Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
ANA CAROLINA SILVA DE SOUZA
OUVIDORIASUS E SERVIÇO SOCIAL: UM ESTUDO NO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL
NATAL-RN 2014
2
ANA CAROLINA SILVA DE SOUZA
OUVIDORIASUS E SERVIÇO SOCIAL: UM ESTUDO NO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL
Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social. Orientador: Esp. Josivânia Estelita Gomes de Sousa.
NATAL-RN
2014
3
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Souza, Ana Carolina Silva de.
OuvidoriaSus e serviço social: um estudo do Complexo Hospitalar
Monsenhor Walfredo Gurgel/ Ana Carolina Silva de Souza. - Natal, RN, 2014.
75f.
Orientadora: Profa. Esp. Josivânia Estelita Gomes de Sousa.
Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de
Serviço social.
1. Serviço social – Monografia. 2. Ouvidoria - SUS – Desafios profissionais
– Monografia. 3. Humanização – Política nacional – Monografia. I. Sousa,
Josivânia Estelita Gomes de. II. Universidade Federal do Rio Grande do
4
ANA CAROLINA SILVA DE SOUZA
OUVIDORIASUS E SERVIÇO SOCIAL: UM ESTUDO NO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL
Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social, no curso de Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Data da defesa:___/___/____
Resultado: ____________________________
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________
Profª. Esp. Josivânia Estelita Gomes de Sousa (Orientadora)
________________________________________________________
Profª. Drª Maria Dalva Horácio da Costa (Membro)
________________________________________________________
Assistente Social Raída Aparecida de Oliveira Fonseca (Membro)
5
Ao meu Senhor e Salvador Jesus Cristo, àquele que foi morto e ressurgiu. Glória a
Ele eternamente.
6
AGRADECIMENTOS
Como agradecer pelo bem que tens feito a mim? Agradeço primeiramente e
eternamente ao meu Deus, por sua infinita misericórdia e fidelidade em minha vida.
Que me possibilitou realizar este desejo, este sonho em entrar em uma Universidade
Federal, em poder adquirir saber e ter uma educação melhor e de qualidade. Sem
Ele, nada disso teria acontecido, este sonho não se realizaria e o meu objetivo não
seria alcançado. A Ele, honra, glória e louvor. Pois Ele reinará eternamente! Meu
consolador, meu amigo, minha rocha é o Senhor.
Aos meus pais, que com tanto esforço, garra, dedicação e lutas passaram por
cima das adversidades e aflições para me dar a melhor educação possível. Aqueles
que me ensinaram o bom caminho, e com certeza nunca me desviarei dele. Sou
eternamente grata por ter os melhores pais do mundo, e isso não há dinheiro ou
título que pague. Sempre serão meus referenciais, minha base, meu sustento.
A minha mãe por ser exemplo de força e carinho para mim, por ser sempre
minha amiga e me apoiar, incentivar e sonhar comigo os meus sonhos, Te amo pra
sempre!
Ao meu pai que nunca deixou de me faltar nada, que sempre foi meu amigo,
meu herói, meu ajudador, meu porto seguro. Amo-te pra sempre! Dedico a vocês
essa vitória porque sei o quanto lutaram para me dar o melhor!
À minha família linda, meu presente de Deus aqui na terra! Aos meus avós,
meus tios de perto e de longe, meus primos e primas queridos que sempre torceram
pela minha vitória, choravam comigo nos momentos de tristeza e com certeza irão
vibrar com essa alegria! Sou grata ao Senhor pela família abençoada que tenho, e
vocês fazem parte de tudo isso, amo a cada um infinitamente!
Ao meu noivo Bismark, pelo imensurável amor dedicado a mim. Amor, você
me escutou quando mais precisei, me apoiou e sonhou os meus sonhos.
Compreendeu minhas ausências e tenho certeza que mesmo de longe agora, está
orando por mim e torcendo para que tudo transcorra bem. Você chegou à minha
vida num momento crucial e, em breve, estaremos junto para sempre. Obrigado por
tudo, Amo você muitíssimo.
As minhas amigas de escola e faculdade: AMIGAS! Obrigado pelo maior
presente que é ter a amizade e o carinho de vocês. Obrigado pelas que de longe
acompanharam esta trajetória e as de perto. Em especial à minha amiga Rayanna
7
Beatriz, colega de turma e de profissão. Amiga, aprendi muito do serviço social
contigo. Já disse milhões de vezes, mas você foi o melhor presente que a UFRN me
proporcionou. Sua amizade será eterna para mim. Obrigado por tudo amiga, e você
sabe que esta monografia também tem um toque seu, e a vitória também é sua.
Não posso esquecer também de Talita, minha veterana que se tornou eterna.
Amiga, sou eternamente grata pelas orações e torcida, sei que nossa amizade
constituída nas quintas feiras pela manhã nas aulas de acessoria e consultoria
renderá bons frutos. Te amo.
Aos professores, mestres que me acompanharam nesses quatro anos de
aprendizado. Em especial agradeço a minha orientadora Josivânia Estelita, pelo
apoio e por ter abraçado meu tema, com certeza sem ela este trabalho não estaria
tão bom.
Agradeço também a toda equipe de Serviço Social do Complexo Hospitalar
Monsenhor Walfredo Gurgel, pelo acolhimento singular e troca de saberes e
experiências no decorrer do período de estágio.
Ana Carolina Silva de Souza
8
"Cada um dos nossos pensamentos não é mais do que um instante de nossa vida. De que serviria a
vida se não fosse para corrigir os erros, vencer nossos preconceitos e a cada dia alargar nosso coração e nossos pensamentos? Nós utilizamos
cada dia para alcançar um pouco mais de verdade..."
Ronktin Rolland. Jean-Christophe
9
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como objeto de ver qual é a relação entre o setor de OuvidoriaSUS e do setor de Serviço Social, remetendo-se ao nosso espaço de pesquisa, o Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel. Sendo assim, a reflexão se pauta em três momentos distintos, a saber, a construção sócio histórica dos serviços de saúde no Brasil. Abordamos toda a trajetória histórica da saúde brasileira, desde a época do governo Vargas, onde são registrados as primeiras intervenções no âmbito de saúde. Discutimos também a atual conjuntura da saúde pública brasileira, onde acontece o processo de Humanização dos serviços de saúde públicos e estratégias que foram implantadas como, por exemplo, o acolhimento humanizado, equipes de referências, gestão participativa, prontuário transdiciplinar, visita aberta e direito à acompanhante, e o nosso lócus de estudo, a Ouvidoria SUS. Todas essas estratégias estão dentro da Política Nacional de Humanização (PNH). Como espaço de pesquisa nos deteremos ao Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, hospital de referência no estado do Rio Grande do Norte em urgência e emergência, com especialidades que vão da clínica médica a traumatologia. Objetivou-se, através de análises de documentos, revisão bibliográfica e pesquisa de campo com questionários e entrevistas semi-abertas, investigar as razões que levam as competências e atribuições privativas do Serviço Social a serem confundidas com as atribuições da Ouvidoria no CHMWG, a partir de três visões, a saber: O setor de Serviço Social do CHMWG, o setor de Ouvidoria Hospitalar, e 10 usuários dos serviços deste hospital. Os resultados indicam que Nos remetendo aos dados da pesquisa, verificamos que, atualmente, há sim esta confusão entre os setores de Ouvidoria e Serviço Social, justificada pela falta de conhecimento da real função de uma Ouvidoria pelos usuários e até por parte dos outros profissionais que compõem a equipe do hospital. Há também uma falta de conhecimento de seu fazer profissional, o que acarreta sobrecarga de função. O Setor de Serviço Social, analisado através das entrevistas, necessita se deter aos seus documentos, tão preciosos, que delimitam o fazer profissional, suas competências e atribuições privativas. Palavras-chave: Sistema Único de Saúde. Humanização. OuvidoriaSUS. Serviço Social.
10
ABSTRACT
This Labor Completion of course has the purpose of seeing what is the relationship between the sector OuvidoriaSUS and Social Service sector, referring to our search space, the Hospital Complex Monsignor Walfredo Gurgel. Thus, the reflection is guided into three distinct periods, namely the historical social construction of health services in Brazil. We cover all the historical trajectory of the Brazilian health since the time of the Vargas government, which are recorded the first interventions in the context of health. We also discuss the current state of public health in Brazil , where does the process of humanization of public health strategies that have been implemented , for example , humanized host teams of references , participative management , records transdisciplinary , open access and entitlement to services companion, and the locus of our study , the Ombudsman SUS . All these strategies are within the National Humanization Policy (NHP). As the search space to linger on Hospital Complex Monsignor Walfredo Gurgel , referral hospital in the state of Rio Grande do Norte in emergency care , with specialties ranging from medical clinical traumatology. The objective, through analysis of documents, literature review and field research with questionnaires and semi - open interviews, investigate the reasons why the powers and duties of private Social Service to be confused with the Ombudsman's Office in CHMWG from three views, namely: the sector of Social Service CHMWG , the sector of hospital Ombudsman, and 10 service users at this hospital . The results indicate that In reference to the survey data, we find that currently there but this confusion between sectors Ombudsman and Human Services, justified by the lack of knowledge of the real function of an ombudsman for users and even by other professionals forming the hospital. There is also a lack of power of his professional do, which leads to overload function. The Department of Social Services, analyzed through interviews, you need to stop your documents, so precious, defining professional practice, their skills and custodial duties. Keywords:Unified Health System Humanization. OuvidoriaSUS. Social Service.
11
LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – Conhecimento do Setor de Serviço Social......................................p. 58
GRÁFICO 2 – Conhecimento da OuvidoriaSUS................................................... p. 64
12
LISTA DE SIGLAS
AVC – Acidente Vascular Cerebral
CAPs – Centro de Apoio Psico-Social
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social
CHMWG – Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
CPF – Cadastro de Pessoa Física
CRO – Centro de Recuperação de Operados
CTQ – Centro de Tratamento de Queimados
IAPS – Institutos de Aposentadorias e Pensões
NEP – Núcleo de Educação Continuada
OMS – Organização Mundial da Saúde
PNHAH – Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
PNH – Política Nacional de Humanização
SAME – Arquivo Geral do Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
SESAP – Secretaria Municipal de Saúde
SUS – Sistema Único de Saúde
UBS – Unidades Basícas de Saúde
UPA’s – Unidades de Pronto Atendimento
UTI – Unidade de Terapia Intensiva
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
2 A CONSTRUÇÃO SÓCIO HISTÓRICA DA SAÚDE BRASILEIRA 19
2.1 DA PRÁTICA FILANTRÓPICA AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 19
2.2 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE HOJE: SUAS PERSPECTIVAS DE
(NÃO) EFETIVAÇÃO
28
3 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO E O COMPLEXO
HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL
33
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO DE PESQUISA 34
3.2 PRINCÍPIOS NORTEADORES E DESAFIOS À SUA EFETIVAÇÃO 37
3.3 A OUVIDORIA NO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR
WALFREDO GURGEL
45
4 SERVIÇO SOCIAL NO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR
WALFREDO GURGEL
48
4.1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O SERVIÇO SOCIAL 49
4.2 SERVIÇO SOCIAL NO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR
WALFREDO GURGEL
57
4.3 QUESTÕES RELEVANTES PARA COMPREENSÃO DA ASSOCIAÇÃO
DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL COM A OUVIDORIA
64
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 68
REFERÊNCIAS
ANEXOS
APÊNDICES
14
1 INTRODUÇÃO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado como requisito
parcial para obtenção do título de bacharel de Serviço Social. Procuraremos discutir
nesse trabalho o processo de lutas e avanços da saúde pública brasileira, com a
instituição do SUS, a política neoliberal e capitalista influenciadora que sucateou os
serviços públicos e a luta para tornar o SUS mais eficaz e que obedeça seus
princípios através da estratégia HumanizaSUS e particularmente na OuvidoriaSUS1.
A aproximação com essa discussão se deu através da vivência de estágio
curricular obrigatório no período de 2013.1 a 2013.2, dentro do maior hospital do
Estado do Rio Grande do Norte, referência em traumatologia - O Complexo
Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel. Foi nesse cenário que nos apropriamos da
vivência, da prática profissional bem como seus desafios advindos da realidade
social presente.
Após todas as lutas e ganhos nas legislações que regem o SUS, ainda vemos
lacunas a serem repensadas e preenchidas. Falta de estrutura física tanto para os
usuários bem como para os próprios profissionais executarem suas funções de
forma ética e digna são recusados. A lei que rege é simplesmente "desocupar",
"desempilhar os corredores", e não dar uma assistência em saúde digna e coerente.
Pacientes recebem alta sem terem passado por procedimentos cirúrgicos ou
exames que comprovem a causa/diagnóstico de sua doença.
Saem como o dito popular "com uma mão na frente e outra atrás", sem
respostas concretas, sem os devidos encaminhamentos. O serviço social entra como
mais um profissional inserido nesse contexto, e com um peso a mais colocado
historicamente de "resolvedor" de quaisquer problemas de dentro e de fora do
hospital. Todas as demandas sejam de uma troca de soro até notícia de óbito é
colocada nos ombros do Serviço Social do CHMWG.
Dessa forma, se torna desgastante e às vezes impossível se trabalhar as três
dimensões da nossa prática profissional2, tornando assim o processo de trabalho
meramente mecanicista e sem leitura de realidade ou poderio de intervenção. Todas
as reclamações são postas na sala do serviço social, onde na verdade tudo isso
deveria ser escuta de um dos instrumentos da estratégia HumanizaSUS, chamado
1 A Ouvidoria Geral do SUS é um canal de comunicação que possibilita a mediação e a busca do
equilíbrio entre os cidadãos e os serviços do SUS. (BRASIL, 2013) 2 Teórico-metodológico, Etíco- política e Técnico-operativo.
15
OuvidoriaSUS. Através dessas inquietações o presente tema foi proposto para a
autora, onde surgiu a vontade de investigar, estudar e pesquisar acerca do que é a
OuvidoriaSUS, como essa estratégia é importante dentro do contexto do
HumanizaSUS que acontece nos hospitais públicos brasileiros, bem como definir
realmente o que é papel/ e atribuição privativa do profissional assistente social e o
papel da Ouvidoria dentro de um hospital público.
Para se discutir esse processo, abordamos toda a trajetória histórica da saúde
brasileira, desde a época do governo Vargas, onde são registrados as primeiras
intervenções da Política Social brasileira, com a criação dos IAPS no que compete à
parte de saúde. Também aprofundamos os efeitos da ditadura militar que marcou
com toda a exclusão e forte repressão da participação política de qualquer segmento
que se contrapunha a ele, só era admito consensos e participações da burguesia
dos grandes monopólios aliados a esse projeto de governo.
A conjuntura política brasileira leva a década de 1980 a ser uma década de
várias conquistas no meio social, principalmente no que se diz respeito à saúde no
Brasil, foi nesse período que houve o fim do regime ditatorial e a redemocratização
política. A partir desse período a população passou a ter voz em amplos debates no
que se refere à saúde, sendo agora considerada como uma questão política e de
dever do Estado para com a população civil.
As mudanças que começaram a ocorrer logo após a ditadura. O marco
principal ocorreu na década de 1980 onde houve vários debates políticos no
decorrer do processo legislativo da Assembléia Constituinte onde a subcomissão de
Saúde, Seguridade e Meio Ambiente ganhou uma repercussão nesse período. Tudo
isso era para se homologar na Constituição que estava a surgir, o direito universal
da saúde, e colocá-la também como dever do Estado.
E é exatamente na década de 1980 que é efetivada a promulgação da
Constituição Federal de 1988, no dia cinco de outubro, sendo esta considerada a
“Constituição Cidadã”, nela se houve uma maior universalização dos direitos e a
diminuição de injustiças sociais que sempre estiveram presente na história do Brasil.
O SUS, institucionalizado na Constituição Federal, nas Leis Orgânicas
Federais 8080/8140 e no Código de Saúde do Estado de São Paulo, tendo como
princípios a universalidade do atendimento, a equidade das ações, a
descentralização dos serviços e uma ampla participação social em seu controle.
16
E para finalizar nossa trajetória discutimos na atual conjuntura da saúde
pública brasileira, onde acontece o processo de Humanização dos serviços de
saúde públicos, e estratégias estão sendo implantadas como, por exemplo, o
acolhimento humanizado, equipes de referências, gestão participativa, prontuário
transdiciplinar, visita aberta e direito à acompanhante, e o nosso lócus de estudo, a
Ouvidoria SUS. Todas essas estratégias estão dentro da Política Nacional de
Humanização (PNH).
Acerca da metodologia, o seu tipo foi de pesquisa social, de caráter
qualitativo, que segundo (Fraga, 2010):
Conforme Martinelli (1994), as metodologias qualitativas aproximam pesquisador/ sujeitos pesquisados, permitindo ao primeiro conhecer as percepções dos segundos, os significados que atribuem a suas experiências, seus modos de vida, ou seja, oferece subsídios para trabalhar com o real em movimento, em toda a sua plenitude; (FRAGA,2010, pág.6).
Como técnica de coleta de dados utilizamos da entrevista semi-estruturada,
para os profissionais de Serviço Social e Ouvidoria, pois assim possibilita a futura
alteração/exclusão/inclusão de questões. Como instrumento para a realização da
técnica de coleta de dados foi adotado um formulário com questões abertas e
fechadas, para assim se obter uma melhor liberdade tanto para o entrevistador, bem
como para o entrevistado.
A análise de dados qualitativos e quantitativos foi em caráter complementar,
que, segundo (Prates, 2003):
Esta etapa é de extrema relevância, pois vamos aplicar na prática o plano de pesquisa que elaboramos. Vamos estabelecer relações, observar e escutar sujeitos e articular suas expressões, aos seus contextos, suas histórias e aos conhecimentos que acumulamos ao longo das etapas anteriores de nosso estudo. Vamos buscar apreender a vida, o movimento da realidade A qualidade das relações e dos vínculos que conseguirmos estabelecer, a postura, o modo como nos aproximamos, a linguagem que utilizamos, o modo como nos apresentamos e dirigimos nosso olhar, são elementos essenciais para o sucesso das abordagens que vamos realizar. (PRATES,2003, pág. 18).
Para análise do material trabalhamos com Análise de Conteúdo, os resultados
dos dados quantitativos serão apresentados através de tabelas.
17
Como primeiro movimento para a realização deste presente trabalho,
realizamos ampla leitura bibliográfica. Acerca da Polícia Nacional de Saúde nos
utilizamos dos pensamentos de Elaine Behring e Ivanete Boschetti, bem como Ana
Elisabeth Motta e Perry Anderson. Já na discussão a respeito do Sistema Único de
Saúde – SUS, HumanizaSUS e Ouvidoria, nos deteremos às leis, diretrizes,
portarias e cartilhas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, seja de forma
impressa ou digital.
No que concerne à pesquisa documental, tivemos acesso aos documentos
oficiais do CHMWG, disponibilizados pelo SAME3, bem como alguns documentos da
OuvidoriaSUS do CHMWG. Como vimos anteriormente a pesquisa será realizada no
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, localizado na cidade de
Natal/RN4.
A seguir, elaboramos os instrumentos de pesquisa, que foi um formulário com
questões abertas e fechadas para melhor interação do entrevistado bem como do
entrevistador. Posteriormente realizamos a testagem do instrumento de pesquisa
aplicando a um dos familiares da autora e dois usuários da estratégia, efetivando, a
partir de então, as adequações que se fizerem necessárias.
Logo após, foram agendadas as entrevistas, para assim proceder com a
coleta de dados. Após o período de coleta iniciamos o processo de análise do
material. Como universo do presente projeto de pesquisa, nos detivemos ao
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel. Para realizar o recorte de nosso
universo, ou seja, a amostra do projeto de pesquisa, realizamos a entrevista com
apenas os profissionais existentes na OuvidoriaSUS presente no CHMWG, Três
Assistentes Social do Setor de Serviço Social do hospital. Já os questionários foram
aplicados à 10 usuários do SUS que estavam internados ou acompanhando algum
paciente dentro do hospital.
Levando em consideração a importância da ética na pesquisa e a Resolução
196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, como pré-condição para realização da
coleta de dados desta pesquisa será a utilização do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido.
3 SAME/CHMWG – Arquivo geral do hospital.
4 Ver Caracterização do espaço de pesquisa, p. 32 deste trabalho.
18
Quanto ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o mesmo foi
preenchido pela acadêmica pesquisadora em conjunto com o sujeito de pesquisa,
em local adequado que garanta o sigilo, a privacidade e a anonimidade.
Além do Termo outro cuidado necessário será referente à devolução dos
dados da pesquisa, será disponibilizado ao serviço, o trabalho em CD no qual serão
retirados todas e quaisquer informações identificatórias, preservando desta forma o
sigilo, o anonimato e a privacidade do sujeito de pesquisa.
A Monografia está estruturada em três capítulos, a saber: No primeiro
capítulo, abordaremos a trajetória sócio- histórica brasileira, desde o período Vargas
até a homologação da Constituição de 1988, marco para a saúde, que deixa de ser
apenas para algumas classes da sociedade e passa a ser direito de todos e dever
do Estado de custear e oferecer um serviço de saúde digno, contínuo e gratuito. Por
conseguinte, teremos uma abordagem dos tempos atuais e dos debates acerca da
saúde. Com o avanço do Neoliberalismo, a política de saúde sofre ajustes. A
aderência do neoliberalismo pelo Brasil diminuiu drasticamente os direitos
trabalhistas e sociais até então conquistados, houve o aumento da refilantropização
para que se pudesse haver uma diminuição de custos, e também o
desmoronamento da saúde, da previdência social e da educação. Todas essas
mudanças que aconteceram, impactaram negativamente no SUS, pois não estava
sendo cumprindo as medidas que tinham sido decididas na Plenária em Brasília.
No segundo capítulo adentraremos na discussão de Humanização do SUS.
Nele, encontraremos os conceitos, objetivos e a necessidade de humanizar o
serviço de saúde público ofertado. Com isso, apresentaremos o espaço de pesquisa,
o Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, e após a análise da PNH,
abordando suas diretrizes e desafios nos tempo atuais, entraremos mais
especificamente em um setor deste Hospital, chamado OuvidoriaSUS.
No terceiro capítulo, adentraremos no debate de breves considerações acerca
do Serviço Social no Brasil. Abordaremos, assim, sua construção e partiremos do
ponto de conquista para a profissão, a partir do movimento de reconceituação ,até
aos desafios atuais da profissão, na área de saúde. Apresentaremos o setor de
Serviço Social dentro do espaço de pesquisa, e por fim, citaremos as questões
relevantes acerca da confusão entre o setor de Ouvidoria Hospitalar e o setor de
Serviço Social.
19
Sendo assim, a política de saúde pública brasileira torna-se um debate
recorrente mas ao mesmo tempo cheio de lacunas e novas oportunidades para a
crítica e reflexão. Vemos hoje uma mercantilização da saúde, através das grandes
empresas que vendem saúde sendo que já pagamos por isso através da
institucionalização do SUS e da cobrança de nossos altíssimos impostos. Mas os
grandes burgueses investem cada vez mais em marketing afirmando que o SUS
está falido e assim a compra pelo produto saúde se torna maçante.
Mas a realidade que nos rodeia é diferente. Por não terem dinheiro suficiente
para investir, por exemplo, em equipamentos de alto custo para realização de
exames e procedimentos de alta complexidade, o usuário do serviço privado de
saúde acaba sendo transferido para o serviço público de saúde para ter assim
eficácia no seu tratamento.
O SUS é o único detentor de grandes aparelhos caríssimos e dos melhores
profissionais. Por isso afirmamos que o SUS é o melhor plano de saúde que o
brasileiro pode ter e tem, afinal pagamos por isso com nossos impostos e temos
acesso livre, pois é assegurada a saúde para todos através da Constituição Federal
de 1988.
20
2 A CONSTRUÇÃO SOCIO HISTORICA DA SAÚDE BRASILEIRA
O presente capítulo é composto de dois subcapítulos que abordaram de
forma aprofundada a temática da Saúde brasileira, tanto no que nos cerne a questão
histórica bem como a real situação da Saúde hoje e seus desafios em tempos de
capitalismo.
O primeiro subcapítulo nos trará a construção do que hoje chamamos de
Sistema Único de Saúde - SUS, onde discutiremos desde a falta de assistência a
saúde para a população brasileira, gerando assim epidemias até as revoltas e
embates acerca dessa temática. Por fim, citaremos a maior conquista até hoje no
âmbito de saúde pública, onde após vários embates e debates conseguimos como
nação institucionalizar o Sistema Único de Saúde, tornando assim a saúde um
direito de todos os cidadãos constituintes desta nação e dever do Estado de mantê-
lo e oferecer um serviço de saúde de qualidade.
Já o segundo subcapítulo nos trás uma analise critica acerca da real situação
do SUS no Brasil. Abordaremos suas perspectivas, avanços e desafios nesse tempo
de neoliberalismo e mercantilização da saúde. Para balizar esses pensamentos,
ideias e momentos, nos apoderamos no primeiro subcapítulo dos autores Behring e
Boschetti, Iamamoto, Bravo, dentre outros. Já no segundo subcapitulo nos
balizamos pelos pensamentos das próprias legislações do Ministério da Saúde, além
de Anderson e Costa.
2.1 – Da prática filantrópica ao Sistema Único de Saúde
O marco inicial do desenvolvimento das forças produtivas, especificamente, a
grande indústria se inicia no período onde a crise de 1929-1932 se deflagra em
escala mundial. Essa crise corrobora para que, no Brasil, a economia estritamente
agroexportadora entre em declínio, pois a superprodução gerada já não tinha poder
de escoamento. De acordo com Behring e Boschetti (2011), com a paralisia do
mercado mundial em função da crise, as oligarquias agroexportadoras cafeeiras
ficaram extremamente vulneráveis econômica e politicamente.
E dessa forma abriu espaços para antigos produtores de gado e açúcar se
legitimarem enquanto classes dominantes o que convergiu para um novo quadro
político e econômico no país, porém grande parte das oligarquias cafeeiras fizeram
coalizões e investimentos para diversificar seu capital tendo em vista a forte
acumulação anterior.
21
É nesse momento que se inicia o governo Vargas, a partir de 1930,
comprometido com interesses das oligarquias e das pequenas iniciativas industriais
que emergiam a partir desse momento. O Estado varguista estabeleceu o
compromisso de impulsionar a economia através do fortalecimento das oligarquias e
industriais, e para tanto tinha que estabelecer consensos com a classe trabalhadora,
principalmente no que se refere às regulamentações trabalhistas e os
enfrentamentos à questão social.
Nesse sentido, se o governo Vargas enfrentou também com a polícia os componentes mais radicalizados do movimento operário nascente, em especial após 1935, ele soube combinar essa atitude com uma forte iniciativa política: a regulamentação das relações de trabalho no país, buscando transformar a luta de classes, e o impulso à construção do Estado social, em sintonia com os processos internacionais, mas com nossas mediações internas. (BEHRING, BOSCHETTI, 2011 p.106).
O enfrentamento à questão social na década de 1930 precisou se transformar
em questão política, ou seja, as ações e suas conformações passaram a ser de
interesse e administração do Estado com enfoque principal nos assalariados
urbanos que tinham papel de destaque tanto por ser um forte seguimento em
ascensão no desenvolvimento das forças produtivas como também sujeitos políticos
que poderiam reafirmar a política e o governo varguista.(Behring e Boschetti, 2011).
Segundo Iamamoto(1983), a questão social seria as expressões do processo
de formação e desenvolvimento da classe operária e do ingresso da categoria no
cenário político da sociedade, fazendo com que se exigisse um reconhecimento
como classe por parte do empresariado e do Estado. “É na manifestação, no
cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual
passa exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão”.
(IAMAMOTO, 1983, Pg. 77). É neste cenário que surge e emerge a questão social.
Dessa forma, percebemos o caráter consensual e de duplo interesse por
parte da classe dominante em realizar de ações que promovessem um bem social a
determinadas categorias sociais, excluindo por hora, os seguimentos que não
tinham força política e econômica, como por exemplo, os trabalhadores rurais.
Segundo Behring e Boschetti (2011), o Estado social nesse momento possuía
o caráter corporativo e fragmentado distante de qualquer concepção universalista,
22
além disso, as principais ações eram voltadas para a regulação do trabalho, como: a
regulação dos acidentes de trabalho, concessões de aposentadorias e pensões,
bem como auxílio doença, maternidade, dentre outros.
No que concerne à política de saúde, foco desse trabalho, ela se deu sob dois
eixos centrais: a saúde pública e a medicina previdenciária (com os Institutos de
Aposentadorias e Pensões - IAPS). Estes Institutos, em particular, foram criados a
partir de uma Lei criada em janeiro de 1923, chamada na Época de Lei Elói Chaves.
Essa lei que institucionalizava os IAPs beneficiavam poucas categorias profissionais.
Conforme o tempo passou, diversas categorias foram criando suas próprias caixas
de aposentadorias, mas a grande maioria da população brasileira ficava desassistida
no que concerne à saúde. Porém, faz-se necessário pontuar que os recursos
destinados à saúde por parte desses institutos foram estabelecidos limites, tanto
para o atendimento médico-hospitalar, quanto para o farmacêutico. (Bravo, 2006).
Algumas ações de caráter público na saúde de 1930 a 1940 foram:
Ênfase nas campanhas sanitárias;
Coordenação dos serviços estaduais de saúde dos estados de fraco poder
político e econômico, em 1937, pelo Departamento Nacional de Saúde;
Interiorização das ações para as áreas de endemias rurais, a partir de 1937,
em decorrência dos fluxos migratórios de mão-de-obra para as cidades;
(Braga e Paula, 1986 apud, Bravo, 2006, p. 91).
Segundo Bravo (2006), foi só no decorrer dos anos 1945- 1950 que houve a
consolidação de uma Política Nacional de Saúde, e no decorrer dos anos 50 houve
a advento da saúde privada e filantrópica no atendimento médico-hospitalar, porém
o resultado desses anos de ações no que se refere à saúde até o inicio do período
de Ditadura Militar não conseguiu eliminar o quadro de doenças parasitárias,
infecciosas, e a mortalidade infantil, bem como a morbidade de maneira geral.
A Ditadura Militar, iniciado em 1964, a partir de um golpe de Estado pelos
militares ao presidente à época João Goular, representou uma reação aos anseios
de práticas de cunho socialista por parte do presidente, nesse sentido os militares
evitaram a ameaça comunista no Brasil iniciando um período de forte repressão
política e social, bem como de uma impulsão e consolidação do desenvolvimento
capitalista brasileiro.
Segundo Netto (2011), o avanço nas forças produtivas se deu a partir de uma
associação com os grandes monopólios, principalmente ao norte-americano. Essa
23
associação foi pautada na atração de investimentos externos que serviam de
alavanca para o desenvolvimento industrial do Brasil, com o objetivo de inserir o país
na internacionalização da produção, isso gerou graves problemas para a sociedade
brasileira que se viu obrigada a passar por um “arrocho salarial” e condições de
precarização da vida.
O momento central desse período que Netto (2011) destaca se caracteriza pela
expressiva acumulação e concentração de capital por parte de classe dominante
que foi favorecido pelos militares, pois o Estado brasileiro estava direcionado para o
enriquecimento dessa classe deixando à mercê as demais populações, e ele ainda
foi além, na medida em que houve forte repressão ideológica e extrema violência
contra qualquer sujeito que se antepusesse ao sistema capitalista e as práticas
ditatoriais. Esse Estado enfrentou as expressões da Questão Social, tentando
legitimar um Estado centralizador, intensificando nesse período, com repressão e
assistência.
No campo da assistência se expandia a criação de trabalho para o assistente
social. Há um forte aumento do mercado de trabalho nacional principalmente nas
grandes empresas monopolistas e no Estado. Os serviços sociais vigentes nessa
época, no entanto, servem como fonte de acumulação de capital, e não apenas
como instrumentos de redistribuição de renda. O Estado ditatorial segundo Bravo
(2006):
[...] utilizou a sua intervenção o binômio repressão-assistência, sendo a política assistencial ampliada, burocratizada e modernizada pela máquina estatal com a finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, suavizar as tensões sociais e conseguir legitimidade para o regime, como também servir de mecanismo de acumulação de capital. (p. 95).
Diante desse quadro, a saúde foi colocada no plano da medicalização da vida
social, ocorreu a unificação da Previdência Social e a junção dos IAPS5em 1966
(Bravo, 2006) que caracterizou a exclusão dos trabalhadores da gestão da
previdência como um mecanismo de modernização do aparelho estatal e o
alijamento do jogo político do segmento dos trabalhadores. A Ditadura marca toda a
exclusão e forte repressão da participação política de qualquer segmento que se
5Após essa unificação, o nome foi modificado para Instituto Nacional de Previdência Social (INPS)
24
contrapunha a ele, só era admito consensos e participações da burguesia dos
grandes monopólios aliados a esse projeto de governo.
Nessa conjuntura foi implantado no país um modelo de privilegiamento do
setor privado em contrapartida ao setor público e dessa forma Bravo (2006) trás
algumas características do setor saúde nesse período: Ênfase na prática médica
curativa, individual, assistencialista, e especializada, bem como a articulação entre o
Estado e as indústrias farmacêuticas e de equipamento hospitalar. Criação do
complexo médico-industrial, responsável pelas elevadas taxas de acumulação de
capital das grandes empresas monopolistas internacionais. Interferência estatal na
previdência, desenvolvendo um padrão de organização da prática médica orientada
para a burocratização do setor saúde, propiciando a capitalização da medicina e
privilegiando o produtor privado desses serviços, dentre outros. Dessa forma a
assistência a saúde se tornou linear, com a visão puramente da doença e não das
relações e correlações sociais que este cidadão enfrenta. Medicamentos com preços
altíssimos e a recusa dos médicos a trabalharem para o governo com a justificativa
de baixos salários e falta de estrutura para trabalhar, o que de fato ocorre. Com isso
eles migram para o setor privado, provocando o déficit de profissionais no setor
público. Com isso a mercantilização da saúde é algo que só tem crescido durante as
décadas.
A partir disso podemos perceber que esse período deu início aos que até hoje
nós vivenciamos com a saúde no nosso país: o forte desmonte da política pública e
a supervalorização do setor privado.
As doenças que afetavam os grandes segmentos da população brasileira eram de responsabilidade do Ministério da Saúde, enquanto o atendimento médico individual ficou sob responsabilidade do setor previdenciário. A medicalização da vida social foi imposta, tanto na saúde pública quanto na previdência sócia. O setor saúde precisava assumir as características capitalistas, com a incorporação das modificações tecnológicas ocorridas no exterior (BRAVO, 2007, p.42).
As práticas médico curativas eram intensificadas e em contrapartida os gastos
públicos com a saúde tiveram reduções drásticas, os militares desconsideraram os
indicadores sociais de mortalidade infantil, por exemplo, que ia se acentuando.
(Bravo, 2007).
25
No que concerne a medicina preventiva houve algumas ações nesse sentido,
porém os médicos que estavam à frente dessas atividades tinham que se submeter
às determinações do Estado ditatorial que elevava a prevenção como mecanismo de
assistencialismo na atenção médica, sobretudo a partir de 1968.
Segundo Bravo (2007), a Ditadura Militar representou um momento de
supervalorização da burguesia nacional e internacional com o incremento do
capitalismo Monopolista de Estado. No entanto, com o passar de dez anos a
superestrutura montada de dominação e coerção se viu em crise devido à
supervalorização dos monopólios internacionais enfraquecendo as empresas de
base da burguesia local, a conseqüência disso foi a perda de legitimidade e de
aliados ao governo.
Segundo Escorel (1787), Forjaz caracteriza quatro interpretações sobre as origens da distensão: a crise econômica do país, articulada ao panorama internacional (o primeiro choque do petróleo); a busca de institucionalização e legitimidade para o regime autoritário; a quebra da hierarquia e outras questões no interior da corporação militar, decorrentes do prolongado exercício do poder político, e a crise jurídico-institucional. (BRAVO, 2007, p.46).
No contexto de crise de legitimidade do sistema intensifica-se o processo de
luta e dos movimentos operários e popular levando ao fortalecimento da sociedade
civil que até o presente momento era alijada de todo e qualquer processo de tomada
de decisão, marcando assim, a retomada do poder de negociação da população
com o Estado.
Este se viu obrigado a intensificar as ações da política social devido ao
agravamento das péssimas condições de vida da população incluindo o aumento da
pauperização relativa e absoluta, Bravo (2007).
A partir de 1974 a 1979, segundo Boschetti (2010), no que tange à saúde não
ouve grandes modificações, o marco desse período é: a retomada das Conferências
Nacionais de Saúde (CNS) que colocou na agenda das atividades desenvolvidas
pelo Ministério da Saúde a ampliação dos atendimentos de saúde à população rural,
bem como ênfase nas campanhas médico-sanitaristas tais como: imunizações,
vigilância epidemiológica, dentre outros.
A conjuntura política brasileira leva a década de 1980 a ser uma década de
várias conquistas no meio social, principalmente no que se diz respeito à saúde no
26
Brasil, foi nesse período que houve o fim do regime ditatorial e a redemocratização
política. Porém, esse mesmo período foi considerado a década perdida para e
economia, principalmente pelo grande endividamento externo, gerado pelo setor
privado, e isso fazia com que a população ganhasse ainda mais fôlego para lutar
novamente pela democracia, de acordo com Behring e Boschetti (2011).
A partir desse período a população passou a ter voz em amplos debates no
que se refere à saúde, sendo agora considerada como uma questão política e de
dever do Estado para com a população civil.
As mudanças que começaram a ocorrer logo após a ditadura, tiveram vários
atores sociais, dentre eles os movimentos sociais, que participaram ativamente da
constituição de novos campos de conhecimento e de práticas até então
desconhecidas– como a saúde do trabalhador, a saúde da mulher, a saúde mental
entre outros – frutos dos processos nos quais tiveram um papel decisivo, como o
movimento feminista, a luta antimanicomial e a luta sindical, exemplos de um
fenômeno mais amplo de participação da sociedade civil para que se formulassem
propostas para a saúde, pensando em outras novas possibilidades, que vão bem
além da prática médica. (Boschetti, 2010).
Os principais envolvidos neste tema eram os profissionais da área de saúde,
sendo representados por suas entidades e defendendo o setor público e não mais
seus interesses apenas pessoais. Estes sujeitos compunham o movimento sanitário
brasileiro. Partidos políticos de oposição, e o principal ator que é a população como
um todo, juntamente com movimentos urbanos e sociais articulados entre si.
Nos debates que aconteciam se abordavam várias propostas para a melhoria
da saúde, estando no centro o fato de que este setor, a partir daí seria considerado
como direito de todos e dever do Estado. A saúde seria universal, independente da
classe, qualquer cidadão poderia utilizar dos serviços de saúde, mesmo ele tendo
condições de arcar com os custos de um plano privado, haveria uma reordenação
do Sistema Unificado de Saúde e uma descentralização das decisões municipais e
estaduais. (Boschetti, 2010).
Foi neste período que houve um dos acontecimentos mais importantes para a
saúde no Brasil, que foi a realização de 8ª Conferência Nacional de Saúde, que
aconteceu em Brasília no mês de março de 1986. A conferência discutiu acerca da
temática da saúde de forma bem ampla, sem deixar nenhuma área sem ser
contemplada, os debates foram em torno da reformulação do Sistema Nacional de
27
Saúde, do financiamento e também da saúde sendo direito de todos os cidadãos.
(Boschetti, 2010).
É preciso deixar claro que esse foi o momento em que a saúde passa a ter
destaque como questão política que vai além de processos de saúde-doença e sim
de condições dignas de vida, de saúde, de moradia, trabalho, alimentação,
segurança, lazer, dentre outros determinantes do bom condicionamento de vida.
Segundo Boschetti (2010), foram cerca de quatro mil e quinhentos
participantes, sendo que destes, mil eram delegados. As discussões foram além dos
fóruns específicos e ganharam uma dimensão bem maior, sendo a saúde analisada
como um todo e não fragmentada, com apenas o cuidado curativo da doença.
Sendo assim surgiu um movimento de luta por uma Reforma Sanitária nesse
período.
Outro fato importante da década de 1980 foram os debates políticos no
decorrer do processo legislativo da Assembléia Constituinte para a construção da
Constituição, onde foram criadas comissões e subcomissões para discutir cada
parte que concerne os debates. A subcomissão de Saúde, Seguridade e Meio
Ambiente ganhou uma repercussão nesse período. A discussão sobre a saúde
pública e universal, já perpassada na 8ª Conferência de Saúde, adentrou na
subcomissão e ganhou força e peso. Todas as entidades ali representadas
reivindicavam a instauração de um sistema público e universal de saúde.
Segundo Boschetti (2010), com essa representatividade alcançada através
dos amplos debates anteriormente ocorridos, quase que inteiramente, os princípios
defendidos pela Conferência Nacional de Saúde foram garantidos na Constituinte,
como o direito à saúde universal e incondicional. A Constituição Federal de 1988 é
considerada a maior conquista da nação brasileira no que se refere à garantia de
direitos sociais.
E é exatamente na década de 1980 que é efetivada a promulgação da
Constituição Federal em 1988, no dia cinco de outubro, sendo esta considerada a
“Constituição Cidadã”, nela se houve uma maior universalização dos direitos e a
diminuição de injustiças sociais que sempre estiveram presente na história do Brasil.
Mas, sabemos que somente a constituição não foi capaz de minimizar as diferenças
sociais, epidemias e universalizar os direitos. Mesmo com todas as legislações
criadas durante e pós constituição ainda vemos muitas injustiças sociais e a não
efetivação dos direitos sociais para todos os cidadãos. E com a saúde não é
28
diferente, pois com o avanço do Neoliberalismo6 e a falta de empenho do Estado, a
saúde brasileira está doente, e se continuar sem tratamento provavelmente não
haverá cura.
Os debates foram divididos por duas categorias, uma era composta pela
Plenária Nacional pela Saúde na Constituinte que propunha a Reforma Sanitária e
outra era composta por grupos empresariais que tinham como líderes, a Associação
das Indústrias Farmacêuticas e a Federação Brasileira de Hospitais.
Segundo Boschetti (2010), na Plenária final foram aprovadas várias medidas
para a nova Constituição, sendo elas: os serviços e ações de saúde agora são
controlados, fiscalizados e regulamentados pelo poder público; o setor privado de
saúde será apenas suplementar, impedindo, também, a destinação de recursos para
essas instituições, tendo elas de seguir normas e assinar termos contratuais; fica
estritamente proibido a comercialização do sangue humano, bem como seus
derivados, a saúde agora é um direito universal, cabendo ao Estado proporcioná-la à
população, independente da condição do cidadão onde algum tipo de contribuição e
a última, não menos importante, a criação do Sistema Único de Saúde, englobando
todos os serviços de saúde em uma rede regionalizada, hierarquizada,
descentralizada, atendendo integralmente e com a participação de toda a
comunidade. (CF, 1998). Dessa forma, teríamos uma saúde para todos os níveis da
população de forma integral, bem como o poder descentralizado, designando
funções específicas para as três instâncias do Governo Federal, Estadual e
Municipal.
Dessa forma, o SUS, foi institucionalizado e regulamentado através
primordialmente pela Constituição Federal de 1988, bem como nas Leis Orgânicas
Federais 8080/8140 e no Código de Saúde do Estado de São Paulo, tendo como
princípios a universalidade do atendimento, a equidade das ações, a
descentralização dos serviços e uma ampla participação social em seu controle.
Segundo Boschetti (2010), esta participação social seria mediante os
Conselhos de Saúde (em níveis nacional, estadual e municipal), com caráter
deliberativo e composição que privilegia as entidades e os movimentos da sociedade
civil, que possuem garantidas por lei 50% de suas vagas, e as vagas restantes estão
divididas entre e dos prestadores de serviços (25%), representantes dos
6 Discutiremos esses avanços posteriormente.
29
trabalhadores (25%), encontrando-se também os governos, os setores filantrópicos
e o privado lucrativo.
O Sistema único de Saúde foi integrado ao tripé da seguridade social7, com
caráter universal, porém sem definição do orçamento para sua implementação.
O que estava escrito no então texto constitucional, eram reivindicações que
vinha desde a década de 1970, mesmo assim ainda não foi conquistado tudo que se
almejava, deixando de fora algumas demandas, porém, era um avanço significativo.
Aceitamos as conquistas no que concerne à seguridade, mas reivindicamos
avanços.
Dessa forma, essas reivindicações ganharam forma após essa
institucionalização, e com o avanço do Estado Neoliberal foram abafadas e
suprimidas. O Estado Mínimo ganhou a voz e o povo foi calado. Discutiremos mais a
fundo acerca dessa (não) efetivação do SUS no próximo subcapítulo, bem como os
desafios nos tempos atuais.
2.2 – O SUS hoje: suas perspectivas de (não) efetivação
Um dos principais aspectos da política de saúde no Brasil, segundo Teixeira
(1989: 50:53) é a politização da questão saúde, a alteração da norma constitucional
e a mudança do arcabouço e das práticas institucionais.
A questão da politização da saúde foi necessária para que o Estado e seus
governantes visualizassem a saúde como uma questão de política pondo-a em suas
agendas governamentais. A modificação da norma constitucional foi devido a um
grande processo de luta de vários autores, principalmente do movimento sanitário,
resultando em melhorias para a saúde com propostas abrangentes.
Já a modificação das práticas das instituições e do arcabouço visa a má
universalização dos atendimentos, a ampliação e maior participação do setor
público, bem como a diminuição do setor privado na saúde e uma administração e
descentralização maior, com uma execução a nível local de todos os serviços, que
desencadeou o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) e que logo
depois, no ano de 1988, tornou-se o Sistema Único de Saúde (SUS).
7Compõem a seguridade social a saúde, a previdência social e a assistência social e seus respectivos
direitos.
30
O Sistema Único de Saúde é o modelo oficial público de atenção à saúde no
Brasil, e é considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo e o
único a garantir atendimento gratuito e integral para toda a população brasileira. Foi
através desse sistema que a saúde pública teve um grande salto de melhoria e
obteve resultados positivos como a universalização do atendimento, democratização
e equidade nesta área. (COSTA, 2007)
Segundo Costa (2007), apesar do grande avanço, estas conquistas não
surtiram o efeito esperado pelos que lutaram para que elas se efetivassem, e um
dos motivos foi a não operacionalização dessas medidas e também a falta de apoio
ao coro progressista por parte dos governantes devido os interesses serem opostos.
Isso se justifica pela entrada do Brasil em uma situação de crise econômica,
caracterizada pela passagem da dívida do setor privado para o Estado. Dessa
forma, esse período da década de 1980 foi de baixo crescimento, corte de gastos e
redução de investimentos e crescimento da inflação.
Segundo Anderson (1995), o que podemos perceber é que a Ditadura e os
demais acontecimentos da década de 1980 prepararam o terreno para o avanço
neoliberal no Brasil, que se concretizou de fato na década seguinte, dificultando que
os princípios democráticos da Constituição vigente se estabelecem no nosso país. O
Brasil adentra a década de 1990 destruído pela inflação e com o terreno preparado
para a hegemonia neoliberal, com o baixo investimento do setor público e privado,
não conseguindo resolver o problema do endividamento e com uma questão social
muito grave.
Diante disso, a implementação desse novo modelo de saúde passava por
crises devido ao supracitado e a insuficiência do setor público, a ausência do apoio
da população visto que desacreditavam na efetivação da proposta de saúde, e a
carência das providências reformadoras e o desacordo entre os profissionais de
saúde. A partir da década de 1990, as políticas de saúde enfrentam o
neoliberalismo, de acordo com Anderson (1995) significa:
[...] manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. (ANDERSON, 1995, p.11)
31
Os resultados dessas medidas neoliberais adotadas no Brasil, segundo
Soares (1995) é o desemprego, os baixos salários, o aumento das desigualdades e
o desmonte e precarização das políticas sociais, gerando um quadro de pobreza
intenso no nosso país no período.
Junto com esse modelo Neoliberal, emerge também a Contra-Reforma.
Behring e Boschetti (2010) apontam que, a partir da década de 1990 entramos num
período de contra reforma do Estado, marcado pela tentativa de barrar as conquistas
de 1988, sendo isto favorecido pela condição de desemprego e violência que vivia o
nosso país naquele momento.
As autoras utilizam o termo contra reforma, porque historicamente as
reformas que se deram nos anos de ouro estavam relacionadas às conquistas
travadas pelos trabalhadores para o desenvolvimento das políticas sociais. No
Brasil, no entanto as “reformas” se deram no sentido de favorecer o mercado, sendo
relegada ao Estado a culpa da crise que vivenciamos desde os anos 1980. Sendo
assim, o Estado deveria ser reformado, através das privatizações e mudanças na
previdência social, deixando de lado as conquistas de 1988, em especial as do
campo da seguridade social. Portanto, para as autoras não tivemos reformas, e sim
processos de modernização conservadora.
Estes processos privilegiavam o setor privado, e tomavam como justificativa a
burocracia do setor público, afirmando também que essa reforma é necessária para
a diminuição dos gastos, descentralizar, torná-lo mais eficaz e eficiente, bem como
ter uma maior fiscalização dos resultados. A partir daí o Estado se torna um
regulador do setor social e econômico do país, e passando toda a responsabilidade
que lhe cabia anteriormente para o setor privado.
A aderência do neoliberalismo pelo Brasil diminuiu drasticamente os direitos
trabalhistas e sociais até então conquistados, houve o aumento da refilantropização
para que se pudesse haver uma diminuição de custos, e também o
desmoronamento da saúde, da previdência social e da educação. Todas essas
mudanças que aconteceram, impactaram negativamente no SUS, pois não estava
sendo cumprindo as medidas que tinham sido decididas na Plenária em Brasília.
Nesse contexto, a “reforma” promovida no referido período foi marcada pela
desresponsabilização do Estado com a política social, pelo aumento da demanda
social, da pobreza, do desemprego e da desigualdade social. Sendo assim, a
32
política social foi pautada pelos princípios neoliberais de privatização,
focalização/seletividade e descentralização, com a restrição e redução de direitos.
Behring e Boschetti (2010) apontam que a Constituição 1998 representou um
grande avanço para a política social no Brasil, sinalizando a possibilidade do
estabelecimento mesmo que tardio de um sistema de proteção social com a
introdução da seguridade social na Carta Magna, só que esse sistema não se
concretizou.
Os princípios constitucionais da universalidade, uniformidade e da
equivalência, a irredutibilidade e da diversidade, deveriam segundo as autoras
nortear a seguridade social e gerar mudanças na saúde, previdência e assistência
social, de maneira a assegurar os direitos previstos na Constituição, porém não foi
isso que orientou as políticas sociais na década de 1990.
Embora os direitos sociais sejam universais por determinação constitucional, as instituições governamentais tendem a pautar-se pela lógica do contador: se a universalidade é um preceito constitucional, mas não se tem recursos para atender a todos, então que se mude a Constituição. (IAMAMOTO, 2007, p. 37)
Sendo assim, como Iamamoto (2007) anuncia, o que de fato ocorreu foi que a
efetivação dos direitos conquistados não se deu através do princípio da
universalidade, por meio do Estado, e sim pelo princípio da seletividade, via
privatizações.
O que podemos perceber é que a partir da década de 1990 as políticas
sociais passaram por diversas mudanças, desde a esperança que através da
Constituição conseguíssemos alcançar um sistema de proteção social público à
confrontação com a realidade que se apresentou de maneira oposta. A saúde e a
previdência foram praticamente entregues ao setor privado e a assistência adotou
um forte apelo à solidariedade e voluntariado da sociedade. Nesse sentido, a política
pública é substituída pelo retorno à família e às entidades sem fins lucrativos no trato
das necessidades e demandas sociais, recorrendo-se ao “terceiro setor” e a
“sociedade civil”, segundo Behring e Boschetti (2010) configurando um retrocesso
histórico que experimentamos até os dias de hoje.
Esse descumprimento acontecia de diversas maneiras como: o não
cumprimento ao princípio de equidade em relação à divisão de recursos e pela não
33
integralidade, havendo ênfase apenas nas ações médico-curativas e deixando
quase que totalmente de lado as ações preventivas e de promoção da saúde. Esta
nova conjuntura pretendia dividir o SUS em dois, sendo o básico e o hospitalar.
É notável a disputa entre o setor privado de saúde e a Reforma Sanitária no
Brasil, este último, ao longo do tempo, veio perdendo fôlego. A Reforma Sanitária
possuía uma proposta central que era a implantação do SUS (Sistema Único de
Saúde), fazendo com que o Estado se responsabilizasse em garantir os direitos da
população no que se diz respeito às políticas sociais, e isso inclui a saúde, mas com
a invasão neoliberal, houve uma tendência para a redução dos custos,
principalmente os sociais, desresponsabilizando o Estado de garantir a saúde de
todos e os outros direitos já conquistados mediante lutas.
Essa contenção de gastos por parte do governo está fundamentada na
Política de Ajuste, que tem como princípio a contenção de gastos do poder Estatal,
fazendo com que o Estado pagasse apenas para quem, de forma alguma, poderia
arcar com os custos de um sistema privado, já os que tinham um pouco mais de
condições pagariam pelos planos privados de saúde. As propostas desta política
eram extremamente focalizadas e descentralizadas, estimulando apenas o setor
privado e as privatizações, e estas medidas vinham de encontro ao que o SUS
define que é a universalidade dos direitos, igualdade e participação social.
Devido a isso, podemos observar algumas falhas na eficácia do Sistema, por
exemplo, as longas filas de espera; falta de leitos para internados; Falta de recursos
e vaga para exames; Defict de médicos e enfermeiros entre outros, que acabam
prejudicando o atendimento “integral” do usuário do SUS. Tudo isso se gera pela
falta de recursos e investimentos por parte do Governo Federal que só decresce,
pois a lógica capitalista nos mostra outras demandas mais importantes que a saúde
de mais de 202 milhões de habitantes atualmente, segundo dados do IBGE.
Essa observação foi feita também pelo Estado, através das denuncias dos
usuários, descasos dos profissionais, dentre outros. A partir disso, viu-se a
necessidade de humanizar, e o Ministério de Saúde propôs a estratégia
HumanizaSUS, que abordaremos no próximo capítulo.
34
3 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO E O COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR WALFREDO GURGEL No terceiro ponto deste trabalho de conclusão de curso, adentraremos no
debate da Política Nacional de Humanização – PNH, que se solidifica na estratégia
HumanizaSUS. Nele, encontraremos os conceitos, objetivos e a necessidade de
humanizar o serviço de saúde público ofertado. Diante de tantos descasos e a não
efetivação de alguns conceitos primordiais do SUS, aprovados em Constituição
como a universalidade, descentralização e equidade no atendimento aos usuários,
se viu a necessidade de tornar a assistência à saúde brasileira mais “humana”, para
assim melhorar o serviço de saúde prestado. Se busca com a Humanização tornar
acessível a concepção de saúde de acordo com a Organização Mundial da Saúde -
OMS para os brasileiros, que seria um estado completo de bem estar físico, mental
e social.
Além de analisar de uma forma generalista esta política, aplicaremos no
espaço de pesquisa esta análise. Deteremos-nos ao maior Hospital de Urgência e
Emergência do Estado do Rio Grande do Norte, porta de entrada para pacientes
politraumatizados e à procura de serviços de alta complexidade de saúde –
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel (CHMWG).
Com isso, apresentaremos o espaço de pesquisa, e após a análise da PNH,
abordando suas diretrizes e desafios nos tempo atuais, entraremos mais
especificamente em um setor deste Hospital, chamado OuvidoriaSUS. Esta
Ouvidoria foi instaurada no Hospital no ano de 2012 e vem tomando forma conforme
os anos e as demandas que chegam. Iremos nos basear em entrevista com uma
das funcionárias do setor, que nos trouxe diversas informações do funcionamento,
organização e objetivos deste setor no Hospital, bem como em documentos
fornecidos pelo Ministério da Saúde.
Também nos deteremos às pesquisas de documentos oficiais do hospital,
retirados do arquivo geral – SAME; e entrevistas feitas no setor de Ouvidoria que
caracterizamos com cores, para preservar a identidade dos entrevistados e
contribuir com o sigilo da pesquisa.
3.1 - Caracterização do espaço de pesquisa
O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel localiza-se na Avenida Senador
Salgado Filho, s/n – Tirol, no município de Natal-RN. Apresenta como telefone para
35
contatos (84) 3232-7530 ou (84) 3232-7500. Pode-se também acessar informações
pelo portal www.walfredogurgel.rn.gov.br.
No Estado do Rio Grande do Norte, o Complexo Hospitalar Walfredo Gurgel é
referência no atendimento de urgência e emergência, queimados, ortopedia,
neurocirurgia e neurologia, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Sua natureza é
pública que atende toda a população da capital, grande Natal e interiores.
O complexo é dividido em dois edifícios, a porta de entrada que se denomina
Pronto Socorro Clóvis Sarinho, e logo atrás o Hospital Walfredo Gurgel. Há cerca8
de 318 leitos distribuídos entre o complexo Walfredo Gurgel e o Pronto Socorro
Clóvis Sarinho, destinando-se os atendimentos em diversas especialidades como
ortopedia, clínica médica, cardiologia, cirurgia geral. São atendidos mensalmente
cerca de 21 mil pacientes que vem tanto da capital como do interior do estado do
Rio Grande do Norte, nos quais cerca de 1.100 são internados. São feitos cerca de
600 procedimentos cirúrgicos.
Podem ser destacados como principais procedimentos realizados: clínica
médica, clínica cirúrgica, ortopedia, oftalmologia, otorrinolaringologia, neurocirurgia,
buco maxilo facial, pediatria, curativo de queimados, cirurgia vascular, cirurgia
plástica, urologia, UTI, anestesia. Em março/2013 foram realizados 8.442
atendimentos dos mais diversos procedimentos cirúrgicos, da oftalmologia,
queimados, nefrologia, cardiologia e outros. E aproximadamente 915 internamentos
nos diversos setores do hospital.9
O Hospital Monsenhor Walfredo Gugel abriga os leitos das enfermarias, bem
como duas Unidades de Tratamento Intensivo - UTI e o Centro de Tratamento de
Queimados - CTQ. É dividido por cinco andares, onde no 1º andar há duas UTI's: A
UTI Bernatede que possui 10 leitos e a UTI Cardiológica, que como o próprio nome
diz, é específica para os pacientes com problemas vasculares onde se situam
também 10 leitos. O CTQ é dividido em 7 leitos pediátricos e 14 leitos para adultos.
No 2º andar há 61 leitos com pessoas internadas em casos de neurologia e
neurocirurgia. O 3º andar possui 12 leitos para pediatria e mais 41 leitos para casos
vascular e clínica geral. No 4º andar há 57 leitos distribuídos em ortopedia e clínica
8 É importante ressaltar que todos os dados expostos sofrem variações constantemente devido a
rotatividade dos usuários e dependendo das condições que o hospital se encontra. 9 Dados retirados do SAME – CHMWG.
36
cirúrgica. O 5º andar tem 19 leitos destinados para os casos de cardiologia e
nefrologia.
No que se refere ao Serviço de Apoio ao Diagnóstico e Tratamento são
realizados por mês cerca de 5.058 exames de raio-X, 621 ultrassonografias, 1701
tomografias computadorizadas e de 143 endoscopias digestivas. No hospital há uma
equipe com cerca de 1850 funcionários nos quais em média 200 são terceirizados.
Vale ressaltar que o Walfredo Gurgel/Clóvis Sarinho é o segundo maior
hospital de ensino no Rio Grande do Norte voltado para profissionais da medicina,
enfermagem, serviço social, odontologia, nutrição dentre outros. Além de apresentar
também como campo de estágio para cursos de formação técnicos em raios-X e
enfermagem.
O Pronto Socorro Dr. Clóvis Sarinho é integrado ao complexo hospitalar do
Walfredo Gurgel. No mês de março/2013 recebeu 8.442 mil pacientes, dos quais os
principais procedimentos são cirurgia geral, neurologia, ortopedia e clínica médica.
Os leitos são distribuídos da seguinte forma: 09 na UTI Geral, 09 no Cento de
Recuperação de Operados - CRO, 06 na UTI Pediátrica, 04 na pediatria, nos
corredores são aproximadamente 70 e na reanimação 07.
O Pronto Socorro é composto por uma equipe de profissionais das diversas
especialidades: clínicos, anestesistas, neurocirurgiões, pediatras, assistentes
sociais, psicólogos, entre outros. Há uma recepção informatizada para admissão de
pacientes, posto da Polícia Militar, Posso Ajudar e Serviço de Triagem.
Por ser um hospital público de referência para casos de urgência e
emergência, a demanda de pacientes é muito grande por diversos motivos:
acidentes de carro, violência urbana ou rural, casos de Acidente Vascular Cerebral
(AVC), queimaduras, entre outros. Em sua maioria os usuários apresentam certa
vulnerabilidade social. Não se pode esquecer que o hospital por ser referência no
Estado apresenta aparelhos de tecnologia de ponta, em alguns casos nem mesmo
um plano de saúde é capaz de fazer determinados procedimentos. Isso é o que
podemos chamar de contradição do serviço prestado neste hospital. Temos um
hospital denominado de referência, com condições objetivas para um atendimentos
contínuo, mas ao mesmo tempo temos uma população à mercê do SUS, que não
tem sequer soro fisiológico, curativos para um atendimento urgente. A
desorganização na gestão das instâncias do SUS( redes de atenção – Básica,
Pronto Atendimento, Urgencia e Emergencia e Alta Complexidade.) acaba
37
sobrecarregando as redes da alta complexidade, por não haver o real
acompanhamento e atenção contínua aos usuários.
O hospital foi inaugurado no dia 14 de março de 1971 conhecido como
Hospital Geral e Pronto Socorro, mas as atividades foram iniciadas em 31 de março
de 1973 quando o Hospital recebe o título de Hospital Walfredo Gurgel; em
homenagem ao Governador Monsenhor Walfredo Gurgel. Já o Pronto Socorro Dr.
Clóvis Sarinho foi inaugurado no dia 08 de fevereiro de 2001 anexando-se ao
complexo hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel.
No que tange aos programas e projetos desenvolvidos no hospital, o NEP –
Núcleo de Capacitação e Educação Permanente visa proporcionar aos funcionários
do hospital diversos cursos e palestras que tem o objetivo de manter os profissionais
atualizados, informados e capacitados sobre os diversos temas relacionados à
saúde e a cada profissional da saúde. Dentre esses cursos podemos destacar o
curso de Humanização do Serviço Hospitalar, desenvolvido no ano de 2012, para os
profissionais do hospital.
O programa existia somente no setor de Recursos Humanos, e era voltado
mais aos profissionais de enfermagem. Em setembro de 2010 ele passa a ser um
dos setores do hospital, abrangendo cursos e eventos para todos os profissionais, e
torna-se um espaço para a organização e planejamento das atividades realizadas
anualmente pelo programa. Mensalmente são divulgados os dias, horários e cursos
que tanto são realizados pelo próprio hospital como podem ter parcerias.
Há um programa de coleta seletiva com o projeto de gerenciamento de
resíduos. Em abril de 2004 a bióloga e auxiliar de enfermagem Silvana Silva assume
a direção do projeto com o objetivo de por em prática o plano de gerenciamento.
Foram realizadas diversas ações para reforma na estrutura das lixeiras, obtenção de
recipientes adequados e materiais de higienização, além de palestras em todos os
setores para conscientizar todos os profissionais da necessidade de dar o devido
destino aos resíduos.
O Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) ocupa dependências dentro do
hospital. O SAD é uma das ações promovidas pelo SUS na qual presta atendimento
no domicilio das pessoas clinicamente estáveis que precisam de cuidados médicos.
O público que apresenta prioridade em tal serviço são os idosos, portadores de
doenças crônico-degenerativas ou portadores de patologias que necessitam de
cuidados paliativos e portadores de incapacidade funcional.
38
Dentre tantos programas e projeto desenvolvidos no hospital, há também a
implementação de um projeto do Governo Federal o qual trata na questão da
Humanização do atendimento oferecido tanto no Complexo Hospitalar Monsenhor
Walfredo Gurgel, como na gama de hospitais, pronto socorros, UPAS e unidades de
saúde da família, que se denomina HumanizaSUS. Entraremos a fundo a respeito
desta política de uma forma generalista, balizando-se nos documentos fornecidos
pelo Ministério da Saúde, no próximo subtópico deste capítulo.
3.2 – Princípios norteadores da Política Nacional de Humanização e os desafios à
sua efetivação
Para a manutenção da ordem social vigente, ocorre uma difusão de que a
crise mundial se dá através da perda dos valores sociais, morais e éticos. Estamos
vivenciando uma crise sentida no cotidiano, na correria e no cansaço do nosso dia-
a-dia, no aumento da exploração dos trabalhadores, aumento no numero de
desempregados, conforme coloca Mészáros (2002).
De acordo com Ministério da Saúde (2006), em 1988, foi votada a criação do
Sistema Único de Saúde (SUS), e com isso se afirmou os principais objetivos dele
que são a universalidade do atendimento, a integralidade da assistência a saúde e a
equidade da atenção em saúde. Através disso, a concepção de saúde ampliada se
afirmou e as dimensões do cuidado aumentaram. O SUS se compromete a prevenir,
cuidar, proteger, tratar, recuperar, promover, produzir saúde. Neste percurso de
construção do SUS, acompanhamos avanços que alegram, novas questões que
demandam outras respostas, mas também problemas que persistem sem solução,
impondo que a urgência seja de aperfeiçoamento do sistema, seja de mudança de
rumos.
Segundo Tonet, (2007) nunca, como hoje, se enfatizou tanto a importância
dos direitos humanos e a necessidade do respeito à vida humana, de uma
verdadeira recuperação dos valores. “Antes a intervenção girava em torno da cura e
da doença a ser combatida, agora a saúde passou a ser considerada ideal e o
objetivo possível e necessário à consecução de uma sociedade saudável, ao estilo
de vida” (FIGUEREDO, 2005).
Com dos inúmeros casos de desumanização, fragmentação do processo de
trabalho e das relações entre os diferentes profissionais constituintes da rede pública
de saúde; o não funcionamento da rede assistencial básica e o sistema de
39
referência; a falta de preparação da equipe profissional para o trato com as
diferentes demandas sociais, bem como a falta de investimento na qualificação dos
profissionais; a burocratização e a verticalização do serviço de saúde e violação dos
direitos sociais no que se diz à saúde, para quem utiliza esses serviços.
Diante de tudo supracitado, se viu a necessidade de se investir em
profissionais na área de saúde “humanizados” se destaca. Dessa forma, “humanizar
a saúde é entender cada pessoa com singularidade, tendo, necessidades
específicas e, assim, criando condições para que tenha maiores possibilidades para
exercer sua vontade de foram autônoma” (FORTES 2004). Isso é o proposto pelo
Ministério da Saúde.
Diante disso, o Ministério da Saúde (2001) criou uma política de
Humanização nos serviços de saúde brasileiros. Em 2001, foi criado o Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH, que propôs um
conjunto de ações integradas para mudar o padrão do atendimento e do serviço
prestado nos hospitais públicos. Aproveitando esta idéia, posteriormente ela foi
expandida para toda a rede pública de saúde, e onde surge definitivamente a
Política Nacional de Humanização (PNH) que se pauta em:
Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores; Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos; Aumento do grau de co-responsabilidade na produção de saúde e de sujeitos; Estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão; Identificação das necessidades sociais de saúde; Mudança nos modelos de atenção e gestão dos processos de trabalho tendo como foco as necessidades dos cidadãos e a produção de saúde; Compromisso com a ambiência, melhoria das condições de trabalho e de atendimento. (BRASIL, 2004, p. 15).
A Política Nacional de Humanização já devia estar inserida na formação dos
profissionais, no cotidiano dos atendimentos e nas demandas que invadem a prática
de cada profissional inserido no contexto de saúde. Não se deveria pensar em
Humanização, a mesma já deveria estar internalizada em cada um. Mas pelo
desgaste do Sistema Único de Saúde, pela falta de recursos e condições objetivas
de trabalho, os profissionais acabam se “desumanizando” e atingindo o usuário do
serviço.
O objetivo desta política se baseia na “valorização dos diferentes sujeitos
implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores, gestores”
40
(MINISTÉRIO da SAÚDE, 2004). Pauta-se também na superação das dificuldades
entre essas relações de profissional/usuário e profissional/profissional no que
concerne à planejamento, numa perspectiva de promoção e atenção à saúde de
forma generalista, com qualidade e principalmente a inserção do sujeito usuário
como protagonista da construção dessa política. Dessa forma, humanizar seria criar
uma rede de diálogo, ou troca de saberes, levando em conta as demandas de forma
totalitárias e suas necessidades sociais, psicológicas e curativas, a partir de
estratégias capazes de transformar a realidade.
Com isso, ela coincide com os próprios conceitos do SUS, enfatizando assim
as necessidades de atenção integral e estratégias de ampliação dos direitos e de
cidadania das pessoas, conforme afirma Filho (2011).
Como marcas e/ou prioridades específicas da PNH, o Ministério da Saúde
especificou quatro que:
Serão reduzidas as filas e o tempo de espera com ampliação do acesso e atendimento acolhedor e resolutivo baseados em critérios de risco; Todo usuário do SUS saberá quem são os profissionais que cuidam de sua saúde e os serviços de saúde se responsabilizarão por sua referência territorial; As unidades de saúde garantirão as informações ao usuário, o acompanhamento de pessoas de sua rede social (de livre escolha) e os direitos do código dos usuários do SUS; As unidades de saúde garantirão gestão participativa aos seus trabalhadores e usuários assim como educação permanente aos trabalhadores; (BRASIL, 2004. p. 17).
Dessa forma, observa-se que a PNH foi construída através de experiências
concretas ao longo dos anos. Só que apenas um documento não estava dando
dimensão real desta proposta. Portanto, para melhor operacionalização da política
criou-se cartilhas, como objetivo de divulgar as propostas que consolidam a atenção
e a gestão de humanização nas práticas de saúde.
A primeira cartilha fala do acolhimento que visa tornar o primeiro contato do
usuário com o serviço de saúde, seja na rede básica ou na de alta complexidade e
emergência, mais confortável e com rápida resposta as demandas. Com isso a
contribuição para que as ações em saúde aconteçam e a garantia de que os
cidadãos usuários do Sistema Único de Saúde serão acolhidos em suas
necessidades de saúde e em seus direitos. Diante disso, os profissionais são
instruídos que se faça uma Avaliação e Classificação de risco do que o paciente
41
apresenta naquele momento para assim ser encaminhado para o devido processo
de saúde. Dessa forma busca-se uma maior agilidade no tratamento e diagnóstico
da necessidade daquele usuário, conforme afirma Ministério da Saúde, 2004:
O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde de forma a atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus pedidos e assumindo no serviço uma postura capaz de acolher, escutar e pactuar respostas mais adequadas aos usuários. Implica prestar um atendimento com resolutividade e responsabilização, orientando, quando for o caso, o paciente e a família em relação a outros serviços de saúde para a continuidade da assistência e estabelecendo articulações com esses serviços para garantir a eficácia desses encaminhamentos. (Ministério da Saúde, 2004, p.5).
Isto pode ser observado no CHMWG, onde há uma classificação de risco do
paciente, onde ele é encaminhado para o serviço específico para sua necessidade,
evitando assim a morosidade no atendimento. Também neste acolhimento pode-se
detectar se realmente aquele usuário necessita de um serviço urgente, ou se a sua
necessidade é apenas de uma consulta de rotina. Como o hospital é responsável
por acolher toda a demanda de urgência, ele fica assim impossibilitado de atender
as demandas espontâneas de menos complexidade.
Na segunda cartilha a abordagem se refere à Ambiência, a qual trata do
espaço físico que é visto como espaço social para assim tornar o atendimento mais
acolhedor, humanizado e com resolutividade das demandas expostas. Com isso
trabalham-se as cores das paredes, os objetos de trabalho, a parte de iluminação,
som, arte e até o cheiro para tornar o ambiente mais agradável e propício a
melhoras na qualidade de vida do paciente. Com isso equipes de arquitetos e
urbanistas entram em ação para melhorar o aspecto dos antigos hospitais, pronto
socorros e unidades de saúde básica. De acordo com Ministério da Saúde, 2004:
A arquitetura contribui ao projetar espaços que sejam contíguos ou salas multifuncionais ao invés de espaços subdivididos em saletas de usos específicos que consolidam “feudos” nos hospitais – a fragmentação do trabalho refletida na fragmentação do espaço. (p. 13).
42
É neste contexto que há necessidade de se melhor estruturar os hospital,
como, por exemplo, nosso espaço de pesquisa. A falta de acesso, estrutura física e
até de uma maca, como vemos nos jornais atualmente, acaba prejudicando o
atendimento contínuo e de qualidade para o usuário.
Já na terceira cartilha disponibilizada pelo Ministério da Saúde (2004), nos
detemos à clínica ampliada, que se refere ao tratamento e visão macro que os
médicos do SUS devem adotar ao abordar, examinar e medicar o paciente. Assim
se gera um olhar universalizante do paciente, não apenas a própria doença. Com
isso as particularidades do sujeito são observadas e levadas em importância ao
diagnóstico e conduta médica. Segundo Ministério da Saúde, 2004:
A Clínica Ampliada propõe que o profissional de saúde desenvolva a capacidade de ajudar as pessoas, não só a combater as doenças, mas a transformar-se, de forma que a doença, mesmo sendo um limite, não a impeça de viver outras coisas na sua vida. (Ministério da Saúde, 2004, p. 11).
Segundo Ministério da Saúde (2004), a quarta cartilha traz a tona as Equipes
de Referência e Apoio Matricial, que vem quebrar com paradigmas de que a saúde é
unilateral e trazer a transversalidade nos processos de trabalho. Com isso, não
temos apenas a figura da hierarquia e de pequenos grupos que tomam todas as
decisões, a burocratização do serviço de saúde que acaba prejudicando o usuário e
acaba com o vínculo do profissional de saúde com o usuário.
É muito comum, quando não se tem a equipe de referência, que o usuário seja responsabilidade de todos os profissionais e, ao mesmo tempo, de nenhum. Cada um se preocupa com a “sua” parte (que é cada vez menor com a especialização e burocratização) e ninguém se preocupa com a “costura” das diversas intervenções num projeto terapêutico coerente e negociado com o usuário e na equipe. Ou seja, supõe-se que o sujeito pode ser fatiado em pedaços e reduzido a diagnósticos, por abordagens profissionais diferentes, e que no fim da “linha de produção”, depois que cada profissional apertou um parafuso, chegar-se-á num usuário integralmente atendido e com seus problemas resolvidos. Não é o que acontece. Um ditado popular ilustra bem esta situação: “cão com muitos donos passa fome”. (Ministério da Saúde, 2004, p.7).
Conforme afirma Ministério da Saúde (2004), a organização dessa equipes de
referência se dá de forma multiprofissional de caráter transdisciplinar, de acordo com
a realidade local e disponibilidade dos recursos humanos. Essa equipe se
43
responsabiliza por um determinado número de pacientes, segundo a gravidade dos
casos. Isso é proposto para que haja democracia nas discussões e maior interação
e respeito a todos os profissionais envolvidos. Todos devem estar juntos num só
propósito que é a melhora da qualidade de vida daquele paciente, contribuindo
assim, de acordo com sua formação e conhecimento. Quando há algo que esta
equipe de referência não possa resolver, ela pede “apoio” às Equipes de Apoio
Matricial, que se une a esta equipe de referencia para ajudar no tratamento do
paciente. Geralmente essa equipe de Apoio Matricial é composta de especialistas,
médicos que acompanham o paciente, assistentes sociais, psicólogos, dentre
outros.
Como dissemos anteriormente, a equipe de referência pede apoio não somente a especialistas, mas também a profissionais que estão mais próximos do usuário, e que por isto mesmo são capazes de enxergar outros aspectos de sua vida (sua inserção social, situação afetiva, outros problemas orgânicos, etc.). Isto garante que, no conjunto das intervenções terapêuticas, ocorram mais benefícios do que danos e que o projeto terapêutico envolva um compromisso com o usuário. O apoio matricial é, portanto, uma forma de organizar e ampliar a oferta de ações em saúde, que lança mão de saberes e práticas especializadas, sem que o usuário deixe de ser cliente da equipe de referência. (Ministério da Saúde, 2004, p.13).
Um dos princípios fundamentais do SUS são a descentralização e a
democratização dos poderes para as esferas menores – Estados e municípios. Isso
se dá na forma dos conselhos de saúde, que são constituídos tanto de profissionais
da saúde, como dos gestores das três instancias do Governo (Federal, Estadual e
Municipal) e também dos usuários deste serviço. A efetivação dos conselhos e das
Conferências de Saúde permitiu que houvesse essa formação e atuação de todos os
seres participantes deste processo chamado SUS.
Olhando para o modo como os serviços de saúde organizaram seu processo de trabalho ao longo do tempo, percebe-se que essa organização se deu a partir do saber das profissões e das categorias (as coordenações do corpo clínico ou médico, da enfermagem, dos assistentes sociais, etc.), e não pelos objetivos comuns. Na verdade esse tipo de organização não tem garantido que as práticas se complementem, ou que haja solidariedade na assistência e nem que as ações sejam eficazes no sentido de oferecer um tratamento digno, respeitoso, com qualidade, acolhimento e vínculo. Isso tem acarretado falta de motivação dos profissionais e de incentivo ao envolvimento dos usuários. (Ministério da Saúde, 2004, p. 6).
44
Por este motivo a quinta cartilha aborda a questão da gestão participativa
como instrumento para mudança no atendimento e promoção à saúde, tornando-o
assim eficaz e eficiente. Existem vários mecanismos para que se chegue até o
usuário para assim e ter uma noção de como anda o serviço de Saúde oferecido nos
hospitais e postos de saúde, chegando até na esfera Federal, com os programas e
ações do Estado. Segundo Ministério da Saúde, 2004:
Para que a gestão participativa aconteça de fato devemos trabalhar com dois tipos de ação ou o que chamamos de dispositivos. O primeiro diz respeito a como organizar o espaço coletivo de gestão para permitir o acordo entre desejos e interesses tanto dos usuários, quanto dos trabalhadores e gestores. [...] O segundo dispositivo da gestão participativa refere-se aos mecanismos que garantem a participação no cotidiano das unidades de saúde. (Ministério da Saúde, 2004, pp. 9-12).
Deteremo-nos ao segundo dispositivo de gestão participativa posteriormente,
que é o lócus deste trabalho. Mais especificamente um desses mecanismos que é
chamado de Ouvidoria SUS. Ela é a forma adotada pelo Ministério da Saúde para
escutar e avaliar de forma consistente através dos usuários a gestão do SUS, no
âmbito das três esferas do governo. A OuvidoriaSUS atua como fortalecedor do
controle social, mediando conflitos sociais e acesso ao serviço público de saúde,
bem como atua como representante da gestão SUS.
A Ouvidoria-Geral do SUS, além de ser um espaço propício ao acolhimento, tratamento e encaminhamento das manifestações da população de todo o Brasil aos gestores do SUS, atua também em uma perspectiva informativa, buscando ser um efetivo espaço de cidadania. (BRASIL, 2010, p. 11)
Na OuvidoriaSUS, pode-se realizar denúncias, reclamações, solicitações,
perguntas, elogios, e sugestões. Para acessar a Ouvidoria, existe um telefone de
contato e um site, além de na maioria dos hospitais públicos apresentarem uma
sede da Ouvidoria. Tudo é protocolado, analisado pela equipe constituinte da
Ouvidoria e encaminhado aos órgãos, áreas competentes e/ou departamentos
sejam na esfera municipal, estadual ou federal. Este tema será abordado mais
detalhadamente no próximo subtópico deste capítulo.
45
Não podemos esquecer que tudo falado até aqui está presente em leis,
documentos, cartilhas e diretrizes. Cotidianamente vemos noticiários no jornal ou
televisão do caos que se encontra o Sistema Único de Saúde brasileiro. Falta de
medicamentos, exames, estrutura, profissionais, falta de condições mínimas de
trabalho, dentre outros. A concepção de saúde universal, igualitária e dever do
Estado se perde em meio a crise10. Nem mesmo com esta tão pleitada
"humanização", se resolve de fato o problema da saúde pública brasileira.
A construção do Sistema Único de Saúde tem se processado, apesar das políticas econômicas neoliberais que implicam na redução do papel Estado e nos investimentos, nas políticas públicas, conseqüentemente, nas da área da saúde. Se já encontrávamos vários problemas nesta área, com a opção neoliberal estes se agravam. O direito à saúde está longe de ser uma realidade. O Estado não investe o necessário, os trabalhadores não são remunerados satisfatoriamente, os gestores não contam com os recursos e equipamentos que deveriam, e a população não participa do controle dos seus direitos. (SILVA; ARIZONO. 2008. pp. 2-3)
Mesmo com as afirmações da importância da gestão participativa, e de isso
estar assegurado em leis, portarias e diretrizes, ainda há dificuldade para dar forma
a isso devido a própria cultura histórica brasileira, que conforme afirma Bravo e
Souza, 2002, não permitiu a criação de espaços de participação no processo de
gestão das políticas sociais públicas, havendo sempre o predomínio da burocracia e
ênfase em práticas de cooptação da população ao populismo e ao clientelismo.
A focalização do atendimento, conforme explica Soares (2004), acaba
favorecendo a permanência da lógica focalista em detrimento a do direito e da
Seguridade Social universalizada. O sistema de saúde que foi democraticamente
institucionalizado vem sendo atacado por esta lógica vigente, e os seus princípios
como universalização, igualdade no acesso e a descentralização do poder vêm
sendo prontamente atacados e em contrapartida a isso se enfatiza a terceirização,
privatização, seletividade e o desfinanciamento, conforme afirma Figueiredo (2013).
A seguir, abordaremos o instrumento da OuvidoriaSUS dentro de nosso
espaço de pesquisa.
10
Conforme problematizamos no capítulo anterior.
46
3.3 A OuvidoriaSUS no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
Na atualidade é percebida a grande proliferação da prática de proteção ao
usuário, garantindo a transparência das atividades desenvolvidas na administração.
A Ouvidoria em Saúde se torna um instrumento da gestão pública e do controle
social para o aperfeiçoamento da qualidade do atendimento, eficácia e eficiência11
das ações e serviços prestados pelo SUS. Por meio do fortalecimento da gestão
participativa, discutido supracitadamente, usando o meio da escuta tanto dos
usuários como dos profissionais atuantes neste cenário, a Ouvidoria tem o papel de
identificar os problemas, e captar as reais necessidades do público atendido pelo
SUS. (BRASIL, 2005).
A Ouvidoria em saúde é um instrumento da gestão pública e do controle social para a defesa do direito à saúde e do aperfeiçoamento da qualidade e da eficácia das ações e serviços prestados pelo SUS. Desta forma, por meio do fortalecimento da gestão participativa com a escuta aos usuários e aos profissionais vinculados ao sistema a Ouvidoria poderá identificar os principais problemas, bem como captar as reais necessidades da sociedade (BRASIL, 2005).
De acordo com o Ministério da Saúde (2006), foi por meio do Decreto nº
4.726, no ano de 2003, que se integrou à estrutura deste Ministério a Secretaria de
Gestão Participativa. Nesta Secretaria é que se discute e se constrói as diretrizes
para o funcionamento da Política Nacional de Ouvidoria do SUS. O que se trabalha
neste espaço é a descentralização dessas Ouvidorias, tornando-as independentes; e
o investimento na implantação do Sistema Nacional de Ouvidoriasdo SUS. Foi
através desse sistema que se pensou no OuvidorSUS, sistema online que integra
todas as OuvidoriasSUS. Ele foi criado para ampliar o atendimento às demandas
provindas da população e dos profissionais participantes do cenário.
Partindo deste pressuposto e nos detendo ao espaço de pesquisa, segundo
entrevista Azul (2014), o Sistema OuvidorSUS é um sistema informatizado, que
integra todas as ouvidorias do Brasil. O processo desde a manifestação do usuário
até a resposta é longo. O Ouvidor acolhe o usuário, colhe a manifestação
apresentada, e lança no sistema OuvidorSUS. Essa manifestação chega até à
11
Segundo Souza (2008), a eficácia resulta da relação entre metas alcançadas versus metas pretendidas e a eficiência significa fazer mais com menos recursos.
47
Ouvidoria Geral12, onde é tipificada e reencaminhada para a Ouvidoria de origem,
para assim ser encaminhado para o responsável do setor assinalado na
manifestação.
Aqui nós acolhemos o usuário seja ele um simples usuário acompanhando ou funcionário do hospital, certo? registramos a manifestação dele o que ele tem a procurar aqui pode ser uma solicitação, um elogio, uma reclamação uma denuncia ou uma sugestão, então, quem entra aqui pode fazer uma dessas cinco coisas, certo? nós registramos, escutamos, pegamos informações, dados do usuário certo? é encaminhando para a Ouvidoria SESAP, através do sistema OuvidorSUS do Ministério da Saúde que é o sistema que é usado em todas as ouvidorias hospitalares certo? não é específico do Walfredo, e de nenhum outro hospital, todos. Chegando lá, eles tipificam aquele registro. Tipificar o que é? é dizer se aquilo é uma denúncia, se aquilo é uma reclamação, se é alguma solicitação. Isso gera um documentozinho chamado demanda,[...] é reencaminhado para gente através do sistema, chegando aqui nós tiramos uma cópia, protocolamos e encaminhamos para o setor competente. Um simples exemplo, se é alguma coisa, alguém veio aqui fazer uma reclamação ou solicitar vamos supor uma visita médica ao leito, pra onde a gente encaminha? para a direção médica certo? a falta de medicamento, um exame, tudo o que se refere a isso, direção médica. E nós sempre procuramos mesmo encaminhando a demanda entrar em contato com a responsável [...]porque isso dá mais agilidade. (Entrevista Azul, 2014).
Pode-se notar através disso que há todo um cuidado tanto com o sigilo, como
com o registro da manifestação, que na maioria das vezes é feita de forma
presencial e espontânea, e com a resolutividade e resposta ao usuário.
A equipe da Ouvidoria é composta por profissionais geralmente advindos da
própria Instituição, que se disponibilizam em atuar neste instrumento da Gestão
Participativa, trabalhando com imparcialidade e desenvolvendo a escuta, bem como
o respeito ao usuário. A seleção ocorre geralmente por processo seletivo, e nele
podem concorrer qualquer profissional, desde médicos até gestores. De acordo com
a particularidade do Walfredo Gurgel, a entrevista Azul nos trás como foi esse
processo de implementação da OuvidoriaSUS no local:
12
A Ouvidoria Geral do Estado do Rio Grande do Norte se denomina Ouvidoria SESAP, que se localiza na Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte.
48
[...] foi feito um processo seletivo, foi aberto a todo e qualquer funcionário do hospital não tinha essa coisa que pra ir pra ouvidoria tinha que ser médico, enfermeiro, fisioterapeuta, não. Se inscreveram, passamos por um processo seletivo a cargo das psicólogas aqui do Walfredo[...] o que me levou a participar desse processo foi justamente isso, eu to na assistência mas de repente veio a curiosidade de conhecer o outro lado, o que o usuário pensa, o que ele fala, o que ele quer. Então eu pensei que poderia contribuir com isso já que também via o outro lado. Então começamos eu e mais três. Nós tivemos um treinamento na Ouvidoria SESAP e começamos[...]. (Entrevista Azul, 2014).
De acordo com a entrevista Azul (2014), acerca das demandas que chegam
ao setor, a grande maioria são denominadas reclamações. O canal de entrada
dessas demandas é presencial.13 Após o usuário realizar a sua manifestação ela é
cadastrada no sistema OuvidorSUS, e essa resposta tem um tempo hábil estipulado
por este sistema. Dependendo da prioridade da demanda, gera-se uma resposta à
ela de trinta a noventa dias. O usuário tem seus contatos anotados para que,
quando esta resposta à sua manifestação registrada na OuvidoriaSUS, ele possa
ser avisado. Conclui-se que a resposta às demandas é feita da forma
supracitadamente.
Para se implantar uma Ouvidoria além do corpo de profissionais Ouvidores,
necessita-se de estrutura, como por exemplo, de uma sala que preserve o sigilo e
seja adequada para atendimento presencial, além de bom acesso e localização, já
que não há muita difusão da presença deste instrumento pelos usuários. (Ministério
da Saúde, 2005).
Baseando na Entrevista Azul, (2014), no Walfredo Gurgel, pensou-se em
Ouvidoria no ano de 2010, mas na realidade ela só foi implementada no ano de
2012, com certas dificuldades e pouca aceitação principalmente dos funcionários. O
material de estrutura da sala foi improvisado e cedido pela Secretaria de Saúde do
Estado do RN, para se tentar uma melhor localização14. Toda essa falta de recursos
se dá pela falta de planejamento da gestão. Ainda se escuta entre os corredores
deste hospital que a Ouvidoria não serve e não atua como deveria, mas o processo
é moroso. Até o usuário tomar coragem para manifestar sua opinião e registrar é um
longo caminho que aos poucos está sendo conquistado.
13
Existem outros mecanismos de entrada das demandas à OuvidoriaSUS: Tele atendimento(fone:08432325385); Formulário Web: www.saude.gov.br / [email protected]; e Carta. 14
A Ouvidoria do CHMWG se localiza em frente à recepção do Pronto Socorro.
49
Uma das barreiras a serem vencidas no espaço de pesquisa é a falta de
informação por parte dos usuários. Num questionário aplicado a dez sujeitos de
pesquisa, 100%15 dos entrevistados16 manifestou não saber sequer da existência de
uma Ouvidoria dentro do hospital. A falta de divulgação até por parte dos
profissionais da Instituição dificulta o trabalho de coleta e avaliação de demandas da
Ouvidoria. A entrevista Azul (2014) afirma que a Ouvidoria atua também como
termômetro para a gestão do hospital, elaborando relatórios das demandas que
chegam até o setor, e ajudando os gestores. Mesmo assim, são notáveis as grandes
melhorias que devem ocorrer não somente ao lócus de pesquisa, como em todos os
serviços de saúde brasileiros.
Por este setor de Ouvidoria receber muitas reclamações de quais sejam a
origem, por muitas vezes ele é confundido com outro setor do hospital, que é o setor
de Serviço Social. Este setor, em particular, por conta de seu processo histórico que
perpassa até os dias de hoje, leva ainda a atribuição de "resolvedor das causas
impossíveis" ou "solucionador de problemas". Esta linha tênue é perpassada pelo
cenário do SUS atualmente, onde a precarização do trabalho de ambos os setores
acabam sobrecarregando e delegando funções que não são atribuições, nem para o
ouvidor, nem para o assistente social. Adiante, aprofundaremos a questão,
abordando assim as funções e atribuições de forma generalista, mas aplicando ao
espaço de pesquisa, que aqui se remete ao Complexo Hospitalar Monsenhor
Walfrego Gurgel.
4 SERVIÇO SOCIAL NO COMPLEXO HOSPITALAR MONSENHOR
WALFREDO GURGEL
Neste capítulo vamos abordar a trajetória sócio histórica do serviço social,
desde o movimento de reconceituação17, onde obtivemos um marco histórico
significativo para a profissão, bem como um período de lutas e debates; E
abordando particularmente a profissão dentro da área da saúde, suas lutas e
desafios. Para balizar esta discussão nos apropriamos dos textos de José Paulo
Netto, Iamamoto, bem como dos parâmetros de atuação do Assistente Social na
Saúde, Lei 8.662/93, que institucionaliza a profissão e Código de Ética.
15
Conforme poderemos ver posteriormente no Gráfico 1, localizado na p. 57. 16
Dados de pesquisa aplicada em março de 2014 17
Escolhemos esse período por ser um marco do serviço social como profissão, de renovação profissional, e divisor de águas. Pois, saímos de uma prática caritativa para a defesa dos direitos.
50
Logo após, no segundo subtópico deste capítulo, abordaremos esta profissão
no lócus de pesquisa, que é o Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel,
citado e apresentado no capitulo anterior.
Já no terceiro subtópico, entraremos na discussão maior deste trabalho, o
problema de pesquisa dito aparecerá aqui – A associação do trabalho do assistente
social com o trabalho do ouvidor; Essa inquietação foi apresentada no período de
estágio e foi sanada através das entrevistas colhidas, tanto da Ouvidoria como do
setor de Serviço Social. Estas entrevistas foram denominadas por cores, para
preservar o sigilo dos profissionais que contribuíram com a pesquisa e posterior
trabalho de conclusão de curso.
Nos utilizamos de documentos oficiais do Setor de Serviço Social do
Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, bem como de entrevistas feitas
com as assistentes sociais, denominadas por cores para preservar o sigilo.
4.1 Breves considerações sobre o serviço social
Para se entender Serviço Social, precisamos resgatar sua historicidade,
avanços e desafios que se apresentam nos tempo atuais. Seu surgimento se dá a
partir de uma necessidade história de intervenção na questão social, que segundo
Iamamoto (2007) é:
[...] o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (p.27).
As protoformas desta profissão surgem no final do século XIX, e a
institucionalização da profissão somente acontece a partir do século XX. Este
surgimento se dá com características conservadoras e tradicionais vinculadas
prioritariamente ao Neotomismo18, entre 1920 e 1930; E ao Funcionalismo19 a partir
de 1940; Mas, de acordo com Netto (2005), a segunda metade da década de 1960 é
marcada pela erosão do Serviço Social tradicional e pela crítica à prática profissional
“[...] empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, orientada por uma ética liberal-
burguesa [...]” (p.6).
18
Retorno das ideologias de São Yomás de Aquino, com um viés de filosofia religiosa. 19
Corrente sociológica ligada as ideologias de Durkheim.
51
Na década de 1970, temos a crise o sistema capitalista, que levou nesse
período uma revisão crítica das ciências sociais, das bases teóricas do Serviço
Social, e também do campo profissional, que ocasionou a perda de legitimidade
dentro da profissão. Ainda nesse período tivemos a desvinculação com a Igreja
Católita, e a participação do movimento estudantil atuando na crítica ao
tradicionalismo.
A crítica ao Serviço Social tradicional na América Latina foi chamada de
Reconceituação, a qual está fortemente associada à condição sociopolítica latino-
americana na década de 1960. Um exemplo disso são as ditaduras. Em respeito ao
início desse movimento de Reconceituação, Netto (2005) aponta alguns
determinantes dessa condição sociopolítica, como:
[...] a inserção de nossos países na nova divisão internacional do trabalho que então emergia; o colapso, em nossos países, dos pactos políticos que vinha do pós-guerra; o surgimento de novos sujeitos políticos; o impacto da Revolução Cubana; o anêmico reformismo do tipo Aliança para o Progresso (NETTO, 2005, p.9).
Netto (2005) aponta que este movimento de Reconceituação obteve algumas
conquistas, mas também cometeu alguns equívocos. Entre as conquistas, o autor
destaca: “a articulação de uma nova concepção da unidade latino-americana” (p.11),
sobre a qual se estabeleceria uma articulação profissional, com o objetivo de
responder as demandas e problemáticas comuns da América Latina. Outra
conquista foi “a explicitação da dimensão política da ação profissional” (p. 11). Por
se entender que toda intervenção social possui uma dimensão política, a
Reconceituação trouxe à tona – via esquerda – algo que o tradicionalismo – de
caráter claramente direitista – sempre tentou esconder, a dimensão política da
intervenção do Serviço Social. Também temos como conquista “a interlocução crítica
com as ciências sociais [grifo do autor]” (p.12). Segundo Netto (2005), com a
Reconceituação o Serviço Social buscou uma nova relação com as ciências sociais,
o que inclusive permitiu uma aproximação com a tradição marxista, em um primeiro
momento esse marxismo era enviesado, mas viu-se a necessidade da busca às
fontes, para ler e entender melhor essa tradição.
No entanto, Netto (2005) afirma que a principal conquista da Reconceituação
foi a recusa do profissional de Serviço Social atuar meramente como um agente
técnico executivo de políticas sociais, reivindicando a valorização das funções
52
profissionais de pesquisa e produção de conhecimento. Foi neste período que houve
a eclosão dos cursos de graduação e pós graduação em Serviço Social.
Sobre os equívocos, o autor aponta que a denúncia do conservadorismo foi
corretíssima, porém ela levou a um ativismo político, que acabou gerando certa
confusão entre os limites da profissão e o militantismo, fazendo com que a dimensão
política profissional se tornasse um exercício heroico e/ou messiânico. Outro
equívoco foi que ao se recusar a hegemonia das ciências sociais norte americanas,
acabou-se por desvalorizar as suas produções em detrimento das produções
teóricas feitas no nosso continente julgando estas serem mais “apropriadas” às
nossas peculiaridades históricas e sociais.
Por fim, o outro equívoco se deu no sentido de que ao tentar sintetizar os
anseios de todos os segmentos do Serviço Social (esquerda cristã e gerações
revolucionárias “não ortodoxas” e “não tradicionais”), acabou-se gerando um mistura
eclética entre autores da tradição marxista. Netto (2005) afirma que diante desse
cenário de repressão imposto pelas ditaduras, a Reconceituação permaneceu
inacabada, impedida de progredir, no entanto o que ficou de mais renovador da
Reconceituação baseou as ações profissionais latino-americanas entre meados da
década de 1970 e década de 1980 – o autor faz referência às atividades
desenvolvidas pelo Centro Latinoamericano de Trabajo Social (Celats).
A experiência do Celats, esgotada já na abertura da última década do século
passado, prova cabalmente que a Reconceituação, inconclusa, foi transitiva:
viabilizou com sua crítica e sua denúncia, o trânsito do “Serviço Social tradicional” ao
que, na linguagem do Celats, haveria de construir o “Serviço Social crítico” (NETTO,
2005, p.15).
O processo de renovação do Serviço Social no Brasil, segundo Netto (2010)
aconteceu de forma diacrônica no tocante à elaboração profissional contando com a
participação diferencial dos organismos de fomento desse processo de renovação.
Diante disso, Netto (2010) aponta que a renovação começa através da
organização de uma instituição em que participam profissionais e docentes, para
depois ser transferida para as agências de formação, para em seguida se espalhar
sobre a categoria profissional. A ampliação dos organismos envolvidos e a maior
participação da categoria profissional proporcionou a despolarização do debate, que
passou a envolver outros profissionais, além dos já consagrados, resultando na
abertura de espaços mais fecundos para a divulgação das temáticas da renovação.
53
O abalo das bases tradicionais do Serviço Social fez emergir três direções
principais do processo de renovação. A primeira direção, segundo Netto (2010),
possui uma perspectiva modernizadora na qual os instrumentos de intervenção do
Serviço Social estavam intimamente ligados com a ordem sociopolítica que se
instaura no pós-64, sem nenhuma tentativa de superação da ordem. “No âmbito
estrito da profissão, ela se reporta aos seus valores e concepções mais
“tradicionais”, não para superá-los ou negá-los, mas para inseri-los numa moldura
teórica e metodológica menos débil, subordinando-os aos seus vieses “modernos”
[...]” (p.155) o que acabou conferindo a essa perspectiva um caráter eclético.
Representando o primeiro segmento – vinculado a Igreja Católica – temos a
perspectiva da reatualização do conservadorismo, a qual recupera alguns elementos
conservadores da profissão referentes à (auto) representação e à prática,
colocando-os sobre uma “nova” base teórico-metodológica, no entanto negando o
positivismo e o pensamento crítico-dialético de Marx.
Essa perspectiva adotava uma atuação de caráter micro, na qual a visão de
mundo estava associada ao pensamento católico, mas tinha segundo Netto (2010)
um “verniz de modernidade”, que anteriormente não se via no tradicionalismo
profissional. “Aí, exatamente, o seu caráter renovador em confronto com o passado:
o que se opera é uma reatualização dele, com um consciente esforço para fundá-lo
em matrizes intelectuais mais sofisticadas” (p.157). Uma vez que o positivismo não
atendia mais às expectativas da categoria e o pensamento crítico-dialético não era
aceito, essa perspectiva adota a fenomenologia como aporte teórico. Com isso, a
prática do Serviço Social acaba se direcionando no sentido da ajuda psicossocial,
sem perceber a realidade macro e sem uma análise crítica da realidade.
A terceira direção que representa os segmentos críticos da profissão foi a
perspectiva de intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional. Diferente das
outras, essa perspectiva buscava romper com as bases teóricas, metodológicas e
ideológicas da profissão, criticando o tradicionalismo e o conservadorismo da
intervenção social.
Segundo Netto (2010), essa perspectiva tem como base as ideias do pré-64,
que propunha o rompimento com a estrutura político-social para adequar as
respostas profissionais as demandas advindas do desenvolvimento do Brasil. Os
docentes e profissionais formados antes do golpe tem papel fundamental na
formulação dessa vertente. À medida que esta perspectiva vai crescendo ela vai
54
recorrendo ao marxismo e demostrando a dificuldade de se afirmar no contexto
sociopolítico da Ditadura. O “marxismo acadêmico” – como denomina Netto (2010) –
avança ao mesmo tempo em que a Ditadura entra em crise, empolgando as
vanguardas profissionais nesse processo de transição democrática.
Netto (2010) afirma que não houve uma total ruptura com o tradicionalismo, o
que acabou ocasionando uma sobreposição de “referenciais teóricos, concepções
ideológicas e indicativos prático-profissionais” (p.162). Além disso, o autor destaca
que mesmo nos anos de maior repressão da Ditadura Militar havia possibilidades de
lutas por mudanças, principalmente no âmbito institucional-organizacional, mas
estas não aconteceram.
Netto (2005) afirma que foi essa construção do “Serviço Social crítico” que
mudou a imagem da profissão, que a colocou no espaço acadêmico como produtora
de conhecimento, estabelecendo relações com as ciências sociais e passando a
atuar na formulação de políticas públicas. “É este “Serviço Social crítico” que dispõe
de hegemonia, na produção teórica do campo profissional [...], desfruta de audiência
acadêmica nacional e internacional e goza de respeitabilidade pública; inclusive pela
sua intervenção política” (p.18).
Voltando-se para o momento atual da profissão, após todas estes conquistas
e desafios, nos detemos a Iamamoto (2007), que afirma a necessidade de
ultrapassar os muros da profissão, “extrapolar o Serviço Social para melhor
apreendê-lo na história da sociedade da qual ele é parte e expressão” (p.20), sair de
dentro da profissão e buscar apreender as relações entre as classes sociais, o
Estado e a sociedade, sem medo de perder as suas particularidades, e sim
entendendo que isso faz parte do processo de apreensão da profissão.
A autora aponta que nos tempos atuais um dos maiores desafios para o
Assistente Social é ser um profissional crítico e propositivo, o que significa “[...]
construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a
partir de demandas emergentes no cotidiano” (p.20).
Para o Assistente Social conseguir realizar o proposto, a própria autora no
parágrafo anterior destaca que é preciso um rompimento, por parte do profissional
com a atividade burocrática e rotineira, transcendendo o emprego para o exercício
da profissão que “[...] é uma ação de um sujeito profissional que tem competência
para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu
55
campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais” (IAMAMOTO, 2007,
p.21).
A autora destaca que para o Assistente Social poder lidar de forma qualificada
com as expressões da questão social, ele precisa se valer de dados, informações e
indicadores, que permitam ao profissional conhecer de fato a realidade brasileira. E
uma vez que os Assistentes Sociais lidam cotidianamente com as expressões da
questão social ele tem uma maior proximidade com esses dados, o que possibilita a
esse profissional incentivar pesquisas, realizar assessoria as várias esferas do
poder, fazer denúncias à mídia, tudo isso objetivando a defesa dos direitos
constitucionais. Transformando, nas palavras de Iamamoto (2007), “[...] os espaços
de trabalho, em espaços efetivamente públicos, a serviço dos interesses da
coletividade” (p.40).
Os desafios à prática profissional nos dias atuais são inúmeros, mas com a
busca de estratégias e balizando-se nos documentos que nos cercam, anteriormente
explanados, podemos sim ter uma prática profissional igualitária, livre de
preconceitos e disposta a encarar as mais diversas faces da questão social. Todos
estes espaços dão margem para atuação do Assistente Social nas mais variadas
expressões da questão social, inclusive na área de saúde.
A resolução do CFESS N.º 383/99 de 29/03/1999 caracteriza em seu artigo
primeiro, que o assistente social é habilitado para trabalhar área da saúde. As
atribuições, segundo o CFESS(2010) do serviço social na área de saúde seria
intervir juntos aos fenômenos sócio-culturais e econômicos que reduzam a eficácia
dos programas de prestação de serviços nos níveis de promoção, proteção e/ou
recuperação da saúde. Também atua no atendimento das demandas imediatas da
população, além de facilitar o seu acesso às informações e ações educativas para
que a saúde possa ser percebida como produto das condições gerais de vida e da
dinâmica das relações sociais, econômicas e políticas do País.
Para balizar a atuação do assistente social o CFESS (2010), criou através de
discussões os parâmetros de atuação para este profissional na saúde. Este
documento foi elaborado por um grupo de assistentes sociais e é o resultado de
trabalho “Serviço Social na Saúde”, que ocorreu em 2008, instituído pelo CFESS. Os
Parâmetros de atuação do Serviço Social na saúde orienta o profissional bem como
seus usuários e empregadores nas questões sobre suas competências e atribuições
privativas desse profissional na área da saúde, também discorre um pouco sobre o
56
SUS, os desafios atuais enfrentados pelo serviço social e pelos usuários deste
sistema, bem como sobre a Reforma sanitária, de maneira sistematizada.
Este documento aborda as práticas profissionais do Serviço Social na área
da saúde e, a partir disto, mostra como a categoria dos assistentes sociais vem se
posicionando com relação às possibilidades e, desafios da implantação do Serviço
Social como profissional da área de saúde, mostrando como até os dias atuais ainda
há traços conservadores presentes no pensamento na teoria e na prática do
Assistente Social, interligando as consequências que este problema trás às
metodologias de intervenção do profissional na área da saúde.
O CFESS (2010) expôs que o surgimento da ideologia neoliberal dos anos de
1990, nos permite caracterizar dois tipos de projetos existentes no que diz respeito à
saúde: o projeto privatista e o projeto de Reforma Sanitária. Em relação ao primeiro,
o CFESS(2010) diz que o projeto privatista vem requisitando ao assistente social,
entre outras demandas, a seleção socioeconômica dos usuários, atuação
psicossocial por meio de aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos
planos de saúde, assistencialismo por meio da ideologia do favor e predomínio de
práticas individuais.
No entanto, no que tange a segunda tipificação de projeto, o CFESS (2010)
cita que o projeto da reforma sanitária vem apresentando como demandas que o
assistente social trabalhe as seguintes questões: democratização do acesso às
unidades e aos serviços de saúde; estratégias de aproximação das unidades de
saúde com a realidade; trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens grupais;
acesso democrático às informações; e, estímulo à participação popular.
Desta forma, pode-se notar que o projeto ético-político profissional, como
mesmo aborda o CFESS (2010), está intimamente interligado a Reforma Sanitária,
uma vez que, o assistente social como profissional que atua na esfera das políticas
sociais e na garantia destas à sociedade, procura lutar pela democratização e
universalização dos direitos sociais, e este é o ponto-chave do projeto de Reforma
Sanitária: tornar um direito efetivo de todos o acesso público a saúde.
Diferentemente do projeto privatista, que procura transformar esta saúde em
mercadoria, a qual nem todas as classes sociais podem ter acesso, e, desta forma,
focaliza as atividades do SUS apenas as classes mais necessitadas, tornando assim
os serviços precários.
57
Diante do exposto, o CFESS (2010) diz que o Estado, apesar de fortalecer em
alguns momentos a ideia da implementação da Reforma Sanitária, em outros
fortalece ainda mais a ideia de implementação do projeto privatista, procurando
manter a sua desresponsabilização frente às necessidades sociais, embasado nos
argumentos neoliberais. Desta forma, se torna um desafio ao Assistente Social
procurar articular a relação deste Estado com a sociedade, uma vez que este se
volta a atender aos interesses das classes dominantes em contrapartida às
demandas das classes subalternas, deixando-as a mercê das expressões da
questão social inclusive, na área da saúde.
No que diz respeito ao momento do Serviço Social atuando na saúde, não
foge das atribuições e competências das outras áreas de atuação da profissão, pois
essas práticas são norteadas e baseadas pelo Código de Ética e pela Lei de
Regulamentação nº 8.662/93. O nosso código de ética nos dá o suporte de como
atuar de forma coerente e sempre pensando na totalidade do sujeito e fugindo das
práticas assistencialistas e conservadoras. Já a nossa Lei de Regulamentação
instituída em 7 de Junho de 1993, nos diz onde, o que e quando podemos atuar,
quais são os nossos “espaços” para atuação.
Assim, o reconhecimento da questão social como objeto de intervenção
profissional, demanda uma atuação em uma perspectiva totalizante, baseada na
identificação das determinações sociais, econômicas e culturais das desigualdades
sociais. A intervenção orientada por esta perspectiva teórico-política pressupõe:
leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das condições materiais de
vida, identificação das respostas existentes no âmbito do Estado e da sociedade
civil, reconhecimento e fortalecimento dos espaços e formas de luta e organização
dos trabalhadores em defesa de seus direitos, formulação e construção coletiva, em
conjunto com os trabalhadores, de estratégias políticas e técnicas para modificação
da realidade e formulação de formas de pressão sobre o Estado, com vistas a
garantir os recursos financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários à
garantia e à ampliação dos direitos (CFESS, 2010).
Conforme o CFESS (2010), os assistentes sociais inseridos na área da saúde
trabalham basicamente em quatro grandes áreas, chamados eixos de atuação
profissional, segue: atendimento direto aos usuários; mobilização, participação e
controle social; investigação, planejamento e gestão; assessoria, qualificação e
formação profissional envolvem um conjunto de ações a serem desenvolvidas pelos
58
assistentes sociais, ressaltando a capacidade propositiva dos profissionais, com
ênfase na investigação da realidade, nas ações socioeducativas, nas demandas
reais e potenciais, na participação social, na ampliação da atuação profissional,
mediando a ação direta com os usuários com as atividades de planejamento,
gestão, mobilização e participação social, bem como com as ações voltadas para a
assessoria, formação e educação permanente (CFESS, 2010). A primeira grande
área de trabalho é o atendimento aos usuários, onde há uma melhor interação com
o público usuário e com isso se criam mais demandas para os profissionais do
Serviço Social que podem atuar desde as UBS (Unidades Básicas de Saúde), nos
CAPs (Centro Apoio Psicossocial) até chegar às redes de urgência e emergência
(hospitais, UTI’s). A segunda grande área é a das ações sócio-educativas, que são
desenvolvidas pelos assistentes sociais. Elas devem transpor o caráter emergencial
e burocrático, bem como ter uma direção socioeducativa por meio da reflexão com
relação às condições sócio-históricas a que são submetidos os usuários e
mobilização para a participação nas lutas em defesa da garantia do direito à Saúde.
O profissional precisa ter clareza de suas atribuições e competências para
estabelecer prioridades de ações e estratégias, a partir de demandas apresentadas
pelos usuários, de dados epidemiológicos e da disponibilidade da equipe de saúde
para ações conjuntas.
Como um espaço sócio-ocupacional de atuação do Assistente Social na área
de saúde, temos como exemplo o Complexo Hospitalar Monhenhor Walfredo Gurgel
- CHMWG. O qual iremos nos debruçar acerca das demandas e atribuições do Setor
de Serviço Social, no próximo subcapítulo.
4.2 – Serviço social no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel
Voltando-se para o espaço de pesquisa, iremos apresentar as demandas,
atribuições e desafios do setor de Serviço Social. Todos os dados foram retirados de
documentos oficiais do Setor que vigoram até os dias atuais, e de dados produzidos
através de entrevistas.
O serviço Social foi implantado no hospital desde sua fundação, em 1973. Hoje,
se conta com uma equipe de 30 profissionais assistentes sociais, divididas e
devidamente distribuídas por escala de plantão pelo Pronto Socorro Clóvis Sarinho e
pelos andares das enfermarias (HMWG).
59
Existem em todo o hospital, vários setores onde a presença do assistente
social é necessária. Durante as entrevistas, conseguimos apresentar a atuação
desse profissional em três setores onde eles mais atuam – A sala do Serviço Social
no Pronto Socorro, as enfermarias do Walfredo Gurgel e o setor de Politrauma, ou
Unitrauma. As funções e atribuições se parecem algumas vezes, mas existem
particularidades que serão abordadas posteriormente.
Durante a atividade de pesquisa, trabalhamos com dez (10) questionários, e
sessenta por cento (60%) dos entrevistados afirmaram ter tido algum contato ou
conheceram o setor de Serviço Social do hospital.
Grafíco 1: Conhecimento do setor de Serviço Social
Fonte: Coleta direta.
Dos usuários que assinalaram que conheciam ou já tinham tido algum
contato, 50% afirmaram que tiveram contato com uma das profissionais na própria
sala de Serviço Social, para preenchimento da Entrevista Social e entrega de cópia
de documentação do paciente. Isso nos demonstra que o contato inicial existe, mas
o acompanhamento do paciente durante sua estadia no hospital muitas vezes é
falho. Os outros 50% afirmaram que o contato com a Assistente Social foi para saber
notícias de marcações de exames de alta complexidade, como por exemplo,
Cateterismo.
O CFESS(2010), ressalta que a atividade de "marcação de consultas e
exames, bem como solicitação de autorização para tais procedimentos aos setores
competentes"(P.46) não são de competência do Assistente Social.
60
Dessa forma, podemos perceber que o real papel do Serviço Social no
CHMWG é mal propagado até mesmo pelas próprias profissionais, por assumirem
funções que não são atribuições para o setor, como a marcação de exames. Mais a
frente, discutiremos a fundo essa questão.
Retomando a discussão, primeiramente, abordaremos a porta de entrada e o
primeiro contato com o profissional do Serviço Social – A sala do Serviço Social no
Pronto Socorro Clóvis Sarinho. O profissional assistente social neste setor é
responsável20 de, no ato da admissão do usuário preencher a ficha social, na qual
dispõe de dados pessoais como Registro de Identidade, Cadastro de Pessoa Física
(CPF), telefones para contato e endereço. Há solicitações das cópias dos
documentos para a realização de exames ou em casos de óbitos. É relatada a
situação do usuário a fim de providenciar os encaminhamentos necessários no que
compete ao Serviço Social. Conforme a entrevista Amarela (2014) explica, ainda
temos como atribuições:
Acompanhar os prontuários, fazer a triagem do paciente que não é bem uma triagem, é como se fosse uma ficha de informação de dados pessoais e econômico sócio econômico, e daquela fichinha, que ela serve para auxiliar o médico na hora de uma declaração de óbito, na hora de um laudo alguma coisa né... O médico consulta essa nossa ficha. Tem também a questão de avisos de alta, comunicar as altas, solicitar os transportes as viaturas dos municípios, entrar em contato com o serviço social da outras, de outros municípios... e acompanhar a hora que o paciente sai, se o paciente permanece, encaminhar para outros setores também do hospital, tipo nutrição psicóloga, é...a gente vai assim.
Já no que se diz às demandas apresentadas ao setor, são diversas e
dinâmicas, pois a rotatividade do Pronto Socorro, devido às transferências dos
pacientes a outros hospitais e às altas após consultas. A dinâmica do Pronto
Socorro é vibrante, onde nenhum dia se iguala ao outro, onde todos os dias novas
demandas surgem e novos desafios se levantam.
Fora as coisas que acontecem e, de imprevistos porque cada plantão a gente segue uma rotina, mas cada plantão tem as suas próprias demandas, seu diferencial num é, que faz com que você tenha iniciativa né? Tenha conhecimento... Né? Seja bem informado sobre a instituição, pra poder você atuar, num momento desse. (Entrevista Amarela, 2014).
20
Dados retirados dos documentos oficiais do setor de Serviço Social do CHMWG.
61
É nesse momento que de fato é imprescindível a presença do Assistente
Social para compor esta equipe de profissionais. Muitas vezes estes profissionais
vão além de suas competências e acabam realizando serviços que não lhes são
próprias de sua intervenção como, por exemplo, marcação de exames e consultas,
viabilização de declaração de comparecimento na unidade hospitalar quando, na
verdade o atendimento não foi realizado pelo assistente social e sim por outro
profissional e convocação do responsável para dar noticia de óbito, fazer ligações
para vim buscar o usuário que está de alta, entre outros. Isso acaba
sobrecarregando os profissionais que trabalham no hospital e muitas vezes acabam
deixando de lado o que lhe é resguardado pela legislação do CFESS como
atribuição privativa e competência.. A visão da equipe de profissionais quanto o que
é que o Serviço Social deve atuar dentro do hospital é turva, o que acaba
provocando esse “desvio” nas atribuições e competências desse profissionais.
Nós da área social somos vistos como um apêndice, não há um entrosamento entre os profissionais. Os profissionais que são ditos da área de saúde apesar de nós também sermos da área, eles se organizam melhor, não há uma integração não há uma colaboração mútua, eles só chamam o serviço social quando eles não conseguem dar resposta a demanda, mas normalmente...mas em relação....acho que o maior desafio é valorização profissional aqui dentro,tá entendendo? Como em todo hospital. O olhar que o profissional de saúde tem para o serviço social é assim de uma profissão como se fosse de... sem muita importância. Infelizmente... Acho que a gente ainda tem muito a conquistar a valorização profissional... E se firmar dentro de uma equipe de saúde enquanto profissional da área de saúde. É meio complicada essa história. (Entrevista Verde, 2014).
De acordo com CFESS(2010), esta visão de "apêndice" que ressalta a entrevista
Verde(2014), é devido a dificuldade de compreensão por parte da equipe de saúde das reais
atribuições e competências face à dinâmica de trabalho existente. Por outro lado, a pressão
acerca das demandas que chegam ao setor e a fragmentação do trabalho ainda são pertinentes
e fazem com que esta0 visão se propague até a atualidade. Entretanto, diante dessas
dificuldades a equipe de Serviço Social deve impulsionar a realização de debates e reuniões
para obter e propagar o esclarecimentos das ações do setor.
Outro fator que determina e influencia na atuação dos profissionais é a
estrutura do hospital e as condições de trabalhos oferecidos para os mesmos.
62
Atualmente existem 30 assistentes sociais e a tendência é diminuir à medida que
algumas profissionais vão se aposentando e não se abre edital para concurso
público, para assim sanar o déficit do quadro de funcionários. Isso sobrecarrega os
profissionais e contribui ainda mais para que eles apenas realizem os trabalhos
imediatistas e burocráticos.
Já nas enfermarias do Hospital Walfredo Gurgel, segundo a entrevista
Vermelha (2014), além do acolhimento ao paciente recém-chegado ao andar e todas
as outras atribuições supracitadas, é feito a visita social para averiguar quais
necessidades, se há acompanhamento de familiares, ou se há necessidade de
entrar em contato com redes de apoio.
Especificamente nesta entrevista, é assinalada a falta de retorno aos
encaminhamentos feitos, quando perguntado acerca das demandas acolhidas pelo
setor. Conforme afirma Vermelha (2014):
[...] quando a gente atende essa demanda com relação aos cuidados tanto dos idosos como da criança, como de mulheres vítimas de violência. A gente tem esse cuidado de tá ligando para os órgãos responsáveis pra saber como a gente agir. Aqui é feito os encaminhamentos. Mas, não tem retorno e a gente só encaminha, a gente não tem assim como dizer se deu certo, se num deu... Eles nunca vieram aqui às instituições... Também nunca ligaram dando esse retorno [...].
Conclui-se que, a contra referência é de suma importância, para haver uma
maior interlocução entre estes setores do CHMWG.
O cenário da atuação do Assistente Social dentro do Politrauma por vezes se
parece principalmente com as atribuições da Sala de Serviço Social, mas tem suas
particularidades. De acordo com a entrevista Verde (2014), além das atribuições de
acolhimento e orientação, há também a busca de contatos dos familiares, pois a
maioria dos pacientes que chegam ao Politrauma são vítimas de acidentes de
trânsito ou ferimento por arma de fogo, e por vezes chegam sozinhas ao Hospital.
Acerca das demandas deste setor, observamos a seguinte fala:
Acidente de moto... Dá muito tiro, mais muito ferimento por arma branca, arma de fogo... Mas a maior demanda do politrauma são os acidentes principalmente os de moto. 90% moram na periferia. Um ou outro que a gente diz que é "diferenciado". E assim... Baixa renda, muita gente desempregado, sem renda fixa... Que mais? Moradores de rua, muitos também! Normalmente envolvidos em confusão, roubo, seguido de ferimento. Porque o pessoal que vem pela clinica
63
médica com um infarto geralmente vem acompanhado de familiares, vem numa outra situação. E os acidentados não, as vezes vem sozinho, são muitos motoboy que acidentou na rua... E muitos jovens. A demanda do politrauma é essa. (SIC). (Entrevista Verde, 2014).
Vale salientar a importância de o profissional compreender quais suas
atribuições privativas e suas competências de modo que existem demandas que o
profissional atende e atividades que exerce que não necessariamente são funções
do profissional. O fato de exercer funções que não são atribuições ocorre devido a
uma escolha da instituição ou da própria categoria quando entende ser algo que é
feito sem comprometer as reais demandas e atribuições da profissão.
Acontece muito, mas a gente sempre tá brigando e devolvendo. Outro dia queriam que a gente fizesse Cartão do SUS. Não é uma função pra gente, muita coisa que é colocada pra gente que na realidade não é pro serviço social fazer. (Entrevista Verde, 2014).
Os próprios usuários depositam uma confiança enorme no serviço social de
modo que se um profissional de outra especialidade se nega a atendê-los eles
procuram as assistentes sociais criando a expectativa de que elas podem “ajudar”.
Essa expectativa é algo que está inserido historicamente no serviço social cujo seu
surgimento foi marcado por práticas filantrópicas, clientelista, ou seja, prestação de
favores, como mencionado anteriormente. Percebe-se que os usuários não
entendem o papel do profissional e por vezes saem decepcionados ou irritados. Em
resposta à pergunta feita acerca dos desafios, uma das entrevistadas respondeu:
Queixas de profissional, queixa da própria equipe, né? Da equipe médica e de enfermagem. Então, essas queixas que a gente vê que é da administração. Então, assim, tipo : o médico que tá demorando desde ontem to aqui e não fui atendido, o exame tá demorando ou aqui a enfermeira tal me tratou mal. Isso é de ordem administrativa então não diz respeito ao serviço social, são esses casos que a gente encaminha para a ouvidoria. (SIC) (Entrevista Amarela, 2014).
Já em outra entrevista, foi citada a questão do óbito. Conforme afirma a
entrevista Vermelha (2014), "[...] O pessoal fala muito que o serviço social entrega
óbito e não era pra entregar [...]". (Entrevista Vermelha, 2014).
64
Mas podemos notar que essa visão que o Serviço Social tem que entregar
óbitos, mesmo sem ter preparo técnico para isso ou ser uma atribuição privativa
deste profissional, é enraizada no Setor. É alegado que o assistente social tem mais
“cuidado” para isso. Conforme afirma a entrevista Amarela (2014):
[...] amparar nos momentos de... De notícias trágicas, como acidentes, óbitos... Né? dar o apoio, informar e orientar. Informar o que não é atribuição, não deveria ser do serviço social, mas na grande maioria somos nós que informamos os óbitos, né... Porque geralmente a família tá com a gente aqui, e... E orientar a questão de óbitos, de funeral, de ITEP, de SVO, esclarecer cada aspecto desses.
Objeto de discussão em outros espaços do campo profissional, e já
institucionaliza como não atribuição do Assistente Social, e assegurada ao Médico
pelo Conselho Federal de Medicina. Mas, em alguns espaços, como o do Complexo
Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, ainda é atribuído ao Assistente essa função
de comunicação de óbito, que por vezes é feito via telefone.
Acreditamos que, na medida em que o profissional tem consciência de seu
projeto ético-político em concomitância ele passa a entender as contradições
existentes em seu trabalho, e se resguarda do que lhe compete. Além disso,
consegue se posicionar frente ao que está posto, inovando e se adaptando as suas
reais condições sem comprometer o atendimento de seus usuários. Sendo assim, se
os profissionais tivessem essa noção, lhe tirariam esse peso designado
historicamente de comunicar óbitos.
Além disso, outro apontamento nas entrevistas foram as reclamações que
chegam ao Setor de Serviço Social, e que não mais o compete, já que se possui um
setor de Ouvidoria Hospitalar. A entrevista Amarela (2014) sinaliza isso a partir de:
[...] Todo o contato na verdade recai sobre o serviço social inclusive as reclamações da má administração, dos maus tratos pelo lado da enfermagem, quando tem é... Problemas de acompanhante com acompanhante, que estão se sentindo incomodados por questões de barulho, conversas paralelas no horário de repouso, e... A gente orienta sempre que pode, quando a reclamação do acompanhante é maior, é uma questão mais administrativa, ai a gente encaminha pra ouvidoria, porque a ouvidoria faz as devidas anotações e deve encaminhar para a direção né... Não temos o retorno dessa... dessa reclamação. Deveria ocorrer, pois ela começa no serviço social né? Então até a ouvidoria deveria mandar de volta o paciente que foi atendido tal tal. Não é formal o encaminhamento, o serviço social não
65
manda isso formalizado, sempre é de uma maneira informal vá ali que tem uma ouvidoria que vai acatar suas reivindicações, mas, no geral a gente tenta amenizar os conflitos, né... Intermediando a instituição, o usuário e o acompanhante [...].
Entraremos mais a fundo nesta linha tênue entre as atribuições do Setor de
Serviço Social e o Setor de Ouvidoria Hospitalar, e a associação gerada entre esses
dois setores, no próximo subtópico.
4.3 – Questões relevantes para compreensão da associação do trabalho do
assistente social com a ouvidoria.
Após toda essa busca e rebusca de informações, para se dar forma a este
trabalho, finalmente chegamos ao ponto chave, o qual foi o despertar para o tema, a
discussão de Humanização do SUS. Durante nossa experiência de estágio curricular
no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, a maior inquietação eram as
diversas reclamações e apontamentos que os usuários faziam no Serviço Social.
Mas qual era o motivo dessa demanda espontânea simplesmente aparecer na sala
do Serviço Social, ou se direcionar às assistentes sociais para manifestar sua
indignação, reclamação, problema? Qual era o motivo desse público não se
direcionar para a OuvidoriaSUS?
O que a experiência da pesquisa nos mostra é que cem por cento (100%) dos
questionários, manifestaram não ter conhecimento sequer da presença de uma
OuvidoriaSUS no hospital.
Gráfico 2: Conhecimento da OuvidoriaSUS
Fonte: Coleta direta.
Isso demonstra a falta de divulgação desse instrumento da estratégia
HumanizaSUS, seja na forma direta de abordagem, ou desconhecimento dos
próprios profissionais.
66
A entrevista Vermelha(2014), alega que a falta de conhecimento da presença
e importância da OuvidoriaSUS por parte dos profissionais atuantes dentro do
hospital, acaba direcionando essas demandas para o Serviço Social. Com isso há a
sobrecarga do setor a dar respostas aos usuários, função que deveria ser da
OuvidoriaSUS.
[...] porque tudo que acontece aqui dentro do hospital manda pra gente. Mas a gente já percebeu que são os próprios funcionários que manda o povo pra aqui, tá entendendo? Porque as pessoas chegam para perguntar alguma coisa ai eles mudam, sei lá... Por alguma razão eles mandam pra cá. E assim a gente realmente assume essa postura de tá dando os encaminhamentos aqui porque tem pessoas aqui que não tem muito paciência de ouvir. e a população acha que o serviço social tem. E tem né? E tem... O bom é a gente tá pudendo acolher. (Entrevista Vermelha, 2014).
Outro ponto apontado pelas assistentes sociais é a falta de retorno dos
encaminhamentos feitos por elas para a OuvidoriaSUS. Elas atestam que não há
esse feedback e isso acaba desestimulando a categoria a realizar esses
encaminhamentos, justificando-se que não possuem o real conhecimento de que se
resolvam as demandas dos usuários. Muitas têm a visão de que a Ouvidoria não
tem serventia, conforme afirma entrevista Amarela (2014).
Eu acredito que a Ouvidoria não dá resposta imediata e o serviço social ele responde imediatamente [...] Nós temos o poder de amenizar... Né? O conflito do momento...e a ouvidoria de dar a resposta necessária. Mas eu acredito que deveria chegar resposta ao usuário, não sei se chega...e também ao serviço social...a demanda partindo do Serviço Social para a ouvidoria deveria ser registrada[...] (Entrevista Amarela, 2014).
Já a Ouvidoria (Entrevista Azul, 2014), afirma que muitas vezes os usuários
chegam até ela, encaminhados pelo Serviço Social, querendo apenas uma
informação, ou um acompanhamento e cuidado melhor do paciente/acompanhante
que se encontra no Hospital.
Conforme afirma a Entrevista Verde (2014), a OuvidoriaSUS não funciona
pelo período da noite, somente em horário comercial, o que , segundo ela acaba
sobrecarregando o setor de Serviço Social nesse horário, por conta da rotina de
67
serviço das assistentes sociais ser por escala de plantão; pela não presença da
mesma e pelo Serviço Social não ter competência técnica para dar respostas
conclusivas para o usuário. Desta forma, nota-se a necessidade de se lutar por uma
Ouvidoria Hospitalar que funcione 24 horas, já que o atendimento do hospital
funciona incessantemente.
Qualquer queixa do hospital inclusive quando a ouvidoria não está funcionando ainda é direcionada para o serviço social, ainda hoje apesar de /ter uma ouvidoria, mas a noite não fica ninguém, não tem...ai vem pra cá. Ai prejudica demais a resposta ao usuário porque não temos as vezes a resposta satisfatória para o usuário. (Entrevista Verde, 2014).
Também já supracitado outro fator que contribui para essa confusão é a
construção histórica da profissão dentro do CHMWG, onde diversas funções foram
designadas para o setor, mesmo não tendo competência técnica-operativa. Umas
dessas funções relatadas na Entrevista Verde (2014), é que antes da OuvidoriaSUS
ser instaurada no Hospital, era o Serviço Social que fazia a mediação com o usuário-
outros setores-direção. Dessa forma, ainda há resquícios dessa visão nos usuários e
profissionais, mesmo após a institucionalização da OuvidoriaSUS no CHMWG.
Sendo assim, conforme afirma a Entrevista Azul (2014), as atribuições e
funções do setor de Serviço Social e do setor de Ouvidoria Hospitalar formam uma
linha tênue, que muitas vezes é ultrapassada, não respeitada.
[...] eu acho que tem, é uma linha assim bem tênue, bem mas que ainda não está bem especificada principalmente aqui no Walfredo onde é uma demanda muito grande, tá entendendo[...]acho que tá faltando esse trabalho de conscientização [...]. (Entrevista Azul, 2014).
Dessa forma, devemos buscar delimitar as atribuições e funções de cada
setor, e trabalhar com o público para que eles também possam ter essa noção do
que é de responsabilidade do Serviço Social e da mesma forma com a Ouvidoria. E
isso não pode somente alcançar aos usuários, mas principalmente aos profissionais
constituintes da Instituição, pois eles são o maior canal de informação. Muitas vezes
68
onde o assistente social e o ouvidor não podem ir, os enfermeiros, médicos,
nutricionistas, fisioterapeutas são capazes de chegar.
A linha tênue supracitada ainda é muito avançada e desrespeitada. O que
falta a princípio é cada setor se enxergar como parte constituinte de um hospital do
porte do Walfredo, delimitar suas competências e atribuições para não haver esta
invasão de espaços notória. Dessa forma, evita-se e melhora-se o atendimento e
respostas as demandas que chegam a ambos os setores. Um ponto a se destacar
seria a falta ainda de conhecimento por parte dos usuários e até de profissionais da
existência de uma Ouvidoria no hospital. Sabemos que este processo é moroso sim,
mas com divulgação aos usuários incessante, podemos sim gerar uma maior
consciência aos nossos usuários que o SUS é nosso, e que devemos lutar e tentar
melhorar ele.
Outro ponto, para finalizarmos, é de observarmos que a Ouvidoria e o Serviço
Social, apesar de precisarem delimitar seus espaços, devem e podem atuar em
conjunto. O assistente social, mesmo com o poderio de amenizar os conflitos, tem
total competência do olhar crítico, de olhar além do que é lhe apresentado. Dessa
forma, o acionamento e trabalho em conjunto com a Ouvidoria na resolução das
demandas pode acelerar o processo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
69
A partir das discussões e debates neste Trabalho de Conclusão de Curso,
vemos a necessidade de retomar e salientar os argumentos obtidos através deste
estudo. Relembrando que, mesmo com a atividade de pesquisa e os resultados
apresentados ao longo deste trabalho, torna-se inesgotável o debate acerca da
Humanização do Sistema Único de Saúde, especificamente desta confusão entre o
fazer profissional do Assistente Social e do Ouvidor. A Ouvidoria sozinha não se
constitui como participação. Devemos nos apoderar dos outros instrumentos dessa
estratégia de Humanização para assim torná-la efetiva e eficaz.
Ainda mais, se detendo ao espaço de pesquisa, que foi o Complexo
Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel, palco de greves, lutas, falta de assistência
plena em saúde, falta de Humanização nos serviços prestados.
Dentro desta perspectiva, os dados apontam questões relevantes para o
espaço de pesquisa, bem como para a melhor discussão e preparação dos(as)
futuras(os) assistentes sociais.
Nos remetendo aos dados da pesquisa, verificamos que, atualmente, há sim
esta confusão entre os setores de Ouvidoria e Serviço Social, justificada pela falta
de conhecimento da real função de uma Ouvidoria, até por parte dos outros
profissionais que formam o hospital.
Há também uma falta de poderio de seu fazer profissional, o que acarreta
sobrecarga de função. O Setor de Serviço Social, analisado através das entrevistas,
necessita se deter aos seus documentos, tão preciosos, que delimitam o fazer
profissional, suas competências e atribuições privativas.
Dessa forma, a dimensão técnico-operativa se unirá as outras duas
dimensões, tornando assim o trabalho ético, dinâmico, livre de preconceitos e
entraves. É desta forma que o setor pode conquistar seu espaço dentro da equipe
de saúde, e dentro do espaço de atuação. No que concerce à Ouvidoria, a falta de
divulgação, pelo fato de ser um Setor novo no hospital, dificulta a real atuação dela.
Muitos desacreditam do poder de resolução deste setor, talvez pela falta de atuação
do mesmo.
É preciso destacar também, a relevância que este trabalho tem, tanto para o
âmbito acadêmico quanto para a própria instituição. A discussão acerca da
Humanização do SUS dentro do curso de Serviço Social, pode até ser repetitiva,
mas é apaixonante. A cada novo ciclo que se inicia, novas transformações,
demandas e desafios são impostos para a melhoria deste sistema público. Cabe
70
aos Assistentes Sociais abraçarem ainda mais esse debate, e lutar por uma saúde
igualitária, digna, com participação efetiva do povo e livre de preconceitos.
71
REFERÊNCIAS:
ANDERSON, P. Balanço do neoliberalismo. In: SABER, E.; GENTILI, P. (orgs.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático: Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Ouvidoria-Geral do SUS. Falando de Ouvidoria: experiências e reflexões / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Ouvidoria-Geral do SUS - Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2010.
. Ouvidoria-Geral do SUS: um espaço de cidadania /Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Ouvidoria-Geral do SUS. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2010.
. Documento base para Gestores e Trabalhadores do SUS – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2004.
. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília: Senado Federal, Subsecretária de Edições Técnicas, 2005.
.Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Sistema Único de Saúde(SUS): Princípios e conquistas/ Ministério da Saúde, Secretaria Executiva. - Brasília: Ministério da Saúde, 2000.
. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: visita aberta e direito a acompanhante / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: prontuário transdisciplinar e projeto terapêutico / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
72
. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: grupo de trabalho de humanização: GTH / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: gestão participativa: co-gestão / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: equipe de referência e apoio matricial / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. O Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde: avanços, desafios e reafirmação dos seus princípios e diretrizes./ Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde. - 1ª ed., 2ª reimpr.- Brasília: Ministério da Saúde, 2003.
BRAVO, Maria Inês Souza. Política de Saúde no Brasil. Serviço Social e Saúde Formação e Trabalho Profissional / Ana Elizabete Mota... [et al], (orgs). – São Paulo: OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2006.
______________________. Serviço Social e Reforma Sanitária: lutas sociais e práticas profissionais. – 2. Ed. – São Paulo, Cortez, 2007.
BEHRING, Elaine Rossetti. Brasil em contra-reforma – desestruturação do estado e perda de direitos. São Paulo: Cortez, 2003.
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2010. (Biblioteca Básica de Serviço Social, v.2).
73
BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social e Trabalho: Paradoxos na Construção das Políticas de Previdência e Assistencia Social no Brasil.Ed. UnB,2010.
Conselho Federal de Serviço Social. Legislação e Resoluções sobre o trabalho do/a assistente social/ Conselho Federal de Serviço Social - Gestão Atitude Crítica para Avançar na Luta. - Brasília: CFESS,2011.
. Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde. Série: Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais. - Brasília: CFESS, 2010.
COSTA, Maria Dalva Horacio, "Gestão participativa na atenção básica de saúde, no SUS que queremos.", IV Pré-Conferência Municipal de Saúde do Distrito Norte - Natal/RN. 2000.
FIGUEREDO, Nébia Maria Almeida de. Práticas de Enfermagem: Ensinando a cuidar em saúde pública. São Paulo: Editora Yendis, 2005.
FORTES, P. A. C. Ética, direitos dos usuários e políticas de humanização da atenção à saúde. Saúde e Sociedade. Vol.13, n.3, set/dez, 2004.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
MESZÁROS, I. A crise estrutural do capital. Revista Outubro, n. 04, p. 7-15, 2002.
NETTO, José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós-64. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
NETTO, José Paulo. O Movimento de Reconceituação 40 anos depois. Revista Serviço Social & Sociedade, São Paulo, nº 84, p. 5-20, nov. 2005. SOUZA, W. J. Responsabilidade social corporativa e Terceiro Setor. Brasília: Universidade Aberta do Brasil, 2008.
SOUZA, Ana Carolina Silva de. Cenário Instituicional do Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel. UFRN. Natal/RN, 2013.
74
. O processo de humanização dos serviços
públicos de saúde: análise da ouvidoriasus dentro do complexo hospitalar
monsenhor walfredo gurgel - projeto de tcc. UFRN. Natal, 2013.
APÊNDICES:
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Departamento de Serviço Social
Curso de Serviço Social
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, ______________________________________________, RG nº ______________________________________, abaixo assinado, declaro que, de livre e espontânea vontade e de forma gratuita, aceito participar da pesquisa, realizada por Ana Carolina Silva de Souza, acadêmica (o) do curso de Serviço Social, orientada pela Profª Josivânia Estelita Gomes de Souza, autorizo o uso do conteúdo das informações dadas para que seja utilizado parcial ou integralmente, sem restrições de prazos e citações, a partir da presente data, bem como das fotografias tiradas, filmagem e gravação da entrevista, que têm como objetivo a documentação, análise e avaliação da pesquisa. Fui informado (a) dos objetivos da pesquisa que consiste em investigar as razões que levam as competências e atribuições privativas do Serviço Social a serem confundidas com as atribuições da Ouvidoria no CHMWG.Tendo como benefícios, o aprimoramento da formação profissional, formulação de novas metodologias e técnicas que fortaleçam o projeto ético-político do Serviço Social dentre outros, a reflexão sobre os avanços e obstáculos da profissão. As entrevistas serão transcritas pelo pesquisador retirando quaisquer informações identificatórias. As entrevistas terão a duração aproximada de 1 hora e eu poderei interromper a qualquer momento, não sendo obrigado a responder qualquer pergunta que julgar inconveniente. Estou plenamente ciente de minha participação nesse estudo e sobre a preservação do meu anonimato. Fico ciente, ainda, sobre a minha responsabilidade em comunicar ao pesquisador qualquer alteração pertinente a esse estudo, podendo dele sair a qualquer momento, sem acarretar prejuízos no meu atendimento na instituição da qual participo. Os dados coletados poderão ser utilizados para publicação de artigos, apresentação em seminários e similares. Declaro, outrossim, que este Termo foi lido e recebi uma cópia.
Abdicando direitos autorais meus e de meus descendentes, firmo o presente documento. Quaisquer dúvidas em relação à pesquisa podem ser esclarecidas pelas pesquisadoras pelo fone (084)9843-33445.
Natal (RN), de de 2014.
Entrevistado (a): Pesquisador (a): Ana Carolina Silva de Souza Pesquisadora responsável : Josivânia Estelita Gomes de Sousa. Tel. (084)9937-7168
75
ENTREVISTA SETOR SERVIÇO SOCIAL
1- Quais as atribuições privativas do Serviço Social no Hospital Monsenhor
Walfredo Gurgel?
2- Quais as competências (atividades realizadas pelo SS e por outras
categorias)?
3- Quais as demandas mais admitidas pelo setor?
4- Como são dadas as respostas a essas demandas? Quais são os desafios
para tal?
5- Qual o público recebido nesta Unidade Hospítalar?
6- Quais são as funções direcionadas ao setor que não fazem parte da nossas
atribuições à luz da Lei 8662/93?
7- Na sua opinião, por que o Setor de Serviço Social é confundido muitas vezes
com o Setor de Ouvidoria Hospitalar presente na Instituição? Como isso
atinge o fornecimento de respostas qualificadas aos usuários?
76
ENTREVISTA SETOR OUVIDORIA
1- Quais as atribuições da OuvidoriaSUS no Hospital Monsenhor Walfredo
Gurgel?
2- Quais as demandas (de forma geral) são mais admitidas pelo setor?
3- Como são direcionadas as respostas a essas demandas?
4- Como funciona uma ouvidoria?
5- O SUS oferece algum tipo de capacitação/reciclagem aos ouvidores?
6- Na sua opinião, por que o Setor de Ouvidoria Hospitalar é confundido muitas
vezes com o Setor de Serviço Social? Quais as consequencias disto para a
OuvioriaSUS no Walfredo?