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    DADOS DE COPYRIGHT

    obre a obra:

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    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando por dinheiro e

    poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

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    O MonismoErnest Haeckel (1834-1919)

    TraduoFonseca Cardoso

    Verso para eBook

    livrosdoexilado.org

    Fonte-base DigitalDigitalizao de edio em papel

    Livraria Chardon, Porto, 1908

    2012 Ernest Heinrich Haeckel

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    NDICE

    O AutorO Monismo

    Prefcio do AutorO Monismo

    Notas

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    O MONISMO

    porErnest Haeckel

    TRADUO DEFonseca Cardoso

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    O Autor

    ERNESTO HAECKEL

    HAECKEL nasceu em Potsdam no dia 16 de fevereiro de 1834. Quando num colgio deMersbourg, discpulo de Basedow, revelava as suas aspiraces de viagens largas e largas

    xploraes. Basedow o mestre come il faut. Estimula-lhe o amor pelas cincias naturais. Aamlia quer fazer de Heckel un mdico. Ser um medico, certo, mas, como medico, homemecundrio. De resto, j com Fritz Muller sucedera o mesmo. Ento, a certa altura, em 1854, eerlim, Haeckel resolve abandonar a carreira mdica. Seis anos depois, merc de um gentilferecimento do professor de anatomia comparada em Iena, G-genbaur, Haeckel comea ager a cadeira de zoologia, funo que no abandonou mais. Isto a vida do sbio. Quanto su

    bra, pouco podemos dizer, to escasso o espao concedido. A sua obra principal a Histriaa Criao dos seres organizados. Vm, a seguir, pela ordem da importncia cientifica, a

    ntropogeniae a Filogenia sistemtica. a que se condensa a sua teoria biolgica. Mas os seusabalhos mais conhecidos so os da vulgarizao cientfica, OsEnigmas do universoem que outor se prope resolver as questes principais e o mundo mental e m oral, oMonismo, Origem omem, Religio e EvoluoeAs Maravilhas da Vidaonde Haeckel continua o trabalho iniciad

    osEnigmas. Nestes ltimos trabalhos, Haeckel o propagandlsta tenaz do livre pensam ento, umos maiores combatentes dos erros e dos preconceitos doutrinrios da Religio catlica.

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    O Monismo

    Lao entre a re ligio e a cincia(PROFISSO DE F DE UM NATURALISTA)

    TRADUO DEFONSECA CARDOSO

    Prefcio do autor (1)

    A seguinte conferncia sobre o Monismo um simples discurso de circunstncia, que semprovisou em Altemburg, por ocasio do jubileu do 75. aniversrio da Naturforschencheesellschaft des Osterlandes. A causa direta deste improviso foi um discurso pronunciado nes

    erimnia pelo professor sr. Schlesinger, de Viena, sobre os artigos de f das cincias naturaisnaturwissenschaftliche Glaubenstze). Vrias proposies deste discurso filosfico tocavam nauestes mais importantes e elevadas do conhecimento da natureza pelo homem, sendondiscutveis umas e reclamando outras asseres uma resposta imediata com a exposio dasdias contrrias. Como eu me ocupo, h trinta anos, do estudo profundo deste problema delosofia natural e como expus em diversos escritos as minhas convices monistas, numerososembros me exprimiram o desejo de as ver resumidas nesta circunstncia solene. para

    orresponder a esse desejo que a presente Profisso de f de um naturalista foi feita.

    O seu contedo essencial, tal como a escrevi de memria no dia seguinte quele em que elaoi pronunciada, apareceu primeiram ente naAltenburger Zeitung. Uma reimpresso destarimeira com unio fez-se, acompanhada de alguns suplementos filosficos, naFreie Bhne fen Entwickelanskampf der Zeit, primeiro fascculo de novembro (Berlim, III, 11). Na presenteemria, o discurso de Altemburgo foi aumentado com proposies importantes, tendo-se dadais desenvolvimento a outras partes. Nas notas esclareci, no sentido monista, alguns problema

    e flagrante atualidade.O fim da minha sincera profisso de f monista duplo. Primeiramente desejaria dar uma

    dia da concepo racional do mundo, imposta como uma necessidade lgica pelos recentesrogressos do conhecimento unitrio da natureza. Sentem-na no fundo todos os naturalistasndependentes e que pensam, embora um pequeno nmero tenha somente a coragem ou aecessidade de a confessar. Em segundo lugar queria estabelecer por esse m otivo um lao entrreligio e a cincia e contribuir assim para o desaparecimento da oposio que to mal se

    stabeleceu nestes domnios superiores do pensamento humano. A necessidade moral do nossoentimento ser satisfeita pelo Monismo, como a necessidade lgica de causalidade do nossouzo.

    Esta aproximao natural da crena e da cincia, esta conciliao racional do sentimento e

    aciocnio, tornam-se cada vez mais uma exigncia instante nas esferas esclarecidas, como se

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    epreende da enorme quantidade de brochuras e de livros publicados sobre o assunto. Namrica do Norte, em Chicago, aparece publicidade, h j alguns anos, uma revistaebdomadria que tem por objetivo: The open Court, a weekly Journal devoted to the Work ofonciliating Religion with Science. O seu excelente editor, dr. Paulo Carus, autor da obra The Sof Man, publica alm disso uma outra revista trimestal intitulada: The Monist, a quarterlyagazine. Era para desejar que estas preciosas tentativas conciliadoras entre a considerao

    ositiva da natureza e a especulao, entre o realismo e o idealismo, tivessem melhor apreo s

    ossem mais animadas; porque somente pela sua unio natural que podemos atingir o fimupremo da nossa atividade intelectual, o fusionamento da religio e da cincia no Monismo.

    ERNESTO HAECKE

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    O MONISMO__________

    UMA sociedade que tem por fim a investigao da natureza e o conhecimento da verdade, node festejar m ais dignamente o seu Jubileu do que examinando os seus problemas gerais maimportantes. Devemos-nos felicitar que o orador,numa circunstncia to solene como o Jubios sessenta e cinco anos de existncia da nossa Sociedade dos Naturalistas, escolhesse para tema sua conferncia um assunto de altssima importncia geral. Tem-se abusado, emrcunstncias semelhantes e em particular nas sesses gerais da grande Reunio dos naturalistdos mdicos alem es, de tomar sem pre para assunto dos discursos uma limitada questo de

    specialidade, de interesse restrito. Ainda que esse hbito crescente se possa desculpar tambmelo aumento da diviso do trabalho e pela especializao divergente em todos os seus ramos,ever-se-ia no entanto, na ocasio destas festas, submeter antes ateno da assistncia assuntoais vastos e de um interesse mais geral.Um assunto desta importncia aquele que o sr. professor Schlesinger acaba de desenvolve

    om as suas idias pessoais: os princpios da f do homem de cincia (2). Regozijo-me em estae acordo com ele em numerosos pontos importantes, ainda que sobre outros eu tenha quepresentar algumas dvidas, expondo-vos vistas diferentes. Em primeiro lugar estou plenamente acordo com a sua concepo unitria da natureza inteira, que designamos com o nico nome Monismo. Exprimimos tambm, sem dvida alguma, a convico de que um esprito est eudo e que todo o mundo conhecido existe e se desenvolve por uma lei fundamental comum. Pso insistimos particularmente na unidade fundamental da natureza orgnica e inorgnica, cujatima comeou relativamente tarde a evolucionar da primeira (3). J se no pode traar ummite exato entre estes dois dominios principais da natureza, nem estabelecer uma distinobsoluta entre o re ino animal e o vegetal ou entre o mundo animal e o humano. Por conseqns consideramos tambm toda a cincia humana como um nico edifcio de conhecimentos,pelimos a distino habitual entre a cincia da natureza e a do esprito. A segunda no mais

    o que uma parte da primeira ou reciprocamente as duas no fazem mais do que uma. A nossaoncepo monista do universo pertence pois a esse grupo de sistemas filosficos que seesignam, sob um outro ponto de vista, com os nomes de mecanistas ou pantestas. Por maisferentemente que sejam expressas nos sistemas de um Empdocles e de um Lucrcio, de um

    pinoza ou de um Bruno, de um Lam arck ou de um Strauss, subsistem no entanto as idiasundamentais comuns da unidade csmica, da solidariedade inseparvel da fora e da substnco esprito e da m atria ou, como tambm se pode dizer, de Deus e do mundo. Ningum deueste conceito uma expresso mais potica do que o maior dos nossos poetas e pensadores,

    oethe, no seuFaustoe no seu maravilhoso poem aDeus e o Mundo.Permitam -nos, para exata apreciao do Monismo, que do alto das consideraes filosfico

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    stricas, lancemos primeiramente uma vista de conjunto sobre o desenvolvimento histrico donhecimento humano da natureza. Uma longa srie de perodos psquicos e de estdios devilizao do homem , desfila diante do nosso esprito. No degrau m ais baixo, o estdio grosseirodem os dizer animal do homem pr-histrico primitivo, esse antropopiteco que durante a porciria se elevou um poucochinho acima dos seus imediatos parentes pitecides, os

    ntropomorfos. Em seguida vem uma srie de estdios civilizadores do nvel mais baixo, damplicidade dos quais podemos fazer uma idia parcial, pelos selvagens mais grosseiros que

    nda hoje existem. Com estes selvagens confinam os povos menos civilizados e destes destacae uma longa srie de escales intermedirios que vai at aos povos mais civilizados.Destes ltimos, dentre as doze raas de homens, somente a mediterrnea e a mongolide

    oram as que fizeram o que ns chamam os impropriamente a histria universal, que, maisxatamente, conviria designar a histria das naes. O espao de tempo que esta compreendeom as tentativas de conhecimento cientfico, estende-se apenas por seis mil anos, um perodongularmente curto na longa srie de milhes de anos da histria do mundo orgnico terrestre.

    Tanto nos mais antigos homens primitivos ou antropopitecos como nos selvagens quemediatamente se lhes seguiram, no se nota ainda um conhecimento da natureza de que

    ossamos falar. O grosseiro selvagem primitivo em grau to inferior, no ainda o animal dasausas primeiras(Ursachenthier) de Lichtenberg; a sua necessidade de causalidade no se elevnda acima da dos smios e dos ces, a sua curiosidade no est a inda educada para a puraecessidade de saber. Queremos falar de razo a propsito do homem pitecide primitivo e s odem os fazer no mesmo sentido que nos mamferos de um desenvolvimento superior e assimmbm para os primeiros rudimentos da religio (4).Hoje tem-se freqentem ente o hbito de negar completamente a razo e a religiosidade aos

    nimais, quando pelo contrrio a comparao seguinte conduz a uma concluso oposta. O

    perfeioamento lento e incessante que a vida civilizada realizou na alma humana durante ourso dos sculos, no se cumpriu sem deixar tam bm vestgios na a lma dos nossos mamferosomsticos mais elevados, em particular no co e no cavalo. Em ntima comunidade de vidaom o homem e sob a influncia da sua dedicao, associaes de idias cada vez mais elevade desenvolveram tambm no seu crebro, assim como um discernimento mais perfeito. Odestramento tornou-se instinto, um exemplo irrefutvel da hereditariedade das qualidadesdquiridas (5).

    A psicologia comparada leva-nos a conhecer uma longussima srie de graus histricos noesenvolvimento da alma no reino animal. s nos vertebrados mais elevados, nas aves e nosamferos, que reconhecemos os primeiros lampejos da razo, os primeiros vestgios daslaes religiosas e morais. No encontramos neles apenas as virtudes sociais de todos os

    nimais superiores, vivendo em sociedade (amor do prximo, amizade, fidelidade, sacrifcio,c.), mas tam bm o conhecimento, o sentimento do dever e a conscincia e, com respeito aoomem, ser dominante, a mesma obedincia, a mesma submisso, a mesma necessidade de srotegidos que os selvagens manifestam para com os deuses. Tanto aos ltimos, como aosrimeiros, falta ainda esse grau superior do conhecimento e da razo, que tende a considerar oundo que o cerca e que representa o comeo da filosofia, da cincia do universo. essa uma

    rimeira conquista, muito posterior, dos povos civilizados; desenvolveu-se de um modo lento eontnuo com as esferas mais inferiores da concepo religiosa.

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    Neste degrau da religio primitiva e tam bm da filosofia primitiva, o homem est muito lona concepo monista. Quando pesquisa as causas primrias dos fenmenos e a aplica a suanteligncia, ele est sempre disposto a considerar seres pessoais e especialmente deusesemelhantes ao homem, como os fatores que os produzem. No trovo e no relm pago, nampestade e no tremor de terra, no movimento do sol e da lua, em qualquer mudanaeteorolgica ou geolgica notvel, ele v a m anifestao imediata de um deus pessoal ou de

    m gnio e imagina-os ordinariam ente mais ou menos antropomorfos ou semelhantes ao

    omem. Distinguir seres bons e maus, inimigos e amigos, conservadores e destruidores, o anjodiabo.Produz-se isto num mais alto grau quando a necessidade crescente de conhecer, afronta as

    anifestaes mais elevadas da vida orgnica, a form ao e a destruio das plantas e dosnimais, a vida e a morte do homem. A composio engenhosa e adaptada ao seu fim dorganismo vivo, conduz imediatamente a uma comparao com as obras da arte humanaonstrudas segundo um plano, e a idia indeterminada de um deus pessoal, converte-se na de ueus que constri aps um plano definido. notrio que esta concepo da criao orgnica,omo obra de arte de um deus antropomorfo, de um construtor divino, manteve-se, muito gera

    nda, at ao meado do nosso sculo, embora j durante dois mil anos, eminentes pensadores aemonstrassem como no sustentvel. O ultimo naturalista de nome que a sustentou eesenvolveu foi Luiz Agassiz, falecido em 1873. No seu notvelEnsaio sobre a classificao857) ele explicou amplamente esta teosofia em todas as suas conseqncias e por isso foi cai

    o absurdo (6).Todos os mais antigos sistem as religiosos e teleolgicos assim como os filosficos que deles

    ecorrem, por exemplo os de Plato, dos Padres da Igrej a, so antimonistas e esto em oposie princpio com a nossa filosofia monista da natureza. A maioria destes velhos sistemas so

    ualistas, pois que consideram Deus e o Mundo, o criador e a criao, o esprito e a matria,omo duas substncias inteiram ente separadas. Este dualismo evidente, encontra-se tambm naior parte das puras religies de Igrejas, em particular nessas trs principais formas doonetesmo que os trs profetas mais clebres do Oriente, Moiss, Cristo e Maom fundaram .o entanto em muitas seitas impuras destas trs principais religies mediterrnicas e mais aindas baixas form as de religio da antigidade, j se encontra, em vez desse dualismo, umuralismo religioso. Ao deus bom conservador (Osiris, Ormuzd, Vischn), se ope um deus mdestruidor (Tyfon, Ahriman, Siv). Numerosos semideuses ou santos, boas e maus, filhos elhas dos deuses, associam-se a estas duas divindades principais partilhando com elas administrao e o governo do Cosmos.

    Em todos esses sistem as dualistas e pluralistas de concepo do mundo, deve-se reconheceror idia fundamental mais importante o antropomorfismo, a humanizao de Deus. O prprioomem, como um ser semelhante a Deus ou derivando dele diretamente, toma um lugararticular no mundo e fica separado do resto da natureza por um abismo profundo. A m ais dasezes junta-se-lhe a idia antropocntrica, a convico de que o homem o ponto central doniverso, o ltimo e supremo fim da criao e que o resto da natureza se fez unicamente para

    ervir. Na idade mdia acrescentava-se ainda a esta ltima proposio a idia geocntrica,

    egundo a qual a terra, como residncia do homem, ocupava exatamente o ponto central dostema planetrio, girando o sol, a lua e as estrelas em torno da terra. Assim como Coprnico e

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    543 vibrou o golpe mortal no dogma geocntrico fundado sobre a Bblia, assim tambm Darwm 1859 destruiu o dogma antropocntrico intimamente conexo com o primeiro (7).

    Uma comparao geral, histrica e crtica dos diversos sistem as religiosos e filosficos domo resultado principal que a cada grande progresso no conhecimento profundo, correspondem afastamento do dualismo tradicional ou do pluralismo e uma aproximao do monismo.

    Quando a razo funciona impe-se-lhe sempre mais ntida a necessidade de no opor Deus undo material como um ser exterior, mas sim de o colocar no fundo do prprio Cosmos com

    ora divina ou esprito motor. Cada vez se torna para ns mais claro que todas essasanifestaes admirveis da natureza que nos cerca, orgnica e inorgnica, so produesferentes de uma nica e m esma fora primria, combinaes diferentes de uma nica eesma matria fundamental. Sempre m ais irresistvel se mostra para ns a noo de que a noma humana unicamente uma parte nfima dessa alma universal que engloba tudo, do mesmodo que o corpo humano apenas uma parcela individual do grande corpo organizado do

    niverso.Para servir de base exata e at em parte matemtica a esta concepo unitria da natureza,

    mos os materiais fornecidos pelas grandes descobertas gerais da fsica e da qumica tericas.

    epois que Roberto Mayer e Helmholtz estabeleceram a lei de conservao da energia,emonstrou-se que a energia no mundo constitui uma quantidade constante e imutvel; mesmouando uma fora parece diminuir ou desaparecer, isso no mais do que a transformao dema fora em outra. Tambm a lei de Lavoisier sobre a conservao da matria nos ensina qum atria do Cosmos representa uma quantidade constante e invarivel; assim quando um corparece desaparecer, por exem plo na combusto ou mostra-se como novo na cristalizao, tratae sempre e apenas de uma m udana de forma e de combinao. Estas duas grandes leis, a leiundamental fsica da conservao da fora e a lei fundamental qumica da conservao da

    atria, podemo-las reunir num conceito filosfico, a lei da conservao da substncia. Na nooncepo monista, com efeito, a fora e a matria so inseparveis e simples manifestaesferentes de uma mesma essncia universal, a substncia (8).

    Como parte fundamental e essencial desse monismo puro pode-se num certo sentido aceitaroria dos tomos animados, uma velha hiptese de que Empdocles, h mais de dois mil anos,eu a expresso na sua teoria do dio e do amor dos elementos. A nossa fsica e qumica daualidade aceitaram j de uma maneira geral a hiptese atmica primeiramente proposta poremcrito, pois que essas duas cincias consideram todos os corpos como constitudos de tomreferem todas as mudanas a deslocamentos de pequenas parcelas discretas. Todas essasudanas, quer na natureza orgnica, quer no mundo inorgnico, no nos parecem

    erdadeiramente compreensveis, se considerarmos os tomos no como pequenas massas deatria morta, mas sim como partculas elementares vivas, providas de foras de atrao e depulso. O prazer e o desprazer, o am or e o dio dos tomos no so m ais do que expressesferentes dessa fora atrativa e repulsiva. A fsica designa muito exatamente a sua energiantica com o nome defora viva, por oposio energia potencialfora de tenso.Ainda que o monismo nos aparea de um lado como uma proposio fundamental necessr

    a cincia na natureza e ainda que o monismo tenha que chegar a reduzir todos os fenmenos

    em exceo mecnica atmica, devemos, por outro lado, concordar que estamos, peloomento, completamente fora do estado de fazermos uma idia satisfatria da essncia prpr

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    os tomos e das suas relaes com o ter universal que enche o espao. A qumica, conseguiu muito tem po reduzir os diferentes corpos da natureza a combinaes com um nmerolativamente pequeno de elementos. Os progressos da qumica nestes ltimos tempos, tornarauito verossmeis esses elementos ou substncias fundamntais como formas diversas e

    omplexas, constitudas por nmeros variveis de tomos de uma substncia nica primitiva; e,o entanto, esses elementos ou substncias eram considerados como no podendo serecompostos. Contudo no nos ainda possvel formular uma concluso mais precisa sobre a

    atureza prpria desses tomos primitivos e sobre as suas propriedades elementares.Em vo uma srie dos mais sutis pensadores, tem-se fatigado at hoje em penetrar mais aundo nesse problema da filosofia natural e a determinar de perto a natureza do tomo e das su

    laes com o ter universal que preenche o espao. Esta proposio constantemente se vairnando mais fundada: que no existe espao vazio e que por toda a parte os tomos primitivos

    a matria pondervel ou da m assa pesante esto separadas pelo ter universal, homogneo espalhado no espao do universo. Este ter m uito sutil e levssimo, seno impondervel, produzom as suas ondulaes, todos os fenmenos da luz e do calor, da eletricidade e do magnetismoodem -no representar quer como uma substncia contnua, enchendo o intervalo entre os

    omos, quer como composto tambm de partculas discretas. preciso ento atribuir a essesomos do ter uma fora intrnseca de repulso, opondo-se com a fora de atrao inerente aomos de matria pondervel. pela atrao destes ltimos e pela repulso dos segundos que

    xplicaria, a seu turno, toda a mecnica da vida universal. Poder-se-ia tambm referir a aoo espao universal, no sentido do professor Schelessinge, s vibraes do ter universal.

    A fsica terica fez nestes ltimos tempos um progresso elem entar de grandssimamportncia que aproximou o conhecimento desse ter universal, colocando a questo da suaatureza, da sua estrutura, do seu movimento, na fronteira da filosofia natural monista. H pouc

    nos ainda, o ter csmico parecia maior parte dos homens de c incia uma substnciampondervel de que se no conhecia propriamente nada e que era admissvel provisoriamenteomo uma hiptese cujo socorro se no pode prescindir. Isto mudou completamente depois quenrique Herz (1888) nos esclareceu sobre a natureza da fora eltrica. Com as suas belas

    xperincias ele verificou a previso de Faraday , que a luz e o calor, a eletricidade e oagnetismo eram manifestaes de parentesco mui ntimo num s grupo de foras e resultava

    e vibraes transversais do ter. A prpria luz, de qualquer natureza que seja, sempre e porda a parte uma m anifestao eltrica. O prprio ter j no uma hiptese; a sua existnciaode-se manifestar a cada instante em experincias eltricas e ticas. Conhecemos a extensoas ondas luminosas e das ondas eltricas. Ainda mais; certos fsicos pensam poder avaliarproximadamente a densidade do ter. Quando por meio de uma mquina pneumtica extrame uma cam pnula de vidro a massa de ar a tmosfrico, com exceo de um leve resduo, auantidade de luz fica invariavelmente dentro e ns vemos ter em vibrao! (9)

    Estes progressos no conhecimento do ter constituem um ganho enorm e para a filosofiaonista. Com efeito, as proposies errneas sobre espao vazio e a ao dos corpos a distncicam eliminadas. O espao infinito do universo, ainda que os tomos pesantes, a matriaondervel, no o ocupem por completo, est cheio de ter. A nossa noo de tempo e de espa

    er muito diferente do que a ensinada h cem anos por Kant. O sistema crtico do grandelsofo de Knigsberg mostra nesta circunstncia, na explicao teleolgica do mundo

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    rganizado e na sua metafsica, uma fraqueza dogmtica que no devo admitir (10). Sim; a teoo ter tomada como base de f pode fornecer-nos uma forma racional de religio, se se opuso ter universal e mvel, divindade criadora, a massa inerte e pesada, matria da criao (11

    Mas ao nosso esprito de investigador, satisfeito por ter atingido felizmente esse fastgio doonhecimento monista, oferecem-se j novas prespectivas surpreendentes, que nos permitemproximar ainda m ais da soluo do nico grande enigma do mundo. Como se comporta esseer universal, leve, ativo, com relao massa pesada e inerte dessa matria pondervel que

    studamos quimicamente e que podemos supor constituda somente de tomos? A nossa qumicnaltica atual necessita de dar conta a inda de cerca de setenta m atrias indecomponveis ouementos. No entanto as relaes recprocas desses elementos, o seu parentesco por grupos, a

    uas propriedades espectroscpicas, etc., mui verossimilmente fazem com que eles todos sejamstoricamente simples produtos de evoluo, constitudos pelas disposies e as correlaesferentes de um nmero varivel de tomos primitivos.

    A esses tomos primitivos, massa de tomos, essas ltimas partculas discretas da matriaondervel inerte, podemos com maior ou menor verossimilhana a tribuir certo nmero deualidades fundamentais eternas e imutveis. Na verdade, por toda a parte do espao so as

    esmas em grandezas e propriedades. Ainda que em ltima anlise, apresentem uma grandezeterminada, esses tomos j no so mais divisveis em razo da sua prpria natureza. A suaorma perfeitamente esfrica; no sentido da fsica so inertes, invariveis, elsticos,mpenetrveis ao ter. Fora da sua imutabilidade, a principal propriedade desses tomosrimitivos a sua afinidade qumica, a sua tendncia a colocarem-se ao lado uns dos outros e anirem-se em pequenos grupos com formas determinadas por leis. Fixos nas condies a tuais dxistncia fsica da terra, esses grupos so os tomos elementares, os tomos indecomponveisonhecidos em qumica. As diferenas qualificativas dos nossos elementos qumicos, imutveis

    ara a nossa cincia empirica atual, so contudo devidas somente ao nmero e posioferente de tomos primitivos da mesma natureza, unidos entre si. Assim, por exemplo, o tom

    o carbono, esse verdadeiro criador do mundo orgnico! m uito verossimilmente um tetraedromposto de quatro tomos primitivos.

    Depois que Mendeleieff e Lothar Meyer em 1869 descobriram a lei da periodicidade dosementos qumicos e fundaram sobre ela o seu sistem a natural, esse precioso progresso da

    umica terica, foi de novo utilizado por Gustavo Wendt no sentido da teoria da evoluo.rocurava ele estabelecer que os diferentes elementos eram estados de desenvolvimento ouombinaes historicamente produzidas por seis elementos fundamentais, e que estes ltimosram por seu turno os produtos histricos de um nico elem ento primitivo. Crookes, na Gneseos elementos, dera j a esta substncia primitiva hipottica o nome de matria primitiva ouroty lo (12). A demonstrao experimental dessa substncia primitiva, que a base de toda aatria pondervel, no levar muito tempo. A sua descoberta satisfar por certo as esperana

    os alquimistas, de transmudar artificialmente em ouro e em prata, outros elementos. Mas aquncontra-se esta nova questo: como se estabelecem as relaes desta matria primitiva com oer? Essas duas substncias primitivas esto em antinomia essencial e eterna? Ou ento o terivo no tem precedido e criado a m atria pondervel.

    J se apresentaram vrias hipteses fsicas em resposta a esta grande questo fundamental.o entanto, at ao presente as diferentes hipteses atmicas da qumica, no se firmam em ba

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    atisfatrias e o mesmo me parece acontecer com a hiptese m uito sensata, de resto, que orador desenvolveu h um instante nesta reunio sobre a ao do espao universal. Como elerprio disse judiciosamente, em todas as tentativas de filosofia natural s se trata por agora dertigos de f cientficos, sobre o fundamento dos quais se podem ter as mais diferentes vistas,onsoante o raciocnio subjetivo e o grau de instruo de cada qual. Creio que a soluo desterande problema est ainda do outro lado dos limites do conhecimento da natureza e queevemos ainda, por muito tempo, contentarmo-nos com dizer ignoramusou mesmo ignorabimu

    Outro tanto no acontece, se lanarmos as nossas vistas sobre as relaes histricas davoluo universal, tal como nos foi revelada pelos grandes progressos realizados sobre oonhecimento da natureza nestes ltimos trinta anos. Um novo domnio se abriu inesperadamenara alm dos limites desse conhecimento, domnio que perm itiu resolver de um modourpreendente uma infinidade de problemas importantssimos, considerados dantes comosolveis (13).Acima de todas as outras conquistas do esprito humano, coloca-se a nossa moderna teoria d

    voluo. Pressentida j h mais de um sculo por Goethe, mas formulada maisatisfatoriam ente no comeo deste sculo por Lam arck, ela foi finalmente estabelecida por

    arlos Darwin h quarenta anos (14). A sua teoria da seleo preencheu a lacuna que Lamarceixara aberta na sua teoria da influncia recproca da hereditariedade e da adaptao. Sabemgora com certeza que o mundo orgnico se desenvolveu sobre a terra de uma maneira contnegundo leis de bronze eternas como as que Ly ell demonstrara desde 1830 para o globoorgnico. Sabemos que as diferentes espcies de animais e de plantas to inumerveis, que

    abitaram o nosso planeta no decorrer de milhes de anos, no so mais do que ramsculos dem tronco nico. Sabem os que o prprio gnero humano no representa mais do que um dosamsculos mais novos do ramo dos vertebrados.

    Uma srie ininterrupta de processos naturais evolutivos, desenvolvendo-se segundo leis fixasonduz agora o esprito do pensador atravs dos Eoes de um estado primitivo catico do univers ao nosso Cosmos atual. De princpio no tnhamos nada m ais no espao infinito do que o testico mvel, e inumerveis partculas discretas, homogneas, dispersas no seu seio, os tomorimitivos. Talvez estes sejam mesmo na origem os pontos de condensao da substnciabrante, cujo resto o ter representa. Quando os tomos primitivos ou os tomos de massa seuniram em grupos por nmeros determ inados, os nossos tomos elementares constituram-se

    onforme hiptese da nebulosa de Kant e de Laplace, as esferas girantes separam-se dessaebulosa primitiva em vibrao. O nosso sol apenas um desses milhares de globos e consigo oanetas que dele saram por efeito da fora centrfuga. A nossa insignificante terra tambm

    m simples planeta do nosso sistema solar, sendo toda a sua vida individual o produto da luz dool. Depois que o globo incandescente da terra a tingiu um certo grau de arrefecimento, a guaquida precepita-se em gotas sobre a crosta solidificada da sua superfcie, primeira condio dda orgnica. Os tomos de carbono comeam a sua ao prganognica e unem-se com osutros elementos em combinaes plsticas coagulveis. Um pequeno coalho de plasmatrapassa os limites e divide-se em duas metades sem elhantes. Com esta primeira monra

    omeam a vida orgnica e a sua funo prpria, a hereditariedade. No plasma da monra

    omognea isola-se um ncleo central mais denso entre uma m assa mais mole; por estaferenciao do ncleo e do protoplasma, a primeira clula orgnica forma-se. Por longo tem

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    is protistas ou seres primitivos unicelulares habitaro sozinhos o nosso planeta. Os histionesferiores, plantas e animais pluricelulares, s se produziro mais tarde pela evoluo dos

    enbiosou unies sociais.Sob a direo firme e certa das trs grandes cincias experimentais das origens, a

    aleontologia, a anatomia comparada, a ontogenia e a filogenia levam-nos passo a passo desdeais antigos metazorios, desde os animais pluricelulares mais simples at ao homem. Na raizais baixa da arvore genealgica comum dos metazorios, encontram-se os gastraedos e os

    spongirios; o seu corpo inteiro, no caso mais simples consiste apenas numa bolsa gstricarredondada, cujas paredes espessas apresentam duas cam adas de clulas, os dois folculosastodrmicos primitivos. Um estado blastodrmico correspondente, a gstrula com dois

    olculos, encontra-se transitoriamente na embriogenia de todos os outros metazorios, desde osadiados e os vermes at ao homem. Do tronco comum dos helmintos ou dos vermes inferioreesenvolvem-se, como divises principais e independentes, os quatro ramos separados dosoluscos, dos zofitos, dos articulados e dos vertebrados. Estes ltimos concordam com o

    omem em todas as particularidades essenciais da m orfologia e da embriologia. Um a longa se vertebrados aquticos inferiores (amphioxus, lampreias, peixes) precede os anfbios

    ulmonados; estes aparecem pela primeira vez no carbonfero. A seguir aos anfbios vm, noerodo perm ico, os primeiros am niotos, os reptis mais antigos. Destes saem, mais tarde, napoca trisica, as aves por um lado e os mam feros pelo outro.

    Sabe-se que o homem pela sua estrutura inteira um verdadeiro mam fero, desde o primeiomento em que o compreenderam na unidade natural desta classe superior de animais. A mamples comparao deveria convencer o observador, sem idia preconcebida, do prximoarentesco de form a entre o homem e os macacos, os mais anlogos entre os mam feros. Anatomia comparada, penetrando com mais profundeza, verificou que todas as diferenas

    orfolgicas do homem e dos antropides (gorila, chimpanz, orango) so menos importantes ue as diferenas correspondentes entre estes antropides e os outros macacos. A importncialognica desta proposio de Huxley salta aos olhos. A questo magna da origem do gneroumano ou do lugar que o homem ocupa na natureza, a questo das questes, recebeu agora aua resposta cientfica: o homem descende em linha direta de mam feros pitecides. Antropogenia desvenda a longa cadeia dos vertebrados ancestrais que precederam oesenvolvimento tardio deste rebento, o mais elevadamente evolucionado (15).

    A importncia incalculvel da luz que esta concluso da teoria da descendncia lanou sobromnio inteiro da histria natural do homem, evidente a todos. Cada ano ela estender a suanfluncia transformadora sobre todos os ramos da cincia, m edida que a crena na suaerdade inabalvel fizer o seu caminho. Hoje, somente os ignorantes e os espritos acanhadosodero duvidar ainda que ela sej a verdadeira. Embora de quando em quando um velhoaturalista possa ainda negar os seus fundamentos ou lastimar-se da falta de provas, como se dom um clebre patologista alemo do Congresso antropolgico de Moscou, o fato demonstraomente que os progressos admirveis da biologia contempornea e, sobretudo, da antropogenie so estranhos. Toda a literatura moderna da biologia, toda a nossa zoologia, a nossa botnicanossa morfologia, a nossa fisiologia, a nossa antropologia de agora, se penetraram da teoria d

    escendncia e foram por ela fecundadas (16).Assim como a teoria natural da evoluo, sobre a base monista, esclarecendo e iluminando

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    do o domnio dos fenmenos naturais fsicos, ela faz o mesmo no campo da vida psquica,rnando inseparveis essas duas espcies de fenmenos. O nosso corpo humano formou-se lengradualmente atravs de uma longa srie de vertebrados ancestrais; e o mesmo aconteceu conossa alma que, sendo uma funo do nosso crebro, se desenvolveu gradativatnente em

    orrelao com este rgo. O que chamamos simplesmente alma humana, no mais do que oma das nossas sensaes, das nossas vontades e dos nossos pensamentos, o conjunto dasunes psicolgicas, cujas clulas ganglionares m icroscpicas do nosso crebro representam

    rgos elementares. Como que a admirvel estrutura deste ltimo, do pensar humano, seesenvolveu, no decorrer de milhes de anos, acima das formas cerebrais dos vertebradosnferiores e superiores, o que nos mostram a anatomia comparada e a ontogenia. Como quem correlao com ele, a prpria alma, funo cerebral, se desenvolveu, o que nos diz asicologia comparada. Esta ltima c incia mostra-nos tam bm como uma forma inferior deividade psquica, se encontra j nos animais mais inferiores, nos protistas unicelulares, nosfusrios e nos rizpodes. Qualquer naturalista que, como eu, tiver observado durante longos

    nos a atividade psquica dos protistas unicelulares, convencer-se- seguramente de que elesmbm possuem uma alma. Esta alma celular , tambm, constituda por uma soma de

    ensaes, de idias e de atos de vontade; as sensaes, o pensam ento e a vontade da nossa almumana, no so mais do que o desenvolvimento daquelas. Da mesma maneira se encontrambm uma alma celular hereditria, como energia potncial, no ovo, do qual o homem, com

    s outros animais, evoluciona (17).O primeiro dever da psicologia verdadeiram ente cientfica no ser pois, como at aqui, a

    speculao ociosa sobre a natureza da alma imaterial e distinta e a sua duvidosa uniomporria com o corpo animal, mas antes a pesquisa comparativa dos rgos da alma e a pro

    xperimental das suas funes psquicas. A psicologia cientfica , com efeito, uma parte da

    siologia, a teoria das funes ou da atividade vital dos organismos. Assim com o a fisiologia e atologia nova, a psicologia e a psiquiatria do futuro devem -se fazer celulares , em primeiranha, investigar as funes psquicas das clulas. Que importantes concluses nos trar uma talsicologia celular desde os graus mais inferiores da vida orgnica nos protistas unicelulares,specialmente nos rizpodos e nos infusrios, Max Verworn mostrou-o recentemente nos seuselosEstudos psico-fisiolgicos nos Protistas.

    As mesmas categorias principais de atividade psquica que encontramos j no organismonicelular, os fenmenos de irritabilidade, de sensibilidade e de motibilidade, verificam-sembm em todos os organismos pluricelulares como funo das clulas que compem o seu

    orpo. Nos metazorios mais inferiores, os invertebrados das classes dos espongirios e doslipos, no existe a inda, como nas plantas, nenhum rgo da alma particular e todas as clulaso corpo participam mais ou menos na vida psquica. S nos animais superiores, esta funoarece localizada e ligada a um rgo particular. Em conseqncia da diviso do trabalho,versos rgos sensitivos se especializaram neles como instrumentos de sensao, os msculos

    omo rgos do movimento voluntrio, os centros nervosos ou gnglios como rgosentralizadores e reguladores. Nos mais desenvolvidos ramos do reino animal, estes centrosrnam -se cada vez com mais evidncia, os rgos especiais da alma. Em razo da estrutura

    xtraordinariamente desenvolvida do seu sistem a nervoso central, no crebro com o seu tecidorodigioso de clulas ganglionrias e de fibras nervosas, a sua atividade mltipla a tinge tambm

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    m grau de grandeza digna de admirao. neste grupo, o mais desenvolvido do reino animal, que verificam os esta funo a mais

    erfeita do sistema nervoso central, que apelidamos de conscincia. Sabe-se que a t aqui estauno, a mais nobre do crebro, ainda muitas vezes apresentada como um fenmenoompletamente misterioso e como a melhor prova da existncia imaterial de uma alma imortaobre este ponto, recorreu-se de ordinrio ao clebre Ignorabimusdo fisiologista berlins, Duois-Raymond, no seu discurso acerca dos limites do conhecimento da natureza (1872). Foi um

    erdadeira ironia do destino que o clebre reitor da Academia das Cincias de Berlim, nessescurso to debatido, tivesse h uns vinte anos, mostrado a conscincia como uma maravilhanconcebivel e um obstculo insupervel do conhecimento, justam ente no momento em que orande telogo do nosso sculo, David Frederico Strauss, demonstrava precisamente o contrrisagaz autor daAntiga e nova F, reconhecera, j claram ente, que toda a atividade psquica d

    omem e m esmo a sua conscincia, derivam de uma mesma origem, como funes do sistemervoso central, e devem, sob o ponto de vista monista, ser submetidos ao mesmo raciocnio. Eoo ficava impenetrvel ao exatofisiologista de Berlim e, com uma miopia intelectual,ncompreensvel, ele colocava esta questo neurolgica especial, ao lado do grande enigma d

    niverso da questo fundamental da substncia, a questo geral da matria e da fora (18).Como j h muito tempo mostrei, estas duas questes magnas no so dois diferentes

    enigmas do universo. O problema neurolgico da conscincia apenas um caso particular droblema cosmolgico que com preende tudo, a questo da substncia. Se tivssemos conseguidessncia da m atria e da fora, teramos compreendido tambm como a substncia que ossosubstratum, pode, em dadas circunstncias, sentir, desejar e pensar. A conscincia daesma maneira que a sensao e a vontade dos animais superiores, um trabalho mecnico das

    lulas ganglionares, e, como tal, concentra-se num processos fsico e qumico, dentro do seu

    asma. Alm disso chegamos, pela aplicao dos mtodos genticos e comparados, conclusue tanto a conscincia como a razo, no so funes cerebrais exclusivam ente prprias aoomem. Muito pelo contrrio, esta encontra-se tambm em muitos animais superiores, no sertebrados como articulados. somente de uma m aneira qualitativa, por um grau mais elevae evoluo, que a conscincia do homem difere da dos animais mais perfeitos e o mesmocontece com todas as outras form as da atividade psquica do homem.

    Com estes resultados e com outros da fisiologia comparada, toda a nossa psicologia serstabelecida sobre uma nova base, segura, m onista. Assim, destruir-se- essa velha idia mstica alma que ainda hoje se v nos povos das primeiras civilizaes e nos sistemas dos filsofosualistas. Segundo essa idia, a alma do homem (e dos animais superiores?) seria uma essnciaarticular que habita no corpo e governa-o somente durante a sua vida individual, mas que obandona no ato da morte. Esta teoria do piano to espalhada, compara a alma imortal a umanista que toca no instrumento do corpo mortal, um trecho musical interessante, a vida

    ndividual, e que na morte volta para o outro mundo. Esta alma imortal -nos dada comoualquer coisa de imaterial, porm que de fato, nos representada completamente material,omo qualquer coisa de sutil, de invisvel, area ou gasosa, semelhante substncia ativa do textrem amente leve e tnue, como o admite a fsica atual. O mesmo sucede com a m aioria dos

    elvagens grosseiros e das classes incultas dos povos civilizados que desde sculos representam ma sob a forma de espritos ou de deuses. Se formos ao fundo das coisas encontra-se a, com

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    os espritos dos espiritistas m odernos, no uma coisa verdadeiramente imaterial, mas um corpasoso e invisvel. Em geral somos incapazes de fazer representar exatamente uma substncia

    material. Como Goethe j c laramente o reconhecera, a m atria no pode existir nem obrar seesprito, nem este sem a matria.No que diz respeito imortalidade, esta concepo importante sofreu notoriamente

    nterpretaes e m odificaes diversas. Ope-se freqentemente ao nosso monismo que, dizemega em absoluto a imortalidade; e no entanto isso no verdadeiro. Bem pelo contrrio,

    onsideramo-la no sentido estrtamente cientfico, como uma concepo fundam ental da nossalosofia monista da natureza. A imortalidade, no sentido cientfico, a conservao daubstncia, isto , o que se define em fsica por conservao da m atria. O universo no seuonjunto imortal. possvel que a mais pequena parcela de m atria ou de fora, nuncaorresse no universo; tambm provvel que o mesmo possa suceder aos tomos do nosso

    rebro ou s foras do nosso esprito. Quando nos sobrevm a m orte, somente desaparece aorma individual, sob a qual se mostrava a substncia nervosa e a alma pessoal que representavseu trabalho. As complicadas combinaes qumicas da massa nervosa decompem-se e do

    ugar a outras combinaes, e as foras vivas, produzidas por elas, transformam-se em outros

    odos de movimento.

    O grande Csar, morto, tornou-se em lodo,Tapa hoje um buraco contra o vento Norte.A argila que outrora espantou o mundo inteiro,Protege um muro contra o vento e a chuva.

    Pelo contrrio a idia de uma imortalidade pessoal completamente insustentavel. Omanter-se ainda hoje essa idia, de uma maneira geral, explica-o a lei fsica da inrcia,porque a fora da inrcia exerce tanto a sua ao sobre as clulas ganglionares do crebro,como sobre os outros corpos da natureza. Idias de origem muito antiga, transmitidas porhereditariedade durante numerosas geraes, conservar-se-o com a maior tenacidade nocrebro humano, sobretudo quando elas forem desde a infncia impressas no esprito dacriana como dogmas irrefutveis. Tais crenas hereditrias, enrazam -se tanto maissolidariamente quanto mais se conservam afastadas do conhecimento racional do universo,e quanto mais se envolvem no manto misterioso da fico mitolgica. No dogma da

    imortalidade individual intervm ainda o interesse suposto que o homem julga ter na suapresistncia individual aps a morte e a esperana desculpvel de ver que lhe reservam numoutro mundo bem-aventurado, uma compensao para as desesperanas e as mltiplasmisrias da vida terrestre. Por parte dos numerosos aderentes da imortalidade pessoal, sustentou-se muitas vezes,erradamente, que este dogma era uma idia comum, inata em todos os homens queraciocinam e ensinado pelas mais perfeitas religies. Isto no exato. Nem o budismo,nem a religio de Moiss, sustentavam na sua origem o dogma da imortalidade pessoal, e a

    maior parte dos homens instrudos da antigidade clssica tampouco criam nela e emparticular, na poca mais bela da Grcia. A filosofia m onista desse tem po que j , 500 anos

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    de Cristo, se elevara a uma altura to admirvel de especulao, no conhecia esse dogma. primeiramente por Plato e por Cristo que ele se desenvolveu em toda a sua extenso eatingiu, durante a idade mdia, um tal desenvolvimento que raramente um pensador ousadose arriscava a contraditar. A pretenso de que a crena da imortalidade pessoal influi de ummodo particular sobre a natureza moral do homem, enobrecendo-o, no est verificada pelasinistra histria da idade mdia, nem tampouco pela psicologia dos povos selvagens (19). Ainda hoje uma velha escola de psicologia puramente especulativa sustenta, sem razo,

    esse dogma irracional, de um anacronismo lamentvel e que h sessenta anos ainda sepoderia desculpar. Com efeito, nesse tempo no se conhecia bem a fina estrutura docrebro, nem a funo fisiolgica das suas diversas partes; os rgos elem entares, osgnglios celulares microscpicos eram quase desconhecidos, assim como a alma celular dosprotistas. Tinha-se uma noo muito imperfeita da evoluo ontogentica, e no se faziaidia alguma da evoluo filognica. Tudo isso se modificou no decorrer deste ltimo meiosculo. A nova fisiologia verificou j, nas suas grandes linhas, a localizao de diversasfunes psquicas e a sua dependncia em relao a partes determinadas do crebro. Apsiquiatria dem onstrou que essas funes psquicas eram perturbadas ou aniquiladas, quando

    essas partes cerebrais ficavam doentes ou se destruam. A histologia das clulasganglionares, evidenciou-nos a sua estrutura complicadssima e a sua situao. Asdescobertas destes dez ltimos anos, sobre os fenmenos mais delicados da fecundao, sode uma importncia decisiva para esta interessantssima questo. Sabem os agora que essesfenmenos consistem na copulao ou fuso de dois elementos celulares microscpicos, oovo fmea e o esperm atozide m acho. O fusionamento dos ncleos das duas clulas sexuaisrepresenta exatamente o momento em que o novo indivduo humano comea. A clula meque se acaba de formar, o ovo fecundado, contm j poderosamente todas as propriedades

    corporais e intelectuais que a criana herda de seus pais. uma contradio evidente para arazo pura, o admitir uma vida eterna para uma m anifestao individual de que podemosapreciar exatamente, por meio da observao direta, o comeo no tempo. E eis porquenuma apreciao racional da vida intelectual do homem, no podemos j separar a nossaalma individual, do crebro, do mesmo modo que o movimento voluntrio dos nossosbraos, no pode ser separado da contrao dos seus msculos, ou que a circulao dosangue estej a fora da ao do corao. Contra esta concepo estritam ente fisiolgica, elevar-se- ainda como uma injria, aobjeo de materialismo, assim como contra o nosso exame das relaes entre a fora e amatria, entre a alma e o corpo. J acima disse que essa palavra no tinha que ver com estaquesto. Poder-se-ia tambm empregar o termo espiritualismo, seu adversrio aparente.Todo o crtico que conhece a histria da filosofia, sabe que estas palavras tomamsignificaes diversas consoante os sistemas empregados. Para o materialismo ainda seacrescenta a diferena essencial da significao terica e pr tica. A nossa concepo domonismo ou filosofia da unidade , pelo contrrio, clara e nada equvoca. Para ele, umesprito vivo imaterial to inconcebvel como uma matria sem esprito e sem vida. Emcada tomo, os dois esto inseparavelmente unidos. A idia de dualismo (ou de

    pluralismo em outros sistemas antimonistas) separa o esprito e a fora da m atria, com oduas substncias essencialmente diferentes, mas sem que se apresente prova alguma

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    experimental, sobre se uma pode existir sem a outra. Indicando aqui sumariamente estas conseqncias psicolgicas to vastas da teoriamonista da evoluo, abordo um assunto da maior importncia, ao qual o nosso orador j fezaluso na sua conferncia: o terreno da re ligio e o da crena em Deus que lhe associada.Como ele, eu tenho por importantssima a formao de idias filosficas claras sobre estabase fundamental da f , e peo por conseqncia assemblia a permisso de lheapresentar nesta circunstncia solene, uma profisso de f pblica. Esta concepo monista

    deve atrair tanto mais a ateno dos espritos, sem idia preconcebida, quanto, segundo aminha firme convico, ela partilhada pelos nove dcimos, pelo menos, dos naturalistasvivos. Creio, com efeito, que esta profisso de f monista ser seguida por todos osnaturalistas que satisfizerem s quatro condies seguintes: 1. Conhecimento suficiente dascincias naturais, principalmente da teoria moderna da evoluo; 2. finura e clareza deraciocnio suficientes para tirarem, com o auxilio da induo e da deduo, asconseqncias lgicas do conhecimento experimental; 3. fora moral suficiente parasustentarem as convices monistas, assim adquiridas, contra os ataques dos inimigosdualistas e pluralistas; 4. fora de esprito suficiente para se libertarem, firmando-se na sua

    prpria razo s, dos preconceitos religiosos reinantes e, em particular, desses dogmas vaziosde sentido que, desde a idade m ais tenra, nos implantaram solidamente na mem ria comorevelaes inabalveis. Se, com este ponto de vista independente de pensador, encararmos, comparando-as, asnumerosas religies dos diferentes povos, somos forados a declarar insustentveis todasaquelas, cujas idias esto em antinomia irredutivel com as proposies da cinciaexperimental claramente reconhecidas e estabelecidas pela razo crtica. Devem os pois,desde j, abstrairmo-nos de todas as narraes m itolgicas, de todos os milagres e de todas

    as chamadas revelaes que tenham sido feitas por via sobrenatural. Todas essas teoriasmsticas so irracionais, porque no so fortalecidas por nenhuma verdadeira experincia; edemais, porque ns as temos por inconciliveis com os fatos estabelecidos peloconhecimento racional da natureza. Assim acontece com as lendas crists e mosastas, dos muulmanos e dos cicloslegendrios da ndia. Se pusermos assim de parte os diversos dogmas msticos e asrevelaes inacreditveis, fica, como ncleo precioso e inestimvel da verdadeira religio, amoral purificada e fundada na antropologia racional. Entre as numerosas e diversas formas de religio que se desenvolveram durante os dezmil anos, pelo menos decorridos desde os grosseiros comeos pr-histricos, as duasreligies que tm seguramente o primeiro lugar e apresentam ainda hoje a maior difusonos povos civilizados so: o budismo mais antigo e o cristianismo m ais recente. Ambas tmmuitos traos comuns tanto na sua m itologia como na sua tica. Uma parte importante docristianismo deriva do budismo indiano, ao passo que uma outra parte provm das crenasmosastas e platnicas. Parece-nos ainda, sob o ponto de vista da nossa c ivilizao atual, quea moral crist tem o direito de ser considerada como a mais perfeita e a mais pura dasoutras religies. Devemos acrescentar espontaneamente que as mais importantes e mais

    nobres mximas da tica crist, o am or do prximo, a fidelidade ao dever, o amor pelaverdade, a obedincia s leis, no so de nenhum modo prprias do cristianismo, mas sim de

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    origem muito mais antiga. A psicologia comparada dos povos, demonstra que essasmximas ticas fundamentais eram mais ou menos conhecidas ou praticadas em muitospovos antigos antes de Cristo. A mais alta lei moralista da religio racional reside no am or do prximo que constitui oequilbrio natural entre o egosmo e o altrusmo, entre o amor por si e o amor pelos outros. Oque tu queres que outrem te faa, f-lo tu tambm. Esta elevada determinao natural eraensinada e praticada j muitos sculos antes que se ouvisse a palavra de Cristo : Deves

    amar o prximo como a ti mesmo. Na familia humana, esta mxima era de h m uitotempo considerada como naturalssima, porque fora j transmitida hereditariamente pelosnossos antepassados animais como instinto tico. Existia j assim e com uma significaoampla nas mais primitivas comunidades e nas hordas dos povos mais antigos, e tambm nosagrupamentos de macacos e de outros animais sociveis. O am or do prximo, isto , areciprocidade de auxlio, de cuidados e de proteo, aparece j como um dever social,nestes animais que vivem em sociedade. Ainda que estes fundam entos morais da sociedadese tenham mais tarde desenvolvido mais no bomem, a sua origem pr-histrica mais remotaencontra-se, como Darwin o demonstrou, no instinto social dos animais. Tanto nos

    vertebrados superiores (co, cavalo, elefante, etc.) como nos articulados (formigas, abelhas,trmites, etc.) a vida comum em sociedades regalares comporta o desenvolvimento dasrelaes e dos deveres sociais. Isso foi para o homem a mais poderosa alavanca dosprogressos intelectuais e morais. Sem dvida alguma, a civilizao humana atual deve uma grande parte da sua perfeioao desenvolvimento e ao enobrecimento da moral crist; o seu valor, porm, foi muitasvezes comprometido tristemente pela sua conexo com mitos insustentveis e compretendidas revelaes. Como estas ltimas contriburam muito pouco para a formao da

    moral, mostra-o o fato histrico bem conhecido de que a ortodoxia e a hierarquia fundadasobre ela, o papismo (20), foram os que menos se esforaram por satisfazer osmandamentos desta moral. Quanto mais esta pregada em teoria, tanto menos as suasprescries so praticadas. preciso pensar ainda que uma parte considervel da nossa civilizao e da nossa ticamodernas se desenvolveu de um modo inteiram ente independente do cristianismo, e emparticular pela cultura ininterrupta dos mais perfeitos tesouros intelectuais da antigidadeclssica. O estudo profundo dos clssicos gregos e romanos contribuiu muito mais do que odos padres da Igrej a crist. A isto vem acrescentar-se a inda no nosso sculo, denominadocom razo, o sculo das cincias naturais, o imenso progresso da altssima culturaintelectual, que ns devemos ao conhecimento mais completo da natureza e filosofiamonista que sobre ela se fundou. Que isto deve tambm intervir no desenvolvimento danossa moral e enobrec-la, no resta dvida e j m uitos excelentes escritos (de Spencer,Carneri, etc.), o provaram nestes ltimos trinta anos (21). Contra essa moral monista que toma por base o conhecimento racional da natureza,levantou-se a censura de minar a c ivilizao atual e de favorecer os progressos dademocracia socialista moderna, inimiga dessa civilizao. Consideramos essa censura como

    completamente injustificada. A aplicao dos princpios filosficos s necessidades prticasda vida e em particular s razes sociais e polticas, pode-se fazer de m aneiras diferentes. O

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    liberalismo poltico nada tem que ver com o livre pensamento da nossa religio naturalmonista. Estou de resto convencido que a moral racional desta ltima, no est, de modoalgum, em contradio com a parte boa e verdadeiramente preciosa da tica crist, e queunida com ela, pode ainda servir por muito tempo ao verdadeiro progresso da humanidade. Compreende-se sem dificuldade que outro tanto no acontece com a mitologia crist ecom as formas da crena em Deus particularm ente unidas com ela. Tanto esta crenainvolve a idia pessoal de Deus, que ela se torna insustentvel perante os progressos recentes

    do conhecimento monista da natureza. J h m ais de dois mil anos que em inentes defensoresda filosofia monista demonstraram que com a idia de um Deus pessoal, artista e condutordo universo se no ganhou nada para a explicao verdadeiramente racional do mundo.Respondeu-se, com efeito, questo da criao, tomada no sentido vulgar, invocando aatividade de um Deus, estranho ao mundo, que se pe a criar para um certo fim. E novasperguntas se form ulam: De onde vem esse Deus pessoal? Que fazia ele antes da criao?Aonde foi buscar os materiais? etc. E porisso que no domnio da filosofia realmentecientfica, a idia caduca de um Deus pessoal antropomorfo perder o seu crdito daqui poralguns anos. A noo correlativa de um diabo pessoal, que se opunha ainda no sculo ltimo

    a Deus, e no qual se acreditava, j foi completamente abandonada pela gente instruda danossa poca. Notem os de passagem que no anfitesmo, a crena em um Deus e num diabo, concordade resto muito melhor com uma explicao racional do mundo do que o puro monotesmo.A form a mais pura de anfitesmo encontra-se talvez na re ligio zenda dos Persas queZoroastro (Zarathustra, a estrela de ouro) fundou dois mil anos antes de Cristo.Constantemente se encontra nela Orm uzd, o deus da luz e do bem , em luta com Arim, odeus das trevas e do mal. A luta eterna de um bom e de um mau princpio, encontra-se

    personificada do mesmo modo na m itologia de m uitas outras religies anfitestas. No antigoEgito, o bom Osiris combatia o mau Tyfon; na velha ndia, Vishnu o conservador lutasempre contra Shiva o destruidor. Se se quer realmente tomar a idia de um Deus pessoal para base de uma concepo domundo, este anfitesmo explica m ui simplesmente os males e os defeitos deste m undo com aao de maus princpios ou do diabo. Pelo contrrio, o monotesmo puro que a base da religio primitiva de Moiss e deMaom no pode dar a esse respeito uma explicao racional. Se o seu Deus nico verdadeiramente a bondade absoluta, um ser perfeito, deveria ter produzido tambm o seuuniverso perfeito. Um mundo orgnico incompleto e cheio de defeitos, como o que existesobre a terra, no deveria ser encontrado. Estas observaes tomam peso quando por meio da nova biologia se entra noconhecimento mais profundo da natureza. Foi sobretudo Darwin que pela sua teoria daseleo, nos abriu os olhos h quarenta e trs anos. Sabemos desde ento que toda a naturezaorgnica do nosso planeta s subsiste com uma luta sem misericrdia de cada qual contratodos. Milhares de animais e de plantas tm de sucumbir diariamente em cada ponto daterra, para que outros indivduos eleitos possam subsistir e gozar a vida. A prpria existncia

    desses privilegiados uma luta perptua contra os perigos que os ameaam por todos oslados. Milhares de germes cheios de esperana morrem a cada minuto. A luta feroz dos

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    interesses da sociedade humana no mais do que uma fraca imagem do combateincessante e cruel que existe em todo o mundo vivo. A bela fiCo da bondade e daprovidncia de Deus na natureza, que ns escutvamos devotam ente, quando criana, hsessenta anos, j no tem crentes hoje em dia, pelo menos no mundo instrudo que pensa!Foi aniquilada pelo nosso conhecimento profundo das relaes recprocas dos organismos,pelos progressos da ecologia e sociologia, pela parasitologia e a patologia. Todos estes fatos desesperadores e incomutveis, verdadeiro lado tenebroso da natureza,

    eram compreensiveis para a f religiosa pelo anfitesmo. Apareciam como a obra dodemnio, que combate e destri o cosmos perfeito e m oral do bom Deus. Ficamincompreensveis para o monoteismo puro, que reconhece um Deus nico, um ser nico, desuprema perfeio. Se com isso se continua a ter na boca a perfeio moral do universo, porque se fecham os olhos aos fatos indiscutveis da histria universal e da histria natural. Baseando-nos sobre essas consideraes, compreendemos dificilmente como ainda hojea m aior parte dos cham ados homens instrudos reconhece de um lado, que a crena numDeus pessoal o fundamento indispensvel da religio, e do outro lado repele a crena numdiabo pessoal como uma superstio absurda da idade-mdia. Nos cristos instrudos esta

    inconseqncia tanto mais incompreensvel e censurvel quanto certo representarem osdois dogmas partes igualmente essenciais da verdadeira f crist. Sabe-se que o demniopessoal representa sob os nomes de Sat tentador, enganador, prncipe do Inferno, senhordas trevas, um papel importantssimo no Novo Testamento, enquanto que no se trata delenos vetustos escritos do Velho Testam ento. O nosso grande reform ador Martinho Lutero quemandou para o diabotantos trechos caducos do dogma, no podia renunciar crena daexistncia real e do antagonismo pessoal de Belzebu; lembremo-nos da histrica ndoa detinta da Wartbourg! Alm disso a nossa arte decorativa crist representou em milhares de

    quadros e outras representaes figuradas, um sat to corporal como os trs bons deusespessoais, cuja reunio em uma nica e trplice pessoa inutilmente fatigou a razo humanadurante mil e oitocentos anos. A impresso profunda que semelhantes apresentaesconcretas, repetidas milhes de vezes produzem, particularmente na alma das crianas, uma fora colossal que se costuma desprezar demasiadamente. Por certo ela tem a m aiorparte de responsabilidade na conservao de m itos to irracionais mascarados pelasverdades da f, apesar de todas as objees da razo. Alguns telogos cristos liberais procuraram de resto, afastar muitas vezes o diabopessoal da doutrina crist, representando-o unicamente como a personificao da idia damentira, como o gnio do mal. Pelo mesmo motivo deveramos pois assentar em vez doDeus pessoal, a idia personificada da verdade e o gnio do bem . No teramos que fazer aminima objeo a este conceito e, bem pelo contrrio, ns a consideraramos comoprecioso trao de unio que ligaria o pas maravilhoso da fico religiosa com o daconcepo cientfica da natureza. A nossa idia monista de Deus que a nica que concorda com as noes que possumosboje sobre a natureza, reconhece o esprito de Deus em todas as coisas. J se no poderepresentar Deus como um ser pessoal, isto , como uma personagem ocupando uma parte

    determinada do espao, ou sob uma forma humana. Deus est em toda a parte. GiordanoBruno j o dizia: Um esprito encontra-se em todas as coisas e no existe corpo, por mais

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    pequeno que seja, que no contenha em si uma parcela da substncia divina que o anima.Cada tomo pois provido de alma e assim o ter csmico. Pode-se portanto definir Deuscomo a soma infinita de todas as foras naturais ou a soma de todas as foras atmicas e detodas as vibraes do ter. Chega-se assim essencialmente ao mesmo ponto que o anteriorconferente, o qual definiu Deus: a lei suprema do mundoe o representa como a obra doespao geral. Importa pouco o nome nesta m atria to elevada da crena, bastando aidentidade da idia fundamental, a unidade de Deus e do mundo, do esprito e da natureza.

    Pelo contrrio, o homotesmo, a idia antropomrfica de Deus faz descer este conceitocsmico supremo at ao vertebrado gasoso (22). Entre os diversos sistem as de pantesmo que, de h muito tempo, a idia monista de Deusinspirou de uma maneira m ais ou menos clara, destaca-se como muito mais perfeito o deSpinoza. Sabe-se que Goethe concedia tambm a este sistema a sua admirao e adeso.Dos outros homens eminentes que orientaram a sua religio natural no mesmo sentidopantesta, ns s citamos aqui dois dos maiores poetas conhecedores do homem:Shakespeare e Lessing, dois dos maiores prncipes alemes Frederico II de Hohenstaufen eFrederico II de Hohenzollern, dois dos maiores sbios Laplace e Darwin. Pois que a nossa

    prpria profisso de f pantesta concorda com a desses espritos eminentes e independentesdevemos ainda notar que com os admirveis progressos realizados no conhecimento danatureza durante estes ltimos trinta anos, ela adquiriu bases experimentais que outrora seno podiam pressentir. O labu de atesmo que ainda hoje se lana contra o nosso pantesmo e contra o monismoque lhe serve de base, j no aceite nos crculos verdadeiram ente esclarecidos. No entanto fato que o chanceler atual do imprio alemo estabeleceu ainda, no comeo deste ano,esta singular alternativa na cmara dos deputados da Prssia: Ou uma concepo crist do

    mundo, ou uma concepo atesta. Tratava-se ento dessa clebre lei escolar destinada aentregar o ensino de mos algemadas hierarquia papal. O intervalo considervel quesepara esta deform ao da religio crist do puro cristianismo primitivo no maior do quea desta alternativa m edieval religio esclarecida da atualidade. Com respeito quele queconsidera como verdadeiras prticas crists a adorao de velhos farrapos de vestimentas ede bonecas de cera ou a salmodia improvisada das missas e dos rosrios e quele que crnas relquias miraculosas e procura o perdo dos seus pecados na compra de indulgncias eno dinheiro de S. Pedro, ns abandonamos de boa vontade as suas pretenses pela nicareligio que salva. Para com este fetichista estimamos bem em passar por ateu. Assim como pouco fundamentada a acusao de atesmo e de irreligio, assimtambm o a censura que se ouve a cada passo de que o nosso monismo destroi a poesia eno satisfaz as necessidades do sentimento humano. A esttica em particular, um domniocertamente importantssimo quer para a filosofia terica, quer para a prtica da vida, ficariaameaada pela filosofia monista da natureza. J David Frederico Strauss, um dos nossosmais delicados estetas e nobilssimo escritor, refutara esta objeo e m ostrara que a culturada poesia e o culto do belo eram destinados a representar um papel muito mais grandioso nanossa nova f. Para vs, senhores, que sois naturalistas e amigos da natureza, no tenho

    necessidade de vos mostrar quanto a penetrao mais profunda da nossa inteligncia noconhecimento dos segredos da natureza esquenta os nossos sentimentos, traz um alimento

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    novo nossa imaginao e engrandece a nossa concepo do belo. Para se convencerem dequo intimamente estas matrias esto relacionadas diretamente com as mais nobresmanifestaes do esprito humano, como o conhecimento da verdade se liga estreitamenteao amor do bem e ao culto do belo, basta citar um s nome, o do maior gnio da Alem anha,Wolfgang Goethe. Se a significao esttica da nossa religio natural monista e o seu valor moral nopenetraram muito at aqui no esprito dos homens instrudos, isso devido sobretudo ao

    nosso defeituoso ensino escolar. Dissertou-se e escreveu-se muito nestes ltimos anos sobrea reforma do ensino e dos mtodos de educao, mas no se v, em verdade, que qualquerprogresso se realizasse. A reina tam bm a lei fsica da inrcia, a tam bm e muitoparticularmente nas escolas alems, a escolstica da idade-m dia exerce um poderioimobilizante contra o qual a reforma racional do ensino mui penosa e passo a passoconquista terreno. Nesta to importante ordem de coisas, de que depende a felicidade e adesgraa das geraes futuras, no haver progresso sem que o conhecimento monista danatureza seja reconhecido como base slida e indispensvel. A escola do sculo XX, florescente sobre esta base nova e slida, no dever descobrir

    somente mocidade crescente as maravilhosas verdades da evoluo universal, mastambm os inesgotveis tesouros de beleza que se acham esparsos a ocultas nessa natureza.Quer admiremos o esplendor das altas montanhas ou o mundo maravilhoso do mar, querobservemos com o telescpio as maravilhas infinitamente grandes do mundo estrelado oucom o microscpio as maravilhas ainda mais estonteantes da vida dos infinitamentepequenos, o Deus-Natureza oferece-nos por toda a parte uma fonte inesgotvel de gozosestticos. Cega e obtusa a maior parte da humanidade no meio deste esplndido emaravilhoso mundo terrestre que uma teologia mrbida e contrria naturezsa nos designa

    como um vale de lgrimas. preciso abrir finalmente os olhos ao esprito humano queprogride poderosamente, preciso mostrar-lhe que o verdadeiro conhecimento da naturezafornece uma plena satisfao e um alimento fecundo no s razo ativa como tambm saspiraes dos seus sentimentos. O estudo monista da natureza e o conhecimento do verdadeiro, a moral monista e aprtica do bem, a esttica monista e o culto do belo; eis a os trs pontos principais do nossosistem a monista. Para o seu desenvolvimento harmnico e coordenado, adquirimos o laoverdadeiramente satisfatrio entre a religio e a cincia e que tantos espritos dolorosamenteprocuram ainda hoje. O Verdadeiro, o Bem e o Belo, so as trs divindades sublimesperante as quais ns dobramos devotam ente os joelhos. Pela sua unio natura l e ocomplemento recproco ns obtem os o conceito natural de Deus (23). a esse ideal de Deusuno e trplice, a essa trindade natural do monismo que o prximo sculo XX levantar osseus altares. H vinte anos assisti eu s festas do tricentenrio da Universidade de Wrzburg onde hcinqenta anos comecei e continuei por seis semestres os meus estudos mdicos. O Reitor,distinto qumico Johannes Wislicenus, pronunciou ento um discurso solene na igreja daUniversidade, e terminou, lanando a beno, com estas palavras: Praza a Deus, esprito do

    Bem e do Verdadeiro! Acrescentarei ainda o esprito do Belo. nesse sentido queofereo tambm vossa sociedade dos naturalistas das provncias orientais, os meus votos

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    mais diletos nesta circunstncia solene. Possa a pesquisa dos segredos da natureza florescere prosperar ainda neste canto nordeste da nossa terra de Thuringe e possam os frutoscientficos amadurecidos em Altenburgo ser de outra tanta utilidade para a cultura doesprito e a formao de uma religio verdadeira como os produzidos h trezentos e setentaanos, pouco mais ou menos, pelo grande reformador Martinho Lutero no ngulo noroeste daThuringe, em Wartburgo junto de Elsenach. A meio caminho de Wartburgo a Altenburgo encontra-se na fronteira setentrional da

    Thuringe a clssica cidade das musas, Weimar, e na vizinhana, a Universidade do nossopas, Iena. Considero como um pressgio favorvel que precisamente neste instante umafesta de um carter raro, tenha reunido em Weimar os protetores da Universidade de Iena,os defensores da indagao e do livre ensino (24). Na esperana de que a sua proteo e oseu auxlio nos sero reservados para o futuro, eu concluo a minha confisso de f monistanestes term os: Praza a Deus, esprito do Bem , do Belo e do Verdadeiro.

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    NOTAS

    ) Ernest Haeckel, professor da Universidade de Iena, nascido em Potsdam a 16 de Fevereire 1834, foi sucessivamente estudante em Berlim e em Wrzburg, preparador de Virchow emerlim, depois mdico nesta cidade. Conhecido j por importantes memrias publicadas, ele foomeado professor de zoologia em Iena em 1865. Data desta poca o comeo de uma srie debras de desigual extenso, cujas tendncias comuns fazem um todo impregnado de um m esmsprito. Haeckel foi o criador da cincia nova da filogenia e quase todas as suas publicaes tmor objetivo esta cincia.

    Segue-se a lista das suas obras principais.

    Die Radiolarien(1862). Ueber die Entwickelungstheorie Darwins(1863), conferncia naual o autor toma a sua atitude cientfica. Generelle Morphologie der Organismen(1866), obe uma importncia considervel que contm as bases da cincia filognica. Natrlichechopfungsgechite (1868), a clebreHistria da criao natural, que vulgarizou a f ilogenia e deausa a que desabassem sobre o autor e o darwinismo form idveis e terrveis furaces. Uebe Entstehung und Stammbaum des Menschengeschlechtes(1868), primeira monografia sobrerigem animal do homem. Die Kalkschwmme (1872).Anthropogenie(1874).Dieerigenesis(1876). Das System der Medusen(1879) e seguintes. Report on the Radiolaria

    887). Grundriss einer algemeinen Naturgeschichte der Radiolarien(1887). Planktontudien(1890). Systematische Phylogenie(1894-1896), obra capital para a genealogia doundo animal, que o autor cuj a m orte fora anunciada no ano findo por uma revista de

    ntropologia m al informada, acaba neste m omento de publicar.Encontrar-se- uma bibliografia mais completa, compreendendo 108 obras, memrias ou

    dies publicadas de 1855 a 1894 naBericht ber die Feier des LX. Geburtstages von Ernestaeckel, Iena, 1894.

    Ha tradues em francs publicadas pela livraria C. Reinwald, daHistria da criao naturaaAntropogenia, obras de vulgarizao que melhor do que os seus grandes trabalhos cientficos

    anifestam as tendncias do autor, assim como as Cartas de um viajante na ndia.

    (2) No discurso solene que o professor Schlesinger pronunciou sobre este assunto a 9 deutubro em Altenburgo, ele indicou com razo, no sentido de Kant, os limites do conhecimentoa natureza, que nos so impostos pela imperfeio dos rgos dos nossos sentidos. As lacunasue as pesquisas experimentais produzem no edifcio da cincia, podemo-las preencher compteses, com suposies mais ou menos verossmeis. No podemos logo demonstr-las com

    erteza; -nos permitido porm utiliz-las para a explicao dos fenmenos, contanto que elas

    o contradigam as noes racionais sobre a natureza. Semelhantes hipteses racionais so osrtigos de f cientficos, e por esse motivo muito diferentes dos pretendidos artigos de f das

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    as formas correspondentes da a tividade psquica nas raas humanas inferiores. Se os macacorincipalmente os antropides tivessem sido domesticados como o co desde sculos e educadom comunho ntima com a civilizao humana, ter-se-iam aproximado das formas humanas ividado psquica de um modo por certo muito mais surpreendente. O abismo profundo que

    epara na aparncia o homem destes mamferos muito aperfeioados principalmente devidoue o homem reuniu vrias qualidades capitais que apenas existem separadas nos outros anima diferenciao mais avanada da laringe (linguagem ); 2. do crebro (alma); 3. das

    xtremidades e 4. finalmente da estao ereta. simplesmente a feliz combinao de umevado grau de desenvolvimento destes rgos e destas funes importantes que coloca aaioria dos homens tanto acima de todos os animais (Generelle Morphologie, 1866, II, pag. 43

    (5) Como a discusso desta importante questo continua sem pre aberta, sej a-nos permitidsistir novamente sobre os preciosos elementos de soluo que nos fornecem o desenvolvimen

    os instintos nos animais superiores, da linguagem e da razo no homem. A hereditariedade dualidades adquiridas durante a vida individual uma hiptese essencial da teoria m onista davoluo. Se a negam como Galton e Weismann, exclui-se inteiram ente a influncia

    ansformadora do mundo exterior sobre a forma orgnica. (Anthropogenie, IV,Auft., XXIII,ag. 836); veja-se tambm os trabalhos que se citam de Eimer, WeismaNn, Ray -Lankester eudwig Wilser,Die Veerburg der geistigen Eigenschaften(Heidelberg, 1892).Nota do tradutor. Nestes ltimos anos a questo modificou-se sensivelmente. As teoriasolgicas desenvolvidas por Lapouge (Selees sociais, pag. 48 e seg., 56, 105, 128, 140)

    ermitem conciliar a negativa quase completa da hereditariedade das qualidades adquiridasurante a vida extra-uterina e a influncia dos meios. Quanto ao exem plo dos ces, Lapougeulga ter demonstrado quo pouco a hereditariedade das qualidades psquicas adquiridas interv

    o seu caso (109 s. q.)

    (6) De todas as tentativas mais recentes da filosofia dualista para dar ao estudo da naturezam fundamento teolgico e precisam ente sobre a base do monotesmo cristo oEssay on classe Luiz Agassiz a mais importante para no dizer a nica que merea a pena de ser citada. Vtal respeito a m inhaHistria da criaco naturaltrad. franc., pag.. 55 e seg.,Ziele and Wege deeutigen Entwicklunggeschichte, 1875, Iena,Zeitschrift fr Naturwissenschaft, X, supl. Quando sompara esta obra plena de idias do sbio zoologista americano com o miservel trabalho donegado darwinista Hamann, pratica-se com a primeira uma grande injustia.

    (7) Darwin e Coprnico. Com este titulo o conselheiro intimo Emilio du Bois-Rey mondimprimiu no segundo volume de Gesammelle Reden(1887, pag. 496) um discurso que

    ronunciara a 25 de Janeiro de 1883 na Academ ia das Cincias de Berlim. Este discurso, comoz o autor numa nota pag. 500, tendo suscitado injustam ente m uito barulho e provocadoolentos ataques da parte da imprensa clerical, ser-me- permitido notar que no contmenhuma idia nova. Eu mesmo tinha, h quinze anos, desenvolvido a fundo a comparao dearwin e de Coprnico e mostrado o mrito destes dois heris que destruram o antropocentrism

    o geocentrismo, na minha conferncia Ueber die Entstehung und den Stammbaum desenschengeschlechts(Sammlung gemeinwissenschaftel, Vortrge, S. III, 53-54, 1868, IV, Au

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    881). Quando du Bois-Reymond diz: Quanto a mim, Darwin o Coprnico do mundorgnico regozijo-me tanto mais em ver as minhas idias aceites por ele e muitas vezes nosesmos termos quanto certo o estar inutilmente em oposico comigo. preciso dizer o mesm

    a explicao das idias originadas pelo darwinismo, que du Bois ensaia no seu discursoeibnizische Gedanken in der neueren Naturwissenschaft(Gres. Reden, I). As suas idiasoncordam de maneira a satisfazer as que eu desenvolvera quatro anos antes na minha Genereorphologie, II, 446 e naHistria da Criao Natural, primeira e ltima lies. As leis da

    ereditariedade e da adaptao explicam como os acontecimentos a priorisaramrimitivamente de conhecimentos a posteriori. No m e admiro de encontrar no clebre reitora Academia de Berlim um amigo e um partidrio daHistria da Criao Natural, que aorincpio classificara de mau romance; o que no faz esquecer o seu dito arremessado comoma flecha: as rvores genealgicas da filogenia tm tanto valor como as dos heris de Homeos olhos da crtica histrica (Darwin versu Galiani, 1876).

    (8) A lei da conservao da substncia, na sua acepo rigorosa, faz parte dos artigos de fatural e poderia ser o I da nossa religio monista. Os fsicos atuais consideram em geral, e

    om razo, a sua lei da conservao da fora como a base inabalvel do seu conhecimentoentfico da natureza (Roberto Mey er, Helmholtz); o mesmo se d com os qumicos com a suai fundam ental da conservao da matria (Lavoisier). Os filsofos cientficos seriam os nicoue poderiam levantar utilmente a lgumas objees contra cada uma destas duas leisundamentais e contra a sua reunio lei suprem a da conservao da substncia. Sem elhantesbjees so continuamente formuladas pela filosofia dualista, sob a aparncia de uma crticarudente. Estas cticas objees, em parte simplesmente dogmticas, parecem justificar-seomente no que diz respeito ao problem a fundamental da substncia, ao problema fundamenta

    a unio, da matria e da fora. Se se deve reconhecer como ainda subsistente esta ltimaonteira do conhecimento da natureza, podemos no entanto aplicar geralmente nos seus limitesi mecnica de causalidade. Os processos psquicos complicadssimos, especialmente a

    onscincia, so submetidos lei de conservao da substncia, precisam ente como os maismples processos mecnicos que so o objeto da fsica e da qumica inorgnica.

    (9) Numa conferncia notabilssima sobre as relaes da luz e da eletricidade, Henriqueertz explicou na 62a. reunio dos Naturalistas e dos mdicos alemes, realizada em Heidelbeo ano de 1889, a importncia da sua brilhante descoberta. Assim o o dominio da eletricidadestende-se natureza inteira. Toca-nos propriamente: sabem os que temos realmente um rgotrico, o olho. De um lado encontramos a questo da ao imediata distncia; de um outro

    ncontramos o problema da natureza da eletricidade. E logo conexo com estes problem as, eleve a questo capital da essncia do ter, das propriedades do meio que enche o espao da suastrutura, do seu repouso ou do seu movimento, da sua infinidade ou dos seus limites. Esteroblema parece dom inar cada vez mais todos os outros e o conhecimento do ter deve tornarcessvel o das coisas imponderveis e sobretudo a essncia da m atria antiga e das suasualidades mais ntimas, a gravidade e a inrcia. E a fsica a tual aborda esta questo, se por

    caso tudo o que existe no foi criado pelo ter. Certos filsofos monistas responderamfirmativamente a esta questo, como G. Vagt na sua obra profundaDas Wesen der Electricit

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    nd des Magnetismus auf Grund eines einheitlichen Substanzbegriffes(Leipzig, 1891). Eleonsidera os tomos primitivos da teoria cintica da matria como centros individualizados deoncentrao da substncia contnua, enchendo sem intervalo o universo inteiro. A parte mvelstica, desta substncia compreendida entre os tomos e espalhada por todo o universo, o t

    orge Helm de Drede, h m uito tempo que tinha vistas semelhantes sobre o terreno da fsicaatemtica na sua publicao Ueber die Vermittelung der Fernwirkungen durch den Aether

    Annalen der Physik und Chemie, 1881, XIV). Mostra a que, pela explicao da ao a distnc

    da radiao, torna-se necessrio admitir somente uma m atria, o ter; isto , que para essesnmenos, todas as qualidades que podem ser atribudas a uma m atria no tm influncia,xceto a de ser mvel, ou que no conceito do ter no til fazer entrar outra coisa que no sejmobilidade.

    (10) A nova filosofia alem refere-se na sua maior parte a Emmanuel Kant e adora orande filsofo de K&ligoe;nigsberg de uma maneira exagerada, quase infalvel. Permitam-mois que lembre que o seu sistema de filosofia crtica uma mistura de m onismo e de dualismos seus princpios crticos de teoria do conhecimento, a demonstrao de que no podemos

    onhecer a essncia profunda e real da substncia, a coisa em si, ou a unio da matria e daora, ficaro sempre considerados de importncia fundam ental. O nosso conhecimento daatureza subjetiva, acondicionado pela organizao do nosso crebro e dos rgos dos nossosentidos e pode por conseqncia compreender somente o fenmeno que a experincia lheansmite do mundo exterior. Porm nestes limites do conhecimento humano, um conhecimenonista positivo da natureza possvel, em oposio com todas as fantasias dualistas eetafsicas. Um ato importante de reconhecimento do monismo encontra-se na cosmogoniaecnica de Kant e Laplace, o ensaio sobre a organizao e a origem mecnica de todo o

    difcio universal, tratado conforme os princpios de Newton (1755). Em geral Kant conserva nomnio das cincias naturais inorgnicas o ponto de vista monista, ligando apenas valor aoecanismo para a explicao dos fenmenos. Pelo contrrio, no domnio das cincias naturais

    rgnicas, conta com ele embora de uma maneira insuficiente. Kant julgava com efeito, devernvocar no s as causas eficientes como tam bm as finais (veja-se a quinta lio da minhaistria da Criao Natural, teoria da evoluo desde Kant a Lamark, trad. fr., pag. 93, Veja-smbm Albrecht Ray ,Kant und die Naturforschung, Eine Prfung der Resultate des idealistischritichismus durch den realistischen, Kosmos, II. 1886). Isto levava Kant ao plano inclinado daologia dualista e mais tarde s suas vistas metafsicas insustentveis sobre Deus, a liberdade e

    mortalidade. Provavelmente estes erros teriam sido evitados se Kant tivesse uma profundaultura antomo-fisiolgica. Nesse tempo as cincias naturais comeavam a desabrochar. Tenfirme convico de que o sistem a de filosofia crtica de Kant teria sido muito diferente eteiram ente m onista se tivesse podido aproveitar-se dos tesouros imprevistos da cincia

    xperimental que ns possumos atualmente.

    (11) As relaes dos dois componentes originrios do Cosmo, o ter e a massa podem muem ser postos em evidncia na anttese seguinte, conforme um a das suas numerosas hipteses

    Universo = Substncia = Cosmos

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    ter universal= esprito =

    substncia mvele ativa.

    Capacidade

    vibratria.Funesprincipais:eletricidade,

    magnetismo, luz,calor.

    Estrutura:dinmica,substncia

    contnua elsticano composta de

    tomos (?)

    Massauniversal =

    corpo =

    substncia inertee passiva.

    Fora de

    inrcia.Funesprincipais:gravidade,

    inrcia, afinidadeeletiva qumica.Estrutura:

    atmica,

    substnciadiscontnua no

    elstica,

    composta de

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    Teosofia:Deus criador

    constantemente

    em ao.Ao do

    espaouniversal.

    tomos.Teosofia:

    universo criado,

    formadopassivamente.Efeito da

    condensao doespao.

    (12) Gustavo Wendt, no h muito tempo, deu as razes numerosas e importantes a favor atureza composta dos nossos elementos experimentais, no seu trabalhoDie Entwicklung derlemente, Entwurf zueiner biogenetischen Grundlage fr Chemie und Physik(Berlim 1891). Ve tambm Wilhelm Prey er,Die organischen Elemente und ihre Stellung in System(Wiesbade

    891); Vitor Mey er, Chemische Probleme der Gegenwart(Heidelberg, 1890); W. Crookes,Dieenesis der Elemente(Braunschweig, 1888). Sobre as diferentes concepes do tomo, comp.hilip Spiller,Die Atomenlehre, em Die Urkraft des Weltalls nach ihrem Wesen und Wirken auflten Naturgebieten(Berlim, 1886). Acerca da formao da massa pelos tomos, veja-se A.urner,Die Kraft und Materie in Raume(Leipzig. 1886, III. Aufl.).

    (13) A significao fundamental da teoria moderna da evoluo e da filosofia monistaanifesta-se claram ente pelo aumento contnuo da sua rica literatura. Citei os mais importante

    scritos desta ordem na nova edio da minhaNatraliche Schpfungsgeschichte(VIII. Auft.,

    889). Vej a-se particularmente Carus Sterne (Ernst Krause): Werden und Vergehen. Einentwicklungsgeschichte des Naturganzen in gemeinwerstndlicher Fassung(III. Aufl., Berlim886). Veja-se ainda Hugo Spitzer,Beitrge zur Descendeztheorie und zur Methodologie deraturwissenschaft(Graz, 1886); Alberto Bau,Ludwig Feuerbachs Philosophie der Naturforschund die philosofische Kritik der Gegenwart(Leipzig, 1882); Hermann Wolf,Kosmos, die

    Weltentiwick lungnach monistisch-psychologischen Principien auf Grundlage der exactenaturforschung(Leipzig, 1890).

    (14) Devem -se contar hoje quarenta e oito anos.

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    (15) Desde 1866 que eu tenho definido a noo e o fim da filogenia, ou histria da raa noI livro da minha Generelle Morphologie(II, 301-422). O contedo essencial desse livro assim

    omo as relaes entre a filogenia e a ontogenia ou embriogenia foram desenvolvidas em formulgar, na II parte da minhaHistria de Criao natural. A aplicaco especial ao homem desteois ramos da histria da evoluo foi tentada na minhaAnthropogenie(Leipzig 1874, IV.uflage 1891, traduo francesa por Letourneau, Paris, C. Keinwald, 1877).

    (16) Aps a morte de Luiz Agassiz (1873), apenas h que considerar um adversrio nico otvel do darwinismo e do transformismo, R. Virchow. Em qualquer ocasio e f-lo ainda houco em Moscou, ele combateu-as como hipteses no demonstradas&rdqo;. Veja-se a estspeito o meu trabalhoFreie Wissenschaft und freie Lehre, eine Entgegnung auf Rudolf Virchownchener Rede ber die Freiheit der Wissenschaft im modernen Staat(Stuttgart, 1878).

    (17) Vej a-se sobre este caso o meu trabalhoZellseelen und Seelenzelen, na Deutscheundschau de j ulho de 1878, reproduzido no fasc. I de Gesammelte populre Vortrge; depoisellseele und Celular-Physiologie, na minha memriaFreie Wissenschalf und freie Lehre, Sutga

    878-83; NatrlicheSchpfungsgeschichte, VIII. Aufl., 444, 777, eAnthropogenieIV Aufl., 12847. Compare-se tambm Max Verworn,Psycho-physiologische Protistn-Studien, Iena, 1889.aulo Carus, The soul of Man, an investigation of the fasts of physiological and experimentalsychology(Chicago, 1895). Entre as novas tentativas feitas para reformar a psicologia noentido monista sobre a base do evolucionismo, preciso citar em particular: G. H. Schneider,er thierische Wlle, systematische Darstellung und Erkl