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NOTA SOBRE AS POLÍTICAS EM PROL DO ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR 1 . FELIPE, Delton Aparecido Mestre em Educação pela UEM/CNPq [email protected] TERUYA, Teresa Teruya Docente da Universidade Estadual de Maringá [email protected] O objetivo deste trabalho é analisar a relevância do debate sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na educação escolar no Brasil no campo das políticas. Nadai (1992) afirma que, no final de 1970, passou-se questionar os conceitos elaborados para a sociedade brasileira, como o conceito de democracia racial e o de cidadania. Com isso, enveredou-se pelo caminho do debate político sobre o significado do ensino de história no contexto de uma sociedade que estava lutando para se redemocratizar. Nesse período, houve um forte processo de rejeição ao ensino de história, recomendado pelos governantes brasileiros para forjar o espírito de nacionalidade. Questionava-se o ensino preocupado em reproduzir uma narrativa histórica que servia ao propósito da construção da identidade nacional e da manutenção de determinado grupo no poder. Ficava evidente, nessas discussões, que a concepção de ensino nascente estava comprometida com as transformações sociais almejadas pelos movimentos sociais emergentes. Neste sentido, as propostas para o ensino de história desafiavam as condições políticas para reverter a equação do poder, até então, representativo da nação brasileira e, a partir dessa reversão, implementar um projeto social mais justo, mais humano e com a participação efetiva de todos os grupos sociais. Os debates sobre quais conteúdos ensinar e como ensinar, promovidos na década de 80 do século XX, contribuíram para o início da reformulação de concepções teóricas e metodológicas da disciplina de História, passaram a exigir que os conteúdos a serem 1 Este artigo foi inspirado na dissertação defendida em 30 de março de 2008, sob o título: Narrativas para Alteridade: O Cinema na formação de professores e professoras para o ensino da história e cultura afro- brasileira e africana na educação básica.

nota sobre as políticas em prol do ensino da história e cultura afro

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NOTA SOBRE AS POLÍTICAS EM PROL DO ENSINO DA HISTÓRIA

E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA EDUCAÇÃO

ESCOLAR1.

FELIPE, Delton Aparecido

Mestre em Educação pela UEM/CNPq

[email protected]

TERUYA, Teresa Teruya

Docente da Universidade Estadual de Maringá

[email protected]

O objetivo deste trabalho é analisar a relevância do debate sobre o ensino de

história e cultura afro-brasileira e africana na educação escolar no Brasil no campo das

políticas. Nadai (1992) afirma que, no final de 1970, passou-se questionar os conceitos

elaborados para a sociedade brasileira, como o conceito de democracia racial e o de

cidadania. Com isso, enveredou-se pelo caminho do debate político sobre o significado do

ensino de história no contexto de uma sociedade que estava lutando para se redemocratizar.

Nesse período, houve um forte processo de rejeição ao ensino de história,

recomendado pelos governantes brasileiros para forjar o espírito de nacionalidade.

Questionava-se o ensino preocupado em reproduzir uma narrativa histórica que servia ao

propósito da construção da identidade nacional e da manutenção de determinado grupo no

poder. Ficava evidente, nessas discussões, que a concepção de ensino nascente estava

comprometida com as transformações sociais almejadas pelos movimentos sociais

emergentes. Neste sentido, as propostas para o ensino de história desafiavam as condições

políticas para reverter a equação do poder, até então, representativo da nação brasileira e, a

partir dessa reversão, implementar um projeto social mais justo, mais humano e com a

participação efetiva de todos os grupos sociais.

Os debates sobre quais conteúdos ensinar e como ensinar, promovidos na década de

80 do século XX, contribuíram para o início da reformulação de concepções teóricas e

metodológicas da disciplina de História, passaram a exigir que os conteúdos a serem

1 Este artigo foi inspirado na dissertação defendida em 30 de março de 2008, sob o título: Narrativas para Alteridade: O Cinema na formação de professores e professoras para o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na educação básica.

oferecidos na educação formal levassem em consideração as reivindicações dos grupos

sociais. Schmidt e Cainelli (2004) entendem que o grande marco de reformulações desse

ensino concentrou-se na perspectiva de tratar docentes e discentes como sujeitos da história

e da produção do conhecimento histórico, com o objetivo de formar sujeitos produtores da

história, não mais receptores passivos, espectadores de uma história de heróis que

compunha os personagens dos livros didáticos.

De maneira geral, as discussões sobre a constituição do saber histórico, que se

desenvolveram no final dos anos de 1970 e nos anos de 1980, foram inspiradas nos

referenciais teóricos, metodológicos e temáticos produzidos especialmente na França,

Inglaterra, Itália e nos Estados Unidos. Nadai (1992) argumenta que outros sujeitos sociais,

de maneira progressiva, foram incorporados nos estudos historiográficos. A partir 1980,

por exemplo, as mulheres, os negros, os homossexuais, os prisioneiros, os loucos e as

crianças, sujeitos que, até esse período, constituíam uma ampla gama de excluídos,

reclamavam seu lugar na história social do país.

As reformulações curriculares passaram a ser permeadas por discussões que

questionavam os conteúdos ensinados na educação escolar em todos os níveis. Aqueles

pertencentes às culturas negadas e silenciadas nos currículos escolares começavam a reagir

contra a sua marginalização. De acordo com Gomes (2008), os excluídos dos discursos

normativos do currículo escolar lançaram mão de estratégias coletivas e individuais,

articulando-se em redes, dando início a diversos movimentos sociais de caráter identitário.

A mobilização das culturas negadas atinge as escolas, as universidades e a produção

do conhecimento. Na disciplina de História, organizam-se vertentes que reivindicam uma

perspectiva da história de todos os homens e não somente dos heróis. De acordo com essas

vertentes, e entre elas a Nova História Cultural, não era mais possível aceitar as narrativas

com ênfase exclusiva na visão européia. Schmidt e Caineli (2004) argumentam que esse

processo atingiu os currículos, os sujeitos e suas práticas, instalando um processo de

renovação que, nesse período, ficou restrito mais à teoria do que sua efetivação na prática.

Dentre os movimentos sociais que lutavam pela representatividade nas esferas

sociais brasileiras, encontra-se o Movimento Negro Unificado (MNU). De acordo com

Pereira (2002), tal movimento iniciou-se em São Paulo na década de 70 do século XX, em

pleno regime militar, com o objetivo de combater o mito da democracia racial e denunciar

que o Brasil é uma nação racista, na qual os negros estavam subrepresentados na maioria

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das instituições sociais. Além disso, o MNU tinha como papel destacado fomentar um

processo de constituição da identidade positiva do negro e de sua conscientização política

na vida nacional. Paul Singer, um dos fundadores do MNU, em carta aberta, lida em ato

público no dia 7 de julho de 1978 nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo,

posiciona-se a respeito da discriminação no Brasil:

Não podemos mais calar. A discriminação racial é um fato na sociedade brasileira, que barra o desenvolvimento negro, destrói a sua alma e sua capacidade de realização como ser humano [...]. Não podemos mais aceitar as condições em que vive o homem negro sendo discriminado da vida social do país, vivendo no desemprego, subemprego e nas favelas. Não podemos mais consentir que o negro sofra perseguições constantes da polícia sem dar uma reposta. (SINGER, 1981, apud SILVA, 2001, p. 38)

A manifestação do MNU teve dois propósitos: o primeiro, como um movimento de

denúncia de existência do racismo no Brasil. A elite brasileira tentava constituir, no Brasil,

a idéia de que todos eram tratados como iguais, independente de sua cor. Essa idéia

apoiava-se nas publicações das obras de Gilberto Freire, Casa Grande & Senzala de

1932, e de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, de 1947, nas quais afirmavam

que, apesar da escravidão que houve no Brasil, não se sobressaiu o racismo, visto que o

negro, o índio e o branco se misturam amigavelmente.

Segundo propósito, como processo de formação da identidade positiva do negro,

por meio de ações políticas, com a valorização de seus aspectos simbólicos, formas de

vestir, de pentear e de falar. O bloco afro Ilê Aiyê, um dos primeiros blocos de carnaval

representativo da cultura afro-brasileira, captou esse sentimento dos ativistas das

organizações negras, fazendo o seguinte registro:

Durante este tempo demos o nosso grito de liberdade [...] A liberdade de podermos ser negros, de dançar a nossa dança, de cantar o nosso canto. Canto esse que conta a nossa história e nossa libertação. E esse verdadeiro canto ecoou no Curuzu: um canto de fé por um mundo melhor. O brilho da avenida não ofusca o brilho desta raça de origem nagô (CADERNOS CANTO..., 1988, p. 32)

Percebemos, nesse registro, que os ativistas acreditavam no reconhecimento e na

recriação dos aspectos da cultura negra. Representados socialmente, eles ampliam os

argumentos para a ação política de combate ao racismo. Silva (2001) lembra que a

afirmação de traços distintivos culturais e físicos da população negra, além de servir como

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resposta imediata às posturas racistas, indica que as identidades individuais ou coletivas

não podem ser interpretadas como avesso à identidade social.

Após três décadas de reivindicações do MNU, verificamos que houve avanços na

luta contra o racismo e a discriminação da população negra no Brasil, mas, ainda, o

racismo e o preconceito persistem na sociedade brasileira. Hoje, não é mais aceitável a

idéia de democracia racial entre os brasileiros. Com a promulgação da Constituição de

1988, considerada por muitos uma constituição cidadã, houve uma tentativa de valorização

dos diversos povos e culturas existentes no Brasil, por exemplo: o 5º artigo, no parágrafo

XLII, prevê que casos de discriminação racial serão tratados como crimes imprescritíveis e

inafiançáveis. Este artigo reconhece a existência do racismo no Brasil.

Não podemos só reconhecer a existência do racismo no Brasil, é necessário

combatê-lo e trabalhar para amenizar as conseqüências da submissão e da marginalização

do negro brasileiro. Nesse ponto, ainda encontramos grandes dificuldades. Uma das

primeiras instituições sociais chamada a entrar na luta contra o racismo e para a

valorização da população negra em seus aspectos físicos e culturais como formadoras da

população brasileira foi à escola. Há uma crença de que a escola, em cada momento

histórico, constitui-se uma expressão e uma resposta à sociedade. Ela reflete uma porta de

entrada para a construção de um Brasil onde convivem as diversas influências que

caracterizam a formação do nosso povo.

A diversidade étnico-racial: educação escolar e ensino de História no Brasil

A professora Beatriz Petronilha Gonçalves e Silva (BRASIL, 2004) no Relatório

das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais

Para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, defende que, para as

instituições de ensino desempenharem seu papel de educar, é necessário que constituam

um espaço democrático de produção e divulgação de conhecimentos e de posturas que

visam uma sociedade justa.

Ao estudar as origens da educação escolar pública brasileira, verificamos que os

negros não foram alvos das instituições de ensino, já que a escolarização visava formar o

ideal de homem brasileiro que tinha como referência o homem branco europeu. Quando

analisamos o pensamento educacional brasileiro depois da abolição da escravidão, o negro

e sua cultura foram silenciados no currículo escolar. (FELIPE; TERUYA, 2007).

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Durante um século da implementação da escola pública no Brasil, o negro e sua

cultura poucas vezes foram contemplados nos conteúdos programáticos e, quando o foram,

eram abordados de forma distorcida e estereotipada. Somente depois de 1980, com as

constantes reivindicações do Movimento Negro Unificado, houve tentativas de inserir

conceito de pluralidade na educação brasileira. Embora a relação entre educação e

diversidade tenha surgido na década de 1980, passa predominar no debate educacional e

nas leis voltadas a educação nacional só depois de 1990.

É bem verdade que os debates promovidos depois de 1980 sobre a pluralidade

cultural do Brasil, favoreceram várias modificações importantes na educação escolar e no

ensino de história no Brasil. Fernandes (2005) reconhece que, apesar da renovação teórico-

metodológica da história nos últimos anos, o conteúdo programático dessa disciplina na

educação básica ainda tem primado por uma visão monocultural e eurocêntrica de nosso

passado. Isso significa que a educação escolar ainda não aprendeu a valorizar a diversidade

étnico-racial que compõe o ambiente escolar.

Entendemos que o termo diversidade empregado aqui tem o sentido utilizado por

Abramowicz (2006, p.12) ao afirmar que “[...] diversidade pode significar variedade,

diferença e multiplicidade. A diferença é qualidade do que é diferente; o que distingue uma

coisa de outra, a falta de igualdade ou de semelhança”. Pensar em uma educação para a

diversidade é levar em consideração os aspectos culturais dos mais diferentes grupos,

permitindo que eles expressem a si próprio na busca da aprendizagem e do conhecimento.

Também entendemos os conceitos de raça e etnia como construções sociais,

forjadas nas relações entre cultura, conhecimento e poder. O conceito raça, utilizado dentro

de uma perspectiva política, nada tem a ver com conceito biológico de raça cunhado no

século XIX. Silva, no Relatório sobre a Lei 10.639/2003 (BRASIL, 2004), afirma que o

termo raça, utilizado nesse contexto de questionamento de uma cultura homogênea, é

utilizado para informar como determinadas características físicas, como cor da pele, tipo de

cabelo, entre outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar

social dos sujeitos no interior da sociedade brasileira.

O emprego do termo étnico, na expressão étnico-racial, como faz Silva (BRASIL,

2004), serve para marcar que as relações tensas causadas pelas diferenças na cor da pele e

traços fisionômicos o são também por causa da raiz cultural plantada na ancestralidade

africana, que pode diferir em visão de mundo, valores e princípios das origens indígena,

européia ou asiática.

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Em um resgate da história do negro no Brasil, é importante ressaltar que os

africanos negros aportados em nosso território na condição de escravizados, são vistos

como mercadoria e objeto nas mãos de seus proprietários. Foi atribuída ao negro uma

participação subalterna na construção da história e da cultura brasileira, embora tenha sido

ele a mão-de-obra predominante na produção da riqueza nacional, trabalhando na cultura

canavieira, na extração aurífera, no desenvolvimento da pecuária e no cultivo do café em

diferentes momentos de nosso processo histórico. Quando se trata de abordar a cultura

dessas minorias, estamos pensando no sentido político da palavra, já que os dados do IBGE

demonstram que a população negra brasileira é de 47,2% (BRASIL, 2007), mas ela é vista

de forma folclorizada e pitoresca e as culturas européias elevadas à condição de superiores

e civilizadas.

O ensino de história do Brasil ainda está permeado pela concepção da historiografia

brasileira que prima pelo relato dos grandes fatos e feitos dos chamados heróis nacionais,

geralmente brancos, escamoteando, assim, a participação de outros segmentos sociais no

processo histórico do país. Para Silva (1998), a maioria das concepções históricas que

perpassa o ensino de história no Brasil despreza a participação das minorias étnicas,

especialmente de índios e negros. Quando eles aparecem nos livros didáticos, seja em

forma de textos, seja em forma de ilustrações, são tratados de forma pejorativa e, portanto,

preconceituosa e estereotipada.

Os currículos e os manuais didáticos usados na educação básica insistem em

silenciar e até mesmo chegam a omitir a condição de sujeito histórico e de portador de

práticas culturais das populações negras e ameríndias.

Além da encucação ideológica promovida pelo cinema, rádio, TV, revistas e instituições, o livro didático, pela importância que lhe é atribuída pelo poder do Estado de transmitir “Verdades” que lhe é conferido, consegue de forma sistemática inculcar na cabeça dos jovens e crianças conceitos e visões deformadas e cristalizadas, que passam a ser assumidas como conceitos e visões da “realidade” que se constitui ideologicamente. (SILVA, 1998, p. 03).

É fato incontestável que somos uma nação com múltiplas culturas, em virtude de

nossa formação histórica, porém o que se percebe é que a população brasileira não

aprendeu a conviver com a diversidade étnico-racial. E a educação escolar ainda persiste

em ministrar os seus conteúdos pautados em seu imaginário étnico-racial, um país que

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privilegia a brancura e valoriza, sobretudo as raízes européias da sua cultura, ignorando ou

pouco valorizando as outras. Por exemplo, a história da África, no currículo escolar, é vista

como uma paisagem exótica e totalmente desvinculada da história brasileira, atrelada a

uma imagem de que o africano é um semi-selvagem, acorrentado em sua miséria.

A fim de combater essa visão monocultural e eurocêntrica que foi forjada no saber

histórico brasileiro, ao ter como padrão a visão dos grupos dominantes, o governo

brasileiro, por meio de seus órgãos legais, tem incorporado na legislação brasileira alguns

tópicos de modo a contribuir com a visualização de um Brasil pluriétnico. A Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu artigo 26, parágrafo 4,

ratificando posição da Constituição Federal de 1988, determina que “o ensino história do

Brasil levará em conta as contribuições das diferentes etnias para a formação do povo

brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia” (BRASIL, 1996a)

Por sua vez, o Ministério da Educação (MEC), em cumprimento ao dispositivo

constitucional assente no art. 210 de nossa Carta Magna e sensível à necessidade de uma

mudança curricular face à emergência de temas sociais relevantes para a compreensão da

sociedade contemporânea, elaborou para a educação básica os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN).

A grande inovação da nova proposta é a existência de temas transversais que

deverão perpassar as diferentes disciplinas curriculares - Língua Portuguesa, Matemática,

História, Geografia, Ciências e Artes - e permitir, com isso, a interdisciplinaridade no

ensino fundamental, tais como: Convívio Social e Ético, Pluralidade Cultural, Meio

Ambiente, Orientação Sexual, Saúde, Trabalho e Consumo.

Após as discussões com as secretarias de educação de estados e municípios e com

especialistas de diversas áreas do conhecimento, os PCN foram aprovados pela Câmara de

Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), servindo de referência

nacional para que os sistemas de ensino estaduais e municipais pudessem adequá-lo à sua

realidade educacional (BRASIL, 1997).

Reconhecendo a necessidade de uma educação multicultural, os PCN estabelecem

como tema transversal o estudo da Pluralidade Cultural, a fim de ser trabalhada em

diferentes disciplinas curriculares.

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[...] temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. (BRASIL, 1997, p. 33).

Esse mesmo documento do MEC traz como um dos objetivos gerais da educação

básica o conhecimento e a valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural do país,

bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, devendo alunos e alunas,

professores e professoras posicionarem-se contra quaisquer formas de discriminação

baseada em diferenças culturais, de classe social, de sexo, de etnia ou outras características

individuais e sociais.

Além dos PCN, dispomos das diretrizes curriculares elaboradas pelo CNE para a

educação básica. Recentemente, esse órgão normativo e consultivo do MEC instituiu, com

base no parecer da conselheira Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de

História e Cultura Afro-brasileira e Africana.

Ainda no âmbito das políticas públicas governamentais, podemos citar o Programa

Nacional de Direitos Humanos, elaborado pelo Ministério da Justiça na gestão do

Presidente Fernando Henrique Cardoso, que previa, entre uma série de ações para as

populações negras no Brasil, o estímulo à “[...] elaboração de livros didáticos que

enfatizem a história e as lutas do povo negro na construção do nosso País, eliminando

estereótipos e discriminações” (BRASIL, 1996b, p. 31).

Mais recentemente, por ocasião do início do Governo Lula, foi sancionada a Lei nº.

10.639, de 9 de janeiro de 2003, que “altera a Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996,

que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial

da rede de ensino obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira, e dá

outras providências”. A Lei estabelece o estudo da história da África e dos africanos, a luta

dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade

nacional, resgatando a contribuição do povo negro nos áreas sociais, econômicas e

políticas pertinentes à História do Brasil (art. 26-A, § 1º) e, tornando-o obrigatório no

currículo escolar da educação básica (BRASIL, 2003).

Nesse momento histórico, a demanda por geração de oportunidades requer do

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Estado e da sociedade medidas que contemplem a população negra nas oportunidades que

irão amenizar os danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais herdados

do regime escravista, bem como das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da

população, de manutenção de privilégios exclusivos para os grupos com poder de governar

e de influir na formulação das políticas no pós-abolição. Tais medidas se concretizam com

iniciativas de combate ao racismo e demais formas de discriminação.

O posicionamento daqueles que já conhecem este dispositivo legal é dividido, uns

concordam e outros discordam. Os argumentos da discordância sustentam que a Lei não se

traduz, na prática, em uma mudança necessária e que produziria um acirramento ainda

maior entre os vários grupos étnicos que compõem a população brasileira. Alem disso,

argumentam os discordantes que a legislação seria racista por privilegiar um setor

especifico do mosaico étnico brasileiro em detrimento dos demais. Um exemplo desse

pensamento é do professor Peter Fry (2005) que, em seu livro A Persistência da Raça

afirma que a Lei 10.639/2003 estaria reapresentando o surrado conceito de raças humanas,

portanto, não possui base científica pelo simples motivo que existe apenas uma raça: a

humana. Nesse sentido, Fry afirma que a Lei 10.639 poderia desencadear reações de outros

grupos, constrangidos por estarem pouco representados nos currículos.

Os argumentos dos concordantes postulam que a Lei é fundamental, porque

contribui para ampliar o conhecimento sobre a história dos negros formadores da

população brasileira. Para Lopes (2003, p. 19), “a Lei 10.639/2003 do CNE vem

reconhecer a existência do afro-brasileiro e seus ancestrais (os africanos), sua trajetória na

vida brasileira e na condição de sujeitos que contribuíram para a construção da sociedade”.

Acrescenta que é preciso ser inserida no currículo escolar para modificar os conteúdos

hegemônicos de cunho eurocêntrico contidos no sistema escolar, e obter um resultado

desejável de respeito às diferentes culturas no processo de ensino e de aprendizagem. Essa

alteração, em seus aspectos explícitos e implícitos, precisa ser construída no cotidiano do

fazer pedagógico no interior das escolas, envolvendo alunos, professores, corpo diretivo,

corpo administrativo e comunidade escolar em geral, tendo como suporte um currículo

com base na abordagem da diversidade cultural.

Outro argumento favorável é que, apesar de a Lei de Diretrizes e Base da Educação

Nacional (LDB, 9394) aprovada em 1996, ter explicitamente incluído a história afro-

brasileira como conteúdo pedagógico, na realidade, nada disso aconteceu. Nessa

concepção, a nova Lei estaria antes de tudo cobrando efetivação de um parecer pedagógico

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já existente.

Em nossa perspectiva, o argumento dos que afirmam que a Lei 10.639/2003 estaria

privilegiando uma etnia determinada, a dos negros, não se sustenta. No Brasil, o grupo

afro-descendente negro, mesmo constituindo cerca de 50% da demografia brasileira, ainda

está sub-representado na maioria das esferas da vida social. Essa ausência de

representatividade repercute no sistema de ensino, que desqualifica ou simplesmente se

cala a respeito da história e da cultura negro-africana.

Quanto aos demais grupos, segundo Serrano e Waldman (2007), é possível

argumentar que a própria lei que incentiva o ensino da história e cultura afro-brasileira e

africana também inclui a discussão sobre a diversidade étnico-racial no Brasil. Estas

medidas contribuem para a reeducação das relações entre os vários grupos sociais

constituintes da sociedade brasileira, provocando o questionamento das relações étnico-

raciais baseadas em preconceitos e na desqualificação do outro. Tal argumento pode ser

comprovado com a aprovação em março de 2008 da Lei 11.645 que, além da

obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na educação

básica, prevê também o ensino da história e cultura indígena (BRASIL, 2008).

Por fim, em relação aos segmentos que repudiam a Lei em nome de um suposto

racismo que estaria perpassando a sua essência ao prever o ensino da história e da cultura

afro-brasileira, entendemos que a questão racial não se esgota em um ponto de vista

genético, é necessário ressaltar os condicionamentos histórico-sociais dos conceitos que

envolvem as questões raciais. Se, no passado, a idéia da existência de raça superior e da

raça inferior legitimava a escravização com comprovação científica da inferioridade dos

negros, atualmente, para legitimar a ordem estabelecida, funda-se na não existência de

raças, apoiando-se nos direitos democráticos válidos para todas as etnias. A existência ou

não de raça depende da conveniência em um determinado momento social.

A Lei 10.639/2003 constitui um passo importante para resgatar e valorizar os

diversos grupos étnicos que estão à margem da sociedade brasileira. Os currículos

escolares do sistema educacional podem ser aliados valiosos nessa luta, como ressalta

Gomes (2008), esta Lei que não é somente uma norma: é resultado da ação política e da

luta de um povo cuja história, sujeitos e protagonistas ainda são poucos conhecidos.

Na educação escolar, verificamos uma dificuldade em ensinar e aprender história,

trabalhar o real e o imaginário. O principal problema, quando se trata do ensino de história

e cultura afro-brasileira e africana, não se encontra em sua complexidade, mas sim nas

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informações disponibilizadas, especialmente na mídia, que são distorcidas e não condizem

com a realidade.

Aplicação da lei 10.639/20003 na sala de aula

Sem dúvida, a Lei representa um avanço ao possibilitar a construção de um

multiculturalismo crítico na escola brasileira, ao mesmo tempo em que se reconhece uma

luta histórica do movimento negro em nosso país, cuja bandeira de luta consiste em incluir

no currículo escolar o estudo da história e cultura afro-brasileira. Por outro lado, não

podemos nos esquecer que ainda precisamos de muitas ações para que a Lei não se torne

letra-morta e contribua, de fato, para uma educação multicultural com o questionamento

das relações sociais desiguais.

Lopes (2003), utilizando os estudos de Sacristán assinala que o termo multicultural

é ambíguo e enganador, por se tratar de um rótulo em quede cabem várias perspectivas. Ela

explica que tanto pode se referir a uma perspectiva assimilacionista, em que uma cultura

dominante objetiva assimilar uma cultura minoritária em condições desiguais e com

oportunidades menores no sistema educacional e social, como pode ser multiétnica, um

instrumento para diminuir preconceitos de uma sociedade para com as minorias étnicas, ou

ainda associada a um pluralismo cultural, em que se busca proporcionar visões plurais da

sociedade e de suas elaborações.

Mas, ainda de acordo com a autora, apesar de tal discurso, não se pode deixar de

identificar o pluralismo cultural com a aceitação do diferente, e essa concepção pode ser

vista sob dois enfoques: o do consenso e o do conflito. O do conflito seria aquele que

exigiria processos argumentativos e embates sociais para sua resolução e o do consenso

objetivaria superar os conflitos sem confrontação.

Para trabalhar a história da África em sala de aula, como nos alerta Conceição

(1999), temos que levar em consideração algumas questões: Como pensar uma escola que

tenha por base uma educação na perspectiva da pluralidade étnico-racial? Como romper

com o modelo pedagógico vigente? O que fazer para que a sociedade civil, organizada por

meio de suas legítimas representações, inclua o afro-brasileiro? Estas questões são

fundamentais para contemplar os brasileiros descendentes de africanos, para pensar em

uma nova educação escolar. Neste sentido, consideramos necessário efetivar algumas ações

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no processo educativo de sala de aula, especialmente formar um novo perfil de professor e

professora e de aluno e aluna que, no exercício da reflexão sobre o seu “eu” e o “outro”,

apropriem-se dos saberes sobre a história e a cultura afro-brasileira e africana para serem

socializados com as respectivas comunidades, a fim de romper com a pedagogia que

prioriza o modelo eurocêntrico.

Fernandes (2005) afirma que um dos gargalos do sistema educacional brasileiro

reside na qualificação do corpo docente, sobretudo os que exercem o magistério nas séries

iniciais do ensino fundamental. Esses professores e professoras, em sua maioria, recebem

uma formação polivalente e, portanto, precisam de qualificação para trabalhar com essa

nova temática curricular. O autor sugere, para tanto, um esforço por parte dos órgãos

governamentais ligados à área de promoção da igualdade racial para oferecer, em parceria

com as instâncias educacionais, cursos de extensão sobre a história da África e de cultura

afro-brasileira, bem como a publicação de material didático-pedagógico que possa dar

suporte técnico à atuação desses docentes no processo de ensino e aprendizagem

Dessa forma, para tratar a temática do negro no currículo escolar, não é necessário

que o professor e a professora sejam negros. A lei tem um caráter obrigatório para todo o

magistério e com a função estratégica para a formação do cidadão brasileiro. Para cumprir

a lei, os conhecimentos relativos a essa temática devem ser socializados entre os demais

educadores e educadoras e ampliados para toda comunidade escolar. Com isso, o “[...]

professor e a escola não serão mais acusados de serem mediadores - mesmo que

inconsciente - da formação de estereótipos que geram preconceitos que se constituem de

um juízo prévio a uma ausência de um real conhecimento do outro” (SILVA, 2001, p. 73).

Cunha Júnior (1998) enfatiza que o racismo, o preconceito e a discriminação são os

malefícios que existem tanto na escola quanto na sociedade em geral, muitas vezes

mascarados e naturalizados ou, ainda, assumidos explicitamente nas atitudes, nos valores e

nas normas vigentes, presentes em nosso cotidiano. São manifestações de um processo

cruel de dominação, que mina a cultura dos grupos sociais considerados dominados entre

nós, os negros e os indígenas.

Silva (2001) alerta que trabalhar a partir de valores eurocêntricos no sistema escolar

leva as crianças e adolescentes negros a se sentirem inferiores e a serem considerados

como tal pelos demais. A convivência com a imagem estereotipada, que causa danos

psicológicos e morais, pode bloquear a personalidade étnica e cultural do afro-descendente.

12

Felipe e Teruya (2008) afirmam que o brasileiro, de um modo geral, sabe pouco a

respeito dos afro-descendentes, e, quando sabe, seu conhecimento está repleto de idéias

preconceituosas. Trata-se de um conhecimento sincrético. Começa com a entrada do negro

no Brasil como mercadoria. A imagem do negro descalço, seminu e selvagem é mostrada

na literatura escrita por brancos, sem contar a história do africano livre, dono de sua

própria vida e produtor de sua própria cultura. Ao falar dos aspectos da cultura africana e

da história do negro no Brasil, entramos em um campo de tensões e de relações de poder

que nos leva a questionar as representações e os estereótipos sobre a África, os africanos,

negros brasileiros e sua cultura. A idéia de inferioridade cultural dos negros, construída

historicamente e socialmente, justificou os processos de dominação, colonização e

escravização.

No ensino de história e cultura afro-brasileira e africana não se trata de mudar o

foco etnocêntrico marcadamente de raiz europeu pela africana, mas de ampliar o foco dos

currículos escolares para a diversidade cultural, racial e social e econômica brasileira. Cabe

às escolas incluírem os estudos e as atividades que proporcionam contribuições histórico-

culturais dos povos indígenas e dos descendentes de asiáticos e além destas, das raízes

africanas e européias.

As reivindicações estabelecidas na Lei 10.639/2003 lançam novas bases para o

ensino de história, uma vez que o legado eurocêntrico resultou em um raciocínio que ainda

hoje dificulta os estudos sobre África e sobre negro no Brasil, constituindo um sério

obstáculo para a compreensão da realidade histórica do continente africano e de seus

descendentes.

Novas bases para o ensino de História da África na educação escolar: descontruindo

mitos

O conhecimento de um determinado tema, na nossa perspectiva, é construto social,

para promover a releitura da história africana eivada de preconceitos, é necessário

questionar vários conceitos solidificados no decorrer da história, é necessário desconstruir

as estereotipias que foram forjadas pelo imaginário europeu sobre África e seus

descendentes. Como nos alerta Meneses (2007, p. 56) “falar sobre a África significa

questionar e desafiar crenças adquiridas, pressupostos afirmados e múltiplas

sensibilidades”.

13

Quando nos reportamos ao termo desconstruir, referimo-nos aos procedimentos da

análise do discurso nos moldes adotados pelo filósofo Jacques Derrida, que pretendem

mostrar as operações, os processos que estão implicados na formulação de narrativas

tomadas como verdades, em geral, tidas como universais e inquestionáveis. A

desconstrução tem possibilitado vislumbrar com nitidez as relações entre os discursos e o

poder. “Ao contrário do que muitas pessoas pensam desconstruir não significa destruir.

Desconstruir, neste caso, significa uma estratégia de demonstrar para poder mostrar as

etapas seguidas na montagem”. (COSTA, 2002a, p. 140).

Compreender e contextualizar as informações sobre aspectos do continente africano

é, indiscutivelmente, um exercício critico. Serrano e Waldman (2007) argumentam que

existem visões estereotipadas cultivadas contra os povos africanos e suas regiões. Mais do

que qualquer outro continente, a África terminou encoberta por um véu de preconceitos,

que, ainda hoje, marcam a percepção de sua realidade.

O imaginário europeu devotou para as terras africanas e para os seus habitantes um

amplo leque de injunções desqualificantes, muitas vezes respaldadas pelos intelectuais

europeus. A África foi condenada ao papel de espaço periférico da humanidade, além de

desprovida de adjetivos que engrandecem na visão dos europeus.

Na realidade, os mecanismos simbólicos da exclusão do outro remontam de muitos

séculos, estando profundamente enraizados no legado cultural europeu. Serrano e

Waldman (2007) revelam que o discurso europeu a respeito da África é antigo, pode ser

localizado um variado conjunto de elaborações socioculturais. É a partir desse passado

remoto que se estratificou o preconceito cultivado contra o outro, personificado em

diferentes momentos pelos bárbaros, tártaros, mongóis, ciganos, judeus, muçulmanos,

assim como pelos negros africanos.

É inegável que o mundo ocidental construiu o seu relacionamento com as

populações extraeuropéias com base em preconceitos de todo tipo. Nesse particular, Cunha

Júnior (1998) afirma que o continente africano foi, inegavelmente, o mais desqualificado

pelo pensamento europeu. Ainda que a imagem da África tenha variado ao longo do tempo

em decorrência de diferentes formas de relacionamento estabelecidas com os seus povos, é

indiscutível que este continente foi mais que qualquer outro, naturalizado pelo pensamento

ocidental com imagens negativas e excludentes.

O embrião dessas concepções discriminatórias remete às formulações surgidas na

antiguidade clássica. Para os antigos gregos e romanos, a África compreendia as terras

14

situadas entre os países atuais Líbia e Marrocos, habitados por povos de idioma berbere (o

termo não designa nenhuma etnia, diz respeito a um grupo de línguas que integra a família

afro-asiática). Desse modo, refere-se a povos cujas características são, em alguns

contextos, muito discrepantes entre si. Seria o caso dos garamantes, númidas, líbios e

mauritânios, costumeiramente mencionados nas crônicas e documentos do Império

Romano. Recorda-se que o termo berbere deu origem à palavra, bárbaro, para identificar as

populações cuja língua e cultura eram consideradas inferiores em relação às greco-

romanas, consideradas como padrão hegemônico. (SERRANO; WALDMAN, 2007).

Historicamente, o regime de estereotipias imposto à África foi reforçado pela

distância e relativo isolamento do continente em relação ao resto do mundo europeu. A

África, em particular a África negra ou Subsaariana, constituía um domínio nebuloso, por

causa das informações fragmentárias e distorcidas. As imagens do continente africano,

construídas pelo imaginário medieval, suscitavam todo o tipo de objeções. Assolados pelo

calor inclemente, os territórios meridionais estariam infestados de monstros e outros seres

fabulosos, coabitando com grupos de semi-humanos ou de humanos inferiores.

Decididamente, o quadro construído pelo imaginário social europeu relacionado à África

foi contemplado com estigma da subalternidade. Não é de admirar que as representações

confirmem uma pretensa inferioridade.

Na modernidade, o rebaixamento da África relaciona-se intimamente às demandas

da sociedade capitalista ocidental, que, de modo contínuo, reapresenta para o continente a

condição periférica do sistema de produção de mercadorias. Desse modo, se, no período do

mercantilismo, foi reservado à África o papel subalterno de fornecer mão-de-obra

compulsória para a monocultura açucareira e para a extração de metais e pedras preciosas,

com a hegemonia do capitalismo industrial, o continente é novamente subalternizado,

enquadrado na condição de manancial de mão-de-obra barata e de fornecedor de matérias

primas para as potências industriais. Nesse sentido, a necessidade de justificar o domínio

europeu induziu e foi mantida mediante o desenvolvimento de teorização que, apelando

para as distorções conceituais, desqualificava o legado africano em todos os sentidos.

Se, no período mercantilista, a África reunia características espirituais, religiosas e

elementos fabulosos inscritos no seu espaço geográficos, na fase do capitalismo industrial,

é a carência de civilização o principal argumento para sua estereotipia. Nessa perspectiva,

o continente africano passa ser visto como, de fato, deveria ser entendido: um continente

simplesmente carente de civilização.

15

Mais uma vez, a África foi alvo da política de hierarquização do conhecimento

imposto pelas expectativas do mundo europeu e, agora, a constituição do discurso

desclassificatório voltado a África é de que ela não era civilizada, cabendo ao europeu

levar a civilização ao continente africano. A África foi inteiramente retalhada e distribuída

entre as potências coloniais, que reorganizaram o espaço africano aos seus interesses,

ignorando todo e qualquer arranjo espacial anterior. Segundo Serrano e Waldman (2007)

com exceção da Etiópia, a totalidade do continente ficou de uma forma ou de outra, sob os

interesses econômicos e políticos do imperialista ocidental. Não sem motivo, a África

passou a ser conhecida como o continente colonial por excelência.

Com as imagens elaboradas pelo mercantilismo e pelo capitalismo industrial no

pós-guerra, no contexto da independência dos países do continente africano, propagou-se

uma nova leitura desqualificante da África. Atualmente, o continente continua dominado

pela pobreza, pelo subdesenvolvimento, pelas doenças, pelas guerras entre os grupos

sociais ali viventes, pelos golpes de Estado contínuos, pelo analfabetismo, pelos refugiados

da seca e da falta de perspectivas. Em um mundo desigualmente unificado pela

globalização, como todas as desprezadas regiões meridionais do planeta, a África ainda

integra a periferia de flagelos sociais.

Nesta nova elaboração plena de estereotipias negativas, o futuro não reservaria

nenhuma benesse para o continente, condenado, a priori, à estagnação. Tal como leituras

anteriores, essa nova coleção de imagens associa-se a um ideológico, pelo qual a África

seria incapaz de conduzir o próprio destino. Ela deve, portanto, continuar a apelar para o

Ocidente na busca de soluções para os seus problemas. Como nas imagens anteriores, a

visão estereotipada sobre a África e seus povos, por meio de um discurso generalizante e

excludente, utiliza-se dos preconceitos e das falsas concepções. Objetivamente, essas

perspectivas trabalham em prol da confirmação da submissão da África ao mundo

ocidental e às suas expectativas econômicas, sociais e políticas.

Como vimos, todas as construções elaboradas sobre a África nunca se distanciaram

da ambição de dominá-la e de configurá-la como contraponto de uma Europa que se

arrogava um papel dominante. Ademais, para submeter o que quer que seja, é necessária,

antes de tudo, a iniciativa de concretizar-se no nível do imaginário, preferivelmente de

modo a distorcer a compreensão do outro, habilitando, desse modo, a irrupção de uma

ideologia de dominação.

16

A África na educação escolar brasileira

Por que estudar a história e a cultura africana nas escolas brasileiras? Se o Brasil

fosse um país sem nenhuma parcela de afro-descendentes negros, não seria surpreendente

que os currículos escolares dispensassem estes conteúdos. Mesmo assim, por razões da

história da humanidade ou mesmo da história econômica do capitalismo, seria

indispensável um conhecimento da história africana. Surpreendente é que o Brasil, sendo

um país que tem cerca de metade da sua população e reconhece a sua ancestralidade no

continente africano, não tenha o ensino de aspectos da história africana na constituição de

seu currículo escolar.

Podemos postular que a Lei 10.639/2003 aponta a necessidade de construção da

história do mundo na formação dos docentes. Meneses (2007) argumenta que se trata da

(re)construção de uma “outra” história que considere não só a perspectiva eurocêntrica

dominante, ampliando as possibilidades de conhecimento inseridos no currículo escolar.

Em nossa perspectiva, não definimos certos conhecimentos como válidos e

verdadeiros, enquanto que outros são considerados supérfluos e irrisórios. Cabe à escola a

tarefa de pensar possibilidades de acesso às diferentes culturas, não no sentido de incluir

em seu calendário datas exclusivas para trabalhá-las, mas no sentido de permitir que os

alunos compreendam que há diferenças e semelhanças entre uma cultura e outra. As

relações de disputa por posições sociais e conhecimentos são carregadas de interesses

particulares inerentes tanto à sua própria cultura quanto às outras. Por isso, é necessário

que os alunos conheçam a cultura de outros grupos e a história de sua própria cultura em

um processo de interação e alteridade.

Para o entendimento da história econômica, política e cultural do Brasil, é também

necessário consultar a história e a cultura africana. Sem estes elementos se constrói uma

história parcial, distorcida e promotora de racismos. A razão que justifica a exclusão da

História Africana nos diversos currículos nacionais das diversas modalidades e níveis de

ensino é o racismo. A exclusão da História Africana é uma dentre as várias demonstrações

do racismo em relação à população negra. Ela produz a eliminação simbólica do africano e

da história nacional.

Uma das motivações que os pesquisadores e pesquisadoras e os docentes brasileiros

17

devem ter para estudar a história e a cultura africana é a ausência de sistematização e

veiculação das informações relacionadas ao continente africano. Serrano e Waldman

(2007) afirmam que essa lacuna é evidente tanto na ausência pura e simples de uma visão

realista sobre o continente africano quanto em seu desdobramento direto na persistência de

uma visão estereotipada e preconceituosa que lhe é impingida.

Não seria demasiado afirmar que a visão distorcida sobre o continente africano e

sua população associa-se à exclusão de parcela ponderável da população brasileira do

pleno exercício de seus direitos como cidadãos, exclusão que recai de forma marcante

sobre os afro-descendentes. As perspectivas excludentes desmerecem um legado

extremamente valioso, responsável por inúmeros valores civilizatórios.

Apesar da história e da cultura africana não terem a devida atenção por parte dos

historiadores brasileiros, que deveriam ter pautado essa discussão como uma das

prioridades para compreender a formação de nosso país, a Lei 10.639/2003 determina o

que os estudos sobre temas africanistas devem alcançar em nosso país. Nesse sentido, a

África, seus povos e suas culturas tornaram-se foco de interesse para os profissionais da

educação, os quais necessitam de capacitação para perceber que a constituição da história

de um povo perpassa a dimensão do poder e do saber. Estamos diante de confrontos entre

distintas experiências históricas, econômicas e culturais, em que o discurso hegemônico

hierarquiza e inferioriza o discurso do “outro”.

Desse modo, no tocante à realidade brasileira, o estudo da cultura da população

africana posiciona-se como uma contribuição direta aos diversos segmentos da população

brasileira, sobretudo da população negra. Desde os primórdios da colonização marcada

pela discriminação racial, os negros tiveram as suas práticas ancestrais abafadas,

marginalizadas e deturpadas, comprometendo, assim, a sua inserção plena no processo

social brasileiro.

Essa repressão cultural, camuflada pelo mito da democracia racial, desdobra-se no

não reconhecimento dos valores e das práticas sociais de raízes africanas, interiorizadas

pelo conjunto da população brasileira, independentemente de sua origem racial.

Os estudos da história e cultura africana articula a realidade daquele continente com

a realidade social brasileira para salientar as identidades formadoras da nossa população,

seja esta européia, indígena ou africana. Com isso, constatamos os inúmeros laços que

unem o Brasil ao continente africano, tais como as práticas religiosas, da música, da dança,

da oralidade, da culinária, do artesanato, das técnicas agrícolas e a linguagem, entre outros.

18

Considerações finais

A Lei 10.639/2003, ao garantir visibilidade ao afro-brasileiro com a finalidade de

propiciar a cidadania e a igualdade racial, por meio de práticas educacionais que valorizem

o “outro”, contribui para romper com o silêncio histórico sobre a cultura e história da

população negra brasileira. Nesse sentido, a Lei abre caminho para a construção de uma

educação antirracista, que rompe com as normas discursivas centradas no europeu. A Lei

abre espaço para que, no ambiente escolar, seja legítimo falar sobre a exclusão e

marginalização de um segmento social.

Mas não é qualquer fala. É uma fala pautada no diálogo étnico-racial no interior da

escola, ou seja, que pressupõe e considera a existência do “outro”, como sujeito ativo e

concreto, com quem se fala e de quem se fala. Esse “outro” deverá ter direito à livre

expressão do seu “eu”. Tudo isso diz respeito ao reconhecimento de nossas identidades

como sujeitos singulares em gênero, raça, idade, nível socioeconômico e tantos outros.

Ao analisar os livros didáticos trabalhados na sala de aula que tratam da História do

Brasil, percebem-se textos e figuras racistas ou preconceituosas, visto que ao reproduzirem

os valores socialmente dominantes, negligenciam ou sub-representam a parte negra da

população brasileira, parte dos livros didáticos, ao inserirem os negros na História Brasil,

cometem deslizes que os prejudicam. Muito desses materiais disponíveis para o uso do

professor restringem a população negra à escravidão, esquecem que os ascendentes negros,

antes de chegar ao Brasil para serem escravizados, tinham uma vivência na África, ou seja,

o negro já era envolto em um universo cultural que iria se propagar e contribuir,

significativamente, na formação da cultura brasileira.

Um dos primeiros conteúdos programados no ensino de história do Brasil é a

chegada dos europeus à América a partir do século XV, os quais, ao terem contato com o

novo mundo, procuraram explorar a riqueza natural existente na fauna e na flora. Para

empreenderem a política de colonização no continente americano, exploraram as

populações indígenas que aqui habitavam, submeteram estes povos à escravidão e

desrespeitaram sua organização social e suas práticas culturais.

Os portugueses, ao procurarem efetivar a política de colonização na América,

trouxeram da África para o Brasil os negros africanos, que não eram concebidas como

19

seres humanos, mas como mercadorias a serem comercializadas e destinadas ao trabalho e,

consequentemente, submetidas à escravidão.

A colonização portuguesa se efetivou após a década de 30 do século XVI.

Apressou-se em estabelecer o domínio sobre as terras antes que outra nação, movida pela

ambição tal como Portugal, o fizesse.

Nesse processo de colonização, durante mais de trezentos anos, as populações

africanas se constituíram pilares da mão-de-obra, contribuindo para a organização da

sociedade brasileira. O tratamento dado pelos europeus a estas populações foi também

pautado no eurocentrismo e etnocentrismo, desrespeitando as múltiplas etnias que

constituíam os africanos, a história do continente de origem e as práticas culturais.

Desde o Brasil Colônia, os negros trabalharam em diferentes espaços: nos

engenhos, no interior das casas grandes, nas regiões de mineração e nos espaços urbanos

das cidades. Eles desempenhavam diversas atividades, tais como: a plantação da cana-de-

açúcar ou alguma atividade ligada ao processamento do açúcar, a mineração de ouro e

diamantes, o plantio do café e cuidados com a lavoura do “ouro verde” brasileiro, entre

outras. Nas cidades, os africanos e os crioulos exerciam diferentes funções: serviam de

carregadores, trabalhavam nos serviços domésticos, aprendiam ofícios e se tornavam

carpinteiros, alfaiates, barbeiros, sapateiros e vendedores ambulantes e podiam ser,

também, escravos da administração pública.

Os afro-brasileiros foram fundamentais na construção da sociedade e na formação

do povo brasileiro, juntamente com outras etnias. Eles ajudaram a construir uma sociedade

que passou por várias transformações ao longo do século XIX, marcado por diferentes

fatos históricos: Independência do Brasil, em 1822; a organização do Estado nacional, que

incentivou a política de imigração para o nosso país e, consequentemente, a substituição do

trabalho escravo pelo trabalho livre; a difusão da ideologia do branqueamento; a abolição

da escravidão, em 1888; e o advento da República em 1889. Estas transformações não

garantiram a inclusão dos ex-escravos negros no mundo do trabalho, ao contrário, foram

excluídos socialmente.

A liberdade chegou, porém não propiciou às populações negras o acesso aos bens

produzidos nesse processo histórico, como terra, moradia e educação, para garantir uma

vida digna. Os ex-escravos negros começaram a travar uma nova luta, que era de

sobreviver diante de tantas desigualdades sociais e combater o racismo na sociedade

brasileira.

20

Diante desse contexto de adversidade e desigualdade, organizou-se o Movimento

Negro ao longo do século XX, para lutar pelos direitos da população negra e combater o

racismo. Carneiro (1998, p.56) salienta que, desde 1910, existia no Brasil uma pequena

imprensa negra que divulgava os acontecimentos sociais expressivos da comunidade negra.

Entre os primeiros periódicos, segundo a autora, estavam o Bandeirante e o Menelik.

Somente após 1918, periódicos como esses assumiram uma atitude mais agressiva,

passando para a fase de conscientização do negro e denunciando o racismo da sociedade

brasileira.

Dentre os movimentos negros organizados no século passado, podemos destacar o

surgimento, em 1931, da Frente Negra Brasileira (FNB), como um grande movimento

organizado no país; em 1978, o Movimento Unificado contra a Discriminação Racial, que,

em 1979 passou a ser denominado como Movimento Negro Unificado; ambos engajados

na luta pela plena cidadania da população negra no Brasil.

Outro desafio que se impôs ao povo negro na luta contra o preconceito racial foi o

de combater a difusão da idéia de democracia racial em nosso país, ou seja, a teoria de que

havia no Brasil um congraçamento racial, o que expressaria relações harmônicas entre as

diferentes etnias que deram e dão origem ao povo brasileiro.

Sob tal perspectiva, “os negros não tinham do que reclamar”. Vale ressaltar que os

movimentos negros ganharam força após o processo de redemocratização do Brasil na

década de 1980, já que essa década, no Brasil, significou repensar a nação. O negro mais

uma vez percebeu a importância desse momento para requerer o reconhecimento de sua

participação na constituição do povo brasileiro. “Um marco na história deste período foi a

Constituição Federal de 1988, que tornou o crime de racismo inafiançável” (MALERBA,

BERTONI, 2001, p. 61- 63).

A luta do Movimento Negro Unificado e de vários grupos defensores da

constituição de uma sociedade multicultural pela conscientização de todos os setores

sociais demonstra que o racismo não atinge só os negros. Enquanto processos estruturantes

e constituintes da formação histórica social brasileira, o racismo está arraigado no

imaginário social e atinge negros, brancos e outros grupos étnico-raciais

A luta pela plena cidadania e pelo combate ao racismo e às práticas de

discriminação racial não é um problema apenas da população negra, do afro-descendente

ou do Movimento Negro. Essa luta é de todos os que defendem o respeito à diversidade

étnico-racial, social e econômica e combatem a desigualdade ou exclusão social.

21

Na busca pela formação de uma população brasileira que reconheça a identidade

cultural do “outro” e perceba que essa pode ser parte do seu “eu”, é necessário que o

professor e a professora, além de terem conhecimentos sobre as diversas culturas

formadoras da nação, estejam comprometidos politicamente com a luta contra a

discriminação dentro do espaço escolar. O grande desafio é como provocar nos docentes a

vontade, a curiosidade por novos conhecimentos? O que fazer para que os

professores/professoras e os alunos/alunas compreendam que instituir práticas curriculares

que incentivem a alteridade é caminho para construir uma educação menos excludente?

Enfim, ainda há um longo caminho para que o professorado, como categoria,

compreenda a importância da sua prática e da ingenuidade de acreditar na neutralidade do

seu trabalho, de suas ações e de sua postura. Além de inserir novos conteúdos no currículo

escolar, para efetivação da Lei 10.639/2003, é imprescindível questionar e muitas vezes

desconstruir os conhecimentos sociais já instituídos nos currículos.

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