12
ENTRE O CONCRETO E O ABSTRATO: AS OBRAS DE ARMANDO DE HOLANDA CAVALCANTI COM ATHOS BULCÃO 1 BETWEEN THE CONCRETE AND THE ABSTRACT: THE WORKS OF ARMANDO DE HOLANDA CAVALCANTI WITH ATHOS BULCÃO Clarissa Carvalho e Silva Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pernambuco, UFPE [email protected] Adriana Freire de Oliveira Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pernambuco, UFPE [email protected] Guilah Naslavsky Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pernambuco, UFPE [email protected] RESUMO Das manifestações culturais modernas no Brasil, artes plásticas e arquitetura têm expressões ímpares. Nos anos 1930, quando o moderno começou a ter reconhecimento, o debate sobre modernidade nas artes integrava o abstracionismo geométrico. Na arquitetura, o Brasil se familiarizou com o modernismo europeu pelo intercâmbio de experiências, como na visita de Le Corbusier ao país em 1936, fato que seria destacado pela historiografia como momento de propagação da síntese das artes, incentivando a relação da arquitetura às artes plásticas e valorização de elementos regionais – o azulejo, tradição do período colonial brasileiro, passou a expressar a linguagem moderna. Em Pernambuco, exemplos dessas expressões estão situados no Parque Histórico Nacional dos Guararapes – PHNG (1975), resultantes da colaboração entre o arquiteto Armando de Holanda Cavalcanti e o artista plástico Athos Bulcão. As obras em concreto armado com painéis de azulejos abstratos nas fachadas, compostas pelo pavilhão de acesso, área administrativa e lanchonetes, possibilitam reflexões sobre síntese x integração das artes. No PHNG, seriam os painéis constitutivos menores das edificações? Seria arquitetura cenário para artes plásticas? Ou ambas mantêm autonomia em detrimento da síntese / integração? Nestas obras, arte e arquitetura enriquecem a produção do Movimento Moderno nacional. Palavras-chave: Armando de holanda. Athos bulcão. Modernidade. ABSTRACT From the modern cultural manifestations in Brazil, visual arts and architecture have unique expressions. In the 1930s, when the modern began to get recognition, the debate about modernity in arts integrated the geometric abstractionism. In architecture, Brazil became acquainted with European modernism by experiences exchange, as the visit of Le Corbusier to the country in 1936, fact that would be highlighted by historiography as propagation time of the arts synthesis, encouraging the relation of architecture to visual arts and appreciation of regional elements - the tile, tradition of the Brazilian colonial period, began to express the modern language. In Pernambuco, examples of these expressions are situated on the “Parque Histórico Nacional dos Guararapes – PHNG” (1975), resultants from the collaboration between architect Armando de Holanda Cavalcanti with visual artist Athos Bulcão. The works in reinforced concrete with abstract tile panels on facades, composed by the access pavilion, administrative area and cafeterias, enable reflections on synthesis x integration of arts. In PHNG, would be the panels minor constituents of the edifications? Would be architecture scenario for visual arts? Or both maintain autonomy in detriment of synthesis / integration? In these works, art and architecture enrich the production of the national Modern Movement. Keywords: Armando de holanda. Athos bulcão. Modernity. 1 SILVA, C.; FREIRE, A.; NASLAVSKY, G. Entre o concreto e o abstrato: As obras de Armando de Holanda Cavalcanti com Athos Bulcão. In: 11° SEMINÁRIO NACIONAL DO DOCOMOMO BRASIL. Anais... Recife: DOCOMOMO_BR, 2016. p. 1-12.

ENTRE O CONCRETO E O ABSTRATO: AS OBRAS …seminario2016.docomomo.org.br/artigos_publicacao/DOCO_PE_SILVA... · azulejos abstratos nas fachadas ... artistas Piet Mondrian e Theo Van

Embed Size (px)

Citation preview

1

ENTREOCONCRETOEOABSTRATO:ASOBRASDEARMANDODEHOLANDACAVALCANTICOMATHOSBULCÃO1

BETWEENTHECONCRETEANDTHEABSTRACT:THEWORKSOFARMANDODEHOLANDACAVALCANTIWITHATHOSBULCÃO

ClarissaCarvalhoeSilvaDepartamentodeArquiteturaeUrbanismo,UniversidadeFederaldePernambuco,UFPE

[email protected]

AdrianaFreiredeOliveiraDepartamentodeArquiteturaeUrbanismo,UniversidadeFederaldePernambuco,UFPE

[email protected]

GuilahNaslavskyDepartamentodeArquiteturaeUrbanismo,UniversidadeFederaldePernambuco,UFPE

[email protected]

RESUMODasmanifestações culturais modernas no Brasil, artes plásticas e arquitetura têm expressões ímpares. Nos anos 1930,quando omoderno começou a ter reconhecimento, o debate sobremodernidade nas artes integrava o abstracionismogeométrico.Naarquitetura,oBrasilsefamiliarizoucomomodernismoeuropeupelointercâmbiodeexperiências,comonavisita de Le Corbusier ao país em 1936, fato que seria destacado pela historiografia comomomento de propagação dasíntesedasartes,incentivandoarelaçãodaarquiteturaàsartesplásticasevalorizaçãodeelementosregionais–oazulejo,tradição do período colonial brasileiro, passou a expressar a linguagem moderna. Em Pernambuco, exemplos dessasexpressõesestãosituadosnoParqueHistóricoNacionaldosGuararapes–PHNG(1975),resultantesdacolaboraçãoentreoarquitetoArmandodeHolandaCavalcantieoartistaplásticoAthosBulcão.Asobrasemconcretoarmadocompainéisdeazulejos abstratos nas fachadas, compostas pelo pavilhão de acesso, área administrativa e lanchonetes, possibilitamreflexões sobre síntese x integraçãodasartes.NoPHNG, seriamospainéis constitutivosmenoresdasedificações? Seriaarquitetura cenário para artes plásticas?Ou ambasmantêm autonomia em detrimento da síntese / integração?Nestasobras,arteearquiteturaenriquecemaproduçãodoMovimentoModernonacional.Palavras-chave:Armandodeholanda.Athosbulcão.Modernidade.

ABSTRACTFromthemodernculturalmanifestationsinBrazil,visualartsandarchitecturehaveuniqueexpressions.Inthe1930s,whenthe modern began to get recognition, the debate about modernity in arts integrated the geometric abstractionism. Inarchitecture,BrazilbecameacquaintedwithEuropeanmodernismbyexperiencesexchange,asthevisitofLeCorbusiertothecountryin1936,factthatwouldbehighlightedbyhistoriographyaspropagationtimeoftheartssynthesis,encouragingtherelationofarchitecturetovisualartsandappreciationofregionalelements-thetile,traditionoftheBraziliancolonialperiod,begantoexpressthemodernlanguage.InPernambuco,examplesoftheseexpressionsaresituatedonthe“ParqueHistórico Nacional dos Guararapes – PHNG” (1975), resultants from the collaboration between architect Armando deHolandaCavalcantiwithvisualartistAthosBulcão.Theworks inreinforcedconcretewithabstracttilepanelsonfacades,composedbytheaccesspavilion,administrativeareaandcafeterias,enablereflectionsonsynthesisxintegrationofarts.InPHNG,wouldbethepanelsminorconstituentsoftheedifications?Wouldbearchitecturescenarioforvisualarts?Orbothmaintainautonomyindetrimentofsynthesis/ integration?Intheseworks,artandarchitectureenrichtheproductionofthenationalModernMovement.

Keywords:Armandodeholanda.Athosbulcão.Modernity.

1SILVA,C.;FREIRE,A.;NASLAVSKY,G.Entreoconcretoeoabstrato:AsobrasdeArmandodeHolandaCavalcanticomAthosBulcão.In:11°SEMINÁRIONACIONALDODOCOMOMOBRASIL.Anais...Recife:DOCOMOMO_BR,2016.p.1-12.

2

1 INTRODUÇÃO

Acerca das manifestações culturais modernas no Brasil, arquitetura e artes plásticas estão emconstantedebateporsuasexpressõesímpares,comoostrabalhosdoarquitetoArmandodeHolandaCavalcantieosdoartistaplásticoAthosBulcão.AcolaboraçãoentreosmesmosresultouemobrassingularesnoestadodePernambuco,comoéocasodosexemplareslocalizadosnoParqueHistóricoNacionaldosGuararapes.

Para situar o tema a ser discutido, o artigo se inicia por um panorama geral sobremodernidadeartístico-arquitetônicadocenárionacionalnoséculopassado,percorrendo,igualmente,aproduçãonoestadodePernambuco.Pelaslimitaçõesdeumartigo,nosrestringiremosatemasqueexpressamas características peculiares das obras, modernismo arquitetônico e abstracionismo geométrico,alémdousodosazulejos.

A parceria dos profissionais resultou em obras que podem ser analisadas sob aspectos estéticos,históricos, técnicos e tectônicos, além de abrir espaço para a discussão analítico-reflexiva sobresíntese x integração das artes, levantando reflexões sobre as relações entre as artes plásticas e aarquitetura. Seriam os painéis de azulejos elementos constitutivos menores das obras? Seria aarquitetura cenário para as artes plásticas? Ou ambasmantêm autonomia e caráter próprios emdetrimento da síntese / integração? Este ensaio, longe de ser uma única resposta, pretende,sobretudo,estimularnovosdebatesepesquisassobreotemaeaproduçãodoarquitetoedoartista,expondoalgunsaspectossobreessasobrasímparesnoestado.

2 MODERNIDADEARTÍSTICO-ARQUITETÔNICANOBRASIL

2.1Modernidadeartística:abstracionismogeométrico

Na Semana de arte moderna de 1922, em São Paulo, a arte atraiu a atenção do público peloestranhamento, e após 1929, com a crise econômica internacional gerando problemassocioeconômicos, os artistas almejaram conquistar o público, abrindo-se espaço parareconsiderações, tornando-se a arte mais sociável (WANDERLEY, 2006). Neste contexto, queenriqueceu a discussão sobre o futuro do Brasil, o moderno começava a ser reconhecido comoprojetodevidapropiciadopelaindustrialização,modernizaçãodasociedadeeavidaurbana,sendoaartemodernaconsideradarepresentaçãodofuturo.

Apartirdosanos1930,comnovosideais,osartistaspassaramaconduzirodebate,romperamcomacontinuidade, aprimorarame almejaramoestatutodeeducador, sendoa artemodernadivulgadaporsociedadeseclubesemconferênciaseexposições,comoaSociedadePró-ArteModerna-SPAM,eoClubedosArtistasModernos–CAM,quedurante1932e1934formamumpúblicoentusiastapornovidades(WANDERLEY,2006).

Comoexplica Zein (2009), “as tendências abstrato-geométricas já despontavamna capital paulistadesdefinaisdosanos1930,masseamplificamnofinaldadécadaseguinte”.Nofinaldosanos1940einíciodosanos1950,comacriaçãodoMuseudeArtedeSãoPaulo–MASP,em1947,doMuseudeArteModernadeSãoPaulo–MAM/SP,em1948,edaBienaldeArtedeSãoPaulo,em1951,SãoPaulo se destaca no circuito internacional das artes (ZEIN, 2005). Nesta época, conferências eexposiçõescomeçavamaenvolverotemadoabstracionismo,taiscomoaconferência“Oqueéarteabstrata?”,em1948,objetivandoprepararopúblicoparaamesma,comparticipaçãodocríticodearte belga Léon Dégand, e com a exposição de inauguração do MAM/SP “Do figurativismo aoabstracionismo”(WANDERLEY,2006).Apartirdeentão,enosanos1950,integrando-seaotemadamodernidadenasartes,oMAM/SP,promoveueexibiuodebateentreabstraçãonacionalnascenteea figuração modernista enraizada, mas fortalecendo o abstracionismo que se dividia entre oconstrutivismogeométricoeoabstracionismoinformal,sendoambosessenciaisparaarenovaçãoda

3

arte brasileira, pois pela primeira vez a produção artística nacional estava sintonizada com asvanguardasinternacionais(WANDERLEY,2006).

Anível internacional,ésabidoqueaarteconcretaéherdeiradaspesquisasdoGrupoDeStijl,dosartistasPietMondrianeTheoVanDoesburg,comapurezaeorigorformalnaharmoniadouniverso;da escola Bauhaus, com a visão social da arte e o ideal de integração da arte na cidade. A nívelnacional,oprojetoconstrutivistavisavaumaartenão representativa,nãometafórica,nabuscadeumaintegraçãofuncionaldaartenasociedade,almejandoestetizaroambientesocial,sendoaarteconcretadivulgada,principalmente,peloarquitetosuíçoMaxBill.AssimcomoapontaBrito(1985),“aformulaçãobásicadoconcretismoplásticobrasileiroéaespecificidadedaarteenquantoprocessode informação, sua irredutibilidade aos conteúdos ideológicos e a objetividade do seu modo deprodução.” A arte abstrata, fortemente guiada pelas pesquisas geométricas, relacionadas àsimplificaçãoformaleaorigormatemático,comoexpressãoartístico-culturaleestética,contribuiuparaoprocessodeformaçãodeumamodernidadenacional.ConformeoqueexpressaBrito(1985),“aarteabstratasurgiracomoumamedidadeemancipaçãodotrabalhodearte:umaafirmaçãodesua autonomia diante da realidade empírica, um reconhecimento de seu índice de abstração epossibilidade de formalização, necessários afinal a todo processo de conhecimento.” No Brasil, oabstracionismo geométrico, evidenciado por movimentos do concretismo em São Paulo, com oGrupoRuptura, criado em1952 e no Rio de Janeiro, comoGrupo Frente formado em1954, temcomoumaexpressãoímparoartistaplásticoAthosBulcão.

2.2Modernidadearquitetônica:adaptaçãoclimáticaereleituradoazulejo

NoBrasil,paralelamenteaocampodasartesplásticas,ocampodaarquiteturasefamiliarizoucomaarquiteturamodernaeuropeiadevidoàcirculaçãodeideias.Esseintercâmbiodeexperiênciassedeutanto através das publicações de época, quanto pelas viagens de profissionais ao exterior e pelavindadearquitetosestrangeirosparaoBrasil,osquaisaplicaramideiaseprincípiosquetraziamdeseuspaíses.

Assim,em1936,LeCorbusierfazsuasegundavisitaaoBrasil,incentivandoarelaçãodaarquiteturacomasartesplásticas,fatoqueseriadestacadopelahistoriografiacomomomentodepropagaçãodasíntese das artes (BRUAND, 1981). Desse modo, a valorização de elementos regionais, como osazulejoscomseucaráterplástico-funcional,tambémseriaatribuídaaLeCorbusier,aoexpor,durantesuaestadianoBrasil,queoestilointernacionaldoséculoXXnãoimplicavanoabandonodevariáveisregionais (BRUAND, 1981). Mas, é sabido que, desde o final dos anos 1920, o arquiteto GregoriWarchavchik, nas exposições das casas modernistas, incentivava a relação da arquitetura com asartesplásticas.2

DeacordocomAlcântara(1980),oazulejocomomaterialderevestimentopresentenopaísdesdeoperíodo histórico colonial, com exemplares e modo de fabricação trazidos pelos portugueses,infiltrou-se na cultura brasileira e acabou por expandir seu uso para as fachadas externas, emconcordânciacomfatoresfísicoseestéticosdaculturanacional.Dentreestes,pode-secitarousodorevestimento como sinônimo de higiene, por algumas de suas características como isolamento àágua,facilidadedelimpezaeassepsia,expandindoousodessesmateriaisemdiversasconstruções.

Nosanos1940,oazulejoéreatualizado,associadoaumsentidodemodernidadecomexpressãoderiquezaformaledecorativa,comopodeserobservadonoprédiodoMinistériodaEducaçãoeSaúde–MES,ounaIgrejadeSãoFranciscodeAssisdaPampulha,ondeencontram-seospainéisfigurativosemazulejosdeCândidoPortinari,compondoaideiadaarquiteturacomoespaçodecongregaçãodasartes.

2“Dessasobras,acasadaruaItápolis,noPacaembu,foiaquemaisseaproximoudoidealdaBauhausdeintegraçãodasartes”.SEGAWA,Hugo.ArquiteturasnoBrasil1900-1990.SãoPaulo:EditoradaUniversidadedeSãoPaulo,1998.

4

Do ponto de vista estético, a historiografia sobre a arquitetura moderna brasileira ressaltaria ascaracterísticasdessaarquitetura,insistindonassoluçõesdeadaptaçãoclimática,assimcomo,nasuarelaçãocomaarquiteturadopassado(FREIRE,2010).Assim,em1943,quandoPhilipGoodwineG.E.KidderSmithorganizamaexposiçãosobrearquiteturabrasileiranoMuseudeArteModernadeNovaYork,colocandoemevidênciaosmecanismosdecontrolesolareaadaptaçãodessaarquiteturaaomeio ambiente, situam a arquitetura moderna na continuidade da história arquitetônica do país,estabelecendo relações com o período colonial. Em 1952, no número especial sobre o Brasil darevista L’Architecture d’Aujourd’hui, Giedion, ao publicar um artigo explicando a contribuição daarquitetura moderna brasileira, destaca “o senso que permite animar as grandes superfícies porestruturas vivas e multiformes.” Anos mais tarde, Giedion (1956), ressalta o uso do azulejo notratamentodefachadascomoumadascaracterísticaspeculiaresdaarquiteturamodernanoBrasil.Ao passo que Bruand, em 1981, retoma o tema, afirmando que os procedimentos naturais decombateaocaloreaoexcessodeinsolaçãoteriamasseguradocaráterpróprioaessaarquitetura.

O fatoéque,nahistoriografia,oazulejonoedifíciomodernoésistematicamente retratadocomoobjetivodecriarconexõescomopassadocolonial,postoqueesseelementofiguracomoumamarcadaarquiteturaluso-brasileira.

Dopontodevistatécnico,dentreascaracterísticasexplicitadasporEgon,BergeSaldanhadaGama(1972), estes elementos cerâmicos protegem contra a excessiva umidade climática, apresentandoimpermeabilidade,adquiridapelaaplicaçãodoesmaltenasuperfície,resistênciaaácidos,umidadeemanchas – facilitando na limpeza, facilidade de aplicação e manutenção a baixo custo, baixaexpansãotérmica,edemaisfatores.Emacréscimo,Moita(1997),ressaltaobaixocustodomaterial,decorrentedasuaindustrializaçãoefabricaçãoemsérieporprocessosmecânicos.

3 MODERNIDADEARTÍSTICO-ARQUITETÔNICAEMPERNAMBUCO

AsprimeirasexperiênciasreferentesàarquiteturamodernaemPernambucotêminícioapartirdosanos1930,quandooarquitetomineiroLuizNunes,passaaatuarjuntoàDiretoriadeArquiteturaeUrbanismo–DAU,doestado (NASLAVSKY,2004).Oarquiteto introduznovosmateriaisemétodosconstrutivos na materialização de uma nova arquitetura, renovando os edifícios em termos decirculação,estruturaevedação(BALTAR,2003).

EmPernambuco,entreasdécadasde1940e1950,háumadifusãodasartesmodernas,envolvendoiniciativasnoâmbitodasartesplásticascomaparticipaçãodearquitetos,contribuindoparaodebatearquitetônicoemtermosdemodernização.EmRecife,hádiversosgruposartísticosrelacionadosaoMovimentodeCulturaPopular–MCP,queacompanhouoâmbitonacional,alémdeexpoentesdaculturapernambucanaquesedestacamnocampodasartesplásticas,comoopintorCíceroDias,oartistaplásticoAbelardodaHora,dentreoutros.Nestaépoca,háintercâmbioentreartesplásticasearquitetura,exploradoemNaslavsky(2012),comacriaçãodaSociedadedeArteModernadoRecife–SAMR,em1948,defendendoaartemoderna,aarteemsieademocratizaçãodoseuensino,edoAtelierColetivodaSAMR,em1952,comváriasexperiênciasnoâmbitodasartesplásticas,ligadoàsvanguardasinternacionaiseprincipalmenteàsartesmexicanas,sendoambosporiniciativadoartistaplástico recifense Abelardo da Hora. A intenção do artista era a de fundar no Recife um grandemovimento cultural que expressasse a cultural brasileira, corrigindo os erros do MovimentoModernistaque ficarasónaelite.Abelardodefendiaquea influênciapara talexpressãovinhadasartes mexicanas no sentido de que representavam a cultura enraizada nas tradições do povomexicano–principalmenteemmatériasdearquitetura,escultura,pintura,nasquaisasobrasmuraissesobressaíam,“eraumclimabrasileiroemtodasasmanifestaçõesculturais,peloquallutávamosequeestávamosagoravendonasArtesMexicanas.”(DAHORA,1978).

Nosanos1950,parceriaentreartistasearquitetos,comoospintoreseprojetistasAugustoReynaldoe Hélio Feijó, ambos desenhistas remanescentes da experimentação moderna de Luiz Nunes,

5

produziramimportantesobrasrelacionandoarquiteturaàsartesplásticas,taiscomopinturasmuraisem edificações. Nesta década, as experiências da DAU retomam continuidade do legado de LuizNunes, principalmente com a vinda do arquiteto português Delfim Fernandes Amorim, quefrequentouoAtelierColetivo,edocariocaAcácioGilBorsoiquecomoutrosmodernistasdosanos30retomam a discussão modernista no estado. Segundo Naslavsky (2003 e 2004), isto resulta emexperiências sobre uma possível forma de fazer arquitetura local com a integração ao meio ehumanismo. Amorim, motivado pela resolução de questões técnicas para atenuar insolação nosedifíciosepelapoucadiversidadematerial,apartirdosanos1950, retomaeatualizao referencialhistóricodaprática da azulejaria nas fachadas (RACHED, 2010). Tal resgate, tambémpresentenasobrasdeoutrosarquitetospernambucanos,contribuinalinguagemplásticaarquitetônica.

Numpanoramamais amplo, noperíodode consolidaçãoda arquiteturamodernanoRecife, entre1950 e 1970, arquitetos notáveis adaptaram o vocabulário formal da nova arquitetura àspeculiaridadesdoclimalocal,comvariedadedesoluçõesdefechamentos,fazendoumareleituradatradiçãoconstrutivaqueresultounumaarquiteturasustentável, coerentecomosavanços técnicosdaépocaecomcaráterparticular,talcomoseconstatanasobrasdeNunes,Amorim,Borsoi,dentreoutros(FREIRE,2010).OlegadocorbusierianoeracionalistadeLuizNunes,continuadoporAmorimeBorsoi,teriaminfluenciadoasnovasgeraçõesdearquitetosnordestinos,chegandoatéosanos60e70comaobradeArmandodeHolandaCavalcanti(NASLAVSKY,2003).

4 ARQUITETURAEARTENOPARQUEHISTÓRICONACIONALDOSGUARARAPES

4.1AobradeArmandodeHolandaCavalcanti

Projetado e coordenado pelo arquiteto pernambucano Armando de Holanda Cavalcanti (1940 –1979),oPlanoGeralparaoParqueHistóricoNacionaldosGuararapes–PHNG(1973),emJaboatãodos Guararapes – Pernambuco, englobava a edificação de diversas estruturas distribuídas peloparque,tendosidoconstruídasapenasopavilhãodeacesso,asedificaçõesdaáreaadministrativaemilitar (bloco administrativo, corpo da guarda, facilidades para pessoal, almoxarifado) próximas àentrada,omiranteeoqueseriamlanchonetes,próximasàigrejadeNossaSenhoradosPrazeres.

Para Armando, as edificações deveriam ter uma arquitetura representativa que contribuísse noenriquecimento da ambiência do parque (CAVALCANTI, 1973). Embora as edificações estejamprojetadasdistantesumadasoutras,nãopermitindoavistadoconjunto,oarquiteto,preocupando-se com a unidade plástica do ambiente formado pelas novas obras, defendia no memorialjustificativodospartidosarquitetônicosdoparque:

Como desejássemos evitar um tratamento distinto para cada construção, o quepoderiaresultarnumconjuntosemunidade,bemcomoforçararepetiçãodeumamesma solução para todas as edificações, o que levaria a uma certamonotonia,adotamos o partido de lançar sombras criadas por uma unidade de cobertapadronizada–triângulodeduplacurvatura–comaqualobtivemos,medianteumjogo combinatório, uma família de cascas de formas distintas, mas claramenteaparentadas. Estes triângulos, obtidos pelo corte de um paraboloide hiperbólicomatrizao longodesuasdiagonais,geramfamíliasdecascasdeum,doisequatroapoios,porsuasposiçõesrelativasaospilares.(CAVALCANTI,1975,p.43)

AoretornardoCursodeEspecializaçãoemProtótipos,emRoterdã,Holanda(1967),o interessedoarquitetopelotemadaindustrializaçãopareceguiarseudesenvolvimentoprojetual,asinvestigaçõese os questionamentos do mesmo indicam preocupação acerca dos métodos construtivos e suaspossibilidadescombinatórias(NASLAVSKY,FREIRE,MORAIS,2013).Paraoarquiteto,“otrabalhodesimplificação,racionalizaçãoecordenaçãomodular,afazeré imenso–pré-requisitoparaaadoçãodequalquerprocessodeconstruçãomaisavançado.”(CAVALCANTI,1966). Nasconstruções,estãopresentes, por um lado, a racionalização e industrialização, nas cobertas, pelo uso de cascas

6

originárias de uma mesma matriz, podendo assim ser executadas com formas de fibra de vidropadronizadas;poroutro,asensibilidadepeloempregodeformaselegantesque,pelasuautilizaçãocombinadaevariada,negamamonotoniadaindustrialização.ComopodemosobservarnaFigura1,asfinascascasabobadadasresultamdepesquisasfeitaspeloarquitetoacercadeformasgeométricasparaexploraraplasticidadedoconcreto(HOLANDA,2011).

Alémdoestudoestrutural,asobrasdoparquerefletemalgunsdospontosdefendidosemumadaspublicaçõesdeArmandodeHolanda,oRoteiroparaConstruirnoNordeste–Arquiteturacomolugaramenonostrópicosensolarados(1976),taiscomoacriaçãodesombrasamplas,peloprolongamentodascobertas,protegendoasfachadascomosazulejoseasaberturasdaschuvastropicais,umidadeedosol–aludindoassimàliçãodeLeCorbusiersobreprotegê-las,alémdepossibilitaremarenovaçãodoareproporcionarem lugaresabrigados.Asobras incorporamas“sombrasabertas”,paraa livrecirculaçãodabrisa,eas“amenas”,comascoberturasventiladasqueseconectamàestruturaapenasemalgunspontos.Setãoimportantequantoàquestãoespacialéamaterial,nasobras,osmateriaisproporcionam o frescor defendido pelo arquiteto, sendo a grande variedade material evitada,facilitandoaexecuçãodaobra,comracionalizaçãoepadronização,quealémdereduziremoscustosdeprodução,levamaumvocabulárioconsistente.ConformeNaslavsky(2012),“asobrasquemelhorrepresentamasrecomendaçõesdoRoteiroeaspreocupaçõesanterioressobreapré-fabricaçãonaobradeArmandodeHolandasãoascobertasdoParqueGuararapes.”

Figura1–Estudosparaaformaçãodascascas.

Fonte:Cavalcanti,1975.

4.2AobradeAthosBulcão

NosazulejosdoartistaplásticoAthosBulcão(1918–2008),fazem-semarcantesaquestãoestético-funcionaleobemestar,oqueacabapordialogarourelacionarcomousodosazulejosnasfachadasnoperíodocolonialbrasileiro,quandoosmesmoseramusadosparaembelezamentoeproteçãodasfachadas, deixando também as casas mais agradáveis no calor (WANDERLEY, 2006). Costa (1998)enfatiza o compromisso leve e explícito com propostas modernistas e a trajetória elegante esutilmenteirreverentequefazdeBulcãodísparartistanocenáriodaartecontemporânea.

Adiscussãoentreartesplásticasearquiteturatambémfoiretratadaempublicaçõesdeépoca,comona revistaMódulo, em 1958, onde são expostas algumas considerações sobre o abstracionismogeométrico.AsobservaçõesdeAquino(1958),acercadoBrasíliaPalaceHoteledopaineldeazulejos,

7

criado por Athos Bulcão, esclarecem que o artista parte de conceitos puramente abstratos, comdeslocamentos formaisestáticos, assimcomoosutilizavamosabstracionistas geométricos.Apesarda simplicidade da concepção, a composição final leva a um embaralhamento perceptivo, queproduzumefeitocinético,situaçãoquepodeserobservada,porexemplo,nasobrasdoParquedosGuararapes,expostasnesseartigo.

Das parcerias que teve com arquitetos ao longo de sua carreira profissional, tal como comOscarNiemeyer,apartirde1943,oucomJoãoFilgueirasLima,apartirde1962,Bulcãoproduziutrabalhosímpares que resultaram em intervenções não apenas decorativas, mas também funcionais, comoapontaHolanda(2011),sobreospainéisdeazulejosnoPHNGparaconferirproteçãoàsfachadasdasintempéries–excetonomirante,mesmoestasestando recuadasemrelaçãoàscobertas,alémdecontrastarasparedesdevedaçãocomasestruturasemconcretoarmadoaparente,comopodeserobservadonasFiguras2e3.SegundoWanderley(2006),“ointeresseeorespeitodeAthosfocam-senopúblicoqueentraemcontatocomsuaobraporacidente,notranseunte,acaminhodecasaoudotrabalho,naquelequenãotemconhecimentoalgumdeartesplásticas.”PosicionamentosemelhanteéexplicitadoporFrancisco (2001),aoconsiderarBulcãoumartistacomsensibilidadeparaespaçospúblicos,suasobrasestãoacessíveisaoscidadãos.OpavilhãodeacessodoPHNGvaideencontroaestasposições.

Figura2–PavilhãodeacessodoPHNG:cobertacomumapoioecombinaçãodeazulejos.

Fonte:http://www.armandoholanda.com/.FotorealizadapelofotógrafoFredJordãoem03/02/2015.

Figura3–EdificaçãonaentradadaáreaadministrativaemilitarnoPHNG:cobertacomquatroapoiosecombinaçãoordenadadeazulejos.

Fonte:Asautoras,2016.

8

OmétodoconstrutivodeBulcão,quesedestacaemgrandepartedesuaproduçãoartística,tratadacriaçãoemsérie,utilizandoelementosrepetidos.Foimedianteoprocessoartesanalqueresultaramseustrabalhos,relacionando-seaummétodoracional,aumprincípiodeterminadoembuscadeumaobra com clareza e objetividade. O artista utiliza o azulejo como elemento construtivo do espaçoarquitetônico, com sua área individual, sua matéria própria, sua superfície. Em seu repertóriorelacionando arte e arquitetura, análogo ao dos artistas pertencentes às linhas construtivistasbrasileiras,Bulcãooptaporempregarpoucoselementosemumaescalaequilibrada,sendopossívelobservar que nos seus painéis, sempre abstratos, a composiçãomodular, as cores puras e planasgeram ritmo, harmonia e riqueza vocabular, tal como nos painéis do Parque dosGuararapes, nosquais o artista trabalhou em composições diferentes para cada uma das três áreas nas quais asedificaçõessesituam.Nospainéiscompostospormódulosgeométricosabstratosporoperaçõesderepetição, inversão e espelhamento dos mesmos, consegue-se nas disposições diversidade decombinações. Os dois módulos adotados, um referente ao azulejo completamente branco (baseesmaltada) e o outro englobando formas em azul no fundo branco, mantêm-se como unidadesmínimas e indivisíveis, entretanto, na união das peças em cada painel há interrupção do desenhoinicialqueseexpandesemperdadepesooucomplexidade,comomostraaFigura4.OsazulejosnaobradoParquedosGuararapesrefletemfortementeasquestõesestéticasefuncionaisparaobemestardaspessoas,talcomosenotaemdiversasobrasdeBulcão.

Figura4–DesenhoseespecificaçõesdomódulodoazulejodeBulcãoparaoPHNG.

Fonte:LaboratóriodeImagemdeArquiteturaeUrbanismo-LIAU/UFPE,2016.

Aoolhar,deimediatosevêotodo,emseguidasevêaparte,depoiscomumolharmaisatentosenotam as relações estabelecidas entre os azulejos. No pavilhão de acesso, a combinação,aparentemente aleatória, porém determinada e equilibrada dos módulos, contrasta com a dasdemais áreas, que mantêm certa uniformidade formal, na área administrativa e militar ascombinações sugerem a leitura de figuras geométricas simples, tais como losangos, quadrados esemicírculos,enaáreadaslanchonetes,oritmosedápelomovimentodeziguezague(verFiguras5e6). A contemplação dos painéis nas obras permite observar que de acordo com a disposição dosazulejos,queseencaixamedesencaixamemritmo,seduzindooolhar,háaproposiçãodeagradávelsensaçãodeleveza.

Os azulejos de Athos Bulcão carregam visão histórica desde a época colonial,passampormarcosdaarquiteturabrasileira comoPampulhaeoprédiodoMES,tambémabsorvemageometriadaarteconcretaparafinalmentecriarcomposiçõespróprias, jogosderitmosecoresque,aomesmotempo,perturbamefascinamoolhardotranseunte,dapopulação.(WANDERLEY,2006,p.103).

9

Figura5–CombinaçãodosmódulosnopaineldeazulejosnopavilhãodeacessodoPHNG.

Fonte:Asautoras,2016.

Figura6–UmadaslanchonetesdoPHNGcompaineldeazulejosemcombinaçãodeziguezague.

Fonte:http://www.armandoholanda.com/.FotorealizadapelofotógrafoFredJordãoem03/02/2015.

5 SÍNTESEOUINTEGRAÇÃODASARTES?

ComoexplicitaGonsales (2009),oprocessodesíntesedasartessedeuapartirdasvanguardasdocomeçodoséculo,permeadaspeloidealdeuniãodasartesafimderesgatarumatotalidadeformal,edosdesdobramentosdaarquiteturamodernaapartirdosanos1930.Entreasdécadasde1940e1950,surgemopiniõesdiversasentrecríticosdearteearquitetura,artistasearquitetos,acercadaquestãodasíntesedasartes,dacolaboraçãoentreestesprofissionais(WANDERLEY,2006).Odebatenacional coletivo remonta no plano internacional aos eixos no manifesto Nove pontos sobre amonumentalidade, sugerido por Giedion, Léger e Sert, em 1943, destacando-se a parceria entrearquitetos e urbanistas, escultores, paisagistas e pintores, a fim de alcançar a nova mentalidadecívica (MARQUES, NASLAVSKY, 2009). Tal questão é retomada em eventos como o CongressoInternacional de ArquiteturaModerna – CIAM, que na sua sétima edição em 1949, com Giedionliderando o debate sobre a síntese das artes acerca do seu “Relatório sobre as artes plásticas”(LIERNUR,2008).Anosmaistardeem1952,omesmotemaéabordadonaConferênciaInternacionaldos Artistas com a obra Canteiro de Síntese das Artes Maiores de Le Corbusier, relacionandoarquitetura às demais artes, sendo essencial harmonia, disciplina e intensidade na obra (RACHED,2010).Posteriormenteem1959,noCongressoInternacionaldeCríticosdeArte,BrunoZeviafirmavaque a síntesedas artes estava longede ser obtida (PEDROSA, 1981).Noplanonacional, a relaçãosíntese x integração das artes se relaciona com a nova hierarquia professional moderna, como

10

apontamMarqueseNaslavsky(2009),seoespaçoéoprotagonistadaarquiteturamoderna,“anovatectônicaou relaçãodosmeios construtivos e expressivos implica emquepese a colaboraçãodasdemaisartes,quemdevepresidir,comandaroudecidiréoarquiteto”,posiçãovistaemCosta(1952),quedefendiaintegraçãoentreosprofissionais,maisquetrabalhosresultantesemsíntese.Amesmareúne, conformando-se como uma fase conclusiva, final ou redutora, diferindo-se assim daintegração,quenodebateartístico,conformeSilveira(2008),podeserentendidacomouma“relaçãoharmônica entre diferentes tipos de arte, semque uma se sobreponha à outra.Na arquitetura, aobra,mais que compor, deve se integrar com o espaço criado”. A problematização da integraçãopodeservistaemBarata(1956),aopreconizaraideiadaarquiteturacomoumaartetotal,“nopapelde geradora e incorporadora de diversas artes, que lhe ficam subsidiárias. É o problema daintegraçãodasartesnaarte ‘maior’,queéa Ictinus–oua integração recíprocadasmesmas”.TalproblemapodeservistonoedifíciodoMES,queapesardeemblemáticoepioneiroaindatratandodo tema figurativista e não do abstrato, “o resultado obtido foi um conjunto de grande riquezaplástica, realçando e completando magnificamente a arquitetura, mas, ao mesmo tempo, a elasubordinado.”(BRUAND,1981).

Embora Pedrosa (1953), tenha sustentado que no país a excelência do plano artístico coube àarquitetura, expondo que nem a decoração de paredes por azulejos atingiu um nível razoável deintegração com a arquitetura, por se configurar em tentativas de revestimentos sem resultadosconvincentes, aobradeBulcãonoPHNGse conformacomoexceçãoàafirmação.Deencontroaoque evidencia Bruand (1981), nos revestimentos e na plasticidade dos acessórios se revela acolaboraçãoqueaarquiteturabrasileirarecebeudasdemaisartes,ouoqueevidenciaCosta(1987),aintegraçãodasartesedaarquiteturaocorrequandooartistaconvidadoaresolvercertosespaçospropostospeloarquiteto,ofazdemaneiraharmônica.

Nomovimentomoderno,emdiversoscasospinturaeesculturacompõemosespaçosarquitetônicossemperdersuaautonomia,ambossãousadosparaenriquecerolocalenãoporseconfundiremcomaarquiteturaecomoespaçopúblico.AsobrasdeBulcāonoPHNGvãodeencontroàessasituaçãocomum,umavezqueseustrabalhosnãoseafastamdaarquiteturaqueosrecebe,queosabrange.Em concordância com Farias (2001), os painéis do artista potencializam e se enamoram daarquitetura. O uso dos painéis de azulejos se integra, portanto, à arquitetura, valorizando-a edestacando-a no entorno. Além de acrescentar soluções físicas à obra arquitetônica, comoexplicitado pelas condições climáticas, a parceria resultante enaltece o trabalho ímpar do artistaplásticoedoarquiteto.ComoafirmaCosta(1987),Bulcãonãoconsideraoespaçonoqualsuaobraserá inserida como um suporte passivo, ou em oposição, como uma oportunidade ímpar paradestacargrandiosae individualmenteseutrabalho.Oartista“trabalha ‘emfunção’desseespaço,apartirdaarquitetura,destacando-a, valorizando-a, criando jogosdeverepensarqueaumentemasua riqueza e seu valor.” (COSTA, 1987). As análises nas obras doParquedosGuararapes sobreotema da integração das artes, uma das características mais celebradas da arquitetura modernabrasileira,comoapontaLiernur(2008),ampliamodiscursodesíntesee/ouintegraçãodasartesemPernambuco.

6 CONCLUSÕES

No século XX, a modernidade no Brasil, influenciada pelo cenário internacional, trouxe novasperspectivas para os campos artístico e arquitetônico, no qual o abstracionismo geométrico e aarquitetura moderna puderam se expressar fortemente, mediante obras que buscavam inserçãoharmônicanomeiotropicalequereatualizaramousotradicionaldoazulejonopaís.NaproduçãodeArmandodeHolandaeAthosBulcão,otemadomodernoserefleteemobrasdiversas,podendo-sedestacar as do Parque dos Guararapes, nas quais artisticamente, amodernidade se desdobra porformasadotadasnaarquiteturadeHolandaepeloabstracionismogeométriconaartedeBulcão;porquestões industriais e econômicas, pois os fatores tempo e economia material se expressam na

11

racionalização arquitetônica e no emprego de azulejos brancos. Tais obras tão peculiares naprodução moderna pernambucana, possibilitam a discussão sobre síntese x integração das artes,exploradapelosmodernistasnoséculopassadoeaindainteressantecontemporaneamenteumavezque cada termo remete a colaborações nos campos artístico e arquitetônico. Diante de toda adiscussãoabordada,asobrasrefletemintegraçãomaisquesíntese,completam-semutuamenteemsuasexpressões.

AGRADECIMENTOS

ÉnecessárioregistraragradecimentoàFundaçãodoPatrimônioHistóricoeArtísticodePernambuco(FUNDARPE), que através do Edital FUNCULTURA 2013 fomentou o projeto cultural, intitulado:InventáriodoacervodeprojetosdoarquitetoArmandodeHolandaCavalcanti,contribuindoparaarealizaçãodesteartigo.

REFERÊNCIASALCÂNTARA,D.AzulejosPortuguesesemSãoLuísdoMaranhão.RiodeJaneiro:Fontana,1980.85p.

AQUINO,F.de.AzulejosevitraldeAthosBulcãoparaBrasília.RevistaMódulo,p.26-29,1958.

BALTAR,A.B.LuizAmorim.In:XAVIER,A.(Org.).DepoimentodeumaGeração:ArquiteturaModernaBrasileira.SãoPaulo:Cosac&Naify,2003.408p.p.356-359.

BARATA,M.Aarquiteturacomoplásticaeaimportânciaatualdasíntesedasartes(1956).In:______.DepoimentodeumaGeração:ArquiteturaModernaBrasileira.SãoPaulo:Cosac&Naify,2003.408p.p.318-322.

BRITO,R.Neoconcretismo:vérticeerupturadoprojetoconstrutivobrasileiro.RiodeJaneiro:Cosac&Naify,1985.112p.

BRUAND,Y.ArquiteturaContemporâneanoBrasil.SãoPaulo:Perspectiva,1981.397p.

CAVALCANTI,A.deH.ProjetoParqueHistóricoNacionaldosGuararapes.Recife:UFPE–MEC,1973.34p.

______.ParqueHistóricoNacionaldosGuararapes:projetofísico.Recife:UFPE,1975.64p.

______.RoteiroparaConstruirnoNordeste:arquiteturacomolugaramenonostrópicosensolarados.Recife:Ed.UniversitáriadaUFPE,MestradoemDesenvolvimentoUrbano,1976.48p.

______.SobreumaArquiteturadeSistemas.RevistaArquiteturadoIAB,n.54,p.28-29,1966.

COSTA,A.B.deP.ReleituranaobradeAthosBulcão.Dissertação(MestradoemArte)–UniversidadedeBrasília,Brasília,1998.

COSTA,L.OArquitetoeaSociedadeContemporânea(1952).In:COSTA,L.RegistrodeumaVivência.SãoPaulo:EmpresadasArtes,1995.606p.p.268-275.

COSTA,M.deL.SinfoniasdaModernidade.RevistaMódulo,RiodeJaneiro,n.95,p.32-37,1987.

DAHORA,A.In:CLÁUDIO,J.MemóriadoAtelierColetivo:(Recife1957-1957).Recife:Anterspaço,1978.88p.

EGON,A.T.;BERG,M.S.T.;SALDANHADAGAMA,S.ConsideraçõessobreautilizaçãodoazulejonoBrasil.ConstruçãoSãoPaulo,SãoPaulo,n.1296,p.37,1972.

FARIAS,A.ConstrutordeEspaços.In:FUNDAÇÃOATHOSBULCÃO.(Org.).AthosBulcão.SãoPaulo:FundaçãoAthosBulcão,2001.p.34-53.

FRANCISCO,S.HabitantedoSilêncio.In:FUNDAÇÃOATHOSBULCÃO.(Org.).AthosBulcão.SãoPaulo:FundaçãoAthosBulcão,2001.p.322-335.

FREIRE,A.AssoluçõesdaarquiteturatropicalemRecife.AU,v.10,ano25,p.84-88,2010.

12

GIEDION,S.ArquiteturaeComunidade.Lisboa:LivrosdoBrasil-Lisboa,1956.160p.

GONSALES,C.H.C.Síntesedasartes:sentido,implicaçõeseabrangência.In:In:8ºSEMINÁRIODOCOMOMOBRASILCIDADEMODERNAECONTEMPORÂNEA:SÍNTESEEPARADOXODASARTES,2009,RiodeJaneiro.Anaiseletrônicos...RiodeJaneiro:MES,2009.Disponívelem:<http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/177.pdf>.Acessadoem:26mar.2016.

HOLANDA,A.C.O.de.IntegraçãodasArtesPlásticaseArquiteturaemPernambuco,1950-1980.Dissertação(MestradoemDesenvolvimentoUrbano)–UniversidadeFederaldePernambuco,Recife,2011.186p.

LIERNUR,J.F.Trazasdefuturo:EpisodiosdelaculturaarquitectónicadelamodernidadeenAméricaLatina.SantaFe:EdicionesUNL,SecretaríadeExtensión,UniversidadNacionaldelLitoral,2008.

MARQUES,S.;NASLAVSKY,G.Ovitralnasíntesedaarquiteturamoderna.In:8ºSEMINÁRIODOCOMOMOBRASILCIDADEMODERNAECONTEMPORÂNEA:SÍNTESEEPARADOXODASARTES,2009,RiodeJaneiro.Anaiseletrônicos...RiodeJaneiro:MES,2009.Disponívelem:<http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/076.pdf>.Acessadoem:15mar.2016.

MOITA,I.CerâmicaaplicadaàarquiteturaoitocentistaemLisboa.In:ALCÂNTARA,D.(Org.).Azulejosnaculturaluso-brasileira.RiodeJaneiro:IPHAN,1997.p.11-39.110p.

NASLAVSKY,G.ArquiteturaModernaemPernambucoentre1945-1970:umaProduçãocomIdentidadeRegional?In:5ºSEMINÁRIODOCOMOMOBRASILARQUITETURAEURBANISMOMODERNOS:PROJETOEPRESERVAÇÃO,2003,SãoCarlos.AnaisEletrônicos...SãoCarlos:EESC,2003.Disponívelem:<http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/055R.pdf>.Acessadoem:15mar.2016.

______.ArquiteturamodernaemPernambuco,1951-1972:ascontribuiçõesdeAcácioGilBorsoieDelfimFernandesAmorim.2004.270p.Tese(DoutoradoemEstruturaisAmbientaiseUrbanos)–FaculdadedeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadedeSãoPaulo,SãoPaulo,2004.

______.ArquiteturamodernanoRecife1949-1972.Recife:E.daRocha,2012.178p.

______.;FREIRE,A.;MORAIS,M.Ir,VireVoltar.Novasconexões.Outrosbrutalismos.In:XSEMINÁRIODOCOMOMOBRASILARQUITETURAMODERNAEINTERNACIONAL:CONEXÕESBRUTALISTAS1955-75,2013,Curitiba.Anaiseletrônicos...Curitiba:PUC-PR,2013.Disponívelem:<http://www.docomomo.org.br/seminario%2010%20pdfs/CON_44.pdf>.Acessadoem:10mar.2016.

PEDROSA,M.AarquiteturamodernanoBrasil(1953).In:AMARAL,A.A.(Org.).PEDROSA,M.DosMuraisdePortinariaosEspaçosdeBrasília.SãoPaulo:Perspectiva,1981.416p.,p.255-264.

RACHED,M.daS.AzulejonaArquitetura:UmEstudosobreoAzulejardeDelfimAmorim.2010.154p.TrabalhodeConclusãodeCurso,UniversidadeCatólicadePernambuco,Recife,2010.

SEGAWA,Hugo.ArquiteturasnoBrasil1900-1990.SãoPaulo:EditoradaUniversidadedeSãoPaulo,1998.

SILVEIRA,M.C.da.OAzulejonaModernidadeArquitetônica1930–1960.2008.320p.Dissertação(MestradoemArquiteturaeUrbanismo)–FaculdadedeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadedeSãoPaulo,SãoPaulo,2008.

WANDERLEY,I.M.Azulejonaarquiteturabrasileira:ospainéisdeAthosBulcão.2006.162p.Dissertação(MestradoemArquiteturaeUrbanismo),UniversidadedeSãoPaulo,SãoPaulo,2006.

ZEIN,R.V.AArquiteturadaEscolaPaulistaBrutalista1953-1973.2005.358p.Tese(DoutoradoemArquitetura)–FaculdadedeArquiteturadaUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,RioGrandedoSul,2005.

______.Concretismo,concretão,neo-concretismo:algumasconsideraçõeseduascasas.In:8ºSEMINÁRIODOCOMOMOBRASILCIDADEMODERNAECONTEMPORÂNEA:SÍNTESEEPARADOXODASARTES,2009,RiodeJaneiro.Anaiseletrônicos...RiodeJaneiro:MES,2009.Disponívelem:<http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/079.pdf>.Acessadoem:20mar.2016.