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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/322024270 Turismo social: reflexões e práticas no Brasil (Social tourism: reflections and practices in Brazil) Article · January 2016 CITATIONS 0 READS 325 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Social Tourism View project Marcelo Almeida University of São Paulo 12 PUBLICATIONS 55 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Marcelo Almeida on 23 December 2017. The user has requested enhancement of the downloaded file.

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Turismo social: reflexões e práticas no Brasil (Social tourism: reflections and

practices in Brazil)

Article · January 2016

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Social Tourism View project

Marcelo Almeida

University of São Paulo

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Revista Tur smo & Desenvolvimento | n.o 26 | 2016 | [ 141 - 154 ]

e-ISSN 2182-1453

Turismo social: Reflexões e práticas no BrasilSocial tourism: Reflections and practices in Brazil

MARCELO VILELA DE ALMEIDA * [[email protected]]

Resumo | Embora não ocupe um lugar central na pesquisa turística, o turismo social tem atraído recen-temente o interesse de pesquisadores de diversos países que se preocupam com aspectos que geralmentenão encontram espaço nas discussões sobre o turismo convencional, tais como inclusão, acessibilidade,solidariedade, entre outros – razão pela qual se observa atualmente uma revalorização do tema no ambi-ente acadêmico. Tal preocupação adquire ainda maior importância face às novas conjunturas econômicase geopolíticas que afetam tanto os países que têm tradição neste campo, como aqueles nos quais severificam apenas iniciativas pontuais. Com base neste contexto, realizou-se uma pesquisa junto a fon-tes bibliográficas e documentais, bem como consultas a organizações e profissionais envolvidos com aatividade em suas práticas cotidianas, a fim de propiciar uma reflexão sobre os estudos mais recentessobre o turismo social; além disso, são relatadas três experiências e práticas brasileiras que ilustram aimportância de se viabilizar alternativas de turismo a segmentos da população que, de outro modo, pro-vavelmente permaneceriam alijados desta forma de lazer. Discutem-se, por fim, desafios e perspectivaspara o avanço da pesquisa e da prática do turismo social no Brasil e as possibilidades de articulaçãocom o cenário internacional.

Palavra-chave | Turismo social, serviço social do comércio, programa trilhas da longevidade, programaturismo do saber, Brasil

Abstract | Commonly, Social Tourism has not been a topic of main interest in research about tourism.Recently though, it has been attracting the interest of researchers from several countries who are con-cerned about certain aspects of tourism that are not often brought up when discussing conventionaltourism, such as inclusion, accessibility and solidarity, to mention some. This is why we are currentlyobserving a re-evaluation of this theme in the academic environment. Such concern becomes even moreimportant given the new economical and geopolitical situations that are affecting countries with tradition

* Doutor em Ciências da Comunicação (Relações Públicas, Propaganda e Turismo) pela Escola de Comunicações e Artes(ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Professor Doutor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) daUSP. Membro da Aliança para Formação e Pesquisa em Turismo Social e Solidário da Organização Mundial de TurismoSocial (OITS).

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in this field, as well as those that only have had occasional initiatives. Based on this, there is a bibli-ographic research, official publications, and consultations with organizations and professionals involvedin the everyday practice of this form of tourism that provides a reflection on the most recent studiesabout social tourism. In addition, there is the mention of three Brazilian experiences and practices thatillustrate the importance of viable tourism alternatives to segments of the population that otherwise,would probably remain priced out of this form of leisure. Finally, there is a discussion on challengesand prospects for the advancement of social tourism through practice and research of social tourism inBrazil, as well as a potential coordination with the international scene.

Keywords | Social tourism, social service of commerce, ’trilhas da longevidade’ program, ’turismo dosaber’ program, Brazil

1. Introdução

Pode-se afirmar que o turismo social no Brasilsempre foi considerado um tema marginal no âm-bito da pesquisa acadêmica – possivelmente por-que sua prática está muito distante, em termosquantitativos, dos resultados obtidos pelo turismoconvencional, de natureza puramente mercadoló-gica. Até 20011, apenas duas teses defendidasna Universidade de São Paulo (USP) – institui-ção pioneira nos estudos do turismo em nível depós-graduação no Brasil – tratavam explicitamentedeste tema; na mesma pesquisa, localizaram-setambém dois trabalhos de conclusão do curso degraduação em Turismo dedicados especificamentea ele (ainda que os públicos comumente associadosao turismo social, como pessoas com deficiências eidosos, tenham sido objetos de estudos sob outrasabordagens, até com certa relevância em períodosmais recentes da produção acadêmica brasileira).

Nota-se, ainda, que este cenário manteve-sepraticamente inalterado nos últimos quinze anos:em consulta à Biblioteca Digital de Teses e Disser-tações da USP, encontrou-se apenas uma disser-tação de mestrado (de 2008, na área de GeografiaHumana) a partir da busca pela palavra-chave ’tu-

rismo social’. Extrapolando-se a busca para alémda USP, destacam-se outras três produções (duasdissertações de mestrado e uma tese de doutorado)que tratam explicitamente do tema – que, por ou-tro lado, aparece com certa frequência de formamais ou menos explícita em trabalhos apresenta-dos em eventos e em periódicos científicos.

Ao mesmo tempo, curiosamente, o interessepelo estudo do turismo social em âmbito interna-cional parece ter se renovado, talvez pela evidentenecessidade de se pensar nestas questões do pontode vista da utilidade social: um exemplo disto é apublicação, nos últimos anos, de livros e periódicossobre o tema em alguns países (europeus, sobre-tudo).

Também verifica-se, com alguma regularidade,a realização de eventos sobre o turismo social comotema central ou periférico: no Brasil, por exemplo,a Administração Regional no Estado de São Paulodo Serviço Social do Comércio (Sesc), em parce-ria com a Organização Internacional de TurismoSocial (OITS), organizou em 2011 o Encontro dasAméricas de Turismo Social2 e, em 2014, o Con-gresso Mundial de Turismo Social3 (que incluiu emsua programação o II Encontro da Aliança paraFormação e Pesquisa em Turismo Social e Soli-

1Ano de conclusão da dissertação de mestrado do autor deste texto (Almeida, 2001).2Tema do evento: turismo e inclusão – por uma visão social e humanista do turismo nas Américas.3Tema do evento: turismo de desenvolvimento – unidade na diversidade.

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dário – espaço de discussão acadêmico-científicasobre o tema).

Vive-se um momento muito oportuno para odesenvolvimento de pesquisas nesta área, aindamais tendo em vista os desafios que se colocampara a área face às novas conjunturas econômicase geopolíticas que afetam tanto os países que têmtradição neste campo, como aqueles nos quais severificam iniciativas pontuais – que se veem cons-tantemente ameaçadas pelo risco da descontinui-dade.

Propiciar, pois, uma reflexão sobre os estudosmais recentes acerca do turismo social é, pois, oobjetivo central deste texto; além disso, pretende-se relatar algumas experiências e práticas brasi-leiras que ilustrem a importância de se viabilizaralternativas de turismo a segmentos da populaçãoque, de outro modo, provavelmente permanece-riam impedidos da prática desta forma de lazer.

Para tanto, utilizou-se fundamentalmente defontes bibliográficas (sobretudo as mais recentes, afim de caracterizar o estado da arte) e documentalsobre o tema, bem como de consulta a organiza-ções e profissionais envolvidos com a atividade emsuas práticas cotidianas (mencionadas na seção deagradecimentos deste texto).

2. Contextualização da pesquisa contemporâ-nea sobre turismo social

Curiosamente, a exemplo do que acontece noBrasil, também na Europa se observou durante al-gum tempo, por parte da comunidade acadêmica,certo desinteresse pelo turismo social: Diekmanne McCabe (2011) apontam que, embora as ori-gens do turismo social remontem ao começo doturismo moderno, esta forma específica de turismorecebeu pouca atenção do mundo acadêmico; oque, todavia, tem mudado recentemente, sobre-tudo graças a estudos realizados em países como a

França (um dos mais importantes neste campo) eno Reino Unido – e, para referendar tal afirmação,os autores indicam algumas referências bibliográ-ficas que datam de 2005 em diante e que ilustrameste renovado interesse.

Minnaert, Maitland e Miller (2013) comparti-lham desta opinião ao afirmarem que a pesquisasobre turismo social (em língua inglesa, pelo me-nos) teve um rápido desenvolvimento nos últimoscinco a dez anos: tema antes tratado apenas es-poradicamente, passou a receber uma crescenteatenção por parte dos pesquisadores, resultandoem um aumento do número de publicações e emum perfil de destaque nos estudos do turismo.Prova desta proeminente posição que o turismosocial ocupa agora na pesquisa acadêmica sobreturismo é a edição especial da revista CurrentIssues in Tourism sobre o tema (publicada em2011), organizada pelos referidos auores (tambémlançada sob a forma de livro em 2013).

Ainda sobre este avanço, Minnaert et al.(2013) mencionam que diversas abordagens ediscussões a respeito ilustram como a pesquisasobre turismo social tem se alargado e se ampli-ado nos últimos anos, e apontam que o tema temsido pesquisado por autores de vários continen-tes e disciplinas, além de – mais recentemente– permitir o engajamento de outros agentes dossetores público, privado e de organizações não-governamentais em atividades de pesquisa.

Neste sentido, Diekmann e McCabe (2011)lembram que, em paralelo à produção acadêmica,há também numerosos relatórios anuais e análisesde mercado produzidos por organizações nacionaise internacionais da área, como a OITS, a UniãoNacional das Associações de Turismo (UNAT) ea Family Holiday Association (FHA), por exem-plo; entretanto, devido a barreiras de linguageme de tradução, estas duas formas de literaturadificilmente se articulam, o que representa umaverdadeira lacuna no conhecimento sobre a área.

4Em outro texto, Diekmann e Jolin (2013) apontam que tais dificuldades de comparação derivam da significativa variedade

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Os autores concluem que a ausência de transfe-rência de conhecimento entre países (devido àsdificuldades para se estabelecer comparações4) eentre organizações e a academia reduziu o nívelde impacto da pesquisa sobre turismo social naspolíticas sobre o setor.

No que diz respeito às diferentes possibilidadesde abordagens, Minnaert et al. (2013) indicamque tais estudos vão desde a discussão sobre atéque ponto pode-se falar na existência de um ’di-reito’ ao turismo social até suas diferentes formasde implementação – visões apresentadas nos arti-gos que integram as mencionadas publicações de2011 e 2013.

Da mesma forma, Diekmann e McCabe (2011)também afirmam que o conceito de turismo socialengloba uma amplo rol de atividades, resultandomuitas vezes em um baixo nível de conhecimentoou compreensão sobre seu significado. Salientam,ainda, que há diferentes possibilidades de abor-dagem do turismo social: enquanto boa parte dapesquisa adota uma perspectiva sociológica, naFrança, por exemplo, a literatura concentra-se emanálises socioeconômicas e organizacionais. Tem-se, assim, como resultado desta diversificada gamade abordagens e políticas, uma eclética pesquisa,na visão de Diekmann e Jolin (2013).

Com base neste contexto, a OITS criou, em2010, Aliança para Formação e Pesquisa em Tu-rismo Social e Solidário5, com o objetivo de esta-belecer uma plataforma entre instituições e pes-quisadores de diversos países, incluindo, também,atores do setor operacional. Uma de suas primei-ras iniciativas foi a realização, em maio de 2012,de uma conferência sobre o estado da arte da pes-quisa sobre turismo social no mundo. Em 2014,no âmbito do Congresso Mundial de Turismo So-cial realizado em São Paulo/Brasil, ocorreu o IIEncontro da Aliança e está prevista para outubrode 2016 a realização do III Encontro6, também

durante o Congresso Mundial da OITS.O evento de 2012 deu origem a um livro come-

morativo dos cinquenta anos da OITS (no qual seencontra o texto de Diekmann e Jolin, 2013) quereúne artigos de pesquisadores que abordam ques-tões conceituais e realidades empíricas do turismosocial em países como Portugal, França, Bélgica,Itália, Rússia, Marrocos, Turquia, Hungria, ReinoUnido, Polônia e Brasil, além de apresentar umpanorama geral sobre a diversidade de situaçõesencontradas na América Latina. Em relaçãoa pesquisas mais recentes, podem-se mencionaros trabalhos de Kastenholz, Eusébio e Figueiredo(2015); Eusébio, Carneiro, Kastenholz e Alvelos(2016); e Komppula, Ilves e Airey (2016) comoexemplos de abordagens relativas a alguns públicosespecíficos e/ou a determinadas áreas geográficas,não se verificando nestas produções uma preocu-pação com o avanço conceitual do tema.

Entre os participantes da América Latina naAliança para Formação e Pesquisa em TurismoSocial e Solidário, destaca-se a ativa produção deErica Schenkel7, que tem se dedicado ao estudo dotema na Argentina. Cabe, aqui, mencionar que oturismo social como tema de estudos na AméricaLatina recebe atenção semelhante à verificada noBrasil. No Brasil, além do envolvimento pon-tual com o tema de alguns pesquisadores e autores(cuja produção pode ser encontrada nas listas dereferências das obras aqui citadas), destacam-seos esforços de Almeida (2011) e Cheibub (2014)para empreender estudos sistemáticos e frequen-tes sobre o tema, que subsidiarão o texto a seguir.Como mencionado na introdução deste artigo, nãose verifica atualmente o engajamento efetivo deoutros pesquisadores com o tema no país.

de conceitos nacionais e de abordagens.5http://www.oits-isto.org/oits/public/section.jsf?id=1816http://web.penta-pco.com/isto2016/Meeting_of_the_Alliance7http://www.oits-isto.org/oits/files/resources/739.pdf

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3. Evolução conceitual

Ainda que exista certa dificuldade em se afir-mar com precisão quando e onde se originouo turismo social enquanto prática, parece havercerto consenso entre os pesquisadores da áreaquanto ao pioneirismo do suíço Walter Hunzikerque, nos anos 1950, propôs as primeiras defini-ções deste tipo de turismo (Minnaert, Maitland &Miller, 2011; Diekmann & Jolin, 2013), nas quaisevidenciavam-se alguns aspectos até hoje presen-tes nos estudos e práticas do tema: tratava-se deum tipo de turismo destinado a pessoas com bai-xos rendimentos às quais deveriam ser oferecidosserviços especiais que viabilizassem o engajamentonos movimentos turísticos. Tal entendimento es-tava diretamente ligado às políticas européias debem-estar social (welfare state), características doperíodo seguinte ao fim da II Guerra Mundial.

Diekmann e Jolin (2013) mencionam, também,outro nome emblemático na reflexão sobre o sig-nificado do turismo social: Arthur Haulot, pri-meiro secretário geral do Bureau Internacional deTurismo Social (BITS) – antiga denominação daOITS. Haulot insere à questão econômica a neces-sidade da adoção de medidas de um caráter socialbem definido – concepção balizadora da atuaçãodo BITS durante quase toda a segunda metade doséculo XX.

Esta visão disseminada por Haulot e pelo BITSlevou a uma compreensão mais ou menos genera-lizada do turismo social como oposto ao turismocomercial; neste sentido, Couveia (1995 apud Di-ekmann & McCabe, 2011) sugere que o turismosocial deveria ser entendido como um tipo de tu-rismo cuja característica principal ou exclusiva de-veria ser sua finalidade não-lucrativa.

Ao longo do século XX, diferentes entendimen-tos do que deveria ser chamado de turismo socialforam associados a diferentes práticas mundo afora– resultantes, evidentemente, de diferentes lógi-cas (Diekmann & Jolin, 2013), o que complexificaainda mais o estudo acadêmico do tema.

Com base em pesquisa bibliográfica sobre de-finições de turismo social, Almeida (2001, p.128)propõe a seguinte definição, tendo em vista o con-texto socioeconômico brasileiro do início do séculoXXI: "turismo social é aquele fomentado sociopo-liticamente pelo Estado e organizado por entida-des da sociedade civil (assistenciais, profissionaisou outras) com objetivos claramente definidos derecuperação psicofísica e de ascensão socioculturaldos indivíduos, de acordo com os preceitos da sus-tentabilidade, que devem estender-se às localida-des visitadas". Parte desta definição foi apropriadapelo Ministério do Turismo do Brasil em publica-ção sobre segmentação do turismo (Ministério doTurismo, [s.d.]).

Uma noção importante que passa a ser incor-porada mais recentemente ao conceito de turismosocial é a de acessibilidade; entretanto, tal no-ção também adquire diferentes compreensões, va-riando de país para país e de acordo com os diver-sos contextos socioeconômicos (Diekmann & Mc-Cabe, 2011 apud Diekmann & Jolin, 2013). Paraa OITS, que incluiu tal noção em seu estatuto,

Trata-se de tornar o turismo, as fériase suas vantagens acessíveis não ape-nas às camadas sociais que auferemrendimentos modestos (como definidoanteriormente), mas também àque-las com características particulares queconstituem obstáculos a esta acessi-bilidade. Além disto, a nova defini-ção estabelece que tal acessibilidadediz respeito tanto às populações queviajam como àquelas dos países visita-dos. Neste sentido, o turismo socialintroduz uma dimensão de solidarie-dade entre visitantes e visitados. En-fim, a definição determina que o aten-dimento a esta acessibilidade envolvaao mesmo tempo os atores da socie-dade civil e os poderes públicos (Diek-mann & Jolin, 2013, p.5).

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Ao institucionalizar tal visão, a OITS passa a con-siderar duas diferentes interpretações: a já conhe-cida interpretação de turismo social como ’turismopara todos’ e, mais recentemente, a de ’turismo so-lidário’ (Bélanger & Jolin, 2011 apud Minnaert etal., 2011), ao se referir à inclusão das populaçõesreceptoras.

Os possíveis papéis do poder público no desen-volvimento do turismo social, ainda que diferentesde país para país, são relativamente bem conheci-dos, uma vez que muito do que já de produziu arespeito tratou exatamente desta abordagem (porser frequentemente encontrada em diversos paísesda Europa, por exemplo); por outro lado, aindaresta inexplorada a análise da sociedade civil comopartícipe deste movimento.

Para Diekmann e Jolin (2013), tal participaçãose dá por meio das associações, das cooperativas edas entidades mutualistas, que se inserem no âm-bito da chamada economia social – conceito poucofamiliar no Brasil, mas de significativa importân-cia em países como a França e Canadá (sobretudona província de Québec, de influência francesa).Com efeito, Demoustier (2006, p. 85) afirma quena França, "as associações de turismo gerenciam1.500 estabelecimentos de férias (campings, estân-cias de turismo etc.), empregando 900 assalaria-dos e 23.500 temporários, para acolher 5 milhõesde pessoas durante o equivalente a 34 milhões dedias de férias".

À guisa de conclusão sobre a questão concei-tual, considera-se conveniente examinar a afirma-ção de Minnaert et al. (2011), para quem ’turismosocial’ se tornou um termo guarda-chuva para dife-rentes expressões deste fenômeno gerador de ten-sões e, por vezes, de contradições no que tange àsdiferentes interpretações e motivações.

Ao referirem-se aos vários beneficiários do tu-rismo social e às motivações para seu fomento,propõem uma definição que, se não faz justiça àssuas diferentes manifestações e às suas caracte-

rísticas individuais, ao menos posiciona o turismosocial contra projetos que podem ser vistos comode natureza fundamentalmente econômica: trata-se de um turismo com um valor agregado moral,cujo objetivo principal é beneficiar tanto o visitadocomo o visitante nas relações de troca que se es-tabelecem a partir do turismo (Minnaert et al.,2011).

4. Experiências e práticas brasileiras de tu-rismo social: em busca de consolidação

Em comparação com outros países, tanto daAmérica Latina como da Europa, as atividades bra-sileiras no campo do turismo social são tímidas epontuais, com algumas exceções. Além do exem-plo do Sesc – entidade do chamado Terceiro Se-tor, composto por "[...] organizações que ocupamposição intermédia entre os entes de natureza pú-blica e os de natureza privada [...]"(Lyra & Leal,2009, p.306).) – apresentado a seguir, relatam-setambém outras duas experiências de turismo so-cial (estas de iniciativa governamental) que alcan-çaram alguma repercussão (ainda que apenas emâmbito regional): os Programas Trilhas da Longe-vidade e Turismo do Saber8.

4.1. O Serviço Social do Comércio (Sesc)

O Sesc é considerado uma entidade paraesta-tal, ou seja, atua ao lado do Estado (e em coo-peração com este), exercendo atividades de mani-festo interesse coletivo na consecução de finalida-des públicas, valendo-se da eficiência característicado modelo privado (Lyra & Leal, 2009). Integra,assim como outras entidades da mesma natureza,o conjunto dos serviços sociais autônomos (tam-bém chamado, no Brasil, de sistema S), que "de-

8Estes dois programas foram apresentados na seção de e-pôsteres do Congresso Mundial de Turismo Social realizado emSão Paulo em 2014, razão pela qual foram escolhidos para integrar este texto.

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sempenham ações voltadas, precipuamente, à as-sistência social e à formação profissional, dentrodo setor econômico ao qual se vinculam"(Lyra &Leal, 2009, p.304).

No caso do Sesc, como o próprio nome sugere,trata-se de organização vinculada à ConfederaçãoNacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo(CNC), mantida pelos empresários destes setorescom o objetivo de proporcionar bem-estar e quali-dade de vida aos seus trabalhadores e a suas res-pectivas famílias (Serviço Nacional do Comércio,2016b).

Fundado em 13 de setembro de 1946, surge noRio de Janeiro (onde está estabelecido ainda hojeseu Departamento Nacional), atrelado à industri-alização e à urbanização pelas quais o Brasil pas-sava, espalhando-se pelo país ao longo da segundametade do século XX (expansão que se mantematé os dias atuais – atualmente está presenta em

cerca de 2.200 municípios).O turismo social sempre foi uma das linhas de

atuação do Sesc, desde suas origens, por meio dacriação de estabelecimentos de hospedagem e daorganização de roteiros de viagens (que, por vezes,contemplam a utilização de meios de hospedagemconvencionais em destinos que não contam comequipamentos do próprio Sesc).

No Estado de São Paulo, as atividades de tu-rismo social iniciam-se em 1948, com a inaugu-ração do centro de férias Sesc Bertioga (Figura1), localizado em município litorâneo de mesmonome. Com uma impressionante estrutura (aindamais para os padrões da época de sua inaugura-ção), tornou-se modelo para a criação de cente-nas de equipamentos similares em todo o Brasil ena América Latina (Serviço Nacional do Comércio,2016a).

Figura 1 | Centro de Férias Sesc Bertioga (São Paulo/SP – Brasil)

Em 1951, iniciam-se as atividades de turismoemissivo, por meio de excursões rodoviárias compernoites e, posteriormente, é institucionalizado oPrograma de Turismo Social do Sesc São Paulo(Figura 2):

Com ele, o Sesc em São Paulo bus-cava um caminho alternativo ao tu-

rismo concebido apenas como antí-doto ao trabalho, como uma evasãopermitida. Preocupava-se – e man-tém este foco de atenção até hoje –em não apenas reproduzir uma viagemno formato tradicional, mas em orga-nizar vivências turísticas que ofereçamaos participantes a possibilidade de de-

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senvolvimento de suas habilidades in-telectuais e físicas, de aquisição de co-nhecimentos e de interação dos indi-víduos, sempre por meio da oferta deprodutos e serviços acessíveis ao seupoder aquisitivo ou adaptados a pos-síveis necessidades especiais da clien-tela. Dentre todos os vários enfoquesde turismo social disponíveis internaci-onalmente, o Sesc em São Paulo ado-tou para seu Programa um conceitodiferenciado, tão inovador quanto de-safiador, cujas ações são balizadas porquatro princípios interdependentes: ademocratização do acesso à atividadeturística, o desenvolvimento social dosparticipantes, a educação pelo turismoe a educação para o turismo (ServiçoNacional do Comércio, 2016a).

Destaca-se, neste texto, a ação do Sesc SãoPaulo em decorrência de sua significativa expres-sividade em comparação com as administraçõesregionais dos demais Estados do país – o quese explica, em parte, por ser o Estado de SãoPaulo o mais importante da federação do pontode vista econômico (tendo, portanto, o Sesc SãoPaulo condições mais favoráveis para seu cresci-mento). Tal expressividade manifesta-se em suasvárias áreas de atuação, incluindo o turismo social,que apresenta permanentemente elevados volumesde atendimento.

Segundo dados obtidos junto à Gestão de Tu-rismo Social do Sesc São Paulo (comunicação pes-soal, 26 de agosto de 2016), em 2015 foram opera-cionalizados 826 roteiros (que podem ser de ape-nas um dia ou de maior duração, incluindo pernoi-tes), que contaram com a participação de 28.298pessoas; além disso, foram atendidas 47.736 pes-soas na hospedagem do Sesc Bertioga.

Figura 2 | Material promocional de ações de turismo social do Sesc São Paulo

Ainda que, do ponto de vista do atendimentode uma demanda reprimida, seja inegável a impor-tância da atuação do Sesc São Paulo (nas várias

áreas por ele oferecidas), tal atuação não é isentade críticas – inclusive por parte do mercado turís-tico convencional, que vê no Sesc um concorrente

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que disfruta de condições econômico-financeirasprivilegiadas. Além disso, Cheibub (2014) discutea existência de certos ’ingredientes civilizatórios’do Programa de Turismo Social da instituição de-correntes das possibilidades de aquisição de educa-ção e cultura (não encontradas em produtos turís-ticos ’convencionais’). Todavia, o autor relativizatal peso, atribuindo estes pressupostos do turismosocial do Sesc São Paulo a uma necessidade de di-ferenciação em relação ao oferecido pelo mercadoturístico convencional:

[...] ao me aproximar, não vejo uni-lateralmente intencionalidades ’diabó-licas’ de uma instituição que quer con-trolar as pessoas para exercer mais po-der. Enxergo antes de tudo que apropaganda acontece por uma ques-tão de posicionamento de mercado,atrelada a uma imagem institucional:o Sesc, por possuir muito dinheiro, eapresentar um caráter misto – quasepúblico – taticamente precisa justifi-car sua relevância social, oferecendoem suas programações conteúdos di-tos ’diferentes’, ’novos’, ’enriquecedo-res’, ou seja, o acesso a uma ’outracultura’ que o indivíduo, no discursoda instituição, provavelmente não con-seguiria sem ela [...] (Cheibub, 2014,p.187).

Seja como for, não há no Brasil nenhuma orga-nização ou iniciativa que se aproxime do Sesc (e,como enfatizado, do Sesc São Paulo mais especifi-camente) no que diz respeito ao desenvolvimentodo turismo social – razão pela qual a organiza-ção goza, há muito tempo, de reconhecimento in-ternacional. Cabe destacar que o Sesc São Pauloocupa atualmente a presidência da OITS Américas(seção regional da OITS para o continente ameri-cano) e que o Sesc tem parceria com a FundaçãoINATEL (conhecida instituição portuguesa de la-zer e turismo social, cuja atuação é semelhante à

do Sesc), que permite a utilização dos meios dehospedagem do Sesc pelos clientes da INATEL evice-versa.

4.2. O Programa Trilhas da Longevidade

Uma iniciativa recente, mas já digna de nota, éo Programa Trilhas da Longevidade, desenvolvidopela Prefeitura de Uberlândia (município do Es-tado de Minas Gerais), cuja população com idadeigual ou superior a sessenta anos – foco do pro-grama – corresponde a mais de um terço do totaldos habitantes (são 246.660 pessoas, o que equi-vale a 37,6% da população total, que é de 654.681habitantes, de acordo com o Censo Demográficode 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística, conforme mencionado em relatório de pres-tação de contas do programa – comunicação pes-soal, 07 de setembro de 2016). Tal relatório, ob-tido por comunicação pessoal com a responsávelpela operacionalização do Programa (Viviane Le-mes, da agência de turismo Flanar Turismo Téc-nico e Cultural), é a fonte de todos os dados sobreo Programa Trilhas da Longevidade aqui mencio-nados (exceto quando houver referência explícitaa outra fonte).

Foi instituído pelo Decreto Municipal no

14.650, de 31 de Janeiro de 2014, e implantadoem junho de 2014, e é viabilizado integralmentepelo poder público municipal. Está vinculado àSecretaria Municipal de Desenvolvimento Social eTrabalho, que responde também por um conjuntode equipamentos e serviços específicos aos idosos.

Seu objetivo, segundo Viviane Lemes (comu-nicação pessoal, 07 de setembro de 2016), é o deoferecer "[...] aos idosos do município viagens tu-rísticas de caráter cultural e de conhecimento evi-denciando seu caráter de turismo inclusivo e so-cial". Os participantes são definidos a partir doscritérios estabelecidos no referido decreto, como:possuir idade igual ou superior a sessenta anos;possuir renda inferior a dois salários mínimos vi-

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gente; possuir plena condição física e mental, de-vidamente comprovada por atestado médico, pararealizar viagens; e ser usuário do Serviço de Convi-vência e Fortalecimento de Vínculo à Pessoa Idosado Município de Uberlândia, entre outros (Decreton. 14.650, 2014).

Enquanto politica pública, o ProgramaTrilhas da longevidade destaca-se poroferecer oportunidade de cultura e la-zer a quem muito trabalhou em prolde suas famílias e do desenvolvimentoda cidade e que poucas oportunidadestiveram em realizar viagens turísticas.Outro mérito diz respeito à melhoriada qualidade de vida dos participantesna medida em que fortalece os vínculosde convivência e laços de amizade, re-médio eficaz contra a depressão e ou-tros problemas que afetam a saúde dapessoa idosa (V. Lemes, comunicaçãopessoal, 07 de setembro de 2016).

O programa é operacionalizado por uma agênciade turismo, a Flanar Turismo Pedagógico, Técnicoe Cultural, que venceu uma concorrência públicapara prestar tal serviço junto à Prefeitura de Uber-lândia.

A agência de viagens Flanar Turismo,com atuação no mercado de Uberlân-dia e região desde 2008 e com focono turismo técnico, cultural e da ter-ceira idade desenvolveu todo o plane-jamento e execução das viagens se-guindo etapas e especificidades de ser-viços prestados a idosos tais como se-gurança, acessibilidade, alimentação

adequada, apoio de profissional desaúde a bordo, carro de apoio e ro-teiros inteligentes e encantadores aossentidos. Preocupou-se com a perma-nente capacitação da equipe de tra-balho, elaboração e aplicação de ins-trumentais de inscrição, instrumentalpara descrição do estado de saúde de-vidamente comprovado por atestadomédico para realizar viagens e avali-ação dos serviços por meio de opináriopara medir o grau de satisfação dosserviços prestados (V. Lemes, comu-nicação pessoal, 07 de setembro de2016).

Em decorrência de sua atuação na condução doprograma, a referida agência foi classificada entreas cinco finalistas do Prêmio Braztoa de Susten-tabilidade – 20159 na categoria agências de via-gem. Na avaliação dos executores do programa,os resultados obtidos ao longo de seus dois anosde existência foram satisfatórios e superaram asexpectativas:

De junho de 2014 até setembro de2016 foram ofertadas 22 viagens a umtotal de 945 idosos [...], com destinosregionais contemplando os atrativosturísticos de Caldas Novas, Araxá, Pei-rópolis (Uberaba), Sacramento, Con-ceição das Alagoas, Olímpia e Bar-retos, municípios localizados em trêsdiferentes Estados (V. Lemes, comu-nicação pessoal, 07 de setembro de2016).

9Premiação concedida anualmente pela Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA).

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Figura 3 | Participantes de uma das viagens realizadas no âmbito do Programa Trilhas da Longevidade

Interessante iniciativa levada a cabo pelo setorpúblico, o Programa Trilhas da Longevidade me-rece, ainda, mais estudos que permitam uma avali-ação qualitativa dos resultados obtidos, bem comode suas limitações e possibilidades de revisão, ma-nutenção e expansão: verifica-se, por exemplo, nodecreto de sua criação, que não é permitida a par-ticipação de acompanhantes dos idosos (Decreton. 14.650, 2014), o que pode restringir a partici-pação de parte da população-alvo do programa.

4.3. Programa Turismo do Saber

Em 1984, no Estado de São Paulo, iniciaram-sedois projetos governamentais de turismo social di-recionados a crianças: ’Interior na Praia’ e ’Redes-cobrindo o Interior’ que, por sua vez, integravamo Programa ’Caravanas do Conhecimento’ – proje-tos, esses, que se constituíram em objeto de estudoda tese de Bavaresco (1991), na qual ressalta aimportância e o ineditismo dessas ações, realizadaspara escolares "[...] com subvenção de órgãos esta-duais e municipais e dentro de claras perspectivaseducacionais [...]"(Bavaresco, 1991, p.VIII). Tais

projetos funcionavam, ao mesmo tempo, como veí-culos de educação para o lazer, veículos de edu-cação pelo lazer e veículos de educação política,buscando a obtenção de reflexos positivos no en-sino do então chamado primeiro grau através daaproximação da escola com a sociedade.

Em 2011, o Governo do Estado de São Paulo,por meio da Secretaria de Turismo, reeditou taisiniciativas, que foram rebatizadas como Programa’Turismo do Saber’. Realizado em parceria comas prefeituras municipais do Estado entre 2011 e2014, tinha por objetivo propiciar viagens para cri-anças da rede pública com idade entre nove e onzeanos (prioritariamente de baixa renda) a outrosmunicípios paulistas.

As viagens tinham duração de cinco dias, ecompreendiam alojamento, transporte rodoviário etrês refeições por dia, em duas edições por ano:’Interior na Praia’, realizada em janeiro (Figura4); e ’Litoral no Campo’, realizada em julho. Deacordo com a Secretaria de Turismo do Governodo Estado de São Paulo (comunicação pessoal, 23de agosto de 2016), de 2011 até 2014 foram rea-lizadas seis edições, das quais participaram 5.760crianças no total, que viajaram a 121 municípios.

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Figura 4 | Participantes do Programa Turismo do Saber em visita ao município de Caraguatatuba/SP

A partir de 2016 o projeto ganhou novo for-mato: as viagens se converteram em ’Estudos doMeio’, com duração de um dia com o objetivo depossibilitar às crianças novas experiências de vidapor meio de atividades lúdicas e do contato comdiferentes paisagens, culturas e hábitos, de modoa agregar novos valores, ampliar horizontes e per-mitir a aquisição de conhecimentos (Secretaria deTurismo do Governo do Estado de São Paulo, co-municação pessoal, 23 de agosto de 2016).

Trata-se também de uma saída do am-biente escolar, a fim de aprofundaros conteúdos desenvolvidos na sala deaula através da visita a determinadosatrativos turísticos. Também é traba-lhada a conscientização turística comos alunos participantes, abordando, deforma interdisciplinar, a atividade tu-rística como fator de desenvolvimentosustentável (Secretaria de Turismo doGoverno do Estado de São Paulo, co-municação pessoal, 23 de agosto de2016).

Até o momento foram atendidas, neste novo for-mato, 200 crianças de seis municípios do Estado,

que visitaram um município no litoral paulista, se-gundo a Secretaria de Turismo do Governo do Es-tado de São Paulo (comunicação pessoal, 23 deagosto de 2016).

A exemplo do Programa Trilhas da Longevi-dade, este programa também carece de avaliaçõesaprofundadas, sobretudo face a esta significativamudança recente de formato, que significa a cons-trução de relações muito diferentes das criançascom elas próprias (em relação à questão da auto-nomia e da independência decorrente da ausênciados pais, por exemplo), das crianças entre si (so-ciabilização), com os demais participantes (profes-sores e monitores) e com os ambientes visitados,em um período tão curto de tempo (em compara-ção com o formato original, que parecia propiciaruma maior riqueza de experiências).

5. Considerações finais

Embora verifique-se uma renovação do inte-resse pelo estudo do turismo social, como podeser atestado pelo lançamento de publicações e pelarealização de eventos sobre o tema, nota-se a exis-

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tência, ainda, de um vasto campo para a pesquisa(tanto quanti-qualitativa como quali-quantitativa,a depender do enfoque a ser adotado), preferenci-almente inter ou transdiciplinar.

Visto que as limitações e divergências, tantoconceituais como pragmáticas, não são uma ex-clusividade da realidade brasileira (uma vez quemanifestam-se, também, em países com tradiçãoneste campo), abrem-se diversas oportunidadespara colaborações entre pesquisadores de outrospaíses – o que, ainda que timidamente, já vemocorrendo. Sendo assim, a internacionalização dapesquisa, bem como a troca de experiências entreos responsáveis por ações e iniciativas de gestão eoperação do turismo social, é algo extremamentedesejável, ainda mais se for possível a articulaçãoentre estes dois mundos (acadêmico e profissional),capaz de permitir ganhos para ambos os lados.

A análise da literatura e das experiências con-cretas apontam múltiplos caminhos e perspectivaspara a pesquisa turística em diversas áreas disci-plinares e sob diversos enfoques: temas como odireito ao turismo, a liberdade de escolha versus aintencionalidade nas programações de turismo so-cial, a educação para e pelo turismo, a avaliaçãode políticas públicas da área, o engajamento dasociedade civil, os impactos da crise do estado debem-estar social e do avanço do neoliberalismo so-bre as políticas e ações de turismo social, o desen-volvimento do turismo social em outros países daAmérica Latina, o efeito das conjunturas econômi-cas sobre as taxas de participação nos movimentosturísticos são apenas alguns ainda por conhecer.

Tais questões revelam-se ainda mais urgentesface aos acontecimentos políticos e econômicosque afetaram tanto o Brasil como os países desen-volvidos nestas duas primeiras décadas do séculoXXI e que impõem desafios cada vez maiores àacademia e ao setor profissional no tocante à de-mocratização do acesso ao turismo e às suas con-tradições intrínsecas, como por exemplo a expan-são do turismo, com todas as suas consequênciasjá bem conhecidas.

Agradecimento

A Viviane Lemes e Lidiane Marques (FlanarTurismo Pedagógico, Técnico e Cultural), a FláviaRoberta Costa e Sílvia Hirao (Gestão de TurismoSocial do Sesc São Paulo), e a Ana Cristina Cle-mente e Rosa Maria Lancellotti (Secretaria deTurismo do Estado de São Paulo/Brasil), pelo for-necimento de informações sobre os programas deturismo social mencionados neste texto.

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