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Publicação da ACREFI – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento
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Ele sabe o que diz
Montadoras apostam no crédito para ter sucesso em 2014
Antonio Delfim Netto
edição
85mar
Com sua habitual inteligência e capacidade de síntese, o ex-ministro da Fazenda esbanja mordacidade ao fazer uma acurada análise da conjuntura do Brasil
2 financeiro março 2014
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Páginas AzuisO ex-ministro Antonio Delfim Netto faz uma análise acurada sobre aspectos econômicos e políticos do Brasil
CréditoO financiamento é a grande esperança da indústria automobilística para 2014
Novo AssociadoBanco CNH Capital, 62º integrante da Acrefi
Terceiro Setor Fundação Gol de Letra comemora 15 anos e já atende 1.300 crianças e jovens
Fora do Expediente Louis Bazire, presidente do BNP Paribas Brasil, é um mecenas das artes na melhor acepção da palavra
CulturaCasa das Rosas, espaço para a poesia e a literatura em São Paulo
EducaçãoO escritor Pedro Bandeira fala como os pais podem estimular o hábito da leitura entre os filhos
conteúdofinanceiro
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29ArtigosAquiles DinizPlanos Econômicos
Jairo SaddiCrédito
Dorival Dourado Crédito2
Igor Tamasauskas ePierpaolo BottiniAnticorrupção
Alberto Borges MatiasAnálise e Perspectiva
Nicola Tingas Palavra Final
3março 2014 financeiro
expediente
ISSN 1809-8843
Publicação da acrefi – associação Nacional das instituições de crédito, financiamento e investimentorua Libero Badaró, 425 – 28°andar – São Paulo – SP
Tel: (11) 3107-7177 fax: (11) 3106-6082 – www.acrefi.org.br
PresidenteÉrico Sodré Quirino Ferreira
Vice-presidentesAquiles Diniz, Carlos Alberto Samogin, Claudio Messias Ferro, Décio Carbonari de Almeida, Élcio Azevedo, Felicitas Renner e
Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa
TesoureiroAlexandre Teixeira
Diretores regionaisJosé Agnelo Seger, Leonardo Dadauto, Luiz Carlos do Nascimento, Paulo Dalla Nora, Paulo Henrique Pentagna Guimarães, Pedro da Costa Carvalho e
Sebastião Cunha
Diretores executivosJoão dos Santos Caritá Júnior e Rubens Bution
MontadorasEdson Froes, Edson Ueda, Eduardo Varella, Gunnar Murilo, Joelcyr Carmello e Nelson Aguiar
Diretores conselheirosJosé Carlos Alves e Victor Loyola
conselho consultivoAlkindar de Toledo, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon (membros natos); Décio Carbonari de Almeida, Flávio Antonio Meneghetti, Ilídio
Gonçalves dos Santos, Miguel José Ribeiro de Oliveira, Ricardo Loureiro e Rogério Pinto Coelho Amato (membros)
conselho fiscalDomingos Spina e Sérgio Darcy (efetivos), Geraldo Lima Wandalsen e Marcus André de Oliveira (suplentes)
Diretor superintendenteAntonio Augusto de Almeida Leite (Pancho)
controllerCarlos Alberto Marcondes Machado
consultora JurídicaLívia Esteves
economista-chefeNicola Tingas
auditoriaDeloitte Touche Tohmatsu
assessoria contábilAG Silveira Contabilidade
assessoria de imprensaTamer Comunicação Empresarial
av. Brigadeiro faria Lima, 1912, cj. 12b - Jardim Paulistano - São Paulo - SP Tel.: (55.11) 3031.2388 - ceP: 01451-000 – www.tamer.com.br
Publisher Sergio Tamer
redaçãoeditores
Theo Carnier e Gilberto de Almeida
editor assistenteGustavo Girotto
repórteresEliane Santos, Elisa Polonio, Evandro Ribeiro, Geyse Alencar e Liliana Liberato
fotografiaRégis Filho e Gabriel Kosman
arteMoacyr MW, Rafael Pascoal e Evaldo Bragança
revisorVicente dos Anjos
impressãoEskenazi Gráfica
4 financeiro março 2014
O ano começou sob o espectro de incertezas
e previsões de marasmo na economia, tendo em
vista principalmente a Copa do Mundo que teremos
em breve e as eleições de outubro. Os primeiros
meses mostraram, no entanto, que os negócios
estão mais aquecidos do que se previa, o que levou
a questionamentos: será que as estimativas foram
pessimistas demais? A economia brasileira criou
resiliência suficiente para se manter ativa em que
pesem as expectativas pessimistas?
As respostas a essas questões nos remetem à
figura do “copo meio cheio, copo meio vazio”. Em
outras palavras, as diferentes situações podem ser
vistas de um ponto de vista pessimista ou de uma
perspectiva otimista, a depender do viés que dire-
ciona essas visões.
Sob essa óptica, é possível dizer que, sim, o
copo está “meio vazio” já que o Brasil enfrenta um
período de grandes desafios e a economia certa-
mente sente os efeitos desse cenário, ao qual se
somam eventos do porte da Copa do Mundo e das
eleições, que têm potencial de “paralisar” par-
cialmente o País por um período. Mas, ao mesmo
tempo, há também sinais positivos – o copo “meio
cheio” –, que nos animam a tocar nossos negócios
e renovar a esperança de dias melhores.
Um exemplo que nos leva a considerar que o
copo está “meio cheio” foi o anúncio, pelo governo,
da meta de alcançar superávit primário equivalente
a 1,9% do PIB este ano. Trata-se de uma iniciativa
mais do que bem-vinda, principalmente por se
tratar de uma sinalização de que o governo está
empenhado em melhorar a situação fiscal. Claro
que há alguns reparos e que a desconfiança dos
agentes econômicos ainda não está totalmente dis-
Copo meio cheio, meio vazio
Érico Sodré Quirino Ferreira, Presidente da Acrefi
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editorial
sipada, mas não há dúvidas de que foi um passo na direção correta.
Da mesma forma, foi muito bem recebida a decisão da presidente Dilma
Rousseff de comparecer, nos primeiros meses deste ano, a eventos como
a reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e ao encontro do
Mercosul com a União Europeia, em Bruxelas. Foi outra sinalização importante,
que mostrou na prática a disposição do governo de se abrir mais para o mundo
de uma maneira estrategicamente correta.
Há outras indicações de que o governo está disposto a adotar as medidas
necessárias para reforçar a confiança do empresariado nos rumos da política
econômica, entre as quais destacam-se a prioridade do combate à inflação
(com a elevação dos juros básicos mesmo em um ano eleitoral) e a aproxima-
ção mais estreita com o Congresso para evitar que se leve o País a viver uma
indesejável “farra fiscal”.
Evidente que essas posturas, mesmo que positivas, estão longe de eliminar
focos de apreensão com o comportamento da economia (o copo “meio vazio”).
Mesmo levando em conta essas incertezas, no entanto, o panorama está longe
de ser desalentador. Temos motivos para continuar apreensivos, mas temos
também fatos que nos levam a pender para o otimismo. Pode-se até considerar
que o copo está meio vazio, mas parece haver ainda mais razões para que se
veja que o copo está meio cheio. O que não pode haver é paralisia. Mas quem
vive na economia brasileira sabe muito bem que é preciso ser dinâmico e que
se deve trabalhar sempre com muito otimismo.
5março 2014 financeiro
nossasassociadas
ACFI - Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A.
Agiplan Financeira S.A. CFI
Banco A.J. Renner S.A.
Banco Bonsucesso S.A.
Banco Bradesco Financiamentos S.A.
Banco Cacique S.A.
Banco Carrefour S.A.
Banco Cifra S.A.
Banco Citibank S.A.
Banco Citicard S.A.
Banco CNH Capital
Banco Daycoval S.A.
Banco De Lage Landen Financial Services Brasil S.A.
Banco do Brasil S.A.
Banco Ficsa S.A.
Banco Fidis S.A.
Banco Gerador S.A.
Banco GMAC S.A.
Banco Honda S.A.
Banco Intermedium S.A.
Banco Itaú S.A.
Banco Itaucard S.A.
Banco Panamericano S.A.
Banco PSA Finance Brasil S.A.
Banco Rodobens S.A.
Banco Safra S.A.
Banco Santander Brasil S.A.
Banco Semear S.A.
Banco Toyota do Brasil S.A.
Banco Volkswagen S.A.
Banco Yamaha Motor do Brasil S.A.
Banif Banco Internacional do Funchal (Brasil) S.A.
BMW Financeira S.A. CFI
BV Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Caixa Econômica Federal
Caruana S.A. Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento
Cetelem Brasil S.A - Crédito, Financiamento e Investimento
Cred Capixaba S/A Soc. Crédito, Financiamento e Investimento
Credifibra S/A CFI
Dacasa Financeira S.A. - Socied. de Crédito, Financiamento e Investimento
Finamax S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Financeira Alfa S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos
Financeira BRB
Herval Financeira S.A. CFI
HSBC Bank Brasil S.A. Banco Múltiplo
Kredilig S/A Crédito, Financiamento e Investimento
Lecca Crédito, Financiamento e Investimento S.A.
Mercantil do Brasil Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos
Midway S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Múltipla CFI S/A
Negresco S/A Crédito, Financiamento e Investimentos
Omni S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Parati Crédito Financiamento e Investimento S.A.
Pernambucanas Financiadora S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Portocred S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Portoseg S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Santana S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Sax S.A. Crédito, Financiamento e Investimento
Socinal S.A. Crédito, Financiamento e Investimento
Sorocred Crédito, Financiamento e Investimento S.A.
Sul Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Todescredi S/A - Crédito, Financiamento e Investimento
6 financeiro março 2014
7março 2014 financeiro
entrevistadomês
“O homem nasceu para o ócio!”Há tempos Antonio Delfim Netto deixou de ser ministro, deputado federal e professor da USP. Mas ele é um caso clássico de rei que não perdeu a majestade: continua trabalhando a pleno vapor em um casarão no Pacaembu, bairro nobre de São Paulo, e sua palavra é considerada uma das mais acuradas na análise do Brasil. Foi em seu escritório que Delfim recebeu a revista “Financeiro” para uma conversa em que, bem ao seu estilo mordaz, falou praticamente sobre tudo relacionado à economia e à política.
Revista Financeiro: Os dados da economia sinalizam que o Brasil vive uma intitulada ‘recessão técnica’ em 2014. O que o governo deveria fazer para recuperar a confiança dos agentes econômicos?Delfim Netto - Na verdade não sei se estamos em uma re-cessão técnica. Ainda é preciso esperar um pouco mais para avaliar. No fundo, é uma convenção imaginar que dois trimes-tres negativos constituem uma recessão. É uma coisa desagra-dável, mas não é nenhuma tragédia e a recuperação é possível. Acho que hoje realmente há uma grande desconfiança entre o setor empresarial privado e governo, que foi construída ao lon-go de três ou quatro anos – por incompreensão dos dois lados. Quando o governo fez as intervenções no setor elétrico, depois nos portos e o fracasso dos leilões de concessão, deu a im-pressão que ele [governo] era contra o lucro, ou seja, no fundo também o setor privado entendeu que a modicidade tarifária sinalizava um lucro zero. O setor privado ficou horrorizado com o governo que, por sua vez, também ficou horrorizado com o setor privado – que o considerou um bando de egoístas. Foi um erro de comunicação!
Financeiro - Mas o senhor acredita que controle tarifário ou essa intervenção são necessários?Delfim Netto - Modicidade tarifária ou controle são neces-sários em qualquer concessão. Porque a concessão transfere o monopólio público para o privado. Nós sabemos que o mono-pólio do governo é frouxo. Já o monopólio privado é cruel mes-mo e, quando você transfere o público para o privado, é preciso manter a integridade de contratos bem elaborados. É neces-sário manter a estabilidade financeira do contrato e, para isso, é preciso de agências que não sejam aparelhadas por compa-nheiros de passeata, mas, por gente absolutamente compe-tente. São instituições de Estado e não do governo de plantão. Como o aparelhamento dessas agências não foi da melhor qualidade, não se deu muita confiança; acabaram cortando-se verbas de funcionamento. Daí o setor privado percebeu que os projetos não são de boa qualidade, não têm garantias de que emergências sejam levadas em conta no equilíbrio econômico
Por Theo Carnier e Gustavo Girotto
Fotos: Régis Filho
8 financeiro março 2014
e financeiro do contrato, e ele respondeu: não vamos entrar nesse negócio. Essa é a opinião deles! Por ou-tro lado, o governo entendeu que a forma de fazer estava correta, mas o método de como fazer, não. Nesse sistema você pode fixar prioridades, exemplo: eu quero uma AutoBan no estilo alemão, por 25 anos, que vai atender ao aumento da demanda de tráfego e, depois do tempo concedido, você vai me devolver intacta e atendendo a toda a demanda – só que é pre-ciso ter um projeto correto. Para que isso ocorra, é preciso atrair um número viável de competidores e decidir quem vai ganhar por meio de um leilão, que foi onde a teoria eco-nômica mais avançou. Não é coisa de amador, é coisa de profissional e o go-verno demorou para entender.
Financeiro - Então, qual a saída honrosa para esse imbróglio entre público e privado?Delfim Netto - No início, quando o governo fixava a taxa de retorno, a resposta do setor privado era: “com essa taxa de retorno é somente essa porcaria que eu lhe posso apresen-tar”. Felizmente isso foi superado no ano passado, na segunda metade do ano, e graças a uma intervenção dos Ministros Gleisi Hoffmann, Guido Mantega e César Borges, isso foi su-perado.
Financeiro - Empresários e investi-dores reclamam que não conseguem ver um horizonte de longo prazo na política econômica. Qual é a sua opi-nião sobre isso?Delfim Netto - O que qualquer país deseja? O nosso, está na nossa Cons-tituição: queremos uma república, uma democracia em que a igualdade de oportunidades continue crescendo. Ela [constitui-ção] diz que basicamente faremos isso através dos mercados, do uso dos mercados. Eles são constru-ções humanas, não foram inventadas por ninguém, é uma forma de conciliar objetivos contraditórios. O homem deseja liberdade, igualdade, e precisa de eficiência produtiva, por quê? O homem não nasceu para produzir, nasceu para o ócio! Quanto mais efi-ciente ele for em produção, mais tempo terá para ser homem e realizar sua humanidade. O homem saiu da África há 140 mil anos e foi procurando uma for-
ma de organização que combinasse esses três objetivos não combináveis, que são contraditórios, e o mercado é o pior de todos os sistemas – tirando todos os outros. Cada vez que um cérebro peregrino inventou um curto-circuito, terminou na Rússia, na China no Pol Pot (revolucionário comunista que liderou o Khmer Vermelho, governante do Camboja, responsável pelo genocídio cambojano), o que acontece? É um processo de evolução quase natural. Esse sistema que está vai continuar, ele nunca é permanente. O capitalismo não é uma coisa, é um processo histórico, que vai passar por que o homem continuará procurando organizações capazes de produzir esses valores de forma razoável. Quando não há perspecti-vas, é por que nós mesmos as destruímos. Esse desentendimento entre o setor empresarial privado e o governo criou uma dúvida muito grande e, mais, os fa-
tos ocorridos em que você teve uma inclusão social muito importante criaram uma diferença do que pen-sa esse setor empresarial e os que foram beneficiados nesse processo distributivo.
Financeiro - O senhor falou do problema nas tarifas públicas, mas um exemplo foram as de ônibus, vis-tas pela sociedade como um dispo-sitivo arbitrário?Delfim Netto - Isso tudo é uma incompreensão, pois as pessoas querem coisas gratuitas. A gratuida-de só pode ser para o indivíduo, pois para sociedade não há nada gratui-to. Eu sempre dizia ao Montoro (An-dré Franco Montoro, governador de São Paulo falecido em 1999), que foi meu professor de Direito Privado e grande amigo, que esse negócio de colocar nos ônibus “Transporte: um direito do cidadão e um dever do Estado” estava errado. Transporte é um direito do Pedro, pago pelo Má-rio. Para a sociedade não tem lanche grátis, para um indivíduo até pode ter. Quando você faz um movimento como esse, é preciso decidir. Ou põe
no tesouro e aumenta impostos e todos pagam para o João andar de graça, ou o mesmo João terá que pagar. Os dois sistemas são eticamente discutíveis, mas é mais razoável o João pagar, do que todos pagarem para o João.
Financeiro - Alguns economistas afirmam que a inflação subirá ainda mais nos meses da Copa do Mundo. O senhor também tem falado que o brasileiro pre-cisa começar a pagar o preço real da energia, dos combustíveis e do transporte. O que falta para isso acontecer? Delfim Netto - Isso significa que a inflação dará um pulo e voltará ao nor-mal. Se tivéssemos uma indexação plena seria muito grave. O que quer dizer: no mês de julho explodiria, em agosto subiriam todos os salários, mas já não é mais
9março 2014 financeiro
entrevistadomês
“Não importa se você nasceu em uma família rica ou se foi fabricado em uma noite no Museu do Ipiranga. Depois de concebido você precisa ter direito à saúde e à educação.”
Financeiro - O senhor acredita que o Brasil será um país desenvolvido?Delfim Netto - É claro que chega, o Brasil melhorou dramaticamente, não va-mos ter ilusão. Pergunto: por que a Dilma tem 47% de aprovação? Se ela fosse ter voto na classe empresarial privada teria 2%. São dois mundos distintos e é aquilo que o jornalista Elio Gaspari chama, com muita graça, de “andar de bai-xo”. O andar de baixo melhorou demais, não só em ascensão econômica e social, ele mudou sua forma de pensar. Quando você vê uma empregada doméstica se sacrificando para educar seus filhos, é por que ela entendeu que só existe um mecanismo de ascensão social que, como sempre digo – é o pior de todos, com exceção de todas as outras, que é a educação. Esse mundo está mudando, criou--se uma classe média importante – que hoje constitui um mercado que dá su-porte para o crescimento. Ou entendemos isso, ou não vamos para lugar algum. Quando o sujeito melhora, principalmente em educação, ele quer mais. Tudo isso – esses movimentos na rua – tem gosto de quero mais. O que acontece? Vai mes-mo mudar a estrutura de poder, não tem remédio. Isso tudo é um aperfeiçoamen-to do processo. O governo escolheu mal as prioridades! As pessoas entenderam,
porque estão mais educadas, que com o mesmo cimento e ferro que se constroem um estádio, também se faz um metrô e um hospital. Isso é um progresso espetacular e que vai ter consequências...
Financeiro - Até que ponto lhe preocupa a economia do País da forma como está sendo conduzida?Delfim Netto - Não há nenhuma indicação do ponto de vista social de que estamos piorando, mas do pon-to de vista econômico nossa situação é desconfortável, embora não estejamos às vésperas de um apocalipse, ele não está na esquina. O déficit público é alto, em tor-no de 58% do PIB. Ele é muito maior que o dos países emergentes, com nosso nível de renda. 60% maior pra-ticamente! Mas por que ele é desconfortável? Primeiro porque exige mais juros, porque ele valoriza o câmbio e a demanda excedente produz uma porção de proble-mas. A maior importância é que se houver uma crise de verdade, e você tiver que usar outra vez uma política pública em um sistema anticíclico, não há mais espaço. É uma coisa devastadora? Não! Nos últimos 10 anos, praticamente, a relação dívida bruta PIB ficou constante. Mesmo com todos os erros do governo em 2002, aquela
cooperação brutal de alquimia, os erros de previsão do governo em relação a ter um superávit primário de 2,5%, depois baixa para 1,9%, em seguida 1,5%. Ou seja, não causamos nenhum desastre. O déficit público também cresceu um pouquinho agora no final, mas está em torno de 3 a 3,5%, o que é perfeitamente razoável quando o País cresce. Ela é desconfortável sim, mas não produz uma tragédia. O que produz um efeito muito ruim é a acumulação dessas armas de destruição de política fiscal que estão acumuladas no Congresso...
Financeiro - O Senado disse na grande imprensa que começou a se movi-mentar contra a chamada “contabilidade criativa” nas contas públicas. O que de prático pode ser feito?Delfim Netto - O governo abdicou disso. A visita da Dilma a Davos e à União Europeia significa uma mudança profunda no comportamento do governo. A reu-nião do ministro Guido Mantega com analistas financeiros mostra que o governo Dilma se comprometeu a fazer um superávit primário de 1,9%. Que é mais que o
assim... Essas posições, digamos, do Ministério da Justiça, de que você tem que tabelar, não funcionam. Ela é até demonstrável fisicamente, um exemplo é aqui em São Paulo e nós assistimos isso. Um bom programa do atual prefeito convenceu alguns con-sumidores de crack a trabalhar – deram uniforme, um pouco de instrução, eles trabalharam e no fim de semana receberam uma ‘graninha’. No dia seguinte, o preço do crack tinha dobrado. Por que isso? Por-que a oferta não tinha se preparado para o aumento de demanda. O que parece é que estamos iludidos sobre a possibilidade de fazermos algumas coisas e esquecemos que o politicamente correto é o fisica-mente impossível.
Financeiro - O que o senhor acha que vai aconte-cer durante a Copa?Delfim Netto - O povão vai as-sistir à Copa de casa, dos bares. No estádio é para gringos e uma minoria que tem renda, mas eu pergunto: há outra saída? Não! Se não existisse televisão seria algo brutal, pois o povão que pagou teria que ficar chupando o dedo do lado de fora dos estádios para ouvir se era tiro ou gol. O avanço tecnológico acalma um pouco com a injustiça desse processo, mas, de qualquer forma, o que esta-mos com dificuldade de entender é que esse sistema que está aí não foi inventado por ninguém. Ele é um sistema muito eficiente para alocação dos fatores, mas ele tem defeitos: é muito competitivo, cria desigualdades. Por isso que na Constituição diz “igualdade de oportunidades”, ou seja, nessa cor-rida – que é o sistema – todo mundo precisa sair do mesmo lugar. A justiça é na saída, não na chegada. Não importa se você nasceu em uma família muito rica ou se foi fabricado em uma noite de sábado, no Museu do Ipiranga. Depois de concebido você preci-sa ter direito à saúde e à educação – para o ponto de partida, ou seja, precisa ser equivalente àquele que nasceu em berço de ouro. Sua chegada dependerá de sua sorte, do seu DNA, mas o importante é que você tenha o mesmo ponto de partida. É por isso que a Constituição Brasileira tem um negócio, que parece utópico, como “saúde e educação universais e gratuitas”. O Brasil não possui nenhuma das duas, mas esse é um objetivo absolutamente importante para produzir igualdades e oportunidades.
10 financeiro março 2014
suficiente para reduzir ligeiramente a dívida públi-ca e mantê-la sob controle. No fundo não podemos dar nenhuma demonstração de que não estamos cuidando, de forma absoluta, do equilíbrio fiscal. Estamos sob ameaça de uma redução do nosso ra-ting e, nesse momento, isso seria uma tragédia...
Financeiro - O senhor falou da importância de a presidente Dilma ter ido a Davos e a Bruxelas. Mas o Brasil não está cometendo erros estratégicos em sua política internacional? Delfim Netto - Nós apostamos no Atlântico Sul, que hoje é um cemitério. O Atlântico Sul, atualmen-te, somos apenas nós e a África. Nós precisamos re-novar esse sistema e nos ligar ao mundo outra vez. Perdemos aquela ousadia que tivemos no passado, de ampliar as exportações e fazer um trabalho de verdade. Basta ver o seguinte: de 1981 a 1984, Bra-sil, Coreia do Sul e China exportavam a mesma coi-sa, 1,2% das exportações do mundo. Hoje, o Brasil exporta 1,3%, a Coreia 3,5% e a China, 12%.
Financeiro - Por que a inflação está desde 2008 no nível de 6% ao ano?Delfim Netto - Cada vez que você tem meta inflacionária com banda, o Ban-co Central namora com a banda de cima. E não é só no Brasil. Mas é preciso lembrar que esse processo de valorização excessiva do câmbio foi feito com um enorme aumento do salário nominal e com uma enorme compressão do câmbio nominal. Isso tinha que desabar em algum lugar – ou em inflação ou em déficit de contas-correntes. A inflação de 5%, 6% ao ano não é nada trágico. Ela não vai explodir, não vai acontecer nada. Mas ela é desagradável, é o dobro do nível de muitos dos nossos competidores. Mas não tem nada dessa história de que a inflação vai explodir, vai voltar a níveis de 30 anos atrás.
Financeiro - Então, por que a inflação se mantém nesse nível?Delfim Netto - A rigor, nunca terminamos o Plano Real. Nunca fizemos o ajuste necessário da política fiscal. Todos os governos depois de 1988 se recu-saram a ajustar as finanças públicas às exigências da Constituição, que perse-gue o tempo todo o vetor de igualdade de oportunidades. Financeiro - O panorama externo parece estar melhorando, com a retomada dos Estados Unidos. O Brasil não ganha com isso? Delfim Netto - O Brasil vai se beneficiar sim. Somos parte do mundo, e te-mos os ônus e os bônus de fazer parte do mundo. O grande problema hoje é a Argentina, principalmente para a indústria automobilística brasileira. Se você não achar um mecanismo para ajustar isso, só esse problema já vai tomar mais ou menos 0,5% do PIB brasileiro este ano.
Financeiro - O que falta para o Brasil liderar esse bloco do Mercosul?Delfim Netto - Na verdade isso não é um bloco. É uma mixórdia. O Mer-cosul teve um papel muito importante, foi um fator decisivo para eliminar a maior tensão entre Brasil e Argentina, uma tensão militar enorme. Mas hoje não tem mais. O Mercosul não é um mal em si. Ele nunca deveria ter sido o que foi, deveria ter sido um tratado de livre comércio, eliminar as tarifas entre nós e cada um levar sua vida.
Financeiro - Os acordos bilaterais do Brasil não são lá algo para se orgulhar...Delfim Netto - Temos três acordos bilaterais e quando se olha para eles é fácil ver o ridículo: com o Egito, com a Autoridade Palestina e com Israel. Fica claro que o Brasil não entendeu as mudanças do sistema produtivo que ocorreram a partir de 2002. Ninguém mais produz tudo sozinho.
Financeiro - Como foi essa mudança do sistema produtivo?Delfim Netto - Você pega, por exemplo, uma ca-neta. A tinta é produzida na Indonésia, a ponta na China, o plástico nos Estados Unidos. A caneta é apenas montada na China. Jogamos fora três coisas que tínhamos, fora um câmbio relativamente des-valorizado, um sistema em que crescia o valor adi-cionado e um sistema de draw back verde-amarelo que permitia a importação de praticamente tudo o que você quisesse importar. O Brasil não foi per-seguido por ninguém, foi perseguido por si mesmo.
Financeiro - A presidente Dilma é favorita nas pesquisas para vencer as próximas eleições presi-denciais. O senhor considera que, se ela for real-mente eleita, a tendência é de mudanças estrutu-rais na política econômica?Delfim Netto - A mudança já está acontecendo sob os nossos olhos. Obviamente demorou para se entender o processo, mas está acontecendo. Nin-guém pode insistir no que não deu certo.
11março 2014 financeiro
dade de ação e condições isonômicas para funcionar. Agora, está-se começando a entregar de volta as condições isonômicas. Destruímos a infraestrutu-ra do Brasil nos últimos 30 anos. Não houve inves-timento. Quando o Brasil crescia, a carga tributária era de 24% do PIB e o investimento do governo era 5% do PIB. Hoje, a carga é 36% e o investimento não chega a 2%.
Financeiro -No começo do governo Dilma, a pre-sidente deu sinalizações que foram elogiadas por economistas. Depois, é que mudou, o que aconteceu?Delfim Netto - Quando assumiu, a presidente fez o que era correto, por que estávamos em uma expansão que era insustentável. Depois, acho que o governo errou, ela teve que corrigir. Agora, não pre-cisava ter desenvolvido essa diferença entre o setor empresarial privado e o governo. Isso foi criado pelo próprio governo. Durante anos, o que ele queria era taxa de retorno que produzisse modicidade tarifária. O objetivo era absolutamente legítimo, só que a di-retriz era absolutamente errada. Demorou até que as coisas andassem. Voltamos ao problema: quando você tem duas variáveis ligadas, é preciso fixar uma, outra sai da ligação. Nesse caso você tinha duas va-riáveis, que eram a taxa de retorno e a qualidade do investimento. Agora, isso está superado. Veja o leilão de Libra. Alguns dizem que foi um fracasso. Fracasso coisa nenhuma: aconteceu exatamente o que o go-verno gostaria que acontecesse.
Financeiro - Por que o senhor avalia que o leilão de Libra foi um sucesso?Delfim Netto - É simples. Alguém pode imaginar, quando se coloca a Petrobras no meio de um leilão desses, e é obrigatório ela ter 30% de qualquer um dos projetos e escolhe alguns dos parceiros, que al-guém vai entrar contra o consórcio? Só se for louco, porque vai ser vítima da maldição do vencedor. A Pe-trobras sabe muito, muito mais sobre nossa geologia do que todos os outros juntos. Cometeram-se muito erros em relação à Petrobras, mas está sendo feita agora uma arrumação. Tenho admiração pela presi-dente da Petrobras, Maria das Graças Forster. Ela é correta, honesta, não fala uma mentira. A Petrobras é uma instituição de alta qualidade. A política de pre-ços do Executivo é que foi um equívoco. Financeiro - O senhor critica muito essa política de preços de combustíveis. Delfim Netto - Não se poderia fazer uma políti-ca dessas sob a justificativa de ganhar alguns pon-tinhos na inflação. Ora, não ganha esses pontinhos. Ninguém consegue, com truques, baixar a inflação.
Financeiro - Se o senhor tivesse que sugerir medidas microeconômicas, quais seriam suas sugestões?Delfim Netto - Não tem que sugerir nada. O Brasil tem pouca sugestão e pouca “fazeção”.
Financeiro - O senhor tem uma ligação muito próxima com a presidente...Delfim Netto - Não tem nada isso. Por acaso você acredita na imprensa? Isso é um mito. Tenho grande admiração pela presidente Dilma. Acho que ela é pro-fundamente correta, tem uma extraordinária boa vontade, com ideias muito fir-mes, faz tudo certo, de maneira errada.
Financeiro - O que falta para fazer da maneira certa?Delfim Netto - No fundo é uma angústia de fazer depressa.
Financeiro - É uma questão de personalidade, de formação?Delfim Netto - Não acredito. Veja a questão da energia, em que ela fez tudo certo, não houve violação nenhuma de contrato. Três empresas não aceitaram e tinham o direito de não aceitar. Mas a execução... é claro que ficaram uma porção de problemas no meio do caminho e agora, ainda por cima, o clima não ajuda. Mas não tenha dúvida de que a baixa do custo de energia era fundamental e infe-lizmente não aconteceu. Financeiro - Ministro, o Copom marcou duas reuniões para o período pós-eleição, o que é raro. O senhor enxerga alguma intenção de elevar os juros nessa decisão?Delfim Netto - Não, não tem nada a ver. O Copom sinalizou que vai continuar mantendo seu calendário, de reuniões a cada 45 dias. O Brasil está em condições normais de pressão e temperatura.
Financeiro - O senhor considera que será melhor se a presidente Dilma for reeleita?Delfim Netto - Eu confio na presidente Dilma. Ela tem muito boas intenções, tem disposição. Essas últimas manifestações dela estão na direção correta. É só verificar, por exemplo, que no segundo semestre de 2013 correram muito bem as concessões. Há uma compreensão muito maior do setor privado sobre ela e dela em relação ao setor privado.
Financeiro - Mas parece que a compreensão está em estágio muito inicial. E há a base aliada no Congresso.Delfim Netto - Só quem está sentado lá, naquela cadeira da presidência, é que sabe. E existe uma verdade, os inimigos estão sempre dentro de casa. Os inimi-gos que estão fora de casa não trazem nenhuma amolação. Financeiro - Em relação à balança comercial, como fica a situação do Brasil?Delfim Netto - Essa foi uma escolha nossa. Agora, a exportação do agronegó-cio não é um mal. Pelo contrário, é um grande bem. Mal foi termos abandonado a indústria. O agronegócio resistiu aos erros do governo. Resistiu, por exemplo, ao erro de não se corrigir o preço do petróleo, que destruiu o setor de etanol, acabou com o biodiesel, e não aproveitou até agora toda a energia que está acumulada nas usinas de São Paulo, que são maiores que a de uma hidrelétrica. E, além disso, tem custo muito pequeno porque basta ligar na rede.
Financeiro - O senhor tem dito que o brasileiro precisa pagar os preços das coisas, como combustível, energia...Delfim Netto - Você tem que respeitar o sistema de preços. Queremos liber-
entrevistadomês
12 financeiro março 2014
“O mais humilde cidadão entendeu que só há um mecanismo de ascensão social, a educação.”
Você apenas transfere a data em que a inflação vai aparecer. O velho Eugenio Gudin dizia uma coisa muito boa sobre isso: inflação é igual gravidez; um dia, inexoravelmente, ela aparece. Então, vai ter que enfrentá-la em 2015, 2017, quando for. Não valeu a pena gastar mais de 1% do PIB para econo-mizar, talvez, 0,1% de inflação ao longo de quatro ou cinco anos.
Financeiro - Onde foi o maior erro?Delfim Netto - Foi um erro de avaliação. Não é só um problema da Petrobras. É uma questão tam-bém do que fizemos com a energia alternativa. Nós jogamos fora uma ideia. O etanol é uma invenção praticamente brasileira, a tecnologia do etanol, a tecnologia do flex fuel, é tudo nacional. Causamos prejuízos monumentais a investidores que acredi-taram no governo. Já fizemos isso com o Proálcool no passado. A verdade é que o empresário, apesar de tudo o que se diz dele, não resiste à tentação de tentar de novo.
Financeiro - Qual é a sua previsão para crescimento do PIB em 2014?Delfim Netto - Acho que em 2014 teremos crescimento abaixo de 2%. É um ano de transição. Espero que o acordo fiscal feito pela presidente junto com o Congresso funcione, e que o Congresso não vote nenhum aumento de despesa e nenhuma redução de receita. É dar tempo para que não se perca o nível de rating e para que, depois da eleição – haja o que houver, ganhe quem ganhar – se ponha um ponto final em tudo isso. Vai ter que, de fato, construir uma so-ciedade em que a liberdade de iniciativa seja mais plena, em que a intervenção econômica seja menor, e assim por diante. Mas eu insisto: o Brasil não está à beira de um precipício, não está para enfrentar o apocalipse.
Financeiro - O Brasil caminha para se tornar um país desenvolvido?Delfim Netto - Não tenho a menor dúvida. Estamos caminhando obviamen-te para ter uma sociedade mais civilizada. A despeito de tudo o que acontece na rua, o processo civilizatório está em marcha, a ascensão social é visível. O mais humilde cidadão entendeu que só há um mecanismo de ascensão social, a educação. Isso é uma mudança muito profunda, que está funcionando. Só o Estado de São Paulo tem hoje mais de 400 universidades. Não são iguais à USP, nem ao MIT, mas representam um upgrade fundamental. Financeiro - As pesquisas mostram que o brasileiro quer mudanças na pró-xima eleição, mas com Dilma no governo.Delfim Netto - A presidente Dilma tem a confiança do andar de baixo. O nosso sistema é um jogo dialético, entre a urna e o mercado. Quando o merca-do exagera em seu economicismo, a urna vem e corrige. E quando a urna exa-gera em seu otimismo, o mercado vem e corrige. O tempo para essa correção é que é o problema. Não chegou o momento ainda. A urna ainda vai falar: “Eu quero esse processo distributivo feito de forma mais inteligente”. É isso que a oposição não está entendendo. O sentimento é “não quero a volta ao passado, quero isso que está aí, só que mais bem feito”.
Financeiro - Se a presidente Dilma realmente vencer, ela terá logo que dar um choque, trocar talvez um ministro, não é?Delfim Netto - Nesse negócio de choque, nem a Eletrobras funciona. Mas, acho irrelevante discutir troca de ministros. Pelo contrário, acho Guido Mante-ga um bom ministro. Repito, o importante é o que a urna está dizendo: “Presi-dente Dilma, um pouco mais, mas com menos”.
Financeiro - Falando sobre o setor automobilístico, ele é motivo de pre-ocupação nos últimos tempos. O senhor acha necessário um mecanismo de crédito para esse setor.Delfim Netto - O setor está muito bem protegido. Tanto é verdade que te-mos 20 montadoras atualmente no País. O mais importante é que haja concor-rência. O grande problema do Brasil, o erro fundamental, foi criar oligopólios, a tal teoria de “vencedores globais”. É tudo empulhação, para a criação de oligo-pólios, que são menos voltados para a eficiência e exercem poder econômico descabido.
Financeiro - Mas a criação de oligopólio vem de anos, por exemplo, do “mi-lagre” econômico. Delfim Netto - Não, não. Você tinha câmbio razoável, tarifa razoável. Há oligopólios naturais. Ninguém produz, por exemplo, 150 toneladas de aço por dia. O que você não pode é construir a sociedade em cima dos oligopólios. Você fica muito vulnerável.
13março 2014 financeiro
redução da atividade econômica e impacto no
emprego e na renda.
Até que Supremo Tribunal Federal (STF)
julgue os processos, o cenário econômico bra-
sileiro ficará em suspense. Dependendo dessa
decisão, reflexos negativos surgirão nas áreas
fiscais e monetárias, tendo a mesma magni-
tude daquelas desencadeadas pelos mais
violentos choques externos, podendo levar à
insolvência instituições de porte.
Enfrentar ameaças à estabilidade da eco-
nomia no presente e no futuro faz parte do
jogo, mas, buscar no passado uma crise de-
sestabilizadora, é desmoralizar a sociedade.
Como constatou Pedro Malan, ministro da Fa-
zenda do governo Fernando Henrique Cardo-
so: “No Brasil até o passado é incerto”.
Caso os bancos sejam derrotados no jul-
gamento sobre a correção, o governo pode ser
levado a aumentar impostos ou criar novas
contribuições, é o que adverte a Advocacia-
-Geral da União (AGU). Nesse contexto, a União
terá que agir para garantir a estabilidade eco-
nômica, com a certeza de que os contribuintes
terão que arcar com esta conta.
Em 2000, o STF determinou a correção
dos saldos do FGTS em apenas dois planos e,
após aquela decisão, foi criada a multa de 10%
desse fundo para os casos de demissões sem
justa causa dos trabalhadores, para pagar os
correntistas beneficiados com essa decisão.
Esse cenário negativo faria desabar a
bolsa de valores e desvalorizar outros ativos
financeiros desses mesmos poupadores que
recorreram à justiça. Neste momento, o que o
Brasil mais precisa é de um choque positi-
vo de credibilidade, gerando estabilidade e
equilíbrio. Fazer o contrário é dar com os
burros n’água.
Fantasmas dos Planos Collor, Bresser e Verão
A hipótese de tirar o amparo constitucional das
leis, que deram sustentação jurídica aos planos
econômicos criados nas décadas de 1980 e 90 para
combater a inflação, representa um risco sistêmi-
co aos bancos públicos e privados e pode provocar
grande turbulência na economia brasileira.
Quase 400 mil ações questionam a correção mo-
netária e pedem ressarcimento por supostas per-
das na caderneta de poupança, já que as medidas
congelaram e tabelaram preços. As pessoas que en-
traram com ações individuais pedem que a correção
seja feita com base na inflação
medida pelo Índice de Preços
ao Consumidor (IPC). Entida-
des também ingressaram com
ações coletivas (ações civis pú-
blicas), que podem beneficiar
os poupadores que fazem parte
dessas ações.
Caso seja votada, a mu-
dança pode colocar em cheque
marcos regulatórios importan-
tes, com perda da segurança
jurídica e gerar descrédito in-
ternacional. Até mesmo o rating
do crédito soberano brasileiro
pode ser rebaixado, perdendo o
País o tão sonhado “investment
grade”. Com isso, o custo internacional aumenta e o
dólar dispara, dificultando a captação de recursos,
trazendo pressão inflacionária.
O prejuízo causado às instituições financeiras
pode chegar a R$ 150 bilhões, segundo estimativa
do Banco Central. O custo final, porém, com a ade-
são de novos poupadores animados com uma even-
tual vitória pode chegar a 600 bilhões de reais. Com
esse rombo, a oferta de crédito no Brasil diminuiria
em pelo menos nove vezes o valor perdido, cerca
de R$ 5 trilhões, e, consequentemente, haveria a
artigoplanoseconômicos
Aquiles Diniz:vice-presidente da
Acrefi
f
Por Aquiles Diniz
14 financeiro março 2014
Fantasmas dos Planos Collor, Bresser e Verão
15março 2014 financeiro
análisedemercado
Montadoras apostam no crédito
O crédito é a grande esperança da indústria auto-
mobilística para que 2014 seja um ano favorável ao
setor. Em um ambiente em que a produção deve cres-
cer 0,7%, na estimativa da Anfavea (a associação das
montadoras), e depois da queda de 0,9% nas vendas
em 2013, para 3,77 milhões de veículos novos – pri-
meiro recuo em 10 anos – a expectativa é de que o
financiamento de veículos impulsione os licenciamen-
tos em 1,1%, levando as vendas para um total de 3,81
milhões de unidades.
O presidente da Anfavea, Luiz Moan, não deixa dú-
vidas de que as esperanças das montadoras repou-
sam sobre um crescimento do crédito para compra de
veículos: “Tenho convicção de que em 2014 o estoque
de crédito vai aumentar entre 4% e 5%, representan-
do um estímulo para a nossa atividade”, prevê Moan.
Se a previsão se confirmar, as concessões deverão
superar R$ 180 bilhões este ano, já que somaram R$
173,3 bilhões em 2013, de acordo com levantamento
da Cetip.
Um dos motivos para o otimismo dos fabricantes
é a queda da inadimplência, que se mostrou consistente ao longo do ano passado
e deve ter comportamento semelhante em 2014. No ano passado, a inadimplência
dos compradores de veículos recuou para 5,2%, depois de registrar 6,4% em 2012,
de acordo com dados do Banco Central. Para Túlio Maciel, chefe do Departamento
Econômico do BC, o recuo da inadimplência deve continuar, em consequência de
fatores como educação financeira e aumento da renda, embora a queda deva ser
mais moderada este ano.
Assim, os financiamentos seriam a alternativa para que as vendas de veículos
tenham crescimento, compensando variáveis menos positivas para o setor, como
a redução do incentivo via IPI e a previsão de crescimento modesto (entre 1,5% e
2%) do PIB este ano.
As montadoras contam com esse aumento no volume de empréstimos tam-
bém para que se confirme a estimativa de produção na casa de 5 milhões de veí-
culos novos em 2018.
Os volumes de concessão de crédito para compra de veículos justificam essa
aposta das montadoras. O Banco Central constatou que o volume dessas opera-
ções para pessoas físicas cresceu de R$ 7,7 bilhões em janeiro do ano passado
para R$ 9,4 bilhões em dezembro (veja gráfico). Além disso, as taxas médias de
juros anuais nesses empréstimos, que chegaram a 21,6% em setembro, fecharam
o ano em 21,3%.
A perspectiva é positiva também para o financiamento de veículos usados. A
A expectativa é de que o financiamento de veículos impulsione os licenciamentos em 1,1%, levando as vendas para 3,81 milhões de unidades
16 financeiro março 2014
Fenauto (Federação Nacional das Associações de Re-
vendedores de Veículos Automotores) prevê que este
será o ano do carro usado. Com o IPI mais alto para os
carros zero quilômetro e a redução da inadimplência
(que deve resultar em maior flexibilidade na conces-
são de crédito), a entidade espera que as vendas cres-
çam entre 4,5% e 5% em 2014, o que significa algo
em torno de 13 milhões de unidades. Ao contrário do
que aconteceu com os novos, o segmento de usados
fechou 2013 com elevação das vendas: foram comer-
cializadas 12,4 milhões de unidades, total 4,7% acima
do registrado no ano anterior.
Para confirmar esse otimismo, 2014 começou
com números animadores: em janeiro foram ven-
didas 299.768 unidades (ou mais de 13.600 por dia,
incluindo automóveis e comerciais leves), recorde
para o mês e 1% mais do que em janeiro de 2013. É
certo que a maior parte desses carros foi fabricada
no ano passado, quando o IPI era menor e portanto
o preço era mais baixo. Mesmo assim, e apesar das
incertezas do cenário econômico e da renda do con-
sumidor, o mercado animou-se também com os da-
dos da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição
de Veículos Automotores), que reúne cerca de 7.600
concessionárias, segundo as quais foram emplaca-
dos 463.233 veículos em janeiro, em comparação a
456.068 unidades no mesmo mês do ano passado,
levando em conta todos os segmentos (automóveis,
comerciais leves, caminhões, ônibus, motocicletas e
implementos rodoviários).
Na avaliação de Aleciana Gusmão, técnica da co-
ordenação de serviços e comércio do IBGE, é preciso
lembrar as características do setor de veículos para
se chegar a uma conclusão mais acurada sobre as
tendências: “Os veículos são um bem durável, não se
troca de carro a toda hora. Além disso, o consumidor
foi se acostumando desde 2008 com a redução do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados). Dessa for-
ma, o efeito da medida foi se dissipando com o tempo”.
Ela ressalta também o quadro referente ao crédito
para a compra de veículos: “As condições de crédito
estão facilitadas, embora atualmente o período de fi-
nanciamento esteja menor e os juros estejam maiores
do que há alguns meses”.
Feitas as ressalvas, os dados mostraram que a
produção de veículos também trouxe indicadores po-
sitivos. Embora a indústria em geral tenha mostrado
desempenho negativo em dezembro do ano passado,
de acordo com dados do IBGE, divulgados em janei-
ro, a produção de veículos foi na con-
tramão, com crescimento de 7,2% no
ano, puxada principalmente por cami-
nhões e outros veículos de transporte
de mercadorias.
Estudos do Iedi (Instituto de Es-
tudos para o Desenvolvimento Indus-
trial) mostraram que o setor puxou a
alta da produção no ano passado. Se-
gundo os dados do instituto, a produ-
ção industrial cresceu 1,2% no perío-
do, e a atividade que puxou a expansão
foi a produção de veículos automoto-
res, graças ao aumento da produção,
na maioria, dos produtos pesquisados
no setor (63%).
Na expectativaNa análise de Letícia Costa, espe-
cialista no setor automotivo e Direto-
ra de Pós-Graduação Lato Sensu do
Insper, os indicadores referentes a
veículos deverão, este ano, ser semelhantes aos de
2013, tanto em produção quanto em vendas. “A pre-
visão é de que os volumes fiquem no mesmo nível do
ano passado, com pequena variação de 1% tanto para
cima como para baixo. A demanda não deverá crescer
acentuadamente, até porque o PIB também terá cres-
cimento modesto”.
A especialista recorda que o crédito vai continu-
ar exercendo papel fundamental no desempenho do
2014 começou com números animadores: em janeiro foram vendidas 299.768 unidades
Dados de setor de veículos em janeiro de 2014
de unidades vendidas
financiados fatia de financiados em relação aos vendidos
1,531 milhão
557.637 36,4%
17março 2014 financeiro
análisedemercado
f
setor este ano e lembra que a demanda por emprés-
timos não deve ser muito aquecida, em vista do nível
de endividamento das famílias, dos juros em alta e da
possibilidade de inflação elevada. No entanto, ela con-
sidera que os preços dos veículos não terão a alta pre-
vista pelas montadoras, até pela competição acirrada
para conquistar a preferência do consumidor.
Ela prevê também que em 2014 produção e ven-
das de veículos deverão “estar mais sincronizados”,
depois de, no ano passado, a produção ter crescido em
ritmo mais acelerado. Quanto aos resultados de janei-
ro, ela afirma que é preciso fazer uma análise cuida-
dosa já que o mês foi atípico, mas ressalta: “Este ano
será atípico, de maneira geral, e não apenas no setor
automobilístico. Teremos a Copa do Mundo e eleições
presidenciais, que se somarão a oscilações em geral
no quadro econômico”.
Na mesma linha, René Martinez, sócio da EY (anti-
ga Ernst & Young) especializado no mercado automo-
bilístico, enfatiza que, em vista dos grandes eventos
deste ano, as montadoras estão especialmente aten-
tas às margens e ao volume de vendas que esteja em
linha, entre outros pontos, com o “novo consumidor”,
ou seja, os compradores e potenciais consumidores
de veículos que ascenderam socialmente e que con-
tinuarão nessa trajetória nos próximos dez anos. “O
desejo do consumidor mudou nos últimos anos e vai
continuar mudando. Ele está mais atento a itens como
segurança, conforto e conectividade”, lembra Marti-
nez.
Nessa faixa, o financiamento é ainda mais impor-
tante para o setor, afirma o especialista: “O crédito é
fundamental para os carros de entrada e para os ve-
ículos médios. Como a renda das famílias está com
crescimento modesto e os juros subiram, será pre-
ciso que a indústria redobre sua atenção para aten-
der essa faixa sem perder rentabilidade”. Ele recorda
que os compradores desses veículos levam em conta
principalmente “se a prestação cabe no bolso”.
René Martinez acredita que as montadoras farão
um esforço nessa direção e que poderão ser bem-su-
cedidas: “O histórico da indústria é favorável. Mesmo
trabalhando com itens como alta carga tributária, o
Brasil se colocou em lugar de destaque no cenário au-
tomobilístico mundial”. Essa também é a avaliação de
Letícia Costa, do Insper, para quem, apesar de todas
as dificuldades, o mercado brasileiro ainda é relevan-
te para o setor automotivo global e continuará a atrair
Mais recursos para financiamentos
Concessões de crédito com recursos livres para pessoa física – R$ bilhões - 2013
jan julmar setmai novfev agoabr outjun dez
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
8.000
9.000
10.000
mais montadoras. Mesmo com essa atratividade, no entanto, o desafio do setor é
grande, segundo ela: “A indústria busca encontrar meios para voltar a ter cresci-
mento vigoroso no setor automotivo. Tivemos, em 2011 e em 2012, anos favoráveis
às montadoras, mas 2013 foi mais de acomodação. Para alcançar essa meta de
retomada vigorosa, entretanto, o grande desafio é aumentar a competitividade”.
Quanto às exportações, Letícia Costa aponta como principal incerteza a situa-
ção da Argentina, que viveu um início de ano agitado na área econômica, cujos des-
dobramentos ainda se observarão nos próximos meses. Pelo lado da importação,
na avaliação dela, o quadro é mais favorável para o setor automotivo, tendo em
vista o efeito cambial que tem levado à desvalorização do real em relação ao dólar.
No cenário externo, a especialista lembra que a economia dos Estados Unidos
deve manter a tendência de retomada econômica e que a Europa continuará dando
sinais de recuperação, o que torna a disputa por mercados ainda mais difícil: “O
desafio da indústria automobilística instalada no Brasil é ser mais competitiva. Isso
depende também da promoção de reformas macroeconômicas, que se reflitam no
mercado automobilístico”.
18 financeiro março 2014
artigocrédito
A criação do Fundo Garantidor de Créditos
(FGC) veio preencher uma lacuna da política
de saneamento do sistema financeiro. Por
meio da criação do “seguro depósito”, foram,
pela primeira vez, estabelecidos os limites da
proteção, permitindo assim uma nova etapa
no desenvolvimento financeiro nacional, muito
diferente da proteção que prevalecia à época
da reserva monetária, que, na Carta de 1988,
transformou o IOF num imposto arrecadatório
de transações financeiras. Ademais, a prote-
ção do depositante passou a ser custeada pe-
las próprias instituições, sem a utilização de
recursos públicos, como estava estabelecido
pelo texto constitucional (inciso VI do artigo
192), mais tarde alterado pela Emenda Cons-
titucional nº 40, de 29 de maio de 2003.
O FGC protege 99,73% de todos os deposi-
tantes brasileiros, pequenos e grandes inves-
tidores, com depósitos e investimentos em
conta-corrente, poupança, depósitos a prazo,
letras de câmbio, letras de crédito do agro-
negócio, letras imobiliárias, letras de crédito
imobiliário e letras hipotecárias, até o limite
da garantia ordinária, R$ 20 mil à época da
sua criação, e, hoje, R$ 250 mil por CPF.
Esse aumento de cobertura foi fundamen-
tal para o FGC cumprir seu papel, ainda que
não tenha havido aumento na contribuição
mensal das instituições financeiras, que se
mantém no percentual de 0,0125%, aplicado
sobre o montante dos saldos das contas cor-
respondentes aos objetos da garantia.
Três aspectos justificam o aumento. Pri-
meiro, dar maior segurança aos depositantes
e aos demais credores das instituições finan-
ceiras, alinhando esse valor aos limites prati-
cados em países de economias desenvolvidas.
Esse é o principal objetivo do FGC: facilitar a
estabilidade monetária à medida que reduz
impactos potenciais na base monetária decor-
rentes das quebras de instituições financeiras,
A importância do FGC e o aumento do limite de cobertura
Art
igo
envi
ado
em 0
5/02
/201
4
f
Jairo Saddimembro do Conselho de
Administração do FGC
Por Jairo Saddi
bem como dos efeitos da contaminação e da
propagação do pânico bancário em virtude
das corridas aos bancos.
Mas o aumento da cobertura também
permite uma competição mais eficiente entre
as instituições financeiras. Na ausência de
um sistema garantidor de créditos bancários,
instituições maiores tendem a ser avaliadas
como mais seguras; podendo ocorrer o mes-
mo com as mais antigas, ou, ainda, com insti-
tuições estrangeiras perante as nacionais. Na
presença de um sistema de garantia, os de-
positantes tendem a nivelar sua percepção de
risco, facilitando a distribuição de recursos e
agilizando a competição entre as instituições
financeiras.
Finalmente, os institutos garantidores de
depósitos protegem os depositantes, mor-
mente os pequenos, ou aqueles cujo custo
de informação e avaliação do risco é maior,
tendo em vista que não dispõem de condições
para avaliar ou obter corretamente todos os
dados necessários para a tomada de decisão.
Dito de outra forma, funcionam para aqueles
agentes econômicos que não podem (ou não
querem) arcar com maiores custos de tran-
sação.
A ampliação da cobertura para R$ 250
mil faz com que o FGC seja de fato um bom
sistema de seguro-garantia para a economia
brasileira. Ao ampliar a confiança do público
e contribuir para a formação da poupança e
o desenvolvimento de um sistema financei-
ro estável, o FGC cumpre sua função pública
de participar na construção de um melhor e
maior sistema financeiro. Assim, o mecanis-
mo de seguro-garantia de créditos bancários
e financeiros concorre decisivamente para
a segurança do sistema financeiro, uma vez
que tranquiliza os agentes econômicos quan-
to ao destino de seus recursos, vale dizer,
onde seus recursos estão sendo aplicados.
19março 2014 financeiro
20 financeiro março 2014
Após alta volatilidade, inadimplência tende a se estabilizar
artigocrédito2
A despeito da piora em boa parte dos fundamentos da economia em 2013,
o mercado de crédito teve um ano razoável. De fato, o ano passado pode ser
considerado mais como um ano de ajustes, em virtude do elevado crescimento
dos indicadores de inadimplência no passado recente. Os ofertantes de crédito
mantiveram maior seletividade nas concessões (principalmente para o consu-
mo) e as modalidades com menor risco, como o financiamento imobiliário e o
crédito consignado, passaram a ter maior atenção tanto dos bancos privados
quanto dos públicos.
Ajustes costumam ser dolorosos e tendem a mudar
o comportamento dos agentes, mesmo que por um cur-
to espaço de tempo. Mas, ao mesmo tempo, ajustes con-
tribuem, em geral, para a geração de um novo equilíbrio,
mais sólido e eficiente.
De fato, tais ajustes trouxeram uma boa notícia: o re-
cuo da inadimplência. Tanto nos indicadores absolutos de
novos registros de inadimplentes quanto nos indicadores
do Banco Central (que medem a taxa de inadimplência)
observamos significativa melhora. Depois de anos de alta
volatilidade, estamos prestes a assistir a um período de
estabilidade nos níveis de inadimplência para pessoa físi-
ca em 2014. A última vez em que observamos taxas mais
estáveis foi entre março de 2007 e abril de 2008, período
pré-crise financeira. Naquele período, as taxas variaram
muito pouco, em valores próximos a 7%, ligeiramente su-
periores aos valores observados hoje. Ciclos de cresci-
mento e recuo têm sido a regra da série histórica do Banco
Central (veja gráfico a seguir) .
E por que acreditamos que deva ser diferente neste
ano? Temos presentes fatores que têm contribuído para a queda da inadimplên-
cia e outros que devem pressionar o seu crescimento.
De um lado a maior seletividade na oferta do crédito e a maior cautela do
consumidor devem continuar moldando a concessão e reduzindo a demanda por
crédito dos consumidores, com reflexos inclusive so-
bre o ritmo de crescimento da demanda das famílias.
Ademais, bancos mais seletivos na aprovação de cré-
dito continuarão priorizando modalidades de menor
risco, levando a uma melhora na composição da car-
teira das pessoas físicas no curto e no médio prazos,
contribuindo para a redução dos não pagamentos.
Por outro lado, a retomada do aperto
monetário e a desaceleração da ativida-
de econômica costumam impactar nega-
tivamente na capacidade de pagamento
dos consumidores. A elevação dos juros
básicos já vem pressionando os juros
finais ao consumidor, em todas as mo-
dalidades de crédito, e seus efeitos so-
bre a inadimplência são uma questão de
tempo. A redução do ritmo da atividade
econômica, da mesma forma, afeta a
capacidade de pagamento dos consu-
midores na medida em que traz efeitos
sobre o mercado de trabalho. Depois de
anos de crescimento da renda real e de
queda nas taxas de desemprego, a aco-
modação parece inevitável.
Independentemente do resultado a
ser consolidado, a combinação desses
fatores nos permite traçar perspectivas,
que, se não são favoráveis por não con-
tarem com maiores recuos das taxas de inadimplên-
cia, pelo menos apresentam-se mais estáveis e pre-
visíveis. Por si só, já é uma boa notícia para aqueles
que respiram o mercado de crédito. f
Art
igo
envi
ado
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6/02
/201
4
Dorival Dourado,presidente da Boa Vista
Serviços
Por Dorival Dourado
21março 2014 financeiro
análisedemercado
Próximos desafios da indústria automotiva
O mercado de automóveis passa por um perío-
do que exige muita atenção e flexibilidade de todos
os que compõem o setor, incluindo a concessão de
crédito. Esse foi o principal tema do seminário
“Economia e Negócios – A Indústria Automobilís-
tica em Discussão”, realizado em 24 de fevereiro
pela Acrefi, em São Paulo.
O quadro para esse segmento é in-
fluenciado tanto por fatores macroeco-
nômicos quanto por questões ligadas
diretamente ao setor. Como lembrou Te-
reza Fernandez, especialista em indústria
automobilística da MB Associados, em
palestra durante o evento, concorrentes
do Brasil, como o México, têm previsão
de contar com quatro novas fábricas de
veículos nos próximos anos, o que deve
aumentar as exportações mexicanas para
os Estados Unidos, com a vantagem de
acompanhar a evolução tecnológica exi-
gida pelo mercado norte-americano. Ela
recordou que deverá haver excesso de
produção no Brasil pelo menos até o final
da década, e, com isso, fica uma dúvida: o
que fazer com esse excedente. Para ela,
provavelmente as fábricas passarão a ro-
dar em apenas um turno e não mais em
dois, e as montadoras poderão postergar
o início das operações.
Outra mudança, lembrada por Tereza Fernandez,
foi a entrada de várias marcas no mercado, “o que
traz uma grande alteração estrutural”. Entre os de-
safios trazidos por esse novo quadro, ela lembrou a
necessidade de o varejo mudar as regras de finan-
ciamento, com diminuição do repasse do spread e
queda na margem de comercialização. Apesar des-
ses desafios, o mercado ainda é atraente, na avalia-
ção de Fernandez.
Na mesma linha, Rodrigo Amâncio, gerente de
Produtos da Cetip, disse em sua palestra no even-
to que o quadro é novo também no financiamento
de veículos: “O volume de crédito para compra de
veículos cresceu bastante até 2008, depois se re-
traiu e ensaia um retorno de aquecimento, embora
em níveis menos elevados”, afirmou. “A boa notícia
é que a inadimplência, depois de alcançar 7,22%,
recuou para o nível atual de 5,17%.” Ele considera
que, com base nos dados da Cetip, as instituições
financeiras deixaram de ter como foco principal a
participação de mercado e passaram a privilegiar
a eficiência “com menos custos, melhores proces-
sos e mais informações para tomar decisão de
concessão de crédito”.
Na estimativa de Rodrigo Amâncio, o merca-
do de automóveis usados deve ter aquecimento
este ano, até como recuperação desse segmento,
“já que em 2004 para cada veículo novo eram fi-
nanciados cinco usados, nível que caiu de um novo
para 2,6 usados em 2013”. O varejo de automóveis
também está mais competitivo e com as altera-
ções nas regras de financiamentos e a diminuição
do repasse para essas empresas do spread conce-
dido ao “correspondente bancário”, assim como da
queda de margem na comercialização de automó-
veis novos, as empresas têm perdido margem de
rentabilidade. A meta é recuperar esses valores.
O resultado da comercialização de automó-
veis em 2013, que apresentou uma queda de
3,0%, não deveria surpreender. Nos últimos dez
anos, o crescimento de vendas nesse segmento
do setor automotivo vinha apresentando evolu-
ções fortes, tendo crescido 119% nesse perío-
do. Um ano mais fraco depois de desempenhos
tão bons é absolutamente normal. O importante
é pensar o que será esse mercado a partir de
agora, quando as projeções para 2014 e 2015 in-
Tereza Fernandez,consultora da MB
Associados
Foto
: Div
ulga
ção
22 financeiro março 2014
dicam anos mais fracos, em um momento em que
investimentos estão sendo concluídos, novos inves-
timentos estão sendo anunciados e se projeta uma
capacidade de produção de aproximadamente 4,5
milhões de automóveis no Brasil até 2017.
Nas nossas projeções de demanda doméstica,
com um crescimento médio de 3% ao ano, em 2017
teremos um excedente de automóveis que pode atin-
gir 1,5 milhão de unidades.
A primeira constatação que fazemos é que há um
acirramento na tentativa de conquista de mercado
pelas chamadas “newcomers”, o que naturalmente
derruba a participação das quatro marcas mais tra-
dicionais no Brasil (gráfico), uma tendência que veio
para ficar. O segundo ponto importante para ser ava-
liado é referente à possibilidade de excesso de pro-
dução, a partir de 2017. A exportação do excedente
será limitada, levando-se em consideração o tipo de
automóveis que estaremos produzindo naquele mo-
mento e a demanda do mercado mundial. A América
Latina, com certeza, será o nosso grande mercado,
lembrando que, à exceção da Argentina, os demais
países demandam poucos automóveis.
O atraso ou desistência de alguns investimentos
já anunciados poderá alterar o cenário, tornando a
vida das montadoras aqui instaladas, bem como das
concessionárias, mais fáceis. Aliás, o segmento das
concessionárias está passando por um momento de
desafios. O varejo de automóveis também está mais
competitivo e com as alterações nas regras de fi-
nanciamentos e a diminuição do repasse para essas
empresas do spread concedido ao “correspondente
bancário”, assim como da queda de margem na co-
mercialização de automóveis novos, as empresas
têm perdido margem de rentabilidade. A meta é re-
cuperar esses valores.
Além de estabelecer um novo relacionamento
com as montadoras quanto a transferência de carros
para os seus pátios e negociar uma margem melhor
para as vendas dos veículos novos, os concessioná-
rios precisam avançar de forma profissional na su-
cessão, bem como no ajuste das empresas no que se
refere a custos, na qualificação contínua de pessoal
e na utilização correta da internet como instrumento
de resultados, associada à utilização de TI em geral.
Mais que o citado acima, é importante uma defi-
nição da estratégia de médio e longo prazos em mul-
tifranquias, como forma de minimizar riscos com as
mudanças previstas de market share no Brasil. A escolha das marcas não é uma
decisão simples, assim como a decisão de nova oportunidade de concessão ou
aquisição de uma marca já em operação também não é tão simples neste mo-
mento, pois as oportunidades estão em ambos os casos. Não esquecer, no caso
de aumento de investimentos, da adequação desses valores à capacidade de ge-
ração de caixa para evitar endividamento que comprometa a operação.
O mercado de automóveis vai apresentar mudanças importantes nos pró-
ximos anos. Os agentes que operam nesse mercado, inclusive na concessão de
crédito, deverão estar atentos às mesmas, em um momento em que os juros
estão subindo, o câmbio se desvalorizando, a economia crescendo menos e,
em especial, uma massa salarial com variações inferiores às que tivemos nos
últimos anos. O desafio é interessante e – como em todos os cenários – virão
novas oportunidades. f
Seminário promovido pela Acrefi mostra que o setor de automóveis passa por um período que exige muita atenção e flexibilidade
Gráfico: Do ponto de vista da oferta, a participação das
quatro grandes vem decrescendo
23março 2014 financeiro
24 financeiro março 2014
artigoanticorrupção
Primeiras impressões sobre a nova lei anticorrupção
Art
igo
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em 3
0/01
/201
4
Por Pierpaolo Cruz Bottini e Igor Sant´Anna Tamasauskas
Mês passado entrou em vigor a Lei 12.846/13, a chamada Lei de Combate à Corrupção, talvez uma das iniciativas mais impor-tantes do Poder Legislativo nos últimos tempos. Os menos avisa-dos podem se perguntar sobre o que há de novo nessa lei, uma vez que a corrupção já era proibida em nosso ordenamento. Mas há uma diferença: as regras anteriores puniam apenas as pessoas físicas que cometiam a corrupção, deixando de lado a empresa, em regra a mais favorecida com o ato. Punia-se o particular, impune ficava a instituição beneficiada.
Agora as empresas também serão responsabilizadas por atos de corrupção e outros similares praticados em seu benefício. A lei prevê penas duras, como multas de 0,1 a 20% do faturamento bru-to, vedação de contratar com o poder público, e até a dissolução compulsória, uma espécie de pena de morte empresarial.
Talvez a inovação mais significativa – e polêmica – seja a previsão da responsabilidade objetiva da empresa. Com isso, a corporação será punida mesmo que seus dirigentes não tenham autorizado o ato ilícito. Basta que um funcionário, parceiro, contra-tado ou consorciado tenha oferecido ou pago vantagem indevida a funcionário público, e as penas serão aplicadas. Desde, claro,
que a empresa seja beneficiada pelo ato. Assim, se uma corporação contrata um serviço de terceiro para obter licença ambiental, e esse pague propina para obter o resultado, ambos serão punidos, con-tratante e contratado.
A ideia do legislador é que a empresa cuide não apenas de sua probidade, mas também se as-segure do comportamento ético daqueles com os quais trabalha. Claro que isso tem o limite do bom senso, dada a impossibilidade de se conhecer inte-gralmente o caráter de seus parceiros ou empre-gados. Mas a ideia é incentivar a corporação a de-senvolver sistemas de controle internos que façam checagens periódicas sobre seus colaboradores, assegurando-se de que todos mantêm uma postu-ra correta em suas relações com o poder público.
Nessa linha, a lei prevê a redução da sanção para a empresa que mantiver mecanismos inter-nos de prevenção a atos ilícitos, códigos de ética, auditorias regulares e canais para denúncias. Bus-
Pierpaolo Bottini e Igor Tamasauskas:sócios do escritório Bottini & Tamasauskas Advogados
“A ideia do legislador é que a empresa cuide não apenas de sua probidade, mas também se assegure do comportamento ético daqueles com os quais trabalha”
Foto
s: D
ivul
gaçã
o
25março 2014 financeiro
artigoanticorrupção
ca-se, com isso, estimular o compromisso empre-sarial com uma cultura ética.
Busca-se, ainda, evitar que a organização em-presarial trate seus dirigentes como material fun-gível, substituindo-os como se fossem mais um in-sumo de sua cadeia produtiva. A partir dessa nova lei, a entidade empresarial será responsabilizada pelos atos, inclusive com a possibilidade de disso-lução, como acima destacado.
Os impactos da lei já foram sen-tidos. É notável como boa parte das corporações revisou ou criou regras de boas condutas, estabeleceu pa-drões rígidos de comportamento, e passou a colaborar com investiga-ções sobre atos ilícitos praticados em suas dependências. Ao contrário de tantas leis que “não pegam”, esta já surtiu efeitos mesmo antes de en-trar em vigor.
É claro que existem problemas. O primeiro diz respeito à amplitude dos órgãos com competência para apurar os atos de corrupção das em-presas e para aplicar sanções. Pelo texto da lei, a instauração e o julga-mento de processo administrativo para a apuração da responsabilidade das empresas cabem à autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Ou seja, os poderes da União, Estados e Muni-cípios terão competência para determinar penas de multas, cujos espaços variam de 0,1% a 20% do faturamento bruto das empresas. Ou seja, uma enormidade de servidores com capacidade de in-vestigar, fazer acordos de leniência, julgar admi-nistrativamente e determinar o valor das sanções.
Nessa seara, excessos, arbítrios e conflitos de competência podem ocorrer. Por isso, é importante que a CGU (Controla-doria-Geral da União) – órgão designado pelo legislador para expedir o decreto regulamentar da lei – fixe critérios pre-cisos para a dosimetria da multa, do contrário, a confusão reinante poderá afetar toda a racionalidade que se espera na aplicação do novo texto legal.
Uma segunda questão diz respeito ao bis in idem. A lei em análise aponta que sua incidência não afasta a improbidade administrativa (Lei 8.429/92) nem a responsabilidade pelos ilícitos em licitações (Lei 8.666/93). Isso significa que será necessário um esforço para identificar quando tais normas têm seu espaço autônomo de aplicação e quan-do existirá superposição, caso em que ha-verá um conflito aparente de normas a ser solucionado pelos mecanismos próprios de interpretação.
Criticas à parte, a lei é boa. Vale sempre lembrar que não se trata de norma penal. Não tem a contundência inútil da ameaça de prisão, mas a racionalidade de identificar os reais beneficiários do ato de corrupção e puni-los, afetando seu setor mais sensível: o faturamento. Ademais, ao prever a cola-boração das empresas na identificação ou na repressão aos ilícitos que possam ser praticados em seu benefício, o poder pú-blico faz uma espécie de prevenção geral
positiva, forçando a incorporação de novos valores na orga-nização corporativa.
Se tal estratégia é adequada, o tempo dirá. Mas criar dis-positivos que incentivem a cooperação dos agentes privados na prevenção ao ilícito parece mais eficiente do que a velha e fracassada política de aumentar penas ou transformar tudo o que incomoda em crime hediondo, como se isso, num pas-se de mágica, reduzisse a pó o crime organizado. f
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raçã
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“Ao contrário de tantas leis que ‘não pegam’, a Lei de Combate à Corrupção já surtiu efeitos mesmo antes de entrar em vigor.”
26 financeiro março 2014
realidadedigital
Judiciário on-line
Não há como retroceder. O Poder Judiciário
finalmente ingressou na era digital. Em 17 de de-
zembro do ano passado, o Conselho Nacional de
Justiça aprovou a regulamentação do Processo
Judicial Eletrônico (PJe), que exige que tribunais
de todo o País, a partir de agora, adotem o siste-
ma digital, em substituição ao processo físico. Ou
seja, aquelas pastas recheadas de documentos po-
dem um dia se transformar em relíquias no arquivo
morto dos Estados. Os burocráticos despachos e
petições ganham celeridade com o uso da assinatu-
ra eletrônica. Uma das mais entusiasmadas com a
informatização dos processos judiciários é a advo-
gada Elizete Scatigna, sócia da Carvalho e Advoga-
dos Associados, que desde 2004 aboliu o papel nos
milhares de processos em que o escritório atua. “O
que antes precisávamos de 24 horas para dar an-
damento, hoje gastamos no máximo 10 minutos”,
afirma Elizete. “Como a documentação dos bancos
também já está digitalizada, os processos ganham
no trâmite processual cerca de 30 dias”, garante a
especialista em cobrança de crédito.
Assim como em toda mudança, haverá sempre
resistências naturais à modernização. Mas, essa
“oposição” pode perder força diante da redução de
custos financeiros, com a redução de horas dedi-
cadas ao andamento do processo, com eliminação
dos gastos para locomoção do advogado até o fó-
rum, com cópias das peças processuais, entre ou-
tras despesas. Além disso, ainda há o ganho real de
tempo, com as audiências podendo ser realizadas
via Skype – tecnologia que já é adotada com suces-
so pela ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribu-
nal de Justiça, que despacha com os advogados por
meio do programa de telefonia com vídeo
pela internet. A ministra reúne em sua
mesa, no gabinete, aproximadamente 15
petições e memoriais, discutidos em au-
diências virtuais com os advogados. Na
hora marcada, ela se “encontra” com o
representante legal e dá início à audiên-
cia. Tudo pode ser filmado e gravado.
“Ao comparar com os anos anterio-
res, fomos da petição manuscrita à má-
quina de escrever, à máquina elétrica,
ao computador, à internet, e o processo
judicial eletrônico é uma consequência
natural da evolução”, pondera Elizete
Scatigna. “É evidente que é novo, que
exigirá um período de adaptação. No
entanto, as dificuldades e as eventuais
falhas serão superadas durante a transição gra-
dativa. Não podemos, porém, deixar a estagnação
tecnológica tomar conta do Poder Judiciário”,
avalia a sócia do escritório Carvalho e Advogados
Associados.
Conselho Nacional de Justiça aprova regulamentação do Processo Judicial Eletrônico, que exige que tribunais de todo o País adotem o sistema digital, em substituição ao processo físico
Elizete Scatigna:“Antes precisávamos de 24
horas para dar andamento no processo, hoje gastamos apenas
10 minutos”
f
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ulga
ção
27março 2014 financeiro
perfil
Fundada há sete anos, a HS Financeira ganha espaço no plano de crescimento do grupo gaúcho Herval
Pronta para o futuro
A gestão do Grupo Herval é focada na estratégia
de diversificação de negócios, por meio da sinergia
entre as suas marcas. Uma das necessidades era
de inserir no conjunto de operações uma instituição
do sistema financeiro para se integrar à adminis-
tradora de consórcios, que já alavancava vendas e
trazia rentabilidade para o grupo. Era o que faltava
para um negócio “apoiar” o outro dentro do mesmo
guarda-chuva.
Assim, a HS Financeira nasce em 2007, a partir
de oportunidade de expansão dos negócios. A cria-
ção de uma financeira também serviria para facili-
tar as vendas de colchões, móveis, computadores e
outros produtos comercializados pelo conglomerado
de empresas, sediado em Dois Irmãos (RS), municí-
pio a 58 quilômetros de Porto Alegre.
“Em pouco tempo, percebemos que o serviço
de uma financeira seria essencial para atender os
nossos clientes de forma mais abrangente”, conta a
gestora Dilvânia Airoldi. A ideia inicial foi estabele-
cer uma parceria com um banco especializado em
operações de crédito. Mas a proposta evoluiu e o
Grupo Herval optou por criar sua própria financei-
ra. “Não foi um caminho fácil de trilhar, mas os re-
sultados foram extremante satisfatórios”, lembra
Dilvânia. Isso por que o Grupo manteve em suas
mãos um dos maiores patrimônios construído em
seus 54 anos de trabalho: a carteira de clientes –
atualmente um de seus ativos mais valiosos. f
Atenta às oportunidades apresen-
tadas pelo mercado, a HS Financeira
procura oferecer seus produtos (le-
tras de câmbio, capital de giro, cré-
ditos pessoal e consignado, CDC, au-
tocrédito, seguros e cartão de crédito
HS Card) com taxas e prazos competi-
tivos em relação aos índices pratica-
dos pelo mercado. “O nosso principal
diferencial é trazer para o pequeno e
médio varejista a mesma possibilida-
de de recursos na área financeira que,
hoje, os grandes lojistas têm, visando,
ainda em 2014 expandir a emissão
de novos cartões HS Card”, destaca a
gestora da HS Financeira.
Também, com sinergia, a IF Solu-
ções Planejadas, empresa de móveis
planejados do Grupo Herval, atua
com a HS Financeira para atender as
lojas espalhadas em todo o País, ofe-
recendo à marca um diferencial competitivo, pois
são poucos os concorrentes deste segmento que
possuem sua própria financeira para favorecer
as vendas. Em 2013, a HS Financeira obteve uma
receita bruta de R$ 55 milhões, 10,67% maior do
que o resultado obtido no ano anterior. São núme-
ros que demonstram seu potencial crescimento
nos próximos anos.
Dilvânia Airoldi,gestora do Grupo Herval
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ulga
ção
28 financeiro março 2014
associadoacrefi
Com sede em Curitiba, o 62º associado da Acrefi inaugura unidade em Belo Horizonte e passa a atender à montadora Iveco
CNH Capital, seja bem-vindo!
A Associação Nacional das Instituições de Crédi-
to, Financiamento e Investimento (Acrefi) comemora
a adesão do seu 62º associado: o Banco CNH Capital.
Essa conquista acontece em sintonia com a recen-
te notícia de que a instituição passou a atender, em
2014, a marca Iveco, tradicional montadora de cami-
nhões e ônibus, que tem fábrica em Sete Lagoas e
sede em Nova Lima, ambas em Minas Gerais. Para
administrar as novas demandas, o Banco CNH aca-
ba de inaugurar em Belo Horizonte uma unidade que
cuidará, no início, das operações de retail (financia-
mento a clientes finais) e, depois, de wholesale (fi-
nanciamento direto aos concessionários).
Fundado há quatro décadas e com presença no
Brasil há mais de 14 anos, o Banco CNH Capital pos-
sui uma carteira de 25 mil clientes ativos, sem con-
tar a carteira de clientes da marca Iveco. Atualmente
suas operações são voltadas ao financiamento de
máquinas agrícolas e equipamentos de construção
da CNH Industrial e veículos de transporte. Com sede
em Curitiba, o banco tem, além da nova unidade na
capital mineira, representantes comerciais distribuí-
dos em todo o Brasil.
“É com enorme satisfação que acolhemos o Ban-
co CNH Capital entre os nossos associados. Isso se
torna ainda mais importante quando sabemos que a
instituição passa por período de expansão”, festeja
o presidente da Acrefi, Érico Sodré Quirino Ferreira.
Para Brett Davis, presidente do CNH Capital, os recen-
tes êxitos do banco fazem parte do momento promis-
sor vivido pelo Brasil, que cada vez mais ganha repre-
sentatividade na economia mundial, e são também,
resultados do trabalho realizado nos últimos anos
por todo o grupo. “O trabalho de todo o time do banco
resultou no atual momento que vivemos, é uma enor-
me satisfação para mim encerrar o ano de 2013 com
excelentes resultados e iniciar 2014 atendendo mais uma grande
marca, a Iveco “, avalia Davis.
Com o mercado aquecido, a demanda por crédito deve seguir es-
tável. Diante dessa perspectiva, Brett Davis projeta incrementar ainda
mais neste ano suas ações voltadas ao agronegócio, aos investimen-
tos em obras civis e de infraestrutura e aos veículos de transporte.
Brett Davis,presidente do CNH Capital
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ivul
gaçã
o
29março 2014 financeiro
panoramacetip
Como faz regularmente, a Cetip acaba de consolidar os dados
acumulados em 2013 relacionados ao financiamento de veículos.
Segundo Marcus Lavorato, gerente de relações institucionais da
Unidade de Financiamentos da Cetip, as concessões de crédito
para a compra de veículos subiram de R$ 170 milhões, em 2012,
para R$ 173 milhões no ano passado. Em 2013, foram financia-
dos 6,7 milhões de veículos, entre automóveis de passeio e co-
merciais leves, motocicletas e pesados. Os números são do Sis-
tema Nacional de Gravames (SNG), base privada de informações,
que reúne o cadastro das restrições financeiras de veículos, uti-
lizada como garantia em operações de crédito em todo o Brasil.
O SNG impede que o processo de financiamento de veículos seja
suscetível a fraudes. São levados em consideração financiamen-
tos por meio de crédito direto ao consumidor (CDC), leasing e
6,7 milhões de veículos foram financiados em 2013
autofinanciamento (consórcio).
A Cetip adota alguns critérios para calcular o montante libe-
rado para financiamentos de veículos. Para o cálculo do volume
financiado são consideradas apenas inclusões de gravames de au-
tomóveis leves com financiamento de até R$ 200 mil e cujos prazos
não sejam superiores a 120 meses; para motocicletas, o montante
limite é de R$ 50 mil. A metodologia também restringe em R$ 500
mil as inclusões de gravames de pesados. Dessa forma, a Cetip
desconsidera operações com valores e prazos destoantes com as
práticas do mercado. Além disso, o cálculo considera repasses do
BNDES via Finame. É importante salientar que os números não são
diretamente comparáveis com os divulgados pelo Banco Central,
pois a instituição contempla apenas operações de CDC e de arren-
damento mercantil.
30 financeiro março 2014
Marcus Lavoratogerente de Relações
Institucionais da CetipFoto: Divulgação
31março 2014 financeiro
tecnologia&inovação
Silvio Meira, pesquisador em engenharia de software no Brasil, diz que os investimentos em tecnologia são essenciais para as instituições que pretendem sobreviver à competição global
Ninguém inova por que gosta
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em um
de seus discursos no Fórum Econômico Mundial,
em Davos, afirmou que “a reforma e a inovação for-
necem uma força propulsora inexaurível para o de-
senvolvimento do país”. Essa evolução que transita
pelos inúmeros aspectos relacionados à criatividade
humana, em momentos de instabilidade econômica,
pode alterar os ventos de uma dificuldade interna.
As inovações possibilitam o aumento dos níveis
de emprego e de renda, além do acesso ao mundo
globalizado, contribuindo de maneira direta com mo-
mentos favoráveis de crescimento de riquezas. Para o
cientista chefe do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sis-
temas Avançados do Recife), Silvio Meira, notável pes-
quisador na área de engenharia de software no Brasil,
o mercado brasileiro é um dos mais regulamentados
do mundo. “Isso evitou que entrássemos na crise de
2008. Por outro lado, esse cuidado excessivo cria um
atraso estrutural no desenvolvimento de mecanismos
de inovação”, alertou Meira.
Um exemplo de praticidade, segundo ele, é o
banco norte-americano Simple, que nasceu para fa-
cilitar os serviços dos usuários. Transferências para
pessoas, compras com um cartão de débito ou ainda
creditar um cheque apenas tirando uma foto dele com
o celular é possível nesse novo conceito de operação. “É um banco no
qual você começa a se registrar pelo Facebook. Ele existe on-line e é
uma das coisas mais maravilhosas que alguém já fez”, exemplificou.
No movimento do mobile payment, a empresa Dwolla que per-
mite transferências de dinheiro ou pagamentos pelo celular, também é
vista positivamente pelo especialista. “Você deposita um valor na conta
da empresa e, por meio de um software, é possível efetuar paga-
mentos de consumo como café, táxis e coisas do dia a dia. Dinheiro é
informação sobre poder de compra. Os sistemas podem evoluir em
velocidade muito grande ou catastrófica, uma vez que não se
deve limitar seu desenvolvimento natural”, afirmou Meira.
Outra novidade citada é a M-Pesa, lançada no Quênia, onde o
dinheiro é transferido de uma pessoa para outra por meio de um
sistema telemóvel. “Um elemento importante dessa inovação é a
capacidade de adaptação às especificidades locais, uma vez que o
regulador financeiro não interfere em seu desenvolvimento. Isso
simplifica a vida das pessoas”, considera o especialista.
Quando o assunto é Brasil, Meira não esconde sua inquietação
com o atraso dos meios de evolução por excesso de regulamenta-
ção. “Os Estados Unidos e a China sobressaem-se em todas essas
frentes, até por que o desenvolvimento de seus marcos regulatórios
transita em sintonia com as necessidade locais. No Brasil, o sistema
financeiro age dentro de um escopo em que tudo precisa ser explici-
tamente permitido. Se algo não está dentro de uma regulamentação,
o resultado é que não pode ser feito. Já nos Estados Unidos e em
Por Gustavo Girotto
32 financeiro março 2014
Em contrapartida, ele classifi-
ca a Embraer como uma empresa
de ponta com olhares voltados
para o mundo. “O Brasil importa
15% do seu Produto Interno Bruto
(PIB). A média da América Latina
é 25%; a China é 29%. A nossa
Embraer é uma das nossas maio-
res importadoras e exportadoras,
faz parte das duas listas, por
isso a classifico como uma gran-
de empresa inovadora”, elogiou
Meira, lembrando que “o setor
de eletroeletrônicos – que é todo
fechado e com reserva de mer-
cado – tem deixado um déficit na
balança comercial acima de 35
milhões de dólares, nos últimos
dois anos. Ele não importa para
exportar, mas sim para consumir
e isso traz reflexos”.
Uma solução mediante o pro-
blema, segundo ele, seria criar
bases nacionais para competir internacionalmente.
“Esse é o nosso principal problema. A Embrapa é
extremamente competente, mas não é ela que plan-
ta e cole a soja. O problema não é ter a competên-
cia nos institutos de pesquisa e nas universidades,
pois é preciso ter competência na economia. Quando
olhamos para grandes sistemas, como o financeiro,
agropecuário e o industrial – a competitividade é
uma parte do que o produtor ou o agente de mercado
faz. A outra, é tão somente o que o sistema permite”,
analisou Meira.
Em termos de controle de um sistema, no mun-
do atual, o especialista considera um entrave. “Hoje
é preciso pensar globalmente. Não estamos isolados
do mundo e precisamos pensar em liderar algumas
frentes, aumentando fluidez em nossas nas transa-
ções”, disse Meira. Para ele, é preciso localizar-se,
observando dados como os de grandes economias de
primeiro mundo. “Em 1960, a produtividade em servi-
ços dos Estados Unidos era três vezes maior que no
Brasil. Em 2010, o País ficou cinco vezes mais produ-
tivo. Vamos mudar realmente de patamar quando, em
vez de montar produtos, o Brasil possa ter a capa-
cidade própria de desenvolvê-los e conseguir baixar
seus custos nessa cadeia produtiva”, finalizou. f
parte da China só não há sequência quando, efetiva-
mente, algo é proibido. Isso cria um grau de liberda-
de extra para os agentes de mercado, uma vez que
podem ir avançando e, se algo sair fora do contexto
macro ou legal, ocorre uma interferência espontânea
dos agentes”, defendeu Meira.
Para ele, é preciso que o sistema financeiro da
América Latina olhe os exemplos de sucesso de ou-
tros países. “É um problema da região, uma vez que
não se vê uma consolidação de bancos na América
Latina. Os que temos no Brasil, praticamente, só
existem por aqui – além das instituições estatais
quem têm capilaridade no setor – já o resto são ban-
cos europeus. Não vemos bancos brasileiros conso-
lidando o segmento bancário da América Latina, nem
à mão inversa. À medida que o mundo se globaliza,
vamos ficando isolados”, pondera Meira.
Ele avalia que há sempre razões para inovar
e isso faz parte de decisões. “Ninguém inova por
que é gostoso e, muitas vezes, é até parte de uma
decisão dramática. Custa o envolvimento continu-
ado de instituições inteiras, em períodos longos
de tempo, sendo que depende da profundidade da
inovação que se vai fazer. Ninguém inova por que
gosta, na verdade, é a combinação de duas coi-
sas: ser forçado ou puxado. O primeiro exemplo
é aquele em que se muda por que todos o estão
fazendo, ou seja, se eu não fizer, tão logo desa-
pareço. Já ser puxado é quando ninguém mudou
e você vislumbrou uma oportunidade de mudar:
isso lhe move e lhe coloca em um patamar di-
ferenciado”, disse o especialista, citando Peter
Drucker, que diz: “inovação é uma fonte de van-
tagem competitiva sustentável”.
Ainda em relação ao grande dragão asiático,
Meira lembra que o China Construction Bank (CCB)
adquiriu o banco brasileiro BicBanco, instituição fi-
nanceira voltada ao segmento de pequenas e mé-
dias empresas. “Eles o compraram para aprender
sobre o mercado nacional, uma vez que é uma eco-
nomia com grande liquidez. O que custa para eles
se estabelecerem como um grande banco no Brasil,
até por que são os nossos maiores compradores de
commodities?!”, questionou-se o especialista, afir-
mando que “em um sistema internacional todo co-
nectado, não adianta muito se proteger da inovação
sistêmica, pois é impossível controlar tudo e preci-
samos acordar para o mundo”.
Ninguém inova por que gosta
Silvio Meira, cientista chefe do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e
Sistemas Avançados do Recife)
Foto
: Gab
riel
Kos
man
33março 2014 financeiro
terceiro
Usar o esporte como forma de inclu-
são social, fomentando a participação da
comunidade como multiplicadora do co-
nhecimento e da prática socioeducativas
e, ao mesmo tempo, participar do desen-
volvimento do jovem. Esse conceito não é
apenas um discurso ilustrativo. Ele é leva-
do à risca diariamente por toda a equipe
da Fundação Gol de Letra. A entidade, que
acaba de completar 15 anos de atividades,
atende a 1.300 crianças e jovens em São
Paulo e no Rio de Janeiro.
Sóstenes de Oliveira, irmão de Raí e
diretor-geral da entidade, lembra que os
avanços obtidos pela entidade nos últi-
mos anos permitem projetar um futuro
promissor para a organização. “Em 2010,
criamos o Programa de Disseminação,
que nos possibilitou dar saltos no relacio-
namento com comunidades do Brasil afo-
O diretor-geral da Fundação Gol de Letra, Sóstenes de Oliveira, fala sobre os avanços conquistados pela entidade fundada há 15 anos pelos ex-jogadores Raí e Leonardo – e como as empresas podem colaborar com os seus projetos sociais
Por Elisa Polonio
ra. Chegamos a atender 1.000 crianças e
jovens”, conta Sóstenes. Um dos exemplos
de ação de sucesso é o Projeto Ginga So-
cial, realizado em parceria com a Adidas,
que busca por meio do esporte oferecer
formação e capacitação a agentes educa-
cionais e a jovens carentes de comunida-
des em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto
Alegre, Belo Horizonte, Salvador e, em
breve, Brasília.
Fazer o bem faz bem!
34 financeiro março 2014
Outra grande conquista foi a forma-
ção de monitores esportivos, desenvol-
vida nos programas da fundação. Nessa
dinâmica, jovens da comunidade, que
normalmente já passaram pelos progra-
mas, voltam à quadra esportiva: porém,
dessa vez, recebendo capacitação em
diferentes áreas e ajudando os educado-
res nas atividades. Desse modo, eles se
tornam referências para os mais novos,
gerando mais responsabilidade e fazen-
do com que a missão da entidade seja
cumprida: a de contribuir para a forma-
ção cultural e educacional de crianças e
jovens para atuar com autonomia na
transformação de suas realidades.
As experiências bem-sucedidas na
atuação social renderam recentemente o
prêmio Itaú-Unicef de Educação Integral
à Fundação, em função de seu programa
Virando o Jogo, que promove atividades
artísticas, culturais e corporais a 240
crianças e jovens de São Paulo. Além dis-
so, em 2001, a Fundação Gol de Letra ha-
via sido reconhecida pela UNESCO como
modelo de atendimento às crianças em
situação de vulnerabilidade social.
Captação de recursos – O orçamento
anual da entidade é de R$ 5 milhões, cap-
tados, principalmente, por meio de em-
presas parceiras (25%), eventos (24%) e
doações via Lei de Incentivo Fiscal (22%).
“As empresas passaram a fragmentar
seu investimento social, e isso, além de
ser benéfico a elas por proporcionar uma
inclusão social na comunidade de atua-
ção, é uma grande mola propulsora para
as atuações das entidades”, destaca Sós-
tenes, acrescentando que as empresas
podem contribuir para a Fundação Gol de
Letra por quatro maneiras: doações dire-
tas, doações via Lei de Incentivo Fiscal,
campanhas de mobilização de produtos
e serviços – em que uma porcentagem é
doada à Fundação – e até mesmo em tor-
neios promovidos pela entidade.
Na última modalidade, ganha desta-
que o Torneio Gol de Letra: trata-se não
somente de uma via de captação de re-
cursos, mas também uma ação de RH
das empresas com os seus colaborado-
res. No campeonato, que em 2014 vai
para sua 11ª edição, empresas diversas
inscrevem seu time de colaboradores,
que disputam entre si o título que cos-
tuma ser decidido em grandes finais
no Morumbi (SP) e no Maracanã (RJ).
Realizado anualmente, o torneio reúne
também atletas, ex-atletas e personali-
dades, proporcionando dois fins de se-
mana de plena interação, descontração,
e, claro, networking entre as empresas
participantes.
“Para as empresas que querem co-
laborar com a Fundação Gol de Letra, as
portas estão abertas. Recebemos cada
empresário individualmente, mostra-
mos a entidade, e, caso a caso, discorre-
mos sobre as possibilidades de doação”,
declara Sóstenes, acrescentando que a
Fundação também recebe doações de
pessoa física. “Muitas empresas parcei-
ras promovem campanhas entre seus
funcionários, o que também é uma for-
ma de captação de recursos”. A Funda-
ção Gol de Letra é auditada pela KPMG
e apresenta, anualmente, às empresas
parceiras o balanço da entidade. f
Fotos: Divulgação
35março 2014 financeiro
foradoexpediente
Semeador das artesLouis Bazire, presidente do Banco BNP Paribas Brasil, usa seu olhar refinado para revelar o talento de artistas brasileiros que ainda são desconhecidos do grande público
Por Gilberto de Almeida
Foto
: Luc
iana
Pre
zia
36 financeiro março 2014
Num fim de tarde, um motorista e seu patrão
trocam impressões sobre arte contemporânea,
enquanto estão presos no trânsito de uma grande
metrópole. A cena, aparentemente incomum, po-
deria fazer parte do roteiro de um filme do diretor
franco-suíço Jean-Luc Godard. No entanto, essa
situação é real e faz parte do cotidiano de dois bra-
sileiros: o motorista chama-se Wagner Gregório e
seu patrão é Louis Bazire, presidente no Brasil do
Banco BNP Paribas, uma das maiores instituições
bancárias do mundo.
Esse interesse de Wagner pelas artes plásti-
cas é apenas uma pequena amostra do resultado
do trabalho realizado há dez anos no Brasil pela
Fundação BNP Paribas. Porém, o empenho de Ba-
zire na difusão das artes vai muito além do bate-
-papo cultural com seu motorista. Ele mergulha
nessa atividade de corpo e alma. É um mecenas
na melhor acepção da palavra, aquele que é capaz
de identificar artistas e projetos que só ganham a
merecida atenção se tiver a sua dedicação pessoal
e o respaldo do banco. “A nossa fundação está pre-
sente em vários países e tem critérios para definir
os projetos que receberão o apoio do banco, mas eu
faço questão de participar pessoalmente de todas
as etapas de seleção”, conta Bazire. “Se você quer
fazer um a trabalho consistente, precisa traçar
uma diretriz forte e segui-la à risca.”
Esse trabalho consistente começa por uma só-
lida parceria que a Fundação Cultural BNP Paribas
mantém há anos com o MAM (Museu de Arte Mo-
Museu de Arte Moderna de São Paulo: parceria do BNP Paribas que permite que os funcionários do banco e seus
familiares entrem gratuitamente em qualquer exposição montada no espaço
derna de São Paulo), que permite não só que o ban-
co realize eventos reservados para clientes e ami-
gos nas dependências do museu, como também
franquia a entrada de seus funcionários e familia-
res em qualquer exposição montada no prestigiado
espaço da marquise do Parque do Ibira-
puera. Basta apresentar o crachá e entrar.
Foi aí, provavelmente, que Bazire semeou
o interesse de Wagner pelas artes.
Bazire sabe perfeitamente o poder
transformador que uma visita a um museu
pode provocar na vida das pessoas. Nasci-
do no Rio de Janeiro, filho de pai francês
e mãe americana, ele não se esquece da
primeira vez que entrou num museu, aos
12 anos de idade. Foi no Louvre, em Paris,
logo após mudar-se para a França com
seus pais. De lá para cá, essa paixão pelas
artes só cresceu. Embora não tenha con-
quistado habilidade com os pincéis e as
tintas, desenvolveu um olhar certeiro para
identificar novos talentos e abrir portas
para artistas que ainda não tiveram sua real opor-
tunidade no mercado das artes. “Como se faz para
‘fabricar’ esse olhar, eu não tenho ideia. Quem sabe
vendo muitas coisas. Tudo é muito subjetivo”, tenta
explicar Bazire. “Eu olho não só a obra de arte, mas
o jeito como ela é feita, depois é uma questão de
sensibilidade.”
Foi assim que Bazire encantou-se com o traba-
lho da artista plástica Lara Donatoni Matana, que
“Se você quer fazer um
a trabalho consistente,
é preciso traçar uma
diretriz forte e segui-la à
risca.”
Foto: Divulgação
37março 2014 financeiro
foradoexpediente
o executivo acostumado a tomar decisões profissionais
com base nos frios números do setor financeiro. “Não me
desfaço de nada, nem acompanho o sobe e desce dos ar-
tistas no mercado internacional.” Com lágrima nos olhos,
sensibilidade rara entre os banqueiros, ele diz: “Pode ser
que eu tenha comprado quadros há 20 anos que hoje va-
lem muito mais, mas não quero me desfazer. Eles são a
minha paixão e espero deixá-los para as minhas filhas.
Embora elas não morem no Brasil, assim que chegam
aqui pedem logo para conhecer as novidades.”
Com o mesmo carinho que dedica à sua coleção par-
ticular, Bazire participa ativamente da seleção de qua-
tro a seis projetos que a Fundação BNP Paribas Brasil
apoia anualmente entre mais de 300 propostas recebi-
das. Além de enquadrados na Lei Rouanet, os projetos
devem estar focados na preservação do patrimônio cul-
tural brasileiro, por meio de exposições, publicações de
livros, concertos ou recitais. Para 2014, a programação
da Fundação BNP Paribas no Brasil já está praticamente
fechada, com a realização de um concerto, em parceria
com o Centro da Cultura Judaica, do pianista israelense
Boris Giltburg, vencedor do disputado Concurso Interna-
cional Rainha Elisabeth, organizado na Bélgica em 2013;
a exposição de Marcos Bretas, pintor brasileiro radicado
em Paris e ainda pouco conhecido por aqui; a exposição
cria painéis cubistas a partir de finas lâminas de
madeira reflorestada, provocando sensação de
movimento, profundidade, ondulação, etc. Aliás, a
obra da artista “Expansão em Perspectiva” atrai a
atenção daqueles que, por alguns minutos, aguar-
dam na recepção do salão de almoço do banco. Ou-
tro artista capaz de magnetizar o olhar de quem
visita a sede do BNP Paribas, em São Paulo, é o
capixaba Hilal Sami Hilal, que, com uma delicada
escultura em papel artesanal provoca instigantes
efeitos cinéticos, como definiu, em 1998, a crítica
de arte Angélica de Moraes. Esses são apenas dois
exemplos de trabalhos que fazem parte da coleção
do BNP Paribas no Brasil que merecem destaque
na decoração do escritório do banco.
A proximidade de Louis Bazire às criações de
Hilal aconteceu por meio de outra parceria que o
banco mantém com a galerista Marilia Razuk, que
cuida da carreira do escultor capixaba. “O Bazire
é um apaixonado por arte. Ele tem uma visão di-
ferenciada sobre o que está acontecendo no mer-
cado”, destaca Marilia. “Se fica encantado com o
trabalho de um artista, ele leva catálogos para o
exterior, mostra e fala para os amigos. Ou seja, ele
faz acontecer, tudo motivado pela paixão que tem
pelas artes”, lembra a marchand.
Esse entusiasmo faz com que aproveite cada
instante livre da sua pesada agenda de executivo
para pingar nos olhos novas gotas de conheci-
mento. No entanto, às vezes, chega até a perder
a noção do tempo diante de tantas atrações. Em
janeiro deste ano, por exemplo, depois de partici-
par de um seminário do banco em Lisboa, aprovei-
tou para ficar mais um dia na cidade apenas para
apreciar a coleção do Museu Berardo, próximo do
Centro Cultural de Belém. “Achei tudo tão legal e
atraente que por pouco não perdi o avião de volta
para o Brasil”, conta Bazire. A pressa, porém, não o
impediu de trazer na bagagem mais catálogo para
a sua coleção particular. “Sei que a minha mulher
fica chateada com essas compras. Não temos mais
espaço em casa para essas coisas. Ainda bem que,
desta vez, eu trouxe apenas um catálogo e não um
quadro novo”, brinca ele.
Mesmo quando não resiste e compra uma nova
obra para o seu acervo particular, Bazire nunca faz
a aquisição de olho no lucro que a peça que possa
render no futuro. “Compro porque gosto; detesto
falar em arte como moeda de negociação”, afirma
Louis Basire: diante de uma das obras da artista plástica Lara Donatoni Matana
38 financeiro março 2014
de Lucia Mindlin Loeb – neta do bibliófilo José Min-
dlin, falecido em 2010 –; a publicação do livro “A
Flor da Floresta Amazônica”, do fotógrafo paulista
Rodrigo Petrella; e a publicação de um guia inédito
sobre os museus da São Paulo.
Por meio de iniciativas semelhantes a essas, há
dois anos, a fundação também bancou a edição do
livro “Villa de Paraty”, com fotos de Dom João de
Orleans e Bragança. “Tudo aconteceu muito rápi-
do. O editor Pedro Corrêa do Lago me procurou e
disse que não tínhamos, até então, um bom livro
sobre a história de Paraty. Avaliei o projeto e achei
que ele estava dentro dos objetivos da fundação”,
conta Bazire. Algo semelhante aconteceu com Ân-
gela Gutierrez, fundadora do Museu do Oratório de
Ouro Preto, que precisava do nosso incentivo para
renovar o catálogo da instituição. “Existem pessoas
que gostam de carros antigos, eu tenho predileção
por pintura, fotografia e música”, compara o execu-
tivo. “Às vezes, chego um pouco mais tarde em casa
por que estou envolvido com os projetos da funda-
ção, mas esse esforço é totalmente recompensado
quando consigo surpreender alguém com o traba-
lho de um artista ainda desconhecido do grande
público”, completa Bazire.
Hilal Sami Hilal:um dos artistas que recebeu apoio da
Fundação BNP Pariba Brasil
Foto: Divulgação
Foto: Luciana Prezia
f
39março 2014 financeiro
cultura
Por Eliane Santos
Reinaugurada em 2004, a Casa das Rosas ganhou a designação Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, em homenagem a um dos mais importantes poetas brasileiros e coautor do movimento concretista. A coleção de livros do ensaísta e tradutor faz parte do valioso acervo do museu
Casarão dos versos
Fotos: Gabriel Kosman
40 financeiro março 2014
Encravada no coração financeiro de São Paulo,
uma imponente mansão do século passado sobrevive
em meio aos grandes edifícios comerciais. Emoldura-
da pelo quadrilátero formado pela Avenida Paulista,
Alameda Santos e as ruas Leôncio de Carvalho e Dou-
tor Rafael de Barros, o casarão de quatro andares, que
foi ponto de encontro da oligarquia dos barões do café,
– hoje tombado pelo Patrimônio Histórico em 1985 e
reinaugurada em 1991 – abriga o rico acervo da Casa
das Rosas, um mais importantes espaços culturais da
cidade, dedicado à difusão da poesia e da literatura.
Pela entrada da Avenida Paulista, a fachada do
Museu Casa das Rosas mescla, em perfeita harmo-
nia, os contrastes de dois períodos arquitetônicos: o
novo e o velho. Na frente, destaca-se um sobrado de
1935 e um lindo jardim; na parte de trás do terreno,
um moderno prédio recoberto por vidro espelhado.
Embora antagônico, o projeto valoriza os contornos
do casarão, criado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e
oferecido de presente de casamento à filha Lucia e ao
genro Ernesto Dias de Castro, que por ali viveram com
seus herdeiros por duas gerações.
Após uma crise financeira, em 1985, a família
vendeu o imóvel e o terreno ao empreendedor Mário
Pimenta Camargo e ao arquiteto Júlio Neves, que ti-
nham planos mais ousados que contrastavam com a
urbanização daquela região. Naquele período, o casa-
rão foi tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho de De-
fesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e
Turístico) e tornou-se um bem cultural da cidade. Mas,
por meio de projeto de lei criado na época, que permi-
te destinar as áreas não construídas do terreno de um
imóvel tombado a novos projetos imobiliários, o pro-
jeto foi dividido em duas partes. A casa foi restaurada
e o seu famoso jardim foi conservado. A parte livre
do terreno de 5.500 metros quadrados, que tem saída
para a Alameda Santos, abriu espaço para uma torre
de 21 andares.
Depois de funcionar como galeria de arte por qua-
se dez anos, a casa fechou para restauro e foi reinau-
gurada em dezembro de 2004. Com o mesmo nome,
mas com uma nova designação, ela passou a se cha-
mar Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de
Poesia e Literatura. O nome é uma homenagem ao tra-
dutor, poeta e ensaísta brasileiro, Haroldo de Campos.
“A casa passou a funcionar como um espaço dedicado
à poesia e à literatura, abrigando toda a coleção de
Integração:Espigão de 21 andares que fica ao
fundo da Casa das Rosas
O acervo da biblioteca abriga mais de 20 mil títulos da coleção do poeta Haroldo de Campos
41março 2014 financeiro
cultura
mais de 20 mil títulos de livros de Haroldo de Cam-
pos. Os livros são expostos por temas, atualizados
a cada três meses. Todo o acervo doado pela famí-
lia do poeta foi catalogado e está disponível para
visitação on-line, por meio do site da instituição
(www.casadasrosas.org.br).
Quem visita o centro de poesia e literatura tem
acesso a saraus, eventos literários, seminários,
festivais, cursos e um núcleo voltado para forma-
ção de escritores, o Centro de Apoio ao Escritor
(CAE). O projeto oferece uma série de atividades
educativas, palestras e projetos culturais. Só o Cur-
so Livre de Preparação do Escritor recebe aproxi-
madamente 500 inscrições para 30 vagas ofereci-
das anualmente.
Segundo o diretor, o espaço ainda recebe muitos
pedidos para realização de lançamentos de livros
e exposições. “É bacana você ter uma casa, em um
ponto bem localizado, que foi construída para a elite
e hoje esse espaço ser compartilhado por diferentes
classes sociais”, completou Frederico Barbosa.
livros do poeta”, conta o diretor do Museu, Frederico Barbosa.
À frente da instituição desde a inauguração, Barbosa relembra com orgu-
lho como participou de cada detalhe desse projeto. “Quando assumi, a casa
estava necessitando de manutenção. As portas foram arrancadas para refor-
ma e eu mesmo fiz a recolocação. Recebemos a ajuda de seis voluntários que
trabalharam, gratuitamente, por seis meses”. Em 2008, esses e outros volun-
tários, fundaram a organização social POIESIS – Instituto de Apoio à Cultura, à
Língua e à Literatura.
A Casa das Rosas, que recebe em média 85 mil visitantes por ano e abre
espaço para diversas manifestações culturais, exposições intermitentes de
arte contemporânea e uma exposição permanente, intitulada ‘Bibliocasa’, com
Frederico Barbosa:diretor da Casa das Rosas
f
Cerca de 85 mil visitantes por ano participam dos eventos culturais promovidos pela casa
42 financeiro março 2014
artigoexterior
43março 2014 financeiro
educação
Revista Financeiro: A que você atribui a sua afinidade e o seu sucesso com o público infanto--juvenil?
Pedro Bandeira: Quando você escreve para um
público mais jovem é preciso partir do pressuposto
de que ele não sabe nada sobre aquilo. Ele desco-
nhece o que foi a época de Getúlio Vargas ou a de
Juscelino Kubitschek, muito menos o que signifi-
cou o assassinato de John Kennedy, em 1963. Ele
não sabe nada, está chegando agora. Então o en-
caminhe, não venha com desafios. Pouquíssimos
meninos podem se interessar por um assunto tão
distante deles. Quando eu era criança, Washington
Luís era tão distante de mim quanto Álvares Cabral.
Ou seja, é preciso inseri-lo no contexto da história.
RF: Mas, existe também uma preocupação com a linguagem?
Pedro Bandeira: Você adapta a sua linguagem
de acordo com o seu interlocutor. Se entrar aqui
Pedro Bandeira é um escritor para quem a conversa flui tranquila, como água que nasce na fonte. Aos 72 anos, com 80 títulos dedicados ao público infanto-juvenil, ele fala sobre o papel dos pais em estimular o hábito da leitura entre as crianças
uma criança, você vai dizer que gracinha, que belezinha. Você vai falar como
um bobo para ela. Agora, se entrar aqui o embaixador do Reino Unido, você vai
dirigir-se a ele como excelência e provavelmente ficará de pé. É a mesma coisa
quando você escreve. Isso foi uma coisa que aprendi quando ainda era jorna-
lista. Se eu estou trabalhando na revista Claudia, eu sei que a minha leitora é
uma dona de casa, uma mulher bem enfatizada, mas não necessariamente
uma intelectual. Eu levo tudo isso em conta quando estou escrevendo.
RF: Quais foram outros benefícios que você trouxe do jornalismo?Pedro Bandeira: O jornalismo foi uma escola perfeita para mim. Isso por-
que o repórter é obrigado a não ter uma maneira de escrever. A não ser
quando você fica velho, torna-se o bacana, conquista seu espaço de cronista
e passa a escrever do seu jeito. Até lá, esses jornalistas comeram muita
poeira. Eu tive que trabalhar nas editorias de esportes, polícia, política, fiz
até horóscopo durante as férias de um colega. Além disso, você aprende no
jornalismo a respeitar uma coisa sagrada que é o prazo. O horário do fecha-
mento ninguém discute. Outra coisa, você é levado a escrever sobre diferen-
tes assuntos. Você ganha um cultura geral que lhe permite saber um pouco
de tudo. Depois de 10 anos de jornalismo, você fala sobre qualquer assunto,
até culinária, se for o caso.
“Deixe seu filho subir a escada do
conhecimento com os próprios pés”
Por Gilberto de Almeida
Fotos: Divulgação
44 financeiro março 2014
RF: Como os pais po-dem instigar nos filhos o hábito da leitura?
Pedro Bandeira: É
importante que esse pai
mostre as coisas que ele
considera boas para o fi-
lho ler? Não, o filho tem
que ler o que ele quiser
ler. Será bom aquilo que
ele achar bom, não aquilo
que você acha bom. Não,
meu filho tem que ler
“Memórias Póstumas de
Brás Cubas”. Não. É um
livro maravilhoso, mas
você acha que um garoto
de 14, 15 anos vai gostar
de “Memórias Póstumas
de Brás Cubas”? Nunca,
jamais. Então o deixe ler o
que ele quiser. Para você,
a escolha dele pode ser
uma porcaria. Ele está
numa escala de conhecimento. Não adianta puxá-lo para um
degrau acima. Deixe-o subir a escada com os próprios pés. Não
faça com que ele trilhe os caminhos que você trilhou. Ele não
tem a sua biografia. O seu DNA não significa que ele tenha a sua
biografia. Se ele tiver liberdade de acesso ao conhecimento, ele
gostará de ler.
RF: E qual é o papel do professor em estimular o prazer da leitura nos alunos?
Pedro Bandeira: Nos países adiantados, não existe adoção
de livros de literatura nas escolas. Por quê? Não precisa porque
o papai, a mamãe, a madrinha compram livros para as crian-
ças. Elas têm em casa o exemplo do pai lendo um livro. Como
não existe isso no Brasil, coube à escola essa tarefa. Em minha
opinião, a escola pode fazer muitas coisas, mas não pode suprir
um papel que a família não cumpriu. Existem pais que preferem
gastar R$ 1 mil em um tênis para o filho do que pagar R$ 30
num livro.
RF: O que você diria para os pais que ficam apavorados quando veem seus filhos escrevendo cifrado na internet?
Pedro Bandeira: Antigamente, os telegramas eram cobrados
por letra. Usava-se a linguagem cifrada para pagar menos. Você
era VC. Era a chamada linguagem telegráfica. Então as crianças,
para andarem depressa na internet, usam essa mesma lingua-
gem telegráfica. É extremamente humano, perfeito... Por que
não? Agora, quando ele quer mergulhar num pensamento, pas-
sará a aceitar naturalmente a forma culta. Eu só uso norma culta
e tenho livros publicados há 30 anos, desde quando lancei, em
agosto de 1984, a minha série de maior sucesso, “Os Karas”, com
K. Na época não havia internet, não havia celular, não havia nada
nesse sentido. Hoje, o livro vende mais do que quando foi lança-
do. Isso se explica, porque a literatura não tem tempo. O livro não
precisa ser igual à vida que a criança leva? Não, o livro tem que
ser igual ao sonho que ela tem.
RF: Por falar nisso, como nascem os seus livros?Pedro Bandeira: Eu sou muito instintivo na entrada. Você
descobre alguma coisa que é importante contar, só que a partir
daí começa o trabalho. É costurar, é virar até que a ideia fique de
pé. Um livro bem antigo surgiu da cadelinha de um amigo. Ela
teve cinco cachorrinhos, que vinham pedir agrado. E um deles
fazia aquele ganido para pedir carinho, que parecia um miado de
gato. Pensei: ‘que engraçado, um cachorro que mia’. Era uma si-
tuação que poderia ser explorada para falar de preconceito. Essa
era a entrada do livro. O resto é desenvolvimento. O cachorrinho
miou porque era amigo de um gato. O que o pai dele, um cachor-
rão machão, vai achar disso? Só por que ele está miando poderia
ser chamado de gay? Pronto, aí é trabalho. Eu vou precisar de
um pouco de humor no começo, depois uma dose de suspense,
para depois a criança refletir sobre uma situação diferente. Por
que um cachorro não pode miar? Por que meu colega de escola
não pode ser gordinho? Eu estou tratando, de forma indireta, do
bullying. A eventual adequação educacional do livro passa a ser
um papel do professor ou do pai. Eu só instigo.
RF: Como o legado cultural dos pais pode ser repassado para os filhos?
Pedro Bandeira: Não duvide da capacidade do seu filho. Não
tente amarrá-lo, pois estará limitando a capacidade dele de as-
similar coisas novas. Você pode até orientar, sugerir... se ele não
gostou da sugestão, recue. Deixe-o não gostar da sua sugestão.
Hoje não dá para uma criança ler Monteiro Lobato. São persona-
gens que moram num sítio, com jabuticabeira. Para um menino
de hoje, a jabuticaba é no máximo a fruta que a mãe traz dentro
de um saquinho do supermercado. 90% da população brasileira é
urbana. É difícil sentir-se atraído por um ambiente que tem vaca,
porco, sabugo de milho. Isso não faz parte da realidade deles.
Hoje, o menino mora em um prédio e não quer ouvir falar em
vaca mocha ou burro falante. Pode ser que você queira que o
seu filho assista o “Grande Ditador”, do Chaplin. Para o menino, o
filme pode ser chato. É claro que é uma grande obra-prima. Um
dia, já adulto, ele vai ver o filme e descobrirá que é uma obra-
-prima. Mas, não force o seu filho a odiar o Chaplin.
Pedro Bandeira:” Nos países adiantados, não existe adoção de livros de literatura nas escolas. Por quê? Não precisa porque o papai, a mamãe, a madrinha compram livros para as crianças.
f
45março 2014 financeiro
negócio&lazer
O Grande Hotel São Pedro se reinventa sem perder o charme e se mantém como uma das principais referências turísticas do interior paulista, desde a época dos cassinos
Por Evandro Ribeiro
Refúgio das águas
Fotos: Divulgação46 financeiro março 2014
Imagine só. Você
faz uma reserva em um
hotel e, antes de sua
estadia, um mordomo
liga para saber qual é
seu tipo de travesseiro
preferido, qual é a tex-
tura ideal da sua roupa
de cama, se tem algu-
ma restrição alimen-
tar, qual o seu jornal
predileto, o seu vinho
favorito, entre outros
mimos. Ao chegar ao
hotel, em vez daquela
experiência protocolar
e burocrática, o hóspe-
de é recepcionado com
uma taça de champa-
nhe, pelo mesmo mordomo que, alguns dias antes,
quis saber das suas preferências pessoais. Essas
são sutilezas que tornam o Grande Hotel São Pedro
– Escola Senac, em Águas de São Pedro, a 180 km
da capital paulista, uma das principais referências
turísticas do Estado desde a época dos cassinos.
O cliente que gosta de exclusividade e não abre
mão da privacidade, a sugestão é optar por um dos
confortáveis e espaçosos bangalôs (chamados de
vilas), no refúgio da Vila do Golfe, em área reser-
vada em torno de um campo de golfe de 9 mil me-
tros quadrados. Quem se hospeda lá tem direito à
atenção de um mordomo ao longo da estadia, café
da manhã no quarto até ao meio-dia, menu de fil-
mes – acompanhados de pipoca –, miniadega cli-
matizada, ofurô, entre outros cuidados. “As vilas do
golfe são os nossos produtos premium. É o que de
melhor podemos oferecer aos hóspedes”, garante
Graziela Zanin, gerente geral do hotel. As regalias
são tantas que o cliente não precisa nem desfazer
as malas. As outras suítes do hotel, apesar de não
contarem com todos esses serviços, também são
confortáveis, charmosas e tranquilas.
Rodeado por jardins e bosques e com instala-
ções em estilo art déco, o hotel foi inaugurado, em
1940, pelo empreendedor Octávio de Moura Andra-
de, um visionário que apostou no potencial turísti-
co das fontes termais da região. A cidade naquela
época nem existia, as primeiras casas surgiram só
depois da fundação do hotel. Hoje, o Grande Hotel
evoluiu, está supermoderno, sem perder a tradição.
O poder medicinal das águas foi ampliado e ago-
ra oferece um spa completo para cuidados com a
“As vilas do golfe são os nossos produtos premium. É o que de melhor podemos oferecer aos hóspedes”. Graziela Zanin, gerente geral
Interior:Preservação do estilo art déco
Jardim de inverno:Momentos de leitura e descontração
Bangalô:Vila do Golfe, área em torno de um campo de golfe de 9 mil m²
Fotos: Divulgação
Foto: Gabriel Kosman
Foto: Gabriel Kosman
47março 2014 financeiro
saúde e com a beleza. Além das três piscinas
distribuídas na área comum do hotel, o hós-
pede pode se energizar com o clássico banho
de imersão em águas sulfurosas, fazer mas-
sagens terapêuticas e tratamentos estéticos
faciais e corporais. Se ainda sobrar disposição,
ele pode movimentar-se nas quadras de tênis,
vôlei e basquete.
Sob a administração do Senac São Paulo,
o Grande Hotel São Pedro tornou-se também
uma das primeiras referências nacionais na
formação de profissionais voltados para ho-
telaria e para a alta gastronomia. Esse perfil
educacional foi uma das estratégias usadas
para manter o glamour dos anos 40, quando
o hotel abrigava em seus salões um concorri-
do cassino, que atraía artistas e a aristocracia
paulista. Contudo, em 1946, com a proibição
do jogo no Brasil, o Grande Hotel buscou algu-
mas alternativas e o conceito hotel/escola, já
em 1969, foi o que se mostrou mais atraente
e lucrativo. Segundo Graziela Zanin, 80% dos
funcionários saíram dos cursos profissionali-
zantes ministrados ali, inclusive ela.
Com um quadro de colaboradores tão pre-
parado, o restaurante do hotel oferece aos hós-
pedes diversas alternativas gastronômicas. No
Engenho das Águas, ele pode experimentar o
Cabra Safado, guisado de bode com massapê
de mandioca, purê que faz alusão ao barro tí-
Bosque:Ar puro e tranquilidade
Arquitetura:Atmosfera dos anos 40
Sob a administração do Senac São Paulo,
o Grande Hotel São Pedro tornou-se uma
das referências nacionais na formação de
profissionais voltados para hotelaria e alta
gastronomia
negócio&lazer
Foto: Gabriel Kosman
Foto: Gabriel Kosman
48 financeiro março 2014
pico do Ceará. Também conhecer ingredientes típicos nacionais,
como maxixe, pirarucu, priprioca (erva da região amazônica) e
aviú (microcamarão abundante nas águas dos rios do Pará). Para
variar, no dia seguinte, o hóspede pode optar por capeletti de co-
dorna com creme de abóbora. Na seleção dos doces, o chef Jor-
ge da Hora sugere um petit gâteau, preparado com cacau 70% da
Bahia, acompanhado de sorvete de maracujá. Além disso, o menu
tem outras tentações: quindim, arroz-doce com aroma de capim
cidreira, manjar de coco com calda de ameixa, torta de castanha
e sorvete de tapioca.
Como Águas de São Pedro é uma cidade muito pacata, o ho-
tel tem uma programação de lazer organizada de acordo com as
faixas etárias dos hóspedes. “As nossas atividades são divididas
por segmentação. Temos o miniclube, que reúne a criançada de 3
a 6 anos, o grupo dos pré-adolescentes, de 6 a 12 anos, depois o
dos adolescentes e dos jovens, o pessoal adulto e os clientes mais
experientes, conhecidos carinhosamente como da melhor idade,
explica Graziela Zanin, gerente geral do hotel. A área de lazer tem
opção para todo mundo, para quem não quer fazer nada o dia in-
teiro e para quem quer praticar esporte o tempo todo. Pensamos
até naqueles que desejam ficar abraçando uma das 1,2 milhão
árvores espalhadas no nosso parque”, brinca Graziela.
São tantos os encantos do Grande Hotel São Pedro que o livro
Gastronomia & História revela que a música Café da Manhã, suces-
so de Roberto Carlos, foi composta, em 1978, entre os lençóis de
uma das suítes. Já o escritor Ignácio de Loyola Brandão fez do lu-
gar o cenário ideal da lua de mel de Rosa e José, protagonistas no
romance Zero. Se gostou da dica, faça as malas e venha viver a sua
história nesse ambiente cheio recordações, beleza e conforto.
Serviço
Grande Hotel São Pedro
Parque Dr. Octávio de Moura Andrade, s/n
Águas de São Pedro – SP
www.grandehotelsenac.com.br
Tel. (19) 3482-7600
Spa personalizado:Além das três piscinas, o hóspede pode se energi-
zar com o banho de imersão em águas sulfurosas
f
Foto: Divulgação
49março 2014 financeiro
Nas happy hours ou nos encontros informais de negócios, os drinques refrescantes são ótimas opções para tornar o bate-papo mais agradável
Que tal substituir o uísque ou até mesmo a cerveja – uma das
paixões nacionais nesses dias quentes de verão – por um drinque
que possui um mix de sabores das frutas típicas da estação, com
bebidas que relaxam e também refrescam? Os dias mais longos e
de temperaturas mais elevadas são convidativos a essa experiên-
cia. Para vivenciá-la, bares e restaurantes dispõem de muitas op-
ções que, seguindo algumas recomendações, podem ser feitas e
saboreadas com a família e com os amigos, nos momentos de des-
contração e lazer.
Quem desvenda os segredos desses drinques é o tarimbado
barman Derivan Ferreira de Souza, titular do Bar Número, em São
Paulo, que soma 42 anos de profissão, oito publicações sobre o
tema e muitos prêmios, como o Mundial de Coquetelaria. “Os drin-
ques de verão têm um apelo especial, tanto no preparo quanto no
modo de servir. A estação pede frutas frescas, bebidas
de baixo teor alcoólico, água gaseificada e sucos. Antes
da escolha, no entanto, é preciso identificar o momento
a ser servido. Para cada ocasião há um momento que
harmoniza. Os aperitivos para antes das refeições. Os
digestivos após. Os long drinks nas horas de distração
e os hot drinks nos dias frios”, revela.
Outro segredo – compartilhado por quem já pre-
parou drinques para Frank Sinatra, Bono Vox, Hebe
Camargo, Pelé e Adoniran Barbosa – é o ato de pre-
parar e servir. “Ao descrever os ingredientes e o modo
de preparo aos nossos convidados, temos que buscar
surpreender o paladar, despertar os sentidos, aguçar
a saliva, a vontade de provar”, complementa Derivan.
Cheers! Um brinde ao verão
Por Liliana Liberato
happyhour
Foto
: Gab
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Kos
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Hol
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Mestre Derivan:barman de Frank Sinatra, Bono Vox, Hebe e Pelé
Serviço
Bar Número – Rua da
Consolação, 3585 – Cerqueira
César – São Paulo (SP),
tel.: 55 11 3161-3995.
50 financeiro março 2014
Clássicos & Contemporâneos
Café Oden Spritz
40 ml de Aperol60 ml de espumante brut20 ml de água com gás
Modo de preparoEm um copo para vinho Bordeaux, coloque gelo. Quando mais gelo, mais refrescante. Em seguida, coloque os ingredientes. Misture bem e decore com uma fatia de laranja.
Rouge
3 morangos 3 amoras 2 cerejas em conservaComplete com água tônica Modo de preparo
Em um copo long, coloque as frutas e amasse bem. Em seguida, coloque bastante gelo. Complete com água tônica.
Caipiry
40 ml de cachaça1 tangerina em cubos1 colher de açúcar15 ml de St. Rémy
Modo de preparoEm um copo para caipirinha, coloque a tangerina e o açúcar. Pressione de-licadamente. Em seguida, coloque a cachaça e complete com gelo. Decore com fatias de tangerina no copo.
Sex on the Beach
40 ml de vodca15 ml de Peach Stock80 ml de suco de laranja1 lance de Kaly Grena-dine
Modo de preparoEm um copo long drink, coloque gelo e em seguida a vodca, o licor e o suco de laranja. Misture bem. Decore com uma fatia de laranja e uma cereja, fi-nalize com o Kaly Grenadine.
Clericot
Mosaico
1 maçã-verde picada com casca sem se-mentes2 rodelas de abacaxi picadas1 carambola pequena fatiada1 laranja picada sem pele e sem sementes20 ml de licor Curaçau300 ml de soda limonada500 ml de vinho brancoAçúcar a gosto
1 cubo pequeno de ge-latina de limão com vodca1 cubo pequeno de gelatina de ce-reja com cassis 1 cubo pequeno de gelatina neutra com curaçau blue1 cubo pequeno de gelatina de uva simples Espumante gelado para completar1 fatia de carambola para decorar
Modo de preparoEm uma jarra de 2 litros, coloque as frutas, o licor e os outros ingredien-tes. Em seguida, gelo à vontade. Mis-ture tudo e sirva em copos de vinho branco.
Modo de preparoSiga as instruções de preparo da ge-latina e, na finalização, acrescente a cada uma o correspondente a 100 ml de cada bebida solicitada. Conserve-a na geladeira e, no momento de usar, corte em cubos ou utilize uma colher de chá para enformar. Em uma taça flute, previamente gelada, coloque as gelatinas e em seguida complete com o espumante brut. Decore com a carambola.
É também no verão que muitos drinques clássicos e atemporais ganham uma
releitura e voltam ao topo dos mais pedidos. A caipirinha é um deles que, na
repaginação do Mestre Derivan, recebeu o nome de Caipiry. Todo verão também
tem uma novidade. Em 2014, a novidade coube ao Café Oden Spritz, concebido em
um dos bares da histórica Plaza San Marco, em Veneza, na Itália. De lá, já ganhou
fama mundial e, atualmente, está entre os mais pedidos aqui no Brasil.
Outras sugestões do barman são o Clericot, com baixo teor alcoólico; o Rouge,
para quem não consome bebida alcoólica, e o Mosaico, para os que fazem ques-
tão de acompanhar as tendências. Entre os clássicos, mantém-se o Sex on the
Beach, além do Dry Martini, do Manhattan, do Blood Mary e do Negroni. De acordo
com o barman, seguir as recomendações indicadas é certeza de elogios. Então,
escolha o seu, prepare, e confira se, de fato, tem razão. Cheers! f
51março 2014 financeiro
Imagine as situações. Você faz uma ligação e,
minutos depois, o motoboy entrega seu jantar, en-
quanto perde horas a fio no trânsito de São Paulo.
Um jovem workaholic infarta, aos 27 anos, e cai no
chão impecavelmente vestido com sua camisa de
algodão egípcio. Um profissional heavy user em
tecnologia saca do bolso sua caneta digital que de-
tecta, na hora, a necessidade diária de minerais do
organismo. Caso a taxa esteja insuficiente, o aces-
sório alerta e indica a pílula que deve ser ingerida
imediatamente.
Essas situações fictícias, que chamam a aten-
ção para o ritmo frenético em que mundo está
caminhando, é o ponto de partida do livro “Desa-
celera, Mundo! Na contramão para viver melhor”,
terceira obra do advogado, administrador e consul-
tor tributário Mário Shingaki e a primeira voltada
para as questões ligadas à qualidade de vida.
O livro está dividido em áreas, como tecnolo-
gia, comportamento, consumo e sustenta-
bilidade. Com uma proposta de leitura leve
e descontraída, Shingaki faz questiona-
mentos sobre estilo de vida e a busca da
tão almejada felicidade. Ao mesmo tempo,
sugere estratégias para pequenas mudan-
ças na rotina diária que resultarão em óti-
mos benefícios. “Muitas vezes, a correria
para dar conta de todos os afazeres não
permite desacelerar para perceber os pe-
quenos prazeres e ‘viver melhor’”, explica
Shingaki.
“Em uma tarde de segunda-feira chu-
vosa, comecei a fazer alguns questiona-
mentos sobre meu estilo de vida, a forma
como conduzo meu dia e se isso me deixa
feliz ou triste. A partir dessa análise, surgiu
a ideia de escrever sobre o assunto”, conta
Shingaki, num tom de voz calmo e pausa-
É preciso saber viverPor Geyse Alencar
Livro “Desacelera, Mundo!” desafia os leitores a uma revisão do seu estilo de vida
qualidadedevida
Mario Shingaki:“dar conta de todos os afazeres não permite desacelerar para perceber os pequenos prazeres”
Foto
: Div
ulga
ção
52 financeiro março 2014
do, características que lhe são naturais e que
procura levar para todas as situações da vida.
O infarto fulminante de um amigo durante o
expediente foi o gatilho que despertou a cons-
ciência de Vinicius Branco, 57 anos, advogado e
sócio do escritório Levy & Salomão, em relação
à qualidade de vida. “Eu sempre tive vontade de
fazer um ano sabático, mas depois desse inci-
dente, eu percebi que o mesmo poderia aconte-
cer comigo, a qualquer momento, em função do
ritmo de trabalho: doze horas por dia, sete dias
por semana. Eu tinha vontade, tinha dinheiro,
mas me sentia refém do das atividades profis-
sionais”, relembra. “No mundo, tempo é dinheiro. No
mercado financeiro, isso é ainda mais intenso”, defi-
ne Branco, que também foi executivo do Citibank e do
Bank of Boston.
Esse fato traumático foi um divisor de águas e
mudou o rumo da vida de Branco. Ele pediu licença
do trabalho e, ao lado da esposa, tirou um período sa-
bático de um ano e foi para o Alasca de carro. Todas
as experiências dessa aventura podem ser conferi-
das no site www.vbranco.com.br.
Depois deste tempo de tranquilidade, o retorno
ao mercado foi bem diferente. As longas jornadas
de trabalho foram substituídas por uma programa-
ção mais organizada e equilibrada do tempo dedi-
cado ao expediente profissional. “Continuo traba-
lhando com a mesma eficiência, mas parei de levar
para casa projetos que ocupam parte dos meus
fins de semana. Sigo em frente, mas não no mesmo
ritmo”, alegra-se Branco.
“As doenças relacionadas ao esforço repetitivo
e aos transtornos mentais, como depressão e sín-
drome do pânico, lideram os afastamentos do tra-
balho protocolados na Previdência Social”, conta o
médico sanitarista e do trabalho, Koshiro Otani, 64
anos, sendo 38 dedicados à medicina.
Otani analisa o estilo da sociedade contemporâ-
nea: “Vivemos de forma apressada. As pessoas não
estão na correria apenas para conquistar um salário
no fim do mês, mas pelo simples fato de correr e se
acostumam a isso. Longas jornadas comprometem o
bem-estar físico e mental, prejuízos que podem levar
a doenças físicas e emocionais”.
O segredo da tão esperada qualidade de vida
está no equilíbrio: profissional, social, saúde, espi-
ritual e familiar. Como diz a composição de Roberto
e Erasmo Carlos e, posteriormente também inter-
pretada pelo grupo Titãs, “É preciso saber viver”.
• Alimentar-se de forma saudável: “Comer como rainha no café da manhã, como princesa no almoço e como mendigo à noite”, segundo Kofhiro Otoni.
• Ter vida afetiva satisfatória (família, amigos, colegas).• Analisar itens de consu mo: será realmente necessário
trocar de celular ou de carro?• Aprender a dizer não. • Delegar mais ao time de trabalho. • Estabelecer agenda de compromissos culturais. “Comprar
ingressos para temporadas é uma boa dica”, sugere Vinicius Branco.
• Repensar seus sonhos. Estão distantes? Encurte-os. • Ajudar mais o próximo com tempo e trabalho e não com
dinheiro. “Realizar uma atividade pro bono por ano. É compensador”, garante Mário Shingaki.
• Fazer curso sobre assuntos que não estão relacionados à sua profissão. Aumentar o repertório em outras áreas do conhecimento oxigena a rotina e contribui para a criatividade.
• Lutar pela felicidade de quem você ama, sem egoísmo.
Trilha da longevidade
A comunidade médica, de forma uníssona, recomenda a prática regular de exercícios físicos. É notório que a atividade libera endorfina, que gera bem-estar. Além disso, há outras dicas práticas e realistas que podem ajudar no aperfeiçoamento da qualidade de vida:
f
O segredo da qualidade de vida está no equilíbrio: profissional,
social, saúde, espiritual e
familiar
53março 2014 financeiro
54 financeiro março 2014
O mercado de crédito brasileiro
está em foco devido à sua alta ex-
pansão nos últimos anos. Principal-
mente, após a crise de 2008, quando
o estímulo ao crédito foi utilizado pelo
governo como medida de resgate ou
fortalecimento da economia frente às
ameaças externas.
Nota-se que o crescimento da car-
teira das pessoas físicas (PF) foi supe-
rior ao das pessoas jurídicas (PJ) nos
anos de 2009 e 2010, considerando-se
as medidas de estímulo à demanda e
a desaceleração das atividades em-
presariais em decorrência do cenário
internacional pessimista. Porém, com
um cenário já mais otimista a partir de
2011 e 2012, ocorreu um maior cres-
cimento da carteira das PJ, como pode
ser visto no gráfico 2.
Contudo, ao analisar o período que
vai de dez/07 a dez/13 (gráfico 1),
percebe-se que há um maior cresci-
mento da carteira de PF, passando de
R$ 432,4 bilhões para R$ 1,25 trilhão,
ou seja, um crescimento real de 108%.
Já a carteira de PJ passou de R$ 511,5
bilhões para R$ 1,46 trilhão, cresci-
mento de 105%.
Há, também, de se levar em con-
sideração o crescimento total da car-
teira, que passou de R$ 944 bilhões
em dez/07 para R$ 2,7 trilhões em
dez/13, o que representa um cresci-
mento real de 106%. Porém, mesmo
com esse crescimento, a relação cré-
dito/PIB brasileira, de 68%, ainda é
inferior ao de países como Espanha,
Alemanha, Estados Unidos e China que
apresentam, todos, relações crédito/
PIB superiores a 100% em 2012, se-
gundo dados do WorldBank.
Também se notam menores índices
de crescimento do mercado de crédito
nos anos de 2012 e 2013, sendo 2013 o
ano com menores índices para as car-
teiras de PF e PJ. Isso remete a uma
indicação do mercado, uma vez que o
governo manifestou preocupação com
o fechamento fiscal dos bancos públi-
cos. Dessa forma, essas instituições,
que foram vitais para a expansão do
mercado de crédito, passariam a ter
uma atuação mais conservadora no
mercado, levando, talvez, a uma retra-
ção no mercado de crédito.
Incertezas ou oportunidades
no mercado de crédito brasileiro
Por Prof. Dr. Alberto Borges Matias, com colaboração de João Gabriel Sehn
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
bancodedadosinepad
Foto
: Div
ulga
ção
55março 2014 financeiro
bancodedadosinepad
Agora, com o foco para o crédito pessoal, percebe-se uma evolução de 112% na car-
teira total entre dez/07 e dez/13, passando de R$ 88 bilhões para R$ 319 bilhões. Cresci-
mento, em suma, devido à expansão do consignado, que apresentou 133% de crescimento
real no seu volume no mesmo período, passando de R$ 54 bilhões para R$ 222 bilhões. Já
o crédito pessoal não consignado apresentou variação mais modesta, de 76%, passando
de R$ 35 bilhões para R$ 98 bilhões.
Um bom reflexo dessa expansão do crédito é o maior acesso a linhas de crédito por
parte dos consumidores, assim tendo reflexo nos indicadores de endividamento das famí-
lias. Nota-se que os níveis de endividamento, quando considerado o crédito habitacional,
passaram de 29,2% em nov/07 para 45,5% em nov/13. Já quando é desconsiderado o
crédito habitacional, os níveis são menores, passando de 25,2% para 30% no mesmo pe-
ríodo. Nota-se que o crescimento da série com o crédito habitacional é de 16,3 p.p., sendo,
Elaborado pelo Centro de Pesquisas do INEPAD - Núcleo CEPEFIN
Elaboração:Alberto Borges Matias – Diretor Presidente do INEPAD. Professor titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto. Livre docente em Finanças, atuando nos programas de graduação, pós-graduação e MBAs da Universidade
Apoio:João Gabriel Sehn – Pesquisador do Centro de Pesquisas do INEPAD – Núcleo CEPEFIN. Graduando em Economia Empresarial e Controladoria pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no Campus de Ribeirão Preto
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
56 financeiro março 2014
então, maior que o crescimento de 4,8 p.p. da série que exclui o crédito habitacional. Com
isso percebe-se um perfil positivo do endividamento, com crescimento do crédito voltado
para a aquisição da casa própria, por exemplo.
Já no lado da oferta, o reflexo da expansão de crédito está no crescimento das vendas
(gráfico 5). O índice de volume de vendas no varejo passou de 103,2 em dez/07 para 150,1
em dez/13. Vale ressaltar que os níveis de dezembro são sazonais devido às compras de
fim de ano. Porém, mesmo as médias anuais aumentaram bastante, passando de 73,2 em
2007 para 113 em 2013.
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ
Também se notam menores
índices de crescimento do mercado
de crédito nos anos de
2012 e 2013, sendo 2013 o ano com
menores índices para as carteiras de PF e PJ
f
57março 2014 financeiro
bancodedadosinepad
Taxas Médias: geralDATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.
dez/12 18,0 -0,9 6,5 -0,1 11,5 -0,8jan/13 18,6 0,6 6,4 -0,1 12,2 0,7fev/13 18,7 0,1 6,7 0,3 12,0 -0,2mar/13 18,5 -0,2 6,8 0,1 11,7 -0,3abr/13 18,5 0,0 6,8 0,0 11,7 0,0mai/13 18,1 -0,4 6,9 0,1 11,2 -0,5jun/13 18,5 0,4 7,6 0,7 10,9 -0,3jul/13 19,1 0,6 7,7 0,1 11,4 0,5ago/13 19,3 0,2 8,0 0,3 11,3 -0,1set/13 19,5 0,2 8,2 0,2 11,3 0,0out/13 19,8 0,3 8,2 0,0 11,6 0,3nov/13 20,0 0,2 8,5 0,3 11,5 -0,1dez/13 19,7 -0,3 8,6 0,1 11,1 -0,4
Variação dez-dez
1,7 2,1 -0,4
Fonte: BC / INEPAD
DATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.dez/12 24,3 -0,8 6,6 -0,2 17,7 -0,6jan/13 24,7 0,4 6,7 0,1 18,0 0,3fev/13 24,9 0,2 7,0 0,3 17,9 -0,1mar/13 24,5 -0,4 7,1 0,1 17,4 -0,5abr/13 24,3 -0,2 7,0 -0,1 17,3 -0,1mai/13 24,0 -0,3 7,1 0,1 16,9 -0,4jun/13 24,2 0,2 8,0 0,9 16,2 -0,7jul/13 25,1 0,9 8,2 0,2 16,9 0,7ago/13 25,2 0,1 8,6 0,4 16,6 -0,3set/13 25,6 0,4 8,8 0,2 16,8 0,2out/13 26,2 0,6 8,8 0,0 17,4 0,6nov/13 26,1 -0,1 9,1 0,3 17,0 -0,4dez/13 25,6 -0,5 9,2 0,1 16,4 -0,6
Variação dez-dez
Taxas Médias: Pessoa física
1,3 2,6 -1,3
Fonte: BC / INEPAD
DATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.dez/12 13,3 -0,9 6,3 -0,1 7,0 -0,8jan/13 14,0 0,7 6,2 -0,1 7,8 0,8fev/13 14,0 0,0 6,4 0,2 7,6 -0,2mar/13 14,0 0,0 6,5 0,1 7,5 -0,1abr/13 14,0 0,0 6,6 0,1 7,4 -0,1mai/13 13,5 -0,5 6,7 0,1 6,8 -0,6jun/13 14,1 0,6 7,3 0,6 6,8 0,0jul/13 14,4 0,3 7,3 0,0 7,1 0,3ago/13 14,7 0,3 7,5 0,2 7,2 0,1set/13 14,7 0,0 7,7 0,2 7,0 -0,2out/13 14,8 0,1 7,8 0,1 7,0 0,0nov/13 15,2 0,4 8,1 0,3 7,1 0,1dez/13 15,1 -0,1 8,2 0,1 6,9 -0,2
Variação dez-dez
Taxas Médias: Pessoa física
1,8 1,9 -0,1
Fonte: BC / INEPAD
58 financeiro março 2014
Consignados: saldo de operações de crédito
Fonte: BC / INEPAD
dez/12 90.225 116.039 16.244 56.595 188.878 279.103 24,5 36,9 12,4 jan/13 91.079 117.713 16.391 58.062 192.166 283.245 24,5 37,3 12,8 fev/13 91.627 119.680 16.535 59.219 195.434 287.061 24,7 37,9 13,2 mar/13 92.940 121.674 16.811 60.356 198.841 291.781 24,6 37,2 12,6 abr/13 94.042 124.091 16.964 61.412 202.467 296.509 24,3 36,8 12,5 mai/13 94.904 126.450 17.223 62.706 206.379 301.283 24,2 36,7 12,5 jun/13 95.634 128.603 17.401 63.386 209.390 305.024 24,2 38,0 13,8 jul/13 95.736 130.421 17.504 64.181 212.106 307.842 24,4 39,8 15,4
ago/13 96.486 132.123 17.727 65.102 214.952 311.438 24,5 39,7 15,2 set/13 97.579 133.439 17.860 65.536 216.835 314.414 24,3 40,3 16,0 out/13 98.605 134.936 17.950 65.893 218.779 317.384 24,6 42,2 17,6 nov/13 99 391 136 349 17 965 66 314 220 628 320 019 24,5 41,7 17,2 dez/13 97 614 137 157 17 941 66 743 221 841 319 455 24,4 41,3 16,9
Mês/Ano Não consignado Consignado
TotalConsignado Crédito
PessoalDiferença
Crédito pessoal Taxa de Juros %a.a.
crédito consignado (R$ milhões)
59março 2014 financeiro
bancodedadosinepad
dez/12 18.288 -8,4 126.614 6,0 21.480 2,4 90.225 -0,9 188.879 0,6 279.104 0,1
jan/13 20.046 9,6 126.273 -0,3 21.551 0,3 91.079 0,9 192.166 1,7 283.245 1,5
fev/13 20.800 3,8 122.107 -3,3 21.562 0,1 91.627 0,6 195.434 1,7 287.061 1,3
mar/13 20.244 -2,7 122.141 0,0 21.609 0,2 92.916 1,4 198.825 1,7 291.741 1,6
abr/13 21.220 4,8 123.598 1,2 21.662 0,2 93.944 1,1 202.469 1,8 296.412 1,6
mai/13 21.118 -0,5 126.433 2,3 21.773 0,5 94.945 1,1 206.309 1,9 301.254 1,6
jun/13 20.478 -3,0 125.372 -0,8 21.764 0,0 95.663 0,8 209.304 1,5 304.967 1,2
jul/13 20.962 2,4 129.369 3,2 21.721 -0,2 95.736 0,1 212.106 1,3 307.842 0,9
ago/13 21.086 0,6 130.019 0,5 21.739 0,1 96.787 1,1 214.728 1,2 311.515 1,2
set/13 22.025 4,5 131.437 1,1 21.558 -0,8 97.579 0,8 216.835 1,0 314.414 0,9
out/13 22.058 0,1 133.682 1,7 21.500 -0,3 98.605 1,1 218.779 0,9 317.384 0,9
nov/13 21.244 -3,7 135.236 1,2 21.416 -0,4 99.391 0,8 220.628 0,8 320.019 0,8
dez/13 20.154 -5,1 144.738 7,0 21.195 -1,0 97.614 -1,8 221.842 0,6 319.456 -0,2
MÊS
/ A
NO
CHEQUE ESPECIAL
VARIAÇÃOEM %
CARTÃO DE CRÉDITO
VARIAÇÃOEM %
VARIAÇÃOEM %
Crédito pessoal não consignado
Variação em %
Crédito pesso-al consignado
total
Variação em %
TOTAL
VAR
IAÇ
ÃO
EM %
CRÉDITO PESSOALCRÉDITO PESSOAL NÃO CONSIGNADO VINCULADO À
DÍVIDA
Saldo da carteira de crédito - pessoa físicarecursos livres - (R$ milhões)
dez/12 193.215 1,3 10.450 2,8 203.665 1,4 17.913 -6,1 1.673 -0,7 23.870 0,6
jan/13 193.474 0,1 10.494 0,4 203.968 0,1 16.762 -6,4 1.637 -2,2 24.053 0,8
fev/13 192.763 -0,4 10.422 -0,7 203.185 -0,4 15.738 -6,1 1.650 0,8 24.635 2,4
mar/13 192.795 0,0 10.430 0,1 203.225 0,0 14.746 -6,3 1.634 -1,0 25.032 1,6
abr/13 192.490 -0,2 10.498 0,7 202.988 -0,1 13.732 -6,9 1.590 -2,7 25.941 3,6
mai/13 192.060 -0,2 10.657 1,5 202.717 -0,1 12.809 -6,7 1.583 -0,4 25.923 -0,1
jun/13 191.979 0,0 10.804 1,4 202.783 0,0 12.040 -6,0 1.587 0,3 26.250 1,3
jul/13 193.946 1,0 10.879 0,7 204.825 1,0 11.167 -7,3 1.525 -3,9 26.279 0,9
ago/13 194.008 0,0 11.070 1,8 205.078 0,1 10.410 -6,8 1.553 1,8 26.417 0,5
set/13 193.106 -0,5 10.923 -1,3 204.029 -0,5 9.724 -6,6 1.538 -1,0 25.700 -2,7
out/13 193.026 0,0 11.107 1,7 204.133 0,1 9.064 -6,8 1.524 -0,9 25.167 -2,1
nov/13 193.078 0,0 11.168 0,5 204.246 0,1 8.498 -6,2 1.575 3,3 25.699 2,1
dez/13 192.816 -0,1 11.421 2,3 204.237 0,0 7.906 -7,0 1.550 -1,6 25.988 1,1
MÊS
/ A
NO
VeículosVariação
em % Outros bens Variação em %
OUTROS CRÉDITOS
LIVRES
VAR
IAÇ
ÃO
EM %
AQUISIÇÃO
TOTALVARIAÇÃO
EM %VARIAÇÃO
EM %
VAR
IAÇ
ÃO
EM %
ARREN-DAMENTO MERCAN-
TIL
DESCONTO DE
CHEQUES
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
recursos livres - (R$ milhões)
recursos direcionados - (R$ milhões)RECURSOS LIVRES - (R$ Milhões)MÊS /
ANOCRÉDITO RU-RAL TOTAL
VARIAÇÃO EM %
FINANC. IMOBILI-ÁRIO TOTAL
VARIAÇÃO EM %
FINANC. RECUR-SOS DO BNDES
VARIAÇÃO EM %
MICROCRÉDI-TO TOTAL
VARIAÇÃO EM %
OUTROS CRÉDITOS DIRECIONADOS
VARIAÇÃO EM %
dez/12 90.655 4,9 255.367 2,7 29.172 2,5 3.798 6,4 4.174 5,0jan/13 90.480 -0,2 261.344 2,3 30.221 3,6 3.823 0,7 3.937 -5,7fev/13 90.964 0,5 266.577 2,0 31.156 3,1 3.824 0,0 4.039 2,6mar/13 92.705 1,9 273.917 2,8 32.146 3,2 3.879 1,4 4.454 10,3abr/13 94.192 1,6 281.343 2,7 32.991 2,6 3.936 1,5 4.491 0,8mai/13 97.014 3,0 289.652 3,0 32.839 -0,5 4.027 2,3 4.573 1,8jun/13 101.736 4,9 298.396 3,0 33.119 0,9 4.170 3,6 4.755 4,0jul/13 99.448 -2,2 306.493 2,7 33.527 1,2 4.116 -1,3 5.109 7,4ago/13 103.181 3,8 314.896 2,7 34.086 1,7 4.158 1,0 5.314 4,0set/13 105.950 2,7 319.441 1,4 34.504 1,2 4.188 0,7 6.074 14,3out/13 108.036 2,0 326.403 2,2 35.026 1,5 4.423 5,6 6.169 1,6nov/13 110.966 2,7 333.878 2,3 35.688 1,9 4.873 10,2 6.343 2,8dez/13 115.354 4,0 341.466 2,3 37.149 4,1 5.395 10,7 6.708 5,8
Font
e: B
C /
INEP
AD
Font
e: B
C /
INEP
AD
Font
e: B
C /
INEP
AD
Fonte: BC / INEPAD
60 financeiro março 2014
Gráfico do crédito pessoal
dez/12 271.628 10.811 3,98% 190.167 16.012 8,42% 9.794 672 6,86%
jan/13 275.565 12.097 4,39% 190.419 15.843 8,32% 9.982 732 7,33%
fev/13 278.776 12.155 4,36% 190.778 16.064 8,42% 10.162 802 7,89%
mar/13 279.104 12.141 4,35% 193.215 17.351 8,98% 10.450 874 8,36%
abr/13 283.245 12.774 4,51% 193.474 16.736 8,65% 10.494 855 8,15%
mai/13 287.061 11.655 4,06% 192.763 16.539 8,58% 10.422 810 7,77%
jun/13 291.741 11.465 3,93% 192.795 15.925 8,26% 10.430 787 7,55%
jul/13 296.412 11.797 3,98% 192.490 15.707 8,16% 10.498 785 7,48%
ago/13 301.254 11.719 3,89% 192.060 15.000 7,81% 10.657 764 7,17%
set/13 304.967 12.656 4,15% 191.979 15.704 8,18% 10.804 756 7,00%
out/13 307.842 12.375 4,02% 193.946 15.768 8,13% 10.879 780 7,17%
nov/13 311.515 11.869 3,81% 194.008 15.424 7,95% 11.070 782 7,06%
dez/13 314.414 13.425 4,27% 193.106 14.946 7,74% 10.923 720 6,59%
MÊS
/ A
NO
% sobre saldo da carteira
% sobre saldo da carteira
% sobre saldo da carteira
Com atraso de 15 a 90 dias
Com atraso de 15 a 90 dias
Com atraso de 15 a 90 diasSaldo total Saldo total Saldo total
CRÉDITO PESSOAL AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS AQUISIÇÃO DE OUTROS BENSSOAL
Saldo da carteira de crédito - pessoa físicaSaldo (R$ milhões) e percentual (%) da carteira de crédito com recursos livres PF - Total e com atraso entre 15 e 90 dias
Data Saldo Taxa de Jurosjun/07 59.085 51,06jul/07 61.639 50,61
ago/07 63.483 49,89set/07 64.990 49,43out/07 66.842 48,88nov/07 67.089 46,75dez/07 68.259 45,80jan/08 69.758 53,08fev/08 71.083 52,59mar/08 72.900 50,48abr/08 74.510 50,60mai/08 75.967 48,39jun/08 76.744 51,39jul/08 77.987 53,59
ago/08 79.161 54,49set/08 80.137 56,31out/08 81.916 57,42nov/08 81.761 59,88dez/08 82.853 60,44jan/09 83.203 56,51fev/09 81.393 54,49mar/09 83.665 50,84abr/09 87.384 48,78mai/09 89.592 46,62jun/09 91.998 45,64jul/09 94.475 44,78
Data Saldo Taxa de Jurosago/09 97.297 44,29set/09 99.518 44,71out/09 101.735 45,74nov/09 103.450 43,64dez/09 107.283 44,35jan/10 109.248 44,83fev/10 111.396 43,81mar/10 115.128 42,69abr/10 117.580 42,87mai/10 119.875 43,04jun/10 121.546 41,97jul/10 123.631 42,21
ago/10 126.750 41,96set/10 128.691 41,63out/10 131.057 43,55nov/10 133.419 41,99dez/10 136.312 44,11jan/11 139.246 48,32fev/11 141.840 47,96mar/11 142.150 43,01abr/11 143.935 44,34mai/11 145.738 44,56jun/11 147.892 44,52jul/11 150.587 45,01
ago/11 154.027 44,52set/11 155.626 44,64
Data Saldo Taxa de Jurosout/11 157.277 45,34nov/11 159.117 43,64dez/11 159.349 42,4jan/12 161.858 44,8fev/12 164.769 45,2mar/12 167.349 43,9abr/12 170.256 41,4mai/12 174.031 39,3jun/12 177.161 38,2jul/12 179.884 38,6
ago/12 183.040 38set/12 182.506 37,7out/12 185.434 37,8nov/12 187.712 37,1dez/12 188.879 36,9jan/13 192.166 37,3fev/13 195.434 37,9mar/13 198.825 37,2abr/13 202.469 36,8 mai/13 206.309 36,7 jun/13 209.304 38,1 jul/13 212.106 39,8
ago/13 214.728 39,7 set/13 216.815 40,4 out/13 218.958 42,2 nov/13 220.628 41,7 dez/13 221.842 41,3
Fonte: BC / INEPAD
Fonte: BC / INEPAD
61março 2014 financeiro
bancodedadosinepad
dez/12 188.879 2,65 -0,01 36,90 -0,20 193.215 1,51 -0,05 19,75 -0,72 10.450 4,74 0,17 74,36 3,42
jan/13 192.166 2,68 0,02 37,30 0,40 193.474 1,57 0,05 20,53 0,78 10.494 4,55 -0,19 70,57 -3,79
fev/13 195.434 2,71 0,04 37,90 0,60 192.763 1,56 0,00 20,46 -0,07 10.422 4,49 -0,07 69,30 -1,27
mar/13 198.825 2,67 -0,04 37,20 -0,70 192.795 1,51 -0,05 19,73 -0,73 10.430 4,45 -0,03 68,63 -0,67
abr/13 202.469 2,65 -0,02 36,80 -0,40 192.500 1,53 0,01 19,92 0,19 10.503 4,43 -0,02 68,25 -0,38
mai/13 206.309 2,64 -0,01 36,70 -0,10 192.060 1,51 -0,01 19,73 -0,19 10.657 4,32 -0,11 66,20 -2,05
jun/13 209.304 2,72 0,08 38,00 1,30 191.979 1,49 -0,02 19,47 -0,26 10.804 4,33 0,01 66,40 0,20
jul/13 212.106 2,83 0,11 39,80 1,80 193.946 1,55 0,06 20,28 0,81 10.879 4,39 0,06 67,49 1,09
ago/13 214.728 2,83 -0,01 39,70 -0,10 194.008 1,60 0,04 20,92 0,64 11.070 4,39 0,00 67,55 0,06
set/13 314.414 2,86 0,04 40,34 0,64 193.106 1,64 0,05 21,60 0,68 10.923 4,43 0,03 68,17 0,62
out/13 317.384 2,98 0,11 42,23 1,89 193.026 1,59 -0,05 20,83 -0,77 11.107 4,58 0,16 71,19 3,02
nov/13 320.019 2,95 -0,03 41,72 -0,51 193.078 1,62 0,03 21,28 0,45 11.168 4,65 0,07 72,57 1,38
dez/13 319.456 2,92 -0,02 41,32 -0,40 192.816 1,62 0,00 21,29 0,01 11.421 4,93 0,28 78,13 5,56
MÊS
/ A
NO
Saldo total
Saldo total
Saldo total
R$ Milhões R$ Milhões R$ Milhões% am % am % am% aa % aa % aaVarição p.p
Varição p.p
Varição p.p
Varição p.p
Varição p.p
Varição p.p
Taxa de juros Taxa de juros Taxa de juros
CRÉDITO PESSOAL AQUISIÇÃO DE BENS - VEÍCULOS AQUISIÇÃO DE BENS - OUTROS
Juros
Atividade Econômica
Taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres - Pessoa Física
Fonte: BC / INEPAD
Fonte: BC / INEPAD
DATA
"Taxa da Uti-lização
da Capacidade Instalada"
Var. p.p. DATA
"Índice de Produção Física
Média Móvel Trimestral"
Var. %
dez/12 81,7 -1,20 dez/12 125,91 -0,25%jan/13 83,1 1,40 jan/13 127,12 0,96%fev/13 82,7 -0,40 fev/13 127,62 0,39%mar/13 82,4 -0,30 mar/13 128,0 0,31%abr/13 83,0 0,60 abr/13 127,74 -0,22%mai/13 82,3 -0,70 mai/13 127,87 0,10%jun/13 82,3 0,00 jun/13 128,39 0,41%jul/13 82,3 0,00 jul/13 127,38 -0,79%ago/13 82,1 -0,20 ago/13 127,26 -0,09%set/13 81,9 -0,20 set/13 126,66 -0,47%out/13 82,1 0,20 out/13 127,06 0,32%nov/13 81,9 -0,2 nov/13 127,17 0,09%dez/13 81,4 -0,5 dez/13 125,6 -1,23%
Variação Dez-Dez
-0,3 Variação Dez-Dez
-0,31
62 financeiro março 2014
Anfavea
Rendimento
Produção - Automóveis de Passageiros, Mistos, Veículos Comerciais, Leves e Pesados (em unidades)
Taxa de Desemprego (%)
Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido (R$)
DATA Brasil Var. p.p. SP Var. p.p.
jan/13 5,4% 0,8 6,4% 1,200fev/13 5,6% 0,2 6,5% 0,100mar/13 5,7% 0,1 6,3% -0,200abr/13 5,8% 0,1 6,70% 0,400mai/13 5,8% 0,0 6,30% -0,400jun/13 6,0% 0,2 6,60% 0,300jul/13 5,6% -0,4 5,80% -0,800
ago/13 5,3% -0,3 5,40% -0,400set/13 5,4% 0,1 5,80% 0,400out/13 5,2% -0,2 5,60% -0,200nov/13 4,6% -0,6 4,70% -0,900dez/13 4,30% -0,3 4,40% -0,3jan/14 4,80% 0,5 5,00% 0,6
DATA Brasil Var. p.p. SP Var. p.p.
jan/13 1,9 -0,10 3,5 -0,10fev/13 1,9 0,00 3,3 -0,20mar/13 2,0 0,10 3,7 0,40abr/13 2,0 0,00 3,7 0,00mai/13 2,0 0,00 3,6 -0,10jun/13 1,9 -0,10 3,5 -0,10jul/13 1,7 -0,20 3,2 -0,30
ago/13 1,8 0,10 3,4 0,20set/13 1,8 0,00 3,4 0,00out/13 1,9 0,10 3,5 0,10nov/13 1,9 0,00 3,4 -0,10dez/13 1,9 0,00 3,4 0,00jan/14 1,9 0,00 3,50 0,10
Data Produção Média Trim. Var. MensalVar. Mensal
(%)
jan/13 292.152 284.398 32.788 12,6%fev/13 240.796 264.104 -51.356 -17,6%mar/13 329.093 287.347 88.297 36,7%abr/13 352.355 307.415 23.262 7,1%mai/13 344.547 341.998 -7.808 -2,2%jun/13 323.880 340.261 -20.667 -6,0%jul/13 317.855 328.761 -6.025 -1,9%
ago/13 342.757 328.164 24.902 7,8%set/13 322.350 327.654 -20.407 -6,0%out/13 322.514 329.207 164 0,1%nov/13 293.189 312.684 -29.325 -9,1%dez/13 230.892 282.198 -62.297 -21,2%jan/14 237.491 253.857 6.599 2,9%
Variação Jan-Jan
-18,71%
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9%
10%
jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13 jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 jan/14
Taxa de Desemprego Inepad & IBGE
Brasil
São Paulo
Var. p.p.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido - Brasil e SP - (mil R$) Inepad &
IBGE
SP Brasil
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13 jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 jan/14
Uni
dade
s
Produção - Automóveis Leves e Pesados Inepad & Anfavea
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido - Brasil e SP - (mil R$) Inepad &
IBGE
SP Brasil
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9%
10%
jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13 jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 jan/14
Taxa de Desemprego Inepad & IBGE
Brasil
São Paulo
Var. p.p.
63março 2014 financeiro
bancodedadosinepad
Exportação de Autoveículos montados (em unidades)
Licenciamento de Automóveis Nacionais e Importados - (em unidades)
Data Exportações Média Trim. Var. MensalVar. Mensal
(%)
jan/13 36.233 38.865 -4.961 -12,04%fev/13 31.743 41.194 -4.490 -12,39%mar/13 43.529 36.233 11.786 37,13%abr/13 52.771 31.743 9.242 21,23%mai/13 48.620 43.529 -4.151 -7,87%jun/13 49.444 52.771 824 1,69%jul/13 54.096 48.620 4.652 9,41%
ago/13 64.071 49.444 9.975 18,44%set/13 45.441 54.096 -18.630 -29,08%out/13 51.819 64.071 6.378 14,04%nov/13 45.234 45.441 -6.585 -12,71%dez/13 43.298 51.819 -1.936 -4,28%jan/14 25.779 45.234 -17.519 -40,46%
Variação Jan-Jan
-28,85%
Data Total 1000cc% no Total
+1000cc a 2000cc
% no total
+2000cc% no total
jan/13 231.343 97.475 42,1% 132.707 57,4% 1.161 0,5%fev/13 172.080 68.814 40,0% 102.250 59,4% 1.016 0,6%mar/13 209.797 85.683 40,8% 122.993 58,6% 1.121 0,5%abr/13 246.379 98.563 40,0% 146.066 59,3% 1.750 0,7%mai/13 232.974 93.970 40,3% 137.426 59,0% 1.578 0,7%jun/13 233.277 96.715 41,5% 135.298 58,0% 1.264 0,5%jul/13 250.685 99.838 39,8% 149.235 59,5% 1.612 0,6%
ago/13 242.479 94.689 39,1% 146.205 60,3% 1.585 0,7%set/13 222.155 85.937 38,7% 134.794 60,7% 1.424 0,6%out/13 239.590 89.442 37,3% 148.753 62,1% 1.395 0,6%nov/13 223.748 88.745 39,7% 133.291 59,6% 1.712 0,8%dez/13 259.211 101.512 39,2% 155.889 60,1% 1.810 0,7%jan/14 228.670 86.481 37,8% 140.452 61,42% 1.737 0,76%
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
Exportação de Autoveículos Montados Fonte: Inepad & Anfavea
Exportações Média Trimestral
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
Licenciamento por Categoria Automóveis Fonte: Inepad & Anfavea
1000cc +1000cc a 2000cc +2000cc
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
Licenciamento por Categoria Automóveis Fonte: Inepad & Anfavea
1000cc +1000cc a 2000cc +2000cc
Fonte: Anfavea / INEPAD
Fonte: Anfavea / INEPAD
Macro
64 financeiro março 2014
Previsões Econômicas
Ano de 2014"PIB Total
% a.a.""PIB Agropecuário
% a.a.""PIB Indústria
% a.a.""PIB Serviço
% a.a.""Produção Industrial
% a.a."
Previsão 21/02/2014 (2014/2014)
3,29 1,82 1,93 1,74 1,74
1 semana antes 14/02 3,44 1,89 1,95 1,81 1,85
1 mês antes 21/01/2014 2,88 1,87 1,97 1,99 2,09
Ano de 2014"Selic
Taxa anual""IGP-DI % a.a."
"IPCA % a.a."
"Taxa de Cãmbio R$ / US$"
"Saldo Comercial
US$ bilhões"
Previsão 21/02/2014 (2014/2014)
11,20 5,89 5,98 2,49 250,02
1 semana antes 14/02 11,21 5,81 5,92 2,49 249,97
1 mês antes 21/01/2014 10,83 5,93 6 2,47 252,98
65março 2014 financeiro
artigopalavrafinal
Com a divulgação pelo IBGE do crescimento de
2,3% do PIB em 2013, evidenciou-se o fim do ciclo
de crescimento liderado pelo consumo das famílias.
Atualmente, as famílias devem manter ritmo mais
moderado de consumo, deixando parte da propulsão
do PIB para ser realizada por investimento e expor-
tações. Também não será o consumo do governo que
poderá impulsionar significativamente o ritmo de
crescimento, dadas as crescentes restrições orça-
mentárias e fiscais que ele tem de normalizar. Tem
ocorrido gradual redução de oferta e demanda do
crédito à pessoa física, evidenciando um processo de
desalavancagem do crédito ao consumo.
No gráfico 1 pode-se verificar uma queda no rit-
mo de consumo no varejo e uma redução no crédito
total do Sistema Financeiro Nacional (pessoa jurídica
e pessoa física) expressivas em termos de redução
na demanda por crédito ao consumo.
Essa perda de robustez do consumo e, por con-
sequência, da demanda por crédito tem sido causada
por vários fatores: fim do ciclo de expansão da renda
real (salário mínimo maior, aumentos salariais ex-
pressivos, aumento da oferta de emprego, benefícios
de renda social e isenções tributárias que expandem
renda direta ou indiretamente); maior comprometi- Art
igo
envi
ado
em 2
8/2/
2014
Desalavancagemdo Crédito ao Consumo
mento da renda (ampliação acima do habitual no endivida-
mento, carga tributária crescente, novos hábitos de consu-
mo, sobretudo de maior utilização de serviços); e redução
do poder aquisitivo (aumento e persistência
de inflação elevada, com maior efeito para o
orçamento das famílias de baixa renda, dada
a diferente composição de sua cesta de con-
sumo).
O orçamento de muitas famílias não foi
capaz de suportar o conjunto de restrições
financeiras vis-à-vis à sua renda líquida,
resultando em crescimento expressivo da
inadimplência a partir de 2011. Como con-
sequência, desde 2012 tem havido intenso
esforço das famílias em buscar saídas para
a deterioração de suas finanças pessoais;
movimento acompanhado pelo sistema fi-
nanceiro nacional na busca de solução para
os extremamente endividados, inicialmente
na forma de mutirões de reestruturação de
dívida, depois diretamente nos bancos e fi-
nanceiras. Ocorreu também a utilização de
outras formas de financiamento de prazo
mais longo (crédito consignado, crédito pes-
soal com lastro imobiliário), além da maior
oferta de recursos pelos bancos públicos. Como resulta-
do desses esforços, a taxa de inadimplência tem recuado
substancialmente, como ilustra o gráfico 2.
Gráfico 1 - Evolução Crédito Total e Vendas ao Varejo
Gráfico 2 – Inadimplência Total Recursos Livres Pessoa Física
Por Nicola Tingas,Economista-chefe
da Acrefi
f
Por Nicola Tingas
66 financeiro março 2014
67março 2014 financeiro
68 financeiro março 2014