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GESTÃO ENERGÉTICA: UMA ABORDAGEM MERCADOLÓGICA PARA O SETOR DE ENERGIA EÓLICA BRASILEIRO
Gustavo Henrique Silva de Souza, Nilton César Lima, Jamerson Viegas Queiroz, Elvis
Silveira-Martins (Universidade Federal de Alagoas; Universidade Federal de Uberlândia; Universidade
Federal do Rio Grande do Norte; Universidade Federal de Pelotas)
Resumo: O objetivo deste artigo é mapear fatores mercadológicos específicos do setor eólico Brasileiro, visando desenvolver reflexões e considerações sobre o tema, em direção ao desenvolvimento gerencial, comercial e estratégico do setor. Por uma metodologia exploratória e qualitativa, através de uma análise SWOT Telescopic Observations, encontraram-se resultados que evidenciam os financiamentos e subsídios, determinados pelo governo brasileiro, como a grande questão mercadológica do setor eólico, pois permite a viabilidade econômica de projetos eólicos. Disso, depreende-se que o setor eólico está solícito a investimentos e tem grande potencialidade para novos negócios, mas são as problemáticas dentro das empresas produtoras que devem ser avaliadas.
Palavras-chaves: Energia Eólica; Gestão Energética; Análise SWOT; Telescopic
Observations
ISSN 1984-9354
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014
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1. INTRODUÇÃO
O paradigma gerencial do sistema eólico tem passado por um processo estrutural de
aprendizagem mercadológica. Em compasso às melhorias tecnológicas dos equipamentos eólicos,
bem como, ao crescimento do setor eólico na indústria energética mundial, ao surgimento de
políticas públicas de incentivo às energias renováveis e à diminuição nos custos de investimento, o
foco das questões gerenciais no setor eólico passaram por uma mudança de formato estratégico
(MILLS; WISER & PORTER, 2012; RATINEN & LUND, 2012). A gestão de custos passou à
gestão de preço e a gestão tecnológica passou à gestão da inovação.
Berry (2009) explica que o amadurecimento do mercado eólico apresenta perspectivas para
o setor que excedem os limites relacionados à auto-sustentabilidade, à redução de impactos
ambientais e aos altos custos de investimento, estabelecendo-se na reflexão de fatores como a
produção em escala e o fornecimento de energia. Komor (2004) ressalta que a energia eólica já
possui um aporte tecnológico muito avançado comparado a suas oportunidades de mercado. Para o
autor, o setor está necessitando de ações que coloquem a energia eólica no mercado de
eletricidades de modo competitivo.
Apesar das análises de viabilidade econômica e custos ainda serem imprescindíveis,
segundo Nascimento, Mendonça e Cunha (2012), atualmente no Brasil, as maiores problemáticas
para o setor eólico são o armazenamento, o fornecimento e a comercialização da energia eólica.
Têm-se especialmente a falta de linhas de transmissão dos parques eólicos para subestações de
energia e a falta de uma estrutura de complementaridade entre a energia eólica e o regime hídrico
(SILVA; ROSA & ARAÚJO, 2005; DUTRA & SZKLO, 2008).
Por isso, o avanço em perspectivas mercadológicas à energia eólica abarca discussões tanto
relativas aos custos e políticas públicas, quanto ao sistema energético e à comercialização de
energia. Assim, definidas as linhas de discussão, o objetivo deste artigo é mapear os fatores
mercadológicos específicos do setor eólico brasileiro e suas perspectivas, no intuito de
desenvolver críticas, reflexões e considerações sobre o tema, em direção ao desenvolvimento
gerencial, comercial e estratégico do setor.
2. ABORDAGEM TEÓRICA
2.1. Preços e custos no setor de energia eólica
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O setor industrial eólico transformou-se em um dos setores de exploração de fontes
renováveis de energia elétrica com o maior potencial de crescimento em todo o mundo, face aos
fortes investimentos públicos e privados, especialmente, desde o inicio dos anos 2000 (MILLS;
WISER & PORTER, 2012).
Desse crescimento, a grande questão levantada assume-se pelo alto custo da energia eólica,
haja vista 75% dos custos de um projeto eólico advir de equipamentos e o valor de investimento
médio no Brasil, incluindo turbinas, infraestrutura civil e elétrica, ser de R$ 4,2 milhões por MW
instalado (GARBE; MELLO & TOMASELLI, 2011).
Assim, de acordo com Leite, Borges e Falcão (2006), a razão para a atratividade de
investimento no setor está no asseguramento de compra da energia eólica produzida, por parte dos
governos de países como o Brasil, a China, os Estados Unidos dentre outros, que em suas políticas
têm estabelecido a energia eólica como opção energética, ainda que esta não ofereça atualmente
um preço competitivo em relação às energias convencionais.
Para Dutra (2007, p. 7) “a energia eólica tem se mostrada madura o suficiente para uma
participação mais agressiva na matriz de geração de energia elétrica mundial”. Por outro lado,
Silva, Rosa e Araújo (2005) apontam que o setor eólico, em termos de geração de energia
economicamente atrativa, ainda não chegou a uma fase de maturidade que seja suficiente para
competir com outras energias. A relevância da energia eólica, então, está em seu apelo ambiental e
geopolítico, pela cooperação ao abastecimento de energia de um modo mais seguro e limpo,
visando à redução de riscos de crises no fornecimento. A isso, é que outros fatores, atualmente,
balizam a expansão do setor, como as políticas públicas de incentivo, através de subsídios,
financiamentos e a isenção de impostos, como propõem Dutra e Szklo (2008).
Em uma linha de pensamento semelhante, Gökçek e Genç (2009) afirmam que a vantagem
da energia eólica está justamente nos custos evitados de combustíveis e ambientais e na isenção
dos impostos. Com isso, a energia eólica passa a ter apenas custos de (investimento) e manutenção
(administração).
No entanto, Garbe, Mello e Tomaselli (2011) vão ainda mais além, mostrando que outra
vantagem da energia eólica é o baixo custo de produção, quando retirado os custos de
investimento. Na tabela 1, estão demonstrados os custos de produção para variados tipos de
geração de energia. Como pode ser visualizado, o custo de produção da energia eólica é
relativamente competitivo em relação às energias convencionais como a hidroelétrica, a nuclear, o
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carvão e o gás natural. Enquanto que, em relação às energias renováveis, a eólica se mostra a mais
atrativa.
Tabela 1: Comparação entre os custos de diferentes tipos de produção de energia
Tipo de Produção Custo Médio
(US$ por MWh) Energia Hidrelétrica 0,20 – 0,50 Energia Nuclear 0,30 – 0,40 Carvão Mineral 0,40 – 0,50 Gás Natural 0,40 – 0,50 Energia Eólica 0,40 – 1,00 Energia Geotérmica 0,50 – 0,80 Biomassa 0,80 – 1,20 Célula de Hidrogênio 1,00 – 1,50 Energia Solar Fotovoltaica 1,50 – 3,20
Fonte: Garbe, Mello e Tomaselli (2011, p. 40).
Por outro lado, incluindo-se os custos de investimento com equipamentos, o custo médio,
considerando um parque eólico construído no Brasil de investimento total de R$ 650 milhões para
uma capacidade instalada de 140MW (PACIFIC HYDRO, 2012), tem um valor aproximado de R$
590,00/MWh (cada MW de capacidade instalada gera aproximadamente 7.883 MWh.). Ou seja,
um valor muito alto, que torna o custo desta energia a grande problemática do setor.
Muito embora, o governo brasileiro tem promovido políticas para abaixar os altos preços
da energia eólica no Brasil. Dentre essas políticas têm-se o novo formato de leilão de energia
elétrica proposto pelo governo federal, que vem, incentivando o regateamento do preço da energia
eólica (COSTA & PIEROBON, 2008; GARBE; MELLO & TOMASELLI, 2011), e as políticas
públicas criadas visando o apoio à produção de energias renováveis (DUTRA & SZKLO, 2008).
Esses fatores revelam-se benéficos à sustentabilidade organizacional dos parques eólicos,
pois se relaciona à viabilidade econômica dos projetos eólicos, considerando aspectos de
rentabilidade e equilíbrio. É nesse sentido, que no âmbito mercadológico, o estudo dos fatores de
custos e preços passa a dar lugar, de modo complementar, ao estudo das políticas energéticas
específicas ao setor eólico.
2.2. Políticas relativas ao setor de energia eólica
Considerando o processo socioambiental rumo à sustentabilidade energética e à busca por
tecnologias limpas de energia elétrica para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, os
governos de variados países passaram a fornecer suporte à geração de energia renovável (LEWIS
& WISER, 2007; RATINEN & LUND, 2012). Isso porque, segundo Dutra e Szklo (2008) e Mills,
Wiser e Porter (2012), diversas barreiras associadas às políticas públicas necessitavam ser
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superadas, especialmente, quanto à inserção da energia eólica dentro do sistema elétrico
convencional.
Dutra e Szklo (2008) e Mills, Wiser e Porter (2012) apontam que tais barreiras
caracterizam-se em várias faces, como: custos de investimento; falta de escala e escopo;
tecnologia avançada e específica; alta competência da indústria energética convencional; barreiras
de informação; decesso de recursos e pequena disponibilidade tecnológica; densidade energética;
e flutuação da energia.
A partir da caracterização dessas barreiras no início da implantação da energia eólica ao
sistema energético, é que houve os primeiros incentivos a políticas energéticas específicas à
energia eólica, segundo Dutra e Szklo (2008). Os autores afirmam que a energia eólica apresenta
outros fatores que justificam tais incentivos, em especial, aqueles relacionados às questões
socioambientais. Isto é, não apenas as barreiras ao desenvolvimento do sistema eólico
incentivaram a criação dessas políticas, mas também os benefícios ao meio ambiente, à melhoria
do sistema de produção de energia e à geração de empregos.
Quanto à geração de emprego o setor eólico se mostra relevante para o desenvolvimento
local e regional, já que comumente, possui uma grande capacidade de empregabilidade comparada
a outros setores energéticos (DUTRA, 2007). Como é mostrado na tabela 2, o setor eólico
emprega mais que quase todos os setores de energia convencional.
Tabela 2: Geração de trabalho nos diversos setores de energia
Setor Trabalho
(trabalhadores-ano/TWh) Energia Nuclear 75 Gás Natural 250 Energia Hidrelétrica 250 Petróleo 260 Petróleo (offshore) 265 Carvão Mineral 370 Forno à Lenha 733 – 1,067 Energia Eólica 918 – 2.400 Etanol 3.711 – 5.392 Energia Solar Fotovoltaica 29.580 – 107.000
Fonte: Dutra (2007, p. 7).
Nascimento, Mendonça e Cunha (2012) destacam ainda que os impactos sociais que a
exploração da atividade eólica pode trazer o Brasil contribuem para a geração de emprego que
pode vir a promover maior inclusão social dentro do país. Salles (2004) corrobora essa linha de
pensamento, argumentando que os parques eólicos quando instalados em áreas rurais, acabam por
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gerar tanto empregos diretos, quanto indiretos, pois possibilita que as áreas onde as turbinas estão
dispostas, sejam utilizadas também para a criação de animais.
A isso, o sistema setorial de energia eólica em direção ao desenvolvimento produtivo e
industrial, passou por transformações dentro do planejamento elétrico mundial, através das
políticas públicas dos governos. Específicas de cada país, as políticas públicas tomam caminhos
diferentes a depender do modelo energético já estabelecido em cada local (DUTRA & SZKLO,
2008; RATINEN & LUND, 2012).
Na tabela 3, foram elencadas as políticas públicas em nível nacional que passaram a ser
dadas à energia eólica, em países de alta produção dessa energia.
Tabela 3: Políticas públicas em nível nacional para a geração de energia eólica em diversos países
País
Investimentos Públicos,
Financiamentos e Subsídios
Redução de taxas para
Financiamentos
Incentivos Fiscais para
produção de energia
Leilões Taxas de Feed-In
Sistema de Ações
Estados Unidos
X X
China X X X X X X Brasil X X X X
Dinamarca X X X X Canadá X X X Espanha X X X
Alemanha X X X Índia X X X
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Lema e Ruby (2007), Meyer (2007), Dutra e Szklo (2008), Berry (2009), GWEC (2010) e Ratinen e Lund (2012).
O que se nota é que a única política à energia eólica criada em todos os países pontuados
na tabela 3, é a redução de taxas para o financiamento dos equipamentos de implantação dos
parques eólico. A redução de taxas de financiamento, para Dutra e Szklo (2008), é relevante no
sentido de tornar o investimento mais atrativo, bem como, diminuir os custos iniciais, já que a
implantação do parque eólico passa a ser paga à longo prazo.
Na mesma funcionalidade, o segundo tipo de política à energia eólica mais acionada pelos
governos dos países investigados são os investimentos públicos, financiamentos e subsídios.
Compreende-se que esse tipo de política é mais importante para o setor eólico, pelos mesmos
motivos já citados sobre as reduções de taxas de financiamentos. O que, sem dúvida, interfere na
formação do preço da energia eólica, reduzindo-o segundo Berry (2009).
Ainda, a outras duas políticas têm se dado enfoque em estudos e discussões: os incentivos
fiscais e os leilões. Os incentivos fiscais têm sido uma vantagem elementar aos produtores de
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energia eólica, introduzido nos sistemas de energia de diversos países, teve grande impulso a partir
das recomendações preconizadas no Protocolo de Kyoto (GARBE; MELLO & TOMASELLI,
2011). No Brasil, por exemplo, os incentivos fiscais são de dedução de tarifas e isenção de ICMS
(imposto de operações relativas à circulação de mercadorias e prestações de serviços) sobre os
equipamentos eólicos, que tem sido caracterizado como um custo fixo evitado (NASCIMENTO;
MENDONÇA & CUNHA, 2012; RIBEIRO; PIEROT & CORRÊA, 2012).
Por outro lado, os leilões geralmente têm sido vistos como um fator dicotômico de
vantagem e desvantagem. É vantajoso porque o produtor tem a segurança de vender toda a sua
energia para um comprador confiável (o governo), em um contrato de concessão de 20 anos por
um valor determinado e igual por todo o tempo de concessão, e independente de oscilações do
mercado. E torna-se uma desvantagem, especialmente por o leilão ser do tipo reverso, em que, os
lances de preços são decrescentes; ou seja, o produtor comumente vende sua energia abaixo do
preço de custo (COSTA & PIEROBON, 2008; GARBE; MELLO & TOMASELLI, 2011).
Relativo a isso, Lema e Ruby (2007) alertam sobre essa desvantagem dos leilões, pois, em
recentes leilões de energia eólica, ocorridos na China, a queda dos preços devido à competividade
por parte dos produtores, apresentou um grave prejuízo no faturamento das empresas produtoras
de energia.
No Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL, 2012) no ano
de 2011, nos leilões de energia, o preço de venda da energia eólica no Brasil chegou a R$
99,54/MWh, um valor 67% abaixo do preço no ano de 2009, que ficou em torno de R$
148,39/MWh. Com esses números, o Brasil tornou-se um dos países que comercializam a energia
eólica com o preço mais barato do mundo, ainda segundo a Agência, cabendo frisar que esse valor
para a energia eólica está abaixo do preço de custo dos produtores.
Essas políticas relacionadas à energia eólica surgiram com o estabelecimento do
PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia) em 2004, baseado na tríade:
regras estáveis, segurança e modicidade tarifária. Logo, o sistema energético brasileiro passou a
enfatizar questões de universalização, ambientais e estabilidade de preços. Em consequência, a
comercialização da energia tornou-se dependente da abertura de leilões de energia, dos incentivos
fiscais e da autorização de financiamentos, para que os projetos eólicos tornassem-se viáveis e seu
preço mais competitivo (DUTRA & SZKLO, 2008).
2.3 Oportunidades mercadológicas para a energia eólica
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Em consideração às perspectivas relativas às estratégias de Marketing Verde e às
oportunidades do setor eólico, questões mercadológicas tornam-se mais acentuadas a verificação.
A isso, Leite, Borges e Falcão (2006) afirmam que as empresas que entram no ramo da energia
eólica precisam fazer uma avaliação de implementação dos parques a serem construídos, em que,
se observe a questão do potencial eólico e o que essas questões interferem no planejamento e
operação do sistema de eletricidade. Nesse sentido “as características operativas da usina eólica,
fortemente dependentes do regime local dos ventos, fazem com que o modelo de geração de uma
usina convencional não possa ser diretamente aplicado a ela” (LEITE; BORGES & FALCÃO,
2006, p. 178).
2.3.1 Potencial Brasileiro de Energia Eólica
Amarante et al. (2001), por meio da integralização de mapas digitais com recursos de
geoprocessamento, cálculos de desempenho e produção de energia pela potencia de turbinas
eólicas, apontam valores estimados de potencial eólico no Brasil, que podem auxiliar na tomada
de decisões de investidores do setor sobre em quais locais são mais viáveis a instalação de geração
de energia eólica, além de ser “totalmente viável em grande parte do território do Brasil a partir da
perspectiva da existência de um vasto potencial eólico e confiável para utilização imediata”
(SILVA; ROSA & ARAÚJO, 2005, p. 289)
A figura 1 mostra o potencial eólico brasileiro subdivido por regiões. O Brasil possui um
potencial eólico de 143,5 GW – com turbinas a 50 metros de altura e ventos a 7 m/s –, no qual, o
nordeste brasileiro assume 52,2% desse potencial, com 75GW. Mais especificamente esse
potencial se encontra nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará que detêm 84,48% do potencial
eólico da região nordeste (ANEEL, 2008).
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Figura 1. Potencial eólico estimado para vento médio anual igual ou superior a 7,0 m/s Fonte: Amarante et al. (2001, p. 44).
O que já se revela é bastante promissor. No entanto, está se configurando uma nova
tendência na geração de energia eólica no Brasil, que são turbinas eólicas a 100 metros de altura,
que captam ventos médios de aproximadamente 10 m/s (CNI, 2009). Estudos recentes, com base
nessas novas turbinas, apontam um potencial eólico no Brasil de 350 GW, que representa cerca de
3 vezes a demanda de energia Brasileira, que no final de 2010 equivalia a 113,4 GW (GWEC,
2010).
Berry (2009, p. 4493) explica que a “expansão da capacidade de geração foi acompanhada
por inovações no desenvolvimento de turbinas eólicas”, e por isso, as turbinas eólicas atuais estão
em um patamar elevado de produção de energia, abrindo espaço e oportunidades de negócios para
novos empreendimentos. No entanto, o autor alerta que nem sempre turbinas eólicas de maior
capacidade de geração de energia e tecnologicamente mais avançadas são boas oportunidades,
pois, ao passo que melhoram a produção, pode haver riscos de problemas de funcionamento e
manutenção, pois segundo o autor “novos projetos podem inicialmente requerer o
desenvolvimento de cadeias de fornecimento para novos componentes personalizados,
possivelmente resultando em maiores custos de produção” (BERRY, 2009, p. 4494).
Cabe ressaltar que apesar das dificuldades, Leite, Borges e Falcão (2006) afirmam que a
geração de energia eólica no Brasil é oportuna, pois, o potencial de vento é extremamente
favorável à exploração. Além disso, “os fatores de capacidade calculados estiveram entre 30 e
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40%, valor considerado alto para os padrões mundiais” (LEITE; BORGES & FALCÃO, 2006, p.
187), pondo o Brasil em evidência em termos de produção de energia eólica. Ainda para os
autores, a preocupação com a viabilidade econômica e o potencial de ventos é essencial para o
planejamento estratégico de uma empresa geradora, pois, uma usina eólica pode ser atrativa para
um produtor, considerando localidade de instalação, potencial de ventos, capital de investimento,
economia do país, mercado competitivo e subsídios governamentais, mas pode não ser atrativa
para outro produtor, considerando os mesmos fatores.
2.3.2 Questões socioambientais e marketing verde
A questão socioambiental da energia eólica é outro ponto bastante discutido na literatura,
segundo o qual, relacionam à redução de gastos por parte dos governos dos países, pois se diminui
cerca de 56 euros de custo de combustível ao ano por MW de capacidade instalada de energia
eólica, e cerca de 1,26 mil toneladas de CO2 ao ano por MW de capacidade instalada da mesma
(DELARUE; LUICKX & D’HAESELEER, 2009; BRYCE, 2011).
Nesse sentido, a condução de políticas públicas ao desenvolvimento do setor tem
incentivado uma postura socioambiental, inovadora e sustentável das empresas. Barbieri et al.
(2010, p. 153) explica que o novo “modelo de organização inovadora sustentável é uma resposta
às pressões institucionais por uma organização que seja capaz de inovar com eficiência em termos
econômicos, mas com responsabilidade social e ambiental”.
Como afirmam Ribeiro, Pierot & Corrêa (2012), esse tipo de postura voltada à
responsabilidade socioambiental vem a ser um indicador de boa administração para as empresas
modernas. Ainda, Dias (2009) pontua que não só esses incentivos são atrativos para empresas
geradoras de energia em escala, como também para a autoprodução de energia eólica, como parte
dos processos de marketing verde e gestão ambiental.
Apesar de o setor eólico estar recebendo diversos incentivos face às politicas sustentáveis e
de proteção ambiental, estudos apresentam a existência de alguns impactos relacionados ao
sistema de produção eólica. Esses impactos devem ser levados em conta em análises à viabilidade
ambiental desta fonte energética (SALLES, 2004; REIS & CUNHA, 2006). Salles (2004) e Reis e
Cunha (2006) pontuam tais impactos como: Interferência eletromagnética em aparelhos de TV,
rádio, celulares etc.; Interferência na fauna alada; Alteração de paisagens; Alteração da
usabilidade do solo; e, Riscos de ruptura dos componentes da estrutura das torres.
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Por sua vez, outras questões influem que tais fatores sejam tratados irrelevantemente no
Brasil, pois o mercado de energia nacional está à luz de uma necessidade de oferta de energia
complementar as hidrelétricas, desde a crise no setor elétrico brasileiro em 2001. Assim, a energia
eólica passa a ser uma solução a essas problemáticas (SILVA; ROSA & ARAÚJO, 2005;
ARAÚJO & FREITAS, 2006).
Com isso, retoma-se a conceptualização de marketing verde e gestão ambiental, pois esse
conceito liga-se estruturalmente ao estabelecimento de produção de energias renováveis,
intrínseco ao formato de negócios em energia eólica. Ao ponto que coexistem políticas,
incentivos, oportunidades e viabilidade ao mesmo tempo, o posicionamento socioambiental da
empresa passa ter um idealismo estratégico, e não apenas um conjunto de técnicas fragmentadas
de comercialização de produtos ou serviços que não prejudiquem o meio ambiente (DIAS, 2009).
Dias (2009, p. 142) explica que o marketing verde “é uma forma de articular as relações
entre o consumidor, a empresa e o meio ambiente”, sendo uma filosofia de marketing em formato
ecológico que deve estar impregnada no comportamento cotidiano da organização. A necessidade
a esse modelo de estratégia está condicionada a um novo tipo de consumidor que está preocupado
com questões socioambientais, de tal forma que o marketing verde tornou-se um fenômeno no
âmbito mercadológico.
Esse comportamento do consumidor de consciência ambiental ultrapassa o setor comercial
e industrial e passa a ser um novo paradigma às políticas públicas. A isso, os gastos em P&D para
o setor eólico passaram a ser uma obrigação imposta tanto pelos governos, quanto pelos
consumidores, às empresas que trabalham no setor, segundo Alves et al. (2011).
Mais do que isso, empresas que se utilizam do marketing verde, provavelmente, terão uma
vantagem competitiva no mercado (DIAS, 2009). As oportunidades à produção de energia eólica
em escala limitam-se a um alto retorno monetário à longo prazo, e estendem-se ao ambiente
comercial, de autoprodução em empresas de diversos setores, como parte de uma estratégia de
gestão ambiental (DUTRA & TOLMASQUIM, 2002; RIBEIRO; PIEROT & CORRÊA, 2012).
Nesse sentido, serão discutidos na próxima sessão as análises e os resultados, de forma a
criar uma inter-relação entre os apontamentos da literatura e as evidenciações empíricas sobre o
setor brasileiro de energia eólica, no tocante às suas perspectivas de negócios, oportunidades
comerciais e as questões ambientais que envolvem o setor.
3. METODOLOGIA
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O fundamento metodológico deste estudo configura-se dentro de uma abordagem
exploratória, face à temática de estudo sobre as perspectivas mercadológicas da energia eólica
ainda estar relativamente em circundante início em investigações e pesquisas. Gil (2012, p. 27)
justifica que a pesquisa exploratória deve ser desenvolvida “com o objetivo de proporcionar visão
geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato”, especialmente, quando o tema ainda é
pouco explorado e existe a necessidade de operacionalização das informações básicas do problema
investigado.
Partindo-se dessa prerrogativa, o estudo adotou um formato de análise qualitativa, que
segundo Malhotra (2011), orienta-se em um processo cíclico e concomitante à coleta de dados. Ou
seja, ao ponto que se inicia a coleta de dados sobre os aspectos mercadológicos da energia eólica
dentro do mercado energético brasileiro, inicia-se simultaneamente uma análise indutiva e
interpretativa, visando delimitar ações futuras de pesquisa.
Assim, coube realizar uma análise SWOT do setor eólico brasileiro, segundo o qual,
Panagiotou (2003), afirma ser um tipo de análise adequada à estágios iniciais de planejamento
estratégico e análise de mercado, e complementar a estudos de abordagem exploratória. Como o
mercado eólico é composto, em sua estrutura sistêmica, de variáveis internas e externas, torna-se
oportuno a avaliação das capacidades internas (Forças e Fraquezas) e das capacidades externas
(Oportunidades e Ameaças) do setor.
Ainda, Panagiotou (2003) alerta que a análise SWOT torna-se inadequada para mercados
instáveis. A isso, toma-se como premissa, indicar que tais análises perfazem tão somente o cenário
atual energético do Brasil, que já se mantém estável desde a criação do Proinfa em 2004.
Bhide (2002) reforça que é imprescindível às empresas que estão entrando em um mercado
novo ou que comercializam um produto inovador, uma série de análises a serem feitas ao
planejamento estratégico, tais como análises SWOT e análise das forças competitivas. Para o
autor, empresas que entram em novos mercados precisam de uma análise completa que abranja
todo o setor em que esta se encontra e que abarque as competências essenciais e as fraquezas
internas, pois, este tipo de empresa “enfrenta concorrência não apenas de rivais que oferecem os
mesmos artigos, mas também, potencialmente, de substitutos, fornecedores, compradores e outros
entrantes” (BHIDE, 2002, p. 77).
Nesse sentido, a metodologia proposta por Panagiotou (2003) da análise SWOT do tipo
Telescopic Observations (Observações Telescópicas), melhor se adequou a este estudo, pois,
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através desse método, é gerada uma matriz SWOT que abarca diversas dimensões de análises, no
qual, teve-se como premissa que tais fatores de interferência incitem em um parque ou projeto
eólico.
Essa análise é baseada em 22 questões, dividas em 2 perspectivas de análise, que são pré-
definidas através de termos que se iniciam a partir de cada letra componentes das palavras
“Telescopic Observations” (PANAGIOTOU, 2003). Esses termos são descritos a seguir, junto
com suas respectivas traduções para o português.
TELESCOPIC (Telescópicas): Technological advancements (Avanços tecnológicos);
Economic considerations (Considerações econômicas); Legal and regulatory requirements
(Requisitos legais e regulamentares); Ecological and environmental issues (Questões ecológicas e
ambientais); Sociological trends (Tendências sociais); Competition (Concorrência);
Organizational culture (Cultura organizacional); Portfolio analysis (Análise de portifólio);
International issues (Questões internacionais); Cost efficiencies and cost structures (Eficiência
por custos e estruturas dos custos).
OBSERVATIONS (Observações): Organizational core competencies and capabilities
(Competências e capacidades organizacionais essenciais); Buyers (Compradores); Suppliers
(Fornecedores); Electronic commerce (Comércio electrónico); Resource audit (Auditoria de
recursos); Value chain (Cadeia de valor); Alliances, including partnerships, networks & joint
ventures (Alianças, incluindo parcerias, redes e Joint Ventures); Total quality management
(Gestão da qualidade total); Industry key factors for success (Fatores-chave da indústria para o
sucesso); Organizational structure (Estrutura organizacional); New entrants (Novos entrantes);
Substitute products and services (Produtos e serviços substitutos).
4. RESULTADOS
4.1. Análise SWOT pelo quadro de análise Telescopic Observations
De modo elementar, chega-se ao mapeamento dos fatores essencialmente mercadológicos
da energia eólica através do modelo de análise escolhido. Nos Quadros 1 e 2 encontram-se as
análises SWOT para componentes de interferência à estratégia organizacional pela utilização da
análise do quadro Telescopic Observations, proposta por Panagiotou (2003). “Como o próprio
nome sugere, o quadro verifica e observa os objetos à distância, foca e amplia-os, e os leva para
mais perto do usuário para uma análise e avaliação mais efetiva” (PANAGIOTOU, 2003, p. 9).
Além disso, esse quadro engloba também os pontos analíticos das forças competitivas de Porter
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(1980) Clientes, Fornecedores, Concorrentes, Novos Entrantes e Produtos substitutos, o que
complementa e dá força às análises propostas.
Nos Quadros 1 e 2 dividem-se os pontos analíticos do Ambiente Interno: Strengths (Força)
e Weakness (Fraqueza); e do Ambiente Externo: Opportunities (Oportunidades) e Threats
(Ameaças). Alguns pontos são elementares e autoexplicativos em suas dimensões, como os
avanços tecnológicos – evidenciados como uma oportunidade do setor eólico –, que tornaram os
equipamentos de geração de energia mais eficientes e mais baratos (CNI, 2009).
Outros pontos, por sua vez, necessitam de uma análise mais aprofundada como a estrutura
e a cultura organizacional e a administração da qualidade total, que são evidenciados como Forças
setoriais. Ribeiro, Pierot e Corrêa (2012, p. 68) identificaram que empresas de energia eólica têm
um perfil de estrutura enxuta (média de 50 colaboradores), os colaboradores possuem “um
envolvimento no que tange à sustentabilidade de média conscientização”, além de possuir
estratégias de qualidade organizacional como “programas de educação ambiental”, monitoramento
e controle total de questões de meio ambiente, um sistema de gerenciamento de risco, dentre
outras; o que justifica a escolha de tais Forças do setor na análise SWOT.
Quadro 1 – Análise SWOT Telescopic Observations do setor de energia eólica brasileiro
Fonte: Elaborado pelos autores. Nota. Quadro padrão de Panagiotou (2003, p. 10).
Em relação às Fraquezas, questões como o portfolio, o comércio eletrônico e os fatores
industriais para o sucesso, necessitam de uma explicação corrente. Primeiramente, o portfolio de
uma empresa de energia eólica é simplório, pois abrange somente a produção de um tipo de
energia; contíguo, o comércio eletrônico apresenta diversas problemáticas tanto à venda de
energia, quanto à venda de turbinas, pois, são comercializações de alto valor e de alto teor
estrutural, sistêmico e tecnológico; e, os fatores industriais para o sucesso são problemas de um
setor ainda recente que depende de muitas variáveis ambientais, econômicas e políticas para
suporte e permanência dentro do mercado (COSTA; CASOTTI & AZEVEDO, 2009).
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Quadro 2 – Análise SWOT Telescopic Observations do setor de energia eólica brasileiro
Fonte: Elaborado pelos autores. Nota. Quadro padrão de Panagiotou (2003, p. 10).
Quanto às Oportunidades, as questões internacionais e a cadeia de valor, também
necessitam de uma explicação corrente. As questões internacionais comumente estão dentro de
uma ambiência de apoio e incentivo à geração energia eólica com investimentos em P&D e
produção de conhecimento na área, visto que o desenvolvimento de equipamentos
tecnologicamente mais avançados envolve pesquisas de diversos países (LEWIS & WISER, 2007;
ALVES et al., 2011). Por sua vez, a cadeia de valor no contexto de relacionamento com os
stakeholders (PORTER, 1980) tende a trazer benefícios para projetos eólicos já que tanto
fornecedores e clientes, quanto empresas do ramo eólico têm dado abertura para a criação de valor
através de cadeias de valor estratégico, configurando-se como oportunidades do setor.
Quanto às ameaças, justamente 3 das forças competitivas de Porter (1980) caracterizam-se
nesta dimensão: Suppliers (Fornecedores), New entrants (Novos entrantes) e Substitute products
and services (Produtos e serviços substitutos). Primeiramente, no Brasil somente três empresas
atuam no segmento de fornecimento de turbinas e parques eólicos, evidenciando-se uma ameaça
para a ampliação do setor e para tornar essa energia mais difundida, segundo a CNI (2009). Ainda,
novos entrantes se inserem no mercado com a tecnologia eólica em alta, com diversos casos
experienciais de parques eólicos para nortear as tomadas de decisão e com estabilidade setorial
devido às políticas estabelecidas. Por outro lado, os produtos substitutos como a energia solar e a
biomassa – que também são renováveis –, têm tido um potencial de geração e crescimento de
mercado tão quão a energia eólica.
Com isso, da análise SWOT Telescopic Observations do setor eólico Brasileiro, foram
evidenciados mais fatores de Oportunidades, seguido por Fraquezas, como pode ser visto na figura
2 a frequência de cada dimensão da análise SWOT. Compreende-se que dos fatores internos, um
projeto eólico tende a apresentar mais Fraquezas, em especial, por ser um tipo de organização
recente e que lida com questões de inovação. Em contrapartida, dos fatores externos, um projeto
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eólico tende a apresentar mais Oportunidades devido às políticas de incentivo à geração de energia
limpa e ao significativo potencial eólico brasileiro.
Figura 2 – Frequência de cada dimensão da análise SWOT.
Fonte: Elaborado pelos autores.
4.2. Análise SWOT específica
Em uma análise SWOT específica, complemento à análise Telescopic Observations,
propôs-se investigar que fatores estritamente mercadológicos mais afetam o setor eólico nas
dimensões de Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças. Como podem ser visualizados no
Quadro 3, diversos fatores interferem mercadologicamente no setor eólico, sendo alguns fatores
analiticamente mais relevantes em termos estratégicos.
Quadro 3 – Análise SWOT específica do setor de energia eólica brasileiro
FORÇAS FRAQUEZAS OPORTUNIDADES AMEAÇAS Qualidade da energia;
Marketing verde;
Baixos custos de Administração, Operacionalização e Manutenção;
Estrutura Organizacional enxuta;
Limitações para locais específicos;
Altos custos iniciais;
Leilões (perspectiva comercial);
Falta de mão de obra especializada;
Potencial Eólico;
Redução de Impostos;
Financiamentos e Subsídios;
Redes e Alianças;
Falta de linhas de transmissão;
Energia Solar e Biomassa;
Leilões (Perspectiva da concorrência);
Novos entrantes fortes;
Fonte: Elaborado pelos autores.
Na dimensão das forças, o fator de estratégia do Marketing Verde caracteriza-se o mais
relevante, especialmente por estar tornando a energia eólica tão atrativa e sujeita a tantos
incentivos à produção. Tais estratégias e políticas ecológicas, como definidas por Dias (2009),
tiveram início quando as empresas viram-se impelidas a adaptar-se a demandas ambientais de
novos mercados que estão buscando diminuir a contaminação do meio ambiente, como é o caso
dos setores das energias renováveis, entre estas a eólica.
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Na dimensão das fraquezas os altos custos iniciais de equipamentos é o fator determinante
para a implantação de um projeto eólico. Entretanto outras problemáticas intrínsecas ao ambiente
organizacional das empresas produtoras também devem ser cuidadosamente avaliadas, tais como o
poder de competitividade, as limitações das localidades de instalação do projeto eólico e a falta de
colaboradores especializados com habilidades e capacidades específicas.
Na dimensão das oportunidades, apesar de a grande questão do setor eólico ser os
financiamentos e subsídios, pois permite a viabilidade econômica do projeto eólico; Em termos
estratégicos são as redes e alianças os fatores de oportunidades mais relevantes. Isso porque,
devido ao alto custo de implantação e os riscos concernentes ao setor, as parcerias estratégicas
tornam-se um modo das empresas superarem esses problemas por meio do compartilhamento de
capacidades organizacionais e de capitais em prol da viabilização dos projetos eólicos. Um caso
brasileiro específico é o das empresas Vale S.A. (brasileira) e da Pacific Hydro (australiana), que
formaram uma joint venture para construir no estado do Rio Grande do Norte – tendo o maior
potencial eólico do Brasil –, parques eólicos de capacidade instalada de 140MW, em um
investimento de R$ 650 milhões (PACIFIC HYDRO, 2012).
Na dimensão das ameaças tem-se a competitividade dos leilões de energia elétrica, em que
tem levado empresas produtoras a comercializarem a energia abaixo do preço de custo, devido à
expectativa de venda da energia eólica produzida. Costa, Casotti e Azevedo (2009) e Garbel,
Mello e Tomaselli (2011) apontam que no Brasil os preços da energia eólica têm sido compelidos
para baixo por causa de um ambiente de competição nos leilões de energia que fazem projetos
eólicos, não viáveis àquele preço estabelecido, ganharem os leilões e com isso apresentarem
prejuízos consideráveis, tornando-se uma ameaça para esses projetos.
No entanto, cabe ressaltar uma grande ameaça aos projetos eólicos no Brasil, que apesar de
não perfazer um fator estratégico, e sim de estrutura e suporte governamental, é a falta de linhas de
transmissão de energia que liguem os parques eólicos ao sistema elétrico, de modo a se
complementar ao regime hídrico (SILVA; ROSA & ARAÚJO, 2005; DUTRA & SZKLO, 2008).
Ou seja, ao ponto que os parques eólicos ficam impossibilitados de escoar a energia produzida,
esta energia é desperdiçada. A isso, são evidenciados no Brasil diversos parques eólicos parados,
justamente devido a essa problemática das linhas de transmissão.
5. DISCUSSÃO
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Os resultados encontrados mostram um mercado eólico de muitas Oportunidades e muitas
Fraquezas, os quais, pela análise SWOT “Telescopic Observations” foram os itens em maior
número. Caracterizando as Oportunidades, podem se destacar: Potencial Eólico; Redução de
Impostos; Financiamentos e Subsídios; Redes e Alianças. Quanto às Fraquezas, podem se
destacar: Falta de linhas de transmissão; Energia Solar e Biomassa; Leilões [Perspectiva da
concorrência]; Novos entrantes fortes.
O que se depreende é que o setor eólico Brasileiro está solícito a investimentos e possui
grande potencialidade à criação de novos negócios – parques eólicos e autoprodução –, devido ao
potencial eólico que o país possui, atrelado a uma significativa redução de impostos para os
produtores, bem como, diversos incentivos (subsídios, financiamentos e apoios por
responsabilidade ambiental) que compõem um sistema funcional de superação das barreiras
provenientes de investimentos por alto custo inicial, pois, impelem reduções nos custos efetivos
ou desloca boa parte dos custos iniciais para os custos de longo prazo.
E por outro lado, são as problemáticas de caráter endógenas às empresas produtoras de
energia que devem ser avaliadas, tais como: (1) o poder de competitividade e os Leilões na
perspectiva da concorrência, pois, o produtor dificilmente poderá competir com grandes empresas
ou com a energia solar e a biomassa que é mais barata que a eólica; (2) os altos custos com
equipamento, que é uma questão de aprendizado tecnológico, visto que a tecnologia eólica possui
um sistema avançado e caro, e assim, provavelmente, somente com a popularização da energia
eólica é que os custos tenderão a cair significativamente; (3) as limitações das localidades de
instalação, pois, os locais de alto potencial eólico (figura 1) estão em áreas litorâneas de domínio
público, o que, segundo pesquisas de Devine-Wrigth e Howes (2010) a instalação de parques
eólicos tem sido vista como uma ameaça pela população local, levando as pessoas a
comportamentos de oposição – exigindo uma participação mais ativa do Governo no incentivo e
na promoção da energia eólica. Além disso, faltam linhas de transmissão que proporcionem a
complementariedade da energia eólica com a energia hidrelétrica – convencional no Brasil; e, (4) a
falta de colaboradores especializados, que ocorre, em especial, devido a não popularização da
energia eólica, fazendo com que haja baixa promoção de capacitações técnicas na área.
Ainda assim, não se pode deixar de pontuar que outras questões específicas no Brasil de
modelo político-econômico, de infraestrutura e industriais influenciam o mercado de energia
eólica, tais como: (1) interesses políticos-fiscais –, uma vez que, a arrecadação tributária do
Governo estaria concentrada no Estado Produtor –, (2) os conhecimentos e inovações dependentes
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de outros países, (3) os investimentos públicos na logística das redes de distribuição, (4) os riscos
energéticos quanto à continuidade do fornecimento versus imagem política quanto à possibilidade
de apagão energético, e, (4) os mecanismos regulatórios claros na garantia do fornecimento da
energia.
A isso, alguns pontos mercadológicos têm um alcance universal como as alianças
estratégicas, os incentivos à produção de energia, o marketing verde e a estrutura organizacional
de empresas do ramo. Outros pontos como a falta de infraestrutura para a implantação de parques
eólicos ou um fornecimento precário de equipamentos eólicos, bem como, suas respectivas
manutenções que possam garantir fornecimento e distribuição da energia são significativas e
devem ser equalizadas indiferentemente das regiões do país.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o objetivo de mapear os fatores mercadológicos específicos do setor eólico Brasileiro
e suas perspectivas, em função do desenvolvimento gerencial, comercial e estratégico do setor,
foram encontrados resultados bastante relevantes e esclarecedores para o desenho de futuras
pesquisas na área. A isso, a análise SWOT mostrou-se um instrumento profícuo para utilização em
análises de setores ligados à inovação e à questões abrangentes, como os sistemas energéticos.
Ainda, estudar as perspectivas mercadológicas do setor energético é importante para que a
energia eólica torne-se uma alternativa economicamente e gerencialmente viável para o setor, com
suporte às questões socioambientais. Isso demonstra que este estudo como processo de gestão de
uma inovação, é necessário para complementar sua difusão ao uso e promover diretrizes que
conduzam ao planeta uma inovação tecnológica que reduz impactos ambientais associados a
interesses econômicos.
Além disso, este estudo concretiza seus objetivos e chega ao seu ponto final no momento
em que consegue demarcar os fatores mercadológicos que influem no setor de energia eólica, e
assim, ajuizar os fatores de destaque que podem balizar o amadurecimento gerencial do setor e
mostrar as barreiras e facilitadores da energia eólica. Logo, compreende-se um aprofundamento do
tema da energia eólica em termos mercadológicos de grande relevância para o setor eólico em
âmbito global, visto que há poucos estudos nessa direção. E, especialmente relativo ao setor
energético brasileiro, o estudo mercadológico da energia eólico alcança um nível particular de
ineditismo, de modo que se tornar o ponto de partida para quaisquer estudos nesse sentido.
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As limitações do estudo advêm principalmente do formato exploratório de pesquisa, que
teve um alinhamento de coleta e análise de dados em busca de variáveis qualitativas para mapear
os fatores de relevância mercadológica ao setor brasileiro de energia eólica. Desse modo, são
recomendadas novas pesquisas que avaliem, especialmente em perspectivas quantitativas, os
fatores mercadológicos aqui levantados, em relação a custos, investimentos e inovações, com
objetivo de avaliar os avanços, uma vez que, a perspectiva de uso e implementação em adotar essa
nova fonte energética é ampla.
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