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EU,MEU PAI E OUTROS AMORES

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O pior dia da minha vida fora aquele domingo Pelo menos eu acreditava que fosse Ao término de um lindo dia dominical, eu, carioca cheia de vida e de sonhos, sofro um terrível acidente. Ao despertar do longo coma no qual fui acometida, descobri que esse desastre levou minha mãe e meu querido padrasto. Acho que um montão de surpresas me espera. A começar pelo meu novo lar: a cidade de Estrela do Campo. Na boa, já detesto esse lugar! E pra ajudar, vou ter de suportar meu pai ausente – que agora tenta recuperar o tempo perdido me enchendo de presentinhos, até que dessa parte eu gosto – e sua família perfeita. Inclusive o arrogante e bonitão do Fred, um dos filhos da minha angelical madrasta Isolda. Espero que divida comigo todas as descobertas entre eu, meu pai e meus outros amores… E serão muitas!

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e meus outros amores...

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São Paulo 2012

COLEÇÃO NOVOS TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

LILIAN REIS

Eu, meu pai

e meus outros amores...O que você faria se descobrisse que lhe falta o chão?

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Reis, LilianEu, meu pai e meus outros amores: O que você faria se descobrisse que lhe falta o chão/ Lilian Reis -- Barueri, SP - Novo Século Editora, 2012.

1. Ficção brasileira I. Título.

12-13695 cdd-869.93

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura brasileira 869.93

Copyright c 2012 by Lilian Reis

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no 54, de 1995)

Coordenação Editorial Letícia Teófilo Diagramação Edivane Andrade de Matos/Efanet Design Capa Carlos Eduardo Gomes Preparação de Texto Denise Morgado Revisão de Texto Alessandra Angelo Novo Século

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

2012IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA - Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 - 11o andar

Bloco A - Conjunto 1111CEP 06455-000 - Alphaville Industrial - SPTel. (11) 3699-7107 - Fax (11) 2321-5099

[email protected]

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Dedico este livro a

Lindaura (mãe), Duke (irmão), Augusta, Joaquim e Conceição (avós) e Kojak (tio).

(in memoriam)

Amor eterno!

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Agradecimentos

Primeiramente a Deus, que permitiu a realização de meu desejo.

Meus mais profundos agradecimentos a toda equipe da Novo Século por acreditar na seriedade do meu trabalho.

Milhões de beijos ao meu marido, Sérgio, por seu apoio incondicional. Amo você!

Aos meus queridíssimos filhos, Isabella e Victor. Vocês são o motivo pelo qual não desisto nunca! Um obrigado especial ao Marcos O. Guimarães. Você é o cara!

Um beijo ao meu pai, Antônio M. Ribeiro, e às minhas amadas irmãs Eliane, Adriana, Juliana, Luciene e Alessandra. Sem vocês não seria quem sou.

Um obrigado mais do que especial ao meu querido e tão generoso professor, doutor e também escritor Luiz Roberto Wagner, que sempre me incentivou a nunca deixar os meus es-critos no fundo da gaveta e me ensinou, pacientemente, todos os detalhes da escrita.

Um beijo à escritora Lycia Barros, que me ensinou detalhes importantes sobre a profissão e que se doa de maneira tão gene-rosa em seus vídeos.

Não posso deixar de mencionar o escritor André Vianco. Ouvir sua história também foi importante para não desistir.

Agradeço aos colegas de faculdade, de quem nunca me es-quecerei.

Um abraço especial à Rosalina Modesto, minha prima querida, Tatiana Montanari, Ana Passos, Jaqueline Maciel,

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Genesi Castro, Elzeni Ribeiro, Leonardo Guerra, Cristóvam e Sheila Reis, por seu incentivo sempre. Um abraço carinhoso à tia Fidelcina e ao senhor José por me ajudarem com sua fé. Vocês são especiais.

E, por fim, meus mais sinceros agradecimentos a todos que doaram um pouquinho de seu tempo para ler um trecho ou ou-tro de minha história, que é emocionante...

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“Ela acreditava em anjos e, porque acreditava,

eles existiam...”

Clarice Lispector

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Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias

na terra que o Senhor teu Deus te dá.

(Êx 20:1)

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Prólogo

Meu pesadelo começou quando perdi minha mãe...Eu era filha única, minha mãe tinha se divorciado do meu

pai havia alguns anos. Como os dois se odiavam, por conse-quência, passei a sentir um pouco de raiva dele, acho que por influência dela, por ouvi-la falar mal dele o tempo todo.

O divórcio aconteceu algum tempo depois da separação, que fora conturbada. Minha mãe ficara com praticamente todos os bens que possuíam na cidade e ele com a fazenda, que era sua verdadeira paixão.

Na época da separação estava com cinco anos e, dessa fase, não tenho boas recordações. Lembrava-me de escutar todas as brigas do casal e algumas até presenciara. Foram horríveis. Eles sempre se descontrolavam e eu escutava alguns sons que pare-ciam luta. Ouvia alguns objetos sendo arremessados e gritos. Tapava os ouvidos e ficava encolhida em minha cama temendo que um dia algo de ruim pudesse acontecer comigo. Entretanto, quando tudo acontecia, ele vinha até mim, me abraçava e beija-va chorando e dizendo baixinho: “Shhhh, não precisa ter medo, o papai está aqui! A mamãe só estava um pouco nervosa!”.

Nesses dias, ele ficava em minha cama até o amanhecer. Fi-cávamos abraçadinhos. Meu pai, meu herói!

Lembro-me de quando tinha pesadelos. Acordava gritando e ele sempre me acudia, me abraçava e embalava. Bernardo real- mente fora carinhoso comigo, acho que por isso era tão revol- tada com ele, por ter crescido sem sua presença.

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O tempo passou e cresci acreditando que meu pai fosse in-decifrável. Não entendia sua falta de paciência com a mamãe, entretanto ele tinha um cuidado exacerbado com nosso bem--estar.

Fui criada por minha mãe num ambiente gostoso e tran-quilo. Acreditava que minha vida era, por assim dizer, perfeita. Contudo, aquela figura de pai decerto sentia que faltava. E era por isso que às vezes me pegava sentindo raiva dele, desejando que nunca mais aparecesse...

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Capítulo 1

Estava agora com dezessete anos, iniciando o ano letivo cursando o terceiro ano do Ensino Médio. Mamãe casou-se no-vamente, assim como ele, anos atrás.

Meu pai sempre me ligava. Nossa relação era estranha. Chamava-o de Bernardo, acho que por pura rebeldia e porque era um tanto marrenta e inflexível. Tinha um temperamento forte, era geniosa, às vezes só aprendia depois de ficar batendo a cabeça, ou seja, a famosa cabeça-dura. Entretanto, o respeitava. Era meio ácida e sentia vontade de maltratá-lo em alguns mo- mentos, mas depois me arrependia. Sentia sua falta!

Ele não fora um bom marido para minha mãe, embora ela também tivesse sido intolerante e ciumenta. Notava, era um tanto implicante e, quando os dois brigavam, era sempre Dona Laura quem começava. Acho que no fundo puxei a ela, sabe? Essa coisa de gênio!

Contudo, como pai, Bernardo sempre tentava aproxima-ção, ainda que através do fio do telefone. Nunca me faltara nada material, apenas seu carinho e sua presença. No fundo, o queria e queria desesperadamente. Sentia ciúmes de minhas amigas que praticamente andavam com o pai a tiracolo, todavia ele me deixou uma imagem de abandono por sua ausência. Ainda as-sim, queria que tivesse sido diferente. Amava meu pai, mas não admitia nem para mim mesma.

Sempre que batia saudade dele, chorava no silêncio do meu quarto e, por isso, quando ele aparecia ou telefonava, o tratava com frieza. Achava que era uma boa maneira de puni-lo.

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Alguns fatos da vida de meu pai eu descobri quando pas-sara férias na fazenda. Foram as férias mais estranhas, chatas e entediantes da minha vida, embora ainda fosse pequena e não compreendesse muita coisa. Não passei muitas férias, foram duas, acho. Ele sempre queria agradar-me, mas, caraca, como ele poderia? Nem me sentia bem quando estava lá! Estar lá me-xia até com o meu estado psicológico. Ele tentava, mas eu meio que o afastava. Queria distância dele. Nem eu mesma me entendia.

Em um desses dias em que estive na fazenda, estava sentada num tronco. Tinha em minhas mãos um galho. Caramba, acho que tinha uns nove anos! Olhava para o chão fazendo rabiscos. Estava aborrecida e sentia falta de casa, por isso chorava em si-lêncio. Do nada, uma cobra quase me picou, acho que ela se jul-gou importunada. Vi que ela se enrolou por inteiro mantendo erguida em forma de “S”. Então, levantou a cauda e começou a vibrá-la rápida e vigorosamente, emitindo um som aterrorizan-te que pôde ser ouvido por outros que apareceram imediata-mente, também em razão do escândalo que fizera.

Gritara tanto que fiquei sem voz. Essas mais ou menos vinte pessoas ficaram estáticas.

– Não se mexa! – gritaram alguns, amedrontados pelo ba-rulho irritante do chocalho. Entretanto, caí para trás do tronco, com o coração saindo pela boca. Fiquei tão azul quanto os Smurfs. Um garoto, que devia ser um pouco mais velho, uns dois ou três anos pelo menos, estava perto, tão perto que pegou a cobra com as próprias mãos, ali, perto da cabeça. Sua agilida-de, rapidez e reflexo deixaram todos boquiabertos. Uma coisa inexplicável. Ele destroçou o animal, que nem era tão grande, e o jogou para longe.

Esse episódio nunca saiu da minha cabeça, por isso nunca mais quis voltar lá. Usei isso como desculpa por todos esses anos.

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Bernardo maltratou minha mãe ou ambos se maltrataram. Não vou eximi-la de culpa. Quando ouvia as discussões, ela di-zia coisas horríveis. O interessante é que observei que ele tra-tava “a outra” com delicadeza, com educação! Ela parecia ter domínio sobre Bernardo, e ele parecia amá-la verdadeiramente. Parecia que sua esposa atual era sua alma gêmea.

Passei a entender que suas idas e vindas à fazenda eram o motivo pelo qual aconteciam todas as brigas entre meu pai e mi-nha mãe. Descobri, então, que Bernardo conhecera Isolda e ti-vera um relacionamento com ela antes mesmo do divórcio. Isso tudo havia acontecido porque minha mãe não suportava a vida na fazenda e nunca ia até lá. Meu pai, então, solitário naquele fim de mundo, acabou descobrindo o amor verdadeiro. Uma mulher que o acompanhava em todas as situações e que passou com ele todas as dificuldades. Os dois se identificavam. Ber-nardo tinha de passar muitos dias fora por causa dos negócios e dos animais. Assim que ele conheceu Isolda, seu casamento com minha mãe naufragou em águas profundas. Mas e eu? Por que ele não pensou em mim?!

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Capítulo 2

Minha mãe era decoradora e não abandonava a vida da ci-dade por nada. Por consequência, eu era apaixonada por toda a badalação que uma grande cidade como o Rio de Janeiro pro-porcionava: shoppings, festas, academias de dança, cinemas, ra-ves, livrarias maravilhosas, lindas praias, dentre outras coisas.

Amava a dança e todo o bem que ela fazia. Era uma jovem bonita, mimada e um tanto rebelde. Gostava de ser indepen-dente e não suportava que me vigiassem e tampouco que me dessem ordens. Era loira. Tinha cabelos longos e os olhos verdes como o jade, por isso meu nome era esse.

Tinha muito amigos e admiradores, contudo havia namo-rado “sério” apenas com um rapaz. Embora fosse muito popular, era demasiadamente tímida. Hugo era seu nome. Não ficamos juntos por muito tempo porque ele se mudou para outra cidade e perdemos contato. Acho que não fora tão marcante assim!

Minha relação com minha mãe era perfeita. Ela era meu tudo! Uma grande amiga, a maior amiga! Conversávamos sobre todos os assuntos, menos sobre o que sentia por meu pai. Dele quase nunca falávamos, pois ela sempre o julgava mal, e, in-conscientemente, meio que o defendia. Isso me deixava maluca.

Ela também era apaixonada por minha amiga inseparável, Melissa. Juntas fazíamos compras, íamos ao clube, à academia, aos luaus e acredite: fazíamos festas do pijama. Nessas ocasiões contávamos com a presença de meu padrasto, de quem gos- tava muito, Thomas. Ele era estadunidense e tinha um sotaque lindo! Meu inglês ficou perfeito porque ele conversava comigo

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apenas em seu idioma, o que me ajudava. Ele era muito legal e tinha grande afeto por nós três. Fotografava-nos de várias ma-neiras e, por isso, tinha fotos lindas! Havia uma, em especial, que amava. Era um tanto despojada. Melissa, mamãe e eu, todas de pijama, enfileiradas e deitadas na cama de bruços, sorrindo. Mel, para variar, estava fazendo palhaçada sobre minha cabeça. Aqueles dois dedos tipo “chifrinhos”. Era uma foto marcante, pois nela se podia ver a alegria e a cumplicidade estampada em nosso rosto.

Mamãe e Thomas conheceram-se e apaixonaram-se num evento que acontecera no Rio chamado Casa Cor1. Ambos es-tavam trabalhando, mas, ainda assim, aquele evento fora o ce-nário perfeito para que os dois descobrissem que haviam sido feitos um para o outro. Mamãe encontrara a sua outra metade. Casaram-se em pouco tempo.

Minha mãe parecia uma adolescente, e isso era fantástico! Ela se sentia jovem, embora realmente fosse uma jovem senho-ra de quarenta anos. Mamãe, com seu marido – que tinha a mesma idade –, sabia viver. Isso me animava muito e me fazia querer envelhecer feito eles. Daí entendi o porquê de ela e meu pai serem tão diferentes. Eles tinham personalidades diferentes. Assim, depois da separação, cada um foi feliz à sua maneira. A figura de um pai para mim era Thomas, embora, no fundo, fosse o meu pai quem quisesse por perto.

Sim, amava meu pai; meu paizinho que me embalava e me fazia dormir, que me contava histórias e que acreditava ser um herói, pois quando tremia de pavor era ele quem me socorria. Contudo, havia jurado para mim mesma que ele jamais saberia disso, afinal ele não se importava mais comigo.

1 Maior evento de arquitetura, decoração e paisagismo das Américas e segundo maior do mundo.

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