Movimento Negro ES 2

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sobre o movimento negro no ES

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ENCONTRO ESTADUAL PARA PROMOO DO POVO NEGRO-ES

ENCONTRO ESTADUAL PARA PROMOO DO POVO NEGRO-ES

27 E 28 DE FEVEREIRO DE 2010

TEXTOS PARA ESTUDOS A DISTNCIA PREPARATRIOS DO ENCONTRO. ESTUDOS: INDIVIDUAL OU EM GRUPO

I- Histria

Parte da histria do Brasil

Perodo pr-abolio

Negros nas Amricas

As Relaes Senhor -trabalhador escravo no Brasil

Smbolos Negros no Perodo Escravocrata

Projeto do Brasil Repblica: negro no Brasil

O Negro na Atualidade

Situao do Negro no Esprito SantoII- Estatsticos

IBGE: maioria da populao se considera parda ou negra Dados Estatsticos Negros e Brancos no Brasil e ES, na Educao e TrabalhoIII- Sociolgico

O Movimento Negro Brasileiro

Afinal, que Movimento Negro Somos Ns?

Enegrecendo a Nossa Brancura

Populao Negra pede Socorro

O Extermnio da Juventude Negra no Esprito Santo

Desejo Coletivo

IV- Estruturais

Estatuto da Igualdade Racial

Museu do Negro Capixaba- Mucane

Outros Experincias de Museus

Centro de Referncias, Casas de Cultura e Monumentos Afrobrasileiros

V- Polticas Pblicas Afirmativas

O/a Negro/a no Mundo Trabalho

Cotas uma Nova Conscincia Acadmica

A intelectualidade branca, sua gota de sangue, e o racismo no Brasil! Contribuies para Incluso na Pauta de Reivindicaes

Diretrizes Curriculares Implementao- Lei 10.639

Em prol das cotas para a populao negra nas universidades! Integrantes de movimentos negros da UnB vo receber estudantes e escrever manifesto contra ao do DEM Construo de uma Poltica de Promoo da Igualdade Racial

VI- Moes e outros

INTRODUO Recomear, recriar, afirmar e avanar. Esse foi o slogan escolhido para o Encontro Estadual para Promoo do Povo Negro-ES. Este recomear no melanclico, mas sim vigoroso. Quando nos incios dos anos 80 comeamos organizar o movimento negro no estado e no Brasil, o lema era Organizar para Transformar. Quase trs dcadas depois estamos fazendo e desafiando o movimento negro brasileiro, para uma reflexo e avaliao do que se tinha como meta, suas conquistas e derrotas, para reconstruo o projeto poltico para a transformao da sociedade brasileira.

um desafio recomear, mas h necessidade de algumas mudanas, a comear no interior do movimento negro. Hoje, com algumas conquistas decanas, setores sociais organizados, partidos polticos, sindicatos, centrais de trabalhadores, igrejas crists, entre outras, que nunca estiveram na luta de combate ao racismo e promoo do povo, vem nos ltimos anos levantando essa bandeira. Ora mantendo a originalidade, ora perdendo. Ora somando, ora dividindo, mas esto a atual fora poltica do movimento negro atual.

Recriar, requer redefinio da meta, que por sua vez, necessita solucionar as dificuldades no interior do movimento negro. A ento criar novos caminhos de construes, concludentes, ticas, afetivas, respeitosas, qualificadas e democrticas.

Somando os ganhos do movimento negro organizado da 1 a 2 gerao, a partir de 1920 com a Frente Negra Brasileira e Teatro Experimental do Negro at 1934, e incio dos anos 80 com a 3 gerao, o Movimento Negro Unificado-MNU, o saldo maior foi a conquista do reconhecimento do racismo pelo Estado Brasileiro. Somado aos surgimentos e divulgaes das proposies do movimento social negro partir dos anos 80 at a dcada de 90, ainda no credencia o movimento social negro, nesta fase embrionria da 4 gerao, como porta vozes das relaes com o estado.

Esse Encontro Estadual ento, uma construo ou reconstruo, agora em outros tempos, da tentativa de estreitar as relaes, historicamente mal sucedida, para diminuir o fosso, entre o estado e movimento negro brasileiro. Dando um voto de confiana na crena, que mesmo conhecedor da histria de Palmares, quando Ganga-Zumba negociou com o governo pernambucano, com tambm, Joo Cndido e demais insurgentes do navio Minas Gerais, Revolta da Chibata, que em ambos os casos, os governantes mentiram. Hoje, nessa 4 gerao, como vamos influir politicamente, para implementaes de polticas de combate ao racismo e desigualdades sociorraciais no Brasil, estando ainda sem representaes nas esferas de decises polticas, nas de planejamento e programaes dessas polticas, e pouqussimos nas de gestaes das polticas pblicas, municipais, estaduais e federais, para promoo da igualdade racial? Portanto, durante a organizao do Encontro, entre os meses de setembro a novembro de 2009, foram solicitados textos, para serem disponibilizados, a participantes e no participantes. Obtendo-se os que esto anexos, envolvendo as reas da histria, da estatstica, da sociologia, de estruturas, das polticas pblicas e moes, orientado estudos distncia em grupos ou individual, visando qualificar as intervenes de participante no Encontro, at mesmo no participantes, em seus municpios.

Concluindo, sabendo do desafio que teremos pela frente. Somos pouqussimos no estado, que defendemos a democracia racial, mas acreditamos em nossa histria, nossa luta, inteligncia, competncia e vontade de contribuir na desconstruo do racismo e construo de polticas capazes de colocar o Brasil efetivamente democrtico racialmente.

Bons estudos dos textos e at dias 27 e 28 de fevereiro no Ifes em Vitria.I- HISTRIA

PARTE DA HISTRIA DO BRASIL1 PARTECHEGADA AO BRASIL Cerca de quatro milhes de africanos chegaram ao Brasil, vivos, nas condies de trabalhadores escravos, entre 1524 e 1888. Formando linearmente durante os quase 400 anos de trabalho escravo, trinta milhes de descendentes durante esse perodo. Este grande contingente para a poca, basta comparar, com a atual populao da Argentina de hoje. Alm de marcar a economia, marcou tambm na cultura, nos costumes, etc., seja atravs do plantio e cultivo do algodo, da cana de acar e, durante muito tempo na extrao do ouro, encerrando esse ciclo no plantio e coleta do caf. Assim o Brasil pode manter sua elite e enriquecer os cofres da Europa, em especial os da Inglaterra, onde se beneficiou com o trfico negreiro e fora de trabalho escrava para o incio e desenvolvimento industrial do seu sistema capitalista.PERIODO PR-ABOLIO Nesse perodo no sculo XIX, as colnias nas Amricas e na frica, bem como a Europa, como se encontravam? As colnias livres buscavam se firmar, numa nova ordem poltica que vinha da Europa. Na Frana, por influncias da Revoluo Francesa do sculo XVII e da Alemanha, eram de onde vinham filosofias e cincias, que atravs das elites intelectuais, chegavam a toda parte do mundo, inclusive nos pases em fase pr-abolicionista, j em processo de instituio de Repblica, como no caso do Brasil. Aqui o processo de descolonizao at a Repblica foi longo. Alm de ser o Brasil, o ltimo pas da Amrica, a abolir a escravido. Tivemos uma elite totalmente inspirada nas filosofias europias, quando foram estudadas durante dcadas, uma sada sem prejuzos para os senhores e sem custos para o governo. Iniciando assim, as desigualdades social e econmica que at hoje estamos sofrendo. A frica, por sua vez ficou to despovoada, que at hoje no se recuperou. Sofreu um aniquilamento cultural irreparvel, com srios prejuzos para toda a humanidade do planeta, sem contar o empobrecimento dos minerais, os desequilbrios da fauna e flora, marcado ainda pela partilha do continente, que at agora propicia guerras, e o pior, entre os povos da mesma etnia e raa do passado. O continente ficou ento, econmica e tecnologicamente invivel para a nova era. J a Europa, apoderou-se das riquezas minerais, culturais e fora de trabalho dos trabalhadores escravizados, s vem acumulando lucros e com isso ditando as regras e normas, que at hoje, juntamente com os Estados Unidos, impem suas filosofias, cincias, armas, modelos polticos e econmicos, com a propaganda desenvolvimentista.

NEGROS NAS AMRICAS Trazidos com a justificativa de desenvolver as vastas terras, trabalhadores escravos negros, eram os que melhores serviam, pelo fato de serem peas raras. Quer dizer, quem fazia a venda recebia bem. Serviam por suas experincias de trabalho das mais variada natureza, j exercidas na frica e outras razes desumanas de f, como tambm poltica. Assim, inicia-se a partir do sculo XV, uma das maiores barbaridades registradas na histria da humanidade.No Brasil, como vimos anteriormente, pode-se considerar que toda a construo e formao da economia saram do suor, sangue e intelecto negro. Vindo de vrias partes da frica, em maioria bantos, espalharam-se suas culturas, experincias, crenas e costumes, por toda parte deste imenso Brasil, fazendo, dessa forma, o incio da chegada e desenvolvimento do pas.

AS RELAES SENHOR -TRABALHADOR ESCRAVO NO BRASIL No perodo escravocrata, a relao senhor e trabalhador escravo, no se deram de forma harmoniosa, como ensinado na histria. Surgiram lutas contra o trabalho escravo, e conseqentemente, pelo fim da escravido. Porm, o negro era considerado mercadoria, sem o direito de pleitear a condio de pessoa humana. Durante todo esse perodo, mesmo em condio de trabalhador escravo, participou de vrios momentos histricos brasileiros, dentre esses, a Guerra do Paraguai, com milhares de negros mortos para evitar a derrota do exrcito brasileiro, frente o poderio paraguaio.

SMBOLOS NEGROS/AS NO PERODO ESCRAVOCRATA Apesar dos sculos adversos, surgem grandes smbolos negros que, embora no sejam lembrados como heris na histria oficial foram importantssimos na histria do negro brasileiro. Vamos aqui ilustrar alguns: quem ainda no ouviu falar de Zumbi, o smbolo da liberdade? Que comandou a Repblica dos Palmares, em seus ltimos dias at 1695; de Luiz Gama, o Libertador, que no perodo pr-abolio, teve um papel marcante e desafiante s ordens constitudas? Lembramos um trecho de uma de suas obras: "para o corao no h cdigos; e se a piedade humana e a caridade crist se devem enclausurar no peito de cada um, sem se manifestarem por atos, em verdade vos digo aqui, afrontando a lei, que todo escravo que assassina o seu senhor, pratica um ato de legtima defesa. Nesse perodo ainda destacamos a indignada e guerreira, Luiza Mahin (me de Luiz Gama), nas lutas pela libertao dos negros na Bahia. Chico Rei, pela imensa capacidade de juntar recursos financeiros, providos do ouro, para alforriar os negros de Minas Gerais. Enfim, foram muitos heris por neste Brasil. No Estado do Esprito Santo, destacamos Benedito Mia Lgua, que segundo o pesquisador Maciel de Aguiar, desafiou as autoridades do Norte do Estado, junto a outros, davam fugas a negros nas fazendas, deixando o sistema abalado. Ainda no ES, destacamos Elisirio que, comandou a Insurreio de Queimados na Serra, em meados do sculo XIX, destacando-se tambm Chico Prego, que foi degolado, para servir de exemplo e evitar novos levantes no Estado. Ainda podemos enumerar vrios smbolos negros, aps o perodo escravocrata, comeando pelo o Almirante Negro ou Drago do Mar, Joo Cndido. Esse marinheiro comandou a Revolta da Chibata, que aconteceu em 1910, na Bahia da Guanabara, quando vrios marinheiros protestavam contra maus tratos e castigos recebidos, e dominaram o Encouraado, pondo fim aquele estado de coisas, mesmo que isso custasse vida de quase todos rebelados. Joo Cndido faleceu em 1969. Outro importante foi Lima Barreto, jornalista crtico, que no era aceito pela grande imprensa. Autor de vrias obras, entre essas, "O Triste Fim de Policarpo Quaresma". Em suas obras, colocavam os pretos e pardos, como principais personagens. Viveu de 1881 a 1922. Na atualidade devemos conhecer e valorizar o gegrafo e professor da USP, Milton de Almeida Santos, um dos intelectuais brasileiros mais respeitado em todo o mundo. Autor de vrias obras, entre essas, "A Natureza do Espao-Tcnica e Tempo, Razo e Emoo". Falecido em junho de 2001, mas suas obras e contribuies esto em vrias partes. No podemos deixar de destacar, o militante, escritor e Ex-Senador da Repblica, Abdias do Nascimento, autor de inmeras obras, entre elas, o "Quilombismo". Fundador do Teatro Experimental do Negro. Outros negros/as poderamos ilustrar por este Brasil a fora.

PROJETO DO BRASIL REPBLICA: NEGRO NO BRASIL Apesar dos quase 400 anos de fora de trabalho, com trabalho escravo, no foi essa a escolhida para os novos tempos de Brasil Repblica. Os dirigentes preferiram optar pela fora de trabalho europia, ode seu maior nmero veio da Itlia. bom lembrar que esses imigrantes receberam apoio e incentivos dos governos de seus pases, mesmo que a Itlia passa-se por grandes dificuldades financeiras na poca. Somaram-se ento italianos, espanhis e alemes, chegando a equivale quantidade de negros, vivos, vindo da frica no perodo escravocrata.

Ento comea a tentativa de criar uma sociedade totalmente branca, de modelo europeu. A se inicia outro tipo de problema social, se no perodo escravocrata o negro era objeto, no Brasil livre, deveria ser cidado. Portanto, se durante 400 anos todo o trabalho pertencia ao negro, como resolver esse novo desafio, de carregar um pas de maioria negra, marcado por costumes, cultura e responsvel direto pelos trabalhos desclassificados na sociedade? Criaria ento a necessidade de se buscar uma forma suave para a sua integrao, sendo uma das sada a miscigenao, que evitaria o choque, entre negros e brancos, diminuiria o nmero de negros e brancos pobres, tornando o Brasil um pas de mulatos na base e branco na cpula. Porque essa ideologia, no garantiu de forma positiva as contribuies advindas do povo negro, que teve como fator novo, a ideologia racista pregoada por toda Europa, criando esteretipos de que trabalho coisa degradante, ento para negro, negros juntos d confuso, o negro incapaz, sujo, preguioso, brigo, feio, etc.

O que fazer ento, sem terra, educao, trabalho e com esses esteretipos, em todo o mundo? S poucos negros, no Brasil, conseguiram fugir a regra. So esses, os integrados pela prpria circunstncia da fora de trabalho caseira ou algumas outras profisses, exercidas pelos negros de estimao, que mesmo fugindo a regra, no conseguem exercerem suas cidadanias, com identidade racial.

O NEGRO NA ATUALIDADE Vimos que no perodo escravocrata houve lutas, fugas, rebelies, formaes de quilombos, como tambm lutas pr liberdade e participaes nos momentos histricos brasileiros, em especial pela abolio da escravatura. Pouco tempo atrs, na dcada de 30, registra-se o importante papel da Frente Negra Brasileira, que tem repercusso em nossos dias. A partir da, surgem centenas de organizaes negras, intelectuais, igrejas, instituies parlamentares e sindicais e outras instituies e organizaes, inclusive os governos, com a responsabilidade de combater o racismo e desigualdade scio-racial. Apesar de alguns avanos, este tema deveria receber melhor ateno do Estado Brasileiro. Perguntamos: o que fazer para ampliar a conscincia e convencimento da sociedade, que a igualdade sociorracial, em uma sociedade que se divide populacionalmente entre negros e brancos, a base essencial para um desenvolvimento harmnico? SITUAO DO NEGRO NO ESPIRTO SANTO

No diferente dos Estados e Regies do Brasil, os negros continuam condenados a viverem sem perspectivas de dividirem os espaos proporcionalmente com o branco nas universidades, nos parlamentos, frente de grandes, mdias e pequenas empresas, bem como na mdia. Como conseqncia de seu passado histrico, a ideologia racista e falta de polticas especficas compensatrias, esses negros, regra geral, moram nos bairros perifricos e estudam em escolas de pior qualidade. Portanto, instruindo-se dentro do limite bsico alienante, para manter-se no lugar comum, seguindo a histria.

Luiz Carlos Oliveira-CECUN-ES

Pergunta.

1- Na opinio grupo ou sua, a Histria do Povo Negro Brasileiro contribui em que, para a auto-estima, identidade, atuao cidad de negros/as e para sua formao poltica?

II ESTATSTICOS

IBGE: maioria da populao se considera parda ou negra

COMISSO DE COMUNICAO E DIVULGAO CNPIR E SEPPIR INFORMAES E DIVULGAES DOS TRABALHOS REALIZADOS DAS ENTIDADES E ORGANIZAES DE NVEL NACIONAL QUE COMPE O CONSELHO NACIONAL DE PROMOO DA IGUALDADE RACIAL. 18/09/2009.

Agncia Estado

A PNAD 2008 apontou que, no ano passado, pela primeira vez, mais da metade da populao brasileira - 50,6% dos habitantes, ante 50% em 2007 - se declarou parda ou negra. Mas, com uma peculiaridade: na pesquisa, a participao das populaes negra e branca no total de brasileiros recuou, enquanto as de mestios e outros (que abrange amarelos e indgenas) cresceu.

Em 2007, o nmero de negros tinha crescido em comparao com 2006, em movimento atribudo por especialistas s polticas de aes afirmativas,como reservas de vagas em universidades pblicas para afrodescendentes. Este ano, contudo, a curva se inverteu, embora o crescimento dos pardos tenha persistido - o grupo tambm , em geral, beneficiado pelos mesmos instrumentos que os negros.

A sondagem apontou que, em 2007, 42,5% dos brasileiros se diziam pardos, porcentual que subiu para 43,8% em 2008. Os negros, contudo, reduziram sua participao na populao nacional de 7,5% para 6,8%. Houve ainda crescimento dos entrevistados que classificaram sua condio tnica como "outra" - que passaram de 0,8% para 0,9% dos habitantes do Brasil. J os que se dizem brancos reduziram sua presena na populao - em tendncia j observada em pesquisas anteriores - de 49,2% para 48,4%.

"O que vnhamos detectando que cada vez mais brancos comeavam a se declarar pardos, porque aumentava a conscincia do seu pertencimento; as ltimas PNADs j refletiam esse aumento", disse o pesquisador Renato Ferreira, do Laboratrio de Polticas Pblicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). "Agora, o fato de negros se declararem pardos no costumava acontecer. Esse indicador nunca acelerou muito. A oscilao apontada (entre os que se dizem negros) no to grande. Pode ser alguma coisa estatstica. O que continua valendo que est aumentando a conscincia das pessoas."

Somente a Regio Centro-Oeste registrou queda na proporo de pessoas que se dizem pardas, de 2007 para 2008, de 50,9% para 50,2% (0,7 ponto porcentual a menos). Nas demais, houve crescimento. A Norte foi regio onde a expanso foi maior, de 68,3% para 71%, salto de 2,7 pontos porcentuais. Em seguida, veio o Sudeste, com aumento de 2 pontos porcentuais, de 32,4% para 34,4%. Mesmo o Sul, onde predominam descendentes de imigrantes de origem europia, sobretudo alem e italiana, registrou aumento de pardos, de 16,4% para 17%, 0,6 ponto porcentual.

PERGUNTA

1- Ao constar s desigualdades sociorraciais em que se encontra o povo negro brasileiro. Qual a opinio do grupo ou sua com relao a implementaes de polticas pblicas apenas universalistas e no, universalistas e especficas em conjunto?

Dados Estatsticos Negros e Brancos no Brasil e ES na Educao e Trabalho

Nvel de Ocupao Segundo Posio na Ocupao

Posio na OcupaoBrasilEsprito Santo

Com Carteira AssinadaBranca = 54,91 Negra = 45,09Branca = 43,29 Negra = 56,71

Funcionrio PblicoBranca = 55,90 Negra = 44,10Branca = 56,31 Negra = 43,69

Empregado DomsticoBranca = 38,72 Negra = 61,28Branca = 30,38 Negra = 69,62

Conta - PrpriaBranca = 47,80 Negra = 52,20

Branca = 51,45 Negra = 48,55

EmpregadorBranca = 69,16 Negra = 30,84

Branca = 64,25 Negra = 35,75

Sem CarteiraBranca = 42,82 Negra = 57,18

Branca = 38,31 Negra = 61,69

OutrosBranca = 43,20 Negra = 56,80

Branca = 48,72 Negra = 51,20

Nvel de Ocupao segundo setor de atividade

Setor de AtividadeBrasilEsprito Santo

AdministraoBranca = 53,31 Negra = 46,69

Branca = 58,52 Negra = 41,48

AgrcolaBranca = 39,42 Negra = 60,58

Branca = 44,15 Negra = 55,85

Comrcio/ServioBranca = 54,05 Negra = 45,95

Branca = 46,66 Negra = 53,34

IndstriaBranca = 39,78 Negra = 60,22

Branca = 32,34 Negra = 67,66

Outras AtividadesBranca = 54,84 Negra = 45,16

Branca = 45,98 Negra = 54,08

Fonte- PNAD 2008 Elaborao: IPEA/DISOC-NINSOC (Ncleo de Gesto de Informaes Sociais)

Nvel de Ocupao Segundo Setor de Atividade

Rendimento mdio do trabalho principal segundo gnero

GneroBrasilEsprito Santo

MasculinoBranca = 1.081,64 Negra = 587,13

Branca = 1.099,462 Negra = 602,76

FemininoBranca = 471,33 Negra = 260,22

Branca = 44,15 Negra = 55,85

Fonte- PNAD 2008 Elaborao: IPEA/DISOC-NINSOC (Ncleo de Gesto de Informaes Sociais)

Rendimento mdio do trabalho principal segundo gnero

GneroBrasilEsprito Santo

MasculinoBranca = 100,00 Negra = 54,20

Branca = 100 Negra = 54,82

FemininoBranca = 43,58 Negra = 24,06

Branca = 37,00 Negra = 24,65

Fonte- PNAD 2008 Elaborao: IPEA/DISOC-NINSOC (Ncleo de Gesto de Informaes Sociais)

Obs.: O Homem Branco como base de comparao

Rendimento mdio do trabalho principal segundo grau de instruo

Grau de InstruoBrasilEsprito Santo

Menos de 8 anos

8 a - 10 anos

11 anos ou maisBranca = 329,86 Negra = 255,99

Branca = 463,19 Negra = 360,16

Branca = 242,20 Negra = 770,97Branca = 351,19 Negra = 276,00

Branca = 468,19 Negra = 387,67

Branca = 1.191,37 Negra = 743,53

Fonte- PNAD 2008 Elaborao: IPEA/DISOC-NINSOC (Ncleo de Gesto de Informaes Sociais)

Obs.: O Homem Branco como base de comparao

Rendimento mdio do trabalho principal segundo grau de instruo

Grau de InstruoBrasilEsprito Santo

Menos de 8 anos

8 a - 10 anos

11 anos ou maisBranca = 100,00 Negra = 77,61

Branca = 100,00 Negra = 77,76

Branca = 100,00 Negra = 62,06Branca = 100,00 Negra = 78,59

Branca = 100,00 Negra = 82,80

Branca = 100,00 Negra = 62,41

Fonte- PNAD 2008 Elaborao: IPEA/DISOC-NINSOC (Ncleo de Gesto de Informaes Sociais)

Obs.: O Homem Branco como base de comparao

Rendimento mdio do trabalho principal segundo setor de atividades

Setor de AtividadeBrasilEsprito Santo

AdministraoBranca = 2.075,94 Negra = 1.381,89

Branca = 1.648,91 Negra = 1.010,44

AgrcolaBranca = 498,58 Negra = 259,01

Branca = 439,46 Negra = 304,57

Comrcio/ServioBranca = 1.133,72 Negra = 695,46

Branca = 1.331,95 Negra = 711,86

ConstruoBranca = 1.027,50 Negra = 664,50

Branca = 985,10 Negra = 734,80

IndstriaBranca = 1.236,73 Negra = 755,17

Branca = 1.369,36 Negra = 807,67

Outras atividades

Branca = 1.296,62 Negra = 711,69

Branca = 1.170,27 Negra = 710,39

Fonte- PNAD 2008 Elaborao: IPEA/DISOC-NINSOC (Ncleo de Gesto de Informaes Sociais)

Rendimento mdio do trabalho principal segundo grau de instruo

Setor de AtividadeBrasilEsprito Santo

- Administrao

- Agrcola

- Comrcio/Servio

- Construo

- Industria

- Outras atividadesBranca = 100,00 Negra = 66,57

Branca = 100,00 Negra = 51,95

Branca = 100,00 Negra = 61,34

Branca = 100,00 Negra = 64,67

Branca = 100,00 Negra = 61,09

Branca = 100,00 Negra = 54,89Branca = 100,00 Negra = 61,28

Branca = 100,00 Negra = 69,30

Branca = 100,00 Negra = 53,45

Branca = 100,00 Negra = 74,59

Branca = 100,00 Negra = 77,76

Branca = 100,00 Negra = 62,06

Fonte- PNAD 2008 Elaborao: IPEA/DISOC-NINSOC (Ncleo de Gesto de Informaes Sociais)

Obs.: Brancos como base de comparao

Pergunta

1- Segundo as Pesquisas, Negros/as esto em Desvantagens em Relao ao Branco na Educao e Rendimentos. Na opinio do Grupo ou voc, essa desigualdade ocorre o que na sociedade?

III- SOCIOLGICOS

MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRODE ONDE VIEMOS, ESTAMOS E VAMOS

I- INTRODUO

II- LUTAS DO POVO NEGROIII- A REPRESENTAO NEGRA NOS PARLAMENTOSIV- MOMENTO ATUAL E DESAFIOSINTRODUO No sei se inquietude ou, o momento em que estamos atravessando. Observamos, sentimos, pensamos e at realizamos aes, em direes elevao auto-estima, valorizao das manifestaes afra e at de combate ao racismo e desigualdade sociorracial, que vem nos credenciando como heris e heronas no Brasil. Mas, embora participemos de Conferncias Estaduais, Nacionais e Internacionais de Combate ao Racismo e Promoo da Igualdade Racial, quando auferimos, poucas coisas esto sendo efetivadas nos municpios e estados brasileiros.

Teorizamos, elaboramos e praticamos aes de desconstruo de imaginrio de pessoas, como tambm de desconstruo de estruturas racistas, por meio de entidades negras, autnomas da sociedade civil, instituies afras governamentais e de partidos polticos, sindicatos, igrejas. Hoje, at com incluses de negros/as em universidades e mercado de trabalho, por meio de cotas. Mas, cada vez entendemos, o quanto difcil, rdua e longa, a luta dos militantes negros/as no Brasil, para alcanar sua meta. Portanto, vamos descobrir os caminhos juntos.

A introduo sensibilizadora, tem como inteno, possibilitar pensarmos juntos e firmamos compromissos, que contribuam na construo de uma pauta comum de reivindicao do movimento negro do estado do Esprito Santo, e lutar para sua efetivao prtica.

LUTAS DO POVO NEGRO

Ao registrar a histria de luta do povo negro brasileiro, no podemos deixar de abordar o Quilombo de Palmares e o lder Zumbi, bem como as lutas de Luis Gama, Luiza Mahin, Jos do Patrocnio, e aqui no Esprito Santo, Elizirio, Chico Prego e Benedito Meia Lgua, porm, vamos iniciar nossa abordagem a partir da dcada de 30, com a marcante trajetria da Frente Negra Brasileira, que tinha o combate ao racismo e a promoo do povo negro suas maiores bandeiras na recente Repblica.

A Frente Negra chegou a mobilizar grandes massas de negros, que acreditavam serem includos na sociedade. O Presidente Getlio Vargas, atravs do Estado Novo, desmobilizou a Frente Negra e outras organizaes, que colocavam seu governo em risco. A partir da, as lideranas negras buscaram outras formas de organizao, sendo forte a tendncia de se criar um partido poltico. Esses negros se decepcionaram na primeira eleio, quando verificaram que analfabetos no votavam, sendo que a grande maioria negra era analfabeta.

A Repblica se instalou e aperfeioou-se, mas o racismo e as desigualdades scio-raciais permanecem inalterados. Na dcada de 30, esperava os avanos advindos Repblica, na dcada de 70 as influncias pareciam vir da abertura poltica e pela legalizao dos partidos de esquerda, mais pouca coisa se alteraram. Na atualidade nota-se alguns avanos, alis, como nunca visto antes, aps a Marcha 300 Anos da Imortalidade de Zumbi, realizada no dia 20 de novembro de 1995, em Braslia e da III Conferncia Mundial Contra o Racismo, realizada em agosto de 2001na cidade de Durban na frica do Sul, se aflora a discusso sobre as reparaes - polticas de cotas e aes afirmativas, em especial nas universidades pblicas brasileiras, cobrando assim uma maior estrutura e posturas das organizaes negras e pessoas que compem o movimento.

importante destacar, que temos como organizaes negras sociopolticas nos Estados, aps os anos 80, o Centro de Estudos da Cultura Negra-CECUN-ES, o Centro de Cultura Negra- CCN-MA, o Centro de Defesa do Negro- CEDENPA-PA, a Sociedade Sergipana dos Direitos Humanos- SACY, o a Organizao Negra de Comunicao- DJUMBAY-PE, o Ncleo de Estudos Negros- NEN-SC, o OLODUM e o IL-BA, o SOWETO, Coletivo de Mulheres Negras- GELEDS, Centro de Estudos das Relaes Raciais no Trabalho- CEERT e Fala Preta-SP, entre outras e de cunho nacional, exemplo: Movimento Negro Unificado- MNU; a Unio de Negros pela Igualdade- UNEGRO, os Agentes de Pastorais Negros- APNs, o Grupo Unio Conscincia Negra GRUCON, Cooperativa de Empresrios Afro-Brasileiros- CEABRA, Coordenao Nacional de Religiosos Afro-Brasileiros- CENARAB e a Associao Brasileira de Pesquisadores Negros- ABPN. Nos ltimos anos sugiram no ES, o Elimu, Unegro, Frum Estadual da Juventude Negra-FEJUNE e Crculo Palmarino.

Nas dcadas de 70, 80 e 90, no foram diferentes das outras no Brasil Repblica. Em termos populacionais, o negro continuou sendo maioria, no oficial, e pelo IBGE 45%, mas que nas universidades ocupa em torno de 2%. Em rendimento no ES, as famlias brancas esto 5 vezes em vantagem em relao s famlias negras com rendimentos acima de 5 salrios mnimos e entre 3 a 5 salrios mnimos, a famlia negra est mais de 3 vezes em desvantagem-IBGE/1999. Diminuda a desigualdade na ltima dcada.

A REPRESENTAO NEGRA NOS PARLAMENTOS Se for levar em considerao os 52%, que representa populao negra no Estado do Esprito Santo (IBGE ltimo censo), hoje em 2009, em torno de 62%, sua representao sociopoltica e econmica inexpressiva. Nas universidades, mesmo com adoes de cotas sociais na Ufes, e no raciais, conquistadas a pouco mais de dois (2) anos. Negros/as ocupam em torno de 4% das vagas ofertadas. Refletindo ento em seus rendimentos, na sua incluso social e poder poltico. Secularmente nesta situao, o povo negro torna-se presa fcil, e em eleies, por pouco ou quase nada, seus trabalhos e votos so comprados, ou conquistados atravs dos favores feitos aos seus, quando no, a seus ancestrais.

Em nosso diagnstico, todo momento de eleio, de Presidente a Vereador, continua sendo a mais complicada, para o movimento negro organizado, em especial, o da sociedade civil. Porque, muitos negros/as querem se candidatar. S que a maioria nunca tiveram vnculos e compromissos com as bandeiras de lutas do povo negro. Portanto, as prioridades, no so as mesmas das organizaes negras, que atuam durante todo o ano no combate ao racismo e as desigualdades scio-raciais. Isso, fica comprovado em um questionrio aplicado em um Encontro do movimento negro no estado do Esprito Santo em 2006. A ento surgem as dvidas: se as lideranas negras, no colocam a prioridade de combate ao racismo e as desigualdades scio-raciais, nos primeiros lugares no seu dia a dia; se as organizaes negras, no possuem recursos materiais abundantes, nem tampouco financeiros, capazes de garantir uma campanha altura, que proporcione a eleio de representao nos parlamentos e executivos, como resolver essa esquizofrenia?

MOMENTO ATUAL E DESAFIOSMOMENTO ATUAL O negro ampliou sua conscincia crtica e atravs das circunstncias, vem aumentando a presso, pedindo, ou exigindo visibilidade, espao, implementaes de polticas especficas e mudanas de estruturas. Estruturas que so pensadas, construdas e usadas pelos dominantes, para continuar protegendo a elite e seus colaboradores, dificultando a construo de uma autntica democracia racial no Brasil.

Acreditamos que sem presso, no haver soluo no combate as desigualdades sociorraciais. Esta passando da hora dos negros/as, que esto dentro de partidos e governos, sensibilizarem os seus correligionrios, para a incluso de aes efetivas para elevao social do povo negro, bem como suas participaes em elaborao de programas e planos de promoo da igualdade racial no Estado e Municpios. Criaes de estruturas afras, para articular ministrios, secretarias e demais instncias pblicas, para a garantia de dotao oramentria e implementaes de polticas especficas, em consonncia com as polticas universalistas, para o povo negro.

Quanto s estruturas afras institucionais criadas, nossa avaliao que no atenderam ainda as necessidades do povo negro. Salvo, a Secretaria Especial para Promoo da Igualdade Racial SEPPIR-DF, que a partir de 2003, mesmo no agradando a todas as concepes do movimento negro brasileiro, todas essas defendem sua permanncia.

Com relao gerao negra crtica, de fundamental importncia sua no contribuio com os partidos e governos, que vem o movimento negro organizado, como competidor. Tendo a conscincia da necessidade do fortalecimento da sociedade negra organizada, que mesmo com estrutura e aes tmidas, dela que viro as conquistas. Porque, governos mudam, um povo no.

DESAFIOS

Ainda continua sendo a falta de credibilidade dos negros/as que se ascendem socialmente, com as organizaes do Movimento Negro. Salvo uma minoria, esses, negam totalmente as organizaes e buscam nos partidos, nos sindicatos, nas igrejas, nas estruturas do estado, os seus interesses prprios ou das instituies de suas preferncias. S em alguns casos, colocam os interesses coletivos do povo negro. So para esses negros/as, na atual conjuntura, que as entidades e lideranas negras devem estar atentas. O momento pede, que se eleve a postos de deciso, negros/as comprometidos efetivamente com o fortalecimento das organizaes negras e com implementaes de polticas, afirmativas em conjunto com as universalistas, para promoo e combate desigualdade sociorracial no Brasil. Luiz Carlos OliveiraCoordenador do Centro de Estudos da Cultura Negra-CECUN-ES e

Frum Estadual de Entidades Negras FENEGRA-ES.Vitria, 20 de novembro de 2009.

PERGUNTA:

1- Na opinio do grupo o sua. Como fazer que negros/as, que ocupam escales em governos, no sejam inimigos de negros/as e entidades negras da sociedade civil e colaborem para a afirmao e avanos de suas lutas?

AFINAL, QUE MOVIMENTO NEGRO SOMOS NS? Por: Marcio Alexandre M. Gualberto - 26/4/2009.

No vou, logicamente, me ater aqui a temas que j escrevi antes como, por exemplo, considerar as vrias perspectivas que colocam o MN, mesmo com todos os seus erros, como um dos segmentos do movimento social mais vitoriosos na histria do pas. Ainda assim, penso que afirmar isso, coloca, se no as coisas em seus devidos eixos, pelo menos gera algum tipo de reposicionamento sobre o qual temos que nos colocar para tentar fazer uma anlise isenta do macro-cenrio que estamos discutindo.

No h dvida que com o passar dos anos para algumas pessoas e setores, ser militante virou questo de sobrevivncia poltica e financeira. No h dvida que tem gente que tenta se cacifar nos partidos polticos colocando-se como interlocutor da questo racial, sem ser necessariamente reconhecido como tal no mbito da militncia negra. No h dvida que tem gente que usa da religiosidade de matriz africana para se colocar como liderana poltica quando na verdade j esto completamente desgastadas. No h dvida que temos os mais diferentes tipos de aproveitadores, chapas-brancas, vendilhes, capites-do-mato no campo da militncia negra brasileira.

Eu posso, como articulador poltico, como dirigente nacional de uma grande organizao, como observador da realidade e como jornalista perceber tudo isso e tenho duas alternativas, ou transformo isso num dilema, ou posso simplesmente dar de ombros e perguntar: e da!

Para cada considerao negativa que possamos fazer, temos que pensar nas milhares de pessoas, Brasil afora, que fazem da militncia seu modo de vida, que resistem nos terreiros de candombl, nas rodas de capoeira, nas escolas de samba, nas igrejas, nas pequenas ongs que nunca conseguem recursos, nos milhares de centros sociais e culturais, enfim, no basta apenas considerar o aspecto negativo mas ter a certeza que os aspectos positivos so muito mais poderosos e so eles que fazem a real diferena.

Um novo Movimento Negro para um novo sculo Quando no seminrio de Santos me questionaram sobre o por qu da vitria de Obama, vrias poderiam ser as respostas, escolhi falar de apenas duas: o uso revolucionrio das tecnologias de informao e comunicao e uma fala ampla que tocou coraes e mentes de toda a sociedade americana.

Quando Obama diz "ns podemos", ele coloca um desafio para todos que ouvem essa frase. Eu posso, tu podes, eles podem, ns podemos!!! No so apenas os negros que podem, no so apenas as mulheres que podem, somos todos ns: ns podemos!

No caso brasileiro, infelizmente, o MN perdeu a possibilidade de dilogo com a prpria populao negra. Somos homens e mulheres que estamos na militncia mas que no conseguimos amplificar nossos campos de dilogo e isso se d por dois motivos. O primeiro, a meu ver, a falta de desejo mesmo. H setores do MN que se sofisticaram tanto, que se acostumaram de tal maneira s poltronas dos avies e aos ares-condicionados dos escritrios que perderam a vontade pr o p na lama, de subir favela e sentir cheiro de esgoto aberto.

No entanto, estes setores so minoritrios e a h que se questionar ento porque os outros setores no ampliam esse dilogo, e a penso que camos na nossa efetiva incompetncia em falar a lngua de nossa gente, em ir a onde o povo est.

Precisamos trilhar novos caminhos Sou do tipo de pessoa que acredita em articulaes entre redes. A minha vida inteira fiz poltica de dilogo. Mesmo quando forcei confrontos, o fiz apenas para poder solidificar pontes de dialogo mais frente. Obtive muitas vitrias e tambm dolorosas derrotas. Faz parte do processo. No entanto, medida em que a idade chega e com ela a maturidade que nos faz ser menos impulsivos e mais racionais, tendo a perceber que temos a obrigao de comear a pensar que legado deixaremos para as geraes futuras.

Talvez o primeiro grande desafio que tenhamos que superar entre ns seja algo que muito caro a cada negro e cada negra brasileira que sua vaidade. Infelizmente, a vaidade, seja ela pessoal, ou institucional (mas uma quase sempre vem acompanhada da outra) tem sido uma das nossas grandes tragdias como movimento poltico.

No MN ningum quer ser liderado. Todos e todas se colocam o tempo todo como lideranas mas, efetivamente, vemos que lideranas temos pouqussimas. Liderar antes de tudo ter a coragem precursora de abrir os caminhos, de abrir novas trilhas e trazer o grupo junto. Poucos e poucas tm tido essa coragem poltica, mas na hora do frigir dos ovos, ningum quer servir, mas, sim, ser servido.

Precisamos mudar essa mentalidade, precisamos trabalhar em redes, precisamos conversar mais entre ns e precisamos tirar a palavra "eu e meu" do nosso cotidiano. A lgica de que as coisas s acontecem se eu estiver l tem sido destruidora de uma srie de possibilidades polticas que agora, no d mais pra aceitar. Precisamos avanar e para avanar, infelizmente, s vezes temos que atropelar quem est no caminho.

fato que para que o novo emerge necessrio que o velho se apague. E chegada a hora de um novo MN emergir nos rinces do pais, nas pequenas cidades, nas periferias dos grandes centros urbanos. Um MN que tenha cara de povo e vontade do povo em sua conduo. Apenas com essas condies nos tornaremos efetivamente um movimento capaz de no s influir na agenda poltica do pas mas tomar essa agenda na mo e conduzi-la de acordo com nossos desejos.

O MN negro que somos hoje pouco importa, o que importa na realidade, saber que movimento queremos ser; o que queremos para este pas e para o nosso povo. Com estas respostas, olharemos o futuro e sentiremos renascer em ns a utopia, mola propulsora da esperana, que nos projeta frente e nos coloca diante de nossa verdadeira responsabilidade perante a histria.

Pergunta

1- O que o texto chamou mais a ateno do grupo ou a voc?

ENEGRECENDO A NOSSA BRANCURA: um dilogo entre

afetividade & movimento negro

Gustavo Henrique Arajo Forde

[email protected]

(CECUN, UFES e PMS)

Entrando na conversa...

Confesso que o convite para refletir acerca da afetividade no cotidiano do movimento negro representa um enorme desafio! Um desafio que me fez desejar estar no lugar daquele que ir ler e ouvir e, no neste lugar de escrever e falar. Tal tema, no entanto, me contagia j h algum tempo..., portanto, veio em boa hora! Aqui pretendo, apenas pensar..., problematizar..., questionar... e, sobretudo dialogar. No decorrer do texto, ser possvel perceber muitas idias inacabadas, pensamentos que emergem e somem. Vou correr o risco de pensar alto! Dizem os antigos (os nossos griots), que se for para correr riscos, que se corra entre amigos e amigas. Bom..., se assim for, tenho reais motivos que me permitem correr um grande risco..., cada um de vocs!

Inicialmente vou apontar as questes, para as quais, pretendo direcionar a reflexo ora proposta:

a relao entre as entidades negras,

a relao entre o movimento negro e as instncias negras institudas no poder pblico e,

a relao entre os militantes negros.

De maneira geral, cada um de ns traz consigo uma histria de vida, de crenas, de valores e desejos. Tais sentimentos determinam fortemente a nossa postura perante a vida e a nossa afetividade com o outro..., sentimentos estes que no so fixos ou estveis..., pois esto em permanente movimento..., um movimento que defendo aqui que deve ser da cultura de brancura para a cultura cor-de-terra. Da o ttulo deste texto: enegrecendo a nossa brancura!

Utilizarei aqui o conceito desenvolvido por Dieter Roos (1988), para definir a cultura de brancura;

[...] o termo cultura de brancura aqui usado no sentido de cultura econmica, cultura dominao comercial e cultura cor-de-dinheiro, que est atualmente se expandindo com toda fora, dominando quase todos os povos da nossa me terra. Essa cultura de brancura partiu originalmente dos povos brancos da Europa, e sendo hoje no mais especificamente uma cultura de uma raa ou cor-de-pele, mas sim uma cultura de tinta, que pinta toda alma atingida com a mesma cor: a cor do dinheiro. (ROOS, 1988, p. 01)

Quanto cultura cor-de-terra, o mesmo autor, sugere que devemos ter;

[...] uma viso menos competitiva e seletista e, mais integrada e cooperativa desse mundo onde vivemos, aprendendo e des-cobrindo cada vez mais daquela coisa que nos une, que todos ns temos dentro de ns, homens, mulheres, crianas, animais, plantas, pedras, terra, idias, sentimentos, etc., muitas vezes sem o saber: aquela coisa sem nome, que vou chamar aqui de alma cor-de-terra, que a verdadeira alma africana, e ao mesmo tempo a essncia de todos ns, querendo ou no, pois pelo conhecimento atual da humanidade, ser africano no mais uma questo de raa nem de cor: uma questo de origem, de bero, uma questo de razes de todos ns, de todos seres humanos vivos e mortos. (p. 01)

Nesse sentido, penso que explicitei alguns conceitos que sustentam a provocao implcita no ttulo deste texto: enegrecendo a nossa brancura!

Ampliando o panorama...

A concepo de mundo hegemnica na nossa sociedade est alicerada, dentre outras, no conflito de classes, no sexismo e principalmente no racismo.

Em outro texto, afirmei que dentre todos os mecanismos de excluso, o racismo ganha relevncia junto aos demais, pela sua caracterstica de transversalidade, tendo em vista que;

O racismo se faz presente independente de classe social, gnero, orientao sexual, credo religioso, formao intelectual e outros. Ser negro ou negra numa sociedade racista como a nossa, significa enfrentar cotidianamente os efeitos perversos da discriminao e do preconceito, pois antes de mostrarmos o nosso contracheque ou nosso diploma (quanto o temos!), a nossa cara preta j se apresenta ao nosso interlocutor preconceituoso e racista. (FORDE, 2006, p. 01)

Este modelo de sociedade e sua viso de mundo tm embrutecido e coisificado nossa maneira de relacionar-se com o outro, desta forma, muitas vezes..., ns, nos relacionamos no interior do movimento negro de maneira pouco afetuosa e as vezes at agressiva e intolerante. Tal afetividade, acredito, fortemente modelada pela cultura de brancura que tanto buscamos superar e combater, a qual, modela a nossa viso de ordem do mundo e o nosso modo de sentir-se no mundo, ambos influenciados pelo pensamento branco-ocidental.

Conforme Boaventura de Souza Santos (2005), o domnio do pensamento branco-ocidental acarretou consigo a destruio de muitas formas de pensamento, sobretudo daquelas que eram prprias dos povos que foram objeto do colonialismo ocidental, haja vista que, sob a capa de um pensamento supostamente universal, foi imposto o pensamento de uma raa de um sexo e de uma classe social.

Neste contexto, Eduardo Oliveira (2003), nos fornece uma importante contribuio ao demonstrar que a cosmoviso ocidental tem fundamentado o paradigma da destruio do Outro, que aniquila o Outro ao invs de dialogar com ele; enquanto que, a cosmologia africana no busca aniquilar o Outro e sim valorizar suas potencialidades, podendo-se constatar inclusive em algumas sociedades africanas, a prtica de educar os filhos dos adversrios.

Diferente do pensamento branco-ocidental de base binria, dicotmica, individualista e excludente, a maioria das civilizaes africanas procura a unio de tudo que existe, onde nada fica de fora, onde tudo fica dentro, ou melhor, onde no h dentro nem fora, onde no h cu e inferno, natural e sobrenatural, real e imaginrio, pois tudo faz parte da vida. Tendo em vista que;

[...] um importante elemento que encontramos na maioria das populaes africanas a no separao entre natureza e poltica, poder e religio, ou seja, no h uma estratificao entre essas camadas importantes da vida da sociedade. Tudo visto de acordo com o princpio da integrao, segundo o qual os vrios elementos se comunicam e complementam [...]. Nestas sociedades no existe a dualidade homem/natureza. Tudo interligado, por isso tudo interage. O uno o todo e o todo o uno. O profano tem sua dimenso sagrada como o sagrado manifesta-se no profano. No h escatologia. (OLIVEIRA, 2003, p. 37-38)

Evidentemente que nossa viso de mundo no algo que obtemos por meio da cor da nossa pele, pois algo construdo socialmente. A pele negra no traz consigo um sentimento de pertencimento negro ou de identidade negra, precisamos constru-la! A pele traz somente uma pigmentao diferenciada, o resto construdo socialmente. Assim, o ser negro construdo a partir das relaes sociais estabelecidas dentro do mundo da brancura. Ouvimos desde a infncia o que ser negro a partir de interlocutores brancos, tais como: escola, igreja, televiso e demais estruturais sociais que produzem e reproduzem a ideologia da branquitude. Desta forma, concordo com Maria Aparecida Silva Bento (1999), quando ela nos mostra que:

[...] as pessoas nascem seres humanos e tornam-se, por fora de experincias de viver em sociedade, negros, brancos ou amarelos. Portanto no a diferena entre as pessoas, mas a forma como encaramos essa diferena que pode nos levar a tratar as pessoas com afeto e respeito ou com medo e desprezo. (p. 21)

Desta forma, quero dizer que, ns, militantes e ativistas negros devemos travar para alm da luta externa por direitos e compensao, uma luta interna por uma resignificao e afirmao da nossa africanidade e subjetividade negro-africana. Devemos constituir-nos como negros de maneira autnoma, livre do aprisionamento da cultura da brancura, que nos fazem muitas vezes intolerantes com nossos irmos e irms da dispora afro-brasileira. Afastando-nos dos modelos e cdigos sociais trazidos pela cultura de brancura, que modelam nossa maneira de fazer poltica, as nossas estratgias de luta e a nossa maneira de relacionar-se com o Outro. Fazemos poltica, lutamos e nos relacionamos de forma muito semelhante aos modelos desenvolvidos pelos partidos, sindicatos e demais estruturas do mundo da brancura. Para tanto, a maneira de relacionamento entre o Eu e o Outro ser determinante na afirmao de uma nova base poltica e afetiva.

Para o poeta-filsofo africano Lopold Senghor, citado por Euclides Andr Mance (2006), o negro-africano no v o Outro, mas o sente;

Eu penso, ento eu existo, escrevia Descartes. A observao j foi feita, pensa-se sempre alguma coisa. O Negro-africano poderia dizer: Eu sinto o Outro, eu dano o Outro, ento eu sou. Ora, danar criar, sobretudo quando a dana a dana do amor. este, em todo o caso, o melhor modo de conhecimento. (Senghor apud Mance, p. 04)

O poeta-filsofo, e um dos fundadores do movimento da negritude nos mostra tambm que o negro;

[...] por sua sensibilidade um sujeito que se relaciona com o objeto sem intermedirio, sendo sujeito e objeto simultaneamente. O Negro sons, odores, ritmos, formas e cores; eu digo, tato antes de ser viso, como o Branco europeu. Ele sente mais do que v: ele se sente [...], o Eu no assimila o outro, mas se identifica com o outro. (Senghor apud Mance, 2006, p. 04)

verdade que temos avanado em algumas conquistas estruturais, principalmente nos ltimos anos. Contudo..., como temos avanado? Estamos construindo nossos avanos sobre quais bases? Estamos avanando individualmente ou coletivamente? Avanamos de forma cooperada ou competitiva? Priorizamos o igual ou o diferente? Avanamos enegrecendo os espaos conquistados, ou estes esto embranquecendo a nossa viso de mundo? Estamos avanando positivamente em nossa afetividade, ou, a embrutecemos?

Pensando um pouco mais alto e, portanto, correndo um risco ainda maior..., ouso apontar que estamos garantindo a nossa incluso na sociedade apenas enquanto pele negra..., e muito pouco da nossa africanidade tem sido includa. Africanidade aqui, entendida como todos queles sentimentos, valores e crenas que constituem as prticas sociais de matrizes afro-brasileiras..., aquilo que Abdias do Nascimento chama de quilombismo, ou seja, uma prxis social afro-brasileira. Para Abdias, o negro deve buscar a;

[...] racionalidade do nosso sistema de valores, em nosso esforo de autodefinio de ns mesmos e de nosso caminho futuro. (NASCIMENTO, 1980, p. 262)

e nos alerta quanto ao fato de que,

[...] tambm acontece s vezes o negro se apropriar dos mecanismos que a sociedade dominante concedeu ao seu protagonismo com a maliciosa inteno de control-lo. (NASCIMENTO, 1980, p. 257)

Ao definir alguns princpios e propsitos do quilombismo, Abdias do Nascimento (1980), destaca que;

[...] combater o embrutecimento causado pelo hbito, pela misria, pela mecanizao da existncia e pela burocratizao das relaes humanas e sociais, um ponto fundamental. (p. 276)

Faz-se urgente, portanto, priorizar o debate da afetividade e das relaes humanas no interior do movimento negro e das relaes entre este e as demais instncias negras constitudas no poder pblico.

Enegrecendo a nossa afetividade...

Sim..., estamos ocupando espaos na academia, no poder pblico, nas empresas etc., no entanto, penso que no estamos ocupando de maneira que enegrea as nossas relaes afetivas e sociais, as quais esto cada vez mais brancas! Nosso referencial de partida e de chegada tem sido majoritariamente branco..., nosso padro de qualidade o padro j institudo pelo modelo branco, nossa sabedoria tem sido reduzida formao intelectual oferecida pela academia branca, assim..., nossa base afetiva tambm, conduzida pela cultura de brancura, ou, nas palavras de Dieter Roos pela cultura cor-de-dinheiro.

possvel constatar que, em muitos momentos, entre ns..., estamos competindo mais que cooperando, h mais disputa do que solidariedade, usamos mais o pronome eu do que o ns, buscamos constituir grupos politicamente homogneos em detrimento da heterogeneidade, ou seja, das diferenas..., diferenas estas que apresentam potencialidades de - ao buscarem uma complementariedade mtua constiturem-se numa unidade complexa e fortalecida. Defendo aqui, que a maneira como nos relacionamos fruto do nosso aprendizado no mundo poltico-afetivo branco, pois, muitos de ns trazemos muito mais prticas provenientes de partidos, sindicatos e movimentos eclesiais, do que, de terreiros de candombl, comunidades negras rurais etc., ou seja, parte significativa do movimento negro est inserida nos espaos de brancura, desta forma, (in)conscientemente assumimos como nossa uma postura poltico-afetiva imposta pelo branquitude, uma postura que nos coloniza, nos oprime e, especialmente, nos divide.

Vale ressaltar que, o cotidiano do movimento negro, aos poucos perde a presena das batas, dos tyfs, do mocot e da identidade negra; substituindo-as pelos ternos e, pelas gravatas. Pouco-a-pouco nossos eventos poltico-culturais, tem se reduzido a eventos festivos, ou quando no, um evento sem ax (expresso dita, recentemente, por um militante da juventude negra!). Pois bem..., estamos perdendo parte do nosso ax..., sem o ax perdemos nossa alma, nossa cultura, nossa resistncia, nossa memria, esquecemos nossa ancestralidade e no teremos mais a nossa capacidade de enegrecer a vida.

Certo dia..., fui questionado: voc defende um gueto negro?. E respondi com outra questo: porque o espao do branco respeitado como espao e o espao do negro estereotipado como gueto?. Acredito que defender um espao, uma identidade e uma afetividade negra significa a possibilidade de ampliar a viso de mundo hegemnica sem, no entanto, aniquilar a viso da brancura ou as vises dos demais grupos tnico-raciais, portanto no se trata de gueto! Neste sentido penso que a idia de gueto formulada pela concepo branca de mundo, que via de regra no convive com a diferena..., por isso largamos as batas e vestimos ternos e gravatas. Abrimos mo de tudo isso, pois estamos convencidos que esses elementos reforam a idia de gueto..., um gueto forjado pelo pensamento branco-ocidental. Por isso abrimos mo da nossa cultura e vamos para a batalha de peito aberto, pois s levamos as armas autorizadas pela cultura de brancura, ou seja, abrimos mo da possibilidade de constituirmos uma nova forma de relacionamento humano com base numa afetividade no-embrutecida..., se assim continuar, quaisquer lutas anti-imperialista, anti-racista, anti-sexista, etc., no tero xito, pois a base afetiva continua a mesma: continuaremos aniquilando o outro-diferente e privilegiando supostamente o eu-semelhante! Neste sentido, seria correto falarmos desde j de movimentos negros (no plural!), em face da ampla e rica diversidade presente no mesmo.

possvel constatar, tambm, que hoje, cada vez mais h uma disputa entre algumas entidades e militantes negros. Uma disputa orientada para competio e no para cooperao, pois a disputa ao invs de aniquilar o Outro deveria valorizar suas potencialidades. Precisamos, URGENTEMENTE, promover uma nova base de relacionamento humano, na qual, seja possvel jogarmos menos tnis e mais frescobol no interior do movimento negro. Precisamos, superar este modelo de afetividade capitalstica, promovida pela cultura cor-de-dinheiro, em busca de uma afetividade cor-de-terra, uma afetividade que valorize a vida e no a morte!

Outrossim, as africanidades brasileiras, manifestadas atravs da esttica e da cultura afro-brasileira, como nas bandas de congo, nos penteados nags, nas comunidades quilombolas rurais, no candombl, no rastafarianismo e outros, apontam vestgios de outras formas de ver e sentir o mundo, isto ; formas de afetividades que, apresentam potencialidades para promover a emancipao do ser humano, promovendo o enegrecimento da nossa brancura.

Finalizando sem concluir..., algum saberia dizer por onde anda aquele ax que acompanhava os mocots na antiga banca do Cecun e nas primeiras Noites da Beleza Negra, ambos no incio dos anos 90! Ta..., alguns vestgios da nossa afetividade negro-africana que desejei que emergisse neste texto e que, provavelmente no tenha conseguido, afinal..., tambm estou imerso na cultura de brancura!

Algumas referncias bibliogrficas...

BENTO, Maria Aparecida. Cidadania em preto e branco: discutindo as relaes raciais. So Paulo: tica. 1999.

FORDE, Gustavo Henrique Araujo Forde. Africanidades e epistemologia: o til e o belo so inseparveis. Artigo produzidona Disciplina de Tpicos I em Cultura, Currculo e Formao de Educadores, do Programa de Ps-Graduao em Educao da UFES, Vitria, 2006

FORDE, Gustavo Henrique Arajo. To slido quanto fumaa no ar...; algumas reflexes sobre a proposta de cotas na Ufes. 2006. mimeo.

MANCE, Euclides Andr. As Filosofias Africanas e a Temtica de Libertao. IFIL. Disponvel em http://www.milenio.com.br/mance/%C3%81frica.htm. Acessado em 13 de maio de 2006.

NASCIMENTO, do Abdias. O quilombismo. Rio de Janeiro: Vozes, 1980.

OLIVEIRA, Eduardo David de. Cosmoviso africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodescendente. Fortaleza: LCR, 2003.

ROOS, Dieter. Algumas reflexes sobre as cosmologias em diversas culturas africanas, seguidas de uma crtica da cultura de brancura. 1988. mimeo. SANTOS, B. de S. A crtica da razo indolente: contra o desperdcio da experincia. So Paulo: Cortez, 2005.

Vitria, ES,

31 de janeiro de 2007

PERGUNTA

1- Qual a opinio do grupo ou sua, quanto preocupao e a defesa do autor no texto?

Populao Negra pede Socorro

Na sociedade contempornea, percebe-se de forma inquestionvel uma retomada de valores e premissas eugenistas que ratificam a situao de assepsia social e limpeza tnicaPor Jaqueline Barreto-24/10/2009 Na sociedade contempornea, percebe-se de forma inquestionvel uma retomada de valores e premissas eugenistas que ratificam a situao de assepsia social e limpeza tnica. Os jovens negros devido ao seu fentipo e condio social, representam para o Estado e o aparato policial, elementos indesejveis que devem ser eliminados do convvio social. Jovem, negro, morador da periferia de Salvador, com idade entre 15 e 29 anos considerado de antemo como um perigoso em potencial. Atravs da atuao de grupos de extermnio aliada a um sistema policial intrinsecamente racista est ocorrendo um verdadeiro genocdio da juventude negra na capital baiana.

Salvador, com essas execues sumrias, est imersa em um processo de constitucionalizao da pena de morte. A concepo de Estado Democrtico e de Direito est completamente esquecida e em vez disso, a sociedade assiste de braos cruzados uma situao clara de racismo institucional. Desse modo, clusulas e conceitos defendidos pela Constituio de 1988 no passam de letras mortas. O direito a defesa e a responder processo judicial esto sendo negados e negligenciados. A condenao, promovida pela polcia da caatinga de pai faz, polcia mata posta em prtica sob o auspcio da Secretaria de Segurana Pblica do Estado, no permite a esses provveis bandidos ou marginais como queiram intitular, o direito nem a ser presos.

De acordo com o Instituto Mdico Legal Nina Rodrigues, em 2004, das 706 vtimas de homicdios em Salvador, com idade entre 15 e 29 anos, 699 eram negros e 7 brancos. Ou seja, um jovem negro tem 30 vezes mais chances de ser o prximo nome na lista das vtimas que um jovem branco.Infelizmente, esse cenrio no se restringe realidade soteropolitana. Segundo dados da (Organizao dos Estados ibero-americanos para a Educao, a Cincia e a Cultura (OEI) no Brasil, a taxa de homicdios de negros 74% superior a de brancos).

Esse quadro desenhado pela violncia policial lembra estudos de cientistas do Sc. XIX que partiram do postulado de que o homem negro devido a algumas caractersticas fsicas como braos largos, mos avantajadas e estatura elevada, era um criminoso em potencial. Assim, nesse contexto de laboratrio Racial, o racismo encontrou fora no carimbo da cincia. Os homens negros foram apontados como elementos de alta probabilidade ao crime.

Portanto, espera-se que a Secretaria de Segurana Pblica de forma conjunta com o Estado brasileiro revisem suas prticas nazi-fascistas e concebam a violncia no apenas por um olhar estigmatizado e preconceituoso e sim, como resultante de um processo histrico de excluso e abandono social. Afinal de contas, esse quadro de extermnio subtrai um dos principais pilares de sustentao da dita cidadania.

Maiores informaes: www.nucleoomidudu.org.br

Pergunta

1- Os combates a juventude negra em todas capitais brasileiras tem sido constante. Qual a opinio do grupo ou sua, quanto preocupao da autora do texto?

O Extermnio da Juventude Negra no Esprito Santo O crescimento da violncia no estado do Esprito Santo uma realidade apresentada nos ltimos tempos. O histrico de crimes, sobretudo de homicdios faz parte do cotidiano da populao capixaba, assim como em outros estados brasileiros. Entretanto, o que se pode ressaltar como particularidade deste estado a institucionalizao desses crimes, como forma de garantir a manuteno do statu quo de alguns setores da elite local, que possuam fortes relaes com os aparatos estatais.

Num perodo no muito distante, grande parte das ocorrncias criminais no estado eram estritamente relacionadas a interesses de segmentos da classe dominante, que integravam organizaes criminosas. vida de centenas de pessoas foram ceifadas, na busca pela perpetuao nos espaos de poder ocupados por esses setores.

Neste cenrio, diversos grupos de extermnio se firmaram como braos armados dessas organizaes criminosas, na perspectivas de executar pessoas que de alguma forma incomodavam os esquemas dessas quadrilhas.

Com destaque, a filial da Scuderie Detetive Le Cocq no Esprito Santo foi um dos principais grupos que desempenhava esse papel. Extinta em 1999, por deciso judicial, a organizao era majoritariamente composta por policiais civis e militares, mas tambm por importantes autoridades do poder executivo, legislativo e judicirio, alm de empresrios e comerciantes. Atravs da Scuderie estima-se que diversos crimes foram tramados e executados.

A Le Cocq era a principal responsvel pelo processo de faxina tnica que exterminava adolescentes e jovens no incio da dcada de 90, que supostamente tinham envolvimentos com crimes. Entre os anos de 91 e 93 calcula-se que 30 adolescentes e jovens em situao de rua foram executados em Vitria/ES. Os corpos negros desses meninos eram deixados nas principais ruas da Capital, como forma de intimidar e afirmar o carter de vingana pblica daquelas execues.

. Organizao que nasceu no estado do Rio de Janeiro, aps a morte do policial Milton Le Cocq, ocorrida durante uma operao policial. Ele foi assassinado por um famoso criminoso carioca conhecido como Cara de Cavalo. O objetivo da Organizao era a represso ao crime atravs de meios prprios, dentre eles a execuo. Ela se espalhou para diversos estados da federao e no Esprito Santo se consolidou de forma exemplar. Neste perodo, o jovem negro Jean Alves da Cunha, que havia se consolidado como uma expressiva liderana do Movimento Nacional de Meninas e Meninos de Rua, foi brutalmente executado. As investigaes apontavam que todas as essas execues contaram com a participao de policiais integrantes da Scuderie.

Mesmo com todas as evidncias do grave problema que permeava o Esprito Santo naquele momento, o Estado ainda estava indiferente e inabalvel com esse problema. As autoridades pblicas agiam como nada estivesse acontecendo. A cena de adolescentes e jovens negros sendo exterminados em srie, com fortes indcios de participao de setores integrantes das foras de segurana pblica, em nada tocava os mandatrios locais. Nas corporaes policiais e em algumas instituies pblicas o corporativismo e o temor falavam mais alto. Os crimes no eram investigados de maneira correta e alguns processos sofriam interferncias indevidas em seus julgamentos.

Entretanto, a mobilizao social insurgida contra essa grave situao conseguiu alguns avanos para que se pudesse reverter esse quadro. Diversas mes e familiares que perderam seus filhos por ao desses grupos de extermnio se articularam e conseguiram colocar as autoridades pblicas em xeque. A partir da o combate e a punio dos responsveis por esses crimes comearam a ser tratado de outra forma.

A extino da Scuderie se deu, principalmente, pelo forte trabalho desenvolvido pelas entidades da sociedade civil, que militavam no campo da segurana pblica na poca. A Campanha Contra a Violncia e a Impunidade, lanada neste perodo, foi um marco no enfrentamento ao crime organizado vigoroso naquele momento. Atravs dessa Campanha as organizaes populares conseguiram levantar diversas denncias, dialogando com a sociedade sobre a necessidade de se levantar frente aquelas execues e abusos.

Com o fortalecimento dessa luta, pessoas que ligadas a esses esquemas criminosos perderam postos relevantes nos espaos institucionais e a mobilizao popular tambm garantiu uma maior transparncia nas instituies pblicas. Era notria a desestabilizao desses grupos criminosos e a esperana que a sociedade local nutria neste processo de transformao do estado.

Entretanto, o histrico de violncia no Esprito Santo no se alterou. A rearticulao desses grupos de extermnio e organizaes criminosas abriu outras frentes. Somado a isso, os problemas estruturais da sociedade capixaba se agravaram e questes como a ocupao desordenada do espao urbano, a falta de emprego, a ausncia de investimentos em polticas sociais, a inexistncia de aes afirmativas direcionadas ao povo negro e o aumento da oferta de benefcios as grandes empresas e empreendimento, em detrimento da adoo de medidas que pudessem reordenar o Estado e dividir a riqueza entre a populao, se tornaram importantes incrementos para a manuteno do estado de violncia vivido nesta Unidade Federativa.

Mesmo com o anncio de um novo advento poltico, com o aumento da arrecadao, o suposto acirramento do combate corrupo e limpeza do crime organizado das instituies pblicas o Esprito Santo no consegui nem de longe enfrentar o problema do crescimento da violncia. Dessa forma, a esperana de se viver num estado promissor e equilibrado foi frustrado para aqueles que presenciaram momentos marcantes de enfrentamento ao crime organizado no passado.

O papel da Poltica de Segurana Pblica

Em tempos atuais vivemos uma realidade no muito diferente daquela vivenciada no incio na dcada de 90. A poltica de segurana pblica no estado continua sendo pautada pelo vis racista e altamente repressivo, que promove a marginalizao da populao negra e pobre, na busca de proteger o patrimnio da elite local e manter esses segmentos afastados de seus interesses.

Enquanto se busca equipar os bairros nobres com cmeras e sistemas integrados de acionamento de viaturas; as polcias promovem grandes operaes para o fechamento de bares e bailes funks nos bairros populares. Enquanto se revoga a lei que institua a Ouvidoria de Polcia autnoma e independente; anuncia-se a aquisio de equipamentos para aumentar o poder de fogo da polcia contra os negros e pobres e cria-se uma espcie de Ouvidoria totalmente atrelada ao Governo. Enquanto os aparatos policiais so escalados para proteger os conglomerados comerciais em funcionamento diurno; policiais agem sem nenhum controle na calada da noite em bairros da periferia, humilhando e constrangendo diversas pessoas por conta de sua cor de pele, condio social e local de moradia. Enquanto mandados de priso no so cumpridos contra aqueles que cometeram os ditos crimes de colarinho branco; as foras policiais invadem casas nos morros sem nenhuma fundamentao legal e agride famlias inteiras.

Isso demonstra que a gesto da poltica de segurana pblica desenvolvida por setores ultramente conservadores e racistas, que no esto preocupados em garantir o direito segurana pblica de forma universal, mas sim de livrar os seus pares de possveis constrangimentos inerentes ao estado de violncia vigente e marginalizar todos aqueles outros que verdadeiramente construram a riqueza desse pas. Esses setores que conduzem gesto da segurana pblica so taxativamente contrrios democratizao dos espaos de discusso dessas polticas. Todas as instncias que poderiam representar algum avano na discusso e conduo popular da poltica de segurana pblica foram esvaziadas.

A Conferncia Estadual de Segurana Pblica, ocorrida em 07 e 08 de julho de 2009, em Vitria/ES, foi a fiel demonstrao sobre os aspectos autoritrio, racista e repressor que a poltica de segurana pblica orientada no Esprito Santo. Neste processo privilegiaram a participao das corporaes policiais com suas pautas umbilicais e os setores da sociedade civil cooptados, em detrimento da participao dos segmentos populares que convivem diariamente com a truculncia e a arbitrariedade promovidas por parte dos agentes de segurana pblica.

Enquanto isso, s no primeiro semestre do ano de 2009, de acordo com dados da prpria Secretaria de Estado de Segurana Pblica e Defesa Social, ocorreram 999 homicdios. Desse total 49% foram de jovens, sendo que entre a juventude 91% dos jovens assassinados so negros.

O Mapa da Violncia dos Municpios Brasileiros 2008 revela que o Esprito Santo o estado que possui a maior taxa de homicdio juvenil no Brasil (84,0), sendo que Serra/ES (4), Vitria/ES (9), Cariacica/ES (12), Linhares (15) e Pedro Canrio (19) esto entre os vinte municpios que lideram esse Ranking. (WAISELFISZ, 2008).

Outro estudo que trata sobre o ndice de Homicdio na Adolescncia, evidencia que entre as dez cidades com maior incidncia de letalidade contra adolescentes Cariacica/ES (3), Linhares/ES (5) e Serra/ES (6) aparecem novamente ocupando os primeiros lugares na tabela (PRVL, 2009).

J a Pesquisa encomendada pela prpria Secretaria de Estado de Segurana Pblica e Defesa Social assinala que 65,8% das pessoas entrevistas afirmam que a Polcia no trata negros e brancos de forma igual (SESP, 2009).

Tudo isso comprova a situao de extermnio enfrentada pela juventude negra capixaba. O alto ndice de letalidade que recai sob essa parcela populacional no alvo de nenhuma preocupao por parte do Estado, que tenta afastar toda e qualquer discusso que caminhe para a constatao do cunho racista dessas mortes.

Nas delegacias os homicdios de jovens negros so tratados apenas como nmeros. A grande maioria dos inquritos arquivada sem que haja nenhum tipo de diligncia. Nem os prprios familiares so ouvidos para relatar possveis causas desses crimes. A polcia alega dificuldade de apurar devido ao defasado quadro de profissionais e condio precria de trabalho.

Enquanto isso, os principais gestores de segurana pblica vo imprensa atribuir os altos ndices de homicdios ao trfico de drogas, como se nada tivessem a haver com isso. Culpabilizam as famlias negras dizendo que esto desestruturadas e que precisam dar maior ateno a seus jovens. Porm, no dito que o Estado, por sua vez, no garante a efetivao dos direitos fundamentais para que a juventude se desenvolva de forma plena.

No explicitam que os programas sociais desenvolvidos nas grandes periferias pelo Estado so tratados como meras medidas de conteno. Tambm negam que o sistema de ensino no garante condies mnimas desses jovens se sentirem como sujeitos de direito, mas sim tenta form-los, as duras penas, para difcil batalha de insero no mercado de trabalho no desenvolvimento das funes mais precarizadas.

Neste contexto, se busca holofotes e lucros. morte desses jovens negros e o estado de violncia instalado no Esprito Santo alimenta o mercado da insegurana pblica. Cadeias so construdas sem licitao; as empresas de segurana privada crescem a cada dia; esquemas de terceirizao de servios so montados para beneficiar alguns grupos; a imprensa estampa a morte em suas capas como forma de vender mais jornais; polticos tentam ganhar visibilidade em nome do combate ao crime, almejando dividendos eleitorais para os prximos pleitos. E por a vai.

Sistema Prisional e Poltica de Encarceramento

Paralelo s questes relativas poltica de segurana pblica, o sistema prisional capixaba ganha notoriedade em nvel nacional pelas constantes prticas de tortura, maus tratos e constrangimentos em suas unidades. Em visita ao estado o Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria CNPCP denunciou essa catica situao. O ento presidente do Conselho comparou os presdios capixabas como verdadeiros campos de concentrao nazistas e protocolizou pedido de Interveno Federal junto a Procuradoria Geral da Repblica, devido realidade constatada de extrema violao aos direitos humanos.

A precariedade das estruturas fsicas; os procedimentos que violam as legislaes brasileiras e internacionais adotados por agentes estatais encarregados pela guarda de presos; a superlotao das prises; a constante ocorrncia de esquartejamentos entre presos; a existncia de continers destinado ao depsito de presos em diversas unidades, chamados popularmente de microondas; o estado insalubre da maioria dos estabelecimentos; a insuficincia e pssima qualidade da alimentao ofertada; a precariedade no atendimento mdico, dentre outros fatores subsidiou as denncias feitas pelos diversos mecanismos de controle que passaram pelo Esprito Santo neste perodo recente.

O Relatrio da Visita do Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria CNPCP, ocorrida no dia 16 de abril de 2009, assim descreveu uma das unidades visitadas:

Sob as celas encontramos um rio de esgoto (a manilha estava quebrada h semanas). Na gua preta e ftida encontravam-se insetos, larvas, roedores, garrafas de refrigerantes, restos de marmitas, restos de comida, sujeiras de todos os tipos. A profundidade daquele rio de fezes e dejetos chegava a quarenta centmetros, aproximadamente. O cheiro era de causar nuseas. Todos ns chegamos concluso que nunca havamos visto to alto grau de degradao. Poucas vezes na histria, seres humanos foram submetidos a tanto desrespeito. (CNPCP, 2009)

Magistrados Assessores do Conselho Nacional de Justia, Deputados Federais da Comisso de Direitos Humanos e Minoria da Cmara, Conselheiros do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criana e do Adolescente e do Conselho Nacional de Defesa da Pessoa Humana puderam constatar in loco as graves violaes de direitos humanos que h tempos j eram denunciadas pelas organizaes locais que prestam assistncia aos presos e adolescentes internados em cumprimento de medida socioeducativa.

Porm, o que ainda no foi dito que, aproximadamente, 85% da populao carcerria no estado composta por negros. E ainda, que isso fruto de um processo de marginalizao e extermnio desse povo. ntido o carter seletivo da punio promovido pelos aparatos estatais. Milhares de jovens esto encarcerados h mais de cinco anos, sem ter ao menos seus processos julgados.

Frente a essa situao a sada apontada pelo Estado a construo de Centros de Deteno Provisria. Ou seja, ao invs de se procurar alternativa para reverter o alto ndice de aprisionamento de jovens no Sistema Prisional, se busca a construo de diversas cadeias para aumentar a capacidade do Estado em depositar centenas de jovens negros e pobres que seguem na fila para serem sentenciados.

Esse tratamento corrobora para manuteno do quadro de violncia racial vivenciado. O Sistema Prisional se tornou uma das ferramentas mais eficaz na perpetuao da coisificao dos negros em tempo contemporneo. poltica adotada e assumida pelo Estado puni aqueles que no merecem estar junto ao convvio social, utilizando-se de um sistema jurdico altamente fiel a esse propsito.

Resistir preciso

Frente a todo esse quadro de ataque direto ao povo negro neste processo de genocdio empreendido pelo Estado brasileiro, a resistncia e a organizao se tornam fundamentais para o combate a essa situao. No se pode assistir toda essa tentativa de extermnio e eliminao daqueles que foram os principais construtores deste pas de forma pacfica e incontestvel.

Nessa perspectiva o Frum Estadual de Juventude Negra do Esprito Santo FEJUNES, criado em setembro de 2007 aps o processo de realizao do I Encontro Nacional da Juventude Negra ENJUNE, lanou em 13 de maio de 2008, dia que a dita Abolio da Escravatura completava 120 anos, a Campanha Estadual Contra o Extermnio da Juventude Negra.

Este lanamento ocorreu em praa pblica num Ato Poltico e no Manifesto inaugural da Campanha o FEJUNES apontava para necessidade de se mobilizar a sociedade capixaba, no sentido de lutar contra a situao de violncia vivida por milhares de jovens negros. O manifesto dizia:

A ausncia de polticas pblicas, as abordagens racistas dos meios de comunicao, os homicdios e a marginalizao de jovens negros/as originam esse fenmeno trgico de destruio das razes e condies de sobrevivncia dessa populao.

Esse extermnio sistemtico e representa a ineficincia ou mesmo o desinteresse do Estado em promover a igualdade e respeito entre os cidados e cidads, sobretudo ao povo negro.

diante disso, que o FEJUNES convoca a sociedade capixaba a entrar nessa luta e dizer NO AO EXTERMNIO DA JUVENTUDE NEGRA. Precisamos reivindicar a adoo de polticas pblicas que sejam capazes de reverter esse quadro. (FEJUNES, 2008)

Aps o lanamento da Campanha o Frum j realizou diversas atividades com o intuito de denunciar o extermnio da juventude negra e propor medidas para o seu enfrentamento. Atravs da produo de vdeo e cartilhas, da realizao de oficinas, seminrios, caravanas e atos pblicos o FEJUNES vem evidenciando o carter racista do Estado brasileiro e apontando sadas para sua superao.

Em 2008, durante a I Marcha Estadual Contra o Extermnio da Juventude Negra centenas de jovens ocuparam as ruas de Vitria/ES, para reafirmar que a juventude negra tambm titular do direito a vida e que no se curvar ante ao extermnio programa que a elimina. Com faixas, cruzes, apitos e bandeiras a juventude mostrou que necessrio o embate direto com as estruturas de poder para que se possa transformar esta realidade.

Atualmente, este processo de resistncia est em curso e persistir enquanto no alcanar melhorias concretas para o povo negro. No se pode mais admitir a negao de direitos fundamentais e a submisso s formas de violncia que a juventude negra vem sofrendo. Nenhum passo atrs pode ser dado neste momento. Os mais de 500 anos de explorao e opresso vividos pelos segmentos marginalizados neste pas precisam ser reparados.

nessa perspectiva que os setores comprometidos com a luta tnico/racial precisam selar uma aliana contra o genocdio do povo negro, para que de fato se possa transformar a realidade do Brasil e construir uma sociedade onde nem o racismo e nenhuma outra forma de opresso sejam estruturantes nas relaes humanas.

Luiz Incio Silva da Rocha, Coordenador de Relaes Institucionais do Frum Estadual de Juventude Negra FEJUNES, membro da Coordenao do Frum Nacional de Juventude Negra FONAJUNE, Secretrio-executivo do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, estudante de Direito e morador de Cariacica/ES.

Desejo coletivo

NEI LOPES

Durante este ms, especialmente na semana de 20 de novembro, o Brasil celebrou - com feriado, danas, festas, tambores, comidas "exticas", etc. - mais uma de nossas muitas efemrides, a da "Conscincia Negra". Mas ao contrario do Dia do Imigrante, do Imigrante Japons, da Comunidade Luso-Brasileira, do ndio, da Liberdade de Culto, etc., essa uma efemride ainda meio obscura.

Cujo sentido tentaremos, aqui, explicar.

O caso que, durante mais de 300 anos, at por volta de 1850, vieram para o Brasil, forados pela escravido, mais de 4 milhes de africanos, os quais, com seus descendentes, constituram a

principal mo de obra na construo do Brasil, deixando marcas profundas no modo de ser do brasileiro e uma descendncia que hoje representa mais de metade de nossa populao.

O fim do escravismo, em 1888, aconteceu, principalmente, porque a Inglaterra estava preocupada em expandir seu mercado consumidor nas Amricas. Como o escravo no tinha dinheiro, ele no comprava. E como no comprava, no interessava Inglaterra. Ento, o governo britnico pressionou o Brasil a acabar com o escravismo e incentivar o trabalho assalariado.

Mas a abolio da escravatura foi proclamada atravs de uma lei com apenas 1 artigo, que no se preocupou com o destino dos libertos. Eles eram livres para trabalhar, mas ningum os queria.

Assim, muitos ficaram nas fazendas, na mesma situao antiga; e a maioria deles, principalmente os do meio urbano, foi para a rua, supostamente livres, mas sem terra, casa, emprego, nem qualquer tipo de assistncia.

Finda a monarquia, os governos da Repblica preferiram incentivar a vinda de imigrantes, europeus para as indstrias e asiticos para as lavouras, ocupando eles, nos postos de trabalho, o lugar dos africanos e descendentes abandonados pela Lei urea.

Nessa poca, acreditava-se que os grupos humanos se classificavam numa escala que ia dos mais bonitos, saudveis e inteligentes at o mais feios, doentes e ignorantes. Nessa escala, os "louros de olhos azuis" ocupavam o topo; e os "pretos", a base. Dentro dessa ideia foi que se estruturou a nao brasileira. Por isso (e no por serem os descendentes de africanos menos capazes) que at hoje quase no vemos negros (pretos e afromestios) nas altas esferas do poder, como ministros, senadores, governadores, generais, juzes, etc. Os encontramos, sim, na "base da pirmide", e como maioria entre os marginalizados. E isso acontece porque, mais de 120 anos depois da Abolio, os descendentes de africanos continuam sem acesso a boas escolas, bons hospitais, boas condies de vida, no conseguindo, assim, boas oportunidades de trabalho e de sustento.

Conscincia, todos sabemos, sinnimo de discernimento; percepo clara sobre o que se , se faz ou se diz. "Conscincia Negra", ento, a reflexo sobre as razes que levaram e levam a essa desvantagem dos afrodescendentes no todo da sociedade brasileira, procurando solues.

trabalhar para que todos compreendam a necessidade de termos um pas onde as pessoas no sejam s "iguais perante a lei", e, sim, respeitadas em suas singularidades, tendo todo o direito de express-las e demonstr-las.

Conscincia Negra no "racialismo" , racismo, ou complexo de inferioridade. apenas um desejo coletivo de, ns, negros, podermos ser o que somos, sem nos isolarmos, e sem odiar ou menosprezar quem quer que seja. vontade de, junto com todos, construirmos uma sociedade mais humana e mais justa, formada pelas contribuies de todos os povos que constituem a nao brasileira.

NEI LOPES compositor e escritorPergunta

1- A matana, marginalizao, prostituio e desocupao da juventude negra brasileira grave. Na opinio do grupo ou sua. Quais as medidas que poderiam ser tomadas, para esse srio problema brasileiro? IV- ESTRUTURAIS

Estatuto A vitria da elite fundiria

Por Yedo Ferreira*04/10/2009

Os que desde a muito so contra o Estatuto de Promoo da Igualdade Racial e agora com sua aprovao mais ainda, no podem deixar passar este momento que de maneira negativa entra para a histria do povo negro no Brasil.

Quando a aprovao deste malfadado Estatuto recebida com cantoria e demonstrao de alegria por negros e negras tambm - de mos dadas com representantes da elite fundiria este fato lastimvel no pode ficar sem registro, afinal a histria sempre severa h de julgar todos ns; os contra que muito embora sejam contra so omissos e os a favor, sobretudo aqueles que antes defendiam o Estatuto, mas hoje medindo a dimenso desta aprovao s custa das aspiraes dos quilombolas, se escondem no silncio dos covardes.

Como se deu a aprovao deste Estatuto?

O deputado Federal do DEM/RJ, ndio da Costa, responde:

Mudamos o Estatuto da Igualdade Racial. Prossegue; ... chegamos ao limite de atrasar a votao... Por isso, nesta tera-feira, me reuni com o Ministro Edson Santos, ao lado do relator Antnio Roberto PV/MG e do deputado Onyx Lorenzoni, DEM/RS.

O que resultou desta reunio?

A resposta ainda do deputado federal ndio da Costa: Conseguimos retirar do Estatuto as cotas de negros para empresas, escolas, FACULDADES, mestrados e doutorados;

Limitar o poder dos Quilombolas de escolher terras sem que haja prova de que os pertencem histrica e atualmente e ajustar o texto para que a justia no tenha dvida quanto ao interesse do legislador de que as produes de TV e cinema no tenham que ter 50% de negros e de brancos.

O Estatuto aprovado, portanto um Estatuto concedido pelos brancos latifundirios racistas que o seu preposto ndio da Costa com arrogncia sempre familiar aos seus iguais da UDR ainda afirma que ns democratas no votaremos favorvel ao Estatuto e mais adiante conclui com desmedida prepotncia que retiramos do texto os absurdos.

Desta afirmao de ndio da Costa, pode-se prev que o DEM, mesmo impondo o seu ponto de vista aceito todos eles pelos (as) negros (as) que festejaram esta aberrao ainda assim, se preciso for no votam aprovao do Estatuto, mesmo agora moldado a seu feitio.

Neste sentido h de reconhecer que a grande vitria alcanou os brancos latifundirios e racistas do DEM em cima do lombo preto dos (as) negros (as) pr-Estatuto presentes na Cmara dos Deputados.

A vitria no ficou apenas sobre os (as) negros (as) que compareceram ao festim de Crono, onde os convivas eram comidos por via oral evidentemente pelo anfitrio, mais uma vitria imposta a todos os pr-Estatuto espalhados pelo Brasil, porem em particular a todos (as) negros (as) do Partido dos Trabalhadores juntos com os do PC do B, que desejam ardentemente que no 20 de novembro, o Presidente da Repblica sancione este Estatuto mesmo com os absurdos impostos pelo DEM como poltica de Estado para negro do Governo Lula.

A verdade que Estatuto aprovado na Comisso da Cmara dos Deputados com demonstrao explcita de alegria de negros (as) derrota dos anseios dos quilombolas, dos negros cotistas os favorveis a cotas e os que delas se beneficiam diretamente e dos artistas negros, sem contar que aspiraes de outros negros no esto previstas neste Estatuto, como os que tm as favelas, mocambos e alagados como moradia e os subempregos que encontram na camelotgem um meio para sua sobrevivncia.

A pergunta aos negros pr-Estatuto o que pensam de um Estatuto que segundo eles vai fazer a igualdade entre todas as raas, mas no momento em que aprovado estabelece a diviso entre os indivduos de uma delas, justamente da raa negra que o Estatuto se prope fazer iguais as demais.

Aceitar como imposio do DEM, a retirada das aspiraes dos quilombolas do texto do Estatuto ndio da Costa parlamentar do DEM imps esta condio para a _qualquer custo_ aprovar este Estatuto como proposta dos negros do PT, agravou mais ainda, entre a militncia do Movimento Negro a diviso ideolgica cuja existncia antiga. A diviso entre os Integracionistas os que desejam a integrao do negro na sociedade de classes (apenas alguns negros evidente) e, portanto so subordinao do povo negro a um Estatuto, retirando-o da tutela da Constituio Federal e os que lutam pela libertao do povo negro, libertao do subemprego no qual se encontram e entre outras a libertao das condies de moradia em que vive.

Mas afinal o que fizeram os (as) negros (as) presentes na aprovao deste Estatuto que agora do DEM e no mais do PT? As prolas que disseram falam por si mesmo.Para a presidenta do Conselho de Comunidade Negra de So Paulo; sem sombra de dvida _foi um grande avano_ para ns, ativistas. Ser que Elisa Rodrigues pensou no que falou?

Se existe avano com este Estatuto, com certeza no para a militncia negra e sim para o Partido Democrata que com o acordo feito, este Estatuto troca de dono, deixa de ser dos (as) negros (as) do PT e passa a ser dos ruralistas do DEM. O Estatuto como poltica de Estado para negro do Partido Democrata. Elisa! Que belo avano.

O senador do PT, Paulo Paim que como a Elisa considera um avano se do projeto original foram retirados tudo o que demais importante o Estatuto tinha. Como o Fundo Financeiro e agora os direitos dos quilombolas e dos jovens negros que acreditam nas cotas como formas de integrao na sociedade de classes.

As melhores prolas faladas por aqueles (as) que no querem aceitar a realidade tem-se a da Cida Abreu, da Secretaria de Combate ao Racismo do PT que considera a aprovao deste Estatuto de fancaria, como reconhecimento da histria de luta do movimento negro brasileiro.

A Cida Abreu sem sombra de dvidas pela sua participao efetiva,embora invisvel no processo de combate o racismo empreendido pela militncia negra, pessoa altamente qualificada para dizer que este Estatuto o reconhecimento da Histria de luta do movimento negro brasileiro. Cida! Entre frase de ocasio e prtica de luta h uma distncia considervel. Por exemplo, entre as cidades de Rio de Jane