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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ - SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ- UENP
CAMPUS – JACAREZINHO
FERNANDA CARVALHO RIBEIRO
ARTIGO FINAL
A ESCALA MUSICAL COMO METODOLOGIA PARA O ENSINO DE FRAÇÕES
JACAREZINHO – PR
2014
Título: A escala musical como metodologia para o ensino de frações
Autora Fernanda Carvalho Ribeiro
Disciplina/ Área de ingresso no PDE Matemática
Escola de Atuação Colégio Estadual Júlia Wanderley,
Ensino Fundamental e Médio
Município da Escola Jaboti
Núcleo regional de Educação Ibaiti
Professor Orientador Sônia Regina Leite Merege
Instituição de Ensino Superior UENP
Relação Interdisciplinar Musica
Resumo A relação entre Matemática e Música
existe desde os primórdios, e hoje
vemos que a Matemática é uma
disciplina classificatória para a maioria
dos alunos já a Música desperta
carinho. Este projeto vem apresentar o
ensino da Matemática através da
Música como uma metodologia que
atraia e motive os alunos relacionando
os conteúdos tidos como desagradáveis
como frações, com beleza da música,
deseja-se utilizar a relação existente
entre a música e a matemática de forma
que os alunos possam relacionar os
conteúdos pedagógicos com a realidade
bem como despertar relações afetivas
com a matemática por meio das
relações existentes com a música.
Palavras-chave
Matemática. Musica. Frações. História
Produção Artigo
Público Alvo
Alunos do 7ª ano do ensino fundamental
A ESCALA MUSICAL COMO METODOLOGIA PARA O ENSINO DE
FRAÇÕES
AUTORA: Fernanda Carvalho Ribeiro
ORIENTADORA: Sônia Regina Leite Merege
RESUMO A relação entre Matemática e Música existe desde os primórdios, e hoje vemos que a Matemática é uma disciplina classificatória para a maioria dos alunos já a Música desperta carinho. Este projeto vem apresentar o ensino da Matemática através da Música como uma metodologia que atraia e motive os alunos relacionando os conteúdos tidos como desagradáveis, como fração com a beleza da música, deseja-se utilizar a relação existente entre a música e a matemática de forma que os alunos possam relacionar os conteúdos pedagógicos com a realidade, bem como despertar relações afetivas com a matemática por meio das relações existentes com a música. Palavras chave: Matemática. Musica. Frações. História
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo relata os estudos realizados durante o ano de 2013 e a
intervenção pedagógica realizada com alunos do 7º ano do Ensino Fundamental,
cujo foco foi analisar como os mesmos aprendem frações se estas estiverem
relacionadas com a escala musical.
A relação entre Matemática e Música existe desde os primórdios, e hoje
vemos que a matemática é uma disciplina classificatória para a maioria dos alunos,
estes muitas vezes não percebem que a ela está presente nos mais diversos meios,
como por exemplo, a Música. Levar para a sala de aula a história da Musica através
da Matemática significa sair da zona de conforto e ampliar nosso conhecimento.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O experimento do monocórdio e a música na escola pitagórica
Ninguém sabe ao certo, quando foi a primeira vez em que a matemática e a
música começaram a se relacionar, pois existem registros desde os primórdios de
ambas isoladas, como por exemplo, a matemática era usada para contar animais
através de pedras ou nó em cordas, e “a música já era citada na mitologia grega em
Orfeu, cujo canto acompanhado de lira sustava rios, amansava feras e movia
montanhas”. (ABDOUNUR, 1999, p.3)
De acordo com Abdounur (1999, p.3) “a interação entre essas áreas torna-se
fortemente manifesta a partir da necessidade de equacionar e solucionar o problema
da consonância no sentido de buscar fundamentos científicos capazes de justificar
tal conceito”.
No século VI a.C, Pitágoras de Samos foi uma das figuras mais importantes e
misteriosas da matemática, pois não existem relatos originais de suas obras e de
sua vida, ele teria viajado o mundo antigo para adquirir suas habilidades
matemáticas, depois de vinte anos ele voltara para a ilha de Samos com intenção de
montar uma escola voltada ao estudo de filosofia e matemática. Pitágoras esperava
encontrar muitos alunos, mas chegando lá viu que o tirano Polícrates tinha
transformado a ilha de Samos em uma sociedade intolerante e conservadora, então
deixou a cidade e foi morar em uma caverna para continuar seus estudos sem
perseguição. Ele não gostava do isolamento e subornou um menino para ser seu
primeiro aluno, mas com o tempo Pitágoras mentiu que não tinha mais como pagar,
então o menino ofereceu-se para pagar pela sua educação a partir daí ele se tornou
o primeiro e único discípulo de Pitágoras em Samos. Pitágoras chegou a montar
uma escola conhecida como Semicírculo de Pitágoras, mas suas ideias não foram
aceitas e foi obrigado a fugir com sua mãe e seu discípulo.
Pitágoras foi para o Sul da Itália e estabeleceu-se em Crotona onde encontrou
Milo que era o homem mais rico e também um dos homens mais fortes da história,
que por sua vez estudava matemática e filosofia. “Milo cedeu parte de sua casa para
que Pitágoras estabelecesse sua escola. E assim a mente mais criativa e o corpo
mais poderoso formaram uma aliança.” (Singh, 2008, p. 30).
Pitágoras então formou a irmandade Pitagórica, “um grupo de seiscentos
seguidores capazes não apenas de entender seus ensinamentos, mas também de
contribuir criando ideias novas e demonstrações.” (Singh, 2008, p. 30).
Ninguém fora da irmandade sabia ao certo o que se passara lá, cada membro
era forçado a jurar que nunca revelaria suas descobertas, isto explica por que
existem tão poucos relatos confiáveis de suas conquistas matemáticas, o que se tem
certeza é que a irmandade era uma sociedade religiosa e um de seus ídolos era o
Número.
De acordo com (Singh, 2008, p. 32).
Eles acreditavam que se entendessem as relações entre os números poderiam descobrir os segredos espirituais do universo, tornando-se, assim, próximos dos deuses. Em especial a irmandade voltou sua atenção para os números inteiros (1, 2, 3,...) e as frações.
Pitágoras alem de estudar as relações entre os números também era
fascinado pela relação entre os números e a natureza, ele percebeu que os
fenômenos naturais são governados por leis e estas leis podem ser descritas por
equações matemáticas, e uma das principais ligações que ele percebeu foi a relação
entre a harmonia da musica e a harmonia dos números.
O instrumento mais importante da antiga musica helênica era o tetracórdio, ou lira de quatro cordas. Antes de Pitágoras, os músicos tinham percebido que certas notas, quando soavam juntas , criavam um efeito agradável e afinavam suas liras de modo que ao tocarem duas cordas pudessem produzir tal harmonia. Contudo, os antigos músicos não compreendiam por que certas notas, em especial, erma harmônicas e não tinham nenhum meio preciso de afinar seus instrumentos. Eles afinavam suas liras pelo ouvido,
até conseguirem um estado de harmonia – um processo que Platão chamava de torturar as cravelhas. (Singh, 2008, p. 35).
Conta a lenda que certa vez Pitágoras ao passar por uma oficina de um
ferreiro ouviu os martelos batendo o ferro e produzindo uma harmonia variada, ele
correu para dentro da oficina a fim de investigar a harmonia dos martelos. Ela
analisou os martelos e descobriu que aqueles que eram harmoniosos entre si tinham
uma relação matemática simples, ou seja, martelos que possuíssem a metade, dois
terços, ou três quartos do peso de um determinado martelo produziam sons
harmoniosos.
A partir disso Pitágoras executa uma das mais maravilhosas experiências: o
Monocórdio, nascendo então o quarto ramo da matemática: a música.
“Os pitagóricos foram os únicos até Aristóteles a fundamentar cientificamente
a música, começando a desenvolvê-la e tornando-se aqueles mais preocupados por
este assunto” (ABDOUNUR, 1999, p.5).
Possivelmente inventado por Pitágoras, o monocórdio é um instrumento
composto por uma única corda estendida entre dois cavaletes fixos sobre uma
prancha ou mesa possuindo, ainda, um cavalete móvel colocado sob a corda para
dividi-la em duas seções. No começo seu experimento destacou a relação entre o
comprimento de uma corda estendida e à altura musical do som emitido quando
tocada. Pitágoras buscava relações de comprimento, ou seja, razões de números
inteiros que produzissem determinados intervalos sonoros.
Pitágoras então começou a investigar a relação entre o comprimento da corda
vibrante e o tom musical produzido por ela, “acontecendo assim a primeira
experiência registrada na história da ciência, no sentido de isolar algum dispositivo
para observar fenômenos de forma artificial”. (ABDOUNUR,1999 p.05)
Pitágoras observou que pressionando um ponto situado a 3/4 do comprimento
da corda em relação a sua extremidade e tocando a seguir, ouvia-se uma quarta
acima do tom emitido pela corda inteira, da mesma forma, exercida a pressão a 2/3
do tamanho original da corda, ouvia-se uma quinta acima e a 1/2 obtinha-se a oitava
do som original. A partir de então os intervalos de quarta, quinta e oitava passam a
denominarem-se consonâncias pitagóricas. Esta experiência mostra-se presente em
qualquer instrumento de corda.
A partir desse experimento, Pitágoras relacionou a matemática e a música,
relacionando os intervalos musicais referentes às consonâncias perfeitas - oitava,
quinta, e quarta as relações 1/2, 2/3 e 3/4, estas, correspondem a parte da corda
que fornecem as notas mais agudas a nota mais grave é produzida pela corda
inteira.
A descoberta da relação entre razão de números inteiros e tons musicais mostrou-se significativa naquela ocasião, gerando uma dúvida fundamental para o pensador de Samos, bem como para o desenrolar da relação matemática /música: Por que às consonâncias musicais subjazem razões de pequenos números inteiros? Qual é a causa e qual é o efeito? (ABDOUNUR, 1999, p.6).
Os pitagóricos acreditavam que os números 1, 2, 3, 4 davam origem a toda
perfeição, em termos espaciais, o 1 representava o ponto, o 2 a linha, o 3 o plano e
o 4 o espaço, já em termos cognitivos o 1 representava a inteligência, o 2 o
conhecimento, o 3 a opinião e o 4, os sentidos, eles também consideravam o
número quatro - primeiro número quadrado par como a origem de todo o universo,
estes números representam os quatro elementos: fogo, ar, terra e água.
A cosmologia pitagórica, ao aproximar os sentidos da razão, a música da
matemática, o simbólico do numérico, proporciona uma integração entre o
pensamento mítico e o pensamento lógico [...] (GRANJA, 2010, p.33).
Os intervalos mencionados mostravam-se agradáveis ao ser ouvidos, soavam
naturalmente, portanto tornava-se naturalmente estabelecer afinações que
contivessem tais intervalos denominados puros e construir toda uma escala musical.
Partindo do pressuposto de que a oitava mostrava-se como intervalo fundamental, os pitagóricos a tomam como universo da escala. A partir desta hipótese, o problema do estabelecimento de uma escala reduzia-se a dividir a oitava em sons que determinassem o alfabeto através do qual a linguagem musical pudesse se expressar, tornando-se, portanto natural a partir de uma nota – determinante da oitava universo juntamente com sua oitava superior – caminhar em intervalos de quinta ascendentes e descendentes, retornando à nota equivalente – acrescida ou diminuída de um número inteiro de oitavas – sempre que escapasse da oitava – universo (ABDOUNUR, 1999, p.8).
Os pitagóricos observaram que notas que tinham um espaçamento
determinados por intervalos de oitava apresentavam certa semelhança, podia–se,
portanto, dizer que eram equivalentes. Então a cada oitava percorrido voltava-se a
nota anterior uma oitava acima ou abaixo, como mostra o exemplo abaixo:
Quadro 1: teclado
1
DÓ
8/9
RÉ
64/81
MI
3/4
FÁ
2/3
SOL
16/27
LÁ
128/243
SI
1/2
DÓ
4/9 RÉ1
32/81 MI1
Iniciando pela nota Dó atribuiremos a ela o comprimento 1. 2/3 de DÓ
corresponde a uma quinta (dó, ré, mi, fá, sol), resultando, portanto no Sol, da
mesma forma 2/3 de Sol (2/3. 2/3 = 4/9) corresponde ao RÉ1 (sol, lá, si, dó, ré 1),
onde notamos que este se encontra a uma oitava acima do RÉ que significa que seu
comprimento foi divido ao meio e para colocarmos ele após o DÓ precisamos dobrar
seu comprimento (2. 4/9 = 8/9), continuando 2/3 de 8/9 corresponde a 16/27 que
significa uma quinta de RÉ (ré, mi, fá, sol, lá), originando portando a nota LÁ,
analogamente 2/3 de 16/27 corresponde a 32/81 que significa uma quinta de LÁ (lá,
si, dó, ré, mi) MÍ1 que está a uma oitava de MI, portanto seu comprimento foi dividido
ao meio e para transportá-lo temos que dobrar seu comprimento (2. 32/81 = 64/81),
da mesma forma (2/3. 64/81= 128/243) resulta em uma quinta de MI (mi, fá, sol, lá,
si) dando origem a nota SI e para o Fá uma quinta descendente ou uma quarta
ascendente, dando origem então a primeira escala musical que ficou conhecida
como escala Diatônica Pitagórica.
2.2 Histórico da educação musical na Idade Média
A música fez parte de um dos currículos mais importantes da Antiguidade:
Quadrivium. Este currículo era composto pelas quatro antigas disciplinas da escola
pitagórica: a aritmética, a música, a geometria e a astronomia. Juntamente com
Trivium, que incluía a gramática, a retórica e a dialética, essas disciplinas
compunham as sete artes liberais da Grécia e foram a grande referência curricular
do ocidente por mais de 1000 anos.
Essas disciplinas eram práticas e teóricas, a música, por exemplo, não
bastava somente aprender a cantar e a tocar lira. “Também tinha uma dimensão
teórica – especulativa, como o conhecimento das proporções matemáticas na
música e no movimento dos astros”. (GRANJA, 2010, p. 42).
Em a Republica, Platão deu um novo rumo para as disciplinas do Quadrivium
tornando – as mais teóricas do que práticas com isso iniciam – se uma ruptura da
visão integrada da mousiké. Aos poucos, o ensino prático da música foi perdendo
importância na educação. A música não desapareceu da cultura grega, mas passou
a ser mais ouvida do que praticada.
Nesse sentido o Quadrivium se afastou da educação básica, ficando restrito
ao ensino superior e as disciplinas literárias do Trivium passam a constituir a
formação básica do cidadão grego.
O Quadrivium é retomado somente no século V D.C. com Boécio, um
importante filósofo, responsável pela tradução de algumas obras clássicas de
Aristóteles e Platão.
Sobre a música Boécio classifica em três gêneros: a música cósmica, que os
homens não percebem, pois é uma música gerada pelos astros do universo; a
música humana, que é a mescla do movimento de nossa alma e do nosso corpo e
que só poderemos ouvir através de um exame profundo do nosso interior; e por
último a música prática que é a música criada pela vibração dos instrumentos
musicais e pela voz, esta por sua vez ficará em segundo plano e só terá maior
destaque com a expansão do cristianismo e o desenvolvimento do canto litúrgico.
A Igreja cristã atribuía uma grande importância à música em seus rituais, pois via nela um meio eficaz de influenciar seus fieis. Assim, paralelamente aos estudos metafísicos do Quadrivium, a música pratica voltou a ser objeto de estudo nos monastérios, devido à importância e ao desenvolvimento do conto litúrgico cristão (GRANJA, 2010, p.44).
Guido D’Arezzo viveu no começo do século XI foi o mais célebre estudioso
nesse sentido e é conhecido por ter criado os nomes modernos das notas musicais.
Gradualmente, o interesse pelos aspectos teóricos da musica vai perdendo
importância nas universidades. O repertório litúrgico passa a ser polifônico, e a
notação musical chega a sua forma mais sofisticada, com isso os estudos musicais
práticos voltam a ser valorizados principalmente nos monastérios.
“Com o surgimento das novas universidades na idade média, o estudo da
música perde o caráter metafísico e filosófico e passa a se referir exclusivamente ao
fenômeno sonoro em si”. (GRANJA, 2010, p.45).
2.3 Histórico da educação musical no Brasil
A educação musical no Brasil inicia-se em 1549 com a vinda dos jesuítas,
estes utilizavam - se como metodologia para a catequese dos indígenas, em função
da forte ligação destes com esta manifestação artística.
Com a expulsão dos Jesuítas em 1759, a educação brasileira sofre muitas
mudanças, ao lado da escola religiosa surge à escola leiga, nelas a música continua
muito presente.
Em 1808 Dom João VI - época de prosperidade e desenvolvimento artístico e
cultural no Brasil.
Em 17 de setembro de 1851, Dom Pedro II aprova a lei 630 estabelecendo o
conteúdo do ensino de música nas escolas primárias e secundárias (Leis do Brasil,
1852, p.57). (Mello 1947)
Durante o período colonial a educação musical ficou paralisada e permaneceu
assim até a República da Virada século XX
Em 1915 Gomes Júnior introduziu canto coral na educação brasileira.
Em 1932, Anísio Teixeira fundou a Superintendência de Educação Musical e
Artística – SEMA e convidou Villa-Lobos para o cargo de Diretor do SEMA.
A partir daí apesar das muitas experiências em educação musical que
ocorreram, e das diversas propostas metodológicas que foram desenvolvidas, a
educação musical entrou em decadência.
Em 1996 a lei nº 9394, de 20 de dezembro estabelece as diretrizes bases da
educação nacional.
Em 2008 a nova lei nº 11769, de 18 de agosto altera o artigo 26 da lei nº
9394/96 para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação
básica, passando a vigorar acrescido do seguinte: “A música deverá ser conteúdo
obrigatório, mas não exclusivo do componente curricular nacional”.
2.4 Importância em relacionar o ensino da música com a matemática através
da história da matemática.
De acordo com as DCEs é importante o aluno entender a importância da
história da matemática dentro da prática escolar, para que entendam a natureza da
matemática e sua importância na vida humana.
A história deve ser o fio condutor que direciona as explicações dadas aos porquês da Matemática. Assim, pode promover uma aprendizagem significativa, pois propicia ao estudante entender que o conhecimento matemático é construído historicamente a partir de situações concretas e necessidades reais (MIGUEL & MIORIM, 2004 apud DCEs, 2008, p. 66)
É através da história que podemos entender o presente, o significado e o
porquê tal conteúdo deve ser estudado, e muitas vezes até poderemos entender o
conhecimento empírico, pois todos nós trazemos para a escola um conhecimento
baseado na experiência, que deve ser aproveitado, para que a partir deste possa se
transformar em conhecimento cientifico.
De um modo geral, as diferentes escolas filosóficas dividem o conhecimento humano em duas dimensões distintas: a perceptiva e a conceitual. A dimensão perceptiva engloba o conhecimento adquirido por meio dos sentidos e a dimensão conceitual o conhecimento resultante da atribuição de significados simbólico de natureza interpretativa (GRANJA, 2010, p.85).
De acordo com isso vemos que estas dimensões não existem em separado,
elas se articulam no processo de construção do conhecimento.
Ao contrario notamos que à medida que as séries avançam é valorizada a
dimensão conceitual e deixado de lado a perceptiva, como se esta dimensão fosse
importante somente para as series iniciais e os alunos tendo adquirido entrariam
numa fase totalmente conceitual.
[...] é desejável que a criança adquira e desenvolva o pensamento conceitual, transcendendo a interação exclusiva com os objetos concretos, também é importante que a construção dos conceitos mantenha vínculos com o mundo concreto, de forma a garantir um mínimo de sentido para o aluno que está em formação. (GRANJA, 2010, p.86)
Com base nisso acreditamos que a música pode favorecer esta articulação.
De acordo com (Granja 2010, p.88), “a música envolve diretamente a percepção [...].
Ela é um conhecimento estruturado, passível de ser interpretado no nível dos
conceitos”.
De acordo com (SNYDERS, 1994, p. 38):
Para alguns alunos é a partir talvez da beleza da música, da alegria proporcionada pela beleza musical, tão frequentemente presente em suas vidas em outra forma, que chegaram a sentir a beleza na literatura, o misto
de beleza e verdade existente na matemática o misto de beleza e eficácia que há nas ciências e nas técnicas.
A música está presente no cotidiano dos alunos, e trazê-la para dentro da
sala de aula ligando-a a conteúdos do currículo, fará com que este aluno entenda
que a matemática não está no currículo escolar somente para reprovar ou excluir e
sim que é um conhecimento necessário para que o ser humano possa a partir dela
melhorar a sociedade.
2.5 Inteligências múltiplas, matemática e música
Não podemos separar indivíduos por seus níveis de inteligência ou por
apresentarem aptidões isoladas em lógica matemática ou em linguística. As teorias
de Howard Gardner sobre inteligências múltiplas trouxeram inúmeros benefícios
para a educação, que até pouco tempo consideravam os testes de inteligência QI
como recurso pedagógico para saber se o aluno teria ou não sucesso escolar
A inteligência segundo Gardner (1994) é composta por sete dimensões
distintas: lógico – matemática, linguística, corporal – cinestésica, espacial,
intrapessoal e musical. A seguir uma breve definição das principais inteligências de
acordo com Gardner.
Inteligência lingüística - Os componentes centrais da inteligência linguística
são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de
uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para
usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir ideias. Gardner
indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em
crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para contar histórias
originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas
Inteligência musical - Esta inteligência se manifesta através de uma
habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui
discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para
ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A
criança pequena com habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes
sons no seu ambiente e, frequentemente, canta para si mesma.
Inteligência lógico-matemática - Os componentes centrais desta inteligência
são descritos por Gardner como uma sensibilidade para padrões, ordem e
sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões, através
da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é
a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e
resolvê-los. É a inteligência característica de matemáticos e cientistas Gardner,
porém, explica que, embora o talento cientifico e o talento matemático possam estar
presentes num mesmo indivíduo, os motivos que movem as ações dos cientistas e
dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os matemáticos desejam criar um
mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem explicar a natureza. A criança
com especial aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer
cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio.
Inteligência espacial - Gardner descreve a inteligência espacial como a
capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a
habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções
iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou
espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos.
Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido através
da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes
visuais.
Inteligência cinestésica - Esta inteligência se refere à habilidade para
resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo. É a
habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou
plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com
destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se move com
graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra uma grande
habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada.
Inteligência interpessoal - Esta inteligência pode ser descrita como uma
habilidade pare entender e responder adequadamente a humores, temperamentos
motivações e desejos de outras pessoas. Ela é melhor apreciada na observação de
psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem sucedidos. Na sua forma
mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como
a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a
habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir
apropriadamente a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas
demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que
são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros.
Inteligência intrapessoal - Esta inteligência é o correlativo interno da
inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios
sentimentos, sonhos e ideias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de
problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e
inteligências próprias, a capacidade para formular uma imagem precisa de si própria
e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. Como esta
inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas
simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações linguísticas,
musicais ou cenestésicas.
“Segundo Gardner as inteligências não atuam isoladamente, mas em conjunto
na realização de qualquer atividade. Caberia à escola proporcionar um
desenvolvimento harmonioso do amplo espectro de inteligências de cada pessoa”
(Granja, 2010, p.89).
[...] as múltiplas faces da inteligência manifestam-se em cenários cada vez mais variados, propiciando, portanto novas oportunidades sem os quais determinados potenciais permaneceriam latentes até mesmo por uma vida inteira. (Abdounur, 1999, p.1110).
Abdounur compara a inteligência com uma semente que precisa de um solo
apropriado para germinar. Por exemplo, um aluno pode sentir dificuldade em
compreender o conceito de fração, mas se este estiver inserido dentro de um
assunto que desperte curiosidade, afetividade e motivação, este conceito terá
sentido, o que não acontecia pensando em conteúdos isolados.
Gardner também nos mostra que temos que ter especial atenção às relações
entre as inteligências musicais e matemáticas, ele nos diz que para a sabedoria
popular, estas áreas encontram-se intimamente ligadas.
A meu ver, há elementos claramente musicais , quando não de “alta matemática” na musica , estes não deviam ser minimizados. Para apreciar a função dos ritmos no trabalho musical o individuo deve ter alguma competência numérica básica. (GARDNER, 1994, p. 98)
Portanto se utilizarmos esta ligação poderemos estabelecer cada vez mais
significado e afetividade aos conteúdos ministrados, trazendo a vivencia musical do
nosso aluno para dentro da sala de aula e mostrando que conhecimentos como a
matemática e a musica tido como tão diferentes são complementos um do outro.
3. METODOLOGIA
O retorno para a escola gerou muita ansiedade e expectativa, pois seria
colocada em prática os estudos realizados durante um ano.
Na primeira aula foi aplicado um questionário para medir o quanto os alunos
do 7ª ano conheciam sobre frações, música e a relação entre matemática e musica,
não foi grande a surpresa, pois dos 27 alunos pesquisados somente 4 já pensaram a
matemática relacionada com a musica, alunos estes que tocavam instrumentos 2
alunos teclado e 2 violão, 20 alunos não tinham as noções básicas sobre a ideia de
fração, então teria que ter todo um cuidado em retomar os conteúdos prévios para
que o objetivo fosse atingido. Após esta retomada de conteúdos foi trabalhado com
um texto: O experimento do monocórdio e a música na escola pitagórica, onde foi
estabelecido conexões com os alunos entre música e matemática, e estes
conheceram um pouco da história de Pitágoras e seu experimento o Monocórdio.
Com o texto ficou clara a curiosidade sobre o monocórdio , foi necessário que
deixasse durante uma aula inteira os 5 monocórdios para que os alunos tocassem ,
visualizassem, sentissem foi uma aula que no primeiro momento a impressão que
passava era que era perda de tempo, mas logo depois se notava que fazia parte do
processo de aprendizagem. Na primeira atividade: Utilizando o monocórdio com
corda medindo 36 cm, encontre os som obtido tocando:
a) A corda inteira,
b) Metade da corda (1/2)
c) Três quartos da corda (3/4)
d) Dois terços da corda (2/3)
Dos cinco grupos formados somente um grupo assimilou bem a questão e
não apresentou dificuldade para desenvolvê-la, os outros quatro grupos
apresentaram dificuldades em encontrar as razoes 3/4 e 2/3 e também em
manusear a régua para marcar no monocórdio os comprimentos relacionados às
frações citadas.
Na segunda atividade: Sabendo que as notas musicais estão relacionadas
com as letras do alfabeto Dó – C, Ré – D, Mi – E, Fá – F, Sol – G, Lá – A, Si – B.
Com auxilio de um afinador eletrônico determine a nota musical que corresponde a:
a) Corda inteira
b) Metade da corda (1/2)
c) Três quartos da corda (3/4)
d) Dois terços da corda (2/3)
e) O que acontece quando se toca a corda inteira e depois metade da
corda do monocórdio? Registre suas observações.
f) Quando se toca a corda inteira e depois 3/4 do comprimento da corda a
um aumento de quantas notas?Verifique a resposta dos outros grupos, e anote suas
conclusões.
g) Quando se toca a corda inteira e depois 2/3 do comprimento da corda a
um aumento de quantas notas? Verifique a resposta dos outros grupos e anote suas
conclusões.
A principal dificuldade desta questão foi ter somente um afinador eletrônico,
todos os alunos queriam saber qual nota estava relacionada o comprimento por eles
marcados, todos os grupos notaram que quando se toca a corda inteira e depois
metade à nota é mesma, mas o som é diferente isto foi fundamental para falar da
oitava, já para que notassem a quantidade de notas que aumenta quando se toca
3/4 e 2/3 da corda inteira foi necessário a construção de uma tabela para cada grupo
para que ficasse mais fácil a visualização.
Na terceira atividade: Se ao tocar a corda inteira você obter a nota Dó, qual
nota você terá ao tocar:
a) 1/2 (metade da corda)?
b) 3/4 (três quartos) da corda
c) 2/3 (dois terços) da corda?
d) Confira suas respostas com auxilio do afinador eletrônico.
Os cinco grupos não tiveram dificuldades, também foi utilizado uma tabela
para que os dados ficassem mais facilmente visualizados.
Na quarta atividade: Tomando como ponto inicial a nota Dó do teclado abaixo,
a qual atribuiremos hipoteticamente o comprimento 1 determine as notas que
equivalem as frações representadas
Quadro 2: teclado
1
DÓ
3/4
------
2/3
------
1/2
------
Esta questão também não apresentou dificuldade, pois as questões acima
davam suporte para respondê-la.
Na quarta atividade: Analisando a atividade 3 temos que a nota Fá esta a 4
notas acima da nota Dó isto quer dizer que quando pressionamos 3/4 do
comprimento da corda obtém-se um intervalo de quarta. A nota Sol esta a 5 notas
acima da nota Dó, portanto quando pressionamos 2/3 do comprimento da corda
obtemos um intervalo de quinta. E quando dividimos a corda ao meio, ou seja,
pressionamos 1/2 de seu comprimento obtemos 8 notas acima que equivale a um
intervalo de oitava.
Pitágoras reparou que estas combinações de sons eram agradáveis, desta
forma podemos compreender como que para ele a musica fazia uma
correspondência direta com a aritmética das frações.
A partir do teclado abaixo e percorrendo intervalos de quinta, tendo como nota
inicial o Dó com comprimento hipotético de 1 determine:
Quadro 3: teclado
1
DÓ
RÉ
MI
FÁ
SOL
LÁ
SI
DÓ1
RÉ1
MI1
a) a fração correspondente a nota SOL
b) A fração correspondente a nota RÉ1
c) Você notou que a nota RÉ1 ultrapassou o intervalo de oitava? Neste
momento teremos que transpor a nota Ré1 para dentro do intervalo, para isso
vamos pensar: RÉ1 esta a uma oitava acima da nota Ré. O intervalo de oitava
corresponde a que fração?
d) Esta fração equivale dizer que a nota Ré1 tem a metade do
comprimento da nota RÉ, portanto como podemos calcular a fração correspondente
a nota RÉ?
e) A fração correspondente a nota LÁ
f) A fração correspondente a nota MI1
g) A fração correspondente a nota MI
h) A fração correspondente a nota SI
Foi a questão mais difícil, mas também a mais gratificante, esta questão
demorou cinco aulas, encontrar a fração correspondente a nota sol foi fácil e
também encontrar a fração correspondente a Ré 1 foi tranquilo, mas transpor a nota
Ré 1 para dentro do intervalo foi a parte mais complicada, notei a dificuldade que
nossos alunos encontram para resolver questões que exigem raciocínio,
interpretação, e também senti que temos que trabalhar mais os processos inversos
das operações, dos 27 alunos apenas 2 alunos conseguiu notar que teria que dividir
a fração encontrada na nota Ré1 por 1/2 para transpor esta nota para dentro do
intervalo.
Na quinta atividade: Em um monocórdio com a corda medindo 36 centímetros
determine o comprimento da corda que corresponde a:
a) Nota Dó
b) Nota Ré
c) Nota Mi
d) Nota Fá
e) Nota So
f) Nota Lá
g) Nota Si
Com esta questão ficou clara a dificuldade que nossos alunos encontram na
divisão foi uma questão demorada, mas de muito aprendizado.
A sexta questão foi sem duvida a que eles mais se divertiram: Marque os
comprimentos correspondentes as notas musicais no monocórdio e toque a música
Parabéns pra Você. Depois de marcar as notas não dava para entender que o que
estava sendo tocado era a musica parabéns para você, foi frustrante não ver o
resultado, portanto foi utilizado um teclado onde cada aluno pode tocar a musica
Parabéns para você, eles se divertiram muito um ajudava o outro foi um exemplo de
companheirismo,
Não foi fácil, (é difícil) sair de nossa zona de conforto alunos sentados em fila
fazendo atividades, mas foi muito proveitoso, nosso relacionamento melhorou muito,
eles queriam ter aula de matemática, esperavam pelas aulas.
Ao final da implementação foi dado um novo questionário, que mostrou o
avanço dos alunos, estes puderam perceber que a música está diretamente
relacionada com a matemática, conseguiram adquirir as noções básicas de frações
principalmente à multiplicação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A matemática é vista como uma disciplina classificatória, sem sentido e que
geralmente esta ligada a reprovação. Ao contrário a música é vista como algo que
desperta os mais variados sentimentos, os adolescentes a relacionam com suas
conquistas tanto pessoais como sentimentais, mas pensar a musica relacionada
com a matemática para muitos seria impossível.
A partir deste estudo e da pratica realizada com alunos do 7º ano do ensino
fundamental, constatou-se que relacionar a matemática e a música favorece a
convivência e a colaboração entre os alunos bem como motiva a aprendizagem do
conteúdo: frações.
Vale ressaltar que os alunos apresentaram muita dificuldade nos conteúdos
básicos e foi necessário uma revisão dos conteúdos que antecedem o conteúdo
previsto para o projeto.
Ao fim da pesquisa constatou-se o alcance dos objetivos propostos, e
relacionar conteúdos pedagógicos com a escala musical, motivou a aprendizagem e
despertou o interesse em aprender frações.
REFERÊNCIAS ABDOUNUR, Oscar João. Matemática e música: pensamento anlógico na construção de significados/ Oscar João Abdounur. – São Paulo: Escrituras Editora, 1999. – (Série ensaios transversais). GRANJA, Carlos Eduardo de Souza Campos. Musicalizando a escola: música conhecimento e educação/Carlos Eduardo de Souza Campos Granja. 2. Ed. – São Paulo: Escrituras Editora, 2010. SINGH, Simon. O Último Teorema de Fermat: a história do enigma que confundiu as maiores mentes do mundo durante 358 anos/ Tradução de Jorge Luiz Calife. 13 º. Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2008.