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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E DA SAÚDE CURSO: PSICOLOGIA FATORES QUE INFLUENCIAM NA MOTIVAÇÃO DE PROFESSORES JAQUELINE LOPES BARREIROS Brasília, Junho/2008

FATORES QUE INFLUENCIAM NA MOTIVAÇÃO DE PROFESSORES · 2019. 5. 24. · Renato Russo . v Resumo . O presente estudo teve como objetivo identificar os fatores que influenciam na

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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E DA SAÚDE CURSO: PSICOLOGIA

FATORES QUE INFLUENCIAM NA

MOTIVAÇÃO DE PROFESSORES

JAQUELINE LOPES BARREIROS

Brasília, Junho/2008

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JAQUELINE LOPES BARREIROS

FATORES QUE INFLUENCIAM NA

MOTIVAÇÃO DE PROFESSORES

Monografia apresentada como requisito parcial para conclusão do curso de Psicologia do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília Profª. orientadora: Drª. Eileen Pfeiffer Flores Profª. co-orientadora: Drª. Maria Eleusa Montenegro

Brasília, Junho de 2008

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Este trabalho primeiramente é dedicado a

minha pessoa, por todo meu esforço e

dedicação. Dedico-o também a minha

professora Eileen por toda a ajuda,

competência e dedicação, que mesmo com

todos os imprevistos que passou, nunca

deixou de estar presente nos momentos

certos. Dedico, além destes a todos os

professores que lutam diariamente pela

educação e que na maioria das vezes não

vêem seu esforço reconhecido.

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Meu agradecimento vai primeiramente aos meus pais, que me criaram da

melhor maneira possível, sempre me incentivaram aos estudos e transformaram meu

sonho de cursar o ensino superior em realidade.

Agradeço ao Senhor nosso Deus por me dar força, inteligência, paciência e

estabilidade emocional para superar as dificuldades do curso e por não me deixar

desistir nos momentos em que cheguei a duvidar de minha capacidade.

Agradeço também a todos os amigos que estiveram ao meu lado, a todos que

compartilharam comigo da luta diária pelo aprendizado e principalmente à Lílian,

minha melhor amiga, que sempre esteve pronta a me ajudar e aconselhar nas horas de

indecisão, e ao Fabio que sempre está ao meu lado incentivando meu progresso.

Mas, o meu agradecimento principal nesse momento é à professora que me fez

ter interesse pela área escolar, uma das melhores professoras de toda a minha vida

escolar, - Eileen - obrigada por fazer parte dos meus estudos e que mesmo com todos

os imprevistos que teve, sempre que precisei tive ajuda na difícil tarefa da

Monografia. Meu agradecimento final é à professora Maria Eleusa que de um dia

para o outro teve que nos guiar na reta final da Monografia, obrigada.

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“Todos os dias quando acordo

Não tenho mais

O tempo que passou

Mas tenho muito tempo

Temos todo o tempo do mundo”

Renato Russo

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Resumo

O presente estudo teve como objetivo identificar os fatores que influenciam na motivação e desmotivação dos professores que lecionam no mesmo contexto de escolar, analisando aspectos de satisfação, insatisfação, motivação e desmotivação relacionados aos professores de uma escola pública. A metodologia adotada foi a pesquisa quantitativa e qualitativo-descritivo, com a utilização de uma escala de motivação e da entrevista semi-estruturada como instrumentos. A amostra foi composta por seis professoras do sexo feminino, com idade entre 24 e 40 anos, que lecionam na mesma escola de Ensino Fundamental da rede pública. Os principais resultados consideram que a motivação maior dos professores está no processo de desenvolvimento dos alunos, em como estes se desenvolvem, aprendem e valorizam o trabalho do professor. Os fatores que levam à desmotivação dos professores englobam a desvalorização da profissão, o mal comportamento do aluno, as condições precárias da escola e o salário. Além do estudo da motivação e da desmotivação dos professores, a pesquisa também demonstrou o importante papel do professor para a educação das crianças.

Palavras-chave: Motivação, desmotivação, professores, contexto escolar

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA....................................................................................................................... ii

AGRADECIMENTOS............................................................................................................. iii

EPÍGRAFE............................................................................................................................... iv

RESUMO....................................................................................................................................v

SUMÁRIO.................................................................................................................................vi

INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 8

CAPÍTULO 1: FORMAÇÃO E PROFISSÃO DOCENTE.................................................... 10

CAPÍTULO 2: MOTIVAÇÃO................................................................................................ 19

2.1 CONCEITOS DE MOTIVAÇÃO..................................................................................... 19

2.2 TEORIAS DA MOTIVAÇÃO........................................................................................... 21

2.2.1 TEORIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW......................................................... 21

2.2.2 A TEORIA BIFATORIAL DE HERZBERG................................................................. 22

2.3 PESQUISAS EMPÍRICAS SOBRE MOTIVAÇÃO E DESMOTIVAÇÃO EM

PROFESSORES...................................................................................................................... 24

CAPÍTULO 3: FATORES QUE INFLUENCIAM NA MOTIVAÇÃO E DESMOTIVAÇÃO

DE PROFESSORES................................................................................................................ 33

3.1 MÉTODO........................................................................................................................... 33

3.2 INSTRUMENTO............................................................................................................... 34

3.3 PROCEDIMENTO............................................................................................................ 36

4 RESULTADOS..................................................................................................................... 37

5 DISCUSSÃO........................................................................................................................ 52

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. 57

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REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 59

APÊNDICE A – CONSENTIMENTO INFORMADO........................................................... 63

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA.................................................................... 64

APÊNDICE C – ENTREVISTAS........................................................................................... 66

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As pesquisas que envolvem educação em geral são direcionadas aos alunos, à

aprendizagem, às condições de ensino, à valorização da educação e, no meio do caminho, a

figura do professor é tratada apenas como o que ensina, quando a mesma importância deveria

ser direcionada a ele.

O professor é preparado durante toda a sua graduação para uma realidade diversa da

que encontrará em sua prática, os conhecimentos adquiridos terão que ser “postos” dentro de

sala de aula em condições muitas vezes precárias e insuficientes. O desenvolvimento

profissional torna-se um desafio constante, o professor precisa ter domínio de conteúdo,

domínio de sala, de competências, habilidades e atitudes para enfrentar as adversidades da

luta diária pelo aprendizado do aluno. Na vivência da profissão, o professor aprende que não é

só o aluno que fará parte de sua rotina, existe também a relação com a coordenação da escola

e a participação ativa ou não dos pais de seus alunos.

É difícil, para quem olha de fora, compreender por que o professor fica tantas vezes

doente, defende tanto seus direitos e reclama dos alunos. O prazer de lecionar tem sido

deixado de lado diante das dificuldades da vida profissional, a desmotivação é clara quando se

observa que o governo e a sociedade desvalorizam a profissão que é à base de uma pessoa

depois da família. Foi na expectativa de mostrar que, para alguns professores, existe o prazer

de lecionar juntamente com a expectativa de uma educação de qualidade, que a presente

pesquisa foi realizada no intuito de verificar quais fatores em um mesmo contexto escolar

influenciam na motivação e na desmotivação.

A pesquisa tem por justificativa, além de analisar os fatores de motivação e

desmotivação, acrescentar à literatura um estudo voltado para o professor e para a sua

motivação dentro do seu ambiente de trabalho, pois se entende que a sua motivação ou

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desmotivação podem partir de diferentes aspectos e serem diferenciados para cada

profissional, dependendo do contexto de cada um.

Os objetivos centrais da pesquisa são: a análise dos fatores que influenciam na

motivação e desmotivação dos professores e verificar se existe alguma diferenciação relevante

entre estudos com grupos de um mesmo contexto escolar (trabalham numa mesma escola) e

estudos com grupos de contexto escolares diferentes (trabalham em escolas diferentes).

Os resultados da pesquisa se dão por meio das entrevistas, analisando como a

motivação e a desmotivação influenciam cada professora, observando que o contexto em que

trabalham é o mesmo, ou seja, todas lidam com a falta de recursos, com alunos

indisciplinados, alunos que se empenham nos estudos além das dificuldades pelas quais todas

passam no que se refere a questões dentro da escola.

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“Aprender fazendo a fazer

O que não se sabe fazer”

Meirieu, 1996.

CAPÍTULO 1 - FORMAÇÃO E PROFISSÃO DOCENTE

De acordo com o dicionário Aurélio (2007), professor é aquele que ensina uma

ciência, arte, técnica. O professor não é somente um facilitador da aprendizagem, mas

também participante ativo da formação social, afetiva e psicológica de seus alunos não é

apenas um conjunto de competências, é uma pessoa em relação e em evolução. (Perrenoud,

Paquay, Altet e Charlier, 2001)

É por meio de da figura do professor que a aprendizagem se dá na escola, ele que

precisa estar consciente de seu trabalho, e possui grande influência sobre o aluno. Para que

haja uma educação de qualidade, é preciso que os professores estejam capacitados a lecionar,

que se dediquem e que tenham competência. A relação professor-aluno é um fator importante

no contexto escolar, quando há uma boa relação entre ambos, tanto o professor quanto o aluno

demonstram mais interesse para ensinar e aprender.

Larocca (1999) acrescenta que a mediação proporcionada pela escola e pelo

professor pode favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento da criança: “[...] a escola pode

promover o desenvolvimento da criança ou atrapalhar esse desenvolvimento [...] o professor

pode ser o dinamizador, aquele que propulsiona este desenvolvimento, ou não, não é? (S. 8,

s: 1)” (Larocca, 1999, p. 49).

Para Vygotsky (1987) citado em Rego (1995), o processo de educação escolar se dá

por três aspectos: a formação de conceitos científicos, o papel que o sistema de conceitos na

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direção dos processos de educação e o papel de mediador do professor na aprendizagem e o

ensino por compreensão. As atividades desenvolvidas e os conceitos aprendidos na educação

escolar permitem novas operações intelectuais: abstrações e generalizações mais amplas da

realidade, na medida em que o sujeito expande seus conhecimentos, modifica sua relação

cognitiva com o mundo. (Rego, 1996, p. 104). O conceito de mediação refere-se à intervenção

de um elemento intermediário numa relação, fazendo com que essa relação seja direta.

Vygotsky descreve dois tipos de elementos de mediação: os instrumentos possuem uma

direção externa e os signos uma direção interna. Vygotsky considera que a educação

possibilita desenvolver modalidades específicas de pensamento, tendo um papel diferente e

insubstituível, na experiência culturalmente acumulada do sujeito.

A competência do professor começa por sua formação, que nos últimos anos no Brasil

vem melhorando, a partir das reformas na educação e no contexto de formação dos

profissionais de educação. A Nova LDB (1996) tem como finalidade da formação dos

profissionais da educação, atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino

e às características de cada fase de desenvolvimento do educando.

A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), em seu título VI, fala da

formação de professores e pedagogos que passaram a ser denominados de profissionais da

Educação. O presente trabalho ressalta essa lei, no que se refere à formação dos profissionais

da educação, nos artigos, 61 a 67, que estabelecem os fundamentos da formação dos

profissionais da educação; os níveis de formação docente exigidos para a atuação dos

professores na educação básica; as competências dos Institutos Superiores de Educação; o

tempo mínimo para a prática de ensino, na formação dos docentes da educação básica; e as

estratégias para valorização dos profissionais da educação, estatuto, planos e carreira,

condições de trabalho.

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O Artigo 61 refere-se à formação dos profissionais da educação que tem como

fundamentos a associação entre a teoria e a prática e a capacitação em serviço e

aproveitamento da formação e experiências anteriores. É necessário que, durante o curso de

formação, a teoria esteja interligada com prática para que os professores tenham condições de

chegar à sala de aula sabendo da realidade vivida pelos professores.

O Artigo 62 aborda sobre a formação de docentes na atuação da educação básica em

nível superior, em curso de licenciatura, graduação plena, universidades e institutos

superiores, admitindo-se, para a atuação do magistério na educação infantil e nas quatro séries

iniciais do ensino fundamental, que o ideal seja a formação em nível superior.

O Artigo 63 refere-se às instituições superiores que devem manter os cursos de

formação de profissionais para a educação básica, inclusive o normal superior destinado a

docentes da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental e programas de

formação para os que já possuem diploma em educação superior e desejem dedicar-se à

educação básica, juntamente com programas de educação continuada para professores de

todos os níveis.

O Artigo 64 estabelece a formação de profissionais de educação para administrar,

planejar, inspecionar, supervisionar e orientar para a educação básica, a ser realizada em

cursos de graduação em Pedagogia ou pós-graduação.

O Artigo 65 estabelece que a formação docente, exceto para a educação superior,

incluirá a prática de no mínimo trezentas horas.

O Artigo 66 refere-se à preparação do exercício do magistério superior, que deverá ser

em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.

O Artigo 67 remete à valorização dos profissionais da educação, assegurando a eles,

em termos de estatuto, planos de carreira do magistério público, ingresso somente por

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concurso público de provas e títulos, aperfeiçoamento profissional continuado com

licenciamento remunerado para esse período, piso salarial, progressão funcional por título ou

habilitação e avaliação de desempenho, período reservado a estudos e condições adequadas de

trabalho.

Mesmo com leis que visem à melhoria da formação do professore é difícil que se

tenha uma educação de qualidade, enquanto as políticas não levarem à efetivação da lei e

enquanto a própria sociedade mostrar descaso com estes profissionais. Cria-se um mal estar

na comunidade educacional que atinge o profissional diretamente na sua motivação para

ensinar.

De fato, o processo do fracasso escolar não se deve somente aos professores, mas

envolve alunos, pais, escolas e políticas educacionais. De acordo com Moysés (2001), o

problema da competência pedagógica não se restringe somente ao professor, há também a

questão da política educacional, o descaso com a educação, o despreparo na formação dos

profissionais, a desmotivação relacionada a diversos fatores como condições precárias de

ensino, baixos salários, alunos indisciplinados, desmotivados e o descompromisso do

professor com seu papel de agente de mudança. Patto (1990), afirma que dentre os fatores que

colaboram para o fracasso escolar está a alta insatisfação dos professores em relação às suas

condições de trabalho.

Mesmo diante de tantos fatores negativos ainda há muitos profissionais dedicados ao

ensino e muitos que estão por se formar. Moysés (2001), ressalta que a formação dos

professores não está vinculada somente à preparação acadêmica, mas à própria prática na

experiência profissional, atualização e aperfeiçoamento.

A questão da formação é uma problemática tanto nos que verbalizam o inicio dessa

formação quanto no decorrer do início da carreira. O início da formação é considerado muito

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teórico, pouco prático e diferente da realidade de sala de aula. Esses novos profissionais

queixam-se que durante a formação não são orientados quanto aos problemas de sala. Os

conteúdos de formação se resumem em aprendizagem definida como um processo

organizado, o ensino é definido como ação de comunicação, a auto-avaliação e o

questionamento estão implicados na formação e as competências adquiridas estão

relacionadas com as classes, à sociedade, as disciplinas, ao aluno e ao próprio futuro

professor. (Perrenoud, Paquay, Altet e Charlier, 2001)

A formação de professores é objeto de diferentes pesquisas por se tratar de uma

questão essencial à sociedade em geral, pois se refere a como estão sendo formados os

professores. Quais seriam os princípios e quais são as finalidades que os cursos de formação

estariam preocupados para com esses profissionais. Como o processo de formação está sendo

realizado, visto e avaliado.

Os desafios que se colocam à formação são os desafios à reflexão pessoal e coletiva,

enquanto processo e instrumento de conscientização progressiva, de

desenvolvimento continuado e partilhado, de persistência na investigação

constante, enquanto fonte de novos informes, de crença, de algum modo sublime, na

hipótese de o homem vir a descobrir-se e a encontrar-se com a sua própria

humanidade (Sá-Chaves, citada em Alarcão, 2001, p. 89).

Larocca (1999) defende a necessidade de formar o professor com o senso de atentar

aos processos de desenvolvimento e aprendizagem na criança, saindo do pensar do adulto

principalmente nas séries iniciais:

“[...] que o professor tenha o contato direto com crianças aprendendo e observe o

fenômeno de aprender, seja a língua escrita, seja na Matemática, seja na História ou

na Geografia. que ele veja, porque ele também fica centrado na lógica adulta, sem

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uma condição de entendimento de que a lógica se constrói [...]” (S. 5, s: 1) (Larocca,

1999, p. 49)

A relação professor-aluno é um fator importante no contexto escolar e quando há

uma boa relação entre ambos tanto o professor quanto o aluno demonstram mais interesse

para ensinar e aprender. A figura do professor é essencial na aprendizagem, seu contato com o

aluno, é durante esse processo que a criança desenvolve seus significados, como discorrem

Leontiev e Luria sobre a educação:

Durante o processo de educação escolar a criança parte de suas próprias

generalizações e significados; na verdade ela não sai dos seus conceitos, mas, entra

num novo caminho acompanhada deles, entra no caminho da análise intelectual, da

comparação, da unificação e do estabelecimento de relações lógicas, novas para

ela, de transição de uma generalização para outras generalizações. (Leontiev &

Luria, apud Vygotsky 1984 p. 147 (Moysés, 2001))

Uma das problemáticas dos professores recém-formados é a dificuldade que

encontram assim que partem para a prática pedagógica, em que tem que enfrentar a realidade

das salas e tentar fazer os alunos aprenderem de maneira que estes gostem da aula e o

professor necessita sentir-se bem sabendo que conseguiu ensinar. É preciso formar

profissionais competentes, reflexivos e críticos. Bolzan (2002), discorre que a reflexão do

conhecimento e do saber prático coloca em ação o processo em que os conceitos e idéias são

reestabelecidos em uma nova síntese com o poder de transformar a prática. De acordo com

Tardif,

A questão da epistemologia da prática profissional se encontra, evidentemente, no

cerne do movimento de profissionalização. De fato, no mundo do trabalho, o que

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distingue as profissões das outras ocupações é, em grande parte, a natureza dos

conhecimentos que estão em jogo (Tardif, 2002, p. 247).

Vêm-se discutindo as dificuldades envolvidas na formação de profissionais críticos

englobando fatores como a construção de teorias e a prática na organização dos contextos de

formação. (Magalhães, 2004). Giroux (1992) citado em Magalhães (2004) aborda que uma

pedagogia crítica procura:

Buscar a criação de novas formas de conhecimento, não só rompendo com os limites

disciplinares, mas também criando novos espaços onde o conhecimento pode ser

produzido. [...] O conhecimento deve ser reinventado e construído, convidando-se os

alunos para transpor limites, encorajando-os a pôr fim às disciplinas que separam à

cultura superior da cultura popular, a teoria da prática, a política do quotidiano, a

pedagogia da educação (1992, p. 259).

De acordo com Perrenoud, Paquay, Altet e Charlier (2001) a construção do saber que

se origina da prática e a sua transferência ocorrem por meio de da articulação da dimensão

dos saberes existentes e da dimensão que remete a adaptação desses saberes à ação. O futuro

professor deve-se preparar para refletir sobre sua prática, onde os profissionais precisam ser

capazes de evoluir, aprender com as experiências, capazes de refletir sobre o que fizeram e o

que podem fazer. (Perrenoud, 2002). Rios argumenta que:

O desenvolvimento profissional dos professores tem se constituído em objetivo de

políticas que valorizam sua formação não mais baseada na racionalidade técnica,

que os considera como meros executores de decisões alheias, mas numa perspectiva

que considera sua capacidade de decidir (Rios, 2001, p. 12)

Tanto o professor recém-formado quanto os que já lecionam há algum tempo precisam

se atualizar tem se então a formação contínua que, de acordo com Perrenoud (2002), é uma

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forma de transmitir novos saberes ao professores, saberes esses que não tenham recebido na

formação inicial. Na formação contínua o profissional tem uma experiência a mais para sua

formação da prática reflexiva pela convivência com profissionais experientes.

Segundo Perrenoud (2002), o profissional reflexivo precisa ser um profissional com

autonomia e responsabilidade; é preciso possuir capacidade de refletir em e sobre sua ação,

que está sempre se desenvolvendo pela experiência, competência e saberes profissionais,

medidas pela natureza e pelas conseqüências da reflexão do cotidiano do professor.

Perrenoud, Paquay, Altet e Charlier (2001), entendem por competências profissionais

conhecimentos, posturas, ações e atitudes necessárias para o exercício da profissão do

professor. No ensino, as competências compreendem os saberes do planejamento, da

organização e da preparação cognitiva da aula pela experiência prática da sala de aula.

Anderson (1986) citado por Perrenoud, Paquay, Altet e Charlier (2001), cita conhecimentos,

habilidades e atitudes para abranger a tarefa e o papel do professor, sinalizando essas

competências como de ordem cognitiva, afetiva conativa e prática. De acordo com Tanguy

(citado por Rios, 2001)

O discurso sobre as competências pode ser compreendido como uma tentativa de

substituir uma representação da hierarquia de saberes e práticas, notadamente

aquela que se estabelece entre o "puro" e o "aplicado", entre o "teórico" e o

prático" ou entre o "geral" e o "técnico", por uma representação da

diferenciação entre formas de saberes e formas de práticas, diferenciação que

seria essencialmente horizontal e não mais vertical (Citado em Rios, 2001, p. 82)

A formação de professores deve ser feita de maneira a constituir nesses futuros

profissionais uma qualidade de serviço voltada para a educação no intuito de trazer novos

conceitos e ações que façam de seus alunos não somente indivíduos que aprendam teorias

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dadas em sala de aula, mas que sejam indivíduos capazes de pensar e construir novos

conceitos. O professor tem em suas mãos a base da construção da sociedade, o saber; é a

figura do professor que proporciona uma educação seqüencial ao longo da vida do indivíduo.

Durante sua formação, o futuro professor precisa aprender a teoria, construir por meio

da prática e criar métodos que facilitem seu trabalho e que o mantenham sempre motivado,

ativo e disposto à atualização. Mas, para isso, é preciso que o próprio professor analise em sua

profissão o que influência suas expectativas, o que é mais recompensador, fazer de si um

profissional capaz de atuar e de ter um diferencial por capacidade própria e não esperar que as

políticas educacionais façam do professor e da educação fatores de qualidade. O professor

além da sua prática e teoria depende de fatores externos e internos, a motivação, para sua

rotina do dia-a-dia. O capítulo a seguir descreve algumas definições de motivação e teorias

que colaboram para a motivação relacionada aos professores.

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CAPÍTULO 2 – MOTIVAÇÃO

2.1 Conceitos de Motivação

A motivação não possui uma definição única, mas depende de como cada autor a

aborda e da teoria que utiliza, por exemplo, Chiavenato (2004b) salienta que motivação é um

processo psicológico básico, junto com as percepções, atitude, personalidade, aprendizagem,

sendo um importante processo da compreensão humana. Já Zanelli, Borges e Bastos (2004),

definem motivação por um processo objetivo básico de complexidade relativa, que está

associada a fatores como satisfação, desejo, recompensas extrínsecas e intrínsecas,

comprometimento, entre outros.

Figura 1: Classificação das teorias da motivação. Fonte: Chiavenato (2004a).

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Conforme a figura 1, diversas são as teorias que estudam a motivação, envolvendo

aspectos diferentes baseados em razões, comportamento, habilidades, satisfação, desempenho,

entre outros, e que fazem diferentes previsões relacionadas ao comportamento. Podendo ser

classificadas, de maneira geral, como teorias de conteúdo relacionadas a fatores internos à

pessoa, as necessidades que motivam as pessoas; as teorias de processo que descrevem e

analisam o processo do comportamento humano; e as teorias de reforço baseadas nas

conseqüências do comportamento.

Salanova, Hontanguas e Peiró (1996, p. 16) citados em Zanelli, Borges e Bastos

(2004) definem motivação como a ação guiada a objetivos, auto regulada, biológica e

cognitiva, ativada por necessidades, emoções, valores, metas e expectativas. De acordo com

Spector (2006), a motivação é o desejo de adquirir ou alcançar objetivos, sendo resultado de

desejos, necessidades e das vontades. Partindo do princípio de aspectos relacionados à

construção dos processos psicológicos referentes à motivação: a ênfase, o foco, a pergunta e a

resposta, são aspectos que colaboram para o conceito de motivação e para a construção das

teorias, como mostra a figura 2. (Zanelli, Borges e Bastos, 2004)

Figura 2: Principais fatores implicados na motivação, ressaltando as perguntas demandadas e as respostas presentes nas teorias da motivação. Fonte: Borges, Zanelli e Bastos (2004).

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As teorias da motivação de Maslow (1943) e Herzberg (1959) citados em Zanelli,

Borges e Bastos (2004) têm sido mais utilizadas pela abordagem psicológica para o estudo da

motivação em professores, pois são baseadas nas necessidades e conteúdos do trabalho e da

avaliação das ações a partir das atribuições de causas e razões e, por isso, essas duas teorias

serão mais enfatizadas neste trabalho.

2.2 Teorias da Motivação

2.2.1 Teoria das Necessidades de Maslow (1943)

A Teoria das Necessidades Humanas proposta por Abraham Maslow têm origem

biológica e sua concepção parte da idéia de que o homem deve atingir seu

autodesenvolvimento e crescimento. Na pirâmide proposta por ele, são destacadas cinco

categorias de necessidades, onde as necessidades inferiores precisam em parte estar satisfeitas

para que as necessidades superiores mostrem-se como motivadoras. (Zanelli, Borges e Bastos,

2004)

As necessidades propostas na pirâmide de Maslow são: as fisiológicas, de segurança,

as sociais, de estima e de auto-realização. De acordo com Zanelli, Borges e Bastos (2004), a

pirâmide de Maslow possui duas categorias de necessidades inferiores (fisiológicas e de

segurança) e três de superiores (social, de estima e auto-realização).

As necessidades fisiológicas são indispensáveis à sobrevivência e à continuação da

espécie. São necessidades inatas ao indivíduo, como alimentação, desejo sexual entre outras

desse nível. As necessidades de segurança referem-se à proteção contra ameaças ou perigo, e

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surgem quando a primeira necessidade, a fisiológica, está em parte satisfeita. As necessidades

sociais partem da aceitação do outro, do afeto, da aceitação dos grupos sociais dos quais se

participa. Segundo Chiavenato (2003), a necessidade social surge quando as fisiológicas e de

segurança estão quase satisfeitas e, quando não há satisfação suficiente dessa necessidade, a

pessoa se torna hostil com as pessoas à sua volta. As necessidades de estima estão ligadas à

busca da valorização, de respeito, consideração e status. As necessidades de auto-realização

formam a condição mais elevada da pirâmide de Maslow, sendo o máximo do crescimento e

busca de autodesenvolvimento. Segundo Spector (2006), as necessidades são satisfeitas de

formas e por meio de comportamentos diferentes, onde uma necessidade pode não ter relação

com um determinado comportamento.

2.2.2 A Teoria Bifatorial de Herzberg (1959)

Herzberg concebe a motivação como satisfação das necessidades complexas - estima

e auto-realização. A motivação, nessa concepção, é resultado do trabalho em si e não de

recompensas externas ou de condições do trabalho. A teoria foi formulada a partir da análise

de descrições sobre o que as pessoas desejavam obter com o seu trabalho. A conclusão foi que

os fatores motivacionais podiam ser divididos em fatores higiênicos, que seriam fatores

externos, variando da condição de insatisfação à não insatisfação (extrínsecos), e a dos fatores

motivadores que seriam os fatores internos, variando de satisfação à não satisfação

(intrínsecos). Para Herzberg, a motivação só aconteceria por meio de fatores motivadores.

(Zanelli, Borges e Bastos, 2004).

Os fatores higiênicos (extrínsecos) seriam definidos por salários, tipo de chefia,

política e diretrizes das organizações. O trabalho teria fatores positivos e negativos apenas

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evitando a insatisfação e não elevando a satisfação. Os fatores motivacionais (intrínsecos)

seriam fatores de valorização e reconhecimento que levam à satisfação quando ótimos e

bloqueiam a satisfação quando precários. (Chiavenato, 2003). Os fatores que levam à

motivação estariam relacionados à própria tarefa ou localizados na pessoa, enquanto os

fatores de insatisfação não se referem à pessoa, mas a algo externo a ela como, por exemplo, o

descaso dos governantes em relação à educação para os professores. (Zanelli, Borges e

Bastos, 2004).

Para Herzberg, em resumo, motivar seria oferecer níveis adequados de fatores para

motivação, já que os fatores de caráter higiênico não promovem a satisfação, (Spector, 2003).

Segundo Chiavenato (2003) são apenas preventivos e evitam a insatisfação.

O trabalho de Herzberg sobre sua Teoria Bifatorial ajudou as pessoas a focalizarem a

questão da importância de um trabalho significativo, enriquecendo o trabalho em várias

empresas, oferecendo níveis apropriados para os fatores de motivação. (Spector, 2006)

A motivação muitas vezes mostra-se pela satisfação que o indivíduo tem em sua

realização profissional, sendo um sentimento em relação ao trabalho, o quanto gosta de

realizá-lo, o quanto se sente valorizado e recompensando por sua profissão. As duas teorias

aqui descritas serão utilizadas para a análise da pesquisa, com o intuito de investigar os

fatores que motivam e desmotivam os professores e quais são os aspectos que diferenciam e

contribuem para esses fatores.

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2.3 Pesquisas empíricas sobre motivação e desmotivação em professores

Com o surgimento da escola e as transformações que foram ocorrendo ao longo da

história, verifica-se uma grande preocupação, ao menos na teoria, com a qualidade do ensino,

com o aprendizado do aluno e com a formação dos professores. De acordo com Cunha (1999)

citada por Oliveira e Alves (2005) há um jogo de expectativas com relação ao desempenho de

cada um, onde essa relação professor-aluno é determinada socialmente.

Para que o professor possa ensinar e fazer com que o aluno aprenda, não somente o

professor deve querer ensinar e estar motivado para tal, mas o interesse do aluno também

deve estar presente na aquisição de conhecimento. Um professor desmotivado não motiva o

aluno a querer aprender e um aluno desmotivado não têm interesse em aprender, nem motiva

seu professor a fazê-lo, ou seja, se não há conexão de saberes e interesses de ambas as partes

para o ensino, não há motivação mútua.

Segundo Cruz (2000), citado em Mendes e Gitary (2006), o termo motivação vem do

latim motio (movimento) e têm sua origem na palavra motivo, com sentido de causa ligada às

ações psicológicas do homem. Tapia e Fita (1999, p. 77), citados em Oliveira e Alves (2005),

consideram que “motivação é um conjunto de variáveis que ativam a conduta e a orientam em

determinado sentido para alcançar um objetivo”.

A motivação no contexto escolar é um determinante na qualidade da aprendizagem e

no desempenho, e o professor tem um grande impacto na motivação dos alunos. Essa

motivação é ameaçada quando o professor apresenta ausência de motivos, frustração em não

ter alcançado seu sucesso ao longo de sua carreira ou de experiência negativas, ou seja, existe

a desmotivação.

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Em sua pesquisa “A Motivação e o comprometimento do professor na perspectiva do

trabalho docente”, Moreira (2005) teve como objetivos analisar a relevância da satisfação no

trabalho, investimentos pessoais, alternativas a carreira e o comprometimento, segundo o

modelo de investimento para o trabalho de Rusbult e Farrell (1983), e identificar possíveis

necessidades para a elaboração de itens de um questionário com uma amostra maior de

participantes.

Moreira (2005), descreve que há poucas pesquisas e atenção da literatura direcionada

à motivação dos professores, apesar de ser tratada como certa ou constante. Contudo, este

autor considera que existem discrepâncias entre os professores quanto aos conceitos de

motivação e comprometimento, pois há variações diárias de interesse, comprometimento e

motivação dos professores em relação ao trabalho.

Moreira (2005), realizou uma pesquisa, adotado o modelo de investimento de

Rusbult e Farrell (1983, citado em Moreira, 2005) na definição do comprometimento no

contexto de trabalho, como o grau que o indivíduo permanecerá no trabalho se sentira

afeiçoado a ele. Nesse modelo, tanto a satisfação quanto os investimentos pessoais

contribuem positivamente para o comprometimento. Esse modelo tem como combinação a

satisfação do trabalho, a disponibilidade e atratividade de alternativas e os investimentos

pessoais no atual emprego.

Para a realização da pesquisa, Moreira (2005), utilizou-se de uma abordagem

qualitativa interpretativa. Os participantes foram selecionados por critérios de disciplina que

ministravam, sexo e estágio na carreira. Utilizou-se uma entrevista semi-estruturada para

coleta dos dados e, para a análise dos dados, a abordagem qualitativa de natureza

interpretativa.

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Em seus resultados, Moreira encontrou como fontes de satisfação no trabalho ver o

aluno aprender, relacionar-se com jovens, ajudá-los a tomar decisões na vida e a qualificação

profissional. Como fontes de insatisfação, foram encontradas a falta de união da classe, a falta

de reconhecimento no trabalho desenvolvido, a indisciplina dos alunos, o aumento da carga

administrativa e, até certo ponto, o salário. Observou-se também que a pesquisa diferiu em

alguns pontos do modelo de Rusbult e Farrel, no que se refere a aspectos que funcionam para

satisfação e insatisfação, pois estes autores consideram satisfação apenas como uma questão

de recompensa.

Em sua pesquisa, Moreira (2005), considera que, além do ato de ensinar, o professor

tem outras três formas de satisfação: as recompensas intrínsecas, extrínsecas e as

complementares de dimensão objetiva e subjetiva, por exemplo, a estabilidade do emprego

público. A satisfação movida por recompensas intrínsecas foi descrita pelos professores, por

exemplo, quando relatam que, ao trabalhar com jovens, verifica-se que eles aprenderam e que

os professores podem ajudá-los em suas vidas, fatores que os motivam no trabalho.

“O que me traz satisfação como professora é o meu relacionamento com as pessoas,

eu gosto de me relacionar com as pessoas, conversar e trocar idéias, gosto de

conversar com os jovens (Professor de Biologia – 2 anos de Magistério)”. (Citado

em Moreira, 2005, p. 216)

“[...] é quando eu percebo que há uma mudança, inclusive até mudança de

hábitos e de comportamento, então é melhor ainda (Professor de Português/Inglês –

22 anos de Magistério)”. (Citado em Moreira, 2005, p. 216)

Já a satisfação pela recompensa extrínseca mostrou-se por meio de fatores como

salário, prestígio e status, estabilidade e férias. As recompensas complementares não tiveram

tanta relevância para os professores que citaram destas apenas férias e feriados prolongados

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como fatores de satisfação. Moreira descreve ainda que a insatisfação tem sua causa maior na

relação professor-aluno, incluindo a indisciplina, o desinteresse, as aulas monótonas, a falta

de união da classe e o trabalho burocrático.

“Muitas vezes a minha insatisfação também vem dos próprios alunos,

principalmente quando eu percebo que eles não querem aprender. O aluno que não

quer nada com nada (Professora de Matemática – 28 anos de Pedagogia)” (Citado em

Moreira, 2005, p. 219)

“Às vezes eu penso: que droga de aula mesmo. Perdi o meu tempo hoje (Professor

de Português – 22 anos de Magistério)”. (Citado em Moreira, 2005, p. 218)

“Um dos fatores que me trazem muita insatisfação é a falta de coleguismo. A nossa

classe infelizmente é muito desunida (Professor de Geografia – 10 anos de

Magistério)”. (Citado em Moreira, 2005, p. 219)

“Outra coisa que eu detesto no magistério é o trabalho burocrático. Eu não gosto

desse trabalho burocrático [...] quanto desse tempo você poderia estar usando para

se informar melhor e preparar melhor uma aula [...] (Professor de Inglês – 22 anos de

Magistério)”. (Citado em Moreira, 2005, p. 219)

Em suma, Moreira conclui em sua pesquisa que os professores dão diferentes

significados ao trabalho, quando se referem a fatores como motivação e comprometimento.

A pesquisa sobre “Ensino Fundamental: Papel do Professor, Motivação e

Estimulação no Contexto Escolar” de Alves e Oliveira (2005), teve como objetivos a análise

do papel do professor no processo de estimulação e manutenção do interesse do aluno.

Abordou temas como a formação, a concepção do bom e mau professor, do bom e mau aluno,

satisfação na profissão e definição de motivação e estimulação de acordo com a fala dos

professores.

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Participaram da pesquisa cinco professoras entre trinta e quarenta e cinco anos que

lecionam na 1ª, 2ª e 4ª séries do ensino fundamental. Utilizou-se roteiro de entrevista semi-

estruturado, contendo 15 perguntas com o objetivo de coletar dados sócio-demográficos e

explorar os temas levantados, por meio de uma análise no modelo qualitativo-descritivo.

Nos resultados verificou-se a concepção do bom aluno valorizando fatores da cultura

escolar e participação dos alunos, o bom e o mau professor, a relação professor-aluno, a

satisfação do professor pela profissão, queixas sobre remuneração e desvalorização no

magistério e descrições para motivação e estimulação. As autoras perceberam a necessidade

de instrumentalizar os professores na sua atuação como os mediadores no processo de ensino-

aprendizagem pra evitar o desinteresse, fracasso e evasão escolar.

De acordo com os resultados da pesquisa de Alves e Oliveira (2005), o bom e o mau

professor são concebidos em relatos como:

“(O bom professor é) Esse que entende muito da pedagogia do amor, por aquilo que

faz. Entendo disso qualquer outra pedagogia funciona (participante 4)”. (Citado em

Alves e Oliveira, 2005, p. 9)

“(O mau professor) O mau professor é aquele que não se envolve que não quer

sofrer... não está a fim de procurar coisa nova, não lê, não se informa, não gosta de

buscar (participante 1)”. (Citado em Alves e Oliveira, 2005, p. 9)

As concepções do bom aluno incluem fatores como serem participativos,

argumentativos, a terem um bom desenvolvimento acadêmico, é o aluno que “não dá

trabalho” para aprender, fatores ligados à família como o interesse na escola, e à relação

professor-aluno, que esteja pautada no afeto:

“Bom aluno é aquele que não tem problemas disciplinares, grandes problemas

disciplinares (Participante 5)”. (Citado em Alves e Oliveira, 2005, p. 10)

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“Para ter interesse e responsabilidade dentro da escola é preciso ter atividades

diversificadas, aulas interessantes, participação da família (Participante 3)”.

(Citado em Alves e Oliveira, 2005, p. 10)

Com relação à satisfação, apenas uma das professoras entrevistadas, na pesquisa de

Alves e Oliveira relatou estar insatisfeita; as demais relataram que há satisfação por gostarem

do trabalho e pelos resultados obtidos com os alunos, mas há queixas de falta de material, má

remuneração e desvalorização da profissão:

“Eu gosto do que eu faço, mas acho que eu sou muito mal remunerada, eu acho que

a gente trabalha muito e é pouco valorizada (Participante 1)”. (Citado em Alves e

Oliveira, 2005, p. 11)

As professoras relataram várias definições para motivação, identificando-se itens

como a motivação sendo algo interno, a estimulação externa do indivíduo e a que desperta

interesse e vontade de realizar:

“A motivação é o que empurra a criança pra frente, é o que faz ela querer

saber, ir atrás, é algo de dentro porque você pode fazer de tudo, mas se ela não quiser não

vai conseguir”, e “Estimulação é esse que vem de fora para dentro, que o professor

pode fazer para que ele busque, para que ele se motive (Participante 2)”. (Citado em

Alves e Oliveira, 2005, p. 11)

“É o motivo porque alguma coisa anda, o que causa ou faz uma coisa andar.

Motivação na educação é o que a faz andar. Vontade de ver as coisas mudarem, de

chegar um mundo e pessoas melhores”, e estimulação “Nunca pensei nisso, mas

acho que é aquilo que desperta interesse, desperta a vontade de fazer mais

(Participante 3)”. (Citado em Alves e Oliveira, 2005, p. 12)

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“Motivação... é a vontade de crescimento, vontade de se fazer alguma coisa, pro

futuro” e estimulação “Está bem ligado à motivação né, se eu vou estimular eu vou

motivar, pra mim é basicamente a mesma coisa (Participante 5)”. (Citado em Alves

e Oliveira, 2005, p. 12)

Motivação, na fala das professoras entrevistadas por Alves e Oliveira, se dá por querer

crescer, por vontade e estimulação. Identifica-se nas falas satisfação por recompensas

intrínsecas como a de ver o aluno ir atrás, de estimulá-lo a conseguir. É retomando a esse

tema que a próxima pesquisa de Mendes e Gitahy (2005), se refere aos fatores que interferem

na motivação dos professores.

Mendes e Gitahy (2005), em sua pesquisa “Fatores que Influenciam na Motivação de

Professores da Rede Estadual de Ensino, no Exercício do Magistério na Cidade de Maringá-

PR”, tiveram como objetivo a verificação dos fatores que interferem na motivação dos

professores do ensino médio e fundamental da cidade de Maringá e a possibilidade de

mudanças da realidade encontrada.

Participaram da pesquisa onze professores de uma escola estadual do ensino médio,

sendo quatro do ensino fundamental e sete do ensino médio, todos do turno diurno, por meio

de um questionário aberto e validado para recolher as informações pertinentes à pesquisa. A

análise utilizada foi a descritiva, para descrever o verificado sem interferir nas variáveis

encontradas.

De acordo com os resultados encontrados por Mendes e Gitary (2005), a

desmotivação tem sua principal causa na realidade escolar, que é reflexo de uma relação

política, social e cultural que estava em crise, refletindo negativamente. O fator salário, por

sua vez, não foi o que mais contribuiu para a desmotivação. Segundo os professores, é

necessário conscientizar família e comunidade a assumirem o papel educacional juntamente

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com a escola e reestruturar políticas educacionais, e também uma educação continuada para

os professores no intuito de trazer para a escola idéias e projetos novos.

Mendes e Gitahy (2005) colocam que, em relação à primeira questão de quais foram

às mudanças conceituais, no âmbito escolar, que ocorreram em nível político-social e/ou

pessoal durante os anos como docente, foi citada como principal mudança a inviabilidade de

trabalhar corretamente em face da realidade, achar-se incapaz de exercer a profissão hoje, o

descaso e a falta de respeito com o professor e que a realidade levou ao desinteresse a

profissão.

A segunda questão abordou os fatores que levaram à desmotivação ao longo dos

anos, e teve como principal resposta a indisciplina e a falta de compromisso com o aluno,

seguido do não compromisso da família e do governo, problemas sociais e culturais, de ordem

econômico-financeira da família dos alunos, baixos salários, falta de recursos, excesso de

trabalho e desvalorização da disciplina na escola.

A questão do que pode ser feito para que se tenha a manutenção da motivação

enquanto profissional da educação teve como critério principal a atenção dos pais na

manutenção da educação dos filhos juntamente com a escola, em seguida foram relacionados

mais atenção do governo, aprendizagem continuada do professor e atualização dos mesmos e

mais investimento na educação.

Diante de tantos aspectos que podem levar o professor a estar ou não satisfeito pode-

se perguntar quais são os motivos mais importantes que levam o professor a um bom

desempenho e a estar motivado? Talvez um bom salário, alunos conscientes dos estudos, boas

escolas, condições estruturais e matérias e valorização de carreira? Não basta um profissional

dedicado, com um bom diploma e vontade de ensinar, se as condições para isso não suprem

sua paixão ou vocação em ser professor. E como explicar que mesmo em condições não

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favoráveis para o ensino ainda se encontram professores que conseguem estar motivados em

relação a outros? São esses fatores, que separam os motivados dos desmotivados, que o

presente trabalho pretendeu verificar.

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CAPÍTULO 3 – FATORES QUE INFLUENCIAM NA MOTIVAÇÃO E

DESMOTIVAÇÃO DE PROFESSORES

A presente pesquisa teve por objetivos analisar quais são os fatores que influenciam na

motivação e na desmotivação dos professores num mesmo contexto de trabalho.

Além desses, apresentar quais são os fatores que se diferem na motivação e

desmotivação dos professores que lecionam numa mesma escola e relacionar, esta pesquisa

com outras pesquisas que apresentem estudos com professores que lecionam na mesma escola

e com professores que lecionam em escolas diferentes.

3.1 Método

A amostra foi composta por seis professoras, todas do sexo feminino, com idades entre

24 e 40 anos que lecionam na mesma escola do Ensino Fundamental da rede pública.

As professoras entrevistadas têm em média trinta e um anos, com desvio padrão de

seis anos, e em média dez anos de atuação no magistério com desvio padrão de seis anos e

meio. Quanto à formação acadêmica somente uma não concluiu o ensino superior, tendo

somente o magistério, três possuem o ensino superior e duas com pós-graduação, como

mostra a tabela 1.

Foi realizada uma pesquisa com dados quantitativos e qualitativos, baseado no modelo

qualitativo-descritivo, Alves (2002) citado em Alves e Oliveira (2005), permitindo ver em

cada questão seus conteúdos emergentes, pela análise das entrevistas semi-estruturadas

analisada considerando as propostas.

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Tabela 1

Características da amostra

Participante Idade Sexo Estado Civil Escolaridade Tempo que Leciona (anos)

1 24 F Solteira Graduação Incompleta 5

2 25 F Solteira Graduação 6

3 30 F Casada Graduação 14

4 33 F Casada Graduação 3

5 34 F Casada Pós-graduação 13

6 40 F Casada Pós-graduação 20

3.2 Instrumentos

A realização da pesquisa teve como instrumento um roteiro de entrevista semi-

estruturada com os objetivos de coletar os dados sócio-demográficos do grupo e explorar os

temas referentes à de motivação, desmotivação, satisfação, insatisfação e temas globais

relacionados a comprometimento, dificuldades para lecionar, frustrações, valorização,

respeito, salário, condições de trabalho, porque escolheram serem professoras além de uma

escala1 para medir o grau de motivação das professoras. (Apêndice - B)

Antes de responderem às perguntas da entrevista, foram feitas às participantes três

questionamentos relacionados à motivação onde, numa escala de 1 a 10, elas se situariam,

sendo o número um totalmente desmotivado e dez totalmente motivado, com a finalidade de

escolher para a entrevista professoras que apresentassem níveis diferentes de motivação e

desmotivação, como mostra a tabela 2, visando atender aos objetivos da pesquisa. (Apêndice -

B)

1 A escala de motivação foi elaborada em conjunto pela aluna da monografia e a professora/orientadora.

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Tabela 2

Perguntas para medir o grau de motivação das professoras em três momentos

Perguntas P1 P2 P3 P4 P5 P6

Como os outros

professores lhe vêem,

motivado ou desmotivado?

6 9 8 7 10 8

Como você se considera em relação ao ano

passado?

7 9 5 6 10 10

E onde você se situa hoje? 6 9 9 6 10 10

A tabela dois mostra na primeira pergunta que somente uma professora se sente vista

pelos outros professores não tão motivada como as outras se sentem. Em relação ano passado

e hoje, quatro mantiveram seu estado de motivação, uma teve um bom aumento na motivação

de cinco para nove e uma considerou ter ficado um pouco desmotivada com relação ao ano

passado.

Foi então feita uma divisão das seis participantes em dois grupos: as professoras mais

motivadas e as menos motivadas como mostra a tabela 3. Essa divisão foi feita para depois ser

utilizada na análise das entrevistas, levando em conta o objetivo deste estudo, analisar alguns

fatores que levam a uma maior ou menor motivação no mesmo ambiente de trabalho.

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Tabela 3

Categorização das professoras em mais motivadas e menos motivadas

Professoras Mais Motivadas Professoras Menos Motivadas

P 2 P 5 P 6 P 1 P 3 P 4

9 10 8 6 8 7

9 10 10 7 5 6

9 10 10 6 9 6

As três professoras consideradas mais motivadas apresentam uma média de motivação

de 9,44 e um desvio padrão de 0,67, enquanto as três consideradas menos motivadas

apresentam uma média de desmotivação de 6,67 e um desvio padrão de 0,87, como mostra a

tabela 3.

3.3 Procedimentos de Coleta

O primeiro procedimento para a realização da pesquisa foi a elaboração de um projeto

de pesquisa para o Comitê de Ética e Pesquisa do UniCEUB, que após avaliação foi aprovado

recebendo o processo de número CAAE – 0904.0.000.303-08.

O próximo passo foi pedir o consentimento da direção da escola para a realização da

pesquisa, seguindo-se da escolha das professoras e verificação da participação das mesmas na

pesquisa. A realização das entrevistas foi realizada individualmente na biblioteca e numa sala

de coordenação, onde todas as professoras assinaram um termo de consentimento (Apêndice -

A) e todas as entrevistas foram gravadas, transcritas na íntegra e separadas por categorias de

respostas. (Apêndice - C)

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4. RESULTADOS

A partir da análise das falas das professoras com relação à escolha da carreira, os

fatores abordados pelo grupo estudado referiam-se a gostar de crianças e do mundo delas,

pelo desejo de ser igual a alguma professor que se teve quando criança e por nunca ter

pensado em exercer outra profissão, relatada nas seguintes falas: “Desde pequenininha... três

anos de idade que já queria ser professora, eu gosto... Eu gosto de ajudar as crianças, eu

gosto de estar perto das crianças, gosto da parte didática mesmo... De tá planejando, de tá

levando novidade pra criança... eu gosto desse mundo aqui.” (Participante 5). “Porque eu

gosto, sempre... Desde... de criança... Nunca pensei em exercer outra profissão... Foi algo

assim natural.” (Participante 6). Outro ponto levantado ainda sobre a escolha da carreira foi a

fala seguinte: “Questão de oportunidade... Porque foi o primeiro concurso que eu fiz e

passei... Eu não escolhi ser professora... Foi a oportunidade que eu tive na época e eu fiz a

prova e passei.” (Participante 1).

Observou-se que a partir das falas e de como as professoras foram categorizadas em

mais motivadas e menos motivadas, as descrições da escolha da carreira para as participantes

5 e 6 correspondem alta motivação, o fato de gostar de crianças é um aspecto muito motivador

para a escolha inquestionável da carreira de professor. Tal situação foi evidenciada na fala da

participante 1, considerada menos motivada, já que não foi uma escolha da participante, sendo

uma questão de oportunidade da época.

Na fala das professoras, os fatores relacionados à motivação para lecionar estão

ligados aos alunos, em fazer o melhor por gostar de crianças, a motivação pelo

desenvolvimento do aluno e por ele adquirir conhecimento, descrito na seguinte fala: “É de

gostar... é de ver o desenvolvimento do aluno... no momento que você começa a desenvolver

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um trabalho e você percebe o desenvolvimento do aluno, você percebe que o aluno vai

adquirindo conhecimento que o aluno vai desenvolvendo, que ele vai descobrindo outro

mundo, aí é isso que me motiva a estar sempre gostando do que faço.” (Participante 6).

Enquanto outra professora considera que existe motivação, “Tenho... Só que eu sinto

muita dificuldade na turma, às vezes eu me sinto desmotivada por esse motivo, mais se for só

a minha parte eu tenho motivação [...]” (Participante 1), mas também existe a desmotivação

pela dificuldade da turma, a tristeza pelo salário, porém destaca que este não influencia no

comprometimento com a sala: “[...] Tem muitas coisas que concorrem pra deixar a gente

triste, mas o compromisso que você tem na sua sala de aula... agente não pode deixar

influenciar... porque tem questões a meu salário deveria ser melhor, a escola deveria ser

melhor, aí porque o aluno deveria ser melhor, porque a família do aluno deveria ser melhor...

com certeza muitas coisas deveriam ser melhores, mas não é isso que vai fazer com que a

gente comece a botar culpa nas outras partes e deixar o compromisso da gente de lado...

deixa o papel da gente pra lá.” (Participante 5).

A fala da Participante 5 é um discurso de uma professora mais motivada, mesmo

diante das questões aversivas que se tem ao lecionar, ela considera que o comprometimento

não deve ser deixado de lado, mesmo quando considera que o aluno deveria ser melhor, o que

é diferente com relação à na fala da Participante 1 que, tem na turma, os seja, em seus alunos

os responsáveis pela desmotivação ao lecionar.

Quando questionadas como, mesmo, diante das dificuldades, continuam a lecionar as

professoras colocaram que continuam porque precisam de dinheiro e pela estabilidade no

emprego, e pelo amor à profissão, conforme relatado nas falas seguintes: “Porque eu preciso

de dinheiro, a minha motivação maior é, além de paz e um pouco de satisfação, o dinheiro.”

(Participante 1); “Eu continuo dando aula porque eu sou concursada, porque se eu não fosse

já teria procurado outra coisa...” (Participante 4), e “Pelo amor à profissão, por necessidade

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também, né... Por precisar do dinheiro... Muitos não são por amor... São pelo dinheiro

mesmo... Mas eu sou pelo amor mesmo.” (Participante 3). O outro grupo de professoras, mais

motivadas, considera que mesmo com dificuldades a professora deve estar preparada para os

desafios e problemas, continuam lecionando por acreditar na educação e que, mesmo quando

se tem problemas de saúde continuam por ter muito a oferecer e aprender, como é descrito:

“[...] Na sala de aula nenhum dia é igual ao outro... Às vezes você planeja uma coisa e chega

lá é completamente diferente... E eu acho que a pessoa tem que tá preparada pros desafios,

pros problemas [...]” (Participante 2); “[...] Eu respondo por mim, eu dou aula porque eu

acredito na educação, eu também acho que... Que muita coisa se resolveria se a família e a

educação andassem juntas... Porque assim existem problemas de família que a escola ajuda

muito, sana muita coisa, claro, não é a grande salvação do planeta a educação... Mas tem

muita coisa que a escola é assim um suporte muito grande.” (Participante 5); e “[...] Eu

tenho mais dificuldade pelo problema de saúde que eu tenho... E eu continuo porque eu gosto

né... E acho que ainda tenho muito a oferecer e muito a aprender, porque o profissional em

sala de aula, ele tanto tem muita coisa a oferecer à criança como a aprender [...]”

(Participante 6).

As falas das Participantes 1 e 4, consideradas menos motivadas, continuam a lecionar

por dinheiro e por estabilidade financeira, enquanto as professoras consideradas mais

motivadas assumiram seu papel de professora acreditando na educação, preparando-se para os

desafios e que, mesmo quando as dificuldades são relacionadas a aspectos pessoais do

professor, continuam na profissão por gostar. Relacionados com a questão dos fatores

intrínsecos e extrínsecos a profissão, nota-se que as Participantes 1 e 4 são mais guiadas por

fatores como dinheiro e estabilidade, que de acordo com Herzberg (1959) citado Zanelli,

Borges e Bastos (2004) ocorrem por fatores higiênicos de motivação extrínseca.

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Quando questionadas sobre valorização e respeito ao professor, foram unânimes ao

afirmarem que o professor não é valorizado e que há pouco respeito pela profissão. Disseram

que o professor era valorizado antigamente e está sendo desvalorizado a cada dia pelos pais,

pela sociedade, pelo governo e que o professor não tem status, conforme as falas a seguir:

“[...] Eu acho que o professor não é valorizado, não é valorizado nem pela sociedade e nem

pelo governo... Porque o professor hoje é visto como vagabundo, como alguém que não leva

a sério sua profissão [...]” (Participante 6); e “[...] Você não tem status, se você tá numa roda

de amigos... Você... Aí, o pessoal pergunta o que você faz... Aí você responde que é professor

e o pessoal fica ahhh... É... Falta desmaiar assim do seu lado... Eu acredito que seja todo um

contexto histórico, as pessoas não têm noção da importância do professor, que ela é a base

que pode ta mudando uma sociedade, que ela pode tá mudando a realidade das famílias. Que

a criança vem de família de pai e mãe analfabetos e por meio de da educação pode tá

mudando, pode ta melhorando [...]” (Participante 2).

Transparece na fala das participantes que há pouco respeito por parte da sociedade e

de alguns pais e que o respeito que existe vêm dos alunos, que têm um clima de respeito em

casa e da família que vê o professor como figura de respeito e que valorizam o próximo, como

verifica-se a seguir: “[...] Algumas pessoas sim, ainda vêem o professor como uma figura de

respeito, acho que das algumas famílias que realmente valorizam o próximo, se ela tá

acostumada a respeitar as pessoas em casa ela chega dentro de sala de aula e respeita o

professor, agora a criança que não tá acostumada a ter respeito pelas pessoas ela encara o

professor da mesma forma.” (Participante 6); “Os alunos eles valorizam, os alunos aqui pelo

menos na educação infantil da pré escola até o quarto ano e eles valorizam, eles têm o

respeito [...]” (Participante 2); e “... A visão do professor tá muito desvirtuada, os pais acham

que o professor virou a babá e que a escola só serve pro pai se livrar do aluno... Não vêem

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mais a função social do professor... Essa função mesmo de educar, de formar um cidadão

crítico, um cidadão atuante da sociedade... Os pais não reconhecem isso.” (Participante 4).

Quando questionadas se em algum momento sentiram-se frustradas na profissão,

relataram que sim, quando agredidas por aluno, quando era preciso fazer algo que não era de

seu “arcabouço”, quando, antes mesmo de pegar uma nova turma, disseram que a turma era

difícil, que a frustração é constante, que há frustração todo final de ano se um aluno não

consegue o desenvolvimento esperado, como ilustram as falas: “[...] Quando eu fui agredida

por um aluno na sala de aula... Mordeu meu braço, começou a gritar, a rolar no chão, correu

na sala, bateu nos meninos, jogou os cadernos no chão, jogou mesa e carteira no chão...

Fiquei assim completamente sem reação [...]” (Participante 1); “[...] Quando eu peguei a

turma e me disseram que eu tinha pego um pepino, sabe... Ah você é doida de pegar uma

turma de 2ª série, você não sabe o pepino que você tá pegando, eu fiquei muito frustrada com

isso, fiquei realmente arrasada... Porque fica parecendo também que você não vai dar conta,

que você não vai conseguir atingir o objetivo... Eu fiquei bem frustrada.” (Participante 4); e

“Acho que a frustração é constante, hoje mesmo eu tô frustrada [...]” (Participante 5).

Apenas uma, ao contrário das outras, disse que mesmo com as dificuldades e de ter tido um

ano com alunos com necessidades educacionais especiais, não levou a experiência para o lado

da frustração e sim para o amadurecimento profissional e pessoal, conforme descrito a seguir:

“Eu tive dois alunos especiais, um com Síndrome de Willians e outro com Doença Mental e

foi dai que eu amadureci... Eu acho que deu tempo deu amadurecer pessoalmente... Fui

amadurecendo, eu fui vendo o meu papel como educadora... Fui assumindo uma postura

diferente... tem males que vem pra bem... fui amadurecendo, é uma experiência muito

positiva...” (Participante 2).

Tanto as professoras do grupo mais motivado quanto do grupo menos motivado,

exceto a Participante 2, tiveram em algum momento uma situação frustrante e que foi

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considerada meio negativa. Somente a Participante 2 fez a ressalva de que as mesmo situações

difíceis foram encaradas como oportunidades para o crescimento.

Quando questionadas se em algum momento a desmotivação foi fator para deixar a

profissão, as professoras relataram que houve desmotivação quando se sentiam sozinhas por

não ter recursos suficientes na escola, pela agitação dos alunos, por ofensas do governo, por

cansaço e insatisfação, relatadas nas seguintes falas: “[...] Quando eu tava no segundo ano

aqui na escola, que ninguém entendia os meus anseios... Porque você é sozinha, sabe você

tem que tá com muito cuidado com as palavras, eu não podia falar que o menino não dava

conta... Que eu não queria a criança... Eu não podia falar nada... fiquei muito desmotivada...

Porque você se sente sozinha, as coisas acontecem e você não tem com quem contar... E o

pessoal só sente pena, ajuda que é bom não vem de ninguém...” (Participante 2); “Já teve

alguns momentos que eu senti... quando numa escola que não tinha recurso, nem sala

adequada, nem material adequado, você se sente assim numa ilha, o que você vai fazer

agora, você não tem nenhuma folha pra dar pra criança, já cheguei em escola assim, então

nesse momento eu me senti desmotivada [...]” (Participante 3); e “Alguns momentos dentro

da sala de aula mesmo, momentos assim quando os alunos estão muito agitados, você fala e

os meninos não param, tem hora que eu penso ai, meu Deus porque que eu tô aqui, vou

largar isso, não quero mais, são nesses momentos dentro de sala de aula mesmo.”

(Participante 4). Uma professora relata que já ficou muito triste, mas não a ponto de largar a

profissão e que a desmotivação parte da não valorização do professor: “Eu nunca pensei em

mudar de profissão, eu acredito assim que o que deixa hoje o profissional triste não é a sala

de aula, é exatamente essa falta de valorização, então são nesses momentos que você pensa

em deixar de ser professor, ai você me pergunta o que eu faria se não fosse professora e eu

não me vejo em outra profissão... Então eu sei que apesar de tudo pode não ser na secretaria

de educação, mas que eu exerceria essa profissão.” (Participante 6).

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Quando questionadas em que contexto já se sentiram muito motivadas na profissão, os

motivos foram descritos como o de esperar que a turma do ano que vem seja melhor e mais

comportada e quando a secretaria promove cursos de atualização: “O momento em que a

secretaria de educação desenvolve cursos pra que a gente... Fazendo as atualizações...

Sempre estão disponibilizando cursos, encontros, palestras... ultimamente tem melhorado a

questão do material... A secretaria vai tá recebendo um material de alta qualidade pra poder

tá trabalhando com os alunos... É um ganho muito grande você sente motivada [...]”

(Participante 3). A gratificação do reconhecimento e carinho do aluno, a convivência com o

aluno é um fator de motivação: “O fato de ser professora tem a sua parte que é gratificante

quando você vê o resultado do aluno, quando seu aluno vem te agradecer... Te trata com

carinho, quando você vê que o seu trabalho foi reconhecido no final do ano, vê que o aluno

alcançou, que ele progrediu, que ele teve um bom desempenho. Isso é gratificante e é o

estímulo que eu tenho pra continuar, se não fosse isso mesmo sendo concursada acho que

não estaria mais.” (Participante 4). Para uma professora a motivação aumentou quando

voltou de um tempo que esteve doente onde quase teve que se aposentar: “[...] Eu fiquei dois

anos de licença médica, eu corri um risco muito grande de ser aposentada e quando você tem

um problema sério você pensa que nunca mais vai estar numa sala de aula e de repente você

volta pra sala de aula, faz um bem muito grande pra você, pra mim foi algo maravilhoso

retornar depois de dois anos, voltar a desenvolver projetos, voltar a ter contato com aluno...

Isso ai pra mim é muito importante.” (Participante 6).

A Participante 6 mostrou grande motivação pela sala de aula e pelos alunos, seu

problema de saúde não foi contratempo para o surgimento da desmotivação, ao contrário, foi

uma alavanca para estar ainda mais motivada em sala de aula. A Participante 4 mesmo

estando no grupo das menos motivadas, vê-se estimulada pelo desempenho do aluno que pode

ser interpretado como reflexo do seu empenho.

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Na questão de comprometimento com a escola e com os alunos, todas salientaram que

se consideram comprometidas, cada uma a sua maneira, como ser comprometida por passar as

tarefas e adaptar o currículo aos alunos que têm necessidades especiais: “Eu me considero

mais comprometida com os alunos... No sentido de passar as tarefas, corrigir as tarefas... De

seguir o currículo deles, de adaptar a aqueles alunos que têm deficiência.” (Participante 1).

São comprometidas por chegarem no horário e participar dos eventos da escola, que mesmo

com falta de estímulo não se desliga dos alunos: “Acho com a escola e com os alunos sim...

Porque mesmo com minha... Falta de estímulo que eu tenho, eu faço meu trabalho direitinho,

eu sou responsável, sou organizada eu me preocupo muito com os meus alunos, eu não

consigo me desligar... Tô o tempo todo pensando, eu acordo pensando como é que vai ser

como é que vai ser o dia, eu durmo pensando meu Deus eu devia ter feito uma tarefa assim

[...]” (Participante 4); e o que se tem que valorizar são os alunos e a escola: “Sim... Eu

sempre falo o seguinte que acima de tudo não é porque nós não temos bons salários e que

não somos valorizados que não vamos valorizar aquilo que temos e o que nós temos são os

alunos e a escola [...]” (Participante 6).

A fala da Participante 4 mesmo estando no quadro das menos motivadas, sua

satisfação/motivação se concentra no aluno assim como nas falas das professoras

consideradas mais motivadas, onde aluno aparece como grande fonte de motivação e

satisfação para o professor, assim como descreve a Participante 6 que considera que se deve

tanto valorizar o aluno quanto a escola, mesmo os professoras não tendo essa valorização.

Com relação às condições de trabalho, os professores afirmaram que têm o básico,

mas que precisa melhorar: “Sim o básico sim... A gente não tem uma estrutura melhor, por

exemplo, agente não tem uma brinquedoteca que é importantíssima, acho assim que a

ludicidade é essencial ao aluno... A biblioteca também, você vê que não é lá essas coisas, os

alunos não são tão motivados a virem aqui, tem coisas que deixam a desejar mesmo.”

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(Participante 4). Acrescentam que as condições são precárias e que as salas não são

adequadas: “Em termos as nossas salas não são adequadas como a gente gostaria

principalmente pra quem tem aluno especial como a gente tem é muito complicado... Nosso

ambiente poderia ser melhor, eles poderiam investir melhor nas escolas.” (Participante 3); e

uma não concorda dizendo que de forma alguma as condições de trabalho são satisfatórias:

“De forma nenhuma, a gente tem uma sala de vídeo quando chove cai goteira na nossa

cabeça... A quadra é horrível... Estrutura mesmo não tem não... Temos que ser guerreiros,

levar, na esportiva.” (Participante 2).

Mesmo relevando às condições de trabalho é evidente que todas as professoras

concordaram que a escola deve ser um lugar adequado e agradável, tanto para o aluno quanto

para o professor, já que o ambiente também influencia na qualidade do ensino e da

aprendizagem.

Quanto ao aspecto do salário, todas as professoras concordaram que não têm o salário

que merecem e que o mesmo deveria ser melhor: “[...] Deveria ser melhor... E assim tem dia

que eu até sorrio, porque puxa essa aula valia dez mil reais porque o que eu passei hoje e tem

dia assim que você nem lembra do seu salário... Mas seria importante a valorização... Que

quando você tá bem... Com certeza você vai ta mais tranqüilo também pra trabalhar... A

gente não ganha tão mal, mas a gente poderia ganhar melhor...” (Participante 5). Uma

afirmou que custo de vida em Brasília é muito alto, mas que dá para pagar as contas e que em

relação à realidade do país são privilegiadas: “Acho assim que não é o que a gente merece

porque você vê a nossa realidade e aqui ainda somos privilegiados... Diante da realidade do

nosso país, a gente sabe que a gente é privilegiada...” (Participante 2); e “[...] Eu acho muito

pouco, a gente vive numa cidade, Brasília que tem um custo de vida muito alto, é mais caro...

E mesmo nosso salário sendo mais alto do que alguns estados ainda é muito pouco, eu acho

que deveria valorizar bem mais [...]” (Participante 3).

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Não importa se a professora é do grupo das mais motivadas ou das menos motivadas,

pois concordam que o salário deveria ser melhor, ainda mais para a profissão tão importante

como a do professor, mas que diante da realidade brasileira o salário é melhor em relação ao

de outros estados.

Quando perguntadas em quais aspectos sentem mais satisfação todas as respostas,

mesmo de maneiras diferentes, remetem ao aluno, em vê-lo vencer: “Satisfatório é... o que a

gente tem depois de todo um trabalho, você vê que você alcançou um objetivo que o aluno

venceu [...]” (Participante 4). Também, o aluno desenvolve-se: “O que me traz satisfação

seria... É o desenvolvimento do aluno... Me traz satisfação também essa busca, sempre

estudando, tá sempre procurando o que é melhor pro meu aluno, tentando fazer diferente pra

consegui o desenvolvimento do meu aluno, isso ai pra mim é fundamental [...]” (Participante

6). Quando aprenderem a ler: “Satisfação eu vejo assim quando a criança aprende a ler, uma

criança que não sabia nada e de repente começa a ler e a escrever [...]” (Participante 2). Há

satisfação quando há retorno dos alunos, no trabalho do professor e quando os alunos

procuram a professora, questionando algo: “Satisfação quando eles aprendem, eu corrijo uma

prova, um trabalho. Quando eu tô corrigindo no quadro e eles respondem, quando eu vejo

que eu faço diferença não só no conteúdo, mas em aprendizado da vida [...]” (Participante 1)

Em relação aos aspectos relacionados à insatisfação as professoras relataram diversas

características como brigas e palavrões dos alunos: “O que me traz insatisfação é briga,

brigam muito na sala, falam muito palavrão, tem muita ofensa, são coisas que a gente

trabalha sempre, tá conversando e não vejo resultado.” (Participante 1). Por alunos são

desinteressados: “O que é insatisfatório é vê que você trabalhou o ano todo e tem aluno que

não progride e você tentou e se esforçou e o aluno não progrediu, não foi pra frente.”

(Participante 4). Quando a escola não tem uma equipe especializada para ajudar nos

problemas, pela desvalorização por parte da sociedade, e pelo professor não participar das

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decisões na área da educação: “O que me deixa triste é chegar e você ver que a sociedade não

valoriza mais o profissional professor e que... Nem sempre o professor é chamado pra

decidir, pras decisões da área de educação, a coisa já chega pronta pra você e nem sempre

aquilo é o melhor [...]” (Participante 6).

A insatisfação na concepção das professoras está nos alunos, quando estes não têm

bom comportamento e nem interesse pelo estudo, como relatam as Participantes 1 e 4,

consideradas menos motivadas. Já no quadro das professoras mais motivadas a insatisfação

parte da desvalorização que o professor enfrenta e de ser um agente passivo nas tomadas de

decisões referentes à educação.

Com relação à carga horária, todas concordaram que às cinco horas de aula e às três

horas de coordenação são ideais e que não atrapalham o ensino, ao contrário, ajuda no

aperfeiçoamento da aprendizagem: “Nossa carga horária é dividida em 8 horas, 5 de sala e 3

de coordenação, isso também foi uma conquista nossa ao longo dos anos que se chama

jornada ampliada, ampliou pro aluno 1 hora e pra nós a gente continuou com as 8... Essas

três horas de coordenação é de reuniões administrativas, tem a coordenação individual, tem

a coordenação coletiva [...]” (Participante 3); e “Eu acho que tá bom, que essa jornada

ampliada, essas três horas de coordenação foi assim um ganho muito grande pra categoria e

foi um ganho muito grande para o aluno. Porque o professor hoje ele tem condição de

realmente preparar um material melhor pro aluno, ele tem condição de fazer um atendimento

de aula de reforço no horário da coordenação e assim às cinco horas aula eu acho que é

importante sim, é interessante, não é só ficar cinco horas em sala de aula, a gente desenvolve

outras atividades fora de sala de aula que vão contribuir pra formação do aluno [...]”

(Participante 6). Algumas consideram que mesmo as horas divididas, dessa forma, sejam

satisfatórias, mas que cinco horas de aula para o aluno é muito: “Não atrapalha não acho até

que é bem dividida, eu só acho assim, parte da coordenação tá super tranqüila... Mas à tarde

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eu acho assim que a carga horária é muito extensa pra falta de recursos que a gente tem...

Tem que ficar cinco horas com a criança lá só com o lápis, a borracha e o caderninho deles...

Não oferecem recursos, n, é pra gente ta ficando com esses meninos cinco horas em sala

[...]” (Participante 2).

Quando perguntadas sobre o que hoje motiva o professor, as respostas foram variadas.

A motivação ocorre por acreditar que um dia é diferente do outro e que os alunos podem

mudar de um dia pro outro, afirmou uma professora: “O que mais eu fico pensando é em

como vai ser o outro dia, que às vezes acontece uma coisa triste... e você fica, poxa, como é

que vai ser no outro dia, vai acontecer uma coisa diferente, será que eles vão se comportar

de forma diferente, então essa dinâmica de um dia pro outro é o que mais me motiva porque

eu sei que um dia não vai ser como o outro... que um dia ele vai aprender uma coisa a mais,

então eu acho que essa mudança de um dia pro outro, acho que é o que mais me motiva... eu

sei que no outro dia eles podem estar bem diferentes, fazer pergunta diferente [...]”

(Participante 1); e “[...] A motivação eu acho que é justamente em pensar que isso um dia vai

mudar tem que mudar, um dia eu acho que isso é a motivação que as pessoas têm, pensar que

um dia a educação vai melhorar.” (Participante 4). A motivação pelo desafio diário de

ensinar, pelo contato com as crianças e pela valorização por parte delas, também foi

ressaltado: “O que motiva o professor eu acho que são... É... os desafios, o contato com a

criança, a valorização pelas crianças, os grupos de professores que você faz amizade e... É o

desafio constante, desafio diário o que motiva é isso e superação...” (Participante 2). Há os

professores que mesmo com dificuldades, conseguiram resultados positivos: “O que motiva o

professor é saber que mesmo com tantas dificuldades, tudo a gente ainda consegue resultados

positivos, como eu tava, te falei da alfabetização... Você pegar um aluno com problemas e

tudo, saber que na escola ele se sente melhor... é aonde ele vai ser preparado pra vida...

muitos pais não estão preocupados em estar preparando seus filhos pra vida futura, é a gente

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que tem que se virar mesmo... muitos pais colocaram na escola a função de casa, muitos

porque trabalham e outros porque nem trabalham nem querem desenvolver o seu papel

querem jogar tudo pra escola [...]” (Participante 3). Também, a vontade de ajudar o aluno:

“Motiva o professor é a vontade de ajudar o aluno, acho que esse é o grande... E a grande

motivação, a vontade de falar poxa eu quero levar esse menino até tão ponto. É você pegar

uma turma e falar eu consegui chegar... A grande motivação do professor é pegar aquela

criancinha ele passou por mim e aprendeu isso aqui [...]” (Participante 5). E quanto ao

desenvolvimento do aluno: “Acho que o grande motivador do profissional ainda é o

desenvolvimento do aluno porque não tem nada melhor do que vários anos depois você

encontrar um aluno que tá no mercado de trabalho que continuou os estudos [...]”

(Participante 6).

Os fatores em comum que influenciam na motivação das professoras consideradas

mais motivadas é o aluno, seja por ver o desenvolvimento dele, por ajudá-lo ou por se sentir

valorizada pelas crianças. Nas professoras consideradas menos motivadas os fatores que as

motivam é a espera de um melhor comportamento do aluno, o aguardo de mudança na

educação e saber que mesmo com dificuldades ainda se conseguem resultados positivos.

No que se refere aos aspectos que desmotivam hoje o professor, estão o de encontrar

com os alunos depois de um tempo e ver que não concluíram os estudos: “O que mais me

desmotiva é quando eu encontro meus alunos já adultos e pararam de estudar, ah, mas

porque você parou ah, porque eu tive que trabalhar... Ah, porque a carga horária do meu

trabalho não era compatível à da escola ou porque ele não se adaptou à escola... Sempre no

final do ano o que me preocupa não foram os alunos que conseguiram um desenvolvimento, é

aquele aluno que eu sinto que ele não desenvolveu todas as potencialidades que ele poderia

ter desenvolvido, então esse é o aluno que me deixa preocupado e o que desmotiva é isso,

encontrar esses alunos no futuro e perceber que aquele probleminha que eu já havia

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detectado no início, que ele foi virando uma “bola de neve” e que hoje o aluno tá fora da

escola, ele não concluiu os estudos, isso ai pra mim é uma tristeza muito grande.”

(Participante 6). Quando a criança não tem atenção da família e não vê sentido na escola, são

outros fatores desmotivantes: “O que mais desmotiva é quando a criancinha tá sozinha, às

vezes você pensa, puxa eu acho que precisava do pai vir aqui, a mãe vir aqui, alguém vir aqui

saber se a criança tem problemas e tá precisando de carinho, de uma conversa, uma atenção

ou às vezes só vir aqui na porta buscar ele, levar [...]” (Participante 5). O que, também,

desmotiva é o sistema educacional e não ver progresso na educação: “[...] O que tá

desmotivando eu acho que é o sistema educacional como um todo, eu fico muito

decepcionada com o sistema como um todo você vê que não tem progresso na educação, você

não vê a educação progredir, isso não é uma falha... ah, é professor, é a escola o problema

vem do sistema [...]” (Participante 4). As brigas dos alunos também aparecem na fala das

participantes: “[...] O que desmotiva eu já falei são... é... Palavrões, brigas... É xingamento

entre eles...” (Participante 1). Além disso, a falta de recursos materiais, espaço físico e o

governo: “[...] O que desmotiva é o salário, o salário é horrível e desmotiva... A falta de

recurso que te falei, de espaço... Falta de espaço, de recursos técnicos desmotiva.”

(Participante 3); e “[...] O que desmotiva eu acho que é a falta de recursos, a falta de escola

mais apropriada, a falta de apoio do pessoal da direção do colégio, dos coordenadores que

não sabem o que está acontecendo em sala... eu acho que é isso, o que motiva são as crianças

e o que desmotiva é o governo.” (Participante 2).

No que se referem à desmotivação, as professoras consideradas mais motivadas

relataram que a desmotivação ocorre quando não se têm recursos na escola para o

desenvolvimento do aluno, há o descaso do governo, as dificuldades que alguns alunos

encontram para continuar seus estudos, em geral porque precisam trabalhar e quando os pais

não dão a devida atenção a seus filhos e os deixam a cargo da escola. Na fala das professoras

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consideradas menos desmotivadas os fatores que as influenciaram foi o mau comportamento

do aluno, o salário, as condições precárias de trabalho e com o sistema educacional, no qual

não vê melhoria para a educação. Nos dois grupos de professoras foram encontrados em

comum, nos fatores de desmotivação, a falta de recursos e o descaso do governo com o

sistema educacional.

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5. Discussão

Pode-se esperar que a maior satisfação de um professor esteja no prazer de ensinar,

mas o que a presente pesquisa mostrou que foi esse fator não é o único. O gostar de ensinar

juntamente com o aprendizado do aluno são fatores de satisfação intrínsecos, segundo

Herzberg (1959) citado em Borges, Zanelli e Bastos (2004), assim como o professor ter o

reconhecimento do seu trabalho, sendo valorizado e respeitado. O salário, a estabilidade de

emprego, ter condições de crescer na profissão e o status do professor são vistos como fatores

motivacionais extrínsecos e também são fatores de satisfação quando ocorrem. Quando se

referem a fatores de insatisfação temos a falta de interesse e indisciplina dos alunos, as

condições precárias do ambiente de trabalho, a falta de valorização, a falta de respeito e o

salário que não corresponde às expectativas dos professores.

Como fatores externos de motivação extrínseca valorização e o reconhecimento, na

fala do grupo estudado, apresentam-se insuficientes, pois além da profissão não ser valorizada

pela sociedade, governo e por pais de alunos, também não são valorizados em remuneração

onde, segundo os professores, que o salário não é o que realmente eles merecem. Há um

reconhecimento por parte de alguns alunos quando demonstram valorização pelo trabalho do

professor, e que também é uma satisfação para o professor receber isso dos alunos. Entre os

fatores de satisfação, o grupo abordou sobre o desenvolvimento do aluno, ver o aluno

aprender a ler e escrever e o retorno do aluno quanto à dedicação do professor. Maslow

(1943) citado em Borges, Zanelli e Bastos (2004), como se viu, propôs que são cinco as

necessidades do indivíduo: fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e auto-realização.

Quando relacionadas aos professores, pode-se sugerir que as necessidades fisiológicas, de

segurança e sociais são normalmente satisfeitas, já as necessidades de estima e auto-realização

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podem ser consideradas raramente atingidas, quando analisada a fala do grupo sobre

valorização e reconhecimento profissional. Os fatores externos de motivação como salário e

status tornam-se fatores de insatisfação, já que o salário não corresponde ao que se espera pela

profissão exercida e, de acordo com uma das professoras entrevistadas, o professor não tem

status: “Você não tem status, se você tá numa roda de amigos... O pessoal pergunta o que

você faz... Ai, você responde que é professor e o pessoal fica ahhh... É... Falta desmaiar assim

do seu lado [...]”.

Os fatores que levam à motivação do professor referem-se ao desenvolvimento dos

alunos, à vontade de ajudar o aluno, o contato que se tem com a criança, a valorização, os

desafios de se ensinar que, mesmo com dificuldades, consegue-se resultados positivos. O que

ficou evidenciado foi que, as professoras têm prazer no que fazem e a consciência de que o

fato de ensinar tem sua importância e necessidade para os alunos, assim como abordam Ryan

e Stiller (1991), Ryan e Deci (2000a) e Ryan e Deci (2000b) citados em Boruchovitch (2007),

quando explicam que a atividade ou tarefa é realizada pela importância ou pelo nível se

motivação extrínseca.

Como na pesquisa de Oliveira e Alves (2005), observou-se que a satisfação está

associada ao gostar do que faz, por gostar de crianças e ver o retorno do trabalho do professor.

Outro ponto em comum refere-se aos fatores associados à insatisfação descritos como má

remuneração, desvalorização e a falta de respeito por parte do governo. Um elemento não foi

citado pelo grupo estudado, como fonte de satisfação, as férias, como citada na pesquisa de

Moreira (2005), mas elementos como status e estabilidade no emprego apareceram tanto nessa

pesquisa como na de Moreira. Em sua pesquisa, Moreira (2005) citou que a falta de interesse

dos alunos e a indisciplina aparecem como insatisfação por parte dos professores, como

também pode se verificada na presente pesquisa. O salário é citado nas três pesquisas como

fonte de insatisfação. Na pesquisa de Moreira (2005) a concepção dos professores é a de que o

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salário não é tão importante desde que se ganhe para viver com dignidade; o grupo estudado

por essa pesquisa aponta que o salário não é o que se merece, mas que dá para sobreviver, que

são até privilegiados quando comparados a outros estados e cargos públicos.

O que se observou foi que, quando se trata de motivação ou satisfação, é comum estar

associado na fala a esses temas, respostas retomam para o aluno, o desenvolvimento do aluno,

o professor se sente motivado e satisfeito quando o aluno aprende, desenvolve-se ao longo do

ano, faz as tarefas e o professor vê o retorno do seu trabalho. Na fala referente à insatisfação e

desmotivação, as brigas dos alunos e a desvalorização por parte do governo são os fatores

citados. Um ponto não analisado, mas percebido durante a pesquisa, foi que, durante as

entrevistas e na pergunta sobre o quanto se sentem motivadas em relação ao ano passado, e

como os outros professores vêem a sua motivação, fica claro que as três professoras que

lecionam há mais tempo (mais de dez anos) apresentaram um alto grau de motivação e prazer

pelo trabalho. Quanto às três professoras que lecionam a menos tempo (até seis anos), duas

professoras apresentaram um baixo grau de motivação e uma apresentou um grau bastante

elevado, e quando questionada se essa motivação acontecia por estar no começo da carreira

ela descreve: “O pessoal fala muito isso... Ela tá assim porque tá no começo... Mas... Assim

me considero muito organizada, planejo tudo que eu quero, meus objetivos e vou aplicando,

se você seguir o que você planeja tudo flui...”.

A resposta ao questionamento central do estudo foi percebida vista em dois momentos,

nas perguntas preliminares da escala e nas falas das professoras na entrevista. Ao longo da

análise e discussão verificou-se que em alguns aspectos os grupos apresentam semelhanças e

em outras grandes diferenças. O que pode ser visto bem claramente é que no grupo das

professoras mais motivadas o aluno sempre aparece com um fator de satisfação ou de

motivação, ao contrário do grupo das menos motivadas que consideram que o aluno, em seu

mal comportamento e desinteresse, influenciam na desmotivação.

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Tabela 4

Fatores que influenciam na motivação das professoras mais motivadas e menos motivadas

Fatores de Motivação

(Professoras Mais Motivadas)

Fatores de Motivação

(Professoras Menos Motivadas)

Desenvolvimento do aluno Melhor comportamento do aluno

Ajudar o aluno Mudança na educação

Ser valorizada pelos alunos Resultados positivos frente às dificuldades

A Tabela 4 mostra na fala das professoras, quais são os fatores que influenciaram as

professoras mais ou menos motivadas. Na parte das mais motivadas foi unânime o fator aluno

como fonte de motivação, quando estes reconhecem o trabalho do professor e crescem no seu

desenvolvimento nos estudos. Enquanto na parte das desmotivadas aparece a esperança de

que o aluno melhore o comportamento, que a educação melhore e o alcance de resultados

positivos, mesmo com as dificuldades de ensinar em condições precárias e com o mau

comportamento dos alunos.

Tabela 5

Fatores que influenciam na desmotivação das professoras mais motivadas e menos motivadas

Fatores de desmotivação (Professoras Mais Motivadas)

Fatores de desmotivação

(Professoras Menos Motivadas)

Falta de recursos Condições precárias de trabalho

Descaso do governo Salário

Os alunos param os estudos Sistema educacional não progride

Os pais não dão atenção aos filhos Mau comportamento do aluno

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Na Tabela 5, de acordo com a fala das professoras, são apresentados os fatores que

influenciam na desmotivação. Em comum aos dois grupos têm-se as condições precárias de

trabalho, como a falta de recursos materiais, o espaço físico na escola e o descaso do governo

com o sistema educacional, de baixa qualidade e que não avança. Nos aspectos que

diferenciam as professoras mais motivadas e das menos motivadas temos, para as mais

motivadas, como fatores de desmotivação o abandono da escola pelos alunos e a falta de

atenção dos pais para com seus filhos. Para as professoras menos motivadas, os fatores de

desmotivação se concentram no salário baixo, e no comportamento dos alunos.

Em suma, os fatores que motivam os professores estão voltados para o aluno, no

desenvolvimento do aluno. Por mais que existam fatores que desmotivem o professor como a

desvalorização da profissão, as condições de trabalho não adequadas e o salário não

equivalente à carga da profissão, o professor ainda tem a preocupação de procurar formas de

desenvolver a aprendizagem do aluno, superando as dificuldades existentes. Mesmo diante

das dificuldades o professor não deve se deixar influenciar pelo lado às vezes ruim da

profissão, pois, como uma professora mesmo citou durante a entrevista, tem que se valorizar o

que se tem, ou seja, os alunos, que são a principal razão do professor lecionar. Os professores

que lecionam num mesmo contexto escolar apresentam diferenças e semelhanças nos fatores

que influenciam na motivação e na desmotivação, e que fatores como salário, condições de

trabalho e desenvolvimento do aluno são condições que aparecem na fala tanto da amostra

aqui estudada quanto em amostras de outras pesquisas, com professores de contextos

escolares diferentes.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo central da pesquisa foi o de observar os fatores que motivam e desmotivam

professores de um mesmo contexto escolar, diferente de outras pesquisas relacionadas à

motivação de professores, por exemplo, a pesquisa de Moreira (2005) que estudou fatores de

motivação, satisfação, entre outros, em de contextos escolares diferentes sendo, todas as

pesquisas realizadas em escolas da rede pública. Pode-se observar claramente que na

pesquisa, de Oliveira e Alves (2005) e na de Moreira (2005), os professores tanto que

lecionam na mesma escola quanto em escolas diferentes, demonstra que um ou outro

elemento se difere, mas em geral os fatores de satisfação e insatisfação, motivação e

desmotivação são descritos na fala de todos os grupos estudados, inclusive nesta pesquisa.

Os resultados desta pesquisa apresentaram um contexto bem rico para os objetivos

propostos. As opiniões e percepções das professoras foram bem variadas e claras, tendo

questões em que as respostas eram as mesmas e questões com respostas bem diferentes, de

acordo com a concepção de cada uma sobre o assunto. As respostas mostraram como para um

mesmo ambiente de trabalho o que pode ser extremamente ruim para uma determinada

pessoa, para outra pode ser também ruim, mas numa equivalência menor por ter outros fatores

que apresentem uma maior carga negativa. A motivação se apresenta de várias maneiras,

intrinsecamente ou extrinsecamente. O importante é que o professor não deixe que a

desmotivação atinja a qualidade de ensino, pois o professor estando motivado ou não isso se

reflete no aluno e não existe aprendizado bem aproveitado se a aula e o professor não lhe

proporcionam um prazer em aprender.

Os fatores desmotivacionais são o salário e a desvalorização, sendo que mesmo com

eles o professor encontra no aluno um fator de motivação. Além disso, o professor não vê

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outra “salvação” para a sociedade que não seja a educação, onde as crianças sejam

incentivadas a buscar conhecimento.

É fato que para um bom desenvolvimento do aluno e para uma educação de qualidade

o professor precisa estar preparado desde a sua formação acadêmica, mas é evidente que as

condições de trabalho precisam também atender à demanda estrutural e pedagógica do

professor e do aluno. É preciso que as políticas governamentais olhem para a educação como

necessidade urgente e necessária para que o país não tenha analfabetos funcionais, que todos

tenham condições de estudo e que ir a escola torne-se motivador e não obrigação.

O professor motivado ou não continua a realização de seu trabalho, claro com a nítida

diferença de que aquele que acredita na educação e num futuro melhor do aluno vai buscar

caminhos que ativem a criatividade e o gosto dos alunos pelos estudos, já os que fizerem da

profissão uma obrigação remunerada terá sem seus alunos o reflexo de um profissional

insatisfeito no que faz, perdendo o aluno na qualidade da aprendizagem e o professor na

vivencia de um ensino prazeroso.

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Trabalhador Docente. Série-Estudos – Periódico do Mestrado em Educação da UCDB.

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.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

O presente trabalho de pesquisa tem por fins A conclusão do curso de graduação de

Psicologia, com análise do ambiente de trabalho. A pesquisa será realizada por meio de

entrevista semi-estruturada para verificação dos objetivos com um tempo médio de 1 (uma)

hora. A presente pesquisa não apresenta riscos e seus objetivos são totalmente acadêmicos,

todos os dados são sigilosos somente os resultados poderão ser utilizados para fins de

divulgação científica (Congressos, Artigos etc). Você tem total liberdade para não participar e

para desistir da mesma a hora que quiser, a desistência ou não participação não acarretará

problema algum ao Participante. Você não receberá pela realização e a indenização por danos

caso houver será conforme previsto em lei.

Em caso de dúvida você pode entrar em contato com os pesquisadores pelos e-mails

descritos abaixo, além do Comitê de Ética em Pesquisa do UniCEUB.

Concordo em participar:

__________________________________________

Assinatura

Brasília, _____de ______________de_____.

Jaqueline Lopes Barreiros

Aluna de Monografia

Contato: [email protected]

Eillen Pfeiffer Flores

Professora de Psicologia e Orientadora de Monografia

Faculdade de Ciências da Educação e da Saúde

Centro Universitário de Brasília – UniCEUB

Contato: [email protected]

CEP – Comitê de Ética e Pesquisa do UniCEUB

Contato: 3340 1363

E-mail: [email protected]

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APÊNDICE B

Roteiro de Entrevista

Idade:_____anos

Gênero: ( )Feminino ( )Masculino

Estado Civil:

( )Solteiro(a)

( )Casado(a)

( )Viúvo(a)

( )Desquitado(a)

( )Relacionamento estável (mora junto)

Filhos: ( )Sim. Quantos____

( )Não

Escolaridade:

( )Graduação

( )Pós-graduação

( )Mestrado

( )Doutorado

( )Pós-doutorado

( )MBA

Leciona: ____anos

Perguntas para categorização das professoras motivadas e das professoras desmotivadas

1. Você acha que os outros lhe vêem como um(a) professor(a) motivado ou

desmotivado(a)? (numa escala de 1 a 10, onde 1 é totalmente desmotivado(a) e 10 é

totalmente motivado(a))

2. Seguindo a mesma escala acima, onde você se situa na, média, considerando o ano que

passou?

3. E onde você se situaria hoje?

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Responda então:

1. Por que escolheu ser professor (a)?

2. Há motivação para dar aula?

3. Supondo que você tenha dificuldades em seu trabalho, por que ainda leciona?

4. Há valorização da sua profissão?

5. Há respeito para com os professores?

6. Já se sentiu em algum momento frustrado(a) em sua profissão? Em que contexto(s)?

7. Já se sentiu desmotivado a ponto de querer largar à carreira? Em que contexto(s)?

8. Já se sentiu muito motivado(a) em sua profissão? Em que contexto(s)?

9. Você é comprometido para com a escola e seus alunos?

10. As condições de trabalho são satisfatórias?

11. Seu salário compensa as dificuldades de dar aula?

12. O que lhe proporciona alguma satisfação ou insatisfação?

13. Sua carga horária de trabalho (lecionar e carga administrativa) atrapalha seu

rendimento para ensinar?

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APÊNDICE C

PERGUNTAS E RESPOSTAS

POR QUE ESCOLHEU SER PROFESSORA?

Participante 1

Questão de oportunidade... Porque foi o primeiro concurso que eu fiz e passei... Eu não

escolhi ser professora... Foi a oportunidade que eu tive na época e eu fiz a prova e passei...

Você tinha feito magistério? Isso... Eu fiz magistério... Eu não escolhi ser professora... Foi

questão de oportunidade na época eu fazia magistério já estava trabalhando... Aí eu fiz a

prova passei... E... Nunca sonhei em ser professora... Foi acontecendo na vida...

Participante 2

Eu acho que na verdade as coisas foram acontecendo assim sabe... Porque eu estudava em

escola pública... Moro aqui no P. Norte sempre morei... Cheguei aqui pequenininha... Eu

estudava em escola pública e minha mãe já é professora da rede também... Aí eu fui fazer o

vestibular do PAS (Programa de Avaliação Seriada) aí, eu fiquei naquele número de vagas

tudo... Fui da primeira turma entrei em 99, bem novinha... Aí eu não tinha assim muita

escolha... Não tinha ainda assim um gráfico pra falar qual é mais concorrido qual é menos

concorrido... E me mandaram o manual do aluno e eu achei interessante... Aí eu li lá

pedagogia e gostei... Sempre gostei de criança... Sempre brinquei de escolinha uma coisa que

eu sempre fiz mesmo com prazer... Aí acabou que eu quis... E a minha mãe não queria de jeito

nenhum... Não... Não... Faz psicologia ou então outra coisa... Aí eu falei que não que queria...

Cheguei em casa e disse que tinha feito pra Pedagogia que queria trabalhar com criança... Só

que eu não tinha muita noção... Eu tinha 16 anos quando acabou a fase... Acho que entrei lá

com 16... 17... Era muito novinha, então eu não tinha muita noção assim sabe, ai eu optei...

Acabei sendo aprovada e fui fazer... Ai depois quando eu tava terminando veio o concurso...

Aí eu fiz, ai eu fui aprovada... Só que demora pra caramba pra ser chamado... Ai eu fui pra

João Pessoa mora um tempo lá... Porque eu tava muito estressada, fiz segundo grau... Ai fui

pra UnB tudo muito nova, cansei... Fiquei muito cansada e fui passar um tempo lá em João

Pessoa, aí depois fui pra Barreiras que é minha cidade natal lá... E lá que eu trabalhava, dava

aula... Aí eu fui chamada aqui em 2005 na fundação, porque o concurso demora... Aí as coisas

foram acontecendo mas eu gosto muito do que faço... Apesar que eu acho que não sou

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valorizada financeiramente... A gente acha que não é valorizado financeiramente mas eu faço

porque eu gosto e todo dia eu venho pra cá de bem com a vida e me sinto realizada.

Participante 3

Por conta de uma professora minha do pré que eu tive, não foi indicação foi querendo imitá-

la, que me alfabetizou... Minha alfabetizadora... Até hoje eu lembro detalhadamente dela, em

sala de aula o que ela fazia... Das cantigas de roda das brincadeiras, de tudo até dos deveres eu

lembro... Então me marcou muito e eu queria ser igual a ela de qualquer jeito, daí que deu o

desejo mesmo...

Participante 4

Olha só quando eu fiz o vestibular pra Pedagogia na verdade eu achava que a Pedagogia era

como se uma Psicologia voltada pra parte educacional, eu fiz essa confusão, eu achava que

era isso... porque na verdade eu gostava muito de Psicologia... Tanto é que minha segunda

opção foi Psicologia, então quando eu fiz pedagogia eu achava que era isso... Só que ai

quando eu entrei lá eu vi que não, era que era pra ser professora, mas de qualquer jeito eu já

tava lá e tava gostando do curso, continuei fazendo.

Participante 5

Desde pequenininha... Três anos de idade que já queria ser professora, eu gosto. Eu gosto de

ajudar as crianças, eu gosto de estar perto das crianças, gosto da parte didática mesmo... de tá

planejando, de tá levando novidade pra criança... Eu gosto desse mundo aqui.

Participante 6

Porque eu gosto, sempre... Desde... De criança... Nunca pensei em exercer outra profissão...

Foi algo assim natural...

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HÁ MOTIVAÇÃO PARA DAR AULA?

Participante 1

Tenho, só que eu sinto muita dificuldade na turma, os meninos eles... É muitas vezes não

fazem as tarefas, a família é muito difícil, o relacionamento na escola é muito difícil e às

vezes eu me sinto desmotivada por esse motivo, mas se for só a minha parte eu tenho

motivação... Mas quando é o conjunto, me sinto mais desmotivada.

Participante 2

Eu gosto... Sempre gostei... gosto de criança, gosto de lidar com criança acho elas muito

transparentes, muito sinceras e tento fazer o meu melhor.

Participante 3

Tenho... Numa escala de 9... Eu amo o que faço gosto muito.

Participante 4

Muita não... Ah porque não. assim como eu tô dado aula pra segunda série minha turma é...

Tem quatro níveis diferentes... Eu tenho aluno que nem sabe o alfabeto, eu tenho aluno que

tem muitas dificuldades... Numa sala que tem 35 alunos pra você conseguir trabalhar em

quatro níveis diferentes com aluno que nem sabe o alfabeto e muito complicado, você não

consegue dar atenção nem pro que precisa muito nem pro que não precisa tanto, mas que

precisa também...

Participante 5

Tem vários casos... Pelos menos as colegas com quem eu convivo elas são bem motivadas...

Têm muitas coisas que concorrem pra deixar a gente triste, mas o compromisso que você tem

na sua sala de aula... A gente não pode deixar influenciar... Porque tem questões, ao meu

salário deveria ser melhor, a que a escola deveria ser melhor, aí porque o aluno deveria ser

melhor, porque a família do aluno deveria ser melhor... Com certeza muitas coisas deveriam

ser melhores mas não é isso que vai fazer com que a gente comece a botar culpa nas outras

partes e deixar o compromisso da gente de lado... Deixa o papel da gente pra lá...

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Participante 6

É de gostar... É de ver o desenvolvimento do aluno... No momento que você começa a

desenvolver um trabalho e você percebe o desenvolvimento do aluno, você percebe que o

aluno vai adquirindo conhecimento que o aluno vai desenvolvendo, que ele vai descobrindo

outro mundo ai é isso que me motiva a estar sempre gostando do que faço.

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SUPONDO QUE VOCÊ TENHA DIFICULDADES EM SEU TRABALHO, POR QUE

VOCÊ AINDA LECIONA?

Participante 1

Porque que eu leciono... Das dificuldades... Por que... que diante das dificuldades em seu

trabalho, por que você ainda leciona? Porque eu preciso de dinheiro, a minha motivação

maior é além de paz e um pouco de satisfação é o dinheiro.

Participante 2

Uma aula nunca é igual à outra, isto também eu gosto porque eu não gosto de rotina... De

coisas que sejam sempre iguais eu tenho muita dificuldade, então assim na sala de aula

nenhum dia é igual ao outro... Às vezes você planeja uma coisa e chega lá é completamente

diferente... E eu acho que a pessoa tem que tá preparada pros desafios, pros problemas e eu

gosto disso e não vejo problema não... Me dou super bem com as crianças, não é me achando

não, mas eu gosto das crianças, me dou bem, eu gosto mesmo e as coisas vão acontecendo...

Participante 3

Pelo amor à profissão, por necessidade também, né... Por precisar do dinheiro... Muitos não

são por amor... são pelo dinheiro mesmo... Mas eu sou pelo amor mesmo. Esse dinheiro vale

realmente à pena? Valer não vale não, mas assim eu acho que não saberia fazer outra coisa...

Já tentei, já estudei pra outros concursos... Mas fica aquele vazio, eu fico pensando meu Deus

se eu sair daqui o que é que eu vou fazer... É como se eu não soubesse fazer outra coisa, posso

até apreender, mas não querer aprender, entendeu?

Participante 4

Eu continuo dando aula porque eu sou concursada, porque se eu não fosse já teria procurado

outra coisa...

Participante 5

Eu particularmente, eu respondo por mim, eu dou aula porque eu acredito na educação, eu

também acho que... Que muita coisa se resolveria se a família e a educação andassem juntos...

Porque assim existem problemas de família que a escola ajuda muito, sana muita coisa, claro

não é a grande salvação do planeta, a educação... Mas tem muita coisa que a escola é assim

um suporte muito grande. Porque a agente acaba até carregando responsabilidades que não

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são nossas... Que é o psicólogo pra isso, psicólogo pra aquilo e a professora acaba sendo uma

psicóloga, uma mãe, uma amiga ou pra família ou pra criança mesmo, aí a escola além de

lecionar, ensina as coisas que precisa... Meu crédito com a escola é muito grande e eu acredito

que é por aí que a gente tem que se dedicar mais... Todo mundo tem que se dedicar mais à

educação.

Participante 6

Olha eu não tenho dificuldade assim em nível de conhecimento, de conteúdo eu não tenho

esse tipo de dificuldade não... Eu tenho mais dificuldade pelo problema de saúde que eu

tenho... E eu continuo porque eu gosto né... E acho que ainda tenho muito a oferecer e muito a

aprender, porque o profissional em sala de aula, ele tanto tem muita coisa a oferecer à criança

como a aprender, então eu acho que ainda tenho muito a aprender e pra mim não seria uma

boa coisa ficar afastada da sala de aula.

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HÁ VALORIZAÇÃO DA SUA PROFISSÃO?

Participante 1

Não, acho que antigamente era mais valorizada... Hoje não, pai chega grita com você na porta

da sala... Ele reclama... O aluno grita com você também... Acho que hoje... Hoje não é mais

como era antes...

Participante 2

Financeiramente... Num todo. Por exemplo, você não tem status, se você tá numa roda de

amigos... Você... Aí o pessoal pergunta o que você faz aí você responde que é professor e o

pessoal fica ahhh... É... Falta desmaiar assim do seu lado... Eu acredito que seja todo um

contexto histórico, porque os primeiros professores eram as tias, eram freiras, as mulheres que

esperavam marido, tudo isso e não tinha reconhecimento, eu acho que é um contexto histórico

mesmo... Hoje mesmo as pessoas tendo faculdade, graduação, tendo um curso assim né que...

Eu considero um curso bom, o de pedagogia não é como deveria ser, mas é um curso bom,

então eu acho que é um conceito histórico mesmo que as pessoas não têm noção da

importância do professor, que ela é a base que pode tá mudando uma sociedade, que ela pode

tá mudando a realidade de famílias... Que a criança vem de família de pai e mãe analfabetos e

através da educação pode tá mudando, pode tá melhorando... Então eu acho que é falta de

conhecimento e contexto histórico mesmo e desvalorização.

Participante 3

Quase nada, já houve antigamente houve... Eu lembro que minha mãe dizia que os professores

dela eram tão valorizados que quando se falava de professor chamava de mestre... Mestre!

Hoje pra ser mestre tem que ter mestrado e olhe lá... E hoje a gente é xingado em sala de aula,

é desvalorizado pelo próprio pai.

Participante 4

Não acho que não, a visão do professor tá muito desvirtuada, os pais acham que o professor

virou a babá e que a escola só serve pro pai se livrar do aluno... Não vêem mais a função

social do professor... Essa função mesmo de educar, de formar um cidadão crítico, um

cidadão atuante da sociedade... Os pais não reconhecem isso.

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Participante 5

Eu acho que a cada dia tá sendo desvalorizado, mais desvalorizado... Não digo só em questão

financeira que é reflexo... Eu digo assim na questão social, eu sou filha de professor, eu sei.

Quando eu era pequena e alguém falava assim, poxa, olha lá vai um professor, lá vai à

professora... Eita. Era aquele respeito, hoje em dia não... Olha lá a professorinha, o

professorzinho, as pessoas já acham que é uma profissão que a pessoa não deve ter tido muita

escolha pra escolher isso daí, já não se tem tanto respeito como se tinha há algum tempo atrás,

nem eu lembro que quando meu pai era professor que saía assim que mostrava o contra-

cheque, alguma conta o pessoal não chamava de professor, chamava de mestre. Mestre Olívio,

então falava o nome dele assim e eu ficava achava bonito nossa que legal que respeito... Hoje

em dia a gente vê assim até pela nossa comunidade, assim a gente tá andando na escola vê

cochicho, olha aquela professora, se veste mal, aquele professor... E começa a julgar a gente

como se a gente fosse artista, tem que encher os olhos... Tem que ver o que pensa aquela

pessoa, o que ela tem a te oferecer, respeito né daquela pessoa que passa o dia inteiro com a

criança em sala de aula, merece o mínimo de respeito, tem que conhecer o professor do seu

filho... Então hoje mesmo eu tava falando pros meus alunos sobre a questão... O negócio que

você trabalha de respeito, atitudes, né... Ai tinha um colega questionando com o outro ai se

me xingar eu tenho que bater, a minha avó falou que eu tenho que bater... Aí eu falei assim

sua avó ensinou assim eu particularmente eu acho que não é legal. Mas todo mundo aqui já

pensou se agisse do mesmo jeito que você e você xinga também e o Pedrinho lá ele xinga e

diz que se xinga ele, ele bate... Mais já pensou se ele xingar e alguém bater nele, vai ser pouco

tempo pra ele apanhar e pra ele bater né, aí eu tava conversando muito essas coisas com ele ...

Olha eu, eu também to nervosa.... Eu também fico nervosa quando alguém me xinga.. Só

nessa sala esse ano me chamaram de chata e nem vou repetir os outros nomes que eles

falam... isso será que eu sou o que “sangue de barata”? Eu nem ligo, ligo sim, aquilo mexe

com a gente, a gente vai embora triste, hoje a minha aluna me desrespeitou na frente dos

outros e aí e vou... Nela e bato não aí eu vou questionando essas coisas com ele, que a gente

tem que ter o auto-controle, mas olha aí o respeito, agora já tem criança com o cuidado pra

falar com a gente, até quando a gente dá bronca abaixa a cabecinha, outros não você da

bronca e ele ta lá batendo boca.

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Participante 6

Não, eu acho que o professor não é valorizado, não é valorizado nem pela sociedade e nem

pelo governo... Porque o professor hoje é visto como vagabundo, como alguém que não leva a

sério sua profissão... Olha aqueles pais que você tá trabalhando diretamente com eles, eles

podem te ver... Mas no momento... No momento que você vê... Que você adoece hoje e pega

um dia de atestado, eles já estão, ah! Que professor vive doente, ah! Por que... Então qualquer

coisa eles acham que professor é uma máquina que o professor é a babá que tem que tá ali

todo dia na hora marcada independente de qualquer coisa, então no momento que você não

pode tá ali na hora marcada você percebe que seu trabalho não é valorizado.

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NÃO HÁ RESPEITO PELO PROFESSORES?

Participante 1

Não, pouco ainda há, mas é pouco mesmo... Tanto é que teve uma campanha ano passado...

Campanha de valorização dos professores.

Participante 2

Por quem... Por todo mundo, sociedade, pais, alunos... Eu acho assim que o que vale a pena

são os alunos, eles valorizam, os alunos aqui pelo menos na educação infantil da pré escola

até o quarto ano e eles valorizam, eles têm o respeito... Eles perguntam assim, por exemplo,

qual o dia do seu aniversário, tudo... E eles falam assim a senhora, então tem aquela coisa se

você pede pra eles sentarem eles sentam então eles tem aquele respeito, você é a autoridade

dentro da sala de aula. Agora eu acho que com relação à sociedade, lógico eles te respeitam

você é a professora, só que eu acho que... Confunde assim um pouco respeito eles têm, o que

não têm é o reconhecimento pela sua profissão, acho que confunde um pouco, respeito tem

respeito assim, nossa ela agüenta trinta, quarenta crianças dentro da sala, coitadinha, é um

respeito misturado com pena.

Participante 3

Pouco... Uma minoria da sociedade, alguns pais de alunos, alunos uma minoria... Não vou

dizer que nenhum tenha. Tem uma minoria que ainda leva a sério.

Participante 4

O respeito ainda tem um pouco sim... Dos pais dos alunos... Da sociedade em geral não...

acho que não tem, mas não é tanto.

Participante 5

Tem casos e casos, tem crianças que mostra bem direitinho como é a família em casa, Deus o

livre, eu não vou xingar minha professora, não vou gritar, não vou teimar porque eu sei que se

eu fizer alguma coisa com ela ali e ela conta pra minha família, conta pra minha mãe, vai ter

problema e outro já sabe que se contar aí já vem as artimanhas ou eu minto ou eu exagero,

não mãe não foi bem assim não, a tia fez foi assim porque tem criança que consegue dá nó na

família, na mãe e a mãe acredita piamente que o filho tá falando a verdade, o que o filho falou

ta certo, não conhece a professora, não conhece o próprio filho também, assim existem

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muitas crianças que ainda respeitam a gente e têm muitos pais também que mostram esse

respeito... E quando agente vê que existe esse respeito, existe mais ainda o aprendizado, não

sei se é coincidência. Porque quando tem um compromisso da família, oh você ta indo pra

escola, você tem essa e essa obrigação e sua professora tem essa e essa obrigação a criança

tem mais facilidade até... Agora quando só matricula a criança, joga lá e se vira, eu venho

aqui pra cobrar depois aí o negócio fica mais difícil, fica bem difícil às vezes o aprendizado,

mas muitas vezes é complicado, você vê que por causa de um detalhezinho, uma atençãozinha

da família, de alguma coisa já muda...

Participante 6

Olha, algumas pessoas sim, ainda vêem o professor como uma figura de respeito, acho que

das algumas famílias que realmente valorizam o próximo, porque eu acho que isso aí depende

muito da educação que a criança recebe em casa. Se ela tá acostumada a respeitar as pessoas

em casa ela chega dentro de sala de aula e respeita o professor, como ela respeita o pai como

ela respeita a mãe como ela respeita os mais velhos. Agora a criança que não tá acostumada a

ter respeito pelas pessoas ela encara o professor da mesma forma.

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JÁ SE SENTIU EM ALGUM MOMENTO FRUSTRADO (A) EM SUA PROFISSÃO?

EM QUE CONTEXTO(S)?

Participante 1

Teve... Mais de um... Pode citar um? Citar um... Uai! Quando eu fui agredida por um aluno

na sala de aula... Mordeu meu braço, começou a gritar, a rolar no chão, correu na sala, bateu

nos meninos, jogou os cadernos no chão, jogou mesa, carteira no chão. Fiquei assim

completamente sem reação... Foi um dos piores momentos que eu passei...

Participante 2

Eu tive dois alunos especiais um com síndrome de Willians e doença mental e foi daí que eu

amadureci... Eu acho que deu tempo de amadurecer pessoalmente, eu só usava rosa era uma

menininha, assim sabe cheia de coisinha no cabelo... As pequenas coisas foram

amadurecendo... Eu falava bem fininho, ficava toda grudada nos meninos... Aí fui

amadurecendo, eu fui vendo o meu papel como educadora, acabei visitando a casa dos

meninos, tive que ir lá... E fui assumindo uma postura diferente... Tem males que vem pra

bem... Fui amadurecendo, é uma experiência muito positiva... Aí ano passado eu peguei uma

turma com deficiência física e foi muito tranqüila, o R., da cadeirinha ali, que não tem as

perninhas ele foi meu aluno a J. Que tem problema cardíaco e o C. que saiu da escola a gente

consegui colocar ele em outra escola, porque ele não tava bem aqui, ele tem deficiência

mental, não aprendi nada, tem muita dificuldade então eu tinha os três mais quinze, eu já tava

assim já profissional e tinha outros problemas na turma, sempre tem... A turma daqui tem uma

coisa você pega quinze só que tem abuso sexual, pai... Tem de tudo e você já vira

profissional... Pra mim já foi muito tranqüilo apesar da turma ser cheia, eu consigo levar, ser

proveitoso.

Participante 3

Ahh, já... Quando você tem que fazer coisas que não são do seu arcabouço, por exemplo, você

não consegui superar a expectativa de uma criança, uma carência afetiva... Você tá ali com

uma criança especial com outras ditas normais, ela precisa de muita atenção e às vezes você

não tem tanta atenção pra dar pra ela, pra não deixar os outros largados, então nesse momento

eu me senti frustrada... Porque eu queria ser... Ter mais tempo... Ser mais de uma pessoa pra

poder dar conta de coisas assim, nessa questão afetiva... É difícil uma turma porque assim a

gente precisa ter uma paciência a mais... Um pouquinho mais de paciência porque é crianças

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que não atendem a certas broncas, a você puxar um pouco mais dele... Eles não entendem

então você tem que ter um pouco mais de paciência mesmo pra ter tempo pra eles, paciência

pra que eles desenvolvam um trabalho no ritmo deles com a calma deles e não brigar com

eles, porque se brigar eles ficam chateados, ai não fazem nada e ainda podem acarretar outros

problemas, ficam mais frustrados porque eles já têm a dificuldade, porque eles sabem que são

especiais, muitos deles sabem eles têm essa consciência, se a gente briga fica pior ainda.

Então a gente tem que ter paciência e às vezes a gente não tem.

Participante 4

Já... Foi uma situação meio que pessoal assim... Quando eu peguei a turma e me disseram que

eu tinha pegado um pepino, sabe... Ah você é doida de pegar uma turma de 2ª série, você não

sabe o pepino que você tá pegando, eu fiquei muito frustrada com isso, fiquei realmente

arrasada... Porque fica parecendo também que você não vai dar conta que você não vai

conseguir atingir o objetivo... Eu fiquei bem frustrada...

Participante 5

Acho que a frustração é constante, hoje mesmo eu tô frustrada... Por quê? Você viu lá a

turma, casos assim de problemas... Um é hiperativo constatado, podemos dizer até que ele é

DM só que não é constatado, você viu lá e outro lá que praticamente também. Vou resumir

aqui, crianças agitadas que não conseguem atingir o objetivo da aula... Porque você imaginou,

idealizou uma aula simples tranqüila e de repente por causa disso ou daquilo, da reação das

crianças ou da falta de interesse ou da distração ou de coisas que você não consegue esperar,

que têm os hiperativos, crianças que você não consegue controlar que vira sua aula assim do

avesso... Aí você chega no final puxa eu planejei isso e não dei conta nem da metade... Porque

o planejamento ele é versátil, você pode tá mudando eu sou acostumada com isso, tudo que

você vai fazer você só faz metade, você tem prejuízo só prejuízo... Aquele pouco que você

deu, o mínimo que fizeram ainda foi de qualquer jeito... Então assim você fica triste...

Pensando o que fazer. Agora mesmo eu tava ali sentada fazendo jogos eu vou ter que mudar

minha prática. Vou ter que fazer outras coisas diferentes... Porque às vezes o que você faz

esse ano, igual ano passado a gente tava vendo o caderno de planos é outro caderno é uma

utopia que no primeiro bimestre eu tava trabalhando frases afirmativas, frases negativas...

Então pensa os meninos não estão ainda nem fazendo frases, mal palavras, assim é uma outra

realidade, eu não tô o que da questão mesmo, igual comportamento, atenção mesmo. Prende

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atenção deles é complicado... O que às vezes está atrapalhando é aqueles meninos que eu

quero atingir pra ver alguma coisa e que não estão se deixando atingir, total desinteresse, tá

tudo bem, deixa assim mesmo e a gente fica assim chateada... A gente vê assim um ou outro

se elevando, não tô tão mal assim, tem dois ali que tão. Que tá surtindo efeito mas é muito

pouco a gente quer mais

Participante 6

Todo final de ano... É se tiver um aluno que não conseguiu o desenvolvimento esperado...

Então assim você pode conseguir que 90% da turma, 99% da turma tenham um bom

desenvolvimento, mas se um aluno não desenvolver bem então aquilo ali é uma frustração.

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JÁ SE SENTIU DESMOTIVADO(A) A PONTO DE QUERER LARGAR A

CARREIRA? EM QUE CONTEXTO(S)?

Participante 1

Não, não chegou a esse ponto não... Já fiquei triste, várias vezes tristes... Já chorei já me

arrependi de algumas coisas, mais largar a profissão não...

Participante 2

Nessa época, quando eu tava no segundo ano aqui na escola que ninguém entendia os meus

anseios... Porque você é sozinha, sabe você tem que tá com muito cuidado com as palavras, eu

não podia falar que o menino não dava conta... Que eu não queria a criança... Eu não podia

falar nada... Você leva menino no colo... Nessa época eu emagreci muito, eu era muito

fresquinha tudo que comia voltava... Era muito xixi, muito cocô, muito vomito... Aquele

negócio que faz assim quando a criança comi e volta... Gofo... Depois disso eu como

normalmente... Mas nessa época eu pensei assim... Fiquei muito desmotivada... Porque você

se sente sozinha as coisas acontecem e você não tem com quem contar aí os outros ficavam

pegando fogo dentro da sala, derrubando tudo e você com os meninos dando trabalho e o

pessoal só sente pena, ajuda que é bom não vem de ninguém assim vem ajudar, não vem...

Participante 3

Já teve alguns momentos que eu senti... Quando numa escola que não tinha recurso, nem sala

adequada, nem material adequado, você se sente assim numa ilha o que você vai fazer agora,

você não tem nenhuma folha pra dar pra criança, já cheguei em escola assim, então nesse

momento eu me senti desmotivada... Mas eu depois, você vê aquela criança com aquele

desejo tão árduo de aprender, tão grande de querer romper, de querer crescer na vida que você

acaba se comovendo e acaba te fazendo entender que essas coisas são pequenas diante do

desejo delas de aprender... Muitas vezes eu já fiquei triste, chateada, mas quando você vê um

aluno assim você fala nossa eu não tenho problema não, aí você começa a enxergar que o que

você via muito grande na verdade é muito pequeno, as crianças é que têm problemas muito

maiores que os nossos

Participante 4

Já... Alguns momentos dentro da sala de aula mesmo, momentos assim quando os alunos são

muito agitados, você fala e os meninos não param, tem hora que eu penso, ai meu Deus por

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que eu to aqui, vou largar isso não quero mais, são nesses momentos dentro de sala de aula

mesmo

Participante 5

Por exemplo, quando a gente escuta assim na televisão ofensas de o próprio governo diz que o

professor é vagabundo, têm professores que só são professores porque não existem, não

deram conta de passar em outro concurso, essas coisas deixam a gente muito triste, dá vontade

da gente ah é então vamos largar todo mundo aqui, a profissão e vamos ver quem vai dar aula,

mas ao final das contas é isso que eles querem aí mesmo que surge a nossa vontade de fazer a

vontade deles, né... Porque ao mesmo tempo que você sente vontade de chutar o pau da

barraca você...vontade de falar assim eu vou ser uma chata, vou ser uma pedra no sapato eu

vou continuar na minha profissão... Essas coisas de atestado muitos professores ficam doentes

realmente e pegam atestado... Aí generalizam... Se existe picareta, é claro e também existe

médico picareta, como é que você vai comprar um atestado, entende... Como é que você vai

comprar um atestado se o médico não te vender... Peraí! Vamos investigar então... Os

médicos, quais são os médicos que andam vendendo, que estão vendendo atestados, porque os

médicos que eu já consultei e consultei meus filhos eu nunca tive esse tipo de problema...

Todos... Às vezes assim até... Poxa, eu tô tão ruim acho que o médico vai me dar dois dias e

ele só e dá um dia e eu não questiono... Médico rígido... Às vezes são tão rígidos... E esse

povo diz que existe que tá dando atestado... Eu não sei não... Eu acho que é mais uma coisa

pra magoar a gente porque quem sai magoado são os que não fazem... Igual muitas vezes

quando têm essas reuniões falando de atestado muita gente questiona ah mas eu, mas eu... Por

que... Porque dói naquele que não fazem... É uma ofensa porque se tem picareta... Faz uma

CPI e descobre quem é... Põe na televisão, investiga bem... Prende os culpados... Exonera os

culpados... Mas acaba machucando, aí você vai juntando, houve um negócio desse, é na sua

sala de aula, é uma briguinha na porta da sala, com pai de aluno que o outro filho falou não

sei o que... Que hoje mesmo teve na minha sala a mãe do P. mesmo, veio que a mãe do J.

Tinha falado e não sei o que... E vai juntando e no final da tarde você ta assim tão cansada e

não é cansada de dar aula... Não tem coisa melhor... Vou te falar um negócio você pegar uma

aula daquelas que você não senta um minuto que sua garganta tá doendo e você fala poxa hoje

foi bom viu, aprenderam hoje foi muito legal foi muito produtivo, você sai num cansaço mas

você tá feliz... Agora esse tipo de cansaço derruba a gente no chão, é um cansaço de

insatisfação... (refere-se às ofensas).

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Participante 6

Não, nenhum momento... Não. Eu nunca pensei em mudar de profissão, eu acredito assim que

o que deixa hoje o profissional triste não é a sala de aula é exatamente essa falta de

valorização, então são nesses momentos que você pensa em deixar de ser professor, aí você

me pergunta o que eu faria se não fosse professora e eu não me vejo em outra profissão...

Então eu sei que apesar de tudo pode não ser na Secretaria de Educação mas que eu exerceria

essa profissão.

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JÁ SE SENTIU MUITO MOTIVADO(A) EM SUA PROFISSÃO? EM QUE

CONTEXTO(S)?

Participante 1

Motivação... Quem sabe a turma do ano que vem seja melhor... Seja mais comportada... chega

no outro dia e ver que eles fizeram a tarefa.. Essas coisas do dia-a-dia, a rotina. Quem sabe

não tem alguma mudança dum dia pro outro... Uma inovação. Ou minha postura mude de um

dia pro outro eles tenham uma nova reação

Participante 2

Quando acabou o ano, quando passou 2006 pra 2007 que eu peguei essa turma (Bia 3), uma

que eu me senti valorizada, subi... Ai eu peguei essa turma que apesar dos problemas eu me

senti mais forte, mais madura, falei aí eu tô podendo, aí eu me senti bem assim... Foi um ano

muito tranqüilo.

Participante 3

O momento em que a Secretaria de Educação desenvolve cursos pra que a gente... Não

reciclando porque o que a gente recicla é lixo... Fazendo as atualizações... Sempre estão

disponibilizando cursos, encontros, palestras... Ultimamente tem melhorado a questão do

material... A secretaria vai tá recebendo um material de alta qualidade pra poder tá

trabalhando com os alunos... É um ganho muito grande você sente motivada, porque você vê

que não tá sozinha que tem sempre alguém investindo em você.

Participante 4

Sim... O fato de ser professora tem a sua parte que é gratificante quando você vê o resultado

do aluno, quando seu aluno vem te agradece... Te trata com carinho quando você vê que o seu

trabalho foi reconhecido no final do ano vê que o aluno alcançou, que ele progrediu que ele

teve um bom desempenho. Isso é gratificante e é o estimulo que eu tenho pra continuar, se

não fosse isso, mesmo sendo concursada acho que não estaria mais...

Participante 5

O que mais me motiva é o próprio aluno, quando você tem um contato... Olha vê sempre

aquela criancinha sentada na cadeira... Existem mil casos... Existem aqueles que vai pra casa

com a mamãezinha, com a família, tem aqueles que vai ficar sozinho, que vai esperar a mãe

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dele chegar de noite, tem aquele que não tem o que comer... Vai lanchar três vezes... Quatro

pra poder... Saber que em casa não vai ter a comida... Tem aquele que chega sujo... Tem

aquele doentinho... Então assim é o convívio que mais me faz ter vontade... O V. mesmo no

começo eu tinha raiva porque ele só xingava, e eu ficava meu Deus como eu vou me apegar a

uma criança dessa... Que só sabe é... Xingar os outros, me xingar, né... E ele só queria pedir

me dá me dá me dá e xingava não tinha nada de atrativo nele. Depois assim no convívio, né...

Até porque eu comecei a elogiar ele... Você já viu eu chamar ele de meu amor com ele, você

já viu a reação dele... Meu amor, eu sou seu amor... Um dia ele caiu no chão bateu... Tava

rolando no chão, eu não briguei... Falei V. meu bebê, levanta do chão, se não você vai

machucar... Meu bebê, eu sou seu bebê... É você não meu bebezinho coisinha fofinha da tia,

aí ele sentou e ficou pensando... Ficou parado assim perdido, né... Acho que ele nunca ouviu

esse meu bebê... Pra ele foi uma palavra nova, aí ele achou interessante... Então assim a

convivência, as descobertas faz a gente ter mais vontade de dar mais... Querer... Por isso que a

gente fica triste porque quer mais pra eles... Que quando a criança aprende a ler não tem coisa

melhor pra gente, a gente fica feliz, meu Deus fulaninho já conseguiu... Que ele precisa

saber... Né... Pra quando chegar na outra sala... Na outra série não tá lá massacrado, não ta lá

largado, Né.

Participante 6

Acho que agora quando eu retornei, porque eu fiquei dois anos de licença médica, eu corri um

risco muito grande de ser aposentada e quando você tem um problema sério você pensa que

nunca mais vai estar numa sala de aula e de repente você volta pra sala de aula faz um bem

muito grande pra você, pra mim foi algo maravilhoso retornar depois de dois anos, voltar a

desenvolver projetos, voltar a ter contato com aluno... Isso aí pra mim é muito importante.

Então esse ano eu tô assim no pique.

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VOCÊ É COMPROMETIDO (A) PARA COM A ESCOLA E SEUS ALUNOS?

Participante 1

Eu me considero mais comprometida com os alunos... Em que sentido? No sentido de passar

as tarefas, corrigir as tarefas... De seguir o currículo deles, de adaptar a aqueles alunos que

têm deficiência. Você trabalha só aqui nessa escola?Só...

Participante 2

Com os dois, eu tenho comprometimento com a escola, sempre chego no horário, eu participo

de todos os eventos, quando tem gincana eu sempre sou a campeã e... Assim participo de

tudo... Às vezes faz bazar eu trago as coisas... Eu sou bem envolvida tudo que é proposto eu

participo... Você acha que tá muito motivada porque tá no comecinho... O pessoal fala

muito isso... Ela tá assim porque ta no começo... Eu não sei... Eu não sou de querer fazer,

querer fazer, mas assim me considero muito organizada, planejo tudo que eu quero, meus

objetivos e vou aplicando, se você seguir o que você planeja tudo flui... Tem gente que da

aula quatro horas e fica meu Deus e agora... Eu já tenho uma organização... Procuro ter em

sala uma caixa de jogos... Então se você se organizar eu acho que você consegue fazer fluir...

Claro que tem dia que você não tá afim... Tem dia mesmo que eu venho pra coordenação e

não quero e fico sentada, tem dia que ah que quero, aí faço isso, faço aquilo e como na sala de

aula tem dia que os meninos não estão afim então você tem que ter a dinâmica de falar, então

vamos ler, vamos fazer um círculo eu acho que nos professores mais antigos faltam essa

dinâmica mesmo...

Participante 3

Sim... Bastante...

Participante 4

Acho com a escola e com os alunos sim... Porque mesmo com minha... Essa falta de estímulo

que eu tenho, eu faço meu trabalho direitinho, eu sou responsável, sou organizada eu me

preocupo muito com os meus alunos, eu não consigo me desligar, to o tempo todo pensando,

eu acordo pensando como é que vai ser, como é que vai ser o dia, eu durmo pensando meu

Deus eu devia ter feito uma tarefa assim, quem sabe assim vai dá, quem sabe assim vai ser

melhor, quem sabe se vai ser pior... Então eu sou comprometida sim.

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Participante 5

Sim sou bastante com os dois...

Participante 6

Sim... Eu sempre falo o seguinte que acima de tudo não é porque nós não temos bons salários

e que não somos valorizados que não vamos valorizar aquilo que temos e o que nós temos são

os alunos e a escola... E a escola só funciona se os funcionários dali se empenharem e quando

eu digo funcionários eu falo dos professores, dos assistentes porque aqui na escola nós temos

uma ligação muito grande com as assistentes porque nos ajudam bastante com as crianças no

recreio ou quando a gente precisa que eles atendam as crianças pra levar ao banheiro ou

quando acontece alguma coisa... Eu considero assim a escola como uma família e eu acho que

é fundamental pro desenvolvimento do aluno.

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AS CONDIÇÕES DE TRABALHO SÃO SATISFATÓRIAS, VOCÊ ACHA QUE DÁ

PRA DA AULA?

Participante 1

Dá tranqüilo... Faltam algumas coisas, né... Mas acho que o básico que é mais importante a

gente tem acesso, tem TV, tem o DVD, o vídeo... A questão da família... Até educação

mesmo... É muito aluno que não tem esse controle... É o professor mesmo... E os pais como

geralmente se comportam? Comportam-se? Eles... Geralmente em reunião de pais olha o

boletim e vê a nota... Se tiver acima de cinco tá bom pra ele... A maioria, não são todos... Mas

a maioria olha o boletim. A gente põe em azul e vermelho. Se tiver em vermelho ele pergunta,

mas por que... Geralmente vê o azul olha tá tudo bem... Não tem aquele comprometimento de

vim questionar, ficar olhando o dever... Tá olhando os trabalhos... São poucos muito poucos.

Participante 2

De forma nenhuma. A gente tem uma sala de vídeo, quando chove cai goteira na nossa

cabeça, o home teacher funciona quando ele quer, no vídeo cassete não tem ligação com o

home teacher, a quadra é horrível, ano passado eu tinha muito problema com o R. que não

tem as perninhas é sensível, apesar de parecer grosso, é sensível e ele quer jogar futebol, eu

tinha que entrar em campo pra jogar futebol com ele e ele queria jogar, ele não abre mão de

jogar ou de participar de qualquer atividade, não abre mão... Você tem que carregar ele nas

costas, tem que dar um jeito, mas ele tem que participar e ele briga sim... Ele sabe muito bem

dos direitos dele, ele vai, você tem que tá preparada pra ele, você já viu a quadra, é toda

esburacada, suja... Aí eu e ele lá pro meio da quadra jogar, eu na defensiva dos outros era uma

comedia... Mais eu acho que estrutura mesmo não tem... Tem aquela quadra, toda esburacada,

uma bola, um pedacinho de corda... Essas horas também da uma certa chateação... Na hora do

recreio também quando eu voltar da recreação que é quinze minutos, eu mereço e eles

também, quando a gente volta eles estão tudo machucados porque não tem nada pra fazer só

correr, só tem o lugar de joga os meninos tudo... O salão ali tem uma acústica horrível, ano

passado a gente fez uma apresentação com as meninas, elas estavam pintadas e a tinta já tava

escorrendo, já tava chegando no peito das meninas, a maquiagem, muito quente quando

coloca eles lá, o som é horrível qualquer gritinho que eles dão vai nas alturas, a biblioteca tá

furada, o teto quebrou um negocinho desse, então assim... A sala de aula lotada eu tô com

trinta e quatro agora. Fizeram reagrupamento eu tô com trinta e quatro crianças sendo que o

M. tem deficiência mental, só que é leve, é independente... Só de vez em quando que ele da

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uns devaneios e to com o C. que é distrofia muscular, tem dificuldade pra andar, eu tenho que

sempre pegar na mão dele, ele tem vergonha de ir ao banheiro, por exemplo, tem vergonha de

beber água, aí eu tenho que fazer fila... Vamos pra fila pra poder pegar na mão dele e ele ir,

porque eu fico preocupada, mas a estrutura assim não tem... Ontem mesmo ele saiu e ele é

bem fortão aí ele caiu e eu não consegui levantar fiquei fazendo o maior esforço e não

consegui, tive que pegar a perna dele tá um puxadão tipo pra pegar no tranco, nossa é horrível

na hora do recreio todo mundo olhando eu lá tentando e todo mundo olhando e falando meu

Deus coitado, mais ninguém vai lá e ajuda... Estrutura mesmo não tem não... Temos que ser

guerreiros, levar na esportiva. Mas o bom que eu acho é que não tem rotina.

Participante 3

Em termos, as nossas salas não são adequadas como a gente gostaria principalmente pra quem

tem aluno especial como a gente tem é muito complicado... Porque a gente teria que ter um

banheiro mais próximo, mais acessível àquelas crianças que têm problemas de locomoção... É

teria que ter um parquinho com areia pra elas estarem pisando na areia... Pra tá desenvolvendo

outras coisa e nós não temos isso... Uma brinquedoteca... Uma sala com bastante brinquedo,

nós estamos querendo fazer isso esse ano... Com recursos próprios nossos porque o que

mandam não é suficiente, nos estamos com um projeto aí de até no meio do ano de fazer a

brinquedoteca, porque muitas crianças aqui não têm brinquedo pra brincar tem uns caquinhos

veio que ganha dos outros, então elas não têm esse muito que elas vêem na televisão, então é

um projeto que a gente tem de fazer... Nosso ambiente poderia ser melhor, eles poderiam

investir melhor nas escolas, não a nível de uma escola particular, que tem muito recurso que

vem daquele aluno, mas assim pelo menos o básico... Uma brinquedoteca, uma sala pra fazer

ginástica, uma quadra pra eles brincarem de futebol, uma quadra adequada sem buracos com

trave direitinho sem ter que colocar nossos ajuste pro aluno.

Participante 4

Sim o básico sim... A gente não tem uma estrutura melhor, por exemplo, a gente não tem uma

brinquedoteca que é importantíssima, acho assim que a ludicidade é essencial ao aluno... A

biblioteca também, você vê que não é lá essas coisas, os alunos não são tão motivados a virem

aqui, tem coisas que deixam a desejar mesmo...

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Participante 5

Sempre tem o que melhorar e assim eu já tive em ambientes bem mais fracos, já tive em

ambientes que, por exemplo, a gente não tinha folha pra rodar o dever... Então por exemplo a

gente tinha que pegar aquilo ali era um tesouro e você rodava do outro lado da folha eu era

dinamizadora e no mínimo o que eu precisava era de uma folha pro menino pintar, não tinha

material e tudo mais a gente dava um jeito... É assim muito triste pro aluno e mais triste pro

professor, porque o professor vê... Poxa eu podia te dar mais do que eu tô te dando... Mas aqui

na escola graças a Deus... Em vista das outras escolas que eu trabalhei tem muito recurso... A

gente ta sempre procurando melhorar... Tem isso aqui que está fraco vamos tentar melhorar...

Vamos fazer uma festinha. Vamos ver o que faz com o dinheiro que arrecadar ou com o

dinheiro que o governo manda... Então assim a gente sempre tá buscando uma melhora...

Igual ali mesmo a gente tá terminando de construir a salinha de reforço, cadê a nossa sala de

reforço não tem, ah... Vamos fazer e aí foi dando um jeitinho aqui e outro ali... Tá lá a

salinha...

Participante 6

São precárias você olha aqui a biblioteca onde nos estamos... Aí você observa que... Pra mim

isso é um amontoado de livros... É um depósito de livros porque, porque a gente não tem

espaço pra desenvolver um trabalho, nós não temos livros atuais, os livros são muito velhos, o

material que a gente consegue não é porque venha pra escola, o material que a gente consegue

realmente é através do que é desenvolvido na escola que se consegue algum dinheiro pra

comprar esse material, nós temos um parquinho devido ao trabalho dos funcionários que

montou o parquinho... a escola tá assim... Poderia falar que a gente... A videoteca a gente

entra na videoteca e a gente entra com medo, o teto vaza mais água do que fora de lá, então...

A gente tem medo de um curto circuito, então são coisas assim que realmente mostram que

não houve melhora, mas nem por isso nós vamos cruzar os braços... Agora mesmo nós

precisamos de uma sala de reforço. Então todos os funcionários não tinham um espaço pra

trabalhar reforço com as crianças e todos os funcionários da escola se juntaram pra construir

uma sala de reforço, porque se a gente fosse esperar uma sala de reforço nós não teríamos

reforço e quem seria prejudicado o aluno e o nosso trabalho, então assim eu acredito que o

dinheiro público é muito mal administrado, por que... As escolas poderiam ter uma estrutura

muito melhor, uma infra-estrutura melhor, mas infelizmente isso não acontece e isso deixa a

gente muito triste, mas não a ponto de querer cruzar os braços e espera também somente que o

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governo faça então a gente tá sempre procurando fazer a nossa parte, mas realmente é tudo

muito precário.

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SEU SALÁRIO COMPENSA AS DIFICULDADES DE DAR AULA?

Participante 1

Não compensa. Mas é o meu meio de sobrevivência, eu não tenho outra escolha...

Participante 2

Olha eu acho assim que não é o que a gente merece porque você vê a nossa realidade e aqui

ainda somos privilegiados, a gente sabe que somos uma escola privilegiada, a gente tem

segurança a gente não tem adolescente fora da faixa andando, não tem criança fumando, as

crianças tão em sala não importa fazendo o que, mas estão, nos somos privilegiadas... Diante

da realidade do nosso país, a gente sabe que a gente é privilegiada... Igual hoje eu tô assim...

Quatro anos na secretaria... É pouco, mas... Diante da realidade dos outros no país nos somos

maravilhosos, a gente ganha muito mais... Quando eu trabalhava na Bahia eu trabalhava de

manhã, tarde e a noite pra ganhar mil reais era super cobrada, era super desgastante,

valorizada eu acho que a gente não é porque nós temos curso superior igual à policial civil,

igual aos federais e do judiciário e acredito que trabalhamos muito mais, valorizado não

somos, mas eu não vou falar tá ruim, tá péssimo, sou miserável, não vou, mas é uma vida de

escolhas, ou você compra um carro ou você compra uma casa, uma vida de escolhas, mas

valorizado não é não...

Participante 3

Não, eu acho muito pouco, a gente vive numa cidade, Brasília, que tem um custo de vida

muito alto, é mais caro... E mesmo nosso salário sendo mais alto do que alguns estados ainda

é muito pouco, eu acho que deveria valorizar bem mais que a gente deveria ganhar não um

monte de dinheiro, assim exagerado... Mas se a gente for comparar com um deputado, qual

que é o trabalho dele, o que ele desenvolve o cenário político num todo, é cargos públicos que

nem têm tanto trabalho assim e que ganham muito, uma polícia civil... Claro que eles

trabalham pra caramba também, mas eu vejo que o professor deveria ser valorizado também

né e ganhar um pouco mais, pra gente ter uma qualidade de vida melhor, até pra cuidar

melhor da saúde, nós não temos plano de saúde, a gente tem que pagar do próprio bolso.

Então isso nos não temos vale alimentação, o plano de carreira tá sendo refeito agora,

novamente depois que a gente ameaçou aí ano passado tão começando a organizar de novo o

plano de carreira, o plano de carreira da gente tava só no papel... Então assim é complicado, o

que aumenta de um ano pro outro é muito pouco... Acho que deveríamos ser melhor

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valorizado e se os professores fossem valorizados acho que as coisas fluiriam melhor em

todos o sentidos.

Participante 4

Assim, o salário não é... Eu acho que não é o que a gente merece, compensa porque acaba que

a gente consegue pagar as contas e viver extradionariamente bem, porque aqui o custo de vida

e relativamente alto, mas se a gente for comparar com outras profissões que são de nível

médio, por exemplo, que o nosso salário tá muito defasado em relação a esses, eu acho que a

gente deveria ganhar muito mais.

Participante 5

Não... Assim deveria ser melhor... E assim tem dia que eu até sorrio, porque puxa essa aula

valia dez mil reais porque o que eu passei hoje e tem dia assim que você nem lembra do seu

salário... Mas seria importante a valorização... Que quando você tá bem... Com certeza você

vai tá, mas tranqüilo também pra trabalhar... A gente não ganha tão mal, mas a gente poderia

ganhar melhor... A gente precisa de um carro pra trabalhar, a gente precisa ter uma casa isso

tudo não é a necessidade de um professor e a necessidade de todo mundo... E professor ela

trabalha e é isso que chateia, ele estuda muito, aliás, faz o magistério, faz a graduação, faz pós

graduação... E aí o que você ganha, né... Não ganha muito incentivo... Você precisa ser

incentivada, vamos supor que você não fez, aí você olha o colega lá que fez, ah. Eu não, meu

colega fez e ta ganhando tão pouquinho, aumentou tão pouquinho no salário dele... Pra que.

Que eu vou fazer ficar fazendo monografia um trem tão complicado desse, aí desmotiva...

Seria interessante... Estão valorizando agora mas seria mais interessante valorizar mais...

Pessoa fazer uma faculdade aumenta mais... Fazer uma pós graduação aumenta mais, porque

daqui a pouco vai tá todo mundo ai se prejudicando, vai tá bem mais formado, isso ajuda

muito... Depois que eu fiz a faculdade me abriu assim me abriu muitas fronteiras e depois que

eu fiz a pós-graduação me abriu mais assim os olhos, aprendi muita coisa então o curso me

deu isso, não é invalido... Tá aumentando assim o nosso conhecimento.

Participante 6

Eu acho que não, porque se você for colocar na ponta do lápis o que o professor gasta com

estudo mesmo de graduação, de pós-graduação, de mestrado e doutorado tudo que ele investe

na sua carreira é muito e que com o curso superior qualquer um outro concurso que você

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preste aí fora, você vai ganhar pelo menos o dobro do que ele ganha, ate nível médio

exatamente, isso... O que deixa a gente triste é porque aí já parte pra desvalorização, porque é

uma função desvalorizada... Uma das mais importantes... Eu nunca me imaginei trabalhando

num tribunal numa área burocrática eu não me vejo exercendo uma função assim, mas vejo

também que exercer se tivesse o dom pra isso, gostasse dessa área teria uma remuneração

muito melhor. Então acredito assim que... Eu ainda tenho esperança que isso modifique e que

as categorias elas sejam unificadas, se você presta um concurso pra segundo grau o salário de

todas as categorias sejam iguais independente se é legislativo, se é executivo se é judiciário...

Se você presta um concurso de nível superior que todas as categorias ganhem igual mesmo...

A partir desse momento eu vou acreditar que realmente existe uma valorização, o início da

valorização porque aqui você precisa de um computador e não consegue enquanto vários

órgãos do governo têm n computadores lá parados e materiais que a gente precisa aqui e que

tá parado aí em órgãos públicos, então... Se houvesse uma distribuição melhor disso tudo e

uma... Um nivelamento de salário todos os profissionais se sentiriam melhor e a coisa renderia

bem mais...

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O QUE LHE PROPORCIONA ALGUMA SATISFAÇÃO OU INSATISFAÇÃO?

Participante 1

Satisfação quando eles aprendem, eu corrigo uma prova, um trabalho. Quando eu tô

corrigindo no quadro eles respondem, quando eu vejo que eu faço diferença não só no

conteúdo mas em aprendizado da vida... O que me traz insatisfação é briga, brigam muito na

sala, falam muito palavrão, tem muito ofensa, são coisas que a gente trabalha, sempre tá

conversando e não vejo resultado. Esses alunos que brigam, que batem, você acha que só

o professor consegue, porque muitas vezes os pais não querem saber, jogam aqui na

escola e deixam, a professora consegue mudar essa realidade ou não? É um pouquinho

difícil, nós ficamos com eles cinco horas e o pai fica o resto do dia... 19 horas... Então muitas

vezes você ensina uma coisa boa pra eles e chega em casa ele não tem a continuidade daquele

trabalho. Se fala poxa, não vamos xingar, não vamos bater no colega, chega em casa tá lá o

pai xingando, chega bêbado... Xinga, fala cada palavrão, bate na mãe e ele fica perdido no

caminho, poxa... Na escola eu aprendi que não pode que não é legal... Mas chega em casa a

realidade é totalmente diferente e é uma comunidade carente, não é só dinheiro, não é só

carente de dinheiro é carente de amor mesmo... De afetividade, carente de dialogo... Em

casa... Carência demais... Você acha que essa carência pesa mais do que a falta de

dinheiro? Eu acho que sim, eu acho que pesa mais... Traz uma dificuldade maior sem sala de

aula... Eu tenho aluno que é extremamente carente, não tem dinheiro pra comprar uma folha

com pauta sem pauta que custa dez centavos... Mas que é muito tranqüilo em sala de aula, ele

é comprometido, ele faz as tarefas, faz o dever de casa sozinho não tem ajuda da família e eu

sinto o esforço dele... Tem aluno que tem tudo, toda estrutura financeira, né... Só chega de

carro, carro do ano... As melhores roupas, o os melhores brinquedos... Mas a tarefa que é

importante deixa muito a desejar.

Participante 2

Satisfação eu vejo assim quando a criança aprende a ler uma criança que não sabia nada e de

repente começa a ler e a escrever, quando você faz uma dinâmica com eles e eles estão

sorrindo, sorrisos assim maravilhosos... São pequenas coisas quando você chega na sala e eles

vêm correndo pra te abraçar e você vê que tá valendo a pena... Que você á intervindo naquela

vida quando você descobre um caso assim na sala por exemplo um abuso e você vai lá chama

a orientação e eles chamam a criança e você consegue tirar a criança daquele pesadelo, acho

que nesses momentos que você é útil pra família, tem pequenos momentos assim que vão

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fazendo toda a diferença, eles vêm te abraçam você chega e tem um monte de cartinhas em

cima da mesa dizendo que tavam com saudade, que te amam acho que nisso aí tem

valorização e a desvalorização (insatisfação) é quando você tem um problema na sala e tá

sozinha não pode contar com ninguém e a desvalorização financeira isso aí não da muita

motivação não a motivação que dá é a das crianças.

Participante 3

O que me proporciona satisfação é ver o trabalho realizado e ter aquele retorno dos alunos,

por exemplo, você pega uma turminha que ainda tá num nível que não sabe ler, pra esse lado,

por exemplo, que tem a noção das letras e você vai desenvolver um trabalho com eles durante

um ano, com projetos, com a ajuda de outras turmas e tudo e ao final do ano ele sair lendo

isso é muito gratificante traz uma satisfação enorme pra nós profissionais e pra criança

também, que descobriu como a historinha de Joãozinho ele via a letra as escritas nas placas e

ficava encucado com aquilo e no fim do ano ele descobriu que aquilo ali também era pra ele,

que ele também poderia decifrar aquele enigma e descobrir que aquilo ali era uma cosia

universal que todo mundo tinha acesso, só que precisava aprender a ler, hoje em dia a gente

vê muitas pessoas adultas que não têm essa oportunidade, infelizmente ainda têm muitos

analfabetos e a gente fica preocupado com isso porque o mundo que nós estamos, quem mora

em cidades metrópoles, a gente sabe que tudo depende disso, até o mundo digital precisa, se

você não for alfabetizado você tá fora, até pra pegar ônibus tudo, então assim é muita

satisfação que a gente tem e insatisfação e com aqueles alunos que não querem nada, mais que

também não é culpa deles, é culpa de uma estrutura que eles têm em casa... Como um aluno

que eu conversei um dia desse que não é da minha turma que eu fiquei muito triste, porque ele

vem um dia pra escola e os outros dias ele fica na rua pra pedir dinheiro, pra roubar, ele diz

que não tem sentido pra ele a escola, que ele não abre pra que ele estuda, que não aprende

nada que ele vem.. Ele não aprende porque ele não vem, perde muita coisa, a gente conversa

com ele mas pra ele, ele tá desiludido... A gente tá fazendo um trabalho agora mais sério com

ele, tá encaminhando ele pra ver o que ele tem com pais que são desestruturados então assim a

gente fica com insatisfação então, nesse sentido, queríamos te um suporte mais de equipe

especializada para estar nos ajudando a resolver problemas desse tipo, que a gente fica

preocupado com o futuro deles... Provavelmente é um futuro marginal, um bandido porque

não teve a oportunidade, não teve com quem conversasse, não teve quem ajudasse.

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Participante 4

Satisfatório é aquilo que eu te falei, o que a gente tem depois de todo um trabalho, você vê

que você alcançou um objetivo que o aluno venceu e o que é insatisfatório é o contrario, é ver

que você trabalhou o tempo todo e tem aluno que não progredir e você tentou e se esforçou e

o aluno não progrediu, não foi pra frente.

Participante 5

Que eu fico insatisfeita... Eu fico insatisfeita quando há desinteresse, porque às vezes até

aquele aluno que faz barulho... Vamos pegar o P. que você conhece ele... Ele é bem agitado

mas já tá bem adiantadinho, ele faz as atividades, ele lê, ele participa... O J., participa demais,

se eu tô corrigindo o dever e ele tá conversando ele pára tudo pra participar e mostra

interesse... E ali, oh a gente esquece todos os defeitos dele e tem criança ali caladinha

quietinha que não tá nem aí para aula... Às vezes você fica zangada com aquela criança... A B.

ali é uma cadeira na sala não fala nada, tá tudo bem, tem vez que ela guarda o caderno e não

pergunta nada sobre o dever, aí eu olho pra mesa dela e ueh cadê seu caderno B., ah...

Terminei... Então traz pra eu ver, aí ela vai lá e faz qualquer coisa e vem me mostrar que não

deu conta, é aquela criança que tipo assim não me note pelo amor de Deus, aquilo lá da

insatisfação demais... E quando o aluno vai atrás de você... Você tem muita vontade... Igual

eu falei pra eles, olha... Falei hoje vocês podem ir na minha mesa, podem perguntar... Você

pode ver quando a minha mesa tá cheia eu tô bem, eu não tô brigando com ninguém lá não, eu

to bem, tô ajudando... Cansada mais tô ajudando, eu fico feliz... Eu acho ruim quando vocês

não vão na mesa, nunca me mostram o caderno, não vai atrás, isso aí deixa a gente tão triste,

ah então não tá querendo nada, isso deixa a gente insatisfeita... Eu fico satisfeita quando

procura ajuda quando questiona, quando corrige a gente, né... Muitas vezes você ta ali

copiando um dever no quadro esquece uma letra, tia aquilo ali ta faltando uma letra... É

mesmo que a gente escreve rápido... Às vezes o aluno fala alguma coisa e você dá um

branquinho ali... Então assim a turma que eu tive o ano passado eles eram participativos de

tudo, a gente conversava de todos os assuntos que você pensar... Então você vê que tá

acontecendo esse negócio da menina que morreu, né... Isso era um assunto pra gente ta

falando na sala porque eles comentavam tudo, eles tavam falando, tia você viu aquilo na

televisão assim, assim e assim então a gente parava pra conversar, então isso aí é muito legal,

se a criança tem intimidade pra conversar com você, mais tem uns que não ficam tia o menino

aqui o menino ali... Só aquela vidinha rotineira de falar o menino ali... Mas dever não tá nem

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aí o que tá acontecendo lá fora não tá nem aí é triste, é bom aquela criança participativa... Que

conversa com você mesmo, que tem essa margem da criança vim conversar comigo, tem hora

que eu paro a aula ali e começam a dizer coisas, tia lá na minha casa meu tio assim, minha vó

assim, meu pai assim... É o momento que ele vai desabafar, vai contar uma novidade da vida

dele... O V. mesmo conta cada uma... E é até bom eles terem isso, porque a criança conta

inocentemente, coisas que pra ele não é nada demais, quem tá ouvindo pára e pensa

peraí isso não é assim... Tem alguma coisa errada... E assim você começa até a respeitar mais

ainda, por exemplo, a criança fala que meu pai brigou com a minha mãe, né... Igual ano

passado aconteceu de um aluno meu que era hiperativo ele ficava muito sério e não tava

achando jeito de chegar nele, aí quando ele foi ficando mais meu amigo ele começou a revelar

coisas, no meio da aula se a gente tava falando de um certo assunto lá de família, ele tia meu

pai bateu na minha mãe quando ela tava de resguardo, eu nunca vou bater na minha mulher

quando ela tiver de resguardo, isso pra mim foi muito importante, eu senti que ele... Eu senti

uma carência, que ele tinha essa mágoa... Aí eu comecei a chegar nele nesse ponto, vem cá V.

vamos começar... Era V. H. também vamos conversar sabia que quando você crescer você vai

ser um ótimo marido, você vai ser carinhoso, né... Com sua esposa, com seu filhinho... Você

vai comprar as coisa pra dentro de casa que bom... Sortuda é a mulher que casar com você...

Então eu comecei a trabalhar outro aspecto desse assunto que ele trouxe. Verifiquei aí foi

mesmo seu pai bateu na sua mãe... Eu deixei pra lá... Pois você vai ser um grande homem, fui

exaltando o lado bom pra historia e foi formando uma amizade e dessa amizade um

aprendizado, e ele sendo hiperativo aprendeu ler, a mãe dele ficou tão feliz foi lá na minha

casa e falou que o melhor ano da vida dela foi o de 2007 porque o filho dela aprendeu a ler...

Eles tavam pegando ônibus e eles lendo o nome nos ônibus... O ano passado quando ela falou

isso aí pagou tudo que aconteceu pra mim de difícil...

Participante 6

O que me traz satisfação seria... É o desenvolvimento do aluno... Me traz satisfação também

essa busca, sempre estudando, tá sempre procurando o que é melhor pro meu aluno tentando

fazer diferente pra conseguir o desenvolvimento do meu aluno isso aí pra mim é

fundamental... Agora o que me deixa triste é chegar e você ver que a sociedade não valoriza

mais o profissional professor e também que, como eu poderia colocar isso, é... Que... Nem

sempre o professor é chamado pra decidir, pras decisões da área de educação, a coisa já chega

pronta pra você e nem sempre aquilo é o melhor, então a gente já recebe tudo prontinho vai

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ser trabalhado, assim vai ser feito assim, mas nós não somos questionados sobre isso, isso me

deixa muito triste, muito chateada porque eu acho que se fosse tirado da categoria seria muito

melhor para a categoria e para o educando, me deixa muito triste vê que a escola pública é tão

desvalorizada e por mais que a gente faça quando tem uma prova do Enem, quando tem uma

prova pra saber o nível os alunos, o nível esteja tão ruim, então isso aí me deixa realmente

chateada.

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SUA CARGA HORÁRIA DE TRABALHO (LECIONAR E CARGA

ADMINISTRATIVA) ATRAPALHA SEU RENDIMENTO PARA ENSINAR?

Participante 1

Não, acho ótima a divisão, tranqüila...

Participante 2

Não atrapalha não, acho ate que é bem dividida eu só acho assim, parte da coordenação tá

super tranqüila 08h30min às 11h30min, tem uma folga que é a coordenação pedagógica

individual, não chega a ser folga, mas... Mas à tarde eu acho assim que a carga horária é muito

extensa pra falta de recursos que a gente tem... Tem que ficar cinco horas com a criança lá, só

com o lápis, a borracha o caderninho deles aquele livro horroroso que veio pra eles, então eu

acho assim tá... Não oferecem recursos, né, pra gente tá ficando com esses meninos cinco

horas em sala...

Participante 3

Nossa carga horária é dividia em 8 horas, 5 de sala e 3 de coordenação, isso também foi uma

conquista nossa ao longo dos anos que se chama jornada ampliada, ampliou pro aluno 1 hora

e pra nós a gente continuou com às 8... Essas três horas de coordenação é reuniões

administrativas, tem a coordenação individual, tem a coordenação coletiva né e mais algumas

reuniões que a gente faz assim por equipe, então eu vejo que isso é um ganho muito grande e

mesmo alguns achado que é um tempo que a gente fica ociosa as vezes é um tempo que nem

dá pra nada... A gente tem que preparar as aulas, a gente precisa preparar tudo pra dar pros

alunos no outro dia pra eles terem uma aula com mais qualidade, com mais recursos que nem

sempre a gente tem como fazer isso em casa e no horário que o aluno tá com a gente não pode

tá fazendo, então a gente tem que deixar tudo preparado prontinho pra eles é um ganho muito

grande e é muito importante o tempo que a gente tem pra coordenar, depois disso a gente viu

que a educação deu uma alavancada, é bem diferente do professor chegar lá e dar aula de

supetão, isso foi muito bom foi um ganho

Participante 4

Eu acho que ta bom... Mas pra mim acho que o ideal seriam quatro horas na minha concepção

de aula, quatro horas de regência pra mim tava ótima.. Acho cinco horas muito tempo pra um

aluno permanecer na sala de aula...

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Participante 5

Não, eu gosto... Só que assim é bom a gente ter recursos, aqui a gente vai criando, vai pra

quadra... Porque só sentado o tempo todo é muito cansativo, pra criança fica muito chato, dá

um dever, termina, pega outro, pega outro... Mas assim é legal quando se tem recursos, igual

aqui na escola a gente vai criando recurso, vai trabalhar uma letra nova pega um filmezinho

de criança, fomos trabalhar com a letra V pegamos “nem que a vaca tussa”, aí a gente vai

trabalhando interpretação... A gente vai criando, bolando os recursos aí pra vê se torna a aula

menos chata, menos cansativa. Pra coordenação é excelente porque, igual a mim, eu tô te

falando a gente planeja junto, a gente acaba sendo cúmplice um do outro (em relação aos

outros professores da mesma série), porque às vezes um problema meu não é só meu é das

minhas colegas, se ano que vem elas pegarem determinado aluno meu elas já vão saber o que

tá acontecendo ou eu saber delas... A gente troca muitas idéias... a gente trabalha muito

Participante 6

Eu acho que tá bom, que essa jornada ampliada essas três horas de motivação foi assim um

ganho muito grande pra categoria e foi um ganho muito grande para o aluno. Porque o

professor hoje ele tem condição de realmente preparar um material melhor pro aluno, ele tem

condição de fazer um atendimento de aula de reforço no horário da coordenação e assim as

cinco horas aula eu acho que é importante sim, é interessante, não é só ficar cinco horas em

sala de aula a gente desenvolve outras atividades fora de sala de aula que vão contribuir pra

formação do aluno... eles fazem vários tipos de atividade então você precisa tá sempre

buscando atividades que a criança não caia naquela mesmice de ficar sentada, de ficar

quietinho que a criança não vai consegui se concentrar por tanto tempo e eu ainda sou

favorável à escola integral em que o aluno passe todo dia na escola, tenha a educação

desenvolvida em todos os níveis, eu acredito como profissional que na Secretaria de Educação

do Distrito Federal não se leva, não se dá importância devida à prática esportiva, eu acredito

que se essas crianças tivessem essa prática esportiva desenvolvida desde de pequenos nós não

teríamos tantos problemas sociais como nos temos hoje, nós não teríamos tantos problemas de

aprendizagem... Acho que a partir da escola integral nós poderíamos fazer isso, porque eu

acho que é muito melhor que o aluno fique o dia inteiro na escola com acompanhamento

especializado do que... Que ele vá pra casa ficar sozinho ou ficar na rua que realmente é o que

acontece... Porque que nós ainda não temos uma infra-estrutura na rede pra que isso ocorra e

também não concordo quando é implantado sem oferecer condições pra funcionar, condições

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mínimas, isso aí eu sou totalmente contrária porque eu acho que se implanta tem que ser bem

feito, tem que se pensar muito sobre isso também, mas o ideal seria que a escola estivesse

aberta pra criança durante todo o dia...

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E PRA VOCÊ HOJE O QUE TRAZ MOTIVAÇÃO PARA O PROFESSOR E O QUE

TRAZ DESMOTIVAÇÃO?

Participante 1

O que mais eu fico pensando é em como vai ser o outro dia, que às vezes acontece uma cosia

triste... E você fica poxa como é que vai ser no outro dia, vai acontecer uma cosia diferente,

será que eles vão se comportar de forma diferente, então essa dinâmica de um dia pro outro é

o que mais me motiva porque eu sei que um dia não vai ser como o outro... Que um dia ele

vai aprender uma coisa a mais, então eu acho que essa mudança de um dia pro outro, acho que

é o que mais me motiva... Eu sei que no outro dia eles podem estar bem diferentes, fazer

perguntas diferente... E o que desmotiva eu já falei são... É... Palavrões, brigas... É

xingamento entre eles... É isso. Ainda pretende ser professora muito tempo? Não... Eu me

formo o ano que vem... Então assim que eu me formar quero começar a estudar pra ver o que

eu faço... As oportunidades que eu vou ter... 25 anos de magistério acho que eu não vou... É

muito tempo.

Participante 2

O que motiva o professor eu acho que são... É os desafios, o contato com a criança, a

valorização pelas crianças, os grupos de professor que você faz amizade e... É o desafio

constante, desafio diário o que motiva é isso e superação consigo mesmo e o que desmotiva

eu acho que é a falta de recursos, a falta de escola mais apropriada, a falta de apoio do pessoal

da direção do colégio, dos coordenadores que não sabem o que está acontecendo em sala... Eu

acho que é isso, o que motiva são as crianças e o que desmotiva é governo.

Participante 3

O que motiva o professor é saber que mesmo com tantas dificuldades, tudo, a gente ainda

consegue resultados positivos, como eu te falei da alfabetização... Você pegar um aluno com

problemas e tudo, saber que na escola ele se sente melhor... É aonde ele vai ser preparado pra

vida... Muitos pais não estão preocupados em estar preparando seus filhos pra vida futura, é a

gente que tem que se virar mesmo... Muitos pais colocaram na escola a função de casa, muitos

porque trabalham e outros porque nem trabalham nem querem desenvolver o seu papel

querem jogar tudo pra escola... Então apesar disso a gente acaba tendo que fazer esse papel da

família também mas isso é gratificante e traz uma satisfação pra gente grande, a gente saber

que ele vai sair daqui... Não todos, mas que a maioria vai subir... A gente ta fazendo com que

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a criança não seja apenas um estudante, mas um que vai aprender a ler, mais um

alfabetizado... Mas que ele seja preparado pro mundo... Pra ele chegar numa empresa que for

fazer entrevista que ele saiba solucionar uma solução-problema de surpresa ali que derem pra

ele, que ele entenda seus direitos e deveres como cidadão também, porque hoje em dia se a

gente não entender, as pessoas mais espertas passam por cima da gente atropelam mesmo... O

enfoque de tudo é esse, é saber que a gente pode esta investindo em outra vida e que ela possa

tá fazendo diferença lá na frente... E o que desmotiva é o salário, o salário é horrível e

desmotiva... A falta de recurso que te falei, de espaço. Falta de espaço de recursos técnicos

desmotiva.

Participante 4

O que tá desmotivando eu acho que é o sistema educacional como um todo, eu fico muito

decepcionada com o sistema como um todo, você vê que não tem progresso na educação você

não vê a educação progredir, isso não é uma falha... Ah, é professor, é a escola, o problema

vem do sistema e a motivação eu acho que é justamente em pensar que isso um dia vai mudar,

tem que mudar um dia, eu acho que isso é a motivação que as pessoas tem pensar que um dia

a educação vai melhorar.

Participante 5

Motiva o professor é a vontade de ajudar o aluno, acho que esse é o grande... E a grande

motivação a vontade de falar poxa eu quero levar esse menino até e ponto, é você pegar uma

turma e falar eu consegui chegar, acho que é uma vaidade igual o médico, o médico pegar um

doente e falar olhe eu peguei, operei e deu certo, tá lá na casa dele e tá bem... É isso que a

gente quer, acho que é o grande motivador... A grande motivação do professor é pegar aquela

criancinha, ele passou por mim e aprendeu isso aqui... E o que mais desmotiva é quando a

criancinha tá sozinha, às vezes você pensa, puxa eu acho que precisava do pai vir aqui, a mãe

vir aqui, alguém vir aqui saber se a criança tem problema, se tá precisando de carinho de uma

conversa, uma atenção ou às vezes só vir aqui na porta buscar ele, levar. Tem muitos casos

que a gente só pede a presença dos pais pra tá levando e buscando a criança na escola, já

muda muita coisa, muda muito mesmo, a criança... Já aconteceu muitas vezes você pode

perguntar pra qualquer professor, às vezes assim só do pai mostrar a cara dele na escola já da

aquela sensação, eita ferro, tô sendo vigiado, tem alguém cuidando de mim... E quando a

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criança fica meio largadinha assim... Ele fica pra que eu vou me esforçar tanto... Ele não vê

sentido na escola...

Participante 6

Acho que o grande motivador do profissional ainda é o desenvolvimento do aluno porque não

tem nada melhor do que vários anos depois você encontrar um aluno que tá no mercado de

trabalho, que continuou os estudos e o que mais me desmotiva é quando eu encontro meus

alunos já adultos e pararam de estudar, ah mas porque você parou ah, porque eu tive que

trabalhar... Ah, porque a carga horária do meu trabalho não era compatível da escola ou

porque ele não se adaptou à escola... Então como eu falei no início sempre no final do ano o

que me preocupa não foram os alunos que conseguiram um desenvolvimento é aquele aluno

que eu sinto que ele não desenvolveu todas as potencialidades que ele poderia ter

desenvolvido, então esse é o aluno que me deixa preocupado e o que desmotiva é isso,

encontrar esses alunos no futuro e perceber que aquele probleminha que eu já havia detectado

no início que ele foi virando uma bola de neve e que hoje o aluno tá fora da escola, ele não

concluiu os estudos, isso aí pra mim é uma tristeza muito grande.