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CONTEÚDO PREFÁCIO 1. A ENFERMAGEM NA DERMATOLOGIA. ÂMBITO DE ACÇÃO. CARACTERIZAÇÃO GERAL 2. CARACTERÍSTICAS DO DOENTE DERMOPÁTICO. ATENDIMENTO: AMBULATÓRIO E INTERNAMENTO 3. A PELE COMO ÓRGÃO DE REVESTIMENTO - Pele e aparência - Organização estrutural do órgão e relação com as funções - Alterações cutâneas e método de observação da pele - Registos: observações e ocorrências - Fotografia clínica em Dermatologia - Exames complementares em Dermatologia 4. PADRÕES DE REACÇÃO CUTÂNEA - Eczema - Psoríase - Eritrodermia - Dermatoses bolhosas - Conectivites - Outros padrões de reacção cutânea 5. ACÇÕES EXÓGENAS SOBRE A PELE E MUCOSAS - Agentes biológicos. Simbiose,. infecção e infestação Descontaminação microbiológica Acidentes de exposição ao sangue 0

Manual de Enfermagem em Dermatologia

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Page 1: Manual de Enfermagem em Dermatologia

CONTEÚDO

PREFÁCIO

1. A ENFERMAGEM NA DERMATOLOGIA.

ÂMBITO DE ACÇÃO. CARACTERIZAÇÃO GERAL

2. CARACTERÍSTICAS DO DOENTE DERMOPÁTICO.

ATENDIMENTO: AMBULATÓRIO E INTERNAMENTO

3. A PELE COMO ÓRGÃO DE REVESTIMENTO

- Pele e aparência

- Organização estrutural do órgão e relação com as funções

- Alterações cutâneas e método de observação da pele

- Registos: observações e ocorrências

- Fotografia clínica em Dermatologia

- Exames complementares em Dermatologia

4. PADRÕES DE REACÇÃO CUTÂNEA

- Eczema

- Psoríase

- Eritrodermia

- Dermatoses bolhosas

- Conectivites

- Outros padrões de reacção cutânea

5. ACÇÕES EXÓGENAS SOBRE A PELE E MUCOSAS

- Agentes biológicos. Simbiose,. infecção e infestação

Descontaminação microbiológica

Acidentes de exposição ao sangue

Infecção hospitalar (nosocomial)

Piodermites

Viroses cutâneas

Micoses

0

Page 2: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Infestações por parasitas animais

Doenças por transmissão sexual (venéreas)

- Agentes físico-químicos

Queimaduras térmicas e químicas

Queimadura solar. Hipersensibilidade à luz. Fotoprotecção

6. ALTERAÇÕES CUTÂNEAS DEGENERATIVAS E NEOPLÁSICAS

- Envelhecimento e foto-envelhecimento da pele

- Dermatoses dos membros inferiores

- Doente acamado. Úlcera de decúbito

- Cancro na pele

7. TERAPÊUTICA DERMATOLÓGICA

- Médica

- Cirúrgica

- Pensos e ligaduras

8. BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

Prefácio

A importância da Enfermagem em Dermatologia tem-se acentuado nos últimos anos de

modo progressivo, em consonância com o desenvolvimento científico da área a que respeita

e com a criação de novas técnicas de diagnóstico e de tratamento, a condicionar o

alargamento da esfera de acção dos respectivos profissionais.

Verifica-se neste, como em outros sectores médicos e cirúrgicos, rápida evolução da acção

assistencial, progressivamente complexa e exigente, em que à Enfermagem são cometidas

tarefas cada vez mais diferenciadas e de maior responsabilidade.

A importância da Enfermagem em Dermatologia tem-se acentuado nos últimos anos de

modo progressivo, em consonância com o desenvolvimento científico da área a que respeita

e com a criação de novas técnicas de diagnóstico e de tratamento, a condicionar o

alargamento da esfera de acção dos respectivos profissionais.

Verifica-se neste, como em outros sectores médicos e cirúrgicos, rápida evolução da acção

1

Page 3: Manual de Enfermagem em Dermatologia

assistencial, progressivamente complexa e exigente, em que à Enfermagem são cometidas

tarefas cada vez mais diferenciadas e de maior responsabilidade.

Em simultâneo, os novos profissionais surgem com formação universitária mantendo, como

elemento-chave, a tradição ética que a Enfermagem preserva, de disciplina e de

cumprimento de obrigações e deveres.

No seu conjunto, os factos referidos justificam e a explicam o desenvolvimento de uma

actividade profissional que na Dermatologia e Venereologia se afirma e adquire justificada

solidez.

O fenómeno evolutivo referido origina, como contrapartida, necessidade acrescida de

aprofundamento de conhecimentos, com natural e explicável avidez pela formação

contínua, que permita perfeita compreensão dos actos praticados, único modo de se

assumir responsabilização adequada.

Impõe-se, assim, esforço pedagógico na compilação e de matérias, seja em cursos formais,

seja em forma escrita, onde se sistematize doutrina, se revejam temas, se aprofundem

tópicos e informações técnicas, muitos deles em rápida mudança e actualização.

Nesta perspectiva, constituindo a cooperação entre médicos e enfermeiros a essência do

exercício profissional harmónico e complementar, compreende-se que, nas acções

formativas de Enfermagem, a participação dos primeiros seja imprescindível.

O presente texto sobre Enfermagem Dermatológica constitui corolário do referido

anteriormente. Ele nasceu de um Curso que decorreu na Clínica Dermatológica do Hospital

de Santa Maria, leccionado por médicos e enfermeiros ao longo de algumas semanas.

A sua utilidade indiscutível determinou a elaboração do presente volume, compilado após o

referido Curso, que se espera constitua ponto de partida para novas iniciativas desta área

científica, técnica e profissional, da maior importância assistencial nos nossos dias.

A publicação agora promovida, como Suplemento, nos Trabalhos da Sociedade Portuguesa

de Dermatologia e Venereologia, órgão oficial dos dermatologistas portugueses, encerra um

duplo significado simbólico - o da importância intrínseca da matéria a que respeita, e da

comunhão de esforços e de interesses de classes profissionais que se associam e

2

Page 4: Manual de Enfermagem em Dermatologia

completam em actividade científica e profissional com objectivo comum do benefício dos

doentes.

Impõe-se uma palavra de agradecimento a todos quanto, de um modo ou de outro, deram o

seu contributo e apoio, quer na execução do anteriormente citado "Curso de Enfermagem

Dermatológica", quer directamente na elaboração do presente volume que surge, assim,

como obra de envolvimento colectivo do pessoal médico e de enfermagem da Clínica

Dermatológica Universitária do Hospital de Santa Maria. Sem distinção de nomes, a todos

dirijo o meu reconhecimento pessoal.

Na elaboração do volume foi determinante a ajuda dos Drs. Mayer-da-Silva, Cirne de Castro

e João Pedro Freitas, pela revisão crítica e sugestões. Devo realçar o encorajamento

recebido da Enfermeira Duarte Gonçalves na planificação e execução da projecto. Nele foi

também muito importante o apoio de secretariado e elaboração gráfica da secretária da

Clínica Ana Maria Duarte Rocha e da técnica Ana Paula Franco.

Prof. F. Guerra Rodrigo

Director da Clínica Dermatológica Universitária

Hospital de Santa Maria - Lisboa

3

Page 5: Manual de Enfermagem em Dermatologia

INDICE:

Pág.

1. - PENSAMENTOS.......................................................................................................11

2. - DEFINIÇÕES DA SOCIEDADE MACHISTA:............................................................13

3. - PRÉMIOS DARWIN 2002 – ACTOS DE ESTUPIDEZ:.............................................16

4. - O VENCEDOR DO PRÉMIO 5 ESTRELAS DA ESTUPIDEZ!..................................18

5. - COMO CONTAR A HISTÓRIA DA CINDERELA ÀS CRIANÇAS PARA QUE NÃO NOS

CHAMEM "KOTAS" ..........................................................................................................19

6. - SE VOCÊ TIVER CORAGEM DE VER A DATA DE SUA MORTE!..........................20

7. - A ONU RESOLVEU FAZER UMA GRANDE PESQUISA MUNDIAL........................21

8. - FACTOS CIENTÌFICOS............................................................................................22

9. - 10 MOTIVOS PARA SER..........................................................................................23

10. - PORQUE CHUMBAMOS NOS EXAMES?................................................................27

11. - ESTATUTO DO ESTUDANTE:.................................................................................28

12. - ORAÇÃO 1................................................................................................................29

13. - ORAÇÃO 2................................................................................................................30

14. - ORAÇÃO PARA ANTES DA "NIGHT".......................................................................31

15. - 89 BOAS IDEIAS PARA FALTAR ÁS AULAS...........................................................32

16. - OS SE'S DO EMPREGADO......................................................................................35

17. - 28 RAZÕES POR QUE É MARAVILHOSO SER HOMEM.......................................36

18. - VINTE E NOVE COISAS CRUÉIS QUE UMA MULHER PODE DIZER A UM HOMEM

NU 37

4

Page 6: Manual de Enfermagem em Dermatologia

19. - A PACIÊNCIA QUE UM HELP DESK TEM QUE TER..............................................38

20. - A REDENÇÃO DA MULHERADA.............................................................................42

21. - PARTICIPAÇÕES DE ACIDENTES AUTOMÓVEIS.................................................44

22. - VEJA QUANTAS CALORIAS VOCÊ PODE PERDER DURANTE UMA RELAÇÃO

SEXUAL:............................................................................................................................46

23. - O POBRE E O RICO.................................................................................................48

24. - THE WORLD'S TEN GREATEST FUCKS................................................................49

25. - NO CÉU E NO INFERNO..........................................................................................50

26. - FRUSTRAÇÕES DE UM POETA:.............................................................................51

27. - POEMA SOBRE A 1ª VEZ........................................................................................52

28. - POEMA: UM DOCE... MUITO AMARGO!.................................................................53

29. - O BOATO..................................................................................................................55

30. - POLÍTICA VISTA POR UMA CRIANÇA....................................................................56

31. - MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES.................................................................................57

32. -PORQUE OS HOMENS URINAM EM PÉ?................................................................58

33. - HÁ LIMITES!..............................................................................................................59

34. - DICIONÁRIO AFRICANO..........................................................................................60

35. - O PEQUENO MANUAL DA PAQUERA E DO XAVECO PARA HOMENS (OU, COMO

NÃO SER UM PEGA-NÍNGUEM) 13/ABRIL/2004............................................................62

36. - CALINADAS DA BOLA..............................................................................................66

37. - EMBLEMAS DE AUTOMÓVEIS................................................................................69

38. - EMENTA NUM RESTAURANTE ALENTEJANO......................................................75

39. - SABIA QUE...............................................................................................................77

40. - PORQUE É QUE?.....................................................................................................81

5

Page 7: Manual de Enfermagem em Dermatologia

41. SEXO E OS CURSOS  SUPERIORES.......................................................................84

42. - MEMORANDO NUMA EMPRESA DE PRIMEIRA LINHA ACERCA DOS POS-IT:. 85

43. - TROCADILHOS COM OS NOMES...........................................................................86

44. - DOIDICES.................................................................................................................87

45. - DIFERENÇAS ENTRE RICOS E POBRES...............................................................93

46. - DOBRE A LINGUA....................................................................................................94

47. - ADIVINHA SOBRE O PRÍNCIPE..............................................................................95

48. - CÁ VAI UMA ESTORIA DE FADAS E PRINSUSAS.................................................98

49. - REGRAS DE MURPHY.............................................................................................99

50. - CONTRADIÇÕES......................................................................................................102

51. - PROVÉRBIOS...........................................................................................................103

52. - RECEITA CULINÁRIA...............................................................................................104

53. - O AFRICANO QUE GANHOU A MEDALHA...DA LENTIDÃO A 19 DE SETEMBRO -

19H56................................................................................................................................106

54. - INSTRUÇÕES PARAINSTALAR UM PROGRAMA GRÁTIS....................................107

55. - MONÓLOGOS...........................................................................................................111

56. - O SEXO DE CADA SIGNO.......................................................................................113

57. - O BEIJO DE CADA SIGNO.......................................................................................119

58. - RAINHAS MAGAS EM VEZ DE REIS MAGOS........................................................121

59. - REALIDADE EM ALGUMAS EMPRESAS................................................................122

60. - SISMOS.....................................................................................................................124

61. - TRABALHO: O PIOR VÍRUS DE TODOS OS TEMPOS..........................................125

62. - TROCADALHOS.......................................................................................................126

63. - HISTÓRIAS VERÍDICAS DE SUPORTE À INFORMÁTICA.....................................127

6

Page 8: Manual de Enfermagem em Dermatologia

64. - RETIRADO DO ATENDIMENTO TELEFÓNICO DA TV CABO................................131

65. - BILL GATES MORREU.............................................................................................132

66. - UINDONS MILÉNIO TEM VERSÃO EM LÍNGUA ALENTEJANA.............................133

67. - ACERCA DO WAP....................................................................................................134

68. - VIRUS PORTUGUES................................................................................................136

69. - URGENTE - VÍRUS (100% NACIONAL)...................................................................137

70. - WORD BIZARRO......................................................................................................138

71. - CENAS DO BIG BROTHER 1...................................................................................139

72. - POEMA DO SIRE DO BIG BROTHER......................................................................142

73. - BENFICA...................................................................................................................144

74. - TOTOLOTO...............................................................................................................147

75. - PADRES....................................................................................................................148

76. - NEGOCIOS DO VATICANO E MACDONALDS........................................................150

77. - O FRANGO................................................................................................................151

78. - HISTORIA DA FOLHINHA VERDE...........................................................................154

79. - FREIRAS...................................................................................................................156

80. - FILMES E TÍTULOS PARA OS AMANTES DA IMFORMÁTICA..............................158

81. - INFORMÁTICA..........................................................................................................160

82. - SOBRE O WINDOWS...............................................................................................162

83. - PARA CANTAR COM A MELODIA DE ÁGUAS DE MARÇO: É O FIM DO CAMINHO.

163

84. - A MULHER E A BOLA...............................................................................................165

85. - O HOMEM A MULHER E AS INVENÇÕES..............................................................166

86. - A CERVEJA FEMINILIZA O HOMEM CUIDADO!!....................................................167

7

Page 9: Manual de Enfermagem em Dermatologia

87. - 10 PERGUNTAS QUE VOCÊ JAMAIS DEVERÁ FAZER A UMA MULHER............168

88. - TIPOS DE ORGASMOS FEMININOS:......................................................................169

89. - MANUAL DO MACHÃO.............................................................................................170

90. - CURSO INTENSIVO DE APRIMORAÇÃO PARA INTELIGÊNCIA FEMININA........172

91. - CURSO DE REINTEGRAÇÃO CEREBRAL PARA MULHERES (2)........................174

92. - CURSO DE FUNÇÃO CEREBRAL PARA O HOMEM DE HOJE.............................176

93. - O TONA E O SEU PROBLEMA COM A FEIJOADA.................................................180

94. - CARTA AO PAI NATAL.............................................................................................182

95. - JOGO DA ALMA........................................................................................................184

96. - TESTE SEXUAL DE MATEMÁTICA PARA O ANO 2000.........................................186

97. - ALGUMAS LEIS NO MUNDO...................................................................................187

98. - LÓGICA.....................................................................................................................189

99. - LOIRA: UM TIRO NA CABEÇA.................................................................................191

100. - SIMBOLOGIA DE CÚS E MAMAS......................................................................192

101. - ANUNCIOS NUMA LOJA VIRTUAL....................................................................194

102. - DE QUEM É O BEBÉ?........................................................................................195

103. DESCULPAS INVENTADAS À PRESSÃO PARA LIVRAR JOVENS MANCEBOS DA

TROPA...............................................................................................................................196

104. DIA SEM CARROS EM LISBOA...........................................................................198

105. TIPOS DE MULHERES BASEADO NA INFORMÁTICA:......................................199

106. MULHERES E SUAS IDADES..............................................................................201

107. ALGUMAS FRASES PRA SE LIVAR DE MULHER FEIA.....................................204

108. VOCÊ SABIA QUE EXISTE A VERSÃO MASCULINA E FEMININA DO CAIXA

ELETRÔNICO?.................................................................................................................206

8

Page 10: Manual de Enfermagem em Dermatologia

109. A MULHER VISTA POR UMA ANÁLISE QUÍMICA...............................................207

110. AS FRASES MAIS USADAS PELOS HOMENS PARA REJEITAR A UMA MULHER

208

111. 100 RAZÕES PELAS QUAIS É BEM MELHOR SER HOMEM.............................209

112. 100 RAZÕES PELAS QUAIS É BEM MELHOR SER MULHER...........................213

113. O CACHORRO E A MULHER SÃO IGUAIS PORQUE:........................................217

114. CACHORRO X MULHERES QUEM LEVA A MELHOR ? CONFIRA....................218

115. ESCOLHER A MULHER IDEAL É COMO COMPRAR UM CARRO.....................220

116. TIPOS DE MULHERES BASEADO NA FRUTAS.................................................221

117. VEJA AS FRASES DITAS PELA MULHER PERFEITA:.......................................222

118. VOCÊ CONHEÇE O CASO...................................................................................223

119. 24 BOAS RAZÕES PARA SER SOLTEIRA!!!.......................................................224

120. COMO ESCOLHER O HOMEM IDEAL.................................................................226

121. UMA PESQUISA SOBRE O COMPORTAMENTO SEXUAL MASCULINO

DESCOBRIU QUE DEPOIS DO ACTO SEXUAL:............................................................227

122. INSTRUÇÕES PARA O PRODUTO HOMEM FUNCIONAR BEM:.......................228

123. ELES TENTAM, VEJAM AS CANTADAS QUE NÃO DERAM CERTO:...............229

124. FRASES USADAS PELAS MULHERES PARA REJEITAR UM HOMEM.............230

125. O ANTES E O DEPOIS ENTRE NAMORO E CASAMENTO:...............................231

126. PORQUE É MUITO MELHOR SER MULHER, VEJA SÓ:....................................232

127. DICAS FEMININAS PARA VOCÊS HOMENS, CAUSAREM BOA IMPRESSÃO ÀS

MULHERES:......................................................................................................................233

128. PEIDO....................................................................................................................234

129. MANCHETES DE JORNAL...................................................................................238

130. LIÇÕES BÁSICAS PARA O DIA-A-DIA.................................................................239

9

Page 11: Manual de Enfermagem em Dermatologia

131. NOMES DA NOSSA TERRA QUE URGIRIA ESQUECER...................................240

132. A IMPRENSA QUE TEMOS..................................................................................242

133. A JUSTIÇA NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA...........................................244

134. TEORIA E PRATICA..............................................................................................246

135. ADVOGADOS........................................................................................................247

136. ANÚNCIOS NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS................................................................249

137. AS MELHORES FRASES DA PERSONAGEM DE MARISA ORTH - MAGDA - EM

"SAI DE BAIXO".................................................................................................................253

138. SEXO NA FAMILIA REAL INGLESA.....................................................................269

139. QUE TEM EM COMUM AS MULHERES E OS SERVIDORES WEB?.................270

140. EXAME DE MATEMÁTICA NA ESCOLA SECUNDÁRIA DA DAMAIA.................271

141. CONTRATO LABORAL.........................................................................................273

142. UMA HISTÓRIA SOBRE UM W.C.........................................................................274

143. PAI NOSSO COMERCIAL.....................................................................................276

144. MANUAL DO BOM FUNCIONÁRIO......................................................................277

145. OS DEZ MANDAMENTOS DO CLUBE DOS PREGUIÇOSOS............................278

146. CARTA À CARA-METADE....................................................................................279

147. ASSOCIAÇÃO TÉCNICA DA COPOFONIA..........................................................280

148. NOMES DE MULHERES E PERSONALIDADE....................................................282

149. O MAR MAIS…......................................................................................................283

150. OBSERVAÇÃO PSICOLÓGICA DO INDIVIDUO QUE MIJA:...............................284

151. 12 VEZES VIÚVA E AINDA VIRGEM....................................................................285

152. REQUISITOS DE UM CHEFE...............................................................................286

153. RECEITA PARA COZINHAR A VAIDADE.............................................................287

10

Page 12: Manual de Enfermagem em Dermatologia

154. CONSELHOS AOS QUE NADA TÊM PARA FAZER............................................288

155. PUBLICIDADE “LUX”.............................................................................................289

156. PUBLICIDADE EM TROCADILHOS......................................................................290

157. AULAS DE INTRODUÇÃO ÀS TRADIÇÕES COIMBRAS....................................291

158. OPINIÕES SOBRE O PEIDO................................................................................292

159. CONSELHOS AOS AUTOMOBILISTAS: COMO MORRER EM 10 LIÇÕES.......

293

160. COMO MATAR UMA ENGUIA NO TEXAS...........................................................294

161. DOZE BREVES CONSELHOS PARA SINDICALISTAS DE CORREDOR….......

295

162. MÉTODOS CONTRACEPTIVOS..........................................................................296

163. COMUNICAÇÕES.................................................................................................297

164. DEZ CONSELHOS PARA ELE..............................................................................298

165. DEZ CONSELHOS PARA ELA..............................................................................299

166. A NOVA COMPANHEIRA PARA A NOITE...........................................................300

167. FRASES FAMOSAS..............................................................................................301

168. PERSONALIDADES HISTÓRICAS.......................................................................304

169. PERGUNTAS TIPO “MARIA”................................................................................305

170. CARTA DE SEPARAÇÃO.....................................................................................306

171. NASA E CANETAS................................................................................................308

172. PENSAMENTOS RIDÍCULOS...............................................................................309

173. DIÁRIO DE UMA MULHER INSATISFEITA..........................................................310

174. TESTE RÁPIDO P/ DESCOBRIR SE VC É RACISTA OU NÃO...........................312

175. AMIGOS DO HOMEM E AMIGAS DA MULHER...................................................313

11

Page 13: Manual de Enfermagem em Dermatologia

176. UM PLANO PARA SALVAR PORTUGAL DA CRISE...........................................314

177. BEBER AGUA OU VINHO????.............................................................................316

178. ODEIO O MEU TRABALHO..................................................................................317

179. FRASE DO DIA... (EM LATIM)..............................................................................318

180. CURIOSIDADES LINGUISTICAS..........................................................................319

181. CAPITALISMO.......................................................................................................320

182. COMO NASCE UM PARADIGMA.........................................................................322

183. A PROPÓSITO DE IMPOSTOS............................................................................323

184. 23 COISAS QUE NÃO SE PODE MORRER SEM SABER...................................324

185. CONCURSO DE OBRAS PUBLICAS EM PORTUGAL........................................325

186. ESTAS SÃO ALGUMAS DAS PARTICIPAÇÕES DE ACIDENTES AUTOMÓVEIS.

326

187. CARTA DE UM ALUNO DA FACULDADE AOS PAIS..........................................328

188. MATEMÁTICA UTIL...............................................................................................330

189. PREVISÕES PARA 2004......................................................................................331

190. ORAÇÕES DAS MULHERES E DOS HOMENS...................................................332

191. A VINGANÇA DAS GAJAS (2?)............................................................................333

192. POESIA DE PROPORÇÕES.................................................................................337

193. MULHERÃO SEGUNDO OS HOMENS................................................................338

194. O QUE ELAS DIZEM DEPOIS DO SEXO.............................................................340

195. AS PERGUNTAS MAIS ESCANDALOSAS QUE SE FIZERAM ATÉ HOJE NOS

OPERADORES DO CALL CENTER DE UMA REDE MÓVEL NACIONAL......................342

196. EMPRESAS EM PORTUGAL................................................................................345

197. HÁ 20 ANOS..........................................................................................................347

12

Page 14: Manual de Enfermagem em Dermatologia

198. SERMÃO DO PAPA..............................................................................................349

199. INGLÊS EM PORTUGAL.......................................................................................350

200. SERVIÇO DE SAÚDE PORTUGUÊS....................................................................351

201. ADULTÉRIO..........................................................................................................352

202. ESCRITO POR MANOEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE, UM CLÁSSICO DA

LITERATURA  PORTUGUESA:........................................................................................353

203. JOGOS DO BENFICA E FC PORTO....................................................................354

204. APENAS A LÍNGUA PORTUGUESA NOS PERMITE ESCREVER ISTO............

355

205. O QUE MUDA NO CASAMENTO:.........................................................................357

206. DIA NACIONAL DO MACHO LATINO...................................................................358

207. PERTENCER À VELHA EUROPA........................................................................359

208. DIZEM POR AÍ…...................................................................................................361

209. OS DEZ LEMAS DO VICIADO EM TRABALHO...................................................362

210. NOMES ANGOLANOS..........................................................................................363

211. CINEMA ANGOLANO............................................................................................364

212. EÇA DE QUEIROZ................................................................................................367

213. TIPOS DE CORNO................................................................................................368

214. [FRASES RETIRADAS DE REVISTAS FEMININAS DA DÉCADA DE 50 E 60]. .

370

215. AS MÃES TAMBÉM SE ENGANAM......................................................................371

216. SABEDORIA....LABORAL.....................................................................................373

217. AMIZADE...............................................................................................................375

218. POR QUE OS TERRORISTAS ÁRABES ESTÃO SEMPRE LOUCOS PARA SE

SUICIDAR???....................................................................................................................376

13

Page 15: Manual de Enfermagem em Dermatologia

219. A PALAVRA MAIS RICA DA LÍNGUA PORTUGUESA É A PALAVRA MERDA.. 377

220. QUESTÕES SEM RESPOSTA..............................................................................380

221. POEMA PARA ANALISAR:...................................................................................381

222. MUITA RATA, POUCA PICHA!.............................................................................382

223. ALGUMAS CENAS REAIS EM HOSPITAIS..........................................................383

224. A ARTE DE BEM FALAR.......................................................................................385

225. ANEDOTAS SEM PIADA NENHUMA...................................................................387

226. FODA-SE E OUTROS QUE TAIS.........................................................................389

227. FÁBULA DO EXECUTIVO.....................................................................................391

228. PENSAMENTOS PROFUNDOS. COISAS SEM NEXO........................................392

229. DEUS VERSUS SATANÁS...................................................................................393

230. RÁDIO FM DA VIDIGUEIRA..................................................................................394

231. DETECTOR DE GAYS..........................................................................................397

232. FUCK E PUNHETA................................................................................................400

233. TIPOLOGIA DO CAGALHÃO................................................................................401

234. O QUE NÃO SE ENSINA NAS ESCOLAS............................................................403

235. NOÇÃO DE FRAUDE............................................................................................405

14

Page 16: Manual de Enfermagem em Dermatologia

1. A ENFERMAGEM NA DERMATOLOGIA. ÂMBITO DE ACÇÃO. CARACTERIZAÇÃO GLOBAL

A Dermatologia é a especialidade médico-cirúrgica que estuda o órgão pele e as doenças que nele

se manifestam. Importa, no entanto, acentuar que a sua designação oficial é de Dermatovenereologia, a

qual se mantém na maioria dos países, porque as doenças venéreas representam problema clínico e

sanitário relevante de que os dermatologistas se ocupam. No presente texto, por razões práticas,

adoptamos contudo a designação abreviada, de uso mais simples e corrente.

As afecções que integram a Especialidade são muito variadas quer na expressão clínica, quer na

gravidade quer, ainda, nas causas que as originam.

A visualização directa das alterações cutâneas origina que a fisionomia clínica das dermatoses seja

evidente, permitindo muitas vezes a formulação imediata do diagnóstico, a qual necessita por vezes de

confirmação por métodos complementares.

A gravidade das afecções cutâneas oscila entre a completa benignidade e a grande malignidade. O

estabelecimento do prognóstico das dermatoses constitui assim necessidade imperativa, que necessita ser

transmitida de modo adequado ao doente e familiares.

As causas das dermatoses são muitas vezes consideradas como endógenas (causa interna) e

exógenas (causa externa). Esta dicotomia não constitui regra absoluta, porque frequentemente as causas

são múltiplas e combinadas. A procura da natureza causal de determinada dermatose, representa passo

obrigatório na atitude médica para o esclarecimento e acção perante a doença.

As características gerais referidas - doenças evidentes à observação imediata, gravidade variável e

causa nem sempre imediatamente identificável, justificam o frequente estado de espírito de intranquilidade

e mesmo de ansiedade do doente perante a dermatose. Esta disposição anímica acentua-se quando a

situação clínica não é claramente interpretada pelo médico assistente, se os tratamentos instituídos não

conduzem a melhoria rapidamente objectivável ou se o prognóstico inicialmente estabelecido não se

confirma.

Provavelmente em nenhuma Especialidade como na Dermatologia se compreende a razão de ser do

aforismo clássico - "o doente desculpa um erro de diagnóstico mas não perdoa um erro de prognóstico". A

simplicidade anedótica da expressão encerra, contudo, ilação importante quanto à necessidade de sentido

crítico nas informações a transmitir ao doente, sobretudo na perspectiva do prognóstico - a que tem

inegável direito, mas devem ser correctas, adequadas á sua compreensão e cultura, filtradas pelo rigor

técnico e pautadas pelo bom senso.

15

Page 17: Manual de Enfermagem em Dermatologia

O papel da Enfermagem é fundamental para este objectivo. O primeiro contacto do doente

estabelece-se frequentemente com o enfermeiro e esta vai constituir frequentemente a ligação privilegiada

de comunicação com o médico.

É indispensável a sua acção complementar após a informação transmitida pelo médico, esclarecendo

dúvidas e ajudando a ultrapassar dificuldades, veiculando ao médico, como retorno, não só informações

clínicas que julgue relevantes, como igualmente as reacções e estado anímico do doente ou familiares.

A Dermatovenereologia reveste-se de acentuada feição de medicina e cirurgia de ambulatório. Este

facto não exclui, contudo, a necessidade de internamento de determinados doentes, por razões de

dificuldades de diagnóstico, da extensão da doença, da sua gravidade ou de regimes terapêuticos

especiais. Nas enfermarias de Dermatologia é necessária a presença de médico especialista durante 24

horas, o qual simultaneamente fornece apoio ao serviço de urgência, como sucede no Hospital de Santa

Maria.

As enfermarias de Dermatologia são por via de regra autónomas nos hospitais centrais,

eventualmente integradas noutros serviços sobretudo por razões económicas.

A necessidade da privacidade especial dos doentes dermatológicos e a especificidade da terapêutica tópica

constituem factores limitativos importantes desta última atitude.

É considerável o número de subespecialidades e de técnicas específicas de diagnóstico e de terapêutica,

ligadas à Dermatologia.

Encontram-se individualizadas, em muitos Serviços de Dermatologia, consultas especiais dirigidas a

determinados grupos etários (Dermatologia Pediátrica e Dermatologia Geriátrica), correspondentes a certas

patologias (Doenças Transmitidas Sexualmente, Oncologia Cutânea, Conectivites, Dermatoses Bolhosas,

Úlcera de Perna), ou ligadas a procedimentos especiais de diagnóstico e terapêutica (Dermatologia de

Contacto, Cirurgia Cutânea, Fototerapia, Roentgenterapia Superficial).

Os requisitos para Enfermagem competente são assim diversos em função da especificidade das

actividades praticadas e justificam informação minuciosa dos componentes científico e técnico de cada

uma, das áreas referidas.

Nos serviços hospitalares de Dermatologia, a maior parte dos doentes que aí acorre é portadora de

afecções de diagnóstico clínico imediato, resolúveis em regime ambulatório. Entre estas destacam-se as

doenças de natureza parasitária e infecciosa. Constituem grupo importante as doenças inflamatórias da

pele (eczema, urticária, psoríase) e, muito em especial, as dermatoses iatrogénicas, causadas por

intolerância à administração ou aplicação tópica de medicamentos. Destacam-se ainda as neoplasias da

pele, cujo aumento tem sido progressivo.

16

Page 18: Manual de Enfermagem em Dermatologia

No internamento, predominam as neoplasias cutâneas, linfomas, formas extensas de psoríase,

toxidermias, urticária e infecções.

Os objectivos principais de internamento são: esclarecimento de situações clínicas de diagnóstico

duvidoso; tratamento de casos de elevada gravidade que não têm possibilidade de serem resolvidos em

regime ambulatório; acompanhamento pós-operatório de doentes operados. Muitas vezes no primeiro caso

os internamentos são de curta duração; no segundo caso é frequente o seu prolongamento, pela dificuldade

de controlo de algumas afecções dermatológicas (pênfigos e outras dermatoses bolhosas, eritrodermias).

Os internamentos podem executar-se pela urgência central, pela consulta externa, programada por

chamada e por transferência. Nos hospitais centrais, por via de regra a modalidade mais comum é a

primeira, a menos frequente a última.

CARACTERÍSTICAS DO DOENTE DERMOPÁTICO. ATENDIMENTO: AMBULATÓRIO E

INTERNAMENTO

A Dermatologia é uma Especialidade médico-cirúrgica.

A maior parte dos doentes que necessita de cuidados dermatológicos, de âmbito médico ou cirúrgico, sofre

de problemas circunscritos de pequena gravidade, muitas vezes resolúveis pelo médico de família. Em

casos de diagnóstico mais difícil, de interpretação menos clara ou de actuação mais complexa, impõe-se a

intervenção do dermatologista.

As doenças de pele são frequentes. Cerca de 5 a 10% da totalidade dos doentes que acorrem às consultas

de Medicina geral sofrem de problemas dermatológicos.

Importante é igualmente o número muito elevado de entidades dermatológicas. Calcula-se que existam

cerca de 2.000 afecções cutâneas susceptíveis de classificação diagnóstica, desde as muito comuns até às

excepcionais.

Admite-se que cerca de 20% dos doentes com afecções cutâneas necessitam de tratamento dermatológico

orientado por dermatologista.

O dermatologista é, assim, um especialista muito procurado. No período de um ano, mais de 1% da

população em geral consulta um dermatologista. A referida procura é mais acentuada nas mulheres do que

nos homens.

A gravidade da maioria das dermatoses não é muito elevada, mas há excepções: toxidermias (síndroma de

Lyell), dermatoses bolhosas auto-imunes (pênfigos, penfigóides), neoplasias (carcinomas, melanoma

maligno, linfomas), conectivites, constituem exemplos demonstrativos.

17

Page 19: Manual de Enfermagem em Dermatologia

O peso das dermatoses é muito elevado em Medicina do trabalho, sobretudo por intolerância adquirida no

manuseamento de produtos, instrumentos e equipamentos utilizados na actividade profissional.

As dermatoses observadas em consulta externa são por conseguinte muito variadas, mas dominam

claramente o panorama nosológico as neoplasias benignas e malignas, as parasitoses e infecções, o

eczema, as dermatoses "reaccionais" entre as quais avultam as de natureza medicamentosa (toxidermias);

certas afecções predominam em grupos etários particulares, por exemplo a acne na adolescência, as

neoplasias malignas na idade avançada.

Certo número de características nas afecções cutâneas permitem retratar genericamente o "doente

dermopático", determinar o modo como valoriza a doença e reage perante ela.

Como elemento fundamental, avulta o facto das dermatoses serem sempre "visíveis" e, embora

ocasionalmente se encontrem em área coberta pelo vestuário, o doente ou os familiares têm a noção

constante da sua presença.

Assim, no doente dermatológico tomam relevo especial as características seguintes :

Repulsa que as dermatoses muitas vezes originam - é sentida pelo doente como importante transtorno na

sua vida de relação, com consequências funestas em determinadas situações, nomeadamente nas de

índole familiar ou profissional.

O prurido que as dermatoses por vezes ocasionam - é frequentemente penoso, sobretudo se localizado em

locais onde o acto de coçar é perturbador ou vexatório, como na área ano-genital.

A descamação de algumas dermatoses - condiciona problemas desagradáveis. As escamas ao soltarem-se

sugerem menos limpeza ou desleixo.

O receio de contágio ou de malignidade - representa preocupação frequente, que o doente ou familiares

muitas vezes não conseguem eliminar, mesmo com conhecimento satisfatório da sua natureza.

A noção popular de que as afecções cutâneas são crónicas e de tratamento difícil - gera em muitos doentes

ansiedade e desânimo.

O desejo de resolução rápida da dermatose - leva muitas vezes à auto-medicação, ou aconselhada por

curiosos, o que complica, altera e agrava ocasionalmente o problema clínico.

As características mencionadas justificam muitos comportamentos do doente dermatológico quando acorre

à consulta da especialidade pela primeira vez: é frequente procurar urgência na marcação da consulta,

18

Page 20: Manual de Enfermagem em Dermatologia

revelar impaciência e ocasionalmente ansiedade perante o médico. Estudos sobre esta matéria

evidenciaram que em cerca de um terço de todos doentes presentes em consultas de Dermatologia é

valorizável a coexistência de factores emocionais.

Perante o médico, muitas vezes ignora ou omite elementos da anamnese, convicto de que são irrelevantes.

Além disso, porque considera que o diagnóstico é formulado pela simples observação, espera garantia de

evolução favorável da doença quando recebe as indicações terapêuticas. Com certa frequência, na

sequência do referido, resiste a outros exames para além da observação das lesões e revela impaciência

quando pressionado para a sua execução.

Assim, no atendimento inicial, e também nos subsequentes, o papel do enfermeiro é crucial, incutindo

confiança e tranquilidade, explicando o modo como decorrerá o atendimento e a observação médica. A

serenidade nesta circunstância é essencial.

As consultas de Dermatologia são sempre muito concorridas, sendo nelas que se resolve a maioria dos

problemas clínicos. Contudo, em certo número de casos, o internamento é necessário ou mesmo

imperativo.

Os motivos seguintes determinam a maioria dos internamentos em Enfermarias de Dermatologia:

1. Realização de procedimentos auxiliares, necessários para confirmação de um diagnóstico e / ou para

esclarecimento de interpretação patogénica.

2. Investigação clínica perante possibilidade da dermatose constituir manifestação cutânea de doença geral

(conectivites, síndromas para-neoplásicas, etc.).

3. Tratamento de doenças que afectam áreas extensas do tegumento (psoríase ou eczema extensos) ou de

prognóstico reservado (pênfigos, linfomas, toxidermias).

4 Tratamento médico específico impraticável no domicílio, intervenção cirúrgica ou situações que impõem

vigilância clínica permanente (corticoterapia elevada e prolongada, quimioterapia citostática).

5. Tratamentos que não podem ser efectuados no domicílio por razões de dificuldades sociais, pela idade,

via de administração de fármacos ou cumprimento rigoroso da terapêutica.

Existem em Portugal 6 unidades de internamento autónomo em Dermatologia: em Lisboa - Hospital do

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Page 21: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Desterro (43 camas), Hospital Curry Cabral (18 camas) e Hospital Santa Maria (21 camas); em Coimbra -

Hospitais da Universidade (29 camas); no Porto - Hospital de S. João (28 camas).

Outros Hospitais mantêm a possibilidade de internamento de doentes em Unidades Polivalentes de

Internamento ou em Serviços de Medicina Interna.

Esta situação constitui solução precária, de recurso, mal adaptada a doentes dermatológicos, onde a

especificidade dos actos praticados necessita conjunto de métodos, competências e atitudes que apenas se

podem conjugar em unidades de internamento especialmente dedicadas em exclusivo à especialidade.

Normas genéricas para a recepção do doente na Enfermaria

1.Conhecimento prévio, junto do médico, da situação clínica e de outros problemas eventuais do doente

2.Verificar se o boletim de internamento está correctamente preenchido

3.Esclarecer o doente sobre as normas do Serviço

4.Apresentar o doente ao pessoal e outros doentes

5.Mostrar as instalações de utilização individual e as colectivas

6.Conceder o apoio necessário, ajudar na resolução de problemas e dificuldades, sejam familiares,

profissionais ou outras

7.Adequar o local de instalação do doente às suas necessidades

8.Observar o doente no sentido de reconhecimento de outros problemas, psíquicos e físicos (próteses,

dificuldades de mobilização)

9.Registar em etiqueta própria no leito o nome do(s) médico(s) responsáveis pelo doente (por via de regra

Assistente e Interno hospitalares)

10.Organizar o processo clínico. Além dos impressos próprios, verificar se o doente traz consigo quaisquer

elementos para juntar ao processo, nomeadamente relatórios médicos, análises clínicas, resultados de

biopsias ou exames de imagem e medicamentos que toma em ambulatório.

Cap. 3. A pele como orgão de revestimento

Pele e aparência

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Page 22: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Organização estrutural do órgão e relação com as funções Alterações cutâneas e método e observação da

pele Registos: observações e ocorrências Fotografia clínica em Dermatologia Exames complementares em

Dermatologia O aspecto da superfície da pele caracteriza o ser humano. Contribui para definir a raça e o

sexo. O desenho da superfície define-o ser único na Natureza, de que constituem exemplo bem

demonstrativo a individualidade das impressões digitais.

Molda o corpo e evolui ao longo do tempo, modificando o aspecto individual, do nascimento à senescência.

Em razão das suas características estruturais, que lhe proporcionam resistência e flexibilidade, protege o

organismo das agressões exteriores, físicas, químicas, biológicas.

Interfere decisivamente em algumas funções gerais do organismo, contribuindo para a sua homeostasia -

situação de equilíbrio (do grego homoios = semelhante + stasis = permanência)

A pele sintetiza, por exemplo, vitamina D, indispensável ao desenvolvimento geral do indivíduo e, para

finalidade metabólica local, transforma nas glândulas sebáceas a hormona masculina testosterona no seu

composto mais activo di-hidro-testosterona.

Através de elementos celulares próprios existentes na epiderme (células de Langerhans), efectua vigilância

e reconhecimento imunitário de substâncias que franqueiam a pele e eventualmente penetram no seu

interior.

Produz pigmento (melanina) por meio de células denominadas melanócitos, protegendo assim o organismo

da acção prejudicial da luz solar.

Coopera nos mecanismos gerais de regulação circulatória (hemorregulação) e contribui para manter

constante a temperatura do organismo, como órgão efector de dissipação ou de conservação calórica.

Órgão dotado de capacidade sensorial discriminativa muito apurada, informa com precisão o indivíduo das

características do meio exterior e das suas variações.

PELE E APARÊNCIA

A aparência do indivíduo, seja a concreta, seja aquela que muitas vezes é imaginada pelo próprio,

representa reflexo, em grande parte, do aspecto da sua pele.

A preocupação em manter uma aparência esteticamente "agradável", para si próprio e para o seu

semelhante, justifica frequentemente queixas dos doentes e a sua preocupação, por vezes profunda, com

problemas dermatológicos insignificantes.

Neste âmbito de correlação entre o psiquismo dos doentes e os aspectos de modificação da pele, por

exemplo relacionados com a evolução natural do órgão, explicam-se os receios exagerados do significado

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Page 23: Manual de Enfermagem em Dermatologia

de alterações cutâneas e, noutras circunstâncias, a fixação obsessiva em tratamentos médicos, em acções

de cirurgia correctora ou estética ou, ainda, em cuidados cosméticos.

Em certas afecções psiquiátricas, a pele constitui órgão-alvo privilegiado, como na delusão de parasitose

(em que o indivíduo "sente", "vê", "colhe" e "identifica" na pele micróbios ou outros agentes hipotéticos de

doença), na dismorfofobia (sintomas e sinais dermatológicos inexistentes) e outras fobias (venereofobia,

cancerofobia, etc.). É frequente acentuarem-se fenómenos de comportamento cancerofóbico por exemplo,

após campanhas dirigidas à detecção precoce de cancro da pele.

Outro tipo de situação de índole psicopatológica, consiste na provocação de alterações cutâneas, seja para

obter quaisquer tipo de benefícios (afectivos, profissionais, indemnizações), seja por perturbação

primariamente psicogénica, cuja interpretação e atitude são por vezes difíceis, necessitando quase sempre

de uma cooperação interdisciplinar, onde o papel do enfermeiro pode ser decisivo.

Entre estas afecções sobressaem, pelo interesse clínico prático, a dermatite artefacta, a patomímia e as

escoriações neuróticas.

A dermatite artefacta (do latim ars = arte + facio = fazer), mais frequente em adolescentes do sexo feminino,

consiste na auto-provocação de lesões, provocadas de modo mais ou menos consciente, negando

categoricamente a sua execução.

Na patomímia ( do grego pathos = doença + mimesis = imitação) há uma doença dermatológica que o

doente deliberadamente agrava, ou da qual induz recorrência.

As escoriações neuróticas consistem na produção de escoriações induzidas pelo acto de continuamente

coçar, picar ou de qualquer modo raspar a pele. Na maior parte dos casos o doente admite "necessidade"

incontrolável de executar estes actos - alegando prurido incoercível, por exemplo. Esta perturbação é mais

frequente em doentes do sexo feminino, com falta de auto-confiança, em "stress" ou depressão.

A análise do modo de provocação de lesões e as medidas para resolução do problema subjacente, em

cooperação com psiquiatra e com o dermatologista, requer muitas vezes a acção discreta e eficaz do

profissional de enfermagem, em acções estabelecidas e pautadas casa a caso.

ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DO ÓRGÃO E RELAÇÃO COM AS FUNÇÕES

A pele é o maior órgão do corpo, com superfície total que ultrapassa 1,5 m2 , embora seja pouco espessa -

22

Page 24: Manual de Enfermagem em Dermatologia

entre 0,5 mm nas pálpebras e cerca de 4 a 5 mm nas palmas e plantas.

O seu peso global, incluindo a hipoderme, orça 16 a 18% do peso corporal. Assim, para um indivíduo adulto

com 75 Kg, o peso da pele ultrapassa os 12 Kg.

A resistência à rotura é muito elevada: suporta uma tracção superior a 1kg/cm2. Simultaneamente revela

capacidade considerável de distensão - cerca de 10 a 15% das suas dimensões, na pele do adulto.

Possui uma vascularização extremamente rica: em cada cm2 de superfície cutânea existem mais de 0,5 m

de vasos. O débito circulatório médio global da pele foi calculado em 500 ml/minuto.

Caracteriza-se, ainda, por elevada capacidade de eliminar suor: mediante estímulo térmico elevado, em

período curto, perde entre 2 a 3 mg/cm2/minuto; em situações extremas, a eliminação total de suor pode

atingir 10 l/dia.

É um órgão estratificado constituído por epiderme e derme e hipoderme.

A epiderme é formada pelas células epiteliais (ceratinócitos), onde reside uma das principais defesas do

órgão contra a penetração de produtos exteriores. Integradas na epiderme encontram-se ainda os

melanócitos (responsáveis pela cor da pele), as células de Langerhans (constituem a primeira linha de

"identificação" imunitária das substâncias que franqueiam a epiderme) e células sensoriais denominadas

células de Merkel.

A derme é a camada do órgão situada em ligação íntima com a epiderme, responsável pela característica

resistência da pele à rotura (fibras de colagénio) e pela sua elasticidade (fibras elásticas).

A quantidade de água existente na derme é muito elevada, preenchendo, juntamente com a denominada

substância fundamental, todos interstícios dérmicos.

Na derme encontram-se integrados os vasos (arteríolas, vénulas, capilares, linfáticos) e os nervos, que se

ramificam gradualmente da profundidade para a superfície.

Igualmente se encontram numerosas células na derme: umas são "residentes" - fibroblastos, histiócitos,

macrófagos, mastócitos; outras são migratórias e provêm do interior dos vasos - linfócitos, granulócitos

neutrófilos e eosinófilos.

A pele é ainda dotada de unidades pilossebáceas (pêlo e glândula sebácea anexa) e de glândulas

sudoríparas (écrinas e apócrinas). Denominam-se genericamente como "anexos" da epiderme, porque são

constituídas por invaginações deste componente cutâneo.

Epiderme e derme assentam sobre uma camada fibro-adiposa denominada hipoderme, constituída por

septos fibrosos que prolongam a derme e por células adiposas.

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Page 25: Manual de Enfermagem em Dermatologia

ESQUEMA GERAL DAS ESTRUTURAS CUTÂNEAS:

-EPIDERME E ANEXOS

-- Ceratinócitos

-- Melanócitos

-- Células de Langerhans

-- Células de Merkel

- DERME

-- Fibras

--- Colagénias

--- Elásticas

-- Substância fundamental

-- Células

--- Residentes

--- Migratórias

-- Vasos

-- Nervos

- HIPODERME

-- Septos fibrosos

-- Lóbulos adiposos

Células epidérmicas (ceratinócitos) e ceratinização

Os ceratinócitos multiplicam-se na camada basal da epiderme e diferenciam-se progressivamente da

profundidade para a superfície, onde se transformam em finas lamelas achatadas (células córneas)

completamente preenchidas por proteínas genericamente denominadas ceratinas. A este fenómeno

denomina-se ceratinização. As células córneas encontram-se recobertas com a gordura e outros produtos

segregados pelas glândulas sebáceas e sudoríparas..

Se existe muito sebo, a pele é oleosa - seborreia, pele seborreica. Se existe pouco sebo, a pele tem

aspecto seco, o que se refere como xerose (pele xerótica).

A seborreia é frequente nos jovens, na puberdade e adolescência.

24

Page 26: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Na xerose, a pele é descamativa, por vezes com pequenas fissuras e, frequentemente, ocasiona prurido.

Observa-se frequentemente nos indivíduos idosos.

A ceratinização representa o principal meio que a epiderme possui para evitar a penetração de substâncias

sólidas ou líquidas do exterior para o interior. Esta função designa-se tradicionalmente como função-barreira

e reside na camada córnea.

Se a camada córnea não existe, por lesão da pele, as substâncias que contactam a superfície penetram

facilmente através do tegumento e, eventualmente, entram na circulação sanguínea podendo exercer

acções gerais. Importa ainda referir que algumas substâncias podem atravessar a epiderme mesmo com a

camada-barreira íntegra.

São conhecidas situações potencialmente graves pela aplicação sobre a pele de substâncias tóxicas que,

pelas suas características químicas têm a capacidade de atravessar a camada-barreira. Estão neste caso

os compostos organofosforados usados como insecticidas agrícolas. O seu contacto acidental com a pele

ou, por ignorância, com a finalidade de eliminar parasitas (piolhos, percevejos), pode originar a morte.

Noutros casos certas substâncias relativamente inócuas podem, em concentrações mais elevadas, penetrar

através da pele sobretudo quando existem alterações da superfície que originem lesão da camada-barreira.

Sucedeu há anos em França caso gravíssimo que originou a morte em algumas dezenas de bebés pela

aplicação de pó de talco contendo o anti-séptico hexaclorofeno cuja concentração, por lapso de fabrico em

determinado lote, era dez vezes superior ao valor normal.

RISCO DE ABSORÇÃO DE MEDICAMENTOS ATRAVÉS DA PELE:

No tratamento tópico das dermatoses é necessário cuidado com aplicações de determinados

medicamentos, face ao risco da absorção per-cutânea, sobretudo nas circunstâncias seguintes:

quando os produtos podem originar toxicidade ou efeitos gerais indesejáveis

áreas "desnudadas", sem epiderme.

crianças (massa corporal pequena em relação à superfície da pele);

doenças cutâneas muito extensas (maior superfície de absorção);

tratamentos prolongados (acumulação do fármaco absorvido)

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Page 27: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Células pigmentares (melanócitos) e melanogénese

Os melanócitos situam-se entre as células basais da epiderme. A produção do pigmento melanina

denomina-se melanogénese. A melanina é produzida segundo um ritmo próprio em cada indivíduo, o qual

determina a cor da pele individual, fenómeno correntemente designado como melanização.

A referida cor resulta assim da intensidade da síntese de melanina, por programação genética das células e

não do número de melanócitos existentes. A melanina, depois de sintetizada pelos melanócitos, é

transferida para os ceratinócitos vizinhos.

Os melanócitos sintetizam mais melanina se forem estimulados pela radiação ultravioleta - efeito de

"bronzeamento". Quanto maior a melanização, maior a protecção contra a acção da radiação sobre a pele.

Fototipos cutâneos e risco de exposição exagerada à luz

Importa assim salientar a noção que a pigmentação da pele (melanização) constitui o principal factor de

defesa contra a acção nociva da radiação solar.

Os indivíduos de tez muito branca, que sintetizam menos melanina perante a exposição à radiação

ultravioleta da luz solar, sofrem queimaduras com grande facilidade, mesmo com exposições curtas e a

horas de baixa intensidade luminosa. Também nestes indivíduos, os efeitos prejudiciais tardios de

exposições contínuas e/ou repetidas ao sol (envelhecimento, cancerização) são muito mais pronunciados

que naqueles que se bronzeiam mais facilmente.

Nos indivíduos de raça negra os melanócitos produzem grande quantidade de melanina, o que lhes confere

a cor negra e grande eficácia de protecção anti-luminosa. Nunca sofrem queimadura solar, mesmo com

exposições luminosas intensas e as acções deletérias tardias são muito menos pronunciadas.

Estes factos constituem a base que permite definir os denominados fototipos da pele humana:

fototipo 1 - indivíduos albinos, ou de raça branca com tez extremamente clara: perante uma determinada

exposição, a pele sofre sempre queimadura e nunca bronzeia;

fototipos 2, 3, 4 - indivíduos também de raça branca, com cor de pele progressivamente mais "morena";

fototipo 5 - indivíduos intensamente morenos ou mestiços;

fototipo 6 - raça negra: perante a mesma exposição a pele nunca se queima e o seu grau de pigmentação

melânica é sempre máximo.

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Page 28: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Vascularização

Os vasos e os nervos da pele ramificam-se progressivamente da profundidade para a superfície da derme

até chegarem à junção dermo-epidérmica.

Os vasos sanguíneos da profundidade são artérias e arteríolas, ramificam-se até se transformarem em

capilares (ansas capilares nas papilas dérmicas) e drenam depois o sangue em sentido inverso em vénulas

e veias de diâmetro progressivamente mais largo.

Entre o sistema arterial e o venoso pode haver, na profundidade, comunicações artério-venosas que

constituem trajectos de circulação preferencial quando estão abertos; estas comunicações são inervadas

pelo sistema nervoso autónomo.

A manutenção temperatura corporal resulta do equilíbrio entre a produção e a dissipação de calor.

O calor aumenta, por exemplo, durante o exercício físico, em temperatura ambiente elevada ou em

situações patológicas (febre). Nesta circunstância o sistema nervoso autónomo fecha as comunicações

artério-venosas, obrigando o sangue a preencher o território capilar periférico, expondo-se para

arrefecimento, mais próximo da superfície do tegumento.

Este fenómeno é complementado pela entrada em funções das glândulas sudoríparas écrinas. O

humedecimento da superfície, com passagem do suor do estado líquido ao gasoso acentua de modo

intenso a dissipação térmica.

Verifica-se, assim, que a integridade do sistema circulatório cutâneo é fundamental para a manutenção da

constância da temperatura corporal. Se o indivíduo sofrer de inflamação difusa da pele (eritrodermia,

psoríase, eczema extenso, por exemplo) fica em estado de grande depleção calórica se a temperatura

exterior for inferior à do seu corpo. Se, pelo contrário, a temperatura exterior for superior à do seu

organismo, tende a suceder o inverso, podendo ficar com temperatura elevada, sem que este facto

corresponda a qualquer situação patológica.

É indispensável vigiar a temperatura destes doentes, que são "friorentos", mas é também necessário

cuidado com o aquecimento excessivo, o qual pode originar hipertermia por vezes acentuada e súbita.

AQUECIMENTO DOS DOENTES COM DERMATOSES DIFUSAS

Os doentes com inflamação generalizada da pele (eritrodermia) têm muito frio, mas não podem ser

aquecidos excessivamente, por exemplo com radiadores dirigidos directamente para o leito. Como o

sistema de regulação termo-circulatória da pele é ineficaz, tendem a "adquirir" o calor externo, com aumento

27

Page 29: Manual de Enfermagem em Dermatologia

descontrolado da temperatura corporal .

Inervação

Efectua-se por meio de nervos:

sensitivos;

do sistema nervoso autónomo

Os primeiros conseguem grande apuro discriminativo na colheita periférica das sensações. A distribuição

segmentar dos nervos sensitivos na pele é muito característica. Cada área inervada por um nervo sensitivo,

de um e outro lado do tegumento, denomina-se dermátomo . Esta distribuição explica, por exemplo, a

fisionomia clínica do herpes zoster.

Os nervos do sistema nervoso autónomo conduzem estímulos que são independentes da vontade.

Destinam-se à inervação dos vasos e das glândulas sudoríparas e originam contracção ou dilatação de

vasos comunicantes entre arteríolas e vénulas permitindo, deste modo, aumentar ou reduzir o débito

sanguíneo. A estimulação das glândulas sudoríparas promove a secreção de suor.

Anexos cutâneos

São assim designados correntemente os folículos pilossebáceos (pelos e glândulas sebáceas anexas), as

glândulas sudoríparas écrinas e apócrinas e as unhas.

A sua formação constitui-se a partir das células epidérmicas, que se diferenciam para organizar as

estruturas referidas. A distribuição dos anexos e respectivas funções são muito complexas e variadas

(Quadro 3.1).

Colaboram em mecanismos de protecção da pele e do organismo em geral.

QUADRO 3.1 - Anexos da pele: distribuição e principais funções

Anexos: Pelos

Distribuição: Todo corpo, excepto palmas das mãos e plantas dos pés

Funções principais: Protecção da pele

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Page 30: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Anexos: Glândulas sebáceas

Distribuição: Todo corpo, excepto palmas das mãos e plantas dos pés

Funções principais: Secreção de gordura para lubrificação da superfície da pele

Anexos: Glândulas sudoríparas écrinas

Distribuição: Todo corpo

Funções principais: Produção de suor, para ajudar à dissipação calórica no controlo da regulação térmica

do indivíduo

Anexos: Glândulas sudoríparas apócrinas

Distribuição: Axilas, virilhas, região genital

Funções principais: Secreção apócrina, responsável pelo odor corporal. É possível que este contribua para

mecanismos complexos de estimulação sexual , por meio de hormonas voláteis (feromonas)

Anexos: Unhas

Distribuição: Dedos

Funções principais: Protecção e cooperação na actividade manual (preensão)

ALTERAÇÕES CUTÂNEAS E MÉTODO DE OBSERVAÇÃO DA PELE

Como órgão de fronteira, situado entre o meio interior e o meio exterior, a pele "reage" em função de

estímulos internos e externos.

Este facto permite considerar grandes "padrões clínicos reaccionais" da pele (Ver, pág....), frequentemente

de causa endógena (genética, imunitária, etc.), cuja expressividade permite o seu reconhecimento com

relativa facilidade pela observação directa.

A reacção da pele traduz-se por modificações fisiológicas ou patológicas que determinam:

manifestações sentidas pelo próprio (prurido, ardor, dor, etc.) e constituem sintomas subjectivos ou

simplesmente sintomas (do grego symptoma = acontecimento);

alterações visíveis do tegumento - sintomas objectivos, mais correctamente denominados como sinais*.

29

Page 31: Manual de Enfermagem em Dermatologia

* Não confundir com a mesma palavra utilizada correntemente em linguagem popular para designar os

nevos pigmentados - pequenas manchas ou pápulas escuras, resultantes de acumulação de "células

névicas", as quais constituem tipo particular de melanócitos.

Os "sintomas objectivos" dermatológicos são referidos e sistematizam-se como lesões cutâneas

elementares. O reconhecimento destas lesões é indispensável para:

sua classificação e utilização de terminologia correcta;

interpretação das alterações da pele que conduziram às lesões;

estabelecimento do diagnóstico.

As lesões cutâneas elementares representam, assim, as manifestações da doença da pele, as quais se

denominam genericamente como dermatoses.

Na Medicina e na Enfermagem dermatológicas são fundamentais a observação e o registo objectivo,

cuidadoso e minucioso dos sintomas e sinais respeitantes à pele, mucosas e faneras (cabelos, pelos e

unhas).

A fotografia constitui método complementar indispensável, mas não substitui o registo descritivo escrito.

Qual o método geral de observação de um doente dermatológico?

É conveniente que o "acto médico" dermatológico seja efectuado sempre que possível com a assistência de

enfermeiro/a, mas sem presença próxima de outras pessoas, nomeadamente familiares ou outros doentes.

Inicia-se pelo interrogatório, que visa conhecer o modo como a doença se

iniciou e o seu perfil evolutivo, desde o início até ao momento actual, seguindo-se a colheita dos

antecedentes pessoais e familiares e, finalmente a observação.

Normalmente, em consulta de ambulatório, o interrogatório é efectuado com médico e doente sentados.

Salvo indicação em contrário, durante o exame dermatológico o doente deve estar deitado. O ambiente

deve ser confortável. O enfermeiro deve verificar condições da sala e do leito onde se realiza a observação.

Segue-se exame da pele. No desnudamento, impõe-se absoluto respeito pelo pudor do doente, o qual deve

permanecer tapado/a com lençol. Neste fase, o auxílio do enfermeiro é frequentemente indispensável.

A observação deve ser sistemática, com luz natural, abrangendo sempre a totalidade do órgão, com o

recato adequado. As áreas em observação devem manter-se destapadas apenas o tempo necessário.

30

Page 32: Manual de Enfermagem em Dermatologia

A utilização de lupa é frequentemente necessária e o recurso a irradiação artificial denominada "luz de

Wood" constitui apoio, nalgumas circunstâncias, para a formulação do diagnóstico.

No exame do doente o médico necessita de um conjunto de instrumentos que devem, em princípio, ser

colocados em tabuleiro próprio, mesmo que eventualmente a sua utilização não seja requisitada:

Material para observação dermatológica

-luvas de observação, em plástico ou latex

-algodão hidrófilo

-compressas esterilizadas

-caixa com alfinetes

-espátulas de madeira

-álcool a 95%

-parafina líquida

-termómetro

-esfigmomanómetro

-estetoscópio

-lupa

-lâminas de vidro

-lanterna eléctrica

É extremamente importante conhecer hábitos na actividade do doente, profissionais, domésticos, no lazer,

de higiene e protecção da pele, de cosmética, etc.. De igual modo é relevante o conhecimento de

tratamentos efectuados anteriormente, dermatológicos ou outros, além dos medicamentos que o doente

usa, quer receitados por médico, quer por auto-medicação. É frequente o doente não valorizar este último

elemento, por não o considerar de interesse, ou por outras razões.

E ainda fundamental o conhecimento de afecções que podem relacionar-se com os problemas

dermatológicos e que o doente omite, muitas vezes na convicção de que a situação da sua pele é

independente do restante organismo.

31

Page 33: Manual de Enfermagem em Dermatologia

A recolha deste tipo de informações, o papel do enfermeiro/a é muitas vezes determinante, no contacto com

o doente e com os familiares.

Como reconhecer as lesões cutâneas elementares?

É necessário certo treino. A classificação é fácil na maioria dos casos e é fundamental que se utilize sempre

a nomenclatura correcta na designação das lesões.

Como se classificam as lesões cutâneas elementares?

Dividem-se em: primárias e secundárias:

-PRIMÁRIAS

--mancha

--pápula

--nódulo

--tumor

--vesícula

--bolha

--pústula

-SECUNDÁRIAS

--escama

--crosta

--erosão

-- ulceração

--fenda

-- cicatriz

--atrofia

Definição das lesões cutâneas elementares:

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Page 34: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Cap. 4. Padrões de reacção cutânea. Eczema. Psoríase. Eritrodermia. Dermatoses bolhosas.

Conectivite

Eczema

Psoríase

Eritrodermia

Dermatoses bolhosas

Conectivites

Outros padrões de reacção cutânea

A noção de que a pele "reage" a estímulos variados, endógenos e exógenos, constitui um dos fenómenos

mais marcantes em Dermatologia.

A pele "reage" com vasodilatação perante uma situação emocional - é o fenómeno de "corar", tão

característico na face.

Reage com aumento da transpiração cutânea - na fronte e lábios, perante um estímulo gustativo enérgico;

nas palmas das mãos, perante um estímulo emocional; nas axilas, perante um estímulo térmico.

Reage com formação de pápulas eritematosas fugazes, pruriginosas, se contactar com urtigas - por isso

essa expressão reaccional se denomina urticária.

A pele da face "reage" durante a puberdade, por estimulação hormonal, com erupção característica - a bem

conhecida acne juvenil.

Outros e múltiplos tipos de reacção se poderiam assim enunciar, como exemplos. O facto justifica o título do

presente capítulo, onde se abordam alguns aspectos de afecções dermatológicas frequentes e importantes,

caracterizadas por se exprimirem clinicamente por "padrões de reacção" característicos.

ECZEMA

Ezema constitui o tipo mais comum de inflamação da pele e um dos seus "padrões de reacção" mais

característicos - clinicamente com prurido, eritema, pápulas e vesículas.

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Page 35: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Usa-se muitas vezes a palavra dermite (ou dermatite) como sinónimo de eczema. Na realidade, dermite

significa exclusivamente inflamação da pele, enquanto eczema corresponde a um tipo especial de dermite.

O eczema é sempre pruriginoso e surge: ou de modo agudo, podendo desaparecer; ou de modo crónico,

por vezes com evolução em crises.

O eczema agudo é por via de regra exsudativo - corresponde ao que na linguagem popular é designado

como "eczema húmido". A cronicidade do eczema decorre com secura da superfície (corresponde ao

"eczema seco", também em expressão popular) e a pele sofre progressivo espessamento, sempre com

prurido, observando-se aumento do desenho reticulado da sua superfície (liquenificação). O eczema crónico

pode eventualmente sofrer crises de agudização.

A causa do eczema é variada.

A nomenclatura dos diversos tipos clínicos de eczema encontra frequentemente justificação nas referidas

causas:

eczema de contacto: originado pelo contacto de substâncias sobre a pele.

eczema de contacto alérgico: a substância responsável origina uma reacção alérgica quando contacta com

a pele.

eczema de contacto traumático ou "irritativo": a substância responsável origina uma resposta inflamatória

apenas pelas suas propriedades "irritantes".

eczema atópico: surge originado por um mecanismo alérgico particular, denominado "atopia" (ver adiante).

eczema de estase: típico das pernas, é causado pela estase circulatória

eczema desidrótico: predominante nas mãos e nos pés, surge em indivíduos predispostos, sobretudo no

tempo quente.

Em alguns casos o eczema é designado pelo local onde se estabelece. Trata-se de localizações

especialmente frequentes - por exemplo, eczema das mãos, eczema dos pés, eczema das pernas.

É importante acentuar que, sob estas designações, o eczema pode ser originado por causas diferentes.

Assim, se a causa de um determinado eczema das mãos for de contacto alérgico, designa-se como

"eczema de contacto alérgico das mãos".

Na maior parte dos casos, combinam-se diversos factores na origem do eczema, embora um deles possa

ser o predominante.

Os eczemas de causa alérgica são muito importantes, pela frequência e pelos problemas que originam.

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Page 36: Manual de Enfermagem em Dermatologia

O que se entende por alergia?

A palavra alergia significa "alteração na capacidade de reagir". Assim, se o organismo passa a "reagir"

especificamente perante uma substância (denominada alergeno), capacidade essa que não existia

anteriormente, - o fenómeno denomina-se de "alérgico".

Há muitos tipos de reacção alérgica. A alergia de contacto e a atopia são apenas dois tipos de alergia que

têm interesse especial em Dermatologia, não só porque originam inflamação da pele de tipo semelhante

(eczema) mas ainda porque se trata de doenças frequentes e por vezes difíceis de resolver.

A alergia de contacto é também denominada de "retardada" ou de "hipersensibilidade retardada". Esta

designação significa que no indivíduo alérgico (ou "sensibilizado") a um determinado produto, o contacto da

pele com o produto determina uma reacção que apenas surge tardiamente, cerca de 12 a 24 horas depois,

ocasionalmente mais tempo. Também é denominada de "tuberculínica" porque corresponde ao tipo de

sensibilização que se observa na reacção à tuberculina.

Por contraposição, denomina-se hipersensibilidade "imediata" aquela em que a reacção originada pela

substância em causa surge imediatamente após o contacto cutâneo (ou administração geral) do produto.

Exemplo de alergia de contacto imediata verifica-se na sensibilização ao látex, a qual tem importância nos

profissionais de saúde. Neste caso, o indivíduo sensibilizado a esta substância, quando utiliza por exemplo

luvas de protecção em látex, verifica imediatamente o aparecimento de pápulas urticariformes com prurido

nas mãos (urticária alérgica de contacto).

Quando existe hipersensibilidade imediata de grau muito intenso, pode estabelecer-se risco de

manifestações clínicas gerais (crise asmatiforme, hipotensão arterial), as quais em casos extremos e muito

raros podem culminar em quadro de choque (choque anafiláctico).

Eczema atópico

A palavra atopia deriva do grego e significa "doença estranha". Esta palavra foi usada inicialmente por se ter

verificado que, em certas famílias, existia uma frequência anormal de asma brônquica, rinite e eczema, por

vezes mais do que uma delas no mesmo indivíduo, simultaneamente ou sucedendo-se no tempo.

Sobressai assim nesta situação a noção de "herança" ou de "transmissão familiar" que condiciona a

susceptibilidade para se sofrer destas afecções. Em termos práticos, no eczema atópico o que predomina é

a extrema "sensibilidade" da pele, que se inflama com grande facilidade mediante estímulos muito variados,

na maior parte das vezes inespecíficos.

A idade de início do eczema atópico é variável, mas surge muitas vezes na primeira infância, por via de

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Page 37: Manual de Enfermagem em Dermatologia

regra depois dos 3 meses de idade. O prurido é intenso, a inflamação da pele na maior parte dos casos

acentuada, a exsudação considerável. A evolução é caprichosa, com períodos de exacerbação intervalados

por épocas de melhoria. Com o decorrer do tempo circunscreve-se, acantona-se em algumas áreas e a pele

tende a liquenificar-se.

O tratamento do eczema atópico é difícil, especialmente na criança,. A orientação por médico

dermatologista é aconselhável. O prurido persistente gera importante sofrimento na criança e necessita ser

eliminado. A situação gera angústia nos familiares.

Não devem ser utilizados medicamentos gerais ou tópicos que não tenham sido

prescritos pelo médico. A ligadura das áreas atingidas acalma o prurido e é benéfica na evolução da

doença.

OS PAIS DA CRIANÇA COM ECZEMA ATÓPICO NECESSITAM DE ACONSELHAMENTO E

ORIENTAÇÃO

Importa esclarecer sobre o significado da doença e conveniência de evitar atitudes precipitadas, empíricas

ou de aconselhamento por leigos.

A criança com eczema atópico deve ser pouco lavada: os banhos prolongados, a fricção da pele durante a

lavagem e durante a secagem, devem ser reduzidos ao mínimo.

É indispensável grande cuidado com o vestuário: as crianças com eczema atópico toleram muito mal roupa

de lã ou com fibras sintéticas. Usar em contacto com a pele apenas vestuário de algodão, de consistência

macia e textura suave, sem constrições.

A pele da criança atópica necessita ser "lubrificada" com uma emulsão, tipo "leite corporal". A pele atópica

por vezes não tolera bem os óleos.

Cuidado com e exposição solar e, sobretudo, com o calor! Embora a exposição à radiação ultravioleta seja

útil, constituindo mesmo método de tratamento nalgumas circunstâncias, as primeiras exposições ao sol

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Page 38: Manual de Enfermagem em Dermatologia

devem ser muito cautelosas. Se a doença se encontrar em actividade, a ida à praia é desaconselhável.

A eliminação empírica de produtos alimentares, na convicção de que possam constituir factor causal da

doença, não encontra na maior parte dos casos justificação plausível. Se houver suspeita que pareça

fundamentada, ela deve ser referida ao médico assistente.

O eczema atópico no adulto é frequentemente persistente e muito incomodativo. A orientação pelo médico

dermatologista é indispensável.

Eczema de contacto alérgico

Surge pelo contacto com substâncias (alergenos) a que a pele se tornou alérgica.

Há assim uma primeira fase - de sensibilização - de duração sempre indeterminada, em que o indivíduo

contacta contínua ou esporadicamente com o alergeno. Esta fase, contudo, não é inferior a 5 a 7 dias.

Quando o indivíduo está sensibilizado, qualquer contacto com o alergeno determina, nesse local, uma

reacção de eczema com intensidade variável, que pode evoluir de forma aguda ou crónica, eventualmente

com disseminação para além da área contactada.

Em alguns casos, só se verifica eczema de contacto se, simultaneamente, houver exposição à luz. Esta

situação denomina-se de "eczema por foto-sensibilidade alérgica".

O local de desencadeamento do eczema de contacto alérgico corresponde ao(s) ponto(s) de contacto com

o objecto ou substância a que o indivíduo se encontrava sensibilizado. O intervalo entre o início do contacto

e o desencadeamento da reacção oscila, por via de regra, entre as 12 e 24 horas, ocasionalmente mais

tempo.

Quais são os alergenos mais comuns?

São numerosos. Entre os mais frequentes citam-se:

Certos metais, de que o níquel e o crómio merecem referência especial.

No caso do níquel, a alergia surge na maior parte dos casos pelo contacto com objectos de bijuteria como

brincos, colares de fantasia e fivelas, por exemplo, fabricadas com este metal. No caso do crómio, a alergia

estabelece-se perante o contacto de materiais que contêm este metal, como os objectos de couro ou o

cimento. O eczema de contacto pelo cimento corresponde frequentemente a doença profissional.

Medicamentos de uso tópico.

Importa acentuar que os medicamentos tópicos são a segunda causa mais frequente do eczema de

contacto alérgico, quer pelo seu princípio activo, quer pelo excipiente ou pelos aditivos. Constituem

37

Page 39: Manual de Enfermagem em Dermatologia

exemplos de substâncias de uso tópico sensibilizantes como o mercúrio, anti-histamínicos, medicamentos

anti-infecciosos, anestésicos locais, conservantes dos cremes e pomadas, lanolina, etc..

Os cosméticos, como os perfumes e o verniz das unhas

Componentes das borrachas, resinas, corantes substâncias vegetais, etc.

Verifica-se, assim, que além de causas iatrogénicas (do grego iatros, relativo à medicina + genesis, também

do grego, origem), são importantes as causas relacionadas com o contacto com objectos de uso quotidiano,

como o calçado ou o vestuário, além das causas ocupacionais e/ou profissionais, por exemplo:

nos operários da construção civil - o cimento, as tintas;

nas cabeleireiras - as tintas do cabelo, os óleos de permanente;

nos padeiros - as farinhas, os conservantes;

nos profissionais de saúde - as luvas de borracha , os medicamentos;

no trabalho doméstico - as lavagens repetidas das mãos, o uso de detergentes mais ou menos agressivos,

a preparação de alimentos como o alho, a batata e a cebola.

Importa acentuar, assim, que frequentemente o eczema de contacto alérgico adquire importância como

doença profissional ou ocupacional.

Na confirmação do diagnóstico do eczema de contacto alérgico a realização de "provas epicutâneas" com

os alergenos suspeitos constitui técnica da maior importância e interesse. Estes alergenos encontram-se

comercializados nas concentrações adequadas e em "baterias" especiais, a usar conforme as situações e

as suspeitas clínicas.

O papel do profissional de Enfermagem pode ser determinante quando se encontra sob sua

responsabilidade a execução das provas epicutâneas, após as indicações recebidas do médico.

Provas epicutâneas

Consistem na aplicação, no dorso do doente em estudo, de adesivos providos de pequenos "depósitos"

onde se colocam os alergenos.

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Page 40: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Os adesivos que se utilizam correntemente são os seguintes:

1. Finn Chamber - câmaras de alumínio de 8mm de diâmetro colocadas em tiras de cinco ou dez ou

individuais, sobre adesivo poroso.

2. IQ Chamber - câmaras de plástico com 10mm de lado, colocadas em tiras de dez sobre adesivo poroso.

São cobertas por placas com dez alvéolos, sobre as câmaras, que permitem guardar no frigorífico séries

previamente preparadas em boas condições de conservação.

3. Leukotest - são tiras de adesivo com cinco locais de apósito, constituídos por algodão hidrófilo, rodeado

por um anel de polietileno.

No que respeita aos alergenos, utiliza-se correntemente no nosso País uma série standard adoptada pelo

Grupo Português de Estudo das Dermites de Contacto (GPEDC), que actualmente comporta trinta

alergenos preparados em vaselina branca e fornecidos em seringas, excepto o formaldeído e o kathon CG,

cujo veículo é a água e são fornecidos em frascos conta-gotas.

Além da série standard há séries complementares como dos cosméticos, das cabeleireiras, veículos e

conservantes, antibióticos, anti-inflamatórios, do calçado e do vestuário, dos dentistas etc. que se utilizam

conforme o quadro clínico e actividade do doente.

No estudo do eczema de fotossensibilidade alérgica utilizam-se a "série dos fotoalergenos" ou a "série dos

filtros solares", que são aplicadas na pele em duplicado para numa segunda fase, se efectuar irradiação de

uma das séries.

Preparam-se também os medicamentos ou os produtos trazidos pelo doente que possam ter interesse para

o esclarecimento da situação.

MATERIAL NECESSÁRIO PARA EXECUÇÃO DE PROVAS EPICUTÂNEAS

Adesivos para as provas ( indicação médica)

Série de alergenos (indicação médica)

Lápis dermográfico

Tesoura

Rolo de adesivo hipo-alergénico

Frasco com éter

Gaze hidrófila

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Page 41: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Execução:

Explicar ao doente como vão os adesivos ser colocados

Sentar o doente num banco

Desnudar o dorso

Os adesivos foram entretanto colocados na bancada, orientados no sentido horizontal.

As câmaras são preenchidas da esquerda para a direita pelos alergenos pela ordem previamente

estabelecida

Os adesivos são colocados no dorso, de cima para baixo e da esquerda para a direita, evitando aplicar

sobre a área da coluna vertebral, para não se descolarem facilmente com os movimentos

São delimitados com lápis dermográfico

Aplicar adesivo anti-alérgico de reforço

Deverá retirar os adesivos 48 horas mais tarde, uma a duas horas antes de se efectuar a 1ª leitura às 48h

No caso dos fotoalergenos os adesivos apenas são retirados na altura em que se irradia, às 48h

Recomendações ao doente:

Manter os adesivos colados durante 48 horas: não pode lavar o dorso durante este período

Só retirar algum dos adesivos se ocorrer reacção inflamatória particularmente intensa

Evitar exercícios físicos ou outras acções que possam descolar os adesivos

Se houver descolamento de algum dos adesivos, não os tentar recolar

PSORÍASE

A Psoríase é doença comum - está presente em cerca de 2 a 3% da população. Nas famílias em que há

indivíduos com Psoríase, a prevalência aumenta para cerca de 30%. Tal facto significa que existe

tendência, determinada geneticamente, para se sofrer de Psoríase. Contudo, a transmissão não é

"obrigatória", por exemplo de pais a filhos. A afecção muitas vezes "salta" gerações.

A causa da doença ainda se encontra mal esclarecida, mas as manifestações cutâneas resultam

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Page 42: Manual de Enfermagem em Dermatologia

essencialmente da proliferação acentuada das células epidérmicas (ceratinócitos) que, por esta razão, se

acumulam e descamam na superfície cutânea, com aspecto classicamente comparável a fragmentos de

cera. .

Em qualquer doente, a Psoríase pode estar:

em "actividade", com expressão clínica variável, por vezes discreta, outras vezes intensa;

"latente", sem quaisquer manifestações clínicas.

Tipos clínicos e características mais importantes:

Existem diversos tipos clínicos de Psoríase, de que os mais importantes se esquematizam como segue:

VULGAR

ERITRODÉRMICA

PUSTULOSA

ARTROPÁTICA

Os tipos referidos (e ainda outros, menos comuns) podem associar-se entre si ou evoluir no tempo, de um

tipo para outro.

Psoríase vulgar

É a forma mais frequente. As lesões elementares são manchas eritematodescamativas e constituem padrão

de reacção cutâneo característico.

A cor do eritema varia entre o rosado e o vermelho vivo e a intensidade da descamação é também variável.

As escamas por via de regra soltam-se com facilidade. É corrente o compromisso das unhas, por vezes

reduzido a discreto "picotado", outras vezes muito pronunciado e atingindo todas unhas.

Inicia-se na maior parte dos casos no adulto jovem, mas nem sempre assim sucede - pode aparecer em

qualquer idade. É pouco ou nada pruriginosa, embora com excepções. As localizações predominantes são

os cotovelos e joelhos, região dorsolombar e couro cabeludo. Pode disseminar em qualquer área da pele,

mas raramente compromete a face. Evolui de modo persistente, muitas vezes por surtos, com períodos de

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Page 43: Manual de Enfermagem em Dermatologia

agravamento e de remissão. As lesões, quando desaparecem, deixam a pele com aspecto normal.

A Psoríase vulgar não se acompanha de sintomas ou sinais gerais. Nas formas descritas como "artropática"

e "pustulosa generalizada" , pelo contrário, existem importantes manifestações gerais.

Psoríase eritrodérmica

Resulta da generalização da Psoríase, isto é, compromisso da totalidade da pele, não existindo qualquer

área poupada.

Psoríase artropática

Associa formas de expressão cutânea frequentemente grave e rebelde à terapêutica, com quadros de

reumatismo intenso, progressivo, deformante e incapacitante, conduzindo com o tempo frequentemente à

invalidez.

Psoríase pustulosa

Caracteriza-se, como o nome indica, pelo aparecimento de pústulas, muitas vezes sobre lesões

preexistentes de Psoríase. Os casos de disseminação de Psoríase pustulosa podem revestir-se de

gravidade considerável.

Há, assim, dois tipos principais de Psoríase pustulosa: uma localizada, muitas vezes nas mãos e pés; outra

disseminada, por vezes com importantes manifestações gerais associadas (febre, prostração, compromisso

ocasional de órgãos internos).

Atitude perante o doente com Psoríase

O doente com Psoríase deve ser informado com objectividade e clareza acerca da doença, orientado e

apoiado nas suas dificuldades. Verifica-se frequentemente no doente a convicção de que padecendo de

afecção "incurável", não "vale a pena" grande determinação no tratamento. Esta noção é errada e necessita

ser corrigida. De facto, a evolução da doença é ondulante, com remissões muitas vezes prolongadas, sendo

possível a sua indução com o tratamento correcto.

As dificuldades experimentadas anteriormente pelo doente na sua vida de relação, quer originadas pela

própria doença, quer pelos tratamentos tópicos pouco eficazes e incomodativos, geram muitas vezes

42

Page 44: Manual de Enfermagem em Dermatologia

desânimo.

Constituem ocasionalmente razão para que o doente se fixe na aplicação de corticosteróides de alta

potência, os quais, possuindo no início grande eficácia e rapidez na actuação, passam mais tarde a originar

reactivação rápida da doença, quando o seu uso é interrompido. O facto conduz muitas vezes e

progressivamente à utilização diária, com graves inconvenientes: progressiva ineficácia da acção com

agravamento progressivo da doença, pustulização, atrofia cutânea, telangiectasias, infecções associadas,

dispêndio muito elevado, etc.. Em situações extremas tem sido observadas situações de hipercorticismo,

por absorção percutânea dos corticóides tópicos (doença de Cushing iatrogénica).

Noção também errónea, comum, frequente em mães, é o da transmissão inevitável da doença aos

descendentes. O facto é causa de ansiedade ou mesmo angústia, com a valorização de qualquer pequena

alteração cutânea na pele das crianças como representando o início da doença.

Outra ideia errada, que é colocada ocasionalmente por indivíduos menos esclarecidos, é a possibilidade do

contágio da doença. Mesmo que esta questão tenha sido clarificada, a sensação de repulsa que o doente

sente nos conviventes e familiares constitui motivo de sofrimento.

O risco de generalização, com atingimento da face, sobretudo em mulheres jovens, representa muitas

vezes receio que gera também angústia. Igualmente hipóteses imaginadas de complicações da doença,

como a cancerização, são referidas de modo ansioso e pouco racional, por vezes apenas formuladas de

modo indirecto.

Em qualquer dos casos, estas dúvidas ou receios não devem ser minimizados ou encarados de modo

displicente e sim objecto de esclarecimento sereno e minucioso.

Métodos de tratamento

Consideram-se os tratamentos como locais ou gerais, estes últimos por administração oral ou parentérica.

Nos tratamentos locais destaca-se pela inocuidade, eficácia e simplicidade a aplicação de radiação

ultravioleta. Os medicamentos tópicos mais usados são os que se mencionam no Quadro 4.1. Contudo,

existem técnicas especiais de tratamento, que combinam os produtos referidos, das quais se mencionam a

seguir as mais usadas.

Quadro 4.1 Medicamentos tópicos mais usados na psoríase

MEDICAMENTO: ÁCIDO SALICÍLICO

EFICÁCIA: Pequena: remove sobretudo a descamação

VANTAGENS: Inócuo Simplicidade de aplicação. Formas e concentrações variadas.

DESVANTAGENS: Pouco efeito sobre a afecção

43

Page 45: Manual de Enfermagem em Dermatologia

OUTROS PADRÕES DE REACÇÃO CUTÂNEA

Seborreia e dermite seborreica

Denomina-se seborreia ao aumento de produção de sebo pelas glândulas sebáceas cutâneas. A pele

seborreica é, assim, uma pele oleosa, por via de regra espessa e de superfície brilhante.

A zona mediana cutânea possui tendência seborreica mais pronunciada que o restante tegumento,

especialmente couro cabeludo, zona médio-facial, áreas pré-esternal e inter-escapular, região genital e peri-

genital.

Estas áreas seborreicas sofrem inflamação ocasional - dermite seborreica, a qual se traduz por eritema,

descamação e prurido, na maior parte dos casos, mas nem sempre, pouco pronunciada.

No couro cabeludo este fenómeno é particularmente comum e traduz-se, em designação popular, pela bem

conhecida "caspa". Nas crianças é por vezes precoce (crosta láctea), por vezes associada a dermite em

outras localizações.

A dermite das fraldas na criança surge, igualmente e com frequência, como acentuação da dermite

seborreica, em função de conjunto de circunstâncias e de condições peculiares, características desta área

da pele, na tenra idade - pele fina, "irritação" local e maceração pela urina e fezes, oclusão com aumento de

temperatura originados por protecções de material plástico, intolerância a esta último ou mesmo ao material

das fraldas, tratamento tópico inadequado, infecção cutânea coincidente por bactérias ou leveduras.

Os resultados obtidos no tratamento da seborreia e dermite seborreica são transitórios, a recidiva é

frequente. Efectua-se no adulto com produtos ditos "anti-seborreicos" (como o coaltar saponinado e o

piridintionato de zinco), muitas vezes incorporados em loções e em champôs de venda livre. As formas

agudas intensas devem ser observadas por dermatologista.

Na criança o tratamento da dermite seborreica é muitas vezes difícil. Na remoção da crosta láctea pode

usar-se um creme lavável de ácido salicílico a 5%.

Na dermite das fraldas o arejamento e a mudança frequente da fralda são indispensáveis. O tratamento

combina a aplicação tópica de antissépticos suaves (solutos de ácido bórico a 3%, de permanganato de

potássio a 1: 5.000) com pomadas ou pastas protectoras de óxido de zinco (óleo de zinco ou pasta de

44

Page 46: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Lassar).

Em qualquer das localizações na criança deve evitar-se a aplicação de corticosteróides.

Acne polimorfa juvenil (do grego akme = eflorescência)

Afecção dermatológica extremamente comum, que surge de modo característico na puberdade por

estimulação androgénica das glândulas sebáceas da face e do tronco, associando-se muitas vezes a

seborreia e ocasionalmente a dermite seborreica..

Outros factores que condicionam o aparecimento da acne são a maior ou menor facilidade de retenção de

sebo no interior da glândula e a colonização desta por uma bactéria denominada Propionibacterium acnes.

Entre outros factores que podem influenciar a manutenção e agravamento da acne, destacam-se problemas

gerais (disfunção ovárica, por exemplo), aplicações locais inadequadas, e acções traumáticas locais

enérgicas, nomeadamente a expressão das lesões cutâneas, acto realizado frequentemente sobre os

comedões, denominados em gíria popular como "pontos negros".

O "esvaziamento" das glândulas sebáceas, vulgarizado sob a designação de "limpeza de pele", é muito

executado nos gabinetes de estética, mas necessita de ser realizado segundo indicações precisas, com

técnica adequada e indispensáveis cuidados de assepsia.

O tratamento da acne juvenil necessita ser esquematizado por dermatologista segundo as circunstâncias

individuais, com medicamentos administrados por via geral e/ou local.

Urticária (do latim urtica = urtiga) e angio-edema

Denomina-se urticária a erupção cutânea monomorfa constituída por pápulas eritematosas, pouco elevadas

na superfície cutânea, com bordo em geral irregular e prolongamentos semelhantes a pseudópodes,

pruriginosas e fugazes (horas). A urticária pode ser originada por causas muito variadas, locais ou gerais. A

causa local mais característica é o contacto com urtigas, as quais possuem nas sua folhas pequeníssimas

espículas ocas, repletas de produto líquido que injectado na pele origina a referida reacção. A causa geral

mais frequente é a alergia medicamentosa.

O angio-edema é uma reacção urticariforme circunscrita (por exemplo, uma pálpebra, lábio), mas que

atinge profundamente a pele ou mucosas, com edema acentuado no local atingido.

Urticária e angio-edema de início súbito devem ser observados com urgência pelo dermatologista. Angio-

edema da glote constitui situação de emergência pelo risco de asfixia.

A atitude na urticária e no angio-edema visa sobretudo identificar a causa desencadeante. Os

medicamentos anti-histamínicos têm indicação especial .

45

Page 47: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Cap. 5. Acções Exogenas sobre a pele e mucosas

ACÇÕES EXÓGENAS SOBRE A PELE

Agentes biológicos. Simbiose, infecção e infestação

Descontaminação microbiológica

Acidentes de exposição ao sangue

Infecção hospitalar (nosocomial)

Piodermites

Viroses cutâneas

Micoses

Infestações por parasitas animais

Doenças por transmissão sexual (venéreas)

Agentes físico-químicos

Queimaduras térmicas e químicas

Queimadura solar. Hipersensibilidade à luz. Foto-protecção

A pele, na sua posição de fronteira é frequentemente sujeita a agressões externas de natureza biológica e

físico-química.

Relativamente às primeiras, é fundamental considerar que o órgão é habitado na superfície por grande

número de germens, os quais participam nos mecanismos de defesa contra agentes externos, dentro de

sistema ecológico original e muito eficaz. O conceito de simbiose aplica-se a este fenómeno de equilíbrio

microbiológico, enquanto a rotura do sistema conduz a infecções e infestações.

Nas agressões por agentes físico-químicos, a variedade de situações é grande e iremos considerar as mais

frequentes.

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Page 48: Manual de Enfermagem em Dermatologia

            2. Agentes biológicos. Simbiose, infecção e infestação; Descontaminação microbiológica;Acidentes

de exposição ao sangue; Infecção hospitalar (nosocomial).     >

A pele, na sua posição de fronteira é frequentemente sujeita a agressões externas de natureza biológica e

físico-química.

Relativamente às primeiras, é fundamental considerar que o órgão é habitado na superfície por grande

número de germens, os quais participam nos mecanismos de defesa contra agentes externos, dentro de

sistema ecológico original e muito eficaz. O conceito de simbiose aplica-se a este fenómeno de equilíbrio

microbiológico, enquanto a rotura do sistema conduz a infecções e infestações.

Nas agressões por agentes físico-químicos, a variedade de situações é grande e iremos considerar as mais

frequentes.

AGENTES BIOLÓGICOS. SIMBIOSE, INFECÇÃO E INFESTAÇÃO

Denomina-se simbiose (ou comensalismo) à associação biológica de seres vivos, reciprocamente bem

tolerada e da qual resulta benefício mútuo.

Refere-se como infecção à associação de que resulta doença, a qual é originada por germens

transmissíveis, por exemplo, bactérias e vírus, que se multiplicam no interior do organismo (endo-

parsitismo).

Infestação (ou parasitose), também situação transmissível, subentende que a multiplicação do agente

causal se realiza no exterior ou sobre o organismo (ecto-parasitismo), por seres do reino animal (zoo-

parasitoses) ou vegetal (fito-parasitoses).

Simbiose, infecção e infestação não constituem ´categorias´ estanques de tipos de ´associação´. Assim, por

exemplo, um determinado simbionte pode, em circunstâncias particulares (condições do meio, virulência)

transformar-se em agente de infecção ou de infestação.

Na pele humana encontram-se correntemente os três tipos de situações referidas.

Assim, existe sempre uma população de microrganismos habitantes normais da superfície da pele e das

mucosas (flora cutânea superficial). Contudo, quando há doença cutânea ou mucosa, existe do mesmo

modo uma flora de superfície, a qual pode ser simbionte, ou contribuir, ou ainda constituir a causa da

dermatose.

Compõem a flora cutânea superficial germens variados (bactérias, fungos, vírus, parasitas), mas a

importância das bactérias sobreleva a dos outros agentes pela sua importância na génese das infecções

cutâneas e gerais.

47

Page 49: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Consideram-se 3 tipos de flora bacteriana cutânea superficial: residente, transitória (Quadro 5.1) e

patogénica.

A flora residente é constituída por germens não patogénicos. Está sempre presente, composta

principalmente por bactérias dos géneros Propionibacterium, Staphylococcus e Corynebacterium e exerce

aparente efeito de ´protecção´ quanto ao aparecimento de germens patogénicos, por provável mecanismo

de interferência bacteriana.

Ocasionalmente, alguns germens da flora residente podem adquirir propriedades de patogenicidade e

originar doença, sobretudo em doentes imunodeprimidos. A flora residente varia consideravelmente

conforme as áreas da pele consideradas e encontra-se não só na superfície cutânea como igualmente na

profundidade dos folículos pilossebáceos.

A flora transitória possui potencialidade patogénica, resulta da presença ocasional de germens não

presentes habitualmente na superfície cutânea e que aí se encontram por contaminação acidental, a partir

do tubo digestivo ou do ambiente.

É importante considerar que a flora transitória dos doentes internados em meio hospitalar reflecte

frequentemente o ecossistema microbiano ambiental, com germens resistentes aos antibióticos. Nesta

perspectiva, desempenha papel importante na transmissão inter-individual de germens, por exemplo

através das mãos do pessoal hospitalar).

Quadro 5.1

Flora bacteriana da pele

Flora residente #9; Flora transitória

Propionibacterium acnes Staph. aureus coagulase positivo

Propionibacterium granulosum #9; Streptococcus pyogenes

Propionibacterium avidum #9; Pseudomonas spp

Staphylococcus epidermidis Enterococos

Staphylococcus haemolyticus

Staphylococcus hominis

Corynebacterium urealyticum

Corynebacterium jeikeium

Corynebacterium pseudodiphteriticum

Corynebacterium minutissimum

A flora patogénica, não presente de modo estável na pele humana íntegra, surge facilmente se existem

alterações cutâneas prévias, é constituída pelos agentes causadores de infecção cutânea.

48

Page 50: Manual de Enfermagem em Dermatologia

A pele humana é estéril no momento do nascimento, observando-se no entanto aparecimento da população

microbiana residente em poucos dias, enquanto o pH desce de7.0 para 5.5.

A pele normal é particularmente resistente à colonização por germens patogénicos, devido a determinadas

características:

baixo pH da superfície (cerca de 5.5) desfavorável à multiplicação da maioria dos germens patogénicos;

acção química bacteriostática / bactericida do filme lipídico superficial;

presença de imunoglobulinas no suor, com propriedades anti-bacterianas;

descamação persistente da camada córnea, a qual reduz a probabilidade de colonização significativa;

baixo conteúdo hídrico das células córneas, que dificulta a sobrevivência bacteriana;

flora comensal da superfície (interferência bacteriana)

A flora residente não é completamente eliminável, mesmo pela lavagem cuidadosa e pela aplicação de anti-

sépticos. Além disso a sua reconstituição é muito rápida, surgindo de novo cerca de 4 a 6 horas após a

remoção. Este facto é particularmente notório nas mãos, sobretudo quando se usam luvas de material

oclusivo.

Ao contrario da flora residente, a flora transitória reflectindo a o padrão de flora existente no ambiente, tem

importância fundamental na transmissão de infecções; é praticamente eliminada com os cuidados de

lavagem e de anti-sepsia.

A flora patogénica reveste-se de grande importância, não só como causa de doença dermatológica, mas

pela sua potencialidade de transmissão e/ou invasão de outros órgãos, eventualmente sepsis, com a

gravidade que estas situações condicionam.

Descontaminação microbiológica

Em Medicina, a eliminação de germens existentes na superfície da pele e em objectos de uso hospitalar

constitui preocupação constante, como método básico elementar de prevenir infecções.

Esta eliminação promove-se por três métodos: lavagem, desinfecção e esterilização. Contudo, importa

acentuar que a designação e conceito de esterilização não se aplicam à pele, mas apenas a objectos.

No que respeita ao material para uso médico, em termos gerais e em todas circunstâncias, hospitalares ou

extra-hospitalares, o risco que subsiste quando utilizado em qualquer doente, pode ser classificado como:

Material crítico ou de alto risco - material que penetra no organismo por rotura da pele / mucosas, ou

quando é introduzido em cavidades estéreis. Impõe-se sempre a esterilização.

Material semi-crítico ou de médio risco - material que entra em contacto com pele lesada ou mucosas.

Impõe-se a desinfecção.

Material não crítico ou de baixo risco - material em contacto com a pele íntegra. Impõe-se a lavagem.

49

Page 51: Manual de Enfermagem em Dermatologia

A limpeza por lavagem efectua-se com sabão ou detergentes. A acção mecânica simultânea com escova é

muito importante.

A desinfecção consiste na eliminação, por acção directa, da maior parte dos microrganismos existentes

sobre qualquer suporte.

A desinfecção pode ser física (temperatura elevada) ou química (desinfectantes - álcool etílico, compostos

halogenados, glutaraldeido; anti-sépticos - álcool etílico, álcool propílico, clorohexidina, iodóforos).

Como referido, a noção de anti-sepsia subentende a desinfecção que pode ser executada na pele e nas

mucosas.

A anti-sepsia ganhou base científica em meados do século passado, com Lister e, durante largos decénios,

constituiu a principal base de lutas contra as infecções.

Com o advento dos antibióticos o uso das substâncias anti-sépticas decaiu consideravelmente mas, nos

últimos anos, com a importância crescente das resistências bacterianas e com o grave aumento de

infecções hospitalares, a anti-sepsia recebeu renovado interesse e ganhou nova projecção.

A anti-sepsia pode efectuar-se com substâncias químicas variadas. Com finalidade prática consideram-se

duas situações comuns:

a anti-sepsia geral da pele e das mucosas (Quadro 5.2);

a anti-sepsia utilizada na preparação do campo operatório e das mãos dos cirurgiões (Quadro 5.3).

É importante recordar que os produtos anti-sépticos são medicamentos e que devem ser utilizados como

tal, com as suas regras de uso, indicações, contra-indicações e efeitos colaterais. Nesta perspectiva, impõe-

se sempre o conhecimento detalhado dos produtos que se usam e as normas do seu emprego devem ser

seguidas com rigor.

Seleccionaram-se, nos quadros seguintes, alguns anti-sépticos de utilização mais frequente, as indicações

gerais e o método de utilização. Podem usar-se outros produtos, mas é fundamental seguir sempre

escrupulosamente as indicações do fabricante e atender a prazos de validade e circunstâncias de

utilização, nomeadamente quanto a possíveis incompatibilidades.

A leitura prévia das instruções de uso é, assim, absolutamente indispensável.

Quadro 5.2

Anti-sepsia geral da pele e das mucosas

PVP iodada 10% em água

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Page 52: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Clorohexidina 0,5% em isopropanol

Hipoclorito de sódio

(soluto de Dakin)

Água oxigenada 10 volumes

Indicações de utilização

Anti-sepsia geral da pele e mucosas

Anti-sepsia da pele e do campo operatório

Anti-sepsia de feridas cutâneas

com necrose

Anti-sepsia de feridas infectadas

Método de uso e precauções

3 aplicações sucessivas

Esperar secagem antes da aplicação seguinte

3 aplicações sucessivas

Esperar secagem antes da aplicação seguinte

Utilizar diluído a 50%. Contacto

mínimo: 20 minutos

Usar pura, ou diluída a 50% no caso das mucosas

Quadro 5.3

Anti-sepsia das mãos e preparação cirúrgica

PVP iodada a 7,5% em sabão líquido

Clorohexidina 4%

Indicações de utilização

Lavagem cirúrgica das mãos e do campo operatório

Lavagem cirúrgica das mãos e do campo operatório

Método de uso e precauções

2 lavagens sucessivas de 2,5 minutos cada. No campo operatório, lavar 2-3 minutos e aplicar em seguida

PVP iodada sol.aquoso a 10%. Não misturar com outros anti-sépticos

2 lavagens sucessivas de 2,5 minutos cada. No campo operatório, lavar 2-3 minutos e aplicar em seguida

51

Page 53: Manual de Enfermagem em Dermatologia

tintura colorida de clorohexidina. Não misturar com outros anti-sépticos

A esterilização dos materiais clínicos ou cirúrgicos que se usam no hospital é efectuada por via de regra em

Serviço Central de Esterilização e apenas há que seguir escrupulosamente as normas em vigor.

Em meio extra-hospitalar colocam-se contudo problemas práticos de esterilização que importa referir.

O mais importante respeita ao uso de material cirúrgico que necessita sempre ser convenientemente

esterilizado, de preferência em autoclave. A fervura ou a introdução do material em soluções anti-sépticas

não garante a destruição de microrganismos, esporos ou formas vegetativas patogénicas.

Existem autoclaves pequenas, de bancada (Fig. 5.1), que permitem por exemplo pressões de 2 atmosferas

a 121oC, o que assegura esterilização adequada com o tempo de 15 minutos. Um ciclo de esterilização,

que necessita ainda de algum tempo para aquecimento inicial e arrefecimento final (ambos cerca de 30

minutos), permite esterilização de metais, pano, papel, instrumentos de vidro e plástico resistentes ao calor.

Na preparação do material a autoclavar é essencial uma limpeza adequada prévia para remoção de todas

partículas de material orgânico eventualmente aderentes. O material deve ser imerso numa solução anti-

séptica, como seja de glutaraldeido a 2% durante 15 minutos (elimina vírus, nomeadamente HIV) e, em

seguida, deve ser bem escovado.

Os detergentes não são misturados ou usados simultaneamente com anti-sépticos, porque há o risco de

inactivação deste últimos. Os instrumentos cirúrgicos não devem ser ´lubrificados´ ou neles aplicado

qualquer tipo de gordura, pelo risco de deterioração do autoclave.

Para desinfecção de material de endoscopia o glutaraldeido é o desinfectante adequado, após lavagem

prévia (indispensável!). O glutaraldeido usa-se em soluto a 2% e o tempo de actividade, após efectuada a

referida diluição, é de 14 dias. O glutaraldeido é irritante para as mucosas (nasal, ocular), pelo que é

necessário precaução no seu manuseamento. Além disso é um potente sensibilizante cutâneo, pelo que

não deve ser manipulado sem luvas de latex.

O esquema indicado no Quadro 5.4 é o recomendado pela Comissão de Controlo da Infecção Hospitalar do

Hospital de Santa Maria (norma 04/97).

Quadro 5.4

Desinfecção de material de endoscopia

Tipo de endoscópio

Método

Início da sessão

52

Page 54: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Entre doentes

Fim da sessão

Artroscópios

Laparoscópios

Cistoscópios

Esterilização Se não é possível:

Glutaraldeído a 2%

20 minutos

 

20 minutos

1 hora

Broncoscópios

End. de CPRE

Glutaraldeído a 2%

20 minutos

20 minutos

1 hora

Gastroscópios

Glutaraldeído a 2%

20 minutos

5 minutos

20 minutos

Colonoscópios

Sigmoidoscópios

Glutaraldeído a 2%

20 minutos

5 minutos

20 minutos

Acidentes de exposição ao sangue (AES)

Os acidentes de exposição ao sangue, resultando por essa via a aquisição de doenças infecciosas, por via

de regra de natureza viral, constituem risco conhecido para profissionais de acção médica e profissionais de

53

Page 55: Manual de Enfermagem em Dermatologia

laboratório, quer em actividades hospitalares quer na actividade privada.

Os acidente consistem no contacto percutâneo directo com o sangue do doente, havendo solução de

continuidade cutânea (picada ou ferimento) ou na projecção de sangue sobre mucosa ou sobre ferimento

cutâneo preexistente.

Em princípio não existe problema se o contacto se estabelece com pele normal.

No entanto, é fundamental ter sempre presente que o sangue constitui vector potencial de contaminação,

com o qual não deve haver contacto físico directo.

A importância desta matéria respeita sobretudo à transmissão de vírus, quer pelo elevado grau de

infecciosidade, quer pela ausência de tratamento, quer ainda pelas elevada morbilidade e mortalidade que

determinam.

Os vírus responsáveis por AES são os vírus da imunodeficiência humana (SIDA) e os da hepatite B e da

hepatite C.

Os vírus estão presentes no sangue em períodos mais ou menos longos e a contaminação efectua-se por

inoculação do sangue, incluindo evidentemente a transfusão.

A probabilidade de contágio depende, além da prevalência da infecção na população (Quadro 5.5), da

concentração do agente infeccioso no sangue dos indivíduos infectados e do volume do inóculo.

Quadro 5.5

Acidentes de exposição ao sangue

Ordem de prevalência e taxa de transmissão para hepatite C, B e SIDA

Vírus

Ordem de prevalência

Taxa aproximada de transmissão após AES

Hepatite C

1 - 3 %

Hepatite B

25 - 30 %

Imunodeficiência humana

0.3%

Vírus da hepatite B

54

Page 56: Manual de Enfermagem em Dermatologia

O número de casos de AES por Hepatite B desceu fortemente depois da introdução da vacina.

O risco de AES depende da intensidade da virémia do doente infectante. É muito elevado em caso de

positividade de AgHBs (Ag = antigénio; HB = hepatite B; s = superfície das partículas virais) e de AgHBe ( =

antigénio ´e´ do vírus da hepatite B) , enquanto é menor se AgHBe for negativo.

A prevenção da hepatite B assenta na vacinação. Ela deveria ser obrigatória para profissionais de saúde.

Cirurgiões, dentistas, ginecologistas, enfermeiros etc. são por vezes portadores crónicos do vírus da

hepatite B e, nesta circunstância, disseminadores da doença.

Vírus da hepatite C

A seroprevalência de hepatite C é idêntica no pessoal de saúde e na população em geral. Consideram-se

como factores de risco: volume do inóculo, carga viral e provavelmente co-infecção com VIH (por aumento

da carga viral VHC).

Na prevenção da hepatite C, em caso de exposição avaliar função hepática e executar PCR para ARN do

vírus. Pode haver indicação para tratamento com interferão.

Vírus da imunodeficiência humana (HIV)

Até final de 1995 havia descritos na literatura mundial 140 casos de infecção e 79 seroconversões após

AES. Em estudo francês verificou-se que a maior parte das seroconversões foi observada em enfermeiros

(47%) e técnicos de laboratório (22%), por picadas.

Consideram-se como os factores condicionantes mais importantes:

profundidade da ferida ocasionada;

presença de sangue visível sobre o material contaminante;

acidente originado com agulha endovenosa ou arterial;

doente infectante em fase terminal.

Outros dois factores, provavelmente importantes, são o intervalo de tempo entre a utilização da agulha no

doente e a exposição infectante (maior intervalo, menor probabilidade) e o uso de luvas. Neste caso, a

travessia da agulha nas luvas pode limpar o sangue e reduz, assim, o volume injectado.

Risco de acidentes por exposição ao sangue:

Outro factor em linha de conta é a elevada incidência de acidentes após actos médicos ou outros, na

eliminação do material contaminado ou em atitudes completamente contra-indicadas, como a colocação da

protecção de plástico na agulha que foi utilizada.

Este acto nunca deve ser executado!

Acidentes comuns são, ainda, observados com frequência pelo arrastamento de peças cortantes sujas na

55

Page 57: Manual de Enfermagem em Dermatologia

remoção de material, campos operatórios, etc.. Impõe-se atenção redobrada nestes actos.

Admite-se que, no pessoal de enfermagem, a incidência global de acidentes de exposição ao sangue seja

0.3 a 0.4 % por ano.

Nos cirurgiões, 5 a 30% das intervenções acompanham-se deste tipo de acidente. A incidência das picadas,

que sobrevêm principalmente no final das intervenções, é avaliada entre 0.5 e 2.7, por cem indivíduos, por

acto.

A prevenção dos AES constitui recomendação universal (OMS,CDC) não só para a actividade hospitalar

como para a extra-hospitalar e depende essencialmente de boa organização de trabalho.

Infecção hospitalar (nosocomial)

Entende-se como infecção hospitalar (ou nosocomial - do grego nosokomeion = hospital; nosos = doença +

komeo = cuidar de) aquela que é adquirida pelo doente após a admissão hospitalar, não se encontrando

presente ou em incubação nessa data.

Admite-se que cerca de 5% dos doentes internados adquirem uma infecção hospitalar.

Entre as infecções hospitalares mais frequentes contam-se as do aparelho urinário (cerca de 40 % dos

casos).São também importantes as infecções introduzidas no organismo por feridas, cirúrgicas ou outras.

Outros tipos de infecção nosocomial são a pulmonar (pneumonia) e a infecção sistémica por introdução de

germens secundária a administração endovenosa de fluidos.

Nas infecções nosocomiais, os germens provêm quer do pessoal de saúde, quer do próprio doente. Se a

intervenção incide em áreas de grande contaminação, como intestino ou vagina, a probabilidade de

infecção é muito maior.

Representam factores desfavoráveis no estabelecimento de infecções nosocomiais doenças gerais como a

diabetes, terapêutica concomitante com corticosteróides ou outros medicamentos imunossupressores e a

idade avançada do doente. Nas intervenções cirúrgicas são importantes a sua duração prolongada e a

necrose de tecidos.

Entre os germens mais comuns responsáveis por infecções hospitalares destacam-se bacilos Gram

negativos (Pseudomonas e Klebsiella) e cocos Gram positivos (Staphylococcus aureus).

Nos últimos anos tem-se assistido ao aparecimento de estirpes de Staphylococcus resistentes à metilcilina,

de extrema gravidade, porque não são sensíveis à maioria dos antibióticos correntemente utilizados. Muitos

outros germens têm vindo a revelar-se também, progressivamente, sobretudo em meio hospitalar,

resistentes à antibioterapia.

A transmissão de germens responsáveis pelas infecções hospitalares verifica-se na maior parte dos casos a

partir do próprio pessoal que presta assistência aos doentes, sobretudo médicos e enfermeiros.

Prevenção da infecção hospitalar:

56

Page 58: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Cap. 6. Alterações Cutâneas Degenerativas e Neoplásicas

Envelhecimento e foto-envelhecimento da pele

Dermatoses dos membros inferiores

Doente acamado. Úlcera de decúbito

Cancro na pele

ENVELHECIMENTO E FOTO-ENVELHECIMENTO DA PELE

O envelhecimento cutâneo constitui fenómeno irreversível que se começa a observar normalmente pela

quarta década de vida. A pele é mais fina, perde elasticidade, enruga-se, a superfície amarelece, é mais

seca e por vezes descamativa. Estas alterações, mais ou menos intensas observam-se na pele não exposta

e correspondem ao denominado "envelhecimento inato".

A fragilidade da pele resulta da sua atrofia, a que se associa frequentemente "secura" significativa (xerose),

não por desidratação mas sobretudo pela falta de oleosidade superficial. Se a este fenómeno, por si só

causador de prurido, se associa o estado atópico (ver) a eczematização - "eczema senil", surge facilmente.

O eczema nos idosos representa assim o resultado de um conjunto de factores, elos de uma cadeia

complexa geradora do processo inflamatório crónico que necessita de tratamento médico adequado.

A este fenómeno de senescência "natural" do tegumento somam-se as alterações induzidas por acção da

luz solar, evidentes nas áreas expostas. È o denominado foto-envelhecimento, o qual se traduz por

pigmentação difusa destas áreas, com atrofia intensa e pela hiperpigmentação de tipo lenticular designada

como "lentigo senil". Em situações avançadas, a fragilidade das estruturas cutâneas é extrema e pequenos

traumatismo originam erosões fáceis ou sufusões hemorrágicas por rotura dos vasos da derme.

A pele envelhecida necessita de cuidados adequados:

A lavagem geral deve ser pouco frequente, com periodicidade de harmonia com as necessidades

57

Page 59: Manual de Enfermagem em Dermatologia

individuais e o tipo de pele. São de preferir as lavagens diárias parcelares. No banho geral o chuveiro com

baixa pressão constitui o método mais adequado. São de banir as lavagens prolongadas e os banhos de

imersão em água muito quente.

Devem ser evitadas as espumas de banho e os sabonetes com propriedades detergentes pronunciadas.

Privilegiar os produtos de lavagem genericamente classificados como syndets (do inglês synthetic

detergents), de que existem comercializadas diversas fórmulas, com pH baixo e cuja agressividade cutânea

é muito menor que os sabões tradicionais.

A fricção da pele com esponja, com luva ou com escova é interdita. A espuma deve ser passada

suavemente na pele sem esfregar. A secagem deve ser efectuada por contacto do roupão ou toalha turca,

sem fricção.

As fricções da pele com álcool ou outros produtos anti-sépticos ou irritantes são de banir totalmente.

É necessário cuidado com as massagens. A vulnerabilidade da pele tolera mal este tipo de acções físicas e,

frequentemente, verifica-se intolerância a óleos ou outros produtos correntemente utilizados. A aplicação de

rubefacientes ou de anti-inflamatórios não esteróides é particularmente mal tolerada.

A aplicação diária de leite corporal do tipo emulsão de óleo em água (O/A) é recomendável. Os pós de talco

devem ser evitados, salvo se houver perspiração intensa. De modo geral, contribuem para a secura da pele.

Cuidados cosméticos no idoso

O idoso encontra-se muitas vezes sensível e desgostoso com a mudança da sua aparência.

Muitas vezes os seus hábitos de higiene, de toilette ou de cosmética são abruptamente criticados e mesmo

impedidos, por convivente ou familiares, com argumentos desprovidos de qualquer valor ou significado,

contribuindo para desencadear ou agravar a sua tristeza ou induzir mesmo depressão.

Pelas razões expostas, os hábitos referidos devem ser mantidos e mesmo encorajados, adaptados apenas

à tolerância ou susceptibilidade peculiar da pele.

Os produtos de cosmética e de toilette não colocam por via de regra problemas especiais. Os anti-

perspirantes são em geral bem tolerados. Colónias e perfumes devem ser colocados na roupa, evitando o

contacto directo com a pele. O after-shave não deve conter álcool. O champô deve ser não-detergente e a

lavagem capilar reduzida ao mínimo, dentro da necessidade individual. As lacas capilares, em condições

normais de utilização, são inofensivas. Os vernizes para as unhas só excepcionalmente originam acções

nocivas. Os cremes cosméticos são bem tolerados. Os pigmentos cutâneos (teint de fond, blush, tintas para

58

Page 60: Manual de Enfermagem em Dermatologia

os olhos e rimmel, produtos para coloração capilar) são, por via de regra, inofensivos e igualmente bem

tolerados.

Por vezes verifica-se susceptibilidade cutânea não às aplicações cosméticas em si, mas ao modo da sua

limpeza, com fricção excessiva. Além disso, os produtos "démaquillantes" são frequentemente agressivos

para a pele.

Deve haver cuidado quanto a "tratamentos" cosméticos que possam ser agressivos, por exemplo aplicação

de produtos esfoliantes, frequentemente usados como "anti-rugas" ou substâncias despigmentantes, muitas

vezes mal toleradas.

Perante suspeita de intolerância a um cosmético consultar o dermatologista.

DERMATOSES DOS MEMBROS INFERIORES

Abaixo do joelho, a pele dos membros inferiores encontra-se muito exposta a agressões externas e não

está particularmente dotada de meios de compensação que lhe permitam corresponder, frequentemente, às

funções necessárias de protecção e defesa.

Dermite de estase

Nas pernas a pele é fina, com panículo adiposo pouco desenvolvido, sem enrugamento que lhe proporcione

distensão e está justaposta directamente em grande parte sobre superfícies ósteo-tendinosas tíbio-

peroniais ou sobre massas musculares.

No decurso da idade, fica sujeita muitas vezes à pressão interna produzida pelo edema, quer por razões

gerais (cardíacas, renais etc.), quer por alterações circulatórias locais (insuficiência venosa). Nesta

circunstância, a sua espessura reduz-se no limite da distensibilidade possível e permanece tensa, luzidia,

extremamente sensível e vulnerável.

A manutenção deste fenómeno conduz a alterações dermatológicas, de que a inflamação crónica ou

recidivante constitui a expressão mais frequente e se denomina dermite de estase. Caracteriza-se por

reacção eczematiforme, por vezes exsudativa, com prurido, frequentemente bilateral. A aplicação de tópicos

inadequados agrava muitas vezes a inflamação, que pode difundir. Surge muitas vezes associada à úlcera

de perna. Necessita observação e orientação dermatológicas. Como primeira medida, devem-se

59

Page 61: Manual de Enfermagem em Dermatologia

interromper quaisquer aplicações que estejam a ser efectuadas, limpar suavemente com óleo de amêndoas

doces e aplicar óleo de zinco (v. Terapêutica dermatológica).

Úlcera de perna

Em situações em que o déficit circulatório venoso é muito pronunciado, como sucede quando existem

varizes, surge frequentemente a denominada úlcera de perna (ou úlcera varicosa), a qual se localiza na

maior parte dos casos na área supra-maleolar interna da perna.

As varizes surgem por defeito estrutural da parede das veias, da qual resulta a sua dilatação definitiva. Mais

frequentes no sexo feminino que no masculino (3:1), estabelecem-se insidiosamente depois da

adolescência, com aumento progressivo, atingindo o máximo de dilatação pelos 30 a 40 anos. Acentuam-se

e progridem de modo intenso se houver causas que dificultem o retorno do sangue: obesidade, trabalho

contínuo na posição de pé, gravidez, crises de tromboflebite, etc..

Importa recordar que a progressão no retorno do sangue no membro inferior só é possível graças ao

sistema de válvulas das veias, que impede o seu retrocesso. As varizes condicionam maior ou menor

incontinência valvular e a progressão sanguínea encontra-se dificultada. Do mesmo modo, a comunicação

entre o sistema de veias superficiais e profundas fica comprometida, de que resulta igualmente dificuldade

de drenagem sanguínea.

A úlcera de perna origina-se assim pelo aumento local da pressão venosa e capilar, secundária à

insuficiência de retorno venoso, o qual condiciona fragilidade cutânea no terço inferior da perna, sobretudo

na face antero-interna. Além deste importante factor de predisposição, existem outros da maior importância

(obesidade, anemia, má nutrição, diabetes, reumatismo, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial) a exigir

em todos casos uma avaliação médica minuciosa do estado geral do doente.

A úlcera de perna é frequentemente desencadeada por traumatismo local (factor de desencadeamento) e,

posteriormente, determinados factores de manutenção e/ou de agravamento (aplicação de substâncias

inadequadas, infecção local) condicionam a cronicidade e as dificuldades bem conhecidas na sua

cicatrização.

Entre os factores de manutenção referidos deve ser destacado o tratamento incorrecto, muitas vezes por

auto-medicação. A aplicação de múltiplos tópicos, ao longo do tempo, conduz ao estabelecimento fácil de

dermite de contacto alérgica (Ver) com frequente sensibilização a diversas substâncias. O fenómeno

referido gera aumento da inflamação, com prurido, e justifica muitas vezes a aplicação de novas

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Page 62: Manual de Enfermagem em Dermatologia

substâncias, em ciclo vicioso que necessita ser interrompido. Nos produtos de aplicação local mais

frequentemente usados destacam-se os corticosteróides, cujo efeito anti-pruriginoso e anti-inflamatório leva

o doente à continuação do seu uso, mas cujos efeitos colaterais (atrofia cutânea, atraso na cicatrização,

promoção de infecções) são extremamente desfavoráveis.

O aspecto clínico da úlcera de perna é variável, em função da dimensão, profundidade, aspecto do fundo e

bordos, tempo de evolução, grau de inflamação, edema e esclerose, presença eventual de necrose ou de

hemorragia, intensidade da hiperceratose periférica, etc..

O tratamento tópico da ulcera de perna impõe bom senso e experiência.

Não devem ser aplicadas, em qualquer circunstância, substâncias irritantes ou potencialmente

sensibilizantes (por exemplo, anti-histamínicos como a prometazina, sulfamidas ou antibióticos como a

neomicina). Igualmente os corticóides tópicos são contra-indicados. Se houver persistência de inflamação, o

dermatologista deve ser contactado para eventual estudo de sensibilização alérgica por contacto.

É indispensável adquirir treino com os métodos e os produtos utilizados, evitando a multiplicação e

mudança contínua de medicamentos, bem como o emprego de produtos de fórmula desconhecida.

O atitude médica e de enfermagem na úlcera de perna visa três objectivos principais:

avaliação geral do doente de modo a corrigir os factores predisponentes e de manutenção da doença;

correcção do deficit circulatório de retorno venoso;

estabelecimento de condições locais, incluindo tratamento tópico, adequado que permitam a regeneração

cutânea.

A acção da enfermagem é particularmente importante no que respeita ao acompanhamento do doente,

cuidados locais, aplicações tópicas e execução de pensos e ligaduras.

As normas principais para atenuar o déficit circulatório venoso da úlcera de perna são:

a elevação dos "pés" do leito durante o repouso;

a manutenção de ligadura de contenção elástica durante o dia.

É aconselhável exercício físico ligeiro; o doente não deve permanecer imobilizado.

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Page 63: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Os medicamentos administrados por via geral para melhorar a circulação são, na maior parte dos casos, de

escassa utilidade.

As aplicações locais de medicamentos sobre a ulceração devem ser evitadas, tanto quanto possível, pelo

potencial sensibilizante e pela maceração que os cremes e pomadas podem originar.

Se não houver sinais de infecção, o penso húmido com soro fisiológico é aconselhável. A acção levemente

anti-séptica do soluto de ácido acético a 0,5%, de nitrato de prata na mesma concentração, de hipoclorito

de sódio a 2,5% (soluto de Dakin diluído a 50%), constitui muitas vezes boa opção se houver sinais de

infecção. A protecção da pele em redor da ulceração com uma fina camada de óleo de zinco é

aconselhável.

A boa limpeza da úlcera e pele em redor, com remoção cuidadosa, não traumatizante, de detritos (crostas,

fragmentos cutâneos destacados, restos de pomadas, tecidos necrosados) é fundamental.

A utilização de pensos sintéticos hidrocolóides ou outros (Ver pensos e ligaduras) tem vindo a ganhar

adeptos nos últimos anos, mas o custo limita o seu uso em muitas circunstâncias.

A aplicação de ligadura elástica desde a raiz dos dedos dos pés até aos joelhos, efectuando contenção

firme mas sem demasiado aperto, é indispensável. Deve ser retirada pelo doente á noite, ao deitar, e

colocada de novo de manhã, antes de se erguer do leito.

Durante a noite o penso pode ser mantido em posição com recurso a uma ligadura tubular. Não devem ser

colocados adesivos.

No tratamento da úlcera de perna é essencial ensinar o doente a ligar a perna e instrui-lo no sentido de

evitar a aplicação tópica de medicamentos sensibilizantes

Dermatoses do pé

Considerado como unidade de suporte electivo do corpo, o pé constitui segmento do membro inferior

constituído por um sólido núcleo ósteo-tendinoso, muscular e aponevrótico, vascularizado e inervado por

complexa rede circulatória e nervosa, globalmente revestido por um tegumento adaptado às características

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Page 64: Manual de Enfermagem em Dermatologia

estruturais e funcionais que o conjunto desempenha.

As funções da pele do pé consistem na moldagem e na protecção deste segmento do membro, para as

quais possui características de resistência à rotura, distensibilidade e elasticidade. A sua organização

estrutural distingue-se em função de dois parâmetros principais: área topográfica e idade. No entanto,

outros factores condicionam aspectos tegumentares especiais do pé, entre os quais o sexo, raça,

determinação genética, constituição física, doenças gerais, hábitos de calçado e modalidades de vida, como

sejam o sedentarismo, a marcha ou o desporto.

A relação entre a área topográfica e as características do pele do pé é evidente. Assim, a pele plantar é

mais espessa do que a pele do dorso do pé, aumento que se constata no epitélio e no corium conjuntivo

subjacente. Derme e hipoderme são igualmente mais espessas, particularmente a segunda. Observam-se

ainda importantes diferenças quanto aos anexos epidérmicos: não há unidades pilossebáceas na pele

plantar onde, pelo contrário, a densidade de glândulas sudoríparas é maior que no dorso do pé.

Além das características tegumentares, têm importância significativa no estabelecimento das dermatoses do

pé a idade do indivíduo, o seu estado geral de saúde e doenças coincidentes.

Segundo raciocínio idêntico ao referido para a úlcera de perna, no encadeamento patogénico das

dermatoses dos pés combinam-se factores de predisposição, de desencadeamento e de manutenção,

sistematizados segundo esquema convencional e tradicional, em endógenos e exógenos. Neste conjunto,

desempenham papel significativo factores constitucionais, doenças gerais, tipo de pele individual e as

"agressões" - físicas, químicas e biológicas. A evolução da pele, em função da idade e destes factores,

condiciona assim a maior frequência de determinadas dermatoses.

Nas alterações cutâneas do pé, as suas relações com a dinâmica postural do indivíduo são muito

importantes e frequentemente recíprocas. De facto, se determinados vícios de postura podem condicionar

problemas dermatológicos (dermite, calosidades, ulcerações), de modo idêntico estas ou outras alterações

cutâneas podem ser responsabilizáveis pelas modificações posturais, por vezes dolorosas e incapacitantes,

rotuladas como "reumatismo" ou encaradas no processo inevitável e não corrigível da senescência.

No idoso, a reciprocidade da relação referida é assim particularmente importante e deve ser sempre

devidamente equacionada.

Os pés em "boas condições" são fundamentais para que o idoso possa deslocar-se sem problemas. Manter

a mobilidade contribui para a sua independência física.

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Page 65: Manual de Enfermagem em Dermatologia

A manutenção de cuidados podiátricos (do grego podos = pé) bem executados é, assim, essencial. Entre

estes, a eliminação de calosidades deve ser efectuada regularmente, bem como o corte correcto das unhas.

As calosidades inter-digitais, dolorosas, dificultam a marcha e constituem muitas vezes problema de

resolução difícil, porque se instituem devido a exostoses subjacentes. Ensinar e recomendar a utilização de

dispositivos próprios para separação dos dedos permite muitas vezes resolver o problema.

O corte das unhas deve ser regular mas não excessivo, depois do devido "amolecimento" pela imersão em

água, com alicate corta-unhas de boa qualidade e, em principio, efectuado de modo rectilíneo e não "em

redondo", protegendo-se, deste modo, as partes laterais da pele peri-ungueal.

A aplicação de um pó de talco neutro nas pregas inter-digitais é aconselhável.

A utilização de emulsão de óleo em água (O/A) diariamente é conveniente, após lavagem suave. São de

banir completamente os populares "escalda-pés" e devem-se evitar aplicações de produtos traumatizantes

ou sensibilizantes.

No idoso, o tratamento de qualquer problema dermatológico dos pés, mesmo aparentemente banal, deve

ser orientado pelo dermatologista.

O DOENTE ACAMADO. ÚLCERA DE DECÚBITO

No doente acamado crónico, a imobilização prolongada no leito condiciona diversos problemas

dermatológicos, os quais resultam por um lado das características intrínsecas da pele e, por outro lado, das

modificações introduzidas pelo acamamento.

Agravam-se e complicam-se muitas vezes dermatoses pré-existentes. Surgem outras, condicionadas pela

imobilidade, pressão mantida na pele, alteração das condições ecológicas da superfície (calor, humidade)

de que resulta modificação da flora cutânea normal. A poli-medicação, introduzida pelos problemas gerais

de que o doente sofre, origina com frequência repercussão dermatológica, entre as quais se destacam as

toxidermias.

A úlcera de decúbito constitui situação paradigmática do referido. O acamamento origina o seu

aparecimento, para o que concorrem diversos factores, entre os quais, doenças gerais consumptivas,

dificuldades de mobilização, desnutrição, desidratação, toxémia e deterioração psíquica, inconsciência ou

coma.

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Page 66: Manual de Enfermagem em Dermatologia

O aparecimento de úlceras de decúbito constitui sinal de mau prognóstico relativamente à evolução da(s)

doença(s) principais.

A úlcera de decúbito surge inicialmente como áreas de eritema em zona submetida a pressão prolongada,

frequentemente em relação com procidências ósseas - região sagrada, grande trocanter, isquion, calcâneo

e maléolo externo.

A evolução da úlcera de decúbito tem sido considerada em 4 estádios, como segue:

1. Eritema, dor. Nesta fase, é reversível

2. Bolha, ulceração

3. Escara negra sobre tendões, músculos, etc.

4. Fistulização, osteomielite

A pressão mantida constitui assim o facto mais importante no estabelecimento da úlcera de decúbito,

frequentemente agravada pela maceração local e infecção coincidentes. A necrose isquémica corresponde

aos estádios 3 e 4 mencionados e progride pela imobilização e não acompanhada na maior parte dos casos

por fenómenos dolorosos significativos.

A atitude fundamental perante a úlcera de decúbito é, essencialmente, a sua prevenção:

É indispensável a mentalização de todo pessoal para o conceito referido e para a necessidade imperiosa de

cumprimento dos procedimentos a adoptar.

A medida mais importante é o reposicionamento do doente, com alternância das zonas de pressão.

O uso de colchões anti-pressão é muito útil, sobretudo quando dispõem de dispositivos mecânicos que

permitem variações alternadas de posição. O uso da denominada "pele de borrego" actualmente substituída

por dispositivos sintéticos, é aconselhável mas não evita os cuidados de reposicionamento.

A inspecção contínua minuciosa de todas áreas susceptíveis é muito importante, com alívio imediato de

pressão em zonas onde surjam sinais de isquémia. Impõe-se neste caso a utilização de almofadas que

aliviem intermitentemente a pressão, medida particularmente aconselhável nos membros.

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Page 67: Manual de Enfermagem em Dermatologia

O tratamento tópico consiste na remoção de tecidos necrosados, os quais se delimitam e podem ser

removidos com facilidade cerca de 1 a 2 semanas após o seu aparecimento. A utilização de anti-sépticos

locais deve ser criteriosa, evitando produtos sensibilizantes. Certos anti-sépticos como a cetrimida e a água

oxigenada podem ser lesivos para o tecido de granulação e devem ser usados com cautela.

O uso de pensos semi-impermeáveis e absorventes, como os de espuma de poliuretano, tem indicação

especial.

A cirurgia plástica constitui frequentemente recurso necessário.

CANCRO NA PELE

Nos últimos anos, o aumento de incidência de alguns tipos de cancro que se manifestam na pele, preocupa

as autoridades sanitárias. Os dermatologistas, confrontados directamente com o problema, têm estudado

largamente a matéria no sentido de procurar as causas deste fenómeno e de estabelecer medidas eficazes

de prevenção e tratamento.

Os progressos conseguidos são significativos, sobretudo no que respeita ao conhecimento clínico e aos

métodos de actuação, sobretudo nos cancros estabelecidos inicialmente na própria pele, para os quais se

usa correntemente a designação de cancro cutâneo.

Este distingue-se assim de cancros internos, que se propagam por contiguidade ou metastizam na pele, e

de cancros originados em sistemas celulares difusos existentes em todo organismo e que, por esta razão,

se podem manifestar simultaneamente em outros órgãos e também na pele, como os linfomas.

A classificação dos tumores da pele, empregue com finalidade de individualização do estádio evolutivo da

doença neoplásica, utiliza em muitos centros médicos a denominada "classificação TNM", a qual é seguida

internacionalmente e tem grande interesse na uniformização dos registos médicos:

Estas três letras derivam de palavras inglesas e significam T = tumor; N = "node" (gânglios linfáticos); M =

metástases.

Cancro cutâneo

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Page 68: Manual de Enfermagem em Dermatologia

O que se entende por cancro cutâneo, dermatose pré-cancerosa e dermatose precursora de cancro?

As palavras cancro, neoplasia e tumor maligno são utilizadas correntemente no mesmo sentido e referem-

se a doença caracterizada por multiplicação celular anormal, autónoma, contínua e incontrolada, com

invasão de estruturas vizinhas e eventualmente a distância (metástases).

Distinguem-se assim as neoplasias malignas das que são benignas, estas últimas com capacidade invasiva

local limitada e sem potencialidade de metastização.

No que se refere às expressões correntemente utilizadas de dermatose pré-cancerosa (como são, por

exemplo, a ceratose actínica e a leucoplasia) e de dermatose precursora de cancro (como sucede por

exemplo com certos nevos pigmentados), em ambas encontra-se subjacente a noção de potencialidade

evolutiva no sentido do cancro e, por esta razão, estas lesões necessitam ser correctamente diagnosticadas

e, em seguida, destruídas ou excisadas cirurgicamente.

O que se entende por oncogénese? (do grego onkos = massa + genesis = origem)

As células cancerosas ou neoplásicas derivam de células normais que, em função de um estímulo especial,

designado correntemente como oncogénico, passaram a possuir um comportamento anormal, maligno.

Embora este conceito não seja rigoroso, é suficiente para dele se concluírem três factos importantes,

aplicáveis ao cancro cutâneo:

1º - Existem diversos tipos de neoplasia maligna, consoante o tipo de célula inicial que sofreu transformação

e lhe deu origem. Este facto determina que na pele se observem numerosas variedades de cancro.

Contudo, os mais frequentes e, também os clinicamente mais graves, originam-se a partir de dois tipos de

células que compõem a camada superficial do órgão (epiderme):

- ceratinócitos (carcinomas)

- melanócitos (melanomas).

2º - A malignidade de um determinado cancro depende da rapidez de multiplicação das células que a

compõem, da capacidade de metastização e localizações.

Na pele, a malignidade das neoplasias referidas é muito diferente: as neoplasias constituídas a partir dos

melanócitos (melanomas) comportam-se de modo muito mais invasivo e, por consequência, mais maligno

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Page 69: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Cap. 7. Terapia Dermatológica

Médica

Cirúrgica

Pensos e ligaduras

A terapêutica dermatológica divide-se convencionalmente em médica e cirúrgica. A utilização de pensos e

ligaduras constitui vertente muito importante no tratamento local, em qualquer das modalidades referidas e,

por isso, se aborda em capítulo separado.

TERAPÊUTICA MÉDICA DERMATOLÓGICA

A terapêutica médica dermatológica efectua-se por administração geral e por aplicação tópica de fármacos.

A primeira utiliza os medicamentos usados genericamente em Medicina, a que se associam alguns produtos

específicos para determinadas situações do foro dermatológico.

A segunda representa faceta característica da especialidade, possui indicações bem determinadas, segue

preceitos próprios e, pelo seu recurso, evita frequentemente a administração geral de medicamentos.

A terapêutica tópica só deve ser usada com conhecimento preciso das propriedades farmacológicas dos

medicamentos utilizados, suas indicações, contra-indicações e efeitos acessórios. Além disso é

imprescindível o conhecimento do diagnóstico, evolução natural e mecanismos causais das doenças

tratadas.

É importante recordar que variados fármacos podem penetrar através da pele, sobretudo se ela se

encontrar lesada, e actuar por via geral. Além disso, quando os medicamentos tópicos são usados de modo

inadequado ou incorrecto, existe risco de agravamento da afecção que se pretende tratar. Alguns podem

ainda condicionar intolerância local e sensibilização (alergia) de contacto. Assim, é preciso ter presente que

a absorção trans-cutânea de produtos aplicados sobre a pele pode originar acções sistémicas,

eventualmente tóxicas e que a aplicação tópica de medicamentos deve obedecer às regras estritas do

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Page 70: Manual de Enfermagem em Dermatologia

receituário médico.

OS MEDICAMENTOS TÓPICOS NÃO DEVEM SER USADOS DE MODO EMPÍRICO,

SEM DIAGNÓSTICO DA DOENÇA E SEM CONHECIMENTO DAS SUAS ACÇÕES FARMACOLÓGICAS.

A PRESCRIÇÃO DE PRODUTOS TÓPICOS OBDECE ÀS REGRAS DE RECEITUÁRIO MÉDICO

Os medicamentos tópicos dermatológicos são compostos por: princípio(s) activo(s) (Quadro 7.1),

excipientes ou veículos e aditivos.

Quadro 7.1Princípios activos de utilização corrente em dermatologia:

Acção terapêutica principal: Anti-inflamatória

Fármacos: Coaltar; Corticosteróides; Ictiol; Óxido de zinco

Acção terapêutica principal: Antisséptica

Fármacos: Ácido bórico; Iodo; Permanganato de potássio; Viofórmio

Acção terapêutica principal: Antibiótica

Fármacos: Ácido fusídico; Bacitracina; Clindamicina; Eritromicina; Terramicina

Acção terapêutica principal: Antifúngica

Fármacos: Imidazóis, Nistatina; Piridintionato de zinco; Terbinafina; Tolciclato

Acção terapêutica principal: Antiparasitária

Fármacos: Benzoato de benzilo; Enxofre, Piretrinas, Lindano, Malatião

Acção terapêutica principal: Ceratolítica

Fármacos: Ácido glicólico; Ácido láctico, Ácido salicílico, Enxofre, Óleo de cade; Resorcina; Ureia

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Page 71: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Acção terapêutica principal: Cáustica

Fármacos: Ácido láctico (alta concentr.); Ácido salicílico (alta concentr.); Ácido tricloroacético; Cantaridina

(vesicante); Fenol; Nitrato de prata; Podofilino (podofilotoxina)

Acção terapêutica principal: Citotóxica

Fármacos: 5-fluoracilo; Bleomicina, Carmustina, Mecloretamina

Acção terapêutica principal: Despigmentante

Fármacos: Ácido acelaico, Hidroquinona

Acção terapêutica principal: Fotoprotectora

Fármacos: Ácido p-aminobenzóico, Benzimidazóis; Benzofenonas; Cinamatos; Óxido de titânio

Acção terapêutica principal: Anti-acneica

Fármacos: Peróxido de benzoilo; Ácido acelaico; Tretinoina; Isotretinoina;

Acção terapêutica principal: Anti-psoriásica

Fármacos: Ditranol; Alcatrão mineral (hulha); Alcatrão vegetal (óleo de cade); Calcipotriol

Os "princípios activos" são, assim, muito variados, alguns com acção farmacológica bem reconhecida (por

exemplo antibióticos ou corticosteróides) outros de utilização mais ou menos empírica, embora específica

quanto a algumas doenças, por exemplo ditranol na psoríase ou alcatrão no eczema. Deste modo, a lista de

fármacos no Quadro contempla esta dupla perspectiva (acção farmacológica ou doença electiva).

Corticosteróides tópicos

Entre os "princípios activos" mais usados em Dermatologia destacam-se de modo especial, pela sua

importância, os corticosteróides, medicamentos anti-inflamatórios que se utilizam em situações

dermatológicas muito variadas, como nas dermites eczematiformes.

Os corticosteróides têm potência anti-inflamatória variada, agrupando-se correntemente em quatro graus -

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Page 72: Manual de Enfermagem em Dermatologia

muito elevada, elevada, média e baixa potência. Assim, não é indiferente a utilização de um, ou de outro,

derivado corticosteróide.

Usam-se em cremes, pomadas, loções e, ainda, em injecção intra-lesional.

A potência dos corticosteróides tópicos pode ser optimizada pela sua incorporação em determinados

veículos e ainda extraordinariamente reforçada pela utilização de "oclusão". Esta pode obter-se cobrindo a

área onde se aplica o corticosteróide com polietileno.

Regras gerais para corticoterapia sob oclusão:

Lavar a área a ser tratada

Com a pele húmida aplicar o corticóide, friccionando ligeiramente

Cobrir a área com folha de polietileno (ou luvas nas mãos, sacos de plástico justos nos pés, touca de banho

na cabeça)

Se possível fechar o contorno do plástico com adesivo, ou ligar

Deixar pelos menos 6 horas, se possível durante toda a noite

Vigiar diariamente aparecimento de quaisquer alterações, nomeadamente de pústulas na área tratada

Utilizam-se derivados corticosteróides de alta / média potência

- quando se pretende efeito rápido e enérgico

- genericamente em áreas de pele espessa

- em dermatoses liquenificadas e hiperceratósicas

Utilizam-se derivados de média / baixa potência

- quando se pretende um efeito anti-inflamatório ligeiro

- nas crianças

- em áreas de pele fina e nas pregas

emprego dos corticosteróides deve ser sempre muito criterioso pois existem contra-indicações bem

definidas e possuem efeitos colaterais importantes.

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Page 73: Manual de Enfermagem em Dermatologia

NÃO UTILIZAR CORTICOSTERÓIDES TÓPICOS SEM INDICAÇÃO CORRECTA E PRECISA

Entre as contra-indicações destacam-se as infecções de qualquer etiologia, sejam bacterianas (por exemplo

piodermites), fúngicas (por exemplo dermatofitias ou candidíase) ou virais (por exemplo herpes).

Entre os efeitos colaterais salienta-se especialmente a propriedade de originarem atrofia da pele, a qual

pode ser grave, porque intensa e irreversível.

Na face o abuso de aplicação de corticosteróides é particularmente temível porque se acompanha

frequentemente de rubor persistente e de telangiectasias, por vezes com pustulização persistente ou

recorrente, mais tarde com atrofia cutânea irreversível..

Nas pregas (virilhas, por exemplo) ocasiona atrofia linear do tipo das estrias gravídicas.

Outros efeitos colaterais são a hipopigmentação, hipertricose, erupção acneica, peri-oral e rosaciforme da

face.

Se utilizados em largas áreas e durante muito tempo podem ser absorvidos e originar acções sistémicas.

Em algumas afecções, a interrupção súbita da corticoterapia tópica induz efeito de reactivação, por vezes

com grande intensidade inflamatória.

Quanto mais potente o corticosteróide utilizado, mais intensos os efeitos colaterais observados.

Citostáticos tópicos

A mostarda nitrogenada, em solução aquosa para aplicação tópica, constitui método simples e muitas vezes

eficaz no tratamento de lesões cutâneas de linfomas malignos, especialmente da micose fungóide. Constitui

técnica usada muito frequentemente em Dermatologia para este fim.

Deve ser ensinado com minúcia ao doente, de preferência em regime de internamento hospitalar e só

depois poderá ser cumprido em regime ambulatório.

A solução de mostarda nitrogenada deve ser efectuada imediatamente antes da aplicação, na dose de 10

mg dissolvidos em 50 ml de água estéril.

O fármaco origina com facilidade hipersensibilidade de contacto pelo que devem ser usadas luvas de

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Page 74: Manual de Enfermagem em Dermatologia

protecção em látex. Procede-se à aplicação com boneca de gaze, evitando áreas onde houve inflamação

cutânea resultante de aplicações anteriores. O tratamento efectua-se diariamente. Se houver inflamação

cutânea muito intensa o tratamento deve ser interrompido e o médico avisado.

Também para o tratamento tópico da micose fungóide, a carmustina (bicloro-nitrosureia - BCNU) utiliza-se

na diluição 25 a 50 mg do fármaco em 100 a 200 ml de álcool, com aplicações por via de regra em dias

alternados, de modo a atingir dose total de 400 mg. A solução mantem-se activa durante 3 meses no

frigorífico.

A pomada de 5-fluoruracilo (5-FLU) a 5% em excipiente apropriado constitui um bom método para

tratamento tópico das ceratoses actínicas. A aplicação diária origina inflamação intensa ao fim de alguns

dias electivamente nos locais onde existem estas lesões. Após a interrupção do tratamento verifica-se o

desaparecimento destas lesões.

Excipientes

Denominam-se excipientes ou veículos os produtos que incorporam as substâncias activas de um

determinado medicamento. A escolha dos veículos é importante porque estes favorecem o efeito

terapêutico e, se não forem adequados, podem ser mesmo prejudiciais.

Os veículos usados correntemente em terapêutica dermatológica classificam-se em três tipos principais:

líquidos, gorduras e pós. A combinação destes veículos origina as principais formas farmacêuticas tópicas

mais frequentemente utilizadas.

Resumem-se, em seguida algumas características e princípios gerais de utilização destas formas

farmacêuticas.

Pós

São substâncias secas, micronizadas em partículas muito finas. Usados muitas vezes nas pregas, com ou

sem produtos activos incorporados, não podem ser utilizados em lesões muito inflamatórias, sobretudo se

exsudativas. Incorporam alguns medicamentos, por exemplo, anti-fúngicos.

Líquidos

São diversos e muito usados: água, éter, álcool, etc.. A integração por solubilização de produtos activos

origina os denominados solutos, com larga aplicação em Dermatologia.

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Page 75: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Um dos solutos mais simples e do maior interesse é o soro fisiológico (cloreto de sódio em água destilada a

9:1.000). Constitui meio excelente de lavagem de ulcerações, ou de dermatoses muito exsudativas, usando-

se frequentemente no denominado penso húmido permanente: remove exsudados, amolece fragmentos de

tecidos necrosados e mantém humidade local indispensável ao processo de reparação / cicatrização.

Têm grande interesse os solutos anti-sépticos com ácido bórico (2 a 3 %), o de permanganato de potássio

(1:10.000), o de hipoclorito de sódio a 5% (soluto de Dakin), o de cetrimida a 1% (Cetavlon) e o de peróxido

de hidrogénio (água oxigenada).

Outro tipo de soluto anti-séptico de uso corrente em Dermatologia é o denominado "álcool iodado" e que

consiste na dissolução do iodo puro, em palhetas, em álcool etílico, na concentração de 1%. Utilizado como

anti-bacteriano e anti-fúngico é relativamente bem tolerado e o seu custo é irrisório.

Gorduras

São excipientes largamente utilizados e usam-se ainda, sem incorporação de fármacos, na composição de

cosméticos.

É tradicional a divisão das gorduras em: fluidas (ou óleos, por exemplo, óleo de amêndoas doces e parafina

líquida); semi-sólidas (lanolina, vaselina) e sólidas (parafina sólida, ceras).

As goduras não podem ser usadas em dermatoses inflamatórias e/ou exsudativas. Igualmente o seu uso

deve ser evitado nas pregas cutâneas. Em qualquer destes casos, a maceração cutânea que originam é

prejudicial. A combinação dos excipientes referidos origina as formas farmacêuticas que se usam mais

frequentemente em Dermatologia.

Suspensões

Consistem na associação de líquidos e de pós que, não sendo miscíveis, justificam o nome, uma vez que

os pós ficam na realidade em suspensão na fase líquida. Deste modo, a agitação antes do seu emprego é

necessária.

A suspensão mais usada em Dermatologia consiste na associação em partes iguais de:

- talco de Veneza

- óxido de zinco

- glicerina neutra

- água destilada

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Page 76: Manual de Enfermagem em Dermatologia

A diminuição da quantidade de líquidos deixa a suspensão um pouco menos fluida. Quando aplicada sobre

a pele, seca em pouco tempo, permanecendo o pó aderente à superfície da pele. É usada frequentemente

na terapêutica dermatológica em pele inflamada e exsudativa. Não deve ser usada em áreas pilosas porque

empasta e a sua remoção é difícil.

Entre outros produtos, podem ser incorporados nesta suspensão substâncias terapêuticas como o coaltar

saponificado em concentração entre 5 e 10 %, com acção anti-pruriginosa, ou o enxofre precipitado, a 5%,

com acção anti-parasitária. Remove-se a suspensão da superfície cutânea por meio de uma emulsão fluida.

Emulsões

São associações de gorduras (por via de regra óleos) e de líquidos (em geral água).

São dificilmente miscíveis mas, pela introdução de determinados produtos emulsionantes, óleo e água

mantêm-se incorporados e estáveis como fases "dispersa" e "contínua". Se a fase contínua for a água, a

emulsão denomina-se "óleo em água" - O/A (ou, na notação inglesa, O/W - oil / water). Se a fase contínua

for óleo, a emulsão denomina-se "água em óleo" - A/O (W/O - water /oil).

Têm consistência mais ou menos fluida, usam-se como cosméticos e, além disso, permitem a incorporação

da maioria das substâncias usadas no tratamento tópico. Os denominados cremes e pomadas são,

respectivamente, emulsões de óleo em água e de água em óleo. As primeiras são mais evanescentes,

usados em áreas de pele mais fina e em situações de inflamação intensa, enquanto os segundos, mais

oleosos, usam-se em pele mais espessa e em lesões cutâneas descamativas e hiperceratósicas.

Pastas

São produtos correspondentes à incorporação de pós em gorduras. Têm consistência "espessa" e são

também muito usadas em terapêutica dermatológica.

É clássica a denominada pasta de Lassar, que inclui partes iguais de

- talco de Veneza

- amido

- lanolina

- vaselina

Os aditivos são substâncias que se utilizam para preservar, estabilizar ou melhorar a qualidade das

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preparações farmacêuticas. Do mesmo modo que muitos produtos activos, igualmente os aditivos originam

por vezes fenómenos de sensibilização cutânea (alergia).

Banhos em tratamento dermatológico

Utilizam-se em dermatoses difusas para limpeza, remoção de escamas e/ou crostas, para se obter efeito

terapêutico ou lubrificante da pele (Quadro 7.2).

A banheira deve ser revestida com folha de polietileno ou outro material plástico, com substituição em cada

utilização. Além da evidente vantagem higiénica, reduz a formação de manchas, uma vez que o soluto do

banho só contacta o metal na descarga final.

Verificar com cuidado C).a temperatura da água (cerca de 24-26

Quadro 7.2 - Substâncias incorporáveis em banhos e efeitos produzidos

Substâncias: Óleo em emulsão hidro-dispersivel

Utilização: Como lubrificante cutâneo, para remoção, de escamas/crostas; Anti-puriginoso

Concentração: Dependente do preparado farmacêutico

Observação: Existem comercializados vários preparados deste tipo

Substâncias: Permanganato de potássio

Utilização: Anti-séptico; Anti-puriginoso

Concentração: 1:8.000

Observação: Soluto cor de rosa; Mancha a pele

Substâncias: Tintura de coaltar saponinado

Utilização: Para aplicação prévia antes de aplicação de radiação ultra-violeta

Concentração: 60ml / 120litros de água

Observação: Mancha a pele; Origina "secura" da pele

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Durante o banho, o enfermeiro não se pode ausentar e deve estar vigilante, sobretudo se o doente for

idoso. É necessário particular cuidado para o doente não escorregar. A permanência no banho não deve

ultrapassar 10 minutos. A face deve ser tratada à parte e não com a água do banho. Secar a pele sem

ficcionar. Acompanhar o doente ao leito.

TERAPÊUTICA CIRÚRGICA DERMATOLÓGICA

Consideram-se procedimentos de cirurgia dermatológica as operações realizadas com finalidades de

diagnóstico ou de tratamento de doenças da pele.

São intervenções realizadas por via de regra com anestesia local ou loco-regional, frequentemente em

regime ambulatório ou que requerem internamento de curta duração.

Não necessitam na grande maioria dos casos de ser realizadas em bloco operatório, mas são executadas

segundo os princípios gerais da prática cirúrgica.

Preparação pré-operatória

No contacto preliminar com o doente há a considerar em primeiro lugar o seu estado de espírito - de

preocupação ou de ansiedade, de receio ou de desconfiança quanto ao acto que vai ser executado, ou

quanto às consequências, por exemplo cicatriz dele resultante.

A empatia do enfermeiro é fundamental, inquirindo receios, esclarecendo dúvidas, explicando os

procedimentos a realizar.

Neste contacto prévio é fundamental inquirir sobre:

- infecções crónicas (hepatite, HIV)

- doenças em geral: cardíacas, do sistema nervoso (epilepsia)

- alergias medicamentosas

- presença de próteses ou "pace-maker"

- fumador (deve abster-se alguns dias antes e após a intervenção)

- medicamentos anti-coagulantes (incluindo aspirina), anti-inflamatórios não esteróides, beta-bloqueantes,

anti-depressivos

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Page 79: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Verificar se o doente está informado quanto a exames prévios que terá que realizar. Por via de regra são

aconselháveis:

- hemograma com contagem de plaquetas

- glicemia

- provas de função hepática

- creatininemia

- ionograma

- electrocardiograma

Na sala de operações

Antes do início da utilização da sala, verificar

- limpeza geral e arrumação

- equipamento em condições de funcionamento

- material cirúrgico (conservação e esterilização)

- material de uso corrente

- agulhas

- suturas

- consumíveis (medicamentos, etc.)

- compressas, campos operatórios, etc.

Imediatamente antes da intervenção é necessário avaliar o estado de espírito do doente, sobretudo quanto

a ansiedade e grau de confiança pessoal. Deve-se conversar com serenidade, sem displicência e sem

minimizar o acto cirúrgico. Nalguns doentes mais frágeis, alguma demonstração de afecto pode ser

aconselhável.

O médico pode achar conveniente a administração de um ansiolítico ou de um analgésico de acção central.

É frequente a administração de antibiótico por via parentérica.

A remoção do vestuário não necessita, na maioria das intervenções, de ser completa. Permitir que o doente

permaneça vestido sumariamente é, para ele, mais confortável e gera confiança. O vestuário não pode,

contudo, interferir com as necessidades de assepsia com que deve decorrer o acto cirúrgico.

Nesta perspectiva, as regras de desinfecção, bem como a utilização de luvas, máscara e bata esterilizadas,

devem ser escrupulosamente cumpridas por todo o pessoal interveniente.

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Page 80: Manual de Enfermagem em Dermatologia

Cap. 8. Bibliografia de referência

DERMATOLOGIA CLÍNICA:

Braun-Falco O e cols.: Dermatology, Spring-Verlag, Berlin, 1991

Esteves J, Baptista AP, Rodrigo FG, Gomes MAM, Dermatologia (2ª Edição), Fundação Gulbenkian (Ed),

Lisboa, 1992

Fitzpatrick TB e Cols.: Dermatology in General Medicine (4th ed.), McGraw -Hill, Inc., 1993

Rook / Wilkinson / Ebling : Textbook of Dermatology (6th ed), Blackwell Sci. Publ. 1998

ENFERMAGEM DERMATOLÓGICA:

Hill MJ: Dermatologic Nursing Essentials: A Core Curriculum, Dermatology Nurses Association, New Jersey,

USA, 1998

Huckbody E: Cuidados de Enfermagem nas Doenças de Pele, Longman Group Ltd., Publicações Europa-

América Lda., 1977

Larrègue M: Cahiers de l´Infirmière 4. Dermatologie Vénérologie, Masson, Paris, 1980

Nunes, F: Manual de Enfermagem Dermatológica, Lisboa, 1995

Stone LA, Lindfield EM, Robertson S: A Color Atlas of Nursing Procedures in Skin Disorders, Wolfe Med

Publ Ltd,, London, 1989

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