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LIPÍDEOS
CONCEITO Os lipídeos (também grafados como lipídios) constituem, juntamente com os
carboidratos e proteínas, outra classe de substâncias consideradas como alimento. Os seus representantes são compostos bastante heterogêneos, das mais variadas funções químicas, que se caracterizam pela insolubilidade em água e solubilidade em solventes orgânicos (éter de petróleo, acetona, álcool, clorofórmio, etc.). Essa natureza hidrofóbica é conseqüência da natureza química da molécula, que possui extensas cadeias de carbono e hidrogênio, lembrando muito os hidrocarbonetos, com nenhuma ou poucas ligações químicas apresentando polaridade.
LIPÍDIOS
• Insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos (apolares)
• Congregam diferentes funções químicas (acidos, alcoois, esteres, etc.)
• São os mais energéticos dos constituintes celulares
• Desempenham funções energética e estrutural na célula viva
POLARIDADE NAS LIGAÇÕES E MOLÉCULAS
OCORRE ENTRE ÁTOMOS COM DIFERENTES ELETRONEGATIVIDA DES
C
CS
C
H
N
SN
O
CO
N
H
H
HS
δ- δ+
H - O
H -
δ-
δ+
δ+
CH3-COO- Na+
Cargas: o extremo da polaridade Não polarpolar
FUNÇÕES DOS LIPÍDIOS
• ENERGÉTICA: depósitos de gordura subcutânea e óleo no endosperma de sementes
• ESTRUTURAL: lipoproteínas (membranas de permeabilidade diferencial – plasmática, organelas, sistema lamelar cloroplastos e mitocôndrias)
• OUTRAS FUNÇÕES: vitaminas (A, D, K), clorofilas, xantofilas, etc.
ALTO VALOR ENERGÉTICO
90121176Lipídio
4064944Carboidrato
41672353Proteína
Kcal/gN(%)H(%)O(%)C(%)Classe
CH4 + 2O2 CO2 + 2 H2O + 279 Kcal/Mol
CH4O + 1,5O2 CO2 + 2H2O + 171 Kcal/Mol
CH2O + 1O2 CO2 + H2O + 134 Kcal/Mol
0% -4
50% -2
53% 0
0% no oxid.
São considerados os mais energéticos dos alimentos devido a essas cadeias
hidrocarbonetadas, apresentando o átomo de carbono bastante reduzido, isto é, com baixo número de oxidação, possuindo assim baixo teor de oxigênio na molécula. Quanto menor o teor de oxigênio na molécula orgânica, mais reduzido é o átomo de carbono, mais oxigênio será necessário para a sua oxidação (química ou biológica) e maior será a energia química liberada nesta oxidação (slide 1).
Constituem, portanto, uma excelente opção para a célula viva ou organismo qualquer, o armazenamento de energia química na forma de lipídeos, pois que este apresenta uma densidade energética superior à dos carboidratos e proteínas (slide2).
Do ponto de vista estrutural os lipídeos constituem as membranas de permeabilidade diferencial, como a membrana citoplasmática e aquelas que revestem as
organelas e outras entidades com atividade bioquímica especializadas (como o retículo endoplasmático, o sistema lamelar dos cloroplastos, etc.). Alguns representantes dessa classe ainda desempenham funções altamente especializadas, como a de algumas vitaminas (A, D, etc.), a clorofila (pigmento receptor da energia radiante no processo fotossintético), além de muitos outros constituintes celulares .
CLASSIFICAÇÃO Os lipídeos são classificados segundo as suas propriedades químicas, sendo
assim agrupados em conformidade com as suas funções químicas. 1. Lipídeos neutros (quimicamente ésteres).
Glicerídeos (ésteres do glicerol com ácidos graxos): mono-, di- e triglicerídeos Ceras (ésteres de álcoois mono-hidroxilados com ácidos graxos)
2. Fosfatídeos ou fosfolipídeos 3. Esfingolipídeos 4. Glicolipídeos 5. Lipoproteínas 6. Terpenóides (carotenóides e esteróides)
CLASSIFICAÇÃO DOS LIPÍDIOS• LIPÍDIOS NEUTROS
glicerídiosceras
• FOSFATÍDIOS (FOSFOLIPÍDIOS)• ESFINGOLIPÍDIOS• GLICOLIPÍDIOS (LIPÍDIO + CARBOIDRATO)• LIPOPROTEÍNAS (LIPÍDIO + PROTEÍNA)
• TERPENÓIDEScarotenóides
esteróides
GLICERÍDIOS
• Monoglicerídios
• Diglicerídios• Triglicerídios
ESTERES DO GLICEROL COM ÁCIDOS GRAXOS
TRIGLICERÍDEOS Constituem a quase totalidade da fração lipídica de uma dieta alimentar ou de
uma ração animal, pois que vem a forma pela qual os organismos (animais e vegetais) armazenam parte significativa da energia química. Assim os depósitos subcutâneas de gordura dos animais e o óleo armazenado no endosperma de algumas sementes (oleaginosas) são representantes dos triglicerídeos.
Hidrólise dos triglicerídeos Quimicamente são ésteres do glicerol com ácidos graxos, produtos estes que são
obtidos mediante a hidrólise. Tal hidrólise pode ser conduzida mediante 3 modalidades: 1. Hidrólise ácida - em meio ácido a reação tende para um equilíbrio químico e não
se completa, razão pela qual é chamada de “reversível”. 2. Hidrólise alcalina - em meio alcalino (NaOH ou KOH) o ácido graxo liberado é
convertido no sal sódico ou potássico, e, não existindo mais o ácido graxo na sua forma protonizada , o equilíbrio da reação é deslocado no sentido da reação de hidrólise se completar, e é dita de “irreversível”. É também chamada de “reação de saponificação”, pois que os sais dos ácidos graxos são também denominados de “sabão”.
3. Hidrólise enzimática - quando na presença de enzimas, genericamente denominadas de lípases.
GLICERÍDIOS
GLICERÍDIOS
HIDRÓLISE DOS TRIGLICERÍDIOS
Sabão
H2C O
C
CO
C
H O
O
CO
CO
(CH2)m
(CH2)n
(CH2)pH2
CH3
CH3
CH3
H2C
C
OH
C
OHH
OHH2
CH3 (CH2)m COOH
CH3 (CH2)n COOH
CH3 (CH2)p COOH
3H2O+
Triglicerídio Glicerol Ácidos graxos
Hidrolise ácida
H2C O
C
CO
C
H O
O
CO
CO
(CH2)m
(CH2)n
(CH2)pH2
CH3
CH3
CH3
H2C
C
OH
C
OHH
OHH2
3NaOH+
CH3 (CH2)m COONa
CH3 (CH2)n COONa
CH3 (CH2)p COONaHidrolise alcalina
CH3COO
-Na
+
Região apolar
Região polarMolécula com propriedade detergente
EMULSIFICAÇÃO DAS GORDURAS
Micelas de gordura (apolar)
Água (polar)
EMULSIFICAÇÃO DAS GORDURAS
micela
Região apolar Região polar
detergente
água
EMULSIFICAÇÃO DAS GORDURAS
Região apolar
Região polar
detergente
Os sais alcalinos dos ácidos graxos (sabão) apresentam a propriedade detergente , a qual propicía a solubilização ou emulsificação das gorduras. Para que uma molécula apresente a propriedade detergente a mesmas deve conter, na mesma estrutura química, uma região polar (hidrofílica) e outra apolar (hidrofóbica). Assim, os detergentes estabelecem uma ponte aproximando as moléculas polares (da água) das moléculas de
apolares das gorduras, promovendo a solubilização ou emulsificação. As moléculas de detergente impedem a estabilidade das micelas (grupos de moléculas de gorduras) no ambiente aquoso.
EMULSIFICAÇÃO DAS GORDURAS
detergente
detergente
ÁCIDOS GRAXOS
H-COOH (ac. fórmico)
CH3-COOH (ac. acético)
CH3-CH2-COOH (ac. propiônico)
CH3-(CH2)2-COOH (ac. butírico)
CH3-(CH2)n-COOH (ac. graxo)
São ácidos carboxílicos com propriedade graxa (apolar : com mais de 4 carbonos em estágio reduzido)
ACIDO GRAXO
ÁCIDOS GRAXOS(Estrutura e ponto de fusão)
-10CH3-CH2-(CH=CH-CH2)3-(CH2)6-COOHLinolênico
-5CH3-(CH2)4-(CH=CH-CH2)2-(CH2)6-COOHLinolêico
13CH3-(CH2)7-CH=CH-(CH2)7-COOHOlêico84CH3-(CH2)22-COOHLignocérico
80CH3-(CH2)20-COOHBeênico
75CH3-(CH2)18-COOHAraquídico
70CH3-(CH2)16-COOHEsteárico
63CH3-(CH2)14-COOHPalmítico
54CH3-(CH2)12-COOHMirístico
44CH3-(CH2)10-COOHLáurico
Insaturação dos ácidos graxos
CH3COOH
CH3
COOH
CH3COOH
CH2
CC
H
CH2
H
CH2
CC
CH2
H
H
ac. graxo saturado
ac. graxo insaturado - trans
ac. graxo insaturado - cis
MONOINSATURADO
Saturação/insaturação dos ácidos graxos Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos que apresentam um radical R (aderido à
carboxila) de natureza graxa ou apolar (hidrofóbica), o qual deve conter mais de 4 átomos de carbono em estágio reduzido (grupo metileno: -CH2-). De um modo geral, aumentando-se o número de átomos de carbono na molécula, aumenta-se o ponto de
fusão do ácido graxo (até 8 carbono os ácidos carboxílicos são líquidos; com 1 e 2 átomos de C são voláteis).
DUAS INSATURAÇÕES
A presença da dupla ligação (insaturação) diminui o ponto de fusão
CH3COOH
CH3
COOH
CH3
COOH
CH3
HOOCAcidos graxos poli-insaturados
Acido graxo saturado Acido graxo monoinsaturado
P.F.=13oCP.F.=70oC
P.F.= - 10oCP.F.= - 5oC
Já a presença da dupla ligação na cadeia hidrocarbonetada do ácido graxa (também denominada de insaturação ) promove uma redução drástica no ponto de fusão, especificamente quanto esta insaturação for de configuração “cis-“. O isômero “trans-“ não tem seu ponto de fusão reduzido, demonstrando que é o arranjamento molecular em estado mais condensado que resulta na propriedade de se manifestar como sólido a uma dada temperatura. Tal estado ordenado é mais facilmente obtido com estruturas moleculares saturadas (slide).
Desse modo, os óleos vegetais se mostram líquidos à temperatura ambiente (20-25oC) pelo fato de serem trigilicerídeos com elevada proporção de ácidos graxos insaturados (e de configuração cis-), que apresentam baixo ponto de fusão. Tais propriedades dos ácidos graxos são transferidas para os triglicerídeos que os encerram. Por outro lado, as gorduras, geralmente de origem vegetal, se apresentam sólidas à temperatura ambiente pelo fato de haver predominância de ácidos graxos saturados (de maior ponto de fusão).
Uma dieta rica em óleos vegetais, e portanto rica em ácidos graxos poli-insaturados, é aconselhável às pessoas com distúrbios cardiovasculares, possuidoras de elevados teores de colesterol no sangue. Tais problemas são manifestados pela arteriosclerose (endurecimento das artérias) e/ou ateroesclerose (diminuição da luz arterial), que não necessariamente ocorrem simultaneamente. Sabe-se que o colesterol (quimicamente um álcool) quando no interior da célula se encontra livre, ao passo que fora dela (no sangue por exemplo), se encontra esterificado por ácidos graxos. Dependendo da insaturação do ácido graxo disponível (que também é afetada pelo tipo de triglicerídeo presente na dieta), decorre uma maior ou menor facilidade de deposição do éster de colesterol na parede interna das artérias, diminuindo a luz das mesmas, e contribuindo para o agravamento dos distúrbios cardiovasculares.
A margarina, obtida pela hidrogenação catalítica dos óleos vegetais, com a finalidade de dar às mesmas a consistência sólida da manteiga, não se constitui num substituto adequado desta, quando se pretende evitar os inconvenientes da gordura animal. Isto porque a característica desejável dos óleos vegetais vem a ser a presença de ácidos graxos poli-insaturados (de configuração cis), a qual é alterada quando se efetua a hidrogenação dos mesmos para se obter um produto de maior ponto de fusão. Durante
esta hidrogenação também pode ocorrer a conversão dos ácidos graxos de configuração “cis-“ para a forma “trans-“, resultando na “gordura trans”, associada a efeitos prejudiciais à saúde. O colesterol pode se apresentar livre ou na
forma de ester de ácido graxo
Ester saturado do colesterol
Acido graxo saturado Colesterol
CH3COOH HO
CH3COOHHO
A insaturaçào do ácido graxo permite uma extrutura quimica diferente do ester
CH3
COOH HO
Ester poli-insaturado do colesterol
CH3
COOHHO
A natureza poli-insaturada do ester permite
dobramentos da cadeia carbônica
Ester poli-insaturado do colesterolCH3
COOH
CH3
COOH
CH3
HOOC
Espessamento da parede arterial em função da saturação do ester do colesterol
Luz arterial
CH3COOH
CH3COOH
Parede arterial
Ester insaturado
Ester saturado
ÍNDICE DE IÔDO (I.I.)
CH3
CH2
CH2
CH2
CH2CH2
CH
CH
H2CCH2
H2C
CH2
H2CCOOH
CH2
CH2
CH2
CH2COOH
C
I
I
CHCH
CH2
CH2CH2
CH2CH2
CH3
I2
Ni
ÁCIDO GRAXO INSATURADO
I.I. = miligramas de iôdo (I 2) que reagem com as duplas ligações de 100 g de óleo ou gordura
ÍNDICE DE IÔDO (GRAU DE INSATURAÇÃO) DE ALGUNS TRIGLICERÍDIOS)
140OLEO DE GIRASSOL
120 -130OLEO DE MILHO
110 - 120OLEO DE SOJA
90 -100OLEO DE AMENDOIM
70 - 80MARGARINA
50 - 60MANTEIGA (VACA)
35 - 50MANTEIGA DE CACAU
ÍNDICE DE IÔDO (I.I.)LIPÍDIO
COMPOSIÇÃO DO ÓLEO DE CANOLA (COLZA)
traços (TÓXICO)ERÚCICO (C 22:1)
traçosARAQUÍDICO (C 20:0)
9-13LINOLÊNICO (C 18:3)
21-23LINOLÊICO (C 18:2)
56-65OLÊICO (C 18:1)
4-6ESTEÁRICO (C 18:0)
1-2PALMÍTICO (C 16:0)
TEOR (%)ÁCIDOS GRAXOS
Ceras
CH3
C
OO
CH3
Acido graxo
Alcool monohidroxilado de cadeia longa
Ligação ester
São substâncias altamente apolares
Cera de abelha: palmitato (16C) de miricila (30C)
Cera de carnaúba: cerotato (26C) de miricila
Cera de cana: palmitato de miricila e estigmasterila
CERAS Quimicamente são ésteres de ácidos graxos de cadeia longa com álcoois mono-
hidroxilados igualmente de cadeia longa (16 a 36 átomos de carbono). Devido à natureza das cadeias hidrocarbonetadas, tanto do ácido graxo como do álcool, tais compostos são bastante hidrofóbicos, razão pela qual plantas e animais optaram por uma camada cerosa para proteção e impermeabilização. Enquanto aves aquáticas, por exemplo, efetuam a impermeabilização das penas com auxílio de matéria cerosa das glândulas cericígenas, as plantas apresentam uma camada de cera (cutícula) para proteção da epiderme. Tal camada cerosa nas plantas compromete a eficiência da utilização de defensivos agrícolas (fungicidas, por exemplo), herbicidas e mesmo fertilizantes foliares, pois que tais produtos são veiculados em meio aquoso (polar) e a natureza apolar da cutícula impede uma melhor cobertura da superfície foliar. Para contornar tal inconveniente é que se usa os chamados agentes dispersantes, agentes de superfície, agentes umectantes, espalhantes adesivos, etc. Tais produtos, com propriedades detergentes, permitem que um menor volume de líquido cubra uma maior superfície do vegetal.
FOSFOLIPÍDEOS (FOSFATÍDEOS) São derivados do ácido fosfatídico. Um representante desse grupo é a lecitina, que
está associada às membranas de permeabilidade diferencial (como a citoplasmática), com função ainda pouco conhecida, talvez regendo o transporte de substâncias através destas membranas. Os fosfolipídeos se mostram com propriedades detergentes, pelo fato de apresentarem uma região apolar na molécula (representada pelas cadeias hidrocarbonetadas dos ácidos graxos) juntamente com outra região de natureza polar (a porção glicerol, ácido fosfórico e a base nitrogenada). Assim, a lecitina vem sendo usada para facilitar a emulsificação de substâncias hidrofóbicas quer com finalidades farmacêuticas ou na formulação de alimentos industrializados (leite em pó solúvel, chocolates, etc.).
Fosfolipídios
H2C
CH
O CO (CH2)14 CH3
O CO (CH2)7
C O PO CH2
OH
OCH2 N
CH3
CH3
CH3
CH (CH2)7 CH3
H2 +
acido olêico-apolar
glicerol-polar
colina- polar
acido palmitico (apolar)
Lecitina – propriedade detergente
fosfato-polar
Alguns fosfolipídios
GLICOLIPÍDEOS São estruturas contendo um carboidrato associado a uma porção lipídica, como os
galactolipídes e sulfolipídes encontrados no tecido fotossintetizador de plantas, sendo que suas funções bioquímica/fisiológicas ainda são pouco conhecidas.
GLICOLIPIDIOS
O
C H2HO
C H2O C O R1
C H
C H2
R2CO O
O
GLICOLIPIDIOS
LIPOPROTEÍNAS São associações entre proteínas e lipídeos, especialmente fosfolipídeos, que se
arranjam segundo a polaridade destas moléculas, sem o envolvimento de ligações covalentes. Resulta, pois, que as lipoproteínas são estruturas delicadas, facilmente de serem perturbadas por agentes químicos (solventes e detergentes, por exemplo) e físicos (temperatura). As membranas de permeabilidade diferencial (através da qual a passagem de substâncias está subordinada à uma seletividade), como a membrana citoplasmática e aquelas que revestem as organelas, bem como o retículo endoplasmático e o sistema lamelar dos cloroplastos) são constituídas de lipoproteínas.
Os fosfolipídeos em ambiente aquoso formam estruturas ordenadas como bicamadas e mesmo os chamados lipossomas, em função das diferentes polaridades na mesma molécula. A região apolar (atribuída às cadeias dos ácidos graxos) ficam orientados para o interior da bicamada, enquanto a “cabeça” do fosfolipídio fica orientada para o exterior, onde, no caso da célula estaria o interior e o exterior celular, ambos expostos a um ambiente aquoso (polar).
Os fosfolipídios formam estruturas organizadas
fosfolipídio
lipossomasbicamadas
água
arsuperfície
micelas
A MEMBRANA PLASMÁTICA
PROTEÍNAS TRANSPORTADORAS
EXTERIOR
INTERIOR
A ESTRUTURA LIPOPROTÉICA
Fosfolipídio
Regiões apolares dos acidos graxosRegiões polares:
glicerol, fosfato, ligação ester, colina
Tolerância ao frio A composição da membrana plasmática, notadamente em relação à proporção de ácidos graxos saturados e insaturados presentes nos fosfolipídeos consituintes, é determinante para a tolerância ao frio, tanto em plantas como em outros organismos. Ocorrendo uma maior proporção de ácidos graxos saturados (de maior ponto de fusão), a fração lipídica da membrana plasmática pode se solidificar quando de um abaixamento da temperatura (como ocorre no fenômeno das geadas). Esta solidificação da membrana (que pode ocorrer em temperaturas inclusive acima de 0oC), fará com que a mesma se contraia, e não podendo comprimir o citoplasma celular, a mesma se rompe. Esta ruptura igualmente ocorre com as demais membranas lipoprotéica (das organelas celulares), promovendo uma descompartimentação dos processos metaboólicos, levando a célula à morte. O aspecto escuro e seco das folhas após a geada, referenciada popularmente como “queimada pela geada” é conseqüência da perda de água (devido á ruptura das membranas) e pela oxidação dos polifenóis em quinonas (escuras) pela ação das polifenoloxidases (devido à descompartimentação celular).
Mesmo antes do congelamento da fração lipídica da membrana plasmática a mesma pode ter a sua “fluidez” alterada, o que afeta a “permeabilidade” da mesma, acarretando alguma injúria pelo frio.
Assim sendo, as plantas tolerantes ao frio apresentam maior proporção de ácido graxos insaturados em suas membranas, dificultando o congelamento das mesmas e mantendo a fluidez adequado ao transporte dos solutos para um adequado metabolismo.
As plantas podem, dentro de certo limite, serem “aclimatadas”, ou seja, cultivadas em regiões com temperaturas diferentes daquelas nas quais evoluíram, mas para tal as mesmas ajustam o metabolismo dos ácidos graxos para manter a fluidez apropriada de suas membranas. Um exemplo deste tipo de adaptação vem a ser o cultivo da mesma variedade de cacaueiro em diferentes latitudes, com diferentes temperaturas, produzindo manteiga de cacau com diferentes valores de “índice de iodo”.
O “índice de iodo” vem a ser um parâmetro químico que indica a quantidade de insaturação em um óleo ou gordura. Desse modo o cacaueiro cultivado na região de Ribeirão Preto (mais fria), produz uma manteiga de cacau com maior índice de iodo do aquela obtido do cultivo da mesma variedade em Manaus (região mais quente), Estes resultados mostram que o cacaueiro, por si só, se adaptou a um ambiente mais frio, produzindo mais ácidos graxos insaturados, para ajustar a fluidez de suas membranas lipoprotéicas.
ACLIMATAÇÃO (insaturação da manteiga do cacau cultivado em
diferentes temperaturas
Insaturação
(I.I.)
Temperatura (oC)
42
Belém
Manaus
Canavieiras
37
36
2625242322
Rib. Preto
Itabuna
41
40
39
38
ACLIMATAÇÃO
1.000m
20-25oC – ESPERMACETE LÍQUIDO
0-5oC – ESPERMACETE SÓLIDO
A baleia ajusta a insaturação dos acidosgraxos do espermacete para facilitar a flutuação (superfície) e submersão
INSETOS QUE RESISTEM O CONGELAMENTO
A TREALOSE É CONSTITUINTE DA HEMOLINFA DOS INSETOS
TREALOSE: A MOLÉCULA MÁGICA
TARDÍGRADOS RESISTEM À QUASE COMPLETA DESIDRATAÇÃO (ANIDROBIOSE)
Outros estresses abióticos, como a desidratação, comprometem a membrana plasmática, mais especificamente a sua integridade. No entanto alguns organismos são capazes de sobreviverem em quase que completa desidratação, estado mencionado como “anidrobiose”. Tal fenômeno é observado em algumas plantas (planta da ressureição) e microrganismos (fungos, leveduras e bactérias, especialmente na forma de esporos). Em tais organismos a trealose (dissacarídeo não redutor) é armazenado em grandes quantidades, tanto no citoplasma como nas membranas, exercendo um efeito protetor magnífico. Ao que parece, tal açúcar (polar) substitui as moléculas de água
PLANTAS QUE RESSUSCITAM
ESTÁGIO DESIDRATADO COM MENOS DE 8% DE UMIDADE
ENTRAM EM ESTADO DE VEGETAÇÃO COM UMIDADE FAVORÁVEL
FORMAS DE VIDA ALTAMENTE RESISTENTES AOS ESTRESSES
AMBIENTAIS ACUMULAM TREALOSE
ESPOROS DE FUNGOS, BACTÉRIAS E LEVEDURAS
CÉLULAS VEGETATIVAS DE LEVEDURAS
ACTIVE DRY YEAST(LEVEDURAS VIVAS EM ESTADO ANIDROBIOSE)
O MERCADO SUCROALCOOLEIRO DISPÕE HOJE DE LEVEDURAS SELECIONADAS PARA ALTO CONTEÚDO DE TREALOSE, PARA SUPORTAR OS ESTRESSES DA FERMENTAÇÃO INDUSTRIAL E DO PROCESSO DE DESIDRATAÇÃO
ESTABILIDADE DA MEMBRANA(TOLERÂNCIA À DESIDRATAÇÃO)
DESIDRATAÇÃO E HIDRATAÇÃO
trealoseágua
poro
AÇÃO PROTETORA DA TREALOSE NA DESNATURAÇÃO PROTÉICA
CALOR/SOLVENTES
SEM TREALOSE
COM TREALOSE
PROTEINA INATIVADA
CALOR/SOLVENTES
(camada de solvatação) que mantém as “cabeças” dos fosfolipídios adequadamente espaçadas, evitando o colapso da estrutura lipoprotéica quando da desidratação. Caso ocorra tal colapso, a membrana após a hidratação apresentará poros, perdendo a permeabilidade da mesma, o que causa a morte da célula.
A trealose igualmente proteja as proteínas enzimáticas da desnaturação protéica. É particularmente interessante que insetos resistem ao congelamento (uma outra forma de desidratação, que igualmente reduz a quantidade de água livre no ambiente celular), e que tais organismos apresentam a trealose como principal açúcar da hemolinfa.