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GLOBALVOTE # 47 2008 VOTE! RÖSTA! ¡ VOTA! HAY BAU ! TOAN CAU! EL GLOBO LE GLOBE THE GLOBE O GLOBO 47 Lilla Omslag.indd 1 07-11-12 16.12.57

Português: El Globo no 47

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VOTE! RÖSTA! ¡VOTA! HAY BAU!

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Urnas da eleição presidencial na votação das crianças

Você não está feliz? É seu aniversário de 18 anos, diz a mãe de Migui.

Porém, Migui não está feliz. Ele está triste porque agora não tem mais idade para par-ticipar da Votação Mundial.

Mais tarde, quando Migui tem a oportunidade de votar em outra eleição, para a pre-sidência do Senegal, ele tem uma idéia. As urnas da eleição dos adultos podem ser usadas

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na votação das crianças! Ele conta sua idéia aos amigos do clube pelos direitos da criança, Eden.

No dia anterior à Votação Mundial, Migui e cinco ami-gos vão até a prefeito falar sobre a votação das crianças e pedir emprestado as urnas da eleição.

– A Votação Mundial é uma eleição democrática, que realizamos junto com crianças de todo o mundo, explica Mamadou, 15 anos, ao prefeito.

– Infelizmente, nenhum adulto pode participar da Votação Mundial, mas o con-vidamos a ler a revista O Globo e visitar nossa Votação Mundial, continua Ndéye, 17 anos.

Eles têm permissão para levar emprestado as urnas ele-

itorais, e o prefeito promete comparecer à Votação Mundial.

O Eden realiza sua Votação Mundial em uma rua de terra em Guédiawaye, no subúrbio da capital, Dacar. As crianças fecharam a rua, e os carros têm que buscar um caminho alternativo nesse dia. Esta sim é uma verdadeira festa de votação. Os alto-falantes tocam mbalax, a música dançante senegalesa. Algumas crianças dançam e varrem a rua. Outras colam cartazes sobre a votação nos postes e muros. Crianças e adultos que moram nas redondezas vêm para ver e ouvir.

– Aproveitamos para contar a elas sobre nosso clube e os direitos da criança, diz Mamadou. Todas as crianças deveriam participar da Votação Mundial! As meninas varrem a

rua na preparação da Votação Mundial.

Tinta para evitar fraude eleitoral.

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Orgulhoso por participar do WCPRC“No Senegal, muitas crianças são vítimas da violência física e sexual. Mas é assim em todo o mundo. Ao tra-balharmos com o WCPRC podemos, ao mesmo tem-po, divulgar informações sobre a violência contra a criança. Assim, crianças e adultos entendem que isso

é errado. É importante! Tenho orgulho de participar do WCPRC. Também é divertido, pois tenho a chance de estar com meus amigos e nós lutamos juntos”. Mamadou Yauck, 15, Senegal

Com O Globo pelos direitos das meninas“Os direitos dos meninos são mais respeitados do que os das meninas aqui no Senegal. É importante lutar contra a discriminação das meninas. As meninas devem participar de todas as decisões. Minha amiga não pode

freqüentar a escola, mas seu irmão sim. Seus pais dizem que ela deve cuidar da casa. Isso me dá raiva! Eu lhe dei a revista O Globo para ela poder ler sobre meninas na mesma situação e mostrar a seus pais, para que entendam que isso é errado.” Jacqueline Courd Fall, 17, Senegal

“Eu adoro ler sobre os membros do júri. Meu ídolo é Idalmin! Ela é tão legal e inteligente. Costumo contar sua história para todos os meus amigos. Fiz um colar com uma foto de Idalmin. Assim, quando alguém me pergunta sobre o colar, posso contar sobre ela.”Ndéye Aida Ndiaye, 17, Senegal

Se eu fosse presidente...“Se eu fosse presiden-te da república, minha meta seria proteger as crianças e educá-las com o auxílio do WCPRC. Estou muito feliz com a revista do prêmio. Graças a ela, aprendi sobre todos os meus direitos e sobre as pessoas que lutam por esses direitos. Agora, quero fazer o mesmo por outras crianças.” Ndéye Mbakhe Yattassaye, 13, Senegal

Com O Globo contra o trabalho infantil“Muitas crianças da vizinhança não podem ir à escola, pois precisam trabalhar. Elas trabalham como empregadas domésticas, mecânicos, calceteiros, recolhen-do pneus ou conduzindo carroças de cavalos. Quando o dia de trabalho termina, elas estão tão cansadas que nem conseguem brincar. Eu uso O Globo para mos-trar-lhes histórias sobre o trabalho infantil. Eu lhes digo para contá-las a seus

pais. Espero que seja publicada na revista uma história em quadrinhos sobre trabalho infantil. Adoro os quadrinhos sobre Nelson Mandela. Eles me deixam feliz e inspirado”.Mamadou Hady Diallo, 16, Senegal

Júri Idalmin meu ídolo

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Gunaa tsunami e a Votação Mundial

Quando Guna se virou para o mar, em 26 de dezembro de 2004, ela

fi cou aterrorizada e começou a correr imediatamente. Uma enorme onda negra atingia as palmeiras, levantava carros e parecia não ter fi m. Era uma tsunami.

– Eu corri para o telhado de uma casa onde as pessoas se amontoavam. Perguntei-me se minha família estava em

– A água está vindo! A água está vindo! Guna ouviu os gritos ao seu redor...

Guna nunca esquecerá a onda gigante – tsunami. Todavia, hoje é um dia feliz – o Dia da Votação Mundial para as crianças do centro da Peace Trust, em Velankanni, costa leste da Índia.

algum ponto daquela água escura e comecei a chorar, conta Guna.

– Encontrei meu tio, que carregava minha irmã, Latha. Meu pai e Latha haviam se agarrado fi rmemente um ao outro quando a massa d’água veio, porém, a água tinha mui-ta força e meu pai não conse-guiu segurar Latha. Depois, uma barra de metal trazida pela água perfurou o peito de

As danças de GunaBharatanatym é um tipo de dança tradi-cional na Índia. Em muitas destas dan-ças, há deuses hindus. Aqui, Guna mos-tra algumas das poses que aprendeu.

O lótus é a fl or nacional da Índia. Aqui, Guna estica os dedos para reproduzir a bela fl or.

– Eu sei que é normal sentir saudades do meu pai e dos meus irmãos, mas acho que eles gostariam que eu fosse feliz. Crianças devem estudar e brincar. Eu posso fazer essas coisas aqui na Peace Trust, e isso faz com que eu me sinta melhor agora.

Guna desenha na areia por onde a tsunami passou naquele dia horrível.

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Guna, 14

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meu pai, matando-o. Eu sou-be que meus irmãos também haviam sido levados pela onda gigante. Com o coração cheio de pesar, continuei procuran-do por minha mãe.

Tudo estava em ruínas, e havia pessoas lamentando por toda parte. Guna encontrou sua mãe ajoelhada, chorando.

Na sua frente, estava o corpo do irmão caçula de Guna. A mãe de Guna se virou em sua direção e disse que ela deveria ir e fi car com a avó em outra vila, onde era seguro.

O dia da Votação MundialAlguns anos mais tarde, Guna acorda cedo numa manhã no lar da Peace Trust, onde ela divide o quarto com outras meninas que também foram duramente afetadas pela tsu-

nami. Ela está contente por estar entre outras crianças que entendem o que ela passou e desejam seguir adiante com suas vidas. Mas não tem sido fácil.

– Sentir-se melhor requer tempo e um coração valente, diz Guna.

O dia começa com as meni-nas subindo ao telhado para fazer aula de ioga com vista para o mar.

– A ioga ajuda a me concen-trar no momento presente, em vez de fi car sempre pen-

Mora: No centro da Peace Trust, em Velankanni, para crianças que perderam um ou ambos os pais na tsunami.Gosta de: Matemática, ioga, dançar e brincar com amigos. Sente falta de: Meu pai e meus irmãos, que foram mortos pela tsunami.Direito importante: Poder estudar.Quer ser: Médica.

Votação Mundial no telhado do centro Peace Trust para crianças vítimas da tsunami.

Lorde Shiva é o deus da dança. Em muitas fotos, parece que ele tem quatro braços. Na ver-dade, ele tem apenas dois bra-ços, mas como dança muito rápido, fi ca parecendo que são quatro. Guna mostra uma das poses de Shiva.

Flexionar é essencial para aprender a dançar Bharatanatym. Guna mostra como é fl exível tocando as orelhas com os pés.

Lorde Krishna pode ser muito travesso, e gosta de tocar fl auta. Aqui, Guna agita os dedos como se estivesse tocando uma fl auta.

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sando no que aconteceu, explica Guna.

Eles se prepararam durante toda a semana para essa data, o Dia da Votação Mundial. Tanto as meninas quanto os meninos se arrumam e pas-sam a última camada de maquiagem. Para comemorar este dia, eles ouvem música e servem biscoitos. É um dia divertido, porém, eles também sentem que integram algo importante.

– Estamos felizes por poder participar e lutar pelos direi-tos da criança, diz Divakar, 12 anos.

Estou bem agoraA mãe de Guna não consegue esquecer o horror que aconte-ceu. Ela trabalha como faxi-neira das três da manhã às

sete e meia da noite e chega em casa exausta. Guna é grata por sua irmã maior ajudar a mãe em casa.

– Se estivesse em casa, eu não teria a chance de estudar para ser médica. Todas as crianças têm direito à educa-ção, mesmo que sejam pobres.

No Peace Trust, Guna tem três refeições por dia, um bom lugar para dormir, sala de aula com professor, acesso à internet e apoio econômico de 300 rúpias (US$ 7,50) por mês.

– Eu sei que é normal sentir saudades do meu pai e dos meus irmãos, mas acho que eles gostariam que eu fosse feliz. É difícil permanecer tris-te quando se tem amigos com quem se divertir. Crianças devem estudar e brincar. Eu posso fazer essas coisas aqui na Peace Trust, e isso faz com que eu me sinta melhor agora.

Suganya vota por seus direitosSuganya, 13, vota. Ela perdeu seus pais, três irmãs e um irmão na tsunami.

– Eu gosto de ajudar com as tarefas domésticas na casa da minha tia e do meu tio. Sou grata por ter uma família, enquanto outras pessoas não têm. Meninas e meninos devem ser tratados com igualdade, e todas as crianças devem poder ir à escola. Eu faço parte do grupo de cadetes, National Cadet Corps, e quero ser policial. As meninas podem ser tão inteligentes e fortes quanto os meninos.”

– Sentir-se melhor requer tempo e um coração valente, diz Guna. Aquela onda terrível passou onde ela está sentada, ela nunca se esquecerá.

Guna estuda com seus amigos durante cerca de duas horas após a aula.

– Nem todas as crianças tem acesso à educação, então quero dar o melhor de mim.

Bonita para a Votação MundialMurugeshwari se enfeitou para a Votação Mundial...

...com uma marca (chamada bindi) na testa e...

...um belo adorno em volta do tornozelo.

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“O primeiro dia da Votação Mundial em nossa escola foi uma experiência única, que nos fez sentir como global citizens (cidadãos mundiais). As condições de vida sobre as quais aprendemos foram como um alerta para mim, como indiana. Nós, alunos, nos sentimos fortalecidos por poder participar e votar. Foi edifi cante conhecer as três candidatas e divulgar o conhe-

Nos tornoucidadãos mundiais

cimento sobre seu admirável trabalho. Eu supervisionei a votação! A organização de todo o processo e a votação do último dia desenvolveram

nossa capacidade de organi-zação e nos ensinaram a valorizar a democracia.” K.V. Pravallika, 13, Apeejay School, Mumbai, Índia

”Foi muito empolgante poder par-ticipar da Votação Mundial. Pela primeira vez, percebi que não pertenço apenas ao meu país, eu sou parte do mundo. Há tantas pessoas trabalhando silenciosa-mente pelos desfavorecidos, e nunca poderemos agradecer sufi cientemente por seus esfor-ços. O WCPRC permitiu que meu coração fosse tocado por meninos e meninas de minha ida-de que sofrem com a miséria e maus-tratos por parte dos ricos. Eu rezo do fundo do meu coração pelas candidatas ao WCPRC e seus esforços pelas crianças.” Mani Pandey, 13, City Montessori School

Faço parte do mundo

“A vida é como um sorvete, coma logo antes que derreta. Muitas opor-tunidades nos são dadas para que ajudemos a humanidade, mas nunca queremos fazê-lo. Pensamos sem-pre em nós mesmos e nos esquece-mos do sofrimento que existe no mundo. Hoje eu tive uma oportuni-dade de ouro e, pela primeira vez, consegui ajudar a humanidade. Todos nós somos pessoas e temos sentimentos que deveríamos com-partilhar com os outros.” Jasreman Singh, 15, B.C.M. Arya Model School, Ludhiana, Índia

Oportunidade de ouro paraajudar a humanidade

Mani é aluna da maior escola do mundo, a City Montessori School em Lucknow, Índia. Ela tem 31.000 alunos e participa da Votação Mundial todo ano.

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Os raps de Rollins para crianças de rua e a Votação MundialÉ o Dia da Votação Mundial na Migosi School, em Kisumu, Quênia. Rollins vai se apresentar e está nervoso. Não porque ele vai cantar um rap, mas por aquilo que as outras crianças podem dizer, quando ele contar na música que já morou na rua.

Quando Rollins vivia na rua, ele cheirava cola. Assim, ele esquecia o cansaço, a fome e a solidão.

Rollins e Felix se cumprimentam. Felix também já morou na rua, mas eles não eram amigos naquela época.

– Quando se vive na rua, não é possível ter amigos. Você só pensa em si mesmo, conta Rollins.

Mas agora eles são melhores amigos. Eles brincam todos os dias, se ajudam com os deveres de casa e as tarefas domésticas, como buscar água.

Oi amigo!

A morava com seus pais na capital do Quênia,

Nairóbi. Quando ele fecha os olhos, se lembra exatamente como era na época:

Quando o pai chega em casa, Rollins se cala. Ele sente o odor. Seu pai está bêbado. Em breve, ele vai fi car bravo,

gritar e espancar. Primeiro, ele espanca a mãe e, depois, os fi lhos. Rollins apanha mais porque é o mais velho. Antes a mãe sempre tentava proteger os fi lhos, mas agora ela tam-bém bate neles.

Na manhã seguinte, Rollins dá um longo abraço, repetidas vezes, em seus quatro irmãos menores, sem dizer nada. Ele veste suas melhores roupas e caminha até a estrada princi-pal. Ele se esconde em um caminhão que vai para Kisumu.

Está chovendo e ventando muito quando ele chega. Rollins está solitário, molha-do e com medo. Do lado de fora de um restaurante, ele

os dez anos, Rollins

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Rollins Okoth Onyango, 13

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Ama: Música.Detesta: Quando alguém me chama de criança de rua.Quer ser: Cantor de rap e músico.O pior que já lhe aconteceu: Quando fui atropelado por um carro, depois de cheirar cola.O melhor que já lhe aconte-ceu: Quando fui morar com o pastor Johnson.Sonho: Minha própria família.Ídolo: O cantor de rap queniano Nameless.

Os raps de Rollins para crianças de rua e a Votação Mundial

Festa da Votação Mundial Rollins e Felix se apresentam quando a Migosi Primary School e todos os seus 2.200 alunos celebram a Votação Mundial.

Rollins costumava passar a noite nessas galerias de esgoto.

encontra um pouco de mingau de maizena na lixeira. Ele cho-ra enquanto come.

–Mas eu não voltarei nunca mais. Não confi o nos adultos. Eles só sabem ameaçar, bater e enganar, pensa ele.

Membro da gangueNo dia seguinte, Rollins conhece três garotos que jogam cartas no gramado em frente um prédio de escritó-rios. Eles são as primeiras pes-soas que ele encontrou em Kisumu que se dirigem a ele sem gritar.

– Como você se chama, ami-go? Se quiser, você pode nos fazer companhia, disseram.

Eles permitiram que Rollins faça parte da gangue, que mora perto dos trilhos ferrovi-ários. No entanto, a vida na gangue não é fácil. Os meni-nos mais velhos o obrigam a conseguir comida, roubar e cumprir ordens. Caso contrá-rio, eles batem nele. Apenas um menino, Morris, se torna seu amigo.

– Você tem que ser forte

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para sobreviver, diz Morris. Você tem que aprender a revidar.

Então Rollins começa a bri-gar. Ele logo aprende a bater mais rápido e bater primeiro. Os outros meninos têm medo dele. É uma sensação boa, pensa Rollins.

Dorme nas galerias de esgotoÀ noite, Rollins dorme nas galerias de esgoto sob as ruas

de Kisumu. Lá, a polícia não consegue encontrá-lo. Todavia, o lugar cheira mal! É difícil dormir, e Rollins está sempre com fome.

Ele experimenta cheirar cola. Ele sente o peito queimar e acha que sua cabeça vai estourar como um balão. Ele não sente fome, medo e nem solidão quando está sob o efei-to da cola. Porém à noite, quando o efeito da cola passa

e a água da galeria ameaça invadir o lugar onde dorme, ele quer fugir de si mesmo.

Um dia, Rollins vê um gru-po de dança no principal par-que da cidade. Ele observa os meninos dançarem e cantarem rap. Eles estão ensaiando uma peça sobre crianças que vivem nas ruas.

– Também quero fazer isso, pensa Rollins. Eu também posso fazer isso!

Apesar de cambalear devido à cola, ele vai falar com eles. O líder do grupo, Johnson, pergunta se Rollins quer par-ticipar.

– Sim! – Eu vou te ajudar. Você vai

poder dançar, cantar e ir à escola. Porém, você tem que me prometer que vai parar de cheirar cola, diz Johnson.

O guarda- roupa de Rollins

Uniforme escolar.

Roupas para a apresentação e para ir à igreja. Continua na página 12

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Bracelete com as cores do Quênia.

Os colegas de Rollins fazem cartazes e urnas Votação Mundial da escola.

Roupas de brincar.

Rollins sempre joga futebol nos intervalos. A bola é feita de sacolas de plástico e elásticos de borracha.

As roupas que Rollins usava quando vivia na rua.

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Rollins com seu amigo Feliz e o pas-tor Johnson, em cuja casa ele está morando.

Rap sobre a dorRollins começa a ensaiar e logo ele sabe toda a letra da música

“Uchungu”, Dor. É essa músi-ca que ele vai apresentar em sua primeira Votação Mundial. Ela fala sobre a vida na rua, e como toda criança precisa de amor.

Desde que Rollins começou a cantar, ele mora com Johnson. Eles cozinham jun-tos, e toda manhã ele veste o uniforme escolar.

– Agora estou seguro e feliz. Minha vida não é mais uma luta, como era na rua, diz Rollins.

Todavia, muitas crianças e adultos encaram com despre-zo as crianças que vivem nas ruas. Por isso, Rollins está nervoso. O que as outras crianças dirão quando desco-brirem que ele viveu na rua?

Há mais de 2.200 alunos na escola de Rollins e leva muitas horas até que todos depositem seus votos para a Votação Mundial. Depois, a batida alcança os alto falantes e Rollins agarra o microfone com força. Quando ele termi-na, há uma explosão de aplau-sos...!

O rap de Rollins sobre a vida na ruaRollins apresenta um rap junto com um grupo musical, cujos membros todos já moraram na rua. Seu título é “Uchungu” – Dor. No site www.childrensworld.org você pode ouvir a canção na íntegra.

Uchungu (Dor)A vida é difícil, eu fui obrigado a morar na ruaAqui, não tenho comida, não tenho onde dormirAs doenças, querido, me deixam cada vez mais magroE elas estão me matandoSou sempre maltratado, onde quer que eu váEu não tenho lar, ninguém que me amePor favor, querido ouvinte, as crianças que vivem na ruaSão exatamente como você e elas merecem amor

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Rollins ama as rãsQuando vivia na rua, Rollins encontrava muitos animais. Ele gostava mais das rãs.

– As rãs eram minhas amigas. Eu costumava brincar com elas, conta Rollins.

Porém, ele não gostava das cobras, dos macacos e mosquitos. E nem dos hipopótamos, que apareciam subitamente quando ele se banhava no rio Victoria.

– Eles podem ser muito perigosos quando fi cam bravos!Nomes dos

animais em luo e em kiswahili

luo kiswahilihipopótamo rawo kibokoleão sibuor simbagirafa tiga tigamacaco onger nyanicrocodilo nyang mambacobra thuol nyokarã ogwal churamosquito suna mbu

Reuniões e futebol com o WCPRC

Qual é o seu nome em Luo?

Rollins é um menino da manhã. Seus amigos sabem disso por causa do sobrenome Onyango. O povo Luo batiza as crianças, de acordo com a hora do dia em que nasceram. Como você se chamaria? Menina MeninoDe manhã cedo (nascer do sol – 10h) Akinyi OkinyiManhã (10h–12h) Anyango OnyangoMeio do dia (12h–16h) Achieng OchiengTarde (16h – pôr do sol) Adhiambo OdhiamboNoite Atieno Otieno

Votação Mundial na Victoria School em Kisumu, Quênia.

“Eu era o principal responsá-vel pela Votação Mundial em minha escola. Mais de 300 alunos votaram. Eu adoro o WCPRC! É uma ocasião na qual os professores e outros adultos realmente escutam a nós, crianças. Aprendemos muito quando nós mesmos organizamos a Votação Mundial. Há algumas coisas que queremos fazer melhor para o ano que vem. Temos que informar alunos de outras escolas sobre o que é o WCPRC. Vamos levar a revista O Globo para os tor-neios de futebol que o time da escola participa. Também queremos promover reuni-ões só para crianças, onde podemos discutir nossos problemas e decidir sobre como os adultos podem nos ajudar.”Claude Oailo, 14, Quênia

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Prêmio das Crianças ajuda Felicia a falarDescobrir sobre os direitos das meninas, através do Prêmio das Crianças do Mundo e participar da Votação Mundial, ofereceu à Felicia a coragem para falar sobre algo muito, muito errado...

Quando jogo futebol, eu fico feliz. Isso me ajuda a relaxar. Mas depois os

outros sentimentos voltam imediatamente.

Meus pais morreram quan-do eu tinha cinco anos, e fui morar com alguns parentes. Minha tia me obrigava a tra-balhar em casa o dia todo e, à noite, eu não podia me sentar à mesa para jantar com a família. Se não sobrassem res-

WCPRC ajuda a entender meus direitos

“Eu moro com outras 36 crianças em uma casa para crianças órfãs. Eu cuido delas. Elas precisam de comida, uniformes escolares limpos e de alguém que as ajudem a tomar banho. Eu faço essas coisas porque as amo e porque elas precisam de mim. Porém, quando todas as tarefas estão cumpridas, não tenho energia para fazer o dever de casa. Às vezes penso em abandonar a escola para cuidar da casa. No entanto, quando estudamos com o WCPRC, entendi que ir à escola é um direito meu. Quero aprender mais, para poder ser professora. Assim, poderei ajudar ainda mais crianças órfãs como eu.”Regina Atieno, 15, Quênia

WCPRC ajuda os adultos a entenderem“Gostaria que tivéssemos exemplares sufi-cientes de O Globo para que todos pudes-sem levar uma revista para casa. Esse ano, recebi a tarefa de contar às outras crianças o que está na revista. Eu adoro ensinar aos meus amigos sobre os direitos da criança! Penso que o artigo 19 da Convenção dos Direitos da Criança é muito importante. Ele diz que as crianças têm direito à proteção contra todas as formas de violência. Muitas meninas no Quênia são vítimas de estupro. Eu conheço uma menina que não tem cora-gem de contar a ninguém que isso ocorreu com ela. Ela tem medo de que outras crian-ças e adultos digam que a culpa foi dela. É claro que não foi! Eu acho que o WCPRC e a Votação Mundial são uma boa oportunidade para nós, crianças, conver- sarmos sobre nossos direitos. Assim, os adul- tos podem entender o que precisam fazer para nos proteger.”Elisabeth Odhiambo, 13, Quênia

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Felicia, 15Mora: Em um lar para crianças órfãs em Kisumu, Quênia.Hobbies: Cantar, andar de bicicleta, jogar futebol.Ama: Quando meu time de futebol vence e ganha troféus.Detesta: Meu pai adotivo que abusa as meninas da casa.Sonho: Poder continuar na escola.O melhor: Os Direitos da Criança me fortalecem e me fazem ter coragem de contar o que acontece conosco.

Prêmio das Crianças ajuda Felicia a falartos, eu não ganhava nada para comer.

Portanto, eu fiquei muito feliz quando minha irmã me ajudou a sair de lá. Ela conse-guiu uma vaga na casa onde eu moro agora. Finalmente, eu podia entrar na escola.

Agora estou na sexta série e moro em um lar para crianças órfãs. Somos 19 meninas e meninos, que moramos com nosso pai adotivo e sua famí-lia. Aparentemente, está tudo bem, mas eu sinto medo quase o tempo todo.

Nosso pai adotivo obriga as meninas a irem para o seu quarto à noite. No início, não entendíamos o que acontecia, e as meninas mais velhas esta-vam envergonhadas demais para nos contar. Então, uma menina teve que ir para o hos-pital. Nosso pai adotivo disse

que era apendicite. Porém, isso já ocorreu quatro vezes, e agora eu sei que só se pode operar o apêndice uma vez. Desde então, esta situação se repetiu com outras meninas. Elas ficaram doentes e infeli-zes. Agora sabemos o motivo.

Tenho muito medo que minha vez esteja próxima, pois quase todas as meninas mais velhas se mudaram. Se eu me negar a ficar com ele, ele dirá que sou insolente e uma menina má. Ele vai me mandar embora. Mas eu não tenho para onde ir!

Não sei o que fazer. Todavia, conversar sobre os Direitos da Criança e sobre outras meninas que passam pelas mesmas experiências, tornou-me mais forte. Isso me ajudou a falar também. E a pedir ajuda.”

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WCPRC ajuda os adultos a entenderem

Tranças legaisA mãe de Felicia era cabeleireira, e Felicia se lembra como ela costuma-va trançar seu cabe-lo quando ela era pequena. Felicia adora belos pente-ados. Porém, seu pai adotivo acha desnecessário dedicar tempo à aparência, e a obri-gou a raspar a cabeça.

Muitas crianças no Quênia ficaram órfãs devido à AIDS. A amiga de Felicia, Nancy Hoko Ochieng, 11 anos, escreveu um poema sobre a AIDS. Leia o poema no site www.childrensworld.org.

O poema de Nancy sobre AIDS

Liz, 4: Alongamento.

Macreen, 13: Para trás com coroa.

Cynthia, 8: Preso com tira.Pose, 13: Estilo

gatinha.Lilian, 13: Estilo zigue-zague.

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Tornar o Dia da Votação Mundial feriado

Eu aprendi muito sobre os Direitos da Criança com a revista O Globo. Eu li

todas as páginas. Ela deve ser mastigada com cuidado, para ser absorvida e digeri-da. Eu a recomendo para crianças e adultos e quero elogiar o trabalho fantástico do WCPRC. Como eu gos-taria que nosso governo reconheces-

se a importância do WCPRC, onde as crianças têm a oportunidade de partici-par da Votação Mundial. Se eu fosse pre-sidente da Nigéria, eu promoveria o nome do WCPRC e determinaria a criação de um feriado nacional chamado, o Dia da Votação Mundial. Eu também ofereceria educação gratuita a todas as crianças. Quero ser advogado, para poder lutar pelos Direitos da Criança aqui na Nigéria”. Nasiru Suleiman, 14, Nigéria

Crianças votam contra a guerra no Congo

NIGÉRIA

As crianças do sul de Kivu, na República Democrática do Congo, partici-param pela primeira vez do WCPRC e da Votação Mundial. Diferentes grupos armados estão em guerra, e as crianças são duramente afetadas.

CONGO

Muitos pais violam os direitos

O WCPRC me ensinou que eu tenho direito à pro-teção, alimentação, educação e tempo livre. Eu

compartilho com outros sobre os Direitos da Criança. E informo que, em nossa escola, todo ano, nós vota-mos para decidir qual das pessoas que lutam pelas cri-anças, deve ganhar o prêmio das crianças. Muitas cri-anças são maltratadas e não recebem nenhuma ajuda. Elas se tornam mendigas ou fogem para as cidades, se tornando crianças de rua. Para mudar isso, temos que aprender sobre os Direitos das Crianças e respeitá-los desde a infância. Temos que ser capazes de respeitar as outras pessoas e viver em paz com elas. O WCPRC me ensinou sobre a democracia, sobre votar e chegar a uma decisão sem coação. Porém, como nosso país é tão pobre, muitos pais infringem aquilo que aprende-mos sobre os Direitos da Criança”. Lwabanya Acima, 17, Congo

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Crianças votam contra a guerra no Congo

NIGÉRIALê O Globo e a Bíblia

Na Nigéria, os Direitos da Criança não são respei-

tados, e o governo pouco faz para melhorar nossas vidas. Foi através da revista O Globo, que eu aprendi quais são os Direitos da Criança, e como as pessoas de outras partes do mundo, que gos-tam de crianças, usam seus recursos para melhorar a vida das crianças. Obrigado, WCPRC, por seu bom traba-lho. Se eu fosse presidente da Nigéria, acabaria com o analfabetismo infantil. A revis-ta O Globo é minha leitura preferida depois da Bíblia, e eu a leio todos os dias”.Richard Mosinamofan Olatise, 12, Nigéria

Eu faço parte da minoria Parkari, e quero lutar

pelos direitos das meninas do deserto de Thar. Os Direitos da Criança devem ser respei-tados com amor e atenção. Não devemos:• ser obrigadas a trabalhar duro.• ser tratadas de maneira infe-

rior porque pertencemos a uma minoria; nem sermos consideradas inferiores.

• ser menos valorizadas pela família só porque somos meninas.

• ter negado o nosso direito de opinar sobre problemas de família.

• ser obrigadas a nos casar cedo.Os adultos em meu país não

conhecem nossos direitos. Nem mesmo o governo sabe como os direitos da criança devem ser respeitados. As vio-lações mais comuns de nos-

Luta pelos direitos das meninas do deserto

PAQUISTÃO

sos direitos são: trabalho infantil, discriminação, violência e abuso, carência de educação e de res-peito por parte da sociedade, o que resulta em pobreza e falta de justiça. O WCPRC nos ensinou a importância do voto secreto. Pali d/o Vermo, 14, Paquistão

Temos que dar um fim à guerra O WCPRC me ensinou que as crianças não

podem ser obrigadas a serem soldados, nem a participarem da guerra de nenhum outro modo. Quero aprender mais sobre os Direitos

da Criança através do WCPRC. Muitos abusos contra as crianças são cometi-dos aqui. Elas são punidas fisicamente pelos professores e pelos pais. Crianças são estupradas pelos solda-dos, e obrigadas a se tornarem sol-dados. Os filhos de pais pobres têm

que trabalhar e não podem ir à escola. Às vezes, crianças são acusadas de bruxaria e apedreja-das, mesmo que as acusações não sejam verdadeiras. Temos que mudar todas as coisas ruins resultantes da guerra. Eu aprendi que em uma democracia todos são livres para votar e, assim, mudar o que não vai bem no país”. Sylvie Sifa, 16, Congo

Ensine a seus pais sobre os seus direitos No Congo, os pais precisam aprender sobre

os Direitos da Criança. Eu aprendi através do WCPRC. Não deveríamos ser privados de ir à escola porque somos obrigados a trabalhar. A revista do prêmio é a única publicação que trata dos Direitos da Criança na biblioteca de nossa escola. Somente crianças com menos de 18 anos têm direito de votar no WCPRC. Isso faz com que os adultos percebam que as crianças também podem organizar uma eleição e ter opinião própria sobre o que acontece no mundo. Todos os Direitos da Criança devem ser respeitados, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos países ricos. Se eu fosse presidente, eu lutaria pelos Direitos da Criança e os direitos de todas as pessoas”. Ibucwa Mimano, 14, Congo

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A passeata infantil pelos direitos da criançaNo dia da Votação Mundial dos alunos da escola São Jorge, de Belterra, na Amazônia, Brasil, as crianças fi zeram uma passeata pelos direitos da criança.

– É a primeira vez que temos uma manifestação pelos direitos da criança aqui. Muitos adultos assisti-ram da janela. Algumas crianças abandonam a escola para trabalhar nas plantações de milho, e as meninas trabalham em casa, diz Nairkile da Silva Coutinho, 14 anos. Seu boné mostrava o texto “Quero liberdade” durante a manifestação.

BRASIL

Não dá tempo de brincar“Todos os dias eu levanto às cinco da manhã, mas, mesmo assim, sempre chego atrasada na escola. Antes de sair, tenho que dar banho nos meus três primos e lhes servir o café da manhã. À tarde, eu limpo a casa e preparo o jantar. A mãe dos meus primos trabalha na cidade, então eu cuido sozinha de tudo em casa. Eu trabalhava ainda mais duro quando morei com meu pai, durante 2 anos. Minha madrasta me maltratava e me obrigava a trabalhar duro. Eu tinha apenas dez anos. Porém, às vezes fi cava a semana toda sem ir à escola. Ter infância é ter tempo para brincar e aprender. Todavia, nem todas as crianças têm tempo de brincar.”Raimunda Nerli Lima dos Santos, 13, Escola Boa Ventura Queiroz, Brasil

Raimunda vota na Votação Mundial.

Everlane Queiroz, 12, foi uma das rainhas dos direitos da criança na escola de Raimunda. As rainhas conduziram um debate sobre a desigualdade no respeito aos direitos dos meninos e das meninas. Depois que terminaram de trabalhar com a revista o Globo, Everlane a reciclou, fazendo sua roupa de rainha!

A rainha dos direitos da criança vestida com a revista O Globo

“Direito à proteção”.

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As crianças apanham“Aqui, as crianças são punidas severamente, tanto na família quanto fora dela. As pessoas usam as mãos, chinelos, cipós, cintos e chicotes para bater nas crianças. Acho isso errado e não vejo nenhum motivo para bater assim nas crianças”.Gerlane Brito Rêgo, 14, mesária na Votação Mundial da escola São Jorge, em Tapará, Brasil

As crianças apanham de...chinelos

cipó

chicote

Os pais também apanharam“A violência na escola começa na família. Para corrigir isso, seria preciso ensinar aos pais sobre violência e como devem tratar seus fi lhos. Parte dos pais batem em seus fi lhos porque também apanharam quando eram crianças. Os pais também deveriam vir à escola com mais freqüência, e se importar mais com a educação dos fi lhos”.Bruno Natanael Mota de Almeida, 14, presidente da Votação Mundial da escola São Jorge, em Tapará, Brasil

“Um projeto genial – o melhor do mundo!”“Eu esperei impacientemente por dois anos até a minha escola participar. Agora, eu divido minha vida em duas fases: antes e depois do Prêmio das Crianças do Mundo. Antes do WCPRC, eu não sabia que tinha tantos direitos. Eu achava que direitos eram só conversa, não sabia que eu mesma podia fazer algo para que eles fossem respeita-dos. Foi muito empolgante trabalhar com o WCPRC, e todos os meus colegas a partir da quinta séria participa-ram ativamente do processo. Nós fi zemos pesquisas entre as crianças. Espero que o WCPRC continue a crescer. Esse é um projeto genial, o melhor do mundo!” Iliana Padilla, 16, Cartagena, Colômbia

COLÔMBIA

Mil votantes de 90 paísesA escola United World College, do Sudeste da Ásia, tem alunos de 90 países. Existem doze escolas UWC no mun-do e a UWC dos EUA também participou da Votação Mundial. Fredrika Wessman conta como conseguiu fazer sua escola se tornar uma Amiga Mundial.

“Senti que isso era algo que nossa escola não podia per-der. Chamei um amigo, e nós contamos a um professor sobre essa mobilização incrí-vel, que é uma das maiores redes de contato entre crian-ças do mundo. O professor nos mandou falar com

outras pessoas, e cada vez mais gente conheceu o Prêmio das Crianças do Mundo. Uma série inteira, 300 alunos, con-feccionou urnas eleitorais e cartazes. Como nossa escola é internacional, tivemos a sorte de ter alunos dos três países das candidatas ao prêmio. Esses alunos apresentaram danças tradicionais de seus países. No total, 1.009 alunos votaram, e a receptividade dos alunos foi impressionante. Estou muito orgulhosa de ter participado e trazido o WCPRC para a minha escola”.Fredrika Wessman, 15, Singapura e Suécia

SINGAPURA

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Enfi m, é hora da Votação Mundial

As meninas da escola Mmofraturo Primary School em Kumasi, Gana, espe-raram um longo tem-po para depositarem seus votos na urna. Hoje, fi nalmente, é o dia da Votação Mundial!

A Votação Mundial é motivo de orgulho

“Ao participar da Votação Mundial, eu aprendi como se vota. Agora posso

ensinar isso aos meus irmãos, quando visitá-los

em sua escola. O WCPRC é uma plataforma aberta onde nós, crianças, podemos expressar nossas idéias e sentimentos livremente. Estou orgulhosa por fazer parte da Votação Mundial. Isso é realmente algo de que posso me gabar!”Judith Usei Appiah, 14

WCPRC contra os castigos físicos“Eu detesto apanhar do professor. Isso vai contra os Direitos da Criança. Porém, em Gana, os professores o fazem mesmo assim. Por isso, é bom trabalhar com o WCPRC. Ele oferece aos alunos a chance de protestar con-tra os castigos físicos em sala de aula, sem que os profes-sores se zanguem”. Sheila Abu-Poku, 14

BEM-VINDOS AO...

Contagem dos votos.

As leis nos protegem“Através do trabalho com o WCPRC, eu aprendi que há leis em Gana que protegem todas as crianças. Ninguém pode tirar esses direitos de uma criança.

Se meus pais dissessem que

eu não poderia continuar meus estudos, eu iria à polícia!”

Bernice Adom, 14A longa fi la para votar.

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Na escola para surdos Ashanti School for the Deaf há mais de 300

crianças com problemas de audição ou surdas. Muitas delas foram maltratadas por causa de suas defi ciências. Elas lêem a revista O Globo e participam da Votação Mundial.

As discussões em sala de aula são acaloradas, apesar de não ser possível ouvi-las. Os alunos leram a revista O Globo e agora contam suas

Enfi m, é hora da Votação Mundialpróprias histórias uns para os outros.

– Meu pai não me ama. Pelo menos, não tanto quanto ama meus irmãos que ouvem, diz Betty Agyapong, 17 anos.

– Ele dá mais ouvidos a eles do que a mim. Às vezes, ele se comporta como se eu não existisse. Eu nunca ganho nenhum abraço. Por isso, estou quase sempre triste. Quem irá se importar comigo, se nem mesmo minha família se importa? Eu tenho o direito de ser amada, assim como meus irmãos! Esse é um direito de todas as crianças!

Os outros alunos da classe aplaudem na lin-guagem dos sinais, chaco-alhando as mãos para cima.

Os mesmos direitos“Quando eu morava com meus pais, eles achavam que eu era frágil só porque sou surdo. Eu não podia jogar futebol e nem brincar com outras crianças. Não tinha permissão para ir fazer compras e nem para aprender a andar de bicicleta. Porém, agora freqüento a escola junto com outras crian-ças surdas, e aqui podemos experimentar de tudo! Eu real-mente tenho os mesmo direitos que todas as outras crianças.

No futuro, eu quero ser chefe de cozinha.”Abudulai Mohammed, 17, Jamasi, Ghana

A revista discutida na língua de sinais

Mais sobre Gana na página 22.

Betty Agyapong, 17

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Viva o WCPRC!“Uau! A melhor coisa que já me aconteceu foi ter o direito de votar, não para presidente, mas para aqueles que respeitam nossos direitos. A partir desse dia, eu aprendi que tenho direi-tos que não podem ser viola-dos, como o de ir à escola e o direito de ter minha voz ouvida. WCPRC, como posso te agra-decer? Eu escrevi meu apreço no caminho; a chuva o apagou. Escrevi no quadro negro; o apa-gador o apagou. No fi m, o escrevi em meu coração; e ali ele permanece”.Esther Akosua Nyamekye, 12, Tarkwa, Gana

O clube de Daniel pelos direitos da criança“Eu não conheço minha mãe, mas dizem que ela mora na Costa do Marfi m. Meu pai mora na Suíça. Aqui em Gana, é comum as crianças serem espancadas. O WCPRC é um programa fantástico que nos permite conhecer os direitos das crianças e exigir que eles sejam respeitados se estiver-mos em risco de sofrer abuso.Quando li a revista do WCPRC, O Globo, tive a idéia de começar um clube pelos direitos da criança. Agora temos um desses clubes em nossa escola, chamado Clube dos Direitos da Criança. Quero que o clube promova o amor e o respeito às crianças”.Daniel Olsson Boadu, 14, Accra, Gana

– É importante aprender sobre condições de vida diferentes, principalmente aqui. Estamos isolados de muitas coisas e vivemos em uma espécie de bolha, uma bolha em Solana Beach, diz Isabelle Vianu, 12, no dia da Votação Mundial na escola Skyline, na Califórnia, EUA.

Posso mudar as vidas de milhares“Se você não vota, você não

faz diferença. Muitas crianças não têm

a chance de votar. É um verdadeiro privilégio ter a experiência

da democra-cia. O Prêmio

das Crianças do Mundo realmente infl uencia o mun-do onde vivemos, ao cons-cientizar crianças de todo o mundo sobre nossos direi-tos e abrir os olhos dos adultos que antes violavam os direitos da criança. Crianças como eu, cujos direitos não são violados, devem ser alertadas sobre as terríveis condições em que tantas crianças vivem, no mundo todo. Fiquei chocado ao descobrir que há milhares de crianças escravizadas e obrigadas a serem soldados na guerra. Através de minha experiência com o WCPRC, aprendi como uma pessoa engajada, como os candidatos ao prêmio, pode mudar as vidas de dezenas de milha-res de crianças. Espero que cada vez mais pessoas aprendam sobre os direitos da criança”.Drew Carlson, 11, EUA

Quero proteger nossos direitos“Minha experiência com o Prêmio das Crianças do Mundo me encheu de admira-ção e me inspirou através do engajamento, do trabalho duro e dos anos de dedicação dos premiados. Meu modo de pen-sar evoluiu com todas as coi-sas que aprendi sobre os direitos da criança. Eu poderia ser considerado mimado em comparação com muitas crianças. Quando aprendi sobre o Prêmio das Crianças do Mundo e os direitos da criança, meus olhos se abri-ram para todos os abusos que tantas crianças têm que suportar em todo o mundo. Nosso mundo deve ser um lugar onde as crianças tenham segurança e um bom futuro. Minha experiência com o WCPRC me modifi cou. Agora que tenho consciência dos direitos da direitos da criança, vou protestar contra os maus tratos a que as crianças são submetidas e serei um defen-sor daquilo que é certo. Começo pela minha comuni-dade, mas também apoiarei ações globais no sentido de tornar o mundo um lugar melhor para todas as crianças”. Tommy Rutten, 11, EUA

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– É importante aprender sobre condições de vida diferentes, principalmente aqui. Estamos isolados de muitas coisas e vivemos em uma espécie de bolha, uma bolha em Solana Beach, diz Isabelle Vianu, 12, no dia da Votação Mundial na escola Skyline, na Califórnia, EUA.

UAU para o Prêmio das Crianças do Mundo

“UAU!!! Isso é tudo que posso dizer sobre o Prêmio Das Crianças do Mundo. Para crian-ças como eu, é fácil achar que muitas coisas são corriqueiras. Isso inclui os direitos da criança. Tenho acesso à educação e tra-tamento de saúde, tenho pais que me amam e um ambiente seguro onde crescer. Toda criança não deve ter isso? Minha classe aprendeu muito sobre os direitos da criança e sobre pessoas que protegem as crianças e defendem seus direi-tos. Nossa escola teve uma reu-nião na qual informamos os pais sobre o prêmio. Os resultados da nossa votação foram soma-dos aos votos de crianças de todo o mundo, que erguem suas vozes pelos direitos da criança. Sinto-me como uma pequenina estrela que ilumina o céu à noite. Quero que as pessoas se lem-brem de mim por algo importan-te, como ajudar milhões de crianças que sofrem esses tipos de abusos. Não sei porque tra-tamos nossas gerações futuras de modo tão terrível! Talvez os adultos tenham sido tratados assim quando eram crianças. Se eles sabem o quanto dói, por que agem assim? Tratem as crianças com respeito!” Breezy Bower, 12, EUA

Dia da Votação Mundial na escola Domino Servite, em KwaZulu-Natal, África do Sul.

Construímos nosso mundo“Hoje foi um grande dia, quando todas as crianças do mundo tiveram a chance de se lembrar, mais uma vez, de que elas são a luz e os líderes da nova geração. Como crian-ças, construímos nosso pró-prio mundo com nossas pala-vras. Para continuarmos tendo algo a dizer, temos que mostrar nossas opiniões atra-vés do voto, cada um de nós”. Gcinile Mhlongo, 16

Nos ajuda a entender a palavra democracia“Esta experiência foi muito boa para o nosso próprio futuro. Aprendemos como votar da maneira correta e como uma votação é organizada. As experi-ências desta votação dão a cada criança a possibilidade de dizer sua opinião e conquistar auto-confiança. Ela nos ajuda a enten-der melhor a palavra democracia. Estamos ansiosos por muitas outras votações no futuro”. Nydia Stegen, 16

Meu voto pode mudar as coisas“Eu posso não subir ao plenário do parlamento para dizer o que eu quero e acredito. Porém, através do voto, posso mudar muitas coisas. Meu voto dá o meu recado. Essa votação se baseia na compaixão e no sonho de que, um dia, você possa fazer diferença. Eu sou uma criança com uma boa vida em muitos sentidos. Tenho um lar, uma boa escola e alimentação três vezes ao dia. No entan-to, em cada canto do mundo, existe uma criança que não tem nem mesmo alguém que lhe dê um sorriso, que lhe faça ter espe-rança no futuro. Nós podemos votar pelo sorriso dessa criança”.Nomagugu Chonco, 17

Nos ensina as coisas pelas quais devemos lutar“Milhões de crianças em todo o mundo não têm nada a dizer sobre seus direitos. Por isso, meu voto na Votação Mundial é muito impor-tante. Esse é um voto por mim mesma e por todas as crianças que não podem votar. Com a participação na votação, descobrimos que há pessoas que se importam com os direitos da criança. Esta é uma ótima experiência, que nos ajuda a saber quais são as coisas pelas quais vale a pena lutar”. Mary Tselane, 16

Mais sobre a escola Domino Servite

na página 27.

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Carroça de burro para a Votação Mundial Você está acordada?, grita

Simon Kekana, 15 anos, do jardim. Ele está sentado em sua carroça, que é puxada por três burros. Johanna Molefe, 14 anos, beija o rosto da avó e sobe

na carroça. Simon puxa as rédeas para fazer os burros

andarem rápido. Porém, Johanna acha que eles devem ir mais devagar para que todos possam ver a bandeirola atrás da carroça. É o logotipo do WCPRC pintado em rosa por Johanna e seus amigos.

Há fi la o tempo todo para a cabine de votação.

É a votação do WCPRC na vila de Robega, na Província North West,

na África do Sul. É a primeira vez que a escola da vila parti-cipa, e Johanna quer que tudo esteja perfeito. Eles prepara-ram a votação por semanas.

– Quando as escolas das vilas vizinhas ouviram sobre nossa votação, também quise-ram participar. Agora, são seis

escolas, conta Johanna, que mora com a avó desde que seus pais morreram de AIDS.

Muitos adultos, como o pastor, o diretor e a mãe da rainha, perguntaram se podem vir assistir. Thabiso Maetle, 12 anos, o presidente da votação, está um pouco nervoso.

– Eu nunca falei num desses antes, diz ele sobre o microfone.

– Fale normalmente, não grite, diz Johanna, encarrega-da de organizar as cédulas eleitorais.

Quando as meninas discu-tem sobre onde a urna e as

cédulas devem fi car, Johanna tapa os ouvidos com as mãos. Ela não agüenta mais ouvir. Começou a ventar e, no hori-zonte, as nuvens se amonto-am. A terra vermelha forma redemoinhos e as cédulas qua-se saem voando. Só falta cho-ver, logo hoje! Normalmente, o sol brilha quase sempre em Robega.

Os ônibus das outras esco-las chegam. Está tudo pronto. Gabatshwane Gumede, a menina sul-africana que é membro do júri do WCPRC, abre a Votação Mundial falando sobre a importância

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Carroça de burro para a Votação Mundial

– Levou dois dias para confec-cioná-los, diz Antone Mhavane, 14 anos, tirando os chocalhos que estavam em volta dos seus tornozelos. São feitos de garra-fas plásticas de leite e pequenos cristais. A corda foi feita com plantas secas de milho. Antone e seu amigo Khumo dançam uma tradicional dança africana, antes do início da Votação Mundial, e sapateiam com tanta força que os sinos soam.

– É para que ouçam bem lá no fundo, debaixo da terra. É nos-sa forma de contar a nossos ancestrais que estamos votando hoje. Nós fazemos isso em oca-siões solenes, como casamentos e sepultamentos, quando quere-mos compartilhar até com os mortos.

Apesar de amarem sua dança e música tradicio-nais, Antone e Khumo também ouvem outras músicas. Principalmente house, hip-hop e R&B.

Johanna e seus amigos são responsáveis pelas urnas.

Todos os que votam ganham uma fruta.

Dança para os ancestrais na Votação Mundial

das crianças saberem que têm direitos. Um grupo de dança se apresenta, e a mãe da rai-nha cuidou para que todos aqueles que votarem recebam uma fruta. Tudo está perfei-to, como Johanna havia ima-ginado.

Sente falta da escolaSimon se senta sozinho com seus burros do outro lado do pátio da escola. Na verdade, ele não deveria cuidar de asnos, mas sim freqüentar a nona série. Há dois anos,

quando ele acabara de iniciar a sétima série, seus pais mor-reram. Primeiro seu pai e, depois, sua mãe. Simon ten-tou prosseguir com uma vida normal por um tempo. Bons vizinhos partilhavam a comi-da com ele, mas logo não foi mais possível.

– Eu não tinha condições de comprar um uniforme escolar novo quando o outro fi cou pequeno, diz Simon, explicando que não é permi-

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tido ir à escola sem uniforme. Então ele arrumou um

emprego como condutor de burros. Ele cuida de 15 burrose transporta todos que preci-sam. Mas, normalmente, usa a carroça para carregar areia da beira do rio, que é usada com cimento. Ele gosta de dar carona para seus amigos até a escola. Assim, ele fi ca sabendo das novidades. Ao mesmo tempo, ele não consegue evitar a tristeza.

– Toda vez que venho a escola, começo a pensar em tudo que aconteceu e no quanto gostaria de continu-ar estudando. Quase todos os dias, eu fi co preocupado, pensando que nunca mais terei a chance de terminar o ensino médio.

“Será uma longa batalha”

Se algum dia você se encontrar na vila de

Robega, não é improvável que acorde ouvindo sons terríveis logo após a meia-noite. Porém, esses não são fantas-

mas comuns, e sim um bando de fantasmas de quatro per-nas, marrom acinzentados, que surgem das empoeiradas estradas de cascalhos.

– São os asnos. Há vinte anos, havia muitos burros aqui em Robega, mas todos eles foram mortos, conta Johanna.

Durante o apartheid, quan-do a população negra da África do Sul era maltratada,

um ditador governava a vila de Johanna. Ele não era popular e os moradores da vila costuma-vam cantar uma canção que dizia que ele era mais limitado do que um burro. Quando o ditador, Lucas Mangope, ouviu falar da canção, ele fi cou com tanta raiva que ordenou que matassem todos os bur-ros. A polícia recebeu a tarefa de exterminar todos os burros. Mangope não queria nunca mais ver um burro, para jamais se lembrar da canção ofensiva.

– Havia burros mortos por toda parte. As pessoas não conseguiam nem enterrar todos. Eles fi caram apodre-cendo nas estradas, conta Johanna. Por isso, se você ouvir algo que soa como um distante e triste zurro na noite, não tenha medo. São apenas os pobres burros de Robega assombrando.

– This is for the nation! Isso é pelo meu país, diz Richard Mhlungu,13 anos, e levanta um punho cerrado. Esse é um gesto que signifi ca “poder para o povo”, que foi usado por Nelson Mandela quando ele lutava pela liberdade.

– O problema é que os adul-tos nunca têm tempo para nós quando realmente importa. Eu não acho que eles se importam sobre como as crianças se sentem em seus corações. Quando uma crian-ça está sofrendo, os adultos

Chegando à escola com a bandeirola da Votação Mundial, confeccionada por Johanna e seus amigos, pendurada na carroça de burro.

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“Será uma longa batalha”

simplesmente encolhem os ombros e dizem que essa criança não tem jeito. Na ver-dade, eu me pergunto por que os adultos têm filhos. Eu sonho com o dia em que os direitos das crianças realmen-te serão respeitados, diz Richard.

– O WCPRC e a Votação Mundial tratam dos Direitos da Criança e aqui ainda há muito a ser feito. Se um menino che-ga em casa e diz para seus pais que ele realmente tem direitos. Ele pode apanhar só por causa disso, pois eles acham que ele está sendo rebelde.

Foi por isso que Richard ergueu o punho quando votou, porque os problemas das crianças são inúmeros. Ele diz:

– Esta será uma longa batalha.

Mais sobre a escola Domino Servite na página 23.

“Por que meu voto é impor-tante? Ao votar, você é ativo, e votar na eleição do WCPRC significa que eu faço a dife-rença. Hoje, a votação me deu uma sensação de orgu-lho. Quando depositei meu voto na urna, senti que esta-va cooperando com o mundo todo. Especialmente com aqueles cujo amor e engaja-mento fazem com que se importem com todas as pes-soas que têm seus direitos negados”. Sifiso Ngema, 16

Eu e o mundo cooperamos

Meu voto é de gratidão

“Votar é importante na vida de todas as pessoas. Para mim, essa votação foi um reflexo do que sou no meu interior e do que considero correto. Isso faz minha voz ser ouvida. Me faz pensar sobre o mundo onde eu vivo e como quero que ele seja.A Votação Mundial nos ensi-na os fundamentos de uma eleição e nos conscientiza sobre o que as pessoas boas fazem. Ela nos dá espe-rança e mostra que existem pessoas que trabalham com o mesmo objetivo, tornar o mundo melhor. Alguém está fazendo algo para corrigir o que há de errado no mundo atualmente”.Eric Hailstones, 17

Tornar o mundo melhor

“Todos nós estávamos entu-siasmados por saber que votaríamos hoje! Essa elei-ção é mais do que apenas alguns momentos ao ar livre. Aprendemos a importância da democracia, onde todos podem votar em quem que-remos. Neste caso, todas as crianças do mundo podem votar, o que nos faz sentir como uma única grande família, como se todos fos-sem do mesmo país. Ela nos prepara para votar no futuro, quando tivermos idade sufi-ciente para participar das eleições em nosso país. Exceto pelo fato de ter que ficar com o dedo pintado durante o resto do dia, devo dizer que realmente gostei da votação”.Tabita van Eeden, 16

Uma única grande família

“Se conheço alguém que dedicou a vida a ajudar os outros e que realmente faz isso com dedicação e amor ao próximo, por que não demonstrar minha gratidão por seu sacrifício? Para mim, votar é mais do que simplesmente marcar na cédu-la de votação. Outros votaram para que eu tenha liberdade. Votar é uma forma de retribuir as boas ações dos candidatos e seu auxílio a todos aqueles que tanto necessitam”.Nontokozo Buthelezi, 17

Contagem dos votos na escola Domino Servite.

Continuação da pág. 23

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A Terra esquenta

A terra está esquentando como conseqüência do comportamento da humanidade; isso é uma grande ameaça para todos nós. O que

você acha que devemos fazer? Use o formulá-rio do site www.childrenworld.org, escreva

um e-mail para [email protected] ou envie uma carta. Camisetas

do prêmio e CDs de Gaba, membro do júri, serão sorteados entre aqueles

que responderem.

Páginas 28–41 O que você acha?

Groenlândia Ilulissat

Bangladesh

Anja, na Groenlândia, e Rebeka, a nova membro do júri, em Bangladesh, já percebem as conseqüên-cias do aquecimento global, também chamado de efeito estufa.

O mais alto icebergue onde Anja mora tem, atual-mente, cerca de 80 metros de altura. Dez anos atrás, havia muitos icebergs com mais de 100 metros de altu-ra. As glaciares da Groen-lândia estão derretendo.

Caso a emissão dos cha-mados gases estufa se man-tenha no ritmo atual, o aque-cimento global continuará aumentando. O resultado pode ser uma elevação na temperatura da Terra entre dois e seis graus. Cada grau a mais traz graves conse qüên cias para seres humanos, animais e o meio ambiente.

Quando as densas cama-das de gelo da Groenlândia e do Pólo Sul derretem, o nível do mar pode subir vários metros, podendo chegar a seis ou sete metros. Se isso ocorrer, as cidades e áreas de países situados em baixas altitudes serão sub-mersas. Bangladesh é um desses países. Várias ilhas serão completamente destruídas. Em outras regiões, haverá secas mais severas e mais desertos.

Montanha de gelo No mar perto de Ilulissat há muitos icebergues. O mais alto tem cerca de 80 metros. Todavia, dez anos atrás muitos tinham mais de 100 metros de altura. O gelo está derretendo. Aproximadamente 90% das montanhas estão abaixo da superfície da água. Os pequenos iceber-gues fl utuam na água, enquanto os maiores estão fi xos no fundo.

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Anja

Anja Kristensen, 13

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conduz o trenó de cães

Anja é aluna da escola Amiga Mundial, Atuarfi k Jørgen Brønlund, em Ilulissat, na Groenlândia. Esse ano, ela participará da Votação Mundial pela primeira vez.

Anja, que gosta de conduzir o tre-nó de cães e de jogar futebol, está preocupada com o derretimento do gelo.

– Se o clima esquentar, os cães não serão mais tão importantes quanto agora, e os caçadores e pes-cadores terão difi culdades, diz Anja.

O veículo mais importanteO trenó de cães é o veículo mais importante da Groenlândia. Onde Anja mora, há 4.500 pessoas e 4.000 puxadores de trenó.

Mora: Em Ilulissat, na Groenlândia, que é parte da Dinamarca.Gosta de: Conduzir o trenó de cães e de jogar futebol e handebol.Cão favorito: Uiloq.Preocupação: Que os ice-bergues e as glaciares derretam.Prato preferido: Gordura de baleia seca, bolinho de canela.

Quando Anja alimenta os 23 cães da família, que vivem livres do lado de

fora, há um cão que ganha mais abraços.

– Uiloq é o meu favorito des-de quando ele era um fi lhote, conta Anja.

– Eu adoro conduzir o trenó de cães. Meu pai é o campeão de condução de trenós da Groenlândia, portanto tenho um bom instrutor. Eu amarro seis cães ao trenó, quando conduzo. É difícil fazer os cães obedecerem. Meu pai conduz o trenó com 12-15 cães.

Enquanto são fi lhotes, os

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cães podem fi car dentro de casa, mas quando estão com sete ou oito meses, se mudam para fora. Todos os cães da família têm nome, e é Anja que os batiza.

– O nome depende da apa-rência ou da personalidade do cão. Um cão branco pode ser batizado como Nanoq, que signifi ca urso polar, diz Anja.

Não é comum ver ursos polares por aqui, porém exis-tem alguns mais ao norte da Groenlândia. Ilulissat fi ca 250 km ao norte do círculo polar. Aqui vivem 4.500 pessoas e 4.000 cães. Os cães são usa-

dos somente para puxar tre-nós.

A maioria das famílias em Ilulissat vive da pesca e da caça. Os homens saem de trenó pelo gelo para pescar e caçar. Nessas ocasiões, eles fi cam fora uns dois dias e passam a noite em barracas no gelo.

O gelo está derretendo– Os adultos falam muito sobre o clima e o aquecimento global. Na TV sempre há notí-cias sobre o clima. Eu gostaria de saber mais sobre quanto das geleiras da Groenlândia derretem, por exemplo, em

Futebol na neveAnja e suas amigas gos-tam de jogar futebol. Elas não se incomodam com a neve no chão.

Sinal para os trenós de cãesA placa alerta sobre o cruza-mento de trenós de cães.

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Quente na neveAnja nunca precisa sentir os pés congelando. Gordura de baleia e

rolos de canela Anja gosta de Matak, uma iguaria groenlandêsa. É gordura seca de baleia, de preferência, de uma baleia branca. A família de Anja também gosta de rolinhos de canela.

Seu quartoA família de Anja mora em uma casa geminada. Anja e seu irmão mais velho têm seus próprios quartos.

uma semana. Também quero morar na Groenlândia quan-do eu crescer. A melhor coisa na Groenlândia são os trenós de cães. Se o clima esquentar, será mais difícil conduzir o trenó de cães e também para os caçadores, diz Anja.

Todos os 18 alunos da classe de Anja têm o groenlandês como língua materna. A esco-la fi ca em uma colina que, na maior parte do tempo, está coberta de neve. Em torno do teto da escola, há gotas d’água congeladas.

Na quarta série, as crianças groenlandesas começam a aprender inglês e dinamar-quês. A Groenlândia já foi uma colônia dinamarquesa. Atualmente, a enorme ilha ainda é parcialmente governa-da pela Dinamarca. A

– Nós mantemos contato pela internet. Temos um com-putador em casa, e na escola há muitos.

Anja joga futebol e hande-bol.

– Às vezes, jogamos futebol na neve, no pátio da escola. Eu treino futebol três vezes por semana, e handebol quase com a mesma freqüência. Aos domingos, treino futebol de manhã e handebol à noite.

Groenlândia tem 56.000 habi-tantes. Um quinto deles são dinamarqueses.

– Matemática é a minha dis-ciplina favorita. Também gos-to de pintar trenós de cães e o modo de vida tradicional das pessoas aqui na Groenlândia. Eu pinto muitos icebergues, focas e baleias.

– Nosso currículo inclui “desenvolvimento pessoal” toda semana. Nessas aulas, conversamos sobre coisas que achamos importantes, por exemplo, como devemos agir uns com os outros, explica Anja.

Joga futebolA melhor amiga de Anja é sua prima Camilla. Elas sempre passaram muito tempo juntas, mas agora Camilla mora lon-ge, na capital da Groenlândia, Nuuk.

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De quantos globos você precisa?Todo ser humano deixa marcas no mundo. Quanto mais recursos uma pessoa usa, e quanto mais resíduos produz, maior é o impacto sobre o meio ambiente. O impacto que cada pessoa exerce sobre o planeta é chamado de pegada ecológica.

Para o estilo de vida da maioria das pessoas da Terra, um globo terrestre seria sufi ciente. Porém, o padrão de vida do cidadão médio dos EUA, requer 5,5 globos, e, do cidadão médio da UE, 3 globos. Quanto maior o número de globos, maior é a infl uência do seu estilo de vida sobre o aquecimento global e a mudança climática.

L é gasto, consumido e eli-minado como dejeto,

muitos acreditam que seria necessário 1,25 globo terres-tre para sustentar os padrões atuais de consumo mundial.

Pegadas ecológicasUma pegada ecológica é a marca ou ferida que cada ser humano deixa na superfície da terra. O tamanho da sua pegada ecológica depende da quantidade de solo necessária para produzir aquilo que você consome. Isto é solo para o cultivo de alimentos, para pastagem, água para os pei-xes, fl orestas, áreas destinadas à moradia e trabalho, metais, energia, lixo, etc. Depois,

compara-se a sua pegada com a quantidade de solo e recursos disponíveis existentes em nos-so planeta. Dessa forma, você pode calcular quantos planetas seriam necessários, se todas as pessoas vivessem segundo seus padrões de consumo.

Por exemplo, usa-se metal e plástico nos carros, ônibus e aviões. Esses veículos preci-sam de óleo e gasolina como combustíveis.

Quanto mais papel, máqui-nas, alimentos, roupas, via-gens, etc você usa, maior é sua pegada ecológica. Entretanto, sua pegada reduz, se a produ-ção das coisas e da energia que você consome forem adapta-das ao que a natureza pode prover e abastecer. Nossas

pegadas seriam muito meno-res se o transporte por meio de carros, ônibus e aviões não precisasse dos chamados com-bustíveis fósseis, como gasoli-na e óleo diesel. Os legumes, arroz, grãos e frutas cultiva-dos perto do local onde você vive resultam em uma pegada menor, do aqueles cultivados do outro lado do mundo e depois transportados por avi-ões e caminhões até você.

Nós não apenas usamos mais do que a Terra pode repor. Também geramos resíduos dos quais é preciso cuidar. Nos paí-ses ricos, a quantidade de lixo produzida por cada pessoa tri-plicou nos últimos 20 anos. Quanto lixo é produzido em sua casa em uma semana?

O desperdício inclui todo o dióxido de carbono liberado na atmosfera quando usamos petróleo, gasolina, carvão ou quando queimamos lixo ou madeira. O dióxido de carbo-no é o tipo de resíduo cuja produção mais cresce e que causa o aquecimento global.

Diferença ricos – pobresUm quinto (20%) da popula-ção do mundo é responsável

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É apenas a luz do sol que aquece o ar em uma estufa.

Nos países frios, é preciso calor para o cultivo de plantas que, na verdade, são adaptadas a um clima quente. É possível conseguir isso em uma estufa. Estufa é uma casa de vidro que deixa a luz do sol entrar, porém impede a saída do calor.

A luz visível atravessa o vidro e aquece aquilo que está no interior da estufa. A radiação quente é refl etida de volta para o interior da estufa ao atingir as paredes de vidro da mesma. A temperatura sobe!

EFEITO ESTUFA AQUECIMENTO GLOBAL

evando em conta tudo o que

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De quantos globos você precisa?

A lista abaixo mostra que os países ricos têm as maiores pegadas ecológicas, e que hoje são quem mais contribuem para o aqueci-mento global. Quanto mais baixa a posição na lista de países, menor a pegada.

Em que posição está seu país?

1. Emirados Árabes Unidos2. EUA3. Finlândia4. Canadá6. Austrália8. Suécia9. Nova Zelândia10. Noruega11. Dinamarca12. França13. Reino Unido22. Israel23. Alemanha27. Japão44. Líbano46. México53. África do Sul58. Brasil

65. Jordânia69. China80. Tailândia81. Gâmbia83. Egito84. Bolívia86. Colômbia92. Nigéria93. Senegal98. Uganda104. Sri Lanka105. Burkina Faso106. Gana107. Guiné-Conacri108. Birmânia111. Vietnã113. Peru 116. Zimbabwe122. Benin

123. Quênia126. Índia127. Costa do Marfi m128. Serra Leoa130. Camboja131. Nepal134. Burundi138. Guiné-Bissau137. Ruanda139. Moçambique142. Paquistão143. Congo147. Bangladesh

por 86% de todo o consumo. Estas pessoas têm as maiores pegadas ecológicas. Os países pobres têm pegadas ecológicas muito pequenas.

Pode haver uma grande lacuna entre as pegadas ecoló-gicas de diferentes habitantes do mesmo país. Especialmente, em países onde é grande a diferença entre os pobres e os ricos. No Brasil, por exemplo, uma menina da tribo indígena Uru Wau, no Amazonas, não deixa praticamente nenhuma pegada ecológica, enquanto um fazendeiro rico, dono de um avião particular, vários carros e barcos, uma casa grande com condicionadores de ar, piscina, computadores, TV e diversos outros aparelhos, e que come muita carne, deixa uma pegada ecológica enorme.

A maior pegadaO país que deixa a maior pegada ecológica do mundo por cidadão é o dos Emirados Árabes Unidos. Principalmente, devido às grandes emissões de dióxido de carbono. O país tem poucos, porém ricos habi-tantes, que fazem muito uso

EUA precisam de 5,5 globos

UE precisa de 3 globosO mundo todo precisa de 1,25 globo

O que acontece se o clima fi car mais quente?As densas camadas de gelo da Groenlândia e do Pólo Sul começam a derreter.Assim, o nível do mar sobe!

O dióxido de carbono (CO2) funciona como o vidro de uma estufa, prendendo o calor na atmosfera (ar). A terra vai fi cando cada vez mais quente e mais, e mais...

Grandes áreas de terra são cobertas pela água. Milhões de pessoas são obrigadas a se mudar. Se o nível do mar subir alguns metros, só no Bangladesh 35 milhões de pessoas se tornarão refugiadas ambientais! Muitos países situados em ilhas desaparecerão completamente. Prédios, residências e terras cultivá-veis são submersas.

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Procure por sua pegada!

de aviões e carros, além dos condicionadores de ar, pois o país fi ca no deserto. Agora os Emirados Árabes Unidos pla-neja construir uma cidade inteira que usará somente energia solar, com uma libera-ção quase nula de dióxido de carbono.

Os EUA são o país segundo colocado em tamanho de pegada ecológica.

Na lista de países ao lado sobre as maiores e as menores pegadas ecológicas por pes-soa, você irá encontrar muitos dos países onde esta revista é lida - talvez seja possível loca-lizar até mesmo o seu país.

O que é justo?Os dois países mais populosos do mundo, China e Índia, dei-xam atualmente pegadas eco-

lógicas relativamente peque-nas. Porém, cada vez mais pes-soas na China e na Índia dese-jam, e podem ter o mesmo padrão de vida que os habitan-tes dos países ricos. Todavia, se todos os habitantes da Terra vivessem como a popu-lação dos EUA e da União Européia, isso seria uma catástrofe para o globo terres-tre. Como podemos lidar com isso? O que é justo? Uma coisa é certa. Todos nós precisamos pensar no papel que desempe-nhamos e o que podemos fazer. Além disso, nós precisa-mos de toda a sorte de iniciati-vas e invenções, que tornem carros, aviões, fábricas, refri-geradores, aquecedores e todos os demais aparelhos mais har-mônicos com o meio ambiente do que são hoje em dia.

A Terra está suando

Sua pegada diz quantos hectares de terra são necessários para sustentar seu consumo e resíduos. Com base nessa informação, é possível calcular quantos globos terrestres seriam necessá-rios, se todos no planeta vivessem como você. Você pode calcular sua pegada ecológica aqui:www.footprint.wwf.org.uk (em inglês)www.ecologicalfootprint.org www.myfootprint.orgwww.kidsfootprint.org (com Bobbie Bigfoot)www.earthday.net/goals/footprint.stmwww.earthday.net/Footprint

“A terra está suando! Ela vai suar até a morte, se nós, seres huma-nos, continuarmos a poluir. Todos os carros, o lixo e as fábricas que causam poluição são apenas alguns exemplos. Eu acho que é responsabilidade do governo cui-dar dessa questão de uma manei-ra melhor e fazer com que as pes-soas parem de queimar seu lixo na rua. Eu gostaria que existis-sem carros melhores, que não precisassem de gasolina como combustível”.Julian Reaño Mescco, 16, Cusco, Peru

Ao calcular sua pegada no site www.myfootprint.org, Julian descobriu que um globo ter-restre seria sufi ciente (na ver-dade, apenas 2/3 de um glo-bo terrestre) se todos vives-sem como ele.

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Fica difícil produzir alimentos sufi cientes quando as terras cultiváveis se tornam desertos ou são submersas pelo mar, que sobe. E para onde irão todas as pessoas que perderem seus lares?Os desertos aumentam e as

pessoas são obrigadas a se mudar...

Por que a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera aumenta, e de onde vem o dióxido de carbono?As pessoas usam combustíveis FÓSSEIS, como carvão e petróleo em usinas elétricas, automóveis e aviões...

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Os Direitos da Criança e o meio ambienteO aquecimento global provoca enchentes e secas, que acarretam a violação dos Direitos da Criança pelas seguintes razões:• Crianças não recebem uma educação, pois as

escolas são fechadas.• Crianças perdem seus lares e famílias.• Crianças são obrigadas a fugir.• Crianças fi cam doentes.• Crianças morrem.

Bangladesh está afundandoO aquecimento global provo-ca uma elevação no nível do mar em todo o mundo. Os pesquisadores calculam que pelo menos um quarto de Bangladesh desaparecerá sob a água daqui a cem anos. Acredita-se que 35 milhões, dos 150 milhões de habitan-tes de Bangladesh se tornarão refugiados climáticos nos próximos 20–30 anos. Bangladesh é um dos países mais cruelmente afetados pelo aquecimento global, apesar de contribuir com menos de 0,1% da emissão total de gases estufa no mundo.

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Quando a árvore é queimada, a mesma quantidade de dióxido de carbono volta para o ar.

Ao crescer, uma árvore usa dióxido de carbono, tirando-o do ar.

Porém combustíveis FÓSSEIS, como o carvão, petróleo e gás natural contêm dióxido de carbono acumulado por plantas durante muitos milhões de anos.

Se a madeira for queimada, mas for permitido que novas árvores cresçam, a quantidade de dióxido de carbono no ar não aumenta.

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Rebeka

Rebeka Aktar, 14

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– Sempre houve inundações em Bangladesh. Porém, nos últimos anos, piorou muito. Parece que há algo de errado com a natureza. Temo que minha vila inteira desapareça. Também tenho medo de morrer, diz Rebeka Aktar, 14 anos.

Rebeka é a nova integrante do júri infantil do Prêmio das Crianças do Mundo e representa as crianças cujos direitos são violados em conseqüência de catástrofes naturais e da destruição do meio ambiente. Ela também representa as crianças que exigem respeito pelos direitos das meninas.

teme que a vila desapareça

Mora: Na vila de Borotia, próximo ao rio Dhaleshwari.Ama: Ir à escola.Detesta: Quando crianças e mulheres são maltratadas.O melhor que já lhe aconteceu: Quando minha irmã mais velha se casou. Foi uma festa muito divertida!O pior que já lhe aconteceu: Quando minha avó morreu. Eu a amava. Quer ser: Professora, e ajudar as crianças pobres a irem à escola. Sonho: Que todas as crianças possam ir à escola.

Campos destruídos

– As enchentes destroem nossas plantações. Em certos

lugares, a lama permanece com um metro de profundidade depois que a água escoa. É muito difícil

começar a plantar os grãos novamente, diz Rebeka.

Ao queimar combustíveis FÓSSEIS, liberamos, em algumas CENTENAS de anos, o dióxido de carbono que as plantas levaram MILHÕES de anos para acumular!...grande parte dessa liberação ocorreu durante o tempo de sua vida e de seus pais...

Muito tempo atrás, muito antes do tempo dos dinossauros, as plantas que existiam na época formaram camadas de turfa ao morrer.As camadas de turfa foram pressio-nadas, juntando-se com o tempo e se transformando em carvão e óleo, que agora retiramos das camadas internas da terra.

O resultado do efeito estufa NÃO é apenas uma temperatura um pouco mais quente e agradável – é uma catástrofe para a humanidade! Se todos os países ajudarem, é possível impedir a catástrofe. Temos que parar de usar combustíveis FÓSSEIS e precisamos de uma nova técnica que faça uso de energia renovável!

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teme que a vila desapareça

Em apenas três dias, a vila fi cou totalmente inundada. Apesar de eu

morar a uns duzentos metros do rio, a água submergiu metade da nossa casa. Tentamos colocar as camas e outros pertences acima do nível da água, com o auxílio de suportes de bambu ergui-dos pelo meu pai. Ele e meu irmão mais velho construí-ram uma jangada de bana-neira para prepararmos os alimentos, pois nossa cozi-nha estava alagada.

Picada por uma cobraApós uma semana de enchen-te, atravessei pela água até o palheiro detrás da casa. Enquanto tentava encontrar feno seco para nossas vacas, de repente uma cobra caiu do feno dentro da água. Ela picou meu pé. Fiquei tonta e quase desmaiei, porém consegui gri-tar para chamar meus pais, que vieram correndo. Eles amarraram uma tira de pano bem forte na minha perna, abaixo do meu joelho, para que o veneno não se espalhas-se para o resto do corpo. Eles me carregaram até um barco e fomos procurar um homem que suga veneno de cobra. Eu chorava o tempo todo e estava com muito medo de morrer. Uma vizinha foi picada mais ou menos na mesma época e morreu. Aqui fi ca cheio de cobras durante as enchentes, e muitas pessoas morrem de

picada de cobra todo ano. Muitos morrem porque pre-

cisamos fazer uma viagem longa para encontrar um médico, e isso é muito caro. As coisas se tornam difíceis para nós quando há enchente, pois muitas pessoas fi cam doentes. Eu tive uma infecção ocular e brotoejas na cabeça. Meu irmão teve febre. Quase todas as pessoas da vila têm diarréia, porque é difícil con-seguir água limpa para beber, quando nossos poços e bom-bas são inundados pela água suja do rio.

Alguns dias depois da pica-da da cobra, eu me sentia bem novamente. Eu remei de janga-da para recolher folhas das árvores para nossas vacas e cabras, pois elas não tinham onde pastar. Por fi m, fomos obrigados a vender nossos ani-mais para conseguir dinheiro e comprar comida, pois nossos campos e hortas fi caram total-mente submersos. Muitos foram obrigados a vender suas vacas e cabras para sobreviver. Desta forma, os preços dos animais se tornaram muito mais baixos que o normal.

Sem escolaAs enchentes duraram três meses. Durante esse período, quase todas as escolas fi caram fechadas, inclusive a minha. As escolas foram destruídas e era impossível chegar até elas devido à água. A maioria delas ainda não reabriu, e é muito ruim não poder ir à escola. Estamos deixando de adquirir conhecimento e isso não é nada bom. Sem uma boa educação, é impossível con-quistar um padrão de vida decente em Bangladesh. A pessoa permanece pobre e é difícil sustentar a família. Muitas pessoas exploram os

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A cobra que picou Rebeka estava em um fardo de feno.

Campos destruídos

– As enchentes destroem nossas plantações. Em certos

lugares, a lama permanece com um metro de profundidade depois que a água escoa. É muito difícil

começar a plantar os grãos novamente, diz Rebeka.

O resultado do efeito estufa NÃO é apenas uma temperatura um pouco mais quente e agradável – é uma catástrofe para a humanidade! Se todos os países ajudarem, é possível impedir a catástrofe. Temos que parar de usar combustíveis FÓSSEIS e precisamos de uma nova técnica que faça uso de energia renovável!

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pobres que não sabem ler e nem escrever. Elas podem, por exemplo, acreditar que ao colocar a impressão digital em um pedaço de papel, estão concordando em pegar um empréstimo. Porém, na reali-dade, elas estão sendo persua-didas para entregar suas ter-ras! Eu acho isso terrível!

Para nós, meninas, o mais importante é ter acesso à edu-cação. Se uma menina conse-gue concluir a escola, ela tem mais chance de ter uma vida melhor. Assim, ela pode tomar suas próprias decisões e

as pessoas, inclusive da famí-lia, lhe escutam mais. O que ela diz têm mais importância. Em Bangladesh, a lei condena o casamento precoce para meninas com idade inferior a 18 anos, mas muitas vezes a lei é violada. Muitas meninas de minha idade já estão casa-das. Na minha opinião, isso é totalmente errado! Nessa ida-de, ainda somos crianças e temos que aprender e nos desenvolver. Não viver uma vida de adultos. Se nós, meni-nas, tivermos uma educação, eu acredito que teremos mais

Coisas preferidas– Eu coleciono esmalte de unha e maquiagem. Às vezes ganho algum dinheiro da minha mãe. Quando isso acontece, compro esmalte de unha do vendedor ambulante que passa pela vila de bicicleta de vez em quando. Este esmalte é o melhor que eu tenho, diz Rebeka.

Difícil brincar– Costumamos brincar de esconde-esconde e de pular corda. Entretanto, na época da enchente, é impossível brincar do lado de fora. Então fi camos presos dentro de casa. Às vezes, jogamos Ludo, diz Rebeka.

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Ídolos– Meus ídolos são os astros de cinema Salman Shah e Sabnur. Nós não temos TV, mas um vizinho tem. Aqui não há eletricidade, a TV é ligada numa bateria, conta Rebeka.

chances de evitar o casamento precoce.

Quando eu crescer, quero ser professora. Então lutarei para que todas as crianças, especialmente crianças pobres e meninas, tenham a possibili-dade de ir à escola.

Medo de morrerSempre houve inundações. Entretanto, nos últimos anos, elas se tornaram muito piores. O rio ficou mais cheio e as enchentes ocorrem em épocas estranhas do ano. Quando a água volta, há grandes avalan-ches de lama e grandes áreas de terra se vão com o rio. Casas e pessoas são arrastadas, e crianças morrem. Se continuar assim, temo que minha vila inteira venha a desaparecer. Para onde iremos? Eu realmen-te não sei o que acontecerá conosco, e me preocupo com o futuro. Muitos morrerão ao tentar fugir da água”.

– Apesar de nossa casa ter sido destruída, tivemos sorte. Muitos tiveram suas casas arrastadas pela água. As pessoas perderam tudo o que tinham, e muitos morreram. Nós conseguimos recons-truir nossa casa e toda a minha família sobreviveu, diz Rebeka.

A escola de Rebeka, Borotia Primary School, ficou fechada por mais de três meses devido às inundações. O nível da água era alto dentro das classes. Agora todos estão ansiosos para voltar às aulas. Esse ano, todos os alunos das quartas e quin-tas séries têm mais um motivo para estarem empolgados. Eles irão participar da Votação Mundial pela primeira vez!

Votação Mundial na escola de Rebeka

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– Acordem todos! Acordem! A casa está afundando no rio, gritou a mãe de Liton no meio da noite.

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Obrigado a trabalhar– Quando meu irmão caçula nasceu, fui obrigado a sair da escola. Nós éramos cinco pessoas em casa e não conseguíamos nos sustentar com o salário de meu pai. Então tive que começar a trabalhar. Eu tinha dez anos na época. Desde então, trabalho no campo o dia inteiro. Quando chego em casa, estou tão cansado que não tenho forças para brincar. Meu maior sonho é poder voltar para a escola, diz Liton.

Construa uma jangada de bananeira!1. Corte quatro bananeiras.2. Remova a parte externa da casca da

árvore para que os troncos fi quem lisos.

3. Faça uma corda com cipó seco.4. Corte um bastão de bambu. Divida-o em

quatro partes.5. Coloque os quatro troncos na água. Amarre-

os com a corda de cipó. Estabilize a estrutura fi xando as quatro varas de bambu transversal-mente sobre a jangada.

6. Vede as frestas entre os troncos com folhas de bananeira.

7. Corte um bambu comprido para usar como remo.

Eu acordei com um estron-do. O chão sob a casa se

movia. Fiquei com muito medo de que todos morressem se caíssemos na água.

A casa de Liton desapareceuTentamos levar alimentos e outros pertences conosco, mas foi tudo tão rápido. Havia fen-das profundas no chão em vol-ta da casa. No exato momento em que todos conseguiram saltar sobre as fendas, o chão se foi com o rio, e a casa foi sugada pela correnteza. Tudo estava acabado.

O primo se afogouDormimos a céu aberto. Depois de alguns dias, a água alcançou o lugar onde procu-ramos abrigo. Então, eu cons-

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truí uma jangada de bananeira para podermos salvar a nós e os pertences que restaram. Eu e meu primo Akash, 6 anos, fi zemos a primeira viagem com nossas coisas para um lugar mais seguro. De repente, percebi que Akash não estava mais na jangada. Eu remei para frente e para trás, gritan-do o nome dele. Entretanto, ele não respondeu. Eu voltei e contei o que havia acontecido. Nadamos em volta e tentamos encontrá-lo. Depois de três horas, seu corpo apareceu na superfície boiando.

Eu amava meu primo e ain-da me sinto culpado, mesmo que ninguém esteja bravo comigo. Nem mesmo seus pais, que dizem que foi um acidente.

Depois que meu primo mor-

reu, um parente de minha mãe nos deixou construir uma casinha em seu terreno. Mas agora ele quer vender o terre-no. Como somos pobres e não temos nenhuma terra própria, nossa única opção é construir uma casa nas terras do gover-no, perto do rio novamente. Todos os pobres moram lá. Quando a água chega, somos os mais atingidos. Temo que a casa nova também seja levada pelo rio quando houver outra enchente. Da próxima vez, talvez ninguém acorde, e então nós todos morreremos”.

Bananeiras salvam vidas!– Sem as bananeiras, não sobreviveríamos às enchen-tes. Todas as famílias da vila cortam as bananeiras para construir jangadas, quando percebem que o nível da água do rio começou a subir. A maioria usa as jangadas para preparar seus alimentos. Também usamos as jangadas para chegar a lugares onde podemos conseguir comida e água limpa. As jangadas tam-bém são necessárias para resgatar pessoas, animais e pertences das inundações. As bananeiras salvam nossas vidas! diz Rebeka.

Aproveitamos tudo da bananeira!Além de comer as frutas da árvore, as bananas, e construir jangadas com os troncos, as crianças da vila de Borotia usam a folha da bananeira...

...como ”prato” quando há festa e os pratos comuns não são sufi cientes para todos

...e como guarda-chuva e guarda-sol!

– Tenho folga uma vez por semana e então jogo críquete ou futebol com meus amigos. Eu adoro! Minha bola e meu bastão sumiram quando a casa foi arrastada pelo rio, mas minha família sobreviveu, e isso é o mais impor-tante, diz Liton.

Esse ano, as enchentes em Bangladesh resultaram em:• Quase mil pessoas morreram. 800 se afogaram e 100

morreram de picadas de cobra. O restante morreu em conseqüência de doenças causadas pelas enchentes, como a diarréia.

• Dez milhões de pessoas fi caram desabrigadas.• 10.000 escolas foram destruídas.

10 milhões de desabrigados

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Sou livre!

– Quando eu tinha seis anos de idade e pastoreava o gado de meus pais com meus amigos, um homem nos ofereceu doces. Acabei seqüestrado e obrigado a trabalhar como escravo por seis anos, conta Rakesh Kumar, 13, da Índia. Ele agora é membro do júri do Prêmio das Crianças do Mundo.

Depois que comemos os doces que o homem nos dera, eu senti que havia

algo errado e fi quei com medo. Eu não deveria ter saído com um estranho sem avisar minha mãe. Havia algo estra-nho no doce, que nos deixou fracos demais para fugir. Eu e meus amigos fomos colocados em um trem. Comecei a cho-rar. Eu sabia que havíamos sido seqüestrados e tentei fugir, mas fui capturado. Me avisaram que eu seria atrope-lado por um carro, caso eu tentasse fugir novamente.

Eu e todos os meus amigos

fomos vendidos para pessoas ricas. Senti-me impotente, pois eu era apenas um garoti-nho da vila. Eles me mudaram de casa algumas vezes, até eu chegar ao lugar onde seria obrigado a trabalhar como escravo por seis anos. De manhã, me davam chá com drogas. Se eu me recusasse a tomar, eles me batiam e me forçavam a engolir.

Eu trabalhava das cinco da manhã às dez da noite. Eu lim-pava a casa da família à qual eu pertencia. Eles tinham fi lhos que freqüentavam a escola, mas eu era obrigado a trabalhar. Eu tinha que cortar a grama e, muitas vezes eu machucava os dedos, devido ao efeito das drogas no chá. Às vezes eu desmaiava no campo, porém ninguém se importava. Eu carregava tijo-los e tentava evitar reclamar para não ser espancado.

As noites eram difíceis para mim. No inverno, eles me davam bebidas alcoólicas para me aquecer, em vez de me dei-xar fi car dentro de casa. Eu tinha que dormir fora, no cur-

ral das vacas e, além de tudo, cuidar dos animais. O calor do álcool não durava muito. Eu passava frio e me sentia solitário. Eu chorava durante a noite, pensando em meus pais.

Meu pai me procurou por muitos anos. Disseram-lhe que eu havia morrido. Contudo, ele não desistiu. Ameaçaram espancá-lo, porém ele pediu ajuda a uma organização que resgata crianças da escravidão. Depois de uma longa procura, conseguiram me salvar. Agora estou num centro de reabilita-ção onde posso brincar e ir à escola com outros meninos que viveram experiências semelhantes. Crianças não devem ser obrigadas a traba-lhar como se fossem adultas. Nós temos direitos”.

Rakesh representa crianças escravas, crianças em trabalhos perigosos e crianças que ”não existem” porque seu nascimento nunca foi registrado.

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Crianças do júri especialistas em direitos da criançaO júri decide qual can-didato deve receber o Prêmio das Crianças do Mundo por sua luta pelos Direitos da Criança. E as crianças do júri – por suas expe-riências pessoais – são verdadeiras especialis-tas em Direitos da Criança!

O júri infantil repre-senta, em primeiro lugar, todas as crianças do mundo com experi-ências semelhantes. Todavia, elas também representam as crianças de seus países e de seus continentes. Na medida do possível, o júri con-grega crianças de todos os continentes e das principais religiões.

Nas páginas 36-39, você pode ler sobre a jurada Rebeka Aktar, de Bangladesh, e na página 42, ao lado, sobre o jurado Rakesh Kumar, da Índia. Nas próximas páginas, você pode ler sobre as outras catorze crianças mem-bros do júri. Mais uma criança será nomeada membro do júri antes do WCPRC 2008.

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”Meu padrasto deixou de traba-lhar e começou a usar drogas. Ele e minha mãe discutiam muito e ele nos espancava. Nós tam-bém éramos ameaçados porque o meu padrasto tinha dívidas com traficantes. Às vezes minha mãe tinha que pagar as dívidas em vez de comprar comida para nós.

Aos oito anos, fugi de casa e fui viver na rua. Roubava o que podia e vendia para comprar comida e outras coisas de que precisava. De noite eu dormia em frente a um banco no centro da cidade, coberto com um pedaço de lona. Muitas vezes eu tinha medo de noite.

O meu amigo Washington me ensinou a fumar maconha. Eu fumava cada vez mais e também usava outras drogas. Roubava relógios, jóias, óculos e outras coisas no centro. Pedi e conse-gui uma pistola do intermediário que comprava os meus roubos. Nunca a usei contra pessoas mas atirava para cima. E uma vez atirei em um rato.

Voltei para casa, mas lá conti-nuava a violência. Uma noite minha mãe me perguntou se eu queria ficar com ela ou com meu padrasto. Respondi que queria ficar com ela. Ela me disse para esperar. Ouvi um tiro no quarto onde meu padrasto dormia e vi minha mãe sair do quarto. Depois disto fugi de novo. Minha mãe me achou e me bateu para me casti-gar. Ela não sabia o que fazer comigo.

Minha mãe me levou ao Circo de Todo Mundo onde crianças como eu podem aprender as artes do circo. Moro na casa deles e vou à escola. A situação é boa para mim agora. O que as crianças de rua mais precisam é de amor.”Railander representa crianças que vivem ou trabalham na rua.

Railander Pablo Freitas de Souza, 14, BRASIL

Idalmin tinha nove anos quando seus pais foram presos pela polícia. Um dia, quando ela che-gou em casa, depois da escola, o apartamento estava ocupado por policiais. Idalmin, assustada, começou a chorar.

”O que vocês estão fazendo?”, ela perguntou.

“Você é pequena demais para entender”, respondeu um oficial.

“Para onde vocês vão levar a minha mãe?”, perguntou. “Eu amo a minha mãe, soltem-na.”

No começo, Idalmin e suas três irmãs mais novas foram morar com a avó. Todos os dias ela pergunta-va quando os pais voltariam para casa. A avó sempre respondia: “Amanhã, amanhã...”. Eles, porém, nunca mais voltaram.

“Era como se meus pais tives-sem morrido.”

Os pais de Idalmin foram conde-nados a penas longas. A penitenci-ária onde está o pai fica muito longe, por isso ela quase nunca o visita.

“A primeira vez que visitei mamãe na prisão, o horário de visita termi-nou após uma hora apenas. Imagine só, você não vê sua mãe há muito tempo e tem apenas uma hora para ficar com ela. Eu chorava todas as manhãs, durante o primeiro ano.

Nos primeiros anos, Idalmin e as irmãs se mudaram para a casa de vários parentes e amigos. Foi uma época muito difícil. Idalmin ficou doente e começou a matar aulas. Tudo começou a melhorar quando ela e as quatro irmãs foram parar na casa da mesma família adotiva. Agora, ela se sai melhor na escola. Uma vez por semana, Idalmin se encontra com outras meninas, cujos pais estão na prisão. Juntas, elas se divertem e, freqüentemente, fazem palestras sobre suas experi-ências em eventos relacionados à questão dos filhos de presidiários.

A mãe de Idalmin foi libertada em 2005, depois de ficar seis anos presa. Idalmin representa os filhos de presidiários.

Idalmin Santana, 17, EUA

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Quando Mary tinha dez anos, seu pai, seu irmão mais velho

e sua irmã mais nova foram mor-tos na guerra civil em Serra Leoa. Ela se escondeu na floresta.

– Quando estou na floresta ainda sinto como se os rebeldes fossem sair das moitas a qual-quer momento e me matar. Também penso muito sobre como eles mataram meu pai e no grito do meu irmão: ”Mary me ajude. Socorro! Estão me levan-do!”, naquela noite quando os rebeldes o raptaram. Depois, ouvimos dizer que todas as crianças seqüestradas naquela noite foram assassinadas. Logo na noite seguinte, eles nos encontraram na floresta. Levaram minha irmã, que tinha apenas seis anos, e a mataram. Ainda me sinto mal por não ter podido salvar meus irmãos, mas eu tinha apenas nove anos e não havia muito que fazer.

Mary viveu na floresta durante vários meses seguidos.

– Nos abrigávamos da chuva debaixo de grandes árvores. Muitos pegaram malária. À noite, procurávamos mandioca e a comí-amos crua para evitar que a fuma-ça de alguma fogueira entregas-se nossa posição aos rebeldes. O pior era o medo e o silêncio. Tudo estava muito silencioso. Era como se até mesmo os pássaros da floresta tivessem parado de cantar. Eu chorava muito.

Mary não pôde ir à escola durante quatro anos devido aos conflitos. Quando a guerra aca-bou, os rebeldes haviam destruí-do sua escola. Agora ela foi reconstruída.

– Finalmente posso voltar a aprender coisas novas. Quero ser professora ou advogada e lutar pelos direitos da criança, diz Mary.Mary representa as crianças que tiveram seus direitos vio-lados em conflitos armados.

Mary Smart, 16, SERRA LEOA “Minha vida tem sido um pesa-

delo desde a idade de onze anos. Uma noite, quando assis-tíamos tevê, ouvimos um heli-cóptero voando em círculos sobre nós. Depois disso um míssil foi disparado contra a casa vizinha à nossa, quartel general da polícia palestina e patrulhas da fronteira. Eles lan-çaram muitos mísseis e parecia que havia um terremoto. Na noi-te seguinte, um avião F-16 dis-parou míssil após míssil. Nossa casa inteira chacoalhou e todas as janelas quebraram. Eu chorei e caí em cima dos pedaços de vidro. O quarto míssil foi o mais forte de todos, eu voei por cima do nosso vizinho, que nos abrigava.

Antes, podíamos passear em Jerusalém e Jericó. Hoje, só podemos sair de casa para ir à escola, em Belém. Às vezes nem podemos ir à escola, mes-mo tendo o direito à educação. Quando temos toque de reco-lher não podemos deixar nossas casas.

Um dos direitos da criança é poder sentir-se em segurança, mas isto é algo que nós, crian-ças palestinas, jamais teremos. Queremos apenas ter paz e viver sem tanques de guerra e soldados. Eu quero poder me sentir como outras crianças do mundo.”Omar representa as crianças em áreas de conflito e sob ocupação.

Omar Bandak, 17 PALESTINA

Maïmouna mora em um subúr-bio da capital do Senegal, Dacar. Cerca de um terço das crianças do Senegal não são registradas quando nascem. Maïmouna acredita que no bair-ro onde vive há ainda menos crianças registradas. Desde os oito anos, Maïmouna participa ativamente de uma organização a favor dos direitos da criança. Para ela, a questão do registro dos recém-nascidos é um direi-to funda-mental das crianças.

“No nos-so país, há muitas crianças que não são registradas quando nascem. Quando não se tem certidão de nascimento, não se pode ir à escola e nem viajar, não se pode nem mesmo ser um cidadão em seu próprio país.”

Sua participação ativa ocupa todo o seu tempo. Quando lhe perguntam o que mais gosta, ela espalha uma pilha de papéis pelo chão.

“Acho que é isso aqui a coisa que mais gosto, afinal estou sempre carregando estes papéis comigo.’

São documentos sobre os Direitos da Criança, que ela vem colecionando. O grupo do qual faz parte, reúne-se com fre-qüência para debater sobre os direitos da criança, mas tam-bém trabalha ativamente na ela-boração de diversas campa-nhas na comunidade em que vive.

“Nós já fizemos campanhas pelo registro. Durante uma úni-ca tarde, eu registrei 54 crian-ças do meu bairro!’Maïmouna representa as crianças que lutam pelo respeito aos Direitos da Criança.

Maïmouna Diouf, 17, SENEGAL

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”Eu ajudo em um centro para animais ameaçados de extin-ção. Logo começarei a trabalhar como voluntário em um abrigo para mulheres vítimas de abuso. Lá eu terei contato com os filhos dessas mulheres, que também moram ali.

Nós conversamos muito sobre o conflito entre Israel e Palestina em casa e na escola. Haifa, onde eu moro, é uma das maiores cidades onde vivem tanto árabes quanto judeus. Conheço muitos árabes na escola e mesmo no meu tempo livre. Eu gosto muito de ter con-tato com todos os tipos de pes-soas e não vejo nenhuma dife-rença. Não importa se você é judeu ou muçulmano, israelita ou palestino.

Para mim, os Direitos da Criança significam que todas as crianças devem ser livres e ter as mesmas oportunidades. Em Israel, muitos dos Direitos da Criança são violados. As crian-ças têm direito à proteção e de viver sem o medo constante de morrer ou perder alguém de sua família.

No verão de 2006, durante a guerra entre Israel e o Hizbullah, às vezes tínhamos que correr para o abrigo a cada dez minu-tos, algumas vezes a cada hora. Muitos acham que a guerra foi culpa somente do Hizbullah, mas eu não acho. Eu acho que Israel também errou e que não deveríamos estar no Líbano.

Na escola, quando conversa-mos sobre o conflito, há muitos que não se importam e outros que não querem saber. Eu acho que deveríamos temer, não adianta fingir que os problemas não existem. Porém, o mais

Ofek Rafaeli, 14, ISRAEL

Hasana nasceu em um campo de refugiados no meio do deser-to, na Argélia, onde passou toda a sua vida. Os pais dele são do Saara Ocidental, que foi invadi-do pelo Marrocos há quase trin-ta anos. Desde então, 170 mil saarianos ocidentais vivem em campos de refugiados no deser-to do Saara.

“Eu nunca vi o meu país, mas espero poder conhecê-lo um dia. Acho que todas as crianças refugiadas têm que ter o direito de voltar para seus países.”

Todas as crianças que vivem no campo de refugiados no deserto vão à escola. Hasana está na sétima série. Porém, é impossível continuar estudando no campo de refugiados.

“Mas eu espero continuar meus estudos em uma escola argelina, pois quero me formar. Todos que moram no campo de refugiados têm dentes escuros e estragados. É por causa da água ruim que tomamos. Quando eu crescer quero ser dentista e ajudar o meu povo a ter dentes brancos e saudáveis.”Hasana representa as crian-ças refugiadas.

Hassana Hameida Hafed, 17, SAARA OCIDENTAL

Ambos os pais de Gabatshwane morreram de AIDS, quando ela era pequena. Ela mora com seu irmão mais velho, Vusi, na comu-nidade de Lethabong-Rustenberg, na África do Sul. Depois da morte de seus pais, muitas pessoas tinham medo de serem infectadas por Gaba. Apesar de ela ter feito um teste que provou que não estava infec-tada pelo HIV/AIDS, Gaba não tinha nenhum amigo. Quando pequena, ela caiu em uma bacia de quarar roupa com água fer-vendo e teve queimaduras gra-ves no braço e perna direitos.

– Na escola, riam de mim e eu era muito solitária.

80% dos habitantes de Lethabong estão desemprega-dos. Muitos são jovens, que aca-bam na criminalidade. 20% dos habitantes da comunidade estão infectados pelo HIV/AIDS e muitas crianças são órfãs. Os direitos das crianças são fre-quentemente violados, muitas vezes dentro do núcleo familiar.

O irmão mais velho, Vusi, aju-dou Gaba a montar uma banda chamada Gabatshwane. Ela já se apresentou muitas vezes para Nelson Mandela, seu ídolo. Com o pagamento que recebe por suas apresentações, Gabatshwane compra alimentos para os pobres e doa cestas de alimentos aos colegas de escola que são órfãos.

– Eu reivindico aos políticos que trabalhem pelos direitos da criança. Eu já debati com a ministra da educação a respeito e fiz um discurso de abertura sobre os direitos da criança para o governo da nossa província, aqui em North West. Eu fundei uma organização chamada Bana Ke Bokamoso, que significa “As crianças são o futuro”, e luto pelos direitos da criança.Gabatshwane representa

crianças que ficaram órfãs devido à AIDS e crianças que lutam pelos direitos de crianças vulneráveis.

Gabatshwane Gumede, 13, ÁFRICA DO SUL

importante é agir, precisamos fazer algo a respeito disso”.Ofek representa crianças em áreas de conflito e crianças que querem o diálogo pela paz.

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”Quando eu tinha 11 anos,

meus pais não podiam mais pagar meus estudos. Uma vez, quando eu buscava feno para os animais, um homem se apro-ximou de mim e me perguntou se eu queria trabalhar em um hotel, na cidade. Contei aos meus pais sobre o convite, mas eles disseram que não. Por isso, fugi com o homem. Primeiro, viajamos de ônibus e quando entramos em um trem para Mumbai, na Índia, comecei a desconfiar. Fui levada a um bor-del. No começo, me puseram em um curso de dança. Mas, depois de um tempo, me disse-ram que tinha que começar a trabalhar no bordel. Recusei e eles me torturaram. Vivia como uma escrava e era forçada a ficar com homens. Dois meses depois, em um dia maravilhoso, fui libertada e pude voltar para o Nepal. Agora vou à escola de Maiti Nepal. Quando me formar, quero ajudar Maiti a lutar contra o contrabando de meninas e alertá-las para que não sejam enganadas como eu fui.” Sukumaya representa e luta pelas meninas escravas em bordéis e por todas as meni-nas vítimas de abuso sexual.

Sukumaya Magar, 16, NEPAL

Hannah, de Winnipeg, é a mais jovem advogada dos sem-teto canadenses, crianças e adultos. Ela apóia fortemente o direito das crianças a um lar, no Canadá e em todo o mundo. Tudo começou quando Hannah tinha cinco anos e viu um homem comendo restos tirados de uma lata de lixo. A partir daí, ela começou a falar sobre o problema dos sem-teto por todo o Canadá, em escolas, com cri-

Hannah Taylor, 12, CANADÁ

Isabel nasceu um ano antes da paz ser firmada em Moçambique. Seus pais, que haviam fugido da zona da guerra, decidiram voltar para sua aldeia natal. Mas as marcas da guerra ainda estavam presentes. Havia pelo menos um milhão de minas espalhadas por todo o país. Quando Isabel tinha quatro anos, pisou em uma delas.

A explosão foi intensa e a per-na direita de Isabel não pôde ser salva. Ela foi levada ao hospital de Maputo. Lá, recebeu uma pró-tese, feita de plástico, que pesa-va quase oito quilos. Isabel não agüentava sequer levantar sua nova perna e levou seis meses para aprender a andar novamente. No ano passado, depois de oito anos de uso, a prótese começou a machucar a pele da menina, dificultando cada vez mais sua mobilidade.

– Tinha ouvido falar sobre um lugar onde se fazem pernas novas. Fica para os lados de lá, ela diz apontando na direção das montanhas.

Isabel acordou de manhã cedi-nho e caminhou um dia inteiro até chegar à Clínica Ortopédica da Cruz Vermelha, instantes antes de o sol se pôr. Sua nova prótese é feita de alumínio e pesa muito menos do que a antiga. Agora, ela pode andar rápido, mas ainda assim, a escola ‘de verdade’ fica muito longe. Na escola primária em que estuda não há paredes nem telhado.

Hoje Moçambique está oficial-mente livre de minas, mas Isabel sabe que ainda existem muitas delas na região em que vive.

– Há lugares aonde não se pode ir ainda. Ninguém pode ter abso-luta certeza. Se chove muito, as minas podem escorregar na lama e vão parar em qualquer lugar, diz ela.Isabel representa as crianças com defici-ências físi-cas e as crianças feridas em minas ter-restres.

Isabel Mathé, 16, MOZAMBIQUE

anças, empresários, com o pri-meiro ministro e muitas outras pessoas. Hannah criou uma fundação, a Ladybug Foundation, que está iniciando um programa, chamado “Faça diferença” para escolas de todo o Canadá.

– Queremos mostrar que todos podem se engajar e fazer a diferença para os sem-teto e pelos direitos da criança onde vivemos e em todo o mundo, diz Hannah.

A fundação de Hannah já arrecadou mais de um milhão de dólares para projetos pelos sem-teto e organizações que defendem seus direitos.

– Todos nós precisamos com-partilhar o que temos e deve-mos sempre nos importar uns com os outros, diz Hannah.

Hannah acha importante que os sem-teto possam sentir que alguém gosta deles.

– Quando visitei um lar para adolescentes sem-teto em Toronto, vive uma experiência que jamais esquecerei. Antes de ir embora, abracei todas as crianças. Uma delas, a mais qui-eta, deu um passo à frente e disse: ”Até hoje, eu achava que ninguém gostava de mim. Mas agora sei que você gosta de mim”.

Hannah representa as cri-anças que lutam pelos direitos de outras crianças, principal-mente das crianças sem-teto.

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Laury vivia com a mãe e a avó em Carmen de Bolívar, norte da Colômbia, quan-do um estranho começou a dei-xar abacates e cocos diante da porta da casa da família. Elas ven-diam as frutas na feira, mas sentiam-se ao mesmo tempo ameaçadas. É comum que grupos armados na guerra civil colombiana dêem presen-tes às famílias pobres para com-prar sua fidelidade. No povoado onde Laury morava, havia confli-tos entre facções e muito crime organizado. Laury e sua família fugiram dali para o assentamento “Nelson Mandela”, como refugiadas internas. Elas construíram um barraco de tábuas, chapas de zinco e papelão. Sempre que chovia elas tinham que construir um novo barraco. Atualmente elas moram em uma casa de concreto situada no sopé de um morro. Todas as vezes que uma chuva forte cai, a casa fica ala-gada.

Laury trabalha muito na esco-la e pertence a vários grupos de crianças que lutam pela paz. Ela vende diariamente os “Deditos” (salgadinhos de milho) feitos pela mãe na escola, para contri-buir na economia da família.

“Nós somos pobres e já pas-samos por muitas dificuldades, mas eu não me envergonho por isso, tenho muito orgulho!”Laury representa as crianças que vivem em áreas de confli-tos, refugiadas e as que lutam pelos direitos da criança.

Laury Cristina Hernández Petano, 16, COLÔMBIA

Thai Thi Nga, 16,VIETNÃNga sempre se sentiu margina-lizada.

“As outras crianças olhavam para mim como se eu fosse um monstro”, ela conta.

“Todos tinham medo e fugiam de mim na escola. Eu tinha tanta vergonha que não queria ir a lugar nenhum. Ficava em casa observando as outras crianças que iam à escola. Sem a força do meu único amigo, Huong, eu nunca teria voltado à escola”.

“Certa vez, o professor disse que teríamos uma festa da clas-se. Eu tinha dinheiro economiza-do e contribuí mais do que todas as outras crianças para a festa. Estava cheia de expectati-vas, sonhava em ser compreen-dida pelos meus colegas e poder me divertir com eles. Mas quando a festa começou, todos se apressaram em pegar os bolos e frutas e trataram de ficar bem longe de mim. Foi o pior momento da minha vida”.

Nga mora no interior. Seu pai foi vítima do Agente Laranja, um forte inseticida químico que os EUA usaram como arma na lon-ga guerra do Vietnã. Embora Nga não tenha nascido durante a guerra, também sofreu suas conseqüências. Ela e a irmã foram contaminadas pelo Agente Laranja usado contra o pai. Nga sofreu mutações em seu cro-mossomo e tem manchas escu-ras por todo o rosto e corpo.Nga representa crianças com deficiências motoras, crianças vítimas de agentes químicos venenosos utilizados na guer-ra e crianças maltratadas.Agora Nga freqüenta uma nova escola onde se sente bem.

“Eu moro em um lar para crian-ças. Acho que é porque eu nuca pude realmente contar com minha mãe. Ela costumava me deixar sozinha vários dias segui-dos e, quando voltava para casa, dizia apenas ’O que você andou fazendo?’ Depois, ela me agredia.

Ao iniciar a quinta série, fiz muitos amigos. Quando eu tinha 10 anos, minha mãe telefonou para o serviço social e disse que minha vida estaria em risco se eu continuasse a viver com ela. Ela poderia me matar. Naquele dia, veio uma pessoa do serviço social. Era hora de eu deixar meu lar. Fui levada para a casa de uma pessoa estranha, onde eu me pergunta-va o tempo todo, o que eu tinha feito de errado. Minha mãe sem-pre disse que a culpa era minha e, durante um período, acreditei nela. Eu me culpei durante um longo tempo. Depois, percebi que não era culpa minha. A úni-ca coisa que sempre desejei é uma família normal, que me ame, independente das minhas atitu-des ou aparência. Uma família que me ame, só por eu ser quem sou.

Não me interprete mal, eu sempre pude contar com o meu pai. Ele me dava tudo o que eu precisava, como roupas. Ele me deu um telefone, para que eu possa ligar para ele a qualquer hora.

Agora eu tenho coisas bonitas, moro numa boa casa, tenho um monte de amigos e vou muito bem na escola. Eu estudo Serviço de Saúde e Serviço Social, estou no terceiro período”.Amy representa crianças que foram separadas de seus pais e que moram em lares manti-dos pelo governo.

Amy Lloyd, 14, REINO UNIDO

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THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD

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