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1 Redação de RTs: tópicos sobre técnica de elaboração textual Minicurso,7º Workshop SBRT Bento Gonçalves/RS Este curso pretende discorrer sobre os padrões propostos para o texto dos produtos SBRT, em especial a Resposta Técnica, buscando incrementos e melhorias de qualidade a escrita técnica utilizada. Língua X Linguagem Língua: sistema de signos Linguagem: utilização do sistema de signos *Saussurre (1916) enfatiza que as línguas são instituições, manobras de agrupamento. Acrescento a este olhar que, para a manutenção deste agrupamento, existe a GRAMÁTICA NORMATIVA. Nela tem-se a “Bíblia” que tenta manter a língua ordenada e obediente. Mas, na prática da língua, tal obediência não se contém, já que a maneira como usamos o código varia e se recria a todo o tempo. Esta prática lingüística denomina-se A LINGUAGEM. O manuseio deste sistema de signos se abre noutras vertentes que nos levam às VARIEDADES LINGUÍSTICAS: usos diferentes que se faz da mesma língua. Variedades linguísticas dependem: Da região em que a língua é utilizada; Dos costumes do grupo em que o usuário da língua vive; Da faixa etária dos falantes; Da condição sócio-econômico de quem a utiliza; Do grau de escolaridade desenvolvido pelo falante; Da intenção do emissor; Do contexto ou da situação em que é utilizada; Da pessoa a quem se destina a mensagem.

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Redação de RTs: tópicos sobre técnica de elaboração textual

Minicurso,7º Workshop SBRT – Bento Gonçalves/RS Este curso pretende discorrer sobre os padrões propostos para o texto dos produtos SBRT, em especial a Resposta Técnica, buscando incrementos e melhorias de qualidade a escrita técnica utilizada.

Língua X Linguagem

Língua: sistema de signos Linguagem: utilização do

sistema de signos

*Saussurre (1916) enfatiza que as línguas são instituições, manobras de agrupamento.

Acrescento a este olhar que, para a manutenção deste agrupamento, existe a

GRAMÁTICA NORMATIVA. Nela tem-se a “Bíblia” que tenta manter a língua

ordenada e obediente.

Mas, na prática da língua, tal obediência não se contém, já que a maneira como usamos o

código varia e se recria a todo o tempo. Esta prática lingüística denomina-se A

LINGUAGEM.

O manuseio deste sistema de signos se abre noutras vertentes que nos levam às

VARIEDADES LINGUÍSTICAS: usos diferentes que se faz da mesma língua.

Variedades linguísticas dependem:

Da região em que a língua é utilizada;

Dos costumes do grupo em que o usuário da língua vive;

Da faixa etária dos falantes;

Da condição sócio-econômico de quem a utiliza;

Do grau de escolaridade desenvolvido pelo falante;

Da intenção do emissor;

Do contexto ou da situação em que é utilizada;

Da pessoa a quem se destina a mensagem.

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Destes, destaco os dois últimos itens como valores principais para se pensar os textos

produzidos para o SBRT:

Qual o nosso contexto lingüístico? A RT é um texto produzido sob preceitos limitadores quanto à sua estrutura, conteúdo e suporte.

Características de texto científico.

Normas técnicas;

Suporte limitado. Aspectos que garantem CREDIBILIDADE DO TEXTO

Quem é o receptor da nossa mensagem?

O cliente SBRT passeia pelos mais diversos grupos sociais, econômicos e culturais. Numa categorização que leva em conta as relações de negócios, temos: EI, microempresário, indivíduo-empreendedor, artesão, dentre outros.

Isto nos leva à importância de se perceber e aprender a conciliar os polos:

TEXTORECEPTOR (leitor/cliente)

Como produzir uma escrita obediente às normas cultas da língua e acessível a todo tipo de leitor?

Já que não pode/deve haver alterações quanto ao suporte/estrutura das normas que

garantem nosso contexto linguístico, resta ajustar o máximo possível a maneira como

escrevemos para um maior alcance do público-alvo.

Como “sintonizar” a linguagem para a Resposta Técnica?

DICAS:

Lançar mão desinônimos para se livrar de palavras de uso restrito. Buscar equilíbrio

quanto à pressuposição de conhecimento do leitor sobre termos técnicos.Exemplos:

“...deve-se adotar as boas práticas de fabricação para a obtenção de um produto de qualidade e inócuo ao consumidor.” (SBRT, 2011. RT publicada. [Grifo meu]).

SUGESTÃO: “...para a obtenção de um produto de qualidade e que não cause dano ao consumidor.”

“A escama de peixe é um tipo de osso ou cartilagem, disposta sobre a pele do peixe dando-lhe maior hidrodinâmica e proteção.” (SBRT, 2011. RT publicada. [Grifo meu]).

SUGESTÃO: “...dando-lhe maior proteção e facilitando sua capacidade de deslocamento na água (hidrodinâmica).

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“O ácido benzóico (INS 210) é um conservante muito utilizado na indústria farmacêutica e de alimentos...” (SBRT, 2011. RT publicada. [Grifo meu]).

A palavra “conservante” foi perfeitamente utilizada, pois sua escolha ampliou o entendimento de um possível leitor desconhecedor da substância mencionada.

Ao chegar à indústria, a uva passa por um processo de desengace (separação do engaço das bagas).

A palavra “desengace” foi muito bem explicada dentro do contexto da sentença.

É importante “prever” o quanto o usuário conhece do assunto tratado para optar ou não

ao uso de determinado conceito/palavra. Sempre que possível, ampliar o entendimento

de “termos restritos” (jargões: linguagem típica de determinado grupo profissional).

Percebe-se, portanto, que pequenos arranjos textuais ampliam a compreensão do texto,

mesmo utilizando a língua culta e suas normas. Aliás, vale ressaltar que o uso da língua

culta permite-nos aproveitar o leque extraordinário de conceitos, sinônimos,

variações verbais, etc. como aliados à escrita simplificada (leia-se: simplificada porque

fluida e não porque simplória ou superficial), em que o leitor não tenha que ir ao

dicionário para saber o significado de alguma palavra ou “desista” do texto por falta de

entendimento.

Sob um olhar mais poético para as definições de LINGUAGEM, LEITOR,

TEXTO e outros participantes, vale a leitura do texto “Ler o mundo”, de Affonso

Romano de Sant’Anna. (Anexo I, destaque).

O que é texto? Unidade global de comunicação que expressa uma ideia ou trata de

um assunto determinado.

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Tipos de textos

O modo de se estabelecer a interação entre texto e leitor é o que vai determinar otipo

de texto a ser produzido. Isso significa que o tipo é caracterizado pela natureza linguística

de sua construção teórica, ou seja, por seus tempos verbais, aspectos lexicais e sintáticos,

relações entre seus elementos. Os principais tipos textuais são:

Narrativos Discorre sobre fatos, acontecimentos.

Descritivos

Destaca as características. Funciona como

uma fotografia do momento, descrevendo

situações, objetos, pessoas. Faz a palavra

virar imagem.

Dissertativos

Estrutura-se com base na argumentação,

exposição de ideias, concordância ou

contestação justificadas.

Injuntivos

Indicam procedimentos a serem realizados.

Como por exemplo, as receitas e manuais

de instrução.

Os tipostextuaisaparecem em número limitado, como informado acima. Já os gêneros

textuais estão sempre em constante crescimento quantitativo. Eles estão ligados

diretamente às práticas sociais. Exemplo: carta, bilhete, conferência, e-mail, artigos,

entrevistas, texto científico, reportagem, notícia, nota de falecimento, etc.

Assim, um tipo textual pode aparecer em qualquer gênero textual, da mesma forma que

um único gênero pode conter mais de um tipo textual.

Quais os tipos e gêneros textuais que abarcam os textos do SBRT?

Percebemos recorrentemente textos meramente informativos (principalmente quanto às

RTPs). Isto se dá principalmente pelo caráter também informativo do texto científico,

contudo este carrega além da informação (que expõe características, dados e formas de

utilização) uma aplicação técnica, comentários e discussões. (Ver Anexo II)

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Texto científico

Apesar de todas as regras a serem seguidas na elaboração de um texto científico

parecerem uma série de manias e peculiaridades para os não-iniciados, elas têm como

objetivo padronizar os textos produzidos pelos cientistas/pesquisadores de modo a

tornar a transmissão de informações mais rápida e precisa possível.

Antes de tudo devemos lembrar que o texto científico funciona como um outro texto

qualquer: é necessário que ele tenha começo, meio e fim, seja agradável de ler,

gramaticalmente correto, compreensível, coerente e mantenha conexões lógicas entre as

ideias nele contidas.

O texto científico versa sobre temas que podem ser tratados cientificamente, à luz da

experimentação, do raciocínio lógico, da análise, da aplicação de um método/técnica.

Seu objetivo é expor informações comprovadas ou passíveis de comprovação, divulgar

ideias próprias ou de outrem, partilhar um saber, informar.

Seu estilo é marcado pela objetividade, precisão, clareza, concisão, simplicidade e

formalidade.

Uma característica comum a praticamente todos os textos científicos é a organização nas

seguintes partes: Introdução, Objetivos, Materiais e Métodos, Resultados, Discussão e

Conclusões. Além destes, o Título, Resumo, Palavras-chave, Figuras e Tabelas,

Agradecimentos e Referências também compõem um texto científico.

As Respostas Técnicas suportam a maior parte destas características do texto científico.

Contudo, as classificações acima citadas se adaptamda seguinte forma: Título, Resumo,

Palavras-chave, Assunto, Demanda, Solução Apresentada, Conclusões e Recomendações

e Fontes Consultadas.

A seguir, relações funcionais das partes do texto científico, elaborado para a Resposta

Técnica:

Texto Científico X Resposta Técnica Título Título

Resumo Resumo Palavras-chave Palavras-chave

Introdução Assunto Objetivos Demanda

Materiais e métodos, Figuras e Tabelas Solução Apresentada Resultados, Discussão e conclusões Conclusões e Recomendações

Referências Fontes consultadas

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o Título

O título de um texto científico deve ser, ao mesmo tempo, informativo e curto, ou seja,

deve relatar em poucas palavras do que trata o texto.

Exemplo: "Diversidade de libélulas em lagoa no litoral sul do Estado de São Paulo,

Brasil". Note que neste exemplo o assunto do estudo (diversidade), o objeto que foi

estudado (libélulas) e a localização geográfica (litoral sul de São Paulo, Brasil) estão

claramente informados.

Desta maneira, podemos pensar um título com a seguinte estrutura:

Assunto do estudo + Objeto do estudo + Especificações (complementação do

objeto do estudo, localização geográfica, estado/forma/detalhamento de um produto)

Exemplos:

Título CONSERVANTES EM SUCOS ENVASADOS

Conservante Sucos Envasados

Partes do título Assunto do estudo Objeto do estudo

Especificação do produto tratado

Título FORNECEDORES DE ROUPAS MASCULINA

Fornecedores Roupas Masculinas

Partes do título Assunto do estudo Objeto do estudo

Detalhamento do produto tratado

Título CARTEIRA DE EMBALAGEM LONGA VIDA

???? (Produção/confecção, venda, compra...)

Carteira de embalagem

Longa vida

Partes do título Assunto do estudo Objeto do estudo

Detalhamento do produto tratado

Título EMBALAGEM PARA COCO RALADO SECO

Embalagem Coco ralado seco ??????

Partes do título Assunto do estudo Objeto do estudo

Especificação do produto tratado

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o Resumo

Geralmente, os textos científicos vêm acompanhados de um resumo, que é a síntese dos

pontos relevantes do trabalho, redigido pelo próprio autor. É a partir deste que muitos

cientistas selecionam os artigos de interesse. No caso do SBRT, o resumo compõe junto

com o título e a solicitação, o primeiro contato contextual do usuário com a Resposta

Técnica:

Na RT, a elaboração de um resumo também requer atenção às idéias centrais do texto,

contudo restritas à identificação do objeto, seu motivo de ser e sua aplicação.

Estruturalmente, necessita ser preciso, contudo merece bastante atenção para as palavras

que o compõe, pois o resumo representa semanticamente a “manchete”/”anúncio” do

texto que se segue.

O quê / quem

Onde / Por que / Como

Exemplo de resumos, retirados de produtos SBRT:

Indica a Portaria nº 327/1997, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, determinando aos estabelecimentos produtores de Saneantes Domissanitários, o cumprimento das diretrizes dos Regulamentos Técnicos - Boas Práticas de Fabricação e Controle.

Informações sobre criação de peixes ornamentais, incluindo estrutura, qualidade da água e alimentação.

Informações sobre espaçamento, período para plantio e a produção anual média para o pomelo.

o Palavras-chave: GTTE

o Assunto: GTTE

o Demanda: Necessita, sempre que possível e necessário, ser refinada com o cliente

requer uma revisão ortográfica e gramatical.

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o Solução apresentada

Descreve o tipo de estudo/delineamento;

Consiste em explicitar o que foi demandado pelo cliente em tópicos,

subitens ou esquemas;

Descrição panorâmica dos dados levantados para propiciar ao leitor a

percepção adequada e completa da pesquisa realizada de forma clara e

precisa, sem interpretações pessoais;

Quando pertinente, deve-se incluir ilustrações como quadros, tabelas e

figuras (gráficos, mapas, fotos,etc., constituintes da linguagem não verbal);

Atenção à utilização arbitrária de linguagem não verbal no texto científico. A

imagem deve comunicar-se com o texto verbal complementando a

informação escrita e/ou detalhando processos e procedimentos. A simples

inserção de imagens entre parágrafos sem conexão com os discursos que o

circudam, fragmentam o entendimento global do texto pelo leitor.

o Conclusões e recomendações

Resumir, apontar e reforçar as idéias principais e as contribuições

proporcionadas pelo trabalho anteriormente descrito e analisado;

Aconclusão deve ser analítica, interpretativa, e incluir argumentos

explicativos. Deve ser capaz de fornecer evidências da solução da demanda,

através da pesquisa realizada;

Dica: este é o momento ideal para se voltar à demanda e verificar se nenhum aspecto do questionamento feito pelo cliente foi esquecido.

o Fontes consultadas: observar os pressupostos na IT 02

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Referências

BAGNO, Marcos. É preciso acabar com a cultura do erro. Revista Caros Amigos,

número 131, fev. 2008.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação: uma

proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. Ed. Atual: São Paulo, 2005.

COSCARELLI, C. V.Leitura em ambiente multimídia e a produção de inferências.In:

GUIMARÃES, Ângelo de M. (Ed.) Anais do VII Simpósio Brasileiro de Informática

na Educação. Belo Horizonte: DCC/UFMG, nov. 1996, p. 449-456.

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de

Letras, 1996.

SANT’ANNA, Affonso Romano de. Ler o mundo. Editora Global, 2011.

SARMENTO, Leila Lauar; TUFANO, Douglas. Português: literatura, gramática,

produção de texto. Ed. Moderna: São Paulo, 2004.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo, Cultrix, 2006.

SERVIÇO BRASILEIRO DE RESPOSTAS TÉCNICAS. [Respostas utilizadas].

Disponível em: <http://www.respostatecnica.org.br>. Acesso em: 18 novembro de

2011.

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ANEXOS

Anexo I: Crônica

Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não.

Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. Ainda agora os jornais estão repetindo, a

propósito das recentes eleições, “que é preciso entender o recado das urnas”. Ou seja: as urnas falam, emitem

mensagens. Cartola - o sambista- dizia “as rosas não falam, as rosas apenas exalam o perfume que roubam de ti”.

Perfumes falam. E as urnas exalaram um cheiro estranho. O presidente diz que seu partido precisa tomar banho

de “cheiro de povo”. E enquanto repousava nesses feriados e tomava banho em nossas águas, ele tirou várias

fotos com cheiro de povo.

Paixão de ler. Ler a paixão.

Como ler a paixão se a paixão é quem nos lê? Sim, a paixão é quando nossos inconscientes pergaminhos sofrem

um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à nossa revelia .

O corpo é um texto. Há que saber interpretá-lo. Alguns corpos, no entanto, vêm em forma de hieroglifo,

dificílimos. Ou, a incompetência é nossa, iletrados diante deles?

Quantas são as letras do alfabeto do corpo amado? Como soletrá-lo? Como sabê-lo na ponta da língua? Tem 24

letras? Quantas letras estranhas, estrangeiras nesse corpo? Como achar o ponto G na cartilha de um corpo?

Quantas novas letras podem ser incorporadas nesta interminável e amorosa alfabetização? Movido pelo amor, pela

paixão pode o corpo falar idiomas que antes desconhecia.

O médico até que se parece com o amante. Ele também lê o corpo. Vem daí a semiologia. Ciência da leitura dos

sinais. Dos sintomas. Daí partiu Freud, para ler o interior, o invisível texto estampado no inconsciente. Então, os

lacanianos todos se deliciaram jogando com as letras - a letra do corpo, o corpo da letra.

Diz-se que Marx pretendeu ler o inconsciente da história e descobrir os mecanismos que nela estavam

escritos/inscritos. Portanto, um economista também lê a sociedade. Os empresários e executivos, por sua vez, se

acostumaram a falar de "qualidade total". Mas seria mais apropriado falar de "leitura total". Só uma leitura não

parcial, não esquizofrênica do real pode nos ajudar na produtividade dos significados. Por isto, é legítimo e

instigante falar não apenas de uma "leitura da economia", mas de algo novo e provocador: a "economia da

leitura".

Não é só quem lê um livro, que lê.

Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. Fazer um jardim é reler o mundo, reordenar o texto

natural. A paisagem, digamos, pode ter "sotaque", assim como tem sabor e cheiro. Por isto se fala de um jardim

italiano, de um jardim francês, de um jardim inglês. E quando os jardineiros barrocos instalavam assombrosas

grutas e jorros d’água entre seus canteiros estavam saudando as elipses do mistério nos extremos que são a pedra e

a água, o movimento e a eternidade.

O urbanista e o arquiteto igualmente escrevem, melhor dito, inscrevem, um texto na prancheta da realidade.

Traçados de avenidas podem ser absolutistas, militaristas, e o risco das ruas pode ser democrático dando

expressividade às comunidades.

Tudo é texto. Tudo é narração.

O astrônomo lê o céu, lê a epopeia das estrelas. Ora, direis, ouvir & ler estrelas. Que estórias sublimes, suculentas,

na Via Láctea. O físico lê o caos. Que epopéias o geógrafo lê nas camadas acumuladas num simples terreno. Um

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desfile de carnaval, por exemplo, é um texto. Por isto se fala de “samba enredo”. Enredo além da história pátria

referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a comissão de frente são formas narrativas.

Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber ler uma partida - este o mérito do locutor esportivo, na

verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê coisas no texto em jogo, que só depois de lidas por ele, por

nós são percebidas. Ler, então, é um jogo. Uma disputa, uma conquista de significados entre o texto e o leitor.

Paulinho da Viola dizia: "As coisas estão no mundo eu é que preciso aprender”. Um arqueólogo lê nas ruínas a

história antiga.

Não é só Sherazade que conta estórias. Um espetáculo de dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é

narração. Tudo é narração. Até o quadro “Branco sobre o branco” de Malevich conta uma estória.

Aparentemente ler jornal é coisa simples. Não é. A forma como o jornal é feita, a diagramação, a escolha dos

títulos, das fotos e ilustrações são já um discurso. E sobre isto se poderia aplicar o que Umberto Eco disse sobre o

“Finnegans Wake” de James Joyce: “o primeiro discurso que uma obra faz o faz através da forma como é feita”.

Estamos com vários problemas de leitura hoje. Construimos sofisticadíssimos aparelhos que sabem ler. Eles nos

lêem. Nos lêem, às vezes, melhor que nós mesmos. E mais: nós é que não os sabemos ler. Isto se dá não apenas

com os objetos eletrônicos em casa ou com os aparelhos capazes de dizer há quantos milhões de anos viveu certa

bactéria. Situação paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos lêem. Analfabetismo tecnológico.

A gente vive falando mal do analfabeto. Mas o analfabeto também lê o mundo. Às vezes, sabiamente. Em nossa

arrogância o desclassificamos . Mas Levi-Strauss ousou dizer que algumas sociedades iletradas eram ética e

esteticamente muito sofisticadas. E penso que analfabeto é também aquele que a sociedade letrada refugou. De

resto, hoje na sociedade eletrônica, quem não é de algum modo analfabeto?

Vi na fazenda de um amigo aparelhos eletrônicos, que ao tirarem leite da vaca, são capazes de ler tudo sobre a

qualidade do leite, da vaca, e até (imagino) lerem o pensamento de quem está assistindo à cena. Aparelhos

sofisticadíssimos leem o mundo e nos dão recados. A camada de ozônio está berrando um S.O.S., mas os chefes

de governo, acovardados, tapam (economicamente) o ouvido. A natureza está dizendo que a água, além de infecta,

está acabando. Lemos a notícia e postergamos a tragédia para nossos netos.

É preciso ler, interpretar e fazer alguma coisa com a interpretação. Feiticeiros e profetas liam mensagens nas

vísceras dos animais sacrificados e paredes dos palácios. Cartomantes leem no baralho, copo d’água, búzios.Tudo

é leitura. Tudo é decifração.

Ler é uma forma de escrever com mão alheia.

Minha vida daria um romance? Daria, se bem contado. Bem escrevê-lo são artes da narração. Mas só escreve bem,

quem ao escrever sobre si mesmo, lê o mundo também.

A crônica "Ler o Mundo", de Afonso Romano de Sant'Anna, é a introdução do livro de mesmo nome.

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Anexo II: Exemplo de RT com características somente informativas

O Ácido Para-Aminobenzóico (PABA), também conhecido como vitamina H1, é tido como uma vitamina do

complexo B, de relevante importância para a síntese do ácido fólico. De natureza hidrossolúvel, não pode ser

sintetizado pelo organismo. É produzido por bactérias intestinais, estando ligado à produção de sulfas e

antibióticos. A deficiência dessa substância pode causar fadiga, prisão de ventre, irritabilidade, e

embranquecimento dos cabelos. Também pode ser encontrado em fontes naturais como: fígado, gérmen de trigo,

cereais integrais e ovos (ALVARENGA, [200-?]).

Alvarenga ([200-?]) também aponta outras propriedades adicionais do PABA, tais como: auxiliar no combate ao

embranquecimento dos cabelos, vitiligo, queimaduras solares, depressão, esquizofrenia, e até em doenças de

infertilidade feminina. Contudo, a aplicação mais conhecida é como protetor solar, colaborando na proteção dos

raios UV.

(Figura 1- Fórmula do PABA)

O ácido p-aminobenzóico foi o primeiro filtro a ser patenteado, em 1943, durante a 2ª Guerra Mundial, pelos

EUA. O exército norte-americano desenvolveu formulações com protetores solares para utilização de suas tropas,

o que permitiu que o país desenvolvesse importantes estudos na área de fotoproteção (SHAATH, 1997 apud

Silva, 2007).

Na década de 70 o uso do PABA se proliferou nas formulações de protetor solar, contudo começaram a perceber

que ocorria um elevado número de reações alérgicas a ele, o que fez com que fosse removido como ingrediente do

protetor solar comum. Além de potencialmente causar alergias, o PABA pode ser um potencial cancerígeno,

segundo pesquisas dos Cosméticos SkinDeep. Por conta desse alarde, muitas empresas de protetores solares

fazem questão de colocar nos rótulos que sua formulação é PABA free, ou seja, que não possuem essa substância,

afirmação mais ligada ao marketing, já que atualmente a maioria já não utiliza PABA (GERSTEIN, 2010).

O PABA faz parte da categoria dos primeiros filtros solares, que protegiam a pele da radiação UVB, mas eram

capazes de causar os eritemas. Atualmente com os avanços na área da bioquímica e fotobiologia utilizam-se

compostos capazes de absorver na região do UVA, ou seja, formulações que aumentam o espectro de absorção

(ROSEN, 2003 apud SANTOS, 2007).

Além da divisão pelo espectro de absorção, há também a classificação dos filtros em dois grandes grupos: os

químicos e os físicos. Os filtros químicos são aqueles que absorvem a radiação UV e a emitem na região do

infravermelho, acarretando a sensação de calor. Nesse tipo de filtro há a presença de alguns derivados de PABA.

Já os físicos são compostos inorgânicos que conseguem refletir ou absorver a radiação UV, tendo como principais

representantes: o dióxido de titânio e o óxido de zinco, ambos atualmente fabricados em partículas microfinas

para terem uma boa aceitabilidade dos consumidores (SHAATH, 1997 apud SANTOS, 2007).

A eficácia fotoprotetora de um filtro solar depende da conjunção de vários fatores. Primeiro, a questão da adesão

do filtro solar na pele, que deve formar um filme protetor, permitindo um grande acúmulo do filtro na pele, mas

com uma permeação mínima para a corrente sanguínea.

Outro fator é a quantidade a ser aplicada, já que segundo testes, a maioria das pessoas não passa a quantidade

suficiente. Depois, fatores como pH e polaridade podem interferir na absorção do filtro. Além disso, devem ser

feitos estudos de estabilidade e de como o filtro interage com a pele. Por fim, o fator mais trabalhado

recentemente, a durabilidade do produto em condições adversas, tais como água e areia (SANTOS 2007).

Atualmente, depois de comprovado o risco de causar câncer de pele o PABA não é mais utilizado nos filtros

solares, apenas seus derivados, que não oferecem riscos. Diante disso, o PABA geralmente está sendo

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administrado oralmente em complexos vitamínicos, em forma de pílula para o tratamento de sintomas

gastrointestinais, ou mesmo o seu sal de potássio é usado como remédio para algumas doenças de pele (SILVA;

PEZZA, [200-?]).

Conclusões e recomendações

Recomenda-se a visita ao site de Descritores em Ciências da Saúde, para informações mais técnicas sobre o

PABA:<http://decs.bvs.br/cgi-

bin/wxis1660.exe/decsserver/?IsisScript=../cgibin/decsserver/decsserver.xis&task=exact_term&previous_page

=homepage&interface_language=p&search_language=p&search_exp=PABA>

Recomenda-se a visita ao site da ANVISA, para obter informações sobre as substâncias

permitidas em filtros solares:

<http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/mercosul/cosmeticos/71_00.htm>

RT publicada no site SBRT

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Anexo III: Novo Acordo Ortográfico

Após várias tentativas de se unificar a ortografia da língua portuguesa, a partir de 1º de janeiro de 2009 passou a vigorar no Brasil e em todos os países da CLP (Comunidade de países de Língua Portuguesa) o período de transição para as novas regras ortográficas que se finaliza em 31 de dezembro de 2012.

Algumas modificações foram feitas no sentido de promover a união e proximidade dos países que têm o português como língua oficial: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal.

No entanto, não é necessário que haja aversão às alterações, pois são simples e fáceis de serem apreendidas! Além disso, há um prazo de adaptação que dá calmaria a todo processo de mudança!

O que mudou na ortografia brasileira

O objetivo deste guia é expor ao leitor, de maneira objetiva, as alterações introduzidas na ortografia da língua portuguesa pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por Timor Leste. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995.

Esse Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da língua falada. Ele não elimina todas as diferenças ortográficas observadas nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, mas é um passo em direção à pretendida unificação ortográfica desses países.

Este guia foi elaborado de acordo com a 5.ª edição doVocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado

pela Academia Brasileira de Letras.

Mudanças no alfabeto

O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto completo passa a ser:

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S

T U V W X Y Z

As letras k, w e y, que na verdade não tinham desaparecido da maioria dos dicionários da nossa língua, são usadas em várias situações. Por exemplo:

a. na escrita de símbolos de unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt); b. na escrita de palavras e nomes estrangeiros (e seus derivados): show, playboy, playground, windsurf,

kung fu, yin, yang, William, kaiser, Kafka, kafkiano.

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Trema

Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos gruposgue, gui, que, qui.

Como era Como fica

agüentar aguentar

argüir arguir

bilíngüe bilíngue

cinqüenta cinquenta

delinqüente delinquente

eloqüente eloquente

ensangüentado ensanguentado

eqüestre equestre

freqüente frequente

lingüeta lingueta

lingüiça linguiça

qüinqüênio quinquênio

sagüi sagui

seqüência sequência

seqüestro sequestro

tranqüilo tranquilo

Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos: Müller, mülleriano.

Mudanças nas regras de acentuação

1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba).

Como era Como fica

alcalóide alcaloide

alcatéia alcateia

andróide androide

apóia (verbo apoiar)apoia

apóio (verbo apoiar)apoio

asteróide asteroide

bóia boia

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celulóide celuloide

clarabóia claraboia

colméia colmeia

Coréia Coreia

debilóide debiloide

epopéia epopeia

estóico estoico

estréia estreia

estréio (verbo estrear) estreio

geléia geleia

heróico heroico

idéia ideia

jibóia jiboia

jóia joia

odisséia odisseia

paranóia paranoia

paranóico paranoico

platéia plateia

tramóia tramoia

Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas e os monossílabos tônicos terminados em eis e ói(s). Exemplos: papéis, herói, heróis, dói (verbo doer), sóis etc.

2. Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo.

Como era Como fica

baiúca baiuca

bocaiúva bocaiuva*

cauíla cauila**

*bacaiuva = certo tipo de palmeira / **cauila = avarento

Atenção:

a. se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos des), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí;

b. se o i ou o uforem precedidos de ditongo crescente, o acento permanece. Exemplos: guaíba, Guaíra.

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3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êeme ôo(s).

Como era Como fica

abençôo abençoo

crêem (verbo crer) creem

dêem (verbo dar) deem

dôo (verbo doar) doo

enjôo enjoo

lêem (verbo ler) leem

magôo (verbo magoar) magoo

perdôo (verbo perdoar) perdoo

povôo (verbo povoar) povoo

vêem (verbo ver) veem

vôos voos

zôo zoo

4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.

Como era Como fica

Ele pára o carro. Elepara o carro.

Ele foi ao pólo Norte. Ele foi ao polo Norte.

Ele gosta de jogar pólo. Ele gosta de jogar polo.

Esse gato tem pêlos brancos. Esse gato tempelos brancos.

Comi uma pêra. Comi uma pera.

Atenção:

- Permanece o acento diferencial em pôde/pode.Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3ª pessoa do singular. Pode é a forma do presente do indicativo, na 3ª pessoa do singular. Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode.

- Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feitapor mim.

- Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verboster evir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos:

Ele tem dois carros. / Eles têmdois carros. Elevemde Sorocaba. / Elesvêmde Sorocaba. Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra.

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Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes. Ele detém o poder. / Eles detêm o poder. Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas.

- É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?

5. Não se usa mais o acento agudo no utônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do indicativo dos verbosarguireredarguir.

6. Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados emguar,quarequir, como aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo e também do imperativo. Veja:

a. se forem pronunciadas comaouitônicos, essas formas devem ser acentuadas.Exemplos: verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxáguem. verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínquam.

b. se forem pronunciadas comutônico, essas formas deixam de ser acentuadas.Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente que as outras): verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem. verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua, delinquas, delinquam.

Atenção: no Brasil, a pronúncia mais corrente é a primeira, aquela comaei tônicos.

Uso do hífen com compostos

1. Usa-se o hífen nas palavras compostas que não apresentam elementos de ligação. Exemplos: guarda-chuva, arco-íris, boa-fé, segunda-feira, mesa-redonda, vaga-lume, joão-ninguém, porta-malas, porta-bandeira, pão-duro, bate-boca.

*Exceções: Não se usa o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, comogirassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, paraquedismo.

2. Usa-se o hífen em compostos que têm palavras iguais ou quase iguais, sem elementos de ligação. Exemplos: reco-reco, blá-blá-blá, zum-zum, tico-tico, tique-taque, cri-cri, glu-glu, rom-rom, pingue-pongue, zigue-zague, esconde-esconde, pega-pega, corre-corre.

3. Não se usa o hífen em compostos que apresentam elementos de ligação. Exemplos: pé de moleque, pé de vento, pai de todos, dia a dia, fim de semana, cor de vinho, ponto e vírgula, camisa de força, cara de pau, olho de sogra.

Incluem-se nesse caso os compostos de base oracional. Exemplos: maria vai com as outras, leva e traz, diz que diz que, deus me livre, deus nos acuda, cor de burro quando foge, bicho de sete cabeças, faz de conta.

*Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa.

4. Usa-se o hífen nos compostos entre cujos elementos há o emprego do apóstrofo. Exemplos: gota-d'água, pé-d'água.

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5. Usa-se o hífen nas palavras compostas derivadas de topônimos (nomes próprios de lugares), com ou sem elementos de ligação.

Exemplos:

Belo Horizonte -belo-horizontino Porto Alegre -porto-alegrense Mato Grosso do Sul -mato-grossense-do-sul Rio Grande do Norte -rio-grandense-do-norte África do Sul -sul-africano

6. Usa-se o hífen nos compostos que designam espécies animais e botânicas (nomes de plantas, flores, frutos, raízes, sementes), tenham ou não elementos de ligação. Exemplos: bem-te-vi, peixe-espada, peixe-do-paraíso, mico-leão-dourado, andorinha-da-serra, lebre-da-patagônia, erva-doce, ervilha-de-cheiro, pimenta-do-reino, peroba-do-campo, cravo-da-índia.

Obs.: não se usa o hífen, quando os compostos que designam espécies botânicas e zoológicas são empregados fora de seu sentido original. Observe a diferença de sentido entre os pares:

a)bico-de-papagaio(espécie de planta ornamental) -bico de papagaio(deformação nas vértebras).

b)olho-de-boi(espécie de peixe) -olho de boi(espécie de selo postal).Uso do hífen com prefixos

As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefixos (anti, super, ultra, sub etc.) ou por elementos que podem funcionar como prefixos (aero, agro, auto, eletro, geo, hidro, macro, micro, mini, multi, neo etc.).

Casos gerais

1. Usa-se o hífen diante de palavra iniciada porh. Exemplos:

anti-higiênico

anti-histórico

macro-história

mini-hotel

proto-história

sobre-humano

super-homem

ultra-humano

2. Usa-se o hífen se o prefixo terminar com a mesma letra com que se inicia a outra palavra. Exemplos:

micro-ondas

anti-inflacionário

sub-bibliotecário

inter-regional

3. Não se usa o hífen se o prefixo terminar com letra diferente daquela com que se inicia a outra palavra. Exemplos:

Autoescola Antiaéreo Intermunicipal Supersônico Superinteressante Agroindustrial Aeroespacial semicírculo

*Se o prefixo terminar por vogal e a outra palavra começar porrous, dobram-se essas letras. Exemplos:

Minissaia Antirracismo Ultrassom semirreta

Casos particulares

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1. Com os prefixossubesob, usa-se o hífen

também diante de palavra iniciada porr.

Exemplos:

sub-região

sub-reitor

sub-regional

sob-roda

2. Com os prefixoscircumepan, usa-se o hífen

diante de palavra iniciada porm,nevogal.

Exemplos:

circum-navegação

pan-americano

3. Usa-se o hífen com os prefixos ex, sem,

além, aquém, recém, pós, pré, pró, vice.

Exemplos:

além-mar / além-túmulo / aquém-mar / ex-

aluno / ex-diretor / ex-prefeito / ex-

presidente / pós-graduação / pré-história /

pré-vestibular / recém-casado / recém-

nascido / sem-terra / vice-rei

4. O prefixocojunta-se com o segundo

elemento, mesmo quando este se inicia

poroouh. Neste último caso, corta-se oh. Se

a palavra seguinte começar comrous,

dobram-se essas letras. Exemplos:

Coobrigação

Coedição

Coeducar

Cofundador

Coabitação

Coerdeiro

Correu

Corresponsável

5. Com os prefixospreere, não se usa o hífen,

mesmo diante de palavras começadas pore.

Exemplos:

Preexistente

Preelaborar

Reescrever

Reedição

6. Na formação de palavras comab,obead,

usa-se o hífen diante de palavra começada

porb,dour. Exemplos:

ad-digital

ad-renal

ob-rogar

ab-rogar Outros casos do uso do hífen

1. Não se usa o hífen na formação de palavras

comnãoequase. Exemplos:

(acordo de)não agressão

(isto é um)quase delito

2. Commal*, usa-se o hífen quando a palavra

seguinte começar por vogal,houl. Exemplos:

mal-entendido / mal-estar / mal-humorado

mal-limpo * Quandomalsignifica doença, usa-se o hífen se não houver elemento de ligação. Exemplo: mal-francês. Se houver elemento de ligação, escreve-se sem o hífen. Exemplos:mal de lázaro, mal de sete dias.

3. Usa-se o hífen com sufixos de origem tupi-

guarani que representam formas adjetivas,

como açu, guaçu, mirim. Exemplos:

capim-açu / amoré-guaçu / anajá-mirim

4. Usa-se o hífen para ligar duas ou mais

palavras que ocasionalmente se combinam,

formando não propriamente vocábulos, mas

encadeamentos vocabulares. Exemplos:

ponte Rio-Niterói / eixo Rio-São Paulo

5. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição

de uma palavra ou combinação de palavras coincidir

com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte.

Exemplos:

Na cidade, conta-

-se que ele foi viajar.

O diretor foi receber os ex-

-alunos