2
Por que abolicionistas? "Os animais existem por suas próprias razões. Eles não foram feitos para humanos, assim como negros não foram feitos para brancos ou as mulheres para servir aos homens." (Alice Walker) . A denominação abolicionista, no presente contexto, corresponde à postura daqueles que se opõem à escravidão animal em todas as suas formas. Sabe-se, afinal, que a exploração dos animais é institucionalizada pelo Poder Público e movimenta, mundialmente, poderosas corporações industriais na garantia de interesses econômicos dos mais diversos. Definir o ser humano como espécie superior, que subjuga animais a seu bel-prazer, é prestar uma infeliz homenagem à doutrina antropocêntrica dominante. Nosso sistema social compactua com a opressão das outras espécies, legitimando a escravização de seres sencientes em meio a um cenário entremeado pela ganância, pela insensibilidade ou pela indiferença humana em relação ao sofrimento alheio. Torna-se o animal- objeto, assim considerado, mera propriedade privada ou recurso destinado à obtenção de determinados fins, sejam eles lícitos ou não. É como se, em nome do poder, triunfassem a espingarda e o chicote sobre as leis morais. A crueldade humana parece não ter fim. Jaulas, armadilhas, rédeas, gaiolas, esporas, chibatas, correntes, ferro em brasa, granjas, matadouros, arenas e biotérios, dentre outras tantas formas de subjugação animal, tornam-se símbolos da violência humana que se perpetua ao longo dos séculos. O imperialismo, o especismo, os regimes escravocratas, o classicismo, a exploração, etc., têm uma base comum: o antropocentrismo legitimado pela falácia da sociedade patriarcal. Daí porque a autêntica postura abolicionista revela que um movimento em favor dos direitos animais deve se fundamentar em sólidos postulados éticos, nos princípios essenciais da Justiça e na crítica aos atuais valores humanos. Inserido nesse contexto, o veganismo surge como opção mais coerente para buscar e obter transformações. O chamado bem-estarismo animal, a exemplo do apartheid, da libertação sexual e do welfare state, não é uma forma de apoiar a luta abolicionista, e sim de silenciar a causa libertadora. Há de se incluir os animais no âmbito de nossas considerações morais, afastando deles o estigma de propriedade ou da pretensa relevância ambiental que possam vir a ter. Os animais, em síntese, merecem ser respeitados enquanto tais, não em função de sua suposta utilidade aos seres humanos. É preciso enfrentar a raiz do problema, construindo uma sociedade que se assente em fundamentos filosóficos não-opressivos, que, acima de tudo, respeite as outras espécies, independentemente de sua condição ou serventia. Somente assim poderemos acreditar em um mundo mais justo para todos, em que a escravidão – seja ela qual for - esteja completamente abolida. "Desconfiai do mais trivial, na aparência, singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar." (Bertolt Brecht) Giulia Bauab Levai

Por Que Abolicionistas

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Por Que Abolicionistas

Citation preview

  • Por que abolicionistas? "Os animais existem por suas prprias razes. Eles no foram feitos

    para humanos, assim como negros no foram feitos para brancos ou as mulheres para servir aos homens." (Alice Walker)

    .

    A denominao abolicionista, no presente contexto, corresponde postura daqueles que se opem escravido animal em todas as suas formas. Sabe-se, afinal, que a explorao dos animais institucionalizada pelo Poder Pblico e movimenta, mundialmente, poderosas corporaes industriais na garantia de interesses econmicos dos mais diversos. Definir o ser humano como espcie superior, que subjuga animais a seu bel-prazer, prestar uma infeliz homenagem doutrina antropocntrica dominante.

    Nosso sistema social compactua com a opresso das outras espcies, legitimando a

    escravizao de seres sencientes em meio a um cenrio entremeado pela ganncia, pela insensibilidade ou pela indiferena humana em relao ao sofrimento alheio. Torna-se o animal-objeto, assim considerado, mera propriedade privada ou recurso destinado obteno de determinados fins, sejam eles lcitos ou no. como se, em nome do poder, triunfassem a espingarda e o chicote sobre as leis morais.

    A crueldade humana parece no ter fim. Jaulas, armadilhas, rdeas, gaiolas, esporas,

    chibatas, correntes, ferro em brasa, granjas, matadouros, arenas e biotrios, dentre outras tantas formas de subjugao animal, tornam-se smbolos da violncia humana que se perpetua ao longo dos sculos. O imperialismo, o especismo, os regimes escravocratas, o classicismo, a explorao, etc., tm uma base comum: o antropocentrismo legitimado pela falcia da sociedade patriarcal. Da porque a autntica postura abolicionista revela que um movimento em favor dos direitos animais deve se fundamentar em slidos postulados ticos, nos princpios essenciais da Justia e na crtica aos atuais valores humanos. Inserido nesse contexto, o veganismo surge como opo mais coerente para buscar e obter transformaes.

    O chamado bem-estarismo animal, a exemplo do apartheid, da libertao sexual e do

    welfare state, no uma forma de apoiar a luta abolicionista, e sim de silenciar a causa libertadora. H de se incluir os animais no mbito de nossas consideraes morais, afastando deles o estigma de propriedade ou da pretensa relevncia ambiental que possam vir a ter. Os animais, em sntese, merecem ser respeitados enquanto tais, no em funo de sua suposta utilidade aos seres humanos. preciso enfrentar a raiz do problema, construindo uma sociedade que se assente em fundamentos filosficos no-opressivos, que, acima de tudo, respeite as outras espcies, independentemente de sua condio ou serventia. Somente assim poderemos acreditar em um mundo mais justo para todos, em que a escravido seja ela qual for - esteja completamente abolida.

    "Desconfiai do mais trivial, na aparncia, singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

    Suplicamos expressamente: no aceiteis o que de hbito como coisa natural, pois em tempo de desordem

    sangrenta, de confuso organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural

    nada deve parecer impossvel de mudar."

    (Bertolt Brecht) Giulia Bauab Levai