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Ally Carter

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SÉRIE GALLAGHER GIRLS – LIVRO 4

ONLY THE GOOD SPY YOUNG

por Ally Carter

SINOPSE

Quando Cammie Morgan entrou na Academia Gallagher, ela sabia

que estava se preparando para a vida perigosa de uma espiã. O que ela não

sabia era que o perigo sério e real começaria ao mesmo tempo em que seu

3° ano. Mas isso foi exatamente o que aconteceu dois meses atrás, quando

ela enfrentou uma antiga organização terrorista com o propósito de

sequestrá-la.

Agora o perigo a segue por toda parte, e mesmo Cammie, A

Camaleoa, não pode se esconder. Quando um terrível encontro em

Londres revela que um de seus aliados mais confiáveis é, na verdade, um

agente duplo desonesto, Cammie não sabe mais se pode confiar em suas

colegas, seus professores — ou mesmo em seu próprio coração.

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O E A O a

Ally Carter nasceu em Oklahoma,

em 1974, e atualmente vive no

meio-oeste americano. Ela já

escreveu dois romances adultos e

quatro livros da série Garotas

Gallagher.

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CAPÍTULO 1

―ALVOS OBTIDOS, ÀS DEZ HORAS.‖

A voz da minha melhor amiga era calma como o vento que soprava do rio Thames.

Sua determinação era tão sólida quanto às paredes de pedra antiga da Torre de Londres

que estava a seis metros de distância. Eu podia ver a noite ficando mais escura — as luzes

ficarem mais brilhantes — e a confiança da minha melhor amiga era quase contagiosa.

Quase. Mas encarando a multidão na distância, não pude evitar de pensar que não estou

preparada para isso.

Quero dizer, não me entenda errado, eu estou preparada para um monte de

situações assustadoras. Afinal, no último um ano e meio fui falsamente sequestrada uma

vez, quase sequestrada de verdade duas vezes, alvo de um terrorista internacional e dois

incrivelmente bonitos. Então, assustador? É, assustador e eu nos conhecemos há muito

tempo.

Mas naquele momento Rebecca Baxter e eu estávamos em pé sobre patins em uma

pista de patinação de gelo que costumava ser o fosso em volta da Torre de Londres. Nós

estávamos em menor número e menor tamanho. Então alguma coisa naquele momento

era... aterrorizante.

Mesmo que minha melhor amiga estivesse ao meu lado. Mesmo que minha escola

nos treinara bem.

Mesmo que estudamos em uma escola para espiãs.

―Ooh, Cam. Eles estão olhando nessa direção.‖

Parte de mim esperava que Bex estivesse falando de seu pai, que estava parado

próximo à bancada de concessão da pista de patinação, ou sua mãe, que estava próxima

à saída da pista ao leste. Eu totalmente desejei que Bex estivesse falando dos agentes na

multidão, de quem o trabalho era me proteger — como aquela mulher com uma mochila e

que esteve à nossa direita a tarde toda, ou o homem que estava parado no topo da Ponte

da Torre, como em rotas de transporte para meia milha em qualquer direção. Mas eu

conhecia Rebecca Baxter bem o suficiente para saber que ela não estava falando dos

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espiões. Ela estava falando sobre... os garotos.

Quando Bex girou sem esforço algum e patinou para trás passando pela turma de

garotos que estava parada rindo e se mostrando na borda da pista, cada um deles se virou

para encará-la. Seu cachecol vermelho agitou-se com o vento enquanto ela sorriu.

―Então, qual deles você quer?‖

―Não, obrigada.‖ Dei de ombros.

Quero dizer, claro, eles pareciam legais, bonitos e completamente inofensivos, mas

se tem uma coisa que Garotas Gallagher sabem, é que aparência pode totalmente

enganar.

―Qual é Cam‖, Bex pretextou. ―Que tal aquele alto?‖

―Não.‖

―O baixo?‖

―Não, obrigada‖, falei balançando a cabeça.

―Aquele um com...‖ Bex não terminou. Seus olhos se arregalaram e ela encarou atrás

de mim, mas minha mente voltando para uma noite fria de novembro em Washington D.C.,

e uma tarde quente de verão em um telhado em Boston, enquanto dois dos mais

assustadores momentos da minha vida relampejaram diante dos meus olhos.

Senti meu coração começar a pulsar.

―O que é?‖ Examinei a multidão, tentando pegar um vislumbre do que Bex havia visto.

―Cam...‖ Bex começou.

Eu me virei no gelo, esperando pela mãe de Bex, pelo pai dela, por algum dos meus

guardas registrarem o mesmo choque que vi nos olhos da minha melhor amiga, mas seus

rostos estavam vazios.

―Bex,‖ soltei, ―o que é?‖

―Não é nada. É só... Me diga uma coisa, Cam…?‖ Seu sorriso era puro mal, e ela

falou tão lentamente que eu meio que queria machucá-la. ―Apenas me diga... tem certeza

que você desistiu de todos os garotos?‖

―Bex, o que você está dizendo?‖, perguntei.

Mas minha melhor amiga somente fez uma careta, ergueu sua mão até a boca, e

disse:

―Oops.‖

E então Rebecca Baxter, a garota mais altamente coordenada na Academia

Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais (o que, acredite, inclui umas garotas

realmente coordenadas), escorregou no gelo.

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Bem, acontece que fingir cair é exatamente uma ótima maneira de fazer garotos

pararem de olhar e começarem a se mover. É claro que nossa outra colega de quarto, Liz,

exigiria sem dúvida mais evidências antes de citar isso como uma certeza científica, mas

considerando o fato de oito garotos que estiveram olhando e sete deles correram para

socorrer Bex, eu diria que nossos resultados eram bastante sólidos estaticamente.

Mas, honestamente, naquele momento estatístico era a última coisa na minha

cabeça, porque flocos de neve brancos e fofos estavam caindo do céu noturno que estava

entre mim e o único garoto que não se moveu, o garoto que não desmaiou, o garoto que

apenas ficou de pé perto das grades com as mãos nos bolsos, me olhando, e dizendo:

―Feliz Ano Novo, Garota Gallagher.‖

Existe uma gama bem ampla de emoções que qualquer garota — muito mais uma

Garota Gallagher — é obrigada a encontrar em qualquer dia — de alegria à tristeza,

frustração à emoção.

Naquele ponto é bem seguro dizer que eu estava sentindo todas elas.

E eu estava tentando não mostrar nenhuma delas.

Os sete pretendentes de Bex se ajoelharam ao lado dela no gelo, enquanto meus

patins me puxaram para perto do garoto que estava próximo a grade.

―Você parece estar com frio‖, de alguma maneira consegui falar.

―Eu costumava ter um casaco mais quente, mas então o dei para uma garota.‖

―Isso não foi muito inteligente.‖

―Não.‖ Ele riu e balançou a cabeça. ―Provavelmente não foi.‖

Apesar de conhecê-lo por quase um ano, havia muitas coisas que eu ainda não sabia

sobre Zachary Goode. Por exemplo, como sabonete e shampoo podiam cheirar muito

melhor nele do que em qualquer outra pessoa. Como para onde ele ia quando não estava

aparecendo em pontos aleatórios (e frequentemente perigosos) em minha vida. E, acima

de tudo, eu não sabia como, quando ele mencionou sobre o casaco, me fez pensar na

parte romântica e encantadora da noite no último novembro quando ele o tinha dado para

mim, e não a parte terrível, sangrenta e de terroristas internacionais tentando me

sequestrar que veio logo depois.

Pelo canto do meu olho, eu podia ver os garotos que ―ajudaram‖ Bex ir até um banco

não muito longe, mas Zach não parecia perceber. Ele apenas se aproximou de mim e

sorriu.

―Além disso, ele fica melhor em você.‖

Há um monte de coisas que a Academia Gallagher nos ensinou a lembrar, mas

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naquele momento eu estava desejando que minha educação excepcional tivesse também

me ensinado como esquecer.

Digo, era uma noite fria em uma cidade estrangeira, e um garoto incrivelmente gato

estava sorrindo para mim entre o brilho suave das luzes! A última coisa que eu queria me

lembrar era da última vez que vira Zach — os pneus guinchando ou os homens

mascarados. Mas eu sou uma Garota Gallagher. Nós não esquecemos nada.

―Por que eu tenho a sensação de que você não está aqui de férias?‖, perguntei.

Ouvi Bex rindo. Senti a mão de Zach se aproximando da grade, mais e mais perto da

minha. Por apenas um segundo, pensei que ele diria para mim — que ele estava aqui para

me ver.

―Estou procurando por Joe Solomon.‖ Ele lançou um olhar pela área da torre. ―Pensei

que talvez ele estivesse com você?‖

E rápido assim as batidas do meu coração tomaram um sentido completamente

diferente. Claro, soava como uma questão fácil, mas nada sobre meu instrutor de

Operações Secretas nunca tinha sido fácil. Nunca.

―O que está errado?‖, perguntei, minha mente cambaleando com pelo menos uma

dúzia de razões para o Sr. Solomon me seguir até Londres — e nenhuma delas eram

boas.

―Nada, Garota Gallagher. Provavelmente não é na…‖

―Diga-me ou eu irei gritar para o Sr. e a Sra. Baxter e você poderá descobrir como a

Bex se tornou Bex.‖

―Nós devíamos nos encontrar alguns dias atrás, mas ele não apareceu.‖ Zach me

encarou. ―E ele não ligou.‖

Okay, eu sei que quando a maioria dos adolescentes falam sobre alguém que não

liga, eles geralmente estão reclamando. Ou choramingando. Mas Zach não é exatamente

do tipo que choraminga.

Eu senti frio pela primeira vez no gelo.

―Ele não está entre os meus agentes de proteção.‖

―Sua mãe está fora procurando pelos líderes do Círculo, certo?‖ Zach perguntou. ―Ele

pode estar com ela?‖

―Eu não sei‖, falei. ―Talvez, mas... Eu não sei.‖

―Ele se hospedou com os Baxters?‖

―Eu não sei.‖

―Ele…‖

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―Ninguém nunca me conta nada, se lembra?‖ Eu examinei cuidadosamente seu rosto,

e apesar de tudo, não pude evitar de saborear a expressão de que finalmente havia algo

que Zach não sabia. ―Estar fora do loop não é divertido, né?‖

―Rebecca!‖ A voz da mãe de Bex ecoou no ar frio.

―Você tem que ir‖, Zach disse com um aceno em direção aos Baxters.

―Se o Sr. Solomon não está ligando, então nós temos que procurar por ele. Temos

que contar aos pais de Bex... temos que ligar para minha mãe para que ela possa…‖

―Não,‖ Zach soltou, então balançou sua cabeça e forçou um sorriso. ―Provavelmente é

nada, Garota Gallagher. Vá lá. Se divirta‖, disse ele, como se isso fosse possível.

―Cameron‖, o pai de Bex chamou. ―Diga tchau ao jovem agora.‖

―Nós temos que contar a eles, Zach. Se o Sr. Solomon está desaparecido...‖

―Eles já sabem‖, Zach me lembrou. Sua voz suavizou. ―O que quer que esteja

acontecendo, prometo a você que eles sabem bem mais do que eu sei.‖

Zach soltou da grade enquanto, atrás de nós, a voz do Sr. Baxter ficou mais alta.

―Vamos, Cammie!‖

Olhei sobre meu ombro para o pai da minha melhor amiga, sua mãe, e os guardas

que tinham me cercado por semanas.

―Já vou!‖

Quando me virei de volta para a grade, Zach já tinha desaparecido.

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CAPÍTULO 2

O PAI DE BEX É UM DOS MAIORES ESPIÕES DA INGLATERRA (sem

mencionar o homem que ensinou sua filha como usar uma Barbie como arma quando ela

tinha sete anos), então eu não corri atrás de Zach. Não gritei. Só acompanhei Abe Baxter,

patinando lentamente pelo gelo.

―A Torre de Londres é a construção real mais antiga ainda em uso hoje em dia,

Cammie.‖

―Ela sabe, pai‖, disse Bex, mesmo que:

A) Eu na verdade não sabia; e,

B) Naquele ponto, eu tinha mais fatos secretos em mente.

―Sr. Baxter…‖ comecei a falar, mas o pai de Bex já estava apontando para as paredes

altas de pedra da Torre e dizendo:

―A Jewel House sozinha é um alvo de classe AA…‖

―Ela sabe, pai‖, Bex disse novamente, rolando os olhos. Mas ela não parecia

realmente irritada quando olhou para cima ouvindo seu pai continuar.

―Tem portões de segurança feitos de titânio reforçado e uma grade de laser de

novecentos e oitenta pontos de automodificação.‖ Então ele parou. ―Desculpe, Cammie,

você estava dizendo?‖

Mas algo na maneira que ele olhou para mim me fez esquecer sobre Zach, o Sr.

Solomon e até o Círculo de Caven. Algo me lembrou de que pais contam piadas bobas.

Pais falavam e falavam sobre fatos históricos que não realmente importavam para noventa

por cento da população mundial. Pais às vezes olham para suas filhas como se elas

fossem mais preciosas do que todos os diamantes na Inglaterra. Eu me lembrava disso —

uma vez — alguém olhara para mim assim.

―Eu... eu só queria te agradecer de novo por me deixar passar o recesso de inverno

com vocês‖, consegui murmurar.

Ele apertou meu ombro.

―Com todo prazer, Cammie.‖

E assim, eu disse a mim mesma que Zach estava certo — provavelmente era nada.

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Tudo provavelmente estava bem. Afinal, Sr. Solomon era cuidadoso. Sr. Solomon era bom.

―Ooh… corvos!‖ Sr. Baxter disse, deslizando para um banco ao meu lado. Ele

apontou para um pássaro preto que estava lutando por migalhas perto da parede alta de

pedra. ―Agora, há um parte interessante da história, Cammie. De acordo com a lenda, a

Inglaterra cairá se os corvos algum dia deixarem a Torre de Londres.‖

Ainda assim, enquanto eu deslizava para um dos bancos e começava a afrouxar os

laços dos meus patins, meus dedos não queriam cooperar. Era como se eu tivesse

esquecido como respirar. Olhei para o pássaro, mas não falei nada. Era tão preto em

comparação ao gelo branco.

Sr. Baxter suspirou.

―Eles cortam as asas deles para que não voem embora.‖

E então, apesar do vento gelado, senti meu rosto esquentar. Minhas mãos estavam

suadas dentro de minhas luvas ao tempo que puxei o cachecol em volta do meu pescoço,

de repente tonta com meus pés de meias no chão congelado, enquanto os patinadores

continuavam circulando em volta.

Sr. Baxter se levantou.

―O que é, Cammie? O que há de errado?‖

Balancei minha cabeça.

―É... nada.‖

Mas algo estava vindo sobre mim — como déjà vu, só que mais forte. Havia algo

naquela multidão que eu devia saber. Algo que eu deveria ver. Balancei minha cabeça, e

por uma fração de segundo pensei ter visto uma mulher alta e elegante do telhado em

Boston.

―Não‖, murmurei.

Olhei para a Sra. Baxter e sua colega com a mochila que tinha nos seguido o dia

todo. Ambas seguravam copos de café em suas mãos direitas — o sinal que a área estava

limpa, que estava tudo bem. Mas não estava tudo bem. Havia um fantasma naquela

multidão — algo que eu deveria ver. Algo que eu deveria saber.

―Cammie?‖ A mão do Sr. Baxter estava em meu ombro. ―O que é?‖

―Eu não sei.‖ Balancei a cabeça. ―É só…‖

Antes que eu pudesse terminar, ouvi uma explosão estática da unidade de

comunicação no ouvido do Sr. Baxter — um grito abafado distante. Através do gelo, a

mulher com a mochila virou, como se estivesse procurando alguma coisa — alguém. O

copo escorregou de sua mão e caiu no gelo. E naquele momento, minha mente voltou para

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a D.C., e depois mais para trás, em Boston.

Pegue ela. As palavras ecoaram em minha mente.

Me peguem.

E então as luzes desapareceram.

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CAPÍTULO 3

MESMO NA ESCURIDÃO DE BREU, EU SABIA QUE COMANDOS estavam

vibrando nos ouvidos dos agentes da pista de patinação. Em um instante, Sr. Baxter me

agarrou, me puxando para longe do gelo e para perto do abrigo das paredes de pedra da

Torre.

O chão era duro e frio contra os meus pés, mas não houve tempo para pegar minhas

botas — nenhum segundo para fazer qualquer coisa além de correr e ouvir os gritos que

flutuaram pela escuridão. Eu continuei com uma mão contra a parede de pedra áspera e a

outra firmemente agarrada na do Sr. Baxter, conforme nos movemos para mais fundo na

multidão de turistas em pânico — nos empurrando entre o caos — até que, subitamente, a

mão do Sr. Baxter sumiu da minha.

―Cammie!‖, ele gritou, e eu o procurei no escuro, mas havia muitas pessoas.

―Cammie!‖, ele chamou de novo, mas antes que eu pudesse responder um par de

braços fortes agarraram minha cintura, e alguém me prendeu contra a parede de pedra.

Comecei a lutar, mas o homem respondeu como se soubesse exatamente o que eu tinha

sido treinado para fazer. Ele apertou meus braços para os lados tão bem que eu só tinha

uma escolha: puxei minha cabeça para trás e bati nele com toda a minha força. Eu senti o

golpe atingir — ouvi o homem estremecer. A outra coisa — uma voz familiar ao meu

ouvido, dizendo:

―Cammie, acalme-se.‖

Por um segundo pensei estar usando unidades de comunicação — que a voz do meu

professor estava voltando para mim, me dizendo como salvar minha própria vida.

E eu o ouvi sussurrar:

“Corra.”

―Eles estão vindo, não estão?‖, minha respiração saiu como uma névoa no ar frio, e

ainda assim meus braços continuavam pulsando, meus pés continuaram se movendo, e

meu professor manteve um aperto sólido em minha mão, me puxando contra o terreno

escuro da Torre em direção a uma rua movimentada de Londres, enquanto eu dizia às

palavras que temera por semanas:

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―O Círculo... estão aqui.‖

―Srta. Morgan, temos apenas um minuto até que eles nos encontrem, então você tem

que me ouvir cuidadosamente‖, meu professor disse, apertando minha mão, me incitando

através do fluxo de tráfego até a Ponte da Torre.

―Você está com unidades de comunicação? Você tem que contar aos Baxters que

está comigo. Temos que chamar uma equipe de extração e…‖

―Cammie, ouça!‖, sua ordem pareceu ecoar no escuro, e algo nisso me fez parar bem

no meio da ponte. Ele soou irritado, frenético e assustado.

Joe Solomon estava assustado.

Ele me agarrou pelos meus dois ombros.

―Cammie, nós só temos um minuto até que eles nos encontrem, e então levarão

você…‖

―Não!‖, gritei.

―Ouça! Qualquer dia desses eles vão levá-la de volta para a escola, e quando chegar

lá, você tem que…‖

―Olá, Joe.‖

Quando o pai de Bex apareceu na margem escura do rio, sua voz era uniforme e

calma, mas ele usava a mesma expressão que Bex usava quando estava focada, irritada e

quando não havia força alguma na terra que poderia pará-la.

E ainda assim o Sr. Solomon não se virou para olhar para ele. Ele ainda agarrava

meus ombros como se nenhuma missão em toda minha vida tivesse sido mais importante

quanto a que ele estava prestes a me dar.

―Cammie, me escute!‖

―Qual é, Joe,‖ Sr. Baxter chamou do outro lado da ponte, curvando-se para frente

como um homem se preparando para uma luta. ―Vire-se. Deixe a garota ir.‖

Balancei minha cabeça. Nada fazia sentido naquele momento — não o que o Sr.

Solomon estava dizendo ou a maneira que o Sr. Baxter olhava para nós. Nenhum deles

parecia saber que estavam ambos do mesmo lado — do meu lado.

―Está tudo bem, Sr. Baxter‖, falei, me virando para o pai de Bex, pensando que talvez

ele não tivesse reconhecido meu professor. ―Esse é o Sr. Solomon. Joe Solomon. Ele é…‖

―Eu sei quem ele é, Cammie.‖ O pai de Bex se aproximou. ―E ele virá comigo agora —

voar para Langley e endireitar essa bagunça.‖

―Cammie!‖ Sr. Solomon me chacoalhou levemente. ―Não dê ouvidos a ele, ouça a

mim!‖

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Mas o pai de Bex continuou falando.

―Joe, você tem que soltá-la.‖

A mãe de Bex deu um passo fora das sombras atrás de seu marido.

―Cammie, querida, quero que você ande até mim agora.‖

A ponte estava fria e áspera contra meus pés, mas não me movi. Examinei as

margens do rio cobertas de sombra, procurando por Bex, precisando que ela me ajudasse

a explicar aos seus pais que estavam cometendo um erro terrível. Mas tudo que vi foram

guardas e operários que estavam formando fileiras a nossa volta, e naquele momento

percebi que ninguém estava procurando na multidão. Nenhum estava procurando pelo

Círculo. Em vez disso, as pessoas que tinham jurado me proteger estavam encarando

como se a ponte fosse o lugar mais perigoso no mundo que eu pudesse estar.

Quando o operário da torre de observação apareceu no lado oposto do fim da ponte,

eu sabia que estávamos cercados.

―Cammie, agora!‖ a Sra. Baxter ordenou, mas eu fiquei congelada no mesmo lugar.

―O pai dela era meu melhor amigo!‖, meu professor gritou, as palavras ecoando do rio

para a noite.

O pai de Bex assentiu e se aproximou.

―Eu sei.‖

―Isso é loucura, Abe.‖ Sr. Solomon chacoalhou a cabeça.

―Com certeza é‖, Sr. Baxter disse calmamente. ―Mas protocolos existem por uma

razão, Joe. Nós sabemos…‖

―Nós sabemos como isso acaba!‖ Meu professor gritou.

―Não dessa vez‖, Sr. Baxter disse. ―Não necessariamente. Não se você soltar

Cammie, e vir conosco.‖

―Sr. Solomon...‖ Eu não reconheci minha própria voz. Parecia distante e frágil. Eu vi o

jeito que fiquei nas sombras, não lutando contra o aperto do meu professor. Fraca. Me

senti fraca. E então me afastei.

―Cammie, venha aqui‖, a mãe de Bex ordenou de novo. Eu podia ver Bex atrás dela,

sem se mexer. Atordoada. ―Cammie!‖ a mãe de Bex soltou, mas eu olhei para o meu

professor.

―Sr. Solomon, o que está acontecendo? Por que você está aqui? Por que não se

encontrou com Zach? Por que eles ficam olhando para você como... Por que eles estão

falando como se você fosse o inimigo?‖

―A CIA tem algumas perguntas para ele, Cammie‖, Sra. Baxter respondeu. ―isso é

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tudo. Ele só precisa responder umas perguntas.‖

―Você vai tentar me entregar, Abe?‖ Sr. Solomon riu, então se virou para a mãe de

Bex. ―Grace? Você vai me algemar na frente de Bex e Cammie?‖

Bex gritou.

―Não!‖, mas a voz de sua mãe era uniforme quando disse:

―Você sabe que temos que fazê-lo.‖

―Mãe!‖ Bex gritou.

―Rebecca, fique fora disso‖, o pai dela avisou. Então se virou para olhar para o

homem que nós todos conhecíamos — o homem que apenas eu e Bex ainda confiávamos.

―Você não deveria ter vindo aqui, Joe.‖

―Eu tinha que falar com a Cammie.‖

―Cammie está segura conosco.‖ A mãe de Bex disse a ele.

Meu professor só chacoalhou a cabeça.

―Cammie não está segura em lugar algum.‖

Eu não queria chorar naquele momento, mas não podia mais fingir também. Eu não

estava de férias. Eu estava me escondendo. Eu era como os corvos, prisioneira de um

destino que eu não conhecia e não podia controlar. Então olhei para o adulto que eu mais

conhecia — o único homem que eu verdadeiramente confiei em muito tempo.

―Sr. Solomon, por favor, o que está acontecendo?‖

E então suas mãos estavam de volta em meus ombros.

―Cammie, você tem que seguir os pombos.‖

―Eu... Eu não entendo.‖

―Prometa-me, Cammie! Não importa o que aconteça, me prometa que vai seguir os

pombos.‖

Não fazia nenhum sentido — nem as palavras, nem o olhar nos olhos dele ou a

maneira que os pais da minha melhor amiga pararam encarando como se o momento que

eles estiveram temendo por dias estivesse finalmente aqui.

Uma sirene soou, e eu me senti subitamente instável sobre meus pés como se a terra

estivesse se mexendo.

―Sr. Solomon‖, falei lentamente, calmamente, ―talvez você deva vir conosco... Nós

ligaremos para minha mãe e ela explicará que você é um professor e que houve um

engano e...‖

Mas então não pude terminar porque a terra estava se movendo. A sirene estava

mais alta; os expectadores estavam começando a gritar das margens do rio. Em um

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relâmpago terrível, me lembrei de que a Ponte da Torre é uma ponte levadiça, e o Sr.

Solomon e eu estávamos no centro dela.

A ponte deu um solavanco e Bex gritou:

―Cammie!‖, mas sua mãe a segurou. Agarrei a grade conforme a ponte se erguia e

ficava íngreme, e o Sr. Solomon alcançou meus ombros, me segurando, me firmando.

―Cammie, você tem que me prometer!‖

―Okay, Sr. Solomon. É claro, eu prometo.‖

―Obrigado, Cammie.‖ Ele relaxou o aperto e abaixou a cabeça. Pela primeira vez, ele

parecia respirar quando suspirou, ―Obrigado.‖

―Okay, Joe‖, Sr. Baxter se aproximou. ―Você falou com a Cammie. Conseguiu sua

promessa. Agora, vamos lá. Vamos dar um jeito nisso.‖

Mas o Sr. Solomon estava se afastando, seu olhar ainda preso no meu.

―Os pombos, Cammie.‖

―Os pombos‖, falei.

E então um dos maiores espiões que já conheci correu em direção a beirada da ponte

e impeliu-se no topo, voando caindo. Os pais de Bex correram atrás dele, mas eu já estava

lá, encarando o rio Thames.

E Joe Solomon já tinha desaparecido.

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CAPÍTULO 4

DURANTE O RECESSO DE INVERNO, DO NOSSO SÉTIMO ANO, Bex ajudou

seus pais a expor um agente duplo que trabalhava dentro do M16. No verão em que ela

fez catorze anos ela jurou que desarmou uma bomba embaixo do camarote da família real

nas arquibancadas em Wimbledon. Mas enquanto eu e Bex nos sentamos atrás em uma

van da M16 com as palavras ―Serviço de Ajudantes na Pintura Domiciliar‖ pintadas do lado

de fora, eu sabia que nenhuma Garota Gallagher já havia trazido uma história como essa

das férias para casa.

Tentei recontar os fatos para mim mesma — como o primeiro agente a nos alcançar

era canhoto e tinha olhos verdes, como o telefone no lado da van tinha uma troca de

Surrey1.

Afinal, o Sr. Solomon tinha me treinado bem. E esse era o problema, sério.

Sr. Solomon tinha me preparado.

Sr. Solomon tinha me ensinado.

E depois o Sr. Solomon tinha me levado para uma ponte e pulado para as águas frias

e escuras do rio Thames. Então me sentei quietamente com o Sr. Baxter de um lado, e a

Sra. Baxter do outro, esperando que o mundo parasse de girar na direção errada.

Mas, é claro, dentre todos os talentos de Rebecca Baxter, esperar totalmente não é

um deles.

―O que foi aquilo?‖ Bex exclamou assim que as portas da van bateram.

―Quieta, Rebecca‖, sua mãe ordenou.

―Porque pareceu que vocês dois acabaram de tentar prender Joe Solomon‖, disse

Bex. ―Foi isso que pareceu para você, Cam?‖

―Agora não, Rebecca‖, disse o pai dela.

―Então o que foi aquilo, então?‖ Bex perguntou. ―Treinamento?‖

―Bex‖, sua mãe sibilou.

1 Surrey: condado situado ao sul da Inglaterra.

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―Teste de segurança do perímetro?‖ Bex tentou.

―Rebecca, eu vou ter que pedir para aquele agente encostar a van‖, seu pai alertou,

mas Bex apenas continuou.

―Porque, me corrija se eu estiver errada, mas Joe Solomon não é um dos caras

bons?‖

Eu desejei que os pais dela tivessem a cortado, censurado, dito alguma coisa —

qualquer coisa — porque nada podia ter sido mais assustador do que o olhar que passou

entre o Sr. e a Sra. Baxter naquele momento. Até Bex ficou quieta quando viu.

Um minuto depois senti a van desviar, diminuir a velocidade e, a nossa volta, o

mundo ficou escuro. Pela luz interior da van, Bex olhou para mim.

―Túnel?‖ adivinhei.

Ela me encarou e sussurrou de volta:

―Zach?‖

Antes que eu pudesse responder, as luzes do túnel vacilaram, e nós estávamos

perdidos em escuridão total conforme o motorista puxou o volante. Pneus guincharam.

Agarrei-me no banco, senti o desviar dos Baxters do meu lado, e ainda assim ninguém

gritava ou se preparava para um acidente conforme nós carenamos rápido — rápido

demais — em direção à parede do túnel. Na escuridão, senti a mão da minha melhor

amiga alcançar e agarrar a minha, e tão de repente, a parede em frente de nós se partiu e

engoliu a van dos pintores inteira.

Eu me virei em meu banco, e pelas janelas traseiras empoeiradas vi a porta

escondida se fechar.

―Legal‖, Bex sussurrou.

Então havia uma luz no fim do túnel (literalmente). Tudo ficou mais claro enquanto a

van diminuiu e a passagem se alargou até que o espaço em que estávamos era qualquer

coisa menos um túnel.

―Bem vindos a Estação Baring Cross‖, uma voz alta disse conforme as portas da van

se abriram.

Instantaneamente, o braço da mãe de Bex estava em volta da minha cintura; a mão

do pai dela estava agarrando a minha, e a melhor e mais brilhante parte do Serviço

Secreto da Vossa Majestade estava encarando, me observando sair da van como se eu

fosse a coisa mais interessante naquele espaço cavernoso.

O telhado devia estar a cinco andares. Passarelas espalhavam-se acima, e mais vans

estavam a minha direita, estacionadas em ângulos estranhos. A nossa volta, pessoas

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corriam, gritando ordens. Havia escadas de aço inoxidável, tubos de subida de cromo

polido e partições de vidro fosco por toda parte. Não pude evitar de pensar que fazia quase

exatamente um ano que eu tinha sido escoltada para outra instalação subterrânea super

legal e secreta, sob D.C. e tinha sido por causa de um garoto. (Ou... mais

especificamente... um namorado). No ano anterior, eu sabia que a viagem viria. Dessa vez

nada naquele dia estava na rotina. No inverno passado, minha mãe tinha me levado para

aquela instalação para responder perguntas. Mas dessa vez eu fiquei ao lado dos Baxters,

consumida pela coisa que eu não sabia.

―Você está bem?‖, uma mulher perguntou.

―Ele te machucou?‖, um homem com luvas cirúrgicas e um casaco branco quis saber.

―Como diabos ele chegou tão perto?‖, outro homem soltou.

―Portão do Traidor‖, uma mulher respondeu. ―Ele entrou pelo Portão do Traidor.‖

―É claro que sim‖, o homem murmurou, e eu tentei tirar as palavras da minha cabeça.

Elas eram sem nexo. Sem noção. Porque ―ele‖ era o Sr. Solomon.

Ele era um dos melhores espiões que já conheci.

Ele era o melhor amigo do meu pai.

Conforme nós passamos andando por uma parede maciça de telas, imagens da

cidade relampejavam tão rápido que era um milagre alguém poder ver alguma coisa.

―O satélite está levantado!‖, um jovem com um óculos de armação marrom gritou;

―Dê-me visão de cada entrada de metrô, cada cruzamento, cada aeroporto. Estamos

perto, pessoas!‖, uma mulher mais velha gritou. ―Não vamos deixá-lo escapar.‖

Os olhos de Bex encontraram os meus, e eu sabia o que ela estava pensando: nosso

professor não teria andado até aquela ponte se não tivesse uma maneira de sair; não teria

vindo até Londres se não tivesse um jeito de sair; e quando Joe Solomon não quer ser

encontrado, não há câmera, satélite ou operário na terra que possa vê-lo.

―Baxter!‖ Uma voz chamou da passarela acima de nós. ―Você tem a garota, então?‖

O pai de Bex posicionou seu braço em volta do meu ombro.

―Ela está aqui. Está bem.‖

O homem gesticulou para uma porta de metal no fim da passarela.

―Então venha por aqui‖, ele disse a mim, mas Bex se aproximou.

―Ficaremos felizes em esperar lá‖, disse ela.

O agente olhou para a Sra. Baxter, cujo rosto estava tão determinado quanto o de

sua filha.

―Eu vou com ela‖, a Sra. Baxter disse. ―Cammie é nossa responsabilidade.‖

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―Então vocês deviam ter pensado antes de levá-la para patinar‖, o agente rompeu.

Eu queria dizer algo em protesto — lembrá-lo que isso não era culpa dos Baxters — o

que quer que ―isso‖ fosse. Mas a mão da Sra. Baxter estava no meu ombro, gentilmente

me empurrando a prosseguir, me dizendo que o caminho em que eu estava agora era um

que eu tinha que andar sozinha.

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CAPÍTULO 5

PRÓS E CONTRAS DE PASSAR A NOITE

EM UM QUARTO SUPER SECRETO, DE UMA

INSTALAÇÃO SUPER SECRETA, MAS

NINGUÉM TE DIRÁ POR QUÊ.

(Uma lista por Cameron Morgan)

PRÓ: Acontece que, instalações subterrâneas do governo é um lugar

excelente para se esquentar depois de patinar no gelo.

CON: O processo de esquentar não inclui amigos, família e

absolutamente nenhuma resposta.

PRÓ: Às vezes é bom ter um momento sozinha para recompor-se

depois de experiências bastante traumáticas (e totalmente confusas).

CON: O “momento” para de ser bom quando se arrasta por quase duas

horas.

PRÓ: Três palavras — Ensaio. Extra. Crédito.

CON: Duas palavras — Nenhum. Banheiro.

PRÓ: Saber que há cinquenta operários e pelo menos duas mil câmeras

entre você e as pessoas que querem te pegar.

CON: Perceber que você sabe ainda menos sobre aquelas pessoas do

que você pensava que sabia. Muito menos.

● ● ●

Todo bom operário sabe que há várias razões para manter uma pessoa esperando

antes de questioná-la. Às vezes você quer deixá-la nervosa; às vezes você quer deixá-la

pensar; às vezes você precisa reunir os fatos; e às vezes falar com ela não é assim tão

importante. Mas havia uma única razão que ocorreu a mim quando ouvi a porta se abrir e

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puxei minha cabeça e braços fora da mesa de ferro.

―Minha mãe está aqui?‖

―Não.‖

A porta bateu, e eu me virei para observar um homem que nunca vi antes andar até o

outro lado do cômodo. Ele era alto, com cabelos pretos ondulados e olhos azuis escuros, e

enquanto ele falou com seu sotaque britânico rico, tanto a espiã quanto a garota em mim

se tornou instantaneamente ciente do fato de que eu estava babando.

―Como você está, Cammie?‖, perguntou ele, mas mal esperou para ouvir meu ―Bem.‖

―Você precisa de alguma coisa? Água? Algo para…‖

―O que aconteceu na ponte?‖

O homem riu suavemente.

―Bem, isso é o que eu estava esperando que você pudesse me contar.‖ Ele derrubou

um arquivo na mesa entre nós e se moveu para a cadeira oposta a mim, mas havia algo

naquele gesto — o som de sua risada — que pareceu estranho para mim. Nada parecia

tão engraçado mais.

―Ele não te machucou?‖, o homem perguntou.

―Sr. Solomon é meu professor. Ele nunca me machucaria.‖

―Tem certeza que não podemos te trazer algo? Chocolate quente, talvez?‖

―Eu não quero chocolate. Quero saber por que uma equipe de seis pessoas cercou

Joe Solomon. Quero saber por que um dos melhores agentes da CIA teve que tirar da

proteção do MI6 para falar comigo. Quero dizer, estamos do mesmo lado, não estamos?‖

E então o sorriso do homem desapareceu — desvaneceu num instante.

―Oh, nós sabemos quem são nossos amigos.‖

―Sério? Porque parece…‖

―O que aconteceu na ponte?‖

―É o que estou perguntando a você.‖

―O que Joe Solomon disse na ponte?‖, ele rangeu os dentes conforme reformulou sua

pergunta.

―Eu não sei. Tudo aconteceu tão rápido. Não entendi direito.‖

Novamente ele riu, e dessa vez murmurou:

―É claro que você não entendeu.‖

―Qual é o seu nome?‖, perguntei, mas ele não respondeu. ―Você é do MI6, certo?‖

―Impressionante‖, disse ele, mas algo em seu tom me disse que ele não estava

impressionado de forma alguma.

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―Quem é você? Onde estão os Baxters?‖

Ele se moveu em seu banco e se inclinou para frente.

―Graças aos Baxters, metade de Londres viu o que aconteceu hoje, o que, no nosso

negócio, é uma coisa ruim. Então os Baxters estão um pouco ocupados nesse momento.‖

Eu não sabia o que era pior, que os pais de Bex estavam com problemas por minha

causa, ou que o homem à minha frente estava falando como se eu fosse uma intrusa —

uma fraude. Claro, eu sou uma garota de dezesseis anos/operária em treinamento, e não

me entenda mal, a parte garota de dezesseis anos vem a calhar na ocasião, mas ele

estava me dando o tipo de olhar que eu esperaria de pessoas que não sabia a verdade

sobre minha escola — e aquele homem à minha frente deveria saber a verdade.

Pelo menos eu pensava que ele deveria.

―Hum... só por curiosidade‖, falei, ―que nível de conhecimento você tem?‖

―Que nível de conhecimento você tem?‖

―Eu perguntei primeiro.‖

O homem riu, depois disse:

―O suficiente.‖ O que não era realmente uma resposta, mas não pensei que fosse a

hora de dizê-lo.

―Por que está todo mundo procurando pelo Sr. Solomon?‖, perguntei. Quando o

homem encostou-se a sua cadeira, eu me inclinei para perto e procurei seus olhos azuis.

―Houve algum tipo de engano‖, disse a ele. ―Ligue para a Academia Gallagher. Ligue para

minha mãe.‖

―O que Joe Solomon disse a você na ponte?‖, o homem rompeu, mas eu mal ouvi as

palavras.

―Minha mãe é Rachel Morgan, operária ID 145-23-6741. Diretora da Academia

Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais. Você tem que…‖

―Eu sei quem sua mãe é‖, ele declarou calmamente. ―Agora me diga sobre Joe

Solomon!‖

Eu deixei as palavras me lavarem, tentei encontrar o centro de minha raiva, antes de

lentamente sussurrar:

―Os pombos. Sr. Solomon me disse para seguir os pombos.‖

Esperei que ele risse novamente, mas dessa vez ele me estudou.

―Isso significa alguma coisa para você?‖

―Não.‖

―Nenhuma aula que você teve? Um disjuntor que você usou?‖, perguntou ele, então

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balançou a cabeça frustrado. ―Um disjuntor é um intermediário que dois espiões podem

usar para carregar informação entre…‖

―Eu sei o que é.‖

―E os pombos não significam nada para você?‖, perguntou ele de novo.

Fechei meus olhos, pensei de volta na sensação do vento frio em meu rosto e a

pressão das mãos do Sr. Solomon em meus braços, mas eram seus olhos que eu vi mais

claramente.

―Aconteceu tão rápido. Ele estava assustado. Não era ele mesmo.‖

―Há uma boa razão para isso‖, o homem disse sem um traço de emoção. ―Você não

conhece Joe Solomon.‖

―Você está errado‖, falei novamente. ―Houve um erro. Sr. Solomon está na instalação

da Academia Gallagher. Ele é da CIA, e veio para Londres para me proteger ou me

alertar... ele só estava preocupado por causa da ameaça.‖

―Você ainda não entende, não é?‖, ele estava quase sorrindo quando fechou a pasta.

―Joe Solomon é a ameaça.‖

―Isso é ridículo‖, rebati. ―Sr. Solomon é o meu professor.‖

O homem levantou.

―Você pode parar de chamá-lo de ‗senhor‘, moça.‖ Ele andou até a porta e bateu no

vidro. ―Joe Solomon nunca será seu professor novamente.‖

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CAPÍTULO 6

NAS SEIS NOITES SEGUINTES OS BAXTERS E EU DORMIMOS em cinco

diferentes casas seguras.

Havia um galpão de jardineiro aparentemente abandonado em um estado na Escócia,

um apartamento com uma vista do Big Ben, um chalé no País de Gales, e algo que podia

ser melhor descrito como um pequeno castelo, que vinha com uma armadura e um pavão.

A cada manhã dirigiríamos. A cada segundo havia guardas.

Claro, você deve pensar que acesso total a muitas fortalezas secretas teria feito de

mim e Bex o motivo de inveja de todo o corpo estudantil; mas como regra, nós Garotas

Gallagher não invejamos nada que envolva guardas (quando você é a guardada) e

aranhas (e as casas seguras do MI6 têm muitas aranhas.)

Na sexta noite eu acordei em uma cama estreita ao som calmo da respiração de Bex

e alguém mais — uma palavra abafada: “Caven.”

Por um momento, fiquei deitada lá, depois saí do beliche de baixo.

As tábuas estavam surpreendentemente quietas abaixo dos meus pés. Estava

congelando, mas não parei para vasculhar as mochilas e malas que estavam abertas, mas

ordenadamente arrumadas, pronta para uma escapada rápida. Ao invés, saí para o

corredor e desci em direção à escada estreita e torta que me levava do segundo andar

para a pequena varanda fora da cozinha.

Empoleirado na varanda, pude ver as pernas do Sr. Baxter que se sentara à mesa da

cozinha, se movendo levemente conforme falou.

―Você viu a Rachel?‖

―Sim‖, uma mulher disse em um sussurro rouco.

―Estou surpreso que tenha sido possível‖, disse o Sr. Baxter.

A mulher riu suavemente.

―Bem eu não estava no humor para ouvir que era impossível.‖

―Entendo‖, o Sr. Baxter disse.

―Grace, como ela está?‖, a mulher perguntou.

―Bem,‖ a Sra. Baxter respondeu. ―Quer que eu a chame?‖

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―Não.‖

Parei no escuro escutando, enquanto o vento soprava, o castelo gemia e a mulher

disse:

―Deixe a baixinha ter seu sono.‖

Havia somente uma pessoa no mundo que me chamava de Baixinha, então eu não

pensei — só fiquei de pé, pronta para descer as escadas em direção a minha tia Abby.

Mas então um braço estava em volta da minha cintura, e uma mão apertou minha boca.

Lancei um olhar sobre meu ombro e vi os olhos arregalados de Bex brilhando no escuro.

Ela balançou a cabeça uma vez, rapidamente. Não, ela estava me dizendo. Pense.

Podemos não ter essa chance novamente.

O sorriso da minha melhor amiga era especialmente maldoso (o que, acredite, é

realmente alguma coisa) quando ela sussurrou:

―Tenho uma ideia melhor.‖

Três minutos depois eu estava no último andar do castelo, olhando para uma caixa

pequena de madeira e uma corda menos que resistente, ouvindo minha melhor amiga

insistir.

―Você deveria fazer isso.‖

―Por que eu?‖, sussurrei, observando conforme a caixa antiga balançava no ar em um

eixo escuro e vazio que desaparecia na pedra fria das paredes do castelo.

―Você é mais baixa,‖ Bex disse. (O que eu sou.) ―E eu sou mais forte‖, falou. (O que

ela totalmente podia ser.) ―E eu…‖

―Tem medo de aranhas?‖, supus.

Mas Bex me ignorou.

―... ainda estou um pouco surda do incidente da granada de percussão durante a

semana das provas finais.‖

Então, é, foi assim que eu acabei no elevador de cozinha. Senti-me descendo pelas

paredes do castelo, mais e mais abaixo, enquanto os barulhos na cozinha ficavam mais

altos e claros.

―Tem certeza que você não quer um chá?‖ O pai de Bex perguntou.

―Não, obrigada, Abe.‖ A voz da minha tia soava fraca — quase frágil. ―Eu não tenho

dormido tão bem, para dizer-lhe a verdade.‖

―Nós também não‖, a mãe de Bex adicionou.

A chaleira começou a apitar. Uma cadeira bateu no chão.

―Quão perto foi realmente, Grace?‖ Tia Abby perguntou. ―Ela estava em perigo?‖

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―Cammie está em perigo constante‖, Sra. Baxter disse ao mesmo tempo em que o

apito terminou.

―Você o viu, Abe?‖ Abby perguntou. Mesmo que não houvesse dúvida de quem ele

era, pareceu demorar uma eternidade para o Sr. Baxter responder.

―Sim.‖

―Como ele estava?‖ Abby perguntou.

―Desesperado‖, o pai de Bex respondeu.

―Você acredita?‖, perguntou Abby.

―Essa é a forma como o Círculo trabalhou por mais de cem anos...‖ começou o Sr.

Baxter.

―Mas, Abe, nós conhecíamos ele‖, Abby pressionou de novo.

Depois de outra longa pausa, o Sr. Baxter disse:

―Acredito que Joe Solomon é o tipo de homem que ninguém nunca irá conhecer

verdadeiramente.‖

Três operários maduros e condecorados sentavam-se no outro lado da parede. Entre

eles, provavelmente dominam uma centena de identidades em uma dúzia de países.

Nomes eram apenas disfarces. Apenas lendas. Pendurada no escuro, perguntei-me se

alguma coisa sobre o Joe Solomon era real. Senti como se a verdade estivesse escapando

de mim, caindo, até que...

Espere, percebi tarde demais, eu estava dormindo — literalmente.

Através de uma fenda no topo do elevador, eu podia ver Bex segurando a corda

desgastada, tentando fortemente me puxar de volta para cima, mas a corda escorregou de

novo.

―Lá fora, os adultos continuavam conversando.‖ Ouvi a Sra. Baxter dizendo, ―Não

podemos contar a Cammie até estarmos absolutamente certos...‖

―Não podemos nunca contar a Cammie‖, disse Tia Abby.

―Espere!‖, o sussurro frenético de Bex ecoou no tubo conforme o elevador se mexeu

de novo.

Isso não é bom, disse a mim mesma. Isso não é...

Mas fora do tubo, a voz da Sra. Baxter era calma.

―Ela tem quase dezessete anos, Abby. E quanto mais ela souber, mais segura ela…‖

―Cammie nunca ficará segura!‖, disse Abby, e eu me lembrei de que um elevador

semi-instável era o menor dos meus problemas.

―Aguente aí, Cam,‖ Bex murmurou lá de cima. ―Eu…‖

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―Nós não sabemos se Cammie faria algo estúpido‖, a Sra. Baxter continuou.

―É claro que ela faria,‖ Tia Abby riu. ―Eu faria. Confie em mim, Grace, Abe. Cammie

nunca pode saber…‖

Antes que ela pudesse terminar, senti o fundo do elevador saindo debaixo de mim

enquanto, três metros acima no tubo, a corda velha rompeu e eu fui arremessada em

direção ao piso da cozinha.

―Mas o que…‖ o Sr. Baxter começou a gritar.

Com um suspiro, eu rolei e me encontrei encarando um par de botas de salto alto

maravilhosas, pernas longas e um rosto familiar olhando para mim, dizendo:

―Ei, Baixinha.‖

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CAPÍTULO 7

―CAMMIE NUNCA PODE SABER O QUE?‖, perguntei.

Bex estava sentada ao meu lado, nós duas sentadas nas cadeiras duras e de costas

eretas, olhando para os pais dela e minha tia Abby. As mãos de Bex estavam queimadas

por causa da corda. Meu cotovelo estava sangrando. Porém minha única preocupação era

o que tinha trazido a única irmã de minha mãe para a Inglaterra e, o mais importante...

“Cammie nunca pode saber o que?”

―Está vendo?‖, disse Abby, gesticulando para nós duas. ―Isso é exatamente sobre o

que eu estava falando.‖

―É verdade.‖ Sr. Baxter cruzou seus braços e olhou para nós duas. Sua voz não era

nem um pouco divertida quando terminou, ―Elas são uma responsabilidade.‖

―O que a Cammie não pode saber?‖ Bex perguntou, escolhendo, suponho, deixar a

coisa da responsabilidade para outro momento.

―Vá para a cama, Cammie‖, minha tia ordenou, soando exatamente como minha mãe.

―Não‖, falei, soando exatamente como minha tia.

Eu tinha certeza que estava prestes a se abrir um buraco no tempo espaço, quando

Abby estourou:

―Cameron!‖

Eu já estava sobre meus pés.

―Então você sabe o que faria se fosse eu, e soubesse desse grande segredo...‖ Me

inclinei contra a mesa, quase a desafiando conforme terminei, ―Agora, imagine o que você

faria se houvesse algo que você não soubesse.‖

Como ameaça, essa foi uma das boas. Eu podia ver nos olhos de Abby. Após um

momento, ela puxou a cadeira do outro lado da mesa e afundou nela. Tentei não notar a

rigidez no movimento ou a maneira em que ela segurava um braço cuidadosamente ao seu

lado. Tentei não pensar no fato de que ela tinha quase morrido.

Ela tinha quase morrido.

Ela tinha quase morrido.

―Nós pegamos um deles.‖ A voz de Abby me trouxe de volta. ―Noite de eleição… você

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estava fora, e eu estava…‖ Ela falhou.

Ela tinha quase morrido.

―Do time de extração que veio por você, nós pegamos um.‖ Minha tia gesticulou para

o lugar onde tinha levado um tiro. ―Nós pegamos o que fez isso. Uma semana atrás ele

decidiu começar a falar.‖

Ao meu lado, senti Bex se sacudir, sua impaciência ferver.

―O que isso tem a ver com o Sr. Solomon?‖

O pai dela alertou:

―Rebecca,‖ e Abby continuou.

―O Círculo trabalha em células — grupos pequenos e isolados. Dois operários do

Círculo podiam estar sentados bem ao lado um do outro e nem saber. Então o homem em

custódia tem um conhecimento de operários celulares, mas não sabe muito. Ele nem sabe

por que querem você, Cammie.‖

Ela olhou diretamente para mim, e senti meu coração desmoronar.

―Ele só sabe das pessoas com quem trabalhou diretamente e...‖

Conforme minha tia parou, eu vi a Sra. Baxter tensa. O Sr. Baxter levou a mão até

sua boca como se não pudesse suportar dizer as palavras em voz alta.

―E ele sabe das pessoas com quem foi recrutado‖, Abby disse lentamente. Seu olhar

caiu no chão. ―Quando ele era do Blackthorn.‖

Por dias eu havia querido respostas — eu implorei e mendiguei pela verdade. Mas

agora estávamos lá e eu não queria ouvi-la.

―Não. Isso é o que o MI6 pensa, por algum motivo, mas estão errados. Houve algum

tipo de engano.‖ Tentei me afastar, mas Abby se inclinou para perto.

―Joe é um agente duplo, Cam. Ele foi recrutado pelo Círculo há muito tempo atrás.‖

―Como você pode dizer isso?‖ Rebati. ―Ele é seu amigo.‖

―Ele também é amigo do homem que fez isso!‖, ela gritou, apontando para seu ombro

ferido. Ela parecia tão irritada e traída, e quando falou de novo sua voz era mais como um

apelo. ―Temos que acreditar nisso, Cammie. Você dentre todas as pessoas precisa

acreditar nisso.‖

―Mas... ele era da CIA...‖ Soava infantil, e mesmo assim eu tinha que dizer. Eu era,

afinal, uma criança ainda. ―Ele era nosso professor. Ele não podia estar trabalhando para o

Círculo.‖

A Sra. Baxter estava calma conforme tomou o assento próximo a Abby.

―Pensem nisso, garotas. Vocês sabem que ter operários dentro da Agência seria de

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alta prioridade para o Círculo. E um operário na Academia Gallagher — um operário com

tanto acesso a Cammie...‖

―Você está errada‖, Bex disse.

―É uma prática antiga e efetiva‖, Sra. Baxter disse suavemente. ―Recrutar operários

que são jovens, encorajá-los a passar suas folgas treinando com o Círculo, trabalhando

com o Círculo. E então mandá-los de volta à escola.‖ Ela estava tão equilibrada — tão boa,

sábia e bonita que era quase impossível duvidar dela enquanto ela olhou para nós duas e

disse, ―Mas não cometam um erro, garotas. Nós sabemos o que Joe Solomon fez em suas

férias de verão.‖

―E se ele mudou?‖ Bex desafiou. ―Pessoas mudam. Talvez ele não esteja trabalhando

com eles mais.‖

―Eles não são Escoteiros‖, Abby respondeu. ―Não é tão fácil sair.‖

Sentamos em silêncio por um longo tempo antes de eu finalmente voltar para minha

tia Abby.

―Por que você veio aqui esta noite?‖

―Eu estava preocupada com você, Baixinha. Eu estava…‖

―Onde está minha mãe?‖ Ouvi minha voz se levantar, mas não tentei contê-la.

―Ela está bem, Baixinha.‖ Abby olhou para mim. ―Ela não pode vir, então eu vim. Ela

está bem.‖

―Por que ela não poderia vir?‖, proferi abruptamente. ―O que é tão importante que…‖

―Tudo certo, então.‖ Sr. Baxter levantou da mesa, sinalizando que nossa parcela de

perguntas e respostas da nossa noite estava oficialmente acabada. ―É melhor vocês duas

dormirem um pouco. Grande dia amanhã. Temos que levantar cedo para levar-lhes de

volta para a escola.‖

Amanhã. Escola. Bex e eu nos entreolhamos. Sem palavras, nós duas ficamos de pé

e nos dirigimos à porta. Roseville parecia estar a milhões de quilômetros de distância.

―Abby?‖ Bex parou e se virou na soleira da porta, esperou minha tia olhar para cima.

―Quantos anos... Quando ele se juntou ao Círculo... quantos anos ele tinha?‖

O sorriso de Abby era suave, mas triste.

Ela engoliu em seco antes de responder.

―Dezesseis.‖

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CAPÍTULO 8

COMO RETORNAR À ESCOLA

(Uma Lista Por Cameron Morgan e Rebecca Baxter)

• Lavar roupa. Isso é muito mais fácil, à propósito, quando você está na

casa da sua avó e não em uma casa segura do MI6 (porque, embora este

último possa ter mecanismos de defesa muito mais legais, o anterior tem uma

lavanderia muito melhor).

• Fazer as malas. O que, vivendo em uma série de casas seguras, vem a

calhar, porque você nunca realmente desfez as malas.

• Ajustar o despertador. Porque mesmo o relógio interno de uma

Garota Gallagher tem uma tendência de vacilar quando você está lidando

com grandes quantidades de estresse e cansaço do voo.

• Se vestir em camadas. Porque aviões são sempre frios. E também, é

bem mais fácil mudar sua aparência e despistar alguém que te segue se você

também puder perder seu suéter.

• Verificar se você tem o ensaio que escreveu para Cultura e

Assimilação, os códigos que quebrou para Prática de Criptografia, e o

trabalho de pesquisa que fiz para Operações Secretas.

• Tirar o trabalho de Operações Secretas da bolsa. Pisoteá-lo. Chutá-lo.

Jogá-lo no lixo.

• Retirá-lo do lixo e colocá-lo na bolsa de novo. Só por precaução.

● ● ●

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Precisamos de três aviões, dois SUVs, e a certo ponto uma van da Wolkswagen com

um cheiro bem questionável, mas seis horas depois me encontrei encarando o vidro à

prova de balas e as árvores nuas e manchas de neve e gelo que cobriam a Rodovia 10,

conforme a mesma cortava pela floresta como uma cobra. Depois de três semanas

vivendo como uma cigana em uma terra estrangeira, me senti especialmente estranha

vindo para casa.

Casa.

―No que está pensando, Cam?‖ Bex me deu uma cotovelada e sorriu.

―Ah, você sabe... o de sempre‖, falei o mais calma possível enquanto me sentava na

traseira de uma limusine que era mais fora do normal possível. (Tenho certeza que

costumava pertencer ao presidente.)

―Você cobriu vigilância veicular já?‖ Tia Abby perguntou.

Bex balançou a cabeça.

―Sério?‖ Sra. Baxter disse. Ela soou genuinamente surpresa. ―Pensei que você teria

coberto em…‖

Ela falhou, mas eu sabia o que iria dizer: Operações Secretas. A classe do Sr.

Solomon.

―Ah, bem. Suponho que não há nenhuma hora como o presente.‖ Ela cruzou as

pernas. ―Me diga, Cammie. O que você vê?‖

―Dois carros à nossa frente.‖

―Carros condutores, sim.‖ Sra. Baxter assentiu aprovando, então se virou para sua

filha. ―Bex?‖

―Um veículo seguindo.‖

―Certo‖, disse a Sra. Baxter. Ela continuou, citando as origens da vigilância e proteção

em movimento, algo sobre os carros da Roma antiga e a morte de César, mas minha

mente estava vagando. Eu estava observando a dúzia de outros carros — limusines como

as nossas (porém levemente menos à prova de balas) que enchiam a estrada, esperando

para carregar minhas colegas de classe de volta pelos nossos altos portões.

―Eu nunca vi a fila tão longa‖, disse Bex, e eu estivera pensando a mesma coisa. ―Os

guardas devem estar de férias ainda‖, brincou ela.

Tia Abby se moveu para o banco ao meu lado, mas não disse nada. Esperei que o

carro diminuísse a velocidade e esperasse sua vez na fila. Mas ao invés disso, Sra. Baxter

perguntou:

―Qual é a segunda regra de contra vigilância?‖

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―Resistir a rotinas e expectativas‖, Bex e eu respondemos ao mesmo tempo em que o

Sr. Baxter puxou a limusine para a pista de passagem. Senti o carro se movendo cada vez

mais rápido, voando pela longa fila de carros esperando para levar minhas colegas de

volta à escola.

Sra. Baxter soou igual à Bex quando disse:

―Exatamente.‖

Eu conheço a Academia Gallagher. Quero dizer, uma pessoa não estraga tantas

blusas brancas quanto eu estraguei sem passar muito tempo rastejando através de linhas

de esgoto imundas e passagens secretas. Então conforme nós voamos mais e mais

distante dos portões, eu tive certeza que estávamos na verdade acelerando em direção...

ao nada. Ou foi o que pensei até que o Sr. Baxter puxou o volante novamente e nos

encontramos em um beco estreito que, eu juro, nunca havia visto antes.

A boa notícia era que o carro era à prova de balas e mísseis e tinha pneus

preenchidos com borracha sólida em vez de ar normal, de modo que nunca, jamais poderia

furar.

A má notícia era que eu estava começando a descobrir porque Bex era tão má

motorista, porque quanto mais irregular a estrada ficava, mais o Sr. Baxter exigia de

gasolina.

―Atalho‖, Tia Abby ofereceu.

―Para onde?‖ Bex e eu perguntamos.

O carro descia o caminho estreito, os pneus mergulhando dentro e fora dos buracos,

e lama batiam contra a estrutura. Galhos lutavam contra os lados do carro, e eu senti como

se estivéssemos sendo engolidos pela floresta, dirigindo em linha reta em direção a uma

parede de pedra eletrificada e pelo menos uma dúzia das câmeras de segurança mais

calibradas do mundo.

―Agora?‖ Sr. Baxter perguntou do banco da frente.

―Isso vai resolver‖, Abby disse a ele.

Sr. Baxter pressionou um botão no painel e apertou o acelerador. E pela segunda vez

durante minhas férias de inverno, vi minha (relativamente pequena) vida relampejar diante

de meus olhos. Agarrei as mãos da minha melhor amiga, esperando por uma colisão que

nunca veio.

Acredite ou não, eu nunca realmente estive no canal de derivação da Academia

Gallagher. Bem, eu não tinha estado. Até aquele momento.

Eu ainda não sabia o que era mais chocante — a impressão de o carro atingir algum

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tipo de rampa a oitenta quilômetros por hora, a sensação de voar pelo ar e sobre a cerca

em uma limusine ou o súbito splash que vem quando um carro de duas toneladas

mergulha de cara na água, apertando nossos cintos de segurança e nos segurando no

lugar.

Senti o pesado carro naufragar. Havia água sobre o capuz e elevando-se acima das

janelas, mas nenhuma gota escorreu para dentro conforme afundamos sob a superfície, na

escuridão turva do lago. Peixes passavam nadando pelas janelas como se limusines

caíssem do céu todos os dias — e tanto Tia Abby quanto o Sr. Baxter não pareciam estar

preocupados que nosso carro à prova de balas estava afundando.

Mas espere, percebi um segundo depois. Não estávamos afundando. Bex e eu nos

inclinamos para frente, observamos a maneira como os faróis da limusine cortavam pela

água conforme uma hélice emergiu e começou a girar, nos empurrando pela névoa escura

como um submarino.

―ALERTA: ÁREA RESTRITA. SOMENTE PESSOAL AUTORIZADO‖, uma voz

estridente mecânica ordenou no estéreo, ecoando pelos alto-falantes do automóvel.

―Mãe...‖ Bex começou a dizer, mas sua mãe meramente a fez calar.

―ADQUIRINDO IMAGENS AGORA‖, a voz disse ao mesmo tempo que uma luz

laranjada relampejou pelo carro como um raio. Eu pisquei, e senti como se milhares de

luzes estivessem explodindo dentro dos meus olhos.

―APRESENTE RECONHECIMENTO VOCAL, POR FAVOR‖, a voz comandou, e

minha tia respondeu:

―Abigail Cameron. CIA.‖

―Abraham Baxter, MI6‖, o pai de Bex disse do banco da frente. Ao meu lado, a mãe

de Bex deu seu próprio nome, depois me cutucou levemente na costela.

―Hum... Cameron Ann Morgan... Garota Gallagher?‖ Eu não tinha nenhuma ideia de

qual era ou devia ser meu título oficial. Alvo de terroristas internacionais? Adolescente?

Espiã em treinamento? Pessoa que realmente, realmente quer saber o que está

acontecendo?

Ouvi a resposta de Bex da mesma maneira que eu tinha dado, e então o movimento

parou. A água caiu como se o lago estivesse emergindo do lago, mas não havia nenhuma

luz solar entrando pelas janelas. Espiei pelo vidro à prova de balas e vi os faróis

iluminarem uma pedra sólida. Então as portas do carro se abriram automaticamente, e

Abby desceu, e nada em meus dezesseis (quase dezessete!) anos de vida, ou cinco e

meio anos de treinamento, tinham me preparado completamente para o que vi.

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―Existe cavernas sob o lago?‖, chutei, mas a mãe de Bex já estava fora do carro

andando em direção ao porta-malas.

Eu já tinha ouvido sobre canais subterrâneos, grutas e cavernas em toda minha vida,

mas nunca soube que estava vivendo bem ao lado de uma. Encarei as estalactites e

estalagmites que cobriam o topo e o chão da gruta. O chão desceu atrás de nós, em

direção à água do lago, enquanto minha melhor amiga e eu estávamos em uma costa

subterrânea, e lembrei que eu não sabia todos os segredos da minha escola — nem de

perto.

Antes que eu percebesse, o Sr. Baxter tinha tirado nossas malas do porta-malas e a

Sra. Baxter estava abraçando Bex e sussurrando em seu ouvido. Eu ainda estava na

caverna, longa e escura que se estendia muito além do brilho do farol.

Dei um passo em direção à parede, e corri meus dedos pela crista da Academia

Gallagher que fora esculpido na pedra.

―Adeus, querida‖, Sra. Baxter beijou minha bochecha. E depois as mãos da Tia Abby

estavam em meus ombros.

―Cammie, pare por um segundo. Antes que você vá, preciso que você me prometa

uma coisa.‖

―Ok.‖

―Eu preciso que você seja cuidadosa este semestre.‖ Ela não soava como ela

mesma, percebi. Soava como o Sr. Solomon. ―Cam, você está me escutando?‖

―Sim... Eu sei.‖

―Não corra riscos desnecessários.‖

―Eu sei.‖

―E, Baixinha, você precisa ser… forte.‖

Comecei a dizer a ela que eu sabia, mas algo mais me ocorreu.

―Você não vem, não é?‖, perguntei.

Abby olhou de mim para os Baxter, e depois voltou para mim.

―Aqui é o mais longe que irei.‖

―Mas eu pensei que você iria... Nós não temos um professor de Operações Secretas.‖

―Claro que você vai ter.‖ Ela sorriu levemente. ―Claro que vai ter.‖

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CAPÍTULO 9

―OS ARMÁRIOS DO DR. FIBS?‖ OUVI EU MESMA MURMURAR cinco minutos

depois — ainda um pouco chocada, para dizer-lhe a verdade.

Mas o que mais uma garota deveria sentir depois de andar em um elevador

subaquático, passar por mais seis scans (dois de retina, três vocais e um de corpo inteiro)

e depois subir quatro metros de escadas que pareciam mais antigas que toda a escola em

si?

Então, é, choque provavelmente serve. Mas isso não me impediu de examinar a porta

escondida pela qual acabamos de sair.

―Eu nunca soube que havia uma passagem atrás dos armários do Dr. Fibs!‖

―Essa é a razão de ainda estar funcionando.‖

Bex e eu nos viramos para ver a Professora Buckingham atrás de nós, parada na

soleira da porta do cômodo escuro com os braços cruzados, parecendo a barreira mais

intimidante de todas.

―Cameron, Rebecca, me acompanhem.‖

Há três coisas que são importantes saber sobre a Professora Buckingham.

1) Ela é o membro mais velho do corpo docente.

2) Ela é uma lenda absoluta no MI6; e,

3) Ela anda mais rápido do que possa ser humanamente possível com um quadril

ruim. Pelo menos parecia assim conforme Bex e eu arrastávamos nossas malas pesadas

escadas acima, tentando acompanhar seu passo.

―Espero que seu recesso tenha sido agradável, senhoritas.‖ Ela olhou para trás, para

nós. ―Ou tão agradável quanto possa ser esperado sob tais circunstâncias.‖

―Professora!‖ Sr. Mosckowitz chamou das escadas acima de nós. ―Eu preciso…‖

―Meu escritório. Segunda prateleira‖, ela gritou de volta sem perder o passo.

―Pediram-me para transmitir três fatos muito importantes para você duas. O primeiro é

lembrar-lhes de que o que aconteceu em Londres é altamente confidencial. Qualquer coisa

que vocês possam ter visto...‖, ela parou e nos olhou por cima de seus óculos. ―Qualquer

conversa que vocês possam ter tido não é para ser repetida a ninguém — especialmente

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suas colegas. Essas são histórias que vocês não compartilharam nos terrenos escolares.‖

Bex me deu uma olhada rápida, e eu sabia que ela tinha percebido a abertura

também. Foi provavelmente por isso que a Professora Buckingham não perdeu um

segundo antes de adicionar:

―A segunda coisa é que não haverá mais viagens fora dos terrenos escolares.‖ Ela

virou para subir novamente. ―Extracurricular ou qualquer outra.‖

Subindo escadas acima, eu observei minha professora se virar para mim.

―Tenho certeza que perderemos algumas, Cameron. E se perdemos... bem… eu

realmente espero que nos conte.‖

Antes que eu pudesse perguntar o que exatamente eles podem ter perdido, parei e

estudei a parede, encarando o pedaço de moldura usando para girar e abrir uma

passagem secreta para o celeiro, onde nós tínhamos Proteção & Aplicação. A entrada

estava coberta agora — uma parede sólida de pedra a bloqueando para sempre.

No corredor do primeiro andar, passamos pelo lugar onde um relógio avô costumava

ficar, escondendo um alçapão para o sistema de ventilação original da mansão...

Perto da biblioteca, procurei pela estante de livros que costumava girar e revelar uma

escada de corda que corria do porão da mansão até o telhado...

Mas tinha desaparecido. Tudo tinha desaparecido.

A Professora Buckingham deve ter lido minha mente, porque parou no topo da

grande escada e me estudou.

―Imagino, Cameron, que você achará muitas coisas diferentes.‖

Guardas armados estavam no hall de entrada abaixo de nós, digitalizando as

impressões digitais de minhas colegas de classe, vasculhando suas bagagens. Os vitrais

que eu tanto amava estavam cobertos com vidro à prova de balas. A mansão Gallagher

tinha sofrido centenas de anos com tempestades, cupins e alunos da sétima série

superzelosos, mas naquele momento eu sabia que minha escola estava ferida, e tudo que

eu podia fazer era ficar ali, encarando as suas cicatrizes.

―Eles fizeram tudo isso por minha causa?‖ Eu não tinha certeza de como isso deveria

me fazer sentir — lisonjeada, segura ou apenas realmente, muito culpada.

Os corredores estavam silenciosos. O Hall de História estava escuro. Abaixo de nós,

a última de nossas colegas estava sendo permitida a entrar, em casa, mas nada do lugar a

minha volta parecia com a casa que eu deixei.

Bem — isso é, até que eu ouvi o grito.

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● ● ●

―Vocês estão atrasadas!‖

Não havia como confundir a voz de Liz. Seu sotaque estava mais acentuado, como

sempre está depois das férias. E ainda assim conforme me virei e olhei para a

incrivelmente pequena loira que estava em pé na boca do Hall de História, com as mãos

nos quadris, eu estava totalmente não esperando ver o que vi. Porque Elizabeth Sutton,

minha supergênio e surpreendente amiga, estava com raiva.

Não o tipo de raiva como quando ela dorme demais e acorda às 6:05 da manhã para

estudar em vez de às 6 em ponto — não como ela fica quando Bex a provoca sobre seu

sistema patenteado de cartões de anotações codificado por cor. Nem mesmo o tipo de

raiva que vem quando ela ouve que um professor não oferecerá tarefas para ganhar

crédito extra.

Liz estava mais irritada do que algum dia já a vi estar, conforme olhou entre nós duas,

depois jogou seus braços para cima.

―Eu estive tão preocupada!‖ Ela atirou-se em cima de nós como uma bala de trinta e

oito quilos, agarrando ambas de nós, nos apertando com mais força do que eu achei que

fosse humanamente possível (bem — quando Liz é a humana em questão). Eu teria me

sentido meio aleijada, se Bex não estivesse totalmente esmagada também.

―Ei, Lizzie‖, Bex disse com o pouco fôlego que pode aspirar. ―Teve um bom feriado?‖

Mas duvido que Liz tenha sequer ouvido.

―Por que vocês duas não me ligaram? Por que não me mandaram um e-mail,

escreveram ou...‖ Ela se afastou, então olhou de mim para Bex. ―Eu disse a mim mesma

que vocês provavelmente estavam se divertindo à beça e... estavam bem. E então eu

volto, vejo todas as novas medidas de seguranças e fico tão preocupada!‖

Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, estávamos de volta no abraço, e Liz

estava respirando profundamente. Então, tão rápido quanto, ela se afastou novamente.

―Então o que aconteceu? Onde vocês foram? O que viram?‖

―Liz, nós…‖

―Acho que isso é confidencial.‖ Buckingham me atirou um olhar conforme falou.

―Tudo?‖ Liz perguntou.

―Tudo‖, Bex e eu respondemos.

―Patricia!‖ Sr. Smith estava subindo as escadas correndo. ―Estamos prontos para

começar…‖

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―Estou indo!‖ Buckingham gritou sem nem mesmo olhar. Ela estava ocupada demais

olhando para mim.

―Três coisas‖, eu disse a ela. ―Você disse que havia três coisas.‖

―Sim, Cameron, me pediram para dizer-lhe que sua mãe está temporariamente

detida.‖

―Mas…‖

―Ela está bem — posso assegurar-lhe. Apenas um pequeno adiamento. Mas ela não

está de volta completamente ainda.‖

―Patricia, Harvey parece pensar que só temos uma chance nisso então...‖ Nosso

professor de Países do Mundo gesticulou como se tentasse dizer vamos logo. E, com isso,

Professora Buckingham se moveu em direção às escadas.

―O Jantar de Boas Vindas de Volta começará em breve‖, ela nos disse. ―Vocês

garotas vão em frente.‖

―Mas...‖ comecei, mas então me esqueci do que estava prestes a dizer.

Porque, no hall de entrada abaixo de nós a Madame Dabney estava ajudando uma

veterana explicar aos guardas porque ela tinha um sabre do século XV em sua mochila. No

fim do corredor, Dr. Fibs estava reclamando que a entrada para os laboratórios da sétima

série tinham sido movidos e ele não conseguia encontrá-los. A Academia Gallagher era

mais forte do que um dia já foi — tecnicamente. Fisicamente. E ainda assim, de certa

forma, eu quase podia senti-la desfazendo-se a minha volta.

―E, Cameron‖, Professora Buckingham disse do topo das escadas. ―Bem vinda à sua

casa.‖

Subindo as escadas para nosso quarto, tentei não contar as passagens secretas

pelas quais nós devíamos ter passado (4); ou os homens do pessoal que pararam

subitamente de cochichar assim que me viram (6); ou mesmo o número de portas

sensíveis a impressões digitais pelas quais tínhamos que passar para chegar a nossa suíte

(9).

Tentei me concentrar em quão bonito estava o cabelo de Liz (porque, diferente de

mim, ela pode perfeitamente tirar um bob). Me foquei no meu corpo cansado da viagem e

meu estômago que roncava (porque enquanto as casas seguras do MI6 podiam ser

incrivelmente seguras, elas não vem muito bem abastecidas de comida, me deixe te dizer).

―Então eu voltei um dia antes para mostrar a fórmula do meu novo soro da verdade

para o Dr. Fibs‖, disse Liz, com os olhos brilhando. ―É dez vezes mais efetivo que Sódio

Pentothal... clareia seus dentes... e…‖

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―Espere‖, falei, parando na porta da suíte que compartilhávamos desde a sétima

série, sabendo e sentindo que...

―Tem alguma coisa diferente‖, disse Bex, passando por mim para o quarto.

As camas estavam feitas. As cortinas estavam abertas. Tudo estava exatamente

como deveria estar, exceto que… não estava. Havia pegadas no tapete limpado

recentemente, um leve cheiro de café e um perfume forte.

Eu estava andando em direção ao banheiro escuro, alcançando a luz, quando Bex

gritou:

―Espere!‖

Mas era tarde demais. Uma mão forte agarrou minha cintura. Vi a sombra no espelho

do banheiro, aparecendo no escuro. E não hesitei: recuei e agarrei o braço que me

agarrou, girando, usando o próprio momento ímpeto do atacante para arremessá-lo pela

porta aberta do banheiro até o outro lado do quarto.

Ele colidiu contra uma cômoda e derrubou um abajur no chão. Então Bex estava lá,

se movendo para dar um chute. O homem rapidamente evitava o pé dela.

Ele ergueu suas mãos para cima e abriu a boca para falar, mas antes que pudesse

dizer uma palavra, uma mala Louis Vuitton veio voando para nosso quarto, golpeando o

homem diretamente em seu rosto, e derrubando-o no chão como uma pedra.

―Ei, Macey‖, eu de alguma forma consegui murmurar através do cabelo de Bex

conforme minha melhor amiga me pressionava no canto da suíte. ―Isso foi um belo…‖

―Não se mexa‖, Macey avisou. Eu não tinha certeza se ela estava falando comigo ou

com o homem que deitava em seus pés com sangue vazando de seu nariz. Macey

McHenry é uma das garotas mais deslumbrantes do mundo, mas a expressão em seu

rosto não era bonita naquele momento. Era assustadora.

E ainda assim, o homem em seu pé não estremeceu. Não lutou. Apenas chacoalhou

sua cabeça e disse:

―Agora, eu não faria isso se fosse você.‖

Segui seu olhar para o canto do quarto, onde Liz estava tentando decidir se

pressionava ou não um grande botão vermelho na parede marcado como BOTÃO DE

PÂNICO: PARA SER USANDO APENAS EM EMERGÊNCIAS. Eu nunca tinha o visto

antes, mas eu estava bem certa de que apertá-lo traria toda a força da Academia

Gallagher para nossa suíte.

―Um homem estranho está em nosso quarto, Liz. Aperte!‖ Bex ordenou (soando um

pouco irritada porque não tinha sido ela quem o pressionaria com uma mala de viagem).

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―Não,‖ rompi. Olhei para o sangue e o nariz escorrendo e foquei nos olhos azuis que

pela última vez vira me encarando do outro lado de uma mesa de metal fria.

―Está certo.‖ O homem quase sorriu conforme olhou para cima para nós quatro e

disse: ―Eu não sou um estranho. Sou, Srta. Morgan?‖

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CAPÍTULO 10

ENTÃO, OK, TECNICAMENTE EU O TINHA VISTO UMA VEZ ANTES, mas ele

ainda era um desconhecido total. Afinal, ele não tinha me dado seu nome em Londres —

nem posição social, nem número de série. Eu sabia que ele tinha permissão suficiente

para estar em uma instalação super secreta do MI6 e uma escola igualmente super

secreta. Mas se eu não conhecia Joe Solomon, então não conhecia nenhum outro homem.

Infelizmente, saber de alguma coisa e convencer Liz de alguma coisa são duas

coisas diferentes.

―Mas por que ele está fazendo a verificação de segurança do nosso quarto?‖, ela

pretextou depois de colocarmos nossos uniformes e encararmos o andar de baixo. ―Ele é

do pessoal da segurança?‖

―Eu não tenho certeza, Liz‖, admiti. ―Ele é só um agente que conheci em Londres.‖

Liz estava praticamente correndo para manter o ritmo ao meu lado, com a mão no

corrimão.

―Então ele estava na sua segurança pessoal?‖

Olhei para Bex e dei de ombros.

―Não exatamente.‖

―Você o conheceu?‖ Liz perguntou virando-se para Bex.

―Não‖, Bex disse verdadeiramente. ―Eu não o conheci.‖

―Você a deixou sozinha?‖

Eu tinha quase esquecido que Macey estava ali, para dizer a verdade. Ela estava tão

quieta, andando à nossa frente, mas agora estava parada na base da escada, olhando

para cima para Bex.

―Pensei que tínhamos concordado em...‖ Macey começou, então parou subitamente.

―Concordado em o que?‖, perguntei, mas não recebi nada. ―O que?‖ perguntei

novamente. ―Vocês se reuniram antes do recesso e concordaram em nunca me deixar ir a

algum lugar sozinha? Ou foi mais como um acordo para monitorar meu humor e

comportamento para que pudessem alertar a alguém caso eu estivesse prestes a explodir

e fazer alguma coisa estúpida?‖

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Minhas três melhores amigas no mundo se entreolharam como se tivessem

esquecido como falar Inglês. Finalmente, Bex disse:

―Ambos.‖

As grandes portas duplas do Grande Salão estavam abertas. Senti cheiro de pão

fresco e ouvi as vozes de uma centena de garotas conversando, rindo. Eu estava em casa.

Depois de semanas correndo e me escondendo, eu estava finalmente em casa; mas

olhando para minhas colegas, me lembrei de que ser uma Garota Gallagher não é coisa de

uma construção. É questão de irmandade.

Percebi que nunca realmente tinha partido.

―Ela não me deixou, Macey‖, falei. ―Eles me arrastaram para um interrogatório um dia,

e aquele cara foi quem o fez.‖ Dei um passo em direção ao Grande Salão, com um último

sorriso de volta para minhas amigas. ―Ela não me deixou.‖

Quatro coisas vieram à minha mente enquanto peguei meu lugar de costume na

mesa do terceiro ano.

1) Estar na corrida em um país estrangeiro é suficiente para fazer uma garota

seriamente sentir a falta da comida do nosso chef.

2) As janelas do Grande Salão haviam sido aprimoradas para uma substância que

podia provavelmente sobreviver a um impacto direto de um míssel.

3) O saquinhos de adoçante em nossas mesas agora trazia as palavras “O conteúdo

desse pacote foi certificado como livre de psicoativos.”

Mas foi a quarta coisa que eu não estivera esperando: silêncio. Assim que me sentei,

parecia como se a mesa inteira — o salão inteiro — parara de falar.

Somente Bex parecia ser imune ao silêncio enquanto jogou uma perna sobre o banco

e tomou o lugar ao lado de Macey.

―Todo mundo teve um bom feriado?‖ Ela alcançou a jarra de água no centro da mesa

e encheu seu copo. E o silêncio ainda se arrastava.

―Eu disse‖, Bex repetiu lentamente, ―todo mundo teve um bom feriado?‖

―Sim.‖

―Claro.‖

―Uhum‖, todas se apressaram a dizer, mas os olhos de minhas colegas... seus olhos

ainda estavam em mim: Cameron Ann Morgan, não mais Camaleoa.

E então, tão rápido quanto, seus olhares passaram para Tina Walters.

―Então, hum... Cammie‖, Tina começou, ―como foi seu recesso?‖

―Nosso feriado foi adorável, Tina‖, Bex respondeu por mim. ―Obrigada por perguntar.‖

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Sua coluna estava perfeitamente ereta conforme ela respondeu. Ela gentilmente

chacoalhou um guardanapo e deitou-o em seu colo. Madame Dabney teria ficado

orgulhosa, mas é claro que Madame Dabney não estava ali — nenhum de nossos

professores estava — então talvez tenha sido por isso que Tina se sentiu segura em pôr

seus cotovelos sobre a mesa e se inclinar mais perto.

―Mas eles... você sabe... os pegaram?‖, perguntou ela, talvez porque fosse a filha de

um espião e uma colunista de fofoca, e não iria descansar até que ouvisse a história

completa. Ou talvez ela estivesse somente esperando por uma história diferente da que

devia ser óbvia para cada garota no (recentemente reforçado) Grande Salão.

―Não, Tina‖, falei cuidadosamente, ―eles não os pegaram. Não ainda.‖

―Mas eles tem um monte de vantagens, não tem?‖ Eva Alvarez perguntou.

―É claro que eles têm.‖ O olhar de Bex encontrou o meu, as palavras não ditas

cursando entre nós: E o nome dele é Joseph Solomon.

―É, aposto que sua mãe e o Sr. Solomon irão encontrar algo a qualquer hora‖, Anna

Fetterman disse, e eu lancei um olhar pelo Grande Salão, processando, pensando,

percebendo que ninguém tinha ouvido nenhum boato. Nem uma única das minhas colegas

tinha ouvido seus pais e mães cochichando sobre operários e agentes desonestos no meio

da noite.

―É‖, Anna disse novamente. ―O Sr. Solomon vai pegá-los.‖

Ela assentiu sorrindo e soava tão segura.

Assenti, sorrindo, e tive vontade de chorar.

Para elas, o Sr. Solomon não era um garoto de dezesseis anos que tinha se juntado

ao Círculo. Ele ainda era o homem que tinham entrado pelas portas duplas no fundo

daquele mesmo salão um ano e meio atrás.

Me virei e olhei para as portas, quase pulei quando elas se abriram — como se eu

quisesse que aquilo acontecesse, viajando de volta no tempo. Eu meio que esperava ver

Joe Solomon entre a longa fila de professores fazendo a sua entrada formal no corredor

central. Senti o salão a minha volta mudar conforme, uma a uma, minhas colegas

contaram as cabeças, examinaram a fila e perceberam que alguém estava faltando.

Eu estava encarando a mesa, incapaz de olhar, quando Tina perguntou:

―Ei, onde está a Diretora Morgan?‖

Buckingham tinha dito que ela não estava de volta ainda. Que ela estava detida...

atrasada. E atrasada significava chegar tarde. Atrasada significava ―de volta em um flash.‖

Buckingham não tinha dito que ela tinha ido embora.

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―Ela tem que estar aqui‖, falei sem graça, certa de que Tina tinha sentido a falta dela.

―Minha mãe tem que estar de volta a esta hora‖, eu disse, apesar do fato de que a

Professora Buckingham estava se movendo até o lugar da minha mãe atrás do pódio na

frente do salão.

Eu estava de pé, desesperada por uma visão melhor, quando Buckingham perguntou:

―Mulheres da Academia, quem vem aqui?‖ e cada garota no salão se levantou

também.

O salão ecoou.

―Somos irmãs de Gillian.‖

―Por que vieram?‖

―Para aprender suas habilidades. Honrar sua espada. E manter seus segredos‖,

minhas colegas repetiram, mas eu não disse as palavras. Estava ocupada demais

encarando a Professora Buckingham, que se colocava de pé orgulhosamente atrás da

crista da Academia Gallagher como se ali fosse seu lugar — seu trabalho.

―Bem vindas de volta, senhoritas. Eu tenho alguns anúncios‖, disse ela com a mesma

emoção de quando estava no Hall de História e me falara que minha mãe havia sido

detida.

―A Diretora Morgan não pôde estar conosco esta noite, então ficou a meu encargo

informá-las que Joe Solomon não estará lecionando suas aulas de Operações Secretas

neste semestre.‖

Ela disse somente assim — sem desculpas, sem explicações — conforme uma

arfada percorreu o cômodo.

―Felizmente, a Academia Gallagher tem uma longa lista de ex-alunos e amigos dos

quais possa escolher seu corpo docente. Por isso, estou satisfeita em dar as boas vindas a

um operário que tem se destacado em vários continentes, trabalhando em umas das

circunstâncias mais desafiadoras que se pode experimentar nos serviços clandestinos.‖

Eu sabia o que ela iria dizer, é claro. Uma parte de mim sabia disso assim que senti a

mão em meu braço e ouvi a voz — bem antes de Liz fazer suas perguntas. Quando me

virei, vi aqueles olhos azuis olhando de volta para mim. Ouvi a Professora Buckingham

dizer:

―Por favor, se juntem a mim, dando as boas vindas ao Agente Edward Townsend.‖

Observando o homem de Londres fazer seu caminho pelo corredor central, uma

centena de pensamentos percorreram pela minha cabeça: Quem é esse cara, realmente?

O que ele quer conosco? Pode uma mala realmente fazer todo aquele estrago? Mas Liz foi

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a única que perguntou o que minhas colegas e eu estávamos pensando.

―Nós não gostamos dele, gostamos?‖

―Não‖, Bex respondeu por mim conforme nosso novo professor de Operações

Secretas fazia seu caminho até a frente do salão; ―Eu não acho que gostamos.‖

Ele olhou diretamente para mim enquanto passou, mas não piscou — nem sorriu. (É

claro, tecnicamente, ele provavelmente apenas não queria dar as costas para Macey.)

―Isso provavelmente é uma coisa boa, Cam.‖ Eu podia sentir Liz me olhando. ―O único

motivo para sua mãe e o Sr. Solomon perderem o começo das aulas é se realmente

estiverem perto de encontrar algo grande. Eles irão encontrar e voltarão.‖

―Aposto que o Sr. Solomon está bem perto de pegar o Círculo.‖ Ela olhou para mim.

―Certo?‖

Eu sei que isso vai soar loucura, mas quando você é uma espiã, sua vida não é

definida pelas mentiras que você conta, mas pelas verdades. Uma mentira não mudaria

nada. Me sentei ali, estarrecida, sabendo que a verdade... a verdade podia me libertar.

E foi assim que encontrei a força para sussurrar:

―Sr. Solomon é o Círculo.‖

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CAPÍTULO 11

EM NOSSO QUARTO, UMA HORA DEPOIS, BEX ERA QUEM CONTAVA a

história. Sobre a Torre, o Círculo e o olhar exasperado nos olhos de nosso professor

quando tremia na ponte. Soava como outras dúzias de histórias malucas que ela trazia

depois do recesso, mas essa, eu sabia, era verdade.

―Ele tinha dezesseis anos?‖ Observei Liz ligar aquele número com alguma fórmula em

sua mente, depois balançar a cabeça como se não computasse. ―Não, ele não pode ter

sido mau. Quero dizer, ele não pode ser. Ele é... Digo, ele era…‖

―Da nossa idade‖, Macey terminou por ela.

Um dos pontos negativos em frequentar uma escola onde te ensinam que você é

capaz de qualquer coisa, é que você eventualmente começa a acreditar nisso. Mas

nenhuma de nós jamais pensou sermos capazes disso.

―Como alguém da nossa idade acaba trabalhando para o Círculo?‖ Macey perguntou

incrédula.

―Blackthorn‖, falei simplesmente. ―O Círculo recruta no Blackthorn.‖

―Cammie, não‖, Liz começou, já sabendo onde meus pensamentos foram. ―Zach não

pode ser...‖

―Mas ele poderia ser. Esses são os fatos: Sabemos que Zach estava em Londres. E

em Washington. E em Boston. Zach sabia que o Círculo me queria antes de sequer

sabermos que o Círculo existia.‖ Olhei para minhas mãos. ―E sabemos que o Zach sempre

foi próximo ao Sr. Solomon. Eles dois sempre sabiam demais.‖

―Cam, não‖, Macey pediu. ―Pare. Mesmo que o Sr. Solomon seja um agente duplo ou

qualquer coisa, isso não significa que o Zach é também.‖

―A mãe de Bex disse que ter alguém na Academia Gallagher — ter alguém perto de

mim — seria de alta prioridade.‖ Eu ri tristemente. ―E Zach estava bem próximo.‖

―Cam, isso não significa nada.‖ Liz se apressou em minha direção. ―Talvez o Sr.

Solomon costumava trabalhar para o Círculo, mas agora…‖

―Ele seja o mocinho?‖, supus.

―É‖, Liz disse.

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―Caras bonzinhos não pulam em rios no meio do inverno para fugir de outros caras

bons‖, respondi. ―Além disso, eu não acho que o Círculo ofereça aposentadoria

antecipada.‖

―Ok, então Joe Solomon é um traidor…‖ Macey falou tão simplesmente como se

dissesse então Joe Solomon fica bonito em gola olímpica. ―Você realmente acha que ele

seria estúpido, também?‖, ela se aproximou. ―Pense nisso, Cammie. Por que o Sr.

Solomon estava lá?‖

―Ele disse que eu tinha que seguir os pombos.‖

―Seguir o que?‖ Liz perguntou.

―Ele estava falando besteira, ok?‖ Respirei fundo. ―Em um segundo ele estava me

falando para correr, e depois... você sabe.‖

―Então você está dizendo que um dos melhores operários secretos da CIA — sem

mencionar um dos mais homens procurados do mundo — entrou numa área de segurança

pessoal do MI6 somente para te falar para seguir os pombos?‖ Macey não tentou esconder

sua descrença.

―É‖, falei. ―Ele disse que tinha que me ver antes que eu voltasse para a escola. E

disse que quando eu voltasse para a escola eu tinha que seguir os pombos.‖

―Me diga uma coisa, Cam.‖ Macey posicionou seu braço em volta de seu ombro.

Parecia muito mais alta do que eu naquele momento. ―Você acredita que o Sr. Solomon

está trabalhando para o Círculo?‖

―Abby e Baxter dizem que ele está.‖

―O que você acha?‖ Macey perguntou.

―É verdade‖, Bex respondeu por mim, se inclinando contra a parede com os braços

cruzados. ―Minha mãe e meu pai me levam para missões desde antes que eu pudesse

andar. Eles nunca mentiram para mim antes. Não começariam mentindo para mim sobre

isso.‖ Ela se virou e olhou diretamente para mim. ―Abby nunca mentiria sobre isso para

você.‖

Às vezes eu odeio quando minhas amigas estão certas. Infelizmente, isso acontece

muito.

―Mas, Bex, seus pais não estavam na noite da eleição‖, Macey se opôs. ―Abby estava

lá, mas estava meio morta. Cam, você estava drogada e praticamente inconsciente, então

também não se lembra — mas eu sim.‖ Ela estremeceu um pouco.

―Eu me lembro de tudo. Todos estavam preocupados naquela noite, mas o Sr.

Solomon estava aterrorizado. Ele estava tão preocupado com você quanto sua mãe.‖

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―O Sr. Solomon tem trabalhado para o Círculo desde que tinha dezesseis anos! Ele é

bem bom em falsificar coisas‖, Bex desafiou.

Macey balançou a cabeça.

―Ele não estava fingindo.‖

―Não tem como você saber disso‖, Bex falou.

Macey riu suavemente.

―Eu conheço amor falso quando o vejo.‖

Eu não sabia o que dizer, então me afundei no chão e descansei meus braços em

meus joelhos, subitamente cansada demais para o primeiro dia de aula.

Do outro lado do quarto, Liz sentava perfeitamente imóvel em sua cama, pesando

opções, esperando pelo voto de desempate. Quando falou, sua voz era baixa.

―Cam, onde está sua mãe?‖

―Buckingham disse que ela está temporariamente detida. O que quer que isso

signifique.‖ Soltei um suspiro. ―Ela nem apareceu na Inglaterra depois... de tudo.‖

―Eu queria que ela estivesse aqui‖, Bex admitiu. ―Tem alguma coisa que não estão

nos contando.‖

Eu imaginei Zach, seu hálito confundindo-se no ar quando disse: Eles sabem mais do

que sabemos. Mas minha mãe tinha desaparecido. Os Baxters e Abby estavam a milhares

de quilômetros de distância. Naquela manhã Bex e eu tínhamos ido embora da Inglaterra

— da nossa última chance de respostas — exceto que...

Sorri.

―Cam‖, Liz disse brandamente, ―O que é?‖

―Townsend.‖

―O que?‖ falou Liz. ―Você acha que ele será um bom professor?‖

Balancei minha cabeça negativamente.

―Você o acha gato?‖ Macey perguntou.

Eu ri.

―Então por que está sorrindo?‖ A voz de Liz ergueu-se, mas eu somente olhei para

ela — pensei sobre a pasta em uma mesa de metal e os olhos que pareciam ter visto tudo.

―Eu acho que ele sabe algumas coisas.‖

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CAPÍTULO 12

RELATÓRIO DE OPERAÇÕES SECRETAS

Quando as Operárias Morgan, McHenry, Baxter e Sutton (futuramente referidas como As Operárias) retornaram para a Academia Gallagher para o semestre de inverno de seu terceiro ano, elas enfrentaram uma mãe/diretora ausente, um ex-professor fugitivo e um alto e sombrio novo membro do corpo docente que, presumivelmente, sabia mais do que dizia.

As Operárias resolveram fazê-lo dizer.

● ● ●

O primeiro dia do semestre começou como semestres frequentemente começam.

O Sr. Smith deu um teste surpresa realmente bom sobre os regimes políticos mais

instáveis do mundo e as cinco principais maneiras de enfraquecê-los. No meio da manhã a

Madame Dabney estava posicionando cartões que indicavam lugares e nos instruindo a

preparar um mapa de assentos para um jantar do estado,que incluísse dois embaixadores,

cinco senadores e três agentes desonestos que possam estar vendendo tecnologia nuclear

para o maior lance.

Mas saindo da sala de chá da Madame Dabney naquela segunda-feira de manhã,

não pude evitar me lembrar que nada seria ―típico‖ de novo.

―É isso. É oficial!‖ Tina Walters sussurrou para mim. ―Joe Solomon está disfarçado.‖

Disparei um olhar aflito para Bex, mas Tina continuou vagarosamente, saboreando

cada palavra.

―De acordo com minhas fontes, ele não foi atribuído para nenhuma agência

cooperativa. Não está listado na lista em ação. E ele não é exatamente do tipo oficial de

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operários secretos, então onde quer que esteja... nosso professor está muito, muito

disfarçado.‖

A classe inteira do terceiro ano e eu reconhecemos o olhar que estava se espalhando

pelo corredor estreito. Se for possível, Joe Solomon tinha acabado de ficar mais legal. E

mais gato.

―Aposto que ele e sua mãe estão em alguma missão super secreta e perigosa, Cam‖,

Courtney Bauer supôs conforme saímos para o corredor principal no segundo andar.

―É‖, a voz de Anna Fetterman tinha tomado uma qualidade sonhadora. ―Aposto que

sua mãe e o Sr. Solomon vão encontrá-los. Aposto que...‖

Anna continuou, mas eu me desliguei, meramente registrando os sons da minha

escola — as portas batendo e as garotas correndo. Olhei para o centro do hall de entrada

lá embaixo, onde meia dúzia de professores estava junto de uma forma que nunca vi

antes.

―Cam?‖ Anna perguntou. ―Você está bem?‖

Um por um os professores no hall de entrada começaram a se separar e descer os

corredores ou subir as escadas.

―Cam?‖ Anna perguntou, sua voz mais alta.

―Desculpe, Anna‖, murmurei. ―Eu... tenho que ir.‖

A professora Buckingham já estava no topo da grande escada, andando em direção

ao Hall de História, quando eu gritei:

―Professora? Professora Buckingham!‖

―Sim, Cameron?‖ Ela não vociferou as palavras, mas elas soavam cansadas. Ela

parecia exausta conforme parou ao lado da espada que pertencera a Ioseph Cavan. ―Tem

alguma coisa na qual posso ajudá-la?‖

Eu queria saber por que a porta da minha mãe estava fechada para todos, até

mesmo eu. Queria perguntar como tudo aquilo podia ser verdade sobre o Sr. Solomon —

como podia ser verdade em todos os sentidos. Mas havia apenas uma coisa que eu sabia

que podia perguntar.

―É inverno‖, falei.

―É?‖ A Professora Buckingham lançou um olhar para a janela riscada com a chuva

congelante.

―Digo, é o semestre de inverno. Você disse no último outono que poderia me ensinar

sobre o Círculo de Cavan no inverno. E... estamos no inverno.‖

A nossa volta, garotas enchiam as salas de aula, correndo para frente das portas

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para P&A. Os corredores estavam quietos. A escola estava de volta à ativa — a vida

estava de volta ao normal. Mas atrás de Patricia Buckingham, a porta do escritório da

minha mãe continuava fechada.

―O programa de estudos do terceiro ano é bem desafiador, Cameron, querida‖, disse

ela.

―Eu sei, é por isso que eu…‖

―Você precisa se focar e aprender o máximo que puder.‖

―Eu sei, mas o Círculo é…‖

―Cameron, as lições dessa escola são essenciais para combater os males do mundo

— não importa qual mal seja. Você tem que aprender essas lições‖, ela estalou, e eu sabia

que não era um conselho; era uma ordem. E ela estava certa. Minhas aulas não eram

menos importantes agora. Nem de longe.

―E mesmo que esse não fosse o caso, temo que há uma série de... questões urgentes

que exigem a minha atenção no momento.‖

E então me ocorreu: pela primeira vez que podia me lembrar, o membro mais idoso

de nosso corpo docente parecia... Velho.

Suas mãos estavam secas. Seus olhos ofegantes. E eu podia jurar que ouvi a voz

dela rachar quando disse:

―Agora, se não estou enganada, você está prestes a se atrasar para Operações

Secretas. Não quer deixar nosso novo professor esperando.‖

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CAPÍTULO 13

CORRENDO PELOS CORREDORES EM DIREÇÃO AO SUBNÍVEL DOIS, eu

tentei me apoiar no que tinha que fazer.

1. Descobrir o que (se existir algo) que o Agente Townsend sabe sobre minha mãe,

Sr. Solomon e o Círculo de Cavan.

2. Discernir se o agente Townsend tende a dar exames práticos ou teóricos, e a

melhor maneira de ir bem em cada um. (Porque ser alvo de uma organização internacional

terrorista não é desculpa para deixar seu GPA cair).

Quando eu alcancei o pequeno corredor sob a grande escada e o enorme espelho

que deveria deslizar de lado e me mostrar o caminho para as salas de aula de Operações

Secretas, pressionei minha mão contra o mesmo e esperei pelos olhos da pintura atrás de

mim soltarem um flash verde. Mas o vidro sob minha palma permaneceu imóvel e nada

aconteceu.

Era a primeira aula com o Agente Townsend e eu já estava atrasada. Eu na verdade

até bati no espelho como se fosse haver alguém atrás do mesmo, esperando para me

deixar entrar.

Ainda nada.

Estava me virando, começando a ir pelos outros elevadores, quando vi: um pequeno

pedaço de papel escrito ordenadamente e colado na parede.

ATENÇÃO ESTUDANTES:

ATÉ UM NOVO AVISO, OS SUBNÍVEIS ESTARÃO FECHADOS. TODAS AS AULAS

DE OPERAÇÕES SECRETAS SERÃO DADAS NA SALA 132.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Tudo o que sabia com certeza era que

estava atrasada, então apenas virei meu calcanhar e corri pelo corredor vazio, passando

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pela biblioteca — todo o caminho para a sala de aula tinha sido nada mais que um grande

armário de armazenamento do último semestre. Eu quase passei correndo pela sala, mas

no último segundo agarrei a moldura da porta e parei.

―Oh, aí está você.‖

Ok, eu não sei quanto às escolas normais, mas vamos apenas dizer que na melhor

escola de espiãs do mundo, atraso não é exatamente comum. E quando acontece, é

quase sempre acompanhado de perguntas como “Houve alguma explosão no laboratório

de química?” ou “Você teve outra concussão?” E quase nunca acompanhado de “Oh, aí

está você.”

Mas aquelas eram as palavras que o Agente Townsend escolhera e para alguém que

me questionara em uma instalação super secreta, horas após o homem mais procurado do

mundo me tentar pseudo sequestrar, ele certamente não parecia preocupado com onde eu

estivera.

―Desculpe-me, eu…‖

―Apenas... sente-se‖, disse ele quase nem olhando em nossa direção.

Eu peguei a mesa ao lado de Bex e sem olhar para o relógio, eu sabia que estava

três minutos e meio atrasada. Três minutos e meio nos quais minhas colegas tinham se

sentado em silêncio esperando. E enquanto eu me juntei a elas, percebi que nosso

professor não estava esperando por mim.

Quatro minutos.

Cinco minutos.

Dez minutos, esperamos.

Ele queria ver se estávamos memorizando a página da frente do papel que segurava;

ele avaliava quão paradas podíamos ficar, quão silenciosas podíamos sentar. Grandes

operários são naturalmente pacientes, pensei. Ele queria ver se podíamos esperar.

Pouco sabia ele, porque Tina Walters não espera por ninguém. (Ou, bem, espera,

mas evidentemente ela ultrapassa a linha depois de dez minutos)

―Sr. Townsend?‖

Nosso professor não olhou, não disse uma mísera palavra.

―Senhor‖, Tina continuou, ―tem algo que podemos fazer para ajudá-lo a começar sua

aula?‖ Ela soava muito como a Madame Dabney, mas o Sr. Townsend não estava

impressionado.

―Não‖, ele disse terminantemente, depois ergueu seu jornal mais alto, jogou seus pés

na mesa e se inclinou para trás em sua cadeira. ―Quem pode me contar sobre Joe

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Solomon?‖

Soava como um teste surpresa. Parecia ser um teste surpresa. Mas não pude evitar a

sensação de que toda a classe do terceiro ano tinha acabado de ser pega e transportada

através do Atlântico — sentadas dentro da Estação Baring Cross.

Townsend moveu o papel de lado por uma fração de segundo e apontou para Tina

Walters, quem estava prestes a puxar seu braço fora do lugar de tanto erguer a mão

descontroladamente.

―Você‖, disse ele.

―Agente Joseph Solomon. Operário da CIA. Membro do corpo docente a Academia

Gallagher para Jovens Mulheres Excepcionais…‖

―Eu sei de tudo isso‖, nosso novo professor interrompeu. ―Próxima.‖

―Ele disse que depois do recesso nós provavelmente começaríamos técnicas de

escrita secreta‖, Anna contou a ele. ―E se isso corresse bem, prometeu que podíamos…‖

―Entediante‖, Townsend contradisse.

Eu podia sentir minhas colegas observando atentamente, se sentando mais reto —

literalmente erguendo-se ao desafio. Mas eu sabia que isso não era um teste — era um

interrogatório. Nós não éramos estudantes naquele momento; éramos testemunhas que

haviam estado trancadas em uma sala com um agente duplo todos os dias por um ano e

meio.

―Onde ele foi?‖ Agente Townsend lentamente virou a página de seu jornal. ―Como ele

preencheu seus dias? O que ele queria... aqui?‖

―Ele é um professor‖, Eva Alvarez disse. ―Ele queria ensinar.‖

O Agente Townsend riu, rápida e suavemente, mas não havia nenhuma alegria em

sua voz quando disse:

―Tenho certeza que sim.‖

―Desculpe, senhor?‖ Anna falou. ―Eu não entendo.‖

―Tenho certeza que não‖, murmurou.

As operárias foram capazes de assegurar que, o que quer que tenha trazido o Agente

Townsend à Academia Gallagher, NÃO ERA a paixão por ensinar.

Então os pés dele saíram da mesa, o papel se abaixou e eu tive uma boa vista de

seu nariz inchado (nota para si: até mesmo bagagem suave pode ser uma excelente

arma).

―Onde ele passa seu tempo?‖

―Bem, normalmente o víamos no Subnível Dois‖, Tina admitiu e o olhar estranho

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cruzou o rosto do Agente Townsend.

―Em mais nenhum lugar?‖

―Todos os lugares‖, Anna respondeu.

Ocorreu-me que essa teria sido uma boa lição — testar nossas memórias, nossos

poderes de observação. Mas o Agente Townsend não sabia disso. O Agente Townsend

não se importava.

―Conhecidos associados?‖, perguntou ele, depois balançou a cabeça como se por um

segundo tivesse esquecido que nos achava idiotas. ―Quero dizer, quem eram os amigos

dele? Ele tinha algum aliado? Alguém especialmente próximo?‖

―Às vezes ele deixava o Sr. Mosckowitz ir conosco em nossas missões‖, Anna disse.

―Ele costumava trabalhar no celeiro de P&A com o Sr. Smith‖, Kim Lee adicionou.

―Eu acho que ele podia ser bem próximo à Diretora Morgan‖, Tina riu, mas então deu

uma olhada para mim e parou.

―É verdade?‖ Townsend cruzou os braços e olhou para mim. ―E quanto a você, Srta.

Morgan? O que você sabe sobre Joseph Solomon?‖

Chuva congelada atingia as janelas. Eu tremi, me lembrando do vento frio, do olhar

do Sr. Solomon na ponte e do fato que eu acreditara nele. Por um ano e meio, eu

acreditara em tudo.

As Operárias odiavam Joe Solomon.

―Senhor‖, ouvi a voz de Bex. ―O Sr. Solomon costumava dizer que a melhor arma de

um operário é sua memória e…‖

O Agente Townsend finalmente parou de me encarar.

―Você é a Baxter.‖

―Sim, senhor‖, Bex sorriu.

―Eu conheço o trabalho de seus pais‖, disse ele.

Bex sorriu novamente.

―Obrigada, senhor.‖

―Não foi um elogio.‖

As Operárias sentiam saudades de Joe Solomon.

Townsend andou em volta de sua mesa, e se ajustou na cadeira.

―Eu sei sobre a Academia Gallagher e suas garotas durante a maior parte da minha

carreira.‖ Ele nos nivelou com um olhar. ―E esse também não foi um elogio.‖

Eu percebi algo sobre seu sotaque naquele momento. Repeti suas palavras em

minha cabeça, enquanto, do lado de fora, caía mais granizos e a sala ficava mais gelada.

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Eu sabia que a classe inteira estava começando a sentir o frio.

―Tudo bem, se isso é tudo que vocês estão dispostas a trazer hoje…‖

―Quanto tempo você esteve em Moçambique?‖

Townsend raramente se surpreendia, eu podia dizer, mas mesmo assim minha

pergunta o parou.

―Como?‖, disse ele.

―Seu Suaíli2 nesta manhã no café foi bem distinto.‖ Ele me olhou como se quisesse

protestar, mas não dei-lhe a chance. ―Você é canhoto, mas os calos em sua palma diz que

provavelmente atira com a mão direita.‖ Pensei em como ele se moveu quando puxou seu

pé da mesa. ―Você favorece o joelho esquerdo. Aposto que o machucou… o que? Seis

meses atrás. Seu sotaque é de meia classe, mas frequentou uma boa escola, não é? Um

lugar como esse, suponho.‖

―Belo truque, Srta. Morgan.‖

―Não é um truque.‖ Chacoalhei a cabeça. ―É o exame final do último outono. O Sr.

Solomon…‖

―Joe Solomon foi embora‖, ele rompeu. ―Eu deixei bem claro isso em Londres, ou

você se esqueceu?‖

Eu não tinha esquecido de nada daquele dia — nem a cor da camiseta de Townsend,

nem a frieza da mesa de metal dura.

―Por que não estamos tendo essa aula no Subnível Dois?‖, perguntei e observei seus

olhos mudarem. ―Você não obteve permissão?‖

―Oh, eu te asseguro, Srta. Morgan, que verei nessa escola tudo que eu precisar ver.‖

Ele acenou em direção à porta. ―Agora vão. Considerem-se dispensadas.‖

2 É uma das línguas oficiais do Quénia, da Tanzânia e de Uganda, embora os seus falantes nativos, os povos suaílis,

sejam originários apenas das regiões costeiras do Oceano Índico.

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CAPÍTULO 14

Durante o curso da semana seguinte, As Operárias puderam determinar o seguinte:

• A palavra “pombo” aparecia em nove dos autos, histórias de

lendas ou planos de aulas de Joe Solomon,

• Havia aproximadamente 4.902 estradas, travessas, rios e etc

chamados Pombo nos Estados Unidos — nenhum deles era em

Roseville, Virginia.

• Uma pesquisa extremamente minuciosa nos servidores da

Academia Gallagher revelou um banco de dados chamado de

"Arquivos Pombos Super Secretos do Sr. Solomon", tanto quanto

as operárias queriam encontrar um.

• No que diz respeito mistérios, “os pombos” não tinham nada

a ver com o Agente Townsend.

● ● ●

―Isso é inútil‖, Liz exclamou, sua voz ecoando no telhado alto e arqueado do celeiro

de P&A.

―Não, não é‖, disse Bex, agarrando o arco & flecha da mão dela. (Oh sim, eu disse

arco & flecha) ―Todas as Garotas Gallagher têm que ser peritas em duas armas, e estou te

dizendo que arco & flecha é…‖

―Isso não‖, falou Liz, apanhando a arma de volta e dando uma boa chacoalhada (a

este ponto Macey e eu caímos no chão e assumimos o controle). ―Operação Townsend‖,

sussurrou ela.

Lá fora, um cobertor de neve fresca caía na esteira abaixo de nós. Um grupo de

alunas da sétima série estava enfrentando a parede de escalada, enquanto o celeiro todo

ecoava com as batidas e gritos das meninas que haviam sido trancadas por tempo demais.

―O homem é um fantasma, gente‖, disse Liz, sua voz baixa. ―Quero dizer, seriamente

fantasmagórico. Ele frequentou um colégio interno caro na Inglaterra com bolsa de

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estudos…‖

―Boa ligação naquilo, a propósito‖, Bex me falou, mas Liz não parou.

―Depois se juntou ao MI6 assim que saiu do colégio. Tenho certeza que ficou um

tempo na Europa ocidental, porque realizou aquela grande operação policial na Romênia

há dez anos atrás.‖

―Aquela com morcegos?‖ Bex perguntou com os olhos arregalados.

―Sim‖, disse Liz, com os olhos mais arregalados. ―E estou certa que era ele quem

derrubou aquele grupo de generais do KGB‘s que contrabandeavam mísseis antigos

Soviéticos usando um circo viajante como disfarce.‖

―Operação Tenda de Circo?‖ Bex exclamou.

―Uhum‖, falou Liz. ―Mas então… depois disso… é como se ele tivesse desaparecido.

Digo... nada.‖

―O que significa alguma coisa‖, falei, e Liz assentiu lentamente.

―Algo grande.‖

―Bex, o que nossa vigilância nos diz?‖, perguntei, me virando para a garota ao meu

lado.

―Ele nunca toma a mesma rota duas vezes; mal come, mal dorme e confia em

absolutamente ninguém.‖

―Ele está tramando alguma coisa‖, eu disse, ―esse cara não faz nada acidentalmente,

então se está aqui, é por alguma coisa grande e não tem nada a ver com lecionar.‖

―Liz‖, disse Macey, com pânico em sua voz. ―Liz, você vai querer segurar aquele…‖

―Desculpe!‖ Liz gritou para as garotas na parede de pedra, que agora tinham que

circular uma flecha.

―Ei, Morgan!‖

Virei-me e vi Erin Dillard andando em direção ao celeiro, como se membros do quarto

ano normalmente viessem conversar com as do terceiro, o que, me deixe te dizer, não

acontece.

―Precisamos conversar.‖

―Oi, Erin‖, falei. ―Você teve um bom inverno…‖

―Onde está sua mãe?‖ Assim que Erin falou, eu sabia que essa não era uma

conversa. Era uma missão.

―Não tenho certeza.‖

―Você sabe como deixar uma mensagem para ela?‖, perguntou Erin. ―Uma carta

secreta? Cutout? Qualquer coisa?‖

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―O que foi?‖, perguntei.

―O que você acha? Townsend. Eu sou do terceiro ano, Morgan‖, disse Erin dando

uma olhada cautelosa pelo celeiro. ―Me ofereceram um lugar no Programa de Treinamento

de Disfarce da Inter-agência da CIA/MI6.‖

―Isso é incrível‖, disse Bex, mas Erin meramente deu de ombros.

―Obrigada. Eu recebi a carta durante o recesso. Eu tenho que apresentar um relatório

de trabalho em Junho e você sabe qual é nosso dever de casa de Operações Secretas

neste fim de semana?‖

Nós todas balançamos a cabeça.

―Nós não recebemos nenhum.‖

―Não!‖ Liz exclamou.

Erin assentiu.

―Daqui alguns meses eu irei estar disfarçada em algum lugar e é assim que eu

deveria me preparar?‖

Ela estava certa, é claro. A aula do Sr. Townsend não era só uma perda de tempo.

Era perigosa.

Erin balançou a cabeça, depois se virou para encarar fora da janela e juntas

observamos nosso novo professor andar pelos terrenos e desaparecer sem deixar um

traço na neve que caía.

―O que ele realmente está fazendo aqui?‖

Erin era uma ótima aluna. E se tornará uma espiã incrível. Enquanto ela se virou e

saiu, seu sussurro pareceu ecoar, se postando em nós quatro.

Nossa missão era clara.

―Ele será um alvo difícil‖, disse Bex.

―Eu sei.‖

―Estamos falando de difícil como esse cara faz o Sr. Smith parecer como uma doce

striper.‖

Assenti.

―É, está certo.‖

―Então a questão é‖, Bex falou lentamente, ―quão longe vocês estão dispostas a ir?‖

Olhei para minhas três melhores amigas no mundo.

―Qual é à distância?‖

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CAPÍTULO 15

RELATÓRIO DE OPERAÇÕES SECRETAS

As Operárias Morgan, Baxter, Sutton e McHenry começaram uma operação de

procura perigosa a informações sobre um alvo altamente hostil. E professor.

As Operárias puderam determinar o seguinte:

• O Agente Townsend sempre acorda às oito horas e nunca vai

para a cama depois das duas.

• O Alvo corre cinco quilômetros todo dia e foi visto fazendo

500 agachamentos e levantamento em uma fila (o que, de acordo

com a Operária Baxter, não é nem de longe tão impressionante

quanto parece).

• O Alvo evita rigorosamente açúcar e cafeína (o que, de acordo

com a Operária Morgan, é tão louco quanto parece).

• Apesar das duas semanas no corpo docente da Academia

Gallagher, O Alvo não adquiriu nenhum amigo.

● ● ●

Eu tive muitas refeições memoráveis em cinco anos e meio na Academia Gallagher,

mas aquela foi uma das poucas vezes que eu realmente não comi nada.

―Ele não virá‖, disse Liz, seu olhar colado nas grandes portas duplas no fundo do

salão.

Bex, Macey e eu permanecemos quietas, olhando em volta no Grande Salão, duas

delas pegando comida enquanto nós revezávamos a vez de encarar as portas.

Liz era a única voz em que pensávamos.

―E se ele não vier?‖

―Ei, Macey, pode me passar aquela…‖

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―Não!‖, nós quatro gritamos em uníssono. Macey agarrou a banana da mão de

Courtney Bauer, o que pode ter parecido um pouco estranho. Mas na Academia Gallagher,

―estranho‖ é uma coisa completamente relativa.

―Desculpe, Courtney‖, falei, tentando explicar. ―É só que temos esse experimento que

faremos mais tarde com...‖

Mas então não pude terminar, porque o Agente Townsend estava de pé na entrada

do Grande Salão, tomando um gole de uma garrafa de água. Seu cabelo escuro

encaracolado estava molhado de suor. Em sua roupa de corrida preta, ele parecia como se

tivesse acabado de voltar de invadir uma embaixada, saltar de paraquedas atrás das linhas

inimigas, um encontro com um informante particularmente sombrio no beco mais escuro da

cidade mais perigosa do mundo. Por mais que eu quisesse odiar o Agente Townsend,

havia uma coisa que não ousaria esquecer: ele provavelmente era um espião muito bom.

Olhei para minhas colegas, sabendo que na próxima hora, de alguma forma, de

alguma maneira, nós quatros tínhamos que ser melhores.

―Quem tem vista?‖, sussurrei conforme senti o homem passar atrás de mim.

―Ele está indo para o bufê‖, disse Bex, mas a menos que você pudesse ouvi-la, você

podia jurar que ela falava sobre o tempo.

―O que ele está fazendo?‖, perguntou Liz. (Seu rosto e voz, lamento dizer, eram

significantemente menos discretos.)

―Maçã‖, disse Macey. Seus olhos azuis pareciam especialmente grandes e brilhantes

conforme olhava para mim e sussurrava novamente, ―Maçã.‖

Demorou dois segundos para Liz pegar a seringa de sua bolsa. As mãos dela

estavam tremendo quando puxei a maçã da minha bandeja e segurei-a sob a mesa.

―Você percebe que isso é provavelmente ilegal, certo?‖, perguntei, mas Liz olhou para

mim e sorriu como se eu fosse a garota mais ingênua do mundo.

―Não pode ser ilegal, Cam. É uma investigação.‖

Então era isso. O destino de nosso professor, minha segurança e a nota de Liz, todos

articulados no que estávamos prestes a fazer.

―Você está indo muito bem, Lizzie‖, Bex disse, mas a mão de Liz ainda tremia.

―Liz...‖ Macey começou.

―Pronto!‖, disse Liz, e no segundo seguinte a maçã passou debaixo da mesa da mão

de Liz para a mão de Bex.

Em um lampejo, Bex estava em pé andando em direção à porta enquanto Townsend

fazia o mesmo. Três segundos depois minha melhor amiga estava trombando com ele. A

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maçã que ele carregava escorreu de sua mão e caiu bem na palma aberta de Bex.

―Olhe por onde anda, Baxter‖, disse ele conforme ela lhe entregou uma maçã de

volta. Mas havia um brilho nos olhos de Bex quando ela virou as costas para nós, puxou

outra maçã de suas costas e deu uma grande mordida.

Eu me sentei ali me perguntando o que Vovó Morgan diria se soubesse o que

estávamos fazendo — sem dúvida algo sobre o fruto proibido. As Operárias envolveram-se

em uma vigilância rotativa básica de quatro pessoas, localizando O Alvo pela Mansão

Gallagher.

Teria sido bom ter unidades de comunicação. Cada operário no mundo pode te dizer

as extremas desvantagens de seguir alguém que sabe da sua aparência. E para ser

perfeitamente honesta, é sempre mais fácil quando suas co-agentes são todas bem

treinadas e agentes de campo confiantes e não... bem... Liz.

―Ops, querida‖, Liz sussurrou quando tropeçou um degrau na grande escada de

pedra que conduzia a velha capela.

Eu podia ouvir os passos de Townsend no corredor acima de mim. Depois de

quarenta e cinco minutos seguindo-o pela biblioteca e observando por uma janela

enquanto Bex rastejava pelo chão — sem mencionar um momento bem assustador

envolvendo Liz, uma armadura e o gato preto da Professora Buckingham — minhas

colegas e eu paramos nos degraus, ouvindo conforme Townsend andava mais rápido, mas

em direção ao que e a quem, eu não sabia até que o ouvi falar:

―Mosckowitx, uma palavra.‖

―Ah, olá Agente Townsend! Saindo para uma caminhada, eu vejo. Eu tentei correr por

um tempo. Foi muito bom... apto para mim.‖

O que foi uma espécie de eufemismo, se você perguntar a qualquer uma das

meninas que se lembram do semestre que tivemos aulas de criptografia no chão porque o

Sr. Mosckowitz tinha torcido os dois tornozelos ao cair em uma vala.

Observei Bex relaxar à frente, depois sinalizar para nós três a seguir escadas acima.

Agachada no chão, eu podia ver duas sombras — a do Agente Townsend mais longa e

enxuta do que a do Sr. M — conforme elas se estendiam pelo chão.

―Olhe aqui, Mosckowitz‖, Townsend disse. Eu não ouvi um passo, mas vi a sombra se

mover. ―Me disseram que você era o homem dos códigos.‖

―Eu... Eu sou‖, Sr. Mosckowitz disse, mas soava como se não acreditasse muito.

―Eu estava sob a impressão de que você fosse o melhor.‖

―Eu sou... muito bom‖, disse o Sr. Mosckowitz, o que era talvez o eufemismo do

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século.

―Então por que você não resolveu essa bagunça com os subníveis? Eles são usados

para as aulas de Operações Secretas, não são?‖ Townsend falou.

―Bem, sim...‖

―E eu sou o instrutor de Operações Secretas, não sou?‖

―Alguém precisa instruir ele‖, Bex murmurou, mas minhas melhores amigas não se

moveram. Nós todas permanecemos quietas, encarando as duas sombras no chão.

―Bem, veja, é... complicado‖, disse o Sr. Mosckowitz.

―Descomplique‖, falou Townsend.

―Cada geração acrescenta um novo nível de defesas e enquanto as novas são...

Bem, elas são boas, as velhas são...‖

―O que?‖ Townsend rompeu.

―Velhas‖, Sr. Mosckowitz disse simplesmente. ―Dr. Fibs e eu andamos trabalhando

em uma teoria sobre como alguns dos mecanismos antigos possam funcionar, mas para

dizer-lhe a verdade, a maioria deles não foi feita para ser substituídos. Se forem ativados

algum dia, devem...‖ Ele fez um gesto com as mãos. ―Ka Boom.‖

Townsend deu uma risada demorada.

―E você e Buckingham não estariam arrastando esse processo, estariam?‖

―Nós poderíamos substituir os protocolos de segurança mais recentes e você poderia

ir lá hoje à noite, mas...‖

―O que?‖

―Alguns dos artefatos mais secretos do mundo podem ser destruídos, e...‖

―O que?‖

―Você provavelmente morreria.‖ A sombra do Sr. Mosckowitz se moveu pelo chão, se

afastando.

E então a sombra mais comprida jogou alguma coisa para o alto. Eu vi algo caindo,

girando. A mão que estendeu a mão para pegá-lo se moveu tão rápido como a luz.

―Eu quero acessar aqueles subníveis, Mosckowitz.‖ Ouviu-se um barulho estranho

quando Townsend deu uma mordida. ―Faça acontecer. Faça acontecer logo.‖

―Liz!‖ Bex sibilou vinte minutos depois. ―Quanto você pôs na maçã?‖

Liz deu de ombros e pareceu levemente culpada. E levemente perversa. Era uma

combinação maligna terrível.

―Eu não tinha certeza se ele a comeria inteira, e se ele desse somente uma mordida,

não poderia ser suficiente para…‖

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―Liz‖, sussurrei, precisando que ela chegasse ao ponto.

―Cinco vezes mais do que o recomendado!‖, ela estourou.

No final do corredor ouvi uma colisão. Nossas quatro cabeças espiaram do canto a

tempo de ver o Agente Townsend tropeçar nos cacos de um vaso quebrado.

Olhamos para Liz, que falou baixo:

―Talvez seis.‖

Quando viramos de volta para o corredor, Townsend estava de pé a nove metros de

distância, nos encarando. Eu tinha certeza que tínhamos sido pegas. Mas então o Agente

Townsend parou e deu um aceno descuidado.

―Eu vou para o meu quarto!‖, ele gritou, então se virou e caiu sobre as almofadas de

um dos meus favoritos assentos na janela. Ele tentou puxar as cortinas de veludo

vermelho a sua volta como um cobertor.

―O que você está fazendo no meu quarto?‖, ele soltou quando apareci ao seu lado. E

então ele pareceu perceber que seu ―quarto‖ estava maior. ―Esse é o meu quarto?‖

Balancei minha cabeça.

―Não.‖

―Ah.‖ Seus olhos azuis tinham aquecido de alguma maneira, como se algo na maçã

tenha feito todas as suas defesas descongelarem.

―Devíamos perguntar a ele alguma coisa para... você sabe... testar?‖ Macey

perguntou.

Quando minhas colegas de quarto olharam para mim, percebi que não tínhamos

treinamento de interrogatório ainda. Nem mesmo o Sr. Solomon tinha nos ensinado como

fazer isso.

Felizmente, como na maioria das coisas secretas, Bex era natural.

―Realmente existe um monstro no Lago Ness?‖, perguntou ela.

Townsend deu de ombros.

―É claro que há. O treinamento de guerra química deu errado nos anos trinta. Tiveram

que colocar a coisa em algum lugar.‖

―As joias da coroa realmente foram roubadas e substituídas com falsas em 1962?‖

Ele sorriu.

―Só os rubis.‖

―Onde está o Sr. Solomon?‖

―Isso, eu não sei.‖ Ele ergueu as sobrancelhas. ―Ainda.‖

―Por que a CIA e o MI6 estão atrás do Sr. Solomon?‖

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―Ah, você sabe disso, Srta. Morgan.‖ Apesar da fala arrastada, as palavras foram o

suficiente para fazer meu coração disparar. ―Qualquer pessoa que tenha sido parte do

Círculo desde os dezesseis anos é alguém com quem gostaríamos de ter uma conversa.‖

―Por que você veio aqui?‖ Bex perguntou.

―Para rastrear uma raposa, você começa em sua caverna.‖

―O que você sabe sobre a minha mãe?‖

Townsend virou sua cabeça em direção a janela. Sua respiração embaçou o vidro. Eu

estava começando a pensar que ele não ouvira, até que sussurrou:

―Eles não irão machucá-la.‖

E com essas palavras, um medo que eu nunca tinha conhecido encheu meu peito.

―Alguém está com a minha mãe?‖ Eu agarrei a camisa dele e o puxei mais próximo,

forçando-o a olhar para mim. ―Quem?‖ O sacudi. ―Quem está com ela?‖

Seu sorriso era estranhamente vago.

―Nós.‖

Minhas mãos ficaram rígidas, formando punhos em torno de seu colarinho.

―Nós? Quem é ‗nós‘? Onde está minha mãe?‖,gritei, mas Townsend estava flutuando.

Seus olhos rodopiavam. Ele encarou o vidro ondulado como se nunca tivesse visto uma

janela antes.

―É bonito aqui‖, disse ele, então fechou os olhos e dormiu.

Soltei meu aperto, o observei deitar contra as almofadas. Ele parecia tão tranquilo

como um bebê.

E então Liz deu um tapa nele. Sim, um tapa de verdade.

Ele acordou num pulo, seus olhos limpos por um breve segundo.

―Não!‖ Liz gritou, batendo nele novamente. ―Você está errado!‖, ela rompeu.

―Liz...‖ Bex tentou a segurar, mas Liz atacou novamente.

―Você está errado!‖, ela gritou. ―A Sra. Morgan vai voltar, nós vamos limpar o nome do

Sr. Solomon e então esta escola terá um professor de verdade novamente.‖

―Oh, agora disso eu duvido.‖ Havia algo do homem de Londres voltando em sua voz.

Ele sorriu. ―Eu não acho que Rachel Morgan vai gostar de trabalhar ao lado do homem que

matou seu marido.‖

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CAPÍTULO 16

ESTAVA QUENTE DEMAIS DENTRO DA MANSÃO.

Lembro-me de passar por lareiras e janelas embaçadas — me empurrando nos

corredores como se nunca fosse respirar ar puro novamente. Fogo. Parecia que o mundo

estava em chamas.

―Cammie!‖ Bex gritou atrás de mim, mas não parei até que estivesse do outro lado do

hall de entrada empurrando contra as portas pesadas.

Eu não tinha um casaco. O céu acima de mim estava denso, escuro e cinzento

conforme cruzei o campo que se estendia desde a mansão até a floresta.

―Cammie,‖ Bex gritou novamente.

Atrás dela, vi Liz e Macey se aproximando, correndo.

―Cam, você está bem?‖ Liz gritou e eu rodopiei.

―Não!‖ Eu não sabia por que estava gritando. Só sabia que a palavra estivera presa

dentro de mim, fervendo. ―Não! Eu não estou bem.‖

Minhas colegas de quarto pararam, congeladas. Pareciam com medo de chegar perto

demais.

―Nós não sabemos o que ele quer dizer com aquilo‖, Liz me falou. ―Não sabemos

onde ele obteve as informações ou se são confiáveis. Não sabemos o que aquilo

significou.‖

―Não.‖ Balancei minha cabeça. ―É isso mesmo. Não sabemos nada. Eu conheço

bombas, antídotos e sei como dizer parakeet em Português, mas não sei onde meu pai

está enterrado.‖

Os olhos de Liz estavam vermelhos quando encararam os meus.

―Cammie, está tudo bem. Tudo vai ficar bem.‖

―O Sr. Solomon matou meu pai. Sr. Solomon...‖

Enquanto eu falhei, Bex deu um passo mais perto. Ela tentou me alcançar, mas me

afastei.

―Eles me querem... viva.‖ Lágrimas quentes arderam em meus olhos. Minha garganta

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queimava. ―Eles precisam de mim viva!‖ Gritei, incapaz de parar as palavras. ―Como eu

deveria estar? O que eu devo sentir?‖

―Nós sabemos como você se sente, Cam,‖ Macey disse.

―Vocês não…‖

―Cammie!‖ Eu nunca esquecerei o tom na voz de Macey naquele momento.

―Cam‖, ela disse lentamente, se movendo em minha direção. ―Eu sei como é a

sensação de ser observada a cada segundo do dia. Sei como é poder confiar em menos e

menos pessoas, até que você sente como se estivesse completamente sozinha no mundo.

Eu sei que você pensa que as únicas coisas que restaram em sua vida são coisas ruins.

Sei o que você está sentindo, Cam.‖ Suas mãos estavam em meus ombros. Seus olhos

azuis encaravam os meus. ―Eu sei.‖

Por quarto meses eu vivi com o conhecimento de que o Círculo de Cavan estava

atrás de mim, pensando que ninguém poderia imaginar como era isso. Como se não

importa onde você estivesse ou com quem estivesse nunca está segura. Mas eu estava

errada... havia alguém. E ela estava em pé bem à minha frente.

―Ele não vai me dizer onde minha mãe está,‖ falei suavemente. ―O Agente Townsend

sabe… ele sabe! E não irá…‖

―Nós a encontraremos, Cam,‖ Bex disse, se aproximando. ―Nós vamos.‖

―Sim,‖ falou Liz, se juntando a nós.

―Nós rastrearemos sua mãe — a perseguiremos até o fim da terra se for necessário

— e então perguntaremos a ela…‖

O ar parecia mais quente com minhas amigas em volta de mim. Senti meu coração

começar a diminuir a velocidade conforme ouvi uma voz atrás de mim dizer:

―Me perguntar o que?‖

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CAPÍTULO 17

ELA ESTAVA ALI. MINHA MÃE ESTAVA ALI. PARECIA TÃO ESTRANHO vê-

la — ouvir sua voz, observar a maneira como ela andou conosco pelas portas da frente e

subindo as grandes escadas — como se nada tivesse acontecido desde me colocar dentro

de uma limusine com os Baxters em dezembro e acenar um adeus.

―Mãe, eu…‖

―É bom ver você, filha.‖ Ela pôs um braço ao redor de mim e me segurou firmemente

enquanto chegamos ao Hall de História. ―Você e Bex tiveram um bom recesso?‖

Ela não tinha ligado na manhã de Natal. Não tinha ido à Londres depois do que

aconteceu na ponte. Ela tinha estado ausente de nossa escola por quase um mês, mas

ainda assim enquanto eu a observava destrancar seu escritório, havia somente uma

pergunta que eu queria que fosse respondida.

―É verdade?‖

Os Baxters, Tia Abby e até o Agente Townsend me disseram os fatos, mas somente

minha mãe podia me fazer acreditar neles.

―O Sr. Solomon é realmente parte do Círculo?‖

Ouvi conversas vindas dos corredores, porém minhas colegas pareciam estar a

milhões de quilômetros de distância enquanto minha mãe entrou em seu escritório escuro

e suavemente sussurrou:

―Sim.‖

Ela encarou sua mesa. Dentro de seu escritório, me senti corajosa o suficiente para

perguntar:

―Ele matou meu pai?‖

―O Círculo tem um longo historio de recrutar agentes muito jovens, Cammie. Quando

o Sr. Solomon se juntou a eles, ele teria…‖

―Ele matou meu pai?‖

―Cammie, querida...‖

Meus lábios começaram a tremer. A pressão que eu estivera sentindo por meses

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cresceu, não pude evitar. O mundo estava embaçado, minhas bochechas estavam

molhadas e não importa o quanto eu tentasse, era como se eu tivesse esquecido de como

respirar.

―Eu sinto muito, Cammie. Sinto tanto…‖

―Onde você esteve?‖ Podia ouvir minha voz rachar. ―Eu precisei de você.‖

―Cam‖, minha mãe disse suavemente. ―Eu sabia que você estava segura, querida. Os

Baxters são boas pessoas — grandes operários—‖

―Eles não são minha família. Eu precisava de você!‖

―Querida, acredite em mim, eu queria ir até você, mas não foi possível.‖

Eu queria acreditar nela, mas o Agente Townsend era como um fantasma,

sussurrando em meu ouvido. Eles não irão machucá-la.

―Por que você não foi a Londres, mãe?‖

―Já te falei, Cammie. Eu estava detida.‖

Era a mesma frase que tanto Townsend quanto a Professora Buckingham usaram,

mas conforme eu olhei para minha mãe, eu sabia que ela não tinha perdido o voo, sido

pega em uma reunião, perdido seu passaporte. Eles queriam dizer detida como em

algemas, em cabanas e instalações da CIA.

―Detida como? Detida aonde? Langley?‖ Assisti a luz mudar os olhos de minha mãe e

soube que eu estava certa.

―Quando um operário é acusado de ser um agente duplo, é um procedimento

operativo padrão que qualquer pessoa associada a ele seja interrogada. É o protocolo,

filha. Não é nada.‖

―E quanto aos outros professores? Professora Buckingham? Sr. Smith? Por que eles

não…‖

―Eles foram interrogados, Cam. Todos foram.‖

―Então por que você se atrasou? Por que você foi a única que só voltou agora a

escola?‖

―Eu conheço o Sr. Solomon há mais tempo.‖ Ela respirou fundo. ―Sou quem o

contratou e o trouxe aqui, então naturalmente...‖ Ela falhou. Não olhou para mim por um

longo tempo. ―Mas estou de volta agora.‖

Acariciou meu cabelo.

―Você está segura.‖ Ela me puxou para ela, respirou profundamente. ―Você está

segura.‖

Há coisas que passam sem serem ditas entre pessoas sob a superfície por décadas,

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vidas. Eu me perguntava às vezes se espiões têm essas coisas ou menos. Mais, eu acho.

Há simplesmente muitas coisas que até mesmo as pessoas mais corajosas do mundo não

são corajosas o suficiente para dizer em voz alta.

―O Sr. Solomon foi até mim‖, sussurrei.

Minha mãe deu um passo para trás.

―Eu sei.‖

―Ele disse que eles estavam errados. Disse que não tinha feito aquilo — que estavam

atrás do homem errado. Eu...‖ Eu pensei na tristeza nele quando me abraçou. ―Eu acreditei

nele.‖

―Joe Solomon é um operário incrível, querida.‖

―Então…‖

―Operários incríveis contam as melhores mentiras.‖ Ela afundou no sofá de couro,

parecendo fraca demais para ficar de pé. ―Ele nunca irá voltar, Cammie.‖

Nos anos após a morte do meu pai, eu vira minha mãe chorar uma, talvez duas

vezes. E nunca quando ela sabia que eu podia vê-la. Mas naquele momento, lágrimas

rolaram de seus olhos e eu não sabia se ela falava do Sr. Solomon ou do meu pai quando

murmurou:

―Ele nunca irá voltar.‖

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CAPÍTULO 18

GAROTAS GALLAGHER NÃO MATAM AULAS. NÃO NOS AUSENTAMOS e

nunca houve um dia que o quarto ano combinou uma falta coletiva. Nunca. Mas andando

pelos corredores na manhã seguinte, eu queria fazer uma exceção. Eu queria correr — me

esconder como nunca me escondi antes. Voltar para a cama e dormir um milhão de anos.

Acontece que, eu não era a única.

―Bom dia, Srta. Morgan.‖

Eu ouvi o assoalho ranger atrás de mim. Reconheci a voz grogue. Mas o rosto que vi

quando me virei não era bem o que eu estava esperando.

Claro, o cabelo do Agente Townsend úmido como se acabasse de sair do banho e

suas roupas estavam frescas e bem passadas, mas seus olhos estavam vermelhos e

inchados. Quando ele passou por mim e caminhou até sua mesa na frente da sala, levou-

se delicadamente, como um homem que queria muito o mundo parasse de girar. (Seus

dentes, por outro lado, não pareciam muito mais brancos).

Nota para si: nunca se voluntariar para ajudar Elizabeth Sutton a testar um de seus

experimentos.

As luzes estavam desligadas na sala de aula de Operações Secretas, mas quando

Tina Walters parou na porta e alcançou o interruptor, nosso professor resmungou:

―Deixe-as desligadas.‖

Conforme fizemos nosso caminho até nossas cadeiras, Townsend apertou seus olhos

como se nossos passos fossem tiros no escuro.

―Eu não me importo o que vocês farão na próxima hora‖, disse ele suavemente, indo

para a cadeira atrás de sua mesa. ―Não me importo como farão. Desde que seja...

silenciosamente.‖

As pessoas têm manhãs ruins na Academia Gallagher o tempo todo — garotas

bocejando por terem passado a noite acordadas, corpos doloridos lutando para subir as

escadas depois de uma semana particularmente dura em P&A. A primeira vez que

encontrei o Agente Townsend, eu queria que ele se sentisse tão mal quanto eu me sentia;

e naquela manhã, eu acho que ele se sentia.

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Especialmente quando as luzes subitamente acenderam-se e eu ouvi minha mãe

dizer:

―Bem, olá.‖

O vi piscar e pular — o observei se virar para receber a mulher à porta, mas não sei

se surpresa seria a melhor palavra para descrever.

―Bem vindo a Academia Gallagher, Agente Townsend. Estamos contentes em tê-lo

aqui.‖

Nota para si: Rachel Morgan é uma mentirosa incrível.

―Eu queria dizer olá no café da manhã, mas...‖ Ela estudou sua expressão fatigada.

―Posso ver que talvez você precise dormir.‖

Townsend lentamente virou seu olhar para mim.

―Deve ter sido algo que comi.‖

―Sinto muito ouvir isso, nosso chef geralmente só recebe elogios.‖

Minha mãe passeou na frente da sala. Mantinha seus braços cruzados, encarando

fora da janela, antes de lentamente se virar para o resto da classe.

―Olá, garotas.‖

Houve uma onda de olás e bem vinda de volta, mas a maior parte foi espera

silenciosa.

―Devo dizer, quando os administradores Gallagher me disseram que a CIA e o MI6 o

recomendaram para a posição, fiquei surpresa. Espero que o ritmo de nossa pequena

escola não seja muito lento para você.‖

―Não,‖ disse ele, afundando no canto de sua mesa. ―Se Joe Solomon pôde fazê-lo...‖

Senti um relampejo de raiva ao som do nome, mas se minha mãe sentiu o mesmo,

não demonstrou.

―E o que está achando das coisas?‖, perguntou ela. ―Há alguma coisa de que

precisa?‖

―Você quer dizer, além de acesso aos subníveis?‖

Minha mãe assentiu.

―Sim. A Professora Buckingham me informou das novas preocupações em relação a

segurança quanto a eles. Estamos trabalhando nisso.‖

―Entendo‖, disse o Agente Townsend, mas soou como se dissesse ironicamente É,

claro.

Então uma espécie de choque pareceu cruzar a expressão de minha mãe.

―Ah, me desculpe, Agente Townsend. Por favor, continue. Não vou interromper sua

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aula.‖

Ela pegou um lugar vazio na fileira da frente no canto direito da sala e foi a vez do

Agente Townsend parecer surpreso.

―Desculpe, Sra. Morgan. Você vai... ficar?‖

―Sim‖, disse minha mãe.

―Bem, se eu soubesse, teria aproveitado para preparar algo especial para a ocasião.‖

Minha mãe sorriu.

―Ah, qualquer coisa que você tenha previsto para hoje vai ser bom, tenho certeza. Eu

só gostaria de aparecer de vez em quando para ouvir seus ensinamentos. Por favor, não

me deixe pará-lo.‖

Ouvi Bex abafar uma risadinha. Tina Walters cortou seus olhos em mim.

―Excelente‖, Townsend falou com um sorriso. ―Você chegou a tempo para começar

nossos estudos sobre o Círculo de Cavan.‖

Lá fora, o céu era de um azul limpo e vivo, mas senti como se uma tempestade

estivesse adentrando nossa sala de aula. Havia uma estática no senhor tão forte, que não

ousei tocar em nada — com medo de sentir uma faísca.

Ele se virou para olhar para minha mãe.

―Se estiver tudo bem com você, Sra. Morgan.‖

―Isso é algo que seria normalmente coberto pela Professora Buckingham no quarto

ano de História da Espionagem, mas dada as circunstâncias, acho que podemos abrir uma

exceção.‖

Esperei que ela olhasse para mim — sorrisse — alguma coisa, qualquer coisa, além

de se virar para toda a classe e dizer:

―Vejam, garotas, o Agente Townsend é uma lenda nos serviços clandestinos. Não

posso pensar em ninguém mais qualificado para essa aula em particular.‖

―Nem mesmo Joe Solomon?‖

Duvido que qualquer uma de minhas colegas viram a malicia nos olhos de Townsend.

Não acho que ouviram o perigo na voz da minha mãe quando disse:

―Não. Nem mesmo ele.‖

E com isso, Townsend se virou para nós, soava quase como um verdadeiro professor

quando falou:

―A coisa mais importante que qualquer uma de vocês devem saber sobre o Círculo de

Cavan que é uma organização composta quase inteiramente por espiões de outras

organizações — estou falando de agentes duplos. Operários desonestos. Eles têm agentes

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— traidores — em cada nível de cada serviço de segurança no mundo. Podem estar em

qualquer lugar...‖ Ele se moveu em volta de sua mesa. ―Até mesmo aqui.‖

Assisti nos olhos de minhas colegas de classe o Círculo de Cavan se tornar mais do

que somente uma lenda sobre Gilly, um baile, um traidor e uma espada.

―É claro, eles operam tão profundamente que em alguns dos serviços clandestinos

pensa-se que o Círculo nada mais é do que uma história de fantasmas — uma lenda

elaborada. Mas nos últimos cem anos sozinhos, eles estiveram por trás de cinco

assassinatos — pelo menos os que sabemos — e foram fortes instigantes de três guerras.

Eles venderam as identidades de dúzias de operários disfarçados da CIA e do MI6 para

governos hostis e já chegaram mais perto de matar um presidente dos Estados Unidos do

que qualquer um fora do Serviço Secreto poderá saber algum dia.‖

Ele cruzou seus braços e nos encarou.

―Então não se enganem, eles são, de fato, muito reais.‖

Nós sentamos lá por quinze minutos, ouvindo-o citar fatos como se o Círculo fosse

somente outro grupo ou movimento — como se não fosse pessoal.

―O que eles querem?‖, me ouvi perguntando.

―Dinheiro. Poder. Controle de…‖

―Comigo?‖, interrompi. ―O que eles querem comigo?‖

Esperei que ele olhasse para minha mãe ou evitasse as perguntas, mas ao invés

disso, se posicionou no canto da sua mesa.

―Isso não sabemos. Ainda.‖ Ele parou. ―Gostaria de adicionar algo, Rachel?‖

Pensei que ela diria a ele que era suficiente, que a aula já tinha terminado. Mas em

vez disso minha mãe cruzou suas longas pernas e colocou seus cotovelos em sua mesa.

―Talvez você pudesse falar um pouco sobre a história deles.‖

Ele assentiu.

―Ioseph Cavan era irlandês de nascença e a sabedoria convencional sustenta que

seus seguidores se retiraram para sua casa ancestral após Gillian Gallagher alegadamente

o matar.‖

―Alegadamente?‖, disse Bex.

Townsend a ignorou.

―Mas agora o Círculo tem fortalezas em todos os cantos do mundo. É importante

compreender que, diferentemente da maioria dos grupos baseados em política e religião, o

Círculo de Cavan não tem nenhuma causa — nenhuma chamada ou finalidade além do

lucro e do poder. Eles são grandes o suficiente para serem perigosos e pequenos o

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suficiente para escapar através de brechas. Eles são móveis, cuidadosos e muito bem

formados. E a coisa mais assustadora é — na maior parte — nós somos quem os

treinaram.‖

―O que isso significa?‖ Tina perguntou.

―Significa que eu não estava mentindo quando disse que eles são quase sempre

agentes duplos‖, rompeu ele. ―E o Círculo se sobressaem isolando e recrutando agentes

que são jovens, vulneráveis, ou ambos.‖

―Mas como você sabe?‖, perguntou Tina.

Um sorriso astuto caiu sobre seu rosto quando ele se levantou e estudou todas nós

de uma vez.

―Porque eu sou o homem que os localiza.‖

Se nós não o odiássemos o suficiente, poderíamos ter gostado dele naquele breve

momento. Mas nós o odiávamos. Então não gostamos.

―Não se enganem, garotas, o Círculo é perigoso agora não pelo que são, mas por

quem são. E onde estão. E podem ser qualquer pessoa. Eles podem estar‖ — ele se virou

para olhar para minha mãe — ―em qualquer lugar.‖

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CAPÍTULO 19

Número de horas que vaguei pela mansão, indo a lugar algum: 6

Número de passagens secretas pelas quais procurei na esperança

de ir para algum lugar: 27

Número de passagens secretas que encontrei que realmente

ainda funcionavam: 1 (Mas só ia para a cozinha.)

Número de biscoitos que eu roubei enquanto estava na cozinha:

1 (Ah, ok, 3 — mas eram biscoitos realmente muito pequenos).

Número de vezes que quis chorar: 9

Número de vezes que mudei de ideia: 9

● ● ●

E então eu somente continuei andando — pela biblioteca com suas filas de livros e a

lareira apagada, passei pelo elevador que não mais me levava ao Subnível Dois. Os

corredores estavam quietos e escuros, como se a mansão em si estivesse dormindo —

descansando para um novo dia. E então eu parei no Hall de História e encarei a espada de

Cavan, percebendo que pela primeira vez desde novembro, eu estava realmente sozinha.

Bem... quase.

―Olá, Srta. Morgan.‖ Uma voz profunda cortou pelo escuro atrás de mim.

Claro, era duas da madrugada em um dia da semana, mas de alguma forma não

fiquei surpresa quando me virei e vi o Sr. Smith. Bem... na verdade... o fato de ele estar

andando por aí de chinelos e com uma daquelas camisolas antiquadas me surpreendeu;

mas o fato de ele estar acordado não.

―Eu...‖ comecei. De alguma maneira, mesmo que eu tecnicamente não estivesse

fazendo nada errado, senti como se tivesse sido pega. ―Não estava conseguindo dormir.‖

―Está tudo bem, Srta. Morgan.‖ Ele se aproximou para ficar ao meu lado no brilho

quente do estojo de vidro da espada. Luzes de proteção agitavam-se no cômodo como

ondas.

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Olhei para meu professor. Talvez fosse a hora, ou o fato de que um de nós estava

usando um vestido (e não era eu), mas me atrevi a perguntar:

―Então, qual é a sua desculpa?‖

―Um operário experiente sempre deve checar seu perímetro em horas inesperadas e

de maneiras inesperadas.‖ Dei uma olhada na camisola do Sr. Smith. Se inesperado fosse

o que era preciso para estar seguro, então o Sr. Smith viveria para sempre. ―Lembre-se

bem disso, Cammie.‖

―Sim, senhor‖, encarei a espada. ―Obrigada. É na verdade muito bom…‖

Mas então eu parei. Não ousei dizer o que estava pensando.

―Tudo bem.‖ Havia uma piscada sábia no olho do Sr. Smith. ―Você pode dizer.‖

Olhei para o chão.

―É muito bom receber um conselho de verdade de operações secretas. Senti falta

disso.‖

―O Sr. Townsend é um bom operário, Cammie.‖

―Sim, é claro, não tive intenção de sugerir que…‖

―Ambicioso. Soberbo. Calculante... mas talvez ele não seja natural na sala de aula?‖

―Não‖, concordei. ―Ele nunca será tão bom quanto...‖, mas parei rapidamente,

subitamente incapaz de dizer o nome em voz alta.

―Não, ele não é com o que está acostumada‖, Sr. Smith concordou.

―Eu acreditei nele.‖ Eu não sabia da onde as palavras vieram, mas ali, na luz daquela

espada, eu simplesmente tive que libertá-las. ―Joe Solomon é um mentiroso. E um traidor.

E eu acreditei nele. Mesmo depois de Londres… Ele falava loucuras e mesmo assim eu…‖

―Ele era louco, Cammie? Realmente era?‖

Olhei para o espião mais cuidadoso que já conheci — encarei o quinto rosto que já o

vi usar e tentei focar nos olhos que não tinham mudado desde o meu primeiro dia da

sétima série.

―Joe Solomon é muitas coisas, Cammie. Mas louco? Louco é a única coisa que eu

acho que nunca acreditarei.‖

O Sr. Smith deu um passo em direção a Grande Escada, a bainha de sua camisola

balançando conforme ele se movia.

―Tente dormir um pouco, Cammie. E boa noite.‖

Andando de volta para o andar de cima naquela noite, pensei nas palavras do Sr.

Smith, na maneira como o Sr. Solomon tinha agarrado minha mão na Torre de Londres e

me puxado pelo escuro. Enquanto comecei a subir a velha escada espiral que levava aos

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quartos das alunas do terceiro ano, um ar frio aterrissou em meus braços e eu olhei

através do vidro ondulado. Lembrou-me do vento frio em Londres, das ondas agitadas do

Thames.

Lembrei-me de quão perdido o Sr. Solomon parecia quando me abraçou na ponte —

quão estranho aquele gesto tinha parecido.

Para onde homens como Joe Solomon iam quando caíam? Perguntei a mim mesma.

Me perguntei se haveria alguma ajuda para ele, esperando na praia.

Subi outro degrau, mas conforme me movi escadas acima, algo lá fora chamou minha

atenção. Algo me fez parar e encarar o campo.

As luzes das janelas da mansão cortavam a escuridão, pavimentando o céu escuro e

nublado. E foi quando eu os vi — os pássaros que voavam para o ar aberto e então

voltavam, estendendo suas asas.

Por um momento, fiquei imóvel, ouvindo o vento uivando, o arrulho fraco dos

pássaros e as palavras do meu professor que estiveram repetindo de novo e de novo em

minha mente por semanas.

―Siga os pombos.‖

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CAPÍTULO 20

―ESTÁ LÁ!‖ MINHA VOZ ESTAVA RACHANDO E AS PALAVRAS VIERAM em

arfadas curtas como se eu estivesse fora de forma. Fora do tempo. ―Sr. Smith estava certo.

Ele não é louco!‖

Ouvi os passos das minhas colegas de quarto nas escadas trás de mim, enquanto

Bex perguntava:

―Cam, sobre o que você está falando?‖

―Os pombos!‖

Estou certa que devo ter parecido uma pessoa insana. E tecnicamente, eu tinha sido

acertada na cabeça muitas vezes, então minhas amigas tinham uma boa razão para se

entreolharem como se todo aquele trauma cerebral fossem me pegar, eventualmente.

―Cam‖, disse Liz suavemente, seus olhos ainda inchados de sono. ―Onde estamos

indo?‖

Algo estava vivo em mim naquele momento. Talvez medo. Talvez pavor. Mas

principalmente, eu pensava ser esperança enquanto subi as escadas, cada vez mais alto.

Quando chegamos ao destino, senti o ar frio que atravessava as frestas na pedra e,

naquele segundo, meu coração parou. Fiquei em pé, congelada pelo frio da pedra debaixo

dos meus dedos das mãos e com uma esperança que não ousei ignorar, conforme delineei

a escultura áspera do pássaro voando e empurrei.

As cinco pedras maiores recuaram, revelando um pequeno compartimento e uma

alavanca empoeirada.

―Cammie!‖ Liz exclamou. ―Não. Você não deve deixar a mansão! O que está

fazendo?‖

Mas ela estava atrasada, porque a porta já estava se abrindo, uma onda de vento

gelado soprava contra meu rosto e em meus pés descalços, mas não senti frio.

Somente me virei para olhar para minhas melhores amigas, que estavam de pé na luz

da soleira da porta, e falei:

―Estou seguindo os pombos.‖

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Nós já tínhamos estado aqui antes, é claro. Apenas há alguns meses atrás nos

sentamos nos caixotes empoeirados derrubados, que eram as últimas relíquias do

programa secreto de criação de pombos-correios da Academia Gallagher.

Nós tínhamos sentado ali por horas, olhando para as luzes de Roseville, falando

sobre as pessoas que estavam atrás de Macey. Atrás de mim. Mas agora, o espaço

parecia totalmente diferente.

―O que...‖ Liz começou, olhando em volta. ―O que é tudo isso?‖

Quadros de giz forravam a parede interior da muralha, longe das janelas sem vidros

que mostravam os terrenos. As caixas estavam empilhadas ordenadamente para um lado.

Uma cadeira solitária estava no centro do piso, em frente ao quadro-negro, como se

alguém tivesse passado horas naquele lugar, tentando resolver uma equação impossível.

―Isso deve ser o que o Sr. Solomon queria que a gente encontrasse.‖

Dei um passo mais perto do quadro-negro que tinha as palavras do Sr. Solomon

rabiscadas em cada centímetro.

―Ele arriscou tudo — só para me dizer para encontrar isso‖, falei.

―Cammie...‖ Bex começou. ―Você sabe tão bem quanto eu que ele estava falando

loucuras. Ele não era Joe Solomon.‖

―Mas nós estamos aqui‖, rebati. ―Não é loucura se estamos aqui.‖

―O que diz aqui?‖ A voz de Liz era suave, seus olhos focados quando deu um passo

lentamente para mais perto do quadro. E eu sabia que ela não falava conosco; seu cérebro

estava perdido no código, tentando ver além da bagunça.

―O que é, Liz?‖ Macey perguntou.

Liz balançou a cabeça.

―Eu... eu não sei. Nunca vi algo parecido com isso.‖

―É loucura, isso que é.‖ Bex bateu seu punho contra o quadro.

―Pense nisso, Bex. Pense. Ele é um dos homens mais procurados do planeta e eu

sou uma das garotas mais bem guardada. Por que ir até mim em Londres? Se ele está

trabalhando com o Círculo, por que se arriscar?‖

―Eu não sei, Cam. Por que ele matou seu pai? Por que entrou para o Círculo em

primeiro lugar? Talvez ele rompeu ou quebrou ou...‖ Pensei que ela pudesse chorar.

―Talvez isso é o que ele é agora.‖

―Ele era louco durante a semana das provas finais? Ele era louco em Washington

D.C.?‖ Senti as palavras do Sr. Solomon caírem sobre mim. ―Se ele não é louco, Bex,

então ele foi até Londres por uma razão.‖ Joguei meus braços e me aproximei dos

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quadros. ―Ele foi até Londres por isso.‖

Nós quatro estávamos paradas no exato mesmo lugar que Joe Solomon havia

estado, encarando as palavras, número e diagramas que ele havia escrito. Havia respostas

aqui. Pistas. Ele arriscou sua liberdade — sua vida — para me trazer a esse terraço. Eu

tinha seguido os pombos e naquela noite, estava sem um casaco no frio congelante,

tentando decifrar o que ele tinha a dizer.

Atrás de mim, um pombo grasnou. O som era estranho e alto conforme eu pisquei no

escuro em direção à saliência. Ele grasnou novamente.

―Pássaros estúpidos‖, disse Liz, atirando suas mãos em direção ao pombo solitário

que se sentava na beira da grade.

A maioria das pessoas não sabe que qualquer coisa pode ser um recorte3, um

intermediário, uma mensagem para espiões. Essa parte da mansão existia porque pombos

uma vez foram os melhores. Eles nunca falavam quando eram interrogados; nem mesmo

os melhores satélites espiões no mundo podiam localizá-los.

―Vá embora‖, Liz disse. ―Dê…‖

―Espera‖, falei, alcançando as mãos da minha melhor amiga, encarando o pequeno

pássaro que se sentava estoicamente, esperando no escuro.

―Cam.‖ A voz de Bex foi suave. ―Cam, o que é?‖

Me inclinei em direção ao pássaro e alcancei o pequeno pedaço de papel que estava

preso delicadamente em volta de sua perna.

Se estiver lendo isso, você encontrou. E se encontrou, você sabe.

Tenho que te ver. Encontre-me no lugar onde fizemos os passes de

escova. Me mande de volta na hora.

Por favor, venha.

E por favor, tenha cuidado.

As palavras foram cuidadosamente escritas. Não havia assinatura — nenhum nome

de nenhum tipo. E mesmo sabendo que seria imprudente eu enviar, imprudente ler — total

e completamente tolice sequer pensar em fazer como ele disse — a verdade da coisa é

que a vida de um espião não é questão de aproveitar oportunidades. Trata-se de

aproveitar oportunidades que valem a pena o risco.

3 cutout - mecanismo usado por espiões para passar informações, onde não se sabe a origem nem o destino da informação

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CAPÍTULO 21

―E QUANTO AOS VELHOS POÇOS DE VENTILAÇÃO NO PORÃO?‖ Bex

perguntou conforme nos sentamos ao lado da lareira na biblioteca mais tarde naquela

noite.

Balancei minha cabeça.

―Coberto com dez centímetros de concreto fresco.‖

―A lareira de mentira no segundo andar?‖ Tentou Macey.

―Talvez.‖ Considerei os cadeados e barras que haviam sido acrescentados sobre ela

durante o recesso de inverno. ―Supondo que pudéssemos conseguir um maçarico. Alguma

de vocês tem um maçarico?‖

Liz animou-se como se estivesse prestes a dizer que sim, que tinha um maçarico

atrás de seu armário.

―Estou até com medo de saber‖, falei, levantando minha mão para impedi-la.

―Cara, eles realmente querem nos manter aqui dentro, não é?‖ Macey disse.

―Não.‖ Bex chacoalhou a cabeça e me encarou. ―Eles querem manter o Círculo do

lado de fora.‖ Ela esperou um segundo, como se a verdade da questão fosse cair sobre

nós. ―Isso é perigoso. Muito perigoso.‖

―Estou com Bex‖, falou Macey. ―Ele está te pedindo que corra um risco muito grande,

Cam.‖

Elas estavam certas, mas tudo que eu podia pensar era a maneira como ele tinha

ficado cara a cara com pessoas que estavam vasculhando o mundo para encontrá-lo.

―Talvez seja minha vez.‖

―Ok. Está bem. Vamos dizer que não é verdade‖, Bex ofereceu. ―Vamos supor que o

Sr. Solomon seja inocente, erroneamente acusado e não tenha matado...‖ Ela desviou o

olhar, mas depois voltou. ―Vamos supor que ele seja o homem que conhecemos. O Sr.

Solomon que conhecíamos nos diria para sair de fininho da Academia Gallagher, ir para a

cidade e nos encontrar em um fugitivo conhecido? O Sr. Solomon diria a você para agir

estupidamente?‖

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A resposta era óbvia. Foi provavelmente por isso que nenhuma de nós a disse.

―Por que nós não vamos?‖, disse Liz, apontando para si mesma, Bex e Macey. ―O

vemos. Pegamos a mensagem. Trazemos de volta.‖

―Não posso explicar, gente‖, falei, balançando minha cabeça. ―Eu só sei que tenho

que ir.‖

―Isso não significa que você tem que ser estúpida!‖ Bex atirou de volta e percebi que

ela estava sendo prudente. Bex tinha se tornado a voz da razão.

―Você não viu, Cammie‖, ela continuou. ―Não teve que observá-los, drogá-la e

arrastá-la como uma boneca. Você estava lá, Cam, mas não teve que assistir sua amiga

quase ir embora para sempre. Você não sabe qual é a sensação disso.‖

―É‖, Macey disse suavemente. ―Ela sabe.‖

Olhei para as garotas em quem eu confiaria minha vida. Então pensei sobre meu pai

e no homem em que ele provavelmente tinha confiado à vida dele.

―Eu tenho que ir‖, falei. ―É minha missão.‖

―É nossa missão‖, Bex contradisse.

―O que estamos dizendo?‖ Liz exclamou. ―Cam, nós não temos que sair de fininho.

Não temos nem que ir sozinhas. Aposto que sua mãe…‖

―Não‖, eu disse, a cortando. ―Se ela for pega ajudando Joe Solomon… Não. Estamos

por nossa conta.‖

―Eu sei, Cam‖, Bex disse, me parando. ―Eu sei. Mas se fizermos isso com nosso

reforço…‖

―E se eles estiverem errados, Bex?‖. pretextei. ―E se essa for nossa única chance que

teremos de descobrir o que aconteceu com meu pai? E se enquanto todo mundo o está

perseguindo, ninguém está tentando impedir o Círculo? E se ele não fez tudo isso?‖

A voz de Bex era monótona, calma e forte quando olhou para mim.

―E se ele fez?‖

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CAPÍTULO 22

RELATÓRIO DE OPERAÇÕES SECRETAS

As Operárias utilizaram um cenário básico do

cavalo de Tróia. Se, em vez de um cavalo, você

substitui por uma Minivan Dodge 1987.

● ● ●

Bem, acontece que quando uma das organizações terroristas mais perigosas e

secretas do mundo está atrás de uma de suas alunas, as escolas se preocupam menos

em manter as pessoas dentro, do que se preocupam em mantê-las fora.

Ou pelo menos foi o que Bex, Macey e eu dissemos a nós mesmas conforme

rastejamos sob uma lona, uma manta e cerca de dez milhões de cadernos de física e

deitamos o mais silenciosamente possível na parte de trás da van de Liz.

―Para onde está indo essa noite?‖, o guarda no portão da frente perguntou.

Podia imaginá-lo inclinando-se contra a janela do motorista, mastigando seu chiclete.

Tive que segurar minha respiração enquanto esperava pela voz suave e sulista que

respondeu:

―Apenas verificar a estrada, Walter.‖

―Como ela está agora, Lizzie?‖, o guarda perguntou. Na luz que entrava por entre as

traças da manta, eu via que Bex segurava a respiração também.

―Quase quatrocentos quilômetros por litro‖, Liz rompeu. ―Quero dizer, trezentos e

noventa e cinco, para ser mais específica — o que eu posso ser. Específica, quero dizer.

Você me conhece, Walter. Sou uma pessoa muito orientada a detalhes. Só estou saindo

para uma dirigida por aí. Não estou escondendo nada!‖ Os olhos de Bex se arregalaram.

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PRÓS E CONTRAS

DE SAIR ESCONDIDO DA ESCOLA

(Uma lista feita pelas Operárias Morgan, McHenry e Baxter)

PRÓ: Como operárias em um cavalo de Tróia, a parte traseira de uma

minivan não é nem de longe tão ruim quanto parece ser.

CON: Rebecca Baxter, apesar de suas várias qualidades, é secretamente

uma descuidada.

PRÓ: Não há nada como uma operação secreta completamente não

supervisionada e possivelmente ilegal, para tirar a mente de uma garota de

uma organização terrorista, que está atrás dela — sem mencionar o dever de

casa de Cultura & Assimilação.

CON: A garota realmente deveria estar fazendo seu dever de casa de

Cultura & Assimilação.

PRÓ: Quando você não teve nenhuma lição de Operações Secretas em

meses, você pegará cada oportunidade de experiência que puder.

CON: Quando você não teve nenhuma lição de Operações Secretas em

meses, você não pode evitar de se sentir realmente, muito enferrujada.

● ● ●

Eu conhecia as ruas de Roseville. Andei por elas com minhas colegas de classe.

Andei de mãos dadas com meu primeiro (e tecnicamente único) namorado. Eu as vi cheias

de fãs de futebol e espectadores do desfile, com senhoras vendendo bolos e doces para

auxiliar a igreja e crianças por aí, para uma matinê de Sábado.

É tão Americana quanto uma cidade pode possivelmente ser, com seu gazebo

branco, letreiro do cinema e praça da cidade, mas parecia diferente enquanto eu estava na

torre do sino da biblioteca, olhando para baixo para a praça. Não havia nada ali a não ser

eu e o céu — sem paredes, sem guardas — e ainda assim eu me sentia encalhada. Como

os corvos, eu sabia que não podia voar e ir embora.

―Você tem um bom disfarce aqui‖, Bex me disse.

Eu podia ouvir Macey através das unidades de comunicação em minha orelha,

dizendo o que eu já sabia:

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―A praça está limpa.‖

Podia ver Liz na van, circulando o quarteirão.

―Liz está te rastreando na van‖, Bex falou. ―Temos tomadas reservas fora da cidade

caso a van se comprometa.‖

Bex continuava falando, mas tudo que eu conseguia pensar era como o ar estava

mais frio. As estrelas pareciam mais brilhantes. A brisa mais suave soprava contra minhas

bochechas. Era como se todos os meus sentidos estivessem atenuados e eu não podia

evitar pensar que a maioria das pessoas se sentia assim às vezes — quando estão

sozinhas ou no escuro. Quando ouvem um barulho no armário ou um ranger no piso, elas

sentem. Não é questão de estar assustada — é questão de estar viva. Os nervos

trabalhavam mais, carregando mensagens ao cérebro, se preparando para a luta ou para o

voo e, naquela noite, vamos apenas dizer que meus nervos tinham tido seu trabalho

cortado.

―Cam?‖ Bex perguntou como se eu não tivesse a ouvido. Mas ela estava errada.

Naquela noite eu ouvia, via e sentia o cheiro de tudo. ―Eu entrarei em posição. Você está

satisfeita com essa posição?‖

Examinei a praça e assenti.

―Sim.‖

―Você está segura aqui.‖ Ela tocou meu braço quase como se tentasse pegar meu

cheiro, como se logo pudesse estar me procurando pelo mundo.

E então eu a assisti ir.

Parada na torre sozinha, lembrei a mim mesma todas as coisas no mundo que eu

sabia que era absolutamente verdade: Rebecca Baxter era a melhor espiã na Academia

Gallagher e a última pessoa que mentiria sobre minha segurança. Eu tinha rastreadores

GPS em meu relógio, meus sapatos, meu prendedor de cabelo e em meu estômago

(graças ao novo modelo comestível que Liz estivera testando).

Minhas colegas e eu carregávamos botões de emergência que podiam reunir um

exército num piscar de olhos. Podiam me rastrear em qualquer parte do mundo (e Liz

firmemente acredita, na lua também).

Mas ainda assim não consegui me livrar da sensação de que a praça parecia menor

de onde eu estava, ou talvez o mundo parecesse maior.

Segurava um par de binóculos em meus olhos e examinei as ruas, dizendo a mim

mesma que estava tão segura quanto podia estar. Eu estava preparada. Podia lidar com

qualquer coisa. Pronta para tudo…

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Exceto para a vista de uma figura alta com ombros largos, aparecendo do nada na

beirada do gazebo e dizendo:

―Olá, Garota Gallagher.‖

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CAPÍTULO 23

PERSPECTIVA É UMA COISA PODEROSA. SÉRIO. EU ALTAMENTE

recomendo. Há coisas que você simplesmente não consegue ver até que dê um bom

passo para trás e observe bem, bem de perto.

Quero dizer, se estivesse na praça e não na torre do sino, eu poderia ouvir a garota

dizer, ―Bem, olá para você‖, mas eu poderia ter perdido a forma como o garoto tropeçou

para trás quando ela se virou. Eu não teria notado a forma como seus ombros caíram e

sua cabeça abaixou-se na forma de alguém que não tinha encontrado o que estava

procurando.

Eu podia não ter nunca percebido que Zach estava desapontado em encontrar outra

garota no gazebo.

―Macey?‖ Zach perguntou como se não pudesse acreditar em seus olhos, o que era

talvez a coisa mais lisonjeira que já ouvi.

Porque ninguém nunca me confundiu com Macey McHenry. Nunca. Mas estava

escuro e mesmo sem o acesso ao maior closet do mundo de engano e disfarce, Macey

ainda era a filha de uma herdeira de cosméticos. E com uma peruca e o casaco velho de

Zach, ela se tornou uma boa isca, ou pelo menos boa o suficiente.

―Onde está Cammie?‖ Zack perguntou.

―Você parece desapontado em me ver, Zach‖, Macey brincou. ―Não gostou do meu

casaco?‖

―Onde ela está?‖, exigiu Zach.

―Na escola‖, Macey mentiu sem hesitar. ―Assistindo uma transmissão ao vivo. Está

segura.‖ Ela inclinou-se para perto, encarando-o.

―Os jammers na escola não permitiriam isso, Macey. Agora, onde ela está?‖ Ele se

virou. ―Eu sei que está aqui em algum lugar‖, disse ele, examinando as ruelas e

construções que circulavam a praça.

―Ela está segura onde está, Zach.‖ Bex saiu do recanto da parede escura ao lado do

cinema e se moveu para o lado dele. ―E manteremos dessa forma.‖

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―Preciso falar com ela‖, ele falou a elas.

―Então fale‖, Macey disse. ―Estamos com unidades de comunicação. Ela pode ouvir.‖

―Preciso vê-la.‖

―Eu estou descendo‖, rompi, desesperada para sair detrás das linhas secundárias,

mas a mão de Bex estava em seu ouvido.

Ela gritava comigo.

―Você fique onde está!‖

Mas eu já tinha partido.

―Ela tem sorte de ter vocês‖, Zach disse depois de um longo tempo. ―Ela precisa de

vocês.‖

―O que está fazendo aqui, Zach?‖ Macey perguntou, mas Zach apenas chacoalhou a

cabeça. Olhou para o chão.

―É complicado.‖

―Então descomplique.‖ Mesmo quando eu disse as palavras, eu sabia que podia me

arrepender delas. ―E logo‖. Talvez Zach fosse uma isca e eu estava entrando em uma

armadilha. Talvez Bex pouparia o Círculo do problema e me mataria naquela hora, mas

não consegui ficar longe.

―Você está com ele‖, falei.

―Tecnicamente, ele está escondido por aí no mundo neste momento‖, Zach tentou

brincar, mas eu apenas o ignorei.

―Liz e Macey disseram-me que só porque você estuda no Blackthorne não significa

que...‖ Minha voz falhou. ―Mas você realmente está com ele.‖

―Garota Gallagher, me escute.‖

―Então... o que aconteceu, Zach? O Círculo recrutou você também?‖

Ele me olhou por um longo tempo antes de abaixar sua cabeça e sussurrar:

―Não exatamente.‖

Na beira da praça, um poste tremeluziu. Sombras estenderam-se pela grama por uma

fração de segundo e eu vacilei, me lembrando da última vez que estive sozinha com Zach

e as luzes se apagaram. Me lembrei do som de um disparo e da visão de minha tia caindo

na rua escura, enquanto um dos agentes do Círculo se postava entre mim e a liberdade.

Mas ao invés de atirar, ele tinha olhado para Zach e dito:

―Você?‖

―O que está fazendo aqui, Zach?‖, perguntei, minha garganta subitamente seca

demais.

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―Ele me pediu que lhe entregasse uma mensagem.‖

―Então me envia uma mensagem! O que é tão importante que tive que arriscar a

segurança das minhas amigas para escapar da escola e vir para cá?‖, exigi. ―Hein. O que é

tão…‖

―Eu tinha que te ver.‖ Ele fechou o espaço entre nós. Suas mãos eram quentes por

estarem em seus bolsos conforme se fecharam em volta de meus dedos. ―Eu tinha que

saber que você estava bem. Tinha que te ver, te tocar e... saber.‖

Ele afastou meu cabelo do meu rosto, seus dedos contra minha pele.

―Em Londres...‖ Ele falhou. ―Depois de Washington…‖

―Estou bem‖, falei, me afastando. ―Ressonâncias magnéticas e raios X me mostraram

que tudo está normal. Nenhum dano permanente.‖

A maioria das pessoas acredita em mim quando minto. Aprendi como dizer as

palavras certas. Tenho o tipo de rosto confiante. Mas o garoto à minha frente era um

operário treinado, então Zach sabia melhor. E, além disso, Zach me conhecia.

―Mesmo?‖ Ele tocou meu rosto novamente. ―Porque eu não…‖

Eu conhecia Zachary Goode. O toquei, falei com ele e senti seus lábios nos meus,

mas não o conhecia — não realmente. Eu podia sentir o relógio tiquetaqueando e sabia

que a garota que eu venho sendo durante o ano estava oficialmente fora do tempo.

―Estou bem, Zach‖, falei, me afastando novamente. ―Mas eu tenho que ir. Só temos

meia hora antes de eles sentirem nossa falta.‖

Ele apontou para a escuridão.

―Quem mais está por aqui?‖

―Os de costume‖, eu disse, não querendo ainda dar muita informação.

―Sua mãe?‖, perguntou ele, mas eu não precisei dizer nada — ele leu a resposta em

meus olhos. ―Bom‖, disse Zach. ―Ele não quer que ela se arrisque.‖

―Por que ele se importa? Se ele se importasse com ela, então...‖, estremeci.

―Então lhe contaram?‖, perguntou ele dando um passo longe.

―Sim. Eles me contaram que ele é parte do Círculo e que... Meu pai está morto por

causa dele.‖ Meu coração estava disparado dentro de meu peito. Minha garganta

queimava. ―É essa a parte onde você nega?‖

―Não.‖ Zach chacoalhou a cabeça. ―Essa é a parte onde eu lhe peço um favor.‖

―Você é bem ousado‖, Bex disse, movendo-se para perto, mas o olhar de Zach nunca

deixou o meu.

―Há um livro, Garota Gallagher‖, disse ele, então engoliu. ―Pode ser a única coisa que

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o Círculo quer mais do que querem você.‖

―Que tipo de livro?‖, perguntei.

―Um diário. Joe — Sr. Solomon — precisa que você o leia.‖

―Por que?‖

―Explica tudo, Garota Gallagher. E, além disso, se ele não conseguir sair dessa... Ele

precisa que você o leia.‖

―Onde está?‖ Bex perguntou.

―Vocês não vão gostar. É arriscado e…‖

―Onde está?‖ Bex, Macey e eu exigimos em uníssono.

―Subnível Dois.‖

―Os Subs?‖ Bex balançou a cabeça. ―Não. Não podemos. Estão fechados. Fora dos

limites.‖

―Ah e fora dos limites já impediu vocês de fazer algo antes?‖ Zach perguntou a ela.

―Olha, eles não estão tecnicamente fechados — só estão manipulados para explodir se

alguém chegar perto‖, disse ele como se encontrássemos explosivos altamente perigosos

todos os dias. E... bem... nós meio que encontramos sim.

―Como você sabe sobre os subs?‖

―Porque uma semana antes de te ver em Londres, Joe ouviu que a CIA tinha uma

fonte que começara a falar. Ele tinha que sair da rede e manter-se fora — rápido. Viriam

atrás dele, Garota Gallagher e ele não podia arriscar ser pego lá embaixo, então...‖

Zach respirou fundo e soltou seu sorriso malicioso.

―Eu sei sobre os subs porque foi Joe Solomon quem os manipulou.‖

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CAPÍTULO 24

JOE SOLOMON NÃO FEZ UMA ARMADILHA NA ACADEMIA GALLAGHER

para Jovens Mulheres Excepcionais para explodir, implodir ou enchê-la de água do lago.

Não me entenda mal, todas essas coisas podiam totalmente acontecer! Mas não

importa o que você possa ter ouvido, o Sr. Solomon não pôs esses protocolos no lugar —

os administradores da Academia Gallagher o fizeram, há muito, muito tempo atrás. Antes

de eu nascer. Antes de a minha mãe nascer. Afinal, quando você tem todos aqueles

segredos em um lugar, é importante protegê-los. E se as medidas de proteção falharem, é

importante destruí-las.

Então eu realmente desejo que as pessoas entendem bem isso: o Sr. Solomon não

construiu os gatilhos que podem destruir os subs!

Ele é só, quem os ativou.

Ou pelo menos foi o que Zach nos disse.

E isso... É, esse é o problema.

―O que foi?‖ Liz perguntou, apesar do fato de que, na frente das alas, o Dr. Fibs e

Madame Dabney estavam no meio de uma aula em dupla falando sobre técnicas de escrita

secretas (e por que uma Garota Gallagher realmente devia aprender como fazer sua

própria tinta invisível e fazer caligrafia).

―São os sensores nos eixos dos elevadores?‖, ela sugeriu.

Balancei minha cabeça.

―O atraso de dois segundos antes dos protocolos de anti-invasão ativar-se e

seremos... esmagadas?‖

―Minha nossa!‖ Dr. Fibs gritou. Olhei para cima para ver que ele derrubara

acidentalmente sua última mistura invisível sobre Madame Dabney e que sua blusa estava

ficando mais e mais invisível em segundos.

―Eu sei o que você está pensando, Cam‖, Liz continuou. ―Estivemos procurando por

um caminho para... você sabe onde... por semanas e não estamos nem perto. Mas isso

não é verdade!‖

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Na frente da sala, Madame Dabney (quem, a propósito, usava sutiãs mais sensuais

do que qualquer um imaginaria) começou a enxugar em frente da sua blusa com uma

toalha de mesa antiquada e o Dr. Fibs alcançou um isqueiro.

―Agora, lembrem-se garotas, a tinta se torna visível novamente quando exposta ao

calor!‖ o Dr. Fibs gritou enquanto acendeu o isqueiro e a toalha de mesa pegou fogo nas

mãos da Madame Dabney.

―Temos uma estratégia de entrada, uma de saída e... temos um monte de

estratégias!‖ Liz disse, seus olhos arregalados e naquele momento eu sabia que uma parte

de Liz não se importava com que Zach e o Sr. Solomon tenha nos pedido para fazer algo

que ninguém fizera em cento e cinquenta anos. Para Liz, era apenas um quebra-cabeça,

um teste. E Liz é muito, muito boa em testes.

―É, Cam‖, disse ela novamente assim que a fumaça clareou (literalmente), reuníamos

nossas coisas e deixávamos a classe. ―Vamos descobrir.‖

―Descobrir o que?‖ Bex perguntou, chegando perto de nós.

―Nada‖, sussurrei.

―Resposta errada‖, Bex falou, aproximando-se, sua voz quase inaudível entre a

cascata de garotas que enchiam os corredores. ―Agora, o que foi?‖

―Zach‖, Macey chutou com um dar de ombros. Ela me olhou. ―Tem que ser o Zach,

certo?‖

―Então a próxima geração de câmeras dos subníveis com intervalo de 360 graus e

sensores de calor não estão te incomodando?‖ Liz perguntou. Não pude dizer se ela

estava zoando comigo ou não.

―Tem alguma coisa que ele não está nos contando‖, sussurrei.

―Como o que?‖ Bex perguntou, interessada novamente.

Como o que há de tão importante nesse diário? Como porque o homem em

Washington não atirou nele e me sequestrou quando teve chance? Pelo menos um milhão

de questões enchia minha mente, mas os corredores estavam abarrotados e havia

somente uma coisa que ousei dizer.

―Tem... alguma coisa.‖

―Ele é um garoto, Cam.‖ Macey passou por mim e conduziu-nos corredor abaixo. ―E

um espião. Ele é um garoto espião. Sempre haverá uma coisa que ele não está dizendo.‖

―Ele lutou conosco — em Washington‖, disse Liz. Não havia dúvida em sua voz. ―Eu

sei que você não pode ver, Cam. Sei que te drogaram, bateram sua cabeça e tudo. Mas

ele e o Sr. Solomon lutaram conosco‖, Liz disse uma última vez e então correu em direção

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a sala de aula do Sr. Mosckowitz.

Me virei para Macey.

―Então ele é misterioso‖, disse ela com um dar de ombros. ―Mistério é sexy.‖ E então

foi à vez dela de virar e correr para as portas da frente, a caminho de sua aula de P&A.

Quando me virei para Bex, queria que ela dissesse que tudo ficaria bem — que não

havia nada que nós quatro não pudéssemos fazer e era só questão de tempo até que

achássemos um caminho para o Subnível Dois, limpássemos o nome do Sr. Solomon e

impedíssemos o aquecimento global (não necessariamente nessa ordem).

Olhei para ela. Esperei.

―Não podemos confiar nele.‖ Ela passou por mim, andando calmamente para a Sala

132. ―Não podemos confiar em ninguém.‖

Eu queria que ela estivesse errada (mas não estava). Pensei que pudesse pensar em

uma maneira de provar que ele era uma exceção (mas eu não podia). Queria que ela

parasse de me olhar como uma espiã e começasse a falar comigo como uma garota, mas

Garotas Gallagher só são excepcionais por serem ambas — o tempo todo. Eu queria

entrar na sala de Operações Secretas, fingir ler qualquer livro entediante que Townsend

nos daria, e rever cada conversa que Zach e eu tivemos. Mas antes que eu pudesse dar

um passo, o Agente Townsend apareceu na soleira da porta da sala, com um casaco em

suas mãos, dizendo:

―Terceiro ano, venham comigo.‖

Eu sei que devíamos estar no negócio de estar preparadas para qualquer coisa — de

nunca, nunca se surpreender — mas deixe-me te dizer, a maioria das pessoas que

conheço ainda me assustam pra caramba em uma base regular. (Como, por exemplo, a

vez em que o Sr. Mosckowitz e Liz foram juntos escalar e nenhum deles morreu.) Mas em

cinco anos e meio na melhor escola do mundo para espiãs, muito poucas coisas me

surpreenderam mais do que andar com o resto da classe do terceiro ano, seguindo o

Agente Townsend pelos corredores.

Ele era o tipo de homem que sempre se movia com propósito, nunca perdia um

passo, mas naquele dia ele andava ainda mais rápido. Parecia mais alto. E ainda que

estivéssemos dentro da mansão Gallagher, algo me dizia que o Agente Townsend estava

finalmente de volta ao terreno familiar.

―Hum... senhor...‖ Tina Walters disse, se empurrando entre a multidão, tentando

chegar mais perto possível do homem na frente do bando. ―Estamos indo de volta ao

Subnível Dois?‖, perguntou ela, mas Townsend agiu como se não tivesse ouvido palavra

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alguma.

―O trabalho primário de qualquer agente de campo é qual?‖, perguntou ele de um jeito

que o fez soar quase como um professor de verdade. Quase.

―Recrutar, correr, manter os ativos de inteligência‖, Mack Morrison disse, citando a

página doze da velha cópia da terceira edição de Entendendo Espionagem: Um Guia de

Operações Secretas para Iniciantes, do qual nós revezamos várias vezes para ler sob

cobertores na sétima série.

Agente Townsend olhou para ela. Pensei por uma fração de segundo que ele poderia

mesmo sorrir, mas ao invés, disse:

―Errado.‖

Senti como se a classe inteira tivesse tropeçado. Townsend, por outro lado, continuou

andando.

―O trabalho primário de um agente de campo é usar pessoas — estranhos,

tipicamente. Às vezes amigos. Secretárias, vizinhos, namoradas, namorados, zeladores e

senhoras velhas atravessando a rua. Usamos todos eles.‖

Ele parou no centro do hall de entrada e virou-se para nos encarar, enquanto, atrás

dele, as portas principais abriram-se. Uma van estava sobre a pista. Fiquei tentada a

fechar meus olhos e fingir que realmente tínhamos uma lição de Operações Secretas, que

tínhamos um professor de Operações Secretas de verdade novamente.

Mas então Townsend disse:

―Mas, é claro, se isso é muito baixo para uma Garota Gallagher...‖

―Não, senhor!‖ Tina cantou.

Ele deu um passo de lado e gesticulou em direção às portas abertas.

―Nesse caso, depois das damas.‖

―Suponho que ache que isso é opcional, Srta. Morgan?‖ Agente Townsend me

encarava na porta aberta.

―É claro que quero ir, mas há certos protocolos de segurança‖ — desviei meu olhar,

de alguma forma incapaz de encará-lo quando admiti, ―A Professora Buckingham me disse

que não estou autorizada a deixar o terreno escolar.‖

―E eu suponho que você pense que me esqueci desse fato?‖

―Não, senhor.‖

―Então você pensa que sou idiota.‖

―Não, senhor, eu…‖

―Não se preocupe, Srta. Morgan, eu sei que você é especial. E por causa de você e

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sua mãe, eu gastei um bom tempo e energia fazendo arranjos especiais‖, ele disse com

um sorriso condescendente. ―Mas se você quiser ficar na mansão...‖

Não esperei que ele terminasse. Eu já estava fora da porta.

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CAPÍTULO 25

ESPIÕES PRECISAM DE OPERAÇÕES SECRETAS. SEI QUE PARECE

loucura, mas é verdade. Porque por mais que nossos cérebros sejam... você sabe... do

tamanho normal, todo operário secreto sabe que uma mente é totalmente grande o

suficiente para se perder dentro da mesma — enlouquecer, se for deixada com muito

tempo e muito espaço, para deixar seus ouvidos correrem livres.

Então, sim, espiões precisam de operações secretas. E quando me sentei ao lado de

Bex na van da Academia Gallagher que nos carregava pelos portões altos de ferro que

ficavam entre mim e o mundo lá fora, eu tive que perguntar:

―Você ouviu isso?‖

―O que?‖, perguntou ela. ―Uma pequena voz dizendo que seria melhor você ficar bem

onde estava?‖

―Não‖, sorri. ―Liberdade.‖

Ela me olhou como se eu pudesse estar mais louca do que normalmente, mas não

me importei.

Eu estava andando de van! (E em um banco de verdade dessa vez, o que, me deixe

te dizer, você não sente falta até não ter.)

Eu estava fora da escola!

Eu estava indo em uma missão!

Eu estava indo para...

Então olhei para fora da janela e percebi que não fazia ideia de onde estávamos indo.

E isso só deixava melhor.

Por duas horas nós andamos em silêncio; o único som era o zumbido da van e os

roncos ocasionais (sim, roncos de verdade) enquanto Townsend caía no banco da frente,

dormindo. Conforme a estrada estendia-se diante de nós e a viagem ficava mais e mais

longa, tenho certeza que eu não era a única Garota Gallagher naquela van a sentir-se

extremamente consciente de três fatos importantes:

1) Estávamos perdendo o almoço.

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2) É meio difícil parecer uma super agente durona e hábil quando seu estômago está

roncando; e,

3) Não tínhamos uma lição de Operações Secretas em meses.

Estiquei meus braços à minha frente e pensei ter ouvido um rangido. Ferrugem nem

tinha começado a cobri-lo.

E então a van fez uma curva fechada à direita e Townsend despertou num pulo.

―Bom‖, disse ele, sem olhar para fora da janela. ―Estamos aqui.‖

Caso eu não tenha mencionado antes, eu estudo em um internato. Com portões. E

muros. Saias xadrez e professores severos. Então como minhas colegas e eu estávamos

acostumadas a passar todo nosso tempo em um lugar excitante, semi-perigoso e cheio de

comida deliciosa, não pude me lembrar de um único momento em que estive num lugar

como esse.

―Ah meu Deus‖, Tina Walters disse, resumindo a reação de provavelmente cada

garota na van naquele momento em particular. ―Isso é...‖

Mas antes que ela terminasse, o Agente Townsend abriu as portas e as palavras de

Tina se perderam no ruído ensurdecedor de uma montanha russa correndo por seus trilhos

e as pessoas gritando no alto de seus pulmões, conforme o carrinho mergulhava

rapidamente e depois subia novamente. De alguma forma, sentada na traseira da van, eu

meio que sabia exatamente como elas se sentiam.

―Certo‖, disse nosso professor dez minutos depois, como se quisesse acabar com

isso logo e voltar a dormir, ―todas têm um alvo. Todas têm um objetivo. Todas têm uma

hora.‖

Enquanto ele falava, seu olhar varria a entrada do parque de diversões, como se

nenhum lugar repleto com aquela quantia de turistas e calorias vazias pudesse diverti-lo.

―Há pessoas decentes no mundo, imagino. Mas o mundo está cheio de pessoas

decentes com informações úteis e para elas devemos mentir — roubar. Se alguém tem um

problema com isso... bem, se vocês têm um problema com isso, estão bem aconselhadas

a escolher outra profissão.‖

Ele estava certo, é claro. Não há maneira melhor de apontar isso. Nos aproximamos

de secretárias para instalarmos dispositivos nos escritórios dos chefes. Ficamos amigos de

viúvas para realizarmos vigilância nos quintais de seus vizinhos. Estamos no ramo da

inteligência humana e a maioria das pessoas com as quais precisamos fazer nossos

trabalhos acontece de estar no lugar errado e na hora errada. Então contamos mentiras,

escolhemos bolsos e, acima de tudo, as usamos.

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―Você‖, Agente Townsend disse, apontando para Mack. ―Tem um homem de quarenta

anos atrás de você com um boné de beisebol.‖

―Sim, senhor‖, falou Mack, mas não se virou para olhar na direção do homem.

―Você o vê?‖, perguntou o Agente Townsend, frustrado.

―Sim, senhor. Boné azul, camisa polo verde, mochila azul marinho.‖

Mack apontou para o reflexo do homem que estava na janela atrás da cabeça de

nosso professor. Ele olhou para trás para olhar e, por uma fração de segundo — nada

mais — pensei que ele podia ter se impressionado. Talvez.

―Ok‖, Agente Townsend disse lentamente, ―Aquele homem acabou de colocar um

pedaço de papel no bolso externo de sua mochila. Não me importo como você fará, mas

vai ter que descobrir o que está escrito naquele pedaço de papel.‖

Mack não precisou ouvir duas vezes, virou-se e entrou na multidão, enquanto eu me

virei para estudar o homem que ela seguia.

―Uau, ele realmente se mistura‖, admiti. ―Eu nunca teria imaginado que ele é da CIA.‖

―Ele não é,‖ Townsend disse simplesmente, ainda examinando as pessoas que

enchiam o parque. ―Ali, Srta. Walters‖, falou, apontando para uma senhora idosa andando

em uma cadeira de rodas elétrica.

―Ela é de Langley?‖ Tina perguntou.

―Eu não faço ideia de onde ela seja.‖ Nosso professor deu de ombros. ―O que eu sei é

que ela acabou de pôr o cartão de crédito na bolsa e é seu trabalho me dar o número

dele.‖

―Mas não é uma operária...‖ Tina hesitou. ―Ela não sabe que é uma missão... Se eu

for pega...‖

Townsend deu um passo em direção a ela.

―Então não seja pega.‖

Ainda era um jogo, eu sabia, mas pela primeira vez na história de nossa educação

excepcional, os jogadores do outro lado não sabiam que estávamos jogando. Uma por

uma, nossas colegas de classe receberam suas missões até que Bex e eu ficamos

sozinhas com nosso professor.

―Baxter‖, Agente Townsend disse, se virando para Bex, ―você acha que pode

descobrir quais são os números de série da nota de cinco dólares que o homem

trabalhando no Tilt-A-Whirl acabou de pôr no cofre?‖

O olhar dela dizia que sim, achava que podia descobrir, mas ainda assim ela não se

virou. Ela esperou que o olhar do nosso professor pousasse em mim.

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―E eu suponho que isso nos deixa com Cammie Morgan.‖ Ele lentamente examinou a

multidão. ―Acho que talvez acharemos algo especialmente para você.‖

Eu não sabia o que dizer, então permaneci quieta, esperando.

―Ali.‖ Ele apontou em direção a um homem vestindo um macacão oficial do parque

temático. ―Há chaves no cinto dele — me traga a impressão de pelo menos três delas.‖

Ele sorriu como se sentisse tão esperto. Eu dei de ombros como se aquilo fosse tão

fácil. Então, com minha melhor amiga ao meu lado, me virei e comecei pela multidão.

Por mais que me doa admitir, para sua primeira lição, o Agente Townsend tinha nos

trazido para um dos lugares mais desafiadores que um espião podia estar. Afinal, o Sr.

Solomon tinha passado o último ano e meio nos treinando para ver tudo, ouvir tudo e

perceber tudo. E conforme eu andava pelo parque, era quase coisa demais para meus

sentidos absorverem.

―Ahh!‖ Exclamei, esticando meu pescoço conforme passamos por uma barraca

vendendo algum tipo de fritura em um palito. ―Eu quero um daqueles!‖

―Não temos dinheiro, Cam.‖

―Ahh, eu quero ir naquele brinquedo!‖

―Só temos uma hora.‖

―Eu quero…‖

―Eu quero que você leve isso a sério, ok?‖ Bex disse, rodopiando para mim.

―Você soa como minha mãe‖, falei.

Ela praticamente brilhou.

―Obrigada.‖

―Bex...‖ falei lentamente. ―Estou bem.‖

―Você diz isso…‖

―Bex.‖ A interrompi e parei no centro na avenida principal que serpenteava todo o

parque. ―Você não devia estar seguindo aquele cara?‖, apontei para o atendente

empurrando um carrinho cheio de cofres na direção oposta.

―Estou bem onde estou‖, disse ela.

―Bex...‖

―Cammie...‖

―Aponte os vigilantes‖, disse a ela.

―O que?‖

Lembrei-me da maneira como os pais dela nos guiaram por Londres — o jogo que

não jogamos em semanas.

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―Aponte os vigilantes.‖

―Homem vendendo balões próximo aos carrinhos de bate-bate‖, disse ela, sem piscar.

―A mulher com o algodão doce‖, adicionei, apontando para apenas uma dos guardas

que me cercavam a cada vez.

Era a vez dela, mas não pude me livrar da sensação que o jogo tinha acabado.

Tínhamos parado de marcar pontos em uma ponte sobre o rio Thames.

―Pela minha conta, há treze operários me seguindo no momento. E esses são

somente os que vi. Há câmeras a cada cem metros e se não estou enganada, um

helicóptero Blackhawk acabou de passar voando.‖

―Dois helicópteros‖, Bex corrigiu. ―Em círculos.‖

―Viu? Estou bem‖, falei e pela primeira vez em muito tempo era de verdade.

Realmente. Era como se os muros de minha escola tivessem sido pegados e

transportados para cá. Aqui era como a minha escola, mas com algodão doce. Não me

admira que eu tenha segurado um sorriso quando disse, ―Você acha que minha mãe

deixaria Townsend me trazer se aqui não fosse o exemplo de segurança de diversão

familiar?‖ Bex abriu sua boca para falar, mas não lhe dei a chance.

―Vá,‖ falei.

Por um momento ela apenas ficou ali, observando. Esperando. Então minha melhor

amiga virou-se sem mais nenhuma palavra.

Pelos próximos vinte minutos andei sozinha no parque lotado — passei filas de

pessoas esperando para andar na roda gigante e comprar algodão doce, passei pela

multidão que se reuniu a volta de Eva Alvarez enquanto ela atirou em noventa e sete

patinhos mecânicos em uma fila. Montanhas russas rugiam sobre nossas cabeças com

suas massas gritantes e trilhos guinchando. Rodas giravam, fontes chapinhavam e o

cheiro de pessoas, comida corriqueira e calor soprava à minha volta até que me perguntei

se podia me sentir doente, overdose de liberdade.

Então quando o homem com a prancheta saiu à rua principal, não me importei.

Por mais que uma garota no uniforme de uma escola particular pudesse

provavelmente destacar-se em um espaço público e lotado, eu ainda era a Camaleoa. E eu

segui no mesmo ritmo fácil e confortável distância que tinha sido produzida em meu DNA

(um fato que Liz tinha tentando uma vez verificar no laboratório, o que nos levou a regra

―sem mais amostras de sangue neste semestre‖ no segundo ano).

Quando eu quis parar para ver os malabaristas, eu parei. Quando quis fazer careta

para mim mesma no espelho do circo, eu fiz. Quando quis experimentar uma coisa

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chamada hambúrguer de waffle, eu me amaldiçoei por não manter uma nota de vinte

dólares para uma situação de emergência na meia, como o avô Morgan sempre me

ensinou, e apenas continuei andando. O homem de macacão permaneceu uma figura

constante no canto do meu olho.

Eu provavelmente deveria assinalar que em todo esse tempo, o homem nunca se

virou. Em nenhum momento ele olhou para trás. Eu estava começando a pensar que esta

era a missão de operações secretas mais fácil de todos os tempos, até que ele escorregou

por um pequeno portão no muro que corria atrás do carrossel, mas não hesitei. Não

esperei. Eu só fiz o que eu nasci para fazer: eu o segui, sabendo que todos os guardas

estiveram me seguindo seriam rápidos para fazer o mesmo.

Estava mais quieto ali, atrás das barricadas. Um lago artificial grande esticava-se ao

meu lado. Os cheiros de cães de milho e pipoca perdiam-se sob o cheiro de óleo e graxa.

As luzes brilhantes e rodas rodopiantes do parque se foram, substituídas por um labirinto

de árvores colocadas cuidadosa e perfeitamente projetadas em andaimes que se

estendiam para o céu, bloqueando o sol.

Pensei em todas as coisas que eu poderia dizer se alguém me visse: eu estava lá

para encontrar meu namorado. Minhas colegas tinham me enviado em um desafio. Eu

tinha visto um animal de rua vir por esse caminho e ele parecia estar ferido.

Então eu esperei com medo enquanto o homem parou e abriu a porta de uma

construção que estava muito escondida no meio do parque. Esperei dez segundos, depois

segui, rezando para que as dobradiças da porta não rangessem conforme a puxei

lentamente e entrei.

Decorações de Natal forravam uma parede e luzes e bandeiras de Quatro de Julho

cobria a outra. Estavam quebradas, carrinhos de bate-bate desbotados e uma estátua de

um palhaço. Era como um cemitério — onde a diversão veio para morrer.

E esse era o pensamento que enchia minha mente enquanto eu deslizei pelo

corredor central — imergindo nas vistas, nos cheiros e sons que preenchiam o ar em volta

de mim. Cada fibra do meu treinamento e meu intestino doíam em conjunto para me dizer

que o trabalhador tinha desaparecido — se perdido, fora de vista.

Mas então ouvi o barulho fraco de sapatos pesados no concreto e sabia que eu

estava qualquer coisa, menos sozinha.

―Você realmente não devia estar aqui.‖

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CAPÍTULO 26

A PRIMEIRA VEZ QUE QUALQUER UMA DE NÓS VIRA JOE SOLOMON,

pensamos que ele era um operário altamente treinado, um veterano experiente em

Operações Secretas e... bem... muito gato.

Mas um ano e meio depois eu mal reconhecia meu professor no homem que estava

atrás de mim. Seu rosto estava estranho e pálido. Seu cabelo mais longo e suas roupas

sujas, mas percebi que eram seus olhos que mais tinham mudado enquanto o observei dar

um passo em minha direção e exigir:

―Cammie, você tem que vir comigo. Tem que vir comigo agora!‖

Quando ele tentou me alcançar, me afastei. Eu não sabia se o abraçava ou batia nele

(uma sensação que frequentemente associo aos Garotos Blackthorne, para dizer a

verdade), então somente balancei minha cabeça.

―Não.‖

―Cammie, se eu ouvi que você iria estar aqui, então eles sabem que você está aqui.

Tenho que te tirar daqui. Agora!‖

―É verdade, não é?‖

―O Círculo poderá estar aqui a qualquer minuto.‖

―Você é o Círculo!‖

Joe Solomon tinha muito mais prática mentindo do que eu havia detectado nele, mas

consegui ver a verdade em seus olhos.

―É verdade, não é?‖, perguntei, mesmo que, lá no fundo, eu sabia que não era

realmente uma pergunta. Eu sabia.

―Sinto muito, Cammie.‖

Ele correu a mão por seu cabelo.

―Cammie, eu sinto…‖

―Não,‖ falei entorpecida. Senti-me recuar, minha mão esquerda traçava o muro de

alvenaria da construção. Examinei o lugar, procurando por um pedaço de um cano de uma

ferramenta — uma arma de qualquer espécie.

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―Cammie, me escute. Eu te explicarei tudo, mas se minhas fontes estiverem certas,

você não está segura aqui. Tem que vir comigo.‖

―Eu não vou para lugar algum contigo!‖

Eu não estava pensando nos guardas, quem, momentos atrás, eu tive certeza que

estavam me observando a cada momento. Não apertei o botão de pânico que usava em

volta de meu pulso como um relógio ou pedi ajuda através das minhas unidades de

comunicação. Eu não estava pensando quando levei minha mão até um lado do rosto dele

— com força. Foi somente um tapa — nada especial. Dificilmente algo que ensinariam em

P&A. Mas ainda assim senti vontade de fazer de novo. E de novo.

―Eu não vou para lugar algum contigo!‖, falei, batendo nele novamente.

―Não vou. Não vou. Eu…‖, parei e o encarei. ―Como você pôde?‖

―Eu era jovem, Cammie.‖

―Você tinha minha idade! E cresceu e…‖ Eu não queria chorar, então gritei. ―Você o

matou!‖

Esperei que ele revidasse, me jogasse no chão onde estava. Ele era maior, mais forte

e mais experiente, mas raiva tem sua força própria. O observei tropeçar para trás como se

soubesse disso — como se eu o assustasse.

―Ele está morto por sua causa!‖, gritei, dando um passo para frente, mas o Sr.

Solomon não se mexeu para bloquear o golpe.

Em vez disso, ele se inclinou contra a parede, seus olhos mais profundos, escuros e

tristes do que qualquer coisa que eu tenha visto. O melhor amigo do meu pai me encarou e

com a voz rachando sussurrou:

―Eu sei.‖

O que aconteceu depois foi uma cena que eu repeti em minha mente mil vezes. E

provavelmente vou repetir mais mil vezes. Tudo que sei com certeza é que em um

segundo, um homem que eu tinha reverenciado, confiado, amado e odiado (nessa ordem)

estava na minha frente, desintegrando-se.

E no momento seguinte, o tempo pareceu congelar quando a porta se abriu e uma

longa sombra cortou pelo piso de concreto, e eu ouvi uma mulher dizer:

―Ele disse que encontraríamos você aqui.‖

Me lembro de tudo em minha viagem para Boston no verão passado — a vista dos

balcões, os sons da multidão e acima de tudo, a maneira como uma mulher mascarada e

dois homens andaram em minha direção entre as sombras giratórias das hélices de um

helicóptero.

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―Não‖, eu disse, como se essa simples palavra pudesse impedir de tudo acontecer

novamente.

A mulher parecia tão calma enquanto parava na soleira da porta aberta, como se

nada pudesse dar errado dessa vez. Como se estivesse acabado. Alcancei meu relógio,

apertei o botão de novo e de novo, não desafiando calcular as chances de combater o

Círculo pela terceira vez — sem vontade de desperdiçar mais um segundo.

―Não!‖, gritei. Não importava que ela era mais velha, mais alta e provavelmente bem

mais experiente — eu investi na direção dela, sabendo que minha única esperança estava

do outro lado da porta aberta.

Mas então parei, porque a mulher não estava mais sozinha. Agente Townsend estava

ali. Agente Townsend estava olhando para Joe Solomon e eu como se o Natal tivesse

chegado mais cedo.

―Você estava certo‖, a mulher disse ao Agente Townsend com um sorriso. ―Isso foi

quase fácil demais.‖

Olhei da mulher que eu podia jurar que estivera em Boston para meu novo professor.

Não fazia sentido, mas sentido era a última coisa no mundo que eu podia me preocupar,

porque Joe Solomon estava levando parte de mim, voando pela porta aberta. Em um

movimento fluido, derrubou Townsend e a mulher no chão. Corri para fora e vi os três

rolando uma colina, lutando entre a terra e as plantas daninhas. A poeira rodopiava em

torno de mim, e lá, eu percebi que não tinha ideia de em quem confiar. Tudo o que eu

realmente sabia ao certo é que às vezes um operário só tem um segundo — nada mais.

E eu já tinha começado a correr.

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CAPÍTULO 27

ERA UMA ARMADILHA. ERA UMA ARMADILHA. ERA UMA ARMADILHA.

As palavras ecoavam em minha mente, mantendo o ritmo com meus pés conforme

atingiam o chão.

―Bex!‖, eu gritei enquanto corria entre as árvores altas que cresciam em volta da

montanha russa.

Bem acima de mim, pessoas voavam pelo céu, mas bem abaixo, havia nenhum sinal

em minhas unidades de comunicação e o chão áspero que nenhum turista devia ver. Eu

bati contra holofotes e cabos enquanto disparei para o topo de uma colina, nem uma vez

me permitindo pensar no Sr. Solomon, na mulher ou no Agente Townsend. Somente

continuei correndo — em direção ao lago, em direção a cerca, procurando ajuda.

Era uma armadilha.

No topo da coluna eu podia ouvir os sons do parque flutuando do outro lado do lago.

Tudo que eu tinha que fazer era continuar correndo, lutando, mas então eu os vi — os

agentes que tinham estado no meio do povo o dia todo — observando cada movimento

meu. Eles vinham descendo entre as árvores — emergindo detrás delas e dos pilares

maciços da montanha russa, passando correndo por mim.

Por mim?

Nenhuma alma tentou me confortar. E naquele momento, eu sabia que eles não eram

protetores. Eram caçadores. E eu? Eu era a isca.

Era uma armadilha.

Ouvi passos atrás de mim, fortes e rápidos.

―Zach‖, chamei o garoto que corria em minha direção.

―Onde ele está?‖ Zach gritou, sem fôlego. Eu corri para frente e o agarrei. ―Me deixei

ir, Garota Gallagher. Eu tenho que…‖

―Você quer que eles levem você também?‖ Gritei, chacoalhando-o. Quando ele parou

de lutar, o segurei mais forte. ―Eles estão com ele, Zach.‖ Ouvi as palavras de minha mãe

voltarem para mim. ―Ele se foi.‖

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Sr. Solomon estava caído no chão na clareira abaixo, ensanguentado e amarrado,

enquanto agentes ainda surgiam de todas as direções. Me lembro de como, uma vez em

um helicóptero a caminho de Ohio, o Sr. Solomon nos disse que muitas vezes a coisa mais

difícil que um agente poderia fazer é nada. Estando lá naquele dia, eu sabia que era

verdade — que Joe Solomon estava sempre certo.

―Estúpido!‖ Zach gritou. Bateu a mão forte contra o tronco de uma árvore. Ele virou

para mim. ―O que aconteceu?‖

―Exercício de Operações Secretas. Segui um homem aqui. E então o Sr. Solomon

estava lá, falando sobre o Círculo, dizendo que eu estava em perigo. E depois tinha uma

mulher. Pensei que era a mulher de Boston.‖

―Não era ela, Cammie.‖

―Eu sei disso agora.‖

Ele agarrou meus ombros. Eu podia ver um tipo de medo posto em seus olhos

quando sussurrou:

―De jeito nenhum que Joe Solomon estaria com ela.‖

A montanha russa rugiu sobre nossas cabeças e eu senti o chão vibrar debaixo dos

meus pés.

―Por que ele viria aqui?‖, perguntei. ―Era uma armadilha. Joe Solomon caiu em uma

armadilha.‖ Acredite ou não, de todas as coisas que eu vira e ouvira em Londres, essa foi a

que mais me surpreendeu.

―Você.‖ Zach soou quase surpreso por eu não saber. ―Se ele pensou que você fosse

estar aqui — virtualmente desprotegida... Não há lugar algum que ele não iria para te

salvar.‖

―Por que ele faria isso?‖, rompi, tentando me afastar, mas ele me segurou mais forte.

―Isso não faz nenhum…‖

―Está no jornal, Cammie.‖ O olhar de Zach demorou nos meus. ―Está por todos os

jornais.‖

―Cammie!‖, alguém disse.

―Acho que a vi!‖, outra pessoa gritou.

Eu podia ouvir as vozes de minhas colegas em meus ouvidos. Eu sabia que elas

tinham cruzado a cerca e estavam se aproximando, mas o olhar de Zach nunca deixou o

meu.

―Olhe para mim.‖ As mãos de Zach pareciam uma viseira. ―Leia o jornal, Garota

Gallagher. Leia todos eles.‖

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E então ele me puxou mais perto, me apertou tão forte que mal pude respirar.

Pressionou seus lábios firmemente contra minha testa por uma fração de segundo — nada

mais — e quando ele finalmente me soltou e desapareceu entre as árvores, eu pensei que

eu iria cair.

―Ah meu Deus, Cam, você está bem?‖ Eva Alvarez gritava. ―Você está…‖

Ouvi Eva parar, sem fôlego. Observei ela parar subitamente e se virar para encarar

com o resto de minhas colegas de classe a cena que estava atrás de mim. Os agentes. O

caos. O sangue. E a maneira como nosso ex-professor deitava de bruços no meio de tudo

isso, com as mãos amarradas, pernas algemadas. Inconsciente.

―Aquele é o Sr. Solomon?‖ Anna perguntou.

―Sim.‖ A voz de Bex estava baixa.

―O que...‖ Tina começou. ―O que é isso?‖

―Foi uma armadilha.‖

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CAPÍTULO 28

VOCÊ PODE PENSAR QUE SERIA IMPOSSÍVEL UMA VAN CHEIA de garotas

adolescentes estar completamente silenciosa durante uma viagem de duas horas, mas

naquela noite eu não ouvi uma única voz. Uma chuva suave caía e somente o chapinhar

do para-brisas — o som de água salpicando contra os vidros do carro — podia quebrar o

silêncio sufocante do passeio de volta a escola.

Reconheci o som. Ouvi uma vez em nossa casa em Arlington quando os vizinhos

trouxeram caçarolas e condolências. Eu o senti na fazenda quando parentes que eu mal

conhecia se espalharam pela varanda dos meus avós, as quatro paredes da casa finas

demais para nos aguentar e as notícias de que meu pai nunca voltaria para casa. A classe

do terceiro ano de Operações Secretas estava de luto e, uma por uma, todas as garotas na

van perceberam o que sabíamos há semanas — o Sr. Solomon não tinha partido para uma

missão. Sr. Solomon tinha partido de uma forma totalmente diferente.

Quando entramos pelos portões naquela noite, parecia como se cada luz na mansão

estivesse acesa. Eu podia imaginar as garotas lá dentro, rindo e descendo as escadas

para jantar, falando sobre trabalhos e provas. Mas quando pulamos da van e observamos

o Agente Townsend passar pelas portas da frente, todas permanecemos perfeitamente

imóveis, uma chuva pesada e a memória do que vimos sobre nós. Ninguém queria

carregar tudo para dentro.

―Eu nunca saberia‖, Anna Fetterman disse. ―Eu nunca teria imaginado. Estou

cometendo um erro, não estou?‖ Ela olhou diretamente para mim como se eu devesse

saber. ―Eu não devia estar no curso de Operações Secretas. Não devia... Eu nunca

saberia.‖

―Ninguém sabia.‖ Eva Alvarez posicionou um braço em volta dos ombros de Anna.

―Ninguém sabia o que ele era.‖

―É.‖

Ninguém me ouviu sussurrar, mas estava tudo bem. Afinal, ninguém mais tinha

parado no cemitério do parque de diversões e ouvido-o dizer que o Círculo estava vindo.

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Ninguém tinha sentido suas mãos quentes na ponte. Eu podia ter sido a única Garota

Gallagher no mundo naquele momento que sabia que o Sr. Solomon não estava no

pretérito.

Então andei em direção as portas e entrei, certa de uma coisa: Joe Solomon estava

bem vivo.

Bem, na verdade, tecnicamente, eu tentei entrar.

Garotas enchiam a entrada e cobriam as escadas, e usei de toda força que pude

reunir para sair da chuva e entrar na multidão que encarava enquanto minha mãe e o

Agente Townsend paravam no meio do hall de entrada.

―O que está…‖

―Shhh‖, uma aluna do quarto ano sibilou, interrompendo a frase de Tina.

―De nada, a propósito‖, Townsend disse, virando em direção as escadas, mas minha

mãe o bloqueou, parecendo qualquer coisa menos agradecida.

―Você não tinha direito algum de tirar minha filha da minha escola…‖

―Sua escola?‖

Ele devia ter medo. A última vez que minha mãe carregava um olhar desse tinha sido

em Washington, D.C. enquanto sua irmã sangrava.

Ele devia estar aterrorizado.

―Minha filha não é um peão para ser usada em um capricho!‖

―Olhe, Rachel, não pense nela como um peão. É mais como... como vocês

Americanos dizem... nós balançamos uma maçã em frente de Joe Solomon e…‖

―O termo é cenoura‖, minha mãe corrigiu. ―E não se aplica a garotas adolescentes.‖

Havia um brilho de sabedoria nos olhos de Townsend quando ele sorriu.

―Oh, é mesmo? Talvez você use maçãs para algo mais?‖

Algumas pessoas pensam que a chave para a força é saber como acertar. Mas não é

isso. Enquanto eu espiava por entre a multidão minha mãe e o homem que tinha me

levado para fora da segurança da mansão, eu sabia que a verdadeira força não está em

acertar, quando o que você mais quer fazer é matar.

Townsend deve ter sentido isso também, porque algo mudou nele naquele momento.

―Nós tínhamos trinta agentes no interior do parque e outros sessenta na área do

perímetro. Tínhamos olhos nela o tempo todo. Sabíamos que Solomon se mostraria e

assim que o fizesse, nossos agentes estavam nele. Ela estava bem.‖

Ele se inclinou perto de minha mãe, sem piscar, sem provocar, nem mesmo zombar.

Ele riu, mas não como se fosse engraçado. Era uma risada próxima a descrença.

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―Sra. Morgan, nós o pegamos!‖

―Se você pôr uma estudante em perigo novamente…‖

―Oh, eu pensei que vocês Garotas Gallagher fossem imunes ao perigo.‖

Apesar das centenas de garotas que enchiam o hall de entrada, ninguém se moveu,

engasgou ou tentou defender a nossa honra. Ficamos em silêncio, aguardando a nossa

diretora dizer:

―Oh, nós estamos bastante acostumadas a sermos subestimadas, Agente Townsend.

Na verdade, nós agradecemos.‖

Aquela conversa provavelmente violava cada código de espiões, de professores e

diretores conhecidos pelo homem, mas não importava. Eles não podiam ver a centena de

garotas que observavam. Apesar de seu treinamento, eles não ouviram o jeito como

seguramos nossa respiração coletivamente. Essa briga era como a maré: vem há um bom

tempo e não há maneira de segurá-la.

―Joe Solomon concordou em aceitar esse trabalho somente quando soube que

estaria ensinando sua filha, não está certo?‖

Minha mãe segurou suas mãos a frente.

―Eu já respondi essa pergunta detalhadamente para pessoas que têm bem mais

autoridade que você.‖

―E você não achou estranho? Um homem como Joe Solomon vir aqui?‖ Ele riu

novamente.

―Mas é claro que o Círculo sempre gostou de recrutar agentes jovens. Como é que

eles dizem, quanto mais verde o fruto, mais fácil se transforma?‖

―Sim‖, minha mãe admitiu.

―Ele estava aqui há um ano e meio?‖ Townsend perguntou, mas a voz de minha mãe

era calma, como se ele perguntasse sobre o clima.

―Ele estava.‖

―Isso é bastante tempo — o suficiente para recrutar alguém que ele precisasse.

Mudou alguém?‖

―Como já informei aos seus superiores, Agente Townsend, se o Círculo tem algum

aliado aqui, é melhor eles rezarem para que você o encontre antes de mim.‖

O Agente Townsend era um homem grande, para operações secretas. Ele era pelo

menos quinze centímetros mais alto e trinta quilos mais pesado que minha mãe (e isso

sem contar o ego dele), e ainda assim não havia dúvida em minha mente de que ele sabia

que ela estava exatamente certa.

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Ele a observou se virar lentamente e começar a subir as escadas. Ela tinha quase

desaparecido quando ele gritou:

―Joe Solomon não irá machucar sua filha, Sra. Morgan. Você não tem que se

preocupar com ele machucando mais ninguém, nunca mais.‖

Percebi naquele momento que ele acreditava nisso — realmente acreditava — e por

um segundo eu quis acreditar nele. Ele era um bom espião, afinal. Um operário experiente.

Um professor. E parada ali, cercada pela minha irmandade, eu posso ter convencido a mim

mesma que era verdade — que eu estava segura.

Mas então minha mãe parou e se virou.

―Desculpe, Agente Townsend, mas Joe Solomon é a última preocupação de

Cammie.‖

● ● ●

Nosso chef estava fazendo minha sopa favorita para o jantar, mas minhas colegas de

quarto e eu não corremos para o grande salão. Permanecemos silenciosamente lado a

lado enquanto o resto da escola lentamente se moveu para os corredores e escadas

acima, carregadas por uma onda de fofoca, medo e descrença.

―Subnível Dois.‖ Não sussurrei. Eu sabia que era bobeira agora, mas naquele

momento, eu, Cammie, a Camaleoa, não tinha força para se esconder. ―Vamos encontrar

um jeito de ir até o Subnível Dois.‖

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CAPÍTULO 29

COMO NÃO INVADIR O SUBNÍVEL DOIS

(Uma lista por Cameron Morgan, com a ajuda de Macey McHenry)

• Cavando: Porque uma pessoa teria que cavar... muito. E além disso, a equipe de manutenção totalmente perceberia quaisquer buracos gigantes que aparecessem no meio do campo de lacrosse. (E isso também pode arruinar suas unhas.)

• Qualquer coisa envolvendo um poço de elevador: Claro, toda Garota Gallagher ganhou sua própria barra de ferro no primeiro dia da oitava série, mas não é tão simples como abrir as portas com um pé-de-cabra e descer até os subníveis. (Aliás, com nossa experiência, as portas da Academia Gallagher não são exatamente espionáveis.)

• Bajulação: Porque bajular pode fazer o bajulado suspeitar dos planos e objetivos do bajulador — sem mencionar que mesmo os membros mais musculosos da equipe de segurança provavelmente têm medo de nos levar aos subníveis e acabar sendo... você sabe... mortos.

• Teletransporte: Claro, Liz disse que é uma teoria de trabalho excelente, mas ela não tem um protótipo ainda, e sem um protótipo é um assunto pouco discutível.

• Aquela coisa que os pais de Bex fizeram em Dubai com nitrogênio líquido, um simulador de terremotos e um avião investigador: porque não temos um avião investigador.

● ● ●

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Só nos levou três semanas.

Eu sei que parece muito tempo — e é. Mas também, não é. Por que... bem... nos

serviços clandestinos, nada nunca acontece rápido (exceto quando acontece). Nada

nunca, nunca é fácil (exceto quando é). E, principalmente, nada nunca acontece

perfeitamente de acordo com o plano (exceto nos filmes).

É um trabalho sujo que é quase universalmente lento,repetitivo,mundano, rabugento,

chato e apenas entediante em geral (com exceção para as partes quando as pessoas

podem morrer).

Nós podíamos tê-lo feito mais cedo e ainda assim não seria cedo o suficiente.

Podíamos ter planejado por anos e ainda não teríamos nos sentido prontas. Então, é.

Levou três semanas. Para Liz, quebrar o código. Para Macey e Bex reunir os

equipamentos. Para eu planejar uma maneira de entrar.

À uma da manhã na noite em questão, estávamos fazendo nosso caminho descendo

o corredor do terceiro andar tão rápido e silenciosamente quanto pudemos, sem tornar

óbvio que tentávamos agir rápida e silenciosamente.

As Operárias compreenderam inteiramente que o primeiro passo em Operações de Negação e Fraude é a negação. E é bem mais fácil negar estar envolvida em alguma operação secreta e corrupta se você está vestindo pijamas.

―Ainda tem uma coisa que eu não entendo‖, Liz sussurrou. ―Se o Sr. Solomon está tão

desesperado para ter esse livro ou qualquer coisa que esteja dentro do Subnível Dois,

então porque ele tornou impossível o acesso ao Subnível Dois?‖

―Porque ele queria tornar impossível para a pessoa errada acessá-lo‖, falei espiando

na esquina da parede, onde, na mesma hora, o Agente Townsend descia as escadas.

Me joguei contra a parede, esquecendo que não tínhamos quebrado nenhuma regra

até o momento e haviam pelo menos uma dúzia de motivos válidos para estarmos ali. Mas

eu sou uma camaleoa. Vou querer ser invisível e tornar justificável qualquer dia.

Seus passos ecoaram como trovões no corredor vazio.

Eu não queria que ele ouvisse quando sussurrei:

―Está na hora.‖

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À 01:35 da madrugada, As Operárias prosseguiram para a porta sob as Grandes Escadas, mas elas não pararam no espelho que escondia o elevador para os subníveis.

À 01:36, o estômago da Operária Morgan começou a roncar e toda a equipe notou a importância de não pular refeições antes de operações secretas incrivelmente importantes!

Bex nos guiou para o pequeno closet na base das escadas e puxou uma mochila

abastecida com cintos de utilidades, cabos e uma invenção muito útil que Macey fizera em

sua introdução na aula de Acessórios (a qual nunca é o que as estudantes pensam que

será). E enquanto estávamos paradas ali fora, percebi que estava mais quente. A

primavera estava chegando, mas eu mal tinha notado.

―Olhe.‖ Parei e olhei para minhas três melhores amigas no mundo. ―Só temos apenas

três minutos até que os guardas patrulhem este setor e eu totalmente entendo se não

quiserem ir. Eu não sei se isso irá funcionar, e mesmo que funcione, não sabemos

exatamente o que iremos encontrar lá embaixo.‖

Pelo olhar no rosto de Bex, eu sabia que de forma alguma ela iria ficar de fora de

qualquer coisa secreta. E perigosa. E totalmente cinza no espectro preto-e-branco do certo

e do errado.

Ainda assim, eu tinha que continuar.

―Se algo acontecer a alguma de vocês...‖ comecei, mas então não pude terminar.

―Então e se tiver um computador lá embaixo que precisa ser invadido em sessenta

segundos, você irá fazer isso?‖ Liz perguntou, amarrando um cinto sob seus pijamas.

―E você realmente acha que eu vou perder isso?‖ Bex puxou seu cinto do topo da

pilha.

Todas olhamos para Macey.

―Vocês precisam de mim‖, ela disse alcançando por seu cinto como uma rainha

pegando seu cetro.

Conforme me inclinei para baixo e desativei os dispositivos de segurança na pequena

grade, senti Bex me observando sobre meus ombros.

―Eu sempre pensei que os elevadores para o Subnível Dois nos colocasse em algum

lugar por aqui.‖ Ela apontou para a direção oposta. Sorri para ela. ―Mas nós não iremos

pelo elevador, iremos?‖

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Precisamente à 01:47, As Operárias testaram sua teoria de que os espelhos nos novos pós compactos dos Cosméticos McHenry seriam do tamanho apropriado para deslizar e desviar os lasers que cobriam a entrada de todos os pontos de ventilação.

(AS OPERÁRIAS ESTAVAM CORRETAS)

Precisamente às 02:07, As Operárias testaram o novo Localizador de Sinal Eletromagnético (Nome Oficial e Patente pendentes) que a Operária Sutton desenvolveu para a ocasião.

(OBTIVERAM SUCESSO)

Precisamente às 02h08min, a Operária Baxter fez uma reza. E pulou.

O poço de ventilação era pequeno. Loucamente pequeno. Pequeno do tipo: estou

muito feliz por ter pulado o jantar, afinal. Não havia nenhuma maneira de um homem adulto

caber ali. Era uma entrada apropriada somente para uma garota.

Uma Garota Gallagher, pensei enquanto descia pelo cabo como se fosse um poste

de bombeiro, o grampo em minha mão ficando quente, queimando em minhas luvas

conforme eu me aproximava das profundezas da terra.

Eu sabia que Bex estava abaixo de mim, mas não conseguia enxergar nada. Macey e

Liz estavam acima de mim e eu esperava que tivesse sido por isso que não consegui ver

nem mesmo uma leve sugestão da luz acima conforme me atirei pelo que parecia ser o

menor vulcão do mundo.

Mais e mais fundo eu fui. Mais e mais rápido caí. Senti o ar correndo por mim, meu

cabelo soprado longe de meu rosto, o cabo queimando em minhas mãos até que...

―Cuidado!‖ Bex gritou, enquanto de repente eu me libertei do eixo.

Meus braços caíram como se pudessem saltar do lugar quando eu apertei a

braçadeira e fiz uma parada quase instantânea. Eu estava pendurada no cabo, olhando

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para o espaço cavernoso do Subnível Dois.

―Não acredito que funcionou‖, admiti, sem fôlego.

―Cam!‖ Bex berrou, me parando antes que eu pudesse me soltar do cabo. ―Não.

Mexa. Um. Músculo. Sequer.‖

Estávamos suspensas a dez metros de altura sobre o chão de pedra de um lugar

que, apesar de um semestre estudando no Subnível Dois, eu nunca tinha visto antes. Os

subníveis eram o labirinto vasto e sinuoso de salas de aula e escritórios, bibliotecas e

depósitos de alguns dos segredos mais confidenciais do mundo. E naquele momento, Bex

e eu estávamos olhando para o brilho turvo de luzes de segurança em um quarto massivo

cheio de centenas de prateleiras e gabinetes, um sistema complexo de fios e explosivos...

E o sistema de grade de lasers mais complexo que já vi.

―Então‖, Bex disse, sorrindo para mim através do brilho pulsante dos projetores de

emergência, ―quer dar uma volta?‖

Um momento depois, as vibrações no cabo ficaram mais fortes e eu olhei para cima a

tempo de ver Liz descendo em minha direção no ar, parando logo em cima de mim.

Macey estava logo atrás e sem fôlego quando perguntou:

―O que é tudo isso?‖

Bex e eu olhamos para baixo para as filas de informações super secretas e para os

explosivos de alta qualidade que corriam ao longo do cômodo, nenhuma de nós capaz de

esconder o temor em nossas vozes.

―É um saco de queimar‖, dissemos em uníssono.

―O que é isso?‖ Macey perguntou.

―É onde guardam coisas que não podem cair nas mãos erradas. Nunca. Coisas que

estão programadas para explodir caso... caso o pior aconteça.‖

O que era verdade. Mas assustador. Porque naquele momento, tecnicamente, o pior

que podia acontecer era nós.

Bex foi a primeira a cair no chão, ágil como um gato, pousar entre os raios vermelhos,

depois lançar-se e pular pelo ar, navegando até o pequeno painel de um lado do cômodo.

Se não tivesse sido tão assustador, teria sido bonito. Como ballet. Mas com uma taxa de

acidentes bem superior.

―Agora, Liz‖, ela gritou, Liz pegou o arco e mirou na parede de quinze centímetros

acima da cabeça de Bex.

―Hum... Liz...‖ Macey começou.

―Desculpe‖, Liz disse e ergueu sua mira mais uns trinta centímetros.

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Eu não acho que nenhuma de nós pode respirar enquanto a flecha voou pelo ar, um

pequeno cabo seguindo atrás dela, depois aterrissou perfeitamente acima do painel na

parede.

―Ótimo‖, falei. ―Agora, exatamente como praticamos — peguem o grampo extra em

seu cabo e coloquem no cabo de Bex. É. Assim mesmo. Vocês estão fazendo…‖

―Ops, querida!‖

E foi quando Elizabeth Sutton, supergênio, esqueceu que sua mochila estava aberta

e deixou seu livro de Criptografia Avançada cair no coração do campo de lasers abaixo.

―Liz!‖ gritei, mas era tarde demais. Luzes começaram a pulsar. Abaixo de nós, os

lasers começaram a se mexer, linhas vermelhas serpenteando pelo chão e eu percebi

nossa única opção.

―O que fazemos agora?‖ Macey berrou.

―Corremos!‖

Enquanto caímos no chão, eu não conseguia ouvir meus próprios pensamentos —

muito menos os passos das garotas que corriam atrás de mim. Luzes vermelhas giravam.

Sirenes gritavam. Era como se o Subnível Dois estivesse pegando fogo conforme Liz

carregava seu laptop para onde Bex esperava próximo ao centro eletrônico que controlava

as defesas modernas do Subnível Dois.

Mas moderno... é, moderno era o último de nossos problemas.

Na outra extremidade do quarto, havia uma janela enorme de vidro ondulado. Por um

segundo eu estava lá, querendo saber por que alguém iria instalar uma janela em um

quarto subterrâneo. Teria sido muito mais estranho e muito menos assustador se o espaço

atrás do vidro não estivesse rapidamente se enchendo de água.

―Então isso está vindo...‖ Macey começou.

―Do lago.‖

―Então se não pararmos isso...‖, ela começou novamente.

―Nos afogamos‖, falei, mas Macey já tinha desaparecido — correndo pelo quarto.

―O que fazemos?‖, gritou. Ela estava procurando pelas paredes, empurrando pedras

— freneticamente procurando uma maneira de fazer a água parar de subir. ―Onde está o

interruptor? Pensei que o Sr. Solomon tivesse dito ao Zach que havia uma maneira de

desligá-lo.‖

Enquanto a água subia, o vidro parecia brilhar. A luz parecia diferente quanto mais

alto a água ia, e não pude evitar, lembrei-me da primeira lição que Joe Solomon me dera:

perceba as coisas.

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―Eu já vi isso antes‖, falei, ainda encarando as imagens familiares no vidro — formas

e linhas coloridas brilhantemente. ―Macey, você já viu isso antes?‖

―Desculpe, Cam‖, disse ela, ainda procurando. ―Estou meio ocupada aqui.‖

―É como as do andar de cima. Sabe, as grandes? Exceto que… são diferentes. É

quase como…‖ Falhei. Minha voz rachou. E eu sabia exatamente o que tínhamos que

fazer. ―Não é uma janela — é um quebra-cabeça!‖

O vidro estava frio ao toque quando o alcancei. O dispositivo tinha pelo menos cem

anos de idade, e quando empurrei uma seção azul escura do vidro, a princípio não se

moveu, e pensei que estivesse errada. Mas empurrei mais forte e... movimento. A janela

era como um caleidoscópio, uma massa de vidro giratória e com engrenagens escondidas

conforme eu empurrei a seção azul suavemente para o centro.

―Macey, me ajude‖, falei, e juntas fomos ao trabalho, nossos olhos e mãos febrilmente

voando pelas milhares de seções da janela tão rápido e habilmente quanto podíamos,

tentando reproduzir a janela do andar de cima que eu nunca notara até que Joe Solomon

viera para nossa escola.

A nossa volta, porém, as sirenes continuavam berrando. As luzes piscando. E, pior de

tudo, a água continuava subindo.

―Lizzie?‖ ouvi Bex gritar atrás de mim.

―Quase...‖ disse Liz, seus dedos correndo pelas teclas do laptop. ―Quase... Consegui!‖

Instantaneamente, as sirenes se calaram. As luzes pararam de piscar. Pelo canto do

meu olho, vi Liz e Bex baterem as mãos, mas a água ainda subia.

Pensei no que o Sr. Mosckowitz dissera ao Agente Townsend naquela noite nos

corredores sombrios — e eu sabia que as Garotas Gallagher originais eram as mais sábias

de várias formas.

―Consegui!‖ Macey gritou, puxando o último pedaço no lugar, mas nada aconteceu.

Pareceu ter passado uma eternidade até que uma voz mecânica soou no espaço.

―IDENTIFIQUE-SE. IDENTIFIQUE-SE. IDENTIFIQUE-SE. QUEM VEM AQUI?‖,

perguntou.

E então um instinto deve ter tomado controle de nós, porque nós quatro gritamos as

primeiras palavras que vieram a nossa mente.

―Somos as irmãs de Gillian!‖

Segurei a respiração e fiz uma reza até que a água começou a baixar e a voz

mecânica disse:

―BEM VINDAS AO LAR.‖

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CAPÍTULO 30

HÁ COISAS QUE PESSOAS COMO TOWNSEND NUNCA ENTENDERIAM

sobre a Academia Gallagher. Nunca. Veja, não é sobre uma Garota Gallagher — é sobre

ser uma das Garotas Gallagher.

Plural. Todas nós. Sem Bex, eu teria desencadeado os sensores. Sem Macey, eu

nunca teria resolvido o quebra-cabeça a tempo. E sem Liz... bem, Liz tem papéis múltiplos

nessa missão em particular.

―Quão alto é isso?‖, ela disse conforme andava ao meu lado.

―Não tão alto‖, falei novamente, olhando para as estantes altas que forravam as

paredes do Subnível Dois.

Não estava onde armazenávamos os produtos químicos. Enquanto eu olhava ao

redor as longas filas de prateleiras altas, não havia única arma à vista. Mas as informações

contidas neste quarto eram voláteis o suficiente para fazer a minha escola desabar,

potente o suficiente para envenenar todos os membros da nossa irmandade. E eu sabia

que não nos atreveríamos a ficar muito tempo — que vivemos nossas vidas em uma base

de necessidade de conhecimento por uma razão.

Infelizmente, eu era a única que me sentia dessa forma.

―Ahh! Legal!‖, ouvi Macey gritar de uma estante distante, apesar de o fato de que, lá

em cima, metade da equipe de segurança da Academia Gallagher estava agora em estado

de alerta, se perguntando o que diabos tinha acabado de acontecer no Subnível Dois.

―Ei, Cam‖, Bex chamou, ―você sabia que Amelia Earhart passou os últimos 20 anos

de sua vida secreta em Istambul?‖

Meio segundo depois, Macey veio correndo ao redor do final de um corredor, com um

arquivo em suas mãos.

―Rápido, garotas, eu tenho fotos da Professora Buckingham... Na Segunda Guerra

Mundial... Em um maiô!‖

Bex correu para olhar as imagens, mas meu olhar estava trancado em Liz enquanto

eu corria um cabo através do cinto de utilidades que pairava em torno de sua cintura fina.

―Liz, isso é bobagem. Eu vou fazer isso‖, disse a ela.

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―Mas Cammie, Zach disse que está bem no meio da prateleira mais alta. Vai ser

muito difícil conseguir colocar alguém exatamente no lugar certo e eu sou a mais leve‖, ela

falou, citando o único cientificamente verificável — e, portanto, relevante — pedaço de

informação que nós tínhamos.

―Você não tem que provar nada, Lizzie. Eu posso…‖

―Eles precisam de você, Cammie‖, disse ela, sua voz mais baixa que um sussurro. ―E

se o lado deles precisa de você viva... nosso lado precisa de você viva.‖

Ela olhou para cima para as altas prateleiras e respirou fundo, como se para espantar

todos os pensamentos e focar em um único fato:

―Eu sou a mais leve.‖

―Bex, estamos prontas‖, eu gritei.

Um segundo depois ela apareceu com o arco de Liz em suas mãos. Parecia

totalmente sem esforço quando ela mirou o teto a quinze metros de altura. Eu ouvi um

cabo girar, observei a bobina em meus pés desaparecer lentamente até que ouvi o barulho

metálico de titânio que faz quando atinge a pedra sólida.

―Pronto?‖, perguntei a Liz, que assentiu.

―Você pode fazer isso‖, silenciosamente sussurrei enquanto Bex agarrava a outra

extremidade do cabo e puxava.

No momento seguinte, Liz estava flutuando graciosamente (ou tão graciosa como Liz

faz qualquer coisa) sobre as prateleiras que marcavam: CUIDADO, ALTA TENSÃO. Eu

fiquei segurando a minha respiração enquanto assistia. Talvez por isso eu tenha sido a

única que ouviu um som vibrante, tão distante que no começo pensei que era o rodopio da

minha própria mente.

Mas o ouvi novamente.

―Vocês ouviram isso?‖, perguntei, tensa.

Bex estava tentando manobrar Liz em posição e Liz estava olhando para a placa de

alta tensão, como se sua vida dependesse disso, o que... bem... provavelmente dependia.

―Você ouviu isso?‖, perguntei a Macey.

―Estamos a quatrocentos e cinquenta metros abaixo da terra‖, disse com um encolher

de ombros.

Ela tinha razão, claro. Eu estava provavelmente mais segura aqui do que poderia

estar em qualquer lugar do mundo, mas havia algo estranho no silêncio que nos cercava.

Eu fiquei por um longo tempo, ouvindo o som da batida do meu coração — um ritmo que

não tinha abrandado em meses até...

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―Aí‖, falei novamente, e dessa vez Macey parou também.

―Talvez seja uma caldeira ou algo assim?‖, ela perguntou conforme o som ficava mais

alto.

Segurei meu fôlego.

―Isso não é unidade de aquecimento.‖

―Mais quanto tempo, Liz?‖ Bex perguntou.

―Estou quase lá!‖, ela gritou, chegando até onde conseguia ir, mas ainda assim o livro

ficava fora de alcance.

―Liz‖, eu disse novamente. O barulho foi crescendo e vinha com mais regularidade.

―Liz, quanto tempo levaria para você trazer a grade de laser de volta?‖

―Dois minutos.‖ Disse ela.

Mas nas profundezas do espaço, o ruído rosnou novamente. Olhei para Bex e Macey.

―Nós não temos dois minutos.‖

Naquele momento, havia um monte de medos que vinham à minha mente: E se

houvesse algumas medidas de segurança reservas que não tínhamos neutralizado e

estávamos prestes a ser asfixiadas, esmagadas, afogadas, eletrocutadas, imobilizadas ou

presas?

E se o Círculo tinha me seguido até as profundezas da nossa escola e, sabendo que

eu estava trancada longe da minha mãe e de nossos guardas, tinham encontrado uma

forma de entrar?

E se fosse minha mãe e fôssemos apanhadas... presas?

Mas apesar dos meus medos loucos, houve uma coisa que eu sabia com certeza:

alguém mais estava tentando entrar no Subnível Dois.

―Você consegue fazer isso, Lizzie‖, Bex gritou. ―Apenas... apresse-se. E talvez mova-

se um pouco para…‖

Bex puxou a corda para a direita, mas ou ela subestimara sua própria força ou

superestimou o peso de Liz, porque a próxima coisa que vi foi um borrão louro passar

pelas prateleiras e parar para pairar em um lugar na seção dedicado a Crise de Mísseis

Cubanos.

O zumbido mecânico tinha ficado mais alto e agora podíamos dizer que estava vindo

de algum lugar a nossa frente.

―Isso não é...‖ Macey começou.

―Os elevadores?‖ Bex adivinhou.

―Eu acho‖, falei. ―Vocês acham que é…‖

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―Townsend‖, todas dissemos em uníssono.

―Mas como ele está planejando se virar com as medidas de segurança daqui de

baixo?‖ Macey perguntou.

Dei de ombros.

―Ou ele sabe que já nos livramos delas...‖

―Ou ele não se importa‖, Bex falou me encarando e eu não podia dizer pelo olhar dela

se alguma de nós sabia o que era mais assustador.

Uma pequena pilha de poeira tinha começado a aparecer no chão e percebi o

pequeno buraco que estava aparecendo na parede de pedra. O Agente Townsend estava

perfurando seu caminho do elevador para o Subnível Dois.

Falei sobre o som da broca e o pânico do meu coração batendo.

―Temos que ir!‖

As Operárias perceberam que estavam prestes a ter um encontro bem hostil com um professor/possível agente inimigo muito zangado, então utilizaram um número altamente recomendado de táticas secretas.

1. A Operária McHenry disse: “Você já está pronta? Você já está

pronta? Você já está pronta?”, em sucessão rápida antes que a Operária

Sutton estivesse, de fato, pronta.

2. A Operária Morgan empurrou uma estante na frente da parede

por onde o operário inimigo tentava entrar, formando um bloqueio

temporário.

3. A Operária Baxter teve a oportunidade de dizer algumas palavras

sobre a nova escolha da Academia Gallagher do instrutor de Operações

Secretas.

―Consegui!‖ Liz disse e no segundo seguinte estava navegando através do ar, caindo.

Macey e eu pegamos, e a guiamos para o chão, mas mal tivemos um segundo para

soltar dela — nenhum momento para recuperar qualquer um dos nossos equipamentos —

antes de Bex agarrar meu braço e sussurrar:

―Corra!‖

E então estávamos fora, nos esquivando entre as estantes o mais rápido que

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pudemos.

Olhando para trás, eu podia ver o facho de uma lanterna reluzindo sobre as estantes

no final da sala enorme. Estávamos bem longe do alcance da luz, mas estávamos

qualquer coisa menos seguras.

O cabo ainda estava pendurado no poço de ventilação a nossa frente. Eu assisti

Macey agarrá-lo, encaixar em um dos grampos que nos trouxe para baixo e mudar o

dispositivo em sentido contrário. Uma fração de segundos depois, ela foi subindo pelo ar,

em direção ao céu da noite e da liberdade.

Mas no Subnível Dois havia sons de passos atrás de nós, aproximando-se.

Ele nunca esteve aqui antes, falei a mim mesma conforme ouvi o homem fazer seu

caminho lentamente entre o labirinto de estantes.

Bex estava na base do cabo, prendendo Liz às pressas no instrumento, enquanto eu

fiquei congelada, olhando o jogo da lanterna entre as estantes. Era estranho e bonito ao

mesmo tempo. Itens secretos de cem anos de idade estavam dentro daquele espaço

enorme — impressos e planos, segredos tão explosivos que os melhores espiões do

mundo estavam dispostos a arriscar tudo para se certificar de que esses itens nunca

vissem a luz do dia.

Mas naquele momento, havia apenas um artefato secreto que importava para mim.

Era a minha vez, então eu peguei o cabo e me senti subir mais e mais rápido em direção

ao ar fresco da noite.

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CAPÍTULO 31

ERA UM CÉU QUASE SEM ESTRELAS. NUVENS ESCURAS PENDIAM sobre

nossas cabeças, bloqueando a lua. Mas depois da escuridão do pequeno buraco, eu tive

que piscar. Era como encarar o sol.

―E logo quando pensamos que não teríamos nenhum exercício de treinamento de

Operações Secretas neste semestre‖, falei para Bex ao mesmo tempo em que ela me

puxava pelos braços para fora do buraco; mas minhas colegas de quarto não estavam

sorrindo.

―O que?‖, perguntei. Minhas amigas só me olharam. ―O que?‖, perguntei novamente;

mas nunca pude ouvir a resposta, porque no momento seguinte o ar a nossa volta afogou-

se com luzes. Sirenes soavam, perfurando o ar, gritando que algo estava terrivelmente

errado.

As portas da frente da mansão estavam somente a noventa metros de distância, mas

eu sabia que era nossa melhor chance de segurança. Bex e Liz já estavam correndo.

Macey e eu nos apressamos para alcançá-las. Guardas corriam da mansão principal até

as cercas, checando a área, mal capazes de conter os cães latindo, no fim das longas

coleiras.

Holofotes brilhavam pelo céu. De uma certa distância, poderia parecer uma festa. As

pessoas de Roseville provavelmente tinham uma dúzia de teorias malucas sobre o que

estaria acontecendo em nossa escola naquele momento, mas nenhuma delas, eu sabia,

poderia remotamente assimilar a verdade.

No instante em que minhas colegas de quarto e eu empurramos ofegantes as portas

da frente, ouvi a Professora Buckingham chamar meu nome do topo da escada.

―Cameron Morgan! Alguém viu Cameron…‖

―Lá está ela!‖, uma aluna da oitava série gritou, e no segundo seguinte, eu estava

presa em uma colisão de corpos. O Sr. Smith chegou até mim primeiro. Um homem do

departamento de segurança me agarrou do outro lado.

―O que está acontecendo?‖, perguntei, olhando para o Sr. Smith.

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―Violação da segurança‖, ele disse simplesmente ao mesmo tempo em que eu era

arrastada (ou praticamente carregada) escadas acima.

As garotas gritavam nos corredores. Estavam de pijama e pés descalços. E armas.

Ah sim, elas trouxeram um monte de armas.

―É o Círculo?‖, uma aluna da sétima série gritou com a voz embargada. ―Eles estão

aqui?‖

Mas os seguranças me mantiveram presa em um círculo apertado. Eu mal podia

distinguir um único rosto até que Tina Walters apareceu.

―Cammie, você está bem?‖

―Eu estou bem!‖, gritei, tentando me soltar dos guardas.

E então os alarmes pararam.

―Você nos deu um baita susto esta noite, mocinha‖, Townsend me recebeu no

corredor. Minhas amigas estavam na beirada da escada, olhando para mim. Seus cabelos

estavam embaraçados e cheios de teias de aranha. Seus rostos estavam sujos (o que

significava que provavelmente o meu estava também). ―Exatamente onde vocês estiveram

esta noite, garotas?‖

―Passagem secreta‖, falei. ―Acabei de encontrar. É incrível, mas...‖ dei uma olhada

para Macey, que tinha uma enorme marca preta em sua bochecha. ―Suja.‖

―Você‖, Townsend disse, apontando para Liz. ―O que você tem nessa mochila?‖

Ok, então parecia mesmo um pouco estranho. Afinal, uma centena de garotas enchia

os corredores e escadas naquela noite. Estavam com máscaras nos rostos e retentores,

mas Liz era a única que carregava uma mochila, e Townsend não seria o espião que todas

pensavam que ele era se não tivesse se perguntado o que tinha dentro daquela mochila.

―Bem?‖, perguntou ele de novo, aproximando-se.

―Dever de casa!‖ Liz rompeu. ―Livros.‖

―Você pode não saber disto, Agente Townsend‖, Dr. Fibs disse, ―mas a Srta. Sutton

aqui é uma das mais dedicadas…‖

―Abra-a‖, Townsend exigiu. Ele agarrou a mochila e virou de cabeça para baixo.

Segurei minha respiração e assisti enquanto dois cadernos, um pacote de chicletes e

quatorze lápis de cores espalharem-se pelo chão.

Tenho certeza que eu deveria ter suspirado de alívio, mas em vez disso senti pânico.

Terror. Arriscamos nossas vidas para pegar aquele diário, e não estava em parte alguma.

Desaparecido.

―Onde está o...‖, me encontrei dizendo em voz alta, mas Macey me deu um leve

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aceno. O diário estava escondido, me dizia. O diário estava seguro.

―Cammie!‖

Eu conhecia essa voz.

―Mãe‖, falei, tentando ver através da multidão.

―Está tudo bem, garotas‖, minha mãe — nossa diretora — nos disse. ―O

departamento de segurança assegurou que a área não foi violada. Não há ninguém dentro

da mansão ou nos terrenos que não deveria estar aqui, voltem para a cama, todos.‖

Quando ela olhou para mim, não havia dúvida de que era uma ordem. ―Vão direto para a

cama.‖

É, caso você esteja se perguntando, nós totalmente não fizemos isso.

É claro, nós fomos para nossa suíte. Sim, apagamos as luzes. Mas dez segundos

depois nós quatro nos reunimos no banheiro, encarando o livro que parecia especialmente

escuro nas mãos pálidas de Liz. Quando ela me entregou, um pequeno pedaço de papel

escorregou dele, flutuou e aterrissou no chão.

Querida Cammie,

Se está lendo isso, eu já devo ter ido embora. Eu sei que provavelmente devia me desculpar por manter esse diário escondido de você por tanto tempo, mas não vou porque não me arrependo. Em minha opinião profissional, você não estava pronta. E em minha opinião pessoal, eu esperava que nunca fosse estar.

Eu cometi erros, Cammie — muitos para citar aqui. Mas o maior deles, ainda carrego comigo. O pior deles, passei uma vida toda tentando consertar.

Eu realmente tentei consertar, Cammie, realmente tentei, mas se está lendo isso, eu devo não ter tentado o suficiente.

Sempre arrependido, Joseph Solomon

O livro fino pareceu mais pesado naquele momento, mais precioso do que todas as

primeiras edições postas na biblioteca da Academia Gallagher juntas. A capa era delicada

e seca. As páginas sujas devido a idade. Eu quase estava com medo de abri-lo. Mas sem

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necessidade de dizer, não ler o diário não era exatamente uma opção viável naquele

ponto.

Respirei fundo e virei para a primeira página, lendo o cabeçário — RELATÓRIO DE

OPERAÇÕES SECRETAS — mas, além disso, não consegui ler mais nenhuma palavra.

―É codificado‖, Bex chiou frustrada. ―Arriscamos nossos pescoços e não vamos poder

nem ler. Me deixe te dizer, estou meio tentada a invadir a prisão da CIA só para tirar Joe

Solomon de lá e quebrá-lo no meio.‖

Mas na palavra codificada, Liz tinha arrebatado o diário de minhas mãos e o segurava

em direção à luz.

―São os pombos!‖, ela gritou, e eu me preocupei de que Tina, Eva, Courtney e o resto

da turma do terceiro ano pudessem entrar em nossa suíte com arcos e flechas e

chapinhas.

―É isso‖, Liz falou, golpeando seu dedo na página. ―Veja, olhe para isso. É quase

como hieróglifos de certa forma. Quase como um…‖

―Idioma‖, Macey disse.

Os olhos de Liz brilharam no cômodo escuro.

―É, exatamente isso.‖

―E você não quebra idiomas — não realmente‖, Bex disse. ―Você aprende-os.‖

―Ou as traduz‖, Macey falou.

―Exatamente. O Sr. Solomon não deixou um monte de rabiscos malucos em um

quadro...‖ Liz começou.

―Ele deixou uma chave.‖ Macey esticou o braço para pegar o livro. Ela correu seu

dedo sobre a página. ―Isso é a letra do Sr. Solomon?‖

―Não‖, me encontrei sussurrando. ―É a do meu pai.‖

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CAPÍTULO 32

RELATÓRIO DE OPERAÇÕES SECRETAS

(Traduzido pelas Operárias Morgan e Sutton)

DIA 1

Os pesadelos de Joe estão de volta.

Ele diz que não é nada, mas posso ouvi-lo gritando corredor abaixo — algo sobre o

Blackthorne e a cidade do Vaticano. Na noite passada corri até seu quarto e o encontrei

alcançando, meio adormecido, uma faca.

Ele disse que havia uma operação indo mal lá. O único problema é, de acordo com

Langley, o Agente Joseph Solomon nunca esteve em Roma.

DIA 26

Eu queria que alguém me dissesse que está tudo bem em espionar meu melhor

amigo. Mantenho esse diário codificado. Ouço as ligações dele. Esta noite o segui até uma

missão em Georgetown.

Eu queria que alguém me dissesse que estou louco. Seria muito melhor do que estar

certo, porque tudo que consigo pensar é no passaporte que encontrei na caixa de depósito

de segurança dele (é, eu também mexi na caixa de depósito de segurança dele).

Três anos atrás ele foi a Roma com um passaporte não emitido pela CIA — na

mesma hora em que alguém tentou matar o Papa.

Com uma faca.

Eu realmente espero que esteja ficando louco.

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DIA 92

Acho que sei o que Jose era. O que ele é?

Mas... não. Não pode ser verdade.

Eu não quero que seja verdade.

DIA 96

Algumas pessoas dizem que o Círculo não existe — que não há nenhuma associação

antiga de espiões e assassinos por aí manipulando a ordem do mundo, mas acontece que

eles são de verdade.

Acontece que meu colega de quarto é um.

Acontece que uma pessoa é.

DIA 100

Joe disse-me a verdade ontem à noite. Joe me disse tudo.

Vamos detê-los. Pode ser que seja a última coisa que faremos, mas vamos fazer.

● ● ●

Eu não ousei demorar nessas palavras — pensar no que elas queriam dizer.

―Quantos anos tinham eles quando escreveram isso?‖ Bex perguntou.

Olhei para a data no canto da página e fiz a conta em minha cabeça.

―Trinta e três‖, falei e depois refiz a conta, porque não parecia certo que meu pai tinha

começado a perseguir o Círculo de Cavan antes mesmo de namorar minha mãe — que

essa missão era oficialmente mais velha do que eu era.

―Vire‖, Liz disse, não tentando esconder sua impaciência em ser forçada a ler a um

ritmo sem ser da velocidade da luz, mas essas eram as últimas coisas que eu poderia

ouvir de meu pai. Eu queria fazer cada segundo valer a pena.

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DIA 219

Depois de nove meses de burocracia e protocolos, os Operários Morgan e Solomon

concluíram que a organização criminal conhecida como o Círculo de Cavan tinha muitos

agentes duplos dentro das organizações oficiais de inteligência para serem neutralizados

por canais oficiais.

É uma coisa boa os Operários Morgan e Solomon são muito bons em ser não oficiais.

DIA 290

Depois de duas semanas em Roma, Os Operários confirmaram que a base de

operações do Círculo aqui foi fechada ou realocada desde que o Operário Solomon fora

enviado para o Vaticano.

Também descobriram que uma pessoa realmente enjoa de massa. Eventualmente.

DIA 407

Hoje, os oficiais húngaros identificaram o corpo do homem encontrado em um rio em

Budapeste como sendo o homem que pensava em ceder informações aos Operários sobre

os agentes do Círculo no leste europeu.

Eles o mataram.

Ele havia sido o melhor avanço que tivemos em um ano, e eles o mataram.

O ar a nossa volta estava mais quente; era quase primavera e ainda assim sentimos

arrepios nos braços. Ainda assim parecia que o verão estava longe.

DIA 506

O Vice-Diretor alertou os Operários novamente sobre combater o Círculo sozinhos,

mas o Operário Solomon insistiu que o Círculo tem recrutado há muito tempo e muito bem

para ser efetivamente atingido por uma operação em larga escala.

O Círculo tinha espiões. Literalmente. O Círculo tem espiões por toda a parte.

Os Operários devem agir sozinhos.

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● ● ●

Quanto mais eu lia, mais rápido virava as páginas até que, finalmente, cheguei à

última, desesperada para ler primeiro as últimas páginas — como se, talvez, dessa vez

pudesse ter um final diferente.

DIA 5.860

Os Operários descobriram que seu aliado em Atenas havia tido uma brecha. O

Operário Solomon tinha começado as preparações para viajar para a Grécia, mas o Vice-

Diretor da CIA suspeitou que Os Operários ainda estavam tentando combater o Círculo por

conta própria, então deu ao Operário Solomon um trabalho de escritório. O Operário

Morgan iria ao invés dele.

● ● ●

Meu pai tinha trinta e nove anos quando escreveu isso e o livro estava quase no final

— a história, de várias formas, estava quase no final. Então segurei minha respiração, virei

a página e vi que a letra havia mudado. Os rabiscos preguiçosos de meu pai haviam

sumido — substituídos por uma caligrafia precisa que eu vira rabiscada pelos quadros-

negros do subnível no último um ano e meio.

DIA 5.869

Recebemos informações hoje de que o Operário Morgan não apareceu no encontro.

Seguiremos protocolos de segurança até que o Operário Morgan apareça.

DIA 5.878

O Operário Solomon foi até a casa segura do Operário Morgan em Atenas, mas

aparentemente ele não chegou até aqui. Começaremos o rastreamento imediatamente.

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DIA 5.892

A CIA foi contatada. As forças da Agência estão agora envolvidas na procura do

Operário Morgan.

DIA 5.900

Três semanas de buscas e nada do alvo.

Ele desapareceu.

Ele simplesmente desapareceu.

Alguém tem que contar à Rachel.

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CAPÍTULO 33

COISAS QUE NUNCA, NUNCA MAIS SERIAM AS MESMAS

(Uma lista por Cameron Morgan)

• As calças de pijamas de Macey: porque manchas de grama e

sujeira de poços de elevadores nunca saem.

• A reputação do Agente Townsend: porque se espalhassem por

aí que nós quatro conseguimos fazer o que ele tentara fazer

durante meses, tenho certeza que tirariam dele o seu status de

agente dois zeros (Se Tina sequer estivesse certa que ele a

tinha).

• Liz: porque o Código do Pombo tinha aberto para ela todo

um novo mundo de criptografia (e ela já era obcecada até

demais com o antigo).

• Bex: porque os pais dela estavam certos.

• Bex: porque os pais dela estavam errados.

• Eu: porque sim.

● ● ●

Na noite seguinte, eu andei em direção ao escritório de minha mãe carregando o

diário de meu pai e o segredo de meu professor. Eu não fazia ideia de qual era mais

pesado.

―Não era Sódio pentotal, era?‖

Virei ao som do Agente Townsend em pé no Corredor de História, me encarando

entre o brilho protetor da espada de Gilly — digo, da espada de Cavan.

―Na maçã?‖, ele explicou.

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―Eu não sei do que você está…‖ tentei passar por ele em direção ao escritório da

minha mãe, mas sua mão estava em meu braço. Sua respiração era quente em minha

orelha.

―Você pode tentar mentir para mim, mas não recomendo.‖

O diário do meu pai estava em minha mochila e parecia como um talismã, me dando

força.

―Tire sua mão de mim.‖ Townsend me olhou, mas não se moveu, e eu tentei me

libertar. ―Professores não podem tratar estudantes com grosseria ou fazer acusações

loucas. Os administradores nunca…‖

―Ah, mas os administradores tinham empregado um agente duplo famoso por quase

dois anos. Eles estão bem ansiosos para ajudar.‖

―Eu ainda sou uma aluna nessa escola e…‖

―Não, não, Srta. Morgan. Ou você é uma operária treinada de quem eu devo

desconfiar e respeitar ou você é uma garota de dezesseis anos…‖

―Acabei de fazer dezessete‖, o corrigi.

―…quem eu devo lecionar. Não pode ser os dois.‖ Ele soltou meu braço e deu um

passo para trás. ―Eu pensei que o seu precioso Sr. Solomon teria te ensinado isso.‖

―Ele não é o meu Sr. Solomon…‖

―Claro que é. Não foi por causa dele que você e suas amiguinhas tentaram invadir

meus registros? Inspecionar meu escritório? Colocar alguma mistura desagradável dentro

da maçã de um professor inocente?‖

Eu não disse nada.

―Muito bom; não negue. Negar o inegável apenas te faz parecer tola tanto quanto

mentirosa. Nessa profissão, você pode ser um — às vezes o outro. Mas nunca ambos.‖

Ele se moveu pelo Corredor de História, fitando nossas possessões mais valiosas

como se estivesse em uma feira de quinquilharias.

Não me olhou quando perguntou:

―Você acreditou nele, não acreditou? Pensou que ele era um homem bom? Bem,

esse foi o seu engano. Ninguém — e eu realmente quero dizer ninguém — nesse ramo de

trabalho é verdadeiramente bom. Se fôssemos, estaríamos fazendo algo bem diferente

disto.‖

Ele não sabia do que estava falando. Ele não sabia... nada. Comecei em direção ao

escritório de minha mãe, precisando dela mais do que nunca, desesperada para vê-la —

provar que não éramos tolas.

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―Ela não está aí‖, ele gritou do corredor vazio. Senti meu sangue esfriar.

―Onde ela está?‖

Ele sorriu levemente.

―O que você fez com ela?‖

―Eu?‖, ele deu uma risada. Sim, risada de verdade. ―Permita-me esclarecer algo para

você, Srta. Morgan.‖ Aproximou-se. ―Eu não sou um membro do Círculo. Nunca nem vi o

Blackthorne. Claro, provavelmente topamos com alguns deles — não podemos controlar

isso.‖ Ele balançou a cabeça. ―Mas nunca fiz parte daquilo.‖

―Parte do que?‖

―Eu sou o homem bom.‖

Eu permaneci em silêncio, o observando ir embora até que...

―Você está errado!‖, gritei, as palavras ecoaram pelo corredor vazio. ―Você está

errado sobre tudo!‖

O Agente Townsend parou e se virou lentamente.

―Nove horas atrás, um time de transporte da CIA foi emboscado fora de Langley. Três

guardas foram mortos e Joe Solomon foi levado.‖ Ele me encarou pelo corredor. ―Seu

homem inocente está de volta ao Círculo novamente, Srta. Morgan. Eles o têm. Ele está

livre.‖

Naquela noite eu tive um sonho estranho. Estava parada no topo da Grande Escada

em um vestido longo e bonito. Ouvi os sons das danças de Virginia vindo em minha

direção, e abaixo de mim, pessoas enchiam o hall de entrada. Porém a coisa mais

estranha de tudo era que meu pai estava no final das escadas, esperando.

Desci e peguei seu braço, e juntos fizemos nosso caminho entre a multidão do

Grande Salão.

Havia danças e bebidas. Era uma festa, mas pelo clima no salão notava-se que não

havia motivo algum para se celebrar.

E então subitamente um homem apareceu, segurando uma espada.

Eu sabia que tinha de impedi-lo — fazê-lo parar — mas o homem se movia mais

rápido em direção onde eu estava. Seus olhos se aproximavam de mim no salão escuro e

eu encarei um rosto que eu conhecia.

Um rosto que eu beijara.

―Não.‖ Eu podia ter dito a palavra, mas uma mão estava sobre minha boca. Braços

fortes estavam me segurando enquanto eu chutava a coberta enrolada em torno de minhas

pernas.

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Então ouvi uma voz profunda sussurrar meu nome.

―Cammie, acorde.‖

―Não‖, murmurei, ainda lutando e meio adormecida.

―Está tudo bem, Garota Gallagher. Está tudo bem. Acorde.‖

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CAPÍTULO 34

HÁ MUITAS FORMAS DE UMA GAROTA ADOLESCENTE RESPEITOSA

(sem mencionar sana) pudesse reagir à aparição súbita de um garoto adolescente em seu

quarto no meio da noite.

Bater.

Entrar em pânico.

Congelar.

Mas eu não fiz nenhuma delas. Não naquele momento, porque eu estava deitada

enrolada nos lençóis e nos braços de Zach. Lágrimas desciam por meu rosto enquanto eu

pensava no meu pai, Sr. Solomon e Gilly — por uma fração de segundo eu sabia como era

ser a Gilly.

―Está tudo bem, Garota Gallagher.‖ Ele alisou meu cabelo. ―Foi somente um…‖

―O que você está fazendo aqui?‖, eu cochichei.

A meio metro de distância, Liz estremeceu e rolou na cama. No canto, Bex estava

começando a roncar. Macey repousava perfeitamente imóvel de barriga para cima, com

seu cabelo escuro arrumado no travesseiro como a Bela Adormecida. Eu indiquei com a

minha cabeça na direção delas.

―Diga-me por que eu não deveria acordá-las?‖, sussurrei. ―Diga-me por que não

deveria apertar isto?‖ Apontei para o botão de emergência na parede.

Ele sorriu.

―Onde estaria à diversão nisto?‖

―Zach‖, eu sibilei e deixei minha mão perto do botão.

―Ok‖, disse ele, alcançando para pegar gentilmente logo aquela mão. ―Estou aqui

porque nós precisamos dar uma caminhada.‖

Quando estávamos no segundo ano, Zach frequentou minha escola durante um

semestre. Compartilhamos os corredores como colegas de classe. Como iguais.

Mas enquanto andávamos até o salão de chá vazio da Madame Dabney, o olhar

brincalhão que ele tinha em seus olhos naquele semestre tinha desaparecido

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completamente. Não tenho certeza de que tipo de olhar eu tinha em meus olhos, porque

eu totalmente evitara meu próprio reflexo nos espelhos. (Agora não era hora de se

preocupar com marcas do travesseiro no rosto e cabelo bagunçado após levantar.) Ao

invés disso, eu o estudei.

―Eu quero saber, como você chegou até aqui?‖, perguntei.

Balançou a cabeça.

―Eu só quebrei algumas leis.‖ Ele segurou seus dedos a meio centímetro de distância

um do outro. ―Pequeninas.‖

Os lustres escuros pendiam do teto ornamentado. Nossos pés eram silenciosos

contra o assoalho polido. Quase um ano atrás estávamos nesse mesmo lugar enquanto

Madame Dabney nos mandou dançar, mas Zach não me segurou dessa vez. Eu não tinha

vontade alguma de balançar.

―O Círculo realmente está com ele?‖, perguntei.

―Sim.‖ A voz de Zach estava ríspida enquanto ele correu a mão pelo cabelo e caiu em

uma das poltronas da Madame Dabney. Ele parecia inteiramente fora de lugar.

―Por que? Quero dizer, se ele não está trabalhando com eles…‖

―Eles não estão exatamente fazendo um favor ao Joe.Uma prisãozinha aconchegante

da CIA provavelmente parece ótima para ele a este ponto.‖

Andei até as altas janelas e encarei lá fora. O reflexo de Zach me olhava atrás de

mim na janela escura. De alguma forma era mais fácil não encará-lo.

―As pessoas não deixam o Círculo com facilidade, Garota Gallagher.‖

―Eu sei.‖

―Qualquer um que saiba como ou onde eles trabalham — qualquer um que saiba

qualquer coisa...‖ Enquanto ele parou, havia algo novo em sua voz. Zach soava cansado

de um jeito como se não soubesse o que fazer com a hora.

―Eu sei.‖

―Eles estão amarrando as pontas soltas.‖

Tentei focar meus olhos na floresta lá fora, na maneira como o sol estava começando

a colorir o céu.

―É isso que eu sou?‖

Zach ficou de pé e moveu-se até o meu lado na janela. Lágrimas encheram meus

olhos e tentei manter meu olhar em qualquer lugar menos nele.

―Garota Gallagher‖, ele disse suavemente, alcançando o braço até mim. ―Eu não sei.

Mas prometo que descobriremos.‖

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Um sentimento percorreu em mim quando pensei no ano passado: Zach em um trem

correndo pelo campo da Pensilvânia; Zach deitado sob as arquibancadas em Ohio. E

finalmente, Zach agarrando minha mão, me guiando para longe de uma van em uma rua

escura em Washington, D.C. Zach entre mim e a arma do agressor, o agressor olhando

para o garoto ao meu lado e dizendo:

―Você?‖

―Você devia estar morto, Zach.‖

Olhei para baixo e observei como minha sombra esticava-se pelo chão entre nós.

―Naquela noite — em Washington — ele tinha a arma apontada. Eu deveria ter sido

levada e você devia estar morto.‖

―Garota Gallagher...‖

―Por que ele não atirou em você?‖

―Tudo naquela noite aconteceu tão rápido, Garota Gallagher.‖

―Meu nome é Cammie!‖ Eu não pensei em todas as pessoas que eu possa ter

acordado com isso, todos os alarmes que possa ter disparado. Apenas soltei, ―Como você

sabia sobre Boston? Por que você está trabalhando com o Sr. Solomon agora? Você é

meu amigo ou meu inimigo, Zach? Ou, espere, me deixe adivinhar, você não pode me

contar.‖

―Eu não sei por que eles querem você. E quanto ao resto... é melhor que você não

saiba.‖

A base de restrição de conhecimento é uma coisa real. Existe por razões reais. Mas

isso não significa que tenho que gostar disso — e, vindo de Zach, soava muito diferente de

quando vinha de minha mãe.

―Por que você pode saber?‖

―Qual é o problema, Garota Gallagher? Ciúmes?‖

―É‖, gritei, por mais que tenha certeza que ele estava brincando. ―Estou.‖

―Cammie…‖

―O tempo acabou, Zach‖, falei. ―Diga-me o que sabe ou…‖

―Ou o que?‖ Ele me alcançou. ―Você não irá me machucar.‖

―Eu não vou‖, falei, então arrisquei um olhar em direção a porta onde estavam as três

Garotas Gallagher mais zangadas que já vi. ―Mas elas podem.‖

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CAPÍTULO 35

PRÓS E CONTRAS

DE TER GAROTOS REALMENTE BONITOS

ENTRANDO ESCONDIDO EM SUA ESCOLA PARA TE VER

CON: É um pouco arrepiante.

PRÓ: Quando alguém mais entra, você tem muito mais

sono do que quando tem que sair.

CON: Visitas improvisadas de garotos aumentam

significantemente a chance de eles te verem com seu pijama

mais feio.

PRÓ: Quase todo mundo fica bem à luz do luar.

CON: Cinco horas de sono bem profundo é quase garantido

que faça muito dano ao seu cabelo.

PRÓ: Acordar no meio da noite significa... bem... acordar.

CON: Eventualmente, quer você goste ou não, suas colegas

de quarto descobrirão.

● ● ●

―Olá, Zachary‖, Macey disse, dando passos largos para dentro. ―Você parece bem.‖

―Ei, Macey‖, Zach virou-se para a mais baixa e mais loura de nós e tirou um chapéu

imaginário. ―Liz.‖ E então finalmente, olhou para Bex. ―Rebecca.‖

Se o uso do nome inteiro de Bex foi com a intenção de deixá-la zangada, já era tarde

demais. Ela estava à beira da porta, inclinada contra o beiral com os braços cruzados.

Alguém que não a conhecesse poderia pensar que ela ainda estava cansada, mas eu

sabia a verdade. Ela estava guardando a saída.

―Estávamos falando sobre o Sr. Solomon‖, falei.

Macey ergueu as sobrancelhas.

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―Ah, é isso que vocês estavam fazendo?‖

Bex manteve seus olhos em Zach.

―O que você ouviu?‖, perguntou ela.

Zach balançou a cabeça.

―Não muito mais que vocês. O Círculo o tirou de lá. A CIA está dizendo que é porque

ele é do Círculo, mas na verdade…‖

―É porque ele está contra o Círculo‖, Bex finalizou.

Zach assentiu.

―Em quase duzentos anos ninguém chegou mais próximo de derrubar o Círculo como

o Sr. Solomon.‖ Zach virou seus olhos para mim. ―E seu pai.‖ Ele esperou, como se eu

fosse explodir em lágrimas ou algo assim, mas não o fiz. ―O Círculo precisa saber o que

Joe sabe, e o que ele disse aos outros.‖

―Como eu?‖ supus.

Zach assentiu lentamente.

―Estou disposto a apostar que eles terão um monte de perguntas sobre você.‖

―Bom‖, Bex falou. ―Isso significa que eles manterão ele vivo.‖

Virei-me para a janela, permaneci encarando lá fora o terreno escuro. Eles precisam

dele vivo.

―Vamos pegá-lo de volta. Temos que pegá-lo de volta.‖ Senti minhas colegas de

quarto olhando para mim como se eu fosse louca, mas me virei para Zach. ―Para onde eles

o levariam?‖

―Eu não sei.‖

―Não minta para mim, Zach. Não me diga que não sabe das coisas, porque você

sabe. Agora, onde eles o levariam?‖

―Eu não sei! Você acha que eu estaria aqui se eu soubesse?‖

Eu já vira Zach sob várias luzes, mas na bruma da manhã, eu o via como ele

realmente era: um garoto assustado e órfão que não tinha lugar algum para correr.

―E quanto ao homem que a CIA tem em custódia — aquele que atirou em Abby?‖

Macey perguntou. ―Ele deve saber.‖

Mas Bex balançou a cabeça.

―Ele está comprometido. De forma alguma o Círculo usaria algo que ele soubesse.‖

―Então é só... isso?‖ Liz perguntou.

Eu podia ver pesando nela. Não havia nenhum banco de dados para arrombar,

nenhum satélite para invadir. Pensei no Sr. Solomon e sua insistência de que tecnologia é

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um suporte, que um verdadeiro espião deve sempre saber se virar sem ela.

―O Sr. Solomon saberia‖, admiti suavemente. ―Queria que pudéssemos perguntar a

ele.‖

O salão estava quieto na luz cinzenta da manhã. A escola ainda dormia. Ninguém

estava correndo pelos terrenos. Estávamos sozinhas quando Zach sussurrou:

―Talvez nós podemos.‖

―Como assim? Tem um segundo diário?‖ Bex perguntou dez minutos depois. Ela

olhava para Zach e ele parecia assustado.

―O diário que o Sr. Solomon escondia no Subnível Dois era do seu pai, Cammie. Se

algo acontecesse algum dia... ele deveria ir até você. Era do seu pai, então agora é seu.

Mas Joe mantinha um diário também. Desde quando ele estava no Círculo — desde

quando estava no Blackthorne.‖

Zach estava próximo às janelas, piscando contra o sol que ascendia lentamente.

―Ninguém nunca soube mais sobre o Círculo do que Joe. Ele começou a escrever

tudo assim que o recrutaram. E quando ele percebeu o que eles eram, continuou

escrevendo porque... bem... ele sabia que algo assim iria acontecer eventualmente. Ele

disse que se eu precisasse algum dia, eu deveria pegar.‖

―Pegar aonde?‖ Macey perguntou.

Zach olhou para nós quatro por um longo tempo antes de respirar fundo.

―Blackthorne.‖

Eu sei que soava loucura. Sei que você não irá acreditar em mim. Mas naquela fração

de segundo eu imaginei todo cenário que pude — calculei todas as chances. Era uma

decisão esperta que me fez dizer:

―Vamos ir pegá-lo — agora. Antes que todos acordem. Vamos…‖

―Nós?‖ Bex me cortou. ―Você acha que deveríamos... o que? Pular na van de Liz,

dirigir a noite toda, parar em uma instalação super secreta e, ah sim, te tirar do lugar mais

seguro no planeta?‖

―Pense nisso, Cam‖, Liz disse. ―Não temos que ir a lugar algum. Tudo que temos que

fazer é dizer a sua mãe, ela ligará para a CIA e…‖

―Minha mãe não está aqui, se lembram? E vocês leram os relatórios do meu pai —

vocês sabem que o Círculo tem pessoas em cada nível da CIA. O Sr. Solomon sabia que

não podia confiar em ninguém com isso e nós também não.‖

Bex balançou a cabeça.

―Não. É muito arriscado.‖

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―Não é tão arriscado. Nós dirigimos, pegamos o diário e vemos se nele tem alguma

pista de onde o Sr. Solomon possa estar. Não é como se fôssemos rompê-lo com

nossos…‖

―O que?‖ Bex e eu soltamos ao mesmo tempo, virando para encarar Zach, que nos

dava um olhar estranho.

―Nada.‖ Ele cruzou os braços e deu de ombros. ―Eu só estava me perguntando

quando vocês duas trocaram de corpos e tal.‖

Era verdade. Bex não deveria ser a cautelosa, cuidadosa. Porém, muitas coisas

mudaram desde aquela ponte.

―Eu tenho que fazer isso por ele, Bex, eu tenho que fazer algo.‖

O sol estava levantando-se sobre Roseville. Eu nunca tinha o visto daquela janela,

mas estava especialmente bonito nos raios matinais que refletiam nos cristais da Madame

Dabney. Naquele momento e naquele lugar, quase tudo parecia estar ao nosso alcance.

E talvez fosse por isso que Bex sorriu.

―Bem, eu sempre quis visitar o Blackthorne.‖

Olhei para Liz.

―Acabei de aprimorar a van para incorporar tecnologia solar. Ela realmente precisa de

um teste na estrada para importância estatística, sabe.‖

―Nós versus Blackthorne?‖ Macey disse com um sorriso. ―É, estou super dentro.‖

Eu não sei como explicar, mas naquele momento, as coisas pareciam ir bem.

Nossa missão era clara.

Nós poderíamos ir até Blackthorne.

Poderíamos pegar o diário.

Depois poderíamos encontrar uma maneira de trazer Joe Solomon para casa.

Sim, naquele momento, tudo estava bem. Mas, é claro, aquele momento não podia

durar.

Eu me lembro do som da porta quando se abriu e do olhar surpreso e chocado que

cruzou os rostos de minhas colegas de quarto, quando nos viramos para ver a silhueta

escura e magra que estava na soleira da porta e disse:

―Então, quando partimos?‖

Minha mãe deu dois passos a frente, depois se virou para encarar Zach.

―Eu não te disse para ficar no meu escritório?‖

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CAPÍTULO 36

COISAS QUE REALMENTE

ME SURPREENDERAM NAQUELA

VIAGEM EM PARTICULAR:

1. Que ela aconteceu. Mesmo.

2. Que aconteceu com um garoto.

3. Que de todas as pessoas na van, Bex foi a que mais dirigiu.

4. Que depois de um dia inteiro com nada mais para petiscar,

uma pessoa pode realmente enjoar de M&M’s de Amendoim.

5. Que mesmo enquanto dormia em uma van, o cabelo de

Macey McHenry nunca ficava bagunçado.

6. Que ninguém mencionara o nome do Sr. Solomon, nem

mesmo uma única vez.

7. Que ninguém falou sobre onde estávamos indo.

8. Que quatro Garotas Gallagher estavam matando aula e

perdendo um dia todo (mesmo com a permissão de nossa diretora).

9. Que, se você dirigir a noite toda e só parar para coisas

essenciais, o Instituto Blackthorne para Garotos está apenas a dez

horas de distância da Academia Gallagher. De alguma forma ele

sempre pareceu mais distante.

● ● ●

―Você ainda está zangada comigo?‖ Zach sussurrou enquanto cruzávamos a

Pensilvânia.

A perna dele estava pressionada contra a minha, mas eu não pensei em como isso

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me fazia sentir, porque minha mãe (que é uma espiã) estava bem no banco da frente, e

minhas colegas de quarto (que eram futuras espiãs) nos cercavam na van.

E, além disso, não é preciso muito treinamento para saber que pressionamento de

pernas pode seriamente distrair uma garota de pequenas coisas.

Coisas como tentar não morrer. Então não falei nenhuma palavra.

―Ahh,‖ Zach murmurou. ―O tratamento do silêncio.‖

―Não estou falando com você, Zach‖, sussurrei, virando para ele, ―porque eu sei que

não irá me dizer alguma coisa de qualquer forma. Devo fazer mais perguntas que você se

recusa a responder?‖

Enquanto eu me virava e encarava a frente novamente, observava as linhas amarelas

na estrada voando por nós, eu esperei por mais desculpas. Mais mentiras. Mas em vez

disso, Zach apenas se inclinou para o outro lado e cochichou para Liz:

―Ela fica bonita quando está quieta.‖

Eu não proferi uma única palavra.

Não quando ele comeu o último dos M&M‘s.

Não quando ele pôs sua cabeça no ombro e tentou tirar um cochilo.

Não quando ele e Liz fizeram uma briga de dedos (apesar do fato de eu estar

sentada entre os dois), disputando a melhor parte do estado da Pensilvânia.

Não quando Liz e Macey finalmente caíram no sono, ele se inclinou para perto de

mim e sussurrou:

―Tem certeza que quer fazer isso, Garota Gallagher?‖

Não. Nem mesmo naquele momento. Eu não tinha nada a dizer.

Ao anoitecer, o silêncio foi quebrado quando ouvi minha mãe dizer:

―Encoste ali.‖

Bex entrou em um estacionamento de um velho posto de gasolina ao lado de uma

rodovia de duas pistas estreitas. Capim crescia entre as bombas abandonadas. Máquinas

enferrujadas sustentavam as logomarcas antigas da Coca Cola e da Pepsi.

Nós nos sentimos completamente sozinhos, mas em uma fração de segundo, tudo

mudou.

Um carro escuro se aproximou,vindo do sul, viajando muito rápido. Pneus guincharam

conforme ele deslizou lateralmente pelo cascalho, parando a noventa centímetros do para-

choque da van de Liz.

―Mãe!‖

Eu gritei, me levantando rapidamente, com o sangue pulsando em meus ouvidos.

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Mas antes que eu pudesse processar a pior hipótese que estava tocando em minha mente,

minha melhor amiga levantou-se também e gritou:

―Mãe?‖ um segundo depois, Bex estava abrindo a porta da van e correndo até sua

mãe, que estava saindo do outro carro.

―Olá, querida‖, a Sra. Baxter disse, jogando os braços em volta de sua filha. Mas eu

notei que seu olhar nunca deixava o de minha mãe.

―Alguma coisa, Grace?‖, minha mãe perguntou, saindo da van.

A mãe de Bex sacudiu a cabeça.

―Nada. Você está limpa.‖

Naquele momento, um caminhão branco apareceu na estrada deserta, desta vez

vindo do Norte. Parou no posto abandonado e de alguma forma eu não estava nem um

pouco surpresa em ver o pai de Bex atrás do volante.

Ele pulou do caminhão.

―Tudo claro do meu lado, Rachel. Você está livre.‖

―Obrigada, Abe.‖

Ela parecia aliviada, e para dizer a verdade, eu não gostei disso. Porque, para se

sentir alívio, deve ter havido medo. E o medo... bem... Eu não quero pensar sobre isso.

Liz me cutucou.

―Estes são os pais da Bex!‖

Olhei para minha mãe, que deu de ombros.

―Vocês não esperavam que eu não fosse recrutar um reforço adulto, não é?‖

Macey estava do meu outro lado e exclamou:

―Vamos em uma missão com os pais de Bex!‖, como se perguntasse se estava ou

não pronta para o poder dos Baxters.

Mas minha mãe estava sacudindo a cabeça.

―Na verdade, garotas, em missões não sancionadas, são melhores em minimizar a

exposição de agentes oficiais.‖

É uma regra tão antiga quanto à espionagem em si: não faça você mesmo algo que

possa conseguir alguém que faça para você. Há um milhão de razões inofensivas para um

bando de Garotas Gallagher arrombarem o Blackthorne (piadas, desafios, brincadeiras,

etc). Para um bando de adultos invadirem, nem tanto.

Bex sabia de tudo isso – eu sei que ela sabia – mas ainda assim ela olhava de minha

mãe para a dela e de volta para minha mãe.

―Então porque vocês estão...‖, ela começou, então parou.

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―Eles não estão aqui para nos ajudar.‖ Minha voz era lisa contra o vento. ―Estão aqui

para me guardar.‖

Um olhar passou pelos rostos de minhas colegas de quarto como se tempo algum

tivesse passado desde novembro – como se ainda estivéssemos em uma rua escura em

Washington.

―Você está com o diário?‖ Grace perguntou.

―Não.‖ Minha mãe balançou a cabeça, depois apontou para minhas colegas e eu.

―Elas me venceram nisso.‖

E foi quando as coisas ficaram realmente estranhas.

Quero dizer, minha mãe tinha invadido o Subnível Dois!

Minha mãe tinha ido atrás do diário do meu pai.

Minha mãe era a pessoa que estava logo atrás de nós, rastejando pela escuridão nas

profundezas da nossa escola, o que significava, eu acho, que o agente Townsend não

tinha estado lá.

Eu ainda estava chacoalhando minha cabeça, tentando pensar nisso – em tudo –

quando outro carro apareceu na rodovia e Macey gritou:

―Abby?‖

Quase soou como uma pergunta e com um olhar para minha tia eu vi por que. Seu

cabelo brilhante havia perdido o brilho. E quando ela andava em nossa direção, a

vivacidade que eu viera a conhecer em seu passo havia desaparecido.

―Ei, baixinha‖, disse ela, mas soou forçado. ―Matando aula, pelo que eu vejo.‖

Dei de ombros.

―Talvez esse seja um exercício em campo de Operações Secretas?‖

Ela ergueu uma sobrancelha.

―Eu conheço o Agente Townsend, Cams.‖

―Ah‖, Bex disse.

―E por isso eu sou mais do que a favor de fazer parte dessa pequena lição

extracurricular.‖ Ela olhou para sua irmã. ―Bem... é uma das razões.‖

Minha mãe se virou para o Sr. Baxter.

―O que nossos amigos na Sexta estão dizendo, Abe?‖

―Mesma história, sotaque diferente. Ninguém tem pista alguma de onde o levaram.

Ninguém parece se importar.‖

―Eu me importo.‖

Zach estava do lado da estrada empoeirada, com as mãos nos bolsos. Quando a Sra.

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Baxter o viu, ela sorriu um pouco demais.

―Olá, Zachary‖, disse ela. ―É um prazer conhecê-lo. Rachel nos contou... É um prazer

conhecê-lo.‖

Zach murmurou alguma coisa que soou como ―Digo o mesmo.‖ (Acho que o

Blackthorne não tem uma Madame Dabney.)

E então o momento para amabilidades deve ter se encerrado porque a Sra. Baxter se

virou para minha mãe.

―Pronta?‖

Pareceu uma pergunta perfeita para o momento. Afinal, eu estava me preparando

para invadir o Blackthorne. Eu estava fora da mansão. Estava me preparando para ir a

uma missão.

Uma missão de verdade.

Com Zach.

E minha mãe.

Palavras não podiam descrever meu nervosismo. Ou a estranheza.

Ocorreu a mim que eu devia ter tomado notas, saboreando cada momento. Mas não

havia tempo.

A Sra. Baxter se dirigiu até o caminhão, subindo ao lado de seu marido enquanto

jogava para minha mãe as chaves para o sedan com janelas escuras. Abby já estava

entrando no SUV enquanto Liz e Macey foram até a van, mas minha mãe acenou para

elas.

―Ela fica aqui‖, disse ela com uma sacudida de cabeça. ―Não podemos correr o risco

de alguém segui-la de volta até a escola.‖

Quando minha mãe se virou para mim e perguntou, ―Você está com tudo?‖, ela soava

como se estivesse me deixando na escola ou na casa de uma amiga. Ela soava quase

como uma mãe normal.

Quando eu disse, ―Sim, estamos prontas,‖ quase soei como uma garota normal.

Mas enquanto observei meus guarda-costas seguirem para a estrada para

acompanhar o perímetro da escola, normal pareceu completamente superestimado.

Um momento depois, minha mãe nos deixou em uma nuvem de poeira no meio do

nada, ao lado de um posto de gasolina que não tinha nenhuma gasolina, com uma van que

não podíamos dirigir e um garoto que é um dos melhores espiões no mundo em quem

hesitamos em confiar.

―E o que devemos fazer agora?‖ Macey perguntou.

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Zach sorriu.

―Andamos.‖

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CAPÍTULO 37

O FATO DE OPERAÇÕES SECRETAS DE QUE VOCÊ PASSARÁ MUITO

tempo com pessoas em quem você não confia é pouco conhecido. Eles podem ser

traidores e mentirosos. Podemos chamá-los de ativos ou informantes. Mas, naqueles dias,

eu o chamava de Zach.

As Operárias fizeram contato com um ativo que tinha conhecimento

de primeira mão do Instituto Blackthorne para Garotos.

O Ativo também estava a par dos planos particulares de Joe

Solomon, dos segredos do Círculo e tinha um cheiro de sabonete

mais incrível do mundo.

As Operárias, portanto, tentaram não confiar (ou cheirar) o Ativo.

● ● ●

Caminhando pelo lote do posto de gasolina, eu podia sentir a escuridão caindo. O ar

estava úmido e calmo. Eu podia ouvir Liz tropeçando atrás de mim e sabia, sem mesmo

olhar, que Bex estava cobrindo atrás. Mantive meus olhos treinados na nuca de Zach

enquanto entramos mais no bosque e mais perto do Blackthorne.

Vinte minutos depois, encontrei-me perguntando:

―Quanto tempo para chegarmos à escola?‖

―Não muito‖, Zach disse, sem perder um passo.

―Quantos guardas estarão patrulhando em nosso ponto de entrada?‖

Ele deu de ombros.

―Não sei.‖

―Qual é o intervalo do alcance da câmera de segurança?‖

―Difícil dizer.‖

Alcancei seu braço no escuro.

―O que você sabe, Zach?‖

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―Você está na minha própria casa agora, Garota Gallagher.‖ Sua respiração era

quente contra minha pele. ―Você tem algum problema com isso?‖

―Gente...‖ Ouvi a voz tímida de Liz atrás de mim.

―Talvez eu tenha‖, rebati de volta para Zach.

―Cam‖, Bex falou, sua voz imitando a preocupação de Liz, mas eu mal ouvi.

―Talvez eu…‖ comecei novamente, mas antes que pudesse dizer mais alguma

palavra, Bex agarrou meu braço.

―Cam, escute!‖

A floresta estava escura e imóvel. Só uma sugestão fraca do brilho das estrelas e da

lua se via na densa cobertura de árvores.

Senti alguém me cutucar e me virei para olhar para Bex, que ergueu um dedo, como

se dissesse, ouça atentamente. E então eu ouvi: um ronco distante, baixo e constante,

entre as árvores.

Zach começou a andar e nós quatro o seguimos, até que as folhas sobre nossas

cabeças desapareceram e estávamos sob o céu aberto. Logo estávamos olhando a

encosta de um enorme penhasco, ouvindo um barulho ensurdecedor.

―O que é isso?‖ Macey gritou espiando na borda do penhasco.

Zach nem mesmo olhou para o rio que assolava sob nós, cortando o deserto

sessenta metros abaixo.

―É a nossa carona.‖

● ● ●

Qualquer um que já tenha dirigido pela Academia Gallagher pode vê-la em pé com

segurança por trás de seus muros altos e cercas de pedra. Com um olhar sobre as

montanhas que se erguiam acima de nós e o rio rugindo abaixo, percebi que o Instituto

Blackthorne tinha seu próprio tipo de muros. No momento que descemos de rapel o

penhasco, convencemos Liz a entrar em um frágil barco de borracha preta e começamos o

caminho, percebi que a Academia Gallagher pode ter a melhor segurança que o dinheiro

pode comprar, mas o que o Blackthorne tinha era impagável. (Nota para si: se você de

alguma maneira conseguir um verdadeiro professor de Operações Secretas antes do final

do semestre, esta operação deve ser valer crédito extra.)

―Você tem certeza que não há outro caminho?‖ Liz perguntou. Seus olhos estavam

fechados e ela segurava seu segundo laptop favorito, envolvido por uma caixa de

ferramentas, como se sua vida dependesse dele.

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Zach riu.

―Há apenas outros caminhos que pessoas sãs usariam.‖

As ondas vinham mais rápidas. Meus dedos congelavam em volta do meu remo e

quando passamos por uma onda pesada, Liz teria voado se Bex e eu não estivéssemos ali

para segurá-la.

―O que há de errado em ser são?‖ Macey gritou enquanto batia os dentes sobre o

rugido da água.

Zach sorriu e berrou:

―Insano significa menos câmeras!‖

Não pensei que fosse possível, mas no segundo seguinte eu podia jurar que a água

começou a correr mais rápido. O rugido se tornou mais alto. Pela luz da luz, eu podia ver a

água que se estendia a nossa frente e de repente... nada. Era como se o rio tivesse

secado.

―Zach...‖ Não tentei esconder o pânico em minha voz. ―Zach, por que o rio

desapareceu?‖, perguntei, já temendo a resposta. ―Zach!‖

E com isso, o chão, a água, tudo caiu debaixo de nós e caímos por uma cachoeira.

Era como uma montanha russa – só que mais rápido. E mais molhado. E bem menos

confortável enquanto tombamos no céu da noite, esperando pela pancada na água.

COMO INVADIR O BLACKTHORNE

(Uma lista pelas Operárias Morgan, Baxter, Sutton e McHenry)

1° PASSO: Torne-se levemente maluca.

2° PASSO: Tão maluca que você realmente se voluntaria para descer uma cachoeira de quinze metros.

3° PASSO: Engula um monte de água gelada do rio.

4° PASSO: Tussa e vomite.

5° PASSO: Repita o 4° passo até que pareça que talvez seus pulmões não estejam mais dentro do seu corpo.

6° PASSO: Lembre-se de que um garoto muito bonito está ao seu lado, então tente tossir da maneira mais atraente possível.

7° PASSO: Seja grata por ainda estar viva.

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O primeiro pensamento que veio a minha mente depois da queda, dos agitos, da

tosse e da natação, foi ―está todo mundo bem‖ e foi quando eu estava deitada de barriga

para cima no banco rochoso do rio. Havia um campo aberto a minha frente, enquanto atrás

de nós, penhascos íngremes cresciam até o céu e o rio ainda rugia ensurdecedor em

nossos ouvidos.

―Sem muros?‖, perguntei.

Zach me estudou.

―Não é necessário.‖ Ele apontou para o rio e os penhascos. ―Além disso, esse não é

um lugar que as pessoas estão ansiosas para visitar‖, disse. Comecei a falar, mas ele me

cortou. ―Você vai ver.‖

O Vovô Morgan sempre diz que para conhecer um pedaço de grama, você tem que

ver o chão onde ele cresceu. Talvez era por isso que me lembro de cada detalhe naquela

noite, cada centímetro do chão por onde passamos, enquanto seguíamos Zach para o

lugar onde ele foi feito, observando ambos com meus próprios olhos.

Na luz da luz, eu podia ver claramente um rifle de longa distância a vinte e sete

metros.

―Aquilo é...‖

―É,‖ Zach falou, como se não quisesse ouvir o resto da pergunta.

―Quão longe estão os alvos?‖ Bex perguntou.

Zach virou-se para nós e sussurrou:

―Longe.‖

Passamos por uma enorme vala que havia sido cavada no chão. Cordas pesadas

penduradas nos galhos mais altos das árvores altas. E, além disso, havia caminhos

enlameados e montanhas rochosas. Eu sabia que, apesar da maravilha natural disso, nada

sobre Blackthorne era bonito; sabia que mesmo na luz do sol, algo sobre aquele lugar seria

sempre um pouco escuro.

Finalmente, chegamos até uma cerca que tinha, pelo menos, quinze metros de altura.

A luz da lua iluminava os fios de arame farpado que circulou no topo.

―Sutil‖, Bex disse, olhando para a cerca.

―Esse é o perímetro da base central‖, falou Zach. ―Tanto quanto o público em geral

sabe, o Blackthorne acaba aqui. Siga a cerca e a cento e oitenta metros abaixo você vai

encontrar um ponto de acesso a dados que toda a segurança eletrônica atravessa.‖ Ele

olhou para Liz. ―Você sabe que tem a fazer?‖

Liz sorriu.

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―Sim.‖

―Está disposta a isso? Porque você só terá sessenta segundos para invadir ou não

conseguiremos entrar. Ou voltar.‖

Liz pareceu insultada.

―Eu sei.‖

―Ela dá conta‖, Macey disse a ele.

Zach respirou fundo.

―É. Eu sei. Só... parece diferente do lado de cá, sabe?‖

Não pela primeira vez, eu me perguntei que se Zach tivesse saído do Blackthorne,

onde estaria morando e como estava sobrevivendo, mas essa não parecia a hora de fazer

perguntas. Ele provavelmente não teria respondido, de qualquer forma.

―Segurança entre aqui e ali?‖ Bex perguntou.

―Caminhe suavemente e ficará bem.‖

Ainda assim, minhas três melhores amigas no mundo pareceram preocupadas.

―Bex e Liz podem lidar com o perímetro‖, Macey disse, virando-se para mim. ―Talvez

eu devesse ir com você.‖

―Quanto mais pessoas forem, mais chances de sermos vistos‖, contrapus.

―É‖, disse Zach. ―É exatamente por isso que você deve ficar aqui.‖

―Você mesmo disse que não sabe exatamente o que tem lá dentro, Zach. Ir sem

reforço seria tolice.‖

―Então me deixe ser tolo.‖

―Não.‖

―Por quê?‖

―Porque eu tenho que fazer alguma coisa, ok? Não posso me sentar e... ser

paciente... Eu tenho que fazer alguma coisa.‖

Ninguém disse nada por um momento. Todos nós estávamos muito molhados, muito

doloridos e chegamos longe demais para voltar.

Então Macey encarou diretamente os olhos de Zach.

―Estamos deixando ela com você‖, Macey alertou.

―Eu ficarei bem, Macey‖, falei, mas foi como se ela não tivesse ouvido uma sequer

palavra.

―Estamos deixando ela com você‖, disse novamente. ―E se você nos fizer nos

arrepender disso...‖

―Não farei‖, Zach disse e por alguma razão acreditei nele.

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A Operária foi conduzida por uma série de portões, portas e valas bem barrentas. A Operária, entretanto, não se queixou por arruinar seu jeans favorito.

(Mesmo que ela realmente, realmente quisesse reclamar.)

Do outro lado da cerca de arame, acho que pensei que o mundo iria mudar. E mudou.

Só não da forma como eu estava esperando.

Eu havia visto a Academia Gallagher nas noites mais frias e nos dias mais quentes.

Rastejei pelas mais profundas passagens secretas e olhei pelas janelas mais altas. Eu

havia andado pela neve espessa e chuva pesada.

Eu sei como é uma escola de espiões!

Ou, pelo menos, eu pensei que soubesse. Até agora.

Zach e eu deitamos de bruços no topo de uma cordilheira baixa, olhando para o

Instituto Blackthorne para Garotos através do brilho de um farol que varria o terreno vindo

da torre mais alta da escola. A maioria dos edifícios era baixa e quadrados com coberturas

metálicas, grades pesadas em todas as janelas.

Apesar da hora, um grupo de vinte garotos estava correndo pelo campo aberto, que

ficava entre a colina coberta de árvores e os prédios grandes quadrados. Eles usavam

macacões amarelos e corriam em perfeita harmonia, marchando, com seu cantar aos

gritos ecoando pelo vale no escuro.

―Exercícios noturnos‖, Zach sussurrou, mas exercícios para quê, não ousei perguntar.

Um par de faróis apareceu no portão, brilhando passando pela estação de guarda e

para a pista de cascalho.

―Mãe‖, sussurrei.

―Bem na hora‖, Zach disse.

Quando minha mãe começou a dirigir em direção ao edifício principal, eu levantei

meus binóculos e cuidadosamente estudei a placa que pendia no portão que se abria.

INSTITUTO BLACKTHORNE PARA GAROTOS, INSTALAÇÃO PARTICULAR DE DETENÇÃO.

PERIGO. NÃO ULTRAPASSE ESSE PONTO.

O ano passado inundou novamente minha mente em pedaços – as camas arrumadas

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perfeitamente nos quartos temporários dos meninos temporária na Ala Leste; a forma

como os garotos se contorciam como se nunca tivessem usado um paletó ou gravata em

suas vidas; e acima de tudo, o olhar nos olhos de Zach quando me alertara que eu gostaria

da vida na escola dele – não gostaria mesmo.

―Vocês têm o seu disfarce, Garota Gallagher‖, Zach disse silenciosamente. ―Nós

temos o nosso.‖

AO OBTER ACESSO AO

INSTITUTO BLACKTHORNE PARA GAROTOS,

AS OPERÁRIAS FORAM CAPAZES DE DETERMINAR O SEGUINTE:

• O firewall do Instituto Blackthorne, de acordo com a

Operária Sutton, era bom. Mas não bom o suficiente.

• Como parte de seu disfarce, os residentes do Instituto

Blackthorne eram forçados a usar macacões de uma tonalidade

de amarelo que, de acordo com a Operária McHenry, não fica

bem em NINGUÉM.

• Os guardas no Instituto Blackthorne utilizam uma forma

muito agressiva de patrulhar o perímetro que seria muito

efetiva, exceto quando um intruso conhece o Método Bazinsky

(o que a Operária Baxter conhecia).

Zach estava certo, é claro. Sua escola não era como a minha. O Blackthorne tentava

parecer como um lugar para bandidos e a Academia Gallagher parecia ser um palácio para

princesas. Minha escola era a 800 metros da Rodovia 10. A escola de Zach estava

escondida entre montanhas, blindada do mundo.

Eles tinham arames farpados e nós tínhamos paredes de pedra.

A escola deles parecia um presidiário feito para manter as pessoas dentro e minha

escola parecia ser uma mansão feita para manter as pessoas fora.

Mas enquanto me deitei com Zach no escuro no topo daquela cordilheira, eu o ouvi

respirar. Seu braço estava contra o meu e temi que eu pudesse suar ou ficar nervosa, que

ele pudesse sentir que meu sangue pulsava rápido demais por meu corpo e adivinhar os

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pensamentos que corriam por mim – todas as coisas que eu não confiava nele para ver ou

saber.

Tentei me afastar, mas ele pôs suas mãos em meus ombros e me segurou ali. Eu

sabia que o Instituto Blackthorne estava um pouco além daquela cordilheira e seus

guardas, professores e pequenos Joe-Solomons-em-treinamento também, mas ainda

assim senti como se Zach e eu fossemos as únicas pessoas no planeta enquanto ele

pressionava seu corpo contra o meu.

Suas mãos se moveram para acariciar meu rosto, e nos traços tênues de luz, vi seus

olhos, talvez mais claramente do que já vi.

Zach me via.

Zach me conhecia.

Eu era qualquer coisa menos invisível naquele momento, deitados nas sombras e

com seu rosto a centímetro do meu.

―Fique aqui‖, ele murmurou. ―Por favor, Garota Gallagher, apenas fique aqui.‖

Queria me afastar, lembrá-lo que eu era uma garota grande já, uma operária

altamente treinada, uma espiã – que eu fora treinada para essa missão minha vida inteira e

não iria ser deixada de lado. Mas naquele pequeno espaço com Zach pressionado

apertadamente contra mim, apenas um pensamento veio à minha cabeça. Eu o beijei –

mais demorada e profundamente do que já beijei antes. A escola não estava nos

observando dessa vez.

Não havia brincadeira em seu tom. Éramos apenas duas pessoas se beijando como

se fosse a primeira vez, como se pudesse ser a última.

E então eu me afastei.

―Então‖, perguntei, como se fosse beijada dessa forma o tempo todo (o que, acredite,

não sou). ―Onde é que você está me levando dessa vez?‖

―Os túmulos.‖

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CAPÍTULO 38

NOS VINTE MINUTOS SEGUINTES, EU DEVO TER QUEBRADO uma dúzia

de regras de operações secretas.

Afinal, eu não sabia onde estávamos indo. Não fazia ideia do que iríamos encontrar

quando chegássemos lá. Não havia planejado estratégias de entrada e de saída

alternativas ou estratégias de evitar que meu rabo-de-cavalo ficasse batendo em meu

rosto. Tudo que eu sabia com certeza era que a mão de Zach estava agarrada na minha

(apesar de uma pesquisa dizer que uma pessoa é muito mais furtiva quando não está

segurando nada), e a voz de Bex era a única coisa familiar que eu ouvir.

―Camaleoa, o que ele disse mesmo?‖, ela perguntou pelas unidades de comunicação

em meu ouvido, enquanto Zach e eu cobríamos o terreno aberto além da cordilheira

rapidamente. ―Porque estamos procurando no banco de dados por ‗túmulos‘, mas…‖

―Não está no banco de dados‖, Zach cortou.

―É algum tipo de cemitério? Não encontramos uma entrada no…‖

―Não há nenhuma entrada registrada.‖

―Ou referências para ela em parte alguma‖, Bex terminou.

Zach olhou para mim.

―Não é o tipo de lugar que é referenciado.‖

―Câmeras passando em três, dois, chão!‖ Liz comandou de seu posto de observação

e Zach e eu caímos no chão feito pedras.

―Rolem‖, Liz disse e eu me impulsionei para descer uma ladeira íngreme em uma vala

enlameada. Ouvi vozes vindo de cima de nós, passos conforme os Garotos Blackthorne

passaram correndo em perfeito uníssono, enquanto Zach e eu continuamos nos rastejando

pela lama.

―Espere, não é um túmulo de verdade, é?‖ Macey perguntou.

Parecia uma ótima pergunta, mas Zach estava silencioso, ainda rastejando para

longe dos prédios e dos guardas e em direção a montanha que formava o plano de fundo

da escola.

―O que são os túmulos, Zach?‖, perguntei novamente quando alcançamos a base da

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primeira colina, saímos da lama e fomos até ás árvores.

O chão estava áspero e íngreme. Andamos por uma trilha coberta de ervas daninhas

e arbustos – como se a selva estivesse tentando recuperá-la.

―Gente, vocês estão livres agora‖, Liz disse a três quilômetros de distância, mas eu já

havia previsto isso.

Os garotos marchando haviam desaparecido. Nenhuma câmera podia nos alcançar

entre a densa cobertura de árvores.

Apenas um único raio de luar cortava os galhos. Lembro-me disso agora – como eu

podia ver tão claramente as características do rosto de Zach, o olhar em seus olhos

quando ele começou a pôr de lado as pedras cobertas de musgo que se estavam ao lado

da montanha íngreme.

―O que você está procurando?‖

―Deve haver uma entrada aqui em algum lugar.‖ Ele chutou as folhas mortas caídas

que cobriam o chão da floresta. ―Vai estar escondida — feita para se misturar. Mas deve

haver um interruptor, ou talvez...‖

―Uma alavanca?‖, perguntei, dando três passos até uma árvore que cresceu a partir

da montanha íngreme em um ângulo diferente de qualquer uma das outras. Alcancei o

único galho em toda a floresta que não possuía nenhuma folha nova. ―Você quer dizer

como esse?‖

―Cavernas?‖ Ouvi minha própria voz ecoar, embora a palavra tivesse sido meramente

mais alta que um sussurro. ―Os túmulos são cavernas?‖

―Pise com cuidado‖, foi a resposta de Zach.

Eu ainda podia ouvir minhas colegas de quarto tagarelando em meu ouvido, mas o

som dissolvido aprofundou-se estático a cada passo atrás da porta oculta.

As paredes de pedra em torno de nós estavam pertos e úmidas, iluminadas por

lâmpadas turvas que pendiam em intervalos regulares. Eu tinha a sensação de que nós

não estávamos indo no subsolo. Era mais como se estivéssemos indo direto através das

montanhas que eram a primeira, e talvez a melhor, defesa do Instituto Blackthorne.

―Os indígenas nativo-americanos usavam esta área para enterrar seus mortos, em

cavernas como essa‖, Zach ofereceu do nada. ―É por isso que eles chamam de túmulos. O

exército usava toda esta área para testes de armas e treinamentos na Segunda Guerra

Mundial. Após a guerra, eles encontraram outro uso.‖

Era estranho ouvir Zach dizer qualquer coisa sobre seu passado. Queria perguntar

mais, porém fiquei em silêncio, relembrando nos verões na fazenda, como os bebês

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animais rastejavam às vezes, curiosos, tímidos e inseguros sobre em quem confiar. Eu

sabia que se me movesse muito rápido poderia assustá-lo, então esperei.

―Não, não...‖ Ele olhou para mim. ―Nós não o usamos mais.‖

―Até onde ele vai?‖, perguntei, hipnotizada.

―Longe.‖

―Quantos galhos e ramificações existem?‖

―Muitos.‖

―Você vai me dizer por que estava tão desesperado para me manter longe daqui?‖,

perguntei.

Ele parou de repente, e eu trombei em seu peito. Era quase tão rígido quanto às

paredes de pedra que nos rodeavam.

―Você vai ver por si mesma logo.‖

Caminhamos pelo que pareceram horas, desativando armadilhas e evitando as

câmeras de vigilância.

―Talvez devêssemos nos dividir‖, sugeri.

―Você fica comigo‖, disse Zach, como se isso não estivesse realmente em debate.

A passagem era mais alta do que as da Academia Gallagher. As paredes de concreto

pareciam mais modernas. Era um túnel de última geração, com certeza, mas não era novo

ou agradável. Nada sobre ele era qualquer coisa além de funcional, e o cheiro úmido e as

teias de aranhas grossas me disseram que realmente não tinha funcionado em muito

tempo.

―Cuidado com onde pisa‖, Zach avisou quando chegamos a uma parte inclinada do

túnel onde a água congelava em piscinas fundas e negras.

―Oh, aposto que você diz isso para todas as garotas que traz aqui embaixo.‖

Zach parou. Quando virou-se, nem mesmo parecia com o garoto que eu conhecia.

―Ninguém vem aqui embaixo.‖

Um metro e meio a frente, a passagem de pedra alargou-se. O teto ficou mais alto.

Eu podia ouvir o gotejar constante da água que escoava através das rachaduras na pedra

acima de nós e caía em poças no chão de concreto. Mas não havia contornos suaves lá,

nem luzes brilhantes. Conforme entrava, percebi que temos nossa parte câmaras secretas

subterrâneas na Academia Gallagher, mas nunca havia visto um lugar como este.

Correntes pendiam do teto alto ao longo de uma parede. Uma coleção de bonecos

com o peito pintado com imperfeitos círculos vermelhos alinhava a outra parede. Mesas

em aço inox de pé no meio da sala, enquanto bandejas cobertas de teia de aranha com

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seringas e alicates esperavam, como se alguém pudesse entrar ali a qualquer momento,

varrer a poeira e continuar com algum experimento terrível.

―Nós não o usamos mais‖, Zach disse com sua voz suave, apesar do fato de que não

havia uma alma que pudesse nos ouvir. Vergonha ecoava em suas palavras enquanto ele

olhava para o chão de concreto úmido. ―Nós realmente não o usamos mais.‖

Uma meia dúzia de outras passagens abriam para esta sala, mas ainda assim eu

senti como se a montanha estivesse me pressionando e como se não houvesse saída.

―Zach...‖ Minha voz ficou presa na garganta. ―O que é este lugar?‖

―Você realmente não sabe que tipo de escola é essa, sabe?‖

―É uma escola de espiões‖, soltei, com o sangue pulsando em minhas veias.

Ele chacoalhou a cabeça lentamente. Mesmo na luz turva pude ver seus olhos

arregalarem.

―Não espiões. Nem sempre.‖

―Então o que?‖

―Qual é, Garota Gallagher – uma escola no meio do nada, para garotos problemáticos

com nenhum outro lugar para onde ir? Você sabe o que é esse lugar.‖

Olhei para a sala a nossa volta, pensei nos campos de tiro e nos meninos

marchando, nas horas em que minhas colegas de quarto e eu tínhamos passado na

primavera passada buscando alguma pista sobre Blackthorne e nada encontramos além

de segredos e mentiras.

―Não‖, falei. ―O Sr. Solomon frequentou aqui. Ele…‖

―Estava começando a mudar as coisas‖, Zach terminou. Deu um passo mais próximo.

―Você sabe o que somos, Garota Gallagher.‖

―Não.‖ Chacoalhei minha cabeça. ―Vocês não podem ser...‖

Havia muitos termos para o que Zach tentava dizer. Matadores. Artistas de trabalho

molhado. Mas tudo que pude fazer foi olhar para o garoto que estava ao meu lado – o

garoto que eu mal conhecia – e sussurrar:

―Assassinos.‖

―Eu disse-lhe que esse lugar foi feito para preparar para guerra – Segunda Guerra

Mundial, Guerra Fria e todas as guerras que podiam ter acontecido, porém não

aconteceram. Ou não ainda.‖ Ele me encarou, quase suplicando quando murmurou, ―Nós

não o usamos mais.‖

―É por isso que eles não confiam em você? Os Baxters... Tia Abby…‖

―São pessoas espertas com bons instintos.‖ Ele desviou o olhar, depois voltou.

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―Mas isso não faz sentido, Zach. Você não construiu esse lugar. O que podia ter

possivelmente feito que seja tão terrível?‖

―Não!‖ Parada ali, dezenas de metros dentro da montanha, não havia maneira alguma

de saber quão longe o grito pode ter ecoado pelo labirinto de pedra.

―Sério. Você pode me contar.‖

―Não. Eu realmente não posso.‖

Ao deixar de lado o objetivo original do Instituto

Blackthorne para Garotos, a Operária pensou que

pudesse compreender mais facilmente o Ativo.

(Mas acontece que garotos que são possíveis futuros

assassinos/espiões são os garotos mais confusos de

todos.)

Demoramos mais uma hora para alcançarmos. Duas vezes encontramos túneis

bloqueados por desmoronamentos, uma centena de tonelada de pedra em nosso caminho.

Certa vez, Zach admitiu que estávamos no caminho errado, e tivemos que recuar uns

noventa metros. Passamos por mais três salas parecidas com a primeira que vimos – por

uma dúzia de portas trancadas e aberturas de concreto tão escuras que não pude ver

nada.

―Eu nunca estive tão abaixo assim‖, admitiu ele. De alguma forma, eu sabia

exatamente como ele se sentia.

―Sem querer soar ingrata ou algo assim, mas você sabe onde estamos indo?‖

Ele sorriu pelo que pareceu a primeira vez em horas.

―Não exatamente.‖ Pegou minha mão, inclinou-se passar sob um arco baixo. ―Joe me

disse onde deixou, só no caso de... no caso disso.‖

―E onde é?‖ perguntei, mas Zach parou.

Ele apontou.

―Ali.‖

A sala era grande – com dois andares e com pelo menos uma meia dúzia de túneis

em espiral. De alguma maneira, apenas parada ali, eu sabia que finalmente havíamos

alcançado o centro da montanha.

Conforme eu e Zach pisamos em um pequeno patamar de metal no segundo andar,

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olhei para a sala abaixo de nós. Era bruta e básica. Escadas de metal corriam para o andar

inferior. Prateleiras e armários cobriam as paredes. E em cada centímetro da superfície

havia caixas, arquivos e relíquias do passado.

―É...‖ Zach começou lentamente. ―É meio que a versão do Blackthorne do Subnível

Dois.‖

Segui-o escada abaixo, observei-o ir até o lado mais distante da sala e agachar-se ao

lado de uma estante enferrujada. Segurei minha respiração quando ele estendeu a mão e

então puxou um caderno de espiral embrulhado em plástico.

―É isso?‖, perguntei. Parecia tão simples – como um milhão de outros cadernos

carregado por outro milhão de estudantes.

Finalmente, eu verdadeiramente entendi o fato que sabia a meses: Joe Solomon

havia sido um adolescente de dezesseis anos. Zach colocou o diário em seu cinto, sob o

seu casaco e em seguida pegou minha mão. Sem dizer nada, subimos as escadas de

metal e começamos a voltar para baixo do túnel por onde tínhamos chegado.

Parecia tão fácil. A nossa missão estava terminada. Nós tínhamos ganhado.

Mas isso foi quando ouvimos as vozes.

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CAPÍTULO 39

MEU PRIMEIRO PENSAMENTO FOI QUE A EQUIPE DE SEGURANÇA da

Blackthorne tinha nos encontrado - que tínhamos perdido um sensor de movimento ou

tropeçado em um alarme silencioso - e eu começava a preparar as minhas desculpas...

Zach era meu namorado. Eu estava lá em um desafio. Quebrar o código da Blackthorne

seria o melhor projeto de crédito suplementar!

Mas, então, Zach e eu deixamos cair a nossos estômagos (naquele sentido de

adrenalina) e nos arrastamos de volta ao lugar que dava para o espaço de armazenamento

maciço abaixo, e...

E eu vi a mulher no telhado.

Não havia dúvida sobre ela neste momento, porque lá, nos túmulos, tudo era mais

alto, mais nítido, meus sentidos estavam mais vivos do que eles nunca haviam sido antes,

enquanto eu me deito olhando para a mulher que tinha me encontrado em um telhado, em

Boston. E ela não estava sozinha.

As mãos do Sr. Solomon estavam presas. Um de seus olhos estava machucado e tão

inchado que estava completamente fechado, e enquanto ele mancava, vi um enorme corte

na perna. Cinco homens montavam guarda ao redor dele.

"Tudo bem", disse a mulher, virando-se para o Sr. Solomon. "Agora, onde está?"

"O quê?"

A mulher golpeou seu rosto tão forte que o sangue do Sr. Solomon espirrou no

quarto.

"Eu só vou perguntar mais uma vez." A mulher aproximou-se. Na sala de pedra, seu

sussurro parecia ecoar. "Onde está o diário de bordo que pertencia a Matthew Morgan?"

O diário do meu pai. Eles estavam procurando para o jornal do meu pai.

Mas o diário de papai não estava aqui, e o Sr. Solomon sabia – o Sr. Solomon sabia

tudo sobre este lugar e ainda assim ele trouxe para as profundezas da montanha.

A versão de subnível dois para Blackthorne.

Ao meu lado, eu podia sentir a tensão nos braços de Zach. Eu podia sentir as

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engrenagens trabalhando em sua mente como se nós dois fizéssemos a mesma pergunta:

O que Joe Solomon iria fazer?

"Não", Zach disse ofegante. Eu segui seu olhar.

Cabos revestidos no teto e paredes, desaparecendo por trás das prateleiras e

armários, ligando tudo numa caixa chamada AVISO: EXPLOSIVOS, e eu não pude deixar

de pensar, assim como subnível Dois...

Eu não sabia quem era Joe Solomon - depois de tudo que eu aprendi sobre ele, eu

me perguntava se eu realmente saberia. Mas eu sabia que ele nunca estaria disposto a

ceder ao Círculo de novo. Eu sabia que ele trocaria sua vida para trazer o fim ao Círculo.

Olhei para os explosivos que enchiam a sala – os detonadores estavam dentro - e

sabia que o Sr. Solomon não tinha vindo aqui para salvar a sua vida, mas para acabar com

ela, e esperava, tomar muitos deles junto.

Zach começou a se movimentar, mas eu o agarrei.

"Pense, Zach." Segurei-o lá. "Nós só temos uma chance."

Eu vi como a fúria desapareceu no medo, e Zach olhou nos meus olhos.

"Cammie, você tem que ter isso." Ele pressionou o notebook coberto de plástico nas

mãos. "Você tem que correr."

"Não. Eu tenho que ajudá-lo."

Ele apertou minhas mãos apertadas.

"Você tem que viver. Agora vá e não olhe para trás para qualquer coisa."

"Mas Zach…"

"Eles não vão me machucar."

Eu queria perguntar o porquê, mas eu sabia que ele não diria. Eu queria perguntar

como, mas sabia que não importava. Apesar da minha formação e bom senso, eu queria

discutir, mas eu sabia que estávamos sem tempo. Porque:

a) Há muito pouca utilidade em discutir com um espião que tem constituído a sua

mente; e,

b) Três homens armados estavam bloqueando o túnel atrás de nós, e não havia

absolutamente nenhuma maneira de sair.

Quando a mulher nos viu, ela riu. Foi um assombro, ecoando o som lá no meio da

montanha.

"Encontrei-os em uma varredura‖, disse o guarda, me arrastando para as escadas

abaixo.

Eu tentei puxar o braço livre, mas o homem estava me segurando com muita força. A

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mulher se aproximou, me olhando. Avaliando. Eu me sentia suja, como jamais senti em

minha vida.

"Oh, isso é uma surpresa." Ela sorriu para o professor. "Joe, você é um menino

inteligente, por que você não me disse que estava me trazendo um presente?"

Olhei para o Sr. Solomon - tentei dizer que estava arrependida. Que eu tivesse

seguido os pombos, mas eu falhei. Eu esperava ver a decepção nos olhos do meu

professor, mas o que eu vi foi de raiva.

"Eles vão ou eu não te dou nada!‖

"Agora, por que eu faria isso?", perguntou a mulher. "Quebrar essa tocante reunião?"

Ela estendeu a mão, e eu pensei por um segundo que ela estava indo para acariciar

meus cabelos, mas na última hora ela mudou, alcançando a bochecha de Zach, e disse:

"Olá, querido. Você não vai apresentar a sua namoradinha para sua mãe?"

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CAPÍTULO 40

A MENTE É UMA COISA PODEROSA. EU HAVIA FEITO UMA PESQUISA. Eu

já vi isso em ação. Toda a minha vida tinham me ensinado os fatos simples, e ainda, neste

momento, havia uma coisa que minha mente não podia começar a compreender: a mulher

do telhado em Boston era a mãe de Zach.

Eu queria ficar doente.

"Ela é sua mãe", eu disse claramente. Não era uma pergunta – era algo como uma

conferencia de dados, e de alguma forma Zach foi lentamente fazendo sentido.

Ele chegou para mim.

"Garota Gallagher…"

"Não me toque." Eu me afastei, mas não antes que seus dedos roçassem pela minha

pele, antes que eu sentisse uma faísca, e jurei que seria a última coisa que sentiria por ele.

Na minha orelha, a unidade comum ficou em silêncio. Nós procuramos por tanto

tempo, indo longe demais, e agora havia verdadeiramente uma montanha muito grande

entre eu e qualquer tipo de ajuda.

"É muito bom finalmente lhe conhecer, Cammie. Eu já ouvi muito sobre você."

Quando a mãe de Zach falou, ela parecia serena. "Eu espero que você não esteja com

medo. Tenho certeza de Joe aqui confirmará de bom grado que nós não queremos matar

você."

Meu coração estava disparado, e ainda, de alguma forma, eu sabia que era verdade -

que realmente não queriam me machucar. O que significava que eles queriam algo muito,

muito pior.

"Cammie, eu…" Mais uma vez, Zach chegou. Novamente, eu me afastei.

"Oh, querido, eu posso ver porque você gosta dela." A mãe riu. "Mas agora, todos

espalhados e procurando o diário de Morgan." Ela olhou o filho dela e a mim. "E procure

alguém neles dois."

Um guarda ainda estava me segurando. Outro homem estava se aproximando.

Através da luz da lâmpada fraca que pairava no meio do teto alto, eu vi Zach se focar em

algo, e eu pensei em todas as vezes que ele olhou para mim antes - em um elevador em

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DC, na praça da cidade em Roseville, e em um compartimento pequeno em um trem de

carga durante a noite.

Mas, enquanto o guarda chegava a mim, e um rosto inteiramente novo estava

olhando para mim, sussurrando:

"Agora!"

Pense em tudo ou aja agora, existem algumas vantagens na luta contra dois

atacantes, em vez de um. Era muito mais fácil jogar meu peso de volta contra o homem

que me segurou e chutar o guarda que estava caminhando para a frente com as mãos

estendidas.

Do canto dos meus olhos, eu vi que Zach estava girando, chutando um dos armários

antigos na direção de sua mãe. Ele se chocou contra ela, derrubando-a ao chão, caindo

em volta dela, enquanto o guarda-costas empurrou-me para o lado como se eu fosse nada,

e correu para ajudar sua chefe.

"O que você está fazendo?", gritou a mulher. "Pegue-a!"

Eu ouvi as palavras. Senti minha visão embaçar com raiva. E no segundo seguinte,

uma dúzia de coisas pareciam acontecer ao mesmo tempo.

Sr. Solomon avançou em direção a um dos homens perto da entrada de um outro

túnel. Meu professor jogou as mãos atadas sobre a cabeça do homem e estrangulou-o,

enquanto eu corria com todas as minhas forças em sua direção.

Alguém se moveu para bloquear o meu caminho, mas eu pulei para a estante, usei o

meu impulso para virar no ar e apanhar o queixo do homem com o pé, antes de cair

suavemente no chão. Mas alguém apareceu no canto do meu olho, e mudei de lugar o

suficiente para evitar que a mãe de Zach acertasse um chute na minha orelha.

Eu pisei para trás enquanto ela me circulava. Eu estava presa. Acima de nós, a

lâmpada solitária balançava, lançando uma sombra que se movia sobre tudo o que ela não

estava focando enquanto a mulher que estava assombrando meus sonhos há meses se

aproximou de mim e sorriu.

"Você é muito mais bonita de perto, você sabe."

Eu evitei outro de seus golpes, e quando eu continuei a luta, eu aterrei um soco

rápido em seu rim e outro em seu rosto.

"Ah, sim", ela disse, enxugando o sangue que escorria de que do lado da boca. "Eu

posso certamente ver o recurso."

Do outro lado da sala, Zach tinha tomado uma espada antiga da parede e estava

lutando contra dois homens ao mesmo tempo. A lâmina de aço fez um som agudo no

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espaço oco e o choque rítmico das lâminas foi quase suave - como uma batida. Um pulso.

"Você sabe, Cammie, eu desejo que você e eu possamos ser amigas. Temos muito

em comum."

"Sim, eu..." Mas então eu não poderia terminar, porque eu percebi que as espadas já

não eram conflitantes. Virei-me para ver que os dois homens estavam lutando contra Zach,

estava agora no chão, sangrando, esforçando-se para ficar de pé, enquanto Zach correu

para o Sr. Solomon, que estava lutando do outro lado da sala.

Zach estava tão focado no Sr. Solomon, tão ansioso para vir em auxílio do nosso

professor, que ele não viu quando um dos homens no terreno sacou uma arma e mirou as

costas de Zach.

"Não!", alguém gritou, e só quando o homem parou que eu percebi que não tinha sido

eu. Havia apenas uma pessoa na caverna com o poder de salvar Zach - uma pessoa com

o poder de parar os dominós de cair, e ela era a pessoa que se afastou de mim e avançou

para seu filho.

Eu assisti a mãe de Zach bater no atirador - ouviu o barulho de armas pelo chão.

Mesmo sem me virar, eu sabia que não havia ninguém atrás de mim, então - que não

havia absolutamente nada entre mim e um dos túneis que espiralava do piso principal. E

ainda eu não podia me mover.

Tudo parecia congelar em um segundo, quando Zach pegou a arma e gritou:

"Agora! Corra!"

Mas eu não podia deixá-lo, não podia correr, não podia fazer nada além de gritar

"Não!", quando Zach mirou a caixa de metal marcada ATENÇÃO: EXPLOSIVOS, e

sussurrou as palavras: "Adeus."

O tiro ecoou nos túneis. Chovendo faíscas, iluminando a caverna como o quatro de

julho. Luzes vermelhas chiaram por mim, enquanto meus braços começaram a bater ao

meu lado, a fricção do jornal contra a minhas costas. E mesmo quando o primeiro impacto

da explosão ecoou através dos túneis, eu consegui ficar à sua frente, um pé na frente do

outro, da névoa sinistra e esfumaçada.

Eu continuei correndo.

Eu não olhei para trás.

Nada de bom aconteceria se eu assistisse os fantasmas de Blackthorne queimando.

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CAPÍTULO 41

FOGO.

Eu tentei esquecer o fogo, mas os túneis estreitos pareciam um forno. A água que

invadia através das paredes transformou-se em vapor. Eu não deixo de pensar nos trechos

que Zach e eu tínhamos visto,e as chances de que este túnel desconhecido fosse um beco

sem saída também. Eu apenas continuei correndo até a fumaça tornar-se mais fraca e o ar

ser mais fresco.

"Espalhem-se!" O apelo ecoou na escuridão. "Encontrem-na!"

Na minha orelha, a unidade comunicação estava começando a estalar e zumbir, e eu

falei para dentro da estática:

"Estou nos túmulos. Estou correndo... eu não sei." Mas eu sabia. Sr. Salomon estava

morto, mas sua voz ainda estava viva em minha mente. ―Sul. Eu estou correndo para o sul.

O Círculo está atrás de mim.‖

Ouvi a voz de minha mãe gritando ordens, mas não para mim. Corri mais rápido. Em

direção à luz. Em direção ao bosque. Para o ar fresco e liberdade e apoio. Isso seria em

breve. Tudo o que eu tinha que fazer era continuar a correr.

O som do rio estava mais alto. Eu podia ouvir as quedas e respirar o ar úmido e

fresco.

"Estou quase limpa‖, eu gritei para a minha unidade de comunicação."Estou quase…"

Mas depois virei à esquina, derrapei até parar, e percebi que não estava perto das

quedas - eu estava atrás delas.

O túnel terminou em um penhasco rochoso. Jorrando, água caindo era a única coisa

permanente entre mim e o céu.

"Eu estou atrás da cachoeira", gritei. "Eu estou…"

"Presa?"

A mulher não parecia com Zach - não, não realmente. Sem a máscara, que ela usara

em Boston, eu podia ver que o cabelo dela era um vermelho escuro e sua pele era pálida

como a mais requintada porcelana de Madame Dabney's. Seus olhos, no entanto. Ela tinha

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os mesmos olhos escuros como seu filho. Quando ela olhou para mim, eu não conseguia

afastar o sentimento de que eu nunca iria ver os seus novamente.

"Acabou", eu disse a ela. "Eu estou usando uma unidade de comunicação, todo

mundo sabe…"

"Não importa o que o seu detalhe de proteção sabe, Cammie querida. É tarde

demais. Ninguém pode ajudá-la."

Eu ouvi mais sons vindos de trás dela.As pessoas estavam chegando. Suas pessoas.

"Vocês não podem nos derrotar", disse eu. "Mate-me, toma-me, não importa. A

Academia Gallagher fará apenas mais meninas como eu.Se uma vive, todos nós vivemos."

"Claro que eles irão." Ela sorriu. "Eles me fizeram."

Eu não disse nada - eu juro que eu realmente não disse - mas o olhar em meu rosto

deve ter emitido uma declaração, porque no momento seguinte, a mulher estava rindo um

riso terrível, riso sem alegria.

"Oh, não, Zach nunca mencionou que sua mãe era uma garota Gallagher?‖ Ela

levantou uma sobrancelha, então encolheu os ombros. "Eu suponho que não."

"Não." Eu balancei minha cabeça. "Não. As garotas Gallagher são…"

"Nós somos o que queremos ser, Cammie". Ela se aproximou. Eu me encolhi com a

palavra ‗nós‘. "Tudo o que queremos ser."

Eu pensei no que Abby e Baxters tinham dito aquela noite no castelo - que o círculo

tinha um talento especial para recrutar agentes muito jovens... que Joe Solomon tinha

amadurecido, e visto a luz, e passou a vida tentando corrigir seus erros. Mas a maioria das

pessoas - eu olhei para a mãe do Zach, nas profundezas escuras de seus olhos - nunca

mais deixarão os túmulos.

"Então, está vendo? Nós somos irmãs, Cammie. Você realmente não precisa ter

medo. O que nós precisamos vive dentro de você." Ela bateu em sua têmpora. "Nós

apenas queremos emprestado."

Sr. Salomon estava morto.

Zach estava morto.

"Eu não vou com você", eu disse, chegando mais perto da ponta, lembrando sua

promessa e o fato que tinha me assombrado por meses: Eles me queriam viva.

"Vamos, Cammie, afaste-se desse penhasco asqueroso. Não seja tola."

"Eu não sou tola", eu disse, com a maior certeza que já tive em minha vida. O som da

água era ensurdecedor. A parte de trás da minha camisa estava molhada com o borrifo. Eu

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queria limpar a água dos meus olhos, mas eu precisava das minhas mãos na minha frente.

Eu precisava estar pronta.

"Você não quer fazer isso, Cammie. Nós realmente não vamos te machucar."

"Eu sei", eu disse, e eu sabia. Mais ou menos.

"Nós queremos apenas te levar a algum lugar – fazer algumas perguntas a você

sobre algumas questões. Ajudar você... se lembrar... algumas coisas.‖

"Tenho certeza que você quer", eu me movi, e as pedras aos meus pés

desmoronaram.

Sr. Salomon estava morto.

Zach estava morto.

Seu próprio filho estava morto, e ela ainda estava me perseguindo e qualquer

segredo que eu carrego.

Eu tinha estudado Proteção e Execução durante cinco anos e meio, mas até aquele

momento eu nunca tinha pensado seriamente qual seria a sensação de matar alguém - até

então eu nunca quis.

"O quê?", ela perguntou. "O que você está pensando?"

"Eu estou tentando decidir se devo ou não matá-la."

Ela riu.

"Você não pode me matar."

Mas eu podia. Naquele momento eu estava tão cheia de medo e raiva e dor que eu

poderia ter feito isso. Facilmente.

Ela riu mais forte e andou devagar para mais perto, como se aquela parede de água

e ar fossem o pior destino possível.

E então a mãe de Zach inclinou-se para perto, como se confiante, e disse:

"Se você me matar, então, quem vai levá-la ao seu pai?"

Ela pulou em mim, mas eu era a única que não tinha mais nada a perder.

E antes que suas palavras encontrarem um lugar na minha mente - antes de os

Agentes do Círculo, que estavam correndo túnel abaixo pudesse chegar até nós - eu

pensei sobre os corvos, e eu estendi minhas asas para voar.

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CAPÍTULO 42

O SALTO NÃO ME MATOU, CASO VOCÊ AINDA NÃO SABE.

Lembro-me de romper pelas quedas d‘água.

Lembro-me do ar fresco e do vento frio e pensando que eu poderia voar.

E depois houve o impacto e as correntes geladas que caíram repetidas vezes sobre

mim como a um cobertor em que eu estava presa dentro, enquanto eu lutava para me

libertar.

E então não havia nada. Sem cobertores. Sem fogo. Sem calor e frio.

E pela primeira vez em meses eu dormi e não sonhei.

"Cammie!"

Eu ouvi o meu nome ecoar pela noite, cavalgando pelo vento. Meu corpo doía.

Minhas roupas se agarraram a mim, pesadas e molhadas. Eu podia ouvir o rio e os gritos e

outra coisa, uma voz dentro de mim me dizendo que não estava segura. O Círculo ainda

estava lá fora.

Eu tinha que me mover. Eu tinha que me esconder. Eu pensei na última coisa que

Zach me pediu: eu tinha que continuar correndo e eu não poderia nunca, nunca olhar para

trás.

Nem quando eu ouvi o helicóptero.

Nem quando eu vi os refletores varrendo pelo chão aberto ao longo do rio e depois

me queimando, me segurando firme no seu clarão.

Nem quando eu ouvi o grito de voz profunda:

"Eu a vejo! Ela está aqui!"

Nem quando braços fortes me envolveram, e alguém disse:

"Fique quieta."

Nem mesmo quando o helicóptero preto aterrissou no chão na minha frente e minha

mãe voou de sua porta aberta.

Eu tinha que continuar correndo, mesmo assim, mas meus pés já não encontravam o

solo. Eu tentei lutar, mas os braços que me seguravam eram muito fortes.

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"Rachel", Agente Townsend disse, ainda me segurando.

"Cammie,querida,pare de lutar", minha mãe disse quando meu professor me carregou

debaixo do rodopiar das hélices.

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CAPÍTULO 43

ERA BARULHENTO NO INTERIOR DO HELICÓPTERO. EU TENTEI me

mover, mas todo o lado direito do meu corpo estava em chamas.

Fogo.

"Sr. Solomon", eu comecei, mas as palavras foram estranguladas em uma tosse,

como se meus pulmões tivesse trazido a explosão com eles.

"Zach..."

"Querida, seu ombro está deslocado. Haverá uma grande dor quando o choque

passar.‖

Que choque? Eu queria dizer, mas ao invés disso agarrei a mão da minha mãe…

"Pai", eu sussurrei. "Ela ia me levar para o papai."

"Ela está tendo alucinações, Rachel." O agente Townsend estava falando acima de

mim. Ele e minha mãe estavam falando de mim.

"Ele está vivo!" Eu me virei na vertical e uma dor como eu nunca tive disparou por

mim. "Eles estão mortos", eu murmurei, mas tudo estava rodando, desvanecendo na

escuridão.

● ● ●

Ao ser admitida na enfermaria da Academia Gallagher, a operária Morgan foi

cutucada, picada, drogada, examinada, radiografada e enfaixada.

Ela não foi, no entanto, questionada, interrogada, informada, ou disseram que droga

estava acontecendo.

"Mãe?" Minha voz era tão áspera, eu mal a reconheci como a minha. "A minha mãe

está aqui?"

"Não." Alguém atrás de mim falou. Ouvi a porta fechar, observei o agente Townsend

caminhar para o pé da minha cama de metal. "Ela não está."

"Eu quero falar com minha mãe."

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"Ela não pode estar aqui no momento, Srta. Morgan. Temo que você terá que

começar por mim."

"Eu posso esperar."

Ele sorriu.

"Mas eu não posso. Veja, eu tenho um avião para pegar."

Ok, então talvez tenham sido as drogas que tinham me dado, mas aquilo quase soou

como uma boa notícia.

Eu tentei ficar na posição vertical, mas meu corpo não queria obedecer. Meu ombro

doía, e em meu lado direito tinha um contínuo, enorme hematoma.

"Nada está quebrado" disse ele, como se fosse um milagre, e eu acho que realmente

era. "Mas você vai ficar dolorida por um tempo. A queda deslocou seu ombro e você inalou

muita fumaça, mas você vai ficar bem, mocinha."

Ele se sentou na cadeira de metal no pé da minha cama.

"Agora, me diga o que aconteceu nos túmulos."

Contei-lhe tudo - eu realmente fiz. Desde, descobrir a verdade sobre Blackthorne até

ao avistar o Círculo arrastando o Sr. Solomon de volta ao lugar que, de certa forma, tinha

começado tudo isso.

Eu disse a ele com detalhes e em ordem.

Joe Solomon teria ficado extremamente orgulhoso.

Enquanto eu falava, o agente Townsend ouvia, mas ele não tomou uma única nota -

ele não disse uma única palavra.

"E então eu saltei", disse a ele finalmente. Olhei para meu corpo machucado. "Eu

acho que... eu acho que você sabe o resto."

Ele balançou a cabeça lentamente.

"Sim. Eu acho que posso até mesmo saber um pouco mais do que você." Ele colocou

os seus cotovelos sobre os joelhos e se inclinou para mais perto.

"Eles puxaram três corpos dos destroços até agora, e eles ainda estão escavando.

Suas colegas de quarto estão completamente ilesas. Embora, provavelmente, mais do que

um pouco iradas por que elas estarem sendo impedidas de ver você", ele acrescentou,

como se o drama das garotas adolescentes tivesse seriamente começando a pesar sobre

ele.

Então ele se inclinou mais perto, sua voz baixa à medida que acrescentou:

"E outra coisa."

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Ele caminhou até a porta e voltou com uma cadeira de rodas. Um minuto depois

agente Townsend estava me empurrando para uma sala escura que era maior do que a

minha. Máquinas bipando. Enfermeiros e médicos se moviam com passos silenciosos. E

no centro de tudo isso, um homem deitado sobre uma cama, quebrado e queimado, um

olho inchado completamente fechado.

"Um jovem o trouxe aqui, tarde da noite passada. Ele não tem nenhuma identificação.

Nenhum nome." Conforme Townsend empurrou-me para mais perto, senti-me parar de

respirar. O homem na cama estava enfaixado da cabeça aos pés, e ainda quando a

cadeira parou, eu vi um rosto que eu tinha visto pela primeira vez na parte de trás do

Corredor Principal um ano e meio antes.

"Por isso, talvez nós apenas vamos chamá-lo... Sr. S."

Eu queria tomar a sua mão, mas eu não queria tocá-lo e correr o risco de descobrir

que era um sonho.

"Agora, se você vai me der licença, Srta Morgan", disse Townsend. "Tenho receio

que eu realmente precise ir embora. MI6 tem um monte de perguntas, como você pode

imaginar, e eu…"

"Mas…"

"Meu trabalho aqui foi encontrar Joe Solomon, mocinha." Ele me olhou por um longo

tempo. "E Joe Solomon está morto. As testemunhas o viram morrer em uma explosão na

noite passada." Lágrimas avolumaram-se em meus olhos, mas não tentei impedi-lo. Eu

não disse obrigado ou me desculpe ou quaisquer dúzias de outras coisas que o agente

Townsend, provavelmente, não tinha vontade de ouvir.

Em vez disso, eu o assisti olhar para o homem na cama - o homem que chegou mais

perto de destruir o Círculo do que ninguém vivo. Eu o vi acenar para o Sr. Solomon e o

ouvi sussurrar:

"Não há necessidade de alguém mais persegui-lo."

Townsend estava meio caminho para a porta quando ele parou.

"Ah, sim", disse ele, virando. "Você estava segurando isto ontem à noite." Ele puxou o

pequeno caderno espiral do bolso e me entregou. Eu quase não o reconheci sem o seu

invólucro de plástico. "Interessante escolha de livros que você tem, Srta. Morgan." Ele se

virou lentamente ao redor. "Muito interessante, de fato."

"Há quanto tempo você vem perseguindo o Círculo, agente Townsend?" Eu de

repente o chamei, fazendo-o parar na porta.

"Há muito tempo", disse ele.

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"Você acha que meu pai está com eles? Você acha que ele está vivo?"

Sua voz era estável quando ele disse:

"Não."

Então ele se virou e foi embora.

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CAPÍTULO 44

"EI, FILHA", DISSE A SILHUETA DA MINHA MÃE, ATRÁS DE MIM. Mas em

vez de virar, eu fiquei sentada, olhando para o Sr. Solomon, perguntando-me, não pela

primeira vez, se eu estava olhando para um fantasma.

"Ele... Será que ele vai passar por isso?" Eu perguntei.

"É muito cedo para dizer, querida", Mamãe admitiu. Ela se aproximou. "Como você

está?"

Mas eu não respondi. Em vez disso, me virei e perguntei:

"Onde está Zach? Foi ele quem trouxe de volta o Sr. Solomon, não foi? Não é ele?

Ele está aqui? Ele está…"

"Ele está bem, querida. Um pouco queimado. Um pouco machucado. Mas ele vai ficar

bem. E sim, ele está aqui." Ela se aproximou lentamente. "Na verdade, eu estive ao

telefone com os membros do conselho diretor por toda a manhã, obtendo sua permissão

para ele terminar o semestre conosco." Ela respirou fundo. "Não há nenhum lugar seguro

para ele ir."

Enquanto ela falava, suas mãos foram quase involuntariamente para o Sr. Solomon -

endireitando seu cobertor, alisando suas ataduras - e eu sabia que, ao contrário de mim,

ela não conseguia parar de tocá-lo. Ela o curaria com suas mãos, se pudesse.

"Papai está vivo."

E só assim, minha mãe retirou a mão.

"Ele está vivo, mãe", eu disse, amaldiçoando a cadeira de rodas, precisando olhar no

rosto da minha mãe e encarar o mundo de frente e não como uma inválida, como uma

criança. "Ele está vivo. Ela... a mãe de Zach disse que sim."

Mamãe caiu de joelhos e olhou nos meus olhos.

"Ouça-me, Cammie. Ouça. Eles vão dizer qualquer coisa - eles farão qualquer coisa

para conseguir o que querem, e o que eles querem agora é você."

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"Por quê?" Eu perguntei, a pergunta queimando dentro de mim. "Eles vieram para

Blackthorne porque o Sr. Solomon disse-lhes que o diário do papai estava lá. Eles iriam a

qualquer lugar para encontrar-me. O que eles querem?"

Mamãe alisou meu cabelo.

"Nós não sabemos, filha. Eu acho que seu pai, provavelmente, chegou perto de

alguma coisa. Eu acho que é por isso que eles o mataram."

"Ela disse que ele está vivo!"

"Não se deixe enganar, Cammie!", minha mãe desabou, então baixou a voz a um

sussurro. "Não se permita ter... esperança."

Eu sei muito bem o quão perigosa pode ser a esperança, como ela cresce e às vezes

morre, levando seu hospedeiro com ela. É mais poderosa do que qualquer coisa que Dr.

Fibs mantém em seus laboratórios, mais preciosa que todos os segredos do Subnível Dois.

"Talvez ela não estivesse mentindo", disse eu. "Certo? Diga-me que ela poderia não

estar mentindo."

"Nós não sabemos." Ela disse que cada palavra devagar, com cuidado, como se

fossem tanto para ela quanto para mim. "Mas eu passei anos procurando seu pai e eu

acho que - em minha opinião profissional - ele provavelmente não está... vivo."

Operários que mentem sempre se tornam os piores espiões, sua inteligência é

reduzida, suas missões são abandonadas. Sempre há alguma verdade no meio das

sobras. Operações Secretas chamam isso de comida de galinha. Mas naquela sala,

naquele dia, minha mãe chamou isso simplesmente de esperança.

Conforme minha mãe empurrou minha cadeira de rodas até a porta, entreguei-lhe o

velho caderno espiral.

"O senhor Solomon queria que o Zach tivesse isso. Você pode ver se consegue

entregar a ele?"

"Dê a ele você mesma, filha. Ele está esperando lá fora."

Seu rosto ainda estava coberto de fuligem e cinzas. Suas roupas foram queimadas.

Havia ataduras em seu braço direito, e ainda tudo sobre Zach era perfeito. Ele saiu, apesar

de tudo ileso. Vivo.

Minha mãe me empurrou em direção a ele, mas ele não pegou minha mão. Nós não

nos beijamos ou nos abraçamos. O fogo de alguma forma ainda estava entre nós, e

nenhum de nós se moveu na direção do outro, com medo de que poderíamos ser

queimados.

"Aqui. Você deve ficar com isso." Eu lhe entreguei o diário. "Quando ele acordar..."

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Ele estendeu a mão para o diário. Seus dedos tocaram os meus. Havia um milhão de

coisas para dizer, ou talvez mais, mas a sensação de sua pele era suficiente naquele

breve momento. Nós estamos quentes. Nós ainda estamos vivos.

"Cam!" As vozes de minhas companheiras ecoaram pelo corredor abaixo, seguido

pelo som dos passos apressados contra o piso de madeira.

"Cammie, estávamos tão preocupadas!" Liz chorou. Bex e Macey jogaram seus

braços em volta de mim com uma força um pouco mais do que se deve usar em alguém

que tem uma contusão de corpo inteiro e um ombro deslocado.

"Eu estou bem, garotas", eu confessei. "Eu estou bem. Zach e eu estamos…"

Mas depois eu parei. Eu virei para olhar para trás e vi nada, além de um corredor

vazio.

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CAPÍTULO 45

PRÓS E CONTRAS DAS ÚLTIMAS POUCAS

SEMANAS DO NOSSO ANO JUNIOR

PRÓ: A mãe da Bex se ofereceu para tirar uma licença

temporária do MI6 para ensinar CoveOps o resto do semestre.

CON: O Sr. Solomon ainda estava em coma.

PRÓ: Resulta que, quando uma Garota Gallagher fica

gravemente ferida por uma ex (e mal) Garota Gallagher, outras

Garotas Gallagher do mundo inteiro enviam incríveis presentes -

como chocolate. Da Suíça.

CON: Suas companheiras de quarto começam com a nova:

“Cammie não vai a lugar algum sem duas de nós", significa que os

chocolates não duram muito tempo. Em tudo.

PRÓ: Estar em P&E “Prática de cuidado” registra dar a um

monte de garotas tempo para trabalharem suas habilidades na

balestra.

CON: A prática de balestra, quase sempre inclui Liz (que só

arranhou melhor que Madame Dabney uma vez, não importa o

que você pode ter ouvido).

PRÓ: Um rapaz incrivelmente inteligente, extremamente

quente, e incrivelmente misterioso veio para a Academia Gallagher.

CON: Nenhum de nós poderia nos deixar esquecer o porquê.

● ● ●

―Que tal Lisboa?‖ Bex perguntou no dia em que deixei a enfermaria. O sol estava

brilhando, e ela espichou-se para fora em um cobertor à beira do lago, fechou os olhos, em

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seguida, virou na vertical novamente. ―Oooh... Genebra! Minha mãe adora Genebra, Cam.

Aposto que podemos conseguir que meus pais…"

"Genebra para o quê?" Eu perguntei, tentando sentar ao lado dela. Meu orgulho doeu

tanto quanto o meu corpo quando Macey segurou meu braço bom e me ajudou a descer

até o chão.

"Para passar este verão, boba", disse Liz.

Verão… Olhei inexpressivamente para o lago. Eu tinha esquecido completamente do

verão.

"Eu vou para o rancho no verão", eu disse, como se elas não soubessem disso.

"Bem, veja, Cam, ouvi minha mãe conversando com sua mãe sobre isso, e…"

"É muito perigoso", eu terminei por ela.

Estava ensolarado ali no lago, e ainda uma sombra pareceu cair na face das minhas

melhores amigas.

"Mamãe e papai vão ajudar", Bex deixou escapar. "Assim como na folga do Inverno.

E sua mãe também. E... isso vai ser divertido."

"Eu não sei... parece..." Arriscado. Perigoso. Mortal. "Eu não quero que você desista

de sua folga por mim."

"Você está brincando?" Macey perguntou. "Vai ser ótimo. Ei, que tal a casa de esqui

de meus pais na Áustria? O lugar é uma fortaleza". Macey cruzou suas longas pernas.

"Obrigada, Macey, mas…"

"Não. É sério. É uma verdadeira fortaleza atual. Nos Alpes. De jeito nenhum o Círculo

encontraria você lá."

Elas pareciam tão confiantes - tão certas. Foi o dia mais bonito que tivemos em

semanas, e praticamente escola inteira estava do lado de fora, remando para o outro lado

do lago, correndo pela floresta, ou, como nós, deitados em cobertores, estudando no sol. O

ar fresco encheu meus pulmões, e eu pude quase esquecer a fumaça e os túmulos.

Quase.

"Oooh", Bex disse. "Ele apareceu." Enquanto ela apontou do outro lado do terreno,

ela fez parecer como se a presença de Zach na escola fosse menos um estudante visitante

e mais um fantasma. Ao vê-lo andar pela floresta, longe do alcance da voz das garotas que

passavam, eu podia facilmente ver por que. Suas mãos estavam nos bolsos. Sua cabeça

baixa. Ele parecia mais pálido de alguma forma.

"Então...", eu comecei devagar, "como ele está?"

Macey deu de ombros.

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"Nós não sabemos. Nós dificilmente o vemos."

Bex olhou para mim.

"Como ele deveria estar?"

Mas eu só olhava ao longe, pensando em todas as coisas que eu não sabia.

● ● ●

No domingo da semana das provas finais, eu acordei cedo e me arrastei para fora do

apartamento, deixando minhas companheiras de quarto de dormir enquanto eu fechava a

porta suavemente.

Os corredores estavam vazios. Um orvalho forte estava sobre a grama, e enquanto o

sol saía, ele lançava uma espécie de arco-íris sobre o solo. O mundo era lindo e quieto e

parecia completamente em paz enquanto eu subia as escadas para a enfermaria e

empurrava a porta do Joe Solomon, abrindo-a.

As máquinas ainda bipavam e faziam barulhos, mas havia menos ataduras. As

contusões pareceram ter desaparecido. As flores frescas estavam colocadas em um vaso

sobre a mesa, mas a maior mudança foi o fato de que, desta vez, minha mãe estava

sentada na cadeira ao lado de sua cama. Sua cabeça repousava sobre o travesseiro. Seus

dedos estavam atados com os dele enquanto ambas dormiam - ambas esperando pelo

meu professor para voltar para casa.

Parecia que eu estava espionando minha mãe (e não no sentido legal da palavra),

então eu estava aliviada de volta, em direção à porta, tentando deslizar silenciosamente

para o corredor, quando eu me choquei em algo alto, largo e forte.

"Oops!"

"Desculpa", Zach deixou escapar. Ele agarrou meus ombros suavemente, como se

para me manter em pé. Nós não nos falamos – não nos tocamos – em semanas. De pé ali,

me senti como se estivéssemos ainda nos túmulos, as paredes se fechando em torno de

nós.

"Eu não te vi... Desculpa", eu deixei escapar com medo, em seguida, me virei e fugi.

● ● ●

Zach me encontrou com os pombos.

Alguém deve ter apagado as placas, porque o código Sr. Solomon tinha ido e eu

estava sozinha, olhando para a paisagem, olhando pelo campo.

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Eu não me virei quando o ouvi. Eu apenas disse:

"Ele deveria estar acordado agora, ele não deveria? Ele nunca vai acordar."

"Claro que ele vai."

"Isso nunca vai acabar."

"Claro que vai."

"Isso é…"

"Cammie, me escute. Não fale – escute", havia medo de seus olhos. "Isto não vai

parar por conta própria. Não vai para longe. Nós não podemos ficar aqui – não podemos

nos esconder para sempre."

"Ela é sua mãe?" Eu fiz a pergunta que estava queimando dentro de mim por

semanas.

"Sinto muito, Cam. Eu…"

"Você poderia ter me avisado."

"Não." Ele sacudiu a cabeça. "Eu não poderia. Eu não poderia perder a única pessoa

que não a via quando olhava para mim. Eu não podia perder isso."

"Meu pai está vivo, Zach?"

"Eu não sei."

"Ela disse que ele está."

Zach me estudou.

"Ela mente."

"Nós deveríamos estar mortos", disse após o que parecia ser uma eternidade.

"Eu sei."

Ele ficou ao meu lado, a centímetros de distância. E ainda assim, não nos tocamos.

Uma carga correu entre nós como um fio, uma faísca. Já tínhamos visto a nossa quota de

fogo.

"O Sr. Solomon não está acordando", eu disse.

"Nós não sabemos isso."

"Por que todos se machucam, menos eu?"

"E eu", ele disse. Ele tentou rir, mas vacilou.

"Eu não posso ir para Nebraska neste verão. Não é seguro para a vovó e o vovô

estarem perto de mim." Passei a mão contra a pedra fria da borda. Ela deslizou

perigosamente perto dele, e eu sussurrei, "Eu não estou segura."

"Aonde você vai?" Ele facilitou concluir.

"Eu não sei."

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"O que você vai fazer?"

Eu balancei a cabeça, descobri que estava tão perto dele que eu desejei ficar ali, mas

não ousei.

"Eu não sei."

E então seus braços me envolveram. Quando ele me beijou estava mais faminto de

alguma forma, como se este momento fosse tudo o que tínhamos, e tínhamos de

provarmos, tomarmos, saboreamos, e não desperdiçar uma única gota.

"Fuja comigo." A respiração do Zach era pesada e quente contra meu rosto. Eu não

ouvi as palavras, eu só sabia que o beijo era real - o beijo era seguro.

Eu o beijei novamente.

"Garota Gallagher", disse ele, me puxando para trás, segurando meu rosto com

ambas as mãos, "nós podemos ir. Nós podemos fugir. Nós podemos viver por nossa conta

e ficar assim até que seja seguro. Para todos.‖ Seus olhos estavam a centímetros dos

meus enquanto ele sussurrou, "Nós podemos manter um ao outro seguro.‖

"O que você está dizendo, Zach?" Tentei afastá-lo.

"Nós somos as duas únicas pessoas no mundo que o Círculo vai pensar duas vezes

antes de matar."

"Isso não é engraçado."

"Eu não estou rindo." Ele me segurou mais perto. "Você está certa. - ninguém está

seguro conosco ao redor. Ouça-me, Cammie, nós poderíamos fazer isso. Nós temos

treinado nossa vida inteira para fazer isso."

"Eu não posso." Sacudi o pensamento antes de poder lançar raízes em algum lugar

dentro de mim. "Não. Não. A minha mãe…"

"Entenderia", Zach estalou. "Eu estou surpreso que ela não teve a mesma ideia." As

mãos dele encontraram as minhas novamente. "Se ninguém souber onde estamos, então

ninguém pode nos encontrar."

Taticamente falando, Zach estava certo. E ainda assim eu não conseguia parar de

olhar para ele como se ele fosse louco quando disse:

"Nós. Podemos. Fazer. Isso."

Senti suas mãos e sabia que elas estavam ainda quentes, o sangue ainda estava

fluindo através dele, ele ainda estava respirando - que ambos estávamos.

Devíamos ter sido mortos.

Lembra o que eu disse sobre o salto? Sobre mentiras? Se Zach estava falado

loucuras, teria que ter um desconto fácil, ele deveria se virar e ir embora.

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Mas a verdade... a verdade - mesmo quando se trata de grãos minúsculos - não é tão

fácil descartar, por isso fiquei com ele, fitando para fora, para a luz da manhã, tentando

decidir quais peças eu deveria tentar transportar.

"Eu não posso partir com você, Zach." Beijei-o levemente.

Ele puxou-me delicadamente em direção a ele, me segurou perto e disse:

"Eu sei".

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CAPÍTULO 46

É SEMANA DE PROVAS FINAIS AGORA, ENQUANTO ESCREVO ISSO.

Justo nesta manhã Bex está me olhando por cima da mesa, no Grande Salão, conforme eu

rabisco estas últimas palavras.

"O que você está fazendo?", ela perguntou.

"O relatório de CoveOps", respondi, e isso foi tudo que eu tinha a dizer. Minhas

amigas sabem o que é fazer esses relatórios por esses dias. Elas viram o poder das

palavras que meu pai e o Sr. Solomon escreveram, antes mesmo de nós nascermos.

Nenhuma de nós economizará escrever em nossa papelada, nunca mais.

Quando saímos do Grande Salão, Bex e Macey se encaminharam para a porta da

frente para a P&E. Liz foi para a laboratórios fazer uma última experiência antes do

semestre terminar.

"Espere", eu as chamei, e as três pararam e olharam para mim.

Meus hematomas estão quase sarados. Meu ombro está bem. Fisicamente, eu sou o

meu antigo eu, mas quando minhas amigas se viraram para olhar para mim, todas elas

sorriram para mim, à medida que as interrompi.

"Eu amo vocês garotas, vocês sabem, não é?"

Elas se olharam como se, talvez, tivesse batido minha cabeça um pouco mais forte

do que pensavam.

"Cam..." Liz começou a vir na minha direção, mas eu acenei para ela.

"Quero dizer, todas estarão ausente da escola, e não importa o que acontecer neste

verão eu tenho que dizer isso... eu amo vocês. É apenas algo que eu tinha que dizer."

Bem, era desnecessário dizer isso, já que foi seguido por um monte de abraços. E

algumas chorando. E uma considerável quantidade de "Eu-Também-Te-Amo-Demais."

Mas, por fim, elas tinham que me deixar. Eventualmente, todo mundo deixou.

Eu estava sozinha quando eu me virei e comecei a subir as escadas para o Hall da

História. A cada passo, eu vi o último semestre em flashes - Sr. Baxter olhando para mim

através da luz tênue na Torre de Londres, segurando minha mão, o Sr. Solomon, puxando-

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me para a ponte fria; Zach segurando meus ombros e me dizendo para fugir dos túmulos.

Com toda lembrança, eu escutei uma palavra, repetidas vezes, como uma música.

Corra. Corra. Corra.

Corra. É o que as pessoas me disseram para fazer o ano todo, e agora eu acho que é

hora de realmente ouvir.

Isso não é algo que eu tenha decidido rápido, acredite em mim, eu estive pensando

sobre o que eu tenho que fazer por semanas. Eu pesei todas as opções, os ângulos, os

riscos. Há uma chance de que isso não vá funcionar, é claro, mas a única pessoa que

pode machucar sou eu, e é por isso que deve ser feito.

Zach estava certo.

Eles não vão me machucar. São as pessoas ao meu redor que estão machucando.

Eu não vou arrastar esse perigo para Nebraska, não importa quantos guardas podem ir

junto. Eu não posso ficar aqui. Este lugar que eu amo começou a me fazer sentir como

uma prisão - como uma torre. Além disso, eu sou uma Garota Gallagher: eu não poderia

ser um corvo se eu tentasse.

Zach estava certo.

Às vezes, tudo que um operatório pode fazer é correr e não olhar para trás. Às vezes,

quando você é um camaleão, tudo que você pode fazer é esconder. E é isso que vou

fazer. A partir de agora.

Eu vou deixar este relatório no Hall de História, em cima do encaixe com a espada de

Gilly, alguém vai encontrá-lo lá, eventualmente, no lugar onde tudo isso começou.

Por favor, não procure por mim. Por favor, não se preocupe. E, acima de tudo, por

favor, não pense nisso como se estivesse fugindo, mas como correndo em direção a

respostas. Em direção a respostas. Em direção a Esperança. Em direção para onde quer

que eu tenha que ir para terminar a missão do meu pai e acabar com essa coisa, de uma

vez por todas.

Zach estava certo.

Um ano atrás, ele me disse que alguém sabe o que aconteceu com meu pai. Alguém

sabe por que o círculo está me perseguindo.

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E agora... também... vou sair de fininho dessa mansão por minha conta mais uma

vez. Agora eu vou sair daqui e passar este verão tentando encontrá-los.

Eu voltarei. E quando eu o fizer, prometo que terei as respostas.

Fim

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Esta obra foi digitalizada/traduzida pela Comunidade Traduções e Digitalizações para proporcionar, de maneira totalmente gratuita, o benefício da leitura àqueles que não podem pagar, ou ler em outras línguas. Dessa forma, a venda deste e‐book ou até mesmo a sua troca é totalmente condenável em qualquer circunstância. Você pode ter em seus arquivos pessoais, mas pedimos por favor que não hospede o livro em nenhum outro lugar. Caso queira ter o livro sendo disponibilizado em arquivo

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