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Estudo de abrigos para peixes a jusante de centrais hidroeléctricas Modelação numérica Rui Tiago Pessoa Zabelo Matos de Almeida Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientador: Professor Doutor António Alberto do Nascimento Pinheiro Orientador: Doutora Isabel Maria Bento de Matos Boavida Júri Presidente: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira Orientador: Professor Doutor António Alberto do Nascimento Pinheiro Vogal: Professor Doutor Jorge de Saldanha Gonçalves Matos Vogal: Doutor José Maria Horta e Costa Silva Santos Junho 2014

Estudo de abrigos para peixes a jusante de centrais ... · Figura 4.4 - Distribuição de DSI - Truta Adulta – Inverno-Primavera ..... 32 Figura 4.5 - Distribuição de DSI - Truta

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Estudo de abrigos para peixes a jusante de centrais hidroeléctricas

Modelação numérica

Rui Tiago Pessoa Zabelo Matos de Almeida

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador: Professor Doutor António Alberto do Nascimento Pinheiro

Orientador: Doutora Isabel Maria Bento de Matos Boavida

Júri

Presidente: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira

Orientador: Professor Doutor António Alberto do Nascimento Pinheiro

Vogal: Professor Doutor Jorge de Saldanha Gonçalves Matos

Vogal: Doutor José Maria Horta e Costa Silva Santos

Junho 2014

Às minhas avós

i

RESUMO

Quando uma central hidroeléctrica opera em regime de hydropeaking, o caudal natural do curso de

água é periodicamente alterado por descargas fortes, eventualmente de curta duração, resultantes da

produção de hidroelectricidade durante os períodos de consumo de ponta. Estes eventos criam

frequentemente um forte stress para os peixes, em todos os estágios de vida, interferindo assim com

o bem-estar das populações piscícolas e com as condições ecológicas do rio a jusante da central

hidroeléctrica. A criação de abrigos laterais para peixes tem sido apontada como uma das mais

promissoras medidas de mitigação para proteger as espécies piscícolas dos caudais de ponta. Desta

forma, é crucial determinar critérios de dimensionamento para os abrigos laterais, de forma a

aumentar a disponibilidade de habitat. Sendo cada vez mais aplicados em estudos de modelação de

habitat, os modelos hidrodinâmicos 2D são uma ferramenta poderosa para perceber as interacções

entre o escoamento do rio e os padrões hidráulicos numa escala de microhabitat. Quando acoplados

com um modelo biológico de habitat que represente os diferentes requisitos de habitat, estes modelos

permitem uma melhor percepção da influência dos caudais de ponta nos peixes, enquanto estimam a

abundância relativa de habitats. No presente estudo, são comparados resultados obtidos numa

instalação experimental com as simulações de habitat efectuadas com o modelo River2D. Foram

testadas diferentes configurações de abrigo observando a taxa de presença no abrigo da truta juvenil,

bem como da sua localização no interior do mesmo. Foram utilizadas as curvas de preferência da

truta-de-rio (Salmo trutta fario) e do barbo-comum (Luciobarbus bocagei), nos estágios juvenil e

adulto, e foram integradas essas curvas com os valores de profundidade do escoamento e velocidade

obtidos com o River2D, para estimar a disponibilidade de habitat para as diferentes configurações de

abrigos para peixes. Os resultados para a truta juvenil estão razoavelmente de acordo com as

principais conclusões do trabalho experimental. Simulações numéricas semelhantes foram também

desenvolvidas num trecho de rio, com o objectivo de analisar problemas de dimensionamento e

implantação dos abrigos e de avaliar a sua eficiência num curso de água natural, tendo sido obtidas

melhorias em termos de disponibilidade de habitat.

Palavras-chave: Modelação de habitat, abrigos laterais, hydropeaking, truta, barbo.

ii

iii

ABSTRACT

Wherever a hydropower station operates under a hydropeaking regime, the stream base flow is

periodically changed by strong and eventually short-duration discharge fluctuations resulting from

hydropower production during peak electricity consumption periods. These events often place an

intolerable stress on fish over all life-stages, thus interfering with the population success and the

ecological condition of the river reach downstream of the powerhouse. The creation of lateral fish

shelters has been pointed out as one of the most promising mitigation measure to protect fish species

from peak flows. Therefore is crucial to determine design guidelines for the fish shelters in order to

increase habitat availability. Being more and more applied in habitat studies, the 2D hydrodynamic

numerical models are a powerful tool to understand the interactions between river flow and the

hydraulic patterns at a microhabitat scale. When coupled with a biological model of habitat

representing different habitat requirements, these models allow a better understanding on the

influence of peak flows over fish occurrence while estimating the relative abundance of habitats. In this

study, results from an experimental facility are compared with habitat simulations carried out with the

River2D. Different shelter configurations were tested in the facility by analysing the shelter global

frequentation rate of juvenile brown trout as well as their preference location inside the shelter. The

habitat requirements curves of the brown trout (Salmo trutta) and Iberian barbel (Luciobarbus bocagei)

were used, both for juvenile and adults, and integrated with the depth and velocity results obtained

with River2D to estimate the habitat availability for different shelters design configurations. Results for

the juvenile trout reasonably agree with the experimental major findings. Similar simulations were also

developed in a river reach, with the purpose of analysing the design problems and shelter construction

and evaluating their efficiency in a natural stream, which conducted to increases in terms of habitat

availability.

Keywords: Habitat modelling, lateral shelters, hydropeaking, trout, barbel.

iv

v

AGRADECIMENTOS

Apesar de ser um trabalho individual, a presente dissertação não teria sido concluída sem o apoio de

uma série de pessoas. Nesta página ficam os meus sinceros agradecimentos.

Ao Professor Doutor António Pinheiro e à Doutora Isabel Boavida, orientadores científicos desta

dissertação, expresso o meu agradecimento não só pelo rigor exigido ao longo deste trabalho, mas

também pela liberdade que me deram para o efectuar, dando-me a escolha do rumo a seguir. Um

muito obrigado pela total disponibilidade demonstrada e por me terem ajudado a dar os primeiros

passos na modelação numérica e na ecohidráulica.

Aos meus pais e avô, por me colocarem sempre em primeiro lugar. Um dia retribuirei, com toda a

certeza. Este trabalho também é fruto do vosso esforço.

À minha madrinha, padrinho e primos pelo apoio incondicional e entusiamo demonstrado durante o

meu percurso académico.

À Bárbara, por todo o apoio e pela inesgotável paciência.

A um grupo de amigos onde nenhum interesse pessoal se sobrepõe a nada. Ao João Fabião, ao

Manuel Guerra, ao João Sá Madeira, ao Francisco Ceia, ao Romeu Rosa, à Maria Gomes, ao João

Correia, ao João Delgado, ao Bruno Cossermelli, ao Francisco do Vale e ao Tiago Pereira o meu

sincero obrigado, pois foram anos bem passados, tanto dentro como fora do Técnico. Tenho a

certeza que o futuro nos reserva mais do mesmo.

Aos verdadeiros amigos que fiz durante a minha passagem pelo Fórum Civil. Não serão esquecidos.

Aos meus companheiros de equipa, pelas muitas vitórias e bons momentos vividos fora de campo.

Em especial ao Nuno Requeijão, ao João Pireza, ao Ricardo Raimundo, ao António Sequeira e por

fim, ao Pedro Pinto, pelos “nossos” dezassete anos de carreira.

Para terminar, um agradecimento especial às minhas avós, pois sei que gostariam de estar presentes

neste momento da minha vida. Guardo todas as memórias com saudade.

vi

vii

PUBLICAÇÕES

Os seguintes artigos foram publicados no seguimento da presente dissertação:

(i) Almeida, R., Boavida, I., Pinheiro, A. 2014. Abrigos laterais para peixes a jusante de

centrais hidroeléctricas – modelação numérica da disponibilidade de habitat. Actas do 12º

Congresso da Água, 5 a 8 de Março de 2014, Lisboa.

(ii) Almeida, R., Boavida, I., Pinheiro, A. 2014. Assesment of trout habitat suitability fish

shelters downstream a hydropower dam. Procedimentos do 10th International Symposium

on Ecohydraulics, 23 a 27 de Junho de 2014, Trondheim, Noruega.

(iii) Almeida, R., Boavida, I., Pinheiro, A. 2014. Habitat numerical modelling to assess fish

shelter design under hydropeaking conditions. 7th River Flow – International Conference

on Fluvial Hydraulics, 3 a 5 de Setembro, Lausanne, Suiça. Submetido.

viii

ix

ÍNDICE

1 Introdução ........................................................................................................... 1

1.1 Enquadramento ....................................................................................................................... 1

1.2 Objectivos ................................................................................................................................ 2

1.3 Estrutura da dissertação .......................................................................................................... 2

2 Síntese de conhecimentos ................................................................................ 5

2.1 Hydropeaking........................................................................................................................... 5

2.1.1 Caracterização e condicionamentos de estudo .................................................................. 5

2.1.2 Consequências .................................................................................................................... 6

2.1.3 Medidas de mitigação .......................................................................................................... 7

2.2 Modelos hidrodinâmicos de habitat ......................................................................................... 9

2.2.1 Considerações gerais .......................................................................................................... 9

2.2.2 Habitat Suitability Criteria e Habitat Suitability Index ........................................................ 11

2.2.3 River2D .............................................................................................................................. 14

2.2.4 Casimir Fish 2D ................................................................................................................. 15

2.3 Espécies estudadas .............................................................................................................. 16

2.3.1 Truta .................................................................................................................................. 16

2.3.2 Barbo ................................................................................................................................. 18

3 Modelação numérica ........................................................................................ 21

3.1 Calibração do modelo numérico ............................................................................................ 21

3.1.1 Considerações gerais ........................................................................................................ 21

3.1.2 Instalação experimental ..................................................................................................... 21

3.2.1.1 Introdução .................................................................................................................. 21

3.2.1.2 Configurações testadas ............................................................................................. 22

3.2.1.3 Conclusões ................................................................................................................ 23

3.2.2 Modelo numérico ............................................................................................................... 24

3.2.2.1 Introdução .................................................................................................................. 24

3.2.2.2 Condições de simulação ........................................................................................... 24

3.3 Análise de resultados ............................................................................................................ 24

x

4 Análise de novas configurações para os abrigos laterais ............................ 29

4.2 Configurações criadas ........................................................................................................... 29

4.3 Análise de resultados ............................................................................................................ 31

4.3.1 Valores de HHS e WUA para as configurações criadas ................................................... 31

4.3.2 Análise dos resultados obtidos para as trutas ................................................................... 37

4.3.2.1 Considerações gerais ................................................................................................ 37

4.3.2.2 Conclusões ................................................................................................................ 50

4.3.3 Análise dos resultados obtidos para os barbos ................................................................. 51

4.3.3.1 Considerações Gerais ............................................................................................... 51

4.3.3.2 Conclusões ................................................................................................................ 57

5 Aplicação dos abrigos a um curso de água natural – rio Ocreza ................ 59

5.1 Introdução .............................................................................................................................. 59

5.2 Disponibilidade de habitat no rio Ocreza ............................................................................... 59

5.3 Abrigos utilizados .................................................................................................................. 61

5.4 Resultados ............................................................................................................................. 63

5.4.1 Valores de WUA no rio Ocreza ......................................................................................... 63

5.4.2 Disponibilidade de habitat nos abrigos .............................................................................. 69

5.4.3 Conclusões ........................................................................................................................ 71

6 Conclusões e recomendações ........................................................................ 77

6.1 Conclusões ............................................................................................................................ 77

6.2 Recomendações .................................................................................................................... 80

Bibliografia .............................................................................................................. 81

Anexos........................................................................................................................ I

Anexo A – Malhas de elementos finitos. Configurações C ................................................................... I

Anexo B – Malhas de elementos finitos. Novas configurações .......................................................... III

xi

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1 - Evolução da produção de energia eléctrica a partir de energias renováveis. Ano de 2013

provisório (Fonte: DGEG, 2013) .............................................................................................................. 1

Figura 2.1 - Parâmetros utilizados para classificar rápidas flutuações do escoamento ......................... 5

Figura 2.2 - Esquema de bacia de compensação (Schweizer et al., 2009) ............................................ 8

Figura 2.3 - Esquema de ensaio laboratorial realizado por Meile (2008) com o objectivo de estudar a

influência das macro-rugosidades no escoamento ................................................................................. 8

Figura 2.4 - Esquema de instalação laboratorial de abrigo para peixes - planta (Ribi et al., 2009) ....... 9

Figura 2.5 - Truta-de-rio (Filipe Ribeiro) ................................................................................................ 16

Figura 2.6 - Riffle (Bain and Stevenson, 1999) ..................................................................................... 16

Figura 2.7 - Curvas de preferência - Truta Juvenil (Inverno-Primavera) .............................................. 17

Figura 2.8 - Curvas de preferência - Truta Juvenil (Verão-Outono) ..................................................... 17

Figura 2.9 - Curvas de preferência - Truta Adulta (Inverno-Primavera) ............................................... 17

Figura 2.10 - Curvas de preferência - Truta Adulta (Verão-Outono) .................................................... 18

Figura 2.11 - Barbo-comum (DGRF) ..................................................................................................... 18

Figura 2.12 - Curvas de preferência - Barbo Juvenil ............................................................................ 19

Figura 2.13 - Curvas de preferência - Barbo Adulto ............................................................................. 19

Figura 3.1 - Esquema em planta da instalação experimental com obstáculo na zona do abrigo......... 21

Figura 3.2 - Esquema 3D da instalação laboratorial (vista de montante) ............................................. 21

Figura 3.3 - Área de referência (a tracejado) das configurações testadas ........................................... 22

Figura 3.4 - Configurações testadas (adaptado de Ribi (2011)) ........................................................... 23

Figura 3.5 - Taxas de presença observadas nas configurações testadas na instalação experimental 23

Figura 3.6 - Malha de elementos finitos. Configuração C8 (River2D) .................................................. 24

Figura 3.7 - Área analisada para determinar o valor de HHS ............................................................... 25

Figura 3.8 - Relação entre a taxa de presença e o HHS - Trutas juvenis (Inverno-Primavera) ........... 25

Figura 3.9 - Relação taxa de presença - HHS para as espécies estudadas. VO – Verão-Outono; IP –

Inverno Primavera. ................................................................................................................................ 27

Figura 4.1 – Novas configurações para o abrigo .................................................................................. 29

Figura 4.2 - Profundidades (m) na configuração C0 ............................................................................. 31

Figura 4.3 - Distribuição de DSI - Truta Juvenil – Inverno-Primavera .................................................. 32

Figura 4.4 - Distribuição de DSI - Truta Adulta – Inverno-Primavera ................................................... 32

Figura 4.5 - Distribuição de DSI - Truta Juvenil – Verão-Outono.......................................................... 33

Figura 4.6 - Distribuição de DSI - Truta Adulta – Verão-Outono........................................................... 33

Figura 4.7 - Distribuição de DSI - Barbo Juvenil ................................................................................... 33

Figura 4.8 - Distribuição de DSI - Barbo Adulto .................................................................................... 34

Figura 4.9 - Ganhos/perdas de HHS em relação à configuração C0 – Trutas (IP – Inverno Primavera;

VO – Verão-Outono) .............................................................................................................................. 36

Figura 4.10 - Ganhos/perdas de HHS em relação à configuração C0 - Barbos ................................... 36

Figura 4.11 - Configuração A ................................................................................................................ 38

xii

Figura 4.12 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração A ............................ 38

Figura 4.13 - Distribuição de VSI na configuração A - Truta Juvenil (Inverno-Primavera) ................... 39

Figura 4.14 - Distribuição de CSI na configuração A - Truta Juvenil (Inverno-Primavera) ................... 39

Figura 4.15 - Distribuição de VSI na configuração A - Truta Adulta (Verão-Outono) ........................... 40

Figura 4.16 - Distribuição de CSI na configuração A - Truta Adulta (Verão-Outono) ........................... 40

Figura 4.17 - Configuração B ................................................................................................................ 41

Figura 4.18 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração B ............................ 41

Figura 4.19 - Distribuição de VSI na configuração B - Truta Juvenil (Inverno-Primavera) ................... 42

Figura 4.20 - Distribuição de CSI na configuração B - Truta Juvenil (Inverno-Primavera) ................... 42

Figura 4.21 - Distribuição de VSI na configuração B - Truta Adulta (Inverno-Primavera) .................... 43

Figura 4.22 - Distribuição de CSI na configuração B - Truta Adulta (Inverno-Primavera) .................... 43

Figura 4.23 - Distribuição de VSI na configuração B - Truta Adulta (Verão-Outono) ........................... 44

Figura 4.24 - Distribuição de CSI na configuração B - Truta Adulta (Verão-Outono) ........................... 44

Figura 4.25 - Configuração H ................................................................................................................ 45

Figura 4.26 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração H ............................ 45

Figura 4.27 - Distribuição de VSI na configuração H - Truta Juvenil (Verão-Outono) .......................... 46

Figura 4.28 - Distribuição de CSI na configuração H - Truta Juvenil (Verão-Outono) .......................... 46

Figura 4.29 - Configuração J ................................................................................................................. 47

Figura 4.30 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração J ............................ 47

Figura 4.31 - Distribuição de VSI na configuração J - Truta Juvenil (Verão-Outono) ........................... 48

Figura 4.32 - Distribuição de CSI na configuração J - Truta Juvenil (Verão-Outono) .......................... 48

Figura 4.33 - Configuração K ................................................................................................................ 49

Figura 4.34 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração K ............................ 49

Figura 4.35 - Distribuição de VSI na configuração K - Truta Adulta (Inverno-Primavera) .................... 50

Figura 4.36 - Distribuição de CSI na configuração K - Truta Adulta (Inverno-Primavera) .................... 50

Figura 4.37 - Configuração C ................................................................................................................ 51

Figura 4.38 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração C ............................ 52

Figura 4.39 - Distribuição de VSI na configuração C - Barbo Juvenil ................................................... 52

Figura 4.40 - Distribuição de CSI na configuração C - Barbo Juvenil ................................................... 53

Figura 4.41 - Configuração D ................................................................................................................ 53

Figura 4.42 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração D ............................ 54

Figura 4.43 - Distribuição de VSI na configuração D - Barbo Juvenil ................................................... 54

Figura 4.44 - Distribuição de CSI na configuração D - Barbo Juvenil ................................................... 54

Figura 4.45 - Distribuição de VSI na configuração H - Barbo Juvenil ................................................... 55

Figura 4.46 - Distribuição de CSI na configuração H - Barbo Juvenil ................................................... 55

Figura 4.47 - Distribuição de VSI na configuração J - Barbo Adulto ..................................................... 56

Figura 4.48 - Distribuição de CSI na configuração J - Barbo Adulto .................................................... 56

Figura 4.49 - Distribuição de VSI na configuração K - Barbo Adulto .................................................... 57

Figura 4.50 - Distribuição de CSI na configuração K - Barbo Adulto .................................................... 57

Figura 5.1 - Localização do rio Ocreza (Boavida, 2012) ....................................................................... 59

xiii

Figura 5.2 - Curvas Caudal - WUA - Área molhada - HHS para o Barbo no rio Ocreza ...................... 60

Figura 5.3 - Abrigo utilizado no rio Ocreza ............................................................................................ 61

Figura 5.4 - Localização dos abrigos (1,2 e 3) (River2D) ..................................................................... 62

Figura 5.5 - Esquema 3D do abrigo ...................................................................................................... 63

Figura 5.6 - Curva Caudal - WUA com abrigos (Barbo Juvenil) ........................................................... 63

Figura 5.7 - Curva Caudal - WUA com abrigos (Barbo Adulto) ............................................................ 64

Figura 5.8 - Profundidade (m) para os para os caudais de 50, 60 e 80 m3/s ....................................... 65

Figura 5.9 - Velocidade do escoamento (m/s) para os caudais de 50, 60 e 80 m3/s ........................... 66

Figura 5.10 - Distribuição de CSI (Barbo Juvenil) no rio Ocreza .......................................................... 67

Figura 5.11 - Distribuição de CSI (Barbo Adulto) no rio Ocreza ........................................................... 68

Figura 6.1- Curvas de preferência para as trutas (esquerda – juvenil, direita – adulta) (as curvas de

preferência do rio Lima estão assinaladas a vermelho) (adaptado de Vismara et al., 2001) ............... 78

xiv

xv

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1 - Medidas de mitigação e impactes associados (+ impacte positivo, - impacte negativo) .. 9

Tabela 3.1 - Valores de HHS e WUA para as configurações testadas na instalação experimental..... 26

Tabela 4.1 - Descrição das novas configurações testadas ................................................................... 30

Tabela 4.2 - Valores aproximados de HSI para as alturas de escoamento no intervalo considerado –

Rio Lima................................................................................................................................................. 31

Tabela 4.3 - Valores de HHS e de WUA para as configurações testadas ............................................ 35

Tabela 5.1 - Cota de soleira dos abrigos .............................................................................................. 62

Tabela 5.2 - Distribuição de CSI no Abrigo 1 ........................................................................................ 69

Tabela 5.3 - Distribuição de CSI no Abrigo 2 ........................................................................................ 70

Tabela 5.4 - Distribuição de CSI no Abrigo 3 ........................................................................................ 70

Tabela 5.5 - Distribuição de DSI no Abrigo 1 ........................................................................................ 71

Tabela 5.6 - Distribuição de DSI no Abrigo 2 ........................................................................................ 72

Tabela 5.7 - Distribuição de DSI no Abrigo 3 ........................................................................................ 72

Tabela 5.8 - Distribuição de VSI no Abrigo 1 ........................................................................................ 73

Tabela 5.9 - Distribuição de VSI no Abrigo 2 ........................................................................................ 74

Tabela 5.10 - Distribuição de VSI no Abrigo 3 ...................................................................................... 74

Tabela 6.1 - Melhores configurações e ganhos de HHS em relação à configuração C0 ..................... 79

xvi

xvii

SIGLAS

CFD Computational Fluid Dynamics

CISI Channel Index Suitability Index

CSI Combined Suitability Index

DSI Depth Suitability Index

DGEG Direcção Geral de Energia e Geologia

GPS Global Positioning System

HHS Hydraulic Habitat Index

HSC Habitat Suitability Criteria

HSI Habitat Suitability Index

IFIM Instream Flow Incremental Methodology

PHABSIM Physical Habitat Simulation

REN21 Renewable Energy Policy Network for the 21st Century

VSI Velocity Suitability Index

WUA Weighted Usable Area

xviii

xix

SIMBOLOGIA

𝝆 Massa volúmica da água

𝝉𝒊𝒋 Tensão exercida no plano perpendicular a i na direção j

Ai Área de influência do nó i

g Aceleração da gravidade

h Altura do escoamento

Ks Coeficiente de rugosidade absoluta

n Número de nós

qi Caudal na direcção i

S0i Declive do leito do canal na direcção i

Sfi Perda de carga unitária

t Tempo

U Velocidade média do escoamento na direcção x

V Velocidade média do escoamento na direcção y

xx

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 ENQUADRAMENTO

A energia hídrica ou hidroenergia é uma das fontes de energia renováveis mais antigas da

humanidade, tendo sido inicialmente utilizada para fins agrícolas e industriais. À medida que as

necessidades energéticas das populações têm vindo a aumentar, a utilização da energia

hídrica tem-se concentrado na produção de energia hidroeléctrica, a qual tem adquirido

importância crescente no mercado energético a nível global.

Actualmente, a hidroenergia é a forma de energia renovável mais utilizada, assegurando cerca

de 16% da energia eléctrica consumida a nível mundial, com uma potência total instalada de

990 GW, excluindo os sistemas mistos, e uma produção média anual de cerca de 3700 Twh

em 2012 (REN21, 2012). Em Portugal, em 2012, a produção de hidroenergia foi de cerca de

6660 Gwh (DGEG, 2013), o que corresponde a cerca de 32% do total da energia gerada

através de fontes renováveis. A nível nacional a tendência é para o crescimento de produção

de energia eléctrica a partir da energia hídrica (Figura 1.1).

Figura 1.1 - Evolução da produção de energia eléctrica a partir de energias renováveis. Ano de

2013 provisório (Fonte: DGEG, 2013)

A produção de energia hidroeléctrica implica a construção de barragens, cujas albufeiras de

regularização alteram o regime natural do escoamento a jusante. O regime de escoamento a

jusante das centrais hidroeléctricas está condicionado pela necessidade de produção de

energia, que, por sua vez, depende dos consumos e da distribuição da produção pelos

diversos centros produtores. A rápida alteração dos caudais a jusante das centrais

hidroeléctricas decorrente da produção de energia para satisfação de consumos de ponta é um

dos factores que afecta as populações de peixes a jusante destes aproveitamentos, e dá

origem a um regime de escoamento habitualmente designado, de forma bastante compacta,

2

por hydropeaking, na terminologia anglo-saxónica. Este é o termo que se adoptará na presente

dissertação.

As variações rápidas de caudal, e as consequentes variações de nível, afectam o ecossistema

aquático, sendo um dos factores de maior stress, em particular, para a fauna piscícola (Scruton

et al., 2008). De forma a mitigar os impactes sentidos por estas populações, os abrigos laterais

para peixes são apontados como uma das mais promissoras medidas de mitigação estruturais

para o hydropeaking. Devido à dificuldade de execução de ensaios em protótipos, a

conjugação de ensaios em instalações experimentais com simulações numéricas dos regimes

de escoamento e das condições de habitat é o modo mais viável para testar a eficiência dos

abrigos.

Com o objectivo de avaliar a disponibilidade de habitat dos abrigos laterais para peixes, Ribi

(2011) realizou, no âmbito de uma dissertação de doutoramento, uma série de ensaios

experimentais cujos resultados são comparados com os obtidos através de simulações

numéricas. Validando o modelo numérico com base nos referidos ensaios, analisar-se-ão

geometrias alternativas para os abrigos testados por Ribi (2011), de forma a aumentar a

disponibilidade de habitat dos mesmos e ainda para extrapolar a sua utilização num curso de

água natural.

1.2 OBJECTIVOS

O presente estudo tem como objectivo principal aferir a eficiência de abrigos laterais para

peixes a jusante de centrais hidroeléctricas que funcionem em regime de hydropeaking. Para

concretizar o referido objectivo será necessário:

1. Efectuar a modelação numérica 2D dos escoamentos num canal rectangular com um

abrigo lateral para peixes, com diferentes configurações, em conformidade com o

testado por Ribi (2011);

2. Utilizar curvas de preferência de habitat, de forma a estudar a disponibilidade de

habitat proporcionada por cada tipo de abrigo para as diferentes espécies e estágios de

desenvolvimento;

3. Comparar os resultados das simulações numéricas e da instalação experimental, de

modo a verificar a validade das mesmas;

4. Estudar formas de abrigo alternativas às estudadas por Ribi (2011);

5. Estudar as condições de aplicação e a eficiência destes abrigos laterais para peixes

quando aplicados a um curso de água natural.

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A presente dissertação encontra-se dividida em 6 capítulos. No primeiro, de introdução,

apresenta-se o enquadramento do tema e enunciam-se os objectivos do estudo. No capítulo 2

é apresentado o conceito de hydropeaking e uma introdução à modelação hidrodinâmica

3

bidimensional e de habitat, sendo referidos alguns modelos computacionais presentemente

utilizados para o efeito, e são descritas as espécies piscícolas consideradas no estudo. No

capítulo 3 descreve-se a calibração do modelo e apresentam-se a comparação entre

resultados experimentais e de simulações numéricas. No capítulo 4 são apresentadas novas

configurações para os abrigos, que foram desenvolvidas com o objectivo de aumentar a

disponibilidade de habitat nos mesmos. No capítulo 5 são apresentadas as simulações

correspondentes à aplicação dos abrigos laterais a um curso de água natural, o rio Ocreza, e é

analisada a variação da disponibilidade de habitat no troço analisado. Por fim, no último

capítulo, são apresentadas as conclusões gerais desta dissertação e algumas recomendações

para trabalhos futuros.

4

5

2 SÍNTESE DE CONHECIMENTOS

2.1 HYDROPEAKING

2.1.1 CARACTERIZAÇÃO E CONDICIONAMENTOS DE ESTUDO

As centrais hidroeléctricas com albufeira de armazenamento destinadas à produção de

electricidade são responsáveis pelo fenómeno de hydropeaking (Ribi et al., 2009). A alteração

do regime natural de escoamento, causado pelos picos de produção de energia hidroeléctrica,

difere substancialmente dos regimes de cheias naturais, quer na frequência, quer na variação

temporal do caudal, quer na magnitude. Este fenómeno pode assim ser definido como a

variação rápida do caudal escoado num troço de um curso de água imediatamente a jusante

duma central hidroeléctrica. Estas variações abruptas e frequentes de caudal afectam o

ecossistema aquático a jusante, com especial incidência na fauna piscícola. As elevadas

velocidades de escoamento podem levar à morte dos peixes inclusive (Jungwirth et al., 2003) e

pelas reduções rápidas de habitat, que podem implicar a retenção dos peixes em zonas que,

por redução do nível, ficam isoladas do leito onde ocorre o escoamento.

Na Figura 2.1 são representados os parâmetros utilizados para classificar as rápidas flutuações

do caudal: razão entre caudal máximo e o caudal mínimo, taxa de variação da altura de

escoamento e taxa de variação do caudal.

A razão entre o caudal máximo e o caudal mínimo é obtida através da divisão do maior

valor de caudal registado pelo caudal de base. Este parâmetro pode ser também

utilizado para classificar cheias.

A taxa de variação da altura de escoamento é representada pela taxa de variação do

nível da água ao longo do tempo. Este rácio pode ser maior quando o caudal aumenta

devido a fenómenos de precipitação intensa.

A taxa de variação do caudal é o tempo decorrido entre dois picos no hidrograma. A

frequência com que estes picos ocorrem também pode ser um parâmetro de

caracterização das flutuações do escoamento.

Seria de esperar uma maior frequência nos períodos da manhã e do final do dia, quando as

necessidades de electricidade são maiores. No entanto, como consequência das alterações

existentes na utilização de energias renováveis, estes padrões têm sofrido mudanças nos

últimos anos.

Figura 2.1 - Parâmetros utilizados para classificar rápidas flutuações do escoamento

(Harby et al., 2013)

6

Os estudos em protótipo dos regimes de hydropeaking não são fáceis de realizar, dadas as

implicações que têm na operação das centrais hidroeléctricas, e consequentemente, na

produção de energia, pelo que, alternativamente, se recorre a ensaios em instalações

experimentais. Estes ensaios permitem mais facilmente analisar determinados aspectos

específicos de forma sistemática, desde que as condições sejam próximas das reais. A

reprodução de condições morfológicas naturais (como por exemplo o substrato, o escoamento

subterrâneo e a dinâmica de sedimentos) é difícil (Harby et al., 2013).

De forma a obter resultados válidos e conseguir reproduzir o regime de hydropeaking

aconselha-se assim a utilização de estudos em protótipo conjugada com simulações

numéricas.

2.1.2 CONSEQUÊNCIAS

As características físicas num rio podem ser variadas, nomeadamente no que diz respeito às

condições hidráulicas, temperatura, gelo, visibilidade, cobertura, substrato e erosão. No

entanto, as alterações introduzidas pelo homem nos cursos de água naturais podem levar a

severas alterações ambientais no rio e a criar condições insuportáveis para os organismos que

lá habitam. Assim, os impactes causados pelo hydropeaking num rio podem ser divididos em

três grupos: impactes morfológicos, na qualidade da água e biológicos.

Dentro dos impactes morfológicos no rio o denominador comum é a erosão. Este fenómeno

afecta não só as margens e leito do rio, como potencia a existência de sedimentos em

suspensão na coluna de água. Com uma diminuição da altura de escoamento podem ser

criadas zonas secas junto às margens. No que diz respeito à qualidade da água, o

hydropeaking pode criar alterações ao nível da temperatura da água, na sua turbidez e

aumentar a vegetação existente na massa de água.

Em termos de impactes biológicos, sentidos de uma forma directa pelos peixes, pode referir-se

a possibilidade de existirem peixes encalhados (i.e. que não conseguiram regressar a tempo ao

centro do canal durante a diminuição do caudal após o turbinamento), o aumento do stress

sentido pelos mesmos devido às constantes variações de caudal, a necessidade dos peixes

utilizarem mais energia para lidar com as elevadas velocidades de escoamento causando a

sua fadiga, a redução de áreas disponíveis para reprodução e o possível arrastamento pela

corrente, com especial incidência nos estágios juvenis.

Em rios de cabeceira, como nos Alpes por exemplo, a salmo trutta fario é uma das espécies

que mais sofre com este regime. Os leitos de desova correm o risco de ficarem secos e o

habitat junto às margens para as populações juvenis pode desaparecer (Liebig et al., 1998).

Sem um refúgio apropriado e com a necessidade de um maior uso de energia por parte dos

peixes para sobreviver, torna-se difícil a sua sobrevivência durante o Inverno.

7

2.1.3 MEDIDAS DE MITIGAÇÃO

Dentro das medidas de mitigação podem ser definidos dois grupos: medidas operacionais e

medidas estruturais.

As medidas operacionais dizem respeito à operação da central hidroeléctrica, e têm como

principais objectivos diminuir o caudal de ponta (ou pico) e diminuir a taxa de variação da altura

de escoamento. A melhor medida para evitar os impactes negativos do hydropeaking é alterar

o caudal restituído de uma forma tão lenta que permita aos organismos adaptarem-se às novas

condições de escoamento no rio, a jusante da central hidroeléctrica. Como medida adicional, e

se possível, pode ser útil aumentar ou diminuir o caudal escoado de uma forma lenta que

funcione como “sinal de alerta” para os peixes e restantes organismos. Estas medidas estão

directamente relacionadas com as válvulas de seccionamento e turbinas existentes nas

centrais, pelo que podem ser mais difíceis de executar.

Existem alguns riscos associados às medidas operacionais, como por exemplo:

A possibilidade de existirem peixes encalhados no leito do rio quando o hydropeaking

ocorre após um longo período de caudais elevados e quando a redução do caudal é

feita de forma abrupta;

A redução do caudal feita durante os períodos diurnos é mais preocupante uma vez

que os peixes tendem a refugiar-se visualmente no substrato ou junto a raízes e outros

detritos, podendo ficar encalhados nesses refúgios após a paragem das turbinas. No

Inverno, esta situação tende a ser mais alarmante devido aos baixos níveis energéticos

das espécies;

A possibilidade de efectuar manobras de fecho que coloquem em causa a segurança

da central hidroeléctrica, devido aos regimes transitórios.

Clarke et al. (2008) sugere três medidas de mitigação para as operações hidráulicas:

Assegurar que o caudal de base que ocorre num rio é suficiente para manter um

ecossistema sustentável;

O aumento do caudal deve mimetizar um aumento natural do caudal, como nas cheias

de pequena dimensão;

A taxa de variação de caudal deve ser ajustada aos comportamentos diurnos das

espécies existentes.

As medidas estruturais estão relacionadas com as alterações morfológicas do rio de forma a

melhorar as condições de habitat para os peixes. Estas alterações têm como base a criação de

estruturas artificiais.

Uma das opções a considerar pode passar por evitar a restituição do caudal turbinado para o

rio, utilizando um lago ou um canal paralelo ao rio para o efeito. Outra abordagem pode ser a

de uma restituição controlada do caudal turbinado com o objectivo de tornar o regime de

8

escoamento próximo do natural, utilizando uma bacia de compensação. Por fim, pode ainda ser

feita uma melhoria das condições morfológicas do rio ou construir abrigos para os peixes nas

margens do rio.

A criação de uma bacia de compensação pode criar um espaço para fins de lazer ou ainda

permitir que a água seja turbinada novamente, caso a queda útil se revele favorável para a

produção de energia. Com a criação desta bacia, parte do caudal turbinado seria restituído

directamente no rio (aproximando a descarga a um regime natural), sendo o caudal excedente

restituído na bacia. Na Figura 2.2 pode ser observado um esquema de uma possível solução

com bacia de compensação.

Figura 2.2 - Esquema de bacia de compensação (Schweizer et al., 2009)

Com o objectivo de melhorar as condições morfológicas do rio podem ser criadas macro-

rugosidades nas margens do rio (Figura 2.3), que aumentam a resistência ao escoamento e

criam condições de abrigo.

Figura 2.3 - Esquema de ensaio laboratorial realizado por Meile (2008) com o objectivo de

estudar a influência das macro-rugosidades no escoamento

De forma a criar melhores condições de habitat para a fauna piscícola podem ser construídos

abrigos para os mesmos. Estes abrigos são instalados ou construídos nas margens do rio,

podendo ter diversas configurações, com o objectivo de criar padrões de velocidade atractivos

para as espécies que nele habitam. Com a introdução de obstáculos na zona de entrada do

abrigo é possível melhorar as condições hidráulicas do escoamento aumentando a efectividade

9

do mesmo. Na Figura 2.4 é possível observar um esquema de uma instalação laboratorial com

o objectivo de estudar a efectividade de um abrigo lateral para peixes.

Figura 2.4 - Esquema de instalação laboratorial de abrigo para peixes - planta (Ribi et al., 2009)

As medidas de mitigação teriam, preferencialmente, impactes positivos tanto nos rios como nas

espécies que lá habitam. No entanto nem todas as medidas têm só impactes positivos, pelo

que é necessário analisar também os impactes negativos que uma possível medida possa ter.

Na Tabela 2.1 é feito um resumo de possíveis medidas de mitigação e impactes associados.

Tabela 2.1 - Medidas de mitigação e impactes associados (+ impacte positivo, - impacte

negativo)

Medida de mitigação

Diminuição gradual do

caudal restituído

Aumento gradual do

caudal restituído

Bacia de compensação

Abrigos para

peixes

Impactes

Morfológicos Zonas secas junto às margens + +

-

Aumento da erosão

+ +

Qualidade da água

Alteração na temperatura da água + + + +

Alterações na turbidez + +

Biológicos

Encalhamento +

+ +

Fadiga + + + +

Arrastamento

+

+ *adaptado de Harby et al. (2013)

2.2 MODELOS HIDRODINÂMICOS DE HABITAT

2.2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

As características dos escoamentos em canais naturais é influenciada por diversos factores,

como por exemplo a existência de sedimentos, as características topográficas e a

permeabilidade do leito. O escoamento interage com os sedimentos e com as características

topográficas do rio criando complexos padrões de escoamento que variam não só no espaço

10

mas também no tempo (Crowder et al., 2000). Estas interacções entre o escoamento e as

características topográficas revelam-se fundamentais para compreender e determinar a

adequabilidade de habitat existente num rio. Os modelos hidrodinâmicos, quando utilizados de

forma isolada, nada dizem quanto à adequabilidade de um determinado habitat para uma certa

espécie. Desta forma, é necessário juntar a estes modelos um modelo biológico de selecção de

habitat, como por exemplo o Habitat Suitability Criteria (HSC) (Bovee, 1982).

As alterações provocadas pelo homem no regime natural de escoamento podem danificar ou

destruir totalmente os habitats existentes num rio sendo que, sempre que se regista alguma

alteração ao escoamento, são efectuados estudos para determinar as condições de habitat

disponíveis. Para efectuar estes estudos a Dinâmica de Fluídos Computacional (CFD –

Computational Fluid Dynamics) tornou-se uma técnica fundamental para fornecer previsões

quantitativas não só temporais como espaciais das características do escoamento em cursos

de água naturais (Leclerc et al., 1995). É importante determinar as variações espaciais do

escoamento devido ao seu papel vital na determinação do tipo, qualidade e quantidade de

habitat disponível num curso de água.

Os métodos para previsão das características do escoamento podem ser divididos em quatro

categorias: (1) modelos tridimensionais (3D), (2) modelos bidimensionais (2D), (3) modelos

unidimensionais (1D) e (4) modelos não numéricos. Os três primeiros são baseados em

informação espacial do escoamento em três, duas e numa só dimensão, respectivamente,

sendo que o último inclui medidas e observações feitas no local. Tal como o nome indica, os

modelos 3D permitem determinar as propriedades do escoamento em três dimensões,

longitudinal (em direcção a jusante – eixo x), transversal (eixo y) e vertical (eixo z). Os modelos

2D determinam as propriedades do escoamento nas direcções longitudinal e transversal, sendo

que os modelos 1D apenas permitem determinar estas mesmas propriedades na direcção

longitudinal.

Hoje em dia a utilização de modelos 2D é mais vantajosa que a utilização de modelos 3D,

devido às capacidades computacionais necessárias não serem tão exigentes. A utilização

destes modelos bidimensionais é considerada suficiente para a maior parte das utilizações

existentes na ecohidráulica (Rodi et al., 1981) e tem também a vantagem de poder ser utilizada

numa escala comparável à escala do microhabitat dos peixes.

Os modelos 1D de modelação de escoamento analisam um troço de rio dividindo-o em células

(ou subsecções) em que cada uma delas tem um único valor de profundidade do escoamento e

velocidade de escoamento associado (Bovee, 1978). Assim, qualquer variação espacial no

escoamento, como os gradientes de velocidade que se propagam na direcção transversal não

podem ser modelados por estes modelos. Consequentemente, a utilização de modelos 2D em

estudos de habitat pode ser superior em relação à utilização de modelos 1D em diversos

aspectos (Bovee,1996). A grande vantagem dos modelos bidimensionais está relacionada com

a possibilidade de quantificar as variações espaciais do escoamento que influenciam o habitat

11

disponível, sem exigir as capacidades computacionais dos modelos 3D. De forma a explorar

totalmente as capacidades dos modelos 2D, os modelos hidráulicos precisam que as malhas

utilizadas sejam adequadas para reproduzir de forma exacta a topografia do leito que

determina as condições de habitat disponíveis para as espécies em estudo (Crowder et al.,

2000).

A utilização de modelos 2D para prever as características de escoamento importantes para o

habitat consiste primariamente em 3 passos (Crowder et al., 2000): (1) determinar o tipo e a

escala dos padrões de escoamento importantes para o estudo; (2) determinar a batimetria do

local a uma escala adequada que permita ao modelo reproduzir as variações espaciais do

escoamento relevantes para o estudo; e (3) refinar a malha do modelo a um nível que forneça

uma solução com uma resolução aceitável.

2.2.2 HABITAT SUITABILITY CRITERIA E HABITAT SUITABILITY INDEX

Os modelos hidrodinâmicos, quando utilizados de forma isolada, nada dizem quanto à

adequabilidade de um determinado habitat para uma certa espécie. Desta forma é necessário

juntar a estes modelos um modelo biológico de selecção de habitat, o Habitat Suitability Criteria

(HSC) (Bovee, 1982).

O HSC converte as características hidráulicas do escoamento e do curso de água em índices

de adequabilidade de habitat, o chamado Índice de Adequabilidade de Habitat (Habitat

Suitability Index - HSI). O HSI representa a adequabilidade de um determinado habitat para

uma certa espécie que pode ainda ser descrita em termos de estágio de vida (juvenil, adulto) e

ser influenciada pelo período do ano. O HSI resume a preferência das espécies relativamente

aos factores abióticos, sendo os mais importantes a profundidade (Geist et al., 2000), a

velocidade do escoamento (Kynard et al., 2000), a composição do substrato (Knapp et al.,

1999) e a cobertura (Vadas et al., 2001). A velocidade do escoamento influencia a

disponibilidade de alimentos, os comportamentos de locomoção dos peixes e o seu

metabolismo (por exemplo, a respiração). A profundidade tem influência na temperatura da

água, funciona também como refúgio, afecta a disposição espacial das espécies,

nomeadamente na distância existente entre predadores e presas, podendo também ser um

factor limitador dos movimentos migratórios. O substrato é constituído pelas partículas

existentes no rio, sejam elas orgânicas ou inorgânicas, que podem servir de suporte para uma

série de actividades dos peixes, como a sua reprodução, refúgio de predadores ou de caudais

que sejam menos favoráveis. A cobertura afecta também a facilidade que os peixes têm de

encontrar refúgio e manterem-se a salvo de outros predadores. O HSI toma valores entre 0,0 e

1,0 que correspondem, respectivamente, à mínima e à máxima preferência para uma dada

espécie.

Os factores físicos acima descritos (i.e. profundidade, velocidade do escoamento, substrato e

cobertura) são variáveis abióticas que influenciam directamente a distribuição dos peixes. O

valor de HSI para estes factores pode ser determinado através do rácio da percentagem de

12

utilização (número de indivíduos observados que usam um determinado intervalo de uma

variável) com a disponibilidade desse intervalo de valores (percentagem da área do rio com

estas características). Em suma, isto significa que dada uma igual possibilidade de escolha

para os indivíduos existentes num curso de água, eles irão escolher áreas específicas que lhes

são mais favoráveis, pondo de parte outras.

Utilizar valores de HSI previamente determinados para um determinado local, em outras

regiões de características diferentes (i.e. hidrológicas, biológicas, geográficas, entre outras)

pode levantar uma série de problemas (Freeman et al., 1997). Por exemplo, os valores de HSI

podem ser influenciados pela disponibilidade de alimento, pelas relações entre espécies e pela

disponibilidade de habitat (Fausch et al., 1986). Assim deve-se, sempre que possível,

determinar os valores de HSI para o local em estudo.

O conjunto de valores de HSI determinados relativos a uma série de factores abióticos para

uma determinada espécie pode ser definido como Habitat Suitability Curve ou Curva de

Preferência de Habitat. As curvas de preferência de habitat são determinadas em diferentes

troços de rio natural ou semi-natural da mesma região através de electrofishing (pesca

eléctrica), prática que quando feita de forma correcta não traz qualquer dano permanente para

os peixes. Normalmente é feita por uma equipa de duas pessoas – uma com o eléctrodo e a

outra com uma rede para retirar o peixe da água. O troço de rio é percorrido em zig-zag de

jusante para montante para assegurar uma correcta recolha de dados. Introduzindo o eléctrodo

na água é criada uma corrente eléctrica que perturba os peixes que são então recolhidos

através da rede. É identificada a espécie e o peixe é medido por forma a aferir o seu estágio de

vida, sendo depois devolvidos à água mais para jusante do que o local onde foram recolhidos,

de forma a evitar uma segunda recolha do mesmo indivíduo. Na zona onde o peixe foi

encontrado é deixado um chumbo com uma identificação, para que posteriormente possam aí

ser medidas as variáveis abióticas – profundidade, velocidade de escoamento e substrato. De

forma a aferir sobre a disponibilidade de habitat existente naquele troço, são seleccionados um

conjunto de pontos ao longo de diferentes secções transversais (15 a 25) onde se procede à

medição das referidas variáveis abióticas. Os valores registados das variáveis abióticas são

depois divididos em classes e são construídos os respectivos histogramas de frequência de

uso (i.e. número de peixes encontrado em determinada classe de valores) e de disponibilidade

(i.e. número de pontos medidos em determinada classe de valores). O HSI é calculado tendo

em conta o quociente entre o uso e a disponibilidade, sendo depois normalizados, dividindo

pelo valor máximo, para que o valor mínimo seja 0 e o máximo 1.

As curvas de preferência de habitat têm algumas limitações, podendo não reflectir de forma

totalmente correcta o que acontece na realidade. Por exemplo, não é possível concluir que

para uma determinada espécie e estágio de vida uma velocidade de 0,3 m/s é favorável e uma

velocidade de 0,31 m/s já não é favorável. De certa forma pode referir-se que em ecologia as

transições não são nítidas, mas graduais (Mathews, 1998). Outra característica das curvas de

preferência de habitat é que consideram a independência entre factores abióticos.

13

O habitat não depende de uma só variável mas sim de um conjunto das mesmas, combinando-

se entre si, estabelecendo assim a Adequabilidade Combinada de Habitat (Combined

Suitability Index - CSI). O CSI pode ser determinado multiplicando o valor de HSI das variáveis

envolvidas, admitindo assim uma independência entre as variáveis analisadas (2.2.1).

𝐶𝑆𝐼 = 𝐷𝑆𝐼 × 𝑉𝑆𝐼 × 𝐶𝐼𝑆𝐼

(2.2.1)

Onde 𝐷𝑆𝐼 representa o Depth Suitability Index (profundidade do escoamento), 𝑉𝑆𝐼 o Velocity

Suitability Index (velocidade) e 𝐶𝐼𝑆𝐼 o Channel Index Suitability Index que pode ser relativo à

influência do substrato ou da cobertura. Se qualquer destes parâmetros for igual a zero, conduz

automaticamente a um valor de CSI semelhante. Esta foi a abordagem utilizada nesta

dissertação. O valor de CISI foi considerado 1 para qualquer uma das opções, anulando assim

o efeito do substrato e/ou cobertura.

Outra abordagem para o cálculo do CSI é a média geométrica (2.2.2) (Korman et al., 1994).

Este método reduz o peso de índices HSI mais elevados comparativamente com os restantes.

Por exemplo, tendo um valor de DSI e VSI de 0,1 e um CISI de 0,9, a média geométrica dará

um valor mais alto para o CSI do que o produto dos três parâmetros, atenuando assim a

influência do parâmetro com preferência mais elevada.

𝐶𝑆𝐼 = √𝐷𝑆𝐼 × 𝑉𝑆𝐼 × 𝐶𝐼𝑆𝐼3

(2.2.2)

Após determinados os valores de CSI é possível determinar a Superfície Ponderada Útil

(Weighted Usable Area - WUA). A WUA é a área (m2) que pode eventualmente ser utilizada por

uma determinada espécie e é calculada através da multiplicação da área de influência de cada

nó da malha pelo valor de CSI do mesmo:

𝑊𝑈𝐴 = ∑ 𝐶𝑆𝐼𝑖 ∗ 𝐴𝑖

𝑛

𝑖=1

(2.2.3)

Onde 𝐴𝑖 é a área de influência do nó i e 𝑛 é o número de nós.

A WUA depende do caudal existente pois influencia directamente as velocidades e

profundidades de escoamento num rio. A validade deste parâmetro tem sido discutida, pelo

que a Disponibilidade Hidráulica de Habitat (Hydraulic Habitat Suitability – HHS) (Stalnaker et

al., 1995) pode revelar-se um índice mais adequado para quantificar o habitat existente.

O HHS resulta da divisão da WUA pela área ocupada pelo escoamento, eliminando assim a

influência da área molhada. Desta forma é possível comparar diferentes troços de rio, avaliar

cenários de caudal e aferir sobre diferentes configurações de abrigo de uma forma mais

precisa. O índice HHS varia tal como os anteriores entre 0,0 e 1,0.

14

2.2.3 RIVER2D

O modelo River 2D (Steffler, 2000) foi um dos modelos utilizados neste estudo para determinar

o habitat disponível. É um modelo numérico de elementos finitos que resolve as equações de

conservação da massa e de conservação da quantidade de movimento, considerando as

componentes horizontais da velocidade (segundo x e y) e os respectivos valores médios em

profundidade (Steffler et al., 2002).

O princípio de conservação da massa é expresso pela equação (2.2.4).

𝜕ℎ

𝜕𝑡+

𝜕𝑞𝑥

𝜕𝑥+

𝜕𝑞𝑦

𝜕𝑦= 0 (2.2.4)

As equações de conservação da quantidade de movimento são:

𝜕𝑞𝑥

𝜕𝑡+

𝜕

𝜕𝑥(𝑈𝑞𝑥) +

𝜕

𝜕𝑦(𝑉𝑞𝑥) +

𝑔

2

𝜕

𝜕𝑥ℎ2 = 𝑔ℎ(𝑆0𝑥 − 𝑆𝑓𝑥) +

1

𝜌(

𝜕

𝜕𝑥(ℎ𝜏𝑥𝑥)) +

1

𝜌(

𝜕

𝜕𝑦(ℎ𝜏𝑥𝑦))

(2.2.5)

𝜕𝑞𝑥

𝜕𝑡+

𝜕

𝜕𝑥(𝑈𝑞𝑦) +

𝜕

𝜕𝑦(𝑉𝑞𝑦) +

𝑔

2

𝜕

𝜕𝑦ℎ2 = 𝑔ℎ(𝑆0𝑥 − 𝑆𝑓𝑦) +

1

𝜌(

𝜕

𝜕𝑥(ℎ𝜏𝑦𝑥)) +

1

𝜌(

𝜕

𝜕𝑦(ℎ𝜏𝑦𝑦))

(2.2.6)

Em que:

ℎ - profundidade;

𝑞𝑥 e 𝑞𝑦- caudais na direcção x e y, respectivamente;

𝑡 – tempo;

𝑈 e 𝑉 – velocidades médias do escoamento na direcção x e y;

𝑔 – aceleração da gravidade;

𝑆0𝑖 – declive do leito do canal na direcção i;

𝑆𝑓𝑖 – perda de carga unitária;

𝜌 – massa volúmica da água;

𝜏𝑖𝑗 – tensão exercida no plano perpendicular a i na direcção j.

Os dados de entrada do modelo River2D são a caracterização topográfica do leito do rio, os

valores da rugosidade do leito do rio, as condições de fronteira e as condições iniciais de

escoamento.

A caracterização topográfica têm uma importância fundamental no rigor dos resultados obtidos,

pelo que deve ser suficientemente detalhada para reproduzir com rigor o leito do curso de água

e, consequentemente, as condições de habitat. Depois de recolhidos os dados, é aconselhada

a criação de um modelo digital do terreno antes de ser utilizado no modelo 2D, por forma a

verificar a adequação da topografia utilizada.

15

A rugosidade no leito do rio, em cada nó da malha, é caracterizada pelo coeficiente de

rugosidade absoluta, Ks. Uma observação do material constituinte do leito e das margens é

suficiente para estabelecer uma aproximação de valores para o parâmetro Ks. A calibração do

modelo consiste no ajuste das alturas de escoamento medidas em campo com as simuladas

através da alteração de valores de rugosidade absoluta. Valores de rugosidade invulgares

podem significar a existência de um mau levantamento topográfico.

As condições de fronteira do modelo River2D são o valor de caudal numa secção de entrada

(i.e. inflow) e de uma altura de escoamento na secção de saída (i.e. outflow). É aconselhado

que estas duas secções estejam suficientemente afastadas da área específica em estudo para

eliminar a influência do “efeito fronteira” nos resultados obtidos. O “efeito fronteira” pode ser

traduzido como uma incerteza associada aos resultados obtidos nessas secções. As condições

iniciais de escoamento são importantes pois servem de aproximação inicial no processo

iterativo de resolução do problema.

A criação da malha de elementos finitos é o passo mais importante na utilização destes

modelos. É necessário criar uma malha que represente o melhor possível a topografia do leito

do rio. Nós mais próximos uns dos outros nas áreas de maior interesse, alteração do

espaçamento entre nós de uma forma gradual e regularidade dos elementos criados são

considerações importantes.

A regularidade dos triângulos criados pode ser traduzida pelo QI – Mesh Quality Index. O QI

traduz o grau de semelhança entre os triângulos gerados pela malha de elementos finitos. É

assim definido pelo quociente entre a área circunscrita de cada triângulo e pela área

circunscrita de um triângulo equilátero. O River2D permite suavizar a malha, ajustando de

forma automática os triângulos de forma a aumentar o QI da mesma. A optimização da malha

de elementos finitos passa pela adição de linhas de quebra, eliminado ou adicionando nós,

entre outras.

Os resultados fornecidos pelo River2D são as duas componentes horizontais de velocidade e a

profundidade, que podem ser obtidas em cada ponto do domínio. As distribuições de

velocidade na vertical são assumidas como uniformes e a distribuição de pressões é

considerada hidrostática. Efeitos tridimensionais como as correntes secundárias em canais não

rectilíneos não são incluídos. Também as forças de Coriolis e do vento, que podem ter

influência em grandes massas de água, como lagos e estuários, não são consideradas.

2.2.4 CASIMIR FISH 2D

O Casimir Fish 2D (Schneider et al., 2010) foi outro dos modelos utilizados neste estudo. Com

origem na Universidade de Estugarda, o Casimir (Computer Aided Simulation System for

Instream Flow Requirements) foi desenvolvido no início da década de 90 e sofreu várias

alterações até permitir a modelação da disponibilidade de habitat.

16

O modelo Casimir utiliza como dados de entrada as variações temporais e espaciais das

profundidades, velocidades de escoamento e tipos de substrato e permite calcular a

disponibilidade de habitat através das curvas de preferência ou da lógica fuzzy.

Este modelo permite também utilizar como dados de entrada as simulações já feitas com

outros modelos computacionais, como o River2D.

2.3 ESPÉCIES ESTUDADAS

2.3.1 TRUTA

A truta-de-rio (Salmo truta fario) (Figura 2.5) é uma espécie que surge em rios com águas frias

e oxigenadas, que são característicos do norte de Portugal (Valente, 1993). Prefere rios com

velocidades elevadas, baixas profundidades e uma boa qualidade de água. De uma forma

geral podem ser encontradas em riffles (zonas de águas menos profundas e de elevadas

velocidades de escoamento) (Figura 2.6).

As trutas-fário têm um tamanho médio menor que 50 cm, tamanho máximo igual a 100 cm e

podem viver até 15 anos. De uma forma geral alimentam-se das presas que descem o rio,

podendo mesmo as adultas alimentarem-se de outras espécies piscícolas como o barbo, a

boga, ou até outras trutas.

Figura 2.5 - Truta-de-rio (Filipe Ribeiro)

Figura 2.6 - Riffle (Bain and Stevenson, 1999)

Neste estudo a análise feita a esta espécie subdividiu-se em dois estágios (adulto e juvenil) e

dois períodos do ano (Inverno-Primavera e Verão-Outono). As curvas de preferência desta

espécie utilizadas neste estudo foram determinadas para o rio Lima (Cortes et al., 2000) e

podem ser observadas da Figura 2.7 até à Figura 2.10.

17

Figura 2.7 - Curvas de preferência - Truta Juvenil (Inverno-Primavera)

Figura 2.8 - Curvas de preferência - Truta Juvenil (Verão-Outono)

Figura 2.9 - Curvas de preferência - Truta Adulta (Inverno-Primavera)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,2 0,3 0,5 0,7 0,9 1,0

HS

I (-

)

Velocidade (m/s)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,2 0,3 0,5 0,8 1,0

HS

I (-

)

Profundidade (m)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,2 0,3 0,5 0,8 1,0

HS

I (-

)

Velocidade (m/s)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,2 0,4 0,8 1,0

HS

I (-

)

Profundidade (m)

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 0,2 0,3 0,5 0,8 1,0

HS

I (-

)

Velocidade (m/s)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,2 0,3 0,5 0,7 0,9 1,0

HS

I (-

)

Profundidade (m)

18

Figura 2.10 - Curvas de preferência - Truta Adulta (Verão-Outono)

Importa referir que a preferência desta espécie relativa ao substrato não é apresentada aqui

uma vez que se considerou uma preferência máxima (igual a 1) para qualquer classe de

substrato, conforme foi referido.

2.3.2 BARBO

O barbo-comum (Luciobarbus bocagei) (Figura 2.11) pode ser encontrado nos troços médios e

inferiores dos rios. Prefere zonas com pouca ou moderada velocidade de corrente,

exceptuando na época de reprodução. Em termos de habitat, o barbo adulto tem preferência

por troços mais profundos, com mais oxigénio e substrato fino. Em contrapartida, os juvenis

preferem zonas com alguma profundidade, desde que próximas da margem e sem corrente,

evitando zonas onde a luz solar não incida. Tem uma dimensão média menor que 50 cm, tal

como as trutas, e pode viver até 13 anos. É encontrado com maior frequência nas zonas

Centro e Norte de Portugal (Carta Piscícola, 2014).

Neste estudo os barbos foram divididos em dois estágios de vida – adultos e juvenis, sendo a

estação do ano analisada o Verão.

Figura 2.11 - Barbo-comum (DGRF)

As curvas de preferência para o barbo utilizadas neste estudo foram determinadas para o rio

Ocreza (Boavida et al., 2013) e podem ser observadas na Figura 2.12 e na Figura 2.13.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,2 0,3 0,5 0,7 0,9 1,0

HS

I (-

)

Velocidade (m/s)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,2 0,3 0,7 1,0

HS

I (-

)

Profundidade (m)

19

Figura 2.12 - Curvas de preferência - Barbo Juvenil

Figura 2.13 - Curvas de preferência - Barbo Adulto

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 1,0

HS

I (-

)

Velocidade (m/s)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 1,0

HS

I (-

)

Profundidade (m)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 1,0

HS

I (-

)

Velocidade (m/s)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0,0 0,1 0,3 0,5 0,7 0,9 1,0

HS

I (-

)

Profundidade (m)

20

21

3 MODELAÇÃO NUMÉRICA

3.1 CALIBRAÇÃO DO MODELO NUMÉRICO

3.1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

De forma a calibrar ou validar um modelo numérico é necessário ter como referência uma

situação aproximadamente real. Assim, utilizou-se a instalação experimental de Ribi (2011)

como base para este estudo. Foram analisados os resultados das simulações físicas e

posteriormente comparados com os das simulações computacionais.

3.1.2 INSTALAÇÃO EXPERIMENTAL

3.2.1.1 Introdução

O canal testado por Ribi (2011) e utilizado neste estudo é um canal de secção rectangular com

cerca de 12 m de comprimento e 1,20 m de largura, com um abrigo lateral na margem direita

de dimensões 2x1,2 m. O leito do canal é constituído essencialmente por seixo grosso e o

caudal testado foi de 0,22 m3/s. Na Figura 3.1 apresenta-se um esquema em planta da

instalação experimental e na Figura 3.2 um esquema tridimensional do canal. Mais detalhes

sobre a instalação experimental podem ser encontrados em Ribi (2011).

Figura 3.1 - Esquema em planta da instalação experimental com obstáculo na zona do abrigo.

Figura 3.2 - Esquema 3D da instalação laboratorial (vista de montante)

22

No início de cada ensaio foi imposto um caudal de 0,02 m3/s. Em seguida, introduziram-se os

peixes e aumentou-se o caudal para 0,22 m3/s durante um período de 3 h. Durante esse

período, a cada 20 min, a posição dos peixes no canal foi registada visualmente.

Foram testadas doze configurações para o abrigo lateral; uma configuração base (C0) sem

qualquer obstáculo no abrigo e onze configurações com recurso a obstáculos formados por

placas verticais com 0,03 m de espessura, inseridas no fundo do canal e atingindo uma cota

superior à da superfície livre do escoamento. Os obstáculos tiveram como objectivo criar

campos de velocidades favoráveis para os peixes, atraindo-os para o interior do abrigo. De

referir que nestes ensaios experimentais, realizados na Primavera, apenas foram utilizadas

trutas juvenis. As trutas juvenis foram capturadas através de pesca eléctrica e cada um dos

peixes foi sujeito em média a cerca de 18 horas de ensaios. Mais detalhes sobre os ensaios

experimentais podem ser encontrados em Ribi (2011).

3.2.1.2 Configurações testadas

O obstáculo no abrigo tomou várias posições e formas dentro de uma área de referência de

1,16 m2, representada na Figura 3.3. As configurações testadas, podem ser observadas na

Figura 3.4.

Figura 3.3 - Área de referência (a tracejado) das configurações testadas

(adaptado de Ribi (2011))

23

Figura 3.4 - Configurações testadas (adaptado de Ribi (2011))

3.2.1.3 Conclusões

Durante os ensaios experimentais realizados foram analisadas variáveis como a velocidade do

escoamento e os caudais na secção de entrada e de saída do abrigo, com o objectivo de

encontrar relações directas com a taxa de presença de peixes no mesmo. A taxa de presença

é assim o indicador da efectividade do abrigo e pode ser definida como o número de peixes

presentes no abrigo quando o canal é sujeito a um caudal de hydropeaking. A uma taxa de

presença de 100% corresponde a totalidade dos peixes utilizados no ensaio.

No gráfico da Figura 3.5 podem ser observadas as taxas de presença verificadas para cada

uma das configurações testadas.

Figura 3.5 - Taxas de presença observadas nas configurações testadas na instalação experimental

0

20

40

60

80

100

C0 C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11

Taxa d

e p

resen

ça (

%)

Configuração

24

Concluiu-se assim que as quatro configurações mais eficientes (isto é, com uma taxa de

presença mais elevada) foram, por ordem decrescente, as configurações C8, C3, C10 e C11.

Importa também referir a configuração com piores resultados verificados, a configuração C9.

3.2.2 MODELO NUMÉRICO

3.2.2.1 Introdução

De forma a poder concluir que este modelo numérico permite representar de uma forma

correcta a disponibilidade de habitat existente para os peixes é necessário comparar os

resultados obtidos por este meio com os obtidos através da instalação experimental. Sendo os

resultados da instalação experimental expressos em taxas de presença, seria de esperar que

as configurações associadas a taxas maiores tivessem maiores valores de HHS no modelo

numérico.

3.2.2.2 Condições de simulação

Em termos hidráulicos (caudais e alturas de escoamento) as condições de simulação foram

idênticas às da instalação experimental. Foi assim simulado um caudal de 0,22 m3/s, sendo a

altura do escoamento na secção de jusante do canal de 0,24 m. Do ponto de vista

computacional é necessário descrever a malha de elementos finitos utilizada.

Utilizou-se uma malha semelhante para todas as configurações testadas, com um

espaçamento de 0,10 m entre nós. O número de nós existentes varia, sendo directamente

influenciado pela configuração do obstáculo a testar. Uma das malhas utilizadas pode ser

observada na Figura 3.6

Figura 3.6 - Malha de elementos finitos. Configuração C8 (River2D)

As características de cada malha utilizada podem ser observadas no Anexo A – Malhas de

elementos finitos. Configurações C.

3.3 ANÁLISE DE RESULTADOS

Após as simulações com recurso ao River2D foram obtidos os campos de velocidade e

distribuições de CSI para cada caso testado. Assim foi possível calcular o valor de WUA

disponível em cada uma destas configurações. Dividindo este valor pela área total ocupada

pelo escoamento obteve-se então o índice HHS. De referir que a área analisada (Figura 3.7) é

delimitada pela secção imediatamente a montante do abrigo até à secção mais a jusante do

25

canal, pois os peixes deslocam-se de jusante para montante, nadando contra a corrente e

procurando abrigo, e porque importa analisar que influência tem a configuração adoptada na

distribuição de velocidades nesta área. Nas simulações computacionais, além das trutas, foi

testada a disponibilidade de habitat para os barbos. De referir mais uma vez que a

disponibilidade de habitat das trutas foi simulada para os dois estágios (juvenil e adulto) e dois

períodos do ano (Inverno-Primavera e Verão-Outono), enquanto nos barbos apenas foi

simulado o habitat para uma época do ano (i.e. Verão) e para os juvenis e adultos, uma vez

que eram os dados disponíveis. De referir também que os valores de CSI calculados pelo

River2D são feitos através do produto entre os diferentes valores de HSI, como apresentado na

equação (2.2.1) e já anteriormente referido.

Figura 3.7 - Área analisada para determinar o valor de HHS

Numa fase de comparação directa entre os resultados da instalação experimental e do modelo

numérico, foi analisada a disponibilidade de habitat das trutas juvenis no período Inverno-

Primavera, por ter sido o estágio de vida e o período estudado em Ribi (2011). A relação entre

a taxa de presença obtida na instalação experimental com a disponibilidade de habitat (HHS)

pode ser observada no gráfico da Figura 3.8.

Figura 3.8 - Relação entre a taxa de presença e o HHS - Trutas juvenis (Inverno-Primavera)

0,40

0,45

0,50

0,55

0,60

0

20

40

60

80

100

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11

HH

S (

-)

Taxa d

e p

resen

ça (

%)

Configurações

Taxa de presença HHS

26

Através da análise do gráfico da Figura 3.8 pode-se concluir que, de uma forma geral, o HHS

assemelha-se aos valores de taxa de presença para cada configuração, acompanhando os

aumentos e os decréscimos da mesma. Excepção feita talvez às configurações C5 e C6 que,

comparativamente com as outras, não acompanham a tendência de diminuição da taxa de

presença verificada, aumentando os valores de HHS. No entanto, as quatro melhores

configurações em termos de taxa de presença (C8, C3, C10 e C11, por ordem decrescente)

são também as quatro configurações que registam valores de HHS mais altos.

Na Tabela 3.1 são apresentados os valores de WUA e de HHS para seis das configurações

referidas testadas em instalação experimental, para todas as espécies, estágios de vida e

períodos do ano estudados. São apresentados os valores para a configuração base (C0, sem

obstáculo), para a pior configuração (C9) e para as quatro melhores configurações, em termos

de taxas de presença. Pode concluir-se que, tal como esperado, as melhores configurações

têm valores de HHS maiores, não só para as trutas como também para os barbos.

Tabela 3.1 - Valores de HHS e WUA para as configurações testadas na instalação

experimental

Truta

Inverno-Primavera

Truta

Verão-Outono Barbo

Juvenil Adulta Juvenil Adulta Juvenil Adulto

Configuração WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

C0 4.86 0.51 2.53 0.26 3.41 0.36 3.57 0.37 4.20 0.44 0.57 0.06

C9 4.01 0.42 2.79 0.29 1.06 0.11 3.62 0.38 1.06 0.11 0.55 0.06

C3 4.83 0.51 2.74 0.29 3.63 0.38 3.69 0.39 4.39 0.46 0.67 0.07

C8 4.65 0.52 2.61 0.29 3.46 0.38 3.57 0.40 3.96 0.44 0.65 0.07

C10 4.87 0.51 2.73 0.29 3.71 0.39 3.78 0.40 4.42 0.46 0.70 0.07

C11 4.67 0.52 2.64 0.29 3.52 0.39 3.63 0.40 4.00 0.44 0.68 0.08

No gráfico da Figura 3.9 são apresentados, juntamente com a taxa de presença, os valores de

HHS para cada umas destas configurações.

27

Figura 3.9 - Relação taxa de presença - HHS para as espécies estudadas. VO – Verão-Outono; IP – Inverno Primavera.

Analisando o gráfico da Figura 3.9 verifica-se que, para a espécie testada na instalação

experimental (truta juvenil), em ambos os períodos do ano, a configuração C8, que apresenta o

maior valor de HHS, corresponde também à maior taxa de presença. De forma análoga, a

configuração C9 com menor taxa de presença tem associada a si os menores valores de HHS.

No caso dos barbos a relação taxa de presença – HHS não é aplicável, uma vez que os

ensaios experimentais apenas tiveram em conta as trutas juvenis. No entanto verifica-se que

para os barbos juvenis a configuração C3 apresenta o maior valor de HHS, sendo que para os

adultos o valor não varia consideravelmente, sendo bastante inferior ao caso dos juvenis.

Desta forma, e partindo do pressuposto que a um maior valor de HHS está associada uma

maior taxa de presença, pode-se concluir que o modelo hidrodinâmico de habitat criado traduz

de uma forma correcta a disponibilidade de habitat existente.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0

20

40

60

80

100

C9 C3 C8 C10 C11

HH

S

(-)

Taxa d

e p

resen

ça (

%)

Configurações

Taxa de presença HHS Truta IP Juvenil HHS Truta IP Adulta

HHS Truta VO Juvenil HHS Truta VO Adulta HHS Barbo Juvenil

HHS Barbo Adulto

28

29

4 ANÁLISE DE NOVAS CONFIGURAÇÕES PARA OS ABRIGOS

LATERAIS

4.2 CONFIGURAÇÕES CRIADAS

De forma a procurar aumentar os valores de HHS para o abrigo, criaram-se novas

configurações para o obstáculo e para o próprio abrigo. Foram criadas onze configurações,

designadas de A a K. As configurações criadas podem ser observadas na Figura 4.1.

Figura 4.1 – Novas configurações para o abrigo

Tomando sempre como referência a área a tracejado cujas dimensões já foram apresentadas

na Figura 3.3, procedeu-se a alterações na configuração do obstáculo, tendo por base as 4

configurações C com melhores resultados: C8, C3, C10 e C11. Nas configurações C e D as

dimensões do abrigo foram alteradas. Na Tabela 4.1 é apresentada uma breve descrição das

configurações bem como dos motivos que levaram à sua projecção. No Anexo B são descritas

as malhas de elementos finitos utilizadas nestas configurações.

30

Tabela 4.1 - Descrição das novas configurações testadas

Configuração Esquema Descrição Objectivos

A

Configuração idêntica a C8, mas com o vértice superior de jusante deslocado mais para jusante (0,12 m) e para o interior do

canal (0,10 m). Verificar a influência do obstáculo em forma

triangular para o interior do canal

B

No seguimento da configuração A, mas com um prolongamento de 0,15 m para o interior do canal e de 0,17 m para jusante.

C

Obstáculo com dimensões iguais a C8, mas desta vez o abrigo tem as dimensões

2x2 m.

Verificar a influência das dimensões do abrigo, em

particular no caso dos barbos

D

Idêntica à configuração C, mas com o abrigo com dimensões 2 x 3 m.

E

Idêntica à configuração C8, mas com o lado superior do triângulo mais pequeno

em cerca de 0,20 m (0,10 m a montante e a jusante)

Verificar a influência do tamanho do triângulo na

área disponível para habitat

F

No seguimento da configuração E, mas agora também com o deslocamento do

vértice inferior cerca de 0,20 m para cima

G

Idêntica à configuração C3, mas com o aumento do comprimento do obstáculo em

cerca de 0,10 m.

Verificar a influência do prolongamento da chapa para o interior do canal

H

Idêntica à configuração C10, mas com o aumento do comprimento do obstáculo em

cerca de 0,10 m.

I

No seguimento da configuração G, mas desta vez com o prolongamento do

obstáculo a ser feito na vertical para o interior do canal (0,10 m) Verificar a influência da

orientação do prolongamento da chapa para o interior do canal

J

Com o mesmo princípio da configuração I, mas relativo à configuração H

K

Utilizando a configuração C8 como base, à qual foi retirado um dos lados do triângulo

Verificar se o aumento de área disponível para habitar conduz a um melhor índice

HHS

31

4.3 ANÁLISE DE RESULTADOS

4.3.1 VALORES DE HHS E WUA PARA AS CONFIGURAÇÕES CRIADAS

Nas configurações estudadas, e sendo o caudal constante em todas as simulações, a

profundidade não varia consideravelmente no troço analisado (do início do abrigo até ao final

do canal, a jusante) como se pode observar na Figura 4.2. Tendo em conta essa evolução

pode ser tomada como referência a configuração C0 (sem qualquer obstáculo no abrigo).

Desta forma pode concluir-se que o principal factor que afectou o CSI foi a velocidade do

escoamento (traduzido no índice VSI), visto que a influência do substrato também foi ignorada

(ou seja, atribuída a preferência máxima (HSI=1,0) a todo o canal).

Figura 4.2 - Profundidades (m) na configuração C0

No troço estudado a profundidade varia entre 0,27 e 0,24 m. Os valores de HSI aproximados

para as alturas de escoamento compreendidas nesse intervalo relativos às espécies analisadas

encontram-se na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 - Valores aproximados de HSI para as alturas de escoamento no intervalo

considerado – Rio Lima

Intervalo de valores HSI (-) para profundidades entre

0,24 e 0,27 m (aproximado)

Truta

Inverno Primavera

Juvenil 0,48 a 1,00

Adulta 0,10 a 0,48

Verão Outono

Juvenil 0,82 a 1,00

Adulta 0,42 a 0,90

Barbo

Juvenil 0,60 a 1,00

Adulto 0,10 a 0,21

32

Através da análise da Tabela 4.2 pode concluir-se que as profundidades existentes no trecho

analisado são mais favoráveis às trutas juvenis, tanto no período Inverno-Primavera como

Verão-Outono, e ao barbo juvenil. No entanto, é necessário referir que em alguns casos o

maior valor de HSI corresponde à profundidade de 0,27 m (ou seja, na secção imediatamente a

montante do abrigo) e noutros casos à altura de escoamento de 0,24 m (a secção mais a

jusante de todo o canal). Dentro do intervalo de profundidades considerado, a preferência é

inversamente proporcional à evolução da profundidade em direcção a jusante para as trutas

adultas, nas duas estações analisadas, e para os barbos em geral. Em sentido contrário, as

trutas juvenis, também nas duas estações consideradas, têm os maiores valores de preferência

para a altura do escoamento existente na secção terminal do canal.

As distribuições de DSI para todos os casos analisados podem ser observadas da Figura 4.3

até à Figura 4.8.

Figura 4.3 - Distribuição de DSI - Truta Juvenil – Inverno-Primavera

Figura 4.4 - Distribuição de DSI - Truta Adulta – Inverno-Primavera

33

Figura 4.5 - Distribuição de DSI - Truta Juvenil – Verão-Outono

Figura 4.6 - Distribuição de DSI - Truta Adulta – Verão-Outono

Figura 4.7 - Distribuição de DSI - Barbo Juvenil

34

Figura 4.8 - Distribuição de DSI - Barbo Adulto

A consideração de valores aproximados para o HSI na Tabela 4.2 pode parecer imprecisa, mas

decorre da discretização das curvas de preferência utilizadas. Por exemplo, são descritos

valores de HSI para profundidades de 0,20 e 0,30 m, não sendo apresentado o valor específico

de HSI para profundidades de 0,24 e 0,27 m. Também não é possível assumir uma linearidade

dos valores de HSI dentro desse intervalo de profundidades. No entanto, para uma análise

comparativa entre estas duas secções esta aproximação é válida, pois importa apenas

perceber como varia a preferência das espécies em termos de profundidade ao longo do troço

analisado; percebendo se as espécies se sentem mais confortáveis a montante ou a jusante.

Uma análise idêntica em termos de velocidades terá de ser mais exaustiva visto que a

existência de obstáculos no abrigo altera as distribuições de velocidades desde o abrigo até à

secção de jusante. Assim, e percebendo qualitativamente como varia a preferência em termos

de profundidade, a importância da velocidade será analisada com maior pormenor de seguida

nas configurações que obtiveram melhores valores de HHS, estando implícita a sua

importância nos valores de CSI obtidos. De certa forma pode concluir-se que as diferentes

configurações para o abrigo afectam mais a velocidade do escoamento do que a profundidade

e que os diferentes resultados obtidos têm como principal factor o VSI.

Os resultados dos valores de WUA e de HHS são apresentados na Tabela 4.3. A negrito são

assinalados os maiores valores de HHS para cada uma das situações.

35

Tabela 4.3 - Valores de HHS e de WUA para as configurações testadas

Truta

Inverno-Primavera

Truta

Verão-Outono Barbo

Juvenil Adulta Juvenil Adulta Juvenil Adulto

Configuração WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

WUA

(m2)

HHS

(-)

A 4.61 0.52 2.62 0.29 3.43 0.38 3.58 0.40 3.90 0.44 0.68 0.08

B 4.59 0.52 2.65 0.30 3.45 0.39 3.58 0.40 3.91 0.44 0.71 0.08

C 5.13 0.48 2.99 0.28 3.95 0.37 3.89 0.37 5.27 0.50 0.72 0.07

D 5.68 0.45 3.46 0.27 4.51 0.36 4.26 0.34 6.81 0.54 0.79 0.06

E 4.68 0.51 2.65 0.29 3.51 0.39 3.60 0.39 4.06 0.45 0.66 0.07

F 4.68 0.51 2.67 0.29 3.54 0.38 3.58 0.39 4.20 0.46 0.67 0.07

G 4.80 0.50 2.80 0.29 3.62 0.38 3.67 0.38 4.43 0.46 0.70 0.07

H 4.90 0.51 2.78 0.29 3.78 0.40 3.83 0.40 4.46 0.47 0.77 0.08

I 4.80 0.50 2.80 0.29 3.62 0.38 3.68 0.39 4.43 0.46 0.71 0.07

J 4.89 0.51 2.78 0.29 3.77 0.39 3.83 0.40 4.45 0.47 0.77 0.08

K 4.17 0.44 3.32 0.35 2.67 0.28 3.18 0.33 3.80 0.40 0.93 0.10

É possível também estabelecer uma relação de ganho/perda de HHS das configurações

testadas com a configuração C0, a configuração de base sem qualquer obstáculo. Nos gráficos

das Figuras 4.9 e 4.10 é possível observar estas diferenças não só das configurações criadas,

mas como das quatro melhores e da pior configuração C. Os valores positivos dizem respeito a

acréscimos de HHS e os negativos a decréscimos da mesma variável.

36

Figura 4.9 - Ganhos/perdas de HHS em relação à configuração C0 – Trutas (IP – Inverno Primavera; VO – Verão-Outono)

Figura 4.10 - Ganhos/perdas de HHS em relação à configuração C0 - Barbos

-0,26

-0,22

-0,18

-0,14

-0,10

-0,06

-0,02

0,02

0,06

0,10

C9 C3 C8 C10 C11 A B C D E F G H I J K

HH

S (

-)

IP Juvenil IP Adulta VO Juvenil VO Adulta

-0,34

-0,30

-0,26

-0,22

-0,18

-0,14

-0,10

-0,06

-0,02

0,02

0,06

0,10

C9 C3 C8 C10 C11 A B C D E F G H I J K

HH

S (

-)

Juvenil Adulto

37

Relativamente às trutas a configuração K apresenta o maior acréscimo de HHS de todas as

configurações, mas apenas para o caso das trutas adultas no período de Inverno-Primavera.

Esta mesma configuração resulta num decréscimo significativo de HHS para os restantes

estágios/períodos do ano. As configurações com maiores acréscimos nos quatro casos

relativos às trutas são as configurações A,B, H e J. De forma oposta a configuração C9 é

aquela que apresenta o maior decréscimo, no caso da truta juvenil – Verão-Outono.

No caso dos barbos a configuração C9 é também a que apresenta maiores decréscimos de

HHS, sendo as que apresentam maiores aumentos de HHS as configurações C,D,H e J. A

configuração K apresenta melhorias para os adultos, mas no caso dos juvenis os resultados

são mais desfavoráveis.

De seguida serão apresentados os resultados obtidos, divididos entre trutas e barbos. Em cada

uma das espécies serão apresentadas as configurações com melhores resultados de HHS e

será feita uma análise do CSI em cada caso.

4.3.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS PARA AS TRUTAS

4.3.2.1 Considerações gerais

As configurações que revelaram melhores resultados para esta espécie foram as configurações

A, B, H, J e K. Embora cada configuração tenha tido melhores resultados em diferentes

estágios ou estações do ano, as configurações A e B revelaram-se as melhores para um maior

número de casos, tendo obtido os maiores valores de HHS para as trutas juvenis no período

Inverno-Primavera e para as adultas no período Verão-Outono. A configuração B teve ainda o

valor mais elevado de HHS considerando a truta adulta no período Inverno-Primavera.

1. Configuração A

A configuração A (Figura 4.11), baseada na configuração C8, é caracterizada por ter o vértice

mais a jusante do triângulo ligeiramente deslocado para o interior do canal, comparativamente

com o vértice mais a montante.

38

Figura 4.11 - Configuração A

A disposição de um dos vértices para o interior do canal leva a que se crie zonas com maiores

velocidades na margem esquerda do canal. A distribuição de velocidades de escoamento na

configuração A pode ser observada na Figura 4.12.

Figura 4.12 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração A

Inverno-Primavera

Nesta configuração obteve-se um valor de HHS de 0,52 para as trutas juvenis no período

Inverno-Primavera.

No caso das trutas juvenis, os valores de preferência mais elevados verificam-se para

velocidades na ordem dos 0,30 e 1,00 m/s. Sendo as velocidades na zona do canal

relativamente próximas dos 1,00 m/s, e juntando ao facto de as profundidades serem baixas e

favoráveis a esta espécie, é expectável que haja uma razoável distribuição de CSI nesta zona.

39

No interior do abrigo também existem zonas de velocidade ainda mais favorável do que no

canal, mas revela-se uma menor distribuição de CSI pois as profundidades são menos

favoráveis às trutas juvenis. Os valores mais baixos de CSI dentro do abrigo são bastante

afectados pelo VSI que decresce, recaíndo assim na profundidade a responsabilidade pelos

valores de CSI existentes. As distribuições de VSI e de CSI para este caso podem ser

observadas na Figura 4.13 e na Figura 4.14.

Figura 4.13 - Distribuição de VSI na configuração A - Truta Juvenil (Inverno-Primavera)

Figura 4.14 - Distribuição de CSI na configuração A - Truta Juvenil (Inverno-Primavera)

Verão-Outono

Para esta época do ano, a configuração A obteve um dos melhores resultados para a truta

adulta, com um valor de HHS de 0,40.

Comparativamente com o período Inverno-Primavera as trutas adultas têm preferência por

velocidades mais baixas, na ordem dos 0,30 m/s. Estas velocidades ocorrem em maior parte

na zona interior do abrigo, uma zona com menor área quando comparada com a restante. Em

termos de preferência de profundidade as trutas adultas neste período continuam a ter a sua

40

preferência máxima para dois valores distintos, 0,90 e 0,20 m, para valores de HSI de 1,0 e

0,9, respectivamente. Desta forma, é esperada uma maior ocorrência de valores de CSI

elevados no interior do abrigo devido à existência de baixas velocidades. Fora do abrigo,

nomeadamente na margem esquerda do canal, as velocidades já não são tão favoráveis,

recaindo na profundidade a maior influência exercida no CSI. As distribuições de VSI e de CSI

para este caso podem ser observadas na Figura 4.15 e na Figura 4.16.

Figura 4.15 - Distribuição de VSI na configuração A - Truta Adulta (Verão-Outono)

Figura 4.16 - Distribuição de CSI na configuração A - Truta Adulta (Verão-Outono)

2. Configuração B

A configuração B (Figura 4.17) é bastante semelhante à configuração A. Caracteriza-se pelo

vértice a jusante do triângulo estar mais para dentro do canal quando comparado com a

situação anteiror (Configuração A). A distribuição de velocidades para esta configuração é

idêntica à anterior configuração e pode ser observada na Figura 4.18.

41

Figura 4.17 - Configuração B

Figura 4.18 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração B

Inverno-Primavera

Esta configuração obteve bons resultados de HHS tanto no caso das trutas juvenis como das

adultas, sendo os seus valores, respectivamente, 0,52 e 0,30.

Sendo as distribuições de velocidades de escoamento e a profundidade semelhantes às

verificadas na configuração A, seria expectável que os resultados de VSI e de CSI para a truta

juvenil fossem idênticos, como se pode observar na Figura 4.19 e na Figura 4.20.

42

Figura 4.19 - Distribuição de VSI na configuração B - Truta Juvenil (Inverno-Primavera)

Figura 4.20 - Distribuição de CSI na configuração B - Truta Juvenil (Inverno-Primavera)

No caso das trutas adultas, os valores de CSI diminuem de uma forma geral, em grande parte

devido às baixas profundidades existentes. A distribuição de CSI neste caso é fortemente

influenciada pelas profundidades pouco favoráveis existentes na zona, apesar de as

velocidades serem favoráveis, especialmente na margem esquerda do canal. De referir

também que na zona do abrigo os valores de CSI aumentam, sendo que desta vez são os

valores elevados de profundidade a compensar as velocidades ligeiramente menos favoráveis

verificadas nessa zona. No entanto, chegou-se a um valor de HHS igual ao da configuração A.

As distribuições de VSI e de CSI para as trutas adultas são apresentadas na Figura 4.21 e na

Figura 4.22.

43

Figura 4.21 - Distribuição de VSI na configuração B - Truta Adulta (Inverno-Primavera)

Figura 4.22 - Distribuição de CSI na configuração B - Truta Adulta (Inverno-Primavera)

Verão-Outono

Neste período, esta configuração obteve bons resultados para as trutas adultas com um valor

de HHS de 0,40, igual ao da configuração A. Este resultado é expectável dada a semelhança

entre as duas configurações, levando a distribuições de velocidades, profundidades e valores

de CSI muito semelhantes.

As distribuições de VSI e de CSI para as trutas adultas neste período são apresentadas na

Figura 4.23 e na Figura 4.24.

44

Figura 4.23 - Distribuição de VSI na configuração B - Truta Adulta (Verão-Outono)

Figura 4.24 - Distribuição de CSI na configuração B - Truta Adulta (Verão-Outono)

3. Configuração H

A configuração H (Figura 4.25) obteve o melhor resultado para as trutas juvenis no Verão-

Outono, com um valor de HHS de 0,40. Esta configuração é baseada na configuração C10,

tendo como única diferença o prolongamento do obstáculo do abrigo na direcção do canal em

cerca de 0,10 m.

45

Figura 4.25 - Configuração H

Relativamente à distribuição de velocidades (Figura 4.26) na área analisada, observa-se mais

uma vez que o prolongamento do obstáculo para o interior do canal faz com que se verifiquem

velocidades mais elevadas na margem oposta ao abrigo, sendo a distribuição deste parâmetro

na zona do canal semelhante à das configurações já analisadas. No interior do abrigo, e desta

vez com mais área disponível, há uma área maior com velocidades próximas de zero.

Figura 4.26 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração H

Na Figura 4.26 pode observar-se que a zona de velocidades mais elevadas, na margem

esquerda do canal, tem valores de CSI muito baixos para as trutas juvenis, como seria de

esperar devido à pouca adequabilidade de valores de velocidade registada. Os maiores valores

de CSI são observados maioritariamente no interior do abrigo, em zonas onde a velocidade

ronda os 0,40 m/s, valor próximo da preferência máxima. Ainda no interior do abrigo, onde a

velocidade do escoamento é próxima de zero, a velocidade acaba por não ter grande influência

nos valores de CSI sendo a profundidade o factor com maior influência. As distribuições de VSI

e de CSI para este caso podem ser observadas na Figura 4.27 e na Figura 4.28.

46

Figura 4.27 - Distribuição de VSI na configuração H - Truta Juvenil (Verão-Outono)

Figura 4.28 - Distribuição de CSI na configuração H - Truta Juvenil (Verão-Outono)

4. Configuração J

A configuração J (Figura 4.29) segue o mesmo princípio da configuração H, sendo que desta

vez o prolongamento do obstáculo é feito na vertical para o interior do canal, também com uma

extensão de 0,10 m. Esta configuração obteve resultados idênticos à configuração H, também

para a truta juvenil no período Verão-Outono, com um valor de HHS de 0,39.

47

Figura 4.29 - Configuração J

A distribuição de velocidades do escoamento (Figura 4.30) não apresenta grandes mudanças

relativamente à configuração H, visto que a alteração feita no prolongamento do obstáculo não

teve grande influência na mesma.

Figura 4.30 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração J

Sendo a distribuição de velocidades semelhante à da configuração H, seria de esperar que as

distribuições de VSI e de CSI praticamente não sofressem alterações, como se pode observar

na Figura 4.31 e na Figura 4.32.

48

Figura 4.31 - Distribuição de VSI na configuração J - Truta Juvenil (Verão-Outono)

Figura 4.32 - Distribuição de CSI na configuração J - Truta Juvenil (Verão-Outono)

5. Configuração K

A configuração K (Figura 4.33) tem também como base a configuração C8, mas desta vez com

uma diferente abordagem; um aumento de área passível de ser utilizada pelos peixes dentro

do abrigo, retirando um dos lados ao triângulo.

49

Figura 4.33 - Configuração K

Com a retirada de um dos lados ao triângulo é criada uma zona de menores velocidades de

escoamento no interior do abrigo (Figura 4.34), sendo predominante no abrigo uma velocidade

de escoamento com valores entre 0 e 0,20 m/s. Esta configuração revelou-se a melhor em

termos de HHS para as trutas adultas no período Inverno-Primavera, com um valor de 0,35

para o índice HHS.

Comparando a distribuição de velocidades desta configuração com a segunda melhor para

esta espécie e período do ano (configuração B), podemos concluir que as velocidades fora do

abrigo são semelhantes, recaindo as maiores diferenças na zona interior do abrigo. Apesar de

as velocidades baixas não serem as mais favoráveis para as trutas adultas, o aumento de

WUA e de área molhada faz com que o quociente entre estas duas grandezas seja maior,

obtendo-se assim um valor maior de HHS.

Figura 4.34 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração K

Observando a distribuição de CSI na configuração K para a truta adulta no período Inverno-

Primavera (Figura 4.36) pode-se observar que a zona central do triângulo agora utilizável tem

valores baixos de CSI. Conclui-se assim que apesar de não se ganhar muito VSI (Figura 4.35)

50

nem CSI em relação à configuração B, ganha-se sobretudo área disponível para ser utilizada

pelas trutas. Apesar de a contribuição em termos de CSI não ser muito relevante, o aumento

de área faz a diferença no que diz respeito ao valor de HHS. Mais uma vez, tal como na

distribuição de velocidades, fora da zona do abrigo a distribuição de CSI é idêntica à da

configuração B.

Figura 4.35 - Distribuição de VSI na configuração K - Truta Adulta (Inverno-Primavera)

Figura 4.36 - Distribuição de CSI na configuração K - Truta Adulta (Inverno-Primavera)

4.3.2.2 Conclusões

Como conclusões da análise dos resultados obtidos para as trutas podem ser referidas:

Os resultados das simulações numéricas estão de acordo com as conclusões

apresentadas por Ribi (2011), especialmente no que diz respeito à truta juvenil no

período Inverno-Primavera;

As configurações A e B são bastante semelhantes à configuração C8, diferindo apenas

no prolongamento do obstáculo para o interior do canal;

51

Mesmo nos estágios onde estas duas configurações não foram as melhores (truta

adulta no Inverno-Primavera no caso da configuração A, e truta juvenil no Verão-

Outono em ambas) os valores de HHS estão muito próximos dos valores mais

elevados para qualquer alternativa;

O prolongamento do obstáculo para o interior do canal tem um impacto positivo nos

valores de HHS.

4.3.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS PARA OS BARBOS

4.3.3.1 Considerações Gerais

Os valores mais elevados de HHS para os barbos foram obtidos nas configurações C, D e H

para os juvenis e J e K para os adultos. Verificou-se uma acentuada diferença nos valores de

HHS entre os estágios juvenil e adulto, devido essencialmente à escassez de profundidades

favoráveis aos barbos adultos.

1. Configuração C

A configuração C é semelhante à configuração C8 no que diz respeito à forma e dimensões do

obstáculo, sendo as alterações efectuadas nas dimensões do abrigo. O abrigo tem dimensões

2x2 m, assumindo assim uma forma quadrada (Figura 4.37). Nesta configuração obteve-se,

para os barbos juvenis, um valor de HHS de 0,50.

Figura 4.37 - Configuração C

Observando a distribuição de velocidades do escoamento (Figura 4.38) é fácil perceber o

porquê dos bons resultados desta configuração para o barbo juvenil. A criação de uma zona de

velocidades baixas no interior do abrigo associada às profundidades registadas no mesmo

local é bastante favorável aos barbos juvenis (Figura 4.39).

52

Figura 4.38 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração C

Figura 4.39 - Distribuição de VSI na configuração C - Barbo Juvenil

Verificam-se valores mais elevados de CSI no interior do canal, atingindo valores muito

próximos de 1,0 (caso ideal) em algumas regiões, como se pode observar na Figura 4.40. Isto

é explicado pela existência de valores de velocidade próximos da preferência máxima (0,10

m/s).

53

Figura 4.40 - Distribuição de CSI na configuração C - Barbo Juvenil

2. Configuração D

A configuração D (Figura 4.41) obteve para os barbos juvenis um valor de HHS de 0,54,

baseando-se no mesmo princípio da configuração C, mas desta vez com um abrigo de

dimensões 2x3 m. Apesar de ser uma situação pouco provável de aplicar num caso real

importa perceber que influência tem o aumento da dimensão do abrigo numa direcção

perpendicular à da propagação do escoamento.

Figura 4.41 - Configuração D

Tal como esperado, o acréscimo das dimensões do abrigo aumenta também a área com

velocidades de escoamento na ordem da velocidade correspondente à preferência máxima

para os barbos juvenis, como se pode observar na Figura 4.42 e na Figura 4.43. Explica-se

assim o aumento do valor de HHS relativamente à configuração C, como se observa na Figura

4.44 através da distribuição de CSI nesta configuração para os barbos juvenis.

54

Figura 4.42 - Distribuição de velocidades de escoamento (m/s) na configuração D

Figura 4.43 - Distribuição de VSI na configuração D - Barbo Juvenil

Figura 4.44 - Distribuição de CSI na configuração D - Barbo Juvenil

55

3. Configuração H

A configuração H e a sua distribuição de velocidades de escoamento são apresentadas na

Figura 4.25 e Figura 4.26, respectivamente.

No interior do abrigo são criadas mais uma vez zonas de velocidade próximas da velocidade

correspondente a um HSI de 1,0 (Figura 4.45). Esta configuração obteve um valor de HHS de

0,47 neste caso.

Figura 4.45 - Distribuição de VSI na configuração H - Barbo Juvenil

Os valores de CSI são mais elevados no abrigo, reflectindo a combinação de velocidades e de

profundidades próximas das correspondentes a um valor de HSI igual a 1,0. A distribuição de

CSI pode ser observada na Figura 4.46.

Figura 4.46 - Distribuição de CSI na configuração H - Barbo Juvenil

4. Configuração J

A configuração J foi a segunda melhor em termos de HHS para os barbos adultos, com um

valor de 0,08. Tal como já foi referido, os valores baixos de HHS para os barbos adultos estão

56

relacionados com as profundidades registadas. O intervalo de profundidades é pouco favorável

aos barbos adultos (e.g. se na zona analisada os valores de profundidade registados estão no

intervalo de 0,24 a 0,27 m, a preferência máxima para os barbos adultos é de 0,5 m). A

configuração J é apresentada na Figura 4.29 e a distribuição de velocidades na Figura 4.30.

Apesar de se criarem velocidades razoavelmente favoráveis na zona do canal (Figura 4.47), as

profundidades são baixas, o que se traduz em baixos valores de CSI. No interior do abrigo as

velocidades registadas não são favoráveis e as profundidades igualmente. A distribuição de

CSI para os barbos adultos pode ser observada na Figura 4.48

Figura 4.47 - Distribuição de VSI na configuração J - Barbo Adulto

Figura 4.48 - Distribuição de CSI na configuração J - Barbo Adulto

5. Configuração K

A configuração K foi a que obteve o valor de HHS mais elevado para os barbos adultos, com

um valor de 0,10. Esta configuração é representada na Figura 4.33 e a distribuição de

velocidades na Figura 4.34.

57

O valor de HHS superior em relação à configuração J é explicado essencialmente pelo ligeiro

aumento da adequabilidade de velocidades tanto na zona do canal como no abrigo (Figura

4.49). Ainda assim as profundidades baixas registadas levam a que os valores de CSI sejam

também no geral baixos. A distribuição de CSI para os barbos adultos nesta configuração é

apresentada na Figura 4.50.

Figura 4.49 - Distribuição de VSI na configuração K - Barbo Adulto

Figura 4.50 - Distribuição de CSI na configuração K - Barbo Adulto

4.3.3.2 Conclusões

As conclusões da análise dos resultados obtidos para os barbos são:

A existência de uma grande diferença de valores de HHS entre os barbos juvenis e os

adultos;

A importância da profundidade na diferença de resultados entre estágios de vida

apesar de as velocidades serem relativamente favoráveis à presença de barbos em

ambos os estágios de vida – as profundidades mais favoráveis para os adultos são de

cerca do dobro das preferidas para os juvenis;

58

As profundidades, a variarem entre 0,24 e 0,27 m na área em estudo, dificultam a

obtenção de valores elevados de CSI e consequentemente de valores elevados HHS

para os barbos adultos.

59

5 APLICAÇÃO DOS ABRIGOS A UM CURSO DE ÁGUA

NATURAL – RIO OCREZA

5.1 INTRODUÇÃO

Apesar de as configurações testadas permitirem um aumento do HHS do canal analisado, o

verdadeiro propósito dos abrigos para peixes é a sua aplicação num curso de água natural. A

influência da topografia do leito e das margens difere da dos casos estudados previamente,

razão pela qual se aplicaram os abrigos a um rio. O caso de estudo escolhido foi o rio Ocreza.

O rio Ocreza é um dos maiores afluentes da margem direita do rio Tejo, com cerca de 80 km de

extensão (Figura 5.1). Da sua população piscícola nativa realçasse o barbo comum

(Luciobarbus bocagei), espécie escolhida para testar a eficiência dos abrigos.

Figura 5.1 - Localização do rio Ocreza (Boavida, 2012)

O troço analisado do rio Ocreza tem cerca de 400 m de comprimento e localiza-se a montante

do regolfo da barragem de Pracana e a jusante da povoação de Foz do Cobrão.

5.2 DISPONIBILIDADE DE HABITAT NO RIO OCREZA

Com o objectivo de avaliar a eficiência dos abrigos para os barbos foi necessário seleccionar

um caudal para o qual os abrigos entrariam em funcionamento; um caudal para o qual a cota

da superfície do livre do escoamento fosse tal que permitisse aos peixes a entrada no abrigo.

Desta forma, enquanto a superfície livre do escoamento não atingisse um determinado valor, o

60

abrigo não seria inundado e consequentemente não seria passível de ser utilizado pelos

peixes.

Como critério de determinação do caudal de dimensionamento dos abrigos, optou-se por

seleccionar o caudal que resulta num valor de HHS de aproximadamente metade do máximo

registado sem qualquer abrigo. Assim, numa fase inicial procedeu-se à modelação dos caudais

no rio Ocreza utilizando o River2D. Seguidamente, com os valores de WUA obtidos através do

Casimir Fish 2D e analisando a área molhada, foi possível estabelecer relações entre a WUA,

área ocupada pelo escoamento, HHS e caudal escoado no troço analisado. Tal como nos

capítulos 3 e 4, a influência do substrato foi ignorada.

As malhas de elementos finitos utilizadas foram uniformemente espaçadas em cerca de 1

metro e o número total de nós foi de aproximadamente 13000.

No gráfico da Figura 5.2 pode observar-se a variação, em função do caudal, da WUA, da área

molhada e do HHS no troço do rio Ocreza, tanto para o caso do barbo juvenil como do adulto.

Figura 5.2 - Curvas Caudal - WUA - Área molhada - HHS para o Barbo no rio Ocreza

Sendo os valores de HHS mais baixos para o barbo adulto, tomou-se como referência este

estágio de vida para a determinação do caudal de dimensionamento dos abrigos. Assim, como

se pode observar, o máximo valor de HHS para o barbo adulto é de 0,39 e ocorre para um

caudal de 6 m3/s. Entre os caudais modelados, o que provoca no rio um valor de HHS de cerca

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0

2000

4000

6000

8000

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

HH

S (

-)

WU

A -

Áre

a m

olh

ada(m

2)

Caudal (m3/s)

Área molhada WUA Juvenil WUA Adulto HHS Juvenil HHS Adulto

61

de metade do máximo verificado, é o de 50 m3/s com um valor de HHS de 0,18. Desta forma

escolheu-se este valor de caudal como referência para implantação dos abrigos.

5.3 ABRIGOS UTILIZADOS

Com o objectivo de não restringir os abrigos a um estágio de vida, optou-se por testar uma

nova configuração, resultado da conjugação de duas configurações previamente testadas em

4.2. Assim, juntando as características mais determinantes dos abrigos para os juvenis e para

os adultos, chegou-se à configuração apresentada na Figura 5.3.

Figura 5.3 - Abrigo utilizado no rio Ocreza

Esta configuração surge na conjugação de duas características:

O prolongamento do abrigo na direcção perpendicular à do escoamento, que cria

velocidades reduzidas, mais favoráveis aos barbos juvenis;

A escolha da configuração K para o obstáculo do abrigo, configuração esta que obteve

os valores mais elevados de HHS para o barbo adulto.

Tanto as velocidades como as preferências mais favoráveis são relativamente diferentes para

os juvenis e para os adultos.

Como critério utilizado para as dimensões deste abrigo, e tratando-se de um troço de rio com

um comprimento muito maior que os casos anteriormente estudados, optou-se por aumentar as

dimensões do abrigo face ao testado em 4.2 para uma área de 4 x 6 m2. Foram simulados três

abrigos, em funcionamento para o mesmo caudal de 50 m3/s. A localização dos abrigos (1, 2 e

62

3) pode ser observada na Figura 5.4 e as cotas de soleira de cada abrigo podem ser

observadas na Tabela 5.1.

Figura 5.4 - Localização dos abrigos (1,2 e 3) (River2D)

Tabela 5.1 - Cota de soleira dos abrigos

Abrigo Cota de soleira (m)

1 115.9

2 115.0

3 115.0

Em termos de simulação numérica admitiu-se uma espessura para as paredes do abrigo e do

obstáculo de 0,10 e 0,06 m, respectivamente. Admitiu-se também que a altura tanto das

paredes como do obstáculo era tal que a cota da superfície livre do escoamento não

1

2

3

6 m

63

ultrapassou a cota superior dos mesmos. Um esquema 3D do abrigo pode ser observado na

Figura 5.5.

Figura 5.5 - Esquema 3D do abrigo

A implantação dos abrigos foi feita tendo em conta várias considerações:

A necessidade de posicionar o abrigo a uma cota que permitisse a entrada de água no

abrigo, com uma profundidade favorável para os barbos: entre 0,2 e 0,4 m.

A criação de um campo de velocidades favorável de forma a atrair os barbos para o

interior do abrigo.

5.4 RESULTADOS

5.4.1 VALORES DE WUA NO RIO OCREZA

Nos gráficos da Figura 5.6 e da Figura 5.7 pode ser observada a variação da WUA com o

caudal, para os dois casos, com e sem abrigos, a partir dos 50 m3/s e até aos 80 m3/s.

Figura 5.6 - Curva Caudal - WUA com abrigos (Barbo Juvenil)

0

400

800

1200

1600

2000

50 60 80

WU

A (

m2)

Caudal (m3/s)

Sem abrigos Com abrigos

64

Figura 5.7 - Curva Caudal - WUA com abrigos (Barbo Adulto)

Como se pode observar nos gráficos anteriores, a existência de abrigos laterais aumenta os

valores de WUA tanto para o barbo juvenil como para o adulto em cerca de 200 e 600 m2,

respectivamente. Os abrigos, além de criarem uma zona de habitat favorável para as espécies

em análise no interior dos mesmos, criam também condições favoráveis, especialmente de

velocidade, na proximidade dos mesmos.

Apesar de ter sido utilizado como referência o valor de caudal de 50 m3/s, o aumento do valor

de WUA só se começa a fazer sentir para um caudal de 60 m3/s.

De forma a perceber como evolui espacialmente a disponibilidade de habitat é necessário fazer

uma análise em termos de profundidade, velocidade do escoamento e CSI, tanto do estágio

juvenil como adulto, no troço analisado.

Na Figura 5.8 podem ser observadas as profundidades verificadas para os caudais de 50, 60 e

80 m3/s. Como seria de esperar, com o aumento do caudal a profundidade aumenta no troço

analisado.

0

400

800

1200

1600

2000

50 60 80

WU

A (

m2)

Caudal (m3/s)

Sem abrigos Com abrigos

65

Figura 5.8 - Profundidade (m) para os para os caudais de 50, 60 e 80 m3/s

Na Figura 5.9 podem ser observadas as distribuições de velocidade do escoamento para os

três caudais considerados. Se entre os caudais de 50 e 60 m3/s as velocidades não mudam

80 m3/s

50 m3/s 60 m3/s

66

consideravelmente, para o caudal de 80 m3/s já existe uma zona de velocidades mais

reduzidas, que se concentra especialmente na zona central do rio.

Figura 5.9 - Velocidade do escoamento (m/s) para os caudais de 50, 60 e 80 m3/s

50 m3/s 60 m3/s

80 m3/s

67

Na Figura 5.10 pode ser observada a distribuição de CSI para os barbos juvenis no rio Ocreza.

Figura 5.10 - Distribuição de CSI (Barbo Juvenil) no rio Ocreza

60 m3/s 50 m3/s

80 m3/s

68

Na Figura 5.11 pode ser observada a distribuição de CSI para os barbos adultos no rio Ocreza.

Figura 5.11 - Distribuição de CSI (Barbo Adulto) no rio Ocreza

60 m3/s 50 m3/s

80 m3/s

69

5.4.2 DISPONIBILIDADE DE HABITAT NOS ABRIGOS

Não sendo o objectivo da presente dissertação a optimização dos abrigos laterais para peixes,

procurou-se, no entanto, atingir resultados favoráveis em termos de disponibilidade de habitat

e, além disso, encontrar diversos factores que podem dificultar o dimensionamento destes

abrigos e assim contribuir para esta área de investigação.

Nas tabelas 5.2, 5.3 e 5.4 pode-se observar as distribuições de CSI para os três caudais

modelados (50, 60 e 80 m3/s) para ambos os estágios (juvenil e adulto). Como se pode

observar os abrigos têm distribuições de CSI distintas, independentemente do estágio de vida e

do caudal. Revela-se assim a tarefa de obter um abrigo “óptimo” como complexa, pois está

dependente da articulação de duas variáveis dependentes: a profundidade e a velocidade do

escoamento no abrigo. Pode observar-se também que para o caudal mais elevado de 80 m3/s

a disponibilidade de habitat nos abrigos é quase nula, apesar de os valores de WUA no rio

continuarem a subir.

Tabela 5.2 - Distribuição de CSI no Abrigo 1

ABRIGO 1

Caudal

(m3/s) Barbo Juvenil Barbo Adulto

50

60

~

80

70

Tabela 5.3 - Distribuição de CSI no Abrigo 2

ABRIGO 2

Caudal

(m3/s) Barbo Juvenil Barbo Adulto

50

60

80

Tabela 5.4 - Distribuição de CSI no Abrigo 3

ABRIGO 3

Caudal

(m3/s) Barbo Juvenil Barbo Adulto

50

60

80

71

5.4.3 CONCLUSÕES

De forma a perceber o motivo que leva alguns valores de CSI a serem relativamente baixos é

necessário realizar uma análise mais pormenorizada aos índices que para ele contribuem, o

DSI e o VSI, sendo assim possível retirar ilações sobre qual o índice limitativo e que contribui

de forma negativa para uma menor disponibilidade de habitat nos abrigos.

A configuração do obstáculo é o que afecta de forma mais significativa a distribuição de VSI no

abrigo. No entanto, em termos de DSI, o aumento do caudal afecta de uma forma mais

significativa o DSI (e consequentemente o CSI) pois não é possível alterar a cota de soleira do

abrigo à medida que o caudal aumenta.

As distribuições de DSI nos três abrigos, tanto para o barbo juvenil como adulto, podem ser

observadas nas tabelas 5.5, 5.6 e 5.7.

Tabela 5.5 - Distribuição de DSI no Abrigo 1

ABRIGO 1

Caudal

(m3/s) Barbo Juvenil Barbo Adulto

50

60

80

72

Tabela 5.6 - Distribuição de DSI no Abrigo 2

ABRIGO 2

Caudal

(m3/s) Barbo Juvenil Barbo Adulto

50

60

80

Tabela 5.7 - Distribuição de DSI no Abrigo 3

ABRIGO 3

Caudal

(m3/s) Barbo Juvenil Barbo Adulto

50

60

80

73

Começando por analisar os resultados obtidos para os barbos juvenis, pode observar-se que o

aumento do caudal não é favorável, uma vez que resulta numa diminuição dos valores de DSI

em todos os abrigos. Dos três abrigos, o abrigo 1 é aquele que se encontra a uma cota que

permite valores mais elevados de DSI. Os restantes apresentam valores de DSI mais baixos,

em especial o abrigo 2 pois não se encontra a uma cota que permita obter valores elevados de

DSI. De forma geral, pode considerar-se que os abrigos deveriam estar a uma cota inferior,

nomeadamente o abrigo 2.

Relativamente aos barbos adultos, o abrigo 2 é novamente o que apresenta piores resultados,

apesar de ter valores mais elevados para os adultos que para os juvenis (expectável, pois o

barbo adulto tende a preferir profundidades mais elevadas que o juvenil. O abrigo 1 e o abrigo

3 apresentam resultados semelhantes, sendo que o abrigo 3 apresenta valores ligeiramente

superiores. Concluindo, e sendo mais uma vez algo comum aos barbos juvenis, o aumento de

caudal não é favorável para os valores de DSI nos abrigos.

As distribuições de VSI nos três abrigos, tanto para o barbo juvenil como adulto, podem ser

observadas nas tabelas 5.8, 5.9 e 5.10.

Tabela 5.8 - Distribuição de VSI no Abrigo 1

ABRIGO 1

Caudal

(m3/s) Barbo Juvenil Barbo Adulto

50

60

80

74

Tabela 5.9 - Distribuição de VSI no Abrigo 2

ABRIGO 2

Caudal

(m3/s) Barbo Juvenil Barbo Adulto

50

60

80

Tabela 5.10 - Distribuição de VSI no Abrigo 3

ABRIGO 3

Caudal

(m3/s) Barbo Juvenil Barbo Adulto

50

60

80

75

Apesar de a configuração escolhida para o abrigo ter sido feita com o objectivo de combinar as

características mais favoráveis para os barbos juvenis e adultos, as profundidades verificadas

no abrigo acabam por influenciar também a velocidade e, consequentemente, os valores de

VSI verificados.

Os valores de VSI são elevados para os abrigos 1 e 3, sendo inferiores no abrigo 2, no caso

dos barbos juvenis. De referir, como já foi observado anteriormente, que o abrigo 2 é aquele

que apresenta piores valores de DSI para ambos os estágios de vida. No barbo adulto os

valores de VSI são relativamente mais baixos, o que seria expectável face ao que acontece

para os juvenis, pois os valores de preferência máxima em termos de velocidade diferem

bastante entre estágios de vida: cerca de 0,1 m/s e 0,9 m/s para os juvenis e para os adultos,

respectivamente.

Tendo em conta esta análise pode concluir-se que:

A utilização de uma única configuração de abrigo para uma espécie só é possível

quando as preferências em termos de velocidade para ambos os estágios são

semelhantes;

Em função do caudal, a profundidade no abrigo altera-se, influenciando também os

valores de velocidade, alterando desta forma a disponibilidade de habitat;

A colocação de abrigos a cotas significativamente diferentes pode ser favorável,

funcionando assim cada abrigo para um caudal diferente.

76

77

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1 CONCLUSÕES

A presente dissertação aborda a modelação hidrodinâmica de habitat de abrigos laterais para

peixes, tendo como primeira fase a calibração do modelo numérico através da comparação de

resultados com os obtidos numa instalação experimental no âmbito de uma dissertação de

doutoramento na École Polythecnique Fédérale de Lausanne. O modelo aplicado foi o River2D,

cujo funcionamento é brevemente explicado nesta dissertação.

Integrando curvas de preferência de habitat, foi possível comparar os resultados numéricos

com os obtidos em ensaios experimentais, traduzidos em termos de taxa de presença dos

peixes nos abrigos. Verificou-se uma boa correlação entre os resultados obtidos nos ensaios

experimentais e nos modelos numéricos. Ainda assim, e tendo como referência as

configurações testadas experimentalmente (configurações C), o habitat foi simulado para

outras espécies, estágios de vida e períodos do ano, de forma a encontrar uma relação entre

espécies.

As diferenças nas preferências de velocidade entre a espécie utilizada nos ensaios

experimentais (truta juvenil) e as estabelecidas para o rio Lima poderão ajudar a explicar os

resultados discordantes. Diversos autores referem a importância de desenvolver curvas de

preferência de habitat do local em estudo, pois as necessidades de habitat dependem não só

do estágio de vida mas também do tipo de rio. Vismara et al. (2001) encontrou diferenças entre

curvas de preferência obtidas em regiões diferentes, o que vem reforçar a necessidade de

utilização de curvas de preferência do local em estudo (Moyle et al., 1985; Orth, 1987), para o

correcto dimensionamento dos abrigos laterais para peixes.

De facto, existem diferenças entre as preferências da truta do rio Lima e as estudadas por

Vismara et al. (2001). Se para preferências em termos de velocidade das trutas juvenis os

resultados são similares (i.e., maior VSI ocorre para velocidades baixas), o mesmo não

acontece para as adultas. A truta do rio Lima aparenta suportar melhor as elevadas

velocidades típicas de um rio montanhoso. Em termos de preferência, no que diz respeito às

baixas profundidades de escoamento, os resultados entre curvas são semelhantes. Contudo,

notam-se grandes discrepâncias para profundidades elevadas, o que pode ser causado pelas

diferentes morfologias dos rios onde as curvas foram desenvolvidas. No caso da instalação

experimental, as profundidades verificadas (0,24 a 0,27 m) não são favoráveis para as trutas

adultas, no que resulta em valores mais baixos nas simulações de habitat (HHS). Isto explica a

baixa disponibilidade de habitat para os adultos. Na Figura 6.1 podem ser observadas

diferentes curvas de preferência de diferentes regiões, juntamente com as curvas de

preferência da truta do rio Lima.

78

Figura 6.1- Curvas de preferência para as trutas (esquerda – juvenil, direita – adulta) (as curvas

de preferência do rio Lima estão assinaladas a vermelho) (adaptado de Vismara et al., 2001)

Um elevado número de estudos de modelação de habitat sublinhou a necessidade de definir a

adequabilidade de habitat baseada nos estágios de vida (e.g. Copp, 1992; Lamouroux et al.,

1999). A utilização de habitat por parte dos peixes varia bastante entre espécies e seus

estágios de vida. É sabido que os indivíduos de maiores dimensões (i.e., adultos) preferem

habitats mais profundos com maiores correntes do que os pequenos da mesma espécie

(Lamoroux et al., 1999). Assim, são necessários estudos adicionais com juvenis e adultos, para

cobrir todo o ciclo de vida das espécies piscícolas.

Além disso, discrepâncias nas preferências de habitat observadas entre estágios de vida

causam dificuldades em dimensionar um abrigo que abranja todo o ciclo de vida das espécies.

De facto, a melhor configuração testada por Ribi (2011) para a truta adulta (C2) não é a mais

adequada para a truta juvenil. Para ultrapassar esta situação, implantar dois ou mais abrigos

com diferentes configurações, uns para juvenis e outros para adultos, pode ser a solução a

considerar em alguns casos.

Sendo que pouco se sabe sobre a geometria dos abrigos laterais para peixes, depois de

verificada a validade do modelo, foram criadas onze novas configurações para os abrigos -

designadas de A a K, tendo como referência as testadas em instalação experimental, de forma

a perceber que factores podem influenciar a eficiência dos abrigos. Foram criadas

configurações que em alguns casos melhoram significativamente a disponibilidade de habitat

no abrigo para uma determinada espécie e estágio de vida. Constatou-se, porém, que a

mesma configuração pode ter resultados excelentes para uma determinada espécie e ser

completamente irrelevante para outra.

79

Na Tabela 6.1 é feito um resumo das melhores configurações em termos de HHS para cada

espécie, estágio de vida e época do ano considerada, e é apresentado também o incremento

no valor de HHS relativamente à configuração C0 (sem qualquer obstáculo no abrigo).

Tabela 6.1 - Melhores configurações e ganhos de HHS em relação à configuração C0

Melhor configuração

Ganho de HHS em relação à configuração C0

Truta

Inverno Primavera

Juvenil C8/C11 0,01

Adulta K 0,08

Verão Outono

Juvenil H 0,04

Adulta C11 0,03

Barbo

Juvenil D 0,10

Adulto K 0,04

Como se pode observar na tabela anterior foram criadas configurações que superam os

valores de HHS das configurações testadas em modelo físico em 4 dos 6 casos estudados.

No caso da truta, no período Inverno-Primavera, a truta juvenil (espécie testada em modelo

físico) revelou melhores resultados para as configurações C8 e C11 (valores praticamente

idênticos) onde a forma do obstáculo é a mesma, triangular, mudando apenas a orientação do

vértice (para o interior do canal ou para o interior do abrigo). No mesmo período, mas no

estágio adulto, a configuração K produziu um ganho de 0,08 em termos de HHS. A

configuração K resulta da retirada de uma parede vertical da configuração C8.

No período Verão-Outono, no caso da truta juvenil, a melhor configuração acabou por ser a

configuração H, com um ganho de 0,04 relativamente à configuração C0. A configuração H é

semelhante à configuração C10, mas com um maior prolongamento do obstáculo para o

interior do canal.

No caso do barbo apenas foram realizadas simulações para dois estágios de vida, juvenil e

adulto, tendo sido obtidos os melhores resultados para a configuração D e K, com ganhos de

0,10 e 0,04, respectivamente.

Tal como já referido anteriormente, a mesma configuração pode produzir resultados bastante

favoráveis para uma determinada espécie e estágio de vida e, noutro estágio de vida, ter

valores de HHS muito baixos, em alguns casos traduzindo-se mesmo em perdas de HHS

relativamente à configuração C0 (sem qualquer obstáculo no abrigo).

80

De forma a simular a aplicação destes abrigos, aplicaram-se os abrigos laterais ao rio Ocreza.

Simulou-se o habitat para a espécie mais relevante neste rio, o barbo, e utilizando o mesmo

tipo de abrigo para ambos os estágios de vida. Para determinar a disponibilidade de habitat no

rio Ocreza foi utilizado o modelo Casimir Fish 2D. A utilização do mesmo tipo de abrigo para os

diferentes estágios de vida revelou-se algo desapropriada, sendo que a colocação de todos os

abrigos aproximadamente à mesma cota também se revelou incorrecta. No entanto, e apesar

de para caudais elevados a disponibilidade de habitat nos abrigos ser quase nula, a WUA

aumenta de uma forma geral ao longo do rio, conseguindo-se ganhos de cerca de 200 e 600

m2, respectivamente para o barbo juvenil e adulto, utilizando três abrigos com cerca de 24 m2.

6.2 RECOMENDAÇÕES

Presentemente pouco se conhece relativamente a abrigos laterais para peixes especialmente

no que diz respeito à(s) configuração(ões) a adoptar. Assim, como recomendações para

estudos futuros tem-se:

Testar diferentes configurações para os abrigos laterais, bem como a sua geometria;

Estudar a influência de abrigos em diferentes margens, não só para a mesma espécie

e estágio de vida mas também para casos diferentes;

Estudar a relação entre a existência de dois abrigos na mesma margem e a distância

óptima entre eles, pois um abrigo afecta as condições de habitat a jusante. Se a

jusante deste primeiro abrigo existir outro, importa perceber qual a disponibilidade de

habitat do segundo abrigo;

Estudar a colocação de abrigos a diferentes cotas num curso de água natural. A

existência de abrigos a cotas diferentes (e para caudais diferentes) pode revelar-se

benéfica;

Estudar a utilização de um abrigo com profundidade variável na sua

Estudar os padrões de escoamento decorrentes da morfologia do rio em estudo;

Criar condições, para os caudais mais frequentes, para que a velocidade de

preferência máxima possa coincidir com a profundidade de preferência máxima;

Utilizar, juntamente com os modelos hidrodinâmicos de habitat, um modelo físico;

Construir abrigo lateral para peixes e acompanhar a sua evolução e taxa de presença

em condições de hydropeaking de forma a validar os ensaios em instalação

experimental e as simulações numéricas.

81

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86

I

ANEXOS

ANEXO A – MALHAS DE ELEMENTOS FINITOS. CONFIGURAÇÕES C

Configuração Boundary Nodes (m) Uniform Fill (m) Ângulo (º) QI (-) Número de nós

C0 0,10 0,05 0 0.37 8594

C1 0,10 0,05 0 0.34 8638

C2 0,10 0,05 0 0.35 8689

C3 0,10 0,05 0 0.33 8672

C4 0,10 0,05 0 0.32 8670

C5 0,10 0,05 0 0.38 8686

C6 0,10 0,05 0 0.36 8676

C7 0,10 0,05 0 0.40 8579

C8 0,10 0,05 0 0.38 8512

C9 0,10 0,05 0 0.31 8721

C10 0,10 0,05 0 0.31 8700

C11 0,10 0,05 0 0.37 8520

II

III

ANEXO B – MALHAS DE ELEMENTOS FINITOS. NOVAS CONFIGURAÇÕES

Configuração Boundary Nodes (m) Uniform Fill (m) Ângulo (º) QI (-) Número de nós

A 0,10 0,05 0 0.2959 8468

B 0,10 0,05 0 0.3364 8470

C 0,10 0,05 0 0.431 9284

D 0,10 0,05 0 0.2969 10371

E 0,10 0,05 0 0.2942 8514

F 0,10 0,05 0 0.3055 8586

G 0,10 0,05 0 0.2955 8683

H 0,10 0,05 0 0.307 8723

I 0,10 0,05 0 0.3135 8695

J 0,10 0,05 0 0.3054 8715

K 0,10 0,05 0 0.3353 8780

IV