Dissert Regina Maria Azevedo

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    REGINA MARIA AZEVEDO

    PROGRAMAO NEUROLINGSTICA:

    TRANSFORMAO E PERSUASO NO METAMODELO

    Dissertao de Mestrado

    So Paulo

    2006

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    REGINA MARIA AZEVEDO

    PROGRAMAO NEUROLINGSTICA:

    TRANSFORMAO E PERSUASO NO METAMODELO

    Dissertao apresentada Escola deComunicao e Artes da Universidadede So Paulo para obteno do ttulode Mestre em Cincias da Comunicao.rea de concentrao: Jornalismo.

    Orientadora: Profa. Dra. Maria doSocorro Nbrega

    So Paulo

    2006

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    Termos de aprovao

    Nome do Autor: Regina Maria Azevedo

    Ttulo da Dissertao/ Tese:Programao Neurolingstica: transformao e persuaso no metamodelo

    Presidente da Banca: ______________________________________________

    Banca Examinadora:

    Prof. Dr.____________________ Instituio:_________________________

    Prof. Dr. ___________________ Instituio: _________________________

    Prof. Dr. ___________________ Instituio: _________________________

    Prof. Dr. ____________________ Instituio: _________________________

    Prof. Dr. ____________________ Instituio: _________________________

    Aprovada em:

    ______/ _______ / _______

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    AGRADECIMENTOS

    Muitas pessoas foram importantes para a realizao deste trabalho; so, pois,

    merecedoras dos mais sinceros e amorosos agradecimentos:

    querida Profa. Dra. Maria do Socorro Nbrega, pelo saber compartilhado, rigor

    cientfico, generosidade e incansvel colaborao;

    aos Professores Dr. Adherbal Caminada Netto e Dr. Gil Anderi da Silva,

    coordenadores das reas da Qualidade e Gesto Ambiental do PECE Programa

    de Educao Continuada em Engenharia da Escola Politcnica da Universidade

    de So Paulo (EPUSP); ao confiarem a mim disciplinas voltadas Comunicao e

    Motivao dessa respeitada instituio de ensino, foram os responsveis por

    meu retorno a esta Universidade;

    ao Prof. Dr. Jos Roberto Cardoso, coordenador geral do PECE, pela generosa

    confiana em mim depositada;

    Profa. Dra. Jeanne Marie Machado de Freitas, que com gentileza e ternura

    peculiares deu-me as boas-vindas em meu retorno de filha prdiga Escola de

    Comunicaes e Artes (ECA-USP), 22 anos aps minha graduao; com seu

    esprito cientfico, abriu espao para que este projeto encontrasse seu lugar nas

    Cincias da Linguagem, consignando seu saber a esta pesquisa, por meio de

    preciosas sugestes, algumas das quais apresentadas no Exame de Qualificao;

    do quadro de professores da ECA, cabe ainda destacar as importantssimas

    colaboraes da Profa. Dra. Dulclia Buitoni, pelo incentivo, e da Profa. Dra.Mayra Rodrigues Gomes, pelos ensinamentos;

    Profa. Dra. Zlia Ramozzi Chiarottino, do Instituto de Psicologia (IP-USP),

    especialmente pelo exemplo de vida e pelas pertinentes modificaes sugeridas

    no Exame de Qualificao;

    Profa. Dra. Claudia Thereza Guimares de Lemos (Faculdade de Filosofia,

    Letras e Cincias Humanas FFLCH-USP), responsvel por minha primeiraincurso no universo chomskyano;

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    Profa. Dra. Norma Discini de Campos (FFLCH-USP), incansvel na sua tarefa de

    corrigir e anotar sugestes em nossos cuidadosos, mas nem sempre brilhantes,

    relatrios semanais; cabe destacar ainda sua generosa e entusistica

    contribuio no esboo deste projeto;

    ao Prof. Dr. Gilberto de Andrade Martins, da Faculdade de Economia e

    Administrao (FEA-USP), por sua agradvel e bem-humorada abordagem sobre o

    tema Metodologia, de forma a torn-lo aprazvel; este agradecimento

    estende-se aos colegas de turma da FEA-USP, pelo incentivo a ns empenhado ao

    longo do desenvolvimento deste trabalho;

    s psiclogas Cl Guilhermino, Elaine Martins, por compartilharem comigo suas

    descobertas sobre a PNL;

    aos colegas queridos da ECA, especialmente aos do Ncleo Cincias da

    Linguagem, com quem trocamos idias, incertezas, bibliografia e carinho nos

    momentos de dificuldade;

    Tnia, secretria exemplar da rea de Jornalismo da Ps-Graduao da ECA, e

    ao anjo-guardio Paulo Csar Bomtempi, a quem sempre pudemos recorrer nos

    momentos de aflio estudantil, por todas as facilidades disponibilizadas para

    que pudssemos enfrentar sem atropelos os trmites burocrticos;

    aos queridos alunos do PECE, pela produtiva e amorosa troca de experincias e

    informaes; e aos colegas e funcionrios do PECE pela amizade, cordialidade,

    dedicao, bom atendimento e contribuio efetiva para meu desempenho

    profissional;

    Suzana e Michelangelo, companheiros fiis nas longas noites de estudo.

    Os amigos merecem um captulo parte, pois possuem cadeira cativa em nosso

    corao; para poupar espao, confinamos alguns dos que participaram

    diretamente deste projeto num nico pargrafo. Assim sendo, agradeo minha

    querida prima, Profa. Dra. Helena Alves de Carvalho Sampaio, pela exemplar

    vida acadmica que sempre me serviu de inspirao e por sua ajuda naelaborao do anteprojeto desta dissertao; ao meu querido irmo caula, Dr.

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    Fernando Costa Azevedo, por compartilhar comigo sua doce existncia e sua

    incurso rumo ps-graduao; promissora mestranda Marcela Miura Satow,

    pelo talento e a especial alegria que exala de sua graciosa juventude; ao Eng.

    Maurcio Tonidandel, generoso Mr. Postman, por sua pronta disposio em

    agilizar, eficientemente, a entrega dos livros adquiridos no exterior; editora

    Lvia de Caroli Tonso, pela paciente e corajosa contribuio ao dedicar-se

    leitura da verso final deste trabalho; ao jornalista Artur Arajo, pela intensa

    troca de informaes, ouvinte amigo, depositrio das minhas aflies; ao Prof.

    Eng. Moacyr Albano Braz, pelo ombro acolhedor, pela amizade fiel e torcida

    incansvel que persistem por mais de 30 anos; aos queridos Yara Rezende, Maria

    Ceclia Candeias, Silvia Galant, Yayo Miura, Miriam Sardinha Azevedo, Maria Josdos Santos, Olga Miranda, Edna Melo, Patrcia Ceolin, Toni Galvz, Julio Cruz,

    Paulo Kuratomi e Edson Costa, por comemorarem comigo o incio, o fim e o

    meio.

    Valeu a torcida! Sade, sorte e sucesso a todos ns!

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    AZEVEDO, Regina Maria. Programao Neurolingstica: transformao epersuaso no metamodelo. So Paulo, 2006. p. 187. Dissertao (Mestrado emCincias da Comunicao). Escola de Comunicaes e Artes, Universidade de SoPaulo.

    RESUMO

    Neste estudo apresentamos as origens da Programao Neurolingstica (PNL),

    seus principais fundamentos, pressupostos tericos e objetivos; analisamos o

    metamodelo, sua relao com a linguagem e sua explorao por meio do

    processo de modelagem, a partir do enfoque presente na obra A estrutura da

    magia I: um livro sobre linguagem e terapia, de Richard Bandler e John Grinder,idealizadores da PNL. Examinamos as transformaes obtidas mediante o

    processo de derivao, com base na Gramtica Gerativo-Transformacional de

    Noam Chomsky, objetivando verificar sua relao com o metamodelo.

    Explorando o discurso do Sujeito submetido ao processo de modelagem,

    verificamos em que medida os novos contedos semnticos revelados pelas

    transformaes poderiam influenci-lo, a ponto de mudar sua viso de mundo.

    Para esta anlise, investigamos ainda as teorias clssicas da Argumentao, emespecial os conceitos de convico e persuaso, constatando que a modelagem

    oferece ao Sujeito recursos para ampliar seu repertrio lingstico, apreender

    novos significados a partir de seus prprios enunciados e, por meio da

    deliberao consigo mesmo, convencer-se e persuadir-se.

    Palavras-chave:Programao Neurolingstica, PNL, metamodelo, modelagem,

    transformao, persuaso, derivao, Gramtica Gerativo-Transformacional,

    argumentao.

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    AZEVEDO, Regina Maria. Neuro-Linguistic Programming: transformation andpersuasion in meta-model. So Paulo, 2006. p. 187. Escola de Comunicaes eArtes, Universidade de So Paulo.

    ABSTRACT

    This study aims at presenting the origins of the Neuro-Linguistic Programming

    (NLP), its main ideas, theoretical presuppositions and goals. Furthermore, it will

    be analyzed the meta-model, its relationship with language and its exploitation

    through the modeling process, all based on the book The structure of magic I: a

    book about language and therapy, by Richard Bandler and John Grinder, thefounders of NLP. Moreover, it will be examined the transformations obtained

    from the derivation process, based on Noam Chomskys Transformational-

    generative grammar, with the goal of verifying its relationship with the meta-

    model. When exploiting the subjects discourse submitted for the process of

    modeling, it will be verified in which way the new semantic contents revealed

    by the transformations could influence that subject and made him alter his

    vision of the world. For this analysis, it will be investigated also the classictheories of Argumentation, especially the conviction and persuasion concepts. It

    will also be verified that the process of modeling can offer resources to the

    subject, for him to enhance his linguistic vocabulary, to learn new meanings

    from his own sentences and to be able to persuade and convince himself through

    deliberating with his inner self.

    Key words: Neuro-Linguistic Programming, NLP, meta-model, modeling,

    transformation, persuasion, derivation, Transformational-generative grammar,

    argument.

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    SUMRIO

    INTRODUO..................................................................................13

    PARTE I PROGRAMAO NEUROLINGSTICA (PNL) E METAMODELO .............34

    1 ORIGENS DA PROGRAMAO NEUROLINGSTICA (PNL)............................351.1 Sobre o termo Neurolingstica ........................................................ 361.2 Objetivos da PNL ......................................................................... 391.3 Pressupostos tericos da PNL........................................................... 411.4 Desvendando a Estrutura da Magia ................................................. 43

    2 METAMODELO E MODELAGEM: APLICATIVOS DA PNL ...............................462.1 Conceito de metamodelo ............................................................... 46

    2.1.1 Metamodelo e modelo de mundo: a realidade filtrada........................ 472.2 Conceito de modelagem ................................................................ 492.3 Metamodelo e linguagem ............................................................... 50

    PARTE II ANLISE DO METAMODELO ....................................................52

    3 FUNDAMENTOS DA GRAMTICA GERATIVO-TRANSFORMACIONAL. ...............533.1 Noam Chomsky e o modelo da Gramtica Gerativo-transformacional ........... 533.1.1 O enfoque racionalista e o aspecto instintivo da linguagemsegundo Chomsky ............................................................................. 59

    3.2 Gramtica Gerativo-transformacional: conceitos bsicospossivelmente relacionados PNL ......................................................... 663.2.1 Estrutura sintagmtica................................................................ 723.2.2 Estrutura Profunda e Estrutura Superficial ........................................ 753.2.3 M-formao semntica: homonmia, ambigidade e atransformao ativa-passiva ................................................................ 813.3 Alguns problemas residuais: as fronteiras entre a sintaxe ea semntica e a estrutura do lxico........................................................ 833.3.1 Gramaticalidade: regras e desvios .................................................. 843.3.2 Gramaticalidade e semntica: efeitos de parfrase, comparao,reflexivizao, nominalizao e construo causativa.................................. 87

    4 ANLISE COMPARATIVA DOS CONCEITOS DA GRAMTICA GERATIVO-TRANSFORMACIONAL ADAPTADOS AO METAMODELO .................................934.1 A Gramtica Gerativo-transformacional na viso de Bandlere Grinder ....................................................................................... 934.2 Metamodelo e derivao ................................................................ 974.2.1 O processo de derivao: Estrutura Superficial, EstruturaProfunda e sua aplicabilidade no modelo da PNL........................................ 974.2.2 Derivao e os processos de Eliminao, Distoro, eGeneralizao .............................................................................1004.2.3 Derivao: possveis intervenes do terapeuta .................................1024.3 Alm da Estrutura Profunda: boa-estruturao semntica eboa-estruturao em terapia............................................................109

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    PARTE III METAMODELO E DISCURSO PERSUASIVO ................................. 114

    5 A ESTRUTURA PERSUASIVA DO METAMODELO...................................... 1155.1 Convencer e persuadir..................................................................115

    5.1.1 Demonstrao, razo e emoo ....................................................1185.2 Persuaso e deliberao ...............................................................1235.2.1 Deliberar consigo mesmo ............................................................1245.2.2 Racionalizao: debate versus discusso..........................................1265.3 O duplo gatilho argumentativo........................................................1315.3.1 A dinmica argumentativa...........................................................1315.3.2 Enquadramento .......................................................................1345.3.3 Vinculao .............................................................................1425.4 Metamodelo, modelagem e persuaso ...............................................1515.4.1 Modelagem, competncia e performance.........................................151

    CONCLUSO................................................................................. 155

    BILBIOGRAFIA ............................................................................... 160

    GLOSSRIO .................................................................................. 162

    APNDICES................................................................................... 166Apndice A Categorias do metamodelo: classes especiais de Eliminao,Distoro e Generalizao..................................................................166Apndice B Metamodelo e terapias......................................................178

    ANEXO........................................................................................ 183

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    LISTA DE ILUSTRAES

    QUADRO 1 Exemplo de derivao ........................................................ 73

    FIGURA 1 Diagrama de rvores ........................................................... 74

    QUADRO 2 Formao de constituintes................................................... 74

    FIGURA 2 Diagrama de Meireles e Raposo .............................................. 79

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    Parte IPROGRAMAO NEUROLINGSTICA (PNL) E METAMODELO

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    INTRODUO

    Caminante, son tus huellas

    el camino y nada ms;Caminante, no hay camino,

    se hace camino al andar.Al andar se hace el camino,

    y al volver la vista atrsse ve la senda que nunca

    se ha de volver a pisar.

    (Antonio Machado, Cantares, in Poesas completas)

    Na dcada de 90, atuando como colaboradora da revista Planeta (Grupo Editorial

    Trs) travamos conhecimento com a Programao Neurolingstica (PNL), teoria

    americana criada pelo analista de sistemas Richard Bandler e pelo lingista John

    Grinder, a qual preconizava a possibilidade de promover rpidas e positivas mudanas

    de comportamento por meio da utilizao de padres lingsticos especficos.

    Na ocasio, tivemos oportunidade de entrevistar alguns profissionais brasileiros

    que empregavam as tcnicas apresentadas pela PNL e de participar de algunscursos e workshops por eles oferecidos. Tais experincias permitiram que

    observssemos in loco significativas mudanas de comportamento dos

    participantes de tais prticas. Os contedos apresentados pelos instrutores

    pareciam ser incorporados automaticamente pelos ouvintes, provocando, em

    algumas poucas horas, um instantneo convencimento acerca de suas descobertas,

    prdigas de solues para os mais variados problemas pessoais.

    Simultaneamente a essa experincia, o segmento editorial ento designado como

    auto-ajuda apresentava vendas expressivas, que mereceram destaque nas

    Bienais Internacionais do Livro dessa dcada em diante, conquistando nessas

    Feiras um setor exclusivo para editoras voltadas a esse tipo de publicao.

    Segundo a Cmara Brasileira do Livro rgo responsvel pela organizao do

    evento , em 1994, 107 ttulos venderam 410 mil exemplares no pas1, um

    recorde no superado at hoje por qualquer outro segmento editorial. Tambm

    1 PETILLO, Alexandre e SOUZA, Allyson de. Ajude-se. (Superinteressante, agosto/2005, p. 68).

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    na coluna de livros da revista Veja, publicao de maior circulao nacional, na

    ocasio, essa nova categoria passou a figurar na lista dos mais vendidos, ao lado

    dos segmentos fico e no-fico, assim permanecendo at os dias de

    hoje. O tema continua despertando o interesse da mdia, gerando matrias de

    capa2 e associando-se aos mais variados assuntos, de sucesso nos negcios3 a

    educao infantil4.

    PNL no Brasil

    As tradues das obras fundamentais de Richard Bandler e John Grinder

    chegaram ao Brasil discretamente, a partir do final da dcada de 70, por meiode editoras voltadas s reas da medicina e da psicologia (Guanabara Koogan,

    Summus), com nfase no enfoque teraputico. Somente na dcada de 90, a PNL

    tornou-se aqui conhecida do grande pblico, por meio de escritores como

    Anthony Robbins ou Lair Ribeiro, cujos livros, classificados pelo ramo editorial

    como literatura de auto-ajuda, lideraram por meses as listas dos mais vendidos

    em todo o territrio nacional.

    O mdico cardiologista Lair Ribeiro, graduado no Instituto de Neurolingstica de

    Nova York, foi um dos primeiros a empregar declaradamente, no Brasil, tcnicas

    de PNL em seus escritos e cursos. Por conta dos mtodos polmicos utilizados em

    seus workshops, Lair Ribeiro recebeu severas crticas por parte da mdia.

    Associada imagem desse precursor, a PNL tornou-se aqui popular medida

    que era desqualificada e reduzida a um conjunto de tcnicas de forte impacto

    persuasivo e contedo duvidoso. As crticas apontavam-na como um modismo,algo inventado pelo Sr. Lair Ribeiro para se ganhar dinheiro.

    No entanto, aqueles que a criticaram em artigos de jornais e revistas no

    especializadas quer em comunicao quer em psicologia demonstraram

    pouco conhecimento acerca dos fundamentos da PNL, como, por exemplo, o

    2Auto-ajuda que funciona: o que dizem os mais respeitados autores que ensinam voc a ter sucesso e vivermelhor. (Cf. MARTHE, Marcelo. O alto-astral da auto-ajuda. Veja, 13/11/2002;); O fenmeno da auto-

    ajuda. (Ajude-se. Superinteressante, agosto/2005).3Os gansos dos ovos de ouro. (Veja, 22/9/2004, p. 136-137).4Para estressados mirins. (Veja, 15/9/2004, p. 127-128).

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    jornalista Okky de Souza, que descreveu na revista Veja, em 1996, suas

    impresses sobre Sintonia, um dos mais divulgados cursos de Lair Ribeiro com

    base na PNL:

    A cena de hospcio: com os braos pendurados em tipias, usando tapa-olhode pirata e protetores de ouvido, rolando bolinhas energizantes nas mos, umgrupo de oitenta pessoas caminha por um campo de futebol. [...] Podeparecer coisa de louco, mas no . Ali esto executivos, donas-de-casa eprofissionais de vrias reas, que pagam 600 reais por cabea para participardo curso Sintonia, ministrado pelo escritor Lair Ribeiro. [...] Ao sematricular no curso, os alunos recebem a garantia de que a vida jamais ser amesma depois dele das relaes familiares conta bancria, tudo irtornar-se um mar de rosas.5

    Mais adiante, o jornalista comenta:

    O escritor mantm nada menos que 27 cursos diferentes, cada um servindo adeterminado tipo de pblico, principalmente executivos. Nada que secompare, porm, ao Sintonia [...] [no qual] mgoas ou dios so eliminadosda alma atravs de um exerccio onde todos espancam banquetas estofadasat cair de exausto muitos desmaiam de verdade, com taquicardia. [...]No curso, embalado por uma trilha sonora vibrante em que se destaca AssimFalou Zaratustra, o ribombante tema do filme 2001 Uma Odissia noEspao, aprende-se tambm malabarismo com lenos e todos saem de lcraques na matria. Quem quer subir ao palco para dividir com a platia um

    grande problema pode faz-lo a qualquer hora. Nessas ocasies, usandotcnicas de neurolingstica, Ribeiro costuma promover a cura do paciente alimesmo, preparando-o para resolver o problema [...].6

    Ao longo da matria, em nenhum momento Souza descreve explicitamente as

    tcnicas empregadas no curso nem especifica quais delas poderiam ser

    consideradas de PNL (equivocadamente citada pelo jornalista como

    neurolingstica). Da mesma maneira, no faz meno a seus criadores

    Bandler e Grinder nem ao histrico dos quase vinte anos que antecederam a

    prtica de hospcio coordenada por Lair Ribeiro.

    Tendo publicado vrios livros sobre sucesso, comunicao, relacionamentos,

    prosperidade, Lair Ribeiro parecia ter-se tornado sinnimo da prpria PNL,

    sendo, por vezes, considerado seu criador ou representante oficial em nosso pas.

    Observamos, porm, que na maioria de suas publicaes, o escritor apenas faz uso

    de variadas tcnicas de PNL, sem identific-las nem, especificamente, explic-las.

    5SOUZA, Okky de. Circo de atraes. Veja, 3/7/1996, p. 92-93.6Id., ibid.

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    practitioners, master practitioners, trainers e master trainers), prometiam

    resultados como a cura rpida de fobias em cerca de oito minutos, o abandono

    instantneo de crenas limitantes ou a acelerao da aprendizagem.

    Os praticantes da PNL, no Brasil, constituem um grupo heterogneo composto

    por mdicos, engenheiros e psiclogos, espalhados por cidades do nordeste,

    sudeste e sul do pas.9Sua formao se d por meio de cursos ou instrutores que

    se dizem autorizados a repassar as tcnicas na maioria das vezes fundamentadas

    nos pressupostos concebidos por seus criadores e a emitir certificados.

    Alguns buscaram sua habilitao nos Estados Unidos, nos treinamentos ministrados

    pessoalmente por Bandler e Grinder ou por seus mais afamados seguidores (Robert

    Dilts, Steve Andreas, John Seymour, Joseph OConnor, dentre outros).

    No site oficial de Richard Bandler10, apenas uma entidade na cidade do Rio de

    Janeiro figura como representante de sua The Society of Neuro-Linguistic

    Programming no Brasil. Alguns livros sobre PNL trazem a indicao de

    profissionais em geral apenas um por eles habilitados para ministrar cursos,

    ou mesmo organizar e acompanhar grupos que queiram participar detreinamentos no exterior empreendidos por Bandler ou algum de seus associados

    ou seguidores mais famosos. Em So Paulo, a Sociedade Brasileira de Programao

    Neurolingsticano possui sequer uma biblioteca com as principais obras sobre

    o tema que possa ser consultada; apresenta-se como empresa prestadora de

    servios, geralmente voltada organizao de cursos.

    Nos Estados Unidos no parece haver diferena. A NLP University, fundada e

    liderada por Robert Dilts, um dos mais conhecidos seguidores de Bandler e

    Grinder, assim apresentada em seu site:

    A NLP University dedica-se a apresentar os melhores seminrios possveissobre o tema comunidade internacional de PNL. A NLPUniversity a fontepreliminar para os programas da certificao de PNL que envolvem minhasdescobertas. Os programas de certificao da NLPUpara Practitioner, Master

    9Dados extrados do sitehttp://www.golfinho.com.br, um dos mais consultados sobre PNL no Brasil.10The Society ofNeuro-Linguistic Programming. http://www.purenlp.com.

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    Practitioner eTrainerso os nicos programas certificados de PNL em que euensino, e quanto a esses, eu assino embaixo.11

    Cabe observar que, atualmente, os criadores da PNL encontram-se separados

    profissionalmente. Enquanto Richard Bandler dedica seus cursos ao

    desenvolvimento pessoal, John Grinder optou pelo emprego das tcnicas da PNL

    associada aos conceitos de excelncia profissional, divulgando-as junto s

    organizaes. Ambos visam promover mudanas de comportamento e defendem

    a idia inicial da possibilidade de melhoria constante, o que parece continuar

    fascinando sua clientela.

    Tema e objetivos

    A partir desse enfoque, nosso interesse voltou-se possibilidade de realizar um

    estudo apoiado em uma metodologia de pesquisa que nos permitisse descrever

    os fundamentos tericos da PNL e analisar seus mtodos e objetivos.

    Embora a PNL tenha surgido nos Estados Unidos em meados dos anos 70,

    somente na dcada passada a teoria e a aplicao de seus conceitos bsicosganharam destaque no Brasil. Desde ento, poucos estudos dedicaram-se a

    verificar seus efeitos especialmente no que se refere linguagem e sua

    relevncia no cenrio nacional. Assim sendo, consideramos a pesquisa

    pertinente, principalmente por seu carter indito e atual, mas tambm por

    adotar como quadro terico de referncia conceitos relacionados ao campo das

    Cincias da Linguagem.

    Buscamos, assim, oferecer subsdios para que se possa empreender uma leitura

    crtica da PNL a partir dos fundamentos propostos por seus criadores.

    Este estudo analisa o metamodelo, postulado da Programao Neurolingstica

    (PNL), especialmente no que se refere aos conceitos de derivao (segundo a

    Gramtica Gerativo-transformacional) e persuaso (de acordo com as teorias

    clssicas da Argumentao), objetivando:

    11http://www.nlpu.com, traduo nossa.

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    - apresentar o histrico e os conceitos bsicos da PNL;

    - descrever e levar a compreender o modelo central da PNL

    metamodelo;

    - verificar a conformidade do metamodelo com a Gramtica Gerativo-

    transformacional, suposta base terica utilizada para sua elaborao;

    - explorar os fundamentos do metamodelo como ferramenta da PNL na

    construo do discurso persuasivo.

    Reviso de literatura

    Iniciamos nossa pesquisa examinando a primeira obra assinada conjuntamente

    pelos criadores da PNL: A estrutura da magia I: um livro sobre linguagem e

    terapia12(1975/1977)13.

    Considerada pelos adeptos da PNL como o primeiro tratado sobre o tema,

    verificamos que nela Bandler e Grinder no apresentam uma definio para o

    termo Programao Neurolingstica; contudo, discorrem sobre dois conceitos

    fundamentais para a concepo e o desenvolvimento da teoria: o metamodelo

    e amodelagem.

    O exame inicial tornou evidente o estilo pouco didtico dos autores: Bandler e

    Grinder no apresentavam claramente os conceitos tericos fundamentais,

    apelando para a redundncia e para uma srie de aplicaes prticas ou

    encadeamentos metafricos que tornam o texto confuso. Por exemplo, oprocesso de modelagem assim definido:

    Desejamos somente apresentar-lhe um instrumental especfico que nos pareceestar implcito nas aes desses terapeutas, de modo que possa comear oucontinuar o interminvel processo de melhorar, enriquecer e ampliar ashabilidades que oferece como aquele que auxilia as pessoas.

    12Tambm na edio original, em ingls, publicada em 1975.13 As datas apresentadas entre parnteses referem-se, respectivamente, ao ano da edio original e da

    edio em portugus, quando houver, e foram indicadas a fim de estabelecer uma cronologia sobre odesenvolvimento da PNL e o crescente interesse sobre o tema a partir de sua origem 1975 at opresente momento.

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    J que este instrumental no est baseado em nenhuma teoria psicolgica ouabordagem teraputica preexistentes, gostaramos de apresentar uma simplesviso geral dos processos humanos, a partir dos quais criamos estesinstrumentos. Chamamos a este processo modelagem.14

    Outro exemplo da impreciso desse conceito pode ser observado na reproduo

    ipsis litteris apresentada no glossrio da obra: modelo/modelagem uma

    representao de alguma coisa / o processo de representar alguma coisa; um

    mapa, por exemplo. Um processo que envolve trs outros, Generalizao,

    Distoro e Eliminao.15

    Mediante os exemplos citados, consideramos de pronto que A estrutura da magia I

    no era suficiente para apoiar os pressupostos e conceitos bsicos da teoria,motivo pelo qual recorremos a leituras complementares, ainda visando

    delimitao do corpus.

    Passamos, ento, ao exame de algumas obras compiladas por seus

    colaboradores16, com autoria atribuda a Bandler e Grinder,

    - Sapos em prncipes: programao neurolingstica (1979/1982); til no

    aprimoramento do conceito de modelagem;

    - Atravessando: passagens em psicoterapia(1981/1984); traz, em apndice,

    a estruturao das categorias e subcategorias do metamodelo [Anexo I];

    - Resignificando: programao neurolingstica e a transformao do

    significado (1982/1986); mostra os efeitos do reenquadramento dos

    significados segundo a abordagem da PNL;

    - Usando sua mente: as coisas que voc no sabe que no sabe (1985/1987),

    de autoria exclusiva de Richard Bandler; subsdio terico para a definio

    do conceito de modelagem;

    14BANDLER, Richard e GRINDER, John. A estrutura da magia I: um livro sobre linguagem e terapia, p. 26,1977. Os terapeutas a que os autores se referem no primeiro pargrafo desta citao so Frederick (Fritz)Perls e Virginia Satir (Cf. tpico 1.4Desvendando a Estrutura da Magia)15BANDLER, Richard e GRINDER, John. A estrutura da magia I, p. 261, 1977.16Tais obras foram compiladas e editadas por colaboradores da dupla a partir de gravaes de workshopsministrados por Bandler e Grinder.

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    respeito de experincias fundadas no sensorial com as afirmaes relativas aestados orientados internamente. Isto chamado modelagem causal[destaque nosso].18

    A falta de regularidade e mtodo na elaborao dessas obras dificultouinicialmente a compreenso dos princpios da PNL, o que conseguimos suprir

    somente recorrendo aos escritos de alguns seguidores de Bandler e Grinder, em

    que os fundamentos tericos so didaticamente ordenados visando a incentivar o

    pblico leigo a empregar essa prtica de anlise para benefcio prprio; deles

    extramos importantes subsdios:

    - Robert Diltse Judith De Lozier: Neuro-linguistic programming: the study

    of the structure of subjective experience19(1980); nesta obra, os autores

    apresentam pela primeira vez o conceito de PNL;

    - Joseph OConnor e John Seymour: Introduo programao

    neurolingstica: como entender e influenciar as pessoas (1990/1995);

    relevante para a elaborao do histrico e das origens da PNL;

    - Steve Andreas e Charles Faulkner: PNL: a nova tecnologia do sucesso

    (1994, 1995); leitura igualmente importante para a descrio do histrico

    e definio do termo PNL.

    Em relao primeira obra acima mencionada, observamos que, apesar de

    Bandler e Grinder figurarem como co-autores, ao lado de Robert Dilts e de

    Judith De Lozier, o estilo do texto nos faz crer na participao de Dilts como

    principal organizador; ao realizarmos a busca nos cadastros das livrarias, a ele

    atribuda a autoria de Neuro-linguistic programming; alm disso, no prefcio doprimeiro volume de A estratgia da genialidade, Dilts afirma que:

    No prefcio de Neuro-Linguistic Programming Vol. I os co-autores e eutentamos definir o escopo e o objetivo do novo campo que juntos havamoscriado. [...] Na concluso do livro [...] prometemos que no prximo livro dasrie, Neuro-Linguistic Programming Volume II, aplicaremos o modelo queaqui desenvolvemos para apresentar e analisar as estratgias queconsideramos mais eficientes e bem formuladas para atingir os objetivos paraos quais elas foram criadas. [...]

    18BANDLER, Richard e GRINDER, John. Atravessando: passagens em psicoterapia, p. 57, (1984).19Co-autoria atribuda a Bandler e Grinder.

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    Por vrias razes, no conseguimos cumprir a nossa promessa. Mas ocompromisso e a viso que expressamos continuaram comigo todos esses anosdesde que o NLP Volume I foi concebido e escrito. De muitas maneiras, estasrie sobre a Estratgia da Genialidade tem como objetivo cumprir apromessa de um segundo volume do livro Neuro-Linguistic Programming.20

    Se comparada a outras obras sobre PNL assinadas por Robert Dilts, possvel

    verificar seu estilo didtico e articulado em detrimento dos livros assinados por

    Bandler e/ou Grinder, bem como das edies organizadas a partir de seus

    seminrios. Somente nessa obra, conceitos fundamentais da PNL como:

    sistemas representacionais21, espelhamento, rapport, ancoragem e

    ressignificao aparecem sistematizados na exposio. Publicado em 1980,

    pode ser considerado o primeiro manual didaticamente organizado sobreProgramao Neurolingstica.22

    Outros autores que tambm descrevem de forma ordenada certas tcnicas de

    PNL, foram consultados visando compreenso de fundamentos especficos:

    - Leslie Cameron-Bandler: Solues: antdotos prticos para problemas

    sexuais e de relacionamento (1985/1991); nesta obra, os conceitos de

    rapport, sistemas representacionais, ancoragem e remodelagemso especificamente empregados, conforme indica o subttulo; apresenta

    tambm, no Apndice I, um resumo bastante didtico das categorias do

    metamodelo;

    - Robert Dilts: A estratgia da genialidade, vols. I e II(1994/1998), nesses

    dois volumes, o autor explora o metamodelo a partir dos talentos

    especiais de gnios da humanidade, como Aristteles, Sherlock Holmes,

    Walt Disney, Wolfgang Amadeus Mozart (vol. I) e Albert Einstein (vol. II);

    tambm mostra ao leitor como reproduzir tais talentos por meio do

    processo de modelagem;

    - Joseph OConnore John Seymour: Treinando com a PNL: recursos para

    administradores, instrutores e comunicadores (1994/1996), nesta obra,

    20DILTS, Robert. A estratgia da genialidade, vol. I, p. 11-12, 1998.21As definies de tais conceitos da PNL so apresentadas no Glossrio.22 Cf. Introduo programao neurolingstica e PNL: a nova tecnologia do sucesso, cujas ediesoriginais datam de 1990 e 1994, respectivamente.

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    fundamentos como rapport, sistemas representacionais e

    modelagem so apresentados juntamente com uma srie de exerccios

    prticos, com a finalidade especfica de implementar treinamentos de

    sucesso junto a empresas.

    Esses autores contriburam para que os conceitos da PNL pudessem ser

    esclarecidos e melhor fundamentados em detrimento do conceitos apresentados

    de maneira imprecisa nas obras de Bandler e Grinder.

    Exploramos ainda alguns autores brasileiros que se dedicam ao tema; constatamos

    que seus manuais pouco diferem das obras didaticamente organizadas pelos

    seguidores/colaboradores de Bandler e Grinder. Em geral, contm um breve

    apanhado histrico sobre a PNL, seus princpios bsicos e algumas aplicaes

    prticas. Tais aplicativos costumam variar de acordo com a utilizao que os

    autores pretendam dar aos fundamentos, j que esses compndios so

    utilizados, em geral, como referncia para os treinamentos especficos de PNL a

    que se dedicam; dentre os estudiosos brasileiros, selecionamos:

    - Cl Guilhermino23

    : tempo de mudana (1996);

    - Nelson Spritzer: Pensamento e mudana: um guia para excelncia

    pessoal. Desmistificando a programao neurolingstica (1993),

    apresenta subsdios sobre as origens da PNL.

    O mdico gacho Nelson Spritzer destaca o uso das tcnicas de PNL nas empresas

    visando soluo de problemas. Diferentemente, na obra da psicloga Cl

    Guilhermino, os fundamentos so utilizados para o aprimoramento pessoal.

    Avaliamos tambm alguns autores geralmente considerados atuantes no

    segmento editorial de auto-ajuda, em cujas obras certas estratgias e tcnicas

    da PNL aparecem mescladas a outras por eles desenvolvidas, motivo pelo qual

    no apresentaram subsdios significativos para nossa anlise:

    23 Cl Guilhermino Master Trainer em PNL; em seus cursos, pudemos observar como os processos deEliminao, Distoroe Generalizaoso explorados no metamodelo; seus ensinamentos foram de granderelevncia para a elaborao dos exemplos apresentados no tpico 4.2.2.

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    - Lair Ribeiro: O sucesso no ocorre por acaso;

    - Anthony Robbins: Poder sem limites: o caminho do sucesso pessoal pela

    programao neurolingstica.

    A pesquisa bibliogrfica sobre PNL (tanto as obras traduzidas para a lngua

    portuguesa quanto as americanas) no revelou, at dezembro de 2005, estudos

    comparativos e/ou analticos dos fundamentos dessa teoria, tal como propomos

    apresentar neste trabalho.

    Quadro terico de referncia

    Os conceitos bsicos da PNL foram analisados com base nos seguintes autores:

    - Claude Lvi-Strauss: Antropologia Estrutural (1949/1975); explorao do

    conceito de magia (cap. 9, O feiticeiro e sua magia e cap. 10, A

    eficcia simblica);

    - Serge Moscovici: Representaes Sociais (2000/2003); visando melhor

    compreenso e ao exame da pertinncia do pressuposto O Mapa no o

    territrio (Introduo, O poder das idias assinada por Gerard

    Duveen) e dos conceitos de filtros e modelo de mundo (cap. 1, O

    fenmeno das representaes sociais e cap. 3, A histria e a atualidade

    das representaes sociais);

    - Noam Chomsky, de quem examinamos as seguintes obras clssicas:

    - Estruturas sintticas (1957/edio em portugus sem data),

    especialmente os conceitos de estrutura sintagmtica, derivao(cap.

    4, Estrutura sintagmtica), transformaes obrigatrias e

    facultativas, transformao passiva(cap. 5, Limitaes da descrio

    sintagmtica), homonmia e ambigidade(cap. 8, O poder explicativo

    da teoria lingstica);

    - Aspectos da teoria da sintaxe (1965/1975), em relao aos conceitos deconstituintes, diagrama (ou estrutura) de rvores, competncia e

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    performance (cap. 1.1, As gramticas generativas como teorias da

    competncia lingstica; cap. 1.2, Para uma teoria da performance);

    estrutura superficial, estrutura profundae transformaes gramaticais

    (cap. 2.2, Aspectos da estrutura profunda; cap. 3, Estruturas

    profundas e transformaes gramaticais); aspectos sinttico-semnticos

    (cap. 4.1 As fronteiras entre a sintaxe e a semntica);

    - Lingstica cartesiana (1966/1972), especialmente no tocante aos

    conceitos de estrutura superficial e estrutura profunda (cap. 2,

    Estrutura profunda e estrutura de superfcie);

    - Regras e representaes (1980/1981), no exame dos conceitos

    chomskyanos relativos ao carter inato da linguagem, ao suposto rgo

    da linguagem e ao cognoscimento (cap. 1, Mente e corpo e cap. 5,

    Sobre as bases biolgicas das capacidades lingsticas);

    As reflexes de John Lyons (As idias de Chomsky, 1970/1974), Emmon Bach

    (Teoria sinttica, 1981) e Steven Pinker (O instinto da linguagem, 1994/2002)

    sobre a obra de Noam Chomsky nos foram teis para melhor compreender econtextualizar os fundamentos da gramtica transformacional, tal como

    concebidos por seu idealizador.

    Buscvamos localizar, mediante essas leituras, conceitos que justificassem a

    referncia explcita que Bandler e Grinder fazem Gramtica Transformacional

    como base da PNL.

    Para a anlise da estrutura argumentativa do metamodelo, a fim de verificarseu teor persuasivo, buscamos fundamentao em:

    - Aristteles: Retrica (1988), explorando os conceitos de retrica e

    demonstrao (Livro I, cap. 1, A natureza da retrica), provas

    persuasivas(Idem, cap. 2, Definio da retrica e sua estrutura lgica),

    deliberao(Idem, cap. 4, O gnero deliberativo); o papel da emoo

    do orador(Livro II, cap. 1, A emoo);

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    (processo que relaciona linguagem, signos e reaes fisiolgicas) e

    congruncia (coerncia entre as linguagens verbal e no-verbal) emergiam

    como pontos de investigao.

    A idia era refletir sobre a pedra fundamental da PNL, o ponto de partida. Qual

    a origem de tudo? A reviso de literatura relativa ao tema permitiu-nos definir o

    objeto sobre o qual nossa ateno se voltaria. Tendo, por fim, compreendido os

    conceitos bsicos da PNL, retornamos nossa ateno obra examinada

    inicialmente: A estrutura da magia I, um livro sobre linguagem e terapia, visando

    definio do corpus.

    Magia, linguagem, terapia: trs temas gigantescos, que precisavam ser

    criteriosamente recortados para que alguma de suas partes indicasse a direo a

    seguir. A questo da magia pareceu, a princpio, sedutora. A partir dessa

    instigao, examinamos a abordagem antropolgica, baseando-nos no

    estratagema apresentado por Claude Lvi-Strauss:

    [...] a eficcia da magia implica na crena da magia, e esta se apresenta sobtrs aspectos complementares: a crena do feiticeiro na eficcia de suas

    tcnicas; a crena do doente que ele cura, ou da vtima que ele persegue, nopoder do prprio feiticeiro; finalmente, a confiana e as exigncias da opiniocoletiva, que formam a cada instante uma espcie de campo de gravitao noseio do qual se definem e se situam as relaes entre o feiticeiro e aquelesque ele enfeitia.25

    Contudo, apesar de apontarem similaridades entre os magos de todos os tempos

    e certos terapeutas da atualidade, verificamos logo de incio, no Prefcio

    de A estrutura da magia I, que Bandler e Grinder no se propunham a manter,

    mas a desvendar a mstica.26Afirmando que a magia est oculta na linguagemque falamos, os autores apresentaram o metamodelo modelo de um

    modelo de linguagem:

    Os magos terapeutas que descrevemos [...] chegaram psicoterapiaoriundos de abordagens variadas e usam tcnicas de trabalho que parecem serdramaticamente diferentes [das adotadas por outros terapeutas]. (...) O quevemos que cada um desses magos tem um mapa ou modelo para asmodificaes dos modelos do mundo de seus pacientes isto , um

    25LVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural, p. 194-195, 1975.26Cf. tpico 1.4 Desvendando a Estrutura da Magia.

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    metamodelo que lhes permite expandir e enriquecer efetivamente osmodelos de seus pacientes de algum modo que torne a vida destes mais rica emais digna de viver [comentrio nosso].27

    Conforme prevamos, o domnio bsico e requerido para abordar A estrutura damagia I seria a explorao do tema da linguagem verbal para verificar, no

    quadro da PNL, as relaes estabelecidas entre o sistema lingstico e as

    tcnicas teraputicas. No entanto, nosso interesse afastava, a priori, qualquer

    tipo de enfoque teraputico, uma vez que no somos habilitados no assunto, o

    que demandaria uma pesquisa em profundidade na direo dessa vertente de

    conhecimento to extensa quanto diversificada.

    Para nosso alvio, constatamos que o marco zero da teoria levada a termo por

    Bandler e Grinder encontrava na linguagem seu foco central:

    Felizmente, um modelo explcito da estrutura da linguagemfoi desenvolvidoindependentemente do contexto de psicologia e terapia pelos gramticostransformacionais. Adaptado para uso em terapia, ele nos oferece ummetamodelo explcito para o enriquecimento e expanso de nossashabilidades teraputicas, oferecendo tambm um valioso instrumental paraaumentar nossa eficincia e, assim, a qualidade mgica de nosso prpriotrabalho teraputico28[destaque nosso].

    Concentramos ento nossa ateno nesse modelo explcito de estrutura da

    linguagem baseado na gramtica transformacional, a partir do qual delineamos o

    primeiro projeto de pesquisa.

    O esboo que submetemos apreciao da banca examinadora no processo de

    Qualificao inclua a possibilidade de explorar as categorias e subcategorias do

    metamodelo sob o enfoque da Anlise do Discurso. A modelagem tambmnos parecia um campo profcuo nessa direo, especialmente no quadro das

    modalidades e do binmio competncia/performance. Todavia, ao enveredarmos

    por essa complexa vertente da Lingstica, percebemos a dimenso exata de

    nossa ambio; assim sendo, optamos por abandon-la.

    Delimitamos, por fim, como foco da pesquisa, a descrio e anlise do

    constructo de metamodelo da PNL. Retomamos a leitura crtica de A

    27Richard BANDLER e John GRINDER. A estrutura da magia I, p. 40, 197728Ibid., p. 41.

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    estrutura da magia I: um livro sobre linguagem e terapia, adotando os seguintes

    procedimentos:

    - observao dos conceitos de metamodelo e modelagem segundo adefinio de Bandler e Grinder;

    - registro dos dados que subsidiassem a definio, o histrico e os quadros

    terico e operacional da Programao Neurolingstica, imprescindveis

    para a estruturao dos captulos iniciais;

    - resumo das relaes estabelecidas especificamente pelos autores entre o

    conceito de metamodelo e a Gramtica Gerativo-transformacional, apartir do qual destacaram-se as palavras-chave: derivao,

    transformao, estrutura de rvore, Estrutura Superficial,

    Estrutura Profunda, boa-estruturao semntica, estrutura

    constituinte e relaes semnticas lgicas.

    Concluda essa etapa, cotejamos os fundamentos chomskyanos com os conceitos

    retomados pela PNL por meio de:

    - verificao do emprego dos conceitos de derivao, transformao

    Estrutura Profunda, Estrutura Superficial, boa-estruturao

    semntica nos processos de Eliminao, Distoro e

    Generalizao, afeitos modelagem;

    - resumo dos resultados obtidos dessa comparao para utilizao nos

    futuros captulos deste trabalho.

    Munidos desse material, definimos a grade de captulos e passamos redao final.

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    Terminologia adotada

    Apresentamos um glossrio com os termos que constituem o lxico especfico da

    PNL; alm disso, julgamos conveniente definir aqui palavras ou expresses pelas

    quais designamos determinadas noes empregadas neste estudo:

    - Aplicao: falamos comumente em aplicao do metamodelo por

    meio da modelagem; tal colocao no se refere, propriamente, ao uso

    instrumental da linguagem, mas a um fazer pragmtico, prprio da

    concepo estruturalista em que se insere a PNL;

    - Convencimento/Convico: as palavras aparecem como sinnimos nos

    Dicionrios Aurlio e Houaiss; neste estudo, no entanto, estabelecemos

    que o emprego do termo convencimento fica restrito ao ato de

    convencer-se (evitamos, assim, o neologismo autoconvencimento); ou

    seja, para efeito de nossa anlise, o convencimento a convico que

    se forma no interior do Sujeito,ao deliberar consigo mesmo); quando o

    Sujeito convencido por outrem, usamos o termo convico;

    - Empobrecido/Enriquecido valemo-nos desses termos conforme usados

    por Bandler e Grinder referindo-se aos limites do modelo de mundo do

    Sujeito; apesar de considerarmos que a linguagem, em sua virtualidade,

    sempre potencialmente rica, empregamos esses adjetivos como na

    viso original dos autores;

    - Modelo de mundo simulacro ou recorte de realidade conforme

    concebido pelo Sujeito;

    - Paciente-enunciador o termo, por ns designado, refere-se ao Sujeito

    conforme descrito adiante; ao adot-lo, buscamos criar uma relao

    direta entre o paciente a que se referem Bandler e Grinder em A

    estrutura da magia I e o sujeito-enunciador, personagem central de

    nosso estudo;

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    - Persuaso: como no caso acima citado do convencimento, a palavra, no

    uso vulgar, significa levar ou convencer (algum ou a si mesmo) a

    acreditar ou aceitar [Houaiss]; porm, a teoria da Argumentao,

    conforme Perelman, distingue a convico (adeso a uma idia) da

    persuaso (estatuto que conduz a uma ao, em geral depois de superada

    a fase da convico)29; assim, fazemos uso dessa distino, e

    empregarmos o neologismo autopersuaso referindo-nos ao ato de o

    prprio Sujeitopersuadir-se.

    - Sujeito sempre que grafado com a inicial maiscula, refere-se ao

    actante, ao sujeito-enunciadorou sujeito discursivoque, mesmo sendocapaz de ocupar, no interior dos enunciados-frases, posies actanciais

    diversas, [...] consegue manter [...] sua identidade ao longo do discurso;

    o termo remete a um ser, a um princpio ativo suscetvel no apenas

    de possuir qualidades, mas igualmente de efetuar atos. o sentido que

    conferido a sujeito em psicologia ou em sociologia, ao qual se podem

    associar as noes de sujeito falante em lingstica e de sujeito

    cognoscente(ou epistmico) em epistemologia.30

    Estrutura da exposio

    Esta pesquisa foi assim estruturada:

    - PARTE I: compreende a apresentao das origens da PNL, suas propostas e

    pressupostos tericos da PNL, alm da reflexo acerca do uso da palavra

    magia na obra que constitui nosso corpus (captulo 1); definio dometamodelo e da modelagem, conceitos fundamentais da PNL

    (captulo 2);

    - PARTE II: contm a anlise comparativa do metamodelo em relao aos

    conceitos bsicos da Gramtica Gerativo-transformacional conforme

    elaborados por Chomsky (captulos 3 e 4);

    29Cf. tpico 5.2Persuaso e deliberao.30A.J. GREIMAS E J. COURTS. Dicionrio de semitica, p. 445-446.

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    - PARTE III: encerra a anlise da estrutura argumentativa implcita no

    metamodelo a partir dos postulados clssicos da Argumentao, a fim

    de verificar seu teor persuasivo (captulo 5).

    Durante a ordenao dos captulos, certas partes foram destacadas a adaptadas

    na forma de:

    - Glossrio, contendo os conceitos fundamentais da PNL;

    - Apndices, exemplificando as categorias do metamodelo (A) e

    apresentando a relao da modelagem com outras formas de terapia (B).

    - Anexo, reproduzindo ipsis litterisas categorias do metamodelo tal como

    organizadas por Bandler e Grinder.

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    Parte IPROGRAMAO NEUROLINGSTICA E METAMODELO

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    1. ORIGENS DA PROGRAMAO NEUROLINGSTICA (PNL)

    A Programao Neurolingstica (PNL) surgiu nos Estados Unidos, no incio da

    dcada de 70, como um misto de cincia da comunicao e psicoterapia. Seuscriadores, o analista de sistemas Richard Bandler e o lingista John Grinder,

    tomaram por base a gramtica transformacional de Noam Chomsky, o pensamento

    sistmico de Gregory Bateson, o modelo de terapia familiar de Virginia Satir, a

    hipnoterapia de Milton H. Erickson e a gestalt-terapia de Fritz Perls.31

    Bandler, matemtico que tambm estudou psicologia na ps-graduao,

    especializou-se em computao na Universidade da Califrnia, Santa Cruz. No

    campus de San Diego da mesma Universidade, Grinder graduou-se em

    lingstica, especializando-se em sintaxe e na teoria da gramtica

    transformacional de Noam Chomsky.

    Com facilidade, o lingista era capaz de aprender idiomas, imitar sotaques e

    assimilar comportamentos de pessoas de variadas culturas. Ademais, trabalhou

    como membro dos servios de inteligncia na Europa nos anos 60, integrando a

    Fora Especial do Exrcito Americano.32

    Enquanto Bandler buscava elementos para alicerar suas idias fundamentadas

    na comparao do crebro humano com um computador (hardware), Grinder

    pesquisava a linguagem verbal e corporal, buscando revelar a gramtica oculta

    do pensamento e ao, vislumbrando a mente humana como um conjunto de

    programas (softwares) ali inseridos atravs de inputssensoriais.

    Ao descobrirem a semelhana de seus interesses, decidiram combinar osrespectivos conhecimentos de computao e lingstica, junto com a habilidade

    para copiar comportamentos no-verbais, com o intuito de desenvolver uma

    linguagem de mudana.33

    31Cf. SPRITZER, Nelson. Pensamento e mudana, p. 31-2, 1993.32Cf. ANDREAS, Steve e FAULKNER, Charles. PNL Programao neurolingstica: a nova tecnologia dosucesso, p. 33, 1995.33Id., ibid.

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    1.1.Sobre o termo Neurolingstica

    Os objetivos comuns entre os autores culminaram com o nascimento do projeto

    batizado posteriormente de Programao Neurolingstica, que buscava

    programar (ou reprogramar) o crebro humano, utilizando cdigos verbais e no-

    verbais. Nesse sentido, Andreas e Faulkner postulam que:

    Neuro refere-se ao nosso sistema nervoso, aos caminhos mentais dos nossoscinco sentidos de viso, audio, tato, paladar e olfato. Lingstica refere-se nossa capacidade de usar uma linguagem e forma como determinadaspalavras e frases refletem nossos mundos mentais. Lingstica refere-setambm nossa linguagem silenciosa de atitudes, gestos e hbitos que

    revelam nossos estilos de pensamento, crenas e outras coisas mais.Programao veio da informtica, para sugerir que nossos pensamentos,sentimentos e aes so simplesmente programas habituais que podem sermudados pelo upgradedo nosso softwaremental.34

    Segundo Dubois et al, o verbete neurolingstica assim definido:

    A neurolingstica a cincia que trata das relaes entre as perturbaes dalinguagem (afasias) e os prejuzos das estruturas cerebrais que elas implicam.A hiptese fundamental da neurolingstica que existe uma relao entre asformas de desorganizao verbal, que podem ser descritas conforme os

    diversos modelos lingsticos (distribucional ou estrutural, transformacional egerativo), e os tipos patolgicos estabelecidos pelo neurologista na base dalocalizao da leso responsvel.35

    As duas primeiras obras assinadas por Bandler e Grinder entre 1975-197636no

    fazem meno direta ao termo. No siteamericano endossado por Bandler, The

    Society of Neuro-Linguistic ProgrammingTM (fundada em 1978)37, a PNL

    definida em conformidade com as observaes de Andreas e Faulkner:

    34ANDREAS, Steve e FAULKNER, Charles. PNL Programao neurolingstica: a nova tecnologia do sucesso,p. 13-14, 1995.35 DUBOIS et al., Dicionrio de lingstica, p. 431, 1993.36Referimo-nos aos volumes I e II de A estrutura da magia, respectivamente. A estrutura da magia I: umlivro sobre linguagem e terapia, e The structure of magic II: a book about communication and change, semtraduo para a lngua portuguesa.37http://www.purenlp.com/nlpis1.htm. Em adendo ao livro Engenharia da Persuaso, de Richard Bandler eJohn La Valle (1999), a Sociedade de Programao NeurolingsticaTM apresentada como uma organizaomundial criada com o propsito de exercer controle de qualidade sobre os programas de treinamento eservios que clamam representar a Programao NeurolingsticaTM (PNL). Um outro trecho esclarece que

    somente os certificados de cursos e os licenciamentos por eles oferecidos apresentam o Selo da Sociedade ea assinatura de Bandler, feita de prprio punho. Sendo esse o siteoficial de Bandler e de sua Sociedade dePNL, consideramos que os conceitos ali expressos so por ele endossados.

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    Programao a habilidade de organizar nossa comunicao e sistemasneurolgicos para alcanar metas e resultados especficos e desejados;

    Neuro sistema nervoso atravs do qual a experincia recebida eprocessada por meio dos cinco sentidos;

    Lingstica sistema de linguagem e de comunicao no-verbal atravs dosquais as representaes neurais so codificadas, ordenadas e adquiremsentido.38

    No livro Usando sua mente: as coisas que voc no sabe que no sabe39Bandler

    apresenta a seguinte definio para o termo:

    A Programao Neurolingstica foi assim por mim designada por no quererme tornar um especialista em um assunto especfico. Na faculdade sempre fuidos que no conseguiam formar uma opinio e decidi continuar assim. A PNLsimboliza, entre outras coisas, uma maneira de se examinar o aprendizadohumano. Mesmo que muitos psiclogos e assistentes sociais usem a PNL parafazer o que chamam terapia, acho mais apropriado descrev-la como sendoum processo educacional. Estamos, essencialmente, desenvolvendo formas deensinar s pessoas a usarem o seu crebro.

    A maioria das pessoas no usa o seu crebro de maneira ativa e refletida. Ocrebro uma mquina que no pode ser desligada. Se voc no lhe der algopara fazer, ele continuar a funcionar at cansar. Se algum for colocado emum desses recipientes de privao sensorial o seu crebro comear a gerarexperincias internas. Se o seu crebro no tiver o que fazer, ele vai comeara fazer alguma coisa, sem se importar com o que seja. Voc talvez seimporte, mas ele no.40

    Mais adiante, sustentando a analogia entre crebro e mquina, o autor enfatiza

    que o crebro, como o computador, no flexvel. Ele faz exatamente o que se

    manda, no o que se quer. Depois, a gente fica louco de raiva porque ele no faz

    o que a gente gostaria que ele tivesse feito!41

    O termo neurolingstica, conforme referido na PNL, no tem conexo com a

    definio clssica dessa cincia, que se ocupa com os sintomas de certos tiposde patologia neurofisiolgica. Assim, de acordo com a proposta de Bandler, uma

    eventual desorganizao verbal se apresentaria no como uma anomalia

    propriamente, mas como uma disfuno fundamentada no uso inadequado

    desestruturado da linguagem na construo do sentido. Um abismo metafrico

    se interporia entre odizere odito, resultando em reaes sensoriais adversas,

    38Traduo nossa.39BANDLER, Richard. Usando sua mente, p. 19, 1987.40Id., ibid.41Ibid., p. 25.

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    que refletem o uso imprprio da linguagem para representar o que, de fato, se

    deseja expressar.

    No livro Neuro-Linguistic Programming vol. I: the study of the structure ofsubjective experience, em que Bandler e Grinder figuram como co-autores, ao

    lado de Dilts e De Lozier, a PNL tambm apresentada em consonncia com as

    definies anteriores:

    Neuro (derivado do grego neuron como em nervo) significa o princpiofundamental de que todo comportamento o resultado de um processoneurolgico. Lingstica (derivado do latim lingua como em linguagem)indica que os processos neurais so representados, ordenados e colocados

    seqencialmente em modelos e estratgias atravs da linguagem e dosmodelos de comunicao. Programao refere-se ao processo de organizaros componentes de um sistema (representaes sensoriais, neste caso) paraadquirir resultados especficos. 42

    Na introduo da mesma obra, Dilts destaca:

    Programao Neurolingstica a disciplina cujo domnio a estrutura daexperincia subjetiva. A PNL no tem compromisso para com a teoria, mastem antes o status de um modelo uma coletnea de procedimentos cujovalor pode ser medido atravs da utilizao e no da veracidade. A PNL

    apresenta ferramentas especficas que podem ser aplicadas efetivamente emcada interao humana. Oferece tcnicas especficas por meio das quais umpraticante pode organizar e reorganizar de maneira til sua experinciasubjetiva ou as experincias de um cliente a fim de definir e depois obterqualquer resultado comportamental.43

    Outras definies de PNL bastante divulgadas seguem a mesma linha da

    subjetividade e apresentam-na como a arte e a cincia da excelncia, ou seja,

    das qualidades pessoais44e o estudo da estrutura da experincia subjetiva45.

    Ou ainda, segundo Dilts, apresentada como um modelo comportamental e umconjunto de habilidades e tcnicas [...] derivadas da observao dos padres de

    42 DILTS, Robert et al. Neuro-linguistic programming vol. I: the study of the structure of subjectiveexperience, p. 2, 1980. Apesar da declarada co-autoria de Bandler e Grinder, Dilts, na qualidade deorganizador, encabea a lista dos autores da obra, motivo pelo qual d entrada a essa refernciabibliogrfica.43Ibid., p. vii.44 OCONNOR, Joseph e SEYMOUR, John. Introduo programao neurolingstica: como entender einfluenciar as pessoas, p. 19, 1995.45DILTS, Robert. A estratgia da genialidade, vol. I, p. 271, 1998.

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    excelncia de especialistas em vrios campos de comunicao profissional,

    incluindo psicoterapia, negcios, sade e educao.46

    1.2 Objetivos da PNL

    Considerado o primeiro tratado sobre o tema, o livro que marca a estria da

    dupla recebeu o polmico ttulo de A estrutura da magia I um livro sobre

    linguagem e terapia. Nele, Bandler e Grinder afirmam:

    O mais sofisticado estudo do comportamento humano governado por regras o estudo dos sistemas das lnguas humanas. Especificamente, um grupo de

    lingistas conhecidos como gramticos transformacionais desenvolveu umconjunto de regras que descrevem as formas que usamos para representar ecomunicar nossa experincia com a linguagem. [...] O objetivo deste livro fazer da compreenso da gramtica transformacional um instrumentoutilizvel e disposio daqueles que trabalham com o complexocomportamento humano.47

    De acordo com a proposta dos autores, mediante a utilizao das tcnicas

    enumeradas pela PNL como instrumentos facilitadores da comunicao, o

    indivduo tornar-se-ia capaz de elaborar e/ou escolher os contedos (softwares)

    a serem instalados em sua mente e deletar modelos e contedos

    indesejveis (aqueles que conduziriam a resultados inadequados, comumente

    denominados problemas ou fracassos). Ademais, isso facilitaria, como

    conseqncia, sua comunicao com o mundo exterior.

    Tais procedimentos teriam como objetivo final a mudana de comportamentos

    prejudiciais ao indivduo por outros que considerasse mais apropriados. Sobre

    isso, Andreas e Faulkner afirmam:

    Recentemente, o computador chamou a ateno de cientistas e psiclogoscomo um modelo do nosso crebro. Se o nosso crebro uma espcie decomputador, ento nossos pensamentos e aes so os nossos softwares. Sepudermos mudar nossos programas mentais, assim como mudamos umsoftware ou fazemos o seu upgrade, conseguiramos imediatamente mudanaspositivas no nosso desempenho. Conseguiramos melhorias imediatas na nossamaneira de pensar, sentir, agir e viver.

    46DILTS, Robert. A estratgia da genialidade, vol. I, p. 271, 1998.47BANDLER, Richard e GRINDER,John.A estrutura da magia, p. 22, 1977.

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    A comparao com computadores tambm explica por que mudar, s vezes, to difcil. No importa o quanto a gente queira, deseje ou espere, isso novai fazer o upgradedo nosso crebro. Nem ficar zangado ou digitar as mesmasinstrues vrias vezes seguidas vai adiantar alguma coisa. O queprecisamos fazer acrescentar novas instrues aos nossos programas

    atuais onde elas so necessrias.48

    Andreas49 foi o organizador das principais obras assinadas conjuntamente por

    Bandler e Grinder. Responsvel pela transcrio de fitas com gravaes dos

    primeiros seminrios realizados por ambos, possibilitou, em 1979, a edio

    americana de Sapos em prncipes, que se tornou um clssico da nova teoria.

    No prefcio dessa obra, Andreas afirma que a PNL um modelo poderoso de

    experincias humanas e de comunicaes entre pessoas. Usando princpios da

    PNL possvel descrever qualqueratividade humana de maneira detalhada que

    permite a realizao de muitas mudanas profundas e duradouras, rpida e

    facilmente.50 E enumera uma srie de coisas que voc pode aprender a

    alcanar por meio da Programao Neurolingstica:

    - curar fobias e outros sentimentos desagradveis;

    - auxiliar adultos e crianas com problemas de aprendizagem (silabao,

    leitura, etc.);

    - eliminar hbitos indesejveis, como fumar, beber e comer em excesso,

    insnia;

    - auxiliar no ajuste de casais e famlias, dentre outras coisas.

    Conclui dizendo que estas afirmaes so fortes e os praticantes experientes daPNL podem valid-las com resultados visveis e slidos.51

    48ANDREAS, Steve e FAULKNER, Charles. PNL Programao Neurolingstica: a nova tecnologia do sucesso,p. 8-9, 1995.49Steve Andreas o pseudnimo adotado por John O. Stevens, que, na poca, assinou o prefcio de Sapos

    em prncipes com seu nome original.50ANDREAS, Steve. In Prefcio BANDLER, Richard e GRINDER, John. Sapos em prncipes, p. 11-12, 1982.51Id., ibid.

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    1.3 Pressupostos tericos da PNL

    Dilts, co-autor juntamente com Bandler, Grinder e De Lozier do livro Neuro-

    Linguistic Programming: the study of the structure of subjective experience,

    apresenta didaticamente as pressuposies da PNL, fundamentadas, segundo

    ele, em duas premissas, transcritas aqui ipsis verbis:

    a) O Mapa no o Territrio:

    - as pessoas reagem s suas prprias percepes da realidade;

    - cada pessoa possui o seu prprio mapa individual do mundo. Nenhummapa individual do mundo mais verdadeiro ou real do que outro

    qualquer;

    - o significado da comunicao com outra pessoa a reao que ela

    provoca naquela pessoa, no obstante a inteno do comunicador;

    - os mapas mais sbios e mais solidrios so aqueles que tornam

    disponveis um nmero mais amplo e mais rico de escolhas, ao contrriode tentarem ser mais verdadeiros ou corretos.

    - as pessoas j possuem (ou possuem em potencial) todos os recursos de

    que precisam para agir de maneira efetiva;

    - as pessoas fazem as melhores escolhas disponveis a partir das

    possibilidades e capacidades que, segundo elas, esto disponveis no seu

    modelo de mundo. Qualquer comportamento, por mais louco ou estranhoque parea, a melhor escolha disponvel pessoa naquele momento

    se ela tiver uma escolha mais adequada (dentro do contexto do seu

    modelo de mundo), ter mais possibilidades de aceit-lo;

    - as mudanas ocorrem a partir dos recursos adequados ou da ativao do

    recurso potencial, para um contexto especfico, por meio do

    enriquecimento do mapa de mundo da pessoa.

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    b) A vida e a Mente so Processos Sistmicos:

    - os processos que ocorrem dentro da pessoa, ou entre pessoas e o seu

    ambiente, so sistmicos. Os nossos organismos, as nossas sociedades e onosso universo formam uma ecologia de sistemas e subsistemas que

    interagem entre si e influenciam-se mutuamente;

    - no possvel isolar completamente uma parte do sistema do resto do

    sistema. As pessoas no podem deixar de influenciar umas s outras. As

    interaes entre elas formam ciclos contnuos defeedback de tal forma

    que a pessoa ser afetada pelos resultados que as suas prprias aes tm

    nas outras pessoas;

    - os sistemas so auto-organizadores e naturalmente procuram estados

    de equilbrio e estabilidade. No existem falhas, apenasfeedback;

    - nenhuma reao, experincia ou comportamento tem significado fora do

    contexto em que ele surgiu ou fora da reao que ele provoca em

    seguida. Qualquer comportamento, experincia ou reao pode servir

    como recurso ou limitao, dependendo da maneira como se adapta no

    resto do sistema;

    - nem todas as interaes do sistema encontram-se no mesmo nvel. O que

    positivo em um nvel pode ser negativo em outro. til separar o

    comportamento da identidade separar a inteno positiva, a funo,

    a crena, etc., que gera o comportamento do comportamento em si;

    - em algum nvel, todo comportamento tem (ou teve) uma inteno

    positiva. Ele ou foi percebido como adequado, a partir do contexto em

    que foi estabelecido, do ponto de vista da pessoa que est expressando o

    comportamento. mais fcil e mais produtivo responder inteno em

    vez de expresso do comportamento problemtico;

    - os ambientes e contextos mudam. A mesma ao nem sempre produzir o

    mesmo resultado. Para adaptar-se e sobreviver de maneira bem-sucedida,um membro do sistema precisa de certa quantidade de flexibilidade. Essa

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    deve ser proporcional variao no resto do sistema. medida que o

    sistema torna-se mais complexo, necessria uma maior flexibilidade;

    - se o que voc est fazendo no est obtendo a reao que deseja,modifique seu comportamento at provocar a reao desejada.52

    Observamos que as metforas e conceitos empregados nesses pressupostos

    tornam-se apreensveis quando examinados com base nos fundamentos tericos

    da PNL.

    1.4 Desvendando a Estrutura da Magia

    No prefcio de A estrutura da magia I, Bandler e Grinder afirmam:

    Desde os mais remotos tempos o poder e o encanto dos praticantes de magiaforam registrados em canes e narrativas. A presena de magos, bruxas,feiticeiros, xams e gurus sempre foi intrigante e inspiradora de medo spessoas comuns. Estes seres poderosos, envoltos num manto de mistrios,apresentavam uma notvel contradio aos modos comuns de se lidar com omundo. Os feitios e encantamentos que eles urdiam eram temidos acima dequalquer crena e, ao mesmo tempo, procurados constantemente pelo auxlio

    que podiam prestar. Onde quer que estes seres poderosos executassempublicamente seus prodgios, podiam, a um s tempo, destruir os conceitos derealidade daquele momento e lugar e apresentar a si mesmos comopossuidores de algo acima de qualquer conhecimento.53

    Comparando a magia do passado com a realidade presente, os autores destacam

    que alguns terapeutas notveis da atualidade produzem os mesmos mgicos

    efeitos e exercem, sobre seus pacientes, fascnio similar ao dos magos de

    outrora. Dessa forma, postulam que:

    Atualmente, o manto do mago mais freqentemente colocado sobre estesdinmicos praticantes de psicoterapia que rapidamente ultrapassaram ahabilidade de outros terapeutas, e cujo trabalho to deslumbrante de seobservar que nos leva a estados de grande emoo, descrena e extremaconfuso. Exatamente como sucedeu com todos os magos de todas as pocasda Terra cujo conhecimento foi guardado com muito apreo e passadoadiante de sbio a sbio perdendo e acrescentando partes, mas retendo

    52DILTS, Robert. A estratgia da genialidade, vol. I, p. 266-267, 1998.53BANDLER, Richard e GRINDER, John. A estrutura da magiaI, p. 17, 1977.

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    uma estrutura bsica assim tambm possui uma estrutura a magia destesmagos terapeutas.54

    Ao empreender os estudos que resultaram na criao da PNL, os autores

    observaram a atuao de alguns terapeutas que consideraram superastros

    carismticos. Tais pessoas, aparentemente, desempenham a tarefa da

    psicologia clnica com a facilidade e o prodgio de um mago terapeuta, dentre

    os quais destacam Fritz Perls55e Virgnia Satir:

    Perls no era, e mais certamente no , o nico terapeuta a se apresentarcom tal fora mgica. Virgnia Satir e outros que conhecemos parecem teresta mesma qualidade mgica. Negar esta capacidade ou simplesmente

    rotul-la como talento, intuio ou genialidade limitar o prprio potencialde algum ao de ajudador de pessoas [no original, people-helper]. Assimfazendo, perde-se a oportunidade de aprender a oferecer s pessoas quechegam at ns uma experincia que possivelmente usaro para mudar suasvidas a fim de gozar a plenitude do viver. Nosso desejo neste livro no questionar a qualidade mgica de nossa experincia desses [sic] magosterapeutas, mas, ao contrrio, mostrar que essa magia que eles executam semelhana de outras atividades humanas complexas como pintura,composio musical ou colocar um homem na lua tem estrutura e ,portanto, possvel de aprender, uma vez fornecidos os recursos apropriados56[destaque nosso].

    Perls e Satir possuem abordagens teraputicas distintas enquanto aqueleenfoca a gestalt-terapia, o trabalho desta voltado especialmente terapia

    familiar. No entanto, ao observ-los, Bandler e Grinder puderam apontar algo

    comum a ambos. E relatam que:

    Os magos terapeutas que descrevemos anteriormente chegam psicoterapia oriundos de abordagens variadas e usam tcnicas de trabalho queparecem ser dramaticamente diferentes. Descrevem as maravilhas queexecutam com terminologias to distintas que suas percepes do que fazem

    parecem no ter nada em comum. Muitas vezes observamos essa gentetrabalhando com algum, e ouvimos comentrios de espectadores queinsinuavam que esses magos da terapia davam saltos intuitivos to fantsticosque tornavam seu trabalho incompreensvel. Todavia, enquanto as tcnicasdesses magos so diferentes, eles partilham de algo em comum: introduzemmodificaes nos modelos dos pacientes, as quais permitem a estes um maiornmero de opes em seu comportamento. O que vemos que cada umdesses magos tem um mapa ou modelo para as modificaes dos modelos domundo de seus pacientes isto , um metamodelo que lhes permite

    54BANDLER, Richard e GRINDER, John. A estrutura da magiaI, p. 17, 1977.55Cf. BANDLER, Richard e GRINDER, John. A estrutura da magia I, p. 25-26, 1977. Fritz Perls tambmconhecido como Frederick S. Perls.56Id., ibid., p. 26.

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    expandir e enriquecer efetivamente os modelos de seus pacientes de algummodo que torne a vida destes mais rica e mais digna de viver.57

    A partir dessa observao, os autores propem-se a apresentar aos leitores um

    metamodelo explcito, compreensvel e disponvel a todos aqueles que desejem

    expandir e enriquecer as habilidades que tm como ajudantes de pessoas

    [people-helpers]58.

    Para realizar a tarefa, focaram seus estudos na linguagem empregada em terapia,

    uma vez que a linguagem representa um dos principais meios pelos quais os

    terapeutas podem chegar a conhecer e entender seus pacientes, e um dos meios

    elementares que todos os humanos utilizam para modelar suas experincias59.

    O metamodelo, como ser verificado detalhadamente a partir do captulo 2

    deste estudo, constitui, segundo Bandler e Grinder, um valioso instrumental

    para aumentar a eficincia e a qualidade mgica de qualquer terapeuta.

    Contudo, destacam:

    [...] no queremos fazer a reivindicao de que descobrimos a abordagem

    certa ou mais poderosa da psicoterapia. Desejamos somente apresentar-lheum instrumental especfico que nos parece estar implcito nas aes dessesterapeutas, de modo que se possa comear ou continuar o interminvelprocesso de melhorar, enriquecer e ampliar as habilidades que oferece comoaquele [sic] que auxilia as pessoas [destaque nosso].60

    Passemos ento verificao dos conceitos de metamodelo e modelagem.

    57BANDLER, Richard e GRINDER, John. A estrutura da magiaI, p. 40, 1977.58Cf. BANDLER e GRINDER, 1977, p. 40; destaque nosso.59BANDLER, Richard e GRINDER, John. A estrutura da magiaI, p. 40-41, 1977.60Id. ibid., destaque nosso. Consideramos oportuno, para melhor compreenso, reproduzir o trecho originalcorrespondente ao pargrafo destacado, apresentando uma livre traduo: We desire only to present youwith a specific set of tools that seem to us to be implicit in the actions of these therapists, so that youmay begin or continue the never-ending process to improve, enrich, and enlarge the skills you offer as a

    people-helper (Ibid., The structure of magic I, p. 6) [Desejamos apresentar a voc um conjunto deferramentas especficas que nos parece estar implcito nas aes desses terapeutas de maneira que vocpossa comear ou continuar o interminvel processo de melhorar, enriquecer e ampliar as habilidades quevoc oferece como algum que ajudas pessoas destaque nosso].

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    2. Metamodelo e modelagem: aplicativos da PNL

    Neste captulo, sero apresentados o metamodelo e a modelagem

    conceitos bsicos da PNL e sua correlao com a linguagem.

    2.1 Conceito de metamodelo

    Como ponto de partida para a definio do modelo, exploramos o livro A estrutura

    da magia I, publicado nos EUA em 1975 e traduzido para o portugus em 1977.

    Nessa obra, Bandler e Grinder, baseados no modelo da gramtica

    transformacional de Noam Chomsky, apresentam o metamodelo da PNL

    modelo lingstico exterior, por meio do qual o indivduo busca traduzir suas

    representaes interiores, que constituem, segundo os autores, aquilo que

    chamaram de modelo de mundo:

    Todas as realizaes da raa humana, positivas ou negativas, envolveram ouso da linguagem. Ns como seres humanos usamos a linguagem de doismodos. Usamo-la, antes de tudo, para representar nossa experincia chamamos essa atividade de raciocnio, pensamento, fantasia e narrativa.

    Quando estamos usando a linguagem como um sistema representativo,estamos criando um modelo da nossa experincia. Este modelo de mundo quecriamos pelo nosso uso representativo da linguagem est baseado sobre nossaspercepes do mundo.

    [...] Em segundo lugar, usamos a linguagem para comunicar a outros nossomodelo ou representao do mundo. [...] Quando estamos usando a linguagempara comunicao, estamos apresentando nosso modelo a outros.61

    Os autores definem melhor a idia do metamodelo ao postularem que em

    outras palavras, utilizamos a linguagem para representar nossa experincia

    este um processo particular. Utilizamos, ento, a linguagem para representar

    nossa representaode nossa experincia um processo social62.

    Essa representao representada resulta em um modelo de um modelo,

    estruturado e reconhecido como tal da a denominao metamodelo.

    61BANDLER, Richard e GRINDER, John. A estrutura da magia I, p. 42-43, 1977.62Id., ibid., p. 43, destaque nosso.

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    2.1.1 Metamodelo e modelo de mundo: a realidade filtrada

    No que se refere maneira singular como cada indivduo representa suas

    experincias por meio da linguagem, Bandler e Grinder (1977) destacam que tais

    representaes so submetidas a outros trs tipos de filtros, denominados

    restries neurolgicas,restries sociais erestries individuais.

    Por ordem das restries neurolgicas, os seres humanos so incapazes, por

    exemplo, de perceber certos tipos de ondas eletromagnticas (como as ondas

    sonoras abaixo de 20 ciclos/s ou acima de 20.000 ciclos/s). Nesse sentido, os

    autores explicam que nosso sistema nervoso, (...), determinado geneticamente,constitui o primeiro grupo de filtros que distinguem o mundo o territrio de

    nossas representaes do mesmo o mapa.63

    Quanto ao segundo tipo de filtros, os autores afirmam:

    Uma segunda maneira pela qual nossa experincia do mundo difere do prpriomundo atravs do conjunto de restries ou filtros sociais (os culosimpostos) referimo-nos a estes como fatores genticos sociais64. Porgentica social, referimo-nos a todas as categorias ou filtros aos quaisestejamos sujeitos como membros de um sistema social: nossa lngua, nossosmeios aceitos de percepo, e todas as fices aprovadas socialmente. Talvezo filtro gentico social mais comumente reconhecido seja nosso sistemalingstico.65

    J em relao s restries individuais, os autores assim as definem:

    Por restries individuais referimo-nos a todas as representaes que criamoscomo seres humanos, baseadas sobre nossa histria pessoal nica. [...] Assimcomo cada pessoa tem um conjunto de impresses digitais distintas, assim,

    63 Cf.BANDLER, Richard e GRINDER, John. A estrutura da magia I, p. 29, 1977.64 Julgamos conveniente reproduzir a nota de rodap em que os autores esclarecem: Adotamos estaterminologia incomum gentica social para lembrar ao leitor que as restries sociais nocomportamento dos membros da sociedade tm um efeito to profundo na formao de suas percepesquanto o tm as restries neurolgicas. Tambm, que as restries neurolgicas, de incio determinadasgeneticamente, esto sujeitas contestao e mudana, exatamente como esto as restriesdeterminadas, de incio, socialmente. Por exemplo, o dramtico sucesso que os pesquisadores tiveram emobter controle voluntrio sobre partes do assim chamado sistema nervoso involuntrio nos humanos (p.ex.

    onda alfa) como tambm em outras espcies, mostra que as restries neurolgicas so contestveis.(Ibid., p. 31).65Id., ibid., p. 31.

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    generalizado, eliminado e distorcido como ser demonstrado a partir do

    captulo 4 e orienta as aes humanas frente ao mundo real como um

    mapa orienta um viajante perdido em um vasto e desconhecido territrio.

    2.2. Conceito de modelagem

    A partir do metamodelo, Bandler e Grinder criaram o conceito de modelagem

    (modeling), uma espcie de tcnica descritiva passo a passo sobre como

    fazer/realizar coisas, algo meio parecido a escrever um livro de receitas

    culinrias69, a partir de modelos que tivessem seu know-how desvelado.

    Segundo afirmam:

    Denominamo-nos modeladores. O que fazemos essencialmente prestar muitopouca ateno ao que dizem as pessoas e uma enorme ateno ao que fazem.A seguir, construmos para ns um modelo do que as pessoas fazem. Nosomos psiclogos, e tampouco somos telogos ou tericos. No temos a menoridia do que seja a natureza real das coisas e tambm no estamosespecialmente interessados no que seja verdadeiro. A funo damodelagem atingir descries que sejam teis. Assim, se acontece demencionarmos algo que voc j conhea de algum estudo cientfico, ou dealguma estatstica, como fato no preciso, perceba que est lhe sendo

    oferecido aqui um nvel diferente de experincia. No estamos a oferecer-lhealgo que seja verdadeiro, apenas coisas que so teis.70

    Bandler enfatiza a idia da necessria funcionalidade e do carter utilitrio de

    um modelo para que, sobre ele, um metamodelo seja elaborado, apoiando-se na

    analogia crebro/mquina:

    A modelagem coloca o computador para fazer o mesmo que um ser humano.Como conseguir que uma mquina ligue e desligue as luzes na hora certa e

    resolva um problema de matemtica? Os seres humanos fazem isto. Algunssempre bem, outros de vez em quando e outros ainda nunca conseguem faz-lo bem. O modelador tenta obter a melhor representao da maneira comouma pessoa desempenha uma tarefa e torna-a disponvel para a mquina. Nome importa se a representao reflete realmente o modo como a tarefa desempenhada por algum. Os modeladores no tm de ser os donos daverdade. O que necessrio descobrir algo que funcione [destaquenosso].71

    69BANDLER, Richard e GRINDER, John, Atravessando, p. 19, 1984.70Id., Sapos em prncipes, p. 21, 1982.71BANDLER, Richard. Usando sua mente, p. 25, 1987.

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    Conforme Bandler, para a criao do metamodelo, no suficiente que se

    tenha mo uma receita de sucesso (sempre haver outras, to boas quanto

    aquela de que se dispe), mas tambm necessrio saber quais os

    ingredientes que a compem, bem como a ordem em que so acrescentados a

    fim de se obter o produto final:

    Somos os autores do livro de receitas. No precisamos saber por que se tratade um bolo de chocolate, queremos saber o que colocar no bolo para que saiado jeito que queremos. O fato de seguirmos uma nica receita no quer dizerque no existam outras maneiras de se fazer o bolo. O que desejamos saber como, a partir dos ingredientes, fazer o bolo de chocolate, de uma maneiradetalhada. Tambm queremos ser capazes de saber, a partir do bolo dechocolate, que ingredientes foram usados, quando algum no deseja nos

    fornecer a receita.72

    Alm da elaborao de um metamodelo, Bandler sugere que a tcnica de

    modelagem possibilitaria no apenas a reproduo/aplicao de um dado

    modelo, mas, no sentido inverso, sua decupagem para posterior codificao

    passo a passo, medida que se desvela sua estrutura:

    Esta a tarefa de um especialista da informao: decompor a informao. A

    informao mais interessante que se pode obter a subjetividade de outro serhumano. Se algum sabe fazer algo que nos interessa aprender, queremospoder modelar este comportamento, e os nossos modelos vm da experinciasubjetiva: O que esta pessoa faz dentro da cabea dela que possoaprender?. impossvel obter a longa experincia que ela possui, e oresultado magnfico que esta experincia produz, mas posso conseguir, depronto, algum tipo de informao sobre a estrutura do que ela faz.73

    Uma vez revelada a estrutura do comportamento de sucesso, essa poderia ser

    codificada, registrada, divulgada e aplicada pelo modelador.

    2.3. Metamodelo e linguagem

    No tocante linguagem, Bandler e Grinder mencionam que a linguagem

    adequada a preencher sua funo como um sistema representativo [destaque

    72BANDLER, Richard. Usando sua mente, p. 25, 1987.73BANDLER, Richard e GRINDER, John. Sapos em prncipes, p. 25, 1982

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    nosso]; no entanto, ela prpria precisa fornecer um conjunto rico e complexo

    de expresses para representar nossas experincias possveis.74

    Convm observar que, primeira vista, a PNL parece utilizar a linguagem comoinstrumento, com o propsito de implantar, por meio da modelagem,

    significados padronizados, visando criao de um sentido universal. Todavia, os

    autores no se referem propriamente ao uso instrumentalda linguagem, mas

    baseiam o metamodelo na prpria estrutura ou sistema da linguagem.

    Resumidamente, os autores explicam que:

    A linguagem humana uma forma do ato de representao do mundo. A

    Gramtica Transformacional um modelo explcito do processo derepresentar e comunicar essa representao do mundo. Os mecanismos dentroda Gramtica Transformacional e o modo pelo qual representamos nossaexperincia so universais a todos os seres humanos. O significado semnticoque estes processos representam existencial, infinitamente rico e variado. Omodo pelo qual estes significados existenciais so representados ecomunicados governado por regras. A Gramtica Transformacional nomodela o sentidoexistencial, mas o modopelo qual se forma este conjuntoinfinito as prprias regras de representaes [os destaques so nossos].75

    No intuito de promover mudanas, ao abraar o modelo transformacional,

    conforme concebido por Chomsky, os autores declaram refutar o modelo

    behavior