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Jeremias - tnsj.pt

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Ópera de Câmara

para Público Familiar

música

Isabelle Aboulker

libreto a partir da peça

teatral Jérémy Fisher,

de Mohamed Rouabhi

versão portuguesa

Luís Rodrigues

direcção artística

Catarina Molder

coordenação musical

e co ‑repetição

Nuno Barroso

cenografia e figurinos

Danièle Rozier

desenho de luz

Sandie Charron

maestro coro infantil

Armando Possante

apoio vocal coro infantil

Magna Ferreira

direcção técnica

e operação de luz

Stéphane Descombes

interpretação

Catarina Molder Jody

Luís Rodrigues Tom

Jorge Martins Médico

Pedro Frias Autor;

Representante da Empresa

de Piscinas

Pedro Fontes Jeremias

(récitas dos dias 15 e 17)

Luís Campos Jeremias

(récita do dia 16)

Coro Infantil da

Companhia de

Ópera do Castelo

Pedro Fontes

e Luís Campos

Beatriz Silva

Catarina Mouro

Catarina Barreiros

Catarina Silva

Duarte Benard

Gonçalo Carvalho

Ivanea Machado

Madalena Veiga

Maria Fernandes

Mariana Soares

Martinho Ferreira

Teresa Soares

Tomás Vieira

Vicente Molder

Quarteto de

Cordas ArtZen

Victor Vieira violino

Ana Filipa Serrão violino

Joana Cipriano viola

Carolina Matos violoncelo

produção

Companhia de

Ópera do Castelo

apoios

Opéra National de Lyon

Biennale du Théâtre

Jeunes Publics/Lyon

estreia absoluta [Jun2007]

Biennale du Théâtre

Jeunes Publics (Lyon,

França)

co ‑produção original

Opéra National de Lyon

Biennale du Théâtre

Jeunes Publics/Lyon

Quatuor Debussy

Opéra de Rennes

estreia nacional

[1Jan2010] Centro

Cultural de Belém

(Lisboa)

qui 21:30 sex 15:00

sáb 21:30

dur. aprox. [1:00]

classif. etária M/6 anos

JeremiasFisherA H istóri A do Menino Pe ixeÓPe RA De I SAB e LL e A BO uLke Re NC e NAçãO MIC he L D IeuAID e

TeatroCarlosAlberto

15 ‑17Abr2010

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Chamo ‑me Jeremias Fisher e a história que vos vou contar é uma história verdadeira: é a história da minha vida.Eu vivi as coisas que vos vou contar, e se um dia, na rua, um desconhecido vos falar de mim não digam “Sim, eu sei”: esqueçam tudo e sigam o vosso caminho. Não repitam a ninguém estas coisas, as mais estranhas que um ser humano dotado de razão pôde ouvir sobre a terra. •Jeremias Fisher

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Cena 1 Numa praia, Jeremias (coro) canta o início da história.Jody adormece à espera de Tom, que chega finalmente da pesca com um ar muito perturbado. Conta ‑lhe que sucedeu um acidente, que Foster, um dos seus companheiros, caiu ao mar arrastado por uma onda enorme, logo a seguir a terem apanhado uma pequena baleia branca que mordera em Foster e que este, furioso, matara. Jody fica aliviada por o seu marido estar salvo e diz ‑lhe que está grávida. Ambos partilham uma grande alegria.

Cena 2 O médico vem a casa de Jody e diz ‑lhe que está tudo em ordem e que vão fazer uma ecografia para ver o bebé. Para seu grande espanto, o médico descobre que o feto tem mãos com membranas, como barbatanas de peixe. Fica radiante com a descoberta, que lhe vai trazer fama. Jody fica desesperada.

Cena 3 Depois desta descoberta, Jody e Tom são perseguidos pela imprensa, que invade a sua vida privada. Eis que chega um representante de uma empresa de piscinas, que lhes tenta vender um aquário gigantesco para meterem o seu filho. Enraivecido, Tom expulsa ‑o de casa e fica à beira do desespero. Jody sossega ‑o, dizendo ‑lhe que vai correr tudo bem.

Cena 4 Entretanto, Jeremias nasceu, cresceu e é um menino saudável, sempre cheio de energia, sonha com o fundo do mar e que consegue comunicar com os peixes. É o melhor aluno da escola e brilha nas aulas de natação, onde chega a ficar uma hora debaixo de água, mas aborrece ‑se, porque no fundo da piscina ninguém brinca com ele. O director da piscina propõe ‑lhe que deixe a escola para se tornar numa espécie de estrela de circo, devido aos seus poderes sobre ‑humanos. Jody replica ‑lhe que nem pensar, porque o lugar dele é na terra com a família e não na água, e que ele ainda tem muitas coisas para aprender na escola.

Cena 5 Jeremias tem um pesadelo: sonha que os pais não o reconhecem e que pensam que ele é um monstro. Quando acorda, o seu corpo começa progressivamente a transformar ‑se num peixe.

Cena 6 O tempo foi passando e Jeremias já tem dificuldade em ficar fora de água, começa a perder a audição e está muito cansado. O pai fala ‑lhe dos animais pré ‑históricos e de como a nossa civilização nasceu nos oceanos. Os pais compreendem que está na hora de Jeremias partir.

Cena 7 Jeremias parte numa nova jornada no seu novo mundo. •

Sinopse

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“Esta história é para as crianças solitárias. Ou que se tornarão um dia solitárias.”

É esta a dedicatória que Mohamed Rouabhi escreve na sua peça Jérémy Fisher. Uma forma comovedora de introduzir a história deste menino, filho de uma família de pescadores, que nasce sob o signo de Peixes e que de metamorfose em metamorfose se vai transformando num menino peixe, até chegar a hora de ir finalmente viver para o oceano. É preciso muito amor e inteligência por parte dos pais para o aceitarem como ele é – diferente de todos os outros meninos – e, ainda mais, para aceitarem que têm de o deixar partir, porque, se não o fizerem, Jeremias não poderá viver, nem ser feliz. Uma metáfora para a transformação que todos nós sofremos ao longo do crescimento, em que deixamos de ser crianças dependentes dos nossos pais para sermos adultos que precisam de partir para a sua própria vida.

Tive a sorte de estar em Lyon aquando da estreia mundial de Jérémy Fisher em Junho de 2007, no âmbito da Biennale du Théâtre Jeunes Publics. Fiquei deslumbrada com a beleza e simplicidade da história, da música e da encenação. Achei um espectáculo muito bem conseguido, que nos levava à reflexão e à identificação imediata com aquelas personagens no palco, como se aquela história insólita pudesse acontecer a qualquer um de nós. Quando isso acontece no palco, estamos perante um bom espectáculo. Quando a fronteira entre a realidade e a ficção se converte num todo, estamos perante a magia da arte do espectáculo.

É com grande alegria que a Companhia de Ópera do Castelo se une ao Centro Cultural de Belém e

ao Teatro Nacional São João para apresentar este espectáculo em estreia internacional fora de França, partilhando com o público português o entusiasmo suscitado aquando da sua estreia.

Queremos agradecer todo o apoio prestado por Michel Dieuaide, o encenador e director da Biennale du Théâtre Jeunes Publics, um autêntico anjo da guarda que também tornou possível esta aventura, e a Isabelle Aboulker, por toda a cooperação. Agradecemos também ao CCB e ao TNSJ, por apostarem sem hesitações neste projecto.

Esta ópera decorre na íntegra sem a presença do maestro. Embora tenha uma direcção musical, na definição da condução musical, dos seus ambientes sonoros e andamentos, o trabalho funciona muito em equipa e todos os artistas em palco, incluindo solistas adultos e crianças, têm que trabalhar numa cumplicidade e atenção redobradas pela falta do habitual líder – o maestro –, num desafio muito pouco habitual no repertório lírico. O coro infantil tem uma responsabilidade e exigência a toda a prova, já que está todo o espectáculo em cena, absolutamente autónomo. A personagem Jeremias ora é um menino solista, ora assume a voz global do coro. Praticamente toda a equipa artística desempenha duplas funções: os cantores ora asseguram a direcção artística (Catarina Molder) e a direcção do coro infantil (Armando Possante), ora assinam a nova versão portuguesa (Luís Rodrigues); o coordenador musical (Nuno Barroso) assume a co ‑repetição e a direcção de produção. Uma equipa polivalente e participativa na preparação do espectáculo. •

Sob o signo de PeixesCatarina Molder

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Criar uma ópera contemporânea para o público infantil é uma aventura artística demasiado rara para que não deixe de acordar o desejo de sucesso e um sentimento particular de responsabilidade. Jérémy Fisher conjuga vários trunfos. Um texto de teatro transformado em libreto de ópera, uma criação musical contemporânea, uma formação inédita: solistas, coro de crianças e quarteto de cordas. Mas há mais.

Primeiro, o propósito de Mohamed Rouabhi, que dedica Jérémy Fisher às crianças sós ou que o serão um dia e conta a metamorfose de uma criança que quer ir ao fundo dos seus sonhos. No seu percurso, acompanham ‑no pais inteligentes e capazes de amar e de ultrapassar os seus sofrimentos. Conto poético e moderno de múltiplas ressonâncias, Jérémy Fisher apresenta ‑se como uma autobiografia simbólica que se apoia no quotidiano das pessoas comuns para se elevar à universal humanidade. Aqui, nada de personagens de ambição e poder, nada de intriga burguesa ou aristocrática mas, por uma vez na ópera, personagens humildes, próximas do espectador, animadas pela sua sede de conhecimento e o seu desejo de o transmitir.

Em seguida, a música de Isabelle Aboulker, que dedica a sua partitura ao amor das palavras escritas por Mohamed Rouabhi, e que, ao mesmo tempo, multiplica numa partitura aberta e coerente as referências à escrita contemporânea. Com uma delicadeza inventiva, a música de Jérémy Fisher propõe um percurso operático rico, indivisível da beleza da língua e da generosidade das vozes de

adultos e crianças. Emocionante e humorística, passando com virtuosismo de uma valsa lenta a um tom mais “jazzy”, dos ardores de um recital épico à emoção pungente de um dueto, a composição musical segue em perfeita sintonia com os vibrantes episódios que formam as etapas do destino de Jeremias.

E, enfim, a colocação em imagens cénicas que proponho, com a cumplicidade da cenografia e dos figurinos de Danièle Rozier e do desenho de luz de Sandie Charron.

Movido pela história de Jeremias, onde a morte vagueia permanentemente, convido ‑vos a descobrir um espectáculo de teatro musical onde se me impuseram exigências de limpidez e poesia. Para vos fazer vibrar através das situações dramáticas que expõem o singular destino de uma criança diferente, impõe ‑se fugir de toda a demonstração, de qualquer ênfase ou maneirismo. As personagens que vão ver – contagiantes, divertidas, inquietantes – são ‑vos familiares. O destino de Jeremias não é fantástico. A sua força reside no desejo de uma criança ir ao fundo do que pode – mas por quanto tempo? – encantar a sua jovem vida. •

Uma ópera profunda, límpida e poética

Michel Dieuaide

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Jeremias Fisher resultou de uma encomenda feita à compositora Isabelle Aboulker pelo Quarteto Debussy e pela Ópera de Lyon, tendo ‑se estreado nesta sala em Junho de 2007, no âmbito da Biennale du Théâtre Jeunes Publics.

Aboulker tinha estudado no Conservatório Superior de Música de Paris, onde fora aluna de Composição de Marcel Duruflé, e esta sua formação especializada parecia indicar que o seu percurso de compositora se processaria no quadro das linguagens musicais de vanguarda que dominavam a música francesa do pós ‑guerra. Mas desde criança que gostava de compor pequenas melodias de estrutura livre, de fácil comunicação, sem particular preocupação com nenhum dos credos estéticos mais ou menos oficiais que se iam afirmando à sua volta. O seu trabalho como pianista acompanhadora das classes de Canto de uma das maiores cantoras francesas do seu tempo, Janine Micheau, fê ‑la conhecer em profundidade as possibilidades técnicas e expressivas da voz e criou ‑lhe o gosto pelo trabalho com intérpretes jovens e com o público infantil, encorajando ‑a a escrever algumas canções de carácter pedagógico para os seus alunos.

Em 1977 surgia a sua primeira ópera infantil, produzida pela Juventude Musical Francesa, La Fontaine parmi nous, sobre os textos consagrados das fábulas de La Fontaine. Em 1983, o seu encontro com o maestro Jean ‑Claude Malgoire levou à encomenda da ópera de câmara Leçons de français aux étudiants américains, sobre texto de Ionesco, e no ano seguinte da ópera infantil Moi Ulysse, com libreto de Rémi Laureillard, ambas estreadas com enorme sucesso no Atelier Lyrique de Tourcoing.

Com o mesmo Laureillard viria a produzir nos anos seguintes várias óperas infantis: Idriss ou la fête interrompue (1984), Lascaux, la grotte aux enfants (1990), Trois bateaux pour nulle part (1990), Jongleurs dans la jungle (1993), L’Opéra de chiffon (1994) e Atchafalaya (1996), alcançando igualmente grande sucesso com a sua ópera de câmara Cinq Nô modernes, sobre texto de Yukio Mishima, estreada na Ópera da Bastilha em 1992, e com a sua hilariante Opéra thérapeutique, ou “conférence médico ‑lyrico‑‑burlesque”, baseada em excertos de manuais de Medicina dos séculos XVIII a XX. As suas óperas infantis são hoje em dia frequentemente levadas à cena no circuito francês e internacional, e teve especial êxito a partitura que compôs para o acompanhamento de uma recente edição áudio do Principezinho de Saint ‑Exupéry. Dando a palavra à própria autora: “Gosto do teatro, da palavra, mas gosto também do ruído do lápis no papel de música, do ranger da borracha, dos pequenos pontinhos negros que se vão transformando em ritmos e sons. É por isso que, com prazer e obstinação – e contra toda a lógica –, componho óperas”.Para compor Jeremias Fisher, Isabelle Aboulker baseou ‑se na peça Jérémy Fisher, de Mohamed Rouabhi, que tinha sido estreada em 1997 pela companhia teatral fundada pelo autor e pela encenadora Claire Lasne, Les Acharnés, e fora publicada em 2002 pela editora Actes Sud. Rouabhi, nascido em Paris mas de pais argelinos, destacara ‑se desde inícios da década de 1990 como actor, dramaturgo e guionista de cinema, abordando nas suas obras com frequência os temas da exclusão social sob todas as suas formas – a pobreza, o racismo, a xenofobia, a diáspora palestiniana, a discriminação contra as vítimas da sida. Particularmente aclamada tinha sido a sua peça Vive la France (2006), estreada no Teatro Gérard Philipe, uma apologia de uma França multiétnica e multicultural, tolerante e fraterna.

Jeremias Fisher é antes de mais uma parábola sobre a liberdade e o seu preço. A liberdade e o preço de ser diferente, e a liberdade e o preço de ser adulto. A diferença é precisamente a primeira realidade com que o texto nos confronta, uma diferença que no caso deste menino peixe se percebe logo desde a fase da sua gestação e se vai confirmando em modo crescente ao longo da sua infância e adolescência. Jeremias não é igual aos outros meninos, e essa desigualdade desperta estranheza, a começar logo pela dos

Rui Vieira Nery

Diferença, solidão, liberdade, tolerânciaA mensagem de Mohamed Rouabhi e Isabelle Aboulker

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próprios pais, que no entanto conseguem ultrapassar essa primeira reacção a partir do amor inabalável que dedicam ao filho. A diferença de Jeremias provoca o seu isolamento gradual na escola e na comunidade, mesmo que seja sob a forma de observação curiosa e desconfiada das suas proezas sobre ‑humanas na piscina, e desperta a ganância dos que querem de várias formas lucrar com a exploração comercial do fenómeno, desde o vendedor de aquários ao director da piscina que o quer transformar num número de circo, ou aos cientistas que o querem dissecar no laboratório como um exemplar raro de uma espécie desconhecida. Lembramo ‑nos facilmente, por analogia, de uma outra grande representação operática da rejeição social, a de Peter Grimes na ópera homónima de Britten.

O Senhor e a Senhora Fisher cumprem de modo exemplar a sua missão de proteger o filho, vencendo nesse processo os seus próprios preconceitos. Encorajam ‑no a estudar, estimulam a sua interacção com as demais crianças, abdicam pouco a pouco da sua vida pessoal e profissional para o acompanharem de mais perto, e quando se apercebem do carácter irreversível da sua transformação procuram fortalecer ‑lhe a auto ‑estima e a autoconfiança. Na devida altura saberão vencer o seu sentimento natural de posse para o libertarem no mar, o seu elemento essencial, aceitando esta separação definitiva como o preço da liberdade de Jeremias enquanto adulto. Mas sabem bem – sabemo ‑lo todos nós, público, e sabê ‑lo ‑á o próprio Jeremias, apesar do seu entusiasmo juvenil de lançamento neste ritual de passagem – que o seu caminho continuará marcado pela diferença, mesmo que assumida, consciente e serena. A luta pela afirmação da sua dignidade individual permanecerá uma constante dos seus dias, e poderá implicar um custo de permanente solidão (Mohamed Rouabhi define a sua obra como “uma história para crianças solitárias, ou para aquelas que o virão a ser”), mas Jeremias adquiriu, pelo amor dos pais e pela própria firmeza de carácter que soube construir, a força para a travar até ao fim. A parábola pode, assim, ser lida a diferentes níveis pelo público de todas as idades, em registos que vão da fábula mágica mais onírica à metáfora política e existencial mais elaborada, sem perder em nenhum destes planos a sua capacidade mobilizadora, numa mensagem centrada no valor ético da tolerância.

Liberdade é também o qualificativo mais evidente da própria música de Isabelle Aboulker. Assumidamente tonal, embora aqui e além temperada por um ligeiro sabor modal ou por um cromatismo discreto, a sua linguagem subordina ‑se antes de mais ao tratamento expressivo do texto belíssimo de Mohamed Rouabhi – que na presente versão ouviremos numa tradução magnífica (e eminentemente musical, ela própria) da responsabilidade do barítono Luís Rodrigues. Não é difícil identificarmos a filiação histórica desta escrita músico ‑teatral numa tradição francesa que remonta, de algum modo, a L’Enfant et les sortilèges e L’Heure espagnole de Ravel, ou a Les Mamelles de Tirésias de Poulenc, mas em que se sente igualmente a referência de Eric Satie e alguma afinidade com as óperas infantis de Benjamin Britten, em particular com Let’s Make an Opera. O texto declamado associa ‑se a um recitativo de desenho melódico livre, ao sabor da prosódia, ou a uma harmonização simples que deixa também ela transparecer a palavra como base da narrativa. Tudo isto se passa, por outro lado, sobre um suporte instrumental delicado do quarteto de cordas, que vai construindo manchas de colorido harmónico ora mais densas ora mais límpidas e gerindo com requinte e eficácia o próprio percurso da tensão dramática do enredo.

A encenação de Michel Dieuaide e a cenografia de Danièle Rozier complementam idealmente este jogo mágico de texto e música, envolvendo a acção numa atmosfera de cores coadas ligeiramente melancólicas, mas que nunca chegam a ser depressivas. Os cenários e adereços são simples e despojados, sem particular complexidade de efeitos cénicos, e são as luzes o elemento mais interveniente na definição dos momentos psicológicos sucessivos da peça. Quando o espectáculo termina, ficamos ainda imersos numa espécie de luminosidade aquática em que ressoam as últimas palavras do menino peixe que deu um salto para a aventura da vida adulta: “Foi assim que deixei a terra para viver no fundo da água. Para me fundir com as correntes violentas do mar, abandonar a lua e as estrelas para absorver o calor e o frio dos oceanos de reflexos azulados, respirar a solidão, perdido no meio dos corais e das algas, absorver ‑me a mim próprio na corrente sem fim”. •

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Companhia de Ópera do CasteloA Companhia de Ópera do Castelo pretende desenvolver

projectos musicais, concertos encenados e ópera com

formatos flexíveis e inovadores, a partir de propostas

artísticas e estéticas que cruzem a tradição com a

contemporaneidade. Apostando na interdisciplinaridade

de expressões artísticas e de géneros musicais,

conjugando repertórios tão opostos como a ópera, o

cabaré, o fado, o jazz ou o rock com uma preocupação

pedagógica e social, propõe novas atitudes na procura de

um novo paradigma para o universo lírico, no século XXI.

O seu lema é levar a ópera e a música erudita para junto do

público em geral, aliando criatividade e eclectismo a uma

eficaz economia de meios.

Em apenas um ano de existência, a Companhia

desenvolveu uma residência no Castelo de São Jorge

com uma programação muito intensa, desenhada

exclusivamente para o referido monumento, composta

por visitas e contos musicais, concertos, concertos

encenados e happenings musicais. Concebeu, produziu

e levou em digressão pelo país o concerto encenado

Memória dos Anjos – Da Fé à Perdição só Vai um Passo, e os

espectáculos musicais para público jovem Brincadeiras

Líricas e A Bruxa Cati. •

Quarteto ArtZenNasceu em 2005, no âmbito da cadeira do professor

Paul Wakabayashi na Academia Nacional Superior de

Orquestra, em Lisboa, e tem vindo a representá ‑la em

espectáculos. Foi referenciado em vários festivais,

destacando ‑se o intercâmbio Toulouse/Lisboa, em 2006,

e o Festival de l’Eté Mosan 2007, em Bruxelas. Obteve

o 1.º prémio no concurso Prémio Jovens Músicos, na

modalidade de Música de Câmara (Nível Superior). Já

trabalhou com os Quarteto Borodin e Quarteto Hagen, o

que lhe trouxe uma visão artística de inovação e coesão. •

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COMPAN hIA

De Ó P eRA

DO CASTeLO

direcção artística

Catarina Molder

direcção de produção

Nuno Barroso

produção executiva

Maria Manuel Aurélio

assistência de produção

Tiago Tomé, Joana Borges

F IC h A TéCNICA TNSJ

coordenação de produção

Maria João Teixeira

assistência de produção

Eunice Basto

direcção de palco (adjunto)

Emanuel Pina

direcção de cena

Cátia Esteves

maquinaria de cena

António Quaresma,

Carlos Barbosa, Joel Santos

luz

João Coelho de Almeida,

António Pedra, José Rodrigues

som

Miguel Ângelo Silva

electricistas de cena

Júlio Cunha, Paulo Rodrigues

Companhia de Ópera do Castelo

Costa do Castelo, 70, r/c

1100 ‑179 Lisboa

www.operadocastelo.com

[email protected]

Teatro Nacional São João

Praça da Batalha

4000 ‑102 Porto

T 22 340 19 00 | F 22 208 83 03

Teatro Carlos Alberto

Rua das Oliveiras, 43

4050 ‑449 Porto

T 22 340 19 00 | F 22 339 50 69

Mosteiro de São Bento da Vitória

Rua de São Bento da Vitória

4050 ‑543 Porto

T 22 340 19 00 | F 22 339 30 39

www.tnsj.pt

[email protected]

Edição

Departamento de Edições do TNSJ

Coordenação

João Luís Pereira

Documentação

Paula Braga

Design gráfico

João Faria, João Guedes

Ilustração

Margarida Botelho

Fotografia

Takashi Sugimoto

Impressão

Aprova, AG

Não é permitido filmar, gravar ou fotografar

durante o espectáculo. O uso de telemóveis,

pagers ou relógios com sinal sonoro é

incómodo, tanto para os intérpretes como

para os espectadores.

Apoios Companhia de Ópera do Castelo

Apoios TNSJ

Apoios à divulgação

Agradecimentos TNSJ

Polícia de Segurança Pública

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