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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA ESTABELECIMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM FLORESTAS DE VÁRZEA NA AMAZÔNIA CENTRAL TATIANA ANDREZA DA SILVA MARINHO Manaus, Amazonas Junho, 2015

ESTABELECIMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES …bdtd.inpa.gov.br/bitstream/tede/1777/5/Tese_Tatiana Andreza da... · Monica Elisa Bleich UNEMAT Aprovada ... Estudou-se a distribuição,

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

ESTABELECIMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM FLORESTAS DE VÁRZEA NA AMAZÔNIA

CENTRAL

TATIANA ANDREZA DA SILVA MARINHO

Manaus, Amazonas Junho, 2015

iii

TATIANA ANDREZA DA SILVA MARINHO

ESTABELECIMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM FLORESTAS DE VÁRZEA NA AMAZÔNIA

CENTRAL

ORIENTADOR: Dr FLORIAN WITTMANN

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Doutor em Biologia (Ecologia).

Manaus, Amazonas

Junho, 2015

ii

BANCA JULGADORA - AULA DE QUALIFICAÇÃO Nome Instituição Parecer

Rita de Cássia Guimarães Mesquita INPA Aprovado

Isolde Kossmann Ferraz INPA Aprovado

Ricardo Marenco INPA Aprovado

Michael Hopkins INPA Aprovado

Euler Melo Nogueira INPA Aprovado

BANCA AVALIADORA DA TESE

Nome Instituição Parecer

Monica Elisa Bleich UNEMAT Aprovada

Maria de Lourdes da Costa Soares INPA Aprovada

Francisca Dionizia de Almeida Matos INPA Aprovada

Auristela dos Santos Conserva IDSM Aprovada com correções

Pia Parolin University of Hamburg Aprovada com correções

BANCA AVALIADORA DA DEFESA ORAL

Nome Instituição Parecer

Veridiana Vizoni Scudeller UFAM Aprovada

Joana D’Arc de Paula Universidade Nilton Lins Aprovada

Maria Astrid Rocha Liberato UEA Aprovada

iii

SINOPSE

Estudou-se a distribuição, a estrutura e o crescimento de populações arbóreas em

florestas de várzea na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazônia

Central. A influência de fenômenos climáticos no estabelecimento e crescimento de

espécies de várzea foram avaliados.

Palavras-chave:

Florestas alagáveis, ecologia de populações arbóreas, várzea, anel de crescimento.

M339 Marinho, Tatiana Andreza da Silva Estabelecimento e distribuição de espécies arbóreas em

florestas de várzea na Amazônia Central /Tatiana Andreza da Silva Marinho. --- Manaus: [s.n.], 2015.

xiv, 78 p. : il. Tese (Doutorado) --- INPA, Manaus, 2015. Orientadores: Florian Wittmann. Área de concentração : Ecologia.

1. Ecologia de população. 2. Áreas alagáveis. 3. Várzea. I. Título.

CDD 581.5

iv

Dedico

Ao Senhor Deus, criador dos céus e da Terra.

v

AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Deus, criador dos céus e da Terra: ‘Os que confiam no Senhor serão como o monte

de Sião, que não se abala, mas permanence para sempre’. (Salmos 125:1, Bíblia Sagrada,

ARC).

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), pela oportunidade de formação.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de

estudos.

À Secretaria Municipal de Educação (Semed), pela oportunidade de formação.

Ao Dr. Florian Wittmann pelo apoio e orientação, sem os quais não seria possível a

concretização deste estudo.

A Dra Maria Teresa Fernandez Piedade, pelo apoio e incentivo.

Ao Dr Jochen Schöngart, pelo apoio nas análises dendrocronológicas.

A toda equipe do Grupo MAUA “Ecologia, monitoramento e uso sustentável de áreas

úmidas” e ao Projeto Inpa/Max-Planck “Áreas Alagáveis”, pelo suporte e apoio logístico

durante toda a execução do projeto, em especial ao Celso Rabelo Costa e Kelvin Uchôa.

À Jackson de Castro (IDSM, Tefé) por todo apoio e incentivo durante a coleta de dados na

RDS Mamirauá, Tefé.

Em especial à minha família e a todos os meus queridos amigos Átila, Heloíde, Vilany,Ivison

e sua mãe, dona Beatriz, Maria de Nazaré e Claudia Eugenio pela amizade, motivação, apoio

e orações. Muito obrigada, meus queridos! Sempre lhes serei grata!

A todos os amigos e familiares!

A todos aqueles que direta ou indiretamente tornaram possível este estudo.

vi

“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas;glória, pois, a ele eternamente. Amém”

Romanos 11.36

vii

RESUMO GERAL

A inundação sazonal é o principal fator influenciando o estabelecimento, o crescimento e a sobrevivência de espécies arbóreas em florestas alagáveis na Amazônia. No entanto, a sazonalidade hidrológica desses ambientes é influenciada por eventos climáticos como o El Niño e a La Niña, os quais podem ora causar extensão (El Niño) ou redução (La Niña) da fase terrestre ou período vegetativo de crescimento para plantas em áreas alagáveis. Este estudo avaliou a influência da inundação e de eventos climáticos no estabelecimento, crescimento, distribuição e estrutura de diferentes populações de espécies arbóreas frequentes em florestas de várzea na Amazônia Central. O estudo foi conduzido na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, localizada na confluência dos rios Japurá e Solimões nas proximidades do Município de Alvarães, Estado do Amazonas, Brasil. Dois conjuntos de parcelas foram estabelecidas ao longo do gradiente de inundação para realizar o levantamento das plantas: I) Inventários de indivíduos juvenis (altura ≥ 1.0 m e diâmetro < 10 cm) e adultos (DAP ≥10.0 cm) foram realizados em parcelas de 2500m2 (50m x 50m) totalizando uma área inventariada de 12.5 ha; e II) Inventários de plântulas (altura ≥ 15 cm e < 100 cm) foram realizados em 50 parcelas retangulares de 50 m2 (1 x 50 m) cada, totalizando uma área inventariada de 0.25 ha. As espécies foram classificadas em função de sua distribuição ao longo do gradiente e abundância nas cotas: I) Espécies da várzea alta (EVA; inundação média=1.2±0.8m); II) Espécies da várzea baixa (EVB; inundação média=5.2±1.2m), e III) Espécies da várzea média (EVM; inundação média=3.1±1.7m). Foram medidas a altura de inundação e o diâmetro de todos os individuos arbóreos. Nas árvores, os diâmetros foram medidos a 1.30 m acima do solo, nos juvenis com altura ≤ 2.0 de altura e plântulas foram medidos na base do tronco próximo ao chão da floresta. Para determinar a idade e estimar as taxas de incremento radial das espécies foram extraídos e analisados cilindros de madeira de 5.0 mm de diâmetro para as populações dos adultos (n=20 por espécie; total=204) e discos de madeira para a populações da regeneração arbórea (min=10; max=20; total=160). A idade dos indivíduos arbóreos e as taxas de incremento foram correlacionadas com os níveis de inundação, usando os dados históricos de inundação do Rio Negro/Amazonas no Porto de Manaus que registra diariamente o nível das águas desde 1903; e com os eventos ENSO (El Niño e La Niña) registrados desde 1886 até 2010. Foi registrado um total de 2058 indivíduos, sendo 1086 de árvores adultas, 495 plântulas e 477 juvenis. As maiores densidades de indivíduos de adultos, juvenis e plântulas foram registradas nas EVB, seguidas pelas EVM e EVA. Em todas as populações o diâmetro esteve positivamente correlacionado com a idade dos indivíduos arbóreos. Em geral, as árvores adultas apresentaram maiores taxas de incremento diamétrico em comparação com as populações da regeneração. A duração média da inundação anual diferiu significativamente I) entre El Niño e La Niña, II) entre as populações de espécies investigadas, e III) entre as diferentes classes de idade de uma mesma espécie. Não foi detectado nenhum efeito dos eventos La Niña no estabelecimento e crescimento das espécies arbóreas. No entanto, a regeneração das populações arbóreas reagiu sensivelmente à variabilidade climática mais que das populações adultas. A maioria dos

viii

indivíduos investigados (52.3%) se estabeleceu durante anos de El Niño, indicando que a extensão do período vegetativo é crucial para o estabelecimento de espécies de várzea. Além disso, durante os anos de El Niño, a regeneração arbórea apresentou elevadas taxas de incremento diamétrico em comparação com os outros anos. Apesar de as inundações sazonais serem o fator mais importante para o estabelecimento de espécies de arvóres em ambientes alagáveis, outros fatores como dispersão de sementes, competição e diferentes estratégias de recrutamento parecem essencialmente contribuir para os padrões de distribuição de espécies arbóreas nas várzeas amazônicas.

ix

TREE SPECIES ESTABLISHMENT AND DISTRIBUTION IN CENTRAL AMAZONIAN VARZEA FOREST

GENERAL ABSTRACT

The seasonal inundation is the main factor influencing establishment, growth and survival of Amazonian floodplain tree species. However, hydrological seasonality is influenced by climatic variability such as El Niño and La Niña, which either causes an extension (La Niño) or reduction (La Niña) of the terrestrial phase and thus the vegetation period. The present study investigated the influence of inundation and climatic variability on establishment, growth, distribution, and structure of different tree species populations of Central Amazonian várzea forests. The study was performed in the Mamirauá Sustainable Development Reserve, near the confluence of the Japurá and Solimões Rivers, Alvarães, Amazon State, Brazil. Two plot types were established along the flood-level gradient: I) Inventories of sapling tree individuals (tree height ≥ 1.0 m, diameter at breast height-DBH < 10 cm) and adult tree individuals (DBH ≥ 10.0 cm) were realized in 50 plots, each of the size of 2500 m2 (50 x 50 m), totaling an inventoried area of 12.5 ha, and II) Inventories of tree seedlings (tree height between 15 cm - 100 cm) were performed in 50 rectangular plots, each of the size of 50 m2 (1 x 50 m), totaling an inventoried area of 0.25 ha. According to their abundance along the flood-level gradient, tree species were classified as I) high-várzea species (HVS) (mean inundation height: 1.2±0.8 m), low-várzea species (LVS) (mean inundation height: 5.2±1.2 m), and transitional species (TS) (mean inundation height: 3.1±1.7 m). Inundation height and diameters (DBH in adult and sapling individuals, diameter near the soil surface in seedling individuals) of all individuals was recorded. To determine tree ages and diameter increment rates, wood samples with a diameter of 5 mm were extracted from adult tree populations (20 samples per species, 204 in total), and stem disks obtained from regenerating tree populations (min.: 10, max.: 20 per species, 160 in total). Tree ages and diameter increment rates were correlated to the flood-level gradient, using historical daily water-level data of the Negro/Amazon River at the harbor of Manaus since 1903, and to ENSO activity by using data from 1886 until 2010. A total number of 2058 individuals were sampled, which distributed to 1086 adult individuals, 495 seedlings and 477 saplings. Highest tree densities were recorded in LVS, followed by and TS and HVS. In all species populations, diameters were positively correlated to tree ages. In general, adult trees demonstrated higher diameter increment rates than sapling trees. Mean flood duration per year differed significantly I) between El Niño and La Niña years, II) between the investigated species populations, and III) between different age classes within the same species. No impact of La Niña events on tree species establishment and growth could be detected. However, tree regeneration clearly reacted more sensitive to climatic variability than the adult populations. The majority of investigated individuals (52.3%) established during El Niño years, indicating that the extension of the vegetation period is crucial for tree species establishment. Moreover, during El Niño years, tree regeneration demonstrated elevated diameter increment rates compared to other years.

x

Although the seasonal inundations are the most important factor for tree establishment in floodplains, other factors like seed dispersal, competition and diverging recruitment strategies seem importantly to contribute to the distribution patterns of Amazonian várzea tree species.

xi

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ................................................................................................ xii

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ xiii

INTRODUÇÃO GERAL .............................................................................................. 1

OBJETIVOS ................................................................................................................. 6

Geral ......................................................................................................................... 6

Específicos ................................................................................................................ 6

CAPÍTULO 1 ............................................................................................................... 7

CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 34

SÍNTESE .................................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 62

xii

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 1

Tabela 1. Abundância e densidade de populações de árvores adultas, juvenis e plântulas de

nove espécies frequentes em florestas de várzea na RDS Mamirauá, Amazonia Central. EVB

= espécie da várzea baixa; EVM = espécie da várzea média; EVA = espécie da várzea

alta.............................................................................................................................................25

Tabela 2. Diâmetro e altura de árvores adultas, juvenis e plântulas de EVB, EVA e EI em

florestas de várzea na RDS Mamirauá, Amazonia Central. Valor médio ± desvio padrão. EVB

= espécie da várzea baixa; EVA = espécie da várzea alta e EVM = espécie da várzea

média.........................................................................................................................................25

Tabela 3. Altura e duração da inundação de populações de árvores adultas, juvenis e de

plântulas de nove espécies frequentes em florestas de várzea na RDS Mamirauá, Amazônia

Central. Valor médio±desvio padrão. Letras diferentes mostram diferença significativa

(p<0.05) entre as populações de cada grupo de espécie. EVB= espécie da várzea baixa; EVA=

espécie da várzea alta e EVM= espécie da várzea média ........................................................26

CAPÍTULO 2

Tabela 1. Diâmetro, altura, idade e taxas de crescimento de populações de árvores adultas e

da regeneração de espécies de várzea na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Valor médio ± desvio padrão. ID= incremento diamétrico .....................................................54

Tabela 2. Altura e duração da inundação para as todas populações, populações de árvores

adultas e da regeneração de espécies de várzea na na Reserva de Desenvolvimento

Sustentável Mamirauá. Valor médio ± desvio padrão..............................................................55

Tabela 3. Correlações de Pearson para as espécies de floresta de várzea na na Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. IR= incremento radial; ID= incremento

diamétrico.*p<0.001; **p<0.05; ns=não significativo..................................................56

xiii

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

Figura 1. Área de estudo (círculo vermelho) localizada dentro da área focal da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Mamiraua, Amazonas, Brasil...............................................27

Figura 2. Distribuição diamétrica de todos os indivíduos (A) das populações de EVA (B),

EVM (C) e EVB (D) em florestas de várzea na Amazônia Central. EVA= espécies da várzea

alta; EVM= espécies da várzea média; EVB= espécies da várzea baixa...............................28

Figura 3. Variância da inundação nas parcelas da várzea alta (VA), várzea média (VM) e

várzea baixa (VB)...........................................................................................................29

Figura 4. A análise de escalonamento multidimensional não métrica (NMDS) em função da

abundância de indivíduos nas parcelas. VA = várzea alta, VM = várzea média; VB = várzea

baixa…………………………………………………………………………………………..30

Figura 5. Variação na altura média de inundação (±desvio padrão) nas parcelas da várzea alta,

média e baixa no período de 1903 a 2011. Os dados foram obtidos de 2058 medições de

marcas de água dos indivíduos que foram relacionados com os dados de registro diário do Rio

Negro no Porto de Manaus........................................................................................................31

Figura 6. Abundância de indivíduos de populações de árvores adultas, juvenis e de plântulas

de nove espécies frequentes de várzea ao longo do gradiente de inundação. A= abundância

total; B= abundância por grupos de espécies. EVA= espécies da várzea alta; EVM= espécies

da várzea média e EVB= espécies da várzea baixa...........................................................32

Figura 7. Ordenação dos indivíduos de nove populações de espécies arbóreas frequentes em

florestas de várzea na RDS Mamirauá, Amazonia Central. At= Annona tenuipes; Ct=Crateva

tapia; Ea= Eschweilera albiflora; Gb= Garcinia brasiliensis; Hc= Hura crepitans; Hs= Hevea

spruceana; Oc=Ocotea cymbarum; Pm=Pseudobombax munguba; Pt= Piranhea

trifoliata........................................................................................................................33

xiv

CAPÍTULO 2

Figura 1. Área de estudo (círculo vermelho) localizada dentro da área focal da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável Mamiraua, Amazonas, Brasil..............................................57

Figura 2. Amostras de madeira de onze espécies de várzea. A = discos de madeira (diamêtro

<10.0 cm e altura ≤2.0 metros). Ct= Crateva tapia; Ea= Eschweilera albiflora; Gb= Garcinia

brasiliensis; Hc= Hura crepitans; Hs= Hevea spruceana; Lc=Luehea cymulosa; Mt= Maclura

tinctoria; Oc= Ocotea cymbarum; Pm= Pseudobombax munguba; Pt= Piranhea trifoliata;Vs=

Virola surinamensis.Seta branca mostra os anéis de crescimento para cada espécie...............58

Figura 3. Porcentagem do total de indivíduos (n=328), populações de árvores adultas (n=168)

e da regeneração (n=160) de espécies de várzea estabelecidas em anos de El Niño e La Niña.

Ct=Crateva tapia; Ea= Eschweilera albiflora; Gb= Garcinia brasiliensis; Hc= Hura

crepitans; Hs= Hevea spruceana; Lc= Luehea cymulosa; Mt= Maclura tinctoria; Oc= Ocotea

cymbarum; Pm= Pseudobombax munguba; Pt= Piranhea trifoliata;Vs= Virola surinamensis.

EVB= espécies de várzea baixa; EVM= espécies da várzea média e EVA= espécies da várzea

alta.............................................................................................................................................59

1

INTRODUÇÃO GERAL

As florestas da Amazônia são altamente diversas e importantes para a regulagem do

clima da região. Aproximadamente 50% da precipitação da Amazônia evapotranspira da

própria floresta (Salati et al. 1998). Apesar disso, extensas áreas vêm sendo desmatadas de

forma inexorável ocasionando tanto a perda de diversidade biológica como gerando

problemas graves nos âmbitos sociais, econômicos e ambientais. Nesse cenário, a manutenção

das populações biológicas dessas florestas, como também sua dinâmica e funções podem ser

comprometidas frente às mudanças climáticas prognosticadas. Mudanças nas condições

climáticas têm contribuído para o aumento da mortalidade de árvores (Williamson et al.

2000), de incêndios florestais (Nepstad et al., 2004), aumento na concentração de CO2

atmosférico global (Clark et al. 2003) e modificações nos padrões de crescimento de plantas

(Clark e Clark 1994).

A severidade da seca no ano de 2005, causada pelo aumento da temperatura da

superfície do oceano Atlântico Tropical Norte (Marengo et al. 2008), favoreceu a ocorrência e

a propagação de fogo e aumentou o estresse hídrico na região. Dentro desse contexto, as

florestas da Amazônia parecem ser vulneráveis à intensificação do estresse hídrico, além de

gerarem um mecanismo de retroalimentação positivo para as mudanças climáticas, uma vez

que o estresse da seca faz com que as florestas sofram uma diminuição em sua biomassa

alterando o balanço de carbono (Phillips et al. 2009).

Em áreas alagáveis da Amazônia, o regime de inundação dos rios também é

fortemente influenciado por variabilidades climáticas relacionadas aos Índices de El Niño

Oscilação Sul (ENOS), assim como pelas anomalias no Índice de Oscilação Sul (OS) e na

Temperatura da Superfície do Mar (TSM) (Schöngart e Junk 2007). As florestas de terra

firme também são afetadas por esses eventos climáticos. Condições climáticas mais secas e

quentes durante os anos de El Niño causam uma redução da umidade do solo em florestas de

terra firme, resultando em um aumento na taxa de respiração microbiana e a uma mais baixa

produtividade primária líquida (Tian et al. 1998). Como o ritmo de crescimento de árvores em

florestas alagáveis é controlado pelo pulso de inundação e pela precipitação, enquanto em

florestas de terra firme é controlado pela precipitação (Worbes 1995), alterações na

pluviosidade, relacionadas aos ENOS, podem afetar o crescimento das plantas nesses

2

ambientes. Em áreas alagáveis, durante as fases quentes do ENOS (El Niño), os níveis de

inundação são reduzidos e resultam em um encurtamento da fase aquática, enquanto que nas

fases frias do ENOS (La Niña) ocorre uma extensão da fase aquática, com altos níveis de

inundação. Com a extensão da fase terrestre ou do período vegetativo durante os anos de El

Niño, as árvores desenvolvem anéis mais largos indicando que a fase terrestre é propícia para

o crescimento das plantas nas áreas inundáveis (Schöngart et al. 2005). No entanto, a seca

pode também exercer efeitos negativos sobre o crescimento das plantas, especialmente na

parte oriental da bacia amazônica onde a vegetação está sujeita a um período de aridez maior

que dois meses ao ano (Parolin et al. 2010). Em florestas de terra firme, por exemplo, nas

condições climáticas do El Niño, o crescimento de plantas arbóreas é menor em função da

baixa precipitação e altas temperaturas (Vetter e Botosso 1989).

Anéis de crescimento em plantas podem ser considerados fortes indicadores que

refletem as condições climáticas em regiões da Amazônia (Schöngart et al. 2005). Em

florestas alagáveis, como a relação existente entre o pulso de inundação e os fenômenos

ENOS é significativa e positiva, é possível fazer predições sobre parâmetros relacionados ao

pulso de inundação, como a intensidade da seca ou da cheia, crescimento das plantas, ciclos

biogeoquímicos, além de contribuir para o planejamento das atividades executadas pelas

populações humanas que habitam essas áreas (Schöngart e Junk 2007).

Nas áreas inundáveis por rios de água branca (várzeas) a riqueza, a composição de

espécies e os estádios sucessionais dos tipos florestais estão diretamente relacionados às

características hidrológicas e geomorfológicas da área. Os ecossistemas de várzea são

altamente dinâmicos geomorfologicamente, e essa característica associada à inundação

periódica exerce efeitos diretos sobre a sucessão natural, a estrutura da vegetação, a

composição e a distribuição de espécies (Junk et al. 1989; Wittmann et al. 2002; Wittmann e

Junk 2003). A intensidade da inundação (altura e duração) é considerada crítica para o

estabelecimento e a distribuição das espécies, já que exerce influência direta sobre a dinâmica

geomorfológica da várzea e, conseqüentemente, no desenvolvimento de adaptações pelas

espécies arbóreas (Salo et al.1986; Kalliola et al.1991; Campbell et al. 1992; Wittmann et al.

2004; Marinho et al. 2010).

3

Nas florestas de várzea localizadas em áreas topograficamente mais elevadas, a

intensidade e a duração da inundação são menores do que aquelas encontradas em áreas mais

baixas do relevo. Em função desse gradiente de inundação, podem ser reconhecidas na várzea

da Amazônia Central duas unidades de vegetação: a várzea alta e a várzea baixa que se

distinguem tanto pela estrutura e estádios sucessionais de suas florestas quanto pela riqueza

de espécies (Ayres 1993; Junk 1989; Wittmann et al. 2002). A classificação em áreas de

várzea baixa e várzea alta é amplamente reconhecida na literatura, tanto em áreas da

Amazônia Oriental (Cattanio et al. 2002; Gama et al. 2002, 2003) como na Amazônia

Ocidental (Urrego 1997; Nebel et al. 2001), embora as denominações locais variem entre

localidades (por exemplo: tahuampa e bajeal na várzea Peruana, ou chavascal e restinga baixa

e alta na várzea brasileira (Wittmann et al. 2006).

De acordo com Kubitzki (1989), muitas espécies encontradas nas florestas de várzea

são ecótipos provenientes de florestas de terra firme nas suas adjacências, que desenvolveram,

ao longo do tempo, mecanismos de adaptação à inundação periódica (Ayres 1993; Wittmann

e Junk 2003; Wittmann et al. 2004). Então, as espécies de plantas que habitam as florestas da

várzea baixa, por ocuparem as cotas mais baixas, são mais tolerantes à inundação e

desenvolveram um maior número de mecanismos adaptativos que aquelas que ocupam as

cotas mais altas, ou seja, na várzea alta (Wittmann et al. 2002). Segundo Otte (2001), plantas

de áreas alagáveis não estão sob condições de stress, embora estivessem sob essas condições

no passado evolutivo, uma vez que desenvolveram adaptações ao longo do processo de

evolução que propiciaram a sobrevivência das espécies nesses ambientes.

Entretanto, para as comunidades vegetais das florestas de várzea alta, a inundação

pode ser considerada um fator mais do que limitante, pois as espécies que colonizam essas

áreas, provavelmente não desenvolveram adaptações tão efetivas à inundação como as

espécies da várzea baixa. Estudos sobre mecanismos de estabelecimento, como o ‘escape

físico’, isto é, a não regeneração de plantas em locais desfavoráveis ao seu estabelecimento e

desenvolvimento, de sítios altamente inundados por espécies pouco adaptadas, foram

descritos tanto em florestas alagáveis das zonas temperadas (Voesenek et al. 2003) como para

as florestas alagáveis tropicais (Parolin 2009; Marinho et al. 2010; Parolin e Wittmann 2010)

e parecem exercer um papel fundamental na distribuição e zonação de espécies arbóreas na

várzea da Amazônia Central. Assim, ao lado da tolerância das plantas a altura e duração da

4

inundação periódica, períodos extremos de seca e/ou de alagação ocasionados por eventos

climáticos são considerados fatores chave, promovendo ou inibindo o estabelecimento e a

distribuição das espécies.

As adaptações fisiológicas desencadeadas podem variar entre as espécies e são

influenciadas tanto pela carga genética (Ackerly et al. 2000) quanto pela disponibilidade de

recursos ambientais; as quais exercem uma influência direta na capacidade fotossintética e na

absorção e uso de nutrientes do solo pelas espécies (Parolin 2001a; De Simone et al. 2002).

Fatores de stress, que ocorrem sazonal ou permanentemente em um determinado ambiente,

podem induzir o desencadeamento de estratégias adaptativas nas plantas (Larcher 2003),

como por exemplo, mudanças nas rotas do metabolismo primário que induz a produção de

metabólitos secundários que desempenham importantes funções ecológicas como proteção

contra herbivoria e ataque de patógenos, e de atração para polinizadores e dispersores de

sementes (Taiz e Zeiger 2004).

Segundo o IPCC (2007), a frequência e a severidade de eventos climáticos extremos

tendem a aumentar em decorrência da variabilidade natural ou como resultado das atividades

humanas. Como conseqüência, poderá haver perda da diversidade biológica, principalmente

de espécies que ocupam nichos ecológicos estreitos e que são especialistas de habitat. Diante

desse cenário e devido à alta diversidade de estratégias adaptativas desencadeadas pelas

espécies em função das inundações periódicas, as florestas alagáveis são extremamente

vulneráveis as mudanças climáticas prognosticadas (Junk 2000; Wittmann et al. 2010). Entre

os mecanismos adaptativos desenvolvidos pela vegetação arbórea nas planícies inundáveis,

podemos citar: I) as adaptações morfoanatômicas (Wittmann e Parolin 2005; De Simone et al.

2002; Worbes 1997; Ferreira 2006; Ferreira et al. 2006); II) as adaptações fenológicas e

reprodutivas (Parolin 2000; Wittmann e Parolin 1999; Kubitzki e Ziburski 1994; Parolin et al.

2004; Oliveira Wittmann et al. 2007), e adaptações fisiológicas (Schöngart et al. 2002).

Embora a inundação periódica exerça forte influência sobre a biota aquática e

comunidades vegetais em áreas alagáveis, induzindo-as a desenvolver a gama de estratégias

adaptativas citadas anteriormente, ainda não se sabe como a seca ou eventos extremos de seca

ocasionados por fenômenos naturais influenciam na dinâmica de estabelecimento e

crescimento de populações arbóreas desses ambientes. A forte zonação de espécies ao longo

5

do gradiente e o padrão restrito de distribuição geográfica de espécies em planícies inundáveis

fazem com que muitas delas, em especial as espécies endêmicas da várzea, sejam altamente

vulneráveis a um pulso de inundação modificado ocasionado por mudanças climáticas

(Wittmann et al. 2012). E mesmo que o impacto das mudanças climáticas em florestas de

terra firme já esteja sendo intensamente discutido (e.g. Clark e Clark 1994; Clark 2004, 2007;

Williamson et al. 2000; Nepstad et al. 2004), ainda não existem estudos sobre os possíveis

impactos na biodiversidade e perda de espécies e habitats nas áreas alagáveis. Assim, este

trabalho visou entender os efeitos das alterações hidrológicas sobre a distribuição, a estrutura

populacional e o crescimento de populações de espécies arbóreas de diferentes idades em

florestas de várzea na Amazônia Central.

6

OBJETIVOS

Geral

� Avaliar a influência da inundação e de eventos climáticos no estabelecimento,

crescimento e distribuição de populações de espécies arbóreas ocorrentes em

diferentes cotas de inundação em florestas de várzea na Amazônia Central.

Específicos

a) Avaliar a influência da inundação na estruturação e distribuição das classes de

tamanho de populações de espécies de várzea em diferentes cotas de inundação.

b) Determinar o ano de estabelecimento, e estimar a idade e as taxas de incremento

radial e diamétrico das espécies arbóreas em florestas de várzea, relacionando esses

fatores com os dados históricos de inundação e eventos climáticos El Niño e La Niña.

7

CAPÍTULO 1

__________________________________________ Marinho et al. Distribuição de populações de

espécies arbóreas de diferentes cotas de inundação

em florestas de várzea na Amazônia Central.

Manuscrito formatado de acordo com as normas

da Revista Acta Amazonica.

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Distribuição de populações de espécies arbóreas de diferentes cotas de

inundação em florestas de várzea na Amazônia Central

Tatiana Andreza da Silva MARINHO1*, Maria Teresa Fernandez PIEDADE2 & Florian

WITTMANN3

1Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, Programa de Pós-Graduação em

Ecologia. Av. André Araújo, 2936, Petrópolis, CEP 69011970 Manaus, Amazonas, Brasil.

2Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, Projeto INPA/Max-Planck. Av. André

Araújo, 2936, Petrópolis, CEP 69011970 Manaus, Amazonas, Brasil.

3Max Planck Institute for Chemistry, Department of Biogeochemistry, Hahn Meitner Weg 1,

55128 Mainz, Germany.

*Autor correspondente: [email protected]

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Distribuição de populações de espécies arbóreas de diferentes cotas de inundação em florestas

de várzea na Amazônia Central

RESUMO

O estabelecimento de plantas em áreas alagáveis é determinado pela inundação, que favorece

o zoneamento de espécies ao longo do gradiente em diferentes escalas. Este estudo visou

avaliar a distribuição de populações de árvores adultas, juvenis e plântulas de nove espécies

de várzea ao longo do gradiente de inundação, na RDS Mamirauá, localizada na confluência

dos rios Japurá e Solimões, no Município de Alvarães, Amazonas, Brasil. Parcelas distantes

entre si no mínimo 200 m foram distribuídas ao longo do gradiente de inundação e mediu-se a

altura de inundação e o diâmetro de todos os indivíduos, e estimada sua altura. Foi registrado

um total de 2058 indivíduos pertencentes às nove espécies selecionadas, sendo mais

abundantes as espécies da cota mais baixa. As populações foram classificadas em três grupos,

considerando sua estrutura, abundância e distribuição: I) EVB - espécies da várzea baixa; II)

EVA - espécies da várzea alta, e III) EVM - espécies da várzea média. Do total de indivíduos

registrados o maior número foi de árvores adultas (n=1086), seguido de plântulas (n=495) e

juvenis (n=477). A maior densidade de árvores maduras, juvenis e plântulas foram registradas

para Pseudobombax munguba (EVB), Crateva tapia (EVB) e Annona tenuipes (EVM),

respectivamente. As espécies de cotas intermediárias (EVM) parecem ter desenvolvido

estratégias comuns de EVA e EVB que favoreceram seu estabelecimento nesses habitas da

várzea.

PALAVRAS-CHAVE: várzea alta, várzea baixa, gradiente de inundação, distribuição de

espécies, segregração de nicho.

Distribution of populations of tree species in different levels of flooding in the várzea of

Central Amazonia

ABSTRACT

The establishment of plants in floodplains is determined by the flood, which favors the

zonation of species along the gradient at different scales. This study aimed to evaluate the

distribution of populations of adult, juvenile and seedlings of nine tree species of the várzea

floodplain along the flooding gradient, at the RDS Mamirauá, located at the confluence of the

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Solimões and Japurá rivers, in the municipality of Alvarães, Amazonas, Brazil. Plots distant

at least 200 m from each other were distributed along the flooding gradient. Flood height,

diameters and heights of all individuals were measured. A total of 2058 individuals belonging

to the selected species were registered, and species subjected to higher flood levels were the

most abundant. Populations were classified into three groups, considering its structure,

abundance and distribution: I) LVS -low várzea species; II) HVS- high várzea species, and

III) TS - transitional species. Of the total number of individuals recorded the highest number

was of adult trees (n=1086), followed by seedlings (n=495) and juveniles (n=477). The

highest density of mature trees, juvenile and seedlings were recorded for Pseudobombax

munguba (LVS), Crateva tapia (LVS) and Annona tenuipes (TS), respectively. The species of

the intermediate flood level (TS) seem to combine strategies of HVS and LVS, which favor

their establishment in this habitat.

KEYWORDS: high várzea, low várzea, flood gradient, species distribution, niche

segregation.

Introdução

O pulso de inundação é a força motriz que age influenciando diretamente os processos

biodinâmicos em ecossistemas inundáveis, que determina a distribuição de espécies, a

produtividade e a decomposição, e mantém a fertilidade nas planícies inundáveis em níveis

hidrológicos e edáficos (Junk et al. 2000; Junk e Krambreck 2000). Em áreas de várzea e

igapó amazônicos, por exemplo, ocorre uma nítida zonação de espécies arbóreas ao longo do

gradiente de inundação (Junk 1989; Ferreira 1997, 2000; Wittmann et al. 2002; Wittmann e

Junk 2003; Piedade et al. 2005).

A inundação é o fator determinante para a adaptação evolutiva de plantas em

ambientes alagáveis, onde muitas espécies podem coexistir e são especializadas em tolerar

diferentes níveis de inundação. A inundação contribui também para o desenvolvimento de

uma ampla variedade de adaptações bioquímicas, fisiológicas e morfológicas (Schöngart et al.

2002; Wittmann e Parolin 2005) que atuam sobre o crescimento e o sucesso reprodutivo da

vegetação desses ambientes (Jackson e Colmer 2005).

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As várzeas amazônicas compreendem uma área de aproximadamente 300.000 km2

(Melack e Hess, 2010), e suas florestas se estabelecem onde a altura média da coluna de água

é inferior a 7,0 metros, e um tempo médio de inundação de 228 dias por ano (Wittmann et al.

2002). Na Amazonia Central, as várzeas podem ser classificadas em várzea alta (VA) e a

várzea baixa (VB), que se diferenciam tanto pelo nível e período de inundação, quanto pela

estrutura florística, composição e riqueza de espécies arbóreas (Wittmann et al. 2002). As

várzeas altas são zonas de transição entre florestas inundáveis e de terra firme (Wittmann et

al. 2006), sendo alagadas anualmente por um período inferior a 50 dias; as várzeas baixas, por

sua vez, são inundadas em geral todos os anos por um período maior que 50 dias. A

inundação é um fator limitante para o estabelecimento, distribuição e crescimento das

espécies arbóreas principalmente nas várzeas altas, onde as espécies colonizadoras

provavelmente não desenvolveram adaptações tão efetivas à inundação comparadas àquelas

das várzeas baixas, que são inundadas todos os anos por períodos prolongados de tempo.

Diante disso nossa hipótese é de que as espécies arbóreas que colonizam florestas de

várzea na Amazônia Central apresentam determinados padrões de estabelecimento que

diferem entre as cotas de inundação e que as espécies da várzea alta se estabelecem

preferencialmente em sítios altos, corroborando a hipótese de escape físico de plantas pouco

adaptadas à inundação. Sendo assim, este estudo visa avaliar o papel da inundação na

estruturação e distribuição das classes de tamanho de populações de nove espécies de várzea

em diferentes cotas de inundação. Essas informações se constituem em uma importante

ferramenta para compreender os potenciais efeitos da inundação sobre diferentes estádios de

desenvolvimento, em especial, a fase crítica da regeneração arbórea das espécies habitando

em áreas alagáveis de várzea na Amazônia Central.

Material e métodos

Área de estudo

O estudo foi conduzido na área focal da Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Mamirauá (RDSM), localizada na confluência dos rios Japurá e Solimões (Figura 1). A

RDSM é a maior unidade de conservação em áreas inundáveis do Brasil, com

12

aproximadamente 1.124.000 ha, cuja função é a proteção exclusiva das várzeas amazônicas

(Queiroz 2005).

A pluviosidade média na RDSM é de 3000 mm (IDSM, Tefé), com os maiores valores

registrados no período de dezembro e maio (Queiroz 1995). A amplitude média de variação

do nível da água dos rios registrada é ao redor de 10m (Wittmann et al. 2004). O clima da

região é do tipo tropical úmido. As maiores temperaturas são atingidas nos meses de seca

(outubro e novembro), com médias mensais variando de 30 a 33 °C. Os solos são

hidromórficos do tipo glei-húmico de fertilidade elevada, mal drenados, sem estratificação do

perfil vertical e com elevado teor de argila e silte (Queiroz 1995).

Seleção de espécies

Nove espécies arbóreas foram selecionadas com base na frequencia de ocorrência e

importância ecológica em florestas de várzea na Amazônia Central, para avaliar em cada

população a distribuição de plântulas, de juvenis e de árvores adultas ao longo do gradiente de

inundação em florestas de várzea na RDS Mamirauá. As espécies selecionadas para este

estudo foram: Annona tenuipes R.E. Fr. (Annonaceae); Crateva tapia L. (Capparaceae);

Eschweilera albiflora (DC.) Miers (Lecythidaceae); Garcinia brasiliensis Mart. (Clusiaceae);

Hevea spruceana (Benth.) Müll. Arg (Euphorbiaceae); Hura crepitans L. (Euphorbiaceae);

Ocotea cymbarum Kunth (Lauraceae); Piranhea trifoliata Baill. (Euphorbiaceae) e

Pseudobombax munguba (Mart.) Dugand. (Malvaceae). Algumas dessas espécies apresentam

um alto índice de valor de importância (IVI= Densidade Relativa (DR) + Frequência Relativa

(FR) + Dominância Relativa(DoR)) em ambientes de várzea da região. Do total de espécies

tolerantes à inundação (aproximadamente 1.000 espécies), C. tapia, H.crepitans, H.

spruceana, P. munguba e P.trifoliata estão entre as trinta espécies mais importantes de

ambientes de várzea, inclusive na região da Amazônia Central (Wittmann et al. 2006).

Coleta de dados

O levantamento das populações foi realizado em 50 parcelas de 2500 m2 (50m x 50 m)

distando entre si no mínimo 200 m em transecções lineares de até 3000 m distribuídas em

florestais da várzea em diferentes cotas de inundação, totalizando 12,5 ha de área amostral. A

coleta de dados foi realizada durante a fase terrestre nos anos de 2011, 2012 e 2013.As

13

parcelas foram distribuídas em quatro áreas dentro da RDSM distantes entre si no mínimo 5

km: Paracuúba (n=20), Ressaca do Panema (n=10), Ressaca do Itú (n=10) e Ressaca do

Tucuxi (n=10). Todos os indivíduos das espécies selecionadas com altura ≥1.0 m tiverem os

diâmetros medidos e as alturas estimadas. Adicionalmente, adjacentes às parcelas de 2500 m2,

parcelas retangulares de 50 m2 (1.0 m x 50 m) foram alocadas perpendicularmente à margem

do rio para inventariar plântulas. Os indivíduos inventariados foram classificados como I)

Adultos – diâmetro ≥ 10 cm, II) Juvenis - altura ≥ 1.0 m e diâmetro < 10 cm, e III ) Plântulas

- 15 ≤ altura < 100 cm. Nas árvores os diâmetros foram medidos a 1.30 m acima do solo, e

nos juvenis com altura ≤ 2.0 m e plântulas na base do tronco próximo ao chão da floresta. As

espécies foram classificadas em função de abundância nos habitats da várzea: I) Espécies da

várzea alta (EVA) – elevada abundância na várzea alta; II) Espécies da várzea baixa (EVB) –

elevada abundância na várzea baixa; e III) Espécies da várzea média (EVM) – ocorrem

simultaneamente nos dois habitats, com maior abundância de indivíduos nas cotas

intermediárias de transição entre a várzea alta e a várzea baixa. As parcelas foram

classificadas em função da abundância de espécies indicadoras de habitat e níveis máximos de

inundação: I) parcelas da VA - parcelas com elevada abundância de EVA e sujeitas a um

nível de inundação < 3.0 m; II) parcelas de cota média (VM) - parcelas com elevada

abundância de EVM e sujeitas a um nível de inundação ≤ 4.2m; e III) parcelas da várzea

baixa (VB) – parcelas com elevada abundância de EVB e sujeitas à inundação entre > 4.2 m e

7.0 m.

A cota de inundação da área foi obtida por meio do registro das marcas de água

visíveis nos troncos das árvores correspondentes à inundação do ano anterior. Para as

populações de plântulas, a marca de água considerada foi a do indivíduo adulto mais próximo.

Para se calcular a cota de inundação para cada indivíduo/espécie foram subtraídos os registros

das alturas da marca de água nos troncos das árvores das cotas máximas de cada ano da série

histórica de inundação. Os níveis de inundação medidos em campo foram comparados à série

histórica de inundação disponível na Superintendência Nacional de Portos e Hidrovias

(SNPH, www.snph.am.gov.br), que registra diariamente a flutuação das águas do rio Negro

desde o ano de 1903. Os níveis de flutuação das águas do Rio Japurá na RDS Mamirauá (Tefé) e

do Rio Negro (Manaus) estão fortemente correlacionados, havendo uma diferença de apenas nove

centímetros na amplitude média de inundação entre eles (Schöngart et al. 2005).

14

Com base nesse banco de dados foi possível fazer uma reconstituição histórica da

inundação das áreas nos últimos 100 anos, e assim, obter as cotas máximas, mínimas e médias

de inundação para as parcelas e para todos os indivíduos arbóreos das populações deste

estudo. O efeito do fator inundação foi avaliado por ANOVA de um fator. Foi feita ordenação

direta em função da abundância relativa das espécies por parcela e do fator ambiental

inundação. Correlações de Pearson e análise de escalonamento multidimensional não métrica

(NMDS) com dois eixos e distância Bray-Curtis para a ordenação direta das parcelas em

relação à abundância das espécies também foram utilizadas nas análises. Comparações a

posteriori foram feitas usando teste de Tukey p < 0.05.

Resultados

Estrutura

Foi registrado um total de 2058 indivíduos, com a maior abundância total de

indivíduos nas florestas da várzea baixa (VB; n=1.192). Do total das nove espécies

amostradas, três foram classificadas como EVB (Crateva tapia, Piranhea trifoliata e

Pseudobombax munguba), três como EVA (Hura crepitans, Garcinia brasiliensis e Ocotea

cymbarum) e três como EVM (Annona tenuipes, Eschweilera albiflora e Hevea spruceana).

Do total de indivíduos registrados o maior número foi de árvores adultas (n=1.086), seguido

de plântulas (n=495) e juvenis (n=477). Apesar das EVB apresentarem elevada abundância

total de indivíduos (n=1.192) em comparação com EVA (n=229) e EVM (n=637), o número

de indivíduos variou consideravelmente entre as diferentes populações e categorias (Tabela

1). Em geral as EVA apresentaram baixa densidade de indivíduos em todas as categorias

(adultos, juvenis e plântulas) em comparação com EVB e EVM. Não foram registradas

plântulas na população de E. albiflora (EVM), e apenas uma plântula foi registrada na

população de H. crepitans (EVA).

A distribuição diamétrica das populações de EVA, EVB e EVM mostra um claro

padrão de J reverso (Figura 2); no entanto, para algumas populações de EVM e EVB foi

observada ausência de indivíduos em algumas classes diamétricas. Para as populações de

árvores adultas as espécies H. crepitans, P. trifoliata, H. spruceana e E. albiflora

apresentaram os maiores diâmetros médios, enquanto que nas populações de juvenis os

maiores diâmetros foram das espécies E. albiflora, A. tenuipes e C. tapia. O diâmetro das

15

plântulas foi < 1.0 cm para todas as espécies (Tabela 2). Os adultos de H. crepitans e O.

cymbarum foram em média os mais altos, e os mais baixos foram de C. tapia (Tabela 2). As

populações juvenis mais altas foram de E. albiflora e A. tenuipes, enquanto que as plântulas

de O. cymbarum tiveram as maiores alturas registradas (Tabela 2).

Inundação

Considerando os valores de inundação de todos os indivíduos amostrados, a altura

média de inundação registrada na área de estudo foi de 3.7±2.2 metros (max=6.7 m; min=0.7

m), com duração média de 167.8 ± 68.5 dias/ano (max=256 dias; min=63 dias), entre os anos

de 1903 e 2011. Nas parcelas da VA, VM e VB a altura média da inundação foi de 0.9±0.3

(Max=2.7 m), 2.6±0.6 (Max=4.2 m) e 5.8±0.5 (Max=6.7 m), respectivamente (p<0.001;

N=50; Figura 3). A ordenação das parcelas da VA, VM e VB em função da abundância de

espécies pode ser observada na Figura 4. O primeiro eixo do NMDS foi responsável por 80%

da variação (stress=0.10) existente entre as parcelas. A altura e a duração da inundação

mostraram forte correlação (r= 0.99; p< 0.001).

Do total de parcelas alocadas, trinta não foram inundadas todos os anos, sendo que 20

destas estavam localizadas nas porções topográficas mais elevadas do relevo, nas várzeas

altas. A amplitude de inundação nas parcelas da VA, VM e VB entre o período de 1903 e

2011, e a abundância de indivíduos dos três grupos de espécies ao longo do gradiente de

inundação podem ser observadas nas Figuras 5 e 6. Considerando a série histórica de

inundação (1903 a 2011), cerca 81% (n=1669) do total de indivíduos amostrados das EVA,

EVB e EVM não foram sujeitos à inundação em um ou mais anos, sendo a maioria deles

árvores adultas (n=862), seguido de plântulas (n=405) e juvenis (n=402). A altura média de

inundação para todos os indivíduos das EVB e EVM em parcelas inundadas todos os anos foi

de 6.3±0.20 m, enquanto que em parcelas não inundadas todos os anos a altura média de

inundação foi de 3.5±2.0m.

As parcelas localizadas nas porções topograficamente mais elevadas (várzeas altas)

foram inundadas 72 anos com uma altura média de inundação 0.89±0.08 m. Apesar de ser

observado que alguns indivíduos de EVA (H.crepitans e G. brasiliensis) ocorreram na várzea

baixa, assim como indivíduos das EVB (P.trifoliata e P.munguba) ocorreram na várzea alta,

há uma separação de espécies colonizadoras da várzea alta e da várzea baixa, conforme a

análise de ordenação (Figura 7).

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Considerando todos os indivíduos amostrados, foi observado que adultos, juvenis e

plântulas estão sujeitos a diferentes níveis de inundação, sendo as populações de juvenis as

sujeitas aos menores níveis e os adultos aos maiores (F=12.71; p <0.001; N=2058). Os níveis

de inundação das populações adultas, juvenis e plântulas difere entre os grupos de EVA, EVB

e EVM (N= 1086; p< 0.001; N=477; p<0.001; N= 495; p< 0.001). As populações de EVA

(1.2±0.7 m), EVB (5.3±1.2 m) e EVM (3.1±1.7 m) se estabeleceram ao longo do gradiente,

em áreas sujeitas a diferentes níveis de inundação conforme a espécie (N= 2058; p< 0.001), e

também as categorias árvores adultas, juvenis e plântulas (Tabela 3).

Analisando cada categoria separadamente, as plântulas de EVM estão sujeitas aos

maiores níveis de inundação (F=40.3; p< 0.001; N=637) em relação às populações adultas e

juvenis, já que a altura média de inundação não difere entre elas (F=3.57; p=0.06; N=366). No

grupo das EVA a altura média de inundação não difere entre adultos, juvenis e plântulas

(F=0.81; p=0.44; N=229), e no grupo das EVB, os adultos estão estabelecidos em áreas com

maior altura média de inundação (F=25.89; p<0.001; N=1192) em relação aos juvenis e

plântulas, cujas alturas de inundação no local onde estes estão estabelecidos não difere entre

eles (F=0.05; p=0.83; N=510).

Discussão

Nossos resultados mostram que as populações apresentam-se distribuídas ao longo do

gradiente de acordo com a sua tolerância à inundação, com as espécies altamente tolerantes,

as EVB (C. tapia, P.munguba e P.trifoliata) restringindo seu estabelecimento às áreas mais

baixas do relevo, enquanto que aquelas menos tolerantes e menos adaptadas, as EVA

(H.crepitans, O.cymbarum e G. brasiliensis), se estabelecem nas posições mais altas do

relevo. No entanto, a ocorrência de EVM (A. tenuipes, E. albiflora e H.spruceana) em parte

ou ao longo de todo o gradiente sugere para essas espécies uma grande amplitude ou

plasticidade ecológica, provavelmente com nichos ecológicos amplos, que lhes permitem

colonizar pontos extremos ao longo do gradiente de inundação da várzea alta e da várzea

baixa. A distribuição e a abundância dessas espécies em cotas específicas na VA, VM e VB

indicam a existência de uma posição ótima no gradiente de inundação onde predominam

condições favoráveis para o estabelecimento e sobrevivência.

A sobrevivência de árvores sujeitas a condições de hipoxia como aquelas que ocorrem

nas áreas alagáveis amazônicas (Piedade et al. 2010) depende da capacidade das espécies em

17

desenvolver habilidades que lhes permitam crescer, reproduzir, competir e se adaptar à

pressão ou estresse decorrente da inundação permanente ou episódica (Parolin et al. 2004;

Parolin 2012; Wittmann et al. 2012). O grau de adaptação da vegetação depende do potencial

adaptativo das diferentes espécies, da periodicidade da inundação, da velocidade da água, da

taxa de sedimentação e, ainda, pelo tempo de colonização de uma dada área (Junk 1984). A

disponibilidade de água no solo resulta na existência de diversos nichos ecológicos, que

determinam diretamente a distribuição de espécies arbóreas tropicais em diferentes escalas

(Engelbrecht et al. 2007). Essa preferência de habitat ou micro-habitat diferenciada entre as

populações de espécies das cotas altas, médias e baixas foi evidenciada para as espécies deste

estudo.

A dinâmica populacional de estabelecimento e crescimento dessas populações pode

responder a diferenças genéticas interespecíficas, as quais contribuem para o desenvolvimento

do nível de tolerância das espécies à inundação e de estratégias adaptativas para se

estabelecer, crescer e sobreviver nessas áreas. Alterações metabólicas e de crescimento em

plantas sob o estresse de inundação associadas à tolerância a baixa concentração de oxigênio

do meio permitem a essas plantas uma maior resistência aos longos períodos de submersão

(Parolin 2009). Em todos os níveis de desenvolvimento, as espécies bem adaptadas podem

tolerar o baixo nível de oxigênio disponível por meio de diversas alterações na estrutura das

células e dos órgãos, que facilitam o acesso e a difusão do oxigênio (Bailey-Serres e

Voesenek 2008). Esta capacidade adaptativa contribui para a segregação de nichos pela

vegetação arbórea de áreas alagáveis.

Nichos mais estreitos e específicos ao longo do gradiente de inundação foram

observados principalmente para as espécies estudadas que ocupam as áreas topograficamente

mais elevadas da várzea alta. A preferência por micro habitats pelas populações EVA (H.

crepitans, G. brasiliensis e O. cymbarum) aponta para uma provável segregação de nichos por

esse grupo de plantas em função da inundação, que pode explicar as baixas e também

diferentes abundâncias encontradas entre populações de árvores adultas, juvenis e plântulas.

A associação da distribuição de espécies a nichos ecológicos cada vez mais estreitos leva ao

micro zoneamento de espécies ao longo do gradiente de inundação (Marinho et al. 2010).

Nesse sentido, a inundação pode ter um papel importante na microevolução de plantas desses

ambientes, podendo induzir uma especialização intraespecífica dentro da população (Lenssen

et al. 2004) que pode, em alguns casos, levar até mesmo à especiação, como evidenciado para

18

populações da várzea e da terra-firme de Himatanthus sucuuba (Spruce ex Müll. Arg.)

Woodson (Ferreira et al. 2010).

Ao contrário das populações de EVA, em EVM (A. tenuipes) e EVB (C. tapia, P.

munguba e P. trifoliata) foi encontrada uma alta abundância de juvenis e de plântulas,

indicando que as espécies desses grupos são altamente adaptadas a inundações prolongadas.

Para tolerar os longos períodos de submersão que podem durar até 6 meses ou mais por ano,

elas geralmente apresentam uma alta taxa germinativa, produzem muitas plântulas e fixam

suas raízes durante a fase terrestre que antecede a próxima inundação (Oliveira Wittmann et

al. 2007). Na Amazônica Central, plantas que colonizam ambientes sujeitos a inundações

prolongadas desenvolvem estratégias adaptativas específicas para germinar e produzir

plântulas, já que dispõe de um tempo relativamente curto para germinar e se estabelecer antes

da próxima inundação (Ferreira et al. 2010). Por exemplo, Himatanthus sucuuba (Ferreira et

al. 2010), Mora paraensis, Vatairea guianensis e Nectandra amazonum (Parolin e Junk

2002) também são plantas eficientes em colonizar ambientes sujeitos a inundações

prolongadas, pois germinam e produzem plântulas em ambientes expostos a condições de

hipoxia ocasionadas pelo alagamento. Apesar de a submersão privar as sementes de muitas

espécies de áreas sazonalmente inundáveis do suprimento de oxigênio necessário para iniciar

a germinação, muitas das espécies de várzea são capazes de germinar e emitir radícula quando

estão submersas e/ou flutuando (Oliveira Wittmann et al. 2010). A rápida germinação pode

ser uma importante adaptação de espécies arbóreas de áreas inundáveis às condições

ambientais, favorecendo o estabelecimento durante a fase terrestre (Oliveira Wittmann et al.

2007). Provavelmente, a ocorrência de alguns indivíduos dos grupos EVM, EVA e EVB em

diferentes cotas diferentes ao longo do gradiente tenha sido favorecida pela dispersão

hidrocórica das sementes durante a vazante dos rios após grandes cheias.

Nas áreas mais baixas do gradiente de inundação os níveis de luz podem chegar a

100% (Wittmann e Junk 2003), e muitas espécies colonizadoras desses ambientes, como

algumas EVB aqui estudadas, podem desenvolver outras estratégicas adaptativas para tolerar

as inundações extremas como, por exemplo, produção de sementes pequenas e leves e com

baixa quantidade de reservas nutritivas (Parolin 2002a). Um exemplo de estratégia adaptativa

é o desenvovimento de lenticelas, raízes adventíceas, perda de folhas velhas e produção de

folhas novas em plântulas de C. benthamii (sinônimo C. tapia) (Parolin 2001a; Parolin 2001b;

Parolin 2002b). Apesar do desencadeamento de uma ampla variedade de estratégias, a

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inundação pode ser também um fator limitante para plântulas de espécies sujeitas a longos

períodos de submersão, uma vez que pode estagnar o crescimento em altura (Parolin 2001b;

Silva 2012). Isso provavelmente ocorreu nas espécies nas EVB (C. tapia, P. munguba e P.

trifoliata), que apresentaram menores alturas quando comparadas às espécies da várzea alta.

Como as florestas da várzea alta e da várzea baixa diferem na quantidade de luz

disponível, na fisionomia e na estrutura das espécies colonizadoras, é de se supor que esses

grupos de plantas tenham diferentes estratégias adaptativas para se estabelecer. As espécies da

várzea alta, sendo menos tolerantes à inundação e para garantir o seu estabelecimento,

geralmente investem no crescimento em altura para escapar da inundação total (Parolin et al.

2002), produzindo grande quantidade de reservas energéticas em suas sementes (Silva 2012).

Esse padrão de crescimento em altura foi observado no grupo de EVA (H.crepitans e

O.cymbarum), corroborando a hipótese de fuga da inundação postulada por Parolin (2002a).

Embora a inundação seja o principal determinante para a distribuição e dinâmica

populacional de espécies da várzea, o investimento no crescimento em altura e em diâmetro

de espécies também reflete a densidade da madeira e estratégias ecológicas das espécies,

ligadas às características funcionais de espécies pioneiras ou de espécies de sucessão tardia

(Swaine e Whitmore 1988). Em geral, espécies de madeira leve ou com baixa densidade

crescem mais rápido do que espécies de madeira dura ou com alta densidade, e requerem altas

quantidades de luz para seu estabelecimento e crescimento. Neste estudo, a distribuição dos

diâmetros de todas as populações mostra um típico J invertido, comum em estudos de

comunidades de plantas tropicais. No entanto, ausência de indivíduos adultos em uma ou mais

classes de duas EVA e uma EVB indica que durante o seu ciclo de vida, essas plantas não se

estabeleceram provavelmente devido a perturbações ou distúrbios ambientais que

ocasionaram a mortalidade de indivíduos na fase regenerante. As perturbações causadas por

eventos extremos, como fogo, seca ou inundação extrema são importantes para determinar o

padrão de distribuição de espécies (Vervuren et al. 2003), pois essa distribuição é

determinada tanto pela sobrevivência dos organismos durante eventos extremos, como

também, nas fases posteriores a esses eventos, quanto é influenciada por fatores biológicos

como competição, dispersão e recrutamento. Respostas semelhantes na distribuiçao

diamétrica já foram observadas em populações de espécies de várzea alta na RDS Mamirauá

(Marinho et al. 2010).

20

As características hidrogeomorfológicas associadas com a pressão de seleção são

fatores determinantes para a colonização de espécies em ambientes alagáveis (Wittmann et al.

2010). Ao longo de milhões de anos, espécies de terra firme gradualmente desenvolveram

adaptações às inundações periódicas, imigrando para as áreas inundáveis nas suas adjacências

(Kubitzki 1989). Esses ecótipos foram capazes de tolerar e/ou desenvolver adaptações

específicas para inundações episódicas, e iniciaram a colonização das partes mais altas do

relevo de áreas inundáveis sujeitas a esse tipo de inundação. Porém, algumas espécies

colonizaram as partes mais baixas da várzea com níveis extremos de inundação e, com a

pressão de seleção natural, o aumento da coluna de água e as inundações periódicas nessas

áreas, algumas poucas espécies foram capazes de tolerar inundações extremas próximo às

bordas das florestas. O desenvolvimento de adaptações à inundações extremas fez com que

esses ecótipos alcançassem um "ponto de não retorno", tornanda-os incapazes de competir

com sucesso em ambientes não inundados (Wittmann et al. 2010). Assim, as espécies da

várzea baixa são pouco competitivas em ambientes não inundados, mas tolerantes a

inundações periódicas, provavelmente devido a uma ampla plasticidade ecológica adaptando-

se à condições extremas dentro das áreas alagáveis. As espécies de cotas intermédiarias

(EVM) parecem ter desenvolvido estratégias comuns de EVA e EVB que favoreceram seu

estabelecimento em cotas intermediárias da várzea. Finalmente, as espécies das cotas baixas

já apresentam mecanismos intrínsecos de adaptação aos extremos de inundação, considerando

que a capacidade de tolerar inundações extremas pode ser evolutivamente fixada por um

conjunto de perturbações ao longo da história evolutiva dessas plantas (Vervuren et al. 2003).

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela

bolsa concedida. Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), ao Grupo MAUA

“Ecologia, monitoramento e uso sustentável de áreas úmidas” e ao Projeto INPA/Max-Planck

pelo apoio logístico e financiamento do projeto.

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Tabela 1. Abundância e densidade de populações de árvores adultas, juvenis e plântulas de nove espécies frequentes em florestas de várzea na RDS Mamirauá, Amazonia Central. EVB = espécie da várzea baixa; EVM = espécie da várzea média; EVA = espécie da várzea alta.

Espécie Número de indivíduos Densidade

Adultos Juvenis Plântulas Total Adultos (ind ha-1)

Juvenis (ind ha-1)

Plântulas (ind. m-2)

EVB

Crataeva tapia 253 162 13 428 33.73 21.6 0.26

Piranhea trifoliata 80 28 175 283 10.67 3.73 3.5

Pseudobombax munguba 349 127 5 481 46.53 16.93 0.1

EVA

Garcinia brasiliensis 23 94 26 143 3.07 12.53 0.52

Hura crepitans 25 8 1 34 3.33 1.07 0.02

Ocotea cymbarum 39 8 5 52 5.2 1.07 0.1

EVM

Annona tenuipes 137 27 268 432 18.27 3.6 5.36

Eschweilera albiflora 91 6 - 97 12.13 0.12 -

Hevea spruceana 89 17 2 108 11.87 2.27 0.04

Total 1086 477 495 2058

Tabela 2. Diâmetro e altura de árvores adultas, juvenis e plântulas de EVB, EVA e EI em florestas de várzea na RDS Mamirauá, Amazonia Central. Valor médio ± desvio padrão. EVB = espécie da várzea baixa; EVA = espécie da várzea alta e EVM = espécie da várzea média.

Espécie Diâmetro Altura

Adultos Juvenis Plântulas Adultos Juvenis Plântulas

EVB

Crateva tapia 15.8±5.5 7.3±2.1 0.3±0.05 9.5±1.9 6.2±2.1 0.20±0.05

Piranhea trifoliata 35.0±32.1 5.8±3.2 0.2±0.07 16.9±5.5 6.9±5.3 0.19±0.05

Pseudobombax munguba 28.7±16.4 5.1±2.4 0.3±0.1 13.0±3.8 4.6±2.4 0.17±0.01

EVA

Garcinia brasiliensis 23.5±9.6 2.9±2.2 0.5±0.5 13.6±3.0 3.3±2.3 0.30±0.10

Hura crepitans 79.9±47.0 3.6±2.2 0.5±0.0 23.8±8.8 4.6±1.6 0.33±0.0

Ocotea cymbarum 29.9±12.3 5.2±2.4 0.4±0.05 18.6±4.8 5.5±1.6 0.45±0.20

EVM

Annona tenuipes 19.8±7.3 7.7±2.0 0.3±0.1 12.5±3.7 7.9±2.8 0.23±0.08

Eschweilera albiflora 31.5±17.0 8.0±1.8 - 16.1±5.3 9.0±4.4 -

Hevea spruceana 32.0±14.0 6.9±2.1 0.4±0.2 14.6±5.2 6.3±1.7 0.36±0.05

26

Tabela 3. Altura e duração da inundação de populações de árvores adultas, juvenis e de plântulas de nove espécies frequentes em florestas de várzea na RDS Mamirauá, Amazônia Central. Valor médio±desvio padrão. Letras diferentes mostram diferença significativa (p<0.05) entre as populações de cada grupo de espécie. EVB= espécie da várzea baixa; EVA= espécie da várzea alta e EVM= espécie da várzea média.

Espécie Altura de inundação (m) Duração da inundação (dias/ano)

Adultos Juvenis Plântulas Adultos Juvenis Plântulas

EVB

Crateva tapia 5.7±0.7a 5.3±0.9b 4.7±1.4c 228±20.3 219±29.7 198.8±42.5

Piranhea trifoliata 4.2±1.6a 4.0±1.8a 4.9±1.6b 184.6±50.0 178.6±56.2 207.9±46.7

Pseudobombax munguba 5.6±1.0a 4.6±1.3b 5.6±0.4a 226.6±29.7 197.2±41.0 225.8±11.9

EVA

Garcinia brasiliensis 1.1±0.6a 0.87±0.04a 0.8±0.0 84.5±23.2 72.2±1.8 69.5±0.0

Hura crepitans 0.82±0.08a 0.83±0.1a 0.8±0.09a 71.5±3.7 72.7±6.4 71.6±4.5

Ocotea cymbarum 2.3±0.9a 1.2±0.8b 1.2±0.9b 122.6±34.8 86.2±28.7 84.6±31.0

EVM

Annona tenuipes 3.1±1.9a 1.9±1.6b 3.8±1.7c 148.8±59.1 110.6±52.5 172.0±52.0

Eschweilera albiflora 2.0±0.7a 1.5±0.7a - 115.9±25.2 97.3±27.8 -

Hevea spruceana 2.8±1.6a 2.9±1.7a 5.7±0.3b 140.8±49.4 146.1±54.7 228.4±11.5

27

Figura 1. Área de estudo (círculo vermelho) localizada dentro da área focal da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamiraua, Amazonas, Brasil.

0

28

Figura 2. Distribuição diamétrica de todos os indivíduos (A) das populações de EVA (B), EVM (C) e EVB (D) em florestas de várzea na Amazônia Central. EVA= espécies da várzea alta; EVM= espécies da várzea média; EVB= espécies da várzea baixa.

29

Parcelas

Alt

ura

da in

unda

ção

(m)

VMVBVA

7

6

5

4

3

2

1

0

Figura 3. Variância da inundação nas parcelas da várzea alta (VA), várzea média (VM) e várzea baixa (VB).

30

-1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5

-0.5

0.0

0.5

Eixo 1

1

11

1

1

1

1

1

1 11

11

1

1

1

1

1

1

1

2

2

22

2

2

2

2

2

2

22

2

2

2

33

3

3

3

33

3

3

3

3

3

33

3

Eix

o 2

VA

VM

VB

Figura 4. A análise de escalonamento multidimensional não métrica (NMDS) em função da abundância de indivíduos nas parcelas. VA = várzea alta, VM = várzea média e VB = várzea baixa.

31

Figura 5.Variação na altura média de inundação (±desvio padrão) nas parcelas da várzea alta, média e baixa no período de 1903 a 2011. Os dados foram obtidos de 2058 medições de marcas de água dos indivíduos que foram relacionados com os dados de registro diário do Rio Negro no Porto de Manaus.

32

Figura 6. Abundância de indivíduos de populações de árvores adultas, juvenis e de plântulas de nove espécies frequentes de várzea ao longo do gradiente de inundação. A= abundância total; B= abundância por grupos de espécies. EVA= espécies da várzea alta; EVM= espécies da várzea média; EVB= espécies da várzea baixa.

33

Figura 7. Ordenação dos indivíduos de nove populações de espécies arbóreas frequentes em florestas de várzea na RDS Mamirauá, Amazonia Central. At= Annona tenuipes; Ct=Crataeva tapia; Ea= Eschweilera albiflora; Gb=Garcinia brasiliensis; Hc=Hura crepitans; Hs= Hevea spruceana; Oc=Ocotea cymbarum; Pm=Pseudobombax munguba; Pt=Piranhea trifoliata.

34

CAPÍTULO 2

_______________________________________________ Marinho et al. A influência de eventos climáticos El Niño e La Niña no estabelecimento e crescimento de espécies arbóreas em florestas de várzea na Amazônia. Manuscrito formatado para a Revista Trees-Structure and Function.

.

35

A influência de eventos climáticos El Nino e La Nina no estabelecimento e crescimento de espécies arbóreas em florestas de várzea na Amazônia

Tatiana Andreza da Silva MARINHO1, Maria Teresa Fernandez PIEDADE2, Jochen SCHONGART 3 & Florian WITTMANN2

1Programa de Pós-Graduação em Ecologia. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

Av. André Araújo, 2936, Petrópolis, CEP 69011970 Manaus, Amazonas, Brasil. e-

mail:[email protected]

2Projeto INPA/ Max-Planck. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av. André

Araújo, 2936, Petrópolis, CEP 69011970 Manaus, Amazonas, Brasil. e-mail:

[email protected]

3 Projeto INPA/ Max-Planck. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av. André

Araújo, 2936, Petrópolis, CEP 69011970 Manaus, Amazonas, Brasil. e-mail:

[email protected]

4Department of Biogeochemistry, Max Planck Institute for Chemistry, Hahn Meitner Weg 1,

55128 Mainz, Germany. e-mail: [email protected]; [email protected]

36

A influência de eventos climáticos El Niño e La Niña no estabelecimento e

crescimento de espécies arbóreas em florestas de várzea na Amazônia

RESUMO

A inundação é fator determinante para o estabelecimento, o crescimento e a sobrevivência de

espécies arbóreas em florestas alagáveis. No entanto, a sazonalidade hidrológica desses

ambientes é influenciada por fenômenos climáticos como El Niño e La Niña. Este estudo visa

avaliar a influência do El Niño e La Niña na inundação, no estabelecimento e no crescimento

de populações da regeneração e de árvores adultas de onze espécies de várzea.O estudo foi

conduzido na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, localizada na confluência

dos rios Japurá e Solimões, Amazônia Central, Brasil. Para determinar a idade e estimar as

taxas de incremento radial das espécies foram extraídos e analisados cilindros de madeira de

5.0 mm de diâmetro para as populações dos adultos (total=204) e discos de madeira para a

populações da regeneração arbórea (total=160). A idade dos indivíduos arbóreos e as taxas de

incremento foram correlacionadas com a inundação e com os eventos El Niño e La Niña. Em

todas as populações o diâmetro esteve positivamente correlacionado com a idade dos

indivíduos arbóreos. Em geral, as árvores adultas apresentaram maiores taxas de incremento

diamétrico em comparação com as populações da regeneração.A duração média da inundação

por ano diferiu significativamente I) entre El Niño e La Niña, II) entre as populações de

espécies investigadas, e III) entre as diferentes classes de idade de uma mesma espécie. Não

foi detectado nenhum impacto dos eventos La Niña no estabelecimento e crescimento das

espécies arbóreas. No entanto, a regeneração arbórea claramente reagiu mais sensivelmente

aos fenômenos climáticos do que as populações adultas. A maioria dos indivíduos

investigados (52.3%) se estabeleceu durante anos de El Niño, indicando que a extensão do

período vegetativo é crucial para o estabelecimento de espécies de várzea.

Palavras-chave: El Niño, regeneração, floresta de várzea, crescimento arbóreo

37

Influence of El Nino and La Nina on tree species establishment and growth of

Central Amazonian varzea tree species

ABSTRACT

The seasonal inundations are the main factor influencing establishment, growth and survival

of tree species in seasonal floodplain forests. However, hydrological cycles are influenced by

climatic variability as caused through El Niño and La Niña. The present study investigated the

influence of climatic variability on inundation pattern as well as establishment, growth and

age of the regeneration and mature population of 11 tree species from Amazonian várzea

forest along the flood-level gradient, by using dendrochronological methods. The study was

performed within the Mamirauá Sustainable Development Reserve, at the confluence of the

Japurá and Solimões Rivers, Central Amazonia, Brazil. To determine tree ages and diameter

increment rates, wood samples with a diameter of 5.0 mm were extracted from adult tree

populations ( 204 in total), and stem disks obtained from regenerating tree populations (160 in

total). Tree ages and diameter increment rates were related with inundation and presence of El

Niño and La Niña events. In all species populations diameters were positively correlated with

tree ages. In general, adult individuals had higher diameter increment rates than regenerating

individuals. Mean flood duration per year differed significantly I) between El Niño and La

Niña years, II) between the investigated species populations, and III) between different age

classes within the same species. No impact of La Niña events on tree species establishment

and growth could be detected. However, tree regeneration clearly reacted more sensitive to

climatic variability than the adult populations. The majority of investigated individuals

(52.3%) established during El Niño years, indicating that the extension of the vegetation

period is crucial for tree species establishment.

KeyWords: El Niño, regeneration, várzea forest, species growth

38

Introdução

Em florestas inundáveis de várzea e igapó da Amazônia, as plantas podem se

estabelecer em diferentes níveis ao longo do gradiente e, dependendo do seu grau de

tolerância à inundação, apresentam diferentes repostas à eventos extremos de cheia ou seca.

Plântulas de espécies que se estabelecem em áreas sujeitas a inundações extremas requerem

longos períodos de seca ou de anos consecutivos de águas baixas para se estabelecer (Junk

1989). Isso indica que a seca pode ser um fator influenciando tanto a composição de espécies

de comunidades vegetais quanto a distribuição e estabelecimento de espécies arbóreas ao

longo do gradiente de inundação (Parolin et al. 2010). No entanto, a seca também pode

exercer um efeito negativo sobre plantas causando estresse, quando a quantidade de água

disponível para as plantas está abaixo dos níveis críticos apropriados para o bom desempenho

ecofisiológico das plantas (Lacher 2003).

A seca pode exercer um efeito determinante na distribuição de plantas tanto entre

microambientes quanto entre regiões que diferem pela disponibilidade de água. As variações

sazonais e intra-anuais da disponibilidade de água podem interferir no padrão de recrutamento

de plantas, já que a maioria das espécies sensíveis à seca pode ser afetada por períodos de

seca moderados, restringindo o sucesso de recrutamento dessas espécies aos anos

excepcionalmente chuvosos, enquanto que o recrutamento das espécies não sensíveis às

condições de baixa umidade (deficiência hídrica), não são afetadas pela seca (Engelbrecht et

al. 2005). A resistência das plantas à seca pode refletir a associação entre o estresse de seca

com a resistência “inata” da planta à seca. Em florestas tropicais, as adaptações à seca que

permitem uma alta taxa de sobrevivência de plântulas sob condições controláveis de estresse

tornam-se vantajosas para as plantas que se expõem às severas estações secas, principalmente

aquelas associadas ao evento climático El Niño (Engelbrecht et al. 2005).

A periodicidade no crescimento de plantas em florestas inundáveis é determinada pelo

pulso de inundação, que é o principal fator responsável pela existência, produtividade e

interações nessas áreas (Junk et al. 1989). A formação de anéis anuais em árvores é uma

conseqüência da inundação anual (Worbes 1985). Em florestas inundáveis ao longo do rio

Mapire na Venezuela foi observado que a ocorrência de anéis de crescimento em árvores está

fortemente relacionada com a flutuação do nível das águas do rio durante os meses não

39

inundados (Dezzeo et al. 2003), sendo que nessas áreas o período de crescimento das plantas

ocorre durante a fase terrestre.

A sazonalidade anual de áreas inundáveis da Amazônia Central é diretamente

influenciada por eventos climáticos que interferem em parâmetros relacionados com o pulso

de inundação, como secas ou cheias severas (Schöngart e Junk 2007), que influenciam

diretamente os processos dinâmicos das comunidades vegetais desses ambientes. Assim, tanto

a longevidade quanto a regeneração de espécies em diferentes períodos de tempo em

ambientes inundáveis podem ser favorecidas por anos consecutivos de seca relacionados ao

fenômeno climático El Niño (Schongart et al. 2004, 2005). A diminuição dos níveis máximos

de inundação, em anos de El Niño, causa uma extensão da fase terrestre que favorece o

crescimento e o estabelecimento das plantas nessas áreas.

Apesar do conhecimento de que eventos climáticos exercem forte influência a

sazonalidade hidrológica de ambientes alagáveis e, consequentemente sobre o

estabelecimento e o crescimento de plantas em regiões tropicais, ainda pouco se sabe a

respeito de sua influência no crescimento de populações de espécies arbóreas com diferentes

idades em florestas de várzea na Amazônia Central. Nossa hipótese é de que as populações da

regeneração são mais sensíveis à eventos extremos de seca do que as populações adultas..

Assim, os objetivos desse estudo foram: i) avaliar a influência da inundação no crescimento e

estrutura de populações de árvores adultas e da regeneração de diferentes espécies de várzea

estabelecidas em diferentes cotas ao longo do gradiente de inundação, ii) determinar a idade e

o ano estabelecimento dessas populações, e; iii) avaliar a influência de eventos El Niño e La

Niña no estabelecimento e no crescimento de populações adultas e da regeneração de espécies

estabelecidas em diferentes cotas ao longo do gradiente de inundação da várzea.

Material e métodos

Área de estudo

O estudo foi conduzido em florestas de várzea na Reserva de Desenvolvimento

Sustentável Mamirauá (RDSM), localizada na confluência dos rios Japurá e Solimões, entre

as bacias do rio Solimões e rio Negro (Fig. 1). A RDSM é a maior unidade de conservação em

áreas inundáveis do Brasil com uma área de aproximadamente 1.124.000 ha e que tem por

função a proteção exclusiva das várzeas amazônicas (Queiroz 2005).

40

A pluviosidade média na RDSM é de 3000 mm (IDSM, Tefé), sendo que os maiores

valores de precipitação são observados entre os meses de dezembro e maio (Queiroz 1995). A

amplitude média de inundação registrada na área entre os anos de1995 e 2000 foi de 10,8m

(Wittmann et al. 2004). O clima da região é do tipo tropical úmido. As maiores temperaturas

são atingidas nos meses de seca (outubro e novembro), com médias mensais variando de 30 a

33 °C. Os solos são hidromórficos do tipo glei-húmico de fertilidade elevada, mal drenados,

sem estratificação do perfil vertical e com elevado teor de argila e silte (Queiroz, 1995).

Espécies selecionadas

As espécies selecionadas para este estudo foram: Crateva tapia L. (Capparaceae);

Eschweilera albiflora (DC.) Miers (Lecythidaceae); Garcinia brasiliensis Mart. (Clusiaceae);

Hevea spruceana (Benth.) Müll. Arg (Euphorbiaceae); Hura crepitans L. (Euphorbiaceae);

Luehea cymulosa Spruce ex Benth. (Malvaceae); Maclura tintoria (L.) D. Don ex Steud.

(Moraceae); Ocotea cymbarum Kunth (Lauraceae); Piranhea trifoliata Baill.

(Euphorbiaceae); Pseudobombax munguba (Mart.) Dugand. (Malvaceae), e Virola

surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb. (Myristicaceae). As espécies foram selecionadas em

função da relativa abundância nas florestas de várzea . Algumas dessas espécies apresentam

alto índice de valor de importância (IVI= Densidade Relativa (DR) + Frequência Relativa

(FR) + Dominância Relativa(DoR)) em ambientes de várzea da região. Do total de espécies

tolerantes à inundação (aproximadamente 1.000 espécies), C. tapia, H.crepitans, H.

spruceana, P. munguba e P.trifoliata estão entre as trinta espécies mais importantes de

ambientes de várzea, inclusive na região da Amazônia Central (Wittmann et al. 2006).

As espécies foram classificadas em função de sua ocorrência e abundância nos

habitats da várzea: I) Espécies da várzea alta (EVA) – elevada abundância na várzea alta; II)

Espécies da várzea baixa (EVB) – elevada abundância na várzea baixa; e III) Espécies da

várzea média (EVM) – ocorrem simultaneamente em ambos os habitats.

Coleta e análise de dados

Para avaliar a influência da inundação no crescimento e no estabelecimento de

espécies arbóreas em florestas de várzea na Amazonia Central, as populações das espécies

selecionadas foram classificadas em dois tipos: I) População de árvores adultas – indivíduos

41

com diâmetro a altura do peito (dap) ≥ 10.0 cm, e II) População da regeneração – indivíduos

com altura ≤ 2.0 e < 10.0 cm de diâmetro. Os diâmetros das árvores foram medidos a 1,30 m

acima da superfície do solo, enquanto os da regeneração foram medidos na base do tronco

próximo a superfície do solo na floresta. A coleta das amostras foi realizada durante a fase

terrestre nos anos de 2012 e 2013.

Nas populações de árvores adultas foram retiradas dos indivíduos arbóreos amostras

cilíndricas de madeira com 5.0 mm de diâmetro com o auxílio de uma broca

dendrocronológica. Foram selecionados 20 indivíduos com diferentes diâmetros e maiores

que 10.0 cm de dap para cada espécie. Nas populações da regeneração foram retirados discos

de madeira variando de 10 a 20 indivíduos para cada espécie (Fig. 2). Os discos foram

cortados na base do tronco rente ao chão da floresta (Registro de coleta de material biológico

N° 35189-1/ICMBio/SISBIO, 20/06/2012). Os indíviduos de ambas as populações foram

selecionados de forma arbitrária ao longo do gradiente.

Na determinação da idade tanto de populações de árvores adultas quanto às da

regeneração, as amostras foram progressivamente lixadas utilizando lixas de 80 a 600. A idade

dos indivíduos (árvores e regeneração) foi estimada pela relação raio/taxas médias de

incremento radial, permitida pela contagem direta dos anéis e o cálculo do incremento radial

médio (Worbes et al. 2003; Schöngart et al. 2005). As taxas de incremento radial foram

determinadas pela medição da largura dos anéis utilizando aparelho digital de precisão de

0.01mm (LINTAB) acoplado a um computador provido de um software especial para análises

de seqüências temporais (TSAP-WIN - Time Series Analyses and Presentation) (Schöngart et

al. 2005).

Para as populações adultas, a cota de inundação da área foi obtida por meio do registro

das marcas de água visíveis nos troncos das árvores, enquanto para as populações da

regeneração a cota foi obtida pelo registro da marca de água vísivel no tronco do indivíduo

arbóreo mais próximo. Os níveis de inundação encontrados foram comparados com séria

histórica de inundação do banco de dados da Superintendência Nacional de Portos e

Hidrovias – SNPH (www.snph.am.gov.br), que registra diariamente a flutuação das águas do

rio Negro desde o ano de 1903. Para se calcular a cota de inundação para cada

indivíduo/espécie foram subtraídos os registros das alturas da marca de água nos troncos das

42

árvores das cotas máximas de cada ano da série histórica de inundação. Os níveis de flutuação

das águas do Rio Japurá na RDS Mamirauá (Tefé) e do Rio Negro (Manaus) estão fortemente

correlacionados, havendo uma diferença de apenas nove centímetros na amplitude média de

inundação entre eles (Schöngart et al. 2005).

A idade dos indivíduos foi determinada para fazer correlações entre a idade e o

diâmetro e, ainda, correlacionar o incremento radial das populações com a fase terrestre de

cada ano da série histórica, verificando os anos de maior e menor incremento e o ano de

estabelecimento das espécies. A base de dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais) e do Climate Prediction Center – NOAA foram utilizados para verificar a

ocorrência de El Niño e La Niña, e a influência desses eventos no estabelecimento e nas taxas

de incremento radial das populações de espécies arbóreas de várzea na RDS Mamirauá.

Regressões e correlações de Pearson foram utilizadas nas análises dos dados, e o efeito do

fator inundação foi avaliado por ANOVA de um fator.

Resultados

Estrutura, crescimento e inundação

Foi analisado um total de 364 indivíduos, sendo 160 da regeneração e 204 da

população de árvores adultas (Tabela 1). Os indivíduos da regeneraçao das espécies H.

crepitans, L. cymulosa e O. cymbarum apresentaram os maiores diâmetros e alturas, enquanto

para populações de árvores adultas, as espécies H. crepitans e E. albiflora se destacaram. As

populações da regeneração com maior idade foram das EVA (O. cymbarum e V.

surinamenis), para indivíduos adultos a população mais velha foi da espécie E. albiflora

(EVM) (Tabela 1). A árvore mais velha foi estabelecida em 1783 (H. spruceana), e a mais

jovem em 2010 (C. tapia). O diâmetro e a altura dos indivíduos estavam correlacionados nas

populações de dez espécies (p<0.05), sendo que para a população de E. albiflora não foi

observada correlação entre diâmetro e altura dos indivíduos arbóreos (p= 0.087).

Para todas as espécies (EVA, EVB e EVM), as populações de árvores adultas

apresentam maiores taxas de incremento diamétrico em comparação com as populações da

regeneração (F= 55.72; p<0.001;N= 204; Tabela 1). Considerando tanto as populações de

árvores adultas quanto da regeneração dos grupos de EVA (R2= 0.60; p<0.001), EVB (R2=

43

0.52; p<0.001) e EVM (R2= 0.80; p<0.001), o diâmetro apresentou-se positivamente e

significamente correlacionado com a idade dos indivíduos arbóreos. Foi observado que para o

conjunto de dados apresentados há uma fraca relação, porém significativa, entre a altura de

inundação e a taxa de incremento radial, com maiores taxas médias de incremento radial nos

indivíduos estabelecidos nas cotas mais baixas de inundação, ou seja, nas áreas sujeitas a um

período e a uma altura de inundação maiores (R2= 0.184; F= 82.65; p<0.001).

Para todas essas populações o período de inundação foi maior que 100 dias por ano,

sendo ainda observado que a maioria das populações de árvores adultas e da regeneração das

espécies estava sujeita a diferentes níveis de inundação (Tabela 2), sendo que as populaçoes

de árvores adultas de C.tapia, L.cymulosa, M.tinctoria e P.munguba (EVB) se estabeleceram

em áreas sujeitas aos maiores níveis de inundação.

Em geral, foi observada correlação positiva entre o incremento diamétrico e o

diâmetro (r= 0.47, p<0.001), mas não houve correlação significativa entre o diâmetro e a

altura de inundação. No entanto, quando essas correlações foram realizadas para cada

conjunto de dados das populações de espécies em separado as respostas se diferenciaram

entre as espécies de cada grupo (Tabela 3). Foi encontrada diferença entre as taxas de

incremento radial médio entre os grupos de EVA, EVB e EVM (F= 38.82; p < 0.001), e entre

os níveis de inundação (F= 7.0; p < 0.001), tendo as maiores taxas de incremento radial e

altura média de inundação as EVB. Considerando as taxas máximas de incremento radial, foi

observada diferença significativa entre as máximas de incremento radial entre as espécies (F=

4.08; p < 0.001), sendo H. crepitans a que apresentou a maior taxa máxima de incremento

radial, enquanto G. brasiliensis foi a espécie que apresentou a menor taxa máxima de

incremento. Quando se faz comparação entre grupos EVB, EVA e EVM, as EVB

apresentaram maiores taxas máximas de incremento radial enquanto as EVM as menores

taxas de incremento radial máximo (F=6.01; p=0.003).

Estabelecimento, crescimento e eventos climáticos

Aproximadamente 53% (n=194) de todos os indivíduos arbóreos analisados se

estabeleceram em anos de El Niño, 37% (n=134) em anos de La Niña e 9.8% (n=36) em

outros anos, ou seja em anos sem registro de ocorrência desses eventos. A maioria dos

indivíduos das populações de árvores adultas (58%; n= 7 populações) e da regeneração (60%;

44

n=7 populações) foi estabelecida em anos de ocorrência de El Niño (Fig. 3). Considerando as

médias de inundação dos indivíduos das EVA, EVB e EVM estabelecidos em anos de

ocorrência de El Niño e La Niña (n=328), foi observada diferença significativa entre as

alturas médias de inundação entre os anos de El Niño e La Niña, com a maior altura média de

inundação nos anos de La Niña (F=11.88; p< 0.001).

Para as populações de árvores adultas das EVA, EVB e EVM, a regressão mostrou que

há uma fraca relação, porém significativa e positiva, entre a altura média da inundação e taxa

de incremento radial médio (R2= 0.18; F= 38.2; p<0.001), e entre diâmetro e idade (R2=0.22;

F= 46.85; p<0.001), sendo os indivíduos com maiores diâmetros os mais velhos. Não foi

observada diferença nas taxas de incremento radial médio entre os anos de El Niño e La Niña

nas populações de árvores adultas (F= 0.64; p= 0.424; N=168).

As populações da regeneração das EVB, EVB e EVM estão sujeitas a diferentes níveis

de inundaçao (F=54.31; p<0.001; N=160), e apresentam diferenças entre si quanto às taxas

máximas (F=10.01; p<0.001, N=160) e médias de incremento radial (F=17.73; p<0.001;

N=160). A taxa de incremento se diferiu entre anos de El Niño e La Niña, com maiores taxas

de incremento radial médio em anos de El Niño (F= 5.16; p= 0.024, N= 160). Foi observada

correlação positiva entre o diâmetro e a idade nas populações da regeneração (R2= 0.25; F=

53.53; p< 0.001).

Ao se avaliar a influência das anomalias do El Niño durante a fase terrestre

(www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/ensostuff/ensoyears.shtml) nas taxas

de incremento radial máximo e médio das espécies, foi observado que não houve diferença

entre as taxas máximas e médias (F=0.09; p=0.76; N=199) de incremento entre El Niño

(quente) e La Niña (fria), e entre os grupos de os grupos EVA (F= 0.33; p= 0.565; N= 79) e

EVB (F=2.34; p=0.130; N=101). No entanto, ao se analisar separadamente cada espécie,

somente três das onze espécies tiverem seus incrementos radiais máximos (anéis mais largos)

relacionados com as anomalias do El Niño. A população de H. spruceana (F= 8.27; p= 0.011,

N=18) e as populações da regeneração de V. surinamensis (F= 8.29; p= 0.016, N= 12) e P.

munguba (F= 7.6; p= 0.022, N= 13) apresentaram maior taxa máxima de incremento radial

em anos de El Niño.

45

Discussão

Nossos resultados mostram que todas as populações de árvores adultas e da

regeneração de espécies arbóreas formaram anéis de crescimento bem definidos e com

distintos padrões de crescimento. A formação de anéis anuais já foi observada em diversos

outros estudos de avaliação dos padrões de crescimento de espécies de várzea na Amazônia

Central (Schöngart et al. 2005, 2007; Fonseca Junior et al. 2009; Leoni et al. 2011), inclusive

de algumas das espécies analisadas neste estudo (Rosa 2008; Scabin et al. 2012; Marinho et

al. 2013). O limite de cada anel está atrelado a uma ampla variabilidade dentro da espécie e

entre indivíduos (Worbes e Fichtler 2010), sendo que a variação em largura desses anéis entre

as espécies reflete tanto a estrutura anatômica da madeira e a fisiologia das diferentes espécies

quanto fatores exógenos como padrões de precipitação (Brienden e Zuidema 2005).

A formação de anéis anuais de crescimento (Worbes 1985; Schöngart et al. 2005;

Worbes e Fichtler 2010) em árvores de florestas alagáveis é diretamente influenciada pela

inundação. A anóxia no ambiente criada pela inundação reduz a atividade radicular das

plantas levando a um déficit hídrico na copa das árvores, o que resulta na queda de folhas em

muitas espécies (Parolin et al. 2010), seguida por uma dormência cambial e formação de anéis

anuais (Worbes e Junk, 1989; Worbes, 1999; Dezzeo et al. 2003; Brienden e Zuidema 2005).

O estudo desses anéis anuais de árvores pode fornecer uma base de dados confiável a ser

utilizada para determinar a idade das árvores (Worbes e Junk 1999) e as taxas de crescimento

(Schöngart et al. 2005), estimar mudanças no estoque de carbono na biomassa acima do solo

(Schöngart et al. 2010), e ainda refletir possíveis alterações na dinâmica de estabelecimento e

crescimento de espécies arbóreas causadas por fenômenos climáticos.

Na bacia Amazônica, a sazonalidade é afetada diretamente por eventos El Niño e La

Niña (Schöngart e Junk 2007). O El Niño causa uma diminuição da precipitação na estação

chuvosa resultando em uma baixa descarga de água nos rios e, consequentemente uma

extensão da fase terrestre nas áreas alagáveis (Schöngart et al. 2004), enquanto que em anos

de influência de La Niña há um aumento da precipitação e descarga de água nos rios com uma

consequente extensão da fase aquática ou período inundado. Estudos recentes mostram que a

largura dos anéis em árvores de ambientes alagáveis da Amazônia refletem as condições

climáticas do El Niño, sendo geralmente mais largos do que anéis formados em anos sem a

influência desse evento (Schöngart et al. 2004, 2005). O estabelecimento da maioria de nossas

46

espécies em anos de ocorrência de El Niño corrobora com a hipótese de que é durante a fase

terrestre que as plantas investem maiores recursos para se estabelecer e crescer em ambientes

alagáveis (Parolin 2002), sendo a extensão desse período não inundado crucial para o

recrutamento e estabelecimento de espécies de várzea na Amazônia Central, como as

estudadas aqui. O efeito da seca pode ser tão importante quanto a inundação para

sobrevivência e o crescimento de espécies de áreas alagáveis, principalmente nos estádios

iniciais de desenvolvimento, isto é, para as plântulas (Parolin et al. 2010).

Apesar de o El Niño causar uma extensão da fase terrestre, o comprimento dessa fase

é mais proeminente nas cotas médias de inundação do que nas mais baixas, ou seja, as áreas

mais inundadas (Schongart et al. 2004). Sendo assim, pressupõe-se que as EVM (E. albiflora

e H. spruceana), que se estabelecem nas cotas médias, tenderiam a ser mais sensíveis em

comparação as EVB à distúrbios de seca ou cheia severa causada por fenômenos climáticos.

Contudo, estudos revelam que espécies de tronco-suculento (e.g. P. munguba; Schöngart et

al. 2002) apresentam alta sensibilidade ao stress de seca moderada em comparação com

plantas perenifólias (e.g C. tapia, E. albiflora, H. crepitans, H. spruceana, M. tinctoria, P.

trifoliata e V. surinamensis;), decíduas (e.g., L.cymulosa;) e semi-decíduas (e.g., G.

brasiliensis e O. cymbarum,) da várzea (Schöngart et al. 2002).

O curioso fato de que as anomalias do El Niño exerceram um efeito significativo nas

taxas máximas de incremento nas populações da regeneração de somente três espécies das

nove analisadas (V. surinamensis (EVA), H. spruceana (EVM) e P. munguba (EVB)), nos dá

indícios de que fatores genéticos intra e/ou interespecíficos ocasionando adaptações

fisiológicas (Schöngart et al. 2002), morfoanatômicas (Worbes 1997; De Simone et al. 2002;

Wittmann e Parolin 2005; Ferreira et al. 2006), fenológicas e reprodutivas (Kubitzki e

Ziburski 1994; Wittmann e Parolin 1999; Parolin 2000; Parolin et al. 2004; Oliveira

Wittmann et al. 2007) das espécies à inundação são determinantes para o estabelecimento e

crescimento da maioria dessas espécies, sendo que para a regeneração dessas populações a

extensão do período vegetativo parace favorecer substancialmente o crescimento. Apesar do

impacto da inundação no desenvolvimento e estabelecimento de árvores em ambientes

alagáveis, são poucas as espécies que apresentam forte correlação entre as taxas de

incremento e a precipitação (Schöngart et al. 2002).

47

As diferenças encontradas na altura das plantas e nas taxas de incremento diamétrico

entre as populações adultas e da regeneração dos grupos de EVA, EVM e EVB podem refletir

a pressão exercida pela inundação nessas populações associada aos atributos funcionais de

cada espécie (Swaine e Whitmore 1988; Schongart et al. 2002; Castro 2012), à variação da

estrutura anatômica da madeira (Worbes e Fichtler 2010) intra e/ou interespecífica, e ainda

competição (Silva 2012). Plantas jovens de regiões tropicais são fortemente influenciadas pela

competição e podem apresentar diferentes respostas de crescimento quando comparadas à

árvores adultas (Worbes e Fichtler 2010).

As baixas taxas de crescimento em pequenos indivíduos com um subsequente

aumento nas classes de maiores diâmetros refletem um forte padrão ontogenético nas taxas de

crescimento de espécies arbóreas (Brienen e Zuidema 2006). Plântulas de espécies arbóreas

de áreas alagáveis, principalmente as estabelecidas nas áreas topograficamente mais elevadas

e sujeitas a uma altura e a um período de inundação menores, tem como estratégia de escape

da inundação total investir no crescimento em altura (Parolin et al. 2002). Essa estratégia é

observada no grupo das EVA deste estudo. Enquanto que as elevadas taxas de incremento

observadas nas populações EVB, por exemplo, pode está refletindo o seu nível de tolerância e

alta adaptabilidade à pressão excercida pela inundação, assim como as diferentes estratégias

de crescimento das espécies, que investem menos no crescimento em altura e mais no

crescimento diamétrico ou no aumento da densidade da madeira.

As diferenças encontradas na duração média da inundação entre os grupos podem

indicar uma capacidade de tolerância maior das EVB em relação as EVM e EVA à

sazonalidade de inundação e, consequentemente, à distúrbios ambientais de seca ou de cheia

extremas. Em geral, a tolerância das espécies em sobreviver a extremos de inundação ou de

seca pode refletir a história evolutiva da planta ocasionada por distúrbios de longa data

(Vervuren et al. 2003). A inundação ocasiona uma pressão seletiva (Wittmann et al. 2012)

sobre as espécies desencadeando variações genéticas intraespecíficas (Ferreira et al. 2010)

dentro das populações (Lenssen et al. 2004), assim como variações genéticas interespecíficas

e especiação (Donoghue 2008), resultanto no zoneamento das espécies em diferentes escalas

(eg. Wittmann et al. 2006; Marinho et al. 2010).

48

Conclusões

Nosso estudo mostra que a extensão do período vegetativo ocasionada pelo El Niño é

crucial para o estabelecimento de espécies de várzea, sendo que os efeitos diretos das

anomalias do El Niño no crescimento de plantas de várzea podem variar de acordo com a

espécie e com a idade das populações. A regeneração arbórea parece reagir mais

sensivelmente à variabilidade climática do que as populações adultas. Em geral, a duração

média da inundação pode diferir entre os anos de El Niño e La Niña, entre as populações de

espécies, e entre as diferentes classes de idade dentro de uma mesma espécie. É provável que

os mecanismos de competição intra e interespecífica associadas às estratégias de crescimento

das espécies tenham sido determinantes nas diferenças encontradas no crescimento entre as

populações de árvores adultas e da regeneração.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela

bolsa concedida. Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), ao Grupo MAUA

“Ecologia, monitoramento e uso sustentável de áreas úmidas” e ao Projeto INPA/Max-Planck

pelo apoio logístico e financiamento do projeto.

49

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54

Tabela 1 Diâmetro, altura, idade e taxas de incremento de populações de árvores adultas e da regeneração de espécies de várzea na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Valor médio ± desvio padrão. ID= incremento diamétrico.

Classificação Espécie Regeneração (diâmetro < 10.0 cm) Árvores adultas (dap ≥ 10.0 cm)

diâmetro altura idade ID (cm/ ano) N dap altura idade ID (cm/ano) N

EVB

C. tapia 4.4±1.9 4.2±1.5 11.4±4.9 0.39±0.10 20 16.1±5.0 9.8±2.0 19.7±3.9 0.82±0.23 17

L. cymulosa 5.5±1.8 5.9±2.0 11.8±3.4 0.47±0.11 20 21.8±15.9 13.8±3.5 25.5±10.7 0.93±0.54 19

M. tinctoria 4.6±1.6 5.2±1.2 8.9±2.3 0.53±0.15 20 23.0±8.7 11.7±2.2 20.1±4.9 1.2±0.46 17

P. trifoliata - - - - - 26.4±10.3 13.7±3.7 46.0±16.3 0.61±0.25 20

P. munguba 4.8±2.3 4.3±1.7 8.5±1.6 0.56±0.26 20 27.3±15.6 12.0±2.5 32.2±15.4 0.85±0.26 20

EVM

E. albiflora - - - - - 28.4±11.3 15.4±3.8 91.9±21.6 0.32±0.10 19

H. spruceana 4.7±1.8 5.2±1.2 17.5±5.7 0.27±0.04 20 27.7±15.0 14.8±3.8 69.6±43.3 0.42±0.15 17

EVA

H. crepitans 6.0±1.2 5.8±0.9 9.3±2.8 0.68±0.19 10 35.3±20.8 14.0±5.7 39.8±11.5 0.84±0.30 15

G. brasiliensis 4.2±1.9 4.9±1.5 13.5±5.6 0.31±0.06 20 23.3±9.6 13.7±3.1 60.3±19.4 0.40±0.14 20

O. cymbarum 6.7±1.5 7.6±1.7 21.4±4.1 0.32±0.05 10 26.5±10.4 16.6±5.3 57.5±15.8 0.45±0.11 20

V. surinamensis 3.8±1.3 4.7±1.4 14.4±4.2 0.27±0.06 20 34.7±18.0 15.3±7.0 60.5±22.8 0.57±0.23 20

55

Tabela 2 Altura e duração da inundação para as todas populações, populações de árvores adultas e da regeneração de espécies de várzea na na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Valor médio ± desvio padrão.

Classificacao Espécie Inundação (m)

N=364 Regeneração

(diâmetro < 10.0 cm) Árvores adultas (dap ≥ 10.0 cm)

Altura Duração Altura Duração Altura Duração

EVB

C. tapia 4.9±1.2 196.0±32.8 4.1±0.5 173.1±15.6 5.8±0.9 222.9±26.4

L. cymulosa 4.9±1.4 197.1±40.1 3.7±0.8 165.7±21.3 6.0±1.0 230.2±26.9

M. tinctoria 4.8±1.3 195.4±39.7 3.6±0.7 163.8±15.3 6.1±0.9 232.6±21.4

P. munguba 4.9±1.5 202.5±42.7 3.5±0.6 161.6±15.0 6.3±0.1 243.4±3.1

P. trifoliata 3.8±1.0 174.4±33.1 - - 3.8±1.0 174.4±32.3

EVM E. albiflora 2.4±0.6 133.3±18.3 - - 2.4±0.6 133.3±18.3

H. spruceana 3.1±0.6 150.3±19.3 3.0±0.5 148.2±13.7 3.1±0.9 152.7±24.6

EVA

G. brasiliensis 2.5±1.0 136.5±32.0 2.8±0.8 142.4±27.9 2.5±1.0 130.4±36.3

H. crepitans 2.0±1.0 118.6±18.3 2.2±0.8 123.6±27.1 1.8±1.2 115.2±35.6

O. cymbarum 1.3±1.1 102.5±34.2 2.0±0.4 120.8±15.8 1.3±1.0 93.3±37.7

V. surinamensis 2.1±0.9 122.6±29.6 2.4±0.6 131.2±22.2 1.8±1.0 114.1±33.8

56

Tabela 3 Correlações de Pearson para as espécies de floresta de várzea na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. IR= incremento radial, ID= incremento diamétrico.*p<0.001; **p<0.05; ns= não significativo.

Classificacao Especie

Correlação de Pearson

Inundação (m) X IR (mm)

Diâmetro (cm) X ID (cm)

Inundação(m) X Diâmetro (cm)

EVB

C. tapia 0.55* 0.87* 0.65*

L. cymulosa ns 0.82* ns

M. tinctoria 0.56* 0.87* 0.73

P. munguba 0.45** 0.60* 0.64

P. trifoliata ns - 0.55* - 0.52**

EVM E. albiflora ns 0.76* ns

H. spruceana ns 0.47** ns

EVA

G. brasiliensis ns 0.57* ns

H. crepitans ns 0.76* ns

O. cymbarum ns 0.77* -0.41**

V. surinamensis ns 0.83* ns

57

Fig 1 Área de estudo (círculo vermelho) localizada dentro da área focal da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamiraua, Amazonas, Brasil.

0

58

Fig 2 Amostras de madeira de onze espécies de várzea. A = discos de madeira (diamêtro < 10.0 cm e altura ≤ 2.0 metros). Ct= Crataeva tapia; Ea= Eschweilera albiflora; Gb=Garcinia brasiliensis; Hc= Hura crepitans; Hs= Hevea spruceana; Lc= Luehea cymulosa; Mt= Maclura tinctoria; Oc= Ocotea cymbarum; Pm= Pseudobombax munguba; Pt=Piranhea trifoliata;Vs= Virola surinamensis. Seta branca mostra os anéis de crescimento para cada espécie.

A

Ct Ea Gb

Hc Hs

Lc

Mt Oc

Pm Pt Vs

59

Fig 3 Porcentagem do total de indivíduos (n= 328), populações de árvores adultas (n=168) e da regeneração (n= 160) de espécies de várzea estabelecidas em anos de El Niño e La Niña. Ct= Crateva tapia; Ea= Eschweilera albiflora; Gb= Garcinia brasiliensis; Hc= Hura crepitans; Hs= Hevea spruceana; Lc= Luehea cymulosa; Mt= Maclura tinctoria; Oc= Ocotea cymbarum; Pm= Pseudobombax munguba; Pt= Piranhea trifoliata;Vs= Virola surinamensis. EVB= espécies de várzea baixa; EVM= espécies da várzea média e EVA= espécies da várzea alta.

60

SÍNTESE

Foi abordada a distribuição de populações de espécies arbóreas de diferentes classes

de tamanho em diferentes cotas de inundação, onde se verificou diferenças intra e

interespecíficas nas populações; além de se determinar a idade e o ano de estabelecimento das

espécies em anos de El Niño e La Niña, e a influência desses eventos nas taxas de incremento

radial e diamétrico de espécies arbóreas de várzea.

Em áreas alagáveis, a inundação ocasiona uma pressão seletiva nas plantas, fazendo

com que as espécies desenvolvam ao longo de sua história evolutiva diversos mecanismos

adaptativos que contribuem diretamente para o estabecimento das espécies em uma posição

ótima ao longo do gradiente de inundação (Junk et al.1989). No entanto, essa posição ótima

pode ser modificada por diversos fatores como estabilidade do habitat, estrutura e fertilidade

do substrato, competição interespecífica, dispersão de sementes, acumúlo de matéria orgânica

e fixação de nitrogênio.

Todas as espécies aqui analisadas formaram anéis anuais na madeira, fato observado

em diversos outros estudos de espécies em ambientes alagáveis da Amazônia. Contudo, os

grupos EVA (espécies da várzea alta), EVB (espécies da várzea baixa) e EVM (espécies da

várzea média) apresentaram diferentes estratégias de crescimento e tolerância à inundação,

sendo as EVB sujeitas aos maiores níveis de inundação e com as maiores taxas de incremento

diamétrico. Em áreas alagáveis, a formação e a largura desses anéis são diretamente

influenciados pela inundação, e variam em função das características anatômicas da madeira

das espécies. As condições anóxicas do ambiente inundado ocasionam alterações

metabólicas nas plantas, resultando em alterações na fenologia foliar seguida de uma

dormência no câmbio e formação de anéis. O estudo desses anéis anuais de árvores pode

fornecer uma base de dados confiável a ser utilizada para determinar a idade das espécies

arbóreas, além de refletir possíveis alterações na dinâmica de estabelecimento e crescimento

causadas por fenômenos climáticos.

Embora, a inundação seja o principal fator responsável pela distribuição de espécies

arbóreas causando padrões de distribuição em diferentes escalas, mecanismos genéticos

isolados ou associados com interações ecológicas inter ou intra-especificas como competição,

dispersão de sementes ou ainda herbivoria de plântulas devem ser considerados ao se avaliar

61

esses padrões. As diferenças encontradas na distribuição dos grupos e categorias de espécies

aqui estudados ao longo do gradiente de inundação, nos indicam uma provável segregação de

nichos que contribuem para um zoneamento das espécies em micro-escala ao longo do

gradiente de inundação da várzea. Aparentemente, as EVA são mais sensíveis aos efeitos da

inundação e tendem a desenvolver nichos mais estreitos do que as EVB; já as EVM mostram

ter uma maior plasticidade ecológica em comparação EVA, porém menor em relação as EVB.

Tendo o conhecimento de que a sazonalidade hidrológica de áreas alagáveis é

fortemente influenciada por fenômenos climáticos ENSO (El Niño e La Niña), as espécies de

várzea aqui estudadas parecem ter seu estabelecimento favorecido por anos de ocorrência do

El Nino, corroborando com a hipótese de que a seca (fase terrestre) é primordial para o

estabelecimento de espécies nesse ambientes, sendo a adaptação das plantas em tolerar

maiores períodos de seca tão importante quanto a sua tolerância à inundação, principalmente

para as plântulas (Parolin et al. 2010). Contudo, as estratégias de crescimento desencadeadas

pelas plantas de várzea durante a ocorrência desses eventos pode diferir entre as espécies e

suas categorias (regeneração e árvores adultas). As populações da regeneração de espécies de

várzea da Amazônia Central parecem responder mais sensivelmente à variabilidade climática

do que as populações adultas, tendo suas taxas de incremento favorecidas pela extensão da

fase terrestre ocasionada pelo El Niño.

62

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