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AUH 514- Fundamentos Sociais da Arquitetura e
Urbanismo
Definições de exclusão; o conceito por trás do tema.
Nome: Gabriel Guerrero
Nº USP-7177491
Prof. Paulo César Xavier Pereira
Faculdade de Arquitetura e UrbanismoUniversidade de São Paulo
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Sumário
1. Introdução...............................................................................................................3
1.1 Objetivo do Trabalho.........................................................................................3
1.2 Método..............................................................................................................3
1.3 Introdução ao tema...........................................................................................3
2. Desenvolvimento....................................................................................................4
2.1 Exclusão segundo José de Souza Martins.......................................................4
2.2 Exclusão segundo Marialice Mancarini Foracchi............................................10
3. Mecanismos de exclusão e segregação contemporâneos; o caso de São Paulo e
a influência do mercado imobiliário............................................................................13
4. Conclusão e síntese das idéias dos autores........................................................17
5. Referências Bibliográficas....................................................................................20
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1.Introdução
1.1 Objetivo do Trabalho
Este estudo tem como objetivo a definição de exclusão. Sua definição é usada
muitas vezes de maneira erronia e com significados excessivamente abrangentes. O
enfoque do trabalho é essencialmente afunilar os diversos fatores que até então
configuravam a exclusão como um conceito leigo e definir um conceito sistemático
sobre o tema. Os conceitos envolvidos remetem a questões como o papel do excluído
na sociedade, quais fatores levam a exclusão e a quem este termo é dirigido.
1.2 Método
O método utilizado abrange a pesquisa de material bibliográfico pertinente
ao tema desta dissertação, serão utilizados os materiais de autores que se
focaram na exclusão especificamente.
Através dos textos desses autores pretende-se chegar a um conceito de
exclusão e melhor compreende-la
1.3 Introdução ao tema
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A exclusão ainda é um conceito muito incompreendido, suas conotações
variam em diferentes lugares e ocasiões. Os textos de José de Souza Martins e
Marialice Foracchi são pautados na finalidade de esclarecer algumas duvidas
sobre o que é a exclusão de fato, diferenciando-a de outros conceitos (como a
marginalidade, por exemplo), em que mecanismos a exclusão evolui e de que
formas vemos os indivíduos ditos excluídos.
Ao longo do desenvolvimento do trabalho este tema, a exclusão, será lido
e compreendido na finalidade de sanar as principais duvidas sobre a questão. E
se for possível apresentar alguma solução para esta que pode ser considerada
uma patologia social.
2. Desenvolvimento
2.1 Exclusão segundo José de Souza Martins
O termo exclusão é um termo que se incumbe de definir diversos aspectos
problemáticos da sociedade no terceiro mundo. Deste termo surge a caracterização dos
indivíduos como excluídos. O questionamento que se faz a seguir é referente a quão
válido é este termo e como pode-se aplica-lo de maneira correta conhecendo suas
definições.
Este termo, como muitos outros, foi definido por a uma diferença entre o que a
vítima vê de seus problemas e adversidades, e do que os outros vêem. Ou seja, na
concepção deste termo (a exclusão) estão presentes interferências que são criadas por
sujeitos alheios a situação excludente.
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“’Excluído’ e ‘exclusão’ são construções, projeções de um modo de ver próprio de quem se sente e se julga participante dos benefícios da sociedade em que vive e que, por isso, julga que os diferentes não estão tendo acesso a meios e recursos que ele tem acesso. O discurso sobre exclusão é o discurso dos integrados, dos que aderiram ao sistema”. (MARTINS, 2002, p.31).
O conceito torna-se ainda mais complexo quando se percebe que em algumas
leituras a exclusão é considerada como uma condição da classe operária, ou seja,
considera que os excluídos sejam uma classe social. A leitura mais correta, portanto, se
refere à exclusão como a exclusão do mercado de trabalho. A leitura correta apresenta
que os excluídos não configuram uma classe social por que não tem uma característica
em comum e nem a possibilidade de transformação histórica. Desta maneira “excluído
é só um rótulo, não responde a nenhum sujeito de destino...”.
A confusão neste ponto provavelmente se dá por causa dos novos rumos da
sociedade após o desenvolvimento acelerado do capitalismo e sua forma de expansão.
Observa-se que o capital pode se desenvolver muito e precisar cada vez menos do
trabalhador, este fator somado com o grande crescimento demográfico sustentado pela
industria fez com que houvesse um excedente de mão de obra, fator este que fez com
que o trabalhador sofresse exclusões cíclicas do mercado de trabalho.
“Nas ultimas décadas, foi ficando cada vez mais evidente aquilo que já se sabia – o capital pode se desenvolver e muito e, ao mesmo tempo, precisar menos do trabalhador”.(MARTINS, 2002, p.29).
Com a situação já instaurada a família se torna um grupo de trabalho coletivo. A
renda familiar se torna mais importante que a renda individual. É nela que são
debitadas as exclusões temporárias de cada membro da família.
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A rotina de exclusões cíclicas dos trabalhadores do mercado de trabalho pode
levar a confusão de que esta classe seja excluída, porém além da exclusão operária ser
temporária e geralmente individual (pois há o apoio familiar ao individuo “excluído”),
outro fator os diferencia dos grupos chamados excluídos: a classe operária é portadora
da possibilidade histórica e transformadora por estar incluída no mecanismo de
reprodução do capital.Isso a torna capaz de realizar as reformas históricas que um
grupo excluído não poderia.
“Provavelmente, a categoria exclusão (e excluído) se nutre politicamente dessa contradição mal compreendida e mal resolvida”.(MARTINS, 2002, p.30).
“... o operário está incluído – isto é, ele não só produz, e se reproduz no processo de reprodução ampliada do capital, mas também se apropria desigualmente da riqueza criada - ele é o agente não só de produção da mais-valia, mas é, também, produto e expressão da realização desigual da riqueza criada e, portanto, da realização da mais-valia, do modo como a mais valia se realiza”. (MARTINS, 2002, p.31).
Os excluídos por sua vez são excluídos por estarem alheios a reprodução do
capital, e por isso não possuem capacidade de protagonizar a transformação da
sociedade. Esta caracterização se enquadra no caso dos desempregados e dos
miseráveis, por exemplo.
“São categorias que, por estarem excluídas do núcleo de criação da realidade social, não tem condições de interferir ativamente na dinâmica social”. (MARTINS, 2002, p.32).
“... a teoria da transformação revolucionária da sociedade se aplica à condição operária, à inclusão e não à exclusão nem aos excluídos”. (MARTINS, 2002, p.32).
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Na América latina foi lançado um outro conceito de exclusão que tem como
bases o mesmo conceito geral já apresentado. A força de trabalho é desvalorizada pela
expansão do capital e ao mesmo tempo se instauram regimes ditatórios repreensivos.
Estes fatores novamente levaram a caracterização de uma renda familiar no lugar de
uma renda individual.
“Em pouco tempo, para sustentar uma família foi preciso transformar mais um de seus membros em trabalhador”. (MARTINS, 2002, p.34).
Todos estes fatores somados levam a uma diluição da figura do trabalhador na
figura do excluído e nesse aspecto percebe-se que a condição de excluído apresenta
uma maior visibilidade em relação à condição do trabalhador. A condição do excluído é
mais agressiva aos olhos da classe média e das elites, esta presente nas favelas, nos
barracos, na mendicância, entre outras formas de manifestação da exclusão.
“Agora no primeiro plano estão a família, a desagregação familiar, o mendigo, a criança de rua, o desempregado, o morador precário, o expulso da terra e recusado pela cidade”. (MARTINS, 2002, p.35).
“Eles são apenas o trabalhador em potencial, o resíduo crescente do desenvolvimento econômico anômalo”. (MARTINS, 2002, p.35).
O que ocorre porém, é que esta noção de exclusão não é uma noção
transformadora, ela não promove contradição ou mudança, por isso é chamada de
orientação conservadora.Esses excluídos são contingentes de trabalhadores em
potencial, não participam da cadeia produtiva. “Não nem só excluídos das
oportunidades de participação social. Mas excluídos da possibilidade de fazer historia”.
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“A produção de novas situações e de novas relações sociais se dá sem eles. E a reprodução se dá sem sua participação direta. Diferente de quem efetivamente trabalha e é vital para o processo de reprodução ampliada do capital”.(MARTINS, 2002, p.35).
Por este motivo as categorias de excluídos são conservadoras, elas não
promovem mudanças, não modificam a sociedade, ao passo que os indivíduos que
sofrem as chamadas exclusões cíclicas auxiliam na sua expansão como consumidor
marginal e como requisitante dos valores e possibilidades da sociedade que levam a
expansão da mesma. Vendo sob este ultimo aspecto o excluído é conservador tanto
por não poder promover mudanças como por incentivar a expansão do capital.
O pobre aderiu ao mundo que o fez pobre. (MARTINS, 2002, p.37).
Neste caso, quando capturados como consumidores, os “excluídos” não se vêem
como tal (e nem o querem). A participação como consumidor de serviços e bens,
mesmo que de forma ilegal, faz com que se crie uma mascara que de certa forma se
torna um tipo de inclusão especifica. Este termo foi empregado pois trata-se de uma
inclusão superficial e que não tem as possibilidades de transformação histórica.
“o pobre ostensivo, mal vestido ou esfarrapado, estereotipado, que havia há algumas décadas, foi substituído pelo pobre para o qual a aparência e o aparente e, portanto o disfarce, tornam-se essenciais”. (MARTINS, 2002, p.37).
“... formas degradadas e precárias de participação social. Nelas, o consumidor (que é essencial à reprodução ampliada do capital) se afirma, independente de serem meios lícitos ou não”. (MARTINS, 2002, p.38.).
A questão fundamental do individuo excluído ocorre de fato devido as sua
tentativas de inclusão que causam uma contradição em relação a sociedade. As
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tentativas de inclusão destes grupos, em seu limite, podem recorrer a meios ilícitos: o
roubo, a violência, a delinqüência, o trafico, entre outras tentativas agressivas de incluir-
se.
A sociedade por outro lado quer tratar o problema da exclusão, quer expandir o
capital e modo que ele possa absorver e se aproveitar dos grupos excluídos, porém a
solução que os próprios excluídos apresentam para poder integrar-se é agressiva a
sociedade, que crê que esta forma de integração não é valida.
Movidos por essa contradição a classe média se tornou a responsável por
empregar o termo “excluído” de modo que este termo “é antes, uma impressão
superficial sobre o outro por parte daqueles que se consideram ‘incluídos’
(humanizados) e não o são de fato”.
“... é a classe média que fala em exclusão e não o ‘excluído’”. (MARTINS, 2002, p.39).
A solução que se apresenta neste caso é perceber o auto-engano que a
classificação de excluído traz, e a fim de tentar resolver a situação “nos deixarmos
capturar pelo outro ao invés de tentar capitula-lo na armadilha de nossas refutações e
dilemas que são nossos e não deles”.
Nesse sentido a luta contra a “exclusão” da maneira que ocorre hoje é uma luta
conformista, ou seja, que não resultará em nenhuma mudança histórica, uma vez que
esta luta se propõem mais a inserir os “excluídos” numa sociedade que inevitavelmente
gera exclusão. Por mais que os então “excluídos” sejam inseridos na sociedade sempre
haverá demanda para novas exclusões.
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2.2 Exclusão segundo Marialice Mancarini Foracchi
Antes de tratar da exclusão propriamente dita, Marialice Foracchi faz em seu
texto um diagnostico da sociedade. Presumindo que questões como a exclusão sejam
patologias sociais, em uma analogia com qualquer outra patologia deve-se conhecer o
histórico do paciente (a sociedade), diagnosticar a doença (no caso a exclusão) e só
então partir para o tratamento (mudanças no regime econômico por exemplo). Este tipo
de análise é válida para o estudo da exclusão, pois se tratando de uma patologia social
é necessário compreender como a sociedade permitiu que ela se desenvolvesse e
como ela se desenvolveu . O tratamento adequado para questões como a inclusão
ainda não é certo e, portanto, não é o enfoque da discussão.
A sociedade se configura a maneira que está hoje devido a alguns fatores
principais, a expansão da industria e do capitalismo, o aumento repentino da densidade
demográfica foram os precursores desses diversos fatores que ocorreriam. Esses
fatores acarretaram na mudança da comunidade, até então, em sociedade. A diferença
de ambas está em que na comunidade “os homens permanecem essencialmente
unidos apesar de todas as diferenças” ao paço que na sociedade “os homens
permanecem essencialmente separados apesar de todas as semelhanças”.
“O crescimento acelerado da mão-de-obra urbana tende sempre, sendo ela de baixa qualificação, a ultraassar a demanda desse tipo de força de trabalho. As condições sociais que necessariamente acompanham a industrialização da economia jogam no mercado um número bem maior de pessoas do que a industria em expansão pode absorver, decorrendo daí certo desemprego...”.(FORACCHI, 1882, p.18).
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Os fatores que levaram a transição da comunidade para a sociedade também
levaram a outras transições, a divisão do trabalho, a racionalização das atividades, a
fragmentação do individuo em diversos papeis. Este fator também acarretou num
aumento da competitividade dos indivíduos.
“Surge então uma nova formulação social baseada na competição, na divisão do trabalho, nos controles formais (Estado, Direito, etc.), na racionalização das atividades (burocracia) e na fragmentação do individuo em múltiplos papeis” (FORACCHI, 1882, p.5).
Com esses fatores ainda se soma o aumento espantoso das taxas de natalidade
e a concentração da industria nas grandes cidades. Isso acarretou em fluxos
migratórios das áreas rurais para áreas urbanas, fator esse que causou a explosão da
densidade demográfica nas grandes cidades.
“... na situação latino-americana, como característica especifica sua, um inevitável descompasso entre o processo de urbanização e o de industrialização cujo efeito mais notável seria o de lançar na periferia do sistema de produção um contingente humano crescente, que este, dado o seu limitado poder de expansão, não tem condições para absorver”. (FORACCHI, 1882, p.19).
O aumento da exclusão e da marginalidade ocorre num contexto em que a
industria se desenvolve ao mesmo tempo em que a densidade populacional nas
cidades aumenta. O que ocorre porém é um desequilíbrio entre esses dois fatores, a
densidade populacional cresce numa velocidade maior do que a industria. Esse
excedente populacional é então transferido às margens da cidade (o que se reflete
também no crescimento urbano) gerando o conceito de marginalidade. A marginalidade
portanto é o resultado do descompasso entre a oferta de mão de obra e a capacidade
de absorção da industria.
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“Este conceito, tal como é proposto, refere-se a existência de contingente populacional não-integrado, não-participante do sistema produtivo e, a este título, excluído, externo à sociedade como um todo. O caráter de não participação, de exclusão, estaria referido a uma determinação básica – ou seja, do mercado de trabalho – espécie de calibrador do dinamismo da economia...“. (FORACCHI, 1882, p.12).
A marginalidade e exclusão nesse caso decorem ambas da falta de trabalho e a
falta de trabalho gera carências que tornam o individuo excluído.
No caso latino-americano, novamente o inicio do processo se á da mesma forma.
A industria em expansão é incapaz de absorver o excedente de mão de obra. A esse
excedente se somam o aumento da natalidade e a concentração demográfica nas
cidades. Estes fatores combinados culminaram em certo desemprego.
Gradualmente estas populações se instalaram marginalmente nas cidades e
iniciam um processo de satelitização. Este termo denota a dependência das populações
marginais dos grandes centros, nestes casos “a participação social tende a estar
limitada aos centros urbanos e às suas populações”.
“No entanto, o processo de modernização que ocorre nesses centros urbanos em expansão não conduz necessariamente a transformação do setor colonizado, nem transforma a população desse setor em população participante. Atinge-a principalmente abrindo alternativas de integração sem alterar, no entanto, os dados do problema”. (FORACCHI, 1882, p.20).
O que ocorre de fato com as populações marginais é que elas têm um
desenvolvimento-excludente. Ou seja, seu único fator em abundancia é a força-de-
trabalho, e este fator faz com os contingentes populacionais participem do mercado de
trabalho sem, porém se integrar ao processo de trabalho. Desse ponto de vista,
tomando o fator renda como critério, percebesse que a situação marginal não é uma
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situação de exclusão, é de fato uma população com uma forma de participação própria,
uma participação que se enquadra no limiar das formas participativas, mas ainda sim
uma participação.
“... parece-me indispensável (obtida essa identificação estrutural) investigar a marginalidade como condição de existência social. Podemos propô-la mesmo em moldes de participação. Sabe-se que não representa a título nenhuma situação de existência totalmente marcada pela exclusão, pela não-participação, mas que, ao contrario, se singulariza por ser uma modalidade especial de participação”. (FORACCHI, 1882, p.22).
Percebe-se então que exclusão e marginalidade não são sinônimos apesar de
serem desencadeadas basicamente pelo mesmo processo. A exclusão se refere a falta
absoluta de renda e trabalho, por isso não é participativa, ao passo que a marginalidade
reflete a presença de alguma renda, seja ela familiar ou individual. O poder monetário
juntamente com o trabalho nesse caso também é um fator que possibilita formas
participativas na sociedade e, no caso das sociedades marginais formas de
participação diferenciadas.
3. Mecanismos de exclusão e segregação
contemporâneos; o caso de São Paulo e a influência do
mercado imobiliário.
Na década de oitenta, São Paulo passa por transformações no seu padrão de
crescimento. Estas transformações foram interpretadas como um momento de retração
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do padrão periférico de crescimento que até então se instaurava. Este padrão é definido
pela polarização da cidade em um pólo central e um pólo periférico.
Nesta porção periférica estariam os “excluídos” (na realidade mais consumidores
marginais do que excluídos) que de certa forma propiciam o crescimento da cidade “por
fora” do mercado imobiliário, através do lote barato, ou irregular, e a construção
domestica. Desta forma portanto estes “excluídos” são integrados no processo de
urbanização uma vez que participam do processo de expansão da cidade mesmo que
precariamente.
Com a retração deste padrão de crescimento indaga-se se a participação social
do excluído também se retrai ou se extingue acompanhando este processo. Para tanto
é preciso definir os processos que realmente ocorreram na década de oitenta
juntamente com a participação do mercado imobiliário neste mesmo período.
Sabe-se que a partir da década de oitenta o sonho da maior parte da população,
a casa própria, tornava-se cada vez menos acessível. Paralelo a este fator, vários
estudos realizados pela secretaria municipal de planejamento urbano indicaram uma
reestruturação sócio-espacial em São Paulo nesta mesma década.
“... houve um agravamento da pobreza (aumento do período de desemprego, redução ideal de salários, maior carência e precariedade de moradia, etc.), que atingiu inclusive segmentos menos pobres da população”.(PEREIRA, 1997).
Ainda na década de oitenta verifica-se o aumento da participação da população
de baixa renda nas áreas mais centrais da cidade. Um possível contribuinte para este
fator foi o empobrecimento da população que trazia a impossibilidade do trabalhador de
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construir sua casa própria no lote periférico assim como a retração do sistema periférico
de expansão devido a essa impossibilidade.
“Não há mais, na cidade, uma grande periferia de baixa densidade populacional e regiões definidas de média e altas densidades, como ocorria em 1977. O que se observa ...é uma disputa do espaço na área mais urbanizada por populações de diversas faixas de renda...onde convivem, lado a lado, mesmo (nas regiões mais valorizadas, o favelado, o encortiçado e os grupos de renda média”. (PEREIRA, 1997).
“Para os que precisavam continuar morando na cidade havia o refúgio no mercado de aluguel barato em cortiços ou favelas, onde ainda era possível economizar nos gastos com o transporte diário por serem mais centrais”. (PEREIRA, 1997).
A decadência do processo de expansão periférica apresenta ainda outras
decorrências. Destas destacam-se a valorização dos lotes devido à regulamentação da
propriedade e os melhoramentos urbanos. Estes fatores acarretam no aumento de
serviços assim como sua carga tributária e preço que acabam por expulsar a população
incapacitada de pagar.
“Nesta dinâmica, a desigualdade sócio-espacial se exacerba porque a valorização imobiliária torna a população incapaz de permanecer na moradia alugada ou de adquirir um terreno”. (PEREIRA, 1997).
Dentro desse panorama a possibilidade de construção da casa pelo próprio
trabalhador “se esgota devido a evolução da dinâmica metropolitana” (PEREIRA, 1997)., ou
seja, mais por uma mudança do mercado imobiliário do que pelo empobrecimento da
população.
Desta forma percebe-se que o empobrecimento foi uma condição delimitante
para explicar o processo, mas não a única, a esse fator ainda se soma a dinâmica
imobiliária.
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“A escassez de espaço físico e alta dos preços imobiliários são produzidos socialmente, e mais a manifestação de escassez ou elevação dos preços não dependem da capacidade de pagamento da população mais pobre, mas dos mais ricos”. (PEREIRA, 1997).
Na década de oitenta, decorrente das mudanças no mercado imobiliário a
população da periferia de São Paulo é mandada para outros municípios da metrópole
ou para o cetro da cidade nas condições de aluguel em cortiços.Essa nova forma de
“exclusão” que agora se configura mais árdua do que a anterior (uma vez que fora da
cidade do individuo se torna excluído do processo de urbanização) quebra a imagem
típica da segregação urbana. Antes os “excluídos” formavam uma polaridade, entre a
periferia excluída e o centro integrado, essa polaridade evidenciava a segregação na
cidade de uma maneira extremamente explicita.
“Na realidade, esta representação tradicional do crescimento da cidade expressava um padrão que segregava a população pobre em áreas periféricas e distantes do centro metropolitano. Provocava, a rigor, uma urbanização predatória que tinha um caráter tanto excludente como desigual, mas que podia não se revelar como tal: a exclusão transforma-se no seu contrário. O trabalhador se integrava a cidade pelo padrão periférico”. (PEREIRA, 1997).
A “exclusão” em São Paulo, portanto, a partir da década de oitenta segue uma
nova dinâmica sócio-espacial. O mascaramento da “exclusão” na metrópole se segue
em municípios vizinhos à capital. Este fator decorre principalmente da valorização dos
lotes somados ao empobrecimento da população.
Esta nova forma de “exclusão”, tão agressiva quanto a anterior, não é percebida
em sua integridade. A falta de uma polarização entre o centro e a periferia dissimula a
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expansão dessa exclusão. Essa falsa diminuição das formas segregativas da cidade,
chamada até de “diminuição perversa da segregação sócio-espacial” é danosa ainda
em excluir cada vez mais o trabalhador, que não tem acesso ao lote na cidade, tirando
também sua participação nos mecanismos de expansão urbana. As novas políticas de
crescimento urbano em São Paulo a partir deste ponto são claras; com uma influencia
muito mais forte do mercado e da especulação imobiliária do que antes.
4. Conclusão e síntese das idéias dos autores
Abordada a definição dos autores é perceptível pontos de contato entre as duas
perspectivas do que venha a ser exclusão. Nesse aspecto trata-se a exclusão na
verdade como a exclusão do mercado de trabalho. Fora do mercado o individuo não
tem condições de participar da reprodução do capital. Alheio a esse sistema o individuo
perde o poder de mudança histórica.
Nesse ponto de vista há uma confusão com a terminologia “exclusão”, o que
ocorre é que as exclusões cíclicas dos operários do mercado de trabalho levam a crer
que o operário é excluído, o que de fato não ocorre uma vez que o operário é um dos
sujeitos na reprodução do capital.
No caso da América latina especificamente a concepção de exclusão é outra.
Apesar de serem “excluídos” alguns indivíduos ainda são integrados no sistema de
forma marginalizada, é o que ocorre com os consumidores marginais.
O tipo de consumo em questão é um fator que acelera o desenvolvimento do
capital para estas áreas marginalizadas a fim de promover sua expansão. Esse tipo de
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“exclusão” não é um fator que ameaça a sociedade com uma nova organização política
e econômica, o papel e desejo dos excluídos é meramente ingressar nesse tipo de
sociedade, “o mundo do ter e do parecer”.
Neste caso o “excluído” na verdade não se vê como excluído, ele tem sua
inclusão através de mascaras sócias que funcionam a partir dos valores de consumo.
Compreendemos então duas categorias de excluídos, uma generalizada e uma
referente ao caso especifico da América latina e que remete mais ao conceito de
marginalização do que de exclusão propriamente. No primeiro caso espera-se que a
situação de exclusão seja resolvida com o balanço entre mão de obra e demanda,
deste modo todos teriam participação na reprodução do sistema e as situações
excludentes seriam minimizadas. Quanto a questão da exclusão na América latina, é
preciso primeiro que se defina uma nova terminologia. Uma vez que a própria
conceituação de excluído já é responsável por promover exclusão. O problema neste
caso é mais ideológico do que pratico e consiste basicamente em compreender o outro
com seus próprios olhos.
Nesse caso os excluídos se tornam ávidos para se integrar na sociedade de
forma que recorrem inclusive a meios ilícitos para faze-lo.
Em um outro aspecto temos a diferenciação dos conceitos de marginalidade pela
analise da obra de Marialice Mancarini Foracchi, essa diferenciação é mais um fator
que apóia a idéia de que o conceito que se tem da exclusão hoje na América-Latina
pode ser errôneo uma vez que na verdade refere-se a marginalidade e não a exclusão.
A referencia a Paulo César Xavier Pereira se enfoca na tentativa de
compreender a exclusão, e a interferência do mercado imobiliário neste tema, em São
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Paulo contemporaneamente. Percebe-se que a exclusão não é um tema encerrado em
si mesmo, o mercado imobiliário e a expansão urbana também participam do
desenvolvimento das formas de exclusão.
No caso de São Paulo os indivíduos excluídos (mas integrados) participavam do
crescimento urbano quase que como uma forma de resistência à expansão propiciada
pelo mercado imobiliário. O mercado imobiliário por sua vez propõe à cidade sua
própria forma de crescimento que por sua vez exacerbava o processo de exclusão,
excluindo as populações até então marginais da participação no desenvolvimento da
cidade.
Este tipo de configuração que ocorre é São Paulo, decorrente do esgotamento
do padrão periférico de crescimento define novas formas e percepções da exclusão e
do individuo excluído. A exclusão explicita na polaridade entre periferia e centro se
acolhe e dá lugar a uma nova exclusão.
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Referências Bibliográficas:
MARTINS J. S. Reflexão crítica sobre o tema da exclusão social. In A sociedade vista
do abismo - novos estudos sobre a exclusão pobreza e classes sociais. Petrópolis:
Vozes, 2002 pp. 25-47.
FORACCHI M. M. Diagnostico da Sociedade Moderna. In
. A participação social dos excluídos. São Paulo: Hucitec, 1982 pp. 1-8.
______. A noção de “participação-exclusão” das populações marginais. In
. A participação social dos excluídos. São Paulo: Hucitec, 1982 pp. 11-17.
______. Considerações gerais para a proposição da “marginalidade” como problema de
investigações nas ciências sociais. In
. A participação social dos excluídos. São Paulo: Hucitec, 1982 pp. 18-22.
PEREIRA P. C. X. "Metrópole e exclusão: a dinâmica dos processos sócio-espaciais em
São Paulo", Anais do VII Encontro Nacional da ANPUR, Recife, UFPE, 1997.
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