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HART, C. Deixis, Distance and Proximization. In: ________ . Discourse, Grammar and Ideology: Functional and Cognitive Perspectives. London: Bloomsbury, 2014. Discourse Space Theory/Teoria do Espaço Discursivo (DST) – Chilton, 2004: construções de significado na dimensão do texto, em termos de uma configuração abstrata e tridimensional num espaço mental ‘discursivo’ (mental ‘discourse’ space), que provê coerência conceptual para textos inteiros uma vez que entidades e eventos são mapeados ao longo de eixos que representam “distâncias” sócio-espaciais, temporais e avaliativas (epistêmicas e axiológicas). Um modelo de conceptualização deiticamente motivado que daria conta da construção do significado no discurso como “linguagem acima da sentença” e de formas mais pragmáticas de posicionamento que se ancoram no contexto mais amplo do texto e que são mais dependentes de um consenso de valores intersubjetivo. A maior vantagem do modelo é dar conta de diferentes tipos de posicionamento pragmático dentro de um só quadro teórico. Na sua dimensão avaliativa, provê uma explicação cognitiva de posicionamento modal e axiológico e, portanto, tem o potencial de unir pesquisas mais funcionalistas de avaliatividade e pesquisas cognitivas em representação de espaço e tempo. Corpus: Tony Blair e EDL Durante o discurso, nós abriríamos um tipo particular de espaço mental em que o “mundo” descrito no discurso é conceptualmente representado. Esse espaço discursivo consiste em três eixos interseccionais ao redor dos quais o mundo discursivo é construído. Essa construção se faz com o posicionamento de elementos ideacionais no texto em relações ontológicas entre si, bem com em relação ao falante dentro desse espaço. Os três eixos são: Socioespacial (S): a noção de dêixis é dissociada das dependências imediatamente situacionais e extendida para cobrir a conceptualização mais ampla do que é “nós”, “aqui”, “agora” e “aceitável” na arena da geopolítica assimilando ideias como identidades nacionais, memórias coletivas, momentos históricos ou períodos de tempo, sistemas políticos, crenças religiosas e verdades epistemológicas. O eixo socioespacial pode ser visto como uma confluência das categorias dêiticas tradicionais lugar e pessoa extendendo a conceptualização dêitica a relações geopolíticas. Temporal (T): temporal representa uma linha do tempo do “agora” para o “passado distante” e o “futuro distante”. Avaliativo (E) 1 : apresenta uma conceptualização dêitica de “certo” x “errado” em seus dois sentidos (epistêmico e axiológico), tendo cada um deles referências antonímicas, com várias posições intermediárias. 1 Em Chilton, 2004, o terceiro eixo é simultanemanete epistêmico e deôntico. Cap (2006) retira o aspecto epistêmico, e troca o deôntico pelo axiológico. Hart segue Cap no favorecimento do axiológico sobre o deôntico, dado que aquele é uma categoria mais ampla para explicar tipos de valor. No entanto, ele mantém a funcionalidade dupla do terceiro eixo à luz da significância central da avaliatividade epistêmica na comunicação política.

Hand Out. Deixis, Distance and Proximization

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HART, C. Deixis, Distance and Proximization. In: ________. Discourse, Grammar and Ideology: Functional and Cognitive Perspectives. London: Bloomsbury, 2014.

Discourse Space Theory/Teoria do Espaço Discursivo (DST) – Chilton, 2004: construções de significado na dimensão do texto, em termos de uma configuração abstrata e tridimensional num espaço mental ‘discursivo’ (mental ‘discourse’ space), que provê coerência conceptual para textos inteiros uma vez que entidades e eventos são mapeados ao longo de eixos que representam “distâncias” sócio-espaciais, temporais e avaliativas (epistêmicas e axiológicas). Um modelo de conceptualização deiticamente motivado que daria conta da construção do significado no discurso como “linguagem acima da sentença” e de formas mais pragmáticas de posicionamento que se ancoram no contexto mais amplo do texto e que são mais dependentes de um consenso de valores intersubjetivo.

A maior vantagem do modelo é dar conta de diferentes tipos de posicionamento pragmático dentro de um só quadro teórico. Na sua dimensão avaliativa, provê uma explicação cognitiva de posicionamento modal e axiológico e, portanto, tem o potencial de unir pesquisas mais funcionalistas de avaliatividade e pesquisas cognitivas em representação de espaço e tempo.

Corpus: Tony Blair e EDLDurante o discurso, nós abriríamos um tipo particular de espaço mental em que o “mundo” descrito

no discurso é conceptualmente representado. Esse espaço discursivo consiste em três eixos interseccionais ao redor dos quais o mundo discursivo é construído. Essa construção se faz com o posicionamento de elementos ideacionais no texto em relações ontológicas entre si, bem com em relação ao falante dentro desse espaço.Os três eixos são:

Socioespacial (S): a noção de dêixis é dissociada das dependências imediatamente situacionais e extendida para cobrir a conceptualização mais ampla do que é “nós”, “aqui”, “agora” e “aceitável” na arena da geopolítica assimilando ideias como identidades nacionais, memórias coletivas, momentos históricos ou períodos de tempo, sistemas políticos, crenças religiosas e verdades epistemológicas. O eixo socioespacial pode ser visto como uma confluência das categorias dêiticas tradicionais lugar e pessoa extendendo a conceptualização dêitica a relações geopolíticas.

Temporal (T): temporal representa uma linha do tempo do “agora” para o “passado distante” e o “futuro distante”.

Avaliativo (E)1: apresenta uma conceptualização dêitica de “certo” x “errado” em seus dois sentidos (epistêmico e axiológico), tendo cada um deles referências antonímicas, com várias posições intermediárias.

o Epistêmico (Ee): diz respeito à avaliação moral, podemos pensar que cada um de seus extremos representam valores positivos x negativos de JULGAMENTO

o Axiológico (Ea): a magnitude em que a proposição está colocada nesse eixo corresponde ao fechamento ou abertura do espaço dialógico (se ligando, portanto, ao sistema de ENGAJAMENTO)

1 Em Chilton, 2004, o terceiro eixo é simultanemanete epistêmico e deôntico. Cap (2006) retira o aspecto epistêmico, e troca o deôntico pelo axiológico. Hart segue Cap no favorecimento do axiológico sobre o deôntico, dado que aquele é uma categoria mais ampla para explicar tipos de valor. No entanto, ele mantém a funcionalidade dupla do terceiro eixo à luz da significância central da avaliatividade epistêmica na comunicação política.

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A dêixis é em sua raiz espacial e, como concebido tradicionalmente, se relaciona com a codificação da distância relativa às coordenadas situacionais do falante no momento da fala.

Ex: aqui x lá; isso x aquilo; agora x antes/então; nós x elesO centro dêitico representa o ponto de vista do falante/ouvinte no espaço social, temporal, epistêmico e

axiológico. A zona imediatamente ao redor dele representa o que o falante ouvinte como a sua base (?) socioespacial, temporal, epistêmica e axiológica.

Não se diz que a causa primária dos valores semânticos dos eixos no espaço discursivo seja os eixos corporais. O corpo provê uma estrutura conceptual abstrata à qual os valores semânticos importantes para a construção do significado no nível do discurso podem ser arbitrariamente atribuídos e conceptualizados metaforicamente em termos de distância. A noção de base nessa descrição extradêitica da conceptualização pode então corresponder a um nível maior de abstração com o espaço peripessoal na cognição situada.

Processos visuais; visão estereoscópica; simulações motoras; localização espacial egocêntrica; percepção de profundidade

Corporeamento: evidência lexical sistemática que aponta conceptualizações espaciais de relações sociais, temporais e epistêmicas na forma de metáforas ‘close friends/distant enemies’, ‘near future/remote past’, ‘close to the truth/far from the truth’ . A conceptualização especializada e dêitica de avaliação axiológica é mais complexa, mas pode ser encontrada em expressões como ‘beyond reproach’ and ‘bring to justice’.

Space builders (Fauconnier, 1994): as posições relativas de certos elementos dentro do espaço conceptual podem ser inscritas no discurso por meio de características gramaticais como marcadores modais e de tempo, pronomes e sintagmas preposicionais. A posição relativa de outros elementos pode apenas se invocada, organizada por conhecimento pressuposto e orientações de valor em frames cognitivos compartilhados.

Elementos no espaço discursivo são ligados por conectores ou por vetores: Conectores representam vários tipos de relação como atribuição e possessão. Vetores representam processos matérias entre elementos como o conceptualizador no centro

dêitico bem como movimentos abstratos no espaço.Crucialmente, o mapeamento de elementos dentro do espaço discursivo é sujeito ao construal.Portanto, não reflete a realidade diretamente. Antes, constrói-a. Presume-se que o espaço discursivo

“povoado” constitui uma visão de mundo compartilhada pelos ouvintes, ou visão que eles serão convidados a

2 Essa estrutura é apresentada por Hart como um MCI.

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aceitar e, assim, por meio da “retro-projeção” aos frames que estruturam o espaço discursivo, atualizar suas bases de conhecimento enciclopédico.

A teoria de Proximização de Cap (2006, 2008, 2010, 2011, 2013) é elaborada a partir da DST. Para ele, a proximização é uma estratégia retórico-pragmática na qual o falante, procurando legitimar uma “contra ação” imediata, apresenta um ator, situação ou evento, construído (no sentido de construal) como uma ameaça ao Self, enquanto entra, através das dimensões espaciais, temporais e axiológicas, nas bases/terrenos do conceptualizador e, portanto, gerando consequências pessoais. É concebida primariamente como uma característica do discurso intervencionista.

Proximização espacial: se apoia num script envolvendo uma interação entre um ANTAGONISTA e um PROTAGONISTA. Mais especificamente, consiste numa representação do ANTAGONISTA adentrando as bases espaciais do PROTAGONISTA, ou se “território”, resultando em dano corporal ao PROTAGONISTA.‘Grammar’ of spatial proximization made up of the following functional units (cf. Cap 2006: 60):

Sintagmas nominais (SNs) conceptualizados como ANTAGONISTAS

SNS conceptualizados como PROTAGONISTAS

Sintagmas verbais (SVs) conceptualizando ação/movimento de ANTAGONISTAS

Sintagmas preposicionais (SPs) conceptualizando direção de ação/movimento em direção aos PROTAGONISTAS

SNs conceptualizando impacto de ação/movimento em PROTAGONISTAS

Proximização como uma simulação dinâmica é baseada em um esquema imagético de ação ou de MOVIMENTO + IMPACTO.

O construal da proximização pode ser realizado de duas maneiras: fraseológica: o veto que conecta o antagonista como fonte da ameaça e o protagonista como alvo

final é evocado de uma vez onde a “extensão” total do vetor é feita explícita na fala. narrativa: é construída de maneira logo-genética conforme o discurso se desenrola. O vetor que

conecta o antagonista ao protagonista não é evocado de uma vez, mas evolui progressivamente ao longo de frames espaciais ou geopolíticos de referência às bases do conceptualizador. O efeito de proximização na realização narrativa não é tão facilmente atribuído à interação de unidades funcionais específicas e não está necessariamente explícito no discurso. Antes, ele se apoia em relações intratextuais entre falas, a geração de implicaturas e o posicionamento dêitico comum de elementos no eixo S.

O efeito geral dessa estratégia de proximização é gerar um afeto: insegurança que, por sua vez, ajuda a legitimar ações preventivas. Ao invés de esperar a ameaça chegar, devemos “meet it head on”.

Conceptualmente, essa “defusion” ? envolve um esquema de contra força no qual a progressão continuada da ameaça é prevenida por uma força neutralizadora. Esse esquema é instanciado em expressões como “face up to” e “must be stopped”.

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Proximização temporal: opera sobre as proximizações espacial e axiológica como uma forma de intensificação. Nela, o cenário apresentado pelos outros dois planos é contruído (construal) como (continuamente mais) próximo da base temporal do conceptualizador. Há dois tipos

past-oriented: envolve uma mudança conceptual ou evolução ao longo do eixo T de algum ponto em Tp em direção a 0 no centro dêitico.

future-oriented. mudança conceptual de algum ponto em Tf em diração ao centro dêitico.Em ambos os casos, a proximização temporal pode ser caracterizada como estreitamento entre o espaço

conceptual no eixo T e o agora do conceptualizador. Na proximização future-oriented o evento é construído (construal) como não apenas importante, mas iminente e, portanto, requer contra ação imediata. Na past-oriented, o passado é construído (construal) como ainda acontecendo. Isso envolve uma progressão ao longo do eixo T em direção ao centro dêitico. Eventos do passado são salientados para informar, por comparação, o contexto presente do conceptualizador (vetor de tradução?).

Cortando essa distinção, temos as duas formas alternativas de realização: fraseológica: é indexada por tempo e aspecto, dêiticos temporais, adjetivos e sintagmas

preposicionais que constroem (contrual)a ocorrência de um evento como próxima do agora, advérbios indicando velocidade de movimento e verbos de movimento que incluem em seu significado uma alta velocidade (levando a um frame de tempo contraído em que um evento vai “se completar”).

analógica: tende a ocorrer na past-oriented, eventos culturalmente saliente na memória coletiva são trazidos para mais perto do “agora” com propósitos de (des)analogia?. Ela se baseia na nossa experiência de que o tempo pode parecer contraído ou expandido (“as if they happened only yesterday”, “feels like a lifetime ago”)

Aspecto e delimitação (boundedness) de eventos: perfectivo (visto “de fora”, já completado), presente imperfectivo e presente simples (visto “de dentro” e ainda acontecendo, o foco não está no evento todo, mas no processo).

Proximização epistêmica: relação conceptual entre distância epistêmica e temporal. Base filosófica ou corporeada (Langacker, 2009): como o futuro ainda não foi determinado, o que se diz dele não é real ou conhecido com certeza, mas o que já aconteceu, é conhecido e real. Procura estabelecer legitimidade construindo as proposições como fatos, ou pedindo confiança na avaliação do falante. Formas de evidencialidade podem agir como forças metafóricas propelindo uma proposição em direção às bases epistêmicas do conceptualizador ao longo de Ee.

Proximização axiológica: se apoia na habilidade de imaginar visões de mundo axiologicamente opostas. Na DST, isso é baseado numa imagem espelhada das coordenadas dêiticas de uma pessoa (PROTAGONISTA) em seu espaço discursivo. Nesse caso, a aproximação consiste num “estreitamento do vão entre duas ideologias diferentes e opostas”. Isso pode envolver uma mudança axiológica nas bases do protagonista ou do antagonista, que se tornam mais parecidos. Da perspectiva do protagonista, temos:

stable ground (o PROTAGONISTA muda) shifting ground (o ANTAGONISTA muda)

positiva negativa