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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE MESTRADO EM FISIOTERAPIA FLÁVIA PRISCILA DE PAIVA SILVA MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR IPSILESIONAL APÓS LESÃO ENCEFÁLICA UNILATERAL: INFLUÊNCIA DO GRAU DE COMPROMETIMENTO MOTOR SÃO PAULO 2014

MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

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Page 1: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

 

 

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE MESTRADO EM FISIOTERAPIA

FLÁVIA PRISCILA DE PAIVA SILVA

MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO

SUPERIOR IPSILESIONAL APÓS LESÃO ENCEFÁLICA

UNILATERAL:

INFLUÊNCIA DO GRAU DE COMPROMETIMENTO MOTOR

SÃO PAULO

2014

Page 2: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

ii 

 

FLÁVIA PRISCILA DE PAIVA SILVA

MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO

SUPERIOR IPSILESIONAL APÓS LESÃO ENCEFÁLICA

UNILATERAL:

Influência do grau de comprometimento motor

SÃO PAULO

2014

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito para obtenção do título de Mestre, sob orientação da Profa. Dra. Sandra Regina Alouche e coorientação da Profa. Dra. Sandra M. S. Ferreira de Freitas.

Page 3: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

iii 

 

FLÁVIA PRISCILA DE PAIVA SILVA

MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO

SUPERIOR IPSILESIONAL APÓS LESÃO ENCEFÁLICA

UNILATERAL:

Influência do grau de comprometimento motor

Área de concentração: Estrutura e Função Corporal

Data da defesa: 21 de fevereiro de 2014

Resultado: ____________________________

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Sandra Regina Alouche ___________________________________

Universidade Cidade de São Paulo

Profa. Dra. Sandra M. S. Ferreira de Freitas ___________________________________

Universidade Cidade de São Paulo

Profa. Dra. Stella Maris Michaelsen ___________________________________

Universidade do Estado de Santa Catarina

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Fisioterapia da Universidade

Cidade de São Paulo, como requisito para

obtenção do título de Mestre.

Page 4: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

iv 

 

À minha mãe,

Que com seu amor e apoio incondicionais, além da confiança depositada em mim a cada decisão, fez com que eu nunca desistisse dos meus sonhos, mesmo nos momentos mais difíceis. Meu maior exemplo de como ser humana. A certeza de sua presença e orgulho é o que me motiva a acreditar e buscar meus objetivos. Não tenho palavras para agradecer tantas coisas das quais já abdicou por mim.

Ao Carlos Henrique,

Minha melhor companhia, o qual sabe me fazer sorrir mesmo nos dias difíceis. Seu amor e carinho diários são essenciais em minha vida. Obrigada por compreender minha ausência e me esperar sempre.

Page 5: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

 

AGRADECIMENTOS

Graças ao esforço e competência de inúmeras pessoas, que contribuíram com esse trabalho, foi possível concluí-lo. A todos manifesto meus agradecimentos e gratidão. E em particular:

A Deus, por estar sempre presente em nossas vidas e tornar tudo possível.

À Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), pela bolsa integral do Mestrado, concedida a mim no processo seletivo, a qual possibilitou minha participação no Programa.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que através do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares (PROSUP), forneceu bolsa de pós-graduação para o meu Mestrado.

À minha orientadora, Profa. Dra. Sandra Regina Alouche, pela orientação e direcionamento em todas as fases desse trabalho, pela amizade construída e por ser uma inspiração diária como pessoa, professora e pesquisadora. Poucas pessoas têm o dom de ensinar com tanta paixão pelo que fazem e você é uma delas.

À minha coorientadora, Profa. Dra. Sandra Maria Sbeghen Ferreira de Freitas, pela amizade, pela valiosa colaboração técnica com o trabalho, pelos conselhos sempre pertinentes e disponibilidade de me ajudar sempre que precisei.

Às professoras do Grupo de Estudos em Ciências do Movimento e Envelhecimento, Profa. Dra. Raquel Simoni Pires e Profa. Dra. Monica Rodrigues Perracini, pela amizade, por suas contribuições ao meu trabalho e ao meu crescimento profissional.

Aos professores do Programa de Mestrado e Doutorado em Fisioterapia da UNICID, pela experiência compartilhada e disponibilidade de sempre.

Aos participantes desse estudo, pela credibilidade depositada neste trabalho, contribuindo para sua realização.

Novamente, à minha mãe, amiga para todas as horas, que sempre acreditou nos meus sonhos e fez tudo que pôde para que eu pudesse realizá-los.

Ao meu namorado, Carlos Henrique Vianna de Andrade Filho, pelo companheirismo e paciência, por estar sempre ao meu lado, participando ativamente em cada fase da minha vida.

À minha família, pelo carinho e compreensão, por me apoiar incondicionalmente.

Page 6: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

vi 

 

À Débora Nacarato Vianna de Andrade, Carlos Henrique Vianna de Andrade, Eliana Nacarato Vianna de Andrade e familiares, que se tornaram parte de minha família, me recebendo em sua casa e permitindo que eu pudesse concretizar esse sonho.

Aos meus amigos, pelo amor, carinho e apoio. Obrigada por acreditar em mim desde quando ainda só tínhamos sonhos e nenhuma conquista.

À Renata Morales Banjai, mais que uma colega de Mestrado, tornou-se uma verdadeira amiga, que dividiu comigo todos os instantes dessa trajetória, me apoiando e compartilhando comigo seu conhecimento.

Aos membros da banca, Profa. Dra. Sandra Maria Sbeghen Ferreira de Freitas, Profa. Dra. Stella Maris Michaelsen, Profa. Dra. Rosimeire Simprini Padula e Prof. Dr. José Eduardo Pompeu, por terem aceitado o convite e por engrandecer meu trabalho com suas sugestões e conhecimento.

Aos meus alunos e colegas da Universidade do Vale do Sapucaí, por compreenderem minha ausência em muitos momentos na Universidade, pelo carinho e apoio durante o desenvolvimento deste trabalho.

E, finalmente, aos colegas do Programa de Mestrado e Doutorado da UNICID, pelos anos de convivência compartilhando cada momento, somando experiências pessoais e profissionais.

Page 7: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

vii 

 

“O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.”

José de Alencar

Page 8: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

viii 

 

RESUMO

Introdução: Após um Acidente Vascular Encefálico (AVE), o membro superior ipsilesional

atua como principal ou único condutor em muitas tarefas cotidianas dependendo do grau de

comprometimento do membro contralesional. Entretanto, a influência desse grau de

comprometimento sobre o comportamento motor do membro ipsilesional no movimento

dirigido ao alvo ainda não está bem estabelecida, assim como a influência da escolha na

resposta e da direção do movimento. Objetivo: Analisar o comportamento do membro

superior ipsilesional durante o movimento dirigido ao alvo em indivíduos após AVE em

função do grau de comprometimento motor do membro superior contralesional, opções de

escolha na resposta e direção do movimento. Método: Foram avaliados três grupos (n = 14

para cada grupo): AVE comprometimento leve (AVEL) e moderado a grave (AVEMG),

classificados por meio da Escala de Avaliação de Fugl-Meyer, e grupo controle (CT). Os

participantes realizaram movimentos dirigidos ao alvo com o membro superior ipsilesional,

ou com o correspondente para o grupo CT, com uma ponteira sobre uma mesa digitalizadora

segundo estímulos apresentados em um monitor. As tarefas envolveram o conhecimento

prévio do local de ocorrência do estímulo (tempo de reação simples), ou não (tempo de reação

de escolha). Os estímulos foram apresentados ipsi, ou contralateralmente ao membro superior

em movimento. Resultados: O grupo AVEMG apresentou maior latência para início do

movimento, principalmente na direção contralateral (397 ± 2 ms), em relação ao CT (352 ± 10

ms), maior erro de direção no pico de aceleração (AVEMG: 6,42 ± 0,44º; CT: 4,41 ± 0,33º) e

menor suavidade do movimento (AVEMG: 2,76 ± 0,21 um; CT: 1,73 ± 0,13 um). Para a

tarefa de tempo de reação de escolha, todos os indivíduos apresentaram maior tempo de

reação (378 ± 5 ms) do que na tarefa de tempo de reação simples (361 ± 6 ms), mas, na tarefa

de tempo de reação simples, menores picos de velocidade (principalmente para os grupos CT

e AVEL) foram observados. Houve prejuízo no planejamento e execução do movimento para

a direção contralateral. Conclusão: Indivíduos com maior comprometimento motor

contralesional apresentaram pior desempenho no movimento dirigido ao alvo no membro

superior ipsilesional. Esse prejuízo se acentua na presença de opções de escolha na resposta e,

principalmente, para a direção contralateral.

Palavras-chave: Acidente vascular encefálico, membro superior, comportamento, habilidade

motora.

Page 9: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

ix 

 

ABSTRACT

Introduction: After a cerebrovascular accident (CVA), the ipsilesional upper limb acts as the

main or only driver in many everyday tasks, depending on the degree of impairment in the

contralesional limb. However, the influence of this degree of impairment on the ipsilesional

limb aiming movement motor behavior is not well-established, as is the influence of the

choice in the response and the direction of movement. Objective: To analyze the ipsilesional

upper limb behavior on aiming movements in individuals after a stroke as a function of the

degree of motor impairment in the contralesional upper limb, choice in the response, and

direction of movement. Method: Three groups were evaluated (n = 14 for each group): CVA

mild impairment (CVAM), CVA moderate to severe (CVAMS) through Fugl-Meyer

Assessment Scale, and control group (CT). Participants performed aiming movements with

the ipsilesional upper limb or corresponding to the CT group with a pen over the sensible

surface of a digitizing tablet according to stimulus presented on a monitor. The tasks involved

prior knowledge of the place of stimulus occurrence (simple reaction time) or not (choice

reaction time). The stimuli were presented ipsilateral or contralateral to the upper limb

movement. Results: The CVAMS group showed an increased movement onset, especially in

the contralateral direction (397 ± 2 ms) as compared to CT (352 ± 10 ms), increased

directional error at peak acceleration (CVAMS: 6.42 ± 0.44º, CT: 4.41 ± 0.33°), and less

movement smoothness (CVAMS: 2.76 ± 0.21 mu; CT: 1.73 ± 0.13 mu). For the choice

reaction time task, all individuals had a higher movement onset (378 ± 5 ms) than in the

simple reaction time task (361 ± 6 ms), but in this they showed lower peak velocity (especially

CT and CVAM groups). There was damage in the planning and execution of movement in the

contralateral direction. Conclusion: Individuals with larger contralesional motor impairment

had poorer performance in aiming movement with the ipsilesional upper limb. This prejudice

is accentuated in the presence of choice in response and primarily to contralateral direction.

Keywords: Stroke, upper limb, behavior, motor skill.

Page 10: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

 

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação esquemática do aparato experimental e posicionamento do participante para o experimento. .............................................................................................. 30 

Figura 2. Representação esquemática dos alvos apresentados no monitor indicando a direção dos movimentos a serem realizados sobre a mesa digitalizadora para familiarização do participante em relação ao aparato experimental. .................................................................... 30 

Figura 3. Eventos envolvidos no protocolo experimental ordenados de I a IV.. .................... 31 

Figura 4. Aleatorização das tarefas. ........................................................................................ 32 

Figura 5. Fluxograma dos participantes avaliados e incluídos no estudo.. ............................. 35 

Figura 6. Tempo de reação (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente). ....................................................................................... 37 

Figura 7. Tempo de movimento (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente). ....................................................................................... 38 

Figura 8. Pico de velocidade (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente). ....................................................................................... 38 

Figura 9. Tempo para o pico de velocidade (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente). ............................................................................. 39 

Figura 10. Relação entre o tempo para o pico de velocidade (TPV) e o tempo de movimento (TM) (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente). ...................................................................................................................... 39 

Figura 11. Suavidade (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente). ........................................................................................................... 40 

Figura 12. Erro variável resultante (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente). ............................................................................. 41 

Figura 13. Erro de direção no pico de aceleração (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente). ............................................................................. 41 

Page 11: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

xi 

 

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Dados sociodemográficos e clínicos dos participantes por grupo ........................... 36 

Page 12: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

xii 

 

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AVDs Atividades de vida diária

AVE Acidente vascular encefálico

AVEL Acidente vascular encefálico com comprometimento leve

AVEMG Acidente vascular encefálico com comprometimento moderado a grave

ANOVA Análise de variância

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

cm Centímetros

cm/s Centímetros por segundo

CT Controle/ control

CVA Cerebrovascular accident

CVAM Cerebrovascular accident with mild impairment

CVAMS Cerebrovascular accident with moderate to severe impairment

DC Direção contralateral

DI Direção ipsilateral

DP Desvio padrão

Hz Hertz

LAM II Laboratório de Análise do Movimento II

MEEM Mini-exame do Estado Mental

ms Milissegundos/ miliseconds

MS Membro superior

mu Movement unit

n Número de indivíduos por grupo

PROSUP Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares

TPV/TM Relação entre tempo para o pico de velocidade e tempo de movimento

um Unidades de movimento

UNICID Universidade Cidade de São Paulo

UNISANTA Universidade Santa Cecília

UNIVÁS Universidade do Vale do Sapucaí

Page 13: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

xiii 

 

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 14 

1.1 Movimento dirigido ao alvo ........................................................................................... 14 

1.2 Lesões hemisféricas unilaterais e o comportamento do membro superior no movimento dirigido ao alvo ..................................................................................................................... 17 

1.3 Grau de comprometimento do membro superior contralesional após o AVE ................ 20 

2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 24 

2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 24 

2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 24 

3 MÉTODO .............................................................................................................................. 26 

3.1 Desenho do estudo e aspectos éticos .............................................................................. 26 

3.2 Participantes .................................................................................................................... 26 

3.3 Procedimentos ................................................................................................................. 28 

3.3.1 Caracterização dos participantes .............................................................................. 28 

3.3.2 Protocolo experimental ............................................................................................ 29 

3.4 Processamento e análise dos dados ................................................................................. 32 

3.5 Análise estatística ........................................................................................................... 33 

4 RESULTADOS ..................................................................................................................... 35 

4.1 Participantes .................................................................................................................... 35 

4.2 Desempenho no movimento dirigido ao alvo ................................................................. 36 

5 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 42 

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 51 

7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 52 

8 ANEXOS ............................................................................................................................... 60 

Page 14: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

14 

 

1 INTRODUÇÃO

1.1 Movimento dirigido ao alvo

O membro superior é responsável por funções específicas necessárias às atividades de

vida diária (AVDs) que englobam diferentes habilidades motoras, participando em tarefas

simples e complexas, tais como apertar um botão, escrita, alimentação ou fornecendo suporte

durante transferências. Para a execução destas funções, três movimentos principais podem ser

descritos: alcance, preensão e manipulação1-4.

Em relação ao movimento de alcance, que pode ser também denominado movimento

dirigido ao alvo, o indivíduo deve mover um ou os dois membros superiores ao longo de uma

distância e direção preestabelecidas até um alvo. No dia a dia, essa ação é produzida quando

uma pessoa pega um copo, aperta uma tecla ou realiza uma tarefa ocupacional5, 6. Em

laboratório, ações análogas podem ser analisadas com uma pessoa segurando uma caneta em

um ponto de partida e movendo-a para atingir um alvo o mais precisamente possível, em

diferentes situações de velocidade, distância ou direção7.

Três fases distintas podem ser descritas no movimento dirigido ao alvo. A primeira, a

fase de preparação ou planejamento do movimento, inicia-se com a decisão para a realização

do movimento, ocorrendo antes de seu início. Nesta fase, ocorre o planejamento da

velocidade, direção e amplitude do movimento, com a participação do sistema visual para

percepção das características da tarefa6, 8. A segunda fase abrange o início do movimento,

sendo essencialmente balística, na qual ocorre a aceleração do movimento6. Os movimentos

são iniciados com base em mecanismos antecipatórios, através de representações no sistema

nervoso previamente aprendidas sobre as características do sistema musculoesquelético e da

tarefa9. No entanto, considera-se que pode haver fornecimento de informações sobre o

deslocamento e velocidade do membro pelo sistema sensorial que serão utilizadas para

correções posteriores, com provável participação do sistema proprioceptivo10. Na terceira

fase, a conclusão, o indivíduo realiza a desaceleração do movimento visando acurácia para

alcance do alvo. Nesse momento, podem ocorrer correções associadas às informações

fornecidas pelo sistema sensorial e ativação de mecanismos posturais que irão determinar a

postura final do membro superior9, podendo ocorrer oscilações discretas na velocidade do

movimento10, 11.

Page 15: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

15 

 

Para que o controle e possíveis correções do movimento ocorram de forma eficiente,

participam do movimento dirigido ao alvo os mecanismos de feedback e feedforward. O

controle por feedback, ou retroalimentação, envolve a correção do movimento que está sendo

executado baseada em estímulos visuais e somatossensoriais provenientes do movimento em

execução10-13. Se houver tempo suficiente para o uso de feedback sensorial, correções são

realizadas até que o alvo seja alcançado. Para que haja correção baseada na informação visual

no movimento dirigido ao alvo é necessária uma duração mínima de 110 a 150 ms de

movimento10, 12. No controle por feedforward, ou antecipatório, o indivíduo utiliza

informações adquiridas previamente para antecipar as consequências do movimento que será

executado, reduzindo a necessidade do controle por feedback10-14.

A fase de planejamento do movimento é normalmente estudada por meio da análise do

tempo de reação, que é considerado uma medida temporal de programação central e pode ser

influenciado por características da tarefa, tais como opções de escolha na resposta,

compatibilidade estímulo-resposta e direção do movimento15-17. As opções de escolha na

resposta interferem no tempo para início do movimento, porque à medida que o número de

alternativas aumenta, o intervalo de tempo para adequado planejamento do movimento

também aumenta15-17. Tal relação pode ser representada pela Lei desenvolvida por Hick em

1952, conhecida como Lei de Hick, que afirma que o tempo de reação aumenta

logaritmicamente à medida que aumenta o número de opções estímulo-resposta16, 18. Essa

relação pode ser observada na comparação entre duas tarefas que envolvem o tempo de

reação, denominadas tempo de reação simples e tempo de reação de escolha. Na tarefa de

tempo de reação simples, o indivíduo sabe qual movimento deve executar previamente ao

estímulo para início do movimento. Na tarefa de tempo de reação de escolha, o indivíduo

conhece o movimento a ser realizado concomitantemente ao estímulo para início do

movimento15-18. Em tarefas discretas15, 19, 20 e sequenciais19, envolvendo o movimento dirigido

ao alvo, esta relação também foi observada em indivíduos saudáveis, com menores tempos de

reação para as tarefas de tempo de reação simples quando comparadas às tarefas de tempo de

reação de escolha.

Outro fator da tarefa que exerce influência sobre o tempo de reação é a

compatibilidade entre o estímulo e a resposta a ser dada. Quanto mais compatível for a

relação físico/espacial entre os eventos do estímulo e as opções de resposta, mais rápido será

o tempo de reação. Por exemplo, quando o indivíduo realiza um movimento com a mão

esquerda no hemiespaço esquerdo, ou com a mão direita no hemiespaço direito ocorre uma

resposta mais rápida, diminuindo a latência para o início do movimento15, 21. O efeito da

Page 16: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

16 

 

compatibilidade estímulo-resposta no movimento dirigido ao alvo para diferentes direções foi

observado em indivíduos saudáveis15, 20. Quando os movimentos foram realizados para a

direção contralateral ao membro superior, ou seja, a resposta deveria ser executada em direção

ao hemiespaço oposto (onde estava localizado o alvo), os participantes apresentaram maior

tempo de reação do que para as tarefas realizadas para a direção ipsilateral (alvo e membro

superior do mesmo lado do espaço)15, 20.

Após o período de planejamento, dá-se início à execução do movimento. Essa fase

pode ser avaliada através do tempo de movimento, que reflete o tempo necessário para

execução do movimento planejado, monitoramento das respostas motoras e possíveis

correções do movimento11, 16. A duração e os perfis da curva de velocidade do movimento

dirigido ao alvo variam dependendo das características da tarefa. As fases de aceleração e

desaceleração do movimento possuem duração similar quando é solicitado que o indivíduo

realize um movimento balístico. Neste caso, pode-se observar um perfil da curva de

velocidade tangencial em relação ao tempo em formato de sino, representativo de uma única

unidade de movimento, observando-se um único pico de velocidade13, 22, 23. Estudos têm

observado que, para o movimento discreto dirigido ao alvo, a necessidade de acurácia final do

movimento altera os perfis de aceleração e desaceleração do movimento. Há um aumento na

duração da fase de desaceleração, observando-se correções para o alcance do alvo, o que

caracteriza o movimento como não balístico4, 6.

A trajetória do movimento da mão em direção ao alvo tende a ser retilínea. Para tanto,

concomitantemente ao movimento linear da mão, ocorrem variações nas amplitudes de

movimento e torques gerados nas articulações do ombro e cotovelo dependentes da direção do

movimento22-24. Dounskaia25 propôs a hipótese da articulação líder, afirmando que a direção

do movimento promove uma interação mecânica entre os segmentos da estrutura

multiarticular do membro. Na maior parte das direções, o movimento ativo da articulação

proximal inicia o movimento de todo o membro e um torque de interação (passivo) é gerado

sobre a articulação mais distal, que participa diretamente da modulação e ajustes necessários

no movimento para que o alvo seja alcançado. No membro superior, a articulação “líder”

parece ser o ombro, exceto em direções que estão diagonais (em torno de 45º) ao ponto inicial

do movimento, no espaço ipsilateral ao membro, nas quais o cotovelo exerce o movimento

ativo para início do movimento e o ombro, o torque interativo para estabilização do membro

superior26, 27.

Em um estudo que analisou a preferência do indivíduo sobre a direção do movimento

de alcance, verificou-se a preferência por direções diagonais, observando-se uma tendência

Page 17: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

17 

 

para simplificar o controle neural do torque de interação através da aceleração ativa da

articulação “líder” e exploração do torque de interação para produzir movimentos passivos na

articulação “subordinada” para a execução do movimento nos membros superiores dominante

e não dominante28, 29, porém para o não dominante essa estratégia não foi tão eficiente29.

Além disso, estudos observaram que quando o alvo encontra-se contralateralmente ao

membro, ou seja, quando é necessário que o indivíduo ultrapasse a linha média para o

hemiespaço oposto, os movimentos tornam-se mais lentos20, 30 e menos suaves20.

Tais características do movimento dirigido ao alvo são observadas em indivíduos

sadios, cuja integridade dos sistemas sensório-motor e cognitivo permite os ajustes descritos

dependendo das características da tarefa. Lesões hemisféricas unilaterais podem comprometer

tal controle31-33.

1.2 Lesões hemisféricas unilaterais e o comportamento do membro superior no

movimento dirigido ao alvo

Lesões hemisféricas unilaterais, como as que ocorrem no acidente vascular encefálico

(AVE), têm sido utilizadas como modelo para estudo da influência dos hemisférios cerebrais

no comportamento motor10, 11, 31, 32, 34, 35. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o AVE é

um quadro neurológico agudo, de origem vascular, com rápido desenvolvimento de sinais

clínicos devido a distúrbios locais ou globais da função cerebral com duração maior que 24

horas8. Recentemente, a American Heart Association publicou um documento que definiu o

infarto do sistema nervoso central36:

“Infarto do sistema nervoso central é a morte de células cerebrais, medulares ou da retina atribuída à isquemia, com base em (1) evidências patológicas, de imagem ou objetivas de lesão isquêmica cerebral, medular ou na retina em uma distribuição vascular definida; ou (2) evidência clínica de lesão isquêmica focal cerebral, medular ou na retina baseada em sintomas persistentes acima de 24 horas ou até a morte e com exclusão de outras etiologias” (Sacco e colaboradores, 2013, p. 3).

A cada ano, aproximadamente 795.000 pessoas tem um episódio de AVE, sendo 87%

de origem isquêmica, 10% por hemorragias intracerebrais e 3%, hemorragias

subaracnóideas37. As manifestações clínicas do AVE dependem da localização, do tamanho,

da área da lesão, da natureza e da função do local atingido. Além disso, sua gravidade parece

ser consequente à disponibilidade de um fluxo sanguíneo colateral e ao tratamento inicial na

Page 18: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

18 

 

fase aguda36, 38. O local mais comum para ocorrência de um AVE é a região irrigada pelas

artérias cerebrais média (50,8%) e anterior (5%), que correspondem à circulação anterior do

cérebro, sendo a ocorrência de AVE nessa região duas vezes maior que nos demais territórios

vasculares. Essas regiões são associadas ao controle de funções cognitivas e sensório-

motoras39. Os déficits neurológicos decorrentes do AVE vão se refletir em todo o corpo, uni

ou bilateralmente, podendo ocorrer paralisia e fraqueza muscular, comprometimento das

habilidades de comunicação, fala, capacidade de compreensão, sentidos, além de raciocínio,

emoções e memória, sendo a disfunção motora mais comum, a hemiplegia ou hemiparesia

contralateral à lesão38-40. Após um AVE, inicialmente ocorre um estado de baixo tônus

muscular ou flacidez, que persiste por horas a semanas, que em seguida evolui para quadros

de espasticidade, hiperreflexia e padrões motores em massa, denominados sinergismos40-42.

Após o AVE, até 85% dos indivíduos terão algum comprometimento sensório-motor

no membro superior contralesional6. Tais comprometimentos são caracterizados por

alterações na força e tônus muscular, padrões anormais de sinergia, diminuição de mobilidade

e incoordenação durante movimentos voluntários com consequente impacto sobre o

desempenho desses indivíduos em suas atividades cotidianas39, 42-44. Em relação ao

movimento dirigido ao alvo no membro superior contralesional, são descritos movimentos

mais lentos, menos precisos e com menor suavidade, demonstrada através de maior

segmentação temporal e espacial do movimento, especialmente em movimentos executados

em direções contralaterais e verticais em relação ao membro23, 42, 44, 45 e para alvos mais

distantes e menores6. Essas características foram relacionadas a alterações no tônus muscular,

diminuição da amplitude de movimento ativa de ombro e cotovelo, déficits na coordenação

interarticular e aumento compensatório dos movimentos do tronco. Parece haver uma relação

entre tais alterações no comportamento motor e o grau de comprometimento motor do

membro superior, com pior desempenho naqueles indivíduos com maior acometimento6, 23, 42,

44, 45.

Além da hemiplegia/paresia no membro superior contralesional, pode-se observar

também um déficit no controle motor do membro superior ipsilesional, ou seja, do mesmo

lado da lesão32, 46-48. Apesar de o déficit ipsilesional ser menor que o contralesional, observa-

se impacto funcional na realização das AVDs com este membro49-52. Estudos

eletrofisiológicos e de imagem funcional demonstraram ativação cortical no hemisfério

ipsilateral durante movimentos unilaterais do membro32, 53-55. Dessa forma, o membro

superior ipsilesional pode ser utilizado para estudos das características do comportamento

Page 19: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

19 

 

motor em lesões hemisféricas unilaterais que seriam de difícil avaliação no membro

contralesional.

No movimento dirigido ao alvo, o membro superior ipsilesional tem sido avaliado em

estudos referentes às características e aos mecanismos de controle do movimento, com

observação da participação de diferentes áreas e hemisférios cerebrais, em atividades

discretas10, 11, 31, 32, 34, 35, ou complexas, como sequências de movimento4, 56, 57, além de

variações no tamanho dos alvos, distância, direção do movimento e estímulos externos, tanto

para tarefas discretas quanto sequenciais4, 10, 11, 32, 33, 56, 57.

Para as características da tarefa que podem influenciar o movimento dirigido ao alvo

de interesse para este estudo, em função do paradigma dos tempos de reação simples e de

escolha, não foram encontrados trabalhos que avaliaram a influência das opções de escolha na

resposta em indivíduos após AVE. Assim, não se sabe se a presença de escolhas na resposta

influencia o comportamento do movimento dirigido ao alvo nesta população. Além disso,

alguns estudos realizaram o movimento apenas para uma direção, enquanto outros avaliaram

diferentes direções. Schaefer e colaboradores31 desenvolveram um estudo com o membro

superior ipsilesional de indivíduos após AVE em hemisférios direito e esquerdo, que

realizaram o movimento dirigido ao alvo para a direção ipsilateral, porém foi avaliada a

influência da distância do alvo no comportamento e não da direção. Foi observado que

indivíduos após AVE eram mais lentos que os saudáveis e que aqueles após lesão em

hemisfério direito apresentavam menor acurácia ao atingir o alvo do que os com lesão à

esquerda, ou os controles saudáveis. A amplitude da aceleração aumentou substancialmente

com a distância do alvo para todos os indivíduos, exceto para o grupo após AVE à esquerda,

que aumentou a duração da aceleração com a distância, porém, mantendo-se acurado.

O mesmo grupo de autores realizou outro estudo avaliando o membro superior

ipsilesional após AVE direito e esquerdo, ainda no espaço ipsilateral ao membro, porém

propôs três direções de movimento: medial, central e lateral. Neste trabalho, também se

observou que os indivíduos com AVE foram mais lentos que os saudáveis, especialmente para

a direção medial. Aqueles com lesão à direita apresentaram maior tempo de reação que os

demais, independente da direção do movimento, e maior erro absoluto na posição final do

movimento em relação aos saudáveis. Os indivíduos com AVE à esquerda apresentaram

menores picos de velocidade, trajetórias do movimento mais curvilíneas e maior variabilidade

na direção inicial do movimento para os alvos central e medial, sendo esses resultados

atribuídos ao déficit de coordenação entre os torques musculares gerados nas articulações do

cotovelo e ombro para acelerar o membro em direção ao alvo e não à fraqueza muscular,

Page 20: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

20 

 

porque a magnitude dos torques gerados por esse grupo foi comparável à de indivíduos

saudáveis32.

A direção contralateral foi comparada à ipsilateral em trabalho desenvolvido por nosso

grupo de pesquisa33 realizado com indivíduos após AVE em diferentes hemisférios cerebrais

durante execução do movimento dirigido ao alvo sobre uma mesa digitalizadora, com alvos

apresentados através de diferentes índices de dificuldade. Os autores observaram que para a

direção contralateral, não houve influência no planejamento do movimento, entretanto houve

prejuízo durante sua execução. Os participantes de todos os grupos foram mais lentos (maior

tempo de movimento, menor pico de velocidade e maior tempo para atingir o pico de

velocidade), menos suaves e menos precisos ao atingir o alvo para essa direção. O estudo

ainda observou que os indivíduos com AVE à direita foram mais sensíveis ao índice de

dificuldade da tarefa, afetando o planejamento e a precisão do movimento, enquanto àqueles

com lesão à esquerda geraram movimentos mais lentos e menos suaves, sendo mais

influenciados pela distância do alvo. Entretanto, não foram encontrados estudos que fizessem

relação entre as direções e o grau de comprometimento motor do membro superior

contralesional.

1.3 Grau de comprometimento do membro superior contralesional após o AVE

O grau de comprometimento funcional dos membros superiores ipsi e contralesional

após o AVE varia em função do processo de recuperação de cada indivíduo. Sabe-se que o

maior período de recuperação do membro superior contralesional ocorre até o terceiro mês

após a lesão, com estabilização do quadro entre seis e doze meses43, 46, 58. Estudos

longitudinais demonstram que de 30 a 60% dos membros superiores paréticos continuam sem

função aos seis meses após a lesão, enquanto 5 a 20% demonstram recuperação funcional

completa43, 59-61. Além disso, estudos mostram que o tipo, localização do AVE e a gravidade

inicial da paresia do membro superior são alguns dos melhores preditores de recuperação em

seis meses43, 46, 60-65.

O processo de recuperação do membro superior ipsilesional também varia em função

do tempo decorrente da lesão. Estudos têm observado comprometimento da força muscular e

destreza no membro superior ipsilesional desde o primeiro mês após a lesão48, 66, com

persitência do comprometimento da destreza do terceiro mês até um ano após a lesão47, 66, 67,

além de déficits na coordenação motora, desempenho em tarefas cotidianas e cinestesia do

Page 21: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

21 

 

polegar em fases tardias de recuperação68. Ainda foi observada uma relação com a apraxia em

indivíduos com lesão à esquerda47, 48. Entretanto, alguns estudos não observaram correlação

entre esses déficits e o grau de comprometimento motor do membro contralesional48, 68.

Estudo realizado por Metrot e colaboradores69 avaliou o membro superior ipsilesional

em movimento dirigido a um alvo seguido de preensão, do primeiro ao terceiro mês de

recuperação após o AVE, e classificou os indivíduos segundo o grau de comprometimento no

membro superior contralesional em leve a moderado e severo. Foi demonstrada uma melhora

no desempenho ao longo do tempo de recuperação, com estabilização do quadro em torno de

três meses após o AVE. Ao final das avaliações, o desempenho em testes clínicos de destreza

foi similar ao de controles sadios, mas os movimentos ainda eram menos suaves na análise

cinemática. Entretanto, não foi observada diferença entre os grupos em função do grau de

comprometimento motor do membro superior contralesional.

Apesar dos estudos que avaliaram a recuperação do membro ipsilesional terem

encontrado pouca repercussão do grau de comprometimento motor do membro superior

contralesional, sabe-se que os indivíduos hemiparéticos usam o membro superior ipsilesional

de duas a seis vezes mais que o contralesional70, 71. Em fase inicial de recuperação

(hospitalar), em indivíduos com hemiparesia de grau leve a moderado, foi observado um uso

médio de 3,3 horas por dia para o membro superior contralesional e 6 horas por dia para o

ipsilesional, enquanto para saudáveis o uso foi de 8 a 9 horas por dia. Não foi descrita

diferença entre o uso dos membros superiores dominante e não dominante para o grupo

controle e membro superior contralesional. Relatou-se também uma correlação positiva entre

o uso dos membros ipsi e contralesionais. Vale-se ressaltar que o estudo foi desenvolvido em

fase hospitalar de recuperação do AVE e os indivíduos realizavam em torno de 3 horas por

dia de terapia para reabilitação. Os autores sugeriram que, provavelmente, em ambiente

domiciliar, a influência ao uso seja maior nas atividades cotidianas e tal correlação possa

tornar-se negativa50.

Ao longo do processo de recuperação, dependendo do grau de comprometimento

contralesional, o indivíduo poderá estabelecer diferentes padrões de uso e função para cada

um dos membros. Quando a hemiplegia é de grau moderado a grave, o membro ipsilesional

atua como condutor em atividades bilaterais como rosquear a tampa de um pote, abotoar

botões e cortar alimentos; ou desenvolve sozinho atividades unilaterais como levar um copo

até a boca31. Logo, o maior uso no membro superior ipsilesional após o AVE pode influenciar

seu desempenho durante o período de recuperação, levando a um aprendizado uso dependente

ao longo do tempo72, o qual pode estar bem estabelecido em fase crônica de recuperação.

Page 22: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

22 

 

Sabe-se que o aprendizado uso dependente determina modificações neurais ou

comportamentais induzidas pela repetição de movimentos, que resultam em melhora do

desempenho em tarefas72. Simultaneamente, outro processo atua na adaptação do

comportamento humano: o aprendizado baseado no erro, que ocorre quando o sistema motor

encontra um erro no movimento. Consequentemente, suas estimativas sobre o corpo e o

ambiente irão mudar e o próximo movimento será modificado para neutralizar subjacentes

perturbações. Habilidades motoras, como o movimento dirigido ao alvo, se adaptam

rapidamente a essas mudanças dinâmicas do corpo e do ambiente, gerando novos padrões de

controle do movimento para suprimir perturbações13, 72.

Assim, Cirstea e colaboradores44 observaram a influência em curto prazo da prática do

movimento dirigido ao alvo em indivíduos saudáveis e após AVE no membro superior

contralesional, sendo os mesmos classificados em função da gravidade do comprometimento

do membro superior contralesional em leve a moderado e moderado a grave. Os indivíduos

saudáveis realizaram movimentos mais rápidos e acurados com a prática, apresentando

melhor coordenação interarticular entre ombro e cotovelo. Naqueles após AVE, os

movimentos do membro superior contralesional foram mais rápidos e suaves, além de

apresentarem menor variabilidade após a prática. No grupo com hemiparesia leve a moderada,

houve melhora na acurácia do movimento, assim como nos saudáveis. Para o grupo com

hemiparesia moderada a grave, apesar da melhora no desempenho, houve um aumento no

deslocamento do tronco, demonstrando maior atividade compensatória. Nos participantes

após AVE, essa melhora do desempenho ocorreu após mais repetições do movimento do que

nos saudáveis, especialmente, para os com maior comprometimento, sugerindo que a

quantidade necessária de prática para o aprendizado motor pode ser determinada pelo grau de

comprometimento motor inicial ou de recuperação. Da mesma forma que foi descrito com o

membro superior contralesional, a prática pode influenciar o comportamento do membro

ipsilesional, em função do grau de comprometimento motor do membro contralesional,

devido ao seu maior uso.

Haaland e colaboradores34 consideraram a presença ou não de paresia no membro

superior contralateral à lesão, ao comparar o movimento de extensão do cotovelo do membro

superior ipsilesional para atingir alvos em diferentes distâncias, em indivíduos sadios e com

lesão hemisférica à esquerda em fase crônica de recuperação. Observaram que o grupo

parético apresentou uma estratégia diferente dos demais para modulação da velocidade do

movimento em função da distância, através da modulação da duração da aceleração. Enquanto

os outros grupos modularam a amplitude do pico de aceleração. Essa diferença foi atribuída a

Page 23: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

23 

 

uma estratégia compensatória no grupo parético. Entretanto, a relação entre as características

do movimento dirigido ao alvo no membro ipsilesional e o grau de comprometimento motor

contralesional ainda não foram bem esclarecidas.

Indivíduos em fase crônica de recuperação têm sido utilizados como modelo em

grande parte dos estudos com análise cinemática10, 11, 31, 32, 34, 35, porém a observação da

influência do grau de comprometimento do membro superior contralesional tem sido pouco

explorada. Para que o alvo seja alcançado dentro das características impostas por diferentes

tarefas e considerando-se os inúmeros graus de liberdade possíveis no movimento do membro

superior, estratégias distintas podem ser desenvolvidas para que indivíduos com lesão

encefálica unilateral consigam atingir o objetivo da tarefa. Deve-se considerar a influência de

fatores sensório-motores decorrentes da lesão e/ou das características de controle do sistema

nervoso, podendo haver relação entre o grau de comprometimento motor do membro superior

contralesional e o comportamento do membro ipsilesional. Dessa forma, com o presente

estudo, espera-se elucidar a influência do grau de comprometimento motor do membro

superior contralesional no comportamento motor do membro superior ipsilesional durante o

movimento dirigido ao alvo em aspectos referentes ao planejamento, através do paradigma

dos tempos de reação simples e de escolha, e execução do movimento em diferentes direções

(ipsi ou contralateral). Técnicas de tratamento unilaterais para reabilitação do membro

superior contralesional73, assim como bilaterais74, têm sido propostas para indivíduos após

AVE com melhora funcional do membro. Mas e o membro superior ipsilesional? Pouca

atenção tem sido dada para seu processo de recuperação em função do grau de

comprometimento motor do indivíduo. Tais resultados fornecerão maior direcionamento

quanto à abordagem e orientação dessa população durante o período de recuperação.

Page 24: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

24 

 

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Analisar o comportamento do movimento dirigido ao alvo do membro superior

ipsilesional em indivíduos após lesão encefálica unilateral em função do grau de

comprometimento motor do membro superior contralesional.

2.2 Objetivos específicos

(I) Avaliar o movimento dirigido ao alvo do membro superior ipsilesional em função do

grau de comprometimento motor do membro superior contralesional.

Hipótese: Acredita-se que os indivíduos com maior comprometimento no membro

superior contralesional apresentarão melhor desempenho motor no movimento

dirigido ao alvo com o membro ipsilesional em consequência do seu maior uso,

podendo-se observar menor latência para a resposta, menor duração do movimento e

maior suavidade no traçado.

(II) Avaliar a influência das opções de resposta no planejamento e execução do movimento

dirigido ao alvo em função do grau de comprometimento motor do membro superior

contralesional.

Hipótese: Espera-se que haja maior eficácia no planejamento e execução do

movimento dirigido ao alvo em tarefas sem opções de escolha na resposta para o

grupo com maior comprometimento motor contralesional em função do aprendizado

uso dependente, observando-se menor latência para início do movimento e maior

velocidade para sua execução. Sabe-se que quanto menor o número de opções de

escolha na resposta, menor o tempo necessário para planejamento do movimento.

(III) Avaliar a influência da direção do alvo no planejamento e execução do movimento

dirigido ao alvo em função do grau de comprometimento motor do membro superior

contralesional.

Page 25: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

25 

 

Hipótese: Espera-se que os movimentos realizados para a direção ipsilateral ao

membro que realizar o traçado apresentem menor latência para início do movimento,

em função da compatibilidade estímulo-resposta. Além de maior velocidade e traçados

mais suaves em relação àqueles realizados para a direção contralateral, principalmente

para o grupo com maior comprometimento motor contralesional, em função do

aprendizado uso dependente. Movimentos realizados para a direção contralateral irão

aumentar a demanda de coordenação entre os segmentos articulares do membro

superior em função do deslocamento para o espaço contralateral ao membro superior

em movimento, interferindo no desempenho.

Page 26: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

26 

 

3 MÉTODO

3.1 Desenho do estudo e aspectos éticos

O presente estudo foi do tipo experimental, de desenho transversal e realizado no

Laboratório de Análise do Movimento II (LAM II) do Programa de Mestrado e Doutorado da

Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) na cidade de São Paulo – SP, na Universidade

Santa Cecília (UNISANTA) na cidade de Santos – SP e na Universidade do Vale do Sapucaí

(UNIVÁS) na cidade de Pouso Alegre - MG.

O estudo foi analisado e previamente autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

da UNICID [Protocolo 07764512.9.0000.0064] (Anexo 1). Todos os pesquisadores estavam

cientes e obedeceram às normas e diretrizes da resolução 196/96 do Conselho Nacional de

Saúde. Todos os autores abordaram a pesquisa com respeito, responsabilidade e ética,

preservando o sigilo e anonimato de todos os pesquisados envolvidos.

Os indivíduos que participaram do estudo foram informados sobre os objetivos e

procedimentos a serem adotados e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,

no qual autorizaram a utilização de seus dados para fins de pesquisa, antes da participação no

estudo.

3.2 Participantes

A amostra consistiu em 42 participantes, sendo 28 deles com lesão decorrente de

AVE, que foram recrutados nas Clínicas de Fisioterapia da UNICID, UNISANTA e UNIVÁS

e 14 indivíduos sem diagnóstico de AVE recrutados na comunidade. Os participantes dos

grupos AVE foram classificados e divididos de acordo com o grau de comprometimento do

membro superior contralesional através da dimensão função motora do membro superior da

Escala de Avaliação de Fugl-Meyer44, 75-77.

A Escala de Avaliação de Fugl-Meyer é um instrumento para mensuração quantitativa

do comprometimento sensório-motor de indivíduos após AVE, sendo desenvolvida e

introduzida em 1975 por Fugl-Meyer e colaboradores76. Foi traduzida e validada para o

português brasileiro com alta confiabilidade inter e intra-observador (IC = 0,99 e 0,98;

Page 27: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

27 

 

respectivamente)75. Consiste em um sistema de pontuação numérica acumulativa que avalia

seis aspectos do indivíduo: amplitude de movimento, dor, sensibilidade, função motora da

extremidade superior e inferior e equilíbrio, além da coordenação e velocidade, totalizando

226 pontos. Uma escala ordinal de três pontos é aplicada em cada item: 0 - não pode ser

realizado, 1 - realizado parcialmente e 2 - realizado completamente, com características

específicas para cada item dentro desses critérios. Esta escala tem um total de 100 pontos para

a função motora normal, em que a pontuação máxima para a extremidade superior é 6675.

Através desta dimensão da escala, os indivíduos foram classificados nesse estudo conforme os

resultados obtidos no membro superior contralateral à lesão em comprometimento leve (≥ 50

pontos) ou moderado a grave (< 50 pontos)44, 77. Assim, foram compostos três grupos de

estudo: AVE com comprometimento leve (AVEL; n = 14) e moderado a grave (AVEMG; n =

14) e grupo controle com indivíduos sem diagnóstico de AVE (CT; n = 14), sendo todos os

grupos pareados em sexo e faixa etária.

Para serem incluídos no estudo os indivíduos do grupo AVE deveriam estar no

período acima de 6 meses após o AVE, ter apresentado episódio único e a lesão ser em

território arterial anterior (artérias cerebrais média e anterior) determinada por exame de

imagem. Todos os participantes (AVE e controle) deveriam ser destros, confirmados pelo

teste de dominância motora manual78.

O teste de dominância motora manual - Inventário de Edinburgo - foi desenvolvido

por Oldfield em 197178 e avalia a dominância motora manual através da observação da

preferência manual nas seguintes atividades: escrever, desenhar, jogar uma pedra, usar uma

tesoura, escovar os dentes, usar uma faca (sem o garfo), usar uma colher, usar uma vassoura

(mão superior), acender um fósforo e abrir a tampa de um vidro (mão que segura a tampa).

Nesse teste, o indivíduo é instruído a indicar a preferência manual assinalando +; quando só

realiza a atividade com uma mão deve assinalar ++ e se não existir preferência, assinala +

para ambas78. Em nosso estudo, o participante foi considerado destro quando obteve uma

pontuação acima de 80 % de preferência para o lado direito na escala, para os indivíduos com

AVE as respostas deveriam refletir sua prática antes da lesão.

Foram excluídos do estudo aqueles que apresentaram outras doenças osteomusculares/

dor que interferissem na função do membro superior que realizaria as tarefas, ou neurológicas

associadas, pontuação total no Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) inferior à pontuação

ajustada para a escolaridade79, 80, alteração na acuidade visual que impossibilitasse a

realização da tarefa experimental e/ou instabilidade clínica.

Page 28: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

28 

 

O MEEM é um instrumento desenvolvido por Folstein em 197581, foi validado para a

população brasileira e fornece informações sobre diferentes parâmetros cognitivos. É

composto por questões agrupadas em sete categorias, cada uma delas com o objetivo de

avaliar funções cognitivas específicas como: orientação temporal (5 pontos), orientação

espacial (5 pontos), registro de três palavras (3 pontos), atenção e cálculo (5 pontos),

recordação das três palavras (3 pontos), linguagem (8 pontos) e capacidade construtiva visual

(1 ponto)79. O escore do MEEM pode variar de um mínimo de 0 pontos, o qual indica maior

grau de comprometimento cognitivo dos indivíduos avaliados, até um total máximo de 30

pontos, correspondendo à melhor capacidade cognitiva79. O ponto de corte é frequentemente

ajustado para o nível educacional, porque um único ponto de corte pode perder casos entre

pessoas de educação mais alta e gerar falsos positivos entre aqueles com menor nível de

escolaridade. Para tanto, Bertolucci e colaboradores80 estabeleceram os seguintes pontos de

corte com ajuste para a escolaridade: 13 para analfabetos, 18 para baixa (1 a 4 anos

incompletos) e média (4 a 8 anos incompletos) escolaridade e 26 para alta (8 ou mais anos de

formação). No presente estudo, foi considerada a pontuação ajustada para a escolaridade

como critério de exclusão.

Para cálculo do número da amostra, foram utilizados valores previamente observados

do tempo de movimento em um estudo do nosso laboratório realizado com a mesma

população, considerando-se amostras independentes, um erro probabilístico alfa de 5% e um

poder de 0,80 utilizando-se o programa GPower 3.1. Esse cálculo resultou em uma amostra de

pelo menos 11 indivíduos por grupo.

3.3 Procedimentos

3.3.1 Caracterização dos participantes

Para caracterização dos participantes do estudo foi utilizada uma ficha de coleta com

dados sociodemográficos e clínicos, na qual constavam dados pessoais, história do AVE

(exceto para controles) e testes clínicos e funcionais, sendo eles: dinamometria de preensão

palmar e de pinça polpa-polpa e domínio membro superior da Escala de Avaliação de Fugl-

Meyer76. Os testes descritos anteriormente como critérios de inclusão e exclusão (Inventário

de Edimburgo78 e MEEM79) também foram utilizados para caracterização da amostra.

Page 29: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

29 

 

Para avaliação da dinamometria de preensão palmar foi utilizado o dinamômetro

Hydraulic Hand Dynamometer SH5001 Saehan® e para a dinamometria de pinça polpa-

polpa, o dinamômetro Hydraulic Pinch Gauge Jamar®, modelo 7498-05. Foi adotada a

posição padrão preconizada pela Sociedade Americana de Terapeutas da Mão e Membro

Superior, na qual o indivíduo permanece sentado com o ombro aduzido e em rotação neutra e

o cotovelo fletido em ângulo reto, antebraço e punho mantidos em posição neutra, sendo

permitido uma leve extensão de até 30º do punho. A força de pinça polpa-polpa foi avaliada

entre as polpas dos dedos polegar e indicador, enquanto as articulações interfalangeanas dos

demais dedos permaneceram em flexão82, 83. Para o valor final utilizou-se a média de três

mensurações sucessivas coletadas separadamente para cada membro.

Dentro da Escala de Avaliação de Fugl-Meyer, a dimensão função motora do membro

superior (66 pontos), descrita anteriormente na classificação dos grupos, foi utilizada também

para caracterização da amostra. Além dessa pontuação, foram utilizadas as dimensões

mobilidade passiva e dor (48 pontos) e sensibilidade (12 pontos) do membro superior75, 76, que

somadas à pontuação da função motora do membro superior englobam todas as dimensões da

escala correspondentes ao membro superior, perfazendo um total de 126 pontos.

3.3.2 Protocolo experimental

Os procedimentos foram realizados em laboratório. O participante sentou em uma

cadeira com ajuste de altura com um colete para restrição de tronco visando evitar

movimentos compensatórios deste. A cadeira estava em frente a uma mesa, com o particpante

mantendo aproximadamente 90º de flexão de cotovelo e ombro em posição neutra. Sobre a

mesa foram posicionados uma mesa digitalizadora de 12 polegadas (Wacon® Intuos 2), uma

ponteira e um monitor (LG Flatron L150S 15 polegadas, resolução1024 x 768), que foram

utilizados nas tarefas propostas. Para avaliação do desempenho do membro superior,

solicitou-se dos participantes movimentos dirigidos ao alvo com a ponteira sobre a superfície

sensível da mesa digitalizadora. Com auxílio do monitor posicionado em frente à mesa

digitalizadora, foram apresentados os alvos a serem atingidos pelo indivíduo e o ponto inicial

do movimento (Figura 1). Ambos estavam conectados a um notebook (HP 14 polegadas,

processador 1.58GHz AMD TuriomTM).

Page 30: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

30 

 

Inicialmente, o participante foi familiarizado com o aparato experimental. Para tal, três

alvos foram dispostos em forma de triângulo e apresentados no monitor. Foi dada instrução

para que o indivíduo segurasse a ponteira com o primeiro e segundo dedos do membro

superior a ser avaliado mantendo-a perpendicularmente à mesa, posição que foi requerida em

todas as tarefas, e realizasse um traçado unindo os três alvos, cinco vezes nos sentidos horário

e anti-horário com a mão utilizada para o teste (Figura 2).

Em seguida, foi realizada a calibração da posição dos alvos através da orientação aos

participantes para que mantivessem a ponteira sobre o centro de cada alvo para que as

coordenadas x e y fossem registradas.

Para as tarefas experimentais, o participante realizou os movimentos a partir de um

ponto fixo (Ponto inicial: círculo localizado inferior e centralmente) em direção a alvos

posicionados diagonalmente à 45º e acima deste dos lados direito e esquerdo no monitor. Os

alvos estavam dispostos a uma distância de 12 cm entre si e possuíam o diâmetro de 1 cm

cada. A trajetória do movimento foi representada na tela por um tracejado na cor laranja.

Figura 1. Representação esquemática do aparato experimental e posicionamento do participante para o

experimento.

Figura 2. Representação esquemática dos alvos apresentados no monitor indicando a direção dos movimentos a

serem realizados sobre a mesa digitalizadora para familiarização do participante em relação ao aparato

experimental.

Page 31: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

31 

 

Foram avaliadas duas condições: (1) Tarefas com tempo de reação: simples ou de

escolha e (2) Direções do movimento: ipsilateral ou contralateral. Em relação às tarefas com

tempo de reação, foram considerados o tempo de reação simples, que é o intervalo de tempo

entre a apresentação de um estímulo não antecipado (estímulo imperativo) e o início da

resposta (movimento dirigido ao alvo), onde o participante sabia qual a direção do movimento

previamente; e o tempo de reação de escolha, com a direção do movimento sendo indicada

pelo estímulo imperativo, o que não permitiu conhecimento prévio do participante em relação

à direção do movimento a ser realizado. As direções do movimento variaram conforme o

membro superior que realizou a tarefa, sendo considerada ipsilateral aquela que ocorreu para

o mesmo lado do membro superior em movimento, e contralateral a que ocorreu para o lado

oposto.

No monitor, os alvos e o ponto inicial se apresentaram na cor branca antes do início da

tarefa. No tempo de reação simples, o alvo mudou de cor (branca para vermelha por 200 ms)

para indicar qual direção o indivíduo deveria seguir (ipsilateral ou contralateral) e em seguida,

após um intervalo de tempo aleatorizado entre 300 a 800 ms, o alvo mudou de cor (branca

para verde) caracterizando o estímulo imperativo para o início do movimento (Figura 3A). Já

no tempo de reação de escolha, o alvo mudou da cor branca para verde, ocorrendo

concomitantemente a orientação da direção do movimento e o estímulo imperativo (Figura

3B). O participante foi orientado a realizar o movimento o mais rápido possível procurando

atingir o centro do alvo após o estímulo imperativo. Inicialmente, a duração da coleta para

cada tentativa foi programada para 2 segundos, sendo ajustada segundo o desempenho de

cada participante para mais ou para menos quando necessário.

A. B.

Figura 3. Eventos envolvidos no protocolo experimental ordenados de I a IV. A. Representação esquemática do

tempo de reação simples. B. Representação esquemática do tempo de reação de escolha.

Page 32: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

32 

 

Os eventos envolvidos em cada tentativa foram controlados e a trajetória registrada a

uma frequência de 300 Hz utilizando uma rotina desenvolvida em ambiente Labview 2010

(National Instruments).

Para cada condição, foram realizadas 20 tentativas, somando-se 80 tentativas por

indivíduo, sendo as mesmas aleatorizadas em blocos de 20 tentativas com intervalo para

descanso entre elas. A aleatorização das tarefas ocorreu entre as direções dentro de cada bloco

(10 tentativas para a direção contralateral e 10 para a ipsilateral) e entre os blocos, sendo 2

blocos com tempo de reação simples e 2 com o tempo de reação de escolha (Figura 4).

Metade do grupo controle realizou as tarefas com o membro superior direito e a outra metade,

com o esquerdo, aleatoriamente. O grupo AVE utilizou o membro superior ipsilesional para

as tarefas. Quando houve antecipação do movimento (tempo de reação inferior a 100 ms), o

participante não percebeu os estímulos para início do movimento, ou errou a direção do alvo,

as tentativas foram excluídas e repostas. O tempo de coleta foi em torno de 60 minutos. As

atividades desenvolvidas durante a coleta e observações relativas a cada tentativa foram

registradas em uma ficha de coleta. As orientações dadas aos participantes durante a coleta

também foram padronizadas.

3.4 Processamento e análise dos dados

As variáveis temporais analisadas foram: tempo de reação, tempo de movimento, pico

de velocidade, tempo para o pico de velocidade e relação entre o tempo para o pico de

Figura 4. Aleatorização das tarefas. TRS= tempo de reação simples, TRE = tempo de reação de escolha, DI =

direção ipsilateral, DC = direção contralateral.

Page 33: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

33 

 

velocidade e o tempo de movimento (TPV/TM). Foram avaliadas também variáveis espaciais,

sendo elas: suavidade, erro variável resultante e erro de direção no pico de aceleração.

Os dados das coordenadas x e y da posição da ponteira foram filtrados com um filtro

passa-baixa Buterworth, de segunda ordem, à frequência de 10 Hz. Tais dados foram

utilizados para cálculo da velocidade linear resultante da ponta da ponteira e o pico de

velocidade (em centímetros por segundo) foi então determinado. O pico de velocidade foi

definido como o instante de velocidade linear máxima. O início e final do movimento foram

definidos pelo instante de tempo em que a velocidade linear resultante alcançou 5% do valor

máximo antes (início da fase de aceleração) e após (término da fase de desaceleração) o pico

de velocidade.

O tempo de reação (em milissegundos) foi definido como o intervalo de tempo entre o

início do estímulo imperativo e o início do movimento. O tempo de movimento (em

milissegundos) foi calculado como o intervalo entre o início e o término do movimento. O

tempo para o pico de velocidade (em milissegundos) refere-se ao tempo entre o início do

movimento e o instante de velocidade linear máxima. A razão TPV/TM foi calculada e

transformada em porcentagem do tempo de movimento.

A suavidade do movimento foi analisada verificando-se o número de vezes que a

curva de aceleração mudou de direção e determinou-se o número de unidades de movimento

(um). O cálculo do erro variável resultante (em centímetros) foi realizado através da raiz

quadrada da soma do quadrado das diferenças entre o ponto final e a média dos pontos finais

entre as tentativas, dividido pelo número de tentativas para as direções horizontal e vertical. O

erro de direção no pico de aceleração (em graus) foi calculado como o ângulo entre um vetor

definido pela posição inicial e o alvo a ser alcançado (vetor alvo) e o vetor entre a posição

inicial e a posição no instante do pico de aceleração (vetor movimento).

3.5 Análise estatística

Na análise estatística dos dados sociodemográficos e clínicos para as variáveis

categóricas (sexo, lado da lesão e tipo de AVE) foi utilizado o teste Qui-quadrado. As

variáveis numéricas, previamente à análise, foram submetidas ao teste de Shapiro-Wilk e

análise de histogramas para verificação da distribuição dos dados quanto à normalidade. Para

avaliar se houve diferença entre os grupos com AVE para as variáveis contínuas tempo de

Page 34: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

34 

 

lesão, pontuação do domínio membro superior e da dimensão função motora da Escala de

Avaliação de Fugl-Meyer foi utilizado o teste T de Student para amostras independentes e seu

equivalente não paramétrico quando a distribuição não foi normal. Análise de Variância e seu

teste equivalente não paramétrico, quando necessário, foram aplicados para a comparação dos

três grupos para as variáveis idade, escore do MEEM, preensão palmar e pinça ipsi e

contralesionais e do membro correspondente para os participantes do grupo controle.

Para as variáveis analisadas do movimento dirigido ao alvo, foi inicialmente calculada

a média das variáveis entre os participantes. Foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk para

verificação da normalidade dos dados e observou-se que as variáveis suavidade e erro de

direção no pico de aceleração não apresentaram distribuição normal, utilizou-se

transformação logarítmica para realização da análise de ambas. Posteriormente, as médias das

variáveis foram comparadas por meio da Análise de Variância para Medidas Repetidas -

ANOVA (3 x 2 x 2) considerando-se como fatores principais grupo (controle, AVEL e

AVEMG), tarefa de tempo de reação (simples ou de escolha) e direção (ipsilateral ou

contralateral), sendo os últimos fatores considerados como medida repetida. Quando

necessário, testes post-hoc com ajuste de Bonferroni foram utilizados para verificar a

diferença entre condições. Para tanto, foi utilizado o programa SPSS 19 e se considerou

necessário um nível de significância de 5%.

Page 35: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

35 

 

4 RESULTADOS

4.1 Participantes

Os participantes do estudo foram capazes de completar as tarefas propostas e não

houve intercorrências durante os procedimentos. Segue abaixo um fluxograma (Figura 5) de

inclusão dos participantes no estudo.

Figura 5. Fluxograma dos participantes avaliados e incluídos no estudo. AVE: Acidente vascular encefálico,

CT: controle, AVEL: Acidente vascular encefálico com comprometimento leve e AVEMG: Acidente vascular

encefálico com comprometimento moderado a grave.

 

As características sociodemográficas e clínicas dos participantes de cada grupo estão

descritas na tabela 1.

Page 36: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

36 

 

Tabela 1. Dados sociodemográficos e clínicos dos participantes por grupo

Para os dados sociodemográficos e clínicos observou-se semelhança entre os grupos,

exceto para os valores de força de preensão palmar e pinça contralesionais, nos quais se

verificou maior força muscular no grupo CT em relação aos grupos AVEs e no grupo AVEL

em relação ao AVEMG. Para a pontuação da Escala de Avaliação de Fugl-Meyer, tanto para o

domínio membro superior (mobilidade passiva e dor, sensibilidade e função motora), quanto

para a dimensão função motora isoladamente, observou-se melhor pontuação no grupo AVEL

em relação ao AVEMG.

4.2 Desempenho no movimento dirigido ao alvo

Em relação ao tempo de reação, o grupo AVEMG apresentou maior latência para

início do movimento (387 ± 9 ms) do que o grupo CT (353 ± 9 ms) [F(1,39) = 3,29; p =

0,048]. Houve diferença entre as tarefas [F(1,39) = 25,96; p < 0,0001], com maior tempo de

reação para a tarefa com tempo de reação de escolha (378 ± 5 ms) em relação ao tempo de

reação simples (361 ± 6 ms) para todos os grupos. Observou-se também diferença entre as

direções [F(1,39) = 7,01; p = 0,012], com maior latência para início do movimento na direção

contralateral (374 ± 6 ms) que na ipsilateral (365 ± 5 ms). Houve interação entre grupos e

CT (n = 14) AVEL (n = 14) AVEMG (n = 14)Freq (%) Freq (%) Freq (%)

Sexo masculino 7 (50) 11 (79) 8 (57) 0,27AVE em hemisfério direito - 7 (50) 7 (50) 1AVE isquêmico - 9 (64) 13 (93) 0,07

Média (DP) Média (DP) Média (DP)Idade (anos) 56,14 (7,9) 61,07 (8,7) 56,43 (7,6) 0,21Dominância motora manual (%) 95 (8,6) 94,29 (8,5) 96,79 (7,2) 0,71Tempo pós-AVE (meses) - 29,71 (17,5) 32,07 (18,1) 0,73MEEM (escore) 27,38 (2,6) 24,5 (4,7) 26 (2,6) 0,11Preensão palmar ipsi (KgF) 30,43 (8,0) 32,93 (11,0) 30,05 (9,8) 0,70Preensão palmar contra (KgF) 32,02 (11,3) 16,14 (8,0) 5,43 (6,5) < 0,0001*Pinça ipsi (KgF) 3,58 (0,9) 3,7 (1,4) 3,48 (1,3) 0,90Pinça contra (KgF) 3,88 (1,0) 2,13 (1,8) 0,46 (0,7) < 0,0001*Fugl-Meyer MS (escore) - 115,57 (6,8) 81,07 (17,8) < 0,0001*Fugl-Meyer função motora MS (escore) - 58,71 (4,4) 27,79 (15,9) < 0,0001*

p valor

CT: Controle; AVEL: Acidente Vascular Encefálico com comprometimento leve; AVEMG: Acidente VascularEncefálico com comprometimento moderado a grave; n: Número de participantes do grupo; Freq: Frequência; AVE:Acidente vascular encefálico; DP: Desvio padrão; MEEM: Mini-exame do Estado Mental; Ipsi: Membro superioripsilesinal para grupo AVE e correspondente ao teste para grupo controle; Contra: Membro superior contralesionalpara grupo AVE e correspondente ao teste para grupo controle; MS: Membro superior. * Diferença entre todos osgrupos.

Page 37: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

37 

 

direções [F(1,39) = 4,13; p = 0,024]; o grupo AVEMG apresentou maior tempo de reação

(397 ± 2 ms) que o grupo CT (352 ± 10 ms) na direção contralateral, o que não aconteceu

para os outros grupos (Figura 6).

Para o tempo de movimento, não houve diferença entre os grupos [F(1,39) = 2,35; p =

0,109; CT: 328 ± 33 ms, AVEL: 334 ± 33 ms e AVEMG: 418 ± 33 ms]. O tempo de

movimento [F(1,39) = 103,74; p < 0,0001] foi maior para a direção contralateral (392 ± 20

ms) do que para a ipsilateral (329 ± 18 ms). Não houve diferença ou interação entre os demais

fatores (Figura 7).

Não houve diferença entre grupos para o pico de velocidade [F(1,39) = 1,20; p =

0,312; CT: 91 ± 9 cm/s, AVEL: 93 ± 9 cm/s e AVEMG: 75 ± 9 cm/s]. Houve diferença

significativa entre as direções [F(1,39) = 103,99; p < 0,0001], com maior pico de velocidade

para a direção ipsilateral (95 ± 6 cm/s) em relação à contralateral (77 ± 5 cm/s). Não houve

diferença ou interação entre os demais fatores (Figura 8).

No tempo para o pico de velocidade não foi observada diferença entre os grupos

[F(1,39 = 1,77; p = 0,183; CT: 110 ± 13 ms, AVEL: 112 ± 13 ms e AVEMG: 141 ± 13 ms).

Houve diferença entre tarefas [F(1,39) = 7,08; p = 0,011], observando-se maior tempo para o

pico de velocidade na tarefa com tempo de reação simples (125 ± 8 ms) do que na tarefa com

tempo de reação de escolha (117 ± 8 ms). Foi observada uma interação entre grupos e tarefas

[F(1,39 = 5,42; p = 0,008]: nos grupos CT (p=0,041) e AVEL (p=0,001), o tempo para o pico

de velocidade foi maior na tarefa com tempo de reação simples (CT: 119 ± 14 ms; AVEL:

Figura 6. Tempo de reação (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em

cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e

AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente).

Page 38: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

38 

 

117 ± 14 ms) que na tarefa com tempo de reação de escolha (CT: 102 ± 13 ms; AVEL: 107 ±

13 ms), o que não aconteceu para o grupo AVEMG (Tempo de reação simples: 139 ± 14 ms;

Tempo de reação de escolha: 144 ± 13 ms). Na direção contralateral (132 ± 8 ms), o tempo

para o pico de velocidade foi maior que na ipsilateral (110 ± 8 ms) [F(1,39) = 51,75; p <

0,0001]. Não houve interação entre os demais fatores (Figura 9).

Figura 7. Tempo de movimento (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de

escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle,

AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente).

Figura 8. Pico de velocidade (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha)

em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e

AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente).

Page 39: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

39 

 

Ao se estabelecer a relação TPV/TM, observou-se que foi inferior a 40% em todas as

condições analisadas. Não houve diferença entre os grupos [F(1,39) = 0,22; p = 0,808; CT: 35

± 2 %, AVEL: 34 ± 2 %, e AVEMG: 33 ± 2 %]. A relação TPV/TM foi maior na tarefa com

tempo de reação simples (34 ± 1 %) que na tarefa com tempo de reação de escolha (33 ± 1 %)

[F(1,39) = 4,29; p = 0,045] para todos os grupos. Não houve diferença entre os demais fatores

ou interação entre eles (Figura 10).

Figura 9. Tempo para o pico de velocidade (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e

de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle,

AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente).

Figura 10. Relação entre o tempo para o pico de velocidade (TPV) e o tempo de movimento (TM) (média ± erro

padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC:

direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e

moderado a grave, respectivamente).

Page 40: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

40 

 

A suavidade do movimento foi menor para o grupo AVEMG (2,76 ± 0,21 um) do que

para o grupo CT (1,73 ± 0,13 um) [F(1,39) = 3,65; p = 0,035]. Na direção contralateral (2,24

± 0,14 um), a suavidade foi menor que na direção ipsilateral (2,02 ± 0,13 um) [F(1,39) =

11,19; p = 0,002]. Não houve diferença entre os demais fatores ou interação entre eles (Figura

11).

Ao se avaliar o erro variável resultante, não houve diferença significativa entre os

grupos [F(1,39) = 0,74; p = 0,485; CT: 0,34 ± 0,05 cm, AVEL: 0,40 ± 0,05 cm e AVEMG:

0,42 ± 0,05 cm]. Todos os participantes apresentaram maior erro na direção ipsilateral (0,43 ±

0,04 cm) em relação à contralateral (0,34 ± 0,02 cm) [F(1,39) = 17,72; p < 0,0001]. Não

houve diferença entre os demais fatores ou interação entre eles (Figura 12).

O grupo AVEMG apresentou maior erro de direção no pico de aceleração (6,42 ±

0,44º) que o grupo CT (4,41 ± 0,33º) [F(1,39) = 4,15; p = 0,023]. Observou-se maior erro para

a direção contralateral (6,68 ± 0,38º) em relação à ipsilateral (4,51 ± 0,24º) [F(1,39) = 47,93;

p < 0,0001]. Não houve diferença entre os demais fatores ou interação entre eles (Figura 13).

Figura 11. Suavidade (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de escolha) em cada

direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle, AVEL e AVEMG:

acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente).

Page 41: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

41 

 

Figura 12. Erro variável resultante (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação simples e de

escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT: controle,

AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente).

Figura 13. Erro de direção no pico de aceleração (média ± erro padrão) para as tarefas (TR: tempo de reação

simples e de escolha) em cada direção (DI: direção ipsilateral e DC: direção contralateral) entre os grupos (CT:

controle, AVEL e AVEMG: acidente vascular encefálico leve e moderado a grave, respectivamente).

Page 42: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

42 

 

5 DISCUSSÃO

Este estudo procurou analisar o comportamento motor do membro superior

ipisilesional em indivíduos após AVE em função do grau de comprometimento motor do

membro superior contralesional entre três grupos distintos: AVEL, AVEMG e CT. Ao se

observar as características sociodemográficas e clínicas dos participantes dos grupos com

AVE, verificou-se maior prevalência de homens (AVEL: 79% e AVEMG: 57%) e com lesão

isquêmica (AVEL: 64% e AVEMG: 93%), o que corrobora em parte com a literatura, uma

vez que a incidência de AVE isquêmico é maior, mas tem sido demonstrado um aumento na

incidência de AVE em mulheres, principalmente com o aumento da idade37. Os grupos

analisados apresentaram diferentes graus de comprometimento motor necessários para os

objetivos deste estudo. O grupo CT apresentou maior força muscular de preensão palmar e

pinça polpa-polpa que os indivíduos com AVE, assim como o grupo AVEL em relação ao

AVEMG. Além disso, a pontuação na Escala de Avaliação de Fugl-Meyer foi maior no grupo

AVEL em relação ao AVEMG.

Observou-se diferença no desempenho do movimento dirigido ao alvo com o membro

superior ipsilesional em função dos graus de comprometimento motor do membro

contralesional. Pôde-se verificar que os grupos CT e AVEMG apresentaram diferença entre si

em aspectos referentes ao planejamento e execução do movimento. Houve maior latência para

início do movimento no grupo AVEMG, especialmente na direção contralateral. Esse grupo

apresentou ainda um maior erro de direção no pico de aceleração do movimento, variável que

é mensurada durante a execução da trajetória, mas que pode refletir o comportamento

planejado pelo indivíduo, uma vez que até o pico de aceleração ainda não é possível que o

mesmo faça correções no traçado pela duração do movimento até então32. Adicionalmente, os

indivíduos do grupo AVEMG realizaram mais correções (apresentando menor suavidade) que

o grupo CT, mostrando prejuízo na execução do movimento. Por outro lado, o grupo

AVEMG apresentou erro variável resultante similar aos demais grupos ao atingir o alvo. Em

conjunto, esses resultados demonstram que, apesar do prejuízo nas fases iniciais do

movimento decorrente do planejamento, os indivíduos, de forma compensatória, foram tão

precisos quanto os demais, demonstrando consistência na posição final da trajetória do

movimento.

Page 43: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

43 

 

Um estudo realizado com indivíduos com hemiparesia de grau moderado a grave,

decorrente de AVE acima de um ano de lesão, avaliou o tempo de reação dos participantes em

relação a indivíduos controles através de eletroencefalografia durante atividade de apertar um

botão em resposta a dicas válidas ou não sobre respostas que eram apresentadas ao indivíduo.

O estudo visou avaliar os processos de planejamento e atenção antecipatória. Os autores

descrevem um maior tempo de reação para ambas as mãos (ipsi e contralesional) para o grupo

com AVE em relação aos controles e relatam ainda terem encontrado evidência de alterações

funcionais na preparação dos movimentos da mão ipsilesional em ambos os hemisférios

cerebrais, o que pode estar relacionado com a redução significativa do tempo de reação para a

mão ipsilesional84. Apesar de serem tarefas distintas de nosso estudo, nós também

observamos maior tempo de reação para o grupo com comprometimento moderado a grave.

Durante a execução do movimento em nosso estudo, o tempo de movimento total no

grupo AVEMG foi entre 300 e 500 ms. Com essa duração, o movimento pode apresentar

correções com a participação do sistema visual, que parece promover feedback para correções

do movimento após 110 a 150 ms de execução do mesmo10, 12. Tais correções são confirmadas

pela menor suavidade apresentada pelo grupo. Estudo realizado por McCrea e colaboradores6

avaliou o movimento dirigido ao alvo realizado na linha média, em indivíduos saudáveis e

nos membros ipsi e contralesionais em indivíduos após AVE com diferentes graus de

comprometimento, avaliados pela Escala de Avaliação de Fugl-Meyer. Foram propostas

variações na distância e tamanho do alvo, fatores que não foram avaliados em nosso trabalho.

Porém, o tempo de movimento médio para o membro ipsilesional também foi em torno de

300 ms. Os movimentos do grupo controle (saudáveis) e com o membro ipsilesional foram

mais suaves, enquanto que para o membro mais acometido (contralesional), os movimentos

apresentaram maior desvio da trajetória e foram menos suaves.

Estudo realizado por Haaland e colaboradores34 em indivíduos após AVE em

hemisfério esquerdo com paresia no membro superior contralesional e sem paresia, além de

indivíduos saudáveis, avaliou o movimento da articulação do cotovelo do membro superior

ipsilesional durante movimento dirigido ao alvo para diferentes distâncias (7,18, ou 30 cm -

sendo os extremos analisados) que requeriam extensão dessa articulação. Foi observado que o

grupo parético apresentou uma estratégia diferente dos demais para modulação da velocidade

do movimento em função da distância, através da modulação da duração da aceleração.

Enquanto os demais grupos modularam a amplitude do pico de aceleração. Não houve

interação entre grupos e alvos nas outras variáveis analisadas (tempo de movimento, pico de

velocidade, erros absoluto e variável), demonstrando-se uma estratégia compensatória no

Page 44: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

44 

 

grupo parético, que apresentou maior comprometimento em áreas cerebrais do sistema motor.

Essa modulação inicial do pico de aceleração, realizada pelo grupo controle e grupo não

parético, reflete o planejamento do movimento; já a estratégia de modular a duração da

aceleração, apresentada pelo grupo parético, parece ser influenciada pelo feedback sensorial

durante a execução do movimento34. Em nosso estudo, não houve variação na distância do

alvo, assim como o pior desempenho foi apresentado na direção contralateral e havia também

indivíduos com lesão em hemisfério direito no grupo. Entretanto, também se pôde observar

um prejuízo em aspectos referentes ao planejamento do movimento naqueles com maior

comprometimento motor do membro superior contralateral à lesão, através de maior tempo de

reação e maior erro de direção no pico de aceleração, sendo este compensado pela menor

suavidade durante a execução da trajetória do movimento.

Metrot e colaboradores69 avaliaram indivíduos do primeiro ao terceiro mês de

recuperação após o AVE e os classificaram segundo o grau da hemiparesia em leve a

moderado e severo. Porém, não observaram diferença entre os grupos em aspectos clínicos e

cinemáticos analisados no membro superior ipsilesional durante movimento dirigido a um

alvo seguido de preensão. Foram demonstrados ao final das avaliações, após uma melhora do

desempenho e estabilização do quadro, resultados similares entre os grupos nos testes clínicos

de função motora, mas os movimentos ainda eram menos suaves na análise cinemática dos

indivíduos com lesão, assim como observado em nosso estudo para o grupo AVEMG que

estava em fase crônica de recuperação.

O membro superior ipsilesional torna-se o principal condutor, ou até mesmo, o único a

executar muitos dos movimentos cotidianos de indivíduos após AVE em função do grau de

comprometimento do membro superior contralesional31. Segundo nossa hipótese, esse maior

uso do membro superior ipsilesional, principalmente naqueles com comprometimento

moderado a grave, poderia favorecer o aprendizado uso dependente, promovendo um

aperfeiçoamento no desempenho das funções do membro superior ipsilesional. Como os

indivíduos avaliados estavam em fase crônica de recuperação, esses mecanismos poderiam

estar bem estabelecidos, já que os mesmos se encontram organizados em suas atividades

cotidianas pelo tempo decorrido da lesão. Entretanto, o comprometimento do movimento

dirigido ao alvo no membro superior ipsilesional foi maior no grupo com comprometimento

moderado a grave em relação ao planejamento e execução do movimento em comparação

àqueles com comprometimento leve e os controles, rejeitando nossas hipóteses. Mesmo

assim, os indivíduos mais comprometidos foram capazes de usar estratégias compensatórias e

demonstraram consistência na posição final da trajetória do movimento.

Page 45: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

45 

 

O comprometimento do membro superior ipsilesional dependente do grau de

comprometimento motor do membro contralesional pode ser explicado pelo controle motor de

ambos os membros ser regulado pelas mesmas regiões corticais. Sabe-se que lesões no trato

corticoespinhal, principal eferência para o controle motor, geram, principalmente,

comprometimento no hemicorpo contralateral à lesão, uma vez que até 70% das fibras do

trato cruzam na decussação das pirâmides em nível bulbar para inervação do lado

contralateral do corpo formando o trato corticoespinhal lateral. Entretanto, até 30% dos

axônios corticoespinhais podem descender como trato corticoespinhal anterior

ipsilateralmente. Embora as trajetórias ipsilaterais desse trato estejam bem estabelecidas, há

menos informação sobre suas terminações. À medida que algumas fibras desse trato cruzam

no nível medular, ambas (ipsi e contralaterais) podem terminar na substância cinzenta

ipsilateral85. É descrita, inclusive, uma correlação entre o dano ocorrido no trato

corticoespinhal e o grau de comprometimento funcional da mão contralesional, sendo esse

maior em função do tamanho da lesão no trato86. Desta forma, o membro superior ipsilesional

também poderia apresentar comprometimento motor dependente do tamanho da lesão, porém

em menor proporção que o membro superior contralesional. Entretanto, nosso estudo não

avaliou o volume da lesão nos indivíduos dos grupos AVE.

Há também um envolvimento consistente, porém em menor proporção, de vias

corticobulbares dirigidas ipsilateralmente. Além dessas vias eferentes de controle, há

influência de informações transmitidas entre os hemisférios cerebrais pelo corpo caloso34. Foi

estabelecida uma relação entre o nível de comprometimento funcional da mão e a

conectividade funcional entre áreas corticais ipsilesionais e o cerebelo contralesional, com

maior comprometimento em função da lesão86. Estudo de ressonância magnética funcional

observou uma correlação positiva entre a conectividade em estado de repouso entre as áreas

motoras primárias dos hemisférios cerebrais, a integridade das fibras transcalosas, que ligam

essas áreas e a função motora do membro superior avaliada pela Escala de Avaliação de Fugl-

Meyer87. Portanto, essa relação entre o grau de comprometimento do membro contralesional

apresentada para indivíduos com lesão em áreas responsáveis pelo controle motor pode, da

mesma forma, influenciar negativamente o comportamento do membro superior ipsilesional,

como mostrado em nossos resultados.

Yin e colaboradores88 avaliaram indivíduos com lesão subcortical em hemisfério

esquerdo decorrente de AVE através de ressonância magnética funcional durante o repouso e

compararam os resultados com o grau de comprometimento do membro superior

contralesional, dividindo os indivíduos em grupo com paralisia e paresia da mão

Page 46: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

46 

 

contralesional. Observou-se uma redução significativa na conectividade da área motora

primária ipsilesional com áreas corticais contralesionais, como os giros frontais médio e

superior e o lobo posterior do cerebelo no grupo parético. Já no grupo plégico, a

conectividade foi reduzida com córtex sensoriomotor primário. Tais conexões anormais

podem levar a prejuízo na preparação e planejamento do movimento, podendo haver relação

com a recuperação funcional da mão. Além disso, essa conectividade reduzida se

correlacionou positivamente com a pontuação da função motora de membro superior da

Escala de Avaliação de Fugl-Meyer em todos os indivíduos com AVE. Os autores ainda

relataram aumento da conectividade entre o córtex motor primário ipsilesional e áreas

corticais ipsilesionais (córtex pré-motor, córtex pré-frontal e lobo parietal) nos indivíduos

após AVE, o que pode refletir em interações anormais da rede motora, bem como mudanças

plásticas que compensam a conectividade prejudicada com o hemisfério contralesional ou

uma resposta à desconexão inibitória transcalosa. Observou-se também um padrão similar de

alterações na conectividade no córtex motor primário contralesional, o que segundo os

autores, poderia contribuir para o déficit de coordenação bilateral e o comprometimento do

membro superior ipsilesional apresentado pelos indivíduos após AVE88.

Neste estudo procuramos investigar, adicionalmente, a influência da presença de

opção de escolha na resposta no comportamento do movimento dirigido ao alvo em

indivíduos com diferentes graus de comprometimento motor contralesional. A opção de

escolha na resposta, apesar de demonstrar demandas diferentes de planejamento, não foi

diferente entre os grupos, ou seja, a demanda imposta pelas tarefas gerou modificações

similares de comportamento entre os grupos. Observou-se que na tarefa com tempo de reação

de escolha a latência para início do movimento foi maior que para a tarefa com tempo de

reação simples. No tempo de reação de escolha, o planejamento do movimento pode ter

ocorrido apenas após a apresentação do estímulo imperativo, já que o alvo não era

previamente conhecido. Esse resultado corrobora com o encontrado na literatura em outros

estudos que avaliaram o movimento dirigido ao alvo em indivíduos saudáveis15, 19, 20. Para o

tempo de reação simples, esse comportamento poderia sugerir que o indivíduo provavelmente

conseguiu planejar o movimento antes do estímulo imperativo para seu início, uma vez que o

mesmo já sabia qual alvo deveria alcançar. Entretanto, durante a execução do movimento na

tarefa de tempo de reação simples, os indivíduos levaram maior tempo para atingir o pico de

velocidade (principalmente os grupos CT e AVEL) e apresentaram maior valor na relação

TPV/TM. Esse comportamento pode ter sido uma consequência do menor tempo para

Page 47: MOVIMENTO DIRIGIDO AO ALVO DO MEMBRO SUPERIOR

47 

 

planejamento apresentado por esses grupos para essa tarefa, parte do planejamento poderia

estar ocorrendo durante sua execução.

Além disso, esse aumento no TPV, na tarefa de tempo de reação simples, pode estar

associado a dois outros fatores: a complexidade da tarefa decorrente da necessidade de

acurácia do movimento33 e/ou a uma inibição dos processos de execução motora durante o

planejamento da resposta para evitar antecipação da mesma14, 89.

A necessidade de acurácia ao atingir o alvo pode ter aumentado a complexidade da

tarefa33 e desencadeado o início mais lento do movimento nos grupos CT e AVEL, uma vez

que apesar do planejamento do movimento ter um período de tempo prévio ao estímulo

imperativo para ser realizado, não influenciando o tempo de reação, os indivíduos poderiam

tentar promover uma melhor integração entre o plano motor e sua execução para atingir o alvo

durante a fase inicial de execução do movimento. No tempo de reação de escolha isso não

ocorreu, porque os indivíduos provavelmente iniciaram o planejamento da resposta após o

estímulo imperativo, não havendo tempo hábil para essa integração.

O outro fator que pode estar relacionado ao aumento do TPV, na tarefa de tempo de

reação simples, é uma inibição da execução motora durante o planejamento do movimento

para evitar sua antecipação14, 89. Isso pode ter acontecido em função da expectativa do

indivíduo pela apresentação do estímulo imperativo e ter influenciado a fase inicial do

movimento. Na tarefa de tempo de reação simples, os indivíduos foram informados sobre qual

resposta deveriam executar antes do estímulo imperativo, havendo tempo para planejamento

do movimento. Além disso, eles foram orientados a aguardar o estímulo imperativo para

iniciar o movimento. Durante as coletas, observou-se que nas tentativas de tempo de reação

simples, muitos indivíduos iniciavam o movimento após a mudança do alvo para a cor

vermelha (que era a indicação da direção e não o estímulo imperativo). Apesar de essas

tentativas terem sido excluídas da análise, esse é um fator que poderia desencadear uma

inibição do ato motor. Entretanto, novos estudos precisam ser desenvolvidos para verificar

estas possibilidades. Vale ressaltar que apesar de não haver diferença significativa entre os

grupos, essa estratégia não foi observada no grupo AVEMG, o qual levou mais tempo para

atingir o pico de velocidade na tarefa com tempo de reação de escolha, demonstrando a maior

demanda dessa tarefa para esse grupo.

Para todos os grupos, a relação TPV/TM foi inferior a 40%, ou seja, houve uma

duração da fase de aceleração menor que 40% do tempo total de movimento. Os perfis de

velocidade em movimentos balísticos tendem a ser simétricos, com o movimento ocorrendo

em proporções de tempo similares antes e após o pico de velocidade, fato que leva ao aspecto

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48 

 

de sino na curva de velocidade do movimento13, 22, 23. Em nosso estudo, assim como foi

observado em um trabalho do nosso grupo de pesquisa para movimentos dirigidos ao alvo

discretos e sequenciais4, o tempo de desaceleração foi proporcionalmente maior que o de

aceleração, em torno de 60% do tempo de movimento total, o que implica em um

favorecimento para a acurácia do movimento em relação à velocidade, mesmo com a

instrução para que o indivíduo realizasse o movimento o mais rapidamente possível. Como a

média do tempo de movimento foi em torno de 350 ms, houve possibilidade de correções,

com provável participação do sistema visual para fornecimento de informações10, 12.

Por fim, procurou-se analisar neste estudo a influência da direção do movimento no

comportamento do membro superior ipsilesional em indivíduos após AVE em função do grau

de comprometimento motor do membro superior contralesional. Foi possível observar

prejuízo no planejamento do grupo AVEMG em relação ao grupo CT para a direção

contralateral. Essa maior demanda no planejamento do movimento para a direção

contralateral pode estar relacionada a aspectos sensoriais e motores. A localização do alvo na

direção contralateral fez com que não houvesse compatibilidade estímulo-resposta. Ao se

realizar o movimento para o alvo contralateral ao membro, o indivíduo teve que cruzar o

membro superior para o hemiespaço oposto. Sabe-se que quanto mais compatível for a

relação físico/espacial entre os eventos do estímulo e as opções de resposta, mais rápido será

o tempo de reação. Logo, para a direção ipsilateral, onde o membro realiza o movimento para

o alvo do mesmo lado (estímulo), o tempo de reação é menor21. No movimento dirigido ao

alvo para a direção contralateral, estudos realizados com indivíduos saudáveis, também

observaram maior tempo de reação para essa direção15, 20, sendo enfatizada a demanda de

planejamento das informações espaciais do alvo na preparação do movimento, o que ocorre

através de transformação visuomotora15.

A execução do movimento para a direção contralateral também parece apresentar

maior complexidade. Requer componentes de interação entre as articulações do ombro (que

exerce o torque principal para o início do movimento) e do cotovelo (cujo movimento é

desencadeado por um torque de interação com o ombro), diferente da direção ipsilateral (onde

o movimento principal é realizado pela articulação do cotovelo)24, 25, 27, 28. Tal fato pode ter

gerado maior tempo para planejamento do movimento, uma vez que os movimentos do

membro superior que demandam interação segmentar parecem ser iniciados através de

mecanismos antecipatórios baseados nas representações no sistema nervoso das dinâmicas do

sistema musculoesquelético e das características da tarefa9.

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49 

 

Ao avaliar a execução do movimento para a direção contralateral em nosso estudo, os

indivíduos foram mais lentos, apresentando maiores tempo de movimento, menor pico de

velocidade e maior tempo para atingir o pico de velocidade, além de menos suaves.

Entretanto, os indivíduos apresentaram maior precisão nessa direção, observada através do

menor erro variável resultante. A maior complexidade biomecânica do movimento para a

direção contralateral já descrita, devido à necessidade de coordenação multisegmentar e a

geração de torque interativo entre as articulações do ombro e cotovelo15, 24, 25, 27, 28 podem ter

influenciado este desempenho. Os indivíduos realizaram maiores correções e conseguiram ser

mais precisos para essa direção, o que não foi observado para a direção ipsilateral, onde os

indivíduos levaram menos tempo para planejar o movimento, foram mais rápidos, mais

suaves, porém apresentaram maior erro. Em indivíduos saudáveis, também foi observado

maior tempo de movimento para a direção contralateral durante o movimento dirigido ao

alvo15, 20, assim como menor tempo para atingir o pico de velocidade e movimentos com

traçados menos suaves20. Ishihara e colaboradores15 observaram menor acurácia no

movimento para a direção contralateral. Em um trabalho desenvolvido por nosso grupo de

pesquisa, com o mesmo protocolo experimental, também foi observado menor erro variável

resultante para essa direção em indivíduos saudáveis20. Em estudo realizado com indivíduos

após AVE, a direção contralateral não influenciou no planejamento do movimento, mas os

participantes foram mais lentos (maior tempo de movimento, menor pico de velocidade e

maior tempo para atingir o pico de velocidade), além de menos suaves e menos precisos ao

atingir o alvo33.

Assim, em nosso estudo foi possível verificar um comprometimento no planejamento

e execução do movimento dirigido ao alvo no membro superior ipsilesional em indivíduos

com comprometimento motor moderado a grave no membro contralesional. Apesar desse

comprometimento, os indivíduos foram consistentes ao final da trajetória do movimento

(como mostra o erro variável resultante) utilizando estratégias compensatórias durante a

execução do mesmo (realizando mais correções). Foi possível observar que os participantes

do estudo demonstraram maior demanda para planejamento de tarefas com opção de escolha

na resposta e em movimentos para direções contralaterais, associado à maior prejuízo no

desempenho na execução do movimento para essa direção.

O presente estudo apresentou limitações, uma vez que não foi possível avaliar o

volume da lesão dos indivíduos e assim classificá-los em função do mesmo e/ou correlacionar

o comprometimento motor com o tamanho da área acometida, assim como tem sido realizado

em outros trabalhos34, 86. Vale ressaltar que apesar disso, os resultados demonstraram-se

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50 

 

consistentes e revelaram aspectos de relevância para os profissionais que trabalham com a

reabilitação do membro superior após lesões encefálicas unilaterais. O membro superior

ipsilesional deve ser estimulado durante o processo de reabilitação, uma vez que possui

comprometimento motor relacionado ao comprometimento do membro contralesional. Além

disso, estudos que avaliam o comportamento motor do membro ipsilesional devem considerar

que o grau de comprometimento motor do membro contralesional gera influência e padrões de

comportamento diferentes, podendo esse ser um fator de repercussão nos resultados dos

trabalhos. Por fim, a direção do movimento é outro fator que deve receber atenção dos

profissionais durante o processo de recuperação de tais indivíduos, já que diferentes direções

promovem distintos padrões de comportamento.

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51 

 

6 CONCLUSÃO

O grau de comprometimento motor contralesional interfere no desempenho do

movimento dirigido ao alvo do membro superior ipsilesional em indivíduos após AVE

unilateral, em fase crônica, comprometendo o planejamento e execução do movimento.

A opção de escolha na resposta gera uma maior demanda de planejamento do

movimento dirigido ao alvo, independente do grau de comprometimento motor. Porém, a

presença de opções de resposta gera alteração na execução do movimento, principalmente

para os indivíduos com maior comprometimento motor.

O desempenho do movimento dirigido ao alvo é influenciado, de forma mais

acentuada, pela direção para a qual o movimento ocorre. Os movimentos contralaterais

requerem maior demanda de planejamento, são mais lentos e menos suaves quando

comparados aos movimentos ipsilaterais, principalmente para os indivíduos com grau de

comprometimento motor moderado a grave.

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52 

 

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8 ANEXOS

Anexo1. Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

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