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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA CURSO DE BIBLIOTECONOMIA Terezinha Azevedo da Silva POESIA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO ORIENTADORA: Profª MsC. Renata Passos Filgueira de Carvalho NATAL 2009.2

POESIA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO - monografias.ufrn.br · de amor, de saudade e outros sentimentos. Entretanto essa idéia não é verdadeira, pois a poesia fala de tudo o que faz

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

Terezinha Azevedo da Silva

POESIA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO

ORIENTADORA: Profª MsC. Renata Passos Filgueira de Carvalho NATAL

2009.2

TEREZINHA AZEVEDO DA SILVA

POESIA COMO FONTE DE INFORMAÇÂO

Monografia apresentada ao curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte através da disciplina Monografia, ministrada pela professora Maria do Socorro de Azevedo Borba para fins de avaliação e como requisito para obtenção do título de bacharel em Biblioteconomia. Orientadora: Profª. MsC. Renata Passos Fil- gueira de Carvalho.

Natal, RN

2009

 

TEREZINHA AZEVEDO DA SILVA

POESIA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO

Monografia apresentada ao curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte através da disciplina Monografia, ministrada pela professora Maria do Socorro de Azevedo Borba para fins de avaliação e como requisito para obtenção do título do bacharel em Biblioteconomia. Monografia aprovada em: ___/___/___ BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________ Profª. MsC. Renata Passos Filgueira da Carvalho Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Orientadora) __________________________________________________________ Profª. MsC. Maria do Socorro de Azevedo Borba Universidade Federal do Rio grande do Norte (Profª. Da Disciplina)

_________________________________________________________ Profª. Francisca de Assis de Souza Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(Membro)

DEDICATÓRIA

Dedico a todos que em mim acreditaram A meu Deus Onipotente primordialmente Através DELE transcendeu a resistência

E agora celebro minha vitória obviamente.

Dedico também a minha família, aos filhos Cuja satisfação, até no anonimato encontrei

A minha mãe e ao meu pai em memória Aos irmãos que me apoiaram mais uma vez.

Aos professores oniscientes da informação Os conhecimentos repassados vão me ajudar É um aprendizado que perdura para sempre

Essencialmente o sucesso vamos comemorar.

Dedico também aos diletos colegas do Curso Apesar da maturidade prevaleceram encalços Minha ousadia de escolher mais um caminho Valeu a pena pressupor os vários percalços.

Dedico aos amigos que tanto me incentivaram Colegas de trabalho, direção e todo o alunado Nessa busca incessante pelo conhecimento Vocês estavam impregnados ao meu lado.

Jamais foi necessário ocultar a luz do próximo Para que a nossa passe muito mais a brilhar

O mundo forma uma imensa coleção de livros Que não existe bibliotecário para organizar.

AGRADECIMENTOS

Ao Pai do céu, imprescindivelmente o primeiro Por tantas vezes que me esqueci de agradecer

Por não ter me abandonado nos momentos nefastos Permitindo-me a conclusão desse Curso merecer.

Foi DEUS que esteve comigo em todas as ocasiões Principalmente naquelas que me vi com insegurança

NELE consegui forças para vencer as dificuldades Preservando em cada instante uma esperança.

Agradeço a todos que de forma direta ou indireta Ajudaram-me o Curso de Biblioteconomia terminar De uma forma muito especial toda minha família

Que durante a jornada não se negou em me apoiar.

As inusitadas dificuldades não foram escassas Os desafios quase superaram o meu caminhar

Os obstáculos às vezes pareciam intransponíveis O desânimo de vez em quando queria contagiar.

A garra evidentemente foi muito mais elevada Apesar da sinuosidade do tão longo caminho

E como sobrevivente de uma amistosa batalha Concluo o Curso com o sentimento de carinho.

Obrigada colegas, funcionários e professores Que de uma maneira enaltecida me ajudaram Desculpem por não ter sido um quase gênio

Mas a força de vontade vocês testemunharam.

Finalmente cheguei ao final da extensa jornada Foram tantos os amigos uma verdadeira multidão

Algumas decepções com jogos de interesse Mas a amizade está acima de qualquer escuridão.

Poesia é brincar com palavras

como se brinca com bola, papagaio, pião.

Só que bola, papagaio, pião

de tanto brincar se gastam.

As palavras não: Quanto mais se brinca

Com elas Mais novas ficam.

Como a água do rio Que é sempre nova.

Vamos brincar de poesia?

José Paulo Paes

RESUMO

Insere a poesia como um recurso na área da informação em todos os

aspectos, especialmente no âmbito da Biblioteconomia. Articula esse gênero literário como fonte de informação, além de ser um instrumento pedagógico muito usado na sala de aula. Aborda milhares de poesias que a cada dia surge dentro de um perfil moderno. Salienta que essas produções literárias requintam a informação tornando-a mais excitante, além de cultivar uma concepção própria, dependendo da fase em que o escritor se manifesta. Enfatiza a matéria-prima da poesia encontrada nos sentimentos nas emoções e o material do poeta é a vida. Enfoca a intenção do poeta de provocar emoção nos leitores ao mesmo tempo transmitir informações precisas. Enfoca a origem da poesia como a literatura de todos os povos, desde a antiguidade, onde poucas pessoas dominavam a leitura e a escrita. Analisa a poesia como fonte documental dentro de um contexto de heroísmo e bravura na História Antiga. Ressalta a importância da poesia nas questões sociais e políticas do país, evidenciando as injustiças visivelmente existentes. Destaca a poesia do Rio Grande do Norte, nas pessoas de Zila Mamede e Fabião das Queimadas. Mostra também a importância da poesia na biblioteca, possibilitando uma diversidade de temas que o usuário pode resgatar. Expõe a Literatura de Cordel como uma questão promissora de trabalhos científicos. Finaliza definindo o neocordel como uma inovação do cordel tradicional proporcionando um avanço nessa modalidade de poesia. A pesquisa utiliza como mecanismo metodológico a revisão de literatura eletrônica e impressa, com o objetivo de melhores resultados. Palavras-chave: Poesia. Poesia e Informação. Temas poéticos. Poesia e referência.

ABSTRACT

Inserts poetry an feature in the area of information in all aspects,

especially in the context of librarianship. Articulate this literary genre as a source of information, besides being an educational tool widely used in the classroom. Board thousands of poems that each day comes in a modern profile. Stresses that these literary productions refined to information making it more exciting, and develops a concept itself, depending on the phase in which the writer manifests. Inform what material of poetry lies in the emotions and feelings in the poet's material life. It focuses on the poet's intention to provoke emotion in readers while conveying specific information. Discusses the origin of poetry and literature of all peoples, from ancient times, where few people dominate the reading and writing. It analyzes the poetry as a source document within the context of heroism and bravery in ancient history, emphasized the importance of poetry in social and political issues in the country, clearly showing the existing injustices. Stresses the poetry of Rio Grande do Norte, in the persons of Zila Mamede and Fabião das Queimadas. It also shows the importance of poetry in the library, allowing a diversity of themes that the user can recover. Exposes Cordel Literature promising as a matter of scientific papers. Finish define the neocordel as an innovation of traditional string providing a breakthrough in this type of poetry. The research used as a mechanism methodological literature review electronic and print, with the objectives of better outcomes. Keywords: Poetry. Poetry and Information. Poetic subjects. Poetry and reference.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 09

2 POESIA E SUA HISTÓRIA 13

3 POESIA COMO FONTE DOCUMENTAL 17

3.1 ILÍADA E ODISSÉIA 19

3.2 OS LUSÍADAS 20

4 A MEDIAÇÃO ENTRE POESIA E INFORMAÇÃO 22

4.1 UMA QUESTÂO SOCIAL EM FORMA DE POESIA 24

4.2 MORTE E VIDA SEVERINA 26

5 A POESIA NO RIO GRANDE DO NORTE 30

5.1 O POETA DA LIBERDADE 31

5.2 O ARADO 34

6 POESIA COMO REFERÊNCIA 37

6.1 POESIA E BIBLIOTECA 39

6.2 POESIA E RELIGIÃO 40

6.3 POESIA E FOLCLORE 42

7 LITERATURA DE CORDEL 44

7.1 O NEOCORDEL REVOLUCIONA LITERATURA CONVENCIONAL 46

7.2 POESIA MATUTA 48

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 50

REFERÊNCIAS 51

APÊNDICES 54

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1 INTRODUÇÃO

Não há uma definição que possa sintetizar a essência da poesia. De

acordo com o dicionário Aurélio (2002) poesia é “o ato de escrever em versos.

Composição poética de pequena extensão. Aquilo que desperta o sentimento

do belo. O que há de elevado e comovente nas pessoas ou nas coisas.

Encantamento, graciosidade, atração”.

Vários leitores contribuem para contrariar, ou mesmo impossibilitar uma

definição precisa. A multiplicidade de aplicações da palavra “poesia” associa-se

à diversidade de funções, que no decorrer dos tempos vem transformando a

forma de atuação e a própria qualidade do estilo poético. No extremo da

variação está evidentemente a realidade de cada época, cada período literário,

cada poeta ou crítico preservando uma concepção própria.

De acordo com a explicação etimológica, a palavra poíêsis em grego

estava ligada ao verbo poiein, cujo sentido originário era “fazer”. Assim

qualquer trabalho manual ficava no domínio do “fazer poético”. Somente a

partir do pensamento de Platão (importante filósofo grego da antiguidade,

nascido provavelmente em 427 a.C.) é que o conceito passa a ter uma

significação especializada, aparece mais claramente como atividade criadora

em geral.

Num sentido mais amplo “poesia” é um termo que pode se referir a tudo

que é poético, ou seja, que envolve emoção, sentimento, um modo diferente de

contemplar o mundo, de difundir a informação, de produzir conhecimento. Na

antiguidade os poetas não eram escritores, mas sim cantadores de poesias.

A história da poesia é caracterizada pelas mais diferentes origens,

provavelmente esse gênero literário surgiu juntamente com a música, a dança

e o teatro. Visto que nasceu da necessidade de comunicação entre as pessoas

que viveram em uma determinada comunidade.

Como a literatura de todos os povos trata de temas religiosos, muitos

pesquisadores acreditam que a poesia despontou paralelamente com as

religiões. Eram pouquíssimas as pessoas que sabiam ler e obviamente

escrever, então a poesia tinha como finalidade transmitir de geração em

geração, a história de uma nação, ajudando a manter os elos entre a

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população. Possivelmente as rimas foram sido introduzidas para auxiliar na

memorização de textos relativamente grandes.

Os poetas procuravam e continuam até hoje, transmitir através das suas

produções literárias, a sua visão, o seu ponto de vista, a sua realidade, o seu

espaço, a sua emoção. Vale a pena salientar a diferença existente entre a

forma como escreve um historiador e a forma como escreve um poeta.

O poeta conta e canta os acontecimentos, a realidade e, sobretudo

como deveriam ter acontecido na sua visão, levando para o lado emotivo. A

linguagem é usada para generalizar e ao mesmo tempo regenerar os

sentimentos do leitor.

No entanto foram abordadas algumas poesias escritas na antiguidade,

mas que até hoje são verdadeiras fontes documentais. Trata-se dos poemas

Ilíada e Odisséia, escritos por Homero, e estudados por pesquisadores do

mundo inteiro. Odisséia é também um poema homérico que conta uma história

de heroísmo e bravura dentro de um contexto romântico.

A contribuição da poesia também é mostrada nas questões sociais do

país, um grito em favor de injustiças seculares. A crítica ao poder político,

através da música, cujas composições são autênticas poesias. Destaca-se as

obras de Castro Alves, fervoroso adepto aos movimentos abolicionistas e Morte

e Vida Severina, que deixa bem evidente as mortes ocasionadas pelas

injustiças sociais.

Severino sai em busca da vida, encontra a morte. Em Recife ao

descobrir que seguia seu próprio enterro, decide dar um fim a sua vida. É

quando recebe a notícia do nascimento de uma criança que faz renascer a

esperança. É a detonação de uma nova vida. Percebe-se que o nome Severino

é comum a todos os homens que lutam para sobreviver no sertão nordestino.

A musicalidade que caracteriza esses textos poéticos é resultado da

utilização de recursos presentes em todos os tempos, tais como a métrica, o

ritmo, a rima, a alienação e a ressonância. É muito comum as pessoas

acharem que poesia é um texto escrito em versos com rimas que falam apenas

de amor, de saudade e outros sentimentos.

Entretanto essa idéia não é verdadeira, pois a poesia fala de tudo o que

faz parte da vida, informa no que for preciso, o belo, o feio, a alegria, a tristeza,

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o que é agradável, o que não agrada a guerra, a violência e as notícias do dia-

a-dia que produzem material para poesias.

Os poetas do Rio Grande do Norte também tiveram destaque especial,

entre eles a bibliotecária Zila Mamede, que nominou a Biblioteca Central da

UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Com seu livro “O

Arado”, a escritora conta sua história de menina do interior comparada com a

vida na cidade grande.

A poesia na biblioteca não pode passar despercebida, sensíveis ao

interesse do aluno por esse tipo de texto, os bibliotecários podem desenvolver

atividades relacionadas à poesia, requerendo ao mesmo tempo o enfoque

desse tema na capacitação do alunado.

Bem como na religião, já que o dom de escrever é revelado ao homem

por inspiração divina. Levando-se em consideração a multiplicidade de

verdades e o que se fez necessário para a humanidade com relação a

formação religiosa na forma poética, que torna-se uma fonte reveladora.

Poesia é a forma de descobrir que a vida pode ser reinventada, é

desvendar essas transformações como uma passagem que dificilmente é a

mesma. É criar gestos e gostos que a arte descobre na sua integridade

utilizando sua própria identidade.

O folclore e o humor expressam uma linguagem de preservação e

necessidade. O poeta como toda criatura, é espiritualmente múltiplo, cruzam-se

nele contraditórias ondas de temas, versado ou por versar, de modo que no

âmago de cada um encontrar-se-á informações que despertarão no leitor a

curiosidade e o estímulo pela leitura.

Finalmente a Literatura de Cordel que estar ganhando espaço nas

academias e escolas em geral, com o crescente número de trabalhos nos

congressos literários e lingüísticos, passando de uma literatura popular para

uma questão promissora de trabalhos científicos.

As universidades vêm abrindo linhas de pesquisa voltadas para a

discussão e equacionamento de questões pertinentes ao cordel. Com o

surgimento do neocordel (inovação do cordel tradicional), esse conceito poderá

ter um avanço bem mais acentuado.

A poesia matuta conclui o trabalho, enfocando seu objetivo principal, são

as criticas para determinadas medidas incorretas, especialmente por parte dos

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poderes públicos, que possam prejudicar a população. Sempre caracterizadas

pelo bom censo de humor, externando verdadeiras atrações.

Esse gênero literário em questão, sem dúvida é na opinião dos grandes

poetas da humanidade, na opinião também dos amantes da boa poesia, em

todas as línguas e raças, uma excelente fonte de informação, um modo de

conhecimento, se bem um conhecimento que não se encontra ordenado ao

discurso, mas à simples fricção poética.

O poeta vive num mundo de inovações, que podem transcender às

realidades do mundo material e objetivo. Boa parte deles, devido às várias

contingências e vicissitudes, acaba sofrendo preconceitos comprometidos pelo

ambiente no qual convivem, como também pela época.

Todavia a poesia continua com a força antagônica às revisões

qualitativas do progresso, prosseguindo com o intuito de informar, levar

conhecimentos aos seus leitores, divertir, proporcionar uma socialização, e o

mais agradável dentro de um contexto bastante salutar.

A principal característica de um texto poético é na verdade o ritmo. O

poeta pode utilizar vários recursos: a rima, o tamanho do verso, jogos de

palavras ou de fonemas, a pontuação, entre outros, mas a cadência do ritmo

toca a alma do ouvinte, até mesmo os não escritores acabam se envolvendo.

13

2 POESIA E SUA HISTÓRIA

.A necessidade de comunicação entre os homens primitivos foi surgindo

pouco a pouco. A princípio a comunicação era feita através de gestos ou

desenhos, pelos quais o homem da pré-história tentava repassar suas

aventuras vividas nas caçadas (único meio de sobrevivência daquela época),

para a família que permanecia na caverna a espera da alimentação.

A identidade do mito-poético era denotado através dos desenhos

paleolíticos, dos sinais oraculares, dos cânticos de guerra e de trabalho, as

fórmulas mágicas criadas nas rochas. A capacidade de representar suas

façanhas era motivada pelo desejo de concretizar na verdade essa pré-

figuração.

E essa remota modalidade da literatura reuniu por muito tempo, as

funções que mais tarde se ramificaram entre o romance, o conto, o drama e a

própria poesia. Vale salientar que está muito ligada também à música, o que

atestam os poemas cantados.

Pouco a pouco foram surgindo as primeiras palavras e

consequentemente as primeiras rimas. Portanto as raízes poéticas surgiram no

convívio das cavernas, no seio de um povo simples e humilde com uma

contribuição bastante importante para o desenvolvimento da época. Esse

mesmo indivíduo, com o decorrer do tempo, veio delinear o perfil do poeta, do

criador, do artista.

Escrever poesia é trabalhar a língua, é subverter a sintaxe, é falar a alma. Por isso, as primeiras manifestações literárias de um povo costumam ser em versos. Quando não havia escrita, as histórias se contavam em poemas, porque as rimas ajudavam no processo de memorização e facilitava a transmissão da cultura, de geração a geração. A perpetuação da ficção da comunidade ágrafa e da sua cultura – essa terá sido a primeira função da poesia. (CARVALHO, 2005, p. 55)

Evidentemente o primeiro valor artístico que se destacou nas narrativas

primitivas foi o ritmo e a música cantada ou simplesmente articulada. Até hoje

nas manifestações mais radicais da forma poética o ritmo continua a ser o

elemento chave da expressão. (PAIXÃO, 1983)

Com a evolução dos tempos os meios de comunicação foram se

modernizando e a poesia acompanhou esse desenvolvimento. Até os dias

14

atuais a poesia está associada a gestos, herança dos homens primitivos que se

comunicavam gesticulando.

Nesse contexto a expressão gestual foi tão importante quanto a palavra,

complementando literalmente a fala, na proporção em que esta é limitada em

sua inteligibilidade. Percebe-se que os gestos foram formando um distintivo

entre o tom e o ritmo das palavras, desde a caracterização individual dos

primeiros contadores de caçadas.

Nos recitais, os gestos fazem parte de todo o contexto da declamação

da poesia, transmitindo uma beleza e graciosidade encantadoras. A saliência

cada vez maior do indivíduo que contava para a comunidade que ouvia seus

feitos e os feitos dos seus semelhantes acarretou a procura desses

complementos artísticos, no sentido de estabelecer uma comunicação mais

evidente.

A poesia tornou-se então, uma forma com exuberância existente na

literatura, formando contextos ricos de emotividade e subjetividade, numa

transcendente magia. Claro que a motivação rítmica varia entre o passado e o

presente não deixando de mencionar a modificação da fonética.

Com o desenvolvimento cultural, os aspectos primários tanto do som

como do ritmo, começaram a acompanhar as perspectivas imediatas, no

sentido de transmitir a informação, ampliando o conhecimento entre os povos.

Novas formas rítmicas mais intelectuais foram aparecendo e permitindo que as

narrativas fossem constituídas de forma mais moderna.

Para o poeta, a poesia não está no assunto do poema, mas nas palavras. As palavras como podemos inferir, remetem ao assunto e são elas que devem ser trabalhadas pelo poeta, em seu “ofício” de escritor. Essa consciência artesanal do poema foi um traço marcante do terceiro período do modernismo brasileiro. (ABDALA JUNIOR, 1995, p.88)

SAFO que viveu no século VI a.C. foi a primeira mulher poetisa

conhecida na história. Sua obra foi dedicada às musas em uma variedade de

poesia lírica: odes, elegias, hinos e epitálamos. Seguidamente Platão

classificou a poesia entre as artes representativas, ou artes plásticas ao lado

da dança, da música e do teatro simultaneamente.

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Os primórdios da Renascença tentaram impor à poesia uma linguagem

elevada, digna, universal, tendo mesmo codificado certos princípios que

visavam, através de uma linguagem polida, reatar com os modelos clássicos da

dicção poética, dentro dos padrões de harmonia, de proporção e integridade.

Enquanto no Renascimento, influenciado por Aristóteles a poesia era

vista como representação fictícia, cuja verdade estava no geral e no universal,

uma atividade mais próxima da filosofia do que da história. O poeta tirava o

partido dos sonhos como elemento subsidiário.

Entretanto no Romantismo a poesia enfatizava de um modo bem

particular, a emoção e os sentimentos individuais, atribuindo a esse gênero a

função determinante de expressar estados interiores. A teoria expressiva dos

poetas românticos pressupõe a existência de um conteúdo psicológico, anterior

ao poema, que se explicita e transmite ao leitor através de uma linguagem

artisticamente manipulada. (ABDALA JÚNIOR, 1995)

A poesia existe em toda parte, em todo lugar, em todos os momentos. Compete ao poeta captá-lo e transportá-la para o livro ou para o filme, ou para a televisão, ou para a música, ou para a dança, ou para o rádio... O poeta é o que ver poesia onde o comum dos mortais não vê nada, além do trivial. A poesia é necessária, porque nos revela, como as lentes, de quem tem problemas visuais, um mundo de maravilhas que não saberíamos ver sem ela. (CARVALHO, 2005, p. 83)

Na prosa, as palavras implicam geralmente a análise de um estado

mental, ao passo que na poesia as palavras aparecem como coisas objetivas,

que mantêm uma definida equivalência com o estado de intensidade mental do

poeta. É a expressão pela linguagem humana, elevada ao seu ritmo essencial,

dotada de autenticidade.

A poesia é uma obra que pode ser submetida a um processo

de análise e compreensão, mas jamais substituída. Em outras palavras: podemos desenvolver nossa sensibilidade por meio de um aprendizado sobre as coisas da pintura ou da poesia, mas nunca imaginar que nossas atividades analíticas sejam capazes de tomar lugar da tela ou do texto poético. (INFANTE, 2001, p.32)

Dependendo do efeito desejado, o poeta poderá utilizar recursos ou

vários deles combinados, não esquecendo que no seu conteúdo devem ser

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encontradas as devidas informações e que o leitor possa resgatar essas

informações.

Nesse contexto, a poesia deverá ser sempre uma fonte de informação e

de uma constituição fundamentalmente inerente ao conhecimento. Oferecendo

a constante oportunidade de sentir e viver aquilo que nela se sente e vive na

realidade ou na imaginação.

Uma boa poesia é antes de tudo, um todo intraduzível com a qualidade

de modelar a sensibilidade do ser humano. Confrontando a investidura na

universalidade, com um embasamento extraído do seio do povo. A poesia é

gênero ora com requintes de sofisticação, ora popularizada pela sua própria

essência.

17

3 POESIA COMO FONTE DOCUMENTAL

A abordagem da poesia como fonte documental, principalmente no início

da civilização, foi de relevante importância nessa pesquisa. Nesse contexto,

destacam-se poesias que trazem informações históricas como a “Ilíada e

Odisséia” atribuídas a Homero (o maior poeta grego da antiguidade que viveu

no século VIII a. C.) e “Os Lusíadas” escrito por Luís Vaz de Camões (o maior

poeta português que nasceu em 1524 e faleceu em 1580), ambas de grande

interesse, no âmbito informacional para toda a humanidade.

Desde os tempos imemoriais o ser humano vem desenvolvendo

métodos para registrar seus feitos, formas de sobrevivência, acontecimentos e

fenômenos da natureza, construindo a memória da humanidade inserida nos

mais diversos suportes.

As inscrições rupestres, objeto de estudo dos antropólogos e

historiadores, funcionam como fontes de pesquisa que solucionam os suportes

para as respostas para as questões que, despontam ao longo dos tempos com

relação a origem do planeta. Essas inscrições deixadas pelos primitivos

constituem as primeiras fontes de informação deixadas pelo homem.

A partir dessas inscrições até o advento tecnológico tão moderno que é

a Internet, o homem vem deixando para trás um rastro de descobertas e

consequentemente seus registros, possibilitando novas descobertas que

sucedem as anteriores, quer dizer, as mais simples geraram as mais

complexas. Esse processo não pára, cada vez mais surgem invenções

surpreendentes.

Dessa maneira, o homem gerou através dos tempos uma variedade

impressionante de fontes que armazenam conhecimento e informações.

Campello e seus colaboradores (1997) dividiram as fontes de informação e

manifestação do conhecimento, para tornar mais fácil a busca e o acesso à

informação em: literatura (romances, poesias, literatura de massa, literatura

infanto-juvenil, ficção científica, romances, histórias em quadrinho e música);

formas do registro da informação e locais de busca como bibliotecas, museus e

arquivos.

O documento é toda a expressão da linguagem natural ou convencional

ou outra expressão gráfica, sonora ou em imagem, fixada em qualquer tipo de

18

suporte material, inclusive o suporte diplomático, conforme a Lei do Patrimônio

Histórico Espanhol (BELLOTO, 2002)

De lá para cá, tanto a noção de documento quanto a de texto continuaram a ampliar-se. Agora todos os vestígios do passado são considerados matéria para o historiador. Dessa forma, novos textos, tais como a pintura, o cinema, a fotografia etc., foram incluídos no elenco de fontes dignas de fazer parte da história e passíveis de leitura por parte do historiador. (CARDOSO, MAUAD,1997, p. 402)

A partir desse conceito verifica-se que a palavra documento originária

do latim, docere significando ensino e de documentum, o que ensina, envolve o

conceito de que é um suporte com uma informação, que poderá ensinar algo a

alguém. Então, nesse sentido, o documento remete a uma informação.

(BELLOTO, 2002)

A conclusão é bem nítida, não existe documento sem informação, a

noção de informação torna-se essencial para definir determinado documento.

Para Le Coadic (1994) a informação consiste em um conhecimento gravado

sob a forma escrita, oral ou audiovisual, comportando um significado a ser

transmitido por meio de uma mensagem, emitida através de uma determinada

inscrição.

Enquanto MCGarry (1994) relata que, para os profissionais que lidam

com a informação com a intenção de disponibilizá-la, terminam envolvendo

indeterminado assunto contido num texto e para isso é necessário que ela seja

estruturada, ordenada e armazenada, de uma maneira que sua busca seja

acessível. Por esse motivo a informação precisa de um espaço condutor, um

local adequado com as devidas condições.

Uma grande variedade de documentos pode-se encontrar, fornecendo

informações, evidentemente um elencado material do saber da memória da

humanidade. Devido a essa imensa diversidade os documentos se diferenciam

entre si de acordo com as propriedades físicas e intelectuais.

As físicas se relacionam com o material, a natureza dos símbolos

utilizados, o tamanho, o peso, a apresentação, a forma de produção, a

periodicidade, a possibilidade e a necessidade de utilizar um aparelho para a

finalidade de uso. As características intelectuais estão relacionadas com o

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objeto, o conteúdo, o assunto, o tipo de autor, a fonte, a forma de difusão a

acessibilidade e a originalidade.

A poesia foi um gênero bastante difundido na Idade Medieval. Os

poetas populares escreviam suas poesias e procuravam viver de sua arte nas

feiras ou em espetáculos, nas aldeias e castelos. Os trovadores (letristas e

músicos), de origem social superior, aproveitaram essa forma de arte,

modificando-a através da escrita.

Entretanto, permaneceram nessas formas, as articulações entre texto e

música, idênticos como acontecia desde os primeiros tempos da literatura oral.

Os trovadores faziam suas apresentações nos castelos, onde se encontravam

também os menestréis, isto é, os músicos agregados à corte.

Os próprios sentimentos do poeta eram analisados, pois para o homem culto do renascimento, através da razão e da Inteligência as emoções podiam ser entendidas mais plenamente. Razão e emoção seriam partes da grande harmonia do universo e, devidamente equilibradas, levariam os artistas a fruir da beleza, do bem e da verdade. (ABDALA JUNIOR, 1995, p. 18)

E dessa maneira eles repassavam todo o tipo de informação, levando

em consideração que o acesso a leitura era extremamente restrito. Entretanto

essas poesias tinham várias finalidades: informar, divertir, reunir a comunidade

e despertar para o conhecimento.

As cantigas de amigo eram poesias de origem popular, com marcas

evidentes da literatura oral, tais como as contínuas repetições de palavras. Os

compositores se colocavam na posição da mulher para revelar as inquietações

delas da zona rural, que por sua vez se deslocavam até uma fonte, sentindo

saudades do namorado ausente, ou faziam uma romaria a um centro religioso,

para lá encontrarem o namorado.

Às vezes, essas cantigas registravam as expectativas das moças

diante do namoro e do casamento, que na oportunidade exteriorizavam os

sentimentos para a mãe ou para as amigas. Era comum serem cantadas por

duas ou mais pessoas que se alternavam e repetiam o mesmo refrão.

(ABDALA JÚNIOR, 1995)

20

3.1 ILÍADA E ODISSÉIA

Segundo a mitologia grega, Pégaso, o cavalo alado, levava os poetas

até a fonte de Hipocrene, de cuja água deveriam beber para obter inspiração.

Por isso, Pégaso é o símbolo do gênio poético e “montar o Pégaso” significa

fazer versos.

Ilíada e Odisséia são dois poemas cuja autoria é atribuída a Homero,

provavelmente ele tenha aproveitado narrativas já existentes na tradição

popular. Coube-lhe o mérito de reuni-las, transformando-as em peças de valor

literário perene. Esses poemas eram usados como textos escolares na Grécia

clássica.

No ato da decoreba dos versos, os jovens adquiriam o gosto pela vida

heróica, adquiriam também espírito de luta e nobreza de caráter. Os poemas

homéricos constituem ainda hoje, documentos importantes para o estudo dos

tempos heróicos gregos, excelente fonte de informação.

Homero foi tão importante para a Grécia que sua passagem tornou-se

um marco para a história, chamado “Tempos Homéricos” que vai do século XII

ao VIII a. C. A denominação se explica pelo motivo de serem suas obras os

melhores documentos para o estudo sobre a Grécia Antiga.

Ilíada é um poema épico, composto de 24 cantos com mais de 15 000

versos. Relata os feitos dos gregos durante a guerra de Tróia. Odisséia é

também um poema épico, com o mesmo número de cantos com 12 000 versos.

Narra as peripécias enfrentadas por Ulisses ou Odisseu, rei de Ítaca, para

retornar à sua pátria após a guerra de Tróia.

Durante dez anos o herói vaga pelos mares tendo aventuras fabulosas,

no decorrer das quais perecem todos os bravos que lhe acompanham. Em

Ítaca, Penélope, dedicada esposa, espera-o pacientemente, enquanto

adversários ambiciosos conspiram para tomar o poder.

No momento que superou todos os perigos, Ulisses voltou, vingou-se

dos traidores e restabeleceu sua autoridade. Através dessa magnífica obra

literária, chamada Odisséia, os historiadores colheram interessantes

informações sobre a vida social, os costumes e os ideais da época do povo

grego nos primórdios de sua existência. (MOCELLIN, 1997)

21

3.2 OS LUSÍADAS

Poesia lírica da literatura portuguesa escrita por Luís Vaz de Camões, o

maior poeta português de todos os tempos. Foi concluída em 1555 mas sua

publicação se deu em 1572. “Os Lusíadas” é considerados o maior poema

épico da língua portuguesa, não pelos 8 816 versos decassílabos distribuídos

nas suas 1 120 estrofes de oito versos cada uma, mas pelo seu valor poético e

informativo.

O poeta deixa expresso nas primeiras estrofes a glória do povo

navegador de Portugal. Contudo, a ação central foi a descoberta do caminho

marítimo para a Índia por Vasco da Gama, e a edificação de um Império

Português no Oriente.

Os episódios da história de Portugal são o ponto principal uma

glorificação do povo português, já que no decorrer da poesia, vários episódios

da história de Portugal são relatados. Portanto a estrutura narrativa da obra

apresenta-se no contexto dessa grande aventura que foi a viagem.

Na epopéia, os deuses heróis lusitanos recebem o auxílio dos deuses

Vênus e Marte, passando por várias aventuras e nunca deixando de ressaltar o

valor desse povo enaltecendo a fé cristã de cada um deles. Com a viagem

completa, Vênus os recompensa proporcionando um momento de descanso na

Ilha dos Amores, um paraíso natural que de acordo com a navegação, faz

lembrar o Brasil recém descoberto naquela época.

Além da navegação, o poeta acolhe na sua obra, os reis portugueses

que tentaram ampliar o império. Essa obra literária é também uma importante

fonte documental, pela qual os estudiosos encontraram valiosos subsídios para

descobertas dos costumes do povo daquela época.

Na cidade serrana de Martins, situada no Médio Oeste Potiguar, distante

362 quilômetros de Natal, existe um exemplar de “Os Lusíadas” publicado em

1880 e oferecido a D. Pedro II pelo editor português Emílio Biel. É uma as

atrações turísticas de Martins e orgulho do seu povo.

22

4 A MEDIAÇÃO ENTRE POESIA E INFORMAÇÃO

Através da pesquisa comprovou-se que nos tempos mais antigos as

pessoas sentiam prazer em cantar poemas de sua predileção enquanto

trabalhavam. Não tão diferente dos dias atuais e que se escuta a música,

porém com uma variação imensa de cantores e bandas.

As dificuldades que existiam em conseguir os recursos conhecidos hoje,

são evidentes. Nos dias atuais escutam-se músicas, até mesmo do aparelho

celular, sem falar na quantidade e qualidade dos aparelhos de sons, com uma

acessibilidade ao alcance de quase toda população.

Diante dessa realidade a alternativa para os antepassados era cantar,

cantar e cantar. Através das letras que constituíam as canções, os poetas

passavam informações das mais variadas possíveis, porém dentro de uma

determinada realidade. Ora expondo os problemas, ora defendendo os

interesses.

As histórias de reis, rainhas, príncipes, princesas e heróis eram

cantadas, como também casos que envolviam questões sociais e políticas

daquela gente, totalmente sem acesso aos meios de comunicação. Nessa

época a poesia funcionava como uma fonte de informação e com uma

exuberante repercussão. Dessa forma a poesia era também uma forma de

reivindicar direitos e criticar o poder público.

Esse modelo certamente foi copiado por alguns brasileiros, pois a

música “Cálice” de Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil (1973), uma

medida poética clássica de versos decassílabos, se volta contra o regime

militar no Brasil e sua censura. Eis o que diz a letra da música retirada do

Google, (2009).

Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta

Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta De que me vale ser filho da santa

Melhor seria ser filho da outra

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Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado

Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano

Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa

Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra a qualquer momento

Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade

Mesmo calado o peito, resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno

Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno

Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo

Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguém me esqueça

A ditadura de acordo com a letra da música, é retratada em forma de

metáfora. A essência da letra é uma crítica a opressão e a violência dos

militares com a população brasileira. A palavra cálice significa “cale-se”,

reportando-se a falta de liberdade de expressão de AI-5 (Ato Institucional

número 5), implantado durante o governo militar.

“De vinho tinto de sangue”, representa a matança e as torturas a que

eram submetidas as pessoas, muitas vezes inocentes. “Como beber dessa

água amarga”, na primeira estrofe quer dizer repressão. Uma repressão que

castigou a população durante todo o regime militar.

Na segunda estrofe destaca-se: “Quero lançar um grito desumano”, que

significa as revoluções geradas em conseqüência de regime. E ainda na

mesma estrofe “Esse silêncio todo me atordoa”, quer dizer a proibição sofrida

pela censura, que prejudicava de certa maneira o desenvolvimento do país em

vários aspectos.

24

A terceira estrofe inicia assim: “De muito gorda a porca já não anda”,

significa que o governo estava tão intumescido que andava se descuidando da

administração. “Como é difícil, pai, abrir a porta”, quer dizer que a população

permanecia presa em suas próprias casas, em obediência a um toque de

recolhimento.

Ainda na mesma estrofe sobressai-se a frase: “Esse pileque homérico

no mundo”, reporta-se exatamente aos tempos da Grécia Antiga, no qual o

poeta Homero agia da mesma forma, criticava as autoridades através da

poesia, certamente os compositores brasileiros copiaram o estilo de crítica.

No último parágrafo encontra-se a frase mais ousada da poesia “ Nem

seja a vida um fato consumado” significa que a situação pode se reverter,

depende unicamente dos que estão a frente do regime, no caso os militares.

Finalmente, toda a letra reflete uma crítica com uma notoriedade dos costumes

antigos,

A música foi proibida de ser cantada no show Phone 73, em São Paulo,

exatamente na Semana Santa. Para os autores, o assunto da poesia estava

no seio da população. As palavras remetiam o assunto e eram elas que deviam

ser trabalhadas em seu ofício de compositor. Informações extraídas do Google

(2009).

4.1 UMA QUESTÃO SOCIAL EM POESIA

No Brasil a história da poesia começa provavelmente com os padres

jesuítas, que vieram para cá com o objetivo de catequizar os índios. Padre

José de Anchieta, jovem jesuíta das Ilhas Canárias, na condição de

evangelizador e mestre, escrevia versos à Virgem Maria nas areias da praia.

Nessa época foi fundamental a idéia de correspondências sensoriais que

ocorrem entre a música, a pintura e a literatura, sobretudo nos símbolos que

unificariam a vida material com a espiritual. A poesia foi uma transubstanciação

do leigo no sagrado, do humano no divino.

Esses primeiros poetas aqui no Brasil foram influenciados pela cultura

européia, entretanto se reportaram ao povo indígena, alvo da catequese

naquela época. Inerente ao tema questão social destaca-se a poesia de

25

Antônio Francisco de Castro Alves (1847–1871) que escreveu sobre a

realidade que o cercava, a escravidão no Brasil.

A cultura brasileira é igualmente diversificada e, além disso, o poeta é atraído por valores que o ligam à Europa ou ao povo brasileiro. Em conseqüência, as “sensações renascem de si mesmas sem repouso”, tal a vitalidade da nossa cultura formada por pedaços (deglutidos) de várias culturas. (ABDALA JUNIOR, 1995, p. 81)

Quando criança, Castro Alves escutava de uma escrava de propriedade

do seu pai, à noite antes de dormir (costume da sua época) histórias sobre os

escravos, principalmente do sofrimento a que eram submetidos desde a prisão

na África, os tormentos da viagem e a vida sem dignidade que levavam.

Esse acontecimento estimulou o sentimento abolicionista no poeta que,

inspirado na causa escreveu: “Navio Negreiro” e “Os Escravos”, além de cantar

o amor, a mulher, a morte, o sonho, a República, a igualdade, as lutas de

classes, os oprimidos. Suas poesias são verdadeiros protestos, de uma forma

elitizada, mas que tocava a sensibilidade do leitor. (SOUZA, 1983)

Apesar da sua prematura morte, deixou uma contribuição bastante

relevante para as causas sociais existentes na época. Como lembra Jorge

Amado (1984) no seu “ABC de Castro Alves”, “Teve muito amores, amou e foi

amado por várias mulheres, mas a maior de todas as suas noivas foi a

Liberdade”.

Sem dúvida foi um poeta que projetou um drama interior em outro modo

de representar o conflito entre o bem e o mal, tão prezado pelos romancistas.

Esse comprometimento faz a poesia se aproximar do discurso, incorporando

ênfase oratória e a eloquência.

Suas poesias, hoje lidas por muitos brasileiros, se identificaram

literalmente com o ritmo da sociedade no processo de busca da humanidade

por redenção, justiça e liberdade. O poeta “condoreiro” tem um papel

messiânico e afinado com o momento histórico que o Brasil atravessava.

“Espumas Flutuantes” foi o único livro publicado em vida por Castro

Alves. Lançado no final de 1870, poucos meses antes de sua morte, abrange

parte importante da sua produção lírica. O livro traça um quadro geral das

26

influências do autor, como se quisesse mostrar todas as possibilidades de sua

vivência, documentando sua percepção do mundo e da sua época.

Apenas os poemas abolicionistas, pelos quais o poeta ficou tão

conhecido, não constam na obra, pois estavam destinados ao volume “Os

Escravos”, que o poeta vinha organizando entretanto não chegou a publicar

totalmente devido a sua morte prematura. Informações extraídas da Nova

Barsa (2002)

Somente em 1883, doze anos após a morte do autor foi publicado ”Os

Escravos” reunindo as composições anti-escravagistas, entre elas destacam-

se, as famosas poesias abolicionistas “O Navio Negreiro” e “Vozes d’África”,

que intensificaram o propósito do poeta.

Castro Alves não foi o primeiro poeta romântico a tratar do tema da

escravidão. Anteriormente, Gonçalves Dias, Machado de Assis, Fagundes

Varela e outros brasileiros ilustres abordaram a questão. No entanto, nenhum

poeta foi mais veemente e engajado à causa social e humanitária do

abolicionismo como ele.

Com relação as implicações humanas da escravatura, ele procurou

adequar sua eloquência condoreira à luta abolicionista. Retratou o escravo de

modo romanticamente trágico despertando a sociedade, habituada a três

séculos de escravidão, para o que havia de mais desumano nesse regime.

O maior exemplo desse retrato está em “A Cachoeira de Paulo Afonso”,

longo poema narrativo, escrito em 1870, que conta a história de um amor de

dois escravos, que ainda não gozavam de liberdade, Lucas e Maria, pintada

com fortes cores dramáticas. Informações extraídas da Enciclopédia Mirador

(2000)

4.2 MORTE E VIDA SEVERINA

Poesia escrita por João Cabral de Melo Neto que se distingue pela

objetividade na constatação da realidade do Nordeste Brasileiro,

especificamente no Estado de Pernambuco .No nível temático a obra poética

pode ser caracterizada por três grandes preocupações: a gente humilde do

Nordeste; os retirantes juntamente com as tradições, folclore, herança medieval

e os engenhos; de modo particular a terra natal Pernambuco e a cidade de

27

Recife. Constituem os objetos de versificação da poesia: a miséria, os

mocambos, os cemitérios e o rio Capibaribe.

A temática do autor é o itinerário do retirante nordestino, que parte do

sertão paraibano em direção ao litoral, em busca de sobrevivência, em

consequência da seca e das precárias e insustentáveis condições de vida, que

assolava a maioria da população.

A poesia para mim sempre foi a necessidade de fazer, de construir qualquer coisa ou um mundo . Não foi nunca uma atividade que visasse minha própria adaptação ao mundo (...) Embora paradoxalmente seja um sacrifício para mim reler minha própria poesia já feita, creio que escrevi poesia para criar uma poesia que não existia e que, como leitor ou consumidor de poesia, gostaria que existisse. (MELO NETO, 1979, n. p.)

João Cabral de Melo Neto foi o principal representante de uma geração

de poetas da época, que apresentava uma extrema preocupação com a

construção da poesia e com sua forma visual, insistindo na composição de

métrica regular. No entanto, ele se destacou pela forma como fez a

disseminação dos problemas enveredados pelos transtornos contrários a

cidadania.

Na expressão sintética utilizada, fugindo a qualquer tipo de

derramamento ou sentimentalismo, João Cabral conseguiu através da palavra

poética, repassar para a humanidade o drama de uma gente castigada pela

saca e literalmente alheia ao progresso.

O poeta volta-se para a ação do mundo, não é um poeta abstrato, fora da realidade que o cerca. Solidariamente, ela caminha com os “companheiros” de seu tempo, um tempo presente, com os problemas desse presente. O poeta solidário não vê soluções a partir dessa vivência de problemas comuns. (ABDALA JUNIOR, 1995, p 82)

No poema dramático Morte e Vida Severina, a dureza da expressão

corresponde formalmente às dificuldades e desalentos da história do retirante

que no meio de tanta desolação, adquire coragem e sai em direção ao litoral

em busca de vida, entretanto só encontra morte pelo caminho.

28

A poesia deixou bem evidente a morte ocasionada pelas injustiças

sociais. A frase: “de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de

fome um pouco por dia”, retrata a média da vida do sertanejo, vitimado pela

violência da seca.

A informação que a poesia repassa parte da compreensão do binômio

morte/vida. A morte comum aos retirantes vitimados pelo sofrimento, que

termina com um nascimento de uma criança, traduzindo a explosão da vida.

Eis na íntegra a poesia Morte e Vida Severina, retirada do Google. (2009)

O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria, deram então de me chamar

Severino de Maria. Como há muitos Severinos com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo

ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da Serra da Costela,

limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia

com nome de Severino filhos de tantas Marias

mulheres de outros tantos já finados, Zacarias,

vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual, mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

29

de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte,

de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença

é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).

A linha narrativa da poesia segue duas atividades marcadas pelo título:

"morte" e "vida". Na primeira, o trajeto de Severino, personagem-protagonista,

para a cidade grande, fugindo da opressão econômico-social Severino tem a

força coletiva de um personagem típico: representando o retirante nordestino.

No segundo momento, o autor encontra a "vida" quando apenas restava

um pouco de esperança. O poeta mergulhou na existência, na vitalidade, na

linguagem, foi realista, por isso sua poesia conseguiu falar de tudo o que o que

o autor desejava.

Modelos de sensibilidade foram criados, por esse motivo a poesia

adquiriu estrutura dramática. O poeta João Cabral de Melo ajuda a fundar

culturas, com suas autênticas poesias que já tomaram rumos importantes e

definidos, serviu de elo para ligar um passado imediato com as experiências

recentes.

Não dá para entender a cultura brasileira sem as poesias de João Cabral

de Melo, a cultura portuguesa sem as poesias de Camões, a inglesa sem as

poesias de Shakespeare, a italiana sem as poesias de Dante, a alemã sem as

poesias de Goethe, bem como a grega sem as poesias de Homero.

Nesse contexto a poesia é considerada por muitos críticos como

imaginação projetiva, apreensão vivida de acordo com a realidade do mundo,

com a função de revelar a verdade humana em sua originalidade. A poesia é

também uma inesgotável fonte de informação, levando o conhecimento até

seus leitores numa concepção de romantismo aliado ao universo vivido.

30

5 A POESIA NO RIO GRANDE DO NORTE

Imagine a cidade de Natal no século XIX. Uns poucos arruados, ao

longe a Fortaleza dos Reis Magos, uma praça em frente à Igreja de Nossa

Senhora da Apresentação e no entorno os prédios onde funcionavam os

serviços de administração. O Rio Grande do Norte ainda não era um Estado, e

sim uma Província.

Nesse contexto surgiram os primeiros poetas, como guardiões da

história oral de uma cultura. E como é do conhecimento dos seguidores da

história potiguar, repassado pelos pesquisadores, os poetas desse tempo

usufruíam de posições evidentemente bem superiores, porque eram os

disseminadores da informação.

A eles eram atribuídos alguns privilégios, a exemplo do Japão que

durante a era imperial, a reputação de um nobre entre os seus pares podia

elevar-se de modo surpreendente, ou caso contrário desvalorizar-se, em

conseqüência de um simples improviso poético. (PORPINO, 2006, nº 18, p.32)

Ao longo dos tempos o processo pela escrita desse gênero literário foi

se tornando mais especializado, surgiram a exemplo do mundo inteiro, os

escritores de poesias, os inusitados escritores potiguares, com belíssimas

poesias em destaque no cenário nacional.

Atualmente existe um bom número de poetas no Estado do Rio Grande

do Norte, talvez não muito os leitores para as produções literárias desses

artistas. Entretanto essa afirmação é uma realidade a nível nacional, as

pessoas não cultivam o hábito de ler, de adquirir livros, como também de

presentear, principalmente livros contendo poesias.

Evidentemente para se ter uma boa formação literária é recomendável a

leitura de clássicos universais e brasileiros, contudo não deixando de lado os

bons autores potiguares, como uma forma de valorização e também uma

atitude formadora de opiniões a respeito desses nossos conterrâneos.

Na época em que as comunicações não eram tão rápidas e menos ainda

eficazes, a literatura escrita em prosa no Estado era naturalmente insuficiente,

o talento dos poetas que levavam a informação em forma de poesia até a

população, foi muito importante.

31

Numa valorização a palavra e a construção poética dentro dos rigores do

romantismo, foi que Othoniel Menezes não resistiu as belezas das praias.

Sensibilizado pela brisa vinda do litoral, ou pelo estonteante verde-esmeralda

do Oceano Atlântico, escreveu sua poesia mais famosa “Praieira”, que continua

até hoje fazendo um imensurável sucesso.

Do final do século XX para o século XXI, percebe-se um crescimento na

poesia bem variado, com a presença feminina emoldurando a produção. E

sendo as mulheres que escrevem, o leitor percebe o amplo campo da

magnitude, a soma dos valores mais acentuados e as auras em crescente

saber.

Nas comemorações de final de cada ano, no espetáculo intitulado

“Presépio de Natal” os atores se apresentam com uma narrativa poética que

impressiona o público e o mais interessante é que a produção é feita por atores

potiguares. Os organizadores fazem questão de propiciar tal desígnio.

Nessas solenidades a poesia é mais adequada, no sentido de exaltar a

escrita com grande expressividade. É uma linguagem que toca a sensibilidade,

relacionando-se com tudo o que causa prazer. Atinge a intimidade tão bem

como a atividade dos expectadores, é a linguagem que liga o coração a

natureza e a si próprio, numa objetividade capaz de tornar-se ao mesmo

tempo, um meio de informação.

Atualmente destaca-se no cenário literário do Rio Grande do Norte,

obras poéticas que são verdadeiras fontes de informação. Levando-se em

consideração que a poesia é uma arte que concede ao mundo, uma essência

de vida e movimento, passa a ser a linguagem da imaginação, uma imaginação

grandiosidade para a auto-estima.

E o que é imaginação na poesia? É a faculdade de representar objetos e

não como propriamente elas são, mas tal como são moldados por outros

pensamentos e logicamente sentimentos, numa interminável diversidade de

combinações conhecidas comumente como rimas, difusão sonora do poema.

5.1 O POETA DA LIBERDADE

Fabião das Queimadas, o primeiro rabequeiro potiguar que os

documentos registram, ficou conhecido como “o poeta da liberdade”. Seu nome

32

de batismo, já que não possuía registro civil, era Hemenegildo Ferreira da

Rocha (1848-1927) Era filho de uma escrava comprada pelo Major José

Ferreira da Rocha, em um lote de escravos na cidade de Macaíba.

Logo na infância, dez anos de idade, o menino Fabião mostrou seus

dotes poéticos e com algumas economias que juntou com a venda de mel e

animais silvestres, certamente com o apoio do patrão, (provável pai de Fabião).

Comprou uma rabeca e saiu cantando no povoado simples da região,

(atualmente a cidade de Lagoa de Velhos, que na época era município de

Santa Cruz) com tanta satisfação que dedicou essa redondilha ao seu

instrumento:

“Essa minha rebequinha É meus pés e minhas mãos

É meu roçado de milho Minha planta de feijão Minha criação de gado

Minha safra de algodão”.

Aos 18 anos de idade comprou sua própria carta de alforria, 22 anos

antes da Princesa Isabel assinar a Lei Áurea, com o dinheiro que conseguiu

ganhar, cantado ao som dessa rabeca, da qual não se separou mais durante

toda a sua vida.

Com o total domínio do instrumento, passou a tocar profissionalmente

ganhando dinheiro suficiente para comprar a carta de alforria da sua mãe,

Dona Antônia e de uma sobrinha Joaquina Ferreira da Silva, com a qual o

poeta se casou.

Analfabeto de imensa memória, fazia o poema e o repetia mecanicamente, sem tropeço. Raramente improvisava. Exceto quando enfrentava cantador. Era pequeno agricultor agarrado à sua lavoura, tendo cabeças de gado e trabalhando com os filhos. Convidado para cantoria nunca se recusava. Para as festas de apartação, vaquejadas, casamentos, batizados, era convidado perpétuo e indispensável sua “louvação”. (CASCUDO, 2005, p.349)

Cantava toadas e repentes, pelas casas dos amigos e dos ricos, com ou

sem remuneração, tinha verdadeira paixão pelas vaquejadas, era uma espécie

de repórter, acompanhava os vaqueiros atentamente em todos os lances para

melhor se inspirar nos seus bonitos versos. Seus romances falavam em bois,

33

cavalos e coisas simples da vida do campo a qual convivia. Também gostava

de fazer trovas de improviso.

Em virtude de ser analfabeto 90% de sua obra se perdeu. Mesmo assim

são inúmeros os romances sobre bois cavalos de sua região, como “A Vaca

Malhada” e o “Boi de Mão de Pau” que eram cantados e acompanhados pela

inseparável rabeca. O romance do “Boi da Mão de Pau” era uma sextilha de

48 versos.

Logo que foi descoberto pelo folclorista Luís da Câmara Cascudo

recebeu o convite para fazer um passeio. Por ocasião desse passeio, Fabião

conheceu Natal e muita gente importante da capital e do interior. Chegou a

cantar na residência do governador, que na época era Ferreira Chaves.

Eloy de Souza irmão de Auta de Souza, também poeta, tornou-se um

grande admirador da inteligência e dos versos do poeta popular. Na ocasião

Eloy providenciou que fosse tirada uma foto de Fabião, a única deixada para a

posteridade. Em 1910 cantou no Palácio do Governo, o governador na época

Alberto Maranhão era um enamorado da poesia.

Comentador orgulhoso da vida pastoril, Fabião das Queimadas se tinha em alta conta como “poeta glosador”, afirmando-se figura essencial nas festas. Bom, trabalhador, humilde, o ex-escravo morreu no meio dum ambiente de simpatia. Todos o afagavam. Seu retrato apareceu em revistas cariocas, seu nome foi citado em conferências no Rio e São Paulo. (CASCUDO, 2005, p. 350)

O poeta dos vaqueiros, atualmente conhecido como o poeta da

liberdade foi objeto de estudo de Ariano Saussuna e Orígenes Lessa. Também

foi tema de teses defendida pelo pesquisador Hugo Tavares, funcionário do

IBGE, residente na cidade de Santa Cruz.

Sua história, originou um filme de média metragem, baseado nos

registros de Câmara Cascudo, exibido na TV Cultura de São Paulo, em 25 de

setembro de 2004, num projeto do MEC. Esse filme foi uma produção do

cineasta e documentarista José Alberto Dantas (Buca Dantas).

“ As poesias de Fabião das Queimadas são cantadas ainda hoje pelos

habitantes da pequena cidade de Lagoa de Velhos onde morou e ainda mora

muitos dos seus descendentes. Vale a pena salientar que alguns são músicos

34

profissionais. O parque de vaquejada da cidade ganhou o seu nome,

homenagem bem merecida àquele que dedicou sua vida aos vaqueiros e as

vaquejadas. (CASCUDO, 2005)

5.2 O ARADO

O Arado, terceiro livro de Zila Mamede, publicado em 1959, foi uma das

referências do vestibular de 2008 da UFRN (Universidade Federal do Rio

Grande do Norte). Ao prefaciar Luís da Câmara Cascudo escreve: “Todos os

poemas nasceram no chão sagrado, com chuva do Céu e suor dos rostos

vigilantes, surgidos na inspiração provocadora de uma inegável vivência

emocional”.

O livro contém poesias que lembram a infância da autora vivida no

interior da Paraíba, em contato com a natureza, num convívio rural com um

título bem peculiar. Zila retrata o homem do campo, numa espécie de ritual de

aragem , uma característica da cultura nordestina,

Arado é um instrumento puxado por um boi ou cavalo, muito usado na

preparação da terra para o plantio de sementes. Certamente a imagem do

arado, proveniente de sua infância, serviu para a recriação literária que retrata

tipicamente a realidade do nordeste brasileiro.

O livro composto de vinte poemas, os quais sete são em forma de

sonetos, cinco em tercetos, um em quarteto e os restantes foram escritos em

estrofes irregulares onde a autora utilizou versos livres. Ela transfere para seus

textos poéticos as lembranças de seus primeiros anos de vida, com

informações vivenciadas e entrelaçadas pela vida na cidade.

É nesse momento que Zila Mamede deixa de privilegiar o soneto, arriscando-se em formas mais livres e espontâneas, e permite vir à tona seu passado de menina sertaneja, até então sufocado pela sedução que o mar, descoberto na idade adulta, exercia sobre ela. (DUARTE, MACÊDO, 2001, p.428)

No poema “Açude” os dois chãos divididos por uma velha ponte que

funciona como parede, dividindo as experiências vividas pela poeta, na vida

simples do campo e na vida agitada da cidade grande. Entre essas duas

35

realidades Zila repassa informações da sua vida que reflete em tantas outras

vidas semelhantes a sua.

“O Passadiço” nome de outra poesia, significa passagem. Na realidade

passadiço é uma passagem secreta feita na zona rural, onde as pessoas

precisam de um movimento no corpo não acessível aos grandes animais como

vacas, bois e cavalos. Para a autora passadiço quer dizer a passagem de sua

vida, a mudança dos seus hábitos, quando resolveu sair da fazenda e morar na

cidade. Essas lembranças do passado continuaram vivas, mesmo diante de um

passado cada vez mais distante.

...a poesia de Zila Mamede corresponde, por assim dizer, a um projeto, que tem muito a ver, inclusive com o censo de organização que caracterizava sua opção profissional como bibliotecária. (GURGEL, 2001, p.86)

Na condição de bibliotecária, uma profissional da informação, Zila narrou

sua história em uma forma poética e figurada. Quando ela afirma “Meu chão de

agora: a rua está calçada”. Ela refere-se sua chegada a cidade de Currais

Novos, onde morou quando mocinha.

De menina pobre e tímida em Currais Novos, até a profissional exemplar na área de biblioteconomia; da jornalista levemente arrogante, que publicava seus próprios poemas na coluna que assinava na Tribuna do Norte até a poetisa consagrada do Exercício da Palavra verifica-se uma conjugação de fatores biográficos e literários que, intercomplementando-se, acabariam por transformá-la no nome hoje admirado por todos os que conhecem sua obra. (GURGEL, 2001, p.84)

Zila informou através da poesia seu sentido maior, buscando transmitir

conhecimentos, revelando experiências, sempre mostrando o ser humano em

todos os seus aspectos, transcendendo conceitos, lembranças e realidades,

enfatizando a arte, como uma garantia de liberdade humana,

As imagens do sertão empregadas nos poemas “O Arado” passam por

um processo muito ativo de elaboração, a terra em alguns momentos, deixa de

ser tema e se transforma em personagem. Assim como nas outras poesias, o

processo de interpretação permanece na mesma linha.

A escritora potiguar Leda Marinho Varela da Costa (2004), numa

antologia da AJEB/RN (Associação de Jornalistas e escritoras do Brasil) redigiu

36

em forma de poesia algumas informações sobre os hábitos e a causa da morte

de Zila Mamede:

ZILA E O MAR

Diante do mar Zila se iluminava E dentro dessa intimidade em que vivia, Sabia descobrir os clamores do vento

E entender os soluços da maré, Eram momentos de deslumbramento

Espargindo brilhos na sua poesia. Quando a beleza das espumas

Envolvia seu corpo Se sentia abençoada

E, pela natureza, celebrada. A carícia das águas dava-lhe paz

E nas suas visões oceânicas Vislumbrava “conchas, rochedos e navios carregados de luar”.

Eram sonhos que se projetavam nos seus versos Porque o seu universo era o mar,

Que enriquecia sua poética, Ora sem rimas, ora sem métrica.

Com olhos refletindo algas Sua face pousava sobre as águas E mirando-se no rosto das ondas

Fotografava-se por inteira E as oscilantes imagens

Navegando em cardumes de desejos, Faziam da sua inspiração uma maré cheia.

Uma tarde, na fria areia molhada Transpondo marolas e sargaços,

De peito aberto deu um largo abraço No Atlântico e no Potengi,

E ao escutar os cantos do marulhar, Zilá, nossa sereia poeta,

Num último suspiro de poesia Encantou-se numa Estrela do Mar.

37

6 POESIA COMO REFERÊNCIA

O serviço de referência constitui uma atividade que soma as atribuições

de uma biblioteca ou unidade de informação e está ligado a outros setores da

instituição, requerendo do bibliotecário atuante um refinado conhecimento dos

diversos serviços oferecidos, como também a experiência do processo técnico

relacionado a toda unidade de informação.

O profissional responsável pela referência deve se articular dentro de um

contexto bibliotecário, já que deverá dominar o conhecimento relativo à

informação, ao regimento externo e interno da instituição, conseguintemente

apresentar um atendimento de qualidade, procurando na medida do possível

fazer uma certa diferença.

Indiscutivelmente existe uma amigável relação entre o bibliotecário de

referência e o ele necessita de um orientador que saiba manusear as

informações pretendidas. O serviço de referência é sem dúvida uma atividade

inerente ao fazer bibliotecário e consiste no atendimento das necessidades dos

usuários, orientando no sentido da recuperação da informação requerida.

Dessa forma, o serviço de referência representa a principal assistência do

usuário em uma unidade de informação.

O serviço de referência, porém, é mais do que um expediente para a comunidade do usuário. Um dos fatos da vida das bibliotecas é que grande parte do acervo precisa ser deliberadamente utilizado para proporcionar algum benefício. (GROGAN, 1995, p.80)

Na verdade o serviço de referência é relativamente recente, surgiu a

partir de 1875, devido ao grande acréscimo do volume de informações nos dias

de hoje. A cada dia cresce o volume de informações, de tal maneira que fica

inviável um profissional dentro da sua própria área assimilar

informações/conhecimentos gerados com uma relevante rapidez e se

perpetuando cada vez mais. (DUARTE, 2001).

Grogan (1995) destaca que até meados do século XIX, as pessoas

cultas possuíam sua biblioteca própria e apenas procuravam uma unidade

informacional, quando não encontrava na sua biblioteca o assunto desejado.

Durante seu estudo, esse renomado pesquisador constatou que apenas uma

38

quarta parte dos usuários não consegue encontrar o que procura e apenas um

quinto procura ajuda do bibliotecário.

Portanto a existência de um bibliotecário de referência é de suma

importância na biblioteca ou centro de informação. As atribuições do

bibliotecário de referência, se expande desde o conhecimento no âmbito

informacional, aos mais diversificados assuntos.

Além do atendimento ao usuário, o serviço de referência oferece outros

serviços como empréstimos, ordenação nas estantes, levantamento

bibliográfico, direitos autorais, serviço referente ao International Stander Book –

ISBN, serviço relacionado ao International Stander Serial Number – ISSN,

acesso à Internet,serviço de Comutação Bibliográfica – COMUT, visita

programada, catalogação na fonte. Normalização, consulta às normas da

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e solicitação de teses e

dissertações.

São ainda das atribuições do bibliotecário de referência receber e

responder mensagens via correio eletrônico, selecionar, avaliar e disponibilizar

sites, participar de discussões, disponibilizar e consultar catálogos eletrônicos,

criação de salas de aulas virtuais, dominarem técnicas inerentes a toda a

biblioteca e outras atividades também ligadas à Internet.

A poesia não constitui um destaque na área da biblioteconomia, porém

existe uma grande demanda nas bibliotecas, por ser uma fonte de informação

que agrada a visão e a audição. É um gênero literário que está presente na

vida das pessoas que freqüentam as bibliotecas, necessitando também da

ajuda do profissional de referência.

Esse ‘elo vivo entre texto e leitor’ é necessário porque, como explicou James I. Wyer em 1930, no entanto manual escrito sobre serviço de referência “não é possível organizar os livros de forma tão mecânica, tão perfeita, que dispense auxílio individual para a sua utilização” (GROGAN, 1995, P.8).

A importância que a poesia exerce na área da informação, desde os

tempos antigos quando os meios de comunicação eram muito precários, as

obras poéticas já exerciam grandes influencias no contexto da comunicação.

Hoje essa influencia ainda prevalece tanto com relação aos poetas modernos,

como no resgate das obras mais antigas. É bem interessante fazer essa

39

comparação entre o antigo e o moderno aliás, em vários aspectos da cultura,

no sentido de um melhor entendimento.

6.1 POESIA E BIBLIOTECA A biblioteca é um suporte dentro de uma escola, seja pequena, grande,

digital ou virtual, é necessária em qualquer setor educacional. A escola a

princípio procura orientar o aluno adequadamente nas suas atividades iniciais e

a biblioteca faz a complementação, funcionando como agente da educação,

oportunizando a esse aluno um melhor desenvolvimento intelectual e social.

Com especialidade a biblioteca escolar, vem desenvolvendo excelentes

trabalhos, através de leituras, oficinas, atividades recreativas, direcionados pelo

princípio da valorização do saber, com resultados satisfatórios, evidentemente

quando tem a frente um bom profissional.

Quando existe uma combinação entre professores e bibliotecários a

atividade poderá estimular o aluno com maior eficácia. Isso porque o

conhecimento do acervo harmoniza-se com o planejamento do professor,

proporcionando ao usuário um melhor rendimento nas suas pesquisas.

O bibliotecário pode realizar excelentes trabalhos, a começar pela

arrumação do espaço. A disposição dos moveis, seleção dos livros e

periódicos, a postura no atendimento, a organização de eventos.e obviamente

o conhecimento do acervo.

Um dos programas mais solicitados na biblioteca são os “SARAUS”,

evento cultural onde as pessoas podem se encontrar para recitarem poesias ou

exibirem outras formas de arte como música, pintura e teatro. É bastante

comum nos dias de hoje, os amigos se reúnem com suas respectivas famílias

em residências, escolas ou outros recintos convidativos.

Não esquecendo que o papel do bibliotecário para esses eventos

também é fundamental, orientando, incentivando a leitura, explorando de modo

eficiente as tendências. As poesias mais procuradas são as que falam dos

interesses do leitor. Poderão surgir nesses movimentos literários, poetas

principiantes e a poesia como fonte de informação despertará o gosto pela

leitura.

A biblioteca funciona no sentido de atingir os objetivos escolares,

podendo-se afirmar que sua finalidade máxima é servir e difundir a leitura. A

40

poesia abaixo critica a posição que a biblioteca escolar ocupa, a atitude dos

dirigentes da escola com relação ao seu funcionamento, escrita pela autora do

trabalho após experiências próprias nesse sentido

A BIBLIOTECA ESCOLAR

Não basta a biblioteca ser definida Como um simples espaço escolar Às vezes ela fica até sem espaço Outra atividade a sala vai ocupar.

Não ocupa um lugar de destaque

Talvez porque não se admite imaginar Que a construção do conhecimento

Encontra-se numa biblioteca escolar.

Sem dúvida precisa ser reconhecida Como um poderoso espaço escolar Suporte que contem conhecimentos

Para o professor que pretende inovar.

Em busca de novas informações O aluno nesse recinto quer entrar

Surge o leitor crítico e independente Que a biblioteca contribui para formar.

A educação não acontece unilateralmente Na biblioteca o professor complementar Calcados nas leituras complementares A cada dia o aluno pode se qualificar.

6.2 POESIA E RELIGIÃO

Não poderia ficar de fora a poesia na religião, seja religião católica ou

protestante, os versos também são uma maneira de difundir os ensinamentos

de Jesus Cristo. Muitas verdades da religião foram reveladas aos homens na

forma de poesia.

A escrita complementa a oralidade, na proporção em que esta é limitada

em sua inteligibilidade. Ambos se favorecem mutuamente na troca de

elementos, que pode salientar o que se queira repassar com a poesia, Já que

inúmeros estudiosos confirmam que a poesia tem a religião, a magia, o mito.

De fato a poesia é a expressão elevada ao seu ritmo essencial pela

linguagem humana, do sentido um pouco misterioso dos aspectos da

41

existência. Ela adorna de autenticidade a vida e colabora na tarefa espiritual. A

utilização da linguagem poética poderá favorecer essa espiritualidade.

O Barroco foi um movimento que tentou conciliar a religiosidade

medieval com o humanismo renascentista. Logicamente ligada à tendência

religiosa muito conservadora da Contra-Reforma. O período chamado Barroco

representou uma tentativa de retorno à tradição cristã medieval, uma forma de

reatamento entre o homem e o divino.

Nesse âmbito a poesia teve uma parcela de contribuição, em que se

mesclam sensualismo e misticismo, religiosidade e erotismo e na maneira bem

simples o céu e a terra. Esse período acabou por se tornar uma corrente

literária muito polarizada em suas formas, impregnado na religiosidade.

O Padre José de Anchieta, missionário jesuíta que veio para o Brasil em

1553, escreveu várias poesias em português, espanhol, latim e tupi. Essas

poesias hoje são verdadeiros documentos informativos, pelos quais os

estudiosos decifram a metodologia usada por esses padres, para catequizar os

silvícolas, dentro da ética religiosa durante a colonização do Brasil. (ABDALA

JÚNIOR, 2000)

Com relação a Bíblia Sagrada, é sem dúvida uma das maiores

referências textuais existente no mundo cujas histórias, personagens, figuras,

motivos, imagens e poesias emolduraram por milênios o imaginário da cultura,

que transcende o significado religioso.

São inúmeras as obras literárias que compõem a Bíblia, entre as quais

estão “Os Salmos”, livros do Antigo Testamento, escritos em forma de poesias.

Nesse livro estão contidas as orações dos antigos judeus, que atualmente é um

enlevo espiritual para os religiosos e também foi para o próprio Jesus Cristo.

Na antiguidade o caráter religioso dos salmos destacava-se pela sua

incomparável profundeza, gratidão pela misericórdia infinita e pelo perdão de

Deus. Os poemas messiânicos de Davi tornam os salmos mais compreensíveis

ante os próprios pecados, tristeza e temor dos perigos que cercam a

humanidade.

“O Cântico dos Cânticos” é uma coleção de poemas que evidentemente

devem ter sido destinados às solenidades de núpcias. O amor é o tema

principal, especificamente entre um homem e uma mulher no casamento.

42

Essas poesias servem como fontes de informação para atividades reflexivas

predominantes nos meios religiosos da atualidade.

“Provérbios” outro livro pelo qual o autor utilizou a poesia para associar

parentesco com textos anteriores orientais. De modo especial as poesias que

compõem o livro chamado Provérbios, salientam a piedade espiritual e a

educação das crianças. Também se pode reconstruir um verdadeiro código de

direito régio, reunindo-se os fragmentos dispersos que tratam desses assuntos.

(Informações extraídas da Bíblia Sagrada, 1997)

6.3 POESIA E FOLCLORE

Tudo teve início quando o cientista e arqueólogo inglês William John

Thoms enviou uma carta ao jornal de Londres “O Ateneu”, no ano de 1846,

propondo a criação da palavra “folk-lore” para designar o conjunto de

manifestações culturais nascidas de um povo para o povo, perpetuadas por

muito tempo..

Apesar de algumas resistências, a palavra internacionalizou-se e até os

dias atuais a cada 22 de agosto, as escolas e outras entidades culturais

rememoram essas tradições. Folclore é na realidade o conjunto dessas

tradições, informações e conhecimento, que se manifesta espontaneamente no

meio de uma determinada população.

Os natalenses podem se orgulhar de ter como conterrâneo Luís da

Câmara Cascudo, considerado o maior folclorista do mundo, que pesquisou

historias dos habitantes da cidade e do campo. Conviveu com os sábios, os

humildes, os analfabetos, as assombrações, os mistérios estudou o caminho

que levava o encantamento do passado.

Ninguém acreditava no meu desinteresse eleitoral. Impossível para eu dividir conterrâneos em cores, gestos de dedos, quando a terra é uma unidade com sua gente. Foram os motivos de minha vida expostos em todos os livros. Em outubro de 1968 terei meio século nessa obstinação sentimental. Devoção aos mesmos santos tradicionais. (CASCUDO, 1968, p. 2)

Em sua residência no Bairro do Tirol hospedou tanto membros da

Família Imperial Brasileira, como Fabião das Queimadas. O que interessava

43

para esse grande folclorista era a vida do povo na sua normalidade, como

viviam as manifestações da legitimidade social. Dedicou sua vida a estudar as

permanências da vida brasileira.

A poesia exerce um papel muito importante no folclore. Ressalta as

letras nas músicas, cantigas populares, adivinhações, parlendas, trava-línguas,

quadrinhas e ditados populares, canções de ninar e até a maneira de terminar

determinadas histórias a poesia é predominante.

As pessoas podem cantar, sentir e ouvir, deixando-se guiar pela

sensibilidade e pela sensação que a poesia lhes sugere e comunica. O

cancioneiro popular é um exemplo de música que transmite o folclore,

recheados de rimas e ritmos, empolgam a todos, reiteram a importância de um

tempo passado. A sonoridade dessa adivinhação que tem como resposta a

zebra:

O que é, o que é? Do mundo nada reclama,

Leva a vida regalada. Parece um cavalo de pijama

Sempre de roupa listrada.

Parlendas, são palavreados em versos de poucas sílabas, com rimas

simples, que ajudam a memorizar as primeiras noções de seqüências. São

declamadas e o ritmo é seu elemento mais forte. Todavia as canções de ninar

ou acalantos apresentam várias versões por conta das influências culturais.

Mas em todas as regiões essas canções são dotadas de rimas:

O folclore envolve canto, interação, movimento e poesia, possibilitando

rítmica e a identificação de movimentos do corpo. A cultura no Brasil é

riquíssima e a poesia apresenta uma exuberância dentro do folclore.

44

7 LITERATURA DE CORDEL A literatura de cordel é um dos recursos da informação mais intenso da

cultura brasileira. Propagado em feiras e eventos populares, o cordel é uma

mistura de epopéia e apreciação sobre a dura realidade principalmente da

Região Nordeste. É uma fusão do humor com a crítica social, enfocando o

meio ambiente, a religião, a política, a sexualidade, a seca, saúde, educação,

desafios.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, trouxeram na bagagem

esse estilo popular de fazer poesias, tornando-se rapidamente o gênero mais

popular e mais brasileiro do que os outros. Na verdade como foi dito

anteriormente engloba todos os assuntos que estão em evidencia.

Com o passar do tempo o cordel passou a retratar também

acontecimentos recentes, até porque não existia outro meio de comunicação

ou quando um determinado grupo era privilegiado com a acessibilidade à

informação, as camadas mais populares não tinham acesso, então o cordel era

usado como meio de comunicação e principalmente de opinião.

. A literatura popular em versos passou por diversas fases de incompreensão e vicissitudes no passado. Ao contrário de outros países, com o México e a Argentina, onde esse tipo de produção literária é normalmente aceita e incluída nos estudos oficiais de literatura – por isso poemas como “La Cucaracha” são cantados no mundo inteiro e o herói do cordel argentino , Martin Fierro, tornou-se símbolo da nacionalidade platina -, as vertentes brasileiras passaram por um longo período de desenvolvimento e desprezo, devido a problemas históricos locais, como a introdução tardia da imprensa no Brasil (o último país das Américas a dispor de uma imprensa é a excessiva imitação de modelos estrangeiros pela intelectualidade. (LUYTEN, 2000, p. 05)

No tempo anterior ao rádio, televisão e Internet o cordel era o informativo

que a sociedade dispunha e em muitas ocasiões funcionou como um

instrumentos de alfabetização. Os versos dos repentistas representavam um

modo especial de olhar para a vida e para a alma do povo brasileiro.

Inicialmente os temas eram ligados à histórias antigas que coletavam

romances os quais vinham sendo transmitidos oralmente, atravessando

gerações e encantando populações.

45

O cordel ao contrário do que aparenta não é em hipótese alguma, um

estilo inferior de literatura, mas sim um veículo de informação e opinião onde

são biografados figuras de notabilidade que fazem a história. Dessa maneira

vem ganhando aos poucos, espaço nos livros didáticos, obviamente nas

escolas, usado como fonte de estudo e reflexão.

Como pouquíssimas pessoas sabiam escrever e ler, a poesia,

geralmente em cordel, era declamada para transmitir de geração em geração a

história do povo. A poesia era necessariamente indispensável, pois mantinha

uma população ligada através de uma cultura. É possível que a rima tenha sido

introduzida para ajudar na memorização das informações repassadas pelas

poesias, que contavam e cantavam as tradições do povo, bem como a

coragem dos seus heróis. .

Atualmente o cordel vem ganhando espaço no âmbito acadêmico, isso

porque tornou-se um promissor objeto de estudo científico. Já está comprovado

o fato de que o número de trabalhos em torno da temática, está em constante

crescimento, segundo os lingüísticos de todo o país.

Nas escolas, nas universidades, seguindo essa propensão de

crescimento do interesse pela literatura popular, vem criando linhas de

pesquisa voltadas para a reflexão e discussão de questões voltadas para a

literatura de cordel. (NAUD, 2004, nº 6)

É nessa perspectiva que se destaca esse gênero tão popular tornando-

se uma modalidade narrativa em ascensão. Talvez a rejeição que por ventura

ainda predomina seja em consequência da má qualidade da impressão, o

descaso com a correção lingüística, a presença marcante da oralidade, a

questão de ser vendida tradicionalmente nas feiras livres sem esquecer a

característica do consumidor, em geral de baixo nível escolar e também de um

poder econômico reduzido, dificultando assim a aquisição de outras obras.

Se a memória popular vai conservando e transmitindo velhas narrativas e acontecimentos recentes esta transmissão está para sempre marcada pelo espírito desta sociedade. E não é por outra razão que a memória popular vai conservando os fatos narrados, transmitidos com as adaptações de cada narrador aquilo que foi ouvido. E quando se trata de alfabetizado, a transmissão se torna ainda mais fácil, porque oriunda da própria leitura dos folhetos. (BATISTA, 1997, p. 17)

46

Quando a sociedade tinha quase somente essa forma de literatura, e se

encontravam nos alpendres das casas nas fazendas, o cordel era na verdade

um interessante veículo de comunicação, despertando o interesse dos

expectadores. Fazendo com que o caráter informacional dessa literatura

tivesse sua efetivação.

Todavia é de fundamental importância salientar que hoje mesmo com a

televisão e Internet, a literatura de cordel continua sendo porta-voz do falar e

do pensar do povo, expressas em suas marcas principais: o forte traço da

oralidade, presente nas falas dos personagens e a ideologia presente nas

formas como essas figuras atuam e sobrevivem na essência das narrativas.

Desde os tempos dos gregos até a modernidade de hoje, a poesia

sobrevive e terá sempre seu espaço reservado, pelo menos enquanto o

homem souber captar a poesia que existe em tudo o que está ao seu redor.

7.1 O NEOCORDEL REVOLUCIONA LITERATURA CONVENCIONAL

Trata-se da nova versão do cordel, já com um bom número de adeptos,

um pouco diferente da forma convencional. A denominação “neocordelismo”

vem do pioneirismo em reinventar versos, transformar os temas do cordéis

tradicionais em temas livres, inovando em todos os aspectos.

Essa nova versão do cordel traz temas polêmicos e não menos rimados,

estórias da vida real e não mais o trivial da vida do campo e dos costumes

nordestinos. O neocordelismo não segue normas e regras e livre na sua forma

de expressão, quanto a rima e a métrica.

O cordel que ganhou esse nome originário de cordão, porque no

passado eram vendidos nas ruas estendidos em cordões, tem as normas

tradicionais, até pode-se dizer rígidas com relação a capa, impressão,

diagramação, xilogravuras até uma exigência quanto ao número de versos que

compõe cada poema. As temáticas geralmente são regionais, tratam de

violeiros, matutos, vaqueiros e tudo mais o que o imaginário permitir.

No neocordelismo as palavras vulgares desaparecem, existe um cuidado

maior com as palavras, a gramática aplicada é mais aguçada e incentiva ao

leitor a busca por um novo vocabulário elitizou o gênero. Evidentemente existe

47

um prazer maior na leitura, isso porque os temas são relevantes ao cotidiano e

o vocabulário

No Rio Grande do Norte existem alguns neocordelistas como o poeta e

escritor João Batista Campos de Farias. Em quase três anos, o poeta e escritor

publicou 80 obras e vendeu mais de 33 mil exemplares, viaja país a fora para

divulgar essa nova forma de fazer cordel. Participa de feiras de livros inclusive

participou da Bienal de São Paulo.

João Batista está lutando para conseguir o apoio dos educadores,

porque somente através das escolas pode haver a disseminação da Literatura

de Neocordel. Levando-se em consideração que alguns professores não

simpatizam com o Cordel, o projeto tem tudo para dar certo. A iniciativa já

rendeu bons frutos.

Segundo Borges (2008) recentemente, numa parceria inédita com

alunas de um colégio particular não identificado, de Natal, o escritor e

neocordelista João Batista, publicou a primeira obra infanto-juvenil “A História

do Tucano” que reflete um pouco o que se propõe essa nova forma de fazer

literatura.

Um problema surgiu, os cordelistas tradicionais não concordam com

essa inovação. Segundo Erivaldo Leite de Lima mais conhecido como Abaeté,

um poeta cordelista de grande projeção entre os potiguares, o cordel não pode

fugir dos clássicos de antigamente. Segundo o poeta Abaeté quando não há

rima, fica mais difícil de decorar

Apesar dos temas corriqueiros, característicos e comuns ao cordel,

Abaeté afirma que consegue inovar, nos tempos de eleição, por exemplo,

lançou um, cordel com o tema: “Eleitor consciente”, uma alternativa encontrada

para promover uma reflexão com relação ao exercício da cidadania na hora de

escolher seus candidatos.

O exemplo de Abaeté existem outros cordelistas que sem sair do estilo

tradicional estão escrevendo temas bem interessantes. Zé Saldanha um dos

maiores cordelistas do rio Grande do Norte, atualmente com 80 anos de idade

tem um estilo bem liberal para escrever suas poesias.

48

7.2 POESIA MATUTA

A poesia matuta muito apreciada pelos amantes do gênero poético, nem

sempre é escrita por um matuto. Geralmente é uma crítica disfarçada na

linguagem do matuto que além do censo de humor empregada na poesia pode

sensibilizar qualquer indivíduo. A crítica também poderá ser deferida a uma

pessoa, um órgão público, repartição, saúde, segurança e educação.

Bem comum os poetas usarem a ignorância e tudo o que faz parte de

um contexto social caracterizado pelo desgaste e pela injustiça social. A

política é um alvo bem notório, pois na visão de alguns críticos a causa de boa

parte da péssima situação em que vive o povo é proveniente das incorretas

administrações existentes no Brasil. A democracia é inviável em um Estado

tomado pela miséria e pela fome, onde a população injustiçada se detém ao

conformismo e o assistencialismo por parte do poder público.

Homens não nasceram para passar fome, se isso ocorre, é produto da visão mercantilista, portanto individualista, de muitos. Há séculos que a pobreza deixou de ser um problema pessoal para se transformar em chaga social. Alguns especialistas dizem que sempre haverá ricos e pobres, todavia não deverá haver miseráveis. (MORAES, 2001, p. 38)

Dentre muitos poetas que escrevem poesias matutas destaca-se

Patativa do Assaré, que se tornou famoso no Nordeste na década de 1940,

quando ridicularizou publicamente o prefeito da cidade de Assaré (sua cidade

natal) com numa poesia improvisada e acabou preso. (GURGEL, 2001, p. 86)

Patativa da Assaré redigiu muitas poesias falando sobre a Reforma

Agrária. Vejam essa quadrinha. (ENCICLOPEDIA MIRADOR, 2000, vol. 12)

Se a terra foi Deus quem fez

Se é obra da criação Deve cada camponês

Ter seu pedaço de chão.

Através dessa quadrinha Patativa do Assaré critica a atitude dos

grandes latifundiários aqui no Brasil. Segundo ele a terra pertence a quem

precisa a quem quer produzir, mas a realidade é bem diferente. Suas poesias

49

aguçam a reforma agrária, porém uma reforma feita com justiça e sem

violência.

Muitos cantores brasileiros cantaram as poesias de Patativa do Assaré,

o clássico “Triste Partida” gravado pelo cantor Luís Gonzaga, é uma

composição de Patativa do Assaré que denuncia o descaso dos governos para

com o Nordeste e o êxodo dos nordestinos para o sul do país.

Apesar de ser quase analfabeto, deixou belíssimas poesias, que lhe

possibilitou receber do presidente Fernando Henrique Cardoso de Melo a

“Medalha José de Alencar”.

50

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o tempo dos gregos até os dias de hoje, a poesia sobrevive e terá

sempre seu espaço reservado, pelo menos enquanto o homem souber captar a

poesia que existe em todas as situações. Até mesmo um discurso escrito em

poesia, é suscetível de harmonia e musicalidade. E isso é possível porque a

poesia vem aos poucos se libertando das rígidas regras, tornando-se

semelhante à prosa, desaparecendo a rima e a métrica.

A experimentação da poesia em cartazes, outdoors, propagandas

comerciais, convites e anúncios em geral, representam à tentativa de adequar

a arte poética a um mundo em constante mutação. Enfim a cultura, a poesia e

a informação se confundem.

E essa arte da palavra na qual o ritmo predomina sobre o conteúdo está

dominando evidentemente a era da tecnologia. Acompanhando o progresso e

suas evoluções como é o caso do neocordel, que surgiu no momento

apropriado.

No entanto percebe-se que ainda existe certa rejeição. No Curso de

Biblioteconomia a poesia não é usada, não diferente de outros. A poesia é

ainda considerada algo que desperta de vez em quando a atenção de uma

minoria.

Todavia o trabalho foi de grande proveito, um valioso documento para

estudos que todo profissional da área certamente necessitará. É um tema

agradável, estimulando o lado romântico dos leitores. Uma versão do amor em

forma de pesquisa.

51

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APÊNDICES

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A POESIA

As melhores e as mais lindas poesias Que se pode nesse mundo encontrar Devem ser sentidas só com o coração Sem ao menos um som balbuciar. Escrever poesias é apalpar palavras Embalando cada uma no seu lugar Formando uma avalanche de ritmos Numa cadência própria para cantar. Letras curvas, grandes ou pequenas Como pilares de uma língua destacar A espera de expandir conhecimentos Com o prenúncio da espera do que virá. A rima é como se fosse a possibilidade De uma flauta cujo caminho vai apontar A extensão que a música acompanha Procurando o melhor ritmo para cantar. A poesia chama todos para o diálogo Com o processo de cada palavra informar Tem o que é considerado mais importante A emoção que o escrito proporcionará. Natal, 12 de outubro de 2009

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A PALAVRA É POESIA Poesia é revelação contada em cada linha É a arte de escrever em versos, é inspiração É um atalho para o êxtase, seja ele qual for Um determinado desabafo com muita emoção. Poesia é uma criatividade da própria cultura É o ponto de vista dependendo da informação É o despertar de vários e vários sentimentos Que se encontram entorpecidos sem direção. Poesia é a sintonia da alma com o mundo Pela qual as pessoas encontram transmissão É um canto, um conto, uma história ou melodia É um momento bom para uma transformação. Poesia é também a natureza se revelando São pássaros cantando sem nenhuma intuição Poesia são palavras imensuravelmente bonitas A aproximação da linguagem com a repercussão. A poesia é uma narrativa em forma de versos Mas nem tudo o que é escrito em verso é poesia Exalta uma escrita de grande expressividade Para identificar imagens e temas do dia-a-dia. Relacionada com o que causa prazer imediato A poesia é uma linguagem da boa imaginação Atinge bem a intimidade e a atividade humana A poesia estimula o sentimento de uma paixão. Poesia não é uma simples ocupação frívola Como determinadas pessoas tem pensado Constitui uma forma de informação evidente Com exceção do ocioso que vive desocupado. Tem a capacidade de iluminar muitas mentes Aproximando a simplicidade com o intelectual Reforçando a sensibilidade sempre presente Causando resultado em sua maioria especial. Natal, 09 de novembro de 2009

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O QUE É POESIA Poesia é a arte de escrever em versos Composição de pequena extensão É o que desperta o sentimento belo O entusiasmo criador da inspiração. Poesia é encanto graça é atrativo É o que de elevado e comovente Difícil é não associar a criatividade Uma inspiração que mexe com a gente. É como se ao introduzir ar nos pulmões Esse ar viesse carregado de emoção Surge a vontade de expressar esse estado Então escreve-se para curtir essa sensação. Dessas experiências surgem as poesias Descobre-se rápido o entusiasmo do escritor Escrever poesia é explorar a criatividade E nesse sentido, o produto aqui resultou. Natal, 10 de outubro de 2009.