Upload
trinhnhu
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Universidade Federal do Rio de Janeiro
ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ:
DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA À CONGREGAÇÃO DAS
IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP (ITAJUBÁ – 1953 à 1959)
Waldere Fabri Pereira Ribeiro
2007
Universidade Federal do Rio de Janeiro
ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ:
DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA À CONGREGAÇÃO DAS
IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DO GAP (ITAJUBÁ, 1953 – 1959)
Waldere Fabri Pereira Ribeiro
2007
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
CURSO DE DOUTORADO EM ENFERMAGEM
ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA À CONGREGAÇÃO DAS
IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP (ITAJUBÁ, 1953 - 1959)
Waldere Fabri Pereira Ribeiro
Tese de Doutorado apresentada à Coordenação Geral de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Orientadora: Profª Drª Tânia Cristina Franco Santos
Rio de Janeiro
Novembro, 2007
Waldere Fabri Pereira Ribeiro
ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA À CONGREGAÇÃO DAS
IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP (ITAJUBÁ, 1953 - 1959)
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal de Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Enfermagem.
Rio de Janeiro, 08 de novembro de 2007
................................................................................... Profª Drª Tânia Cristina Franco Santos - UFRJ Presidente
.................................................................................. Prof. Dr. Silvio de Almeida Carvalho Filho - UERJ 1ª Examinadora ................................................................................. Profª. Drª. Nalva Pereira Caldas - UERJ 2ª Examinadora ................................................................................ Profª. Drª. Gertrudes Teixeira Lopes - UERJ 3ª Examinadora ................................................................................ Profª. Drª. Maria da Luz Barbosa - UFRJ 4ª Examinadora ..................................................................................... Prof. Dr. Osnir Claudiano Silva Júnior - UNIRIO Primeiro Suplente ............................................................................... Profª. Drª. Lúcia Helena Silva C. Lourenço - UFRJ Segunda Suplente
Orientadora
Profª Drª Tânia Cristina Franco Santos
Agradeço a oportunidade do convívio
durante o período de orientação, bem como
os nossos diálogos que resultaram em
proveitosos ensinamentos.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Quando se busca o cume da montanha, não se dá importância às pedras do
caminho. Eis porque quero falar aqui do Bom Combate, aquele que é travado em
nome de nossos sonhos.
Para combater o Bom Combate, é preciso ter a ajuda de amigos, e quando
os amigos não estão por perto, temos que transformar a solidão em nossa principal
arma. Tudo que nos cerca precisa nos ajudar a dar os passos que em direção ao
nosso objetivo. Tudo tem que ser uma manifestação pessoal de nossa vontade de
vencer o Bom Combate. Sem isto, sem perceber que precisamos de todos e de
tudo, seremos guerreiros arrogantes. E nossa arrogância nos derrotará no final,
porque vamos estar de tal modo seguros de nós mesmos que não perceberemos
as armadilhas do campo de batalha.
O meu sonho: concluir com sucesso o Curso de Doutorado. Mas, no
caminho, fui surpreendida por percalços. Confesso que quase desisti. Só não o fiz
porque amigos estavam por perto. Graças a Deus, que fez deles Seus
instrumentos para que eu tivesse amparo nas horas difíceis, hoje estou aqui, diante
da Banca Examinadora, apresentando e defendendo a minha Tese de Doutorado.
A esses amigos, cujos nomes vou citando de acordo com o momento em
que passaram a fazer parte da minha vida, nela ocupando um lugar especial,
agradeço a ajuda recebida, o apoio e o incentivo constantes, manifestando o meu
sincero reconhecimento por terem acreditado e confiado em mim. São eles:
- Raquel Belmira da Silva, Secretária do Magnífico Reitor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
- Luisa Gomes da Silva, funcionária do Protocolo do Gabinete do Reitor.
- Denílson Santos de Jesus, Chefe da Secretaria do Conselho de Ensino de
Pós-Graduação (CEPG) da UFRJ.
- Ana Maria Martinez Dias, funcionária do CEPG / UFRJ.
- Professor José Luiz Fontes Monteiro, Pró-Reitor de Pós-Graduação e
Pesquisa.
- Professores Nelson Albuquerque de Souza e Silva e Maria Carlota Amaral
Paixão Rosa, respectivamente Presidente e Membro do CAAC / CEPG da UFRJ.
Finalmente, deixo consignado o meu incondicional respeito e a minha
profunda admiração pelo Professor Aloísio Teixeira, Magnífico Reitor da UFRJ, por
ter feito prevalecer a verdade, concedendo-me a oportunidade de realizar o meu
sonho. Ao dar o processo por encerrado, disse: “Com isso, ficam atendidas minhas
preocupações de garantirmos a possibilidade, àqueles que assim efetivamente o
desejam, de continuar seu processo de formação” (Processo nº 23079.042.911/05-
00 (fls.104). Decidindo assim, confirmou as palavras de Aristóteles de que “a lei é a
razão, livre da paixão”.
Sem dúvida, combatemos o Bom Combate e fomos todos vitoriosos.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que permitiu que aqui eu pudesse chegar.
Aos meus pais, Maria e Américo (in memorian), com o meu profundo
respeito e reconhecimento por tudo o que fizeram por mim.
Ao meu esposo João, aos meus filhos Gustavo, Vanessa, André e Lucas; à
minha nora Sara e aos meus netos João Pedro e Gustavo, pelo carinho, apoio,
incentivo e compreensão.
À minha irmã Welma, que muito colaborou com os seus conhecimentos de
informática.
À Marisa Medeiros, amiga, cúmplice e confidente em todos os bons e maus
momentos. Esta tese tem muito de você ...
À direção da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: Ir. Lucyla Junqueira
Carneiro, Ir. Maria Marly Simões e Professor Doutor José Vitor da Silva, pela
atenção que sempre me foi dispensada.
RIBEIRO, Waldere Fabri Pereira. Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa Casa de Misericórdia à Congregação da Providência de Gap (Itajubá, 1953 - 1959). Rio de Janeiro, 2007. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2007.
RESUMO
Trata-se de um estudo de cunho histórico-social acerca da criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em Itajubá, Minas Gerais, na década de 50. Os marcos cronológicos são o movimento para a criação da Escola pela Santa Casa de Misericórdia de Itajubá (1953) e a transferência de mantenedora (1959). Os objetivos da pesquisa foram: descrever as circunstâncias que ensejaram a criação da Escola; analisar as estratégias empreendidas pelas Irmãs da Congregação da Providência de Gap e discutir a eficácia simbólica dessas estratégias para a sua consolidação. Para dar suporte teórico ao estudo foram adotados os conceitos de habitus, campo e poder simbólico, segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu. Foram utilizadas como fontes primárias documentos escritos, orais e fotográficos. Mereceram destaque na narrativa dos fatos os acontecimentos que originaram a criação da referida Escola e as estratégias utilizadas pelas Irmãs da Congregação da Providência de Gap para a sua implantação e consolidação. O resgate histórico possibilitou registrar que a criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz configurou-se como uma estratégia bem sucedida de expansão do poder da Igreja Católica na formação de enfermeiras, de modo condizente com os preceitos católicos, simbolizando o exercício legítimo do poder religioso enquanto poder de modificar as representações e a prática dos leigos, inculcando-lhes um habitus religioso. Descritores: HISTÓRIA DA ENFERMAGEM, ESCOLA DE ENFERMAGEM, EMBLEMAS, INSÍGNIAS.
RIBEIRO, Waldere Fabri Pereira. Nursing College Wenceslau Braz: of Santa Casa de Misericórdia à Congregação da Providência de Gap (Itajubá, 1953 - 1959). Rio de Janeiro, 2007. Thesis (PhD on Nursing) – Nursing College Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2007.
ABSTRACT
Historical social based study about the creation of the Nursing College Wenceslau Braz, in Itajubá, Minas Gerais, on the 50th. The chronological frameworks are the movement for the creation of Santa Casa de Misericórdia College of Itajubá (1953) and the transfer of supporters (1959). The research aimed to: describing the circumstances that leaded to the creation of the College, analyzing the strategies of the Sisters of Congregação da Providência de Gap and discussing the symbolic efficacy of these strategies for their consolidation. The concepts of habitus, field and symbolic power were adopted, following the French philosopher Pierre Bourdieu in order to offer a theoretical support to the study. As primary sources, it has been used written, oral and photographical documents. We can detach, related to the narrative of the facts, the events that originated the creation of the referred College and the strategies used by the Sisters of Congregação da Providência de Gap for its implantation and consolidation. The historical recovery allowed to register that the creation of the Nursing College Wenceslau Braz configured a successful strategy of expansion of the power of the Catholic Church on training the nurses, following the catholic precepts, symbolizing the genuine exercise of the religious power as a power able to modify the representations and the laymen practice, instilling them a religious habitus. Key-words: NURSING HISTORY, NURSING COLLEGE, EMBLEMS, BADGES.
RIBEIRO, Waldere Fabri Pereira. Escuela de Enfermería Wenceslau Braz: de la Santa Casa de Misericórdia à Congregação da Providência de Gap (Itajubá, 1953 - 1959). Rio de Janeiro, 2007. Tesis (Doctorado en Enfermería) – Escuela de Enfermería Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2007.
RESUMEN
Se trata de un estudio de cuño histórico-social acerca de la creación de la Escuela de Enfermería Wenceslau Braz, en Itajubá, Minas Gerais, en la década de los 50. Los marcos cronológicos son el movimiento para la creación de la Escuela por la Santa Casa de Misericórdia de Itajubá (1953) y la transferencia de mantenedora (1959). Los objetivos de la investigación fueron: describir las circunstancias que proporcionaron la creación de la Escuela; analizar las estrategias emprendidas por las Hermanas de la Congregação da Providência de Gap y discutir la eficacia simbólica de esas estrategias para su consolidación. Para dar apoyo teórico al estudio, se han adoptado los conceptos de habitus, campo y poder simbólico, según el sociólogo francés Pierre Bourdieu. Se han utilizado como fuentes primarias documentos escritos, orales y fotográficos. Merecieron destaque en la narrativa de los hechos los acontecimientos que originaron la creación de la referida Escuela y las estrategias utilizadas por las Hermanas de la Congregação da Providência de Gap para su implantación y consolidación. El rescate histórico posibilitó registrar que la creación de la Escuela de Enfermería Wenceslau Braz se configuró como una estrategia exitosa de expansión del poder de la Iglesia Católica en la formación de enfermeras, de modo condecente con los preceptos católicos, simbolizando el ejercicio legítimo del poder religioso mientras poder de modificar las representaciones y la práctica de los legos, inculcándoles un habitus religioso. Descriptores: HISTORIA DE LA ENFERMERÍA, ESCUELA DE ENFERMERÍA, EMBLEMAS, INSIGNIAS.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Objeto de estudo Objetivos Motivação para o estudo Contribuições do estudo Abordagem teórico-metodológica
15 15 17 18 19 19
CAPÍTULO 1 A NOVA ORDEM SOCIAL E SUAS REPERCUSSÕES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM EM ITAJUBÁ (1953-1954)
1.1 O Segundo Governo Vargas: repercussões em Minas Gerais 1.2 A Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e as Irmãs da
Congregação da Providência de Gap: primeiras iniciativas da criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
28 32
45
CAPÍTULO 2 A IMPLANTAÇÃO DA ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ E AS INICIATIVAS DE ADOÇÃO DE UM MODELO DE ENFERMEIRA PARA ITAJUBÁ (1954-1956)
2.1 O espaço físico como símbolo de poder e prestígio para a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
2.2 O regime de internato como estratégia de atualização do habitus das alunas
2.3 Divulgação do modelo de enfermeira da Escola e seleção das candidatas como estratégia de manutenção da ordem social
2.4 A recepção da touca como ritual de solenização do modelo de enfermeira para Itajubá
56
68
72
81
86
CAPÍTULO 3 A CONSOLIDAÇÃO DA ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: O RECONHECIMENTO E A TRANSFERÊNCIA DE MANTENEDORA (1956-1959)
3.1 A formatura da turma pioneira como rito de consagração da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
3.2 O poder simbólico das Irmãs da Congregação da Providência de Gap na consolidação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
89
95
103
CONSIDERAÇÕES FINAIS
108
REFERÊNCIAS
111
APÊNDICES 119 ANEXOS 129
LISTA DE APÊNDICES A – Roteiro de Entrevista 120
B – Termo de Consentimento 121
C – Termo de Doação do Depoimento 123
D – Carta à Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá 124
E – Carta à Provincial da Congregação das Irmãs da Providência de Gap
125
F – Roteiro para Exame de Documentação Escrita 126
G – Roteiro para Exame de Conteúdo Jornalístico 127
H – Roteiro para Exame de Conteúdo Iconográfico 128
LISTA DE ANEXOS A – Mapa – Localização de Itajubá 130
B – Resposta à carta enviada à Provincial da Congregação das Irmãs da Providência de Gap
131
C – Resposta à carta enviada à Provedora da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá
132
D – Autorização da Diretora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz para a realização da Pesquisa
133
E – Esboço do uniforme das alunas para atividades na Santa Casa e em sala de aula
134
F – Esboço do uniforme das alunas para passeio
135
G – Esboço do uniforme de gala das alunas 136
CRÉDITOS ICONOGRÁFICOS Foto 1 – Colégio Sagrado Coração de Jesus e
Instituto de Surdas e Mudas
48
Foto 2 – Fachada do prédio da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, no ano de sua inauguração (1925)
49
Foto 3 – Alunas da primeira turma da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em sala de aula localizada nas dependências da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá (1955)
78
Foto 4 – Pose grupal das alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz registrada no auditório da Escola Normal de Itajubá (1956)
81
Foto 5 – Desfile cívico de 07 de Setembro de 1955, em Itajubá
82
Foto 6 – Pose grupal registrada após a sessão solene de entrega do diploma à primeira turma de enfermeiras da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, no salão nobre do Colégio Sagrado Coração de Jesus, em 9 de março de 1958
96
Foto 7 – Ritual da passagem da lâmpada (1958)
102
Foto 8 – Prédio da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em construção, quando ocorreu a transferência de mantenedora (1958)
105
Foto 9 – Prédio concluído da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz e Madre Marie Ange
107
Fac Simile da Portaria Ministerial nº 853, de 23 de setembro de 1954 54 Fac Simile do Decreto nº 40.572, de 18 de dezembro de 1956 94 Fac Simile do Decreto nº 46.584, de 13 de agosto de 1959 106
FONTES DOCUMENTAIS ESCRITAS E ORAIS
Arquivo da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: Ata da Reunião da Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá
Ata da Solenidade do Lançamento da Pedra Fundamental da EEWB
Ata do Lançamento da Pedra Fundamental da Capela São José da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá
Carta de Madre Marie Ange à Maria Rosa de Sousa Pinheiro
Carta de Madre Marie Ange à Glete de Alcântara
Carta de Madre Marie Ange à Haydée Guanais Dourado
Cartas-Ofício expedidas pela Diretoria da EEWB à Diretoria de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura
Carta-Ofício da direção da EEWB ao Diretor da Divisão de Organização Hospitalar do Ministério da Saúde
Discurso de Terezinha de Jesus Rennó, oradora da Turma Pioneira (1958)
Discurso do Sr. Luiz Pereira de Toledo, Vice-Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, formatura Turma Pioneira (1958)
Estatuto Interno do Diretório Acadêmico Gaspar Lisboa (DAGALI)
Jornais Diário de Poços de Caldas e O Sul de Minas
Livro de Contas Diárias da EEWB (1955 -1959)
Ofício da Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá ao Diretor do Departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura solicitando inspeção na EEWB para fins de Reconhecimento
(continua)
(continuação)
Ofício da Diretora da EEWB à Diretoria do Departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura
Primeiro Livro de Atas da Congregação da EEWB
Primeiro Livro de Atas do Diretório Acadêmico Gaspar Lisboa (DAGALI)
Primeiro Livro de Contas Diárias da EEWB
Primeiro Livro de Matrícula das Alunas da EEWB
Processo de Solicitação de Autorização para Funcionamento da EEWB
Processo de Mudança de Mantenedora da EEWB
Relatórios Anuais de Atividades (1955 -1958)
Regimento Interno EEWB (1956)
Registros Iconográficos
Registro no Cartório do 2º Ofício da Comarca de Itajubá da Ata da Assembléia Extraordinária da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, em 12 de janeiro de 1958, aprovando a transferência de Mantenedora da EEWB, a doação do terreno e a construção iniciada do prédio a ela destinado
Relatório de Verificação da EEWB, para efeito de Reconhecimento pelo Ministério da Educação e Cultura
Telegrama do Diretor do Departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura ao Inspetor Federal, Sr. Antonio Francisco Gomes
Depoimentos: Depoente nº 1 – Ir. Zenaide Nogueira Leite Depoente nº 2 – Iro Machado Depoente nº 3 – Maria Celeste Fonseca Depoente nº 4 – Terezinha de Jesus Rennó Depoente nº 5 – Ir. Mirtes Rennó Depoente nº 6 – Maria Nirce Rezende Abreu Depoente nº 7 – Antonio Edilberto Lisboa
Ribeiro, Waldere Fabri Pereira Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa Casa de
Misericórdia à Congregação das Irmãs da Providência de Gap (Itajubá, 1953 - 1959) / Waldere Fabri Pereira Ribeiro, Rio de Janeiro : UFRJ / EEAN, 2007
136 f. Tese (Doutorado em Enfermagem) – UFRJ / EEAN,
Programa de Pós-graduação em Enfermagem, 2007. Orientador: Tânia Cristina Franco Santos 1. História da Enfermagem. 2. Escola de Enfermagem. 3. Emblemas. 4. Insígnias. 4. Teses. I. Santos, Tânia Cristina Franco (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery. III. Título.
CDD 610.73
15
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este estudo tem como objeto o processo de criação e consolidação da Escola
de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), em Itajubá, Minas Gerais. O recorte
temporal engloba o período compreendido entre 1953 e 1959.
O marco inicial, 1953, representa o ano em que a Provedoria da Santa Casa
de Misericórdia solicitou autorização ao Departamento de Ensino Superior do
Ministério da Educação e Cultura para o funcionamento da Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz. O marco final, 1959, refere-se ao ano em que a Congregação das
Irmãs da Providência de Gap1 torna-se mantenedora da referida Escola, como
entidade de personalidade jurídica.
O recorte espacial é a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, inaugurada
em 1954, pela Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, nas suas dependências. A
Escola, subvencionada por aquela Instituição de saúde, tinha sua direção
administrativa e didádico-pedagógica a cargo das Irmãs da Providência de Gap, que
também trabalhavam na Santa Casa como enfermeiras.
À época, por situar-se na região sul de Minas Gerais, nas proximidades de
São Paulo e do Rio de Janeiro (Anexo A), a cidade de Itajubá revelou-se uma região
de grande potencial de desenvolvimento sócio-econômico
Na década de 50, o governo Vargas, em seu segundo mandato (1951-1954),
buscava dar novos rumos à Nação. Para tanto, tomava medidas destinadas a
incentivar o seu desenvolvimento econômico, com ênfase na industrialização
(FAUSTO, 2003, p.407). As elites mineiras, de acordo com Dulci (1999), voltaram-se
para a organização interna de Minas Gerais, com vistas ao seu desenvolvimento e à
sua recuperação econômica, devido à situação estadual de atraso em relação a
outros estados, a exemplo do Rio de Janeiro e de São Paulo, contribuindo para que
o governo mineiro promovesse o crescimento econômico por meio de incentivo à
indústria, transporte e energia. Segundo Bomeny (1994, p. 56), o governo mineiro
“utilizou o regionalismo como recurso político” para que pudesse implementá-lo.
Romanelli (1985) afirma que, com a expansão da industrialização, houve um
grande número de migrações internas rumo às cidades e aos centros industriais,
que rapidamente tiveram um aumento considerável no contingente de trabalhadores.
1 Cidade localizada ao sul da França onde se localiza a sede mãe da Congregação.
16
A migração em massa de trabalhadores rurais para as zonas urbanas resultou em
mutação do estilo de vida dos migrantes, envolvendo vários aspectos: habitação,
educação, saúde, dentre outros.
Itajubá, dada a sua localização geográfica privilegiada, isto é, perto de
grandes centros, beneficiou-se também com a expansão do número de indústrias.
Sendo assim, seu desenvolvimento industrial propiciou um aumento considerável da
população urbana, principalmente no que se refere ao quantitativo de trabalhadores,
demandando a necessidade de assegurar-lhes os recursos necessários, dentre eles
o da saúde. Com isso, a Santa Casa de Misericórdia, única instituição de saúde
existente na localidade, viu-se obrigada a fazer ampliações em suas dependências
para atender a demanda.
A Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, desde 1925, utilizava os serviços
das religiosas da Congregação das Irmãs da Providência de Gap nos cuidados aos
doentes internados. Porém, na década de 50, algumas religiosas já diplomadas
como enfermeiras, passaram a exercer também a administração da Santa Casa. A
ampliação e a melhoria dos recursos materiais necessários e básicos para o
funcionamento da Instituição ressaltaram a necessidade de mão-de-obra hospitalar
qualificada para as principais atividades rotineiras, o que foi sentido pelas religiosas
enfermeiras a quem cabia resolver aquela situação.
Nesse período, as políticas de saúde atingem um grau de maturidade e a sua
estrutura passa a contemplar dois subsetores: o da saúde pública e o da medicina
previdenciária. Assim, em 1953 o Governo Federal cria o Ministério da Saúde que,
mesmo sendo considerado uma iniciativa secundária, demonstrava a importância
daqueles subsetores ao tentar unificar os Institutos previdenciários, em decorrência
da concentração dos elevados gastos em saúde e rede hospitalar (GEOVANINI,
2002). A prática médica individualizada, estabelecida a partir do fortalecimento da
política previdenciária, evidenciou a insuficiência do número de enfermeiros
qualificados para o moderno sistema hospitalar que se pretenda criar.
No campo da educação em enfermagem, Baptista e Barreira (1997) fazem
referência à expansão do número de escolas de enfermagem no Brasil na década
de 50, quando foram criadas mais 16, sendo que destas, 12 eram religiosas (11
católicas e uma evangélica) e quatro públicas (duas federais e duas estaduais).
No rol daquelas de cunho religioso, encontrava-se a Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz, quinta Escola a ser criada em Minas Gerais que, à época, já
17
contava com outras quatro escolas de enfermagem, sendo duas em Belo Horizonte
– a Escola de Enfermagem Carlos Chagas (1933) e a Escola de Enfermagem Hugo
Werneck (1942); uma em Juiz de Fora – a Escola de Enfermagem Hermantina
Beraldo (1946); e uma em Uberaba – a Escola de Enfermagem Frei Eugênio (1948).
Desta forma, a sistematização do ensino da enfermagem em âmbito estadual,
bem como a organização do serviço de enfermagem, teve como marco a criação da
Escola de Enfermagem Carlos Chagas, em 1933.
Face à necessidade de aumentar o número de leitos da Santa Casa de
Misericórdia bem como o de enfermeiras diplomadas para viabilizar a crescente
demanda de atendimento médico-hospitalar aos trabalhadores, no bojo da expansão
do processo de industrialização do País, as religiosas viram-se premidas a iniciar um
movimento voltado para a criação de uma escola de enfermagem católica, em
Itajubá.
A criação de uma escola de enfermagem católica tinha como objetivo dar
continuidade à profissionalização das religiosas e de moças, consoante com a
doutrina católica, de modo a assegurar suas posições de poder e prestígio na
administração e na assistência de enfermagem.
Com base nesses elementos, depreende-se a seguinte tese: a criação da
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, pela Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá, nos moldes da Escola de Enfermagem Anna Nery, configurou-se como uma
estratégia de expansão do poder da Igreja Católica na formação das enfermeiras, de
modo a assegurar suas posições de poder e prestígio nos espaços hospitalares
Diante da problemática apresentada, foram traçados os seguintes objetivos:
1) Descrever as circunstâncias que ensejaram a criação da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz.
2) Analisar as estratégias empreendidas pelas Irmãs da Providência de Gap
para a referida implantação.
3) Discutir a eficácia simbólica dessas estratégias para a consolidação do
modelo de ensino de enfermagem na Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz.
A minha ligação com o tema está relacionada ao fato de ser ex-aluna da
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz2, onde atuo como professora do curso de
2 Graduada em 1974. O curso de período integral, teve duração de três anos.
18
graduação há cerca de 29 anos. Nesta Escola também cursei Habilitação em
Enfermagem Médico-Cirúrgica e Especialização em Enfermagem do Trabalho;
posteriormente, concluí o curso de Especialização em Docência de Nível Superior
na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itajubá.
A realização do curso de Mestrado em Educação na Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (SP) foi motivada pelo meu compromisso com a Enfermagem,
na qualidade de docente da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, e diante da
necessidade de repensar e aprofundar questões relativas à área da Educação. Na
oportunidade, ao proceder à coleta de dados para a elaboração da dissertação,
encontrei dispersos muitos documentos, dentre os quais atas, cartas, relatórios,
trabalhos científicos antigos, fotografias, recortes de notícias veiculadas em jornais
de Itajubá e de cidades vizinhas (sul de Minas Gerais), constituindo-se o material
num acervo muito importante relacionado com as pretensões de criação e
funcionamento da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, e com a transferência de
responsabilidade de sua mantenedora, a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá.
Diante disso, vislumbrei a possibilidade de realizar um trabalho histórico sobre
a Escola, visto que até então apenas dois artigos haviam sido escritos por ex-
diretoras da mesma, religiosas enfermeiras que fizeram um breve e empírico relato
da história da referida instituição de ensino superior (LEITE, 1962; TIBÚRCIO,
1965).
Portanto, é do meu interesse juntar esforços aos dos estudiosos da História
da Enfermagem no sentido de contribuir, de algum modo, para o avanço na
compreensão da construção das relações existentes entre a Enfermagem, como
profissão, e a sociedade na qual está inserida, com suas transformações de ordem
econômica, social ou cultural, até porque abordar um tema que está
geograficamente distante dos grandes centros de pesquisa pode trazer novas
explicações acerca da profissão, reforçando aquelas já conhecidas ou construindo
novas versões sobre a configuração da identidade e do habitus da enfermeira em
Minas Gerais, e mais precisamente em Itajubá.
Nessa linha de raciocínio, apresentei à atual Diretora da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz, Ir. Lucyla Junqueira Carneiro, a idéia de resgatar a
história da Escola e, posteriormente, viabilizar a criação de um Centro de
Documentação, a partir do resultado do levantamento, catalogação e organização de
dados obtidos acerca do tema, a serem utilizados nesta pesquisa. Profundamente
19
entusiasmada, de imediato ela aprovou a realização do estudo, autorizando o
acesso e utilização das fontes primárias disponíveis.
Deste modo, como professora da Escola ministrando a disciplina História da
Enfermagem, comecei a desenvolver um conteúdo curricular sob o título “Oficina de
História da Enfermagem Brasileira”, dando aos alunos a oportunidade de conhecer e
manusear documentos históricos da Escola, além de realizar uma catalogação
preliminar dessas fontes dando início, assim, à criação de um Centro de
Documentação (Arquivo Histórico) para a Escola, conforme mencionado
anteriormente.
Destaca-se, ainda, que a elaboração deste estudo contou com a aprovação
da Congregação das Irmãs da Providência de Gap, através de sua Provincial, e da
atual Provedora da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, possibilitando a
autorização para a obtenção das fontes documentais nos acervos dessas
Instituições.
Ademais, acredito que os estudos relativos à História da Enfermagem
contribuem para o “desenvolvimento de um compromisso perene com a profissão”
(BARREIRA,1999, p.87), um modo de compreender a “mística da profissão”
(Op.cit.), através da própria dinâmica de atuação cotidiana, entender como ela
conquistou seu espaço social em diversos campos, valendo-se de lutas simbólicas,
poder simbólico, manifestações de resistência ou não, habitus e incorporação de
capital cultural.
Abordagem Teórico-Metodológica
Os Conceitos Teóricos
O estudo tem como referência teórica o pensamento do sociólogo francês
Pierre Bourdieu. A questão fundamental dos escritos de Bourdieu é o entendimento
do caráter estruturado das práticas sociais. Seu argumento é o de que as práticas
sociais são estruturadas, isto é, apresentam propriedades típicas da posição social
de quem as produz, porque a própria subjetividade dos indivíduos, sua forma de
perceber e apreciar o mundo, suas preferências, gostos e aspirações, estão
previamente estruturadas em relação ao momento da ação.
20
Nesse sentido, cada sujeito em função de sua posição nas diversas camadas
sociais, vivencia uma série característica de experiências que estruturam
internamente sua subjetividade, constituindo uma espécie de “matriz de percepções
e apreciações” que orientaria suas ações em todas as situações subseqüentes.
Essa matriz, ou seja, o habitus, seria a mediação entre as dimensões objetiva e
subjetiva do mundo social, ou simplesmente entre a estrutura e a prática.
O conceito de habitus, na obra de Bourdieu, tem o papel de elo articulador
entre as três dimensões fundamentais de análise que foram aplicadas neste estudo:
a estrutura das posições objetivas, uma vez que a posição de cada sujeito no campo
propicia um conjunto de vivências que tende a consolidar um habitus em
conformidade com a sua posição no campo; a subjetividade dos indivíduos, fazendo
com que o sujeito desenvolva estratégias não como um indivíduo qualquer, mas
como um membro típico de determinado grupo que ocupa uma determinada
posição; e as situações concretas de ação, que fazem com que, mesmo sem saber,
o sujeito reproduza a própria estrutura na qual ele foi formado.
Neste estudo, o conceito de habitus sustentou a compreensão de que existe
uma estrutura social objetiva, calcada em múltiplas relações de luta e dominação
entre os diferentes grupos dos quais os sujeitos participam, e para cuja perpetuação
colaboram através de suas ações cotidianas, pois em função da história pregressa
do campo, alguns indivíduos e instituições certamente já ocupam posições
dominantes, e esses tenderão a adotar estratégias conservadoras, que visam a
manter a estrutura atual do campo e os critérios de classificação que os beneficiam.
O conceito de habitus possibilitou a compreensão da mediação entre as
dimensões objetivas e subjetivas do mundo social, pois “as diferenças de pura
conformação são reduplicadas e, simbolicamente acentuadas pelas diferenças de
atitudes” (BOURDIEU, 2007, p. 183). Tais diferenças foram visualizadas na leitura e
interpretação dos textos fotográficos através das maneiras de portar o corpo,
exprimindo de tal forma a relação com o mundo social, visto que “as propriedades
corporais são apreendidas através dos sistemas sociais de classificação”
(BOURDIEU, 2007, p. 183).
Assim, as marcas da posição social, os sinais distintivos que a expressam e as
estratégias de ação e reprodução, foram temas abordados na leitura e análise do
corpus documental deste estudo, uma vez que as religiosas investiram na
atualização do habitus das postulantes à profissão de enfermeira, em resposta às
21
lutas simbólicas pelo poder de se fazer ver, de se fazer crer e de se dar a conhecer,
pois, em meio à luta pela imposição de uma visão de mundo legítima, os agentes
detêm um poder proporcional ao seu capital simbólico, ou seja, ao reconhecimento
que recebem de um grupo (BOURDIEU, 1989).
Por sua vez, o conceito de campo utilizado no estudo é concebido como um
espaço de múltiplas dimensões, cuja estruturação permite compreender os
princípios de divisão interna em função dos quais se organizam as lutas decorrentes
das relações de poder, expressas através de um jogo de linguagens e de coisas
materiais e simbólicas (BOURDIEU, 1989).
A aplicação do conceito de campo permitiu a análise das estratégias de luta
empreendidas pelas religiosas, pois o princípio de todos os atos de consagração não
é outro senão o próprio campo, concebido como um lugar de energia social
acumulada, reproduzida com a ajuda dos agentes e instituições através das lutas
simbólicas pelas quais eles tentam apropriar-se dessa energia, empenhando o que
haviam adquirido de tal energia mediante o capital simbólico acumulado ao longo de
sua trajetória social (BOURDIEU, 2007, p. 107).
O poder simbólico é descrito por Pierre Bourdieu como um poder invisível,
sempre dissimulado, que constrói a realidade fazendo com que os agentes estejam
submetidos a ele. É uma forma transformada, isto é, irreconhecível, transfigurada e
legitimada, das outras formas de poder. O poder simbólico é, com efeito, um poder
invisível que só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem
saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem, e se altera de acordo com a
posição ocupada pelos agentes nos diversos campos (BOURDIEU, 1989, p.7-16).
O poder simbólico traz em seu bojo a violência simbólica, mencionada por
Bonnewitz (2005) como sendo a dominação de uma classe sobre a outra, mediante
o uso de instrumentos de comunicação e de conhecimento para imposição ou
legitimação da dominação, levando à domesticação dos dominados. É o poder de
impor e até mesmo de inculcar. Assim, a violência simbólica institui-se por
intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominante e,
portanto, à dominação, através de esquemas que ele põe em ação para se ver e se
avaliar, ou para ver e avaliar os dominantes, os quais resultam da incorporação de
classificações de que seu ser social é produto. Neste sentido, a violência simbólica
se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas de comunicação e de
conhecimento (BOURDIEU, 1999).
22
Desse modo, a natureza e a forma das interações entre os agentes
empenhados na luta pela implantação e consolidação da Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz foi determinada pela distribuição do capital de autoridade religiosa,
uma vez que as Irmãs dispuseram de seu capital religioso na luta pela enunciação
de um discurso autorizado acerca da formação da enfermeira, tendo como alvo o
“monopólio do exercício legítimo do poder de modificar em bases duradouras e em
profundidade a visão de mundo dos leigos” (BOURDIEU, 2001, p. 57).
O Caminho Metodológico
Trata-se de pesquisa de cunho histórico-social na perspectiva do que se
convencionou chamar de História Nova, ou seja, um movimento iniciado na França e
que representou uma reação à história tradicional. Esse movimento é assim
analisado por Le Goff (2001, p. 18):
O estudo em tela insere-se na linha de pesquisa “O Poder Simbólico da
Enfermagem nas Instituições de Enfermagem”, estando cadastrado no Núcleo de
Pesquisa de História da Enfermagem (NUPHEBRAS) do Departamento de
Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade
Federal do Rio de Janeiro (EEAN / UFRJ).
A história nova conserva até hoje essa proposta de uma ciência histórica que não mutile a vida das sociedades e que não eleve entre os diferentes pontos de vista sobre o devir dos homens as barreiras de sub-disciplinar – histórica política, história militar, história diplomática, história econômica e inclusive, a despeito de sua extensibilidade histórico-social ou histórico-cultural.
A pesquisa histórica, para Lakatos e Marconi (2001, p.107), consiste em:
investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciando pelo contexto cultural particular de cada época.
Sendo assim, Ferreira e Amado (1998, p.8) afirmam que a história “busca
produzir um conhecimento racional, uma análise crítica através de uma exposição
lógica dos acontecimentos e vidas do passado”. Já a memória busca reconstruir o
passado com base em vivências. Sendo flexível, vale-se da experiência para
resgatar fatos do passado frente aos interesses do presente.
23
Com base no recorte temporal, os dados foram obtidos através da seleção e
análise de fontes: I) primárias: depoimentos de agentes participantes do processo de
criação e consolidação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, documentos
escritos como relatórios, atas de reuniões, correspondências oficiais e pessoais,
notícias veiculadas em jornais locais e regionais e fotografias pertencentes ao
acervo da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, da Santa Casa de Misericórdia
de Itajubá e de depoentes, que os colocaram à disposição; II) secundárias:
bibliografia sobre a história do Brasil, da Enfermagem Brasileira, da Educação no
Brasil em Minas Gerais e na cidade de Itajubá, das instituições hospitalares, dos
movimentos religiosos e da Congregação das Irmãs da Providência de Gap.
Os depoimentos foram obtidos por meio de entrevistas semi-estruturadas.
Meihy (1996, p.53-54) ressalta que “o uso de entrevistas como fonte, remete ao
sentido do documento e da análise procedida em cima dos textos estabelecidos a
partir de depoimentos”. Neste sentido, a história oral torna-se capaz de alcançar o
reconhecimento, extraindo das “falas” o complemento significante que permitirá a
análise de documentos ou o entendimento de um fato. Portanto, a história oral é
uma “forma de captar um instante da nossa própria história” (Op.cit., p.53-54).
Para a entrevista semi-estruturada foi elaborado um roteiro (APÊNDICE A),
dividido em três partes, a saber: a primeira, que incluiu a identificação do
entrevistado, o local e a hora da entrevista; a segunda, a sua formação e o caminho
que trilhou até se formar; a terceira, consistindo em um espaço para a
reconsideração do vivido.
Foram realizadas sete entrevistas: uma com a primeira diretora da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz; a segunda com o então secretário da Santa Casa de
Misericórdia de Itajubá, que lavrou as atas da criação da Escola e da transferência
de mantenedora, outras quatro com ex-alunas, formadas na primeira turma de
formandas (duas leigas, uma religiosa e outra ex-religiosa) e uma última com um
ex-professor, à época, médico da Santa Casa.
Os entrevistados foram previamente contatados por telefone e informados
acerca dos objetivos da pesquisa e da importância de sua participação. Deve-se
ressaltar que houve anuência imediata de todos para a realização destas
entrevistas, que ocorreram em duas localidades: a primeira, na cidade de São Paulo,
para onde a pesquisadora se deslocou; e as outras cinco, em Itajubá.
24
No que se refere às entrevistas realizadas, cada uma teve a duração de cerca
de uma hora e, previamente à sua realização, os depoentes foram mais uma vez
esclarecidos a respeito dos objetivos do estudo e consultados quanto ao uso do
gravador, com o que todos concordaram mediante consentimento verbal e
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, como determina a
Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (APÊNDICE B), que dispõe
sobre pesquisas envolvendo seres humanos.
As fitas magnéticas contendo as gravações das entrevistas foram transcritas
pela pesquisadora, e o teor das mesmas foi posteriormente validado pelo respectivo
entrevistado, mediante leitura do material transcrito. Neste momento, foi solicitado
aos entrevistados a assinatura de um Termo de Doação do Depoimento (APÊNDICE
C) sob a justificativa de que, ao término da pesquisa, as fitas seriam reproduzidas,
perfazendo um conjuntos a ser doado ao Arquivo Histórico da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz.
Deve-se enfatizar a importância da história oral neste sentido, visto que a
experiência e a versão dos entrevistados permitirão, ao menos em parte, “a
recuperação do vivido, conforme concebido por quem o viveu” (ALBERTI, 1989, p.2-
6). Neste caso, o sujeito conta a sua história e fornece dados sobre a realidade
social da época, como testemunha do seu tempo e do seu ambiente. Ademais, como
afirma Barreira (1992, p.5), “a experiência de vida de pessoas empresta à história
uma nova e dinâmica qualidade, ao dar espaço à vida de pessoas comuns”,
tornando dinâmico o estudo histórico.
Bosi (2001, p.15) considera que essa dinâmica ocorre porque “o narrador
conta o que ele extrai da experiência daqueles que ouvem a sua história”, o que
pode servir para aclarar o complexo jogo de ideologias existentes e dominantes à
época do recorte temporal do estudo.
Para viabilizar a coleta de dados, no que se refere aos documentos escritos e
às fotografias, duas cartas (APÊNDICES D e E) foram entregues pessoalmente à
Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e à Provincial da Congregação
das Irmãs da Providência de Gap, solicitando autorização para pesquisar os
documentos e fotografias existentes que tivessem ligação direta com a trajetória da
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, bem como para fotocopiá-los. Dias após,
as respectivas autorizações foram concedidas sob a forma de ofícios (ANEXOS B e
25
C). A solicitação feita à diretora da Escola de Enfermagem com a mesma finalidade
foi verbal, porém, a autorização foi concedida formalmente (ANEXO D).
Vale dizer que a utilização de documentos fotográficos, neste estudo, deveu-
se ao fato de serem os mesmos considerados “um resíduo do passado” (KOSSOY,
2001, p.48), ainda que tenham sido produzidos com um objetivo. Mesmo assim,
representam um meio de informação, de conhecimento, tendo sempre valor
documental iconográfico, ao deixar registrado o instante vivido, reunindo um
inventário de informações sobre aquele “preciso fragmento de espaço / tempo
retratado”. Deste modo, o registro fotográfico constitui uma fonte histórica
através “da matéria (que lhe dá corpo) e de sua expressão (o registro) visual
nele contido” (KOSSOY, 2001, p.47).
Para Santos, Barreira e Sauthier (1999, p.82), a fotografia pode ser
utilizada como um documento histórico, uma fonte de informação que pode
contribuir para compreender a ordem hierárquica estabelecida “de poder e
prestígio, das alianças existentes entre frações dos grupos empenhadas no
jogo de poder”.
Para a análise documental foram utilizados três roteiros: um para
exame da documentação escrita; outro para exame de conteúdo jornalístico,
e o terceiro para exame de documentos fotográficos (APÊNDICES F, G e H).
Para a leitura e análise do texto fotográfico foram articulados os elementos
do conteúdo interno da fotografia com o que lhe é externo, sendo
fundamental, portanto, o estudo do contexto de produção das mesmas.
Para consubstanciar a descrição e a análise das fotografias, foi
necessário apreender os elementos contidos no seu plano de expressão:
tamanho, formato, suporte, tipo de foto, enquadramento e disposição dos
planos, bem como dos elementos contidos no plano de conteúdo, que
corresponde às opções temáticas, quais sejam, o local, o tema, as pessoas,
os objetos, os atributos das pessoas e a medida do tempo (SANTOS e
BARREIRA, 2002). Desse modo, a leitura do texto fotográfico “remete ao
desvendamento de uma intrincada rede de significações”, mediante a
articulação dos elementos visíveis e invisíveis da fotografia (Op.cit., p.23).
Os depoimentos dos entrevistados foram analisados e discutidos com base
nos conceitos de Pierre Bourdieu que dá apoio teórico ao estudo, possibilitando
26
selecionar as categorias de análise relacionadas com o objeto e os objetivos do
mesmo.
A utilização de fontes primárias diversificadas, isto é, os documentos escritos,
o conteúdo das entrevistas e as fotografias, permitiu a triangulação dos dados, com
o objetivo de comparar os achados, pois foram analisadas nestas fontes os mesmos
dados. A coleta e análise dos dados, processos do estudo, “se retroalimentam
constantemente” (TRIVIÑOS, 1987, p.139). O princípio é o de que se as diferentes
fontes utilizadas na pesquisa chegaram à mesma conclusão. Desta forma a
triangulação dos dados foi utilizada com o objetivo de descrever, explicar e
compreender o objeto de estudo.
Os questionamentos feitos aos documentos, as respostas; a análise
fotográfica e as entrevistas colocaram em relevo a crença na significação das
regularidades encontradas, nem sempre da mesma forma, mas sobretudo nas
mensagens, apontando para a magnitude real e simbólica do Padrão Anna Nery,
para a construção da identidade profissional da enfermeira da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz.
Para facilitar o entendimento do leitor, o trabalho está estruturado conforme
descrito a seguir:
• As Considerações Iniciais - explicitam o objeto e a problemática do
estudo, estabelecendo os objetivos alcançados e a abordagem teórico-
metodológica adotada.
• O Capítulo I - apresenta um panorama do contexto histórico-social
vigente no que se refere aos campos da saúde e da educação,
trazendo os antecedentes da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e
da Congregação das Irmãs da Providência de Gap, culminando com as
primeiras iniciativas para a criação de uma escola de enfermeiras.
• O Capítulo II – trata da implantação da Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz, em Itajubá, evidenciando as estratégias
empreendidas pelas religiosas no sentido de enunciar um modelo de
enfermeira, na luta pelo reconhecimento social da escola.
• O Capítulo III discute os efeitos das estratégias adotadas pelas Irmãs
da Providência de Gap, no que se refere à demarcação de seu espaço
no campo da educação em enfermagem, e os efeitos dessas
27
estratégias no processo de profissionalização das religiosas, de modo
a assegurar suas posições de poder nos espaços hospitalares.
• As Considerações Finais demonstram que as estratégias utilizadas
pelas Irmãs da Providência de Gap foram bem sucedidas, confirmando
a hipótese do estudo e o alcance dos objetivos estabelecidos.
28
CAPÍTULO 1
A NOVA ORDEM SOCIAL E SUAS REPERCUSSÕES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO EM ENFERMAGEM EM ITAJUBÁ
(1953-1954)
O presente capítulo objetiva evidenciar as circunstâncias que ensejaram
a criação da Escola de Enfermagem de Wenceslau Braz, em Itajubá.
Inicialmente, apresenta-se uma breve descrição dos contextos social, político e
sanitário em que se encontrava o Brasil na ocasião, com desdobramentos para
o Estado de Minas Gerais, especialmente a cidade de Itajubá. Em seguida, são
abordadas as questões relativas à assistência de enfermagem prestada pelas
irmãs da Congregação da Providência de Gap na Santa Casa de Misericórdia
local; e finalmente, considerações são feitas sobre a necessidade de criação de
uma escola de enfermagem naquela cidade.
Para melhor compreensão da estrutura do contexto histórico-social
vigente no que se refere aos campos da saúde e da educação em enfermagem
na cidade de Itajubá, foi preciso resgatar os antecedentes históricos da Santa
Casa de Misericórdia e da Congregação das Irmãs da Providência de Gap,
culminando com a solicitação para o funcionamento da Escola, como se
descreve a seguir.
No final da Segunda Guerra Mundial (1945), com a vitória dos Aliados, os
Estados Unidos fortaleceram-se como Nação, tanto assim que a recuperação
da Europa, no início dos anos 50, teve como base um sistema monetário [re]
montado a partir da hegemonia da moeda americana: o dólar.
Gomes (1994, p.161) comenta que neste período teve início a Guerra
Fria, uma luta de poder entre dois blocos extremistas: o socialista, representado
pela extinta União das Repúblicas Soviéticas Socialistas (URSS), e o
capitalista, representado pelos Estados Unidos. Com isso, em vários países
houve uma sucessão de fatos que influenciaram a criação de diretrizes
políticas, econômicas e sociais voltadas para a saúde e a educação, segundo a
ideologia do bloco a que pertenciam, deixando entrever a relação direta entre
dominantes e dominados. O Brasil, como outros países ligados ao bloco
capitalista, sofreu influência marcante dos Estados Unidos em relação à área
29
econômica.
Fausto (2003) relata que, à época, o Brasil sofreu mudanças de diretrizes
políticas advindas de diversas sucessões presidenciais. Assim, a década tem
início com o término do governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) que
tentou resolver, durante seu mandato, os diversos problemas econômicos
existentes. A Constituição de 1946, caracterizada pelo espírito liberal e
democrático de seus enunciados, criou o Conselho Nacional de Economia; com
isso, o Presidente Dutra elaborou e implantou um plano econômico qüinqüenal
voltado para a Saúde, Alimentação, Transporte e Energia, mais conhecido
como Plano SALTE, objetivando coordenar melhor os gastos públicos, eliminar
pontos de estrangulamento da economia e, assim, permitir maiores
investimentos em setores essenciais.
Para Skidmore (1996), este Plano foi incorporado ao projeto de
orçamento federal para 1949, aprovado pelo Congresso em 1950 e
abandonado em 1951, sem ter sido inteiramente implementado, tanto assim
que a pavimentação da Rodovia Rio-São Paulo (mais conhecida como Rodovia
Presidente Dutra), a abertura da estrada Rio-Bahia e a instalação da
Companhia Hidroelétrica do São Francisco, a partir da exploração da Cachoeira
de Paulo Afonso, foram seus únicos resultados concretos.
Tentativas como estas, segundo Iglésias (2000), levadas a efeito nos
últimos anos do governo Dutra, tiveram conseqüências expressivas na área
econômica com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que representava
o valor da produção agro-industrial, assim como dos serviços prestados,
incluindo os de intermediação correspondentes ao comércio. Em contrapartida,
a repressão aos movimentos sindicais levou à compressão dos salários e ao
aumento do custo de vida.
No pleito eleitoral para a sucessão de Dutra, diante da ausência de
novas lideranças e com a divisão dos partidos políticos, Getúlio Vargas se
destacou e venceu com ampla vantagem, sendo eleito com o apoio da
coligação formada pelo Partido Social Democrata (PSD) e pelo Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB). À época, as camadas sociais médias e baixas da
zona urbana não agiram com os objetivos de interesses próprios de uma
classe, mas sim como uma grande massa indiferenciada. Para Bertolozzi e
30
Greco (1996, p. 385) “isto resultou em extrema pulverização do comportamento
político dos trabalhadores” que, na ausência de canais que os unissem e
representassem “como associações, partidos ou outro tipo de organizações”,
tenderam a estabelecer uma relação carismática com os grupos hegemônicos.
No período compreendido entre o fim do Estado Novo (1945) e o início
do segundo governo Vargas (1951), houve uma coligação de forças
conservadoras que não tinham ”uma visão do desenvolvimento industrial como
um problema urgente” (MENDONÇA, 1996, p.274). Isto ocorreu devido à união
entre grupos urbano-industriais e agromercantis, com mínima participação de
forças políticas interessadas em um projeto nacional de crescimento
econômico.
Getúlio Vargas voltou ao poder em janeiro de 1951, encontrando um País
diferente daquele que havia governado autoritariamente de 1937 a 1945,
segundo relata Fausto (2003). Seu retorno foi possível graças à rede de apoio
criada por ele nos anos precedentes, nela incluída a massa operária que,
segundo Skidmore (1996, p.131), foi explorada por políticos populistas que
“apenas garantiam mais garantias e privilégios”.
O populismo dos anos 50-60 era uma “espécie de desvio da evolução
natural da sociedade brasileira em direção ao socialismo e ao enraizamento do
sindicalismo operário” (CERVI, 2001, p. 153). Este desvio foi conseqüência do
processo de transformação da sociedade de tradicional a moderna, e da
economia rural em urbana, que levou a uma rápida e progressiva
industrialização e urbanização mobilizando, desta forma, as massas populares
que passaram a exigir maior participação política e social.
Ao ser transferido para os centros urbanos, o homem do campo, em
linhas gerais, manteve o seu individualismo, abrindo espaços para as relações
personalistas e clientelistas do populismo, por ser desprovido de condições
psicossociais para um adequado comportamento urbano e democrático,
situação agravada pela carência de instituições políticas sólidas, a exemplo de
um sistema partidário (CERVI, 2001, p. 153).
Em sua campanha eleitoral, Getúlio deu ênfase à industrialização e
incentivou o desenvolvimento econômico, valendo-se de áreas estratégicas
como “petróleo, siderurgia, transportes, comunicações”, como afirma
31
Fausto (2003, p. 407).
Durante seu segundo mandato (1951 a 1954), a situação econômica
caracterizava-se pela prioridade em investimentos públicos nos sistema de
transportes e de energia elétrica. Assim, em 1952, foi criado o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a fim de acelerar o processo
de diversificação industrial; em 1953, a empresa denominada Petróleo
Brasileiro S/A (PETROBRAS) conseguiu estabelecer o monopólio estatal do
petróleo; e ainda ocorreram vários outros empreendimentos, de caráter setorial
ou regional, como o Plano Nacional do Carvão, a Superintendência do Plano de
Valorização Econômica da Amazônia e o Banco do Nordeste, todos com
idêntico objetivo: o de promover o desenvolvimento econômico a partir do
dirigismo estatal (IGLESIAS, 2000).
Neste período, Getúlio Vargas implementou uma política trabalhista
como mecanismo para reduzir as tensões sociais visto que, com a
industrialização, a burguesia industrial e financeira, o proletariado urbano e as
camadas médicas ligadas à burocracia estatal tornaram-se importantes, devido
à expansão capitalista e urbana (ROMANELLI, 1985). Asseguravam-se, deste
modo, novos rumos para a economia e o controle das condições de trabalho,
inclusive as do próprio trabalhador.
Em relação ao governo Vargas, Mendonça (1996, p.275) afirma que este
“armou-se destas novas instituições e instrumentos com o objetivo de viabilizá-
la” visando à industrialização acelerada como condição indispensável ao
progresso social. Prenunciaram, desta forma, as características da intervenção
que o Estado assumiria quando Juscelino Kubitschek tomou posse como
Presidente da República, em 1956. Deve-se ressaltar que o projeto varguista,
mesmo tendo conseguido a expansão do aparelho econômico do Estado, níveis
de coordenação mais elevados e realizações efetivas, acabou fragmentado ou
incompleto.
Para favorecer a criação e a expansão do setor industrial, o modelo do
governo Vargas apoiou-se em diferentes setores sociais, numa “combinação de
interesses econômicos e políticos” (ROMANELLI, 1985, p. 58) que favoreceu a
ocorrência de migrações internas direcionadas às cidades e aos centros
industriais, ocasionando aumento significativo do número de trabalhadores sem
32
qualquer tradição política.
Estes, anteriormente agricultores, possuíam universo sócio-cultural
particular, “delimitado pelo misticismo, tendo a violência e o conformismo como
soluções tradicionais, formas patrimoniais e comunitárias de organização de
poder, de liderança e submissão” (Op. cit., p. 58), quadro social modificado aos
poucos, de modo parcial e contraditório. O perfil desta nova população
trabalhista sustentava a ligação direta do líder governamental com as massas,
oferecendo-lhes condições ideológicas, dentre as quais a do nacionalismo
econômico.
Analisando a migração em massa de trabalhadores rurais para as zonas
urbanas, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo, Luz (1981) afirma que este
movimento resultou na mutação do estilo de vida dos mesmos, que passaram a
viver em favelas, cortiços e vilas operárias, confirmando cada vez mais a
ocupação do espaço urbano como espaço social e político, configurando a
lógica da hierarquia social sujeita à organização e controle políticos, isto é, à
instituição do poder.
O fato é que o governo Vargas foi muito conturbado por questões
políticas, havendo notícias até mesmo de articulações para um golpe com o
objetivo de destituí-lo do poder, o que não se concretizou porque ele cometeu
suicídio em agosto de 1954, caracterizando este ano como o de maior agitação
na política nacional em todo o período Republicano (IGLESIAS, 2000).
1.1. O segundo governo Vargas: repercussões em Minas Gerais
As políticas públicas mineiras nos anos 30 e 40 refletiam “uma nítida
linha de continuidade no que se refere à concepção do papel do Estado como
agente da recuperação econômica regional” (DULCI, 1999, p. 61), linha esta
iniciada com os esforços governamentais em se concentrar na diversificação
agrícola. Entre 1941 e 1946, a atenção do Poder Executivo, no que se refere às
políticas públicas, foi direcionada para a expansão industrial, seguida da
adoção de uma fórmula de planejamento compreensivo que procurava
equilibrar e articular o desenvolvimento agro-industrial.
A partir de 1950, os mineiros uniram-se a Getúlio no seu conflito político
33
com os paulistas e personalidades de outras classes sociais que tendiam para a
descentralização. Surgem, então, nomes que fizeram a história e nela
permaneceram, como: Benedito Valadares, Gustavo Capanema e, mais tarde,
Juscelino Kubistchek. Cada vez mais, os mineiros trocavam a autonomia e a
preocupação pelos interesses regionais e acesso direto ao Governo central
(SCHWARTZMAN, 2003).
Como relata Dulci (1999), na trajetória histórica de Minas, a percepção
quanto ao atraso no desenvolvimento estadual, cada vez mais acentuado,
estava presente na consciência das autoridades e das elites1. A propósito, o
referido autor explica que as insuficiências da economia regional eram notórias,
porém, as condições institucionais para reduzi-las foram viabilizadas pela
política. A elevada coesão interna das elites ampliou a possibilidade de levar
adiante um esforço de recuperação econômica conduzido sob a égide do
Estado. E nesta análise, complementa a idéia ao constatar que este fato
decorreu da união entre as variações econômicas e políticas no processo de
modernização, incorporando o problema da “identidade regional como recurso
político – ou seja, o ‘nós’ em relação aos ‘outros’” (DULCI, 1999, p.192).
Vale aqui ressaltar que as elites políticas mineiras não eram
representadas diretamente por fazendeiros, levando em consideração que
Minas Gerais era um Estado altamente direcionado à cafeicultura, mas sim por
profissionais liberais que atuavam como representantes dos interesses
econômicos dominantes na sociedade, dando início à abertura para a
industrialização.
Refletindo sobre as características do mineiro e a “mineiridade”, Dulci
(1999) afirma que, enquanto representação das elites, esta possui três funções
ideológicas: I) servir como ideologia da classe dominante, organizando setores;
II) ajudar a legitimar o domínio das elites, quando parte significativa da
população compartilha os valores e símbolos regionais; e III) fortalecer os
interesses do Estado nacional, apoiando e justificando a ação de suas elites,
1 As elites políticas mineiras atuavam “como representantes dos interesses econômicos dominantes em uma sociedade” (VISCARDI, 1995, p.42). Para Bobbio (1971, p.386), a Teoria das Elites apóia-se no fato de que em “toda sociedade, existe, sempre e apenas, uma minoria que, por várias formas, é detentora do poder, em contraposição a uma minoria que dele está privada“. Afirma ainda que as mais importantes formas de poder são: a econômica, a ideológica e a política.
34
em face das ações de outras áreas. Exemplificando, vale lembrar que o
sentimento de “mineiridade” foi eficaz para dar unidade interna às campanhas
presidenciais de líderes mineiros (Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves),
verdadeiros depositários da tradição e do estilo regionais.
O mineiro no seu modo de ser, na percepção de Carvalho (2005, p.65),
demonstra “apego à tradição, à hierarquia, à religião, à família, à moderação, ao
trabalho”. Ademais, segundo o mesmo autor, “aceita o papel predominante do
Estado em relação à iniciativa individual, aceita a cooperação em oposição à
competição e tem aversão ao conflito”.
Como ideologia, Lima (1945) afirma que a “mineiridade” pode ser
percebida nas relações entre os meios social e físico. O tradicionalismo e a
moderação dos mineiros dão-lhes um papel especial, uma missão unificadora
no plano nacional, até pela posição geográfica do estado (cercado por
montanhas fazendo de Minas Gerais a “encruzilhada dos caminhos”,
significando dizer que, estando no centro do País, politicamente representaria
um “ponto de convergência e nucleação, dando a idéia de síntese, de dureza e
de estabilidade” (Op.cit., p. 297).
Face ao exposto e resgatando a análise da recuperação econômica de
Minas Gerais na década de 50, ainda na Primeira República observa-se que os
mineiros voltaram sua atenção para a organização interna do Estado,
ensejando o início da escalada política das elites locais rumo à Presidência da
República2.
Nos anos 50, Minas Gerais teve como governadores: Milton Soares
Campos (19/03/47 a 31/01/51), Juscelino Kubistchek de Oliveira (31/01/51 a
13/03/55), Clóvis Salgado Gama (31/03/55 a 31/01/56) e José Francisco Bias
Fortes (31/01/56 a 31/01/61).
No governo de Juscelino Kubistchek, a idéia de estagnação ou atraso do
Estado tornava-se mais evidente diante de um passado de riqueza e prestígio,
correspondente ao ciclo da mineração do ouro, e das comparações
desfavoráveis frente ao avanço econômico de outros estados do País,
particularmente São Paulo. O contraste entre um crescimento moderado e uma
2 Afonso Augusto Moreira Pena (1906-1909); Wenceslau Braz Pereira Gomes (1914-1918),
Arthur da Silva Bernardes (1922-1926); Juscelino Kubistchek de Oliveira (1956-1961) e Tancredo de Almeida Neves, eleito diretamente em 1985, após o período da ditadura militar.
35
rápida expansão de outras regiões definia o declínio da posição relativa de
Minas Gerais em termos nacionais, fato que seus líderes mais influentes
qualificavam como “perda de substância econômica”, fazendo com que a
recuperação econômica estadual se tornasse tema dominante na agenda
política ao longo do século XX (DULCI, 2005, p.116).
Para Bomeny (1994), o governo mineiro fez do regionalismo um recurso
político visando promover o desenvolvimento econômico, dando ênfase à
indústria, ao transporte e à energia. Deste modo, como exemplo da influência
das elites mineiras na área federal, destaca-se a instalação de duas grandes
siderúrgicas: a Mannesmann, de origem alemã, e as Usinas Siderúrgicas de
Minas Gerais (USIMINAS).
Vale lembrar que desde a implantação do federalismo, na década de 40,
as elites mineiras políticas, técnicas, empresariais ou agrárias, a partir da
percepção da decadência econômica estadual, foram capazes de unirem
esforços em torno de projetos comuns de desenvolvimento e de modernização
econômica, conciliando interesses próprios e realizando um jogo político que
beneficiou a todos (DULCI, 1999).
Quanto à educação, durante seu segundo governo, Vargas não tratou o
tema com o mesmo entusiasmo com que o fez no primeiro mandato, quando
criou o Ministério da Educação e da Saúde (1930), fato que incentivou a criação
da Universidade do Brasil (1937), e construiu um sistema nacional de ensino,
ensejando as Reformas do Ensino Secundário e Universitário (1942) que, além
de padronizar o ensino público federal e criar o Serviço Nacional da Indústria
(SENAI) (1942) (BOMENY, 2007, p.1).
Constatou-se que a educação se tornou um grande problema para o
governo, pois “a aura desenvolvimentista expunha com nitidez a precariedade
educacional dos brasileiros” (Op.cit., p. 1). De acordo com esta mesma autora,
o segundo governo Vargas ficou devendo muito à educação, pois o que estava
em jogo era a formação, a “preparação de uma elite capaz de atuar em uma
conjuntura mobilizada pelo crescimento, pelo desenvolvimento tecnológico e
pelo impulso à industrialização” (Op.cit., p. 1).
Na tentativa de solucionar o problema, foram criadas várias agências
especializadas voltadas para a educação, com ênfase na formação e na
36
qualificação de funcionários de nível superior. Nesta linha de raciocínio,
Bomeny (2007) destaca a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento
(atual BNDES), do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e da Campanha
Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
instituições que impulsionaram o projeto educacional do País. Todavia, afirma
que “quase não se fala em educação neste período”, e conclui com uma
afirmação: “são tão silenciosas as fontes” (Op. cit., p. 2).
Bomeny (Op. cit.) relembra que, neste governo, ocorreu um
desmembramento ministerial: em 1953, o Ministério da Educação e da Saúde
transformou-se em Ministério da Educação e da Cultura, para tratar de assuntos
afins; quanto aos temas relacionados com a saúde, ficaram a cargo do
Ministério da Saúde, ora criado. Como Ministros para as respectivas pastas,
foram designados Antonio Balbino e Miguel Couto Filho. Destaca ainda que
Gustavo Capanema, durante sua permanência como líder do governo Vargas
na Câmara de Deputados Federais, não só estimulou avanços no processo de
aperfeiçoamento da política educacional, como também intimidou algumas
iniciativas parlamentares, visto que Antonio Balbino, Ministro da Educação em
1953, “era uma liderança ainda não consolidada no quadro político nacional e
dificilmente contrariaria o ex-ministro” (BOMENY, 2007, p.2).
Vale relembrar que Gustavo Capanema, na qualidade de Ministro da
Educação e Saúde Pública durante o mandato de Vargas, foi o porta-voz
autorizado e legitimado que, logo após o Estado Novo, articulou o debate sobre
os destinos da educação brasileira, realizado entre defensores da escola
pública e de uma escola “livre”, confessional. Porém, o que se discutia mesmo
era a implantação de um sistema de educação leiga, universal e gratuita, ou a
subvenção governamental da educação privada, de orientação católica e elitista
visto que, apesar das diferenças de pensamento sobre o tema, os
representantes de ambos os grupos tinham a crença comum de que a
educação detinha poder.
Na década de 50, a política da educação refletia um continuum do fim da
política do Estado Novo, quando o projeto educacional do Ministério da
Educação e Saúde Pública “havia exaurido seu conteúdo ético e mobilizador”
(SCHWARTZMAN, BOMENY e COSTA, 2000, p. 281), permanecendo as leis,
37
instituições e rotinas apenas prontas para funcionar. Enquanto isso, os debates
sobre os rumos da educação brasileira pautavam-se no confronto entre os
defensores da escola pública e os da escola confessional (livre). A questão em
si era a polêmica em relação a determinação do modelo a ser implantado: um
sistema educacional amplo e nacional de educação leiga, universal e gratuita
ou um modelo apoiado “nos princípios da liberdade de pensamento e dos
direitos da família” (Op. cit., p. 281).
Este foi um debate que permaneceu até o final dos anos 50 e só
terminou com a edição da Lei 3.024, em 1961, conhecida como a nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional que, à semelhança da segunda
alternativa, não passou de uma tentativa de resgatar as tradições católicas de
nosso passado, sem solucionar realmente os problemas do sistema
educacional brasileiro (SCHARTZAMAN, BOMENY e COSTA, 2000).
Diante deste quadro, Minas Gerais teve como meta favorecer o
desenvolvimento, concebendo como missão pedagógica a de educar a
população para o progresso, ou seja, ministrar a educação básica voltada para
o trabalho e o ensino superior “como uma estratégia mais ambiciosa de
modernização” (DULCI, 2005, p.131).
A crença no poder da educação devia-se ao fato de que a Igreja Católica
sempre teve um papel de destaque na legitimação da ordem, sendo para o
Estado um instrumento indispensável na transmissão de valores ligados à
religião, quais sejam: a grandeza da Pátria, o valor da família, a preservação da
moral e dos bons costumes (GOMES, 2006).
Sendo Minas Gerais conhecida por sua religiosidade, por mais que essa
afirmação seja relativizada devido à vastidão territorial do Estado e à sua
diversidade cultural, trata-se de aspecto importante a ser considerado. Região
com muitas igrejas e festas religiosas que persistem até os dias de hoje,
também padeceu com o número reduzido de padres, o que resultou no
desenvolvimento de uma forte religiosidade privada (MARQUES, 2003).
Itajubá, cidade mineira situada na região sul, importante econômica e
politicamente, estava bem próxima dos Estados mais desenvolvidos à época
(Rio de Janeiro e São Paulo), tanto que na década de 50 já contava com o
Instituto de Engenharia de Itajubá (IEI), criado em 1913 e federalizado em
38
19563. A área geográfica da cidade era de 626 Km2 e, de acordo com o Censo de
1950 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tinha
20.627 habitantes na zona urbana e 18.341 na rural, perfazendo um total de 38.968
moradores. Faziam parte do município as vilas: Bicas do Meio, Lourenço Velho e
Piranguçú que, juntas, somavam 1.497 residentes. Este Censo ainda revelou que
cerca de 81,38% da população de Itajubá com idade superior a 5 anos eram
analfabetos, havendo predominância da religião católica, seguida de pequeno
número de evangélicos.
Guimarães (1961) afirma que nos anos 50, Itajubá viveu de perto os
problemas educacionais, sempre acompanhando a evolução do ensino, e que
“jamais se descuidou da instrução. Em todos os tempos, houve
empreendimentos que colaboraram para o aprimoramento intelectual do povo”
(GUIMARÃES, 1961, p. 241), tanto assim que a cidade já abrigava a 25ª
Circunscrição Regional de Ensino Primário, a 10ª Sede de Agrupamento de
Inspetoria da Secretaria da Educação e a 78ª Sede da Inspetoria de Grupos
Escolares, que faziam a ligação entre as instituições de ensino oficiais e
particulares, e também estavam vinculadas à Secretaria da Educação de Minas
Gerais.
Nos anos de 1949 e 1950 foram realizados em Itajubá dois cursos
intensivos de aperfeiçoamento para professoras rurais, visto que o município
contava com cinco escolas rurais sob sua responsabilidade, tanto no aspecto
administrativo quanto no financeiro. Na zona urbana, existiam nove escolas
oficiais e nove estabelecimentos particulares, todos voltados para o ensino
primário. A propósito, no período deste estudo houve uma expansão do ensino
que, de acordo com Romanelli (1985), decorreu das migrações internas
ocasionadas pela expansão industrial.
Quanto ao ensino secundário, havia quatro instituições além de duas
escolas de ensino profissionalizante voltado para a área industrial e uma escola
normal, o Colégio Sagrado Coração de Jesus, de propriedade da Congregação
3 Guimarães (1987, p.325) relata que a inauguração oficial do prédio próprio da Escola de Engenharia, no
centro da cidade, ao lado da Matriz de Nossa Senhora da Soledade, em terreno doado por seu fundador, o Professor Theodomiro Carneiro Santiago, ocorreu no ano de sua criação (1913), com a presença do Presidente da República Hermes da Fonseca, do seu Vice, Wenceslau Braz, do Vice-Presidente do Senado, Pinheiro Machado, de vários Ministros, Senadores, Deputados federais e estaduais, Autoridades e Jornalistas do Rio de Janeiro e de São Paulo.
39
das Irmãs da Providência de Gap, que o administravam e respondiam pelo
ensino nele ministrado.
Na educação superior, antes da criação da Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz, como dito anteriormente, havia uma escola de engenharia, o
Instituto de Eletrotécnica de Itajubá, criado em 1913.
A criação de Escolas de Engenharia em Minas Gerais obedeceu à
seguinte ordem: a primeira, em Belo Horizonte (1911) e, a seguir, uma em
Itajubá e outra em Juiz de Fora, ambas em 1913. Tinham como objetivo
propiciar condições para o crescimento econômico estadual por meio da
formação de quadros superiores, observando a preocupação com o
‘cientificismo’ e também com a perspectiva de modernização da sociedade.
Como explica Dulci (1999, p.158), “não foi por acaso, tais faculdades se
localizarem em centros dinâmicos da economia regional”, tanto assim que neles
se formou a maior parte dos técnicos e empresários atuantes em meados do
século XX, que se ocuparam dos trabalhos de eletrificação regional
desenvolvidos naquela época.
No que diz respeito à saúde, a industrialização trouxe mudanças
significativas no quadro epidemiológico brasileiro. Às doenças infecto-
contagiosas somaram-se as cardíacas e as crônico-degenerativas resultantes
da queda vertiginosa das condições de vida da população, decorrentes do
rápido crescimento das cidades e da precariedade ou falta de infra-estrutura
urbana adequada, tanto no nível de provisão de água, esgoto e calçamento das
ruas, como no de gêneros alimentícios, meios de transporte e habitações
condizentes com as necessidades sociais da época (NASCIMENTO, 2002).
Em decorrência dos problemas sociais advindos das condições de saúde
da população, e para garantir a força de trabalho necessária à manutenção da
expansão da industrialização no Estado, o governo resolveu promover o
desenvolvimento da Saúde Pública. Assim, o crescimento industrial em direção
à região Centro-Sul do País (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais)
propiciou a criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), em 1942,
em convênio com o governo americano e com o apoio técnico e financeiro da
Fundação Rockefeller, tendo como função principal o atendimento das questões
de saúde em áreas estratégicas (militares e econômicas) como as de produção
40
de borracha, no Vale do Amazonas, e as de minérios, no Vale do Rio Doce
(DIMITROV, 2000).
O SESP, numa ampliação significativa da atuação médico-sanitária,
operava prestando assistência, promovendo o saneamento ambiental e
controlando a malária e a febre amarela nas áreas de extração daquelas
matérias-primas, vitais para a causa da Segunda Guerra Mundial em curso na
Europa, Ásia e África.
Com o término daquele conflito militar mundial, nas décadas seguintes o
SESP firma-se como organização permanente, reconhecida como líder no
cenário nacional em relação aos problemas gerais de saúde do País, com isto
causando grande impacto no sistema de saúde vigente porque “seus
profissionais atuaram como agentes multiplicadores de seu modelo junto a
outras instituições” (BARREIRA, 1992, p.79).
Em decorrência, o modelo SESP de Enfermagem de Saúde Pública
tornou-se oficial e único, não só por causa do intercâmbio realizado entre as
Secretarias Estaduais de Saúde e as Escolas de Enfermagem, como também
da sua relevante atuação na Campanha Nacional Contra a Tuberculose
(CNCT).
É pertinente aqui resgatar o fato de que, a partir da década de 30, os
trabalhadores começaram a se organizar por categorias. À época, ocorreram os
primeiros movimentos populares, os quais reivindicavam melhor atendimento no
setor saúde com ênfase no cuidado individual, isto é, assistência médica
curativa e individual. O Estado Getulista viu-se, então, obrigado a estruturar
uma nova política de assistência social, o que levou à criação dos Institutos de
Aposentadoria e Pensões (IAP), privilegiando a assistência curativa individual
em detrimento das atividades preventivas e de promoção da saúde, embora
esta mudança não tenha modificado as causas básicas dos problemas de
saúde da população (DIMITROV, 2000).
De acordo com o mesmo autor (Op.cit.), nas décadas seguintes até os
anos 60, o Estado ampliou seus serviços próprios de atendimento à saúde,
especialmente no que se refere à rede ambulatorial. Nesse período, a rede
hospitalar era reduzida, tendo como base da assistência previdenciária as
consultas ambulatoriais e a compra de serviços hospitalares do setor privado.
41
Para atender a demanda do modelo curativo, individual e hospitalar, e
com o aumento da população previdenciária, tornou-se necessário desenvolver
a rede hospitalar privada. Os hospitais existentes foram perdendo o caráter
filantrópico em troca da lucratividade obtida a partir de convênios estabelecidos
pela Previdência Social, um modelo que privilegiava o tratamento do corpo
doente no espaço hospitalar. Assim, o hospital tornou-se o locus de
atendimento, “apresentado como a expressão do direito à saúde, sendo nele o
doente a pessoa mais importante” (BARREIRA, 1992, p.80).
Minas Gerais era considerado um Estado desenvolvido e rico, como São
Paulo e Rio de Janeiro, porém os mineiros careciam de assistência à saúde em
decorrência de vários fatores, entre eles o alto nível de analfabetismo
acompanhado de um baixo padrão cultural, advindos do número considerável
de habitantes em zonas rurais, que impediam mudanças de hábitos e atitudes
de vida em relação a padrões que pudessem melhorar a qualidade de vida
desses indivíduos. Os serviços de saúde eram quantitativa e qualitativamente
insuficientes, além de concentrados nas cidades desenvolvidas onde também
centralizavam-se os problemas oriundos da industrialização e da explosão
demográfica. Os recursos humanos destinados à saúde eram também
insuficientes e mal distribuídos impedindo a população, de um modo geral, ao
acesso à assistência em âmbito curativo ou preventivo (RABELO et al., 1971).
Paiva (1969), analisando o nível de saúde de Minas Gerais, refere-se à
situação desfavorável evidenciada por problemas de saneamento básico, alto
índice de mortalidade infantil, elevada taxa de mortalidade por doenças infecto-
contagiosas, desnutrição e doenças de massas (tuberculose, lepra, parasitoses
intestinais, doença de Chagas, malária e esquistossomose), e aos limitados
orçamentos do Estado e dos municípios para esse fim.
Vale a pena lembrar que é a partir principalmente da metade da década
de 50, com o maior desenvolvimento industrial e a conseqüente aceleração da
urbanização, e do assalariamento de parcelas crescentes da população, que
ocorre uma pressão social pela assistência à saúde, via Institutos. Com isso,
iniciava-se o investimento nos Institutos de Pensões e Aposentadorias, com
vistas à proteção da saúde do trabalhador. Houve, ainda, o crescimento de
hospitais conveniados com a Previdência (Op. cit., 1971).
42
No Brasil dos anos 50, segundo Pedroso (1955), não existia nos
hospitais um serviço de enfermagem adequado, dado o número reduzido de
enfermeiras que não ultrapassava 3.500, sendo que apenas 3.000 estavam
atuando na assistência aos doentes, e destas, 2.000 na área hospitalar.
Estimava-se, pois, que havia necessidade de 24.000 enfermeiras para suprir as
necessidades da população brasileira. Além disso, a situação era agravada
pela precária (qualidade dos serviços prestados e pela falta de equipamentos e
instalações hospitalares adequadas (PEDROSO, 1955).
Vietta (1995) comenta que os cuidados de enfermagem eram limitados:
atendia-se apenas às necessidades básicas do paciente quanto à higiene,
sendo as terapêuticas sempre realizadas por atendentes ou auxiliares de
enfermagem supervisionados por uma enfermeira. Esta afirmação pode ser
confirmada quando no VIII Congresso Nacional de Enfermagem, realizado em
Belo Horizonte, em julho de 1955, discutiu-se o papel atual das enfermeiras,
sendo uma das conclusões a de que “poucas enfermeiras dão cuidados diretos
ao paciente, muitas executam atividades que poderiam ser delegadas a outros
funcionários” (Op. cit., p.173).
Pinheiro (1955) complementa afirmando que as próprias enfermeiras
desta década (50) reconheciam que o serviço de enfermagem no Brasil era
deficiente, não só pelo seu número reduzido, mas principalmente pelo
despreparo técnico dos atendentes que atuavam nos hospitais.
Não obstante, Minas Gerais concentrava na sua capital e nas cidades
mais desenvolvidas o maior número de enfermeiras e profissionais da área da
saúde, o que leva a inferir que a assistência à saúde, na maior parte do Estado
ficava desprovida de enfermeiras, tanto nos aspectos curativos e preventivos,
como no educacional.
Itajubá procurou acompanhar o modelo político-desenvolvimentista do
momento. Surgiram várias indústrias, tais como de laticínios, macarrão, doces,
chapéus, sapatos e tamancos, duas têxteis e uma vinícula, dentre outras de
menor porte. Mas a indústria de material bélico do Ministério do Exército –
Fábrica de Canos e Sabre para Armas Portáteis, criada na cidade pelo Decreto
no. 23.348, de 20 de dezembro de 1933, era destaque e possuía um número
considerável de operários. Deve-se salientar que em 1939 recebeu o nome de
43
Fábrica de Armas por passar a fabricar armamentos completos (fuzis,
metralhadoras e pistolas), e que, em 1945, festejou a fabricação do primeiro
mosquetão totalmente brasileiro (GUIMARÃES,1987).
Também em Itajubá a migração do homem do campo para os grandes
centros, onde se encontrava o desenvolvimento industrial, como referido,
acarretou mudanças nas políticas de saúde: a proximidade da economia
traduziu-se em políticas governamentais previdenciária e sanitária voltadas para
as necessidades dos setores produtivos, desconsiderando as reais
necessidades da população, com isso deixando de ser uma prática sanitária
dominante para tornar-se uma prática de saúde centrada nas doenças do
indivíduo, enquanto trabalhador, valorizando apenas a atenção médica.
Essa mudança contribuiu para o desenvolvimento hospitalar, no que se
refere ao aumento do número de leitos, bem como à aquisição da tecnologia
médica importada dos países desenvolvidos, principalmente dos Estados
Unidos, para onde foram muitos profissionais da área da saúde em busca de
especialização, o que se concretizou e favoreceu a hegemonia da atenção
médica sobre a prática sanitária, gerando não só grande avanço da medicina
clínica, mas também possibilitando o desenvolvimento das especialidades e dos
especialistas (VERDERESE, 1979).
Vale a pena aqui enfatizar que a missão do hospital, agora responsável
pela assistência médico-hospitalar, era considerada socialmente obrigatória,
ainda que progressivamente mais cara também, visto que a clientela hospitalar,
em sua maioria, continuaria a ser integrada por “pobres (...) trabalhadores
adoecidos e acidentados” (RIBEIRO, 1996, p.26); mais cara, porque o hospital
perdia as missões de penitência e misericórdia que eram as suas
características para ceder lugar apenas ao tratamento e à recuperação.
Itajubá retratava esta mesma situação, quando a cidade evoluiu com a
instalação de indústrias e o aumento significativo da população, necessitando
ampliar as dependências da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá. A esse
respeito, Lisboa (1985, p.2) descreve as melhorias que a Instituição teve ao
longo dos anos:
44
As instalações eram satisfatórias e até modelares para aquela época (1952); duas enfermarias gerais, envolvidas por um apreciável jardim, bem iluminada sala de cirurgia anexada a sala de exames e de esterilização, quartos particulares, apartamentos, salão nobre – ainda existente com os retratos dos benfeitores – farmácia, na frente térrea a capela e consultório para atendimentos externos, na entrada, recepção e matrículas; ainda a registrar, sala de refeições, sala de raios-X, pavimento superior (acomodações das Irmãs). O prédio de isolamento – sob o patrocínio de São Sebastião – um pouco afastado e no local em que ainda se acha; a capela estava situada na parte inferior, lado esquerdo, onde depois se localizou a enfermaria das crianças e onde hoje se instalam os serviços de radiografia.
Ao ser entrevistado, o Dr. Antonio Edilberto Lisboa afirmou que o
aumento do número de leitos e a melhoria nos equipamentos médicos da Santa
Casa deveu-se ao fato de que o atendimento dos funcionários da Rede
Ferroviária passou a ser realizado na referida Instituição de saúde, e não mais
em Belo Horizonte.
No que se refere à saúde pública, nos seus aspectos de promoção da
saúde e prevenção das doenças com contribuições financeiras da população, e
seguindo as políticas de saúde do governo Vargas, Itajubá deu início à
construção de um prédio para a instalação de um Posto de Saúde e de
Puericultura, que ficariam responsáveis pela diminuição da mortalidade infantil,
erradicação de doenças endêmicas e crescimento das perspectivas de vida da
população brasileira. Este Posto de Saúde recebeu o nome de Centro de Saúde
Amilcar Pellon, em homenagem ao médico sanitarista, então Diretor da Divisão
da Organização Sanitária de Saúde do Ministério da Saúde
(GUIMARÃES,1987).
Antes do término da construção do prédio, em 1955, o Governo Federal
passou a financiar a obra ao realizar convênio com o município. Neste local
afastado do centro comercial da cidade, do outro lado da margem do rio
Sapucaí4 que corta a cidade, prestava-se atendimento à população de baixa
renda e, desse modo, o Centro de Saúde consolidava e simbolizava, no
4 O rio Sapucaí, que corta a cidade, pertence à Bacia do Rio Sapucaí, integra a bacia do rio Grande, localizando-se na região Sudeste, atravessando dois estados: São Paulo e Minas Gerais. O rio Sapucaí nasce na Serra da Mantiqueira, na cidade de Campos de Jordão – SP, a uma altitude de 1.650m, e deságua no Lago de Furnas a 780m de altitude atravessando, aproximadamente, 343km (34km em Estado de São Paulo e 309km em Minas Gerais).
45
município, o modelo de saúde popular (e populista) do governo Vargas.
No que tange à questão educacional, a relação entre política e educação
tem existência histórica; ambas só podem ser adequadamente compreendidas
enquanto manifestações sociais determinadas. A propósito, Saviani (1983)
afirma que a inseparabilidade entre as duas está fundamentada no fato de se
tratar de práticas distintas, “mas que, ao mesmo tempo, não são outra coisa
senão modalidades específicas de uma mesma prática: a prática social”
(Op.cit., p. 89).
No Brasil, em 1950, apenas 36,2% das crianças de 7 a 14 anos tinham
acesso aos bancos escolares. Esse baixo índice devia-se ao fato de que as
migrações internas que levaram os trabalhadores da zona rural, com economia
tradicional, para as cidades mais desenvolvidas, sobrecarregaram vários
sistemas, entre eles o educacional que foi obrigado a absorver um número
crescente de crianças que não tinham o hábito de freqüentar a escola.
1.2. A Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e as Irmãs da Congregação da Providência de Gap: primeiras iniciativas
da criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
A inauguração oficial da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, em 03 de
maio de 1904, deu-se entre festividades: a imagem de São José, orago5 da
Instituição, foi conduzida ao som de música sacra desde a Igreja Matriz até o
novo prédio. Na ocasião, houve a bênção do estabelecimento e a população,
em massa, ocupou suas dependências para conhecê-las. Na oportunidade,
foram inaugurados os retratos de Arlindo Vieira Goulart6, fundador da
Instituição; Dr. Antonio Maximiano Xavier Lisboa7, primeiro médico a clinicar
5 Orago refere-se ao santo da invocação que dá nome a uma capela ou igreja (FERREIRA, 1986, p.1011). 6 Arlindo Vieira Goulart (1856-1920), conhecido como Sr Rolindo, era um cidadão modesto, cristão,que
sempre realizou o que pode em beneficio dos pobres. Em 1897, com pouco dinheiro, fundou a Sociedade Beneficente Itajubense, numa pequena sala com alguns leitos, onde recolheu alguns pobres doentes. Essa Sociedade deu origem à Santa Casa de Misericórdia, fundada oficialmente três anos depois. Quando foi inaugurada a Santa Casa, em 1909, foi lembrado e enaltecido pelo Dr. Wenceslau Braz em discurso de inauguração (GUIMARÃES, 1999, p.52-53).
7 Antonio Maximiano Xavier Lisboa, Dr. Xavier Lisboa, como era conhecido, médico diplomado em 1887, foi o primeiro médico a clinicar naquela instituição e “nunca aceitou remuneração pelos serviços prestados”. É considerado benemérito de Itajubá e a Maternidade anexa a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá leva o seu nome: Maternidade Xavier Lisboa. Foi político (GUIMARÃES, 1987, p.516).
46
naquela Instituição e o de Dª Maria Pinto Paulista8, a “Sá Marica Luisa” ou “Sá
Marica da Santa Casa”, como era conhecida por todos, considerada a primeira
enfermeira da cidade, “a Ana Néri de Itajubá” (GUIMARÃES, 1999, p. 53),
denominação recebida em decorrência de seus conhecimentos e técnicas de
enfermagem e obstetrícia.
Ainda em 1904, Madre Maria Raphaël Combes9, religiosa da
Congregação das Irmãs da Providência de Gap, na França, tomou
conhecimento, através de carta, que em Carmo do Rio Claro, Estado de Minas
Gerais, Brasil, havia uma senhora de nome Maria Goulart10, desejosa de fundar
um colégio para moças e meninas.
Diante disto, em 29 de junho daquele ano chegaram ao Rio de Janeiro
cinco Irmãs da Providência, vindas de Lectoure, cidade francesa onde se
localizava o Convento da Congregação das Irmãs da Providência de Gap,
lideradas por Madre Maria Raphael Combes, sendo duas educadoras, uma
serviçal, uma farmacêutica e uma enfermeira com larga experiência, por ter
trabalhado em vários hospitais e Santas Casas dirigidas pelas Irmãs da
Providência, na Europa. Todas embarcaram para a cidade de Carmo do Rio
8 Maria Pinto Paulista (1866-1967), órfã aos 15 anos, foi acolhida pelo Dr. Américo da Silva de Oliveira e
sua esposa D. Virginia Emília Rennó. Recebeu deste médico os conhecimentos de enfermagem, de técnicas e de Obstetrícia e se tornou uma das mais competentes e procuradas parteiras da cidade à época. Casou-se com o Dr. Luiz, daí seu nome Sá Marica Luisa ou Sá Marica da Santa Casa. Em 1884 é admitida como enfermeira na Sociedade Beneficente Itajubense, por seus conhecimentos e prática com os doentes. Acompanhou o desenvolvimento daquela instituição de caridade. Com 60 anos de idade afastou-se dos serviços da Santa Casa. É considerada a “primeira enfermeira de Itajubá, pois em época que a Santa Casa recolhia os carentes e mendigos, cuidava zelosamente dos mesmos ali internados, sempre solícita, prestativa, caridosa e incansável”. Exímia e experiente parteira sempre se predispôs, quando chamada, a atender parturientes em casa (GUIMARÃES, 1999, p.53; FERNANDÉZ, 2001, p. 311-312).
9 Madre Maria Raphaël Combes (1869 – 1925) nasceu em Montpzt, Gerz, França. Recebeu o hábito de religioso das Irmãs da Providência aos 18 anos de idade. Sempre esteve ligada à educação. Atuou como diretora de escolas e fundou uma instituição para surdos e mudos, na França, a qual dirigiu até 1903. Sua vinda para o Brasil foi impelida pelo seu ardor missionário. No Brasil, tendo sempre o seu lema “Deus só e sempre avante”, realizou grandes obras: Colégio Sagrado Coração de Jesus e Maria na cidade de Carmo do Rio Claro, e em Itajubá fundou o Colégio Sagrado Coração de Jesus, o Instituto de Surdas e Mudas, o Educandário Santa Isabel destinado a meninas carentes e um noviciado, hoje o Convento e Província Leste da Congregação das Irmãs da Providência de Gap. A fundação desta Congregação no Brasil, é para as suas religiosas, um atestado de um alicerce regado de muitos suores, de muitas lágrimas. . Mas é também uma prova do que pode uma alma levada pelo Espírito de Deus e amorosamente fiel às exigências divinas. Itajubá, centro escolhido por esta religiosa, tornou-se o ponto de partida para outros Estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Sergipe e Minas Gerais nas regiões sul, norte e leste (FERNANDÉZ, 2001, p.200-206; RENNÓ, 2002, p. 83-86).
10 Maria Umbelina Vilela Goulart Andrade “nasceu na Fazenda Santa Rosa, município de Carmo do Rio Claro, Minas Gerais, por volta do ano de 1851, Era uma mulher educada, fina, elegante, de gestos requintados, sorriso aberto, alma acolhedora e fé inabalável. Casada com o Sr. Manoel Goulart de Andrade,cafeicultor à época, não teve filhos. Preocupada com a educação das crianças de sua cidade e região e com a incapacidade técnica e financeiras dos governos provinciais para a elaboração e
47
Claro, lá chegando em 02 de julho, onde foram recebidas pelas autoridades
locais e por D. Maria Goulart, e em 15 de agosto foi inaugurado o Colégio
Sagrado Coração de Jesus e Maria.
A criação de uma escola católica sob a direção de religiosas
estrangeiras, ao tempo em que contribuiu para a formação de um habitus
católico nas meninas e jovens da região, ensejou a possibilidade de assegurar
a produção, reprodução e difusão dos bens e valores religiosos.
Em 1907 foi instalado um Noviciado, em Carmo do Rio Claro,
consolidando o projeto do Padre João Martinho Moyë11, que era o de “formar
irmãs” que ministrassem aulas e ensinassem o Catecismo. Todavia, diante das
inúmeras dificuldades de transporte e comunicação, Madre Maria Raphaël,
então Provincial12, comunicou ao seu superior Dom João Batista Correa Nery,
Bispo da Diocese de Pouso Alegre, cidade de Minas Gerais, o seu desejo de se
estabelecer em outra região de mais fácil acesso. Dom Nery acatou o pedido e
indicou-lhe duas cidades: Campinas (em São Paulo) e Itajubá (no sul de Minas
Gerais).
Tendo escolhido Itajubá, pequena cidade do interior de Minas Gerais,
Madre Maria Raphaël acolheu as orientações da vivência baseada nas quatro
virtudes fundamentais do carisma fundacional da Congregação: “a Pobreza, o
Abandono, a Simplicidade, a Caridade”, dadas as características locais,
naquele tempo (RENNÓ, 2002, p.119).
Em 21 de junho de 1907, Madre Maria Raphaël e quatro Irmãs da
Providência chegaram a Itajubá, vindas de Carmo do Rio Claro, e inauguraram
o Colégio Sagrado Coração de Jesus, com 41 alunas matriculadas. Após cinco
anos, o colégio expandiu-se, dando lugar à fundação da Escola Normal de
Itajubá e do Instituto para Surdas e Mudas, sediados no mesmo prédio (Foto 1),
consolidando a “Mística do Servir” no Brasil.13
execução de programas de educação eficiente, fundou um Colégio em Carmo do Rio Claro, Minas Gerais, sob a coordenação de Religiosas” (GORGULHO, 1989, p.2).
11 Padre João Martinho Moyë, foi o fundador da Congregação das Irmãs da Providência de Gap. 12 Função correspondente à de uma supervisora geral. Enviada da França, era a responsável pela Província na qual estivesse instalada a Congregação das Irmãs da Providência de Gap, sendo a autori- dade máxima no Brasil, subordinada à Superiora Geral, instalada na Casa Mãe, na França. 13 A Congregação desenvolveu-se rapidamente no Brasil, e em poucos anos se instalou em São Paulo,
Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia. Esta expansão ocorreu atendendo ao “Carisma de Servir”, ideal de seu fundador. Assim, várias Irmãs foram solicitadas para diversos campos de apostolado: escolas de 1o e 2o graus, Hospitais, Casas de Crianças, Orfanatos, Casas de Idosos, Coordenação de Catequese,
48
Foto 1 - Colégio Sagrado Coração de Jesus e Instituto de Surdas e Mudas Fonte: Arquivo Particular da Pesquisadora
Em seus relatos sobre a Santa Casa, Guimarães (1999) menciona que
em 28 de novembro de 1920 foi lançada a pedra fundamental de uma edificação
no morro localizado no final da atual Avenida Cesário Alvim. A planta baixa do
prédio foi idealizada e projetada pelo artista francês Eduardo Piquet14, e a
inauguração do imóvel ocorreu no dia 24 de outubro de 1925, com a presença
do Dr. Wenceslau Braz, do então Presidente do Estado15 o Sr. Fernando de
Melo Vianna, e do Bispo Diocesano Dom Otávio Chagas de Miranda, dentre
outras personalidades.
de Liturgia, de Secretariado de Paróquias e Bispados (FOUCAULT, 1990). Este assegurava que seguiriam as orientações para uma vida religiosa plena.
14 Eduardo Piquet nasceu na França (1864 – 1948), diplomou-se pela École des Arts et Métier na cidade francesa de Angers. Faleceu em Itajubá, onde foi arquiteto e desenhista arquitetônico. Projetou outras importantes obras na cidade além do prédio da Santa Casa: o Clube Itajubense (cópia da planta do Petit-Trianon de Paris), o Asilo Santa Isabel, a Porta de entrada do 4º Batalhão de Engenharia e Combate entre outros. Foi professor de desenho no Colégio São Vicente de Paulo e no Colégio de Itajubá (GUIMARÃES, 1999).
15 Denominação utilizada, à época, que equivale à de Governador do Estado, atualmente.
49
Foto 2 - Fachada do prédio da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, no ano de sua inauguração (1925)
Fonte: Arquivo particular do Dr.Antonio Edilberto Lisboa
A construção de um prédio próprio, guardando as características
arquitetônicas de seus similares em outros países, teve como objetivo
representar uma intervenção inovadora e transformadora, capaz de expressar
as estruturas socioeconômicas e de poder da elite dominante, confirmando o
pensamento de Menezes (1991, p.162) no sentido de que, na realidade, um
arquiteto age “a serviço de uma elite (política, econômica, religiosa, etc...)”;
logo, submete-se ao domínio da classe dirigente quando vende o seu trabalho
intelectual. Assim sendo, a arquitetura é uma expressão simbólica de poder que
deve revelar perfeita relação entre a estrutura e os comportamentos vigentes na
sociedade; está inserida num quadro mais amplo, em que os valores nacionais,
religiosos, mito-poéticos, entre outros, são cultivados pelo imaginário coletivo
(Op.cit., p.161).
Deve-se ainda levar em consideração que as Santas Casas, instituições
filantrópicas vinculadas à saúde e assistência médica, eram geralmente
dirigidas por um empresário civil, e não por um médico. Os “irmãos
administradores” como eram chamados, não recebiam remuneração de
qualquer espécie, mas deveriam ser “abastados” em fazendas, isto é, serem
proprietários de inúmeras delas, visto que sua nomeação para tal cargo
50
acarretava ainda mais aumento de prestígio social (PEREIRA NETO, 2001, p.
127).
No que se refere às Irmãs da Providência de Gap, em 11 de abril de
1924, Dom Otávio Chagas de Miranda, Bispo Diocesano de Pouso Alegre,
concede à Congregação a licença para criar novas fundações em Itajubá, quais
sejam, um orfanato para meninas e um asilo para idosos. Além disso, a partir
de 1925, elas passaram a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia de Itajubá,
embora o contrato entre as duas instituições só tenha sido efetivado em 01 de
setembro de 1926 pelo Dr. José Braz Pereira Gomes, provedor da Santa Casa,
e pela Irmã Maria Rosa de Lima16, Superiora da Congregação, que assumiu o
cargo após a morte de Maria Raphäel.
Nesse contexto, as Irmãs passaram a ocupar a Santa Casa de
Misericórdia de Itajubá na assistência aos enfermos, dando início ao controle
administrativo do espaço hospitalar. Essa ocupação teve o respaldo do
provedor da Santa Casa, porta-voz especializado que, investido de poder,
exerceu o poder simbólico de consagração desse grupo, legitimado por sua
posição na estrutura da referida Instituição. Quanto à presença das Irmãs,
Guimarães (1987, p.517) tece considerações a respeito da importância do seu
trabalho, afirmando que:
a Santa Casa sempre contou com o zelo das Irmãs da Providência, que sempre atuaram com dedicação evangélica e acrisolado altruísmo para que os serviços ali não sejam em nada prejudicados, e para que nada falte aos inúmeros assistidos.
16 Madre Maria Rosa. de Lima (1881 – Nascida na França em Aux-Asst), entrou para a vida religiosa em
1897. Foi professora em vários países da Europa dentre eles França, Inglaterra e Espanha. No Brasil, foi designada para a direção da CIPG, pela Madre Maria Saint Gervais, que havia vindo da França para nomear a sucessora de Madre Maria Raphaël, que havia falecido. Governou a Congregação durante 28 anos. Um de seus feitos foi favorecer a formação das Irmãs nas áreas da educação, saúde, no campo da espiritualidade, Teologia, Bíblia e Pastoral, habilitando-as ao melhor serviço da “promoção humano-cristã dos mais pobres proporcionando formação humanística, ético-cristã e profissional a milhares de crianças, jovens e universitários, conduzindo-os às lideranças, tornando-os profissionais competentes, com famílias bem constituídas e atraindo alguns à vocação religiosa e sacerdotal” (RENNÓ, 2002, p.93).
51
Também o Dr. Edilberto Lisboa, ao ser entrevistado, afirmou que quando
chegou à Santa Casa para trabalhar,
as freiras tomavam conta da Santa Casa e a que tinha mais atuação era Ir. Fausta, que brigava com todo mundo. Elas trabalhavam lá e davam aulas. Moravam na clausura. Ninguém subia lá.
Não obstante, apesar dessa dedicação e da aparelhagem médico-
hospitalar adequada à assistência satisfatória dos enfermos, a necessidade de
ampliação de recursos humanos era imprescindível, dada a sobrecarga de
trabalho das Irmãs da Providência, como aponta Lisboa17 (1985, p.4),
pela dedicação, pela proficiência, pelo desprendimento das servas da Providência que, em turmas reviradas, envidavam o melhor de seus esforços para manter, consolidar e aperfeiçoar aquela abençoada conquista do coração dos itajubenses.
Continuando seu relato, Lisboa (1985) comenta que, após a labuta
estafante das enfermarias e dos cuidados gerais de limpeza, as Irmãs e seus
auxiliares ainda lavavam à mão as roupas da Santa Casa, pois não havia
máquinas apropriadas para esta tarefa. Faziam horas extras, deixando tudo em
ordem e em condições para funcionamento no dia seguinte, contribuindo para
que os atendimentos ocorressem normalmente, sem atropelos, tanto para os
médicos quanto para os doentes.
O reconhecimento da importância do capital cultural na manutenção de
posições de poder e prestígio no espaço da Santa Casa de Misericórdia
ensejou providências da Superiora da Congregação, já no início dos anos 40,
no sentido de designar Irmãs para a realização do curso de enfermeiras na
Escola de Enfermagem Luíza de Marillac, no Rio de Janeiro. Tal escolha foi
orientada pelo reconhecimento daquelas cujo capital cultural viabilizasse as
condições de melhor aproveitamento do curso. Essa estratégia é explicada por
Bourdieu (1999), ao afirmar que o rendimento escolar depende do capital
cultural previamente investido pela família, impondo-se como uma condição
indispensável para dar conta do sucesso no desempenho escolar.
17 Gaspar Lisboa (02/05/1900 – 12/07/1997) médico, filho do Dr. Xavier Lisboa, formou-se pela Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro, sendo seu diploma registrado na Secretaria de Saúde do mesmo estado em 27/01/1927. Ainda em 1927, assumiu o lugar de seu pai, médico responsável pela enfermaria de mulheres na Santa Casa de Misericórdia. Considerado o “Pai dos Pobres” pelo atendimento gratuito que
52
Ademais, a diplomação das primeiras religiosas da Congregação das
Irmãs da Providência de Gap conferiu-lhes o capital cultural no estado
legitimado, sob a forma de diploma, assegurando sua prática profissional e
contribuindo para dar visibilidade à sua presença na assistência aos enfermos,
pois, de acordo com Bourdieu e Passeron (1992), a escola é um espaço que
permite desenvolver atividades educativas com o objetivo de atualizar o habitus
do indivíduo, de modo a reproduzi-lo em outros espaços sociais.
Além disso, à época, já havia por parte do Governo Federal a exigência
de preparo profissional e habilitação técnica específica para o exercício da
Enfermagem no Brasil, afetando a situação das Religiosas que não possuíam
qualificação e que, até então, atuavam como “professoras, enfermeiras ou
assistentes sociais, sem nenhum diploma ou curso” (NUNES, 1997, p.501).
Após terem se formado, as Irmãs foram designadas para trabalhar na
Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, sendo que uma delas tornou-se
administradora. No exercício de suas funções junto aos que atuavam como
auxiliares de enfermagem, as Irmãs de Caridade diplomadas como enfermeiras
perceberam a precariedade da assistência aos doentes, decorrente do
despreparo daqueles sob sua supervisão, bem como do reduzido número de
pessoal. Assim, vislumbraram a necessidade de criação de uma escola de
enfermagem que pudesse diplomar enfermeiras, religiosas ou não, para dar
conta das necessidades assistenciais da Santa Casa, oferecendo um
atendimento diferenciado com base em princípios científicos e, ao mesmo
tempo, desenvolvendo o habitus profissional das candidatas à profissão em um
espaço permeado pela doutrina católica.
As irmãs Zenaide, Stella Carvalhal e Maria Dositheé, conscientes da
necessidade da formação de enfermeiras, procuraram a Provincial da
Congregação, Madre Maria Rosa, para conversar acerca do projeto de criação
de uma escola de enfermagem em Itajubá, mas foram informadas de que a
medida não seria possível naquele momento. Madre Marie Ange18 que
dispensava aos doentes carentes, foi um dos primeiros professores da EEWB e paraninfo da primeira turma. O Diretório Acadêmico da referida Escola recebeu o seu nome (GUIMARÃES, 1999).
18 Nascida Maria Alice Bernard Robbe em 9 de junho de 1907, em Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, era a segunda filha do casal francês Jean Emile Robbe e Henriette Bernard Robbe. Com o falecimento de sua mãe, ainda pequena foi educada pela avó materna juntamente com seus irmãos. Com inteligência privilegiada, sempre se destacou nos estudos, e desde tenra idade, em seus escritos e poemas usava uma linguagem erudita, bastante diferenciada. Formou-se como normalista pelo Colégio
53
participou da conversa achou uma ótima idéia e sugeriu-lhes que procurassem
o Dr. Wenceslau Braz, então provedor da Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá, para discutir o assunto.
As Irmãs acataram a sugestão e solicitaram uma reunião com o referido
provedor, que acolheu a idéia informando já haver tentado, junto ao Ministério
da Educação e Cultura, a autorização para a fundação de uma escola de
enfermagem, e relatando que em 18 de agosto de 1953, o provedor em
exercício à época, Sr. Jayme Wood19, havia encaminhado o processo de n°
95939/53 ao Diretor do Departamento de Ensino Superior daquele Órgão, Sr.
Jurandyr Lodi, solicitando autorização prévia para o funcionamento da EEWB,
conforme trecho do documento transcrito abaixo, sem obter resposta:
O abaixo-assinado, na qualidade de provedor em exercício da “Santa Casa de Misericórdia de Itajubá”, sociedade mantenedora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, mui respeitosamente solicita a V. Excia. se digne conceder a autorização prévia para o funcionamento, em março próximo, da referida Escola de Enfermagem, para o que junta os documentos requeridos por lei.
Todavia, o Dr. Wenceslau Braz levou o assunto para ser apreciado e
discutido na reunião da Mesa Administrativa da Santa Casa, no dia 09 de
janeiro de 1954, quando foi aprovada idéia da criação da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz sob a direção da Santa Casa, com a finalidade
de formar “enfermeiras competentes sob o ponto de vista técnico e conscientes
de seus deveres profissionais” (EEWB, ATA DA CRIAÇÃO, 1954). O nome da
Escola, proposto pelo vice-provedor, Sr. Jayme Wood, foi aceito por todos os
integrantes da Mesa Administrativa, exceto pelo Sr Presidente, Dr. Wenceslau
Braz, talvez por uma questão de modéstia.
Compuseram a Mesa Administrativa: Dr. Wenceslau Braz Pereira
Gomes, Provedor; Sr. Luiz Pereira de Toledo, 1o Vice Provedor; Sr. Jayme
Normal de Petrópolis e até 1934 lecionou História Geral e do Brasil no Colégio Nacional do Rio de Janeiro. Em 25 de dezembro de 1935 ingressou no Convento da CIPG em Itajubá. Em janeiro de 1937 recebeu o hábito religioso, proferindo seus primeiros votos e em janeiro de 1943, os votos perpétuos. De 1942 a 1952 lecionou em colégios da Congregação e foi professora da EEWB, do início de seu funcionamento até 1991, lecionando várias disciplinas. Na Congregação foi assistente de Mestre de Noviças por vários anos, e Conselheira, de 1958 a 1968, recebendo a denominação de Madre.
19Jayme Lisboa Wood (1895-1964), industrial, político, jornalista e bancário que muito atuou para o desenvolvimento de Itajubá. Foi o Diretor-gerente do primeiro periódico a ser fundado em Itajubá (1872). Humanitário e benemérito, foi um dos benfeitores da Santa Casa de Misericórdia, da qual foi vice-provedor. Em 1947 foi nomeado pelo Interventor de Minas Gerais, prefeito da cidade Itajubá (GUIMARÃES, 1999, p 86).
54
Wood, 2o Provedor; Irmã Maria Dositheé, administradora; Sr. Antonio Pereira
Rennó, 1o. Secretário; Sr. Joaquim Alves Serapião, Tesoureiro, e o Sr. Iro
Machado, 2o. Secretário, que lavrou a ata (EEWB, ATA DA REUNIÃO DA
MESA ADMINISTRATIVA DA SANTA CASA,1954).
A figura central no processo de criação e implantação da Escola de En-
fermagem Wenceslau Braz foi Madre Marie Ange que, tendo recebido a
incumbência de sua Superiora Madre Maria Rosa de Lima, levou adiante aquela
idéia. Além disso, a Congregação subvencionou o projeto de criação da escola,
cuja autorização prévia para funcionamento foi concedida em 23 de setembro
de 1954, conforme fac simile da Portaria Ministerial nº 853:
Rennó (1989, p.14) afirma que:
a organização e a realização da EEWB se devem ao grande espírito empreendedor de Madre Marie Ange, angariando subvenções e donativos ... em cada canto da Escola, ontem e hoje se faz sentir pela sua dedicação, cultura, arte, interesse pelo melhor ensino e melhor clima de formação... a Escola sempre foi e será a ‘pupila de seus olhos’. Incansável, batalhadora, deixou guardados, no coração desta história, os traços de zelo apostólico e carismático na luta e conquista do tesouro que lhe fora confiado pela Providência de Moyë.
Desse modo, a figura carismática de Madre Marie Ange contribuiu para a
adoção de uma estratégia na qual certas propriedades simbólicas foram
agregadas aos agentes religiosos, na medida em que estes aderiram à
55
ideologia do carisma, isto é, o poder simbólico que lhes confere o fato de
acreditarem em seu próprio poder simbólico (BOURDIEU, 2001). E essa
estratégia foi decisiva para a atuação das religiosas junto ao Governo, no
sentido de reivindicar a formação de recursos humanos para a enfermagem de
Itajubá, em consonância com a nova ordem estabelecida.
56
CAPÍTULO 2
A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ E AS INICIATIVAS DE ADOÇÃO DE UM MODELO DE
ENFERMEIRA PARA ITAJUBÁ (1954 – 1956)
O presente capítulo analisa as estratégias empreendidas pelas Irmãs da
Congregação da Providência de Gap e a participação da Santa Casa de
Misericórdia de Itajubá no processo de implantação da Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz. O processo de análise compreende a incorporação do Padrão
Ana Neri1 à Escola recém-criada, como estratégia de luta para o seu
reconhecimento.
O documento enviado ao Ministério da Educação e Cultura relativo às
providências inerentes à criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz,
continha os nomes e as qualificações dos professores indicados para fazer
parte do corpo docente da Escola, bem como as disciplinas que ministrariam.
Eram 10 médicos e 1 farmacêutico, integrantes do corpo clínico da Santa Casa
de Misericórdia de Itajubá; e 3 religiosas enfermeiras diplomadas, pertencentes
à Congregação das Irmãs da Providência de Gap, uma das quais ocupava
também o cargo de Diretora Administrativa da Santa Casa. Essas religiosas
eram Ir. Zenaide, Ir. Do Bom Pastor e Ir. Stella Carvalhal, todas diplomadas
pela Escola de Enfermeiras Luiza de Marillac, localizada na cidade do Rio de
Janeiro, sendo que a primeira em 1944, e as outras duas no ano seguinte.
Constava também do processo, um “Aditamento à relação do Corpo
Docente proposto para a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz”, incluindo
cinco nomes de religiosas enfermeiras diplomadas da Congregação das Irmãs
da Providência de Gap, e as disciplinas que lecionariam.
Ir. Maria Aparecida Pinto e Ir. Gentil Vilela Viana também diplomadas
pela Escola de Enfermeiras Luiza de Marillac, em 1947; Ir. Maria José Vilela e
Ir. Maria Marques de Oliveira, pela Escola de Enfermeiras do Hospital São
Paulo (São Paulo), em 1947; e Ir. Denise Ribeiro Cardoso, pela Escola de
Enfermeiras “Madre Teodora” em Campinas (São Paulo), em 1954.
1 Nesse estudo optou-se por usar a grafia atual do nome da Escola (Escola de Enfermagem Anna Nery), que sofreu inúmeras alterações ao longo da história.
57
A criação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz foi divulgada pelos
jornais das cidades vizinhas a Itajubá, dentre eles o “Diário de Poços de
Caldas”, cuja matéria jornalística destacava a qualificação do corpo docente e a
direção da Escola: “o corpo docente é constituído por médicos e Irmãs
enfermeiras diplomadas”, sendo que “a direção da Escola estará confiada às
Religiosas da Providência” (DIÁRIO DE POÇOS DE CALDAS,1954, p.1).
A expressão “enfermeiras diplomadas” à qual o citado Jornal faz alusão
indicava tratar-se de profissionais de enfermagem diferenciadas, isto é, que
haviam concluído o curso de enfermagem em escola reconhecida e de nível
superior, visto que a nova concepção de enfermagem moderna exigia formação
específica, ou seja, longa formação técnico-científica após estudos secundários,
correspondendo a elevado nível de especialização de trabalho (ALCÂNTARA,
1966). Além disso, o diploma escolar tinha um valor juridicamente garantido por
se tratar de um capital cultural que não precisava ser testado, pois a objetivação
operada pelo diploma
no sentido de prova escrita que confere crédito ou autoridade, é inseparável daquela que garante o direito ao definir posições permanentes independentes dos indivíduos biológicos reivindicados por elas e suscetíveis de serem ocupadas por agentes biológicos diferentes, embora intercambiáveis, em relação aos diplomas que deverão possuir. (BOURDIEU, 2004, p. 198-199)
A ênfase dada à divulgação dos atributos intelectuais do corpo docente
da Escola evidenciava a apropriação do capital cultural dos agentes envolvidos
com o processo de formação das postulantes à profissão, como instrumento
simbólico na luta pelo reconhecimento social de um grupo que aspirava à
institucionalização, e que teve o efeito simbólico de consagrá-lo, pois a luta pelo
conhecimento e pelo reconhecimento envolve ações de imposição e de
inculcação da identidade legítima do grupo.
Além disso, a profissão de enfermeira na sociedade itajubense acenava
com a possibilidade de inserção da mulher no campo da saúde, representando
um avanço no processo de profissionalização das normalistas, ao mesmo
tempo em que evidenciava a continuidade do trabalho das Irmãs da Providência
de Gap em cargos de direção de escolas para moças, agora na formação das
enfermeiras, já que a direção da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
58
conferia-lhes poder e também divulgava o prestígio que tinham enquanto grupo,
cuja existência impunha-lhes “princípios de visão e divisão comuns, portanto,
uma visão única de sua identidade, e uma visão idêntica de sua unidade”
(BOURDIEU, 1989, p. 117).
A Congregação das Irmãs da Providência de Gap determinou que Madre
Marie Ange tomasse as providências relativas ao funcionamento administrativo
da Escola, e enviou Ir. Zenaide Nogueira Leite e Ir. Do Bom Pastor, então
enfermeiras da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e futuras professoras da
escola, para realizarem um estágio2 na Escola de Enfermagem Anna Nery, a
fim de adquirirem conhecimento sobre a organização e o funcionamento de
uma escola de enfermagem, de modo a se prepararem para ocupar os cargos
de diretora e professora da disciplina “Enfermagem em Cirurgias”,
respectivamente, sendo que a primeira deveria desempenhar, também, a
função de professora da disciplina “Técnicas de Enfermagem”.
Ir. Do Bom Pastor ainda retornaria ao Rio de Janeiro (nos meses de
novembro e dezembro de 1956) para estudar Psicologia e Saúde Pública na
Escola de Enfermagem Anna Nery, conforme consta na ata da reunião ordinária
da Congregação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, lavrada em livro
próprio para este fim, registrada no dia 22 de dezembro de 1956: “Irmã Do Bom
Pastor apresentou um Relatório sobre um estágio que acaba de fazer na Escola
Ana Néri, em Saúde Pública e um Curso de Psicologia, também nessa Escola
Padrão” 3 (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS DE REUNIÕES DA
CONGREGAÇÃO, 1954).
A expressão “escola padrão” referia-se ao ensino da Escola de
Enfermagem Anna Nery que, em 1931, pelo Decreto 20.109, recebeu a
designação de escola oficial padrão. No entanto, a Lei nº 775, de 06 de março
de 1949, que dispunha sobre o ensino da enfermagem no país, anulou os
efeitos desse Decreto, cabendo doravante às escolas de enfermagem solicitar
ao Ministério da Educação e Saúde a autorização para o funcionamento e o
reconhecimento dos seus cursos. Ainda assim, na percepção das Irmãs, aquela
Escola continuava a ser reconhecida como modelo de ensino a ser perpetuado.
2 Denominação utilizada pela secretária que lavrou a ata da Reunião Ordinária da Congregação
de 22 de dezembro de 1954. 3 O destaque é da autora.
59
A estratégia de enviar Irmãs da Providência para uma escola de
enfermagem leiga, que durante dezoito anos foi considerada padrão, permitiu a
atualização do habitus profissional dessas religiosas, tornando-as porta-vozes
autorizadas a expressá-lo através de suas práticas.
Acerca da participação no estágio na Escola de Enfermagem Anna Nery,
umas das entrevistadas assim se pronunciou:
A Irmã Do Bom Pastor e eu fomos à Escola Ana Neri para observar a construção e o estudo das alunas e outras
exigências. Foi lá que eu fui para fazer a Escola de
Enfermagem nossa. A diretora da Escola Ana Neri nos
incentivou muito, ela era muito boa. Não me lembro mais o nome dela. (Ir. Zenaide)
O período referido pela entrevistada engloba aquele em que a direção da
Escola esteve a cargo da enfermeira católica Waleska Paixão (1950-1966) que,
formada em 1939 pela Escola de Enfermeiras Carlos Chagas, em Belo
Horizonte, exerceu vários outros cargos de destaque na enfermagem brasileira,
sempre atenta ao ensino da profissão no Brasil. Profundamente religiosa e
dedicada, lutou pela criação de um quadro de professores devidamente
qualificados para a nobre e valorosa profissão (COELHO, 1997).
Como já mencionado, Madre Marie Ange, que não era enfermeira e tinha
como formação o curso de normalista, foi designada em 1954 por Madre Maria
Rosa, Superiora da Congregação das Irmãs da Providência de Gap, para
organizar a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Uma das estratégias
empreendidas por ela fora a de se fazer presente nos Congressos4, Seminários,
Jornadas e Encontros de Diretoras de Escolas de Enfermagem. Essa
participação, ao tempo em que propiciava o acúmulo de conhecimentos acerca
do ensino da enfermagem e da evolução da profissão no Brasil, criava as
condições para que a Igreja Católica pudesse se fazer presente em importantes
fóruns de discussão acerca dos rumos da Enfermagem brasileira, assegurando
espaço para que as Irmãs da Providência enunciassem seus discursos acerca
da formação da enfermeira brasileira, pois as relações de comunicação são
4 Madre Marie Ange no XII Congresso Brasileiro de Enfermagem, ocorrido em 1959 na cidade
de São Paulo discorreu sobre o tema “O ensino da enfermagem no País em confronto com o Projeto de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”. Posteriormente essa apresentação foi publicada na Revista Brasileira de Enfermagem, no mesmo ano, edição do mês de setembro.
60
“relações de poder simbólico onde se atualizam as relações de força entre os
locutores e seus respectivos grupos” (BOURDIEU, 2001a, p. 23-24).
A participação de Madre Marie Ange em reuniões de Diretoras de
Escolas de Enfermagem ficou evidenciada quando ela enviou uma carta à
secretária da Associação de Escolas Católicas Superiores5 (ABESC), em 14 de
outubro de 1955, fazendo alusão a uma reunião de diretoras, ocorrida nos
últimos dias do mês de setembro daquele ano, na Escola de Enfermagem Anna
Nery, e pontuando “a necessidade de um maior intercâmbio entre as diretoras
das escolas católicas de enfermagem; de aprimoramento do pessoal docente e
do levantamento do nível cultural em geral das alunas nessas escolas” (EEWB,
MADRE MARIE ANGE, CARTA, 1955).
A preocupação de Madre Marie Ange com a formação das alunas,
calcada em princípios cristãos, é legitimada no Art. 1º do Capítulo I do
Regimento Interno da Escola (Da Escola e seus Fins)6:
A Escola de Enfermagem Wenceslau Braz tem por fim a formação de enfermeiras perfeitamente conscientes de seus deveres, habilidades sob o ponto de vista técnico para suas funções junto ao doente e orientadas, em todas as suas atividades, pelos princípios cristãos. (EEWB, REGIMENTO INTERNO, 1956, p.1)
Desse modo, o processo de atualização do habitus das alunas da Escola
de Enfermagem Wenceslau Braz processou-se de acordo com a disposição dos
agentes mobilizadores, ou seja, das Irmãs da Providência de Gap, cujos
interesses foram expressos mediante inculcação de uma conduta exemplar
ajustada às exigências do habitus consoante ao modelo ideal de enfermeira,
pois o habitus, enquanto modus operandi, constantemente reposto e
reatualizado ao longo da trajetória social, demarca os limites de mobilização
pelos grupos, sendo assim responsáveis, em última instância, pelo campo de
sentido em que se operam as relações de força (BOURDIEU, 2001).
5 A ABESC é uma entidade civil sem fins lucrativos, criada em janeiro de 1952, por
desmembramento da Associação de Educação Católica do Brasil, existente desde 1945, com sede no Rio de Janeiro. Desenvolve trabalho de cooperação e integração interinstitucional com organizações católicas.
6 O Regimento Interno da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz foi apresentado em 2 de setembro de 1956 à Diretoria do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura e aprovado após sofrer modificação em seu Art. 54 que, a pedido dessa Diretoria, com o acréscimo da alínea “e” ao parágrafo único: “sugestões e estudos para modificação dos presentes estatutos, para aprovação na forma da lei”.
61
As entrevistadas expressaram o reconhecimento sobre os trabalhos de
Madre Marie Ange, identificando-a como figura principal no processo de
criação, implantação e consolidação da Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz:
Enquanto Madre Marie Ange fazia a papelada, começamos a escola no andar térreo da Santa Casa...
Houve dificuldade, mas a gente vencia. Aí está o trabalho
da Madre Marie Ange, ela animava muito a gente. Ela e a
Congregação ajudaram muito. (Ir.Zenaide)
Madre Marie Ange era a alma de tudo. Era
quem comandava tudo. (Maria Celeste)
Era uma pessoa incansável para dar jeito em tudo. (Terezinha Rennó)
Ela era baixinha e brava como ela só. Ela foi a alma da Escola. Ela falava demais... rápido demais. Ela ficava em cima até
conseguir o que ela queria, até conseguir. (Dr. Antonio Edilberto Lisboa)
As falas dos entrevistados convergem no sentido de reconhecer Madre
Marie Ange como portadora do discurso autorizado acerca da formação da
enfermeira da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Suas articulações com
as entidades governamentais são apontadas pelas entrevistadas, nos
fragmentos dos depoimentos que se seguem, e refletem a eficácia simbólica do
poder religioso. Essa assertiva encontra explicação em Pierre Bourdieu quando
este designou como
carisma, a eficácia simbólica de certas propriedades que se agregam aos agentes religiosos, na medida em que aderem à ideologia do carisma, isto é, o poder simbólico que lhes confere o fato de acreditarem em seu próprio poder simbólico. (BOURDIEU, 2001, p. 55)
Assim sendo, vejamos os depoimentos:
Foi procurando meios para, com subvenção, com verbas
do Estado e mesmo Federal, conseguir aquela Escola. Era uma pessoa que se preocupava muito com a formação
das enfermeiras, da parte ética e mesmo profissional. (Terezinha Rennó)
62
Ela zelava muito pelo nome da escola. Dizia-nos sempre: ‘Vocês é que vão fazer o nome da Escola...ela se
empenhava na parte cultural... quem lutava e ia atrás dos
políticos era a Madre Marie Ange...a gente vê a figura da
Madre que não era nem enfermeira, mas tinha o espírito de uma verdadeira enfermeira. (Maria Nirce)
As falas das entrevistadas são emblemáticas no sentido de evidenciar
que a base do poder não deriva apenas dos atributos materiais e culturais dos
agentes, mas da capacidade que esse agente tem de transformar esse capital
em capital social e simbólico, uma vez que na percepção de Bourdieu: “o capital
simbólico é uma dádiva atribuída àqueles que possuem legitimidade para impor
categorias de pensamento e, portanto, uma visão de mundo” (BOURDIEU,
2004a, p. 10).
Antes do início do funcionamento da Escola, teve início o processo de
recrutamento baseado na percepção das Irmãs da Congregação de Gap acerca
do potencial de algumas moças para a profissão de enfermeira. Essa iniciativa
está evidenciada na fala de três depoentes acerca do seu ingresso na Escola
de Enfermagem Wenceslau Braz:
Eu trabalhava no comércio e por acaso passou a freira...
passou lá e perguntou para mim: Celeste, você não gostaria de fazer enfermagem? Eu achei interessante,
bacana o convite da irmã e fui lá fazer... sou a matrícula
número um. (Iro Machado)
Fiquei dois anos fora e quando voltei é que estava esse
clima de escola que ia ser fundada. Eu tenho duas irmãs
religiosas. Eu acho que foi através delas, porque até uma delas é enfermeira também... ou através do jornal... deve
ter sido isso mesmo... não sei exatamente como ... mas
só me lembro do dia em que o papai falou que “pode fazer” e que aí eu pulei de alegria... conversei com o
pessoal da enfermagem, na época a Madre Marie Ange,
elas aprovaram e tudo ficou certo. (Maria Celeste)
Mesmo antes de ir para o noviciado, eu já dizia que
queria ser enfermeira. A minha avó era parteira, minha
mãe havia me dado um livro: “Guia das Enfermeiras”. (Maria Nirce)
A preocupação das religiosas em recrutar as alunas, e posteriormente
selecionar, configurava-se como uma estratégia para padronizar o comportamento
das futuras enfermeiras, uma vez que a posição dos indivíduos nas estruturas das
63
relações objetivas propicia um conjunto de vivências típicas que tende a se consolidar
na forma de um habitus adequado à sua posição social. Esse habitus permite que o
sujeito possa agir, não como um indivíduo qualquer, mas como um membro típico de
um grupo ou classe social que ocupa uma posição determinada na estrutura social.
Além dos convites pessoais às postulantes à profissão de enfermeira, as
religiosas utilizaram a imprensa escrita para divulgar o curso, conforme registra o
fragmento da matéria intitulada “Uma Escola de Enfermagem na região Sul–
Mineira”, publicada no Diário de Poços de Caldas (1954, p.1):
Trata-se de uma carreira bela, mas de grande responsabilidade donde, além das exigências para o ingresso, carinhoso será o cuidado na formação integral da aluna, sob o ponto de vista de sua formação humanista já esboçada nos cursos anteriores. Além da técnica, ela precisará muito da ética, da filosofia e da poesia. Coroando sua educação a doutrina religiosa virá informar essas atividades tão nobres da enfermeira.
A matéria jornalística evoca o cuidado carinhoso como atributo
importante em uma profissão cujo objeto de trabalho é o cuidar. Para Codo e
Gazzotti (1999), trata-se de uma profissão doadora de cuidado, que permite o
desenvolvimento de um trabalho em que a relação afetiva é obrigatória e
imprescindível para a própria atividade.
O texto acima indica tratar-se de uma profissão que tomou emprestado
características femininas do cuidado, como sensibilidade, amor, vigilância,
carinho, abnegação, entre outras (LOURO,1997). Nesse sentido, Codo e
Gazzotti (1999) corroboram a afirmação acima, quando pontuam que as
mulheres foram educadas durante séculos no sentido de expressar sua
afetividade.
Ademais, a análise do teor da matéria em questão evidencia a estratégia
adotada pelas Irmãs de utilizar o capital religioso como arma simbólica na luta
pela enunciação do discurso autorizado acerca da formação da enfermeira
brasileira, pois a concorrência pelo poder religioso se estabelece no fato de que
64
seu alvo reside no exercício legítimo do poder (BOURDIEU, 2001).
Desse modo, a enfermagem aberta às mulheres, levou a dupla marca do
modelo religioso e da metáfora materna: “dedicação – disponibilidade;
humildade – submissão; abnegação – sacrifício.” (LOURO, 1997, p. 454).
Uma outra matéria publicada nesse mesmo jornal, sob o título “Escola de
Enfermagem em Itajubá”, divulga informações pontuais acerca das providências
a serem tomadas pelas interessadas quanto à matrícula no curso:
Comunicamos que, em Portaria n. 853, de 23 de setembro de 1954, o Exmo. Sr. Ministro da Educação e Cultura autorizou o funcionamento da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. As aulas terão início em março próximo. As candidatas estão convidadas a se dirigirem à Diretoria da Santa Casa ou à Escola Normal de Itajubá, onde lhes serão prestadas informações a respeito de matrícula ou quaisquer outras que possa interessar. Se você terminou seus estudos de curso secundário e deseja uma carreira nobilante e altamente conceituada em que, ao lado do médico, possa contribuir para alívio dos que sofrem, procure a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz de Itajubá.
Desde os primórdios da enfermagem moderna no Brasil, a luta pela
construção da identidade da enfermeira iniciava-se pelos critérios de que nada
mais era do que uma violência simbólica, pois procurava evitar que elas
“apresentassem estigmas, inscritos no próprio corpo ou revelados pelo
comportamento, que pudessem desacreditar a profissão perante as elites
dominantes” (BARREIRA,1992, p. 173).
Cabe assinalar que a seleção das candidatas estava amparada pelo
Decreto n° 27.426, de 14 de novembro de 1949, regulamentando a Lei n° 775,
de 6 de agosto de 1949, que dispunha sobre o ensino da enfermagem no País.
Com essa Lei, foi extinta a necessidade de equiparação à Escola de
Enfermagem Anna Nery (Decreto n° 20.109 de 15 de junho de 1931). Desse
modo, a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, embora tenha sido criada no
âmbito da Lei nº 775 / 49, adotou como estratégia a incorporação do modelo de
enfermeira Anna Nery para dar visibilidade à nova profissão em Itajubá
(BRASIL, 1959).
Não obstante, apesar da expansão do número de escolas no Brasil, o
quantitativo de enfermeiras era insuficiente, e a procura pelo curso ainda era
reduzida. Tanto assim que, no ano de seu funcionamento (1955), a Escola de
Enfermagem ofereceu dez vagas, sendo matriculadas apenas sete alunas. Nos
65
dois anos seguintes (1956 e 1957), o número de vagas aumentou para doze, e
para quatorze em 1958 (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE MATRÍCULA, 1956,
1957, 1958).
Das sete alunas que iniciaram o curso em 1955, cinco formaram-se na
primeira turma (1958) porque, ao longo dos dois anos seguintes, ocorreram três
desistências e a transferência de uma aluna, oriunda da Escola de Enfermeiras
Madre Maria Theodora, em Campinas, que era religiosa da Congregação das
Irmãs da Providência de Gap (EEWB, RELATÓRIO ANUAL DE ATIVIDADES,
1956, 1957, 1958).
A propósito do processo de seleção das candidatas, eis o que disseram
as entrevistadas:
Para a primeira turma não houve seleção. Nós
queríamos se elas tivessem tinha gosto pela enfermagem. E elas mostraram gosto pela enfermagem. (Ir. Zenaide)
Falei com meus pais eles consentiram e já conversei com o pessoal da enfermagem, na época a Madre Marie Ange,
elas aprovaram e ficou tudo certo, tive que esperar um
ano para que a escola começasse realmente. (Maria Celeste) Nada... nada. Houve só uma única coisa: requerimento
para a matrícula. Não houve seleção nem entrevista. (Terezinha Rennó)
Eu me lembro muito bem que quando a Madre Marie Ange me chamou para continuar a escola, a enfermagem, ela
assim falou: vamos aproveitar enquanto não tem
vestibular para você continuar o estudo. (Ir. Myrthes)
A gente teve que fazer um vestibular, porque precisava ter
vestibular. Mas a gente já sabia que era ali, e que todas
iam passar, porque eram só sete. Teve prova, se eu não me engano, de português, matemática, essas ciências
básicas. (Maria Nirce)
Percebe-se, na fala das entrevistadas, que o processo seletivo mediante
provas não foi realizado nos primeiros anos, porém, a direção da Escola detinha
o poder de inserir ou de excluir candidatas, na dependência da assinatura da
diretora, aprovando (ou não) a candidata, o que para Bourdieu (1989, p.156)
significa um “monopólio da assinatura”. Não obstante, o processo de seleção
era rigoroso, exigindo-se da candidata o requerimento de inscrição à Diretora
66
da Escola, acompanhado dos seguintes documentos devidamente
autenticados: certidão de registro civil que provasse a idade mínima de
dezesseis anos e máxima de trinta e oito; atestados de sanidade física e
mental; atestados de vacinação e de dentista; atestado de idoneidade moral e
certificado de conclusão do curso secundário.
O atestado de idoneidade moral, à época, era expedido pelo Delegado
de Policia, o qual dava garantia absoluta sobre a moral da aluna. Encontram-se
ainda nos registros das alunas, atestados de idoneidade moral expedidos pelo
Pároco da Igreja de cidades, onde não houvia Delegacia de Polícia.
O rigor no processo de seleção das candidatas é explicado por Sena
(1998, p. 359) como uma estratégia de luta para “elevar e manter o padrão da
profissão de enfermagem em um nível digno e respeitável”. Além disso,
completa a autora, contribuiu para “firmar a profissão dentro dos moldes
nighingaleanos no nosso meio”.
Sendo assim, das 10 vagas oferecidas no primeiro ano, foram
preenchidas sete vagas. Das alunas que ingressaram no primeiro ano da
Escola, foi possível encontrar somente dados referentes a quatro delas, visto
que três desistiram do curso. Destas quatro, três iniciaram o curso com idades
entre 22 e 26 anos, e uma com 16 anos; uma possuía o curso normal e três o
ginasial; uma era religiosa da Congregação da Providência de Gap, duas
moravam em Itajubá e uma era oriunda da cidade de Varginha, sul de Minas
Gerais (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE MATRÍCULA, 1955).
Foi somente após o início do funcionamento da Escola, nos anos seguintes,
que essas religiosas desenvolveram também a estratégia de visitar escolas normais e
de nível secundário para procederem à divulgação do curso, levando consigo as
alunas uniformizadas, tendo em vista a captação de novas candidatas.
Posteriormente, promoveram recepções com programações culturais e sociais
dedicadas aos familiares das alunas, contando também com a presença de pessoas
da sociedade e de autoridades locais da época.
A estratégia de atrair candidatas de bom nível social e cultural, mediante
visitas às escolas secundárias, já vinha sendo adotada pela Escola de
Enfermagem Anna Nery desde 1935. Ademais, a notícia-convite intitulada “A
Escola de Enfermagem às jovens que terminaram seus estudos secundários”,
67
foi publicada simultaneamente em três jornais de cidades vizinhas (Ouro Fino,
Brasópolis e Santa Rita do Sapucaí), além de Itajubá, onde adota na íntegra o
texto elaborado por Waleska Paixão7, diretora da Escola de Enfermagem Anna
Nery, sob a forma de panfleto distribuído na cidade do Rio de Janeiro, à época
capital federal, com a finalidade de recrutar moças para o curso da escola por
ela dirigida. A seguir, apresenta-se o texto em questão:
A Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, de Itajubá, faz sua a mensagem da Escola Ana Néri e repete para as nossas jovens do Sul de Minas, as belíssimas palavras que, em 1951, dirigiu às moças de nossa terra: “Você, jovem estudante que teve a felicidade de estar recebendo sólida e aprimorada educação cristã, já pensou algum dia como retribuir a Deus os dons que lhe prodigalizou?” Já pensou que esses dons devem servir ao bem de outros menos dotados, para que o eu conta o Senhor com a sua cooperação? Muitos caminhos risonhos e brilhantes se abrem diante de você. Esta mensagem lhe apresenta um, no qual você talvez nunca tenha pensado, porque é ainda mal conhecido entre nós: a Enfermagem. Se você nunca teve uma doença grave e nem viu um parente muito próximo sofrer num leito de dores, não pode ainda compreender o que representa nesses momentos a enfermeira. Se você ainda não pensou que a vida humana durante as longas horas de ausência do médico, está entregue à Enfermeira; não pode avaliar o grau de conhecimentos científicos necessários para assumir essa responsabilidade. Se você ainda não mediu os abismos de inquietação e sofrimento moral a que chega um doente, não pode avaliar quanto são necessários à Enfermeira, os conhecimentos de psicologia. Se você nem suspeita a que degradação chegou muitos dos nossos doentes, não pode saber que formação espiritual deve ter a Enfermeira, para ajudá-los a se reabilitarem. Nem pode avaliar o muito que se realiza no campo da enfermagem com caráter social e preventivo, evitando males sem conta, promovendo felicidades inúmeras. Talvez você não saiba que no Brasil tem menos de 1.500 enfermeiras (isso em 1951, hoje tem umas 3.000) quando se necessita de 50.000! Talvez ignore que, apesar de muito recente entre nós, a profissão de Enfermeira está adquirindo elevado conceito nacional e internacional. Você talvez receie os sacrifícios que vêm logo à idéia, quando pensamos em doenças e morte. Lembra-se, porém que sacrifícios há em toda parte. Pior do que o sacrifício por uma nobre causa é a monotonia de tantos serviços burocráticos, onde muitas moças ingressam e vivem sem o conforto de realizar um grande ideal. Quer você ter um contato com essa profissão desconhecida? Visite uma Escola de Enfermagem. Venha, veja, reflita. E se Deus lhe conceder a graça de um chamado, volte a matricular-se no curso que a tornará apta a viver uma vida fecunda e cheia de ideal. (O SUL DE MINAS, 1956)
7 Waleska Paixão foi diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery de 1950 a 1968. Profundamente
religiosa, formou-se enfermeira em 1939, na Escola de Enfermagem Carlos Chagas, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
68
2.1 O Espaço Físico como Símbolo de Poder e Prestígio
para a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
As escolas de enfermagem criadas na esteira da Escola de Enfermagem
Anna Nery exibiam fachadas freqüentemente solenes, de modo a indicar aos
que ali passavam a sua distinção em relação aos demais prédios dos bairros
em que estavam localizadas (SANTOS, 2004). Tanto assim que os
depoimentos das entrevistadas refletem o caráter provisório do funcionamento
da Escola nas dependências do andar térreo da Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá:
Começamos a Escola no andar térreo da Santa Casa,
debaixo da enfermaria. Eram três salas: uma seria o
dormitório das alunas, a outra, sala de aula, e a outra para
o estudo. Nós começamos com a biblioteca no corredor. (Ir. Zenaide)
Eu sei que a gente teve aulas, não sei por quanto tempo,
no porão da Santa Casa... poucos meses. Depois quando ficou tudo pronto debaixo da Capela, a gente passou para
lá. (Maria Celeste)
Começou debaixo da enfermaria de homens, mas foi por pouco tempo. Depois, passamos para debaixo da capela.
(Maria Nirce)
Já no primeiro ano de funcionamento da Escola, com a ajuda da
Congregação das Irmãs da Providência de Gap, a Santa Casa projetou a
construção de um prédio anexo às suas dependências, destinado à instalação
de uma capela. A idéia era de que no andar térreo desse prédio anexo
funcionasse, ainda que em caráter provisório, a Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz. O lançamento da pedra fundamental desta construção ocorreu
em 29 de junho de 1954, mesmo antes da autorização para o funcionamento da
Escola. A esse respeito, algumas entrevistadas assim se manifestaram:
Irmã Maria Dositheé [Administradora da Santa Casa, à época] incentivou a construção daquela Capela que existe
hoje e embaixo, então, ficou a escola de enfermagem.
Tinha duas salas boas, biblioteca e local para o cadáver. (Ir. Zenaide)
69
As primeiras salas de aula foram embaixo da Capela,
tinha até um tanque para cadáver, mas a minha turma de
primeiro ano não conseguiu o cadáver; a segunda já teve.
Tinha mesa de dissecação, laboratório, tinha a biblioteca, aquela parte redonda da frente. (Terezinha Rennó)
eu sei que foi embaixo da Capela que começou. Havia três salas de aula, havia uma sala de anatomia. Quando
eu cheguei, já estava tudo pronto. Debaixo da Capela a
gente achou ótimo. Eram duas salas de aula, uma sala de
técnica, uma sala de nutrição. A biblioteca era simples e pequenina, um ou dois armários. (Ir. Myrthes)
Após a construção da capela e a transferência da Escola para esse local,
o Dr. Wenceslau Braz, na qualidade de provedor da Santa Casa, destinou um
terreno anexo àquela instituição, pertencente à Santa Casa, com cerca de
900m2 para a construção de um prédio próprio para a Escola, visto a mesma
ainda não ter um espaço físico definido.
Vale ressaltar que nos arquivos da Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz encontra-se a cópia de um ofício em que Madre Marie Ange dirige-se ao
Diretor da Divisão de Organização Hospitalar (DOH) do Ministério da Saúde
para solicitar “um técnico para fazer uma planta da escola de enfermagem”,
informando que dispunha de um capital inicial de Cr$550.000,00 (quinhentos e
cinqüenta mil cruzeiros) para a construção (EEWB, CARTA-OFÍCIO, 21 abr.
1956).
As negociações entre ambos estava apenas no início, pois em outro
ofício, datado de 15 de junho do mesmo ano, Madre Marie Ange ressaltava que,
“conforme entendimentos havidos, tinha pressa da planta visto que gostaria de
iniciar a construção ainda no ano corrente e antes do período das chuvas”. O
documento contemplava também algumas recomendações acerca dos espaços
internos destinados ao funcionamento da Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz, como salas de aulas, laboratórios e acomodações para as alunas internas
e monitoras, fazendo alusão a que a construção fosse feita por etapas,
esperando tudo terminar em 3 anos (EEWB, CARTA-OFÍCIO, 15 jun. 1956).
Em outro ofício, de 06 de novembro de 1954, já com a planta física em mãos,
solicitava especificações da obra e sugestões quanto à fachada, no caso de
serem construídos três pavimentos (EEWB, CARTA-OFÍCIO, 6 nov. 1956).
70
A preocupação e a intervenção da Madre Marie Ange na planta física da
escola reforça a idéia de que seus espaços internos tinham uma organização
plena de significados através da capela, corredores e salas; e nesse sentido, “a
arquitetura escolar apresentava-se como um programa que falava aos agentes,
que institui em sua materialidade um sistema de valores como ordem, disciplina
e vigilância” (SANTOS, 2004, p.85).
A construção de um patrimônio, no caso um edifício próprio, permitiu o
adequado funcionamento da Escola, dando concretude à sua existência
institucional, dadas as relações entre as estruturas do espaço físico e do
espaço social, onde o lugar ocupado corresponde a uma dada posição ou
“graduação em uma ordem” (BOURDIEU, 1999, p.159-160).
Analisando o Livro de Contas Diárias da Escola, referente ao ano de
1955, foi possível encontrar o registro de contribuições financeiras de quatro
alunas leigas: Terezinha de Jesus Rennó, Celina Bittencourt Almeida, Edith
Ribeiro de Oliveira e Maria Celeste Fonseca. Vale lembrar que, no início do ano
letivo, foram matriculadas sete alunas, das quais duas eram Irmãs da
Congregação de Gap e, portanto, cinco leigas. No decorrer deste mesmo ano,
uma aluna leiga desistiu do curso para contrair núpcias. Restaram seis alunas,
sendo duas religiosas e quatro leigas; portanto, todas as alunas leigas
contribuíam.
Fazendo referência ao assunto, algumas entrevistadas comentaram:
Acho que as alunas pagavam um tanto assim que elas podiam pagar. Pagavam um tanto assim, e a
Congregação ajudava com o trabalho das Irmãs, que
lecionavam. (Ir. Zenaide)
Eu pagava. Não me lembro quanto, mas meu pai era
quem pagava. (Maria Celeste)
Eu não me lembro bem, aquelas que eram internas, se
davam contribuição. Mas o curso era gratuito. (Ir. Myrthes)
As primeiras alunas, nem sei se pagavam. Minha irmã, da
segunda turma, colaborava. Eu tenho a impressão que
pagavam dentro das possibilidades de cada uma. Eu sei de alunas que... a gente falava, a Madre Marie Ange dava,
como se diz, uma bolsa, alguma coisa para o custo. (Maria Nirce)
71
No que se refere ao corpo docente da Escola, na primeira reunião da
Congregação, realizada no dia 04 de março de 1955, a diretora comunicou aos
médicos presentes (Dr. Gaspar Lisboa, Dr. José Chaiben Mauad, Dr.
Sebastião Rennó, Dr. José Araújo Barbosa e Dr. João Severiano Ribeiro,
dentre outros) sobre a impossibilidade de remuneração por suas atividades
como professores da Escola.
O recorte de sua fala durante a reunião conclama os presentes a
continuarem exercendo suas atividades, exaltando o aspecto caritativo do
trabalho: “a generosidade e dedicação dos Srs. Professores que, por enquanto
e em vista da situação econômica da Escola, não perceberão remuneração
alguma pelas aulas dadas – dizendo contar com a assiduidade perfeita de
todos” (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS, 1955).
A estratégia da diretora é exemplar pela utilização dessa mensagem
para satisfazer o interesse religioso no sentido de contemplar a escola com
professores qualificados sem ônus financeiro, exercendo sobre o grupo de
médicos e professores que nela atuavam, “o efeito simbólico de mobilização
que resulta do poder de absolutização do relativo e legitimação do arbitrário”
(BOURDIEU, 2001, p. 51). Não obstante, os médicos capitalizaram prestígio, ao
serem evocadas pela diretora qualidades como generosidade e dedicação no
exercício de suas profissões.
Todavia, no citado Livro de Contas Diárias há referência ao fato de que,
desde o início do funcionamento da Escola, foram feitos pagamentos a dois
professores: o de Química, que segundo a Lista de Professores, era o Dr. Luiz
Gonzaga Mauad; e o de Religião, cujo nome não estava na lista. O pagamento
de professores, conforme consta no referido Livro, começou em março de 1958,
sendo registrado como “Pagamento a Professores”, sem mencionar nomes.
Ainda sobre o momentâneo aspecto caritativo dos trabalhos docentes, a
diretoria da Escola fez publicar matéria no Jornal Sul de Minas (1956), intitulada
“Louvor dos Nobres Gestos”, tornando público o seu agradecimento ao Corpo
Clínico da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá pela dedicação à Escola,
pontuando tratar-se de “uma abnegação que tem valido tanto para as alunas
como lição magna e estímulo nas lides que serão suas, na difícil missão da
enfermagem”, e destacando o seu agradecimento: “horas de trabalho, seu
72
entusiasmo na colaboração com a Diretoria, a fim de elevar o ensino ao nível
superior que a Lei está impondo e a própria natureza da enfermagem exigindo”
(O SUL DE MINAS, 1956).
Ademais, é certo que outras Escolas de Enfermagem, quando começaram
a funcionar, também tiveram a colaboração do corpo docente na gratuidade dos
serviços prestados. Foi o caso da Escola de Enfermagem Carlos Chagas que,
inaugurada em 7 de julho de 1933, iniciou suas aulas em 19 daquele mês,
embora os professores só começassem a receber seus salários em 1955
(NASCIMENTO, SANTOS e CALDEIRA, 1999, p.30).
O reconhecimento, pela diretora, do trabalho desses docentes, ao tempo
em que lhes permitia agregar capital cultural e social, evidenciava também as
relações de poder simbólico existentes, já que as relações sociais são em geral,
de dominação, visto que as trocas lingüísticas são relações de comunicação por
excelência, pois atualizam as relações de força entre os que publicam seus
enunciados e os grupos aos quais são destinados esses enunciados. Assim, a
Igreja tornava público o seu poder, declarado pela adesão do grupo de
docentes da Escola ao aspecto voluntário do trabalho.
2.2 O Regime de Internato como Estratégia de atualização do Habitus das Alunas
O Regimento da Escola indicava tratar-se de uma Escola para mulheres,
fazendo referência aos regimes de internato e de externato durante o
desenvolvimento do curso. No entanto, para estudar em regime de externato era
necessária a aquiescência da diretora da Escola: “alunas do sexo feminino, em
regime de internato, podendo haver alunas externas, a critério da Diretora e de
acordo com as exigências da lei vigente” (EEWB, REGIMENTO INTERNO, 1956).
Ao oferecer o regime de internato às alunas, a Escola atendia ao Art. 50 do
Decreto nº 27.426, de 14 de novembro de 1949, que tratava da regulamentação dos
cursos de enfermagem. O texto legal também orientava que a autorização para
funcionamento dependia de que a escola tivesse “internato para residência
confortável e higiênica de dois terços dos alunos, no mínimo” (BRASIL, 1959).
O internato, seguindo os padrões nightingaleanos, mantinha as alunas
afastadas de suas famílias e amigos para que recebessem treinamento
73
técnico-científico e, acima de tudo, formação especial no sentido de inculcar “uma
conduta moral irrepreensível: religiosas, puras, dóceis, submissas, com retidão de
caráter e caridosas” (DAHER, 2000, p.50).
No que se refere ao regime de internato, vale considerar as palavras de
Coelho (1997, p.89): “no final do século XIX, as escolas de enfermagem de
origem religiosa adotavam a prática do internato para as suas alunas, visando
uma educação aprimorada ao lado da instrução ministrada durante os cursos”,
ou seja, o internato era a “chave para a educação da enfermagem”. Essa
afirmação reveste-se de significativa importância quando articulada à análise de
Silva Junior (2000). Este autor confirma que o internato era um espaço
controlado, destinado àquelas que atenderam de forma voluntária ao chamado
do ideal, permitindo sua profissionalização e, ao mesmo tempo, resguardando a
moral tradicional da mulher brasileira da época.
Portanto, o regime de internato constituiu-se em estratégia de inculcação
cultural e simbólica, mediante o esforço para ensinar às alunas o
comportamento adequado, assim construindo uma ética e uma estética no
processo de atualização e homogeneização do habitus das alunas, visando a
própria enfermeira da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, pois o habitus
enquanto modus operandi exige, da parte dos grupos, um mínimo de controle e
domínio de um código comum, ainda que de modo inconsciente (BOURDIEU,
2001). Além disso, o autor afirma textualmente que “quanto mais próximo
estiverem os grupos ou instituições ali situadas, mais propriedades eles terão
em comum; quanto mais afastados, menos propriedades em comum eles terão”
(BOURDIEU, 1990, p.153).
Ao imporem o regime de internato, as escolas de enfermagem alteravam
o ritmo de vida social de suas alunas, deixando traços comportamentais
indeléveis que as seguiriam por toda a vida, quer na vida social como na
profissional. Enquanto formadora de hábitos,
a escola propicia aos que se encontram direta ou indiretamente submetidos a sua influência, não tantos esquemas de pensamentos particulares e particularizados, mas uma disposição geral geradora de esquemas particulares capazes de serem aplicados em campos diferentes do pensamento e da ação, aos quais pode-se dar o nome de habitus cultivado. (BOURDIEU, 2001, p.211)
74
Inicialmente, a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá disponibilizou dois
quartos para o funcionamento do Internato, situados sob o piso da enfermaria
de homens; já as refeições das internas, eram realizadas no refeitório da
instituição. Entretanto, pouco tempo depois, o internato foi transferido para as
imediações, fixando-se numa pequena casa anteriormente ocupada por um dos
caseiros da Santa Casa.
Acerca do regime de Internato, seguem-se alguns recortes dos
depoimentos das alunas leigas:
Começamos a Escola no andar térreo da Santa Casa,
debaixo da enfermaria, começou lá um dormitório de alunas, porque naquele tempo as alunas tinham que ficar
internas. Elas ficavam lá. A Santa Casa dava a
alimentação. (Ir. Zenaide)
Eu fiquei uns dois meses no internato. Minha família tinha
vindo da fazenda para a cidade, e quando as irmãs
souberam que eu não queria ficar mais lá, deixaram eu ficar na minha casa, pois era pertinho. O internato era
onde é a escola atual, agora reformada. Era uma casinha
humilde, era ali que passávamos as noites, dormíamos ali. Mas o dia todo era na Santa Casa e sabe ali, debaixo da
capela? Ali funcionava a escola propriamente dita.
Tomávamos as refeições lá na Santa Casa. (Maria Celeste)
Teve uma época curta que eu não me lembro porque
fiquei no internato. Até me lembro era uma casinha, onde
é a escola hoje, tinha uma casinha ali, até que as internas de fora que moravam lá. (Terezinha Rennó)
No entanto, no depoimento das alunas religiosas sobre o mesmo
assunto, observa-se o destaque dado por elas à oportunidade do exercício da
vigilância sobre as alunas leigas:
Havia um internato para as alunas de fora e o lugar era
bem precário. Ele funcionava embaixo da enfermaria dos
homens. Eram duas ou três salas grandes com várias camas com cortinas para separar uma pessoa da outra., e
o banheiro. Depois teve uma casa alugada, onde hoje é a
escola. Depois elas foram para essa casa... Tinha um
regulamento. A Irmã Maria de Lourdes é quem ficava sempre junto com as meninas e eu. Eu também cheguei a
ficar um pouco, para facilitar a vigilância. (Ir. Myrthes)
75
As meninas eram internas. No lugar desta casa aqui, tinha
uma casinha. Essa casinha era o Internato. Eu dormia
com a Irmã Zenaide, para fazer companhia [para vigiar as
alunas]. (Maria Nirce)
A presença de instrutoras, se assim podemos dizer, e de uma diretora
que controlavam as alunas internas em suas diferentes atividades, é um
aspecto que permite observar o poder exercido por essas mulheres sobre as
alunas que, sob seus olhares, eram submetidas a um controle rigoroso de
disciplina, conduta, aparência e horário. A regulação temporal era condicionada
ao horário de diferentes atividades, quais sejam: acordar, estudar, estágio,
refeições e leituras, entre outras, seguidas à risca, moldando dessa forma
corpos submissos, disciplinados, corpos dóceis (LOYOLA, 1987). Assim as
instrutoras julgavam-se superiores e corretas, enquanto as internas eram
consideradas inferiores e censuráveis.
A questão da vigilância assinalada pelas religiosas, ganha mais
expressividade quando articulada ao anúncio do regime de Internato da Escola
para a sociedade itajubense, mediante publicação de matéria no Diário de
Poços de Caldas (1954, p.1), reforçando o caráter controlador e disciplinador
das alunas, fazendo da Escola uma instituição digna de receber moças de boa
família e de transformá-las em respeitáveis enfermeiras:
As alunas terão sua residência em prédio próprio que permita ambiente ameno, propício para o merecido repouso e convívio com as colegas, em regime de internato, conforme a lei e sob a responsabilidade direta das Religiosas da Providência. Haverá, entretanto, de acordo ainda com a lei, um número proporcional de alunas externas.
Os recortes das falas das alunas entrevistadas acerca do corpo docente
da escola, constituído por médicos e enfermeiras, exceto Madre Marie Ange
que não era enfermeira, mas encarregada de ministrar a disciplina Ética
Profissional, convergem no sentido de não tecer comentários a respeito da
avaliação da qualidade dos professores, reforçando o aspecto da disciplina
rígida e inquestionável obediência, como relatado a seguir:
Nós fomos falar [sobre a criação da escola] com os médicos, Dr. Gaspar, Dr.Carlos Vitor, Dr. Gerson, Dr.
76
Mauad, Dr. Sebastião Rennó, Dr. Braguinha, Dr. João Severiano, Dr. José de Azevedo. (Ir. Zenaide)
Os professores médicos que davam aulas eram Dr. Carlos
Vitor, Dr. Luiz Mauad, Dr. José Mauad, Dr. Barbosa, Dr. Gerson Dias, Dr. Gaspar, Florival Xavier, que era
farmacêutico e dava farmacologia). (Maria Celeste)
Nós tivemos médicos professores que trabalhavam
gratuitamente. No início, as Irmãs, as Enfermeiras, foi tudo
gratuito). (Ir. Myrthes)
Padre Agostinho dava aulas de religião, Dr. João Severiano
foi nosso professor de ginecologia, Dr. Cavi dava anatomia,
Dr. Mauad foi de cirurgia. (Maria Nirce)
Não obstante, o único depoimento que faz certa crítica espontânea à
condução das aulas de um professor médico, traz subjacente o reconhecimento do
capital cultural acumulado por esse médico, o qual lhe confere poder e prestígio no
espaço da Escola:
Aidé Serapião dava história da enfermagem8, Florival
Xavier dava farmacologia.Tinha o Dr. José Mauad, Dr. Cavi, Dr. Lulu, Padre Agostinho dava religião, Madre Marie
Ange dava ética. Dr. Cavi, me lembro ainda uma vez, ele
falava muito depressa. Eu disse: ‘Peraí, Dr. Cavi’. E ele: ‘Mas que é isso, Celeste, você acha que eu falo muito
depressa?’ Até para falar ele era rápido, e a gente parece
que é assim, mais distante, não é? Um médico e tal...
então, não era tão fácil, a gente ficava estudando até de noite. (Celeste).
As Irmãs da Providência, além de professoras do conteúdo teórico do
curso, atuavam no serviço de enfermagem da Santa Casa de Misericórdia,
assumiam as enfermarias como supervisoras e responsáveis pela execução de
cuidados mais complexos, e ainda acumulavam as funções inerentes à
supervisão do estágio das alunas. Uma delas ocupava, ainda, o cargo de
Administradora da referida instituição, assegurando a essas Irmãs o controle do
processo de formação do habitus profissional das alunas, além de manter suas
posições de poder e prestígio no espaço da enfermagem da Santa Casa de
8 Esta disciplina integrava o currículo do curso de graduação em enfermagem da Escola de Enfermagem
Anna Nery, desde a sua criação, sendo regulamentada pelo Decreto de nº 27.426, de 1949.
77
Misericórdia de Itajubá, como se infere nas falas seguintes:
Os estágios eram supervisionados geralmente por uma
religiosa, a diretora, a Ir. Maria de Lourdes, a chefe da enfermaria, e às vezes, até por uma auxiliar de enfermagem,
como no caso da Ir. Santana. (Maria Celeste)
Os estágios eram diferentes em obstetrícia, saúde pública e administração, porque a gente já assumia a direção [da Unidade] no final... eram as chefes que olhavam a gente,
todas religiosas. Tinha uma do plantão que não era enfermeira. (Maria Nirce)
No que se refere ao ensino de enfermagem na área de saúde pública, a
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz adotou o modelo de maletas de saúde
pública para uso nas visitas domiciliares, idênticas às da Escola de
Enfermagem Anna Nery para os estágios das alunas. Além disso, era exigido
das alunas o uso de uniforme9, tanto em salas de aulas, como nos estágios.
Esta exigência atendia as orientações da Lei n° 27.426/49, em seu Art. 66
(Disposições Gerais), que previa ser o uniforme obrigatório “durante os
trabalhos escolares”, corroboradas pelo Regimento Interno da Escola, no seu
Capítulo V, Art. 37 que, por sua vez, estabelecia: “As alunas são obrigadas a usar,
em aula e serviço, o uniforme da Escola”. Ressalta-se que o modelo do uniforme
também era semelhante ao da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEWB,
REGIMENTO INTERNO, 1956).
A obrigatoriedade do uso do uniforme, ratificada no Regimento Interno da
Escola (Foto 3), refletia o seu valor simbólico, pois “o uniforme representava a
mística da enfermagem encarnada em uma estratégia de igualdade e diferenciação
do grupo” (SANTOS e BARREIRA, 2002, p. 139). Desse modo, o uniforme
simbolizava o sentimento de pertença a um grupo, conferindo direitos e deveres a
quem o usava. Roche (2007) ressalta que o uniforme como um subsídio valioso, é
um treinamento, um recurso na educação da força individual controlada, pois
contribui para moldar atitudes e hábitos.
Para Bourdieu e Passeron (1992, p.21), o uniforme “caracterizava um
determinado grupo de sujeitos” – as enfermeiras – e realçava “as maneiras distintas
do grupo de posição mais elevada”, no sentido de demarcar a diferença, pois na
9 Segundo Ferreira (1986, p. 696), “uniforme é um modelo de vestuário que tem uma só forma
Semelhante, análogo. Vestuário feito segundo modelo oficial e comum, para uma corporação ou classe”.
78
realidade o que estava em jogo não era apenas o uso do uniforme como imposição
ou símbolo de discriminação, mas sim “a excelência humana, aquilo que toda
sociedade reconhece no homem cultivado” (BOURDIEU e PASSERON, 1992, p.
16). Em outras palavras, o uniforme enunciava o capital cultural adquirido pelas
enfermeiras oriundas daquela escola, isto é, deveria evidenciar suas qualidades
construindo, assim, a sua imagem social.
Foto 3 - Alunas uniformizadas em sala de aula. Primeira Turma da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, 1955
Fonte: Arquivo Particular de Maria Celeste Fonseca
Na primeira fila, da esquerda para a direita, vêem-se as alunas Marieta
Martins Lopes, Celina Bittencourt Almeida e Edith Ribeiro de Oliveira. Na
segunda fila, da esquerda para a direita, as alunas Ir. Maria Nirce Rezende,
Maria Celeste Fonseca e Terezinha de Jesus Rennó.
As entrevistadas pronunciaram-se acerca do uniforme, ressaltando
apenas a descrição detalhada do mesmo, sem pontuar alguma análise acerca
da obrigatoriedade de sua utilização, o que denota a adesão inquestionável ao
seu uso:
79
Vestido azul, avental branco, capa azul-marinho (quando
usado na rua), sapatos e meias brancas, redinha nos
cabelos. Eu trazia a pé o avental passado e engomado. Pendurava assim pelas alças e atravessava a cidade
inteira trazendo o avental para vir trabalhar. Mas era uma
satisfação! (Terezinha Rennó)
As alunas tinham um vestido azul. E tinha uma capa para
os dias festivos. Na época era bonito. Era bonito ver as
moças com aquela roupa, aquela capa. (Ir. Myrthes)
O uniforme era azul, o aventalzinho branco, meias
compridas brancas porque se dizia que as enfermeiras deveriam proteger as pernas do contágio. Tinha uma capa
azul marinho, que era para sair. (Maria Nirce)
Vale mencionar que a Foto 3 retratando as alunas em sala de aula,
juntamente com outras fotografias em que figuram alunas em traje de passeio e
com uniforme da formatura, foram exibidas a um profissional da moda, na
atualidade, e ele descreveu os três uniformes: um para as atividades na Santa
Casa e em sala de aula, o qual era composto por um vestido de tecido azul
claro, corpo abotoado na frente desde a cintura até o pescoço, com mangas
curtas, gola em bico e saia evasê. Sobrepondo-se ao vestido, um avental de
tecido branco, com um corpete de alças largas que se cruzavam nas costas,
amarrado na cintura com um laço do lado de trás, saia levemente franzida com
dois bolsos laterais, no mesmo comprimento do vestido: quatro dedos abaixo
dos joelhos. Os sapatos eram fechados e brancos, com meias compridas,
também brancas.
Quanto às características do uniforme, vale destacar que o avental branco:
quando em uso por cima do vestido, tinha a “função simbólica de subalternidade,
mas também era um recurso usado para proteção e defesa no que se refere à
contaminação no trato com os doentes” (PERES e BARREIRA, 2003, p.31).
O avental, peça do vestuário feminino usado desde o início do século
XVI, na França, por mulheres de todas as classes sociais, era mais comum
entre as mulheres das classes inferiores. Era visto de formas diferentes, pois
tanto podia ser uma peça de trabalho como de adorno, dependendo do tecido
de que era confeccionado, o meio e a circunstâncias em que era usado
(ROCHE, 2007).
80
O traje de passeio era um vestido igual ao usado para as atividades na
Santa Casa e em sala de aula, porém na cor branca, sem o avental por cima,
substituído por uma capa de dupla face: do lado externo, era azul-marinho; do
lado interno, azul claro, com um único botão para fechar na altura do pescoço.
O uniforme da formatura composto de um vestido como o acima descrito,
na cor branca, tinha também uma capa semelhante, porém na cor branca em
ambas as faces. Em qualquer ocasião, os cabelos eram presos, fossem curtos
ou compridos, colocando-se por cima uma rede fina e uma touca com estilo
próprio da profissão, na cor branca, como uma forma de domesticação ou de
discipliná-los (LOYOLA, 1987). O cabelo solto, símbolo de sensualidade, não
era permitido.
A cor branca denota a decência, isto é, “contribui para difundir os
princípios, os meios e as energias das regras da roupa-branca asseada e
branca, testemunha da limpeza e da brancura dos corpos e das almas”
(ROCHE, 2007, p.177).
O branco do uniforme, a similaridade da touca, os sapatos e os cabelos
presos indicavam contornos de uma identidade singular. O uniforme e a touca
eram usados apenas por enfermeiras e não pelas profissionais práticas e
auxiliares de enfermagem, sendo, portanto “símbolo diferenciador de identidade
social e profissional, e até mesmo de status” (DAHER, 2000, p. 37).
2.3 Divulgação do Modelo de Enfermeira da Escola e Seleção das Candidatas como Estratégia de Manutenção da Ordem Social
Durante o primeiro ano de funcionamento, a Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz promoveu a divulgação do seu curso mediante veiculação de
notícias em jornais e a presença de professoras e alunas em eventos culturais
e sociais, com vistas a atrair candidatas do tipo considerado desejável. Tanto
assim que, após uma reunião das Antigas Alunas da Escola Normal Sagrado
Coração de Jesus, realizada no salão nobre da própria Escola, as alunas da
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, uniformizadas, fizeram-se presentes.
Convidadas a subir no palco, foram apresentadas à platéia, sendo por todos
aplaudidas. Ao término dessa apresentação, muitas jovens ”manifestaram o
desejo de envergar o simpático uniforme da enfermeira”, conforme consta no
81
Relatório Anual de Atividades (EEWB, 1955, p.74).
A Foto 4 registra a presença de alunas da Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz no evento, significativa no sentido de reconhecer na ex-
normalista os atributos intrínsecos à natureza feminina e indispensáveis à
enfermeira, tais como docilidade e disciplina. Esse era um modo de perpetuar
o modelo de enfermeira enunciado pelas escolas de enfermagem da época. Na
opinião de Silva Junior (2000, p. 157),
o processo de seleção das candidatas visava extrair da sociedade brasileira, um contingente depurado, entre as mulheres, solteiras, diplomadas em escolas normais ou equivalentes e que pudessem comprovar sua boa conduta...
Foto 4 - Pose Grupal das Alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz,
registrada no auditório da Escola Normal de Itajubá, em 1956 Fonte: Arquivo pessoal de Maria Celeste Fonseca
Na primeira fila, da esquerda para a direita, vêem-se as alunas Edith
Ribeiro de Oliveira, Nely Pinto Souza, Miriam Rezende Abreu, Alaíde Abreu
Magalhães, Maria do Carmo Macedo e Celina Bittencourt Almeida. Na segunda
fila, da esquerda para a direita, estão as alunas Nazareth Pivato, uma não
identificada, seguida por Terezinha de Jesus Rennó e Maria Celeste Fonseca.
82
Na terceira fila encontra-se a aluna Maria Aparecida Ferraz.
As alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz participavam
também de diversas excursões a cidades próximas, visitando hospitais, centros
de saúde, escolas normais e secundárias, além de paróquias. Também
visitaram o 4º Batalhão de Engenharia e Combate de Itajubá, unidade do
Exército Brasileiro, sendo convidadas a participar do Desfile de Sete de
Setembro, em 1955, integrando o Corpo de Saúde daquele Batalhão.
Participavam ainda de reuniões e encontros universitários (EEWB, RELATÓRIO
ANUAL DE ATIVIDADES, 1955). A Foto 5 documenta um momento do evento
cívico.
Foto 5 - Desfile cívico do Dia 7 de Setembro de 1955, em Itajubá, com a Participação das Alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
Fonte: Arquivo Particular de Maria Celeste Fonseca
À frente, em destaque, o Dr. Orlando Sanches, médico do 4º Batalhão de
Engenharia e Combate. Na primeira fila, da esquerda para a direita, registram-
se as presenças das alunas Terezinha de Jesus Rennó; de um soldado não
identificado e Maria Celeste Fonseca. Na segunda fila, da esquerda para a
direita, estão as alunas Marieta Martins Lopes, Edith Ribeiro de Oliveira e
Celina Bittencourt Almeida. Por fim, nas terceira e quarta filas, figuram soldados
não identificados.
A disposição das alunas no espaço fotográfico, ocupando as primeiras
filas e próximas da autoridade militar, expressa o prestígio conferido à Escola e
83
suas alunas em um evento de significativa importância para a Nação, pois as
posições nos diversos espaços sociais são determinadas pelo volume de
capital acumulado e pelo peso relativo desse capital.
As entrevistadas pronunciaram-se também acerca da eficácia simbólica
da divulgação do curso pelas alunas da Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz:
A escola chamou muito a atenção do povo, porque
naquela época não havia curso superior, assim para as
mulheres. Isso incentivou a população de Itajubá e com isso ela foi sendo divulgada pelas próprias alunas... por
intermédio de conversas as próprias alunas foi quem
divulgaram a escola. (Ir. Myrthes)
A enfermagem era pouco aceita, bem olhada na nossa
região. Madre Marie Ange nos levou em Paraisópolis,
Brasópolis, Santa Rita e Cristina. Ela nos levava, fazia uma palestra e no final nos apresentava e fazia questão
de dizer que estávamos fazendo enfermagem, e que eu
era uma Irmã. Elas iam de uniforme e de avental; eu ia de hábito branco. (Maria Nirce)
Assim, o trabalho empreendido no processo de divulgação e
recrutamento das candidatas junto à sociedade de Itajubá e das cidades
circunvizinhas, tinha o efeito simbólico de se fazer ver e de se dar a conhecer
em busca do reconhecimento social da escola e da profissão, de modo a
construir a identidade da enfermeira brasileira resguardando a moral da mulher
brasileira.
Recrutadas e selecionadas as alunas, a Escola foi inaugurada num
domingo, dia 6 de março 1955, com a seguinte programação: às 10h30min,
missa votiva rezada na Igreja Matriz, com a presença do “corpo docente e
discente, muitos fiéis dentre os quais autoridades e pessoas especialmente
convidadas”; às 14h00min, no auditório da Escola Normal e Ginásio Sagrado
Coração de Jesus, a aula inaugural proferida pelo Dr. Gaspar Lisboa10. Em
seguida, dirigiram-se à sede da Escola de Enfermagem, na Santa Casa de
Misericórdia para a bênção litúrgica das novas dependências e da casa onde
residiam as alunas do internato, a ser dada pelo Vigário Padre Agostinho Picard
(O SUL DE MINAS, 1955).
10 Dr. Gaspar Lisboa era médico do Corpo Clínico da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e professor da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, no período estudado.
84
Além do cumprimento das exigências iniciais para o ingresso no curso, o
Artigo 7º do Capitulo III (Da Matrícula) do Regimento Interno da Escola previa a
inspeção de saúde das alunas, a ser realizada por médico designado pela
diretora da escola (EEWB, REGIMENTO INTERNO, 1956). A esse respeito, no
arquivo pessoal das alunas, foram encontradas fichas com anotações de
exames médicos realizados nos meses de março e setembro de cada ano
letivo, pelo Dr. Carlos Victor Rennó Ribeiro, médico pertencente ao corpo clinico
da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e ao corpo docente da Escola, onde
lecionava Anatomia. As anotações, na grande maioria das fichas, referiam-se
ao peso corporal mensal, data de exame de abreugrafia11 e vacinação.
Além da preocupação com a construção do habitus profissional das
alunas, iniciado já no processo de seleção das candidatas, Madre Marie Ange
reconheceu a importância da criação do diretório acadêmico como estratégia
para atribuir à Escola de Enfermagem Wenceslau Braz o caráter universitário
expressado na organização dos estudantes.
Assim, em 8 de junho de 1955, já no primeiro ano do funcionamento da
Escola, foi criado o Diretório Acadêmico, denominado “Diretório Acadêmico
Gaspar Lisboa” – DAGALI.12 As entrevistadas ratificam o envolvimento de
madre Marie Ange nesse empreendimento:
Foi da cabeça da Madre Marie Ange. Acho que ela que
quis para melhorar a escola. (Ir. Zenaide)
Surgiu da própria diretoria da Escola, da Madre Marie
Ange que era a alma de tudo. Acho que surgiu dela porque ela comandava tudo. (Maria Celeste)
Eu não sei porque foi criado. Eu até fui presidente. (Terezinha Rennó)
O Diretório Acadêmico, órgão representante do corpo discente da Escola,
caracterizava-se como entidade de caráter cultural sem fins lucrativos, tendo
como uma de suas finalidades “zelar pelo interesse do corpo discente, pelo bom
11
Este exame tinha como finalidade comprovar a inexistência da tuberculose, visto que o mesmo era uma prática sanitária adotada à época, como um recurso de controle e combate da doença (RIZZOTTO, 1999).
12 Em homenagem ao Dr. Gaspar Lisboa, médico e professor da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz.
85
nome da escola e seu patrimônio educacional e pelo aprimoramento cultural e
espiritual de seus membros” (DAGALI, ESTATUTO INTERNO,1955).
Na ata da primeira reunião do Diretório Acadêmico, consta que estiveram
presentes, além dos membros da sua diretoria13, a diretora da Escola, Irmã
Zenaide, e a secretária, Madre Marie Ange; e o presidente do Diretório
Acadêmico do Instituto Eletrotécnico de Itajubá, Arnaldo Iassim, então
estudante. Além dos assuntos relativos à organização do Diretório e elaboração
de seus Estatutos, foi também abordada a questão de sua filiação à União
Nacional dos Estudantes (UNE).
A criação do Diretório Acadêmico definia a posição da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz, colocando-a no padrão de escola superior, como
todas as outras que pertenciam àquela organização central de estudantes, que
reunia todos os estudantes do Brasil – a UNE. Deste modo, as alunas podiam
se fazer presentes nas atividades organizadas pelos órgãos estaduais e nos
Congressos. Este foi um recurso utilizado pela Escola de Enfermagem em
relação à política estudantil, quando permitia que suas alunas tomassem parte
de eleições e de outras atividades de interesse acadêmico.
Nas primeiras reuniões do Diretório, quando da elaboração do seu
Estatuto, Madre Marie Ange fez-se presente, auxiliando nas discussões dos
assuntos da pauta. Na ata da reunião de dois de outubro de 1955, referente à
4ª reunião do Diretório, dentre outros assuntos, ela assim se pronunciou: “Agora
que o nosso Diretório Acadêmico é filiado à União Nacional dos Estudantes,
deveríamos trabalhar para a melhora, ou seja, a extirpação das falhas maiores
observadas no Congresso”. O evento científico ao qual ela se referiu foi o XIV
Congresso da UNE, realizado em Itajubá naquele mesmo ano, quando houve a
participação das alunas da Escola (DAGALI, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS DO
DIRETÓRIO, 1955).
As atividades desenvolvidas pelo Diretório Acadêmico em suas reuniões,
eram compostas de informes gerais, leitura de correspondências recebidas, que
após discussão para os encaminhamentos solicitados, tinham o cuidado de
responder. Várias correspondências da UNE foram recebidas, e dentre elas, no
13 A composição da primeira Diretoria era a seguinte: Presidente - Edith Ribeiro de Oliveira; Secretária -
Terezinha de Jesus Rennó; Tesoureira - Maria Celeste Fonseca e pela Bibliotecária - Irmã Maria Nirce Rezende de Abreu.
86
mês de março de 1956, uma solicitando a participação das alunas na
paralisação programada para o mês de abril. Após diálogo entre os
componentes da Diretoria,
ficou resolvido que a participação das alunas da Escola Wenceslau Braz seria simbólica, uma vez que a enfermeira, em virtude da sua elevada e apostólica missão, não deve suspender os estágios e estudos, o que resultaria em prejuízo para os enfermos. (DAGALI, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS, 1955)
Assim, as estratégias empreendidas pelas Irmãs da Providência de Gap,
lideradas por Madre Marie Ange, foram eficazes no sentido de implantar e
consolidar o modelo de ensino da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz,
consubstanciado pelo modelo Anna Nery, ao mesmo tempo em que evidenciou
o trabalho das religiosas na formação de recursos humanos, assegurando suas
posições de poder no espaço assistencial da enfermagem da Santa Casa de
Misericórdia de Itajubá.
2.4 A Recepção da Touca como Ritual de Solenização do Modelo de Enfermeira para Itajubá
O primeiro rito de passagem ao qual era submetida a aluna da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz, refere-se ao ritual de recepção de touca quando
aprovada no estágio probatório, pois significava que obtivera aprovação na
primeira etapa do curso, sendo considerada apta a ingressar efetivamente no
corpo discente da Escola. Para Santos (2004, p.83), a cerimônia da “Recepção
da Touca” era o primeiro evento de grande força simbólica, significando “a
integração efetiva da aluna ao corpo discente”, isto é, demonstrava que a aluna
obtivera “o domínio de si mesma e a devoção à causa da Enfermagem”.
Ademais, o ritual em questão evocava a “mística da profissão, definida como
valor essencial, e constituía simultaneamente estratégia de igualdade e
distinção do grupo”.
Analisando o rito de passagem, Silva Júnior (2000, p.120-121) afirma
tratar-se de um ritual, “tradição inventada, trazida na bagagem das enfermeiras
norte-americanas”, tendo como objetivo a demonstração pública da implantação
da enfermagem moderna no Brasil. Afirma, também, que é uma encenação “da
87
passagem de um estágio inferior para outro mais adiantado na adoção do ethos
profissional”, inserido na tipologia de ritual de revitalização: renovação do
compromisso para com as motivações e valores dos participantes do ritual. Isto
é, são importantes e sagrados, visto que mantêm a coesão social entre os
profissionais. A touca fazia parte também do uniforme das alunas da Escola de
Enfermagem Anna Nery e do uniforme das alunas da Escola Saint Thomas, em
Londres, Inglaterra, fundada por Florence Nightingale (DAHER, 2000).
Assim, os rituais não demarcam apenas a passagem de um estado a
outro, mas simbolizam a incorporação de um habitus profissional consoante as
expectativas sociais ligadas à sua categoria.
Consta nos documentos que o ritual de recepção de touca ocorreu a
partir da segunda turma que iniciou o curso em 1956, ou seja, a segunda turma
da Escola. Para essa cerimônia, realizada no salão nobre da Santa Casa de
Misericórdia, a Escola escolheu o Dia das Mães (naquele ano comemorado no
dia 13 de maio). Estiveram presentes, além da diretoria da Escola, parte do
corpo docente, do corpo discente, familiares e amigos da alunas.
A programação constou de: 1) Hino da enfermeira, entoado pelas alunas;
2) Oração da Enfermeira, de Maria Eugênio Celso, pela aluna Celina Bittencourt
Almeida; 3) Canto Orfeônico denominado “O trabalho”, pelas alunas; 4)
Declamação da poesia “A mão que nunca falha”, de Guilherme de Almeida,
pela aluna Maria Aparecida Ferraz, e por último, o Hino das Mães, pelas alunas.
Na ocasião, Madre Marie Ange falou sobre a importância e magnitude do
momento e ressaltou o significado da touca para a enfermeira, enfatizando
touca constituir-se a mesma em um símbolo nobre e humanitário para a
profissão. De certa forma, todas as fases do ritual, do preparo à sua realização,
valores, normas de condutas e habitus foram inculcados, visto que as alunas,
sujeito do ritual, foram conduzidas irreversivelmente a assumir um compromisso
especial ou obrigatório (DAHER, 2000).
Em seguida, as mães fizeram a colocação da touca em suas respectivas
filhas, que cantaram o Hino da Enfermeira, após o que e todos os presentes
foram convidados a comparecer às dependências da Escola, onde foi-lhes
oferecida uma “lauta mesa de doces” feitos pelas próprias alunas durante a aula
de Dietética (O SUL DE MINAS, 1956). Assim, deste dia em diante, a touca
88
confeccionada em tecido branco, fino, passou a ser um complemento
obrigatório do uniforme das alunas, devendo estar sempre engomada (DAHER,
2000).
O Hino das Enfermeiras enquanto parte do ritual da entrega da touca,
teve o efeito simbólico de proclamar a identidade da emergente profissão
feminina, pois os rituais legitimam o grupo que protagoniza tal ritual, além de
ratificar o poder das autoridades que o instauram. Ademais, a analise do teor do
hino das enfermeiras evidenciou atributos intrínsecos à natureza feminina como
caridade e abnegação, considerados importantes para legitimar a nova
profissão.
A cerimônia descrita foi divulgada em jornais da região, numa
demonstração pública da implantação da enfermagem moderna em Itajubá, o
que era permitido pelo contexto sócio- político da época, concorrendo para
reforçar as características de solidez e importância de uma solenidade. No caso
de Itajubá, esta foi uma estratégia, que ao divulgar um símbolo – a touca da
enfermeira – alargou as bases da diferenciação e da inovação, numa atividade
pré-concebida, que enaltecia a enfermagem ensinada e praticada na capital da
República, pela Escola de Enfermagem Anna Nery.
Pelo exposto, confirma-se o pensamento de MacLaren (1991, p. 30) no
sentido de que um ritual pode fazer parte de um conjunto de eventos políticos,
ligados ao capital cultural dominante em uma escola, elevado “às brumas do
simbólico”, destinado a criar e a manter grupos sociais.
89
CAPÍTULO 3
A CONSOLIDAÇÃO DA ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: O RECONHECIMENTO E
A TRANSFERÊNCIA DE MANTENEDORA (1956 – 1959)
O presente capítulo discute a eficácia simbólica das estratégias
empreendidas pelas Irmãs da Congregação da Providência de Gap para
consolidar a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em Itajubá, e apresenta
uma descrição breve do contexto histórico-social em que ocorre o seu
reconhecimento e a transferência de mantenedora, eventos considerados
significativos para a Escola no que se refere à demarcação do seu espaço no
campo da educação em enfermagem, com repercussões expressivas no
processo de profissionalização das Irmãs de caridade e na manutenção da
exclusividade que tinham, tanto na administração como nos cuidados dos
doentes internados na Santa Casa de Misericórdia.
O contexto em que se insere o capítulo abrange os primeiros anos do
Governo de Juscelino Kubitschek, que se caracterizou como um período de
estabilidade política, embalado por alto índice de crescimento econômico. Os
“cinqüenta anos em cinco” da propaganda oficial repercutiram em amplas
camadas da população. Os pressupostos do Programa de Metas evidenciavam
uma política econômica – nacional – desenvolvimentista, com resultados
extraordinários no setor industrial, com amplo crescimento nas indústrias do
aço, mecânicas, de eletricidade e comunicações e de material de transporte
(FAUSTO, 2003).
Vale lembrar que, em relação ao ensino de enfermagem, até 1959 havia
uma preponderância de escolas religiosas, em número de 23, do total de 35
escolas criadas no Brasil, sendo que na década de 50, em especial, surgiram
dezesseis novas escolas de enfermagem no país, onze das quais pertencentes
a congregações religiosas, uma evangélica, duas federais e duas estaduais.
A preocupação em criar escolas católicas de nível superior foi discutida
amplamente no Concílio Plenário Brasileiro, realizado na cidade do Rio de
Janeiro em 1939, uma vez que a Igreja reconheceu a necessidade de mobilizar
90
estratégias capazes de manter suas posições de poder e prestígio na
sociedade brasileira, mediante imposição de uma ordem moral no Brasil.
Esse número significativo de escolas católicas reflete a participação das
enfermeiras religiosas na difusão dos princípios da Igreja Católica, ameaçados
em virtude das mudanças do mundo contemporâneo (ALMEIDA FILHO, 2004).
No que tange à educação das mulheres desde o início do século XX, as
escolas e cursos especializados deveriam oferecer um ensino desenvolvido por
educadores católicos, tendo como uma de suas finalidades “a capacitação de
mulheres para assumir sua missão no mundo moderno” (BENCOSTA, 2001,
p.129); isto é, ser formada para profissões essencialmente femininas. Ademais,
é pertinente assinalar que as religiões monoteístas fizeram da diferença e da
desigualdade dos sexos um de seus fundamentos (PERROT, 2007, p. 85) ao
legitimar a repartição dos papéis sexuais, através de rituais que destacavam as
práticas convenientes ao sexo.
Carvalho Filho (1983, p. 172) afirma que “o Clero pretendia cristianizar a
elite intelectual, depois e através desta, toda a sociedade”. No entanto, na
Associação Brasileira de Enfermagem1 (ABEn) havia um grupo de enfermeiras
cujas opiniões contrárias à ampliação do número de escolas de enfermagem no
País, sob a alegação de que não estariam as mesmas adequadamente
preparadas para formar enfermeiras de nível superior.
Madre Marie Ange, ao tomar ciência dessas alegações, redigiu duas
cartas: uma para Maria Rosa de Souza Pinheiro, então presidente da ABEn, e
outra para Glete de Alcântara, Presidente da Comissão de Educação da mesma
Entidade e Diretora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, no Estado de
São Paulo. Essas cartas foram enviadas em 2 de junho de 1956, dezenove dias
antes da visita da Comissão do Ministério da Educação e Cultura, encarregada
de avaliar as condições da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz com vistas
ao seu reconhecimento.
A iniciativa de Madre Marie Ange em solicitar o pronunciamento dessas
personalidades da enfermagem evidencia uma estratégia da religiosa no
1 Em 21 de agosto de 1954, durante o VII Congresso Nacional de Enfermagem, a Associação de
Enfermeiras Diplomadas (ABED), criada em 1926 e regulamentada em 1928, em regime de subordinação ao Serviço de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), recebeu nova denominação: Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) (CARVALHO, 1976).
91
sentido de utilizar o discurso legítimo de porta-vozes autorizadas da
enfermagem brasileira, à época, como arma na luta simbólica pelo
reconhecimento da citada Escola, pois, de acordo com Bourdieu (2001a, p.101),
o porta-voz autorizado é aquele que “cumpre, ou cabe falar em nome da
coletividade; é ao mesmo tempo seu privilégio e seu dever, sua função própria;
em suma, sua competência”.
As cartas em tela, contemplavam duas perguntas: “1ª) Essas escolas de
enfermagem consideradas “fracas” são em geral, ou em sua maioria, dirigidas
por religiosas? 2ª) Quais são as falhas principais que lhes apontam?” (EEWB,
CARTA, MADRE MARIE ANGE,1956).
Maria Rosa Sousa Pinheiro não respondeu a primeira pergunta e, na
oportunidade, manifestou sua admiração pessoal à figura de Madre Marie Ange,
ressaltando sua dedicação às causas da enfermagem:
A admiração que tenho pela sua inteligência, energia e visão dos problemas de enfermagem é a mesma admiração que me faz desejar intensamente que a senhora fosse ou venha a ser no futuro uma enfermeira, levam-me a usar do máximo de franqueza possível no caso. (CARTA, MARIA ROSA DE SOUZA PINHEIRO,1956)
Acrescentando que a segunda resposta explicaria as questões
enunciadas na primeira pergunta apontou, de maneira geral, as falhas das
escolas de enfermagem consideradas “fracas”: I) ausência de corpo docente
preparado; II) direção não esclarecida sobre os objetivos das escolas de
enfermagem; e III) deficiência de recursos materiais.
Glete de Alcântara também se absteve de responder a primeira pergunta
e emitir julgamento, alegando desconhecer o funcionamento de grande parte
das escolas de enfermagem; quanto à segunda pergunta, corroborou a opinião
da Presidente da Associação Brasileira de Enfermagem.
Diante dessas respostas, Madre Marie Ange recorreu à enfermeira
Haydeé Guanais Dourado2, então presidente da Comissão de Legislação da
ABEn, enviando-lhe uma carta com idêntico teor, em 26 de julho do mesmo
ano. Cumpre informar que a enfermeira Haydeé tivera oportunidade de estar na
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em visita não oficial, em período
2 Haydée Guanais Dourado mantinha com Madre Marie Ange uma estreita amizade, inclusive trocando
correspondências particulares.
92
antecedente ao recebimento da carta. A resposta de Haydeé ao pleito de Madre
Marie Ange encontra-se transcrita a seguir:
Penso não deve ser objetivo da Escola desenvolver-se em estabelecimento de ensino superior. A zona em que se encontra e, principalmente, a atmosfera de trabalho na humildade cristã da Providência, dão-me a convicção de que essa é uma escola que poderá tornar-se modelar, e causar justo orgulho a todas nós, como estabelecimento de ensino de grau médio, do ciclo de técnico, tal como o é o curso normal. Não é de escola de auxiliares de enfermagem que estou cogitando, entende-me. (EEWB, CARTA, HAYDEÉ G. DOURADO, 1956)
Diante das respostas inconclusivas, Madre Marie Ange decidiu-se pela
continuidade das providências que já vinha adotando relativas ao
reconhecimento da Escola. No plano simbólico foram adotadas medidas
administrativas: em 9 de março de 1956, a provedoria da Santa Casa de
Misericórdia de Itajubá encaminhou um ofício ao Diretor do Departamento de
Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura, solicitando o
reconhecimento da Escola; em 17 de abril do mesmo ano, foram designadas as
enfermeiras Isaura Barbosa Lima3 e Abyael Maria de Souza4, representantes do
Departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura, para a
inspeção da Escola para fins de reconhecimento.
Ao encaminhar o ofício solicitando o reconhecimento da Escola, a
provedoria atendia ao disposto no Art. 53 do Decreto nº 27.426, de 14 de
novembro de 1949, que regulamentava os cursos de enfermagem. O Artigo em
questão previa que, decorrido o primeiro ano letivo, o diretor do
estabelecimento obrigava-se a requerer, dentro de sessenta dias, o
reconhecimento do curso, sob pena de ter cassada a autorização, visto ser esta
apenas de caráter condicional. (BRASIL, 1959).
A designação das enfermeiras pelo Ministério da Educação e Cultura para
3 Isaura Barbosa Lima, formou-se na primeira turma da Escola de Enfermagem Anna Nery, em 1925. No
ano seguinte fez parte da Primeira Diretoria Provisória da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras (ABED) onde, nos anos posteriores, participou ativamente desta Associação. Atuou também como enfermeira de saúde pública federal por vários anos, ocupando diversos cargos em diferentes Estados. Em 1944 foi designada chefe de seção de enfermagem na Divisão de Organização Sanitária (DOS) do Departamento Nacional de Saúde do Ministério da Educação e Saúde. Realizou mais de 20 inspeções entre escolas de enfermagem e de auxiliares de enfermagem, com a finalidade de reconhecimento ou autorização de funcionamento. Sob a forma de folhetos do DOS e publicações na Revista Brasileira de Enfermagem, contribuiu cientificamente para o desenvolvimento da Enfermagem Brasileira (ROCHA; BARREIRA, 2002).
4 Abyael Maria de Souza, enfermeira, foi vice-presidente da ABEn-Seção Pernambuco em 1949 e orientou a fundação da ABEn-Seção Paraíba em 1954 (CARVALHO, 1976).
93
a visita de inspeção foi comunicada às Irmãs, através de um telegrama datado
de 25 de abril de 1956. Ainda naquele mês, a Escola recebeu as representantes
daquele Ministério, e também do o Sr. Antonio Francisco Gomes, Inspetor
Federal, que executaram a visita técnica no período de 21 a 24 de junho do
referido ano, para concluir o processo de reconhecimento da Instituição de
ensino.
Por ocasião dessa visita, divulgada em julho no jornal “O Sul de Minas”
em julho de 1956, as representantes do Departamento de Ensino Superior
ficaram hospedadas na Santa Casa de Misericórdia de Itajubá a fim de
proporcionar “mais facilidade e tempo para uma inspeção cuidadosa e
completa”, de acordo com a matéria jornalística. Esta divulgação ratifica o
pensamento de Bourdieu de que a “luta pela identidade se fundamenta no
reconhecimento dos outros” (BOURDIEU, 2001a, p.111).
Durante a visita de inspeção, tiveram a oportunidade de proferir palestras
para as alunas, quando observaram o idealismo que as animava “e a
consciência de sua vocação” (O SUL DE MINAS, 1956). Além disso, assistiram
a “uma aula de anatomia sobre artérias e veias, com aula prática desenvolvida
com cadáver”, ministrada pelo Dr. José Chaibem Mauad. A notícia foi encerrada
com os seguintes dizeres, referindo-se à enfermeira Isaura Barbosa Lima:
“Mulher inteligente, soube perceber o imponderável: a alma da Escola, o
espírito que a anima enchendo todos os cantos, plasmando pouco a pouco, a
alma da enfermeira ideal” (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS, 1956).
O relatório elaborado pela Comissão, parcialmente transcrito a seguir, e
também publicado no mesmo Jornal, foi favorável à Escola, tanto assim que em
18 de dezembro de 1956, pelo Decreto Federal nº 40.572, ela foi reconhecida
oficialmente, cerca de 2 anos após o início de seu funcionamento e antes da
formatura da primeira turma, que ocorreu em março de 1958:
I – A organização administrativa e didática da Escola obedece às exigências fixadas em lei federal. II – O número de professores em relação às alunas é satisfatório. III – A comunidade constituída de 68.000 habitantes em seu perímetro urbano mostra-se voluntariamente interessada em colaborar com a Escola para seu maior desenvolvimento. IV – Os campos de estágio prático oferecem facilidade à natureza do ensino. V – A sede provisória da escola será substituída por uma construção própria, para a qual já estão sendo tomadas providências.
94
Por fim, em face do exposto e do grande empenho da Diretoria da Escola, do seu corpo docente e discente e do interesse manifestado pela Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá em formar pessoal para render boa enfermagem à população da localidade, opinamos favoravelmente ao reconhecimento da Escola em lide
O Decreto Federal referente ao reconhecimento da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz foi publicado no Diário Oficial da União no dia 10
de janeiro de 1957, conforme fac símile:
95
3.1. A Formatura da Turma Pioneira como Rito de Consagração da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
A solenidade de formatura da primeira turma de enfermeiras da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz, no dia 09 de março de 1958, contou com cinco
formandas: três leigas e duas religiosas da Congregação. A missa de Ação de Graças
foi oficiada na Capela da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, às 08:30h, e à noite,
às 19:30h foi realizada a cerimônia de Colação de Grau, no Salão da Escola Normal e
Ginásio Sagrado Coração de Jesus. Compareceram à cerimônia vários médicos do
Corpo Clínico da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, e também alguns que
atuavam como professores da Escola, dentre outros, além da presença de
autoridades locais civis, militares e eclesiásticas.
A importância desse ritual reside na possibilidade de notificar a
identidade de um grupo que aspirava ao reconhecimento social, uma vez que
os rituais, enquanto atos institucionais, têm o poder de agir sobre o real e sobre
a representação desse real, porque sancionam a nova ordem social
estabelecida.
A obtenção do diploma de enfermeira pelo grupo de alunas da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz ao tempo em que assegurou formalmente uma
competência específica, também determinou a incorporação de um habitus
profissional consoante as expectativas sociais ligadas à sua categoria, uma vez
que o diploma confere
a posse de uma cultura geral, tanto mais ampla e extensa quanto mais prestigioso for esse documento; e inversamente, que é impossível exigir qualquer garantia real sobre o que ele garante formal e realmente, ou se preferirmos, sobre o grau que é a garantia do que ele garante. (BOURDIEU, 2007, p. 29).
Desse modo, os portadores dos diplomas são compelidos a
incorporarem os atributos que estatutariamente lhes são conferidos. A Foto 6, a
seguir, registra o evento.
96
Foto 6 – Pose Grupal após a Sessão Solene de Colação de Grau da Primeira Turma de Enfermeiras da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
Fonte: Arquivo particular de Maria Celeste Fonseca
Na foto, da esquerda para a direita, aparecem sentadas Madre Marie
Ange, secretária da Escola, seguida de duas formandas: Ir. Myrthes Rennó5 e
Maria Celeste Fonseca; a diretora, Ir. Zenaide Nogueira Leite, e as formandas
Celina Bittencout Almeida, Ir. Maria Nirce Rezende Abreu6 e Terezinha de
Jesus Rennó.
Na segunda fila, de pé, da esquerda para a direita, figuram onze homens,
com as mãos para trás, com exceção da figura central, o Vigário da cidade,
cujas mãos estão apoiadas na cadeira onde se encontra sentada a Ir. Zenaide.
Os cinco primeiros são médicos da Santa Casa de Misericórdia e professores
da Escola, a saber: Dr. João Severiano Ribeiro, Dr. Luís Pereira de Toledo, Dr.
José de Araújo Barbosa, Dr. José de Mauad e Dr. Antonio Braga Filho. A sexta
figura, no centro da composição fotográfica, é o Padre. Agostinho Picard que
tem à sua esquerda (sétima e oitava figuras da composição fotográfica) os
médicos Gaspar Lisboa, Paraninfo da turma, e Orlando Sanches As demais
pessoas fotografadas, nona, décima e décima primeira são, respectivamente, o
5 Ir. Myrthes Rennó e Terezinha de Jesus Rennó, são irmãs. 6 Quando se formou, Maria Nirce Rezende Abreu era religiosa da Congregação das Irmãs da Providência
de Gap,. Hoje não mais pertence à Congregação.
97
Deputado Estadual Antonio Aureliano Chaves de Mendonça; o Prefeito Sr.
Antonio Rennó Pereira e o Comandante do 4º Batalhão de Engenharia e
Combate, Tenente Coronel Eduardo Congro.
Na terceira fila, também de pé, da esquerda para a direita, vêem-se dois
homens, ambos médicos e professores da Escola, sendo que o primeiro, o Dr.
Antonio Edilberto Lisboa, figura entre o segundo e o terceiro personagens da
segunda fila; e o segundo, Dr. Carlos Victor Rennó Ribeiro, está entre a sexta e
a sétima figuras, também da segunda fila.
A foto evidencia a predominância das figuras masculinas (treze homens
e sete mulheres) em evento relacionado a uma profissão feminina. Esse dado
ganha mais expressividade quando articulado ao fato de 9 dos 13 homens
serem médicos e professores da Escola. As mulheres estão sentadas ficando,
desta forma, em plano inferior ao dos homens que se encontram todos em pé e
perfilados atrás das cadeiras, em atitude de prontidão, com os olhares
direcionados para a máquina fotográfica, com exceção do último à direita, o
Comandante do 4º Batalhão de Engenharia e Combate que, com atitude altiva,
olha para a frente, mas não para a câmara fotográfica.
Os homens apresentam-se de terno e gravata, com exceção do Vigário,
que usa batina preta. As formandas religiosas, a diretora e a secretária estão
com o hábito de cor preta; as leigas trajam o uniforme de gala, todo branco, isto
é: vestido, meias longas e sapatos, e por cima do vestido, uma capa; na
cabeça, a touca de enfermeira sobre os cabelos presos que emolduram seus
rostos.
A fotografia registra duas figuras-tipo de enfermeira enunciadas pela
Escola: a religiosa e a leiga. As formandas leigas expressam em suas
fisionomias um discreto sorriso; já as religiosas estão sérias, com exceção da
segunda à esquerda, Ir. Terezinha Rennó, que sorri discretamente.
O uniforme, enquanto “signo de adesão”, solidariedade, hierarquia e
exclusão, é um dos códigos de leitura social (ROCHE, 2007, p.47). A diferença
dos trajes das formandas revela uma história de aquisições individuais e
sociais, fazendo com que haja o reconhecimento do grupo.
A capa tem origem na “toga”, espécie de manto usado pelos romanos em
todos os atos oficiais, civis, militares ou religiosos, ou quando apareciam em
98
público, em tempos de paz. De uso exclusivo dos que possuíam bens, era
proibido aos escravos, estrangeiros ou condenados; confeccionado na cor
branca, em forma elíptica, tinha os cantos inferiores levemente arredondados
(GONÇALVES, 2006).
O uso do uniforme com a capa pelas alunas era obrigatório em rituais
institucionais (recepção de touca e formaturas) e em visitas oficiais às escolas
normais e às instituições militares. Eram considerados signos exteriores aos
seus corpos comedidos, que deveriam indicar a posição social do grupo através
de marcas distintivas, pois os códigos que regem a forma da manifestação
pública, tais como a etiqueta das cerimônias, os gestos, os emblemas e o
ordenamento oficial dos ritos, constituíam os elementos visíveis de um sistema
de condições que produzem a disposição ao reconhecimento social do grupo.
Além disso, no que se refere à condição da mulher na sociedade, eram
percebidos como “códigos bastante precisos”, que deveriam reger “a aparição
das mulheres em público” (PERROT, 2007, p. 50).
Quanto ao prestígio conferido aos representantes da Igreja Católica, é
notório pela disposição das pessoas no arranjo fotográfico, uma vez que as
religiosas ocupam o primeiro plano da composição. A autoridade eclesiástica,
na segunda fila, também tem posição de destaque no centro da fotografia. A
análise dessa disposição leva à constatação de que as classificações dos
agentes são determinadas pela posição ocupada individualmente no espaço
social e que, em função dessa posição, por definição relativa, elas têm um valor
determinado (PINTO, 2000).
Não obstante, a distribuição espacial dos médicos da Santa Casa de
Misericórdia no espaço fotográfico reflete a luta pelo reconhecimento de sua
competência na formação das enfermeiras da Escola de Enfermagem
Wenceslau Braz, uma vez que a força simbólica que os agentes podem
mobilizar na luta pelo exercício legítimo do poder, está condicionada por sua
posição e autoridade conquistadas naquele campo.
Nesse sentido, vale observar que o Paraninfo da turma ocupa lugar de
destaque na composição fotográfica, ou seja, ao lado da autoridade religiosa,
visto que tinha a prerrogativa de falar em nome dos professores, sendo
reconhecido por esse mesmo grupo como seu porta-voz autorizado. A eficácia
99
simbólica de suas palavras é exercida “na medida em que a pessoa-alvo
reconhece quem a exerce como podendo exercê-la de direito” (BOURDIEU,
1989, p. 95), contribuindo para consagrar a autoridade científica dos médicos.
Os depoimentos abaixo evidenciam esse reconhecimento no processo de
escolha do paraninfo da turma de enfermeiras:
Foi realizada por uma votação verbal para aquele que mais se dedicou. (Maria Celeste)
Ah! Deve ter sido uma votação... eu não me lembro bem. (Terezinha Rennó)
Fomos nós, a turma escolheu. (Ir. Mirthes)
As formandas exibem em suas mãos o diploma de enfermeira, que
representa o reconhecimento institucional do capital cultural adquirido que
confere legitimidade à sua prática profissional. O ritual da entrega do diploma
significa a “formação e transmissão de uma competência técnica e de seleção
dos tecnicamente mais competentes” (BOURDIEU, 1998, p.39).
A diferença entre os sexos marca os corpos das mulheres, uma vez que
se inscrevem sob a forma de hexis corporal (PERROT, 2007, p 42). Tal
diferença pode ser visualizada na expressão corporal registrada no texto da
fotografia: as mulheres estão sentadas com as colunas vertebrais eretas, as
pernas juntas e as mãos repousadas sobre as coxas. Seus corpos devem
transmitir uma mensagem de moralidade e de ética através de gestos que
funcionam como cerco invisível (PORTO, 2007, p. 128) que se funda na
hierarquia entre os sexos, o que para muitos é o fundamento da ordem social
(PERROT, 2007, p. 62).
Bourdieu (2003) considera o cerco como uma espécie de limitação do
território deixado aos movimentos e deslocamentos do corpo ou à presença do
corpo no espaço. Desse modo, a posição e a postura corporal das mulheres na
composição fotográfica evidenciavam as distinções entre o masculino e o
feminino.
Durante o ritual de colação de grau, o Dr. Luís Pereira de Toledo, 1º
Vice-Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, como representante
do Dr. Wenceslau Braz, então Provedor da referida Instituição, congratulou-se
100
com as formandas, ressaltando a “feliz e acertada escolha do paraninfo”. Em
seguida, teceu-lhe elogios pelo esforço e dedicação para com a Escola de
Enfermagem: “um dos mais entusiastas obreiros da Escola de Enfermagem, da
qual desde o início, se tornou brilhante e devotado mestre” (EEWB, DISCURSO
DO VICE-PROVEDOR, 1958).
A oradora da turma, Terezinha de Jesus Rennó, ao proferir as suas
palavras, agradeceu aos mestres, ao patrono da Escola, ao Dr. Wenceslau Braz
e, por fim, aos pais. Referindo-se ao paraninfo da turma, suas palavras
enalteceram a contribuição dada à Escola, ao tempo em que evocava alguns de
seus atributos, como bondade, renúncia e amor ao próximo:
Incansável batalhador de nobres causas. De sua inteligência esclarecida recebemos a ciência, de seu coração, bondade. De seu exemplo silencioso, lições de renúncia, desprendimento, senso de responsabilidade, entusiasmo e amor à vocação. (EEWB, DISCURSO DA ORADORA DA TURMA, 1958).
O Paraninfo da turma ressaltou que o seu discurso correspondia à
última aula do curso da Escola. Suas palavras enunciaram o compromisso
perene com a profissão e ressaltaram as qualidades da enfermeira,
intrínsecas à natureza feminina: “humildade, fé, caridade, firmeza, decisão,
discrição, forças, modéstia, paciência, perseverança”, acrescentando que
tais virtudes eram indispensáveis à prática da enfermeira: “cabal
desempenho de suas atribuições” (O SUL DE MINAS, 1958).
O discurso do paraninfo evidencia a divisão hierarquizante do mundo
social em masculino e feminino, confirmadas nas palavras de Bourdieu (1999,
p. 20) de que “a diferença biológica entre os sexos, isto é, entre o corpo
masculino e o corpo feminino, e, especificamente, a diferença anatômica entre
os órgãos sexuais, pode assim ser vista como justificativa natural da diferença
socialmente construída entre os gêneros e, principalmente, da divisão social do
trabalho”, trazendo à lume o conhecimento e o reconhecimento práticos da
fronteira entre o masculino e o feminino (OLIVEIRA, 2007, p. 83).
A formatura da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz tornou o grupo
manifesto para si e para os outros, uma vez que o “ritual institucional é um ato
de comunicação e legitimação de uma identidade” (BOURDIEU, 2001a, p.
101) que reforça o compromisso das formandas com a profissão, pois “a
101
instituição de uma identidade atribui uma competência que, ao mesmo
tempo em que impõe um direito de ser, é também um dever ser”
(BOURDIEU, 2001a, p. 100), em que aquele que é instituído sente-se
intimado a incorporar disposições consoante o capital cultural
institucionalizado.
Na foto da Sessão Solene de Colação, ao fundo do cenário, vê-se a
Bandeira Nacional, símbolo da identidade da Nação, evocando o patriotismo na
formação das enfermeiras.
É possível dizer, então, que a Igreja Católica, na figura das Irmãs da
Congregação da Providência de Gap, mobilizou estratégias mantendo, desta
forma, suas posições de poder e prestígio na sociedade brasileira mediante
imposição de uma ordem moral no Brasil, ao formar enfermeiras que se
constituíram em uma elite capaz de atuar numa conjuntura mobilizada pelo
crescimento, desenvolvimento tecnológico e impulso da industrialização. Desta
forma, o sentimento patriótico associado ao cristão, mescla-se com o ideário de
servir à Pátria.
Durante a cerimônia de formatura houve a passagem da lâmpada7,
quando uma das formandas passou a lâmpada para uma aluna do segundo ano
gesto considerado o ponto alto do ritual de formatura (PORTO, 2007, p. 136).
A lâmpada entra para a história formalmente a partir da Enfermagem
Moderna, tendo como marco Florence Nightingale, a “dama da lâmpada” como
se tornou conhecida, visto tê-la usado sistematicamente para observar e cuidar
de soldados feridos durante a Guerra da Criméia, na Rússia, onde atuou como
enfermeira.
Santos (2004, p.85) afirma que, nas solenidades de formatura, a
lâmpada integra o ritual quando “é acesa sempre por uma enfermeira, cujas
qualidades superiores a dignificam a personificar esses ideais”, e que a
transferência dessa chama simboliza
o compromisso compartilhado de manterem vivos os ideais da enfermagem, e reforçava o voto, o compromisso, a fé e a fidelidade das alunas perante a instituição e a enfermagem, emprestando caráter mais grave ao momento.
7 A lâmpada, símbolo da enfermagem, “é um utensílio de cobre, ferro ou barro cozido,
constando de um átrio fechado onde é colocado azeite ou óleo, um bico onde é introduzido o pavio que fica em contato com o combustível e que, por capilaridade, ao ser ateado o fogo, acende e alimenta uma chama para iluminação” (HIRATA, 1995, p.150).
102
Para Silva Júnior (2000, p.123-124), o ritual de formatura demarca a
chancela para o exercício profissional; é um “rito de passagem pós-liminar
de incorporação de novos membros ao status de enfermeiras modernas,
assim autorizadas ao exercício da nobre arte”. Ressalta que se trata de um
ritual composto de micro-rituais, dentre eles, o da passagem da lâmpada.
Desse modo, a passagem da lâmpada acesa por uma das formandas
às mãos de uma das alunas da turma subseqüente, numa evocação da
memória de Florence Nightingale, exemplifica o caso do micro-ritual,
simbolizando o compromisso compartilhado de manterem vivos os ideais
da profissão. A Foto 7 registra este momento.
Foto 7 – Passagem da lâmpada acesa por uma das formandas às mãos de uma das alunas da turma subseqüente, 1959.
Fonte: Arquivo particular de Maria Celeste Fonseca
A importância dos rituais institucionais para a enfermagem está no fato
de se consagrar um modelo de profissional para a sociedade, pois não
demarcam apenas a passagem de um estado a outro, mas determinam a
incorporação de um habitus profissional consoante com as expectativas sociais
ligadas à sua categoria. (SANTOS, 2006)
Assim sendo, o ritual da formatura deu visibilidade ao modelo de
enfermeira de Itajubá, ao tempo em que capitalizou lucros simbólicos para a
103
Escola mediante a presença, na solenidade, de personalidades ilustres da
cidade, além de autoridades do campo da área da saúde.
3.2 O Poder Simbólico das Irmãs da Congregação da Providência de Gap na Consolidação da
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
Conforme foi dito, o lançamento da pedra fundamental para a construção
do prédio da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz ocorreu no dia 1º de
março de 1957, em um terreno pertencente à Santa Casa de Misericórdia.
Subjacente a esse evento, é possível perceber a existência de algumas
situações conflituosas relativas às subvenções para a construção do prédio e
manutenção da futura instituição de ensino, como se pode depreender da fala
de duas entrevistadas:
A Santa Casa não queria ficar com as despesas da
Escola, ainda mais porque tinha que ter internato. A
despesa era grande. Então eles preferiram que ficasse
para a Congregação. E então a Congregação assumiu a alimentação, o que era necessário... roupa de cama,
cama todas as coisas. Ah! Depois assumiu, foi assumindo
a construção. (Ir. Zenaide)
A escola precisava de verbas, precisava de tudo, de
coisas para melhorar o padrão da escola. E a Santa Casa
não tinha condições, porque só tinha condições para se manter e olhe lá. O pessoal que não pagava era muito
grande, porque na época não havia convênios e aqueles
que pagavam eram poucos. A verba que a Santa Casa conseguia, tinha que empregar para ela e para a escola, e
a escola ia ficando. (Maria Nirce)
Diante das dificuldades a Congregação das Irmãs da Providência do Gap
investiu na intensificação da aquisição de donativos que, no entanto, foram
insuficientes para arcar com as despesas das obras e manutenção da escola.
Cabe ressaltar que, desde 1955, há registro de contribuições financeiras
significativas (donativos) para a Escola, várias vezes ao ano, provenientes do
“Convento” e de outras instituições como: Santa Casa de Andradas, Asilos,
Casa do Pobre, Convento de Passa Quatro, dentre outras. Muitas dessas
Instituições pertenciam à Congregação e outras eram administradas por religiosas
designadas pela Congregação.
104
Apesar de a Congregação, inicialmente, intensificar as medidas para
atender as demandas financeiras da Escola, as religiosas reconheciam-na
como propriedade da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, portanto, cabendo
à Congregação somente a sua direção, ficando a administração financeira a
cargo daquela Instituição. Diante disso, as Irmãs deliberaram pelo
encerramento da contribuição financeira à Escola, iniciativa que representou o
ponto de demarcação para a futura transferência de mantenedora da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz.
Tanto foi assim que as primeiras medidas para essa transferência tiveram
início ainda em 1957, mediante proposta verbal do Dr. Carlos Victor Rennó Ribeiro,
então membro do corpo clínico da Santa Casa e do corpo docente da Escola, ao
Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, Dr. Wenceslau Braz, para
que a Instituição de saúde doasse aquela instituição de ensino à Congregação,
proposta reforçada pelo Dr. Gaspar Lisboa que desfrutava de estreita amizade
com o Dr. Wenceslau.
A doação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz à Congregação das
Irmãs da Providência de Gap foi consumada mediante aquiescência da
Provedoria, no sentido de atender exigência da Superiora da Congregação, Ir.
Silvie, no que se referia à doação também do terreno pertencente à Santa Casa,
no qual a Escola estava sendo construída (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS,
1957). O atendimento desse pleito consagra o poder simbólico da Congregação de
impor as condições para a transferência da Escola, pois o poder simbólico,
fundado na posse de um capital simbólico, “impõe às outras mentes, uma visão,
antiga ou nova, das divisões sociais dependente da autoridade social adquiridas
nas lutas anteriores” (BOURDIEU, 1990, p. 166).
No dia 12 de janeiro de 1958, a Provedoria da Santa Casa de Misericórdia
realizou uma Assembléia Geral Extraordinária, tendo como item de pauta a
proposta de desmembramento da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz da
Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e as exigências da Congregação das Irmãs
da Providência de Gap, relativas aos termos do desmembramento. A proposta foi
aprovada na íntegra, e no dia 25 de maio de 1958 e o Provedor em exercício da
Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, Sr. Jayme Wood, assinou um Atestado
nos seguintes termos:
105
Para os devidos fins e na qualidade de Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá, - que foi Sociedade Mantenedora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, A T E S T O que, de pleno acordo e aprovação da referida Sociedade Mantenedora é que a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz se erigiu em sociedade autônoma, com personalidade jurídica, na forma da lei, para que, entregue a uma direção própria, constituída por pessoas especialmente consagradas ao ensino, melhor possa realizar a sua finalidade de formar enfermeiras (EEWB, PRIMEIRO LIVRO DE ATAS, 1958).
A Foto 8 registra o estágio de construção do prédio da Escola no
momento em que houve a transferência de mantenedora.
Foto 8 – Prédio em construção da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, 1958 Fonte: Arquivo da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz.
Ao fundo da composição fotográfica, da esquerda para a direita, vê-se a
capela onde funcionava a Escola, e o prédio da Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá, ladeado à direita pelo imóvel da Maternidade Xavier Lisboa; um pouco
abaixo visualiza-se a estrutura da Escola em construção, já no segundo
pavimento, e a casa destinada ao internato das alunas.
Sendo assim, em 14 de janeiro de 1959, a diretora da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz comunicou a transferência de mantenedora aos
órgãos competentes do Ministério da Educação e Cultura, quais sejam:
Diretoria do Ensino Superior, representada pelo Sr. Jurandyr Lodi, e Seção de
Enfermagem da referida diretoria, representada pela Sra. Nair Fortes8. Nesse
mesmo ano, em 5 de março, a Congregação também providenciou os 8 Nair Fortes Abu-Merhy, educadora, chefe da Seção de Ensino e Organização da Diretoria do Ensino
Superior, Ministério da Educação e Cultura, recebeu o título de Sócio Honorário da ABEn em 1959, na sessão de Instalação do XII Congresso Brasileiro de Enfermagem, pela primeira vez entregue pela ABEn (CARVALHO, 1976).
106
documentos relativos à comprovação de sua capacidade financeira para
administrar a Escola, os quais foram anexados ao ofício encaminhado à
Diretoria de Ensino Superior do Ministério da Educação.
Por fim, no dia 25 de agosto de 1959, o Inspetor Federal Antonio
Francisco Gomes, designado pela Diretoria do Ensino Superior do Ministério da
Educação e Cultura, para realizar a fiscalização mensal da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz, recebeu um telegrama emitido por aquela
diretoria, com os seguintes dizeres: “Comunico vos foi assinado Decreto quatro
seis cinco oito quatro de treze do corrente sobre mudança de mantenedora
essa Escola. Com o fim produzir efeitos legais deve ser providenciada
publicação no Diário Oficial da União. (a) EDSUPERIOR FORTES”.
O Decreto Federal em questão, de nº 46.584 de 13 de agosto de 1959,
foi publicado no Diário Oficial da União conforme fac simile:
A partir de então, a Congregação deu continuidade à melhoria das
condições físicas da Escola e ao aprimoramento do corpo docente, isto é, das
Religiosas enfermeiras que atuavam como docentes e de sua diretora. Em
decorrência, Ir. Zenaide e Ir. Do Bom Pastor, mesmo com suas respectivas
atribuições de diretora e professoras da Escola, nos anos seguintes (1957 a
107
1959) freqüentaram e concluíram o Curso de Formação de Professores da
Escola Normal do Colégio Sagrado Coração de Jesus, que correspondia ao
segundo ciclo. Quanto à Ir. Zenaide, em 1959 foi convidada para ir à Escola de
Enfermagem do Hospital São Paulo, a fim de realizar os Cursos de Pedagogia e
Didática Aplicadas à Enfermagem e de Administração Aplicada à Enfermagem.
Portanto, pelo que foi relatado, a transferência de mantenedora da
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz da Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá para a Congregação das Irmãs da Providência de Gap reafirmou o
poder da Igreja Católica na reclassificação das posições de poder e prestígio
relacionadas com a formação da enfermeira em Itajubá, na luta para se fazer
ver, se fazer crer e se fazer reconhecer, impondo uma visão do mundo social,
através da possibilidade de fazer e desfazer grupos.
A foto abaixo registra o prédio da Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz com a sua construção concluída. Em frente à Escola, a figura de Madre
Marie Ange.
Foto 9 – Prédio concluído da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz e Madre Marie Ange. Fonte: Arquivo da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz.
108
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em Itajubá, surgiu na década
de 50, no bojo de um processo de desenvolvimento industrial e econômico do
Brasil que demandou um aumento considerável da população urbana,
principalmente no que se refere ao número de trabalhadores, resultando na
necessidade de assegurar-lhes recursos satisfatórios em vários campos, dentre
eles o da saúde. Com isso, a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá viu-se
instada a fazer ampliações em suas dependências. Uma vez ampliada e dotada
de recursos materiais básicos para o seu funcionamento, precisou dispor
também de mão-de-obra hospitalar qualificada, o que foi sentido pelas
religiosas enfermeiras da Congregação da Providência de Gap que
administravam esta instituição e prestavam assistência aos doentes.
Em face dessas necessidades, isto é, de aumentar o número de leitos
da Santa Casa de Misericórdia, bem como o de enfermeiras diplomadas para
viabilizar a crescente demanda de atendimento médico-hospitalar aos
trabalhadores e garantir o controle da assistência, as religiosas enfermeiras da
Congregação da Providência de Gap foram compelidas a iniciar um movimento
de criação de uma escola de enfermagem católica, em Itajubá, visando à
profissionalização de religiosas e de moças leigas, consoante a doutrina
católica, de modo a assegurar suas posições de poder e prestígio na
administração e na assistência da citada Instituição de saúde.
Ao descrever essas circunstâncias, as quais ensejaram a criação da
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, está contemplado o objetivo hum da
tese.
O movimento levado a efeito pelas Irmãs da Congregação da
Providência de Gap exigiu estratégias, uma das quais resultou em que a
Provincial da Congregação enviasse duas religiosas enfermeiras à Escola de
Enfermagem Anna Nery, no Rio de Janeiro, a fim de que se preparassem para
atuar como professoras, e uma delas também como diretora.
Essa decisão foi orientada mediante avaliação prática das oportunidades
objetivas de lucro simbólico advindo da atualização do habitus profissional
dessas religiosas, em uma escola reconhecida pelo Clero como de alto padrão
109
de ensino de enfermagem. Uma vez tendo sido o habitus atualizado, as duas
religiosas enfermeiras envidaram esforços no sentido de criar um modelo de
enfermeira de alto padrão para Itajubá, nos moldes das formandas da Escola de
Enfermagem Anna Nery, instituição de ensino considerada como referência por
elas.
Assim sendo, a propaganda de seleção de candidatas para a Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz observou exigências similares às daquela Escola,
visando alcançar um contingente apurado de moças de bom nível social, moral
e intelectual, uma vez que a posse de diversos tipos de capital favoreceria
também o êxito escolar porque propiciaria um melhor desempenho nos
processos de avaliação formais e informais.
Para divulgar a criação da Escola, as religiosas investiram em estratégias
que buscavam dar visibilidade à mesma, como a participação das alunas
sempre uniformizadas em desfiles cívicos, e visitas às escolas normais e
instituições militares, além de utilizarem a mídia escrita local com essa
finalidade. Os rituais institucionais, que eram tradicionais na Escola de
Enfermagem Anna Nery, a exemplo da imposição da touca, da passagem da
lâmpada e da realização de solenidades de formaturas, tinham o efeito
simbólico de dar notoriedade à nascente Escola.
Os uniformes das alunas da Escola eram semelhantes aos usados pelas
alunas da Escola de Enfermagem Anna Nery, e a obrigatoriedade do seu uso
durante os trabalhos escolares atendia não só aos dispositivos da Lei nº
27.426/49, como também ao Regimento Interno da nova Escola, simbolizando o
sentimento de pertencer a um grupo diferenciado.
O regime de internato ou externato, a critério da diretora, foi outra
estratégia adotada pelas Irmãs, cuja finalidade era de inculcação cultural e
simbólica, e ao mesmo tempo, controladora e disciplinadora.
Uma vez implantada a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, houve a
transferência de mantenedora, passando da Santa Casa de Misericórdia para a
Congregação das Irmãs da Providência de Gap, o que evidenciou o poder
simbólico dessa Congregação na formação de enfermeiras para Itajubá,
mediante a reclassificação e manutenção de posições de poder e prestígio nas
áreas administrativas e assistenciais.
110
Vale lembrar a figura de Madre Marie Ange, cuja participação na criação,
implantação e consolidação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
revestiu-se de caráter impositivo, com uma visão de mundo hegemônica,
considerada legítima. Tal visão constituía-se em uma violência simbólica que
acabou contribuindo para a criação do modelo de enfermeira de alto padrão
pretendida para a sociedade itajubense, traduzida em uma nova identidade
profissional feminina.
Evidenciou desta forma, o trabalho das religiosas na formação de
recursos humanos para atuar na enfermagem de Itajubá, configurando-se
também como uma estratégia de expansão do poder da Igreja Católica na
formação das enfermeiras, de modo a assegurar suas posições de poder e
prestígio nos espaços hospitalares. Afirmação esta que confirma a tese
enunciada no presente trabalho.
111
REFERÊNCIAS
ALBERTI, V. História Oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: FGV/Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea, 1989. ALCÂNTARA, G. de A enfermagem moderna como categoria profissional:
obstáculos à sua expansão. Ribeirão Preto: USP de Ribeirão Preto, 1966. ALMEIDA FILHO, A. J. A Escola Anna Nery (EAN) no “front” do campo da
educação em enfermagem e o (re)alinhamento das posições de poder (1931 –
1949). Tese de Doutorado. Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação – Referências – Elaboração. Rio de Janeiro, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: Informação e documentação – Citações em documentos – Apresentação. Rio de Janeiro, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: Informação e documentação – Trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro, 2005. BAPTISTA, S. de S.; BARREIRA, I. de A. A luta da enfermagem por um espaço
na universidade, Rio de Janeiro: Anna Nery/UFRJ, 1997. BARREIRA, I. de A. A enfermeira Ananéri no país do futuro: a aventura da luta contra a tuberculose. Tese de Doutorado. Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ,1992. ______. Memória e História para uma nova visão na Enfermagem no Brasil. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v.7, n.3, p. 87-93, jul., 1999. BENCOSTTA, M. L. A. Mulher virtuosa quem a achará? O discurso da Igreja acerca da educação feminina e o VI congresso interamericano de educação católica (1951). Revista Brasileira de História da Educação. Campinas: Autores Associados, n. 2, jul./dez. 2001. BERTOLOZZI, M. R.; GRECO, R. M. As políticas de Saúde no Brasil: reconstrução histórica e perspectivas atuais. Revista de Enfermagem da USP, São Paulo, v.30, n.3, p. 380-398, dez., 1996. BEZERRA, M. R. M. A enfermagem e a aliança da igreja com o Estado:
Escola de Enfermeiras Luiza de Marillac. Dissertação de Mestrado, Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, 2002. BOBBIO, N. Dicionário de Política. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1971.
112
BONNEWITZ, P. Primeiras Lições sobre a sociologia de P. Bourdieu. Tradução de Lucy Magalhães, 2. ed., Petrópolis: Vozes, 2005. BOMENY, H. Guardiães da razão: modernistas mineiros. Rio de Janeiro:UFRJ-Tempo Brasileiro, 1994. ______. A educação no 2º governo Vargas. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/nav-gv/htm/3E_ele_voltou/Cenario_educacional.asp. Acesso em: 6 jan. 2007. BOSI, E. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. 9. ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2001. BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. ______. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990. ______. A Miséria do Mundo. Petrópolis: Vozes, 1999. ______. A economia das Trocas Simbólicas. 5. ed. São Paulo:Perspectiva, 2001. ______. A economia das trocas lingüísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: USP, 2001a. ______. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. ______. A produção da crença – contribuição para uma economia dos bens simbólicos. 2 ed., São Paulo: Zouk, 2004. ______. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. (Orgs.). Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 2004a. ______. A Distinção: crítica social do Julgamento. São Paulo: EDUSP; Porto Alegre: Zouk, 2007. BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. A reprodução: elementos para uma teoria do ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Enfermagem: leis, decretos e portarias, 2. ed., Rio de Janeiro: SESP, 1959. BURKE. P. (org.) A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992. CARNEIRO, L. J. Madre Marie Ange. Itajubá: EEWB,1994. CARVALHO, A. C. de. Associação Brasileira de Enfermagem: 1926-1976 – Documentário. Brasília: ABEn, 1976.
113
CARVALHO, J. M. Ouro, Terra e Ferro: vozes de Minas. In: GOMES, A. de C. (org.) Minas e os fundamentos do Brasil Moderno. Belo Horizonte: UFMG, 2005. Cap. I, p. 55-78. CARVALHO FILHO, S. de A. A ovelha perdida e o bom pastor: o reverso das parábolas. 1983. Dissertação (Mestrado em Historia). Instituto de Ciências Humanas e Filosofia/ UFF. CERVI, E. U. As sete vidas do populismo. Revista de Sociologia e Política. Curitiba, n. 17, p. 151 – 156, nov. 2001. Disponível em: htpp://www.scielo.br/pdf/rsocp/n17/a11n17.pdf Acesso em: 17 dez. 2006. CODO, W.; GAZZOTTI, A. A. Trabalho e Afetividade. In: CODO, W. (org.) Educação: carinho e trabalho. 3 ed.,Petrópolis: Vozes, 1999. COELHO C. P. A Escola de Enfermagem Anna Nery: sua história – nossas memórias. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1997. DAHER, D. V. Por detrás da chama da lâmpada: a identidade social do enfermeiro. Niterói: EdUFF, 2000. DIMITROV, P. Chegamos a 2000 a.C., e a saúde para onde vai? O Mundo da
Saúde, São Paulo, ano 24, v.24, n.1. jan./fev. 2000. DULCI, O. S. Política e Recuperação em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG, 1999. ______. João Pinheiro e as origens do desenvolvimento mineiro. In: GOMES, A. de C. (org.) Minas e os fundamentos do Brasil Moderno. Belo Horizonte: UFMG, 2005. FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2003. FERNANDES, O. L. O desenvolvimentismo de Israel Pinheiro e Juscelino Kubitschek. In: GOMES, A. de C. (org.) Minas e os fundamentos do Brasil
Moderno. Belo Horizonte: UFMG, 2005. Cap.III, p.217 – 245. FERNANDÉZ, A. B. B. de et al Colar de Pérolas: presença e pioneirismo da mulher itajubense. São Paulo: Chevalier, 2001.
FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da língua portuguesa. 2 ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FERREIRA, M. M.; AMADO, J. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1998. FOUCAULT, A G. O venerável João Martinho Moyë. Tradução de Madre Marie Ange Bernard Robbe. São Paulo:Escolas Profissionais Dom Bosco, 1990.
114
GEOVANINI, T. et al História da Enfermagem: versões e interpretações. 2. ed., Rio de Janeiro: Revinter, 2002. GOMES, A. de C. Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro: Relume - Dumará, 1994. ______. A política brasileira em busca da modernidade: na fronteira entre o público e o privado. In: NOVAIS, F. A. (Coord.); SCHWARCZ, L. M. (Og.). História da Vida Privada no Brasil. Contrastes da intimidade
contemporânea. v.4, São Paulo: Companhia das letras. 1998. ______. Minas e os fundamentos do Brasil Moderno. Belo Horizonte: UFMG, 2005. GOMES, M. A. de O. Vozes em Defesa da Ordem: o debate entre o público
e o privado na educação (1945-1968). Campinas: UNICAMP. 2001.Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_064.html Acesso em: 22 mai. 2006. GONÇALVES, L. M. M. De Tunica et toga: história do traje. Cadernos NLF. Rio de Janeiro: UERJ, série X, n.9, p. 1 – 5, 2006. Disponível em: HTTP://www.filologia.org.br/xcnlf/9/11.htm Acesso em: 11 set. 2007. GORGULHO, M. de L. Biografia Dª Maria Umbelina Vilela Goulart Andrade. In: RENNÓ, E. R. Irmãs da Providência em Itajubá (1907 – 1987): 82 anos de Amor – Serviço à Igreja e ao Povo de Itajubá. Documentário.1989. Datilografado. GUIMARÃES, A. História de Itajubá. Belo Horizonte:Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1987. ______. Efemérides Itajubenses. Belo Horizonte: Impressa Oficial de Minas Gerais, 1988. ______. Vultos Inesquecíveis do Itajubá de ontem. Itajubá: Papercron, 1999. GUIMARÃES, J. A. B. História de Itajubá. Itajubá: Jornal O sul de Minas, 1961. HIRATA, M. C. A lâmpada e sua chama de fogo como símbolo da Enfermagem. Revista Baiana Enfermagem. Salvador: UFBA, v.8, n. 1/2, p. 149 – 151, abr./out. 1995. IGLÉSIAS, F. Trajetória Política do Brasil: 1500-1964. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. KOSSOY, B.. Fotografia e História. 2 ed. rev., São Paulo: Ateliê, 2001. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos da Metodologia
Científica. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001.
115
LE GOFF, I. A história Nova, 4 ed., São Paulo: Martins Fontes, 2001. LEITE, Z. N. Seguimento dos Diplomados. Revista Brasileira de Enfermagem, Rio de Janeiro, ano XV, n. 1, p. 7-13, fev., 1962. LIMA, A. A. Voz de Minas: Ensaios de Sociologia Regional Brasileira. Rio de Janeiro: Agir, 1945. LISBOA, G. Dados sobre a história da Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá. 1985. [datilografada]. LOURO, G. L. Mulheres na sala de aula. In: PRIORE, M. D. (org.); BASSANEZI, C. (coord.) História das Mulheres do Brasil. 2. ed., São Paulo: Contexto,1997. LOYOLA, C. M. D. Os doce(i)s corpos do hospital: as enfermeiras e o poder instituicioal na estrutura hospitalar. 2. ed., Rio de Janeiro: UFRJ, 1987. LUZ, M. T. Saúde e Medicina no Brasil: contribuições para um debate. 5 ed., Rio de Janeiro: Graal, 1981. MAcLAREN, P. Rituais na escola: em direção a uma economia política de símbolos e gestos na educação. Petrópolis: Vozes, 1991. MARQUES, R. de C. Não basta ser um bom médico: é preciso ser piedoso
e católico... A imagem do social do médico de senhoras no século XX. 2003. Tese de doutorado. Instituto de História/ UFF. MEIHY, J. C. S. Manual de História Oral. São Paulo: Loyola, 1996. MENDONÇA, S. R. As bases do desenvolvimento capitalista dependente da industrialização restringida à internacionalização. In: LINHARES, M. Y. (org.) História Geral do Brasil. 6 ed., Rio de Janeiro: Campus, 1996. MENEZES, E. D. Arquitetura: ídolo das idéias e símbolos do poder? Humanidades. Brasília:UnB, v.7, n.2, p.158 -167, 1991. NASCIMENTO, D. R. Fundação Ataulfo de Paiva. Liga Brasileira contra a
tuberculose: um século de luta. Rio de Janeiro: Quadradin/FAPERJ, 2002. NASCIMENTO, E. S. do; SANTOS, G. F. dos; CALDEIRA, V. da P. Criação
Quotidiano e Trajetória da Escola de Enfermagem da UFMG: um mergulho no passado. Belo Horizonte: Escola de Enfermagem UFMG, 1999. NUNES, M. J. R. Freiras no Brasil. In: PRIORE, M. D. (org.) BASSANEZI, C. (coord.) História das Mulheres no Brasil. 2. ed., São Paulo: Contexto, 1997. OLIVEIRA, A. B. Signos do esquecimento: os efeitos simbólicos da participação das Enfermeiras da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial (1943 – 1945). Dissertação de Mestrado. Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, 2007.
116
OLIVEIRA, M. I. R. de Considerações sobre programa de recrutamento e seleção de candidatas em escola de enfermagem. Revista Brasileira de
Enfermagem, Rio de Janeiro: Universidade do Brasil. Ano VIII, n.4, p. 301 – 309, dez., 1954. PAIVA, E. F. Escravidão e universo cultural na colônia de Minas Gerais
(1716 – 1789). Belo Horizonte: UFMG, 2001. PAIVA FILHO, J. R. A saúde em Minas Gerais. [S.l.]:[s.n.] 1969 PEDROSO, O. P. O papel da enfermagem no programa de assistência médico – hospitalar. Revista Brasileira de Enfermagem. Rio de Janeiro: Gráfica Editora Nacional, p.215-223, set. 1955. PEREIRA NETO, A. de F. Ser Médico no Brasil: o presente no passado. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2001. PERES, M. A.; BARREIRA, I. de A. Significado dos uniformes de enfermeira nos primórdios da enfermagem Moderna. Escola Anna Nery Revista de
Enfermagem, Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ. n.1, v.7, p.25-38, abr. 2003. PERROT, M. Minha história das mulheres. Tradução de Ângela M. S. Côrrea. São Paulo: Contexto, 2007. PINHEIRO, M. R. S. Problemas da Enfermagem no Brasil. Anais de
Enfermagem. Rio de Janeiro: Oficina Gráfica da Universidade do Brasil, v. IV, p. 278-298, mai. 1951. PINTO, L. Pierre Bourdieu e a teoria do Mundo Social, Rio de Janeiro:FGV, 2000. PIRES, D. Reestruturação Produtiva e Trabalho em saúde no Brasil. São Paulo: Annablum,.1998. PORTO, F. Os ritos institucionais e a imagem pública da enfermeira brasileira na Imprensa Ilustrada: o poder simbólico no click fotográfico (1919 – 1925). Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ. 2007. RABELO, C. P. et al. Situação da Enfermagem em Minas Gerais. Revista
Brasileira de Enfermagem. Rio de Janeiro: [s.n.], ano XXIV, n.5, p. 103 -125, jul./set. 1971. RENNÓ, E. R. Mulher Providência. Itajubá: O Sul de Minas, 2002. RENNÓ, E. R. Irmãs da Providência em Itajubá (1907 – 1987): 82 anos de Amor – Serviço à Igreja e ao Povo de Itajubá. Documentário.1989. [Datilografado]. RIBEIRO, H. P. O hospital: história e crise. São Paulo: Cortez, 1996.
117
RIZZOTTO, M. L. F. História da Enfermagem e sua relação com a Saúde
Pública. Goiânia: AB, 1999. ROCHA, L. B. de; BARREIRA, I de A. A enfermagem e a condição feminina: figuras tipo de mulheres no Estado Novo. Escola Anna Nery Revista
Enfermagem, v.6, n,2, p. 195-210, ago., 2002. ROCHE, D. A Cultura das Aparências: uma história da indumentária (séculos XVII e XVIII) Tradução de Assef Kfouri. São Paulo: Senac São Paulo, 2007. ROMANELLI, O. de O. História da Educação no Brasil (1930-1973). Petrópolis:Vozes, 1985. SANTOS. T. C. F. Significado dos emblemas e rituais na formação da identidade da enfermeira brasileira: uma reflexão após oitenta anos. Escola de
Enfermagem Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v.8, n.1, p.81-86, abr. 2004. ______. Os efeitos de “Consagração” dos rituais e emblemas da ABEn. Jornal
da Associação Brasileira de Enfermagem. Brasília: UNA, Ano 48, n.3, p.19 -20, jul./ago./set. 2006. SANTOS, T. C. F.; BARREIRA, I. de A.; SAUTHIER, S. A fotografia como fonte primária na pesquisa em história da enfermagem, Escola Anna Nery Revista
de Enfermagem, Rio de Janeiro, v.3; n. 1; p. 72-83, abr. 1999. SANTOS, T. C. F.; BARREIRA, I. de A. O poder simbólico da enfermagem
norte americana no ensino de enfermagem na capital do Brasil (1928 –
1938). Rio de Janeiro: Anna Nery, 2002. SAVIANI, D. Escola e Democracia. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1983. SCHWARTZMAN, S. Minas Gerais e sua única opção possível. Disponível em: http://www.schwartzman.org.br/simon/redesc/minas/htm Acesso: 25 dez. 2003. SCHWARTZMAN, S.; BOMENY, H. M, B.; COSTA, V. M. R. Tempos de
Capanema. São Paulo: Paz e Terra: FGV, 2000. SEGALEN, M. Ritos e Rituais contemporâneos. Rio de Janeiro: FGV, 2002. SENA, A. R. M. F. et al Moça de boa família como figura tipo de candidata à enfermeira na década de 20. Revista Faculdade de Enfermagem da UERJ, Rio de Janeiro: UERJ, v.6, n.2, p. 356-361, dez. 1998. SILVA JUNIOR, O. C. “Pan – Padrão Anna Nery”: A instituição da
Identidade Profissional da Enfermeira no Brasil. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ. 2000.
118
SOUZA, L. de M. e Norma e Conflito: aspectos da história de Minas no século XVIII. Belo Horizonte: UFMG, 1999. SKIDMORE, Thomas. Brasil de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. TIBURCIO, M. L. R. Notícia histórica da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Revista Brasileira de Enfermagem, Rio de Janeiro, ano XVIII, n.2/3, p. 144-150, abr./jun., 1965. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa na educação. SP: Atlas, 1987. VERDERESE, O. Analisis de la enfermeria en la América Latina. Educación
Médica Y Salud. OPS/OMS, v.13, n. 4, p. 315-329, 1979. VIETTA, E. et al Tomada de depoimento pessoal de enfermeiras hospitalares da década de 50: subsídios para a compreensão da enfermagem atual. Revista
Latino-Americana de Enfermagem. Ribeirão Preto: USP, v.3, n.2, p.19 – 35, jul. 1995. VISCARDI, C. M. R. Elites Políticas em Minas Gerais na Primeira República. Estudos Históricos. Rio de Janeiro: FGV, v.8, n. 15, p.39 -56, 1995.
119
A P Ê N D I C E S
120
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA Dados de Identificação: Nome: .................................................................................................................... Endereço: .............................................................................................................. Telefone: .......................... Formação/Ano: ............................................. Cargo/Função em 1954/1959: ............................................................................... Entrevista: Local....................................................................................................................... Dia:.....................................................Hora; .......................................................... Introdução (gravador ligado) Esclarecimento dos objetivos da entrevista e do conhecimento da mesma, no que se refere às três partes que a compõem. Parte I Nesta parte da entrevista, o depoente poderá versar sobre sua família de origem (avós, pais, irmãos) e sobre a sua infância e adolescência. Parte II Nesta parte da entrevista, o depoente poderá versar sobre a trajetória de sua vida profissional que tenha ligação direta com o objeto de estudo. Parte III Nesta parte da entrevista, o depoente tem a liberdade de falar fluentemente sobre a sua vivência e/ou experiência sobre o tema – criação, funcionamento e transferência de mantenedora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Poderão ser feitas perguntas, quando necessário, que o [re]direcione ao foco da entrevista, ou quando surgirem fatos que devam ser investigados, até então desconhecidos. Nesta etapa, direcionar a fala do entrevistado para os itens: - Quem criou - Preparativos para a criação - Funcionamento (local, professores, aulas e estágios, uniformes, cerimônia da touca, ...) - Internato - Formatura - Transferência Encerramento Nesta parte da entrevista: - Agradecer a colaboração - Solicitar permissão para doar a gravação da entrevista à Escola de Enfermagem Wenceslau Braz - Solicitar permissão para usar o conteúdo da entrevista na pesquisa - Despedir
121
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO
Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Enfermagem Anna Nery Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa Curso de Doutorado em Enfermagem
TÍTULO DA PESQUISA: ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ: da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá à Congregação das Irmãs da Providência de Gap (Itajubá – 1953 à 1959). Caro(a) Amigo(a): Por meio deste instrumento, venho torná-lo(a) ciente da pesquisa que desenvolvo e convidá-lo(a) a participar da mesma. Pretendo desenvolvê-la na Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), consultando pessoas que fizeram parte da criação, funcionamento e transferência de mantenedora desta instituição de ensino. Para tanto se faz necessário esclarecê-lo(a) sobre alguns tópicos: Minha atuação enquanto pesquisadora Sou enfermeira, professora, pesquisadora, inserida no curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estou desenvolvendo, sob a orientação da Profª. Drª Tânia Cristina Franco Santos, a pesquisa acima citada a qual, por sua vez, insere-se na linha de pesquisa da História da Enfermagem Brasileira do Núcleo de Pesquisa da História da Enfermagem Brasileira (NUPHEBRAS) da referida Escola. Esclarecimentos em relação à pesquisa a ser desenvolvida Trata-se de um estudo de cunho histórico-social, cujo foco central será a criação, funcionamento e transferência de mantenedora da EEWB. Traz como objetivos: 1) Descrever as circunstâncias que ensejaram a criação da EEWB; 2) Analisar as estratégias empreendidas pelas Irmãs da Congregação da Providência de Gap para a sua implantação; e 3) Discutir as eficácia simbólica dessas estratégias para a consolidação da EEWB. Procedimentos para a realização da pesquisa: Será realizada uma entrevista semi-estruturada, ou seja, com algumas perguntas previamente estabelecidas. A entrevista será realizada pela pesquisadora, com duração média de uma hora; será gravada mediante prévio consentimento e acontecerá em local e horário escolhidos pelos(as) entrevistados(as) e/ou interrompida no momento em que este(a) assim o desejar, em qualquer fase da pesquisa, visto que sua participação é voluntária. Será respeitado o desejo de não participar ou de retirar o seu consentimento. Após a entrevista, será apresentada a transcrição do conteúdo da gravação para sua revisão e aprovação, para fins de pesquisa, e posterior publicação em periódicos científicos. Cabe destacar que as entrevistas são fontes orais de grande valor e mérito para a reconstrução da História da Enfermagem Brasileira nos espaços auferidos pela estruturação de serviços especializados, por isso sua participação é de extremo valor, pois possibilitará o resgate dos acontecimentos e beneficiará outros pesquisadores, fornecendo subsídios para estudos futuros. As informações obtidas não serão utilizadas em prejuízo das pessoas relacionadas com o contexto da pesquisa, quer em termos de auto-estima e/ou prestígio econômico, financeiro ou social.
122
Para esclarecimentos adicionais sobre a pesquisa, favor contatar a pesquisadora: Waldere Fabri Pereira Ribeiro – Tel. (35) 3622-2831 ou a Escola de Enfermagem Wenceslau Braz – tel. (35) 3622 0930. Atesto que li e compreendi o teor deste documento, e tive a oportunidade de esclarecer minhas dúvidas a respeito da pesquisa. Eutrevistado(a) ........................................................................................................
Data e assinatura Waldere Fabri Pereira Ribeiro (pesquisadora): .................................................................
Data e assinatura
123
APÊNDICE C – TERMO DE DOAÇÃO DO DEPOIMENTO Eu, .........................................................., autorizo a doação de meu
depoimento, gravado com a minha autorização em fita magnética pela professora
Waldere Fabri Pereira Ribeiro, aluna regularmente matriculada no Curso de Doutorado
em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio
de Janeiro – EEAN/UFRJ, na linha de pesquisa História da Enfermagem Brasileira,
realizado como parte da coleta de dados para o desenvolvimento de sua Tese de
Doutorado, cujo título provisório é “Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa
Casa de Misericórdia de Itajubá à Congregação das Irmãs da Providência de Gap
(Itajubá – 1953 a 1959)”.
Outrossim, esclareço que a minha participação foi livre e que a doação de meu
depoimento gravado e transcrito será cedido ao Acervo Histórico da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz, em Itajubá.
......................................................., ......... de ............................. de ...............
..........................................................................................................................
124
APÊNDICE D – CARTA À PROVEDORIA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE ITAJUBÁ
Itajubá, 10 de junho de 2002. Exma. Sra. Maria Aparecida Salomon Provedora da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá Itajubá – Minas Gerais Prezada Senhora,
Eu, Waldere Fabri Pereira Ribeiro, docente e ex-aluna da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), estou regularmente matriculada no Curso de Doutorado da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tenho o meu projeto de tese inserido na Linha de Pesquisa em História da Enfermagem Brasileira, tendo como objeto de estudo a criação, funcionamento e transferência da mantenedora da EEWB. O título provisório da pesquisa é “Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá à Congregação das Irmãs da Providência de Gap (Itajubá – 1953 à 1959)”.
Sendo assim, venho solicitar de V..Sª. autorização para pesquisar, xerocopiar, se necessário, documentos de arquivo, fotografias, atas de reuniões desta Instituição e outras fontes relacionadas com o meu objeto de estudo.
Contando com a sua atenção e colaboração, despeço-me deste já agradecendo.
Atenciosamente,
(a) Waldere Fabri Pereira Ribeiro
125
APÊNDICE E – CARTA À PROVINCIAL DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP
Itajubá, 10 de junho de 2002. Exma. Sra. Irmã Maria Silvana da Silva Provincial da Congregação das Irmãs da Providência de Gap Itajubá – Minas Gerais Prezada Senhora,
Eu, Waldere Fabri Pereira Ribeiro, docente e ex-aluna da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), estou regularmente matriculada no Curso de Doutorado da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tenho o meu projeto de tese inserido na Linha de Pesquisa em História da Enfermagem Brasileira, tendo como objeto de estudo a criação, funcionamento e transferência da mantenedora da EEWB. O título provisório da pesquisa é “Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá à Congregação das Irmãs da Providência de Gap (Itajubá – 1953 à 1959)”.
Sendo assim, venho solicitar de V..Sª. autorização para pesquisar, xerocopiar, se necessário, documentos de arquivo, fotografias, atas de reuniões desta Instituição e outras fontes relacionadas com o meu objeto de estudo.
Contando com a sua atenção e colaboração, despeço-me deste já agradecendo.
Atenciosamente,
(a) Waldere Fabri Pereira Ribeiro
126
APÊNDICE F - ROTEIRO PARA EXAME DE DOCUMENTAÇÃO ESCRITA
I – Identificação
Arquivo: ................................................................................................................................
Classificação / Localização: ................................................................................................
Título do Documento / Assunto: ..........................................................................................
II – Análise Técnica (Dados Externos)
Tipo de Documento (Oficial / Particular, Correspondência, Relatório, Diário, Outro / Qual?) Original ou Cópia ( tipo):...................................................................................................... Suporte (especificações do Papel) : ................................................................................... Tecnologia (Manuscrito, datilografado, digitado): .............................................................. Origem (expedido, recebido): ............................................................................................. Local e data: ........................................................................................................................
Nome do autor do registro e cargo: ....................................................................................
Nome do signatário e data: .................................................................................................
III – Análise de Conteúdo (Dados Internos)
Objetivo do registro (intencional / casual) ........................................................................... Informações pertinentes às questões norteadoras da pesquisa.
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
.............................................................................................................................................
Observações (ligação com outros dados, significado de palavras ou expressões, pontos a serem esclarecidos, questões suscitadas): ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
Local e data da coleta: ........................................................................................................
127
APÊNDICE G – ROTEIRO PARA EXAME DE CONTEÚDO JORNALÍSTICO
I - Identificação
Arquivo: ................................................................................................................................ Classificação: ...................................................................................................................... Título do Documento / Assunto: ..............................................................................................................................................
II – Caracterização do Periódico:
Nome: ..................................................................................................................................
Tipo de Periódico: ...............................................................................................................
Ano de Fundação: ...............................................................................................................
Periodicidade: ......................................................................................................................
Proprietário: .........................................................................................................................
Editor: .................................................................................................................................. Conselho Editorial: .............................................................................................................. Momento do Periódico: - apoio à situação / oposição política / mais ou menos popular.
III – Conteúdo da Matéria:
Assunto: ...............................................................................................................................
Enunciado: ...........................................................................................................................
Resumo:
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
Observações:
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
Local e Data da Coleta:........................................................................................................
128
APÊNDICE H – ROTEIRO PARA EXAME DE CONTEÚDO ICONOGRÁFICO
I – Identificação:
Arquivo:.................................................................................................................................
Ordenação:...........................................................................................................................
Classificação Cronológica: ..................................................................................................
Classificação Temática: ......................................................................................................
II – Análise Técnica:
Local e Data: .......................................................................................................................
Assunto: ...............................................................................................................................
Dimensões da foto: .............................................................................................................
Tipo de foto: (posada/instantâneo, interior/exterior, profissional/amador) Publicação: ..........................................................................................................................
Número de fotos referente ao assunto: ..............................................................................
III - Análise do Documento (Análise Interna)
Descrição do cenário: ........................................................................................................................................................................................................................................................................................ Descrição dos planos horizontais e verticais:
..............................................................................................................................................
.............................................................................................................................................
Movimento visual que ordena o espaço:
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
Posturas:
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
Expressão facial e código visual: ..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
IV – Estudo do Texto Fotográfico (Articulação do Conteúdo Interno da Foto e
Informações Externas)
Articulação da fotografia com outros documentos: ............................................................
Informações pertinentes às questões norteadoras do estudo:
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
Síntese interpretativa do documento fotográfico:
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
Questões suscitadas:
..............................................................................................................................................
..............................................................................................................................................
Local e Data da coleta: ........................................................................................................
129
A N E X O S
130
ANEXO A – MAPA – LOCALIZAÇÃO ITAJUBÁ
O município de Itajubá situa-se no sul do Estado de Minas Gerais, numa altitude
de 1746 metros no seu ponto mais alto e seu ponto mais baixo, é de 830 metros,
acima do nível do mar, sendo que a área urbana, sem considerar os morros, fica numa
altitude média de 842 metros. Em 2006, segundo o IBGE, possuía uma população de
90.812 habitantes.
A topografia é do tipo ondulada-montanhosa. O território apresenta-se plano
(10%), ondulado (12%) e montanhoso em sua maior parte (78%). Desta forma seu
clima é variado, ocorrendo, às vezes, no mesmo dia, pela manhã e tarde, o calor de
verão e, à noite, uma da temperatura mais baixa.
O município é privilegiado em relação à localização, não só por estar inserido
numa rede urbana formada por prósperas cidades de porte médio, cujo acesso é feito
pela BR459, mas também devido à sua posição em relação as grandes capitais da
região sudeste: Belo Horizonte (445Km), São Paulo (261Km), Rio de Janeiro (318Km).
131
ANEXO B – RESPOSTA À CARTA ENVIADA À PROVINCIAL DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS DA PROVIDÊNCIA DE GAP
132
ANEXO C – RESPOSTA À CARTA ENVIADA À PROVEDORIA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE ITAJUBÁ
133
ANEXO D – AUTORIZAÇÃO DA DIRETORA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA
134
ANEXO E – ESBOÇO DO UNIFORME DAS ALUNAS PARA ATIVIDADES A SANTA CASA E EM SALA DE AULA
135
ANEXO F – ESBOÇO DO UNIFORME DAS ALUNAS PARA PASSEIO
136
ANEXO G – ESBOÇO DO UNIFORME DE GALA DAS ALUNAS