O ECOTURISMO E O TURISMO DE NATUREZA

José Guerreiro

Conferência Internacional Turismo Sustentável Políticas, Práticas e Atores

INATEL, Lisboa 6 de dezembro de 2017

Turismo, turismo de massas e turismo sustentável: a Conferência Globe90’ no Canadá (Vancouver) com representantes dos governos,operadores, indústrias do Turismo e ONG’s. Aplicar os princípios dodesenvolvimento sustentável ao Turismo.

Primeiras abordagens e linhas orientadoras para o Turismo Sustentável Consciência do contributo do turismo para o ambiente e economia; Promover equidade e desenvolvimento; Promover a qualidade de vida da comunidade acolhedora; Proporcionar uma experiência de qualidade ao visitante; Manter a qualidade ambiental

A Conferência do Rio ’92 e as medidas práticas para implementar oTurismo Sustentável

A ORIGEM DO CONCEITO DE TURISMO SUSTENTÁVEL

A – Índices Simples1. Proteção do local de acordo com a IUCN2. Stress: número de visitantes, picos e épocas altas;3. Intensidade de uso: pessoas por unidade de superfície em pico;4. Impacto social: turistas/autóctenes;5. Controle do desenvolvimento: mecanismos de observação/controle;6. Gestão de resíduos: sistemas de gestão de RSU’s;7. Planeamento: existência de planos sectoriais e regionais;8. Ecossistemas e espécies ameaçadas;9. Índice de satisfação do consumidor/turista: (mecanismos de aferição)10. Índice de satisfação da população local,11. Contribuição do turismo para a economia local: direto e indireto;B - Índices Compostos1. Capacidade de carga: a relação entre a sensibilidade ecológica e a carga humana

e/ou de infraestruturas turísticas,2. Stress do local: análise compósita dos níveis de impacte no local;3. Atratividade: Análise qualitativa dos atributos do local suscetíveis de mudar com o

tempo (p. ex. paisagem)

OS INDICADORES DO TURISMO SUSTENTÁVEL

• 1995 (Lanzarote) A Conferência Mundial de Turismo Sustentável: Aadoção dos princípios da Agenda 21. A Carta para o TurismoSustentável e a sua adoção pela Assembleia Geral das Nações Unidas.A atenção às oportunidades e vulnerabilidades locais, a auscultaçãodos stakeholders, as análise de viabilidade, a avaliação de impactesambientais e os códigos de conduta.

• 1996 (Bali) A Declaração de Bali adotada pelo Forum da WTOdefende os mesmos princípios.

• 1997 (Malé) - A Declaração de Malé da reunião de Ministros deAmbiente e Turismo da Ásia-Pacífico assume os mesmos princípios.

• 1997 (Berlim) – A conferência Internacional de Ministros do Ambientee Turismo sobre a Biodiversidade também assume os mesmosprincípios.

• 1999 – A Assembleia Geral da WTO adota o Código Global de Éticapara o Turismo.

A ORIGEM DO CONCEITO DE TURISMO SUSTENTÁVEL

Turismo de Massas (3 S’s: Sea, Sun&Sand) Vs. Turismo Alternativo (TA/AT)

O TA como termo aglutinador do eco, soft, “green”, rural, de aldeia, natureza, etc.

Vantagens do TA (Dernoi, 1981):1. Retorno direto para as famílias do

acolhimento e aquisição de competências (ex. rural/aldeia);

2. Retorno direto para as comunidades e upgrading da própria habitação;

3. Contribui para impedir a fuga dos capitais resultantes do turismo no país;

4. Oferta complementar em países de turismoindustrial;

5. Potencia trocas diretas de experiências culturais a nível regional e internacional.

TURISMO DE MASSAS VS. TURISMO ALTERNATIVO

TURISMO DE MASSAS

TURISMO ALTERNATIVO

PRÁTICAS INSUSTENTÁVEIS

PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS

TURISMO SOCIOCULTURAL

ECOTURISMO

O ANO INTERNACIONAL DO ECOTURISMOA DECLARAÇÃO DO QUÉBEC DE 2002

• Recognize that ecotourism embraces the principles of sustainable tourism,concerning the economic, social and environmental impacts of tourism. Italso embraces the following specific principles which distinguish it fromthe wider concept of sustainable tourism:

· Contributes actively to the conservation of natural and cultural heritage,

· Includes local and indigenous communities in its planning, development andoperation, and contributing to their well-being,

· Interprets the natural and cultural heritage of the destination to visitors,

· Lends itself better to independent travellers, as well as to organized toursfor small size groups.

O CLUSTER TURISTICO ACE

AVENTURA, CULTURA, ECOTURISMO

ECOTURISMOTURISMOCULTURAL

TURISMOAVENTURA

O ECOTURISMO E O CLUSTER ACE

Uma das primeiras experiências: Governo Canadiano promoveu a partir de 1976, como apoio dos serviços florestais, “ecotours” centradas em redor da Autoestrada Trans-Canadiana. São dadas informações sobre tipos de paisagens, definidas ecozonas,sugeridos circuitos e definidos percursos sinalizados suportados por painéisinformativos.

A definição de 1990 da International Ecotourism Society (www.ecotourism.org).

Ecotourism is: "Responsible travel to natural areas that conserves the environment andimproves the well-being of local people." (TIES, 1990).Ecotourism is about uniting conservation, communities, and sustainable travel. Thismeans that those who implement and participate in ecotourism activities should followthe following ecotourism principles:

Minimize impact. Build environmental and cultural awareness and respect. Provide positive experiences for both visitors and hosts. Provide direct financial benefits for conservation. Provide financial benefits and empowerment for local people. Raise sensitivity to host countries' political, environmental, and social climate.

OS PRIMÓRDIOS DO ECOTURISMO

As diferentes definições de ecoturismoGoldwin (1996)Ecoturismo é uma forma de turismo de baixo impacto, contribuindo para a manutenção dasespécies e habitats, tanto de forma direta: através de contribuições, como indireta:proporcionando mais valias locais que acabam a reverter para a proteção do meio ambiente.

Fennell(2008)Ecoturismo é uma forma de turismo sustentável, não-invasiva, baseada no património naturalque se centra na aprendizagem direta do meio ambiente, sendo eticamente gerido para serde baixo impacto, de base local (controle, benefícios e escala). Ocorre preferencialmente emespaços naturais e contribui para a sua preservação.Weaver (2008)Ecoturismo é uma forma de turismo que potencia as experiências e aprendizagem do meioambiente natural, ou das suas componentes, associadas ao contexto cultural. È gerido deacordo com as melhores práticas da indústria para atingir a sustentabilidade económica esociocultural, bem como a viabilidade financeira.

A polémica da distinção entre Ecoturismo e Turismo de Natureza

Turismo de Natureza é uma forma de turismo focado essencialmente no patrimónionatural, em particular em parques e reservas naturais, áreas protegidas, reservas de vidaselvagem ou outros de espaços de proteção natural da fauna, flora e habitats.

ECOTURISMO E TURISMO DE NATUREZA

OS NÚMEROS DO NEGÓCIO DO ECOTURISMO

A WTO estima em 4% o volume total da share do ecoturismo no turismo global, com taxas de crescimento na última década de 20% e um volume de negócio 3 trilões de USD em 2010.

FONTE: IUCN. SUSTAINABLE TOURISM IN PROTECTED AREAS (2002)

Tipo de taxa Descrição

Taxa de entrada Permite o acesso a locais para além do portão de entrada.

Taxas de recreação Taxas para programas de lazer e serviços.

Taxas de utilização

Taxas para uso de instalações dentro de áreas protegidas;

Ex. estacionamento, campismo, centros de visitação, utilização de barco, uso de abrigo,

etc.

Taxas de concessãoEncargos ou partes de receitas pagas pelas concessionárias que prestam serviços aos

visitantes de áreas protegidas e unidades hoteleiras

Venda de merchandising Receitas provenientes da venda de produtos, artesanatos e lembranças.

Venda de alimentos Rendimentos provenientes de mercearias e restaurantes.

Alojamento Receitas provenientes do campismo e do alojamento operados pelo parque.

Licenças e autorizaçõesPara empresas privadas a operar na zona da área protegida;

Ex. operadores turísticos, guias e outros utilizadores.

Taxas Taxas de alojamento, taxas de aeroporto e taxas de veículos.

Taxas de locação e

arrendamentoEncargos de arrendamento ou de locação de zonas ou equipamentos do parque.

Donativos voluntáriosInclui dinheiro, qualquer presente “em género” e trabalho voluntário, muitas vezes

através de grupos de amigos do parque.

AS FONTES DE RECEITA DO TURISMO DE NATUREZA

FONTE: IUCN. SUSTAINABLE TOURISM IN PROTECTED AREAS (2002)

A primeira expedição estruturada à área de Yellowstonefoi protagonizada pela expedição de Folsom, em 1869.

Em 1 de Março de 1872, o presidente Ulysses S. Grantpromulgou a criação do Parque Nacional de Yellowstonenos estados de Wyoming, Montana e Idaho.

Old Faithfull Inn

Yellowstone Visitation Already Over One Million Mark For 2013As visitation enters the peak summer period, visitation toYellowstone National Park has already topped the million markfor the year. There were 744,056 recreational visitors toYellowstone in June and a total of 1,016,651 for the first sixmonths of 2013.http://www.yellowstonenationalpark.com/

A new National Park Service (NPS)report shows that 4.1 million visits toYellowstone National Park in 2015totaled $493.6 million in spending incommunities near the park. Thatspending supported 7,737 jobs in thelocal area and had a cumulativebenefit to the local economy of $638.6million.

The peer-reviewed visitor spendinganalysis was conducted by economistsCatherine Cullinane Thomas of the U.S.Geological Survey and Lynne Koontz ofthe National Park Service. The reportshows $16.9 billion of direct spendingby 307.2 million park visitors incommunities within 60 miles of anational park. This spending supported295,000 jobs nationally; 252,000 ofthose jobs are found in gatewaycommunities. The cumulative benefitto the U.S. economy was $32 billion.

https://www.nps.gov/yell/learn/news/16021.htm

A WTO estima em 4% o volume total da share do ecoturismo no turismo global com taxas de crescimento na última década de 20% e um volume de negócio 3 trilões de USD em 2010.

OS NÚMEROS DO NEGÓCIO DO ECOTURISMO

A procura de viagens internacionais de turismo de natureza representa 22 milhões de viagens de uma oumais noites de duração, i.e., 9% do total de viagens de lazer realizadas pelos europeus. As tendênciasapontam para um crescimento nos próximos anos a 7% / ano. A média de pernoita são 4 noites.

FONTE European Travel Monitor.

A MUDANÇA DE PARADIGMA NO FINANCIAMENTO DA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

Fonte: IUCN, 2006

http://www.teebweb.org/

In 2007, at a meeting held in Potsdam(Germany) the Environment Ministersof the G8 and five major developingcountries agreed to launch a global study of the economics of biodiversityloss. Subsequently endorsed by the G8 Heads of State, the resulting study ofThe Economics of Ecosystems andBiodiversity (TEEB) aims to assess thebenefits and costs of conservingbiodiversity and stemming the decline in ecosystems worldwide. Led by MrPavan Sukhdev, Managing Director andHead of Deutsche Bank’s Global Markets business in India, the study isexpected to have enormousconsequences for scientific research, policy and action. IUCN is activelyinvolved in the project, through theoffice of the Chief Economist.

A VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E ECOSSISTEMASO Projeto (TEEB) The Economics of Ecosystems and Biodiversity

O CASO DO TURISMO DE NATUREZA EM PORTUGAL

© J.Guerreiro,2013

O CASO DO TURISMO DE NATUREZA EM PORTUGAL

?

O CASO DO TURISMO DE NATUREZA EM PORTUGAL Resolução do Conselho de Ministros 112/98

Nos termos da alínea g) do artigo 199.o da Constituição,

o Conselho de Ministros resolveu:

1 — Criar o Programa Nacional de Turismode Natureza,

adiante designado por PNTN, aplicável na Rede

Nacional de Áreas Protegidas, visando a promoção e

afirmação dos valores e potencialidades que estesespaços

encerram, especializando uma actividade turística,

sob a denominação «turismo de natureza», e propiciando

a criação de produtos turísticos adequados.

2 — O turismo de natureza pressupõe a prática integrada

de actividades diversificadas, que vão desde o usufruto

da natureza através de um passeio à prática de

caminhadas, escalada, espeleologia, orientação, passeios

de bicicleta ou a cavalo, actividades aquáticas esubaquáticas,

entre outras, ao contacto com o ambiente rural

e culturas locais, através da sua gastronomia emanifestações

etnográficas, rotas temáticas, nomeadamente

históricas, arqueológicas e ou gastronómicas, e a estada

em casas tradicionais.

Considerando que as AP …carecem de umaadequada gestão e usufruto;Considerando a necessidade de conciliar apreservação dos valores naturais e culturais,com uma actividade turística a eles ajustada;Considerando que a consolidação da imagem dePortugal como um destino de qualidade,diferenciado e competitivo pode ser alcançadadesde que os recursos naturais sejampreservados e as políticas sectoriaisarticuladas..;Considerando que o turismo nas AP deve:Ser ecologicamente sustentável a longo prazo,deforma a assegurar a manutenção dos processosecológicos essenciais à biodiversidade;Ser cultural e socialmente sustentável…;Contribuir de maneira positiva para odesenvolvimento económico local,nomeadamente através da promoção deemprego, utilização dos produtos e valorizaçãodos saberes locais, visandorevitalizar as actividades ligadas às economiastradicionais…

PAÍS

EMISSOR

Sim, muito

adequado

+

Sim, o

suficiente

(%)

Sim, muito

adequado

(%)

Sim, o

suficiente

(%)

Um pouco

(%)

Não é

adequado

(%)

Itália 91,1 43,9 47,2 8,3 0,7

Espanha 83,4 36,9 36,9 14 2,7

França 74,6 26,3 48,3 20,7 4,7

Holanda 59,5 16,1 43,4 29,1 11,4

Alemanha 55,5 23,1 32,4 34,8 9,7

Reino Unido 26,4 5,5 20,9 45,7 28

Perceção de Portugal como destino adequado para Turismo de Natureza. Inquérito aos consumidores nos principais mercados europeus. Fonte: Turismo de Portugal (2006).

PORTUGAL É UM DESTINO DE TURISMO DE NATUREZA?

PARQUES DE

PORTUGAL S.A.?

Fonte: ThynkTur, 2006

O CASO DO TURISMO DE NATUREZA EM PORTUGAL

Fonte: ThynkTur, 2006

O CASO DO TURISMO DE NATUREZA EM PORTUGAL

REFLEXÃO SOBRE O MODELO DE

GESTÃO DA REDE NACIONAL DE

ÁREAS PROTEGIDAS(CNADS, JUNHO 2016)

Análise, constatações e recomendações

http://www.cnads.pt/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=54&Itemid=84

• O Programa Nacional de Turismo de Natureza, lançado em 1998,pressupunha uma série de mecanismos e de investimentos que, por um lado,permitiriam infraestruturar os Parques Naturais (portas de entrada, centrosde receção, interpretação, percursos, áreas turísticas definidas, alojamentotipificado, etc.) e, por outro, mecanismos de incentivos financeiros previstosno então Programa Operacional da Economia. Mais tarde, o próprio PlanoEstratégico Nacional para o Turismo (PENT II) vem a reconhecer o Turismo deNatureza como um dos 10 produtos estratégicos.

• O ICN lança em 2006 um estudo para inventariar as necessidades estruturaisem cada uma das AP, enquanto se criava a marca Parques de Portugal.

• A verdade é que nada saiu do papel em termos de estruturação e promoçãoprofissional de um produto como o Turismo de Natureza.

• A única atividade que se disseminou, e a jusante, foram as micro e, por vezes,nano empresas de animação turística: o registo de 2015 do Turismo dePortugal possui 523 empresas de Animação Turística certificadas paraTurismo de Natureza, estimando-se que tenham criado cerca de 1600 postosde trabalho diretos, se inferirmos a média de 2 a 3 postos de trabalhoefetivos por empresa.

• Acrescem algumas unidades de Turismo de Natureza, manifestamenteinsuficientes dado que são apenas 15 para todo o país, segundo registo ICNFde 2016.

• A restante parte estruturante da operação continua adiada por indefiniçãoe/ou inação política.

CONSTATAÇÕES

CONSTATAÇÕES

Fonte: ThynkTur, 2006

HIPERCLUSTER

PATRIMÓNIO NATURAL

RECURSOSENERGÉTICOS

AGRICULTURA, PECUÁRIA, FLORESTA E RECURSOS

CINEGÉTICOS

TURISMO DE NATUREZA

RECURSOSGENÉTICOS

DEFINIR E ESTRUTURAR O HIPERCLUSTER DO PATRIMÓNIO NATURAL

Áreas protegidas

Animação

Turística

Agentes turísticos

O mercado do Ecoturismo

Vestuário, provisões

Guias turísticos e revistas

Vestuário, provisões

Região de transição

Região de destino

Região de origem

Agências de viagem grossistas

Transporte

“Ecolodges”Operadores

turísticos locais

Guias turísticos e revistas

Componentes especializadas da indústria de ecoturismo

Outras componentes (não especializadas)

Pacote completo

Circuito FIT

Agências de viagem receptoras

Hotéis

Adaptado de David Weaver. 2008

O MODELO DO NEGÓCIOEcoturismo/Turismo de Natureza

RECOMENDAÇÕES

3. MODELO DE SUSTENTABILIDADE SOCIOECONÓMICA E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO NATURAL DE ÁREAS PROTEGIDAS

• Atribuir prioridade política ao Turismo de Natureza, um domínio mais maduro emtermos de conhecimento e de experiência, incluindo a constituição de uma equipa demissão com os parceiros institucionais necessários, definindo um calendário de açõesprioritárias.

• Seria útil uma eventual definição de áreas de desenvolvimento do turismo denatureza (ADTN) em sede dos instrumentos de ordenamento, particularmente nosPEOT, como foi reconhecido pelos participantes nas audições realizadas, por forma adelinear colaborativamente a tipologia e a localização das infraestruturas, incluindoas de alojamento, controlar as acessibilidades/acessos e regular os operadores.

• Desenvolver a promoção do empreendedorismo “natural” e do incentivo ao empregojovem nas atividades decorrentes do desenvolvimento do Hipercluster patrimónionatural.

© J.Guerreiro,2013

FIM

OBRIGADO!