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R. Rae Ga www.ser.ufpr.br/raega Curitiba, v.31, p.53-68, Ago/2014 ISSN: 2177-2738
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AVALIAO GEOAMBIENTAL DAS TERRAS DO MUNICPIO BRASILEIRO DE CCERES PARA O CULTIVO DA TECA
GEOENVIRONMENTAL EVALUATION OF THE BRAZILIAN LANDS AT THE PROVINCE OF CCERES FOR TEAK PLANTATION
Jes Pereira Kreitlow
Mestrando em Ambiente e Sistemas de Produo Agrcola Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
Cceres, MT e-mail: [email protected]
Sandra Mara Alves da Silva Neves
Professora da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) Departamento de Geografia
Cceres, MT e-mail: [email protected]
Ronaldo Jos Neves
Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) Departamento de Geografia
Cceres, MT e-mail: [email protected]
Milson Evaldo Serafim
Professor do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) Campus Cceres
Cceres, MT e-mail: [email protected]
Recebido em: 02/08/2013
Aceito em: 28/01/2014
Resumo
A Teca (Tectona grandis L. f.) uma espcie arbrea de grande porte, originaria do sudoeste asitico, que teve seu ciclo de crescimento acelerado devido as caractersticas edafoclimticas presentes no Estado de Mato Grosso. No estado o ciclo de crescimento da planta foi reduzido para um perodo que varia de 25 a 30 anos, enquanto que no continente Asitico o ciclo da planta dura em mdia cem anos. Assim, objetivou-se realizar a avaliao geoambiental das terras do municpio de Cceres/MT, visando identificao das reas aptas e inaptas ao cultivo da
KREITLOW, J.P.; NEVES, S.M.A.S.; NEVES, R.J.; SERAFIM, M.E. Avaliao geoambiental das terras do municpio brasileiro de Cceres para o cultivo da teca
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Teca. A metodologia para operacionalizao desta pesquisa ocorreu por meio de geotecnologias. Para a realizao da pesquisa foram utilizados os arquivos vetoriais de Pedologia e Geomorfologia elaborados pelo PCBAP que foram unidos em ambiente SIG em um primeiro momento, em seguida foram agregados dados climticos obtidos a partir da Estao Meteorolgica do INMET em Cceres, e por ltimo foram definidas as reas que possuam restries legais ao cultivo da Teca a partir da adoo dos parmetros presentes na Resoluo CONAMA 303. Os resultados mostraram que em Cceres 5.046 Km2 so considerados aptos para a cultura da Teca e 19.305 Km2 inaptos, sendo que as reas aptas se localizam nos vales das serras da Provncia Serrana e em pores com relevo plano, situados a oeste do permetro urbano. As informaes geradas neste estudo podem contribuir no planejamento da atividade e na gesto territorial municipal de Cceres, situado na regio sudoeste mato-grossense. Palavras-chave: Geotecnologias; Biogeografia; Pantanal; Tectona grandis L. f.
Abstract The Teak (Tectona grandis L. f.) is a arboreal large species, originally from Southeast Asia, which had its growth cycle accelerated by soil and climatic characteristics present in the state of Mato Grosso. In the state, the growth cycle of the plant was reduced to a period ranging from 25 to 30 years, whereas in the Asian continent the cycle lasts on average hundred years. Thus, the objective was to perform the geoenvironmental assessment of land in the province of Cceres / MT, aiming the identification of suitable and unsuitable areas for the Teak cultivation. The methodology to operationalization of this research was through geotechnology. To conduct the research, vector files of Pedology and Geomorphology were elaborated by PCBAP and united in GIS at the first moment. Then were aggregated data obtained from the meteorological station of INMET Cceres, and finally were defined the areas what had legal restrictions on the cultivation of Teak with the adoption of the parameters present in CONAMA Resolution 303. Results showed that in Cceres 5,046 km2 are considered suitable for the cultivation of Teak and unfit 19,305 km2; the suitable areas are located in the valleys of the mountains of the Mountain Province and portions with flat terrain, located in west of the city limits. The information generated in this study may help in planning the activities and territorial municipal management of Cceres, city located in the southwest region of Mato Grosso. Keywords: Geotechnologies; Biogeography; Pantanal; Tectona grandis L. f. INTRODUO
A Teca (Tectona grandis L. f.) foi introduzida no Brasil, na dcada de 60, no
municpio de Cceres, e aps esse perodo seu cultivo foi expandido para outras
reas do Estado. O ciclo da planta nos pases de origem, no continente Asitico,
leva em mdia 100 anos, enquanto no Mato Grosso o ciclo foi reduzido para 25 a 30
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anos devido as melhores condies de solo, clima e pelo trato sivilcultural mais
intenso (MACEDO, 2005, p. 90). De acordo com o autor (op. cit.) a Teca (Tectona
grandis L. f.) uma espcie arbrea de grande porte, que tem como caractersticas
o tronco retilneo, rpido crescimento, resistncia ao fogo e ser pouco susceptvel a
pragas. A madeira possui elevado valor comercial por sua beleza e resistncia.
Atualmente no Brasil as plantaes de Teca ocupam reas extensas,
situadas principalmente nas regies Centro Oeste e Norte, mais especificamente
nos Estados de Mato Grosso, Par e Roraima. De acordo com a Associao
Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas - ABRAF, no ano de 2012 seu
cultivo totalizou 67.329 hectares, apresentando uma pequena reduo em relao a
rea plantada no levantamento anterior (ABRAF, 2013, p. 52). Sua destinao
para construo civil (portas, janelas, lambris, painis, forros, assoalhos e decks),
mveis, embarcaes e lminas decorativas.
Sendo que a madeira o principal produto obtido pela espcie que possui
alto valor comercial. Atualmente a cotao da madeira serrada de Teca varia de 400
a 3000 dlares dependendo da qualidade da madeira e do tamanho da bitola e
tambm com a presena ou no de ns nos troncos. Figueiredo et al. (2005a, p.
342) apontam que investimentos no cultivo da espcie uma tima opo
econmica para as regies que atendam s necessidades edafoclimticas que a
espcie exige.
Segundo Ortiz et al. (2006, p. 68) a rpida expanso das plantaes
comerciais da Teca, neste caso no municpio de Cceres, faz com que seja
necessria a elaborao de estudos sobre a relao entre o potencial produtivo e as
limitaes produo em uma determinada rea, fazendo com que o manejo
racional da floresta e do solo seja essencial para a conservao do meio ambiente.
De acordo com Silva e Santos (2011, p. 37) o zoneamento pode ser
compreendido como o resultado de analises dinmicas e regionalizadas de atributos
relevantes, e que resulta na integrao dessas anlises. Os autores destacam ainda
que essa uma tarefa transdisciplinar passvel de anlises quantitativas e com
enfoque sistmico, que possui como objetivo orientar a reviso e formulao de
polticas de pesquisa e desenvolvimento com enfoque na conservao e manejo de
recursos naturais.
KREITLOW, J.P.; NEVES, S.M.A.S.; NEVES, R.J.; SERAFIM, M.E. Avaliao geoambiental das terras do municpio brasileiro de Cceres para o cultivo da teca
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Thomas (2012, p. 200-201) destaca que muitos municpios brasileiros foram
criados e se desenvolveram de acordo com os interesses dos fundadores sem levar
em conta as questes ambientais, o que gerou diversos impactos ambientais. A
autora aponta que o zoneamento ambiental deve proporcionar, atravs do
planejamento, a reduo dos impactos ambientais com o estabelecimento de zonas
de usos especficos e o manejo dos atributos que existem nestas zonas, sejam eles
naturais ou antrpicos.
Nardim e Robaina (2010, p. 488) mostram que a adequao de uma
metodologia para a elaborao de um zoneamento geoambiental um desafio para
os pesquisadores. Estes autores desenvolveram seu estudo em uma regio do
Estado do Rio Grande do Sul que vem sofrendo com impactos ambientais desde a
dcada de 1970. Os impactos tiveram incio com a mecanizao das lavouras e
atualmente ocorrem a partir das atividades voltadas a silvicultura, nessa regio
existem processos erosivos significativos.
Lage et al. (2008, p. 11) apontam que o zoneamento ambiental pode ser
caracterizado como uma metodologia para a escolha de categorias que busquem
facilitar a realizao de uma anlise integrada de uma paisagem ou bacia
hidrogrfica a partir do estabelecimento de perspectivas de mitigao dos problemas
diagnosticados e das aes que causaram estes problemas.
As propostas de zoneamento so operacionalizadas via emprego das
geotecnologias, estas por sua vez consistem em um conjunto de coleta,
processamento, anlise e oferta de informaes espaciais, tornando-se importantes
ferramentas para a tomada de deciso (ROSA, 2005, p. 81). Os Sistemas de
Informaes Geogrficas (SIG) nos dias atuais so vistos como instrumentos vitais
para a conduo de zoneamentos, independentemente de sua adjetivao, em
virtude de sua capacidade de manipular grandes conjuntos de dados (SILVA e
SANTOS, 2011, p. 17).
Bahr e Carvalho (2012, p. 179) apontam que a utilizao de tcnicas de
geoprocessamento so eficazes para a combinao de informaes espaciais,
sendo que as tcnicas possibilitam a atualizao e permitem trabalhar o mais
prximo possvel da realidade. Corroborando com o que foi apresentado
anteriormente, Caixeta e Brito (2011, p. 2-3) destacam que as tcnicas de
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Geoprocessamento so multidisciplinares e proporcionam a compreenso da
formao e estrutura do espao de maneira interdisciplinar.
Carvalho Junior et al. (2003) caracterizam o geoprocessamento como o
conjunto de ferramentas que de forma sistemtica integra os meios utilizados na
aquisio e gerenciamento de dados espaciais tendo como objetivo a produo de
informaes geogrficas atravs de recursos computacionais. Um dos recursos
mencionado pelos autores o SIG que possuem como funo a organizao e
manipulao de informaes pela localizao onde ocorrem.
Face ao exposto, esta pesquisa teve como objetivo realizar a avaliao
geoambiental das terras do municpio de Cceres/MT, visando identificao das
reas aptas e inaptas ao cultivo da Teca, visando subsidiar o planejamento da
atividade e a gesto territorial municipal.
MATERIAL E MTODOS
A rea de estudo desta pesquisa foi o municpio de Cceres, que pertence
regio sudoeste do estado de Mato Grosso (Figura 1), possuindo um total de 24.351
Km2 (BRASIL, 2012). De acordo com a classificao climtica de Kppen,
fundamentada nos regimes trmico, pluviomtrico e nas distribuies das
associaes vegetais, Cceres possui clima Tropical, com temperatura do ms mais
frio superior a 18 C, com inverno seco (maio outubro) e vero chuvoso (novembro
abril). A pluviosidade mdia anual do municpio de 1.335 mm, chovendo em
mdia 115 dias por ano (NEVES et al., 2011a, p. 159).
Segundo o Plano de Conservao da Bacia do Alto Paraguai - PCBAP
(BRASIL, 1997, p. 83), ocorrem na rea de estudo quatro formaes geolgicas
distintas. A primeira a Formao Pantanal, composta por sedimentos arenosos,
slticos-argilosos, argilo-arenoso e areno-conglomerticos semi consolidados e
inconsolidados. Nessa formao so encontrados ainda depsitos fluviais e
lacustres com reas que so periodicamente inundveis e sujeitas a inundaes
ocasionais, apresentando diferenas pedolgicas que so ocasionadas pela
variao do lenol fretico.
A segunda formao geolgica presente na rea de estudo a de Aluvies
Atuais, composta por areias, siltes, argilas e cascalhos. Sendo representadas por
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depsitos das plancies de inundao dos rios Paraguai, Cuiab e Sepotuba. No
municpio essa unidade est representada nas plancies dos rios Paraguai,
Sepotuba, Jauru, Cabaal e crrego Padre Incio.
A terceira unidade geolgica que ocorre no municpio a do Grupo Alto
Paraguai Formao Araras, composta por calcrios calcticos com intercalaes
de margas e silttos na base. A quarta unidade presente pertence ao Grupo Alto
Paraguai Formao Raizama, constituda por arenitos ortoquartzticos e
feldspticos, brancos e rseos, com sedimentos mdios e grosseiros.
Figura 1: Localizao do municpio de Cceres/MT.
A operacionalizao da pesquisa ocorreu a partir da compatibilizao e
recorte dos arquivos vetoriais de Geomorfologia e Pedologia, gerados pelo Plano de
KREITLOW, J.P.; NEVES, S.M.A.S.; NEVES, R.J.; SERAFIM, M.E. Avaliao geoambiental das terras do municpio brasileiro de Cceres para o cultivo da teca
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Conservao da Bacia do Alto Paraguai - PCBAP (BRASIL, 1997, p. 83 e 137)
utilizando a ferramenta Clip do ArcGis (ESRI, 2007), tendo como mscara o arquivo
vetorial do municpio de Cceres. As classificaes de aptido dos temas foram
feitas a partir de informaes obtidas atravs de pesquisa bibliogrfica.
Os temas geomorfologia e pedologia foram os primeiros a serem
classificados separadamente quanto a aptido, tendo como objetivo a obteno da
aptido morfopedolgica do municpio.
Aps a classificao individualizada da aptido dos temas geomorfologia e
pedologia estes foram combinados em ambiente SIG, atravs do comando Intersect,
o mapa gerado desta combinao foi reclassificado a partir da anlise das aptido e
inaptido apresentado pelos temas combinados. Assim, utilizou-se os seguintes
critrios: aptas para as reas que no possuam restries em ambos os temas e
inaptas paras os locais onde existiam restries, em pelo menos um dos temas em
estudo.
Em seguida foram agregados os dados de temperatura e precipitao da
Estao Meteorolgica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) de Cceres
(cdigo 01657000), localizada no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT). Estes
se referem ao perodo de observao de 1971 a 2009 (39 anos) e foram
disponibilizados em meio digital por Neves et al. (2011b).
Estudos de Figueiredo et al. (2005b, p. 23) apontaram que o
desenvolvimento da Teca favorecido em reas cuja precipitao mdia varie entre
1.250 e 3750 milmetros anuais; e a temperatura varie entre a mnima de 13C e a
mxima de 43C; e que a espcie necessita de uma estao biologicamente seca
com disponibilidade hdrica menor que 50 mm/ms em um perodo que varie de 3 a
5 meses, a espcie possui um melhor desenvolvimento em regies tropicais
moderadamente midas e quentes. Assim foram adotados os parmetros trmicos e
hdricos, mostrados na Tabela 1.
Tabela 1 Faixa de aptido trmica e hdrica para a cultura da Teca.
Regies Precipitao mdia anual Temperatura mdia anual
Aptas 1.251 e 3.749 13C e 43C
Inaptas < 1.250 e 3.750 12,9C e 43,1C
Fonte: Figueiredo et al. (2005b).
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Para a definio dos locais que possuam restries legais ao cultivo da
Teca foram adotados os parmetros da Resoluo CONAMA 303 (BRASIL, 2002),
sendo deste modo o mapa reclassificado, gerado a partir da aptido dos temas
geomorfologia e pedologia combinados, analisados quanto aos quesitos: reas de
Preservao Permanente de crregos, rios, reas alagadas e topos de morros.
Portanto, as reas que eram aptas e que apresentavam restries legais foram
classificadas como inaptas.
O produto final da pesquisa foi um mapa que apresentou o zoneamento das
terras do municpio de Cceres para fins do cultivo da Teca, cujo layout foi
elaborado no mdulo ArcMap (ESRI, 2007).
A quantificao das reas de cada unidade do zoneamento foi realizada em
duas etapas: na primeira com o auxlio da ferramenta Xtools Pro, no mdulo ArcMap
do ArcGis, calculou-se o tamanho em hectares de cada unidade do zoneamento; na
segunda etapa os valores de rea de cada unidade de zoneamento foram
exportados (extenso dbf) e no programa Excel, da Microsoft, gerou-se as
porcentagens de cada unidade do zoneamento.
RESULTADOS E DISCUSSO
Apesar do municpio de Cceres ser caracterizado por sua grande extenso
territorial, somente 5.046,79 Km2 podem ser utilizadas para cultivos, em virtude das
restries legais devido ao Pantanal e as reas de Preservao Permanente (APP),
localizadas na Provncia Serrana (Serras) e nos cursos dgua (rios, crregos e
lagoas). A presena de reas aptas ou inaptas para o cultivo de Teca em Cceres
est diretamente relacionada com as formaes geomorfolgicas encontradas na
rea de estudo.
Na unidade geomorfolgica Sistema de Faixas Dobradas, que ocupa
3.012,65 Km2 da rea do municpio, esto localizadas algumas serras que formam a
Provncia Serrana, sendo que no projeto Radambrasil (BRASIL, 1982, p. 213) esta
foi classificada como uma rea que possui relevos dobrados caracterizada por
sucesses de anticlinais e sinclinais, que separam fisicamente a Depresso do Alto
Paraguai da Depresso Cuiabana e esta da Depresso Interplanltica de
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Paranatinga. As serras pertencentes ao municpio que fazem parte da regio
conhecida como Provncia Serrana apresentam como direo predominante a NE-
SO. A formao ocupa uma rea com mais de 400 Km de extenso por
aproximadamente 40 Km de largura, do Geossinclneo Paraguai-Araguaia.
As serras da unidade foram classificadas como inaptas para o
desenvolvimento da cultura de Teca, pois segundo a Resoluo Conama 303/2002
(BRASIL, 2002) as reas de morros, montanhas ou bases de morros devem ser
preservadas. Outra caracterstica importante dessa unidade a presena de
nascentes de crregos e rios que formam a rede hidrogrfica que possibilita que
ocorra o alagamento das terras contidas no Pantanal.
Os vales das serras da Provncia Serrana foram classificados como aptos,
sendo aproveitados economicamente pelas comunidades residentes para o
desenvolvimento da pecuria e em menor proporo para outros usos, como:
lavouras e cultivos da Teca. Nestes existem dez assentamentos rurais provenientes
da reforma agrria, que abrigam 3.259 famlias, em alguns desses so realizados o
cultivo de Teca em parceria com uma das trs empresas instaladas no municpio.
A formao geomorfolgica Sistema de Aplainamento 3 encontrada em
vrios locais da rea de estudo perfazendo um total de 2.127,97 Km2, comportando
diversas fazendas de empresas que cultivam a Teca. Cabe ressaltar que apenas
uma das empresas possui no municpio oito fazendas com plantaes de Teca.
Essa unidade possui algumas caractersticas que favorecem o cultivo da espcie, as
principais so o relevo, plano e bem drenado, existindo vrios canais fluviais de
pequeno e mdio porte, onde destaca-se o rio Jauru, um dos principais afluentes do
Rio Paraguai em sua parte superior; e tipos de solo favorveis ao cultivo, como por
exemplo, Latossolo Vermelho-Amarelo lico.
A unidade geomorfolgica Sistema de Dissecao/Lagos apresenta aptido
em quase toda sua totalidade de 1.933,53 km2, sendo restrita nessa apenas as
reas de APP, localizadas ao redor das lagoas e margens de crregos e rios. Os
solos presentes nessa unidade tambm apresentam aptido, principalmente o
Latossolo Amarelo distrfico.
O fator que pode tornar essa rea menos vivel para o desenvolvimento da
Teca presena de inmeras lagoas, pois foram contabilizadas mais de duzentas
KREITLOW, J.P.; NEVES, S.M.A.S.; NEVES, R.J.; SERAFIM, M.E. Avaliao geoambiental das terras do municpio brasileiro de Cceres para o cultivo da teca
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na unidade Sistema de Dissecao/Lagos, sendo que no entorno destas devem
existir as APPs (BRASIL, 2002).
Na figura 2 apresentado o zoneamento da aptido das terras do municpio
de Cceres para o cultivo Teca, sendo possvel observar as reas aptas e as inaptas
para o cultivo da espcie.
Figura 2: Zoneamento do cultivo de Teca (Tectona grandis) no Municipio de Cceres/MT.
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As reas aptas esto distribudas nos vales das serras da Provncia Serrana,
localizada na poro leste de Cceres, e nas reas planas, situadas a oeste do
permetro urbano, prximas das rodovias federais BR-070 e BR-174.
Na tabela 2 so apresentados os percentuais de reas que as classes de
aptido ocupam no municpio, sendo que 80% das terras enquadram-se na classe
inapta para o cultivo da Teca devido aos fatores geomorfolgicos, pedolgicos,
climticos e de legislao ambiental.
Tabela 2 Classes de aptido ao cultivo da Teca no municpio de Cceres/MT
Classe rea
Km2 Ha %
Apta 5.046,79 504.679,68 20,72
Inapta Atributos fsicos 5.550,77 555.077,02 22,79
Legislao 13.753,43 1.375.343,25 56,49
Total 24.351,00 2.435.099,96 100
As reas caracterizadas como aptas devido aos fatores morfopedolgicos,
que totalizaram 5.354,33 Km2, encontrando-se distribudas por todo o municpio.
Mesmo apresentando aptido algumas reas foram classificadas como inaptas, pois
apresentava impedimentos de sua utilizao devido a legislao.
As reas classificadas como inaptas apresentaram os seguintes as
seguintes caractersticas: inundao durante uma parte do ano e/ou o relevo
movimentado, pois ambos inviabilizam o uso do espao, associado aos tipos de
solos das reas que no favoreceram o desenvolvimento fisiolgico da Teca. A
inaptido dos solos esto relacionados presena de gua (mal drenados) e
tambm a ocorrncia de Neossolos, que no so favorveis ao cultivo da espcie.
Os solos das reas classificadas como aptas ao cultivo de Teca, de acordo
como Brasil (1997, p. 137) so pertencentes a seis classes: Latossolo Amarelo
distrfico, Latossolo Vermelho-Amarelo lico, Latossolo Vermelho-Amarelo
distrfico, Argissolo Vermelho-Amarelo distrfico e Argissolo Vermelho-Amarelo
eutrfico. As diferenciaes dos solos eutrficos, mais favorveis para o
desenvolvimento da cultura, e distrficos devem-se a sua saturao por bases.
Contudo, limitaes qumicas passivas de correo, dentro do nvel tecnolgico de
manejo da regio, no foi fator de excluso de reas.
KREITLOW, J.P.; NEVES, S.M.A.S.; NEVES, R.J.; SERAFIM, M.E. Avaliao geoambiental das terras do municpio brasileiro de Cceres para o cultivo da teca
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Das variveis utilizadas na elaborao do zoneamento das terras de
Cceres para a cultura de Teca, a temperatura foi nica que no influenciou nos
resultados, pois de acordo com Neves et al. (2011a, p. 159), que estudaram o clima
municipal nos ltimos 38 anos apontaram que as temperatura mdias mnimas e
mximas variaram de 23,36 C, no ms mais frio (julho) a 28,01C, no ms mais
quente (outubro), intervalo este que pode ser considerado como favorvel ao
desenvolvimento da cultura, pois o menor valor de temperatura registrada em
Cceres no perodo investigado foi superior aos 13C ideal para a espcie. Quanto
temperatura mxima histrica registrada no municpio foi de 41,2 C, se encontrando
abaixo do limite que pode prejudicar o desenvolvimento da Teca, que de 43 C.
Relativo precipitao, o ideal que a variao esteja entre 1.200 a 3.000
mm anuais. Neste caso novamente as condies pluviomtricas apresentadas no
municpio favorecem seu desenvolvimento uma vez que a pluviosidade mdia
municipal totaliza em mdia 1.335 mm anuais. Visando o bom desenvolvimento da
Teca necessrio um perodo de seca, que pode variar de 3 a 5 meses, neste
perodo a pluviosidade no deve ultrapassar 50 mm, situao est atendida em
parte pelo clima de Cceres, uma vez que a estao seca pode durar at 8 meses,
sendo que nos meses de junho a agosto o perodo seco se intensifica ocorrendo
dficit hdrico (NEVES et al., 2011b, p. 59). No entanto, esta situao no tem
prejudicado o desenvolvimento da espcie.
Devido a pluviosidade algumas partes da rea de estudo foram classificadas
inaptas, por no ocorrer a mdia mnima anual de chuva necessria ao
desenvolvimento da planta, estando estas localizadas na rea de fronteira de
Cceres com a Bolvia e na divisa com o municpio de Porto Esperidio.
Considerando os parmetros definidos na legislao ambiental as reas
alagadas e alagveis pertencentes ao Pantanal, classificadas como inaptas, foi o
fator que mais contribuiu para o quantitativo da classe inapta, pois a rea ocupada
pelo Pantanal (que subdividido em duas unidades, a de Cceres e de Pocon)
de 13.927,02 km2, correspondendo 57,08% da extenso territorial municipal, sendo
que deste total 12.412,56 km2 (50,70%) correspondem unidade Pantanal de
Cceres e 1.556,02 (6,38%) a unidade Pantanal de Pocon (NEVES, 2006). A rea
territorial pertencente as unidades dos pantanais de Cceres e de Pocon
KREITLOW, J.P.; NEVES, S.M.A.S.; NEVES, R.J.; SERAFIM, M.E. Avaliao geoambiental das terras do municpio brasileiro de Cceres para o cultivo da teca
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correspondem a 64% da classe inapta, que ocupam principalmente a poro centro-
sul de Cceres (Figura 02).
CONCLUSES E SUGESTES
Da extenso territorial municipal de Cceres a implantao da Teca pode ser
recomendada em 20,72% de suas terras e restringida em 79,28%;
A utilizao de parmetros legais na elaborao do zoneamento restringiu o
uso de terras classificadas como aptas de acordo com os fatores morfopedolgicos,
favorecendo a conservao ambiental;
A precipitao do municpio constitui um fator restritivo ao cultivo da Teca
em algumas localidades, enquanto a temperatura no interfere no desenvolvimento
fisiolgico da planta;
Para o cultivo da Teca nas terras do municpio investigado deve ser
consideradas as caractersticas ambientais, pois a implantao da cultura em
determinados locais podem causar desiquilbrios no Pantanal, cuja oscilao do
lenol fretico da Bacia do Alto Paraguai influncia diretamente nas inundaes, no
estresse hdrico e causar prejuzos econmicos para os investidores.
AGRADECIMENTOS
Produo vinculada aos projetos de pesquisa Modelagem de indicadores
ambientais para a definio de reas prioritrias e estratgicas recuperao de
reas degradadas da regio sudoeste de Mato Grosso/MT, vinculado sub-rede de
estudos sociais, ambientais e de tecnologias para o sistema produtivo na regio
sudoeste mato-grossense REDE ASA, financiada no mbito do Edital
MCT/CNPq/FNDCT/FAPs/MEC/CAPES/PRO-CENTRO-OESTE N 031/2010 e
Estudo das relaes entre atributos do solo e a produtividade da Teca em Mato
Grosso empregando tcnicas multivariadas aprovado no Edital FAPEMAT n
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