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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP
CÂMPUS DE JABOTICABAL
MÉTODOS ALTERNATIVOS NO ENSINO DA TÉCNICA
CIRÚRGICA VETERINÁRIA
Emanoel Ferreira Martins Filho
Médico Veterinário
2015
Jaboticabal - SP
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP
CÂMPUS DE JABOTICABAL
MÉTODOS ALTERNATIVOS NO ENSINO DA TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA
Emanoel Ferreira Martins Filho
Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Daleck
Coorientador: Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Cirurgia Veterinária.
DADOS CURRICULARES DO AUTOR
Emanoel Ferreira Martins Filho – nascido na cidade de Salvador – Ba; em 10
de fevereiro de 1977, filho de Safira dos Santos Martins e Emanoel Ferreira Martins.
Médico Veterinário formado pela Universidade Federal da Bahia, no ano de 2007. Em
2010 obteve o título de mestre junto ao Programa de Pós-graduação em Ciência
Animal nos Trópicos da Universidade Federal da Bahia - UFBA, sob orientação do
Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto. Em março de 2011 iniciou o curso de doutorado
em Cirurgia Veterinária, sob Orientação do Prof. Dr. Carlos Roberto Daleck, e
Coorientação do Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto. Professor temporário da Área
de Cirurgia Veterinária do Departamento de Anatomia, Patologia e Clínicas
Veterinárias – UFBA no período dezembro de 2012 à março de 2014.
EPÍGRAFE
“Quando tudo nos parece dar errado
acontecem coisas boas que não teriam acontecido
se tudo tivesse dado certo.”
Renato Russo
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, por estar sempre ao meu lado guiando-me nas escolhas e dando
força e discernimento para enfrentar todos os obstáculos. Além disso, agradeço por
ter colocado no meu caminho pessoas com as quais eu pude verdadeiramente contar.
À minha família por ser, na minha vida, alicerce e referência. Agradeço em
especial a minha mãe Safira por sempre acreditar e apoiar incondicionalmente minhas
decisões... Sou eternamente grato!
Ao meu Irmão Samuel pela capacidade de resolver as pendências familiares,
enquanto estive ausente... Muito obrigado!
À Andressa Moraes Amâncio, mais uma vez, pela atenção e paciência... Só
posso dizer, todo esforço e renúncia não serão em vão... Eu te amo muito!
Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Roberto Daleck, que me acolheu, acreditou
em meu potencial e por ter compartilhado suas experiências ao longo da vida que
certamente tornou-me uma pessoa muito melhor do que aquela quando iniciou o
doutorado.
Ao amigo e coorientador Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto, pela confiança,
pelos desafios e por ter abraçado este projeto. Sei que os momentos de alegria,
tristeza, discussões e conselhos ficarão guardados na minha memória e certamente
contribuirão para minha formação profissional. Agradeço por tudo e que continue
sempre assim.... Uma pessoa iluminada!
Aos Amigos Deusdete Conceição Gomes Junior, Rodrigo Lima Carneiro; Tiago
Caparica Módolo; Vinícius de Jesus Moraes; Roberto D’avila Fernandez; Manuela
Rocha Franco; Claudênia Ferreira da Silva; Hilda Palma; Anderson Dallastra; Carlos
Henrique Rabelo; Patrick Hainfellner; Robson Rondini; Vitor Cibiac Sartori; Samuel
Santos Sousa; Diego Mendes; Carlos Alberto; Alison Barbosa; Daiane Becker Scalez;
Gabriela Bueno; Danielle Zanerato Damasceno; Débora Lunardi; Renata Andrade e
Virgínia Rodrigues... estes fizeram meus dias mais felizes em Jaboticabal, diminuído
a saudade por estar longe de casa! Agradeço em especial a Deusdete e Tiago pela
paciência e atenção durante todo o período em que convivemos. Reconheço e serei
eternamente grato por abdicarem dos seus afazeres para me auxiliar nos momentos
finais do doutorado... sem a ajuda de vocês certamente não conseguiria!
Não posso esquecer Srª. Rosa Yaegashi Hainfellner que me acolheu tão bem,
fazendo me sentir em casa! Muito obrigado por tudo!
Aos alunos e monitores da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da
Universidade Federal da Bahia (UFBA) por participarem e auxiliarem no
desenvolvimento do projeto de pesquisa. Especialmente aos monitores Vladmir Lênin;
Joelma Silva; Verena Martinez Andrade; Nestor Soto Blanco; Tainah Dorado; Lucas
Fontoura e Daiane dos Santos que se empenharam ao máximo para o êxito deste
trabalho. Vocês foram fundamentais!
Aos colegas professores do Departamento de Anatomia, Patologia e Clinicas
Veterinárias (DEAPAC/UFBA) e os funcionários da Hospital de Medicina Veterinária
(HOSPMEV/UFBA) por cada palavra de entusiasmo, fazendo-me seguir em frente,
especialmente as profas. Dras. Arianne Oriá, Alessandra Estrela e Maria José
Batatinha pela ajuda inestimável. Não posso esquecer das profas. Dras. Karina Médici
Madureira, Vivian Fernanda Barbosa e Maristela Seudo Lopes por cada momento em
que precisei de uma palavra de apoio ou de várias "carolinas"!
Ao amigo e diretor do HOSPMEV-UFBA, Prof. Dr. Carlos Humberto Ribeiro
Filho pelo apoio e por ceder as instalações para execução deste projeto... Nossos
intervalos antes do almoço e no final do expediente permitiram compartilhar de sua
inesgotável experiência profissional e de vida.
Às amigas Raquel Graça Teixeira, Julia Toríbio e Ilka Gonçalves pelos
sequestros gastronômicos que certamente compensou cada quilo perdido durante os
momentos de estresse!
Meus respeitosos agradecimentos pela contribuição da banca do exame de
qualificação e pela participação dos membros da banca examinadora da defesa.
Ao Programa de Pós-graduação em Cirurgia Veterinária (UNESP/Jaboticabal)
pela oportunidade e pela bolsa de estudos.
i
SUMÁRIO
Página
RESUMO .......................................................................................... iii
ABSTRACT ....................................................................................... iv
LISTA DE TABELAS ......................................................................... v
LISTA DE QUADROS ....................................................................... vi
LISTA DE FIGURAS ......................................................................... vii
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................... 1
1. Introdução .................................................................................. 1
2. Revisão da literatura .................................................................. 2
2.1 A experimentação animal .................................................... 2
2.2 O ensino da cirurgia ............................................................. 5
2.3 Métodos substitutivos e alternativos .................................... 8
3. Objetivos .................................................................................... 14
3.1 Objetivo geral ....................................................................... 14
3.2 Objetivo específico .............................................................. 14
4. Referências ................................................................................ 16
CAPÍTULO 2 – USO DO VÍDEO DIDÁTICO COMO INSTRUMENTO
PARA O ENSINO/APRENDIZADO DA ASSEPSIA DA EQUIPE
CIRÚRGICA ...................................................................................... 22
Resumo ......................................................................................... 22
Abstract .......................................................................................... 23
1. Introdução .................................................................................. 24
2. Material e métodos .................................................................... 25
3. Resultados ................................................................................. 39
4. Discussão .................................................................................. 40
5. Conclusão .................................................................................. 42
6. Referências ................................................................................ 43
ii
Página
CAPÍTULO 3 – SIMULADOR APLICADO AO ENSINO DA
TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA - ASSEPSIA E
PREPARAÇÃO DO CAMPO OPERATÓRIO .................................... 45
Resumo ......................................................................................... 45
Abstract .......................................................................................... 46
1. Introdução .................................................................................. 47
2. Material e métodos .................................................................... 48
3. Resultados e discussão ............................................................. 55
4. Conclusão .................................................................................. 59
5. Referências ................................................................................ 60
CAPÍTULO 4 – SIMULADOR APLICADO AO ENSINO DA
TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA – HEMOSTASIA
CIRÚRGICA ...................................................................................... 62
Resumo ......................................................................................... 62
Abstract .......................................................................................... 63
1. Introdução .................................................................................. 64
2. Material e métodos .................................................................... 65
3. Resultados e discussão ............................................................. 77
4. Conclusão .................................................................................. 80
5. Referências ................................................................................ 82
CAPÍTULO 5 – BASTIDOR APLICADO AO ENSINO DA TÉCNICA
CIRÚRGICA VETERINÁRIA – SÍNTESE DOS TECIDOS ................. 84
Resumo ......................................................................................... 84
Abstract .......................................................................................... 85
1. Introdução .................................................................................. 86
2. Material e métodos .................................................................... 87
3. Resultados e discussão ............................................................. 93
4. Conclusão .................................................................................. 95
5. Referências ................................................................................ 96
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 98
iii
MÉTODOS ALTERNATIVOS DE ENSINO APLICADO A TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA
RESUMO – A formação cirúrgica envolve conceitos complexos teóricos e práticos, particularmente relacionados à técnica cirúrgica e suas bases, dentre as quais o desenvolvimento de habilidades é considerado essencial. As cirurgias experimentais, outrora realizadas para este fim, atualmente são conflitantes com os conceitos de bem estar animal e gradualmente vem sendo desestimuladas. Os métodos alternativos à vivissecção, além de auxiliarem no desenvolvimento de habilidades, fundamentam o pensamento crítico e cumprem a função educacional requerida sem causar prejuízo aos animais. Fundamentados na doutrina dos 3R’s que evocam a redução, a substituição de animais e o refinamento de técnicas empregadas na experimentação, buscou-se desenvolver, avaliar e padronizar recursos alternativos de ensino que visem reduzir ou substituir o uso de animais na didática cirúrgica, e que permitam a aquisição de habilidades e conhecimentos práticos necessários para condução de manobras inerentes aos princípios da assepsia cirúrgica e as fases fundamentais da técnica cirúrgica, proporcionando ao aluno a autoconfiança e a competência necessárias à realização de um procedimento cirúrgico com risco mínimo operatório e, finalmente, a primazia da ética e do bem estar animal.
Palavras-chave: técnicas alternativas, modelos didáticos, vivissecção, cirurgia.
iv
ALTERNATIVE METHODS IN TEACHING SURGICAL TECHNIQUE VETERINARY
ABSTRACT Surgical training involves complex theoretical and practical concepts, particularly related to operative technique and its basic concepts, among them the development of skills is considered essential. Experimental surgeries, performed once for this purpose, are currently conflicting with current concepts of animal welfare and has been gradually discouraged. The alternative to vivisection methods, as well as helping to develop skills, establish critical thinking and meet the required educational function without harming the animals. Grounded in the doctrine of the 3Rs that evoke the reduction and replacement of animals and refinement of techniques employed in the experiment, we seek to develop, evaluate and standardize alternative teaching resources that reduce or replace the use of animals in surgical teaching and to enable acquisition of skills and practical knowledge needed to conduct maneuvers accordingly to the principles of surgical asepsis and fundamental stages of surgical technique, giving Students the confidence and skills necessary to performing a surgical procedure with minimal operative risk, and finally, the primacy of ethics and animal welfare.
Keywords: alternative techniques, didactic models, vivisection, surgery
v
LISTA DE TABELAS
Página
Capítulo 2
Tabela 1. Relação de vídeos produzidos sobre paramentação cirúrgica, tempo de reprodução individual e total. ..................................... 39
Capítulo 3
Tabela 1. Comparação das médias entre os semestres em função da média mínima (7,0) para aprovação na disciplina com relação a preparação do campo operatório principal – acessório – ortopédico ................................................................................. 58
Capítulo 4
Tabela 1. Comparação das médias entre os semestres em função da média mínima (7,0) para aprovação na disciplina com relação as manobras da hemostasia cirúrgica ....................................... 79
vi
LISTA DE QUADROS
Página
Capítulo 2
Quadro 1. Sistematização das etapas e descrição dos procedimentos empregados na paramentação cirúrgica. Fonte: Adaptado de Verwilghen et al. (2011); Schulz (2013) e Duarte; Leite (2013) 26
Quadro 2. Relação de itens empregados para avaliação da prática de paramentação cirúrgica aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia............ 38
Capítulo 3
Quadro 1. Relação de itens empregados para avaliação da prática de preparação do campo operatório aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia. 53
Quadro 2. Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do manequim ........................................................... 54
Capítulo 4
Quadro 1. Relação quantitativa dos componentes necessários para montagem do simulador de hemostasia .................................... 66
Quadro 2. Relação de itens empregados para avaliação da prática de hemostasia cirúrgica aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia. 75
Quadro 3. Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do simulador de hemostasia cirúrgica ....................... 76
Capítulo 5
Quadro 1. Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do bastidor aplicado a síntese cirúrgica .................... 92
vii
LISTA DE FIGURAS Página Capítulo 2 Figura 1. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo
demonstrativo do procedimento para a colocação dos equipamentos de proteção individual. Em A, remoção dos adereços; colocação da touca descartável (B); Aspecto final após a fixação da touca e máscara cirúrgica (C); calçamento do pro-pé com o ajuste na barra da calça (D) ............................ 28
Figura 2. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo
demonstrativo de desinquinação cirúrgica. A- Umedecimento das mãos e antebraços; B- Aplicação do degermante tópico solução de Digliconato de Clorexidina 2% com tensoativos sobre as áreas de desinquinação; C, D e E – Manobras para escovação das unhas, mãos e antebraços. F- Enxague com água corrente com inclinação dos antebraços .......................... 29
Figura 3. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo
demonstrativo da secagem das mãos e antebraços e colocação do avental cirúrgico. Em A, Abertura e entrega do kit cirúrgico; Secagem das mãos (B); Colocação das mãos e manobra para o desdobramento do avental (C e D); assistência do auxiliar no fechamento do avental cirúrgico (E e F) .............................................................................................. 31
Figura 4. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo demonstrativo das três técnicas de colocação de luvas cirúrgicas. Em (A e B) demonstração do Método Aberto, (C e D) Método Fechado; Calçamento das luvas assistido (E e F) ... 32
Figura 5. Imagem fotográfica de aula demonstrativa de paramentação
cirúrgica para os alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária na Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. Em A: Grupo Aula Professor e em B: Grupo Vídeo Apoio .............................................................................. 33
Figura 6. Representação esquemática do posicionamento de cada
webcam e as etapas do circuito destinadas a paramentação cirúrgica .................................................................................... 35
Figura 7. Notar em A microcomputador com programa de
gerenciamento de webcan em funcionamento. Em B, observar macrofotografias obtidas pelo programa de gerenciamento das webcan´s com exemplificação de algumas da etapas de paramentação avaliadas ........................................................... 36
viii
Capítulo 3
Figura 1. Imagens fotográficas do simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária – Assepsia e preparação do campo operatório. Em A manequim mimetizando um cão posicionado em decúbito dorsal, com um membro torácico articulado. Em B, antissepsia do abdome ventral. Em C e D colocação da cobertura cirúrgica para laparotomia (panos de campo principais). Em E, simulador mimetizando campo operatório com cobertura cirúrgica para laparotomia e incisão dérmica com exposição do tecido celular subcutâneo e linha alba, para execução da colocação dos panos acessórios (F) .. 50
Figura 2. Simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária – assepsia e preparação do campo operatório. Em A e B, antissepsia do membro torácico direito. Em C, colocação de cobertura cirúrgica (malha tubular) da extremidade do membro. Em D, E e F, colocação da cobertura cirúrgica (panos de campo principais) ................................................................. 51
Capítulo 4
Figura 1. A -Esquema de montagem do simulador para treinamento de hemostasia cirúrgica. Em I subsistema propulsor de fluido formado por 1. Reservatório plástico de 5 L, 2. Válvula de pé para sucção do fluido, 3. Bomba Peristáltica com dois roletes; 4. Emenda de mangueira tipo “T” 3/16”; Em II, subsistema de mimetização vascular formado por 5. Emenda reta para mangueira 3/16”, 6. Bexiga Látex tipo “canudo” e 7. Caixa mimetizadora vascular. Em III, subsistema de reciclagem do fluido/ monitoramento de pressão composto por 8. Válvulas de 3 vias, 9. Válvula de alivio de pressão, 10. Manômetro de pressão. B Aspecto final da montagem do protótipo sem a caixa mimetizadora vascular ..................................................... 68
Figura 2. Mimetizador de tecidos do simulador: 1. Primeira lâmina de espuma, 2. Canal de acomodação da bexiga, 3. Bexiga látex tipo “canudo”, 4. Segunda lâmina de espuma. 5. Bexiga exteriorizada pela abertura da segunda lâmina, 6. Bexiga posicionada em profundidade visibilizada mediante abertura nas segunda lâmina de espuma, 7. Furos laterais para acoplamento dos vasos à caixa mimetizadora, 8. Modificação da tampa mediante a remoção parcial da tampa da caixa, 9. Orifício feito na tampa para fixação da tampa ao conjunto ........ 70
1
CAPÍTULO 1 – Considerações gerais
1. Introdução
A formação cirúrgica abrange complexos conceitos teóricos e práticos,
particularmente os relacionados à técnica cirúrgica e suas fases fundamentais, dentre
as quais destaca-se o desenvolvimento de habilidades é considerado essencial na
formação do profissional.
As cirurgias experimentais, outrora realizadas com esta finalidade, atualmente
são conflitantes com os atuais conceitos de bem estar animal e gradualmente vem
sendo desestimuladas.
Como garantir aos alunos de graduação e pós-graduação o desenvolvimento
da habilidade cirúrgica?
É sabido que a destreza cirúrgica advém da prática constante, e somente assim
cada manobra será efetuada inconsciente e espontaneamente, permitindo o bom e
eficiente resultado operatório.
Na atualidade, em meio a conceitos éticos e de cunho educacional, no âmbito
da sistemática operatória, imperam inúmeros questionamentos:
É correto empregar animais, que juramos cuidar e proteger, para essa
finalidade?
A vivissecção é mesmo necessária?
Existem outras maneiras de garantir esse aprendizado?
Em respeito às inúmeras eutanásias praticadas em prol do ensino cirúrgico e
cientes da necessidade de mudanças, buscam-se alternativas.
Fundamentados nos conceitos dos 3 R’s que evocam a redução e substituição
de animais e o refinamento de técnicas empregadas na experimentação (PAIXÃO;
SCHRAMM, 2008), procura-se fomentar recursos alternativos, que visem reduzir e
substituir o uso de animais na didática cirúrgica e que permitam a aquisição de
habilidades e os conhecimentos práticos necessários para condução de manobras
inerentes aos princípios da assepsia e das fases fundamentais da técnica cirúrgica,
garantindo o aprimoramento dos alunos em suas habilidades e destrezas cirúrgicas,
e consequentemente o refinamento do procedimento posteriormente empregado no
modelo experimental.
2
Mediante a necessidade da experiência cirúrgica, somente conseguida em
procedimentos cirúrgicos reais, muitos autores advogam o uso de animais para esta
finalidade, porém somente após exaustivo condicionamento das manobras cirúrgicas
por meio de recursos alternativos. O aluno quando apto poderá, sob restrita
supervisão, realizar procedimentos em ordem gradativa de complexidade. Neste
contexto, o aprendizado inicia por meio de procedimentos cirúrgicos relacionados à
esterilização cirúrgica de animais de companhia. Estas intervenções cirúrgicas são
indicadas em virtude da simplicidade da técnica e do baixo grau de risco para o
paciente, tal fato reduz os transtornos psicológicos para os alunos durante o
treinamento com animais vivos, Além de contribuir para o controle populacional de
cães e gatos.
2. Revisão da literatura
2.1 A experimentação animal
Na visão antropocêntrica de organização de uma escala zoológica, o Homo
sapiens destinou para si o topo da evolução das espécies, criando um equívoco
linguístico e científico com distinção entre animais e homem, como se ele não fosse
um animal (FAGUNDES; TAHA, 2004). A experimentação animal relata o
procedimento visando descobrir o princípio ou efeito desconhecido, pesquisar a
hipótese ou confirmar o fato conhecido por meio do uso de seres do reino Animalia,
excluindo-se os animais humanos (SCHNAIDER; SOUZA, 2003; PAIXÃO;
SCHRAMM, 2008).
As narrativas históricas da utilização dos animais pelo homem para as mais
diversas finalidades são conhecidas desde os primórdios da humanidade. A Bíblia
documentou para todos os séculos, o sacrifício de animais, desde que fossem por
sacerdotes e em louvor ao Criador (BÍBLIA, 2002; PIMENTA; SILVA, 2001). A lei
judaica adverte sobre a crueldade para com os animais, e que estes devem ser
tratados humanamente, com bondade e compaixão. Conforme esta lei as experiências
com animais são permitidas somente se forem realizadas para o bem da humanidade
e não para satisfazer desejos individuais (GOLDENBERG, 2000; SCHNAIDER;
SOUZA, 2003).
3
Na escola de Alexandria, na primeira metade do século III a.C., Herófilo foi o
primeiro a dissecar animais em público e Erasístratus, o pioneiro em realizar
experimentos com animais vivos, o que possibilitou a sua descrição de que as artérias,
quando cortadas durante a vida, contém sangue (PAIXÃO, 2001). O filósofo realizava
vivissecções em animais com o objetivo de observar estruturas e formular hipóteses
sobre o funcionamento associado a estas (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).
A primeira pesquisa científica que utilizou animais pode ter sido a realizada por
William Harvey em 1638, publicada com o título Exercitatio anatomica de motu cordis
et sanguinis in animalibus. O autor apresentou os resultados obtidos em estudos
experimentais sobre a fisiologia da circulação sanguínea realizados em mais de 80
diferentes espécies animais. René Raumur, biólogo francês cujos estudos
contribuíram para muitas áreas da ciência, também utilizava animais para seus
experimentos. Dentre suas contribuições está a demonstração, em 1752, de que o
estômago atua quimicamente sobre os alimentos (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).
Posteriormente, Stephen Hales, um famoso cientista britânico, realizou uma
série de experimentos sobre a circulação sanguínea. Suas investigações sobre o
sistema arterial dos animais foram publicadas em 1733, sob o título Haemastaticks
(RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).
Já no século XVIII, Edward Jenner testou a hipótese da vacinação a partir de
seus conhecimentos da doença no gado leiteiro e Louis Pasteur testou a sua teoria
da imunização contra raiva a partir de macerado do cérebro de um cão raivoso. Robert
Kock estabeleceu de forma cabal a relação causal entre um agente microbiológico e
uma doença, estudando o carbúnculo que afetava o gado (FAGUNDES; TAHA, 2004).
Por esses acontecimentos, filósofos e pensadores questionaram ou
endossaram a utilização de animais como modelos experimentais. O filósofo francês
Michel Montaigne considerava, em essência, a igualdade entre os animais e os seres
humanos. Seu posicionamento ia de encontro à ideia de que os animais viviam de
ações mecânicas e sem raciocínio, diferentemente dos seres humanos (PAIXÃO,
2001; RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).
Já o filósofo francês René Descartes, acreditava que somente os homens
possuíam alma racional e que os animais eram como máquinas, cujos movimento e a
vida eram consequência de uma “alma sensitiva”. Outros, como David Hume
postulavam que tanto os animais como os homens aprendem muitas coisas por meio
de experiências (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002) e Jeremy Bentham dizia que o
4
importante não são as semelhanças e diferenças: a questão é deixar ou não que os
animais sofram (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002; LEVAI, 2004). Provavelmente, as
ideias de René Descartes sobre as diferenças entre os homens e os animais tenham
influenciado os cientistas do século XVII a realizarem seus experimentos sem
questionar o uso de animais (LEVAI, 2004).
Somente em 1876, na Inglaterra, foram elaborados os princípios de ética
aplicados em benefício da experimentação animal, que vigoram até os dias atuais
(PIMENTA; SILVA, 2001; SCHNAIDER; SOUZA, 2003). Em 1824, na Inglaterra foi
criada a Society for the Preservation of Cruelty to Animals e em 1845, na França,
surgiu a primeira sociedade protetora dos animais (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002). No
Brasil, em 1925, implantou-se em Minas Gerais a "Sociedade Protetora dos Animais”,
órgão responsável pela regulamentação e fiscalização das atividades relacionadas ao
uso de animais (PIMENTA; SILVA, 2001).
Existem diferentes formas de utilização de animais como modelo experimental,
sendo divididas em diversas categorias: a pesquisa básica, que formula e testa
hipóteses sobre questões teóricas fundamentais; a pesquisa aplicada, que formula e
testa hipóteses sobre doenças, disfunções, defeitos genéticos, entre outros. Inclui-se
nesta categoria os testes de novas terapias; o desenvolvimento de substâncias
químicas e fármacos; as pesquisas voltadas para o aumento da produtividade e
eficiência dos animais na prática agropecuária; os testes de segurança, potencial de
irritação e grau de toxicidade de algumas substâncias; o teste de fármacos para uso
veterinário ou humano; o uso de animais em instituições educacionais e o uso de
animais para extração de fármacos e produtos biológicos (PAIXÃO; SCHRAMM,
2008).
As discussões acerca da experimentação animal fomentaram o conceito dos 3
R’s (replacement, reduction and refinement) (PAIXÃO; SCHRAMM, 2008). Este
conceito foi sugerido pelos pesquisadores William Russel e o Rex Burch, em 1959, no
seu livro intitulado “The Principles os Humane Experimental Technique” e foi
empregado para nortear as pesquisas que envolvessem animais de tal forma que as
tornassem mais humanitárias (PIMENTA; SILVA, 2001; RAYMUNDO; GOLDIM, 2002;
LEVAI, 2004; PAIXÃO, 2004; PAIXÃO; SCHRAMM, 2008).
O 1º “R” ou replacement (substituição), indica que se deve procurar substituir a
utilização de vertebrados em pesquisa por outros modelos experimentais, que podem
incluir plantas e microorganismos, entre outros. O 2º “R” ou reduction (redução),
5
sugere que se deve procurar reduzir o número de animais utilizados em um
experimento. O 3º “R” ou refinement (refinamento ou aprimoramento), indica que se
deve procurar reduzir ao máximo o desconforto ou sofrimento animal (PAIXÃO, 2001;
LEVAI, 2004). Esta proposta não contraindica a utilização de modelos animais em
experimentação, mas indica uma adequação no sentido de humanizá-la
(RAYMUNDO; GOLDIM, 2002; PAIXÃO 2004).
Ainda hoje os 3 R’s da experimentação animal são citados como devida
necessidade para a adequação da pesquisa em modelos animais e é medida adotada
nos melhores biotérios mundiais (PIMENTA; SILVA, 2001; RAYMUNDO; GOLDIM,
2002).
Muitas são as razões para as instituições de ensino e pesquisa considerarem
alternativas para a substituição do uso de animais em aulas práticas, incluindo
considerações éticas, riscos de zoonoses, higiene do ambiente de trabalho, eficácia
no ensino, pressões econômicas, além de uso ilegal de animais e publicidade adversa.
Segundo Arluke (2004), as práticas com animais vão contra pressupostos éticos e
morais de muitos dos acadêmicos e pesquisadores, causando conflitos internos
desnecessários, além dos problemas de ordem psicológica gerados por tal ação. O
debate acerca desse assunto tem aumentado muito nos últimos anos, enquanto
grupos de proteção aos animais tem obtido sucesso em persuadir muitas instituições,
em âmbito global, a abolirem a utilização de animais de laboratório com fins didáticos
e de pesquisa (JUKES, 2004).
2.2 O ensino da cirurgia
A prática da cirurgia tem registro desde os primórdios das civilizações
conhecidas. Inicialmente foi praticada de maneira empírica, em indivíduos
traumatizados, sendo realizada por aqueles que dispunham apenas do bom senso e
da vontade em ajudar. O conhecimento disponível resumia-se a noções de anatomia
humana comparada com os animais e a relatos de experiências vividas em situações
de intervenções semelhantes, dando início à formação dos primeiros Barbeiro-
cirurgião, assim denominados de Barbeiros (MARQUES, 2005).
Relatos sobre médicos-cirurgiões existem desde o período de 1600 a.C., no
Antigo Egito, porém, foi na Grécia nos séculos IV e V, a.C. a medicina se organizou
com Hipócrates por meio da compilação de 72 livros intitulado “Corpus hippocraticum”.
6
Esta obra influenciou a medicina e a cirurgia (CONFORTI; MAGALHÃES, 1983;
MARQUES, 2005).
No Renascimento, Ambroise Paré foi o grande precursor da cirurgia moderna.
Escreveu livros em francês e em latim difundindo conhecimentos e facilitando o
aprendizado dos “cirurgiões-barbeiros”. Este filósofo elevou rapidamente a condição
da classe cirúrgica, e a cirurgia passou a ser admitida pela classe médica como forma
de terapêutica sendo incluída como cátedra nas Faculdades de Ciências Médicas.
Com a possibilidade da impressão de livros com ilustrações, o interesse pela anatomia
ressurgiu de vez, enriquecendo os conhecimentos médicos sobre o tema
(CONFORTI; MAGALHÃES, 1983).
No Brasil, o Ministério da Educação incluiu nas diretrizes curriculares destes
cursos, o ensino das “Bases Técnicas da Cirurgia” que correspondem à “Técnica
Cirúrgica Fundamental, Básica ou Geral”, oferecida ao término do ciclo básico de cada
curso, buscando-se propiciar a preparação dos alunos para a Técnica Cirúrgica
Especial ou Especializada, geralmente ministrada no ciclo profissional (MARQUES,
2005).
A técnica cirúrgica é o conjunto de processos da arte operatória, constituindo-
se de sequência de movimentos ou atos harmônicos, executados manualmente ou
por meio de instrumentos, materiais e aparelhos, para a realização de determinado
ato operatório, com pleno conhecimento anatômico e funcional da região operatória
(CONFORTI; MAGALHÃES, 1983).
A técnica cirúrgica fundamental, básica ou geral estuda as manobras cirúrgicas
básicas, relacionadas às técnicas assépticas, precauções universais no centro
cirúrgico, tempos operatórios e fases fundamentais da técnica cirúrgica. Desta forma,
não se refere a qualquer intervenção cirúrgica especializada, mas ao conhecimento
das manobras que, de um modo geral, são executadas em todos os procedimentos
cirúrgicos (GOFFI, 2000).
Segundo Marques (2005), somente após compreensão desses conceitos
gerais, existirá perfeita condição para estudo da técnica cirúrgica especial ou
especializada, que compreende a ordenação do conjunto de manobras realizadas
para executar um tratamento operatório sobre determinada região anatômica, ou, de
outra forma, o estudo dos tempos operatórios inerentes a cada operação, em
particular.
7
A complexidade dos conhecimentos cirúrgicos também envolve fundamentos
nas áreas de biologia, anatomia, fisiologia e farmacologia. Essas informações devem
ser apresentadas de forma gradativa e interligadas, permitindo a consolidação dos
conhecimentos, sem os quais tornam-se fator impeditivo ao aluno ingressar no
ambiente clínico-cirúrgico (SABBATINI; BARBOSA, 1993; TSUDA et al., 2009). O
domínio da anatomia, fisiologia, patologia e dos princípios cirúrgicos, bem como
quando aplicar esses conhecimentos, não caracteriza o aluno em cirurgião (TSUDA
et al., 2009), para tanto, além da informação teórica, é imperativo o desenvolvimento
da destreza cirúrgica (MARQUES et al., 2005; MATERA, 2008; TSUDA et al., 2009).
Em geral, o treinamento acadêmico para aquisição de competências
psicomotoras ainda se faz pelo modelo observacional, conhecido como “ver, fazer e
repetir” no qual o aluno além de acompanhar a rotina cirúrgica com a devida
supervisão do professor, realiza procedimentos cirúrgicos experimentais em animais
vivos e durante sua execução adquire competências cirúrgicas fundamentais, por
tentativa e erro (SMEAK, 2006).
A formação cirúrgica bem balizada, sedimentada com boa compilação teórica
de conhecimento e no desenvolvimento de competências psicomotoras contribui para
a correta execução de diversas manobras, minimizando assim erros e influenciando,
sobremaneira, o resultado do procedimento cirúrgico (MARQUES, 2005).
De acordo com Oliveira (2008), a metodologia de ensino, ao longo dos anos,
tem requerido adaptações curriculares com a adoção de alternativas, que visam o
bem-estar animal, principalmente no que se diz respeito à técnica operatória.
Inicialmente a Europa e os Estados Unidos adotaram normas muito rígidas para o uso
de animais no ensino da cirurgia veterinária e promoveram o incentivo ao uso de
recursos audiovisuais; modelos para simulação de procedimentos ou mesmo
cadáveres de animais não necessariamente sacrificados para esse fim. Por
conseguinte, para garantir a aquisição de habilidades, diversos métodos alternativos
também denominados “substitutivos” têm sido desenvolvidos, buscando-se cumprir a
função educacional/científica sem causar prejuízo aos animais (CAMPOS; ROCHA,
1996; BUYUKMIHCI, 2007).
A maioria dos recursos alternativos propostos para o ensino da técnica
cirúrgica, guiam-se pelos conceitos dos 3R’s e frequentemente empregam artifícios
que mimetizam situações necessárias as manobras básicas da cirurgia, a exemplo
8
das técnicas assépticas e fases fundamentais: diérese, hemostasia e síntese
(MATERA, 2008, COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2009).
Positivamente, os métodos alternativos, além de duradouros, quando
comparados ao ciclo de vida dos animais de laboratório, e econômicos, quando
considerados os gastos com alimento e tratadores, ainda podem ser usados repetidas
vezes. Além disso, permitem aos alunos aprender no seu próprio ritmo, sem o estresse
das aulas que empregam a vivissecção. E talvez a característica mais relevante incida
sobre o caráter humanitário desta alternativa, sendo capaz de permitir que educadores
e alunos ensinem e aprendam sem a necessidade de machucar ou matar outros seres
(GREIF; TRÉZ, 2000).
2.3 Métodos substitutivos e alternativos
Entende-se por métodos substitutivos, aqueles que substituem totalmente o
uso de animais, seja no ensino ou na pesquisa, estes podem ser simulações
computadorizadas ou ensaios físico-químicos. Já os métodos alternativos e
complementares são todos os outros procedimentos nos quais não se tenham um
animal vivo. Contudo, atualmente, é comum uma definição na qual métodos
alternativos são todos os procedimentos capazes de diminuir ou substituir o uso de
animais vivos no ensino e pesquisa, minimizando a dor e/ou sofrimento dos mesmos
(COSTA, 2006; TUDURY; POTIER; FERNANDES, 2009).
Métodos alternativos e substitutivos, ou ambos, são empregados visando à
integração do aluno para com as práticas das disciplinas e ao mesmo tempo objetiva
construir o conhecimento científico e o pensamento ético sobre o uso de animais
(TUDURY; POTIER; FERNANDES, 2009).
Estes métodos são capazes de perpetuar o conhecimento, melhorando o
aprendizado dos alunos, além de excluir problemas de ordem psicológica que o uso
de animais pode ocasionar. Palestras, cursos, encontros internacionais e debates
sobre o assunto estão ganhando força pelo mundo e fazendo com que a maioria das
universidades passe a adotá-los (MAGALHÃES; ORTÊNCIO FILHO, 2006).
Dentre os métodos alternativos disponíveis para o ensino cirúrgico na medicina
veterinária podemos relacionar: a utilização de cadáveres preservados (MATERA,
2008); o emprego de artefatos confeccionados a partir de espuma, látex e outros
materiais sintéticos (BUYUKMIHCI, 2007; ANDRADE, 2009); utilização de órgãos e
9
tecidos obtidos em matadouros (BUYUKMIHCI, 2007, TUDURY; POTIER, 2008) e o
uso de manequins anatômicos em resina emborrachada (1RNET, 2011). Vale porém,
considerar que apesar de contribuírem para consolidação do pensamento ético e
serem bastante difundidos, ainda são poucos os métodos que possuem comprovação
de sua eficácia e padronização (COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2009).
Novas tendências também se adequam a essa realidade como o uso de
plataformas de mundos virtuais (LEONG et al., 2008; WIECHA et al., 2010), bem como
o uso de “games” voltados ao ensino (DE BIE; LIPMAN, 2012; BALOGH, 2014).
Cadáveres humanos e de espécies domésticas, tradicionalmente, tem sido
empregados para o ensino da anatomia humana e veterinária, quando os alunos
praticam atividades de dissecação visando a visibilização de detalhes acerca de
órgãos e estruturas (TIPLADY; LLOYD; MORTON, 2011). Outra aplicabilidade para
este recurso encontra-se no treinamento cirúrgico ou no desenvolvimento de novas
intervenções cirúrgicas (MATHEWS et al., 2010; GILBODY et al., 2011).
Ressalta-se que para seu emprego, os cadáveres necessitam de meios de
fixação e conservação, uma vez que após a morte há o processo de putrefação, que
inviabiliza seu uso em aulas e impede sua presença em ambientes cirúrgicos. Na
medicina veterinária, são considerados os cadáveres obtidos eticamente a partir do
óbito de cães e gatos em hospitais veterinários, abrigos ou centros de zoonoses
(SILVA et al., 2011).
Segundo Silva et al. (2011) a fixação é a parte mais importante da conservação,
e fará com que os tecidos se mantenham firmes, insolúveis e protegidos da
putrefação. Para isso são necessárias substâncias que possuam capacidade de evitar
o processo de crescimento bacteriano preservando as estruturas anatômicas para o
treinamento e aprendizado dos alunos.
Silva; Matera; Maciel Ribeiro (2003) visando o treinamento cirúrgico,
propuseram nova formulação para conservação química de cadáveres animais. A
solução de Larssen modificada foi assim denominada por ser o resultado de pequenas
alterações na solução original desenvolvida na Universidade René Descartes, no setor
de anatomia patológica do Hospital de Cochim em Paris, que aprimorou suas
propriedades de conservação de cadáveres. Esta solução tem como grande vantagem
o fato de preservar os tecidos animais de forma que suas características teciduais
(textura, coloração e odor) permanecem bastante similares às de um animal vivo.
10
Adicionalmente, o cadáver tem a flexibilidade de seus membros e articulações
conservados.
A partir deste estudo, a solução de Larssen modificada foi largamente testada
em cães, mostrando-se capaz de impedir a proliferação bacteriana e preservar
cadáveres com mínimas alterações de características teciduais (SILVA; MATERA;
MACIEL RIBEIRO, 2003). Os cadáveres de cães conservados por esta solução
tiveram boa aceitação por parte de alunos e professores ao serem utilizados nas
atividades práticas da disciplina de técnica cirúrgica da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (SILVA; MATERA; MACIEL
RIBEIRO, 2003; 2007).
Considerando que a ausência de sangramento durante o treinamento cirúrgico
com cadáveres é fator limitante, Inglez de Souza (2012) buscou superar esta
limitação, por meio da realização da simulação de circulação sanguínea em cadáveres
adequadamente preservados, permitindo aos usuários do sistema a possibilidade de
treinamento cirúrgico em um modelo mais próximo do animal vivo, viabilizando
também o aprendizado e a prática da hemostasia.
Buscando-se melhores técnicas de conservação de cadáveres tem se difundido
a técnica anatômica de plastinação. A plastinação é um método de preservação de
espécimes biológicas, deixando-as o mais próximo de sua aparência em vida, criado
pelo Dr. Gunther von Hagens, da Universidade de Heidelberg, Alemanha, em 1977. O
procedimento consiste em trocar a água e a gordura dos tecidos por polímeros, por
resinas, podendo ser o silicone, epóxi ou poliéster, privando assim das bactérias o que
elas precisariam para sobreviver. Com esta técnica, evita-se o uso de soluções
conservantes tóxicas e de odor desagradável, como o formaldeído, bem como eleva
a durabilidade das peças, característica útil para as atividades de pesquisa, ensino e
expositivas em anatomia (ANDREOLI; SILVA; SEREN, 2012).
Por meio do emprego de modelos, manequins e outros artefatos, que
mimetizam corpos, órgãos e tecidos, também é possível garantir ao acadêmico, o
conhecimento e a destreza necessários à condução do procedimento cirúrgico, sem
a necessidade do emprego da vivissecção para esta formação. Modelos e manequins
são uma representação estática de um objeto de estudo utilizando materiais não
biológicos como resinas plásticas, látex, EVA e espuma de poliuretano para o
treinamento cirúrgico. São considerados de baixa fidelidade por representar visão
simplificada da situação. Quando sua composição utiliza materiais biológicos, como
11
órgão de cobaias ou de animais provenientes de abatedouros, denomina-se de
modelos de bancada em alta fidelidade e garantem maior riqueza de detalhes e
funcionalidades objetivando simular situações complexas (TUDURY; POTIER;
FERNANDES, 2009; BASTOS; SILVA, 2011; COSTA NETO et al., 2011; DENADAI;
OSHIIWA; SAAD-HOSSNE, 2012).
Assim como os cadáveres plastinados, modelos de animais produzidos em
resinas plásticas são empregados para demonstrar aspectos morfológicos de vários
órgãos e tecidos. Em práticas ortopédicas na medicina e veterinária, ossos
confeccionados a partir de polietileno são amplamente utilizados para ilustrar as
fraturas e demonstrar técnicas de osteossintese (JUKES; CHIUIA, 2006).
Para o treinamento de técnicas hemostáticas, são empregados simuladores
que mimetizam hemorragia e permitem que os alunos desenvolvam suas habilidades
sem o estresse relacionado à presença de sangue, proporcionando assim a
autoconfiança necessária para que a hemostasia definitiva seja feita com segurança
em um procedimento cirúrgico real. O POP (Pulsanting Organ Perfusion) modelo de
bancada de alta fidelidade adotado pelo Hospital Bregenz, na Áustria é considerado
um simulador para uso em técnicas cirúrgicas que permite que órgãos de abatedouros
sejam perfundidos constantemente com um líquido corado num sistema fechado, cuja
pressão é mantida por bomba eletronicamente controlada, de forma que a circulação
de cada órgão ocorre de maneira semelhante ao que ocorreria em um órgão
fisiologicamente ativo. Com esse modelo conduz-se cirurgias abdominais, torácicas,
urogenitais, ginecológicas, e vasculares e ensaios de várias técnicas hemostáticas
(GREIF; TRÉZ, 2000).
Relacionado ao ensino da síntese cirúrgica e aos respectivos padrões de
sutura, poucos são os artefatos descritos na literatura e disponíveis para
comercialização e utilização. Destaca-se como opção viável o DASIE (Dog Abdominal
Surrogate for Instructional Exercises) divulgado pela Rede Internacional de Educação
Humanitária INTERNICHE. Trata-se de um artefato de formato cilíndrico, composto
por várias camadas de diferentes tecidos e materiais, que de acordo com sua textura
e consistência, mimetizam os mais variados planos anatômicos (1RNET, 2011).
O uso de tecidos, apoiados ou não em bastidores circulares para bordado, tem
sido descritos (TUDURY; POTIER, 2008) e são frequentemente utilizados em vários
cursos de medicina veterinária do Brasil. Porém, assim como a maioria dos recursos
alternativos empregados para o ensino médico, a falta de padronização e avaliação
12
desse recurso comprometem sua adoção como material didático (GREENHALGH,
2001).
Com o avanço tecnológico, os recursos audiovisuais, particularmente os
vídeos, passaram a ser considerados viáveis para dinamizar as atividades
pedagógicas. No ensino médico cirúrgico, vídeos didáticos têm sido amplamente
empregados para demonstrar inúmeras manobras técnicas e procedimentos
cirúrgicos com o intuito de reforçar o aprendizado (FARQUHARSON et al., 2013),
buscando-se evitar a repetição desnecessária de procedimentos didáticos em animais
(CARPENTER et al., 1991; BONELLA, 2009).
O emprego desse recurso permite a formação de banco de imagens de
procedimentos cirúrgicos, possibilitando a utilização independente da sua casuística
(TIELLET; LIMA; REATEGUI, 2008; COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2009;
FARQUHARSON et al., 2013). Podem ser utilizados de diversas formas, dentre elas,
vídeo lição quando o vídeo é utilizado como ferramenta de aula expositiva e dispensa
a presença do professor; ou vídeo apoio, quando imagens veiculadas pelo vídeo são
empregadas para reforçar o discurso do professor ou dos alunos; vídeo interativo,
quando associado à outra mídia, na forma de informática interativa, por exemplo
(VICENTINI; DOMINGUES, 2008).
Desempenham importante papel como método alternativo a vivissecção, sendo
recurso de baixo custo, o que, para instituições com recursos financeiros limitados,
pode ser alternativa realista à dissecção e experimentação com animais,
especialmente quando combinados com outras abordagens visando os objetivos do
ensino (JUKES; CHIUIA, 2006).
As câmeras digitais, os recursos de animação, desenhos e simulações, bem
como as facilidades de edição não-linear, trouxeram novas possibilidades de
desenvolvimento de materiais audiovisuais, que, supostamente podem servir para
potencializar a aprendizagem por meio da visualização de conceitos complexos, da
interatividade e da motivação dos alunos, buscando assim, associar recursos e
linguagens de mídia às necessidades educacionais para o ensino presencial e a
distância (ZARO; TIMM, 2001 ; SCHNAID; SOUZA, 2003; CABRAL JUNIOR et al.,
2005).
Desenvolveram-se assim, os recursos multimídia ou sistemas educacionais
hipermídia, cujo objetivo para a transferência de informações, não é necessariamente
uma mudança de material, mas sim a reorganização do modo de apresentação. A
13
intenção é a de transmitir em um adequado período de tempo, informações
necessárias para satisfatória formação profissional, maximizando assim o
aprendizado (MEHRABI et al., 2000; FRANÇA et al., 2006).
Estas ferramentas auxiliam o processo de aprendizagem por organizar grandes
quantidades de informação de forma não-linear, as quais acessadas de acordo com
as experiências dos usuários, permite a construção do conhecimento respeitando a
capacidade de cada indivíduo. Resultam em formas de aprendizado mais atrativas
quando comparados aos métodos tradicionais de ensino (COSTA NETO; MARTINS
FILHO, 2010).
Com os atuais avanços tecnológicos, pode-se disponibilizar tais informações
na rede de alcance mundial – internet ou em mídias de armazenamento óptico de
dados (CD e DVD-ROMs), para que as mesmas sejam utilizadas pelo aluno em
qualquer horário e local, com total liberdade de revisão do assunto (ZUBAS; HEISS;
PEDERSEN, 2006; FONSECA et al., 2008; JENKINS et al., 2008).
Neste contexto a educação baseada na “Web” vem sendo frequentemente
requisitada por instituições de ensino, por permitir que a informação esteja agregada
a um único veículo (navegador web) e acessível a qualquer horário e momento que
for conveniente (GIGLIO, 2007; TIELLET; LIMA; REATEGUI, 2008; TIELLET, 2010)
A simulação envolve a reprodução de comportamento, fenômenos e sensações
que não estão acontecendo na realidade, estes são mediados por aparelhos e/ou
“softwares” cujo o objetivo é prever determinada situação sem oferecer risco ao
usuário. Recurso bastante utilizado e priorizado no treinamento de pilotos de
aeronaves por permitir maior segurança aos pilotos quando submetidos a situação
real (DE MONTBRUN; MACRAE, 2012).
Os simuladores tem sido empregados no ensino médico cirúrgico como
alternativa à dificuldade em utilização de cadáveres humanos e tem como objetivo
complementar a fase cognitiva do aprendizado permitindo que o aluno possa chegar
a fase de treinamento com o paciente, mais preparado e consciente acerca dos
instrumentais e do arsenal de técnicas que estão disponíveis (SOUSA; OKADA;
SUZUKI, 2011).
O uso de simuladores não influencia na aquisição de habilidades cirúrgicas
quando comparados com os métodos tradicionais de ensino, entretanto observa-se
maior sensação de confiança por parte dos alunos quando submetidos ao
procedimento real (SMEAK et al., 1994; SUTHERLAND et al., 2006). Dessa forma é
14
considerado alternativa segura para o desenvolvimento de habilidades, atendendo os
preceitos éticos e bem-estar animal (SCALESE; ISSENBERG, 2005)
A união dos simuladores com as redes sociais permitiu a formação de “mundos”
paralelos às realidades. O ambiente permite a troca de informações e sensações que
só seriam possíveis na vida real. Nestas plataformas o usuário assume uma
identidade, também conhecida como avatar, que permite sua visibilidade e interação
com os demais membros dessa comunidade. Essa tecnologia já está em uso para a
simulação de conferências médico-cirúrgicas com interatividade muito maior que uma
vídeo conferência (LEONG et al., 2008).
É possível também aliar esses ambientes virtuais aos jogos interativos e
educativos, assim como recriar ambientes acadêmicos e hospitalares, onde é possível
reproduzir grande diversidade de situações de atendimento clínico-cirúrgico que
ajudará na tomada de decisões quando posto em situações reais (DE BIE; LIPMAN,
2012; BALOGH, 2014).
3. Objetivos
3.1 Objetivo geral
Idealizar e desenvolver métodos alternativos que auxiliem e favoreçam o ensino
da disciplina Técnica Cirúrgica Veterinária, buscando a redução, a substituição do uso
de animais, ou ambos, assim como o aprimoramento técnico para o desenvolvimento
de práticas éticas voltadas ao bem-estar animal.
3.2 Objetivo específico
Idealizar e desenvolver recurso didático empregando o vídeo, na modalidade
de instrumento de apoio, para o ensino das técnicas assépticas da equipe cirúrgica.
Paralelamente avaliar o seu uso e eficácia pedagógica;
Idealizar e desenvolver recurso didático alternativo ao uso de animais destinado
ao ensino de técnicas assépticas relacionadas a preparação do campo operatório,
bem como avaliar seu uso e sua eficácia pedagógica;
15
Idealizar e desenvolver recurso didático alternativo ao uso de animais,
destinado ao ensino de técnicas hemostáticas. Paralelamente avaliar o seu uso e
eficácia pedagógica;
Idealizar e desenvolver recurso didático alternativo ao uso de animais,
destinado ao ensino da síntese dos tecidos particularmente relacionados aos padrões
de sutura, bem como avaliar seu uso e sua eficácia pedagógica.
16
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22
CAPÍTULO 2 - Uso do vídeo didático como instrumento para o ensino/
aprendizado da paramentação cirúrgica
Resumo
Os vídeos didáticos vêm sendo utilizados para reforçar o aprendizado em
diversas áreas de ensino notadamente para formação de indivíduos que necessitam
do desenvolvimento de habilidades práticas. Desta forma, objetivou-se desenvolver e
avaliar o uso do vídeo, como instrumento didático, para o ensino da assepsia -
paramentação cirúrgica. Respeitando-se a sistematização das condutas de um centro
cirúrgico padrão, foram elaborados e editados sete vídeos, tipo apoio, relacionados a
paramentação da equipe cirúrgica. O recurso didático sob a forma de vídeo apoio
(Grupo GVA) foi comparado ao método tradicional de ensino presencial (Grupo
GMTE) por meio de avaliação do desempenho de 65 e 28 alunos para cada grupo,
respectivamente. Ao analisar o desempenho dos alunos entre grupos, para o
procedimento de desinquinação das mãos e antebraços, os resultados indicaram que
o grupo GVA obteve desempenho 40% maior do que o grupo GMTE. Considerando-
se a execução de todas as etapas inerentes à paramentação, foi observado
incremento de desempenho dos alunos em aproximadamente 24% com a inclusão do
vídeo apoio, sem alterar o tempo de execução das atividades práticas. Conclui-se que
a implementação dos vídeos permitiu a consolidação do conhecimento de forma mais
efetiva e com diminuição do tempo de ensino de manobras básicas, o que tornou as
aulas mais dinâmicas mesmo com número maior de alunos. Adicionalmente a adoção
desta metodologia e tecnologia por centros de saúde e instituições de ensino poderá
proporcionar maior êxito no controle biológico de infecções.
Palavras Chaves: vídeo apoio; paramentação cirúrgica; metodologia de ensino
23
The use of vídeo as educational toll for surgical scrubbing in learning
Abstract
Educational videos are used to enhance learning in several areas of education
especially for individuals who need training in the development of practical skills. Thus,
the objective was to develop and evaluate the use of video as an educational support
tool applied to the teaching of Asepsis – Surgical Scrub.Obeying the systematization
of behaviors in a standard operating room, particularly related to the preparation of the
surgical team, were produced and edited seven support videos related to the scrubbing
of surgical team. The teaching resource in the form of support video (Group GVA) was
compared to the traditional method of classroom teaching (Group GMTE) by assessing
the performance of 65 and 28 Students for each group, respectively. Analyzing
intergroup progress of the Students for scrubbing procedure of hands and forearms,
results indicated that GVA group has an evolution 40% better than GMTE group.
Considering all procedures of scrubbing, an increment of 24% of Student´s progress
was noticed, only with inclusion of support video without changes in duration time of
practical activities. We conclude that the implementation of the videos allowed
consolidation of knowledge more effectively, decreasing time of learning basic
maneuvers which made classes most dynamic even with a greater number of
Students. The adoption of this technology by health centers and educational
institutions may provide greater success in the biological control of infections.
Keywords: support video; Scrubbing In; teaching methodology
24
1. Introdução
Com o avanço tecnológico, os recursos audiovisuais, particularmente os vídeos
didáticos, passaram a ser considerados viáveis para dinamizar as atividades
pedagógicas. Podendo ser usados de várias maneiras. Na modalidade de vídeo lição,
quando é considerado uma ferramenta de aula expositiva e substitui o professor.
Como vídeo apoio, quando imagens veiculadas pelo vídeo são empregadas para
reforçar o discurso do professor ou dos alunos. Vídeo interativo quando as imagens
são associadas à outra mídia, sob a forma de informática interativa, por exemplo. E
de forma monoconceitual, quando o vídeo gira em torno de um tema específico
(VICENTINI, DOMINGUES, 2008).
Os vídeos no ensino médico cirúrgico tem sido amplamente empregados para
demonstrar inúmeras manobras técnicas e procedimentos cirúrgicos
(FARQUHARSON et al., 2013), de maneira a evitar a repetição desnecessária de
procedimentos em animais (BALLS, 2009; BONELLA, 2009; TRÉZ, 2010). Além disso,
seu uso permite a formação de banco de imagens dos procedimentos cirúrgicos
possibilitando a utilização independente da sua casuística (TIELLET; LIMA;
REATEGUI, 2008; COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010; FARQUHARSON et al.,
2013).
O sucesso ou o infortúnio do ato operatório depende de vários fatores, dentre
os quais destaca-se o controle da infecção. A antissepsia cirúrgica é considerada
método eficaz na prevenção de infecções na ferida operatória. Entretanto, negligência
nestes procedimentos, em virtude de sua simplicidade na execução, permitem a
quebra da técnica asséptica, gerando altos índices de infecção pós-operatória
(GONÇALVES, GRAZIANO; KAWAGOE, 2012). Neste âmbito, as técnicas assépticas
aplicadas aos cirurgiões, auxiliares e volantes são fundamentais para o êxito da
cirurgia e consequentemente, extremamente relevantes na formação cirúrgica.
No aprendizado dos “Princípios da Assepsia Cirúrgica”, além de conceitos
básicos de higiene pessoal, são abordados conhecimentos de procedimentos técnicos
relacionados a antissepsia e ao emprego de vestuários e coberturas cirúrgicas
estéreis. Geralmente, tais conceitos, no método tradicional de ensino empregam o
modelo de aprendizagem observacional, conhecido como “ver, fazer e repetir”
(MATERA, 2008). A limitação do tempo destinado para desenvolvimento de aulas
práticas, o grande número de alunos e deficiências em equipamentos, muitas vezes,
25
são fatores impeditivos para o aprendizado e o para o ganho de habilidades,
particularmente sobre este tema. Desta forma, objetivou-se avaliar o uso do vídeo,
tipo apoio, como instrumento didático de suporte ao ensino da Assepsia -
Paramentação cirúrgica, comparando-o com o método tradicional de ensino.
2. Material e métodos
Para alcançar o objetivo proposto foram realizadas as seguintes etapas:
Levantamento Bibliográfico sobre os Princípios da Assepsia Cirúrgica; Adequação e
desenvolvimento de roteiro didático para elaboração e edição dos vídeos apoio;
Inclusão destes na disciplina de Técnica Cirúrgica Veterinária; Avaliação do
desempenho prático dos alunos; Coleta dos resultados e análise estatística.
2.1 Levantamento bibliográfico
Livros didáticos de Técnica Cirúrgica e publicações científicas na área foram
utilizados para abordagem da temática “Princípios da Assepsia Cirúrgica”. Os
assuntos envolvidos neste projeto foram: vestimentas e coberturas cirúrgicas; agentes
antissépticos; paramentação cirúrgica e controle de infecção hospitalar.
2.2 Adequação e desenvolvimento de roteiro didático
Os assuntos abordados foram roteirizados a partir da sistematização das
condutas de um centro cirúrgico padrão, particularmente relacionadas à preparação
da equipe cirúrgica preconizadas pela literatura consultada (VERWILGHEN et al.,
2011; DUARTE; LEITE, 2013; SCHULZ, 2013), e descritos no quadro abaixo (Quadro
1).
26
ETAPAS PROCEDIMENTOS
Vestimentas e coberturas cirúrgicas
Remoção de acessórios, substituição de roupas externas pelo pijama cirúrgico, colocação de gorro, máscaras e propés.
Preparação da pele da equipe cirúrgica
Desinquinação das unhas, mãos e antebraços pelas técnicas direta e alternada, enxague em fluxo de água, colocação de antisséptico tópico e secagem das áreas com toalha estéril
Proteção física da equipe cirúrgica
Vestimenta do avental cirúrgico e calçamento das luvas cirúrgicas pelas técnicas aberta, fechada e assistida
Quadro 1: Sistematização das etapas e descrição dos procedimentos empregados na paramentação cirúrgica. Fonte: Adaptado de Verwilghen et al. (2011); Schulz (2013) e Duarte; Leite (2013)
2.3 Elaboração dos vídeos apoio
Local e captura das imagens: As imagens, capturadas com o auxílio de câmera
digital1, foram obtidas nas instalações de um centro cirúrgico padrão com alunos
modelo (AM), respeitando-se roteiro pré-estabelecido e suas etapas. Na primeira
etapa o AM, após vestir o pijama cirúrgico, demonstrou a maneira correta de se
colocar: gorro ou touca; máscara cirúrgica e propé, todos de uso descartável2.
Na segunda etapa (preparação da pele da equipe cirúrgica), o AM demonstrou
nas pias de preparação cutânea as manobras relativas a desinquinação cirúrgica,
pelas técnicas direta e alternada. Seguiu-se o enxague das mãos e aplicação tópica
alcoólica de digluconato de clorexidina a 0,5%3 sobre as partes enxaguadas.
Na terceira etapa (Proteção física da equipe cirúrgica), o AM realizou a
secagem das mãos/antebraços e a vestimenta do avental cirúrgico4. Ato contínuo,
demonstrou os métodos exemplificados para o calçamento de luvas, a técnica aberta,
fechada e a assistida, o que compreendeu a finalização do procedimento de
paramentação cirúrgica.
1 NEX-1, Sony Electronics Inc, San Diego, USA 2 Descarpack, São Paulo – SP, Brazil 3 Marclorhex®, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira, SP, Brazil 4 Avental Cirúrgico Kimberly-Clark ref. 78012-00, Quality Central de Esterilização LTDA - Araçoiaba da Serra, SP, Brasil
27
2.4 Edição dos vídeos apoio
Para edição e adequação ao propósito pedagógico as gravações foram
encaminhadas para um microcomputador5, equipado com programa de editoração6
onde foram feitas a seleção, corte das cenas e produção do vídeo apoio, estes tinham
a duração máxima de 10 minutos cada. Também foi feita a eliminação do áudio,
controle de cores e saturação das imagens. Foram produzidos sete arquivos de vídeos
com formato Áudio Vídeo Interleave (AVI) em alta resolução com dimensões 720p
(1.280 x 720 pixels).
2.4.1 Vídeo 1 - Demonstração do processo de colocação de vestimenta e
coberturas cirúrgicas para ambiente de baixos índices de contaminação. As atividades
executadas foram remoção de acessórios como relógios, anéis, e brincos (Figura. 1A),
colocação da touca cirúrgica com a cobertura total dos cabelos (Figura. 1B), colocação
da máscara cirúrgica recobrindo boca e narinas, em sua totalidade (Figura. 1C) e o
calçamento dos pro-pés (Figura. 1D). O tempo de duração foi de 2,15 minutos.
2.4.2 Vídeo 2 - Execução da escarificação cirúrgica com utilização da técnica
direta. As manobras foram executadas empregando-se água corrente e
escova/esponja plástica com dupla face, embebida em solução degermante de
digluconato de clorexidina 0,5%, tendo início com o umedecimento das mãos e
antebraços (Figura 2A); aplicação do degermante tópico sobre as áreas de
desinquinação (Figura 2B); e por meio de movimentos sequenciados unidirecionais a
escovação das unhas (Figura 2C), faces dos dedos (Figura 2D); antebraços e
cotovelos (Figura 2E). Após a desinquinação ocorreu o enxague com água corrente
com inclinação dos antebraços (Figura 2F). O tempo total deste vídeo foi de 6,15 min.
5 Inspiron DT Série 3000, Dell Inc, Eldorado do Sul, RS, Brazil 6 Lightworks®, EditShare Incorporated, Boston, MA, EUA
28
Figura 1. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo demonstrativo do procedimento
para a colocação dos equipamentos de proteção individual. Em A, remoção dos adereços; colocação da touca descartável (B); Aspecto final após a fixar o touca e máscara cirúrgica (C); e o calçamento do pro-pé com o ajuste na barra da calça (D).
29
Figura 2. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo demonstrativo de
desinquinação cirúrgica. A- Umedecimento das mãos e antebraços; B- Aplicação do degermante tópico solução de Digliconato de Clorexidina 2% com tensoativos sobre as áreas de desinquinação; C, D e E – Manobras para escovação das unhas, mãos e antebraços. F- Enxague com água corrente com inclinação dos antebraços
30
2.4.3 Vídeo 3 - Apresentação da técnica alternada que divergiu da direta
apenas pela alternância entre desinquinação das duas mãos e depois a
desinquinação dos antebraços 7,02 min.
2.4.5 Vídeo 4 - Demonstração da técnica para secagem das mãos e colocação
do avental cirúrgico, com duração de 3,23 min. As etapas desenvolvidas foram o
fornecimento do kit cirúrgico por um auxiliar (Figura 3A), a secagem das mãos e
antebraços (Figura 3B); a colocação das mãos na manga do avental cirúrgico (Figura
3C e D) e o fechamento do avental com auxílio de um auxiliar (Figura 3 E e F)
2.4.6 Vídeos 5, 6 e 7 - As três maneiras para a colocação das luvas cirúrgicas
foram demonstradas nos vídeos 5, 6 e7 e foram consignadas como técnica aberta
(Figura 4A e B), fechada (Figura 4C e D) e assistida pelo auxiliar previamente
paramentado (Figura 4E e F). Estes vídeos tiveram tempo aproximado de 1,12; 2,05
e 1,25 min, respectivamente.
Os sete vídeos foram incorporados às aulas práticas da disciplina de Técnica
Cirúrgica Veterinária na Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da
Bahia para um público alvo formado por 93 alunos inscritos na disciplina nos
semestres 2013.2 e 2014.1, sendo 42 e 51 alunos, respectivamente.
2.5 Inclusão dos vídeos apoio na disciplina de técnica cirúrgica veterinária
A cada semestre havia a formação de dois grupos para realização da atividade
prática. No primeiro grupo o docente realizou a explanação simultânea a
demonstração prática do procedimento de paramentação denominado Grupo Aula
Professor (GAP) (Figura 5A). No segundo grupo a explanação foi realizada de forma
interativa alternando entre a demonstração prática, a explanação textual e a exibição
do vídeo apoio de cada etapa da paramentação, pausando-se, adiantando-se ou
retrocedendo-se a cena, em tempo real, de acordo com a necessidade (Figura 5B)
31
Figura 3. Sequência de imagens estáticas extraidas do vídeo demonstrativo da secagem
das mãos e antebraços e colocação do avental cirúrgico. Em A, Abertura e entrega do kit cirúrgico; Secagem das mãos (B); Colocação das mãos e manobra para o desdobramento do avental (C e D) e a assistência do auxiliar no fechamento do avental cirúrgico (E e F)
32
Figura 4. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo demonstrativo das três
técnicas de colocação de luvas cirúrgicas. Em (A e B) demonstração do Método Aberto, (C e D) Método Fechado; Calçamento das luvas assistido (E e F).
33
Figura 5. Imagem fotográfica de aula demonstrativa de paramentação cirúrgica para os
alunos da disciplina de Técnica Cirúrgica Veterinária na Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. Em A: Grupo Aula Professor e em B: Grupo Vídeo Apoio.
34
2.6 Treinamento dos alunos
Foram realizadas duas aulas práticas, com intervalo de sete dias entre elas
para o treinamento dos alunos. Em cada aula os mesmos foram subdivididos em
duplas e assim executaram as manobras relativas à paramentação cirúrgica. No GAP
os alunos executaram o procedimento de paramentação com intervenção do
professor, apenas quando realizavam alguma manobra inadequada ou quebra da
técnica. Já os alunos do GVA antes de iniciarem o treinamento prático assistiram ao
vídeo apoio novamente e tiveram livre acesso a este a qualquer momento durante o
exercício de paramentação. Em adição também tiveram a intervenção do professor
quando realizavam alguma manobra inadequada ou quebra da técnica à similitude do
GAP.
2.7 Avaliação do desempenho prático dos alunos.
Uma semana após a última atividade prática de treinamento todos os alunos
dos dois grupos executaram os procedimentos relacionados a paramentação cirúrgica
e foram avaliados nas seguintes etapas: colocação de EPI´s (equipamentos de
proteção individual), desinquinação cirúrgica, calçamento de aventais e luvas
cirúrgicas. Todas as atividades foram registradas por softwares de vigilância adaptado
para esse propósito.
O sistema de captura foi formado por cinco webcam7 que foram instaladas e
distribuídas em setores do centro cirúrgico de forma a permitirem ampla observação
dos procedimentos (Figura 6).
Todas as câmeras foram conectadas a um microcomputador e para o
gerenciamento destas, foi utilizado o software próprio (Figura 7A). Esse sistema gerou
quatro arquivos de vídeo, no formato Áudio Vídeo Interleaved (AVI), para cada aluno
(Figura 7B).
7 Vision WC044, Multilaser, Jardim Paulistano, SP, Brazil
35
Figura 6. Representação esquemática do posicionamento de cada webcam e as etapas do
circuito destinadas a paramentação cirúrgica
36
Figura 7. Notar em A microcomputador com programa de gerenciamento de webcams em
funcionamento. Em B, observar macrofotografias obtidas pelo programa de gerenciamento das webcams com exemplificação de algumas da etapas de paramentação avaliadas.
37
2.8 Coleta dos resultados e análise estatística
Os arquivos de vídeo relativos a todas as etapas executadas pelos alunos
foram avaliados pelo professor com auxílio de lista de checagem (Figura 8), que era
marcada a medida que o aluno executava a manobra corretamente. O número total
de acertos eram 32 e estes foram convertidos numa nota utilizando regra de três
simples.
As notas variaram de zero a dez. Sendo considerado zero quando o aluno não
conseguiu cumprir corretamente nenhuma das etapas estabelecidas na listagem e a
nota máxima quando o mesmo concluiu todas as atividades sem erros. O intervalo de
tempo foi cronometrado do início da atividade até o momento em que o aluno
declarava como encerrada a atividade prática.
Os dados foram encaminhados para o tratamento estatístico e verificação de
normalidade com a utilização do teste de Shapiro-Wilk. Para a comparação entre os
grupos foi utilizado o teste estatístico de Mann Whitney para dados não pareados. O
nível de significância adotado foi de 5%.
38
Quadro 2. Relação de itens empregados para avaliação da prática de paramentação cirúrgica
aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia.
39
3. Resultados
Os vídeos resultantes tiveram imagens com boa qualidade utilizando
equipamentos de médio porte (semi-profissional).
O programa de edição utilizado possui versão de distribuição livre com diversos
tutoriais para seu uso disponíveis na internet.
A duração dos vídeos desenvolvidos, em número de sete, foram inferiores a 10
minutos (Tabela 01) e o tempo total para sua exibição durante a explanação do
docente foi de aproximadamente 23 min.
Tabela 01. Relação de vídeos produzidos sobre paramentação cirúrgica, tempo de reprodução individual e total.
ETAPAS TEMPO (min) Colocação das vestimentas e coberturas cirúrgicas 2,13 Preparação da pele da equipe cirúrgica Técnica direta 6,15 Técnica alternada 7,02 Secagem das mãos/antebraços e colocação do
avental cirúrgico 3,23
Calçamento das luvas cirúrgicas Técnica Aberta 1,12 Técnica Fechada 2,05 Técnica Assistida 1,25
A adaptação do software de vigilância permitiu a captura de imagens das cinco
câmeras simultaneamente e o registro das atividades para avaliação posterior pelo
docente. O uso deste software permitiu a visibilização sincronizada de dois alunos por
procedimento em cada etapa de avaliação e tal fato não impediu a dinâmica normal
da aula prática.
Ao analisar as notas e desempenho para o procedimento de escovação das
mãos e antebraços foi observado diferença significativa com relação ao desempenho
mediano (± semi intervalo entre quartil) obtidas em cada grupo (p<0,001). Os grupos
atingiram as seguintes notas 6,82 (± 0,68) e 9,54 (± 0,45) para os grupos GAP e GAV,
respectivamente. Tal resultado indicou que a inclusão dos vídeos nas aulas práticas
gerou incremento de aproximadamente 40% nos valores medianos apresentados pelo
grupo tradicional de ensino.
40
Com relação ao tempo de execução do procedimento de escovação das mãos
e antebraços não houve diferença significativa entre os grupos (p-value=0,83) o tempo
mediano para esta atividade foi de 6,65 (± 0,50) minutos.
O mesmo padrão se repete ao analisar todas as etapas relacionadas a
desinquinação, calçamento do avental cirúrgico e luvas. O que indica superioridade
representativa e significante (p<0,001) entre o GAV com desempenho mediano de
9,39 ± 0,30 comparativamente a 7,58 ± 0,61 obtido pelo GAP. Em relação aos tempos
totais de execução não foram encontradas diferenças significativas (p= 0,1119), o
tempo mediano para esta atividade foi de 9,83 (± 0,68) minutos.
Em aspectos gerais foi observado incremento de desempenho dos alunos em
aproximadamente 24% com a inclusão do vídeo apoio sem alterar o tempo de
execução das atividades práticas.
4. Discussão
O vídeo é uma das tecnologias que mais tem se destacado nos últimos anos.
Embora seja de fácil elaboração, ainda é pouco empregado como recurso didático
(VICENTINI; DOMINGUES, 2008). Desta forma, a comparação entre métodos de
ensino forneceu informações para nortear seu uso e fundamentar sua aplicação em
outras práticas e áreas de ensino.
A diversidade e a complexidade do conhecimento cirúrgico requerem
orientação direcionada ao ensino por meio de meios inovadores para a transferência
de conteúdo (CAMPOS; ROCHA, 1996; MEHRABI et al., 2000). A intenção deve ser
a de transmitir em adequado período de tempo, informações necessárias para a
satisfatória formação profissional, maximizando, assim o aprendizado. Com esse
intuito, baseando-se nos princípios dos “3Rs” (BALLS, 2009), particularmente no
"refinement" (aprimoramento), buscou-se como uso do vídeo, maximizar o
aprendizado do aluno, que bem treinado, executará corretamente as manobras
quando da realização de procedimentos cirúrgicos, minimizando assim, os riscos ao
paciente. Ressalta-se que essas novas tecnologias são desenvolvidas para
complementar e não substituir a educação tradicional preservando-se os valores dos
métodos de ensino, com a máxima oportunidade de inovação (BUYUKMIHCI, 2007).
Com a popularização da internet e das máquinas digitais e “smartphones”, os
recursos audiovisuais passaram a ser considerados uma opção viável para dinamizar
41
as atividades didático-pedagógicas. Os custos de produção, outrora considerados
dispendiosos, particularmente para instituições públicas de ensino, tornaram-se
acessíveis. Com adequado planejamento pedagógico e financeiro foi possível
desenvolver os vídeos didáticos empregados neste estudo, praticamente sem custos
e mão de obra especializada, para tanto empregamos software e tutoriais específicos
para edição de vídeos que estão disponíveis para “download” na internet de forma
gratuita.
A utilização de vídeo apoio com áudio suprimido permitiu a perfeita visibilização
e a compreensão das manobras inerentes ao tema. A possibilidade de se pausar,
adiantar ou retroceder a cena em tempo real, mediado pelo docente, e do aluno
realizar a mesma manobra sequencialmente, favoreceu o melhor entendimento das
técnicas e permitiu o desenvolvimento de habilidades, até que se adquirisse
satisfatória destreza manual (COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010). A
repetitividade de uma manobra técnica eleva a carga cognitiva e consolida a
informação (MATERA, 2008; FARQUHARSON et al., 2013).
Os vídeos têm se mostrado viáveis no desenvolvimento de habilidades por
permitir o feedback positivo, favorecendo a construção do conhecimento. A partir das
visibilizações repetitivas, o aluno pode analisar os momentos passíveis de erro e
corrigi-los na próxima tentativa. A implementação dos vídeos, tipo apoio, permitiu a
consolidação do conhecimento de forma mais efetiva quando comparado ao sistema
tradicional de ensino (FARQUHARSON et al., 2013), fato este verificado pelo
incremento em aproximadamente 40% nos valores medianos apresentados quando
comparado o GVA ao GMTE.
O tempo destinado ao procedimento de desinquinação das mãos e antebraço
é de suma importância no controle da infecção do sítio cirúrgico, neste estudo, esta
atividade para ambos os grupos foi superior ao tempo médio de cinco minutos
preconizados por Verwilghen et al. (2011).
Dificuldades em equalizar o ensino do conteúdo teórico e a posterior aplicação
prática em virtude do número limitado de carga horária destinado a disciplina são
fatores comumente notados pelos docentes (BUYUKMIHCI, 2007; MEHRABI et al.,
2000). A inclusão dos vídeos na disciplina permitiu a diminuição do tempo no ensino
das manobras básicas o que tornou as aulas mais dinâmicas mesmo com um número
maior de alunos. Vídeos complementares as aulas vem sendo cada vez mais
utilizados pelos docentes objetivando o reforço no aprendizado. A possibilidade de
42
rever os procedimentos permite a retroação baseada no construtivo pedagógico dos
alunos e por conseguinte consolidação do conteúdo. O uso de vídeos didáticos
complementares ao ensino da paramentação cirúrgica mostrou-se uma estratégia
didática eficaz gerando incremento significativo no desempenho dos alunos, sem
influenciar no tempo destinado a execução das práticas.
5. Conclusão
A implementação dos vídeos nas aulas tradicionais permitiu a consolidação do
conhecimento de forma mais efetiva e com diminuição do tempo de ensino das
manobras básicas o que tornou as aulas mais dinâmicas mesmo com grande número
de alunos.
Agradecimento
O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo
Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos
43
6. Referências
BALLS, M. The origins and early days of the Three Rs concept. Alternatives to laboratory animals (ATLA), London, v. 37, n. 3, p. 255–65, 2009.
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44
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VICENTINI, G. W.; DOMINGUES, M. J. C. DE S. O uso do vídeo como instrumento didático e educativo em sala de aula. Encontro anual da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração. 19. 2008, Curitiba. Anais... Curitiba: Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração – ANGRAD, 2008. Disponível em: <http://home.furb.br/mariadomingues/artigos/article_443.pdf>.
45
CAPÍTULO 3 - Simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária -
antissepsia e preparação do campo operatório
Resumo
No exercício da docência e diante da necessidade de transmissão de
conhecimentos e treinamento prático sobre o tema “assepsia cirúrgica”, buscamos
desenvolver um simulador que substituísse o uso de animais e que permitisse a
aquisição de habilidades e os conhecimentos práticos necessários para a condução
de manobras assépticas em procedimentos cirúrgicos reais, minimizando assim o
risco operatório, e consequentemente o refinamento em procedimentos cirúrgicos
posteriores. Este trabalho descreve a utilização do simulador cujo público-alvo foram
alunos de graduação da Disciplina Técnica Cirúrgica do Curso Medicina Veterinária
da Universidade Federal da Bahia. Conclui-se que o simulador apresentado, ao tempo
que substitui o uso de animais, promove o adequado suporte para o ensino e
treinamento das técnicas de antissepsia e preparação do campo operatório,
colaborando com o desenvolvimento de habilidades cirúrgicas e sedimentação do
conhecimento.
Palavras chave: métodos alternativos, cirurgia, ensino
46
Simulator applied to the teaching of veterinary surgical technique - Antisepsis
and preparation of the operative field
Abstract
In the teaching profession and of the necessity of imparting knowledge and
practical training on the topic “surgical asepsis”, we develop a simulator to replace
animal use and to allow the acquisition of practical skills and knowledge required to
conduct maneuvers in surgical procedures aseptic real, thus minimizing the operative
risk, and subsequently. The present study describes and evaluate the use of an
alternative method as an educational tool for veterinary graduate Students at Federal
University of Bahia. It follows that simulation shown, the time to replace the use of
animals, promotes adequate support for teaching and training of antisepsis techniques
and preparation of the operative field, collaborating with the development of surgical
skills and knowledge consolidation. Additionally, it provides the further improvement of
the surgical procedure used in subject animals.
Keywords: alternative methods, surgery, education.
47
1. Introdução
As infecções hospitalares representam sério problema para a saúde pública,
sendo indicado como um dos fatores responsáveis pelo aumento das taxas de
morbidade e mortalidade entre os pacientes, bem como pela elevação dos custos
operacionais. Não obstante, na Medicina Veterinária, embora existam poucas
evidências científicas sobre o problema, acredita-se que a ocorrência da infecção
hospitalar seja representativa, culminando com graves consequências ao paciente e
ao seu bem-estar, acarretando aos proprietários sérios danos psicológicos e
financeiros (BRAGA, 2008).
Durante o procedimento cirúrgico perde-se a superfície da pele, barreira
importante contra infecções e doenças. Sua remoção favorece a invasão imediata de
microrganismos nos tecidos internos e a subsequente proliferação. Dentre as técnicas
assépticas que visam minimizar os fatores de risco inerentes ao ato operatório,
destacam-se a preparação do paciente e do campo operatório, este conjunto de
manobras e métodos quando efetuados corretamente, reduzem consideravelmente o
risco da infecção cirúrgica (SCHULZ, 2013; FOSSUM, 2013 a, b).
A formação cirúrgica bem fundamentada, alicerçada na boa conceituação
teórica e no desenvolvimento de competências psicomotoras contribui para a correta
execução de diversas manobras, minimizando assim os riscos operatórios. Em geral,
essas competências são adquiridas por tentativa e erro, em procedimentos cirúrgicos
experimentais em animais vivos (SMEAK, 2006). Entretanto, a aquisição de
habilidades por meio da vivissecção, além de questionáveis, vão de encontro com os
modernos conceitos de bem estar animal e, pouco a pouco, vem sendo
desestimuladas (COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010).
Atividades com recursos substitutivos permite, ao aluno, o conhecimento e a
capacidade essenciais para a condução do procedimento cirúrgico, sem a
necessidade do emprego de animais como recurso didático para esta formação
(COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010). Tal prática favorece o aprendizado e resulta
no aumento da autoconfiança do cirurgião iniciante (SMEAK, 2006).
A maioria dos recursos didáticos alternativos propostos para o ensino da
técnica cirúrgica, frequentemente abordam as fases fundamentais da cirurgia, onde
mimetizam situações necessárias à diérese, hemostasia e síntese, destacando-se a
utilização de sistemas educacionais hipermídia (COSTA NETO; MARTINS FILHO,
48
2010), órgãos e tecidos obtidos em matadouros (BUYUKMIHCI, 2007; TUDURY;
POTIER, 2008) manequins anatômicos em resina emborrachada (1RNET, 2011),
artefatos confeccionados a partir de espuma, látex e outros materiais sintéticos
(EBRAM NETO et al., 1998; ANDRADE, 2009; 1RNET, 2011) e modelos substitutivos
para treinamento de hemostasia cirúrgica (LIMA, 2011).
Descreve-se também a utilização de cadáveres quimicamente preservados que
adicionalmente permitem a execução de manobras assépticas, anteriores a execução
do procedimento cirúrgico (MATERA, 2008). Além desse, não foi encontrado
referências sobre o emprego de recursos alternativos para o ensino de quaisquer
manobras destinadas a preparação do campo operatório. Por conseguinte, este
trabalho teve como objetivo descrever a utilização de simulador para o ensino de
técnicas assépticas destinadas a preparação do campo operatório, bem como avaliar
sua eficácia como instrumento pedagógico para alunos de graduação em Medicina
Veterinária.
2. Material e métodos
O simulador apresentado, resultado de pesquisas que envolveram a
elaboração de vários protótipos, foi constituído por dois artefatos: o primeiro formado
por um manequim confeccionado a partir de courvin couríssimo1, espuma laminada
de poliuretano2 e pelúcia marrom3, mimetizou o tronco de um cão posicionado em
decúbito dorsal, com um membro torácico articulado.
O segundo, confeccionado a partir de courvin couríssimo, emborrachado
escolar colorido 48 x 40cm de EVA4 e tecido verde em brim Solasol®5, simulou um
campo operatório com cobertura cirúrgica de laparotomia (panos de campo principais)
e incisão dérmica com exposição do tecido celular subcutâneo e linha alba.
Para avaliar o desempenho e os índices de aceitação do recurso alternativo foi
necessário a sua implantação na disciplina de Técnica Cirúrgica Veterinária da Escola
de Medicina de Veterinária da Universidade Federal da Bahia, envolvendo um total de
1 Courvin Couríssimo Bege Oceano C 213, Espumabraz, Diadema - SP 2 Espuma laminada D33 - PVTEC Indústria e Comércio de Polímeros - Nova Veneza - SP 3 Velboa coloração Marron 3mm – Pele Bell - São Paulo - SP 4 Placas de EVA (Etil Vinil Acetato) liso coloração bege pele – EVAMAX - Ouro Fino - MG 5 Tecido sarjado Solasol® REF: 5005 coloração n.616 – Santista Textil – Concórdia - SC
49
93 alunos inscritos na disciplina nos semestres 2013.2 e 2014.1, sendo 42 e 51 alunos,
respectivamente.
Após a finalização do conteúdo teórico sobre o tema “Princípios da Assepsia
Cirúrgica” os alunos foram submetidos à aula prática empregando-se o simulador para
ensino, treinamento e aprendizagem da preparação do campo operatório, tendo-se
como referência procedimentos cirúrgicos como laparotomia e artrotomia úmero-
rádio-ulnar.
Para aprendizagem dos métodos de assepsia cirúrgica, os manequins foram
colocados em duas mesas dispostas paralelamente em sala cirúrgica. Duas duplas
de alunos, devidamente paramentados, iniciaram o treinamento exercendo as funções
de cirurgião e auxiliar, e alternando-se entre os dois manequins, simulando os
procedimentos cirúrgicos anteriormente citados, sob supervisão do professor e de
monitores da disciplina. O monitor presente, fazia o papel de instrumentador da equipe
cirúrgica.
No primeiro manequim, mimetizando uma laparotomia mediana ventral,
executaram a preparação cirúrgica da pele da região abdominal ventral (Figura 1A e
B) através dos métodos: paralelo, escama de peixe e circular. Após a antissepsia,
realizaram a aplicação de coberturas cirúrgicas (Figura 1C e D). Em seguida passaram
para o segundo simulador, onde executaram a colocação dos panos acessórios
(Figura 1E e F).
Ato contínuo retornaram ao primeiro manequim e simularam a preparação do
membro torácico para cirurgia asséptica, tendo-se como base uma artrotomia úmero-
rádio-ulnar (Figura 2). Todos os integrantes, utilizando-se da alternância de funções,
realizaram os procedimentos técnicos, sendo continuamente supervisionados pelo
docente e monitores.
50
Figura 1. Imagens fotográficas do simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária
antissepsia e preparação do campo operatório. Em A, manequim mimetizando um cão posicionado em decúbito dorsal, com um membro torácico articulado. Em B, antissepsia do abdome ventral. Em C e D colocação da cobertura cirúrgica para laparotomia (panos de campo principais). Em E, simulador mimetizando campo operatório com cobertura cirúrgica para laparotomia e incisão dérmica com exposição do tecido celular subcutâneo e linha alba, para execução da colocação dos panos acessórios, em F.
51
Figura 2.Simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária – Antissepsia e preparação
do campo operatório. Em A e B, antissepsia do membro torácico esquerdo. Em C, colocação de cobertura cirúrgica (malha tubular) da extremidade do membro. Em D, E e F, colocação da cobertura cirúrgica (panos de campo principais).
52
Foram realizadas duas aulas práticas, com intervalo de sete dias entre elas
para o treinamento dos alunos. Uma semana após a última atividade prática, os alunos
executaram os procedimentos relacionados as técnicas de antissepsia e foram
avaliados nas seguintes etapas: manipulação e apresentação da pinça de Sheron e
pinças de Backhaus, antissepsia do abdome ventral, colocação da cobertura cirúrgica
para laparotomia (panos de campo principais), colocação dos panos acessórios,
antissepsia do membro, colocação de cobertura cirúrgica (malha tubular) na
extremidade do membro, colocação da cobertura cirúrgica (panos de campo
principais). Todas as atividades foram registradas por “softwares” de vigilância
adaptado para esse propósito.
O sistema de captura foi formado por duas webcams6 que foram instaladas
focalizando os alunos e cada uma das mesas onde foram instalados os mimetizadores
de tecidos, de forma a permitirem ampla observação dos procedimentos.
As câmeras foram conectadas a um microcomputador7 e para o gerenciamento
destas, foi utilizado o “software”8 próprio. Esse sistema gerou quatro arquivos de
vídeo, no formato Áudio Vídeo Interleaved (AVI), para cada aluno.
Os arquivos de vídeo relativos a todas as etapas executadas pelos alunos
foram avaliados pelo professor com auxílio de lista de checagem (Figura 3), que era
marcada a medida que o aluno executava a manobra corretamente. Os números totais
de acertos foram convertidos numa nota utilizando uma regra de três simples. As notas
variaram de zero a dez. Sendo considerado zero quando o aluno não conseguiu
cumprir corretamente nenhuma das etapas estabelecidas na listagem e a nota
máxima quando o mesmo concluiu todas as atividades sem erros. O intervalo de
tempo foi cronometrado do início da atividade até o momento em que o aluno
declarava como encerrada a atividade prática.
Foram computadas todas as notas e verificadas as porcentagens de erros e
acertos, levando-se em conta a média acadêmica de sete pontos (7,0), mínima
necessária para aprovação na disciplina.
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53
Quadro 1. Relação de itens empregados para avaliação da prática de preparação do
campo operatório aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia
Os dados foram encaminhados para o tratamento estatístico e verificação de
normalidade com a utilização do teste de Shapiro-Wilk. A média alcançada pelo grupo
de alunos submetido ao treinamento com o simulador foi comparada com a nota valor
mínima para aprovação na disciplina utilizando o teste “t” de Student para uma
amostra.
54
Após a conclusão do treinamento, os alunos foram solicitados a preencher o
formulário para avaliação subjetiva do recurso alternativo (Figura 4) em questão
utilizando a escala de resposta psicométrica tipo Likert proposta por Roberts e
Bilderback (1980), objetivando verificar o índice de satisfação do usuário em relação
ao recurso alternativo, considerando aspectos relacionados ao emprego do recurso
substitutivo, a execução das manobras cirúrgicas e quanto ao desenvolvimento das
habilidades psicomotoras com o uso do simulador. A coleta de dados se baseou nos
conceitos atribuídos pelos usuários (discordo plenamente, discordo, não discordo e
nem concordo, concordo, concordo plenamente / ótimo, muito bom, bom, regular,
ruim).
As variáveis qualitativas coletadas foram encaminhadas para o tratamento
estatístico descritivo onde foram analisados os índices de aceitação e rejeição do
método proposto, em concordância com a metodologia proposta por Goldenberg
(2004) para elaboração de pesquisas qualitativas.
Quadro 2 Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de
aceitação quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do manequim.
55
3. Resultados e discussão
A preparação do campo operatório, assim como o controle micro bacteriano
durante o transoperatório são fatores considerados essenciais para o bom
desempenho cirúrgico, pois é notório saber que a exposição percutânea inadequada,
tanto da equipe cirúrgica quanto do paciente, favorece a ocorrência de invasão
bacteriana e propicia a infecção.
A utilização de cadáveres quimicamente preservados, como descrito por
Guimarães da Silva, Matera e Ribeiro (2004) embora seja considerado excelente
método de ensino para a prática cirúrgica, possui logística complexa que muitas vezes
inviabiliza seu uso, a exemplo da obtenção e origem dos cadáveres, custos dos
fármacos e solução fixadora e infra-estrutura para criopreservação e estocagem dos
mesmos.
Tradicionalmente, o adestramento cirúrgico das manobras inerentes a
preparação do paciente e campo operatório tem sido realizado por meio do método
de tentativa e erro, em procedimentos cirúrgicos reais, conforme preconizam Conforti
e Magalhães (1983) e Marques (2005). Tais práticas, podem refletir negativamente no
desempenho cirúrgico e trazer riscos ao paciente, uma vez que as falhas cometidas
nesta fase, podem favorecer a infecção cirúrgica. De acordo com os atuais conceitos
de ética e bem estar animal, os métodos de ensino tradicionais que empregam a
vivissecção como ferramenta pedagógica para a aquisição de competências cirúrgicas
são questionáveis e prejudicam a formação do aluno (GREIF; TRÉZ, 2000).
No exercício da docência e diante da necessidade de transmissão de
conhecimentos e treinamento prático sobre o tema “assepsia cirúrgica”;
fundamentados na doutrina dos 3R’s que evocam a substituição, a redução de animais
e o refinamento de técnicas de experimentação (PAIXÃO, 2001), buscou-se
desenvolver um simulador que substituísse o uso de animais e que permitisse a
aquisição de habilidades e os conhecimentos práticos necessários para a condução
de manobras assépticas em procedimentos cirúrgicos reais, minimizando assim o
risco operatório, e consequentemente o refinamento do procedimento posteriormente
empregado no animal de experimentação.
Um dos principais desafios para criação e emprego de métodos alternativos
para o ensino da cirurgia, além do adequado planejamento educacional, é conseguir
56
simular artificialmente situações próprias de um procedimento cirúrgico (MARTINS
FILHO, 2010). Dessa forma, consideramos o êxito do simulador apresentado, pois o
mesmo mimetizou adequadamente o paciente e o campo cirúrgico.
Da maneira que foi empregado, possibilitou de forma verosímil a execução das
mais variadas manobras de antissepsia e de preparação do campo operatório,
permitindo a adequada sistemática de trabalho de um procedimento cirúrgico e a
percepção espacial do aluno no ambiente, além da consolidação do conhecimento
teórico-prático.
Assim como também empregado por Silva, Matera, Ribeiro (2004), quando
empregaram cadáveres quimicamente preservados com esta finalidade, buscou-se
maior realismo e assimilação de conceitos, associando-se ao exercício protocolos
assépticos relacionados a paramentação e condutas da equipe cirúrgica que
permitiram aos acadêmicos a confluência de práticas.
Diante da impossibilidade, por razões éticas, de se efetuar estudo comparativo
com método tradicional de ensino, empregando-se a vivissecção (MARQUES, 2005),
adotou-se a combinação de aspectos qualitativos e quantitativos para
desenvolvimento da metodologia e da avaliação do aprendizado.
A metodologia desenvolvida para este estudo mostrou-se satisfatória, mesmo
sendo empregada para significativo número de alunos (média de 46 alunos por turma).
Distribuídos em duplas, quatro alunos alternando o uso dos manequins, puderam
executar em tempo hábil, o treinamento, podendo desenvolver tanto manobras de
responsabilidade do cirurgião, como aquelas inerentes ao auxiliar. A manipulação de
instrumentos, o emprego de coberturas cirúrgicas, a percepção espacial e o
sincronismo de ações entre membros da equipe cirúrgica pode ser empreendido
repetidas vezes, até a total destreza das técnicas exercitadas.
No caso de falhas técnicas, o aluno teve possibilidade de repetir o exercício até
o perfeito domínio da técnica, igualmente ao observado por Silva, Matera, Ribeiro
(2004) quando empregaram cadáveres conservados em solução modificada de
Larsen para o treinamento de diversas técnicas cirúrgicas especializadas. Esse perfil
qualitativo baseia-se nos princípios psicopedagógicos, particularmente relacionados à
psicologia cognitiva, da qual faz parte a filosofia construtivista, citada por Pusic (2007)
e que se caracteriza pela atividade exploratória, onde o usuário passa a construir seu
conhecimento, interagindo com o material a ser aprendido, compreendendo-o ao invés
de memorizá-lo.
57
Para a avaliação do aprendizado, conforme recomendou Darsie (1996),
buscou-se implementar uma metodologia que levasse o aluno angariar a consciência
do próprio processo de aprendizagem, e a partir dessa aquisição de consciência, a
possibilidade de avançar nesse processo. Para tanto, a captura e o registro das
imagens do adestramento cirúrgico, foram fundamentais. As imagens captadas pelas
“webcams” e registradas pelo “software” de vigilância permitiram a visibilização
sincronizada dos alunos e dos respectivos procedimentos.
O registro das imagens obtidas durante a realização do adestramento cirúrgico,
além de não interferir na dinâmica da aula, possibilitou a precisa avaliação quantitativa
do aprendizado por meio da contagem de pontos relacionados aos erros e acertos
cometidos e posterior expressão desses acertos em forma de notas. Sabe-se que
quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido pelo aluno, fragmenta-
se o processo de avaliação e introduz-se a burocratização que leva à perda do
sentido do processo e da dinâmica da aprendizagem (WACHOWIZ; ROMANOWSKI,
2002), porém diante da impossibilidade de estudo comparativo, essa forma de
avaliação, complementada pela análise qualitativa, mostrou-se suficientemente
adequada, para a finalidade proposta, pois foi associada a análise qualitativa.
Quase a totalidade dos alunos (99%) atingiram, nos dois semestres analisados,
média superior a média acadêmica para aprovação. Nos semestres 2013.2 e 2014.1
as médias das notas foram semelhantes, de 9,28 e 9,32 respectivamente (Tabela 01).
Desta forma, pode-se concluir, após avaliação com essa intencionalidade, que o aluno
com nota superior a esta, está perfeitamente apto para execução das manobras.
58
Tabela 1. Comparação das médias entre os semestres em função da média mínima (7,0) para aprovação na disciplina técnica cirúrgica veterinária com relação a preparação do campo operatório principal – acessório - ortopédico
Média IC 95% p-value
Semestre 2013.2 9,28* 8,98 - 9,59 < 0,0001
Semestre 2014.1 9,32* 9,06 - 9,59 < 0,0001
* Diferenças significativas aplicando teste “t” de Student para uma amostra – Nível de significância 5%; IC 95% - Intervalo de confiança com 95%
Neste estudo, apenas um aluno não alcançou a média acadêmica, tendo obtido
a nota seis (6,0). Averiguado o fato, constatou-se através dos diários de classe, que o
mesmo não compareceu a segunda aula, e consequentemente, realizou a avaliação
com o intervalo de 15 dias. Tal situação, dentro do processo educacional empregado,
pode ser facilmente revertido. De acordo com Darsie (1996), essa quantificação
informa ao professor que o aluno domina as competências básicas e operacionais,
porém que sua performance precisa ser melhorada.
Especificamente, nesse caso, o aluno, analisando o registro das imagens de
seu treinamento e conferindo a pontuação obtida, pode reconhecer os erros
cometidos, corrigi-los e superar suas deficiências, e consequentemente acompanhar
seu próprio processo de aprendizado, caracterizando a avaliação como atividade de
metacognição, ou seja como instrumento de aprendizagem (DARSIE, 1996).
Em relação ao número de aulas e ao intervalo de realizações, tendo-se como
base a metodologia empregada e a carga horária da disciplina técnica cirúrgica
veterinária que na escola de medicina veterinária e zootecnia da UFBA, é de 102
horas, considerou-se que esses fatores foram adequados ao dinamismo da aula, e
que representaram apenas 10% da carga horária total da disciplina. Dessa forma,
buscou-se transmitir em adequado período de tempo, informações necessárias para
a satisfatória formação profissional, maximizando, assim o aprendizado
(BUYUKMIHCI, 2007).
Analisando subjetivamente os dados obtidos no questionário aplicado aos
alunos foi possível verificar que 100% (93/93 alunos) concordam com seu uso e o
consideram apropriado para o desenvolvimento de habilidades relativas à preparação
do campo operatório; 88% (82/93) consideraram que sua utilização permitiu a perfeita
compreensão dos protocolos assépticos empregados; 93% (86/93) obtiveram a
percepção espacial necessária para condução de um procedimento cirúrgico real.
59
Além disso 97,8% (91/93) mostraram-se confiantes para executar tais manobras
quando fossem fazer o treinamento com animais vivos.
Estes fatores estão fortemente ligados a filosofia dos 3R`s que promovem a
substituição animal por métodos alternativos (PAIXÃO, 2001), o que faz deste artefato
uma alternativa viável ao uso de animais para a função requerida.
4. Conclusão
O simulador apresentado, ao tempo que substitui o uso de animais, promove o
suporte adequado para o ensino e treinamento das técnicas de assepsia e preparação
do campo operatório, colaborando com o desenvolvimento de habilidades cirúrgicas
e sedimentação do conhecimento.
Agradecimento - Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do
Governo Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos
60
5. Referências
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62
CAPÍTULO 4 - Simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária –
Hemostasia cirúrgica
Resumo
A hemostasia cirúrgica é considerada uma das etapas cruciais da cirurgia, uma
vez que visa prevenir a perda sanguínea e suas consequências. Sua prática
necessita, além de conhecimento, notável competência psicomotora. Com o uso de
métodos alternativos há a possibilidade de garantir ao acadêmico, o conhecimento e
a destreza necessários para a condução do procedimento cirúrgico, sem a
necessidade do emprego da vivissecção para esta formação. O treinamento de
técnicas hemostáticas em equipamentos que mimetizem hemorragia possibilita que
os alunos desenvolvam suas habilidades sem o estresse relacionado à presença de
sangue, proporcionando assim a autoconfiança necessária para que a hemostasia
definitiva seja feita com segurança numa situação real. Este trabalho descreve a
manufatura de um simulador de hemostasia voltado para o ensino da técnica cirúrgica
veterinária, bem como avaliar sua eficácia tendo-se como público alvo acadêmicos da
disciplina técnica cirúrgica do curso Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
Federal da Bahia. Concluiu-se que o simulador como método alternativo, apresentou
excelente grau de aceitação, possibilitando o adequado suporte para o treinamento
de técnicas hemostáticas, colaborando com o desenvolvimento de habilidades
cirúrgicas ao tempo que auxilia na sedimentação do conhecimento.
Palavras chave: métodos alternativos, cirurgia, ensino, medicina veterinária
63
A simulator applied to the teaching of veterinary surgical technique - surgical
hemostasis
Abstract
Surgical hemostasis is considered one of the crucial steps of the surgery, since
it seeks to prevent blood loss and its consequences. Its practice needs, in addition to
knowledge, remarkable psychomotor skills. Using alternative methods, it´s possible to
ensure to the academic Student knowledge and skill necessary to conduct the surgical
procedure without the need of employment of vivisection for this training. The training
of hemostatic techniques in equipment that mimic bleeding enables Students to
develop their skills without the presence of blood-related stress, thus providing the
confidence needed for the final hemostasis is done safely in a real situation. This study
aimed to describe the manufacture of a simulator for teaching hemostasis of Veterinary
Surgical Technique and evaluate its effectiveness taking as academic target audience
of the discipline of surgical technique of the course of veterinary medicine, Federal
University of Bahia. It was concluded that the simulator as an alternative method
showed excellent degree of acceptance, allowing proper support for the training of
hemostatic techniques, collaborating with the development of the surgical time helps
in settling the knowledge skills.
Keyword: alternative methods, surgery, education, veterinary medicine
64
1. Introdução
A formação cirúrgica envolve complexos conceitos teóricos e práticos,
particularmente relacionados à Técnica Operatória e suas fases fundamentais, dentre
os quais o desenvolvimento de habilidades é considerado indispensável. As cirurgias
experimentais, outrora realizadas com esta finalidade, atualmente são conflitantes
com os conceitos de bem estar animal e gradualmente vem sendo desestimuladas
(COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010).
Nesse contexto, uma série de recursos alternativos à vivissecção tem sido
propostos para o ensino de práticas cirúrgicas, porém, poucos possuem
características semelhantes àquelas encontradas em um animal vivo durante o ato
cirúrgico, essenciais para mimetizar algumas situações e manobras, a exemplo da
hemorragia e hemostasia.
Com esse intuito, Olsen et al. (1996) desenvolveram um simulador para o
treinamento de práticas de hemostasia composto por um circuito arteriovenoso
artesanal, formado por tubos de látex conectados a bomba peristáltica de fluxo
contínuo e pulsátil. Avaliaram seu uso, comparativamente a um procedimento
cirúrgico real e concluíram que o mesmo mostrou eficácia equivalente no que se refere
à aquisição de habilidades cirúrgicas básicas.
Descreve-se também o “POP Trainer”, método alternativo que permite a
perfusão de órgãos de abatedouros em sistema fechado, com sangue artificial; cuja
pressão é mantida por bomba eletronicamente controlada, de forma que a circulação
de cada órgão ocorra de maneira semelhante ao que ocorreria em um órgão
fisiologicamente ativo (SZINICZ et al., 1994). Com esse modelo, adotado pelo Hospital
Bregenz, na Áustria conduz-se cirurgias abdominais, torácicas, urogenitais,
ginecológicas, e vasculares (GREIF; TRÉZ, 2000).
Estudos similares foram conduzidos por Aboud, Suarez e Yassargil (2004) que
permitiram a perfusão do sistema circulatório de cadáveres humanos usando sangue
artificial. Empregando-se pressão pulsátil para artérias e pressão estática para veias,
mimetizaram situações como complacência tecidual, preenchimento vascular e a
ocorrência de hemorragia, próximas aquelas encontradas em procedimento cirúrgico
real.
Mais recentemente, também buscando a possibilidade de treinamento cirúrgico
em um modelo mais próximo da realidade possível, Inglez de Souza (2012) realizou
65
estudo semelhante em cadáveres de cães preservados pela solução de Larssen
modificada. O recurso foi utilizado e avaliado por aluno de Medicina Veterinária com
distintos níveis de experiência cirúrgica. Constatando-se que é possível a simulação
de hemorragias em cadáveres quimicamente preservados, e que tal sistema foi bem
aceito por quem o utilizou, sendo mais uma alternativa para o adestramento cirúrgico.
Avaliando-se as perspectivas de uso, logística e custos, e inspirados nos
recursos desenvolvidos por Szinicz et al. (1994) e Olsen et al. (1996), buscou-se
idealizar e desenvolver recurso alternativo destinado ao ensino de técnicas
hemostáticas, bem como avaliar seu uso e eficácia como instrumento pedagógico
2. Material e métodos
Para alcançar o objetivo proposto foram realizadas em 3 etapas: Elaboração
do simulador, inclusão do protótipo na disciplina de técnica cirúrgica veterinária e
avaliação do desempenho e satisfação dos alunos perante ao equipamento.
2.1 Elaboração do simulador
A construção do simulador envolveu inicialmente o desenvolvimento de dois
protótipos que utilizavam diferentes formas de impulsionar o fluido para o sistema, o
primeiro utilizava ar comprimido e o segundo, bomba peristáltica. Este último
apresentou o comportamento mais fidedigno ao frêmito vascular, servindo de base
para o desenvolvimento do simulador. Após a definição do sistema de propulsão do
fluido ocorreu a padronização dos materiais e dos acessórios necessários para a
manufatura do simulador (Quadro1).
66
Relação dos materiais necessários para montagem do simulador de hemostasia
COMPONENTE QUANTIDADE
Recipiente plástico com capacidade para 5 litros1 1 un.
Válvula de sucção 1/4 de polegada2 1 un.
Tubo de látex natural3 2 m.
Bomba peristáltica de dois roletes4 1 un.
Válvula de três via5 1 un.
Válvula de alívio de pressão acionada por mola6 1 un.
Manômetro para aparelho de pressão 7 1 un.
Conexões tipo “T” 3/16 de polegada8 4 un.
Emenda reta para mangueira 3/16 de polegada9 4 un.
Caixa plástica organizadora (40 X 27 X 13,3 cm)10 2 un.
Espuma laminada cinza (34 X 22 X 5 cm)11 4 un.
Bexiga tipo Canudo12 4 un.
Água filtrada 3,5 l
Corante vermelho13 20 mL
Quadro 1 Relação quantitativa dos componentes necessários para montagem do simulador de hemostasia
A construção do simulador foi dividida em 3 subsistemas: I subsistema
propulsor de fluido, II subsistema de mimetização vascular e III subsistemas de
reciclagem do fluido e monitoramento de pressão (Figura 1).
O subsistema propulsor do fluido (I) possui reservatório plástico com
capacidade de 5 l (1) no qual foi depositado o líquido mimetizador, composto por água
1 Milkan 05 L, UNIPAC – Pompéia – SP 2 Válvula de Pé com Crivo, Tigre Tubos e Conexões – Joinville – SC 3 Tubo de látex natural Nº 204, BIOSANI – Arapoti - PR 4 Bomba Peristaltica ADB 307 - ADB Bombas e Equipamentos Ltda – São Paulo - SP 5 Torneirinha 3 vias luer lock e luer slip – Descarpack São Paulo - SP 6 Válvula de retenção de mola 1,6 PSI – Nepin – São Paulo – SP 7 Manômetro aneróide para esfigmomanômetro - Bicmed – Itupeva - SP 8 Rosca "T" para mangueira 5/16" REF.:0856-B. HALTBAR Ltda - Apucarana - PR 9 Emenda reta para mangueira 5/16" REF.:0756-B HALTBAR Ltda - Apucarana - PR 10 Organizador Baixo 8,6L Top Stock REF.:960 - San Remo- Esteio - SC 11 Espuma laminada D33 - PVTEC Indústria e Comércio de Polímeros - Nova Veneza - SP 12 Balões canudo 260SR. Latex São Roque, São Roque - SP 13 Corante alimentício vermelho bordô VB – ARCOLOR, São Paulo - SP
67
filtrada (3,5 l) com adição de corante alimentício vermelho (20 mL). Para aspirar o
líquido foi utilizada bomba peristáltica de dois roletes (3) conectada, por meio de tubo
de látex de 5 mm de diâmetro, a uma válvula de pé para tubulações hidráulicas
verticais (2) a qual não permite o retorno do fluido ao recipiente e nem a entrada de ar
no sistema. O fluido após a passagem pela bomba peristáltica se deslocava, por tubo
látex, para uma conexão tipo “T” (4) para a distribuição do fluido para o subsistema de
mimetização vascular (II) e para a unidade de reciclagem do fluido/ monitoramento de
pressão do sistema (II).
O subsistema de mimetização vascular tem início em uma das extremidade da
conexão tipo “T”. Nesta extremidade foi acoplada tubo de látex a nova emenda tipo
“T”, possibilitando a divisão do fluido para compor duas caixas mimetizadoras vascular
(7). Uma nova subdivisão do fluido é feita por outra emenda do tipo “T”, também
conectada a tubo de látex formando dois ramos e em cada ramo foi feita a interligação
a uma bexiga tipo “canudo” (6) por meio de emenda reta para mangueira 5/16" (5). O
mesmo procedimento também foi feito na outra extremidade da emenda “T” formado
assim dois vasos sanguíneos que compõem uma das caixas mimetizadoras vascular.
A segunda caixa segue os mesmos procedimentos descritos anteriormente.
A outra extremidade da emenda “T” após a saída unidade propulsora formou a
subsistema de reciclagem do fluido/monitoramento de pressão (III). Neste, também
ocorre nova subdivisão do fluxo do fluido em dois ramos por meio de torneira de 3 vias
(8). A primeira saída permite o retorno do fluido para o recipiente (1) mantendo a
pressão uniforme em todo o conjunto em virtude de uma válvula de alívio de pressão
(8), colocada neste ramo. O outro ramo possui manômetro (10) para o monitoramento
da pressão dentro do sistema.
68
Figura 1 A -Esquema de montagem do simulador para treinamento de hemostasia
cirúrgica. Em I subsistema propulsor de fluido formado por 1. Reservatório plástico de 5 L, 2. Válvula de pé para sucção do fluido, 3. Bomba Peristáltica com dois roletes; 4. Emenda de mangueira tipo “T” 3/16”; Em II, subsistema de mimetização vascular formado por 5. Emenda reta para mangueira 3/16”, 6. Bexiga Látex tipo “canudo” e 7. Caixa mimetizadora vascular. Em III, subsistema de reciclagem do fluido/ monitoramento de pressão composto por 8. Válvulas de 3 vias, 9. Válvula de alivio de pressão, 10. Manômetro de pressão. B Aspecto final da montagem do protótipo sem a caixa mimetizadora vascular
69
Na região interna da caixa mimetizadora vascular (Figura 2) foi colocada em
sua base uma almofada de areia que preenchia a metade do volume total do
recipiente, cuja a finalidade foi aumentar o peso e conferir estabilidade ao conjunto.
Sobre esta almofada de areia, foi acomodada uma primeira lâmina de espuma (1) com
as dimensões de 37 X 25 X 5 cm, permitindo o isolamento do peso de areia. Superfície
externa desta primeira lâmina foram feitos 3 canais rasos (2) de 1 x 25 x 0,5 cm,
possibilitando a acomodação das bexigas tipo “canudo” (3), assim evitando o
colabamento da bexiga.
A segunda lamina de espuma (4) recobriu a primeira lâmina que continha os
vasos sanguíneos, permitindo o preenchimento de todo o interior da caixa. Esta
camada possuíam aberturas que permitiram a exteriorização de uma das bexigas (5),
e do outro lado a observação da segunda bexiga em profundidade (6). Para o
acoplamento das bexigas a foram necessários três furos (7) nas laterais da caixa que
possuíam 40 cm de comprimento. Cada furo possuía 12 mm de diâmetro posicionados
2 cm abaixo da borda de abertura da caixa. O furo central foi posicionado a 20 cm das
bordas laterais e os demais furos equidistantes 10 cm este, tanto para a direita quanto
a esquerda. Para melhorar a fixação das lâminas de espuma, foram feitas
modificações na tampa da caixa plástica que resultaram na retirada completa da parte
de cobertura da tampa (8) restando apenas as bordas. Além desta modificação foram
criados quatro furos (9) nas bordas da tampa de tal forma que permitisse o fechamento
da tampa na posição invertida com as presilhas de fixação da caixa.
O simulador funcionou a partir do acionamento da bomba peristáltica que sugou
o líquido contido no recipiente de armazenamento e a partir daí estabeleceu fluxo para
o preenchimento do sistema de descarga. A pressão foi mantida por meio do
acionamento da válvula de alívio e indicada pelo manômetro. Uma vez aberto o
sistema, com o extravasamento do líquido, se estabeleceu fluxo pulsátil, promovido
pela bomba peristáltica que mimetizou o frêmito de um vaso sanguíneo de um animal
vivo.
70
Figura 2 Mimetizador de tecidos do simulador: 1. Primeira lâmina de espuma, 2. Canal de
acomodação da bexiga, 3. Bexiga látex tipo “canudo”, 4. Segunda lâmina de espuma. 5. Bexiga exteriorizada pela abertura da segunda lâmina, 6. Bexiga posicionada em profundidade visibilizada mediante abertura nas segunda lâmina de espuma, 7. Furos laterais para acoplamento dos vasos a caixa mimetizadora, 8. Modificação da tampa mediante a remoção parcial da tampa da caixa, 9. Orifício feito na tampa para fixação da tampa ao conjunto.
71
2.2 Inclusão do protótipo na disciplina de técnica cirúrgica veterinária
Para avaliação do protótipo foi necessário a sua implantação na disciplina de
técnica cirúrgica veterinária da escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal da Bahia envolvendo um total de 93 alunos matriculados na
disciplina nos semestres 2013.2 e 2014.1, sendo 42 e 51 alunos, respectivamente.
Após a finalização do conteúdo teórico sobre o tema “Fases fundamentais da
técnica cirúrgica: Diérese, hemostasia e síntese” ministrou-se duas aulas práticas
empregando-se o equipamento e com quatro horas semanais para cada treinamento,
com intervalo de sete dias.
O equipamento foi montado em três mesas, em uma posicionada na área
central, foram colocados o reservatório de armazenamento e a bomba peristáltica, e
nas duas mesas laterais as caixas plásticas simuladoras de tecidos.
Quatro alunos, em duas duplas, representando as funções de cirurgião e
auxiliar, devidamente acompanhados pelo professor e pelos monitores da disciplina,
iniciaram o treinamento.
O treinamento teve início pela técnica de ligadura sobre pinças em superfície
(Figura 3), foi utilizada a extremidade da bexiga de látex exposta sobre a espuma. Sua
extremidade foi seccionada com auxílio de tesoura cirúrgica e o cirurgião procedeu à
fixação da extremidade do “vaso hemorrágico” com emprego de pinça hemostática de
Crile curva. Ato contínuo procedeu-se a ligadura simples sob a pinça, apresentada
pelo auxiliar. Posteriormente, trocaram-se as funções e a manobra foi repetida.
Finalizada a primeira etapa, deu-se início as manobras para obliteração de
vasos sanguíneos em profundidade (Figura 4). Uma incisão na espuma foi feita
transversalmente ao sentido da bexiga de látex, expondo o corpo da mesma, “o vaso
sanguíneo” foi visibilizado, e duplamente pinçado pela colocação de pinças
hemostáticas de Crile curvas, seu corpo foi seccionado entre as pinças e em seguida
procedeu-se a confecção de ligadura simples com seminó deslizante em
profundidade, o procedimento foi realizado tanto pelo auxiliar como pelo cirurgião, que
alternaram suas funções. Concluído o treino, as bexigas de látex foram trocadas e
novas turmas de alunos realizaram novamente o procedimento.
72
Figura 3 Sequência fotográfica demonstrando as etapas para treinamento da técnica de
hemostasia “ligadura sobre pinças” em superfície. Em A, acomodação do fio cirúrgico abaixo da superfície inferior da pinça hemostática; confecção do primeiro semi-nó com o afrouxamento da pinça hemostática pelo auxiliar (B); encerramento do primeiro semi-nó e remoção da pinça hemostática (C); confecção do segundo semi-nó (D); manobra de rotacionamento em 45° da tesoura cirúrgica para a seção do fio cirúrgico (E); e aspecto final do vaso após a execução da ligadura (F).
73
Figura 4 Sequência fotográfica mostrando manobras para treinamento da técnica de
hemostasia “ligadura sobre pinças” em profundidade. Em A, diérese da espuma e acesso ao vaso profundo; Isolamento do vaso após aplicação de duas pinças hemostáticas (B); Diérese do vaso (C); Momento após a seção, notar derramamento de conteúdo para o meio externo (D); Manobra para acomodação do fio cirúrgico sob pinça (E); confecção da ligadura cirúrgica (F e G) e seção do fio cirúrgico após ligadura (H).
74
Foram realizadas duas aulas práticas, com intervalo de sete dias entre elas para
o treinamento dos alunos. Uma semana após a última atividade prática, os alunos
executaram os procedimentos relacionados as técnicas hemostáticas para avaliação
de desempenho.
2.3 Avaliação do desempenho dos alunos quanto ao uso do equipamento
O alunos foram avaliados nas seguintes etapas: Ligadura sobre pinças em
superfície, ligadura sobre pinças em profundidade, manipulação e apresentação da
pinça hemostática, pinçamento de vasos, confecção do nó manual, corte do fio. Todas
as atividades foram registradas por “softwares” de vigilância adaptado para esse
propósito.
O sistema de captura foi formado por duas “webcams” que foram instaladas
focalizando os alunos e cada uma das mesas onde foram instalados os mimetizadores
de tecidos, de forma a permitirem ampla observação dos procedimentos.
As câmeras foram conectadas a um microcomputador14 e para o
gerenciamento destas, foi utilizado o “software”15 próprio. Esse sistema gerou quatro
arquivos de vídeo, no formato Áudio Vídeo Interleaved (AVI), para cada aluno.
Os arquivos de vídeo relativos a todas as etapas executadas pelos alunos
foram avaliados pelo professor com auxílio de lista de checagem (Figura 5), que era
marcada a medida que o aluno executava a manobra corretamente. O número total
de acertos foram convertidos numa nota utilizando regra de três simples. As notas
variaram de zero a dez. Sendo considerado zero quando o aluno não conseguiu
cumprir corretamente nenhuma das etapas estabelecidas na listagem e a nota
máxima quando o mesmo concluiu todas as atividades sem erros. O intervalo de
tempo foi cronometrado do início da atividade até o momento em que o aluno
declarava como encerrada a atividade prática.
Foram computados todas as notas e verificadas as porcentagens de erros e
acertos, levando-se em conta a média acadêmica de nota sete.
14 Inspiron DT Série 3000, Dell Inc, Eldorado do Sul, RS, Brazil 15 Active WebCam Vídeo Surveillance® v.11.4, PY Software, Etobicoke, Canada
75
Quadro 2. Relação de itens empregados para avaliação da prática de hemostasia
cirúrgica aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia.
Os dados foram encaminhados para o tratamento estatístico e verificação de
normalidade com a utilização do teste de Shapiro-Wilk. A média alcançada pelo grupo
de alunos submetido ao treinamento com o simulador foi comparada com a nota valor
mínima para aprovação na disciplina utilizando o teste “t” de Student para uma média
populacional conhecida. Outra forma seria comparar com as notas das médias da
disciplina nos semestres sem o protótipo. Além disso o tempo de execução do
procedimento foi comparado com um grupo de ex-alunos que tiveram um contato
76
prévio com o protótipo utilizando o teste “t” para amostras não pareadas. O nível de
significância adotado neste estudo foi de 5%.
Após a conclusão do conteúdo teórico-prático sobre o tema padrões de suturas,
os graduandos foram solicitados a preencher o formulário (Figura 6) utilizando a
escala de Likert para análises psicométricas proposta por Roberts e Bilderback (1980),
onde por meio de atribuições qualitativas pré-estabelecidas em diversos níveis,
fossem estas favoráveis ou desfavoráveis, refletissem as opiniões dos usuários
relacionadas ao uso do recurso alternativo, quanto à apresentação e ao
desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o seu manuseio.
Quadro 3 Questionário de analises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação
quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o seu manuseio.
77
3. Resultados e discussão
A hemostasia cirúrgica é considerada uma das etapas mais cruciais da cirurgia,
uma vez que visa prevenir a perda sanguínea. Sua prática, além de conhecimento,
requer habilidade psicomotora. Uma obliteração vascular mal feita pode trazer
inúmeros danos ao paciente cirúrgico, desde a invisibilidade do campo operatório até
o óbito.
Oliveira (2008) defendeu que o condicionamento emocional dos acadêmicos
deve ser alcançado por meio do contato com situações estressantes, como no caso
de hemorragias, vivenciadas em procedimentos cirúrgicos reais. Acreditamos,
entretanto, que os indivíduos que ainda não tiveram suas competências psicomotoras
totalmente desenvolvidas podem, em virtude da imaturidade emocional, apresentar
dificuldades ou relutância em adquirir tais conceitos com este tipo de metodologia. O
estresse da situação pode levar à frustrações, ao aprendizado ineficiente ou ainda à
perpetuação de erros (INGLEZ DE SOUZA, 2012). Segundo Ferreira Filho (2000),
este é um dos motivos frequentes de direito à objeção de consciência
De acordo com Smeak (2006) técnicas de hemostasia relacionadas à definitiva
oclusão vascular por meio de ligaduras e nós manuais tem sido notadamente difícil de
serem dominadas por alunos e que treinamento prévio adequado poderia orientar o
aluno a realizar corretamente essas técnicas, melhorando assim a habilidade do
cirurgião e a precisão do procedimento cirúrgico.
Um dos principais desafios para criação e emprego de métodos alternativos
para o ensino da cirurgia, além de um adequado planejamento técnico-educacional,
como citado por Martins Filho (2010), é conseguir simular artificialmente situações
próprias de um procedimento cirúrgico, a exemplo da hemorragia, ocorrência
transoperatória grave que deve ser imediatamente controlada e para tanto requer do
cirurgião tranquilidade e habilidade cirúrgica.
Tais recursos alternativos favoreceram o aprendizado e proporcionaram a
autoconfiança necessária para que a hemostasia definitiva fosse feita com segurança
em procedimentos cirúrgicos reais (SZINICZ et al., 1994; OLSEN et al.,1996; ABOUD,
SUAREZ; YASSARGIL, 2004; INGLEZ DE SOUZA, 2012).
Igualmente ao observado pelos autores anteriormente citados, que também
avaliaram o efeito pedagógico de seus recursos alternativos, comparativamente ou
não, à vivissecção, observamos que durante a utilização do simulador desenvolvido
78
neste estudo, o efeito pulsátil produzido pelo fluxo do sangue artificial do sistema, foi
capaz de mimetizar com realismo, uma hemorragia, causando níveis semelhantes de
estresse a aquele observado durante uma hemorragia transoperatória, fato
comprovado pelas opiniões declaradas pelos alunos. Porém, em virtude da
consciência do não risco de vida para o paciente, as técnicas hemostáticas realizadas
no simulador objeto de estudo podem ser devidamente exercitadas pelo aluno até que
o mesmo tenha a autoconfiança e o conhecimento necessários para executar com
segurança as mesmas manobras em procedimento cirúrgico real.
Igualmente ao verificado por Inglez de Souza (2012), considerando-se a
diferenças de metodologia empregadas para cada estudo, evidenciamos que o aluno
em seu treinamento pode desenvolver tanto, manobras de responsabilidade do
cirurgião, como aquelas inerentes ao auxiliar, bem como manobras de síntese. A
manipulação correta de instrumentos cirúrgicos, a confecção de diversos tipos de
ligaduras e nós cirúrgicos e principalmente, o sincronismo de ações entre membros
da equipe cirúrgica pode ser empreendido repetidas vezes, até a total destreza das
técnicas exercitadas.
Silva, Matera, Ribeiro (2003), durante o treinamento de diversas técnicas
cirúrgicas especializadas com uso de cadáveres conservados associaram a estas
atividades o exercício protocolos assépticos relacionados a paramentação e condutas
da equipe cirúrgica que permitiram aos acadêmicos a confluência de práticas e a
mimetização da sistemática de trabalho de um centro cirúrgico e consequentemente
obteve maior realismo e assimilação de conceitos
A metodologia, relacionada a logística da aula, desenvolvida para este estudo
mostrou-se satisfatória, mesmo sendo empregada para significativo número de alunos
(média de 46 alunos por turma).
Diante da impossibilidade, por razões éticas, de se efetuar estudo comparativo
com método tradicional de ensino, empregando-se a vivissecção (MARQUES et al.,
2005), adotamos combinação de aspectos qualitativos e quantitativos para
desenvolvimento da metodologia e da avaliação do aprendizado.
Para a avaliação do aprendizado, conforme recomendou Darsie (1996) buscou-
se implementar uma metodologia que levasse o aluno a tomar consciência do próprio
processo de aprendizagem, e a partir dessa tomada de consciência, a possibilidade
de avançar nesse processo. Esse perfil qualitativo baseia-se nos princípios
psicopedagógicos, particularmente relacionados à psicologia cognitiva, da qual faz
79
parte a filosofia construtivista, citada por Pusic (2007) e que se caracteriza pela
atividade exploratória, onde o usuário passa a construir seu conhecimento, interagindo
com o material a ser aprendido, compreendendo-o ao invés de memorizá-lo.
Para análise qualitativa e quantitativa, a captura e o registro das imagens
durante a realização do adestramento cirúrgico foram fundamentais. As imagens
captadas pelas webcams e registradas pelo “software” de vigilância, permitiram a
visibilização sincronizada dos alunos e das respectivas manobras exercitadas, além
não interferir na dinâmica da aula. Possibilitou a precisa avaliação quantitativa do
aprendizado por meio da contagem de pontos relacionados aos erros e acertos
cometidos e posterior expressão desses acertos em forma de notas.
Sabe-se que quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido pelo
aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se burocratização que leva à
perda do sentido do processo e da dinâmica da aprendizagem (WACHOWICZ;
ROMANOWSKI, 2002), porém diante da impossibilidade de estudo comparativo, essa
forma de avaliação, complementada pela análise qualitativa, mostrou-se adequada.
Nos dois semestres analisados a média global foi de setenta e oito por cento
(78%) de alunos que atingiram média superior à média acadêmica para aprovação
(Tabela 01). Comparando-se os dois semestres, não há diferenças entre as médias
(p-value = 0,1896). Desta forma, pode-se concluir, após avaliação com essa
intencionalidade, que o aluno com nota superior à média acadêmica, está
perfeitamente apto para execução das manobras.
Tabela 01. Comparação das médias entre os semestres em função da média mínima (7,0) para aprovação na disciplina com relação as manobras da hemostasia cirúrgica
Média IC 95% p-value
Semestre 2013.2 8,28* 7,35 – 9,08 0,045
Semestre 2014.1 7,92* 7,35 – 8,38 0,039
* Diferenças significativas aplicando teste “t” de Student para uma amostra – Nível de significância 5% IC 95% - Intervalo de confiança com 95%
Aqueles que obtiveram média inferior à média acadêmica para aprovação, não
se distanciaram da mesma, apresentaram média geral de 6,07 pontos. Tal situação,
dentro do processo educacional empregado, pode ser facilmente revertido. De acordo
com Darsie (1996), essa quantificação informa ao professor que o aluno apesar de
80
dominar as competências básicas e operacionais, precisa ter sua performance
melhorada.
Especificamente, nesse caso, o aluno, analisando o registro das imagens de
seu treinamento e conferindo a pontuação obtida, pode reconhecer os erros
cometidos, corrigi-los e superar suas deficiências, e consequentemente acompanhar
seu próprio processo de aprendizado, caracterizando a avaliação como atividade de
metacognição, ou seja como instrumento de aprendizagem (DARSIE, 1996).
Em relação ao número de aulas e ao intervalo de realizações, tendo-se como
base a metodologia empregada e a carga horária da disciplina técnica cirúrgica
veterinária que na escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFBA, é de 102
horas, considerou-se que esses fatores foram adequados ao dinamismo da aula, e
que representaram apenas 10% da carga horária total da disciplina. Dessa forma,
buscou-se transmitir em adequado período de tempo, informações necessárias para
a satisfatória formação profissional, maximizando, assim o aprendizado
(BUYUKMIHCI, 2007).
Analisando subjetivamente os dados obtidos no questionário aplicado aos
alunos foi possível verificar que 96,8% (90/93 alunos) concordam com seu uso e o
consideram apropriado para o desenvolvimento de habilidades relativas à hemostasia
cirúrgica, porém com ressalva de (37,6% - 35/93) que, “desde que possam
posteriormente realizar um procedimento cirúrgico real”; 77,4% (72/93) sentiram
determinado grau de estresse com a simulação de hemorragia durante a execução
das manobras; 93% (86/93) obtiveram a percepção espacial necessária para
condução de um procedimento cirúrgico real. Além disso 97,8% (91/93) mostraram-
se confiantes para executar as devidas manobras em procedimentos que envolvam
animais vivos.
Estes fatores estão fortemente ligados a filosofia dos 3R`s que promovem a
substituição animal por métodos alternativos (PAIXÃO, 2001), o que faz deste artefato
uma alternativa viável ao uso de animais em aulas práticas.
4. Conclusão
Concluiu-se que o simulador como método alternativo, apresentou excelente
grau de aceitação e mostrou-se apropriado para o ensino de técnicas hemostáticas.
O efeito pulsátil produzido pelo fluxo do sangue artificial no sistema, foi capaz de
81
mimetizar com realismo, uma hemorragia, causando níveis de estresse compatíveis
com o observado em uma situação real, colaborando com o desenvolvimento de
habilidades cirúrgicas ao tempo que auxilia na sedimentação do conhecimento.
Agradecimento
Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro
voltada para a formação de recursos humanos
82
5. Referências
ABOUD, E.; SUAREZ, C.E.; Y ASSARGIL, G. New alternative to animal models for surgical training. Fourth World Congress, Alternatives to Laboratory Animals, London, v. 32, n. 1, p. 501-507, 2004.
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COSTA NETO, J. M. DA; MARTINS FILHO, E. F. Sistemas Educacionais Hipermídia como ferramenta de apoio ao ensino da Medicina Veterinária. Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife, v. 13, n. 1, p. 126–130, 2010. Suplemento
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FERREIRA FILHO, M. G. Comentários à Constituição brasileira de 1988. 3.ed São Paulo: Saraiva, v. 1, 2000.
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MARQUES, R. G.; MIRANDA, M.L. DE; CAETANO, C.E.R.; BIONDO-SIMÕES, M. DE L.P. Rumo à regulamentação da utilização de animais no ensino e na pesquisa científica no Brasil. Acta Cirurgica Brasileira, São Paulo, v. 20, n. 3, p. 262–267, 2005.
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83
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84
CAPÍTULO 5 - Bastidor aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária –
síntese dos tecidos 1
Resumo
A síntese cirúrgica é uma das principais etapas da cirurgia, uma vez que
favorece a efetiva regeneração dos tecidos incisados. Sua prática além de
conhecimento, requer considerável competência psicomotora. Por meio de métodos
alternativos é possível garantir ao jovem cirurgião, a habilidade cirúrgica necessária
para a condução do procedimento cirúrgico, sem a necessidade do emprego da
vivissecção para esta formação. O presente trabalho teve como objetivo descrever a
confecção de bastidor aplicado ao ensino da síntese dos tecidos, na Cirurgia
Veterinária, bem como quantificar os índices de aceitação dos acadêmicos da
Disciplina Técnica Cirúrgica do Curso Medicina Veterinária da Universidade Federal
da Bahia em relação ao artefato disponibilizado. Conclui-se que o bastidor como
método alternativo, apresentou excelente grau de aceitação. Foi de fácil confecção e
ao tempo que mimetiza satisfatoriamente os planos anatômicos promove o adequado
suporte para a confecção de padrões de sutura, colaborando com o desenvolvimento
de habilidades cirúrgicas e auxiliando na sedimentação do conhecimento.
Palavras chave: alternativas ao uso de animais, ensino, cirurgia.
1 Artigo publicado em Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária Neto JMC, Filho EFM, Junior DCG, Moraes VJ, Teixeira DM, Silva JJ, Silva VSC, Resende LS. 2011; 10(32); 1-6 (ISSN 1678-1430)
85
A frame applied to the teaching of veterinary surgical techniques - summary of tissues
Abstract
Synthesis is a major fundamental of the surgery, since it favors the effective
regeneration of tissues incised. Its knowledge and practice, requires considerable
psychomotor skill. We believe that it is possible to guarantee to the young surgeon the
surgical skill necessary to conduct the surgical procedure without the need for the use
of vivisection for this training through alternative methods. This study aimed to describe
a device created for training of suture applied to the teaching of Veterinary Surgical
Technique - Synthesis of tissues and to evaluate its effectiveness, having as
evaluators scholars attending at the discipline of Surgical Technique - Veterinary
Medicine, Federal University of Bahia. We conclude that the device as an alternative
method showed excellent acceptance by the academics. It was easily constructed and
simulated anatomical planes satisfactorily. It promotes adequate support for making
suture patterns, contributing to the development of surgical skills to the time it helps in
the learning of the synthesis techniques.
Keywords: alternatives to using animals, teaching, surgical.
86
1. Introdução
A formação cirúrgica envolve complexos conceitos teóricos e práticos,
particularmente relacionados à técnica operatória e suas fases fundamentais, dentre
os quais o desenvolvimento de habilidades é considerado essencial. As cirurgias
experimentais, outrora realizadas com esta finalidade, atualmente são conflitantes
com os conceitos de bem estar animal e gradualmente vem sendo desestimuladas
(COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010).
Neste âmbito, a síntese cirúrgica é uma das etapas mais importantes da
cirurgia, uma vez que favorece a efetiva regeneração dos tecidos incisados. Sua
prática, além de conhecimento, requer habilidades psicomotoras, considerando-se a
falta de agilidade e destreza do cirurgião, prejudiciais para reconstrução tecidual e
consequentemente, fator de risco para qualquer procedimento cirúrgico.
Por meio de métodos alternativos é possível garantir ao acadêmico, o
conhecimento e a destreza necessários para a condução do procedimento cirúrgico,
sem a necessidade do emprego da vivissecção para esta formação (COSTA NETO;
MARTINS FILHO, 2010). O eficaz ensino de competências psicomotoras por meio de
recursos alternativos permite que os acadêmicos portadores de competências
cirúrgicas básicas realizem, sem receio, procedimentos com a devida supervisão de
seus preceptores. Tal prática favorece o aprendizado e resulta no aumento da
autoconfiança do cirurgião iniciante (SEMAK, 2003).
Para garantir a aquisição de habilidades psicomotoras relacionadas à cirurgia,
diversos métodos alternativos têm sido desenvolvidos, dentre os quais se destacam:
a utilização de cadáveres quimicamente preservados (MATERA, 2008); órgãos e
tecidos obtidos em matadouros (BUYUKMIHCI, 2007; TUDURY; POTIER, 2008);
manequins anatômicos constituídos de resina emborrachada (1RNET, 2011);
artefatos confeccionados a partir de espuma, látex e outros materiais sintéticos
(1RNET, 2011; EBRAM NETO et al., 1998; ANDRADE, 2009; LIMA; BERNARDINO,
2010); e sistemas educacionais hipermídia (MARTINS FILHO, 2010).
Particularmente relacionado ao ensino da síntese cirúrgica e aos respectivos
padrões de sutura, poucos são os artefatos descritos na literatura e disponíveis para
comercialização e utilização. Destaca-se o DASIE (Dog Abdominal Surrogate for
Instructional Exercises) divulgado pela Rede Internacional de Educação Humanitária
INTERNICHE. Trata-se de artefato de formato cilíndrico, composto por várias
87
camadas de diferentes tecidos e materiais, que de acordo com sua textura e
consistência, mimetizam os mais variados planos anatômicos (1RNET, 2011).
O uso de tecidos, apoiados ou não em bastidores circulares para bordado, tem
sido descritos (TUDURY; POTIER, 2008) e são frequentemente utilizados em vários
cursos de Medicina Veterinária do Brasil. Porém, assim como a maioria dos recursos
alternativos empregados para o ensino médico, a falta de padronização e avaliação
desses recursos comprometem sua adoção como material didático (GREENHALGH,
2001).
Um Sistema Educacional Hipermídia sobre os padrões de sutura na cirurgia
veterinária empregou este artefato, como recurso auxiliar pedagógico, para que
fossem executadas os diversos padrões de suturas previamente visualizados em
vídeos (MARTINS FILHO, 2010).
O bastidor empregado para o ensino da técnica cirúrgica veterinária, embora
não seja descrito na literatura, pelo conhecimento deste autor, vem sendo empregado
para o ensino de padrões de suturas em algumas escolas de Medicina Veterinária, a
exemplo da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia, da
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista -
Jaboticabal e da Universidade Federal de Campina Grande.
Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo descrever a confecção do
bastidor, bem como avaliar sua eficácia como instrumento pedagógico para alunos de
graduação em Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da Bahia.
2. Material e métodos
Para confecção do bastidor, foram empregados as ferramentas e os seguintes
itens: martelo de unha2; alicate universal3; grampeador para tapeceiro4 e grampos de
8 mm5 ou taxas tipo percevejo6; uma tesoura de costura de 21 cm7; oito pregos (2,70
cm X 0,48 mm)8; quatro hastes de madeira (Pinus caribea ou outra madeira de baixa
2 Martelo de unha REF. 40200020 – TRAMONTINA - Belém - PA 3 Alicate universal 8" REF. 41001018 – TRAMONTINA - Belém - PA 4 Grampeador 51/A – ROCAMA Grampos e grampeadores – São Paulo - SP 5 Grampos ROCAMA 106/8 - ROCAMA Grampos e grampeadores – São Paulo - SP 6 Percevejo 10mm dourado 311011ZC -Maped do Brasil – São Paulo - SP 7 Tesoura para costureira REF. 25936107 - TRAMONTINA - Belém - PA 8 Prego Galvanizado REF. 814 – GERDAU Usiba - Simões Filho – BA
88
densidade) de dois por dois cm de espessura, sendo duas hastes de 56 cm de
comprimento e duas de 40 cm; tecido brim de cor verde escuro9, medindo 50 cm de
comprimento por 1,40 cm de largura (Figura 1A).
As hastes de menor comprimento (40 cm) foram fixadas por meio de pregos às
extremidades das hastes de maior comprimento (56 cm), em ângulo reto (90º),
formando um chassi retangular de 240 cm2 (Figura 1B).
Com o tecido de brim sobre uma superfície plana, o chassi foi disposto sobre o
mesmo, respeitando-se o eixo de maior comprimento e mantendo-se sobra de cinco
cm em cada um de seus lados. Em seguida, com auxílio de grampos ou tachas, a
extremidade do retalho de tecido em sua largura, foi fixada à haste lateral do chassi
(Figura 1 C e D). O conjunto foi virado mantendo-se o brim sobre o chassi (Figura 1E).
Utilizando-se retalho de papelão de dez cm de largura para delimitar a largura das
pregas, o tecido foi dobrado em seu avesso e então esticado e temporariamente fixado
ao chassi, formando uma dobra de tecido (Figura 1F e G). Em retroflexão, uma
segunda prega foi feita, de modo a formar uma fenda de aproximadamente dois mm
entre os vincos formados pelas bordas das dobras (Figura 1 H).
9 Tecido sarjado Solasol® REF: 5005 coloração n.616 – Santista Textil – Concórdia - SC
89
Figura 1 Sequência fotográfica mostrando manobras para confecção do bastidor para
ensino de padrões de sutura Em A, ferramentas empregadas para a confecção do bastidor. Em B, chassi de madeira (40x60 cm), disposto sobre retalho de brim sol a sol (1,40 x 0,50 mt) e posterior fixação da extremidade do retalho à haste lateral do chassi com auxílio de grampos (C e D). Em E, com o conjunto virado, mantendo o brim sobre o chassi, foi feita uma primeira dobra no avesso do tecido com auxílio de um retalho de papelão (10x10 cm) (F), com posterior fixação temporária do tecido ao chassi (G). Em retroflexão, uma segunda prega foi feita, de modo a formar uma fenda de aproximadamente dois mm entre os vincos formados pelas bordas das dobras (H).
90
A partir daí, deu-se início a formação de subsequentes pregas de tecido,
respeitando-se a largura de dez cm para cada uma (Figura 2 A). Ao tempo que foram
formadas, as pregas foram temporariamente fixadas no chassi com uso de grampos
de pressão ou tachas. Dobras consecutivas em progressão e retroflexão foram feitas,
formando cinco fendas, alinhadas paralelamente a cada dez cm de tecido com dobras
internas medindo aproximadamente dez cm de largura (Figura 2 B, C e D).
Confeccionadas as pregas (Figura 2 E), o conjunto (chassi e pano) foi virado sobre a
superfície plana e as sobras excedentes de tecido sob o chassi foram então fixadas
definitivamente ao seu verso de forma a emoldurar todo chassi (Figura 2 F). Os
grampos temporários foram retirados, finalizando-se o bastidor (Figura 2G e H).
Para quantificar os índices de aceitação do protótipo foi necessário a sua
implantação na Disciplina de Técnica Cirúrgica Veterinária da escola de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da Bahia, envolvendo um total de 60
alunos do segundo semestre de 2010. Após a finalização do conteúdo teórico sobre o
tema “Fases fundamentais da técnica operatória: síntese dos tecidos/ padrões de
suturas” os alunos foram submetidos à aula prática empregando-se o bastidor para
confecção e aprendizagem dos padrões de sutura ministrados. Para aprendizagem
dos diversos tipos de padrões de suturas relacionados a síntese dos tecidos, cada
aluno confeccionou seu próprio bastidor, seguindo especificações técnicas fornecidas
pelo professor. Para confecção das suturas empregou-se agulhas cirúrgicas do tipo
semicircular atraumática acoplada a fio de algodão tipo “Urso” n.110.
Após a conclusão do conteúdo teórico-prático sobre o tema padrões de suturas
os graduandos foram solicitados a preencher o formulário (Figura 3) utilizando a
escala de Likert para análises psicométricas proposta por Roberts e Bilderback,
(1980), onde por meio de atribuições qualitativas pré-estabelecidas em diversos
níveis, sejam estas favoráveis ou desfavoráveis, refletissem as opiniões dos usuários
relacionadas ao uso do bastidor, quanto à apresentação e ao desenvolvimento das
habilidades psicomotoras durante o seu manuseio.
10 Linha Urso n.1 REF. 2504 – WalMur – Instrumentos veterinários Ltda - Porto Alegre - RS
91
Figura 2 Sequência fotográfica mostrando manobras para confecção do bastidor para
ensino de padrões de sutura. Dobras consecutivas em progressão e retroflexão foram feitas, respeitando-se a largura de 10 cm para cada uma (A), sendo temporariamente fixadas ao chassi com uso de grampos de pressão (B, C e D) ao tempo que foram formadas cinco fendas, alinhadas paralelamente a cada dez cm de tecido (E). Confeccionadas as dobras, o conjunto (chassi e pano) foi virado sobre a superfície plana e as sobras excedentes de tecido sob o chassi foram então fixadas ao seu verso de forma a emoldurar todo chassi (F). Os grampos temporários foram retirados, finalizando-se o bastidor (G e H).
92
Quadro 1 Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação quanto
à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do bastidor aplicado a síntese cirúrgica.
93
3. Resultados e discussão
O bastidor convencional é um apetrecho para costura e bordado formado por
dois anéis, um exterior e outro interior com bordo que são usados para fixar o tecido
tensionado. Para tanto, encaixa-se a parte maior do bastidor sob o tecido, estica-se o
mesmo e encaixa-se a parte menor do bastidor sobre o tecido. O tecido é então
tracionado em toda a volta para permitir a adequada tensão. Apesar de ser
opcionalmente empregado para ensino de padrões de sutura, não mimetiza
satisfatoriamente os planos anatômicos, além de não possuir padronização e
avaliação para esse uso.
O bastidor, objeto de estudo, diferencia-se do convencional por possuir maiores
dimensões e permitir a confecção de pregas que mimetizam os diversos planos
anatômicos, fornecendo também adequado suporte para a confecção dos padrões de
sutura.
O artefato mostrou-se de fácil confecção, podendo ser confeccionado pelo
próprio aluno. As ferramentas e os itens empregados na sua elaboração foram de fácil
aquisição em lojas comerciais. O grampeador de tapeceiro, item mais incomum no
cotidiano doméstico e seus grampos de oito mm mostraram-se adequados para
fixação do brim ao chassi. No caso de impossibilidade de uso pode ser facilmente
substituído por tachas tipo percevejo, de fácil aquisição.
O brim sol a sol, em virtude de sua textura e cor, mostrou-se adequado à
utilização. Sua textura grossa e entrelaçamento de filamentos permite a inserção
continuada da agulha sem comprometimento de sua estrutura. Sendo comercializado
de acordo com especificação do fabricante, apresenta medidas de 1,40 ou 1,60 m de
largura. Dessa forma o retalho de 50 cm de comprimento, possui a quantidade de
tecido necessária tanto para confecção das pregas, como para emoldurar o chassi. A
coloração verde escura, verde oliva ou azul marinho, permite o contraste adequado
com o fio de algodão branco empregado para confecção dos padrões de sutura.
As pregas de tecidos com duplas faces e seu vinco, associadas à face interna
da dobra do tecido, permitiram mimetizar as bordas de uma ferida e seu leito cirúrgico
para os mais diversos tipos de padrões de suturas. Possibilitaram confeccionar com
precisão, padrões de suturas continuados ou interrompidos, de confrontamento,
sobreposição, eversão ou inversão. Neste último tipo, tanto para padrões
contaminantes como para não contaminantes.
94
Assim como também observado com outros modelos descritos na literatura
(LIMA; BERNARDINO, 2010; 1RNET, 2011) devido à facilidade de transporte, não
necessita de ambiente apropriado e pode ser usado em vários locais como hospital,
salas de aula e domicílio, possibilitando o treinamento de competências psicomotoras,
atendendo aos princípios da filosofia construtivista (PUSIC; LEBLANC; MILLER,
2007), pois os alunos podem executar os principais padrões de suturas repetidas
vezes aumentando a possibilidade de compreensão dos conceitos. Seu uso, também
possibilitou a aquisição de habilidades relacionadas ao manuseio do instrumental
cirúrgico, igualmente ao observado por Lima e Bernardo (2010) quando empregaram
modelo experimental similar para o treinamento de suturas. Adicionalmente, se
enquadra ao conceito dos "3Rs" quando substitui e reduz o número de animais
utilizados nas aulas práticas (PAIXÃO, 2011).
Analisando subjetivamente os dados obtidos no questionário aplicado aos
alunos foi possível verificar quanto ao uso do bastidor que 68,3% concordam na
facilidade de manusear, é agradável 83,9%, é possível aplicar o conhecimento teórico
na prática 78,3% e, além disso, 95% dos entrevistados demonstraram interesse em
ter outros dispositivos para o ensino da cirurgia. Níveis de aceitação foram
semelhantes com outros recursos voltados para o ensino da técnica operatória
(EBRAM NETO, 1998; OLIVEIRA; AZEVEDO; AZEVEDO, 2007; MARTINS FILHO,
2010)
Quanto à apresentação do bastidor os índices de satisfação atingiram os
valores de 80% nos aspectos apresentação, material e facilidade de confecção do
artefato. Este fato deve-se a facilidade de aquisição dos materiais utilizados para a
confecção do bastidor. Além de permitir a iniciativa das instituições de ensino em
aquisição deste instrumento facilitador de ensino a um baixo custo e sem a
necessidade de utilizar animais vivos em práticas.
No aspecto desenvolvimento de habilidades psicomotoras com o uso de
bastidores foram obtidos índices de aceitações superiores a 70%. Dessa forma 81,7%
dos entrevistados acreditam que o artefato é apropriado no desenvolvimento de
habilidades, possibilita a repetição dos procedimentos (78,3%) e permite associação
da teoria com a prática (80%). Estes fatores estão fortemente ligados a filosofia dos
3R`s que promovem a substituição animal por métodos alternativos (1RNET, 2011), o
que faz deste artefato uma alternativa viável ao uso de animais em aulas práticas.
95
4. Conclusão
O bastidor empregado para o ensino da síntese cirúrgica apresentou excelente
grau de aceitação. Foi de fácil confecção e ao tempo que mimetiza satisfatoriamente
os planos anatômicos promove o adequado suporte para a confecção de padrões de
sutura, colaborando com o desenvolvimento de habilidades cirúrgicas e auxiliando na
sedimentação do conhecimento.
Agradecimentos:
Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES (ProcadNF08), entidade do
Governo Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos
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Referências
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97
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino médico cirúrgico tradicional, fundamentado na prática da vivissecção
e na experimentação animal, embora ainda em uso, tornou-se anacrônico.
À parte o conservadorismo educacional, é consenso que o uso de animais na
educação e pesquisa médica seja questionável e controverso. Muitos foram os
avanços, porém muitas são as razões para o não uso, incluindo considerações éticas,
riscos de zoonoses, higiene do ambiente de trabalho, eficácia no ensino, pressões
econômicas, além de uso ilegal de animais e publicidade adversa1.
As práticas com animais vão contra fundamentos éticos e morais de muitos dos
acadêmicos e pesquisadores, causando conflitos internos desnecessários, além dos
problemas de ordem psicológica gerados por tal ação2.
Questão premente, é o desenvolvimento de novas ferramentas didáticas e
metodológicas para redefinir conceitos e extinguir ou minimizar o uso de animais. Os
recursos alternativos também denominados “substitutivos são ferramentas
inovadoras, para uso didático ou em pesquisa, que buscam alcançar três conceitos
fundamentais relacionados ao uso de animais: redução, refinamento e substituição,
ou seja, visam reduzir o número de animais necessários para executar um
procedimento; refinar as técnicas utilizadas, a fim de diminuir o sofrimento animal
durante o procedimento e, se possível, substituir completamente o uso de animais.
Porém, além dessa inovação, faz-se necessário a mudança de consciência dos
personagens envolvidos neste processo. Ter conhecimentos sobre ética e bem estar
animal, não necessariamente implica em ter consciência, pois a tomada da
consciência implica em mudança de comportamento, e não apenas em
conhecimento intelectual. O processo de mudança e evolução pelo qual todo ser
humano passa, envolve obrigatoriamente mudanças comportamentais. Desta forma,
1 MORAES, G. C. O uso didático de animais vivos e os métodos alternativos em medicina veterinária. 2005. 96 f. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Universidade Anhembi Morumbi –, São Paulo, 2005. 2 ARLUKE, A. The use of dogs in medical and veterinary training: understanding and approaching student uneasiness. Journal of Applied Animal Welfare Science, London, v. 7, n. 3, p. 197–204, 2004. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1207/ s15327604jaws0703_6>.
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quanto maior for a consciência em agilizar este processo, rapidamente
transformações ocorrerão neste âmbito.
Infelizmente, ainda são escassos estudos sobre a aplicabilidade e validação de
métodos alternativos que possam atender não somente as necessidades didáticas
relacionadas ao ensino cirúrgico na Medicina e na Medicina Veterinária, como também
em outras áreas de atuação. Além destes fatores podem ser incluídas as dificuldades
de padronização, divulgação e comercialização que certamente contribui na objeção
dos docentes e, consequentemente, as Instituições de ensino por estas alternativas.
Nesta perspectiva, buscou-se desenvolver, avaliar e padronizar os recursos
alternativos didáticos ora apresentados. Os mesmos foram idealizados com o intuito
de garantir a aquisição de habilidades cirúrgicas relacionadas a bases da técnica
cirúrgica veterinária, disciplina primordial para o desenvolvimento de habilidades
cirúrgicas.
Inicialmente, respeitando-se o conteúdo programático da disciplina, abordou-
se o Tema “princípios da assepsia cirúrgica”, onde objetivou-se desenvolver recursos
que auxiliassem o ensino aprendizado da assepsia cirúrgica.
No primeiro ensaio, a implementação dos vídeos apoio, sobre o as manobras
inerentes a paramentação cirúrgica permitiu a consolidação do conhecimento de
forma mais efetiva e com diminuição do tempo de ensino das manobras básicas, o
que tornou as aulas mais dinâmicas mesmo com grande número de alunos.
Proporcionou também maior êxito no controle biológico de infecções, corroborando
assim com o aprimoramento da equipe cirúrgica, melhor aptidão cirúrgica e menor
risco cirúrgico e sofrimento animal.
Complementarmente, o simulador apresentado para assepsia e preparação do
campo operatório, ao tempo que substituiu o uso de animais, promoveu o adequado
suporte para o ensino e treinamento das técnicas assépticas relacionadas a
preparação do campo cirúrgico em suas variadas formas, colaborando com o
desenvolvimento de habilidades cirúrgicas e sedimentação do conhecimento. O uso
desse recurso precedendo as práticas em animais vivos, substituiu o uso dos mesmos
e favoreceu a confiança do aluno, minimizando erros intercorrentes devido a falta da
habilidade durante o aprendizado. Adicionalmente, proporcionou o aprimoramento de
procedimentos cirúrgicos posteriormente executados, particularmente no que se
refere à agilidade e eficácia na preparação do campo operatório e consequente
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controle da infecção cirúrgica, minimizando o risco cirúrgico e preservação da saúde
do animal.
No que se refere as fases fundamentais da técnica cirúrgica, foram abordadas
duas fases relevantes no transoperatório, a hemostasia e a síntese dos tecidos.
Um dos principais desafios para criação e emprego de métodos alternativos
para o ensino da cirurgia é conseguir simular artificialmente situações próprias de um
procedimento cirúrgico, a exemplo da hemorragia, ocorrência transoperatória grave
que deve ser imediatamente controlada e para tanto requer do cirurgião tranquilidade
e habilidade cirúrgica.
O treinamento de técnicas hemostáticas em equipamentos que mimetizem
hemorragia possibilita que os alunos desenvolvam suas habilidades sem o estresse
relacionado à presença de sangue, proporcionando assim a autoconfiança necessária
para que a hemostasia definitiva seja feita com segurança numa situação real.
O simulador idealizado e empregado neste estudo apresentou excelente grau
de aceitação e mostrou-se apropriado para o objetivo proposto. O efeito pulsátil
produzido pelo fluxo do sangue artificial no sistema, foi capaz de mimetizar com
realismo, uma hemorragia, causando níveis semelhantes de estresse aquele
observado durante uma cirurgia real, e possibilitando o suporte adequado para o
treinamento de técnicas hemostáticas, colaborando com o desenvolvimento de
habilidades cirúrgicas ao tempo que auxilia na sedimentação do conhecimento.
Em continuidade aos recursos idealizados, o bastidor empregado para o ensino
da síntese cirúrgica mostrou-se de fácil confecção, ao tempo que mimetizou
satisfatoriamente os planos anatômicos e promoveu o adequado suporte para a
confecção de diversos padrões de sutura, favorecendo assim a prática da síntese
cirúrgica, que além de conhecimento, requer considerável competência psicomotora.
Considerando a análise dos resultados obtidos nesta pesquisa, acredita-se que
nas condições em que foram empregados e avaliados, os recursos alternativos
possibilitaram, em curto período de tempo, maior transmissão de conhecimento, para
significativo número de alunos. Os conhecimentos teóricos e práticos que permitam a
aquisição de habilidades e competência cirúrgica necessárias para condução de
manobras inerentes aos princípios da assepsia cirúrgica e as fases fundamentais da
técnica cirúrgica veterinária, proporcionando ao aluno a autoconfiança e a