Upload
lamhanh
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CURSO INTENSIVO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESCOLA DE CONTAS E GESTÃO – TCE/RJ
Aline Reis Amim Leonardo Barreto Nigromonte
GESTÃO DA APRENDIZAGEM TECNOLÓGICA PARA EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇO DE LIMPEZA URBANA
Estudo de Caso da Companhia de Limpeza Urbana de Niterói/RJ - CLIN
Rio de Janeiro, RJ. 2008
GESTÃO DA APRENDIZAGEM TECNOLÓGICA PARA EMPRESA PRESTADORA
DE SERVIÇO DE LIMPEZA URBANA Estudo de Caso da Companhia de Limpeza Urbana de Niterói/RJ - CLIN
Por
Aline Reis Amim Leonardo Barreto Nigromonte
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Administração Pública, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getulio
Vargas.
Rio de Janeiro, RJ. Maio de 2008
AGRADECIMENTOS
À Deus, por ser nossa fonte renovadora de ânimo, sonhos e fé; À Família, pela paciência, cuidados, compreensão e constante incentivo;
Aos Professores, pela competência e dedicação; Aos nossos Gestores, por nos permitirem a realização deste sonho, contribuindo para a
acumulação do saber, através da nossa capacitação; Ao sucesso da parceria firmada entre estas renomadas instituições de ensino –
FGV/ECG/TCERJ, que nos possibilitou um ensino de excelência; Aos nossos queridos amigos da turma CIPAD 3, que no decorrer do curso se tornaram como
irmãos, confidentes e companheiros. Aos funcionários da CLIN pela gentil colaboração, sem a qual não seria possível a realização
do presente trabalho.
APRESENTAÇÃO
O presente estudo tomou como pressuposto uma visão contemporânea da Administração Pública, a preocupação com a conservação ambiental, que tem estado nas agendas governamentais, evidenciando assim, a importância de gerir capacidades tecnológicas inovadoras em atividades empreendidas pelo setor público, mais especificamente, atividade de limpeza urbana, alvo deste trabalho, que tem tomado importância em âmbito local, regional, nacional e até internacional, visto que os olhos do mundo estão voltados para nosso país, em saber como lidamos com nossos recursos naturais.
A princípio poderíamos nos questionar se uma empresa de economia mista, prestadora de serviço público precisa ser inovadora, ou produzir inovação e até mesmo ser competitiva. Desta forma, tal empresa prestadora de serviços de limpeza urbana, deixa de ser mais uma empresa fornecedora de serviços públicos, para ser uma empresa estratégica, principalmente quanto ao fato de seu desempenho interferir na captação de recursos públicos, na infra-estrutura municipal e na valorização da qualidade de vida dos seus habitantes.
Entender como se deu a evolução do seu conhecimento tecnológico, a maneira que executa suas atividades e o melhoramento das mesmas, ou seja, a inovação, traz benefícios não apenas in loco, mas em escala nacional.
Neste intuito, organizamos o presente trabalho em cinco capítulos, a fim de tornar prático o alcance do objetivo proposto, onde no capítulo 1, tratamos de introduzir o leitor ao objetivo do trabalho, à sua importância e à definição de termos importantes ligadas ao ramo desta pesquisa científica. No capítulo seguinte, apresentamos a metodologia aplicada, escolhida dente tantas ferramentas à disposição do pesquisador. No capítulo 3 apresentamos o arcabouço teórico que amparou nossas análises, divididos em duas seções indispensáveis à compreensão do objeto em estudo. O capítulo 4 introduz o estudo de caso, ou seja, a empresa de limpeza urbana, sua história, trajetória e desenvolve em seção específica a leitura dos resultados obtidos na aplicação da metodologia, quanto à capacidade tecnológica e ao processo de aprendizagem tecnológica. Por fim, ao apresentarmos o capítulo 5, emitimos as conclusões e sugestões para próximos estudos.
RESUMO
O objetivo deste estudo é analisar os processos de aprendizagem tecnológica no contexto de uma empresa de economia mista, prestadora de serviços de limpeza urbana, quanto à acumulação e aprendizagem de capacidade tecnológica. O primeiro, analisado sob quatro níveis de capacidade, das atividades básicas às inovadoras. Quanto ao processo de aprendizagem tecnológica verificamos quais processos de aquisição e de conversão de conhecimento contribuíram para o alcance de atividades inovadoras. Os resultados obtidos através da aplicação da métrica adaptada, entrevistas e consultas documentais da empresa, evidenciaram que a gestão do processo de acumulação de aprendizagem não se deu de forma linear, atingindo níveis inovadores em certas áreas, porém, não considerando certas dimensões da capacidade tecnológica, principalmente o componente identificado nas pessoas, dificultando a conquista de melhores resultados técnicos e operacionais.
ABSTRACT
The objective of this study is to analyze the processes of technological learning in the context of a company of mixing, rendering economy of services of urban cleanness, how much to the accumulation and learning of technological capacity. The first one, analyzed under four levels of capacity, the basic activities to the innovators. How much to the process of technological learning we verify which processes of acquisition and of knowledge conversion they had contributed for the reach of innovative activities. The results gotten through the metric application of the suitable one, interviews and documentary consultations of the company, had evidenced that the management of the process of accumulation of learning was not given of linear form, reaching innovative levels in certain areas, however, not considering certain dimensions of the technological capacity, mainly the component identified in the people, making it difficult the operational conquest of better resulted technician and.
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Descrição Métrica para Mensuração da Capacidade Tecnológica no setor de Prestação de Serviço de Limpeza Urbana.
21
Tabela 2: Processo de Aprendizagem em Empresa de Prestação de Serviço de Limpeza Urbana.
23
Tabela 3: Critérios para Avaliação dos Processos de Aprendizagem. 24
Tabela 4: Descrição da Métrica para Mensuração da Capacidade Tecnológica no setor de Prestação de Serviço de Limpeza Urbana.
33
Tabela 5: Resultado das Entrevistas 35
Tabela 6: Variedade dos Processos de Aprendizagem na CLIN. 40
Tabela 7: Intensidade dos Processos de Aprendizagem na CLIN.
41
Tabela 8: Funcionamento dos Processos de Aprendizagem na CLIN.
41
Tabela 9: Interação Entre e Dentro dos Processos de Aprendizagem na CLIN.
42
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Distritos de Limpeza Urbana da cidade de Niterói-RJ.
26
Figura 2: Foto aérea Aterro Morro do Céu.
48
Figura 3: Aterro Morro do Céu.
50
Figura 4: Impermeabilização do Aterro Morro do Céu.
50
Figura 5: Usina de Separação dos Resíduos Sólidos.
51
Figura 6: Usina de Separação dos Resíduos Sólidos.
51
Figura 7: Foto campanha conscientização de coleta seletiva.
52
Figura 8: Foto de equipamento de limpeza de praias.
52
Figura 9: Foto de recolhimento de RSU mecanizada em vias públicas.
53
Figura 10: Foto Posto de Coleta Seletiva na praia de Icaraí.
53
SUMÁRIO
1 O PROBLEMA............................................................................................................... 10 1.1 Introdução................................................................................................................... 10 1.2 Objetivo Final............................................................................................................. 13 1.3 Objetivos Intermediários............................................................................................ 13 1.4 Suposição.................................................................................................................... 13 1.5 Delimitação do estudo................................................................................................ 14 1.6 Relevância do estudo.................................................................................................. 14 1.7 Definição dos termos.................................................................................................. 15 2 METODOLOGIA........................................................................................................... 17 3 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................... 19 3.1 Capacidade Tecnológica............................................................................................. 19
3.2 Aprendizagem Tecnológica........................................................................................ 22 4 ESTUDO DE CASO....................................................................................................... 25 4.1 A Companhia de Limpeza Urbana de Niterói/RJ – CLIN......................................... 25 4.1.1 História............................................................................................................... 25 4.1.2 Projetos............................................................................................................... 27 4.1.3 Gestão de Pessoal............................................................................................... 28 5 DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE.......................................................................... 30 5.1 Análise da Capacidade Tecnológica........................................................................... 30 5.2 Análise do Processo de Aprendizagem Tecnológica.................................................. 34 5.2.1 Dos Processos de Aquisição de Conhecimento.................................................. 36 5.2.2 Dos Processos de Conversão de Conhecimento................................................. 37
5.2.3 Das Características-chaves dos Processos de Aprendizagem............................ 38
5.2.3.1 Variedade............................................................................................... 38 5.2.3.2 Intensidade............................................................................................. 40 5.2.3.3 Funcionamento....................................................................................... 41 5.2.3.4 Interação................................................................................................ 41 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES.................................................................................. 43 6.1 Conclusões.................................................................................................................. 43 6.2 Sugestões.................................................................................................................... 45 BIBLIOGRAFIA............................................................................................................ 47 ANEXOS......................................................................................................................... 49
1 O PROBLEMA 1.1 Introdução
Resíduos sólidos segundo a definição da Agência Brasileira de Normas Técnicas, (NBR 10.004:2004, apud Teixeira, 2006, p.7) são:
resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviço e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exigem, para isso, soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2000) diariamente são coletados no Brasil 125.281 toneladas de resíduos sólidos
urbanos - RSU's, vulgarmente chamados de lixos. De acordo com a Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico – PNSB (IBGE, 2000, p.49, 50), no final da década de 80 apenas
10,7% dos municípios brasileiros destinavam adequadamente seus resíduos sólidos,
depositando-os em aterros sanitários ou controlados. Após uma década, este percentual
evoluiu para 32%, no entanto, ainda 63% são depositados a céu aberto, nos chamados
lixões ou vazadouros. As Unidades de Destinação do Lixo - UDL apresentaram resultados
mais favoráveis, em grande parte, devido a investimentos da iniciativa privada, destinando
em aterros sanitários e controlados mais de 69% dos resíduos coletados.
Pesquisa publicada pela Associação Brasileira de Empresas Públicas e
Resíduos Especiais1 - ABRELPE (2005), aponta que nos últimos dez anos não havia sido
instalado nenhum aterro sanitário de porte com recursos públicos no Brasil, sendo que os
de Nova Iguaçu/RJ e Salvador/BA são concessões com recursos da iniciativa privada e a
comercialização de crédito de carbono em aterros sanitários era realidade, nesta época, em
apenas três empreendimentos, sendo dois destes citados acima.
Recentemente, em 2007, a ABRELPE divulgou na internet o relatório anual
Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2007, onde afirma que a concessão de serviços à
iniciativa privada é uma tendência consolidada evidenciada pela abertura de importantes
concorrências em andamento no final daquele ano, em municípios de porte como Curitiba
e Belo Horizonte. Ainda registrou casos de Parcerias Público-Privada - PPP nas cidades de
Osasco/SP e na região metropolitana de São Paulo.
A responsabilidade pela preservação ambiental, oferta de saneamento básico e
combate à poluição estão previstos constitucionalmente, cabendo a cada município legislar
sobre a organização e sobre os interesses do serviço público nessa área, desta forma,
identificamos uma enorme carência em investimentos e em desenvolvimento tecnológico
neste setor. Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2005, p. 49), as
instalações do sistema de água e esgoto, drenagem, barreiras e afins, são permanentes, ou
seja, seus custos operacionais são mais fáceis de serem mantidos, diferente do sistema de
limpeza urbana, fomentado basicamente pela prestação de serviço, que o torna mais frágil
diante da sazonalidade da gestão pública. Uma saída encontrada pela Administração
Pública foi a contratação ou parcerias, firmadas com empresas privadas atuantes neste
setor, de forma a atender a demanda e baratear os altos custos dos serviços de coleta,
tratamento e destinação dos RSU's.
1 ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas Públicas e Resíduos Especiais – Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, 5ª edição.
Em obediência ao comando constitucional, o Município de Niterói/RJ editou o
Código Municipal de Limpeza - Lei Municipal nº 1.212/1993, estabelecendo regras de
organização e sobre os interesses do serviço público na área de limpeza urbana.
Recentemente, a Lei Federal nº 11.445/2007 estabeleceu as diretrizes nacionais
para o saneamento básico e para a política federal de saneamento básico. Considera-se
saneamento básico o conjunto de serviços, dentre outros, de infra-estruturas e instalações
operacionais de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades,
infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e
destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e
vias públicas.
Este estudo se limitou a analisar uma empresa de economia mista de tratamento
de RSU's fomentada pela municipalidade através de repasses orçamentários, mesmo que,
para execução de seus objetivos, a empresa firme contratos com prestadoras de serviço
terceirizado para a execução de atividades concorrentes de limpeza urbana, que será
apresentada adequadamente em seção específica do capítulo 4 deste estudo.
A partir de modelos analíticos recentemente desenvolvidos na literatura
nacional e internacional, analisamos empiricamente os mecanismos de aprendizagem
tecnológica nesta empresa que foram convertidos em conhecimentos organizacionais,
contribuindo para a melhoria de sua performance técnico-operacional a ponto de gerar
ações e prestação de serviços inovadoras.
Desta forma, o presente estudo se propôs a analisar a seguinte questão: quais os
processos de aprendizagem tecnológica na Companhia de Limpeza Urbana - CLIN foram
convertidos em capacidades tecnológicas inovadoras?
Buscamos na literatura estudos empíricos existentes, modelos analíticos que
examinam os processos de aprendizagem e sua trajetória na acumulação de capacidades
tecnológicas e, aplicando tais estudos ao período de 1989 a 2008 na CLIN, e finalmente
apresentamos conclusões e recomendações.
1.2 Objetivo Final
O objetivo final é identificar os processos de aprendizagem tecnológica na
Companhia de Limpeza Urbana de Niterói- CLIN convertidos em capacidades
tecnológicas inovadoras.
1.3 Objetivos Intermediários
Como meio para respondermos o objetivo proposto deste estudo, analisamos as
seguintes questões, exploradas no desenvolvimento deste trabalho:
• Analisar o processos de aprendizagem tecnológica divididos em processos de aquisição
e de conversão de conhecimentos, subdivididos em aquisição interna e externa de
conhecimentos e processos de socialização e de codificação de conhecimentos;
• Analisar a trajetória de acumulação de capacidades tecnológicas quanto ao modo e
velocidade.
1.4 Suposições
Presumimos que, não obstante alguns resultados positivos e inovadores do
esforço da CLIN em atender a demanda dos serviços de limpeza urbana, o processo de
acumulação de competência e de aprendizagem tecnológica se deu de forma não linear,
menosprezando certas dimensões da capacidade tecnológica, implicando diretamente na
estagnação e impedindo inúmeras soluções inovadoras na prestação de seus serviços.
1.5 Delimitação do Estudo
Este estudo se propôs a identificar e medir como se deu a acumulação de
conhecimento na CLIN desde sua criação, avaliando suas principais atividades, quais
sejam: recolhimento, destino e tratamento dos resíduos sólidos urbanos, bem como
algumas atividades de apoio que fomentam a organização, tais como: equipamentos,
certificação ambiental e estrutura hierárquica, identificando e comparando resultados
operacionais e técnicos. Algumas atividades terceirizadas, financeiras, contábeis, RH, entre
outras, apesar de poderem ser classificadas enquanto atividades de apoio do Sistema
Organizacional, não foram contempladas neste estudo.
1.6 Relevância do Estudo
Este modelo possibilitou identificar e analisar a forma como a ora em estudo
interagiu dentro e fora da organização, a qualidade dos processos de aprendizagem, se
apenas usou a capacidade tecnológica existente ou se evoluiu para o desenvolvimento de
novas capacidades. Ainda permitiu a identificação dos seus pontos fortes estrategicamente,
ou se fortalecer onde ainda não alcançou grau desejado de inter-relação para se projetar no
mercado, atender às necessidades da crescente população e a expectativa de seu
fomentador, minimizando incertezas de sua capacidade de fornecer ao mercado suas
demandas, pois este modelo detalha, de certa forma, a “saúde” da empresa, nos pontos
onde é mais vital, ou seja, no interior da organização.
A análise do processo de acumulação de competência tecnológica na CLIN é
relevante pelo fato de que seus resultados apontaram, de maneira objetiva, as áreas em que
avançou em inovação e as áreas deficientes que poderão continuar impedindo a
maximização de suas atividades e principalmente impedindo o cumprimento de sua razão
de existência.
Por se tratar de Administração Pública, implica também na observância de seus
Princípios Fundamentais, quais sejam: Legalidade, Economicidade, Eficiência, Eficácia e
Efetividade, que devem nortear a gestão pública. Não obstante a estes princípios basilares,
uma das maiores críticas que se faz à Administração Pública é o fato da “descontinuidade”,
ou seja, o conhecimento adquirido pelos servidores no exercício de determinada atividade,
por vezes é levando consigo quando exonerados ou dispensados dos seus cargos e a
Administração Pública tem de adquirir todo o conhecimento partindo novamente do ponto
inicial.
Sendo assim, este estudo auxilia o Administrador/Gestor primeiramente
conscientizando-o da evolução tecnológica ocorrida desde a criação deste órgão público,
depois, valorizando os esforços empreendidos por todos, e por fim, orientando-o a
fortalecer estrategicamente as áreas que necessitam de reforço, podendo ser aplicado este
modelo em empresas e órgãos públicos nas mais variadas atividades.
1.7 Definição dos Termos
Foram definidos os termos relevantes ao estudo tomando como base os
significados apresentados na literatura existente, mais precisamente na bibliografia de
Paulo Negreiros Figueiredo2, visto que o referido autor apresenta um extenso apanhado das
definições apresentadas em literaturas consagradas, abrangendo e consolidando estudos
sobre empresas de tecnologia de fronteira e empresas de países emergentes.
2 Professor do quadro permanente da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EBAPE/FGV). Ph.D. em Gestão da Tecnologia e Inovação pelo SRU – Science
and Technology Policy Research, University of Sussex, Reino Unido. Criador e pesquisador-chefe do Programa de Pesquisa Gestão da Aprendizagem Tecnológica e Inovação Industrial no Brasil, da EBAPE/FGV. Autor de diversos livros e periódicos internacionais, dos quais selecionamos alguns como fonte de pesquisa bibliográfica apresentados em seção específica.
• Tecnologia: vulgarmente, o termo tecnologia é utilizado referindo-se a
equipamentos, softwares, ou seja, a sistemas físicos. No entanto, adotamos o sentido
explicitado na referida bibliografia, onde define este termo como um conjunto de
“conhecimento acumulado específico à organização”, impregnado nas pessoas, no
sistema físico, na organização e nos produtos ou serviços. Estes quatros componentes
são armazenados, de maneira difusa, incorporando-se às pessoas e aos sistemas
organizacionais de propriedade tácita ou codificada.
• Inovação: capacidade de conhecimento que permite copiar, imitar, alterar, adaptar
e também criar novas tecnologias.
• Aprendizagem: “Processo que permite à empresa acumular capacidade tecnológica
ao longo do tempo”. (FIGUEIREDO, 2004, p. 328)
2 METODOLOGIA Para equacionarmos a questão proposta no capítulo anterior para este estudo
de caso da Companhia de Limpeza Urbana de Niterói, utilizamos as tipologias
desenvolvidas por Figueiredo (2003, 2004) para identificar e medir os tipos e níveis de
capacidades tecnológicas acumuladas na empresa e para avaliar os processos e
mecanismos por meio dos quais aquelas capacidades tecnológicas foram acumuladas,
mantidas, renovadas e aperfeiçoadas (Vieira & Zouain, 2004, p. 203).
Quanto à capacidade tecnológica, inicialmente definimos as funções da
empresa que seriam investigadas com base no modelo acima citado, e à partir deste
levantamento, identificamos os tipos e níveis de capacidades tecnológicas para o caso,
convencionando capacidades básicas de rotina e renovado, em nível 1 e 2,
respectivamente, e capacidades inovadoras intermediário e fronteira, em nível 3 e 4,
respectivamente, classificando as funções de produto/processo e sistema organizacional da
empresa nestes níveis, juntamente com a informação dos anos decorridos para o
atingimento efetivo daquele nível de capacidade tecnológica. Em seguida, apresentamos o
modelo à apreciação de um funcionário (Diretor de Destinação Final) para teste e
validação do critério. Foram feitos os ajustes necessárias sugeridas quanto aos níveis e
posteriormente percebemos a necessidade de alterações quanto a algumas funções de
Apoio Organizacional que foram reescritas, acrescentadas e suprimidas ao modelo inicial
durante a execução do estudo.
Quanto ao levantamento do processo de aprendizagem, elencamos inúmeros
mecanismos que foram identificados num primeiro momento, outros que foram
acrescentados no decorrer do desenvolvimento do trabalho, e outros que foram eliminados
num segundo momento. Tomamos por base a literatura existente, o conhecimento empírico
dos pesquisadores e sugestões dos entrevistados. Nesta etapa, encontramos a maior
dificuldade, pois demandou inúmeros ajustes, testes e validações, resultando finalmente na
tabela apresentada em capítulo específico adiante.
A escolha das fontes oriundas do estudo de caso isolado escolhido (a CLIN)
foi criteriosa, tendo em vista que as informações solicitadas requeriam conhecimentos nas
diversas áreas administrativas e operacionais de toda a empresa de um período
relativamente extenso, ou seja, desde a sua criação até o período atual - um total de 19
anos. Definimos inicialmente o grupo a ser entrevistado, constituído basicamente de
Superintendente, Diretores e Chefes de Divisão, com significativo tempo de serviço
prestado à empresa. Desta forma realizamos entrevista pautada com o Diretor Jurídico e
Recursos Humanos, ocupante do cargo há 2 anos, e entrevista aberta com o Superintende
de Operações, há 9 anos na empresa. Este último possui uma trajetória interessante e
valiosa para nossa análise, atuando como Engenheiro Responsável Técnico e Operacional
do Aterro Controlado Morro do Céu, passando a Superintendente de Operações
(hierarquicamente acima dos cargos de diretoria) e sendo finalmente promovido durante a
execução de nossa pesquisa a Presidente da CLIN.
Ao desenvolvermos este trabalho percebemos a necessidade de
entrevistarmos mais elementos para reforçarmos as constatações inicialmente identificadas,
de forma que acrescentamos entrevistas pautadas com os seguintes funcionários: Diretor de
Destinação Final dos RSU’s (há10 anos na empresa), Chefe de Divisão de RH (há15 anos
na empresa), e Chefe da Divisão de Saúde e Segurança do Trabalho (há10 anos na
empresa).
Assim, foi possível utilizar evidências qualitativas e quantitativas alinhando
os dados, eliminando distorções e finalmente agrupando-os, resultando em informações
relevantes, as quais desenvolvemos em capítulos pertinentes e que nos levaram às
conclusões pretendidas nesta pesquisa.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Dividimos este capítulo em duas seções objetivando oferecer maior
consistência à investigação e contextualização da proposta em questão.
Observamos nas obras de Figueiredo3 uma extensa revisão bibliográfica da
literatura existente sobre a trajetória de acumulação de competência tecnológica e os
processos de aprendizagem em empresas de tecnologia de fronteira e empresas de países
emergentes. Figueiredo (2003; p. 31) conclui que tais pesquisas concentram-se em analisar
a acumulação de competências tecnológicas em economias emergentes, deixando de
“explicar o ‘modo’, ‘com que rapidez’, e ‘por que’ tais competências se desenvolveram e
acumularam ao longo do tempo”, conseqüentemente, refletindo no desempenho
operacional da empresa.
3.1 Capacidade tecnológica
Desta maneira, utilizamos as definições aplicadas e desenvolvidas por
Figueiredo4, onde, Competência Tecnológica ou Capacidade Tecnológica são recursos
3 FIGUEIREDO, 2004, 2005, 2006; TACLA e FIGUEIREDO, 2003. 4
Ibdem.
encontrados também nos indivíduos - aptidões, experiências e conhecimentos acumulados
nas organizações, indispensáveis para gerar e gerir mudanças tecnológicas, portanto, uma
parte delas pode ser encontrada formalmente na organização, e uma outra parte informal,
está incorporada aos indivíduos, o que caracteriza sua “natureza difusa” (FIGUEIREDO,
2003, 2005).
Segundo Figueiredo (2005, p. 56, 57) a capacidade tecnológica não está contida
somente nos equipamentos, máquinas, software, enfim, nos sistemas de informação
(sistema técnico físico), como vulgarmente é pensado, mas também em outras dimensões
como: nas pessoas, em suas mentes, através de suas experiências acumuladas, seus
talentos, formações profissionais; na organização, por meio das rotinas, procedimentos,
estratégias gerenciais; e no produto ou serviço, ou seja, são quatro as dimensões onde
encontramos competências tecnológicas nas empresas – sistemas técnicos físicos,
conhecimento e qualificação das pessoas, sistema organizacional e produtos e serviços.
Desta forma, estes componentes se interagem de maneira implícita, espalhada e
abrangente, logo, seguiremos os argumentos apresentados na literatura de Figueiredo5
tratando como sinônimos, capacidade tecnológica e capacidade organizacional.
Figueiredo (2003) ressaltou as limitações dos indicadores convencionais para
medir a capacidade tecnológica inovadora nas empresas brasileiras, dados que estes
levavam em consideração basicamente as atividades de pesquisas e desenvolvimentos
(P&D) e patentes. Esses critérios se mostraram irrelevantes, tendenciosos e pouco
abrangentes, ficando constatado que atividades tecnológicas inovadoras são encontradas
em todo tecido organizacional, ou seja, em todos os setores e departamentos da empresa,
não podendo limitá-las a apenas uma área, ou compará-las a sistemas econômicos
totalmente díspares de países em desenvolvimento. Bem como, a conscientização de que
atividades de adaptação, experimentação, aprimoramento, cópia e imitação do produto ou
serviço são experiências valiosas e válidas para a evolução do processo produtivo até
alcançar graus de inovações complexas. Esta afirmação foi corroborada por pesquisas
desenvolvidas por Figueiredo (2003, p. 219) que constataram “que competência acumulada
5
Ibdem.
na operação e no aprimoramento das instalações originais contribui para a rápida absorção
da capacidade projetada e para a melhoria das novas instalações”, demonstrando a
capacidade de absorção e incorporação da tecnologia para o tecido organizacional.
Tabela 1: Descrição Métrica para Mensuração da Capacidade Tecnológica no setor de Prestação de Serviço de Limpeza Urbana
Companhia de Limpeza Urbana de Niterói - CLIN
Funções Tecnológicas e Atividades Relacionadas Produto/Processo Sistema Organizacional Níveis de
Capacidade Tecnológica
Recolhimento Destino Tratamento Atividade de Apoio
Periodicidade Equipamentos de Coleta Básicos Nível 1 (Básico) Abrangência
Vazadouro - "Lixão" Área de Destinação Específica Catadores de lixo Independente
Equipamentos de coleta modernizados
Padronização de Rotinas Operacionais Periodicidade
reduzida Aterro Controlado Captação do "Chorume"
Terceirização da Coleta
Sistema de Controle de Frotas Abrangência ampliada
Nível 2 (Renovado)
Roteiro de Fiscalização
Usina de Reciclagem -Separação Mecânica
Usinagem (queima de resíduos hospitalares) Sistema Administrativo-Operacional Descentralizado
CAPACIDADE INOVADORA
Aterro Sanitário Tratamento do "Chorume" Equipamentos Adaptados
Sistema de Informação Digitalizado
Codificação de Rotinas Administrativas
Desenvolvimento de Projetos
Implantação de Programa de Segurança do Trabalho
Nível 3 (Intermediário)
Sistema de Redundância Aproveitamento do Gás Metano -
crédito de carbono Recobrimento Diário dos RSU
Catadores de Lixo Organizados em Cooperativas - ONGs
Certificação da Empresa - Selo Verde
Certificação de Processos - ISO 9001
P & D
Equipamentos Sofisticados
Nível 4 (Inovação) Fronteira
Rotina de Coleta Seletiva dos
RSU’s
Lixo Zero – reaproveitamento total dos RSU’s
Lixo Zero – reaproveitamento total dos RSU’
Utilização de Acessórios na coleta
Fontes: Figueiredo (2003) e Ariffin & Figueiredo (2003); adaptado para o estudo de caso.
A Tabela 1 apresenta a métrica adaptada para o presente estudo utilizada para a
mensuração da capacidade tecnológica da CLIN, com base nos modelos apresentados por
Figueiredo (2003) e Ariffin & Figueiredo (2003) e nas aplicações empíricas das atividades
desenvolvidas e incrementadas ao longo do tempo na empresa, distinguindo capacidades
rotineiras e capacidades inovadoras, ou seja, capacidade para usar ou operar e capacidade para
adaptar ou desenvolver novos processos em varias áreas da organização, bem como a
velocidade dessa evolução que estão definidas dentro de níveis crescentes, dos mais simples –
nível 1, aos mais complexos, chamado nível de fronteira ou avançado – nível 4. Foram
definidas também as funções tecnológicas específicas e relevantes, avaliadas naqueles níveis
de profundidade de capacidade tecnológica.
3.2 Aprendizagem Tecnológica
A “conversão do saber individual em saber organizacional” influencia
decisivamente na capacitação da empresa em desenvolver competências tecnológicas,
segundo constatado por Figueiredo (2003; p 33), e a análise do funcionamento do processo de
aprendizagem ao longo do tempo, como se deu a criação e implementação, bem como as
conseqüências das trajetórias trilhadas pelas empresas durante a acumulação de competências
tecnológicas, são questões pouco estudas nas literaturas sobre empresas de tecnologia de
fronteira e nas literaturas sobre empresas de países emergentes.
Segundo Figueiredo (2003b, p. 102 e 103) este termo é definido em dois sentidos:
o primeiro refere-se ao caminho pelo qual a capacidade tecnológica vai se acumulando, sendo
este em diferentes direções e velocidades díspares. No entanto, diante do foco pretendido à
pesquisa, que visa identificar as tecnologias convertidas para o tecido organizacional,
adotaremos o segundo sentido, cuja definição refere-se aos “vários processos pelos quais
conhecimentos técnicos e implícitos dos indivíduos são transformados em sistemas físicos,
processos de produção, procedimentos, rotinas e produtos e serviços na organização” (Id.,
2004, p. 328).
Os processos de aprendizagem tecnológica estão definidos em quatro processos:
(1) aquisição externa – importação de conhecimento, ou seja, indivíduos adquirem
conhecimento tácito ou codificado fora da empresa, por meio de cursos, treinamentos, etc.; (2)
aquisição interna – aquisição de conhecimento tácito executando atividades dentro da
empresa, em rotinas, experimentação, melhorias, pesquisas, etc; (3) socialização do
conhecimento – conhecimento tácito compartilhado de maneira formal ou informal; e (4)
codificação do conhecimento – transformação do conhecimento tácito, ou parte dele em
conceitos explícitos, tornando-o acessível, organizado e de fácil compreensão, facilitando a
disseminação por toda a empresa.
O modelo aplicado em Figueiredo (2004) faz uma relação destes componentes
com características-chaves do processo de aprendizagem, as quais, variedade, intensidade,
funcionamento e intensidade estão discriminados nas linhas da Tabela 2, de forma que
adaptamos o modelo de análise para o caso da CLIN para verificarmos empiricamente os
processos de aprendizagem.
Tabela 2: Processo de Aprendizagem em Empresa de Prestação de Serviço de Limpeza Urbana
Companhia de Limpeza Urbana de Niterói - CLIN
Características-chaves dos processos de aprendizagem
Variedade Intensidade Funcionamento Interação Processo de
Aprendizagem Ausente - Presente
Limitada - Moderada -
Diversa
Baixa - Intermitente - Contínua
Ruim - Moderado -Bom Fraca - Moderada - Forte
Aquisição Externa de Conhecime
nto
Presença/ausência de processos para
adquirir conhecimento
localmente ou no exterior.
Modo como a empresa usa este
processo ao longo do tempo.
Modo como o processo foi criado e modo como ele opera ao longo do
tempo.
Modo como um processo influencia outro processo de aquisição externa ou
interna. P
rocesso de Aquisição de
Conhecim
ento Aquisição Interna de Conhecime
nto
Presença/ausência de processos para
adquirir conhecimento em atividades internas
(de rotina ou inovadoras).
Modo como a empresa usa
diferentes processos para aquisição
interna de conhecimento.
Modo como o processo foi criado e opera ao longo do
tempo; tem implicações para
variedade e intensidade.
Processo de conhecimento interno
pode ser influenciado por processo de aquisição
externa.
Socialização de
Conhecimento
Presença/ausência de diferentes processos por meio dos quais
indivíduos compartilham seu
conhecimento tácito.
Modo como processos
prosseguem ao longo dos anos.
Intensidade contínua do processo de
socialização pode influenciar
codificação de conhecimento.
Modo como mecanismos de socialização são
criados e operam ao longo do tempo. Tem implicações
para a variedade e a intensidade do processo de conversão.
Condução de diferentes conhecimentos tácitos
para um sistema efetivo. Socialização pode ser
influenciada por processos de aquisição
externa e interna.
Processo de C
onversão de C
onhecimento
Codificação de
Conhecimento
Presença/ausência de diferentes
processos para formatar o
conhecimento tácito.
Modo como processos, como padronizações de
operações são repetidamente feitos.
Codificação ausente/intermitente
pode limitar a aprendizagem organizacional.
Modo como a codificação do
conhecimento foi criada e opera ao longo do tempo. Tem implicações
para o funcionamento de
todo o processo de conversão.
Modo como a codificação de conhecimento foi
influenciada por processos de aquisição
ou por processo de socialização.
Fontes: Figueiredo (2003b; p. 350) e adaptado para o estudo de caso. Como critérios para avaliação dos processos de aprendizagem, utilizamos o
modelo desenvolvido em Tacla e Figueiredo (2003) adaptado ao caso em estudo, conforme
Tabela 3.
Tabela 3: Critérios para Avaliação dos Processos de Aprendizagem
Características-chaves Critérios e classificação
Ausente n = 0
Limitada n ≤ 50%
Moderada 50% < n < 100% Variedade
Diversa n = 100% Utilização do processo ou mecanismo de forma contínua ou, dependendo da sua natureza, em diversas ocasiões durante o período de tempo examinado.
Contínua
Utilização do processo ou mecanismo de forma descontínua ou intermitente durante o período de tempo examinado.
Intermitente
Intensidade
Utilização do processo ou mecanismo em uma única oportunidade ou por um curto período de tempo examinado
Baixa
Ruim
Moderado
Funcionamento A classificação do funcionamento foi feita levando-se em conta: (1) as informações, comentários e pontos de vista dos entrevistados sobre o funcionamento dos processos de aprendizagem utilizados pela empresa ao longo dos anos; e (2) o exame detalhado das evidências empíricas coletas nos diferentes períodos de tempo (ex., critérios utilizados pela empresa para selecionar participantes de treinamentos externos).
Bom
A interação pode ocorrer entre processos ou dentro dos processos. A interação entre processos se dá entre mecanismos de diferentes processos de aprendizagem (ex., a contratação de especialistas - aquisição externa, e a elaboração de especificações de materiais e sistemas - codificação). A interação dentro dos processos ocorre quando os mecanismos que interagem fazem parte de um mesmo processo (ex., entre dois processos de aquisição interna, como P&D e treinamento interno). Para classificar as interações em determinado período, o número de interações observadas foi dividido pelo número total de mecanismos de aprendizagem encontrados no período examinado.
Número de interações entre mecanismos/ número total de mecanismos utilizados no período.
Interação
n < 50% Fraca
50% < n < 100% Moderada
Interação
n =100% Forte Fontes: Tacla & Figueiredo (2003, p. 110); e adaptado para o presente estudo.
4 O ESTUDO DE CASO
4.1 A Companhia Municipal de Limpeza Urbana de Niterói/RJ – CLIN
4.1.1 História
Antes da CLIN ter sido criada por lei, nos moldes atuais, os serviços públicos de
limpeza urbana eram realizados pela Administração Direta, através de departamento
específico vinculado à antiga estrutura da Secretaria Municipal de Serviços Públicos – SSP.
Atualmente a empresa é constituída na forma de Sociedade de Economia Mista,
subordinada à Prefeitura de Niterói/RJ, foi criada em 1989, através da Lei Ordinária
Municipal Autorizativa nº 744/89, objetivando dispor de maior autonomia e, com isso, prestar
serviços que atendam toda a população de maneira ordenada, regular e eficaz. A empresa é
responsável pela limpeza urbana, fiscalização e destinação final dos resíduos sólidos
produzidos no município de Niterói. O início de suas atividades se deu com a transferência de
tecnologia oriunda da Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro – COMLURB.
Importante destacar que a atuação da CLIN contribuiu sobremaneira na
classificação do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal em primeiro lugar no ranking
Estadual (entre 91 municípios) e em terceiro lugar no ranking Regional (entre 1.666
municípios) e Nacional (entre 5.507 municípios), conforme dados extraídos do IDH-M6.
Ainda, segundo essa mesma fonte, 84,11% de pessoas viviam em domicílios urbanos com
coleta de lixo no ano de 1991, passando para 98,92% após nove anos.
6 Atlas Índice Desenvolvimento Humano 2000 – PNUD. Acessado em <www.pnud.org.br >, em 24/05/08.
Além dos serviços executados pela sede e aterro, as atividades são executadas em
doze distritos do município, chamados de Distritos de Limpeza Urbana - DLU, que funcionam
como postos avançados de prestação de serviço junto à comunidade, conforme visualizado na
Figura 1.
Na cidade, são recolhidos diariamente 450 a 500 toneladas de resíduos
domiciliares, destes, aproximadamente 4% são reciclados. No total, são em média 800
toneladas de resíduos recolhidos por dia. Os RSU recicláveis vão direto para a sede, onde são
separados e vendidos para empresas que comercializam este tipo de produto. O restante do
material é destinado ao Aterro Controlado Morro do Céu - ACMC, localizado no bairro
Caramujo, tem cerca de 200 mil m2, e fica a 10 km da sede. Neste local, são pesados e
destinados, de acordo com suas características – aterrados, para resíduos domiciliares ou
incinerados, para resíduos hospitalares.
Figura 1: Distritos de Limpeza Urbana da cidade de Niterói-RJ.
Fonte: Arquivos CLIN.
O ACMC atualmente encontra-se no início da fase de encerramento. O projeto de
estruturação local inclui o plantio de mudas nativas de mata atlântica, produzidas na própria
Sede da Companhia.
Importante registrar que durante pesquisa de campo, verificamos que a CLIN deu
início em 2007 ao certame licitatório para Concessão Pública de Obras e Serviços Públicos,
objetivando o encerramento do ACMC e instalação de novo Aterro Sanitário, em área
contígua ao atual aterro, realizando, inclusive, a aquisição e/ou desapropriação dos imóveis da
região.
4.1.2 Projetos
Constatamos o desenvolvimento de projetos sociais a partir do ano de 1991, tais
como o “Sábado é Dia de Faxina” que consistia num mutirão nas comunidades menos
favorecidas e “Gari Comunitário”, uma parceria entre a empresa e associações de moradores
quando foram firmados convênios para a contratação de mão-de-obra local, possibilitando a
inserção da empresa em áreas de risco de difícil acesso ao poder público em regra.
Outros projetos sociais e técnicos são desenvolvidos atualmente em sua sede,
objetivando a preservação do ecossistema e a interação entre empresa e comunidade, dentre
os quais destacamos: Projeto de Coleta Seletiva, Educação Ambiental, Oficina de
Aprendizagem e Viveiro de Mudas.
São entregues gratuitamente pela Companhia e repostos regularmente, sacos de
lixo reciclado de 100 litros. O programa de coleta diferenciada, Reciclin, dispõe de uma
oficina de aprendizagem, onde 24 estudantes da Rede Pública de Ensino aprendem
jardinagem e como transformar "lixo" em arte. Todos ganham uma bolsa auxílio de R$ 80,00
(oitenta reais) durante os seis meses de curso. O Reciclin ganhou vários prêmios e participa
com seus alunos de eventos organizados pela prefeitura.
A CLIN iniciou, em 2005, o Programa de Ecopontos (chamados de Ecoclin), trata-
se de postos de recebimento de materiais recicláveis no Largo da Batalha e Icaraí. Com essas
inaugurações, um dos objetivos do Ecoclin é criar um novo canal de participação dos
contribuintes na coleta seletiva. Além disso, é uma alternativa mais eficiente e reduz os custos
do serviço em relação ao sistema de recolhimento porta a porta, que recolhe cerca de 130
toneladas de resíduos por mês.
Outro objetivo do Ecoclin é permitir a expansão da coleta seletiva no município
de Niterói. Desta forma, o contribuinte dispõe de um local bastante funcional para o qual
poderá levar o resíduo reciclável gerado em sua residência, loja ou escritório, contribuindo
assim com o exercício da cidadania e a preservação do meio ambiente.
A CLIN criou o Selo Verde, em parceria com a Secretaria Municipal de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos e a Associação de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi).
Trata-se de uma certificação para normatizar a coleta dos resíduos da construção civil, de
modo que os geradores sejam responsáveis pelos resíduos que produzem. As primeiras obras
foram certificadas em outubro de 2005 e desde então 13 construtoras e aproximadamente 100
obras já aderiram ao Selo Verde. A ação já resultou numa diminuição mensal de um volume
da ordem de 4.000 toneladas.
Em 2004 o recolhimento de RSU chegou a 341 mil toneladas, passando para 351
mil toneladas no ano seguinte, um aumento de cerca de 3 % (três por cento). O sucesso do
Selo Verde se confirmou em 2006, quando o total de recolhimento de resíduos sólidos caiu
14% (quatorze por cento) em relação ao ano anterior, num total de 302 mil toneladas. Os
resíduos da construção civil, antes considerados resíduos, passaram a ser utilizados como
matéria-prima para o recobrimento do aterro.
O objetivo do Selo Verde é dar destinação adequada aos resíduos gerados pela
atividade da construção civil, através da separação no próprio canteiro de obra, permitindo
que parte do material coletado seja reaproveitado, utilizando estes resíduos como insumo para
o aterro, ou seja, para a destinação final dos RSU’s. O Projeto de Gerenciamento dos
Resíduos da Construção Civil atende às determinações da Resolução Conama nº 307, de 5 de
julho de 2002.
4.1.3 Gestão de Pessoal
O quadro de pessoal da CLIN é composto por aproximadamente 2.750
funcionários, destes 2.200 têm vínculo celetista, tendo ingressado mediante concurso público,
em sua maioria garis atuando na atividade finalística da empresa. Os demais ocupam cargos
em comissão, de livre nomeação e exoneração, lotados em postos de diretoria, chefia e
assessoramento, bem como no desempenho das funções administrativas em geral.
No decorrer da realização do presente estudo, constatamos grande preocupação
social por parte da empresa em relação aos seus funcionários. Elencamos abaixo diversos
programas em funcionamento, voltados para o bem-estar e capacitação do quadro de
funcionários:
Na área de Segurança do Trabalho:
• PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (Convênio com o SESI);
• Programa de Prevenção DST – AIDS (Parceria com a Fundação Municipal de Saúde);
• Programa de Ginástica Laboral;
• Capacitação Permanente na Condução em Acidentes de Trabalho;
• Curso de Zoonoses e Animais Peçonhentos (Parceria com a Fundação Municipal de Saúde
e Instituto Vital Brasil)
Na área de Serviço Social:
• Atendimento para necessidades especiais aos filhos dos funcionários (Convênio com a
Fundação Pestalozi);
• Bolsa auxílio para os filhos de funcionários portadores de necessidades especiais;
• Projeto Educlin – 1º segmento e 2º segmento - alfabetização à 4ª série e 5ª à 8ª séries –
curso ministrado aos funcionários, durante horário de trabalho (Convênio com o SESI);
• Programa Jovem Aprendiz – bolsa auxílio de meio salário mínimo vigente (Programa
Federal) além de vale – alimentação e vale – transporte (com contrapartida da CLIN);
• Oficina de Aprendizagem – bolsa auxílio de R$ 80,00 (oitenta reais) para estudantes da
rede pública de ensino, residentes em comunidades carentes, 2 turnos de meio expediente
– capacitação em jardinagem e artesanato em recicláveis.
5. DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE
Após definirmos a métrica específica para capacidade tecnológica, adaptada e
validada ao presente caso, definimos quanto ao tipo as seguintes funções: Produto/Processo e
Sistemas Organizacionais. Quanto à primeira, examinamos as funções: Recolhimento, Destino
e Tratamento. Quanto à segunda, analisamos as Atividades de Apoio sob seus vários aspectos.
A capacidade tecnológica ficou então convencionada em quatro níveis: níveis 1 e
2 representam capacidades de rotina, básico e renovado, respectivamente. Os níveis 3 e 4
representam capacidades inovadoras, sendo que o último refere-se a fronteira tecnológica
naquele campo de atividade. Ressaltamos que a distinção de um nível para o outro em alguns
momentos apresentou um desafio à parte, tendo em vista a tênue linha divisória entre os
mesmos.
Agrupamos às informações apresentadas na Tabela 4, dados acerca do tempo que
a empresa, ora em análise, demandou para acumular aquela capacidade, transpondo para outro
nível, conforme registros da empresa e levantamento em entrevistas.
5.1 Capacidade Tecnológica
Destacamos do período inicial de operação, que a CLIN executava suas atividades
numa escala mínima de complexidade, enquadrando-se no Nível 1 (Básico), quanto a
recolhimento, destinação e tratamento, bem como nas atividades de apoio.
A periodicidade da coleta era muito restrita, com abrangência territorial muito
reduzida, focando apenas nos bairros centro e zona sul da cidade; a destinação era realizada
através de um sistema rudimentar, que se limitava a depositar a “céu aberto” os RSU,
desencadeando graves problemas de saúde pública, sem tratamento adequado do chorume;
eram utilizados equipamentos de coleta básicos, como caminhões basculantes que não usavam
tela de proteção para impedir que os resíduos caíssem no decorrer do trajeto, os funcionários
não utilizavam equipamentos de proteção individual – EPI’s; os catadores de “lixo” recolhiam
materiais recicláveis em meio aos operadores de máquina, oferecendo altos riscos de
acidentes e se expondo a contaminação prejudicial à saúde.
Após três anos de operação a empresa passou ao Nível 2 (Renovado), recolhendo
em dias alternados os RSU’s, em alguns locais o recolhimento era realizado diariamente, ou
até mais de uma vez ao dia; em cinco anos, todos os bairros da cidades já estavam sendo
atendidos, sendo implantado um roteiro de fiscalização do serviço de coleta em toda área
urbana; em dez anos de operação, a destinação passou por um processo de aprimoramento,
sendo transformado o antigo vazadouro em aterro controlado – caracterizado pelo
recobrimento semanal dos RSU’s, bem como a implantação de rede capilarizada de chorume,
que era transportado em caminhões tanque até a estação de tratamento de esgoto; em doze
anos os resíduos hospitalares receberam tratamento adequado através de usinagem, isto é,
queima.
No final da década de 1990, foi promovido o primeiro concurso público com
contratação de pessoal com vínculo celetista. Anteriormente, o quadro de pessoal era
composto por cargos em comissão, servidores cedidos de outros órgãos e funcionários
contratados temporariamente.
Com quinze anos de atividade, foi instalada uma usina de reciclagem, separação
mecânica, secagem, trituração e pesagem, fato este, de grande importância na trajetória da
CLIN, pois os serviços prestados pela usina têm reconhecimento a nível nacional pela
inclusão social, possibilitando a organização dos catadores de lixo em cooperativas, retirando-
os da frente de trabalho e das área de recobrimento; nas atividades de apoio, no primeiro ano
tivemos a padronização das rotinas, sem a devida codificação das mesmas; a primeira
modernização da sua frota de caminhões se deu em três anos de atividades, passando a utilizar
caminhões compactadores e reorganizar sua estrutura administrativa de forma a dar apoio
pontual.
Ainda, no Nível Renovado, tivemos a implementação da terceirização de parte dos
serviços de limpeza pública, através de procedimento licitatório dos seguintes serviços:
• coleta domiciliar;
• higienização de feiras livres;
• coleta em áreas de riscos;
• limpeza de praias;
• roçagem e capina;
• varrição mecanizada;
Os serviços de varrição manual permaneceram sendo realizados pelos garis da
CLIN, concursados com vínculo celetista. A coleta de resíduos hospitalares é realizada por
empresas privadas, fiscalizadas pela CLIN. Os resíduos de construção civil, também são
transportados pela iniciativa privada.
Analisando o Nível 3 (Intermediário), atingimos atividades que denotam
capacidade inovadora da empresa à partir da aplicação do Sistema de Redundância após 10
anos de atuação, visando garantir a eficiência do trabalho. Quanto ao tratamento do chorume,
após treze anos de operação, através de parceria com a Concessionária de Águas e Esgoto da
cidade de Niterói, foi instalado o “chorumeoduto” (dutos que transportam o chorume, desde o
ACMC até a estação de tratamento de esgotos). Dois anos depois, atingimos o recobrimento
diário dos RSU’s, colocando a empresa a um passo da implantação do aterro sanitário.
No Sistema Organizacional, entre oito a doze anos de atividade, tivemos
adaptação dos equipamentos, com implementação de varredeiras mecânicas, limpezas de
praias, instalação de dutos em áreas de risco. Neste período as rotinas já padronizadas foram
codificadas, no entanto, não atualizadas periodicamente. Houve uma valorização dos
Recursos Humanos, com implantação de programa de Medicina e Segurança do Trabalho e
Serviço Social. Implantou-se serviço de informação digitalizada, utilizando a ferramenta de
georeferenciamento. Decorridos quinze anos de trabalho, os catadores de lixo foram
organizados em cooperativas e ONG’s.
Ingressando no Nível 4, área de fronteira de inovação tecnológica, atingimos a
Certificação de Empresas através do programa Selo Verde com quinze anos de atuação; a
implementação de rotina de coleta seletiva de RSU foi atingida aos dezoito anos de operação.
Tabela 4: Descrição da Métrica para Mensuração da Capacidade Tecnológica no setor de Prestação de Serviço de Limpeza Urbana
Companhia de Limpeza Urbana de Niterói – CLIN Funções Tecnológicas e Atividades Relacionadas Produto/Processo Sistema Organizacional
Níveis de Capacidade Tecnológica Recolhimento Destino Tratamento Atividade de Apoio
Periodicidade – 2 vezes na semana (1 ano) Equipamentos de Coleta Básicos - caminhões basculantes (1 ano)
Nível 1 (Básico) Abrangência - coleta em alguns bairros e distritos
(1 ano)
Vazadouro - Sistema rudimentar - depósito a "céu aberto" do lixo recolhido (1
ano)
Área de Destinação Específica (1 ano)
Catadores de lixo Independente (1 ano)
Periodicidade: coleta em dias alternados (3 anos)
Padronização de Rotinas Operacionais (1anos)
Equipamentos de coleta modernizados - caminhões compactadores (3 anos)
Abrangência: coleta em todos os bairros e distritos (5 anos)
Aterro Controlado (10 anos)
Recobrimento Semanal Rede Capilarizada de
Captação de Chorume (10 anos)
Sistema Administrativo-Operacional Descentralizado (3 anos) Terceirização da Coleta (5 anos)
Nível 2 (Renovado)
Roteiro de Fiscalização do serviço de coleta em
toda área urbana (5 anos)
Usina de Reciclagem -Separação Mecânica - Secagem - Trituração -
Pesagem (15 anos)
Usinagem - queima de resíduos hospitalares (12
anos) Sistema de Controle de Frotas Roteirização dos Trajetos (10 anos)
CAPACIDADE INOVADORA
Aterro Sanitário (não atingido) Recobrimento Diário dos RSU (11 anos)
Equipamentos Adaptados - Varredeiras Mecânicas - Limpeza de Praias Mecanizada - Dutos de Lixo em áreas de Risco – Munck – Molok – Papeleiras e Conteiners de plástico (8 anos) Concursos Públicos (8 anos) Codificação de Rotinas Administrativas (10 anos)
Implantação de Programa de Segurança do Trabalho (10 anos)
Sistema de Informação Digitalizada - Georeferenciamento (12 anos)
Desenvolvimento de Projetos em diversas áreas (15 anos)
Nível 3 (Intermediário)
Sistema de Redundância - garantir a
eficiência do trabalho (10 anos)
Projeto de aproveitamento do Gás Metano – mecanismo de desenvolvimento limpo – MDL
/ crédito de carbono (não atingido)
Tratamento total do "Chorume" (16 anos)
Catadores de Lixo Organizados em Cooperativas - ONGs (15 anos)
Certificação de Empresas - Selo Verde (15 anos)
Certificação de Processos - ISO 9001 (não atingido)
P & D (não atingido)
Equipamentos Sofisticados - caminhões compactadores com localizador GPS (não atingido)
SIT
UA
ÇÃ
O A
TU
AL
DA
CL
IN
Nível 4 (Inovação) Fronteira
Rotina de Coleta Seletiva dos RSU - lixo orgânico, papel, vidro
(10 anos)
Lixo Zero - reaproveitamento total dos RSU (não atingido)
Lixo Zero - reaproveitamento total dos
RSU (não atingido)
Utilização de Acessórios na coleta - pesagem individual e informatizada "on-line" e “Real-Time" (não atingido)
CA
PA
CID
AD
E IN
OV
AD
OR
A N
ÃO
AL
CA
NÇ
AD
A
Fonte: Figueiredo (2004) e adaptado para o estudo.
Através da Tabela 4, podemos visualizar a descrição da métrica para
mensuração de capacidade tecnológica da CLIN, onde se tem uma visão panorâmica do
desempenho da empresa no decorrer do tempo em relação aos níveis de competência
tecnológica verso as funções tecnológicas e atividades relacionadas. Na tabela, vê-se que a
empresa em estudo encontra-se em área limítrofe quanto a capacidade inovadora de
fronteira.
Verificamos uma fragilidade quanto a destinação dos RSU’s, ainda em aterro
controlado, que se mantém em Nível Renovado, enquanto as outras atividades avançaram
para áreas inovadoras, configurando aparentemente uma discrepância, dado que suas
atividades são interdependentes. Vale ressaltar que apesar da discrepância citada,
constatamos que a CLIN vem envidando esforços no sentido de instalar aterro sanitário,
tendo dado início a procedimento licitatório de concessão pública de obras e serviços de
destinação final em aterro sanitário em área contígua ao atual aterro controlado.
5.2 Aprendizagem Tecnológica
Para o exame da aprendizagem tecnológica da CLIN, objetivando evidenciar
apropriadamente os vários momentos da trajetória desta empresa, convencionamos dividir
os períodos em quatro fases, coincidindo com as mudanças das várias gestões do período
em análise, ou seja, de 1989 a 2008. Desta forma, do período de 1989 a 1996 chamamos de
fase A, de 1997 a 2004 e 2004 a 2005 de fase B, de 2005 a 2006 de fase de C e finalmente
de 2007 a 2008 de fase D. Agrupamos na fase B duas gestões – 1997/2004 e 2004/2005,
pelas características e circunstâncias em que ocorreram, sendo a assunção do último
período motivada pela vacância do cargo e assumido por indicação, o que permitiu a
continuidade das características da administração anterior.
Conforme previsto na metodologia (Capítulo 2), utilizamos entrevistas por
pautas, em uma amostra representativa dos funcionários. Efetuamos o levantamento dos
processos relevantes para a identificação da trajetória da aprendizagem tecnológica, após
validação dos mesmos, realizamos as entrevistas, resultando na planilha conforme Tabela
5: Resultado das Entrevistas.
5.2.1 Dos Processos de Aquisição de Conhecimento
Identificamos vários processos de aquisição externa e interna de
conhecimentos desenvolvidos na CLIN.
Dos processos externos, verificamos que o início da execução das atividades se
deram através da transferência de conhecimento tecnológico físico (dos equipamentos,
máquinas) e dos indivíduos (técnicos, especialistas, engenheiros) oriundos de outra
empresa do mesmo ramo – a COMLURB, que passaram a pertencer ao corpo técnico e
gerencial da empresa por meio de cargos comissionados, instituindo nova estrutura
organizacional, novas legislações e regulamentos e novos procedimentos e rotinas com os
RSU's. Pouco se aproveitou da estrutura anterior, gerida pela Administração Direta através
da Secretaria de Serviços Públicos, ocorrendo desta forma, profundas alterações no
Tabela 5: Resultado das Entrevistas
Processos de Aprendizagem
Variedade Intensidade Funcionamento Interação
1989 - 1996 1997 - 2004 2005 - 2006 2007 - 2008 1989 - 1996 1997 - 2004 2005 - 2006 2007 - 2008 1989 - 1996 1997 - 2004 2005 - 2006 2007 - 2008 1989 - 1996 1997 - 2004 2005 - 2006 2007 - 2008
Presença – Ausência Baixa – Intermitente – Contínua Ruim – Moderado – Bom Fraca – Moderada – Forte
Aquisição externa de conhecimento
Ausente Presente Presente Presente Baixa Contínua Intermitente Baixa Ruim Bom Ruim Moderado Fraca Forte Moderada Fraca
Ausente Presente Ausente Presente Baixa Contínua Intermitente Intermitente Ruim Moderado Moderado Moderado Fraca Moderada Moderada Moderada
3. Treinamento Externo:
Ausente Presente Presente Presente Baixa Contínua Intermitente Intermitente Ruim Bom Moderado Moderado Fraca Moderada Fraca Moderada
Presente Presente Ausente Presente Baixa Contínua Baixa Baixa Moderado Bom Ruim Moderado Moderada Moderada Fraca Fraca
4. Participação em Congressos, Seminários e Conferências. Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Intermitente Moderado Bom Moderado Moderado Moderada Moderada Moderada Moderada
Presente Presente Presente Presente Contínua Contínua Intermitente Intermitente Bom Bom Moderado Moderado Forte Forte Moderada Moderada
Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Contínua Moderado Bom Moderado Bom Moderada Forte Moderada Forte7. Consulta às normas, legislações e regulamentos de outras esferas governamentais. Presente Presente Presente Presente Contínua Contínua Contínua Contínua Moderado Bom Moderado Bom Moderada Forte Moderada Forte
Aquisição interna de conhecimento
1. Pesquisas básicas e aplicadas (ex: levantamentos estatísticos e mapeamentos) Presente Presente Presente Presente Contínua Contínua Intermitente Contínua Moderado Bom Moderado Moderado Moderada Forte Moderada Moderada
2. Treinamento interno dos funcionários. Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Contínua Moderado Bom Moderado Moderado Moderada Forte Moderada Moderada
Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Contínua Contínua Moderado Moderado Moderado Bom Moderada Moderada Moderada Moderada
4. Operação de rotinas da organização do tipo aprender-fazendo. Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Baixa Intermitente Moderado Bom Moderado Bom Moderada Forte Fraca Moderada
5. Realização de Concurso Público Presente Presente Ausente Presente Intermitente Contínua Baixa Contínua Bom Bom Ruim Bom Moderada Forte Fraca Forte
Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Contínua Bom Bom Moderado Bom Moderada Forte Moderada Forte
Socialização1. Solução compartilhada de problemas através de Reuniões e Trabalhos em Grupo Presente Presente Presente Presente Contínua Contínua Intermitente Intermitente Moderado Bom Moderado Moderado Moderada Forte Moderada Forte
2. Intercâmbio com a sociedade Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Contínua Moderado Bom Moderado Bom Forte Forte Moderada Forte
3. Intercâmbio com clientes internos Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Contínua Bom Bom Moderado Bom Moderada Moderada Moderada Moderada
4. Intercâmbio com governo (3 esferas) Presente Presente Presente Presente Contínua Contínua Contínua Contínua Bom Bom Moderado Bom Moderada Moderada Moderada Moderada
5. Intercâmbio com Distritos de Limpeza Urbana - DLU's Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Intermitente Moderado Bom Moderado Moderado Moderada Moderada Moderada Moderada
6. Times de Trabalho
Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Intermitente Moderado Moderado Moderado Moderado Moderada Moderada Moderada Moderada
Presente Presente Presente Presente Contínua Contínua Intermitente Contínua Moderado Bom Moderado Bom Moderada Moderada Moderada Moderada
7. Treinamento interno básico Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Contínua Bom Bom Moderado Moderado Moderada Moderada Fraca Forte
Ausente Presente Presente Presente Baixa Contínua Contínua Contínua Ruim Bom Moderado Bom Fraca Forte Moderada Forte
Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Intermitente Moderado Bom Moderado Moderado Moderada Moderada Moderada Moderada
Codificação
1. Práticas de padronização Presente Presente Presente Presente Contínua Contínua Baixa Intermitente Moderado Moderado Moderado Moderado Moderada Moderada Moderada Moderada
2. Codificação através de sistemas informatizados Ausente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Intermitente Ruim Bom Bom Bom Moderada Moderada Moderada Moderada
3. Processo de certificação Ausente Ausente Ausente Ausente - - - - - - - - - - - -
4. Instruções técnicas e ferramentas atualizadas (ex: EPI's) Presente Presente Presente Presente Intermitente Contínua Intermitente Contínua Moderado Moderado Moderado Bom Moderada Moderada Moderada Moderada
Presente Presente Presente Presente Contínua Contínua Intermitente Intermitente Moderado Moderado Moderado Moderado Moderada Moderada Moderada ModeradaFonte: Entrevistas realizadas com Diretores e Chefes de Divisão da CLIN.
1. Contratação de especialistas e consultores externos para desenvolvimento de competências em engenharia, assistência técnica/administrativa.
2. Importação de expertise para liderar treinamento interno.
· Cursos de graduação e pós-graduação com reembolso;
· Programa de desenvolvimento de gerentes;
5. Aquisição de tecnologia desenvolvida por outras empresas ou órgãos, ou instituições.6. Interação com organizações de pesquisas (faculdades, institutos, órgãos não governamentais e governamentais e internacionais).
3. Envolvimento de engenheiros e técnicos
6. Planejamento de atividades inovadoras
· Formais
· Informais
8. Modalidade de comunicação dinâmica (internet, e-mail, intranet e rede)
9. Visitas à instituições (faculdades, institutos de pesquisas, órgãos públicos que operam atividades semelhantes)
5. Normas e regulamentos técnicos e administrativos
Sistema Organizacional (procedimentos, rotinas, sistemas, Recursos Humanos, hierarquia
organizacional, constituição jurídica do órgão).
Desta forma, identificamos sete processos de aprendizagem pesquisados que
caracterizaram a acumulação de competências, que podem ser localizados na Tabela 5,
dentre eles destacamos: participação em congressos, seminários e conferências presentes
em todas as fases com funcionamento e interação considerados moderados pelos
entrevistados; interação com organizações de pesquisa e diversas organizações, sendo este
um dos principais contribuintes para o alcance de níveis inovadores, como parcerias
firmadas com instituições como a Companhia de Águas de Niterói (captação de chorume
por dutos); interação com organizações de pesquisas (Universidade Federal Fluminense -
planejamento e realização do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ao
Meio Ambiente – EIA-RIMA); aquisição de tecnologia desenvolvida por outras empresas
ou órgãos e instituições (modernização e manutenção de equipamentos de coletas, sistema
de georeferenciamento).
Dos processos internos existentes, elencamos seis que nos permitiram
identificar um esforço da empresa em desenvolver habilidades próprias. Constatamos em
todas as fases a ocorrência de atividades de pesquisas básicas, resultando na construção de
vasto banco de dados nas diversas funções tecnológicas, tais como: levantamento de
número de habitantes atendidos pelo sistema de recolhimento dos RSU's; evolução
(qualitativo e quantitativo) da captação e tratamento de chorume; levantamento geo-
topográfico da área do aterro; e registro de tonelagem dos resíduos destinados no aterro
controlado do Morro do Céu.
Na área do Sistema Organizacional, houve grande desenvolvimento, com
avanços significativos na gestão dos Recursos Humanos, através da realização de
concursos públicos e pela identificação de uma particularidade no caso estudado, onde os
cargos de diretoria e chefia, apesar de serem comissionados, permaneceram com pouca
rotatividade, ou seja, esses indivíduos permaneceram na empresa não obstante a
sazonalidade das gestões, tendo oportunidades de contribuírem mesmo que indiretamente
com experiências adquiridas no decorrer dos anos.
Destacamos deste processo de aquisição interna de conhecimento: operações
de rotinas da organização do tipo aprender-fazendo, no caso do recolhimento dos RSU's,
cujo aprimoramento se deu com a execução inicial de recolhimento duas vezes por semana,
passando pelo sistema de garantia de eficiência no recolhimento, chegando ao nível de
capacidade tecnológica inovadora devido à organização de sua estrutura interna formada
pelo próprio corpo técnico-administrativo; planejamento de atividades inovadoras que se
mostraram sempre presentes principalmente nas duas primeiras fases, permitindo alcançar
capacidades inovadoras, sendo que na última fase, ou seja, na fase atual a empresa está
engajada no processo de execução da implantação de aterro sanitário (nível inovador
intermediário).
5.2.2 Dos Processos de Conversão de Conhecimento
A socialização do saber, no caso da CLIN demonstrou ter sido um fator que
deu sustentação à empresa em face da deficiência em outros processos, colaborando para a
sustentação e o alcance de novos níveis de conhecimento no decorrer de sua trajetória,
mesmo em face do período de aparente declínio das atividades (fase C – 2005/2006).
Esta afirmativa se dá, em razão da grande interação entre os agentes internos e
externos da empresa. A estratégia utilizada pela CLIN permitiu seu acesso a locais de risco
nas comunidades, sendo às vezes, o único representante do Estado a entrar nestes locais,
como exemplo citamos diversos convênios com associações de moradores e organizações
da sociedade civil (ONG's).
Outra característica marcante é a interação de grupos de trabalho para a solução
de problemas e a atuação de times informais de trabalho que ocorreram de maneira
presente e intensa na maioria dos períodos. Outro fator de reforço para a socialização do
saber foi a implantação de sistemas informatizados de comunicação dinâmica (sistema em
rede, internet, intranet).
Na codificação de conhecimentos a ausência de processos de certificação (ISO
9001) demonstrou ser o ponto frágil dentre todos os processos de aprendizagem
tecnológica, no qual, a empresa, apesar de ter alcançado capacidades inovadoras em
praticamente todas as funções, não constatamos em nenhum momento esforços para a
certificação dos processos.
Na sua criação, a CLIN foi constituída através de leis e regulamentos próprios,
implantando nesta fase normas e procedimentos internos e gerais, no entanto, a atualização
dos mesmos não ocorreram, exceto pela aprovação do Plano de Cargos e Salários dos
Servidores, através da Lei Municipal nº 2297 de 06 de janeiro de 2006, alterada pela Lei
2366 de 18 de julho de 2006. Nas demais áreas, as atividades são executadas com
deficiência devido a baixa variedade constatada neste processo (menor percentual de
ocorrência constatada em relação à variedade).
5.2.3 Das Características-chaves dos Processos de Aprendizagem
5.2.3.1. Variedade
A primeira fase, compreendida entre os sete primeiros anos da CLIN,
percebemos uma limitação na utilização de processos de aprendizagem quanto à variedade
como característica-chave em comparação com as demais fases, em razão da menor
ocorrência de mecanismos em relação aos demais períodos (identificados 23 mecanismos
de um total de 29). Constatamos que inicialmente os processos se davam a partir da
importação do saber, ou seja, pela contratação de corpo-técnico, através de cargos
comissionados, que passaram a pertencer ao quadro de servidores da empresa, com a
peculiaridade de baixa rotatividade dos mesmos, garantindo a permanência do
conhecimento tácito adquirido.
Importante registrarmos que durante a entrevista realizada com Diretor de
Destinação Final da CLIN, constatamos que a aquisição externa de capacidade tecnológica
inicial se deu com a realização de treinamentos técnicos, administrativos e operacionais
ministrados por funcionários da COMLURB. Tal fato evidenciou moderada variedade nos
processos de aprendizagem, com a transferência tecnológica do modelo oriundo desta
empresa renomada.
Nesta mesma fase, ainda verificamos moderada socialização do saber, pela
rotinização informal de processos, visitas a instituições, formação de times de trabalho.
O período seguinte (fase B), foi a fase em que todos os processos de
aprendizagem estiveram presentes, com exceção dos processos de certificação (ISO 9001),
sendo esta a fase de maior produtividade tecnológica, alcançando pela primeira vez níveis
inovadores. A maior evolução se deu na aquisição de conhecimento externo, comparando-a
com o período anterior, incluindo nesses processos o desenvolvimento de projetos, tais
como o duto de transporte de chorume, usinagem de resíduos hospitalares e
informatização.
Percebemos evolução na codificação dos processos administrativos, ou seja,
através da implantação de sistemas informatizados, de instruções técnicas, elaboração
interna de módulos de treinamento, além da consolidação da estrutura organizacional, que
apesar de não ter sido objeto específico de estudo, está intrínseca à análise do sistema
organizacional. Importante destacar a realização de diversos concursos públicos para a
ampliação do quadro efetivo de funcionários com vínculo celetista e desenvolvimento e
implantação dos Programas de Segurança do Trabalho.
No terceiro período (fase C) constatamos uma paralisação dos processos de
aprendizagem e retrocessos em algumas atividades de apoio, como a não realização de
concursos públicos, demonstrando a falta de reposição de pessoal, evidenciando poucos
investimentos na área de recursos humanos, falta de investimento em manutenção de
equipamentos e aquisição de EPI's.
No último período, houve a retomada do processo de aquisição de
conhecimento interno, especialmente com o retorno dos investimentos no Sistema
Organizacional, em atividades de apoio ligadas a área de pessoal, tais como reposição e
ampliação do quadro de pessoal, fortalecimento dos Programas de Segurança do Trabalho
e realização de concurso público. É de se registrar o grande investimento em equipamentos
com ampliação da frota própria de caminhões, que permitiu redução dos custos
operacionais e sensível melhoria na prestação dos serviços de coleta domiciliar e seletiva.
Outra marca deste período é a busca pela implantação do aterro sanitário, através de
esforços para a concessão da licença ambiental, licitação, desapropriação e aquisição dos
imóveis. O alcance deste item, permitiria o avanço a nível intermediário da função
Destinação apresentada na Tabela 4, sendo esta, Destinação Final, a última barreira para
classificá-la como totalmente inserida no nível das atividades inovadoras.
Tabela 6: Variedade dos Processos de Aprendizagem na CLIN
5.2.3.2. Intensidade
Destacamos quanto à intensidade um grande evolução do primeiro para o
segundo período, tendo em vista, que todos os processos estudados na fase B foram
classificados como contínuos. Podemos ainda ressaltar a redução de intensidade no período
seguinte e retomada no atual.
A intensidade contínua do processo de socialização influenciou positivamente
o processo de codificação do conhecimento, caracterizando uma relação diretamente
proporcional entre ambos. Conforme apontado na análise do item anterior, à medida que a
socialização passou de intermitente para contínua (fase A para fase B), a codificação dos
processos alcançaram o auge, da mesma forma, no período seguinte, ao regredir para
intermitente, a codificação passou para intermitente tendendo à baixa.
Tabela 7: Intensidade dos Processos de Aprendizagem na CLIN 5.2.3.3 Funcionamento
Processo de AprendizagemPeríodo
1989 – 1996 1997 – 2004 2005 – 2006 2007 – 2008Aquisição Externa Moderada [5] Diversa [8] Moderada [6] Diversa [8]Aquisição Interna Diversa [6] Diversa [6] Moderada [5] Diversa [6]Socialização Moderada [9] Diversa [10] Diversa [10] Diversa [10]Codificação Moderada [3] Moderada [4] Moderada [4] Moderada [4]
Total de Mecanismos 23 28 25 28
Fonte: Clin 1989/2008
Processo de AprendizagemPeríodo
1989 – 1996 1997 – 2004 2005 – 2006 2007 - 2008Aquisição Externa Contínua Intermitente IntermitenteAquisição Interna Intermitente Contínua ContínuaSocialização Contínua IntermitenteCodificação Intermitente Intermitente
Fonte: Clin 1989/2008
Baixa → IntermitenteIntermitente → Baixa
Intermitente → Contínua Contínua → IntermitenteContínua → Intermitente Intermitente → Baixa
Prosseguindo a análise, quanto ao funcionamento, novamente se configurou o
cenário de melhoria da primeira fase para a segunda, sendo esta última, apontada com o
melhor desempenho quanto ao funcionamento em relação a todos os períodos estudados,
acompanhados de regressão e posterior retomada em busca de avanços inovadores.
Destacamos os depoimentos dos Diretores de Destinação Final e do
Departamento Jurídico e Recursos Humanos, quanto o apoio dado pela empresa em favor
da participação de seus funcionários em cursos de pós-graduação com reembolso e
mestrado com incentivo institucional, sendo presente em todos os períodos, tal processo de
aquisição de conhecimento externo, ainda, sempre de maneira moderada, tendo seu ápice
na segunda fase.
Tabela 8: Funcionamento dos Processos de Aprendizagem na CLIN
5.2.3.4 Interação Notamos a mesma evolução identificada nas características-chaves anteriores,
isto é, evolução e apogeu nas interações entre os processos de aprendizagem tecnológicas
nas fases A e B, respectivamente, e enfraquecimento com posterior retorno aos níveis
alcançados nas fases C e D.
Percebemos a importância dada à aquisição externa de conhecimento,
especificamente quanto ao processo de participação em congressos, seminários e
conferências, com efetiva aplicação dos temas abordados na empresa, tais como no setor
de Recursos Humanos, objetivando a redução de danos em relação aos usuários e
dependentes de álcool e drogas com a implantação de programas de prevenção e
conscientização dos funcionários.
Temos ainda, a interação em processos de aquisição externa de conhecimentos
tais como a contratação de consultores externos da Fundação Municipal de Saúde e
Processo de AprendizagemPeríodo
1989 – 1996 1997 – 2004 2005 – 2006 2007 - 2008Aquisição Externa BomAquisição Interna Bom ModeradoSocialização Moderado → Bom Bom ModeradoCodificação Moderado → Ruim Moderado Moderado Moderado
Fonte: Clin 1989/2008
Moderado → Ruim Moderado → Ruim Moderado → BomModerado → Bom Bom → Moderado
Moderado → Bom
Instituto Vital Brasil para a realização de treinamento interno em zoonose e animais
peçonhentos, para os funcionários que atuam na capina e roçagem de encostas e áreas de
risco, demonstrando intercâmbio com os Distritos de Limpeza Urbana.
Tabela 9: Interação Entre e Dentro dos Processos de Aprendizagem na CLIN
6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
6.1 Conclusões
Processo de AprendizagemPeríodo
1989 – 1996 1997 – 2004 2005 – 2006 2007 - 2008Aquisição Externa ModeradaAquisição Interna Moderada Forte Moderada → FracaSocialização Moderada Moderada → Forte Moderada Moderada → ForteCodificação Moderada Moderada Moderada Moderada
Fonte: Clin 1989/2008
Moderada → Fraca Moderada → Forte Moderada → FracaModerada → Forte
Em resposta ao questionamento proposto no presente estudo, identificamos
no Capitulo 5 (Desenvolvimento e Análise) quais os processos de aprendizagem que
levaram a CLIN a atingir níveis de capacidade tecnológica inovadoras nas funções
tecnológicas e atividades relacionadas de Recolhimento, Tratamento e Atividades de
Apoio no Sistema Organizacional, apresentadas conforme Tabelas 4 e 5, exceto na
atividade de Destinação, na qual a empresa está atualmente em busca da implantação de
Aterro Sanitário, o que a levará a atingir níveis inovadores em todas as funções.
Dentre os mecanismos de aprendizagem apresentados na Tabela 5, utilizados
como fontes de pesquisa através de entrevistas por pautas respondidas por parcela
significativa do corpo gerencial da CLIN, entendemos que contribuíram para o alcance de
níveis de acumulação tecnológica inovadoras quanto à característica-chave interação,
referente ao processo aprendizagem de aquisição interna de conhecimento, único processo
de aquisição de conhecimento avaliado como forte no período B (Tabela 9) tais como:
realização de concurso público e planejamento de atividades inovadoras.
Quanto à variedade (Tabela 6), é importante destacar que o processo de
conversão de conhecimento que obteve a menor pontuação proporcional na avaliação foi a
codificação, classificada como moderada em todo o período, e como já constatado no
capitulo anterior, o mecanismo de processos de certificação (ISO 9001) não foi
implementado em nenhuma fase, sendo este, um relevante mecanismo de suporte para a
internalização dos procedimentos de rotinas administrativas e operacionais no tecido
organizacional.
Outra questão a ressaltar é a socialização do conhecimento, entre
superintendente, diretores e chefes, proporcionando certa velocidade na transferência de
informações, configurando uma rede informal de transferência tecnológica, apesar da
constatação da desatualização nos processos de codificação do conhecimento em todas as
características-chaves. Esta última afirmativa se reflete na informalidade existente nos
processos internos da empresa.
Concluímos que parte do sucesso alcançado pela CLIN justifica-se por pelo
menos dois aspectos ligados à gestão de pessoas:
• A mão-de-obra operacional, em sua maioria garis, concursados, com vínculo celetista,
fato que justifica o bom desempenho principalmente nos processos de Recolhimentos
dos RSU's em comparação com as demais instituições vinculadas ao poder público, em
razão da mitigação entre a estabilidade funcional, produtividade, competitividade,
fiscalização e direitos e deveres estabelecidos na legislação trabalhista;
• Os cargos comissionados, tanto da área operacional, quanto administrativa, apesar de
serem de livre nomeação e exoneração, têm sido ocupados ao longo de várias
mudanças políticas, através de critérios majoritariamente técnicos, em detrimento da
política, proporcionando a manutenção da maioria de seus ocupantes por mais de dez
anos nos cargos, sendo promovidos por merecimento.
As capacidades tecnológicas que atingiram níveis inovadores são: no
Recolhimento dos RSU's – sistema de redundância que garante a eficiência do trabalho e
rotina de coleta seletiva dos RSU's, ambos alcançados em 10 anos de existência; no
Tratamento dos RSU's – recobrimento diário alcançado em 11 anos e tratamento total do
chorume, atingido em 16 anos de atividades; nas Atividades de Apoio do Sistema
Organizacional – utilização de equipamentos adaptados: varredeiras mecânicas, limpeza de
praias mecanizadas, dutos de lixos em áreas de risco, papeleiras e conteiners de plástico,
implantados após 8 anos de existência; codificação de rotinas administrativas e
implantação de programa de segurança do trabalho, em 10 anos; sistema de informação
digitalizada e georeferenciamento, em 12 anos; organização e apoio às cooperativas de
catadores de lixo e certificação de empresas em parcerias com a construção civil através do
selo verde, em 15 anos.
Conforme corroborado por diversos autores, mais especificamente na
bibliografia que se baseia este estudo, a “acumulação de níveis básicos e intermediários de
competências inovadoras é pré-condição para que a empresa alcance nível avançado de
inovação” (TACLA & FIGUEIREDO, 2003, p. 105). Desta forma, percebemos a mesma
constatação supra citada ao identificarmos que a implantação do aterro sanitário é fator
condicionante do desenvolvimento de toda a empresa para níveis superiores de capacidade
tecnológica.
Ao efetuarmos a divisão dos períodos estudados em fases coincidentes com os
períodos de gestão administrativa, constatamos que a evolução da trajetória de acumulação
de capacidade tecnológica ocorreu de forma não linear, visto que na fase B (1997/2004) a
empresa atingiu seu apogeu quanto à gestão do processos de aprendizagem tecnológica, em
relação às características-chaves de variedade, intensidade, funcionamento e interação, nos
processos de aquisição e conversão de conhecimentos. Contudo, na fase C (2005/2006) não
ocorreram avanços em atividades inovadoras, sendo identificados: redução na qualidade
dos serviços, diminuição dos investimentos em equipamentos e não renovação do quadro
de pessoal, caracterizando este período pela diminuição e dificuldade na manutenção das
capacidades tecnológicas acumuladas pelas gestões anteriores.
Apesar de não ter sido alvo de pesquisa, ao analisarmos a evolução dos
processos de aprendizagem tecnológica por fases de gestão, constatamos que a regressão
da fase B para C, na evolução da trajetória de acumulação de capacidade tecnológica,
decorreu do aumento da ingerência política, em detrimento da adoção de decisões
primordialmente técnicas. Esta última constatação ocorreu apenas ao término do presente
estudo.
6.2 Sugestões
Para próximos estudos sugerimos um aprofundamento nas questões
relacionadas à terceirização neste setor. A relação poder público e iniciativa privada para
execução de atividades desta natureza é alvo de pesquisa a ser explorado. A gestão de
pessoal também apresentou aspectos muito particulares que merecem serem analisados de
maneira objetiva e que não foram alcançadas neste trabalho.
Seria interessante a realização de um estudo comparativo da evolução da
aprendizagem nas empresas COMLURB e CLIN, tendo em vista que esta última recebeu a
transferência de conhecimento tecnológico da primeira, de forma a verificar as trajetórias
percorridas por ambas.
Apesar da CLIN ser uma empresa constituída na forma de sociedade de
economia mista, seu orçamento é formado em sua maioria por repasses financeiros
municipais, desta forma, a realização de seus planos e projetos ficam na dependência da
execução desta transferência de recursos, inviabilizando uma atuação primordialmente
técnica, privilegiando os interesses diversos de suas atividades finalísticas. Sugerimos uma
averiguação desta constatação de forma pontual a fim de aperfeiçoar a atuação da empresa.
BIBLIOGRAFIA ARIFFIN, N.; FIGUEIREDO, P.N., Internacionalização de competências tecnológicas. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS PÚBLICAS E RESÍDUOS ESPECIAIS, Panorama dos resíduos sólidos no Brasil, 5ª ed. Disponível em <http://www.abrelpe.org.br>. Acesso em 24 set. 2007.
______.Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2007. Disponível em <http://www.abrelpe.org.br>. Acesso em 23 mai. 2008.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
BRASIL. Resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 307, de 05 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 de setembro de 2002.
BRASIL. Lei Federal nº 11.445/2007, de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 08 de janeiro de 2007.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSITICA. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 24 set. 2007.
FIGUEIREDO, P. N., Aprendizagem tecnológica e performance competitiva. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
______. Aprendizagem tecnológica e inovação industrial em economias emergentes: uma breve contribuição para o desenho e implementação de estudos empíricos e estratégicos no Brasil, Revista Brasileira de Inovação, v. 3, n. 2, p. 323 – 362, 2004.
______. Acumulação tecnológica e inovação industrial: conceitos, mensuração e evidências no Brasil, São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 1, p. 54 – 69, 2005
______.Capacidade tecnológica e inovação em organização de serviços intensivos em conhecimento: evidências de institutos de pesquisa em tecnologia da informação e da comunicação (TICs) no Brasil, Revista Brasileira de Inovação, v. 5, n. 2, p. 403 - 454, 2006.
NITERÓI. (Cidade), Lei Municipal nº 1.212 de 21 de setembro de 1993. Institui o Código de Limpeza Urbana do Município de Niterói. Boletim Oficial do Município, Poder Executivo, Niterói, RJ, 22 de setembro de 1993.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, Atlas IDH 2000. Disponível em <http://www.pnud.org.br>. Acesso em 23 mai. 2008.
TACLA, C. L.: FIGUEIREDO, P. N. Processos de aprendizagem e acumulação de competências tecnológicas: evidências de uma empresa de bens de capital no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, v. 7, n. 3, p. 101 – 126, 2003.
TEIXEIRA, Eglé Novaes. A problemática do lixo urbano no Brasil. In: CURSO DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS URBANOS E INDUSTRIAIS NO SOLO AGRÍCOLA, 2006, Campinas. Instituto Agrônomo de Campinas. Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/Curso_Reciclagem/PALESTRAS.asp> Acesso em 24 set. 2007.
VIEIRA, F. M. M.: ZOUAIN, M. D. Pesquisa qualitativa em administração. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
ANEXOS
Figura 2: Foto aérea Aterro Morro do Céu
Fonte: Arquivos CLIN – 2003.
Figura 4: Impermeabilização do Aterro Morro do Céu.
Fonte: Arquivos CLIN - 2002.
Figura 5: Usina de Separação dos Resíduos Sólidos.
Fonte: Arquivos CLIN – 2001.
Figura 6: Usina de Separação dos Resíduos Sólidos.
Fonte: Arquivos CLIN – 2001.
Figura 7: Foto campanha conscientização de coleta seletiva.
Fonte: Arquivos CLIN – Praia de Piratininga. Figura 8: Foto de equipamento de limpeza de praias.
Fonte: Arquivos CLIN. Figura 9: Foto de recolhimento de RSU mecanizada em vias públicas.