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  • LEONARDO BARTALINI BARUFFALDI

    PROJETO DE SISTEMA DE FRENAGEM CONTROLADA PARA VECULOS AUTOMOTORES DE QUATRO RODAS

    So Paulo 2008

  • LEONARDO BARTALINI BARUFFALDI

    PROJETO DE SISTEMA DE FRENAGEM CONTROLADA PARA VECULOS AUTOMOTORES DE QUATRO RODAS

    Relatrio apresentado Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Bacharel em Engenharia Mecnica

    So Paulo 2008

  • LEONARDO BARTALINI BARUFFALDI

    PROJETO DE SISTEMA DE FRENAGEM CONTROLADA PARA VECULOS AUTOMOTORES DE QUATRO RODAS

    Relatrio apresentado Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Bacharel em Engenharia Mecnica

    rea de concentrao: Engenharia Automotiva

    Orientador: Prof. Dr. Marcelo Augusto Leal Alves

    So Paulo 2008

  • FICHA CATALOGRFICA

    Baruffaldi, Leonardo Bartalini

    Projeto de frenagem controlada para veculos automotores de quatro rodas / L.B. Baruffaldi. -- So Paulo, 2008.

    63 p.

    Trabalho de Formatura - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia Mecnica.

    1.Engenharia automotiva I.Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia Mecnica II.t.

  • DEDICATRIA

    A Tathi, por roubar meu corao.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao professor Marcelo Augusto Leal Alves pela orientao e apoio ao longo

    deste trabalho e das atividades desenvolvidas no Baja.

    Ao professor Roberto Ramos Jnior pelo exemplo e esforo em apoiar o

    desenvolvimento das atividades acadmicas extracurriculares na Escola Politcnica,

    em particular o projeto Baja SAE.

    Ao professor Agenor de Toledo Fleury pelo entusiasmo e pelas conversas

    sobre modelos e controles automotivos.

    A todos os colegas da Equipe Poli de Baja SAE, especialmente a Renan

    Destfani Monteiro e Ivan Miguel Trindade, pelas noites passadas em claro, pelas

    competies, pelas conquistas e pelas derrotas.

    Aos meus pais, por toda a dedicao, carinho, esforo, ateno. Por ser meu

    maior exemplo.

  • Dans les champs de lobservation, le

    hasard ne favorise que les esprits

    prpars.

    (Louis Pasteur)

  • RESUMO

    O principal objetivo deste texto o desenvolvimento de um sistema de controle da

    dinmica lateral de um veculo automotor por meio do acionamento seletivo dos

    freios de roda. Para tanto, buscou-se compreender os fenmenos que ocorrem

    quando um veculo executa uma curva da maneira mais simples e abrangente

    possvel. Um controlador linear foi projetado e inserido na dinmica do sistema com

    vistas a conformar a resposta dinmica e minimizar o risco de acidentes pela perda

    de controle do veculo. Testou-se a eficincia desse controlador em situaes no-

    lineares por meio de co-simulaes entre programas de sistemas multicorpos

    (MSC.Adams) e programas adequados para o projeto de sistemas de controle

    (Matlab/Simulink).

    Palavras-chave: Engenharia. Engenharia automotiva. Dinmica veicular. Controle.

    Sistemas multicorpos.

  • ABSTRACT

    This works seeks the development of a control system for the lateral dynamics of a

    automotive vehicle. This control is made by the selective action of the four wheel

    brakes. To achieve this goal, a simple yet representative model of a curving car was

    assembled, helping the comprehension of the concerning phenomena. Then, a linear

    controller was designed and inserted on the original system dynamics, improving its

    response in hazardous situation. To prove the controller performance in non-linear

    situations, a multibody model of a sample vehicle was built in MSC.Adams and co-

    simulated with the control system that was born in Matlab/Simulink.

    Keywords: Engineering. Automotive engineering. Control. Multibody systems.

  • LISTA DE SMBOLOS

    x Estimativa para um vetor A Matriz dinmica a1 Distncia do centro de massa ao eixo dianteiro a2 Distncia do centro de massa ao eixo traseiro Ax rea frontal equivalente b Rigidez longitudinal do pneu B Matriz de entradas b1 Bitola esquerda b2 Bitola direita C Matriz de observaes c1 Coeficiente de amortecimento dianteiro c2 Coeficiente de amortecimento traseiro cs,1 Coeficiente de rigidez lateral combinada do eixo dianteiro cs,2 Coeficiente de rigidez lateral combinada do eixo traseiro Cx Coeficiente longitudinal de arrasto aerodinmico Cy Coeficiente lateral de arras to aerodinmico

    C Coeficiente de rigidez lateral do pneu D Fora de arrasto aerodinmico Ec Energia cintica f0 Coeficiente de resistncia ao rolamento Fx Fora longitudinal Fy Fora lateral Fz Fora vertical g Acelerao do campo gravitacional h Altura do centro de massa Ix Momento de inrcia de rolagem Iy Momento de inrcia de arfagem Iz Momento de inrcia de guinada K Gradiente de sobesteramento k Coeficiente de fora longitudinal, rigidez linear de mola L Entre-eixos m Massa mns Massa no suspensa

  • ms Massa suspensa Mz Momento auto-alinhante qi Coordenada generalizada Qi Fora generalizada r Velocidade angular de guinada sx Escorregamento longitudinal sy Escorregamento T Energia cintica T1 Torque no eixo dianteiro T2 Torque no eixo traseiro U Energia potencial u Velocidade longitudinal v Velocidade lateral xi Varivel de estado

    Smbolos gregos

    ngulo de deriva

    ngulo de escorregamento

    ngulo de esteramento

    ngulo de arfagem

    ngulo de guinada, posio angular genrica

    Densidade do ar

    Velocidade angular

  • SUMRIO

    1 INTRODUO.................................................................................... 1

    2 REVISO DA BIBLIOGRAFIA ........................................................... 5

    2.1 INTERAO PNEU-SOLO ................................................................................ 5

    2.2 TPICOS DE DINMICA LONGITUDINAL ........................................................... 9

    2.3 TPICOS DE DINMICA LATERAL .................................................................. 11

    3 MODELOS PARA A DINMICA DO VECULO ............................... 15

    3.1 PNEU ROLANDO EM REGIME PERMANENTE ................................................... 15

    3.2 MODELO NO-LINEAR DA DINMICA LONGITUDINAL ....................................... 20

    3.3 MODELO NO-LINEAR DA DINMICA LATERAL ............................................... 33

    3.4 MODELO LINEARIZADO DA DINMICA LATERAL .............................................. 38

    4 PROJETO DO CONTROLE DA DINMICA LATERAL ................... 42

    4.1 ALOCAO DOS PLOS .............................................................................. 44

    4.2 ESTIMATIVA PARA A MEDIDA DA VELOCIDADE LATERAL ................................. 48

    5 PROTTIPO VIRTUAL .................................................................... 52

    6 DISCUSSO..................................................................................... 59

    7 CONCLUSO ................................................................................... 61

    REFERNCIAS ....................................................................................... 62

    APNDICE I: LISTAGEM DO PROGRAMA EM MATLAB MODELO DA

    DINMICA LONGITUDINAL ...................................................................... 1

    FUNO PARMETROS ......................................................................................... 2

    FUNO ENTRADA ............................................................................................... 3

    FUNO EQUAES ............................................................................................. 4

  • APNDICE II LISTAGEM DO PROGRAMA EM MATLAB - MODELO

    NO-LINEAR DA DINMICA LATERAL ................................................... 5

    FUNO EQUA ..................................................................................................... 6

    FUNO PARAM ................................................................................................... 7

    APNDICE III LISTAGEM DO PROGRAMA EM MATLAB - MODELO

    LINEARIZADO DA DINMICA LATERAL ................................................. 9

    FUNO DALFADX .............................................................................................. 13

  • 1

    1 INTRODUO

    Segundo Gillespie (1992), o incio da era do automvel se deu em 1769,

    quando o engenheiro militar Nicholas Joseph Cugnot inventou um veculo movido a

    vapor com o intuito de agilizar o deslocamento de tropas e suprimentos pelos

    campos de batalha. Genta (1997) sugere que o desenvolvimento de dispositivos de

    transporte automotores teve incio muito antes, passou por diversas modificaes e,

    especialmente durante o sculo XIX, tomou a forma atual.

    De qualquer maneira, a disciplina de dinmica veicular como hoje existe e

    conhecida surgiu a partir da fabricao do primeiro pneu de borracha por James

    Boyd Dunlop. A utilizao de pneumticos, em detrimento as antigas rodas slidas

    ou cobertas por finas camadas de borracha crua, mudou completamente a forma

    como os veculos poderiam interagir com o pavimento. Desde ento, os pneus

    sofreram muitas modificaes, tanto em composio como em forma construtiva.

    Somente nos ltimos vinte e cinco anos, com o crescimento da capacidade de

    processamento dos computadores, foi possvel de fato incluir o comportamento real

    dos pneus nas anlises de dinmica dos veculos. Antes disso, os projetistas

    baseavam-se no comportamento mdio apresentado em bancadas de teste, mas j

    conheciam aproximadamente as equaes que regiam a dinmica dos pneus

    automotivos.

    Como aponta Rill (2007a), o projeto com base em simulaes numricas

    tornou-se padro na indstria. Normalmente, esses ensaios computacionais so

    realizados por meio de tcnicas de sistemas multicorpos e, para serem viveis,

    requerem modelos matemticos dos pneus que sejam, ao mesmo tempo, simples

    (para reduzir o tempo de simulao) e precisos. Desde meados da dcada de 1990,

    muitos pesquisadores tm se esforado para desenvolver esses modelos e,

    atualmente, apesar de no ser um tema ainda concludo, j se dispe de

    ferramentas que descrevem muito adequadamente o comportamento dos veculos

    reais (especialmente os veculos de passeio).

    O desenvolvimento de sistemas de estabilizao e segurana veicular surgiu

    como resultado da consolidao desses novos conhecimentos.

    O ABS, lanado em 1978 pela Bosch, foi o primeiro desses sistemas e atua

    no sistema de freios apenas. O sucesso e longevidade desse mecanismo mostram a

  • 2

    importncia que ele assumiu para a indstria automotiva e seus padres de

    segurana. Os sistemas ABS comparam as rotaes de duas ou mais rodas no

    veculo e agem em cada um de maneira individual, evitando escorregamento

    excessivo que pode levar perda de controle do veculo.

    Mais tarde, como resultado de desenvolvimentos nas pistas de corrida,

    entraram em uso comercial os sistemas TC (ou de controle de trao), que atuam no

    mdulo de injeo eletrnica e sobre as linhas de freio para evitar a derrapagem dos

    pneus quando o veculo acelerado.

    A partir de 1995, comearam a ser produzidos na Europa mdulos de controle

    tipo ESP (electronic stability program) que fazem uso de conceitos tanto do ABS

    quanto do TC para controlar a dinmica lateral do veculo de maneira integrada. O

    ESP corrige a trajetria do veculo comparando a inteno do motorista (ngulo de

    esteramento e velocidade de translao) com o comportamento real (na forma de

    escorregamentos dos pneus).

    Em seu relatrio sobre o papel dos sistemas de estabilidade eletrnica na

    reduo de ndice de acidentes, Lie (2003) indica que, em estradas molhadas, o

    sistema diminui em 56% os acidentes em causados por perda de controle

    longitudinal. Segundo Whitehead (2006), nos EUA, o National Highway Traffic Safety

    Administration divulgou que, em 2003, o ESP reduziu em 64% o nmero de

    acidentes fatais.

    Na esteira dos desenvolvimentos eletrnicos e das propulses hbridas,

    algumas empresas comeam a desenvolver sistemas de freio tipo brake-by-wire,

    visando eliminar os componentes hidrulicos. Adotar atuadores totalmente

    mecatrnicos, em detrimento do tradicional circuito de comando servo-hidrulico traz

    uma srie de vantagens e abre o leque de possibilidades dos projetistas. Alm de

    reduzir o tempo de resposta do sistema a entradas de controle, esses dispositivos

    eletrnicos permitem maior preciso de comando, reduzem o nmero de partes

    mveis do veculo, eliminam a necessidade de linhas de presso para o fluido e,

    quando se trata de veculo de propulso hbrida, podem carregar as baterias, por

    meio de frenagem regenerativa.

    Atualmente, as principais pesquisas nessa direo so conduzidas pela

    Continental AG. Com a aquisio da VDO, no final de 2007, que j possua uma

  • 3

    srie de prottipos de pinas de freios eletricamente atuadas, a companhia pretende

    lanar no mercado, em breve, o primeiro sistema de freios eletromecnicos

    produzido em larga escala para automveis (pois em conjuntos ferrovirios a

    tecnologia j tem grande aplicao). Duas configuraes so anunciadas

    publicamente: o EMB (electro-mechanical brake) e o EWB (electronic wedge brake).

    A principal diferena entre as duas est na maneira de atuao nas pastilhas de

    freio, como mostra a Figura 1.1.

    (a) (b) Figura 1.1 Pinas de freios (a) EWB e (b) EBM.

    Segundo dados da prpria Continental, disponveis em seu stio, testes

    realizados na neve com pinas EWB reduziram em 15% a distncia de frenagem

    longitudinal.

    Apesar de suas vantagens, o desenvolvimento de dispositivos de freio

    automotivo totalmente eletromecnicos ainda sofre resistncia para sua

    implantao, pois lida com uma rea que crtica para a segurana dos passageiros

    do veculo. Para desenvolver um sistema desse tipo, dois problemas devem ser

    enfrentados.

    O primeiro envolve a potncia necessria para acionar a pina. Quando de

    desacelerando de 80 km/h a 0 km/h, um veculo de passeio leve, com cerca de 1200

    kg, pode requerer at 350 cv. Para que fosse possvel dissipar tal potncia com os

    12 V disponveis nas baterias automotivas comuns, seriam necessrios motores

    eltricos especiais, o que elevaria muito o custo.

    O outro ponto delicado diz respeito ao projeto de sistemas de controle - tanto

    do veculo, quanto dos prprios freios que sejam rpidos e confiveis. De certo

    modo, esse problema sempre esteve presente nos controles direcionais de veculos,

  • 4

    pois os pneus apresentam caractersticas muito no-lineares e que sofrem

    influncias de perturbaes externas muito variadas e incontrolveis. No bastando

    as complicaes matemticas inerentes modelagem do veculo em si, deve-se

    levar em conta outro controlador sobre o qual no possvel fazer alteraes: o

    prprio motorista. Cabe ao piloto utilizar seu bom senso e transmitir ao veculo

    comandos que expressem sua inteno e cabe ao veculo, por meio de suas

    caractersticas de reposta dinmica, comportar-se de forma a garantir um

    comportamento adequado.

    Partindo das premissas expostas, o presente trabalho tem como foco o

    desenvolvimento de sistema de controle de frenagem para um veculo automotivo de

    quatro rodas que compreenda o estado do veculo e atue de forma a re-estabelecer

    a estabilidade. O resultado final pretendido que o veculo se comporte de tal forma

    que, mesmo sem a ao do operador, sua estabilidade direcional seja mantida

    apenas pela ao do sistema de freios em cada uma das quatro rodas. Em outras

    palavras, deseja-se que o sistema de controle (e seus atuadores, as pinas) tenha

    autonomia e robustez suficientes para colocar o carro de volta em sua trajetria

    pretendida, caso ele, a certa velocidade e em certo raio de curva (mesmo que esse

    raio seja infinito), comece a perder estabilidade e tenda a girar em torno de seu eixo

    vertical.

    Para elaborar o projeto, foi necessrio derivar as equaes que regem a

    dinmica lateral e longitudinal de um veculo em uma curva de alta velocidade. Para

    validar e compreender como o controle, projetado de forma independente, altera o

    comportamento do veculo, utilizou-se um prottipo virtual montado no programa de

    simulaes multicorpos ADAMS/Car.

    Este trabalho apenas parte de um projeto mais amplo, que integra o

    controle da dinmica completa do veculo e atua nos freios, na suspenso, na

    direo e na gerao de potncia do veculo. As outras partes, compostas pelo

    controle ativo da geometria de suspenso e da direo so desenvolvidos

    paralelamente por Renan Destfani Monteiro e Ivan Miguel Trindade.

  • 5

    2 REVISO DA BIBLIOGRAFIA

    2.1 INTERAO PNEU-SOLO

    Quando se trata do estudo da dinmica de um veculo de solo, a utilizao de

    um modelo de pneu adequado essencial. atravs dos pneus que o veculo

    comunica-se com o pavimento, recebendo e enviando informaes que determinam

    seu comportamento global.

    Como aponta Rill (2007), em qualquer ponto de contato entre o pneu e a

    superfcie, foras normais e de atrito so geradas. Essas foras so resultado da

    aderncia ou do escorregamento de regies especficas da rea de contato (Figura

    2.1).

    Figura 2.1 Impresso da rea de contato de um pneu, mostrando as diferentes zonas de presso.

    Os esforos gerados nessa regio podem ser descritos por um sistema de

    coordenas tal que o eixo z normal pista, o eixo x perpendicular a z e ao versor

    de rotao da roda e y termina de formar a base positiva. A norma SAE J670e define

    esse sistema de coordenadas de maneira semelhante, porm com o eixo z

    apontando para baixo (GILLESPIE, 1992). Ao longo deste texto, porm, a primeira

    definio ser adotada, pois a utilizada por grande parte dos autores que tratam da

    modelagem do veculo no espao de estados (GENTA, 1997; RILL, 2007;

    PACEJKA, 2006).

    A Figura 2.2 mostra os possveis esforos que agem sobre um pneu:

    Fx fora longitudinal Fy fora lateral Fz fora vertical ou normal Mx torque de capotamento

  • 6

    My torque de resistncia ao rolamento Mz torque auto-alinhante

    Figura 2.2 Foras e momentos agindo sobre o pneu (adaptado de Rill ,2007).

    O comportamento das foras e momentos de atrito (Fx, Fy, Tx, Ty, Tz) depende

    de muitos fatores, mas, em geral, para um dado pavimento, pode ser modelado

    como uma funo da carga na roda, Fz, e de um escorregamento (diferena

    normalizada de velocidades) na direo da coordenada generalizada pertinente, si.

    De fato, os sistemas de controle veicular so projetados, normalmente, com base

    nessas funes f=f(Fz,si) e as outras influncias (perfil de pista, qualidade do

    pavimento, temperatura) so consideradas perturbaes ao sistema.

    De fato, um dos modelos matemticos de pneu mais utilizados, o da frmula

    mgica, desenvolvido por Pacejka no incio da dcada de 90, baseado na

    utilizao de polinmios para interpolar as curvas das propriedades com o uso de

    um nmero razoavelmente pequeno de valores empricos.

    Apesar de apresentarem formatos diferentes para cada esforo, as curvas

    f(Fz,si) so constitudas por trs regies distintas: de adeso, de transio e de atrito

    (ou de deslizamento), como ilustra a Figura 2.3.

    Em condies normais de acelerao e curva, o pneu no costuma sair muito

    da regio de adeso, que aproximadamente linear e pode ser caracterizada pela

    inclinao inicial do grfico:

    0

    ( , )

    i

    z ii

    i s

    df F sCds

    ( 1 )

  • 7

    Quando a roda est freando, a regio linear costuma ser superada e as foras

    geradas aproximam-se do valor de pico, que ocorre na regio de transio. O

    propsito dos controles ABS manter o pneu trabalhando nessa regio, de forma a

    transmitir para o solo toda a potncia de frenagem possvel, reduzindo a distncia

    percorrida para se parar o veculo. Em carros de competio, o os projetistas

    concentram os esforos em manter o pneu na regio de transio tambm durante a

    acelerao e curvas, aproveitando ao mximo a capacidade de aderncia.

    Figura 2.3 Diagrama de fora lateral (Fy) em funo do escorregamento (), mostrando as fases de

    contato.

    Trabalhar na regio de transio, porm, envolve um grande risco: aps

    passar pela fora de pico, as foras comeam novamente a diminuir com o aumento

    do escorregamento, o que pode levar a uma situao de deslizamento

    descontrolado.

    Do ponto de vista matemtico, a regio de transio pode ser modelada

    como:

    ( )i z iF F f s ( 2 )

    Onde f(si) pode ser, por exemplo, um polinmio em si. A zona de

    deslizamento pode ser caracterizada por um valor constante de Fi, mas, como j foi

    observado, deve ser evitada, exceto em casos excepcionais.

  • 8

    Em um pneu parado, a distribuio de presses normais no plano x-z

    simtrica em relao ao eixo z. Quando a roda gira, o gradiente de presso se

    desloca para frente, levando a fora vertical resultante nessa direo. Como mostra

    a Figura 2.4, essa mudana na linha de ao gera um momento que se ope

    rotao imposta roda e, em velocidades moderadas, esse efeito o principal

    componente da fora de resistncia ao rolamento dos pneus.

    Gillespie (1992) modela essa fora de resistncia como um esforo horizontal,

    que age no plano do solo no sentido oposto ao eixo x do veculo. Seguramente, essa

    hiptese incorreta, pois implica no aparecimento de um momento que tende a

    aumentar a velocidade da roda e, consequentemente, do veculo. Mesmo assim,

    outros autores (BOSCH, 2005; GENTA, 1997) costumam usar esse modelo quando

    a rotao das rodas no considerada como um grau de liberdade do sistema.

    Figura 2.4 Deslocamento da fora vertical.

    O mecanismo de gerao do torque auto-alinhante um pouco diferente.

    Esse esforo s aparece quando o pneu escorrega lateralmente e longitudinalmente

    ao mesmo tempo, isto , quando o vetor velocidade de translao no pertence ao

    plano x-z e nem ao plano y-z. As imagens da Figura 2.5 ilustram a gerao do

    momento auto-alinhante e de seu brao, conhecido como pneumatic trail. O

    momento auto-alinhante, bem como a prpria fora lateral, so influenciados pelo

    ngulo de cambagem da roda () e dependem diretamente do escorregamento

    lateral, sy, ou de seu equivalente, o ngulo de deriva do pneu, .

    interessante notar que, dependendo da intensidade do escorregamento

    lateral, o momento auto-alinhante pode mudar de sentido, forando a roda a virar

    mais, o que causa perda de estabilidade.

  • 9

    O estudo do comportamento exato de um pneu quando submetido a esforos

    no simtricos exige modelos muito mais complexos, nos quais os movimentos e

    esforos laterais no esto desacoplados dos longitudinais. Um pneu que exerce

    muita fora de trao tem menos capacidade de manter-se em curva sem deslizar

    lateralmente. No entanto, para pequenos ngulos de escorregamento razovel

    assumir que essas foras so desacopladas e model-las de maneira separada.

    (a) (b)

    Figura 2.5 (a) Roda em movimento no simtrico (adaptado de Milliken (1995)) e (b) curva tpica de

    torque auto-alinhante ajustado pelo modelo MF de Pacejka (adaptado de MRA).

    2.2 TPICOS DE DINMICA LONGITUDINAL

    O modelo mais simples para o estudo do comportamento longitudinal de um

    veculo de passeio apresentado na Figura 2.6. Nessa condio, todos os

    movimentos possveis do veculo ocorrem sobre seu eixo longitudinal, x.

    Apesar de ser um modelo excessivamente simples (por no considerar os

    deslocamentos do centro de massa e suas influncias sobre a variao das foras

    normais), essa aproximao clssica a base para a definio de uma srie de

    termos comuns nas anlises de dinmica veicular e permite a tomada de algumas

    constataes importantes.

  • 10

    Figura 2.6: Modelo de movimento puramente longitudinal adaptado de Gillespie (1992).

    A anlise das foras atuando no veculo representado na Figura 2.6 permite

    concluir que as reaes normais do solo so compostas por uma parcela esttica,

    que depende apenas da distribuio de massa do sistema, e por uma srie de

    parcelas que podem depender da acelerao, dos esforos aerodinmicos e da

    inclinao do terreno:

    1

    2

    2z x

    Outras influncias1 2 1 2 1 2

    Normal esttica Influncia da inclinao Influncia da acelerao

    1z

    1 2 1 2

    Normal esttica Influncia d

    a h hF mg mg sen ma ...a a a a a a

    a hF mg mg sena a a a

    x

    Outras influncias1 2

    a inclinao Influncia da acelerao

    h ma ...a a

    ( 3 )

    Onde:

    Fz fora normal a1 distncia longitudinal do centro de massa ao centro do eixo

    dianteiro a2 distncia longitudinal do centro de massa ao centro do eixo

    traseiro h altura esttica do centro de massa m massa total do veculo g acelerao da gravidade ax acelerao longitudinal

    ngulo de inclinao da rampa Esse um resultado especialmente importante, pois vlido mesmo quando

    so utilizados modelos mais complexos. Como j comentado, as foras verticais

    exercem influncia direta sobre a capacidade dos pneus de produzirem foras

  • 11

    longitudinais, ou x zF k F (na regio de aderncia), onde k pode depender de uma

    srie de condies de contorno e, portanto, razovel supor que no o mesmo

    para as rodas dianteiras e traseiras. Desprezando todas as formas de resistncia, a

    Segunda Lei de Newton escrita para a direo longitudinal do veculo torna-se:

    1 21 2x z z

    ma k F k F ( 4 )

    Ou, com a substituio das eq. ( 3 ):

    1 1 2 2 1 2 1 21 2 1 2 1 2

    x xmg h hma k a k a mg sen k k ma k k

    a a a a a a

    ( 5 )

    Admitindo k como constante, possvel isolar ax e encontrar soluo analtica

    para a eq. ( 5 ). No entanto, sabe-se que k depende diretamente da diferena entre a

    velocidade do veculo e a velocidade perifrica do pneu, isto , depende da integral

    de ax e de outra varivel. Nesse caso, a dinmica longitudinal claramente

    controlada por uma equao diferencial parcial no linear e que deve receber

    tratamento numrico para ser resolvida.

    2.3 TPICOS DE DINMICA LATERAL

    Usualmente, o estudo da dinmica lateral de um veculo separado paras as

    situaes de baixa velocidade e alta velocidade. As caractersticas dinmicas e de

    gerao de foras nos dois casos so radicalmente diferentes e as suas situaes

    de uso, tambm.

    Nas manobras em baixa velocidade como, por exemplo, em balizas ou

    estacionamentos, o veculo apresenta muito pouca tendncia de perder a

    estabilidade e as foras laterais geradas pelos pneus so praticamente desprezveis.

    Nesse caso, sem dvida, os ngulos de deriva dos quatro pneus devem tender a

    zero e essa a premissa bsica do modelo de esteramento de Ackerman, Figura

    2.7. Diz-se que geometria de Ackerman aquela na qual, para um dado raio de

    curva, as velocidades de todos os pneus esto alinhadas com seus planos de

    simetria vertical. No existem, ento, foras laterais.

    Note-se que esse um modelo meramente cinemtico, pois, se no existem

    foras laterais, o veculo no pode executar curvas com raio finito (no existe fora

    centrpeta).

  • 12

    Figura 2.7 Modelo de Ackerman (adaptado de Rill, 2007a).

    Na figura, 1 e 2 indicam os ngulos de esteramento das rodas dianteiras e

    P o ngulo de escorregamento de um ponto qualquer. Como os tringulos

    indicados sugerem, o ngulo de escorregamento de um ponto definido como o

    ngulo formado entre o eixo x do veculo e a velocidade absoluta daquele ponto. Se

    forem tomados os pontos de contato dos pneus, os ngulos de escorregamento

    coincidem com os de deriva.

    Por semelhana de tringulos, possvel demonstrar que, para que a

    hiptese de Ackerman seja satisfeita, os ngulos de esteramento devem ser dados

    por:

    11

    12

    LtanR

    LtanR t

    ( 6 )

    Com o uso dos sistemas atuais de esteramento, eminentemente mecnicos,

    no possvel atingir a geometria de Ackerman em todo o curso da direo, o que

    explica por que certos veculos emitem um rudo caracterstico quando manobrados

    em certas condies: so os pneus sendo arrastados com ngulos de deriva

    elevados.

  • 13

    A aplicao, desde a dcada de 80, de esteramento nas quatro rodas corrige

    esse efeito. No entanto, esses sistemas ainda so muito caros se comparados a

    mecanismos tradicionais como pinho cremalheira ou brao de Pitman e isso

    fornece certa resistncia a sua difuso como tecnologia predominante.

    No caso de curvas em alta velocidade, o raio costuma ser muitas vezes

    superior bitola do veculo, o que sugere a simplificao mais comum utilizada

    nessa situao: o modelo de bicicleta. Aqui, os ngulos de esteramento das duas

    rodas so considerados iguais e no h transferncia de carga lateral pelas

    aceleraes, o que torna a aproximao vlida apenas para pequenos desvios de

    uma dada condio de equilbrio.

    Figura 2.8 Modelo de bicicleta para veculo executando curva.

    Em regime permanente, ou seja, quando o efeito dos amortecimentos j no

    existe mais, as rodas geram foras contrrias ao raio de curva, mas no alinhadas

    com este, induzindo ngulos de deriva e de escorregamento no nulos. Isso provoca

    uma alterao no ngulo ideal de Ackerman, tan-1(L/R), com R medido no centro de

    massa.

  • 14

    Essa alterao ocorre devido a uma srie de fatores, entre eles as deflexes

    dos pneus, a configurao da geometria de suspenso e a existncia ou no de

    foras longitudinais nos pneus. O gradiente de sobesteramento, K, fornece uma

    medida simplificada do instante em que o veculo passa a cruzar a fronteira de

    estabilidade em malha fechada pois os novos ngulos de esteramento sero dados

    por:

    2 yaL V LK KR gR R g

    ( 7 )

    O gradiente depende particularmente da distribuio esttica de peso e da

    rigidez lateral dos pneus. Sua expresso completa no ser exibida aqui, mas pode

    ser obtida em diversas referncias como Gillespie (1992), Genta (1997), Pacejka

    (2004) e Rill (2007a).

    No texto de Rill (2007a), o gradiente no derivado explicitamente das

    equaes de movimento, mas aparece no contexto da anlise de auto-valores da

    matriz dinmica de um sistema linearizado.

    Se K assumir valor nulo, diz-se que o veculo possui comportamento neutro,

    pois a variao da acelerao lateral no acarreta mudana no ngulo de

    esteramento. Com K positivo, um aumento da acelerao lateral obriga o motorista

    a aumentar o ngulo de esteramento para corrigir a trajetria. Com K negativo, o

    motorista precisa reduzir o ngulo e, eventualmente, at mesmo contra-esterar o

    volante. Para um dado raio, a velocidade em que o ngulo de esteramento fica nulo

    conhecida por velocidade crtica e dada por:

    1 2

    1 2

    2

    1 2

    s scrit

    s s

    c c LV

    m a c a c

    ( 8 )

    A partir dessa velocidade, o veculo passa a ser instvel e dificilmente um

    motorista comum pode control-lo novamente.

  • 15

    3 MODELOS PARA A DINMICA DO VECULO

    3.1 PNEU ROLANDO EM REGIME PERMANENTE

    Nesta seo, sero desenvolvidas as equaes de movimento para um pneu

    genrico, movendo-se em uma estrada plana com algum ngulo de escorregamento

    e velocidade V. O sistema de coordenadas ser o mesmo definido na seo anterior

    e solidrio ao pneu.

    Figura 3.1 Esquema para o estudo da dinmica do pneu.

    Seja P a origem do sistema de coordenadas xyz e seja O a origem de um

    segundo referencial XYZ, fixo na terra. Assumindo como o ngulo entre os eixos x

    e X, uma possvel combinao de variveis que representa o estado do sistema em

    dado instante de tempo :

    , , , , , ,x y u v r x ( 9 )

    Esse vetor ilustra adequadamente os deslocamentos do pneu no plano x-y e a

    sua rotao ao redor do eixo da roda. Como aponta Pacejka (2006), as variveis u e

    v no so exatamente coordenadas, pois so definidas em um referencial no

    inercial e sua integrao no fornece a trajetria em xy.

    A deduo a seguir segue a linha sugerida por Pacejka (2006) e tambm

    aplicada em Genta (1997).

    Das equaes de Lagrange, segue que:

    i

    i i i

    d T T U Qdt q q q

    ( 10 )

    No sistema inercial fixo, as coordenadas x e y so expressas por:

  • 16

    cos sensen cos

    u X Y

    v X Y

    ( 11 )

    Mas:

    cos sen

    sen cos

    T T u T v T Tu v u vX X X

    T T u T v T Tu v u vY Y Y

    T Tr

    T T Tv uu v

    ( 12 )

    Combinando-se ( 12 ) com ( 11 ), chega-se a:

    u

    v

    r

    d T Tr Qdt u vd T Tr Qdt v ud T T Tv u Qdt r u vd T T Qdt

    ( 13 )

    As foras generalizadas vm do teorema do trabalho virtual:

    4

    1i i x y z

    jW Q q F x F y M T

    ( 14 )

    A energia cintica dada por:

    2 2 2 21 1 12 2 2z r

    T m u v I r I ( 15 )

    Ento, as equaes do movimento ficam:

    x

    y

    z z

    r m

    m u rv F

    m v ru F

    I r M

    I T

    ( 16 )

    Isolando as variveis de estado em ( 16 ):

  • 17

    x

    y

    z

    z

    m x

    r

    Fu rvmF

    v rumMrIT F R

    I

    ( 17 )

    Como j foi citado, as foras Fx e Fy e o momento auto-alinhante Mz

    linearizados podem ser modelados em funo da carga sobre o pneu.

    0 x x z zF k s F f F ( 18 )

    y zF C F ( 19 )

    z Mz zM C F ( 20 )

    O coeficiente de resistncia ao rolamento f0 varia com a velocidade, mas

    como o sistema ser linearizado em torno de uma condio de equilbrio, bastante

    razovel sup-lo constante.

    O escorregamento longitudinal, sx, definido como:

    x

    u RsR

    ( 21 )

    E o ngulo de deriva, aproximado por seu seno:

    sen vu

    ( 22 )

    Renomeando as variveis:

    1

    2

    3

    4

    m

    x ux vx rxu T

    Substituindo no sistema ( 17 ):

  • 18

    1 41 0 3 2 1 1 2 3 4

    4

    22 3 1 2 1 2 3 4

    1

    23 3 1 2 3 4

    1

    1 44 0 4 1 2 3 4

    4

    ( , , , , )

    ( , , , , )

    ( , , , , )

    1 ( , , , , )

    z

    z

    Mz z

    z

    zr

    k x RxFx f x x f x x x x um Rx

    c x Fx x x f x x x x umx

    c x Fx f x x x x ux I

    k x Rxx u F f R f x x x x u

    I x

    ( 23 )

    Tem-se, ento, um sistema de equaes no-lineares que descreve o

    comportamento da roda em movimento plano. A linearizao pode ser efetuada em

    torno de 0 0 0 01 2 3 4 0, , , ,x x x x u com a tcnica da expanso em sries de Taylor. O sistema pode, ento, ser escrito da seguinte forma:

    1 1 1 1

    11 2 3 4

    1 12 2 2 2 2

    1 2 3 42 2

    3 3 33 3 3 2

    1 2 3 44 4

    44 4 4 2

    1 2 4 4

    f f f f fx x x x u

    x xf f f f fx x x xx x u

    x x ff f f fux x x xx xff f f f

    x x x x

    u

    u

    ( 24 )

    Calculando as derivadas parciais:

    0

    0

    0

    0

    0

    1

    1 4

    13

    2

    12

    3

    112

    4 4

    1 0

    z

    z

    f F kx m R x

    f xxf xx

    F k xfx m R x

    fu

    ( 25 )

    0

    0

    0

    0

    0

    2232

    1 1

    2

    2 1

    21

    3

    2

    4

    2

    0

    0

    z

    z

    c F xf xx m x

    c Ffx m x

    f xxfxfu

    ( 26 )

  • 19

    0

    0

    0

    232

    1 1

    3

    2 1

    3

    3

    3

    4

    3

    0

    0

    0

    Mz z

    z

    Mz z

    z

    c F xfx I x

    f c Fx I x

    fxfxfu

    ( 27 )

    0

    1

    0

    4

    1 4

    4

    2

    4

    3

    042

    4 4

    4

    0

    0

    1

    z

    r

    z

    r

    r

    f F kx I x

    fxfx

    F k xfx I x

    fu I

    ( 28 )

    Para montar o sistema, sero admitidos os seguintes dados numricos

    tpicos:

    13 kgm

    21,243 kg mrI

    20,555 kg mzI

    8,185 1 radc

    0,0509 m radMzc

    4500 NzF

    3,66k

    0,350 mR

    E os pontos de linearizao:

    0110 m sx

    020,9 m sx

    030 rad sx

    0425 rad sx

    interessante notar que esses valores determinam que o sistema esteja

    linearizado para pontos que possuam escorregamento longitudinal prximos a 20%,

    ngulo de escorregamento de cerca de 5 e cuja rotao em torno de z no varia

    muito.

  • 20

    Para essa condio, as matrizes do sistema escrito no espao de estados

    ficam:

    144,8 0 0,9 57,9 025,5 288,33 10 0 03,714 41,3 0 0 0530 0 0 212 0,804

    A B

    x x u

    ( 29 )

    O polinmio caracterstico desse sistema dado por:

    4 3 2645,13 103303,09 151139,27 7756,41P s s s s ( 30 )

    E as solues para esse polinmio so apresentadas na Figura 3.2.

    Figura 3.2 Plos de malha aberta do sistema

    Fica claro que o pneu rolando livremente um corpo instvel. O resultado

    perfeitamente razovel, dado que, se h movimentos em z (curva) e y (rotao), a

    conservao do momento angular leva o pneu a ter algum movimento em x tambm,

    o que derrubaria o corpo no cho.

    3.2 MODELO NO-LINEAR DA DINMICA LONGITUDINAL

    O modelo desenvolvido a seguir uma derivao daquele apresentado na

    seo 2.2, mas que leva em considerao a ao da suspenso.

    Quando um veculo acelera ou freia, a transferncia de peso entre seus eixos

    causa deflexes na suspenso, dissipando parte da energia. Levar em considerao

    -100 -50 0 50 100 150 200 250 300 350 400

    -100

    -50

    0

    50

    100

    150

    Plos de malha aberta

  • 21

    esses efeitos implica em adicionar ao modelo pelo menos mais um grau de

    liberdade, representado pelo ngulo de arfagem da carroceria.

    Como indicado pela Figura 3.3, o modelo considerado composto por 3

    corpos rgidos movendo-se ao longo do plano x-z. A carroceria, representada pela

    massa suspensa, ms, pode mover-se tanto longitudinalmente quanto verticalmente,

    alm de poder inclinar-se para frente ou para trs, segundo o ngulo de arfagem .

    As duas rodas, que giram em torno de seus eixos (1 e 2) e transladam junto com a

    carroceria, esto ligadas ao corpo do veculo por um conjunto de molas e

    amortecedores.

    Figura 3.3 - Modelo de dinmica longitudinal com 5 graus de liberdade.

    As hipteses feitas para o desenvolvimento matemtico so apresentadas a

    seguir:

    1. O centro de arfagem coincide com o centro de massa da carroceria;

    2. A fora de arrasto aerodinmico, D, tem linha de ao horizontal que passa pelo

    centro de massa da carroceria;

    3. As molas e os amortecedores so lineares;

    4. Os valores de so pequenos, de forma que a aproximao sen vlida;

    5. O veculo no rola, isto , no apresenta rotao ao redor de x;

    6. As molas e os amortecedores so fixos na carroceria de tal forma que sua

    deformao exclusivamente vertical;

    7. O raio dinmico dos pneus suposto constante;

  • 22

    8. As deformaes dos pneus no afetam o movimento global.

    Desenvolvendo o problema, novamente, segundo o formalismo Lagrangeano,

    a energia cintica do sistema pode ser dada por:

    2 2 2 21 21 1 1 12 2 2 2 c s ns s y wE m m x m z I I ( 31 )

    A energia potencial fica:

    2 22 21 1 2 21 12 2s

    U m gz k a z k a z ( 32 )

    O efeito dos amortecedores pode ser avaliado quando se introduz a funo de

    dissipao de Rayleigh, R, que, nesse caso, :

    2 22 21 1 2 21 12 2R c a z c a z

    ( 33 )

    Nas expresses acima, a energia cintica foi representada por EC para evitar

    confuso com os torques aplicados s rodas, T1 e T2.

    Como se encontra apresentado em Martins (2006), as equaes de

    movimento podem, ento, ser determinadas a partir da forma generalizada das

    equaes de Lagrange:

    *i

    i i i

    d L L R Qdt q q q

    ( 34 )

    Onde *iQ representa as foras no-conservativas e no-dissipativas que

    agem na direo da coordenada generalizada qi.

    As coordenadas generalizadas so:

    1

    2

    3

    4

    5

    q xq zqqq

    As equaes, a partir daqui, sero desenvolvidas de maneira independente

    para cada coordenada generalizada, para tornar a deduo mais clara.

  • 23

    3.2.1 Equao de movimento para a coordenada x

    s ns s nsL d Lm m x m m xx dt x

    0Lx

    ; 0Rx

    Ento:

    *s ns xm m x Q ( 35 )

    3.2.2 Equao de movimento para a coordenada z

    s sL d Lm z m zz dt z

    1 2sL m g k z k zz

    1 2R c z c zz

    Ento:

    *1 2 1 2s s zm z c c z k k z m g Q ( 36 )

    3.2.3 Equao de movimento para a coordenada

    y yL d LI I

    dt

    2 21 1 2 2

    L k a k a

    2 21 1 2 2

    R c a c a

    Ento:

    2 2 2 21 1 2 2 1 1 2 2yI c a c a k a k a Q ( 37 )

    3.2.4 Equao de movimento para as coordenadas 1 e 2

    1w y

    L d LI Idt

  • 24

    1

    0L

    ; 0R

    O mesmo valendo para o segundo eixo. Assim:

    2

    *1

    *2

    w

    w

    I Q

    I Q

    ( 38 )

    As eq. ( 35 ), ( 36 ), ( 37 ) e ( 38 ) podem sugerir que o sistema totalmente

    desacoplado. Porm, a introduo das foras no-dissipativas ir revelar a relao

    entre os diferentes graus de liberdade. Rigorosamente falando, essas foras faro o

    papel das equaes restritivas, que relacionam os valores que um determinado grau

    de liberdade pode assumir com o estado do sistema como um todo. Por exemplo, se

    fosse feita a hiptese de que a roda move-se sem escorregar, a equao r x

    indicaria a relao existente entre a rotao do pneu e a translao do corpo do

    veculo. Outra forma de expressar essa relao atrelar a fora de acelerao (ou

    frenagem) ao torque produzido pelas foras horizontais de atrito. Assim, em regime

    permanente, xT r F .

    3.2.5 Foras generalizadas

    3.2.5.1 Foras verticais

    As primeiras foras a serem tratadas so as foras verticais de reao do

    solo.

    Essas reaes variam com a acelerao do corpo do veculo e com o arrasto

    aerodinmico, D:

    1

    0 02

    1 2 1 2 1 22ns

    z s s nsm h z h zaF m g m m x D

    a a a a a a

    ( 39 )

    2

    0 01

    1 2 1 2 1 22ns

    z s s nsm h z h zaF m g m m x D

    a a a a a a

    ( 40 )

    Claramente, a soma dessas duas componentes igual ao peso total do

    conjunto, ou s nsm m g . Assim, as foras generalizadas em z ficam:

    *z s nsQ m m g ( 41 )

  • 25

    3.2.5.2 Foras longitudinais

    Como foi apontado na reviso bibliogrfica, se for assumido comportamento

    linear, a gerao de foras longitudinais em um pneu automotivo pode ser expressa

    por:

    x z xF b F s ( 42 )

    A maior parte dos autores, entre eles Rill (2007) e Pacejka (2006) costuma

    definir esse escorregamento em termos da diferena relativa entre as velocidades

    perifricas:

    xr xs

    x ( 43 )

    Essa definio interessante, pois vale tanto para a acelerao, quanto para

    a frenagem. No entanto, quando a velocidade em x tende a zero, a funo de

    escorregamento apresenta uma singularidade numrica, o que impede seu uso

    computacional. Rill (2007) sugere, ento, o uso de uma pequena velocidade de

    correo, que deve ser adicionada ao denominador.

    Usando a eq. ( 43 ), ento:

    x z

    r xF b Fx

    ( 44 )

    A fora de arrasto aerodinmico usualmente (GENTA, 1997) modelada por:

    212 x x

    D C A x ( 45 )

    As foras generalizadas na direo x so resultado da soma das eq. ( 44 ) e (

    45 ):

    1 2

    * 221 2

    12x z z x x

    r x r xQ b F b F C A xx x

    ( 46 )

    Matricialmente, as reaes normais podem ser reescritas como:

  • 26

    0 02

    1 2 1 2 1 2

    0 02

    1 2 1 2 1 2

    12

    2

    nss s ns

    z

    nss s ns

    m h z h za m g m ma a a a a a

    F xm h z h za Dm g m m

    a a a a a a

    ( 47 )

    Dessa maneira, a segunda derivada temporal de x aparecer multiplicando a

    primeira derivada, o que dificulta a soluo do problema, mesmo numericamente.

    Uma aproximao razovel que permite eliminar esse efeito considerar uma

    acelerao de equilbrio, ao redor da qual a parcela dinmica pode ser calculada.

    Segundo testes apresentados no stio Carsale, um compacto mdio consegue

    frear de 100 km/h ao repouso em 53 m. Admitindo que a acelerao durante esse

    percurso seja constante, ela vale:

    2

    2100 1 m0 7,3 s3,6 2 53

    mdiaxa

    Obviamente, essa abordagem tem suas limitaes, pois no leva em

    considerao exatamente a acelerao instantnea. Para estudos gerais, no entanto

    ela vlida e, com o auxlio de um computador possvel modific-la

    dinamicamente com base em uma tendncia das aceleraes calculadas

    anteriormente pelo integrador.

    Com isso, as eq. ( 47 ) pode ser reescrita:

    0 02

    1 2 1 2 1 2

    20 01

    1 2 1 2 1 2

    12 2

    1

    2 2Fz

    ns x xs s ns x

    z

    ns x xs s ns x

    C

    m h z h z C Aa m g m m aa a a a a a

    Fm h z h z C Aa xm g m m a

    a a a a a a

    ( 48 )

    E as foras longitudinais podem ser rearranjadas como:

    1

    2

    1* 2

    2 2

    100 110 0 2z

    xx F x x

    x

    sbQ C C A x

    b sx

    ( 49 )

  • 27

    3.2.5.3 Momentos nas rodas

    Para a dinmica das rodas, surge novamente o problema da modelagem da

    fora de resistncia ao rolamento, imposta aos pneus. Como o modelo que est

    sendo desenvolvido at aqui conta com a rotao das rodas, admitir essa fora

    como totalmente horizontal implicaria na conseqncia indesejada de aumentar a

    rotao dos pneus. Referindo-se Figura 2.4, a resistncia ao rolamento ser

    considerada como um deslocamento do ponto de aplicao da fora vertical.

    Em seu livro, Genta (1997) sugere que a resistncia ao rolamento (ainda

    como fora longitudinal) seja modelada como:

    0 R zF F f Kx ( 50 )

    Com f0 e K valendo, respectivamente, 0,08 e 6,5 x 10-6, para piso rgido. A

    observao da ordem de grandeza desses fatores, auxiliada pelo grfico da Figura

    3.4, mostra que, para um estudo aproximado, a segunda parcela, dependente da

    velocidade, pode ser desprezada.

    Figura 3.4 Variao do coeficiente de resistncia a rolagem.

    O que se pretende achar, agora, uma relao entre a formulao da fora

    de resistncia ao rolamento como esforo longitudinal - que conhecida e

    apresentada em vrias fontes (GILLESPIE, 1992) (GENTA, 1997) e a formulao

    proposta como um deslocamento do ponto de aplicao da normal. Para tanto,

  • 28

    admite-se que os pneus de um veculo qualquer rolam sem escorregar. Quando a

    acelerao nula, o equilbrio de momentos nesse pneu fornece:

    0TOTALx x zF r F F f r T ( 51 )

    preciso encontrar uma relao tal que:

    x zF r F x T ( 52 )

    Igualando as eq. ( 50 ) e ( 51 ), encontra-se:

    0x f r ( 53 )

    Em outras palavras, deslocar o ponto de aplicao da fora em f0r tem o

    mesmo efeito no movimento do veculo, sem o inconveniente de acelerar a roda no

    sentido errado (no real).

    Dessa maneira, o equilbrio de momentos em cada roda fica:

    1 11 0

    *x zQ T F F f r ( 54 )

    2 2 22 0

    *x zQ T F F f r ( 55 )

    Nos momentos de arfagem, h a ao das normais, bem como das foras

    longitudinais. Rigorosamente, devido ao tratamento dado resistncia ao rolamento,

    o brao de ao das normais em relao ao eixo y deveria vir modificado por Fz.

    No entanto, esse valor vrias vezes menor do que a1 ou a2, e pode, aqui, ser

    desprezado. Dessa maneira, temos:

    2 1 1 22 1 0z z x xQ F a F a F F h z ( 56 )

    3.2.6 Forma final das equaes de movimento

    Aplicando as foras generalizadas desenvolvidas acima nas eq. ( 41 ), ( 49 ), (

    54 ), ( 55 ) e ( 56 ) nas equaes de movimento, tem-se:

    1. Para x:

    1 2

    221 2

    12s ns z z x x

    r x r xm m x b F b F C A xx x

    ( 57 )

    2. Para z:

  • 29

    1 2 1 2s nsm z c c z k k z m g ( 58 ) 3. Para :

    2 1 1 2

    2 2 2 21 1 2 2 1 1 2 2

    2 1 0

    y

    z z x x

    I c a c a k a k a

    F a F a F F h z

    ( 59 )

    4. Para 1 e 2:

    1 11 1 0w x zI T F r F f r

    ( 60 )

    2 22 2 0w x z

    I T F r F f r ( 61 )

    3.2.7 Modelo no-linear escrito no espao de estados

    Sejam as seguintes oito variveis de estado:

    1

    2 1

    x xx x x

    , 3

    4 3

    x zx x z

    , 5

    6 5

    x

    x x

    , 7

    8 2

    x

    x

    As equaes desenvolvidas anteriormente podem ser expressas em funo

    desses 8 estados, dando completa soluo ao problema no-linear.

  • 30

    1

    2

    1

    2

    2

    1 22

    2 22

    4

    1 1 2 4 1 2 3

    26

    3

    4 11 2

    5 2

    6

    7

    8

    1001 110 0 2

    1

    001 11 0 0

    z

    xF x x

    xs ns

    nss

    x

    x

    y

    x

    sbC C A x

    b sm mx

    x

    x m g c c x k k xmx

    xxx sb

    a ax b sIx

    xx

    1

    2

    1

    2

    0 322

    2 2 2 21 1 2 2 6 1 1 2 2 5

    11 0

    2 22

    12

    2

    11

    1001 1 0 10 0

    001 0 10 0

    z

    z

    F

    xF

    xw

    x

    xw

    h x Cx

    c a c a x k a k a x

    sbT r f r C

    b sIx

    sbT

    b sI

    0

    22

    11

    zFr f r C

    x

    ( 62 )

    O sistema acima foi montado em Matlab R2007a e simulado para uma

    entrada de torque em forma de degraus escalonados, conforme relaes de

    transmisso de um GM Corsa, apresentadas em Baruffaldi et alii (2008).

    3.2.8 Discusso do modelo

    As figuras a seguir ilustram graficamente os resultados obtidos para as

    simulaes em Matlab. A anlise dos grficos apresentados mostra prontamente

    algumas inconsistncias no modelo.

    Em primeiro lugar, a velocidade limite atingida foi de cerca de 80 km/h,

    quando se sabe que um veculo do porte do modelado pode atingir at cerca de 170

    km/h. Isso pode indicar alguma falha nas hipteses adotadas para as foras trativas

    ou para as foras de resistncia.

  • 31

    Figura 3.5 Velocidade longitudinal em funo do tempo.

    Figura 3.6 Comportamento vertical em funo do tempo.

    Figura 3.7 Comportamento de arfagem em funo do tempo.

  • 32

    Figura 3.8 Rotao da rodas em funo do tempo.

    Figura 3.9 Comportamento das foras normais nos eixos em funo do tempo.

    Figura 3.10 Escorregamento longitudinal dos pneus em funo do tempo.

  • 33

    Particularmente, provvel que a hiptese feita na modelagem das foras

    verticais envolvendo a acelerao mdia constante pode se apresentar como um

    fator prejudicial, como mostra o grfico da evoluo das normais, Figura 3.9: mesmo

    em velocidades baixas, a distribuio de massa fica longe da esperada para o

    repouso, indicando claramente a soma (ou subtrao) errnea de um valor virtual.

    Um modelo anterior, o primeiro desenvolvido para o projeto, apresentava uma

    curva de velocidade por tempo mais real, inclusive atingindo 100 km/h em cerca de

    onze segundos como era esperado. No entanto, a tentativa original falhava na

    representao da rotao das rodas (que subiam excessivamente) e dos

    escorregamentos. No modelo atual, esses dois desvios foram quase totalmente

    corrigidos, apesar das rodas ainda passarem um pouco do limite crtico para pneus

    radiais leves (que de cerca de 3% de escorregamento). Isso se deve escolha da

    constante b do pneu, que foi reduzida para evitar erros numricos na simulao.

    3.3 MODELO NO-LINEAR DA DINMICA LATERAL

    A experincia obtida com o modelo de dinmica longitudinal anterior mostrou

    a dificuldade em se trabalhar com equaes de movimento que levem em

    considerao a transferncia de carga decorrente das aceleraes. A linearizao

    de tal sistema, tambm, ficaria comprometida se fossem utilizadas expanses em

    sries de Taylor.

    Porm, se o controle sobre o veculo for exercido ao redor de uma condio

    de equilbrio, supondo pequenos desvios da mesma, razovel desprezar as

    transferncias de carga relacionadas s taxas de variao das velocidades. As

    constataes obtidas em Baruffaldi et alii (2008ii) endossam a possibilidade de

    desprezar um modelo de esforo longitudinal do pneus dependente do

    escorregamento.

    Admite-se, agora, um veculo executando um movimento livre em um plano,

    como mostra a Figura 3.11.

  • 34

    Figura 3.11- Veculo em movimento plano.

    Para o desenvolvimento do modelo matemtico, foram levantadas as

    seguintes hipteses:

    1. O veculo apresenta movimentos de rolagem e arfagem desprezveis e que no

    afetam a distribuio de peso entre as rodas;

    2. As foras desenvolvidas longitudinalmente pelos pneus independem dos

    escorregamentos e, portanto, so diretamente proporcionais ao torque aplicado

    pelo trem de foras;

    3. As foras laterais so dependentes das cargas verticais e dos ngulos de deriva

    e obedecem lei linear , ,y i z i iF C F ;

    4. Os ngulos de deriva so pequenos e podem ser aproximados por iii

    vu

    .

    O sistema apresenta trs graus de liberdade: duas translaes e uma rotao.

    Como o interesse est em se determinar as velocidades do veculo, mais

    conveniente descrever o problema em termos de coordenadas locais (no

    holnomas), que independam da posio absoluta do carro em um sistema de

    cartesiano.

  • 35

    O desenvolvimento das equaes de movimento segue o que foi visto na

    seo 3.1, para o caso do pneu. As foras de resistncia consideradas foram as

    aerodinmicas (longitudinal e lateral), aplicadas ao centro de massa do veculo, e a

    resistncia ao rolamento longitudinal dos pneus, aplicadas no centro da rea de

    contato dos pneus. O sistema ( 63 ) a seguir d a descrio matemtica do

    problema:

    2, ,

    2,

    1 ,1 ,2 2 ,3 ,4

    1 ,1 ,1 ,3 ,3 2 ,2 ,2 ,4 ,4

    12

    12

    x i r i x x

    y i x y

    y y y y

    x r x r x r x r

    mu mrv F F A C u

    mv mru F A C v

    Ir a F F a F F

    b F F F F b F F F F

    ( 63 )

    Nesse sistema, as velocidades de translao e rotao so as variveis

    dependentes e as foras longitudinais Fx,i so as entradas.

    A Tabela 3.1 elenca os valores das constantes substitudas para as

    simulaes:

    Tabela 3.1: Constantes utilizadas para as simulaes

    Constante Descrio Valor m Massa 1200,00 kg I Momento de inrcia de guinada 1070,00 kg.m Cx Coeficiente longitudinal de arrasto aerodinmico 0,33 Cy Coeficiente lateral de arrasto aerodinmico 0,80 Ax rea frontal 1,71 m

    Densidade do ar 1,225 kg/m

    f0 Coeficiente de resistncia ao rolamento 0,08 C Coeficiente de esteramento dos pneus 11,50 1/rad a1 Brao dianteiro 1007,00 mm a2 Brao traseiro 1483,00 mm b1 Brao esquerdo 700,00 mm b2 Brao traseiro 700,00 mm

  • 36

    3.3.1 Clculo das foras laterais

    Como j observado, a gerao das foras laterais nos pneus depende do seu

    ngulo de deriva que, para pequenos valores, pode ser aproximado pela razo entre

    as velocidades longitudinal e lateral do pneu. O veculo um corpo que apresenta

    rotao e, portanto, as velocidades nas reas de contato dos pneus no sero iguais

    s do centro de massa, mas podem ser escritas em funo destas.

    Se a carroceria comporta-se como um corpo rgido, a velocidade de um ponto

    qualquer, VP, dada por:

    iP O i

    P O V V ( 64 )

    A velocidade angular, , conhecida e vale rk

    . Os vetores (Pi-O) tambm

    so determinados pela geometria do veculo (Figura 3.11). Admitindo o ponto O

    coincidente com o centro de massa e efetuando as operaes pertinentes, os

    seguintes ngulos de deriva podem ser obtidos:

    11

    1

    v r au r b

    ( 65 )

    12

    2

    v r au r b

    ( 66 )

    23

    1

    v r au r b

    ( 67 )

    24

    2

    v r au r b

    ( 68 )

    Claramente, admitir essa aproximao para os ngulos de deriva j no

    sistema no linear leva a uma restrio maior de sua validade. preciso tomar certo

    cuidado o se analisar os dados provenientes da sua soluo. Para monitorar se o

    modelo permaneceu dentro da margem de validade durante as anlises, o programa

    escrito inclui o clculo dos ngulos de deriva de cada pneu.

    Para verificar a consistncia do modelo, foi realizada uma simulao de uma

    manobra tpica em pista molhada. Um veculo de trao dianteira parte com

    velocidade de 54 km/h (15 m/s) acelerando sob foras trativas de 4000 N. Aps 2

    segundos, o motorista v algum obstculo e solta o pedal do acelerador para apertar

  • 37

    os freios. Enquanto ele move seu p, o motor desacelera o veculo com 500 N por

    0,1 segundo. A partir da, h ao dos freios que, no entanto, no atuam de forma

    adequada, pois a pista do lado direito do veculo est molhada, reduzindo

    consideravelmente a potncia de frenagem disponvel.

    As foras desiguais geram um desequilbrio de momentos ao redor do centro

    de massa, que fora o giro do veculo. Eventualmente, o aumento das foras

    laterais, que proporcional aos ngulos de deriva dos pneus, faz o veculo voltar a

    andar em linha reta. Na realidade, essa volta ao equilbrio dificilmente ocorre, pois os

    pneus tendem a sair da regio de atrito linear e comeam a deslizar, cessando a

    gerao das foras laterais.

    Figura 3.12 - Velocidade longitudinal no modelo no linear.

    Figura 3.13 - Velocidade lateral no modelo no linear.

  • 38

    Figura 3.14 - Velocidade de guinada no modelo no linear.

    Figura 3.15 ngulos de deriva no modelo no linear.

    As Figuras de Figura 3.12 a Figura 3.15 mostram os resultados da anlise.

    Como o esperado, a perda de aderncia induz o giro do veculo, mas os pneus lutam

    para diminuir os ngulos de deriva aps passar por um pico. Foi tomado o cuidado

    para no ultrapassar os limites do modelo e, como se pode notar pela Figura 3.15,

    os ngulos de deriva no ultrapassam muito os 25.

    Apesar de possuir essa limitao quanto ao ngulo mximo de deriva dos

    pneus, o modelo pode ser considerado ideal para sofrer o controle, dado que, de

    fato, no desejvel que os pneus saiam da regio de aderncia linear.

    3.4 MODELO LINEARIZADO DA DINMICA LATERAL

    O modelo acima descrito pode ser linearizado ao redor de uma condio de

    equilbrio para estudar-se a dinmica das variaes das variveis de estado. Assim,

    o sistema, escrito em notao de Einstein fica:

  • 39

    00

    0 ,,

    j jj j x i

    j x i xx

    f fx f x x F

    x F

    ( 69 )

    Com i variando de 1 a 4 (para cada uma das rodas) e j de 1 a 3 (para cada

    uma das variveis dependentes).

    As funes fi so:

    , , 21 , , x i r i x

    F F Rf u v r rv um m

    ( 70 )

    22 ,, , yz i i

    Rkf u v r F ru vm m

    ( 71 )

    1 23 ,1 ,3 ,1 ,3 ,2 ,4 ,2 ,4

    1 2,1 1 ,2 2 ,3 3 ,4 4

    , , x x r r x x r r

    z z z z

    b bf u v r F F F F F F F FI I

    a k a kF F F FI I

    ( 72 )

    Nas equaes acima, Rx e Ry resumem as propriedades de arrasto

    aerodinmico.

    Como boa parte das propriedades foi considerada constante, o trabalho

    matemtico de linearizao fica restrito ao clculo das derivadas parciais dos

    ngulos de deriva e das funes com variveis cruzadas. Para organizar a

    programao computacional, foi criada uma funo especial cujo nico objetivo

    linearizar os ngulos de deriva.

    Explicitamente, as matrizes ficam:

    0 0 0

    0 0 0

    1 2 1 2

    3 4

    1 3 2

    3 2 11 1 1

    1 2 1 21 1

    1 1 2 2

    3 41

    1 1

    2

    2i i i

    x

    i i iz z y z

    z z z z

    z z

    R x x xm

    k k kF x F R x F xm x m x m x

    a F F a F Fx x x xk k

    I Ia F F

    x x

    A

    1 2

    3 4 3 4

    1 21

    3 3

    3 4 3 42 2

    2 2 3 3

    z z

    z z z z

    a F Fx xk

    Ia F F a F F

    x x x x

  • 40

    1 2 1 2

    1 1 1 1

    0 0 0 0m m m m

    b b b bI I I I

    B

    Onde i jx so as derivadas parciais dos ngulos de deriva.

    A qualidade da linearizao foi testada com uma entrada semelhante quela

    utilizada no modelo no-linear e os resultados so mostrados a seguir, na Figura

    3.16.

    Pode-se notar que a resposta linear amenizada, se comparada com a no

    linear, mas que o comportamento se mantm. Esse resultado obviamente j era

    esperado, mas garante a qualidade da linearizao.

    Figura 3.16 - Respostas do modelo linearizado.

    3.4.1 Nota sobre o modelo da dinmica lateral

    Ao primeiro contato, esse modelo simplificado de dinmica lateral pode

    parecer demasiadamente incompleto, pois no leva em considerao as rotaes

    dos pneus e seus escorregamentos. Dois argumentos, porm, depe a seu favor.

    O primeiro deles a simplicidade. No considerando os escorregamentos, o

    processo de entendimento do fenmeno ficou mais fcil, sem perda significativa de

    qualidade (ainda que os dados no sejam quantitativamente corretos). O algoritmo,

    no entanto, foi confeccionado de forma que a incluso dos efeitos da redistribuio

  • 41

    da carga e de mudanas nos coeficientes de esteramento das rodas fosse

    facilitada.

    O segundo argumento o fato de ser possvel utilizar dois sistemas de

    controle separados. O primeiro, que ser desenvolvido a seguir, procura controlar o

    veculo como um todo e informar s pinas de freio qual a fora que deseja nas

    rodas para que isso seja possvel. Este sistema estar interconectado com o

    mecanismo de auto-ajuste das rodas que, baseado nas foras informadas pela

    malha principal, atuar diretamente sobre a rotao e sobre o escorregamento de

    cada pneu. Em outras palavras, o modelo simplificado fornece, para as aes de

    controle, uma viso global do estado do veculo, enquanto que os controles das

    rodas atuam nos problemas de forma local.

  • 42

    4 PROJETO DO CONTROLE DA DINMICA LATERAL

    Com o sistema linearizado ao redor de uma condio de contorno, possvel

    utilizar as tcnicas disponveis para realizar o controle da dinmica do sistema. Para

    tanto, as equaes delimitadas no item 3.4 podem ser escritas no espao de

    estados, como:

    x Ax Buy Cx Du

    ( 73 )

    Claramente, o contedo das matrizes A e B depende da condio de

    linearizao utilizada. Por exemplo, para um veculo movendo-se em linha reta a 20

    m/s, a matriz dinmica fica:

    20,0,0

    0,0115 0 00 0,575 200 0 0,963

    A

    Enquanto que, para a velocidade de 55 m/s, a mesma matriz dada por:

    55,0,0

    0,0317 0 00 0,2091 550 0 0,3502

    A

    Fisicamente, isso significa que o sistema apresentar comportamentos

    diferentes para diferentes condies de entrada. Do ponto de vista do projeto de

    controle, necessrio atentar para o fato de um veculo de passeio comum trafegar

    em condies muito diversificadas de velocidade e aderncia. Tipicamente, a

    necessidade de controle de estabilidade aparece quando a velocidade ultrapassa 30

    km/h (8,3 m/s). De fato, se o controle estiver ativo nas velocidades de manobra, seu

    efeito pode ser desagradvel para o motorista.

    Alm disso, as condies de estabilidade podem variar com a combinao de

    condies iniciais de linearizao. Com o veculo andando em linha reta, o sistema

    inerentemente estvel na faixa de velocidades estudada (Figura 4.1). Quando

    submetido a condies inicias mais extremas, como grandes velocidades de

    guinada, o veculo corre o risco de tender instabilidade. A Figura 4.2 mostra outro

    mapa de razes do sistema com diversas combinaes de condies iniciais. De

    maneira geral, possvel notar que o sistema deixa de ser estvel quando o ngulo

  • 43

    de deslizamento lateral comea a ultrapassar 5 (em outras palavras, quando as

    hipteses de linearizao deixam de ser vlidas).

    Figura 4.1 Mapa do lugar das razes para velocidade longitudinal entre 10 m/s (x) e 60 m/s (o).

    Figura 4.2 Mapa do lugar das razes para diversas combinaes de condies iniciais.

    interessante, porm, que o controle remodele o sistema de maneira a

    garantir sua estabilidade mesmo em situaes mais adversas. Isso pode ser feito

    pela alocao dos plos e dos zeros das funes de transferncia entre entradas e

    variveis de estado ou, sob a tica do controle moderno, pelo re-mapeamento das

    auto-caractersticas da matriz dinmica do sistema.

  • 44

    A planta do sistema apresenta trs variveis de estado: a velocidade

    longitudinal, a velocidade lateral e a velocidade de guinada. A primeira e a ltima

    grandeza podem ser medidas, ou estimadas, por sensores de roda e sensores de

    guinada. Os sensores de roda, usualmente, so compostos por discos vazados, ou

    engrenagens, que giram e refletem os pulsos de sensores indutivos de presena

    (Figura 4.3). Em um veculo normal, dotado de diferencial e freios ABS, podem

    existir de dois a quatro desses e a velocidade longitudinal do veculo pode ser obtida

    com o uso de um filtro de Klman aplicado aos sinais de tais sensores. Os sensores

    de velocidade de guinada tambm j equipam veculos dotados de sistemas de

    controle ESP e podem ser encontrados no mercado. J a velocidade lateral deve ser

    estimada a partir dos dados dos sensores e das entradas pretendidas. Para isso,

    necessrio o projeto de um observador de estados, que uma reproduo da planta

    original que tem como sada uma estimativa dos componentes faltantes do vetor de

    estados.

    Figura 4.3 Detalhe de manga de eixo mostrado o disco dentado e o sensor de velocidade.

    4.1 ALOCAO DOS PLOS

    Uma das tcnicas mais consolidadas para o projeto de controle no domnio do

    tempo a alocao de plos. Esse mtodo consiste em modificar a dinmica do

    sistema, posicionando as razes da equao caracterstica (dada por 0sI A ) de tal forma que o sistema responda da maneira desejada.

  • 45

    Apesar de ser de implantao um pouco mais cara, os sistemas de controle

    baseados no espao de estados, em contraposio queles desenvolvidos a partir

    das funes de transferncia, permitem uma abordagem mais integrada dos

    diversos graus de liberdade.

    Tome-se, para o projeto de controle, uma situao na qual o controle de

    aderncia dos pneus pode ser essencial para que a segurana do usurio: o veculo

    andando em linha reta a 20 m/s (72 km/h). Para representar a perda de aderncia

    nessa situao, imps-se uma fora contrria ao movimento apenas na roda traseira

    direita. Nesse caso, a resposta do veculo dada pela Figura 4.4.

    Note-se que a velocidade longitudinal passa a cair quase que

    monotonicamente. O mais grave, no entanto, o crescimento e a estabilizao em

    um valor de cerca de -3,8 /s da velocidade de guinada. Isso indica que o veculo

    passa a executar um movimento de rotao em volta do prprio eixo de intensidade

    considervel. Como o modelo linear amaina os efeitos percebidos na prtica, de se

    esperar que o veculo real comporte-se de maneira ainda mais instvel.

    Figura 4.4: Resposta do sistema linearizado a entrada degrau na roda traseira direita.

    Para o caso estudado em especial, os plos de malha aberta encontram-se

    em -0,0115 (velocidade longitudinal), -0,5750 (velocidade lateral) e -0,9630

    (velocidade de guinada). Como, em um sistema linear, o modo dominante aquele

  • 46

    referente ao plo lento, conclui-se que a baixa freqncia natural da velocidade

    longitudinal atrasa a resposta do sistema.

    O controle por alocao de plos feitos impondo-se aos atuadores do

    sistema entradas proporcionais ao estado, ou, matematicamente:

    11 12 13 14 1

    21 22 23 24 2

    31 32 33 34 3

    k k k k xk k k k xk k k k x

    u Kx ( 74 )

    Substituindo a expresso ( 74 ) na equao da dinmica do veculo, chega-se

    a:

    x A BK x B f ( 75 )

    Onde f so as foras sobre as quais no pode haver ao de controle e que,

    no modelo, fazem as vezes de interferncias do meio sobre o veculo (quedas de

    aderncia locais).

    Por tentativa e erro, pde-se concluir que uma trinca de valores de plos que

    satisfaz adequadamente as condies de resposta para uma boa gama de

    condies de controle :

    1 2,5p 2 3,2 0,5p i 3 3,2 0,5p i

    A resposta ao mesmo degrau de aderncia que ocorre no caso anterior com o

    sistema controlado dessa maneira dada pela Figura 4.5.

  • 47

    Figura 4.5: Resposta controlada ao degrau na roda traseira direita.

    Com isso, a velocidade angular de guinada apresenta sobre sinal mximo de

    141% e tempo de acomodao de cerca de 4 segundos. O sobre sinal pode, em

    primeira anlise, parecer exagerado, mas comparando com a resposta obtida na

    Figura 4.4, nota-se que a intensidade da variao foi bastante reduzida.

    Transmitindo para a realidade, o motorista sentiria o veculo tender a girar

    levemente no sentido horrio. Se nenhuma ao for tomada pelo usurio, o veculo

    tender a continuar girando, porm, o controle atenua a velocidade de giro, dando a

    ele tempo de tomar alguma ao corretiva.

    A qualidade da resposta do sistema tambm pode ser verificada por outra

    situao possvel. Agora, o motorista sente a passagem de uma regio de baixa

    aderncia no pneu traseiro direito e executa uma frenagem de emergncia,

    rapidamente travando as rodas.

  • 48

    Figura 4.6 Resposta do sistema com e sem controle para frenagem de emergncia

    Observa-se que a resposta mostrou-se adequada, atenuando as aceleraes

    e reduzindo o tempo de resposta.

    4.2 ESTIMATIVA PARA A MEDIDA DA VELOCIDADE LATERAL

    A tcnica de uso de observadores de estado para se estimar a situao de

    um sistema linear em dado instante amplamente conhecida e pode ser encontrada

    em diversos autores (OGATA, 2004). Um observador de estados de ordem plena

    simula totalmente a dinmica do sistema original na busca por uma aproximao xo

    para o vetor de estado. Quando se tem medidas da algumas das variveis, no

    necessrio que o vetor de estimativas tenha a mesma dimenso do vetor de

    estados, visto que pode ser completado pelas informaes dos sensores. Nesse

    caso, o observador de ordem mnima.

    No caso do modelo do veculo estudado, duas das variveis de estado esto

    disponveis para realimentao direta, mas a velocidade lateral deve ser estimada.

    Assim, o vetor de estados pode ser dividido em duas partes: um vetor contendo as

    quantidades mensurveis e um escalar no-mensurvel. Assim:

  • 49

    1

    2

    3

    4

    1 0 00 1 00 0 0

    x

    xa aa ab a a

    b ba bb b b x

    x

    a

    b

    F

    F

    x A x B F

    F

    x

    x A A x BA

    xy

    ( 76 )

    A parte no mensurvel do modelo apresenta a seguinte dinmica:

    b ba a bb b bx A x B A x u ( 77 )

    J o vetor de medidas do observador de ordem mnima pode ser entendido

    como:

    a aa a a ab bx x A x B u A ( 78 )

    Um observador de estados completo apresenta a seguinte equao dinmica

    (OGATA, 2004):

    o o o o x A K C x Bu K y ( 79 )

    Lembrando que y dado por Cx e subtraindo a equao da dinmica do

    sistema, pode-se encontrar a equao diferencial do erro de estimativa para o

    observador de ordem plena:

    o oe e x x A K C ( 80 )

    Por analogia com o sistema obtido para a dinmica da parte no mensurvel

    do vetor de estados, a equao do erro do observador de ordem mnima deve ser

    dada por:

    bb o abe e A K A ( 81 )

    usual, no projeto de observadores de ordem mnima, utilizar a seguinte

    transformao de coordenadas (OGATA, 2004):

    b o ab o a

    xx

    K xK x

    ( 82 )

  • 50

    Com a aplicao das eq. ( 77 ) e ( 78 ) na eq. ( 82 ), a dinmica da estimativa

    fica dada por:

    o oo

    o bb o ab bb o ab o ba o aa b o aA A B B A FB

    K A K A K A K A y K u ( 83 )

    E a relao entre x e :

    1 2

    0 1 00 0 11

    o o

    o o

    o ok k

    C D

    x y

    ( 84 )

    O diagrama de blocos da Figura 4.7 mostra como fica o sistema acoplado ao

    controlador observador.

    Figura 4.7 Diagrama de blocos do sistema com controlador-observador.

    Finalmente, o projeto do observador de estados consiste em alocar

    adequadamente os auto-valores para que o erro de estimativa convirja mais

    rapidamente do que a resposta do sistema. Apesar de, como foi dito anteriormente,

    as condies de linearizao definirem qual a dinmica do sistema no observado,

  • 51

    pode-se notar que seu plos mantm-se dentro da faixa que vai at -2 para uma

    ampla faixa de valores iniciais.

    A Figura 4.8 mostra como evolui o erro de observao quando o erro inicial

    de 3 m/s.

    Figura 4.8 Erro de observao.

  • 52

    5 PROTTIPO VIRTUAL

    Apesar de o projeto de controle ter sido desenvolvido para um sistema

    linearizado, ele deve ser utilizvel em situaes e reais.

    Para validar o modelo e as estratgias de controle desenvolvidas

    anteriormente, optou-se por confeccionar um prottipo virtual em ambiente de

    simulao multicorpos.

    Os problemas de sistemas multicorpos geralmente envolvem a resoluo de

    sistemas de equaes com matrizes esparsas, que exigem estratgias especiais no

    algoritmo de resoluo e mtodos de passo varivel (o que faz com que o Jacobiano

    varie continuamente). Apesar de o Matlab possuir funes que resolvem esse tipo

    de problema, elas no so otimizadas para esse fim.

    O MSC.Adams, um programa destinado simulao de sistemas multicorpos,

    possui um mdulo que permite ao algoritmo de soluo das equaes comunicar-se

    com o Matlab para receber informaes sobre o controle baseadas nas sadas de

    cada iterao no tempo.

    A Figura 5.1 mostra uma imagem do modelo montado no Adams para as

    simulaes.

    Figura 5.1 Prottipo virtual no Adams/Car.

  • 53

    A comunicao entre o Matlab e o Adams se d por meio de portas de

    entrada e sada criada no ambiente multicorpos. Essas portas transportam a

    informao entre os dois programas.

    As anlises conduzidas foram baseadas em uma manobra padronizada, a

    mudana de faixa ISO 3888. O veculo parte com uma velocidade determinada,

    muda de faixa e volta trajetria retilnea original, como se estivesse ultrapassando

    um carro ou desviando de um obstculo.

    Essa manobra especialmente interessante para simular o desempenho do

    sistema porque, originalmente, no necessria a aplicao dos freios. Quando o

    asfalto se torna muito escorregadio, no entanto, o motorista precisa corrigir o curso

    com comandos de sobre-esteramento. Com o auxlio do sistema de freios

    controlado, no entanto, a tarefa fica facilitada.

    Como uma forma de verificar a sinergia entre os dois programas utilizados, a

    mesma simulao base foi calculada somente no Adams e, depois, com o

    processamento paralelo. O resultado das anlises aparece sobreposto na Figura

    5.2, juntamente com um grfico mostrando a diferena absoluta entre os grficos.

    Pode-se perceber que o erro desprezvel.

    A eficincia do sistema de controle foi analisada por cinco casos-teste. Em

    todos eles, a velocidade inicial de 100 km/h e o sistema apresentado na seo 4

    foi linearizado ao redor das condies 100 km/h (velocidade longitudinal), 0 m/s

    (velocidade lateral), 0 rad/s (velocidade angular de guinada). Para o coeficiente de

    atrito da estrada foram impostos valores de 1.0, 0.8, 0.5, 0.3 e 0.1 (casos A, B, C, D

    e E, respectivamente). No Adams, o coeficiente de atrito da estrada um valor que

    multiplica as foras geradas pelos pneus, representados por um modelo Pacejka.

    A Figura 5.3 mostra o diagrama de blocos montado no Matlab/Simulink e a

    tabela descreve a funo de cada bloco de interesse. Algumas adaptaes foram

    necessrias para adequar o sistema de controle original sua aplicao junto ao

    Adams.

    Em primeiro lugar, foi necessrio limitar os sinais de controle a valores

    negativos ou nulos, j que os atuadores de freios s podem imprimir foras

    contrrias ao movimento. O grande inconveniente dessa abordagem a perda de

    informaes e, conseqentemente, de energia.

  • 54

    Tabela 5.1 Funo dos blocos.

    Bloco Descrio

    Sistema Subsistema que executa a interface com o Adams. Contm as

    funes de transferncia e os protocolos de comunicao. Tem

    como entradas os quatro torque nas rodas e como sadas

    diversas medidas fornecidas pelo Adams.

    Ganho -1 Inverte o sinal da velocidade angular de guinada para adequ-

    lo ao sistema de coordenadas utilizado no controle

    Ganho de controle Matriz de ganhos de controle obtida para a alocao de plos

    do sistema.

    Ganhos 1/1000 Como o Adams apresenta as velocidades lineares em mm/s,

    esse ganho converte-as para as unidades do projeto, m/s.

    Integrador Integra o sinal de velocidade angular de guinada para

    determinar sua acelerao.

    Limitador de

    saturao

    Deixa apenas os sinais negativos passarem.

    Limitador de

    saturao 2

    Deixa apenas velocidades acima de 20 m/s serem utilizadas na

    rotina de controle, o que evita ganhos excessivos.

    Raio dos pneus Multiplica o valor das foras que saem do Ganho de controle

    pelo valor do raio de rolamento efetivo dos pneus.

    Switch Compara os valores do ngulo de escorregamento e estabelece

    que o controle s seja passado ao sistema se essa grandeza

    for superior a um dado valor.

    Outra modificao est relacionada ao conforto e sensao de controle do

    motorista do veculo. Caso as aes de controle comecem a acontecer para

    qualquer pequeno desvio das condies iniciais, elas podem dificultar os comandos

    do motorista, por exemplo, em manobras de estacionamento. Por isso, as

  • 55

    informaes de controle s passam para o sistema se o ngulo de escorregamento

    superar cerca de 8.

    Figura 5.2 - Comparao entre duas simulaes sem controle rodadas somente no Adams e com

    simulao paralela Matlab/Adams.

    Figura 5.3 Diagrama de blocos montado no Simulink.

  • 56

    Em linhas gerais, o bloco Sistema fornece, a cada passo de tempo, os valores

    das velocidades de interesse, que so transformadas em vetor no multiplexador As

    informaes so comparadas com o valor de referncia e a diferena multiplicada

    pelo ganho de controle K (da matriz de alocao de plos). O ganho referente ao

    raio dos pneus transforma a sada em torque e o limitador de sinal rejeita os valores

    positivos; os comandos, ento, so reinseridos no sistema e o ciclo se repete.

    A Figura 5.4 a seguir mostra o resultado dos casos A, C e E simulados no

    Adams sem nenhuma ao de controle nos freios. Note-se que do caso A para o

    caso C h pouca alterao na trajetria descrita pelo veculo. J na situao E, com

    a pista muito escorregadia, o motorista leva muito mais tempo para trazer o carro de

    volta linha reta original.

    Na Figura 5.5 pode-se verificar a variao do ngulo de esteramento (no

    volante) que o motorista deve impor ao veculo para que a trajetria retilnea seja

    retomada. Na pista em condies ideais, caso A, o condutor mal precisa deslocar a

    direo (cerca de de volta) para trocar de pista a 100 km/h. Com 30% da

    aderncia inicial, no caso D, o volante deve ser esterado mais de 360 para

    devolver o veculo pista de origem. Se o coeficiente de atrito cai para 0.1, o

    motorista deve executar manobras de contra-esteramento com mais de duas voltas

    completas no volante.

    Figura 5.4 Trajetria do veculo para trs casos de pista sem controle nos freios.

  • 57

    Figura 5.5 Deslocamento angular do volante durante a mudana de pistas sem controle.

    O controle sobre as rotaes dos pneus reduz sua capacidade de gerar foras

    longitudinais, redirecionando a energia de contato para as laterais. Esse efeito ajuda

    o veculo a recuperar a estabilidade.

    Para os casos em que o veculo no apresenta deslizamento excessivo, o

    controle no se faz presente, como ilustra a Figura 5.6.

    Figura 5.6 Caso A com e sem controle de frenagem.

    Quando as condies so extremas, no entanto, a ao do controle permite

    ao motorista controlar o veculo de maneira mais velos, ainda que sacrificando um

    pouco do conforto: a Figura 5.7 mostra a comparao entre as trajetrias dos casos

    A e E sem controle e do caso E com controle. Fica claro que, com o auxlio ativo dos

  • 58

    freios, o motorista consegue retomar a trajetria original de forma quase como se a

    pista no fosse escorregadia.

    Figura 5.7 Comparao entre simulao dos casos A e E sem controle e E com controle.

  • 59

    6 DISCUSSO

    Os resultados apresentados pela interao Adams/Simulink podem ser

    considerados satisfatrios. A Figura 5.7 mostra que, sem as aes de controle

    aplicadas ao sistema de freios, o veculo demora praticamente o dobro de tempo

    para cruzar com sua trajetria original. Em uma situao real, essa diferena em

    distncia poderia prevenir um acidente.

    Se por um lado h uma melhora no controle direcional, as frenagens causam

    certo desconforto. A Figura 6.1 mostra a comparao entre as evolues temporais

    das aceleraes verticais no caso mais extremo controlado e no caso mais favorvel

    sem controle algum. Nota-se que, com o controle, o chassi continua sofrendo

    aceleraes por mais tempo, aumentando a sensao de desconforto.

    Figura 6.1 Aceleraes verticais em dois casos.

    Uma maneira de se reduzir essa tendncia seria incluir nas variveis

    controladas os ngulos de rolagem e arfagem. Isso aumentaria a complexidade do

    modelo, pois esses estados so acoplados com as aceleraes longitudinais e

    laterais.

    Como j discutido anteriormente, o controle desenvolvido deve, idealmente,

    funcionar como um lao externo, que controla a dinmica global do veculo e que

    passa informaes para o controle especfico de cada roda, que d conta da

    dinmica das foras nos pneus. Esse lao menor, acionado pelas pinas de freio,

  • 60

    deve receber como entradas os escorregamentos e determinar qual a fora que

    deve ser exercida pelo pisto para atender aos comandos do lao exterior.

    Para aperfeioar as capacidades do sistema de controle, seria interessante

    que, de tempos em tempos, ocorresse uma relinearizao do sistema ao redor das

    condies medidas. Isso faria com que a matriz de ganhos de controle fosse

    variante no tempo.

  • 61

    7 CONCLUSO

    Com base nos conhecimentos sobre a dinmica de veculos e sobre o

    comportamento dos pneus, foram desenvolvidos dois modelos bsicos para se

    estudar as respostas de um automvel em termos de deslocamentos longitudinais,

    verticais e laterais.

    Observando-se os resultados obtidos com o modelo da dinmica longitudinal

    e comparando-os com dados de simulaes de trabalhos anteriores, foi possvel

    concluir que uma modelagem simplificada da gerao das foras longitudinais dos

    pneus poderia ser adequada e razoavelmente precisa.

    Um sistema de controle linear foi desenvolvido com base nas equaes de

    movimento em curva do veculo. A abordagem de espao de estados foi adotada e

    um controlador por alocao de plos buscou conformar as caractersticas de

    resposta dinmica do sistema.

    Para confirmar a qualidade dos mecanismos de controle, co-simulaes com

    o uso de programas multicorpos (MSC.Adams) e de CACSD (Matlab) foram

    utilizadas, mostrando a eficincia das aes corretivas em situaes de aderncia

    reduzida.

  • 62

    REFERNCIAS

    AA1CAR. Apresenta informaes sobre reparos de automveis. Disponvel em: . Acesso em: 21 de novembro de 2008. BARUFFALDI, L. B. et alii. Acelerao-Trao-Inrcias: Corsa hatch 1.4 Maxx. So Paulo: EPUSP, 2008. Relatrio tcnico apresentado na disciplina PME2540 Engenharia Automotiva I. 15 p. BARUFFALDI, L. B. Et alii. Desempenho em acelerao e frenagem: Corsa hatch 1.4 Maxx. So Paulo: EPUSP, 2008. Relatrio tcnico apresentado na disciplina PME2540 Engenharia Automotiva I. 13 p. BOSCH, R. Manual de tecnologia automotiva. 25 ed. Traduo de Euryale de Jesus Zerbini ET alii. So Paulo: Edgard Blcher, 2005. 1232 p. CARSALE. Stio de venda de automveis. Disponvel em: . Acesso em: 28 de maio de 2008. CONTINENTAL AG. Stio da companhia alem. Disponvel em: . Acesso em: 20 de novembro de 2008. GENTA, G. Motor vehicle dynamics: modeling and simulation. Cingapura: World Scientific, 1997. 345 p. GILLESPIE, T. D. Fundamentals of vehicle dynamics. Warrendale: SAE, 1992. 495 p. LIE, A. et alii. The effectiveness of the ESC (electronic stability control) in reduing real life crashes and injuries. Relatrio apresentado pela Administrao Rodoviria da Sucia. 2003. 7 p. MARTINS, C. A. Introduo mecnica analtica. So Paulo: EPUSP, 2006. Notas de aula do curso oferecido pelo Departamento de Engenharia Mecnica da Escola Politcnica da USP: PME2200 Mecnica Geral B. 38 p. MILLIKEN RESEARCH ASSOCIATES. Williamsville. Stio da empresa de consultoria em dinmica e controle veicular. Disponvel em: . Acesso em: 28 de abril de 2007. MILLIKEN, W. F.; MILLIKEN, D. L. Race car vehicle dynamics. Warredale: SAE, 1995. 890 p. MSC SOFTWARE. ADAMS/Car 2007 r1 User Guide. OGATA, K. Engenharia de controle moderno. Rio de Janeiro: Pearson, 2005. PACEJKA, H. Tyre and vehicle dynamics. 2 ed. Burlington: Elsevier, 2006. 642 p. REIMPELL, J.; STOLL, H.; Betzler, J. W. The automotive chassis: engineering principles. Warrendale: SAE, 2001. 444 p. RILL, G. Short course on vehicle dynamics. Campinas: Unicamp, 2007. 181 p. Apostila do curso ministrado pelo Prof. Dr. Georg Rill na Faculdade de Engenharia