tarjeta. Com o passar dos anos a gente vai aprimorando isso, mas eu passei a

ter muito mais cuidado com meus diários, com a forma de como eu registro as informações

sobre os alunos, eu comecei a anotar tudo em cadernos, coisa que no começo eu não tinha,

então eu me perdia. Isso eu fui aprendendo em ATPC, quando era cobrada alguma coisa,

alguma informação sobre determinado aluno, e eu não tinha, aquele registro, aquela

documentação, eu não tinha como explicar pro coordenador, quando às vezes ele me

perguntava “ah, como você deu essa avaliação [nota], como você fez isso?” e aquilo não tava

ali registrado, então meus registros melhoraram muito. Hoje eu consigo passar isso pro meus

professores, essa importância do registro. Isso foi bem produtivo de ter aprendido em ATPC

[risos], sem dúvida [risos].

Entrevistadora: Agora pensando como coordenadora, esse tempo em que você atua

como coordenadora [apresento a segunda comanda, leio junto com ela, e deixo na tela do

computador].

Difícil essa parte, bem difícil, porque a gente faz formação sobre muitos assuntos.

Alguns a gente gosta outros não, tem a questão da identificação também. Às vezes a gente é

obrigada a trabalhar um tema que não gosta, então é uma formação difícil, quando a gente tem

que trabalhar uma coisa que a gente não gosta, ou é obrigada. É bacana quando a gente tem

identificação, né? É ... deixa eu pensar .... [pausa mais longa].

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242

Aqui nesta escola, eu vou falar daqui porque aqui as formações são muito melhores na

questão de produção do que na outra escola que eu trabalhei como coordenadora. Porque aqui

eu tenho um grupo de professores atuantes, que participam bem da ATPC. Então eu gosto de

fazer formação aqui porque eu tenho uma recíproca boa. É ... uma formação que eu gostei

bastante de fazer, foi no ano passado, quando a gente começou a montar uma plataforma que

o Estado montou que é a Foco aprendizagem, sabe? [fiz sim com a cabeça] Então eles

começaram a ensinar a gente a como usar aquilo, eles são os PCNP na Diretoria de ensino,

nas nossas formações de coordenador, então eles nos explicaram a como usar aquilo pra

identificar as dificuldades dos nossos alunos e com isso montar nossos projetos de

recuperação. Particularmente eu gosto do sistema do Estado, eu gosto do currículo, eu não

tenho dificuldade em trabalhar com ele, gosto dos recursos que nos dão para diagnosticar as

dificuldades dos alunos, é uma coisa que eu gosto me identifico, eu gosto de trabalhar com o

desenvolvimento de habilidades e competências. Eu entendi, eu falo que eu entendi a forma

como o currículo trabalha, por isso gosto. Fui percebendo que a maioria dos professores que

não gostam do currículo, e do caderno do professor e do aluno, é porque não entendem o

currículo. Então tem que ajudar eles entenderem esse currículo pra trabalhar direito, mas isso

é um processo, não é em uma formação que isso acontece. Bem, mas especificamente da

formação que eu estava trabalhando, com a plataforma Foco Aprendizagem, eu também tive

que estudar pra entender, porque no começo parecia só mais uma planilha para preencher,

mais trabalho. Daí eu esquematizei [na plataforma] os dados da escola e ficou muito fácil de

visualizar e isso me agradou de cara, porque eu consigo ver o aluno ali. Eu sei que ela é

baseada em uma única prova, na AAP, mas eu acho que ela dá um panorama pra gente da

coordenação muito bom, porque como eu não estou ali todo o dia com o aluno na sala de aula,

eu acho aquela plataforma um indicativo muito bom. Então eu vasculhei muito ela, vasculhei

mesmo, de ir fuçando todos os comandos que a plataforma tem pra entender como ela

funcionava. Então eu dei uma formação com objetivo de estimular os professores a

trabalharem com ela. E eu me senti muito segura nessa formação, porque eu sabia do que eu

estava falando, eu estava estimulada para fazê-la porque eu compreendia os benefícios dessa

plataforma, enato conforme eu fui preparando e planejando aquela formação eu fui

aprendendo ainda mais né, porque as dúvidas que vinham você vai buscar respostas, daí eu

pensava “ah e se o professor for perguntar isso?” então eu já ia planejando. Então acho que

meu sentimento maior naquele momento foi o segurança “estou pronta pra falar disso”, e sem

medo de ter algo negativo vindo dos professores, em que sentido, nem sempre você é aceita

no que fala, né? E os professores retrucam bastante sobre a nossa forma de expor ou mesmo

sobre aquilo que a gente está defendendo. E quando a gente vem falar de mais uma imposição

da Secretaria, porque é uma imposição, a gente já vai ter uma visão negativa de imediato “ah

porque é mais uma coisa que eu vou ter que fazer, porque é mais trabalho”. E eu não queria

que eles vissem dessa forma, eu queria que vissem como uma ferramenta de apoio, como algo

que ia nos ajudar, porque sistematizou uma coisa que pra gente é tão comum na sala de aula,

mas difícil de visualizar, e a plataforma sistematiza aquilo, então olha: “tal turma tem

dificuldade nisso e nisso, então é por aqui que a gente vai começar”. Então nessa formação eu

tava muito segura do que estava falando e da importância do assunto. Eu tinha 23 professores

naquela formação, daí eu vim, montei o data show, levei o grupo pra sala de informática pra

gente fazer junto, eu não queria só ficar expondo, queria fazer o passo a passo junto com eles.

Essa parte eu também gosto bastante, de trabalhar com o computador, coisas que os

professores muitas vezes têm dificuldade, alguns tem dificuldade de até ligar o computador.

Então eu comecei bem no passo a passo mesmo: ajudando cada um a criar o perfil na

secretaria escolar digital, a inserir os dados das avaliações. Daí o mais legal foi eles

visualizarem o quadro de habilidades, que é como do SARESP. Eu lembro que eu demorei

bastante estudando isso. O mais importante era entender essas habilidades, o que representava

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cada uma em termos de aprendizagem. O que era uma habilidade estruturante, o que era uma

complementar, pra mim trouxe muito benefício estruturar essa formação, porque eu aprendi

muito, muito mesmo. Sabe [pausa] agora eu tô pensando aqui uma coisa, a minha segurança

veio disso né? Da minha preparação [risos]. É como eu falei a questão de trabalhar com a

Foco Aprendizagem não é só uma questão de saber mexer, mas saber o que significam

aqueles dados, aqueles resultados da avaliação diagnóstica, e como trazer isso pra realidade.

Então eu tive que ir atrás desses significados. Foi trabalhando com essa plataforma que eu

consegui diferenciar a matriz curricular que o Enem trabalha, a matriz que o SARESP

trabalha e a matriz que a AAP trabalha. São diferentes, mas complementares, eu consegui

passar isso pros professores. Eu demorei bastante tempo da formação nessa questão de

entender as habilidades o que a gente tem que procurar entender naquele quadro do SARESP

que aparece na plataforma. Eu percebi que os professores se interessaram muito, teve uma

reciprocidade muito bacana, porque eles foram me perguntando muita coisa. Eu fui

descobrindo coisas que eles conheciam e que não conheciam: “ah Eliane, então é isso?

Habilidade é isso?”. Então numa linguagem bem simples, bem prática, pra eles usarem no

cotidiano, eu consegui explicar isso pra eles: “olha professor você consegue ver o aluno que

errou a mesma habilidade que o outro, e que vários estão com a mesma dificuldade, então o

que isso representa?” Então eles gostaram bastante, porque eles ainda não tinham percebido

que podiam trabalhar dessa forma.

A partir dessa formação a gente foi ampliando esse assunto e eles mesmos foram

fazendo o levantamento das habilidades que estavam em defasagem na sala, usando essa

ferramenta sem eu precisar falar nada. Antes eu entregava tudo pra eles na mão “olha tá aqui,

seu aluno está com essa e essa dificuldade” daí eles olhavam aquilo e nem davam bola,

porque não fazia sentido pra eles. Depois desse dia eu não faço mais isso, eu não preciso mais

fazer. Hoje, cada vez que termina uma prova [AAP] eles mesmo vão preenchendo na

plataforma os resultados. Hoje eu percebo que eles conseguem visualizar os resultados da

AAP individualmente, que eles conseguem agrupar os alunos que evidenciaram o mesmo

diagnóstico, vejo que eles sabem o que fazer a partir dos resultados, que não adianta ficar

avançando com a matéria se o aluno ainda não aprendeu. Então agora, quando a gente vai

discutir os resultados da prova na ATPC eles se interessam mais porque estão entendendo

melhor tudo que está envolvido. Eu presto atenção na conversa entre eles, hoje percebo que

eles já falam: “o aluno tá ruim aqui, precisa melhorar nisso, ou “não é essa habilidade que eu

vou por como prioridade na sala”. Então eu tenho bastante orgulho dessa formação, acho que

foi bem bacana pros professores e pra escola. Foi um aprendizado pra mim e pra eles, e tem

dado resultado.

Claro que não atingi cem por cento do grupo, mas a maioria sim. Tem professor de

história que está fazendo trabalho interdisciplinar com professor de português para contemplar

as habilidades do currículo, então eles já se articulam entre si, refletem juntos, buscam formas

de como ajudar o aluno. Então, hoje a recuperação da aprendizagem do aluno aqui está muito

melhor; a maioria está vendo como positivo trabalhar com esse sistema do Estado. Porque

nem tudo que o estado faz é ruim, tem muita coisa boa. O currículo do Estado é muito bom, a

forma como ele trabalha os conteúdos tendo por objetivo as habilidades é muito interessante,

a espiral do currículo né, faz a gente voltar sempre nas mesmas habilidades só que com graus

de dificuldade diferentes; e eu to vendo que isso é uma proposta nacional, porque a nova base

curricular nacional está com o mesmo raciocínio de habilidades em espiral. Eu falo que quem

trabalhou nas escolas públicas do estado de SP vai trabalhar tranquilamente com a nova base

nacional em qualquer escola que for. Eu gosto muito do currículo, tenho minhas críticas, não

gosto, por exemplo, do caderno do aluno de história do ensino médio, que é minha matéria, eu

acho que as questões reflexivas são muito superficiais, falta texto, falta discussão. Mas o

caderno do professor ajuda a gente ver que quando o professor tá trabalhando o conteúdo,

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também tá trabalhando as habilidades. Na verdade a gente já fazia isso antes de ter o

currículo, só que a gente não tinha essa identificação das habilidades, hoje está mais fácil,

porque já está identificada qual habilidade está sendo esperada naquela situação de

aprendizagem.

Outro dia eu dei um exemplo assim para os professores se eu estiver dando aula de

revolução francesa, eu não quero saber se o aluno tá trabalhando habilidade b ou c, eu quero

que eles entendam quem foram os jacobinos e ponto final, pra mim como professora de

história o que importa é isso, mas enquanto você quer que o aluno aprenda a diferença entre

os jacobinos e os girondinos você já tá trabalhando as habilidades, né? Por exemplo:

compreender a formação de grupos políticos. Só que hoje é pedido pra você identificar, saber

qual é a habilidade, e isso torna o trabalho mais consciente. Então não é um bicho de sete

cabeças, não é deixar o conteúdo de lado, não de forma alguma.

Hoje, no replanejamento, por conta do MMR a gente teve que fazer essa reflexão pra

preencher uma planilha com nosso plano de recuperação, então foi algo imposto, mas eu achei

bem produtivo, porque a gente teve que parar e pensar: qual habilidade meu aluno está tendo

mais dificuldade? Que conteúdo e que atividades eu vou priorizar no terceiro bimestre prá

ajudar o aluno a recuperar aquela habilidade que estava em defasagem. E isso em cada

disciplina. Então, geografia teve que pensar e produzir um plano pra dele, história pra dele,

inglês pra dele; e pensar em vincular isso pra matemática que é o nosso MMR. Mas eu achei

que eles conseguiram, por exemplo, teve um professor de biologia que foi muito bem na

estrutura que ele montou pro plano dele, ele está trabalhando com desmatamento e a

habilidade que precisava ser recuperada de biologia era muito específica, é uma questão de

cromossomos, genética, estrutura celular. E o terceiro bimestre vai trabalhar outro conteúdo

que é o do desmatamento na mata atlântica, então ele estava com um desafio, como trabalhar

essa habilidade tão específica a questão da genética num conteúdo tão diferente que é o

desmatamento, mas ele conseguiu fazer um vínculo: ele está trabalhando com as espécies em

extinção da mata atlântica e vinculada à questão genética dessas espécies, a composição

celular. Enfim, ele montou um plano de recuperação bem bacana. Então assim, eles tiveram

que fazer um plano de ensino, que contemplasse essa recuperação, obrigatoriamente, em

princípio isso parece que não é bom, mas quando eu li um por um dos planos que eles me

entregaram, eu tinha que ler né, porque eu precisava entregar na Diretoria, mas quando eu li

eu vi que eles se empenharam bastante e deram conta muito bem dessa demanda. Se eles não

tivessem a fim não saia nada, né? [risos]

Entrevistadora: após essa fala, percebo que Eliane para de falar, e faço uma pergunta

imanente: o que aconteceu depois disso, depois dessa reunião do replanejamento que você

mencionou?

A gente tá sempre retomando o assunto nas ATPC, mas agora na forma deles

contarem como estão fazendo, como estão trabalhando com seus planos. Eu também procuro,

quando consigo, acompanhar isso em sala de aula, andando pelos corredores e observando, às

vezes eu pego caderno de bons alunos, porque não dá pra ficar só olhando diário de professor,

porque papel você sabe como é, aceita tudo, né? [risos]. Então é assim que tenho

acompanhado o desdobramento do replanejamento; mais que tudo: observar e conversar.

Olha dá trabalho, dá muito trabalho, mas sabe, eu gosto muito de ser coordenadora,

gosto muito mais do que da sala de aula. Eu não esperava que ia gostar tanto de ser

coordenadora porque quando eu me formei na graduação, a parte de licenciatura era o que eu

menos gostava, a parte de didática era o que eu menos gostava, eu gostava de história, eu fui

pra faculdade de história porque eu queria trabalhar em museu, queria trabalhar com pesquisa,

no fim eu vim dar aula (risos), não me afastou tanto da história porque você prepara aula, tem

contato com conteúdo da História. Mas a coordenação nada a ver, né? Deixei praticamente de

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lado o trabalhar com o ensino de história em si, sinto falta, mas a coordenação me encantou.

Estou fazendo pedagogia, ainda que não goste, mas vejo como uma necessidade. Gosto muito

de organizar a escola, de trabalhar com os professores, acho que o professor é meu público.

Acho que a parte da formação docente é bem difícil, como eu comentei com você, foi um

obstáculo para mim, a burocracia não me incomoda, é muita, mas já me acostumei. Eu gosto

de estar com os professores, eu me atolo em serviço porque não sei dizer não pra eles [risos].

Entrevistadora: Após essa coda, pergunto: você gostaria de mencionar mais alguma

coisa?

Não, acho que isso é tudo. Acho que eu já falei demais (risos).

Entrevistadora: suas histórias são muito interessantes, muito obrigada por partilhá-

las comigo. Eu tenho só uma pergunta em que eu gostaria de saber sua opinião. Em

determinado momento da sua fala, você disse assim “o coordenador precisa mostrar as

estratégias que existem”, o que você considera por estratégias?

Estratégia é a forma como você conduz, como vai trabalhar um determinado conteúdo.

A gente fala muito do tradicional e o não tradicional, como se o tradicional fosse algo ruim e a

nova pedagogia o caminho correto, não, acho que não tem isso, e também não tem só essas

duas formas de ver, mas a escola vê muito assim, ou é o tradicional ou é o professor da nova

pedagogia. A gente fala muito de usar estratégias diferenciadas pro aluno aprender. Então

digamos assim, você ensinou com seu método tradicional: você entrou em sala de aula, deu

uma aula expositiva, usou o quadro, colocou tópicos na lousa, o aluno copiou, depois você

cobrou isso numa lista de exercícios, ou num questionário, isso seria o tradicional, o basicão.

Mas o aluno não aprendeu, então você viu nas suas avaliações que o alunou não assimilou

aquele conteúdo, então você vai ter que mudar sua estratégia. É isso: a forma como você tá

passando aquele conteúdo. Então que estratégia diferente você pode usar? Daí eu mostro pra

eles [professor], eu procuro mostrar modelos, exemplos, de como eles podem trabalhar o

conteúdo de outra maneira: um projeto com o grupo, levar o aluno pra pesquisa de campo,

constrói jogos, mandar eles construírem coisas, vai na informática, passa um filme, pode ser

às vezes uma coisa simples, que não requer algo assim tão elaborado, porque às vezes você

fala em projeto e os professores já pensam “ai, vai demandar um mês, muitas aulas” e muitas

vezes não é isso, pode ser uma coisa simples, mas que você vai passar o conteúdo de outra

maneira, porque daquela maneira não funcionou, então você tem que ter uma outra estratégia,

então é isso, vai pra prática, é isso, estratégia pra mim é isso: é a metodologia, é a forma como

trabalhar um conteúdo abordado.

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APÊNDICE G

Relato de observação da ATPC de João

Ao contrário dos outros coordenadores, João só tem um horário de ATPC. Que realiza

as terças-feiras das 12h40 às 14h20.

ATPC do dia 14/08

Na reunião desse dia estavam presentes 17 professores. João lê a pauta e menciona que

o objetivo do dia seria responder à pergunta: “Que aspecto é fundamental em uma boa aula?”.

E diz: “para ajudar a responder essa pergunta vamos assistir a um vídeo de uma menina que tá

bombando na internet, vocês já ouviram falar da matemaníaca Julia Jaccoud?”. O grupo faz

alguns comentários e ele dá informações sobre ela? “é uma menina formada em matemática

pela USP que está ficando famosa por explicar conteúdos de matemática no youtube ...”.

No vídeo, a jovem explicava sobre teoremas e axiomas. Achei um pouco longo,

aproximadamente 10 minutos. Ao final, João pergunta: o que vocês acharam?

Houve uma sequência de comentários.

“É uma aula expositiva, não tem nada de mais”

“A linguagem que ela usa ... atende os jovens ...”

“Ela fala pra um determinado público, por isso tem seguidores...”

“Ela dá vários exemplos ..., porque ...”

“Ela faz um trabalho automático de intermediação de conteúdo”

Alguns falavam ao mesmo instante. Em alguns momentos João chamava a atenção

deles com a expressão “olha a bola”.

Perceberam que para ela introduzir o assunto ela contextualiza? Diz João. Ao que

outro professor responde: ela conta uma história. Outros professores foram fazendo outros

comentários. “Mas também o aluno que vai assistir a esses vídeos é o aluno esforçado ... ela

dá todo o passo a passo e se o menino tiver dúvidas é só dar pause e voltar na explicação ... ’’.

“Se a gente fizesse isso na sala de aula, os alunos aprenderiam melhor?”. Pergunta o CP.

Após vários turnos discursivos dos professores João faz seu último comentário, o qual

transcrevi: “Por muito tempo o professor foi um guardador de informação; ele adquiria uma

informação e guardava pra passar pro outro, pro aluno; pra dar a informação pronta. Hoje em

dia, na era digital, isso já está ultrapassado. Hoje em dia a internet está assim, cheia de aulas

prontas. É só a gente procurar um pouco que encontra o que quer. Na internet, já tem as

respostas. O que a gente pode fazer de diferente como professor é perguntar, estimular o

pensamento crítico e não apenas transmitir informações. Porque isso os jovens já têm. Isso é

difícil porque a gente não foi educado pra perguntar.” Outros tantos comentários dos

professores surgem mediante essa afirmação.

Foi feita uma pausa para um café. Uma professora havia trazido um bolo. O lanche

demorou em média uns vinte minutos, até o final da reunião. João seguiu conversando sobre

outros assuntos com os professores. Combinei com eles de assistir mais um encontro e de

fazer a entrevista na próxima ocasião.

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Figura 8 - foto da sala de reuniões da escola C

Fonte: a autora

ATPC do dia 28/08 – horário do encontro: 12h40 às 14h20

Segundo João, esta reunião tinha por objetivo realizar uma das etapas no programa

MMR, pois conforme me explicou, a escola estava com o índice abaixo do esperado em

matemática; explicou-me ainda que, no dia do replanejamento, os professores ficaram com a

tarefa de elaborar um plano de ensino para compor o plano de ação da escola. Assim, cada

componente curricular deveria pensar em como trabalhar os conteúdos do bimestre com foco

no desenvolvimento das habilidades que os alunos mais demonstravam dificuldade. Pelo que

entendi, todas essas etapas estavam previamente delineadas no programa. A reunião então

seria para os professores socializarem as propostas que haviam elaborado.

O grupo era composto por 19 professores. No começo do encontro João leu a pauta

com os objetivos do dia e perguntou quem gostaria de iniciar as socializações. Todos

pareciam já estar preparados. Nesse dia houve a apresentação de cinco professores. A

socialização deles foi diferente do que eu imaginava, eles não se limitaram a falar dos seus

planos de ensino, estavam bem preparados; todos elaboraram suas apresentações em

powerpoint, alguns com vídeos, fotos e produções realizadas pelos alunos. Pedi autorização

aos professores e gravei em vídeo, pelo celular, parte de suas apresentações.

Descrevo brevemente alguns pontos que registrei em duas dessas apresentações, pois

foram as que proporcionaram mais interação entre o grupo e na qual João fez mais

comentários.

A primeira foi a da professora de matemática, ela explicou que elaborou uma

sequência didática para trabalhar com os alunos do 6º ano, em suas palavras: “Vou falar do

6ºA porque já estou na metade da sequência, eles são terríveis ...., estou trabalhando as

operações com números decimais porque é a habilidade atual da AAP ...foi ai que eu criei o

mercadão. Eu dividi a sala em quatro grupos, cada grupo representava um tipo de comerciante

... eles escolhiam o tipo de comércio que queriam ... o grupo dos alunos [menciona o nome

dos alunos] escolheram que iam vender roupa ... eles trouxeram roupas deles mesmos para

vender na sala ... eles tinham que montar uma estratégia para vender seus produtos ... as

regras foram ... daí a gente elaborou um dinheiro de mentirinha ... cada um está com mil reais

... daí eu problematizei: o quanto cada comércio vai conseguir vender? ... o quanto cada vai

conseguir comprar? ... como fazer o cálculo de tudo? ...”

Ao final João diz: “gostei muito Juliana79

, porque eu acho que assim os alunos se

envolvem mais, fica real pra eles. Teve uma outra aula que assisti dela [volta sua atenção para

79 O nome da professora foi alterado.

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os demais professores] que também gostei bastante; se você permitir eu gostaria de mostrar

pro grupo a sequência que você desenvolveu sobre ...”

Algumas perguntas de João para Juliana: “essa proposta casa com as expectativas de

aprendizagem do Currículo?”; “você sentiu dificuldade em adaptar o conteúdo para alcançar

as habilidades?”; “você não acha que sua sequência didática está muito grande?”.

Na sequência outro professor de matemática explica como está trabalhando

proporcionalidade com os alunos. Em sua apresentação ele trouxe alguns sorobans e folhas

com as atividades que os alunos estão fazendo. Ele pede para que os professores tentem

resolver os exercícios utilizando o soroban. Essa parte foi muito interessante, pois os

professores interagiram bastante; alguns tiveram dificuldade de realizar a atividade e

precisaram de ajuda.

Figuras 9 - fotos de uma atividade de matemática

Fonte: Caderno de Matemática (material do aluno / Currículo SEE-SP)

Ao final, o professor explica que a atividade já estava no caderno do aluno [material

que faz parte do currículo da SEE]. Peço para tirar foto do material.

Marcos também faz algumas perguntas: “como você avaliou se o aluno aprendeu?”;

“como está sendo a participação dos alunos?”

No decorrer das outras duas apresentações, Marcos também fez questionamentos:

“Quantas aulas você vai precisar para trabalhar com esse conteúdo?”; “onde estão as

habilidades?”; etc.

Ao longo de toda a reunião, João fez muitas anotações, depois percebi que estava

registrando uma ATA. Ao final da ATPC, ele distribui o livro ATA para os professores

assinarem. Nele estava colada a pauta do dia, não pude tirar foto, pois tinha a assinatura dos

professores. No cabeçalho da pauta estava a seguinte frase:

Bons músicos não fazem uma boa orquestra a menos que eles tenham sintonia. E essa

sintonia vem quando as pessoas respeitam a atividade que o outro faz e querem atuar de forma

integrada. Se há uma coisa que liquida uma orquestra é arrogância (Mário Sérgio Cortella).

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APÊNDICE H

Entrevista Narrativa com o coordenador João

Entrevistadora: apresentei a comanda 2 para João, deixei a comanda na tela do

notebook. João levou 1 minuto para pensar e começar sua narrativa.

Teve uma formação no planejamento de 2017 onde eu esmiucei a diferença entre

competências e habilidades do currículo, porque eu achava que isso não estava bem

consolidado no grupo. Então eu separei uma série de materiais, fiz uma apresentação em

power point, dissecando essa diferença, já que o currículo trabalha isso. Não só o currículo

aborda isso, mas a base nacional também, enfim isso é o propósito da educação: desenvolver

competências e habilidades. Então eu senti que foi uma formação muito boa, porque

incorporei minhas aprendizagens da Vunesp e do ENEM, porque por um tempo eu trabalhei

na correção das redações dos alunos, para estas provas, então isso para mim é muito marcante

trabalhar a questão das competências. Então eu trouxe um pouco dessa bagagem que eu tenho

do ENEM e esmiucei isso com os professores. E eu vi que eles ficaram bem atentos, eu achei

que eles consideraram uma coisa muito interessante. E também eu acrescentei as formações

que eu tive na Diretoria de Ensino sobre esse tema, de competências e habilidades do

currículo.

Um dos exemplos que eu usei que eu achei que foi bem significativo, porque chamou

a atenção deles, foi que eu peguei um guarda-chuva e a partir do guarda-chuva eu falei: o

guarda-chuva é competente né? Quando você o abre ele é competente para nos proteger da

chuva, agora, para ele ser competente, o que que tem no guarda-chuva que o torna competente

em nos guardar da chuva? São as hastes, ou seja, a armação dele, que são flexíveis, essas

hastes podem ser consideradas como habilidades. Tem várias hastes que juntas fazem com

que o guarda-chuva seja competente. Assim, é preciso um conjunto de habilidades para

formar uma competência. Então foi isso, dai eu trouxe as competências trabalhadas no

ENEM, as cinco competências avaliadas numa redação do ENEM, o que que é avaliado, o

que se utiliza como critério pro participante. Foi bem bacana, porque eu vi que isso para eles

[professores] era algo novo. Eu acho que eles gostaram. A gente percebe quando eles gostam.

Dá para ver pelo olhar, pela forma que eles reagiam, atenção, comentários deles, pelas

perguntas que fizeram.

Meu grupo de professores é muito crítico. Dependendo do que eu falo, do material que

eu trago, eles torcem o nariz. Por exemplo, posso contar outro episódio? (respondo que sim).

No planejamento de 2018, aconteceu um negócio chato. Foi uma [proposta de]

formação da Diretoria de Ensino e eu não senti muita firmeza em passar aquele vídeo sobre a

metodologia diversificada. Eu não me lembro agora o autor, tá lá na minha pauta. Eu assisti

ao vídeo que eles indicaram, analisei o conteúdo e pensei ‘bacana’, mas eu não senti firmeza,

porque eu conheço meu grupo, eu já imaginei que eles não iam gostar. Mas como é uma

indicação da Diretoria de Ensino eu coloquei na pauta do planejamento. Dito e feito foi

rechaçado. Então é assim, eu sinto o grupo, por eles serem muito críticos, a maioria tem uma

boa formação, são muito estudiosos. Eu tenho três professores com mestrado. Então eu tenho

que ser muito cauteloso, eu tenho que ter uma bagagem muito boa do que eu vou passar para

eles, porque eles não aceitam qualquer coisa. Então eu aprendi que tenho que podar o que

vem de lá [Diretoria de Ensino], eu entendi que é assim: isso não vai rolar ou, ok, isso é

bacana. Dependendo da fonte eles também não gostam. Então é uma série de coisas que eu

tenho que levar em consideração pra trazer as coisas pra eles.

Mas naquele momento eu precisei trazer esse assunto pra eles, porque o nosso MMR

de 2017 estava pautado na metodologia diversificada. Você sabe o que que é o MMR, né?

(faço que sim com a cabeça) Então eu precisava de um material para retomar esse assunto do

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MMR que havíamos discutido no final de 2017, que seria um link para eu trabalhar a questão

da metodologia diversificada e ai eu falei: bom, já que eu tenho que trabalhar isso no

planejamento de 2018, atrelado ao que passou em 2017 vou pegar esse vídeo e usar a mesma

proposta para discuti-lo. Mas foi uma experiência bem negativa.

Com o tempo eu estou percebendo melhor isso, que quando eles sentem que eu estou

mais presente, que as minhas escolhas estão mais presentes eles aceitam mais, quando eles

observam que a coisa foi imposta, que vem de cima, eles ficam um pouco ressabiados. Tem

coisa que eu não posso escapar, por exemplo, na semana que vem eu vou ter que trabalhar

uma pauta que vem de cima.

Entrevistadora: o que vai acontecer na semana que vem?

Ainda não sei bem, a gente tem uma orientação técnica na DE semana que vem e

depois, em cima disso, monto a pauta. É alguma coisa relacionada ao MMR, não é algo que

ache ruim, acho que é importante pra escola discutir índices e resultados de avaliações. Mas a

gente tem tanta coisa importante pra discutir, como aquele encontro que te falei da semana

passada, lembra? As palestrantes falaram sobre as relações na escola, as relações entre

professores e entre professores e alunos. Esse é um projeto bacana que os professores querem

dar continuidade. Então é isso, quando eles percebem que é uma necessidade que eu senti do

grupo, que está presente no grupo; então quando eles sentem isso, a aceitação deles em

relação ao conteúdo que eu vou trabalhar é muito maior. Porque daí eles sabem que eu estou

atento, que é uma necessidade do grupo. Como foi o caso da formação sobre competências e

habilidades. Eu senti que essa era uma necessidade do grupo. A gente sente, né? Pelas

conversas deles, pelos diários de classe; eles só registravam como objetivo de aula os

conteúdos. E onde estavam as habilidades do currículo? Então isso era algo que a gente

precisava discutir, mas só que não podia ser algo imposto, se não elas já iam torcer o nariz,

era preciso primeiro entender o assunto, foi por isso que fiz aquilo que já te contei.

Entrevistadora: pergunto a João se ele deseja acrescentar algo mais e ele diz que não.

Então introduzo a segunda comanda e digo: a segunda comanda, é na mesma linha da

narrativa, não precisa nem se preocupar tanto com os argumentos, deixa fluir a história (li a

comanda e deixei na tela do computador)

Eu tenho doze anos de magistério, tanto na rede particular quanto no Estado, nesse

tempo todo eu só me lembro de uma coordenadora boa. Foi na escola da Sul 3. Era uma PC

do Ensino Médio, que era professora de história. Ela era muito humana, ela conseguia

provocar discussões interessantes, porque ela era muito atenta, ela lia bastante. Eu sentia que

o grupo gostava. Quando eu virei PC eu lembrei bastante dela e pensei que este era o

caminho. Tive outros coordenadores, mas sempre foi uma coisa maçante, não aprendi nada

com eles. Eles nos largavam na sala do HTPC e ficavam a maior parte do tempo fazendo

outras coisas. Acho que até eram coisas inventadas na hora. Eu não sentia que eles estavam

presentes. Eu lembro que na época isso me incomodava muito. Hoje eu tenho consolidado

comigo que esse espaço é de formação, é uma aula, a ATPC é um horário de aula, e eu não

abro mão disso. Eu tento incutir isso nos professores, porque ainda tem esse ranço ‘ah, deixa

a gente a gente corrigir prova, preencher diário’. Então é isso, eu tenho esse bom exemplo de

uma coordenadora e tive esses tantos outros maus exemplos.

Entrevistadora: você mencionou que gostava dessa PC porque ela era muito humana,

teve alguma reunião de ATPC ou episódio específico dela que te marcou mais?

Teve uma ocasião que foi bem especial. Foi no final do ano letivo, ela nos presenteou

com um CD personalizado. Ela prestava atenção na gente, em todos os sentidos, ela conseguiu

perceber o gosto musical de cada professor e gravou um CD para cada um. Eu lembro que

fiquei bem emocionado. Então ela tinha essa atenção, ela levava o professor como se fosse um

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aluno. A gente tem que estar atento no aluno, senti-lo. O professor é igual. Eu tento trazer

isso na minha prática hoje. Eu acho que a partir disso a aula flui.

Entrevistadora: isso é tudo que você gostaria de me contar? Tem mais algum episódio

que gostaria de relatar? Nesse momento ele olha para o relógio e diz: não acho que é só isso.

Então já encerrando, eu gostaria que você comentasse um pouco sobre a reunião de hoje. Na

sua pauta estava escrito: ‘atividade 2, socialização de boas práticas de matemática e de

geografia’. Você gostaria de comentar um pouco sobre os motivos que te levaram a conduzir

o encontro assim.

Bem essa é uma prática que está atrelada ao MMR também, e diante dos números, ai

pegando a AAP [Avaliação de Aprendizagem em Processo] a matemática está com os índices

baixos, então o nosso foco para 2018 é a metodologia diversificada. Mas tudo fica com a

nossa cara. Então eu tenho que tirar dos professores os trabalhos que estão sendo realizados

em sala, que tenham essa preocupação com uma metodologia diversificada. Mas eu procuro

deixá-los muito à vontade. É importante que não só eu, mas que o grupo tenha a visão do

todo, do que os outros professores estão trabalhando. Assim eles também podem ter ideias.

Na hora das apresentações [dos professores] eu fui fazendo anotações, com algumas

observações, mas não era o momento de interromper. Por exemplo, na apresentação do

professor que falou do soroban eu apontaria mais algumas questões para ele. Algumas coisas

[pausa] seus objetivos didáticos, não ficaram muito claro para mim. Mas eu não vou fazer isso

perante o grupo, eu acho que isso tem que ser no particular. Quando eu assistir a uma aula

dele, ou em outra ocasião eu posso dar um feedback, mas no momento da reunião, acho que

não, não sei, não me sinto à vontade para apontar nada.

Outra interrupção. Dessa vez João foi arrumando o seu material. Senti que não podia

mais tomar o tempo dele. Foram quarenta minutos de conversa, mas ocorreram duas

interrupções. Ajudei-o a organizar a sala e fechar a porta. Nesse ínterim ele fez muitas

perguntas sobre a pesquisa.

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APÊNDICE I

CARTA PARA EFAP

São Paulo, 29 de agosto de 2018.

Prezada Profa. Cristina de Cassia Mabelini da Silva,

Coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado de São

Paulo “Paulo Renato Costa Souza” - EFAP

No âmbito das discussões sobre o desenvolvimento profissional docente, as aulas de trabalho

pedagógico coletivo (ATPC) que ocorrem semanalmente nas escolas públicas da rede de ensino do

estado de São Paulo vêm sendo apontadas como espaço privilegiado para formação de professores e o

professor coordenador, profissional importante para planejar, organizar e conduzir os encontros. O

interesse em conhecer e analisar as propostas formativas empregadas nessas reuniões coletivas deu

inicio à pesquisa de doutorado: “Formação realizada por coordenadores pedagógicos da SEE/SP,

concepções e estratégias” de minha orientanda, Jeanny Meiry Sombra Silva, desenvolvida no

Programa de Psicologia da Educação da PUC-SP.

O estudo tem por objetivos: a) identificar quais estratégias de formação docente estão sendo

utilizadas pelos coordenadores nos encontros coletivos que ocorrem semanalmente na escola; b)

analisar se essas estratégias estão na perspectiva de formar professores crítico-reflexivos. Esse estudo

não se limita somente a atender estes objetivos, mas representa uma possibilidade de contribuir, por

meio dos achados da pesquisa, para o fortalecimento do papel do coordenador pedagógico como

gestor da formação continuada que ocorre na escola, tendo por finalidade a aprendizagem dos alunos.

A contribuição do Grupo de Cooperação Técnica e Pesquisa – GCTEC da Escola de

Formação e Aperfeiçoamento dos Professores “Paulo Renato Costa Souza” – EFAP é fundamental

para abranger um número maior de participantes. Nesse sentido, solicitamos o encaminhamento do

questionário de pesquisa (em anexo) aos professores coordenadores das escolas da rede.

Ressaltamos que será mantido sigilo absoluto sobre a identificação pessoal dos pesquisados.

Ambas, orientadora e orientanda, assumem o compromisso de, encerrado o processo de defesa, enviar

o texto final do trabalho de conclusão da tese à EFAP, com a autorização para divulgação dos dados e

conclusões.

__________________________________________

Profa. Dra. Laurinda Ramalho de Almeida

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APÊNDICE J

Questionário aos Coordenadores na Plataforma SurveyMonkey

Prezado(a) Professor(a) Coordenador(a),

Esta pesquisa tem por objetivo identificar quais estratégias de formação docente estão sendo

utilizadas pelos coordenadores nas escolas da SEE-SP. Contamos com sua ajuda. Seu nome

não será identificado.

1) Quanto tempo de experiência você tem na coordenação? ________

2) E no magistério? __________

3) Na coordenação, atua (ou atuou) em quais segmentos?

( ) Educ. Infantil ( ) EFI ( ) EFII ( ) EM

4) Qual sua formação inicial? __________________________________

5) Você possui pós-graduação? Se sim, especifique o curso.

6) Ao conduzir as reuniões de ATPC, que estratégias de formação docente você costuma (ou

costumava) utilizar? Fique à vontade para escrever o quanto desejar.

Agradecemos sua participação! Este questionário ficará disponível até o final desta pesquisa.

Após esse período, se desejar saber o resultado deste levantamento basta informar seu e-mail.

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APÊNDICE K

Respostas abertas dos coordenadores para questão 6

Prezado(a) Professor(a) Coordenador(a) SurveyMonkey

Ao conduzir as reuniões de ATPC, que estratégias de formação docente você

costuma utilizar? Fique à vontade para escrever o quanto desejar.

Answered: 280

Nº RESPOSTAS

1

São realizadas formações baseadas no programa ler e escrever e emai, reflexões a análises de

resultados referente as avaliações externas realização de plano de ação para melhoria dos

resultados, sugestões de atividades para os professores realizar em sala de aula e apresentar para

o grupo, orientação para preenchimento de rotinas e diarios, etc.

2 Estratégias e formação com base nas necessidades de aprendizagem dos alunos alinhadas com o

Currículo Oficial do Estado de São Paulo. Trabalho realizado junto aos professores para a

compreensão das expectativas de aprendizagem de cada ano/série. Estudo coletivo sobre

metodologias de ensino; sobre como abordar os conteúdos de modo a desenvolver as

competências e habilidades que os alunos apresentam dificuldades.

3 Participativa , onde procuro que cada participante se envolva e participe não apenas como

ouvinte mas como colaborador efetivo, uma vez que os mesmos já possuem experiencias que

podem enriquecer a reunião.

4 Leitura e reflexão de partes pertinentes do Regimento Escolar e do Plano de Gestão, discussão

em grupo e tematização da pratica, relacionamento interpessoal e o trabalho com o

conhecimento, núcleo da gestão da sala de aula, relação interpessoal, respeito, saber ouvir e

refletir sobre sua pratica. Acompanhar o desenvolvimento dos conteúdos curriculares, articulando

fatores como tempo, espaço, recursos didáticos, relações com a família e o entorno escolar.

5 Formação de acordo com as necessidades do grupo, como recebemos vários professores novos,

começamos tudo novamente, Programa de Ação com base nas demandas da SEE: MMR.

6 Utilização de texto para reflexão, videos de temas didáticos, atividades para os professores

trabalharem e refletirem em questões da prática da sala de aula.

7 Costumo trabalhar temas que possam contribuir para melhorar o aprendizado dos alunos. As

estratégias são variadas. Quase sempre começamos a reunião com uma leitura inicial, ou leitura

compartilhada. Às vezes uso o estudo de caso, oficina de práticas dos professores, análise de

práticas, como é o caso da tematização da prática. Leitura e estudo de textos teóricos quase

sempre para complementar a discussão que fazemos do vídeo da aula que a gente assiste na

tematização. Principalmente para os professores que trabalham com a alfabetização, destaco que

é importante que eles saibam que, por trás de suas práticas pedagógicas, sempre há uma

concepção de ensino e de aprendizagem.

8 Numa exposição de conteúdos os professores têm uma participação ativa. Onde são levados a

questionar e discutir o objeto de estudo (teorias, atividades de sala de aula, prática, etc.)

9 Preparo formações sobre temas que os professores sentem-se fragilizados ou que verifico a

necessidade. Trago textos, vídeos modeladores com aulas de professores para discussão e troca

de experiências. Procuro sempre utilizar um bom referencial teórico para apoio das discussões.

10 Atualizações de área, troca de experiências, estudo compartilhado, etc

11 A minha formação em pedagogia. Embora agora se utiliza muito as ações do MMR e as

atividades do suporte pedagógico direcionadas pelo Núcleo Pedagógico da diretoria Centro Sul

12 Trabalho com enfoque nas habilidades e competências contemplando todos os professores.

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13 Levantamento das fragilidades da U.E e a partir dai elaborar formações que contribua para a

correção dessas fragilidades

14 Ao analisarmos o funcionamento escolar, percebemos o impacto da ação do coordenador no dia a

dia escolar. Sua atuação, se bem estruturada inspira e dá o tom a escola. É fato que algumas

demandas prejudicam tal atuação, destaco entre elas o desvio de função que, nem sempre, é de

escolha do coordenador. Sobre as reuniões de ATPC, tenho em vista o aperfeiçoamento contínuo

do fazer pedagógico, dedico-me a investigação de como o professor aprende, situação que pode

ser alterada anualmente, pois em muito depende da equipe docente daquele ano. As estratégias

são variadas, entre elas leitura compartilhada, leitura silenciosa, debates, análise de hipóteses,

análise de vídeos, resolução de desafios e replica de boas práticas, porém, em muito atento para

apenas direcionar e não monopolizar (algo que identifico como frágil e preciso melhorar).

Percebo que alguns professores se sentem mais a vontade com algumas estratégias do que com

outras, mas ao longo do ano, acabam se envolvendo a demonstrando interesse em várias

estratégias. Gosto de envolver todos professores, e busco seguir a pauta. Sinto dificuldade em

dar continuidade aos temas, pois a demanda da escola solicita uma diversidade de assuntos no

ATPC que nem sempre é possível concluir todos.

15 Em sala de aula ou espaço dedicado a reuniões. Quando se trata de estudo de casa a sala já está

preparada e se cria expectativa, ganhando atenção. Quando da análise de um texto realizamos

leitura compartilhada. Ao termino de qualquer ATPC reflexão.

16 Utilizo textos formativos oriundos de literatura especializada nos assuntos que trato, videos

explicativos, debates sobre assuntos específicos, listas de exercícios, entrega de reflexões sobre

artigos indicados.

17 Formação das AAPś orientando como trabalhar as habilidades que os alunos estão tendo

dificuldade. Debates para uma chegarmos a um atraente ensino aprendizagem aos alunos.

18 Quando conduzo as minhas reuniões de ATPC penso nas ações pedagógica que devem ser

pensadas e planejadas de modo que possam propiciar melhores condições de aprendizagem ao

educando. Pois as reuniões pedagógicas são aqueles momentos de formações que amplie o

compromisso de atender aos segmentos de ensino propostos, mas também que atinja a formação

continuada de professores. Pois, os professores precisam de orientações.

19 A fragilidade pedagógica do momento como gestão em sala de aula

20 Procuro me apropriar de textos tirados da internet e conduzo o ATPC com leitura e reflexão do

mesmo. Em outro momento utilizo partes de algum livro acompanhado de alguma dinâmica.

21 Socialização da pauta da ATPC; Socialização dos saberes em pequenos grupos;

Uso de vídeos; Problematização.

22 Leitura de textos, Exploração de atividades realizadas em sala de aula

23 Geralmente fazemos a leitura de um texto pertencente a algum teórico, ou vemos um vídeo.

Todas essas atividades são seguidas de um roda de conversa e , geralmente, o assunto abordado

tem a ver com a realidade experienciada na escola em um determinado momento.

24 Caderno do aluno, livro ler e escrever, EMAI, legislação, resoluções, artigos, videos, dinâmicas.

25 deixar o professor sempre informado sobre os acontecimentos da escola; reflexão sobre a leitura

fornecida: Debate sobre temas apresentados

26 Tento suprir as necessidades dos professores através das observações em sala de aula.

27 As orientações técnicas passadas através dos encontros no Núcleo Pedagógico; as necessidades

básicas da Unidade Escolar; o levantamento de casos pontuais da Unidade Escolar.

28 As adquiridas e construídas através das Orientações de estudos recebidas da Diretoria de ensino;

acompanhamento das habilidades fragilizadas e apontadas nos sinalizadores de desempenho.

29 Os professores da escola onde trabalho como coordenadora, no planejamento, elencam uma série

de temas que gostariam que fosse trabalhado em ATPC. Se algum professor tem familiaridade

com alguns desses temas, eles conduzem a reunião, caso não tenha professor que queira falar

sobre algum desses temas, eu, preparo com um vídeo, textos, etc. e abro para debate.

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30 Em reuniões de ATPC são utilizadas leituras de referências, gestão de sala de aula, práticas

avaliativas e suas reflexões, planejamento de ações a respeito do desempenho dos alunos e

frequencia.

31 Audiovisual. Uso ferramentas tecnológicas (PPT, Som, filmes...) e impressões (texto, atividades,

avaliações modelo...

32 Pesquiso a fragilidade da Unidade Escolar e através deste monto as pautas de ATPC

33 Costumo usar os dados apresentados pelas avaliações internas e externas

34 Trabalho Coletivo; Escolha do Conteúdo a ser discutido; Analisar as informações; Reflexões;

Análise da produção dos alunos.

35 As pautas eram direcionadas as questões do ensino aprendizagem, sua metodologia/ conteúdos e

as práticas principalmente com projetos de acordo com a defasagem/habilidades necessárias ao

segmento. Também utilizamos para desenvolver e encontrar soluções em situações rotineiras

sempre que necessário.(indisciplina, assiduidade dos alunos, avaliações em geral,etc).

36 Auxiliar os professores.

37 Leitura de textos com com temas da área de atuação

38 Sempre procuro utilizar como estratégias ações que viabilizem a consolidação do processo de

alfabetização ...permitindo uma reflexão crítica social psíquica do status quo de nossa escola

39 Um olhar para a necessidade da escola, a última formação foi como avaliar? Porque Naquele

momento a necessidade de olhar como se avalia o aluno?

40 Primeiramente a interação com o grupo é o ponto de partida para o desenvolvimento de qualquer

estratégia. Mostrar que a função de coordenador também é de apoio é fundamental. Quanto as

estratégias utilizo as orientações da SEE através das Orientações Técnicas. Utilizo também para

nortear os trabalhos os resultados das avaliações de aprendizagem em processo. Busco sempre

informações que subsidiam o desenvolvimento das competências e habilidades. Acredito nas

orientações desenvolvidas pelo currículo, mas aceito que poça haver ajustes a serem feitos e as

críticas que as críticas são construtivas.

41 Vídeos, leituras, dinâmicas e jogos

42 Leitura compartilhada e diálogos sobre a unidade escolar.

43 Procuro sempre ofertar, através de videos e atividades práticas , os estudos que realizo, tanto

através da EFAP quanto através de outras entidades formadoras, que produzam ou pelo menos

tente produzir reflexão na prática pedagógica.

44 Nas formações costumo trabalhar com o conteúdo do Ler e Escreve e E.M.A. I - Ensino

Matemática nos Anos Iniciais , de modo a garantir ao professor que ele possa sanar suas

dificuldades em sala de aula,usamos gêneros textuais diversos para fazer a leitura inicial,

atividades desenvolvidas pelos professores na sala de aula e que possa ser socializado com o

grupo, muitas vezes o professor pede para que seja trabalhado algum tema que ele tenha um

pouco mais de dificuldade para apresentar para seus alunos.

45 Através das formações e orientações que recebemos nas Diretoria de ensino,reaplicamos para os

nossos professores os conhecimentos recebidos e incentivamos a pesquisa e o estudo diário e

continuo para melhor desenvolverem a sua prática.

46 Uma formação contínua segundo as necessidades relatadas pelos professores, seguimos uma

pauta e abrimos o atpc para que os professores repliquem ideias e estratégias usadas em sua

prática.

47 1o. Lugar embasamento nas formações do núcleo pedagógico, 2o. lugar - observações em sala de

aula e cadernos dos alunos.

48 Metodologias propostas nas oficinas da DE do Núcleo Pedagógico.

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49 Utilizo a reunião para informação e formação.Na formação, procuro usar meios eletrônicos como

vídeos e arquivos PPT (Power-point) para instruir os docentes e gráficos com análise de

resultados das estratégias.

50 trabalhamos muito as habilidades e competências

51 Utilizo videos, debates, experiências bem sucedidas de alguns docentes,repasso as orientações

que recebo nas O.Ts.

52 Costumo utilizar como estratégia agenda de acordo com o calendário escolar .Formações (

assuntos ) pertinentes ao cotidiano escolar do professor.

53 Troca de boas praticas, leituras compartilhadas de textos, vídeos, multiplicacao de acoes que

alguem teve contato com a educacao e quer contribuir.

54 Nas reuniões priorizamos a formação dos professores a partir de: Estudos sobre a gestão de sala

de aula; Currículo; Estratégias didáticas; Análise de resultados educacionais; Desenvolvimento

de ações para a melhoria da qualidade de ensino; Posturas profissionais etc.

55 Dupla conceitualização, divisão em grupo, momento de compartilhar experiências

56 Exposição teórica de conceitos seguida de ações práticas e debates com o grupo. Por exemplo,

apresentar o conceito de Habilidades e realizar dinâmica com o grupo para elaborar atividades

que empreguem as habilidades.

57 costumamos usar vídeo com temas pertinentes a realidade da escola como :Gerstão de sala de

aula.indisciplina,. avaliação, analises de resultados. projetos interdisciplinares .

58 Orientações da see, socialização de práticas exitosas entre docentes, embasamento teórico para as

orientações, leitura de artigos acadêmicos, videos motivacionais e incentivo a formação pessoal

por meio dos programas ofertados.

59 Bem, as estratégias de formação nas reuniões de ATPC's estão sempre voltadas as defasagens nas

habilidades apresentadas nas AAPs bimestrais.

60 Orientação da Diretoria de Ensino, Demandas próprias da Unidade ( Plataforma Foco

aprendizagem, MMR, entre outros)

61 Textos e artigos que proporcionam reflexão sobre temas que são trabalhados no dia a dia.

62 leitura de texto, estudo de caso, vídeo, reflexões em grupo.

63 troca de boas praticas, formação pertinentes as dificuldades apresentadas pelos alunos nas

avaliações atividades em grupo para socialização

64 Ao realizar uma reunião de formação busco a interação de todos com o objetivo de melhor

resultado em relação ao tema.

65 conduzida como um espaço de estudo ,reflexão da prática ,incluindo momento de planejamento

coletivo em que os professores podem trocar experiências e ideias para desenvolver as melhores

estratégias visando o alcance dos objetivos proposto.

66 Nas reuniões de ATPC, fazemos muitas discussões sobre diversos temas, atividades em grupos

ano, modelizações de atividades que precisam ser intensificadas e/ou melhoradas.

67 Utilizamos vídeos, textos e dinâmicas para conduzir assuntos relacionados ao cotidiano escolar,

bem como conteúdos a serem ministrados por ocasião do desempenho escolar no Saresp.

68 Apoiada nas orientações da equipe de PCNPs , escolho sempre uma boa leitura para deleite com

referência do autor, apresento a pauta, lemos o registro reflexivo do ATPC anterior e,

normalmente, o movimento começa com o levantamento de conhecimentos prévios sobre o

assunto, discussão, aprofundamento do que foi levantado,com respaldo em material previamente

estudado e após finalizamos.Às vezes faço a dupla conceitualização, ou assistimos um video com

uma boa prática.

69 Apoiada nas Orientações Técnicas da Diretoria de Ensino, vídeoaulas formativas e informativas,

boas práticas observadas em sala de aula.

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70 Procuro sempre formação volta para dificuldade de aprendizagem da minha escola. Por exemplo

tivemos uma formação sobre importância do desenvolvimento da leitura.

71 Busco textos, os quais eram e são reflexivos e geram discussões, agregando com mídias.

72 Proponho atividades práticas, colocando o professor na posição de aluno para que ele possa

vivenciar as situações propostas.

73 Conduzo as formações à partir das Orientações Técnicas ofertadas pela Diretoria de Ensino e uso

como base também a realidade escolar bem como do grupo de professores atuantes , seus anseios

e dificuldades apresentadas.

74 Preparo as orientações de acordo com a necessidade da nossa escola e também o que vem da

Secretaria da Educação via diretoria.

75 Nas pautas formativas utilizo algumas estratégias. Oficinas de Matemática onde os professores

socializam as suas práticas trocas de saberes, realizam atividades práticas de como trabalhar uma

leitura compartilhadas, etc.

76 Separo os professores por ano/ série e começamos a discutir o que eles têm feito em sala de aula

positivo. Apontamos as dificuldades e quais as soluções. Durante o bimestre discutimos também

os resultados das AAPs.

77 Utilizamos leitura compartilhada;Atividades reflexivas sobre o índice da escola nas avaliações

internas e externas;Debates sobre como podemos melhorar as dificuldades de aprendizagem dos

alunos;Como alcançar as habilidades não atingidas;Acesso ao foco aprendizagem;Debate sobre

as boas práticas em sala de aula.

78 As formações são de acordo com as orientações técnicas recebidas na diretoria de ensino focando

sempre nas prioridades da escola ( estudo e análise dos indicadores quanto as avaliações internas

e externas- O que temos e o que queremos?), os projetos Ler e Escrever, EMAI. A reunião é

dividida em momentos como: Leitura inicial; Informes; Formação; Socialização de troca de

experiências; Feedback ou fechamento.

79 Sempre procurando inovar e atender as necessidades da escola... professores e alunos. Alem de

integrar o professor no processo de criação do ATPC.

80 de informação e formação.

81 relaciono os temas de formação aos resultados idesp da unidade escolar.

82 Iniciando sempre com um texto elevando a autoestima dos professores, deixando claro que

somos uma equipe e que necessitamos trocar experiências. Geralmente aproveito as OT

(Orientações Técnicas), que temos nas diretorias e replico as orientações recebidas. Após

atividades desenvolvidas abro a palavras aos professores para que coloquem suas dúvidas ou

sugestões de atividades desenvolvidas que deram resultados positivos.

83 Tento ser mais objetivo possível, indo direto ao "x" da questão, quanto mais objetivo é o

assunto, mais produtivo é o ATPC. Tento oferecer condições apropriadas para que os

professores que estão em sala consigam aprofundar o conhecimento nas suas áreas e aplicar

abordagens, métodos e técnicas pertinentes a proposta do currículo do Estado SP. Além de apoiar

nas possíveis dúvidas e conflitos que possam surgir.

84 início da reunião com alguma dinâmica (encenação de um texto pequeno, vídeo, música etc),

análise de bibliografia pertinente ao tema e debate

85 Estou lendo com os professores os temas e as técnicas formativas do livro professor nota 10 de

Doug Lemov.

86 Utilizo de texto de reflexão, Temas para dinâmicas conforme orientações em OT do Núcleo

pedagógico Uso como espaços democráticos para estudos e discussões, a partir de um

diagnóstico estabelecido das reais necessidades formativas na unidade escolar

87 Textos Que falem sobre o assunto da formação, recursos audiovisuais, participação ativa do

professor com experiências práticas.

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88 Deixo os professores apontarem as demandas necessarias para ser discutida. Ex: uma lei, estudo

de autor etc

89 Todas as formações em ATPC por mim ministradas tratamos de análisar as expectativas de

aprendizagem e habilidades que os alunos dos Anos Iniciais deveriam ter consolidado no ano

corrente. Trabalhando o material da Rede ou seja EMAI e Ler e Escrever.

90 As estratégias são diversas, onde procuro envolver todos na formação, através de leituras,

questionamentos e reflexão dos assuntos necessário. Como apoio temos formação com as PCNPs

que subsidiam as necessidades na aprendizagem em fragilidade.

91 Solicitar aos professores desafios que enfrentam, soluções encontradas por eles e que conceitos

teóricos usaram para solucionar os desafios que se lhe apresentaram. Como segundo etapa,

proponho estudos feitos a respeito dos desafios que os professores encontraram em sala de aula e,

juntos, estudamos os conteúdos teóricos pra contextualizá-los na prática de sala de aula.

Proponho estudos de práticas didáticas tais como: Ensino Hibrido, grupos produtivos, resgate dos

conhecimentos prévios dos alunos ao início de cada nova etapa de aprendizagem, avaliação

formativas.

92 Costumo utilizar dupla conceitualização...partindo do conhecimento de práticas do grupo para o

conhecimento que se tem o objetivo que se pretende incluir em sua pratica didatico pedagógica,

atividades de estudo em grupo complementadas com questões norteadoras para guiar os estudos e

discussões. Preparar com o grupo apresentação de práticas que deram resultados em sala de aula,

modelização de algumas atividades, e outras

93 Deixo claro quais objetivos da formação,analiso os dados ( AAP, mapa de classe) para montar

minha pauta formativa.

94 Nas minhas ATPCs costumo diversificar as estratégias sempre com a utilização de textos

acadêmicos ou gerais, vídeos, ppt, etc, sempre buscando destacar metodologias para auxiliar o

ensino em sala de aula.

95 Nas reuniões de ATPC utilizo o material do LER E ESCREVER, EMAI e informes gerais para

preparar as formações dos professores.

96 A minha estratégia é baseada nas habilidades e competência dos alunos. Para uma melhor clareza

e auxiliando os profissionais para um trabalho mais produtivo em sala de aula.

97 procuro sempre levantar as demandas com os mesmos..

98 De acordo com os resultados obtidos nas avaliações do desenvolvimento das habilidades

esperadas para aquele momento (Série/ano) em que o aluno se encontra e a partir daí definir as

linhas de intervenção como: retomadas de conceitos, intensificar o que não ficou claro ainda e

também aplicar o que faltou, é realizado um acompanhamento de acordo com a Matriz Curricular

da SEE, Planejamento Anual e Replanejamento, Planos de Ação em Andamento e PPP da

Unidade Escolar. Planejamento de ações contínuas de formação visando essas necessidades

apontadas nos diagnósticos ( avaliações) com aprofundamento adequado e inserção na rotina

escolar até o assunto estar consolidado dentro do grupo.

99 Gosto de deixar os professores ‘dar aula no HTPC’, percebi que quando eles só explicavam o que

faziam não dava para entender muito bem suas atividades. Fazendo o passo a passo fica mais

claro e dá pra discutir melhor as atividades. Também utilizo bastante a leitura em grupos anos

pares, exposições de pensamentos dos professores sobre o assunto tratado em estudo de casos.

100 Costumo utilizar os Curriculos do Estado de São Paulo, Matrizes Curriculares, Estudos de vários

autores sobre a Lingua Portuguesa e Matemática, tanto no campo da alfabetização.E também as

formações das pela Diretoria de Ensino Leste 2

101 Utilizo-me principalmente de fontes ligadas à educação como as pesquisas e reportagens

veiculadas pela revista nova escola. Também uso as plataformas com resultados educacionais,

seja a foco aprendizagem ou a SED, onde posso retirar dados de desempenho e de habilidades do

SARESP para alinhar os trabalhos junto ao grupo de professores.

102 FORMAÇÕES QUE SIRVAM DE APOIO E/OU ESCLARECIMENTO PARA O TRABALHO

DO PROFESSOR.

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103 Orientações do Núcleo Pedagógico, de acordo com a formação semanal realizada para os PCs.

104 Busco saber dos professores suas maiores dúvidas e necessidades do seu dia a dia. A partir disso,

construo propostas de formação utilizando as estratégias mais adequadas, podendo ser a dupla

conceitualização, tematização, estudo de casos. Sempre priorizando a troca de experiências.

105 A necessidade de trabalhar o desenvolvimento humano para melhoras as relações interpessoais

no ambiente escolar, diálogos, círculos restaurativos e inteligência emocional.

106 Debates com Temas pré-estabelecidos, organização detalhada dos projetos sugeridos nos

planejamentos.

107 Com temas e objetivos

108 As estratégias utilizadas são: Analise de informações ou afirmações, Estudo de caso, Leitura de

referência e Análise de produção das crianças.

109 Procuro sempre utilizar assuntos ligados ao currículo (Ler e Escrever e EMAI), parte teórica,

desenvolvimento de algumas atividades relativas ao assunto abordado, dinâmicas. Muitas vezes

ofereço ao professor atividades que poderão ser desenvolvidas com os alunos na sala de aula.

Também nas leituras iniciais, procuro utilizar livros ou textos como uma indicação literária para a

sala de aula.

110 Sou PC dos Anos Iniciais, no início do ano letivo é elaborado um temário para as formações. No

decorrer do ano, algumas alterações podem ser realizadas, de acordo com a demanda. Utilizo de

duas principais estratégias: a modelização de aulas bem sucedidas e a partir daí elaboro uma

pauta, onde se encaixe ações pertinentes ao modelos, para serem discutidas e propostas outras

novas ações; e a 2ª utilizo da observação diária de sala de aula, rotinas, planejamento,

habilidades com defasagem entre outras informações e documentos, para trazer ao docente a

discussão da situação problema, após oportunizo a discussão por meio de atividades,

socializamos e em seguida venho com minha intervenção pedagógica (que seria a técnica).

111 Os indicadores da Unidade Escolar, autores e os documentos oficiais.

112 Busco sempre trocas de experiências, referências teóricas e práticas, aulas práticas d professores.

113 Formação sobre diversos temas, como Avaliação, Currículo, Matriz Curricular, Análise de dados

da plataforma Foco Aprendizagem, Gestão de Sala de Aula, troca de experiências, Análise das

obras referentes à educação de diferentes autores da área, além de outros assuntos pertinentes a

realidade da escola e da comunidade.

114 Em minhas reuniões procuro embasar com fundamentação teórica sobre o conteúdo desenvolvido

e, dependendo do conteúdo, elaboro as estratégias que podem ser: modelização pelo coordenador,

atividades em grupo pelos professores, socialização de estudos e de boas práticas e oficinas.

115 Infelizmente a demanda de trabalho (principalmente o trabalho que o Professor Coordenador faz

extra atribuição, como conversar com alunos indisciplinados, falta de carteiras/mesas em salas de

aula, resolver problemas de indisciplina de sala de aula, etc) é muito grande para que se possa

preparar um ATPC com estratégia de formação. Em geral os ATPC são informativos e a parte

formativa ocorre em situações onde são realizadas discussões por conta de determinado assunto

desenvolvido, como as discussões que acontecem ao se falar sobre AAP, por exemplo, os

acabamos discutindo assuntos como avaliação, a importância de se realizar a correção das

atividades avaliativas visando o aprendizado e/ou revisão dos conteúdos/habilidades.

116 Costumo modelizar junto a equipe aquilo que deve acontecer nas salas de aula, levando o

professor a análise e reflexão sobre a sua prática.

117 Busco levar a reflexão temas para roda de conversa para enriquecer as práticas pedagógicas em

sala de aula.

118 Procuro fazer com que o docente tenha um processo permanente de aperfeiçoamento dos saberes

necessários à atividade docente, com o objetivo de assegurar uma ação docente efetiva que

promova aprendizagens significativas para o educando .

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119 A pauta é dividida em dois momentos, sendo que o primeiro, voltado par a formação, atendendo

a necessidade do grupo. A segunda é momento de encaminhamentos que norteia as ações para o

Ensino Fundamental Anos Finais e Ensino Médio.

120 Estratégias diversificadas para contribuir no ensino e aprendizagem dos alunos. Com subsídios

do curriculo oficial do estado de São Paulo

121 Estratégias de trabalhar com as dificuldades dos alunos e que se tornem leitores fluentes, etc.

122 as reuniões em sua maioria costumam ser divididas em dois momentos, a parte de formação onde

apresentamos temas para formação que estão em alta no momento ou é demanda da escola, e um

segundo momento onde debatemos estratégias para um melhor ensino-aprendizagem dos alunos.

123 Textos como leitura inicial, legislação, plataforma SED-Foco Aprendizagem, análise de

resultados AAP, ações MMR, Orientações Técnicas da Diretoria de Ensino, troca de

experiências.

124 Através de textos objetivos, vídeos, debates e conclusão.

125 Resoluções, situações problemas

126 Estratégias de formação, capacitação , boas práticas didáticas e análise de metas e resultados de

habilidades até então não compreendidas.

127 Utilizo as orientações fornecidas nas OT pela Diretoria de Ensino, faço pesquisas em livros e na

internet, procuro sempre abordar assuntos que sejam pertinentes.

128 Conduzo as ATPC's na sequência de recados de calendários, cronogramas, ações praticadas

dentro da escola, a fim de atualizar os professores dos acontecimentos da escola. A seguir

trabalhamos atividades de formação com Atividades passadas de OT's para todos conhecerem o

trabalho desenvolvido pela D.E.. Em seguida trabalhamos o estudo desta OT com

desdobramentos possíveis em outras áreas. Também passo alguns pontos dos cursos que faço

pelo AVA.

129 Além das formações feitas nas OT do Núcleo, procuro trazer textos para analisar em conjunto

com os docentes que tenham relação com o trabalho pedagógico, para isso, vejo as bibliografias

que mais caem em concursos, provas de mérito para estuda-las em ATPC. Sugestões de temas

vindas dos professores também são trabalhadas para a melhoria do trabalho pedagógico.

130 As principais estratégias de formação que utilizo nas ATPCs são: Projeção de slides

explicativos; Leitura de texto; Debate; Questões para sondagem; Dinâmicas, etc.

131 Utilizo as formações reiteradas pelo Núcleo Pedagógico da Diretoria alinhados ao Currículo

Oficial do Estado.

132 Trabalho com diferentes estratégias para incentivar e valorizar os saberes dos professores. Estas

estratégias vão desde apresentação ao Power pointer, textos para estudos e reflexão, estudos de

casos, apresentação dos professores ao seus pares um determinado tema abordado, grupos

colaborativos. Para que assim possam organizar seu rotina de trabalho eficaz para a

aprendizagem dos alunos.

133 As formações são organizadas tendo como referência as necessidades formativas dos professores.

Identificadas as necessidades, um Plano de Ação é elaborado.

134 As formações são pautadas nas necessidades educacionais que as turmas apresentam e em

consonância com o MMR. Conceitos de Avaliação, competências e habilidades e atividades

práticas para consolidar reflexões sobre os temas tratados.

135 Eu me baseio inicialmente nas orientações da elaboração da rotina, ressaltar a importância dos

materiais dos programas da SEE e após a realização de provas externas procuro adequar as

formações pautadas nas defasagens do alunos a fim de saná-las juntamente com os professores.

136 Sempre dou início....com a frase ...NÃO VAMOS PERDER O FOCO! Sobre as estratégias, aí

depende muito do tema abordado ...

137 Muita troca de experiências, muito diálogo e muita construção de materiais de apoio pedagógico.

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138 As estratégias de formação ficam em cima do Currículo do Estado de São Paulo e, este ano em

especial o estudo da BNCC.

139 Estratégias voltadas a tecnologia, dinâmicas e aos conteúdos de maior necessidade a partir de

resultados educacionais.

140 Meus ATPC são de formas formativas, com apresentação de slides, com videos e estudo de

autores e socialização do grupo , buscando sempre tornar agradavel e prazeroso o estudo.

141 discussão do currículo oficial, literatura relacionada às metodologias de ensino, etc

142 1. Formação na D E ( às vezes é preciso fazer uma adaptação de conteúdo, pauta) 2. Consulta no

site nova escola ( sou assinante).

143 Nas formações, costumo iniciar com a leitura da pauta. Na sequência, dependendo da situação, há

a leitura de um texto ou assistimos um vídeo para iniciarmos as discussões e/ou aprofundamento

do estudo. Em alguns momentos, também posso utilizar as estratégias e atividades que são

passadas nas orientações técnicas.

144 Temas que abortem os interesses dos professores de forma a despertar o interesse pelo estudo e

sempre se atualizar pelos novos temas.

145 Textos relacionados as habilidades e os índices da escola nas Aaps

146 Mediação; Gestão Democrática; Debates e Troca de boas práticas.

147 Costumo utilizar reflexões sobre algumas estratégias metodológicas das habilidades em

defasagem em Língua Portuguesa e Matemática, comprometidas não só coma aprendizagem dos

conteúdos conceituais, como também com os procedimentos atitudinais.

148 As reunião de ATPC tenho como estratégias trazer ao entendimento dos professores a

importância das formações, dos quais são formativas.

149 Cartazes com objetivos

150 Formação em gestão de sala de aula.Formação em habilidades e competências.Formação em

avaliação.Estudo e análise do Caderno do Professor e do Aluno.Leitura e análise dos resultados

consolidados da AAP.Levantamento de habilidades defasadas por série/turma.Leitura e análise

dos resultados consolidados do bimestre da Unidade Escolar.

151 Para que transcorra de modo eficiente, agradável e produtivo, é necessário que ocorra a escolha

de um local apropriado e à pauta, uma sala de leitura, ou outro espaço físico adequado e

solicitado a um dos membros participantes para que registre os temas debatidos. Durante o tempo

previsto para o encontro cada professor é instigado a apresentar seus pontos de vista e opinar

quanto aos assuntos para que se possa deliberar sobre as decisões que, preferencialmente, devem

ser coletivas. A pauta e a coleta de assinaturas são feita ao final de cada reunião. Formação

Continuada: A ATPC como espaço para a autonomia formativa.

152 A PRÁTICA DO PROFESSOR COM OS TEMAS ABORDADOS.PROFESSOR EM AÇÃO,

PARTICIPAÇÃO EFETIVA, REALIZANDO, PLANEJANDO, DISCUTINDO E

SOCIALIZANDO SEUS RESULTADOS E SABERES.

153 Utilizo formações sobre a utilização do Ler e Escrever e do Emai.

154 Textos, vídeos e troca de experiências

155 Bem, costumo utilizar estrategias com utilização do ggogle sala de aula. Formei um grupo de

professores que fazem ATPC comigo e montei google sala de aula, todos os assuntos de

formação para os professores, tem dao certo, pois a grande maioria consegue vir para os ATPCs,

preparados para discussão das pautas.

156 pauta, data show e grupos para desenvolvimento de questões ligadas à pauta.

157 Utilizo leitura compartilhada e vídeos para facilitar a formação, realizo atividades

multidisciplinares e individuais, atividades para que o professor se sinta no lugar do aluno,

estratégia até o momento positiva.

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158 Atividade em grupo colaborativo, modelização da pratica pedagógica, formação teórica

fundamentando a pratica de sala de aula.

159 Aplicação do conhecimento adquirido; Identificação das implicações práticas das questões

teóricas abordadas e vice-versa; Consideração dos conhecimentos prévios (práticos e teóricos)

dos professores; Utilização de recursos e instrumentos que contribuam para a tematização da

prática real.

160 A mais usada é apresentar o problema através de slides para o conhecimento, análise e tomada de

decisões. Também, o uso de textos de pedagogos, filósofos e sociólogos para conhecimento e

análise da sociedade brasileira e a mudança que acontece no mundo. E, também, situações de

acontecimentos para que o professor vivencie problemas que ocorrem em classe.

161 Utilizo estratégias de acordo com o tema da reunião e com as necessidades dos professores.

Costumo utilizar a tematização, a troca de experiências e grupo colaborativo. Atualmente

estamos analisando as práticas dos professores da própria escola. Eles apresentam o que estão

fazendo e as dificuldades que estão tendo na sala de aula, então a gente discute quais atividades

deram certo ou não, e quais são as mais adequadas. Percebo que assim consigo envolvê-los numa

reflexão, explicitando a necessidade de estudar um conteúdo teórico.

162 Aprimoramento dos conteúdos dados na DERC e estratégias diferenciadas para os professores.

163 Utilização de textos e vídeos de apoio

164 Atividades de socialização com temas relacionados as necessidades da unidade escolar.

165 Com os resultados obtidos das avaliações e mapas de sondagem , verifico quais habilidades estão

com defasagem e preparo textos e atividades de discursão coletiva e reflexão sobre o conteúdo

trabalhado. procuro utilizar autores renomados, também sempre procuro diversificar com vídeos

e roda de conversa.

166 Leitura de textos, apresentação de slides, roda de conversa, questionário de autoavaliação e

dinâmicas.

167 AUDIOVISUAIS , FILMES, NOTICIAS ATUAIS ESPECÍFICAS DA EDUCAÇÃO.

168 No início da minha atuação como Professora Coordenadora, procurei observar as necessidades

dos professores quanto às ações de aprendizagem a serem utilizadas pelos docentes. Constatei a

necessidade de iniciarmos as formações a partir da atuação docente e das estratégias a serem

utilizadas para a melhoria da aprendizagem por parte dos alunos. Desta forma, apresentei as

estratégias para a Gestão de Sala de Aula. Após esse período constatei que os professores

apresentavam dificuldades em compreender e utilizar o material proposto proposto pelo Governo

do Estado. Atualmente procuro identificar as causas das dificuldades de aprendizagem das

crianças e relaciono com o nível de compreensão dos temas abordados por parte dos docentes.

169 Ultimamente utilizo as pautas da minha formação que tenho com as PCNP

170 Procuro verificar as necessidades do grupoe da escola e também formação atravez de legislação e

sempre procurando um grupo com o mesmo propósito educativo..

171 Costumo preparar os ATPC utilizado material que foram utilizados em cursos ou orientação

técnica da oficina pedagógica, pesquisas da Internet. Utilizo também os recursos tecnológico.

172 Sempre utilizo uma pauta para organizar o assunto abordado, também gosto de dar um tempo

para os professores discutirem, dar sugestões e quais ações proposta para a solução dos

problemas. Os temas abordados são diversificados a maioria relacionado com aprendizagem dos

alunos. Os recursos são variáveis como power point, dinâmica, textos, videos.

173 As formações que são realizadas na escola onde atuo, sempre são momentos de estudos e

aprendizados. São trabalhadas as pautas advindas das capacitações realizadas na Diretoria de

Ensino Sul -2, que são realizadas pelos PCNP, e ajustadas de acordo com as necessidades e

realidades da nossa escola. Os temas abordados são previamente estudados e elaborado uma

pauta e materiais necessários para favorecer um momento de estudos e reflexão sobre a prática.

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174 Foco nas dificuldades apresentadas nos resultados das avaliações externas , internas e sondagem

como ponto de partida considero aquilo que o professor pensa sobre determinado assunto ou

conteúdo e em grupo socializamos os saberes para em seguida estudar os materias da secretaria e

referenciais teóricos sobre.

175 Sigo orientações dadas na Orientações Técnicas pelas PCNP's, analisamos os resultados das

AAP's para traçarmos nossas rotinas, fazemos estudo do currículo e socializamos as boas práticas

entre os professores.

176 Costuma-se trazer textos oficiais de secretarias municipais e estaduais de educação, como na

literatura recente sobre formação em serviço. Profissionais de áreas como saúde e justiça para

palestras. Debate de concepções e práticas pedagógicas, formação que incluem os professores

em redes de trocas continuadas.

177 Pesquisa na internet referente ao assunto a ser abordado;consultando os dados da Secretaria

Escola Digital ,link Sara.Reuniões de trabalho com o núcleo pedagógico.Reunião de trabalho

Vídeo conferencia.cursos de capacitação fornecidos pela escola de formação...

178 Estudo do resultado das Avaliações da Aprendizagem em Processo (AAP); Reflexões sobre as

ações a partir destes resultados; Orientações aos professores no processo de recuperação contínua

dos alunos; Formação junto aos professores para os alunos de publico alvo; Motivação da equipe

docente para sua própria formação através dos cursos ministrados pela EFAP ou outros possíveis;

Analise dos resultados das avaliações interna; Controle junto aos professores da frequência dos

alunos.

179 Utilizo sempre impressos e divido a tarefa de estudo

180 Busca de textos, vídeos na internet produzidos por sites voltados a educação.

181 O horário de ATPC é destinado para promover a troca de experiencia profissional possibilitando

a reflexão sobre a pratica docente. Articular ações educacionais desenvolvidas pelos diferentes

segmentos da escola. Acompanhar de forma sistemática o processo de ensino aprendizagem.

182 Pesquiso autores que possam acrescentar a formação e a atuação docente.

183 Leituras, reflexões, diálogos constantes, discussões, socializações, sugestões, estudos dirigidos,

vídeos entre outros.

184 Utilizo os recursos disponíveis na UE. A formação se dá de acordo com as necessidades dos

professores e dos nossos índices.

185 Montar a pauta; explicar o porque do assunto; ouvir com atenção o que o professor tem a dizer

(críticas ou elogios) e se preciso for retomar em próximo ATPC

186 Pautas formativas

187 Vídeos, leitura compartilhada, informes oficiais, slides com conteúdos sobre a teoria de

pensadores, etc.

188 Planejamento de aulas expositivas que buscam estabelecimentos de conexões entre a experiencia

dos alunos e objeto de estudo.

189 Utilização da sala de multimídia com textos pedagógicos,orientações da diretoria de ensino e

estudo dos indicadores da escola

190 Atuo realizando uma gestão democrática de formação e informações com temas auxiliadores e

norteadores estabelecidos pela SE.

191 Nas ATPC utilizo as estratégias de formação articulando os conteúdos que apresentam

defasagem, de acordo com os resultados da AAP, além do estudo constante do Currículo (Ler e

Escrever e EMAI)

192 Costumo utilizar uma estratégia mais normativa, de aula formativa. Seguimos estritamente a

pauta, que normalmente é composta por um momento de acolhimento e posposto a isto ,

começamos muitas vezes por intermédio de "textos base" a temática a ser desenvolvida, nunca

desprezando o referencial bibliográfico.

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265

193 Nas reuniões de ATPC, é feito: Pauta( descrevendo os temas que serão abordados ); Reuniões de

formação e informativa, ocupando a sala de reunião e multimídia, abordamos temas que se faz

necessários para a equipe escolar, subsidiando os professores na formação.

194 Começo lendo um texto, sobre docência em sala de aula. Oriento de como se deve agir em

situação de conflito, fazendo sempre uma reunião de bom agrado e com objetivo a ser atingido.

195 Busco inspiração nas orientações técnicas e também uso as solicitações dos professores.

196 De forma geral, utilizo como estratégia formativa a "tematização da prática", com apresentação

de situações concretadas vivenciadas no cotidiano escolar e problematização (questionamentos

que fomentam a busca por soluções). Em uma das etapas da ação formativa há sessão de estudo,

sendo utilizados referenciais da Secretaria da Educação, para qualificar as reflexões.

197 O ATPC é desenvolvido em caráter formativo, ancorado às pautas e temas desenvolvidos em

Orientação Técnica pelo Núcleo Pedagógico da Diretoria, visando a retomada de Habilidades em

Defasagens, dificuldades didáticas e metodológicas percebidas em observação de sala de aula e

temas corriqueiros do cotidiano escolar.

198 Costumo utilizar a formação que temos nos encontros com o núcleo pedagógico da diretoria de

ensino. Formação esta muita produtiva para trabalho dos professores em sala de aula.

199 Executar a proposta pedagógica de acordo com o currículo, os programas de ação e os guias de

aprendizagem determinações do Programa de Ensino Integral.

200 Como coordenadora de CEL, normalmente uso o ATPC para que os professores compartilhem

atividades trabalhadas com sua respectiva turma. Também aproveito para tratar de assuntos

relacionados a projetos e objetivos, e metas para realizá-los e atingi-los.

201 Como agora estamos voltados para o MMR (Método de Melhoria de Resultado) em Matemática

nos anos Finais e Médio, conciliamos com os temas Gestão de Sala de Aula e estratégias de

Ensino.

202 Leitura de textos inciais com temas de pertinentes ao cotidiano escolar. Análise desses textos

sempre procurando diagnosticar os problemas da escola e propor ,em grupo, soluções para os

mesmos.

203 Discutimos temas abordados em Orientações técnicas, técnicas para diversificarmos as aulas,

planos de aula, projetos.

204 Discussões sobre temas buscando o diálogo, a troca de experiências.

205 Na formação de professores as estratégias constituem uma forma de fazer com que os professores

reflitam sobre a sua prática, de torná‐los mais competentes na análise das questões cotidianas.

206 Minhas estratégias de formação docente costuma ser através de trabalho coletivo, com análise e

reflexão sobre as habilidades aprendidas e as habilidades que necessitam de mais atenção.

Refletindo sobre quais e como realizar atividades para que estas sejam alcançadas pelos alunos.

Sempre buscando novas estratégias para que nosso aluno tenha uma aprendizagem significativa.

Procuro modelizar atividades e investigar o conhecimento prévio do professor, para poder

elaborar as ATPCs. E costumo trabalhar muito com a troca de experiências, tornando muito rica a

aquisição do conhecimento pelos professores.

207 Utilizo recursos tecnológicos para incentivar o professor a usar em sala de aula. Com este recurso

áudio visual, tento estimular o professor em sua prática em sala de aula, tentando sensibilizá-lo

da utilização de recursos não convencionais como apenas giz e lousa.

208 Utilizo resultados de avaliações para melhorar a prática docente. Preparação de atividades

diversificadas planosde ações para sanar fragilidades nas habilidades a serem trabalhadas

Estudo do currículo do Estado

209 CONFORME AS FORMAÇÕES NA D.E., FAÇO UMA ADAPTAÇÃO PARA A NOSSA

REALIDADE, EM 2014 A NOSSA ESCOLA PEGOU FOGO E TIVEMOS QUE MUDAR

PARA UMA ESCOLA DE ENSINO FINDAMENTAL II E MÉDIO.

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266

210 Utilizo material proposto pelo núcleo pedagógico e quando necessário material que atenda a

demanda da unidade escolar.

211 utilização de Videos, slides, textos, leitura compartilhada

212 Leitura inicial...compartilhada...vídeos formativos....powerpoint com diversidade de estratégia

para sala de aula.. .textos de autores diversos e contemporâneos...situação de aprendizagem

diversas.

213 Orientações técnicas

214 Sempre no início de cada semestre, realizo o levantamento das necessidades de formação dos

professores e as principais defasagens dos alunos quanto a aprendizagem. Em determinados

momentos solicito aos professores a leitura prévia de texto para serem debatidos posteriormente (no

momento da formação), mas em outros momentos, leituras realizadas no momento da formação. Após

a discussão com o grupo de professores (que pode durar mais de 2 htpcs) solicito a análise de um caso

de ensino (estudo de caso) em grupo, com fundamentação na leitura e discussão realizada. Assim, após

as analise, ocorrem as socializações das discussões em grupo.

215 Mapas mentais, apresentação de docs sobre a educação bem sucedida em vários lugares do mundo,

discussão, e contato pessoal...

216 procuro trazer assuntos pertinentes aos que percebo nas observações de sala de aula. uso texto e vídeos

para que os professores reflitam e consigam melhorar

217 As professoras sempre organizadas com seus pares.

218 Atualmente as reuniões são conduzidas, para formação de programa específico, no caso MMR

(Método de Melhoria de Resultado), com apelo em identificar quais habilidades não foram

desenvolvidas e dar suporte para que as mesmas sejam sanadas.

219 A pauta das reuniões semanais geralmente contemplam situações que ocorreram na semana anterior,

como matrícula de aluno com necessidades especiais, déficit de aprendizagem, problemas de

relacionamento, indisciplina, quebra dos "contratos" pedagógicos, entre outros. Quando estes são

levados a equipe gestora antecipadamente, tenho tempo de "preparar" estratégias, metodologias que

buscam atenuar ou resolver o ponto de conflito. Percebi que assim torna-se mais fácil e perdemos

menos tempo discutindo, pois acredito que cabe ao coordenador apresentar soluções e não levar

problemas para o grupo. Com isso, consigo atender as demandas da escola e formar minha equipe

docente, pois todas as atividades e ações propostas na ATPC são embasadas em autores renomados e

experiências exitosas amplamente divulgadas pela SEE/SP. Além disso, envio material (textos, vídeos,

links de sites) via e-mail para estudo do professor, deixo claro que não é obrigatório, mas importante

para o seu desenvolvimento profissional e aprimoramento de sua prática profissional. Esse material

geralmente retiro dos cursos que faço na escola de formação, plataforma AVA-EFAP, Currículo +,

sites voltados à educação os quais estou cadastrado.

220 Antes de qualquer coisa uma boa e ordenada pauta. Pensar num texto de deleite para que gere uma

reflexão sobre o tema abordado. Depois, lembro ao grupo que escutar é melhor que falar, para que a

própria fala tenha uma sustentação e o seu público alvo se sinta representado. Lembro a todos que

tempo é mais que dinheiro, é sabedoria.

221 Procuro buscar atender às demandas a fim de melhorar de aprendizagem dos alunos. A observação em

sala de aula, os resultados de avaliações, e o acompanhamento de perto dos alunos frente às

expectativas de aprendizagem de cada ano em curso. A formação se dão para ajudar o grupo em

relação as fragilidades que o professores apresentam, e eu procuro por meio da formação ser um

parceiro dos docentes.

222 No ano de 1996 quando foi implantado o professor coordenador não tinha muita orientação.

O trabalho era desenvolvido a partir das necessidades da Escola. A gente ficava muito em cima

de discutir os problemas dos alunos. Agora as reuniões, as estratégias, tudo que acontece na escola,

vem por conta do Currículo. Eu me baseio nas OT´s da DE, mas adaptado ao que precisamos.

223 Atpc é um momento de estudo entre os professores, o mais solicitado e necessário é textos que falem

sobre indisciplina, motivação, avaliação.

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224 Focar nas prioridades da escola. Minha escola é de Ensino Integral e temos as prioridades levantadas

no Planejamento. Todas a ações são voltadas para elas.

225 Trabalhamos com formação permanente relacionado ao MMR.

226 As estratégias partem dos estudos dos resultados, identificamos as habilidades e competências em

defasagem e estudamos os temas, depois os professores montam atividades coletivamente aplicam em

sala de aula e no próximo encontro acontece a socialização com apresentação das evidencias, ou seja,

do que eles fizeram em sala de aula a partir do que planejamos. Os índices da escola estão melhorando

com isso.

227 Estudos de textos, vídeo aulas, documentários, atividades diversificadas.

228 Estudos e atividades feitas utilizando ferramentas tecnológicas e acesso a internet. Atividades em

grupo, com socialização das experiências. Leitura e interpretação de textos, debates.

229 Elaboração da agenda semanal, elaboração da pauta de formação, acompanhamento de sala de aula

para materializar na formação a melhora da prática docente.

230 Eu trago para reuniões tema formativos, utilizo data show, apresentação em powerpoint,leituras de

textos científicos, uso de videos,atividades praticas e muita oralidade.

231 utilizo as ferramentas tecnologicas, dinamicas de grupo, estudo de casos, relatos exitosos...

232 Os Atpcs ocorrem semanalmente na Escola após orientações da Equipe responsável pelo Ciclo l da

Diretoria de Ensino. As estratégias são as mesmas que a equipe de PCNP nos passam.

233 Estudos dos materiais do Ler Escrever. Como estratégias: tematização da prática e homologia de

processos.

234 As ações formativas aqui na EE Rev José Borges dos Santos Júnior - Anos Iniciais partem das

necessidades de aprofundamento e/ou formação inicial tendo como base os resultados apresentados

nas avaliações e a articulação com os conteúdos do Currículo.

235 leitura, discussao e analise de textos tecnicos.

236 Primeiro iniciamos a reunião com uma leitura compartilhada; depois fazemos análise de situações de

ensino para discussão e reflexão do grupo. Uso bastante para isso as estratégias de tematização da

prática e a dupla conceitualização. Por fim, fazemos a sistematização das discussões. Sempre há um

registro do encontro que é feito por um professor por vez.

237 Temas variados para estudos em grupo

238 Focado na defasagem dos educandos

239 Apresentação em ppt, dinâmicas, leitura de artigos, apresentação de estratégias de ensino por docentes.

240 Preparação prévia do conteúdo, vídeos e ppt.

241 Baseado nos resultados das avaliações é no acompanhamento em sala de aula programo um momento

de aprendizado com seriedade e serenidade. Normalmente costumo utilizar textos, vídeos ou slides

que eu mesma preparo

242 Textos Videos e Palestras. Sempre que possível convidamos um palestrante de fora da escola.

243 Utilizo perguntas norteadoras a respeito do tema da pauta, para considerar os conhecimentos prévios

das professoras. Faço rodas de conversa, uso PPTs e reforço a importância do trabalho em equipe

sempre com vistas a aprendizagem dos alunos.

244 Leitura de textos e discussões, dinamicas, vídeos com as práticas.

245 Repasse das formações oferecidas pela Diretoria de Ensino; Estudo de caso (casos trazidos por mim,

procurados na internet, ou os casos podem ser de alunos da própria escola); confecção de atividades

para os alunos com defasagem de aprendizagem; Entre outras...

246 Observamos das necessidades de intervenções pedagógicas

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247 Leitura compartilhada, atividades em duplas e grupos, dinâmicas, a partir de estudos do Currículo

Oficial do Estado de São Paulo - Programa Ler e Escrever e Projeto EMAI: Educação Matemática nos

Anos Iniciais e Teóricos da Educação.

248 Procuro identificar, junto ao grupo de professores, quais são as suas necessidades a curto, médio e

longo prazo. Dessa forma, consigo priorizar as demandas mais urgentes, mas não deixar de lado as

demais.

249 Trabalho com foco na realidade da escola, dando maior ênfase aos dados internos, bem como a

realidade da comunidade escolar.

250 Geralmente existem algumas leituras e formações obrigatórias, tais como: legislações, gestão de sala

de aula, motivação x indisciplina, evasão, participação, recuperação das competências e habilidades.

Todavia, é fundamental, observar a prática de sala de aula, e levar considerações ao ATPC , fazer a

discussão e buscar fundamentação teórica para a melhoria da prática pedagógica.

251 Estimular a leitura e fomentar o desejo da descoberta.

252 Rodas de leitura e discussão, textos e vídeos, troca de experiências entre os pares.

253 Procuro desenvolver temas do interesse ou necessidade dos professores

254 slides com textos e vídeos sobre temas escolhidos por eles, para por nas reuniões (de acordo com que

achávamos necessário) e também temas enviados pela diretoria de ensino.

255 leitura de textos, leitura de legislacao e video de teoricos

256 Varia com a necessidade pedagógica. No entanto, costuma ser reflexão em cima da própria realidade:

trazemos textos sobre necessidades apontadas, sobre os acompanhamentos, as demandas da SEE,

demandas dos projetos escolares. O maior problema é a escassez de professores numa concentração

maior para essa discussão.

257 Tematização da prática / Análise de material dos alunos / Trabalho em pequenos grupos / Leitura e

discussão de textos.

258 Formação para uso do currículo SP

259 Estudo do Currículo do Estado de São Paulo, avaliação, índices internos e externos da escola, estudo

de casos de alunos com necessidades especiais.

260 Reuniões com apresentação de vídeos e discussão; oficinas de estudo com textos formativos; análise

de resultados em grupos e por área; entre outros.

261 A estratégia de formação que costumo utilizar é a dupla conceitualização.

262 Sigo estratégias de reflexão com sugestões de atividades contextualizados em sala de aula

(modelizações) e metodologia mais ativa. Eu estou levando situações como se eu fosse o prof e

analisarem minha prática; jogos lúdicos com finalidade didáticos; sugestões de atividades para

recuperação continua; planilha de resultados de avaliações externas. O bacana é fazer estudo de casos,

pois os professores gostam bastante de participar.

263 Explanação teórica, discussão em grupo ou por área do conhecimento e vídeo.

264 Inicialmente há uma pesquisa e estudo de minha parte em relação ao que será proposto ao corpo

docente para o atendimento e capacitação do mesmo. Cito como exemplo a análise e interpretação de

índices que a escola apresenta no SARESP e Idesp, já que sou do Estado de São Paulo para que

possamos juntos, Coordenação e corpo docente identificar o que pode ser mudado quanto ao

desempenho das habilidades de nossos alunos. Outra formação é a utilização do material de apoio ao

processo de ensino aprendizagem como a MAP, Matriz de referencia processual e o próprio Currículo

do Estado de São Paulo, ao qual nossa ação profissional é baseada. Textos, vídeos e palestras também

são estratégias utilizadas para a formação docente e aprimoramento do processo de ensinar e aprender.

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269

265 Basicamente, além das demandas da SEE, os temas sempre surgem de demandas internas ou própria

sugestão dos participantes.

266 Leitura, estudos de temas relacionados à educação, análise de resultados avaliacionais, entre outro

267 PPT com textos de apoio. Estudo de casos. Roda de conversas. Troca de experiências.

268 Modelização e estudo de caso

269 Leitura compartilhada de textos. Levantamento de conhecimentos prévios e discussões acerca dos

temas; vídeos com temas motivacionais. Estratégias baseadas nas demandas do MMR.

270 Agora eu sou Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico da DRE, mas nas ATPC que conduzi,

geralmente costuma usar vídeos, textos, plataforma foco aprendizagem, depende da necessidade que

os professores apresentam ou da própria escola. Uma estratégia recorrente era o estudo de caso e a

tematização da prática.

271 Como coordenadora, no início de cada trimestre, montava junto com a equipe um plano de ação,

envolvendo um tema de interesse para estudo e com estratégias aplicáveis à sala de aula, para com isso

criar um movimento de estudo da própria prática. Hoje não estou vinculada a nenhuma escola,

empreendo em educação e estou entrevistando coordenadores e profes do Brasil todo, para entender o

mesmo que vocês: quais estratégias utilizam e como tornam esse tempo (atpc) produtivo e com

qualidade. Quero me colocar à disposição para, se for do interesse de vocês, contar um pouco do que

tenho ouvido, lido e percebido nessas validações. Se quiserem entrar em contato podem fazer pelo

email: [email protected]

Obrigada.

272 Procuro levar vídeos e documentários para conversar sobre o assunto, podendo ser: dificuldades de

aprendizagens, BNCC, planos de aula, oficinas entre outros.

273 Estudos dirigidos e troca de experiências vivenciadas

274 Estratégia reflexiva e modelizada em boas práticas levando a uma metodologia mais ativa e lúdica

275 Dinâmicas, vivência de pratica, estudo em grupo

276 Resolver problemas de salas. Não tem jeito, indisciplina é o tema que os professores querem discutir.

Às vezes até trago leituras de textos teóricos para discussão e interpretação (para aprendizado), mas

não é isso que os professores querem. Também estou procurando conhecer estratégias eficientes,

quando vocês acharem, por favor, me avisem.

277 Exposição dialogada; grupos de discussão; leitura, análises, discussão e exposição pelo grupo das

reflexões; análises de vídeos e imagens.

278 Utilizo vídeo motivacional na abertura. Estudo de caso e textos formativos, utilizando modelos das

OT´s do Núcleo Pedagógico.

279 Pedagogia da presença. Estratégias para o diálogo, comunicação e o bom relacionamento do grupo,

pois os professores reclamam muito, de tudo.

280 Oficinas de práticas realizadas pelos professores, para dinamizar e tornar interessante a formação com

conteúdos sugeridos pelo grupo e também os trazidos das orientações na diretoria

281 Textos formativos e de alguns educadores, conversas formais e informais.

282 discussão e estudo em grupo.

283 apresentação de vídeo, discussões, debates, roda de conversa, leitura

284 Formações por área de atuação com vistas ao Currículo do estado - SEE/SP

285 As pautas das reuniões semanais são construídas junto com uma das professoras da série, que trazem,

em reuniões individuais quinzenais, as demandas do grupo naquele mês. Além das discussões das

demandas da DRE e da Secretaria, há espaço para o planejamento da semana, ou quinzena.

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270

286 Desenvolvo ao longo das reuniões estudo orientado sobre os temas mais em evidência na educação

atual.

287 Procuro vídeos e leituras dinâmicas e não muito longos para termos tempo para um debate ou

discussão. Atualmente tenho incentivado também a socialização de boas práticas entre os professores,

que tem resultado em ótimos momentos formativos.

288 Primeiramente, fazer uma boa pauta para explanar na reunião é primordial. Logo, fazer uma dinâmica

para os docentes , sempre dinâmica reflexiva em seguida damos o início às pautas e fazemos uma

discussão dos temas

289 As estratégias são definidas com base das necessidades dos professores e da escola. Sempre partindo

de uma sondagem dos professores para me assegurar quais são seus saberes, o que eles pensam sobre o

ensino e a aprendizagem, também com base no acompanhamento na sala de aula. Sempre tendo com

fio condutor o currículo oficial.

290 Utilizo textos de pensadores que se comunicam com a organização do trabalho escolar

291 No início da carreira, utilizava apenas exposição e leitura e discussão de textos teóricos. Depois, com

o passar dos anos e da minha participação nos Programas Letra e Vida (o que ocorreu no meu quarto

ano de exercício na coordenação) e Ler e Escrever, passei a utilizar registros de observação de aulas,

tematização da prática, ações modelares por dupla conceitualização e, sobretudo casos de ensino.

Essas últimas estratégias contribuíram muito para que meu vínculo com o grupo de professoras se

fortalecesse. Passei a me sentir mais seguro para desenvolver minhas tarefas e minha identidade como

formador foi se também se movimentando de um jeito que eu passei a me sentir um formador. Foram

essas experiências que me levaram à docência no ensino superior e à atividade como formador de

formadores, no âmbito da formação continuada, no terceiro setor e entendo que foi o que me levou,

também, a um patamar mais alto do meu desenvolvimento profissional: assumir um cargo de gestor

público de uma escola.

292 Dentro do tema do projeto político pedagógico da escola (Educação em Valores e Educação em

Direitos Humanos), procuramos utilizar diversas estratégias com o grupo. Porém, sempre com o

objetivo de unir a teoria com a realidade local.

293 Busco trazer formação aos professores, atividades que possam ser aplicadas em sala, discussões sobre

novas publicações

294 Busco por temas que venham ao encontro das necessidades da escola e dos professores

295 Leitura Compartilhada, Estudos de Caso, momentos de estudo, problematizações, sistematização dos

temas discutidos, apresentações em power point, prezi, oficinas práticas, escuta ativa, etc.

296 Agora eu estou designada como PCNP, logo o trabalho é direcionado à formação de Professores

Coordenadores. Quinzenalmente realizamos reuniões de estudo com enfoque bem diversificado de

forma que sejam possíveis desdobramentos na Unidade Escolar, como: utilização de tecnologias,

grupos colaborativos, sala de aula invertida, tipos e formas de avaliação.

297 Trocas de experiências, boas práticas; Acompanhamento sistemático a partir de demandas da sala de

aula; Formação a partir de rodas de leituras; Atividades sobre concepções relativas ao currículo;

Organização das ações sempre por meio de pauta e registros em ata para compromisso de todos.

298 Trazer temas de interesse dos professores, mas que essencialmente priorizassem a aprendizagem do

aluno. As reuniões são bastante abertas para permitir aos professores refletirem e falarem sobre suas

experiências e necessidades.

299 Textos e registros

300 Leitura de textos pedagógicos; discussão sobre temas do currículo; vídeos do São Paulo faz escola;

convite a palestrantes

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301 Trabalho com textos pedagógicos variados, textos de filósofos que discorrem sobre educação. Além

disso, assistimos e discutimos alguns filmes sobre educação, o último utilizado foi o documetário

“Nunca me Sonharam”. Outra estratégia utilizada é a troca de experiências entre os professores sobre

metodologia diversificada.

302 Trabalho com dinâmicas com o objetivo de gerar reflexões iniciais sobre a prática pedagógica. Essas

dinâmicas tem como apoio textos, vídeos, música e afirmativas. As atividades propostas no decorrer

da reunião consideram os conhecimentos prévios dos professores, que também são percebidos nas

dinâmicas. São propostas atividades em grupo para estudo teórico ou atividades práticas. Esses grupos

são formados conforme o objetivo da atividade, considerando os agrupamentos produtivos. Além

disso, busco trabalhar com a ATPC colaborativa, em que os professores colaboram com a formação de

seus pares, de forma planejada e articulada com o temário das ATPC. Algumas parcerias são sempre

bem vindas, de instituições que tratam de Justiça Restaurativa, Produções Artísticas, Projetos Sociais,

entre outros, buscando contribuir com a formação continuada dos professores. A parceria com os

demais integrantes da equipe gestora é essencial para o trabalho pedagógico da escola fluir de forma

positiva, alinhada as questões de organização geral da escola. Os temas são definidos considerando as

orientações da Secretaria da Educação, das formações na Diretoria de Ensino e das demandas da

escola.

303 Vídeos, dinâmicas, atividade em grupo, leitura compartilhada etc

304 Dinâmicas de grupo, estudo de caso, tematização da prática através de textos, fotos, discussões em

grupos ou duplas, brainstorming.

305 Vídeos, dinâmicas, atividade em grupo, leitura compartilhada etc

306 Discussão e acompanhamento das ações realizadas na escola com vistas a melhoria dos resultados e

dos índices; e também reavaliamos ações, fazendo esboços de futuras formações. Entre as estratégias

de trabalho: planilhas de acompanhamento do rendimento escolar, produção de materiais e atividades

para os alunos, entre outros.

307 Leitura de referenciais teóricos, oficinas, elaboração de projetos, análise de material institucional,

análise de indicadores educacionais, estratégias para recuperação das aprendizagens.

308 leituras teóricas relacionadas a problemas educacionais em debate, vídeos, discussão sobre práticas

dos professores,

309 Leitura de textos (excertos de textos acadêmicos, textos de revistas comerciais de educação como a

Nova Escola); Vídeos de tematização de aulas institucionais, vivência de atividades e discussão dos

processos vivenciados (homologia de processos); apresentações conceituais (com uso de power point);

planejamento coletivo das atividades a serem desenvolvidas na semana (agrupamento de professores

por ano/série). O que eu percebo que gera mais resultado, que é mais produtivo (para mim e para os

professores), são as formações planejadas em sequência, em um único tema, com exercícios e

discussão das vivências.

310 Os encontros são voltados especificamente para a formação dos professores em relação a gestão de

sala de aula. Para isso faz se o uso de vídeos , apresentação em PowerPoint e leituras em geral .

311 Estudos sobre autores de acordo com necessidade do grupo

312 ATPC formativo sempre utilizando bibliografias de autores da educação. Orientação aos profs e

espaços para discussões de temas relevantes na educação. Como PCG da escola de tempo integral,

trabalho às principais premissas que são Protagonismo, formação continuada, corresponsabilidade,

excelência em gestão e replicabilidade.

313 Leitura de textos teóricos variados, relacionados com questões de avaliação e desempenho dos alunos.

Vídeos sobre educação

314 Antigamente costumava decidir pautas de acordo com a demanda da escola, geralmente de direção,

outras vezes por conta da necessidade que eu percebia. Hoje procuro partilhar as necessidades com os

docentes, o que tem sido muito mais produtivo porque eles se envolvem na discussão e não percebem

como algo imposto. Utilizo como estratégias o estudo de casos, leitura de textos, vídeos com aulas de

professores para serem analisadas, dinâmicas de grupo, etc, dependendo da temática.

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315 Escrita e discussão de narrativas, relatos da própria prática, análise de vídeos produzidos na própria

escola ou de instituições que fazem formação de professores, atividades em grupo para análise de

planos de aula e de atividades dos alunos.

316 Fazia grupos de estudos, leitura coletiva de textos, ATPCs expositivas e discussões a partir das

observações que realizava nas salas de aula.

317 Diversas, para q contemplasse o grupo em sua diversidade e individualidade de acordo com mapa

avaliativo individual desenvolvido durante os momentos de observação da sala de aula.

318 Gosto de começar as reuniões perguntando das dificuldades que estes encontram no processo de

ensino-aprendizagem diário, e geralmente escolhemos uma turma que dá mais trabalho, ou seja

problemas com o maior número de professores, daí através de uma conversa que geralmente vira uma

grande discussão surgem algumas ideias que vão de uma intervenção coletiva ou mesmo alguma

proposta de de trabalho. Já há um tempo os professores estão muito frustrados com os textos de

teóricos que os fazem se sentir incompetentes, então quando em discussão aparece sugestões estás são

aceitas com mais facilidade.

319 Tematização de práticas, dupla conceitualização, dinâmicas, leituras, apresentação de vídeos, oficinas,

trabalho coletivo, planejamento e avaliação de ações, apresentações em power point, entre outras.

320 Troca de experiências bem sucedidas de estratégias, leitura de artigos científicos, vídeos educativos

321 Estratégias metodológicas com encontros reflexivos e contextualizados

322 Promovia entre os professores um ambiente calmo e tendo como objetivo buscar ações para

solucionar problemas. Com a ajuda da diretoria de ensino, procurava manter os professores

atualizados com a metodologia da educação das escolas estaduais. Fazíamos conselhos de classe e

reuníamos sugestões com diferentes práticas para obter melhor resultados em relação aos alunos.

Organizava junto com a direção da escola, reuniao com a família, para que pudéssemos construir uma

escola de qualidade. Sempre que possível organizávamos projetos tendo Como objetivo maior fazer

com que o aluno aprenda e ao mesmo tempo conviva de forma coletiva.

323 Levantamento das dificuldades encontradas no corpo docente, de qualquer espécie: pedagógica,

tecnológica, burocrática, administrativa, planejamento... Vídeos temáticos e autoinstrucionais.

Replicação das formações de coordenação da DE. PowerPoint com conceitos e estratégias para

atingir/esclarecer as dificuldades encontradas. E, por fim, alguns atendimentos individuais quando

necessário.

324 Fazia reuniões formativas com base nas propostas do Núcleo Pedagógico da DE.

325 Leitura compartilhada no tratamento de decreto e ou leis... Dinâmica pedagógica com valorização as

competências. Apresentação de estratégia de sala de aula por docentes

326 Troca de experiências positivas entre os professores, replicação para os professores das

capacitações/orientações técnicas realizadas na Diretoria de Ensino, etc.

327 Dinâmicas de grupo, sensibilização, vídeos de orientação e estudo do conteúdo e de caso.

328 Mapeava as necessidades de cada professor no quesito de aprendizagem dos alunos sem focar em

questões de indisciplina, depois utilizava algum vídeo ou texto para proporcionar um momento de

reflexão voltado para o melhor desempenho do professor e abria um momento para sugestões ou

alguma colocação em relação a algo que está funcionando ou não em sala de aula.

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329 De acordo com a política educacional do estado de São Paulo, busco possibilitar a aproximação das

propostas da SEE à realidade das escolas. Questões estruturais como o currículo, sua lógica e sua

estrutura são o foco do trabalho, vinculando-os aos demais programas e projetos da SEE.

330 Diálogo, mais que tudo o diálogo! Porque as relações na escola não são fáceis.

331 Fazer análise de informações, com professores com o objetivo de refletir sobre o assunto é tirar

conclusões. Estudo de caso. Leituras de referência. Mapeamento das dificuldades dos alunos,

apresentação de vídeo, retomada de conclusões anteriores, avaliação e comentários, tematizar a sala de

aula, entre outras

332 Leitura compartilhada e discussões técnicas e pedagógicas. Troca de boas práticas

333 Primeiramente eu e a direção discutíamos sobre as dificuldades encontradas no decorrer da semana e

elaborávamos uma pauta. Os professores tomavam conhecimento da pauta e davam sugestões sobre

cada item dessa pauta. Retomávamos , sempre que possível a pauta anterior para observarmos a

evolução dos fatos. Pedíamos para os professores citar sobre práticas positivas que estavam aplicando

em sala de aula.

334 Temas relativos a aprendizado, avaliação e disciplina dos alunos. Também temas comportamentais

relativos aos professores.

335 Textos para refletir sobre o processo ensino-aprendizagem, filmes e troca de experiências entre os

professores

336 Dificuldades dos professores nas varias conversas informais e usando praticas que foram exitosas com

outros professores

337 Estudo de autores da pedagogia, principalmente o livro Professor Nota Dez

338 Planejamos antecipadamente o tema a ser estudado na próxima semana. Cada semana um professor é o

responsável pela condução da leitura ou apresentação de um texto de apoio. Geralmente o professor

que traz e texto é quem faz a leitura compartilhada, às vezes a gente lê em pares (de acordo com a área

do conhecimento). Sempre há discussão e troca de ideias.

339 No PPP, consta o projeto coletivo anual, elaborado no inicio do ano com o grupo de professores que

participam das reunioes coletivas, com base no projeto, busco textos e vídeos para estudarmos, durante

quatro horas semanas quando nos reunirmos; Desta forma acontece a formação do grupo de

professores. Metodologia: textos e videos, sempre utilizando meios multimidias

340 Grupos colaborativos

341 reuniões dialogadas sobre estudos realizados individualmente ou em grupo, a partir de estudos de caso

ou análise de problemas da própria escola (tematização da prática).

342 As temáticas são ancoradas em pressupostos teóricos, mas há a valorização das experiências de cada

professor e a troca de experiências é fundamental para o aprofundamento das práticas pedagógicas; os

recursos e metodologias são variados, há formações que demandam projeções, outras com músicas,

leitura e reflexão de textos, leitura compartilhada, etc. Outro aspecto de destaque é posição de cada

professor no momento das formações, o grupo é organizado em circulo e o objetivo nessa metodologia

consiste em horizontalizar as relações entre professor e coordenação pedagógica, mas os espaços

externos da escola também são utilizados, deste modo, os professores são provocados a refletirem as

mesmas questões em sua sala de aula.

343 Eu procuro saber a necessidade dos professores da minha escola

344 Sempre utilizei de recursos multimodais, como imagens e vídeos, além de espaços para diálogo em

grupos e socialização de impressões. Hoje percebo que isso está ancorado na metodologia da sessão

reflexiva com possibilidades da cadeia criativa, na qual um contribui com as suas experiências e

aprendizagens possibilitando o avanço coletivo do processo formativo, privilegiando a colaboração

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274

345 Levantamento de conhecimentos prévios, leituras, discussão de casos, vivências.

346 Elaboração prévia de pautas; Discussões no coletivo; Montagem de pequenos grupos para discussões

dos temas em pauta; Assembléia de professores.

347 Aprendizagem dialógica; Relatos de Prática; vídeos. Tento fazer coisas para estimular eles a participar

do HTPC, pra eles trocarem experiências da prática. Quando eu era professora, sentia que a sala de

aula era muito solitária. No HTPC é o único momento em que tá todo mundo mais junto. Sair da

solidão é prioridade, tem que haver tempo para os educadores conversarem entre si.

348 A escolha da estratégia depende muito do grupo, do momento que estamos vivendo e da temática a ser

abordada na reunião. Sempre inicio as reuniões com um momento deleite que, geralmente, é uma

apresentação musical ou teatral. Costumo trabalhar com propostas reflexivas em grupos pequenos, que

são, posteriormente, socializadas no grupo grande. Tenho como prática montar os agrupamentos de

trabalho intencionalmente, para que a discussão seja mais produtiva.

349 A estratégia era definida a partir dos objetivos a serem proposto e do grupo. Teatro do oprimido,

dinâmicas e vídeos eram bastante usados.

350 costumo utilizar textos, vídeos, filmes, a maioria baseados na proposta do projeto de formação que

estamos trabalhando. Também dedicamos momentos para discussões e reflexões sobre as práticas dos

educadores.

351 Prática reflexiva (relatos de prática); estudos teóricos, vídeos, registros dos professores; leitura de

periódicos, apresentação de power point.

352 Tomamos decisões necessárias à dinâmica pedagógica ... com pauta prévia discutida conforme

necessidade do grupo

353 Num primeiro momento realizo um levantamento dos conhecimentos prévios do grupo com relação ao

tema, em seguida socializamos os apontamentos. Trago alguma teoria e bons modelos para que o

grupo possa refletir sobre. Sugiro sempre um exercício prático e para finalizar realizamos uma

discussão baseada na prática e na teoria para chegarmos as mesmas conclusões, ou não.

354 Leitura coletiva, discussão em grupo, apreciação de vídeos e imagens, visita a museus, elaboração de

textos individuais e coletivos, troca de experiências e estudo de casos.

355 Estudo em grupos , relatos de práticas, planejamento e aplicação de projetos em parcerias, troca de

experiências entre o grupo, visitas culturais, estudo de experiências exitosas, visitas à espaços

escolares com propostas diversificadas. Ações que promovam a coletividade e a participação de todos

os educadores, pois há descompromisso ou desinteresse de muitos em ampliarem seu universo de

compreensão por meio de leituras, talvez por causa da carga horária extenuante do professor.

356 estudo de caso, trago pessoas da universidade para conversas no grupo, visitamos espaços culturais,

leitura de bibliografias indicadas na DRE, vídeos, relatos

357 vivências de situações previstas para serem trabalhadas em sala; reflexão coletiva de planejamento à

concepção indicada no PPP da Unidade; leitura e reflexão de textos; uso de diferentes linguagens para

reflexão (vídeos, poesia, dramatização, textos literários); observação de práticas, acompanhamento das

rotinas que são utilizadas para instrumentalizar as propostas de formação e discussão coletiva

358 discussão de textos, temas, metodologias e bibliografia

359 grupo focal, exposição dialogada, estudos de caso, visitas dirigidas a espaços extra escolar, exposição

dialogada, dinâmicas de grupo, leitura reflexiva, palestras vídeos, debates, seminários.

360 construção da pauta; acolher as necessidades de formação da equipe; pesquisas a respeito de

pedagogias ativas para mudança na metodologia de ensino

361 supervisões coletivas semanais com diálogos por segmento para compartilhar situações pontuais da

semana, ou seja, ocorrências com alunos; grupos de estudos para pesquisas que possam fundamentar a

execução de projetos, assim como trocas e partilha de experiências sobre práticas pedagógicas.

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362 utilizo sensibilização para aproximar o grupo docente, estabelecendo relações interpessoais com mais

proximidade. Além de dinâmicas brincadeiras, permeadas pelo estudo, análise e reflexão de textos. Em

algumas vezes fazemos trocas de experiências com as professoras, mas admito que foram insuficientes

e é uma das atividades que conversamos da necessidade de ser mais efetivo no cotidiano das

formações.

363 Momentos de estudo, problematizações, discussões em grupos colaborativos; análises de práticas,

trocas de experiências, visitas a espaços culturais, registros que permitam reflexões (mudanças de

concepções, de práticas de ensino; oportunizar a participação de todos); avaliações e auto-avaliações.

364 respeito, mesmo que a priori, das práticas existentes; levantamento dos conhecimentos prévios;

exposição dialogada; estudo de caso; diferentes linguagens: dança curricular, produções pictóricas,

poesias e musicalidade; leitura e organização da temática referente às necessidades de cada Ciclo ...

quando se trata de discussões conceituais o processo é facilitado

365 discussão acerca de algum ponto de interesse, como reportagem; leitura e discussão de textos teóricos;

tematização da prática; debate; vídeos curtos. É um grupo extremamente politizado, cansativo, unido,

coeso, proativo, militante em favor do ensino medio, e que não tolera a teoria pela teoria.

366 Costumo ouvir bastante os professores e, geralmente, construo pautas para que eles possam falar,

socializar suas experiências, conquistas, êxitos e desafios. A partir das falas vou trazendo a teoria para

iluminar as práticas. Parto dos aspectos positivos, iluminando-os; mostro que valorizo os fazeres dos

professores e traduzo em teorias essas práticas, ajudando-os a nomearem e trazendo a tona as

concepções que muitas vezes aparecem implícitas nestes fazeres.

367 O estabelecimento de diálogo por acreditar que o processo formativo dialógico e dialético é aquele

que, de fato, provoca mudanças. Estratégias como a tematização da prática são utilizadas com

frequência, porém buscando refletir sobre as teorias que subjazem tais práticas e/ou que podem

configurar-se como subsídios para ressignificação das práticas existentes.

368 Nos encontros de formação segue a temática escolhida pelos professores e aprofundamos, com base na

teoria, a prática; visitas a espaços culturais da cidade (uma forma de levar os professores a conhecer e

fazer uso destes espaços e experiências) É um desafio unir as experiências dos professores antigos

com a expectativa dos professores mais novos, além de buscar instrumentos de formação que não use

apenas a leitura como recurso.

369 roda de conversa; exposição dialogada; leitura compartilhada; sensibilização multimodal (ex. visita à

museus, teatros, etc.); debates e reflexão a partir de músicas, vídeos e textos; estudos de caso;

tematização da prática; estudo do território cultural; estudo teórico; seminários para socialização de

boas práticas.

370 promover um espaço de diálogo; estudos de casos concretos; trocas de experiências; tematização da

prática; no início de cada encontro, um momento de reflexão através de uma dinâmica: frase, imagem

e discussão no grupo.

371 leitura, discussão e reflexão de textos. Vídeos, clipes, filmes, documentários; relatos ou socialização

de práticas de professores; saídas culturais; visitas a outras escolas; convite a outros formadores;

planejamento de ações coletivas.

372 Vivências, leituras, dinâmicas e vídeos. Além das discussões frequentes sobre questões colocadas por

mim aos professores, eles também socializam suas práticas. Gosto de usar o debate de temas

polêmicos, como no caso da avaliação e da indisciplina. Ouvir o que o outro tem a dizer amplia os

horizontes.

373 elaboração de projetos e sequências didáticas; estudos de caso; leitura de textos; discussão a partir de

vídeos e documentários; elaboração de projetos educacionais

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374 Planejo a utilização da teoria ligada à prática, realizando estudos de materiais escritos, utilizando

vídeos, entrevistas, palestras e também estudos de caso ou trocas de experiências. Mas não é fácil os

professores demonstram pouco entrosamento nas discussões, resistência às propostas que chegam da

SEE; pouco entrosamento na execução de projetos; resistência para mudanças de prática e de ver o

resultado das avaliações como forma de avaliar também a nossa prática (frase comum "eu ensinei, o

aluno nao quis aprender).

375 leitura de textos, pois a leitura é premissa para formação; estudos de caso; elaboração de projetos e

sequências didáticas; apresentação de portfólios e diários de bordo; rodas de narrativas e relatos de

práticas; trabalho com obras de arte, poemas, músicas, movimento.

376 leitura e discussão de textos, discussão a partir de vídeos; dinâmicas de grupo; visualização de filmes,

documentários e clipes sobre temas importantes para o professor e para a escola; filmagem de aula ou

outros momentos para discussão de e compartilhamento de práticas; registros fotográficos; poemas,

textos em prosa; muitas trocas de experiência entre todos.

377 leitura e discussão de textos, discussão a partir de vídeos e documentários; reflexões sobre a prática

docente a parir de situações trazidas pelos professores ou provocadas por mim.

378 Leitura compartilhada de referenciais da pedagogia. Replico as orientações das Ots da DE

379 Estratégias diversificadas como por exemplo: dinâmicas, leitura inicial, agrupamentos produtivos

diferenciados, videos, temas diferenciados, reprodução das formações....

380 Textos para leitura prévia; filmes; discussão coletiva; apresentação em ppt, incluindo sempre o roteiro

e o objetivo da reunião; sistematização do conteúdo abordado; registro escrito de atividades em

duplas; registro individual sobre o que foi incorporado ou fortalecido a partir da ATPC.

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APÊNDICE L

Respostas abertas dos coordenadores para questão 5

Prezado(a) Professor(a) Coordenador(a) SurveyMonkey

Você possui pós-graduação? Se sim, especifique o curso

Filtro Mestrado

Answered: 36

Nº RESPOSTAS DATA

1

Educação Matemática (incompleto)

11/10/2018 22:40

2 MESTRADO EM ENSINO DE CIENCIAS 17/09/2018 18:54

3 Cursando: MBA Gestão Escolar (USP/ESALQ) 29/09/2018 13:44

4 Incompleto em Educação Matemática. 20/09/2018 21:55

5 Estudos Culturais - EAH-USP – cursando 19/09/2018 10:59

6 Gestão Educacional 18/09/2018 20:55

7 Na área de Geografia Física - USP 18/09/2018 14:57

8 Educação 18/09/2018 14:12

9 Mestrado em Genética e Biologia Evolutiva 18/09/2018 08:55

10 Ensino de Ciências e Matemática 17/09/2018 23:25

11 Gestão e Práticas Educacionais 17/09/2018 13:05

12 Ciências - área de Física aplicada 17/09/2018 17:10

13 FISIOLOGIA MOLECULAR DO SISTEMA ENDÓCRINO 17/09/2018 16:37

14 Mestre em Educação: Gestão e Práticas Educacionais 17/09/2018 14:58

15 Mestrado em Educação - Formação de Professores de Ed.

Física

17/09/2018 13:25

16 Mestre em Processos de Ensino, gestão e inovação 27/08/2018 23:37

17 Educação Matemática 12/09/2018 13:51

18 Literatura 27/08/2018 12:01

19 Letras 15/08/2018 16:59

20 Letras 10/08/2018 21:55

21 Psicologia da Educação 27/08/2018 23:17

22 Em Educacao 03/09/2018 16:17

23 Mestrado em Educação 03/09/2018 15:59

24 Biologia Celular e Molecular 02/09/2018 22:01

25 Cursando - Ensino de Ciências e Matemática 02/09/2018 20:58

26 Psicologia da Educação 02/09/2018 20:57

27 Formação de formadores PUC 02/09/2018 19:19

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278

28 Literatura e Crítica Literária 01/09/2018 13:12

29 Mestrado em Ensino de Ciências Exatas e Matemática UFScar 30/08/2018 11:37

30 Matemática 30/08/2018 10:09

31 Distúrbio da comunicação humana 29/08/2018 22:19

32 Letras em andamento 29/08/2018 21:55

33 Linguística 28/08/2018 16:52

34 Formação de Formadores (cursando) 28/08/2018 13:38

35 Educação 27/08/2018 20:36

36 Letras 26/08/2018 19:45

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APÊNDICE M

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

Título do estudo: Diferentes caminhos para formação docente: estratégias empregadas por

coordenadores pedagógicos

Esta pesquisa de doutorado, desenvolvida no Programa de Psicologia da Educação da PUC de

São Paulo, tem por objetivo identificar quais estratégias de formação docente estão sendo

utilizadas pelos coordenadores em reuniões de ATPC. Declaro que os objetivos e detalhes

deste estudo me foram explicados. Entendo que não sou obrigado(a) a participar do estudo e

que posso descontinuar minha participação, a qualquer momento, sem ser em nada ser

prejudicado(a). Meu nome não será utilizado nos documentos pertencentes a este estudo e a

confidencialidade dos meus registros, escritos ou gravados, será garantida. Desse modo,

concordo em participar do estudo e cooperar com a pesquisadora.

São Paulo, ____ de ____________________ de 2018.

____________________________________

Nome

Pesquisadora: Jeanny Meiry Sombra Silva

Orientadora da pesquisa: Profa. Dra. Laurinda Ramalho de Almeida