Fluidoterapia Em Grandes Animais

Embed Size (px)

Citation preview

Rev. educo contin. CRMVSP I Conrinuous EduClllion Joumal CRMVSp' So Paulo, volume 4. fascculo 2, p. 38. 2()()/.

ISSN 15163326

Fluidoterapia em pandes animais. Parte I: ~a corprea, indicaes e tipos (te fluidosFluid therapy in large animais - Part l' body water, indications and jluid typesAntnio C7ar de OliveiraDearo -CRMV-PR -n 4428Professor Assistente do Departamento de Clnicas Veterinrias da UEIJPR.Universidade Estadualde Londrina - CCA - DCV Caixa PoslaI6001 - CEPo 86051-990 Londrina - Paran Fone: (0"43) 371-4269/371-4329 End. Eletrn.: [email protected]

RESUMOAs alteraes do equilbrio hidroeJetroltico apresentam-se comumente associadas a diversas patologias envolvendo animais de grande porte. Com o objetivo de se promover a correo dessas alteraes, importante a elaborao de um plano de reposio hidroeletroltica que, baseado nas informaes da anamnese, do exame clnico e dos testes laboratoriais, deve incluir no s a escolha da soluo mais adequada como tambm sua quantidade, via de administrao e velocidade de reposio. Neste artigo so abordados aspectos referentes fisiologia da gua corprea e eletrlitos, indicaes da fluidoterapia e principais fluidos utilizados em Medicina Veterinria. Palavras-chave: fluidoterapia, desidratao, eletrlitos, hidratao, fluidos.

Distribuio da gua Corprea e Eletrlitoss desequilbrios hidroeletrolticos apresentam-se associados a inmeras situaes clnicas que acometem as grandes espcies domsticas. Conside_ rando que a gua e os eletrlitos orgnicos desempenham um papel essencial na manuteno das mais diversas funes do organismo animal, a correo desses desequilfbrios toma-se de vital importncia para o sucesso do tratamento especfico. Um exemplo clssico desse conceito pode ser representado por cavalos portadores de intenso desconforto abdominal agudo associado a enormes perdas de fluidos e eletrlitos e que requerem tratamento cirrgico. Nessas situaes, a no correo ou a correo inadequada dos desequilbrios hidroeletrolticos pode resultar no bito do paciente antes mesmo do incio da cirurgia.

o

Nas grandes espcies, aproximadamente 60% do peso corpreo no adulto e 80% no neonato consiste de gua, que se apresenta amplamente distribuda e em constante movimento entre os compartimentos intracelular (LI) e extracelular (LE) (MASON, 1972; SPURLOCK eFURR, 1990;REECE, 1991;GROSS, 1992; SCHMALL, 1997). O compartimento intracelular possui a maior quantidade da gua corprea e corresponde a 40% ou 2/3 do peso total, ao passo que os 20% (1/3) restantes constituem o compartimento extracelular. Esse, por sua vez, subdividido em compartimento plasmtico (Lp) (5%), intersticial (Li)(14%) e transcelular (LI) (1-6%) (REECE, 1991; GROSS, 1992). O lquido transcelular representado pela gua nas vias digestiva e urinria, no lquor, no humor aquoso, na cavidade peritoneaJ e no lqido sinovial. Em herbvoros, especialmente em grandes ruminantes, a gua contida no

3

DEARO, A. C. O. Fluidoterapia em grandes animais. Pal1e I: gua corprea. indicaes e tipos de nuidos I Fluid therapy in farge animais Part f: body water, illdicatiotls and fl"idtypes. I Rev. educo contin. CRMV-SP I Conlinuous Education Journal CRMV-SP, So Paulo, volume 4. fascculo 2, p. 3 - 8. 2001.

sistema digestrio pode corresponder a at 10 a 15% do peso corpreo (GROSS, 1992). importante ressaltar que esses valores representam mensuraes aproximadas e que fatores como doena, clima, idade, estado nutricional e privao hdrica entre outros, resultam em diferentes valores de distribuio da gua corprea. O constante movimento da gua entre os compartimentos decorrente de um gradiente osmtico estabelecido entre os dois lados da membrana celular. Em outras palavras, esse movimento determinado pelo nmero de partculas osmoticamente ativas entre um lado e outro da membrana. Os principais ons responsveis pela osmolaridade no LE e LI so o Na+ e o CI-, no LI, so o K+ e o P0 4- (REECE, 1991; GROSS, 1992; SCHMALL, 1997). Desequilbrios no balano hdrico entre os compartimentos podem resultar de uma diminuio da ingesto, aumento das perdas de fluidos e eletrlitos ou, ainda, de uma combinao desses fatores. As alteraes de volume dos compartimentos LI ou LE, produzidas em inmeras condies clnicas, determinam mudanas nas respectivas presses osmticas com conseqente redistribuio da gua entre os compartimentos. Um exemplo prtico desse conceito pode ser notado quando ocorre uma perda aguda de lqidos, como na diarria. O aumento da presso osmtica resultante da perda hdrica determina o movimento de gua do compartimento LI para o LE at que se estabelea um novo eqilbrio osmtico (ROSE, 1981; SCHMALL, 1997). O movimento contrrio da gua ocorre em situaes de queimaduras onde h relativamente maior perda de eletrlitos do que gua. O aumento da presso osmtica do compartimento intracelular determina a passagem de gua para o interior da clula causando edema (GROSS, 1992).

Quando Instituir a Terapia Hdrica?A reposio de fluidos tem como objetivos a restaurao da volemia, a hidratao dos tecidos, a correo de desequilbrios eletrolticos e cido-bsicos, a estimulao de rgos internos como, por exemplo, os rins, a administrao de substncias nutritivas (alimentao parenteral) e, alm disso, o prprio fluido reposto tambm serve como meio para a administrao de drogas (GROSS, 1992; FREESTONE, 1993). Em grandes animais, as condies clnicas mais comuns que requerem fluidoterapia so representadas por diarrias, choque, sndrome clica, desidratao aps exerccios fsicos extenuantes sob condies cli-

mticas adversas (como por exemplo, no enduro eqestre), ruptura de bexiga em potros, desequilbrios metablicos, obstrues ou rupturas esofgicas e doenas renais (SPTER et ai., 1990; FREESTONE, 1993; BARTON e MOORE, 1999). A maneira mais adequada de se determinar a necessidade e, ao mesmo tempo, elaborar o plano de reposio hidroeletroltica, baseia-se na anlise de informaes precisas obtidas mediante a anamnese, o exame fsico e, quando disponvel, a realizao de provas laboratoriais. Principalmente sob condies de campo, nas quais, na maioria das vezes, o recurso laboratorial no disponvel, o conhecimento preliminar dos mecanismos fisiopatolgicos inerentes s mais variadas doenas de fundamentai importncia para a elaborao lgica e correta do plano de reposio hidroeletroltica. Informamos sobre o tempo de evoluo na doena, os tratamentos efetuados anteriormente, drogas, doses, intervalos de aplicao, sobre a ingesto de alimentos, a disponibilidade, qualidade e ingesto de gua oferecida, a quantidade e a freqncia de mico e dos episdios de perdas eletrolticas (diarrias, refluxo gastrointestinal colhido por sonda nasogstrica, entre outros) permitem uma noo preliminar acerca da gravidade de possveis desequilbrios (SPlER et ai., 1990; FREESTONE, 1993). Um exemplo muito comum at os dias de hoje, e que exemplifica com clareza a importncia desse questionamento, refere-se ao uso de diurticos a exemplo da furosemida, administrados, de forma equivocada, por leigos, a cavalos com clica. Considerando que a desidratao e a hipovolemia so fatores comumente associados clica eqina e que, muitas vezes, so os responsveis diretos pelo bito de muitos cavalos, a perda de mais lqidos induzida pela terapia diurtica agravaria o problema. Nos sinais clnicos normalmente relacionados s condies de perda hdrica, pode-se incluir a perda de peso, o aumento da freqncia cardaca e do tempo de preenchimento capilar, a perda da elasticidade cutnea, o ressecamento das mucosas, a diminuio da temperatura em regies de extremidades e a diminuio da produo de urina (SPIER et ai., 1990; SCHMALL, 1992, 1997); contudo, a severidade desses sinais varia de acordo com os diferentes graus de desidratao. Porm, interessante ressaltar que em situaes clnicas nas quais a perda hdrica no acompanhada de perdas eletrolticas, o animal pode no apresentar sinais de desidratao mas, mesmo assim, estar desidratado. Na prtica, isso pode ser notado em animais que no se alimentam e no ingerem gua e pode ser explicado pela modificao do gradiente osmtico estabelecido

4

DEARO, A. C. O. F1uidoterapia em grandes animais. Parte I: gua corprea, indicaes e tipos de fluidos 1 Fluid rIJerapy in large a"imals ~ Parr I: body water. i"dicatiolls mui jIllid types. I Rev. educo contin. CRMV-SP 1 Continuous Education Journal CRMV-SP, So Paulo, volume 4. fascculo 2, p. 3 - 8. 2001.

Tabela 1. Graus de desidratao.

..........(%)

Cl....flcaloLeve Moderada Severa

TI,..- CutIIIeo(segundos)2-3 3-5 >5

TPC*(segundus)1-2 2-4 >4

n(%)40-50 50-65 > 65

PPT (g/lI1)6.5 - 7.5 7.5 - 8.5 > 8.5

5-7 8-10 > 10

* TPC: Tempo de Perfuso Capilar entre os compartimentos, onde o aumento da osmolaridade do LE determina a diminuio do volume hdrico do LI na tentativa de se restabelecer o equilbrio (FREESTONE, 1993). Do ponto de vista clinico, a desidratao pode ser subjetivamente classificada em leve, moderada e severa, de acordo com a gravidade dos sinais. Contudo, deve-se ter em mente que perdas fluidas inferiores a 5% do peso corpreo no so manifestadas clinicamente (SCHMALL, 1992,1997; FREESTONE, 1993; BARTON e MOORE, 1999). Em termos prticos, isso significa que nenhuma alterao clnica compatvel com desidratao pode ser evidenciada em um cavalo adulto pesando 450 kg at que aproximadamente 20 I de fluidos tenham sido perdidos. A Tabela I mostra os diferentes graus de desidratao em funo de algumas alteraes clnicas e laboratoriais. Deve-se salientar que esses valores devem ser tomados apenas como guia geral e no como valores absolutos. O volume globular (VG) ou hematcrito e a protena plasmtica total (PPT) so as duas mensuraes laboratoriais mais comumente utilizadas para se avaliar o grau de desidratao (ROSE, 1981; SPURLOCK e WARD, 1990; SCHMALL, 1992, 1997). A elevaodesses ndices indicativo de perda hdrica. Outras determinaes como a uria e a creatinina sricas tambm podem ser empregadas com essa finalidade, porm todos esses ndices devem ser interpretados com cautela (SCHMALL, 1992, 1997). importante que o VG e a PPT sejam analisados conjuntamente, pois, em algumas situaes, a interpretao isolada desses valores pode resultar em erro. A estimulao simptica causada por condies de estresse ou excitao pode provocar a contrao esplnica com liberao na circulao de mais hemcias (ROSE, 1981; SCHMALL, 1992, 1997). Nessas circunstncias, h aumento do VG, no por perda fluida, mas, sim, pelo aumento do nmero hemcias no indicando, portanto, desidratao. Em situaes clnicas em que h perda de protenas associada a patologias gastrointestinais como nas colites e peritonites ou em que h diminuio da produo decor-

rente de problemas hepticos, as protenas plasmticas podem apresentar-se diminudas. Nessas situaes, a PPT perde seu valor como indicador de desidratao (ROSE, 1981; MURRAY, 1992; SCHMALL, 1997). Em potros e bezerros neonato ,os valores de VG e PPT podem variar em razo de diversos fatores, no sendo, portanto, indicadores fidedignos de desidratao (ROUSSEL e KASARl, 1990; SPURLOCK e FURR, 1990; FREESTONE, 1993). Como j referido anteriormente, nem sempre as perdas hdricas esto associadas s perdas eletrolticas, todavia, o que se observa na prtica, que a grande maioria dos desequilibrios hdricos so acompanhados por desequilbrios eletrolticos e cido-bsicos em diferentes graus.

Qual Fluido Deve ser Utilizado?As solues de uso parenteral podem ser classificadas em colides e cristalides. Colides so substncias de alto peso molecular que, ao serem administradas, aumentam a presso coloidosmtica intravascular e, com isso, estimulam a passagem de fluido do Li para o Lp. O dextran 70 e o plasma so os exemplos mais comuns de colides sintticos e naturais, respectivamente. Por questes de custo e pela possibilidade da ocorrncia de efeitos colaterais associados administrao de colides sintticos, o uso dessas substncias extremamente restrito (SPURLOCK e WARD, 1990; SCHMALL, 1992; SEAHORN e CORNICK-SEAHORN, 1994). O uso de plasma tem sua principal indicao em potros ou bezerros que no ingeriram de forma adequada o colostro e por isso apresentam falha na transferncia da imunidade passiva. Outra indicao refere-se a situaes clnicas em que a PPT encontra-se abaixo de 4g/dl em razo de perdas contnuas existentes (como nas colites) ou de extensa hemodiluio decorrente de prolongada fluidoterapia com cristalides (MURRAY, 1992; SCHMALL, 1992, 1997). Os cristalides so as solues mais amplamente empregadas em Medicina Veterinria. De maneira geral, so utilizadas quando se objetiva a correo de altera-

5

DEARO, A. C. O. Fluidolcrupia em gmndcs animais. Partc I: gua corprea, indicaes e lipY.i de fluidos I Fluid Iherapy in iarge a"imais - ParI I: body water, i"dicatio"s and jlld lypeS. I Rev. educo contin. CRM-VSP I Continuous Educalion Journal CRMV-SP, So Paulo, volume 4, fascculo 2, p. 3 - 8, 2001.

Tabela 2. Composio inica, osmolaridade e tonicidade das principais solues utilizadas em Medicina Veterinria.

s......Ringer c/Lactato NaHC03 5% NaCI 0,9% Glicose 5% NaCI 7,5% Plasma Eqino

Ir(~

I(~

Ct(~

cr(Id~

(~

....O O O O O

11I:O,(..-.)28,S 600 O O O 24-30

(.....,.)274 1200

....308253

T ........Isotnica Hipertnica Isotnica Isotnica Hipertnica Isotnico

131 600 154 O 1200 136-145

4 O O O O 2,8-4,7

110 O 154 O 1200 98-108

3,6 O O O O 5,5-6,5

2400 270-300

1,4-2,2

es de volume, de eletrlitos, dos nveis de energia e do equilbrio cido bsico. A composio inica das principais solues utilizadas atualmente pode ser verificada na Tabela 2. De forma ideal, o uso de cristalides deve ter como base as anlises laboratoriais dos diferentes eletrlitos sricos e gases sangneos, o pH e a tonicidade da soluo. Entretanto, em razo da indisponibilidade da maior parte desses recursos para a grande maioria dos profissionais, o bom senso, embasado no conhecimento preliminar dos tipos de desequil.brios mais comumente relacionados situao clnica em questo, determinar a escolha da soluo mais adequada. A soluo de Ringer com Lactato a que apresenta composio mais prxima do plasma (ROSE, I. 981). a soluo empregada na maioria dos pacientes como fonte inicial e emergencial de reposio hidroeletroltica at que as anlises laboratoriais possam melhor direcionar a fluidoterapia (MASON, 1972; MORRIS, 1988). Deve ser utilizada em situaes envolvendo perdas de fluidos e eletrlitos acompanhadas de acidose metablica moderada. O lactato presente na soluo funciona como fonte de base pela sua transformao em bicarbonato aps metabolizao heptica (MASON, 1972; HARTSFIELD, 1981; GROSS, 1992; BARTON e MOORE, 1999). importante, contudo, ressaltar que distrbios hepticos intrnsecos, acidose metablica severa (pH < 7,1) ou estados de deficincia circulatria portal podem reduzir a biotransformao do lactato em bicarbonato e, com isso, reduzir o carter alcalinizante da soluo (HARTSFIELD, 1981; GROSS, 1992; BARTON e MOORE, 1999). A soluo de cloreto de sdio a 0,9% deve ser empregada em situaes envolvendo estados de hipercalemia, hiponatremia, hipocloremia e alcalose metabli-

ca (GROSS, 1992; SEAHORN e CORNICK-SEAHORN, 1994). As situaes clnicas mais comuns que requerem o uso de NaCI 0,9% so o uroperitnio em potros e a desidratao aps exerccios fsicos extenuantes com grandes perdas hidroeletrolticas pelo suor (FREESTONE, 1993; BARTON e MOORE, 1999). A hipercalemia observada em potros portadores de uroperitnio contra-indica o uso de solues contendo potssio, como, por exemplo, a soluo de Ringer ou Ringer com Lactato. A sudorese intensa observada em eqinos submetidos a provas eqestres de longas distncias, com predomnio de metabolismo aerbio como nos enduros, e promovidas notadamente em dias de altas temperaturas, determina uma grande depleo das reservas hidroeletrolticas (CARLSON, 1987; ECKER, 1995; GEOR e McCUTCHEON, 1996). Nessas situaes, as perdas hdricas podem alcanar valores superiores a 40 litros por prova. Grandes quantidades de sdio, cloreto, potssio, clcio e magnsio so perdidas pelo suor; entretanto, os ons sdio e cloreto so aqueles perdidos em maior quantidade (CARLSON, 1987; ECKER, 1995). A perda excessiva de cloreto determina a mobilizao de grandes quantidades de bicarbonato pelo organismo, resultando, dessa forma, num quadro de alcalose metablica hipoclormica (CARLSON, 1987; ROSE, 1987; FREESTONE, 1993; SCHMALL,1997). Por essa razo, deve-se tomar muito cuidado com a utilizao de solues contendo bicarbonato para a correo de desequilbrios eletrolticos e cido bsicos provocados por exerccios intensos, especialmente em provas de longas distncias. A soluo de Ringer deve ser utilizada em situaes envolvendo dficits de fluido e eletrlitos acompanhados de alcalose metablica (GROSS, 1992; BARTON e MOORE, 1999).

6

DEARO. A. C. O. Fluidoterapia em grandes animais. Parte I: gua corprea. indicaes e tipos de fluidos / Fluid Iherapy in Illrge animaIs - Pari I: body waler, ind:atiolls and fluidtypes./ Rev. educo contin. CRMV-SP / Cootiouous Educatioo JournaJ CRMV-SP, So Paulo. volume 4. fascculo 2. p. 3 - 8. 2001.

A soluo de glicose a 5% deve ser empregada em situaes caracterizadas por diminuio das reservas energticas (hipoglicemia) e desequilbrios primariamente hdricos e no eletrolticos, ou seja, nos casos em que a desidratao hipertnica (SEAHORN e CORNICKSEAHORN, 1994). Na prtica isso pode ser encontrado em animais que no estejam se alimentando e nem ingerindo gua. Seu uso tambm indicado em potros ou bezerros neonatos que no estejam ingerindo leite e conseqentemente necessitem suporte energtico (SCHMALL,1992,1997). As solues de bicarbonato de sdio tm como indicao a correo de estados de acidose metablica severa caracterizados por pH inferior a 7,2 ou dficit de base superior a 10 mEqll (ROSE, 1981; SEAHORN e CORNICK-SEAHORN, 1994;SCHMALL, 1997; BARTON e MOORE, 1999). Essa recomendao baseia-se no fato de que quadros de acidose metablica de menor gravidade podem ser freqentemente solucionados pela correo da perfuso tecidual por meio de solues eletrolticas como d Ringer com Lactato e pela correo da causa primria desencadeante do desequilbrio cidobsico. Solues de bicarbonato de sdio no devem ser misturadas a outras solues contendo clcio, uma vez que a formao de um precipitado insolvel de carbonato de clcio inviabiliza seu uso (HARTSFIELD, 1981; KEMP, 1988; SEAHORN e CORNICK-SEAHORN, 1994; BARTON e MOORE, 1999). Sua administrao deve ser cuidadosa e com base nos valores da hemogasometria, pois a administrao em excesso pode provocar alcalose metablica de difcil reversibilidade e depresso respiratria (SCHMALL, 1992, 1997).

A soluo hipertnica de cloreto de sdio a 7,5% (2400 mOsmll) utilizada em situaes emergenciais na recuperao volmica de pacientes em choque hipovolrnico, hemorrgico e sptico vem ganhando considervel espao na Medicina Veterinria nos ltimos anos (BERTONE et al., 1990; BERTONE, 1991; JEAN, 1998). Por se tratar de uma soluo hipertnica, seu mecanismo de ao envolve a passagem de fluidos do LI e Li para o Lp, aumentando, dessa forma o volume circulante (SCHMALL, 1997; JEAN, 1998; STEWART, 1998). Pesquisas realizadas em pacientes humanos e animais destacam entre os inmeros benefcios a melhoria do rendimento cardaco, da presso arterial, do fluxo plasmtico renal e a diminuio da resistncia vascular perifrica e pulmonar (VELASCO e SILVA, 1989; BERTONE et al., 1990). A soluo hipertnica de NaCI a 7,5% deve ser utilizada somente em situaes emergenciais nas quais se requer uma rpida expanso de volume circulatrio (BERTONE, 1991, 1998; JEAN, 1998). A rpida expanso volmica permite a manuteno temporria das funes orgnicas at que medidas ou aes definitivas sejam tomadas para interromper a causa primria do choque. Nesse contexto, vale dizer que seu uso questionvel em situaes de hemorragias graves que no possam ser controladas por meio das manobras usuais de hemostasia (BERTONE, 1991; JEAN, 1998). importante lembrar que seus efeitos so temporrios, com durao entre 90 a 120 minutos (SCHMALL, 1997), e que a continuidade da expanso volmica por meio de solues eletrolticas aps a administrao de NaCl a 7,5% condio indispensvel para a correo do desequilbrio circulatrio e hdrico (SPURLOCK e WARD, 1990; SCHMALL, 1992, 1997; BERTONE, 1998).

~UIV1IV1AK T

Fluid and electrolyte imbalances have been related to several disorders encountered in large animaIs. In order to correct such imbalances, a f1uid therapy plan including the fluid type, amount, route of administration and f10w rates must be set up. This article describes some aspects related to body water and electrolyte physiology, f1uid therapy indications and the f1uids commonly used in veterinary medicine. Key words: body water, dehydration, electrolytes, hydration, f1uids.

7

DEARO. A. C. O. Fluidolerapia em grandes animais. Parte I: gua corprea. indicaes c lipos de fluidos I F/uM therapy in /arge lmimll/s - Pllrt I: body M'ater. im/iclltions llnd jluid

rypes. I Rev. educo contiDo CRMV-SP I Continuous EducatioD Journal CRMV-SP. So Paulo. volume 4. fascculo 2. p. 3 - 8. 2001.

I.

BARTON, M. H.; MOORE, J. N. Fluid and electrolyte therapy. ln: COLAHAN, P. T; MAYHEW, I. G.; MERRITT, A. M. et aI. Equine medieine and surgery. 5. ed. St. Louis: Mosby, 1999. cap.4,p.146-152. BERTONE, J. J. Hypertonic saline in management ofshoek. In: REED, S. M.; BAYLY, W. M. Equine internai medieine. Philadelphia: W. B. Saunders, 1998. capo 4, p. 198-201. BERTONE, J. J. Hypertonic saline in the management of shoek in horses Compendium on Continuing Education for lhe Practieing Veterinarian, V. 13, n. 4, p. 665-668, 1991. BERTONE, J. J.; GOSSETT, K. A.; SHOEMAKER, K. E. el aI. Effect of hypertonic vs isotonic saJine on responses to sublethal Escherichia coli endotoxemia in horses. American Journal of Veterinary Research, v. 51, n. 7, p. 999-1007, 1990. CARLSON, G. P. The exhaUSled horse syndrome. In: ROBINSON, N. E. Current therapy in equine medieine. 2. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1987. capo 12, p. 482-485. ECKER, G. L. F1uid and ion regulation: a primer on water and ion losses during exercise. Equine Veterinary Education, v. 7, n. 4, p. 210-215,1995. FREESTONE, J. F. Fluid tberapy: an integral part of treating common equine disorders. Veterinary Medieine, V. 88, n. 6, p. 563-570, 1993. GEOR, R. J.; McCUTCHEON, L. J. Thermoregulation and clinicai disorders associated with exercise and heat stress. Com pendium on Continuing Education for the Practieing Vete rinarian, V. 18, n. 4, p. 436-445, 1996. GROSS, D. R. Drogas que atuam no equilbrio lquido e elelroltico. In: BOOTH, N. H.; MCDONALD, L. E. Farmacologia e teraputica em veterinria. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992. capo 8, p. 427-438.

14. MORRlS, D. D. MedicaI therapy of colic. ln: GOROON, B. J.; ALLEN JR., D. Field guide to colic management in the hor se. Lenexa: Veterinary Medicine, 1988. capo 12, p. 201-206. 15. MURRAY, M. J. Acute colitis. In: ROBlNSON, N. E. Current therapy in equine medieine. 3. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1992. capo 5, p. 244-250. 16. REECE, W. O. Body waler. In: oO. Physiology of domestic animaIs. Malvem: Lea & Febiger, 1991. p. 81 90. 17. ROSE, R. J. Fluid, electrolyte and acid-base disturbances assoeialed wilh exercise. ln: ROBINSON, N. E. Current therapy in equine medieine. 2. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1987. capo 12, p. 479-481. 18. ROSE, R. J. A physiological approach to fluid and electrolyte therapy in the horse. Equine Veterinary Journal, v. 13, n. I, p. 7-14,1981. 19. ROUSSELJR., A. J.; KASARl, T R. Using fluid and electrolyle therapy lo help diarrheic calves. Veterinary Medieine, v. 85, n. 3, p. 303-311,1990. 20. SEAHORN, T L.; CORNICK-SEAHOR ,J. Fluid therapy. The Veterinary Clnics of North America. Equine Practice, V. lO, n. 3, p. 517-525,1994. 21. SCHMALL, L. M. Fluid and eleclrolyle therapy. In: ROBINSON, N. E. Current therapy in equine medieine. 3. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1992. capo I, p. 18-22. 22. SCHMALL, L. M. Fluid and electrolyte lherapy. ln: ROBINSON, N. E. Current therapy in equine medieine. 4. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1997. capo 16, p. 727-731. 23. SPIER, S. J.; SNYDER,J. R.; MURRAY, M. J. Fluid andelectroIyle lherapy for gastrointeslinaJ disorders. In: SMITH, B. P. Large animal internai medieine. St. Louis: Mosby, 1990. capo 30, p. 708-715. 24. SPURLOCK, S. L.; FURR, M. Fluid lherapy. In: KOTERBA, A. M.; DRUMMONO, W. H.; KOSCH, P. C. Equine clinicai neonatology. Malvem: Lea & Febiger, 1990. capo 31, p. 671700. 25. SPURLOCK, S. L.; WARO, M. Y. Fluid therapy for acule abdominal disease. In: WHITE, N. A The Equine acute abdomen. MaJvem: Lea & Febiger, 1990. capo 6, p. 160-172. 26. STEWART, R. H. Considerations in fluid and eleclrolyte lherapy. In: REED, S. M.; BAYLY, W. M. Equine internai medieine. Philadelphia: W. B. Saunders, 1998. capo 4, p. 192-198. 27. VELASCO, I. T.; SILVA, M. R. Choque hipovolmico: ressuscilao hipertnica. Atualizao Cardiolgica, V. 5, n. 6, p. 3-9, 1989.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

9.

10. HARTSFlELD, S. M. Sodiurn bicarbonate and bicarbonale precursors for treatment of metabolic acidosis. Journal ofthe Ame rican Veterinary MedicaI Association, v. 179, n. 9, p. 914916,1981. 11. JEAN, K. Y. Clinicai hypenonic saline solutions. In: WHITE, N. A; MOORE, J. N. Current techniques in equine surgery and lameness. 2. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1998. capo 4, p. 15-19. 12. KEMP, D. TA comprehensive guide to intravenous fluid therapy in horses. Veterinary Medieine, v. 83, n. 2, p. 193-212, 1988. 13. MASON, T A. A praclicaJ approach lo fluid therapy in lhe horse. Australian Veterinary Journal, V. 48, n. 12, p. 671-676. 1972.

8