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ESTUDOS SOBRE A SURDEZ Sunday, November 20, 2005 Da discriminação à afirmação: breve história da surdez da antiguidade ao séc. XX. Por Rui A. M. Gonçalves* - [email protected] Resumo Este texto pretende dar a conhecer à comunidade ouvinte o percurso histórico da comunidade surda desde a antiguidade até ao sec. XX, caminho repleto de dificuldades e de provações como a discriminação, sujeição à comunidade ouvinte, proibição de se comunicarem através de gestos, de ignorância e preconceito mas com períodos de claro avanço nas condições de vida e de educação de surdos, seja através de escolas de e para surdos, seja através dos avanços tecnológicos do sec. XX que permitem a comunidade surda tenha uma forma de vida mais aproximada à forma de vida da comunidade ouvinte. Outro propósito deste artigo é desmistificar algumas ideias preconcebidas que a maioria da comunidade ouvinte possui sobre a surdez, sobre a Língua Gestual e sobre a comunidade ouvinte em geral. Este artigo aborda também algumas questões sobre a terminologia com que se deve tratar os membros da comunidade surda. "Que importa a surdez do ouvido se o espírito continuar a ouvir? A verdadeira e incurável surdez é a surdez do espírito." Vítor Hugo Introdução. É quase um lugar-comum dizer que para se perceber o presente primeiro há que perceber o passado. Este artigo tem por objectivo traçar um percurso histórico da educação dos surdos desde a Antiguidade clássica até ao Sec. XX, percurso esse recheado de discriminação, ostracismo, exclusão e isolamento, assim como alguns avanços e retrocessos na qualidade de vida dos surdos. Durante centenas de anos a comunidade surda foi privada de todo e qualquer direito, como ter propriedade privada, ou impedida de exercer o seu livre arbítrio, para casar, por exemplo. Só com o advento do humanismo no Séc. XVIII é que a comunidade surda começou a ser tratada com alguma dignidade, e a emancipação da comunidade surda só se começou realmente a dar a partir do Sec. XX, com os estudos de alguns linguistas e a criação de uma universidade só para surdos, assim como algumas

Estudos Sobre a Surdez

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Artigo sobre surdez

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ESTUDOS SOBRE A SURDEZ Sunday, November 20, 2005

Da discriminação à afirmação: breve história da surdez da

antiguidade ao séc. XX.

Por Rui A. M. Gonçalves* - [email protected]

Resumo

Este texto pretende dar a conhecer à comunidade ouvinte o percurso histórico da comunidade

surda desde a antiguidade até ao sec. XX, caminho repleto de dificuldades e de provações

como a discriminação, sujeição à comunidade ouvinte, proibição de se comunicarem através

de gestos, de ignorância e preconceito mas com períodos de claro avanço nas condições de

vida e de educação de surdos, seja através de escolas de e para surdos, seja através dos

avanços tecnológicos do sec. XX que permitem a comunidade surda tenha uma forma de vida

mais aproximada à forma de vida da comunidade ouvinte. Outro propósito deste artigo é

desmistificar algumas ideias preconcebidas que a maioria da comunidade ouvinte possui sobre

a surdez, sobre a Língua Gestual e sobre a comunidade ouvinte em geral. Este artigo aborda

também algumas questões sobre a terminologia com que se deve tratar os membros da

comunidade surda.

"Que importa a surdez do ouvido se o espírito continuar a ouvir?

A verdadeira e incurável surdez é a surdez do espírito."

Vítor Hugo

Introdução. É quase um lugar-comum dizer que para se perceber o presente primeiro há que

perceber o passado. Este artigo tem por objectivo traçar um percurso histórico da educação

dos surdos desde a Antiguidade clássica até ao Sec. XX, percurso esse recheado de

discriminação, ostracismo, exclusão e isolamento, assim como alguns avanços e retrocessos

na qualidade de vida dos surdos. Durante centenas de anos a comunidade surda foi privada de

todo e qualquer direito, como ter propriedade privada, ou impedida de exercer o seu livre

arbítrio, para casar, por exemplo. Só com o advento do humanismo no Séc. XVIII é que a

comunidade surda começou a ser tratada com alguma dignidade, e a emancipação da

comunidade surda só se começou realmente a dar a partir do Sec. XX, com os estudos de

alguns linguistas e a criação de uma universidade só para surdos, assim como algumas

invenções tecnológicas. O autor pretende com este artigo dar a conhecer à comunidade

ouvinte um pouco da história (de resto pouco explorada) da comunidade surda, da sua forma

de comunicar e da sua educação.

Clarificação de terminologia. O ponto de partida para qualquer artigo, tese ou investigação

académica relacionada com o tema da surdez deve passar por uma clarificação de

terminologia. O problema que se coloca é o seguinte: devemos chamar o indivíduo que não

ouve de “surdo-mudo”, ou de apenas “surdo”? Qual é a forma correcta? A forma mais ouvida é

a primeira. Ouve-se nas ruas, nos cafés e na comunicação social. A terminologia “surdo-mudo”

é usualmente defendida pelo seguinte argumento: “o surdo não ouve. Como não ouve, não

conhece os sons e desconhecendo os sons não os poderá articular; sem articular sons o surdo

também é mudo.” Os estudos de William Stokoe com surdos americanos e a ASL (American

Sign Language) provam o contrário. Stokoe definiu que as línguas gestuais são línguas em que

o plano fonológico é substituído pelo plano querológico[1] (Fernandes 2003, 41). Se existem

línguas orais-auditivas como por exemplo o português, também existem línguas visuais-

icónicas, (no caso o exemplo concreto das línguas gestuais). Ao se considerar que a língua

gestual é uma língua per se, o surdo ao comunicar através de gestos está a falar, não de uma

forma que estamos habituados, pois não é através de sons.

Há também plano de auto-afirmação: durante muitos anos (na realidade até aos anos 60 do

século XX) era normal os surdos serem chamados na língua inglesa de “Deaf and Dumb”. O

problema é a terminologia “dumb”, que entre as várias traduções possíveis algumas são

claramente pejorativas: desinteligente, estúpido, com pouca educação, entre outros mimos

muito pouco lisonjeiros para com os surdos. O dicionário Word Net[2] (da responsabilidade da

Universidade de Princeton) tem a seguinte entrada para “dumb”: “slow to learn or understand;

lacking intellectual acuity; speechless” (lento a aprender ou a entender; desprovido de acuidade

intelectual; incapaz de falar). O dicionário da Oxford é mais directo: “stupid” (estúpido). Por aqui

se depreende que chamar a um surdo americano de “deaf and dumb” é uma afronta, uma

ofensa.

Alguns movimentos de surdos, como por exemplo o “Proud Deaf” (“Orgulho Surdo”) fizeram

força para que o termo “Dumb” fosse abolido, e uma maior consciencialização dos problemas

dos surdos permitiram que o termo pejorativo “dumb” fosse caindo em desuso.

Pode-se então concluir que a forma mais correcta é chamar ao indivíduo que não ouve de

surdo, apenas.

Magia negra e ostracização. Muito pouco se sabe acerca da vida de um surdo durante a

antiguidade. Em Esparta as crianças surdas eram atiradas do cimo do monte Tayjetos. Na

Roma antiga, assim que se soubesse que a criança era surda a lei permitia que fosse afogada

no rio Tibre desde que tivesse menos de 3 anos de idade (Haguinara-Cervellini 2003: 30). Os

sacerdotes egípcios e assírios faziam as suas presciências através da observação e análise do

ouvido interno dos indivíduos. No entanto, recusavam a análise aos surdos que tivessem o

aparelho auditivo danificado, pois eram considerados seres sem alma.

São escassos os autores da antiguidade clássica, que se debruçaram sobre a surdez. O

médico Galeno (131dc-200dc) observa que os nados surdos eram invariavelmente incapazes

de falar que o leva a concluir aparelho auditivo e o aparelho fonológico estavam ligados entre

si. No diálogo socrático Crátilo, uma reflexão platónica sobre a linguagem, encontra-se a

seguinte passagem:

Se não tivéssemos voz nem língua e ainda assim quiséssemos expressar coisas uns aos

outros, não deveríamos, como aqueles são mudos, esforçar-nos para transmitir o que

desejássemos dizer com as mãos, a cabeça e outras partes do corpo? (citado por Sacks 2002:

29)

Aristóteles foi o autor da antiguidade clássica que mais reflexão nos deixou sobre a surdez: a

sua comparação com a cegueira, a sua implicação com a vida do indivíduo. Na História dos

Animais, uma passagem desencadeou alguma polémica: “todos os que nascem surdos se

tornam incapazes de falar. Têm voz, mas não tem fala.” (in Plann 1999: 208).

Como Plann (1999: 17) observa, Aristóteles dá uma enorme importância à audição. O filósofo

diz ser o sentido mais importante na aquisição de conhecimentos e na aprendizagem, uma vez

que a audição era movida pelo som, e o som era o veículo do pensamento, apesar de

reconhecer que existem outras formas de aceder à mente. Aristóteles comparou a educação de

um surdo com a educação de um cego, e chegou à conclusão que a visão era mais útil na vida

quotidiana, por sua vez a audição era mais útil à retórica e à argumentação. Daí que o liceu

reconhecesse mais inteligência ao cego que ao surdo (Plann 1999: 209). Mas Aristóteles caiu

numa contradição: Comparou um surdo a um animal. A voz era o produto da alma a interagir

com os aparelhos fisiológicos (boca, língua, cordas vocais, etc.). Se os surdos não falam, é

porque não têm alma para fazer a interacção com os órgãos destinados à fala tal como os

animais, que também têm os órgãos, mas não falam. Logo, animais e surdos não têm alma.

Uma lógica estranha e que entra em contradição com o que filósofo diz sobre o acesso à

mente. Devido à riqueza do corpus aristotélico, este permitiu que houvessem diversas

acepções, leituras, interpretações, escolhas, e até preferências por parte das mais diversas

instâncias científicas da Idade Média (Plann 1999: 17).

“No princípio era o Verbo”: A importância das referências bíblicas e a influência

religiosa. A Bíblia tem poucas referências à surdez. Rée (1999: 95) encontra duas referências

explícitas e duas implícitas, Sacks (2002: 28) encontra uma referência que curiosamente

escapa a Rée. A primeira referência encontra-se no Levítico, na qual se incita os judeus a não

falarem mal dos surdos (Lev, 19:14). O livro do Levítico é acima de tudo uma colectânea de

preceitos morais e regras a serem seguidas pelos judeus. É do Levitico que vão derivar os

textos talmúdicos. As leis do Talmude protegem os surdos de pragas rogadas por terceiros (por

não poderem ouvir, também não poderão defender-se), mas nega-lhes o direito de deterem

bens e propriedades. Esta proibição prende-se ao facto de que os hebreus não confiavam nos

surdos, pois o Talmude especificava que aquele que deixasse o seu gado na guarda de surdos

era o mesmo que deixar o seu gado na guarda de “idiotas” (Moeller s/d).

A segunda referência encontra-se no Novo Testamento, e relata um processo taumatúrgico

de Jesus Cristo. São Mateus relata que as multidões ficaram deslumbradas com a cura de um

mudo, coisa nunca vista em Israel (Mat, 9:32). A referência que Sacks encontra encontra-se

logo a abrir o Evangelho de São João: “No princípio era o Verbo” (João; 1:1).

Mas o que realmente foi importante para a vida dos surdos não foram estes relatos explícitos.

Bastaram duas passagens de um capítulo da Epístola de S. Paulo aos Romanos que proibiam

os surdos a terem uma vida minimamente calma. No 10º Capítulo da epístola encontramos o

seguinte:

Porque com o coração se crê para alcançar a justiça; mas com a boca se faz a confissão para

alcançar a salvação. (Rom; 10:10)

Logo a seguir outro versículo devastador:“Logo a fé é pelo ouvido, e o ouvido pela palavra de

Cristo" (Rom; 10:17)

S. Paulo incita à confissão como forma de absolvição dos pecados e como tal a salvação. Os

surdos estavam excluídos deste processo, uma vez que não tinham meios de se fazer

entender, visto não poderem falar. Mesmo que o confessor entendesse os gestos que um

surdo fizesse, ou que, por absurdo, um surdo escrevesse a sua confissão, o confessor

facilmente recusaria a confissão: com a boca se faz a confissão.

Perante tais referências à surdez os religiosos medievais fizeram o mais fácil: ignorar os

surdos. O indivíduo surdo só era lembrado quando era alvo de uma perseguição fácil, assunto

que será abordado mais à frente. Entender um indivíduo surdo é uma tarefa difícil, e se não

houver preparo ou vontade para tal, a compreensão é impossível.

Santo Agostinho também tem um papel assaz importante neste movimento. O bispo de Hipona

faz-se a si próprio uma pergunta simples: Porque é que nascem crianças cegas ou surdas? Na

sua Traditio Catholica, Santo Agostinho disserta sobre o facto de que na época era comum os

recém nascidos serem considerados a imagem de Deus, ainda incorruptos pelo homem. Se

Deus permitia que uma criança nascesse surda ou cega, era porque essa deficiência era

reflexo dos pecados dos seus pais (Plann 1997: 204). Ao fim e ao cabo, a surdez congénita de

uma criança era o pagamento (injusto, é certo) das vidas resolutas de seus pais.

Durante o período áureo do Tribunal de Santo Oficio, as minorias surdas foram uma presa fácil

na perseguição: surdos e deficientes mentais eram os primeiros a serem delatados. A tradição

católica ainda seguia os preceitos deixados por Santo Agostinho. É fácil perceber que estas

minorias não tinham protecção nos países cristãos. Na cristandade de pouco vale o Talmude

proteger os surdos de maus agoiros. Para cúmulo, os surdos eram muito mal vistos pela

sociedade medieval, porque eram sinónimos de fruto do pecado.

Aristóteles, S. Paulo e Santo Agostinho tiveram uma enorme importância na sociedade

medieval, muito devido à sua influência na igreja católica, e a importância que esta tinha nos

domínios sociais, filosóficos e políticos. Ao nível da educação e da qualidade de vida do

indivíduo surdo, a tríade de pensadores actuou como as três moiras da mitologia grega[3],

sensivelmente até ao século XVI. É necessário dizer que estes não foram culpados

conscientes da discriminação dos surdos. Se quisermos apontar os culpados, tais foram a

leitura que foi feita pelos escolásticos medievais sobre os escritos sacro-filosóficos, ou então, a

ignorância e o preconceito que reinava na Idade Média.

Os pioneiros espanhóis. Como já foi referido, ser progenitor de uma criança surda era uma

provação para muitos. A tradição medieval falava de castigo de Deus, de pecado, etc. Uma

família com uma criança surda era sinónimo de família pecadora, logo manchada pela

desgraça social.

Oliver Sacks (2002: 27) refere que até 1750 a vida de um surdo pré-linguistico[4] era

calamitosa. No cômputo geral, é aceitável concordar com Sacks, no entanto no século XVI

encontramos gente a remar contra maré.

Uma das famílias mais poderosas de Espanha no século XVII (que era basicamente o mesmo

que dizer uma das famílias mais poderosa do mundo), a família Velasco, foi duplamente

manchada pela desgraça: dois dos filhos de Pedro Velasco, um dos patriarcas da família, eram

surdos. Como era usual na altura, as famílias com algum poder em Espanha encerravam os

seus entes não queridos em conventos: uma filha grávida antes do tempo, que se recusasse a

casar com quem a família designasse, que não tivesse um comportamento considerado

adequado segundo os padrões da época ou uma criança ilegítima era um passaporte para o

encerramento num dos inúmeros mosteiros espanhóis. O acaso permitiu que Fernando e

Pedro, os dois gémeos Velasco, fossem encerrados num convento benedetino de Oña.

Convém, neste momento, reflectir sobre a Ordem de S. Bento. A regra mais importante desta

ordem era o voto de silêncio a que os seus membros eram obrigados. Acreditavam que o

silêncio era sinal de humildade, e através dele se evitavam conversas fúteis e sem sentido. As

primeiras ordens que obedeciam à regra do silêncio remontam ao século III, mas a ordem

beneditina foi a mais importante da Europa ocidental. Os monges depressa descobriram que

podiam comunicar sem no entanto quebrarem os seus votos, utilizando as mãos. De acordo

com António Yepes (in Plann 1999: 211), o Liber ceremoniarum monasterii sancti Benedictini

Vallisolentani descrevia 360 gestos diferentes “ para todas as coisas mais importantes, e com a

qual [os monges] se faziam entender”[5]. Inconscientemente os Benedetinos estavam a criar

uma proto-língua gestual.

Neste contexto, a melhor ajuda que um surdo podia ter seria precisamente a de um beneditino,

e os dois gémeos surdos foram internados num convento beneditino. Mas o que a história não

nos deixou foi se se tratou de uma coincidência, ou se Pedro Velasco teria a consciência de

que o mosteiro de Oña era o local indicado para internar os seus filhos.

Um dos monges desse mosteiro era também oriundo de uma importante família de Castela,

Pedro Ponce de León de seu nome. Acredita-se que Ponce de León fora encerrado no

convento de Oña por motivos similares aos dos gémeos: serem entes não queridos pelas suas

famílias.[6] Uma das tradições benedetinas era a designação de um “anjo da guarda” aos

recém chegados (Plann 1999: 22), ao qual cabia a tutela dos jovens, a sua instrução

(principalmente leitura e aritmética), e o ensino dos aspectos directamente relacionados com a

ordem, como os rituais de comunicação gestual que precediam as cerimónias religiosas. Ponce

de León aceitou ser o “anjo da guarda” dos irmãos Velasco. Mas Ponce de León não ensinou

apenas, também aprendeu com os irmãos gémeos. Antes de existirem sistemas codificados de

língua gestual, ou sistemas de pedagogia de surdos, estes criavam gestos próprios, para se

puderem fazer entender. Fernando e Pedro tinham inventado códigos gestuais próprios

impelidos pela necessidade de se compreender mutuamente, e Ponce de León depressa ficou

a conhecer esses códigos. Se o reportório gestual dos beneditinos reflectia a vida monástica, o

repertório gestual dos Velasco reflectia a vida familiar e quotidiana. Mas depressa os três

descobriram um fenómeno que viria a ser re-descoberto no sec. XX: o reportório gestual dos

monges de Oña era influenciado pela língua espanhola, porque tal era a língua falada pelos

monges[7]. Os gestos beneditinos eram uma tradução gestual de uma língua materna. Mas o

caso dos gémeos Velasco era particularmente diferente pois desconheciam o espanhol, tanto

na sua forma oral (eram surdos), como na sua forma escrita (nenhum pedagogo se aventuraria

a ensinar a ler e a escrever duas crianças surdas). Portanto, a comunicação gestual dos irmãos

Velasco era regida por regras próprias conhecidas apenas por eles. Ponce de Leon de certeza

se sentiu estimulado a tomar a braços a educação dos jovens aristocratas. Interessante é o

facto de o repertório benedetino ser limitado, todos os gestos para além do estritamente

necessário à vida monástica eram considerados, e chamados, inúteis (Barakat, in Plann 1999:

212).

Como aos Velasco não foi imposto regra alguma, eles criaram gestos à medida que

precisavam. O trabalho com as crianças colhe os seus frutos, e a fama do Monge benedetino

espalha-se pela Espanha Católica. Depressa o mosteiro de Oña se torna um centro de

educação de crianças surdas da nobreza espanhola. A prevalência de crianças surdas na

nobreza espanhola era considerável, não só pelas condições sanitárias da época, mas pelas

mesmas razões que a hemofilia se espalhou pelas casas reais europeias do sec. XIX: causas

genéticas. A família Velasco carregava nos seus genes a deficiência auditiva e por vias dos

muitos casamentos que o patriarca Velasco estabeleceu com várias famílias nobres da

Espanha, estas passaram a carregar também este problema genético (Plann 1999: 37-38).

A metodologia de León consta ser: primeiro perceber a criança surda, como é que ela

comunica com o mundo, depois ensinar a criança ler, e se ela for capaz, ensinar vocalizações

e leitura labial. Aponta-se a objectos e explica-se como dizer (Plann 1999: 31).

O mosteiro espanhol foi visitado por médicos, filósofos e nobres que acorreram ao mosteiro de

Oña para ver como o monge salva os surdos. Girolamo Cardano, um médico-filósofo muito

conceituado na sua Itália natal, é um dos inúmeros visitantes que tem um particular interesse

no método do beneditino por ser pai de uma criança surda. Depois de conhecer o trabalho

espanhol e do seu contacto diário com o seu filho, Cardano conclui:

É possível dar a um surdo condições de ouvir pela leitura e de falar pela escrita (...) pois assim

como diferentes sons são usados convencionalmente para significar coisas diferentes, também

podem ter essas funções as diversas figuras de objectos e palavras(...) caracteres escritos e

ideias podem ser conectados sem a intervenção de sons verdadeiros. (Sacks 2002: 29)

Afirmar que ter ideias independe de ouvir palavras era revolucionário para a época. Cardano

concluiu isso pelo contacto com o seu filho, que lhe expressa ideias e emoções, e confirma a

sua teoria em Espanha. À data da morte de Ponce de León, 1584, não havia sucessor à altura

deste, talvez porque apesar da sua fama de pedagogo ninguém se interessou pela arte de

ensinar surdos (Plann 1999: 37). Pelo menos durante alguns anos.

Já no século XVII um jovem ambicioso apercebeu-se não só da importância que as famílias

nobres espanholas davam à educação de seus entes surdos, mas também do prestígio e da

influência que daí advinha. O aragonês Juan Pablo Bonet era um homem das sete-partidas: foi

militar e político, e nas suas andanças combateu piratas Italianos e de Sabóia, conheceu Lope

de Veja na Argélia até voltar a Espanha para ser secretário Juan de Velasco. Durante as duas

décadas que se passaram sem Ponce de León, apenas um professor em Espanha tentava

ensinar crianças surdas. Chamava-se Ramirez de Carrion e estava ao serviço exclusivo da

Duquesa de Frias, que havia enviuvado de um membro da família Velasco, e claro está, com

um filho surdo. Bonet trava conhecimento com Carrion, chegando a partilhar os mesmos

aposentos até à morte deste. A duquesa tenta arranjar um preceptor para o filho e Bonet, que

se considerava um homem de letras candidata-se ao cargo, dizendo à duquesa que Carrión lhe

havia revelado a forma de educar crianças surdas, o que parece improvável, uma vez que este

escondia a todos o seu método de trabalho (Plann 1999: 43). À falta de melhor a duquesa

aceita, mas o novo professor não parece fadado para a tarefa. Susan Plann afirma que o

fracasso como professor não impede Bonet de escrever o primeiro livro sobre o ensino de

surdos, Reduccion de las letras y arte para enseñar a ablar los mudos, de espalhar a sua fama

de preceptor de um membro da família Velasco por Madrid, e de ter feito uma descoberta

maravilhosa: o caminho secreto para ensinar crianças surdas (Plann 1999: 42). O seu método

era bastante inovador. Bonet achava que se devia tentar ensinar o surdo a falar, mas também

dava muita importância aos gestos. Criou um modelo de uma língua em couro maleável e

demonstrava a posição da língua em cada letra do alfabeto em cada som. Pediu a um gravador

para lhe fazer os desenhos das posições das mãos para facilitar a memorização da posição

das mãos (Rée 1999: 100-103) Bonet não ensina a leitura labial porque não acredita nela

(Plann 1999: 47).

Mais uma vez a Espanha está na vanguarda, e atrai intelectuais de toda a Europa para

travarem conhecimento com a arte de ensinar os que não ouvem e não falam. Estes

intelectuais vêm para conhecer Bonet e para adquirir o seu livro. Depressa aparecem

traduções por toda a Europa. Mas Bonet já não está interessado na pedagogia. Acha que o seu

trabalho nessa área cessou, e tendo deixado trabalho escrito, outros podem continuar. Bonet

dedica-se apenas à política.

Outros tentam outros métodos: Sachs de Lewenheim relata alguns métodos em voga na altura,

como enviar os surdos para um vale com bastante eco e obrigá-los a gritar, ou gritar para um

balde ou um tonel de vinho tão alto quanto possível. O processo de “cura” mais insólito tinha a

seguinte receita: rapar uma coroa na cabeça do surdo, aplicar-lhe uma mistura de Brandy,

salitre, óleo de amêndoas e petróleo que depois de fervido era misturado com nafta. O

unguento era espalhado duas vezes por dia na cabeça rapada do surdo até o cabelo

reaparecer. Entretanto, falava-se para a coroa e o surdo era capaz de ouvir.

O Método Francês. Como Sacks apontou, até 1750 a vida dos surdos era miserável. Os

espanhóis conseguiram alguns avanços na educação dos surdos, mas apenas a nobreza foi

privilegiada. Um surdo que não pertencesse à nobreza não tinha direito a nada. Porque é que

Sacks refere um ano específico? Graças a algumas mentes brilhantes, o ano de 1750 é

considerado o annus mirabillis da pedagogia de surdos.

Como vimos até agora, o centro nevrálgico da pedagogia de surdos era a Espanha, pelas

vicissitudes decorrentes da quantidade de surdos que existiam na nobreza espanhola. A

necessidade aristocrática foi a mãe da invenção da pedagogia de surdos. Mas a morte de

Ponce de León, o oportunismo e posterior desinteresse de Bonet e o secretismo de Carrión

põe tudo a perder em termos de educação de surdos em Espanha. Entretanto, a capital

intelectual da Europa passa a ser Paris, fruto do Iluminismo e do movimento Enciclopédico. O

centro da pedagogia de surdos também passa para França. Os principais nomes da revolução

educativa sugerida por Sacks são Jacob Pereira, Diderot e De L´Épée, principalmente.

Jacob Rodrigues Pereira era um judeu português que fugindo à Inquisição se instala em

França. Em 1745 diz ter inventado um método para ensinar os surdos a falar, e para o

demonstrar convoca uma série de intelectuais da época para verem que um jovem surdo fala

com ele praticamente todas as letras do alfabeto, algumas palavras e até frases. A audiência

chegou céptica mas saiu impressionada (Rée 1999: 142). De tal forma que os pais de um

jovem surdo chamado Azy d´Étavigny convidam o português a cuidar dele, depois de terem

recorrido ao que de melhor havia em França em termos de medicina e pedagogia e de terem

provado por todas as vezes o insucesso. O trabalho com o jovem depressa deu frutos, e

Pereira estabelece uma escola de surdos, que recebia em simultâneo 3 ou 4 crianças. Diderot,

Rousseu e Buffon fizeram do judeu uma celebridade filosófica, e Pereira aproveitou a sua

reputação pedagógica e filosófica para integrar as mais diversas sociedades científicas do seu

tempo. Apesar da fama, Pereira estava numa posição delicada: Mesmo sendo um país mais

aberto do que os países ibéricos, a França era um país católico, e Pereira era judeu, e estes

poucas vezes eram benquistos na comunidade católica. O facto de apenas receber 4 crianças

de cada vez pode-se explicar pelo facto de que as famílias não queriam conceder a um judeu a

educação de seus entes. Pereira era relutante em ensinar a outros o seu método, considerado

um sucesso (Rée 1999: 144). Designou o seu filho como sucessor, mas Pereira morreu antes

que ele pudesse ter aprendido alguma coisa. Nada se sabe sobre o método de ensino de

surdos empregado por Pereira.

À procura da língua perfeita. Uma das demandas filosóficas da época iluminista era a língua

perfeita. Muitos filósofos acreditavam que as línguas eram um depósito de corruptelas tais

eram as influências sofridas de outras línguas. As línguas estavam cravadas com duplos-

sentidos, metáforas, sinónimos, etc. Para Diderot, um dos grandes nomes do Enciclopedismo e

do Iluminismo francês, as figuras de estilo não passavam de corrupções à língua. Uma das

teorias em voga era a de que quanto mais antiga fosse uma língua, mais pura seria. Por língua

pura, os iluministas acreditavam ser as línguas despidas de sinónimos e metáforas, por

exemplo. Muitas experiências foram feitas para aferir a origem das palavras, ou qual a mais

antigas das línguas. Segundo a narração de Heródoto (Torres Gallardo 1999: 30-31), o faraó

Psamético I, interessado em descobrir a mais antiga das línguas, confiou dois recém-nascidos

a um pastor a quem deu a ordem de educar as crianças sem lhes dirigir a palavra. O rei proibiu

toda e qualquer comunicação oral com elas. Dessa forma, pensava o rei, as primeiras palavras

que as crianças pronunciariam seriam da língua mais antiga do mundo. Volvidos alguns anos,

o pastor informou o rei que as crianças apenas pronunciaram a palavras “bekos”. Após

algumas investigações descobriu-se que “bekos” significava “pão” em frígio, logo o frígio seria a

mais antiga das línguas.

Uma discussão tradicional nos meios académicos e escolásticos medievais era a questão da

língua falada por Adão e Eva. Muitos acreditavam ser o hebraico e outros, o latim. Para

dissipar as dúvidas, o imperador do Sacro Império Romano do Ocidente, Frederico II (1212-

1250), voltou a experimentar a fórmula de Psamético, mas com a diferença das crianças serem

retiradas de todo o contacto humano. As crianças morreram antes de se chegar a alguma

conclusão. Oliver Sacks aponta outros casos, com outros protagonistas como Jaime IV da

Escócia ou Carlos IV da França. Mas o caso mais interessante aconteceu no século XIX com

Akbar Khan, um rei afegão. Este repetiu a experiência com amas surdas, que comunicavam

com as crianças através de gestos, sem que o Khan soubesse de tal. Aos doze anos de idade

as crianças foram apresentadas ao Khan, e expressaram-se por gestos. Como Sacks fez notar,

Não existia, ficou claro, uma língua inata ou adâmica e, se nenhuma língua fosse usada,

nenhuma seria adquirida; mas se fosse usada alguma língua, mesmo de sinais, essa se

tornaria a língua das crianças (Sacks 2002: 130) .

Só no século XVII é que Johann Herder provou que a linguagem humana não era um dom

divino, mas sim uma construção mental. Herder afirmou que a língua surgiu de um impulso que

o ser humano tem em falar de se expressar. Os primeiros humanos começaram a comunicar-

se através de gritos que imitavam os animais, gritos esses que passaram a ser o nome pelo

qual esses animais tornaram conhecidos. É óbvio que a teoria de Herder tem tanta lógica do

que a hipótese de Adão e Eva terem falado hebraico.

Como humanista que era, Diderot achava que a descoberta da “língua perfeita” não devia de

ser feita com experiências que só traziam sofrimento a crianças, mas através da investigação.

Com efeito, Diderot descobriu que os surdos franceses expressavam-se através de uma língua

particularmente diferente das outras: expressavam-se por gestos. Ao investigar estes gestos,

Diderot descobriu que esta forma de comunicação não tinha as corrupções típicas da língua

francesa. Diderot descobre muitas semelhanças na forma de comunicar entre os surdos de

Paris. Em breve o Enciclopedista escreve uma carta, no seguimento da “Carta sobre os cegos

para uso dos que vêm”, denominada de “Carta sobre os surdos-mudos para uso dos que

ouvem e falam”. Esta obra, cujos protagonistas são o próprio Diderot e um amigo surdo, apesar

de não ser uma das obras principais sobre a surdez (na verdade, muito pouco se fala sobre

surdez), teve o condão de proporcionar aos iluministas uma nova visão sobre a surdez.

O nome mais importante da educação dos surdos, é Charles Michel de L´Épée (1712-1789).

L´Épée é um homem do iluminismo, assim como Diderot, e ficou impressionado com a

comunicação dos surdos. Algumas fontes dizem que a sua curiosidade foi fruto da leitura do

diálogo platónico Crátilo (Sacks 1998: 29); outros (Lane 1997: 108; Rée 1999: 147) afirmam

que foi por ver duas irmãs surdas que se impressionou com a língua gestual. Logo que L`Epée

encetou conversa com as duas crianças descobriu que elas deviam poder ter acesso à

confissão, para irem para o inferno. Como disse, L´Épée era um iluminista, e quando descobriu

que existiam muitos surdos em Paris que se comunicavam de uma forma semelhante à das

duas crianças, incorreu num erro que ainda hoje é frequente encontrar: acreditar que a língua

gestual é universal. Acreditando nisso, L´Épée criou a Dactilologia (Rée 1999: 158): uma forma

metódica de comunicação entre os surdos. L´Épée acreditava que a Dactilologia era mais

perfeita que as línguas orais, uma vez que acreditava que os gestos tinham a capacidade de

atravessar fronteiras que as línguas orais não conseguiam (INJS s/d). A Dactilologia seria,

então, um veículo da paz e da concórdia entre os povos. Mas o que realmente marcou a vida

deste homem não foi a Dactilogia, até porque hoje se sabe que a sua teoria estava errada. O

grande feito de L´Épée foi, sem dúvida, a criação da Instituition Nationale de Jeunes Sourds de

Paris (Instituição Nacional de Jovens Surdos de Paris), uma escola pública, frequentada por

jovens surdos que antes frequentavam outras escolas, ou que residiam em bairros pobres. Não

só se preocupou com a educação de surdos, mas também lutou pelos seus interesses: de se

casar livremente (precisavam de consentimento papal), de conversar na sua própria língua, de

se inscrever nas mutualidades, de serem interpretados em tribunal, etc. Além disso, L´Épée

provou perante o grande público aquilo que poucos sabiam, e a maioria ignorava: os surdos

podiam ser educados. Ao contrário dos outros educadores de surdos até então, L´Épée

encarregou-se de promover os conhecimentos: todos os educadores eram livres de aperfeiçoar

o seu método de ensino. A grande vantagem do seu método era a quantidade de alunos que

podiam ser ensinados em simultâneo. Enquanto no método de Pereira apenas alguns podiam

ser ensinados (de acordo com Rée apenas 4 de cada vez) no caso de L´Épée podiam ser

ensinados dezenas de cada vez, quando não mais (Rée 1999: 161-162). L´Épée morre em

1789, e o Estado Francês garante o funcionamento da Instituição criada por si, condedendo-lhe

todas as honras da época (Verne 2001) A Revolução Francesa viu em L´Épée a síntese

daquilo que deveria de ser a França: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

Os americanos. A história dos surdos é feita de pequenos nadas, pormenores que facilmente

se remeteriam para os rodapés da história. Um dos maiores contributos para a pedagogia de

surdos foi dado porque uma criança não brincava com as outras. Essa criança chamava-se

Alice Cogswell e era filha de um cirurgião. Diz-se (Sacks 2002: 35) que um dia o reverendo

Thomas Gallaudet reparou que uma criança não brincava com as demais. Essa criança era

surda. Gallaudet entrou logo em contacto com o seu pai, e descobriu que não existia forma de

ensinar a criança a ler ou a escrever, porque não existia quem a ensinasse. Gallaudet tentou-a

ensinar, mas cedo descobriu que não estava à altura. Na inexistência de escolas ou

professores para surdos nos Estados Unidos, Gallaudet rumou à Europa. Primeiro foi à

Inglaterra, onde existia uma escola oralista com bastante reputação: a Braidwood. O problema

é que a direcção da escola não estava disposta a ensinar um estrangeiro o método de educar

um surdo. O método era secreto, e não podia ser ensinado a ninguém. Por obra do acaso,

Gallaudet encontra um professor surdo francês, Laurent Clerc, que está na disposição de ir aos

Estados Unidos para criar uma escola de surdos. Os dois atravessam o Atlântico, e Clerc vai

ensinando Gallaudet nos dois meses que dura a viagem. Harlan Lane (1997: 151) fala sobre o

assunto:

Quando Thomas Gallaudet partiu para a França para aprender como educar crianças surdas,

virou-se para Laurent Clerc, o mais importante professor surdo da escola de Paris e disse-lhe:

«Ensine-me». Regressaram à América juntos. Clerc escreveu mais tarde: «Demos por bem

empregue o tempo da viagem. Ensinei ao Sr. Gallaudet o método de sinais e ele ensinou-me o

inglês. (Lane 1997: 151)

Clerc e Gallaudet criam a escola de Surdos de Hartford e para além do ensino de surdos, Clerc

trabalha na criação da Língua Gestual Americana tendo por base a Língua Gestual Francesa.

O trabalho desenvolvido por Clerc tornou-se referência na educação de surdos nos Estados

Unidos.

A utopia Surda. É frequente encontrar nos jornais notícias como esta:

Uma aldeia para surdos

Marvin T.Miller é surdo. (...) [Miller] imagina a aldeia que espera construir: um local onde a

Língua Gestual Americana seja língua oficial – na escola, no Conselho Municipal, nos

restaurantes, onde os empregados terão de dominar língua gestual para tomar nota dos

pedidos.

Cerca de uma centena de famílias (algumas do Reino Unido e da Austrália) já reservaram um

terreno. Algumas fizeram-no porque um dos seus é surdo ou ouve mal, outra porque desejam

comunicar em Língua Gestual. A aldeia adoptará o nome de Laurent, em homenagem a

Laurent Clerc [...]. (Davey 2005:46)

O sonho de se criar um lugar onde ninguém seria discriminado por ser portador de uma

deficiência é acalentado por milhares de deficientes, e a comunidade surda sempre esteve na

frente dessa esperança. Já Ambrose Sicard, o sucessor de L´Épée nos destinos do Instituto de

Surdos de Paris havia imaginado uma comunidade assim:

Não poderia haver em alguma parte do mundo uma sociedade de pessoas surdas? Pois bem:

julgaríamos então que esses indivíduos são inferiores, que não são inteligentes e lhes falta

comunicação? Eles certamente teriam uma língua de sinais, talvez uma língua até mais rica

que a nossa. Essa língua seria no mínimo isenta de ambiguidades, sempre fornecendo uma

descrição precisa dos estados da mente. Assim porquê essas pessoas não seriam civilizadas?

(...) (Lane 1997: 84)

A procura não é apenas de uma utopia, mas uma Anti-Babel: todos se compreenderiam, todos

se comunicariam numa mesma língua, que por ser livre de ambiguidades, isentaria os seus

usuários dos males que essas ambiguidades acarretam. Todos se compreenderiam

mutuamente, todos compreenderiam as leis e as ordens. Não existiria espaço para a confusão,

para os duplos sentidos, para as meias verdades.

A ideia de uma utopia surda não só não é nova como chegou a existir, apesar de não ter sido

criada artificialmente. O acontecimento deu-se, porque as circunstâncias assim o

proporcionaram. Uma série de coincidências que acontecem poucas vezes na história permitiu

a sociedade de pessoas surdas que Sicard propunha. Em Martha´s Vineyard, no

Massachusetts, houve uma conjugação de factores como o isolamento, a endogamia e uma

mutação genética fizeram com que a incidência de surdos fosse enorme. Sacks (2002: 45)

afirma que na zona norte da ilha a prevalência de surdos era de uma em quatro pessoas. A

endogamia fez com que praticamente todas as famílias tivessem pelo menos um membro da

família surdo (Berke s/d). Aliás, a surdez era tão normal na ilha que Nora Groce, autora da obra

“Everyone here spoke sign language: hereditary deafness on Martha´s Vineyard”, quando se

deslocou a Martha´s Vineyard para entrevistar alguns residentes acerca dos habitantes surdos

já falecidos, os residentes nem se lembravam se esses habitantes eram de facto surdos (Sacks

2002: 35). Tais habitantes não eram vistos como surdos, nem tampouco como deficientes. O

mais surpreendente, no ver de Oliver Sacks, que visitou a ilha nos anos 90, era que, apesar de

o último ilhéu surdo ter morrido em 1952, os habitantes ouvintes preservavam a herança surda

e ainda comunicavam através da língua gestual. De tal forma, que quando não se lembravam

de uma certa palavra em inglês gestualizavam a palavra em língua gestual.

O congresso de Milão de 1880. Como foi visto, existiam duas visões diferentes sobre a

educação de surdos. Uma corrente defendia a oralidade, que advogava que o indivíduo surdo

devia de ser forçado a aprender a falar sons, mesmo sem poder ouvir os sons que produzia. O

surdo era obrigado a aprender a leitura labial, e os gestos eram proibidos. Este método era

maioritariamente defendido pelas escolas alemãs, inglesas e pela sociedade Pereira em

França. Do outro lado, encontramos o método gestual defendido pela escola de Surdos de

Paris e pelo Colégio Gallaudet nos Estados Unidos.

O professor E. A. Fay, no “American Annals of the Deaf” (Moeller s/d) distingue cinco

metodologias diferentes de educação de surdos, e não apenas duas. São elas:

1- O método Manual: Neste método privilegia-se os gestos, o alfabeto manual e a escrita e tem

por objectivo que o surdo desenvolva as suas capacidades mentais, a sua compreensão e o

uso da escrita.

2- O método do Alfabeto Manual: Utiliza-se basicamente o alfabeto manual e a escrita para a

compreensão. Algumas escolas americanas permitem neste método o ensino da fala e da

leitura labial.

3- O método Oral: como o nome indica, este método tem como forma de educação a leitura

labial e a fala. Esta metodologia permite a utilização de gestos apenas enquanto o aluno não

adquirir competências ao nível da fala e da leitura labial.

4- O Método Auricular: Este método é utilizado em surdos parciais e não em surdos profundos,

que com a utilização de aparelhos podem desenvolver a fala e a escrita, assim como a

audição.

5- O Sistema Combinado. Este sistema tem como objectivo principal o desenvolvimento das

capacidades cognitivas do surdo. Apesar de dar mais ênfase ao sistema Fala-Leitura Labial,

este método acredita que os outros sistemas também podem ajudar o surdo a ser educado.

Como tal, ajusta a cada caso a melhor metodologia.

Os cinco métodos de educação de surdos que Fay reconhece mais não são do que variações

sobre a oralidade/gestualidade. Os dois primeiros métodos são na sua essência gestuais, o

terceiro e quarto métodos são essencialmente orais, sendo que o quinto é uma mistura de

diferentes de métodos.

A grande questão é a inexistência unificação de métodos pedagógicos, e os métodos variavam

até de país para país.

A Sociedade Pereira, um grupo de pedagogos franceses com uma enorme influência nas

escolas de surdos europeias, realizou um congresso que iria ditar mudanças radicais na

pedagogia dos surdos. A Sociedade Pereira queria que o método Oral fosse o método de

eleição para a educação de surdos. Ironicamente, apesar da Sociedade Pereira ser francesa,

advogava o chamado “método alemão”, um método oralista criado por dois médicos alemães,

Johann Amman e Samuel Heinicke.

Antes de mais, é conveniente determo-nos uns instantes sobre os dois métodos. O método

Gestual privilegia o gesto em todas as suas formas. Acredita que a forma natural dos surdos se

comunicarem é o gesto e a expressão, e como tal, as escolas de surdos tentam agrupar o

maior número de crianças possível, para que haja a maior interacção possível entre os surdos.

Para além do mais, é muito mais fácil ensinar grupos grandes o método gestual.

Os principais defensores da causa gestual foram Michel de L´Épée, o Abade de Sicard

(sucessor de L´Épée à frente da Escola de Surdos de Paris), a família Gallaudet, Laurent Clerc

e a comunidade surda.

Do outro lado da barricada está o método Alemão, que privilegia a oralidade. O principal

argumento dos defensores deste método, era de o método Gestual era discriminativo pois

criava uma separação entre os ouvintes e os surdos. Além do mais, a língua gestual era

considerada “rudimentar, primitiva, pantomímica, confrangedora” (Sacks 2002: 33). Era uma

língua de selvagens que devia de ser erradicada. Os principais defensores do Oralismo, para

além da Sociedade Pereira, eram a comunidade ouvinte e Alexandre Graham Bell (Rée 1999:

228), um dos grandes inventores da História da Humanidade, que inventa o telefone não com

os fins que hoje lhe conhecemos, mas sim no intuito de ajudar os surdos a ouvir (no caso a sua

mulher e a sua sogra, surdas de nascença).

Bell tinha uma enorme reputação nos Estados Unidos e na Europa, e enquanto fervoroso

apoiante do oralismo jogou a sua influência para tentar acabar definitivamente com a

gestualidade.

Em Setembro de 1880 juntou-se em Milão um grupo de pedagogos no intuito discutir a

educação de surdos. A maioria dos congressistas era italiana (mais de metade segundo Lane

(1997: 110), seguida de franceses, que no seu conjunto representavam sete oitavos dos

congressistas. Depois de muitas prelecções preconceituosas (Lane 1997: 110; Sacks 2002:

40), passaram-se às votações.

A maioria dos participantes no evento aprovou uma resolução que bania as línguas gestuais na

educação dos surdos. As resoluções principais do Congresso eram[8]:

Resolução 1 – O congresso, considerando a incontestável superioridade da fala sobre os

gestos na recuperação do surdo-mudo para a vida social, e por lhe dar uma maior facilidade na

linguagem, declara que o método Oral deve ter preferência sobre o método Gestual na

instrução do surdo-mudo.

Resolução 2 – Considerando que o uso simultâneo de gestos e da fala tem como

desvantagem a ineficácia da fala, da leitura labial e da precisão das ideias, este Congresso

declara que o método oral deve ter a preferência.

Todas as resoluções foram votadas com 160 votos a favor contra 4 (da delegação dos Estados

Unidos). O filho de Thomas Gallaudet - Eduard Gallaudet - notou que nenhum delegado ao

congresso era surdo (Rée 1999: 229).

A partir de 1880 nenhuma escola podia ensinar a língua gestual desse país. As línguas

gestuais foram consideradas criações inócuas de seres desprovidos de fala. Daí em diante o

termo “surdo-mudo” era utilizado para designar os surdos. A decisão de banir as línguas

gestuais foi tomada por se acreditar que nenhuma língua gestual possuía uma estrutura

Léxico-Gramatical, e, segundo o Presidente do Congresso, nem era possível que tal

acontecesse, uma vez que as línguas gestuais “não se coadunam com a dignidade da natureza

humana” (Lane 1997: 111-112). Mais ainda: as línguas gestuais foram tidas como sistemas

híbridos de mímica e de gesto mais ou menos ritualizado, que apesar de serem capazes de

expressar sentimentos básicos e necessidades primárias, nunca seriam capazes de expressar

capacidades cognitivas, conceitos abstractos e discursivos dos seus utilizadores. Assim, a

Língua Gestual foi considerada uma forma de comunicação infra-linguistica, sem valor

educativo, intelectual e social. Como acontece em tantas outras vezes, a comunidade surda

não foi tida nem achada para os efeitos da sua própria educação. Todo o trabalho desenvolvido

na pedagogia dos surdos desde o Abade de L´Épée caiu por terra, em prol de uma suposta

educação bilingue e intercultural que nunca aconteceu. Bastaram dois dias para deitar por terra

o trabalho de vários séculos.

No final da reunião ficou decidido que as escolas deveriam adoptar o método Oral, que as

crianças deviam de ser admitidas com idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos de idade,

que cada turma devia de ter no máximo 10 alunos e a educação de um surdo devia durar 7

anos. Os Estados Unidos não ratificaram a decisão tomada pela Conferência, por não

concordarem com o método oral.

As repercussões do Congresso foram imediatas. Os professores surdos foram despedidos, as

crianças surdas que utilizassem gestos eram castigadas, centenas de escolas para surdos

foram gradualmente fechando uma vez que os professores ouvintes não conseguiam ensinar

as crianças surdas, e como tal recusavam-se a ensinar. As escolas gestuais, para não fechar,

eram forçadas a converterem-se em escolas orais.

Apesar de tudo, e como os Estados Unidos votaram contra as resoluções, a principal escola de

surdos da América, a Gallaudet, decidiu continuar a ensinar Língua Gestual Americana. Esta

decisão impediu que a Língua Gestual Americana se extinguisse e deu alento aos surdos para

continuarem a praticar a língua gestual.

Até aos anos 60 do século XX a situação era calamitosa para os surdos. Era-lhes proibido

expressarem-se na sua língua natural, a língua gestual, e eram obrigados a vocalizar uma

língua que não era a sua, tudo porque os surdos nunca foram tidos em consideração na sua

própria educação. Durante 80 anos a educação de surdos - com algumas honrosas excepções

como o Colégio Gallaudet, entretanto tornada Universidade - estava ao nível medieval. Mesmo

assim, o Universidade estava em risco, mas conseguiu sobreviver graças ao trabalho realizado

pela família Gallaudet.

A afirmação. Em 1955 William Stokoe entra para o corpo docente da universidade Gallaudet.

Era um linguista com interesse na cultura medieval, recrutado para ensinar Chaucer aos alunos

da Gallaudet (Sacks 2002: 88). Sendo ouvinte, nunca tinha prestado muita atenção na língua

gestual e na surdez, mas, chegado ao território inexplorado da língua gestual, logo começou a

trabalhar como linguista. Ninguém se aventurava no estudo da língua gestual porque o

preconceito era enorme. Para a maioria das pessoas, classe académica inclusa, a língua

gestual era uma deturpação da língua oral, uma pantomina desesperada feita por gente

desesperada em se fazer entender. Stokoe, influenciado pelos trabalhos de Saussure e de

Chomski, nada mais fez senão perceber que essa ideia era errada, e que a língua gestual não

era uma tradução da língua oral, mas sim uma língua completa, com todas as proposições,

estrutura lexical, sintáctica e gramatical que uma língua falada tem. Digo perceber e não

descobrir visto que os irmãos Velasco e Ponce de León no longínquo século XVII tinham

notado o fenómeno. O que Stokoe fez foi dar base científica ao fenómeno. Em 1960 publica

Sign Language Structure, um trabalho pioneiro, pois pela primeira vez um académico ouvinte

dedica um trabalho linguístico à língua gestual. O trabalho de Stokoe foi colectar o maior

número de gestos possível, notando posteriormente os pontos de semelhança entre eles:

chegou a 19 configurações da mão, que lhe chamou de queremas, 12 localizações e 24

movimentos diferentes (Sacks 2002: 89), para além de outras componentes, como por exemplo

a expressão facial. A tudo isto deu o nome de parâmetros (Torres Gallardo 1999: 87). A

combinação do querema, da localização e do movimento forma um gesto, mas um gesto pode

ter mais de uma localização, querema ou movimento. Assim, as combinações são infinitas, o

que prova que a língua gestual é uma língua tão rica como qualquer língua oral. O grande

mérito de Stokoe foi, sem dúvida a simplificação do que outros acreditavam ser difícil, senão

impossível: o estudo da língua gestual (no caso, a ASL –American Sign Language). Mas nem

tudo eram rosas e até mesmo a comunidade surda se mostrou céptica em relação ao jovem

ouvinte que estudava língua gestual. Depois de uma história de discriminação, de tormentos,

de estigmas, de maus-tratos e de serem vítimas dos maiores charlatanismos. Um dramaturgo

surdo com grande reputação nos EUA pelas suas peças em língua gestual, Gilbert Eastman de

seu nome, afirmou “Eu e os meus colegas rimos do dr. Stokoe e do seu projecto maluco: é

impossível analisar a língua gestual!” (Sacks 2002: 157). Rendido às evidências, Eastman

passou a ser um dos maiores defensores e divulgadores do trabalho de Stokoe.

O trabalho de Stokoe tem sido comparado com o trabalho feito por L´Épée por Gallaudet ou por

Laurent Clerc. Stokoe está para a Língua Gestual como por exemplo Freud está para a

Psicologia. De facto, a partir do momento em que Stokoe publicou os seus trabalhos, um

movimento cada vez maior de emancipação da comunidade surda (principalmente a

americana) luta para que sejam vistos como pessoas como quaisquer outras. Os surdos cada

vez mais se sentem não menores nem deficientes, mas apenas diferentes.

Reflexão final. Depois desta pequena revisão histórica, podemos afirmar que para a

comunidade surda o pior já passou. Neste momento uma criança surda pode ter acesso a uma

educação de qualidade, pelo menos na Europa e na América. Para isso, tiveram enorme

influência a determinação da comunidade surda que se organizou de forma exemplar para

promover a melhoria da sua condição de vida e os trabalhos de alguns ouvintes que

funcionaram como interlocutores entre a comunidade surda e a ouvinte.

Mas isso não é tudo. Os desenvolvimentos técnicos, como a invenção do implante coclear, a

invenção de novas formas de comunicação, como o fax, a internet, as comunicações móveis

(principalmente as mensagens de texto entre telemóveis, os populares SMS), possibilitam aos

surdos acesso à informação que à pouco mais de 20 anos era impossível. A comunidade surda

tem mostrado que não precisa de se subjugar à comunidade ouvinte, que pode caminhar no

sentido de uma emancipação total. Os surdos têm cada vez mais a consciência de que não

devem ficar estáticos, mas sim trabalhar no sentido de melhor as suas condições de vida.

Bibliografia consultada

Begonya Torres Gallardo

2000 La comunidad Sorda . Barcelona: Edicions Universitat de

Barcelona

Denis Diderot

1993 Carta sobre os surdos-mudos para uso dos que ouvem e falam.

São Paulo: Nova Alexandria.

Eulália Fernandes

2003 Línguagem e Surdez. Porto Alegre: Artmed editora,

Nadir Haguinara-Cervellini

2003 A musicalidade do surdo, representação e estigma. São Paulo:

Plexus editora.

Harlan Lane

1997 A máscara da benevolência, a comunidade surda amordaçada.

Lisboa: Instituto Piaget.

Jonathan Rée

1999 I see a Voice, deafness, language and the senses – a

philosophical history. Nova Iorque: Metropolitan Books.

Oliver Sacks

2001 Vendo Vozes, uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo:

Companhia das letras.

Susan Plann

1997 A Silent Minority. Los Angeles: University of California press.

Joel Schmidt

1995 Dicionário de Mitologia. Lisboa: Edições 70.

Recursos on-line

Moeller, F.A.

(s/d) “Education of the deaf and Dumb” in

http://www.newadvent.org/cathen/05315a.htm consultado em 6 de

Junho de 2005.

Sturley, Nick

(s/d) “Milan 1880, the historical facts” in

http://www.milan1880.com/Historical/Historicalfacts.html

consultado em 6 de Junho de 2005.

INJS - Institut Nationale de

Jeunes Surds de Paris

(s/d) “L'Abbé de l'Epée” in http://www.injs-paris.fr/abbe.htm

consultado em 6 de Junho de 2005

Berke, Jamie

(s/d) “Martha's Vineyard - Where It was Normal to be Deaf” in

http://deafness.about.com/cs/featurearticles/a/marthasvineyard.ht

m, consultado em 6 de Junho de 2005.

Verne, Jaques

2001 “Charles Michel, Abbé de l'Épée.” In

http://www.yanous.com/tribus/sourds/sourds011221.html

consultado em 6 de Junho de 2005

Periódicos

Davey, Mónica

2004 “Uma aldeia para surdos”. Courrier Internacional edição

portuguesa nº0 p.56.

Notas:

[1] Querológico deriva do grego χαιρ (charó – movimento das mãos) e λογος (logos – estudo).

À letra será qualquer coisa como “estudo do movimento da mãos”.

[2] http://wordnet.princeton.edu/

[3] As Moiras gregas (para os romanos são as Parcas) são três divindades que habitam o

Olimpo e vigiam o desenrolar da vida de cada homem: Cloto fia (a sua roca simboliza a o curso

da existência), Laquésis dispensa a sorte reservada a cada um e Átropo corta inflexivelmente o

fio da vida. (Schmidt 1995: 189)

[4] Sacks distingue o surdo pré-linguistico do surdo pós-linguistico (2002, 44). O surdo pré-

linguistico será, a grosso modo, o indivíduo que nasceu surdo, ou que ficou surdo antes de

aprender a falar; o surdo pós-linguistico é o indivíduo que ficou surdo depois de aprender a

falar.

[5] As palavras incluíam basicamente objectos do dia-a-dia (como os utensílios para comer,

para trabalhar e para ser utilizado na missa) acções habituais, e alguns estados emocionais;

assim como palavras ligadas à religião, como Deus, Cristo, Espírito Santo, Virgem Maria, Papa,

Bíblia, etc.

[6] de acordo com Plann (1999: 16, 211), crê-se Ponce de León era um filho ilegítimo. Esta tese

é sustentada devido ao facto de que Ponce de León nunca ter ascendido a posições superiores

no convento, apesar da sua enorme reputação. Essas posições eram vedadas a monges que

fossem internados devido a ilegitimidade.

[7] Curiosamente, Diderot esteve muito perto de se aperceber deste fenómeno, pelo menos a

crer no que escreveu na “carta sobre os surdos-mudos para uso dos que ouvem”: no caso

Diderot apercebeu-se que um surdo pré-linguistico não recebe as más influencias do francês

falado (Diderot 1993: 23)

[8] Ao todo eram 8 as resoluções a serem aprovadas pelo congresso. As restantes seis eram

sobre a educação de crianças surdas pobres; Como instruir surdos oralmente; a necessidade

de livros pedagógicos; as idades ideais para a aprendizagem oral e a duração da

aprendizagem; os benefícios a longo prazo da aprendizagem oral; a erradicação de língua

gestual nos estudantes (Sturley s/d).

Rui Gonçalves é assistente social formado pelo Instituto Superior Miguel Torga em

Coimbra. É um dos fundadores e principal dinamizador dos cursos de Língua Gestual

Portuguesa da Mãos Que Falam.

¶ 7:24 AM