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Hanging By A Name O FIM NOTICIAS . DISCOS . CONCERTOS . FOTO REPORTAGENS . . ANIMAÇÃO . OPINIÃO ABRIL 2010 Nº0, MENSAL GRATUITO ENTREVISTAS: Diabo Na Cruz Zootek Mundo Cão The Fox Micro Audio Waves António Manuel Almeida "Portugal Rebelde"

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Hanging By A NameO FIM

NOTICIAS . DISCOS . CONCERTOS . FOTO REPORTAGENS .. ANIMAÇÃO . OPINIÃO

ABRIL 2010 Nº0, MENSAL GRATUITO

ENTREVISTAS:Diabo Na CruzZootekMundo CãoThe FoxMicro Audio WavesAntónio ManuelAlmeida"Portugal Rebelde"

índice04 : crónica Carlos Montês

05 : notícias

07 : crónica Cláudio Alves

08 : The Fox

11 : Mundo Cão

12 : Zootek

14 : Diabo Na Cruz

16 : crónica Hugo Guerreiro

17 : Hanging by a name

21 : Portugal Rebelde

22 : Micro Aundio Waves

24 : críticas/discos

27 : aovivoReportagem

33 : crónica Pedro Chagas

34 : zootrópio

35 : crónica Davide Lobão

Ficha Técnica:

MARSUPIAL webzinehttp://[email protected]

Director:Jorge Resende

Edição e Design:Kaamuz

Fotografia:Ana LobãoManuel Portugal

Revisão de Textos:Paula Oliveira

Colaboradores:Carlos MontêsCláudio Vieira AlvesDavide LobãoDiogo CostaEmmanuel OliveiraHélio MoraisHugo GuerreiroMário FernandesNuno SilvaPaula OliveiraPedro Chagas FreitasTiago Esteves

BD:Manu

Editorial -Jorge ResendeEste deveria ser o editorial de apresentação deste novo projecto,no entanto, como ainda estamos a tentar perceber que projectoé este, fica para outra altura. Não que andemos aqui perdidos,sabemos bem o que queremos, mas porque acabamos de nascere estamos ainda um pouco confusos com tudo o que nos surgiude repente. Neste momento estamos ainda a abrir os olhos etudo é novo, tudo é brilhante, tudo é entusiasmante. A ideiaestá lá, bem no fundo ainda, e pronta para ser descoberta,explorada, experimentada. Vamos com calma e com algumapaciência, dando um passo de cada vez. Para já temos nome,Marsupial, e temos uma cara da qual nos orgulhamos muito.

Está cá fora e pronta para ser lida edevorada, por todos.

Agora esperamos sugestões, ideias ecartas de amor... Sejam bem-vindos edivirtam-se!

(@)Tira Manu por Manu

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Do Chinês, Makongo, Men Eater, Miss Lava,Mundo Cão, New Max, Oioai, Old Jerusalem,One Hundred Steps, OquesStrada, OsGolpes, Os Tornados, Pitch Black, Plastica,Prayers Of Sanity, Process Of Guilt,R.A.M.P., Revolta, Samuel Úria, Sean Riley& The Slowriders, Skewer, Switchtense,Taxi, The Legendary Tigerman, TheWeatherman, Virgem Suta, Xeg, Xutos &Pontapés, entre tantos outros… Surgiu ainiciativa Optimus Discos [!]. Festivais econcertos foram muitos (…).

No entanto, e apesar desta abundância,nota-se que os portugueses ainda têmmuito “medo” da música portuguesa.Alguns enaltecem a produção nacional,alguns ouvem-na mas poucos a consomemcomo deveria ser. E já nem falo em comprarCDs, existem tantas alternativas, falo emconsumir música portuguesa no sentidolato. Há concertos para ver, bandas paraapoiar e divulgar, infra-estruturas paracriar e visitar, tanta coisa...

Existem muitos projectos espalhados pelaInternet que fazem mais do que a suaobrigação, muitos espaços divulgam amúsica portuguesa, muitos paísesestrangeiros dirigem rasgados elogios àmúsica portuguesa, mas muitos de nósparecem estar cegos, ou melhor dizendo,surdos. Deveria haver mais apoio à músicaportuguesa: abrirem-se espaços para oensaio (estádio do Braga, por exemplo),mais palcos para se tocar música e maisprogramas de rádio deveriam apoiar amúsica portuguesa pela sua qualidade,não pelo facto de isso ser imposto (apropósito da lei dos 25% de músicanacional nas rádios), apesar de isso ter osseus resultados positivos. Até o estado,que tem um ministério da cultura, deveriaactuar nesse sentido, talvez aí o ouvintecomum conseguiria ter acesso à boa música

Check-upà Música Portuguesawww.ruido-alternativo.blogspot.comcarlos.dsm@hotmail.com

Por Carlos Montês

Mais um ano que passou, mais um anocheio de música. O tempo passa e estamosmais velhos... e continuamos teimosos.

Afinal quando é que olhamos para a músicaportuguesa tal como olhamos para aimportada, sem preconceitos? Estapergunta já foi inúmeras vezes referidapor muito boa gente mas não deixo de acolocar.

2009, a par de anos anteriores, foi umano de muita música nacional, de muitosconcertos e festivais em terras lusas.Sabemos que a “era do download” temafectado, e muito, a indústria da produçãoe da edição musical, mas a música nuncadeixou de ser cultura e a cultura nuncadeixou de ser consumida.

Chamam de “crise da indústria discográficaportuguesa” a tudo o que não vende, eisso, actualmente, está errado. Senãocomo teríamos tantas bandas em Portugalque vão (sobre)vivendo? Como poderíamosreceber tais grandiosos festivais?

Para além de ter sido o ano dascomemorações dos 30 anos de carreirados Xutos & Pontapés - que tiveram deser persistentes durante muito tempo paraverem a sua obra reconhecida.Musicalmente falando, e crises aparte (aeconómica e a da indústria musicalportuguesa, sendo que a primeira temefeitos na segunda), este ano houve emPortugal álbuns, bandas, regressos,revelações, surpresas e afirmações: AJigsaw, Aquaparque, B. Fachada, BizarraLocomotiva, Blasted Mechanism, Born ALion, Carminho, David Fonseca, Dawnrider,Doismileoito, Dollar Llama, Dr.Estranhoamor, Flow 212, Gazua, Gomo,Ho-Chi-Minh, Hoje, João Só EAbandonados, Komodo Wagon, Macacos

3… 2… 1… Adeus 2009, olá 2010!

portuguesa com menos “trabalho”.Não há dinheiro para cultura?Arranjei ideias, porque com poucodinheiro também se faz muita coisa.Mas deixemos este assunto parauma outra altura.

Espero pelo dia em que todospossamos dizer, sem medo, queouvimos música portuguesa,independentemente de serinterpretada em português, inglêsou chinês, se é ou não fado, heavymetal, música clássica ouelectrónica. Temos músicos tão bonscomo os melhores do estrangeiro,temos músicos tão maus como osque há no resto do mundo. A músicaé universal, não de país x ou y. Deveser ouvida e não refutada.

2009 foi um ano em cheio. Hámúsica em Portugal! A músicanacional respira bem, vive, está deboa saúde e recomenda-se. Apenasprecisa de um check-up de todosnós.

Uni_Form prestes a editaro primeiro álbum

Já está disponível para audição o single “Shadows”, que antecipaaquele que será o primeiro longa duração dos Uni_Form. Oreferido álbum de estreia chamar-se-á “Mirrors”, foi misturadoe masterizado por Woman In Panic e verá a luz do dia muito embreve. A par disso, estão a terminar também as gravações dovídeoclip para “Shadows”.

rocker Boz Boorer, no seu estúdio Serra Vista em Monchique, oqual participou ainda nos coros, tocou guitarra, percussões esaxofone. Está também já disponível o vídeo que acompanha oprimeiro single “Where Am I? Where Are You?” no canal da bandano youtube.

O Quarto Álbum dos BunnyranchJá Está Nas Lojas

Os Bunnyrancheditaram emFevereiro desteano um novotrabalho, o quartolonga duração dabanda de nome“If You Missed TheLast Train”.O mesmo éconstituído por 10novos temas e foigravado emisturado emapenas 9 diaspelo lendário

Os Melancholic Youth OfJesus, projecto dedestaque dos anos 90,voltou ao activo.Actualmente a viver emLondres, Carlos Santos,vocalista e mentor doprojecto está a reformularos MYOJ, processo que jáconta com nomes comoFrancis Mann (Ex-Xutos &Pontapés / Ravel) e PedroSolaris (Diva) nasguitarras, e Paulo Castro(Ex-Ritual Tejo e Quintado Bill) nas teclas. Umnovo trabalho está já nafase de pré-produção, terácomo título “Slow Motion”e tem edição prevista para1 de Julho. Prevista estátambém uma tour porPortugal.

Melancholic Youth Of Jesus VoltamAo Activo

2010 será o ano da edição do sucessor do aclamado “40.02”,álbum de estreia dos bracarenses peixe:avião. Neste momentoa banda encontra-se no processo de finalização de misturas eselecção de alinhamento dos 14 temas que gravaram. Este novotrabalho terá como título “Madrugada” e foi gravado e co-produzidonos estúdios Valentim de Carvalho por Nélson Carvalho. O primeirosingle será apresentado ainda antes do verão, e o álbum temedição prevista para Setembro.

Anunciado o sucessor de “40.02”dos peixe:avião

Vivemos numa era realmente louca onde a informação corre a uma velocidade alucinante.Cada vez é mais difícil criar algo original ou que capte a atenção das pessoas. Os Drillsabem disso muito bem, no entanto, desafiam o destino e tentam acompanhar a eramoderna. Depois do EP lançado em 2009, eles têm novo trabalho, desta vez em formatoálbum, e que será lançado durante o ano de 2010. Em cada mês será lançada uma música,será por isso, um “álbum em construção” para saborear faixa a faixa. Uma ideia interessante!Os três primeiros temas estão já disponíveis para download em http://drill.bandcamp.com/

Os Drill Lançam Primeiro Álbum Durante 2010

Há já muito tempo que o mercado da

música popular portuguesa se encontrava

fechado em si mesmo. O retrato da música

nacional era polarizado e a imagem deste

alternava apenas entre dois estados: uma

espécie de promiscuidade criativa; políticas

castradoras de talento. Ou seja, ou existia

o monopólio dos mesmos músicos, mesmas

produtoras e os mesmos protagonistas em

curto-circuito, ou aparições tímidas, aqui

e ali, afastadas de um grande público de

consumo e impossibilitadas de se

demarcarem de um primeiro EP caseiro.

A referência e tendência para o nosso

mercado local — diziam-nos os especialistas

— era o modelo discográfico das fracas

vendas a que lá fora assistíamos. A isto

juntavam e insistiam um só nome para o

grande culpado. Pirataria. A mesma que,

ainda hoje, é sinónimo da dificuldade em

se venderem discos. Sinónimo, claro, nas

mentes que só vêm a redução das vendas

onde a maioria espreita um aumento de

procura e consumo da música.

Ora com tudo isto toda uma geração

musical de adeptos de um pop-rock

português pautado por inovação — e cujo

sinal dos últimos fragmentos residia no

final inesperado dos Ornatos Violeta —

sofria e ansiava por novo alimento musical.

Os teimosos, ainda da explosão dos anos

80, que mantinham a sua produção musical

ou, por exemplo, os inventivos Clã já não

bastavam. Era urgente maior produção

nacional de música.

O deserto musical desaparece quando,

recentemente, qualquer coisa de

refrescante ocorre. A música portuguesa

volta a ocupar a sua posição dinamizadora

com a entrada em cena de algumas bandas

que se tornaram um fenómeno. Assuma-

se a qualidade criativa e ambiente sonoro

que, sustentadamente, Linda Martini,

peixe:avião, Mundo Cão, doismileoito, etc,

reúnem. Mas, assuma-se maior surpresa

quando, subitamente, confrontamo-nos

com um culto desenhado à volta de Tiago

Guillul, Os Pontos Negros, Samuel Úria,

Os Golpes, Diabo na Cruz e tantos outros.

Num curto espaço de tempo aparecem

uns desconhecidos que nos parecem de

origem clandestina. E damos por nós a

pensar: mas, como é que a estes tipos a

pirataria não destruíu o crescimento? E,

enquanto o pensamos, os ditos

especialistas ainda se interrogam quem

são eles.

O denominador comum destes diferentes

nomes — que nos aparecem seja nas

colectâneas ou festivais de verão, passando

pela rádio — traduz-se em evangelização,

associativismo religioso, clubismo, crença

num mesmo Deus — caramba! tanta

adjectivação para algo tão simplesmente

traduzido no português corrente como fé.

Mas sempre existiu? - pergunta o leitor

mais interrogativo. Decerto que sim. A

novidade está na sua união, através da

editora Flor Caveira

(http://florcaveira.blogspot.com/) ou

promotora Amor Fúria

(http://www.amorfuria.blogspot.com/),

que os transporta para o mercado onde

todos os outros, hereges, se encontram.

“Os Pontos Negros” não estarão muito

longe da qualidade dos antigos “A

Instituição” (banda dos anos 90 de Tiago

“Guillul” Cavaco) mas a sua promoção e

suporte é hoje diferente daquela que,

anteriormente, estava limitada a uma

pequena comunidade baptista. É colectiva.

Assente. Sólida. E pelo que se vê tudo isto

funciona. Isto porque não acredito que

eles sejam abençoados por Cristo — apesar

de, segundo a História, Cristo ter tido

cabelo comprido e só por isso podermos

afirmar ter sido um apaixonado por boa

música. O segredo é menos divino e, como

dizia o outro, está na massa. Nos

ingredientes mais básicos.

Em última análise, e a provocação é atirada

para fora da compreensão dos analistas

de mercado, o que move estas novas

bandas de rock é desconcertante na

filosofia comercial da indústria da música.

É imperceptível ao radar de negócios. Na

realidade o que os move(u),

fundamentalmente, é uma necessidade de

levar a mensagem. Fazem-no afastados

A nova música portuguesaou Ou cristo tinha cabelos compridos por gostar de grunge?

Por Cláudio Vieira Alves

www.horasextraordinarias.wordpress.com/

dos números e da imposição de

vendas. E o desígnio, a

emergência de cumprir os sonhos,

é imbatível. Ironia das ironias,

um dos veículos para se vender

música popular portuguesa é

precisamente o meio anti-

comercial. Ainda, deste modo

colectivo, conseguiram ocupar

uma posição e ganhar um

mercado mais robusto para a sua

equipa (o seu catálogo de

músicos) do que teriam

conseguido para um nome

isolado.Generalizando, reparo que depois

de tantos anos regressamos a

este que foi, outrora, o grau zero

das indústrias discográficas. E na

volta, talvez interesse retornar

aos primeiros conceitos para deles

reerguer a indústria. Porque sim,

é possível vender discos num

mercado que afirmavam estar

saturado pela pirataria do mp3?

É possível conquistar pequenos

e grandes palcos alheados de um

marketing peganhento? Sim,

aparentemente, é possível

recrutar, ainda, entusiastas para

a nossa cultura musical.

É uma lição para promotoras e

editoras. E para os analistas. E

se não o é, devia.

Com o primeiro álbum nas bancas os THE FOX apresentam-se ao mundo. Hunting Grounds é um disco de originaisque apresenta uma edição cuidada bem longe das ediçõesplásticas a que o mercado nos habituou. Composto porThom de la Vega (voz e guitarra), Mick Jersey (bateria evoz) e Skell (baixo e voz) os THE FOX saem do anonimatoe aparecem cheios de vontade de dar concertos. Vamostentar saber quem são e em que terrenos de caça semovem.

The

FOX

Primeiro que tudo, quem são osTHE FOX?(MJ) Nós somos uma banda rock quepretende fazer música para ser ouvidapelo maior número de pessoas possível.Quando começámos fizemo-lo sobre oparadigma: se não for divertido, não érock’n’roll e é isso que procuramos manterpresente sempre que nos reunimos paratocar. E depois, de que serve estarmosvivos se não for para realizarmos os nossossonhos (?), é essa a missão desta banda:manter-nos agarrados à vida.(Thom) Os The Fox são uns tipos commuita sorte! A sério, quando eu e o Micknos juntámos para tocar há um ano e tal,dar concertos era algo que não prevíamos,quanto mais gravar um disco! Acho quefoi essa falta de pretensão que nos tornougenuínos na forma como nosapresentamos. Conseguimos fazer umpunhado de canções para nós semestarmos preocupados com o que vai serou se o público iria gostar. O Skell trouxea coesão de que a música precisava. Somosuma banda rock.

Vocês dizem-nos que de coraçãoaberto entregam asvossas canções.Que canções sãoestas?(MJ) A composição dascanções que integram oálbum Hunting Groundse as outras queapresentamos nos LiveActs foram feitas de umaforma bastante orgânica.O De La Vega trazia unsriffs de guitarra e umaspalavras e depois eucavalgava um beat sobretudo aquilo. Mais tarde,com a gravação do discoe com a chegada do Skellà banda tivemos todos quenos ajustar a novascadências e a umaroupagem digamos que umpouco mais construtivistados temas. Em resultado,as canções que entregamossão pedaços do nosso olharsobre sentimentos, viagens,mulheres e os prismas enviesados que porvezes preenchem o nosso mundo interno.(Thom) As canções começam na nossaessência. São aquilo que somos, o quequeremos ser, aquilo que sentimos... Nãohá contemplação da natureza ou domomento. Há pessoas. Há pedaços de vidacondensados em meia dúzia de versos.Há uma paixão com que cantamos e éessa paixão que tentamos transmitir.

Este álbum tem váriospormenores que podem parecerou arrojados ou extravagantes.Por exemplo: tem ilustrações deuma artista plástica, o package éde uma edição de luxo e amasterização foi feita pelo JohnAstley que como sabemostrabalhou com os Stones e comos Who para citarmos apenasalguns nomes. Porquê tudo isto?(MJ) Este disco resulta de um desafiolançado pela Cooperativa de Comunicaçãoe Cultura de Torres Vedras e, como tal,implicou uma certa dose deconceptualização do ponto de vista artístico.A Catarina Sobreiro, que é uma grandeamiga e uma mulher muito talentosa,

contribuiu com as ilustrações tendo ficadoo trabalho de packaging a cargo de umoutro bom e próximo amigo, o Neco. Julgoque o contributo de ambos foi decisivopara tornarmos o disco num objectoprecioso que podes manusear e preservarcomo testemunho do nosso trabalho. Noque respeita à participação do Jon Astley,resultou de umas trocas de e-mails quetivemos com ele, nas quais ele se revelouaberto a colaborar connosco, o que acaboupor acontecer com enorme profissionalismoe cuidado por parte da equipa do Close tothe Edge Studio. Estamos muito orgulhosospor nos terem dado a oportunidade de nosrodearmos de pessoas com tanta qualidadehumana e artística, aprendemos bastantecom todos eles, e isso foi uma parteextraordinária desta viagem.(Thom) Numa altura em que há cada vezmais desapego dos objectos, quisemosfazer algo que fosse agradável ao olhar eao toque.

Têm feito um grande esforço nadivulgação do álbum, tendo-oapresentado em diferentes locaisnum formato

quase totalmenteacústico. Como vêm as vossascanções neste novo formato?(MJ) A visibilidade da nossa música passamuito pelo esforço que enquanto bandaconseguirmos fazer para chegar às pessoas,aos promotores, às rádios, e esse é umtrabalho sistemático que temos de gerircom bastante persistência. A nossamanager, a Paulinha Oliveira, para alémde tomar conta de nós na estrada, temdesenvolvido e suportado essa estratégiade aproximação com os agentes da músicaque citei. O Neil Hannon, dos DivineComedy diz que uma canção só é umacanção quando é tocada para as pessoas.Não posso estar mais de acordo com ele.O que pretendemos é que o disco nãofique parado num escaparate de uma megaloja, por mais bonita que ela seja,queremos que seja assobiado, trauteadopor pessoas de carne e osso a caminhodos seus trabalhos, nos concertos e devolta a casa no fim da noite.Como costumamos dizer, o Folk’n’Roll nãoé um formato é uma questão deconsciência. Quando és convidado paratocar em pequenos espaços, em que aslimitações de decibéis são muitas, tens deser audacioso e procurar soluções, casocontrário, estás a impor à tua música uma

limitação desprovida de sentido. Adescoberta que fizemos das canções, aopreparar este espectáculo que andamos aapresentar nos Fóruns Fnac, foi muitoimportante para nós enquanto banda eenquanto instrumentistas. O rock’n’rollestá lá, mas também uma vertente folk,quase jazzy, despontou das canções e issofoi, mais uma vez, muito divertido de fazer.(Thom) Estávamos um pouco receososno início, sobretudo com o pouco tempoque tínhamos para nos adaptarmos a umformato que não é o nosso. Mas somosuma banda de canções e elas continuama ser as mesmas. Resultam extremamentebem.

Porquê essas alterações quandose assumem como uma bandarock que gosta de fazer barulho?(Skell) Na verdade foi por necessidadede adaptação a alguns espaços por ondevamos passar, onde a electricidade danossa música seria algo desconfortável.Mas foram feitas adaptações apaixonadasque nos estão a dar muito prazer tocar. Antes de se tornarem nas faixas do nosso álbum, as canções partiram todas de esboços em guitarra acústica, pelo que não foi difícil voltar ao esqueleto das mesmas e adaptá-las. (MJ) Somos uns gajos barulhentos, as nossas mães dizem-nos isso, os nossos amigos dizem- nos isso, os técnicos de som dizem- nos isso. Nós próprios gostamos de nos dizer isso. Mas, enfim, estamosa aprender que existe vida para além doruído, é quase como o défice, é precisotermos imaginação e tudo se resolve. Nãopodemos fazer barulho mas podemossempre despentear-nos.(Thom) Dizem de nós que somosalternativos e perspicazes... A questão éque tocamos mesmo muito alto ao vivo eia correr mal se o fizéssemos em espaçostão pequenos como os Fóruns Fnac, porexemplo. Então toca de pegar eminstrumentos acústicos e espremê-los comose não houvesse amanhã. É rock namesma, mas com menos decibéis.

Num país onde se defende cadavez mais que se deve cantar emportuguês a vossa opção é outra.Sentem que a vossa música nãocabe no mercado nacional?(Skell) Volta e meia há alguém que nosconfronta com essa questão. E eupergunto-me porque não nos colocam aquestão "…Porquê o Rock? …Porque nãoo Fado?... O Rock não é português…”.Ninguém faz essa pergunta. O Rock tornou-se universal. Tal como o Inglês. De certamaneira, estamos a ser mais conservadoresneste aspecto. Estamos a manter o rockjunto da sua língua mãe. Aplicar oportuguês no rock é explorar outras coisas.Nós simplesmente não vamos por aí. Mas

há quem vá e muito bem. Temos aliberdade de não o fazer. E usamos essaliberdade.(Thom) Os U2 cantam em inglês e vendemum ou dois discos em Portugal... Mas sim,há quem defenda que a música feita porportugueses deve ser cantada emportuguês. É bom saber que ainda hágente com ideais. O meu pai trabalhavafora de Portugal e fazia imensos filmes eminglês e francês, sem legendas. Cresci comisso e tenho imensa facilidade com essasduas línguas. Além disso, a minha dicçãoem português é péssima. Sempre que falocom alguém a resposta é “hã?” e tenhode repetir cada frase três vezes. Portanto,se tens algo a dizer o ideal é que a maiorparte das pessoas te entenda. Faço amúsica que quero da forma que me dámais prazer, não pelo que possa vender.(MJ) Essa questão nunca se colocou paranós, a língua reflecte uma visão do mundo,de um mundo, para o bem e para o mal,mais globalizado, em que o refúgio nobelicismo linguístico chega a serprovinciano. O Fernando Pessoa, que eraquem era, escreveu alguns textos eminglês e essa era a sua segunda língua,na qual se expressava frequentemente,não vejo ninguém preocupado com isso.Não me lembro de ver, por exemplo, aBjörk a ter de justificar porque é que nãocanta em islandês. Por vezes, fico com asensação que existem muitasreminiscências do Quinto Império a pairarsobre as nossas cabeças.O nosso mercado implica um grandeesforço de prospecção, divulgação e deconquista de promotores e público, coma nuance que se trata de um mercadopequeno, com uma capacidade reduzidapara absorver propostas estéticas como anossa. Mas queremos percorrer umcaminho que passa, é claro, por fazermostantos concertos quantos forem possíveisde realizar em Portugal, é aqui que estamose é por aqui que queremos começar. É

certo que existem contactos paraconseguirmos expandir a fronteira dedivulgação da nossa música e, apesar detodas as dificuldades que isso acarreta,não vamos desistir de o fazer. Comocantavam os Ramones, today your love,tomorrow the world.

E influências musicais? Quais são?(Thom) A minha maior influência são aspessoas. Gosto de observar. Gosto detentar ver o que está por trás da fachada.Às vezes imagino como um tipo qualquerreagiria numa determinada situação. Ésobre isso que escrevo. Quanto a música,posso dizer-te o que oiço em casa. VelvetUnderground, dEUS, Suede, Black RebelMotorcycle Club, Brian Jonestown Massacre,The Duke Spirit (a tocar neste momento), Electrelane, Pulp… A lista é enorme. Oiçomuitas coisas diferentes. Mistura tudo como que o Mick e o Skell ouvem (temosgostos bastante diferentes) e tens o somdos The Fox. Ou não...(Skell) Eu sou influenciado por toda amúsica. Tenho algumas inclinações maisfortes, mas deixo que tudo me atravesse,aproveitando o que não sai. Não forçonada e não tenho preconceitos de estilos.Gosto principalmente de toda a históriado Rock em todas as vertentes, e de Jazz.(MJ) Todos nós ouvimos bastante música,mas, apesar de partilharmos um núcleode bandas que gostamos, somos bastantediversificados nos nossos gostos e nainfluência que eles têm sobre aquilo quefazemos. Eu ando a tentar libertar-me dosThe Beatles há já algum tempo, mas,confesso, não tenho sido muito bemsucedido. Outras coisas que me tiram dosério são por exemplo os VelvetUnderground, Sonic Youth, Pixies, TheStrokes e claro, a M.I.A., não,necessariamente, por esta ordem. Seinfluenciam a minha forma de tocar, ou amúsica que fazemos, enquanto banda

nunca fomos à procura de ser reflexo dos nossos gostos pessoais,pois parece-me que isso teria tanto denarcisista quanto de masoquismo precocee mal concebido.

Nesta fase conseguemperspectivar o futuro?(Thom) Estamos no início. É difíciladivinhar o que está por vir. E é difícil nãopassar despercebido no meio de tantacoisa... Para já saboreamos o que temose trabalhamos no sentido de divulgar oHunting Grounds o mais que pudermos.(MJ) Acima de tudo acreditamos todos nacerteza das possibilidades que se abremdaqui para a frente. O Ortega y Gassetdizia que um homem nunca é somente umhomem, é um homem mais as suascircunstâncias. E é isso que procuraremosfazer, viver cada uma das nossascircunstâncias com a intensidade necessáriapara retirar deste percurso uma lembrançapara a vida que há-de vir. É isto eRock’n’Roll.

Para fechar uma última pergunta.Qual é a vossa personagem debanda desenhada preferida?(Skell) Corto Maltese (de Hugo Pratt),Axle Munshine, o vagabundo dos limbos(Godard/Ribera), e o Major Grubert(Möebius).(MJ) A Mulher Elástica, sempre me deuvontade de me esticar.(Thom) O Col. Olrik, do Blake andMortimer. Espião, mercenário e aventureiro,sempre diabólico. Tem pinta.

Entrevista realizada por [email protected]

Não são necessárias muitaspalavras para apresentar ossenhores que se seguem.Editaram no ano que agoraterminou o segundo álbum “AGeração Da Matilha”, que acabapor ser a confirmação de que osMundo Cão são uma das grandesbandas rock actuais, caso aindahouvessem dúvidas. Depois deum ano em cheio, é altura de parare carregar baterias, ainda assimMiguel Pedro – bateria e teclados– teve tempo e paciência pararesponder a algumas perguntasque a MARSUPIAL lhe tinhapara fazer.

Para quem ainda não sabe a vossahistória, quando e como seformaram os Mundo Cão?Em finais de 2000, eu convidei o PedroLaginha (que já conhecia do teledisco dosMão Morta “Cão da Morte” e de o ter ouvidonuma maqueta dos “The Spleen”) a entrarnuma aventura musical. Ele aceitou. Depoisconvidámos os músicos que gostamos econsideramos adequados e assimnascemos... o resto já faz parte da nossahistória.

Contaram com a ajuda de umgrande nome da música nacional,o Adolfo Luxúria Canibal. Até queponto foi importante essa ajudapara o vosso crescimentoenquanto banda e que tipos de“ensinamentos” receberam daparte dele?Não é uma questão de ensinamento.Tratou-se de escolher um letrista que seadequasse à banda e em cujo universoliterário e temático nos revemos. O Adolfofoi uma excelente “contratação” e acaboumesmo por dar o nome à banda.

Sei que as letras são do AdolfoLuxúria Canibal e do Valter HugoMãe. Elas são criadas pelosautores com a finalidade de seremincluídas nas músicas dos MundoCão, ou vocês escolhem textosque gostariam de incluir nasvossas composições?Primeiro vem a música, depois é que vema letra... a letra é escrava da música.

Cerca de 8 anos passados, desdea vossa formação, dois álbuns,

muitos concertos, um globo deouro... Como se sentem nestemomento em relação a tudo isto,ao vosso percurso e à vossaafirmação no panorama musicalnacional?Sentimo-nos felizes por termos feitomúsicas que nos dão muito gosto tocar ecantar, por sermos uma grande família,por termos conseguido muito emrelativamente pouco tempo, por termosmuita gente que nos segue e para quema nossa música representa algo. Enfim,foi um bom começo...

Sobre o “A Geração da Matilha”,como tem corrido as coisas como disco? Parece-me ter sido muitobem recebido...Sim, correu bem, apesar de algunsatropelos de uma grande cadeia de lojasde discos, que deixou de repor o disco,após o mesmo esgotar... enfim...

Existe uma linhagem musicalmuito própria nestes dois álbuns,é algo que vão manter no futuro,ou pensam fazer algo diferente?Dizer que vamos fazer algo diferente é umcliché, por isso vou dizê-lo: vamos tentarfazer algo diferente.

Neste momento existe como queuma revolução musical, ondeimpera a confusão e a incerteza,em relação a direitos de autor,internet, pirataria... Qual é a vossaopinião em relação a tudo isso?A verdade é que somos um bocado “baldas”relativamente a essas matérias.

Uma banda como os Mundo Cão,consegue sobreviver apenas coma venda dos discos?Claro que não.

Vocês vivem da música? Ou, paraalém da música têm empregos"normais"?Um músico é um trabalho “normal”... Mas,a verdade é que só o Budda é que sededica à música. No entanto, e apesar deser um guitarrista muito bom e versátil,também tem que dar umas aulas deguitarra.

Muita gente diz que é difícil teruma carreira musical em Portugal.Concordam com esta ideia?Sim, é difícil. Pelo menos para o tipo demúsica que fazemos.

Quais são as vossas principaisinfluências?Vão desde Johann Sebatian Bach até àmúsica de feira.

Bem, e agora, quais os planos parao futuro?Descansar um bocado, fazer algunsconcertos e prepararmo-nos para, em finaisde 2010, ter um trabalho novo cá fora.

Para terminar, qual é a vossapersonagem preferida de bandadesenhada?A minha é o Homem-Aranha… e o Batman.

MundoCão

Jorge Resende

Porquê o nome ZooTEK? Comosurgiu este nome?O nome surgiu da cabeça do nosso baixista,o Elmano. O nome inicial da banda eraNail, mas parecia algo genérico demais eprovavelmente já existia outra banda como mesmo nome. ZooTEK pareceu-nos ideal.Começa com “Z”, mistura pólos opostos,o lado mais animal (zoo) e um lado maistecnológico (tech). Transmite bem o quesomos e o que fazemos.

Quem são os ZooTEK?Quatro maduros que querem tocar e ouviralgo diferente do que haviam tocado eouvido até então. Miguel Montenegro, eu,na bateria, também autor de bandadesenhada para os States e para a Marvel,Pedro Brasão, o nosso engenheiroaeroespacial, Elmano no baixo, quetambém toca contrabaixo na orquestrafilarmónica tuguesa, e o Jorge, o vocalistaque perseguimos durante mais de seismeses até ele não conseguir resistir maise aderir a ZooTEK.“Cubist Rock” é o nome que deramao vosso primeiro EP mas tambémé o rótulo, se poderei chamar

assim, que colaram ao vosso som.Querem explicar um pouco esteconceito de cubist rock?A sonoridade é rock, com guitarras riffadase batucadas bem marcadas. É o tipo demúsica que é mais consensual entre osgostos de todos. Cubista porque de algumaforma tentamos tocar várias faces domesmo tema ao mesmo tempo, ou seja,cada um de nós toca a fronte, o perfil ououtra perspectiva de cada tema. Isto querdizer que não existe harmonia entre osinstrumentos. Por exemplo, se retirarmosa guitarra de um tema, ele vai soar a umtema diferente do que se tivéssemos tiradoo baixo, porque fazem sempre coisasdiferentes, como se fossem duas músicascoladas numa só. O estilo de tocar bateriaé já em si uma alucinação cubista, em quecada braço e perna tocam compassosdiferentes ao mesmo tema. No fundo,compomos telas sonoras cubistas.

A vossa construção musical, quevai contra as leis do rock, foiaquilo que mais me chamou aatenção e ainda hoje, depois dedezenas de audições, me deixaboquiaberto. Como é que funcionao vosso processo de composição?A partir de algo que parecedesconectado como conseguemunir as coisas e criar um somcoeso?Nós temos algumas regras fundamentaisde funcionamento. Uma delas é quetocamos sempre em compassos mistos,ou seja, não tocamos em 4x4, que é o quefazem 98% das outras bandas. A quasetotalidade das músicas que se ouvem narádio segue esse compasso.Posto isto, algum de nós apresenta aosoutros um riff ou uma ideia para um tema.Gravamos essa ideia para que eu possacompor a bateria e estruturar uma possívelcanção com esse riff. A estrutura, tentamosque seja simples pois já basta a formacomo tocamos para criar confusão. Depoisdisso os restantes elementos fazem osarranjos dos seus instrumentos para a

música, com um grau elevado de liberdadecriativa, que é a melhor forma deretirarmos o melhor de cada um e de nosmantermos todos satisfeitos.

Entretanto deram algunsconcertos, entraram em algunsconcursos, como tem sido ofeedback por parte de quem vosouve?Próximo do que estávamos à espera.Melómanos, jornalistas, blogistas e músicosem geral ficam impressionados einteressados no nosso som. É algo diferentee suscita-lhes a curiosidade. Como somosgajos porreiros também vamos fazendoamigos pelo caminho. Esta é a audiênciabase que tentamos conquistar numaprimeira fase.O público em geral ainda estranha o nossosom. Alguns gostam pela diferença outrosnão percebem, dizem não saber o quesentem ou pensam, outros acham queestamos descoordenados porque nãosabemos tocar ou estamos a afinar osinstrumentos…enfim, um pouco de tudo.Surpreendentemente para nós têm havidomais pessoas a demonstrar interesse pelabanda do que contávamos e diria mesmoa gostar da banda pois algum interessenós contávamos encontrar.

Acham que existe espaço eabertura para uma banda comoos ZooTEK se afirmar no nossopaís?Acho que não e nem pensamos muitonisso. Tentámos tocar o máximo possívelcá dentro no ano 2009 para rodarmos asmúsicas, ver se funcionavam ao vivo e,mais importante, perceber como nósfuncionamos na estrada enquanto banda.Demos mais de 30 concertos em seismeses, o que é obra para uma banda degaragem. Tocámos em quase todas assalas de concertos, do Musicbox ao KastrusBar, passando pela Fábrica do Braço dePrata e pela Malaposta. Não há muito maispor explorar ao nosso nível e passar aonível seguinte pode ser complicado emesmo contraproducente, se para isso

É difícil a banda que conseguesurpreender ao fim de dezenas edezenas de audições e deixa umtipo de boca aberta sempre queos ouvimos. É difícil, masacontece. Os ZooTEK são umdesses projectos que nos deliciamos ouvidos e nos surpreende. Tudoisto com apenas quatro temasgravados e que fazem parte doprimeiro EP “Cubist Rock” de2009. Essa surpresa nestemomento está transformada emansiedade para ouvir novas coisas.Enquanto não é possível, aMARSUPIAL esteve à conversacom este quarteto (fantástico) deLisboa.

tivéssemos de fazer concessões criativas.Vamos ouvindo as pessoas que assistemaos nossos concertos, interagindo comelas e aprendemos com tudo mas estamosconscientes que a sonoridade de ZooTEKé diferente demais para um mercado tãopequeno. Só podemos aspirar àprofissionalização associando-nos apromotores ou agentes internacionais, nãopor lá fora ser melhor mas porque lá foraé maior.

Acreditam no poder da música,ou seja, o poder de a músicavingar por ela mesma sem ajudade outros factores, ou uma grandemáquina por trás?Se por vingar entendes ter sucessocomercial, então claro que é preciso terparceiros comerciais envolvidos. O trabalhode uma banda é sobretudo o de criar e/ouapresentar uma obra artística ou deentretenimento. Para que essa obra sejavisível a um número alargado de pessoas,é preciso promoção, agenciamento,

marketing, contabilidade, todo um conjuntode colaborações. Nós fazemos isso. Paraalém de nós os quatro, temos umdocumentalista sempre connosco, alguémque nos faz a video-arte para os concertos,um fotógrafo e procuramos sempre alargarmais a família. Agora queremos arranjarum agente, uma espécie de quintoelemento da banda cujo instrumento fossea promoção. As pessoas com quetrabalhamos são as que escolhemos etrabalhamos em exclusividade com elassempre que possível, criando um vínculoforte em torno do conceito ZooTEK.

Qual é a vossa opinião em relaçãoao actual mundo da música, ouseja, em relação à Internet econsequente aumento dapirataria, aos direitos de autor...

qual é a vossa opinião em relaçãoa tudo isso? A Internet é um aliadoou um inimigo para uma bandacomo os ZooTEK?A facilidade com que se pirateia hoje emdia está a diminuir consideravelmente omercado discográfico. Cada vez se vendemenos discos pelo que o foco se tem viradopara as actuações ao vivo. Isso é algo quenos agrada. Gostamos de compor temasque funcionem ao vivo e queremosefectivamente tocá-los. Assim, o que nosinteressa primariamente é arranjar umapromotora ou agência, mais do que umaeditora. Se os vamos conseguir atravésda Internet é difícil de prever. A montra égrande mas é preciso passar por lá paraa ver. Nós vamos trabalhando e em breveestaremos a enviar pacotes promocionaispara todo o lado com o nosso EP, DVD doconcerto no Music Box, fotos, enfim, oembrulho completo. Assim estaremos maisseguros que as pessoas que nos podemajudar tomaram consciência da nossaexistência.

Vocês têm estado atentos ao quese vai fazendo por cá a nívelmusical? Que bandas nacionaistêm ouvido?Gostamos bastante de More Than aThousand, If Lucy Fell e Lobster. Ao vivosão bandas espectaculares. O nível musicalnacional é óptimo, de um modo geral.

Quais são as vossas maioresreferências musicais, aquelas quevos fizeram construir esteprojecto, por exemplo?Isso difere tanto quanto os membros dabanda. O conceito inicial era algo tipoAC/DC a tocar Meshuggah. Temos tambémmuito de Philip Glass, MahavishnuOrchestra, Pantera, Rage Agains theMachine, Primus, John Zorn…é a mistura

das nossas influências individuais que tornaZooTEK mais interessante pois todas elasestão muito presente.

Neste momento que fazem osZooTEK e quais os planos para ofuturo?ZooTEK está a fechar o pacote deapresentação oficial da banda à indústriadiscográfica, com o primeiro EP. Ao mesmotempo estamos a compor para o próximoEP. Estamos a fazer a coisa de formadiferente. Agora vamos compor umas 20músicas, aprendê-las e apresentá-las aovivo antes de gravarmos. As quatro oucinco que obtiverem melhor reacção porparte do público serão aquelas que iremosgravar.

Uma última pergunta: qual é avossa personagem de bandadesenhada preferida?A minha (Miguel Montenegro) é o Hellboy(na BD, não nos filmes!). A do Jorge, ovocalista, é o Spawn.Os outros, acho que não ligam a BD. Deveser o Peninha, ou coisa assim. (risos)

Jorge Resende

Quando e como surgiu a ideia deformar os Diabo Na Cruz? Já quetodos têm outros projectos…Aconteceu algures em 2008. Os primeirosensaios foram em Junho no formato power-trio. A ideia era ensaiar meia dúzia devezes, gravar um disco rude e apancalhadoe seguirmos com as nossas vidas. Maspelos vistos esse Junho era só o começodo que nos esperava.

Existe no vosso som umapredominância da músicatradicional portuguesa, o folclore.Sentiram necessidade de dar umanova roupagem e de mostrar aoutro tipo de público este estilomusical tão característico dePortugal?Lá está, a ideia era sermos um grupo derock, mas de rock em Portugal, que tivesseum som que não pudesse ser de outrosítio. Encaminhámo-nos então pelaexploração de imaginários populares, nãoobrigatoriamente de folclore, mas sim damúsica popular portuguesa, jogando comos limites daquilo que é permitido gostar-se e daquilo que é tido como interdito ao

bom gosto. Nós estamo-nos borrifandopara isso. Não queremos representar amúsica tradicional portuguesa. Queremosapenas homenageá-la com a nossa faltade pudor.

O folclore é algo que viveconvosco? É algo que costumamouvir diariamente?Como disse atrás, a nossa música não édescendente do folclore. Daí retirámos umcerto imaginário associado às roupasminhotas e aos lenços de namoradosporque contam histórias e têm umadimensão sexy que é subestimada. Agora,a origem daquilo que fazemos é a MPP, otrabalho do José Afonso e dos que oseguiram. A erudição da Banda do Casacoe a orelhudice dos Trovante, embrulhadanas nossas tendências roqueiras eapancalhadas.

Que outras referências vosacompanham e vos inspiram?Sei lá: Oumou Sangaré, Mundo Livre S/A,Qbamba, Tinariwen, Elvis Costello, SérgioGodinho, The Stooges e Roberto Leal, porexemplo.

Depois do aplaudido EP “DonaLigeirinha”, chega meses depoiso álbum. Como está a ser ofeedback em relação a “Virou!”,vosso primeiro álbum?Está a ser realmente bom e começa aexpressar-se em concertos que é no fundoo nosso desejo. Não estamos interessadosem ser daquelas bandas que enchempáginas de jornais e na verdadepraticamente não existem. Ninguém as vêtocar e quem vê não se recorda ou preferenão recordar. Estamos aqui para tocar nopaís inteiro. Gostamos do nosso país, nãovemos Lisboa como mais interessante doque Castelo Branco ou Vila Real, queremosfazer festa em todo o lado.

O referido álbum está aí paraquem o quiser ouvir, mas queremfalar um pouco sobre ele? Fala dequê, destina-se a quem…

Fala de Fidalgos, Barões, Cegos, Velhos eVidentes. É uma espécie de História dePortugal contada pelo bobo embriagadoem 30 minutos.

Diabo

Os senhores que se seguem, sãoum dos projectos do momento ebem o merecem. Talvez ainda nãotenham explodido, mas não estãolonge disso, e acredito que 2010seja o ano do Diabo. Diabos NaCruz, digo. Se não for, algo vaimal em Portugal e, ou andamos todos muito distraídos, ou então não sei.

Certo é que a festa já começou,vai andar por todo o país e elesprometem “Virá-lo” do avesso!Esta é uma festa a não perder.

naCruz

Sendo os Diabo na Cruz umprojecto de pessoas que têmoutros projectos, como funcionaa composição dos temas? Algumdestes temas poderia ser incluídonoutro projecto vosso? Comoseparam as águas?As músicas do Diabo na Cruz sãocompostas de maneira bem diferente dequalquer coisa que eu já tenha feito atéaqui. São melodias que se desenvolvemna cabeça, adquirem um ritmo e sãocompletadas antes do uso do primeiroinstrumento.

Estamos numa época de partilha,a música chega cada vez a maisgente e num curtíssimo espaçode tempo. Qual é a vossa opiniãoem relação a tudo isso? À internet,à partilha, à pirataria…É óbvio que tem aspectos bons e outrosmaléficos. Nesta altura é preferível valorizaro lado mais positivo. As pessoas têm acessoà música sem passar pelos filtros deantigamente. A divulgação do Diabo naCruz tem sido muito eficaz devido àinternet, nós estamos conscientes disso etiramos partido das óptimas potencialidadesda internet como meio de informação.Claro que esperamos que as pessoas saiamde casa e venham ter connosco quandofor dia de concerto e, idealmente,ficaríamos felizes se não se contentassemcom as audições no myspace ou no montede sites onde é possível fazer downloadgratuito do disco. No fim de contas fazemosparte de uma editora independente e sóé possível continuar a fazer discos se elesforem bem sucedidos de alguma maneira.

Em relação ao actual panoramamusical nacional, acham que estáde boa saúde? Que projectosmusicais nacionais recomendam?Acho que atravessamos uma boa fase.Para começar há muito mais gente a cantarem português. Não se pode esquecer quehá dez anos atrás, quando a minha primeirabanda Superego procurava fazer caminho,o português era foleiro, não soava bem esó nós, os Ornatos e mais duas ou trêsdas bandas novas se aventuravam nalíngua que nos é própria. Depois temosinstrumentistas/compositores sublimescomo o Norberto Lobo, o Tiago Sousa, oAndré Fernandes e por aí fora. Acho queo século XXI começa em boas mãos.

E em relação ao estado geral dopaís?É uma espécie de western-spaguetti. Porisso é que o Diabo anda de palito na boca.

Estamos a terminar a primeiradécada deste novo século. Qual éa vossa visão sobre os “anos 00”?Acho que foi uma década com piada paraa música pop que procura algumaoriginalidade. Após o 11 de Setembropassou a ser difícil criar música demasiadoséria. O “Love & Theft” do Bob Dylan, queescolheria como meu disco preferido destadécada, reflecte bem essa realidade.

Quais são os planos para o futurodos Diabo Na Cruz?Concertos, concertos e concertos. E alguns

aplausos no fim das músicas, semerecermos.

Uma última pergunta: qual é avossa personagem de bandadesenhada preferida?Eu (Jorge Cruz) diria o Cebolinha, mas oresto da malta talvez optasse por algomais respeitável tipo Corto Maltese.

Jorge Resende

Aqui encontram-se Men Eater, Miss Lava,porque não dizer às vezes Linda Martini,e muitas outras bandas que vocês, melhordo que nós, conhecem.

É aqui que encontramos as referidasmisturas de som. O que seria estranho einconsumível é agora elogiado. Será namesma medida que o metalcore o foi? Nãosabemos. Os dados que temos não nospermitem aferir tal comparação. Sabemosque terá sido importado com bandas comoQueens of the Stone Age, se bem que asbandas supra mencionadas adquirem etransmitem outra intensidade.

Os estilos estão cada vez mais corrompidos,a verdade é que nada mais são do que asequência e consequência dos tempos. Olimite é sempre a saturação que os génerosadquirem. E isso sucede com naturalidade.E depois destes vêm outros e a músicacontinuará sempre a ser a mesma: aquelacom que mais nos identificamos.

O som.Vertentes, virtudes,defeitos e audiçõeswww.abcdemonium.blogspot.com/

Por Hugo Guerreiro

Há estilos que nos marcam mais e com osquais mais nos identificamos. Asconsequências são naturais. E automáticas.Debruçamo-nos sobre ele, dedicamos-lhemaior atenção, os nossos ouvidos seguem-nos as vontades. Independentemente dissoo bom ouvinte, que também é crítico,mesmo que não escreva ou não o diga aninguém, admite e identifica outrasqualidades noutros estilos.

Andamos por estes dias a dedicar algumaatenção a uma banda sueca, tendo mesmoadquirido os dois discos que formam a suadiscografia. Falamos dos In Mourning. Sãosuecos mas a nacionalidade para o efeitopouco importa. Relevaria sim se oscomparássemos (mas não o vamos fazer)a outras bandas que a história (os decibéise a música) daquele país tem oferecido.Trata-se de um colectivo que se dedica aoDoom. Um Doom mesclado com outrastendências tornando o som intemporal ea piscar a outras tendências que, uma vezmais, a história (e os decibéis) achariamestranhos há uns anos atrás. Isto porqueos géneros estão cada vez menos puros.Menos fiéis a quem os criou mas nem porisso infiéis a quem os ouve. AcrescentosRock, tantas vezes Death, sempre comuma toada mais melancólica são algumasdas impurezas que a banda acima citadanos concede. E falamos neles comofalaríamos de uns Cult of Luna. Eles sãoa introdução da resenha mas não o sumomaior, o líquido que nos moveu a escrever.

Em Portugal (agora sim o centro destaresenha) temos assistido e consumido umatendência sulista. Rock sulista chamam-lhe. Mistura distorção, metal, sonsalternativos, uma voz gritada, cantada,grunhida, suportadas por guitarrasarrastadas, o tal toque sulista, julgamosnós, que permite rotular estas bandas.

Comecemos pelo fim, até porqueé uma pergunta incontornável.Porquê esta decisão de colocarum término neste projecto? Seique escreveram um longo textosobre isso mas porque não“tentar” manter os Hanging ByA Name?Bem antes de mais acho que devo explicarque estou a responder a esta entrevista atítulo pessoal [Duarte Feliciano]. Não émuito fácil para mim falar acerca desteassunto, primeiro porque ainda estouseriamente magoado e desiludido com oque aconteceu e segundo porque envolvepessoas com quem partilhei muito nestesúltimos anos e vão-me desculpar mas nãovou entrar em demasiados pormenoresporque acho que são assuntos que dizemrespeito apenas aos membros da banda.Se há coisa que eu detesto é o lavar roupasuja em público, há linhas que eu nãoatravesso e fazer isso seria trair tudo aquiloque fez com que os HBAN tivessem sidoum projecto em que tive orgulho departicipar.Manter os HBAN iria implicar ficarmosreféns da agenda de pessoas que nadatinham a ver com o projecto, iria implicarquebrar as regras que tínhamos impostoa nós próprios e o pior de tudo seria deixarentrar para dentro da banda todo umuniverso de comportamentos e métodosde trabalho que abomino e que sempreme esforcei ao máximo para evitar. Adecisão foi tomada pelos 3 membros, foiunânime e tudo o que havia para ser ditofoi dito na cara das pessoas com completahonestidade, calma e respeito. Acabar coma banda foi a única saída possível paramanter os HBAN verdadeiros a si própriosaté ao final.Sempre acreditei e continuo a acreditarque as pessoas devem ter liberdade defazer aquilo que gostam. A música paramim é acima de tudo um exercício de

expressão pessoal e acredito que hajaespaço para qualquer músico poderexpressar as várias facetas da suapersonalidade em projectos diferentes parabenefício de todos. Não posso deixar deagradecer aos Electric Willow por tambémterem esse mesmo ponto de vista, porterem partilhado com os HBAN durantetodos estes anos o músico incrível que éo Adílio e por nos terem sempre mostradoa cortesia profissional e a abertura quenos permitiu a coordenação de calendáriosentre ambas as bandas. A música paramim não é nem nunca será umacompetição.

Apesar de o futuro serimprevisível, neste momento estaé uma decisão final?Do meu ponto de vista será muito difícil,senão impossível, ver uma reunião dosHBAN com todos os seus membrosoriginais. Costuma-se dizer que a confiançaé uma coisa que se constrói durante anose que se perde em segundos, não é? Alémdisso eu não acredito em revisitar opassado.Não ponho de parte a possibilidade dereinventar os HBAN mas só o faria se oAdílio o fizesse comigo, se issorepresentasse o dar um passo em frentee não simplesmente um revisitar o que jáfoi feito e acima de tudo se o resultadofinal fizesse justiça à reputação dequalidade que conseguimos estabeleceraté agora. Mudar simplesmente de bateristae seguir em frente como se nada tivesseacontecido não seria para mim umobjectivo suficientemente ambicioso parame motivar a levar uma empresa dessaspara a frente.

Acham que não existe espaço nopanorama musical nacional parauma banda como vocês? Qual a

vossa opinião em relação àindústria discográfica nacional?Eu acho que há espaço para qualquer tipode banda e para qualquer pessoa quedeseje genuinamente fazer música epartilhar a mesma com outras pessoas.Porque é que não haveria de haver? Quemé que me pode impedir de fazer aquiloque eu quero ou gosto e de o divulgaratravés da internet para milhões de pessoastanto em Portugal como lá fora? Há espaçopara todo e qualquer ser humano quetenha algo a dizer e a partilhar com osoutros. Tu crias o teu próprio espaço, nãopodes estar à espera que ele estejareservado para ti.Industria discográfica nacional? Sei osuficiente acerca dos seus métodos e docarácter das pessoas que nela se dão bempara não querer fazer parte dela nem comomúsico nem sequer como cliente.

Depois de tudo isto, vocês (ainda)acreditam na força da música pelamúsica? Acreditam que a músicapode vingar apenas por ela mesmasem uma grande “máquina”promocional por trás?A máquina promocional não te garantenem nunca te vai garantir que aquilo quefazes sobreviva ao teste do tempo. Amúsica produto é de natureza transitóriae volátil, desaparece com o mudar dasmodas e francamente nunca me interessoufazer qualquer coisa desse tipo porquetanto entra facilmente na cabeça daspessoas como sai.Se como criador consegues fazer algo queseja relevante nem que seja só para umapessoa do outro lado e se conseguiresfazer com que aquilo que criaste lhe toquepara o resto da sua vida e a enriqueçaentão conseguiste fazer vingar a música.Eu sei que conseguimos fazer isso comHBAN.

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nam

eO início de 2010 foi em cheio para os Hanging By AName. Nem tudo pelas melhores razões, infelizmente.Ora vejamos: editam o segundo longa duração,intitulado “II”, juntamente com um livro da autoriado Duarte Feliciano, de título “Mono”; fazem ovideoclip para “The Sleeper”; depois decidem colocarum ponto final neste projecto que na minha opiniãoé um dos melhores projectos de rock actuais. Razõesde sobra para colocarmos a conversa em dia com osHBAN…

Editaram um grande álbum, ovosso segundo longa duração,juntamente com um livro daautoria do Duarte Feliciano.Querem falar um pouco sobre isso,há alguma relação entre estesdois trabalhos? De onde surgiu aideia?Há um enredo que atravessa as letras dosnossos dois álbuns. Não foi de início umacoisa propositada mas dei por mim a criarpersonagens, situações e ambientes queacabaram por ir ficando e ganhando raízesno imaginário dos HBAN. É claro quequando estás a escrever letras para umamúsica estás limitado por uma série defactores: a estrutura da música em si, amétrica, a duração, tudo isto limita a formacomo podes contar essa história e isso fazcom que deixes muita coisa de fora pornão haver espaço. Apesar de para mimesse enredo ser importante, a música vemsempre em primeiro lugar e portanto nuncairia comprometer a música no processode o transformar em letras. Escrever umashort story seria a resposta para esseproblema. Felizmente fui desafiado naaltura certa por um amigo a pôr essahistória em papel de uma forma mais oumenos ordenada e coerente e como emquase tudo em que me meto a story acaboupor não ser assim tão short quanto isso eacabei por me ver com uma noveleta nasmãos. Lançar esse material em forma delivro juntamente como álbum pareceu-nosuma coisa lógica.Para além disso para mim os HBAN sempreserviram como desculpa para aprendernovas formas de me exprimir como pessoae sempre achámos que seria bom associara música a outras formas de expressão eabrir este projecto a outras formas de arte.Houve todo um trabalho associado aodivulgar os HBAN e este álbum emparticular que foi muito para além damúsica. Sinto-me muito grato pelaconfiança que os meus colegas tiveramem mim deixando-me desenvolver,acompanhando-me e aconselhando-me,todo o trabalho para o artwork do álbum,o webdesign para toda a nossa presençana net, o design gráfico dos nossoslogótipos e cartazes, realizar o nossoprimeiro videoclip e os teasers que oprecederam e tantas outras pequenascoisas para além do livro. Participar nosHBAN foi para mim uma oportunidadeincrível de crescer como pessoa. Já agoraparece-me obrigatório agradecer ao PedroAlmeida pelo trabalho de fotografia quefez connosco.

Como tem sido o feedback aoálbum?Foi óptimo. Acho que não tivemos umaúnica crítica negativa ao álbum. No entanto,ter anunciado o final da banda ensombroutodo o feedback que estávamos a ter.Passámos a deixar de ter pessoas afelicitar-nos pelo trabalho que tínhamosfeito e isso foi substituído pela raiva, pelosporquês e pela tristeza daqueles que seinteressavam pelo nosso trabalho.

Sempre acreditaram que a músicadeve ser livre disponibilizando oprimeiro álbum totalmentegratuito e incentivaram de certaforma as pessoas a partilharemos vossos trabalhos. Há muito boagente que pensa o contrário.

Vocês continuam apensar dessa forma?Aconselham outrosartistas a fazerem omesmo?O segundo também iria serdisponibilizado gratuitamenteatravés da internet e ainda oserá. O plano era o de à medidaque a tour fosse avançado eque fossemos disponibilizandoos vídeos de suporte a cada umdos singles ir disponibilizandoas músicas gratuitamente umaa uma. Isso iria permitir usara distribuição gratuita do álbumcomo uma mais valia e mantero interesse na banda ao vivodurante um período alargadode tempo.Eu acho que vivemos numaaltura em que a "indústriamusical" está a atravessar umamudança de paradigma. Asgrandes editoras têm a cabeçafirmemente enterrada na areiae insistem em fazer as coisasda mesma forma que semprefizeram. O que acontece é quebasicamente perderam ocontrolo sobre as duas coisasque lhes permitiam ter a facae o queijo na mão relativamenteaos artistas. Os meios deprodução e o monopólio dadistribuição. Hoje em diaqualquer pessoa com acesso àinternet pode distribuir umaobra a custo zero tendo umpúblico potencial de milhões depessoas. Isso faz com que umartista que opte por licenciar oseu trabalho através de umalicença da Creative Commonspossa fazer um bypasscompleto de todas as taxas queforam auto impostas pelaindustria e cujo único propósitoé controlar o sistema e limitaro acesso ao mercado a quemnão está já firmementeenraizado nele. Em relação aosmeios de produção, hoje emdia é também muito mais fácilo acesso a estúdios degravação, os preços são muitomais acessíveis e há mesmo apossibilidade de ser poder criaro nosso próprio estúdio em casase para isso tivermos anecessária apetência técnica.Distribuir a nossa músicagratuitamente garanteautomaticamente acesso a ummercado potencial muito maisvasto e como o custo dedistribuição é zero, é justo queo consumidor tenha acesso àobra a custo zero. O problemaque se põe aqui em termos denegócio é como monetizar amúsica, como ver algum retornofinanceiro do trabalho quefizeste, assumindo que oretorno financeiro é umcomponente importante paraquem o está a fazer. Eu achoque o CD não pode competircom a conveniência que umleitor de mp3 dá a umconsumidor através dacapacidade de horas músicaque disponibiliza. Muito menos

aos preços a que são vendidos nas lojas.Há no entanto outros componentesassociados à música que podem garantiressa monetização do produto. A primeirae a mais óbvia é, obviamente, osespectáculos ao vivo. Não podes fazerdownload da experiência que é ver umabanda ao vivo, nem podes fazer downloadda experiência que é ter uma t-shirt deuma determinada banda e seresautomaticamente reconhecido por alguémdo outro lado da rua que também gostada mesma banda e que automaticamentevai achar que tem alguma coisa em comumcontigo. Isto são só dois exemplos muitobásicos de como podes monetizar ecapitalizar o facto de dares a tua música.Basicamente estás a fazer publicidade ati próprio e a aumentar a tua fan base.Para além disso as pessoas quecoleccionam música e que gostam demesmo de ter o suporte físico em casaordenado nas suas prateleiras com o maiorcarinho e respeito e cuidadosamente livrede pó vão comprar o teu CD ou Vinil mesmoque tenham acesso gratuito aos ficheirosque são só 1's e 0's.Em vez de pensarem acerca disso, aseditoras têm apontado o dedo aos seuspotenciais clientes, tentando limitar assuas liberdades pessoais e fazendo delesum bicho papão, piratas e terroristasquando a única coisa que as pessoasquerem é um melhor acesso àquilo de quegostam. A pirataria é um falso problema.Quando eu era adolescente fazíamos mixtapes com as nossas músicas preferidasque trocávamos uns com os outros. Aindústria fez um alarido tremendo acercadisso, dos gravadores de cassetes, dosgravadores de vídeo. A indústria não temfeito outra coisa senão queixar-se erecusar-se a tentar perceber o que os seusclientes querem impondo-lhes a sua visãorestritiva.Eu não acho que haja uma solução única,a distribuição gratuita da música pode nãoser para toda a gente, acho sim que sedeve começar a ouvir o consumidor eencontrar novas formas de chegar a ele.

Em relação a bandas e projectosnacionais, o que têm ouvido emerecido a vossa atenção?Vou ser completamente honesto, nesteúltimo meio ano estive tão imerso notrabalho necessário para colocar cá foraeste segundo álbum de HBAN e na pesquisanecessária para o livro e vídeo que nãotive grande tempo para estar atento aoque tem saído. Estou no entanto muitocurioso para ouvir o próximo álbum dosCatacombe.

Agora o futuro, há ainda coisasprogramadas em relação aindacom o nome dos HBAN?Há, mas estão a ser propositadamenteadiadas por uns tempos para nãointerferirem com o lançamento de umoutro projecto em que participa uma pessoaque foi dos HBAN apesar desse mesmorespeito e cortesia profissional não ter sidorecíproco. Eu continuo a achar que ter aatitude correcta para com os nossos parescompensa a longo prazo. Aquilo que estáprometido aos fãs será cumprido na medidado possível. Ainda há coisas para fazer,ainda há mais para dar às pessoas. Fiquema contar com algumas surpresas para daquia alguns tempos.

Individualmente, alguma ideia dofuturo?Para mim os próximos tempos vão serocupados a pôr de pé a estrutura daCogwheel Records a nossa própria netlabel,a preparar os lançamentos que aindaqueremos fazer este ano e com o trabalhodo dia-a-dia no meu estúdio. Tem sidobastante gratificante estar a trabalhar como Adílio nas misturas do seu projecto asolo que esperamos lançar pela Cogwheelem breve. Para além disso sabe bemabrandar um bocado depois da correriaque foi pôr o álbum cá fora e perceber queapesar da música ser para mim importantea vida não se resume apenas a isso.Musicalmente não tenho bem a certeza

daquilo que poderá trazer o futuro. Háfases na vida em que não sabemos bemo que queremos mas temos a perfeitanoção daquilo que não queremos. O queeu não quero neste momento é que aminha próxima aventura no mundo dacriação musical seja uma mera reacção aofim que os HBAN tiveram. Quero dar temposuficiente para que quando chegar a alturade criar algo novo, que o que quer queesse algo novo seja, tenha vida própria eque se suporte nas suas próprias pernas.

DISCOGRAFIA:

HANGINGBY A NAME

HBAN (2007)

II (2010)Jorge Resende / fotos: Pedro Almeida

injusto da minha parte destacar algumem especial. Os projectos que passam peloPortugal Rebelde são para mim todos muitoespeciais, no entanto, quero confidenciar-te que senti algum prazer na primeiraentrevista concedida pelos Deolinda aoprograma de Rádio - "Portugal Rebelde".

Qual é a tua opinião em relaçãoao actual panorama musicalnacional?Penso que estamos a viver um momentomuito bom com projectos muitointeressantes nas diversas áreas da músicaportuguesa. Pena é que os espaçosprivilegiados para a divulgação (rádio etelevisão pública) destes projectos tenhamfeito muito pouco para os dar a conhecer.

Sei que é sempre um pouco difícilmas que projectos nacionaisrecomendas?É uma pergunta francamente difícil... masdeixo aqui alguns dos projectos que quantoa mim marcaram o ano de 2009. BFachada, Samuel Úria, Diabo na Cruz, coma língua portuguesa em grande plano. TheLegendary Tigerman e Sean Riley &Slowriders na língua inglesa. Tó Trips,Norberto Lobo e Tiago Sousa, três nomesincontornáveis, no que toca à músicainstrumental.

E a nível internacional, tens estadoatento? Tens ouvido algumacoisa?Muito francamente tenho estado pouco

atento à produção internacional. A minhaatenção tem-se centrado na músicanacional.

Terminou a primeira década destenovo século. Para ti, quais foramos projectos nacionais que maiste marcaram nestes "anos 00"?Mais uma pergunta difícil...mas gostariade destacar os Dead Combo, Mariza, AnaMoura, Norberto Lobo, Deolinda, B Fachada,JP Simões, Jorge Cruz, Buraca SomSistema, Tigerman e Linda Martini.

Três anos feitos, que se segue?Que planos existem para oPortugal Rebelde?Durante os primeiros meses de 2010,vamos ter uma edição de uma colectâneacom alguns dos sons que passaram nasemissões do Portugal Rebelde. Este é umprojecto que seguramente vai tercontinuidade nos anos seguintes, dandoa oportunidade a alguns projectos de se"mostrarem" ao grande público. Outra ideiaque estou a amadurecer é a realização deum "Portugal Rebelde ao Vivo". Acreditoque o "Portugal Rebelde", tem ainda muitoespaço de acção para crescer.

Para terminar, qual é a tuapersonagem preferida de bandadesenhada?Tintim!

É sempre uma causa nobre divulgar os músicos e projectos nacionais diariamente na rádio ena net. É precisamente essa a causa que move António Manuel Almeida, autor do programa derádio “Portugal Rebelde”, programa que fez três anos de existência no final do ano transacto.No entanto, parece que esta aventura até começou alguns anos antes. Mas comecemos pelopresente…

O "Portugal Rebelde" fez nopassado dia 14 de Dezembro 3anos de existência. Que balançofazes destes primeiros anos devida?O balanço destes 3 anos de vida do"Portugal Rebelde", é francamente positivo.O Blog tornou-se num espaço de referênciapara os músicos, bandas e leitoresportugueses que diariamente passam pelo"Portugal Rebelde". Em 3 anos de existênciaestamos muito próximos de ultrapassar a"barreira" do meio milhão de visitas.

Quando é que decidiste começareste projecto? Qual era o objectivoprincipal?A ideia nasceu em finais de 2006 mas a"paixão" pela música portuguesa, rádio ejornais é bem antiga pois já tinha"alimentado" na RDP - Rádio Alto Douro– um programa dedicado exclusivamenteaos novos sons nacionais. O objectivoprincipal do Portugal Rebelde é dar aconhecer alguns dos novos projectos queinfelizmente vão tendo cada vez menosoportunidade. Damos a conhecer o quede bom se faz neste país.

Entretanto falaste com dezenasde projectos nacionais. Há algumque te tenha dado especial gozoentrevistar ou que te tenhasurpreendido de alguma forma?Foram muitos os projectos que já passarampelo espaço "Portugal Rebelde" e seria

Portugal Rebelde

Jorge Resende

São sem dúvida um dos projectosmais entusiasmantes do actualpanorama musical nacional.Não descansam à sombra dabananeira, e estão aí em forçacom um novo trabalho e desta veznão o fizeram por menos, CD eDVD. Chama-se “Zoetrope”, é umfabuloso trabalho que resulta daparceria entre os Micro AudioWaves e o coreógrafo Rui Horta,e tem sido aplaudidoentusiasticamente por todos.Foi precisamente “Zoetrope” adesculpa e o ponto de partida paraa conversa que se segue.

Comecemos pelo momento quevivem, ou seja, pelo “Zoetrope”.Como nasceu esta ideia?Surgiu por intermédio de terceiros. Nósconhecíamos o trabalho do Rui Horta e eleconhecia o nosso, mas não nosconhecíamos pessoalmente. Houve entãouns “alquimistas” (o Pedro Santos daprodutora “Lado B” e o João Aidos doTeatro Virgínia) que se lembraram de nosjuntar pois acreditavam que a junçãodestes dois universos iria trazer algo deinovador. Marcaram-nos um encontro epercebemos imediatamente que falávamosa mesma linguagem.

Parece haver uma necessidade demudar as leis da música, dosformatos LP ou CD. A criação desteespectáculo tem alguma coisa aver com o facto de estaremcansados do formato “álbum”?O que nos atraiu neste projecto foi apossibilidade de fazermos algo diferente.Tínhamos editado 3 álbuns, feitas váriastournées, precisávamos de um novo

desafio… Trabalhar com o Rui Hortapermitia-nos trabalhar não só a músicacomo toda a componente visual,multimédia, de espaço e de movimento aela associados. Foi um trabalho pensadodirectamente para o palco e nesse aspectosubverteu as regras. Normalmente há umálbum e depois a tournée, aqui foi aocontrário!

A apresentação mundial destetrabalho foi sensivelmentehá um ano, em Moscovo.Porquê Moscovo?Inicialmente Moscovo não estava nosplanos. A estreia absoluta do “Zoetrope”estava prevista para o TeCA (no Porto) emJaneiro de 2009. Só que, através daembaixada portuguesa na Rússia, surgiua fantástica oportunidade de fazer umaantestreia do espectáculo no âmbito doFestival de Dança Contemporânea deMoscovo, em Dezembro de 2008. Como éóbvio ficámos excitadíssimos, mas issoimplicou acelerar todo o processo criativo,pois tínhamos de ter o espectáculo prontoum mês antes do previsto. Foi uma

autêntica correria, e quando chegámos aMoscovo ainda não tínhamos a completanoção do que tínhamos em mãos nem qualseria a reacção do público… nós própriosestávamos a ter contacto com a obra nasua totalidade pela primeira vez! Acabámospor ser recompensados pelo sucesso queo “Zoetrope” colheu junto do públicomoscovita. As críticas foram excelentes eficou a promessa de regressar. Moscovoteve essa virtude: perceber que tínhamosfeito um trabalho fantástico de que todosnos orgulhávamos. Quando estreámos emPortugal já estávamos completamenteconfiantes!

Moscovo foi o ponto de partida,seguiram-se (e ainda continua)muito mais datas. Como tem sidoa reacção das pessoas aoespectáculo?Tem sido excelente! Muitas pessoas dizem-nos que foi o espectáculo mais fantásticoa que já assistiram, que é surpreendente,inovador… Quando é assim, só temos deestar satisfeitos.

MICROAUDIOWAVES

Vocês ainda se lembram de comotudo começou? Quando é que estaaventura a que chamaram MicroAudio Waves começou?Começou em 2000 ou 2001… é certo queo nossa estética musical foi sofrendomutações ao longo dos anos, mas aquiloque nos movia na altura é o que nos moveagora: a curiosidade, a experimentação,a pesquisa e acima de tudo o prazer e adiversão!

No início de tudo, quandocomeçaram a entrar no mundo damúsica, as coisas eram bemdiferentes. Agora existe a internet,o leitor de mp3, etc. Estão a dar-se bem com os tempos modernos?Estão “actualizados”?Bem, nós não somos assim tão velhos… onosso primeiro álbum é de 2002, e nessaaltura já muita gente o sacou através doemule e do limewire! (risos) O que mudoué que agora sacas um álbum em menosde um minuto e na altura precisavas dealgumas horas. Agora a informação circula

à velocidade da luz. Se não tiveres atento,já passou!

Ainda sobre os tempos actuais,qual é a vossa opinião em relaçãoa toda esta confusão de internet,pirataria, direitos de autor...Sentem-se “roubados”, comomuitos afirmam?Não temos qualquer problema com acirculação e partilha de ficheiros na Web,isso traz muitas vantagens: hoje em diatens a possibilidade de promover o teutrabalho à escala planetária e chegar amuito mais pessoas do que alguma vezimaginámos. Por exemplo, os nossos álbunsestão disponíveis em sites da China, naAlemanha, no Brazil! Não devemos serhipócritas e dizer que para umas coisas anet é fantástica e para outras já não dámuito jeito! Essa coisa do “roubo” éconversa da indústria… quem andoudécadas a roubar os músicos foram aseditoras!

Em relação ao actual panoramada música nacional, têm estadoatentos? Qual é a vossa opinião eque bandas nacionais merecem avossa atenção?Fazem-se coisas bastante interessantes.Talvez estejamos no melhor período desempre da música portuguesa. O que nãodeixa de ser irónico, pois toda a indústriamusical está em decadência. Mas essapode ser a explicação para estarmos numbom momento: os músicos estão-se nastintas para a indústria (se vão vender, senão vão vender) e fazem a música querealmente gostam e que sentem!

E em relação ao estado geral dopaís?Somos um país pequeno e periférico, lávamos levando a água ao nosso moinhocom a “esperteza” que nos caracteriza…

Todos vocês têm já um percursomusical assinalável, têm – se mepermitem – uma carreira musical.Que conselhos dariam a quemestá agora a entrar neste mundofascinante da música?Não se metam nisso… (risos)

Bem, antes de finalizarmos, o quese segue? Existem ideias novasno ar?Nunca fizemos planos para o futuro, algumacoisa há-de acontecer… de diferente.

Uma última pergunta, qual é avossa personagem preferida debanda desenhada?Actualmente é o Inspector Gadget!

Quais foram para vocês osmelhores álbuns dos anos 00?

É muito complicado escolher: Animal Collective,Andrew Bird, Chemical Brothers, FranzFerdinand, PJ Harvey, Radiohead, Sonic Youth,Tortoise, todos eles fizeram álbuns excepcionaisesta década… mas há muitos mais!

Jorge Resende fotos: Nuno Correia

DISCOGRAFIA:

MICRO AUDIOWAVES

Micro Audio Waves (2002)

No Waves (2004)

Zoetrope (2009)

Odd SizeBaggage (2007)

Diabo na cruz – “Virou!”(Flor Caveira | 2009)

Rock-anti-latifundiário combina com reforma musicalmenteagrária

cantava que “aquilo que é mesmo reforma agrária é, para alguns,o demónio vermelho”. Passaram, já o disse?, 35 anos. Pois, esó sabemos agora, uma reforma estética de anteriores etradicionais sonoridades passava pela crucificação do pai de todosos demónios. Passava por colocar o diabo, definitivamente, nacruz.Este Diabo na Cruz é um projecto liderado e produzido por JorgeCruz. Antes das recentes actividades de produtor (em bandascomo “Os Golpes” e “João Só e Abandonados”), Cruz contava jácom uma carreira preenchida. Aliás, recapitulada a carreira domúsico identificam-se, antes dos seus dois álbuns a solo —“Sede” (em 2005) e “Poeira” (em 2007) — semelhantessonoridades experimentadas, no início da década, em Superego.Aqui, em Diabo na Cruz, as canções são da autoria de Jorge Cruzmas foi num experimentado colectivo que estas foram trabalhadase arranjadas até atingirem esta forma de abanão musical. Osmúsicos envolvidos, e que mais parecem artesãos da música,são os talentosos B Fachada, Bernardo Barata, João Gil e JoãoPinheiro.Os 5 elementos partiram de um EP (“Dona Ligeirinha EP”), coma rapidez com que um diabo fugiria de uma cruz, para um discocompleto e sólido que, no final deste 2009, se apresenta comouma das principais produções musicais e um disco,assumidamente, reinventivo no cenário da música tradicionalportuguesa. Em forma e conteúdo diabolicamente sensual osDiabo na Cruz recolhem, em “Virou!”, os sons da nossa terrapara os devolverem mais eléctricos do que nunca. Colectivamente,vendem, neste absorvente disco, um elegante e fresco upgradeao folclore e que inclui, ainda, direito a odores de rock em plenosanos zero.No início do disco, Vitorino Salomé, de voz envolta em percussões,avisa que as raízes mais profundas da nossa árvore musicalestão de volta à superfície. Para que se duvide, guitarras cospemelectricidade e parece que o interrompem. Mas, e ainda antesque o refrão seja cantado em coro, constata-se que as cançõessoam ora modernas, ora tradicionais. E o disco gira fazendo tudoisto e ainda mais, ao mesmo tempo. É provavelmente nesteequilíbrio, gerido com harmonia e mestria que soa bem. Quandose dá conta, os onze temas rapidamente se esgotaram e aaudição reclama um repeat-à-moda-antiga.Crucifiquem-se mais demónios assim. É que um festim destesnão deve, nem pode, acabar.Cláudio Vieira Alves

apenas a sinceridade para coma música. Ao longo dos 10temas do disco, e dos poucomenos de 45 minutos,conseguem que fiquemos“agarrados” a ele e conseguemcriar uma ligação com quemouve. É um disco poderoso econtagiante, é daqueles discosque nos marcam, que uns anosmais tarde quando ocolocamos de novo a tocar,esboçamos um sorriso defelicidade. Os Hanging By AName podem ter acabado masconseguiram dar-nos doistrabalhos excelentes. Mais doque isso, deram uma enormelição de personalidade ecarácter a todos, desdeartistas, músicos, ouvintes,produtores e todos aquelesque se julgam alguém namúsica. Infelizmente nãoencontramos muitas bandasassim!J.R.

Há 35 anos, em pleno pós-25de Abril, eram muitos osmúsicos que, visando alcançarmetas sociais outrora negadas,reclamavam e faziam ouvir asua voz por este país fora.Sérgio Godinho, por exemplo,aproveitava e construía “ÀQueima-roupa” - num dos seusdiscos manifestamente maispolíticos — um hino-manifestoà reforma agrária, colocandoe cantando “Os pontos nos is”.Mais tarde, o mesmo Godinhosobre a mesma temática,

Wolf” é um disco de puro rockn’ roll recheado de (belas)canções de malhas envolventesque nos aquecem e nostransportam para outro lugarque não este país ameno. Eeles, e ela, são óptimosescritores de canções. Cançõesverdadeiras, honestas, que nosaconchegam e mimam de talforma que é difícil parar de ouvi-las. A verdade é que eles já nostinham avisado em “LettersFrom The Boatman”, o primeiroálbum, talvez não de uma formatão directa, talvez por ser umálbum onde nos distraíramlevando-nos a viajar pordiversos lugares, mas o avisoestava lá. Para quem ainda nãotinha percebido isso, “Like TheWolf” confirma-o. Só que destavez ainda está mais coesohavendo um fio que liga cançãoa canção. Em cada cançãosente-se a cumplicidade cadavez maior entre os trêselementos da banda, sente-seo amadurecimento natural dosom, uma cumplicidade maiore uma magia cada vez maisintensa que nos cativa aindamais. Ao segundo álbum, os aJigsaw encontraram o lugar queprocuravam, ou será apenasum novo capítulo? Certezas…este é um disco que nos encheo coração e que ficará neledurante muito tempo.J.R.

a Jigsaw – “LikeThe Wolf”(Rewind | 2009)

Rock n’ Roll

Pegando na frase dita pelos aJigsaw e que pertence a WayneCoyne (Flaming Lips): "se orock n' roll está morto entãoeste nosso disco é mais umamão cheia de terra para acampa do rock n' roll". Fica deuma forma simples e cruadefinido o segundo longa

duração dos conimbricenses.Sem tirar nem pôr. “Like The

Hanging By AName – “II”(Cogwheel Records | 2010)

Marca Profunda

Os Hanging By A Namesurpreenderam com o seuálbum de estreia. Logo nesseregisto conseguiram criar umapersonalidade forte e marcanteque os diferenciava de todos osoutros. Volvidos 3 anos editamo seu sucessor o álbum “II” econfirmam as suaspotencialidades enquantobanda, bem como fortalecem amarca criada. Um pouco maislimpo e melodioso que o seuantecessor, ainda assimconsegue soar mais forte eintenso. Sempre fiéis a simesmos, fazendo aquilo quequerem, cumprindo sempre aregra do não-haver-regras,

Ludo –“Nascituno”(Edição de Autor | 2009)

É rock, é pop, é cantado emPortuguês, é despretensioso, ÉBOM!Alguém editou “Meio Disco”recentemente. O Ludo, com seismúsicas apenas, editou umdisco completo. “Nascituro” éo tabuleiro, mas neste Ludo háseis cavalos em vez de quatro.E todos eles ganhadores. Oprimeiro a sair da casa partidaé “Ao Virar da Página”. FolkPortuguesa tornada singleorelhudo e chega a vez de“Espelhos Partidos”. O nomenão podia estar mais de acordocom o baixo forte que dá inícioà música. Depois do Rock, vema marcha dos desalinhados com“Deus Bossa”. A voz sussurradaembala-nos para aquele queseria o primeiro singleespectável. “A Minha GrandeCulpa” ainda hoje me pesa naconsciência por não ter escritosobre este disco mais cedo.Pop/Rock como já pouco se vaiouvindo. Depois disto resta-mesentar no “Sofá Velho” adesfrutar do resto deste grandedisco sem qualquer tipo de“Cordas Presas”. Aqui trata-sesimplesmente de prazer. Prazerem ver que ainda há quem

Mundo Cão – “AGeração daMatilha”(Cobra | 2009)

Falso Preconceito

Confesso que,preconceituosamente, nuncadei a devida atenção aos Mundo

consiga fazer Rock simples,humilde, em Português e combom gosto. O dado foi lançadoe saiu o número seis. O moteestá dado para continuarem ajogar. Aguarda-se o primeiroLonga Duração comexpectativa.Helio Morais

mais longe das planíciespsicadélicas do primeiroálbum,"Bamnan andSilvercork", do Oklahoma ácidodos Flaming lips, e da terranatal (Denton, Texas), subindoColorado, instalando-se maisdefinitivamente como vizinhosdos Czars. No horizontereconhecem-se as silhuetas doCaliforniano Neil Young e dosseus companheiros Crosby,Stills & Nash, dos Moody Bluesou dos America.Neste disco os Midlakeassumem-se herdeiros dasterras dos trovadores da décadade 70 do século passado, comricas harmonias vocais, belasmelodias e arranjos de guitarraacústica e apontamentos deflauta ou guitarra eléctrica aquie ali.No fundo os Midlake continuamo trabalho iniciado em "Trialsof van occupanther", o segundoálbum, mas fazem-no comarranjos mais simples e umamenor paleta de cores. É umálbum mais denso e menosdinâmico, mais negro naintenção, apesar de ter algumbrilho. Tem os seus (muitos)momentos altos na canção quedá nome ao álbum,"Thecourage of others", em"Children of the ground", em"Bring Down" (Onde o NeilYoung de "The Needle and thedamage done" mais se fazsentir), em "Fortune" e em "TheHorn" (esta em modo de missafúnebre).É um disco para se ouvirsozinho. Ouçam-no naintimidade do vosso refúgio oucom "headphones" naquelaserra onde passaram o últimofim-de-semana comprido, masouçam-no sozinho. Afinal, do alto das montanhasdos Midlake, o que se vê sãoos estilhaços de uma civilizaçãoque se perdeu na sua "Quest"por uma vida perfeita, onde oespaço onde o homem deveriacontemplar foi ocupado pelatortura dos caminhos, pelovazio dos destinos. Restam asmontanhas.Mário Fernandes

Mão morta – “1988-1992”(Cobra | 2010)

Braga é suficientemente mutante para rock’n’rollar

portugueses costumam disparar ao incauto — e no mesmo tomdo interlocutor de Bocage — “Vens de Braga?”. Se a respostadesagradar, é sabido que o emissor não se retrai, manda essealguém abaixo de Braga. As expressões populares atribuídas àvelha Bracara Augusta fazem já, tal como a cidade, parte dahistória Portuguesa. E asseguro, recorrendo pela terceira vez ànossa tradição oral, também na música nunca se viu Braga porum canudo.Uma das principais referências do rock português, e incontornávelmesmo para quem estranha a sonoridade animalesca que recitam,são os Mão Morta. Com 25 anos de carreira, a banda do estilhaçadoAdolfo Luxúria Canibal e multi-facetado Miguel Pedro, contrastacom a visão fervorosamente religiosa que o País guarda de Braga— a Capital do Minho que possui bem mais Igrejas do que Teatros.Banda anti-apática, os Mão Morta dividem as opiniões paradespertar, na sua (des)construção musical, ecos revoltosos deum rock que nem sempre o é. Na realidade é um rock transmutadocomo se pode avaliar nas sucessivas incursões experimentais eviragens estéticas que, ao longo dos seus discos, têm produzido.Mas é ao vivo que este colectivo, de amigos que são músicosem part-time (e nunca vice-versa), colhe as principais surpresasdos espectadores. Deixemos os mitos de lado para verificar quea recente digressão de celebração dos 25 anos proporcionouespectáculos dos mais coerentes que por cá sopraram. Concertosorquestrados como uma grande, apenas uma só, música. Intensae explosiva — num estilo de arrepio que fez transpirar ospresentes.Perante a reedição dos primeiros quatro álbuns de Mão Morta,editados originalmente entre 1988 a 1992, identificamos ocaminho desde o negro do primeiro álbum homónimo até ao“Mutantes S.21” e reconhecemos que a génese do actual rockbracarense é aqui que habita. O seu percurso, que nasceu demero entretenimento, saíu do obscuro e passo a passo, rasgoue agitou o País. E Braga não pôde ficar impune. É por isso inegávela referência musical em que os Mão Morta se tornaram paramuitas bandas actuais. É neles que residem os visíveis alicercesda música que mais tarde se ouviu desde os Um Zero Amareloaté aos peixe:avião. Mesmo o funk-rock dos Monstro Mau temnuma simpática faixa a voz de Adolfo. E, claro, os braços quedos Mão Morta saíram para formar os dedos dos Mundo Cão ouO Governo não passam despercebidos a nenhum ouvinte. Fundiu-se bem fundo o rock em Braga. E de onde veio haverá mais. EmAbril, os Mão Morta — depois de “Nus” na sua própria editoraCobra, estão de volta às grandes editoras com o novo disco:“Pesadelo de Peluche”. E com eles mais histórias. Histórias dechorar. De faca e alguidar, e por vezes de encantar. Mais históriaspara contar e, definitivamente, de chorar. Por mais.Cláudio Vieira Alves

Uma vez, perante uma armade fogo, perguntaram aBocage: “Quem és, de ondevens e para onde vais?”. Omesmo, espontâneo e hábil nasrespostas em rima, respondeucom uma quadra quepermanece na história: “Sou opoeta Bocage/ Venho do CaféNicola/ E vou para outromundo/ Se disparas essapistola.” Com a mesma rapidezde Bocage, e perante umvisitante que deixe a portaaberta, quase todos os

Midlake – “Thecourage ofothers”( Bella Union | 2010)

Há alguns anos vi umaexposição de pintura de cujoautor não tive o cuidado de fixaro nome, que me encantou tantocomo perturbou. Erampaisagens belas e verdes,imagens do campo, férteis eviçosas. Ou melhor, tenho acerteza que assim eram masnão posso afirmar que as tenhavisto. Não querendo confundir,passo a explicar.O que o artista fez foi cobriressas paisagens com mantoscinzentos (e aqui falo em tintaespessa, não uma meratransparência de névoa).Apenas deixava um pequenocentímetro aberto com vistapara a paisagem original, umpequeno centímetro verde queinsinuava o esplendor quepoderia estar pintado por detrásde tão monocromático ecinzento resultado final. Sempreme inquietei com esta dúvida:se estariam lá as imagens quenos eram sugeridas ou serealmente se tinha dado aocuidado de as pintar apenaspara as poder ocultar?Este terceiro disco dos Midlakeé um pouco assim.A paisagem é erguida paradepois ser derrotada por medos,desencantos e até desesperos.Como se uma névoa Londrinacolonizasse o prado maissolarengo. Das mais belasflorestas, aos mais frescoscampos, às grandiosasmontanhas é questionada arazão da sua existência, é postoem causa o direito à sua beleza.Canta-se sobre a alegriaperdida, a falta de fé nohomem, a natureza desprezadae foge-se ao tema supremo - oamor.Com uma sonoridade cada vez

Cão. Até um belo dia, em queresolvi colocar “A Geração daMatilha” no leitor de CD e ouvi-lo com a exigida paciência. Eainda bem que o fiz, ou deixariapassar ao lado um dos projectosnacionais mais interessantes daactualidade, bem como umbelíssimo trabalho. O segundoálbum da banda bracarense é

sem margem para dúvida umálbum competente, arriscomesmo a dizer que é umdaqueles álbuns perfeitos. Sempontos fracos, sem músicas másou medianas. É tudo bom. Claroque temos dois pesos pesadosna banda, o Miguel Pedro e oVasco Vaz dos Mão Morta eainda as palavras sempre belas

e negras do “patrão” AdolfoLuxúria Canibal e do poetaValter Hugo Mãe, mas isso nãoé desculpa, aliás até poderiaser um entrave. Neste casofunciona às mil maravilhas eo disco acaba por ser umapérola neste mundo cãonacional. Há uma linha queune todos os temas e, noentanto, acabam por ser bemdiferentes uns dos outros,percorrendo diferentesuniversos musicais. A maiorreferência é a parte rebeldeda década de 90, mas nuncadeixam de explorar outrosestilos e outros mundos.Depois disto, o melhor é deixaros preconceitos de lado.J.R.

The Fox –“HuntingGrounds”(Cooperativa de Comunicação e Culturade Torres Vedras | 2010)

Carrossel de sensações

Os The Fox foram umainteressante surpresa quesurgiu no início deste ano. Nãoos conhecia e de repenteaparecem com um disco namão. Peguei nele e prontamenteo fui ouvir. Gostei. Logo de iníciosimpatizei com o som que meera oferecido por este projectode Torres Vedras. À medida queia descobrindo “HuntingGrounds” foi crescendo o meuinteresse até porque estamosna presença de um punhado degrandes canções rock quepoderiam muito bem pertencera qualquer super banda. E tudoisto ao primeiro álbum. Quandose sonha alto e com o coraçãoeste pode muito bem ser oresultado. Há muito tempo quenão ouvia uma banda assim -há demasiado tempo - umabanda que canta emoções deforma sentida, e maisimportante ainda, que nos fazsenti-las também. Transportapara o ouvinte os sentimentosque as canções transportam,fazendo-nos sorrir, chorar,dançar e, sobretudo, gritar cadapalavra, cada verso. “HuntingGrounds” é um carrossel desensações em que as girafas ecavalos de madeira dão lugar

a impetuosos riffs de guitarrae ritmos ora adocicados oraloucamente saudáveis. Tudodevidamente embrulhado e deuma forma já pouco habitual,mas que é sempre um regalopara quem ama a música e oobjecto.J.R.

The Poppers –“Up With Lust”(Rastilho | 2010)

Tal como os videojogos, cujaqualidade, normalmente, sereconhece pela editora tambéma qualidade de "Up With Lust"se vê de fora. Produzido porNuno Rafael e gravado porNelson Carvalho, que játrabalharam com grandesnomes do panorama nacionaltinha mesmo de sair coisa boa.O instrumental inicial de"Drynamill" denuncia oconteúdo de todo o álbum.Guitarradas nuas e cruas, bemao estilo do Rock 'n Roll dotempo dos nossos pais. A istojuntam-se músicas com letrasanimadas, divertidas eapelativas, bem ao jeito que ajuventude gosta. Depois oálbum segue quase sempre nomesmo registo mas, aindaassim, nota-se que cada músicatem a sua própria identidade,o seu próprio sentimento. Nofinal desta viagem à década de60, «mas com um pé agora»,diz Luís Raimundo, vocalista dabanda, surge-nos "Walls OfSilence" em jeito de baladaconclusiva.Para os cépticos que diziam quea música estava morta emPortugal aqui está mais umexemplo que refuta essa tese.É certo que por cá o Rock nãotem muitas caras mas a dosThe Poppers é, sem dúvida,uma das mais promissoras.Spirou

Chama-se “Hats & Chairs” e é o segundo longa-duração dosThe Soaked Lamb que estará nas lojas a partir do próximodia 5 de Abril. Apesar da forte inspiração pela música americanadas décadas de 1920, 1930 e 1940, este é um álbum semprecom um pé na contemporaneidade. O disco foi misturado emasterizado por Branko Neskov e tem diversos convidados:Nuno Reis (Funk Off And Fly; Mercado Negro; Cool Hipnoise),Pedro Gonçalves e Tó Trips (Dead Combo) e Jorge Fortunato(49 Special).

The Soaked Lamb Sentadose de Chapéu

Depois do EP “Done” de 2007 chegou a altura de dar umpasso maior. Aconteceu no início do mês de Março com olançamento e apresentação ao vivo do primeiro álbum dabanda de Santa Maria da Feira, the LOYD. O referido registoé constituído por 13 temas, chama-se “Love And Revolution”e este é um registo assumidamente rock onde a energia ea irreverência estão bem evidenciadas. A par disso, estátambém disponível o videoclip que acompanha o tema “Alone”.

Já Está Cá Fora O ÁlbumDe Estreia dos the LOYD

quatro japoneses têm o coração e os sentimentos nas mãos. De facto, parecemmutantes a quem foram deslocados os órgãos vitais para as mãos, tal é a paixãocom que tocam e as emoções que conseguem transmitir.

Mono

O regresso dos Monoa Portugal acontece na altura em quelançaram o seu álbum mais emblemático.Ao longo de toda a sua discografia osMono foram sucessivamente quebrandobarreiras e se com o álbum “You AreThere” me questionava se poderia serfeito algo mais belo que este registo, osMono responderam afirmativamente elançaram “Hymn to the Immortal Wind”.Não só é o melhor álbum da banda comotambém é uma obra-prima da músicaactual. Se ainda não é reconhecido comotal, o tempo será juiz e virá provar isso.Actualmente a questão que se coloca écomo será possível fazer algo aindamelhor que o último álbum?

Monohttp://www.myspace.com/monojp.............................................Data: 9 & 10 de Março de 2010Local: Musicbox & Serralves,(Lisboa/Porto)...........................................crítica: Tiago Estevesfotos: Catarina Camachohttp://interventiooon.blogspot.com/[email protected]

Com uma setlist igual em ambos osconcertos, a primazia foi dada às faixasmais recentes, cabendo a “Kidnapper Bell”,a “Sabbath”, a “Yearning” e a “Halcyon(Beautiful Days)” a recordação dos álbunsantigos.Todos os momentos épicos característicosda banda foram nestes dois concertostranspostos para o palco. Se no Musicboxfoi em algumas alturas complicado escutartodos os pormenores, em Serralves foimagistral. Uma acústica ao nível da banda,permitiu escutar cada momento com umanotória perfeição e perceber que estes

Foram dois concertos soberbos e nestemomento é-me muito difícil conceberque durante algum tempo possadesfrutar de algum concerto daforma como desfrutei estes dois.

Os Groupshow são um trio alemão quetoca aquilo a que porventura se poderáchamar de electrónica no seu estado maispuro.

Com o Teatro Maria de Matos bemcomposto para acolher esta experiênciamusical pouco convencional, os Groupshowderam um concerto que foi de encontroaos pergaminhos que definem esteprojecto. A actuação começou mesmoantes de o público entrar e as músicaseram tocadas de improviso.

Ao tocarem de improviso é natural quepor vezes o som não flua da maneira maisadequada mas é daí que advém a maiororiginalidade do trio. Para se tocar destaforma é necessário uma enormecompreensão e percepção do rumo queos outros elementos vão tomar. No fim, osom acaba por funcionar como se fossepré-concebido. De facto, os Groupshownão recriam música antecipadamenteensaiada ou gravada.

Foi um concerto que prendeu, mas quetambém teve o condão de desprender emalguns momentos. No fundo, é aquilo quea banda pretende. Suportam que o públicose deve envolver ou desligar consoante asua vontade.

À semelhança do início, o fim foi trazidopelo descer das cortinas continuando osom a ser improvisado com a enorme

LöboOs Löbo são das propostas maisarrojadas que podem ser actualmenteescutadas em Portugal.

Com o lançamento de “Älma” a bandaquis transportar o EP para o palco comalgumas datas pelo país. Com o PostBar bem composto e apesar daslimitações sonoras do espaço, os Löboderam aquilo que os caracteriza, umsom difícil de rotular com apenas umoutro adjectivo. São post-rock, são drone,são doom? São tudo isto e muito maise é isso que os torna tão originais ediferentes.

É um prazer enorme poder acompanharo crescimento desta banda e vê-los tocarcom tanta Älma.

Löbohttp://www.myspace.com/lobodoom.............................................Data: 5 de Março de 2010Local: Post Bar, Benfica...........................................Groupshowhttp://www.myspace.com/thegroupshow.............................................Data: 23 de Fevereiro de 2010Local: Teatro Maria de Matos, Lisboa...........................................crítica: Tiago Estevesfotos: Catarina Camacho

Groupshow

quantidade de instrumentos que osacompanham, deixando umasensação de desnorte no públicoque não sabia se devia sair ou não.O objectivo estava cumprido e aausência de limite temporal também.

para recordar o videoclip “Tear In ThePocket” e ver a estreia do novo videoclipeque acompanha a “Alone”. Comparandoos dois, o primeiro de 2008, o segundo de2010, percebia-se a diferença e a respectivaevolução.

Chega ao “00 00” e começa o concertoem si. Guitarras bem rasgadas, sons quenos entram no cérebro como raios de luz.Por detrás da tela, que projecta umainteressante animação, está o quartetoque todos esperam ver esta noite. Aanimação termina, a tela sobe e os theLOYD surgem. “Promisse You” é o primeirotema a ser debitado e a contagiar todosos presentes. Para os que ainda não tinhampercebido estava dado o mote para umagrande noite de rock. Cada tema é quasecomo um elogio ao rock, cada tema écomo uma homenagem ao rock puro,sincero e enérgico. A noite foi grandemas temas como “Round Up”, “HaveTo Get Up”, “I'll Be Waiting” e “YouDon't Need To Walk Alone” (da qualadoro o final) ficam retidos namemória por mais algum tempo.Destaque ainda para a “brincadeira”com os dois convidados especiais,

The LOYD

Ainda ando às voltas para encontrar umadjectivo que melhor qualifique a noite desábado, dia 6 de Março, noite deapresentação do primeiro longa duraçãodos the LOYD. Mas todos os adjectivosparecem pequenos para uma noite que foitão grande!

Acompanho este projecto desde o seuinício e é com enorme orgulho e alegriaque vejo esta banda crescer a olhos vistose atingirem tão elevado patamar. Não faloao nível de “serem conhecidos” porqueisso vem com o tempo, falo do nível deprofissionalismo e coesão enquanto banda,nesse aspecto estão ao nível dos melhores.

O concerto começou, faltava poucosminutos para as 22h30. As luzes do Cineteatro António Lamoso apagam e surgena tela branca situada em cima do palcoo número “13 00”. O número 13 é o númeroque aparece na contra campa do álbum erepresenta o número de músicas domesmo, talvez seja o número da sorte dosthe LOYD, mas neste caso anunciava quefaltavam 13 minutos para começar oconcerto. Enquanto a contagemdecrescente se ia fazendo, houve tempo

primeiro com o Miguel Bello, vocalista eguitarrista dos Lulabye, numa versão de“Back In Black” dos AC/DC, e depois comNuno Melo, guitarrista dos Mundo Secreto,numa versão dos Guns n' Roses onde obaterista dos the LOYD mostrou os seusdotes vocais. Jou por sua vez tomou oscomandos da bateria em ambos os temase desenrascou-se muito bem.

Se a energia em palco foi sempre umamarca dos the LOYD, agora estáacompanha de coesão e confiança que setraduz numa presença em palco mais forte,com uma nota de destaque para o Jou queesteve sempre muito bem-disposto ecomunicativo com o público. São cada vezmais uma banda e é notável o crescimentodeste projecto! É bom de ver, ouvir erecomenda-se!

Apresentação do Álbum de Estreia“Love & Revolution”

The LOYDhttp://www.myspace.com/loydband.............................................Data: 6 de Março de 2010Local: Cine Teatro António Lamoso,Santa Maria da Feira...........................................crítica: Jorge Resendefoto: Bruno Costa

Radio Moscowwww.myspace.com/radiomoscow.............................................Data: 22 de Fevereiro de 2010Local: Espaço Nimas, Lisboa...........................................fotos: Manuel Portugal

Radio Moscowhttp://www.facebook.com/home.php#!/pages/Manuel-Portugal-Fotografia/

182371067679?ref=ts

Homem Mauwww.myspace.com/homemmau.............................................Data: 5 de Março de 2010Local: Bar Stop, Porto...........................................Duffwww.myspace.com/duffplace.............................................Data: 6 de Março de 2010Local: Moncorvo...........................................fotos: Ana Lobão

HOMEM MAU e DUFF

O Monstro e O Diligentewww.myspace/omonstrowww.myspace/odiligente.............................................Data: 16 de Jan de 2010 e 14 de Fevereiro de 2010

Local: Bar STOP, Porto e Fnac NorteShopping

(respectivamente)...........................................fotos: Ana Lobão

O Monstroe O Diligente

Saí, ontem – depois de longos anos sem

o fazer –, à noite. É certo que foi, somente,

para ir levar o danado do meu cão a fazer

as suas necessidades junto à porta do meu

vizinho da frente. Mas não foi por isso que

deixei de ficar, desde já, com uma opinião

formada sobre o estado da noite no nosso

país. Sim, caro leitor, adivinhou: a noite

em Portugal é uma bosta. Um belo, e mal-

cheiroso, cocó. Quem já entrou numa casa-

de-banho de uma qualquer casa nocturna

que ouse atirar, na direcção do que eu

acabei de dizer, a primeira pedra. Psst,

psst, caro leitor! O que raios está a fazer?

Eu disse atirar a primeira pedra – não

disse (peço perdão se não fui

suficientemente explícito) fumar a primeira

pedra. Ai esta língua portuguesa.

Poderia, agora, dissertar um pouco sobre

o estado calamitoso a que chegou a nossa

juventude – que se arrasta pela noite, e

pelas esquinas pútridas das cidades,

mergulhada em álcool de várias espécies.

Poderia, ainda, repudiar veementemente

o facto de a droga se passear, vaidosa e

à vista de toda a gente, em cada bar ou

discoteca a que se vai. Mas terei de deixar

esse tipo de discurso para uma próxima

ocasião. Parecendo que não, escrever com

uma garrafa de “Jameson” numa mão e

um cacete de marijuana na outra não dá

jeito nenhum.

Sou frontalmente contra qualquer tipo de

restrição. Prezo, e luto diariamente nesse

sentido, a liberdade acima de tudo. E a

todos os níveis. Não é por acaso – só para

o leitor ter uma ideia mais aproximada do

grau de atenção que dedico a esta matéria

– que só uso, por mais que me seja

desconfortável, boxers largos.

A noite portuguesa já não é o que era.

Mas apenas porque eu, tantos anos

volvidos, já não sou o que era. Já não sou

o que, na verdade, nunca fui. Porque na

noite somos o que não somos. Somos o

que somos. O que realmente somos. Mas

que não podemos, durante o dia (melhor:

no dia-a-dia), ser. E que, por isso, não

somos mesmo.

A noite é a verdade. É nela que tudo vem

ao de cima. E não será necessário, sequer,

trazer novamente à colação os meus boxers

(e o quão esticados ficam quando saio à

noite) para o comprovar indelevelmente.

À noite, dizem, todos os gatos são pardos.

E todos os gajos são parvos. Mas, mais

do que tudo isso, é à noite – e só á noite

– que se vê a luz. Pelo menos quando a

Gostovska a acende para saber aonde

colocou a porcaria dos preservativos.

Teorização metafísicaou simplesmente estupidez.

www.pedrochagasfreitas.blogspot.com/

Por Pedro Chagas Freitas

A noite e as restrições

"Good evening. It doesn’t look like, butit’s a French film. Sorry about the accent.I’m the producer of the film, so I have tothank the 3,000 non-official sponsors thatappear in the film. And I have to assurethem that no logos were harmed in themaking of the project. This award has tobe shared with the incredible people whomade the film. All the team and especially,the three directors that are with us in thetheater tonight: François Alaux, Hervé deCrécy and Ludovic Houplain. You canapplaud them, the directors. Thanks forthem. They have been working for a verylong time on this film. It took, like, sixyears to make this 16 minutes, so I hopeto come back here with a long feature film,in about 36 years. Thank you very much.Bon soir." – Foram as palavras de NicolasSchmerkin durante a noite dos Óscares.

Concorreram também nesta categoria -“A Matter of Loaf and Death" de Nick Park- das personagens Wallace & Gromit –“French Roast” do Francês Fabrice O.Joubert, “La Dama y la Muerte” do espanholJavier Recio Gracia e co-produzido porAntonio Banderas e “Granny O’Grimm’sSleeping Beauty” de Nicky Phelan.Pena foi que "A Matter of Loaf and Death"(Aardman Animations Ltd.) não tivesseganho o Óscar pois terá sido umcandidato bastante à altura.

Óscares 2010 - Animação

A animação “UP” da Pixar, dirigida por PeteDocter’s, foi a grande vencedora do Óscarpara Melhor Filme de Animação. Entre osnomeados encontravam-se “Coraline” dobritânico Neil Gaiman; “Fantastic Mr. Fox”de Wes Anderson; “The Princess and theFrog” da Walt Disney – produzido por RonClements e John Musker e finalmente “TheSecret of Skells” dirigido pelos irlandesesTomm Moore e Nora Twomey. Além destegalardão, “UP” venceu igualmente o prémioda categoria de Melhor Banda SonoraOriginal.Trata-se de uma comédia sobre CarlFredricksen, um vendedor de balões de78 anos que com esta idade realizafinalmente o sonho da sua vida – adescoberta da América do Sul - quandoprende milhares de balões à sua casa edeste modo se desloca pelos céus numagrande aventura. O protagonista vai porémdescobrir que o seu maior pesadelotambém embarcou nesta viagem – o superoptimista, Russel, um explorador danatureza de 8 anos.

Relativamente às curtas-metragens deanimação, a grande vencedora foi“Logorama” doArgentino Nicolas Schmerkin. Os membrosda academia decidiram que o trabalhoconstituído por 2500 logótipos de marcase mascotes contemporâneas e clássicasmerecia ser distinguido com o prémio daacademia. No decurso do passado anohavia já acumulado várias distinções, taiscomo o prémio Kodak no Festival de Cannese os Prémios do Júri e do Público doportuguês Cinanima.

Na minha perspectiva, “Logorama” primaabsolutamente pela originalidade, pelo queterá sido a justa vencedora desta categoria.Importa referir que a curta elaborada nosestúdios Franceses H5 terá implicado paraalém de um moroso trabalho de 6 anos,a autorização imprescindível de todas asmarcas envolvidas para que se conseguisseexecutar o projecto sem problemas. É umtrabalho surpreendentemente bemconseguido, pecando apenas, a meu ver,por algum exagero no argumento.

Zootrópio Por Nuno Silvawww.sparkuberalles.blogspot.com/

“UP” da Pixar

“Logorama” de Nicolas Schmerkin

"A Matter of Loaf and Death"

De muitos bons sentidos de vontades é

feito este nosso Portugal. Julgo que o

mundo todo vive uma fabulosa crise. Nunca

antes se viu tanto glamour e tanta

perturbação anunciada para o

contentamento de tão poucos. Nós somos

o que somos e este sistema que nos

provoca enquanto produtos está bem

próximo de ruir.

Todas as semanas milhões de pessoas

querem ganhar a sorte grande, milhões

de pessoas se matam a trabalhar doze

horas diárias e milhões de pessoas morrem

com o desgosto de não serem o que é

suposto serem. Portugal é morno.

Contentamo-nos com a política medíocre

e que nem bem corrompida sabe ser,

satisfazemo-nos com telenovelas de

qualidade duvidosa, com as suas histórias

copiadas de qualquer outra parte do mundo

e ambicionamos ser aquilo que vemos por

aí, poético, profético, artístico, frenético,

eléctrico... O mal está em nos esquecermos

de sermos nós próprios. Parece-me um

mal global. Estagnar com a informação

que nos é dada, mesmo tendo nós o veículo

mais livre do mundo, nos nossos

computadores, nos nossos telemóveis,

qualquer dia até na nossa cabeça. O que

me intriga neste raciocínio é porque é que

continuamos a querer ser iguais aos outros

ou porque é que não podemos ser honestos

connosco próprios e ser o que somos na

realidade. Mas e o que será que somos na

realidade? Será que respondemos para

saber a verdade ou dizemos a verdade

que sabemos para responder?

Esta volta serve para voltarmos a Portugal.

Música, portuguesa, cantada em português.

Já todos estão felizes. Já há pelos menos

30 discos de música cantada em português,

de Portugal, para passar na rádio, ainda

que seja feita a metro pelas mesmas

pessoas que faziam antes música em

inglês. Ajudados pelos mesmos que

ajudaram outros projectos antes e que

entretanto apareceram com uns novos e

que dispuseram logo de visibilidade. Para

os que lêem isto e ainda andam a começar

nestas lides musicais vos digo, sejam

cínicos e hipócritas e dêem palmadinhas

nas costas a toda a gente se querem

visibilidade e mediatismo. Mas se realmente

se preocupam com a música que fazem e

fazem a música que querem: mandem-

nos foder. Perdoem-me, a agressividade

latente prende-se com as minhas raízes

no norte do país. É um facto e uma verdade

que boas coisas têm aparecido e que

algumas delas até merecem ovação de pé,

mas outras há que não se entende e que

os cinco críticos de música portugueses,

perdoem-me, mais uma vez, talvez sejam

dez críticos, não sei bem ao certo,

adoraram, chamaram de extraordinário.

Aliás, podemos ir à parte da música

portuguesa na Fnac e ver aqueles

fantásticos autocolantes com citações

fantásticas do Expresso e de blogs que

ninguém conhece a dizer o quão soberba

é a lírica transcendente desses novos

artistas, ainda que depois qualquer pessoa

perceba que parecem meios dementes a

cantar e que tudo que dizem vem

simplesmente carregado de um cinismo e

de uma hipocrisia que tanto nos caracteriza

a nós citadinos habituados a ser

apunhalados pelas costas todos os dias.

Felizmente, aqui para norte, somos mais

explícitos e frontais. Não sabemos ainda

fazer esse jogo de parecer sincero mesmo

quando não se é. Talvez por isso as bandas

que por aí andaram ainda são faladas hoje

e talvez por isso Ornatos Violeta, com 2

discos, ainda sejam falados e relembrados

diariamente e Pop Dell Arte sejam

escondidos (os exemplos servem única e

exclusivamente como provocação gratuita).

Falando agora de Ornatos Violeta, quero

apenas reforçar que, se cantar em

português é imitá-los, imite-se então a

genuinidade, essa é que é importante e

perceba-se o quão importantes foram e

ainda são, com todas as ramificações

musicais que vieram do seu fim. Zelig,

Foge Foge Bandido, Nuno Prata,

Supernada, Plus Ultra, Pluto, para citar

alguns. Bandas que não querem ser nada

nem ninguém, que existem pelo simples

prazer da música. Podem ouvir qualquer

uma delas e comprová-lo. Quando é que

vamos abraçar a verdade da música e

apreciá-la em vez de passarmos o tempo

preocupados com regras de consumismo?

Com per7umes que nos perturbam mais

a concentração do nosso olfacto auditivo.

Que não tapem as ondas sonoras com

Rumo À Vida Eternawww.obsessividadespeculativa.blogspot.com/

Por Davide Lobão

músicas que já se conhecem de

todo o lado. Não precisamos de

soar todos iguais. Pessoal, quando

forem gravar as vossas músicas

deixem ficar os erros, deixem-

nos ficar, para sabermos que são

pessoas que estão a tocar, que

não são máquinas. Que foram

pessoas que tocaram a guitarra

e por isso é que não é sempre

perfeito, que foram pessoas que

editaram os projectos e por isso

têm erros de edição. Ouçam os

discos do Neil Young, ouçam-no

a desafinar, a enganar-se nos

acordes. Ouçam os Zeppelin com

o Page a quase conseguir que os

solos soassem mal mas a fazê-

los soar sempre bem. Ouçam o

Buckley e a voz que parece que

vai partir mas que grita sempre

mais alto, como se o coração

fosse o mais importante.

Havemos de adorar sempre aquilo

que compreendemos e temer o

que não compreendemos. Já

todos estamos um pouco mais

perto da loucura e percebemos

que a música, cada dia que passa,

nos faz mais falta, porque a

loucura só pode amainar lidando

nós com as emoções, e por vezes

pesam e doem, por vezes fazem-

nos querer desistir. Mas há que

estar atento porque quando

menos esperamos alguém nos

diz o que precisamos de ouvir,

mesmo não valendo nada,

mesmo sendo o pior exemplo,

mas enquanto nos sentirmos

parte de alguma coisa, seremos

mais felizes.