Opusculo 15 - Ana Vaz Milheiro

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Artigo Científico sobre temáticas de Arquitectura.

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  • Ana Vaz Milheiro

    dafne editor a

    opsculo 15 Pequenas Construes Literrias sobre Arquitectura

    as coisas no so o que parecem que so

  • opsculo 15 * dafne editora, Porto, Novembro 2008 * issn 16465253fonte das imagens Castro Rodrigues (pg. 6 e 9) e Pancho Guedes (pg. 11 e 13) d.l. 246357/06 * edio Andr Tavares * design Granjam * www.dafne.com.pt

    Aos Arquitectos Francisco Castro Rodrigues e Pancho Guedes

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    Arquitectura brasileira na frica portuguesa (195375)

    A necessidade de se tratar num plano especfico a arquitectura pra-ticada nos territrios africanos contempornea da vulgarizao do discurso moderno em Portugal. do lado dos internacionalistas que se discute a figura do Arquitecto Colonial no I Congresso Nacional de Arquitectura de 1948. No h confrontao estilstica, como acon-tece noutros debates, e a capacidade de mobilizao parece pouco expressiva apesar das teses apresentadas na nica comunicao sobre o tema serem votadas e includas nas concluses. Os pontos elencados recaem sobre o exerccio profissional. Joo Simes em A profisso de Arquitecto nas Colnias lamenta a inexistncia generalizada de uma arquitectura funcional, bem resolvida a que fosse possvel chamar a nossa Arquitectura colonial, para marcar uma posio corporativa, exigindo a criao de condies que permitam a fixao [de arqui-tectos] nas Colnias.1

    Essas condies passam por centros de investigao sobre a especifi-cidade do urbanismo e da habitao nos territrios ultramarinos, a insta-lao de gabinetes de planeamento local, a nomeao de arquitectos nos organismos pblicos, a regulamentao da profisso e a mobilizao de tirocinantes atravs, por exemplo, da definio de honorrios. Compro-missos profissionais de Francisco Castro Rodrigues, ao servio do Gabi-nete de Urbanizao Colonial como tirocinante, impedem-no de assinar a tese. Os dois arquitectos integram uma faco, dentro do grupo de

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    Lisboa, ideologicamente muito comprometida, com militncia no Par-tido Comunista Portugus que, no caso particular de Castro Rodrigues, evoluir para o afastamento em 1950; e marcada pelo activismo poltico noutros movimentos, entretanto ilegalizados, como o mud Juvenil.

    no escritrio da rua Dr. Alexandre Braga, que partilham tambm com Jos Huertas Lobo, que se preparam os novos nmeros da Arquitectura, servindo de sede para as icat, cujo papel reformista se resume edio da revista.2 Deste escritrio sairo projectos conjun-tos para Angola, Cabo Verde e So Tom e Prncipe entre 1946 e 1953, beneficiando da ligao familiar entre Simes e o construtor Amadeu Gaudncio, procurado por investidores coloniais. Reproduz-se uma prtica generalizada entre os arquitectos da metrpole que desenham para as colnias sem conhecimento directo do territrio. H conscin-cia dos problemas que enfrentam os projectos realizados distncia. Em informao oficial datada de 1945 declara Simes sobre Bissau que so grandes as dificuldades e insuficincia de meios na Colnia, no campo da construo civil obrigando por vezes reviso dos projectos dentro do critrio da simplicidade.3 Estes arquitectos documentam-se em experincias estrangeiras, valendo-se da informao recolhida por Paulo Cunha em bibliografia internacional, designadamente holan-desa atravs de tradues francesas.

    Diplomado em 1936 na ebal e destacado oposicionista poltico desde 1937, Paulo Cunha pioneiro na tentativa de compreenso das especifici-dades coloniais constituindo uma primeira referncia para esta gerao. Projecta para a Guin-Bissau, Moambique e Angola.4 Castro Rodrigues descreve-o como um homem reservado, expondo-se somente em assun-tos referentes profisso; como provam as discusses em que se envolve na direco do Sindicato Nacional dos Arquitectos sustentando a auto-nomia do Congresso em relao quela estrutura corporativa.5 Con-vidado, dentro do quadro de infra-estruturao da frica portuguesa desencadeado nos anos 40, a liderar um programa de reformas na Guin, integra a I Misso ao territrio, contactando com uma realidade distinta da que ento noticiada. Questes oramentais levam-no a regressar a Portugal sem concluir os projectos. Contrata ento Castro Rodrigues e Manuel Costa Martins para uma segunda Misso, cuja viagem no se concretiza mas cujo trabalho se prolonga por dois anos. Em causa esto projectos de armazns para o palcio do Governador, um museu, intervenes na S Catedral, residncias para altos funcionrios e um

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    quartel para caadores indgenas no deserto de Gabu. Por desconhe-cerem as tcnicas e os materiais locais propem sistemas construtivos que vo desde o bambu, adobe, pau-a-pique, pedra. Este processo de trabalho demonstra o grau de impreciso com que lida o arquitecto que na metrpole projecta para as colnias antes de 1947. Para Paulo Cunha, o panorama poderia ser melhorado com a criao de um organismo central de planeamento urbanstico, sugerindo-o ao Ministro das Col-nias Marcelo Caetano.6 A fundao do guc em 1944 dentro de uma estra-tgica de ocupao planificada7 refora ento o papel centralizador do Estado mas no altera muito a falta de informao.

    No Congresso, sem traar princpios para uma arquitectura tropi-calista, Simes sinaliza, para l dos holandeses, as experincias colo-niais francesas e belgas. No existe meno arquitectura brasileira que, todavia, referenciada por Castro Rodrigues e/ou Huertas Lobo nas restantes comunicaes que em grupo ou em dupla os trs assi-nam. Em Do ensino ao exerccio da profisso quando reclamam a solicitao do arquitecto na construo cultural do pas recorrem ao caso brasileiro que se impe enternecida Irm de Alm-Atlntico.8 J em O Alojamento Colectivo ao debaterem tipologias de habitao econmica valem-se dos brasileiros como exemplo de construo em altura.9 As relaes institucionais mantidas entre representantes dos organismos corporativos dos dois pases, que existem desde a Exposio do Mundo Portugus,10 parecem no deixar grande lastro. A exposio de Arquitectura Contempornea no Brasil no ist, aberta durante trs dias, que a Arquitectura noticia11 e Sebastio Formosinho Sanchez elogia marca o incio de uma divulgao mais sistemtica. Citando o Brasil, faz depender a produo nacional, entre outros factores, do estudo das condies climatricas de Portugal e das Colnias e para cada caso, o percurso do solsua incidncia sobre as fachadas.12 Seguem-se com ateno as conferncias dadas por Wladimir Alves de Sousa, evocadas dentro da continuao dos debates sobre tradio iniciados no Con-gresso. O catlogo Brazil Builds Architecture New and Old 16521942 e as revistas brasileiras entram nos ateliers portugueses, juntando-se a outras publicaes internacionais. Castro Rodrigues recorda ter con-sultado a Habitat (195054) no escritrio de Paulo Cunha. Para os pro-jectos ultramarinos estuda-se agora tambm o Brasil. A preocupao dominante, para quem est na metrpole, a exposio solar e a ven-tilao. Na Casa Sol (1952), habitao colectiva que desenha de Lisboa

  • Capa do catlogo Arquitectura Moderna Brasileira, Lobito, 1961

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    para o Lobito ensaiam-se dispositivos de ensombramento calculados atravs de um aparelho inventado por Armnio Losa para medir a projeco de sombras para aquela cidade.13

    O Brasil conquista definitivamente o imaginrio dos arquitectos modernos portugueses com a Exposio de Arquitectura Contempo-rnea Brasileira montada na Sociedade Nacional de Belas Artes que acompanha o III Congresso da uia realizado em Setembro de 1953 no Palcio Foz.14 A partir daqui, e at inaugurao de Braslia, ser boa a receptividade na metrpole. Castro Rodrigues com Francisco Keil do Amaral, membro da Comisso de Exposies do sna, participando nas equipas de montagem das exposies internacionais que gravitam em torno do III Congresso. Numa lgica de defesa da arquitectura moderna, inviabilizam a mostra sovitica cuja linguagem monumen-tal e historicista ofende as posies alcanadas ps 1948. No extremo oposto, est a exposio brasileira. Este momento de abertura cul-tura internacional encontra Castro Rodrigues com 33 anos espera de autorizao para embarcar para Angola e nesse interregno preparara dois nmeros seguidos da Arquitectura, um com Le Corbusier15 e outro com Burle Marx.16 No grupo dos arquitectos que escolhem exercer nos territrios coloniais, Castro Rodrigues est entre os que por razes polticas vem frustradas as hipteses de colocao em gabinetes ofi-ciais na metrpole. Entretanto avenado como arquitecto da Cmara Municipal do Lobito, aceita uma comisso de quatro anos que se pro-longa at 1987.

    O interesse de Castro Rodrigues pela arquitectura brasileira inten-sifica-se em frica. Dirige com Srgio Prncipe e Maria da Conceio Nobre o Ncleo de Estudos Angolano-Brasileiros. O seu activismo cultu-ral uma forma de interveno poltica. Neste quadro surge a exposio A Arquitectura Moderna Brasileira integrada nas iniciativas da Comisso Municipal de Turismo do Lobito, cidade onde os arquitectos rareiam. Inaugura a 5 de Junho de 1961 na Associao Comercial17 num perodo de esforo de normalizao da vida colonial que se segue ao incio da guerra em Angola. composta por material recolhido em publicaes, principalmente recortes de revistas, e acompanhada de um catlogo com cerca de 112 entradas, sem qualquer ilustrao com excepo da capa que reproduz a imagem de uma obra no identificada em construo. Nesta nica imagem concentra-se a fora empreendedora que caracteriza os pases novos reforando o discurso poltico da iniciativa.

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    A exposio concebida por Castro Rodrigues ilustra dois aspectos da relao entre as culturas arquitectnicas portuguesa e brasileira no ps-guerra: o prolongamento da influncia brasileira nos espaos coloniais portugueses quando esta j decresce na metrpole e a depen-dncia de Le Corbusier. no alinhamento com a obra corbusiana que se traa a longevidade da arquitectura brasileira na perspectiva portu-guesa. A comunicao que faz a 13 de Junho, A Arquitectura Moderna Brasileira, segue o protocolo de 48 quanto argumentao moderna e necessria presena corbusiana; introduz a ligao histrica aos portugueses com que Alves de Souza abrira e encerrara as palestras de 1953;18 e acrescenta o contributo angolano na construo do Brasil. Exposio e palestra seguiro igualmente para Benguela, Luanda, Huambo e Namibe numa lgica de campanha. Castro Rodrigues est empenhado na consolidao de uma sociedade colonial miscigenada e aberta, coincidindo talvez com o esprito reformista imprimido con-temporaneamente por Adriano Moreira ao Ministrio do Ultramar. Cita Stefan Zweig insistindo numa ideia de civilizao baseada na coa-bitao racial, religiosa, poltica e social. Demonstra que o desgnio da arquitectura colonial ser moderna escapando s limitaes corporati-vas de 48: esses pilares vista da estrutura agora independentes como os quebra luzes, foram bases da arquitectura tropical espalhando-se e generalizando-se como necessidade imperiosa.19

    Os anos 60 so atravessados pela explicitao destes princpios: os brises-soleil que se tornam elementos vazados no Liceu Nacional do Lobito (1966), multiplicando-se noutros edifcios; os pilotis do Liceu D. Inocncio Sousa Coutinho ou dos Paos de Concelho, no Sumbe, cujo telhado invertido soluo encontrada tambm na habitao privada (Casa Dr. Figueiredo, Nganda). Para a igreja do Sumbe (1966) fabricam-se elementos pr-modelados em beto armado na Fbrica de Cimentos de Benguela que compem as grelhagens. H inveno e investimento econmico, assente na progressiva instalao da inds-tria de construo civil que serve as experincias locais como atestam as cimenteiras do grupo Champalimaud entretanto fixadas nos territ-rios coloniais. A integrao de peas artsticas refora este referencial brasileiro, comeando nos azulejos do pintor Manuel Ribeiro de Pavia na Casa Sol e continuando no painel de marmorite colorido da Cmara Municipal do Nganda (c. 1971) de Joo Mrio Rasco. A influncia bra-sileira tambm um estado de esprito, que requer uma urgncia que

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    Francisco Castro Rodrigues e o plano para a cidade do Lobito

    Castro Rodrigues admite existir em frica: aqui, nesta Cidade nova, no paramos.20 Impedido pela pide de se deslocar ao Brasil, nunca visitar o pas.

    A afirmao pelo moderno como expresso da arquitectura tropi-cal portuguesa no tem qualquer receptividade junto dos meios inter-nacionais, mesmo daqueles que se ocupam em divulgar experincias arquitectnicas modernas nas regies africanas. O silncio talvez seja imposto como protesto contra a poltica colonial seguida no pas. Em New Architecture in Africa, de 1963, Udo Kultermann faz uma refern-cia breve arquitectura das possesses portuguesas que insere num colonial style no especificado.21 A excepo Amncio d'Alpoim Miranda Guedes, que conhece em Agosto de 1962 no First Internatio-nal Congress of African Culture, Salisbury, e que est nas antpodas das experincias modernas coloniais portuguesas. Nesse mesmo ano, Andr Bloc inclui-o na edio dedicada Architecture Fantastique da L'Architecture d'Aujourd'hui,22 revista de referncia dos seus colegas por-tugueses no acompanhamento da arquitectura brasileira. Tinha entre-tanto sido publicado na Architectural Review.23 Pancho, em Moambique desde criana, para Kultermann herdeiro de uma tradio Jugen-dstil, revelando afinidades com a arquitectura brasileira. Trata-se

  • A Catedral de Braslia fotografada por Pancho Guedes em 1961

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    de uma produo compreendida entre a padaria Saipal (19524) e a Yeshouse (1962), contendo no seu intervalo as diversas obras do stilo-guedes que correspondem ao topo da sua maturidade criativa.24 Livros posteriores de Kultermann, como New Directions in African Architecture de 1969 integram j imagens deste perodo. A excepcionalidade toda-via fica assinalada na edio de 63. Com uma clientela recrutada entre a elite branca, muitas vezes no portuguesa, representa o profissio-nal liberal e independente, sem activismo corporativo ou militncia alinhada. por solidariedade poltica para com o grupo moderno de Loureno Marques que Castro Rodrigues no visita os seus edifcios.

    Pancho possui uma educao anglo-saxnica obtida na frica do Sul onde Le Corbusier parte da formao africanista. No caso iso-lado, como prova Carlos Ivo, na Beira.25 O afastamento que mantm da cultura portuguesa permite-lhe explorar outras geografias arquitect-nicas e escapar das obrigaes ideolgicas herdadas do Congresso e dos futuros regionalismos do Inqurito que se avizinha. Este afastamento pontualmente quebrado em 1953 quando, por obrigaes burocrti-cas, se dirige ebap para obteno da equivalncia. O contacto com a cultura arquitectnica portuense, com Carlos Ramos director da escola ou Fernando Tvora, no o insere na realidade dos arquitectos que da produzem para os territrios ultramarinos. As suas afinidades esto longe de procurarem analogias territoriais ou climatricas. Admira Gaudi, Tzara, Portinari ou Corbusier. Niemeyer includo pelo que antecipa como qualidades plsticas. Conhece a sua fase inicial atravs de The Work of Oscar Niemeyer de Stamo Papadaki, de 1950, adquirido em Joanesburgo. A partir do livro reproduz a estrutura calculada por Joaquim Cardozo para o complexo industrial Duchen-Peixe, na regio de So Paulo, na Fbrica de Cimentos Portland da Matola (19523, no construda). Trata-se de um ensaio estrutural para espaos industriais que tem na Saipal o apuramento mximo. Detm-se igualmente na proposta para um teatro contguo ao Ministrio da Educao e Sade. Mas no lhe interessa particularmente o desempenho tcnico nem o iderio progressista do programa moderno brasileiro. A sua hetero-doxia leva-o a experimentar tcnicas construtivas indgenas. Em 1971, construda a Escola Clandestina (Maputo, 1968), descreve as residn-cias dos canios como baratas e adequadas ao clima e associa o seu padro de vida urbana aceitvel ao facto dos habitantes domina-rem a tcnica de construo das suas casas.26 Como interpretao das

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    manifestaes populares de feio tropical aproxima-se do pensamento de Joaquim Cardozo exposto em Arquitectura Popular no Brasil na Mdulo27 cujos exemplares recebe de Niemeyer.

    Em 1961 viaja com a sua mulher Dorothy pelo Brasil. Durante cerca de um ms, visitam So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Braslia, Salvador, Recife e Olinda. Mostra a sua obra, em palestras organizadas pelas escolas de arquitectura de So Paulo e na Bahia. Intitula-as As coisas no so o que parecem ser, o mesmo tema do Congresso afri-cano de 62. Por visitar ficam Ouro Preto e o hotel de Niemeyer. O objec-tivo principal da viagem a VI Bienal de So Paulo onde se apresenta margem da seleco oficial portuguesa que aposta essencialmente na pintura. Pancho recorre ao ex-Cnsul de Portugal em Pretoria, que ento dirige o Centro de Informaes e Turismo de Moambique, e que lhe assina a autorizao de participao em representao de um pas inexistente. Expe trs edifcios de Loureno Marques com pro-grama residencial: Casa Leite Martins (19513), um conjunto de doze residncias (19546) e um bloco de habitao colectiva (1955). Os nomes verdadeiros so: Casa Avio, Comboio de Moradias ou Arranha-chos, O Leo que Ri. Na imprensa paulista, Pancho, ento com 35 anos, apeli-dado de revolucionrio e a sua cidade de moderna.28 O casal Guedes considera a possibilidade de mudana perante a iminncia de guerra nas colnias e o panorama poltico brasileiro com a recente eleio de Jnio Quadros parece-lhes prometedor.

    Impressiona-se particularmente com a situao urbana gerada pelo Ministrio da Educao e Sade, o Conjunto Habitacional da Gvea, as obras da Pampulha e o teatro de Braslia. um dos primeiros arqui-tectos portugueses a visitar a nova capital em poca muito chegada inaugurao, reunindo um conjunto de vistas que a mostram ainda sem vegetao, empoeirada e com edifcios de franca linguagem moderna. Expressivas so as imagens da catedral por terminar cujo imaginrio se aproxima dos dentes moldados com argamassa no beto dos edi-fcios stiloguedes. As imagens dos edifcios dco que faz na capital paulista e compem outra parte da sua multifacetada personalidade continuam (para j) perdidas. J em Belo Horizonte, confrontando-se com a fase de Niemeyer que mais lhe interessa, identifica o trao corbu-siano na sua obra e simultaneamente reconhece-lhe a maneira livre. Interpela a obra brasileira atravs da artisticidade, distanciando-se de

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    outros arquitectos portugueses. Com a excepo da fbrica da Matola, nos seus projectos essa interpelao nunca literal e diminui quando se aproxima do Team 10 e ao longo dos anos 60.

    Castro Rodrigues e Pancho Guedes representam recenses opos-tas da moderna arquitectura brasileira no Portugal colonial que so reforadas pelas suas excepcionais qualidades individuais. A analogia que Castro Rodrigues v nessa produo entre esprito progressista e discurso poltico cruza-se com a adequao da linguagem moderna ao territrio africano uma inevitabilidade civilizacional, facto que refora na capa da exposio do Lobito. Pancho destaca a plasticidade brasileira do tecnicismo explcito colocando em evidncia a ancestra-lidade que alimenta a caldeira da criao.29 o que memoriza da catedral inacabada de Braslia, por antecipar as runas de um leo sor-ridente na futura Maputo, simultaneamente horrvel e maravilhoso.

    Painis de O Leo que Ri de Pancho Guedes na VI Bienal de So Paulo, 1961

  • notas

    Joo simes, A profisso de Arquitecto nas Colnias in sindicato nacional dos arquitectos, Actas do I Congresso de Arquitectura, Lisboa, sna, 1948, pp. 147, 149.Cf. Joo simes, Joo Simes: uma serenidade objectiva [entrevista de Pedro Vieira de Almeida e Ftima Ferreira] in Jornal Arquitectos, n. 7778, Julho/Agosto, 1989, pp. 711 (9).Ministrio do Ultramar. Projecto de Transformao da S Catedral de Bissau [Joo Simes, 1945], Trabalho n. 10. [Arquivo Histrico Ultramarino]Paulo cunha, Paulo Cunha, o pioneiro do planeamento porturio [entrevista de Pedro Vieira de Almeida e Ftima Ferreira] in Jornal Arquitectos, n. 82, Dezembro, 1989, pp. 2327 (27).Cf. Ana Isabel de Melo ribeiro. Arquitectos Portugueses: 90 anos de vida associativa 18631953, Porto. faup Publicaes, 2002, p. 242 e seg.Cunha, op.cit., p. 27.Maria Manuela Afonso de fonte, Urbanismo e Arquitectura em Angola de Norton de Matos Revoluo, Dissertao para Doutoramento em Planeamento Urbanstico, Lisboa, Faculdade de Arquitectura da Universidade Tcnica de Lisboa, 2007, p. 188 e seg.Joo simes, Francisco Castro rodrigues, Do ensino ao exerccio da profisso in Actas do I Congresso..., op.cit., p. 94.Cf. Joo simes, Francisco Castro rodrigues, Jos Huertas lobo, O Alojamento Colec-tivo in Actas do I Congresso..., op.cit., p. 241.Cf. Ribeiro, op.cit., p. 225.Arquitectura, n. 28, 1949.Sebastio Formosinho sanchez, Arquitectura Moderna Brasileira, Arquitectura Moderna Portuguesa in Arquitectura, n. 29, Fevereiro/Maro, 1949, p. 17.Francisco Castro rodrigues, CV, Azenhas do Mar, 2001, p. 15. [dossier policopiado com textos, recortes e manuscritos]Cf. Ribeiro, op.cit., p. 431.Arquitectura, n. 5051, 1953.Arquitectura, n. 52, 1954.Cmara Municipal do Lobito. Relatrio da Actividade Municipal no Trinio de 196119621963, Cmara Municipal do Lobito, p. 69.Cf. Ana Vaz milheiro, A Construo do Brasil Relaes com a Cultura Arquitectnica Por-tuguesa, Porto, faup Publicaes, 2005, p. 300.Francisco Castro rodrigues, A Arquitectura Moderna Brasileira, Palestra proferida pelo Senhor Arquitecto Francisco Castro Rodrigues, no dia 13 de Junho de 1961, inte-grada na Jornada Luso-Brasileira levada a efeito de colaborao com o Ncleo de Estu-dos Angolano-Brasileiros, na Cidade do Lobito, s.p.Francisco Castro rodrigues. O Beto N e o Lobito in Divulgao Boletim da Cmara Municipal do Lobito, 1. semestre, 1964, pp. 39 (9).Udo kultermann, New Architecture in Africa, New York: Universe Books, 1963, p. 20.L'Architecture d'Aujourd'hui, n. 102, 1962.Architectural Review, n. 770, 1961.

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  • Ana Vaz Milheiro, docente no Instituto Superior de Cincias do Trabalho e da Empresa e na Universidade Autnoma de Lisboa. doutorada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo. Publicou A Construo do Brasil, relaes com a cultura arquitectnica portuguesa (fauppublicaes, 2005) e A Minha Casa um Avio (Relgio d'gua, 2007).

    Cf. Pancho guedes, As Coisas No So o que Parecem Ser a Hora Auto-biofrsica [1962] in Manifestos Ensaios Falas Publicaes, Lisboa, Ordem dos Arquitectos, 2007, pp. 2025.Antnio Manuel da Silva e Souza albuquerque, Arquitectura Moderna em Moambique, inqurito produo arquitectnica em Moambique nos ltimos vinte e cinco anos do imprio colonial portugus 19491974, Prova Final, Coimbra: da/fctuc, 1998, p. 39.Guedes, Os Canios de Moambique [1971] in op.cit., p. 72.Mdulo, n. 5, 1956.Miguel santiago, Pancho Guedes, Metamorfoses Espaciais, Lisboa, Caleidoscpio, 2007, p. 182.Guedes, A prtica da Arquitectura [1964] in op.cit., p. 53.

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    Jos Capela

    Pedro Gadanho

    Godofredo Pereira

    Andr Tavares

    Rui Ramos

    Luis Urbano

    Ins Moreira

    Susana Ventura

    Guilherme Wisnik

    Miguel Figueira

    Pedro Fiori Arantes

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    Nuno Abrantes

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    utilidade da arquitectura: 0+6 possibilidades

    para que serve a arquitectura?

    delrios de poder

    as pernas no servem s para andar

    elenco para uma arquitectura domstica

    duplicidade e a flnerie contempornea

    petit cabanon

    o ovo e a galinha

    niemeyer: leveza no tectnica

    a minha casa em montemor

    o lugar da arquitectura num planeta de favelas

    o suporte da moral difusa

    739h/m2

    arquitectura, natureza e amor

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    opsculos Pequenas Construes Literrias sobre Arquitectura