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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO BRASIL: PRODUÇÕES,
SENTIDOS E TRABALHO DOCENTE
Os trabalhos vinculados a este painel são resultados de pesquisas que compõe a
produção de dissertações e tese dos autores, alunos vinculados ao Programa de Pós-
Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e membros do
Grupo de Estudos e Pesquisas de Formação e Atuação de Professores/Pedagogos –
GEPFAPe/FE/UnB. Os pesquisadores têm suas produções vinculadas ao eixo de
pesquisa do grupo intitulado de formação continuada de professores. O objetivo do
painel é discutir a formação continuada de professores na educação básica abordando a
questão a partir de três diferentes objetos de pesquisa: as concepções de formação
continuada de professores nas dissertações e teses publicadas no Brasil a partir de
2003; a relação desta formação e o processo de constituição da profissão docente de
professores alfabetizadores e os sentidos da formação continuada para o docente e o
Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio – PNEM. O primeiro artigo
discute a formação continuada de professores da Educação básica por meio do
levantamento de pesquisas em teses e dissertações publicadas a partir de 2003 e a
maneira como estes trabalhos descrevem a concepção de formação continuada. O
segundo artigo apresenta um breve resumo da fundamentação histórico-social, as
relações e interações das esferas sociais e políticas referentes à formação continuada
de professores alfabetizadores na condição de compreender o processo de constituição
da profissão docente. O terceiro artigo busca desenhar os elementos centrais da
formação de professores proposta pelo PNEM, identificando as concepções de
formação continuada para os professores de Ensino Médio presentes nessa política
pública e revelando os sentidos elaborados pelos professores em relação a essa
formação continuada.
Palavras-chave: Formação Continuada. Concepções. Sentidos.
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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ALFABETIZADORES
E O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DA PROFISSÃO DOCENTE
Viviane Carrijo Volnei Pereira
Universidade de Brasília - UnB
RESUMO
Este trabalho é um recorte do projeto de pesquisa do Mestrado em Educação na
Universidade de Brasília que analisa as concepções de formação continuada
presentes na proposta do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa
(PNAIC). O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) surge
com o objetivo principal de garantir o direito de alfabetização plena a todas as
crianças até oito anos de idade, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental. A
formação continuada, um dos eixos do PNAIC é, conforme Portaria nº 867 de 04
de julho de 2012, presencial para todos os Professores Alfabetizadores do 1º, 2º e
3º anos, e também das classes multietapas e multisseriadas, e se dá em parceria
com a Rede de Universidades Públicas que atuam em parceria com o MEC, na
formação continuada de professores alfabetizadores pelo Pró-Letramento.
Seguindo a mesma tendência dos exames externos, como a Prova Brasil, Provinha
Brasil e Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA); essa formação continuada
prioriza o ensino de Língua Portuguesa e Matemática. Nesse sentido investigamos
quais as concepções estão subjacentes a essa formação continuada e, isto, porque
tomamos a concepção crítico-emancipadora como elemento articulador entre
teoria e prática; pois nela reside a possibilidade de ler a dialética da realidade,
podendo ser esta melhor revelada. Para tanto, este trabalho apresenta um breve
resumo dessa pesquisa, que se trata da fundamentação histórico-social; as relações
e interações das esferas sociais e políticas referentes à Formação Continuada de
professores alfabetizadores na condição de compreender o processo de
constituição da profissão docente.
Palavras-chave: profissão docente; formação continuada; práxis docente.
INTRODUÇÃO
A educação se constitui uma produção social e atua como difusora de
cultura, representações e visões do mundo, de diferentes grupos sociais em cada
período em que vai sendo construída como atividade humana. Compreender a
educação em seus diversos enfoques permite estabelecer relações com o que foi se
transformando na sociedade e com a própria estrutura educacional. Decorrente
dessas transformações sociais, o tema da formação continuada de professores tem
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sido marcado por um grande número de iniciativas e de pesquisas, que pretendem
trazer à tona ora o significado da expressão “formação continuada”, ora os limites
e possibilidades da formação continuada no processo de desenvolvimento
profissional.
As condições do trabalho pedagógico na escola pública, demandam
investimento público em políticas de profissionalização e formação continuada de
professores, de qualidade elevada, para a educação básica, adequada às demandas
contemporâneas da ciência, da cultura e do trabalho (ALARCÃO, 1996).
Destacamos a necessidade de uma política global de formação e
valorização dos profissionais da educação que contemple de forma articulada e
prioritária a formação inicial, continuada e condições de trabalho, salários e
carreira, com a concepção sócio-histórica do educador a orientá-la na constituição
da profissão docente. No entanto, as ações do Ministério da Educação (MEC)
mobilizaram desde o final da década de 1990, diferentes políticas de formação
continuada docente se pautando pela continuidade de programas de caráter
continuado e compensatório; destinados à formação de professores alfabetizadores
em exercício a distância, em cooperação com os sistemas de ensino. Situam-se,
nessa perspectiva, os programas vinculados à Rede Nacional de Formação
Continuada de Professores, na qual se inserem os Centros de Pesquisa e
Desenvolvimento da Educação.
Recentemente, um programa de maior abrangência relacionada à
formação continuada de professores alfabetizadores foi implantado no Brasil. É o
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), uma política pública
estruturada em quatro eixos: formação continuada de professores alfabetizadores;
materiais didáticos e literatura; avaliação; gestão, controle e mobilização social.
Então, para compreender melhor os elementos constitutivos da
formação continuada de professores alfabetizadores será necessário explorar fatos
da realidade e entender sua fundamentação histórico-social; além das relações e
interações das esferas sociais e políticas que articuladas à educação e à totalidade
social, interferem e consolidam o processo de formação docente.
POLÍTICAS PÚBLICAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE
PROFESSORES ALFABETIZADORES
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Segundo Mortatti (2011) a alfabetização escolar é um processo
complexo e multifacetado que envolve ações especificamente humanas e,
portanto, políticas, caracterizando-se como dever do Estado e direito
constitucional do cidadão. Especialmente no início da década de 1980, algumas
constatações indicaram a necessidade de pensar em políticas públicas,
manifestando dialeticamente as relações entre teoria e ação do Estado no que se
refere ao atendimento às necessidades básicas sociais, como direito do cidadão e
direito dos profissionais da educação à formação continuada.
Com a implantação das políticas públicas neoliberais no cenário da
formação docente no Brasil, principalmente a partir de 1990, a tônica da formação
continuada dos professores assumiu novos conceitos, ideias e valores; incluindo a
responsabilização individual pela própria formação, a autoavaliação, a
polivalência, flexibilidade e reflexão sobre suas práticas e sobre as práticas
escolares, tudo como conjunto de habilidades e competências necessárias ao
trabalho docente. Segundo Oliveira (2012) o caráter de formação compensatória,
destinado a preencher lacunas da formação inicial, aliado à necessidade de
garantir a implementação das reformas educativas dos anos de 1990, estimulou
fortemente o desenvolvimento de programas de formação continuada em serviço.
No início do século XXI, observamos a construção de um novo perfil
do professor adequado aos novos tempos, envolvendo desde a formação inicial e
continuada aos salários e condições de trabalho e a necessidade de
profissionalização docente. A partir da criação da Rede Nacional de Formação
Continuada de Professores da Educação Básica em 2004 pelo Ministério da
Educação (MEC), com a finalidade de contribuir com a qualidade do ensino e
para o desenvolvimento e oferta de programas de formação continuada;
percebemos a elaboração de materiais didáticos destinados aos professores em
serviço, além de ações de formação em parceria com as Instituições de Ensino
Superior (IES), nas quais se inserem os Centros de Pesquisa e Desenvolvimento
da Educação, e os Estados e Municípios.
A respeito desses programas de formação continuada estabelecidos
pela Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica
destacamos: o Pró-Formação (1997-2004) direcionado à formação continuada de
professores de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental; o Programa de Formação de
Professores Alfabetizadores (PROFA-2001), o Pró-Infantil (2005) dirigido à
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formação continuada dos professores de educação infantil e o Pró-Letramento
(2008-2012) desenvolvido em parceria com os sistemas de ensino e com as
universidades da Rede de Formação Continuada e Desenvolvimento da Educação,
constituindo-se como um programa de formação continuada de professores dos
anos iniciais do Ensino Fundamental centrado em alfabetização e matemática.
Esses programas de formação continuada de professores, fomentados
por essas parcerias com os sistemas de ensino, na maioria das vezes, resultaram
em ações descontinuadas das práticas, contrapondo à ideia da formação como um
processo que se realiza num movimento dialético, de idas e vindas, em que o
professor se constrói e reconstrói como pessoa e como profissional, a partir de
uma dinâmica que tem a ver com um processo de “vir a ser” do sujeito e não a
partir de um tipo ideal de professor, que normalmente é projetado separadamente
das condições objetivas de realização do trabalho docente.
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) foi
implantado em julho de 2012 com o objetivo principal de garantir o direito de
alfabetização plena a todas as crianças até oito anos de idade, ao final do 3º ano do
Ensino Fundamental; reafirmando o que propõe o plano de metas Compromisso
Todos pela Educação, previsto no Decreto 6.094/2007, especificamente no tocante
ao inciso II do art. 2º; ou seja, responsabilidade dos entes governamentais de
“alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade, aferindo os
resultados por exame periódico específico”.
Todo o sistema político de decretos, leis, portarias e acordos
estabelecido pelo Governo através do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Certa retrata o ideário neoliberal de parceria entre o Estado e a educação. O
Estado neoliberal apossa-se do processo de formação de professores, tendo em
vista a importância política e a influência do mesmo no contexto social do país.
Com o objetivo de assegurar a hegemonia de suas concepções o Estado neoliberal
propõe uma formação de professores numa perspectiva tecnicista, tendo a técnica
como definidora das relações sociais e educacionais; desconsiderando a
autonomia docente no espaço pedagógico, a intencionalidade do ato educativo e a
valorização do trabalho docente como princípio ontológico do homem e
constituição humana.
Nessa perspectiva, percebemos um processo que exige a disposição da
sociedade civil para trabalhar em parceria com o Estado, o incentivo para a
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resolução de seus próprios problemas, e até mesmo, um pacto com o objetivo
principal de garantir o direito de alfabetização plena a todas as crianças até oito
anos de idade. A nova gestão pública apresenta-se, geralmente, como
politicamente neutra. No campo da educação, desde os sistemas centrais até à
escola, passam a ser adotadas diretrizes gerenciais na condução dos serviços
educacionais. A gestão baseada nos resultados e nos indicadores de desempenho
constitui-se em fator crucial da modernização da gestão educativa. Esse novo
desenho de gestão das políticas públicas educacionais traz a regulação e a ação
pública como elementos nos programas, estabelecendo a formulação dos mesmos
no nível central e a descentralização na implantação ou execução local.
Nesse contexto, a formação continuada de professores possui um
caráter compensatório, técnico e de responsabilização. O professor reflete sobre
sua prática e retorna novamente à pratica, numa busca constante de tentar reslover
os problemas de sua sala de aula. A formação continuada passa a ser pensada no
formato escolar, trazendo, na maioria das vezes, a desvalorização dos saberes
experienciais, a dissociação entre tempos e espaços de formação e trabalho e a
desarticulação entre os projetos formativos das instituições de formação;
integrando a formação como instrumento de gestão estratégica e de
desenvolvimento organizacional.
A partir de uma análise da realidade brasileira no final do século XX e
início do século XXI, é possível verificar que as relações sociais capitalistas
foram mantidas, e até mesmo se intensificaram; e que consolidaram uma nova
pedagogia da hegemonia política e social. Essa nova pedagogia da hegemonia
materializou-se com ações efetivas na aparelhagem do Estado, configurando uma
nova dimensão educativa do Estado capitalista. Sua principal característica é
assegurar que o exercício da dominação de classe seja viabilizado por meio de
processos educativos positivos. Surge, assim, a figura da sociedade civil e de cada
cidadão como responsáveis pela mudança da política e pela definição de formas
alternativas de ação social.
Organismos internacionais como o Banco Mundial (BM), o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BIRD), a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (Unesco), entre outros, realizaram estudos e pesquisas e fizeram
diagnósticos, previsões e propostas de reorganização da educação básica e da
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formação de professores nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, que
aderiu prontamente às propostas.
A formação continuada centrou-se na reflexão dos professores sobre
suas práticas e sobre as práticas escolares, tanto do ponto de vista epistemológico
quanto político; numa concepção de formação em que a capacitação deverá se
realizar, preferencialmente em serviço, com o mínimo de intervenções externas.
Assim, a formação passa a desenvolver-se preferencialmente no âmbito da
instituição escolar, na qual o profissional exerce suas atividades, envolvendo todo
o corpo docente e, por vezes, membros da equipe e da comunidade escolar.
A atividade prática, portanto, passou a ser o principal eixo da
formação docente, tendo como lócus central a experiência, o exercício prático.
Podemos inferir que este formato se alinha com os objetivos estabelecidos pelas
políticas públicas neoliberais, intensificando uma visão pragmatista da formação
deste profissional. É necessário, pois, refletir acerca desta cultura constituída em
torno do professor reflexivo/pesquisador no processo de formação docente, na
qual cria uma falsa promessa de transformação ao propagar que o professor,
refletindo sobre sua prática, melhorará suas ações pedagógicas e,
consequentemente, a qualidade do ensino.
Neste sentido é que Silva (2008), ao reconhecer esta proposta de
formar o prático reflexivo nos documentos legais que embasam a formação
docente no Brasil, alerta “sobre o cuidado necessário ao assumir este ideário,
principalmente para a profissionalização docente, uma vez que se coloca a ênfase
no sucesso ou no fracasso na responsabilização do professor. Entendemos que este
praticismo acaba por esvaziar a função do professor formador que, nesta ótica,
teria como tarefa mediar, orientar ou apenas facilitar o conhecimento. No processo
de formação, o professor não só modifica sua prática, mas recupera seu status
profissional e político quando revê e fundamenta a sua própria qualificação e, em
um contexto coletivo, toma decisões sobre sua prática pedagógica.
Diante disso, pensar a formação continuada de professores e a atuação
docente numa concepção crítico-emancipadora e autônoma se faz necessário. O
conhecimento e a autonomia permitem a articulação teoria e prática, ou seja, a
práxis docente. A pesquisa e a reflexão da prática profissional do professor são
elementos que podem articular teoria e prática mediadas pelo trabalho e pela
práxis, permitindo o docente compreender a realidade em um todo (VASQUEZ,
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1968). Quanto à formação dos professores nessa perspectiva, pode-se afirmar que
assim como o aluno constrói o conhecimento, o mesmo acontece com o professor.
Os professores devem passar por experiências de aprendizagem para confrontar
suas experiências particulares, suas crenças tradicionais, seus conhecimentos
sobre o desenvolvimento psicológico das crianças.
É compartilhando suas experiências com outros educadores que os
professores podem questionar, refletir e construir a prática pedagógica nos moldes
desenvolvimentalistas (SILVA, 2008). O professor precisa pensar sobre sua
própria prática, pesquisar. A função docente é vista como exercício profissional e
também humano, social. A pesquisa possibilita a práxis, unidade teoria e prática, e
permite os professores ressignificarem sua atuação docente, produzindo
conhecimentos sobre seu trabalho.
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ALFABETIZADORES
E A CONSTITUIÇÃO DA PROFISSÃO DOCENTE
O contexto educacional brasileiro sofreu, nas últimas décadas, fortes
influências de uma concepção de formação continuada baseada numa lógica de
reciclagem, treinamento, aperfeiçoamento e atualização dos conhecimentos do
professor alfabetizador, as quais se cristalizaram numa prática formativa, cuja
característica repousa no seu caráter instrumental. Assim, é verdade que tais
práticas primaram pelo excesso de ações formais que se estruturam em torno dos
conteúdos curriculares e de novas técnicas de ensino.
Nesse contexto, partindo da necessidade de assegurar que todas as
crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do
Ensino Fundamental; o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa
(PNAIC) estabelece uma formação continuada presencial de professores
alfabetizadores e seus orientadores de estudo com encaminhamentos
metodológicos de discussão sobre a alfabetização, na perspectiva do letramento,
no que tange o ensino de Língua materna e da Matemática e princípios que
orientam essa formação docente:
1 - A prática da reflexividade: pautada na ação prática/teoria/prática,
operacionalizada na análise de práticas de salas de aulas, aliadas a reflexão teórica
e reelaboração das práticas.
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2 – A socialização: operacionalizada na criação e fortalecimento de grupos de
estudo durante as formações que, espera-se, transcenda o momento presencial,
diminuindo o isolamento profissional, intrínseco à profissão de professor.
3 – O engajamento: privilegiar o gosto em continuar a aprender é uma das metas
primordiais da formação continuada e certamente faz parte da melhoria de atuação
em qualquer profissão.
4 – A colaboração: para além da socialização, trata-se de um elemento
fundamental no processo de formação. Por meio da colaboração, busca-se a
formação de uma rede que visa ao aprendizado coletivo, por meio do qual, os
professores exercitem a participação, o respeito, a propriação e o pertencimento.
5 – A constituição da identidade profissional: efetivada em momentos de
reflexão sobre as memórias do professor enquanto sujeito de um processo mais
amplo, procurando auxiliá-lo a perceber-se em constante processo de formação.
Evidencia-se, então, nessa política de formação continuada, a
importância da reflexão docente, pautando-se na concepção da epistemologia da
prática; sinalizando a necessidade da constituição da identidade profissional, mas
que ainda não traz uma concepção de construção indissociável de teoria e prática
na práxis. O professor alfabetizador é inserido numa política pública de formação
continuada, tendo em vista a necessidade de todas as crianças estarem
alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do Ciclo de Alfabetização; e que a
reflexão sobre sua prática, aliada à troca de experiências poderá ser a solução para
seus problemas em sala de aula.
Essa ideia pode contribuir para a precarização do trabalho docente,
pois enfatiza a questão da reflexão presa à ação profissional entendida
simplesmente como a competência do saber fazer cotidiano, apenas numa
perspectiva de auto-reflexão sobre o fazer do profissional. Reafirmamos assim, a
necessidade de uma concepção de formação continuada numa perspectiva crítico-
emancipadora, que procura construir a indissociabilidade de teoria e prática na
práxis; permitindo que através da pesquisa o professor possa ressignificar sua
atuação docente, produzindo conhecimentos sobre seu trabalho.
Concebemos a formação continuada como um processo de preparação
intelectual, técnica e política que pretende responder às demandas e aos desafios
presentes na realidade social. O exercício da atividade docente requer uma
formação intencional de caráter integral, que dê conta das tarefas do processo de
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ensino-aprendizagem circunscrito em contextos escolares, permeados por
contradições, tensões e conflitos.
Segundo Santos (2010), a formação continuada ao constituir-se como
uma ferramenta necessária ao processo de profissionalização do professor, é parte
de um processo inacabado, de permanente elaboração e reelaboração do trabalho
pedagógico. Assim, ela torna-se imperiosa, principalmente quando a ação tem
como horizonte a construção de práticas educativas propositivas.
Nesse contexto, partimos do entendimento de que a formação
continuada é parte constituinte do exercício profissional do professor. Ela emerge
como uma necessidade do trabalho docente, por isso ela é concebida como
processo permanente, contínuo, que ocorre durante toda a carreira profissional,
desde a formação inicial até a formação continuada (desenvolvimento
profissional). Enfim, a formação continuada é um processo histórico e inacabado,
vinculado às questões da profissão docente e da educação como prática social.
Evidencia-se também a importância da formação na construção da
profissão docente e para qualificar o trabalho pedagógico; possibilitando a busca,
a pesquisa, a ampliação e a apropriação de novos conhecimentos. No que diz
respeito à formação continuada, o que se espera e o que se deseja dela é a
conjugação de aspectos teóricos-práticos, que favoreçam uma sólida formação
teórica, a reflexão crítica, na valorização da escola como espaço de pesquisa e
formação e na valorização dos professores como sujeitos produtores do saber.
A formação continuada, compreendida como possibilidade de
desenvolvimento pessoal e profissional, requer a superação de práticas formativas
que apresentam características eminentemente prescritivas, normativas e pontuais,
desprovidas de uma reflexão crítica sobre o ato pedagógico em sua totalidade. A
formação continuada de professores numa concepção crítico-emancipadora
possibilita a práxis docente, oportunizando ao professor condições para ele
teorizar sobre a prática, pois, nesse processo de teorização, ele realiza um esforço
cognoscitivo que o ajuda a descobrir a prática pedagógica inserida num contexto
mais amplo. Por outro lado, essa apropriação da realidade, que se efetiva por meio
da relação teoria-prática, propicia determinadas aprendizagens que ajudam o
professor a transformar o seu objeto de trabalho.
Nesse contexto, a formação continuada assume uma ação humana
emancipatória e transformadora que ocorre para a construção de novas
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possibilidades de ser da educação e da profissão docente. A práxis docente, o
voltar na teoria a partir da prática, possibilita o conhecimento, a síntese e a crítica;
e a pesquisa como forma de superar o senso comum e avançar na sistematização
dele. Extrapolando a perspectiva do modelo e do senso comum, o espaço de
coordenação pedagógica pode se transformar em pesquisa na tentativa de analisar
alguns problemas da escola.
Segundo Silva (2008) a pesquisa é vista como uma atitude
investigativa que inclui a predisposição para examinar a própria prática docente de
uma forma crítica e sistemática, ou seja, a disposição questionante e a manutenção
do estado de dúvida. Nessa forma de investigar a realidade, a primazia é do sujeito
sobre o objeto, e é o sujeito que conhece e cria a realidade.
A formação continuada numa concepção crítico-emancipadora
permite uma (re)construção de uma outra epistemologia, capaz de revelar o
contexto criado pelas políticas públicas neoliberais na formação de professores;
ou seja, uma tentativa de superar uma visão pragmatista no processo de
profissionalização docente, de um retorno ao tecnicismo e de continuidade da
exploração do trabalho do professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação continuada de professores, compreendida enquanto
política pública de educação, prática e discurso pedagógicos, é uma ação social
recente e em ascensão no Brasil. A pesquisa educacional sobre a formação de
professores também possibilitou o crescente interesse pelo estudo, reflexão e
relação entre a formação continuada e a constituição da profissão docente.
Segundo Santos (2010), a formação continuada ao constituir-se como
uma ferramenta necessária ao processo de profissionalização do professor, é parte
de um processo inacabado, de permanente elaboração e reelaboração do trabalho
pedagógico. Assim, ela torna-se imperiosa, principalmente quando a ação tem
como horizonte a construção de práticas educativas propositivas.
Nesse contexto, partimos do entendimento de que a formação
continuada é parte constituinte do exercício profissional do professor. Ela emerge
como uma necessidade do trabalho docente, por isso ela é concebida como
processo permanente, contínuo, que ocorre durante toda a carreira profissional,
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desde a formação inicial até a formação continuada (desenvolvimento
profissional). Enfim, a formação continuada é um processo histórico e inacabado,
vinculado às questões da profissão docente e da educação como prática social.
Porém, se a formação se mantém afastada da situação de trabalho, das
condições pedagógicas da escola e do contexto histórico e cultural do professor,
não temos uma formação docente transformadora; mas sim, uma formação que
reproduz um sistema de ações que objetiva a resolução de problemas imediatos da
escola, buscando sempre a hegemonia e o bem estar político e social.
Com base nessas questões e no debate acerca dos modelos teóricos
que orientam a formação continuada, reafirmamos a necessidade da mesma ser
compreendida como uma atividade crítico-reflexiva-emancipadora e de natureza
teórico-prática que concerne para o desenvolvimento pessoal e profissional do
professor. A práxis transformadora, quando documentada, permite a renovação de
conhecimento profissional prático; pois são, em grande medida, os projetos e as
situações participativas de trabalho que proporcionam as oportunidades de
formação. A formação docente numa concepção crítico-emancipadora
corresponde a práticas formativas que se articulam com os contextos vivenciais,
pessoais, profissionais, pedagógicos, organizacionais e comunitários dos atores
educativos. Os professores são considerados sujeitos e não apenas objetos da
formação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALARCÃO, Isabel. Formação reflexiva de professores: estratégias de
supervisão. Lisboa: Porto Editora, 1996.
_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: formação de professores no
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Brasília: MEC/SEB, 2012.
MELO, Adriana Almeida Sales de Melo. A mundialização da educação.
Consolidação do projeto neoliberal na América Latina – Brasil e Venezuela. Maceió: Edufal, 2004.
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. (Org.) Alfabetização no Brasil: uma
história de sua história. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.
SANTOS, Edlamar Oliveira dos. A Formação continuada na rede de ensino do
Recife: concepções e práticas de uma política em construção. Recife: PPGE
UFP, 2010.
SILVA, Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da. Professores com formação
stricto sensu e o desenvolvimento da pesquisa na educação básica da rede
pública de Goiânia: realidade, entraves e possibilidades. 2008. 292f. Tese de
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doutorado (Programa de Pós-Graduação em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2008.
________ . A formação de professores na perspectiva crítico-emancipadora.
Revista Linhas Críticas-Faculdade de Educação da UnB, v.17, nº32, 2011.
VASQUEZ, Adolfo Sanches. Filosofia da Práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1968.
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SENTIDOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA O DOCENTE: O PACTO
NACIONAL PELO FORTALECIMENTO DO ENSINO MÉDIO/PNEM
Alessandra Tomaz
Universidade de Brasília - UnB
RESUMO
Este estudo propõe compreender os sentidos da formação continuada do Pacto Nacional
pelo Fortalecimento do Ensino Médio/PNEM atribuídos pelos professores da Secretaria
de Educação do Distrito Federal/SEEDF que participaram dessa formação no ano de
2014. O PNEM foi uma das medidas políticas e pedagógicas que o Governo do Distrito
Federal implantou em 2014, na tentativa de mudar o atual quadro do Ensino Médio no
Distrito Federal diante das estatísticas, tais como as altas taxas de reprovação e evasão
escolar e baixos resultados demonstrados por meio do Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB). O Pacto foi regulamentado pela Portaria Ministerial Nº 1.140,
de 22 de novembro de 2013, e por meio dele, o Ministério da Educação e as secretarias
estaduais e distritais de educação, assumem o compromisso pela valorização da
formação continuada dos professores e coordenadores pedagógicos que atuam no ensino
médio público, nas áreas rurais e urbanas. Na busca pela compreensão dos sentidos que
os professores atribuíram a essa formação continuada, a pesquisa busca desenhar os
elementos centrais da formação de professores proposta pelo PNEM; identificando as
concepções de formação continuada para os professores de Ensino Médio presentes
nessa política pública e revelando os sentidos elaborados pelos professores em relação a
essa formação continuada. Para isso, a proposta metodológica da pesquisa se
fundamenta no materialismo histórico e dialético para analisar essa política pública de
formação continuada para os professores de Ensino Médio no intuito de identificar os
elementos centrais que fundamentam a formação continuada do Pacto, reconhecendo a
ciência como um processo da história e da ação humana e nesse movimento elencar
algumas categorias metodológicas de análise que constituem e fundamentam o trabalho
docente.
Palavras-chave: Formação continuada; PNEM, sentidos.
INTRODUÇÃO
Esse projeto teve origem a partir das experiências como professora do
Ensino Médio durante 23 anos na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
(SEEDF), como coordenadora pedagógica nos últimos 05 anos e orientadora de estudos
do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio.
A formação continuada docente sempre despertou em mim interesse e
algumas inquietações que foram acentuadas quando comecei atuar como coordenadora
pedagógica nessa modalidade de ensino. Essas inquietações me fizeram buscar o espaço
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acadêmico para poder compreender a formação continuada de professores e conseguir
desenvolver a desafiadora função de coordenadora pedagógica. Nessa busca comecei a
participar do Grupo de Estudos e Pesquisas para atuação e formação de professores e
pedagogos/GEPFAPe que desenvolve estudos sistemáticos acerca da formação e
atuação dos professores, envolvendo a investigação das múltiplas determinações e
contradições na implementação das políticas de formação e valorização, no processo do
desenvolvimento docente e no exercício da profissão, com uma abordagem sócio-
histórico-dialética, esse momento foi o fio condutor para ampliar o meu olhar sobre a
formação continuada, o que me levou a pensar e desenvolver esse estudo.
O Ensino Médio no DF tem sido pauta de debates e agendas em diferentes
espaços sociais, principalmente diante de dados estatísticos como as altas taxas de
reprovação e evasão escolar e baixos resultados demonstrados por meio do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). A reorganização do tempo/espaço
proposta pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, a discussão do Currículo em
Movimento e o Pacto Nacional para o Fortalecimento do Ensino Médio (PNEM)
surgem na tentativa de mudar esse cenário.
Nesse sentido, as políticas públicas propõem a necessidade de redefinição
do trabalho docente para atender às propostas educacionais e a lógica do mercado, que
no caso do Ensino Médio, estão centradas na necessidade de mudar o ensino acadêmico,
e caminhar em direção ao desenvolvimento de habilidades e competências nos alunos
que os ajudem a desenvolver a sua cidadania de forma crítica e a prepará-los para o
mercado de trabalho na ótica do capitalismo.
Assim, as políticas públicas de formação continuada que se concretizam
em programas de formação, como é o caso do PNEM, que tem como eixo norteador a
formação continuada para o professor que atua no Ensino Médio. A formação
continuada no trabalho docente é um tema de grande relevância dentro do contexto da
educação, pois o professor tem sido um dos grandes sujeitos do processo de
aprendizagem. O que precisamos pensar e discutir são os pilares que norteiam as
concepções de formação docente continuada que as políticas públicas contemplam, e
compreender os sentidos que essa formação tem para o professor.
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO ENSINO MÉDIO
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
7109ISSN 2177-336X
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O Ensino Médio passou por várias transformações nas últimas décadas
desde a implementação da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional – Lei Nº
9.394/1996 (LDB) que, garante ao aluno do ensino médio uma formação de caráter
geral, com a finalidade de aprimoramento do/a estudante como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico bem como a preparação básica para o trabalho e a cidadania. Nessa
perspectiva houve uma separação entre o ensino técnico e o ensino médio. Assim, o
ensino médio compõe a Educação Básica, sendo sua etapa final tornando-se mais
acessível. Esse cenário traduz a realidade de um ensino médio disponível para muitos,
mas com um alto índice de evasão e reprovação escolar que nos leva a refletir sobre o
quê e como estamos ensinando nas escolas, uma vez que a diversidade sociocultural
permeia o ambiente escolar.
O Ensino Médio no contexto histórico brasileiro é marcado por um espaço
de desigualdades sociais e contradições que no campo político e econômico sinalizam o
projeto hegemônico que direcionam as políticas de Educação no Brasil, com uma forte
influência dos organismos internacionais, que orientam a Educação às demandas do
mercado de trabalho. Uma das grandes contradições que marcam o contexto do Ensino
Médio no Brasil se dá na dualidade da formação técnica, geralmente destinada a
população de baixa renda ou classe operária, e a formação humana integral, onde os
aspectos científicos, tecnológicos, humanísticos e culturais estejam presentes e
integrados.
Essa disputa política e ideológica tem promovido em alguns momentos
avanços e em outros momentos retrocessos na construção de um Ensino Médio que
promova uma formação humana integral com vistas à emancipação humana, pautada
pelas transformações sociais, políticas e culturais que fundamentam uma sociedade
igualitária. Essa concepção de ser humano é contrária a toda a lógica do capital, e
representa um grande desafio.
Na perspectiva de melhorar a qualidade do Ensino Médio, a SEDF assinou
em 2014 o Pacto Nacional para o fortalecimento do Ensino Médio/PNEM, que têm
como pilar central a formação continuada dos professores que trabalham diretamente
com essa modalidade de ensino. O PNEM é um acordo por meio do qual o Ministério
da Educação (MEC) e as secretarias de estado de educação assumem o compromisso
com a valorização da formação continuada dos professores e coordenadores
pedagógicos que atuam no ensino médio público, com o propósito de realizar uma
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
7110ISSN 2177-336X
17
ampla reflexão sobre várias temáticas que são presentes no contexto dessa modalidade
de ensino, com destaque para os “Sujeitos do Ensino Médio e Formação Humana
Integral”, em conformidade com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino
Médio/DCNEM e com a nova proposta curricular do DF.
O Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio foi regulamentado
pela Portaria Ministerial Nº 1.140, de 22 de novembro de 2013. Através dele, o
Ministério da Educação e as secretarias estaduais e distrital de educação, assumem o
compromisso pela valorização da formação continuada dos professores e coordenadores
pedagógicos que atuam no ensino médio público, nas áreas rurais e urbanas.
De acordo com o MEC, a formação continuada no contexto do Pacto
Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, expressa as discussões realizadas nos
últimos anos pelo Ministério da Educação - MEC, Secretarias de Estado da Educação,
Conselho Nacional dos Secretários Estaduais da Educação (CONSED), Universidades,
Conselho Nacional de Educação e Movimentos Sociais, assim como as intensas
discussões realizadas no Fórum de Coordenadores Estaduais do Ensino Médio. Assim,
ele é constituído principalmente pela articulação de ações existentes do MEC,
Universidades Públicas e Secretarias de Educação estaduais, e de novas proposições de
ações que passam a constituir-se num conjunto orgânico e definidor da política para o
Ensino Médio brasileiro.
A formação do pacto tem na sua formulação alguns objetivos definidos,
como: promover melhoria da qualidade do Ensino Médio; ampliar os espaços de
formação de todos os profissionais envolvidos nesta etapa da educação básica;
desencadear um movimento de reflexão sobre as práticas curriculares que se
desenvolvem nas escolas; e, fomentar o desenvolvimento de práticas educativas efetivas
com foco na formação humana integral, conforme é apontado nas Diretrizes
Curriculares Nacionais;
De acordo com os novos direcionamentos das políticas públicas é preciso
redefinir os objetivos e atribuições do Ensino Médio numa perspectiva de uma
Formação Humana Integral, que seja capaz de propiciar ao aluno a compreensão da vida
social, dialogando com a evolução técnica-científica, dentro de um contexto histórico e
das relações de trabalho.
No caso do Distrito Federal, a execução do Pacto conta com a parceria da
Universidade de Brasília (UNB) e da Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da
Educação (Eape). A formação será oferecida para os professores e coordenadores
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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pedagógicos das escolas regulares de Ensino Médio e do 3º segmento da Educação de
Jovens e Adultos (EJA), mobilizando 107 escolas das 14 regionais de ensino, com cerca
de 40 professores-formadores (professores da EAPE), 200 orientadores de estudo (que
são os coordenadores das escolas) e aproximadamente 5.000 professores da SEDF.
A formação se dá no formato de multiplicadores, no mesmo formato do
curso Currículo em Movimento, onde os coordenadores das escolas recebem a formação
pelos professores da EAPE, que por sua vez recebem a formação pelos professores da
Faculdade de Educação da UNB e posteriormente, são responsáveis por transmitir à
formação dentro das escolas junto aos professores nos horários destinados a
coordenação pedagógica, o diferencial está nas horas indiretas do curso que acontecerão
em ambiente virtual, por meio da realização de atividades e postagens em fóruns, na
plataforma MOODLE/Modular Object-Oriented environment (Objeto Orientado para
Ambiente Dinâmico de Aprendizagem Modular) da Universidade de Brasília.
O que se observa em âmbito nacional e, inclusive no Distrito Federal (DF) é
que a partir dos baixos índices no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) o governo vem estabelecendo políticas educacionais com intuito de melhorar
esses índices e vê na formação continuada docente um dos pilares centrais dessas
políticas. De acordo com o Caderno I/ PNEM:
Para avançar nessa travessia, é fundamental o seu envolvimento nesse
processo, lutando pela melhoria das condições de trabalho, incluindo
remuneração e carreira e, ao mesmo tempo, apropriando-se criticamente dos
conteúdos das novas DCNEM para que, juntamente com os colegas
professores, seja possível contribuir coletivamente para a sua materialização
no chão da escola (BRASIL, 2013. p.39).
Podemos citar como uma dessas políticas o PNEM que tem com eixos
norteadores da formação continuada docente: a escola como o lócus para a formação
continuada; a perspectiva do professor como sujeito epistêmico; e a reflexão articulada à
fundamentação teórica e à prática docente.
No primeiro eixo, a escola como o espaço de atuação do professor, seria o
lugar mais apropriado para ele pensar, refletir e oportunizar mudanças na sua prática
pedagógica por meio de uma reflexão com os seus pares para consolidarem saberes, que
promovam mudanças na realidade da escola em que estão inseridos. No DF, o PNEM
resgata os horários de coordenações, muitas vezes utilizado somente para correção de
avaliações, preenchimento de diários, planejamento das aulas, reuniões de cunho
administrativo e burocrático, como momentos de estudos que promovem conhecimentos
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
7112ISSN 2177-336X
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teóricos por meio da discussão de temáticas pertinentes ao universo das escolas públicas
de Ensino Médio.
O que o PNEM traz como concepção metodológica é promover uma
reflexão sobre a prática dialogando com a escola, no intuito de favorecer princípios e
diretrizes para a organização do trabalho pedagógico. E dentro dessa perspectiva cabe
destacar
O espaço escolar, como lócus de formação, realiza-se como tal, se um
conjunto de iniciativas for tomado como o objetivo de fazê-lo existir. A sua
existência é, em potencial, mas não se faz por si própria, depende, no
mínimo, da vontade de se constituir um ambiente que privilegie a discussão
ampla, a troca de ideias expressas nas falas e nas ações dos sujeitos que há
compõem, na liberdade de propor e poder decidir. A escola, com espaço de
produção das práticas, assume importância significativa na formação
continuada, daí a necessidade de recuperá-la como espaço pedagógico
formador e fortalecê-la internamente. Por outro lado, essa ênfase na escola
implica a construção de uma cultura institucional e condições de trabalho
docente que favoreçam o desenvolvimento da formação continuada e do
trabalho coletivo (SANTOS, 2010, p.76).
O PNEM, o eixo do professor como sujeito epistêmico, vem na perspectiva
de elaborar e produzir conhecimentos com base na compreensão da realidade e nas
possibilidades de transformação da sociedade. Com esse olhar o processo formativo
dos professores e coordenadores pedagógicos do Ensino Médio estiveram voltados para
o desenvolvimento da temática "Sujeitos do Ensino Médio e formação Humana
Integral", que orientou a discussão e o trabalho em todas as etapas do curso.
Em relação ao eixo que relaciona a prática, o curso privilegia a articulação
entre teoria e a prática no processo de formação docente, fundado no domínio de
conhecimentos científicos e didáticos. Tem como objetivo principal o aperfeiçoamento
dos professores e coordenadores pedagógicos que atuam no Ensino Médio com vistas à
valorização da formação do professor.
Há que considerar os saberes e conhecimentos que essas políticas entendem
como significativos para que o professor realize seu trabalho efetivamente e com
“qualidade”, pois cada vez mais o trabalho docente vem se equiparando ao modelo de
produção industrial e o professor vai perdendo sua autonomia, seu prestígio social e
controle sobre seu próprio trabalho, no qual busca atender as demandas do mercado
capitalista.
A partir da política para o ensino médio centrada na formação do professor e
diante de uma realidade tão diversificada e muitas vezes complexa que os professores se
encontram no ambiente escolar e da importância de seu papel para um processo de
0 20 40 60 80 100 120 140
Norte
Centro Oeste
Sul
Publicação por região brasileira
Produção por região brasileira
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aprendizagem significativo e que construa a formação de um cidadão consciente e
crítico, devemos proporcionar a esse profissional, condições necessárias para que ele
desenvolva seu trabalho de forma eficaz e para isso, se faz necessário à formação
continuada de professores. Portanto, questionam-se quais são os sentidos elaborados
pelos professores da SEEDF em relação à formação continuada do PNEM?
Na ótica de uma nova sociabilidade, as políticas públicas para a formação de
professores são muito propositalmente fragmentadas no Brasil e acabam sendo
motivadas por avaliação dos sistemas educacionais, cujos programas propostos acabam
delegando ao professor mudar a realidade dos “fracassos” na educação. Mas para uma
melhor compreensão e análise da gênese dessas políticas, se faz necessário apontar e
analisar algumas mudanças ou reorganizações do aparelho estatal que ocorreram nas
últimas décadas, no cenário mundial para atender a lógica do capital, pois essas
mudanças vão inferir direta ou indiretamente nas formulações das políticas públicas.
Segundo Castro (2007) um novo modelo de organização e gerenciamento de
gestão pública vem surgindo nas últimas décadas, esse modelo tem como referencial o
setor privado, seguindo orientações homogeneizadas de organismos internacionais, e
que vem se consolidando no âmbito da educação. Os princípios de gestão estratégica e
de controle de qualidade que são orientados para a racionalização, a eficiência e a
eficácia, que representam as estratégias de mercado no mundo capitalista, ganham força
na reestruturação do Estado, no mundo todo e vão direcionar as políticas públicas.
Para compreendermos melhor a gestão das políticas educacionais no Brasil
é importante entendermos as reformas e o caminho que o Estado brasileiro tem trilhado
nas últimas décadas, dentro do contexto latino-americano. As mudanças e o novo
formato na gestão das políticas públicas sociais, principalmente no que se refere a sua
implantação, tem resultado da ação de grupos de interesses, que são sujeitos ativos na
sua execução. Segundo, Dalila:
O formato que a gestão das políticas públicas educacionais e, de resto, as
políticas sociais em geral vêm adquirindo nos governos latino-americanos é
definido pela formulação no nível central e a descentralização na
implementação ou execução local. Os processos de autonomia no nível local
foram reforçados pelas reformas de Estado que tiveram lugar nesses países,
na década de 1990. (DALILA, 2009, p.18)
Essas reformas são marcadas por medidas descentralizadoras que somadas a
um ideário de uma democracia participativa, delegam aos “atores sociais” a
implementação e execução das políticas públicas, em especial as educacionais. Dessa
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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forma, a relação entre o Estado e a sociedade civil assume um novo formato, é
estabelecida uma relação de “parceria”, onde esses “atores sociais” são “empoderados”
e o Estado vai atuar numa busca constante do envolvimento e participação da sociedade
civil, para encontrar soluções para os problemas locais. Mas até que ponto esse
movimento poderá contribuir para transformar a realidade? Principalmente, no âmbito
escolar, pois para que o processo de gestão democrática na educação se consolide se faz
necessária a participação da sociedade não só na execução dessas políticas como
também na formulação, avaliação e fiscalização.
Cada vez mais tais políticas vêm buscando traçar um perfil profissional
desejável para o professor pautado nas competências e, muitas vezes negligenciando
realmente os elementos que compõe o trabalho docente dentro do contexto histórico e as
condições de trabalho desse professor.
A formação continuada no trabalho docente é um tema de grande relevância
dentro do contexto da educação, pois o professor tem sido um dos grandes sujeitos do
processo de aprendizagem. E, portanto, para formar e conformar as novas gerações. O
que precisamos pensar e discutir são os pilares que norteiam as perspectivas de
formação docente continuada que as políticas públicas contemplam.
Nesse movimento dialético, a pesquisa traz como objetivo geral:
compreender quais os sentidos da formação continuada do PNEM atribuídos pelos
professores da SEEDF, bem como: desenhar os elementos centrais da formação de
professores proposta pelo PNEM; identificar as concepções de formação continuada
para os professores de Ensino Médio presentes no PNEM; revelar os sentidos
elaborados pelos professores em relação à formação continuada;
A proposta metodológica da pesquisa se fundamenta no materialismo
histórico e dialético para analisar a política pública de formação continuada para os
professores de Ensino Médio: o PNEM, buscando revelar os sentidos elaborados pelos
professores em relação a essa formação continuada.
Essa perspectiva se efetiva no campo educacional pela práxis, isto é,
unidade de teoria e prática na busca da transformação e de novas sínteses no plano do
conhecimento e no plano da realidade histórica. O Materialismo Histórico e dialético é
apoiado num tripé em movimento: de crítica, de construção do conhecimento “novo”, e
da nova síntese no plano do conhecimento e da ação, ou seja, a práxis em sua dimensão
transformadora.
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7115ISSN 2177-336X
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A formação continuada no trabalho docente é um tema de grande relevância
dentro do contexto da educação, pois o professor tem sido considerado um dos grandes
sujeitos do processo de aprendizagem. Nas últimas décadas, há uma tendência que essa
formação considere o papel do professor como profissional reflexivo, que é levado a
pensar sobre suas vivências e sobre a realidade da escola em que está inserido, de
maneira que ele acrescente experiências inovadoras e que consolidem sua formação
continuada.
O professor deve assumir uma postura reflexiva sobre sua prática
pedagógica e por meio da ação resolver os “problemas” que surgem no cotidiano. Nessa
ótica é que a formação docente no Brasil tem caminhado, recaindo sobre o professor o
“sucesso” ou o “fracasso” da escola.
É interessante destacar que essa ideia já está consolidada no contexto social
brasileiro de tal forma que alguns professores acabam se “culpabilizando” pelo fracasso
dos seus alunos, mesmo porque a ideologia que permeia as propostas pedagógicas de
formação nem sempre é entendida pelos professores, deixando oculta a
“intencionalidade”, como aponta Pimenta:
Sem dúvida, ao colocar em destaque o protagonismo do sujeito professor nos
processos de mudança e inovações, essa perspectiva pode gerar a
supervalorização do professor como indivíduo. Nesse sentido, diversos
autores têm apresentado preocupações quanto ao desenvolvimento de um
possível “praticismo” daí decorrente, para o qual bastaria à prática para a
construção do saber docente; de um possível “individualismo”, fruto de uma
reflexão em torno de si próprio; de uma possível hegemonia autoritária, se
considera que a perspectiva da reflexão é suficiente para a resolução dos
problemas da prática; além de um possível modismo, com uma apropriação
indiscriminada e sem críticas, sem compreensão das origens dos contextos
que a gerou, o que pode levar a uma banalização da perspectiva da reflexão
(PIMENTA, 2002, p.22).
Há que considerar os saberes e conhecimentos que essas políticas entendem
como significativos para que o professor realize seu trabalho efetivamente, pois cada
vez mais o trabalho docente vem se equiparando ao modelo de produção industrial e o
professor vai perdendo sua autonomia, seu prestígio social e controle sobre seu próprio
trabalho, no qual busca atender as demandas do mercado capitalista.
A racionalidade técnica se constitui na base do sistema produtivo capitalista
sendo uma das principais ferramentas culturais que moldam as instituições e práticas
sociais, logo a educação tem sofrido influencias diretas desse processo. Fazendo uma
síntese histórica sobre a formação dos professores nas décadas de 70 e 80 percebe-se
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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uma forte influência da concepção tecnicista para atender o crescente processo de
industrialização no Brasil.
Segundo Contreras (2002), ao caracterizar o modelo da racionalidade
técnica, explica que a prática docente é compreendida como um conjunto de aplicações
teóricas e técnicas, disponíveis a priori e pautado nos procedimentos racionais da
ciência, visando à resolução instrumental dos problemas apresentado na situação do
ensino, o que gera uma hierarquia entre o conhecimento teórico e a prática.
A epistemologia da prática defendida por Shön dialoga com Dewey, pois
assume uma postura analítico-pragmatista. Propõe a formação de um profissional
“praticum reflexivo”, elencando quatro pontos fundamentais: o conhecer na ação, a
reflexão na ação, a reflexão sobre a ação e a reflexão sobre a reflexão na ação. Esse
processo de auto-reflexão sobre o fazer do profissional, é evidenciado na formação de
professores no Brasil e nos textos legais que direcionam as políticas públicas e as
propostas pedagógicas que orientam a formação continuada dos professores. Cabe
destacar o alerta que:
Pensar a possibilidade do conhecimento prático como solução de problemas
oferecidos pelo imediatismo, limitando as ações profissionais ao espaço de
atuação profissional, é confirmar uma realidade fazendo movimentos de
adaptações e de busca da eficácia local e restrita a função exercida. A
produção do conhecimento que defendemos para o professor da educação
básica está relacionada à possibilidade da práxis, que indica uma reflexão no
sentido originário do materialismo histórico dialético, como um movimento
de ir além das aparências para que se possa realmente conhecer a prática e
voltar a ela para transformá-la. (SILVA, 2008, p.105).
Cabe destacar a necessidade de reconhecermos as experiências pedagógicas
e conhecimentos dos professores desenvolvidos no exercício de sua profissão, mas não
podemos supervalorizar a prática e desconsiderar que a organização do trabalho docente
se constitui por vários elementos que perpassam classe social, gênero, condições de
trabalho, entre outros que, efetivamente, consolidam seu trabalho e sua profissão num
contexto histórico. Quanto à supervalorização da prática na ação docente:
A ênfase praticista, que tem dominado a cultural profissional dos professores,
não contribui, a meu ver, para o crescimento desta profissão, tanto mais
necessária quanto o mundo actual, dito sociedade da informação, está longe
de ser um mundo do conhecimento, e muito menos de conhecimento para
todos. (RODÃO, 2007, p.102).
Além de disso reforça o peso relativo da teoria e prática na função de
ensinar e na formação docente. Nessa perspectiva, afirma que a formação deve ter como
principio o saber profissional, e esse se constrói por meio de uma fundamentação teórica
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consolidada e que permita uma prática que perpasse pelo o saber fazer, saber como
fazer e saber por que se faz. E assim, permita ao professor a construção de
conhecimentos específicos que são necessários na função de ensinar.
Segundo Santos (2010), a formação continuada deve ser pensada como um
instrumento do processo de desenvolvimento pessoal e profissional do professor,
portanto tendo um caráter permanente e inacabado. E que as matrizes teóricas que
orientam a formação de professores resultam de um processo histórico-social que
determinam o papel da escola, do aluno e do professor na sociedade em que estão
inseridos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse sentido, a formação continuada de professores é uma temática que se
apresenta sempre em pauta, e que representa um campo de disputa ideológica e política.
E o professor, diante desse contexto é visto como um grande protagonista para
transformar a Educação. Porém, diante do que está posto é preciso questionar qual a
função da escola para a sociedade moderna e que tipo de professor se quer formar, que
projeto de educação está sendo construído e consolidado. As questões são complexas,
mas são necessárias para a compreensão do objeto de pesquisa para que nesse processo
dialético e contraditório possamos ir além da aparência e caminharmos em direção da
essência do objeto.
Portanto, é necessário que essa formação viabilize a construção de conceitos
geradores de novas práticas pedagógicas nas quais o professor se sinta efetivamente
envolvido. A partir do momento que o professor participa efetivamente dos processos
de formação e deixa a condição de implementador dos métodos e práticas pedagógicas,
é possível legitimar mudanças no âmbito escolar, político e social. Os professores
precisam se interar e conhecerem quais são os princípios ou perspectivas teóricas-
políticas que direcionam sua formação para se posicionarem de maneira coletiva na
construção de sua profissão e profissionalização.
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
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Valenzuela; revisão técnica, apresentação e notas à edição brasileira Selma Garrido
Pimenta – São Paulo: Cortez, 2002.
GATTI, Bernadete A. O trabalho docente: avaliação, valorização, controvérsias.
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70)
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação
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Carmen Sylvia Vidigal Moraes... et al.]. –Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013.
OLIVEIRA, Dalila Andrade. Regulação e avaliação de políticas públicas
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SANTOS, Edlamar Oliveira dos. A Formação continuada na rede municipal de
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SILVA, Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da. Professores com formação
stricto sensu e o desenvolvimento da pesquisa na educação básica da rede pública
de Goiânia: realidade, entraves e possibilidades. 2008. 292f. Tese de doutorado do
Programa de Pós-Graduação em Educação- PPGE – Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
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7119ISSN 2177-336X
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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
BÁSICA: LEVANTAMENTO DAS DISSERTAÇÕES E TESES
PUBLICADAS A PARTIR DE 2003 NA BIBLIOTECA DIGITAL DO
IBICT
Renato Barros de Almeida
RESUMO
Este artigo é resultado de parte inicial da pesquisa de doutoramento no programa de
Educação da Universidade de Brasília que pretende realizar uma investigação no que
tange à formação continuada de professores da Educação Básica. Este trabalho é
resultado de uma pesquisa na etapa de levantamento bibliográfico para a realização da
tese, no âmbito das publicações da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
- BDTD do Instituto Brasileiro de Informação Ciência e Tecnologia - IBICT, a partir de
2003 os descritores que caracterizam estes trabalhos. Nessa investigação, o corpus de
análise compõe-se de dissertações e de teses publicadas, da leitura dos resumos e
palavras chave dos trabalhos. Nesse período, foi instituída a Rede Nacional de
Formação Continuada de Professores da Educação Básica com a finalidade precípua de
contribuir com a qualidade do ensino e com a melhoria do aprendizado dos alunos por
meio de um amplo processo de articulação dos órgãos gestores, dos sistemas de ensino e
das instituições de formação, sobretudo, as universidades públicas e comunitárias. Por
meio dessa rede, o MEC assumiu o papel de indutor na formulação e institucionalização
de uma política nacional de formação continuada em estreita articulação e colaboração
com os sistemas de ensino e com as Instituições de Ensino Superior, que a partir desse
momento passam a ter a tarefa de ampliar suas ações para além da formação inicial,
responsabilizando-se também pela formação continuada de professores. Nesse sentido,
pretende-se perceber e compreender as concepções de formação continuada de
professores da Educação Básica nas publicações e pesquisas desse período.
Palavras-chave: Formação Continuada, concepções; publicações.
INTRODUÇÃO
As mudanças que estão ocorrendo mundialmente no campo da política, da
economia, da sociedade e da cultura a partir do neoliberalismo, demarcam um contexto
no qual constantemente se (re) organizam as relações sociais. Essas alterações são
resultantes das exigências impostas pelo processo de reestruturação do capitalismo que
imprimiu uma nova configuração ao processo de produção.
Nesse cenário, paradigmas econômicos mais flexíveis e mudanças significativas
podem ser observados no mundo do trabalho em um processo intenso de transformações
no âmbito mais amplo da sociedade.
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Kuenzer (1999) chama a atenção para o fato de que as mudanças ocorridas no
mundo do trabalho trazem novos delineamentos para a educação e para a formação do
professor de maneira que “[...] a cada etapa de desenvolvimento social e econômico
correspondem projetos pedagógicos, aos quais correspondem perfis diferenciados de
professores, de modo a atender às demandas dos sistemas sociais e produtivos com base
na concepção dominante” (p. 166).
Nesse sentido, as reformas educacionais empreendidas tanto no panorama
internacional quanto brasileiro, principalmente em fins dos anos 1990 e início dos anos
2000, destacam o papel dos professores como principais agentes materializadores das
políticas educacionais.
Aqui cabe destacar a formação de professores e suas perspectivas diante das
políticas neoliberais. Para Freitas (2004), é difícil pensar uma formação de professores
com bases acadêmicas se não pensarmos as mudanças nas políticas públicas de
educação implementadas no país.
[...] as perspectivas de que essa formação se faça em bases teoricamente
sólidas e fundada nos princípios de uma formação de qualidade e relevância
social, são cada vez mais remotas, se não conseguirmos reverter o rumo das
políticas implementadas (FREITAS, 2004, p. 83).
É necessário pensar a formação de professores além de seu caráter instrumental,
de treinamento. É preciso compreender a indissossiabilidade teoria e prática, a práxis
enquanto ação humana transformada, o que Silva e Limonta (2014) defendem como
concepção Crítico Emancipadora de formação de professores.
A concepção de formação de professores na perspectiva crítico-emancipadora
busca construir a indissociabilidade da teoria e a prática na práxis – atividade
humana que transforma o mundo natural e social para fazer dele o mundo
humano, sem que essa atividade seja concebida como caráter utilitário
(SILVA; LIMONTA, 2014, p.19).
O histórico de formação de professores no Brasil de acordo com Freitas (2004,
p. 84), é marcado por embates entre projetos distintos. O marco inicial se dá no final dos
anos de 1970 com a abertura política brasileira, pelo contexto de discussão da
democracia e da escola pública de qualidade, para a autora supracitada o movimento
naquela época se dava pela “necessidade de ruptura com o tecnicismo reinante e de
vincular a concepção da forma de organização da escola à formação do educador,
vinculando-a por sua vez, às grandes questões sociais e ao movimento dos trabalhadores
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pela construção de uma nova sociedade, justa, democrática e igualitária” buscando a
superação das condições postas pela sociedade capitalista.
A década de 1980, segundo Freitas (2004), se dá com a ruptura do olhar para a
formação de professores, esse foi um período no qual as produções dos professores
destacavam concepções com caráter sócio histórica e a ideia de um profissional de
caráter amplo, um avanço para o período que até então estava demarcado pelo
tecnicismo.
Foi um período rico no qual os educadores produziram e evidenciaram
concepções avançadas sobre a formação de educador destacando o caráter
sócio histórico dessa formação e a necessidade de um profissional de caráter
amplo, com pleno domínio e compreensão da realidade de seu tempo que se
aproprie dos princípios do trabalho docente, com desenvolvimento da
consciência crítica e em condições de interferir e transformar as condições da
escola, da educação e da sociedade (FREITAS, 2004, p. 85).
A formação de professores toma uma importância estratégica para as reformas
educacionais nos anos de 1990, a lógica produtivista, mercadológica de atendimento aos
princípios neoliberais avançam e alteram o curso das políticas públicas e da organização
da educação brasileira, não ficando de fora a formação de professores, que cede espaço
a uma concepção “[...] de profissional da educação de caráter técnico profissionalizante,
marcada pela competitividade e produtividade[...]” (FREITAS, 2004, p.86).
Para Freitas (2004) a partir da promulgação da lei n. 9.394/1996, LDB, a
formação inicial passa a ser “desvirtuada”, a autora critica as modificações postuladas
pela lei na educação brasileira e em especial na formação de professores, que altera o
formato no Brasil, cedendo às determinações postas pelos organismos financiadores
internacionais que buscavam garantir a materialidade da reforma da educação básica
brasileira (FREITAS, 2004). Assim, se dá o desdobramento da formação inicial em
nosso país, na perspectiva de enfatizar a dimensão prática do trabalho docente. A teoria
passa a ser entendida como uma reflexão a partir de situações concretas reais.
As diretrizes curriculares para os cursos de licenciatura indicam claramente
que a necessária articulação teoria e prática tem valorizado mais o saber
prático em detrimento do teórico(...). Na formação do professor a relevância
da prática passa a ser decisiva, atribuindo-se à formação teórica um papel
que, se não inócuo, é pelo menos de menor importância (SILVA;
LIMONTA; 2014, p. 18)
Em um cenário de formação inicial “desvirtuada”, a formação continuada toma
fôlego e insurge como possibilidade de “virtude”, ou seja, neste contexto a proposta
deste trabalho é compreender a política de formação continuada de professores que
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aparece associada ao processo de melhoria das práticas desenvolvidas pelos professores
no cotidiano, e passa assim a ser destacada, perante os discursos oficiais, como
possibilidade de construção de um novo perfil profissional.
DELIMITANDO A DISCUSSÃO
Cabe destacar que no contexto atual, a formação continuada tem sido enfatizada
tanto no discurso, quanto nas agendas das políticas educacionais, uma vez que esse eixo
da formação docente é reconhecido pelos discursos dominantes como um dos elementos
que pode concretizar as inovações exigidas pelas mudanças ocorridas na sociedade.
Nesse sentido, as propostas de formação docente implementadas pelo Estado Brasileiro,
no contexto da reforma educacional proposta a partir da década de 1990, buscam
possibilitar a construção de um novo formato para a formação dos professores,
ajustando não só à educação do século XXI, como também às demandas advindas da
reestruturação produtiva em desenvolvimento no mundo do trabalho.
A formação continuada dos professores é vista pelo discurso oficial como um
processo de atualização dos conhecimentos em detrimento da rápida renovação dos
conhecimentos e do desenvolvimento tecnológico. Essa perspectiva de formação está
em consonância com as políticas delineadas para a América Latina as quais têm como
principais articuladores os Organismos Internacionais.
O treinamento em serviço, na perspectiva enfatizada pelas agências
internacionais, é adequado a esse novo paradigma, pois permite a aplicação imediata
dos conhecimentos aprendidos no contexto de atuação do professor. Assim, a formação
continuada, assume nessa vertente uma operacionalização eficiente e menos onerosa.
Nessa perspectiva, este texto, tem como temática a discussão das concepções de
formação de professores nas políticas oficiais de formação continuada de professores
para a educação básica a partir de 2003, como marco histórico brasileiro de
configuração dessas ações em nosso país.
Para pensar a problemática do artigo cabe retomar o texto de Ulhôa (1998) que
aproxima o significado do problema a um inacabamento, no que se refere à apreensão
da realidade ou, por outro lado, a um turvamento frente ao real, em face do
desconhecimento da realidade, e, de forma simultânea, à emergência da necessidade
imperiosa de se ter de desvendá-la.
Nesse sentido, o autor expõe a seguinte ideia:
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[...] o problema, percebe-se (...) é sempre uma incompletude de visão, uma
carência do ver, uma dificuldade teórica: o problema não está no real, mas na
visão que tenho do real que de repente se dá conta de que não consegue
enxergar tudo o que a realidade me manifesta (ULHÔA, 1998, p. 8).
Todavia, o problema precisa configurar-se “[...] em um enunciado explicitado de
forma clara, compreensível e operacional cujo melhor modo de solução ou é uma
pesquisa ou pode ser resolvido por meio de processos científicos” (LAKATOS;
MARCONI, 2003, p. 127).
Tendo-se como base os conceitos e, ainda, levando em conta os argumentos
precedentes neste texto a respeito das reflexões elaboradas pelo Materialismo Histórico-
Dialético, o artigo, levanta os descritores da formação continuada de professores da
Educação Básica a partir de 2003, nas publicações da Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações – BDTD do Instituto Brasileiro de Informação Ciência e
Tecnologia – IBICT.
PROPOSIÇÕES TEÓRICAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE
PROFESSORES
O artigo foi fundamentado na formação continuada de professores sob a
perspectiva crítica. Para tanto, estabelecer-se-á um diálogo com autores que
desenvolvem este raciocínio quais sejam: Giroux (1997), Contreras (2002), Garcia
(1997), Ferreira (2003) entre outros.
Desse modo, esta proposta pretende utilizar os conceitos de professores como
intelectuais transformadores, de Henry A. Giroux (1997), de professores como
pesquisadores de Silva (2008), de autonomia profissional dos professores, de José
Contreras (2002), e da perspectiva da formação continuada, de Garcia (1997) e Ferreira
(2003). Esses aportes teóricos contribuirão para auxiliar a reflexão sobre a formação
continuada dos professores que ensinam na Educação Básica, com o propósito de
contribuir com este campo da Educação.
Convém assinalar que se entende como formação continuada o conjunto de
atividades, realizadas individualmente ou em grupo, desenvolvidas pelos professores em
exercício com objetivo formativo, visando o desenvolvimento pessoal e profissional, a
fim de prepará-los para a realização de suas tarefas atuais ou outras novas que poderão
surgir nas suas práticas cotidianas (GARCIA, 1997).
E para que esse desenvolvimento seja autônomo, de acordo com Giroux (1997) é
necessário e urgente que o professor assimile princípios éticos, didáticos e pedagógicos
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que o ajudem a compreender e atuar de maneira mais efetiva sobre a diversidade
cultural, procurando refletir sobre os aspectos intelectuais e sociais que envolvem a sua
atividade docente.
Numa posição contrária à racionalidade técnica, Giroux (1997, p. 161) ressalta
que o trabalho docente é um trabalho intelectual e não puramente técnico,
argumentando que “nós dignificamos a capacidade humana de integrar pensamento e
prática, e assim destacamos a essência do que significa entender os professores como
profissionais reflexivos”. Portanto, segundo o mesmo autor, é preciso “encarar os
professores como intelectuais transformadores”, o que significa conferir à docência uma
dimensão crítica e política.
Vale destacar aqui que o pensar a prática não está relacionado ao professor
reflexivo, mas sim um pensar a prática tendo como base a práxis: se a atividade prática
por si só não é práxis, tampouco a atividade teórica, por si só, é práxis. “[...] a atividade
teórica proporciona um conhecimento indispensável para transformar a realidade, ou
traça finalidades que antecipam idealmente sua transformação, mas num e noutro caso,
fica intacta à realidade” (VAZQUEZ, 1977, p. 203), assim, se a teoria não transforma o
mundo, “pode contribuir para sua transformação, mas para isso tem que sair de si
mesma e, em primeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar com seus
atos reais, efetivos tal transformação” (p. 207).
Nessa perspectiva, a reflexão surge da curiosidade sobre a prática docente. Essa
curiosidade inicialmente é ingênua, mas com o exercício constante e sistematizado por
meio da pesquisa, vai se transformando em crítica. Dessa forma, a reflexão crítica
permanente deve constituir-se como orientação prioritária para a formação continuada
dos professores que buscam a transformação por meio da sua prática educativa.
Em se tratando de formação continuada, estudos de Ferreira (2003) assinalam
que esta sofreu grandes transformações no decorrer das décadas de 1970, 1980 e 1990.
Inicialmente essa formação se desenvolveu por meio de “projetos de treinamento,
reciclagem, atualização ou mesmo adestramento, posteriormente passa a projetos de
parceria entre formadores de professores (geralmente professores universitários) e
professores” (p. 32).
Convém assinalar que os projetos de parceria ou colaborativos, são constituídos
a partir de um contexto de práxis, na perspectiva da construção de novos
conhecimentos. Eles estendem-se por todo o percurso profissional do professor e a
tríade: formador, formando e conhecimento é (re) construída, por meio de várias ações
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formativas, mediante uma relação dialética, sendo esta uma característica necessária à
realização da práxis.
Percebe-se, portanto, que novas demandas advindas das mudanças sociais,
econômicas e culturais, apresentam naturezas distintas. Mudanças essas que são
apresentadas como novas questões para a escola, e, por conseguinte, para a prática do
professor. Do ponto de vista social, os interesses e o pensamento dos alunos e pais estão
presentes no cotidiano escolar e na comunidade em que a escola está inserida. Na
perspectiva dos órgãos governamentais, nota-se a solicitação de uma participação ativa
nos rumos pedagógicos e políticos do ambiente escolar, definindo o universo a ser
trabalhado com base em projetos gerados adequadamente para o universo de
conhecimento da sala de aula.
Na ótica pessoal, o professor tem sido chamado a tomar decisões, de modo mais
intenso, sobre seu percurso de formação, a romper gradativamente com a cultura de
isolamento profissional, participando dos espaços de discussão coletiva, de trabalhos
com projetos colaborativos e também a debater e reivindicar condições que permitam
viabilizar as demandas socioculturais emergentes.
Então, o processo formativo deverá propor situações que possibilitem a troca dos
saberes entre os professores, por meio de projetos articulados que possibilitem essa
reflexão conjunta. Para tanto, são indicados alguns elementos que podem favorecer
esses momentos reflexivos como o estudo compartilhado, o planejamento e o
desenvolvimento de ações conjuntas, estratégias de reflexão da prática e análise de
situações didáticas.
No processo de formação do professor é imprescindível que ele se posicione no
mundo como “ser histórico”. Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que
antes foi novo e se fez velho e se ‘dispõe’ a ser ultrapassado por outro amanhã”. O
professor pode organizar as suas ideias e construir e reconstruir suas experiências,
abrindo espaço para uma autoanálise, por meio da pesquisa, ao identificar que o
momento presente se mostra como a interface entre as demandas do passado e do futuro
e que as experiências passadas estão intimamente associadas à sua prática de hoje. O
professor é um sujeito histórico e cultural. E para compreendermos o processo
educacional em que nos encontramos, é importante também entendermos a cultura na
qual estamos imersos.
A contextualização desse processo de formação para o desenvolvimento
profissional do professor, seja numa perspectiva inicial ou contínua, configura-se como
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algo dinâmico, e vai além dos componentes técnicos e operativos normalmente
impostos aos professores pelas autoridades competentes, que às vezes não levam em
conta a dimensão coletiva do trabalho docente e as situações reais enfrentadas por esses
profissionais em suas práticas diárias. Assim, essa contextualização pode propiciar um
caráter orgânico às várias etapas formativas que compõem esse processo, assegurando-
lhe um caráter contínuo e progressivo.
Os desafios encontrados na educação, como campo de formação que possibilite
ao professor renovar continuamente seus conhecimentos, de refletir criticamente sobre
sua prática, de ter uma postura consciente do seu papel frente a uma sociedade em
constantes transformações, dentre outros, têm impulsionado, nos últimos anos,
continuamente, reflexões e pesquisas em diferentes campos sociais, com base em
teóricos que buscam interpretar esse universo.
Concebendo a formação docente como um continuum, ou seja, “um processo de
desenvolvimento ao longo e ao largo da vida”, Lima (1996, p. 207) enfatiza a
obrigatoriedade de se estabelecer um fio condutor que ofereça nexo entre a formação
inicial, continuada e as experiências vividas. Apresenta então, a reflexão coletiva e o
apoio de um grupo como um componente indispensável e capaz de promover esses
nexos necessários.
Torres (1998) mostra a importância de a aprendizagem profissional ocorrer
também no local de trabalho, num relacionamento horizontal de colegiado entre os
pares, quando os professores compartilham, dialogam, analisam e resolvem juntos os
problemas. Essa forma de capacitação precisa se estender para os outros componentes
da escola, e não só os professores de maneira isolada, sendo a equipe escolar o sujeito
privilegiado da capacitação.
O QUE A BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÃO – BDTD DO
IBICT POSSUI SOBRE A FORMAÇÃO CONTUNIADA DE PROFESSORES
PARA EDUCAÇÃO BÁSICA.
A realização deste levantamento - seleção dos trabalhos, pesquisas - foi
submetida a uma filtragem por meio de uma expressão chave: Formação continuada de
professores da Educação Básica, e a um recorte temporal a partir do ano de 2003. Com
esse filtro, expressão chave e data a partir de 2003, apareceram na busca trezentos e dois
trabalhos.
O levantamento teve início, primeiramente, a partir dos títulos dos trabalhos,
seguidos dos resumos e palavras chave. O banco de dados forneceu trabalhos expostos
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de diversas maneiras, por uma escolha metodológica selecionou-se as publicações a
partir de 2003, mesmo ano de recorte da tese de doutoramento e da institucionalização
da Rede de formação Continuada no Brasil.
Para termos uma visão geral da busca inicial, criamos o Gráfico 1
abaixo, nele podemos observar o quantitativo de trabalhos por modalidades de
pesquisas, mestrados e doutorados.
GRÁFICO 1 – Quantitativo de publicações de trabalhos e modalidades
Fonte: site IBICT/BDTD 2016
No que tange às instituições e programas em que estas pesquisas foram
realizadas, a análise do Gráfico 2, evidencia a produção de trabalhos acadêmicos em
instituições no eixo sudeste-sul. Fato que merece maior discussão e análise, não sendo
explorado neste artigo dado o seu objetivo, mas que reitera a tradição dessa região do
país em estudos e pesquisas no campo da formação de professores no Brasil.
GRÁFICO 2 – Publicação por região brasileira
Fonte: site IBICT/BDTD 2016
Na análise dos título, resumos e palavras-chave, elencou-se os descritores, ou
seja, o que descreve, caracteriza a temática de abordagem das publicações. Registra-se
que uma ficha de análise foi elaborada, a fim de dar continuidade, na pesquisa para a
83
219
0 0Quantitaivo de produções
Teses Dissertações
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tese de doutoramento, ao estudo e compreensão dos trabalhos completos que se referem
especificamente à discussão da tese.
GRÁFICO 3 – Descritores dos trabalhos pesquisado
Fonte: site IBICT/BDTD 2016
A partir do objetivo deste artigo, nos cabe inferir que a concepção de formação
continuada de professores que se configura nos trabalhos levantados nesta pesquisa, não
traz muitas diferenças de levantamentos como os realizados anteriormente por outros
pesquisadores como CARVALHO; SIMÕES (1999), FALSARELLA (2004).
Os pesquisadores apresentam concepções que entendem a formação continuada
ora como uso de recursos tecnológicos para capacitação de professores, presencial ou a
distância por meio de módulos, curso e seminários, ora como críticas às perspectivas de
repasse, multiplicação por meio de especialistas.
Outra questão importante a ser ressaltada neste levantamento de dissertação e
teses encontra-se nas diferentes palavras usadas para tratar a formação continuada de
professores, tais como contínua, permanente, assunto já bem discutido por outros
autores, em especial por Marin (1995), Borges (1998), Falsarella (2004).
É recorrente destacar, ainda, a concepção que aparece no levantamento em
diversos trabalhos da formação continuada como complementar ou no sentido de suprir
lacunas da formação inicial de professores.
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Neste momento é importante retomar as discussões iniciais expostas neste texto
a partir de Silva e Limonta (2014) que discutem a atividade profissional no viés da
racionalidade técnica, concebida como instrumental e de treinamento, que desloca a
técnica para a prática do trabalho docente. Em algumas pesquisas levantadas neste
estudo, esta perspectiva é reiterada, em especial aquelas em que as competências e os
saberes são entendidos como uma reflexão a partir da prática no contexto das
instituições.
Silva e Limonta (2014) argumentam que a concepção denominada epistemologia
da prática é o arcabouço das teorias que têm se tornado hegemônicas nas discussões de
formação de professores. Nas produções pesquisadas, a escola é privilegiada como
espaço de verdadeira formação, pois parte de situações concretas, essas ideias aparecem
nas produções levantadas com grande frequência e com uma forte defesa do movimento
ação-reflexão-ação muito discutidas por autores como Schön (1992) e Zeichner (1993).
PARA FINALIZAR ESTE ARTIGO
Esse artigo, resultado de levantamento de produção, e que é parte inicial de
produção de tese de doutoramento, possibilitou compreender inicialmente as
concepções de formação continuada de professores da Educação Básica nas produções
de teses e dissertações da Biblioteca Digital de Dissertações e Teses do IBICT. Cabe
destacar que muito ainda é preciso ser analisado nos dados aqui levantados assim como
em outros bancos de dados de produções, tarefa a ser realizada na pesquisa de
doutorado.
Ressalta-se também que este trabalho possibilitará de forma mais ampla analisar
as influências e inferências das discussões e pesquisas na constituição de um sistema de
formação continuada empreendida pelo Ministério da Educação articulado com os
sistemas de ensino e universidades e, da mesma forma, apreender o desenvolvimento
das concepções de formação continuada e suas características a partir de 2003.
Em síntese, afirma-se que a concepção de formação continuada de professores
insurgente no levantamento realizado, pauta-se no processo crítico-reflexivo sobre o
fazer docente, ou seja, no campo da Epistemologia da Prática, portanto é necessário ir
além nas produções e pesquisas neste campo do conhecimento se se entende a formação
continuada de professores como proposta intencional, planejada, pensada a partir de
uma ação humana transformada – práxis.
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Muito ainda se tem para pensar, analisar e produzir nas discussões de formação
continuada de professores no Brasil para se refletir e discutir acerca das políticas de
formação continuada no Brasil. Esta é a proposta deste artigo mesmo que de forma
inicial.
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