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Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 1 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 O DEFICIENTE VISUAL E AS BARREIRAS CONSTRUÍDAS PELA FALTA DE ACESSIBILIDADE, INFORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL BERTI, Paula Hosana de Souza¹ SILVA, Fabiana Pinheiro da² RESUMO Este artigo trará informações respeito da deficiência visual, dos desafios impostos pela sociedade àqueles que não possuem o sentido da visão e como a escola está se posicionando em relação à inclusão do deficiente visual, para que seja possível haver um ensino realmente significativo e de qualidade. Os professores são capacitados para trabalharem com esse alunado específico? A escola está preparada para recebê-los? A sociedade por sua vez, enxerga essas pessoas com deficiência? Esses são alguns ques- tionamentos que necessitam ser respondidos para que de fato se caminhe para a inclusão. PALAVRAS-CHAVE Acessibilidade. Escola. Inclusão. 1 Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia, pela Faculdade Castelo Bran- co. ²Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia, pela Faculdade Castelo Bran- co.

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Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255

O DEFICIENTE VISUAL E AS BARREIRAS CONSTRUÍDAS PELA FALTA DE ACESSIBILIDADE, INFORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL

BERTI, Paula Hosana de Souza¹SILVA, Fabiana Pinheiro da²

RESUMO

Este artigo trará informações respeito da defi ciência visual, dos desafi os impostos pela sociedade àqueles que não possuem o sentido da visão e como a escola está se posicionando em relação à inclusão do defi ciente visual, para que seja possível haver um ensino realmente signifi cativo e de qualidade. Os professores são capacitados para trabalharem com esse alunado específi co? A escola está preparada para recebê-los? A sociedade por sua vez, enxerga essas pessoas com defi ciência? Esses são alguns ques-tionamentos que necessitam ser respondidos para que de fato se caminhe para a inclusão.

PALAVRAS-CHAVEAcessibilidade. Escola. Inclusão.

1Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia, pela Faculdade Castelo Bran-co.²Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia, pela Faculdade Castelo Bran-co.

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INTRODUÇÃO

O corpo humano funciona como uma máquina, que executa inúmeras fun-ções em frações de segundos. Os órgãos dos sentidos, que são denominados tato, olfato, visão e paladar, nos ajudam a perceber e compreender aquilo que está à nossa volta. Situações corriqueiras do nosso dia a dia são enten-didas facilmente graças ao perfeito funcionamento dos sentidos. Nossas percepções na maioria das vezes são visuais, as formas, cores, tamanhos, padrões de beleza, entre muitas outras coisas são determinados por aquilo que vemos. Inclusive, a memória fotográfi ca facilita nosso entendimento e aprendizado. O defi ciente visual, porém, não conta com o recurso da visão, e nos demais órgãos dos sentidos sua forma de enxergar o mundo.A defi ciência visual é defi nida como a perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da visão. O nível de acuidade visual pode variar, o que deter-mina dois grupos de defi ciência: o primeiro é classifi cado como cegueira, onde há perda total da visão ou pouquíssima capacidade de enxergar, o que leva a pessoa a necessitar do Sistema Braille como meio de leitura e escrita. O segundo é determinado baixa visão ou visão subnormal - este caracteriza-se pelo comprometimento do funcionamento visual dos olhos, mesmo após tratamento ou correção. As pessoas com baixa visão podem ler textos impressos ampliados ou com uso de recursos óticos especiais.Segundo dados do IBGE de 2010, no Brasil, mais de 6,5 milhões de pes-soas têm alguma defi ciência visual. Desse total, 528.624 pessoas são in-capazes de enxergar (cegos) e 6.056.654 pessoas possuem grande difi cul-dade permanente de enxergar (baixa visão ou visão subnormal). Do total da população brasileira, 23,9% (45,6 milhões de pessoas) declararam ter algum tipo de defi ciência. Entre as defi ciências declaradas, a mais comum foi a visual, atingindo 3,5% da população. Em seguida, fi caram problemas motores (2,3%), intelectuais (1,4%) e auditivos (1,1%).

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Segundo a Organização Mundial da Saúde, as principais causas de ceguei-ra no Brasil são catarata, glaucoma, retinopatia diabética, cegueira infantil e degeneração macular. Essas pessoas são em sua maioria de regiões pobres do país, onde os servi-ços de saúde também são precários. A falta de tratamento ou do controle de certas doenças tem sido a causa de perdas severas na visão.A Organização Mundial da Saúde aponta que, se houvesse um número maior de ações efetivas de prevenção e/ou tratamento, 80% dos casos de cegueira poderiam ser evitados. Ainda segundo a OMS cerca de 40 mi-lhões a 45 milhões de pessoas no mundo são cegas; os outros 135 milhões sofrem limitações severas de visão.Glaucoma, retinopatia diabética, atrofi a do nervo ótico, retinose pigmentar e de-generação macular relacionada à idade (DMRI) são as principais causas da ce-gueira na população adulta. Entre as crianças as principais causas são glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade e toxoplasmose ocular congênita.A cada 5 segundos 1 pessoa se torna cega no mundo. Do total de casos de cegueira, 90% ocorrem nos países emergentes e subdesenvolvidos. Até 2020 o número de defi cientes visuais poderá dobrar no mundo. Com trata-mento precoce, atendimento educacional adequado, programas e serviços especializados, a perda da visão não signifi ca o fi m de uma vida indepen-dente e produtiva.Informação é o caminho que conduz ao conhecimento. Portanto, através de informações a sociedade pode caminhar para a inclusão. O simples fato de saber como tratar o defi ciente visual contribui com o exercício de cida-dania, respeitando o próximo e garantindo que seus direitos sejam cumpri-dos. Por outro lado, a falta de informação e os pré-conceitos tornam a vida dessas pessoas bastante complicada.

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OS PRIMEIROS PASSOS: FAMÍLIA E ESCOLA

As crianças que nascem com perda total da visão, ou só enxergam focos de luz, precisam de acompanhamentos especializados, pois, como toda crian-ça em seus primeiros anos de vida, ela irá descobrir seu corpinho, irá se conhecer. Quando a criança entra nesse processo de desenvolvimento, é importante que os pais passem a ter um conhecimento, procurem estudar maneiras de estar trabalhando a estimulação precoce com a criança. Não deve ser restrito ao defi ciente qualquer tipo de experimentação ou contato que seja signifi cativo para seu aprendizado e conhecimento de mundo. “O desenvolvimento da orientação e mobilidade de pessoas com defi ciência visual ocorre como de qualquer indivíduo, desde o nascimento.(MACHA-DO, et al.,2003.p.68) Os pais devem estar conscientes que proteger não é limitar a criança, às vezes os pais acabam superprotegendo seus fi lhos, até mesmo pela falta de informação, o que pode acarretar futuramente uma falha na aprendizagem. Como preparar a criança cega para frequentar uma sala regular? As escolas regulares estão preparadas para aceitar e alfabetizar uma criança cega? Os profi ssionais são capacitados? São questões que, a longo prazo, fazem a diferença na vida de uma criança cega, pois pouco adiantaria matricular a criança na escola regular e deixá-la inerte às atividades na sala, pois infe-lizmente é isso que ainda acontece em algumas escolas.De acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) por meio da Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, que garante que todas as crianças a partir de quatro anos devem estar matriculadas na escola re-gular, isso é um direito de toda criança. Se é obrigatório a criança estar na escola regular a partir da Educação Infantil, cada aluno especial deveria ter um profi ssional especializado para atuar juntamente com a professora no processo de ensino-aprendizagem desse aluno.

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Os múltiplos aspectos inter-relacionados nas proposições da inclu-são vão tirando a ingenuidade de que este é um processo fácil e que uma mudança signifi cativa nas possibilidades educacionais das pessoas com defi ciência já está se dando, como pode fazer crer o discurso ofi cial acompanhado das mudanças na legislação da edu-cação. (GÓES e LAPLANE, 2007, p.35)

Mas na verdade não é assim que acontece, o que realmente observamos na prática escolar é o professor regente e um estagiário (sendo que em muitos casos nem há essa presença auxiliar para o professor), que atende às neces-sidades da criança especial e ainda auxilia a professora com os demais alu-nos. E na maioria das vezes esse estagiário que se encontra com a criança especial está ali sem saber como lidar com o mesmo. Esse auxiliar chega à sala de aula também despreparado, ou seja, irá aprender com seu aluno na prática, o que no caso somarão dois profi ssionais não especializados, o que consequentemente acarretará numa falha na aprendizagem, o que muitas vezes passa despercebido aos olhos do professor, que para se defender coloca em questão a sala lotada.O profi ssional que trabalha com a criança defi ciente visual deve entender que a alfabetização é muito morosa, pois ela precisa de materiais concretos, tudo deve ser adaptado já que é por meio do toque que ela enxerga, deve ser feito todo o processo de pré- alfabetização, com muitos jogos, com os quais irá perceber o que está ao seu redor e elaborar suas concepções. Além disso, é necessário dominar conhecimentos específi cos que auxiliem o de-fi ciente em sal adaptação, como por exemplo, Orientação e Mobilidade que é de extrema importância para a locomoção segura e independente do defi ciente visual. Esta função de trabalhar habilidades e competências com o aluno não fi ca a cargo apenas do professor itinerante, mas do professor regular e também da família.

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A aprendizagem adquirida em seu meio em contato com diferentes objetos, mediante relações interpessoais, impulsiona o seu desenvol-vimento. É neste espaço que cabe ao adulto criar situações geradoras de conhecimentos, deve mediar, provocar situações que o defi ciente visual possa ter e vivenciar novas experiências, internalizá-las e cons-truir seus conhecimentos. ( MACHADO, et al., 2003. P.27)

O que se percebe é que querem usar a palavra inclusão dentro da escola, mas não dão subsídios para que ela ocorra em sentido amplo, não há devida assistência, espaços adequados que garantam a acessibilidade, nem profi s-sionais capacitados para estarem trabalhando em parceria com o professor da escola regular. Rosângela Machado (2009) diz que “a inclusão escolar leva em consideração a pluralidade das culturas, a complexidade das redes de interação humana”.Existem centros onde é feito um trabalho signifi cativo na vida da criança cega, é por meio da interação, da convivência com outras crianças que o desenvolvimento será proveitoso. E é nestes centros que a criança é pre-parada para estar na escola regular, pois os profi ssionais que estão atuando nesses espaços ensinam a criança a se adaptar ao mundo em que vive, mostrando por meio de experiências com o tato, olfato e paladar o que está ao seu redor, por meio de materiais concretos, de atividades lúdicas, brincadeiras, e através das interações com outras crianças. É um traba-lho muito signifi cativo para a criança com defi ciência visual (DV), não só para as crianças, mas também para os adultos que perderam a visão, e que necessitam do processo de reabilitação. Mas esses centros não dão conta de atender a demanda de crianças, jovens e adultos, devido à falta de profi ssionais especializados para esse atendimento, difi cultando assim o desenvolvimento desse público que necessita de atendimento educacional especializado. São poucos os centros que atendem e que possuem profi s-

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sionais capacitados para fazerem diferença na vida do defi ciente visual e ensiná-lo a interagir com a sociedade em que vive e “passar” por obstácu-los impostos a eles.

Um ponto de partida para a compreensão da aprendizagem é ter claro que todo aluno é capaz de aprender. Os alunos, no entanto, não têm o mesmo tempo de aprendizagem e traçam diferentes caminhos para aprender. Cabe ao professor disponibilizar o melhor do ensino e as mais variadas atividades, e cabe ao aluno a liberdade de esco-lher a tarefa que lhe interessa. O ensino democrático é aquele que considera as diferenças de opiniões, de interesses, de necessidades, de ideias e de escolhas. (MACHADO, 2009. p. 97e 98)

Chegando a escola regular, a criança segue sozinha, tendo que se adaptar às condições do ambiente. O professor acaba não sabendo como trabalhar com esse aluno cego, e se vê perdido e sem nenhuma preparação para trabalhar e adaptar o espaço e os materiais necessários para sua interação. Para que o aluno DV não se sinta excluído pelos coleguinhas, a professora deve apresentar o aluno aos demais, deve-se explicar aos alunos por meio de histórias infantis, de vídeos e até mesmo por meio de conversa, pois para a turma, será uma experiência nova e diferente. Os materiais devem ser adaptados, o aluno cego precisará de um auxílio para conhecer o espaço da escola, e isso chama atenção dos demais alunos, por isso o professor deve saber como apresentar o aluno cego, criar rodas de conversas sobre a circunstância, para que ambos não se sintam constrangidos. Essa intera-ção deve ocorrer naturalmente, sem expor nenhum aluno, de forma que as crianças não criem conceitos que separem uns dos outros devendo, por-tanto, ser trabalhados princípios éticos e morais desde muito cedo, como o respeito e a solidariedade por exemplo.

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O educador tem como uma de suas principais funções promover a inclusão dentro de sua sala de aula. Os princípios construídos no espaço dessa sala de aula refl etirão em ações futuras dentro de uma sociedade ainda exclusi-va. O ensino não é restrito nem deve ser elitista, é um direito de todos. Os tempos em que o ensino era restrito e diferente entre as classes sociais deve se extinguir de vez, e, enquanto educadores, devemos nos comprometer cada vez mais para um ensino de qualidade para todos.

Proclamamos que todas as crianças e jovens devem estar na esco-la e que a escola deve ensinar tudo a todos. Defendemos a escola preparada para atender bem, de acordo com as suas necessidades, a crianças e jovens surdos, cegos, defi cientes físicos e mentais. Que-remos os direitos garantidos para os empobrecidos, para os doentes, para os presos, para os velhos, para todos aqueles que, como um anão, foram chamados à luta com o gigante... São nossas aspirações. (GÓES e LAPLANE, 2007, p.112)

São nossas aspirações, aspirando igualdade. A educação necessita cada vez mais de profi ssionais envolvidos na causa, só que ainda mais do que isso, profi ssionais capacitados.O professor deve estar ciente que aquele aluno com DV é uma criança igual a todas dentro de suas limitações, sendo que a criança irá precisar de um profi ssional para dar suporte no seu desenvolvimento e garantir a sua acessibilidade, como atender as necessidades de locomoção, trabalhando a orientação e mobilidade no período de adaptação com a escola e seu espa-ço físico e também para construir os materiais necessários que serão utili-zados nas aulas. Nas disciplinas específi cas, especialmente em Educação Física, o professor deve trazer atividades em que todos possam participar e interagir com a aula.

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O conhecimento ocorre de dentro para fora, por meio de constru-ções internas, fruto de situações de aprendizagens vividas em seu meio cultural. Se a criança cega vive num meio em que ninguém lhe ensinou como praticar as ações de brincar, andar, comer sozinha e outras atividades, mesmo que suas condições físicas e biológi-cas possibilitem essas aprendizagens, difi cilmente conquistará essa independência. A criança só aprende se internaliza o processo em diferentes situações. Professores que desenvolvem atividades peda-gógicas, sem considerar a construção do conhecimento das crianças, inviabilizam sua autonomia, seu desenvolvimento. (MACHADO, et al., 2003 p.26)

O PROFESSOR E O ALUNO CEGO: AMBOS NA ESCURIDÃO Os professores das escolas regulares não recebem formação para trabalhar com crianças com necessidades educacionais especiais. O aluno é matricula-do na escola regular, a partir de então a escola deve estar preparada para re-ceber esse aluno, porém geralmente não é isso que ocorre. O professor deve procurar conhecer seu aluno, estudar meios e recursos didáticos para que seja possível contribuir de fato com a formação desse aluno. “Antes de abor-dar as aprendizagens, é importante compreender como o professor enfrenta a diversidade dos alunos na simples animação do grupo-classe e como dife-rencia a relação que mantém com cada aluno” (PERRENOUD, 2001. p. 29).O educador deve ter atitudes que incluem, é necessário primeiramente pes-quisar e conhecer a legislação que garante o direito à Educação das pessoas com defi ciência, sendo preciso assumir a postura de inclusão e não apenas acomodar-se ou deixar a responsabilidade da criança com defi ciência por conta de um auxiliar e esquecer que o aluno é seu. Deve-se trabalhar o res-peito pelo próximo, deixando claro que manifestações preconceituosas não

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são toleradas. Por mais que o professor possa sentir medo em decorrência do que é novo e desconhecido para ele, essa sensação não deve transpare-cer, pois o professor é referência para o aluno e não deve de forma alguma rejeitá-lo. Outra forma fundamental, é o educador se organizar para que quando necessário, seja possível dedicar um tempo para atender às neces-sidades educacionais específi cas do aluno com defi ciência.A inclusão só acontece quando o aluno está realmente inserido no espaço escolar, quando ele participa e está caminhando para o processo de alfa-betização, que em alguns casos é lenta, em outras é rápida, o que não os diferencia de nenhuma outra criança, basta o professor ter força de vonta-de, incentivar e motivar seu aluno, pois sem motivação e um bom trabalho realizado pelo professor difi cilmente o aluno se desenvolve e caminha de forma produtiva. “Na perspectiva inclusiva e de uma escola de qualidade, os professores não podem duvidar das possibilidades de aprendizagem dos alunos com defi ciência e nem prever o quanto esses alunos irão aprender”. (MACHADO, 2009. p. 98)A capacitação acontece para aqueles profi ssionais que atuam nas salas de recursos, em centros especializados, porém os professores das escolas re-gulares são pegos muitas vezes de surpresa, sabem que a qualquer mo-mento pode chegar um aluno especial em sua sala e isso causa medo e insegurança, o que é comum, já que nós seres humanos temos a tendência de temer o desconhecido. Os professores não se sentem preparados, o que poderia ser evitado se houvesse ao menos informação e formação necessá-rias. Ouvimos falar em inclusão, mas não basta incluir o aluno cego numa sala de aula com alunos videntes para que se faça cumprir a palavra no sentido literal, é preciso dar suporte para que essa relação seja possível e não imposta.

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Não adianta, contudo, admitir o acesso de todos às escolas, sem ga-rantir o prosseguimento da escolaridade até o nível que cada aluno for capaz de atingir. Ao contrário do que alguns ainda pensam, não há inclusão, quando a inserção de um aluno é condicionada à matrí-cula em uma escola ou classe especial. (MANTOAN, 2003, p. 28)

Falar de inclusão é muito fácil, está muito bem redigido no papel, mas quando falamos da prática não vemos cumpridas aquelas linhas prescritas. Os professores além de não receberem uma formação adequada para aten-der o aluno com qualidade, muitas escolas não oferecem materiais, não oferecem recursos para que seja feito um trabalho que valorize a apren-dizagem. Nem todas as escolas têm sala de recurso para atender as neces-sidades do aluno e mais uma vez, aluno e professor fi cam desamparados.A inclusão dos alunos com cegueira, ou com baixa visão, nas escolas regu-lares é uma tarefa muito delicada, pois o professor será o ponto de referên-cia do aluno, passando a ele tudo o que há a sua volta por meio dos demais sentidos, tato, olfato, audição e paladar, estimulando a fala, o convívio social, estimulando as interações com o meio em que vive.

A linguagem amplia o desenvolvimento cognitivo porque favorece o relacionamento e proporciona os meios de controle do que está fora do alcance pela falta da visão. Trata-se de uma atividade com-plexa que engloba a comunicação e as representações, sendo um valioso instrumento de interação com o meio físico e social. O apri-moramento oral e a escrita manifestam nas habilidades de falar, ou-vir, ler e escrever. É tarefa do educador observar como os alunos se relacionam com seus colegas e com adultos e verifi car a qualidade da experiência comunicativa nas diversas situações de aprendiza-gem. (SÁ et al, 2007. p.21)

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Para trabalhar com um aluno cego o educador precisa esta ciente das ne-cessidades do aluno, estar ciente que o aluno precisa ser estimulado, tra-balhando os pontos fortes, para que ele consiga uma independência, dei-xando-o confi ante, trabalhando com sua autoestima. A aprendizagem, não acontece de um dia para outro, o tempo de uma criança cega é maior, pois a criança vidente está em contato visual com as informações, e o aluno cego não terá essa memória visual, tornando esse processo moroso. Isso não signifi ca que a criança cega não irá aprender, pelo contrário, ela tem a ca-pacidade de aprender e se desenvolver na mesma faixa etária das crianças videntes. O professor deve explorar de seu aluno a fala, a escrita braille, o uso do soroban, claro que antes o aluno deve passar pelo processo de alfa-betização, com materiais concretos, muitos jogos lúdicos para estimular o cognitivo do aluno. Com o tempo o professor irá percebendo as difi -culdades do aluno, as habilidades e assim trabalhar sempre para ajudá-lo, lembrando que os jogos, materiais concretos podem ser usados por todos os demais alunos, não só pelo aluno que é cego. “Não se pode aprender sem uma auto-estima elevada. Assim, é preciso convencer os alunos em di-fi culdade de que eles podem aprender, assim como valorizar todos os seus progressos, por menores que sejam” (PERRENOUD, 2001, p. 143). Outra coisa importante é considerar que cada aluno é diferente e tem suas neces-sidades educacionais e esse fato deve ser considerado para que os meios e recursos didáticos utilizados sejam realmente efi cazes e atendam às suas necessidades. Para o aluno de baixa visão o auxílio também é diferenciado e específi co para cada caso.

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As teorias contemporâneas sobre o desenvolvimento psicológico, notadamente as de Piaget e Vygotsky, ressalvam que é por meio da ação sobre o ambiente e da comunicação social que se alcança o domínio das habilidades mentais necessárias ao conhecimento da realidade. Por conseguinte, o desenvolvimento dessas habilidades precisa se ajustar às possibilidades de representação e ação que os canais sensoriais permitem. A movimentação no espaço físico, por exemplo, é muito afetada pela falta de visão e requer a utilização de canais alternativos para auxiliar as pessoas cegas nessa movimenta-ção. (LIMA, 2006, p. 91)

Por isso é importante que a criança desde cedo comece a frequentar insti-tuições especializadas ou salas de recursos que atendem o defi ciente visual, pois lá é feito um trabalho de interação em grupo onde o aluno convive com outras crianças com defi ciências semelhantes à sua, a criança é es-timulada ao convívio, e busca juntamente com sua família compreender que a cegueira não é um problema, mas uma realidade, a sua realidade, e é possível aprender a se adaptar, até mesmo com o processo de preparação para encarar uma escola regular.Pena que muitas crianças não têm condições de estar incluídas nessas ins-tituições especializadas de ensino, por falta de recursos, por não haver ne-nhuma delas em sua região, ou nem um profi ssional qualifi cado para rea-lizar esse atendimento. Enfi m, a criança chegará a escola crua, retardando ainda mais seu desenvolvimento.

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A criança cega muitas vezes chega á escola sem um “passado” de experiências como seus colegas que enxergam, não apresenta as ro-tinas da vida cotidiana de acordo com a sua idade, os seus conceitos básicos como esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal são quase inexistentes e sua mobilidade difícil o que pode-rá levar à baixa estima e difi cultará o seu ajustamento à situação es-colar, isto é, a sua inclusão de fato. (MACHADO, et al., 2003. P.25).

É lamentável a falta de profi ssionais preparados para atender as crianças com necessidades educacionais especiais, não apenas as cegas, mas todas aquelas que precisam de atendimentos, e que por um erro de uma socieda-de que se preocupa com as aparências e deixam muitas pessoas à sua mar-gem, esquecendo que muitos precisam de um olhar diferenciado e não de pena. É preciso oportunidade, e mais ainda, é necessário que a sociedade enxergue o ser humano com “humanidade” e sensibilidade. A FALTA DE ACESSIBILIDADE CONSTRÓI BARREIRAS

O Brasil possui legislação específi ca sobre acessibilidade. É o Decreto--lei nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, também conhecido como Lei de Acessibilidade. O documento estipula prazos e regulamenta o atendimento às necessidades específi cas de pessoas com defi ciência no que concerne a projetos de natureza arquitetônica e urbanística, de comunicação e infor-mação, de transporte coletivo, bem como a execução de qualquer tipo de obra com destinação pública ou coletiva.As difi culdades que os defi cientes visuais encontram em seu dia a dia po-dem estar num simples caminhar. Na maioria das cidades, dos bairros, das ruas, não existem calçadas apropriadas, sinalização acessível, estabeleci-mentos aptos a receberem um defi ciente visual, enfi m, isso acaba tornando

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uma ida até a padaria pela manhã um desafi o para o DV, já que seu direito de mobilidade é infringido.A Lei nº 10.098/2000, regulamentada pelo Decreto nº 5296/2004, garante o direito a todos os cidadãos ao livre acesso de ir e vir, sem nenhum tipo de difi culdade. Porém, é só abrirmos a porta de casa e olharmos para nossa própria rua para que fi que claro que ainda não é bem assim que acontece. A locomoção do defi ciente visual é uma tarefa muito difícil, pois não há calçadas táteis, o espaço físico não permite nem para um cadeirante, defi -ciente físico e idoso rampas de acesso que garantam sua acessibilidade a determinados locais. Vemos ainda comerciantes usando as calçadas para fazerem seus comércios o que acaba prejudicando ainda mais as pessoas que precisam passar por aquele local utilizando as calçadas. O cego utiliza a Orientação e a Mobilidade para se locomover, mais para isso é necessário que tais habilidades sejam bem desenvolvidas. A Orien-tação é a capacidade de perceber o ambiente, saber onde estamos. A Mo-bilidade é a capacidade de nos movimentar. A visão normalmente é o sen-tido que mais diretamente colabora para nossa Orientação e Mobilidade. A Orientação para o defi ciente visual é o aprendizado do uso dos sentidos “ tato, olfato, paladar” para obter informação do ambiente. A pessoa com DV pode se movimentar utilizando: guia - vidente; usando seu próprio corpo ( auto prote-ções); usando bengala longa; cão- guia; aparelhos tecnológicos (tecnologias).

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As pessoas percebem boa parte da realidade à sua volta por meio da visão, o que não signifi ca que as com defi ciência visual estejam impossibilitadas de conhecer e se relacionar com o mundo. Ela deve se utilizar de outras percepções sensoriais, como a audição que en-volve as funções de ecolocalização, localização dos sons, escutar seletivamente e sombra sonora; o sistema háptico ou tato ativo; a cinestesia; a memória muscular; o sentido vestibular ou labiríntico; o olfato e o aproveitamento máximo de qualquer grau de visão que possa ter. (MACHADO, et al., 2003. P.58).

Porém, mesmo utilizando recursos, sua Mobilidade fi ca comprometida, de-vido a tantos obstáculos postos em seu caminho. Quando andamos pelas ruas encontramos pessoas que não têm nenhum senso de solidariedade, pois fi ngem não ver quando um cego necessita de ajuda, até mesmo para atravessar a rua, ou mesmo os motoristas que não param para que as pessoas atravessem. A “cegueira social”, que têm a falta de solidariedade, sensibilidade e informação como seus principais sinto-mas ainda apresenta alto índice.

A ESCOLA FRENTE OS MUROS SOCIAIS

Partimos do princípio de uma sociedade que gira em torno do capitalismo, voltada para o processo de classifi cação e seleção, e consequentemente ao ato de exclusão. Uma vez que se separam pessoas por classe econômi-ca, etnia, religião e ainda por muitos outros pré-conceitos moldados pela sociedade alienada por parâmetros divulgados e incentivados pela mídia, acaba-se não dando o espaço necessário para que se cumpram os direitos de todos os cidadãos.

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Estamos incluídos nesta sociedade humana pelo princípio da identi-dade, mas podemos ser excluídos pelo princípio da diversidade. Aí reside a nossa contradição. Temos de discutir a inclusão, porque há uma sociedade excludente, que dicotomiza identidade e diversida-de. (LIMA, 2006, p. 20)

Ainda há muitos desafi os a serem vencidos no cotidiano escolar em relação ao defi ciente visual, a interação com o meio social em que vive e as bar-reiras impostas pela defi ciência. É necessário o empenho dos profi ssionais da educação e que estejam engajados em proporcionar uma educação de qualidade a todos, superando limites a cada dia.Muitas barreiras sociais ainda precisam ser vencidas para que a educação inclusiva alcance a proporção necessária para que as pessoas defi cientes possam viver com mais dignidade. Uma das amarras impostas no contexto social, é que as “diferenças” sempre foram tidas como um problema, tanto que a sociedade se habituou a excluir o que era visto como diferente. A escola é um lugar em que a heterogeneidade se faz presente, e além de se fazer necessário que o papel de educar seja cumprido, é preciso que desse espaço parta a inciativa da inclusão, para que as tantas “diferenças” ali presentes parem de ser vistas como um problema por uma sociedade que por muito tempo se alienou a não aceitação. Diversas são as realidades so-ciais, culturais, religiosas, de etnia ou defi ciência, e a escola deve englobar a tudo isso sem nenhuma discriminação para que a escola seja realmente para todos. Não há como separar educação de inclusão.

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A proposta de inclusão de todos como participantes da produção social, cultural e econômica enfatiza a igualdade concreta entre os sujeitos, com o reconhecimento das diferenças no aspecto físico, psicológico e cultural. A diversidade não se opõe à igualdade. A de-sigualdade socialmente construída é que se opõe à igualdade, pois supõe que uns valem menos do que os outros. O enfrentamento e a superação dessa contradição são tarefas cotidianas em uma proposta de Educação Inclusiva. (LIMA, 2006, p. 21)

A sociedade agora está começando a “enxergar” estas pessoas com ne-cessidades educacionais especiais que antes passavam despercebidas e a escola é de extrema importância para que isso ocorra de fato, mostrando que a educação é realmente de todos e para todos.É nesse contexto de mudança e adaptação social que o defi ciente visual se encontra. Estamos num período em que escola, família e sociedade vivem constantes transformações, em que se busca eliminar esses pré-conceitos que por tanto tempo estão impregnados em nosso meio. Mudam casas, ruas, ci-dades, paisagens, com o ato de construir e desconstruir, e é essa a maior mis-são designada à escola, formar cidadãos capazes de desconstruir barreiras sociais para que se construa uma sociedade mais justa e igualitária.A inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais na sala de ensino regular não é uma tarefa fácil. Há muitas barreiras para serem enfrentadas e os educadores devem estar preparados para “vestirem a ca-misa” da inclusão. É fato que nem todas as escolas, assim como nem todos os professores estão preparados e não se sentem seguros para atender esses alunos com defi ciência.

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É necessário reiterar como ponto de partida o estímulo a uma dispo-sição humanitária inicial do educador. Essa disposição inclui con-siderar o outro uma pessoa, sujeito e cidadão com direito à escola-rização e a viver plenamente. Essa formação é imprescindível. Ela não pode ser confundida com o assistencialismo e o messianismo, implícitos no impulso de “querer ajudar o outro”, muitas vezes, as-sociado à Educação Inclusiva. A visão assistencialista não concebe a relação com a pessoa com defi ciência como uma via de mão dupla, e sim como um “dar de si” ao outro, considerado menos capaz ou menos válido. Portanto, é essencial que os professores reconheçam sua própria importância no processo de inclusão, pois a eles cabe planejar e implementar intervenções pedagógicas que deem susten-tação para o desenvolvimento das crianças. (LIMA, 2006, p. 122)

É possível que esses desafi os sejam vencidos se houver o engajamento de profi ssionais comprometidos com a educação. Com o empenho e prepara-ção dos professores e demais profi ssionais todos os alunos têm a oportuni-dade de se desenvolver em uma educação de qualidade.A família tem papel fundamental, pois é a responsável em dar o primeiro passo para a inclusão. Buscando métodos, recursos, prestando assistência (inclusive para escola), fortalecendo esse elo e parceria entre escola e fa-mília. Assim, é possível que a criança tenha mais oportunidades de se de-senvolver integralmente e interagir numa sociedade que ainda não está pre-parada para incluir. Mas é educando hoje que transformaremos o amanhã.Infelizmente o que percebemos ainda são passos lentos a caminho da edu-cação inclusiva. Muitas escolas não são acessíveis, não há profi ssionais qualifi cados sufi cientes para atender nossas crianças, jovens e adultos que necessitam de atendimento educacional especializado. Muito é preciso avançar para garantir que todos possam exercer sua cidadania, viver numa sociedade em que a falta de informação não gere preconceito. A escola

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tem a função de formar cidadãos capazes de transformar a sociedade em que vivem, e a cidadania começa a partir do ato de respeitar o próximo. Os educadores devem ir além da simples tarefa de repassar informações e conteúdos, a sala de aula deve ser um espaço dinâmico, aberto a discussões e construção não só de conhecimento, mas também de valores.É mais que urgente a necessidade de profi ssionais que façam valer o pro-cesso de inclusão, garantindo uma educação que seja de qualidade e que seja acessível a todas as pessoas. Para que isso ocorra, os profi ssionais devem ter uma formação especializada, para garantir que os alunos com defi ciência ou défi cit de aprendizagem possam desenvolver suas habilida-des e estar aptos ao convívio social.Os obstáculos para alcançar uma escola que esteja acessível a todos são constantes, o que exige cada vez mais profi ssionais comprometidos com o processo de inclusão. Profi ssionais qualifi cados e espaços adaptados ga-rantem que a educação seja para todos. “Ser diferente é normal”, é preciso muito mais do que um slogan que aparentemente defenda a inclusão, é necessário que as pessoas entendam que, cada um percebe o mundo a sua maneira e isso engrandece as relações e a formação humana.

REFERÊNCIAS

GÓES, Maria Cecília Rafael de; LAPLANE, Adriana Lia Friszman de. Políticas e Práticas de Educação Inclusiva. 2. ed. Campinas. Autores asso-ciados, 2007.

LIMA, Priscila Augusta. Educação inclusiva e igualdade social. São Paulo: Avercamp, 2006.

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MACHADO, Edileine Vieira [et al]. Orientação e Mobilidade: Conheci-mentos básicos para a inclusão do defi ciênte visual. Brasília: MEC, SE-ESP, 2003

MACHADO, Rosângela. Educação Especial na Escola Inclusiva: Políti-cas, Paradigmas e Práticas. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2009. – (Escola In-clusiva, o desafi o das difrenças).

MANTOAN, Maria Teresa Égler. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.

PERRENOUD, Philippe. A pedagogia na escola das diferenças: fragmen-tos de uma sociologia do fracasso. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

SÁ, Elizabet Dias de; CAMPOS, Izilda Maria de; SILVA, Myriam Beatriz Campolina. Atendimento Educacional Especializado: Defi ciência Visual. SEESP / SEED / MEC. Brasília/DF – 2007.

Último acesso em 04/08/2013. www.fundacaodorina.org.br/defi ciencia--visual