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5 MOÇAMBIQUE Paisagens e Regiões Naturais 1999

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MOÇAMBIQUE Paisagens e Regiões Naturais

1999

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Ficha Técnica

Titulo: Moçambique Paisagens e Regiões Naturais

Edição: do Autor

© do Autor

Autor: Aniceto dos Muchangos

Arte final: Castigo Khan e Adélia Panda

Tiragem: 5000 exemplares

República de Moçambique, 01048/FBM/93

Impressão: Tipografia Globo, Lda.

Ano: 1999

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Introdução

Uma das principais tarefas da Geografia Física consiste na análise da

origem, da estrutura e da dinâmica dos complexos naturais, sua

repartição territorial bem como as possibilidades da sua utilização

social.

Os complexos naturais como parte da geoesfera, são categorias

das ciências naturais cujo desenvolvimento rege-se por processos

naturais de acordo com leis físicas, químicas e biológicas da

Natureza.

Os processos geológicos levam à uma formação de uma

determinada estrutura geológica. Processos geomorfológicos criaram

as actuais formas de relevo. A partir da interacção do clima, solos e a

morfologia resultam as condições para o desenvolvimento dos seres

vivos.

Neste cenário integra-se o homem, como componente da

natureza, que por um lado, é um ser vivo, realizando muitas das suas

funções e manifestações vitais, segundo leis naturais e por outro lado,

ele subtrai da Natureza para sua produção todas matérias-primas,

reagindo desse modo contra a natureza.

Efectivamente, o Homem sofre simultaneamente influência dos

factores biológicos e sociais. O seu alto nível de desenvolvimento está

ligado a factores sociais, sendo por isso primeiramente um ser social.

Mas a maior parte dos componentes naturais só se tornaram

recursos após a intervenção do homem, tal como na transformação

dos recursos minerais em matérias-primas e fontes de energia; dos

produtos animais e vegetais em alimentos e matérias-primas para o

fabrico de numerosos objectos úteis; dos solos como base para a

produção agrária e florestal ou como suporte para a construção de

vias de comunicação, casas e instalações para a produção.

Em todos territórios ocorrem elementos estruturais ou

componentes das regiões tais como o relevo, o clima, a água, o solo, a

vegetação e a fauna que em conjunto, sob influência de determinados

factores, imprimem uma marca própria aos territórios e condicionam

as formas de utilização dos recursos naturais tais como o relevo, o

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clima, a água, o solo, a vegetação e a fauna que em conjunto, sob

influência de determinados a factores, imprimem uma marca própria

aos territórios e condicionam as formas de utilização dos recursos

naturais.

Com o desenvolvimento da sociedade humana aumenta

consideravelmente a necessidade de utilizar a Natureza e seus

recursos e tal só se logra com maior eficácia, conhecendo a estrutura

dos componentes geográficos na sua expressão territorial.

A Natureza é a fonte de recursos naturais, fonte da saúde, da

recreação dos homens. Alguns recursos naturais tal como o ar para a

respiração e a energia solar como fonte do calor, satisfazem as

necessidades do homem, independentemente da sua influência.

Neste processo, as paisagens e regiões naturais

transformaram-se grandemente em paisagens culturais sob acção do

homem, que é ditada pelas condições de produção e pelas

necessidades sociais e do desenvolvimento da ciência e da técnica.

Assim, não é difícil compreender que a natureza e o trabalho

constituem as condições universais e necessárias para a existência do

Homem. O solo com as matérias-primas, a água e o ar, bem como os

seres vivos são as bases naturais da vida e da produção social.

A utilização da natureza, como fenómeno territorial é também

parte integrante do objecto da Geografia Física. Por isso o estudo dos

componentes físico-geográficos, deve contribuir para esclarecer as

condições actuais do território e fornecer dados para a utilização,

preservação, e melhoramento da Natureza e Meio Ambiente.

Por outro lado, o conhecimento dos componentes da natureza

e das leis do seu desenvolvimento são de grande importância para

explicar a origem, a evolução e a repartição dos vários fenómenos e

processos a nível global, regional e local.

Por isso, para a apresentação das paisagens e regiões naturais

de Moçambique, procedeu-se, em primeiro lugar, à análise sumária

dos componentes naturais do relevo, clima, água, solo, vegetação e

fauna, isoladamente, para em seguida se descreverem as principais

unidades regionais e paisagísticas, na sua complexidade.

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I. COMPONENTES NATURAIS

1. Enquadramento Geral do Território

1.1. Localização

A Republica de Moçambique fica situada no Hemisfério Meridional

entre os paralelos 10º 27' Sul e 26º 52' Sul. Ela pertence também ao

Hemisfério Oriental entre os meridianos de 30º 12' Este e 40º 51' Este.

O seu território enquadra-se no fuso horário 2 (dois), possuindo

assim duas horas de avanço relativamente ao Tempo Médio Universal,

tal como uma parte dos países da Europa Setentrional e Oriental. Em

África, os seguintes países utilizam a mesma legal: Egipto, Sudão,

Zaire, Zâmbia, Zimbabwe, Botswana, Suazilândia, Lesotho e África

do Sul (Fig. 1).

Devido a esta situação astronómica, é mínima a diferença da

duração entre o dia e a noite ao longo do ano o que explica uma

constância relativamente grande nas suas condições térmicas.

Pela sua posição muito encostada a leste do semi-meridiano de

30º Este, a hora legal é um pouco mais avançada que a hora local, o

que é mais notório na parte Norte de Moçambique.

Relativamente à distribuição dos oceanos e continentes, a

República de Moçambique fica situada, na costa Sudoeste do

continente africano, defronte da Ilha de Madagáscar, da qual

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Figura 1

Fig. 1. Enquadramento de Moçambique nos fusos horários.

se separa através do canal de Moçambique. As fronteiras continentais

separam-na dos seguintes países: Tanzânia ao Norte, Malawi, Zâmbia,

Zimbabwe, África do Sul e Suazilândia a Oeste e África do Sul ao Sul.

Pela sua extensão em latitude e pela configuração dos seus

limites, que dividem elementos da paisagem geográfica, tais como

rios, lagos, montanhas e o oceano, a República de Moçambique é

considerada na literatura geográfica internacional, como fazendo parte

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das 3 grandes regiões naturais, de África, nomeadamente a África

Oriental, África central e África Austral (Fig. 2).

Figura 2

Fig. 2 As regiões naturais de África

2. Dimensões

A superfície continental de Moçambique é de 786.380 km2. Esta área

corresponde a cerca de 2,6% da superfície do continente africano que é

de aproximadamente 30 milhões de km2.

A plataforma continental, cujo limite se fixa a 200 milhas da

linha da costa possui uma extensão de 120.000 km2 ou seja 0,24% dos

aproximadamente 30 milhões de km2 da superfície do Oceano Índico.

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Na área soberana de Moçambique há ainda a acrescenta cerca

de 13000 km2 das águas interiores que incluem os lagos, albufeiras e

rios.

Superfície (km2) % do total

Terra-firme 786.380 85,5

Águas interiores 13.000 1,4

Superfície marinha 120.000 13,0

Total geral 919.380 100

Tab 1. Valores absolutos e relativos da superfície do território

O comprimento máximo, medido em linha recta desde a foz do rio

Rovuma no Norte, até ao rio Maputo ao Sul, é aproximadamente 1.800

km; linha da costa, por seu lado, estima-se em cerca de 2.515 km de

comprimento.

A largura máxima, medida desde a Ponta Janga, na península

de Mossuril a Este, até a intercepção do paralelo de 15º com o rio

Aruângua a Oeste, é estimada em 963 km.

A largura mínima de 47,5 km regista-se entre o farol da

Catembe a Este e o marco Sivayana a Oeste.

A altitude máxima de 2.436 m no monte Binga, na cadeia do

Chimanimani em Manica é inferior cerca de três vezes e meia em

relação ao ponto mais elevado do Globo, no Monte Everest (8.840 m)

e duas vezes e meia relativamente ao Pico Uhuru (5.895 m), mais

elevado de África.

A maior profundidade continental regista-se no Lago Niassa e

é de 706 m abaixo do nível médio das águas do mar. No Canal de

Moçambique a maior profundidade regista-se a sudeste de Maputo na

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Fractura de Moçambique com cerca de 5.000 m ou seja menos da

metade da maior profundidade oceânica Mindanau (11.033 m).

FIGURA 3

Fig. 3 Limites extremos de Moçambique

1.3. A divisão político – territorial

Na Republica de Moçambique as condições naturais e económicas a

população, os povoamentos e a produção distribuem-se no território

muito diferenciadamente.

De acordo com a Constituição da República de Moçambique,

as unidades politico – administrativas regionais designam-se por

províncias, distritos, postos administrativos e localidades.

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Estas unidades territoriais representam parcelas de divisão

administrativa estatal cujo desenvolvimento se baseia nos objectivos

estatais. Simultaneamente, como unidades territoriais políticas

administrativas, elas representam regiões económicas, embora sejam

de categorias diferentes.

Os fundamentos para actual divisão administrativa são, os

interesses nacionais e a função do estado tendo em conta as

particularidades das unidades regionais, a composição étnica da

população, os órgãos administrativos, número e densidade da

população e os aspectos ligados a defesa da soberania e integridade

nacionais.

Incluindo a cidade de Maputo, província-capital, a República

de Moçambique subdivide-se em 11 províncias (Tab.2).

Cabo Delgado é a província mais setentrional do país. Tem

uma superfície calculada em 82.625 km2, que representam cerca de

10,3% da superfície total do país. A sua capital é a cidade portuária de

Pemba. Os seus limites são: ao Norte a fronteira estatal separando-a da

Tanzânia; a Oeste a província de Niassa; a Sul a província de Nampula

e a Este o Oceano Índico.

Niassa, é em termos de superfície, a maior província

moçambicana. A sua superfície de 129.056 km2 que inclui a parte

nacional do Lago Niassa, representa cerca de 16,3% da superfície do

país. A capital é a cidade de Lichinga que se situa no planalto do

mesmo nome, na parte ocidental da província.

A fronteira estatal limita a província ao Norte, da Tanzânia e

a Oeste do Malawi; a Este confina com Cabo Delgado e a sul, com a

Província de Nampula.

Nampula é a província costeira mais oriental do país, pois

possui na ponta Janga o ponto mais deslocado em longitude Este. A

sua superfície é de 81.606 km2 que representam cerca de 10,2% do

total nacional. A capital provincial é a cidade de Nampula, situado no

planalto do mesmo nome entre montes residuais. Tem a forma

triangular sendo o limite Norte, Cabo Delgado e Niassa e a Sul a

província da Zambézia. A Este o limite é realizado pelo oceano Índico.

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Zambézia é, com uma superfície de 105.008 km2 uma das

maiores províncias do país contribuindo com uma percentagem de

cerca de 13,1% do total. A sua capital é a cidade portuária de

Quelimane. O limite Norte separa-as da província de Nampula e

Niassa; o rio Zambeze ao Sul estabelece o limite com o Malawi e

numa pequena secção o limite com a província de Tete.

Tete é a província mais Ocidental do país. Possui uma

superfície de 100.724 km2, ou seja, cerca de 12,6% da área total do

país. A capital provincial é Tete, situada nas margens do rio Zambeze.

Possui fronteiras estatais com o Malawi, a Zâmbia e o Zimbabwe a

Este, Norte e Oeste respectivamente. A Este separa-se da Zambézia e o

limite meridional é estabelecido com as províncias de Manica e de

Sofala.

Manica, ocupa no centro do país uma superfície de 61.661

km2, equivalente a cerca de 7,7% da superfície total do país.

A sua capital é a cidade de Chimoio, situada no planalto do mesmo

nome. Confina a norte com a província de Tete e a Este com a

província de Sofala. O limite Ocidental é feito através da fronteira

estatal com o Zimbabwe. A Sul o rio Save separa-a das províncias de

Inhambane e Gaza.

Sofala é uma província costeira com uma superfície de 68.018

km2 que correspondem a cerca de 8,5% da área do país.

A sua capital e cidade portuária da beira, a segunda maior cidade de

Moçambique. Ao norte o rio Zambeze separa-a das províncias de Tete

e Zambézia; a oeste da província de Manica e a sul o rio Save

estabelecer separação com a província de Inhambane.

Inhambane é igualmente uma província costeira com uma área

de 68.615 km2 que representam cerca de 8,6% da superfície total do

país. A capital do provincial é a cidade portuária de Inhambane,

situada na orla da baia do mesmo nome. Ao norte o rio Save delimita-a

das províncias de Sofala e Manica e a Oeste o limite é a província de

Gaza.

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Gaza ocupa uma área de 75.709 km2, que corresponde a cerca

de 9,5% da superfície total do país, a sua capital é a cidade de Xai-Xai,

situada na margem esquerda do rio Limpopo.

Os seus limites são os seguintes: a Norte, a província de Manica

através do rio Save, a Leste a província de Inhambane; a Sul a

província de Maputo. A ocidente possui fronteiras estatais com o

Zimbabwe e África do Sul.

Maputo é a menor província do país, costeira e a mais

meridional. Possui uma área de 25.756 km2. A sua capital é a cidade

da Matola, situada a Oeste da cidade de Maputo. A norte confina com

a província de Gaza; a Oeste faz fronteira com Suazilândia e África do

Sul; a Sul novamente com África do Sul.

A Cidade de Maputo, com estatuto de província, é a capital da

República de Moçambique. É também a maior e mais importante

cidade do país. Possui uma área estimada em 602 km2 e situa-se na

margem Norte da baia do mesmo nome.

Província Superfície

(km2)

Capital

Cabo Delgado 82.625 Pemba

Niassa 129.056 Lichinga

Nampula 81.606 Nampula

Zambézia 105.008 Quelimane

Tete 100.724 Tete

Manica 61.661 Chimoio

Sofala 68.018 Beira

Inhambane 68.615 Maxixe

Gaza 75.709 Xai-Xai

Maputo 25.756 Matola

Cidade de Maputo 602 Maputo

Tab2. Divisão da Província e suas capitais

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Mapa da Divisão Administrativa de

Moçambique

Por razões de ordem económica, Moçambique pertence igualmente ao

grupo de países da Comunidade para o Desenvolvimento da África

Austral, conhecida pela sigla SADC, onde, para além dos países

limítrofes como Tanzania, Malawi, Zâmbia, Zimbabwe e Suazilândia

fazem parte também o Botswana, Lesotho, Namíbia e Angola (Fig. 5).

É por isso, que no enquadramento e descrição do território

moçambicano, se torna muitas vezes indispensável fazer recursos a

menção de aspectos geográficos comuns aos países vizinhos, em

particular os que se referem ao desenvolvimento paleogeográfico, à

tectónica, ao relevo, à hidrografia, à flora e à fauna.

Também é compreensível, num outro sentido, que na

localização de Moçambique se recorra a referência a aspectos

económicos, históricos e sociais e culturais aos países vizinhos, dentre

eles os linguísticos, religiosos, artísticos e estéticos.

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Fig. 5 Países da SADC

Fig. 5 Os países da SADC

2. Relevo

2.1. Paleogeomorfologia

A actual estrutura físico-geográfica de Moçambique resulta de um

longo processo de desenvolvimento histórico da Terra, que teve inicio

no Precâmbrico e se prolonga ate hoje. Este processo foi caracterizado

por uma serie de fases sucessivas e alternadas de orogenias, erosão e

de alterações climáticas e pedobiogénicas.

Sob o ponto de vista cronológico distinguem-se em

Moçambique, essencialmente três fases principais na formação do

relevo: Precâmbrico, Karroo e Pós-karro.

No contexto geológico da África Austral, a história do

desenvolvimento do relevo de Moçambique, é bastante longa e teve o

seu inicio há mais de, pelo menos, 3.500 milhões de anos.

A sua estrutura resultou da conjugação e processos exógenos e

endógenos em que se registou uma série de fases de deformação,

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destruição e consolidação da crusta que constituíram as bases para a

formação de bacias epicratónicas. Estes processos produziram as

unidades tectónicas subdivididas normalmente em cratões arcaicos

consolidados há mais de 2.500 milhões de anos, zonas de dobramento

que produziram as grandes regiões cratónicas e zonas de abatimento,

cujos sedimentos apresentam em alguns casos, deformações

subsidiárias. Posteriormente, as regiões de consolidação foram

parcialmente activadas, por fenómenos endógenos, independentemente

da existência de depósitos sedimentares epicratónicos.

As principais fases de transformações tectogénicas de

formação de montanhas, nível geral, concentraram-se no

Precâmbrico. O dobramento permo-triássico, registado

posteriormente, limitou-se essencialmente a uma estreita faixa no

extremo Sul de África, resultante de uma deformação soco crustal

denominado Panafricano. Para além dos processos endogénicos do

magmatismo, metamorfismo e tecnogénese que levaram a

estabilização e activação da crusta terrestre ou ainda a sua

regeneração, a complexidade dos fenómenos geológicos do

Precâmbrico da África Austral, foi ainda marcada pelos fenómenos

exógenos tais como meteorização, a denudação e sedimentação.

No território moçambicano, com as orogenias iniciadas no

Precâmbrico, teve lugar o primeiro cenário geológico-tectónico, no

qual se formou o esqueleto das principais montanhas do país,

nomeadamente os complexos rochosos do chamado Cratão Rodesiano,

no Precâmbrico Inferior e o Cinturão Moçambicano, “Moçambique

Belt”, no Precâmbrico Superior (Fig. 6).

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Estes processos rochosos constituem o principal embasamento

de cerca de 2/3 do território Moçambicano, sendo a sua principal área

de dispersão, as regiões setentrionais e centrais do país.

Os vestígios mais importantes ocorrem no norte de país,

destacando-se o complexo de rochas mais antigo de Moçambique

localizado no Sistema de Manica, que é a parte do Cratão Rodesiano.

Este complexo de rochas antigas que também se distribui por

alguns retalhos nas províncias de Cabo Delgado e Sofala, é constituído

por grauvaques, serpentinitos, mármores, xistos epidoritos,

ortoanfibolitos e quartzitos ferruginosos. Em muitos locais estas

rochas predominantemente metamórficas encontram-se intrudidas por

granitos, gabros e doleritos. O complexo granito-gnéissico do sistema

de Manica é o mais rico em intrusões básicas, mas estas, também são

notáveis no complexo de rochas cristalinas situado a nordeste da

Província de

Tete. Aqui coexistem intrusões de carácter básico com as de carácter

intermédio, produzindo topograficamente maciços de dimensões

variáveis.

A consolidação definitiva da crusta terrestre na África Austral teve

lugar na transição do Precâmbrico Superior para o Câmbrico, em que

grandes regiões foram intensamente deformadas. Importante para

reconstituição das condições físico-geográficas do passado e ao

mesmo tempo relevante para o estudo das condições geográficas

actuais, foi a fase geomorfológica denominada «Catanguese»,

registada a cerca de 450 – 680 milhões de anos. Nesta fase as

principais elevações montanhosas ganharam a sua actual configuração,

muito embora tenham sofrido ao longo dos tempos processos

significativos de transformação. Em consequência dessas

transformações, são visíveis nas regiões elevadas, os peneplanos,

pediplanos, insebelberge, pães-de-açúcar e muitas outras formas

típicas da geomorfologia das regiões tropicais (Fig. 6).

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As fases da intensa actividade erosiva que arrasaram os

enrugamentos precâmbricos, registaram segundo King (1951) durante

os ciclos de erosão «Africano» e «Quedas de Vitória» durante os quais

se constituíram os altiplanaltos e os planaltos médios respectivamente.

O Cinturão Moçambicano, que noutras regiões do continente Africano

se conhece por Damariano e Catanguiano representam regiões

cratónicas regeneradas térmicas e deformativamente durante a

tectogénese panafricana.

Este cinturacao tectono-metamórfico estende ao longo da faixa

oriental africana, e nas províncias geológicas de Niassa, Moçambique

e Medio Zambeze. De acordo com as suas marcas mais expressivas,

ele subdivide-se em dois episódios: Episódio do Lúrio (1.300 – 700

milhões de anos) e o Episódio Moçambicano com o seu auge por volta

de 550 milhões de anos.

Em território moçambicano, ainda não foram identificas rochas

do Paleozóico Inferior e Médio, períodos durante os quais se supõe

que Moçambique, tal como grande parte da

África Austral, integrava ainda o Supercontinente Gondwana, que só

se desmembrou no Cretácico.

A posição estratigráfica das ulteriores sedimentações e

emissões vulcânicas, demonstra que a partir Paleozóico, Moçambique

foi sempre terra-firme, embora tenha sido invadido temporariamente

pelas águas no seu actual litoral.

Entre o Paleozóico Superior e o Mesozóico Inferior, a África Austral

encontrava-se sob um clima continental húmido, particularmente

propicio ao desenvolvimento florestal. Florestas de gimnospérmicas do

género Glossopteris foram soterradas, nessa altura, em bacias

sedimentares por aluviões continentais arrancados do relevo existente.

Foi assim, neste ambiente de chuvas torrenciais que se constituíram as

séries sedimentares do Karroo inferior, onde se associam tilitos,

xistos, conglomerados, grés e carvões que ocorrem nas bacias

sedimentares carboníferas do país. Estas bacias sedimentares

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localizam-se nas províncias de Niassa, Tete e Manica numa faixa que

borteja o limite oriental das rochas precâmbricas.

No Karroo Superior, estas séries sedimentares foram, em parte,

cobertas por lavas vulcânicas de basaltos, riolitos, tufos, dacitos e

ignimbritos. São estas coberturas lávicas que constituem o Oeste de

Maputo os montes Libombos e uma série de acidentes orográficos que

se estende para o Norte do rio Save até Lupata em Tete,

acompanhando um alinhamento de falhas profundas. Manifestações

endogénicas posteriores intrudindo estas formações terciárias

(cenozóicas) observam-se em vários maciços montanhosos de

estrutura anelar que ocorre no centro e no norte do país. Este

magmatismo predominantemente alcalino (carbonatitos e sienitos

nefelínicos), esteve também relacionado com os fenómenos

epirogenicos que contribuíram para revigorar o siteme a de falhas de

toda África Oriental.

As depressões criadas por estes movimentos foram mais tarde

ocupadas pelos lagos tectónicos de Niassa, Chirua, Chiúta e

Amaramba.

A formação destas depressões de extensão regional conhecida

por Grandes Rifts da África Oriental, tem sido datada do Ecoceno e

correlacionada com a fase hercínica na Europa. Contudo, as maiores

movimentações tectónicas tiveram lugar no Plioceno e prosseguiram

com maior ou menor intensidade até ao Pleistoceno.

Movimentos sísmicos recentes em Tete, Cabo Delgado, Niassa, Sofala

e Manica mostram que estes movimentos tectónicos ainda hoje são

activos. Ao mesmo tempo que se formava o Rift, levantou-se o

planalto de Cheringoma, na província de Sofala e emergiram os

maciços rochosos carbonatíticos dos montes Xiluvo e várias outras

intrusões isoladas em muitos pontos do país. Este movimentos

tectónicos contribuíram para revitalização das falhas j’a existente e

para a formação de novas direcções de falhamento.

As séries sedimentares Jurássicas estão representadas por

formações gresosas e conglomeráticas de Tete e pelos calcários de

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Nampula e Cabo Delgado e elos grés de Lupata. Junto a costa, a sua

disposição está intimamente relacionada com as transgressões que se

verificaram posteriormente. Durante o Cretácico, iniciou-se a

subsidência de extensas bacias do litoral, acompanhada de

transgressões marinhas que em muitas áreas, o oceano atingiu o limite

ocidental da actual planície litoral.

Nestas bacias depositaram-se sedimentos de grés, calcários, margas,

conglomerados e calcarenitos. Estas formacoes ocorrem na sua maior

parte numa estreita faixa com Quionga e o rio Lúrio e constituem

manchas mais ou menos extensas na parte meridional e central do país.

Nas séries sedimentares do Cretácico e do Terciário, nomeadamente

em Búzi, Pande e Temane foram descobertas jazidas de gás natural.

Durante o mesmo período geológico, registaram-se também intensos

fenómenos de erosão e que deixaram como vestígios encostas

ravinadasem várias montanhas.

Este período erosivo é conhecido por «Ciclo de Congo» e

corresponde ao momento do desmembramento definitivo do

Gondwana. Na conjugação destes factores, os altiplanaltos e os montes

residuais ganharam, na essência, a sua topografia actual, embora o

recuo da escarpa tenha sido mais lento. Em algumas plataformas

elevadas nas montanhas da Zambézia e manica sujeitas ao clima do

tipo tropical, a partir das rochas primárias ricas em minerais de

alumínio, constituíram bauxites.

No Terceário Médio, relativamente calmo tectónicamente, a

morfogénese terrestre foi comandada pelo ciclo da erosão “Quedas de

Vitória” que modelou os planaltos de altitude média bordejantes da

planície litoral. A actividade erosiva desenvolvida neste período,

cobriu para destacar a escarpa que separa as diferentes unidades

morfológicas do país. Por outro lado, as constantes alterações

climáticas que se faziam sentir, prosseguiram com maior intensidade

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até atingirem o auge no Quaternário, as quais constituem umas das

principais características. De facto, no Quaternário não se registaram

orogenias comparáveis aos do Terciário. Com base nas descobertas

feitas em outras regiões do continente Africano torna-se evidente que

este período geológico foi marcado pela alternância entre climas

húmidos e secos. Mas para além destas oscilações climáticas,

caracterizam no Quaternário o aparecimento do homem e

determinadas formas de desenvolvimento dos processos

geomorfológicos, pedológicos e biológicos. Os climas húmidos,

designados pluviais, foram contemporâneos dos climas glaciares do

Hemisfério Norte, enquanto que os climas secos, interpluviais que se

coorrelacionam igualmente com as regressões e transgressões,

referem-se em Moçambique a períodos climáticos de pluviosidade e

temperaturas diferentes.

Na África Oriental, de uma maneira geral, provocado pelas

baixas temperaturas, as chuvas caídas transformavam

se em gelos de grande espessura, que se acumulavam em quantidades

enormes nos montes Kenya e Kilimanjaro, tal como sucede na

Antárctida, originado as regressões marinhas. E quando os gelos

submetidos as elevadas temperaturas dos interpluviais recuavam e

lançavam para o Oceano Índico as águas liquefeitas, havia lugar as

transgressões marinhas.

Este movimento de águas podia ou não estar relacionados com os

movimentos eustáticos de âmbito global.

Para o território moçambicano, não existem estudos locais

detalhados sobre o efeito conjunto destes fenómenos.

Barradas (1959) defendeu relativamente ao litoral meridional de

Moçambique, a ocorrência de 6 pluviais intercalados por 5

interpluviais.

Os interpluviais constituem, pela sua importância no modelado

das paisagens e regiões naturais, os principais períodos morfogéneticos

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do Quaternário moçambicano. Durante a sua vigência, predominavam

processos de acumulação eólica e fluvial. Os materiais erodidos e

acumulados, foram mais tarde, sob condições climáticas tropicais,

ferralitizados formando em muitos casos laterites. Os ventos fortes e

secos que sopravam frequentemente, tanto do oceano como do

continente, contribuíram para o desenvolvimento de dunas de formas e

dimensões diferentes, a distâncias variáveis da costa.

Em condições climáticas de excessiva aridez, a vegetação

exuberante dava lugar a formações vegetais degradadas de floresta e

savana, que só voltavam a revigorar durante os pluviais seguintes. Os

efeitos negativos da ausência da vegetação tornavam-se mais evidentes

com inicio dos pluviais em que os solos eram constantemente sulcados

e destruídos pelas torrentes que aprofundavam e espraiavam os seus

leitos, depositando nas suas secções, os materiais transportados. Os

períodos de intensa precipitação favoreciam o desenvolvimento da

cobertura vegetal e da fauna. Nas regiões mais elevadas e que por

conseguinte mais chuvosas, desenvolveram-se florestas frondosas que

ofereciam uma certa protecção contra a erosão.

Mas as prolongadas chuvas dos pluviais, contribuíam para o

incremento da erosão, de tal modo que os pluviais podem ser

caracterizados morfologicamente como fases de erosão linear

(ravimento e formação de vales).

O clima, em conjunto com a tectónica, teria sido o principal

factor de formação de terraços fluviais e cascalheiras e saibros que

ocorrem em alturas muito acima dos actuais níveis de estiagem da

maioria dos rios moçambicanos. Os terraços fluviais mais

desenvolvidos encontram-se nos vales superiores dos rios Rovuma,

Lúrio, Ligonha, Licungo, Zambeze, Púnguè, Búzi, limpopo e

Incomati. Nas margens destes rios podem-se observar 2 até 5 terraços,

sendo os superiores constituídos por sedimentos mais grosseiros e

situados a alturas até 80 metros acima dos actuais leitos dos rios. O

incremento da erosão continental, relacionava-se também com a

alteração do perfil longitudinal dos rios, obrigava-os, nas zonas latas, a

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aprofundarem cada vez mais os seus leitos e a depositarem os seus

sedimentos de argilas coloidais, plásticas e lodosas nas zonas

estuarinas e deltáicas, tal como sucede nas baias de Sofala, Inhambane

e Maputo.

Durante as regressões, as areias emersas e expostas aos ventos

do quadrante leste, eram transportados e depositadas no interior

formando dunas, por vezes, a distâncias superiores a 60 km da costa. A

emersão da actual linha da costa que se verificou na última regressão

criou condições para a deposição de aluviões de 30 a 80 cm de

espessura que recobrem as extensas planuras do litoral moçambicano.

As inúmeras lagoas costeiras existentes na parte meridional do

país, em forma de rosário, representam vestígios as últimas

transgressões. Muitas delas, devido a fenómenos geomorfológicos e

climáticos actuais estão ameaçadas de extinção ou parcialmente

reduzidas a pântanos.

EONS FRAS PERIÓDOS ÉPOCAS Ma

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Tab. 3. Divisão cronológica da História da terra

2.2. Formas do relevo actual

As características geomorfológicas, são de uma maneira geral, as do

rebordo oriental do continente africano, onde se distingue uma faixa

montanhosa que desce em degraus aplanados até a planície litoral.

Assim, de acordo com a sua altitude, identificam-se em Moçambique

as seguintes formas de relevo: planícies, planaltos, montanhas e

depressões (Fig.6).

De acordo com sua estrutura, cerca da metade (44%) do

território moçambicano é constituído pela planície, com altitudes

inferiores a 200m. esta planície, que se desenvolve ao longo da costa, é

uma faixa estreita entre a foz do rio Rovuma e o delta do Rio

Zambeze. Ela alarga-se para o Sul do delta do rio Zambeze,

abrangendo a quase totalidade da superfície situada ao Sul do rio Save,

constituindo a Grande planície Moçambicana.

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Trata-se de uma planície ondulada, constituída sobre formações

sedimentares ceno-antropozóicas, especialmente arenosas onde, aos

interflúvios se associam dunas antigas, desmanteladas pela erosão.

Na orla litoral, restingas e cordões litorais sobrepostas por

dunas recentes, isolam rosários de lagunas ainda abertas ao oceano ou

já completamente isoladas dele.

Com uma extensão ainda maior (51%), ocorrem em superfícies

aplanadas de altitudes compreendidas entre 200 a 1.000 m, muito

desenvolvida na metade do Norte do país, constituindo o Planalto

Moçambicano. Na realidade, distingue-se em Moçambique, duas

superfícies planálticas, que correspondem às duas superfícies

pediplánicas talhadas em rochas metamórficas.

A primeira, cujas altitudes variam entre 200 e 600 m é designada por

planaltos médios, está melhor representada ao Norte do paralelo de 17º

Sul. A segunda, designada por altiplanaltica, as altitudes são superiores

a 600 m. A sua maior dispersão verifica-se no Norte e Centro do país

sobretudo nas províncias de Niassa, Nampula, Zambézia, Tete e

Manica.

A característica dominante do planalto moçambicano é a ocorrência de

números montes residuais ou cristas intrudidas, de altitudes variáveis,

que se disseminam pela paisagem. Estes relevos residuais e posicionais

em forma montes isolados são conhecidos por “inselberg” ou montes-

ilhas (Fig.6).

Em Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Zambézia, Tete e

Manica, os planaltos médios fazem a transição para os altiplanaltos por

um degrau mais ou menos acentuado. A sul do rio Save os planaltos

médios desenvolvem-se sobre as formas vulcânicas de Karroo e estão

muito dissecadas pela erosão.

Na parte ocidental das províncias de Gaza e Maputo dispostas

em cadeia de orientação predominantemente Norte-Sul localizam-se os

montes Libombos. Trata-se de dois alinhamentos montanhosos

paralelos de cerca de 900 km de comprimento e de 30 km de largura

máxima, localizando-se em Imponduine a maior altitude com (809 m).

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Estes alinhamentos são a continuação da cadeia de Drakkensberg que

tem origem na África do sul.

Devido a longinquidade do território moçambicano as áreas de

montanhas, que incluem formas de relevo com altitudes superiores a

1.000m, são muito pouco extensas (5%) e não constituem faixas

contínuas, tal como sucede com os planaltos.

Elas foram construídas e modeladas sobre rochas metamórficas e

granito-gnéissicas do complexo antigo e nas formações vulcânicas do

Karroo e do Mesozóico.

A sua maior ocorrência regista-se a Norte do paralelo de 21º

Sul ou seja nas províncias de Niassa, Zambézia, Tete e Manica de

parceria com os altiplanaltos donde emergem com imponência notável.

As superfícies montanhosas mais extensas localizam-se a ocidente da

província de Niassa, a Noroeste da Zambézia, a Nordeste da província

de Tete e na faixa ocidental da província de Manica.

Em Niassa as montanhas agrupam um conjunto de elevações,

formando um ípsilon, que acompanha a margem oriental do lago

Niassa e se inflecte para Nordeste, nas cercanias do Lago Amaramba,

cujo pé se prolonga através do Malawi. Neste conjunto destacam-se os

montes Txingeia (1.787 m), Txitongo (1.848 m), Sanga (1.798 m),

Chissindo (1.579 m), Chitagalo (1.803 m), Jeci (1.836 m) e Mitucue

(1.803 m). na Zambézia as montanhas caracterizam-se por uma certa

dispersão de conjunto de montes-ilhas. As maiores altitudes registam-

se nos montes Chiperone (2.054 m), Tumbine (1.542 m), Mabu (1.646

m), Derre (1.417 m), Mongue (1.043 m) e culminam nos montes

Namuli onde os seus picos atingem 2.419 m.

Na parte Norte da província de Tete as altitudes médias dos

montes aumentam de Oeste para este entre 1.000 m e 1.400m. Os

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picos mais elevados são Domue (2.096 m) e Chirobue (2.021 m), nas

proximidades da fronteira com Malawi.

Em Manica as montanhas ocorrem sobretudo ao longo da

fronteira com o Zimbabwe, com destaque para a cordilheira de

Chimanimani, onde se localiza o pico mais elevado do país (Monte

Binga 2.436 m). Trata-se de um gigantesco maciço rectangular de 35

km de comprimento por 8 a 10 km de largura, situado a 80 km a Sul da

cidade de Manica, orientado no sentido Norte-Sul ao longo da

fronteira com o Zimbabwe. Ele separa-se do maciço de Espungabera,

com altitudes próximas dos 1.000m, através duma depressão. A norte

de Chimanimani localiza-se a serra da Gorongosa cuja altitude

máxima é de 1.863 m.

Figura. 6

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Fig. 6. Monte ilha “Inselberg” (Província de Nampula)

Das principais depressões existentes em Moçambique

destacam-se os vales dos rios e as formas de relevo negativas onde se

instalaram os lagos e pântanos. Estas depressões interrompem

frequentemente a continuidade das planícies, dos planaltos e das

cadeias das montanhas. A depressão de maior significado

geomorfológico é o Vale do rio Zambeze, não só por constituir um dos

maiores do continente africano, como ainda por atravessar regiões de

litologia e tectónica complicadas, às quais o rio teve que se adaptar.

Em alguns pontos do seu percurso o rio Zambeze, dada a resistência de

certas formações rochosas por onde atravessa, escava o seu leito,

constituindo gargantas apertadas e profundas, com grande relevância

para

a topografia. As outras depressões territorialmente importantes em

Moçambique são as depressões Chire-Urema e Espungabera.

Estas formas negativas resultam de movimentos grabens

tectónicos e representam das superfícies falhadas que caracterizam a

África oriental. No prolongamento desta superfície para Norte regista-

se a Depressão do Niassa, onde se instalaram os lagos Niassa, Chirua,

Chiúta e Amaramba. As restantes depressões, sobretudo as que se

localizam ao sul do rio Save e onde se instalaram as numerosas lagoas

costeiras tem somente uma importância local.

Fig. 7

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Fig. 7. Depressão do Urema (Província de Sofala)

Fig. 8

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Fig. 8 Bloco Diagrama da região de Gorongosa (Topografia e

drenagem) segundo K.L. Tinley (1971)

Fig. 9

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Fig. 9 Tipos de Relevo

3. Clima

3.1. Tipos de Tempo

Pela sua localização geográfica os tipos de Tempo em Moçambique

são determinados pela localização da zona de baixas pressões

equatoriais, das células anticiclónicas tropicais e das frentes polares do

Antárctico.

A zona de baixas pressões equatoriais constitui uma faixa

estreita e móvel para onde convergem os ventos alíseos. Esta Zona de

Convergência Intertropical (CIT) conhecida em inglês Intertropical

Convergence Zone (ITCZ), é uma cinta de ventos regulares, húmidos e

instáveis. Ela desloca-se de um para outro lado do equador em função

do maior vigor da influência dos alíseos oriundos das células

anticiclónicas. As células anticiclónicas, localizam-se nos dois lados

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do África Meridional sobre os oceanos Índicos e Atlântico,

determinando sobre influência dos centros depressionários equatorial e

polar o regime dos ventos monçónicos e alíseos respectivamente.

Devido à sua situação na costa Oriental de África, todo litoral

moçambicano está sujeito a influência da corrente quente do Canal de

Moçambique-Agulhas e dos correspondentes ventos dominantes

marítimos do quadrante leste. O balanceamento anual deste sistema

planetar de centros de pressão e de ventos, ora para Norte ora para Sul,

acompanhando o movimento aparente do Sol, provoca um ritmo

climático típico com duas estacões distintas: estacão quente e chuvosa

e a estacão seca e fresca.

A estação quente e chuvosa, tem início em Outubro e termina

em Marco. Nesta época do ano, a CIT, no seu movimento anual para

Sul, invade a fronteira Norte de Moçambique em Novembro e a sua

frente alcança entre Janeiro e Fevereiro a sua posição meridional

extrema nas proximidades do paralelo de 20º Sul.

O tipo de movimento que acompanha o movimento desta cinta

de baixas pressões caracteriza-se normalmente por chuvas contínuas

de grande intensidade com trovoadas dispersas.

Os alíseos húmidos reforçam as condições para a ocorrência de

chuvas orográficas.

Nesta época do ano, sob o planalto sul-africano, mais ou menos

à latitude de Pretória, forma-se as depressões de origem térmica, que

afectam o estado de tempo na parte sul de Moçambique. Esta

circunstância faz com que esta parcela do território moçambicano, seja

invadida por massas de ar tropical instáveis que dão origem a nuvens

densas e ventos fortes. Frequentes vezes formam forma-se frentes frias

acompanhadas de aguaceiros em que, uma massa de ar frio que entre

em contacto com uma massa de ar quente, provoca uma rápida

solidificação das superfícies aquosas originando precipitação sólida de

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granizo e saraiva. Simultaneamente, todo o país, sobre tudo ao Norte,

encontra-se sobre influência de massas de ar tropicais de origem

oceânica ou por ciclones provenientes de centros localizados sobre a

Ilha de Madagáscar e no canal de Moçambique.

Os ciclones são mais frequentes entre Janeiro e Fevereiro e

provocam chuvas acompanhadas por trovoadas, ventos fortes e

tempestuosos que atingem, por vezes, mais de 100 km/h.

Estes ciclones, embora de grande significado meteorológico, têm

climáticamente, pela sua frequência, um significado reduzido para

Moçambique e só afectam o litoral na fase de dissipação, com os

ventos já enfraquecidos, a precipitação reduzida, mas ainda com

capacidade suficiente para causar danos.

De acordo com as estatísticas, a probabilidade de ocorrência de

ciclones na costa moçambicana é de, pelo menos, dois por ano.

A estação seca e fresca que vai de Abril a Setembro, inicia-se

após o CIT, no seu movimento em direcção ao Equador, já ter

ultrapassado o limite Norte de Moçambique. Em Junho e

Fig 10

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Fig. 10 Tipos de Tempo em Janeiro

Fig. 11

Fig. 11. Tipos de tempo em Julho

Julho, encontrando-se a CIT muito deslocada para o Hemisfério Norte,

a África Austral está dominado pelos anticiclones subtropicais

localizados nos oceanos a latitude de 38º Sul dos quais emanam

massas de ar estável e seco.

Estas células anticiclónicas traduzem-se para Moçambique,

bom tempo, seco, com céu limpo, ventos fracos a moderados do

quadrante Este e chuvas raras no litoral e nas montanhas.

As noites são frias e durante as manhãs existe forte tendência para a

formação de nevoeiros conhecidos por cacimbo.

Por vezes, frentes frias oriundas da zona polar Sul,

transportando ar marítimo frio, afectam especialmente as regiões do

litoral ao Sul do rio Zambeze. As regiões entre o rio Save e Limpopo,

frequentemente sob acção da crista de altas pressões situada no Indico,

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registam nesta época do ano, céu pouco nublado, ventos fracos a

moderados e fraca pluviosidade.

3.2 Tipos de clima

Da análise do comportamento conjunto dos elementos climáticos,

concluiu-se que a República de Moçambique possui, uma maneira

geral, um clima quente e húmido. As principais variações climáticas

explicam-se pela continentalidade, altitude, exposição e posição

geográfica, que se manifestam pelas diferenças regionais e locais entre

o litoral e o interior entre os vales e as terras altas e entre o barlavento

e o sotavento.

O carácter predominantemente tropical do clima, releva-se

sobretudo pela coincidência entre o período de chuvas, e o período

quente e pela amplitude térmica anual que é em todo território, inferior

à diurna. A temperatura média anual é sempre superior a 20º C,

excepto nas montanhas de Niassa, da Zambézia, de Tete e de Manica

onde as temperaturas inferiores a 16º C na estacão mais fria

condicionam a ocorrência de climas de altitude (Fig.10).

As temperaturas méis elevadas registam-se entre Dezembro e

Fevereiro onde as máximas diárias chegam a atingir 38º a 40º C. Os

meses de Junho e Julho são os mais frios.

De uma maneira geral os valores das temperaturas médias

anuais decrescem de Norte para Sul e de Este para Oeste com o

aumento da latitude e continentalidade respectivamente.

Com o aumento da temperatura em Dezembro, Janeiro e

Fevereiro, registam-se também os valores mais elevados de

pluviosidade.

De uma maneira geral decrescem de Norte para Sul as somas

pluvimétricas e a duração do período das chuvas. O período das

chuvas que tem inicio em Outubro é mais curto que o período seco,

exceptuando algumas regiões costeiras onde a duração do período das

chuvas é sensivelmente de 6 meses.

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A influência oceânica contribui para uma certa uniformização

climática de todo o litoral, com temperaturas de ordem dos 24º C e

somas pluviométricas de 800 a 1.400 mm.

Devido a influência da corrente Moçambique-Agulhas,

verifica-se uma certa disposição meridional das isoietas possuindo as

regiões mais afastadas do litoral climas secos e semi-áridos. Nestas

regiões do interior na estacão seca, os totais mensais pluviosidade

baixam consideravelmente durante 3 a 5 meses, alguns deles, sem

qualquer queda pluviométrica.

3.3. Regiões climáticas

As características climatológicas e meteorológicas de Moçambique

permitem distinguir fundamentalmente duas regiões climáticas,

separadas por uma zona de transição, mais ou menos expressa na parte

central do país.

A região climática Moçambique Norte, abrange todo território

situado sensivelmente ao Norte do paralelo de 20º Sul.

Ela é fortemente influenciada pela proximidade da CIT e pelos ventos

alíseos e monçónicos que em conjunto determinam a ocorrência dos

principais tipos de tempo. Para além destes factores exercem grande

influência sobre o clima desta região a continentalidade, a altitude, a

exposição e posição geográfica.

Grande parte do norte de Moçambique regista temperaturas

médias anuais superiores a 25º C e somas pluviométricas anuais

superiores a 800 mm. Os valores máximos de pluviosidade registam-se

nas montanhas de Namuli e Niassa com mais de 2.000 mm e

temperaturas médias inferiores a 18º C.

Na faixa do litoral Norte entre Mocimboa da Praia e Ilha de

Moçambique correm valores de temperatura superiores a 24º C e

somas pluviométricas anuais inferiores a 1.000 mm.

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Estas condições especiais de reletiva aridez podem estar relacionadas

com o efeito do embate da Corrente Equatorial que se desloca no

sentido Oeste-Este e que nestas alturas se bifurca formando-se aí ramo

Sul a Corrente de Moçambique.

Entre Pebane e Sofala, incluindo o delta do rio Zambeze o clima

chuvoso de savana é caracterizado por temperaturas médias anuais

entre 24º e 25º C e pluviosidade entre 1.000 e 1. 600 mm.

Entre o Zumbo e Mutarara, ao longo do vale do rio Zambeze, o

clima é caracterizado por um índice de aridez bastante elevado. Os

valores de pluviosidade total anual variam entre 600 e 800 mm

diminuindo gradualmente para montante do rio.

Em contrapartida, os valores de temperatura são mais elevados,

registando-se nas proximidades da cidade de Tete valores de

pluviosidade média anual inferiores a 800 mm. Esta combinação entre

altas temperaturas e baixa pluviosidade caracteriza esta parcela como

uma das mais áridas do país.

Esta extrema secura do clima resulta da fraca influencia

oceânica aliada às elevadas temperaturas médias anuais e porque o

efeito altitudinal não é suficiente para tornar o clima mais húmido.

Excluindo a região litoral, grande parte das províncias de

Manica e de Sofala possui um clima com características tropicais de

transição entre a região de influência de massas de ar subequatoriais

provenientes do Norte e as massas de ar Polar Marítimo oriundas do

Sul do continente Africano. A influência conjunta destas massas de ar,

na estacão quente provoca o aumento da pluviosidade e determina o

regime da estacão das chuvas. Contudo, as diferenças altimétricas, a

continentalidade, a exposição e posição geográfica introduzem

variações adicionais.

Particularmente destacáveis, são as terras altas e montanhosas

situadas acima dos 600 m no planalto e nas montanhas de Manica,

sobretudo nas áreas fronteiriças, onde a altitude assegura, um aumento

de pluviosidade e uma diminuição de temperatura. Nestas terras altas,

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as somas pluviométricas anuais atingem 1. 800 a 2. 000 mm e a

temperatura média anual é inferior a 18º C.

Dada a situação geográfica, nos dois lados do Trópico de

Capricórnio, o clima da região climática Moçambique Sul é

nitidamente tropical. A maior influência sobre o clima desta região e

particularmente no que respeita ao comportamento da pluviosidade e

da temperatura, é exercida pela localização na zona dos alíseos do

Sudeste, pela corrente marítima Moçambique-Agulhas e pelas

diferenças altitudinais e de exposição de cada uma das suas parcelas.

A diferenciação territorial do clima permite observar uma certa

variação segundo a continentalidade, ou seja da diminuição da

influência dos ventos e correntes marítimas com o afastamento da

costa. No litoral, desde a foz do rio Save até ao extremo Sul, as somas

pluviométricas médias anuais variam entre 800 e 1.000 mm enquanto

que as temperaturas médias oscilam entre 22º e 24º C. as regiões mais

húmidas situam-se à volta da baia de Inhambane e em Xai-Xai com

valores de

Pluviosidade acima dos 1. 400 mm e temperaturas médias da ordem

dos 26º C.

Com características marcadamente mais secas são as regiões do

interior, em particular na faixa compreendida entre Chicualacuala e

Massingir onde as médias de temperaturas se matem a volta dos 24º -

26º C e a pluviosidade dimimui até 300 mm anuais, sendo por sinal as

mais áridas do país.

Nos montes Libombos, devido `a altitude, verifica-se uma

ligeira diminuição das temperaturas médias anuais (20º a 21º C) e um

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acentuado acréscimo das somas pluviométricas, de 600 mm no litoral

para 800 mm, na Namaacha.

Tab. 4

Tab. 4 Gráficos Termopluviométricos estacões meteorológicas

Fig. 12

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Fig. 12 Temperatura média anual

Fig. 13

Fig. 13 Temperatura da precipitação total anual

Fig. 14

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Fig. 14 Tipos de clima segundo köeppen (1931)

4 Hidrografia

4.1 Rios

Das cerca de 25 bacias hidrográficas principais que drenam o país são

de destacar de norte para sul as seguintes: Rovuma, Messalo,

Montepuez, Lúrio, Monapo, Ligonha, Licungo, Zambeze, Pùngué,

Búzi, Save, Govuro, Inharrime, Limpopo, Incomati, Umbeluzi, Tembe

e Maputo (Fig. 15).

Fig 15.

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Fig. 15 As principais bacias hidrográficas

De abastecimento predominantemente pluvial, os grandes cursos de

água moçambicanos são de regime periódico, ainda que grande parte

dos seus efluentes sejam de regime ocasional.

Devido a configuração do relevo a maior parte dos rios corre

de Oeste para Este, atravessando sucessivamente montanhas, planaltos

e planícies, antes de desaguarem no oceano Indico.

Pelo carácter morfológico da África Oriental e a situação

geográfica de Moçambique nas regiões costeiras, os principais rios tem

as suas nascentes nos países vizinhos, exceptuando o Norte do país

onde grande parte tem a sua bacia hidrográfica totalmente em

Moçambique. O seu caudal é determinando essencialmente pelas

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complexas relacaoes entre geofactores meteorológicos e não

meteorológicos, nomeadamente a pluviosidade, a temperatura, a

evaporacao, o declive, a natureza dos solos bem como a intervencao

humana.

Os factores climáticos condicionam as oscilacoes do caudal dos

rios ao longo do ano, registando os máximos na estacão das chuvas e

os mínimos na estacão seca. Registoes efectuados em vários rios,

permitem concluir que grande parte deles está sujeito a cheias cíclicas

muitas vezes com efeitos catastróficos.

Paralelamente às cheias, tem-se verificado secas prolongadas com

consequências ainda mais graves do que as cheias. Nas terras altas

onde as rochas são mais resistentes elas possuem grande capacidade

erosiva, sulcando ravinas e vales paertados e constituindo

frequentimente cascatas e cataratas, limitando, por conseguinte a

navegabilidade. Nas planícies eles formam meandros e depositam os

seus aluviões ou formam lagoas e pântanos.

Para além do relevo, a natureza dos solos também exerce uma

influência considerável sobre o caudal e a estrutura e o padrão da rede

hidrográfica. Ao atravessarem regiões secas e permeáveis, os rios

perdedm grande parte das suas águas, quer

por infiltracao, quer pela evaporacao, registando-se aí normalmente a

escorrencia subterrânea. Assim se explica, em parte, o deficit hídrico

que caracteriza alguns vales e as regiões circunvizinhas o qual

consititui um dos maior problemas para a populacao e para o gado.

Estes problemas são em parte agravados pela ocorrência de águas

salobras em proffundidade sobretudo no chão-dos-vales dos rios, na

sua parte terminal.

Nos anos secos, verifica-se uma grande mobilidade da

populcao em busca de águas e terrenos procimos das margens dos rios

ou mesmo no seu leito. O aproveitamento dos cursos de água depdnde

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essencilamente das suas características hidrológicas, do relevo, da

natureza dos solos atravessados.

Os desníveis entre as unidades morfológicas são condição

favorável para a construção de barragens hidroeléctricas, fontes

promissoras de produção de energia do país (Tab.5).

A disponibilidade de água é fundamental para o

desenvolvimento da agricultura nomedamente na irrigacao dos

terrenos marginais e adjacentes ao rio, na producao de energia

eléctrica e para o abastecimento de água às populações.

Quanto às bacias hidrográficas, fdado que as condiceoes

orográficas, atmosféricas, climáticas e pedologicas exercem grande

influencia sobre o regime e caudal, destinguem-se três regiões distintas

no que respeita ao comportamento dos rios.

Na parte Norte do país, dada a melhor distribuicao e frequência

das chuvas e maior dispersão de rochas magmáticas e metamórficas, as

bacias hidrográficas apresentam predominantimente um padrão

detrítico. Desníveis locais na transicao entre as superfícies

morfograficas constituem condições popiciaas para a instalacao de

represas para fins agrícolas e para a producao de energia hidrolectrica,

impedindo porém a sua utilizacao intensiva como via de circulacao

fluvial.

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Tab. 5 os rios de Moçambique e suas utilizações.

Fig 16

Fig. 16 Vista do rio Zambeze na cidade de Tete

O rio Lúrio cuja bacia hidrográfica de 60.800 km2 é a maior

totalmente moçambicana, nasce no monte Malema a mais de 1.000 m

de latitude, tem cerca de 1. 000 km de comprimento, maior assim que

os rios Oder (910 km), Reno (810 km) e Sena (780 km) na Europa. Ele

limita as províncias setentrionais de Cabo Delgado e Niassa na

margem esquerda das províncias de Nampula e Zambézia na margem

direita. Dada a extensão da sua bacia hidrográfica, ele representa com

os seus numerosos afluentes, a linha mestra da subdivisão do Planalto

Moçambicano, mesmo que o seu curso principal se instale num vale

estreito.

Os seus afluentes no curso superior drenam regiões com grande

potencialidades ecológicas para as culturas de milho, mandioca,

algodão, tabaco e chá. Devido ao desnível provocado pela passagem

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das terras altas para as mais baixas os cursos de água apresentam

numerosas quedas, favoráveis à construção de represas.

Próximo de Namapa, à sua entrada na planície litoral, o rio

Lúrio tem os seus últimos rápidos, alargando-se a partir daí até atingir

a foz em forma de estuário. Junto à foz as suas margens aluviais,

cultiváveis estão parcialmente sujeitas a inudacoes durante as cheias e

à influência das águas de origem marinha, dificultando a sua

utilizacao.

O rio Ligonha, com 400 km de conpmirmento nasce nos monte

Inago a mais de 1. 700 m de altitude. A totalidade do seu percurso

segue a configuracao do relevo e serve de limite entre as províncias de

Nampula e da Zambézia. Ele atravessa regiões agrárias, mineiras de

grande importância económica.

Mais para o Sul e sensivelmente alinhados paralelamente ao rio

Ligonha e com nascentes situadas nas proximidades das montanhas de

Namúli, destacam-se os rios Molócuè, Melela e Ligonha.

O rio Licungo nasce a cerca de 1.650 m de altitude. A sua

bacia hidrográfica é de 27.726 km2 o grande desnível entre

O rio Rovuma, cujo percurso é comparável ao rio Pó na Europa (650

km) serve de fronteira com a Tanzania em quase todo seu percurso.

Ele tem sua nascente no planalto do Ungone na Tanzania e atinge

Moçambique na sua confluência com o rio Messinge. A partir dai ele

toma direccao Oeste – este, numa extensão de mais de 600 km2, sendo

na maior parte do seu percurso um rio estreito, alargando-se somente

ao atingir a planície litoral.

Os seus principais afluentes da margem moçambicana são:

Messinge, Lucheringo e Lugenda têm origem nas terras altas do

Niassa e possui elevado potencial hidroeléctrico.

No curso inferior o rio apresenta ilhotas e numerosos bancos de areia,

o que restringe a sua navegabilidade a cerca de 200 km, a partir da foz.

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O rio Messalo cuja bacia hidrográfica é de 24.000 km2 nasce a

Noroeste de Maúa, em Niassa. Com comprimento de

aproximadamente 500 km, maior que o rio Tamisa na Grã-Bretanha

(340 km), ele atravessa áreas pouco povoadas, mas com óptimas

condições para um aproveitamento agrícola intenso das suas margens.

No seu curso inferior a cerca de 60 km da sua foz, ele separa o planalto

de Mueda, ao Norte, do Planalto de Macomia, ao Sul.

O rio Montepuez nasce a sudoeste de Balama a cerca de 700 m

de altitude, atravessa regiões planálticas na maior parte do seu

percurso e desagua por um amplo estuário a Sul de Quissanga.

A sua bacia hidrográfica, situada totalmente na Província de Cabo

Delgado é aproximadamente 15.000 km2, abraçando uma área

potencialmente rica sob o ponto vista agrícola e mineiro. Em Biliza,

cerca de 20 km da sua foz, durante as cheias, ele alimenta o lago do

mesmo nome, com condições para o desenvolvimento da piscicultura e

para o armazenamento de água para fins agrícolas.

o seu curso superior e inferior, determina uma grande capacidade

erosiva no seu curso superior o que assegura condições favoráveis para

a produção de energia eléctrica. No seu percurso de cerca de 336 km

de comprimento, ele atravessa uma região rica sob o ponto de vista

mineiro.

O rio Zambeze é, pelas suas características hidrológicas o

maior e o mais importante rio que atravessa o território. Com cerca de

2.600 km de comprimento, é o 26º rio mais comprido do Mundo e o 4º

em África depois de Nilo (6.700 km) Zaire (4.600 km) e Níger (4.200

km). Ele é mais comprido que os famosos rios Colorado (2.250 km),

Deniepre (1.950 km) e Reno (1.300 km). Ele nasce na Zâmbia a cerca

de 1. 700 m de altitude. Ele tem cerca de 2.600 km de comprimento.

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A bacia hidrográfica é cerca de 1.330.000 km2, dos quais só 3.000 km

2

em território moçambicano.

Na sua totalidade, o Zambeze é, hidrologicamente, um rio de

regime periódico complexo, devido as variações que o seu caudal

apresenta ao longo do percurso.

Tab. 6 Os rios mais caudalosos do Mundo

Ao atingir o território moçambicano, no zumbo, a cerca de 450 m de

altitude, o rio Zambeze recebe na sua margem esquerda

o rio Aruângua. A partir daí até Cabora Bassa no Songo, onde as

massas de água caem de uma altura de 200 m, ele constitui uma

grandiosa albufeira onde, numerosas ilhas são habitadas por

pescadores.

A barragem de Cabora Bassa, que é a maior do país resulta do

represamento das suas águas no Songo. O comprimento máximo da

albufeira é de cerca de 250 km e a sua largura média de 25 km. A

superfície aquática atinge cerca de 3.000 km2 e o volume das suas

águas é estimado em cerca de 63.000.000 m3 de volume de águas.

(Fig. 17).

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Este é também o local onde a Planície Moçambicana atinge a

sua máxima penetração interior numa distância de cerca de 600 km da

costa. O rio atravessa depois o estreito de Lupata, nas proximidades de

Tambara a 60 km a Sudeste da cidade de Tete e atinge a confluência

com o rio Chire, afluente importante na margem esquerda. Neste

percurso o rio revela uma forte tendência de deposição e de

constituição de meandros, lagoas e ilhas fluviais.

Fig. 17 Barragem de Cahora Bassa

Fig 18

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Fig. 18 Bacia e rede hidrográfica do rio Zambeze

O rio Cuacua ou dos bons Sinais, primeiro braço do delta do Zambeze

na margem esquerda, é parcialmente navegável e foi em tempos

remotos a via de penetração utilizada para as plantações de algodão de

Morrumbala.

O amplo delta de cerca de 7.000 km2 de superfície tem forma

de um triângulo isósceles com base de 150 km voltada para o oceano e

cerca de 100 km de cateto. O Caudal médio do rio é estimado em cerca

de 16.000 m3/s que transporta e deposita anualmente um volume de

aluviões de mais de 500.000.000 toneladas. O principal braço do delta

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do Zambeze, conhecido por rio Cuama, é rectilíneo e presta-se à

navegação fluvial.

Nesta área deltaica registam-se com frequência inundações com graves

estragos materiais e perdas de vidas humanas.

O elevado e a grande capacidade de transporte e de

sedimentação do rio podem ser observados através de fotografias

aerocósmicas (Fig. 19)

Fig. 19

Fig. 19 Delta do rio Zambeze (Desenho extraído de fotografia aérea)

Verdadeiras torrentes de sedimentos penetram no Oceano Indico em

mais de 50 km, a despeito da forte influencia das marés que na zona da

foz atingem amplitudes superiores a 6 m. a influencia das marés faz-se

sentir até as proximidades de Marromeu apesar do grande caudal do

rio.

Entre as bacias dos rios Zambeze e Save, dado o grande

desnível que se regista entre as terras altas e as planícies num espaço

relativamente curto, os cursos de água registam nas suas secções

superiores, intensa erosão e grande capacidade de transporte de

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materiais. Estas características favorecem a construção de barragens

para a produção de energia hidroeléctrica, mas limitam grandemente a

sua navegabilidade.

No curso inferior ele são parcialmente navegáveis e as suas

margens de solos aluvionares apresentam óptimas condições para o

desenvolvimento de culturas irrigáveis.

Os rios mais importantes desta região do país – o Púnguè e o

Búzi – nascem nas terras altas do Zimbabwe e cortam sucessivamente

e em escadaria as cadeias montanhosas mais elevadas do país, os

altiplanaltos e os planaltos médios, antes de desaguarem na baia de

Mazanzane no Oceano Índico. Dos 29.500 km2 do total da bacia

hidrográfica do rio Púnguè 28.000 km2 encontram-se em

moçambicano. Após atingir o território moçambicano, ele atravessa

regiões montanhosas em vales estreitos, até atingir a planície na

depressão do Urema. Através desta depressão, durante as cheias do rio

Zambeze, estabelece-se uma ligação temporária com aquele que

transborda parte das suas águas, misturando-as, contribuindo assim

para a elevação do caudal do rio Púnguè.

No planalto de Chimoio, para o abastecimento de água potável

à cidade de Chimoio foram as águas do seu afluente da margem

direita, rio Mezingaze. No seu curso inferior, o rio forma margens de

planícies aluviais ricas e irrigáveis, estimadas em cerca de 5.000 km2,

dos quais 4.000 km2 destinados à cana sacarina.

O rio Búzi possui uma bacia hidrográfica total de 28.800 km2 dos

quais 25.600 km2 em Moçambique. O seu afluente mais importante é o

rio Revué, na província de Manica, onde estão construídos a barragem

de Chicamba e o açude de Mavuzi, para a produção de energia

eléctrica. Com 75 m de altura a barragem de Chicamba tem totalmente

uma capacidade de armazenamento de 2.000.000.000 m3 e uma

potência instalada no pé da barragem de 40 MW. O açude de

derivação de Mavuzi, situado a jusante de Chicamba, tem 8 m de

altura e uma queda bruta de aproximadamente 190 m, permitindo a

produção de 46 MW.

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O rio Save representa, em muitos sentidos, o limite entre o

Centro e o Sul do país, separando as províncias de Inhambane e Gaza.

Nasce nas terras altas do Zimbabwe e corre na direccao Oeste-Este até

desaguar no Oceano Índico por um estuário próximo da Nova

Mambone.

Em território moçambicano ele é totalmente um rio de planície

com uma bacia hidrográfica de 14.646 km2. A partir da Vila Franca do

Save, com a moderação o declive, o vale é largo e o rio forma

meandros sobre os próprios aluviões.

Junto à foz o rio apresenta bancos de areia que dificultam a navegacao

mesmo de pequenas embarcacoes. Nesta seccao do rio a influencia das

aguas salinas é condideravel.

De uma maneira geral os solos das suas margens são pobres. A

area dos solos aráveis é estimada em cerca de 18.000 ha, alternados

por solos pobres, dos quais, devido a sua localizacao a cotas superiores

a 80 m do nível médio das águas do leito, cerca de 13.000 ha são

irrigáveis por bombagem em Massangena e Vila Franca de Save.

A Sul do rio Save, o regime hidrográfico é grandemente

condicionado pelo clima, relevo, natureza das rochas e pelos

aproveitamentos hídricos. Os principais cursos de água importantes

são de Norte para Sul: Govuro, Inhanombe, Limpopo,

Incomati, Umbeluzi, Tembe e Maputo. Exceptuando os rios Govuro e

Inhambane os restantes, nascem nos países vizinhos, atravessam os

Montes Libombos onde os seus afluentes sulcam por vezes vales

profundos. Ao atingirem a planície perdem a sua capacidade erosiva e

formam nas suas margens, extensas planícies aluviais propicias a

actividade agrária. Na planície o seu caudal é condicionado pela

influencia combinada das condições climáticas gerais, do fraco declive

e da elevada permeabilidade das rochas sedimentares.

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O clima tropical seco e os terrenos arenosos dominantes

favorecem a evaporação e a infiltração das águas diminuindo, por

consequência a escorrencia superficial. Nas secções inferiores dos rios

formam-se frequentimente pântanos cobertos de vegetação herbácea

conhecida por machongos. A navegabilidade dos rios desta região é

extremamente limitada devido ao regime estacional do caudal e à sua

elevada capacidade de assoriamento.

O rio Govuro nasce a Sul de mapinhane, corre no sentido Sul-

Norte seguindo a depressão natural resultante da morfologia litoral e

desagua por um estuário, a Norte de Inhassoro. Tem um comprimentgo

estimado em cerca de 200 km, em muitas partes do seu percurso a sua

escorrencia é subterrânea devido à permeabilidade dos terrenos do seu

leito.

Nas proximidades da baia de Inhambane existem numerosos

cursos de água com carácter internitente na maior parte do seu

percurso, destacando-se dentre eles os rios Nhanombe, Mutamba e

Inharrime.

O rio Nhanombe nasce no distrito de Homoine, com extensão

de 60 km de comprimento e que desagua no Norte da Baia de

Inhambane, o rio Mutamba. Mais a Sul o rio Inharrime por não possuir

caudal e capacidade suficientes para atravessar a barreira dunar do

litoral, dasagua no lago do mesmo nome.

O rio Limpopo, pela extensão da sua bacia hidrográfica, é o rio mais

importante do Sul de Moçambique. Ele nasce e atravessa as terras altas

de Witwattersrand, na África do Sul, antes de atingir o território

moçambicano na confluência com o rio Pafuri, a uma altitude de cerca

de 300 m. O seu comprimento total é de 1.170 km dos quais 600 km

em Moçambique, drenando uma área de cerca de 80.000 km2. O rio

Limpopo constitui um exemplo típico do desenvolvimento do perfil de

um rio tropical de planície com forte tendência para a meandrização e

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para o desenvolvimento de lagoas e pântanos no seu curso inferior.

Trata-se de um rio bastante caprichoso aparentemente devido a

influencia da heterogeinidade hidrológica da sua bacia, caracterizando-

se por um caudal extremananete variável, com o seu leito seco em

estiagem e muito caudalosos na época das chuvas. Época das chuvas

as suas águas chegam a atingir mais de 7 m de altura, relativamente ao

chão do vale alagando grandes extensões das suas margens.

Os seus principais afluentes são: Nuanetze, Chichacuane e

Changane na margem esquerda e o rio dos Elefantes na margem

direita. A bacia do rio Limpopo possui consideráveis

empreendimentos hidráulicos. Em Macarretane, próximo de Chókwè,

foi construída uma barragem de derivacao e o regadio de cerca de

30.000 há a jusante. No baixo Limpopo, intensamente utilizado,

existem numerosos regadios, diques de proteccao contra as cheias com

cerca de 50 km de extensão.

No rio dos elefantes, a cerca de 130 km da cidade do Chókwè,

foi construída a barragem de Massingir, cuja principal funcao é o

represamento de água para irrigacao e a produção de energia eléctrica

por ano. Com 4.625 m de comprimento, 48 m de altura máxima e uma

capacidade total estimada em cerca de 2,5 bilioes de metros cúbicos de

agua, ela constitui a maior albufeira em terra batida existente em

Moçambique.

O rio Incomati nasce na África do Sul e entra em Moçambique através

da Vila de Ressano Garcia. A área total da sua bacia, em Moçambique

é de 14. 925 m2. A sua utilizacao é intensiva no seu curso inferior

havendo cerca de 30.000 ha de terras aluvionares submetidas a

regadio, destacando-se a cana-de-açucar.

Em Corumana, no rio Sabié foi construída uma barragem em

terra com altura máxima de 34 m acima do leito do rio, com objectivo

principal o regadio por gravidade e o reforço do caudal de estiagem e

ainda a producao de energia eléctrica.

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A albufeira tem a capacidade de armazenamento de 1.200 milhoes de

metros cúbicos, para o nível de pleno armazenamento e 495 milhoes

de metros cúbicos de capacidade útil. O seu potencial hidroenergético

é da ordem dos 15 kW e araea bruta irrigável 13.110 ha. Outros usos

potenciais importantes são a pesca, a recreacao e o turismo.

Mais para o Sul, rio Umbeluzi, provém da Suazilândia,

atravessa a cadeia dos Libombos, a Sul da Vila da Namaacha.

A área total da bacia do rio Umbeluzi em território moçambicano é de

2.356 km2. Ao atravessar os pequenos Libombos ele foi represado para

a captacao de água potável destinada à cidade de Maputo e para

irrigacao de mais de 12.000 ha, dos quais 10.500 ha a jusante,por

gravidade e 1.500 ha a montante, por bombagem. Esta barragem, que é

do tipo misto, com um descarregador central em betão e os encontros

de terra, tem também a funcao de regularizar os caudais, reforçando-os

na época de estiagem.

No extremo Sul de Mocambique, o rio Maputo, que nasce na

África do Sul e atravessa a Suazilândia, entra em Moçambique em

Catuane, corre sensivelmente de Sul para Norte em direcção à baia de

de Maputo, onde desagua por um estuário. A área total da bacia

hidrográfica em território moçambicano é de 1.570 km2, sendo a área

irrigável estimada em mais de 4.000 ha.

Em Moçambique ele é totalmente um rio de planície, sem

desníveis notáveis no seu perfil. Na época seca e devido ao fraco

declive, formam-se nas suas margens numerosas lagoas desenvolvidas,

como braços mortos dos meandros do rio.

Fig 20

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Fig. 20 Rio Incomati (Província de Maputo)

4.2 Lagos

Para além das albufeiras consideradas lagoas artificiais, existe no

território da Republica de Moçambique um elevado número de lagos e

lagoas de diferentes origens, dimensões, profundidade, volume de

águas e qualidade física, química e biológica das suas águas.

Os lagos são objectos aquáticos de grandes dimensões e a sua

origem e desenvolvimento estão relacionados com factores endógenos.

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As lagoas por seu lado, são de menores dimensões, e o seu

desenvolvimento depende de factores exógenos, nomeadamente do

Oceano Índico e dos rios.

Os lagos endógenos ocupam as formas negativas criadas por

forcas e movimentos endogénicos, como é o caso dos lagos de

Moçambique Setentrional, em que as depressões são elementos do

relevo falhado típico da África Oriental.

Os lagos tectogénicos mais importantes pelas suas dimensões

são Niassa, Chiúta, Amaramba e Chirua situados na parte Noroeste do

país.

O lago Niassa é o maior lago de origem natural e ocupa a 10ª

posição entre os maiores lagos do Mundo (Tab. 7).

O lago Niassa localiza-se na parte Ocidental da província do mesmo

nome, numa depressão tectónica encaixada entre rochas cristalinas e

constitui um verdadeiro mar interior. Dos 28.678 km2 partilhados pelo

Malawi, pela Tanzania e por Moçambique, somente 7.000 km2 do

Lago Niassa pertecem a Moçambique. Na parte moçambicana é

drenado por numerosos cursos de água dos quais os mais importantes

são de Norte para Sul.

Tem uma forma alongada, com encostas predominantemente

íngremes e margens rectilíneas de Norte para Sul, sendo o seu

comprimento máximo de cerca de 600 km, dos quais a metade em

território moçambicano. A largura varia entre 15 e 90 km e o nível

médio das suas águas situa-se a cerca de 472 m

acima do nível médio das águas do mar. A sua profundidade máxima

sensivelmente na parte central do lago, é de 706 m ou seja, 234 m

abaixo do nível médio das águas do oceano.

Na sua margem Norte, a fractura que originou o lago é pouco

detectável, situando-se o fundo do vale a cerca de 300 abaixo do nível

das águas lacustres, enquanto que na sua parte Sul o fundo se situa

entre os 250 e 300 m abaixo do nível médio das águas oceânicas.

Devido ao carácter rectelineo da costa existem poucas baias protegidas

que permitem a instalacao de portos. A única expecao na margem

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moçambicana é a pequena enseada em Metangula onde se instalou um

pequeno porto pesqueiro, junto à base naval.

A pesca juntamente com o turismo e a recreacao, são

actividades potenciais importantes do Lago Niassa. Ele oferece ainda

boas condicoes para o desenvolvimento dos transportes e comunicaoes

entre vastas áreas nacionais e internacionais.

Tab. 7 Posição do Lago Niassa entre os maiores lagos do Mundo. Note-se que a

área e a profundidade dos lagos varia de ano e consoante as estacões do ano.

Fig. 21

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Fig. 21Bacia hidrográfica do lago Niassa

Fig. 22

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Fig. 22 Lago Niassa (Vista Parcial)

Nas proximidades do limite com a província da Zambézia, localizam-

se os lagos Chiúta-Amaramba, ligados entre si, numa extensao de 35

km de comprimento orientado no sentido Nordeste-Sudueste. Mais a

Sul, conectado temporariamente na época das chuvas por um curso de

água em território malawiano e pertencendo tectonicamente a mesma

depressão, localiza-se o lago Chirua que é ainda mais largo. O regime

hidrológico destes lagos é muito complexo. Eles apresentam na

extensão seca um nível de água muito baixo, constituindo parcialmente

enormes superfícies pantanosas.

Com efeito, o lago Amaramba constitui a nascente do rio

Lugenda, o afluente mais importante da margem direita do rio

Rovuma.

Devido a estas características hidrológicas e devido às suas

dimensões, o seu aproveitamento é limitado à agricultura e à pesca, de

importância local.

Os lagos exogénicos ocorrem em depressões de todo o litoral e

na margem dos rios. Eles têm origem em factores externos

relacionados com a erosão e acumulação de sedimentos.

Espacialmente a erosão mais rica em acumulações lacustres de origem

exogénica situa-se no litoral ao Sul do rio Save. Os mais importantes

são do Norte para Sul: Manhali, Zevane, Muanguane, Nhamanene,

Nhalenhenque, Dongane, Poelela, Quissico, Maiaene, Massava,

Chiguire, Nhavarre, Nhadimbe, Nhangulaze, Nhanvue Nhagela,

Inhamparala, Uembje, Muandje, Pati, Maundo, Chingute, Piti, Zitundo

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e Satine. Trata-se de lagos e lagoas, umas de água doce outras de água

salgada, muitas vezes dispostas em forma de rosário, relevando a sua

origem em fenómenos da morfologia costeira registada em períodos

geológicos recentes.

Os lagos e lagoas, como elementos naturais resultantes da

acumulacao de águas em depressões e bacias fechadas são

reservatórios de água de escoamento muito lento cujos elementos

principais são a depressão, como forma de relevo, a água e substancias

nela dissolvida e o mundo vivo. Os factores de formação dos lagos

exercem uma influência considerável sobretudo sobre a forma e

dimensões da depressão e sobre o volume de água. A forma, a

dimensão, a profundidade e o volume das águas são muito variáveis.

Alguns constituem verdadeiros mares interiores; outros são de

dimensões reduzidas, mas mais numerosos territorialmente.

A profundidade também é variável, desde alguns metros nas

numerosas lagoas, até centenas de metros no Lago Niassa.

Dada a grande importância da água para a existência dos lagos,

a sua composição química permite distinguir a sua salinidade e o seu

regime de escoamento sólido. Todos estes factores exercem influência

sobre a vida animal e vegetal nas massas lacustres o que permite a

pratica da pesca, com maior ou menor intensidade.

Por outro lado a sua importância para os habitantes das

proximidades é considerável para a disponibilidade de água para o

consumo doméstico e para irrigação, desde que os níveis de salinidade

sejam toleráveis.

Em função da sua localização e em conjugação com outros

factores paisagísticos, estes lagos podem exercer grande influência

sobre o clima local o que é favorável aos povoamentos e às actividades

económicas e sociais dos habitantes.

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4.3 O Canal de Moçambique

O canal de Mocambique é uma depressão cuja origem está relacionada

com as acções tectónicas de dobramentos acompanhadas por facturas

sem deslocações, mas que provocaram o afundimento do espaço

compreendido entre Moçambique e Ilha de Madagáscar. Vários

autores admitem que o processo de fractura se iniciou no pré-Karroo e

que terminou em finais do Cretácico.

Ao Norte, a plataforma continental é muito estreita, alarga-se

para o Sul, a partir de Pebane até a Baia de Sofala, estreitando-se

novamente para Sul, até atingir Inhambane. No Sul de Moçambique, a

plataforma continental alarga-se ligeiramente ao largo da província de

Gaza, para se estreitar a partir da Baia de Maputo para Sul (Fig.23).

A cor das águas do Canal de Mocambique é dominantimente

azul; exceptuam-se as zonas periféricas da desembocadura dos rios

onde leas toma a cor castanha esverdeada a cinzenta. As variacoes da

cor dependem ainda das estacões do ano e da turbulência das águas do

mar.

A salinidade média em todo Canal de Moçambique varia entre

30 e 35%, considerando-se por isso, uma das mais baixas do Oceano

Mundial. Ela depende das estacões do ano e o regime das marés e é

menor na proximidade da foz dos rios.

Fig. 23

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Fig.23 O Canal de Moçambique

As temperaturas médias das águas são relativamente elevadas e nunca

são inferiores a 18º C sendo as mais elevadas de 36º registado nas

áreas com águas pouco profundas. Não são reportados no Canal de

Moçambique casos de congelamento das águas devido ao abaixamento

da temperatura. Embora as águas do Oceano Índico se caracterizam

pelas elevadas

temperaturas das suas águas superficiais com pequenas amplitudes

térmicas, a hidrografia do Canal de Moçambique é influenciada

grandemente pelos ventos oceânicos que provocam ondas e correntes.

A principal corrente do Canal de Moçambique – Corrente de

Moçambique – forma-se mais ou menos a latitude de 12º Sul no

Noroeste da Ilha de Madagáscar como ramo Sul da corrente Equatorial

Sul. No seu percurso Norte-Sul sensivelmente junto ao paralelo de 26º

Sul ela junta-se à corrente de Madagáscar oriental formando a

Corrente das Agulhas. Por isso a principal corrente do Canal de

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Moçambique é também conhecida por Moçambique – Agulhas

(Fig.24).

Fig. 24

Fig. 24 Correntes Marítimas

Esta corrente tem uma componente “shoreward” ao longo da costa

moçambicana e gera gradualmente uma contra-corrente offshore que

circula para o Norte, cujos efeitos são visíveis na parte Sul de

Moçambique e ao longo de Madagáscar.

Devido ao regime dos ventos locais esta corrente sofre alguns desvios

e ramificacoes de menor expressão, mas com capacidade suficiente

para estimular a morfodinâmica da costa.

Normalmente, as ondas que acompanham estas correntes são

de menor comprimento de onda do que as provocadas pelos ciclones.

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A amplitude das marés varia em média entre 0,5 e 4 m, mais atinge

mais de 6 m durante as marés vivas na baia de Sofala dada a grande

extensão da plataforma continental. Este valor da amplitude das marés,

que é o mais elevado registado no continente africano cria condições

naturais para o aproveitamento de energia maremotrice (Fig. 25).

A inteiração dos factores físico-geográficos aliados a posição

latitudinal do país, condicionam a natureza das condições físicas,

químicas, dinâmicas e biológicas das águas do Oceano Índico no

Canal de Moçambique e cria as bases para a sua utilização económica

e social.

Fig. 25

Fig. 25 Costa do Oceano Índico

5. Solos

5.1. Tipos de Solos

De acordo com a localização geográfica e astronómica a Republica de

Moçambique possui uma grande variedade de solos típicos das regiões

tropicais.

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Fig, 26

Fig. 26 Esquema de perfis de solos das regiões tropicais

As várias classificações pedológicas tomam em conta a composição

mineralógica, a cor, a origem, a idade e os processos morfológicos e

biológicos recentes.

De uma maneira geral na composição mineralógica dos solos

moçambicanos predominam materiais ferruginosos e aluminosos,

sendo por isso, considerados pedalféricos ou ferralíticos. Esta

abundância de materiais ferruginosos e aluminosos, é fruto da

resistência destes elementos aos processos de desagregação das

rochas-mãe em relação em condições climáticas de regime tropical.

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Estes solos são também designados latosolos pela frequência

da sua ocorrência sob a forma de material enrudecido conhecido por

laterite.

Quanto a cor os solos mais abundantes são cinzentos-pardos e

pardo-avermelhados, mas também ocorrem com frequência solos

cinzentos e amarelados.

A textura do substrato da rocha-mãe condiciona a

diferenciação entre solos residuais pedrogosos, solos litólicos,

arenonsos, argilosos e limosos.

Os solos residuais são os que se desenvolvem a partir do soco

cristalino granítico-gnéissico e de formações vulcânicas que de onde

em onde, o interrompem. Trata-se, em geral de solos ferralíticos ou

fersialíticos.

A sua formação e o desenvolvimento são função da natureza da

rocha-mãe, do clima, do relevo, dos organismos vivos ou mortos, do

regime hídrico ou subsolo, da duração do processo pedológico e da

intervenção humana.

A carta Pedológica de Gouveia A. Sá e Melo Marques (1972),

destaca simultaneamente, aspectos relacionados com a idade, a

influência do clima e da natureza geológica e das condições hídricas e

morfológicas locais. De acordo com mesma distingue-se em

Moçambique os seguintes grandes tipos de solos: pouco evoluídos,

sialíticos, fersialíticos, ferralíticos e hidromórficos (Tab. 8).

Classe Tipo de Solo

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Tab. 8 Classificaoa dos solos de Moçambique, segundo D. Godinho

Gouveia A. Sá e Melo Marques, simplificada

Os solos pouco evoluídos são solos minerais com horizontes genéticos

pouco diferenciados e que apresentam uma distribuicao irregular do

material orgânico. Com efeito, eles apresentam no seu perfil

horizontes incompletos, em razão da sua idade recente ou da curta

duracao dos processos pedogénicos. Neste grupo são incluídos solos

aluvionares, os regosolos, os litosolos, os solos litólicos, os solos

hidromórficos e halomórficos.

Os solos aluvionares podem ser fluviais, lacustres e marinhos

consoante a dominância dos factores e processos de sua formação.

Eles são formados, em geral, a partir de depósitos de aluviões recentes,

sendo, no entanto, enriquecidos progressivamente por novos materiais

aluviais.

No caso de regosolos, a sua formacao resulta de materiais não

consolidados, que formam depósitos espessos e uniformes. A sua

granulometria e mineralogia é variada. São em geral, solos arenosos,

muito permeáveis e de vida variável.

Estes solos são considerados psamo-hidromórficos quando a

sua textura é grosseira e possui uma pequena percentagem de argila,

com ou sem húmus.

Derivados de rocha consolidada e ligeiramente alterados a

partir de menos de 10 – 15 cm de profundidade são os litosolos.

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O seu perfil apresenta normalmente uma textura grosseira com

horizonte A pouco ou nada humífero. Podem derivar de rochas

calcárias, ocorrem geralmente em terreno ondulado a mais ou menos

acidentado ou montanhoso, com maior ou menor frequência de

afloramentos rochosos.

Os solos litólicos possuem o Horizonte A mais ou menos

expresso mas não humífero, encontrando-se a rocha muito pouco

meteorizada a prtir da profundidade superiot a 10 – 15 cm; ou com

horizonte A húmifero e podendo a rocha consolidada, pouco ou nada

meteorizada, encontrar-se auma profundidade menor.

Com proporcao de argila variável, mas sempre insuficiente

para estar na origem da diferenciacai de níveis com c aracteristicas de

horizonte B são os solos sialíticos. O seu Horizonte C pode ser

delgado ou pelo contrario muito espesso.

No caso dos vertisolos, eles se desenvolvem sobre sedimentos

não-consolidados de natureza calcária ou ainda sobre basaltos. A sua

textura varia de fina a grosseira e a cor de pardo-acinzentada a pardo-

avermelhada.

Os solos arídicos são minerais mais ou menos evoluídos, que

se formam tipicamente sob climas de natureza árida ou semi-árida.

Eles apresentam em determinadas épocas do ano elevados deficit de

água necessária as plantas. São geralmente pardo-cinzentos ou pardo-

avermelhados. Quando mostram

evidencias de tendências para salinização, são designados

halomórficos. Por vezes também apresentam crostas carbonatadas.

Os solos fersiáliticos são solos zonais tropicais minerais de

perfil completo com reserva mineral alterável, variável consoante a

natureza da rocha-mãe e com elevado grau de saturação.

O substracto geológico é constituído por rochas cristalinas quartzíferas

ou por sedimentos não consolidados. São designados

eutrofersialíticos, quando apresentam uma textura fina e psamo-

fersialíticos quando a textura é mais grosseira. Em alguns casos eles

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apresentam no horizonte B mais do que 30% de minerais de argila,

sendo esta de carácter muito fortemente sialítico. Eles abrem fendas

largas e profundas na estacão seca, monstrando evidencias de

infiltracao de materiais de níveis superiores para níveis inferiores.

Estes processos são, muito comuns em variados tipos litológicos e nas

mais diversas condicoes climáticas e os solos apresentam as

tonalidades mais diversas, desde o pardo ao avermelhado.

Os solos ferralíticos são típicos das regiões tropicais, com as

duas estacões do ano maracadamente distintas. Eles tanto se

desenvolvem a partir de rochas eruptivas e metamórficas, como de

rochas sedimentares. A sua fisionomia característica é a cor vermelha,

que resulta dos intensos processos químicos de intemperização, que

libertam óxidos de ferro. Se apresentam textura grosseira no seu

substrato arenoso de origem sedimentar, designa-se por psamo-

ferralíticos.

São designados paraferralíticos quando formados em meios de

alteracao ferralitica mas com pertubacoes no processo de evolucao

provocadas pela influencia do relevo. Estas perturbacoes podem ser

profundadas que se reflectem no perfil e na difusa diferenciacao dos

horizontes.

Os solos hidromórficos, devido à sua posição topográfica em

depressões estão sujeitas à influência permanente ou temporária das

águas subterrâneas. A proximidade do lençol freático,

onde são intensos os processos de oxidação-redução junto à superfície,

provoca a formacao de um horizonte glei ou pseudoglei.

No seu perfil, pouco diferenciado, os solos hidromórficos apresentam

um substrato argiloso acinzentado normalmente com abunadante

matéria orgânica e por vezes material grosseiro.

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5.2 Regiões pedológicas

A repartição territorial dos solos moçambicanos, corresponde em

grande medida à estrutura territorial geológica e climática do país. Ela

reflecte também a influência dos desníveis altitudinais e da

continentalidade sobre os processos da formação dos solos.

Estes factores contribuem para a ocorrência de solos zonais típicos das

regiões tropicais e subtropicais.

Factores específicos regionais tais como, a diferenciação

microclimática, o regime hídrico e a natureza química da rocha-mãe,

permite o desenvolvimento de solos intrazonais.

Ao nível regional e local a ocorrencia dos solos azonais,

relaciona-se com a localizacao e posicao geográficas, a cobertura

vegetal e com processos geomorfológicos e pedogenéticos recentes.

Apesar das variacoes das rochas e do relevo serem muito

importantes e expressivas na determinação dos tipos de solos, e

evidente uma certa zonalidade na repartição das principais unidades

pedológicas (Fig. 27).

Assim, no Norte do país os solos (zonais) mais abundantes são

os solos ferralíticos, fersialíticos e sialíticos. Estes solos ocorrem nos

complexos granito-gneissicos do Norte de mocambaique até ao vale do

rio Zambeze e uma grande parte das províncias de Tete, Sofala e

Manica.

Fig. 27

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Fig. 27 Recursos Pedológicos

Nos aplanamentos e nas vertentes das principais cadeias

montanhosas de rochas cristalinas e vulcânicas eles constituem

espessos depósitos que, em condições propiciais, permitem a

ocorrência de materiais lateríticos e/ou laterites.

Em regiões com condições de humidade favoráveis e em

estreita ligacao com o relevo, eles apresentam uma cor avermelhada

nos topos, alaranjada nas encostas e parada a acinzentada nas

depressões.

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Esta sequência, conhecida normalmente por catena, ocorrem

também em outros tipos de rochas incluindo as rochas sedimentares,

com tonalidades muito diversas, desde que o relevo seja expressivo.

Nas regiões de grande latitude quando os solos contém laterites

ou material laterítico, formando carapaças espessas cobrindo a rocha-

mãe, notam-se evidências de degradação, frequentemente em forma de

coluviões. Este solos constituíram nos pluviais antigos e são de uma

maneira geral ricos, sob ponto de vista agrícola. É neste tipo de solos

que se desenvolvem as culturas de maior significado económico tais

como o milho, tabaco, chá, algodão e fruteiras.

Na maior parte do Sul de Moçambique e em todo litoral, os

solos zonais desenvolvem-se a partir de sedimentos não consolidados.

São em geral solos de idade recente (Quaternário), com horizontes

indiferenciados e com constantes alterações no seu perfil. Solos

ferralíticos e fersialíticos de origem calcária são muito comuns nas

terras áridas do litoral de Cabo Delgado e de Inhambane, bem como

em extensas áreas a Sudoeste de Maputo, particularmente sobre

formações cretácicas.

De resto, no litoral e sublitoral os solos arenosos de dunas

antigas e recentes revelam a irrelevância da influência dos processos

de formação sobre a natureza da rocha-mãe e em contrapartida a

importância da duração da acção dos factores climáticos e da cobertura

vegetal.

Nas margens dos rios e suas depressões, os solos aluvionares fluviais

acinzentados, constituem depósitos do Quaternário-aluvião. A sua

maior área de dispersão localiza-se nas margens dos rios Zambeze,

Púnguè, Búzi, Limpopo, Incomati, Umbeluzi.

Em manchas de menores dimensões, os solos aluvionares

fluviais ocorrem também ao longo dos cursos de água no interior das

províncias ao Sul do rio Save e em toda faixa costeira e subcosteira ao

Norte e ainda nos planaltos de Mueda e de Macomia.

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É neste tipo de solos arenonos fluviais que se desenvolvem

algumas das principais culturas: cajueiro, arroz, hortícolas. Nesta

categoria dos solos das baixas são incluídos os solos hidromórficos,

muito representativos nos vales dos rios Urema e Zangue, em Mopeia

e Marromeu e em várias planuras do Norte e Centro do país. Quando

representam menbros inferiores das catenas designam-se por dambos e

noutros casos por tandos, cujas áreas de dispersão constituem

santuários previligiados para uma fauna diversificada.

Nas montanhas de Chimanimani, solos hidromórficos,

apresentam um horizonte superficial espesso e com elevada

percentagem de matéria orgânica, com carácter turfoso. Solos com

características semelhantes ocorrem na faixa arenoso litoral e

sublitoral ao Sul do rio Save, nomeadamente nos vales dos rios

Incomati, Limpopo e Futi onde se conhecem por muchongos, muito

utilizados para o cultivo do arroz e da bananeira.

Em fundos secos dos vales interdunares no litoral ao Sul do rio

Save, ocorrem manchas, solos arenosos com concrecoes diatomíticas

de origem Quaternária.

Nas areias não aluviais de clima semi-árido onde a

pluviosidade é inferior a 600 mm e a temperatura média anual é da

ordem de 24º C, conhecidas em algumas regiões ao Sul do rio Save

por munanga, predominam solos cinzentos de horizonte superficial

arenosos com subsolos muito compactos. A estes subsolos,

cimentados em certos perfis, segue-se em regra, um horizonte franco-

argiloso-arenoso, rico em concrecoes calcárias e elementos grosseiros

quartzosos. Nestes solos é vulgar a presença destes elementos

grosseiros, à superfície, numa delgada película não uniforme, o que lhe

confere um aspecto superficial rosado.

Na sua distribuicao geográfica destacam-se o Médio Limpopo

e grande parte do alto Changane e nas regiões arenosas do interior de

Inharrime, Panda, Homoine, Morrumbene, até Mabote.

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Eles ocorrem em algumas áreas de terraços antigos dos rios Incomati,

Umbeluzi e Maputo. Estes solos desenvolvem-se em áreas quase

planas, a muito suavemente onduladas, a partir de depósitos

sedimentares não consolidados.

No litoral, sem grande expressão espacial, ocorrem solos

salinos de origem oceânica que associadas as condicoes estuarinas

permitem a fixacao e o desenvolvimento de ecossistemas ricos em

especieis animais e vegetais e importantes sob o ponto de vista

económico.

Finalmente, o Homem exerce grande influência na alteração e

criacao de regiões pedológicas através da sua accao de devastacao da

vegetacao e de cultivo de plantas, de adubacao, de irrigacao, de

drenagem, construcao de terracoes e outras obras e técnicas agrícolas.

6. Seres vivos

A vida orgânica e sua distribuicao em Mocambique nme sempre foi a

mesma desde a constituicao da terra. As profundas modificacoes

tectónicas, climaricas, hidrológicas e pedológicas que a terra sofreu

desde a sua constituicao exercem influencia sobre todos seus

organismos vivos e na sua actual distribuicao.

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As áreas de distribuicao geográfica das especieis são variáveis

e dependem de factores de multiplicacao e do meio de disseminacao.

Dentre eles destacam-se as barreiras geográficas (ocenaos, lagos, rios e

montanhas); factores climáticos, (temperatura, humidade,

pluviosidade); factores bióticos (relacao entre os diferentes seres

vivos); o substrato edáfico (composicao e natureza dos solos); factores

históricos (evolucao das espécies).

A distribuicao dos seres vivos depende ainda das actividades

da sociedade humana que distribui para o seu enriquecimento ou seu

empobrecimento ou para a sua total distribuição.

6.1. Tipos florísticos

Floristicamente a Republica de Moçambique situa-se na região

sudano-zambezíaca que inclui também a Tanzania, o Malawi, a

Zambia, o Zimbabwe, o Botswana e Swazilândia.

Em funcao do meio geográfico em que se desenvolve e do grau

de intervencao humana a flora moçambicana pode subdividir-se em:

terrestre, aquática e cultural.

A composicao e distribuicao da flora terrestre relaciona-se

estreitamente com a posição geográfica e astronómica de Moçambique

na zona subequatorial e tropical do Hemisfério

Sul, na costa oriental e austral do continente africano. Condicoes

regionais e locais do clima, relevo, rios, lagos, rochas, solos e

adistancia do Oceano Índico exercem cumulativamente influencia

sobre a composicao e distribuicao da flora terrestre.

A localizacao de Moçambique na região florística sudano-

Zambezíaca, condiciona, em conjugacao com as condicoes climáticas

o desenvolvimento de infinitas variedades de associacoes vegetais

hidrófilas, mesofilas e xerófilas de floresta e de savana arbóreas e

arbustivas (Fig.28).

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Fig. 28

Fig. 28 Floresta

Estas formações vegetais, que cobrem cerca de 2/3 da superfície do

país, apresentam-se frequentemente em forma de associacoes mistas

ou mosaicos.

As diferenças na distribuição, composição, densidade e

variedades de espécies resultam de factores tais como a latitude, a

alternância entre as terras altas e as depressões, a continentalidade, a

natureza pedológica, as condicoes de água, do solo e o grau de

intervencao humana. Estes factores provocam diferenças espaciais na

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distribuicao da vegetacao, o que releva a adaptacao directa da

vegetacao às condicoes ecológicas dominantes.

A área de dispersão da floresta relaciona-se estreitamente com

o clima, a continentalidade, a altitude e as condicoes edáficas. Elas

apresentam características mesófilas sub equatoriais com grande

diversidade e tamanho de árvores que atingem até 35 m de altura. As

folhas são finas e amplamente ovais; tendência para o alongamento da

fase de foliação onde se desenvolvem lianas e epifitas durante a

estacão das chuvas. O clima e as condicoes edáficas destas regiões é

particularmente favorável ao desenvolvimento dos bambus, alguns dos

quais com cerca de 10 m de altura.

Para esta floresta, a vegetacao, o clima e o clima subequatorial

do Norte do país e de todo o litoral, asseguram as melhores condicoes

de vida, sobretudo devido as características de humidade e

pluvioidade.

Ela desenvolve-se preferencialmente em áreas onde os valores de

pluviosidade são superiores a 1.000 mm num período de mais de 5

meses, e tem o carácter de floresta sempre verde. Trata-se de uma

floresta com densidade do estrato árboreo, com árvores de tronco

grosso, com amplas copas que se elevam até a uma altura de 10 a 20

m. Em geral as suas folhas são pequenas e caducas, raramente largas e

perenes. O estrato herbáceo é pobre e constituído por gramíneas curtas.

Devido ao deflorestamento as árvores vão escasseando

cada vez mais, os arbustos são cada vez menores e o estrato herbáceo

de gramíneas vai-se expandindo.

Ela ocorre sobretudo nas principais montanhas do país e a

densidade de espécies é maior nas encostas voltadas a Este em

altitudes compreendidas entre 1.200 e 1.600 m e onde a pluviosidade é

superior a 1.500 mm.

Predominam espécies dos géneros Pittosporum, Ilex, Rapanea,

Widdrintonia, Podocarpus e várias espécies de ervas tais como

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Panicum montícola, Oplismenus hirtellus, podendo ou não possuir

coníferas, em áreas localizadas.

No Niassa ela está representada numa faixa de montanhas

desde Maniamba até às proximidades de Mandimba; enquanto que na

Zambézia, abrange grande parte das terras latas de Milange, Namúli,

Gúruè, Namarroi e Morrumbala.

Em Manica a floresta sempre verde ocorre em áreas

montanhosas de Espungabera, Chimanimani, Vengo, Vumba,

Tsetserra, Mavita, Garuzo, zuira, Penhalonga e Choa.

Em algumas áreas ela faz lembrar uma floresta densa

equatorial não só pela majestade da sua forma como também pela

variedade de espécies que apresentam por vezes estratos distintos e

com uma presencao significativa de trepadeiras. As espécies

dominantes são Maranthes, Polyandra, Alploia, Theiformis, Khaya

nyasaca (Lianas), Saba comorensis e Paulinia pinnata.

Nos planaltos de Chimoio e de Mussorize, sobretudo em

Espungabera, Mabongo, Marongo, Sitatonga e Amatongas, onde a

pluviosidade é da ordem dos 1.200 mm desenvolve-se a floresta semi-

decídua ou semi-caduca em que as árvores dominantes atingem cerca

de 20 m de altura.

As espécies mais comuns e mais utilizadas como madeira são

dos géneros Erythropleum, Suaveolens, Khaya e a Newtonia.

Alguns géneros de plantas herbáceas tais como Setaria, Panicum e

Aframomum, complementam o estrato arbóreo.

Este tipo de floresta ocorre tambem nas terras planalticas de cabp

Delgado entre Mueda e Mocimboa do Rovuma em altitudes

compreendidas entre 750 e 850 m e onde os valores de pluviosidade

são superiores a 1.000 mm.

A floresta de folha caduca ocorre em mocambique nas zonas

subplanalticas, próximas do litoral sujeitas a acção dos ventos húmidos

oceânicos. São notáveis as regiões planálticas de cheringoma,

mandanda-machaze e do baixo buzi. Este tipo florestal encontra-se

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bem representado ao norte do rio save em terrenos calcários terciários

e onde os valores de pluviosidade variam entre 800 e 1.200 mm. As

espécies arbóreas mais comuns são a adansónia digitada, sterculia

appendiculata, cordyla africana e combretum spp.

Ao norte do rio Zambeze esta floresta apresenta-se relativamente mais

densa devido as condições particulares de humidade, sendo de destacar

as regiões de macomia e mueda onde ocorrem espacies típicas e afins a

flora tanzaniana como os géneros sterculia, grewia, hugonia.

Ao sul do rio save identificam-se a floresta confina-se aos montes

libombos e ao sublitoral sendo mais extensa e rica em variedade de

espécies em Inhambane entre vilanculos e massinha.

Nas margens aluviais dos principais rios, em especial na parte norte do

pais, dissemina-se uma floresta adaptada as condições edáficas locais,

cujas árvores podem ser dominadas por um estrato herbáceo de canico

e bambu e outras ervas expontaneas e semi-expontaneas. Ela dispõe-se

muitas vezes lineramente ao longo dos rios parecendo cobri-los, razão

porque se designam por floresta-galeria. Trata-se de uma floresta com

dois estratos dominantes em que no estrato arbóreo predominam

espécies de adansónia, brachystegia e julberernardia.

Nas dunas, existentes em praticamente todo o litoral, desenvolve-se

uma vegetação mista, arbóreo-arbustiva com estrato herbáceo

abundante-floresta dunar. Ela ocorre ao longo da

faixa dunar costeira e subcosteira, sendo mais vistosa onde os valores

de pluviosidade são superiores a 900 mm. A densidade e a variedade

de espécies depende das condições locais de humidade e de natureza

dos solos. O carácter xerofítico desta vegetação, a sua densidade e

variedade de espécies reflecte a influência de vários factores dentre

eles os solos altamente alcalinos, a proximidade do oceano e a

frequente carência de água doce. Embora constituído manchas

descontínuas, interrompidas pela savana arbórea, é ao Sul do Save

onde esta floresta tem a sua maior representação.

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Em regiões de relativa fraca pluviosidade, normalmente a

afastadas da costa e de solos secos, ocorre uma associação vegetal,

vulgarmente designada por Savana. Ela pode ainda ser diferenciada em

arbórea ou arbustiva conforme a dominância de árvores ou arbustos

nos respectivos estratos, mas com um estrato herbáceo sempre

presente.

Em muitas áreas a vegetação arbórea adensa-se e toma o

aspecto de uma floresta baixa com plantas de altura até 10 m, sendo

por vezes de difícil penetração. De uma maneira geral a savana e uma

formação baixa, por vezes degradada, com plantas espinhosas e outras

de folha caduca. A savana pode apresentar assim aspectos que se lhe

confunde com a floresta ou de formações herbáceas e ainda uma

variedade de formas de transição (Fig. 29).

As espécies são de porte médio que variam de 10 a 15 m onde

e comum Adansonia e a Setaria entre outras e distribuem-se a Norte da

Província de Manica, em Gaza, Inhambane, e, de uma maneira geral

nas margens dos principais cursos de água, onde a pluviosidade não

ultrapassa os 600 mm e dada a natureza geológica dos solos. Mas a sua

maior área de distribuição localiza-se sobre tudo na parte meridional

de Moçambique, onde se exceptuam estreitas faixas de floresta

sublitoral e a floresta de montanha nos Libombos.

Nos aplanamentos e nas vertentes das principais cadeias

montanhosas de rochas cristalinas e vulcânicas eles constituem

espessos depósitos que, em condições propícias permitem ocorrência

de materiais lateríticos e/ou laterites.

Em regiões com condições de humidade favoráveis e estreita

ligação com o relevo, eles apresentam uma cor avermalhada nos topos,

alaranjada nas encostas e parda acinzentada nas depressões.

Esta sequência, conhecida normalmente por catena, ocorrem

também outros tipos de rochas incluindo as rochas sedimentares, com

tonalidade muito diversa, desde que o relevo seja expressivo.

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Nas regiões de grande altitude, quando os solos contêm

laterítes ou material laterítico, formando carapaças espessas cobrindo a

rocha mãe, notam-se evidências de degradação, frequentemente em

forma de coluviões. Estes solos constituíram-se nos pluviais antigos e

são de uma maneira geral riscos, sob o ponto de vista agrícola. E neste

tipo de solos que se desenvolvem as culturas de maior significado

económico tais como o milho, tabaco, chá, algodão e fruteiras.

Na maior parte do solo de Moçambique e em todo o litoral, os

solos zonais desenvolvem a partir de sedimentos não consolidados.

São em geral solos de idade recentes (quaternário) com horizontes

indiferenciados e com constantes alterações no seu perfil. Solos

ferralíticos e fersialíticos de origem calcária são muito comuns na

terras áridas do litoral do cabo delgado e de Inhambane, bem como e

extensas áreas a sudeste de Maputo, particularmente sobre formações

cretácicas.

De resto, no litoral e sublitoral os solos arenosos de dunas

antigas e recentes e revela a irrelevância da influência dos processos

de formação sobre a natureza da rocha-mãe em conta partida a

importância da duração da acção dos factores climáticos e da cobertura

vegetal.

Fig 29

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Fig. 29 Cobertura vegetal

A floresta aquática da República de Moçambique distribui-se,

segundo as características da temperatura, salinidade, dinâmica e

limpidez das massas aquáticas.

Com condições ecológicas claramente diferenciadas apresenta-

se a floresta da orla marítima e na foz dos rios que normalmente se

desenvolvem em terrenos alagadiços e sujeitos a uma forte influência

das águas do mar. Esta floresta, conhecida por mangal, é típica das

regiões costeiras tropicais e subtropicais, constitui um mundo

indeterminado entre a terra e o mar, onde uma miscelânea própria

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junta árvores engolidas pelas marés, raízes aéreas, plantas flutuantes a

superfície da água, sementes germinadas na planta-mãe (Fig. 30).

Este tipo de vegetação distribui-se por cerca de 48% do litoral

moçambicano, em áreas, de certo modo, protegidas das correntes e da

ondulação directa do mar perfazendo mais de 800 km2.

Fig. 30

Fig. 30 Mangal

Na plataforma continental, de Norte ao Sul do país e no Lago

Niassa, desenvolve-se uma floresta abundante constituída

essencialmente por algas, fungos e várias angiospérmicas das quais se

destacam no oceano, os géneros Potamogenotaceae e

Hydrochartaceae. Estas espécies da flora aquática constituem o

subestrato alimentar da fauna aquática.

No meio aquático continental e em particular nos numerosos

rios moçambicanos existe uma grande diversidade de espécies de

maior ou menor complexidade orgânica.

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A flora cultural representa para a humanidade uma grande

conquista como forma de utilização racional dos recursos naturais

renováveis. Ela constitui o resultado do trabalho do Homem que

melhora as espécies locais e introduz outras espécies susceptíveis de

aproveitamento económico.

A maior parte das riquezas da flora cultural moçambicana

resultam de aproveitamento e melhoramento de espécies trazidas da

Ásia, Europa, América do Sul e Austrália há mais de cinco séculos

sobretudo pelos árabes e portugueses. Estas plantas desenvolveram-se

rapidamente devido as boas condições climáticas, pedológicas,

hidrológicas e altimétricas.

As principais espécies culturais são o cajueiro (Anacardium

occidentale), mafurreira (Trichilia emetica), mangueira (Mangifera

indica), imbi (Garcinia livingstonei), ocanho (Sclerocarya caffra),

strinos (Strichnos spp.).

O milho, uma das culturas com grande importância para

alimentação dos moçambicanos é originário da América Central; o

chazeiro, algodão, arroz, o coqueiro, o trigo são originários da Ásia; o

cajueiro, a batata, a araucária, a cana-sacarina, a bananeira, o sisal, o

amendoim, a mandioca, o tabaco e o tomate, da América do Sul; os

citrinos da Europa; o eucalipto e a causarina da Austrália.

O coqueiro e o cajueiro, duas das mais importantes culturas

industriais de Moçambique desenvolvem-se na região costeira e

subcosteira. Moçambique com cerca de 10 milhões de coqueiros,

possui maior plantação do mundo e é um dos países com o maior

número de cajueiros, cujo total é superior a 45 milhões de plantas.

Enquanto que o cajueiro encontra boas condições físico-

geográficas em todo litoral onde os solos são arenosos e leves, o

coqueiro, devido às suas maiores exigências climáticas e edáficas

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desenvolve-se sobretudo em manchas no litoral de Nampula,

Zambézia, Sofala e Inhambane.

Na região litoral onde a amplitude térmica é fraca e com

pluviosidade total anual superior a 900 mm e humidade de ordem dos

75% e onde os solos são aluvionares, exitem boas condições para o

desenvolvimento do milho, arroz, amendoim, cana-de-açucar,

mandioca e legumes. O arroz, a cana sacarina, distribuem-se pelas

áreas de solos aluvionares, sobretudo nas margens dos rios Zambeze,

Púnguè, Búzi, Limpopo e Incomati e exigem muita água para o

desenvolvimento pelo menos durante as primeiras fases do seu

crescimento.

Relativamente menos exigentes, em termos de disponibilidade de

água, são a mandioca e o amendoim.

O algodão, o tabaco e as fruteiras com boas condições para o

seu desenvolvimento nas áreas planálticas e montanhosas, com solos

residuais. As regiões de clima de altitude e com solos fersialíticos e

ferralíticos são favoráveis ao cultivo da batata, legumes, chá, café e

cereais. O chá cultiva-se nas terras altas da Zambézia, bem como nas

terras altas de Manica as condições ecológicas são favoráveis à cultura

do café; mas o café também se cultiva com bons rendimentos

no litoral de Inhambane. Nas vertentes da maioria das montanhas

existem condições para a produção da vinha, gengibre, nanxenim,

trigo, e cevada.

Nas regiões com estação seca prolongada e de fraca

pluviosidade anual das Províncias de Tete, Inhambane e Gaza

desenvolvem-se a mapira e a meixoeira.

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Fig. 31

Fig. 31 Milheiral

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6.2 Tipos faunísticos e sua distribuição

A República de Moçambiaue possui uma grande diversidade de

espécies de fauna, cuja repartição geográfica depende de vários

factores dentre eles os latitudinais, altitudinais, climáticos e biológicos.

Consoante o meio geográfico da sua repartição e o grau de intervenção

humana, a fauna pode subdividir-se em terrestre, aquática e cultural.

Faunísticamente o território moçambicano pertence a chamada

região Etiópica ou Africano-Malgache. Esta região faunística abrange

as zonas de África ao Sul do Sahara e ao Sul do Equador com o clima

subtropical e tropical e nela vivem numerosas espécies típicas

algumas, delas endémicas e relictos ou relíquias.

A influência da latitude e do clima é fundamental tanto no

revestimento cutâneo das espécies como ainda no seu aspecto e esta

influência faz-se sentir ainda sobre o desenvolvimento da flora que

constitui a base alimentar da maioria das espécies. A distribuição da

fauna moçambicana está ainda com a distribuição das associações

vegetais e com as condições de acesso a água. O factor biológico de

combinação dos tipos faunísticos é fundamental, sobretudo no

estabelecimento da cadeia alimentar em que os herbívoros necessitam

da flora para sua alimentação e ao mesmo tempo, eles mesmos servem

de alimento aos carnívoros.

Quanto à fauna aquática, Moçambique dispõe nos seus 120.000

km2 de área oceânica e cerca de 13.000 km

2 de águas interiores de uma

enorme variedade de espécies. A sua distribuição depende das suas

exigências de salinidade, temperatura, profundidade, limpidez e

dinâmica das águas. Ela é particularmente diversificada no Canal de

Moçambique onde vivem numerosas espécies de mamíferos, repteis,

peixes, moluscos, artrópodes e protozoários.

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A sociedade humana, quer através da introdução de novas

espécies, quer melhorando as existentes, quer ainda distribuindo

aquelas que lhe são prejudiciais, constitui um factor importante na

distribuição da fauna.

Os protozoários vivem tanto nas águas doces dos rios, lagos, e

lagoas como nas águas salgadas oceânicas, bem como nos pântanos e

charcos em todas regiões altimétricas do país. Alguns géneros como

Tripanosoma e a Haemoeba têm causando doenças nos homens e nos

animais domésticos. A espécie que produz a doença do sono chama-se

Tripanosoma gambiense que transmite ao homem através da mosca do

género Glossima, também conhecida por tsé-tsé. Outro protozoário,

responsável pelo paludismo, a Haemoeba vivax é transmitido ao

Homem pelas fêmeas dos mosquitos do género Anopheles.

Outras ainda produzem doenças, sobretudo nos animais, sendo

a mais conhecida a Coccida dos coelhos que ataca o fígado e os

intestinos e acidentalmente os homens; outros ainda atacam o boi, o

cão, o carneiro, as aves e os peixes.

Os espongiários constituem um grupo zoológico notável não só

pela sua grande abundância no Oceano Índico, mas também pela sua

difusão. Igualmente notável são os celenterados que constituem um

dos grupos mais numerosos do reino animal e são notáveis pela beleza

das suas formas e da sua cor.

As espécies mais conhecidas são do género Hydra (hidra-de-água-

doce).

Os equinodermes habitam as águas do Oceano Índico, não

sendo conhecida qualquer espécie de água doce. Os mais conhecidos

são o ouriço, a estrela do mar, a holotúria e o lírio do mar.

Do grupo dos celenterados destacam-se as alforrecas, as

anémonas e os corais, muito abundantes em águas pouco profundas da

costa moçambicana. Os corais vivem em águas límpidas muito

movimentadas em bancos de grés costeiros

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que afloram nas proximidades da costa em particular junto á

plataforma continental e nas proximidades das ilhas. Eles são notáveis

pela beleza de formas e encontram-se sobre protecção em algumas

regiões nomeadamente na Ilha de Inhaca.

Uma grande parte dos vermes são parasitas, os mais

importantes são a minhoca e a ténia. Dos nematelmintas destaca-se a

lombriga que é também um parasita do homem.

Os antropodes, constituem mais da metade das espécies

animais conhecidas, vivendo a sua maioria à superfície do solo, no ar,

na água e no subsolo. Trata-se de uma grande variedade de formas e de

espécies, sendo os mais comuns os insectos e os crustáceos.

Exemplos de insectos muito abundantes em todo território

moçambicano são a abelha, a mosca, a centopeia, a aranha, a cigarra, a

barata, o mosquito e a borboleta. Algumas espécies de mosca,

mosquito e barata são causadores de doenças do Homem; outros como

aranha e a centopeia são venenosos.

Dos crustáceos marinhos destacam-se a lagosta, o lagostim e o

caranguejo que vivem nas águas moçambicanas em todas

profundidades. Devido a grande extensão da plataforma continental da

baia de Sofala, o Banco de Sofala de 200 km de largura, constitui o

principal habitat para numerosas espécies de crustáceos de grande

valor comercial, salientando-se camarão, lagosta e o caranguejo. O

camarão é um dos principais produtos de exportação do país.

Os moluscos são um grupo muito vasto e que desempenharam

desde os tempos geológicos passados um papel destacado.

São animais essencialmente aquáticos, vivendo no Oceano Índico, nos

lagos, lagoas, pântanos e rios. Os mais conhecidos são: polvo, choco,

ostras, lulas, búzios e mexilhões; outros como a lema e o caracol, estão

completamente adaptados à vida terrestre.

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Os peixes, como vertebrados adaptados à vida aquática

representam uma componente muito importante da fauna aquática. A

maior parte das espécies desenvolvem-se no Canal de Moçambique,

em diferentes profundidades, da plataforma continental e do talude

continental. Entre os principais destacam-se a baleia, o dugongo, o

golfinho, o tubarão, peixe-serra, peixe-pedra, atum, cavala, garoupa,

xareu, carapau, cachuco, corvina, magumba, sardinha, tainha e

pescada.

Nos rios e lagos, a Tilápia mossambica é a espécie de peixe

mais típica, sendo incentivada a sua produção para fornecimento de

proteínas às populações do interior. No Lago Niassa, para além da

Tilapia uma notável variedade de espécies e tamanhos muito

apreciados pelas populações locais.

Dentre elas destacam-se os batráquios tais como sapo, a rã e a

salamandra. Eles estão adaptados simultaneamente à vida aquática e

terrestre; outros têm a vida completamente aquática passando depois

animais terrestres. A maioria, no estado adulto, pode viver

indistintamente dentro e fora da água.

Dos répteis destacam-se os cágados, várias espécies de cobras,

osgas, lagartos, camaleões, vivem em geral nas áreas florestais, mas

também ocorrem nas montanhas e outros ainda são anfíbios como os

crocodilos, tartarugas e algumas espécies de lagartos. Entre os repetis

merecem especial menção o crocodilo, o maior réptil anfíbio da água

doce, que vive em praticamente todos principais rios de Moçambique e

nas proximidades da foz dos rios que desaguam no Lago Niassa.

Ele tem vindo a ser cultivado com sucesso em Manica, Inhambane e

Maputo para aproveitamento da sua pele e das suas carnes.

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As tartarugas podem ser de água doce ou de água salgada.

As tartarugas de água doce vivem nos rios e lagos. As tartarugas

marinhas desenvolvem-se em todo litoral; a sua carapaça chega a

atingir mais de 0,5 m de diâmetro. A sua sobrevivência em algumas

regiões costeiras está ameaçada pela predação a que estão sujeitos os

seus ovos e ainda pela caça visando o aproveitamento da sua carne

para alimentação e da sua carapaça como troféu. Esta ameaça justifica

a adopção de medidas para a sua protecção.

As aves habitam as florestas e savanas do país, nas regiões

costeiras, nas planícies, nos planaltos, nos vales e nas montanhas. Os

mais comuns são a avestruz, o albatroz, a gaivota, o corvos, as garças,

a cegonha, o flamingo, a perdiz, a codomiz, a galinhola, a águia, o

abutre, a rola, o pombo verde, a andorinha, o beija-flor e o peito-

celeste. A avestruz, a maior ave corredora do mundo, ocorre com

raridade sobre tudo nas savanas do Sul do país e é considerada uma

espécie em extinção. O pelicano, a garça, o marabu e o pica-peixe e o

albatroz, vivem predominantemente nas proximidades das massas

liquidas no litoral oceânico, em charcos e pântanos.

Algumas espécies, como a andorinha, o pardal, a cegonha são

migradoras e permanecem em Moçambique na estacão quente para

regressarem no inicio do verão no Hemisfério Norte.

Das aves domésticas ou culturais, as mais importantes em

Moçambique são os seguintes: a galinha, o pato, o peru e o ganso. Elas

adaptam-se bem praticamente todas as regiões do país e são muitas

vezes cultivadas intensivamente pelo Homem, com bons resultados.

Os mamíferos distribuem-se por todo o território

moçambicano, especialmente em regiões ricas em vegetação herbácea,

onde encontram as suas melhores condições ecológicas. É nas savanas

do país com estrato herbáceo abundante que se registam as maiores

concentrações de mamíferos, dos quais se

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salientam os boi-cavalo, leão, palapala, chita, cabrito do mato, búfalo,

elefante, gato selvagem, girafa, ngondonga, inhacoso, impala, javali,

leopardo, lebre, macaco, pangolim, manguço, porco do mato, porco

espinho, rato, rinoceronte e zebra. A Inhala é o antílope mais típico do

país, sendo caracterizada uma espécie rara ao nível do continente

africano. A zebra e a girafa, muito abundantes, são também típicas do

continente africano. Equnado que a zebra se distribui por quase todo

país, a girafa que é também animal mais alto do mundo, vive com

maior abundância nas regiões do Niassa, Cabo Delgado e Gaza.

O elefante, o maior mamífero terrestre do mundo, encontra-se

nas florestas e savanas de todo o país. Em muitas regiões o número de

exemplares tem vindo a decrescer devido a enorme pressão pelos

caçadores para o aproveitamento do seu marfim e de outros troféus. O

hipopótamo, maior mamífero anfíbio do mundo, é também um

exemplar frequente nos principais rios, lagos e lagoas.

No Vale tectónico do Urema-Zangue e nas regiões de savana

com estrato herbáceo abundante e com água próxima, concentram-se

numerosos mamíferos existentes em Moçambique, dentre os quais os

grandes herbívoros como a zebra o búfalo, a girafa, a impala e o

rinoceronte. Nas planícies e vales são comuns varias espécies de

antílopes, dos quais se destacam o lande, que é maior antílope

africano, o chengane (menor antilopde moçambicano), o chango e o

cabrito do mato. São também comuns na savana moçambicana, nas

planícies e vales, várias espécies de pequenos e grandes carnívoros,

dos quais se salientam o leão, o leopardo, chacal, gato cerval e a chita.

Nas áreas de fraca cobertura vegetal, vive o pangolim que se alimenta

de insectos, sobretudo formigas.

Os principais mamíferos marinhos que ocorrem em muitas

parcelas de costa moçambicana destacam-se o dugongo e a toninha. O

dugongo, pelas características do seu ecossistema e pela ameaça que

sobre ele paira, encontra-se sob protecção.

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Fig. 32

Fig. 32 Leopardo

Fig. 33

Fig. 33 Leão

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Dos mamíferos domésticos mais importantes em Moçambique, que

forma na sua maioria introduzidos da Eurásia contam-se o boi, o burro,

o cavalo, o cão, o gato, o cabrito, a ovelha, o porco e o coelho. O gado

bovino distribui-se por todo o país em locais onde existem pastagens

de boa qualidade, água abundante e

Fig. 34

Fig. 34 Distribuição da mosca tsé-tsé

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O gado caprino e ovino, mais resistente à secura do clima ocorre em

todo o país com maior concentração nas províncias de Tete, Niassa,

Manica, Nampula, Cabo Delgado e Sofala. O gado arientino e suíno

desenvolvem-se bem em todo o território, desde que sejam

devidamente tratadas as suas principais doenças e bem alimentados.

6.3 Parques naturais e reservas biológicas

Os parques nacionais e reservas biológicas em Moçambique são

protegidas, interditas a qualquer tipo de utilização pública incluindo a

caça, ou permitida num regime restrito.

Elas representam pela sua dispersão, porções das regiões naturais onde

se incluem na maior parte dos casos às plantas e animais que

dificilmente viveriam fora das regiões protegidas. Com efeito, as

reservas florestais legalmente constituídas, perfazem mais de 50.000

ha dos quais somente 10.000 ha se encontram, de facto protegidas. A

maioria é invadida anualmente pelo fogo, pelos madereriros e pelas

machambas.

Um outro aspecto da maior importância refere-se à protecção

de todas as áreas que o reconhecimento da aptidão dos solos indique

serem apropriadas para pastagens havendo que protege-las de modo a

constituírem reservas pecuárias do país. Em algumas áreas do país já

existem sérias dificuldades para melhorar o desenvolvimento pecuário,

por terem sido degradadas, por falta de orientação apropriada, as

reservas de pastagens. Esta constatação diz respeito sobretudo a

regiões ao Sul do rio Save e também em Niassa, na Angónia e em

Manica onde grandes extensões de zonas de pastagens sofreram e

estão a sofrer de um sistema degradado de apascentação, notando-se já

uma tendência irreversível e decrescente na composição dos pastos e

uma evidente degradação dos seus

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solos. Do mesmo modo as espécies faunísticas como o rinoceronte,

cudo, cocone, dugongo, avestruz, toninha, coral, que pela sua raridade

e pelo seu valor estético, cientifico, educativo ou que se encontrem em

perigo de extinção, são aqui objectos de atenção especial.

O sistema de parques nacionais e reservas biológicas de

Moçambique iniciou em 1960 com a criação da Reserva do Gilé pelo

Diploma Legislativo no 1996 de 23/07/1960. Desde então foram

criados 4 parques nacionais e 6 reservas biológicas ocupando

actualmente uma área equivalente a 12, 6% da superfície total do

território Moçambicano (Tab.9).

Fig. 35

Fig. 35. Impala

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Tab. 9

Tab. 9 Reservas Biológicas e Parques Nacionais

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A análise da situação de cada uma das áreas atrás referidas, mostra que

a protecção à natureza e seus recursos, sem o devido controlo e sem a

devida educação pública. Só muito dificilmente pode ter sucesso. A

principal ameaça que paira sobre estas áreas, resulta da intensificacao

das catividades do Homem, sobretudo da agricultura desregrada e da

caça furtiva. A legislacao em vigor estabelece regiões de safaris

turísticos e condicioes de licenciamento de caça. Foi nesta base que se

criaram 16 coutadas de caça com uma área de 70.000 km2 das quais 14

forma cedidas para fins turísticos a entidades privadas ou a associacoes

de caça.

A sua protecção ‘e uma tarefa moral de toda a sociedade e

enriquece consideravelmente o Meio Ambiente natural do país.

Fig. 36

Fig. 36 Girafa – um dos animais protegidos

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Fig. 37

Fig. 37 Zonas de conservação da natureza

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II Paisagens e regiões naturais

Aspectos gerais

Paisagens e regiões naturais são porções da geoesfera caracterizadas

por representarem imagens abstractas de uma realidade geográfica

concreta, onde os processos sociais são considerados, desde que

exerçam influencia sobre os processos naturais. Estas figuras

abstractas são necessárias para caracterizar as condições físico-

geograficas de uma área, independentemente da sua actual utilização

social.

Por paisagem natural deve entender-se a porção da superfície

terrestre que representa, de acordo com a sua fisionomia, uma unidade

espacial própria com os seus componentes interrelacionados.

A paisagem natural não é a soma de geofactores, tais como o

relevo, clima, água, solo e seres vivos, mas a expressão da sua

integração de fenómenos e processos inorgânicos, orgânicos e sociais.

Por consequência, o termo paisagem, situa-se muito próximo

dos conceitos de matéria e energia, cujo intercâmbio é permanente

entre a Natureza e a Sociedade. assim, para compreender os

fenómenos e processos paisagísticos é necessário conhecer as formas

de utilização da Natureza na actualidade e no passado.

Vulgarmente, o termo paisagem também tem sido utilizado

para caracterizar a expressão externa de uma dada área (montanhosa,

planáltica, industrial, agrária) ou da sua localização e posição

geográficas (Baixa do Púnguè, Alto Niassa, Vale do Zambeze). Esta

imprecisão explica também o desvio do sentido etimológico do termo,

introduzido pelas várias

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Ciências, que vai ainda mais longe ao utilizar, a despropósito, termos

tais como paisagens de uma sala, paisagem linguística entre outros.

Na realidade, o núcleo central do termo científico não reside no

aspecto externo da paisagem, mas na conexão entre os vários

fenómenos e processos morfológicos, atmosféricos, hidrológicos,

pedológicos, biológicos e sociais nela decorrentes.

Para entender a paisagem, torna-se assim necessário observar a

integração entre os vários fenómenos e processos naturais e sociais e a

sua expressão territorial. As paisagens e as regiões naturais são, deste

modo, o resultado da interacção entre factores endógenos e exógenos.

A diferença entre as paisagens e regiões naturais reside

cientificamente, no acento que se atribui aos vários factores a

considerar.

No caso das regiões naturais, os factores mais relevantes são da

natureza interna conhecidos por telúricos, enquanto que nas paisagens

se dedica maior atenção aos factores externos também denominados de

solares. Em relação aos factores telúricos, a atenção dirige-se para a

estrutura interna e superficial da Terra, ou seja, as rochas, o relevo, os

solos, enquanto que para os factores solares refere nomeadamente ao

tempo, clima, água e seres vivos. Parte-se da posição que todos

factores da geosfera são o resultado da interacção entre estas duas

forcas, que simultaneamente criam as bases para fundamentar a

divisão ou ordenamento da geosfera.

Os factores solares, que se apoiam nos efeitos da insolação,

têm para a Terra uma validade global ou planetar e determina o que

especialmente se designa por zonalidade continental ou oceânica. Do

anteriormente exposto, resulta que as principais diferenças

paisagísticas registadas do globo terrestre são provocadas

essencialmente por factores astronómicos. E dado que estes factores e

a sua área de influência se relacionam com determinadas grandezas,

existe a possibilidade de delimitar

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matematicamente as distintas áreas do globo terrestre em zonas.

Porque de acordo com a posição do globo terrestre, cada uma das

latitudes geográficas está sujeita à radiações solares próprias.

Quanto menor for o ângulo de inclinação dos raios solares

relativamente à superfície do globo terrestre, maior será a quantidade

de energia absorvida. Assim, entre o Equador e os pólos, distinguem-

se as seguintes zonas de iluminação, paisagísticas ou matemáticas:

tropicais ou intertropicais, temperadas e polares (Fig.38).

Estas zonas, separadas por círculos devidamente numerados,

também se distinguem pelas suas particularidades geográficas de tal

modo que ao referir-se por exemplo a zonas tropicais, imediatamente

se associam determinadas condições biogeográficas ou pedológicas

intimanente relacionadas com o clima

Fig. 38

Fig. 38 Posição da terra durante os equinócios de 21 de Marco e 23 de Setembro

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Estes aspectos da diferenciação interna das zonas, constituem

as bases para a construção de modelos das regiões naturais ou regiões

físico-geográficas. Em contrapartida, o factor telúrico, que se apoia no

desenvolvimento da matéria no interior da Terra, apresentando os

componentes de uma forma regional e complexa.

Na história da Geografia Física, os dois factores de divisão da

geosfera, embora coexistindo, mantiveram sempre sua própria

identidade, o que pode ser comprovado pelo desenvolvimento

separado das noções das zonas climáticas e de conjuntos ou domínios

morfoestruturais. Os quatro grandes conjuntos morfoestruturais

(escudo árctico, escudos tropicais cadeias montanhosas jovens e

cadeias insulares) são grandes massas de relevo velhos e novos que

ganharam a sua identidade nas primeiras fases do desenvolvimento da

Terra, mas a sua fisionomia foi sofrendo alterações sobretudo durante

o Terciário e o Quaternário.

Foi nestes períodos geológicos que se produziram as principais

alterações das zonas climáticas e paisagísticas que acompanharam a

disposição actual do relevo. Mas as relações entre o relevo e o clima,

hoje são visíveis na dinâmica das regiões naturais e paisagens da Terra

e elas são particularmente evidentes nas diferenças climáticas entre as

costas orientais e ocidentais dos continentes entre o litoral e o interior

entre o periférico e o central, entre o barlavento e o sotavento ou ainda

nas diferenças climáticas entre as bases e os topos das montanhas.

Neste contexto, pode-se compreender que as regiões naturais

constituam um complexo de uma série de factores, que contribuem

para a formação das paisagens.

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O quadro seguinte mostra, a título de exemplo, a classificação

das regiões naturais de acordo com sua dimensão e hierarquia (Tab.

10).

Tab. 10

Tab. 10 Classificação das regiões naturais

A análise do quadro anterior, põe em evidência que as várias porções

da Terra, possuem sempre um determinado conteúdo, mas também

uma determinada ordem de grandeza. É por isso que a caracterização e

a delimitação da região natural estão muito dependentes da escala em

que se observa.

Num processo de abstracção e associação, as unidades de base

homogéneas, agrupam-se progressivamente em outras unidades de

dimensões superiores e cada vez mais heterogéneas, até se atingir a

dimensão planetária.

De acordo com o princípio hierarquia das regiões naturais as

unidades de pequenas dimensões (geótopos e geofácie) constituem

elementos das regiões naturais de dimensões imediatamente superiores

(geossistema e região natural). Torna-se claro, que as porções da Terra

de dimensões planetárias

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não se sobrepõem às da escala macroregional, no que se refere às

condições biológicas e climáticas e em especial ao regime térmico,

mesmo que se atraiam as características geosféricas relacionadas com

o desenvolvimento histórico da Terra. É por essa razão que, não se

deve falar de regiões naturais a escala planetária.

Por outro lado a dada hierarquia dos fenómenos e processos da

natureza, na transição da dimensão regional para geosférica reduz-se

consideravelmente a possibilidade de incluir unidades regionais como

parte das unidades planetárias. A passagem de uma dimensão para a

outra supõe sempre uma alteração do conteúdo da área considerada.

São estes os aspectos que fundamentam a caracterização físico-

geográfica dos territórios e a definição ou melhor, a delimitação, das

regiões naturais e a sua posição hierárquica.

Mas, efectivamente são as condições geográficas gerais que definem a

base da diferenciação e da divisão em regiões naturais.

Na individualização das regiões naturais de Moçambique

procuram-se conjugar os factores telúricos e solares, como critérios

para uma abordagem metodológica na caracterização de cada uma das

suas paisagens e regiões naturais. Assim, a partir do seu carácter

físico-geográfico do território moçambicano, fundamenta-se a

distinção adoptada entre as regiões naturais Moçambique Norte ou

Setentrional, Vale do rio Zambeze, Moçambique Central e

Moçambique Meridional ou Austral.

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1. Moçambique Setentrional

1.1. Enquadramento geográfico geral

Moçambique Setentrional abrange toda área compreendida entre o rio

Rovuma, ao norte (10º 27’ Sul) e bacia do rio Zambeze ao Sul,

sensivelmente nas imediações do paralelo de 18º sul, incluindo a parte

oriental da província de Tete. De uma maneira geral esta região

apresenta características comuns às de toda África Oriental

nomeadamente as que se referem às variedades das formas superficiais

e à origem das paisagens.

Sob o ponto de vista geológico-tectónico, trata-se de uma

unidade convexa, ligeiramente abaulada que devido a fenómenos

tectónicos de fractura, descai abruptamente para as depressões situadas

na sua parte ocidental.

É uma região complexa, maioritariamente constituída por

rochas precâmbricas polimetamórficas da província geotectónica do

“Cinturão Moçambicano”. Os fenómenos que originaram os

abaulamentos contribuíram para a grande subdivisão desta região e

explicam também a ocorrência de fenómenos paleovulcanismo e de

manifestações sísmicas recentes. Rochas de Karroo sedimentar

encontram a sua área de dispersão no extremo Noroeste de Niassa, nas

margens dos rios Rovuma e Messinge.

No litoral, ocorrem rochas de idade mais recente, datadas do

Cretácico ao Cenozóico, cuja distribuição espacial é muito complexa.

Morfologicamente a partir do litoral, aumenta a altitude de Este para

Oeste em sucessão de unidades morfológicas correspondentes aos

principais ciclos de erosão que modelaram todo continente africano ao

Sul do Sahara e que constituem as linhas fundamentadas da

diferenciação das suas paisagens e regiões naturais.

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Seguindo a configuração do relevo, são vários os rios que a

atravessam a região setentrional no Oeste para este em direcção ao

Oceano Indico. Os principais são: Rovuma, Messalo, Lúrio, Ligonha e

Licungo.

Somente a parte Noroeste de Niassa os rios drenam as suas

águas, para a depressão tectónica do lago Niassa. São rios tipicamente

subequatoriais com cheias em estacão quente e franco caudal na

estacão seca. Durante a estacão das chuvas eles possuem uma grande

capacidade destrutiva, e de transportes o que contribui para o continuo

desgaste e subdivisão das terras.

Ao atingirem a planície litoral os rios perdem grande parte da

sua capacidade de transporte e então depositam seus sedimentos,

trazidos de terras altas, alargando progressivamente as planícies

aluviais e formando por vezes terraços. O estuário é a forma terminal

dominante, quer seja directamente, quer através de baias ou lagunas.

Em qualquer dos casos a influencia do Oceano Índico e tal, que se

alagam extensas áreas e se provoca um ligeiro salgamento das

margens, a distancias por vezes superiores a 50 km da foz.

Alguns dos rios correm paralelamente a costa; na sua parte

terminal, devido à configuração do relevo, criam formas típicas de

confluência, normalmente revestidas de mangal exuberante.

Climaticamente, Moçambique Setentrional situa-se na zona

subequatorial. A sua diferenciação interna está intimamente

relacionada com a posição latitudinal, com altitude e a

continentalidade e com os factores locais de posição e exposição

geográficas. O clima subequatorial dominante nesta região, resulta das

oscilações provocadas pelos ventos alíseos equatoriais, que no seu

movimento anual provocam flutuações da Zona inertropical

Convergência. Esta circunstância alia-se à influência da Corrente

Quente de Moçambique sobre a temperatura, a humidade e a

pluviosidade.

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As temperaturas médias anuais variam entre 24º e 26º C no litoral e

atingem os 16º C nas áreas montanhosas do interior.

Estas condições climáticas gerais diferem ligeiramente na parte

nmeridional da região, nas proximidades do paralelo de 16º onde se

sobrepõem influencias das monções e dos alíseos do indico e dos

anticilones e depressões da parte Sul do continente africano. Aí, as

temperaturas médias são da ordem dos 24º C e a humidade é de 70%.

Esta sobreposição de influência faz com que esta parcela de

Moçambique Setentrional apresente os valores da pluviosidade mais

elevados de todo o país, atingindo mais de 1500 mm.

Dado que a largura máxima desta região ultrapassa 1. 000 km, a

influencia da continentalidade e do relevo são aspectos importantes

para caracterizar as variações da pluviosidade.

No litoral registam-se valores elevados de pluviosidade, mas a

medida em que o ar húmido penetra até as terras altas do interior, vai

arrefecendo, o que provoca chuvas orográficas, que atingem os

máximos nas regiões montanhosas.

Excepções são as regiões do interior, onde o ar húmido, penetrando

através dos vales dos rios Messalo, Lúrio, Ligonha e Licungo e através

do corredores deixados pelas montanhas se vai tornando cada vez mais

seco, devido à manutenção de temperaturas elevadas sem a devida

compensação com o aumento da altitude. O mesmo acontece com os

flancos ocidentais das montanhas protegidas dos ventos oceânicos

onde se regista uma aridez notável.

A maior parte da região setentrional moçambicana encontra-se

coberta por solos zonais tropicais ferralíticos. Condições locais de

humidade e sobretudo as condições dependentes do relevo provocam

as diferenças pedológicas. Em conjugação com os factores

morfográficos, hidrológicos e fito-geográficos, os solos desta região

têm tendência para a formação de catenas que são mais evidentes

sobre rochas eruptivas

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e metamórficas. Estas catenas os solos vermelhos dos topos húmidos

são substituídos nas encostas por solos coluviais, que por sua vez dão

lugar aos solos cinzentos húmidos das depressões e fundo do vales.

Estas condições pedológicas associadas à natureza do clima

permitem o desenvolvimento da floresta subequatorial e da savana. No

litoral ocorrem florestas abertas semidecíduas com matas e plantas

leguminosas dos géneros Brachystegia, Julbermadia, Acacia e

Adansonia. Florestas de montanha ocorrem nas terras altas do Niassa,

na Zambézia e no planalto de Mueda com maior exuberância nas

encostas voltadas a Este.

Na foz dos rios e nas baias protegidas desenvolvem-se sobre os

solos salobros halomórficos, as florestas de mangal, típicas de todo o

litoral moçambicano.

Um dos principais elementos estruturais e paisagísticos desta

região, e afinal de toda África Oriental, é o sistema “Rift Valley”. A

sua parte meridional é assinalada pelas depressões onde se instalaram

os lagos Niassa, Chiúta Amaramba e Chiúta e pelo vale do rio Chire.

Em razão destas condições físico-geográficas gerais,

distinguiram-se na região setentrional de Moçambique, os seguintes

tipos de regiões e paisagens naturais: a planície litoral, as terras altas,

abrangendo os planaltos e montanhas e a depressão do Niassa.

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1.2. A Planície litoral

A planície litoral setentrional moçambicana é constituída por uma

estreita faixa de 20 a 50 km de largura média. A sua maior penetração

no interior, verifica-se nos vales dos rios. O seu limite ocidental pode

ser estabelecido de uma maneira geral, por degrau mais ou menos

evidenciado que faz a transição para o Planalto Moçambicano, cujo

limite superior se situa a 100 m de altitude.

O subestrato geológico é constituído por sedimentos recentes

do Cretácico ao Holocénio de origem marinha e continental, sobretudo

do Terciário indiferenciado. Estas rochas apresentam graus diferentes

de consolidação, frequentes vezes, discordantes das formações do

Karroo. Constituem excepções alguns retalhos que ocorrem em

Memba e Nacala, onde afloram formações granito-gneissicos e uma

estreita faixa costeira entre Quissanga e Mongincual constituída por

calcários, margas e grés.

Chaminés vulcânicas destacando-se pelo seu relevo das áreas

vizinhas também ocorrem isoladamente nas zonas de contacto entre as

rochas sedimentares e as eruptivas.

Os vertissolos halomórficos dominantes são substituídos na foz

dos rios e nas lagunas protegidas por solos salgados a salobros. Por

detrás das áreas costeiras, onde os solos são mais secos, a vegetação

dominante é constituída por savanas com vários géneros de xerófilas e

hidrófilas, desde que não tenham sido substituídas pelas plantações de

palmeiras e de cajueiros.

Entre a foz do rio Rovuma na província de Cabo Delgado e a

Baia de Mocambo, nas proximidades da Ilha de Moçambique, em

Nampula a costa rectilínea de orientação Norte-Sul, apresenta forte

tendência para a convexidade onde cabos e penínsulas têm as suas

pontas voltadas para Norte. As baias mais importantes são: Pemba,

Nacala, Memba e Mocambo. Nesta secção a plataforma continental é

muito estreita e apresenta

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canais profundos e barreiras coraligenas onde se implantaram

numerosas ilhas, dispostas paralelamente à costa.

A forma abrupta de contacto entre a estreita plataforma

continental e a terra firme e sobretudo devido à influência da Corrente

Quente de Moçambique explicam a intensa actividade da morfologia

litoral. Este carácter acidentado da plataforma continental, relaciona-se

visivelmente com as fracturas dominantes NE-SW e NW- SE, e releva

ainda em conjunto a ocorrência de corais emersos, a continuidade dos

processos e fenómenos epirogéncios.

Processos actuais de formação da costa são evidentes junto às

ilhas coralígenas do Arquipélago das Quirimbas e nas áreas arenosas.

É nas proximidades de Pemba que o ramo da Corrente Equatorial se

divide, constituindo o ramo Sul, a Corrente de Moçambique. O

surgimento desta Corrente e a influência dos ventos oceânicos são

insuficientes para provocar aumento da humidade e da pluviosidade

dada a ausência de acidentes orográficos.

O sistema natural mais eco localiza-se no extremo Nordeste do

litoral de Cabo Delgado onde também se registam temperaturas

elevadas. Até a baia de Mossuril, a faixa dunar desenvolve-se a

floresta litoral com plantas do género Guibortis, Baphia,

Pseudoprosopis, Platysepalum, Dialium, Sterculia Brachistegia,

Julbernardia, Uapaca, Parinari, Ochotocosmus, Syzigium. Para Sul de

Quissanga, estas plantas são enriquecidas por especieis herbáceas de

Pteleopsis, Balanites, Erythopuleum e Milletia.

Entre Quissanga e Memba, por detrás de mangal, a savana

arbórea-arbustiva apresenta mosaicos e brenhas e possui exemplares

de Adansonia, Acacia, Albizia, Boscia, Combretum e Salvadora. Em

áreas de elevado nível freático do extremo Norte, desenvolve-se uma

savana de palmeiras com géneros de Borassus, Hyphanea e

Termiteiras gigantes.

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Entre a baia de Mocambo e Delta do rio Zambeze, a costa de

orientação NE-SW tem menos reentrâncias, mais maior superfície de

pântanos argilosos. A estrutura morfográfica desta secção do litoral

permite dois níveis altimétricos cujo limite se situa a cerca de 10 m de

altitude. No nível interior verifica-se maior desenvolvimento das dunas

de lagunas de formação recente. No nível superior estende-se o plateau

de areias vermelhas e acastanhadas das dunas mais antigas que

atingem o degrau, que confina com o planalto médio de rochas ígneas,

a altitudes próximas dos 120 m.

A paisagem anfíbia é mais notável nas proximidades do Delta

do rio Zambeze onde a costa, baixa e pantanosa, se prolonga por uma

extensa plataforma continental, com uma profundidade média de

oceano e inferior a 30 m. nas proximidades da foz do rio Ligonha

existe um banco de corais situados entre 10 a 50 km da costa, onde se

situam as ilhas Segundas ou de Angoche e as ilhas primeiras. O clima

desta secção é mais húmido que na parte mais setentrional. A estacão

quente e húmida vai de Outubro a Abril e a seca de Maio a Setembro.

Durante a estacão húmida ocorrem, por vezes, chuvas monçonicas

torrenciais provocada pela influência combinada da localização da

frente de convergência intertropical e dos anticiclones do Oceano

Índico. Raras vezes esta região é atingida pelas frentes frias

provenientes do Sul do continente africano e, quando tal acontece é já

um estado de dissipação.

Na foz dos rios e nas lagunas desenvolve-se o mangal; na sua

retaguarda são comuns matas de cajueiros ou plantações de palmeiras.

Até Quelimane, a floresta torna-se mais densa em virtude de aumento

de pluviosidade e humidade, com predominância de árvores de

espécies lenhosas. Nas áreas de baixa latitude há uma maior

predominância de herbáceas que são enriquecidas com o aumento da

altitude por várias espécies arbóreas.

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1.3 As terras altas do planalto

As terras altas de Moçambique setentrional constituem uma extensa

superfície de aplanação, que faz a transição da planície litoral para as

zonas montanhosas. De acordo com a sua latitude elas subdividem-se

em planaltos médios e altiplanaltos cujas altitudes estão

compreendidas respectivamente entre 200 a 600 m e acima dos 600 m.

a delimitação entre duas unidades é feita de uma maneira geral por

linhas de falhas e escarpas de erosão e recuo.

Os planaltos médios abrangem uma faixa de cerca de 40 km de

largura média entre o rio Rovuma e o Rio Lúrio e estreita-se um pouco

para o Sul até atingir o delta do rio Zambeze, penetrando digitalmente

através dos vales dos rios da região.

Os altiplanaltos fazem parte do prolongamento oriental e meridional

das terras latas de «Nyassaland» do Malawi, que incluem também as

regiões montanhosas de Moçambique Setentrional. Com efeito, as

características fundamentais destes planaltos residem na ocorrência de

«montes ilhas» com encostas íngremes, muito próximas da vertical,

que se destacam da pediplanície e das depressões.

Dada extensão desta superfície de aplanação e a sua

representatividade no contexto das grandes regiões natuaris africanas,

ela é designada nas cartas topográficas por Planalto Moçambicano. Ele

apresenta, de uma maneira geral, uma fraca ondulação que

corresponde às formas de aplanação erosivas e denutativas do

complexo granítico-gneissico do Precâmbrico e que dominam

praticamente toda a metade ocidental de Moçambique Setentrional. A

sua estrutura climática fundamental é determinada pela

continentalidade e pela altitude, mas também pelas condições locais de

exposição e posição geográficas.

Em relação a planície litoral, assinala-se um notável acréscimo

da pluviosidade, enquanto que a temperatura decresce

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ligeiramente. As áreas mais áridas localizam-se no interior protegidos

pelos ventos oceânicos, sobretudo no curso superior do rio Lúrio. A

sensação da secura é aqui transmitida pela fisionamia da vegetação

onde são comuns a Acácia, o embondeiro e a árvore-candelabro.

Em contrapartida, as áreas com mais humidade e chuvosas

situam-se nas encostas expostas aos ventos marítimos, em Mueda,

Niassa e alta Zambézia. Nestas áreas ocorrem uma associação vegetal

conhecida por floresta de Miombo. Em geral o estrato arbóreo desta

floresta é caracterizado pela predominância de plantas de 10 a 20 m de

altura, folhas plumosas, sem espinhos, com caules normalmente

estreitos e ossudos e raízes profundas.

O estrato herbáceo é mais desenvolvido nas áreas meridionais

do Planalto de Moçambicano, onde também aparecem, com maior

frequência, tamariscos e uma variedade de leguminosas. Este tipo de

vegetação só é interrompido nos vales dos rios Rovuma, Lugenda,

Messalo, Montepuez e Lúrio, onde os solos aluvionares húmidos,

asseguram o desenvolvimento da floresta de galeria (Miombo), semi-

decidua, seca e com um estrato herbáceo rico.

No nordeste de Moçambique Setentrional, em Cabo Delgado,

destaca-se palas suas particularidades o Planalto de Mueda. Trata-se

de um conjunto planáltico de forma aproximadamente circular, situado

a cerca de 70 km do Oceano cujas altitudes oscilam entre os 400 e 800

m. Neste planalto ocorrem formações sedimentares cretácicas de

calcários, grés, conglomerados continentais, assentes sobre o soco

cristalino.

O rio Messalo que corre de Este para Oeste divide o planalto

em duas partes, constituindo a parte Sul o Planalto de Macomia.

Apesar da baixa altitude deste planalto e da sua fraca continentalidade

o clima é localmente mais húmido que nas regiões periféricas da

planície litoral. Os solos formados sobre

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rochas sedimentares são espessos, excepto nas encostas de fortes

declives onde eles forma por vezes completamente destruídos e

depositados nas depressões e nos vales, sobretudo do rio Messalo.

As condições edáficas locais são reflexos das variações

climáticas e exercem igualmente influência sobre a composição

florística do planalto. Aqui ocorrem espécies exóticas típicas da flora

da África Oriental. Contudo, esta floresta outrora mais desenvolvida

apresenta um elevado grau de degradação pela intervenção humana.

A sotavento do planalto de Mueda e entre as bacias dos rios

Rovuma e Lugenda localiza-se o planalto de Mecule-Messinge.

Trata-se de um planalto de origem denudativa erosivo cujas altitudes

são superiores a 1.000 m. Apesar da sua localização, protegidos dos

ventos oceânicos, desenvolve-se aqui uma floresta frondosa incluída

parcialmente na Reserva do Niassa, rica em espécies de fauna tropical.

A ocidente deste planalto, encontram-se extensos altiplanaltos e

montanhas que caracterizam o Noroeste de Moçambique.

Destacam-se aqui o planalto de Lichnga, a Cordilheira de

Lichinga e o Planalto Rovuma-Messinge, constituindo em conjunto, o

chamado Alto Niassa. A ocorrência deste tipo de relevo montanhoso,

depende fundamentalmente da estrutura morfológica e tectónica típica

da África Oriental. Estas terras altas formam frequentemente extensos

alinhamentos orográficos acompanhando linhas de fracturas e

encontram-se profundamente ravinadas por uma densa rede

hidrográfica de padrão dendrítico.

O subestrato geológico destas terras é constituído

essencialmente por rochas gneissicas com intrusões graníticas,

frequentes vezes associados a veios de pegmatitos e de rochas básicas.

A resistência destes materiais rochosos face aos fenómenos de erosão

explica a ocorrência de «montes-ilhas», que apresentam

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vigorosas, relativamente à superfície levemente ondulada do planalto

moçambicano.

O planalto de Lichinga, onde se localiza a cidade do mesmo

nome, e um altiplanalto com mais de 1.000 m de altitude média,

cercado por montanhas com a forma de ípsilon voltado para Norte,

cujo o pé se prolonga através do território de Malawi nas proximidades

de Mandimba.

As montanhas situadas a ocidente do planalto formam a

Cordilheira de Niassa e separam-se da margem oriental do Lago

Niassa por uma espectacular escarpa da falha, que assume uma

orientação mais ou menos paralela ao eixo maior do lago.

Das montanhas que constituem a cordilheira com picos de cotas

superiores a 1.700 m, destacam-se os montes Txingeia (1.787 m) e

Txitongo (1.848 m).

A parte compreendida entre o rio Rovuma e os contrafortes da

Cordilheira de Sanga, a Norte de Macaloge, caracteriza-se pela

ocorrência de evidências de peneplanação cujos «montes-ilhas» se

dispõem em apertados agrupamentos, irrompendo abruptamente dos

planaltos de erosão, quer isoladamente, quer com as serras tais como

Licheze (898 m), Cobuli (1. 106 m) e Chicomola (982 m).

A norte de Macalonge, a ondulação de terreno é maior e

estende-se até às proximidades da cordilheira de Sanga, que por sua

vez, se prolonga para o Sul, em direcção aos planaltos de Maniamba e

de Lichinga. Os montes Sanga (1.798 m), Chissindo (1.579 m) e

Chitagalo (1.803) correspomdem ás cotas mais elevadas desta

cordilheira. O efeito da altitude provoca alterações substanciais no

comportamento do clima e da vegetação tornando o planalto o destino

de todas regiões circunvizinhas de altitudes mais baixas. A

pluviosidade média anual do planalto é da ordem dos 1.000 mm,

concentrando-se cerca de 90% nos meses de Novembro a Abril. A

temperatura média anual em Lichinga, situada a 1.200 m de altitude é

de

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18º C. Neste planalto, tem origem maior parte dos cursos de água do

Noroeste e Nordeste de Moçambique, drenados quer directamente pelo

rio Rovuma quer ainda pelo Lugenda e seus afluentes.

Nas extensas planícies dos cursos superiores dos vales dos rios

Rovuma e Messinge o subestrato geológico é constituído por

formações do Karroo. Estas rochas formam grosseiramente um

triângulo cuja base é a seccao do rio Rovuma, apontando o vértice

oposto para a área de Messuma, a Norte de Metangula.

A planície correspondente à área de dispersão das formações do

Karroo e da área cristalina que alinha a Este, encontra-se cobertura por

savana ou floresta aberta com predomínio do género Brachystergia.

Os valores médios da latitude desta planície oscilam entre 650

e 750 m, com cotas mais baixas no chão-do-vale e nas vizinhanças do

rio Rovuma e seus tributários. Nas margens destes cursos de água, os

terrenos aluvionares fluviais do Quaternário, com maior extensão nas

margens do rio Rovuma encontram-se praticamente despidas de

vegetação ou apresentam capim curto muito apreciado pela fauna

selvagem, parte dela submetida a regime de protecção na Reserva do

Niassa.

Sensivelmente na parte central de Moçambique Setentrional o

planalto encontra-se bastante recortado pelos rios Messalo,

Montepuez, Lúrio, Ligonha e Licungo e os seus respectivos afluentes.

O rio Lúrio, cuja bacia é maior totalmente moçambicana, parece

subdividir o planalto moçambicano em duas unidades distintas sem, no

entanto, destruir o seu carácter unitário e sua estrutura fundamental,

sobretudo no que respeita aos componentes, relevo, clima e vegetação.

A partir do seu leito principal, em direcção ao Sul, os rios tomam a

direcção Noroeste-Sudeste acompanhando a inclinação geral do

planalto.

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Imediatamente a Sul do rio Lúrio, os altiplanaltos de Malema,

Ribáuè e Mecuburi constituem um agrupamento que se pode designar

por Alto Nampula.

Mais para o Sul e Sudeste assinalam-se os altiplanaltos desde

Alto Molócuè e Alto Ligonha com numerosos “montes-ilhas” de

altitudes variáveis, e os Montes Namúli (2.419 m), constituem em

conjunto, a Alta Zambézia.

As paisagens são caracterizadas pelas extensas superfícies de

aplanação ravinada e onde são comuns os montes residuais e pela

estrutura homogénea de vegetação tropical. No distrito de Gilé a

sudeste do rio Ligonha, foi estabelecida uma área protegida – a

Reserva de Gilé – com estatuto de Parque Nacional e reserva

biológica, devido à importância regional e local da sua população

faunística.

Fig. 39

Fig. 39 Zona montanhosa – Gilé (Província da Zambézia)

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A partir destas terras altas é sensível a inclinação geral do

terreno para o Sul e sudeste, em direcção ao Vale do rio Zambeze e à

costa respectivamente. Nesta superfície ocorrem «montes-ilhas» tais

como Chiperone (2.054 m), Tumbine (1. 542 m), Mabu (1. 646 m),

Derre (1.417 m) e Mongue (1.042 m).

A serra de Morrumbala, representa o «monte-ilha» mais

importante da parte meridional de Moçambique Setentrional e o

planalto onde se insere estabelece o contacto entre o Vale do Zambeze

e a Depressão de Chire, como parte da Depressão do Niassa.

1. 4 Depressão do Niassa

Exceptuando as depressões das bacias hidrográficas que provocam

diferenças morfológicas e altitudinais mais ou menos acentuadas, a

forma negativa mais notável da região Setentrional Moçambicana e,

por sinal, de todo o país é a Depressão do Niassa onde se instalaram

os Lagos Niassa, Chiúta-Amaramba e Chirua.

Ela constitui um dos principais elementos estruturais e

paisagísticos da região Setentrional Moçambicana e é parte do Sistema

Rift Valley característico de toda África Oriental.

Trata-se de uma depressão de origem tectónica constituída por linhas

complexas de facturação que formam grabens de 50 a 200 km de

largura, cujas escarpas dominam completamente toda região oriental

africana. Este sistema de fracturas corresponde ao desabamento axial

do fecho da abóbada de um arqueamento do soco cristalino, de tal

modo que a depressão tectónica corresponde fica branqueda em cada

uma das suas margens por plateaux elevados.

Nas duas margens desta depressão o soco Precâmbrico sofreu

um levantamento, atingindo altitudes mais ou menos notáveis, donde a

ocorrência de terras altas ultrapassando

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1.000 m de altitude. Estima-se que a depressão do Niassa tenha

adquirido a sua configuração actual no inicio do Terciário, apesar de

algumas falhas identificadas no Malawi e associadas à dinâmica da

depressão, pertencem ao Quaternário inferior.

Com efeito, as intrusões de Chilwa, no Malawi, testemunham a

ocorrência de vulcanismo no fim de Karroo ou na primeira metade do

Jurássico, contemporâneos do Stomberg da África Austral, mas, apesar

do prosseguimento dos movimentos tectónicos até época actual, nem

Malawi nem Moçambique conheceram fenómenos de vulcanismos

ulteriores.

Fig. 40

Fig. 40 Lago Niassa (Província de Niassa)

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2. O vale do Rio Zambeze

2.1. Enquadramento Geográfico Geral

O vale do rio Zambeze representa em muitos sentidos, uma região

natural de transição entre as regiões subequatoriais da África Oriental

e Central para as regiões tropicais da África Austral.

Apesar da relativa pequenez da área do vale em território

moçambicano, ele constitui uma unidade independente sob o ponto de

vista das suas condições naturais e representa ao mesmo tempo o

limite natural entre Moçambique Setentrional e Moçambique Austral.

Somente uma pequena parte situada a ocidente da província de Tete

pertence macroregionalmente a África Central e que pode, por isso, ser

considerada no contexto do vale do Zambeze.

O rio Zambeze, que é o principal elemento paisagístico desta

região, nasce na Zâmbia a cerca de 1.700 m de latitude.

Ele tem cerca de 2.600 km de comprimento e uma bacia hidrográfica

de 1.330.000 km2, dos quais só 3.000 km

2 em território moçambicano.

Mesmo assim o rio Zambeze deve ser considerado o maior rio que

atravessa a República de Moçambique. Na sua totalidade o Zambeze é

hidrologicamente um rio de regime periódico complexo, devido às

variações que apresenta o seu caudal ao longo do seu percurso.

Zambeze parte de uma região bastante pluviosa; depois de

atravessar a região árida da parte oriental da Angola, entra novamente

na Zâmbia, onde corre, formando rápidos. Em Livingstone, é um rio

bastante largo e constitui o seu leito uma paisagem anfíbia. Em

Lupata, depois de atravessar o desnível do Songo ele tem os seus

últimos rápidos. Dai, até sensivelmente a sua foz o rio corre em

planície, desaguando por um imenso delta.

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O clima tropical seco típico da maior parte do vale em

território moçambicano só se altera na zona deltaica sujeita à

influência dos ventos e das correntes do Oceano Índico. A

complexidade das paisagens e das condições naturais do Vale do rio

Zambeze referem também o seu desenvolvimento paleogeográfico e a

natureza litológica, tectónica e morfológica dos terrenos que o rio

atravessa e ainda a diversidade da cobertura vegetal e pedológica.

Apesar desta grande diversidade das condições naturais do vale

do rio Zambeze podem distinguir-se em território moçambicano as

seguintes mesoregiões naturais: Alto Zambeze, Médio Zambeze e

Baixo Zambeze.

2.2. Alto Zambeze

A região natural aqui considerada Alto Zambeze compreende a secção

do vale que vai desde o Zumbo ao estreito de Lupata 25 km a jusante

de Cahora Bassa. Trata-se morfologicamente de uma região siclinal

pertence à macroregião da África Central, delimitada ao Norte pelos

montes intrusivos, mais ou menos recortados e desnudados pelos

numerosos cursos de água afluentes do Zambeze e a Sul pelos maciços

basálticos de Luia e pelos planaltos de Panhane.

Esta depressão tectónica, profunda, orienta-se

predominantemente no sentido Oeste-Este, acompanhando o

alinhamento de falhas abissais que afectaram a estrutura morfológica

do Cinturão Moçambicano. Devido às diferenças litológicas o

alargamento do vale tem um carácter assimétrico, sendo a margem

esquerda mais elevada do que a direita. Ao atingir o território

moçambicano a cerca de 450 m de latitude, o rio Zambeze recebe na

sua margem esquerda o rio Aruângua.

A partir daí até Cahora Bassa, no Songo, onde as massas de água caem

de uma altura de 200 m, o rio Zambeze constitui

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uma grandiosa albufeira de cerca de 2. 600 km2 de superfície e

63.000.000 de m3 de volume das águas. Nestas albufeiras, com

aproximadamente 250 km de comprimento e até 25 km de largura,

ocorrem numerosas ilhas habitadas por pescadores.

Entre Changara e Mucumbura, na margem Sul da albufeira, as

rochas são sedimentares do Cretácico continental, recortados

suavemente pelos cursos de água. A vegetação dominante é aqui a

florestas, todavia, bastante transformada pela agricultura tradicional.

Nas áreas sedimentares do Karroo, desta margem a paisagem

monótona dominante só é interrompida pela imponência da serra de

Carumacafue. Esta serra de origem sedimentar situada a Sul de

Mucumbura, tem 25 km de comprimento e de 10 km de largura.

A sua imponência resulta das encostas abruptas que se levam a mais de

200 m de latura do planalto em que se insere.

Em Cahora Bassa, onde o rio Zambeze foi representado para a

produção de energia eléctrica (3.600 MW), as massas aquáticas caem

de uma altura de cerca de 200 m ao atravessarem rochas graníticas.

Este é também o local onde a planície litoral moçambicana atinge a

sua máxima penetração interior de cerca de 600 km da costa. Aqui

torna-se ainda mais evidente o grande desnível entre as montanhas e

escarpas periféricas e o chão do vale situado já na planície litoral.

Climaticamente o Alto Zambeze pertence à África Central

onde as condições são marcadamente tropicais, com um índice de

aridez bastante elevado. É nítida a separação entre a estacão seca, que

tem inicio em Abril e se prolonga até Outubro e a estacão húmida onde

se regista temperaturas médias máximas diárias de 38º a 40º C. na

estacão seca as temperaturas oscilam entre 20º e 27º C. a pluviosidade

é, em geral, relativamente baixa. Os valores de pluviosidade média

anual são inferiores a 800 mm, nas proximidades da cidade de Tete.

Estas condições climáticas, em particular o regime

pluviométrico, exercem grande influencia sobre os processos

pedológicos e

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biológicas ao longo do vale. Os solos azonais dominantes sustentam

associações vegetais de savana e floresta conhecidas nesta região por

«mopane». As espécies mais comuns destas associações vegetais são

dos géneros Acacia, Adansonia, Combretum, Sclerocarya e Kirkia.

Estas associações vegetais, em diferentes estágios de degradacao,

cobrem a maior parte do vale, sobre tudo onde a pluviosidade varia

entre 500 a 700 mm anuais.

Nestas zonas de floresta, o substracto pedológico é constituído

por solos arídicos cinzentos ou avermelhados e os solos halomórficos,

resultantes de rochas sedimentares do Karroo.

Trata-se em geral de solos esqueléticos, arenosos com fraca

capacidade de retenção de água o que, em conjunto com o aspecto da

vegetação, emprestam a paisagem um carácter predominantemente

árido. Os solos esqueléticos são substituídos nos vales dos afluentes do

Zambeze por solos aluvionares de textura limosa.

Somente uma pequena parte do vale situada entre o Songo até

cerca de 100 km a jusante, possui, solos fersialíticos ou mesmo

afloramentos rochosos de rochas cristalinas quartziíferas.

2.3 Médio Zambeze

O médio Zambeze localiza-se entre o estreito de Lupata, a 60 km a

sudeste da cidade de Tete e a confluência com o rio Chire.

Ele representa uma pequena unidade caracterizada, por um lado, pela

acumulação de sedimentos aluvionares do rio Zambeze e, por outro

lado, pelo seu desenvolvimento paleogeográfico, estreitamente

relacionado com os Riftes da África Oriental. Esta e também a secção

do vale do Zambeze em território moçambicano que apresenta um dos

maiores índices de aridez.

As diferenças morfológicas e tectónicas entre esta secção e o

Alto Zambeze, tornam-se cada vez maiores. O vale do rio

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Zambeze conhece aqui um alargamento considerável, beneficiando da

confluência de numerosos afluentes e tem tendência para a

constituição das ilhas. A margem direita do vale eleva-se suave e

gradualmente para sudoeste através das plataformas cretácicas de

Bárue, donde provém a maior parte dos afluentes. Estes afluentes

contribuem para uma maior amplidão do vale sobretudo junto à

confluência com o rio Chire. O desnível, no perfil longitudinal, atinge

50 m, correndo o rio sobre os seus sedimentos e sobre os sedimentos

do cenozóico de acumulação marinha.

O rio atravessa rochas magmáticas do Karroo e rochas

sedimentares Jurássicas e cretácicas somente junto ao estreito de

Lupata. Junto a Tambara desaparecem imperceptivelmente as

montanhas marginais e o vale alarga-se e aumenta a acção cumulativa

do rio tornando o vale uma verdadeira planície de acumulação. Com a

crescente tendência de deposição, aumenta também a capacidade de

formação de meandros e ilhas fluviais são alteradas anualmente, sob

acção geomorfológica das cheias. É por isso frequente a ocorrência de

braços mortos de meandros formando lagoas ou ilhas que se tornam

cada vez mais numerosos à medida que se aproxima da confluência

com o rio Chire.

A depressão tectónica onde se instalou o Chire corta

perpendicularmente o rio Zambeze e prolonga-se através dos rios

Zangue e Urema na margem direita, para onde transbordam as uas do

rio Zambeze durante as cheias.

A extrema secura do clima tropical que aqui se faz sentir,

resulta visivelmente da fraca influência oceânica alida as elevadas

temperaturas médias anuais não é suficiente para tornar o clima

húmido. Os valores da pluviosidade total anual variam entre 400 e 600

mm, diminuindo gradualmente para montante do rio. Em

contrapartida, os valores da temperatura são mais elevados, ou pelo

menos mais constantes para montante,

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Embora se verifique um ligeiro acréscimo. Estas condições climáticas

associadas às condições pedológicas e hidrológicas criam paisagens

aparentemente inóspitas. Só as zonas próximas do leito do rio mantêm

humidade suficiente para permitir o desenvolvimento da vegetação ao

longo do todo ano.

Em geral, estas áreas quando sujeitas à influência das águas

subterrâneas possuem solos aluvionares férteis, mesmo que sobre eles

se depositem anualmente sedimentos arenosos.

2.4 Delta do Zambeze

Nas proximidades da confluência do rio Zambeze, com o rio Chire

inicia-se o baixo Zambeze dominado pelo Delta do mesmo nome. Para

jusante, o rio vai se tornando mais largo, atingindo mais de 3 km de

largura.

A margem esquerda é mais extensa e ascende suavemente em

direccao as montanhas de Morrumbala donde partem numerosos

cursos de água. A margem direita do vale é limitada pelas terras altas

de Chiringoma. A partir destas plataformas Mesosóicas também

correm numerosos cursos de água em direcção ao Ocenao Indico que,

embora não tenham ligação direita com o curso principal do rio, fazem

parte do Delta do Zambeze. Próximo de Mopeia, forma-se o primeiros

braço do Zambeze, o rio Cuacua ou dos Bons sinais. Este rio é

alimentado, por um lado, pelos numerosos cursos de água provenientes

das terras altas de Morrumbala e, por outro, pelas águas transbordantes

do rio Zambeze.

Na época seca o caudal do rio é insignificante, limitando-se

parcialmente a lagoas ou poços de água intermitente. Em

contrapartida, na época das chuvas, e durante as cheias foram-se

enormes massas de água que desaguam do Oceano Indico depois de

banharem na sua margem esquerda a cidade

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de Quelimane a 20 km da sua foz. Este braço constitui o limite

Setentrional do Delta do Zambeze e foi em tempos remotos a via de

penetração utilizada para as plantações de Morrumbala.

Hidrologicamente o delta do rio Zambeze constitui uma região

complexa. O amplo delta de cerca de 7.000 km2

de superfície tem

forma de um triângulo isósceles com a base de 150 km voltada para o

oceano e cerca de 100 km de cateto. A sua importância, resulta ainda

da estrutura e dinâmica complexas dos inúmeros braços que o Sulcam.

O caudal médio é estimado em cerca de 16.000 m3/s que

transporta e deposita anualmente um volume de aluviões de mais de

500.000.000 de ton.

Uma outra característica desta região, importante para sua

diferenciação, diz respeito ao clima. Ela faz parte das regiões mais

húmidas e chuvosas do país nas quais o número médio de dia do ano

tem valores de precipitações compreendidos entre 80 e 100 mm.

Ao longo do todo delta o rio desloca-se em planície construída

sobre seus próprios aluviões a cotas inferiores a 50 m.

Após a separação do rio Cuacua a jusante de Marromeu o rio

retoma o seu carácter unitário dominante até atingir o braço Mucelo

que desagua na barra de Inhamissengo. Este braço com os seus

tributários foi uma via de penetração importante mas que foi perdendo

a sua navegabilidade devido ao forte assoreamento que obstruiu a

barra.

Cerca de 14 km a jusante de Mucelo na ilha dos amores inicia

o braço Chinde numa zona de bancos arenosos. Este braço de

profundidades variando entre 7 a 10 m na maré baixa é um dos mais

importantes do rio Zambeze.

Feita sua confluência com o braço Maria, que também se funde

ao Zambeze na época das cheias, forma-se a barra e

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a foz do Chinde. Chinde é também o nome da vila portuária mais

importante do delta do rio Zambeze. A jusante da ilha dos amores,

uma outra bifurcação constitui o braço Catarina, bastante assoreado e

que desagua Indico através da barra Catarina. Deste braço parte ainda

uma outra derivação de monro importância que atravessa a lagoa

Pebane que desagua na barra do mesmo nome.

O principal braço do delta do Zambeze, conhecido por rio

Cuama, tem sua foz na barra do mesmo nome entre as Cause e Leste.

Embora este braço não seja tão profundo como Chinde ela é mais

rectilíneo e presta-se a navegação fluvial.

Na zona litoral e paralelamente a costa, observa-se áreas de

cordoes dunares de areias recentes. É particularmente no reverso

ocidental destes cordões, nas baixas onde os meandros têm o seu maior

desenvolvimento.

Nas partes mais elevadas sobretudo nas ilhas fluviais o

substrato é mais diversificado, ocorrendo em muitos casos laterítes e

calcários silicificados.

Climaticamente o delta do rio Zambeze pertence à zona litoral

de transição entre a zona subequatorial e a zona tropical e subtropical.

De uma maneira geral o clima pode ser considerado chuvoso de

savana. Com temperaturas médias anuais entre 24º e 25º C e a

pluviosidade entre 1.000 e 1. 600 mm. A temperatura média anual

diminui de 23º C no litoral (Chinde) para 24º C no sublitoral

(Marromeu). A amplitude de variacao térmica anual é, de uma maneira

geral, de 6º a 7º C.

A época das chuvas têm inicio em Novembro ou Dezembro

atingindo cerca de 50 mm de precipitação mensal, no Chinde e uma

ligeira ascensão em Marromeu (58 mm). O fim da estacão chuvosa

regista-se entre Abril e Maio com valores de pluviosidade mensais

oscilando entre 700 mm, em Marromeu e 1.000 mm no Chinde. Estes

valores elevados de pluviosidade, quando associados as chuvas que se

registam a

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montante, provocam frequentemente inundações com graves prejuízos

económicos e perdas de vidas humanas.

Antes da construção registaram-se cheias com consequências

catastróficas. Mesmo após a construção daquela barragem e mais tarde

de Cahora Bassa registarem-se cheias de grande amplitude com

características de calamidades. Mais houve, em contrapartida, anos de

extrema secura como o foram 1922, 1930, 1941, 1947, 1949, 1959 e o

período compreendido entre 1980 e 1985. O elevado caudal e a grande

capacidade de transporte e sedimentação do rio podem ser observados

através d fotografias aerocósmicas.

Verdadeiras torrentes de sedimentos penetram no Oceano

Índico em mais de 50 km, a despeito da forte influencia das marés que

na zona da foz atingem amplitudes superiores a 6 m. o fraco declive

que se regista faz aumentar a tendência para a meamdrização do rio.

Contudo, estes meandros divagantes de planícies sofrem alterações

constantes devido ao intenso trabalho fluvial que é ainda mais intenso

quando se registam simultaneamente marés vivas. De facto, para

compreensão dos processos de formação de delta é necessário tomar

em conta os factores oceânicos que participam no desenvolvimento

das formas litorais.

A influência das marés faz-se sentir até às proximidades de

Marromeu apesar do grande caudal do rio. Sob ponto de vista

fitogeográfico regista-se uma grande variedade de formações vegetais

terrestres e aquáticas formando Mosaicos complexos com predomínios

para formações herbáceas de graminias misturadas com plantas de

grande porte, arbustos em diferentes graus de associação. As

condições climáticas permitem o desenvolvimento de uma vegetação

rica em espécies onde uma grande variedade de fauna tropical africana

encontra o seu habitat. É na margem Sul do delta, que se proclamou,

em 1961, a Reserva de Marromeu com o objectivo de protecção à

Natureza

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(búfalos) e para a constituição de reservas e coutadas de caça.

Nas zonas de planicieis aluviais situadas próximo das margens

do rio e seus braços ocorrem prados edáficos de Tiandra, Setária e

Viteveria, associados a savan de palmeiras com árvores de Borassus,

Hyphanea e Phoenix.

Junto do leito das linhas de água e nas margens dos algos ou

braços mortos, formam-se florestas-galeria que são mais expressivas

na margem esquerda do delta e a jusante de Luabo.

Estas florestas são constituídas essencilamente por plantas dos géneros

Ficus, Morus, Acacia, Miletia e Cordyla. Nas clareias que se formam

em zonas de elevado grau de humidade do solo, desenvolvem-se

principlamente gramíneas hidrófilas tais como as Pharagmites,

Imperata, Sesbania, que se associam no leito do rio a plantas flutuantes

tais como a Pistia e a Azolla.

Nos locais mais secos subplanálticos ocorrem florestas,

parques e matas sendo de destacar a ocorrência de espécies dos

géneros Adansonia, Sterculia, Terminalia, Tamarindus, Combretum e

Grewia. Na foz dos numerosos braços e nas zonas de solos aluvionares

de grande influência oceânica desenvolvem-se as florestas de Mangal

com algumas plantas típicas de Rizophora, Bruguiera, Ceriops,

Avicennia. Imediatamente antes desta zona de mangal e intercalando-

se muitas vezes com elas, desenvolve-se a floresta dunar litoral com

plantas predominantemente rasterias halófitas. Vastas áreas de

inundação da zona deltaica correspondem às zonas de utilização

agrícola intensiva do território moçambicano.

Os solos aluvionares ricos em matéria orgânica, aliados ao

clima tropical chuvoso muito húmido, criam condições para o

desenvolvimento de actividades agro-pecuárias com carácter intensivo,

destacando-se aqui maiores e mais antigas plantações moçambicanas

de cana-de-açúcar em Luabo e Marromeu.

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Fig. 41

Fig. 41 Floresta aberta

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3. Moçambique Central

3.1. Enquadramento geográfico geral

A região natural Moçambique Centro, ocupa grosso modo a superfície

situada entre os rios Zambeze, ao Norte e o Save ao Sul. Ela engloba

uma parte da província de Manica e de Sofala com as seguintes

coordenadas: 18º de latitude Sul, nas imediacoes da Baia do Zambeze

ao Norte e 21º de latitude Sul, na foz do rio Save, ao Sul.

Sob o ponto de vista da estrutura e dinâmica das suas

condicoes naturais, trata-se da região natural moçambicana que

apresenta maior complexidade. Praticamente todas as principais

formas de relevo têm a sua representacao e muitas das vezes nas

vizinhanças umas das outras, o que lhes confere uma característica

paisagística própria. De uma maneira geral, distinguem-se nesta

região, as unidades correspondentes aos principais períodos do

desenvolvimento paleogeográfico de Moçambique nomeadamente o

Precambrico, o Karroo e o Pós-Karroo.

Na metade ocidental, que essencilamente montanhosa e

planáltica com mais de 1.000 m de altitude, predominam rochas do

complexo granítico-gneissico do Precambrico onde também ocorrem

numerosas intrusões de carácter básico e intermédio sob a forma de

maciços, bem como filiões das mais variadas direcções e possancas.

Relativamente a Moçambique Setentrional, nesta região

aumentam as linhas de deslocamentos e fracturas relacionadas com a

tectónica dos Grandes Riftes que predominam toda África Oriental.

Aparentemente algumas destas falhas são anteriores ao Karroo e

teriam sido avivadas posteriormente pelos movimentos

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tectónicos que aproveitaram as linhas de fraqueza pré-existentes.

Devido à sua antiguidade, estas fracturas tornam-se sensíveis e

permeáveis aos fluxos magmáticos do Karroo que deram origem a

numerosas intrusões e extrusões básicas que ocorrem com a

abundância no limite oriental do complexo de rochas precâmbricas.

Esta metade ocidental é a mais elevada do país, com grandes planaltos

e as mais altas cordilheiras do país tal como o Chimanimani onde se

localiza o monte Binga, o mais elevado do país, com 2.436 m de

altitude.

A metade oriental desta região é dominada, por um lado pela

Depressão Urema-Zangue e por outro pela Planicie Litoral

confinante à costa.

A depressão Urema-Zangue, que é de origem tectónica, representa o

limite meridional dos Grandes Riftes da África Oriental. A planície

litoral por sua vez, representa estruturalmente uma plataforma

suavemente ondulada, em direcção ao oceano e que foi talhada sobre

rochas terciárias e quaternárias, de altitudes inferiores a 200 m. de

acordo com a sua localização geográfica a região natural Moçambique

Central encontra-se entre a zona de influência da convergência

intertropical e a zona de altas pressões subtropicais. Para o clima desta

região, quatro factores são determinantes: a localização na zona dos

alíseos; a Corrente de Moçambique cuja influência se faz sentir em

toda costa moçambicana posição altimétrica e a continentalidade.

Assim, toda região sofre influência dos ventos húmidos

marítimos de sudeste com forte tendência para a formação de chuvas

copiosas. De facto, ocorrem chuvas também na estacão seca. Todas

regiões expostas a barlavento são húmidas, exceptuando as áreas do

interior protegidas dos ventos onde se regista um índice de secura

relativamente elevado.

Esta região possui um clima com características tropicais

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de transição entre a região de influencia de massas de ar subequatoriais

de Moçambique Setentrional e dos centros de massas de ar polar

marítimo proveniente do Sul do continente. A influência conjunta

destas duas massas de ar na estacão quente, provoca o aumento da

pluviosidade e determina o regime da estacão das chuvas.

O carácter tropical do clima desta região é evidenciado pela

coincidência entre o período das chuvas e o período quente, muito

embora também ocorram chuvas durante a estacão seca. Contudo, as

diferenças altimétricas, a continentalidade, a exposição e posição

geográfica também introduzem diferenças regionais do clima. Assim

as áreas mais húmidas e chuvosas localizam-se no litoral de baixa

altitude e as mais secas no interior sobretudo nos vales dos rios

Zambeze e Save. Verifica-se também uma disposição meridional das

isotérmicas e isoietas o que explica a influencia da continentalidade

que determina o enfraquecimento da accao dos ventos de Leste e de

uma maneira geral da influencia marítima.

A média das somas pluviométricas anuais diminui de cerca de

2.000 mm nas proximidades da cidade da beira para 600 mm nas

regiões do interior da baixa de Chemba, Caia, Sena, na parte Norte e

de Mossurize na parte Sul da região, enquanto que as temperaturas

oscilam entre 24º e 25º C.

Claramente distintas do resto da região são as terras altas e

montanhosas situadas acima dos 600 m. Aqui a altitude assegura, de

novo um aumento de pluviosidade são da ordem dos 1.800 a 2.000 mm

e a temperatura média anual inferior a 18º C.

Esta diversidade climática expressa-se bem através do regime

hídrico e da estrutura da paisagística. Com efeito esta região é sulcada

por numerosos cursos de água dentre eles os mais importantes são o

Púnguè e o Búzi. Trata-se de rios de

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Regime periódico que nas terras altas correm em gargantas apertadas e

que na planície se espraiam formando amplos meandros e planícies de

inundação. Estes rios e a maioria dos seus afluentes nascem nas terras

altas e pluviosas do Zimbabwe, atravessam sucessivamente as

montanhas, os planaltos e as planícies antes de atingirem a baia de

Sofala. No seu curso inferior as cheias da estação das chuvas tem

provocado catástrofes sobretudo onde a ocupação humana é mais

intensa.

Os processos de acumulação de sedimentos transportados por

estes rios têm passado por uma intensificação dada a grande amplitude

das marés e a fraca profundidade da plataforma continental. Uma

grande parte dos sedimentos de Watt depositam-se nas praias

sobretudo no limite superior das marés vivas. Por outro lado é visível a

influência das águas do mar sobre o leito inferior dos rios, cujos

efeitos são visíveis em mais de 40 km da sua foz.

No que respeita à repartição territorial da vegetação a região

central de Moçambique apresenta também uma enorme diferenciação.

A diversidade morfológica é um dos principais factores que contribui

para a diferenciação dos tipos vegetais, de planície de planalto e de

montanha. Este factor em conjunto com a pluviosidade e a natureza

dos solos condiciona a maior ou menor densidade e riqueza das

espécies vegetais.

As condições edáficas locais, a aproximidade e influência das

águas salinas das marés também explicam o desenvolvimento das

florestas do mangal no litoral e no interior da Baia de Sofala. Nas

margens húmidas de solos aluvionares dos cursos de água

desenvolvem-se florestas cuja densidade e riqueza de espécies têm

vindo a ser empobrecidos pela intervenção humana.

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3.2 A planície litoral

A planície litoral da parte central do território moçambicano tem uma

largura de 40 a 70 km. Ela é constituída predominantemente por

sedimentos pleistocénicos e holocénicos de acumulação marinha

eólica, interrompida de onde em onde, por depósitos aluvionares

fluviais. Trata-se de uma superfície aplanada, levemente ondulada cujo

o carácter plano só se altera nos vales dos principais rios e nas colinas

dunares onde os decliveis podem ser superiores a 10º . Estes declives

podem ainda ser mais acentuados na transição da planície para as

terras altas de Amatongas.

Para além destes acidentes, a maior parte da planície litoral apresenta

declives muito suaves, inclinando-se suavemente em direcção ao

Oceano Índico. Este fraco declive é também característico da

plataforma continental que nesta parcela do país se prolonga por mais

de 200 km. A suavidade das suas formas e a grande extensão da

plataforma continental explicam em grande medida a natureza e a

dinâmica dos processos litorais em particular a dinâmica estuarina e da

formação da costa. A grande diversidade dos processos litorais nesta

região do país relaciona-se com a influência da corrente de

Moçambique, que ocorre paralelamente à costa ao Norte da cidade da

Beira e que provoca na margem Sul da baía de Sofala e a formação de

baias e reentrâncias notáveis. Com feito, em toda baia de Sofala a

grande influência marinha sobre os processos continentais faz-se sentir

através das elevadas amplitudes das marés que atingem 6,4 m,

tornando-se as mais elevadas de todo território moçambicano.

Por outro lado fenómenos de subsistência recentes

aparentemente relacionados com o desenvolvimento dos Riftes,

também contribuem para expansão das áreas de inundação da planície

litoral, mais evidentes, na parte Sul da baia de Sofala.

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E grande amplitufe das marés e dinâmica estuarina são também

factores importantes para o desnvolvimento de prpocessos genéticos

de carácter geomorfologico decorrentes nos cursos inferiores do rio

Púnguè e Búzi.

Junto à costa sobre os solos aluvionares fluviais sobrepõe-se

solos salobros onde se desenvolvem os mangais, que, de facto,

encontram-se aqui as suas melhores condicoes de existência.

De resto a vegetacao dominante na planície litoral é constituída por

florestas e savanas com um maior ou menor grau de alteracao.

Nas margens dos rios e nas baixas interiores com fraca

salinidade a vegetacao dominante e herbácea, localmente aconpanhada

de espécies lenhosas.

A grande influencia martinha sobre o litoral é particularmente

legível no comportamento dos elementos climáticos.

Sob as temperaturas medias superiores a 24º C, as somas

pluviométricas oscilam entre 1.000 e 1.800 mm. Estas condicoes em

conjunto com as características edaficas da região contribuem para o

desenvolvimento e distribuuicao da vegetacao.

De acordo com estas condicoes climáticas, a vegetaacao

natural corresponde seria a floresta tropical húmida. Mas ela já

apresenta algumas variacoes dependentes das condicoes locais sobre

tudo aquelas derivadas da intervencao humana.

Em muitos locais a vegetacao natural já foi profundamente

alterada e em grande parte substituída pelos campos cultivados ou

ainda por vegetacao secundaria e expontanea.

Nas margens dos rios Zambeze, Púnguè e Búzi, foram

instalados grandes complexos agro-industriais para o cultivo da cana

sacarina e arroz. Necessitando de maiores cuidados e eonde a

actividade agrícola intensiva esta limitada, são as áreas litorais do sslos

halomórficos argilosos e cinzentos. Na época das chuvas, devido à

capacidade de retencao de água, estes solos representam maiior

impedimento para a circulacao rodoviária.

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Nos solos das depressões com horizontes, onde habunda a

vegetacao herbácea, existem condicoes para o desenvolvimento

pecuário. De resto nas áreas secas, a actvidade agrícola é muito

diferenciada e praticada em regime de sequeiro.

3.3. As terras altas

Ao contrario do que sucede com a planície costeira, a paisagem da

região planáltica de Moçambique, apresenta-se muito subdivida,

produzindo cenários muito diversificados, muitas vezes em espaços

relativamente reduzidos.

De acordo com as diferenças altimétricas, distinguem-se nesta

região, tal como para a região Norte de Moçambique, duas superfícies

planálticas separadas por um degrau mais ou menosexpressivos:

planaltos médios e altiplanaltos. Os planaltos médios, na região central

do país ocupam uma superfície de cerca de 4 vezes superior à a da

litoral e eles correspodem ao limite oriental da area de expansão da

unidade geotectónica conhecida por Cinturão Moçambicano.

A superfície desta unidade é recoberta por sedimentares e

vulcânicas do Karroo e do Cenozóico. A sua largura atinge cerca de 50

km e toda a superfície encontra-se mais ou menos ravinada pelos

numerosos cursos de água que sucalcam a região. Estes ravinamentos

que também se relacionam estreitamente com a geologia e tectónica,

contribuem para a subdivisão interna do planalto.

Ao Norte, nas proximidades de Mungari, destaca-se plataforma

cretácica sem desníveis morfológicos sensíveis no terreno, mas

vizivelmente inclinada em dirercçao à margem direita do rio Zambeze.

Junto ao vale do rio Zambeze, recobrem planaltos médios

rochas de Karroo e do Cenozóico que representam muitas vezes a

transicao para a planície litoral. Os principais

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Desníveis são, como se referiu anteriormente, somente assinaláveis

junto dos vales dos escassos rios que atravessam a região que ora

desaguam no rio Zambeze ora no rio Urema.

Esta região devido a continentalidade e à sua localização a

Sotavento possui um clima árido, o que em conjunto com as condições

naturais dos solos arenosos e gresosos do Cretácico, provoca uma

notável deficit de água, sobretudo na estacão seca. Em consequência

disso a vegetação espinhosa, pobre mais que vai tornando mais

diversificada em espécies e mais densa a medida que se caminha para

o Sul.

A oriente do Urema, o planalto de Chiringoma e constituído

por sedimentos calcários cretácicos e terciários.

Todo planalto encontra-se coberto por florestas frondosas, que são

mais ricas em espécies nas vertentes situadas a barlavento, onde

ocorrem, predominantemente grandes quantidades de Afzelia e

Milletia, espécies arbóreas de grande valor comercial.

A Sul da região central, confinando com a planície costeira,

destaca-se o plateau de Machaze-Nhango. Este plateau, cuja crista

relativamente plana atinge a altitude máxima de 300m, inclina-se

levemente para Este e Sudeste. Ele é constituído por sedimentos

arenos do Pleistocénicos, muito permeáveis às águas pluviais. Trata-se

de uma região árida, onde a vegetação árborea-arbustiva dominante se

adapta as condições de secura.

Mais para o Sul, orientada no sentido E-O até atingir a fronteira

com Zimbabwe. O subestrato desta região é constituído por extensas

áreas de areias vermelhas quaternárias, pouco consolidadas.

Sedimentos arenosos terciáricos miocénicos, mais profundos, só

ocorrem nas margens do rio Save. É frequente o desenvolvimento dos

solos do grés, muitos escuros e profundos, mas extremamente

permeáveis. Nas áreas

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mal drenadas das baixas, a vegetação é dominada por espécies do

género Setária e Andropogon, constituído uma paisagem conhecida

por tando.

Na área dos solos vulcânicos, as estruturas de natureza

assemelha-se aos parques naturais onde o estrato herbáceo é muito

denso e alto.

De resto, a vegetação da depressão de Mossurize é do tipo

floresta e Savana seca com predomínio de espécies lenhosas adaptadas

à seca prolongada de mais de 6 meses. São também frequentes plantas

suculentas e espinhosas, mais que não são especificas desta região.

Fazendo transição, em forma de degrau, para as regiões

montanhosas do ocidente, os altiplanaltos de Manica, representam

superfícies de erosão de ciclo «africano». Nesta região as latitudes

variam entre 500 e 1.000 m. De uma forma geral toda região é

constituída por rochas metamórficas e intrusivas do Precâmbrico. Os

limites orientais coincidem na parte meridional com limites

geológicos, embora não sejam muito evidentes. Devido à grande

influência e a relativa proximidade da base da erosão, a parte Sul do

altiplanalto foi profundamente desgastada, contribuindo grandemente

para a ocorrência superficial de sedimentos coluviais e solos de catena

com perfil muitas vezes incompleto ou fracamente desenvolvido.

Nas vertentes com condições normais de drenagem formam-se

solos lateríticos vermelhos muito espessos.nas baixas e nos vales com

drenagem insuficiente os solos mais comuns são escuros e argilosos e

apresentam frequentemente horizontes gle. A vegetação e constituída

por formações florestais de folha caduca, com notável pobreza em

espécies e comportando sobretudo Pterocarpus, Brachystegia e

Isoberlinia.

A sudeste da cidade de Manica, o altiplanalto do Zonue é uma

pequena subdivisão do altiplanalto onde os solos gneissicos são

arenosos e profundos. Estes solos, que apresentam

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Uma forte reacção ácida, sustentam uma esparsa vegetação arbórea

constituída predominantemente por leguminosas e espécies de

Combretum.

Mais para Norte o altiplanalto de Bárue evidenciando uma

maior expressividade no carácter unitário do altiplanalto, separa-se do

planalto médio por um declive relativamente insensível de 400 m para

700 m, aparentemente devido à acção modeladora dos cursos de água

são pouco profundos e apresentam muitas vezes diferenças de alguns

metros de altura entre o chão do vale a os tipos das vertentes dos

respectivos vales.

Os processos de denudação das encostas provocam uma visível

zonalidade vertical de solos. Os solos vermelhos dos topos são

gradualmente substituídos por solos acastanhados e acinzentados

dominantes no fundo dos vales. A estes solos corresponde a floresta

aberta de Miombo cujo estrato herbáceo apresenta ser cada vez mais

baixo e pobre em direcção ao Norte.

Nas áreas semiáridas do Norte de Mungari são comuns plantas

espinhosas e suculentas tais como a Adansonia digitata e a Bombax

rhodognaphalon.

A depressão de Mendie constitui, segundo as condições físico-

geográficas , o prolongamento imediato do altiplannalto de Bárue do

qual difere com a concavidade das suas formas e pelo aumento da

influencia das águas subterrâneas.

Uma singularidade importante da região altiplanáltica é

representada pelas montanhas da Gorongosa, conjunto montanhoso

que se destaca pelas encostas vigorosas e cumes que atingem mais de

1.900 m de altitude. A sua estrutura morfológica está directamente

relacionada com a ocorrência de gabros do complexo intrusivo

mesozóico, que devido as falhas ocorridas nesta região separam-nos

dos gneisses cristalinos. As vertentes apresentam solos coluviais muito

espessos

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no seu limite inferior e permite o desenvolvimento de uma floresta

densa.

No alto das montanhas desenvolve-se uma vegetação

possuindo espécies hidrófilas da floresta húmida sempre-verde com

epifitas.

Mais a Oeste, nas proximidades da fronteira com o Zimbabwe, as

montanhas periféricas constituem a chamada escarpa de Manica. Ela

representa uma pequena parte do degrau da ascensão para a margem

oriental do Grande planalto da África Austral e um a parte

insignificante da própria escarpa, que se estende mais para Norte até

atingir o Vale do rio Zambeze através do território zimbabweano. A

transição do altiplanalto e do planalto para as montanhas periféricas

tem lugar a partir vigorosas vertentes de erosão num degrau variável

de 100 a 1.500 m.

Dado que a parte moçambicana das montanhas peroifericas da

África Austral é limitada, faltam aqui elementos das montanhas não só

ocorrem mais a Oeste nos gneisses do território zimbabweano.

Na parte norte da escarpa, mais concretamente na serra Choa,

as montanhas constituem uma cadia orientada no sentido N-S,

enquanto que na parte Sul a subdivisão é irregular devido aos

numerosos cursos de água. O elemento mais notável deste complexo é

o maciço de Chimanimae, situado a cerca de 80 km a Sul da cidade de

Manica, com altitudes na ordem dos 1.900 m atingindo a máxima

elevação do país no Monte Binga (2.436 m). Trata-se de um

gigantesco maciço de 35 km de comprimento por 8 a 10 km de largura

orientado no sentido Norte-Sul. Este maciço predomina rochas

metamórficas do sistema Unkondo com quartzitos, xistos e calcários

cristalinos. Mais ou menos ao centro, a formação Unkondo estreita-se

dando lugar a um complexo granítico que é dominante.

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A Sul deste complexo, localiza-se o maciço de Espungabera,

com altitudes vizinhas dos 1.000 m.

Próximo da cidade Manica ocorre no sentido Oeste-Este êxitos

metamórficos em bandas com uma estrutura própria que torna evidente

a escarpa. Devido a altitude o clima e a vegetação apresenta

características próprias de altimontana. O clima de altitude favorece o

zoneamento altitudinal das espécies vegetais de onde se destacam de

acordo com as condições edáficas a floresta húmida e a pradaria de

características temperadas. Acima dos 1.100 m e a zona subalpina com

formações arbustivas que, devido a influência antropogénica, tende

constituir unicamente estratos herbáceos.

Sobretudo na Serra Choa e na parte Sul, devido às queimadas e

ao pastoreio e as pequenas florestas de montanha ficaram circunscritas

as vizinhanças de curso de água.

3.4. A depressão Urema - Zangue

A depressão Urema-Zangue constitui um prolongamento meridional

dos vales do rio Rifte que depois do Lago Niassa é o vale do rio Chire

atravessado perpendicularmente ao rio Zambeze.

Ela continua atravessando a margem direita do rio Zambeze e atinge o

Sul do rio Búzi no extremo Sul da Baia de Sofala. Não está ainda

confirmada a continuidade do Rift mas para o Sul, no entanto, o eixo

da depressão prolonga-se até ao rio Save e provavelmente, ainda mais

para o Sul.

A característica fundamental desta depressão é a sua tectónica

onde se depositaram rochas cretácicas. No seu carácter geral as

diferenças de altitude entre o fundo da depressão e topo são muito

suáveis, somente reveladas pelo curso de afluentes dos rios Urema-

Zangue e Macua. Contudo, nas proximidades da dorsal de Cheringoma

o desnível é a cerca de 300 m e o fundo da depressão

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Possui até 40 km de largura. Esta depressão encontra-se

coberta por solos argilosos e hidromóficos escuros que permitem o

desenvolvimento de uma vegetação herbácea que constitui uma das

maiores atracções para uma variedade de fauna selvagem. Uma parte

desta depressão é ocupada pelo Parque Nacional de Gorongosa e por

coutadas de caça.

Dois sistemas fluviais diferentes ocorrem nesta depressão, o

primeiro estrutura-se na Bacia do rio Zangue afluente do rio Zambeze

e o segundo segue o rio Púnguè e seus principais tributários. O limite

entre dois sistemas, só temporária e dificilmente pode ser fixado. As

cheias mais poderosas fazem transbordar as águas do rio Zambeze

através do rio Zangue ao Púnguè, provocando também, nestes enormes

vagas de massas aquáticas.

Entre-os-rios Zambeze e Púnguè a depressão é ampla e

alongada. Esta extensa planura está sujeita a alongamentgos

frequentes, mesmo na estacão seca. Na base das vertentes da depressão

os solos argilosos encharcados misturam-se por vezes com os

sedimentos coluviais provenientes do planalto calcário de Cheringoma

a Este ou das montanhas da Gorongosa a Ocidente.

Para Sul da foz do rio Púnguè a depressão prolonga-se até

atingir a localidade de Sofala, actualmente ameaçada pela submersão

devido aos factores da morfologia desta secção do país. Ela encontra-

se envolvida por planaltos médios, mas que deixam formar uma

depressão muito estreita, ampliada mais a Sul nas proximidades do

vale do rio Búzi onde os montes Búzi levemente ondulados,

constituem os principais acidentes.

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4. Moçambique Meridional

4.1 Enquadramento geográfico geral

Moçambique Meridional situa-se ao Sul do rio Save entre os paralelos

21º 05’ (foz do rio Save) e 26º 52’ (Ponta do Ouro) de latitude Sul e os

meridianos 32º 20’ (Pafuri) e 35º 20’ (Cabo das Correntes) de

longitude Este.

Ela estende-se por mais de 5º de latitude e é atravessada

sensivelmente a meio por Trópico de Capricórnio. Nas proximidades

do paralelo 23º Sul, a região tem uma largura de cerca de 300 km, mas

na parte Sul a sua largura mínima é de 50 km. Os limites são ao Norte

o curso do rio Save; a Oeste a fronteira internacional separa-a dos

territórios Zimbabwe, a África do Sul e a Suazilândia numa extensão

de cerca de 800 km; a sul a região separa-se novamente da África do

Sul através de uma fronteira Oeste-Este numa extensão de 80 km até a

Ponta de Ouro no Oceano Indico. Toda fachada Oriental da região

abre-se para o Oceano Indico através de uma linha de Costa de mais de

800 km.

Esta região, abrange as províncias de Inhambane, Gaza e Maputo, tem

uma superfície aproximada de 171.000 km2.

Macroregionalmente, Moçambique Meridional é uma

subdivisão do território moçambicano da África Austral, que abrange,

também, todas áreas do país situada ao Sul do rio Zambeze. A

localização geográfica na costa oriental da macroregião «África

Austral» confere a esta região características naturais próprias, em

particular ao relevo, do clima e dos factores naturais deles

dependentes.

De igual modo interessante são os factores naturais e sócio-

históricos que explicam a localização e o desenvolvimento da cidade

capital de Moçambique, Maputo e dos vários povoamentos desta

região.

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Entre o rio Save e rio Limpopo a planície atinge mais de 500

km de largura e estreita-se nas proximidades da Baia de Maputo, onde

a 40 km a Sudoeste da qual se estende o robordo montanhoso da

cadeia de Libombos.

Tectonicamente a região apresenta uma estrutura simples. É

dominada pelas planícies aluviais de dunas anteriores e recentemente

de onde em onde salpicadas por formações calcárias dos Urrongas.

Somente a parte ocidental da região é constituída por rochas

ígneas vulcânicas que constituem os montes Libombos.

A região é atravessada por números cursos de água e possui

milhares de lagos e lagoas, a maior parte dos principais rios, tem a

origem nos países vizinhos. Depois de atravessar as terras altas da

fronteira divagam através da planície até atingirem a foz de indico. Os

rios mais importantes desta região são: do norte para o Sul o

Inhanombe, Limpopo, Incomáti, Matola, Umbelúzi, Tembe e Maputo.

Os cursos de água que sulcam as montanhas fronteiriças

formam uma rede dentrítica nas encostas que é substituída por uma

estrutura complexa na planície. Estes rios ocorrem por ravinas e

depressões naturais do território. Junto a costa também nascem rios de

pequenas extensão cujo carácter hidrológico esta muito dependente da

morfologia litoral e da composição dos terrenos. Alguns deste rios

isoladamente, não tem a capacidade para atravessar a barreira natural

do relevo dunar e formam um foz conjunta, tal como sucede nas baias

de Maputo e de Inhambane. De acordo com seu carácter hidrológico, a

maioria desses rios transforma-se em estacão das chuvas, algumas

vezes com o carácter de catástrofe natural.

O clima constitui um dos componentes naturais mais

importantes para caracterização da região meridional, dada

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a sua situação geográfica, nos dois lados do trópico de Capricórnio.

Ela possui um clima nitidamente tropical. A maior influencia sobre o

clima desta região é particularmente no que respeita ao

comportamento da pluviosidade e da temperatura, exercida pela

localização na zona dos alíseos do Sudoeste pela Corrente Marítima

Moçambique-Agulhas e pelas diferenças altitudinais e de exposição de

cada uma das suas parcelas.

A diferença territorial permite a observação de uma certa

variação segundo a continentalidade ou seja a diminuição da influência

dos ventos e correntes marítimas com o afastamento da Costa.

No litoral, as somas pluviométricas anuais variam de 800 e

1.000 mm enquanto que as temperaturas medias oscilam entre 22º a

24º C. as regiões mais chuvosas situam-se no litoral de Inhambane

com valores de pluviosidade acima dos 1.400 mm e temperaturas

médias de ordem dos 26º C.

Com características marcadamente mais secas são as regiões de

interior, com particular a faixa compreendida entre Chicualacuala e

Massingir onde as médias de temperatura se matem em vota de 24º C a

26º e a pluviosidade baixa até 300 mm anuais. Esta faixa por sinal é a

mais árida do país.

Durante a época das chuvas depende visivelmente da

localização em relação a costa e de consequente diminuição da

influência das massas de ar e dos ventos alíseos.

Contudo, a influência da altitude é notório, nos montes Libombos,

onde, devido à altitude, se verifica uma ligeira diminuição das

temperaturas médias anuais (20º - 21º C) e um acentuado acréscimo

das somas pluviométricas de 600 mm no litoral para 800 mm na

Namaacha.

A influência combinada das massas de ar húmido e das frentes

frias originárias do Sul da África faz com que a maior parte das chuvas

ocorra na estação quente, mantendo-se assim

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O carácter tropical do clima. As massas de ar húmido dos alíseos do

Sudoeste e a influência conjugada da Corrente quente de Canal de

Moçambique trazem chuvas zenitais mais ou menos regulares da

ordem dos 900 a 1.500 mm sob temperatura média dos 22º C.

A época das chuvas, tal como para toda região Austral da

África coincide com a época quente, mas também ocorre chuvas na

época fria sobretudo na parte Sul do país sobre influência maior das

frentes frias. Com efeito, a pluviosidade e o factor ecológico é

importante para esta região, fazendo depender dele a intensidade dos

processos de formação dos solos, a altura, a densidade e tipo de

vegetação, e o tipo de vegetação bem como a possibilidade de

aproveitamento de condições naturais.

Pelo contrário, as temperaturas médias são suficientemente

elevadas ao longo de todo o ano para não constituírem critério de

caracterização do clima, mesmo que dependa também da latitude

geográfica, da altitude e da influência térmica oceânica.

Dadas condições ecológicas existentes nas áreas costeiras,

desenvolve-se uma floresta húmida como vegetação natural. Junto a

foz dos maiores rios desta planície se desenvolve-se a floresta de

Mangal. Com o decréscimo da pluviosidade média anual, a vegetação

típica nas zonas interiores tem as características de savana arbustiva

com muitas espinhosas ou matagais. Nas margens dos rios dos solos

aluvionares ocorre também a floresta de galeria; mas nos solos

avermelhados fersialíticos a vegetação é a savana arbustiva.

O clima e a natureza aluvionar dos solos dos vales favorecem a

agricultura intensiva que está amplamente divulgada nas margens dos

rios Limpopo, Incomáti e Umbeluzi.

Os solos comuns têm a designação local de machongos muito

ricos em nutrientes.

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Em suma, as paisagens desta região apresentam formas

alternadas de planícies aluvionares, dunas recentes e fósseis, lagoas

costeiras fechadas, vales dos rios mais ou menos extensos e montanhas

da sua parte ocidental.

A alternância destas formas domina as condições naturais da

região e constitui a linha mestra para a subdivisão da região em

planície litoral incluindo a costa propriamente dita, os Montes

Libombos e os vales dos rios.

4.2 A planície Litoral

De uma maneira geral a planície litoral ocupa a maior parte das regiões

meridional do país, distinguindo-se nela litoestratigraficamente

formações sedimentares calcárias do Terciário e as formações

sedimentares do Quaternário. A sua característica geológica principal

reside na origem poligenética dos seus sedimentos datados desde o

terciário Holocénio.

Da costa para o interior distingue-se os grés costeiros, cobertos

em muitos locais por faixas de praias arenosas, as dunas litorais, dunas

interiores, depressões aluvionares fluviais e hidromórficas. Rochas

calcárias de territórios desaparecem por uma área contínua nas

margens do rio Save e numa faixa com mais de 50 km de largura entre

o rio Save e Massinga. São também abundantes manchas calcárias nas

margens do rio Limpopo e seu afluente Elefantes é do rio Maputo.

Em algumas depressões localizadas no interior da região

particularmente nas províncias de Inhambane e Gaza, as rochas de

composição predominantemente calcárias são substituídas por

formações gresosas e siliciosas, menos consistentes e mais argilosas

resultantes de sedimentação continental.

A rocha Quaternário encontra-se sob a forma de sedimentos

inconsistentes desenvolvidos em vastos fundos

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emersos de origem marinha ou lacustre, de aluviões fluviais de

território de origem eólica e de formações orgânicas pantanosas.

Como reflexo da estrutura platafórmica tectónico-estrutural,

predominam morfologicamente superfícies aplanadas que provocam a

aparência monobotanica da paisagem imprimida não só pelo relevo,

mas também pelo clima, quer por sua vez exercem influência sobre as

condições pedológicas, hidrológicas e biológicas. A paisagem da

planície apresenta fenómenos típicos tais como as dunas costeiras

recentes e fosseis dispostas em faixas paralelas, lagoas costeiras e

interiores fechadas, planícies aluviais mais ou menos largos.

Para uma melhor compreensão dos fenómenos e processos

decorrentes na planície e tendo em conta o estado actual das

investigações científicas, é necessário caracterizar um pouco melhor

algumas das suas principais subdivisões. Estas subdivisões referem

sobretudo à diferenciação do subestrato e suas condições hídricas

acrescidas pelas condições do mesorelevo, mesoclima e da vegetação

local.

A costa propriamente dita é arenosa apresentando nalgumas

das suas parcelas baias como Inhassoro, Inhambane e Maputo que

representam ao mesmo tempo o estuário dos principais rios e locais de

evidente afundimento da costa.

De Nova Mambone até ao cabo das Correntes a linha da costa

tem uma orientação predominante Noroeste – Sudeste e os seus

acidentes mais notáveis são as baias de Govuro, de Vilanculos e de

Inhambane.

Ao Norte da Baía de Vilanculos a uma distância de cerca de 10

– 15 km, alinham-se paralelamente à costa as ilhas que constituem o

Arquipélago Bazaruto.

A partir do Cabo das Correntes até à Baia de Maputo, a linha

de costa toma a direcção Nordeste-Sudoeste e não apresenta

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Acidentes notáveis para além da baia de Maputo. A Este desta baia,

formando uma baia natural no contacto com o Oceano aberto, localiza-

se o arquipélago de Maputo onde se destaca a Ilha de Inhaca e as ilhas

Xefina e dos Portugueses.

A partir do Cabo da Santa Maria até ao Sul da Ilha e Inhaca

inicia-se a última secção da linha da Costa até a Ponta de Ouro. Esta

secção é igualmente rectilínea e apresenta uma orientação

predominante Norte-Sul.

Toda zona costeira é dominada por um sistema de dunas

litorais de fraca altitude com direcção SE-NW e terminando por vezes

por penínsulas ou prolongando-se por ilhas tais como arquipélago de

Bazaruto, e o Arquipélago de Maputo.

São dunas recentes ainda activas localizadas muito próximo da costa.

Elas constituem uma estreita faixa de pequenas elevações,

normalmente cobertas por vegetação abundante no seu reverso

protegido pelos ventos. Nestas depressões situa-se no reverso,

formam-se frequentemente lagos e pântanos.

Ocupando uma área ainda maior encontram-se as dunas

interiores das areias vermelhas, cinzentas amarelas. Estas dunas

interiores encontram-se fixadas e aplanadas. Elas possuem

normalmente um relevo suave, ligeiramente ondulado, mais em muitos

locais no contacto com as dunas litorais, elas apresentam um declive

muito acentuado, tal como sucede nas colinas arenosas de Quissico e

nas planícies levantadas de Inhambane.

As planícies fluviais que têm a forma de várzeas e lezírias são

constituídas por aluviões finos depositados pelos rios durante as

cheias. Nesta região meridional do país destacam-se extensas planícies

aluvionares de acumulação dos rios Save, Limpopo, Incomáti, Tembe

e Maputo.

Aluviões de mesma natureza ocorrem também nas margens dos

grandes numerosos lagos e lagoas do interior e formam extensas áreas

de pântanos nas proximidades de Vilanculos ou

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Nas planícies de Pande e nas depressões pantanosas do rio Changane.

A Norte do rio Incomáti até aos terraços antigos do rio

Limpopo nas proximidades de Pafuri e Mapai, os solos arenosos

apresentam muitas vezes material grosseiro, formando mosaicos com

os solos arenosos argilosos. Em locais inatingíveis pelas cheias das

margens dos rios os sedimentos de aluviões pleistocénicos, os solos

são maduros que podem ser avermelhados com ou sem depósitos

grossiros e material argiloso.

Nas áreas de dunas antigas de Maxixe, Xai-Xai, Chibuto,

Magulane e nas proximidades da Baia de Maputo os solos arenosos

são, em geral, avermelhados a amarelados conforme a cobertura

vegetal e apresentam horizontes pouco expressivos. Mais para o

interior em Magude e Guijá os solos avermelhados e mais profundos

formam manchas descontinuas são de perfil mais homogéneo.

Entre as dunas existem lombas que por vezes se estendem por

imensas planuras de carácter aluvial. Estas lombas, outrora ocupadas

pelas águas do mar de que são testemunhas as numerosas lagoas e

pântanos que ocorrem com maior ou menor concentração no litoral de

lagos e lagoas de água doce, salgada e salobra constitui uma

característica hidrográfica importante para a caracterização de toda

planície desta região Meridional.

A planície costeira beneficia da influência da corrente Quente

de Moçambique que se traduz pelos elevados valores de temperatura,

humidade e pluviosidade. Contudo, devido ao fraco declive não se

registam chuvas orográficas. Mais ainda, no interior onde os solos

arenosos são predominantemente secos há uma maior absorção de

grande parte das radiações solares o que, devido à fraca

condutibilidade térmica dos terrenos arenosos, provoca um aumento

das variações térmicas diurnas do ar e ao nível do solo.

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No plateau sublitoral e também no interior, a continentalidade e

também a inexistência do relevo acidentado tornam o clima mais

árido. É assim que se explica que as vizinhanças de Chicualacuala se

registem os valores de pluviosidade mais baixos (350 mm) de todo o

país. Estas condições naturais tornam difícil a utilização do território

para a produção biológica. A actividade agrícola só é possível nas

margens aluvionares dos escassos cursos de água, mesmo assim sob

elevado risco de seca.

Em condições tropicais e sob solos arenosos dominantes

desenvolve-se em grande parte da planície meridional moçambicana a

planície aberta e Savana, esta última, como vegetação secundária.

Restos de floresta tropical ocorrem sobre solos aluvionares dos

terraços e nos solos aluvionares dos principais rios que atravessam a

planície onde formam mosaicos.

Sob ponto de vista fitogeográfico é ainda interessante observar

a variação da composição e associação vegetal à medida que aumenta

a latitude. Caminhando de Norte para Sul, o número de espécies

herbáceas vai sendo cada vez maior em detrimento das arbóreas.

Fig 42

Fig. 42 Zona de costeira da província de Maputo

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4.3 Os montes Libombos

Os montes Libombos localizam-se na parte sudoeste da região, desde o

rio Limpopo até ao rio Maputo confinado com a planície litoral. Eles

dispõem em cadeia de orientação predominante Norte-Sul de 400 a

500 m de altitude média. Esta cadeia representa uma parte de rebordo

montanhoso que domina a parte Oriental da África Autral. Trata-se de

dois alinhamentos montanhosos de cerca de 900 km de extensão e 30

km de largura máxima, que constituem respectivamente, os Grandes

Libombos e os Pequenos Libombos. São ambos parte do

prolongamento do Queme Range, o qual se liga a cadeia dos

Drakensberg da África do Sul.

Os Pequenos Libombos, confinado directamente com a planície

litoral, estendem-se desde as proximidades do rio Incomáti até

Changalane, sendo a altitude máxima de 291 m.

Os Grandes Libombos, por sua vez alongam-se em mais de 500

km na fronteira ocidental da região e tem altitude média de 580 m,

sendo a maior altitude localizada no Monte Imponduine a Norte da

Vila de Namaacha (809 m).

Morfologicamente, os Montes Libombos constituem plateaux

de rochas e formas do complexo vulcânico do Karroo. Eles ressaltaram

de um vulcanismo do tipo fissural com emissão de lvas dispostas em

camadas tabulares, alternadamente ácidas (riolitos) e básicas

(basaltos), localmente intercaladas por piroclásticos tufosos e

brechóides.

A orientação estrutural dominante (Norte-Sul), alternância das

rochas ácidas e básicas e a disposição morfológica monoclinal,

constituem os aspectos mais característicos desta cadeia montanhosa.

Os seus topos, com encostas de relevo pronunciando têm um aspecto

tabular e apresentam uma inclinação média de 3º para Este,

dissipando-se gradualmente para Norte e para Sul respectivamente.

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Nas proximidades de Massingir este relevo tectogénico apresenta um

fundo e vertentes dos vales com terraços rochosos e aluviões pouco

espessos. As elevações com 250 m de altitude apresentam depósitos

superficiais de material quaternário indefereciado. No local onde se

encontra edificada a Barragem de Massingir, sob os solos arenosos,

foram observados depósitos de terraço com material grosseiro.

As formações geológicas do Libombos são datadas na carta

geológica provisória disponível, como sendo Karroo-Stormberg. Elas

assentam sobre sedimentos continentais. Para além das evidências de

actividades vulcânicas fissural existem vestígios de vulcanismo central

em montes Ganguane, Secuani, Moguene e Quizendamine. Esta

característica morfológica conjugada com a diferença de existência de

materiais dos materiais rochosos contribuem para a formação de

escarpas mais vigorosas na parte ocidental das montanhas,

particularmente notáveis no contacto com as amplas planícies do

Umbeluzi e do seu afluente, o Impamputo.

De facto as duas cadeias têm um comum a configuração

«cuesta» com a frente voltada abruptamente para o ocidente e o

reverso inclinado suavemente para o oriente.

Sob efeito de uma intensa actividade erosiva dos rios estas

montanhas criaram declives entre 15º e 20º C observável em muitos

locais ao longo da fronteira com Suazilandia e África do Sul.

Um dos aspectos mais marcantes das condições naturais das

montanhas dos Libombos relaciona-se com o clima. O relevo e a

relativa continentalidade asseguram aos Libombos um clima de

altitude com características especiais de temperatura e pluviosidade.

Estas condições climáticas dominantes permitem o desenvolvimento

biológico do tipo Montana, incluindo, embora não muito visível, a sua

diferenciação segundo a altitude.

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As condições topográficas locais introduzem características

adicionais, sobretudo a exposição e posição, factores importantes para

a criação de microclima e de condições locais para formação de solos e

sua respectiva cobertura vegetal. Nas áreas de declives acentuados, os

solos originais dos riolitos são pouco espessos, por vezes, pedregosos

ou lateríticos. No sopé das montanhas os solos são mais profundos e

argilosos e menos pedregosos, misturados por vezes com aluviões.

Igualmente espessos são os solos do plateau da Namaacha e outras

superfícies peneplanas.

As áreas de solos esqueléticos suportam somente uma

vegetacao herbácea com algumas espécies arbóreas. Pelo contraio, nos

vales fundos do rio Umbeluzi e Maputo, com solos ricos em

nutrientes, desenvolve-se uma vegetação frondosa nitidamente

delimitável pela fotografia aérea. Trata-se de solos basálticos férteis de

superfícies aplanadas, tal como sucede nas proximidades da Barragem

dos Pequenos Libombos. Na Moamba os solos escuros são fortemente

argilosos e profundos. Produzem abundante lama durante a estacão das

chuvas e fendíveis na estação seca. Por vezes apresentam menor

profundidade e cascalheiras abundantes.

Nas proximidades de Magude os tipos de solos predominantes

são arenosos e de cores mais claras de amarelo ao cinzento. A sua

profundidade é variável e depende da sua posição geográfica.

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