Manual de Patologia Clinica Veterinaria[1]

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UFSM - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CCR - CENTRO DE CINCIAS RURAIS DEPARTAMENTO DE CLNICA DE PEQUENOS ANIMAIS

MANUAL DE PATOLOGIA CLNICA VETERINRIASonia Terezinha dos Anjos Lopes Alexander Welker Biondo Andrea Pires dos Santos

3 edio Santa Maria, 2007

Manual de Patologia Clnica Veterinria

MANUAL DE PATOLOGIA CLNICA VETERINRIAAutores: Dra. Sonia Terezinha dos Anjos Lopes Professora Adjunta - Depto de Clnica de Pequenos Animais UFSM - Santa Maria, RS (55) 3220-8814 [email protected] Dr. Alexander Welker Biondo Professor Adjunto - Depto de Medicina Veterinria UFPR - Curitiba, PR (41) 3350-5661 [email protected] MSc. Andrea Pires dos Santos Doutoranda - Depto de Patologia Clnica Veterinria UFRGS - Porto Alegre, RS (51) 3308-6099 [email protected]

Colaboradores:MSc. Mauren Picada Emanuelli Professora Substituta Depto de Clnica de Pequenos Animais UFSM Santa Maria, RS (55) 3220 8814 [email protected] Dra. Patrcia Mendes Pereira Professora Adjunta Depto de Clnicas Veterinrias UEL Londrina, PR (43) 3371-4559 [email protected] MSc. Alfredo Quites Antoniazzi Doutorando PPGMV UFSM Santa Maria, RS (55) 3220 8752 [email protected] MSc. Stella de Faria Valle Professora Assistente Departamento de Medicina Veterinria UPF Passo Fundo, RS (54) 3316-8444 [email protected]

Santa Maria, 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CINCIAS RURAIS

L864m

Lopes, Sonia Terezinha dos Anjos Manual de Patologia Clnica Veterinria / Sonia Terezinha dos Anjos Lopes, Alexander Welker Biondo, Andrea Pires dos Santos ; colaboradores Mauren Picada Emanuelli ... [et al.]. - 3. ed. - Santa Maria: UFSM/Departamento de Clnica de Pequenos Animais, 2007. 107 p. : il. 1. Medicina veterinria 2. Clnica veterinria 3. Patologia clnica veterinria I. Biondo, Alexander Welke II. Santos, Andrea Pires III. Emanuelli, Mauren Picada, colab. IV. Ttulo CDU: 619:636.7/.8

Ficha catalogrfica elaborada por Luiz Marchiotti Fernandes CRB 10/1160 Biblioteca Setorial do Centro de Cincias Rurais

CENTRO DE CINCIAS RURAIS UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 97105-900 Santa Maria, RS. Fone: (55) 3220-8814 (55) 3220-8460

Todos os direitos reservados proibida a reproduo completa ou parcial da obra sem prvia autorizao

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Manual de Patologia Clnica Veterinria

APRESENTAO

O roteiro do manual apresentado neste volume teve sua primeira edio elaborada em 1996, e se destina ao acompanhamento das aulas tericas e prticas da disciplina de Patologia Clnica Veterinria. Os assuntos deste manual so variados e abrangem grande parte da rotina laboratorial veterinria; sua abordagem visa basicamente fornecer subsdios para imediata aplicao, quer seja no ensino de patologia clnica veterinria, quer seja na prtica diria do laboratrio clnico veterinrio. Os autores agradecem a todos aqueles que, desde sua primeira edio, direta ou indiretamente, auxiliaram na confeco deste manual.

Os Editores

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Lopes, Biondo e Santos. Santa Maria, 2007

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Manual de Patologia Clnica Veterinria

SUMRIO MDULO I: HEMATOLOGIA......................................................................................... 1 PARTE 1. INTRODUO .......................................................................................... 1 1. 1. Sangue ........................................................................................................... 1 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 1: colheita de sangue....................................... 2 1. 2. Colheita de sangue venoso perifrico............................................................. 2 1. 3. Anticoagulantes .............................................................................................. 3 PARTE 2: ERITROGRAMA I ..................................................................................... 5 2. 1. Hematopoiese................................................................................................. 5 2. 2. rgos envolvidos na hematopoiese.............................................................. 5 2. 3. Eritropoiese..................................................................................................... 6 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 2: hematcrito .................................................. 7 2. 4. Eritrograma ..................................................................................................... 7 2. 5. Valores Normais ............................................................................................. 7 2. 6. Hematcrito ou Volume Globular (%) ............................................................. 8 2. 7. Atividade extra: interferncias no hematcrito.............................................. 10 PARTE 3: ERITROGRAMA II .................................................................................. 11 3. 1. Reticulcitos ................................................................................................. 11 3. 2. Regulao da Eritropoiese: eritropoietina..................................................... 12 3. 3. Destruio Eritrocitria.................................................................................. 13 3. 4. Hemoglobina................................................................................................. 14 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 3: esfregao sangneo ................................. 15 3. 5. Preparo do esfregao e colorao................................................................ 15 3. 6. Morfologia dos Eritrcitos ............................................................................. 16 3. 7. Contagem de Reticulcitos ........................................................................... 17 3. 8. Atividade extra: hemcias nas aves, peixes, rpteis e anfbios.................... 17 PARTE 4: ANEMIAS E POLICITEMIAS .................................................................. 18 4. 1. Anemias ........................................................................................................ 18 4. 2. Classificao das anemias ........................................................................... 18 4. 3. Policitemias................................................................................................... 22 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 4: Contagem de hemcias ............................. 23 4. 4. Modificaes eritrocitrias ............................................................................ 23 4. 5. Concentrao de Hemoglobina .................................................................... 24 4. 6. Determinao de hemoglobina ..................................................................... 25 4. 7. Determinao do nmero total de hemcias ................................................ 25 4. 8. Atividade extra: medula ssea...................................................................... 26 PARTE 5: LEUCOGRAMA I .................................................................................... 28 5. 1. Classificao dos leuccitos ......................................................................... 28 5. 2. Granulopoiese .............................................................................................. 28 5. 3. Regulao da granulopoiese ........................................................................ 28 5. 4. Granulocintica............................................................................................. 29 5. 5. Neutrfilos..................................................................................................... 29 5. 6. Eosinfilos .................................................................................................... 31 5. 7. Basfilos ....................................................................................................... 32 5. 8. Moncitos ..................................................................................................... 33 5. 9. Linfcitos....................................................................................................... 33 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 5: Contagem de leuccitos ............................ 35 5. 10. Contagem total de leuccitos...................................................................... 35 PARTE 6: LEUCOGRAMA II ................................................................................... 38 6. 1. Interpretao dos parmetros leucocitrios.................................................. 38 6. 2. Fibrinognio .................................................................................................. 38

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6. 3. Leucocitose................................................................................................... 38 6. 4. Leucopenia ................................................................................................... 40 6. 5. Classificao dos desvios de Neutrfilos...................................................... 41 6. 6. Alteraes leucocitrias quantitativas........................................................... 42 6. 7. Alteraes leucocitrias qualitativas ............................................................. 44 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 6: diferencial leucocitrio ............................... 45 PARTE 7: HEMOSTASIA ........................................................................................ 48 7. 1. Introduo ..................................................................................................... 48 7. 2. Vasos sanguneos ........................................................................................ 48 7. 3. Hemostasia primria: vasos e plaquetas ...................................................... 48 7. 4. Hemostasia secundria: fatores de coagulao ........................................... 49 A. Cascata de coagulao .................................................................................... 49 7. 5. Hemostasia terciria: fibrinlise .................................................................... 51 7. 6. Testes laboratoriais para desordens hemostticas ...................................... 51 7. 7. Distrbios hemostticos................................................................................ 53 7.8. Hemostasia Aves ........................................................................................ 57 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 7: testes de hemostasia ................................. 57 7. 9. Atividade extra: coagulograma ..................................................................... 59 MDULO 2: BIOQUMICA CLNICA ........................................................................... 60 PARTE 8: FUNO RENAL.................................................................................... 60 8. 1. Funes dos rins .......................................................................................... 60 8. 2. O nfron ........................................................................................................ 60 8. 3. Filtrao glomerular ...................................................................................... 61 8. 4. Reabsoro e secreo tubular .................................................................... 62 8. 5. Fatores que afetam a filtrao glomerular .................................................... 62 8. 6. Urinlise ........................................................................................................ 63 8. 7. Provas de funo renal ................................................................................. 71 8. 8. Uremias ........................................................................................................ 72 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 8: colheita e exame da urina.......................... 72 8.9. Atividade extra: diferenciar hemoglobina de mioglobina ............................... 73 PARTE 9: FUNO HEPTICA.............................................................................. 75 9. 1. Anatomia do fgado....................................................................................... 75 9. 2. Funes do fgado ........................................................................................ 75 9. 3. Avaliao de funo e leso hepticas......................................................... 76 9. 4. Indicaes para exames hepticos especficos............................................ 77 9. 5. Protenas plasmticas .................................................................................. 79 9. 6. Bilirrubinas .................................................................................................... 83 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 9: dosagem de bilirrubinas............................. 85 PARTE 10: FUNO PANCRETICA .................................................................... 87 10. 1. Pncreas excrino ...................................................................................... 87 10. 2. Pncreas endcrino .................................................................................... 88 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 10: funo pancretica................................... 89 MDULO 3: CITOLOGIA............................................................................................. 92 PARTE 11: DERRAMES CAVITRIOS................................................................... 92 11. 1. Fisiologia dos lquidos corpreos................................................................ 92 11. 2. Alteraes nas trocas de fludos................................................................. 93 11. 3. Classificao dos derrames cavitrios........................................................ 94 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 11: exame de lquido abdominal .................... 95 11. 4. Abdominocentese ....................................................................................... 95 11. 5. Atividade extra: colheita e anlise do lquor ............................................... 96 MDULO 4: HEMOTERAPIA ...................................................................................... 98

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PARTE 12: TRANSFUSO EM CES E GATOS ................................................... 98 12.1. Introduo .................................................................................................... 98 12.2. Tipos Sangneos ........................................................................................ 98 12.3. Seleo dos Doadores ................................................................................ 99 12.4. Colheita do sangue ...................................................................................... 99 12.5. Sangue Total e seus Componentes........................................................... 100 12.6. Clculo do volume a ser transfundido........................................................ 100 12.7. A Transfuso Sangunea ........................................................................... 101 12.8. Reaes Transfusionais ............................................................................ 102 12.9. Testes de compatibilidade ......................................................................... 102 ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 12: compatibilidade sangnea .................... 103 12.10. Prova de Reao Cruzada (ou Prova de Compatibilidade Sangunea)... 103 PARTE 13. VALORES DE REFERNCIA ............................................................. 105 PARTE 14. BIBLIOGRAFIA................................................................................... 106

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MDULO I: HEMATOLOGIAPARTE 1. INTRODUO1. 1. SangueO sangue composto de uma parte lquida e outra celular. A parte lquida, denominada plasma, obtida aps centrifugao quando colhemos o sangue com anticoagulante, e contm o fibrinognio e o soro quando sem anticoagulante, o fibrinognio coagula e restam no soro os mais variados solutos orgnicos, como minerais, enzimas, hormnios, etc. Portanto o soro constitudo do plasma sem o fibrinognio. A parte celular composta pelos eritrcitos, leuccitos e plaquetas. Nas aves, rpteis, anfbios e peixes, todas as clulas possuem ncleo, e as plaquetas so deste modo, chamadas de trombcitos. Nos mamferos, apenas os leuccitos possuem ncleo; as hemcias os perdem durante sua formao, e as plaquetas so fragmentos de citoplasma da clula progenitora, os megacaricitos. A principal funo do sangue o transporte, quer de substncias essenciais para a vida das clulas do corpo, tais como oxignio, dixido de carbono, nutrientes e hormnios, quer de produtos oriundos do metabolismo, indesejveis ao organismo, os quais so levados aos rgos de excreo. O volume sangneo normal nas espcies domsticas varia em torno de 6 a 10% do peso corpreo, com grande variedade intra e interespcies, que apresentada de forma resumida dos volumes sangneos de acordo com o peso corpreo para as principais espcies animais (tabela 1.1). O hemograma o exame de sangue mais solicitado na rotina laboratorial devido sua praticidade, economia e utilidade na prtica clnica. Est dividido em trs partes: 1. Eritrograma, que compreende o hematcrito, dosagem de hemoglobina e a avaliao morfolgica e contagem total de eritrcitos; 2. Leucograma, composto pela avaliao morfolgica e contagem total e diferencial de leuccitos; 3. Plaquetas, que se compe de avaliao morfolgica e contagem de paquetas auxiliando a interpretao da hemostasia. Ainda, aps a realizao do microhematcrito, pode-se mensurar por refratometria as protenas totais plasmticas, que auxiliam na interpretao de diversas situaes fisiolgicas e patolgicas. Sendo o sangue responsvel pela homeostasia do organismo, e o hemograma um exame geral do animal, raramente o hemograma apresenta um diagnstico definitivo de determinada patologia ou doena. Ao invs disso, o hemograma oferece informaes que podem ser utilizadas como ferramenta pelo clnico para, em associao a outros sinais e exames, realizar a busca diagnstica. Assim sendo, o hemograma solicitado por vrias razes, entre elas em um procedimento de triagem para avaliar a sade do animal, na busca do diagnstico ou prognstico do animal, e ainda para verificar a habilidade corporal s infeces e para monitoramento do progresso de certas doenas. No entanto, a histria e o exame clnico so essenciais para a interpretao dos dados hematolgicos e outros testes laboratoriais que sero objetos de investigao. Apenas quando descartadas as alteraes ocasionadas por interferncia na colheita de amostras que podemos com segurana interpretar seus resultados de modo claro e representativo. Isso porque alteraes causadas pela excitao (adrenalina) e ou estresse (corticides) durante a colheita podem desencadear processos mediados por estes hormnios. Alm disso, drogas administradas exgenamente tambm podem interferir nos resultados de um hemograma como, por exemplo, o uso de glicocorticides. Resultados anormais em um hemograma so inespecficos, podendo estar associados a vrias doenas ou condies que provocam respostas similares; no entanto, como mencionado anteriormente, o hemograma pode ser diagnstico em certas patologias, como hemoparasitas ou leucemias.

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TABELA 1.1. Volume sangneo nas diversas espcies animais segundo o peso corpreo PESO CORPREO ESPCIE Ces Gatos Vacas lactantes, bovino em crescimento Vacas leiteiras jovens, cavalos de sangue quente Vacas no-lactantes, cavalos de sangue frio Ovelhas, cabras, Sunos adultos Animais de laboratrio mL/Kg 77 - 78 62 - 66 66 - 77 88 - 110 62 - 66 62 - 66 55 % 8-9 6-7 7-8 10 - 11 6-7 6-7 5-6 6-7

O ideal na prtica veterinria que a amostra laboratorial seja colhida no mesmo local do seu processamento. No entanto, na maioria das vezes, este procedimento realizado pelo clnico em seu ambulatrio, e enviado ao laboratrio para a realizao do exame. Deste modo, para se obter resultados confiveis, uma colheita adequada constitui etapa to importante quanto a prpria realizao do exame e sua posterior interpretao. Uma colheita e acondicionamento adequados devem seguir rigidamente os mtodos preconizados pela tcnica, bem como estarem condizentes com o procedimento do laboratrio que ir processar o material. Mesmo com a diversidade de amostras a serem colhidas, algumas regras bsicas so comuns a todas. A mais importante delas talvez seja a adequada identificao da amostra, tanto junto ao frasco ou embalagem do material, como na guia de requisio do exame. A identificao da amostra deve ser feita de modo a no se destacar ou sair durante o acondicionamento, principalmente quando a amostra estiver sob refrigerao ou com cubos de gelo em caixa de isopor. O nmero ou nome do animal deve ser claro, escrito em letras ntidas, se possvel com a data de colheita. A guia ou ficha de requisio tambm de suma importncia na realizao do exame laboratorial. Exame N : ______________ Proprietrio: Espcie: Raa: Sexo RG: Idade: Tratamento? SIM Data: Horrio da colheita NO Qual? / /

Diagnstico Provisrio: Histria Clnica Resumida Observaes:

ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 1: colheita de sangue1. 2. Colheita de sangue venoso perifrico Conter o animal adequadamente proporcionando o mnimo de estresse, para obter-se um resultado hematolgico representativo; Aps antissepsia introduzir agulha percutaneamente atravs da veia distendida por prvio garrote manual abaixo do ponto de colheita. A colheita pela veia jugular o local mais adequado para anlises hematolgicas na maioria das espcies (tabela 1.2); Conectar seringa descartvel graduada e colher o sangue lentamente, correspondente quantidade de anticoagulante contida no frasco de acondicionamento; Aps completar o volume desejado, retirar a seringa. Desfazer o garrote antes de remover a agulha e comprimir manualmente o local de puno com algodo embebido

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em lcool iodado; Retirar a agulha e transferir o sangue colhido da seringa, com suave compresso do mbolo para evitar hemlise, dentro de vidro estril contendo anticoagulante EDTA (2,0 mg/mL de sangue). Este anticoagulante diludo a 10% na proporo de 0,1mL para cada 5mL de sangue. A amostra pode ser utilizada para a realizao do hemograma, fibrinognio e contagem de plaquetas. TABELA 1. 2. Locais e agulhas mais utilizados na colheita de sangue perifricoEspcie animal Local de venopuno Co Ceflica, Jugular, Safena Gato Ceflica, Jugular, Safena Bovino Jugular, Caudal, Mamria Eqino Jugular Ovinos e Caprinos Jugular Sunos Cava anterior, Marginal da orelha Coelhos Marginal da orelha, cardaca *25x7 (22Gauge): 25mm de comprimento e 0,7mm de calibre Calibre da agulha 25x7,25x8,25x9;40x12 25x7, 25x8 40x12, 40x16 40x12, 40x16 40x10, 40x12, 40x16 40x12, 40x16 25x7; 40x12

Importantes causas de hemlise: Calor excessivo, seringas e agulhas molhadas e/ou quentes. Certique-se de que tudo est seco e temperatura ambiente; Demora na colheita, forte presso negativa na seringa. Caso a colheita se mostrar difcil, lave a seringa e agulha com o anticoagulante previamente colheita; Descarga violenta da seringa no frasco, ou feita com a agulha. Retire a agulha ao transferir o sangue da seringa para o frasco; Homogeneizao violenta com o anticoagulante. Faa-a gentilmente, por inverso do tubo por pelo menos dez a doze vezes; Uso incorreto dos anticoagulantes. 1. 3. Anticoagulantes EDTA (Etileno diamino tetra acetato de sdio ou de potssio) Modo de ao: reage atravs de seus dois radicais cidos com clcio plasmtico, formando um quelato com os elementos alcalino-terrosos, tornando-se insolvel. Uso: Recomendado para a rotina hematolgica porque no interfere na morfologia celular, preservando-a por at 24 horas quando refrigerado adequadamente. pouco solvel, e o sal de potssio o mais solvel e mais caro. A diluio realizada a 10%, e toma-se 0,1mL de EDTA para 5mL de sangue. Fluoreto de sdio Modo de ao: quelante de clcio, com a formao de sais insolveis. Uso: Como impede a gliclise sangunea, realizada in vitro principalmente pelos eritrcitos, indicado para determinao da glicose. H produto comercial pronto para uso, na medida de 1 gota para cada 3mL de sangue. Heparina Modo de ao: atividade como inibidor da trombina e tromboplastina Uso: Alguns bioqumicos. Como interfere na colorao do esfregao sanguneo, no recomendado para hemograma. A diluio de 0,1mL de soluo a 1% para no coagular 5,0mL de sangue. A heparina retarda a coagulao do sangue por apenas 8 horas. Citrato de sdio Modo de ao: quelante de clcio, com a formao de sais insolveis. Uso: Provas de coagulao (tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial ativada). Seu emprego se faz em solues 1,34g%, na proporo de 10%, ou seja, 0,5mL para 4,5mL de sangue.

1.4 Atividade extra: comparando diferentes anticoagulantes Colha adequadamente amostras de sangue em trs diferentes frascos com os seguintes anticoagulantes: EDTA (tampa roxa), heparina (tampa verde) e fluoreto se sdio (tampa

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cinza); Abra os tubos. Raspe um giz de lousa (carbonato de clcio) na borda de cada tubo, de modo que um pouco do p de gis caia dentro de cada tubo; Cronometre o tempo que cada tubo leva para que ocorra a coagulao, movimentando o tubo em ngulo. Acondicione os frascos em temperatura ambiente por 12-24 horas. O sangue dos frascos com EDTA e fluoreto de sdio (ambos quelantes de clcio) coagulam aps um perodo de 8-12 minutos, visto que o gis oferece mais clcio que a capacidade quelante no tubo. Grosseiramente, voc acabou de realizar o tempo de coagulao. O frasco com heparina no deve coagular com a adio do gis, pois sua atividade anticoagulante no depende do clcio. No entanto, decorridas 8-12 horas, o efeito anticoagulante cessa, e o sangue do tubo com heparina deve coagular aps este perodo.

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PARTE 2: ERITROGRAMA I2. 1. HematopoieseA hematopoiese normal ocorre extravascularmente na medula ssea dos mamferos, mas pode acontecer em outros rgos que participaram da hematopoiese na vida fetal e recm-natal. Em aves, embora a granulopoiese ocorra extravascularmente, a eritropoiese e os trombcitos so produzidos intravascularmente. Na vida embrionria a hematopoiese inicia-se no saco vitelino, estgio em que h o incio da formao vascular. Com o desenvolvimento fetal o fgado, o bao e a medula ssea so os maiores rgos hematopoiticos (figura 2.1). Durante a segunda metade do desenvolvimento do feto a medula ssea e os rgos linfides perifricos (para os linfcitos) so os maiores locais de produo de clulas sangneas. Aps o nascimento a hematopoiese passa a ocorrer somente na medula ssea nos mamferos. Inicialmente a medula ssea de todos os ossos participa desta atividade, mas com a idade esta funo vai limitando-se medula ssea dos ossos chatos e epfises dos ossos longos, isto porque a demanda por eritrcitos decresce com a maturidade. No animal adulto, os principais ossos envolvidos no processo so: o esterno, o crnio, o lio, as costelas e as extremidades do fmur e do mero. A medula vermelha ou ativa com o tempo vai desaparecendo e deixa de ser hematopoitica, sendo substituda por tecido gorduroso, o qual forma a medula amarela ou inativa. Em casos de necessidade ocorre regenerao e a medula amarela passa a ser vermelha. Nestes casos, a hematopoiese pode voltar a ser realizada pelo fgado, bao e linfonodos. Na fase senil a medula ssea amarela se torna medula fibrosada e de difcil e vagarosa expanso, o que dificulta a rpida resposta anemia nestes animais. Deste modo, podemos facilmente associar a hematopoiese vida do indivduo. A fase de rpido crescimento do jovem est associada expanso do volume sanguneo, com pesada demanda na medula por eritrcitos, portanto todos os ossos so capazes de hematopoiese.

100 90 80

Hematopoiese (%)

70 60 50 40 30 20 10 0 0

saco vitelnico fgado bao medula ssea

10

20

30 40 Dias aps concepo

50

60

70

FIGURA 2. 1. Contribuio da produo sangnea no gato (Jain, 1986).

2. 2. rgos envolvidos na hematopoieseO bao armazena e elimina hemcias (hemocaterese) e plaquetas, alm de estar envolvido na hematopoiese inicial, produz linfcitos e plasmcitos, degrada hemoglobina, estoca o ferro, remove corpsculos de Howell-Jolly, corpsculos de Heinz e parasitas dos eritrcitos.

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O fgado, responsvel pelo estoque de vitamina B12, folato e ferro, produz muitos dos fatores de coagulao, albumina e algumas globulinas, converte a bilirrubina livre conjugada para excret-la pela bile, participa da circulao entero-heptica do urobilinognio, produz um precursor (-globulina) da eritropoietina ou alguma eritropoietina e retm seu potencial embrionrio para hematopoiese. O estmago produz HCl para liberao do ferro do complexo de molculas orgnicas e o fator intrnseco para facilitar a absoro da vitamina B12. A mucosa intestinal est envolvida na absoro da vitamina B12 e folato e controla a taxa de absoro de ferro em relao as necessidades corporais. Os rins produzem eritropoietina, trombopoietina e degradam excessivamente a hemoglobina filtrada do ferro e bilirrubina para excreo na urina. O timo consiste em um rgo linfide central responsvel pela diferenciao das clulas precursoras, derivadas da medula ssea, em linfcitos T imunologicamente competentes, envolvidos na imunidade celular e produo de linfocinas. Os linfonodos e folculos produzem linfcitos que sob estimulao antignica se transformam em plasmcitos, estando engajados ativamente na sntese de anticorpos. O sistema monoctico-fagocitrio (sistema reticuloendotelial) consiste no maior sistema fagoctico do organismo encarregado da defesa celular na infeco microbiana, destri vrias clulas sangneas, degrada hemoglobina em ferro, globina e bilirrubina livre, estoca o ferro e secreta macromolculas de importncia biolgica, por exemplo, fatores estimulantes de colnia e complemento.

2. 3. EritropoieseO processo de eritrognese que resulta na formao de eritrcitos maturos conhecido como eritropoiese, levando em torno de sete a oito dias para se completar. O ncleo eritrocitrio expulso no decorrer do processo de desenvolvimento nos mamferos e fagocitado por macrfagos locais. Enquanto nas aves, peixes, anfbios e rpteis as hemcias so nucleadas. As clulas ficam na medula ssea at a fase de metarrubrcito, e nas fases finais de maturao, como o reticulcito, podem ser encontrados no sangue perifrico em algumas espcies. Os reticulcitos no so encontrados no sangue em condies de normalidade nos eqinos, bovinos, sunos e caprinos. A fase de proliferao, compreendida entre a clula pluripotencial at o metarrubrcito, leva de dois a trs dias, enquanto o restante consiste na fase de maturao, levando em torno de cinco dias. A eritropoiese formada na medula ssea a partir de uma clula pluripotencial de origem mesenquimal chamada clula tronco ou clula me que estimulada a proliferar e diferenciar-se em burst de unidade formadora eritride (BUF-E) pela IL-3 e fator estimulante de colnia granuloctica-monoctica na presena da eritropoietina (EPO). Esta diferenciao ocorre sob influncia do microambiente medular local e por citocinas produzidas por macrfagos e linfcitos T ativados. A proliferao e diferenciao da BUF-E para unidade formadora de colnia eritride (UFC-E) resulta da presena destes mesmos fatores e pode ser potencializado por fatores de crescimento adicional. A EPO o fator de crescimento primrio envolvido na proliferao e diferenciao de UFC-E para rubriblasto, a primeira clula morfologicamente reconhecvel das clulas eritrides. A seguir seguem as divises/maturaes em que sero formados: pr-rubrcito, rubrcito, metarrubrcito, reticulcito e eritrcito. Os eritrcitos so clulas encarregadas de transportar oxignio dos pulmes aos tecidos e dixido de carbono no sentido inverso. A eritropoiese normal envolve um mnimo de quatro mitoses: uma na fase de rubriblasto, outra no estgio de pr-rubrcito e duas no estgio de rubrcito basoflico. O rubrcito basoflico matura-se em rubrcito policromtico, que se transformar em metarrubrcito. Ocasionalmente o rubrcito policromtico pode se dividir. A denucleao do metarrubrcito leva formao de reticulcito, o qual finalmente matura-se, dando origem ao eritrcito (figura 2.2). A nomenclatura recomendada para as clulas eritrides morfologicamente identificveis : Rubriblasto pr-rubrcito rubrcito basoflico rubrcito policromtico metarrubrcito reticulcito eritrcito.

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FIGURA 2. 2. Eritropoiese nos mamferos domsticos (segundo Jain, 1986).

ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 2: hematcrito2. 4. EritrogramaComo j comentado no captulo 1 o hemograma o exame realizado com o sangue perifrico colhido com anticoagulante, com o objetivo de se obter informaes gerais sobre o animal no momento da colheita. Ele composto de trs partes: o Eritrograma, o Leucograma, e as Plaquetas. Na solicitao do exame necessrio adequada identificao da amostra: rtulo no frasco de colheita, ficha contendo nome do proprietrio, data, espcie animal, raa, sexo, idade, hora da colheita, diagnstico provisrio, tratamento, histria clnica resumida, nome, assinatura e CRMV do requisitante e do examinador. O eritrograma compreende o nmero total de hemcias/l, concentrao de hemoglobina (g/dl), volume globular (%), VCM (fl), CHCM (%), protenas plasmticas (g/dl), reticulcitos (%), metarrubrcitos/100 leuccitos. Observaes no esfregao sangneo: anisocitose, policromasia, hemoparasitas, etc.

2. 5. Valores NormaisH que se entender que os valores de tabela ou de referncia so frutos da mdia de exames realizados numa populao clinicamente sadia e, portanto obedecem a uma curva normal de distribuio. Deste modo pode existir um pequeno percentual de animais da populao sadia com resultados laboratoriais prximos aos extremos (border line), ou fora deles; e o inverso tambm, ou seja, animais doentes com valores dentro da faixa de referncia. Por isso estes exames devem ser interpretados clinicamente (figura 2.3).

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100 80Populao (%)Sadios

60 40 20 0 0

Doentes Adrenalina

40

80

120 Glicose (g / dL)

160

200

240

FIGURA 2. 3. Curva hipottica de distribuio normal de valores obtidos da concentrao srica de glicose (g/dL) numa populao sadia, doente e sob efeito da adrenalina (excitao).

2. 6. Hematcrito ou Volume Globular (%)O hematcrito (ou volume globular) a percentagem de eritrcitos no sangue. Os mtodos de centrifugao do um volume de clulas sedimentadas, que corresponde a uma mensurao muito exata. um dos exames mais teis no estudo da srie vermelha e com ele podemos obter inmeras informaes como: a colorao do plasma, a capa leucocitria, microfilrias e Tripanossoma spp. O plasma normal lmpido e incolor (caninos e felinos) ou ligeiramente amarelado nos eqinos e bovinos, devido ao caroteno e xantofila presentes na alimentao dos herbvoros. Plasma ictrico amarelo e lmpido; plasma hemoglobinmico lmpido, variando de rosa a vermelho; plasma lipmico esbranquiado e turvo. Ao exame microscpico do plasma, podemos observar as microfilrias e tripanossomas logo acima da camada branca (capa flogstica). As principais informaes esto esquematizadas na figura 2.4. O plasma obtido por este mtodo pode ser empregado em outros exames, como concentrao de protenas plasmticas totais e concentrao de fibrinognio plasmtico, utilizando-se a precipitao pelo calor e refratometria. Determinao Princpio Sedimentao dos elementos figurados do sangue, obtendo-se a proporo destes elementos em relao ao plasma. Tomar o frasco com sangue mais anticoagulante e homogeneizar; Pegar o tubo capilar (75mm x 1mm ) e por capilaridade deixar o sangue preencher 2/3 do tubo; Fechar a extremidade seca em chama de bico de Bunsen, girando-se o tubo; Centrifugar o tubo a 1.200rpm (aproximadamente 1580G) por 5 minutos; Ler em tabela que acompanha centrfuga, obtendo-se o resultado em %.

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incolor : co/gato/homem Cor normal amarela : herbvoros (caroteno) Cor anormal amarela : ictrico no co/gato/homem

PLASMA

branca : fisiolgico (lipemia ps-prandial), patolgico (diabetes, hipotireoidismo, outros). vermelho : artefato de tcnica (hemlise), patolgico (anemia hemoltica :Lupus, Babesia, intoxicao) Quando avermelhado significa presena de leptcitos (so + leves).

LEUCCITOS Noo da contagem de leuccitos pela capa leucocitria ou flogstica.Pode tambm incluir o Fibrinognio (aps banho-maria a 57 C) Leitura do volume globular eritrocitrio (%)

HEMCIAS

Noo da contagem global de eritrcitos Visualizao de microfilrias (se movimentam ao microscpio em 25x)

FIGURA 2.4. Desenho esquemtico do capilar de microhematcrito.

Existem fatores que afetam o hematcrito, hemoglobina e contagem de eritrcitos, como anemias e alteraes na hidratao, que podem refletir diretamente na proporo clulas vermelhas/plasma do sangue (figura 2.5).

Clulas Vermelhas NORMAL ANEMIAS Anemia Relativa Anemia Absoluta POLICITEMIAS Policitemia Relativa Policitemias Absoluta

Plasma

VG (%) NORMAL

DIMINUDO DIMINUDO

AUMENTADO AUMENTADO

FIGURA 2.5. Curva Mudanas relativas ocasionadas na massa do eritrcito e volume de plasma nas anemias e policitemias (JAIN,1993).

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Fatores que afetam o hematcrito, hemoglobina e contagem de eritrcitos: Alteraes na massa do eritrcito afetam os trs parmetros; A anemia produz valores baixos que podem ser desproporcionais se o tamanho celular e/ou o contedo de hemoglobina tambm estiverem alterados; A policitemia absoluta produz valores altos; A contrao esplnica produz valores altos e especialmente comum em cavalos excitados; Alteraes na hidratao (volume plasmtico) afetam os trs parmetros; Portanto o exame deve ser interpretado conhecendo-se o estado de hidratao do animal, atravs do exame fsico e anlise de protenas plasmticas totais; Desidratao produz valores altos; Hidratao excessiva causa reduo no volume, o que pode estimular anemia.

2. 7. Atividade extra: interferncias no hematcritoH uma srie de fatores que podem interferir na correta obteno do hematcrito nos animais domsticos. Voc pode observar alguns deles sem riscos para os animais, seguindo o protocolo abaixo 1. Para esta atividade so necessrios material de conteno dos animais e colheita de amostras, centrfuga de micro-hematcrito e refratmetro com escala para protenas totais. PROTOCOLOS1. Cavalo: 20 minutos de exerccio moderado 2. Co: Adrenalina 0,1 mg/kg PV por via IV 3. Gato: Adrenalina 0,1 mg/kg PV por via IV 4. Co: Hidrocortisona 25 mg/kg PV por via IV* 5. Altas quantidades de anticoagulante 6. No homogeneizar o sangue (cavalo)

HCT (%) Antes Depois

PT (mg/dL) Antes Depois

Obs:

*Succinato sdico Observe os resultados obtidos. Provavelmente voc obervou um aumento dos hematcritos nos protocolos n 1, 2 e 3. No caso n 1 isso ocorre devido ao deslocamento sangneo esplnico, mais visvel no cavalo pois o seu bao proporcionalmente maior que em outras espcies. Nos casos n 2 e n 3 o deslocamento foi resultado da ao simptica da adrenalina contraindo a musculatura vascular e esplnica. Como o hematcrito aumentou, isso mostra que o bao no uma reserva de sangue, mas sim uma reserva concentrada (papa) de hemcias e plaquetas. Provavelmente voc no observou alterao no caso n 4, pois o cortisol no tem efeito perceptvel imediato no hematcrito. No caso n 5 voce obervou hemodiluio pelo anticoagulante, ou seja, o sangue foi diludo e o hematcrito diminuiu. O tempo tende a aumentar o hematcrito, pois as hemcias se incham com a entrada de lquidos do plasma. O caso n 6 varia. Se voc introduziu o capilar no fundo do tubo, o hematcrito provavelmente aumentou, pois houve sedimentao do sangue. Se voc introduziu o capilar na parte do sobrenadante, o hematcrito diminuiu. Isso claramente observado nos cavalos, pois estes possuem uma alta velocidade de hemosedimentao (VHS). Agora procure interpretar os resultados em associao s protenas totais plasmticas.

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Verifique antes se o uso de animais para esta aula possui aprovao no Comit de tica da sua Instituio. As doses de adrenalina e cortisol foram baseadas em prescrio teraputica das mesmas.

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PARTE 3: ERITROGRAMA II3. 1. ReticulcitosOs reticulcitos apresentam um grau varivel de dobras membranosas e invaginaes de superfcie. Eles contm ribossomos, polirribossomos e mitocndrias, que os capacitam a sintetizar mais de 20% do contedo final de hemoglobina. Estas estruturas contribuem para a policromasia dos reticulcitos. Aps colorao com corantes supravitais, como o novo azul de metileno ou azul cresil brilhante, utilizado na contagem de reticulcitos, um arroxeado de ribossomos, mitocndrias e outras organelas citoplasmticas aparecem nos reticulcitos como precipitados em forma de cordes (reticulcitos agregados) ou esparsos (pontilhados). Os reticulcitos permanecem na medula ssea por dois a trs dias antes de entrar no sangue por diapedese atravs de clulas endoteliais que contornam os sinusides medulares. A sua liberao para o sangue controlada por um nmero de fatores que agem em conjunto, incluindo a concentrao de eritropoietina, deformabilidade capilar e carga de superfcie. Variaes interespcies podem ocorrer em considerao ao nmero de reticulcitos liberado no sangue sob condies fisiolgicas e patolgicas. Por exemplo, o eqino no libera reticulcitos para o sangue perifrico, mesmo em anemia severa. Ces e gatos respondem vigorosamente com reticulocitose no sangue durante anemia regenerativa, porm os ruminantes geralmente apresentam uma resposta leve (tabela 3.1). Os reticulcitos maturam-se em eritrcitos 24-48 horas na circulao ou no bao, onde podem ser seqestrados temporariamente. O processo de maturao envolve a perda de algumas superfcies de membranas, receptores para transferrina e fibronectina, ribossomos e outras organelas, obteno da concentrao normal de hemoglobina, organizao final do esqueleto submembranoso, reduo do tamanho celular e mudana de forma para o aspecto bicncavo. TABELA 3. 1. Grau de resposta da medula ssea segundo o percentual de reticulcitos GRAU DE RESPOSTA Normal Leve Moderada Intensa Ces 0 - 1,5 1-4 5 - 20 21 - 50 % de reticulcitos Gatos (agregados) 0 - 0,4 0,5 - 2,0 3,0 - 4,0 >50 Cavalos e Ruminantes Ausentes 1 sinal regenerativo -

A contagem de reticulcitos o melhor indicativo da atividade efetiva da eritropoiese medular, mas sua contagem deve ser interpretada em relao s diferentes espcies. A contagem de reticulcitos calculada pelo percentual de reticulcitos contados em esfregao sangneo obtido com um corante supravital e multiplicado seu resultado pela contagem global de eritrcitos. A percentagem de reticulcitos pode ser corrigida para o grau de anemia pela seguinte frmula: Reticulcitos corrigidos (%) = % reticulcitos x VG paciente VG mdio normal* *37% para o gato e 45% para o co Contagem de reticulcitos (/L) = % reticulcitos x total eritrcitos /L

Por exemplo: Um co tem um VG de 28%, contagem de eritrcitos de 4,4 x 106 /L e contagem de reticulcitos de 15%, aplicando a frmula teramos: % de reticulcitos corrigida = 15% x 28 = 9,3 45

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Uma contagem corrigida de reticulcitos acima de 1% em ces e gatos (agregados) indica eritropoiese ativa (anemia regenerativa). Usualmente h necessidade de um perodo de 3 a 4 dias para que uma significante reticulocitose, seja encontrada no sangue perifrico aps uma hemorragia aguda e a resposta mxima pode levar de 1 a 2 semanas ou mais. Em uma anemia hemoltica severa, entretanto, uma rpida liberao de reticulcitos pode levar somente 1 ou 2 dias e ser seguida de uma intensa eritropoiese. Aps hemorragias a resposta da medula ssea pode ser avaliada a partir do 3 dia aps a perda de sangue, pois este o tempo mnimo necessrio para a liberao de clulas jovens aps a hipxia. Em quadros agudos a avaliao clnica do grau de anemia e estimativa de perdas muito mais til que os parmetros laboratoriais isolados; deve-se, inicialmente, estabilizar o paciente com transfuso e fluidoterapia. Reticulcitos e eritrcitos jovens ocasionalmente podem manifestar uma morfologia adicional. A fragmentao nuclear ou extruso incompleta dos ncleos dos metarrubrcitos resultam na reteno de ncleo pequeno remanescente chamado corpsculo de Howell-Jolly. O corpsculo de Howell-Jolly removido do reticulcito quando este passa no bao e muitas vezes encontrado em indivduos esplenectomizados ou quando a funo do bao est comprometida.

3. 2. Regulao da Eritropoiese: eritropoietinaO estmulo fundamental para a eritropoiese a tenso tecidual de oxignio (PO2). A hipxia tecidual desencadeia a produo de eritropoietina, um fator humoral especificamente responsvel pela produo de eritrcitos. produzida pelos rins (clulas corticais endoteliais, glomerulares e intersticiais) e em menor proporo pelo fgado (clulas de Kupffer, hepatcitos e clulas endoteliais). O rim considerado a nica fonte de eritropoietina no co e o fgado o stio predominante no feto. A eritropoietina gerada pela ativao do eritropoietinognio, uma alfa-globulina, pelo fator eritropoitico renal ou eritrogenina, ou pela ativao da proeritropoietina, produzida no rim, por um fator plasmtico (figura 3.1). A eritropoietina estimula a eritropoiese em vrias etapas, pela induo da diferenciao de progenitores eritrides (UFC-E) at rubriblastos, estimulando a mitose de clulas eritrides e reduzindo seu tempo de maturao e aumentando a liberao de reticulcitos e eritrcitos jovens ao sangue perifrico. Vrios rgos endcrinos influenciam a eritropoiese, atravs de seus efeitos na sntese de eritropoietina. A pituitria media estes efeitos atravs da produo de TSH, ACTH e hormnio do crescimento; as adrenais atravs da produo de corticosterides; as glndulas tireides atravs da produo de tiroxina; e as gnadas atravs da produo de andrgenos e estrgenos. A nica influncia negativa a do estrgeno. Em conjunto com a eritropoietina a IL-3 produzida por linfcitos T; o FEC-GM por linfcitos T, clulas endoteliais e fibroblastos; e o FEC-G por macrfagos, granulcitos, clulas endoteliais e fibroblastos estimulam a multiplicao de uma clula progenitora eritride jovem, a unidade formadora de exploso eritride (UFE-E) e sua diferenciao na clula progenitora da UFC-E. A UFE-E relativamente insensvel a eritropoietina sozinha. Doses farmacolgicas de andrgenos aumentam a taxa de glbulos vermelhos, estimulando a produo de eritropoietina ou potencializando sua ao, por isso, machos apresentam maior nmero de eritrcitos que as fmeas. Os estrgenos, por sua vez, apresentam efeito inibitrio sobre a eritropoiese. Hormnios tireoidianos, hipofisrios e adrenocorticais alteram a demanda de oxignio nos tecidos, alterando a necessidade de eritropoiese. Para que ocorra a adequada multiplicao eritrocitria, h necessidade tambm de substrato para possibilitar a diviso celular, principalmente material nuclico. Os substratos que constituem maior importncia so: a vitamina B12, o cido flico, o cobalto e o cido nicotnico. Na fase de maturao eritrocitria, o RNA mensageiro encarrega-se da hemoglobinizao citoplasmtica. Nesta fase so importantes o ferro na forma ferrosa, o cobre e a piridoxina.

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FIGURA 3. 1. Ativao e efeito da Eritropoietina nos animais domsticos. Para uma adequada eritropoiese h o requerimento de suprimento continuado de nutrientes como vitaminas e minerais. A deficincia destes fatores por qualquer causa levar a anemia. Uma causa comum de anemia a deficincia de ferro. Anemias nutricionais no homem e nos animais so aquelas causadas por deficincias de protenas, vitamina B12, folato, niacina, vitamina E, selnio, cobre e cobalto.

3. 3. Destruio EritrocitriaA durao mdia da vida do eritrcito varia com a espcie animal. Abaixo esto representados o nmero, o tamanho e a vida mdia das hemcias, de acordo com a espcie animal (tabela 3.2). TABELA 3. 2. Nmero total, tamanho e vida mdia das hemcias nas diferentes espcies animaisESPCIE Canino Felino Eqino Bovino Ovino Caprino Suno NMERO TOTAL (milhes/mm3 ou L) 6-8 5-10 9-12 5-10 9-15 8-18 5-8 TAMANHO (m de dimetro) 7,0 5,8 5,7 5,5 4,5 4,0 6,0 VIDA MDIA (dias) 120 70 150 160 100 100 65

No estado de sade normal, o eritrcito deixa a circulao por duas vias: fagocitose por macrfagos, que a principal e a lise intravascular, com liberao de hemoglobina. A deformabilidade importante na sobrevida da hemcia e depende da manuteno da sua forma, fluidez normal interna da hemoglobina e propriedades visco-elsticas intrnsecas da membrana. Qualquer mudana nestas caractersticas pode ativar a destruio fagocitria por macrfagos, o que ocorre primariamente no bao e fgado, podendo tambm ocorrer na medula ssea. Os macrfagos iniciam a fagocitose aps reconhecerem anticorpos IgG aderidos a antgenos de membrana em eritrcitos danificados e/ou envelhecidos. A perda de eritrcitos continuamente balanceada por uma liberao de reticulcitos ou clulas jovens da medula ssea para o sangue perifrico. Neste caso, os reticulcitos so importantes em casos de anemia, para que se classifiquem as anemias em regenerativa ou arregenerativa. Em casos de babesiose, no quarto ou quinto dia estas clulas comeam a aparecer no sangue perifrico.

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3. 4. HemoglobinaTrata-se de uma protena conjugada formada de 96% de protenas (globinas) e por um grupo prosttico de colorao vermelho chamado heme (4%), o qual formado por ferro e grupamentos porfirnicos. A produo hemoglobnica ocorre no citoplasma das clulas nucleadas precursoras de eritrcitos. O ferro obtido pelas clulas eritrides no processo normal de eritropoiese provm dos macrfagos adjacentes que, por sua vez, recebem o ferro por endocitose da ferritina, uma protena transportadora, por meio de um processo chamado rofeocitose. As molculas de ferritina consistem em milhares de tomos de ferro envolvidos por uma protena (apoferritina). A ferritina pode ser visualizada como partculas densas, localizadas na membrana celular ou no citoplasma de clulas eritrides e macrfagos. A ferritina degradada e convertida a hemossiderina pela ao das enzimas lisossomais intracelulares nos macrfagos. A ferritina hidrossolvel enquanto que a hemossiderina no, porm ambas servem como estoques de ferro que so mobilizados para a sntese da heme. Em anemias ocasionadas por doenas crnicas, os estoques de ferro esto aumentados, pois h um seqestro nos macrfagos do SMF. Na formao deficiente de hemoglobina, intervm fundamentalmente trs fatores: 1. deficincia de ferro por ingesto deficiente ou absoro anormal deste elemento; 2. interferncia na atividade normal das clulas macrofgicas (SRE) que produzem normalmente a hemoglobina. Isto ocorre nos envenenamentos por metais, toxemias, neoplasias e nefrites, entre outras causas; 3. Anormalidades renais que interferem na formao da eritropoietina. A hemoglobina liberada na forma livre quando ocorre hemlise, onde a unio entre a hemoglobina e o estroma eritrocitrio quebram-se pela ao do agente hemoltico. A hemoglobina livre no plasma rapidamente decomposta por oxidao, liga-se a haptoglobina e rapidamente excretada pelos rins, observando-se hemoglobinria, ou ainda destruda pelo sistema fagocitrio mononuclear (SMF). A hemoglobina confere a cor avermelhada do plasma e esta condio chamada de hemoglobinemia. O excesso livre oxidado em metahemoglobina, que se dissocia, liberando hematina. A hematina liga-se a hemopexina e albumina sucessivamente, e estes complexos so removidos pelos hepatcitos. Nos macrfagos, o ferro da frao heme e os aminocidos da frao globina so reciclados para uso. A protoporfirina degradada em biliverdina pela heme microssomal oxigenase; a biliverdina ento convertida bilirrubina pela bilirrubina redutase. As aves excretam somente biliverdina, pois no possuem bilirrubina redutase. A bilirrubina liberada no plasma ligada albumina para o transporte at as clulas hepticas, onde conjugada em cido glicurnico pela enzima UDP-glucuronil transferase. A bilirrubina conjugada normalmente secretada atravs dos canalculos biliares e excretada pela bile na luz intestinal. No trato intestinal a bilirrubina degrada a urobilinognio para a sua excreo nas fezes, com reabsoro parcial para a circulao geral e re-excreo biliar no ciclo entero-heptico da bile. Uma pequena quantidade de bilirrubina conjugada e urobilinognio normalmente escapam re-excreo heptica e so eliminados na urina (figura 3.2) e quantidades aumentadas so muitas vezes excretadas naqueles animais com doena heptica. As duas formas de bilirrubina no plasma so chamadas de bilirrubina livre ou indireta, ligada albumina e bilirrubina conjugada ou direta. A bilirrubina no conjugada no filtrada pelo rim, somente a conjugada. O acmulo de bilirrubina no sangue leva a ictercia. Na anemia hemoltica a maioria da bilirrubina no sangue est na forma no conjugada, sendo que, na obstruo extra-heptica do ducto biliar esta amplamente conjugada e, ambas as formas em doena hepatocelular. A concentrao de bilirrubina no plasma do cavalo alta, comparada com outras espcies, e a maior parte est na forma no conjugada. A concentrao de bilirrubina, no cavalo, aumenta durante anorexia e condies febris por causa da estrutura heptica. Tambm alta a concentrao de bilirrubina, nesta espcie, ao nascimento, assim permanecendo nos potros. No entanto, a causa precisa da hiperbilirrubinemia neonatal em animais desconhecida, observao semelhante em neonato humano indica que vrios mecanismos esto envolvidos. Estes incluem a perda do mecanismo excretrio placentrio da bilirrubina, um nvel baixo da atividade de UDP-glucoroniltransferase no fgado do neonato e uma maior concentrao de -glucuronidase no intestino, o qual degrada a bilirrubina conjugada bilirrubina livre que reabsorvida.

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FIGURA 3. 2. Esquema do catabolismo normal da hemoglobina.

ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 3: esfregao sangneo3. 5. Preparo do esfregao e coloraoEsfregao Preparar duas lminas novas e desengorduradas, sendo uma com os cantos arredondados; Homogeneizar o sangue no frasco de colheita fechado, por inverso, e colocar com o capilar do micro-hematcrito, antes de fech-lo, uma gota de sangue na lmina; Colocar a outra lmina (recortada) a frente da gota de sangue, num ngulo de 45. Fazer um ligeiro movimento para trs at o sangue espalhar-se pela lmina; Com um movimento uniforme, para frente, fazer esta lmina deslizar sobre a outra. O sangue se estender por sobre a lmina, formando o esfregao (figura 3.3); Agitar a lmina at secar o esfregao completamente e identific-lo com lpis na borda mais espessa do esfregao.

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Gota de sangue Aproximar 30 - 40 Adeso

AvanarFIGURA 3.3. Demonstrao de como se faz um esfregao de sangue. Corantes A. Leishmann - Preparo: Diluir 1,5g de Eosina-Azul de Metileno segundo Leishmann em 1 litro de metanol; Colocar em banho-maria a 37 C por 24 horas. Acondicionar em frasco mbar; Maturar o corante deixando-o em repouso por 1 semana, ao abrigo da luz; Corrigir o pH, se necessrio, para 7,6; Filtrar e usar. - Uso: Colocar 20 gotas do corante e deixar agir por 3 minutos; Acrescentar 20 a 25 gotas de gua destilada tamponada (pH 7,2); Deixar agir por 15 minutos; Lavar em gua corrente e secar. B. Pantico Soluo comercial pronta para uso com trs corantes em srie.

3. 6. Morfologia dos Eritrcitos Tamanho Normal: clula grande em caninos, sendo que os caprinos apresentam a menor hemcia das espcies domsticas. Anisocitose: a diferena de tamanho entre as hemcias. Quanto mais grave a anemia, maior a ocorrncia de anisocitose. Macrocitose: predominncia de hemcias grandes, geralmente jovens, recm-produzidas. Presente em reticulocitose, metarrubrcitos, hipertireoidismo, deficincia de fatores de multiplicao, determinadas raas, animais jovens. Microcitose: predominncia de hemcias pequenas. Ocorre em anemias crnicas, principalmente ferropriva. Quanto maior a quantidade, mais grave. fisiolgica em animais idosos e algumas raas. Forma Bicncava: normal. Esfercitos: hemcias com formas esfricas, com intensa colorao pela perda de contedo de membrana sem perda de hemoglobina devido a eritrofagocitose parcial dos anticorpos e/ ou complemento dos eritrcitos pelos macrfagos do sistema fagocitrio mononuclear. Presente em anemia hemoltica auto-imune primria ou induzida por drogas ou transfuso incompatvel. Poiquilcitos: so alteraes na forma das hemcias. No bao, devido a microcirculao esplnica, a hemcia muda de forma o que ocorre pela existncia de glicoprotenas na membrana do eritrcito. Podem ser removidos prematuramente da circulao, levando a

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uma anemia hemoltica. Existem vrios tipos de poiquilcitos, entre eles: Equincitos: so hemcias espiculadas, com vrias projees regulares. Ocorrem em amostras velhas, uremia, excesso de EDTA, coagulao intravascular disseminada (CID). Acantcitos: projees irregulares e variadas. Ocorrem em ces com hiperbilirrubinemia, associados a hemangiossarcoma ou hemangioma esplnico e doena heptica difusa, shunts porto-cava e dietas altas em colesterol. Esquiscitos: fragmentos irregulares das hemcias. Ocorrem em falha renal, mielofibrose, glomerulonefrite, deficincia crnica de ferro, fluxo sangneo turbulento. Leptcitos: aumento do dimetro e reduo na espessura. Quando hipocrmicos ocorre por produo reduzida de hemoglobina (anemia ferropriva); quando h policromasia, consistem em reticulcitos (indica regenerao); quando h ortocromia, indicam anemia arregenerativa. O mais comum a aparncia em alvo. Dacricitos: hemcias em forma de gota. Aparecem em mielofibrose ou desordens mieloproliferativas. Crenao: hemcias em forma de engrenagem. Comum em bovinos, artefato de tcnica ou desidratao em outras espcies. Colorao Vermelho-claro: normal ao microscpio ptico (1000x). Policromasia: algumas hemcias apresentam-se mais coradas que outras (RNA residual), representando os reticulcitos. O aumento est associado a atividade eritropoitica aumentada e resposta anemia regenerativa. A ocorrncia de algumas clulas policromticas comum no co e no gato. Hipocromia: hemcias com intensidade de colorao reduzida e rea central plida aumentada, causada por insuficiente hemoglobina na clula, sendo a etiologia mais comum deficincia de ferro.

3. 7. Contagem de ReticulcitosColher amostra de sangue com EDTA, homogeneizar adequadamente; Colocar em tubo de ensaio 0,5mL de sangue fresco; Adicionar 0,5mL do corante (Azul de Cresil Brilhante ou Novo Azul de Metileno); Homogeneizar a soluo; Levar ao banho-maria por 15 minutos (37C); Retirar o tubo do banho-maria, agitar e fazer o esfregao em lmina; Contar os reticulcitos em no mnimo dez campos e realizar a leitura em % dos demais eritrcitos. Caso necessrio fixar em lamnula; Pode-se contra-corar a lmina com corantes de rotina (ex: pantico), para se obter uma melhor visualizao dos reticulcitos.

3. 8. Atividade extra: hemcias nas aves, peixes, rpteis e anfbiosAo contrrio dos mamferos, as hemcias adultas das aves, peixes, rpteis e anfbios so normalmente nucleadas 2. Apesar disso, embora exija mais ateno em sua contagem, estas espcies tambm possuem reticulcitos. Siga o protocolo padro de contagem de reticulcitos e observe a impregnao margem do ncleo das hemcias nestas espcies.

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Verifique antes se o uso de animais para esta aula possui aprovao no Comit de tica da sua Instituio.

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PARTE 4: ANEMIAS E POLICITEMIAS4. 1. AnemiasA anemia definida como a presena de eritrcitos, concentrao de hemoglobina e/ou hematcrito abaixo dos valores normais de referncia. Constitui-se raramente em uma doena primria; geralmente o resultado de um processo (doena) generalizado. Portanto, necessrio que se conhea a causa da anemia para que o tratamento racional seja empregado, pois ele no direcionado, por si s, para a anemia, exceto como uma medida de emergncia. Sinais Clnicos Os sinais clnicos da anemia resultam da reduzida capacidade de o sangue carrear oxignio e de certos ajustes fisiolgicos para aumentar a eficincia da reduzida massa de eritrcitos circulantes e reduzido trabalho do corao. Assim, o desenvolvimento de vrios sinais clnicos depende do grau e da causa da anemia. Os mais comuns so dispnia, intolerncia ao exerccio, palidez das mucosas, aumento da freqncia cardaca, algumas vezes acompanhada de murmrios (sopro sistlico), aumento da freqncia respiratria e depresso. Na anemia hemoltica aguda incluem-se ainda ictercia, hemoglobinemia, hemoglobinria e febre. Na perda crnica de sangue, o organismo consegue manter a homeostase circulatria e em alguns casos, mesmo com menos de 50% da hemoglobina normal, o animal pode no apresentar sinais clnicos.

4. 2. Classificao das anemiasA anemia pode ser classificada como relativa ou absoluta, em termos de massa total de eritrcitos. A anemia relativa pode se desenvolver pela expanso do volume plasmtico, como em fmeas gestantes e neonatos ou aps fluidoterapia. A anemia absoluta clinicamente importante e merece ampla investigao. Trata-se da forma mais comum de anemia, e classificada de acordo com a morfologia dos eritrcitos, mecanismos patognicos e resposta eritride da medula ssea. Embora nenhum destes fatores seja completamente satisfatrio quando considerado isoladamente, eles so complementares, e juntos proporcionam meios lgicos de se analisar a anemia. O objetivo de se classificar as anemias em vrios tipos determinar possveis mecanismos patofisiolgicos e causas provveis. Anemia por uma causa particular pode envolver mais de um mecanismo patognico (por exemplo, componente hemoltico como supresso da eritropoiese). Uma prtica comum avaliar inicialmente um hemograma para se classificar a anemia morfologicamente com base no VCM (volume corpuscular mdio) e no CHCM (concentrao de hemoglobina corpuscular mdia). Evidncia de reposta medular anemia ento obtida atravs da determinao do grau de reticulocitose ou policromasia no sangue. A. Classificao etiolgica ou mecanismo patognico A anemia pode ocorrer por perda de sangue (hemorragias), destruio acelerada dos eritrcitos ou diminuio na produo eritrocitria que a hipoplasia ou aplasia da medula ssea, incluindo a utilizao deficiente de nutrientes essenciais para a produo de eritrcitos. A hemorragia pode ser aguda ou crnica. A hemorragia aguda pode ser causada por traumas, lceras gastro-intestinais, cirurgias, defeitos na hemostasia (intoxicao por warfarina, samambaia e outros), enquanto que as causas de hemorragia crnica podem ser: parasitismo, lceras gastro-intestinais, hematria, neoplasias, etc. Os achados laboratoriais nas anemias por perda de sangue incluem: resposta regenerativa, a qual ocorre aps dois a trs dias; reduo na concentrao de protena plasmtica total, se a hemorragia for externa, pois deste modo no h reutilizao de certos componentes (ferro e protena plasmtica), os quais podem ser reabsorvidos na hemorragia interna. Poucas horas aps a perda de sangue os valores do eritrograma permanecem normais, embora ocorra o movimento intravascular de fluido para o espao extravascular, assim a anemia no evidente nos primeiros momentos da perda aguda de sangue. A expanso do volume plasmtico para um nvel normal indicada devido diminuio da

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concentrao de protenas plasmticas, seguida pela diminuio dos parmetros do eritrograma. Esta reduo da protena evidente em uma hora aps a perda aguda. Se continuar a hemodiluio, h uma significativa queda nos valores do eritrograma e protenas plasmticas em quatro horas. A amostra de sangue colhida um ou dois dias aps hemorragia revela anemia normoctica normocrmica acompanhada por hipoproteinemia. A resposta dos reticulcitos ocorre aps trs dias. A concentrao de protena tende a aumentar em dois a trs dias e geralmente retorna ao normal em cinco a sete dias antes dos parmetros dos eritrcitos terem sido restaurados. Persistindo a protena reduzida, sugere uma continuidade da perda de sangue. A anemia por destruio acelerada dos eritrcitos causada pela hemlise, que pode ser intra ou extravascular (fagocitose). A hemlise intravascular pode ser causada por bactrias como Clostridium perfringens tipo A ou C, Clostridium hemolyticum, Leptospira sp; produtos qumicos como a fenotiazina, cebola, azul de metileno, cobre; imunomediada, causada por transfuso incompatvel ou isoeritrlise neonatal. A hemlise extravascular causada por parasitas de eritrcitos, como por exemplo, Mycoplasma haemofelis, Anaplasma sp, Eperythrozoon sp; imunomediada, como AHAI (anemia hemoltica auto-imune), lupus eritematoso, anemia infecciosa eqina; defeitos eritrocticos intrnsecos, como deficincia da enzima piruvato quinase. Os achados laboratoriais presuntivos de anemia hemoltica so: resposta regenerativa, se o tempo for suficiente para apresentar esta resposta da medula ssea; concentrao normal de protena; leucocitose neutroflica com desvio esquerda, devido ao estmulo da medula ssea; hiperbilirrubinemia, hemoglobinria e hemoglobinemia (na hemlise intravascular); colorao vermelha do plasma; hiperbilirrubinemia (cor amarela do plasma) associada com uma diminuio do VG sugere uma fagocitose aumentada dos eritrcitos. Observa-se a lmina, buscando-se evidncias de parasitas eritrocitrios, eritrcitos fragmentados, esfercitos e corpsculos de Heinz. B. Classificao patofisiolgica I. Perda sangunea ou anemias hemorrgicas - Aguda Procedimento cirrgico ou traumas; Leses hemostticas, desordens da coagulao, deficincia de vit. K (dicumarol, warfarin), CID. - Crnica Leses gastrointestinais (neoplasias, lceras, parasitismo); Neoplasias com sangramento cavitrio (hemangiossarcoma no co); Trombocitopenias; Parasitas (carrapatos, pulgas, parasitas gastrointestinais). II. Destruio acelerada dos eritrcitos Parasitas sanguneos, vrus, bactrias e riqutsias (podem ter um componente imunomediado), incluindo Anasplasma sp, Babesia sp, Mycoplasmas (Haemobartonella, Eperythrozoon), Ehrlichia sp, Clostridium sp, Cytauxzoon felis, Leptospira sp, mastite estafiloccica e Anemia Infecciosa Eqina; Drogas e qumicos (muitos so oxidantes): fenotiazina; acetominofen, em gatos e ces; azul de metileno, em gatos e ces; vitamina K, em ces; cobre, chumbo, zinco; Plantas txicas (muitas so oxidantes) e acidentes ofdicos; Doenas metablicas - falha heptica, hiperesplenismo, no cavalo e toro esplnica; Defeitos intraeritrocitrios - deficincia da piruvato quinase em ces e gatos, deficincia da fosfofruto quinase em ces, deficincia da glicose-6-fosfatase dehidrogenase no cavalo; Destruio imunomediada do eritrcito anemia hemoltica imunomediada (AHIM) primariamente em ces, isoeritrlise neonatal, primariamente em cavalos e gatos, Lupus eritematoso, primariamente em ces, reao transfusional, penicilina e cefalosporina; Outras causas - intoxicao por gua em bovinos, administrao de fludo hipotnico em grandes animais.

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III. Diminuio da produo dos eritrcitos (eritropoiese reduzida) Doena renal crnica: falta de eritropoietina; Protenas: deficincia protica; Minerais: deficincias em ferro, cobre, cobalto, selnio; Vitaminas: deficincia em vitaminas A, E, B12, cido flico, niacina, piridoxina, tiamina e cido ascrbico; Doena inflamatria: inflamao crnica e neoplasia; Deficincias endcrinas: hipotireoidismo, hipoadrenocorticismo, hipo-androgenismo; Dano citotxico da medula ssea; Drogas anticncer citotxicas, toxicidade por estrgeno, cloranfenicol, fenilbutazona, trimetroprim-sulfadiazina, radioterapia; Agentes infecciosos: Ehrlichia sp, FeLV, tricostrongilides, parasitas no sugadores de sangue nos ruminantes; Mielopatias: leucemias mielgenas, leucemias linfides, mieloma mltiplo, linfoma metasttico e mastocitoma; Doenas imunomediada; Aplasia seletiva eritride em ces. IV. Eritropoiese ineficaz Desordem da sntese da frao Heme: deficincia do ferro, cobre e piridoxina; Desordem da sntese do cido nuclico: deficincia de folato e vitamina B12. C. Classificao morfolgica das anemias As anemias podem ser classificadas com base nos ndices eritrocitrios, levando-se em considerao o tamanho e a morfologia das hemcias. Os termos usados para o tamanho so: normoctica (normal), macroctica (maior) ou microctica (pequena) e para as propriedades tintoriais da hemoglobina normocrmica (normal) e hipocrmica (diminuda). Os ndices eritrocitrios so: volume corpuscular mdio (VCM) e a concentrao de hemoglobina corpuscular mdia (CHCM). Esta classificao pode ser confirmada pelo exame microscpico da populao eritrocitria, mas devemos considerar que no especfica para a causa da anemia, no entanto til quanto ao mecanismo patofisiolgico o que ajuda na seleo do protocolo de tratamento. Os valores de VCM e CHCM podem ser calculados conforme frmulas a seguir: VCM = (fentolitros) VG (%) x 10 Hemcias (Milhes/L) CHCM= (%) VG (%) Hemoglobina (g/dL) x 100

A anemia macroctica normocrmica em humanos caracterstica de deficincia de vitamina B12 e cido flico e em bovinos, na deficincia de cobalto ou pastagem rica em molibdnio. A anemia resulta de uma assincronia da eritropoiese causada por alteraes na maturao no estgio de pr-rubrcito a rubrcito basoflico, produzindo eritrcitos megaloblsticos na medula ssea. Em ces poodle os eritrcitos macrocticos normocrmicos no so acompanhados por anemia. A anemia macroctica hipocrmica tipicamente observada durante remisso em perda aguda de sangue ou hemlise aguda. O grau de macrocitose e hipocromia depende da severidade da anemia, associada intensidade da resposta eritropoitica medular, o que leva a reticulocitose sangnea. A reticulocitose em resposta anemia aumenta o VCM e reduz o CHCM. Entretanto, muitos dias devem passar desde a manifestao da anemia antes da alterao da morfologia eritroctica se mostrar aparente. A anemia normoctica normocrmica ocorre pela depresso seletiva da eritropoiese em doenas crnicas como infeces, doena renal crnica, malignidades e certas desordens endcrinas. Nestes casos, a resposta de reticulcitos est ausente ou insignificante. Os esforos devem ser direcionados mais para o diagnstico da doena primria do que para o tratamento da anemia, uma vez que o uso de hematnicos est contra-indicado, pois o tecido eritropoitico no pode fazer uso destas substncias. A anemia microctica hipocrmica resulta de deficincia de ferro ou incapacidade de utilizao do ferro para a sntese da hemoglobina. Alteraes na morfologia dos eritrcitos

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dependem da durao e severidade da anemia. Na anemia microctica a diviso celular normal, mas a sntese da hemoglobina demorada com anormalidades na sntese do heme e da globina, ocorrendo uma ou mais divises extras, durante o desenvolvimento das clulas eritrides, resultando na formao de micrcitos. Outras causas de anemia microctica so: doenas inflamatrias, devido aos mediadores inflamatrios que, direta ou indiretamente, inibem a eritropoiese, reduzem o ferro no soro e encurtam a expanso de vida dos eritrcitos; deficincia de piridoxina; deficincia de cobre, o que resulta em uma deficincia funcional de ferro devido mobilizao inadequada dos estoques de ferro, causada pela diminuio na concentrao de ceruloplasmina circulante, a maior protena que contm ferro no plasma; toxicidade por drogas (cloranfenicol) ou qumicos (chumbo), pois estes agentes bloqueiam a sntese do heme, formando eritrcitos microcticos. Na tabela 4.1. est representada a classificao morfolgica das anemias. TABELA 4.1. Classificao morfolgica das anemias VCM CHCM CaractersticasHIPOCRMICA MACROCTICA NORMOCRMICA Sempre regenerativas Perda aguda de sangue/anemia hemoltica aguda Anemias no regenerativas (diminuio do CHCM ainda no est presente) Def. c. flico, FeLV (sem nenhuma reticulocitose), eritroleucemia, def. Vitamina B12 Deficincia de Ferro por perda: - Perda crnica de sangue: tumores, lceras. - Parasitas: Ancylostoma, Haemonchus Deficincia de ferro por fatores que atuam no seu uso - Piridoxina, riboflavina, cobre Doena crnica Hemorragia e hemlises aguda - sem tempo para a resposta, def. de ferro (antes de predominar micrcitos), inflamao e neoplasias crnicas, def. endcrinas, aplasia eritride seletiva, hipoplasia e aplasia da medula ssea, intoxicao por chumbo, pode no estar anmico

MICROCTICA

HIPOCRMICA

MICROCTICA

NORMOCRMICA

NORMOCTICA

NORMOCRMICA

D. Classificao baseada na resposta medular A eritropoiese regulada pela eritropoietina, que produzida primariamente pelos rins em resposta a hipxia tecidual. A sntese de eritropoietina inversamente proporcional massa de eritrcitos e concentrao de hemoglobina. A eritropoiese estimulada pelo recrutamento de clulas progenitoras, mitose acelerada e maturao de clulas eritrides e rpida entrada de reticulcitos ou clulas jovens para a circulao. A liberao de grandes reticulcitos (estresse) no sangue pode estar acompanhada pela liberao de um pequeno nmero de clulas vermelhas nucleadas. Baseado na resposta eritropoitica medular evidente no sangue perifrico, as anemias podem ser classificadas como regenerativas ou arregenerativas. Esta til na diferenciao de perda sanginea e anemias hemolticas (geralmente regenerativas) de anemias por depresso (arregenerativas) (tabela 4.2). Na anemia regenerativa o eritrograma apresenta elementos que revelam regenerao ou resposta medular, que so: reticulocitose, anisocitose e policromasia, podendo encontrar-se, muitas vezes, presena de metarrubrcitos, principalmente no co e no gato e corpsculos de Howell-Jolly. So necessrios dois a trs dias para uma resposta regenerativa tornar-se evidente no sangue. A anemia arregenerativa, por sua vez, causada por leses na medula ssea ou ausncia de elementos necessrios para a produo de eritrcitos. Este tipo de anemia apresenta curso clnico crnico e incio lento, acompanhada de neutropenia e trombocitopenia. Pode ser causada por eritropoiese reduzida (medula ssea hipoproliferativa), na ausncia de eritropoietina (insuficincia renal crnica), na doena endcrina (hipoadrenocorticismo, hiperestrogenismo, hipoandrogenismo), na inflamao crnica, leso

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txica da medula (radiao, qumicos, intoxicao por samambaia, infeco por vrus e ricketsias como a Ehrlichia canis). So anemias normocticas normocrmicas. Na anemia arregenerativa no existem reticulcitos e nem policromasia. TABELA 4.2. Classificao das anemias quanto resposta medular REGENERATIVA ARREGENERATIVA - Perda sangunea Traumas ou cirurgias Intoxicao por dicumarol CID - Hemlise Hemoparasitas Anemia auto-imune Reao transfusional Doena renal crnica Neoplasias crnicas e/ou metastticas Leucemias Erlichiose: destroem cel. pluripotencial Panleucopenia felina Hiperestrogenismo Hipoadrenocorticismo Hipoandrogenismo Linfossarcoma

4. 3. Policitemias o aumento do nmero de eritrcitos circulantes acima dos valores normais. Est classificada em policitemia absoluta (primria ou secundria) e relativa. Quando o hematcrito alcana 60%, suspeita-se de policitemia absoluta ou relativa. Quando alcana 70%, suspeita-se de policitemia primria. A. Policitemia Absoluta Ocorre uma elevao do nmero de eritrcitos circulantes, causado pelo aumento da massa total de eritrcitos, mas a concentrao de protena plasmtica est normal. A cianose e a congesto caractersticas das membranas mucosas so causadas pelo fluxo lento de sangue desoxigenado que exorbitantemente rico em clulas vermelhas. O excesso de massa de eritrcitos aumenta a viscosidade sangnea e a resistncia vascular pulmonar e diminui o dbito cardaco. Estas anormalidades levam a um fluxo sangneo reduzido, oxigenao tecidual reduzida, distrbios neurolgicos e aumento do risco de trombose. A viscosidade sangnea e o grau de transporte de oxignio alteram-se desproporcionalmente com aumentos do hematcrito acima de 50%. A policitemia absoluta est classificada em primria e secundria. A policitemia primria, verdadeira ou Vera consiste em uma desordem mieloproliferativa, caracterizada por uma proliferao anormal das clulas eritrides, dos leuccitos e dos megacaricitos, levando a um aumento absoluto da massa de eritrcitos, contagem de leuccitos e de plaquetas. A policitemia secundria ocorre pelo aumento da taxa de eritropoietina, no acompanhada de aumento nas contagens de leuccitos e plaquetas nem de reduo significante no volume plasmtico. Os nveis de eritropoietina aumentam como uma resposta fisiolgica compensatria pelos rins hipxia tecidual, ou como resultado de produo autnoma independente de suprimento de oxignio tecidual. vista em animais levados a grandes altitudes, doena cardaca e pulmonar crnica, tetralogia de Fallot (provoca mistura dos sangues arterial e venoso, diminuindo a oxigenao dos tecidos). Pode ocorrer tambm devido elaborao inadequada de eritropoietina, encontrada em alguns casos de hidronefrose, cistos renais, tumores secretantes de eritropoietina (nefroma embrionrio) e certas doenas endcrinas como o hiperadrenocorticismo. B. Policitemia Relativa comumente encontrada nos animais como resultado da reduo do volume plasmtico causado pela desidratao. O consumo hdrico, por animais enfermos, geralmente inadequado para manter o contedo de gua corporal normal. Doenas acompanhadas por excessiva perda de gua (diarria, vmito, poliria) podem rapidamente produzir desidratao.

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A hemoconcentrao aumenta o hematcrito e a protena plasmtica devido diminuio do volume de plasma. A policitemia relativa ocorre em animais facilmente excitveis, como certas raas de ces e cavalos, tendo como resultado o aumento da massa de eritrcitos na circulao devido contrao esplnica. A contrao esplnica tambm pode ocorrer em condies de severa dor, como por exemplo, na sndrome clica. Os testes laboratoriais para se estabelecer o diagnstico do tipo de policitemia so a determinao da PO2 arterial e a mensurao da eritropoietina no soro. Na vigncia de policitemia secundria, a PO2 estar reduzida e a eritropoietina aumentada; quando se trata de uma policitemia primria, a PO2 estar normal, enquanto que a eritropoietina poder encontrar-se diminuda ou normal; em ocorrncia de policitemia relativa, todos os parmetros encontram-se dentro da normalidade.

ROTEIRO DE AULA PRTICA N. 4: Contagem de hemcias4. 4. Modificaes eritrocitriasTamanho Anisocitose: diferena patolgica de tamanho das hemcias. Quanto mais grave a anemia, maior a ocorrncia de anisocitose. Macrocitose: predominncia de hemcias grandes. Geralmente hemcias jovens, recm produzidas. Ocorrem nas reticulocitoses, hipertireoidismo, deficincia de fatores de multiplicao (vit. B12, cido flico e cobalto), em ces da raa poodle, mas sem anemia e ces jovens. Microcitose: predominncia de hemcias pequenas. Ocorre em anemia crnica, principalmente ferropriva. fisiolgica em animais idosos e ces da raa Akita. Forma Bicncava: normal. Poiquilcitos: so alteraes morfolgicas indistintas da forma das hemcias. Outras alteraes das hemcias Corpsculos de Howell-Jolly: incluses esfricas de restos celulares. Consiste em uma resposta da medula ssea ao estado anmico, funo esplnica reduzida, uso de glicocorticides em ces. Metarrubrcitos: eritrcitos imaturos nucleados. Indicam anemia regenerativa, doenas mieloproliferativas ou hemangiossarcomas. Corpsculos de Heinz: estruturas redondas na membrana interna do eritrcito, devido desnaturao oxidativa da hemoglobina. Normal em felinos at 50%; incomum em ces, mas pode ocorrer em esplenectomizados e sob uso de glicocorticides. Reticulcitos: Eritrcitos em 25% final de hemoglobinizao, cujas organelas (ribossomos, RNA, etc) so vistos em sangue fresco com auxlio de colorao supravital. Representam hemcias jovens e indicam boa reposta medular. Ponteado basoflico: hemcias que apresentam pequenos pontos basoflicos no citoplasma (RNA residual). Ocorre em intensa eritropoiese, intoxicao por chumbo quando acompanhada de metarrubrcitos sem anemia e nas anemias em bovinos e ovinos. Rouleaux: hemcias empilhadas. Ocorrncia normal em eqinos sadios, desidratao ou inflamao nas demais espcies. Em eqinos severamente anmicos ou caquticos, pode estar ausente. Em ruminantes, raro, tanto em animais sadios quanto em doentes. Aglutinao: aglomerao espontnea dos eritrcitos. Ocorrem em doenas auto-imunes ou transfuses incompatveis, devido presena de anticorpos contra hemcias. Parasitas: podem ocorrer dentro dos eritrcitos ou na superfcie da clula. Os mais comumente encontrados so: Haemobartonella felis, H. canis, Anaplasma marginalis, Babesia equi, B. caballi, B. canis, Eperythrozoon suis e Cytauxzoon felis. Alteraes de forma, cor, tamanho, incluses, corpsculos e hemoparasitas esto ilustrados na figura 4.2.

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1. Policromasia

2. Hipocromia

3. Esfercito

4. Crenao

5. Reticulcito

6. Rouleaux

7. Heinz

8. Howell - Jolly

9.

Metarrubrcito

10. Babesia canis

11. Anaplasma sp

12.Micoplasma haemofelis

13. Lentz

14. Microfilria

FIGURA 4.2. Diferentes formas e incluses em eritrcitos.

4. 5. Concentrao de HemoglobinaO mtodo mais usado para determinar a concentrao de hemoglobina o cianometahemoglobina, onde a margem de erro est prxima dos 5%. Para que esta tcnica seja realizada, necessrio um fotocolormetro ou espectrofotmetro. Aparelhos automticos medem diretamente a densidade tica da oxi-hemoglobina, sendo bastante utilizados. Outro mtodo existente o da hematina cida, bastante simples e barato, porm a margem de erro est dentro dos 12%. Para a sua realizao utiliza-se o hemoglobinmetro de Sahli. A hemoglobina corresponde, em mdia, a 1/3 do hematcrito.

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4. 6. Determinao de hemoglobinaMtodo Cianometa-hemoglobina Princpio: diluio do sangue em soluo contendo cianeto de potssio e ferrocianeto de potssio (Reativo de Drabkin), que convertem a hemoglobina em cianometahemoglobina. Soluo de Drabkin: Ferrocianeto de Potssio (20mg), Cianeto de Potssio (50mg) e gua (destilada ou deionizada) 1000mL. Mtodo: Tomar o frasco com sangue mais anticoagulante e homogeneizar; Preencher pipeta de Sahli com 20L do sangue; Limpar o sangue da parte externa da pipeta com gaze, adicionar a 4mL de reativo de Drabkin e agitar por inverso; Repousar por um mnimo de 10 minutos temperatura ambiente; Ler em espectrofotmetro a 546 nanmetros, usando-se tubos especficos; Obtm-se o resultado visualmente no aparelho na unidade de g%.

4. 7. Determinao do nmero total de hemciasA contagem de eritrcitos pode ser feita por hemocitmetro, mas tem valor limitado em virtude da grande possibilidade de erros. A contagem por contadores automticos permite valores mais exatos. A diluio para contagem de hemcias pode ser feita utilizando-se apenas soluo fisiolgica (0,9% NaCl). No entanto, para facilitar a visualizao das hemcias pode-se utilizar os seguintes diluentes: Diluente de Marcano Sulfato de sdio Formol 40% gua destilada q.s.p. 50g 10mL 1000mL Diluente de Gower (+ usado em ruminantes) Sulfato de sdio cido actico glacial gua destilada q.s.p. 12,5g 33,3mL 200mL

Contagem do total de hemcias Tomar o frasco com sangue mais anticoagulante e homogeneizar; Com a pipeta de Thoma para glbulos vermelhos aspirar o sangue at a marca 0,5; Limpar o sangue da parte externa da pipeta com gaze; Diluir em seguida com soluo fisiolgica at a marca 101; Agitar, desprezar as primeiras gotas e encher a cmara de Neubauer por capilaridade; Contar as hemcias de cinco quadrados mdios (figura 4.3), multiplicar o resultado por 10.000/l.

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FIGURA 4.3. Esquema da cmara de Newbauer para contagem de hemcias. Utilize a rea central para contar as hemcias na sua aula prtica, escrevendo os respectivos nmeros das contagens parciais nos respectivos quadrados.Clculo da Cmara de Newbauer para contagem de hemcias rea central: 1mm2

Volume da rea central: 1/10mm3 Volume de cada quadrado mdio central: 1/250mm3 Nmeros de quadrados mdios centrais contados: 5 x 1 200 = 5 50.000 = 1 10.000 Ou seja, o fator x 10.000 5 2503

Profundidade: 1/10mm Diluio da pipeta: 1/200 Portanto:

Observao: 1l = 1mm

TABELA 4.3. Locais de puno para medula ssea nas espcies Espcie Local de colheita Conteno Sedao e / ou anestesia Crista ilaca Ces e gatos Antissepcia local Fossa trocantrica femural Decbito lateral mero proximal Sedao e / ou anestesia Esterno Bovinos e eqinos Antissepcia local Costela Decbito lateral ou Estao

4. 8. Atividade extra: medula sseaA colheita, anlise e interpretao da medula ssea nos animais domsticos constitui etapa fundamental da avaliao no apenas da srie eritrocitria, mas tambm das sries

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leucocitria e plaquetria 3. Os locais de puno encontram-se na tabela 4.3. Tcnica de puno Introduzir a agulha rotacionando-a at que esta esteja firmemente fixada ao osso; Inserir a seringa de 20mL molhada com EDTA 3% na agulha e aspirar a medula ssea. Um volume total de 0,5 a 1,0mL suficiente para adequada avaliao; Soltar o mbulo da seringa assim que surgir medula ssea no interior da mesma; A medula ssea possui gotculas de gordura que facilitam sua identificao. A aspirao de maior quantidade de medula pode diluir a amostra (hemodiluio). Confeccionar imediatamente cinco esfregaos e usar corantes de rotina; Caso seja necessrio, colocar material medular em placa de Petri, e com auxlio do capilar de microhematcrito, recolher os grumos medulares para a confeco dos esfregaos. A vantagem deste processo uma correta avaliao nos casos de suspeita de hipoplasia ou aplasia medular.

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Verifique antes se o uso de animais para esta aula possui aprovao no Comit de tica da sua Instituio.

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PARTE 5: LEUCOGRAMA IOs leuccitos ou glbulos brancos so clulas produzidas na medula ssea que fazem parte do sangue juntamente com os eritrcitos e as plaquetas. Os leuccitos so produzidos na medula ssea a partir de uma clula pluripotencial, tambm chamada clula-tronco ou stem cell que vai repopular a medula ssea. A capacidade proliferativa da clula-tronco depende de estmulos apropriados de hormnios estimuladores da leucopoiese.

5. 1. Classificao dos leuccitosOs leuccitos ou glbulos brancos so classificados como polimorfonucleares e mononucleares. Os leuccitos polimorfonucleares tm ncleo condensado e segmentado. So clulas comumente referidas como granulcitos porque contm grande nmero de grnulos citoplasmticos que so lisossomas, contendo enzimas hidrolticas, agentes antibacterianos e outros compostos. Os grnulos presentes no citoplasma dos neutrfilos so grnulos primrios e secundrios. Os grnulos primrios so sintetizados no citoplasma do mieloblasto ou no pr-mielcito precoce. Os grnulos secundrios aparecem no estgio de mielcitos. Trs tipos de granulcitos (neutrfilos, eosinfilos e basfilos) so identificados pelas caractersticas de colorao de seus grnulos secundrios. Os leuccitos mononucleares no sangue so classificados como linfcitos e moncitos. Estas clulas no so destitudas de grnulos, mas certamente tm menor nmero de grnulos citoplasmticos que os granulcitos.

5. 2. GranulopoieseA granulopoiese ou granulocitopoiese envolve a produo de neutrfilos, eosinfilos e basfilos, atravs de um processo ordenado. O tradicional conceito de granulopoiese determina a formao de neutrfilos, eosinfilos e basfilos com origem em um precursor celular, o pr-mielcito. Recentes estudos, no entanto, tm demonstrado que cada um destes trs tipos de granulcitos possui um pr-mielcito jovem especfico e com caractersticas ultra-estruturais e citoqumicas prprias. Na medula ssea, sob estmulos apropriados, a clula pluripotencial origina clulas progenitoras confinadas que produzem os vrios granulcitos. Esta clula com potencial de produo de neutrfilos e moncitos conhecida como Unidade Formadora de Colnia Granuloctica-Monoctica (UFC-GM), pois em seu estgio inicial bipotencial. Em seguida, sob estmulo apropriado, a UFC-GM diferencia-se em clulas unipotenciais, UFC-G e UFCM. Similarmente h tambm a existncia de progenitores celulares distintos para eosinfilos (UFC-Eos) e basfilos (UFC-Bas). As clulas unipotenciais so morfologicamente identificveis e so precursores conhecidos como mieloblastos, que se dividem, diferenciam-se e maturam-se nos granulcitos sanguneos especficos.

5. 3. Regulao da granulopoieseO nmero de leuccitos especficos que adentram e deixam o sangue mantido constante mediante diversos mecanismos e condies, ver tabela 5.1.: TABELA 5.1. Estimuladores e inibidores da granulopoieseProcesso Granulopoiese Estimuladores UFC-GM, UFC-G Granulopoietina Linfocinas (IL-3) Eosinofilopoietina Basofilopoietina Interleucina - Interferon Inibidores Fator inibidor de Colnia Lactoferrina, Transferrinas Certas linfocinas PGE1 e PGE2 Fator esplnico Ferro em diferentes quantias Corticide

Linfopoiese

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5. 4. Granulocintica a informao quantitativa sobre a produo de granulcitos na medula ssea e suas fases intravascular e tecidual. Em estudos dos granulcitos, no sangue e medula ssea, marcados com radioistopos, foi possvel determinar os compartimentos dos neutrfilos em humanos. Tambm alguns estudos foram realizados em animais. Trs compartimentos funcionais de granulcitos so reconhecidos na medula ssea: 1. Compartimento proliferativo ou mittico, consistindo de mieloblastos, pr-mielcitos e mielcitos; 2. Com