47
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS MOSCAS ECTOPARASITAS DE MORCEGOS EM FLORESTAS TROPICAIS SECAS BRASILEIRAS PEDRO FONSECA DE VASCONCELOS Montes Claros. Minas Gerais 2014

Moscas ectoparasitas de morcegos em florestas tropicais ... · pressão nesta interação hospedeiro-parasita. Quanto a sazonalidade e sucessão ecológica, não

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

MOSCAS ECTOPARASITAS DE MORCEGOS EM FLORESTAS TROPICAIS

SECAS BRASILEIRAS

PEDRO FONSECA DE VASCONCELOS

Montes Claros. Minas Gerais

2014

PEDRO FONSECA DE VASCONCELOS

MOSCAS ECTOPARASITAS DE MORCEGOS EM FLORESTAS TROPICAIS

SECAS BRASILEIRAS

Dissertação apresentada ao programa de

Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências

Biológicas da Universidade Estadual de

Montes Claros, como requisito necessário

para a conclusão do curso de Mestrado em

Ciências Biológicas.

Orientador:

Prof. Dr. Magno Augusto Zazá Borges

Co-orientador:

Prof. Dr. Gustavo Graciolli

Montes Claros, Minas Gerais

2014

PEDRO FONSECA DE VASCONCELOS

MOSCAS ECTOPARASITAS DE MORCEGOS EM FLORESTAS TROPICAIS

SECAS BRASILEIRAS

Dissertação apresentada ao programa de

Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências

Biológicas da Universidade Estadual de

Montes Claros, como requisito necessário

para a conclusão do curso de Mestrado em

Ciências Biológicas.

Data da aprovação: ___ de ____________ de 2014

Orientador:___________________________________________

Prof. Dr. Magno Augusto Zazá Borges (UNIMONTES)

Examinadores:________________________________________

Prof. Dr. Lemuel Olívio Leite (UNIMONTES)

________________________________________

Prof. Dr. Daniel Sobreira Rodrigues (EPAMIG)

Montes Claros. Minas Gerais

2014

À minha mãe, meu pai, Kit, João e Carol pelo incentivo diário...

A todos que me ajudaram;

DEDICO

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que de alguma maneira, direta ou indiretamente,

contribuíram para a realização deste trabalho.

Ao meu orientador, o Prof. Dr. Magno Augusto Zazá Borges ou Magoo, por me

proporcionar realizar uma parte do projeto que tracei para minha vida. Não posso deixar

de agradecer pela paciência, orientação e por acreditar no meu trabalho. E ao meu co-

orientador, o Prof. Dr. Gustavo Graciolli, por me ajudar e ensinar a identificar os

estreblídeos e nicteribiideos. E principalmente, por ser solícito sempre que precisei,

tirando todas as minhas dúvidas e me acolhendo em Campo Grande – MS.

Agradeço à Luiz Falcão por me proporcionar a oportunidade de enveredar pelos

rumos da pesquisa, me apresentar ao fantástico mundo dos morcegos e possibilitar que

eu realizasse meu projeto. Além disso, pelos conselhos, orientações e pela amizade

durante esses anos de trabalho.

Às pessoas que ajudaram nas coletas de dados (Carine, Gustavo, Hugo e

Paulim), em especial Maria Fernanda (Odetinha) que foi companheira sempre. A

Raphael Neiva por ceder os dados coletados no Parque Estadual da Mata Seca. A Éder

Barbier pelos artigos enviados e ajuda nas análises parasitológicas. E a Karol pela ajuda.

Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq - 563304/2010-3 e 562955/2010-0), Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas

Gerais (FAPEMIG CRA - APQ-00001-11) e o Inter-American Institute for Global

Change Research (IAI-CRN II-021) pelo financiamento do projeto. E ao Instituto

Estadual de Floresta e ICMBio, por possibilitar a realização da pesquisa de campo.

Agradeço à CAPES pela bolsa de mestrado e ao Programa de Pós-Graduação em

Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Montes Claros, pela estrutura

oferecida.

Aos professores de mestrado, especialmente Marcílio, Ronaldo, Mário e Og

pelos ensinamentos.

Agradeço a galera do LEBC pela companhia durante todos esses anos e pelos

momentos de risada. Em especial a Créu, Jamilli, Jú, Mano Brown, Michelle, Aniele e

Quedinha. E aos amigos da biologia Bárbara, Lucas (Lôra), Raissinha, Sarinha e Sara.

Aos colegas de mestrado, em especial a André e Lukete, que se tornaram meus

amigos, e com eles pude compartilhar as angústias de um pós-graduando e me divertir

nos momentos de descontração.

Aos membros da banca examinadora pelas correções e sugestões. Especialmente

ao Prof. Lemuel, por acompanhar este projeto e contribuir para enriquecê-lo.

Não posso deixar de agradecer os meus amigos de longa data, que fora do

mestrado sempre me apoiaram e incentivaram: Aninha, Brunim, Fernando, Gui,

Mateusão, Rennan e Victor. Também agradeço aos familiares que me entenderam nos

momentos de ausência nas festas, em especial minha avó Zelita e minhas tias.

Por fim, e não menos importante, agradeço aos meus pais (Rozânia e Heron) por

todos os dias me incentivarem a correr atrás do meu sonho, por serem meu exemplo de

dedicação e me manterem forte durante toda minha caminhada. Aos meus irmãos, Kit e

João, por me fazerem rir nos dias mais tristes, me aconselharem sempre que preciso e

serem as pessoas com quem posso contar para tudo. À minha namorada Carol, que

entendeu minha ausência todos os dias que precisei ir ao campo ou que estava atarefado,

pelas conversas, pelo companheirismo em todos os momentos, e por ser minha alegria.

Obrigado a todos e peço desculpas aqueles que não me lembrei!

OBRIGADO!

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa com os pontos de coletas das Unidades de Conservação do Norte de

Minas Gerais com Florestas Tropicais Secas, na área II ............................................... 20

Figura 2: Mapa dos pontos de coletas na Serra do Cipó, município de Santana do

Riacho, localizado na região central do estado de Minas Gerais ................................ 21

LISTA DE TABELA

Tabela 1. Associações morcegos-moscas ectoparasitas em três diferentes Florestas

Tropicais Secas Brasileiras .................................................................................... 23

SUMÁRIO

RESUMO ....................................................................................................................... 10

ABSTRACT ................................................................................................................... 11

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12

MÉTODO ....................................................................................................................... 15

Área de estudo ............................................................................................................ 15

Desenho amostral ........................................................................................................ 16

Coleta de dados ........................................................................................................... 17

Análise dos dados ....................................................................................................... 18

Sazonalidade e sucessão ecológica ............................................................................. 19

RESULTADOS .............................................................................................................. 20

DISCUSSÃO .................................................................................................................. 27

Componentes da comunidade e índices parasitológicos ............................................. 27

Especificidade ............................................................................................................. 33

Sazonalidade e sucessão ecológica ............................................................................. 35

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 37

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 38

RESUMO

Moscas da família Streblidae e Nycteribiidae, são ectoparasitas especializados

no hábito parasitário de morcegos, que podem ser influenciados por fatores ligados ao

ambiente de seus hospedeiros. Em Florestas Tropicais Secas (FTS) trabalhos sobre estas

moscas ainda não foram realizados. As FTS são ambientes altamente sazonais e

encontram-se distribuídas em forma de mosaicos por todo Brasil. Devido ao uso

intensivo da terra por atividades antrópicas, estes ambientes encontram-se em diferentes

estágios de sucessão ecológica. Neste trabalho foram estudados aspectos parasitológicos

(composição da comunidade, prevalência, intensidade média de infestação e

especificidade) na interação moscas-morcegos em três áreas de FTS brasileiras.

Ademais, testamos a hipótese de que a sazonalidade e sucessão ecológica influenciam

no parasitismo de Artibeus planirostris, espécie mais abundante no estudo, nestes

ambientes. As associações aqui encontradas são comuns para o Brasil, entretanto alguns

são novos registros para a região. A maioria das moscas foram consideradas altamente

específicas, reforçando que tais ectoparasitas possuem baixa capacidade de sobreviver

em hospedeiros que não são habituais. Portanto, as barreiras de dispersão exercem forte

pressão nesta interação hospedeiro-parasita. Quanto a sazonalidade e sucessão

ecológica, não encontramos resultado significativo no parasitismo de A. planirostris.

Sendo que, aspectos como o abrigo e plasticidade alimentar do hospedeiro, e

especificidade do parasita, podem ser responsáveis por tal resultado.

Palavras-chave: Streblidae, Nycteribiidae, interação hospedeiro-parasita, Artibeus

planirostris.

ABSTRACT

Flies from the family Streblidae and Nycteribiidae are specialized ectoparasites in the

parasitic habit of bats, which can be influenced by factors related to their host

environment. In Tropical Dry Forest (TDF) studies of these flies have not been realized.

The TDF are highly seasonal environments and are distributed in the form of mosaic

across Brazil. Due to the intensive use of the land by human activities, these

environments are at different stages of ecological succession. In this work

parasitological aspects (community composition, prevalence, mean intensity of

infestation and specificity) in the interaction bat flies-bats in three areas of Brazilian

TDF were studied. Furthermore, we tested the hypothesis that seasonality and

ecological succession influence the parasitism of Artibeus planirostris, most abundant

species in the study, in these environments. The associations found here are common to

Brazil, though some are new records for the region. Most flies were considered highly

specific, reinforcing that these ectoparasites have low ability to survive on hosts that are

not usual. Therefore, dispersal barriers have a strong pressure in this host-parasite

interaction. As for seasonality and ecological succession, we found no significant effect

on parasitism of A. planirostris. Being that, aspects like shelter and feeding plasticity of

host, and specificity parasite, may be responsible for this result.

Keywords: Streblidae, Nycteribiidae, host-parasite interaction, Artibeus planirostris.

INTRODUÇÃO

Moscas de morcego (Diptera: Hippoboscoidea) são ectoparasitos especializados

em morcegos (Mammalia: Chiroptera), apresentando hábito hematofágico (sugando

sangue na pele ou membranas das asas do hospedeiro) (Dick & Patterson 2006). Essas

moscas são divididas em duas famílias, Streblidae e Nycteribiidae, distribuídas

mundialmente (Dittmar et al. 2006). O tipo de reprodução desses parasitos é por

viviparidade adenotrófica. Os ovos ficam retidos na mãe e ao eclodirem as larvas se

alimentam de secreções de glândulas hipertrofiadas, sendo depositadas no abrigo, como

larvas de terceiro instar prestes a empupar. Desta maneira, a chance de sobrevivência da

pupa é maior, visto que ela fica protegida do hospedeiro (Kim 1985, Dick & Patterson

2006). A mosca adulta eclode do pupário de três a quatro semanas, após esse período o

adulto emerge e coloniza o hospedeiro imediatamente para sua alimentação (Ching &

Marshall 1968). As famílias Streblidae e Nycteribiidae são altamente especializadas no

hábito de vida parasitário (Allen 1967, Dick & Patterson 2007). Por isso, a morfologia

de ambas está intimamente relacionada aos seus hospedeiros. Deste modo, vários

fatores podem influenciar na abundância e distribuição dos ectoparasitos de morcegos,

tais como sexo e reprodução do hospedeiro (Marshall 1982).

Esses dípteros possuem distribuição biogeográfica ampla, em especial nas

regiões tropicais, porém as espécies diferem entre os hemisférios leste e oeste (Dittmar

et al. 2006). Os fatores que influenciam o aumento ou diminuição da diversidade e,

dispersão desses ectoparasitas estão relacionados ao fato de seus hospedeiros

(morcegos) serem altamente diversos e com ampla distribuição geográfica (Wenzel

1976, Rui & Graciolli 2005). Além disso, a variação geográfica das espécies de

morcegos é um dos fatores determinantes da especificidade neste sistema hospedeiro-

parasito (Dick 2007).

Os nicteribiídeos (Nycteribiidae) compreendem 274 espécies de 11 gêneros,

divididos em três subfamílias (Nycteribiinae, Cyclopodiinae e Archinycteribiinae)

(Guimarães & D’Andretta 1956, Graciolli & Dick 2006). Apenas dois gêneros da

subfamília Nycteribiinae foram encontrados para as Américas, Basilia Miranda–

Ribeiro, 1903 e Hershkovitizia Guimarães & D’Andretta, 1956. No Brasil, o gênero

mais abundante é Basilia com 24 espécies registradas, e Hershkovitizia possui quatro

espécies descritas no país (Graciolli et al. 2007).

Já os estreblídeos (Streblidae) estão representados por 237 espécies, distribuídas

em 33 gêneros e cinco subfamílias (Brachytarsininae, Ascodipterinae, Nycterophiliinae,

Trichobiinae e Streblinae). Somente as subfamílias Nycterophiliinae, Trichobiinae e

Streblinae estão presentes nas Américas, as demais são restritas ao Velho Mundo

(Guerrero 1997, Dick & Graciolli 2006). E no Brasil, a família Streblidae é representada

por 70 espécies (Prevedello et al. 2005, Dias et al. 2009, Soares et al. 2013).

Estudos sobre Streblidae e Nicteribiidae têm aumentado no Brasil nos últimos

anos, mas ainda estão restritos a regiões de Cerrado e Mata Atlântica. Esses, por sua

vez, raramente lançam mão de ferramentas ecológicas (índices de prevalência e

intensidade média de infestação) e evolutivas (especificidade) para discutir a relação

morcego-mosca. Portanto, expandir estudos desta natureza para outras regiões e tipos de

formação florestal pode ajudar a entender se existem padrões quanto ao parasitismo de

Streblidae e Nycteribiidae em morcegos. Bem como, permite avaliar o quanto o

ambiente em que estão inseridos influenciam neste sistema de trabalho (hospedeiro-

parasita).

Em Florestas Tropicais Secas (FTS) esta relação morcego-mosca ainda não foi

estudada. Estas florestas são caracterizadas pela sazonalidade bem marcada, onde

durante a estação seca (de 3 a 5 meses) há alta deciduidade foliar e baixas temperaturas,

exercendo grande influencia sobre a produção vegetal (Sánchez-Azofeifa et al. 2005,

Pezzini, 2008). As FTS brasileiras encontram-se fragmentadas em todo o país, com

distribuição nos biomas da Caatinga e Cerrado (Espírito-Santo et al. 2009). Mesmo

sendo consideradas de grande importância para a conservação, tais áreas sofreram com

uso da terra por atividades agrárias e atualmente encontram-se em diferentes estágios de

sucessão (Quesada et al. 2009).

Com base no exposto, este trabalho objetiva caracterizar as associações

morcego-mosca em FTS, discutindo os componentes da comunidade destas moscas.

Para isto, avaliamos os índices de prevalência e de intensidade média de infestação bem

como a especificidade do sistema (hospedeiro-parasita). Em adição, este trabalho possui

como objetivo responder as seguintes perguntas: A sazonalidade e a sucessão ecológica

influenciam no parasitismo de morcegos por moscas ectoparasitas em FTS? Para

responder as perguntas propostas predizemos que: (i) haverá aumento no parasitismo na

estação seca, pois neste período a escassez de alimentos para os morcegos acarretará em

comprometimento na condição corporal do morcego favorecendo o parasitismo; (ii) o

estágio tardio de regeneração da área terá menor parasitismo que os demais, devido a

estas áreas serem mais preservadas haverá menor comprometimento da condição

corporal do hospedeiro.

MÉTODO

Área de estudo

O estudo foi conduzido em três ares de Florestas Tropicais Secas (FTS) no

estado de Minas Gerais (MG). As amostragens foram realizadas nas regiões norte e

central de MG entre os anos de 2008 e 2013.

Área I- Parque Estadual da Mata Seca (PEMS): é uma unidade de proteção

integral, sob responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Possui área de

15.281 ha e está localizado no vale médio do rio São Francisco, norte do estado de

Minas Gerais, entre as coordenadas 14°48’36” – 14°56’59” S e 137 43°55’12” –

44°04’12” W. A vegetação original do parque é a FTS, associada a solos planos e

nutritivos (IEF 2000). O clima da região é Aw (Köppen) caracterizado por uma severa

estação seca durante o inverno. A temperatura e a precipitação média anual são de 24ºC

(Antunes 1994) e 871 mm, respectivamente (Madeira et al. 2009). A principal atividade

econômica na área antes da implementação do parque foi a pecuária. Aproximadamente

1.525 ha do parque são de pastagens em diferentes estágios de regeneração natural e

áreas remanescentes de floresta primária e secundária (Madeira et al. 2009).

Área II: realizamos as coletas em três unidades de conservação do norte de MG:

Parque Estadual Lagoa do Cajueiro (20.500 ha), nas Reservas Biológicas do Jaíba

(6.358 ha) e Serra Azul (7.200 ha). Estas áreas localizadas entre os municípios de

Matias Cardoso e Jaíba, foram criadas como medidas compensatórias à expansão do

Projeto Jaíba. A vegetação é caracterizada por FTS, encontrando-se na faixa de transição

do Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica (IEF 2000). O clima que predomina nesta região

é o Aw (segundo classificação de Köppen) em que no inverno há uma estação seca bem

definida. Em nível anual o índice pluviométrico é de 871 mm e a temperatura média é

de 24ºC (Antunes 1994). Antes da criação destas unidades de conservação, estas áreas

eram destinadas principalmente à criação de gados, de maneira que, atualmente, é

composta por mosaicos florestais oriundos de diversos estágios florestais de

regeneração.

Área III- Serra do Cipó: localizada no município de Santana do Riacho, na

região central do estado de MG. A Serra do Cipó está inserida na porção sul da Cadeia

do Espinhaço, sendo que as áreas de FTS encontram-se associadas a afloramentos

calcários. A vegetação predominante na área é o Cerrado e Campo Rupestre. O clima da

região é mesotérmico (Cwb na classificação de Köppen), onde os invernos são secos e

os verões chuvosos. A precipitação média anual é de 1.500 mm e temperatura anual

média de 17,4 a 19,8ºC (Giulietti et al. 1997).

Desenho amostral

Para a diferenciação entre os estágios determinamos, previamente, a estrutura

vertical (número de estratos) e horizontal (densidade) das árvores nas áreas amostradas,

bem como o uso histórico da terra (idade de diferentes fragmentos) (veja Arroyo-Mora

et al. 2005, Madeira et al. 2010). Segue a definição de cada estágio de regeneração

(inicial, intermediário e tardio), com base na estratificação vertical. O inicial é

caracterizado por estrato herbáceo-arbustivo, com manchas esparsas de vegetação

lenhosa de porte mais alto formando um dossel descontínuo. O estágio intermediário

possui dois estratos; um composto de árvores decíduas de crescimento rápido que

formam um dossel fechado e, outro composto por lianas, árvores adultas pertencentes a

espécies tolerantes à sombra e árvores juvenis. O tardio caracteriza-se pela presença de

três estratos verticais; o primeiro constituído por árvores de grande porte que formam

um dossel bastante fechado, o segundo é formado por árvores juvenis de diferentes

idades e tamanhos, e o terceiro é composto por espécies herbáceas e arbustivas típicas

de sub-bosque.

Área I: para esta área, utilizamos os dados previamente coletados (2008) em um

estudo realizado pelo Laboratório de Ecologia e Controle Biológico (LECB) da

Universidade Estadual de Montes Claros, onde estão depositados os espécimes-

testemunho.

Para captura de morcegos, nas demais áreas, utilizamos 10 redes de neblina por

noite, dispostas ao nível do solo. Distribuímos as redes distribuídas arbitrariamente

dentro da mata, em possíveis rotas de voos, abrindo-as logo no período crepuscular.

Estas permaneceram assim dispostas durante cinco horas, sendo visitadas a cada 30

minutos.

Área II: Escolhemos três pontos de coleta em cada UC, totalizando nove pontos

de amostragem (três em cada estágio sucessional) (Figura 1). Realizamos seis coletas

neste local, no período de outubro de 2012 a agosto de 2013, totalizando 54 noites de

coleta. O esforço amostral total foi de 24.300m2.h (Straube & Bianconi 2002).

Área III: De maneira semelhante à Área II, escolhemos um total de nove pontos

amostrados (três em cada estágio sucessional) (Figura 2). O período de coleta foi entre

janeiro de 2012 e setembro de 2013, totalizando quatro campanhas. O esforço amostral

total foi de 8.910 m2.h (Straube & Bianconi 2002).

Coleta de dados

Os morcegos capturados foram acondicionados em sacos de algodão e

identificamos ainda no campo utilizando chaves taxonômicas (Vizotto & Taddei 1973,

Medellín et al. 1997, Gregorin & Taddei 2002, Reis et al. 2007). Utilizamos anilhas

metálicas para marcação dos animais e depois os indivíduos foram soltos. O uso de

anilha é importante para monitorar os morcegos.

Os ectoparasistos (Streblidae e Nicteribiidae) foram coletados por catação

manual com auxílio de uma pinça, durante inspeção do hospedeiro. Posteriormente,

acondicionamos em tubos eppendorf contendo álcool 70%. E levamos para

identificação no LECB, onde estão depositados os espécimes-testemunho. Utilizamos a

chave de Guerrero (1994a, 1994b, 1995, 1996 e 1997) para identificar os estreblídeos e,

Guimarães & D’Andretta e Guimarães (1966, 1977) para os nicteribiídeos.

Análise dos dados

Para cada associação hospedeiro-parasito calculamos a prevalência e a

intensidade média de infestação e, analisamos os componentes da comunidade (cada

espécie de parasito encontrada em uma única espécie de hospedeiro), seguindo Bush et.

al (1997). Prevalência (de hospedeiros infestados / número de hospedeiros examinados

x 100) e intensidade média de infestação (número de parasitos / número de hospedeiros

infestados) permitem inferir como uma determinada espécie de morcego está parasitada

por seus ectoparasitos. Com auxílio do software Quantitative Parasitology 3.0 (Rózsa et

al. 2000) obtivemos os intervalos de confiança para estes índices. Consideramos

associação como primária, quando a prevalência foi ≥ 5%. As demais associações foram

consideradas não-primárias, provavelmente por contaminação da coleta ou distúrbios de

transferência (Dick 2007).

Além disso, utilizamos um índice de especificidade (STD*) proposto por Poulin

& Moullit (2005), que engloba informações filogenéticas e ecológicas (prevalência),

calculando um único valor para cada espécie de parasito em uma assembleia de

hospedeiros. STD* mede as distâncias taxonômicas (ou seja, gênero, família, ordem,

classe e filo) de todas as espécies de hospedeiros utilizados por um dado parasito, dando

peso para cada nível taxonômico. Os valores dos níveis taxonômicos variam de um 1 a

5. Dessa forma, quanto maior o valor desta distância, maior o valor deste índice, assim,

STD* é inversamente proporcional à especificidade. Portanto, quando este índice possui

valor igual a 0, o parasito é considerado monoxênico, ou seja, utiliza uma única espécie

de hospedeiro. Se o valor for 1, o parasito é oligoxênico, parasitando indivíduos

congêneres. E consideramos o parasito como não-específico, quando o valor for maior

que 1,podendo chegar até 5 quando as espécies hospedeiras são de classes diferentes.

Utilizamos a classificação proposta por Reis et al.(2007) para inferirmos as distâncias

taxonômicas dos morcegos.

Sazonalidade e sucessão ecológica

Para testar as hipóteses propostas neste estudo (sazonalidade e sucessão

ecológica), construímos Modelos Lineares Generalizados (GLM’s), com distribuição do

tipo binomial negativa. Onde as variáveis explicativas foram estação (seca e chuvosa) e

estágio sucessional (inicial, intermediário e tardio), e a variável resposta abundância de

parasitos por indivíduo. Nesta análise, utilizamos apenas Artibeus planirostris, por ser a

espécie mais abundante. Além disso, as análises foram realizadas apenas para

indivíduos das áreas II e III, por possuírem o desenho amostral adequado para testar tais

hipóteses. Todas as análises foram realizadas no software R.

Figura 1: Mapa com os pontos de coletas das Unidades de Conservação do Norte de Minas

Gerais com Florestas Tropicais Secas, na área II.

Figura 2: Mapa com os pontos de coletas na Serra do Cipó, município de Santana do Riacho,

localizado na região central do estado de Minas Gerais.

RESULTADOS

Amostramos 33 espécies de morcegos (n=882), pertencentes a cinco famílias

(Tabela). A família mais abundante foi Phyllostomidae (n=853), seguida por Molossidae

(n=14), Vespertilionidae (n=8), Emballuronidae (n=3) e Noctilionidae (n=1). Apenas as

espécies de duas destas famílias (Phyllostomidae e Vespertiolionidae) estavam

parasitadas por 38 espécies de dípteros das famílias Streblidae e Nycteribiidae (Tabela).

A maioria dos dípteros ectoparasitos encontrados foi estreblídeos (n=1.096),

compreendendo 36 espécies. Destes, Trichobius joblingi, Trichobius costalimai e

Megistopoda aranea, foram as mais abundantes com 298, 200 e 107 indivíduos

coletados, respectivamente. Somente duas espécies representaram a família

Nycteribiidae (n=2), Basilia juquiensis e Basilia mimoni.

A intensidade média de infestação variou de 1,0 a 10,7. Os morcegos

Phyloderma stenops (9,00) e Phyllostomus hastatus (7,41) foram os que apresentaram

maiores valores, quando parasitados por Trichobius longipes e Trichobius costalimai,

respectivamente. Para a prevalência a variação foi de 0 à 100%,com 74% de associações

primárias.

Para o cálculo de especificidade excluímos as associações não primárias. Dos

parasitos com associações primárias, cerca de73% obtiveram valor zero para o STD* e

foram considerados monoxênicos. Ou seja, estão associadas a um único hospedeiro.

Trichobius cf. handleyi foi a única espécie oligoxênica deste estudo, apresentando valor

um (01) para este índice. Esta, parasitou duas espécies congêneres, Micronycteris sp. e

Micronycteris minuta. Aproximadamente 24% tiveram valor superior a 1 para STD*,

indicando que estas espécies utilizam mais de uma espécie de morcegos como

hospedeiro.

As hipóteses propostas neste trabalho não foram corroboradas (p>0,05), em

nenhuma das áreas. Portanto, a estação e o estágio sucessional não são fatores

determinantes do parasitismo em Artibeus planirostris na FTS.

Tabela I: Associações morcegos-moscas ectoparasitas em três diferentes Florestas Tropicais Secas

Brasileiras. HI: Hospedeiros Infestados; P: Prevalência (%); IM: Intensidade Média de Infestação; IC:

intervalo de confiança; STD*: Índice de especificidade (Poulin & Moullit 2005); a: Associação não-

primária; b: dados insuficientes para calcular os intervalos de confiança.

Hospedeiros (n)

Ectoparasitos (n)

HI

P

(95% IC)

IM

(95% IC)

STD*

Família Phyllostomidae

Anoura caudifer (E, Geoffroy, 1818) (9)

Strebla carvalhoi Graciolli, 2003 (1)

Trichobius tiptoni Wenzel, 1976 (6)

1

4

12,5 (0,3-52,7)

50,0 (15,7-84,3)

1,00b

1,50 (1,00-1,75)

0,00

0,00

Anoura geoffroyi Gray, 1838 (7)

Anastrebla modestini Wenzel,1966

(8)

Exastinion clovisi (Pessôa &

Guimarães, 1937) (11)

Trichobius propinquus Wenzel, 1976

(1)

5

7

1

83,3 (35,6-99,6)

100 (54,1-100,0)

11,1 (0,4-64,1)

1,60 (1,00-1,80)

1,67 (1,17-2,17)

1,00b

0,00

0,00

0,00

Artibeus cinereus (Gervais, 1856) (4) 0 - - -

Artibeus lituratus (Olfers, 1818) (11)

Paratrichobius longicrus (Miranda

Ribeiro, 1907) (1)

1

11,1 (0,3-48,2)

1,00b

0,00

Artibeus planirostris (Spix, 1823) (325)

Aspidoptera phyllostomatis (Perty,

1833) (6)a

Megistopoda aranea (Coquillet,

1899) (106)

Strebla guajiro (García & Casal,

1965) (11)a

Trichobius dugesii Townsend, 1891

(6)a

Trichobius joblingi Wenzel 1966 (7)a

Trichobius longipes Rudow, 1871

(1)a

Trichobius parasiticus Gervais, 1844

(1)a

4

58

5

1

1

1

1

1,2 (0,3-3,1)

17,9 (13,9-22,5)

1,5 (0,5-3,6)

0,3 (0,0-1,7)

0,3 (0,0-1,7)

0,3 (0,0-1,7)

0,3 (0,0-1,7)

1,5 (1,00-1,75)

1,81 (1,53-2,12)

1,2 (1,20-2,60)

6,00b

7,00b

7,00b

1,00b

-

0,00

-

-

-

-

-

Carollia brevicauda Schinz, 1821 (1) 0 - - -

Carollia perspiscilata (Linnaeus, 1758) (209)

Gênero novo (1)a

Megistopoda aranea (Coquillet,

1899) (1)a

Speiseria ambigua Kessel, 1925 (1)a

Strebla guajiro (García & Casal,

1965) (29)

Trichobius dugesii Townsend, 1891

(41)

Trichobius joblingi Wenzel, 1966

(289)

1

1

1

20

18

101

0,5 (0,0-2,6)

0,5 (0,0-2,6)) 4,8 (2,3-8,7)

9,6 (6,0-14,5)

8,7 (5,2-13,3)

48,6 (41,6-55,6)

1,00b

1,00b

1,00b

1,3 (1,09-1,55)

2,28 (1,48-3,59)

2,84 (2,45-3,36)

-

-

-

0,00

2,00

2,00

Chrotopterus auritus (Peters,1856) (1)

Strebla chrotopteri Wenzel, 1976

(10)

10

100b

1,00b

0,00

Desmodus rotundus (E, Geoffroy, 1810) (93)

Strebla wiedemannii Kolenati, 1856

(57)

Trichobius furmani Wenzel, 1966

(44)

Trichobius parasiticus Gervais, 1844

(79)

18

11

14

19,6 (12,0-29,1)

11,0 (6,1-20,4)

14,0 (8,6-24,2)

3,11 (2,11-5,25)

4,00 (2,27-9,09)

5,64 (3,71-10,2)

2,00

0,00

2,00

Dyphilla ecaudata Spix, 1823 (7)

Strebla diphyllae Wenzel, 1966 (1)

Trichobius diphyllae Wenzel, 1966

(1)

1

1

16,7 (0,4-64,1)

16,7 (0,4-64,1)

1,00b

1,00b

0,00

0,00

Glossophaga soricina (Pallas, 1766) (61)

Paraeuctenodes longipes Pessôa e

Guimarães, 1936 (4)a

Strebla curvata Wenzel, 1976 (1)a

Trichobius dugesii Townsend 1891

(16)

Trichobius loncophyllae Wenzel,

1966 (13)

Trichobius sp, (1) a

2

1

6

7

1

3,3 (0,4-11,5)

1,7 (0,0-8,9)

10,0 (3,0-20,5)

11,7 (4,8-22,6) 1,7 (0,0-8,9)

2,00 (1,00-2,00) 1,00

b

1,67 (1,17-2,17)

1,86 (1,00-3,86) 1,00

b

-

0,00

2,00

1,39

-

Lonchophylla dekeyseri Taddei, Vizotto &

Taddei, 1983 (12)

Paraeuctenodes similis Wenzel, 1976

(1)

Trichobius dugesii Townsend 1891

(1)

Trichobius loncophyllae Wenzel,

1966 (8)

Trichobius sp, (complexo dugesii) (1)

Trichobius uniformis Curran, 1935

(2)

1

1

3

1

1

9,1 (0,2-41,3)

9,1 (0,2-41,3)

27,3 (6,0-61,0)

9,1 (0,2-41,3)

9,1 (0,2-41,3)

1,00b

1,00b

2,67 (1,00-3,67)

1,00b

2,00b

0,00

2,00

2,00

2,00

0,00

Lophostoma silvicolum d’Orbigny, 1836 (1) 0 - - -

Micronycteris minuta (Gervais, 1856) (10)

Strebla wiedemannii Kolenati, 1856

(4)

Trichobius cf, handleyi Wenzel, 1976

(8)

Trichobius dugesii Townsend, 1891

(8)

3

2

5

33,3 (7,5-70,1)

22,2 (2,8-60,0)

55,6 (21,2-86,3)

1,33 (1,00-1,67)

4,00b

1,60 (1,00-2,20)

2,00

1,00

2,00

Micronycteris sanborni Simmons, 1996 (10)

Trichobius joblingi Wenzel 1966 (1)

1

100b

1,00b

2,00

Micronycteris sp, (7)

Gênero novo (1)

Trichobius cf, handleyi Wenzel, 1976

(3)

1

2

16,7 (0,4-64,1)

33,3 (4,3-77,7)

1,00b

1,50 (1,00-1,50)

2,00

1,00

Mimon bennettii (E, Geoffroy, 1838) (2) 0 - - -

Mimon crenulatum (E, Geoffroy, 1803) (19)

Basilia mimoni Theodor &

Peterson, 1964 (1)

Gênero novo (1)

Trichobius joblingi Wenzel 1966 (1)

Trichobius sp, (complexo longipes)

(1)

1

1

1

1

5,6 (0,1-27,3) 5,6 (0,1-27,3) 5,6 (0,1-27,3)

5,6 (0,1-27,3)

1,00b

1,00b

1,00b

1,00b

0,00

2,00

2,00

0,00

Phylloderma stenops Peters, 1865 (7)

Trichobius longipes (Rudow, 1871)

(9)

1

16,7 (0,4-64,1)

9,00b

2,00

Phyllostomus discolor Wagner, 1843 (28)

Strebla hertigi Wenzel, 1966 (9)

Trichobius bequaerti Wenzel, 1966

(1)a

Trichobius costalimai Guimarães,

1938 (200)

Trichobius parasiticus Gervais, 1844

(6)

Trichobius perspicillatus (Pessôa &

Galvão, 1937) (16)

4

1

27

4

7

14,8 (4,2-33,7)

3,7 (0,1-19,0)

100,0 (87,2-100,0)

14,8 (4,2-33,7)

25,9 (11,1-46,3)

2,25 (1,00-3,25)

1,00b

7,41 (5,33-10,7)

1,50 (1,00-2,00)

2,29 (1,14-4,00)

0,00

-

0,00

2,00

0,00

Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) (9)

Strebla mirabilis (Waterhouse, 1879)

(14)

Trichobius longipes (Rudow, 1871)

(20)

4

7

50,0 (15,7-84,3)

87,5 (47,3-99,7)

3,50 (1,25-7,25)

2,86 (1,65-3,57)

0,00

2,00

Platyrrhinus lineatus (E, Geoffroy, 1810)

(18)

Trichobius sp, (complexo dugesii) (1)

Paratrichobius sanchezi Wenzel,

1966 (7)

Trichobius cf, angulatus Wenzel,

1976 (2)

1

4

1

5,9 (0,1-28,7)

23,5 (6,8-49,9)

5,9 (0,1-28,7)

1,00b

1,75 (1,00-2,50)

2,00b

2,00

0,00

0,00

Sturnira lilium (E, Geoffroy, 1810) (1) 0 - - -

Tonatia saurophila Koopman & Wiliiams,

1951 (2)

0 - - -

Uroderma magnirostrum Davis, 1968 (1) 0 - - -

Família Vespertilionidae

Lasiurus blossevillii (Lesson & Garnot,

1826) (1)

0 - - -

Histiotus velatus (I, Geoffroy, 1824) (1) 0 - - -

Myotis sp, (3) 0 - - -

Myotis nigricans (Schinz, 1821) (2)

Basilia juquiensis Guimarães,

1943 (1)

1

100,0 (2,5-100,0)

1,00b

0,00

Família Molossidae

Molossops teminckii (Burmeister, 1854) (13) 0 - - -

Molossus molossus (Pallas, 1766) (1) 0 - - -

Família Emballuronidae

Peropteryx macrotis (Wagner, 1843) (3) 0 - - -

Família Noctiolinidae

Noctilio albiventris Desmarest, 1818 (1) 0 - - -

Total (882)

DISCUSSÃO

Componentes da comunidade e índices parasitológicos

A espécie Artibeus planirostris estava parasitada por Megistopoda aranea

(n=106). Esta espécie normalmente parasita morcegos do gênero Artibeus (Guerrero

1994). A associação entre M. aranea e A. planirostris já foi registrada para o estado de

Minas Gerais (MG), em área de Cerrado (Komeno & Linhares 1999). Bem como, para

regiões de Cerrado em Goiás (GO), no Mato Grosso do Sul (MS) (Graciolli et al. 2010,

Erickson et al. 2011) e Maranhão (MA) (Santos et al. 2013). A prevalência de M.

aranea (17,9%) foi menor quando comparada a trabalhos desenvolvidos no Cerrado

(Erickson et al. 2011, Santos et al. 2013), já a intensidade de infestação (1,81) foi

semelhante.

Carollia perspiscilata encontrou-se parasitada por Trichobius joblingi (n=289),

Trichobius dugesii (n=41) e Strebla guajiro (n=29). As espécies T. joblingi e S. guajiro,

são associações comuns em outros estudos no Cerrado em MG (Komeno & Linhares

1999, Azevedo & Linardi 2002, Teixeira & Ferreira 2010), MS (Erickson et al. 2011) e

MA (Santos et al. 2013). E na Mata Atlântica em São Paulo (SP) (Graciolli et al.

2006b), Paraná (PR) (Prevedello et al. 2005) e MG (Moras et al. 2013). E T. joblingi

também foi registrada no MS em uma área de transição Cerrado-Floresta Estacional

(Graciolli et al. 2006a). A prevalência e a intensidade de infestação para T. joblingi e S.

guajiro são semelhantes aos estudos realizados no Cerrado por Erickson et al. (2011) e

Santos et al. (2013). Porém, quando comparadas ao estudo de Teixeira & Ferreira

(2010), são diferentes. Para T. joblingi ambos os índices parasitológicos foram maiores.

Em S. guajiro a prevalência foi menor e a intensidade média de infestação maior. T.

dugesii foi encontrada pela primeira vez em C. perspiscilata no Brasil, possuindo

registros para outras regiões da América do Sul (Guerrero 1995). Speiseria ambigua é

comumente encontrado neste hospedeiro (Dias et al. 2009, Teixeira & Ferreira 2010,

Erickson et al. 2011, Soares et al. 2013, Santos et al. 2013), porém devido a baixa

amostragem desta espécie não foi considerada uma associação primária.

Trichobius parasiticus (n=79), Strebla wiedemannii (n=57) e Trichobius furmani

(n=44) estavam presentes em Desmodus rotundus. S. wiedemannii, diferente das outras

espécies de moscas, possui registro para MG (Komeno& Linhares 1999, Azevedo &

Linardi 2002, Teixeira & Ferreira 2010), e também é comumente encontrado sobre D.

rotundus em outras regiões do país (Graciolli & Coelho 2001, Graciolli & Linardi 2002,

Prevedello et al. 2005, Rios et al. 2008, Graciolli et al. 2010, Aguiar &Antonini 2011,

Erickson et al. 2011). Este ectoparasito possui taxa de prevalência (19,6%) menor em

FTS comparado a outros estudos (Rios et al. 2008, Aguiar & Antonini 2011, Erickson et

al. 2011). Sendo semelhante apenas ao estudo realizado por Teixeira & Ferreira (2010).

A intensidade média de infestação (3,11) foi semelhante a estes trabalhos, exceto para

região de Caatinga na Bahia (BA) (Rios et al. 2008) que foi maior. T. parasiticus

também foi amplamente amostrado sobre este hospedeiro em outros estudos (Graciolli

& Linardi 2002, Rios et al. 2008, Dias et al. 2009, Graciolli et al. 2010. Aguiar &

Antonini 2011, Soares et al. 2013, Santos et al. 2013). Entretanto, sua prevalência

(14%) foi menor e intensidade de infestação (5,64) maior, quando comparadas a estudos

na BA (Rios et al. 2008) e DF (Aguiar & Antonini 2011). Ao compararmos com o

trabalho feito no MA (Santos et al. 2013), a prevalência e intensidade de infestação

foram menores. T. furmani substitui T. parasiticusem D. rotundus na região sudeste do

Brasil (Graciolli & Linardi 2002, Bertola et al. 2005). Entretanto, como mostramos

aqui, em FTS de MG ambas as espécies ocorrem. Também possuem registros de T.

furmani para o DF (Aguiar & Antonini 2001, Graciolli & Coelho 2001). A prevalência

(11%) foi semelhante à encontrada por Aguiar & Antonini (2011), mas a intensidade

média de infestação (4,00) foi maior.

Trichobius dugesii (n=16) e Trichobius loncophyllae (n=13) parasitaram

Glossophaga soricina. A mosca T. loncophyllae já foi registrada nesta associação para

uma região de Cerrado em MG (Azevedo & Linardi 2002). T. dugesii não foi

encontrada no estudo anteriormente citado, sendo, portanto, este o seu primeiro registro

para o estado. Porém, esta mosca é encontrada em várias regiões de Cerrado no DF, GO,

MS e MA (Graciolli & Coelho 2001, Graciolli et al. 2010, Erickson et al. 2011,Santos

et al. 2013, respectivamente). Além disso, no Rio Grande do Sul (RS) (Graciolli & Rui

2001) em áreas de fragmentos de Mata Atlântica e no MA (Dias et al. 2009) em

fragmentos de floresta amazônica. Quanto às taxas de prevalência e intensidade de

infestação de T. dugesii sobre G. soricina, estas se mostraram semelhantes quando

comparadas a outros trabalhos (Erickson et al. 2011, Santos et al. 2013).

Phyllostomus discolor estava parasitado por Trichobius costalimai (n=200),

Trichobius perspiscillatus (n=16), Strebla hertigi (n=9) e Trichobius parasiticus (n=6).

Dentre estas associações, T. parasiticus ainda não foi descrita, sendo que este é um

parasito de Phyllostomus hastatus (Guerrero 1995). As demais foram encontradas em

área de Mata Atlântica no MA (Dias et al. 2009) e, apenas T. costalimai e T.

perspiscillatus em Pernambuco (PE) (Soares et al. 2013). Ademais, T. costalimai possui

registro para o GO em área de Cerrado (Graciolli et al. 2010). S. hertigi e T. costalimai

foram descritas para o Cerrado no MA (Santos et al. 2013). Os índices parasitológicos

de T. costalimai quando comparados a este estudo do MA, são maiores em FTS (100% e

7.41). Para S. hertigi a prevalência (14.8%) é semelhante e a intensidade média (2.25)

maior. Todas estas espécies são novos registros para o sudeste do Brasil.

Platyrrhinus lineatus foi parasitado por Paratrichobius sanchezi (n=7),

Trichobius cf. angulatus (n=2) e Trichobius sp. (complexo dugesii) (n=1). A presença

destas moscas em P. lineatus é um novo registro para o sudeste brasileiro. Além disso, P.

sanchezi é uma nova associação com P. lineatus, parasitando geralmente indivíduos do

gênero Artibeus (Guerrero 1994). Trichobius angulatus já foi registrada por Erickson et

al. (2011), em uma área de Cerrado no MS. A prevalência deste parasito (5,9%) foi

menor quando comparada ao estudo anteriormente citado. Já a intensidade média de

infestação (2,00) foi semelhante, mesmo não sendo possível calcular o intervalo de

confiança. A identificação de Trichobius sp. (complexo dugesii) foi difícil devido ao

material coletado estar danificado e a semelhança das espécies presentes neste

complexo.

Basilia mimoni (n=1), T. joblingi (n=1) e Trichobius sp. (complexo longipes)

(n=1) parasitaram Mimon crenulatum. A associação entre o nicteribiídeo B. mimoni e M.

crenulatum foi encontrada no MA em uma região de Mata Atlântica (Dias et al. 2013) e

uma de Cerrado (Santos et al. 2013), e é a única comum.Este é o primeiro registro

destas espécies no sudeste do país. Os índices parasitológicos são menores do que os

apresentados por Santos et al. (2013).

Artibeus lituratus foi parasitada apenas por Paratrichobius longicrus (n=1).

Normalmente, este parasito costuma se associar a morcegos do gênero Artibeus e

Plathyrrhinus (Wenzel et al. 1966). Esta associação entre P. longicrus e A. lituratus é

comum, com registros para várias regiões do Brasil. No Cerrado foi encontrada em MG

(Azevedo & Linardi 2002) e no DF (Graciolli & Aguiar 2002). Na Mata Atlântica

possui registros para o RS (Graciolli & Rui 2001, Rui & Graciolli 2005, Camilotti et al.

2010), SP (Bertola et al. 2005, Graciolli et al. 2006b), PR (Prevedello et al. 2005,

Anderson & Ortêncio-Filho 2006), PE (Soares et al. 2013) e em MG (Moras et al.

2013). E em áreas de Florestas com Araucárias no PR (Graciolli & Bianconi 2007). A

prevalência de P. longicrus (11,1%) foi menor que outros estudos (Graciolli & Rui

2001, Rui & Graciolli 2005, Anderson & Ortêncio-Filho 2006, Graciolli & Bianconi

2007), porém maior que encontrado por Bertola et al. (2005) (1,5%) e Camilotti et al.

2006 (2,6%), em áreas de Mata Atlântica. Entretanto a intensidade média de infestação

foi semelhante quando comparados a outros em Mata Atlântica (Bertola et al. 2005, Rui

& Graciolli 2005, Camilotti et al. 2006).

T. loncophyllae (n=8), Trichobius uniformis (n=2), T. dugesii (n=1),

Paraeuctenodes similis (n=1) e Trichobius sp. (complexo dugesii) (n=1) estavam

associados à Loncophylla dekeyseri. Sendo que, todos estes registros são novos para a

região sudeste do Brasil. T. loncophyllae sobre L. dekeyseri já foi registrada no DF em

uma região de Cerrado (Graciolli & Coelho 2001). As demais associações não são

comuns a L. dekeyseri. T. uniformis foi encontrada em Loncophylla robusta, mas é

comum em G. soricina, bem como T. dugesii (Guerrero 1994, 1995). Quanto a espécie

P. similis, normalmente esta encontra-se associada à C. perspiscillata, possuindo

registros para o Brasil (Guerrero 1996). Indivíduos dos gêneros Glossophaga e

Loncophyllae pertencem a mesma grupo funcional (nectarívoro) e, portanto, possuem

características em comum, o que pode determinar seu parasitismo por estas espécies de

ectoparasitos.

A espécie Micronycteris minuta estava parasitada por T. dugesii (n=8),

Trichobius cf. handleyi (n=8) e S. wiedemannii (n=4). E Micronycteris sp. estava

associado à Trichobius cf. handleyi (n=3). Segundo Wenzel (1976), este díptero está

relacionado á morcegos do gênero Micronycteris. Além disso, T. handleyii já foi descrita

em M. minuta (Guerrero 1995) para o Novo Mundo, mas pela primeira vez no Brasil.

As outras associações não são comuns. Porém, T. dugesii é comum em indivíduos do

gênero Micronycteris.

T. joblingi (n=1) foi a única espécie de mosca presente em Micronycteris

sanborni. Esta associação é comum em outras espécies do gênero Micronycteris

(Guerrero 1995). Entretanto, este é o primeiro registro de um estreblídeo em M.

sanborni.

O morcego Anoura caudifer estava parasitado por Trichobius tiptoni (n=6) e

Strebla carvalhoi (n=1). A mosca T. tiptoni já foi encontrada em diversas localidades do

Brasil. Na Mata Atlântica no RS (Rui & Graciolli 2001, Graciolli & Rui 2005), SP

(Bertola et al. 2005) e MG (Teixeira & Ferreira 2010). E no Cerrado em MG (Komeno

& Linhares 1999, Moras et al. 2013), GO (Graciolli et al. 2010) e no MS (Erickson et

al. 2011). Em outros estudos (Teixeira & Ferreira 2010, Erickson et al. 2011), a

prevalência para T. tiptoni foi menor do que a encontrada aqui (50%). Entretanto, a

intensidade média de infestação (1,5) foi marginalmente semelhante, oscilando dentro

do intervalo de confiança. Strebla carvalhoi foi descrita por Graciolli (2003) no PR, em

associação a A. caudifer. E, este é o primeiro registro desta associação para o sudeste do

país.

P. hastatus foi parasitada por Trichobius longipes (n=20) e Strebla mirabilis

(n=14). Trichobius longipes já foi encontrada sobre P. hastatus em outro estudo no

estado de MG (Azevedo & Linardi 2002), bem como no estado do MA (Dias et al.

2013, Santos et al.2013). A prevalência (87,5%) foi maior do que a encontrada por

Santos et al. (2013) no MA. Mas, a intensidade de infestação (2,86) foi parecida. S.

mirabilis não foi encontrada em associação com P. hastatus no sudeste do país, apenas

no DF (Graciolli & Coelho 2001).

As moscas Exastinion clovisi (n=11), Anastrebla modestini (n=8) e Trichobius

propinquus (n=1) estavam parasitando Anoura geoffroyi. As espécies E. clovisi e A.

modestini foram registradas em regiões de Cerrado (Graciolli & Coelho 2001, Graciolli

et al. 2010) e Mata Atlântica (Graciolli & Rui 2001, Bertola et al. 2005). Ambas

espécies possuem registros para MG em Mata Atlântica (Moras et al. 2013), sendo que

E. clovisi, foi registrada também em estudo no Cerrado (Komeno & Linhares 1999). Já

T. propinquus foi encontrada apenas em uma área de Cerrado do DF (Graciolli &

Coelho 2001). Esta mosca é um novo registro para a região sudeste do Brasil.

O hospedeiro Dyphilla ecaudata estava parasitado por Strebla diphyllae (n=1) e

Trichobius diphyllae (n=1). Tipicamente, estas moscas são espécies-tipo deste morcego,

(Guerrero 1995, 1996). Entretanto, são consideradas raras, pela baixa amostragem.

T. longipes (n=9) foi a única mosca presente em Phylloderma stenops neste

estudo. Esta mosca geralmente é parasita de P. hastatus (Graciolli & Carvalho 2001).

Este é o primeiro registro desta associação. Porém, estreblídeos do gênero Trichobius

pertencentes ao complexo longipes, são comuns para grandes Phyllostominae (Guerrero

1995), o que pode explicar esta associação.

Myotis nigricans foi parasitada apenas pelo nicteribiídeo Basilia juquiensis

(n=2). Esta é uma associação comum, possuindo registro para região sul do Brasil

(Graciolli 2004). Além disso, recentemente foi encontrada no estado de MG em uma

área de Mata Atlântica (Moras et al. 2013).

A mosca Strebla chrotopteri (n=10) estava associada a Chrotopterus auritus.

Esta associação é comum, sendo registrada em área de Mata Atlântica em SP (Graciolli

et al. 2006b) e de Cerrado no MS (Erickson et al. 2011). A prevalência (100%) e

intensidade de média de infestação foram superiores as dos estudos citados. Porém,

apenas um indivíduo hospedeiro foi capturado e para comparação deveríamos conter

mais exemplares.

Especificidade

As moscas ectoparasitos de morcego, em sua grande maioria, são consideradas

monoxênicas, com especificidade variando entre 71 a 88% em alguns estudos (Wenzel

et al. 1966, Marshall 1981, 1982, Dick & Gettinger 2005, Dick 2007, Dick & Patterson

2007, Santos et al. 2013). Este padrão se repete neste estudo em FTS (73%). Deste

modo, estes dados indicam que neste tipo de ambiente, estes ectoparasitos, são

altamente específicos. De fato, este é um resultado esperado, devido a baixa capacidade

de uma mosca sobreviver em um morcego que não é o seu hospedeiro habitual (Fritz

1983).

Entretanto, o principal fator ligado ao elevado grau de especificidade é a

imunocompatibilidade entre parasitos e morcegos (Dick & Patterson 2007). Estas

moscas podem ser capazes de mimetizar sinais moleculares do seu hospedeiro, evitando

ação do sistema imunológico do morcego. Isto pode ter levado a eventos de co-

especiação neste sistema de estudo (mosca-morcego), devido a mudanças nas bases

filogenéticas e ecológicas imediatas (Dick & Patterson 2007).

Além disso, existem barreiras de dispersão, que impedem que um parasito

colonize um novo hospedeiro. Tais barreiras podem ser classificadas como filtros de

encontro, compatibilidade e reprodutivo, que atuam em conjunto impedindo a utilização

de hospedeiros não-primários (Dick & Patterson 2007). O filtro de encontro ocorre

quando um parasito não consegue encontrar e colonizar um hospedeiro por razões

comportamentais ou ecológicas (Combes 1991 apud Dick & Patterson 2007). Já o filtro

de compatibilidade acontece quando um parasito não consegue sobreviver em um novo

hospedeiro por razões morfológicas, fisiológicas ou imunológicas (Combes 1991 apud

Dick & Patterson 2007). E o filtro reprodutivo atua quando há isolamento de um

parasito, por não encontrar algum indivíduo do sexo oposto de sua espécie, impedindo

uma chance de reprodução (Dick & Patterson 2007).

Mesmo com este padrão de especificidade dominante 27% das moscas

ectoparasitas de morcego utilizaram mais de uma espécie de hospedeiro, sejam elas

parasitos oligoxênicos ou polixênicos. Esta baixa especificidade ocorre devido a quebra

das barreiras de dispersão citadas anteriormente. Além disso, a mobilidade destas

moscas pode ser um fator determinante neste processo (Marshall 1981). Os

ectoparasitos menos específicos deste estudo, pertencem a família Streblidae (gêneros

Trichobius e Strebla) e possuem asas desenvolvidas e funcionais, facilitando na

dispersão para outros hospedeiros.

Os fatores ligados à história evolutiva neste sistema mosca-morcego precisam

ser elucidados para entender os mecanismos que levam a especificidade em parasitos

obrigatórios, em FTS. Fatores estes que podem estar ligados ao hospedeiro (tipo de

abrigo e compartilhamento de espécies no mesmo, disponibilidade de recurso, tamanho

corporal) e ao parasito (mobilidade, imunocompatibilidade com o hospedeiro).

Sazonalidade e sucessão ecológica

O parasitismo por moscas em A. planirostris, espécie mais abundante neste

estudo, não aumentou na estação seca, como era esperado, ou seja, a sazonalidade não

influencia tais hospedeiros em FTS. Este resultado pode ser explicado pela amplitude

alimentar utilizada por essa espécie de morcego, mesmo em períodos de escassez, já que

morcegos frugívoros podem se tornar generalistas nestas épocas (Flemming 1988).

Portanto, em períodos secos esses hospedeiros não ficam debilitados na falta de seu

recurso alimentar principal, não havendo aumento nas cargas parasitárias. É importante

estender esta análise para indivíduos de diferentes guildas alimentares, para verificar se

a sazonalidade pode influenciar outros grupos de hospedeiros.

O mesmo resultado, não significativo, foi encontrado para o parasitismo em A.

planirostris no estágio tardio, não havendo influencia da sucessão ecológica na

associação entre mosca e morcego. Esperávamos que com uma maior complexidade

ambiental, os hospedeiros teriam mais acesso ao seu alimento e estariam mais aptos a

escaparem do parasitismo, seja por mecanismos comportamentais (“grooming” e

mudança de abrigo) ou fisiológicos (sistema imunológico). Entretanto, o alto grau de

especialização permite que parasitos vivam em hospedeiros que estejam sob condições

de estresse, devido a evolução de mecanismos para co-existência (Combes 2001).

Assim, moscas ectoparasitos de morcego conseguem se alimentar de um hospedeiro

mesmo que este esteja sob condições de estresse alimentar. Ademais, morcegos

possuem grande capacidade de mobilidade e a distância dos fragmentos pode não ser

suficiente para amostrar indivíduos de diferentes populações. Talvez por isso, não foi

possível verificar algum padrão de parasitismo em função do estágio sucessional.

Além disso, em ambos os casos (sazonalidade e sucessão ecológica) devemos

levar em conta o fato de que os indivíduos de A. planirostris podem pertencer as

mesmas populações e possuir fidelidade ao abrigo. Como o ciclo de vida das moscas

estão diretamente ligados ao local de abrigo dos hospedeiros (Patterson et al. 2007), a

fidelidade a estes locais favorece a infestação por estes ectoparasitos (Bordes et al.

2008). Sendo assim, os morcegos amostrados manteriam os mesmos níveis de

parasitismo. Entretanto, esta é uma hipótese a ser tratada em estudos posteriores.

CONCLUSÃO

Os resultados apresentados aqui são importantes para iniciar estudos sobre o

parasitismo de morcegos por moscas das famílias Streblidae e Nycteribiidae em FTS.

Entender os fatores que moldam esta relação são importantes e estão sendo explorados

em vários trabalhos. Entretanto, alguns aspectos ainda permanecem obscuros. Fatores

como, a imunocompatibilidade entre parasito e hospedeiro, precisam ser elucidados para

esclarecer se de fato houve co-especiação a tais níveis neste sistema. Estudos em longo

prazo também auxiliarão a esclarecer se aspectos temporais e espaciais, como os

testados aqui são relevantes na relação mosca ectoparasito e morcego. Além disso, é

necessário abranger estudos para diversas regiões e formações florestais, para comparar

e entender se o parasitismo é influenciado por características locais ou regionais.

REFERÊNCIAS

Allen G.M. 1967. The parasites of bats. Cambridge: Museum of Comparative Zoology,

p.368.

Aguiar L.M.S. & Antonini Y. 2011. Descriptive ecology of bat flies (Diptera:

Hippoboscoidea) associated with vampire bats (Chiroptera: Phyllostomidae) in the

cerrado of Central Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 106: 170-176.

Anderson. R. & Ortêncio-Filho H. 2006. Dípteros ectoparasitas (Diptera, Streblidae) de

filostomídeos (Chiroptera, Mammalia) do Parque Municipal no Cinturão Verde de

Cianorte, Paraná, Brasil e sua incidência ao longo das estações do ano. Chiroptera

Neotropical, 12: 238-243.

Antunes F. Z.1994. Caracterização climática. Informe Agropecuário, 17: 15-19.

Azevedo A.A. & Linardi P.M. 2002. Streblidae (Diptera) of phyllostomid bats from

Minas Gerais, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 97: 421-422.

Bertola P.B., Aires C.C., Favorito S.E., Graciolli G., Amaku M. & Pinto-da-Rocha R.

2005. Bat flies (Diptera: Streblidae, Nycteribiidae) parasitic on bats (Mammalia:

Chiroptera) at Parque Estadual da Cantareira, São Paulo, Brazil: parasitism rates and

host-parasite associations. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 100: 25-32.

Bordes F., Morand S. & Guerrero R. 2008. Bat fly species richness in Neotropical bats:

correlation with host ecology and host brain. Oecologia, 158: 109-116.

Bush A.O., Lafferty K.D., Lotz J.M., Shostak A.W. 1997. Parasitology meets ecology

on its own terms: Margolis et al. revisited. Journal of Parasitology, 83: 575-583.

Ching L.M. & Marshall, A.G. 1968. The breeding biology of the bat-fly Eucampispoda

sundaicum Theodor, 1955 (Diptera: Nycteribiidae). Malayan Nature Journal, 21: 171–

180.

Camilotti V.L., Graciolli G., Weber M.M., Arruda J.L.S. & Cáceres N.C. 2010. Bat flies

from the deciduous Atlantic Forest in southern Brazil: Host-parasite relationships and

parasitism rates. Acta Parasitologica, 55 (2): 194–200.

Combes C. 2001. Parasitism: the ecology and evolution of intimate interactions.

University of Chicago Press, Chicago.

Dias, P.A., Santos, C.L.C., Rodrigues, F.S., Rosa, L.C., Lobato, K.S. & Rebêlo, J.M.M.

2009. Espécies de moscas ectoparasitas (Diptera, Hippoboscoidea) de morcegos

(Mammalia, Chiroptera) no estado do Maranhão. Revista Brasileira de Entomologia, 53:

128-133.

Dick, C.W. & Gettinger, D. 2005. A faunal survey of streblid bat flies (Diptera:

Streblidae) associated with bats in Paraguay. Journal of Parasitology, 91: 1015-1024.

Dick C.W. & Patterson B.D. 2006. Bat flies: obligate ectoparasites of bats. Em S.

Morand, B.R. Krasnov, R. Poulin, Micromammals and macroparasites: from

evolutionary ecology to management, Springer-Verlag, p. 179-194.

Dick C.W. 2007. High host specificity of obligate ectoparasites. Ecological Entomology,

32: 446 – 450

Dick C.W. & Patterson B.D. 2007. Against all odds: Explaining high host specificity in

dispersal-prone parasites. International Journal for Parasitology, 37: 871-876.

Dittmar K., Porter M.L., Murray S., Whiting M.F. 2006. Molecular phylogenetic

analysis of nycteribiid and streblid bat flies (Diptera: Brachycera, Calyptratae):

implications for host associations and phylogeographic origins. Molecular

Phylogenetics and Evolution, 38: 155 170.

Espírito-Santo M.M., Sevilha A.C., Anaya F.C., Barbosa R., Fernandes G.W., Sanchez-

Azofeifa G.A., Scariot A., Noronha S.E.D. & Sampaio C.A. 2009. Sustainability of

tropical dry forests: Two case studies in southeastern and central Brazil. Forest Ecology

and Management, 258: 922-930.

Fleming T.H. 1988. The short-tailed fruit bat. A study in plant-animal interactions.

University of Chicago Press, Chicago, 365 pp.

Fritz, G.N. 1983. Biology and ecology of bat flies (Diptera: Streblidae) on bats of the

genus Carollia. Journal of Medical Entomology, 20: 1–10.

Guimarães L.R. & D'Andretta M.A.V. 1956. Sinopse dos Nycteribiidae (Diptera) do

Novo Mundo. Arquivos de Zoologia. São Paulo, 10: 1-184.

Guerrero R. 1994a. Catalogo de los Streblidae (Diptera: Pupipara) parasitos de

murciélagos (Mammalia: Chiroptera) del Nuevo Mundo. II. Los grupos: pallidus,

caecus, major, uniformis, y longipes del genero Trichobius Gervais, 1844. Acta

Biologica Venezuelana, 15: 1–18.

- 1994b. Catalogo de los Streblidae (Diptera: Pupipara) parasitos de murciélagos

(Mammalia: Chiroptera) del Nuevo Mundo. IV. Trichobiinae com alas desarrolladas.

Boletin Entomologia Venezuelana, 9: 161–192.

- 1995. Catalogo de los Streblidae (Diptera: Pupipara) parasitos de murciélagos

(Mammalia: Chiroptera) del Nuevo Mundo. V. Trichobiinae con alas reducidas o

ausentes y miscelaneos. Boletin Entomologia Venezuelana, 10: 135–160.

- 1996. Catalogo de los Streblidae (Diptera: Pupipara) parasitos de murciélagos

(Mammalia: Chiroptera) del Nuevo Mundo. VI. Streblinae. Acta Biologica

Venezuelana, 16: 1–26.

- 1997. Catalogo de los Streblidae (Diptera: Pupipara) parasitos de murciélagos

(Mammalia: Chiroptera) del Nuevo Mundo. VII. Lista de espécies, hospedadores y

paises. Acta Biológica Venezuelana, 17: 9–24.

Graciolli G. & Carvalho C.J.B. 2001. Moscas ectoparasitas (Diptera, Hippoboscoidea)

de morcegos (Mammalia, Chiroptera) do Estado do Paraná, Brasil. II. Streblidae. Chave

pictórica para as espécies. Revista Brasileira de Zoologia, 18: 907-960.

Graciolli G. & Coelho D.C. 2001. Streblidae (Diptera, Hippoboscoidea) sobre morcegos

filostomídeos (Chiroptera, Phyllostomidae) em cavernas do Distrito Federal. Revista

Brasileira de Zoologia, 18: 965-970.

Graciolli G. & Rui A.M. 2001. Streblidae (Diptera, Hippoboscoidea) em morcegos

filostomídeos (Chiroptera, Phyllostomidae) no noroeste do Rio Grande do Sul, Brasil.

Iheringia, Série Zoologia, 90: 85-92.

Graciolli G. & Linardi P. 2002. Some Streblidae and Nycteribiidae (Diptera:

Hippoboscoidea) from Maracá Island, Roraima, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo

Cruz, 97: 139-141.

Graciolli G. & Aguiar L.S. 2002. Ocorrência de moscas ectoparasitas (Diptera,

Streblidae e Nycteribiidae) de morcegos (Mammalia, Chiroptera) no Cerrado de

Brasília, Distrito Federal, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 19: 177–181.

Graciolli G. 2003. Uma nova espécie de Strebla Wiedemann, 1824 (Diptera, Streblidae,

Streblinae) sobre Anoura caudifer (E. Geoffroy, 1818) (Chiroptera, Phyllostomidae,

Glossophaginae). Revista Brasileira de Entomologia, 47: 435-436.

Graciolli G. & Dick C.W. 2006. Checklist of world Nycteribiidae (Diptera:

Hippoboscoidea). National Science Foundation, 9p. Disponível em

http://fm1.fieldmuseum.org/aa/Files/cdick/ Nycteribiidae_Checklist_2oct06.pdf.

Graciolli G., Cáceres N.C. & Bornschein M.R. 2006a. Novos registros de moscas

ectoparasitas (Diptera, Streblidae e Nycteribiidae) de morcegos (Mammalia, Chiroptera)

em áreas de transição Cerrado-floresta estacional no Mato Grosso do Sul, Brasil.

Disponível em: http://www.biotaneotropica.org.br/v6n2/pt/abstract?short-

communication+bn03206022006.

Graciolli G., Passos F.C., Pedro W.A. & Lim B.K. 2006b. Moscas ectoparasitas

(Diptera: Streblidae) de morcegos filostomídeos (Mammalia, Chiroptera) na Estação

Ecológica dos Caetetus, São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 23: 298-299.

Graciolli G., Zortea M. & Carvalho L.F.A.C. 2010. Bat flies (Diptera, Streblidae and

Nycteribiidae) in a Cerrado area of state of Goiás, Brazil. Revista Brasileira de

Entomologia, 54: 511-514.

Gregorin R. & Taddei V.A. 2002. Chave Artificial para a Identificação de Molossídeos

Brasileiros (Mammalia, Chiroptera). Mastozoología Neotropical 9: 13-32.

IEF - Instituto Estadual de Florestas. 2000. Parecer técnico para a criação do Parque

Estadual da Mata Seca. Instituto Estadual de Florestas, Belo Horizonte.

Kim K.C. 1985. Coevolution of parasitic arthropods and mammals. John Wiley and

Sons, New York, p.800.

Komeno C.A. & Linhares A.X. 1999. Batflies parasitic on some phyllostomid bats in

Southeastern Brazil: parasitism rates and host-parasite relationships. Memórias do

Instituto Oswaldo Cruz, 94: 151–156.

Marshall, A.G. 1981. The Ecology of Ectoparasitic Insects. Academic Press, London,

459 pp.

Marshall A.G. 1982. Ecology of insects ectoparasites on bats, pp. 369-400. In: T.H.

Kunz (ed.). Ecology of bats. Plenum press, New York, USA, 69–401.

Medellín R.A., Arita H.T., Sánchez H. 1997. Identificación de los Murciélagos de

México, clave de campo. Asociación Mexicana de Mastozoología, México, 83 pp.

Moras L.M., Bernardi L.F.O., Graciolli G. & Gregorin R. 2013. Bat flies (Diptera:

Streblidae, Nycteribiidae) and mites (Acari) associated with bats (Mammalia:

Chiroptera) in a high-altitude region in southern Minas Gerais, Brazil. Acta

Parasitologica, 58 (4), 556–563.

Patterson B.D., Dick C.W. & Dittmar K. 2007. Roosting habits of bats affect their

parasitism by bat flies (Diptera: Streblidae). Journal of Tropical Ecological, 23: 177–

189.

Pezzini, F.F. 2008. Fenologia e características reprodutivas em comunidades arbóreas

em três estágios sucessionais em Floresta Estacional Decidual do norte de Minas Gerais.

Dissertação. Universidade Federal de Minas Gerais.

Prevedello J.A., Graciolli G. & Carvalho C.J.B. 2005. A Fauna de dípteros (Streblidae e

Nycteribiidae) ectoparasitos de morcegos (Chiroptera) do Estado do Paraná, Brasil:

composição, distribuição e áreas prioritárias para novos estudos. Biociências, 13

(2):193-209.

Poulin, R. & Mouillot, D. 2005. Combining phylogenetic and ecological information

into a new index of host specificity. Journal of Parasitology, 91: 511 – 514.

Quesada M., Sanchez-Azofeifa G.A., Alvarez-Añorve M., Stoner K.E., Avila-Cabadilla

L., Calvo-Alvarado J., Castillo A., Espírito-Santo M.M., Fagundes M. & Fernandes

G.W. 2009. Succession and management of tropical dry forests in the Americas: Review

and new perspectives. Forest Ecology and Management, 258: 1014-1024.

R Development Core Team (2010) R: a language and environment for statistical

computing. Vienna: R Foundation for Statistical Computing. ISBN 3–900051–07–0.

Available: http://www.R-project.org.

Reis NR, Peracchi AL, Pedro WA, de Lima IP (2007) Morcegos do brasil. Londrina:

Universidade Estadual de Londrina. 253 p.

Rios G.F.P., Sá-Neto R.J. & Graciolli G. 2008. Fauna de dípteros parasitas de morcego

em uma área de Caatinga no nordeste do Brasil. Chiroptera Neotropical, 14: 339-345.

Rózsa L., Reiczigel J. & Majoros G. 2000. Quantifying parasites in samples of hosts.

Journal of Parasitology, 86: 228-232.

Rui A.M. & Graciolli G. 2005. Moscas ectoparasitas (Diptera: Streblidae) de morcegos

(Chiroptera, Phyllostomidae) no sul do Brasil: associações hospedeiro-parasitos e taxas

de infestação. Revista Brasileira de Zoologia, 22: 438-445.

Sánchez-Azofeifa G.A., Quesada M., Rodriguez J.P., Nassar J.M., Stoner K.E., Castillo,

A., Garvin T., Zent E.L., Calvo-Alvarado J.C., Kalacska M.E.R., Fajardo L., Gamon

J.A. & Cuevas-Reyes P. 2005. Research priorities for neotropical dry forests.

Biotropica, 37: 477–485.

Santos C.L.C., Pereira A.C.N., Bastos V.J.C., Graciolli G. & Rebêlo J.M.M. 2013.

Parasitism of ectoparasitic flies on bats in the northern Brazilian cerrado. Acta

Parasitologica, 58 (2), 207–214.

Soares F.A.M., Graciolli G., Alcântra D.M.C., Pinto-Ribeiro C.E.B., Valença G.C. &

Ferrari, S.F. 2013. Bat flies (Diptera: Streblidae) ectoparasites of bats at

an Atlantic Rainforest site in northeastern Brazil. Biota Neotropical, 13: 242-246.

Speakman J.R. & Racey P.A. 1986. The influence of body condition sexual

development of male brown long-eared bats (Plecotus auritus) in the wild. Journal of

Zoology, 210: 515-525.

Straube F.C. & Bianconi G.V. 2002. Sobre a grandeza e a unidade utilizada para estimar

esforço de captura com utilização de redes-de-neblina. Chiroptera Neotropical, 8: 150-

152.

Teixeira A.L.M. & Ferreira R.L. 2010. Fauna de dipteros parasitas (Diptera: Streblidae)

e taxas de infestação em morcegos presentes em cavidades artificiais em Minas Gerais.

Chiroptera Neotropical, 16: 748-754.

Wenzel R.L., Tipton V.J. & Kiewlicz, A. 1966. The streblid batflies of Panama (Diptera:

Calyptera: Streblidae). Em: (Eds. R.L. Wenzel, V.J. Tipton) Ectoparasites of Panama.

Field Museum of Natural History, Chicago, 677–723.

Wenzel R.L. 1976. The streblidae batflies of Venezuela (Diptera: Streblidae). Em: (Eds.

R.L. Wenzel, V.J. Tipton) Ectoparasites of Panama. Field Museum of Natural History,

Chicago, 405–675.