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POEMAS VISUAIS
e POESIAS
POEMASVISUAIS
e POESIAS
Hugo Pontes
POEMAS VISUAIS e POESIAS
Hugo Pontes
Cordenação editorialJoaquim Antonio Pereira
DiagramaçãoDiego Nóbrega
1ª edição: dezembro de 20002ª edição: abril de 2007
© Hugo Pontes
Dix editoral . comunicaçãoRua Padre Carvalho, 275 . Pinheiros05427-100 . São Paulo . SP . Brasil
Tel e Fax. (011) 3812.6764www.annablume.com.br
Centro de Documentação e InformaçãoPolis Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais
P858 Pontes, HugoPoemas visuais e poesia. / Hugo Ponte. — São Paulo: DixEditorial, 2007.160 p.
ISBN 978-85-7419-636-7
1. Literatura Brasileira. 2. Poesia. 3. Poesia Social. I. Título.
CDU 869.0(81)CDD 890
Sumário
Nota ......................................................... 11
Prefácio .................................................... 13
Apresentação ........................................... 17
Poema Visual ............................................. 19
Visual poems ............................................. 23
Poemas visuales ........................................ 27
Poesias ...................................................... 31
Concerto .................................................. 33
Assis .......................................................... 34
Surreal ....................................................... 35
Mordaça ................................................... 36
Da fala ...................................................... 37
Semeadura ............................................... 38
Desertos .................................................... 39
Via ............................................................. 40
Couro cru .................................................. 41
Ocaso ....................................................... 42
Crítica ....................................................... 43
Fecundação ............................................. 44
Poeira ....................................................... 45
Ópera ....................................................... 46
Minas ........................................................ 47
Velho Chico .............................................. 48
Pauta ........................................................ 49
Combate .................................................. 50
Pastorear ................................................... 51
Corpo ....................................................... 52
Poetar ....................................................... 53
Empório .................................................... 54
Boi ............................................................. 55
Poema visual – experimentalismo
A transitividade do V(ler) ...................... 69
Pouco a porco .......................................... 75
& ............................................................... 76
Poluição .................................................... 77
Meio e massagem .................................... 78
Soma ........................................................ 79
Número 1 .................................................. 80
Dois mil ...................................................... 81
Nós ........................................................... 82
Poema G .................................................. 83
Bandeira ................................................... 84
Cia ............................................................ 85
Lágrima ..................................................... 86
Bloqueio .................................................... 87
Vida .......................................................... 88
Olho .......................................................... 89
Ave ........................................................... 90
Estilo .......................................................... 91
Oração ..................................................... 92
Míssil .......................................................... 93
Raiz ........................................................... 94
Ovolho ...................................................... 95
América .................................................... 96
Cédula ...................................................... 97
Boi ............................................................. 98
Rendição em massa ................................. 99
Aguas de minas ...................................... 100
Manu ...................................................... 101
Defesa da tese ....................................... 102
Ligue-se................................................... 103
Grito ........................................................ 104
Bolaço .................................................... 105
Tempo .................................................... 106
Vã filosofia ............................................... 107
Tigre triste ................................................ 108
Leão ....................................................... 109
Irradiante ................................................. 110
Pauta ...................................................... 111
Classificados ........................................... 112
Economia ............................................... 113
Soneto da corrupção .............................. 114
Fome ...................................................... 115
Visualidade .............................................. 116
Cruzado .................................................. 117
Notável ................................................... 118
Revisão ................................................... 119
Vírus ......................................................... 120
Fuga ....................................................... 121
Escape ................................................... 122
Cinema................................................... 123
A barca bela ........................................... 124
Pânico .................................................... 125
Assédio ................................................... 126
Flor para Nicarágua ................................. 127
Luz ........................................................... 128
Acento .................................................... 129
Construção ............................................. 130
Zen.......................................................... 131
Descobrimento 1 .................................... 132
Descobrimento 2 .................................... 133
Descobrimento 3 .................................... 134
Descobrimento 4 .................................... 135
Mutilação................................................ 136
Saúde ..................................................... 137
História A ................................................. 138
História B .................................................. 139
Turismo .................................................... 140
Mundo .................................................... 141
Real mente ............................................. 142
FunREal ................................................... 143
Nel mezzo del camin ............................... 144
Sem terra ................................................ 145
Signo VIX ................................................. 146
Canção de armar
(Para Gilberto Mendonça Teles) ......................... 147
Fortuna Crítica ......................................... 148
O Autor .................................................... 155
11
Nota
A questão mais curiosa, parece até que a
mais angustiante e possivelmente a mais idiota
em todas as reuniões em que se fala de
literatura no Brasil dos últimos dez anos (cursos,
conferências, debates e simples conversa de
bar) tem sido a de saber “como vai a poesia
brasileira, hoje”.
Já houve até seminário “nacional” de literatura
(com escritores do Rio de Janeiro e de São Paulo),
em que este tema foi muito debatido... pelos
improvisadores dos congressos literários. Passa-
se nesses debates como se a Poesia fosse uma
terra devoluta e houvesse entre os intelectuais
um movimento dos sem-pesquisa para armar ali
as suas barracas...
Ninguém percebe que o Brasil vai além do
Rio e de São Paulo, que os suplementos literários
dessas cidades ou estão nas mãos de um grupo
(que se autoelogia) ou se submetem às grandes
editoras (é só dar uma olhadela nas resenhas),
12
quando não entregam os livros de poemas a
pessoas que pouco sabem de poesia.
Talvez seja um truísmo, mas é preciso dizer
que há em cada capital brasileira, hoje, alguns
bons, excelentes poetas, com vários livros
publicados pelas editoras locais e, por isso
mesmo, desconhecidos (ou quase) da crítica, dos
programas escolares e do resistente leitor de
poesia.
Daí o sentido principal desta coleção de livros
de poemas que a Dix Editoral está lançando no
mercado nacional, revelando e divulgando, no
pórtico do terceiro milênio, poetas de todo o
Brasil numa série aberta a todo tipo de
experimentação estética na poesia.
Salamanca, 1º de janeiro de 1999.
GILBERTO MENDONÇA TELES
13
Prefácio
Companheiro de estrada desde osanos 60, Hugo Pontes dispensa apresen-tação, mas o roteiro e o rumo de seuspoemas merecem considerações. Trata-sede um trabalho experimental que nãopertence apenas a Minas ou ao Brasil, poisjá alcançou outras praias pelo mundo.
Desde a confluência das décadas de60/70, quando o Poema/Processo am-pliou o raio de ação do Concretismo edefiniu um novo movimento, Hugo temestado presente no time de frente dospoetas brasileiros, criando e participandode encontros, exposições e antologiasem diversos países e pelo Brasil afora.
Pouco mais tarde, o efeito multipli-cador da Arte Postal levou seus poemasa andar em revoada pelos mares e aresnunca dantes navegados.
Portanto, Hugo Pontes é daquelescuja poesia corre paralela às atividades,como parecem exigir, a todo instante, ostempos atuais.
14
Ler seus poemas é relembrar, comprazer, uma trajetória que acompanho deperto desde o Carimbo, de 1977, ao VãFilosofia, de vinte 20 anos depois.
A seqüência temático-formal deseus poemas nos faz reviver nossahistória mais recente, em seus pontos maiscríticos e passíveis de crítica. Não é outraa intenção de poemas como: Meio eMassagem, Soneto da Corrupção,Cruzado, Escape, Flor para Nicarágua,Bloqueio e outros., todos em cima dolance, exatamente na fronteira queconjuga o político com o social, no fogocruzado do poético com o real.
Na linha de frente – como um apelointrodutório ao feixe de provocaçõesque, afinal, são esses poemas – estãoSem-Rosto nem Resto, Real Mente,História do Brasi l , e a ambigüidadeproposital de Nós – registro excepcionaldo autor.
Não falta, na série, o apelo ironi-camente lírico de Lágrima, Rendição emMassa, Impressões, seguido da preo-cupação ecológica bem resolvida deEcologia, Pânico e Impressões, e dotoque clássico de Nel Mezzo del Camine Barca Bela.
15
Hugo Pontes é, sem dúvida, um autorque vem sendo importante para a poesiade vanguarda no Brasil. O conjunto deseus poemas assim o demonstram.
JOAQUIM BRANCO
17
Tenho restrições, cada vez maisfundadas, à influência do concretismosobre a produção dita de “vanguarda”,pois universalizou os trocadilhos, asparanomásias, enfim, todo um aparataverbal que ajuda a preguiça mental ebanaliza a expressão.
“Vanguarda, para mim, em literaturanão signif ica nada. Literatura não écompetição com o tempo.
Seu trabalho, reunido, deu-me umavisão de conjunto de que você se saimuito bem. Você uti l iza com rarafelicidade a combinação dos signosverbais com a expressividade dalinguagem icônica. Assim, os dois códigos,o digital e o icônico, se combinam àperfeição para traduzir imagens poéticase juízos críticos.
Somente assim posso aceitar odesignativo de “poemas” para ascomposições que você apresenta.
APRESENTAÇÃOPoemas Visuais –
um comentário
18
Seus poemas associam virtudes quecaem no campo da poesia: síntese,rarefação de meios, metáforassurpreendentes, jogo referencial apoiadona razão crítica, enfim, um equilíbriocomposicional de razão e emoção.
Você se tornou um mestre dapoesia social . Basta ver os poemas“Cruzado”, “Promissória”, “Soneto” e “SemTerra”.
Emoção? “Pânico”. E tem mais: oacento crít ico recai em “Flor paraNicarágua”, “Bloqueio”, e no admirável“Rendição em Massa”. “Soma” traduz umachado no âmbito da crítica social.
E há, além do mais, certaprospecção no veio cômico, de que“Pouco a Porco” é exemplo.
FÁBIO LUCAS
Professor, escritor e crítico literário
19
Poema VisualHugo Pontes
Podemos dizer que a ousadia doexperimental ismo poético nãoestacionou no Concret ismo. Asexperiências prosseguiram e continuamaté os nossos dias com resultadossurpreendentes. A partir da década de70, no Brasil, os poetas visuais surgemtimidamente, promovendo as suasprimeiras exposições e publicaçõesalternativas.
Com o passar do tempo, inúmerosadeptos se integram ao movimento dopoema visual e cada um manifesta a suaarte utilizando-se dos recursos maisvar iados: xerograf ia , computador,holografia, vídeo, cartazes impressos,laser, cartões postais, selos e carimbos.
A temática explorada, em sentidouniversal, é o homem e seu estar-no-mundo. Em caráter particular, no Brasil,exploram-se a incompetência da políticanacional, a miséria, a dívida externa, a
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ilusão da loteria, o dilema humano daenergia atômica, o conflito psicológicodo ser e os temas eróticos.
O poema visual caracteriza-se porvalorizar a imagem como entidadeuniversal. A palavra, no caso, é muito bemexplorada e colocada, compondo umtodo harmônico capaz de permitir ao“vleitor” - aquele que lê e vê ou só vê -uma infinidade de leituras, de acordo como nível do seu conhecimento, experiênciade mundo, cultura e escolaridade.
O poema visual, no Brasil, encontraeco em algumas raras publicações,principalmente as alternativas que abrigamtrabalhos de poetas como JoaquimBranco, Márcio Almeida, Marcelo Dolabela,Sebastião Nunes e Hugo Pontes (MG);Paulo Bruscky e Antônio Andrade, (PE),Philadelpho Menezes e Constança Lucas,Elson Fróes e Artur Soares (SP); MaynandSobral (CE); Ricardo Alfaya e AmelindaAlves, Moacy Cirne (RJ), GilbertoMendonça Teles (RJ); Rubervan duNascimento (PI); Hugo Mund Júnior (DF);Falves Silva, Avelino de Araújo, J. Medeirose Bianor Paulino (RN); Sérgio Almeida (PR).
As publicações existentes, hoje,voltadas para o poema visual são a
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página ComunicARTE, do Jornal daCidade de Poços de Caldas-MG; RevistaDimensão de Uberaba-MG; o SuplementoCultural “Garatuja”, de Bento Gonçalves-RS; A Cigarra, de Santo André-SP; OCapital, de Aracaju-SE.
Minas tem muita h istór ia paracontar sobre o poema visual, pois aquiestá um dos núcleos mais vigorosos econsistentes dessa manifestação.
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Visual poemsHugo Pontes*
We can say that the daring of theexperimentation poetic didn’t park inConcretismo. The experiences continuedand they continue until our days withsurprising results.
Starting from the decade of 70, inBrazil, the visual poets appear timidly,promoting its f irst exhibit ions andalternative publications.
With passing of the time, countlessfollowers integrate into the movement ofthe visual poem and each one manifestsits art being used of the most variedresources: xerography, computer,holography, video, printed posters,laser, postcards, stamps, etc. Thethematic explored, in universal sense, itis the man and its be-knot-world. Inpr ivate character, Brazi l , they areexplored the incompetence of thenational politics, the poverty, the foreigndebt, the illusion of the lottery, the humandi lemma of the atomic energy, the
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psychological conflict of being and theerotic themes.
The visual poem is characterized byvaluing the image as universal entity. Theword, in the case, is very well an appendixexplored and placed, composing an allharmonic one capable to allow to the “vleitor “ an infinity of readings, inagreement with the level of itsknowledge, experience, culture andschool level.
The visual poem, in Brazil, findsecho in some rare publications, mainlythe alternatives that shelter poets’ worksas Joaquim Branco, Márcio Almeida,Marcelo Dolabela, Sebastião Nunes andHugo Pontes (MG); Paulo Bruscky (PE),;Fred Maia, Philadelpho Menezes, ArturSoares and Constança Lucas (SP);Maynand Sobral (CE); Ricardo Alfaya,Moacy Cirne, Gilberto Mendonça Telesand Wlademir Dias-Pino (RJ); Rubervan duNascimento (PI); Hugo Mund Júnior (SC);Fa lves Si lva, Avel ino de Araújo, J .Medeiros and Bianor Paulino (RN); SérgioAlmeida (PR).
The existent publications, today,gone back to the visual poem they arethe page ComunicARTE, of the Jornal da
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Cidade de Poços de Caldas-MG, RevistaDimensão of Uberaba-MG; Livrespaçoand A Cigarra, of Santo André – SP; andthe Cultural “ Suplemento Garatuja “, ofBento Gonçalves-RS.
Minas Gerais have a lot of historyto count on the visual poem, becausehere it is one of the most vigorous andconsistent nucleous of thatmanifestation.
Translation: Ana Maria Sarti
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Poemas visualesHugo Pontes*
Podemos decir que la osadía de laexperimentación poética no estacionó enConcretismo. Las experiencias continuarony ellos continúan hasta nuestros días conresultados sorprendentes.
Empezando de la década de 70, enBrasi l , los poetas visuales aparecentímidamente y promueven sus primerasexhibiciones y publicaciones alternativas.
Con el pasar del t iempo, losseguidores innumerables integran en elmovimiento del poema visual y cada unomanifiesta su arte a usándose de losrecursos más var iados: xerograf ía ,computadora, holograf ía , carteles,impresos, v ideos, láser, tar jetaspostales, estampas, etc.,,
El tema explorado, en sentidouniversal, es el hombre y su estar en elmundo. En carácter privado, Brasil, ellosse exploran la incompetencia de lapolítica nacional, la pobreza, la deudaexterna, la ilusión de la lotería, el dilema
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humano de la energía atómica, el conflictopsicológico del ser y los temas eróticos,.
El poema visual es caracterizadovalorando la imagen como entidaduniversal. La palabra, en el caso, es muybien un apéndice explorado y puso ycompone un todo armónico uno capazpermitir al “vleitor” una infinidad delecturas, en acuerdo con el nivel de suconocimiento, experimentan, cultura ynivel escolar.
El poema visual, en Brasil, el ecode los hallazgos en algunas publicacionesraras, principalmente las alternativas quealbergan los trabajos de poetas comoJoaquim Branco, Márcio Almeida,Marcelo Dolabela, Sebastião Nunes yHugo Pontes (MG); Paulo Bruscky yAntonio Andrade (PE), ; Fred Maia,Phi ladelpho Menezes, É lson Fróes,Constança Lucas y Artur Soares (SP);Maynand Sobral (CE); Ricardo Alfaya,Moacy Cirne y Gilberto Mendonça Teles(RJ); Rubervan Du Nascimento (PI); HugoMund Júnior (DF); Falves Silva, Avelino deAraújo, J. Medeiros y Bianor Paulino (RN);Sérgio Almeida (PR).
Las publicaciones existentes, hoy,se remontadas al poema visual ellos son:
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ComunicARTE , del periódico Jornal
da Cidade, de Poços de Caldas-MG;Revista Dimensão de Uberaba-MG; el“Suplemento Cultural Garatuja ” , deBento Gonçalves-RS; A Cigarra, de SantoAndré-SP y O Capital, de Aracaju-SE.
Minas Gerais tienen mucha historiapara contar con el poema visual, porqueaquí está uno de los núcleos másvigorosos y consistentes de esamanifestación.
* Poeta, professor e jornalista
Poesias
33
Concerto
Da fábrica de ferro, ferrolho.
No rosto do cego, um olho.
Artigo de luxo, repolho.
Vida:Corte de navalhaem corda de violino.
34
Assis
Enquanto Francisco fala aos pássaros duas tribosroem seus ossos.
Itália, 1991
35
Surreal
O rio manso segueo seu cursono dorso do urso.
França, 1991
36
Mordaça
O gesto acovarda e calana dança em ponta de faca.
O homem acorda e lançaUm gesto de mãos sem dedos.
A lança que fere a caça, a nota que soa e cala
E muda ressoa imundaem trilha de cão sem raça.
37
Da fala
Quem erra o grito erra a fala.
Cala
Do carnaval à senzala.
Ala
Quem erra o hino tece a fala.
38
Semeadura
Os gestos de mãos ágeis semeando a terra;
Os gestos de mãos frágeis semeando carinho;
Os gestos de mãos gastas semeando trabalho;
Os gestos de mãos bíblicas semeando a paz;
Os gestos de mãos fortes semeando justiça;
Os gestos de mãos dadas semeando amor;Os gestos de mãos limpas semeando honestidade
No universo de preocupações dos homens já sem mãos.
39
Desertos
Olhos desertos e vidae tantos são os desertos,
da vida pedindo explicações.
Verdade é como cultivar úlceras e orquídeas nos corações.
Antes da rosa para a rosao importante é o espinho.
E quando a lança suprime a palavra,rosa, espinho e olhosperdem beleza, defesa e brilho.
40
Via
À esquerdado Rio Grande correum grande riomansamente.
Às vezes, à direitado Rio Grande correum grande rioloucamente.
41
Couro cru
Para Artur Gomes
Oscontornosdos coturnossósemovemàluzdosjogosnoturnos.
42
Ocaso
Do outro lado da noiteum dia depois da noite.
Do outro lado da noiteum ria, outro paria.
Do outro lado da noitebebida, fome esquecida.
Do outro lado da noitereza e fé saciada.
Do outro lado da noitefebre e suor escorrendo
Do outro lado da noitevazio e solidão amargada.
Do outro lado da noitesemente e pão entre dentes.
Do outro lado da noitea fera gerando guerra.
Do outro lado da noitefestança e muita matança.
Do outro lado da noiteos restos de um longo dia.
43
Crítica
Decidido:
Nem crítico, nem poeta.
Um esteta.
44
Fecundação
Fecundar palavras em folhasbrancas em manhãs raiadas.
Vislumbrar caminhos, seguir viagemcaminhando estrada.
Cultivar palavras em terrenos áridos de manhãs sombrias.
Cimentar calçadas com poemas frios e pisar descalço.
45
Poeira
A poeira de Hiroshima de um vôo cego.
A poeira de Hiroshima de um vôo horizontal.
A poeira de
A poeira de Hiroshima mundo e respiração.
A poeira de Hiroshima mãe, filho – gestação.
Poeira
A poeira de Hiroshima rosa rubra e vergonha.
46
Ópera
Operário-boi de carro de carga de curral de corte.
Ara boiária de sua ópera
Opera boio chão manchadocavar o pão
Na cega lutade sol a sal.
47
Minas
Pastos de pedra aboio do ouro
raízes ruínas
restos
do nada que restou.
48
Velho Chico
ORioSão Francisconão cabeno corpoda terra
não cabeno corpode Minas
não cabeno corpodo homem
mas cabeno coração.
49
Pauta
A grande fábrica de celulose fornece papelpara o atestado de óbito dos mortos por Mononucleose.
50
Combate
No terceiro round:
entre um guisado e um assado,o peso pesadonocauteouo assalariado.
51
Pastorear
Subir a montanhae guardar o rebanho a fogo e ferro.
Salgar o rebanhoem rastro de terrae palmo de pedra.
Subir a montanhae pastar a palma nativae regar a areiae criar o limo.
Subir a montanhacolher e comer a pedraem vinagre e sal.
52
Corpo
Seu corpo portode esperas cansadas.
Caudalosos riosque por ele descem,
regando as floresque em seu colo nascem.
Esse corpo postoporto sem desgosto
É virgem terrarima e esperança.
53
Poetar
São alguns novospoemas.
Arrancados do sofrimentopoemas
procurados no caos da vidapoemas.
54
Empório
Poemas são linhas empilhadas,como mercadorias nas prateleirasda venda da esquina.
Poemas,quem há de comprá-los?
Oficina tão rara, tão caraaos olhos de quem os fez.
Poemas,quem há de regá-los?
55
Boi
I
No pasto asfáltico,onde bois racionaispastam o alcatrão da vida,onde o boi mortoé boi posto.
Condenso palavraspara dizer do boiabanando o rabocoberto de moscas verdes,
que valem milhões,ou nada,Mas que são milhões,bilhões. Uma praga!
Os bois! Já não são aqueles.As moscas! ainda aquelassaídas dos porõesà procura de um boi parapara pastar.
56
E eles não vivem quietosà espera de moscas.Estão inquietos,moscas demais. Atrapalhação.
Bois abanando moscas,sem literatura verdee supérflua das moscas magras.
E já não têm a religiosidadepiegas e medievaldas moscas roucas e barrocas.
II
Bois pastam nos camposda civilização das baixase altas dos mercados e capitais.
Open market, simpósios, eletrônicas;opinando em conversações de paz.
Bois ruminam sem sonhar com luase prateado luar sobre seus pastos.
Não pensam esperaro cometa de Halley passar,e ruminar tanto tempoé tempo demais pra muita moscapastar seu rabo.
57
Nos pastos de asfaltonão existe lugar para reflexos lentos.
O boi é sideral, é computador.Move-se por processo ultra-sônico.
III
O boi não rumina o indigestopão barato de água e fubá,prefere Alphaville;delicia-se com Fellini;comenta Tchecov; digere KafkaE se aprofunda em Carlos Drummondenquanto suaviza o calorpassando pelo rosto um lenço de linho.
O boi não se deixa cavalgar,cavalga irmãos menores eusa chapéu panamá entre os chifres,que crescem transamazonicamente,pois desaqueceu omatrimônico leito conjugal.
Já não rompe cercas,abandonou as touradase não sofre as agrurasde ser boi.
58
O matadouro não o espera.Aposentou-se na cátedrade boi-de-sorte.Hoje é boi-federal, boi-estadual,menos que isso é andar de quatro.
Ocupa por processos de alquimiaPostos departamentais galáxicos.
E, de vôo em ovo,entre um uísque e outroprograma a bomba da paz.
Vivendo do ágil ego,o boi planta seu pastoonde mosca algumadeverá incomodar seu rabo.
IV
O.N.U.O boi do ano.Nada o envaidecemaisdo que fingir pela paz.
59
Réquiem,Le boeuf,animal mineral.Vende arma e alma,via internet.
Usina nuclearcada ronco,cada troncoUpiati,é um índioou um saci?
Bio-boiverde e vede,perde o casco no desandar.Bivaleu a perdecênciano ronco do cantor.
O boi vagueia,vaquejapirâmides e estrelas;asinus transcendental,de curral, curriola e mamão.
Bailarinode gafieira ultraclasse,lambeija o futurono baú do tesouro.
60
Tesovislumbra a lua-de-melno exótico mundo eróticode aqui, Além Paraíbaou Acaba Mundo.Muge de Londres,Paris ou Noviorque.
V
O boi de 86 ou de 2 mil,mata a sede no rio de ouro,a fome no pasto privado,a gana nas tetas do povo,viajando fundo,tendo por cabo eleitoralo erário nacional.
Monetarismo internacional,perdulário gástrico-fecal,arrocha aqui, entrega ali.
Vôo de rapina, happiness,em Transamérica, Transeuropa,Transjapão – Transação.
61
General ou Príncipeou Presidente Multinacional,Clarividência espacial.
Redonda barriga,rima e lombriga.
Em especial menu:para o povo, rabo-de-tatu.
VI
No imenso curral-laboratório,Experimentos e tal,É preciso arrombar a cercaPara sair do caos.
VII
O boie sua constructio ad sensum,O boie sua hipermenorréia verbale o som de dezesseis “canal”.
- É só pra rimar, mestre, só pra rimar!
62
A concordância está no caos,menopausa factual.
VIII
A realeza do boi,realiza, acordaabandona a corda,o chicote e garrote.
Consciência vil,repara o caminho,o cão pastor latee o cavalo atende.
Empreende e aventura:deixa a cama feitae amacia a cana dura.Aposenta o ato,entende o sociale abandona o futebol.
Passeios ao arrebol:Fico, bato e arrebento,enredos do drama pátrio,encenados na ante-sala da matriz.
63
O sorriso-reina boca do bufão –palhaço da corte –confuso e mandrião.
Do lado outro do maro time celestialquer o jogo ganhar.
Tapete e tapetão,verde grama,neve e lama.Acabada a ilusão,o boi era de mamão.
IX
O boientra em convulsão.Conluio entre pastos,coalizão.
Muda o vetor,dura pouco o seu mentor,caos e comoção.Emerge o maganão,antípoda do boi real.
64
Medo e medra,gado não muge...é merda.
Ao cruzaro rei do gadofaz a sua confissão:– Falta carne e falta pão.
Onde é o boi?não está no motel,não está no céu.Vaga leve de léu em déu,sobre ele um manto, um véu.
Indignação:Pasto pobre e podre.Boi maternal,confisco e tal.Ágil corrupção no ágio.
Carne?– Só na zona, meritíssimo!Meretríssimo:pau e fome.O que é do homem o bicho come.
65
Luz, CâmerasImporta? ... Ação.Búfalo do Ceilão,rato do Japãoe boto do Maranhão.
X
Já de há muito condenados,pela insânia deslumbradaem carne-vales fiscaise papagaios internacionais,corremos, nós, dos ri(s)cose do fisco.
Oh! Boi do Maranhão,Alagoas e Internacionalno feudo de pouco pasto,fausto de muito lastro,cosanostra particular.
E a Aids chega ao pastopra capar.
Ah! Essa luta, meu boi:quatro, oito anos e nãoconstituinte e constituição,pagamento ou prorrogação,presidência ou previdênciaprovidencial entrega nacional.
66
Na lida pelo socialsmoking para mulhereslongo para os homensvestir e revestiro molambo nacional.Etudo pêlo, ou é pelo, social.
Versos em Le a letra da academiatem falha conjuntural.Um tropeço aqui,um bico ali,mas que se danem os críticose a mendicância,quanto mais a concordância.
XI
Ê boi!Ê Ê Ê carro!
Das margens plácidas servisUma bela conta em Paris,da barriga o astuto ardil,megalômano calote varonil.
67
No pós-valeo anti-tudo.
Pasto de serra,Pasto de goiás,o anti-sério –caveira nacionalE caatingaQueixada de nave sem ave.
Endereço:Planalto, Fossa multinacional.
XII
BOI
Um boi de botas,louco no espaço,voa Austrália,Guiné, Paris, Pelotas.
Linhas retase bundas tortas.
O Boom Zebu,que é bom, não berra.Ministeriaeerra, erra, erra.
68
Quem disseque sobre a Terracão sem nomenão s’enterra?
A velha carnedo novo boirenasce nos poluídospastos Brasil.
No porto ou pastoampla contraição.
À farra do boiO sapo nãofoi não foi.
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Poema visual –experimentalismo
A transitividade do V(ler)
Claro está que não é fácil aceitarsituações novas ou conceitos ou roupa-gens novas para práticas antigas que re-montam à própria história do homem e asua necessidade de se comunicar com oseu semelhante.
A pintura rupestre, antes de serpintura, antes de ser arte, foi uma formade comunicação entre os homens, nossosancestrais, os quais criaram símbolos grá-ficos para se entenderem em suas co-munidades.
As formas de comunicação evoluí-ram, desde então, e transformaram omundo numa imensa aldeia dividida poruma grande massa de água.
Do primeiro grunido humano à co-municação cibernética, o objetivo semprefoi um só: o desejo de se dizer algo aalguém utilizando-se das mais variadasformas de escrituras.
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Paul Valéry, escritor francês, diziaque “a forma custa caro”.
Em todos os tempos, no fazer lite-rário, a forma sempre custou caro àquelesque dela fizeram usso para criar e inovar.que o digam os antropofágicos poetasGregório de Matos, Augusto dos Anjos,Oswald de Andrade e Mário de Andradee os concretistas.
Em “O Grau Zero da Escritura”,Roland Barthes fala que a inovação semprebuscou “no labor da forma a constituiçãodo signo e a propriedade de umacorporação”.
É ainda Barthes quem diz: “A multi-plicação das escrituras é um fato moder-no que obriga o escritor a uma escolhaque faz da forma uma conduta e suscitauma ética da escritura”.
Inúmeras foram as revoluções daforma, mas nenhuma foi tão forte quantoàs empreendida pelo movimento moder-nista. Do modernismo deriva o que hojeaí está como forma e experimentalismo:O Poema Visual.
Por que não aliar imagens a palavras,se a palavra já é, por si só, imagem.Convencional, é bem verdade, porque a
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ela estamos atrelados, familiarizados. Aliarpalavras e imagens não é um privilégio dopoema visual. A pintura, modernamente, jáo faz pois buscou nas raízes dos pintoresprimitivistas essa prática plástica.
Segundo um provérbio chinês “Aimagem vale mais que mil palavras”.
Nossos antepassados deixaram-nossua história nas rochas das cavernas, emlinguagem ingênua, mas plena demetáforas.
A imagem atrai.Por que um filme conquista as pes-
soas? Qual magia prende o telespec-tador junto a uma TV ou faz um adoles-cente permanecer horas diante de umcomputador?
Sem dúvida a imagem atrai.O Poema Visual reflete a imagem
poética da existência e do mundo.Fotografa o que está à volta do
poeta.Ver é o melhor remédio. A primeira
leitura que fazemos do mundo para oqual chegamos é a do mundo das imagens.
Ler é cultural, processo educacio-nal. Está na necessidade de sobrevivênciada sociedade através da escola.
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Ver é natural. Ler é aprendizadoformal.
V(l)er tem sua síntese no PoemaVisual, e este não surgiu por acaso. Ele é,sem dúvida, fruto da evolução das diversascorrentes literárias que, ao longo dostempos, estiveram sempre procurandouma forma de ler e dizer o mundo, semque a folha de papel permanecessebranca, ou ferida, sem comunicar algo paraalguém. Certifique-se o viajante, que saibaapenas o idioma de origem, ao caminharpelos países da aldeia global e verá que adespeito da barreira dos idiomas, não teráproblemas em transitar pelo mundo. Issoporque a humanidade fala, sobretudo, porgestos, sinais e expressões corporais;utiliza-se de figuras, desenhos e símbolose outros vários recursos visuais.
O mundo e seu imenso horizonteoferecem ao viajante a oportunidade dacaminhada. Ao artista, como caminhantee observador sensível, cabe refletir,ousar e experimentar as tendências dacomunicação e incorporá-las à sua arte.
Caminhar é colocar o poema emtrânsito. Essa transitividade, como diz opoeta Márcio Almeida, é uniVERsalizante,
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sem viseiras didáticas; é expressartransitivamente, estabelecendo o encon-tro do poema e seu conteúdo com oleitor/participante sem a preposição paraestabelecer a ponte entre a ação e apalavra.
HUGO PONTES
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Pouco aporco
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&
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Poluição
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Meio emassagem
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Soma
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Número 1
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Dois mil
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Nós
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Poema G
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Bandeira
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Cia
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Lágrima
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Bloqueio
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Vida
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Olho
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Ave
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Estilo
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Oração
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Míssil
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Raiz
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Ovolho
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América
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Cédula
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Boi
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Rendição emmassa
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Aguas deminas
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Manu
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Defesa de tese
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Ligue-se
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Grito
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Bolaço
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Tempo
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Vãfilosofia
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Tigre triste
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Leão
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Irradiante
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Pauta
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Classificados
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Economia
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Soneto dacorrupção
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Fome
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Visualidade
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Cruzado
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Notável
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Revisão
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Vírus
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Fuga
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Escape
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Cinema
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A barca bela
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Pânico
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Assédios
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Flor paraNicarágua
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Luz
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Acento
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Construção
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Zen
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Descobrimento 1
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Descobrimento 2
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Descobrimento 3
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Descobrimento 4
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Mutilação
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Saúde
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História A
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História B
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Turismo
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Mundo
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Real mente
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FunREal
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Nel mezzo delcamin
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Sem-terra
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Signo VIX
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Canção de armarPara Gilberto Mendonça Teles
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FORTUNA CRÍTICA
“Hugo Pontes, de Poços de Caldas,continua a trabalhar na linha do poemavisual. Certamente vai influir, de algummodo, para traçar o perfil da poesia dofinal do século”.Leonardo Fróes, escritor,jornal O Globo, Rio-RJ, 1988
“Seu trabalho é um ponto luminosona miséria cultural e social que assola opaís. Exemplar e emblemático”.UilconPereira, professor universitário da UNESPe escritor, Araraquara-SP 1988
“Há bons poetas, embora sejampoucos. Dentre eles destaco o trabalhode Hugo Pontes”.Guido Bilharinho, editore escritor, Uberaba, Triângulo, 1989
“Rendição em Massa é um marco esíntese do poema visual”.Avelino deAraújo, médico e poeta visual, Natal-RN,1992
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“Poemas de cunho social ,denunciando as mazelas gerais de um paíse de sua sociedade. Esta é a tônica daobra literária de Hugo Pontes, desde a suaadolescência, quando iniciou suasatividades literárias na cidade de Oliveira-MG, em 1963. Seu trabalho tem umacaracterística pessoal, inconfundível, sejanos poemas em versos, seja nosvisuais”.Philadelpho Menezes, professoruniversitário da PUC-SP e poeta visual, SãoPaulo-SP, 1994
“Bela e contundente ideação – a dereunir seus poemas/textos visuais em umconjunto intersemiótico; vale a Defesa deTese pelas antíteses do convencionalismo;poemas sem fronteiras, nem viseiras;novas visualidades. Virtual”.Jomard Munizde Britto, professor e poeta, Recife-PE,1997
“Defesa de Tese inquieta porque ébelo; é belo porque é necessário;necessário porque é poético”.LeontinoFilho, professor universitário da UFRN epoeta, Pau dos Ferros-RN, 1997
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“Defesa de Tese é um excelentelivro poético. Poética do silêncio ou dafalação ótico-ontológica do outro.Poética do olhar guerrilheiro. Poemasonde a tese (Ser) e a antítese (Entes)encadeiam uma síntese (Logos) poética dealta qualidade”.Bianor Paulino da Costa,poeta, Jornal da Cidade, Natal-RN, 1998
“Com o livro Defesa de Tese HugoPontes diz a que veio e o que faz, deuma maneira irrepreensível, demonstrandoque não só é viável o seu tipo de poema,mas também é uma forma de arte válida,atual e impactante.” Rodrigo Seabra,jornalista, Jornal UNI-BH, Belo Horizonte-MG, 1998
“Os poemas visuais de Hugo Pontesnão caem no lugar comum da imagem pelaimagem. O engajamento de seus poemasassume qualidade especial, que nosagrada a todos”.Camilo Mota, escritor ejornalista, Jornal Poiésis, Petrópolis-RJ,1998
“Em seu livro, Defesa de Tese, nãoposso deixar de registrar que o poema
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Kyrieleição, além de datado de modoparticular, também revela umconhecimento teológico-ideológicoessencial. Mas gostei mesmo foi deRendição em Massa. Genial inversãodizendo tanto: um poema que estava alidisponível, que faltava seu gênio paraexpô-lo a nossos olhos”.João WanderleyGeraldi, professor universitário, UNICAMP,Campinas-SP, 1999
“Hugo Pontes, com seu trabalho,reflete o espírito combativo de todosque estão na resistência” Ilma Fontes,médica, jornalista e cineasta, O Capital,Aracaju-SE, 2001
“Um dos mais reconhecidosrepresentantes do movimento do PoemaVisual, Hugo Pontes lança novo livro, emque dá continuidade ao seu trabalhoexperimental”.Carlos Herculano Lopes,jornalista e escritor, Jornal Estado deMinas, Belo Horizonte-MG, 2002
“Não vou dizer da história e veredasde Hugo Pontes nessa seara. Tenhocomigo que, quanto mais compacto o
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trabalho crítico do poema (poeta) emrelação ao modo de expressar-se, maissua poesia será comunicável, com cadavez menos reflexo do seu ego, pois quenão mais representa seu particular e simo panorama de todos que vão ao seuredor. Acrescento mais algo de JoãoCabral: “Pois o homem que lê quer ler-seno que lê, quer encontrar-se naquilo queele é incapaz de fazer.”Poucos aquelesque vão à busca duma forma de linguagemque tente definir o autêntico de ser. HugoPontes fez em todas as páginas de PoemasVisuais e Poesias.” Irineu Volpato, poetae humanista, Santa Bárbara d’Oeste-SP,2003
“Hugo Pontes, de Minas Gerais, senão me falha a memória, de Poços deCaldas, enveredou principalmente pelosexperimentalismos visuais, mas levandoaquilo que havia começado entre nós como Concretismo da década de 60 e assubseqüentes propostas do Poema-processo e da poesia-práxis a um patamarem que o tema deixa de ser a diferençaentre poesia visual e poesia verbal, paraser a poesia que é fruto da análise crítica
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do mundo em constante mutação numavelocidade que chega a nos fugir aossentidos. Veja-se, por exemplo, comoHugo Pontes decompõe o nome deSchwarzenegger (na época da composiçãodesse poema, o astro de cinema de açãosequer havia iniciado sua carreira política)e o cruza com o nome do então primeiroministro soviético Shevardnadze. JayroLuna, Professor de Semiótica, poeta visual,São Paulo-SP, 2006
“Ficava meio incomodado por vocênão ter um livro-solo, considerando suahistória poética de, no mínimo 30 anos,ter sido um dos tutores do Grupo VIX,pioneiro da xerografia visual, manter umapágina importante como a “comunicARTE”,participar ativamente do movimentopoético-visual em todo o mundo epersistir, em alto nível com trabalhosavulsos cotejados esparsamente emrevistas, jornais e mostras especializadas.
Faltava o livro para referendar tudoisso. Para marcar o seu trabalho de modocoeso, digamos mais sistematicamente, demodo a permitir uma leitura mais ampla desua evolução, de seu posicionamento nalinhagem das vanguardas históricas.
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Ainda penso que você deve reunirseus poemas escritos com os visuais emum só l ivro. Será uma mostraexcelente.”Márcio Almeida, professor,jornalista e poeta visual, Oliveira-MG,1997
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O Autor
Hugo PONTES é natural de TrêsCorações, nascido a 22 de julho de 1945,mas foi criado em Conceição do RioVerde - MG.
Filho de Raymundo Ferreira Pontese de Carmen Andrade Pontes.
Casado com a professora IaraManata Pontes. Tem dois filhos: JúliaMárcia e Victor Hugo.
Seus estudos foram feitos nas ci-dades de Conceição do Rio Verde,Itajubá, Oliveira, Belo Horizonte e Divi-nópolis.
É formado em Letras pelo Institutode Ensino e Pesquisa de Divinópolis eEspecialização em Literatura Brasileirapela Pontifícia Universidade Católica deBelo Horizonte.
Foi professor em Brasília, Divinópolise Oliveira.
Fixou residência em Poços de Caldasno ano de 1974, quando para cá mudou a
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convite do diretor do Instituto Educa-cional São João da Escócia, professorArino Ferreira Pinto.
Aqui lecionou no Instituto Educacio-nal São João da Escócia durante trezeanos; foi professor na Escola Dom Boscoe no Centro de Estudos Supletivos ondetrabalha há treze anos.
É Supervisor Pedagógico, por con-curso realizado em 1987, da PrefeituraMunicipal de Poços de Caldas.
Atuou em 1997 no cargo deSecretário Municipal da Educação e Culturada Prefeitura de Poços de Caldas
Na gestão do professor RômuloVilela foi professor, coordenador do Cursode Turismo, da Extensão e colaborou naimplantação da Pontifícia UniversidadeCatólica – Campus Poços de Caldas.
Como escritor, sua trajetória na lite-ratura inicia-se em 1963, na cidade deOliveira, com a criação do Grupo VIX depoesia de vanguarda. Foi naquela cidadeque iniciou sua formação cultural maisconsistente.
Desde o começo revela-se um poe-ta preocupado com o espaço branco dopapel. Sua temática tem um caráter socialque permanece até hoje.
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Foi o criador, em 1963 do primeiropoema visual do grupo, usando a palavraVIX. Mas naquele tempo não se sabia aindado poema visual em terras brasileiras.
A partir da década de 70, volta-setotalmente para o poema visual e desen-volve intenso trabalho nesse sentido. Integrao movimento do poema visual brasileiro eo movimento internacional de Mail Art.É um dos pioneiros no desenvolvimentoda arte-xerox no Brasil. Hoje seu trabalhoé reconhecido, principalmente noexterior, onde participa de inúmerasexposições e publicações do gênero.
A par da sua atividade profissionalé também jornalista. Foi editor em 1975da Gazeta do Sul de Minas, Souza. Cola-borou escrevendo para a Tribuna da Im-prensa, Jornal do Brasil (Rio de Janeiro),Última Hora (Sucursal de Belo Horizonte),Gazeta de Minas (Oliveira), Jornal Agora(Divinópolis), Correio do Sul (Varginha). Naatualidade colabora escrevendo para ojornal Estado de Minas (Belo Horizonte),Jornal da Cidade, Jornal da Mantiqueirade Poços de Caldas.
Publica a página – única na imprensabrasileira – ComunicARTE, de poemas vi-suais, para o Jornal da Cidade.
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LIVROS PUBLICADOS:
Antologias
Primeiro Caderno Mostra, Gráfica SantaCruz, Oliveira-MG, 1964
ReVIXta, Gráfica Santa Cruz, Oliveira-MG,1965.
Vozes da Poesia, Editora do Escritor, SP,1979.
Clube do Escritor, Editora do Escritor, SP,1985.
Poetas Contemporâneos Brasileiros, Ed.Garatuja, RS, 1990.
Medida Provisória 161, Ed. Garatuja, RS,1991.
Sociedade dos Poetas Vivos – PoemasVisuais, Blocos, Rio, 1993.
Signopse, a poesia na virada do século,Plurart’s, BH, 1995.
Poesia do Brasil, Nos 1, 2 e 3, 2001, 2002,2006, Editora Garatuja, BentoGonçalves, RS.
Solo:
A Loja Maçônica “Estrela Caldense” e suaHistória – 1895/1995. Grafica Uni-versal, Poços de Caldas, 1995.
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Defesa de Tese – Poemas sem Fronteiras(poemas visuais) Ed. Plurart’s, BeloHorizonte,1997.
Guimarães Rosa, uma Leitura Mística .Ensaio, Ed. SulMinas, Poços deCaldas, 1998.
Associação Atlética Caldense: História eGlórias . Ed. SulMinas, Poços deCaldas, 1998.
110 Anos da Imprensa Poços-caldense. Ed.SulMinas, Poços de Caldas, 1999.
Barracão da Discórdia, 2000, SulMinas,Poços de Caldas.
Poemas Visuais e Poesias, 1ª Edição, 2001,Annablume/Barcarola, São Paulo-SP
Léo Ferrer em Vida, 2002, SulMinas, Poçosde Caldas-MG
O Congado em Oliveira – Tributo aLeonídio João dos Santos, 2003,SulMinas, Poços de Caldas-MG
A Poesia das Águas – Retratos Escritosde Poços de Caldas, 2004,SulMinas, Poços de Caldas-MG
O Teatro em Poços de Caldas, 2006,SulMinas, Poços de Caldas-MG