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ANO 109 DIRETOR JOAQUIM CÂNDIDO DE OLIVEIRA NETO sãO JOãO DA bOA VIsTA, 23 DE DEzEMbRO DE 2015

Edição Especial de Natal

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Edição do jornal O MUNICIPIO Especial de Natal 2015 "Francisco: O Papa do Povo"

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ANO 109 DIRETOR JOAQUIM CÂNDIDO DE OLIVEIRA NETO sãO JOãO DA bOA VIsTA, 23 DE DEzEMbRO DE 2015

23 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 2 Pág.23

Mais um Suplemento de Natal chega às mãos dos leitores do O MUNICIPIO, depois de dias e dias de preparação. Como sempre, o maior desafio é a escolha do tema, que, este ano, é o Papa Francisco e o Ano da Miseri-córdia.

A opção por este tema justifica-se pelo fato de o Natal ser uma data religiosa e o Papa ser,

atualmente, um dos líderes mais influentes e respeitados do mundo.

Francisco é um verdadeiro fenômeno, que leva multidões por onde passa. O jeito humilde e acolhedor o fazem ainda mais adorado pelas pessoas, em especial por aquela parcela mais pobre de todos os países que o conhecem.

Para produzir um material amplo, e com bastante conteúdo, o jornal buscou grandes histórias, entrevistas com religiosos próximos ao Papa e diversos aspectos da vida de Francisco. Neste Suplemento, você, leitor, conhecerá um pouco mais da vida religiosa de Jorge Mario Bergoglio, o significado do seu Brasão, a escolha do nome Francisco, a ligação com sanjoanenses, suas frases que marcaram a vida de muita gente pela singe-leza e carinho.

A reportagem do O MUNICIPIO esteve em Aparecida e o jornalista Reinaldo Benedetti conversou, por mais de uma hora, com o Cardeal Dom Raymundo Damasceno. O religioso brasileiro é um dos homens de con-fiança do Papa naquele país e participou do Conclave que elegeu Francis-co.

Os jornalistas Reinaldo Benedetti e Franco Junior foram, também, para Buenos Aires, onde permaneceram por três dias seguindo os passos do então Cardeal Bergoglio. E uma constatação destes dois profissionais na capital argentina deu título a este Suplemento Especial de Natal: Francisco é mesmo o Papa do povo.

Uma boa leitura a todos, com os nossos desejos de um Feliz Natal!

DIRETORJoaquim Cândidode Oliveira Neto

EDITOR-CHEFEReinaldo benedetti

MTb 50.557 – sP

DIAGRAMAÇãO E ARTEJuliano de souza

e Alex zaneli

REPORTAGENsReinaldo benedetti

e Franco Junior

EXPEDIENTE

AGRADECIMENTOKiko bueno

CVC Viagens e Turismo

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 22 Pág. 3

Desde o dia 13 de março de 2013, quando o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio foi escolhido sucessor de Pedro com o nome de Francisco, o mundo se rendeu aos seus atos de hu-mildade.

E a simplicidade e a maneira humilde de viver não são características do Papa Francisco, mas sim a forma de vida es-colhida por Bergoglio.

A reportagem do O MUNICIPIO passou três dias em Buenos Aires (12, 13 e 14 de dezembro), capital da Ar-gentina e terra natal de Bergoglio, e chegou a uma constatação: Francisco é realmente o Papa do povo.

Milhares de turistas que chegam a Buenos Aires não deixam de passar pela Catedral Metropolitana da ca-pital, localizada ao lado da Casa Rosada (sede do governo Argentino) e onde o Cardeal Bergoglio era Ar-cebispo e celebrava. Todos querem conhecer os espaços onde vivia o re-ligioso e poder, de alguma forma, se sentir perto do Papa.

Mas, o que impressiona é que, fora da Catedral, na região central de Buenos Aires, inclusive ao redor da igreja onde ele vivia, pouco se ouve ou se vê sobre o Papa.

Ao andar por todo o centro, em res-taurantes, lojas, cafés etc, quase não se vê imagens ou se ouve falar do Pontífice. Nesta região o assunto é, quase sempre, política.

Ao lado da Catedral, ninguém sabe dar muitas informações de Bergoglio, o que muitas vezes acaba frustrando turistas que chegam em busca de co-nhecer mais sobre a vida do Papa.

Quer saber do então cardeal Bergo-glio? É preciso rumar para as perife-rias de Buenos Aires.

Apesar de ocupar o cargo de Ar-cebispo da capital argentina e ser a maior autoridade católica do país, Bergoglio gostava mesmo de estar entre os pobres, os oprimidos e os moradores de rua. Gostava do povo.

Não permanecia no conforto que a bela e imponente Catedral Metropo-litana lhe oferecia. Queria mesmo ir

aonde estavam os mais necessitados. E em busca de conhecer este trabalho

do religioso, através de uma fonte, O MUNICIPIO chegou à Barracas. Cha-mada de Villa pelos argentinos, o local é uma favela pacificada de Buenos Aires, região extremamente carente.

Logo na entrada percebe-se a mu-dança do visual, as construções sofis-

Francisco: o Papa do povo

ticadas dão espaço a casas irregulares, sujeira, água parada nas beiradas e carros bastante velhos pelas ruas.

E é exatamente entre estas pessoas mais simples que o Papa aparece como grande ídolo, como motivo de orgulho.

E não é para menos. O então Cardeal Bergoglio, contam os moradores, percor-ria a favela constantemente a pé ou, até

mesmo, de bicicleta. Lá ele visitava as casas e celebrava na Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé, por sinal bas-tante singela, improvisada em um barracão.

Portanto, o jeito humilde de ser e a con-vivência com os menos favorecidos são, na verdade, um estilo de vida que vem desde o início da sua caminhada sacerdotal.

Eis aqui Francisco: o Papa do povo.

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Tofia Riquelme mostra foto do marido com o Cardeal Bergoglio

Oscar Orue diz que eleição de Bergoglio foi comemorada com festa Jorge Santillan afirma: “É o Papa do povo”

Distante dos grandes prédios e igre-jas com arquiteturas impactantes do centro de Buenos Aires, Barracas re-trata uma realidade diferente. O local conhecido na Argentina por Villa é uma favela pacificada, região extrema-mente pobre.

Em meio ao asfalto repleto de bura-cos, onde circulam carros e motos anti-gos e com pouca conservação, e casas simples, muitas com diversos tijolos irregulares e sem calçada, está locali-zada a Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé.

Sempre lotada, a singela igreja es-tampa logo em sua entrada em um cartaz uma foto de Jorge Mario Bergo-glio. Antes de ser eleito o Papa Fran-cisco, o então cardeal e arcebispo de Buenos Aires costumava periodica-mente celebrar missas no local. A pro-ximidade com a comunidade de Barra-cas fez com que os laços de admiração entre a população da Villa e Bergoglio se estreitassem.

Papa Francisco é tratado no local com status de herói de um povo ca-rente, repleto de problemas familiares e que convive em meio ao medo de

perder um ente querido por conta da dependência com drogas.

À procura de um morador que pos-suía uma foto com Bergoglio, eis que surge a senhora Tofia Riquelme, de 71 anos. Tofia lavava a empoeirada calça-da de sua casa, quando ao ver a apro-ximação da reportagem, sem se aca-nhar, disse: “Eu tenho uma foto com o Papa”.

Sem nem esperar uma resposta, a senhora Riquelme foi rapidamente até sua residência e voltou com a prome-tida foto. Na imagem, Bergoglio, en-quanto arcebispo, benzia Gavino Ruiz Dias, esposo de Tofia que faleceu há alguns anos.

Alegre por lembrar da presença de Bergoglio em Barracas e com lágrimas nos olhos pela recordação do marido, Tofia descreveu um pouco sobre a im-portância do agora Papa para a comu-nidade.

“Ele era muito humilde, caminhava de casa em casa apenas para saudar o povo. Simplicidade e humildade são características dele, o nosso Papa”, disse a orgulhosa conterrânea.

Sobre as visitas de Bergoglio ao

Orgulho, festa e ...

local, Tofia se recorda da maneira em que ele chegava até a igreja da Villa. “Nada de carros. Ele vinha a pé e me recordo de uma vez ele chegar de bi-cicleta. Ele gostava do contato com

a gente. É algo que ele continua a ter mesmo agora lá [no Vaticano], isso é uma característica desse homem que nos enche de orgulho, pois sabemos que ele é verdadeiro”, descreveu Tofia.

Fotos Reinaldo Benedetti – 14/12/2015 (Buenos Aires)

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 20 Pág. 5

...uma foto repleta de saudadePAPA DO POVO

Três casas à frente da residência de Tofia Riquelme, fica localizada uma mercearia decorada com diversas fotos de Fran-cisco coladas em uma parede e também em uma geladeira. Bastante simpático, o proprietário, Oscar Orue, de 68 anos, não esconde o orgulho pelo Papa.

Ele conta que Bergoglio era bem dis-creto e agia normalmente como qualquer pessoa. Por diversas vezes, entrou em sua mercearia para comprar água. “Me recu-sava a cobrar, sempre dava de presente a água, mesmo ele insistindo que queria pagar”, relembrou o comerciante.

Orue se recorda com carinho e empolga-ção o dia 13 de março de 2013, data em que Bergoglio foi eleito, por meio do Con-clave, o sucessor de Pedro, o Papa Francis-co. “Foi uma festa aqui em Barracas, muita gente foi para as ruas para comemorar. Aqui em frente à igreja a festa foi maior ainda, parecia que nossa seleção tinha sido campeã mundial”, lembrou o comerciante, comparando a felicidade do povo com o futebol, paixão dos argentinos.

Villa de Barracas, favela pacificada na periferia de Buenos Aires

Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé, onde o então Cardeal Bergoglio sempre celebrava

Em frente à mercearia de Oscar Orue, do outro lado da rua, fica a quitanda de Jorge Santillan, de 71 anos. Improvisa-da na garagem da casa, o comércio é o meio de sustento de Jorge e também um dos locais frequentados por Bergoglio em suas idas à Barracas.

Perguntado sobre o Papa Francisco, Jorge sorri e empolgado afirma: “É o Papa do povo”.

“Me lembro das suas chegadas aqui à comunidade. Bergoglio vinha a pé e eu conseguia vê-lo a partir do momento em que ele virava a esquina. Nosso Papa sempre esteve e sei que está perto da gente até hoje”, disse Jorge, que contou ainda que sempre levava algumas frutas para o então arcebispo da cidade após a celebração das missas.

Fotos Reinaldo Benedetti – 14/12/2015 (Buenos Aires)

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 6 Pág. 19

Padre Toto: o missionário amigo de Francisco

Na mesma igreja em que Jorge Mario Bergoglio costumava celebrar missas para a comunidade de Barracas, o padre Toto Lorenzo continua a fazer o mesmo que o agora Papa Francisco: lotar de fieis a Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé.

A igreja é frequentada pela comuni-dade da Villa e responsável por reali-zar o papel de acolhimento do sofrido povo da periferia de Buenos Aires.

Durante a missa, Toto Lorenzo traduz o evangelho à realidade da população de Barracas, fato que o faz ser tratado como um membro da família por cada um dos frequentadores da Paróquia.

Já sem a batina, Toto se torna real-mente um familiar ao abraçar, beijar a mão e conversar com todos os fieis que vê pela frente.

Com isso, o sacerdote é o grande guia espiritual da comunidade. Ele celebra, aconselha, supervisiona programas so-ciais com crianças e continua a missão de evangelizar que Bergoglio fez por

tantos anos na periferia.“Somos uma igreja simples, muito

ligada aos projetos sociais. Nossa Pa-roquia foi fundada há 40 anos e fa-zemos um papel para unir o povo e fortalecer toda a nossa comunidade”, contou o padre.

BARRACAS E BERGOGLIOAntes de ser tornar Francisco, Bergo-

glio com frequência celebrava missas para comunidade e mantinha contato com a população local. Este papel foi considerado por Toto Lorenzo como de fundamental importância, pois ele “quebrou com a ‘hierarquia’ da igreja”.

“Nunca se espera que um arcebispo saia de uma igreja [no caso de Bergo-glio a Catedral Metropolitana] e venha até a comunidade. Ele fazia isso e rompeu essa barreira que na verdade não deveria existir. Estava com frequ-ência nas favelas, como por exemplo aqui, onde durante 15 anos, frequen-temente era visto em Barracas, cami-

nhando pela comunidade, conversan-do com o povo e se envolvendo com todos os projetos sociais realizados”, descreveu Toto Lorenzo.

Bergoglio sempre aparecia na co-munidade, mas em uma data especí-fica estava anualmente na Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé. Feriado nacional da Argentina, no dia 8 de dezembro é comemorado o Día de la Inmaculada Concepción (Dia da Imaculada Conceição). Nesta data, Bergoglio era quem celebrava a missa na igreja local de Barracas.

Por ter se tornado Papa em março de 2013, este é o terceiro ano consecutivo que Jorge Mario Bergoglio não esteve em Barracas em um 8 de dezembro.

Mesmo com a ausência física, Toto Lorenzo revela que, com frequência, Papa Francisco entra em contato via telefone para saber sobre a igreja e a comunidade em que leva no coração.

“Bergoglio está sempre em conta-to comigo. Mesmo distante, liga aqui na igreja, conversa comigo e pergunta tudo sobre os projetos sociais, a paro-quia, as pessoas. Ele tem um carinho enorme pelo povo de Barracas, assim como a população aqui tem por ele”, descreveu o padre missionário.

Uma visita do Papa Francisco à Villa deve ocorrer em 2016, quando está pre-vista sua ida ao seu país de origem. Será a primeira vez que Bergoglio voltará à Argentina após se tornar o Santo Padre.

Interior da Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé

Padre Toto, um missionário que recebe ligações de Francisco

Fotos Reinaldo Benedetti – 14/12/2015 (Buenos Aires)

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Turistas percorrem passos de Bergoglio em Buenos Aires

A pedido do povo argentino, logo após a eleição de Jorge Mario Bergo-glio foi idealizado o chamado Circuito Papal, em Buenos Aires.

Nesta tour é possível percorrer locais vividos pelo então cardeal e arcebispo da capital argentina antes de se tornar o Papa Francisco.

O roteiro é dividido em duas partes. A primeira tem início na Catedral Metro-politana, onde, desde 1998, Bergoglio cumpria atividades como Arcebispo de Buenos Aires.

No percurso deste primeiro trecho

ainda estão locais como o cabeleireiro e a banca de jornal do Papa, como fica-ram conhecidos. Na opção, é possível conhecer outras igrejas das redondezas, como a San Ignácio de Loyola - que leva o nome do fundador da ordem a qual Bergoglio pertence - e a Igreja San Francisco de Asís - que tem o mesmo nome escolhido por ele para simbolizar e guiar seu pontificado.

BAIRRO DE FLORESJá a segunda etapa do Circuito Papal

é realizada no bairro de Flores.

O início é na Basílica San José de Flores, local onde Bergoglio teve a revelação e optou pela vida religiosa, passa pelo Colégio Nuestra Señora de la Misericordia, onde em 1940 Fran-cisco recebeu a primeira comunhão, e segue para a antiga casa onde ele passou a infância.

Além disso, a poucos metros dali está a Plazoleta Herminia Brumana, onde

o menino Bergoglio jogava bola com outros garotos do bairro de Flores. Para terminar, o tour chega à Escuela Pedro António Cerviño, onde o Papa cursou o ensino primário, correspondente ao Ensino Fundamental no Brasil.

Dentre os pontos visitados neste percurso, está também o estádio do San Lorenzo, time do coração do Papa Francisco.

Basílica San José de Flores, onde Bergoglio optou pela vida religiosa

Nesta Barbearia, Bergoglio cortava cabelo mensalmenteCatedral Metropolitana é bastante visitada por turistas todos os dias

Casa onde Bergoglio viveu com a família, no Bairro das Flores

Fotos Reinaldo Benedetti – 14/12/2015 (Buenos Aires)

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Comércio popular ganha força com eleição do

Papa Argentino“Deus não pertence a nenhum povo”

“Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados”

“Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!”

“A paz é um bem que supera qualquer barreira, porque é um bem de toda a humanidade”

“Ninguém vence sozinho, nem no campo, nem na vida!”

“Cuidemos do nosso coração porque é de lá, que sai o que é bom e ruim, o que constrói e destrói”

“Não há necessidade de consultar um psicólogo para saber que quando você denigre o outro é porque você mesmo não consegue crescer e precisa que o outro seja rebaixado para você se sentir alguém”

“Vivemos na religião mais desigual do mundo”

“Se engana quem acha que a riqueza e o status atraem inveja...as pessoas invejam mesmo é o Sor-riso fácil, a Luz própria, a Felicidade simples e sincera e a Paz interior”

“Deus não cansa de perdoar, nós é quem cansamos de pedir perdão”

“Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso cora-ção: por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta”

“Deus usa de tanta misericórdia conosco. Aprendamos também nós a usar de misericórdia com os outros, especialmente aqueles que sofrem”

“Se queremos seguir Cristo de perto, não podemos procurar uma vida cômoda e tranquila. Será uma vida empenhada, mas cheia de alegria”

“Estamos irritados com alguém? Rezemos por essa pessoa. Isto é amor cristão”

“Que a Igreja seja sempre lugar de misericórdia e esperança, onde cada um se possa sentir acolhido, amado e perdoado”

“Sempre que possível, dê um sorriso a um estranho na rua. Pode ser o único gesto de amor que ele verá no dia”

“Como seria belo se cada um de vós pudesse, ao fim do dia, dizer: hoje realizei um gesto de amor pelos outros!”

Frases de Francisco

No centro de Buenos Aires poucos artigos são vistos sobre o Papa Fran-cisco. No entanto, em bairros mais po-pulares como, por exemplo, La Boca, o comércio está recheado de produtos em alusão ao Pontífice.

São chaveiros, calendários, fotos, es-tatuetas, colantes, broches, entre outros produtos sobre o Papa Francisco, mis-turados aos de ícones e ídolos argenti-nos como o ex-jogador Diego Arman-do Maradona e da atriz e líder política Eva Perón.

Nas fotos à venda, em sua maioria, Jorge Mario Bergoglio está com sua característica veste papal, sorrindo e com a mão direita estendida em sauda-ção. Em broches, colantes e calendá-rios, a imagem de Francisco é também semelhante a das fotografias comercia-lizadas.

Já as estatuetas são feitas de maneiras diferenciadas. Al-gumas apenas com o rosto sorridente do Papa Francisco. Outras com uma mescla de batina Papal e camisa da sele-ção argentina. E, por fim, algumas com a mão estendida em saudação. Em todas elas o sorriso marcante de Bergoglio é fator predominante.

Além dos artigos produzidos para comercialização, estatu-as com cerca de dois metros de altura também são encontra-das em La Boca. Estas para que os turistas e também os nati-vos possam posar para fotografias ao lado do Papa Francisco.

Estátuas como estas são vistas no tradicional Caminito, em locais como lojas e galerias. A movimentação ao redor da imagem do Papa é grande e para se tirar um retrato, em algumas vezes, tem-se que esperar alguns minutinhos.

Bonecos do Papa são vistos nas vitrines Turistas aproveitam para tirar fotos com estátua

No Caminito, em La Boca, imagens do Papa estão espalhadas por todos os lados Imagem do Papa é vendida ao lado de outros ícones

Fotos Franco Junior – 13/12/2015 (Buenos Aires)

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 16 Pág. 9

No ano de 2013, em 13 de março, o mundo conhecia o Papa sucessor de Bento XVI, que renunciou ao cargo.

Os muitos nomes favoritos deram lugar ao Cardeal Jorge Mario Bergo-glio, argentino e então Arcebispo de Buenos Aires, o qual escolheu o nome Francisco.

A vida religiosa

INCENSOO empresário Martinho Rocha da

Silva jamais pensou que o incenso que decidiu produzir pudesse ganhar fama mundial. Muito menos que ele poderia ser usado pelo Papa.

E é exatamente isso que aconteceu com a empresa sanjoanense Milagros Incensos de Resina. O produto criado e produzido por Martinho vem sendo utilizado oficialmente pelo Vaticano há alguns anos.

Mas, Martinho decidiu criar o Incen-so “Misericordiae”, criado especial-mente para o Jubileu Extraordinário aberto pelo Papa.

O incenso “Misericordiae” faz parte de um projeto internacional da Mila-

A tRAjEtóRIA O Papa Francisco nasceu em Buenos

Aires, capital da Argentina, no dia 17 de dezembro de 1936.

Assumiu a missão de Papa da Igreja Católica aos 76 anos e foi o primeiro latino-americano a ocupar este posto.

É sacerdote da Companhia de Jesus, conhecidos como Jesuítas e desde 1998 ocupava a função de Arcebispo de Buenos Aires.

Estudou e se diplomou como técni-co químico. Ingressou no seminário de Villa Devoto em 11 de março de 1958

e começou o noviciado na Ordem dos Jesuítas.

Em 1960, obteve a licenciatura em Filosofia no Colégio Máximo São José, em San Miguel. De 1967 a 1970 cursou Teologia no Colégio Máximo de San Miguel.

Foi ordenado sacerdote no dia 13 de dezembro de 1969, pelas mãos de Dom Ramón José Castellano.

Foi ordenado bispo no dia 27 de junho de 1992, pelas mãos de Dom Antonio Quarracino, Dom Mario José Serra e Dom Eduardo Vicente Mirás.

Foi criado Cardeal no consistório de 21 de fevereiro de 2001, presidido por João Paulo II, recebendo o título de cardeal-presbítero de São Roberto Bellarmino.

Na Santa Sé ocupou diversos cargos: membro da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sa-cramentos, da Congregação para o Clero, da Congregação para os Insti-tutos de Vida Consagrada e Socieda-des de Vida Apostólica; do Pontifício Conselho para a Família e da Pontifí-cia Comissão para a América Latina.

Nascido em 1936, em Buenos Aires, Bergoglio é Jesuíta e o primeiro latino-americano a se tornar PapaMartinho Rocha conversa com o Papa no VaticanoJosé Tomás Faria Villela é abençoado pelo Papa, em maio deste ano

Sanjoanenses e o

Papagros para motivar orações em prol do Papa. “A ideia é que cada sacerdote, ao celebrar utilizando este incenso, faça orações por Francisco, como ele sempre pede. Temos acompanhado a situação do mundo, as ameaças e pressões que o rodeiam e consideramos isso muito importante”, disse Martinho.

E o que Martinho talvez não espe-rava é que seria convidado a entregar o produto diretamente a Francisco em uma audiência no Vaticano. O encon-tro aconteceu no dia 9 de dezembro deste ano. “Eu tenho os meus sonhos. Porém, os planos de Deus são outros. E os planos do Altíssimo são melhores e sempre superam as nossas maiores expectativas”, comemora.

Mais uma família sanjoanense tem uma história marcante com o Papa Francisco. Luis Otávio Lombardi Villela e Rosária Henrique de Faria Villela, membros do Caminho Neoca-tecumenal na Paróquia do Rosário, es-tavam levando o 12º filho para ser ba-tizado na Terra Santa, no Rio Jordão. Isso mesmo: o casal possui 12 filhos.

Mas, o casal decidiu passar por Roma antes. Logo pela manhã do dia 13 de maio de 2015, Luis e Rosária foram visitar o Vaticano e, para a sur-presa do casal, era dia de Audiência do Papa, a qual é realizada na Praça de São Pedro e aberta ao Público.

Como chegaram cedo conseguiram ficar bem perto da grade e, o que jamais imaginaram, aconteceu. O Papa veio com seu veículo bem próximo e Rosá-

ria ergueu o pequeno José Tomás Faria Villela e um dos seguranças pegou o menino e o entregou a Francisco, que beijou a testa e abençoou o recém nas-cido sanjoanense.

Luis Otávio lembra que era Dia de Nossa Senhora de Fátima e recorda da emoção daquele dia. “Foi por acaso, não sabíamos que teria audiência. Estáva-mos indo para a Terra Santa e decidimos passar por Roma e fomos lá para receber a benção do Papa. Quando tudo aconte-ceu foi uma choradeira só”, conta.

E Luis disse que sentiu que Francis-co faz isso com muito gosto, de cora-ção. “Ele é um Papa muito disponível”.

Após receber a benção do Papa, José Tomás seguiu para a Terra Santa e no dia 20 de maio deste ano foi batizado no Rio Jordão.

Um beijo que ficará para a História

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 10 Pág. 15

O brasão do Papa Francisco contém a mensagem ‘Miserando atque eligen-do’, que significa ‘Com misericórdia o chamou’.

Do escudo utilizado desde que era bispo, o brasão Papal foi enriquecido com alguns símbolos.

O escudo azul é coberto por símbo-los da dignidade pontifícia: mitra po-sicionada entre chaves de ouro e prata entrecruzadas, unidas por um cordão vermelho.

O logotipo da ordem religiosa que pertence o Papa, a Companhia de Jesus, aparece em destaque no alto do escudo.

O logotipo da ordem é composto de um sol radiante e flamejante carregado com as letras, em vermelho, IHS, mo-

O Brasão de Francisco

Sanjoanenses e o Em São João da Boa Vista dois em-

presários têm histórias interessantes relacionadas ao Papa Francisco. Entre eles, algo em comum: ambos são em-presários no ramo religioso católico.

Luiz Fernando de Abreu Ribeiro é nograma de Cristo. A letra H é coberta por uma cruz em ponta e três pregos em preto.

IHS é a abreviação do nome de Jesus em grego ou da escrita latina do nome como se usava na Idade Média: Ihesus.

Abaixo, encontram-se a estrela e a flor de nardo. A estrela, de acordo com a antiga tradição aráldica, simboliza a Virgem Maria, mãe de Cristo e da Igreja; enquanto a flor de nardo indica São José, patrono da Igreja.

Na tradição da iconografia hispâni-ca, de fato, São José é representado com um ramo de nardo nas mãos. Co-locando no seu escudo tais imagens, o Papa pretendeu exprimir a própria particular devoção à Virgem Santíssi-ma e São José.

proprietário da Clero Brasil e comer-cializa centenas de produtos católicos. Já Martinho Rocha é dono da Milagros Incensos de Resina.

Outra coisa em comum entre eles? Os dois já se encontraram com o Papa Francisco!

SOLIDéU Luiz Fernando já teve alguns encontros com o

Papa e em todos eles conseguiu um feito: trocar o solidéu (pequena boina branca usada na cabeça) com Francisco.

Em dezembro de 2014 e em março deste ano o em-presário sanjoanense esteve no Vaticano e conseguiu ter acesso a uma área bastante restrita, onde o Papa passa e as pessoas conseguem conversar e tocar no Santo Padre.

Nestas duas ocasiões, Luiz Fernando levou do Brasil um solidéu branco, semelhante ao do Papa, e conseguiu trocar com Francisco. As duas vezes que pediu ao Santo Padre a troca foi atendido de ime-diato. Luiz conta que levou um solidéu aqui de São

João da Boa Vista e pretendia trocar com Francisco, mas não imaginava que estaria tão perto. “Quando ele chegou e nos cumprimentou eu perguntei a ele se podia lhe fazer um pedido e ele disse que sim. Ai pedi que trocasse o solidéu dele comigo. Ele pronta-mente retirou o dele da cabeça, pegou o meu e mediu para ver se era do mesmo tamanho. Ai ele trocou”, explica Luiz.

E a família do empresário conseguiu outro feito no mês de junho deste ano. Os seus filhos Arthur, de 6 anos e Luis Fernando, de 11, também estiveram no Vaticano e conseguiram trocar o solidéu pelo do Papa.

Agora, a família já acumula 4 solidéus de Francis-co, os quais possuem valor inestimável.

Luiz Fernando e os filhos conseguiram trocar o solidéu com Francisco

Papa

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 14 Pág. 11

O Papa Francisco anunciou a celebra-ção de um Jubileu da Misericórdia, um Ano Santo da Misericórdia, que come-çou no último dia 8 de dezembro, com a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro durante a solenidade da Ima-culada Conceição e terminará em 20 de novembro de 2016.

O último Jubileu da Igreja foi procla-mado pelo Papa São João Paulo II para comemorar os 2000 anos do nascimen-to de Cristo.

Depois da proclamação deste evento muitos se perguntam: O que é um jubi-leu? E um ano santo?

A celebração do jubileu se origina no judaísmo. Consistia em uma come-moração de um ano sabático que tinha um significado particular. Esta festa se realizava a cada 50 anos.

Durante o ano os escravos eram li-bertados, restituíam-se as proprieda-des às pessoas que as haviam perdi-do, perdoavam-se as dívidas, as terras deviam permanecer sem cultivar e se descansava.

O que é um Jubileu e um Ano Santo?

Na Bíblia encontramos algumas passagens nas quais se menciona a ce-lebração judaica. Talvez a mais impor-tante se encontre no Levítico (Lv 25,8).

A palavra jubileu se inspira no termo hebreu de yobel, que faz alusão ao chifre do cordeiro que servia como ins-trumento. Jubileu também tem uma raiz latina, iubilum que representa um grito de alegria.

Na tradição católica, o Jubileu con-siste em que durante 1 ano se concedem indulgências aos fiéis que cumprem certas disposições eclesiais estabeleci-

Por que Francisco?

das pelo Vaticano. O Jubileu pode ser ordinário ou extraordinário. A celebra-ção do Ano Santo Ordinário acontece em um intervalo de anos já estabeleci-do. Já o Ano Santo Extraordinário se proclama como celebração de um fato destacado.

A Igreja Católica tomou como influ-ência o jubileu hebraico e lhe deu um sentido mais espiritual. Nesse ano se dá um perdão geral, indulgências e se faz um chamado a aprofundar a rela-ção com Deus e com o próximo. Por isso, cada Ano Santo é uma oportuni-

dade para alimentar a fé e renovar o compromisso de ser um testemunho de Cristo. Também é um convite à conversão.

O Jubileu proclamado pelo Papa Francisco é um Ano Santo Extraordi-nário.

O primeiro ano jubilar foi convo-cado em 1300 pelo Papa Bonifácio VIII. Estabeleceu-se que os seguintes jubileus se comemorassem a cada 25 anos, com o objetivo de que cada ge-ração experimente pelo menos um em sua vida.

O rito inicial do Jubileu começa com a abertura da Porta Santa da Ba-sílica de São Pedro. Esta porta só se abre durante um Ano Santo. A aber-tura da porta significa que se abre um caminho extraordinário para a sal-vação. O Papa toca a porta com um martelo 3 vezes enquanto diz: “Aperi-te mihi leva justitiae, ingressus in eas confitebor Domino” - “Abram-me as portas da justiça; entrando por elas confessarei ao Senhor”.

A escolha do nome Francisco foi para homenagear o Santo de Assis e a escolha teve p a r t i c i p a ç ã o de um brasilei-ro. Logo após o anúncio de que estava eleito, Ber-goglio teve pouco tempo para escolher seu nome de pontificado.

E Francisco acabou revelando que recebeu uma ajuda do amigo e cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes para escolher o nome, o qual estava sentado ao lado de Bergoglio durante o Conclave.

Quando percebeu que a votação já havia atingido os 2/3 necessários para eleger o Papa, Hummes foi o primeiro a cumprimentar Ber-goglio.

“Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me: ‘Não te esqueças dos pobres!’. E aquela pa-lavra gravou-se-me na cabeça: os pobres, os pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis. Em seguida, pensei nas guerras, enquanto continuava o escrutínio até contar todos

os votos. Francis-co é o homem

da paz. E assim surgiu o nome no meu cora-ção: Francis-co de Assis”, contou o Papa na pri-

meira audiên-cia que teve com

jornalistas.

SãO FRANCISCO DE ASSISSão Francisco de Assis nasceu na cidade

de Assis, na Itália, no dia 5 de julho de 1182. Filho de um rico comerciante recebeu educa-ção voltada para os negócios, mas, ouvindo um chamado de Cristo que dizia: “Vá, Fran-cisco e restaure minha casa”, entrega-se ao serviço de Deus e dos mais necessitados. Faz voto de pobreza e começa a pregar sua doutrina, renunciando qualquer forma de propriedade, recusando mesmo ter uma igreja, vivendo das doações que recebe.

São Francisco de Assis morre em Assis, Itália, no dia 3 de outubro de 1226. Dois anos depois de sua morte, é canonizado pelo papa Gregório IX.

Na primeira aparição de Francisco, Dom Cláudio Hummes está junto O Papa escolheu seu nome inspirado em São Francisco de Assis

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 12 Pág. 13

No Brasil, alguns religiosos são de extrema confiança do Papa Francisco e têm contato com o Santo Padre com frequência.

Um deles é o Cardeal Dom Ray-mundo Damasceno Assis, Arcebispo da Arquidiocese de Aparecida, que participou do Conclave que elegeu Francisco e do Sínodo da Família, como um dos Presidentes-Delegados.

E O MUNICIPIO foi recebido por Dom Damasceno em sua residência, no Seminário Bom Jesus, em Apare-cida, para uma entrevista.

Simpático, o religioso falou sobre como é o Papa, sobre o Ano da Mi-sericórdia e de assuntos polêmicos, como a Segunda União.

O PAPAO primeiro assunto abordado por

Dom Damasceno foi a vida do Papa e suas características. O religioso res-salta que Francisco, desde o começo, mostrou-se uma pessoa simples, uma pessoa muito despojada. “Aquilo que ele vivia como Cardeal em Buenos Aires ele continua vivendo como Papa”.

E afirma que há uma coerência muito grande entre o discurso e a prá-tica do Papa. “Os seus gestos compro-vam as suas palavras. Ele fala de uma vida despojada, de uma vida simples, de uma Igreja pobre, de uma Igreja para os pobres e sua vida é coerente com este discurso”, diz.

E um exemplo dado pelo Arcebispo de Aparecida que demonstra esta con-

Há uma coerência muito grande entre o discurso e a prática do Papa, diz Dom Damasceno

dição de vida do Papa é exatamente onde Francisco escolheu para morar. Segundo Dom Damasceno, Francis-co vive, desde o início do seu Ponti-ficado, na Casa Santa Marta, onde se hospedam algumas pessoas que traba-lham no Vaticano, mas é também uma casa de hospedagem onde passam Cardeais, Bispos, Padres e até leigos. “Eu mesmo sempre que vou a Roma me hospedo lá. E entre os hospedes mais ilustres está o Papa, desde o início. Você o encontra quando sobe no elevador, quando desce no eleva-dor. Às vezes, na sala, na recepção de Santa Marta, conversa, saúda”.

Dom Damasceno conta que no começo causou certa estranheza esta escolha, pois todos estavam acostu-mados a encontrar o Papa no Palácio Apostólico. “Então o Papa Francisco tem essa simplicidade, geralmente está no almoço no horário que os vi-sitantes também estão. Ele se apro-xima das pessoas, muito próximo do povo. Como diz o Papa, o padre deve sentir o cheiro das suas ovelhas. Ele quer dizer que o padre tem que estar no meio do povo, ele é pastor. E o modelo de pastor é Jesus Cristo, que viveu sempre no meio do povo e com carinho especial com as pessoas mais sofridas. Se o padre quer ser pastor verdadeiro ele tem que estar junto ao seu povo. E creio que essa é uma marca do pontificado de Francisco”.

E outra qualidade que Dom Damas-ceno atribui ao Papa é que, segundo ele, Francisco tem se revelado uma

exemplo, quantas mortes por violên-cia. E, na maioria das vezes, as víti-mas são jovens. Estamos, assim, com-prometendo o futuro do nosso país, que são eles. Essas vidas estão sendo ceifadas” aponta.

Diante deste cenário, Dom Damas-ceno fala que o Papa quer que todos coloquem no centro da vida cristã a misericórdia. “E isso se manifesta nas palavras, nas ações, nos gestos, em toda a pessoa de Jesus. Ele é o rosto da misericórdia do Pai, como o Papa diz em sua Bula de promulgação do Ju-bileu Extraordinário da Misericórdia. De modo que aquele que quer seguir a Jesus Cristo tem que viver a miseri-córdia”.

E o Cardeal explica que viver a mise-ricórdia é viver a solidariedade, é saber perdoar, é procurar lutar para defen-der a vida, primeiro direito da pessoa humana, é trabalhar por um mundo cada vez mais juto e fraterno. “Se nós somos objetos da misericórdia, porque também não sermos misericordiosos uns para com os outros?”. É o convite do lema do Jubileu: “Sede misericor-diosos como o Pai” (Lc 6,36).

E todas as iniciativas do Papa Fran-cisco em relação ao Ano da Misericór-dia, de acordo com Dom Damasceno, visam acolher a pessoa, não excluir ninguém do amor de Deus. “Só não experimenta desse amor quem não quer. A misericórdia está ai em abun-dância. Como diz o Papa, a Igreja está escancarando as portas da misericór-dia para quem quiser se aproximar do perdão de Deus”.

E sugere que, uma vez tendo feita essa experiência, procurar relacionar-se com as pessoas do seu dia a dia, começando pela família, em atitude de misericórdia, de perdão, de amor, de aceitação do outro que é diferente, de abertura ao diálogo e de ser construtor da paz. “Mas só pode construir a paz quem tem a paz consigo. Então é um convite a eliminar, de nosso coração, toda forma de ódio, de violência, de inveja, de ciúmes, de desejo de vin-gança”.

SÍNODO DA FAMÍLIAO Arcebispo de Aparecida diz que o

Sínodo da Família já foi um sinal an-tecipado do Ano da Misericórdia, que teve como objetivo principal tratar da vocação e da missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo.

“Mas, quando você trata da família não podemos esquecer certas questões que também se referem a ela. E entre essas questões está o número crescen-te de divórcios, de separações, de pes-soas que vivem maritalmente, chama-das uniões de fato, mas sem nenhum vínculo civil, nem canônico”, explica Dom Damasceno, que afirma que o Papa quer acolher a todos.

“E o Papa coloca a misericórdia como centro da mensagem cristã. Deus amou tanto o mundo que enviou seu Filho para dar a sua vida por nós, não para condenar o mundo. Então, dentro deste espírito, a Igreja também quer se aproximar dessas pessoas, aju-dá-las nessa situação nova que estão vivendo. Tanto àqueles que vivem uma união de fato, sem nenhum víncu-lo canônico, mostrando-lhes a beleza do matrimônio e a importância da graça do sacramento, quanto àqueles que contraíram uma segunda união, o Papa quer que se sintam integrados e acolhidos na comunidade eclesial e não abandonados pela Igreja”, expli-ca.

Dom Damasceno conta que muitas pessoas que fracassam em uma pri-meira união e contraem uma segun-da união vivem angustiadas. “Mas,

muitas vezes são felizes nessa se-gunda união e a vivem até o fim, com toda fidelidade, seriedade, com responsabilidade para com os filhos que vierem a ter nesta segunda união e com aqueles da primeira. Pessoas que participam da vida da comuni-dade, muitos deles são dizimistas, participam da missa aos domingos, ajudam em obras sociais. Estão lá e se alimentam espiritualmente, ainda que não da confissão e nem da comu-nhão, mas se alimentam da palavra de Deus, da oração pessoal, de outras práticas religiosas e do testemunho de fé da comunidade”

Portanto, o Cardeal afirma que cada caso é um caso, e por isso não se pode estabelecer normas comuns, gerais para todos os casais que vivem em situações especiais. Esses casais, conforme a situação, devem ser acompanhados por um confessor, um diretor espiritual durante um perío-do, para chegar a um discernimento diante de Deus e de sua consciência se, de fato, aquele casamento que eles contraíram na primeira união foi válido ou não.

E o religioso finaliza destacando duas palavras-chave do Documento final do Sínodo: acolhida e discerni-mento. “O importante é que ninguém se sinta excluído, condenado, exco-mungado da Igreja por pior que seja seu pecado do ponto de vista moral. Sempre tem chance de recomeçar a sua vida, de ser perdoado e retomar o caminho do seguimento de Cristo”.

autoridade moral respeitada por lí-deres políticos e líderes religiosos em todo o mundo. “Tem contribuído muito pela paz no mundo, pelo en-tendimento entre os povos. Ele, por exemplo, foi, sem dúvida nenhuma, muito importante no restabelecimen-to das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos”.

Dom Damasceno confidenciou uma situação que demonstra ainda mais a humildade de Francisco e a sua neces-sidade de estar próximo do povo. “O Papa é uma pessoa de gestos muitos simples e mostrou isso também quando veio ao Brasil. Uma cena muito interessante é que quando ele chegou aqui no Rio de Janeiro, ainda no avião, ele perguntou se o carro que ele usaria era blindado e responderam que sim. E ele disse que não desceria enquanto não tivesse um carro não blindado. Então essa é a aproximação do Papa com as pessoas, sem medo”.

O ANO DAMISERICóRDIA

O MUNICIPIO perguntou ao Ar-cebispo de Aparecida qual a mensa-gem que o Papa quer passar com o Ano Santo e o por quê “Ano da Mi-sericórdia”.

“O Papa quer colocar no centro deste Ano da Misericórdia, como o próprio nome está dizendo, a miseri-córdia de Deus. Deseja que cada um dos cristãos, todas as pessoas façam esta experiência da misericórdia de Deus. Deus, como definiu São João em sua carta, é Amor (1 Jo 4,8). E ao fazer esta experiência do amor de Deus, da misericórdia de Deus, da bondade de Deus, nós devemos também ser testemunhas desta mise-ricórdia no mundo de hoje, nas nossas relações com as demais pessoas”, ex-plica.

Questionado se a decisão pelo Ano da Misericórdia tem a ver com o mundo conturbado de hoje, Dom Damasceno afirma que sim.“Vivemos num mundo marcado pela violência. Presenciamos guerras na Síria, no

Iraque e em alguns países da África. O Papa Francisco chegou a afirmar que vivemos uma terceira guerra mundial,

embora regional, mas que envolve vários países. Sem falar na violência no dia a dia da vida. No Brasil, por

Dom Damasceno falou ao O MUNICIPIO sobre o Papa e divertos outros temas

O Papa quer que se sintam integrados e acolhidos e não exco-mungados pela Igreja

O Papa quer colocar no centro deste Ano a misericórdia de Deus

Aquilo que ele vivia como Cardeal em Buenos Aires ele continua vivendo

Tem contribuído muito pela paz no mundo, pelo entendi-mento entre os povos

Wesley Colpani – 11/12/2015 (Aparecida/SP)

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 12 Pág. 13

No Brasil, alguns religiosos são de extrema confiança do Papa Francisco e têm contato com o Santo Padre com frequência.

Um deles é o Cardeal Dom Ray-mundo Damasceno Assis, Arcebispo da Arquidiocese de Aparecida, que participou do Conclave que elegeu Francisco e do Sínodo da Família, como um dos Presidentes-Delegados.

E O MUNICIPIO foi recebido por Dom Damasceno em sua residência, no Seminário Bom Jesus, em Apare-cida, para uma entrevista.

Simpático, o religioso falou sobre como é o Papa, sobre o Ano da Mi-sericórdia e de assuntos polêmicos, como a Segunda União.

O PAPAO primeiro assunto abordado por

Dom Damasceno foi a vida do Papa e suas características. O religioso res-salta que Francisco, desde o começo, mostrou-se uma pessoa simples, uma pessoa muito despojada. “Aquilo que ele vivia como Cardeal em Buenos Aires ele continua vivendo como Papa”.

E afirma que há uma coerência muito grande entre o discurso e a prá-tica do Papa. “Os seus gestos compro-vam as suas palavras. Ele fala de uma vida despojada, de uma vida simples, de uma Igreja pobre, de uma Igreja para os pobres e sua vida é coerente com este discurso”, diz.

E um exemplo dado pelo Arcebispo de Aparecida que demonstra esta con-

Há uma coerência muito grande entre o discurso e a prática do Papa, diz Dom Damasceno

dição de vida do Papa é exatamente onde Francisco escolheu para morar. Segundo Dom Damasceno, Francis-co vive, desde o início do seu Ponti-ficado, na Casa Santa Marta, onde se hospedam algumas pessoas que traba-lham no Vaticano, mas é também uma casa de hospedagem onde passam Cardeais, Bispos, Padres e até leigos. “Eu mesmo sempre que vou a Roma me hospedo lá. E entre os hospedes mais ilustres está o Papa, desde o início. Você o encontra quando sobe no elevador, quando desce no eleva-dor. Às vezes, na sala, na recepção de Santa Marta, conversa, saúda”.

Dom Damasceno conta que no começo causou certa estranheza esta escolha, pois todos estavam acostu-mados a encontrar o Papa no Palácio Apostólico. “Então o Papa Francisco tem essa simplicidade, geralmente está no almoço no horário que os vi-sitantes também estão. Ele se apro-xima das pessoas, muito próximo do povo. Como diz o Papa, o padre deve sentir o cheiro das suas ovelhas. Ele quer dizer que o padre tem que estar no meio do povo, ele é pastor. E o modelo de pastor é Jesus Cristo, que viveu sempre no meio do povo e com carinho especial com as pessoas mais sofridas. Se o padre quer ser pastor verdadeiro ele tem que estar junto ao seu povo. E creio que essa é uma marca do pontificado de Francisco”.

E outra qualidade que Dom Damas-ceno atribui ao Papa é que, segundo ele, Francisco tem se revelado uma

exemplo, quantas mortes por violên-cia. E, na maioria das vezes, as víti-mas são jovens. Estamos, assim, com-prometendo o futuro do nosso país, que são eles. Essas vidas estão sendo ceifadas” aponta.

Diante deste cenário, Dom Damas-ceno fala que o Papa quer que todos coloquem no centro da vida cristã a misericórdia. “E isso se manifesta nas palavras, nas ações, nos gestos, em toda a pessoa de Jesus. Ele é o rosto da misericórdia do Pai, como o Papa diz em sua Bula de promulgação do Ju-bileu Extraordinário da Misericórdia. De modo que aquele que quer seguir a Jesus Cristo tem que viver a miseri-córdia”.

E o Cardeal explica que viver a mise-ricórdia é viver a solidariedade, é saber perdoar, é procurar lutar para defen-der a vida, primeiro direito da pessoa humana, é trabalhar por um mundo cada vez mais juto e fraterno. “Se nós somos objetos da misericórdia, porque também não sermos misericordiosos uns para com os outros?”. É o convite do lema do Jubileu: “Sede misericor-diosos como o Pai” (Lc 6,36).

E todas as iniciativas do Papa Fran-cisco em relação ao Ano da Misericór-dia, de acordo com Dom Damasceno, visam acolher a pessoa, não excluir ninguém do amor de Deus. “Só não experimenta desse amor quem não quer. A misericórdia está ai em abun-dância. Como diz o Papa, a Igreja está escancarando as portas da misericór-dia para quem quiser se aproximar do perdão de Deus”.

E sugere que, uma vez tendo feita essa experiência, procurar relacionar-se com as pessoas do seu dia a dia, começando pela família, em atitude de misericórdia, de perdão, de amor, de aceitação do outro que é diferente, de abertura ao diálogo e de ser construtor da paz. “Mas só pode construir a paz quem tem a paz consigo. Então é um convite a eliminar, de nosso coração, toda forma de ódio, de violência, de inveja, de ciúmes, de desejo de vin-gança”.

SÍNODO DA FAMÍLIAO Arcebispo de Aparecida diz que o

Sínodo da Família já foi um sinal an-tecipado do Ano da Misericórdia, que teve como objetivo principal tratar da vocação e da missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo.

“Mas, quando você trata da família não podemos esquecer certas questões que também se referem a ela. E entre essas questões está o número crescen-te de divórcios, de separações, de pes-soas que vivem maritalmente, chama-das uniões de fato, mas sem nenhum vínculo civil, nem canônico”, explica Dom Damasceno, que afirma que o Papa quer acolher a todos.

“E o Papa coloca a misericórdia como centro da mensagem cristã. Deus amou tanto o mundo que enviou seu Filho para dar a sua vida por nós, não para condenar o mundo. Então, dentro deste espírito, a Igreja também quer se aproximar dessas pessoas, aju-dá-las nessa situação nova que estão vivendo. Tanto àqueles que vivem uma união de fato, sem nenhum víncu-lo canônico, mostrando-lhes a beleza do matrimônio e a importância da graça do sacramento, quanto àqueles que contraíram uma segunda união, o Papa quer que se sintam integrados e acolhidos na comunidade eclesial e não abandonados pela Igreja”, expli-ca.

Dom Damasceno conta que muitas pessoas que fracassam em uma pri-meira união e contraem uma segun-da união vivem angustiadas. “Mas,

muitas vezes são felizes nessa se-gunda união e a vivem até o fim, com toda fidelidade, seriedade, com responsabilidade para com os filhos que vierem a ter nesta segunda união e com aqueles da primeira. Pessoas que participam da vida da comuni-dade, muitos deles são dizimistas, participam da missa aos domingos, ajudam em obras sociais. Estão lá e se alimentam espiritualmente, ainda que não da confissão e nem da comu-nhão, mas se alimentam da palavra de Deus, da oração pessoal, de outras práticas religiosas e do testemunho de fé da comunidade”

Portanto, o Cardeal afirma que cada caso é um caso, e por isso não se pode estabelecer normas comuns, gerais para todos os casais que vivem em situações especiais. Esses casais, conforme a situação, devem ser acompanhados por um confessor, um diretor espiritual durante um perío-do, para chegar a um discernimento diante de Deus e de sua consciência se, de fato, aquele casamento que eles contraíram na primeira união foi válido ou não.

E o religioso finaliza destacando duas palavras-chave do Documento final do Sínodo: acolhida e discerni-mento. “O importante é que ninguém se sinta excluído, condenado, exco-mungado da Igreja por pior que seja seu pecado do ponto de vista moral. Sempre tem chance de recomeçar a sua vida, de ser perdoado e retomar o caminho do seguimento de Cristo”.

autoridade moral respeitada por lí-deres políticos e líderes religiosos em todo o mundo. “Tem contribuído muito pela paz no mundo, pelo en-tendimento entre os povos. Ele, por exemplo, foi, sem dúvida nenhuma, muito importante no restabelecimen-to das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos”.

Dom Damasceno confidenciou uma situação que demonstra ainda mais a humildade de Francisco e a sua neces-sidade de estar próximo do povo. “O Papa é uma pessoa de gestos muitos simples e mostrou isso também quando veio ao Brasil. Uma cena muito interessante é que quando ele chegou aqui no Rio de Janeiro, ainda no avião, ele perguntou se o carro que ele usaria era blindado e responderam que sim. E ele disse que não desceria enquanto não tivesse um carro não blindado. Então essa é a aproximação do Papa com as pessoas, sem medo”.

O ANO DAMISERICóRDIA

O MUNICIPIO perguntou ao Ar-cebispo de Aparecida qual a mensa-gem que o Papa quer passar com o Ano Santo e o por quê “Ano da Mi-sericórdia”.

“O Papa quer colocar no centro deste Ano da Misericórdia, como o próprio nome está dizendo, a miseri-córdia de Deus. Deseja que cada um dos cristãos, todas as pessoas façam esta experiência da misericórdia de Deus. Deus, como definiu São João em sua carta, é Amor (1 Jo 4,8). E ao fazer esta experiência do amor de Deus, da misericórdia de Deus, da bondade de Deus, nós devemos também ser testemunhas desta mise-ricórdia no mundo de hoje, nas nossas relações com as demais pessoas”, ex-plica.

Questionado se a decisão pelo Ano da Misericórdia tem a ver com o mundo conturbado de hoje, Dom Damasceno afirma que sim.“Vivemos num mundo marcado pela violência. Presenciamos guerras na Síria, no

Iraque e em alguns países da África. O Papa Francisco chegou a afirmar que vivemos uma terceira guerra mundial,

embora regional, mas que envolve vários países. Sem falar na violência no dia a dia da vida. No Brasil, por

Dom Damasceno falou ao O MUNICIPIO sobre o Papa e divertos outros temas

O Papa quer que se sintam integrados e acolhidos e não exco-mungados pela Igreja

O Papa quer colocar no centro deste Ano a misericórdia de Deus

Aquilo que ele vivia como Cardeal em Buenos Aires ele continua vivendo

Tem contribuído muito pela paz no mundo, pelo entendi-mento entre os povos

Wesley Colpani – 11/12/2015 (Aparecida/SP)

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 14 Pág. 11

O Papa Francisco anunciou a celebra-ção de um Jubileu da Misericórdia, um Ano Santo da Misericórdia, que come-çou no último dia 8 de dezembro, com a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro durante a solenidade da Ima-culada Conceição e terminará em 20 de novembro de 2016.

O último Jubileu da Igreja foi procla-mado pelo Papa São João Paulo II para comemorar os 2000 anos do nascimen-to de Cristo.

Depois da proclamação deste evento muitos se perguntam: O que é um jubi-leu? E um ano santo?

A celebração do jubileu se origina no judaísmo. Consistia em uma come-moração de um ano sabático que tinha um significado particular. Esta festa se realizava a cada 50 anos.

Durante o ano os escravos eram li-bertados, restituíam-se as proprieda-des às pessoas que as haviam perdi-do, perdoavam-se as dívidas, as terras deviam permanecer sem cultivar e se descansava.

O que é um Jubileu e um Ano Santo?

Na Bíblia encontramos algumas passagens nas quais se menciona a ce-lebração judaica. Talvez a mais impor-tante se encontre no Levítico (Lv 25,8).

A palavra jubileu se inspira no termo hebreu de yobel, que faz alusão ao chifre do cordeiro que servia como ins-trumento. Jubileu também tem uma raiz latina, iubilum que representa um grito de alegria.

Na tradição católica, o Jubileu con-siste em que durante 1 ano se concedem indulgências aos fiéis que cumprem certas disposições eclesiais estabeleci-

Por que Francisco?

das pelo Vaticano. O Jubileu pode ser ordinário ou extraordinário. A celebra-ção do Ano Santo Ordinário acontece em um intervalo de anos já estabeleci-do. Já o Ano Santo Extraordinário se proclama como celebração de um fato destacado.

A Igreja Católica tomou como influ-ência o jubileu hebraico e lhe deu um sentido mais espiritual. Nesse ano se dá um perdão geral, indulgências e se faz um chamado a aprofundar a rela-ção com Deus e com o próximo. Por isso, cada Ano Santo é uma oportuni-

dade para alimentar a fé e renovar o compromisso de ser um testemunho de Cristo. Também é um convite à conversão.

O Jubileu proclamado pelo Papa Francisco é um Ano Santo Extraordi-nário.

O primeiro ano jubilar foi convo-cado em 1300 pelo Papa Bonifácio VIII. Estabeleceu-se que os seguintes jubileus se comemorassem a cada 25 anos, com o objetivo de que cada ge-ração experimente pelo menos um em sua vida.

O rito inicial do Jubileu começa com a abertura da Porta Santa da Ba-sílica de São Pedro. Esta porta só se abre durante um Ano Santo. A aber-tura da porta significa que se abre um caminho extraordinário para a sal-vação. O Papa toca a porta com um martelo 3 vezes enquanto diz: “Aperi-te mihi leva justitiae, ingressus in eas confitebor Domino” - “Abram-me as portas da justiça; entrando por elas confessarei ao Senhor”.

A escolha do nome Francisco foi para homenagear o Santo de Assis e a escolha teve p a r t i c i p a ç ã o de um brasilei-ro. Logo após o anúncio de que estava eleito, Ber-goglio teve pouco tempo para escolher seu nome de pontificado.

E Francisco acabou revelando que recebeu uma ajuda do amigo e cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes para escolher o nome, o qual estava sentado ao lado de Bergoglio durante o Conclave.

Quando percebeu que a votação já havia atingido os 2/3 necessários para eleger o Papa, Hummes foi o primeiro a cumprimentar Ber-goglio.

“Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me: ‘Não te esqueças dos pobres!’. E aquela pa-lavra gravou-se-me na cabeça: os pobres, os pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis. Em seguida, pensei nas guerras, enquanto continuava o escrutínio até contar todos

os votos. Francis-co é o homem

da paz. E assim surgiu o nome no meu cora-ção: Francis-co de Assis”, contou o Papa na pri-

meira audiên-cia que teve com

jornalistas.

SãO FRANCISCO DE ASSISSão Francisco de Assis nasceu na cidade

de Assis, na Itália, no dia 5 de julho de 1182. Filho de um rico comerciante recebeu educa-ção voltada para os negócios, mas, ouvindo um chamado de Cristo que dizia: “Vá, Fran-cisco e restaure minha casa”, entrega-se ao serviço de Deus e dos mais necessitados. Faz voto de pobreza e começa a pregar sua doutrina, renunciando qualquer forma de propriedade, recusando mesmo ter uma igreja, vivendo das doações que recebe.

São Francisco de Assis morre em Assis, Itália, no dia 3 de outubro de 1226. Dois anos depois de sua morte, é canonizado pelo papa Gregório IX.

Na primeira aparição de Francisco, Dom Cláudio Hummes está junto O Papa escolheu seu nome inspirado em São Francisco de Assis

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 10 Pág. 15

O brasão do Papa Francisco contém a mensagem ‘Miserando atque eligen-do’, que significa ‘Com misericórdia o chamou’.

Do escudo utilizado desde que era bispo, o brasão Papal foi enriquecido com alguns símbolos.

O escudo azul é coberto por símbo-los da dignidade pontifícia: mitra po-sicionada entre chaves de ouro e prata entrecruzadas, unidas por um cordão vermelho.

O logotipo da ordem religiosa que pertence o Papa, a Companhia de Jesus, aparece em destaque no alto do escudo.

O logotipo da ordem é composto de um sol radiante e flamejante carregado com as letras, em vermelho, IHS, mo-

O Brasão de Francisco

Sanjoanenses e o Em São João da Boa Vista dois em-

presários têm histórias interessantes relacionadas ao Papa Francisco. Entre eles, algo em comum: ambos são em-presários no ramo religioso católico.

Luiz Fernando de Abreu Ribeiro é nograma de Cristo. A letra H é coberta por uma cruz em ponta e três pregos em preto.

IHS é a abreviação do nome de Jesus em grego ou da escrita latina do nome como se usava na Idade Média: Ihesus.

Abaixo, encontram-se a estrela e a flor de nardo. A estrela, de acordo com a antiga tradição aráldica, simboliza a Virgem Maria, mãe de Cristo e da Igreja; enquanto a flor de nardo indica São José, patrono da Igreja.

Na tradição da iconografia hispâni-ca, de fato, São José é representado com um ramo de nardo nas mãos. Co-locando no seu escudo tais imagens, o Papa pretendeu exprimir a própria particular devoção à Virgem Santíssi-ma e São José.

proprietário da Clero Brasil e comer-cializa centenas de produtos católicos. Já Martinho Rocha é dono da Milagros Incensos de Resina.

Outra coisa em comum entre eles? Os dois já se encontraram com o Papa Francisco!

SOLIDéU Luiz Fernando já teve alguns encontros com o

Papa e em todos eles conseguiu um feito: trocar o solidéu (pequena boina branca usada na cabeça) com Francisco.

Em dezembro de 2014 e em março deste ano o em-presário sanjoanense esteve no Vaticano e conseguiu ter acesso a uma área bastante restrita, onde o Papa passa e as pessoas conseguem conversar e tocar no Santo Padre.

Nestas duas ocasiões, Luiz Fernando levou do Brasil um solidéu branco, semelhante ao do Papa, e conseguiu trocar com Francisco. As duas vezes que pediu ao Santo Padre a troca foi atendido de ime-diato. Luiz conta que levou um solidéu aqui de São

João da Boa Vista e pretendia trocar com Francisco, mas não imaginava que estaria tão perto. “Quando ele chegou e nos cumprimentou eu perguntei a ele se podia lhe fazer um pedido e ele disse que sim. Ai pedi que trocasse o solidéu dele comigo. Ele pronta-mente retirou o dele da cabeça, pegou o meu e mediu para ver se era do mesmo tamanho. Ai ele trocou”, explica Luiz.

E a família do empresário conseguiu outro feito no mês de junho deste ano. Os seus filhos Arthur, de 6 anos e Luis Fernando, de 11, também estiveram no Vaticano e conseguiram trocar o solidéu pelo do Papa.

Agora, a família já acumula 4 solidéus de Francis-co, os quais possuem valor inestimável.

Luiz Fernando e os filhos conseguiram trocar o solidéu com Francisco

Papa

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 16 Pág. 9

No ano de 2013, em 13 de março, o mundo conhecia o Papa sucessor de Bento XVI, que renunciou ao cargo.

Os muitos nomes favoritos deram lugar ao Cardeal Jorge Mario Bergo-glio, argentino e então Arcebispo de Buenos Aires, o qual escolheu o nome Francisco.

A vida religiosa

INCENSOO empresário Martinho Rocha da

Silva jamais pensou que o incenso que decidiu produzir pudesse ganhar fama mundial. Muito menos que ele poderia ser usado pelo Papa.

E é exatamente isso que aconteceu com a empresa sanjoanense Milagros Incensos de Resina. O produto criado e produzido por Martinho vem sendo utilizado oficialmente pelo Vaticano há alguns anos.

Mas, Martinho decidiu criar o Incen-so “Misericordiae”, criado especial-mente para o Jubileu Extraordinário aberto pelo Papa.

O incenso “Misericordiae” faz parte de um projeto internacional da Mila-

A tRAjEtóRIA O Papa Francisco nasceu em Buenos

Aires, capital da Argentina, no dia 17 de dezembro de 1936.

Assumiu a missão de Papa da Igreja Católica aos 76 anos e foi o primeiro latino-americano a ocupar este posto.

É sacerdote da Companhia de Jesus, conhecidos como Jesuítas e desde 1998 ocupava a função de Arcebispo de Buenos Aires.

Estudou e se diplomou como técni-co químico. Ingressou no seminário de Villa Devoto em 11 de março de 1958

e começou o noviciado na Ordem dos Jesuítas.

Em 1960, obteve a licenciatura em Filosofia no Colégio Máximo São José, em San Miguel. De 1967 a 1970 cursou Teologia no Colégio Máximo de San Miguel.

Foi ordenado sacerdote no dia 13 de dezembro de 1969, pelas mãos de Dom Ramón José Castellano.

Foi ordenado bispo no dia 27 de junho de 1992, pelas mãos de Dom Antonio Quarracino, Dom Mario José Serra e Dom Eduardo Vicente Mirás.

Foi criado Cardeal no consistório de 21 de fevereiro de 2001, presidido por João Paulo II, recebendo o título de cardeal-presbítero de São Roberto Bellarmino.

Na Santa Sé ocupou diversos cargos: membro da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sa-cramentos, da Congregação para o Clero, da Congregação para os Insti-tutos de Vida Consagrada e Socieda-des de Vida Apostólica; do Pontifício Conselho para a Família e da Pontifí-cia Comissão para a América Latina.

Nascido em 1936, em Buenos Aires, Bergoglio é Jesuíta e o primeiro latino-americano a se tornar PapaMartinho Rocha conversa com o Papa no VaticanoJosé Tomás Faria Villela é abençoado pelo Papa, em maio deste ano

Sanjoanenses e o

Papagros para motivar orações em prol do Papa. “A ideia é que cada sacerdote, ao celebrar utilizando este incenso, faça orações por Francisco, como ele sempre pede. Temos acompanhado a situação do mundo, as ameaças e pressões que o rodeiam e consideramos isso muito importante”, disse Martinho.

E o que Martinho talvez não espe-rava é que seria convidado a entregar o produto diretamente a Francisco em uma audiência no Vaticano. O encon-tro aconteceu no dia 9 de dezembro deste ano. “Eu tenho os meus sonhos. Porém, os planos de Deus são outros. E os planos do Altíssimo são melhores e sempre superam as nossas maiores expectativas”, comemora.

Mais uma família sanjoanense tem uma história marcante com o Papa Francisco. Luis Otávio Lombardi Villela e Rosária Henrique de Faria Villela, membros do Caminho Neoca-tecumenal na Paróquia do Rosário, es-tavam levando o 12º filho para ser ba-tizado na Terra Santa, no Rio Jordão. Isso mesmo: o casal possui 12 filhos.

Mas, o casal decidiu passar por Roma antes. Logo pela manhã do dia 13 de maio de 2015, Luis e Rosária foram visitar o Vaticano e, para a sur-presa do casal, era dia de Audiência do Papa, a qual é realizada na Praça de São Pedro e aberta ao Público.

Como chegaram cedo conseguiram ficar bem perto da grade e, o que jamais imaginaram, aconteceu. O Papa veio com seu veículo bem próximo e Rosá-

ria ergueu o pequeno José Tomás Faria Villela e um dos seguranças pegou o menino e o entregou a Francisco, que beijou a testa e abençoou o recém nas-cido sanjoanense.

Luis Otávio lembra que era Dia de Nossa Senhora de Fátima e recorda da emoção daquele dia. “Foi por acaso, não sabíamos que teria audiência. Estáva-mos indo para a Terra Santa e decidimos passar por Roma e fomos lá para receber a benção do Papa. Quando tudo aconte-ceu foi uma choradeira só”, conta.

E Luis disse que sentiu que Francis-co faz isso com muito gosto, de cora-ção. “Ele é um Papa muito disponível”.

Após receber a benção do Papa, José Tomás seguiu para a Terra Santa e no dia 20 de maio deste ano foi batizado no Rio Jordão.

Um beijo que ficará para a História

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 8 Pág. 17

Comércio popular ganha força com eleição do

Papa Argentino“Deus não pertence a nenhum povo”

“Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados”

“Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!”

“A paz é um bem que supera qualquer barreira, porque é um bem de toda a humanidade”

“Ninguém vence sozinho, nem no campo, nem na vida!”

“Cuidemos do nosso coração porque é de lá, que sai o que é bom e ruim, o que constrói e destrói”

“Não há necessidade de consultar um psicólogo para saber que quando você denigre o outro é porque você mesmo não consegue crescer e precisa que o outro seja rebaixado para você se sentir alguém”

“Vivemos na religião mais desigual do mundo”

“Se engana quem acha que a riqueza e o status atraem inveja...as pessoas invejam mesmo é o Sor-riso fácil, a Luz própria, a Felicidade simples e sincera e a Paz interior”

“Deus não cansa de perdoar, nós é quem cansamos de pedir perdão”

“Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso cora-ção: por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta”

“Deus usa de tanta misericórdia conosco. Aprendamos também nós a usar de misericórdia com os outros, especialmente aqueles que sofrem”

“Se queremos seguir Cristo de perto, não podemos procurar uma vida cômoda e tranquila. Será uma vida empenhada, mas cheia de alegria”

“Estamos irritados com alguém? Rezemos por essa pessoa. Isto é amor cristão”

“Que a Igreja seja sempre lugar de misericórdia e esperança, onde cada um se possa sentir acolhido, amado e perdoado”

“Sempre que possível, dê um sorriso a um estranho na rua. Pode ser o único gesto de amor que ele verá no dia”

“Como seria belo se cada um de vós pudesse, ao fim do dia, dizer: hoje realizei um gesto de amor pelos outros!”

Frases de Francisco

No centro de Buenos Aires poucos artigos são vistos sobre o Papa Fran-cisco. No entanto, em bairros mais po-pulares como, por exemplo, La Boca, o comércio está recheado de produtos em alusão ao Pontífice.

São chaveiros, calendários, fotos, es-tatuetas, colantes, broches, entre outros produtos sobre o Papa Francisco, mis-turados aos de ícones e ídolos argenti-nos como o ex-jogador Diego Arman-do Maradona e da atriz e líder política Eva Perón.

Nas fotos à venda, em sua maioria, Jorge Mario Bergoglio está com sua característica veste papal, sorrindo e com a mão direita estendida em sauda-ção. Em broches, colantes e calendá-rios, a imagem de Francisco é também semelhante a das fotografias comercia-lizadas.

Já as estatuetas são feitas de maneiras diferenciadas. Al-gumas apenas com o rosto sorridente do Papa Francisco. Outras com uma mescla de batina Papal e camisa da sele-ção argentina. E, por fim, algumas com a mão estendida em saudação. Em todas elas o sorriso marcante de Bergoglio é fator predominante.

Além dos artigos produzidos para comercialização, estatu-as com cerca de dois metros de altura também são encontra-das em La Boca. Estas para que os turistas e também os nati-vos possam posar para fotografias ao lado do Papa Francisco.

Estátuas como estas são vistas no tradicional Caminito, em locais como lojas e galerias. A movimentação ao redor da imagem do Papa é grande e para se tirar um retrato, em algumas vezes, tem-se que esperar alguns minutinhos.

Bonecos do Papa são vistos nas vitrines Turistas aproveitam para tirar fotos com estátua

No Caminito, em La Boca, imagens do Papa estão espalhadas por todos os lados Imagem do Papa é vendida ao lado de outros ícones

Fotos Franco Junior – 13/12/2015 (Buenos Aires)

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Turistas percorrem passos de Bergoglio em Buenos Aires

A pedido do povo argentino, logo após a eleição de Jorge Mario Bergo-glio foi idealizado o chamado Circuito Papal, em Buenos Aires.

Nesta tour é possível percorrer locais vividos pelo então cardeal e arcebispo da capital argentina antes de se tornar o Papa Francisco.

O roteiro é dividido em duas partes. A primeira tem início na Catedral Metro-politana, onde, desde 1998, Bergoglio cumpria atividades como Arcebispo de Buenos Aires.

No percurso deste primeiro trecho

ainda estão locais como o cabeleireiro e a banca de jornal do Papa, como fica-ram conhecidos. Na opção, é possível conhecer outras igrejas das redondezas, como a San Ignácio de Loyola - que leva o nome do fundador da ordem a qual Bergoglio pertence - e a Igreja San Francisco de Asís - que tem o mesmo nome escolhido por ele para simbolizar e guiar seu pontificado.

BAIRRO DE FLORESJá a segunda etapa do Circuito Papal

é realizada no bairro de Flores.

O início é na Basílica San José de Flores, local onde Bergoglio teve a revelação e optou pela vida religiosa, passa pelo Colégio Nuestra Señora de la Misericordia, onde em 1940 Fran-cisco recebeu a primeira comunhão, e segue para a antiga casa onde ele passou a infância.

Além disso, a poucos metros dali está a Plazoleta Herminia Brumana, onde

o menino Bergoglio jogava bola com outros garotos do bairro de Flores. Para terminar, o tour chega à Escuela Pedro António Cerviño, onde o Papa cursou o ensino primário, correspondente ao Ensino Fundamental no Brasil.

Dentre os pontos visitados neste percurso, está também o estádio do San Lorenzo, time do coração do Papa Francisco.

Basílica San José de Flores, onde Bergoglio optou pela vida religiosa

Nesta Barbearia, Bergoglio cortava cabelo mensalmenteCatedral Metropolitana é bastante visitada por turistas todos os dias

Casa onde Bergoglio viveu com a família, no Bairro das Flores

Fotos Reinaldo Benedetti – 14/12/2015 (Buenos Aires)

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 6 Pág. 19

Padre Toto: o missionário amigo de Francisco

Na mesma igreja em que Jorge Mario Bergoglio costumava celebrar missas para a comunidade de Barracas, o padre Toto Lorenzo continua a fazer o mesmo que o agora Papa Francisco: lotar de fieis a Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé.

A igreja é frequentada pela comuni-dade da Villa e responsável por reali-zar o papel de acolhimento do sofrido povo da periferia de Buenos Aires.

Durante a missa, Toto Lorenzo traduz o evangelho à realidade da população de Barracas, fato que o faz ser tratado como um membro da família por cada um dos frequentadores da Paróquia.

Já sem a batina, Toto se torna real-mente um familiar ao abraçar, beijar a mão e conversar com todos os fieis que vê pela frente.

Com isso, o sacerdote é o grande guia espiritual da comunidade. Ele celebra, aconselha, supervisiona programas so-ciais com crianças e continua a missão de evangelizar que Bergoglio fez por

tantos anos na periferia.“Somos uma igreja simples, muito

ligada aos projetos sociais. Nossa Pa-roquia foi fundada há 40 anos e fa-zemos um papel para unir o povo e fortalecer toda a nossa comunidade”, contou o padre.

BARRACAS E BERGOGLIOAntes de ser tornar Francisco, Bergo-

glio com frequência celebrava missas para comunidade e mantinha contato com a população local. Este papel foi considerado por Toto Lorenzo como de fundamental importância, pois ele “quebrou com a ‘hierarquia’ da igreja”.

“Nunca se espera que um arcebispo saia de uma igreja [no caso de Bergo-glio a Catedral Metropolitana] e venha até a comunidade. Ele fazia isso e rompeu essa barreira que na verdade não deveria existir. Estava com frequ-ência nas favelas, como por exemplo aqui, onde durante 15 anos, frequen-temente era visto em Barracas, cami-

nhando pela comunidade, conversan-do com o povo e se envolvendo com todos os projetos sociais realizados”, descreveu Toto Lorenzo.

Bergoglio sempre aparecia na co-munidade, mas em uma data especí-fica estava anualmente na Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé. Feriado nacional da Argentina, no dia 8 de dezembro é comemorado o Día de la Inmaculada Concepción (Dia da Imaculada Conceição). Nesta data, Bergoglio era quem celebrava a missa na igreja local de Barracas.

Por ter se tornado Papa em março de 2013, este é o terceiro ano consecutivo que Jorge Mario Bergoglio não esteve em Barracas em um 8 de dezembro.

Mesmo com a ausência física, Toto Lorenzo revela que, com frequência, Papa Francisco entra em contato via telefone para saber sobre a igreja e a comunidade em que leva no coração.

“Bergoglio está sempre em conta-to comigo. Mesmo distante, liga aqui na igreja, conversa comigo e pergunta tudo sobre os projetos sociais, a paro-quia, as pessoas. Ele tem um carinho enorme pelo povo de Barracas, assim como a população aqui tem por ele”, descreveu o padre missionário.

Uma visita do Papa Francisco à Villa deve ocorrer em 2016, quando está pre-vista sua ida ao seu país de origem. Será a primeira vez que Bergoglio voltará à Argentina após se tornar o Santo Padre.

Interior da Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé

Padre Toto, um missionário que recebe ligações de Francisco

Fotos Reinaldo Benedetti – 14/12/2015 (Buenos Aires)

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 20 Pág. 5

...uma foto repleta de saudadePAPA DO POVO

Três casas à frente da residência de Tofia Riquelme, fica localizada uma mercearia decorada com diversas fotos de Fran-cisco coladas em uma parede e também em uma geladeira. Bastante simpático, o proprietário, Oscar Orue, de 68 anos, não esconde o orgulho pelo Papa.

Ele conta que Bergoglio era bem dis-creto e agia normalmente como qualquer pessoa. Por diversas vezes, entrou em sua mercearia para comprar água. “Me recu-sava a cobrar, sempre dava de presente a água, mesmo ele insistindo que queria pagar”, relembrou o comerciante.

Orue se recorda com carinho e empolga-ção o dia 13 de março de 2013, data em que Bergoglio foi eleito, por meio do Con-clave, o sucessor de Pedro, o Papa Francis-co. “Foi uma festa aqui em Barracas, muita gente foi para as ruas para comemorar. Aqui em frente à igreja a festa foi maior ainda, parecia que nossa seleção tinha sido campeã mundial”, lembrou o comerciante, comparando a felicidade do povo com o futebol, paixão dos argentinos.

Villa de Barracas, favela pacificada na periferia de Buenos Aires

Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé, onde o então Cardeal Bergoglio sempre celebrava

Em frente à mercearia de Oscar Orue, do outro lado da rua, fica a quitanda de Jorge Santillan, de 71 anos. Improvisa-da na garagem da casa, o comércio é o meio de sustento de Jorge e também um dos locais frequentados por Bergoglio em suas idas à Barracas.

Perguntado sobre o Papa Francisco, Jorge sorri e empolgado afirma: “É o Papa do povo”.

“Me lembro das suas chegadas aqui à comunidade. Bergoglio vinha a pé e eu conseguia vê-lo a partir do momento em que ele virava a esquina. Nosso Papa sempre esteve e sei que está perto da gente até hoje”, disse Jorge, que contou ainda que sempre levava algumas frutas para o então arcebispo da cidade após a celebração das missas.

Fotos Reinaldo Benedetti – 14/12/2015 (Buenos Aires)

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 4 Pág. 21

Tofia Riquelme mostra foto do marido com o Cardeal Bergoglio

Oscar Orue diz que eleição de Bergoglio foi comemorada com festa Jorge Santillan afirma: “É o Papa do povo”

Distante dos grandes prédios e igre-jas com arquiteturas impactantes do centro de Buenos Aires, Barracas re-trata uma realidade diferente. O local conhecido na Argentina por Villa é uma favela pacificada, região extrema-mente pobre.

Em meio ao asfalto repleto de bura-cos, onde circulam carros e motos anti-gos e com pouca conservação, e casas simples, muitas com diversos tijolos irregulares e sem calçada, está locali-zada a Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé.

Sempre lotada, a singela igreja es-tampa logo em sua entrada em um cartaz uma foto de Jorge Mario Bergo-glio. Antes de ser eleito o Papa Fran-cisco, o então cardeal e arcebispo de Buenos Aires costumava periodica-mente celebrar missas no local. A pro-ximidade com a comunidade de Barra-cas fez com que os laços de admiração entre a população da Villa e Bergoglio se estreitassem.

Papa Francisco é tratado no local com status de herói de um povo ca-rente, repleto de problemas familiares e que convive em meio ao medo de

perder um ente querido por conta da dependência com drogas.

À procura de um morador que pos-suía uma foto com Bergoglio, eis que surge a senhora Tofia Riquelme, de 71 anos. Tofia lavava a empoeirada calça-da de sua casa, quando ao ver a apro-ximação da reportagem, sem se aca-nhar, disse: “Eu tenho uma foto com o Papa”.

Sem nem esperar uma resposta, a senhora Riquelme foi rapidamente até sua residência e voltou com a prome-tida foto. Na imagem, Bergoglio, en-quanto arcebispo, benzia Gavino Ruiz Dias, esposo de Tofia que faleceu há alguns anos.

Alegre por lembrar da presença de Bergoglio em Barracas e com lágrimas nos olhos pela recordação do marido, Tofia descreveu um pouco sobre a im-portância do agora Papa para a comu-nidade.

“Ele era muito humilde, caminhava de casa em casa apenas para saudar o povo. Simplicidade e humildade são características dele, o nosso Papa”, disse a orgulhosa conterrânea.

Sobre as visitas de Bergoglio ao

Orgulho, festa e ...

local, Tofia se recorda da maneira em que ele chegava até a igreja da Villa. “Nada de carros. Ele vinha a pé e me recordo de uma vez ele chegar de bi-cicleta. Ele gostava do contato com

a gente. É algo que ele continua a ter mesmo agora lá [no Vaticano], isso é uma característica desse homem que nos enche de orgulho, pois sabemos que ele é verdadeiro”, descreveu Tofia.

Fotos Reinaldo Benedetti – 14/12/2015 (Buenos Aires)

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 22 Pág. 3

Desde o dia 13 de março de 2013, quando o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio foi escolhido sucessor de Pedro com o nome de Francisco, o mundo se rendeu aos seus atos de hu-mildade.

E a simplicidade e a maneira humilde de viver não são características do Papa Francisco, mas sim a forma de vida es-colhida por Bergoglio.

A reportagem do O MUNICIPIO passou três dias em Buenos Aires (12, 13 e 14 de dezembro), capital da Ar-gentina e terra natal de Bergoglio, e chegou a uma constatação: Francisco é realmente o Papa do povo.

Milhares de turistas que chegam a Buenos Aires não deixam de passar pela Catedral Metropolitana da ca-pital, localizada ao lado da Casa Rosada (sede do governo Argentino) e onde o Cardeal Bergoglio era Ar-cebispo e celebrava. Todos querem conhecer os espaços onde vivia o re-ligioso e poder, de alguma forma, se sentir perto do Papa.

Mas, o que impressiona é que, fora da Catedral, na região central de Buenos Aires, inclusive ao redor da igreja onde ele vivia, pouco se ouve ou se vê sobre o Papa.

Ao andar por todo o centro, em res-taurantes, lojas, cafés etc, quase não se vê imagens ou se ouve falar do Pontífice. Nesta região o assunto é, quase sempre, política.

Ao lado da Catedral, ninguém sabe dar muitas informações de Bergoglio, o que muitas vezes acaba frustrando turistas que chegam em busca de co-nhecer mais sobre a vida do Papa.

Quer saber do então cardeal Bergo-glio? É preciso rumar para as perife-rias de Buenos Aires.

Apesar de ocupar o cargo de Ar-cebispo da capital argentina e ser a maior autoridade católica do país, Bergoglio gostava mesmo de estar entre os pobres, os oprimidos e os moradores de rua. Gostava do povo.

Não permanecia no conforto que a bela e imponente Catedral Metropo-litana lhe oferecia. Queria mesmo ir

aonde estavam os mais necessitados. E em busca de conhecer este trabalho

do religioso, através de uma fonte, O MUNICIPIO chegou à Barracas. Cha-mada de Villa pelos argentinos, o local é uma favela pacificada de Buenos Aires, região extremamente carente.

Logo na entrada percebe-se a mu-dança do visual, as construções sofis-

Francisco: o Papa do povo

ticadas dão espaço a casas irregulares, sujeira, água parada nas beiradas e carros bastante velhos pelas ruas.

E é exatamente entre estas pessoas mais simples que o Papa aparece como grande ídolo, como motivo de orgulho.

E não é para menos. O então Cardeal Bergoglio, contam os moradores, percor-ria a favela constantemente a pé ou, até

mesmo, de bicicleta. Lá ele visitava as casas e celebrava na Paróquia Virgen de los Milagros de Caacupé, por sinal bas-tante singela, improvisada em um barracão.

Portanto, o jeito humilde de ser e a con-vivência com os menos favorecidos são, na verdade, um estilo de vida que vem desde o início da sua caminhada sacerdotal.

Eis aqui Francisco: o Papa do povo.

Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo23 de dezembro de 201523 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo Pág. 2 Pág.23

Mais um Suplemento de Natal chega às mãos dos leitores do O MUNICIPIO, depois de dias e dias de preparação. Como sempre, o maior desafio é a escolha do tema, que, este ano, é o Papa Francisco e o Ano da Miseri-córdia.

A opção por este tema justifica-se pelo fato de o Natal ser uma data religiosa e o Papa ser,

atualmente, um dos líderes mais influentes e respeitados do mundo.

Francisco é um verdadeiro fenômeno, que leva multidões por onde passa. O jeito humilde e acolhedor o fazem ainda mais adorado pelas pessoas, em especial por aquela parcela mais pobre de todos os países que o conhecem.

Para produzir um material amplo, e com bastante conteúdo, o jornal buscou grandes histórias, entrevistas com religiosos próximos ao Papa e diversos aspectos da vida de Francisco. Neste Suplemento, você, leitor, conhecerá um pouco mais da vida religiosa de Jorge Mario Bergoglio, o significado do seu Brasão, a escolha do nome Francisco, a ligação com sanjoanenses, suas frases que marcaram a vida de muita gente pela singe-leza e carinho.

A reportagem do O MUNICIPIO esteve em Aparecida e o jornalista Reinaldo Benedetti conversou, por mais de uma hora, com o Cardeal Dom Raymundo Damasceno. O religioso brasileiro é um dos homens de con-fiança do Papa naquele país e participou do Conclave que elegeu Francis-co.

Os jornalistas Reinaldo Benedetti e Franco Junior foram, também, para Buenos Aires, onde permaneceram por três dias seguindo os passos do então Cardeal Bergoglio. E uma constatação destes dois profissionais na capital argentina deu título a este Suplemento Especial de Natal: Francisco é mesmo o Papa do povo.

Uma boa leitura a todos, com os nossos desejos de um Feliz Natal!

DIRETORJoaquim Cândidode Oliveira Neto

EDITOR-CHEFEReinaldo benedetti

MTb 50.557 – sP

DIAGRAMAÇãO E ARTEJuliano de souza

e Alex zaneli

REPORTAGENsReinaldo benedetti

e Franco Junior

EXPEDIENTE

AGRADECIMENTOKiko bueno

CVC Viagens e Turismo

Pág.24

ANO 109 DIRETOR JOAQUIM CÂNDIDO DE OLIVEIRA NETO sãO JOãO DA bOA VIsTA, 23 DE DEzEMbRO DE 2015

23 de dezembro de 2015Francisco: o Papa do Povo - Um Ano Santo