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Miroslava Hamzagic
FLEXIBILIDADE DE ENTREGA NA MONTADORA E POSTPONEMENT
Taubaté – SP
2003
Miroslava Hamzagic
FLEXIBILIDADE DE ENTREGA NA MONTADORA E POSTPONEMENT
Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre, pelo Curso de Mestrado em Administração de Empresas, do Departamento de Economia, Contabilidade e Administração, da Universidade de Taubaté. Área de Concentração: Produção, Qualidade e Logística. Orientador: Prof. Dr. Francisco C. L. de Melo
Taubaté – SP
2003
Miroslava Hamzagic FLEXIBILIDADE DE ENTREGA NA MONTADORA E POSTPONEMENT
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Data: _______________________________________ Resultado: __________________________________
COMISSÃO JULGADORA Prof. Dr. ___________________________________ Assinatura: _________________________________ Prof. Dr. ___________________________________ Assinatura: _________________________________ Prof. Dr. ___________________________________ Assinatura: _________________________________
Carrega-nos no sacrifício, chora e ora por nós na dor. Apóia-nos na luta diária, sendo um grande exemplo de força e fé. Nos mais duros momentos, não dobrou os joelhos senão para agradecer.
Pela sua doçura e pelo seu eterno amor, dedico este trabalho à minha mãe.
AGRADECIMENTOS A Deus, nosso Pai, em primeiro lugar, pela grande oportunidade que me concedeu.
Ao meu esposo Jean, pela dedicação e pelo apoio.
Aos meus filhos Vicenzo e Giovanna, pela maturidade precoce em entender a
importância do evento, e à minha querida amiga e “fiel escudeira” Maria, mãe dos
meus filhos, nas minhas horas de ausência.
Ao Prof. Dr. Francisco Cristóvão Lourenço de Melo, pela paciência, doçura e
sabedoria, desde o primeiro momento da orientação.
Ao Prof. Mestre Orlandino Roberto Pereira Filho pela atenção e pelo auxílio nas
etapas mais difíceis.
À Empresa TCA, nas pessoas de Laércio Zaratin e Jorge Torralba pela credibilidade,
apoio e confiança.
Às minhas queridas irmãs Hadia e Ludmila, pela fé, pelo apoio, positivismo e pelo
quanto acreditaram em mim.
Ao meu chefe, Sr. Antonio Antunes Leiras, aos meus queridos colegas Emílio Carlos
Pereira e Sueli D’Almeida, que, sem medo, assumiram riscos e compromissos para
me ajudar, valorizando as minhas conquistas, como se fossem suas.
Às pessoas imprescindíveis na elaboração desta dissertação: Marco Antonio Castro,
Adirceu Aparecido Rocha, Mithermayer Menabó Junior, Paulo Matos e Maurílio
Augusto Pereira, sem os quais este trabalho não teria sido concluído.
HAMZAGIC, Miroslava. Flexibilidade de Produção na Montadora e Postponement.
2003. 167f. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) - Departamento
de Economia, Ciências Contábeis e Administração, Universidade de Taubaté,
Taubaté-SP, 2003.
RESUMO
No mundo dos negócios atuais é cada vez mais imprescindível garantir
flexibilidade e transparência nos relacionamentos entre todos os integrantes da Cadeia
de Suprimentos. Este conceito enfoca o desenvolvimento de uma visão holística por
toda a Cadeia de Suprimentos ampliada, que vai desde o primeiro fornecedor até o
último cliente, enfatizando a criação de uma imagem única e integrada, rompendo as
barreiras da organização.
Como conseqüência desta nova forma de relacionamento entre as empresas da
Cadeia de Suprimentos, surgiram novos conceitos e métodos, novas práticas e
ferramentas, e, dentre as mais usuais, destaca-se o postponement, termo em inglês
que significa postergação. Este sistema visa atender à customização em massa,
fornecendo uma alta variedade de produtos, sem o aumento de custo.
Esta Dissertação tem o objetivo de traçar a evolução desses relacionamentos,
passando pela produção enxuta, pelo consórcio modular, até o aparecimento do
postponement, mostrando como esta prática é importante, porque aproxima
fornecedores da demanda do cliente. Esta Dissertação também procura mostrar, por
meio de uma pesquisa de campo, como funcionaria este método de fornecimento para
uma matéria-prima, que já é normalmente fornecida para uma montadora de veículos.
Os resultados obtidos foram observados e verificou-se que, além da possível
redução dos estoques dos materiais envolvidos, há ainda a condição de garantir o
abastecimento ininterrupto da produção do cliente, o que vem a confirmar os bons
resultados dos novos tipos de relacionamento de parceria e de comprometimento
fornecedor/montadora, iniciados no advento da produção enxuta.
Palavras-Chave: postergação, produção flexível, entrega flexível, relacionamento
cliente/fornecedor.
ABSTRACT
In the current business world it is indispensable to assure flexibility and
transparency in the relationship between the partners of supply chain. This concept
attains to development of a large Supply Chain beyond the organization limit giving a
logistic impression of the business world.
As a consequence of this new relationship form among companies of supply
chain, new concepts, new methods, practice and tools appeared. One of the most
usual practices in Supply Chain management is the postponement. This system aims
to attain the mass customization needs getting available a high products variety at a
low price.
This dissertation follows a little history and evolution of this relationships from
lean manufacturing to modular system until the postponement system, showing that
this practice establish an alliance between vehicle assemblers and their suppliers. This
dissertation also shows how this way of system could develop and give great emphasis
of success in the wiring harness assembly.
The results it would be approach yours related practices and a better
attendance to the consumers’ expectations.
Key words: postponement, production flexibility, delivery flexibility,
customer/supplier relationship
SUMÁRIO
RESUMO 05
ABSTRACT 06
LISTA DE FIGURAS 09
LISTA DE TABELAS 11
1 INTRODUÇÃO 12
1.1 Apresentação 12
1.2 Objetivo 13
1.3 Limitações 14
1.4 Estrutura do Trabalho 14
2 UM HISTÓRICO SOBRE INDUSTRIALIZAÇÃO 16
2.1 O Brasil e suas Montadoras de Veículos 16
2.2 Das Mudanças Organizacionais ao Atendimento das Necessidades
dos Clientes 19
2.2.1 A Revalorização da Manufatura 19
2.2.2 O Desafio de Produzir com Qualidade 26
2.2.3 A Função da Logística na Empresa 27
2.2.4 A Cadeia de Suprimentos e a Cadeia de Valor 37
2.2.5 A Cadeia de Valor, a Rede de Valor e a Constelação de Valor 44
2.3 As Montadoras e o Relacionamento com os Fornecedores 44
2.3.1 Histórico 44
2.3.2 Os Relacionamentos de Parceria 50
2.3.3 O Suprimento na Produção Enxuta 54
2.3.4 Componentes Importantes para a Prática da Produção Enxuta 57
2.4 O Consórcio Modular e as Unidades de Negócio 59
2.5 Flexibilidade de Entrega e a Logística de Resposta Rápida 63
2.6 A Filosofia do Postponement 72
2.6.1 O Foco da Cadeia de Suprimentos 72
2.6.2 O Risco de Manter Estoques 73
2.6.3 Postponement 75
3 O CASO DO FORNECIMENTO DE CHICOTES PARA A MONTADORA 78
3.1 O Histórico de Vendas dos Veículos 78
3.2 O Veículo e sua Composição 81
3.3 Os Sistemas Atuais de Programação de Matéria-Prima 84
3.3.1 A Composição dos Volumes Programados aos Fornecedores 84
3.3.2 Release – Documento de Autorização de Entrega 87
3.3.3 O Planejamento da Logística de Entrada 92
3.3.4 A Linha de Produção e os Pontos de Informação 100
3.3.5 A Variação da Demanda X Programação dos Fornecedores 102
3.3.6 A Necessidade de Customização da Matéria-Prima 104
3.4 O Chicote Elétrico 105
3.4.1 Família dos Chicotes Principais 108
3.4.2 Família dos Chicotes Secundários 112
4 A PROPOSTA 124
4.1 A Escolha do Chicote Elétrico 125
4.2 A Escolha da Família do Chicote do Painel de Instrumentos 127
4.3 Definição dos Tipos de Chicotes: O Básico e seus Derivados 130
4.4 Fluxo Atual da Cadeia de Suprimentos: Chicotes Elétricos –
Montadora 142
4.5 Fluxo Proposto para a Cadeia de Suprimentos: Fornecedor
Chicotes Elétricos – Montadora 145
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 151
6 CONCLUSÃO 156
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 157
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 161
GLOSSÁRIO 162
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Alguns Acontecimentos Importantes na História da
Industrialização no Brasil e no Mundo 19
Figura 2 – Perda de Posição no Mercado por Empresas Tradicionais 23
Figura 3 – Integração das Diversas Áreas para Formar a Logística
Empresarial 33
Figura 4 – Evolução da Logística 37
Figura 5 – Cadeia de Valor (Porter 1989) 40
Figura 6 – Atividades Essenciais da Logística 42
Figura 7 – Estrutura do Novo Contexto Empresarial 43
Figura 8 – O ciclo de Vida do Produto 64
Figura 9 – Entrada Tardia no Mercado e Obsoletos 64
Figura 10 – O Ciclo do Pedido 65
Figura 11 – Prazos Acumulados Desde a Colocação do Pedido até Dinheiro
em Caixa 66
Figura 12 – Custo Adicionado Versus Valor Adicionado 67
Figura 13 – Comprimindo a Cadeia de Suprimentos 68
Figura 14 – Ciclos no Processo Produtivo 69
Figura 15 – Puxar Versus Empurrar na Cadeia Logística 70
Figura 16 – Percentual Médio de Volume de Produção Diária do Veículo de
Motorização Alta Economia 80
Figura 17 – Percentual Médio de Volume de Mercado (vendas) 80
Figura 18 – Produção Diária Veículo 1,0 8v 81
Figura 19 – Esquema de uma “Árvore de Uso” 85
Figura 20 – Esquema da “Árvore de Uso” de um Produto, com o Volume
Colocado 86
Figura 21 – Lay Out do Release da Montadora 91
Figura 22 – Percentual por Tipo de Sistemas de Entrega de Peças dos
Fornecedores da Montadora 98
Figura 23 – Fluxo Operacional da Logística de Fábrica – Montadora 99
Figura 24 – Linha de Produção e os Pontos de Informação 101
Figura 25 – Variação entre Programado e Produzido – Modelos Montadora
janeiro a dezembro/2002 104
Figura 26 – Perspectiva de um Chicote Elétrico do Painel de Instrumentos 106
Figura 27 – Perspectiva do Chicote Traseiro Montado no Veículo 109
Figura 28 – Perspectiva do Chicote Painel Montado no Veículo 110
Figura 29 – Perspectiva de um Chicote do Motor, Montado no Veículo 111
Figura 30 – Perspectiva do Chicote da Injeção Eletrônica Montado no Veículo 112
Figura 31 – Perspectiva do Chicote das Portas Montado na Porta 113
Figura 32 – Perspectiva de um Chicote da Tampa Traseira Montado no
Veículo 114
Figura 33 – Conectores com Terminais e Fios 118
Figura 34 – Evolução da Quantidade de Fios por Chicote Elétrico 122
Figura 35 – Volume de Chicotes Liberados por Famílias/Ano 128
Figura 36 – Volume de Chicotes Envolvidos em Modificações Durante o Ano 129
Figura 37 – Percentual de Consumo do Chicote Painel Básico e seus
Derivados – julho/2002 133
Figura 38 – Percentual de Consumo do Chicote Painel Básico e seus
Derivados – setembro/2002 134
Figura 39 – Percentual de Consumo Médio do Chicote Painel Básico e seus
Derivados 134
Figura 40 – Participação de Cada Chicote Painel no Montante não
Produzido em 2002 – veículo 2P 1,0 8v 135
Figura 41 – Fluxo Atual da Cadeia de Suprimentos Fornecedor-Montadora –
Matéria-Prima: Chicotes Elétricos 143
Figura 42 – Fluxo Atual de Materiais e Informação 144
Figura 43 – Fluxo Proposto da Cadeia de Suprimentos Fornecedor –
Montadora: Postponement de Manufatura de Chicotes 148
Figura 44 – Fluxo Proposto 149
Figura 45 – Análise Comparativa entre a Entrega Tradicional e a Entrega
por Postponement 150
LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Exemplos de Sistemas de Alta Tecnologia 25 Tabela 2 – Mudanças Ambientais 38 Tabela 3 – Fatores que Afetam os Negócios Globais de Hoje 38 Tabela 4 – Comprador e Fornecedor no Modelo de Competidores 51 Tabela 5 – Comprador e Fornecedor na Perspectiva de Parceria 52 Tabela 6 – O Efeito JIT na Cultura da Companhia 71 Tabela 7 – Motorização dos Veículos da Montadora 79 Tabela 8 – Peças Utilizadas na Montagem Final do Veículo 83 Tabela 9 – Exemplo dos Volumes Programados nos Releases 89 Tabela 10 – Freqüência de Remessa das Matérias-Primas 94 Tabela 11 – Peças e Fornecedores no Sistema Janela de Entregas na Montadora 96 Tabela 12 – Peças e Fornecedores Kanban na Montadora 97 Tabela 13 – Funções de Acionamento de Cada Família de Chicote no Veículo 115 Tabela 14 – Função de Cada Matéria-Prima no Chicote Elétrico 117 Tabela 15 – Função dos Conectores e Terminais pelo Tipo de Matéria-Prima 119 Tabela 16 – Quantidade de Peças por Família de Chicotes 121 Tabela 17 – Exemplo de Chicotes Usados em Dois Modelos de Veículos 123 Tabela 18 – Média Histórica da Família do Chicote Painel 132 Tabela 19 – Diferentes Funções entre o Chicote Painel Básico e seus Derivados 133 Tabela 20 – Exemplo dos volumes do chicote básico e ramificações a serem
produzidas pelo fornecedor 136 Tabela 21 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HM) 137 Tabela 22 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HN) 138 Tabela 23 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HP) 139 Tabela 24 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HS) 140 Tabela 25 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HT) 141 Tabela 26 – Análise Comparativa Preço de Venda Sistemática Atual x
Postponement de Manufatura 150
1 INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação
O sistema Fordista de produção, a produção em massa criada no início do
século XX, deu lugar aos conceitos inovadores das empresas japonesas, por volta dos
anos 80. Rigidez, procedimentos rigorosos, apatia e estagnação deram lugar a
relações humanas, treinamento, delegação, cooperação e flexibilidade. A hegemonia
americana estremecia frente à concorrência de mercados internacionais,
principalmente o Japão, que traçava rotas de crescimento e desenvolvimento,
obrigado pela condição em que se encontrou, ao final da 2ª Guerra Mundial.
Lembrando Berman Marshal, quando se referia a Karl Marx, “tudo o que é sólido, se
desmancha no ar”. (1990, p.93).
Há algum tempo, seus clientes e fornecedores têm firmado um relacionamento
mais próximo, com o único objetivo de promover a permanência no mercado.
Grandes empresas, detentoras do posto de definição de políticas e
procedimentos inéditos, têm criado e repassado, gradativamente, inúmeros planos
estratégicos aos seus fornecedores, parceiros, aliados, terceiros e clientes, com o
intuito de sucesso nas vendas, aumentando, assim, o lucro, a qualidade e a
produtividade, diminuindo os custos, a ineficiência e as perdas que possam existir. As
empresas têm diminuído a distância entre ela e seus fornecedores de primeira linha e
os demais fornecedores, na formação da pirâmide de fornecimento.
A composição do custo do produto não é mais uma soma de impostos, de
matéria-prima e de mão-de-obra, mas, atualmente, compõe-se do custo de atividades
que agregam ou não valor, e essas atividades podem ser melhoradas, minimizando-se
gastos que são desnecessários, criando benefícios que se tornam um diferencial.
Todos, clientes, fornecedores e sub-fornecedores, são responsáveis pela composição
do custo do produto, numa cadeia de valor e fornecimento. É uma oportunidade de dar
um passo à frente da concorrência. É o estabelecimento de atividades integradas, que
tornam o produto mais atraente aos olhos do cliente.
A época em que o ambiente econômico não era turbulento, quando os ciclos de
produtos eram mais longos, a concorrência era menor, a excelência nos negócios era
definida por uma gestão eficiente de atividades isoladas, como compras, transporte,
armazenagem e distribuição. Naquela época, a manufatura servia para produzir, e a
logística, somente para transporte de mercadorias.
13
A indústria automobilística, dentre outras, precursora de conceitos e práticas,
desde a época de Henry Ford, sempre foi alvo de grandes mudanças. Era ela que
acompanhava as inovações e precisava alterar sua composição de valor do produto,
por meio de sistemas de alta tecnologia, principalmente, em se falando de Brasil, por
causa do mercado globalizado e pela liberdade das importações, presentes desde o
início do governo Collor, em 1994.
Grandes empresários, grandes nomes em administração, trouxeram estratégias
de suas matrizes no exterior, ou de outras empresas, num tipo de benchmarking
(processo contínuo de avaliar processos de uma empresa, tomando-se como
referência a concorrentes e outras firmas melhores em sua categoria). O objetivo único
era promover a adequação às novas tendências de mercado, promovendo
braimstormings (geração livre de idéias em grupo) dentro da corporação, entre
diretores, gerentes, supervisores, indo até a esfera operacional.
Há cerca de dez anos, houve o esclarecimento de que a Logística, a
movimentação de informações e materiais dentro da empresa, nos dois sentidos,
poderia ser uma ferramenta estratégica de inúmeras oportunidades de ganho, pois
finalmente entendeu-se que todas as operações, desde o primeiro instante do
interesse do cliente pelo produto, até a fase pós-venda, são operações que geram
custo, e podem facilitar ou dificultar a venda, um diferencial para a sobrevivência no
mercado. Agregada a práticas sincronizadas de produção, a Logística torna-se uma
ferramenta poderosa na busca pela qualidade, que hoje nada mais é que o
atendimento às expectativas do cliente.
A Logística, como porta de entrada e saída de matéria-prima e produto acabado,
conduz as operações da empresa como um todo, e, estando aliada aos demais
departamentos, tem conseguido grandes resultados. Para tanto, tem revisto e alterado
seus conceitos gerenciais e operacionais.
Clientes e fornecedores trabalham juntos na definição de um melhor fluxo de
materiais e informações, e acompanham as mudanças organizacionais e de ambiente,
sempre vislumbrando não ficar para trás no mercado. Integração, cadeia, valor e
flexibilidade de entrega aliada a uma flexibilidade de produção são os conceitos mais
praticados na atualidade.
1.2 Objetivo
Observando-se as mudanças ambientais e organizacionais ocorridas nos últimos
anos, as novas práticas para conceitos como manufatura, produção e qualidade, o
14
entendimento da logística na formação da cadeia de valor e a formação da cadeia de
suprimentos, esta dissertação tem o objetivo de expor a evolução do relacionamento
entre as montadoras e seus fornecedores. Irá demonstrar como funciona o
retardamento da montagem final dos produtos fornecidos, estando o fornecedor
próximo ao cliente, utilizando o planejamento de uma logística como ferramenta para
minimizar o impacto dos custos inerentes a este fornecimento, como, por exemplo, a
variação do programa de produção do cliente. Por fim, irá demonstrar como essas
práticas poderiam auxiliar no fornecimento de uma autopeça, em particular, que
compõe a parte elétrico-eletrônica do veículo, o chicote elétrico.
1.3 Limitações
O trabalho de pesquisa desta Dissertação visa identificar os pontos relevantes do
sistema modular e do retardamento da montagem final do produto, também chamado
postponement, criando-se uma nova forma de fornecimento, para um produto já
fornecido atualmente. Observando-se a dinâmica da linha de produção do cliente, no
período dos dois últimos anos, esses pontos relevantes serão estendidos à matéria-
prima fornecida para a montagem dos veículos, verificando-se as possibilidades de
ganhos neste produto específico.
As limitações deste trabalho restringem-se ao tipo de produto fornecido e às
condições internas do cliente considerado.
1.4 Estrutura do Trabalho
Esta dissertação está organizada em 06 capítulos, distribuídos conforme segue:
No Capítulo 1 são apresentados os assuntos abordados neste trabalho, o
objetivo, a metodologia utilizada e as limitações do estudo.
No Capítulo 2, a Revisão de Literatura, a história da indústria automobilística no
Brasil e no mundo, as mudanças organizacionais, a apresentação dos conceitos de
produção, qualidade e logística, produção flexível, entrega flexível, postponement,
cadeia de valor, cadeia de suprimento e o esclarecimento da logística, como
importante e estratégica, para as organizações e a evolução do relacionamento entre
as indústrias montadoras de veículos e seus fornecedores.
No Capítulo 3, os métodos atuais de fornecimento das várias matérias-primas
que compõem o veículo, pelos diversos fornecedores e seus riscos. São
apresentadas, também, a dinâmica da linha de produção de veículos, a metodologia
15
de abastecimento das peças e as particularidades e a problemática do fornecimento
do chicote elétrico, na atualidade.
No Capítulo 4 apresenta-se a intenção do autor ao assunto expressado, ou seja,
a proposição da dissertação: o postponement de manufatura de chicotes elétricos
aliado ao abastecimento tipo just in time (fornecimento da quantidade exata, na hora
exata).
No capitulo 5, após a preposição do trabalho, apresenta-se então as
considerações finais.
No capitulo 6 as Conclusões respondendo à preposição inicial.
2 UM HISTÓRICO SOBRE INDUSTRIALIZAÇÃO
2.1 O Brasil e suas Montadoras de Veículos
A história da indústria automobilística no Brasil iniciou-se na década de
20, pelas operações de duas grandes multinacionais: Ford e GM. Ainda,
naquela época, elas operavam no sistema conhecido como CKD, sistema que
importava partes para montagem dos veículos no país.
Por ocasião do governo Juscelino, a partir de 1950, com a política do
crescimento rápido, a Volkswagen inaugurou sua fábrica na Via Anchieta, no
Estado de São Paulo, dando o pontapé inicial na produção interna de
veículos. Logo em seguida, outras duas montadoras, DKV e Willys, com
capital e tecnologia estrangeiras, iniciaram também a produção no Brasil.
O país caminhava com a produção das montadoras estrangeiras e com
algumas montadoras nacionais, que iniciavam suas operações com tecnologia
e capital brasileiro.
Na década de 70, houve a proibição das importações, e, a partir de
1976, as empresas montadoras de veículos situadas em solo brasileiro
tiveram que providenciar sua própria tecnologia, para, pelo menos, sobreviver
com as vendas do mercado interno. Isto levou o Brasil aos primeiros avanços,
embora tímidos, de tecnologia nacional, para cobrir as lacunas deixadas pelas
multinacionais.
Em 1989, as importações começaram a esboçar os primeiros sinais de
retomada, e, enfim, em 1994, definitivamente as empresas estrangeiras, com
seus produtos atuais e inovadores, tomaram conta do mercado interno,
principalmente o mercado de veículos, pois as montadoras, em seu país de
origem, não haviam permanecido adormecidas em desenvolvimento
tecnológico.
A indústria automobilística no Brasil ficou resumida a saudosas
instalações da era de ouro da tecnologia nacional (empresas como Gurgel,
CBT, Engesa), além das grandes empresas atuais que importam capital e
tecnologia próprias de suas matrizes internacionais, num misto de
oportunidade de crescimento e continuação da colonização cultural iniciada
na época do Império.
17
Hoje, o Brasil ainda recebe indústrias de vários segmentos em seu vasto
território. Montadoras não deixaram de vir. O nosso parque industrial ficou
restrito à prática de tecnologias e sistemas externos, mantidos e atualizados
pelas matrizes internacionais.
A figura a seguir mostra um resumo dos acontecimentos importantes
para a história da Industrialização no Brasil e no mundo.
1790 - Evolução industrial
- Primeiras idéias de produzir com qualidade e atender aos desejos do
consumidor
1872 - Criada nos EUA a primeira empresa de venda por catálogos:
Montgomery
Ward
1908 - Primeiro momento da produção em massa do Ford “T”
1910 - Controle de Qualidade era feito no final da linha
- Henry Ford introduziu definitivamente os conceitos de produção em
massa
- Henry Ford, com o modelo “T”: a maior indústria automobilística do
mundo
- Alfred Sloan (da GM) cria cinco modelos diferentes de veículos para
atender o mercado
1922 - Taylor publica: “Principles of Scientific Management”
- Primeiros investimentos em qualidade, para impedir que produtos
chegassem sem defeito aos clientes
1913 - Linha de montagem móvel
1915 - Inaugurada, em Detroit, o Complexo Industrial Ford: Highland Park
1920 - Indústria automobilística monta 2 milhões de veículos em um ano
- Alfred Sloan continua inovando na GM, em concorrência com a Ford
1925 - Alfred Sloan cria um plano para reorganizar a GM e ganhar mercado
1926 - Automóveis Ford já eram montados em 36 cidades norte-americanas e
em 19 nações diferentes
1927 - Queda no volume de vendas do modelo “T” e seu último ano de
produção:
18
GM oferecendo modelo melhor e mais barato
1930 - Declínio de GM e Ford: queda nas vendas
- Entrada das empresas Volkswagen e Fiat, com a produção em massa
1931 - Inauguração do Complexo de Rouge em Detroit – fábrica Ford
1939 - Empresas ainda não investem e agrupam em atividades de distribuição
1941 - Início do funcionamento CSN no Brasil
1945 - Início das atividades de controle de processos nas indústrias no mundo
1946 - Anos adormecidos da Logística
- Conflito dos objetivos de Marketing, Finanças e Produção nas
empresas
1950 - Eiji Toyoda e Taichi Ohno da Toyota passam 3 meses na Ford, em
Detroit
- Início da prática dos conceitos de flexibilidade de produção
1954 -Salvação da produção em massa, com o complexo de Rouge, nos EUA
- Paul Converse e Peter Drucker pregam conceitos de administração:
distribuição área promissora na empresa
1955 - Esgotamento do sistema Ford: problemas com sindicatos, Europa
produzindo carros direcionados aos desejos dos usuários
1956 - Estudo do frete aéreo e conceito do custo total em logística
1960 - Empresas automobilísticas americanas começavam a perder mercado
por
falta de qualidade nos produtos
- Decolagem da teoria e prática logística
- Inovação nos modelos europeus, com a colocação de acabamentos
1966 - Introdução do Sistema de Informação Job Shop Scheduling
1968 - Toyota trabalha com sistema flexível de produção
1970 - EUA: perda da liderança do mercado automobilístico mundial: crise do
petróleo
-Implantação dos conceitos de flexibilidade de produção: redução de
tempo e set up de máquinas
- Importação de matéria-prima de país para país
- Aparecimento e implantação dos conceitos de MRP I e II
19
1980 - Difusão para o mundo do sistema flexível de produção
- Popularização dos conceitos, práticas e empresas japonesas
- Início da utilização do EDI e código de barras
1990 - Revolução da logística: Sistema de informação e globalização
- Criado conceito de Supply Chain
1995 - Quarta fase da logística: empresa virtual, empresa sem fumaça e
postponement
Figura 1 – Alguns Acontecimentos Importantes na História da Industrialização no Brasil e no Mundo
2.2 Das Mudanças Organizacionais ao Atendimento das Necessidades dos Clientes
2.2.1 A Revalorização da Manufatura
Desde o início do século XX até mais ou menos 1970, a indústria americana
enfatizou a produção em massa. Inicialmente o foco era o produto. O processo
produtivo era em função das características básicas de composição do produto final
(BERTUZZO, 2002, p.4). A manufatura americana defendia os mercados de massa, os
designs de produtos padrão e a produção dos volumes elevados.
Durante anos a produção foi considerada um mal necessário. Desde o pós-
guerra, era rotulada como a principal causa dos problemas da empresa.
Com a queda de barreiras alfandegárias protecionistas, o aparecimento de
concorrentes capacitados, a inserção de processos tecnologicamente novos, houve
uma revalorização da área de manufatura e o entendimento de seu papel estratégico
na empresa.
A partir da década de 70, a incontestável liderança industrial americana passou a
ser desafiada pelo Japão. “Advoga-se que este fato está estreitamente ligado ao
declínio da forma de organização do trabalho dominante nas empresas ocidentais”
(WOOD JR, 2000, p.97). O estilo de produção pregado por Taylor, que incentivava um
aumento brutal da produtividade, foi o que marcou a expansão industrial americana, e
foi a chave de seu sucesso durante muito tempo. Ford veio concomitantemente com
sua produção em linha, reduzindo ciclos de produção, dedicando máquinas a uma
20
única operação, mas engessando o movimento da produção: era uma produção
inflexível, conforme salienta Wood Jr (2000, p.101).
O mercado automobilístico, principalmente, foi dominado muito tempo por países
como EUA e Inglaterra, mas, a partir do final da década de 70 e início dos anos 80,
passou a ser dominado pelo Japão. Isto devido somente ao fato de que este país, em
estratégia pós-guerra, valorizou sua área de manufatura.
A produção em massa, iniciada por Henry Ford, no início do século XX, culminou
com uma total integralização das atividades, por volta de 1927, quando ele inaugurou
seu maior complexo industrial em Detroit, EUA. Ford financiava todos os seus projetos
e estava convencido de que teria de executar todas as tarefas, para promover a
montagem e venda de seus produtos por todo o mundo. Mas, ele não tinha idéia,
conhecimento e pessoal para promover a sinergia de todas as suas indústrias, nem
sabia como organizar um empreendimento tão global (WOMACK, JONES, ROSS,
1992, p.27).
Alfred Sloan, o presidente do conglomerado General Motors por 35 anos, que
sucedeu a William Durant, foi quem aprimorou os conceitos organizacionais e de
gerenciamento global, juntamente com os conceitos pregados por Henry Ford nas
fábricas Ford, porém, na GM. Nessa altura dos acontecimento, a filosofia da produção
em massa já estava difundida por todo o mundo. Todas as empresas já a praticavam.
A Ford Motor Company vendia, com muito sucesso, em todo o mundo, um
modelo só de veículo. Para a GM isso não adiantava. Sloan, então, tentou elaborar um
“leque” maior (para a época) de modelos. A indústria automobilística já vivia o
problema de preços, e Sloan queria que seus produtos servissem para “todos os
bolsos e propósitos” (WOMACK, JONES, ROSS, 1992, p.28).
Ford não possuía esse problema de sobreposição de produção, mas possuía
problemas organizacionais. Sloan reorganizou a GM. Com estruturas de cargos e
salários e atendimento ao mercado, marcou a indústria automobilística, assim como
Ford havia feito anos antes. A essas duas grandes empresas uniu-se a Chrysler,
formando o trio de grandes indústrias mundiais no setor, The Big Three, como eram
conhecidas: grandes salários, alta tecnologia e um excelente gerenciamento das
atividades. O apogeu da indústria automobilística nos EUA e no mundo se deu por
volta de 1955, quando o país atingiu o patamar de 7 milhões de carros vendidos em
um ano. Ford, GM e Chrysler foram responsáveis por 95% desses veículos. Mas neste
mesmo ano, o sistema, assim como essas três grandes empresas que conheceram o
apogeu, começariam a enfrentar a decadência.
21
Eiji Toyoda e Taiichi Ohno, engenheiros japoneses, ao visitarem o Complexo de
Rouge, em Detroit, por volta de 1950, verificaram que a produção em massa instituída
por Ford, jamais funcionaria no Japão. Após a 2ª Guerra, a Toyota resolveu ingressar
fortemente no mercado automobilístico, com carros e caminhões, mas encontrou
grandes problemas como um mercado doméstico limitado e mão-de-obra que não
poderia ser tratada como no mercado americano, que estava sempre sujeito às
flutuações. O emprego no Japão tinha que ser mais estável. Além disso, a economia
do país devastada pela guerra não tinha condições de comprar a tecnologia de
produção do mundo ocidental, que estava repleto de produtores de veículos
motorizados.
O governo japonês colaborou de forma ávida ao projeto Toyota. Impediu a
entrada de capital e tecnologia estrangeira no país, com a esperança de fortalecer as
indústrias locais.
Mais de 60 anos haviam se passado desde quando Ford produziu seu primeiro
veículo do modelo T. No entanto, em todo o mundo todas as carrocerias dos veículos
motorizados ainda eram produzidas desta forma (WOMACK, JONES, ROSS, 1992,
p.42).
Ohno, que visitara Detroit repetidamente após a guerra, considerou todo este
sistema cheio de muda, palavra japonesa que significa “desperdício”, englobando
desperdícios de esforços, materiais e tempo. Ohno julgava a maioria dos
trabalhadores que montavam o carro, passíveis de agregar valor ao veículo, inclusive
resolver problemas graves como os de qualidade. Com isto reduziria-se o número de
trabalhadores especialistas, que em nada contribuíam na valorização do produto.
De volta a Toyota, Ohno instituiu equipes de trabalho para executar várias
tarefas na montagem do veículo. Atribuiu a estas equipes a responsabilidade pela
limpeza da área, pequenos reparos e manutenção, inspeção de qualidade. Estava
instituído o Kaizen, palavra também de origem japonesa que significa “melhoria
contínua”. Todos eram responsáveis por sugerir melhorias e melhorar repetidamente.
Com essas melhorias e a produção em pequenas equipes de trabalho, a manufatura
tornou-se flexível às mudanças de mercado: poucas pessoas, manuseando pouca
matéria-prima e produtos, num processo rápido, qualitativamente correto e curto.
Estava aí implantada a tão famosa produção enxuta.
A indústria japonesa ganhou mercado em segmentos já dominados por outros
países, domínio este conseguido pelos baixos preços de seus produtos devido a sua
excelência de manufatura. O Ocidente acreditava que os departamentos de Finanças
e Marketing eram mais importantes, pois até aquela época não conheciam planos
22
estratégicos de longo prazo. O fato é que, devido à aceleração das mudanças no
ambiente, o comportamento rígido da administração científica deixava a organização
em uma condição frágil perante a realidade.
Empresas japonesas começavam então a oferecer produtos de consumo de
qualidade superior, confiabilidade e durabilidade a um custo menor do que os
fabricantes americanos podiam oferecer.
Corrêa e Gianesi (1995, p.17) dizem que “já não bastava que as empresas
nacionais conseguissem superioridade competitiva em relação a seus concorrentes
nacionais. Era necessário superar em escala mundial”. Os concorrentes da empresa
nacional exportadora ou não, eram tanto empresas líderes tradicionais (como as
americanas e européias, que a partir dos anos 90 começaram a lutar para recuperar
seu poder de competitividade), como empresas japonesas, e as empresas das nações
em desenvolvimento (México, Tailândia, Malásia e Hong Kong), que representavam
novos fatores de crescente importância no processo competitivo mundial.
Quando as empresas americanas começaram a perder fatias de mercado para
empresas japonesas e muitas outras indústrias, elas começaram a enviar seus
gerentes e executivos para visitarem empresas japonesas e a observar as práticas de
manufatura. Controle estatístico do processo, just in time (ou atendimento na
quantidade certa, no momento certo), kanban (chamada de entrega de peças por
cartão), CCQ (Círculos de Controle da Qualidade), empregados flexíveis, produção
flexível, produção de alta tecnologia, redução de complexidade, eram algumas das
práticas japonesas, adotadas pelos Estados Unidos durante a década de 1980, na
tentativa de “colocar-se em dia” com os novos padrões manufatureiros, que
começavam a esboçar o perfil das empresas que seriam então chamadas de
“empresas de classe mundial”, na virada do ano 2000 (GAITHER; FRAIZER, 2001,
p.24).
As empresas que lideraram tradicionalmente um segmento de mercado
perderam lugar às empresas japonesas, principalmente devido à:
• falta de medidas estratégicas sustentadas, embasadas em relatórios
superficiais e avaliação de desempenho num curto prazo;
• desinteresse por questões tecnológicas, resultado da própria formação
profissional dos executivos tomadores de decisões;
• especialização, falta de integração, falta de comunicação e
segmentação organizacional, devido ao estabelecimento de modelos tradicionais de
administração, co m base em Taylor e Ford;
• diversificação das atividades empresariais e perda de foco;
23
• inércia e falta de atualização estrutural (máquinas, equipamentos e
pessoas, e infra-estrutural (sistemas gerenciais).
No Brasil, os acontecimentos sucederam-se da mesma forma, mas
cronologicamente 20 anos à frente.
A FIGURA 2 demonstra, de outra maneira, os motivos que levaram 5 empresas
tradicionais a perderem lugar no mercado.
Fonte – Corrêa e Gianesi, 1995
Figura 2 – Perda de Posição no Mercado por Empresas Tradicionais
As indústrias japonesas tinham ainda uma particularidade que as fazia eficazes
perante as empresas tradicionais: mantinham em altos postos de chefia, executivos
com alto conhecimento técnico. O único país europeu que se igualou aos japoneses
Miopia das medidas de desempenho Negligência com considerações tecnológicas Falta de integração entre funções internas Falta de foco Resistência à mudança
Favorecem
OBSOLESCÊNCIA de
Práticas gerenciais e de tecnologias
O que causa
Degradação do poder de
COMPETITIVIDADE
24
neste tipo de conduta foi a Alemanha Ocidental, que durante muitos anos, até os dias
de hoje, mantém suas empresas robustas e líderes em algum mercado.
A conscientização do papel importante da manufatura ocorreu no final dos anos
60, num crescente até a metade da década de 90, juntamente com os conceitos de
Qualidade e Qualidade Total.
Quase como uma correção dos pontos falhos do passado, praticados
principalmente por empresas americanas, foram elaborados seis pontos que
garantiram a importância da área de manufatura para as empresas:
• Manufatura como vantagem competitiva sustentada pelo atingimento de
excelência em suas práticas.
• Eficiência em tudo, não somente em custos.
• Manufatura como arma, para fortalecimento e definição do foco da
empresa.
• Integração de manufatura com outros setores, promovendo quebra de
barreiras organizacionais.
• Manufatura reativa, auxiliando a empresa na solução de problemas e no
atingir dos objetivos de atendimento ao cliente.
• Envolvimento da manufatura nos objetivos estratégicos da empresa
(CORRÊA; GIANESI, 1995, p.24).
Na continuidade da revalorização da área de produção, apareceram novas
técnicas de manufatura, conforme demonstra a Tabela 1, com o objetivo de reduzir a
zero os tempos de máquina e produzir produtos diferenciados da mesma maneira que
se produz em massa.
Novas tecnologias mudaram o modo de gerir, colaborando com o tempo projeto-
a-produção, pedido-a-entrega. Sistemas flexíveis de manufatura, entre outros
sistemas, passaram a ser temas correntes e conceitos que vieram a desafiar outros
conceitos intocáveis há algum tempo (CORRÊA; GIANESI, 1995, p.25).
A escolha de tecnologia adequada de processo passou a ser, mais do que
nunca, uma decisão estratégica crítica.
25
Tabela 1
Termo Definição e Descrição Projeto Auxiliado por
Computador (CAD)
Software e hardware especializados para permitir que engenheiros
projetem produtos diretamente em terminais de computador. Podem
estar vinculados a sistemas de computador maiores, a fim de que os
projetos possam ser comunicados a outros. Empresas como a General
Eletric, Texas Instruments, Exxon, Eastman Kodak, Xerox, General
Motors, Boeing, DuPont e Caterpillar têm esses sistemas.
Manufatura Auxiliada por
Computador (CAM)
Sistemas de computador especializados, que convertem as
informações CAD em instruções para a maquinaria de produção
automatizada. A CAM não está tão bem desenvolvida como o CAD. O
hardware, como, por exemplo os microprocessadores, que são o
cérebro da maquinaria automatizada, está disponível, mas o software
necessário para converter os projetos em instruções de manufatura
completas não está tão amplamente disponível.
Sistemas Flexíveis de
Manufatura (FMS)
Grupos de máquinas automatizadas que são controladas por
computadores. Esses grupos produzem uma variedade de produtos na
mesma maquinaria. Os computadores dão as instruções, os robôs
manipulam as peças e materiais, e as configurações de máquina são
modificadas automaticamente para produzir diferentes produtos. A
instalação de medidores de eletricidade de General Eletric de New
Hampshire produz 2 mil diferentes medidores no mesmo equipamento
flexível,e é um exemplo dessa abordagem.
Sistemas de
Armazenamento e
Recuperação
Automatizados (ASRS)
Armazéns controlados por computador, que incluem substituição e
remoção automática de peças, quando necessário na produção ou
embarque e transporte automático de peças para dentro e para fora do
armazém.
Sistemas de
Identificação Automático
(AIS)
Códigos de barras, freqüências de rádio ou caracteres óticos, que são
desenhados para representar dados, são lidos por scanners que
transmitem dados para os computadores. Um exemplo desses
sistemas pode ser visto em muitas caixas de supermercados. Os
códigos de barras constantes nos itens são passados pelo scanner, e
o preço, a descrição do item, o número de estoque e outros dados são
lidos e armazenados num computador, para depois serem
processados.
Fonte – Gaither e Fraizer, 2001
Cada escolha de processo trazia consigo implicações estratégicas para a
organização, no que tangia à resposta e às necessidades de mercado: agilidade,
26
volume, variedade, características de produção, investimentos, custos, controle e
estilo gerencial mais apropriado (CORRÊA; GIANESI, 1995, p.26).
O principal objetivo da manufatura foi então definido: colaborar com o
planejamento, desenvolvimento e atingimento de uma vantagem competitiva
sustentada.
2.2.2 O Desafio de Produzir com Qualidade
Qual o peso da qualidade nas mudanças organizacionais desses últimos anos?
A qualidade e seu gerenciamento estão seriamente envolvidos no quadro das
mudanças organizacionais desde antes até hoje. A qualidade não engloba somente a
inspeção física do produto final, mas permeia uma série de elementos como:
educação e trabalho dos empregados, recursos, fornecedores e um mercado
competidor forte, segundo Wood Jr (2000, p.151). Apesar das limitadas características
tecnicistas, a prática da qualidade, com o advento do aparecimento da indústria
japonesa no mercado, começou a assimilar alguns elementos comportamentais e
conceitos gerenciais. Isto veio ao encontro da transformação da indústria, num
ambiente mais humanista, pois quem fazia qualidade eram os empregados, e a
empresa precisava de empregados motivados, treinados, com conhecimento técnico
da função, integrados com seus colegas e com os macro-objetivos da empresa.
Somente empregados participantes de um processo produtivo flexível eram os
empregados que poderiam trabalhar nessas condições. Envolvimento e delegação não
combinavam com a rigidez da produção Fordista.
A indústria começou a investir em qualidade nos anos 20, justamente para
impedir que produtos defeituosos chegassem às mãos dos consumidores. Com o
advento da produção em massa, para atender aos mercados que se encontravam em
crescimento, foram sendo introduzidas técnicas de controle estatístico de qualidade,
mas ainda sem uma visão diferenciada do produto-cliente. Fatores como padronização
do produto, distribuição e satisfação do consumidor pelo produto foram totalmente
ignorados por muitas décadas (BERTUZZO 2002, p.5). Após a Segunda Guerra
Mundial, com o desenvolvimento da indústria aeronáutica, começou a ser adotado o
controle de processos, englobando, então, toda a produção e, conseqüentemente,
melhorando as ferramentas estatísticas já disponíveis. Qualidade, naquela época
significava segurança sem defeitos.
A partir da década de 60, o ambiente de negócios começa a mudar. Algumas das
empresas americanas se tornaram altamente vulneráveis à competição global devido
27
à qualidade inferior perante às empresas mundiais. O mercado nos países
desenvolvidos começa a mudar, e estava ficando saturado de consumidores que
demandavam produtos diferenciados. Os japoneses assumiram o mercado devido à
grande diferenciação de seus produtos. A qualidade do produto estava aliada à
satisfação do cliente. Enquanto isso, os americanos ainda detinham o foco no produto
como qualidade, sendo a inspeção realizada, na fase final do ciclo produtivo.
O conceito de qualidade significou várias coisas diferentes nas últimas décadas.
Passou a se chamar “Qualidade Total”, pois ele resumiu, em sua essência, condições
para que a empresa sobrevivesse e se desenvolvesse, num ambiente competitivo e de
rápidas mudanças.
2.2.3 A Função da Logística na Empresa
O conceito de manufatura, ao longo dos anos, tem evoluído de manufatura em
massa, para manufatura personalizada ou customizada, ou seja, manufatura de
acordo com as necessidades e desejos dos clientes. O mercado está cada vez mais
fragmentado, mas a concorrência está se globalizando. A tecnologia da informação
acelera o ritmo das decisões, enquanto mudanças tecnológicas encurtam o ciclo de
vida do produto. Clientes, por sua vez, exigem níveis cada vez mais elevados de
atendimento e qualidade. Tudo isso somado com rearranjos organizacionais, rede de
parcerias com fornecedores e canais de comercialização com clientes (DAY, 1990,
p.187).
Segundo Gopal & Cahill (1992, p.90), as mudanças ambientais trouxeram às
empresas um processo de melhoria continua, onde: velocidade e capacidade de
resposta são os maiores diferenciais; foco na cadeia de suprimentos orientado ao
consumidor, para obter excelência nos serviços; flexibilidade e capacidade de
mudança são vitais, dado o ambiente competitivo e a dinâmica de mercado.
Portanto, com o cenário exposto, conclui-se que, para uma empresa ser bem
sucedida, na atualidade, deve ser guiada pelo mercado. Ela deve ter estruturas ágeis,
com cada vez menos barreiras funcionais, principalmente quanto ao fluxo de
informações, tanto dentro da própria empresa quanto entre empresas que formam
uma corrente, uma cadeia de fornecimento e atendimento.
A palavra chave fica sendo integração.
28
O termo Logística é um termo de origem militar francesa, que significa a arte do
transporte e o alojamento de tropas, bem como o fornecimento e a estocagem de bens
para as tropas militares, da forma mais eficiente possível (MAGEE et. al., 1985, p54).
Mencionado por Gopal &Cahill (1992, p.23), enquanto o Marketing cria a
demanda, a Logística a satisfaz.
Ainda, para Magee, Copacino e Rosenfield (1985, p.12), o gerenciamento da
logística busca maximizar o valor econômico dos produtos ou materiais, por estarem à
disposição aonde eles são necessários, na hora em que são necessários, e a um
custo razoável. As atividades produtivas não são as únicas que adicionam valor ao
produto. Há também o valor de lugar.
Os elementos que compõem o sistema logístico, segundo Magee, Copacino e
Rosenfield (1985, p.34), são os seguintes:
. Estoques de Produtos: são considerados como um buffer, ou pulmão, uma
espécie de amortecedor contra variações de demanda, entre as várias operações dos
sistemas, da forma mais econômica e efetiva.
. Controle e aquisição de matéria-prima e peça-componente: não basta
simplesmente terem-se os estoques. Os estoques de matéria-prima e peças-
componentes são essenciais para darem suporte à capacidade de manufatura.
. Meios de Transporte e Entrega Local: incluem movimentos do fornecedor para
a fábrica, desta para os armazéns e desses para o consumidor final. Deve ser feito
com baixo custo, velocidade e confiabilidade.
. Manufatura e Capacidade de Conversão: os componentes do sistema logístico
devem ter a capacidade, para não somente produzir para atender às necessidades
médias, mas para atender às flutuações da demanda. A fábrica passa a ser parte
importante do sistema logístico, pois todas as partes do sistema devem ter localização
e tamanho adequado.
. Armazém: na fábrica, num depósito regional, num depósito local, num
distribuidor, até num armazém próximo ao cliente, num centro varejista.
. Comunicação e Controle: qualquer sistema logístico é gerenciado por um
complexo subsistema de controle e comunicação. Este subsistema processa ordens
do comprador ou usuário, para o fornecedor, bem como instruções de movimentação
ou embarque de materiais, e mantém o registro do status de todos os materiais
envolvidos.
. Pessoas: o sistema inclui e afeta pessoas que vendem, tomam decisões
políticas e operacionais, e que movem os materiais de lugar a lugar. O projetista e o
gerente devem reconhecer as necessidades das pessoas, as funções que elas podem
29
realizar melhor do que qualquer equipamento; assim, como as necessidades de
treinamento, que podem melhorar sua performance, ou seja, seu desenvolvimento e
os seus resultados.
. Tempo: é um elemento crítico em logística. Ele é necessário para completar as
operações de manufatura e transporte, e, também, para processar registros, transmitir
informações e tomar decisões.
O conceito de logística, como escreve Christopher (1998, p.2), é o processo de
gerenciar estrategicamente a aquisição, movimentação e armazenagem de materiais,
peças, produtos acabados e informações, pela organização, de maneira a maximizar a
lucratividade presente e futura , por meio do atendimento dos pedidos dos clientes.
Diversos autores atribuem diferentes origens à palavra logística. Alguns afirmam
que ela vem do verbo francês loger (acomodar, alojar). Outros dizem que ela deriva da
palavra grega logos (razão).
Conforme Wood Jr (2000, p.196), uma das definições mais divulgadas é a do
Conselho de Gestão Logística ou Council of Logistics Management, entidade
internacional oficialmente reconhecida como representante e centralizadora das
informações e normas técnicas na área, sediada na cidade de Londres, Inglaterra:
“... processo de planejar, implementar e controlar eficientemente, ao custo correto, o fluxo e a
armazenagem de matérias-primas, estoques, durante a produção e produtos acabados, e as
informações relativas a estas atividades, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o
propósito de atender aos requisitos do cliente”.
A evolução dos conceitos de logística, ao longo do tempo, estivera ligada ao
escopo da logística naquele momento. A logística centrou seus esforços, nas quatro
fases que a constituíram, desde sua dinamização.
Conforme Wood Jr., que definiu: estas quatro fases, elas seriam:
• Fase zero: a chamada administração de materiais cuidava somente da gestão
de compras e de estoques e da movimentação de materiais.
• Primeira fase: a administração de materiais se alia à distribuição física,
buscando uma otimização do sistema de transporte.
• Segunda fase: a logística já aparece como logística integrada: há uma visão
sistêmica da empresa, devido ao aparecimento dos sistemas de informações.
• Terceira fase: a gestão da Cadeia de Suprimentos ou Supply Chain
Management inclui fornecedores e canais de distribuição, na visão sistêmica da
empresa, ainda contando com melhoradas tecnologias de informação.
30
• Quarta fase e mais atual: juntamente com o Supply Chain Management,
aparece o ECR, ou Efficient Consumer Response, ou um sistema com base em
computador que programa a reposição automática dos estoques dos clientes.
Também, nesta fase, as empresas utilizam amplamente a prática das alianças
estratégicas (WOOD Jr., 2000, p.87).
Toda empresa que produz bens ou serviços tem um único objetivo: lucro. E o
lucro provém dos consumidores que constituem seu mercado. Apesar do
aparecimento tardio das práticas de serviços e do atendimento às expectativas do
cliente, sempre o que somente importou para as empresas foi levar suas mercadorias
ao seu mercado consumidor. Tanto empresas como o comércio varejista, sempre se
preocuparam com esta dinâmica, fazendo surgir modos de distribuição diferenciados e
cada vez mais adaptados a fabricantes e mercados. A preocupação não estava mais
em produzir, mas em aproximar os produtos dos seus consumidores.
A logística sempre esteve ligada às guerras. Ao longo da história do homem,
guerras têm sido ganhas e perdidas devido ao poder da capacidade logística dos
exércitos e de seus comandantes. A falta de planejamento na administração de
suprimentos vitais como comida, remédios, roupas, assim como a movimentação de
todo o pessoal, tem afetado o curso das operações e tem definido o destino das
nações. Na segunda Guerra Mundial, presenciou-se, assim como na guerra do Golfo,
a falta de estratégias dessas operações, o que obrigou alguns países a movimentar
milhões de equipamentos, recursos, materiais, pessoas, em pouquíssimo tempo, para
não pôr a perder todos os planos de luta.
A atividade logística militar, na Segunda Guerra Mundial, foi o início de muitos
conceitos logísticos utilizados atualmente. Segundo Ballou (1993, p.29), por volta de
1945, algumas empresas já haviam colocado transporte e armazenagem de produtos
acabados sob um único gerente, o que significava um sinal para a visão integralizada
das operações. As indústrias alimentícias foram pioneiras.
O conceito de logística, então, está ligado diretamente às operações militares. Ao
decidir avançar as tropas, seguindo uma estratégia, os generais precisavam ter a
certeza de que os recursos estariam disponíveis na hora e na quantidade certa. Após
a Guerra, a indústria precisava preencher lacunas de demandas existentes no
mercado consumidor, aproveitando a capacidade ociosa dos processos da produção
em série. O marketing dos produtos foi concentrado na família padrão da época - pai
trabalhando fora, mãe dona de casa e filhos em idade escolar (NOVAES, 2001, p.41).
Ainda, segundo Novaes, como não havia grande evolução nos sistemas de
31
informação, as vendas autorizavam automaticamente a substituição do produto
vendido por um outro fabricado. Estoque era o elemento-chave no balanceamento da
cadeia de suprimento (NOVAES, 2001, p.42).
Até 1950 não existia uma filosofia dominante que integrasse as atividades
logísticas. O transporte, por exemplo, era encontrado sob responsabilidade da
produção, o estoque de marketing, pedido por vendas. A empresa era um misto de
conflitos de objetivos e responsabilidades (BALLOU, 1993, p.28). Os descompassos
entre produção e demanda, o que forçava a manutenção de estoques intermediários,
faziam com que a empresa atuasse de forma reativa e não proativa (NOVAES, 2001,
p.32).
O rearranjo e o agrupamento dessas atividades foi o início dos aperfeiçoamentos
gerenciais das atividades logísticas. Para as indústrias americanas, que ainda
estavam em ascensão, nesta época, o clima era vender e produzir; os lucros eram
altos e a ineficiência na distribuição de produtos podia ser tolerada.
A fase, após 1950, até a década de 60, representa a decolagem para a teoria e
prática da logística. Em 1956, um estudo sobre o papel do transporte aéreo na
distribuição física desenvolveu o chamado “custo total”, que seria a somatória de todos
os custos envolvidos no suprimento do cliente, desde os custos de matéria-prima,
transporte até o custo de inventário. O alto custo do transporte aéreo não o
inviabilizava, pois agiria diretamente no custo do inventário imobilizado: estoque.
Conforme explica Ballou (1993, p.30), a definição do custo total é um princípio
importante para a logística empresarial.
Esse fato marcou o início de uma segunda fase da logística, quando, então,
começou uma diferenciação dos produtos, uma flexibilidade maior das empresas.
Quatro condições-chave encorajaram o desenvolvimento da prática logística
empresarial:
. as alterações nos padrões e nas atitudes da demanda dos consumidores: migrações
populacionais, demanda por uma maior variedade de mercadorias, mais centros de
distribuição, com conseqüente aumento do inventário imobilizado;
. a compreensão dos custos logísticos: a alta liquidez americana foi seguida pela
recessão global, que forçou a redução dos custos, que não era bem aceita pelas áreas
de produção e marketing; a primeira, que já havia sido muito bem reduzida pela onda
dos engenheiros de produção, e a segunda, que não conseguia adequação aos
conceitos de produtividade. A logística era a “última fronteira para redução de custos
nas empresas americanas” (STEWART,1985 apud BALLOU, 1993, p.31) . Como as
empresas não conheciam a composição de seus custos logísticos, havia uma
32
desconfiança de que a somatória deles era substancial. Em meados dos anos 50,
perceberam que era mesmo, e que variava de empresa para empresa, dependendo do
valor agregado do produto;
. avanços dos sistemas de informação: a complexidade das operações logísticas,
forçada pelo incremento de novas estratégias de atendimento e redução de custo, fez
com que vários estudos matemáticos fossem feitos e, conseqüentemente, sistemas de
controle e planejamento fossem desenvolvidos, já que esta etapa coincidia com a
popularização dos computadores entre empresas;
. a experiência militar: o conceito logística advém da área militar. O exemplo de
utilização das práticas, do planejamento, dos erros e acertos, foi vivenciado pelas
forças armadas de vários países, principalmente dos americanos, mesmo antes que
as empresas em geral demonstrassem interesse.
Para além dos anos 70, a competição mundial começou a crescer. A demanda
por bens manufaturados fez com que matérias-primas de boa qualidade
desaparecessem do mercado, enquanto que os EUA investiam fortemente para vencer
a Guerra do Vietnã. Outro evento fundamental foi a crise do petróleo, que em 1973,
elevou os custos para quatro vezes mais o valor inicial, fazendo com que o estímulo à
demanda fosse transformado em controle de custos qualidade e produtividade. Os
custos logísticos foram os mais afetados, já que a alta do petróleo elevou os custos de
transporte, assim como a inflação elevou os custos de manutenção dos estoques.
Também a migração exagerada das populações para centros urbanos dificultou
o tráfego, fazendo com que empresas de transporte criassem rotas e meios
alternativos de levar as mercadorias aos consumidores. Com o uso intensivo da
multimodalidade, fez com que variações de transporte como navio, trem, avião,
saíssem da ociosidade. Naquele momento, as empresas perceberam que podiam
efetuar uma racionalização de seus processos. Esta racionalização só foi possível com
a otimização e o planejamento. Na época, apareceram os conceitos; a previsão de
demanda e os sistemas de programação chamados MRP e MRP II (Material
Requirements Planing, ou Planejamento das Necessidades de Materiais).
Tornou-se então necessário para as empresas repensarem as atividades de
distribuição física e se aproximarem das outras áreas da empresa. O alto grau de
interesse por essas atividades levou à logística integrada: a integração de compras,
administração de materiais, vendas e distribuição física. A FIGURA 3 demonstra esta
integração.
Numa terceira fase, a logística estaria se integrando com a produção, em uma
relação muito estreita na prática de novos procedimentos operacionais.
33
Fonte – Ballou, 1993
Figura 3 – Integração das Diversas Áreas, para Formar a Logística Empresarial
Nessa fase houve, então, uma mudança da filosofia, que passou do estímulo da
demanda para uma melhor gestão de suprimentos (CHING, 2001, p.24). As funções
de logística passaram a ser áreas de interesse, à medida que as empresas
começavam a importar-se com importações. Também, a partir da década de 70, as
empresas começaram a se interessar pela flexibilidade de produção, com redução do
tempo de preparação das máquinas, para produção e troca de ferramentas (set up).
Isto permitiu uma agilidade maior da manufatura, na produção de uma maior variedade
de produtos, com conseqüente dinamismo da logística no transporte, na distribuição,
entrega e satisfação das mais variadas necessidades dos clientes.
Embora o foco ainda fosse as operações de manufatura e comerciais, os novos
conceitos logísticos vinham para revolucionar os princípios de mercado das empresas
da época (CHING, 2001, p.25).
Na década de 80, como nos diz Novaes (2001, p.46), a logística começou a
praticar uma integração mais flexível com as outras áreas da empresa, com o advento
da comunicação eletrônica entre empresas, o EDI (Eletronic Data Interchange), o
código de barras, com uma preocupação maior com troca de dados, que tinha o
objetivo de agilizar as informações para uma rápida reposição dos estoques. Também,
nesta fase, as empresas começaram a praticar o estoque zero.
Na década de 90, com o advento da tecnologia da informação e a globalização,
os países perderam as fronteiras geográficas e legais, resultando em um mundo
34
comercial globalizado, formado por conglomerados de domínio econômico (GAITHER;
FRAIZER, 2001, p.25).
Desde o advento da revalorização da manufatura, o objetivo era tornar a
empresa mais ágil, com respostas mais rápidas ao mercado, sempre produzindo com
qualidade. Esta agilidade foi estendida à logística, pois o ganho maior estava em levar
este produto mais rápido ao cliente.
Em acordo com a estratégia de internacionalização, e para fazer frente ao
contexto concorrencial interno, muitas empresas implementaram drásticas mudanças
organizacionais. Essas mudanças incluíam desde profissionalização da empresa,
criação de unidades estratégicas de negócios, até a integração das atividades técnicas
comerciais. A criação de funções logísticas, em cada uma das unidades nacionais ou
internacionais, estabeleceu um elo entre as atividades.
Estava implantado um novo modelo de gestão em cadeia. Estava criada a
Supply Chain. A Cadeia de Suprimentos, ou Supply Chain, representa uma rede de
organizações, por meio de ligações nos sois sentidos, unindo diferentes processos e
atividades, que produzem valor na forma de produtos e serviços (CHRISTOPHER,
1997, p.13). É uma integração flexível, que abrange desde fornecedores, passa pela
manufatura e pelo varejo, indo até o consumidor final (NOVAES, 2001, p.46).
Esta última fase da evolução encara a logística de forma estratégica. As
empresas participam de uma cadeia, com o único objetivo em otimiza-la, com novas
soluções, usando a logística para ganhar competitividade.
Contrariando Charles Darwin, em “Origens das Espécies”, em organização, no
estágio atual, a sobrevivência não é unicamente do mais forte, mas o mais forte tem
que se unir aos mais fracos para que todos possam sobreviver (DARVIN, apud
CHRISTOPHER, 1997, p.13).
A logística tem mais do que uma importância pontual, em empresas individuais
ou segmentos de empresas, tem sim um papel fundamental no desenvolvimento da
economia mundial, mais do que isso, pode ditar as possibilidades ou não de
desenvolvimento de toda uma nação.
O desempenho de um país, no comércio exterior, está diretamente ligado ao seu
sistema logístico, na capacidade de preservação das características dos produtos,
durante o transporte e a armazenagem, o tempo de transporte e, principalmente, com
relação a seus custos. Ainda, segundo Novaes (201, p.63), 10,1 % dos preços finais
dos produtos europeus, em 1992, eram resultados dos custos logísticos. Em 1987
eram 14,3%. No Brasil, não existem estudos semelhantes, mas calcula-se que seja
muito superior ao europeu, principalmente devido ao alto custo dos estoques e à alta
35
concentração de circulação de mercadorias, em rodovias que se apresentam em
péssimo estado de conservação.
Uma das maiores dificuldades em se elaborar um sistema logístico são: estradas
em péssimas condições de uso, causam quebras de caminhões, aumentam o
consumo de combustível e, por conseqüência, encarecem o frete; alto custo e lentidão
no sistema portuário; malha ferroviária pequena e sucateada, etc. Essas melhorias cabem ao Estado brasileiro, mas à empresa, também, cabem
esforços diretos na otimização do uso da frota e do armazém, na mecanização e
automação dos sistemas de embalagem, na paletização, containerização e
movimentação de cargas, bem como melhores métodos de previsão de demanda,
controle de estoques mais precisos, tráfegos e sistemas de manufatura e logísticos
mais flexíveis.
Cadeia de Suprimentos refere-se à maneira pela qual os materiais fluem pelas
diferentes organizações, iniciando com as matérias-primas e encerrando com os
produtos acabados entregues ao consumidor final. Cadeias de Suprimento podem
formar redes complexas, que envolvem muitas empresas e materiais. Uma matéria-
prima pode ser usada em muitos produtos acabados diferentes, produzidos por várias
empresas, e um produto acabado geralmente é feito de muitas matérias-primas
diferentes, oferecidas por diversos fornecedores. Para a maioria das empresas,
administração da cadeia de suprimentos refere-se a todas as funções administrativas
relacionadas com o fluxo de materiais dos fornecedores diretos da empresa, até seus
clientes diretos, inclusive seus departamentos de compras, armazenagem, inspeção,
produção, manuseio de materiais, expedição e de distribuição.
Conforme nos diz Christopher (1997, p.14), o gerenciamento da Cadeia de
Suprimentos difere largamente dos controles clássicos de materiais e fabricação,
porque fornece à empresa diversas maneiras de ver materiais e distribuição, desde
uma visão global, passando por oportunidade de lucratividade e ganhos, até a
transformação em ferramenta estratégica. A gestão de suprimentos deixa de ter um
enfoque operacional, para ter um enfoque estratégico (WOOD JR, 2000, p.187).
O gerenciamento logístico está preocupado com a otimização dos fluxos dentro
da organização, enquanto que o gerenciamento da Cadeia de Suprimentos reconhece
que a integração interna não é suficiente.
Os quatro estágios de evolução da logística, descritos acima por Novaes, estão
demonstrados na FIGURA 4.
36
Fonte – CRHISTOPHER, 1997
Figura 4 – Evolução da Logística
2.2.4 A Cadeia de Suprimentos e a Cadeia de Valor
A Cadeia de Valor de uma indústria é um sistema de atividades independentes,
que apresentam elos. Esses elos existem, quando o modo como uma atividade
realizada afeta o custo e a eficiência das outras atividades (PORTER&MILLAR, 1985,
p.67).
Assim sendo, por exemplo, uma empresa que, ao confeccionar produtos com
maior grau de qualidade e menores custos, terá uma maior aceitação de seus
produtos por parte dos clientes, aumentando a demanda por produtos/serviços de
todos os elementos pertencentes a sua cadeia de suprimentos (valores), desde a de
seus varejistas até a de seus fornecedores.
37
A logística, como prática vital para a empresa, está ligada diretamente a todas as
mudanças que ocorreram nas organizações, ao longo dos últimos anos. Segundo Wood Jr (2001, p.188), a criação e difusão, com conceitos de Supply
Chain, estão ligadas a uma série de eventos no cenário econômico.
Essas mudanças ambientais estão descritas, conforme Tabela 2:
Tabela 2 – Mudanças Ambientais
Da década de 70... ...para a década de 90 • Mercados domésticos protegidos • Mercados abertos • Mercados financeiros
regulamentados • Mercados financeiros
desregulamentados • Taxa de câmbio estável • Taxa de câmbio flutuante • Baixo nível de desemprego • Relações de trabalho flexíveis • Dois pólos econômicos (EUA e
Europa) • Blocos econômicos: UE, Nafta,
Ásia • Crescimento das economias
industrializadas • Indústrias transferidas para
lugares onde a mão-de-obra é mais barata
• Estruturas organizacionais pesadas
• Estruturas enxutas e flexíveis
• Organizações burocráticas • Pluralidade de modelos organizacionais
Fonte – Wood Jr., 2001
Essas mudanças desencadearam fatores que atingiram, em sua totalidade, o
cenário econômico. Os fatores são os seguintes:
Tabela 3 – Fatores que Afetam os Negócios Globais de Hoje
Fatores que afetam as condições dos negócios globais de hoje 1. Realidade da competição global 2. Desafios da qualidade, serviço ao cliente e custos 3. Tecnologia avançada da produção 4. Crescimento contínuo do setor de serviços 5. Escassez de recursos de produção 6. Questões de responsabilidade
Fonte – Fraizer e Gaither, 2001
O aumento da competição global é o resultado da formação de uma aldeia global
de negócios; as empresas se tornaram empresas internacionais, pois se espalharam
pelo globo, comercializando seus produtos, e estes acordos internacionais forçam a
criação de alianças estratégicas (joint venture), todos explorando oportunidades
38
comerciais globais. Ainda há o chamado compartilhamento de produção, que
segmenta a fonte dos recursos: uma empresa compra matéria-prima de um país,
produz em outro e comercializa em um terceiro (GAITHER; FRAIZER, 2001, p.28).
A maioria das organizações era organizações como entidades distintas. Mas isto
não está mais acontecendo. As organizações, agora, estão se tornando cada vez mais
joint ventures, redes organizacionais que têm o objetivo de reduzir riscos do negócio,
organizando as atividades por meio da cooperação.
Existem três tipos de organizações atuais:
. organizações com estrutura modular: são organizações que mantém as
atividades da cadeia de valor (do seu core business ou o seu foco de negócio),
terceirizando outras atividades;
. organizações com estrutura virtual: clientes, fornecedores e concorrentes ligados
temporariamente, com o objetivo de maximizar competências;
. organizações de livres barreiras: onde não há rigidez na definição das
funções(DESS et alii, 1995, apud WOOD JR, 2001, p.191).
A eliminação dessas barreiras, ainda conforme Wood Jr, podem ser classificadas
de várias maneiras:
. eliminação de barreiras verticais: redução de níveis hierárquicos;
. eliminação das barreiras horizontais: enfraquecimento da departamentalização;
. eliminação das barreiras externas: parcerias com clientes, fornecedores e
terceiros;
. eliminação de barreiras geográficas: alianças estratégicas e conquista de
novos mercados (ASKENAS et alii, 1995, apud WOOD JR, 2001, p.190).
O conceito da Cadeia de Valor foi desenvolvido por Michel Porter, sendo ele um
dos pilares do moderno gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (PORTER, 1989,
apud NOVAES, 2000, p.184). O preço pago pelo consumidor, por um produto
comprado em uma determinada loja, cobre uma série de elementos de natureza
diversa, que participa de todo o processo de fabricação, transportes, até os serviços
complementares.
Segundo Porter, valor é o montante que os compradores estão dispostos a pagar
por aquilo que uma empresa, indivíduo, lhes fornece (PORTER, 1989, apud NOVAES,
2000, p.184). O valor do produto não é o custo final, mas a receita total, ou seja, o
preço do produto mais o número de unidades que a empresa pode vender (NOVAES,
2000, p.185). A meta de uma empresa, então, seria minimizar cada vez mais os custos
globais da Cadeia de Suprimentos, maximizando o valor de seus produtos. O valor de
39
um produto é composto pela margem e pelas atividades de valor (NOVAES, 2000,
p.185). As atividades de valor são formadas pelos processos físicos e co-operacionais,
que dão ao produto um certo valor de mercado. A margem é a subtração entre custos
das atividades de valor e o valor do produto.
O quadro abaixo demonstra como é formada a Cadeia de Valor.
Fonte – Novaes, 2000
Figura 5 – Cadeia de Valor (Porter 1989)
As atividades de valor, segundo Porter, podem ser divididas em atividades
primárias e atividades de apoio (PORTER 1989, apud, NOVAES, 2000, p.185).
As atividades primárias são: logística de suprimento ou logística de entrada ou
inbound logistics, operações, logística de saída ou distribuição física ou outbound
logistics, marketing, vendas e assistência técnica. As atividades de apoio resumem-se
em: infraestrutura da empresa como administração, planejamento, gerências, finanças,
engenharia e tecnologia.
Ainda, segundo Porter: ...”A cadeia de valores decompõe a empresa nas suas atividades de relevância estratégica para
que se possa compreender o comportamento dos custos e as fontes existentes e potenciais de
diferenciação. Uma empresa ganha vantagem competitiva executando estas atividades
estrategicamente importantes de uma forma mais barata ou melhor que a concorrência” (PORTER
1989, apud WOOD JR, p.194).
40
As Cadeias de Valor de várias empresas combinam-se para formar a Rede de
Valores, que inclui fornecedores de matéria-prima e insumos, fabricantes, transporte,
atacadistas, varejistas.
A implicação da adoção da perspectiva da Cadeia de Valores e da Rede de
Valores faz com que se torne importante adotar modelos de gestão que propiciem uma
visão do todo, e que forneça ferramentas úteis para o crescimento e a competitividade.
Esta é a função da Cadeia de Suprimentos. Mas a Rede de Valores também serve
para que analisemos ineficiências do sistema. Quando uma empresa ou suas
operações é olhada como um todo, tem-se maior visão de como a Cadeia de
Suprimentos e a Cadeia de Valores estão trabalhando. Se em algum ponto a cadeia
não funcionar, o cliente será penalizado pela ineficiência sistêmica.
Mas, como entender a integração dessas duas cadeias? Para melhorar a
integração entre esses dois elos, Christopher (1997, p.224) sugere três pontos
importantes:
. reduzir tempo de processos: reduzir estoques intermediários que elevam os custos e
escondem problemas operacionais. Devem-se aumentar a eficácia e eficiência
operacional;
. melhorar visibilidade da cadeia: divulgar mais e melhor as informações;
. gerenciar a logística como um sistema: gerenciar as atividades logísticas como uma
cadeia.
Então, como as atividades de logística estão dentro da Cadeia de Valores,
acabam sendo atividades estratégicas para a empresa.
A FIGURA 6 demonstra as atividades essenciais da Logística, nos vários níveis
da empresa, e, quando da prática destas, a qual questão estas atividades vem auxiliar
e responder.
41
Fonte – Wood Jr., 2000
Figura 6 – Atividades Essenciais da Logística
A Cadeia de Suprimentos ou Logística Integrada objetiva uma melhor
performance dentro das empresas e coloca em prática alguns aspectos:
. a adoção de práticas de global sourcing (fornecedores em qualquer lugar do mundo),
que é a busca de fontes de matérias-primas e insumos em qualquer parte do mundo;
. parcerias com fornecedores;
. sincronização da produção;
. redução de estoques em toda a cadeia;
. revisão do sistema de distribuição;
. parcerias com distribuidores;
. melhoria do sistema de informação;
. gestão da demanda (WOOD JR, 2000, p.202/203).
A idéia é que, aumentando-se a cooperação entre os membros da rede de valores,
sejam reduzidos os riscos individuais e ocorra uma melhora na eficiência do processo
logístico.
Por fim, os objetivos permanentes da Cadeia de Suprimentos são:
. oferecer resposta rápida ao consumidor;
42
. desenvolver menor instabilidade do processo;
. reduzir os estoques ;
. desenvolver eficiência no transporte;
. garantir qualidade;
. promover a rastreabilidade do produto, por todo o seu ciclo de vida.
A FIGURA 7 mostra o novo conceito empresarial, que considera a Cadeia de
Suprimentos como parte integrante da estratégia da empresa e de sua Rede de
Valores.
Fonte – Wood Jr., 2000
Figura 7 – Estrutura do Novo Contexto Empresarial
43
2.2.5 A Cadeia de Valor, a Rede de Valor e a Constelação de Valor
O objetivo da estratégia é obter mais retornos para o capital dos acionistas.
Planejar uma estratégia é criar valor para o cliente, impulsionar os custos e maximizar
o lucro. A maneira convencional de gerenciar um plano estratégico não está mais
funcionando no contexto atual. Antes, bastava uma empresa criar uma estratégia,
construir as instalações, ser capaz de sustentá-las e manter a posição estratégica por
cinco anos. O ritmo acelerado da transferência de tecnologia, a velocidade das
comunicações e a rapidez dos fluxos de capital internacionais estão forçando as
empresas a evoluir constantemente em posição estratégica, criando valor ao produto e
opções para o mercado, que também representem valor.
Antigamente, a cadeia de valor era linear. Hoje ela é tridimensional, como uma
teia. Assim, as empresas estão se transformando de mecanismos autocontidos a
ecossistemas interdependentes, nas quais a responsabilidade pela criação de valor e
a necessidade de captá-lo passa a ser de responsabilidade de todos os participantes
(DEMOS, CHUNG, BECK, 2002, v.32, p.50).
Numa economia de constelação de valor, é preciso formar empresas estendidas,
porque a concorrência deixou de ser entre empresas individuais. A batalha pelo
mercado deixou de ser de empresa para empresa, e passou a ser entre alianças
múltiplas de empresas e seus fornecedores.
O fato é que, mesmo as empresas que tenham esta visão, precisarão trabalhar
com muito conhecimento estratégico, pois terão o desafio constante de saber qual
será seu próximo modelo de lucro. É o preço do mundo mutante.
2.3 As Montadoras e o Relacionamento com os Fornecedores
2.3.1 Histórico
A base para o estudo do relacionamento entre clientes e fornecedores foi
construída em dois momentos historicamente importantes e distintos, por grandes
indústrias manufatureiras detentoras de um tipo de conhecimento, com tecnologia e
evolução própria, no mundo: num primeiro momento, a produção em massa criada por
Henry Ford, na década de 20, e num segundo momento, a produção enxuta
desenvolvida pela Toyota, a partir de 1950.
Para traçar qualquer entendimento sobre este assunto, faz-se necessário
relembrar os principais pontos desses acontecimentos.
44
Henry Ford, com seu modelo T, em 1908, alcançou o que estabeleceu as bases
para a total mudança em toda a indústria automobilística: um carro que qualquer um
poderia dirigir e consertar, sem precisar de motorista particular ou mecânico.
A chave da produção em massa não residia somente na linha de montagem, em
movimento contínuo. Pelo contrário, residia na completa e consistente
intercambiabilidade das peças e da facilidade de ajustá-las entre si.
Para conseguir a intercambiabilidade, Ford insistiu que o mesmo sistema de
medidas fosse usado para todas as peças, ao longo de todo o processo de fabricação.
Um só operador montava o veículo inteiro e produzia e ajustava as peças uma a uma.
Cada operário tinha que obter as peças necessárias, depois ajustá-las, para que elas
se adaptassem, e então aparafusá-las em seus lugares.
Conforme Womack, Jones e Ross (1992, p.15), o primeiro passo de Ford foi
tornar este processo mais eficiente, e consistiu em levar as peças a cada estação de
trabalho, permitindo aos montadores ficarem no local de trabalho o dia todo. O
montador executaria uma só tarefa o dia todo. Em 1913, às vésperas da introdução da
linha de montagem móvel, o ciclo de tarefa médio do montador da Ford havia caído de
514 para 2,3 minutos.
Henry Ford não passava de um mero montador (WOMACK, JONES, ROSS,
1992, p.21), Ele adquiria motores dos irmãos Dodge, e adicionava uma série de outras
peças compradas para montar o veículo completo. Em 1915 já havia incorporado
todas essas funções na sua empresa, e se aproximava da completa integração
vertical: produzir o automóvel completo desde as matérias-primas básicas. A razão
para se fazer tudo internamente era porque já havia incorporado a técnica da
produção em massa, frente aos seus fornecedores, e isto fazia com que as peças
fossem feitas com tolerâncias bem menores e um prazo de entrega muito mais curto.
Ter de comprar de fornecedores e depender do mercado, pensava ele, traria
inúmeras dificuldades.
Alfred Chandler, professor da Harvard Business School, cunhou o termo “mão
visível”, em 1977, em seu livro de mesmo nome. Isto, de encontro com Adam Smith,
com sua “mão invisível”, que dizia que o livre mercado produziria ele próprio o melhor
resultado para a sociedade. Alfred Chandler somente tentou argumentar com uma
sociedade que acreditava que a verticalização poderia interferir nas forças do livre
mercado. Chandler ainda rebateu, dizendo que a “mão visível” era vital, se as
corporações quisessem trabalhar com o mínimo de previsibilidade possível. Então
45
Ford decidiu substituir a “mão invisível” do livre mercado, pela “mão visível” da
coordenação organizacional (WOMACK, JONES, ROSS, 1992, p.22).
Chandler usou este termo somente para denotar a obtenção das necessárias
matérias-primas, serviços, etc., de divisões operacionais internas, coordenadas por
executivos seniores, dentro da própria corporação. A “mão invisível”, em
contraposição, pretendia encomendar peças e serviços de firmas independentes, sem
qualquer relação financeira, ou outra, com o comprador. As transações seriam
baseadas no preço, prazo de entrega e na qualidade, sem qualquer expectativa de
relacionamento, em longo prazo ou contínuo, entre comprador e vendedor.
Ford pretendia produzir seus carros num só lugar e vender em qualquer parte do
mundo. Mas, as dificuldades existentes na época, como garantia da qualidade de
transporte dos veículos sem qualquer dano e as políticas governamentais
alfandegárias, o impediam de isto fazer. As peças todas eram basicamente produzidas
em Detroit, onde se localizava seu complexo industrial, mas montadas em várias
localidades. Em 1926, Ford montava seus veículos em mais de 36 cidades norte-
americanas diferentes e em outras 19 nações (WOMACK, JONES, ROSS, 1992,
p.22).
Ford chegou ao extremo de sua verticalização, em 1927 foi inaugurado o
Complexo de Rouge, quando todas as matérias-primas entravam por um portão e os
produtos acabados: carros, saíam por outro. Ele chegou a agregar matérias-primas e
transporte à “mão visível”: uma plantação de borracha totalmente própria no Brasil,
minas de ferro em Minnesota, navios próprios para transportar minério de ferro e
carvão pelos Grandes Lagos até Rouge, e uma ferrovia interligando instalações da
Ford até as regiões de Detroit, (WOMACK, JONES, ROSS, 1992, p.27) essas três
últimas localizadas nos EUA.
Ford ainda tentou produzir tudo em massa: alimentos, transporte aéreo. Ele
acreditava que, produzindo tudo em massa e de forma organizada, ele poderia reduzir
substancialmente os custos dos produtos.
A intenção inicial da produção em massa era integrar todo o processo de
produção numa estrutura de comando imensa e burocrática, com as ordens emanando
de cima para baixo. Para a Toyota, este fator era menos importante. A maior
preocupação da indústria japonesa era encontrar uma forma de como fornecedores e
montadora poderiam trabalhar juntos, no objetivo de reduzir custo, melhorar a
qualidade, qualquer que fosse o relacionamento legal e formal entre ambos.
Na produção em massa imperavam os relacionamentos legais,
fornecedor/montadora, tipo a curto prazo. Para Ford, GM e Chrysler, as mais de 10 mil
46
peças dos veículos eram projetadas pelos seus engenheiros que, posteriormente,
encaminhavam o Projeto para o Departamento de Compras, e este para os
fornecedores cotarem o melhor (menor) preço, a maior qualidade e o melhor prazo de
entrega. Para as peças com tecnologia muito particular e especial, fornecedores
independentes alteravam o Projeto dos engenheiros das montadoras, adaptando-os às
necessidades de montagens dos veículos. Neste caso, também, o fator dominante na
decisão era o preço. A montadora não se importava com o fornecedor e não fazia a
mínima questão se, ao mudar a fonte de fornecimento de uma determinada peça,
aquele antigo fornecedor sofresse uma quebra ou uma falência. Era a filosofia “cada
um por si” (WOMACK, JONES, ROSS, 1992, p.50). Os fornecedores não podiam
opinar, pois tinham poucos detalhes do Projeto. Além disso, a montadora da produção
em massa impedia a comunicação horizontal, pois colocava os fornecedores uns
contra os outros, na obtenção de menor preço, e impedia que, internamente,
encontrassem oportunidades de melhoria. Este fator era extensivo à qualidade. A
montadora pouco conhecia de seu fornecedor, e nem se problemas internos seus
poderiam interferir no sistema produtivo.
Na metade dos anos 80, no crepúsculo da produção em massa, muitas
companhias, inclusive a General Motors e a Chrysler experimentaram reduzir a fração
de peças fornecidas internamente. Isto devido às empresas fornecedoras já possuírem
custos mais baixos, pois já haviam implementado os conceitos do sistema japonês. A
chave para um sistema de suprimento da montadora estava na maneira que ela se
relacionava com seus fornecedores (WOMACK, JONES, ROSS, 1992, p.134).
O Departamento de Compras de uma empresa de produção em massa
permanecia todo o tempo preocupado em controlar os preços dos vários fornecedores,
cujas operações pouco conhecia. Quando então encontrava outros fornecedores para
a mesma peça, que cobravam um preço menor, repassava os volumes para
faturamento, não se importando se o fornecedor inicial arcou com investimentos altos
ou custos de ajuste de desenhos originais. Fornecedores e montadoras já haviam se
acostumado com esta rotina. Fornecedores entendiam que era devido que se
escondessem informações das montadoras, pois, a cada conhecimento repassado,
fragilizava-se o elo que o unia à montadora, ou estabelecia-se a parceria, até então,
unilateral. Ainda havia um outro fator além de negociação, preço, prazo de entrega e
qualidade que o fornecedor teria que enfrentar. Existia a oscilação do volume de
produção, que interferia diretamente no pedido do fornecedor.
Os principais pontos que influenciaram no relacionamento
montadoras/fornecedores, naquela época, são colocados abaixo:
47
Considerações Importantes no Relacionamento Montadoras/Fornecedores da
Produção em Massa
• O Desenho do veículo era definido milimetricamente pelos engenheiros de
produto.
• O pedido de cotação era colocado para vários fornecedores, com base no
volume anual, no padrão de qualidade, “n” peças por mil, e no cronograma de entrega.
• Importante: preço, qualidade, confiabilidade de entrega e vigência de contrato
eram os quatro elementos-chave, para a o estudo do contrato comercial.
• A montadora tinha um elemento-chave: custo.
• Oferecer um custo baixo pelo produto era vital para ganhar a concorrência.
• Contratos com as montadoras podiam durar anos, considerando ainda o
mercado de reposição.
• Fornecedores se sentiam tentados a oferecer um preço abaixo do custo, pois,
com freqüência, pediam reajustes logo depois de iniciado o fornecimento em série.
• Reajustes anuais eram concedidos sem análise prévia e detalhada.
• Peças que necessitavam de grandes investimentos para serem fabricadas,
dificilmente tinham mudança da fonte e do fornecimento.
• Fornecedores escondiam informações da montadora, para esconder seus
lucros.
• Havia o problema de manufaturabilidade: como as peças eram feitas por vários
fornecedores que não conversam, nem entre si, nem com a montadora, o ajuste
destas variações só era feito por ocasião da produção em série do veículo.
• O mesmo acontecia com a qualidade.
• O número de fornecedores escolhidos para um determinado projeto podia
chegar a 2,5 mil.
• A responsabilidade por detectar e corrigir todos estes problemas era sempre do
fornecedor.
• O relacionamento montadora-fornecedor, no sistema de produção em massa,
era o repasse total das ineficiências e do custo para as mãos do fornecedor.
A Toyota, com o sistema de produção enxuta, para atender a demanda de carros
dos anos 50, começou a estabelecer um novo tipo de relacionamento entre a
montadora e seus fornecedores. Inicialmente criou um grupo de fornecedores mais
importantes chamado de “primeiro nível de fornecedores”. Estes participavam do
48
desenvolvimento do novo produto, com os engenheiros responsáveis, opinavam sobre
os projetos, sua qualidade, e trocavam informações sobre a melhoria de seus
processos. A estes projetos, também, eram emprestados técnicos, engenheiros e
outros profissionais, para alguma missão estratégica conjunta. A cada fornecedor de
primeiro nível ficava a responsabilidade de formar um segundo nível de fornecedores a
ele vinculados. Este segundo nível tinha a responsabilidade de fabricar peças
individuais: um fornecedor do primeiro nível era responsável por produzir baterias.
Seus fornecedores de segundo nível fabricariam as peças para a bateria (WOMACK,
JONES, ROSS, 1992, p.51).
Na empresa enxuta, a intenção não era a verticalização de seus fornecedores,
mas a promoção do trabalho conjunto e de um objetivo único, que poderia até, no
futuro, causar alguma dissolução e individualização dos fornecedores. Quando isto
acontecesse, a política já estaria arraigada.
No máximo, 300 fornecedores eram escolhidos para cada etapa do Projeto.
Estes já eram fornecedores cadastrados, porque historicamente já forneciam para a
montadora.
Depois de assumida a nova sistemática comercial, a Toyota passou a trabalhar
com um conceito novo de fluxo: o just in time (entrega da matéria-prima na quantidade
e momento do seu uso pelo cliente), que lá se chamava kanban, filosofia que
continuava em acordo com os princípios ditados por Ohno e Toyoda, quando da
primeira proposta de modificação e valorização do sistema produtivo enxuto.
Mas, o que fazia este sistema funcionar? O sistema só funcionava pela
existência de uma estrutura racional de determinação de custos, preços e lucros. Tal
estrutura fazia com que ambas as partes quisessem trabalhar conjuntamente, para
benefício mútuo, em vez de suspeitarem uma da outra (WOMACK, JONES, ROSS,
1992, p.142). Todos os relacionamentos montadora-fornecedor, nos moldes da
produção enxuta, eram administrados por um contrato básico, que era uma simples
expressão de compromisso, para que ambos pudessem trabalhar a longo prazo. Este
contrato servia de base para um relacionamento cooperativo. Estes tipos de contratos
acontecem no Japão desde 1960.
O conceito básico de suprimento proposto pela Toyota, por ora chamado
suprimento enxuto, consistia em primeiramente estabelecer-se um preço-meta, ou
seja, a montadora e seus fornecedores estimavam o preço máximo de venda do
veículo ou caminhão, para depois vir retrocedendo, imaginando como o veículo
poderia ser produzido para aquele preço. Como menciona Womack, Jones e Ross,
49
(1992, p.143), tratava-se do “preço mercado menos”, ao invés do “preço fornecedor
mais”.
Para atingir o preço meta, a montadora utilizava técnicas como a engenharia de
valor e a análise de valor, para reduções adicionais de custos. Outro conceito é o
kaizen, ou seja, o melhoramento contínuo, onde cada operador era dono do processo:
ele opinava sobre prováveis ganhos que o processo poderia ter, com mudanças que
só poderiam ser percebidas por quem realmente participava da produção. Com isto,
pequenas melhorias somadas iam se transformando em valores significativos, ao
longo dos meses e anos. Ainda, esta melhoria contínua era estimulada enormemente
pela curva do aprendizado. Com isto, os produtos produzidos pelos fornecedores
“enxutos” tinham seu preço cada vez menor.
Outra prática da produção enxuta é a presença de residentes do fornecedor na
montadora, que auxiliam no acompanhamento de problemas de qualidade,
resolvendo-os com antecedência ou a tempo de não prejudicar a produção.
As mudanças no mix de produção também ocorriam e eram acompanhadas pela
montadora, pelos fornecedores e seus residentes.
Para que a Toyota fizesse seu sistema just in time funcionar, era primordial que
os volumes produzidos se mantivessem os mais estáveis possíveis. É essencial a
uniformidade de produção, ou como se diz em japonês, heijunka. Assegurar os
volumes de produção é assegurar faturamento constante para os fornecedores.
A produção enxuta precisa passar sempre grande parte de seus afazeres para
seus fornecedores, mas tentam, de alguma forma, minimizar estes custos, pois
acreditam que a eficiência de um é conseqüentemente a eficiência dos dois.
2.3.2 Os Relacionamentos de Parceria
Devido às mudanças ambientais apresentadas nos itens anteriores, o
relacionamento montadora / fornecedor caminhava cada vez mais para uma relação
de parceria, ao invés da tradicional relação de competidores.
Segundo Leavy (1994, p.35), o perfil principal da perspectiva tradicional do
relacionamento comprador/fornecedor pode ser resumida conforme abaixo:
• Compradores e fornecedores como competidores.
• Jogo de “perde-ganha” para ambas as partes.
• Foco principal na visão da margem de lucro
50
A Tabela 4 demonstra de forma esquemática o relacionamento
comprador/fornecedor como competidores e não como parceiros.
Tabela 4 – Comprador e Fornecedor no Modelo de Competidores
COMPRADOR FORNECEDOR
ESTRATÉGIA
• Reduzir o poder do
fornecedor. • Alargar a base de
fornecedores. • Reduzir custos de
troca de fornecedor (evitar fornecedor único).
• Ameaçar fazer a integração para trás.
• Reduzir o poder do
comprador. • Alargar a base de
consumidores. • Aumentar o custo de
mudanças (ser o único fornecedor capacitado).
• Ameaçar fazer a integração para frente.
VANTAGEM
• Pode mais facilmente
levar o negócio para o mais eficiente e tecnologicamente avançado dos fornecedores, em qualquer estágio do ciclo de vida da peça.
• Pode sobreviver a
erros estratégicos e a declínios competitivos de qualquer compra-dor individual.
RELEVÂNCIA
• Manter a indústria
fornecedora fraca e fragmentada poderia inibir o desenvolvimento da própria indústria compradora.
• O fornecedor está sob
contínua competição e pressão nas margens de lucro e tem pouco espaço ou incentivo para realizar investimentos de longo prazo ou planejamentos
Fonte – Leavy, 1994
51
Ainda, segundo Leavy (1994, p.36), o principal perfil da perspectiva (uma política
de relacionamento e atendimento às necessidades do cliente, sem desperdício) just in
time, pode também ser resumido como:
• Compradores e Fornecedores como parceiros.
• Jogo de “ganha-ganha” para ambas as partes.
• Foco principal está na criação da margem de lucro – a ênfase está na parceria
e divisão igualitária das recompensas.
A Tabela 5 demonstra o relacionamento de parceria cliente/fornecedor.
Tabela 5 – Comprador e Fornecedor na Perspectiva de Parceria
COMPRADOR FORNECEDOR
ESTRATÉGIA
• Trabalhar juntos para
maximizar as
economias da
cooperação.
• Convidar o fornecedor
a fazer parte da
estratégia competitiva
do comprador.
• Trabalhar juntos para
maximizar as
economias de
cooperação.
• Trabalhar juntos para
melhorar a
competitividade do
comprador.
VANTAGEM
• Economia de
cooperação.
• Redução de estoques.
• Qualidade melhorada a
menor custo.
• Melhor controle e
planejamento.
• Fornecimento estável.
• Muitos benefícios da
integração vertical com
poucos riscos
• Economia da
cooperação.
• Redução de Estoques.
• Suporte técnico no
produto e no processo.
• Demanda estável.
• Proteção contra as
forças competitivas.
RELEVÂNCIA
• A principal relevância para comprador e fornecedor é a
capacidade de ambos crescerem e desenvolverem-se
juntos.
• Os perigos de se associar a empresas erradas e os
custos da desassociação. As fortunas dos compradores
e fornecedores estão amarradas à atratividade e à
posição competitiva da indústria compradora.
Fonte – Leavy, 1994
52
O relacionamento de parceria é conhecido também como VAP (Value Adding
Partnership), ou, ainda, como Comakership.
“O VAP é um conjunto de companhias independentes que trabalham juntas para
gerenciar o fluxo de bens e serviços ao longo da cadeia de suprimentos” (JOHNSTON
& LAWRENCE, 1988, p.46).
O modelo de competição utilizado na produção em massa, em que
freqüentemente se busca o enfraquecimento do comprador ou do fornecedor para
garantir maiores margens de lucro, pode trazer vantagens imediatas. Mas, à médio e
longo prazos deteriorará a capacidade produtiva da outra empresa, em todos os
setores (produção, P&D, projeto do produto e processo, marketing, vendas, etc.), por
falta de recursos. E a troca constante de fornecedores, o que poderia parecer uma
solução, provoca, na realidade, interrupções e reinícios que atrapalham
profundamente o processo de aprendizagem (learning) das empresas.
Com o VAP, as empresas podem obter mais ganhos de escala, e, ao mesmo
tempo, aumentar sua flexibilidade e criatividade, e ainda reduzir seus custos, por meio
da utilização de forma mais intensa e eficiente das competências de cada um dos
elementos que compõem a cadeia de suprimentos.
“Conclui-se que é necessário estar na cadeia certa com parceiros adequados e
altamente competitivos” (MERLI, 1994,p.38).
Segundo Merli (1994, p.98), o modelo de referência para os cumprimentos
(relativos aos fornecedores, operacionalmente ou estrategicamente) é o seguinte:
• Verticalização do negócio mediante a criação de redes logísticas permanentes
que integram clientes e fornecedores.
• Parceria no negócio, com estratégias conjuntas.
• Poucos fornecedores de confiança a serem integrados no próprio negócio, com
uma conseqüente drástica redução dos custos e dos problemas ligados à
administração de um grande parque de fornecedores. A situação ideal seria a de ter
apenas um único fornecedor para cada peça/componente e dois ou três fornecedores
para cada classe de materiais ou família de produtos, para que, caso seja necessário
desclassificar algum fornecedor, esses produtos possam ser feitos pelos outros
fornecedores da mesma família de produtos.
Merli (1994, p.102) fornece ainda aspectos da lógica de relacionamento com os
fornecedores integrados, aspectos qualitativos e o perfil do papel do comprador, a
saber:
• Relacionamento em longo prazo.
53
• Empresas abertas (integradas operacionalmente, mas também nas ações de
desenvolvimento/ industrialização dos componentes/ tecnologias chave).
• Confiança total recíproca enquanto parceiro no mesmo negócio.
• Utilização normal de pedidos em aberto, com fornecimento sincronizado, ou do
uso do sistema Kanban.
• Rede de informação comum, utilizada seja para procedimentos operacionais
(entregas, faturamento) seja para funções administrativas (programação,
administração de mudanças, etc).
• Vasta utilização de programas conjuntos de aperfeiçoamento.
2.3.3 O Suprimento na Produção Enxuta
Após o advento da produção enxuta, percebeu-se que a chave para um sistema
de suprimento de peças competitivo estava na maneira como a montadora trabalhava
com seus fornecedores. Se o fornecedor era interno ou externo à companhia, pouca
diferença fazia.
Enquanto, na produção em massa, os quatro elementos-chave do
relacionamento montadora/fornecedor eram: preço (em primeiro lugar), qualidade,
confiabilidade de entrega e vigência de contrato, o desenvolvimento da peça era
unilateral, as informações não eram compartilhadas, tornava-se muito difícil qualquer
atitude capaz de promover o benefício mútuo. Fornecedores e montadora,
acostumados à obscuridade e privacidade, trabalhavam com problemas de qualidade,
acertos constantes de preços, problemas de manufaturabilidade. O relacionamento
tornava-se conflituoso ao longo de toda a vida do veículo. Ainda podiam ocorrer
problemas de flutuação de demanda, o que viera a agravar mais ainda o tumultuado
contato.
O sistema de suprimentos típico da produção em massa podia conseguir achatar
os lucros dos fornecedores, mas como ninguém se comunicasse com ninguém, era
fato que todos iriam continuar convivendo eternamente com os mesmos problemas.
Para as empresas que pregam o suprimento da produção enxuta, hoje,
inicialmente são desenvolvidos fornecedores em um número reduzido, mas suficiente,
não para concorrência entre eles, mas para formar uma equipe coesa. São escolhidos
com base no relacionamento pensado e num histórico de bom desempenho
(WOMACK, JONES, ROSS, 1992 p.141).
A natureza do Sistema de Suprimentos pode fazer com que a montadora pouco
conheça sobre certas peças. Isto pode caber ao fornecedor, que com engenheiros
54
residentes nos clientes, comece a desenvolver a matéria-prima desde o início. Quando
a matéria-prima guarda tecnologia específica ou algum dado vital para o processo do
carro, então ser desenvolvido não é delegado ao fornecedor.
O contrato entre fornecedor/montadora é apenas pró-forma, pois é um contrato
básico. É um compromisso de trabalho a longo prazo, que estabelece regras
fundamentais, mas que determina outros tipos de benefício mútuo.
Verdadeira é a idéia que a produção enxuta iniciou-se com Toyoda e Ohno, na
Toyota Motor Company, por volta dos anos 50 (WOMACK, JONES, ROSS, 1992,
p.95).
A essência da produção enxuta foi extraída da palavra japonesa muda, que
significa desperdício, definida como algo que não gera valor para o cliente (WOMACK,
JONES, ROSS, p.175).
Os cinco princípios da produção enxuta são:
. Especifique Valor: o valor deve ser definido pelo cliente final.
. Identifique a Cadeia de Valor: a Cadeia de Suprimento Total, da matéria-prima à
entrega e ao uso pelo cliente final, deve ser entendida para a empresa identificar onde
as atividades realmente não criam valor ao cliente. Ao se analisar a cadeia completa
de valor, três tipos de atividades podem ser identificadas: as que criam valor para os
clientes, as que não criam valor, mas não podem ser eliminadas em função da
tecnologia atual ou das restrições de processo, e as que não criam valor e podem ser
eliminadas.
. Crie fluxo: a essência da produção enxuta é que o fluxo contínuo e harmônico de
trabalho não tenha interrupção. Se houver descontinuidades no fluxo de trabalho,
podem ocorrer erros que retardam a resposta à demanda dos clientes, e exige
gerenciamento desnecessário das operações.
. Puxe, não empurre: os sistemas tradicionais de produção fabricam na esperança de
venderem seus produtos. Isso cria muda (desperdício). O desafio da produção enxuta
é fazer que a programação seja comandada por “puxar” o fluxo, ao invés de empurrá-
lo. Essencialmente sistemas de “puxar” são sistemas de reposição.
Os sistemas de “puxar” exigem a mudança na cultura operacional, pois
significam que o trabalho em andamento seja reduzido e não há geração de qualquer
estoque em processo.
. Lute por perfeição: à medida que os parceiros aplicarem a filosofia da produção
enxuta, mais problemas serão resolvidos, e uma cultura de melhoria contínua se
desenvolve.
55
Ainda, conforme Womack, Jones e Ross (1992, p.175), as seis fontes de
muda são:
• excesso de produção, antecipando-se à demanda;
• espera pela etapa seguinte do processo;
• transporte desnecessário de materiais;
• processamento excessivo de peças por má tecnologia ou do desenho do
processo;
• movimentação desnecessária dos empregados;
• produção defeituosa.
Para que se cumpra a “transparência” do contrato comercial proposto pela
produção enxuta, para o enfoque enxuto funcionar, o fornecedor precisa compartilhar
uma parte substancial de suas informações internas sobre custos e técnicas de
produção. Montadora e fornecedor repassam cada detalhe do processo de produção
da matéria-prima, para encontrar um equilíbrio entre custos e qualidade. Em troca, a
montadora precisa respeitar a necessidade do fornecedor de lucrar razoavelmente.
Acordos entre montadora e fornecedores, para partilharem lucros, incentivam os
fornecedores a melhorarem seus processos, pois estes recebem garantia de que os
lucros provenientes de suas inovações serão de todos.
Outro fator da produção enxuta, na divisão das melhorias, é que o fornecedor se
sente motivado a repassar para seus clientes os ganhos dos cursos de aprendizado.
Ao concordar em dividir os lucros das atividades conjuntas e deixar para os
fornecedores os lucros oriundos de atividades próprias, a montadora renuncia ao
monopólio sobre os benefícios das idéias dos fornecedores. Com isto, a montadora
beneficia-se da crescente propensão de seus fornecedores, em introduzirem
inovações e sugestões redutoras de custos, e trabalharem cooperativamente.
O sistema substitui o círculo vicioso de desconfiança por um círculo virtuoso de
cooperação (WOMACK, JONES, ROSS, 1992 p.145).
Todos esses conceitos exprimem um único objetivo de integração e
permeabilidade. Isto leva a crer que o objetivo conjunto montadoras/fornecedores de
conquista gradativa e crescente do mercado é possível e pode dar bons resultados.
No Japão, devido principalmente à cultura local, isto vem acontecendo há 30 anos. No
mundo Ocidental, pode demorar um pouco. Mas não é mais uma utopia.
Ainda, para o sistema de suprimento de a produção enxuta funcionar, existem
alguns componentes importantes que vem ao encontro da essência do conceito.
56
2.3.4 Componentes Importantes para a Prática da Produção Enxuta
A produção enxuta criou e identificou, conforme Womack, Jones e Ross (1992,
p.145), quatro componentes que complementam sua prática:
• a maneira de entregar just in time (a quantidade exata na hora exata de sua
utilização)
• a uniformidade da produção
• a criação de plataformas
• a produção por famílias
• A Maneira de se Entregar, conhecida como Just in time, foi uma inovação
liderada pela Toyota, na década de 50, e adotada pelas empresas ocidentais no início
da década de 80. Foi imaginada por Taiichi Ohno como um método, para
originalmente facilitar o fluxo seqüencial.
Consiste em entregar os componentes diretamente para a linha de montagem,
muitas vezes de hora em hora, várias vezes ao dia, se necessário. Em geral,
fornecedores são avisados pela montadora em tempo real, dentro de um lead time
(tempo) coerente, para entregar peças caras, que exigem grandes investimentos em
estoques. Para que o just in time funcione, duas ferramentas são necessárias: um
acompanhamento muito próximo do consumo real da produção e uma manutenção
eficiente e rápida dos meios de produção (por exemplo, troca de ferramentas).
É importante que os fornecedores só entreguem as peças às montadoras “em
tempo” de atender ao cronograma da produção, na qualidade e quantidade exata
indicada.
• A Uniformidade da Produção:
Também conhecido como heijunka, é o esforço da montadora em manter o
volume total produzido o mais constante possível. Apesar da produção enxuta
caracterizar-se por ter uma flexibilidade em atender as mudanças do mix de produção,
devido ao baixo estoque em processo, e principalmente por produzir em pequenos
lotes, mesmo assim, o esforço em uniformizar a produção diminui os desperdícios e
está dentro da filosofia de melhoria contínua (kaizen).
Além disso, há a garantia para os fornecedores de se manterem os volumes de
negócios. Além disto, o fornecedor não precisa manter estoques desnecessários
57
supondo que possam ocorrer pedidos inesperados. No Japão, fornecedores são
informados com antecedência pela montadora sobre mudanças de volumes.
• A Criação de Plataformas:
Para facilitar o desenvolvimento do veículo, a melhoria e incremento dessas
peças e matérias-primas, criou-se, na produção enxuta, o conceito de “modelo básico”,
ou “plataforma”, no jargão automobilístico. Plataforma é um conjunto de peças que
pode ser aproveitado de modelos anteriores, e compartilhados com outros modelos de
um ou mais produtos. São peças que não necessitam ser adaptadas, ou criadas
quando da existência de um novo projeto. São peças comuns a um modelo de veículo
e podem ser utilizadas em outro veículo completo, ou em parte dele.
Este conceito facilita os projetos de engenharia, a produção dos fornecedores e a
montagem do veículo.
• A Produção por Famílias:
É o tipo de produção que engloba e agrupa todas as etapas em um lugar só,
num fluxo contínuo seqüencial do começo ao fim.
As famílias de produtos podem ser definidas de várias formas: mesmo material,
mesmo processo, mesma função no conjunto principal ou item-pai. Neste caso aqui, o
veículo.
Também esta prática agrupa pessoas e informações em um local, só evitando
ruídos nas comunicações, para solução de problemas.
O motivo para a apresentação desses quatro conceitos é demonstrar que a
produção enxuta idealizou e idealiza até hoje, no mundo oriental e ocidental, práticas
racionais de trabalho, procurando os melhores caminhos para qualidade e redução de
custo.
Tudo isso só é conseguido com a colaboração ativa de fornecedores imbuídos
do mesmo objetivo.
Talvez não se fale mais em produção enxuta, lean manufacturing, assim como e
da maneira que se falava no auge da descoberta pelo mundo ocidental do sistema
japonês, mas o foco dos conceitos iniciados nos anos 50 vem caminhando e se
reciclando até a adaptação para os dias de hoje.
58
2.4 O Consórcio Modular e as Unidades de Negócio
A quarta fase da logística abriu caminho não só para uma melhoria da cadeia de
suprimentos, como também para a integração de todos os seus componentes. Não
suporta que tecnicamente foram criados, desenvolvidos, extintos ou alterados
procedimentos, métodos, formas de trabalho. Importa que neste momento de
integração, estava se formando um novo tipo de relacionamento cliente/fornecedor.
Era o que havia de mais atual e avançado neste sentido.
As novas relações operacionais e comerciais começaram a aparecer ainda nas
grandes montadoras mundiais, pois estas detinham não só um alto poder de barganha
como também terreno fértil para novas idéias e tecnologias.
Grandes montadoras internacionais desenvolveram pelo mundo não só um novo
tipo de relacionamento, como redesenharam a cadeia de suprimentos, colocando o
fornecedor como co-autor de todas as etapas do processo de fabricação dos veículos,
procurando tornar o negócio cada vez mais rentável para todos.
No Brasil, um exemplo inédito e audacioso mudou definitivamente o ritmo do
setor de autopeças nacional.
Nos últimos tempos, a Volkswagen tem criado, principalmente no Brasil, formas
inovadoras de organização para conquista de mercado, mas já com a visão das
mudanças mundiais.
A Volkswagen é uma organização do setor automobilístico, que historicamente
lidera o mercado nacional de veículos, mas que nos últimos anos vem sofrendo a ação
cada vez mais acirrada da concorrência, com reflexos na perda de seu market share.
Há alguns poucos anos, a Volkswagen idealizou, construiu e implantou novas fábricas
e novos conceitos, em setores outrora estáticos, descobrindo um valor significativo nas
atividades desempenhadas por estes setores, tornando estas inovações o motivo de
crescimento mercadológico e marcos na história da indústria mundial. Dois exemplos
seriam a fábrica de motores, na cidade de São Carlos-SP, e a fábrica de caminhões e
ônibus, na cidade de Resende-RJ.
Para compreender a história dessas duas inovações, é preciso delinear as
principais mudanças por que passa o setor automobilístico no mundo: globalização,
crescente exigência do consumidor, necessidade de evolução permanente, mudanças
radicais na engenharia do produto e revolução nos processos produtivos. Isto tudo
acompanhado de fusões e aquisições comerciais, formando um mercado cada vez
mais diverso.
59
Na área industrial, o setor automobilístico é o exemplo das conseqüências da
globalização. Segundo Vassalo (1990, p.52), há uma forte tendência de um ciclo
acelerado no desenvolvimento de novos produtos, flexibilidade e personalização.
Ainda, segundo Vassalo (1990, p.67), a personalização dos produtos traz consigo uma
redundância: o setor automobilístico é dependente de série, que depende da
padronização, ao passo que a personalização vai a direção oposta. Então, a solução
encontrada foi a de padronizar o que o cliente não vê: plataformas, componentes, etc.
Para padronizar o que o cliente não vê, desenvolveu-se o conceito de plataforma, que
é um conjunto básico de chassis e suspensão, com várias opções de motor e
transmissão, sobre o qual se constrói o automóvel.
A Volkswagen foi pioneira no uso de plataformas. Criar plataformas é caro, mas
compensa porque reduz o ciclo e o custo do desenvolvimento de todos os produtos
que dela derivam. O uso de plataformas também obriga a definição de produtos
globais. Modelos iguais são construídos em todas as fábricas, em todos os países. No
conceito anterior, cada fábrica produzia um modelo diferente.
Hoje, os mesmos modelos são produzidos e vendidos no mundo todo.
A globalização exige também padronização de componentes, o que elimina
custos tanto na engenharia de produto quanto no processo produtivo. Ela é mais
comum em partes mecânicas (motor, câmbio, suspensão, etc.), mas aparece também
em portas, maçanetas, instrumentos, etc.
A globalização muda também a logística de produção e de distribuição, com as
fábricas cada vez mais “especializadas”, produzindo poucos modelos. Mesmo com alto
custo de transporte, o ganho de escala obtido na produção é tão significativo que a
“especialização” torna-se uma alternativa compensadora: modelos que são vendidos
aqui, não são produzidos aqui, pois não teriam escala suficiente para justificar o
investimento. Ainda a logística de distribuição não se restringe aos veículos montados,
ela também exige suprimento globalizado. Peças e componentes podem ser
produzidos em uma única fábrica e ser enviado para outra, montado em outras
espalhadas pelo mundo. Os projetos de engenharia também são globalizados.
A Volkswagen opera no Brasil há quase meio século. Numa decisão que
surpreendeu o mercado da época, a Volkswagen e a Ford se uniram no Brasil e na
Argentina e criaram a Autolatina, visando compartilhar custos e potencializar os pontos
fortes de cada empresa, formando assim um gigante teoricamente imbatível no
mercado latino-americano. Com a Autolatina, as duas empresas passaram a ter
operações conjuntas em diversos níveis, inclusive produtos compartilhados: a
Volkswagen produzia os Ford Versailles e Royale (derivados do VW Santana), e a
60
Ford produzia o Volkswagen Logus (derivado do Ford Escort). Mas a fusão nunca
chegou a ocorrer, principalmente por conta das arraigadas diferenças culturais. As
empresas continuavam a existir sob o mesmo teto, mas agindo de forma diferente. Um
exemplo é que, durante a fusão das empresas, as redes revendedoras continuaram
completamente indiferentes: a ASSOBRAV (Associação Brasileira dos Revendedores
Volkswagen) e a ABRADIF (Associação Brasileira de Distribuidores Ford).
Com o início dos anos 90, a Volkswagen havia perdido mercado devido à
ascensão das vendas do Uno 1000. Havia a necessidade de se remodelar o Gol. A
Ford, pelo seu lado, não concordava, pois pretendia remodelar o seu Escort. Na
realidade, ambas as marcas estavam cada vez mais perdendo mercado devido às
marcas entrantes: a abertura de mercado às marcas estrangeiras.
A decisão de separar as empresas, dissolvendo a Autolatina, ocorreu em 1994, e
se efetivou em março de 1995, ocasião em que os sistemas de informação passaram
a ser específicos a cada uma das empresas. A dissolução foi a mais pacífica possível.
Empregados da Volkswagen e da Ford puderam escolher se ficariam na Ford ou na
Volkswagen, independentes de sua origem.
Os produtos híbridos como o VW Logus, por exemplo, permaneceram por mais
um ano no mercado, até que ambas as empresas pudessem trabalhar com seus
próprios recursos, sem que, no entanto, isto afetasse mais ainda suas posições no
mercado.
A separação da Autolatina, em 1995, deixou a Volkswagen sem nenhuma planta
dedicada à produção de caminhões.
A decisão da construção de uma nova fábrica surgiu após o momento que a
diretoria da empresa verificou que as condições do mercado brasileiro de automóveis
estavam extremamente favoráveis. Seria desvantajoso, para a Volkswagen, utilizar a
fábrica de Taubaté, com sua capacidade máxima na produção do “best-seller” Gol, e a
fábrica da Anchieta, apesar de parte obsoleta e muito complexa, já possuía a
capacidade instalada para os outros modelos.
A tão sonhada planta inovadora de López de Arriortua, então vice-presidente da
Volkswagen mundial, que reuniria revolucionários conceitos de produção, estava por
se concretizar, e isto se iniciou com a formação de um grupo de “benchmarkig e
produção enxuta”, recolhendo informações no mundo todo sobre o desempenho das
mais variadas montadoras em seus diferentes aspectos. A cidade escolhida no Brasil
foi a cidade de Resende, no RJ. Lá, seria implantado um revolucionário sistema de
produção chamado consórcio modular (FERRO, 1994, p.372). A partir deste novo
conceito, o papel dos fornecedores seria radicalmente diferente. A começar pelo
61
investimento: dos US$ 300 milhões investidos, um terço foi de responsabilidade direta
dos fornecedores. Pretendia-se criar um tipo diferente de relação operacional e
comercial com os fornecedores. Normalmente, a responsabilidade dos fornecedores
encerra-se quando a peça chega no almoxarifado do cliente, ou seja, na entrega do
pedido: significava que as peças estavam de acordo com as exigências e o
pagamento estaria garantido. A partir de agora, o fornecedor seria responsável direto
pelos resultados das operações de montagem. Todos deveriam cumprir o mesmo
papel: montadora e fornecedores. Com isto, houve um redesenho da cadeia de
suprimentos. Fornecedores que já vinham envolvidos no desenvolvimento de produtos
para automóveis e caminhões, desde a Autolatina, se acostumariam facilmente a esta
nova prática. Estava sendo praticada a organização sem fronteiras, assunto tão
presente na literatura administrativa contemporânea.
Ao se adentrar na fábrica de caminhões Volkswagen, em Resende-RJ, pode-se
perceber a disposição dos fornecedores ao longo da linha de produção, com suas
dependências físicas, chamadas módulos. Cada um deles está preparado para
abastecer e montar, na linha de produção, a peça de seu fornecimento, no caminhão
ou ônibus que por ali chegar. Fornecedores mundiais como Iochpe-Maxion, Cummins,
VDO, Power Train, podem ser vistos trabalhando lado a lado com o mesmo objetivo.
Desde a colocação do chassi na linha, até a última fase de montagem dos
acabamentos e cabines, os fornecedores estão preocupados com a qualidade da peça
e do veículo. Além disso, como o pagamento da peça ao fornecedor só é feito
mediante o “OK” do veículo, ou seja, sua liberação na inspeção final de qualidade que
esta, é feita pela própria Volkswagen. Isto tende a gerar uma maior integração e
compromisso entre todos os participantes do consórcio.
Ao permitir que os fornecedores assumissem a responsabilidade da montagem
dos veículos, a Volkswagen estava não só repassando aos profundos conhecedores
das peças, muitas vezes peças de um elevado grau de complexidade tecnológica, a
oportunidade de montá-las no veículo, mas também fazê-las funcionar da melhor
forma possível, detectando erros, diferenças e, principalmente, corrigindo-as e
melhorando-as, num processo contínuo, sempre quando possível.
A planta de Resende incorpora uma tendência cada vez mais presente nas
montadoras de todo o mundo. O esforço da Toyota, desde os anos 50, quando da
colocação de seus fornecedores próximos fisicamente da fábrica, foi o primeiro passo
nesta mudança de relacionamento. Desde aquela época, a Toyota já praticava os
conceitos que hoje são utilizados na fábrica de caminhões volkswagen: o sistema JIT
de sincronização de produção, redução de estoques, melhoria de qualidade, para o
62
fornecimento de conjuntos e subconjuntos montados previamente e até terminados
próximos à linha de produção (FERRO, 1994, p.378). Ainda, segundo Ferro (1994,
p.379), montadoras como a Fiat em Melfi, na Itália, Ford, em Valência, na Espanha,
Renault, em Córdoba, têm construído parques industriais onde reúnem seus
fornecedores, numa iniciativa de transformar suas linhas de produção e suas
logísticas, as mais eficientes do mundo. Pelo menos no que tange a fornecimento.
A tendência à integração dos sistemas de modularização, por parte dos
fornecedores de primeira camada, é parte do sistema enxuto de fornecimento, com a
redução de fontes de fornecimento e da complexidade das peças. O fornecimento de
subconjuntos facilita a montagem final do veículo, reduzindo esforço de montagem,
diminuindo os custos, principalmente por evitar problemas de qualidade, uma vez que
a peça já vem do fornecedor previamente testada.
Além disso, as montadoras, em mais uma atitude inovadora, estão analisando as
vantagens e desvantagens em transformar o módulo interno de seus fornecedores em
unidades de negócio, ou seja, criar a oportunidade para que aquele espaço interno
possa ser o local de “disparo” de peças, não só para aquela planta, mas para outras
da mesma montadora, no intuito de aumentar os benefícios repassados para os
fornecedores, que algumas vezes se vêem obrigados a arcar com maiores custos do
que lucros, em um primeiro momento.
2.5 Flexibilidade de Entrega e a Logística de Resposta Rápida
Não só o tempo representa custos, mas também prazos extensos implicam em
penalidade ao serviço ao cliente. Custo possui uma relação direta com o comprimento
do fluxo logístico e o estoque que fica retido nele, pois, em cada dia de retenção do
produto, ocorrem despesas de manutenção de estoques. Custo também possui
relação com prazos, porque quanto mais lentas forem as respostas às necessidades
dos clientes, perante a economia globalizada e ao ambiente internacionalmente
competitivo, maiores serão as chances de decadência e deterioração.
Os mercados estão cada vez mais sensíveis ao tempo (CHRISTOPHER, 1997,
p.132). Compradores buscam fornecedores que ofereçam menores prazos e que
atendam aos requisitos de qualidade do produto. Nos mercados de consumo, clientes
decidem por marcas que estiverem mais próximas e disponíveis naquele momento.
Importante para o cliente, hoje, é o custo do tempo: custo incorrido entre
enquanto ele espera pela entrega, ou enquanto procura alternativa.
63
O mercado mundial vem sofrendo com a pressão do tempo. Acontecimentos
como os abaixo descritos expressam esta pressão:
1. Redução dos ciclos de vida dos produtos:
O ciclo de vida do produto é constituído de fases conforme demonstra a FIGURA
8, então, este conceito sugere que, para muitos produtos, existe um tempo pré-
estabelecido de vida. O encurtamento do tempo de vida tem sido uma das
características de nossa época. Produtos que entram tardiamente no mercado, ou
insistem em permanecer nele depois do lançamento de outro tecnologicamente mais
avançado, podem sofrer graves prejuízos.
Fonte – Christopher, 1997
Figura 8 – O ciclo de Vida do Produto
Fonte – Christopher, 1997
Figura 9 – Entrada Tardia no Mercado e Obsoletos
64
Os produtos que não obedeceram ao prazo requerido pelo mercado tendem a
tornar obsoletos logo após seu lançamento, conforme demonstra a FIGURA 9.
2. Esforço dos Clientes em Manter Menos Estoques:
Um dos fenômenos mais pronunciados dos últimos anos tem sido a tendência
quase universal das companhias em reduzirem seus estoques. Sejam os estoques de
matérias-primas, de processo, de componentes ou de estoque de produtos acabados;
a pressão tem sido para a liberação do capital neles aplicado e, conseqüentemente,
reduzir seus custos de manutenção. As companhias que reduziram seus estoques
deste modo também reconheceram as vantagens que obtiveram em termos de maior
flexibilidade de resposta aos clientes.
Considerando-se que as exigências dos clientes são sempre satisfeitas, quando
o fornecedor mantém próximo dele o estoque, estamos simplesmente repassando os
custos para outra parte da cadeia de suprimentos. Sempre, para o fornecedor, os
custos serão mais altos, e esse deve empreender ações que substituam o estoque por
uma resposta a mais rápida possível (CHRISTOPHER, 1997, p.136).
3. Mercados voláteis que impedem previsões confiáveis:
Um problema constante que aflige a maioria das organizações é a incerteza das
previsões. Devido à volatilidade dos mercados mundiais, quase sempre as previsões
estão erradas. O primeiro ponto, que leva ao erro das previsões, é a dilatação dos
prazos. O fator é cíclico, pois a dilatação dos prazos é devido à volatilidade. A
volatilidade advém da incerteza da demanda provocada por promoções, variações de
preços, resultados das políticas de alterações de pedidos, etc.
Mas o que seria verdadeiramente prazo? Conforme a FIGURA 10, e sob o ponto
de vista do cliente, só existe um prazo: o tempo discorrido desde a entrega do pedido
até a entrega do produto (CHRISTOPHER, 1997, p.138).
O cliente
coloca o
pedido
Entrada do
pedido
1
Processamento
do pedido
2
Execução
do pedido
3
Transporte
4
Pedido
recebido
5
Fonte – Christopher, 1997
Figura 10 – O Ciclo do Pedido
Cada um desses passos consome tempo. Devido aos gargalos, processos
ineficientes e flutuações no volume de pedidos manuseados, haverá sempre uma
variabilidade considerável do tempo consumido para a realização dessas várias
atividades.
65
Mas está ótica é muito parcial. Quando se observa pelo lado do fornecedor,
ainda, conforme Christopher (1997, p.138), prazo é o tempo total em que o capital de
giro fica comprometido desde a aquisição dos materiais até o pagamento pelo cliente.
A partir do momento em que é tomada a decisão da aquisição dos materiais e
componentes, passando pelos processos de fabricação e montagem, até a distribuição
final e apoio pós-venda, há consumo de tempo, conforme demonstra a FIGURA 11.
Ele é representado pelos dias de estoque no fluxo, seja como matérias-primas,
semimanufaturados, materiais em trânsito, ou mesmo, tempo gasto no processamento
de pedidos e outras atividades administrativas.
Fonte – Christopher, 1997
Figura 11 – Prazos Acumulados Desde a Colocação do Pedido até Dinheiro em Caixa
Segundo Christopher (1997, p.143), o fluxo logístico total é o processo pelo qual
os tempos de fabricação e de aquisição são conectados às necessidades do mercado,
ou seja, quão rápido o fornecedor tenta responder ao cliente, após a confirmação de
seu pedido. Este é o conteúdo principal da estratégia logística, que cada empresa
pretende praticar como a única ferramenta que causa diferencial competitivo,
atualmente.
Os objetivos do gerenciamento do fluxo logístico são:
. menores custos
. alta qualidade
. maior variedade
. mais flexibilidade
66
. tempos de resposta menores
Ao gerenciar-se uma cadeia de suprimentos, verifica-se que existem atividades
que agregam valor, outras que agregam custos. As atividades que adicionam valor são
aquelas que tornam o produto mais vendável. Por outro lado, as atividades que
agregam custo são aquelas que podem ser eliminadas sem qualquer deterioração da
utilização do produto pelo cliente. O desafio logístico está em descobrir meios em
relacionar bem os tempos das atividades que agregam valor e o tempo das atividades
que agregam custos.
A FIGURA 12 mostra a relação Valor e Custo Adicionado, com algumas de suas
atividades.
Figura 12 –Valor Adicionado Versus Custo Adicionado
A solução que se tem verificado nos últimos anos é que se devem remover os
bloqueios e as interrupções que ocorrem e que acarretam acúmulo de estoques.
Busque oportunidades de comprimir a cadeia, sugere Christopher (1997, p.144),
e esta oportunidade está na visualização da demanda. Muitas vezes os dados sobre a
demanda permanecem ocultados, porque o ponto de entrada do pedido está muito
distante do ponto de entrega dele.
A FIGURA 13 demonstra que o encurtamento da Cadeia de Suprimentos
aumenta o valor adicionado, diminuindo o custo.
67
Fonte – Christopher, 1997
Figura 13 – Comprimindo a Cadeia de Suprimentos
Tempo é dinheiro, diz o ditado. Para as empresas atuais, tempo não é só
dinheiro, tempo é valor (CORREA; GIANESI, 1993, p.46). Competitividade com base
no tempo já é uma realidade no mercado. Conseguir reduzir tempos de entrega
significa comandar preços mais altos e garantir para si os mais cobiçados clientes do
mercado. As vantagens que os tempos de resposta mais curtos trazem para os
clientes são claras: eles passam a necessitar planejar suas compras com
antecedência menor e podem postergar suas decisões até a data mais próxima da
data que eles necessitam receber os bens adquiridos. O cliente também pode reduzir
o tempo de seus próprios ciclos produtivos totais, em conseqüência da redução de
seus tempos de obtenção de suprimentos.
O ciclo total produtivo do fornecedor, na maioria das vezes, não é semelhante ao
do cliente, ou seja, o ciclo do pedido imposto pelo cliente é menor que o tempo de
aquisição da matéria-prima pelo fornecedor, até o dinheiro em caixa. Isto devido aos
tempos de ressuprimento impostos a este fornecedor, pelo próprio mercado. Então, o
fornecedor necessita de um tempo, anterior à colocação do pedido do cliente, para
especulação dos volumes pedidos por este cliente. Estes são os estudos de previsão.
Quanto mais se reduzirem estas atividades especulativas, ou seja, aproximarmos da
data da entrega do pedido, a data da efetivação dele, menos prejuízo terá o
fornecedor, mais ágil e flexível ele será. A FIGURA 14 faz o esquema deste fato.
68
Fonte – Corrêa; Gianesi, 1993
Figura 14 – Ciclos no Processo Produtivo
Durante os últimos 30 anos, surgiram muitas idéias e conceitos novos sobre
gerenciamento de empresas. Talvez um dos princípios mais importantes adotados e
praticados amplamente seja o just in time ou JIT, muito mais uma filosofia do que uma
técnica. Ele se baseia na idéia que, sempre que possível nenhuma atividade deve
acontecer num sistema, enquanto não houver necessidade dela.
Dessa forma, nenhum produto deve ser feito, nenhum componente deve ser
pedido, enquanto não houver necessidade (CHRISTOPHER, 1997, p.161).
Essencialmente o JIT (ou Just in time) adota o conceito de puxar a produção, onde a
demanda, no final do canal de suprimentos, puxa os produtos em direção ao mercado,
e o fluxo de componentes pertinentes a estes produtos também é determinado pela
mesma demanda. O JIT (ou Just in time) contrasta com o sistema tradicional de
“empurrar”, onde os produtos são fabricados ou montados em lotes, antecipando a
demanda, e são posicionados na cadeia de suprimentos como reguladores entre as
várias atividades (CHRISTOPHER, 1997, p.161).
A FIGURA 15 ilustra graficamente a demanda do “empurrar” e do “puxar”.
69
Fonte – Christopher, 1997
Figura 15 – Puxar Versus Empurrar na Cadeia Logística
Da mesma forma que a velha sabedoria mandava maximizar as quantidades de
lote de fabricação, o mesmo acontecia com o resto da cadeia de suprimentos. O que
forçava clientes a programar e receber suas matérias-primas pelo sistema tradicional
era o receio em, ao otimizar cargas, lotes e estoques, penalizar programações firmes,
preços, cronogramas de entrega, alterar rotas e consolidação de cargas. Tudo isto
contraria a abordagem da cadeia de suprimentos JIT (ou Just in time). Ela requer
entrega ao cliente de pequenas quantidades, no momento exato de sua utilização,
assim como se processaria uma manufatura deste tipo. A Cadeia de Suprimentos JIT
vem a alterar a meta da companhia, conforme demonstra a Tabela 6.
70
Tabela 6 – O Efeito JIT na Cultura da Companhia
O efeito do JIT na cultura da companhia Questão Sabedoria tradicional Pensamento estratégico
do JIT Qualidade vs. custo Menor custo com
“qualidade aceitável” Qualidade superior, consistente “zero defeito”
Estoques Grandes estoque - Descontos por quantidade - Economias de escala na fabricação - Proteção pelo estoque de segurança
Estoques pequenos com “fluxo contínuo de entregas” confiáveis
Flexibilidade Prazos “mínimos” longos, mínima flexibilidade
Prazos curtos; orientado para o serviço ao cliente, muita flexibilidade
Transporte Menor custo oferecido com “níveis de serviço aceitáveis”
Níveis de serviço totalmente confiáveis
Fornecedor/transportador Negociações duras de “adversários”
Associações de risco “parcerias”
Número de fornecedores/transportadores
Muitos, evita fonte única – nenhuma alavancagem nem demonstração de dependência
Poucos; relacionamento aberto de longo prazo
Comunicações com os fornecedores/transportadores
Mínima; muitos segredos; controladas rigidamente
Aberta; compartilhamento de informações; soluções conjuntas dos problemas; relacionamentos múltiplos
Geral O negócio é impulsionado pelo custo
O negócio é impulsionado pelo serviço ao cliente
Fonte – Christopher, 1997
O fortalecimento da logística JIT deu-se com certa rapidez, devido ao
aparecimento de logística de resposta rápida, ou RR (Christopher, 1997, p.174). A
idéia básica da logística de resposta rápida é que, para aproveitarem-se as vantagens
71
da competição baseada no tempo, é necessário desenvolver sistemas que sejam
rápidos e responsivos.
O que tornou a logística de resposta rápida uma ferramenta possível foram os
sistemas de informação e todo aparato elétrico-eletrônico, que fazem caminhar de
forma muito mais rápida e precisa, as informações sobre a demanda. Outra
característica da logística de resposta rápida (RR), é que os prazos totais são
reduzidos, o que leva a aceleração do tempo de processamento no sistema. Isto pode
resultar em estoques menores e tempos menores de resposta.
A logística de resposta rápida fez às empresas a função estratégica que a
logística possui na empresa (NOVAES, 2001, p.48). A logística de resposta rápida,
com o objetivo de reduzir custos, começou a buscar soluções novas, usando-as para
ganhar competitividade e para induzir a novos negócios. Os agentes da cadeia de
suprimento passaram a trabalhar mais próximos, trocando informações, antes
consideradas confidenciais, formando parcerias.
2.6 A Filosofia do Postponement
2.6.1 O Foco da Cadeia de Suprimentos
Atualmente as práticas adotadas na Gestão da Cadeia de Suprimentos, ou
Supply Chain Management, visam obter um conjunto de unidades que compõem a
cadeia produtiva, operando de forma conjunta e integrada. Para uma gestão eficaz,
cada unidade deve se preocupar com a competitividade do produto perante o
consumidor final e com o desempenho da cadeia como um todo. Por isso que, para a
SCM aparece a importância também da cadeia produtiva: há o estreitamento das
relações e a criação conjunta de competências distintas para cada uma das unidades.
De um modo geral, a Gestão da Cadeia de Suprimentos tem como foco principal
satisfazer o cliente, tornar os serviços mais rápidos, melhorar os índices de
desempenho e aumentar as vantagens competitivas (CRASPER&GRAY, 1995, p.388).
Para se concretizar como real vantagem competitiva para uma organização, a
SCM pressupõe (conforme Tabela 6), que nela haja mudanças de cunho cultural,
estrutural e administrativo. Para que isto aconteça, alguns pontos precisam ser
praticados na empresa. Segundo Pires (1998, p.5), os pontos e princípios mais
freqüentes são:
72
. Gestão Integrada da Cadeia de Suprimentos: significa que o planejamento da
cadeia deve ser feito de forma holística, ou seja, considerando a cadeia como um todo
e não como partes em separado.
. Reestruturação e Consolidação do Número de Fornecedores e Clientes: Na
maioria das vezes, reduzir o número de fornecedores e clientes, com o objetivo de
aprofundar as relações de parceria, para desenvolver um relacionamento colaborativo
e com resultado sinérgico.
. Divisão de Informações e Integração de Infra-estrutura com Clientes e
Fornecedores: na troca de informações há ganhos conjuntos, como redução de níveis
de estoques, possibilidade de entregas just in time, troca eletrônica de dados (EDI,
ECR, etc.), representantes dos fornecedores na planta (in plant representatives).
. Desenvolvimento conjunto de Produtos: O envolvimento de fornecedores,
desde o início do desenvolvimento dos produtos (ESI – Early Supplier Involvement),
tem proporcionado a redução de tempo e custos para ambos.
. Considerações Logísticas na Fase de Desenvolvimento de Produtos:
Representa a concepção de produtos que facilitem o desempenho da logística da
cadeia produtiva, geralmente também à escolha de um operador logístico eficiente,
para administrar a mesma.
. Outsourcing na Cadeia de Suprimentos: Consiste em uma prática, onde parte
do conjunto de produtos e serviços utilizados em uma empresa é realizada por uma
empresa externa, num relacionamento colaborativo e independente.
Além dessas, outras duas práticas são normalmente adotadas:
. A Segmentação com Base nos Diferentes Serviços Prestados: Conforme
Anderson et. al. (1997), a segmentação de clientes, em função principalmente de suas
necessidades específicas, possibilita à empresa desenvolver um portfólio de serviços
customizados.
. Postponement (ou Postergação): esta técnica consiste em criar centros de
diferenciação de produtos ao longo da cadeia, onde um determinado produto semi-
acabado é guardado, até que chegue um pedido com certas especificações. Aí, então,
o produto semi-acabado é estocado até que chegue de acordo com o pedido do
cliente (ANDERSON et.al., 1997).
2.6.2 O Risco de Manter Estoques
Manter estoques, ao longo da cadeia de suprimentos, é um risco inerente ao tipo
de processo escolhido. Conforme Wanke (2002, p.1), este risco decorre cada vez mais
73
devido a ciclos de vida mais curtos do produto, proliferação de número de itens
diferentes fornecidos, implicando na pulverização da demanda original agregada, em
razão da introdução de novos produtos de mais difícil previsão e da segmentação
crescente de mercados, resultando na abertura de novos centros de distribuição, para
garantia de um melhor nível de serviço.
Todos esses fatores concorrem para que haja erro na definição de se manter ou
não estoques na matriz, ou em locais intermediários até o cliente.
Normalmente, o risco associado à manutenção de estoques é mensurado pela
variabilidade da demanda. Os reflexos de uma maior variabilidade da demanda são
percebidos imediatamente nos níveis de estoque de segurança, parcela dos estoques
destinada à garantia dos níveis desejados de disponibilidade de produto, sob
condições de incerteza da demanda e do lead time de ressuprimento.
O acesso à informação em tempo real ajuda a diminuir a variação imposta pela
variação da demanda. Mas, conforme Wanke (1997), ainda existem outras três
maneiras em se alcançar a fidelidade de entrega pela fidelidade da informação:
. agregando a demanda por meio de diversas localizações, implicando num
maior grau de centralização dos estoques. Ao centralizar os estoques, retarda-se de
certa maneira sua movimentação para o destino final, dando origem às políticas de
postergação.
. agregando a demanda na linha de produtos, implicando numa maior proporção
de produtos semi-acabados em estoque. Manter maior parcela destes tipos de
produtos implica em retardar a diferenciação final dos produtos, por meio de
operações simples de adição de valor como montagem, embalagem, pintura,
colocação de acessórios, etc.
. combinando as duas práticas anteriores.
Ainda, conforme Wanke (1997), qualquer estudo de postergação deve
obrigatoriamente levar em conta a comparação entre os custos de finalização do
produto acabado, como, por exemplo, instalações, pessoal, materiais e processos,
contra a diminuição dos estoques de segurança. Quando esta prática estiver aliada ao
consórcio modular, o fornecedor poderá desfrutar da utilização de áreas dentro do
espaço do cliente e da condição de single sourcing (ou fornecimento único), em troca
de arcar com todos os custos dos estoques. Isto pode significar uma boa troca
principalmente na atualidade, onde uma boa parceria pode significar um contrato
comercial duradouro.
74
2.6.3 Postponement
O conceito de postponement ou postergação foi iniciado por Alderson, em 1950,
que observou que os produtos tendem a se diferenciar à medida que chegam ao ponto
de venda ao consumidor. Assim, quando se move o “ponto de diferenciação”do
produto para mais próximo do final da rede de fornecimento e de produção, podem-se
explorar os benefícios da customização, ou seja, da personalização, sem que haja
aumento significativo na complexidade da produção.
Postponement é uma prática usada no Gerenciamento da Cadeia de
Suprimentos, com os objetivos de promover a customização dos produtos, sem que
haja perdas dos benefícios advindos da economia de escala (sem que isto cause um
aumento nos preços). Esta prática consiste também em uma forma eficaz de lidar com
as variações de demanda e de possibilitar as entregas mais rápidas e confiáveis. Lee
e Tang (1997, p.24) afirmam que a remodelagem do produto e do processo, a fim de
retardar o ponto de diferenciação do produto, aumentam a flexibilidade do processo,
para lidar com as variações de mercado.
O conceito de postponement, ou postergação consiste em atrasar as atividades
de processamento e montagem dos produtos, até que seja recebida uma ordem do
cliente. Pode-se também retardar o transporte e efetuar mudanças no esquema de
distribuição, mantendo os produtos nos depósitos, até que haja ordem para enviá-los
para o cliente, ou para depósitos regionais. As atividades finais são separadas em
termos de tempo e de localização das atividades de fabricação, que fabricam produtos
genéricos e os produzem em larga escala. Isto ajuda a diminuir a dificuldade na
previsão da demanda, pois agrega a demanda de vários produtos em apenas um
padronizado, produzindo uma variação menor neste último, que, na soma das
variações dos demais. Este conceito de postergação é um dos mais difundidos na
Gestão da Cadeia de Suprimentos, também conforme Wanke (1997, p.78), pois a
informação agregada da demanda pode ser sempre mais precisa que a desagregada.
Isto beneficia a tomada de decisão, quando da necessidade da área de manufatura
em iniciar uma ordem de produção.
Dessa forma, o postponement possibilita a exploração das vantagens da
economia de escala, sem que haja perda da customização.
O resultado do postponement é que as operações de transporte, fabricação e
diferenciação do produto são retardadas, sendo realizadas apenas quando
necessárias. Este sistema de operação se opõe ao “sistema de produção empurrada”,
onde toda a produção era efetuada antes que os pedidos fossem feitos, e os produtos
75
eram então estocados. O postponement é um sistema de produção puxada, onde as
atividades são desencadeadas pelos pedidos dos clientes e, com isso, é possível
proporcionar uma customização e uma diminuição de custos, devido à redução dos
transportes e de estoques.
Para Van Hoek (1997, p.45) existem três tipos básicos de postergação, ou
postponement: o de forma, o de tempo e o de localização.
• o de forma: visa atrasar ao máximo a diferenciação dos produtos. Também é
conhecido como postergação de manufatura.
• o de tempo: significa atrasar a movimentação e a transformação dos materiais
até que o cliente faça o pedido.
• o de localização: consiste em posicionar os estoques na rede de distribuição,
de forma a atrasar a expedição até o momento de entrega ao cliente.
A produção por postponement engloba os três tipos citados. Os processos finais
e as atividades de produção são atrasados, até que o pedido seja recebido,
(postponement de tempo) e são enviados para centrais de distribuição (postponement
de localização), para que, depois, quando houver a entrada do pedido pelo cliente,
sejam incluídas as especificações relativas a cada região (postponement de forma).
Este trabalho possibilita alguns benefícios importantes como:
• customização em massa;
• baixas despesas;
• diminuição dos custos de transporte;
• diminuição dos custos de estoque;
• menores ciclos de desenvolvimento de produto;
• redução dos estoques obsoletos;
• agilidade para responder ao desejo do consumidor.
O postponement ou postergação de manufatura, ou produção, possui um ponto
de diferenciação denominado COPD, ou Customer Order Decoupling Point, que é o
ponto de diferenciação do produto. Até ele, a produção pode ser empurrada, mas, a
partir dele, a produção é puxada, segundo Olhager (1994) apud Van Hoek (1997, p53).
Algumas condições são verificadas para a implementação do sistema de
produção por postponement:
• capacidade da separação do processo em dois estágios;
• capacidade de modularizar, ou seja , decompor o produto em módulos
genéricos, ou materiais base, que se combinam para formar um produto final.
76
• tempos envolvidos na montagem da diferenciação do produto final.
• Uma grande imprevisibilidade da variação da demanda favorece o emprego do
sistema postponement ou postergação;
• Uma grande complexidade das atividades finais de produção;
• Quanto mais fácil a modularização do produto, mais favorável para o
postponement;
• Um grande volume e uma grande variedade favorecem o postponement;
• Um mercado turbulento;
• Uma grande velocidade de mudança nos produtos e nas tecnologias
envolvidas no processo;
• Quando a resposta da cadeia de suprimentos é lenta, devido a longos lead
times, seqüenciamento de produção inflexível;
• Quando o custo de uma venda perdida é alto.
Se a maioria desses fatores se fizer presente no processo de produção,
distribuição, entrega e manufatura, aconselha-se o estudo e a prática do
postponement, se não houver incremento nos custos. A customização, a
personalização é em massa, sem aumento dos custos envolvidos.
3 O CASO DO FORNECIMENTO DE CHICOTES PARA A MONTADORA
3.1 O Histórico de Vendas dos Veículos
Historicamente os veículos mais vendidos no mercado nacional são os veículos
de maior funcionalidade, conforto e, principalmente, de menor custo. Todo consumidor
brasileiro deseja um veículo, e ao adquirir um, sua intenção é aliar ao máximo estes
três fatores.
A Montadora em questão, objeto de estudo desta Dissertação, possui vários
modelos de veículos, divididos em duas plataformas: uma que possui o modelo líder
de vendas, há 16 anos consecutivos; modelo que ainda guarda o design do carro da
entrada da marca no mercado. Este somente na versão 2 portas. Este mesmo modelo
possui um veículo mais atual, modificado, redesenhado (com versões 2 e 4 portas), e
dele deriva a outra plataforma, chamada de station wagon, ou o já conhecido utilitário
ou “ perua”. Todas as versões podem ser encontradas nas opções álcool e gasolina,
embora nem sempre haja mercado ativo para elas. Principalmente, quando acontece o
reaquecimento no caso do carro a álcool, a Montadora se organiza para corresponder
com a demanda sazonal. Os veículos com maior número de acabamentos também
podem ser encontrados em motorizações diferentes, além da 1,0 8v e 16v, (lê-se
motor 1.000, 8 válvulas e 16 válvulas) mais comuns. Há ainda as motorizações 1,6,
1,8 e 2,0.
O mercado de exportação vem sendo a cada ano um mercado de grande
disseminação dos veículos dessa marca. No ano passado foram vendidas 63 mil
unidades do modelo principal da marca, que é hoje, o veículo mais exportado pelo
Brasil. Os mercados para esses veículos são México (é o terceiro carro mais vendido
lá), América do Norte, América Central, Caribe, África, Ásia e, agora, China e Rússia.
Para todos esses países, os veículos são sofisticados, com muitos acabamentos e de
motorização alta: 1,8 e 2,0.
Internamente, o mercado consumidor do modelo de entrada da marca é o maior
e o mais fiel. Heterogêneo, o mercado é formado por diversos tipos de órgãos
governamentais, empresas públicas e privadas, profissionais liberais e pessoas físicas
e famílias, das mais diferentes constituições. É um veículo muito bem aceito no
mercado, porque, acima de tudo, é de uma marca confiável. O histórico de
reclamações dos clientes, o retorno dos veículos para as 600 concessionárias
espalhadas no país, acidentes graves causados por erro em projetos são sempre
78
muito baixos. Os veículos quase nunca necessitam de manutenção, e o mercado de
reposição é relativamente barato.
Os veículos são, então, classificados por modelo ou plataforma, versão 2 portas
e 4 portas; álcool ou gasolina; motorização e mercado, mas com diversos
acabamentos, abrindo um leque de mais de 200 combinações de opcionais, sem levar
em conta a campanha da concepção do veículo, na concessionária, feita pelo cliente,
numa iniciativa denominada “ Faça seu Carro”.
As motorizações existentes hoje na Montadora escolhida, para a pesquisa deste
trabalho são:
Tabela 7 – Motorização dos Veículos da Montadora
Versões de Motorização dos Veículos Passeio Descrição Mercado tipo de motorização Combustível
Motor Alta Economia Nacional 1,0 8 válvulas álcool/gasolina
1,0 16 válvulas
1,0 Turbo
Motor Alta Performance nacional/exportação 1,6 álcool/gasolina
1,8
2,0
Motor Alta Performance Exportação 1,8 Gasolina
Os volumes produzidos e vendidos para o mercado nacional e internacional
colocam a Montadora em questão, como a segunda maior Montadora em vendas no
país. A Unidade da cidade de Taubaté produz o veículo da entrada da marca, versão
popular, 2 portas, motorização 1,0 8v, e é responsável por 6% de vendas do mercado
nacional. É neste veículo que esta dissertação concentra seu trabalho.
Este veículo, com o motor de Alta Economia, é responsável, então, por 45% da
produção da Montadora, conforme demonstra a FIGURA 16.
79
05
1015202530354045
Perc
entu
al
1,0 8V 1,0 16V 1,0 Turbo
Tipos de Motor Alta Economia
Percentual de Produção Motor AE
Fonte – Montadora
Figura 16 – Percentual Médio de Volume de Produção Diária do Veículo de
Motorização Alta Economia
01020304050607080
Perc
entu
al
nacional exportação
Mercado
Percentual Médio de Volume de Mercado
Motor Alta Economia
Motor AltaPerformance
Fonte – Montadora
Figura 17 – Percentual Médio Anual do Volume de Mercado (vendas)
O Gráfico representado na FIGURA 16 demonstra o volume médio de produção,
em percentual, do veículo com a motorização chamada alta economia, ou seja, o
percentual de produção do veículo popular 2P (duas portas), da unidade da Montadora
que fabrica veículos.
O gráfico da FIGURA 17 demonstra o percentual do mesmo modelo de veículo,
mas agora dentro do volume de vendas, ao longo de 1 ano (2002).
80
396
881
45% 100%
0
200
400
600
800
1000
Valo
res
volume percentual
Comparação Volume/Percentual
Produção Diária Veículo 1,0 8V
1,0 8V
total
Fonte – Montadora
Figura 18 – Produção Diária Veículo 1,0 8v
3.2 O Veículo e sua Composição
Um veículo popular, produzido pela Montadora em questão, é constituído por
aproximadamente 3.000 itens diferentes.
Esses itens variam desde chapas metálicas, componentes químicos, tintas,
massas, até peças como as de acabamento, faróis, bancos, tapetes, direção, motores,
passando por parafusos, presilhas, porcas e arruelas.
A definição dos itens que serão utilizados na montagem de um veículo obedece
à maneira como ele é montado, ou seja, a definição da fonte de fornecimento
acompanha a especificação da peça.
A matéria-prima do veículo pode ser produzida internamente na Montadora,
numa verticalização, ou comprada de fornecedores externos (fonte de fornecimento
conhecida como out sourcing). Ou ainda, dependendo da capacidade financeira e
técnica da montadora e fornecedores, o volume pode ser dividido; parte é comprada e
parte é manufaturada.
É o caso das molas helicoidais, por exemplo, responsáveis pela sustentação e
estabilidade da carroçaria no eixo do veículo. Se ela é produzida internamente, o que
se adquire dos fornecedores são as barras de ferro e canudos plásticos como
protetores e anti-ruídos. Se a mola helicoidal é comprada pronta, então se adquire
somente a mola. O canudo plástico já está incluído no produto. Também há o caso
dos conjuntos ou famílias. Outra matéria-prima do veículo seria o motor. Se produzido
internamente, a estrutura para a compra seria de uma infinidade de peças pequenas e
grandes, complexas e de alto custo, para a montagem interna. Pode-se chegar até um
81
número de 50 componentes diferentes para a montagem de um motor, dependendo do
motor e do processo produtivo. Mas, este mesmo conjunto motor passa a ser um só,
quando ele é comprado de um fornecedor externo. A definição do tipo de fornecimento
internamente chamado de make (do inglês “produzir”) ou buy (do inglês “comprar”)
depende principalmente do custo, mas também da qualidade e da complexidade
tecnológica.
As etapas produtivas da Montadora são:
. Estamparia: onde aparecem as chapas metálicas e plásticas, 44 produzidas
internamente, chapas que, após receberem o formato, serão “armadas” para
adquirirem o formato do veículo. Algumas dessas peças estampadas são compradas
de fornecedores internos, ou produzidas em outras unidades da Montadora
espalhadas pelo país.
Armação: local onde as peças estampadas na etapa anterior são soldadas e
montadas no modelo do veículo.
Pintura: onde as peças estampadas montadas, que agora se tornam uma peça
única (já é o carro propriamente dito), chamada então de carroçaria, recebem
tratamento químico, vedação e pintura definitiva. É, a partir deste momento, que as
carroçarias recebem um número de produção, número chave ou key number, ou ainda
“Nseqprog” (número de seqüência de programa). É, neste momento, também, que a
Logística de Fábrica, por meio de sua área de Programação de Veículos, identifica
aquele “Nseqprog”, com um nome e modelo, além de seus acabamentos. Neste
momento também o veículo já tem um “dono”.
Montagem Final: É nesta fase que o veículo já montado e pintado começa a
receber não mais a forma, mas a característica. São as peças de “acabamento”:
bancos, assoalho, painel, velocímetro, direção, vidros, fechaduras, comandos, pneus,
calotas, contos de segurança, chicote elétrico, etc.
É nesta fase de montagem que vamos concentrar este estudo.
A Tabela 8 traz um pequeno exemplo das peças diferentes que compõem o
veículo nesta fase da montagem final.
82
Tabela 8 – Peças Utilizadas na Montagem Final do Veículo
Quando da liberação dos itens pela Engenharia da Montadora, estes itens
recebem uma notação em forma de código, no padrão, conforme norma nacional e
conforme norma interna da própria Montadora. Esta codificação obedece ao conceito
de plataforma, primeiramente, e família, posteriormente; ou seja, todas as peças de
uma mesma plataforma recebem uma similaridade no código. Uma plataforma pode
conter vários modelos de veículos e várias versões: duas e quatro portas; popular,
utilitário ou perua. Dentro desta plataforma as peças ainda são classificadas por
famílias, que também serão agrupadas com códigos ainda mais parecidos. Isto
favorece o controle visual e o agrupamento sistêmico.
83
3.3 Os Sistemas Atuais de Programação de Matéria-Prima 3.3.1 A Composição dos Volumes Programados aos Fornecedores
Após a especificação do uso das peças pela Engenharia da Montadora, e após
os testes iniciais para aprovação da montagem no veículo: execução de carros
protótipos, estes funcionais e de qualidade, a matéria-prima está pronta para
atendimento pelos fornecedores e uso normal em linha de produção.
Após o advento da Tecnologia da Informação, a disseminação de dados e a
unificação das fontes para emissão de relatórios que auxiliassem a tomada de
decisão, ficou muito mais evidente. Atualmente, na Montadora, após anos de
crescimento e desenvolvimento tecnológico em todos os níveis, disponibiliza as
informações da engenharia que cria, desenvolve e melhora o produto, para todas as
áreas da empresa. A definição do uso da matéria-prima é apenas uma primeira etapa,
seguida da tramitação de todas as informações necessárias, por diversos sistemas
internos de informação, que viabilizem uma boa programação para o fornecedor e um
bom atendimento para a Montadora. Na época da produção em massa, Ford, quando
não verticalizava, simplesmente procedia como o processo tradicional de compra de
matéria-prima. Importantes para este processo estavam os Departamentos de
Engenharia e de Compras da Montadora. Atualmente, após o aparecimento dos
conceitos da produção enxuta, Engenharia, Compras, Manufatura, com a engenharia
de processo e Logística, são Departamentos que participam de um bom atendimento
ao cliente. Então, as informações da especificação de uso caminham por toda a
estrutura sistêmica da empresa, até chegar ao planejamento da logística, dentro da
logística de fábrica e da operativa.
A configuração de uso do veículo obedece à tradicional estrutura chamada
“árvore de uso”, conforme demonstra a FIGURA 19. Esta estrutura divide o produto
principal, neste caso o veículo, em vários níveis, e obedece às etapas de montagem
das peças. Os níveis vão do primeiro e maior, que é o próprio carro, até o menor, que
pode chegar a ser uma porca ou arruela. As peças explodidas uma a uma podem ser
divididas em peças grandes, como conjuntos (motor, painel, pneu), ou o próprio
conjunto desmembrado, dependendo de qual fonte e modo de fornecimento a
Montadora resolveu especificar.
O primeiro item da “árvore”, o veículo, é chamado “item pai”, e é um item de
demanda independente, apesar de que quem define seu volume de vendas, é o
84
Departamento de Marketing da Montadora. Todos os demais itens abaixo dele, são
itens de demanda dependente, pois “dependem” do volume do “item pai”, conforme a
FIGURA 20.
Figura 19 – Esquema de uma “Árvore de Uso”
Na história das montadoras no Brasil e no mundo, já se montaram diversos tipos
de produtos e matérias-primas, de várias maneiras, desde as mais simples até as mais
complexas. Na verticalização total imposta por Ford às suas fábricas, desde a década
de 20, quando então da produção em massa, a montadora produzia todas as suas
peças, obedecendo às várias etapas dos processos. Todas as peças que constituíam
o veículo eram fabricadas dentro da Montadora. A estrutura de uso dos produtos era
gigantesca, e de difícil administração. A dependência gerada pelo nível da estrutura do
produto acarretava uma infinidade de cálculos, e qualquer erro, por menor que fosse,
poderia ser fatal.
A Montadora em questão programa seus fornecedores para entrega de matéria-
prima, com base no volume dos “itens-pai”, que no caso são os veículos. Estes
veículos geram um “programa-pai” de produção, ou como é conhecido em sistemas de
programação de produção, “Master Production Schedule”(MPS), ou Programa Mestre
de Produção. O MPS nada mais é do que a apresentação de todos os volumes de
todos os veículos produzidos pela Montadora, nas combinações de motorização e
85
acabamentos, definidas pelo Departamento de Marketing da empresa, vendidos ou
projetados num horizonte pré-determinado, dependendo da política de programação
de matéria-prima e da política de previsão de vendas.
O MPS gera uma série de quantidades, para todas as matérias-primas que
compõem o veículo, sejam elas compradas ou manufaturadas pela Montadora. Toda
esta programação de matérias-primas obedece à “arvore de uso” de cada item “pai”,
multiplicando o volume do item-pai pela quantidade da matéria-prima consumida,
somando-se a todos os volumes daquela mesma matéria-prima, se ela for encontrada
em outro veículo. Com isso, existem relatórios gerenciais que exprimem a
necessidade expressa de cada material, na unidade de medida em que aquele
material é comprado, preferencialmente na unidade de medida em que o material é
consumido. Este relatório gerencial também é elaborado de acordo com a política de
cada empresa.
Figura 20 – Esquema da “Árvore de Uso” de um Produto, com o Volume Colocado
Para a Montadora em questão, este relatório gerencial, onde estão os volumes
de cada matéria-prima a ser consumida, não é um relatório comum. É uma ordem de
compra de cada matéria-prima diferente, e esta ordem de compra é recalculada no
sistema a cada emissão do MPS. O MPS é processado e atualizado de acordo com a
86
dinâmica de mercado. Outrora, em épocas de previsões menos voláteis, este MPS era
processado com uma certa margem de segurança e em espaços maiores de tempo.
Esta ordem de compra é chamada de release, ou shipping release, ou ainda do
inglês, autorização de remessa, e busca mostrar a cada fornecedor as quantidades de
cada matéria-prima que será consumida na produção dos veículos. Estes releases são
enviados eletronicamente a cada fornecedor respectivo. Para o envio das matérias-
primas, os fornecedores obedecem às informações constantes nos releases.
Essas informações são pré-determinadas pela montadora e seus fornecedores e
estão de acordo com sua Política de Programação de Matérias-primas. Esta política
movimenta, administra, gera, considera dados e volumes que são importantes para a
Montadora.
3.3.2 Release – Documento de Autorização de Entrega
As matérias-primas da montadora podem ser manufaturadas, dentro da própria
Montadora ou em outra unidade, ou comprada de fornecedores externos. Seja qual for
a origem (source, em inglês), as informações para seus fornecedores serão sempre a
mesma: um documento gerado internamente, derivado do MPS, chamado Release ou
Autorização de Entrega.
As ordens de compra das matérias-primas obedecem a um horizonte de tempo
expresso em semanas. No momento em que a peça nasce, os volumes para ela
colocados deverão aparecer nas ordens de compra, com pelo menos 24 semanas de
antecedência do início do uso da peça, na linha de produção do veículo. Nem sempre
este prazo é respeitado. Às vezes, devido à necessidade da entrada de modelos com
modificações consideráveis perante a concorrência, as peças são programadas num
prazo muito curto.
O horizonte de programação é formado por oito semanas firmes, sendo quatro
do mês em vigência e mais quatro do mês seguinte. Os volumes ali colocados deverão
ser consumidos pela Montadora, pois muitas vezes podem representar veículos já
vendidos. Há ainda dezesseis semanas, fechadas em meses, que representam
volumes projetados e previsão de vendas, o Forecast da Montadora. Neste período é
bem mais provável que os volumes se alterem, mas não diferem da demanda histórica
já conhecida pela Montadora e seus fornecedores, conforme visto nos gráficos de
demanda, principalmente no que se refere ao mercado doméstico (nacional).
87
Como o processamento do MPS ocorre toda semana, o objetivo é de atualizar os
dados de vendas e do mercado, principalmente para o período firme atual e para os
períodos que passam a ser firmes.
A Tabela 9 mostra, a título de exemplo, parte do lay out do documento de
Autorização de Entrega, onde são mostradas as linhas de autorização de remessa de
uma matéria-prima qualquer, em unidades de peças, de um Release que foi emitido na
primeira semana do mês de setembro. As quantidades da terceira linha são
acumulativas. Na primeira linha encontram-se as datas em que o fornecedor deve
enviar os volumes expressos na segunda linha. Estes últimos números exprimem a
quantidade da matéria-prima em questão, que será utilizada no veículo.
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Muitas são as maneiras de se interpretar os volumes colocados nas Autorizações
de Entrega. A mais comum é a média diária de consumo, por onde também é medido
o inventário da fábrica. A média diária de consumo da matéria-prima expressa no
“Release” é o volume total a ser consumido, dividido pelos dias úteis daquele mês. O
mesmo pode ser feito nos meses seguintes.
Os volumes expressos nos Releases não são exatos. São acrescidos de
volumes de segurança, estoques de segurança ou “float”, na terminologia da
Montadora. Estes estoques, por conceitos, servem para amortizar as variações de
demanda e todas as outras variáveis que incidem na programação das peças, desde o
momento em que elas saem das mãos do fornecedor, uma vez que as variações
inerentes do processo produtivo do fornecedor já estão resguardadas no horizonte de
programação. Este “Float” é composto por quatro elementos e é medido em dias. São
eles:
. Dias de Trânsito: tempo de transporte do fornecedor até a Montadora.
. Dias de Sistema: tempo que a matéria-prima permanece vinculada ao veículo,
na linha de produção, sem, no entanto, ter sido consumida efetivamente. É também
chamado de estoque circulante.
. Pré-disponibilidade: tempo de recebimento, conferência, estocagem,
abastecimento de linha e outras variáveis operacionais.
. Inspeção: Tempo de inspeção interna de qualidade na montadora.
A composição deste estoque de segurança leva em conta a distância entre a
Montadora e seus fornecedores, o ponto de montagem da matéria-prima no veículo, e
todas as variáveis qualitativas e quantitativas. Leva-se em conta, também, o custo de
manutenção do estoque e a dimensão da peça, obedecendo-se, também, a
Classificação A,B ou C.
Com isso, o Release completa o volume de informações a serem passadas ao
fornecedor e adquire um lay out mais completo, conforme a FIGURA 21.
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As Autorizações de Entrega acompanham a emissão semanal do Master
Production Schedule e são remetidas aos fornecedores via EDI - Eletronic Data
Interchange, ou por Transmissão Eletrônica de Dados. A partir daí, a emissão anterior
é substituída por esta.
91
No início dessas atividades de programação por “Release”, todas as peças e
todos os fornecedores eram programados da mesma maneira. A Montadora, forçada
pelas constantes mudanças de mercado, pelas alterações constantes nos produtos e
pela forte concorrência, começou a adotar práticas diferenciadas para diferentes
fornecedores e tipos de peças. Adotou novas práticas de programação e planejamento
logístico e aproximou seus fornecedores de sua linha de produção.
3.3.3 O Planejamento da Logística de Entrada
O conceito de logística e a conscientização de que a garantia da continuidade da
produção não está vinculada à manutenção de estoques fez com que a Montadora, a
exemplo de outras montadoras mundiais, colocasse em prática os conceitos da
produção enxuta e iniciasse o planejamento de sua logística de entrada e saída. As
operações logísticas deixaram de ser operações superficiais e passaram a ser
operações que agregam valor ao produto do fornecedor para a Montadora e desta
para os clientes finais.
A análise, o estudo e o planejamento das entregas passaram a ser parte
integrante dos requisitos de fornecimento, e, após os dados de compras, o fornecedor
deveria negociar com a área de logística da empresa, como seriam feitas as entregas
para o ideal abastecimento da linha de produção, sem interrupções, com estoque e
com garantia da qualidade.
Para a Montadora, atualmente, os acertos logísticos envolvem:
• tipo de embalagem: rack, pallet, caixa plástica. Depende de como a peça será
armazenada dentro da Montadora.
• quantidade por embalagem: estas informações são importantes porque
dependem das condições de locação e abastecimento na linha de produção.
• identificação da peça: envolve etiquetas diferenciadas de identificação;
informações diferenciadas constantes em cada etiqueta. Estas informações e padrão
de etiquetas estão diretamente ligados ao veículo a ser produzido, na sua fase de
implantação, para facilitar sua movimentação dentro da fábrica, que deve ser a mais
visual possível.
• local de entrega: em que portão, ou Gate o material deverá adentrar na
fábrica.
Este fator está ligado diretamente ao ponto de uso da peça, na linha de
produção.
92
• modo de entrega: em qual tipo de caminhão, por exemplo: Sider ou
tradicional,ou ainda, pelo sistema de janela de entregas ou pelo sistema Milk Run,
quando se considerar transporte rodoviário. Esta informação irá facilitar ou dificultar a
descarga dos materiais na Box de descarregamento e está diretamente ligada à
performance de abastecimento de linha
• modal de transporte: aéreo ou rodoviário. Estas informações influenciam no
custo do transporte, assim como na performance de atendimento do fornecedor.
• freqüência de remessa: é a freqüência com que as peças são enviadas pelos
fornecedores. Este tópico está diretamente ligado a:
- custo da peça
- dimensão da peça
- volume consumido
- ponto de uso no veículo
- importância na composição do carro
- distância do fornecedor
Peças caras e volumosas, que aumentam o valor do inventário da Montadora,
são peças que têm a tendência de entregas mais freqüentes, assim como peças que
comprometem a continuidade da produção ou que o fornecedor se situa muito longe
do cliente.
Na década de 90, devido à globalização e ao incremento dos modos de
transporte, assim como a visão estratégica com a logística, as distâncias deixaram de
existir e os fornecedores se aproximaram de seus mercados. Com a Montadora não foi
diferente. Todos os seus fornecedores começaram a se movimentar, formando
parques industriais em unidades fabris de negócio (Business Unit).
Então, mesmo as peças que obrigavam a Montadora a ter altos estoques em
suas dependências podem ter seus estoques reduzidos, pois serão recebidas na
fábrica do cliente, à mediada que sua produção necessitar.
As freqüências de remessa obedecem à especificação de entrega conforme for
acordado entre Montadora e fornecedores.
A Tabela 10 nos mostra quais e quantos são os códigos das freqüências de
remessa utilizados para demonstrar, no release, a freqüência de entrega da matéria-
prima na Montadora.
A freqüência de remessa é indicada no campo 14 da autorização de entrega, ou
release, conforme FIGURA 21.
93
Tabela 10 – Freqüência de Remessa das Matérias-Primas
FREQÜÊNCIA
De remessa
Descrição tipo de FREQÜÊNCIA de remessa
CLASSE
de inventário
Classificação
Freqüência
10 KANBAN / JIT A especial
11 DIÁRIA A tradicional
20 SEMANAL QUALQUER DIA A “
21 SEMANAL 1º DIA A “
22 SEMANAL 2º DIA A “
23 SEMANAL 3º DIA B “
24 SEMANAL 4º DIA B “
25 SEMANAL 5º DIA B “
26 SEMANAL 1º / 3º / 5° DIA B “
27 SEMANAL 1º / 3º DIA C “
28 SEMANAL 2º / 4º DIA C “
29 SEMANAL 3º / 5º DIA D “
31 QUINZENAL 1ª / 3ª SEMANA D “
32 QUINZENAL 2ª / 4ª SEMANA E “
41 MENSAL 1ª SEMANA E “
42 MENSAL 2ª SEMANA E “
43 MENSAL 3ª SEMANA E “
44 MENSAL 4ª SEMANA E “
Fonte – Montadora
Atualmente as freqüências de remessa de matérias-primas praticadas pela
Montadora e seus fornecedores obedecem dois modelos distintos: o modelo
tradicional e o modelo chamado especial. O tradicional engloba as freqüências
semanais, mensais, quinzenais, conforme explica a Tabela 10. As freqüências
especiais são classificadas em: Janela de entregas, Kanban, Just inTime e Milk Run.
1. Freqüências de Remessa Tradicionais: A ordem de compra é repassada a
cada fornecedor e este envia a quantidade total ou parcial programada para as
semanas. Dentro das semanas mencionadas no “Release”, o fornecedor entregará as
peças de acordo com a freqüência (uma, duas, três vezes por semana ou uma vez por
mês). Nesta modalidade de entrega, a carga não é otimizada e, em geral, os custos
dos transportes correm por conta do fornecedor. Neste caso, o fornecedor tem livre
94
iniciativa em entregar o material. A entrega ou não dos volumes programados
interferirá diretamente em sua performance de atendimento.
2. Janela de Entregas: Devido a picos de remessas de matérias-primas por parte
dos fornecedores que ocasionavam sérias complicações nas operações de
recebimento, principalmente dificultando a entrada de notas fiscais, estabeleceu-se um
local de entrega e descarregamento, com horário fixo, para a entrada de peças na
Montadora. Este procedimento ficou conhecido como Janela de Entregas. A
Montadora disponibilizou as portarias, para entrada das notas fiscais, os boxes de
descarregamento 24 horas por dia, sete dias por semana, procurando obedecer à
notação das freqüências de remessa tradicionais das peças. Porém, neste caso, o
fornecedor não virá somente trazer uma quantidade da matéria-prima “x”, no dia
determinado, mas no dia e hora determinados, na portaria pré-acordada.
Essa medida otimizou a utilização de locais, pessoas, sistemas informatizados,
equipamentos, enfim, todos os recursos disponíveis para as operações pertinentes,
dentro da Montadora. Foi possível a programação de manutenção preventiva,
treinamentos, implantação de planos de melhoria, pois todo o recebimento podia ser
programado, e o que é melhor, concentrar recursos naquilo que realmente requereria
ações diferenciais. O “Release”, neste caso, serve para a compra de matéria-prima por
parte do fornecedor e para produção de suas peças. A entrega é programada
conforme acordo do sistema de Janelas de Entrega.
A Tabela 11 traz os tipos de peças que são entregues na Montadora, pelo
sistema Janelas de Entrega.
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3. Kanban: obedecendo ao conceito de chamada de peças por cartões, a
Montadora definiu que peças caras, volumosas, com valor de inventário alto e com
constante risco de parada de linha, devido a variações constantes entre os volumes
dos “Releases” e o mix de produção, deveriam ser “peças kanban”. Ou seja, as
autorizações de entrega ou “Releases” seriam passados ao fornecedor como
autorizações de compra de sua matéria-prima e produção, mas não autorização de
remessa. As remessas seriam então orientadas pelo sistema kanban, quando do
esvaziamento das embalagens e do envio dos cartões para o fornecedor, como
chamada da reposição por embalagens cheias, das embalagens vazias.
O fornecedor de peças kanban tem box de descarga exclusivo, não há fila de
espera, pois a entrada é rápida e o próprio motorista está treinado para descarregar o
caminhão. As peças que obedecem à chamada por cartão Kanban estão
demonstradas na Tabela 12.
Tabela 12 – Peças e Fornecedores Kanban na Montadora
KANBAN – 42 FORNECEDORES
Peças
Escapamento
Ar-condicionado
Motor de Partida
Motor do Limpador
Radiador
Painel
Limpador de Pára Brisas
Bateria
Pneus
Volante
Farol
Lanternas
Fonte – Montadora
97
4. Just in Time: O Just in Time ou JIT é um Kanban seqüenciado, ou seja, as
peças são chamadas para a entrega conforme uso na linha de produção. Os
fornecedores escolhidos não podem estar localizados há mais de 20 Km da
Montadora. Assim que o veículo especificado passa por um ponto da linha de
produção, onde foi definida a leitura para a confirmação do consumo daquela peça, o
fornecedor é avisado por uma linha de comunicação dedicada, como um fax, telefone,
e-mail, ou qualquer outro modo degradado, caso estes não estejam disponíveis (rádio,
por exemplo). A ordem de pré-montagem do veículo (OPRE), já que as peças JITs são
peças da montagem final, geralmente, é enviada por fax, e o tempo em que o
fornecedor deverá carregar seu caminhão, tirar Nota Fiscal e transportar a peça, é o
tempo calculado entre o ponto de aviso e o ponto de uso, com uma pequena margem
de segurança. Os caminhões não devem otimizar a carga e têm entrada livre na
Montadora, pois assim como no sistema kanban, as peças são pré-faturadas por um
sistema específico entre a Montadora e os fornecedores. Peças JIT são peças caras,
volumosas, com um valor de inventário ainda maior que peças kanban.
Peças JIT para a Montadora são: Bancos, Pára-choque, Aerofólio, Quadro
Auxiliar e Pé-de-Mola, Tanque de Combustível, Revestimento de Portas e Pneus.
A FIGURA 22 mostra, em valor percentual, os fornecedores que atendem à
Montadora e aos seus sistemas de entrega respectivos.
34%
53%
12% 1%
TradicionalJanelaKanbanJit
Figura 22 – Percentual por Tipo de Sistemas de Entrega de Peças dos Fornecedores
da Montadora
98
A FIGURA 23 demonstra como funciona o fluxo das operações dentro da Montadora.
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Os conceitos e as atividades descritas anteriormente são efetuados nas áreas de
Planejamento da Produção (3), quando a matéria-prima é liberada pela engenharia,
para produção. Acertos com o Planejamento da Logística (6) começam a ser feitos
neste momento. O controle do atendimento da programação pelo fornecedor é feito na
área de Disposição de Materiais (5), quando, então, o modus operandi logístico já vai
estar definido com a área 6.
Finalmente a Logística Operacional (7) faz a movimentação e o recebimento dos
materiais.
3.3.4 A Linha de Produção e os Pontos de Informação
Ao longo da linha de produção, a tecnologia da informação criou pontos de
leitura do status do veículo, com o objetivo de divulgar e identificar os carros em todas
as etapas: armação, funilaria, pintura, pré-montagem e montagem final. As
informações que são divulgadas vão desde o processamento do MPS (Master
Production Schedule ou Programa Mestre de Produção) até o faturamento para a
concessionária, dando um retrato fiel sobre a produção de veículos, uso de matérias-
primas, favorecendo dados operacionais e gerenciais. Estas informações servem
também para guiar os fornecedores, para que estes programem suas entregas
especiais: eles sabem exatamente quando e qual peça sua deverá ser colocada no
carro. Com os tempos e as definições calculados, eles podem faturar a peça, carregar
o caminhão até a entrega no ponto de uso, dentro da Montadora, ou avisá-la, caso
alguma coisa tenha acontecido errado.
Atualmente, essas informações são largamente utilizadas, por meio do sistema
Data Browser, principalmente por residentes dos fornecedores, dentro da Montadora.
A FIGURA 24 mostra a denominação dos pontos de leitura dos veículos, na
linha de produção, considerados pontos de informação, a quantidade de horas de
produção e carros entre cada um deles e a que área da Montadora cada um pertence.
100
Fonte – Montadora
Figura 24 – Linha de Produção e os Pontos de Informação
101
3.3.5 A Variação da Demanda X Programação dos Fornecedores
Todos os volumes de veículos programados pela Montadora são volumes
previstos, conforme um estudo mercadológico ou conforme uma demanda histórica, ou
ainda, conforme a combinação destes dois fatores.
Para que se cumpram as metas, os objetivos, o Orçamento anual ou Budget (em
inglês), a empresa reúne-se mensalmente para acompanhar sua performance de
produção e vendas, sempre conferindo o passado e planejando o futuro. Este futuro
está vinculado a investimentos e às conquistas mundiais, como a manutenção da
marca no mercado ou a manutenção de posição no ranking nacional.
A demanda da Montadora também define a demanda de seus fornecedores, que
em geral atendem outras Montadoras. Ora eles estão sendo afetados pelo mercado de
uma, ora pelo mercado de outra.
O Programa Master de Produção, ou MPS, prevê, ao longo do ano, volumes de
produção com base nos volumes de vendas de todos os veículos, em suas mais
variadas versões. Quando se aproxima o mês de produção, os acabamentos,
previamente definidos, são conhecidos pela fábrica, e os “Releases” que programam
os fornecedores informam-nos, dentro do período firme, respeitando o tempo de
fabricação, para entrega da matéria-prima necessária.
Com isso, forma-se um fluxo contínuo de informação e materiais, nos dois
sentidos, que é a Cadeia de Suprimentos da Montadora, que só termina quando da
entrega dos veículos aos consumidores finais.
As alterações nos volumes programados, quando são derivados de modificações
de engenharia, ou lançamento de novos modelos, devem ser programadas com pelo
menos seis meses de antecedência. Mas, existem volumes que não advém desses
fatores. São alterações de mercado, de contratos de vendas, que são incrementados
ou suspensos, mas que não alteram o volume final, a não ser em casos extremos de
queda ou grande instabilidade de mercado. É o que se define internamente na
Montadora como canibalização, ou seja, um veículo tem seu volume aumentado em
detrimento do volume de outro. Nesses casos, os fornecedores são avisados ainda
dentro do mês, o que causa grande mal-estar nas áreas de compras e logística,
dificultando a operacionalidade e a negociação para ambos os lados. Estas alterações
no Programa de Produção, ou como é vulgarmente chamada, alteração no mix de
produção, causam aumento no inventário da Montadora, riscos de interrupção de
produção e fornecimento, incremento nos custos da Montadora e do fornecedor,
102
dificuldades na expedição do material, distribuição e recebimento. São estas
modificações que precisam ser administradas, pois afetam não um item, mas um
conjunto de peças que ora sobram, ora faltam. As conseqüências desta instabilidade
da demanda são os fatores mais difíceis de se controlar.
Em geral, os volumes que mais se alteram são os volumes dos veículos
chamados “exóticos”, ou seja, carros com acabamentos sofisticados como ar
condicionado, alarme, direção hidráulica, air bag duplo. Os carros “exóticos” são
carros de alta motorização, e pertencem a uma faixa estreita do MPS. Os veículos
mais simples, ditos “populares”, não sofrem variação quanto ao modelo, mas, dentro
do volume do carro, sofrem variação de acordo com o acabamento. Como são todos
modelos de motorização 1,0, as variações ocorrem nos acabamentos: com ou sem ar
condicionado; com ou sem alarme; com ou sem desembaçador traseiro, mas todos os
carros do mesmo modelo e versão. Quando os acabamentos se alteram, algumas
peças muito particulares são alteradas também: são peças de comandos elétrico-
eletrônicos como os chicotes elétricos. Toda matéria-prima que possui uma função
específica no veículo, e esta função está ligada diretamente ao acabamento, é
penalizada nas alterações do mix de produção.
A FIGURA 25 mostra as variações totais ocorridas no MPS da Montadora em
questão, durante o ano de 2002. Observam-se as variações no mix de produção e o
que essas alterações causaram na programação e no estoque das matérias-primas de
uso específico. O modelo popular 1,0 8V teve 2844 carros que não foram montados no
ano de 2002, o Popular 2P Modelo 2, 1670, e assim por diante.
Então, conclui-se que há realmente uma variação não prevista, mas
administrável do programa de produção da Montadora, o que demonstra haver a
necessidade de acompanhamento às peças que são afetadas por essas variações.
Para a montadora, existem peças simples de se administrar, mas existem outras
extremamente complexas. No “rol” de dificuldades, os custos operacionais de
manutenção dos estoques são os mais altos. Todo o trabalho envolvido em se ter um
material que não será consumido pela Montadora é um trabalho inútil e desnecessário.
103
Acompanhamento Produzido x Programado - 2002
1670 2844 2092 12660
20000
40000
60000
80000
100000
120000
Popular 2PModelo 2
PopularModelo 1
1.0 8v
Modelo 2 4P
StationWagon
ProgramadoProduzidoDiferença
Modelo 1 - Modelo de Entrada da marca no mercado Modelo 2 - Modelo 1 redesenhado
Fonte – Montadora
Figura 25 – Variação entre Programado e Produzido – Modelos Montadora
janeiro a dezembro/2002
3.3.6 A Necessidade de Customização da Matéria-Prima
Está cada vez mais evidente que, quanto mais perto da demanda do cliente
estiver o fornecedor, mais corretos serão os volumes produzidos por ele. Com a
prática de se colocar o fornecedor próximo ao cliente, com a possibilidade da troca de
informações mais constantes e em “tempo real”, fica mais fácil atender àquilo que o
cliente deseja. Tanto o grupo de clientes, quanto o grupo de fornecedores trabalham
em níveis. Quanto mais próximos eles estiverem, mais fácil e certa será a
comunicação. Esta proximidade, mesmo com o incremento de sistemas
informatizados, precisa ser física. Embora não existam mais fronteiras nem distâncias,
o fornecedor de alguma forma precisa interagir com seus clientes, nem que seja por
um representante ou parceiro de negócios. Parece que a única dúvida que reside
neste relacionamento, em alguns ramos de negócios, ainda é a transparência na troca
das informações.
Quando os fornecedores de matéria-prima da Montadora se preparam para
atender aos Releases das matérias-primas, leva-se em conta o tempo de
ressuprimento, preparação e transporte, assim como o tempo de movimentação dentro
da fábrica do cliente: lead times de produção e das logísticas de entrada (inbound) e
104
de saída (outbound). Toda uma cadeia, com cadência e tempo de aviso é
movimentada para que os prazos estimados estejam corretamente medidos. Quando
da alteração do mix de produção, todo um planejamento concatenado é quebrado, às
vezes interrompido, para que seja recomeçado no objetivo de não prejudicar a cadeia,
de um ponto para frente. São os chamados “reprogramas”. Volumes maiores ou
menores que os previamente acordados, muitas vezes já dentro do horizonte das 8
semanas firmes, são colocados num espaço muito curto, por extrema necessidade,
que são respeitados pelos fornecedores, pois a Montadora sabe o que é mandatório
para o mercado.
Destaca-se aí um problema: como aproximar o ponto de uso do ponto de
produção da matéria-prima? Como diminuir os volumes restantes das matérias-primas
daqueles veículos que não foram produzidos naquele mês? Como impedir a
paralisação da produção de veículos, pela falta daquela matéria-prima reprogramada
fora do “lead time” da cadeia? Qual a maneira em se terminar a montagem final da
matéria-prima, após a confirmação do pedido pelo cliente?
A resposta é: peças com ciclo de vida curto, alto risco de obsolescência, que
comprometem a continuidade da linha de produção, pois são vitais para o
funcionamento do veículo, com alto valor agregado, de alto custo, com sofisticação
tecnológica, pedem a postergação do ponto de diferenciação. Estes tipos de peças
pedem a implantação da filosofia do postponement, com a criação de uma peça básica
que será diferenciada após a certeza de sua utilização na linha de produção do cliente.
3.4 O Chicote Elétrico
O chicote elétrico é uma peça-conjunto e é constituído por um emaranhado de
fios, conectores e terminais, e se estende por todo o veículo, conectando-se ao longo
de todo o seu interior. Sua função é de conduzir as informações elétricas e eletrônicas
de um lado ao outro do veículo, com o objetivo de acionar suas mais diversas funções
ligadas ao impulso elétrico e comando eletrônico, como, por exemplo, faróis, limpador
de vidro dianteiro e traseiro, alarmes, travamento de portas, air bag, injeção eletrônica,
acionamento de motor, etc.
O chicote elétrico é um componente do veículo, composto principalmente por fios
de cobre recobertos por PVC ou silicone, que, com terminais metálicos em uma ou
duas extremidades, unem-se e conectam-se a uma peça plástica denominada
conector, ou capa ou ainda trava. Estas peças “engatam-se” nas partes do veículo e
105
possuem a função de conduzir informações elétricas de comando que farão estas
partes funcionar.
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Desde 1926, o chicote elétrico faz parte do veículo como um componente muito
importante. Inicialmente suas funções eram restringidas somente ao acionamento das
lanternas e faróis, luz de freio, limpador de vidros dianteiro, ignição e iluminação
interna do veículo. Com o aumento da demanda dos veículos, a procura por inovações
e o desenvolvimento tecnológico dos projetos, no decorrer dos anos, novos comandos
e funções foram adicionadas ao veículo, desde funções de segurança, até conforto,
beleza e tecnologia.
Então, os chicotes atualmente executam o acionamento de várias funções no
veículo. Quanto mais sofisticados forem os acabamentos, tanto mais os chicotes serão
complexos e executarão mais funções.
Por ocasião da concepção do chicote elétrico no veículo, sua estrutura era única,
e o carro possuía somente um ou no máximo dois chicotes que faziam suas restritas
funções. O chicote elétrico é um item de segurança do carro, pois envolve comandos
de seu funcionamento básico. Além disso, conduz a eletricidade que é acionada no
painel do veículo, quando da partida do carro, e vai até as extremidades, passando por
todo seu interior. Seu material de constituição não é inflamável, mas é combustível, o
que o torna também um item perigoso. Qualquer pane põe em risco o veículo, seus
ocupantes e o entorno, condição que pode ser agravada com a presença de materiais
ou outros derivados explosivos.
Com isto, no decorrer dos anos, as empresas obrigaram suas engenharias a
conceber chicotes elétricos segmentados, dividindo o originariamente único em vários,
melhorando a segurança do veículo e a opção de manutenção e conserto, por ocasião
de qualquer quebra ou pane. A busca por melhores custos também foi beneficiada,
uma vez que compra, conserto ou troca poderia ser feita somente em parte e não na
totalidade da peça, se esta fosse única.
Desde 1980, já se concebem projetos dos conjuntos chicotes elétricos,
segmentados em partes chamadas famílias. As famílias exercem a mesma função ou
possuem uma característica de fácil administração. É um agrupamento de itens com
as mesmas características. Podem ser classificados por similaridade técnica, de
matéria-prima, localização, origem, etc., obedecendo à concepção de plataforma,
conceito este originário, também, da filosofia do produção enxuta.
Os chicotes elétricos são classificados por famílias, de acordo com suas funções.
Estas famílias são agrupadas ainda e, duas outras macro-famílias, que fecham a
classificação.
As macro-famílias são assim classificadas:
107
3.4.1 Família dos Chicotes Principais: são aqueles chicotes elétricos que
acionam e transmitem as funções principais no veículo. Sem eles, o veículo não tem
condições de funcionar ou, por ser um item de segurança, compromete gravemente a
funcionalidade e a segurança do veículo. São de quatro tipos: família do chicote
traseiro, chicote do painel, chicote do motor ou dianteiro e chicote da injeção
eletrônica. A utilização destes chicotes no veículo é de uma unidade por carro.
Família do Chicote Traseiro: é localizado na parte traseira do veículo, indo do
painel, passando pelo porta-malas, indo até a tampa do porta-malas. Sua função é
ligar o painel do veículo, ou seja, o painel de comandos com a parte traseira do carro,
fazendo funcionar: farol traseiro, lanternas traseiras, break light ou luz de segurança,
desembaçador e limpador traseiro, alarmes e travas traseiras, abertura e iluminação
do porta-malas.
108
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109
Família do Chicote do Painel: une o painel ao resto do carro. É importante
lembrar que todo o acionamento das funções do carro acontece por este chicote,
inclusive o acionamento da injeção eletrônica, que faz funcionar o motor.
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Família do Chicote do Motor ou Chicote Dianteiro: este é o chicote que trabalha
na parte frontal do veículo. Sua função é de dar continuidade para o funcionamento do
motor, com algumas conexões frontais, como, por exemplo: buzina, farol simples ou
farol duplo negro, radiador, fluido de freio, farol de neblina.
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111
Família do Chicote da Injeção, ou Chicote de Injeção Eletrônica; é talvez o mais
importante, porque é o chicote que aciona o funcionamento do carro. Ele contorna o
motor, unindo-o ao painel e ao chicote dianteiro. Sua função é: levar informações do
módulo de injeção para o motor do carro, conduzir gasolina ou o álcool para o motor,
acionar compartimento de carvão ativado para carros a gasolina, e injeção eletrônica.
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3.4.2 Família dos Chicotes Secundários: são aqueles chicotes que
complementam o funcionamento do veículo ou estão ligados a funções de incremento,
112
acabamento ou beleza. Necessariamente não são especificados em todos os veículos,
e o veículo efetua suas funções básicas sem eles. São chicotes que identificam os
acabamentos: como chicote do air bag, tampa traseira, chicote das portas.
Família do Chicote das Portas: Alto-falante, vidros elétricos, travas elétricas,
alarmes e acionamentos automáticos são comandados por este chicote, que é fixado
em uma, duas, três e até nas quatro portas. É um dos únicos chicotes em que, quando
presente, pode ter seu uso em mais de uma unidade por veículo. Mas, nem sempre,
todos os carros o utilizam. Carros que não têm acionamentos de vidros, portas e
travas por eletricidade, ou seja, são acionados mecanicamente, não utilizam esta
peça.
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Família do Chicote da Tampa Traseira: este chicote se une ao chicote traseiro,
nas funções de break light, limpador e desembaçador traseiro e no acionamento da
tampa traseira (tampa do porta-malas).
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Cada família possui vários tipos diferentes de chicotes, cada um com um número
de funções de acabamentos diferentes. Por exemplo, um chicote da família do chicote
traseiro, sem qualquer acabamento no carro, será de um tipo. Se carro tiver a luz de
segurança, ele usará o chicote da mesma família (já que ele é obrigatório para o carro
funcionar), mas será outro chicote, com a chamada ramificação para fazer funcionar a
luz de segurança. Como os chicotes são classificados por códigos, como todas as
114
peças do veículo, o primeiro chicote traseiro terá um código. O segundo terá outro
código, pois será um outro chicote.
Sendo assim, cada família possui um número de chicotes liberados: os que
exercem a função básica ou principal no carro, e aqueles que, com mais ramificações,
atuam no funcionamento dos acabamentos específicos/acionamentos
complementares. A Tabela 13 traz um resumo das principais funções do chicote
elétrico nos veículos, como também as funções complementares.
Tabela 13 – Funções de Acionamento de Cada Família de Chicote no Veículo
Funções de Acionamento dos Chicotes Principais Notação Família Função Principal Acionamentos Complementares
11 Traseiro Lanterna traseira
Luz de ré
Iluminação Com Bagagem
Alto falante traseiro
Iluminação do teto
Luz de cortesia
Iluminação da placa
Conectar a parte traseira do veículo ao corpo principal do chicote do painel
Luz de freio
51 Painel Iluminação porta luvas
Interruptor luz freio
Interruptor acelerador
Interruptor embreagem
Ar condicionado
Ventilação/ar quente
Rádio / CD
Conecta as funções do painel de instrumentos aos chicotes do motor e traseiro, além de alguns chicotes secundários (ex.: vidro elétrico, travas, auto falante dianteiro, etc.). Também é nele que se pode encontrar a caixa de fusíveis, com relés de acionamento (ex.: pisca, farol, ar condicionado, etc.) e fusíveis.
Air bag
73 Dianteiro/ Faróis / Pisca
Motor Lanternas dianteiras
Eletroventilador
Farol de neblina
Lanterna luz direcional
Buzina
Responsável por interligar as funções do motor ao resto do veículo. Geralmente, está conectado ao chicote do painel e a outros secundários. Interliga, por exemplo, alternador à bateria, ou ainda, eletroventilador ao sensor de temperatura, bomba d'água, etc.
Motor do ar condicionado
131 Injeção Sensor Lambada
Eletrônica Ignição
Sensor de Temperatura
Válvulas injetoras
Sensor de Velocidade
Sensor de Nível de Óleo
Interligar o módulo de injeção aos diferentes sensores, válvulas e acionadores, mandando sinais elétricos às diferentes partes do veículo, por meio dos chicotes do painel traseiro, etc.
Sensor de Combustível Fonte – Adaptada pelo Autor
O chicote elétrico é uma união de fios de cobre, recobertos por PVC ou silicone,
que cortados em determinado tamanho, são prensados com terminais metálicos nas
115
extremidades. Estes terminais em conjunto de dois, três, até 20 ou 30, se encaixam
em conectores (que vão se conectar) nas partes dos carros que emitem, recebem ou
trocam informações elétricas e eletrônicas.
Fazendo uma analogia, o chicote elétrico é considerado o sistema nervoso do
carro.
Mas, além desses três tipos de matérias-primas, existem outras, que exercem
função complementar e de acabamento, conforme demonstra a Tabela 14.
116
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4 –
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117
Embora os projetos possam variar, dependendo da montadora, tipo do veículo e
função dos chicotes, as peças são em 90% dos casos semelhantes, e até os
fornecedores dos chicotes e suas matérias-primas, os mesmos.
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A FIGURA 33 traz um exemplo de conectores e fios nos chicotes.
Como os terminais e os fios conduzem eletricidade, conduzem também
informações. Dependendo do lugar em que estas conexões estiverem, serão
especificados materiais mais ou menos resistentes à temperatura, intempéries,
vibrações, impactos, rupturas, trincas, e até se estas informações podem falhar ou
não. As várias funções dos conectores e terminais nos chicotes e no veículo são
mostradas na Tabela 15.
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Cada chicote elétrico é constituído por uma grande quantidade de peças,
conforme descrito na tabela 16, que tem o objetivo de transmitir informações, tendo
119
sua quantidade aumentada em fios, terminais e conectores a cada incremento de
função. O conjunto formado por um fio cortado, com um terminal prensado em uma
extremidade, ou dois terminais prensados um em cada extremidade, seja de que tipo
for o fio ou o terminal, é chamado de circuito. Vários circuitos unidos e conectados em
um conector formam o chicote. O conector do chicote é chamado “peça”, o do carro,
“contra-peça”. O conjunto dos dois é denominado “macho-fêmea”.
Ao todo, os circuitos variam em 120, num chicote com poucos acabamentos, até
quase 250, em chicotes mais complexos. A FIGURA 34 demonstra a evolução do
número de fios cortados e de conexões que foram criadas e desenvolvidas para os
chicotes, acompanhando a evolução e o aumento dos acabamentos e as funções nos
veículos.
120
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Font
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121
Número de Fios Cortados
Figura 34 – Evolução da Quantidade de Fios por Chicote Elétrico
Aos modelos mais vendidos de veículos, podemos associar um grupo de
chicotes elétricos. Estes chicotes elétricos também serão os mais consumidos na
produção do carro e os mais vendidos juntamente com os veículos. Considerando a
Tabela 17, onde se exemplifica o grupo de chicotes utilizados em dois tipos de
veículos diferentes, podemos concluir que os chicotes usados no veículo popular,
motor alta economia, são os chicotes mais consumidos. Todo o grupo de chicotes
principais e secundários que é utilizado neste veículo entra na lista de maior consumo,
assim como toda sua matéria-prima.
122
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4 A PROPOSTA
A evolução do relacionamento cliente/fornecedor, ou propriamente, montadora e
seus fornecedores, aconteceu da seguinte maneira:
• Em um primeiro momento, quando ainda da valorização da área de manufatura
e com um número considerável de fornecedores, as operações geravam estoques de
matéria-prima e produtos acabados, com o objetivo de esconder as ineficiências das
áreas técnicas (engenharia, projeto, por exemplo). Isto causava uma grande eficiência
no atendimento às necessidades da produção, mas tornava a empresa mais
susceptível às variações de mercado. Este tipo de procedimento influenciava na
relação da empresa com seus fornecedores. Como a relação era superficial e até
temporária, podendo durar somente um ano, os fornecedores não investiam nem
tempo e nem dinheiro para satisfazer as necessidades de seus clientes.
• Em um segundo momento, quando da introdução das práticas Just in Time, os
fornecedores, então poucos escolhidos com criteriosidade, aproximaram-se de seus
clientes, mais interessados em suas necessidades e em seus problemas, e em como
participar das soluções.
• A partir do momento em que houve a introdução de parceiros logísticos, a
cadeia de suprimentos montadora/fornecedor começou a esboçar uma eficiência até
então pouco praticada. Era a valorização da inbound logistics ou logística de entrada.
Transportes, distribuição, recebimento, expedição, movimentação desenvolveram
também bons procedimentos para a outbound logistics ou logística de saída. Estava
formada a cadeia de suprimentos eficaz ou bem sucedida, com uma movimentação
homogênea e linear, desde o primeiro fornecedor até o último cliente.
• Por fim, a incorporação do fornecedor, parte de sua estrutura produtiva e de
seus empregados adentraram ao cliente, criando um relacionamento de parceria e
comprometimento. Desde a engenharia de desenvolvimento até a gestão integrada
dos estoques de matéria-prima, processo e produto acabado têm sido compartilhados
num risco dividido. Neste caso não há mais a preocupação com a logística de entrada,
que agora está 100% nas mãos do fornecedor.
Mas, junto com um relacionamento mais estreito ainda caminham variações de
mercado, demanda, modificações de engenharia, flexibilidade de atendimento. Ainda
buscava-se estreitar e comprimir a cadeia de suprimentos, com ações que
aumentassem as operações que agregavam valor ao cliente. Ainda, em alguns
mercados, como o automobilístico, o ponto de entrada dos pedidos estava muito longe
124
do ponto de entrega dele, principalmente porque este mercado era extremamente
volátil.
Todas as alterações de produto e mercado ainda são realizadas para que o
veículo se mantenha atraente ao mercado. Isto dificulta e preocupa o abastecimento,
mas a Montadora precisa das alterações e da participação do fornecedor neste
processo.
O chicote elétrico é um produto que sempre sofre alterações. Como ele orienta
todas as funções e comandos no veículo, sua estrutura é complexa e, para cada
comando ou conjunto de comandos, ele pede uma estrutura diferente.
Atualmente a Montadora dispõe de uma gama considerável de chicotes
diferentes, que são administrados por ela. Cada um reúne um conjunto de funções,
dependendo de cada família a que pertence e de cada veículo em que for colocado.
Por ser um componente elétrico-eletrônico, sempre sofre alterações de projeto,
quando da entrada de modificações e melhorias.
Pelas condições apresentadas, o chicote elétrico é um componente do veículo,
que pede proximidade do ponto de uso e entrega rápida no abastecimento da linha de
produção, devido a:
• ser uma peça que sofre sempre alterações de projeto, com grande risco de
obsolescência;
• ser uma peça que compromete a linha de produção, pois o veículo não pode
ser montado sem ela;
• ser uma peça de alto custo;
• ser uma peça tecnologicamente volátil;
• cada peça é específica para somente um tipo de veículo/acabamento, com
dificuldade em se encontrar uma similar dentro da própria família.
4.1 A Escolha do Chicote Elétrico
Existe uma demanda histórica dos chicotes elétricos, que corresponde aos
volumes consumidos nos carros, em diversos modelos, de todas as famílias.
Observando-se o consumo histórico de todas as famílias, verifica-se que o maior
volume pode estar concentrado em apenas um ou num pequeno grupo deles. Na
Tabela 18, no caso do chicote painel, com notação “51”, o maior volume se concentra
naquele chamado “51 GA”: as letras iniciais significam a família (51 para painel); as
125
letras finais, na configuração do código, exprimem detalhes de acabamento (ar
condicionado, direção hidráulica, freio ABS, etc.), ou ainda motorização ou mercado
(1,0 8v, 2,0 Turbo, México, Venezuela, etc.).
A Montadora possui uma série de acabamentos liberados para cada veículo. Os
acabamentos mais conhecidos são: faróis especiais, air bag, ar condicionado, alarme
elétrico, direção hidráulica, calotas especiais, vidros elétricos, travamento elétrico. No
total, são mais de 500 acabamentos liberados, pois cada um deles pode pedir uma
peça ou um tratamento diferente. Quando isso ocorre, ele deve ser bem identificado,
pois sua notação, seu código no sistema informatizado da Montadora, vai programar a
matéria-prima correspondente.
Todos os chicotes elétricos utilizados no veículo estão ligados a um acabamento
específico. Principalmente porque a maioria deles é comandada por um acionamento
elétrico ou eletrônico. Exceto os casos de pintura e acabamentos externos.
O projeto de um chicote elétrico é acumulativo. Cria-se um tronco base, e vai se
agregando nele circuitos e subconjuntos correspondentes às funções dos
acabamentos. A Montadora em questão ainda não implantou em suas
Concessionárias a prática do “monte seu veículo”, onde o próprio consumidor define
quais acabamentos vai colocar no veículo. Este processo pede um acompanhamento
extremamente rigoroso do fornecedor, com produtos e processos extremamente
flexíveis: lembrando que esta já é uma realidade em nosso mercado, e que a filosofia
do postponement vem confirmar esta realidade. Quando da produção do chicote
elétrico, todo o processo (pessoas, dispositivos de montagem, meios, tempo, matéria-
prima) é preparado para este tipo de produção. Com isto, tem-se a possibilidade do
aproveitamento destes recursos, para a montagem de qualquer chicote elétrico, que,
dentro de uma mesma família, são extremamente parecidos e derivativos. Por
exemplo, um chicote elétrico da família da injeção eletrônica de um carro popular,
possui as funções básicas. Um chicote da mesma família, para um veiculo de
motorização 1,8, mais sofisticado e mais caro, desde que seja da mesma plataforma
(versão remodelada), vai ter o mesmo tronco base, mais os acabamentos
pertencentes àquele veículo: ar condicionado, direção hidráulica, air bag, acelerador
eletrônico, alarme, levantador dos vidros, travamento elétrico, break light, key less, etc.
Então, como o chicote elétrico é concebido com uma estrutura derivativa,
acumulativa, e sofre com as variações da demanda, ele é uma matéria-prima do carro,
que pode receber um tratamento diferenciado, para atender às necessidades da
produção. Ele pode ser uma peça para a atividade de postergação, ou postponement.
126
De acordo com as condições demonstradas, uma matéria-prima pede
postponement de manufatura, quando:
. tem grande imprevisibilidade da demanda: dentro do próprio mês, ou de um
mês para o outro, há variação dos volumes de produção, mesmo que em um
percentual baixo;
. há grande complexidade das atividades finais de produção: o chicote elétrico
não possui uma produção complicada, mas seu projeto envolve a combinação de
conhecimento, capital e tecnologia. É um item que compromete as funções do veículo;
. a matéria prima for de fácil modularização;
. possui uma grande variedade no final da cadeia: os diferentes itens liberados,
por família, variam de 8 itens diferentes para a família da injeção eletrônica; para até
52 itens para a família do painel. Isto devido às variações entre as combinações dos
acabamentos.
. o mercado se apresentar turbulento, volátil, inconstante;
. o ciclo de vida mais curto do produto: o chicote elétrico envolve modificações
sofisticadas, que fazem o diferencial do veículo frente ao mercado;
. há inflexibilidade em algum ponto da cadeia: a reação dos fornecedores de
chicotes elétricos, os lead times de transporte, podem ser excessivamente longos em
alguns casos. Tem-se, então, que diminuir e estreitar a cadeia em algum ponto. Este
ponto pode ser a montagem final;
. o custo perdido de vendas é alto: o chicote elétrico é um produto job stopper,
do inglês na tradução literal, “que interrompe o trabalho”. Sem ele o carro não pode
sair da linha de produção, ou seja, quando ele não está disponível, o carro não é
produzido. Com isto, escolheu-se o chicote elétrico para realizar o estudo de postponement
para esta Dissertação.
4.2 A Escolha da Família do Chicote do Painel de Instrumentos
O chicote da Família do Painel de Instrumentos é o chicote responsável por
todos os comandos do veículo. Como a própria designação mostra, é um chicote que,
acoplado ao painel do veículo, é responsável por todos os comandos que por ali
passam. E por ali passam todos os comandos.
Por ser o chicote elétrico um produto caro, comparado com os outros itens do
veículo, quando da concepção do projeto pela engenharia do produto da Montadora,
este não pode conceber um chicote único completo. Ela tem que conceber um chicote
127
com exatamente o número de ramificações que o carro pedir, sem ter ramificações
mortas, que não apresentarem qualquer função para o carro. Como os modelos dos
veículos, que são muitos, são combinações conhecidas, para cada combinação há um
chicote diferente. Então, libera-se uma gama de combinações, com uma gama de
chicotes. Com isto, tem-se um número considerável de itens diferentes liberados,
principalmente do painel.
A FIGURA 35 mostra a quantidade de liberados entre novos, de série e
obsoletos, durante os anos respectivos. Nota-se que, sempre, a família do painel tem
um número maior de chicotes liberados.
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10
20
30
40
50
60
70
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traseiro painel dianteiro injeção
Famílias/Ano
Volume de Chicotes Liberados por Famílias/Ano
200020012002
Fonte – Montadora
Figura 35 – Volume de Chicotes Liberados por Famílias/Ano
Os chicotes elétricos, como são concebidos de maneira modular, e, a cada
acabamento é inserida uma nova ramificação, são muito parecidos; os pesos e
dimensões são muito próximos, e, por uma questão lógica, as notações dadas pela
Montadora são muito parecidas.
As famílias dos chicotes principais recebem a seguinte notação, a título de
exemplo:
. “11” para a família do chicote traseiro;
. “51” para a família do painel;
. “73” para a família do dianteiro ou motor;
. “131” para a família da injeção eletrônica.
Ainda, a título de exemplo, de “51” é do chicote painel mais simples, o “51 A” é
para o chicote elétrico do carro que possui um acabamento mais sofisticado, por
128
exemplo, o comando da luz de segurança, o “break light”. Se incidir mais um
acabamento, ele pode ser “51 B”, e assim por diante.
Com isto, um número considerável de itens liberados em uma linha de produção
pode ocasionar:
. dificuldades em se receber, conferir, locar, abastecer e montar;
. dificuldades em se controlar os itens: maior diversidade;
. maior número de embalagens;
. dificuldades em se programar os itens;
. maior área de armazenamento;
. mais recursos disponíveis;
. uma maior complexidade.
Se há um número considerável de itens do painel liberados, quando da
modificação de produtos ou melhorias, também a quantidade de itens envolvidos é
grande. A FIGURA 36 demonstra isto.
01020304050607080
Nº d
e C
hico
tes
traseiro painel dianteiro injeção
Família/Ano
Volume de Chicotes Envolvidos em Modificações Durante o Ano
2000
2001
2002
Fonte – Montadora
Figura 36 – Volume de Chicotes Envolvidos em Modificações Durante o Ano
Com um número maior de itens a serem liberados e outros a serem obsoletados,
ocorrem:
. as mesmas dificuldades na administração dos materiais e estoques;
. volume maior de peças a serem obsoletadas;
. volume maior de itens novos;
. dificuldades em se acompanhar a curva de aceleração dos itens;
129
. facilidade de especificação incorreta pela engenharia, fato que só pode ser
descoberto, muitas vezes na hora da montagem (nem todos os modelos são montados
na fase piloto/protótipo).
Com isto, verifica-se que, se o chicote elétrico do painel tem todas as condições
necessárias para o postponement, e o chicote do painel necessita de uma diminuição
de complexidade, sem afetar custo e diferenciação, esta família é escolhida para a
postergação de manufatura.
4.3 Definição dos Tipos de Chicotes: O Básico e seus Derivados
Ao se observar os veículos produzidos pela Montadora, verificou-se que o
modelo 1,0 8V é o modelo mais produzido e vendido há alguns anos. Ao longo desses
anos, a Montadora forneceu ao mercado o seu modelo mais barato e mais básico,
mas começou a perder espaço para a concorrência que oferecia um modelo no
mesmo padrão, mas com mais acabamentos. Ou seja, enquanto que para esta
Montadora o veículo 1,0 8V saia de fábrica sem qualquer opcional, o da concorrência
começava a ter desembaçador traseiro, alarme, ar condicionado, travamento. Então, a
Montadora desenvolveu um carro muito parecido e à altura dos concorrentes. O carro,
então, passou a ser o modelo da entrada da marca no mercado, sem remodelação
externa, mas com os opcionais que o mercado pedia.
Toda a matéria-prima do veículo em questão passou a ser incrementada com
melhorias, e o chicote elétrico recebeu os acabamentos necessários, também por
meio do incremento de ramais, que exercessem àquelas funções, no carro.
A Tabela 18 demonstra a posição de produção do veículo 1,0 8V, mas pelo seu
chicote do painel de instrumentos, que possui aqui a notação “51 GA”. Este chicote, a
exemplo do veículo em que é usado, detém 45% do volume de produção diário da
Montadora. A partir de agora, ele abrirá espaço para os novos chicotes liberados, com
mais acabamentos, e o seu volume, teoricamente, será dividido entre os chicotes do
painel, derivados dele.
Verificou-se, então. que dos 50 chicotes do painel liberados para uso, somente
25 possuíam uma média de uso, e destes 25, um detinha quase 50% do consumo da
Montadora. Este chicote, com o montante de 46% do consumo, dividiria seu volume
com outros de projeto muito semelhante ao dele, e menor, ou seja, os 5 novos
chicotes liberados eram maiores e incrementados de funções.
Com isto ficou fácil a visualização de um chicote básico e daquilo que faria sua
diferenciação. Os conjuntos e subconjuntos que foram acrescidos para a liberação dos
130
chicotes novos, já seriam os itens de diferenciação. Estava dado o primeiro passo para
o postponement de manufatura.
131
Tabela 18 – Média Histórica da Família do Chicote Painel no Primeiro Semestre de 2002
Fonte – Montadora
Chicote Painel do veículo 1,0 8V
132
A Tabela 19 mostra as diferenças das funções entre o chicote do painel, “51 GA”,
e seus derivados, ou seja, mostra o que foi acrescido de circuitos e funções, quando
da liberação dos chicotes novos, para incremento dos acabamentos dos veículos 1,0
8V.
Tabela 19 – Diferentes Funções entre o Chicote Painel Básico e seus Derivados
Diferenças nos Acabamentos do Projeto do Chicote "51 GA " e seus Derivados
Código Chicote "51 HM" "51 HN" "51 GA" " 51 GA " " 51 GA"
+ ar condicionado + desembaçador traseiro
" 51 HP" "51 HS" " 51 HT" " 51 GA " "51 GA" " 51 GA "
+ ar condicionado + desembaçador traseiro + ar condicionado + desembaçador traseiro + imobilizador + desembaçador traseiro
+ alarme + imobilizador + alarme
Como se pode verificar na Tabela 19, as diferenças entre cada um dos chicotes
derivados são diferenças acrescentadas, ou seja, o “51 GA” realmente teve seu
projeto incrementado, para dar origem aos outros itens.
Ao longo do ano de 2002, a produção do veículo 1,0 8V simples, básico, foi
segmentada em partes, dividindo o volume com os outros modelos. A FIGURA 37 e
39, respectivamente, dos meses de julho e setembro/2002, demonstram esta divisão.
75,02%
0,08%
13,73%
0,03%
8,53%2,61% 51 GA 75,02%
51 HM 0,08%51 HN 13,73%51 HP 0,03%51 HS 8,53%51 HT 2,61%
Fonte – Montadora
Figura 37 – Percentual de Consumo do Chicote Painel Básico e seus Derivados –
julho/2002
133
37,50%
0,97%25,34%0,19%
11,49%
24,50%51 GA 37,50%51 HM 0,97%51 HN 23,34%51 HP 0,19%51 HS 11,49%51 HT 24,50%
Fonte – Montadora
Figura 38 – Percentual de Consumo do Chicote Painel Básico e seus Derivados –
setembro/2002
Ainda a FIGURA 39 demonstra o consumo médio nas mesmas circunstâncias.
64,67%0,45%
16,57%
0,09%
7,29%
10,93%
51 GA 64,97%51 HM 0,45%51 HN 16,57%51 HP 0,09%51 HS 7,29%51 HT 10,93%
Fonte – Montadora
Figura 39 – Percentual de Consumo Médio do Chicote Painel Básico e seus Derivados
As funções acrescidas vinham a melhorar o desempenho do chicote, o
desempenho do carro e torná-lo mais atraente ao mercado. Para transformar o chicote
básico em qualquer outro derivado, então, acrescentam-se circuitos e subconjuntos,
que façam a função demonstrada na Tabela 19.
Retornando ao que foi exposto na FIGURA 25, os volumes Programados x
Produzidos, dos 4 modelos diferentes da Montadora, a diferença entre estes dois
volumes, ou seja, aquilo que não foi produzido no ano de 2002, resolveu-se analisar
com mais detalhes, o que seria realmente o volume de 2844 carros do modelo 1,0 8V.
Observando-se este volume, descobriu-se que somente 8% deles dizem respeito
ao veículo em que se utiliza o chicote painel “51 GA”, ou seja, 227 chicotes “51 GA”
deixaram de ser usados no ano, passando como estoque para o ano seguinte. Os
restantes do percentual, 92%, pertencem a cada um dos novos chicotes liberados (51
HM, HN, HP, HS e HT).
134
A FIGURA 40 pode demonstrar isto.
8,00% 10,00%
0,00%
15,00%
25,00%
38,00%
51 GA 8%51 HM 10%51 HN 0%51 HP 15%51 HS 25%51 HT 38%
Fonte – Montadora
Figura 40 – Participação de Cada Chicote Painel no Montante não Produzido em
2002- veículo 2P 1,0 8V
As Tabelas 21 a 25 trazem o que será acrescido em termos de matéria-prima do
chicote (cabos, terminais, conectores), no chicote básico escolhido, “51 GA”, para que
ele seja transformado em qualquer um de seus derivados: “51 HM”, “51 HN”, “51 HP”,
“51 HS”, “51 HT”.
O resumo dos dados vistos na própria Tabela demonstra o quanto se adiciona de
material e mão-de-obra, para que sejam efetuadas essas transformações.
Com isto, mais um passo estaria sendo dado. Faltaria, apenas:
• definir o ponto em que o fornecedor seria avisado, para que ele efetuasse a
diferenciação do chicote elétrico: definir o CODP do processo. Este ponto tem que ser
o ponto mais próximo do ponto de uso, ou seja, do ponto de montagem do chicote
elétrico no veículo, onde as alterações não sejam mais possíveis (ideal), ou sejam, as
mínimas possíveis (real).
• calcular o tempo de abastecimento desde o ponto de finalização da
diferenciação, até o abastecimento no ponto de uso.
É certo que o processo produtivo dos chicotes elétricos permite a definição do
CODP sem remanufatura, ou seja, não há incremento do tempo de produção do
chicote, por ter se instalado este sistema de postergação. O processo segue de um
ponto para frente, não havendo repetição das atividades.
O fornecedor, a partir de então, irá produzir tantos “51 GA”, quantos forem
necessários, ou seja, o resultado da soma dos volumes do “51 GA”, e todos os seus
derivados, no mês, e disponibilizar estes chicotes em algum local próximo ao cliente
(onde ele será diferenciado). Também, o fornecedor deverá disponibilizar tantos
135
circuitos que representem os acréscimos em cada chicote derivado, em quantidades
iguais aos volumes de cada chicote derivado, durante o mês.
A Tabela 20 apresenta um estudo sobre esses volumes a serem fornecidos.
Tabela 20 – Exemplo dos volumes do chicote básico e ramificações a serem
produzidas pelo fornecedor
Exemplo dos volumes do chicote básico e ramificações a serem produzidas pelo fornecedor
Código chicote Volume a ser consumido no mês
Volume de chicote básico, a ser comprado do fornecedor
Volume dos circuitos a serem comprados do fornecedor
51 GA 160 470 0 51 HM 140 0 140 51 HN 8 0 8 51 HP 12 0 12 51 HS 55 0 55 51 HT 95 0 95 Total 470* 470 310**
*46% do volume, para uma média diária de produção de 1020 carros (jan/2003)
**310 circuitos + 160 chicotes “51 GA” dá o total de 470 chicotes.
Fonte: Montadora
136
Tabela 21 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HM)
137
Tabela 22 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HN)
138
Tabela 23 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HP)
139
Tabela 24 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HS)
140
Tabela 25 – Relação entre Chicote Painel Básico (51 GA) e seu Derivado (51 HT)
141
O postponement ou postergação de forma, ou manufatura, estaria, então,
proposto da seguinte forma:
- Colocação do fornecedor em uma área próxima à Montadora (um armazém
avançado, por exemplo)
- Programação da fábrica do fornecedor, com os volumes totais - Produção, pelo fornecedor, do chicote básico no volume total dele e seus
derivados. Envio desta produção para o armazém avançado - Produção, pelo fornecedor, das ramificações pertinentes a cada chicote
derivado, na quantidade que seria usada pela Montadora, quantidade esta
do próprio chicote derivado, como se ele fosse fornecido completo, como é
hoje. Envio desta produção para o armazém avançado - Definição do fluxo logístico, para a nova maneira de fornecimento,
conforme o tópico 5.5, a seguir.
4.4 Fluxo Atual da Cadeia de Suprimentos: Chicotes Elétricos - Montadora
O fluxo atual da Cadeia de Suprimentos entre o fornecedor de chicotes elétricos
e a Montadora em questão acontece da seguinte maneira:
• A montadora envia “release” tradicional, com volumes firmes e previstos com
horizonte de até seis meses e oito semanas firmes.
• Fornecedor recebe “release”, produz o chicote completo e embarca matéria-
prima para a Montadora, no transporte acordado entre ambas, conforme freqüência de
remessa. A freqüência de remessa dos chicotes elétricos é semanal, segundas,
quartas e sextas feiras.
• Montadora recebe os materiais, estoca internamente e vai abastecendo a linha
de produção, conforme necessidade.
• O “release” contempla um estoque de segurança de 1,9 dias, pela média diária
de cada chicote elétrico. O estoque de segurança de 1,9 dias é composto da seguinte
maneira: 1,0 dia de sistema, 0,5 dia de pré-disponibilidade e 0,4 dia de reserva
operacional. A matéria-prima chicote entra na fábrica do cliente, aproximadamente 38
horas antes de ser colocada no veículo e 45 horas antes do veículo receber o “OK” de
montado. Como o chicote elétrico é um item da montagem final, ele só é colocado no
carro 7 horas antes do ponto que lê o carro pronto. A FIGURA 41 demonstra
esquematicamente este fluxo.
142
Figu
ra 4
1 –
Flux
o A
tual
da
Cad
eia
de S
uprim
ento
s Fo
rnec
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-Mon
tado
ra –
Mat
éria
-Prim
a: C
hico
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Elé
trico
s
143
Figu
ra 4
2 –
Flux
o A
tual
de
Mat
eria
is e
Info
rmaç
ão
144
Vantagens:
• A única vantagem é a operacional, onde a sistemática tradicional de pedir e
manter os estoques é a mais segura, pois acredita-se que, se não houver drásticas
modificações no mix de produção, não haverá comprometimento da linha de produção.
Desvantagens:
• Existência de estoques altos para itens de série, quando para itens novos e
obsoletos. Como o sistema programa todos os itens de maneira similar, não há
diferenciação das necessidades. Os custos inerentes a estes fatores também são
desvantajosos.
• Não há garantia do não desabastecimento da linha de produção, uma vez que
os altos estoques não impedem as alterações no mix de produção.
• Responsabilidade total da Montadora, pois como a Cadeia de Suprimentos
ainda é a tradicional, não há envolvimento direto com o fornecedor, ou seja, o
fornecedor não está envolvido na dinâmica da linha de produção.
Assim sendo, a Cadeia de Suprimentos atual é uma cadeia que não possui a
interação fornecedor/Montadora, apesar de todas as inovações provocadas pelas
mudanças de mercado. Ainda é uma cadeia tradicional que não condiz com as
necessidades da Montadora e a flexibilidade que ela necessita para sobreviver no
mercado global. Enviar o “release” para o fornecedor e alterar as informações de
produção, sem consultá-lo, é uma coisa muito simples. A interação é feita no momento
em que a Montadora faz o fornecedor participar, mesmo fisicamente, das variáveis que
trabalham no alcance de um mesmo objetivo.
4.5 Fluxo Proposto para a Cadeia de Suprimentos: Fornecedor Chicotes Elétricos – Montadora
Em resumo ao que já foi apresentado:
Três fatores que determinam a implantação do postponement são, além da
possibilidade da existência de um produto básico, a condição em se adicionar a este
básico, componentes que possam abrir um leque de diferenciação no produto final.
Essas duas condições são atendidas com o chicote elétrico proposto. Fica então mais
um fator: o tempo de finalização do produto, para que este atenda no momento certo a
linha de produção do cliente, ou o uso efetivo pelo consumidor final. Este terceiro fator,
o chicote elétrico também possui, pois há como informar o fornecedor em tempo hábil
145
de atendimento da linha, para que este termine o chicote e o entregue para colocá-lo
no veículo.
Para os dois fatores iniciais, as considerações já foram apresentadas nas
Tabelas 21 a 25. Para a definição do ponto de aviso, observam-se os pontos de
informação na linha de produção.
O ponto “SD” é o ponto da montagem final, onde é colocado o chicote elétrico no
veículo. O ponto imediatamente anterior é o ponto “5 A”. Este ponto situa-se a 3 horas
do ponto SD. Como o tempo de processo das diferenciações se situa entre 3,28
minutos e 15,51 minutos, e o tempo de transporte deste ponto, até o ponto de uso é de
20 minutos, é certo que este ponto pode ser o ponto de aviso da produção da matéria-
prima específica para aquele veículo.
Após o aviso pelo ponto dito “5 A”, resta se fazer o fluxo proposto para a cadeia
de suprimento.
Então, um apanhado geral das ações que se fazem necessárias, para que se
estabeleça a nova cadeia de suprimentos:
• Que o fornecedor saiba que ele passará a controlar não mais
seis tipos de chicotes diferentes, mas um tipo de chicote, o básico; mais quatro
ramificações: a ramificação do ar condicionado, do desembaçador traseiro, do alarme
e do imobilizador. Serão ao todo cinco itens e não mais seis.
• Que o fornecedor se posicione próximo ao cliente,
centralizando os estoques agora sob seu poder, para que tenha liberdade em
promover a diferenciação dos itens, após o aviso da Montadora.
• A Montadora deve disponibilizar para o fornecedor as
informações de alteração da programação da produção, quando ela ocorrer dentro das
8 semanas firmes.
• A Montadora deve estabelecer uma linha ininterrupta de
comunicação com o fornecedor, quando dos avisos para postergação de manufatura.
Após isto, o fluxo proposto seria:
• A Montadora envia o “release” de todos os itens envolvidos no postponement
ao fornecedor, normalmente, cada item em separado, firmando-o 8 semanas, como de
costume.
• O estoque de segurança do chicote básico se manterá em 1,9 dias, mas agora
calculado pela somatória de todas as médias diárias dos seis chicotes elétricos
envolvidos: “51 GA” + “51 HM” + “ 51 HN” +“ 51 HP” + “ 51 HS” + “ 51 HT”.
146
• O fornecedor deverá enviar, para a montadora, ramificações dos acabamentos
utilizados para efetuar a diferenciação entre o básico e seus derivados, nas
quantidades indicadas nos seus “releases” respectivos. As ramificações também terão
estoque de segurança de 1,9 dias, como fosse um chicote elétrico montado completo.
• Caso o fornecedor se coloque dentro das dependências da Montadora,
ele deverá disponibilizar recursos (pessoal e máquinas), para promover o término da
manufatura do chicote elétrico. Estes meios poderão ser os meios outrora utilizados na
matriz, quando o chicote elétrico era totalmente produzido lá. A etapa de término não
significa que o chicote elétrico seja remanufaturado. É uma etapa posterior de
montagem final.
• O fornecedor deverá ser avisado 3 horas antes da colocação do chicote
no veículo, dentre os seis tipos de chicotes que estão sob a condição do
postponement, qual chicote deverá ser encaminhado para a linha de produção.
• Feito isto, o fornecedor deverá diferenciar o chicote elétrico,
terminando-o, e encaminhando-o para a linha de produção.
• Caso o fornecedor se coloque a uma distância maior, o ponto de aviso
“5A” pode ser alterado para o ponto “PI”. Com isto, o tempo aumenta para 9 horas,
mas haverá um bolsão de carros entre os pontos PI e SD, o que poderá ressaltar em
alterações nos modelos a serem produzidos (nem tudo que passa no Ponto “PI”,
passa pelo “SD”), em função do aumento da incerteza do veículo especificamente a
ser produzido
• O tempo total do processo, desde o aviso até a entrega, vai variar de
23,28 minutos até 35,31 minutos, tempo que ainda está dentro das 3 horas já
mencionadas.
As FIGURAS 43 e 44 demonstram como seria este fluxo.
147
Figu
ra 4
3 –
Flux
o P
ropo
sto
da C
adei
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Sup
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or –
Mon
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ra: P
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trico
s
148
Figu
ra 4
4 –
Flux
o P
ropo
sto
149
Observando-se a Tabela 26, vê-se o montante dos custos envolvidos ainda
conforme dados das Tabelas 22 a 26. O custo da mão-de-obra é de 1,20 EU por
minuto.
Tabela 26 – Análise Comparativa entre a Entrega Tradicional e a Entrega por
Postponement
Figura 45 - Análise Comparativa entre a Entrega Tradicional e a Entrega por
Postponement
Os valores, em “unidade de equivalência”, demonstram que haverá sempre uma
diferença positiva, ou seja, de ganho, quando a produção for efetuada por
postponement.
Os valores foram informados por um fornecedor de chicotes elétricos atual, que
justificou o fato pela teoria da curva do aprendizado, onde o custo de produção de um
item cai quando ele é produzido em larga escala, o que aconteceria com o básico
“51GA”, neste sistema.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente Dissertação procurou demonstrar que a integração das atividades e
dos negócios entre fornecedores e seus clientes pode levar a contratos comerciais
duradouros, transparentes, seguros e com mercado mais estável.
Ao longo de mais de um século da existência das montadoras de veículos, no
mundo e no Brasil, mais efetivamente após 1950, foram desenvolvidos vários tipos de
relacionamentos, que culminaram em dois pontos: primeiro a individualização das
atividades, com um lucro que embora certo, já vinha dando indícios de decadência.
Num segundo ponto, o relacionamento mais livre, porém mais responsável, onde, para
as partes, a parcela de cooperação estava extremamente clara, e os lucros, apesar de
não serem mais tão grandes quanto no passado, pelo menos seriam mais previsíveis
e controlados. A oscilação ficaria por conta daquilo que não fosse feito.
Esta Dissertação mostrou, também, a possibilidade de um fornecimento
diferenciado de uma autopeça, ou seja, uma autopeça que já é fornecida e montada
em um veículo de uma montadora específica, e que agora seria fornecida de uma
outra forma. O relacionamento de parceria e de cooperação, demonstrado
resumidamente no fim do parágrafo anterior, viabilizaria este fornecimento, pois ele
seria embasado numa transparência e na realidade.
A prática de outros conceitos, oriundos deste novo tipo de relacionamento,
também cooperou para a viabilização deste fornecimento:
. a eliminação de barreiras externas, cliente/fornecedor;
. a logística de resposta rápida;
. a formação clara de uma cadeia de valor;
. a visualização da demanda do cliente, encurtando a cadeia de suprimentos;
. o acesso à informação em tempo real, possibilitando ao fornecedor conhecer, o
quanto antes, a necessidade dos cliente;
. o agregar-se à demanda, por meio da localização e da linha de produtos.
Todos esses fatores foram importantes para o projeto de postergação de
manufatura, proposto para o chicote elétrico.
O postponement, ou postergação de manufatura, no caso desta dissertação do
chicote elétrico para os veículos, só foi possível ser proposta, porque a autopeça, em
si, ofereceu condições para tal. Pela própria maneira como é concebido o projeto, de
forma acumulativa, o chicote elétrico favorece a aplicação desta prática. Outros pré-
151
requisitos, que indicam a possibilidade de postponement, foram atendidos pelo chicote
elétrico:
. há uma grande imprevisibilidade da demanda;
. há uma gama variada de combinações no final do processo produtivo;
. é um produto que aceita modularização;
. o mercado de veículos é um mercado com vendas oscilantes;
. uma venda perdida do veículo pode significar um prejuízo.
Quando foram reunidos os três tipos de postergação, no projeto de
postponement do chicote elétrico, apesar do repasse, num primeiro momento dos
estoques para o fornecedor, um horizonte mais previsível para a sua produção
significou uma certeza no volume de vendas e do não direcionamento de recursos
para a formação de estoques, e o que é pior, estoques que poderiam se tornar inativos
e obsoletos.
O chicote elétrico oferece, ainda, de acordo com sua concepção de Projeto, as
condições pedidas para a implantação do postponement:
. a capacidade da separação de seu processo de montagem em duas partes,
criando-se assim um chicote básico, que também é o item atualmente mais
consumido, na produção dos veículos da montadora;
. a possibilidade de decomposição do produto, ou seja, a criação de chicotes
derivados complementares. A possibilidade de adequação, ao básico, novo módulo,
ou ramificações, ou circuitos, que o transformem em outro diferente, de utilização em
outro veículo.
. o tempo envolvido na terminação do chicote elétrico pode ser absorvido entre o
momento do aviso do término até a entrega, no ponto de montagem.
A Montadora que serviu de base para este trabalho está aberta a qualquer
negociação, para viabilizar este processo, desde ceder área com toda a infraestrutura,
para que o fornecedor permaneça dentro de suas instalações, até a possibilidade do
pagamento do ponto de uso. A Montadora quer “comprar solução”, ou seja, ela quer
receber o chicote no momento da montagem, na certeza de que aquele é realmente o
que ela estava precisando.
Ao se analisar o que foi exposto na proposta desta Dissertação, tem-se a
considerar que, para o sistema de produção por postponement, para o chicote elétrico,
as desvantagens seriam:
152
1 Para o Fornecedor:
1.1 Arcar com todo o estoque de segurança que antes era de
responsabilidade da Montadora.
1.2 Manter um rigoroso controle do mix de produção do cliente, inclusive do
Forecast, por um horizonte mais longo.
1.3 Manter um rigoroso controle sobre o programa da sua matéria-prima x
programa de produção da Montadora.
2 Para a Montadora:
Para algumas Montadoras, pode ser desvantajoso trabalhar com uma certa
transparência com seus fornecedores. Neste caso, a Montadora, em questão, possui
residentes de vários fornecedores em sua planta de Taubaté, e já trabalha com um
certo nível de confiança entre ambos.
As vantagens seriam:
1 Para o Fornecedor:
1.1 Vender tudo o que produzir. O estoque do chicote básico que
permanecer sob sua responsabilidade, no final de cada mês, será
adquirido pela Montadora no mês seguinte. Este veículo nunca deixou
de ser produzido e vendido. Além disso, o custo do chicote básico é
bem inferior ao custo dos seus derivados. O valor do inventário será
baixo.
1.2 Permanecer com o custo das ramificações, no final de cada mês, e não
com o chicote especificado, que agrega a mão-de-obra do
postponement.
1.3 Transferência dos custos de mão-de-obra e recursos, sem incremento
no custo final do produto.
1.4 A não existência de remanufatura. O ponto de diferenciação é daquele
ponto para frente, e não significa desmanchar o que já foi feito. O
chicote básico vem pronto, para ser terminado.
1.5 A certeza da não interrupção do fornecimento do cliente: confiabilidade
e parceria, que podem ser transformadas num single sourcing (fonte
única de fornecimento).
1.6 Possibilidade de estabelecer, com a Montadora, um contrato de
unidade de negócio. É comum, nos casos de postponement de
manufatura, que isto ocorra, devido à flexibilidade de produção e o
tempo de resposta do fornecedor.
153
1.7 Ganho de tempo de produção do chicote básico, devido à curva do
aprendizado e da economia de escala. O mesmo acontece com as
ramificações dos chicotes derivados, pois são produzidas por máquinas
específicas, automaticamente.
2 Para a Montadora:
2.1 Diminuição do estoque de segurança sob sua responsabilidade.
2.2 Proximidade do fornecedor, sendo mais rápido e fácil conhecer seus
problemas e suas deficiências.
2.3 Possibilidade de se estabelecer um relacionamento de
comprometimento e parceria, podendo torna-lo um single sourcing
(fonte única de fornecimento).
2.4 Diminuição no preço final do chicote, devido à redução dos custos de
produção do chicote básico, devido à curva do aprendizado.
2.5 Diminuição do risco de desabastecimento, devido à possibilidade de
transformar o chicote básico em qualquer outro, sejam quais forem as
mudanças do mix de produção.
2.6 Possibilidade de repassar este tipo de atendimento flexível, para
qualquer outra família de chicotes.
2.7 Possibilidade de praticar este tipo de relacionamento com outros
fornecedores que tenham matérias-primas e processos nas mesmas
condições apresentadas aqui.
Os maiores ganhos obtidos seriam os de redução imediata dos estoques pela
Montadora, e o melhor direcionamento, da produção do fornecedor; e, ainda a certeza
de que não sobrariam chicotes no final da linha, que poderiam até se tornar obsoletos.
Deve ser ainda efetuado, entre Montadora e seu fornecedor de chicotes elétricos,
um teste, um protótipo do projeto, para que sejam avaliados:
• ponto de informação da linha de produção;
• tempo de término do chicote elétrico;
• ponto de confirmação da informação do chicote pedido anteriormente;
• tempo de abastecimento da linha de produção;
• ponto de leitura do uso do chicote, para pagamento pela Montadora;
• acompanhamento da demanda dos chicotes derivados;
• transporte e movimentação dos circuitos e subconjuntos dos derivados;
• estoque de segurança dos circuitos e subconjuntos dos chicotes derivados;
154
• bolsão de veículos entre os pontos de informação: como ficará o abastecimento
desses carros.
A efetivação do modelo deveria ser feita em teste, dentro da própria Montadora,
onde pequenos ajustes, como o momento de disparar o pedido, por exemplo, serão
precisamente determinados.
A Montadora e seu fornecedor já têm marcado um teste para esta atividade de
postponement, para avaliar os pontos levantados, para, assim, definirem ajustes e
data para implantação.
Outros chicotes elétricos da mesma família do painel, assim como das outras
famílias, sofrerão, em breve, o mesmo estudo.
6 CONCLUSÃO
O presente trabalho mostrou que a utilização da postergação do fornecimento
para a autopeça chicote elétrico é possível e gera ganhos, tanto para a Montadora
quanto para seu fornecedor.
Os ganhos para a Montadora abrangem: reduções do estoque da referida
matéria-prima, atendimento personalizado das necessidades de produção,
proximidade do fornecedor, promovendo um relacionamento mais estreito e
transparente.
Para o fornecedor, apesar de inicialmente ter que arcar com os estoques que
outrora eram da Montadora, terá a certeza de que dali para frente sua produção será
direcionada, para atender os itens necessários para a produção do cliente. Esta
certeza no atendimento será estendida às áreas de compras do fornecedor e a todos
os seus fornecedores, trazendo uma mais eficiência para toda a cadeia.
Além disso, o relacionamento mais próximo obrigará os dois lados a
desenvolverem, se ainda não tiverem, um trabalho de parceria, comprometimento e
verdade, pois o caminho e os ganhos serão traçados em conjunto.
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GLOSSÁRIO
Análise de Valor - Técnica de análise detalhada de custos de cada etapa de um
processo. Tem o objetivo de identificar etapas críticas que, em geral, sofreram
trabalho adicional para reduzir custos.
Benchmarking – estudo, análise, comparação entre os métodos de trabalho de
empresas concorrentes, com o objetivo de aprimorar e melhorar os próprios
métodos. É a arte de aplicar o que há de melhor no concorrente, dentro da própria
empresa.
Box – Local para descarregamento do caminhão, dentro da área de recebimento
da Montadora. Em geral, comporta apenas um caminhão por vez.
Braimstorming – tradução literal do inglês: “tempestades de idéias”.
Ferramenta da qualidade utilizada como auxiliar do Método de Solução de
Problemas. Consta de reunir pessoas conhecedoras do processo que está sendo
analisado, para que estas, numa avalanche de sugestões, reúnam e descubram
aquelas mais prováveis, como causa do problema que está ocorrendo.
Buffer – Do inglês, “pulmão”. Utilizado para exprimir estoques intermediários, de
processo, na manufatura. Termo próprio da Montadora.
Cadeia de Valor – Conceito definido por Michael Porter, como o conjunto de
atividades realizadas por uma empresa de valor, ela aumenta a sua capacidade
competitiva. Pode ser dividido em “atividades primárias”, como logística,
fabricação, marketing, vendas, serviços pós-venda; e “atividades secundárias”,
como infraestrutura da empresa, recursos humanos, tecnologia e compras (Cadeia
de Valor, value chain).
Comakership – relacionamento de parceria, também conhecido como VAP. É o
conjunto de companhias independentes que trabalham juntas para gerenciar o
fluxo de bens e serviços, ao longo da cadeia de suprimentos.
162
Constelação de Valor – Conjunto de companhias independentes, que formam a
relação cliente e seus fornecedores, que tem o objetivo de executar atividades que
agreguem valor ao produto, cada vez mais atraente para o cliente.
Core business – expressão em inglês que designa o foco do negócio da empresa.
Por exemplo, para a montadora, o seu core business é montar carros, ficando para
seus terceiros, atividades como alimentação, segurança, treinamento,
fornecimento, etc. Relativo ao próprio negócio ou especialidade no negócio que
faz.
Core competence – expressão em inglês que designa o foco de competência da
empresa, ou seja, o que ela sabe fazer de melhor. Na maioria das vezes, é seu
core business.
Custo logístico – É o somatório do custo do transporte, do custo de
armazenagem e do custo de manutenção de estoque.
Departamentalização – separar a empresa em departamentos que trabalham e
executam suas funções separadamente, transformando-a numa “colcha de
retalhos”.
Design – do inglês, “desenho”, configuração, face do produto. Representa a
concepção do produto propriamente dito.
EDI (Eletronic Data Interchange) – ou traça eletrônica de dados. É a remessa
eletrônica de informações via sistema fornecedores-montadora.
Engenharia de Valor – Ciência que estuda a composição detalhada do custo de
um produto.
Estoque de Segurança – estoque a mais, com o objetivo de amortizar variações
de demanda, ajustes, usos alternativos, lead times, alterações no mix de produção,
quedas e manutenção de máquinas, etc. Na Montadora desta Dissertação.
Heijunka – Criação de um “cronograma nivelado”, por meio do seqüenciamento
dos pedidos, em um padrão repetitivo e eliminação das variações cotidianas nos
163
pedidos totais, de modo a corresponder à demanda de longo prazo. Por exemplo,
se o cliente durante uma semana pedir 200 unidades do Produto A, 200 do produto
B e 400 do Produto C, em lotes de 200, 200 e 400, respectivamente, o cronograma
nivelado seqüenciaria seu processamento na progressão A, C, B, C, A, C, B, A,
C... Da mesma forma, se pedidos dos clientes, totalizando 1.000 produtos por
semana, chegasse em lotes de 200 produtos no dia um, 400 no dia dois, zero no
dia três, 100 no dia quatro e 100 no dia cinco, o cronograma nivelado produziria
100 por dia, na seqüência A, C, A, B... Algum tipo de cronograma nivelado é
inevitável em todos os produtos, de massa ou enxuto, a não ser que a empresa e
todos os seus fornecedores tenham capacidade infinita e tempo de troca de
máquina zero. No entanto, com o tempo, os adeptos da produção enxuta tendem a
criar excesso de capacidade, à medida que liberam recursos, e a trabalhar
constantemente na redução do tempo de troca de máquina, para que a
discrepância de curto prazo, entre o cronograma heijunka e a demanda real, seja
uniformemente diminuída, com a ajuda das vendas niveladas.
High Tech – ou alta Tecnologia. Designam produtos, procedimentos,
comportamentos, métodos movidos por informações e materiais de alta tecnologia,
recém criados e lançados no mercado.
Família de Produtos – Grupos de Produtos relacionados, que podem ser
produzidos de forma intercambiável, em uma célula de produção. O termo muitas
vezes é análogo a “plataformas”.
Inbound Logistics – ou logística de entrada. Abastecimento da fabrica com
matéria-prima. É todo o processo, desde a programação da peça para o
fornecedor, até o abastecimento da linha de produção.
Insumos – matéria-prima e recursos disponíveis para algum tipo de atividade.
Integração Vertical – Integrar todo o processo, desde o mais baixo nível
hierárquico, até o mais alto; desde a mais simples e básica operação, até a mais
complexa.
Intercambiabilidade – possibilidade de se utilizar uma matéria-prima em lugar de
outra, sem, no entanto, provocar retrabalho, ajustes e acertos.
164
Item Pai – Na estrutura de uso do produto, é o mais alto nível de demanda
independente. Por exemplo, na montadora, é o veículo.
Janela de Entrega – sistema de entrega de matéria-prima, com terminologia
própria da Montadora em estudo. Significa que o fornecedor deve disponibilizar um
caminhão, para entrega de suas peças, em dia e hora reservados para ele. Não
poderá entregar em nenhum outro horário ou dia, sem ser negociado. Envolvem,
também, local (Box) ativo para descarga.
Joint Venture – alianças ou acordos comerciais, fusões, etc., com o objetivo de
conquistar ou manter mercado.
Just in Time – filosofia de entrega e abastecimento de materiais e informações,
derivado do sistema Kanban japonês, que utiliza o velho jargão: “entregar a
quantidade certa, na hora certa, no local certo”. Na Montadora em questão, é o
sistema de recebimento de matérias-primas caras, que faltam com freqüência, de
veículo que sempre sofrem variação de programa, para fornecedores que se
localizam, há no máximo 20 km da fábrica. As peças são entregues pelo
fornecedor, na linha de produção, na quantidade e na hora que o montador
precisar delas.
Kaizen - Melhoria contínua e incremental de uma atividade, a fim de criar mais
valor com menos muda. Chamado também de kaizen do ponto e kaizen do
sistema.
Kanban – Pequeno cartão pendurado em caixas de peças que regulam o puxar,
no Sistema de Produção da Toyota, sinalizando a produção e a entrega em etapas
anteriores.
Lead Time – Sistema de relacionamento com o cliente, que tenta eliminar surtos
de demanda causados pelo próprio sistema de vendas (por exemplo, devido a
alvos de vendas trimestrais ou mensais), e que luta para criar relacionamentos de
longo prazo, com os clientes, para que o sistema de produção possa prever as
compras futuras.
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Mão Invisível – teoria de Adam Smith. A empresa que prega que se cada um
perseguir seu próprio interesse individual, o livre mercado produzirá ele próprio o
melhor resultado para a sociedade como um todo.
Mão Visível – teoria de Alfred Chandler, Prof. da Harvand Busines School.
Empresas dão ordens, onde as iniciativas de seus acionistas, diretores e gerentes
poderiam interferir diretamente no livre mercado, contrapondo-se a “início
invisível”.
Chandler argumentou que a “mão visível” era vital para as corporações modernas
trabalharem, com uma necessária previsibilidade em suas operações.
Milk Run – termo próprio que designa o sistema de coleta de matérias-primas,
diretamente, junto aos fornecedores. A nomenclatura originou-se da prática
americana de coletar os litros-de-leite de várias fazendas fornecedoras, para levá-
los a ponto de beneficiamento ou consumo. É uma das maneiras utilizadas pelo
cliente, para otimizar o transporte e reduzir custos.
Mix de Produção – termo próprio da Montadora. Designa o programa mestre de
produção de veículos, que obedece a volumes e módulos, em uma certa
seqüência. Respeita também os fatores tecnológicos e humanos da produção.
Modal de Transporte – tipo de transporte: rodoviário, aéreo, marítimo.
Montadoras – empresas, em geral, multinacionais que recebem peças de seus
vários fornecedores e, exclusivamente, montam carros. O core business ou core
competence é montar carros.
Motorização – assim é chamada a capacidade do motor do veículo, para
classificar um grupo de veículos com esta característica em particular.
Master Production Schedule (MPS) – Programa Mestre de Produção ou
Programa Master de Produção, ou simplesmente Master. É o volume de produção
do nível mais alto da demanda independente. É o programa de produção do item
pai; no caso da Montadora, é o programa de veículos.
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MRP I – Material Requirements Planning ou Planejamento das Necessidades de
Materiais.
MRPII – Manufacturing Resources Planning ou Planejamento dos Recursos da
Manufatura.
Projeto e Desenvolvimento (P&D) – departamento de uma empresa que cuida
única e exclusivamente da criação e desenvolvimento de novos produtos. Pode ser
também uma área que cria, desenvolve, planeja e implanta algum tipo de conceito,
método ou processo.
Palltet – ou estrado, traduzindo-se do inglês. Estrado de madeira, borracha ou
plástico, que serve de suporte de empilhar outras embalagens, formando uma
embalagem única. Organiza, otimiza, facilita transporte e movimentação. Utiliza-se
também o termo “palletização”, que significa colocar as caixas e amarrar no pallet.
Postponement – termo em inglês que significa “postergação”. Pode ser de
manufatura e de entrega ou distribuição. O postponement de manufatura é:
terminar a montagem final do produto somente após a confirmação do pedido pelo
cliente. O postponement de entrega significa entregar o produto somente após a
confirmação pelo cliente, ou seja, os estoques passam a ser do fornecedor.
Release – em inglês, liberação, autorização, para montadoras de entrega de
matéria-prima pelo fornecedor. Documento impresso, com campos que identificam
a peça, quantidade e data para entrega.
Sider – termo em inglês que designa o tipo de caminhão, que tem a carroçaria
recoberta com lona, com aberturas laterais, para facilitar carregamento e
descarregamento de materiais.