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Quadrinhos e Cartuns Na Memoria Afrobrasileira

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Quadrinhos cartuns memória afrobrasileira negros pelos negros

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Quadrinhos e cartuns na memria afro-brasileira: o negro pelo negro

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Quadrinhos e cartuns na memria afro-brasileira:o negro pelo negro

Eliane de Souza Almeida Oliveira da Silva * - [email protected] em Jornalismo pelo Centro Universitrio Monte Serrat (UNIMONTE), Mestranda em Comunicao Social na Universidade Metodista (UMESP) e Pesquisadora de Estudos Afro-Brasileiros.

Resumo:

Com uma populao de mais de 170 milhes de habitantes sendo mais da metade de origem africana, pode-se contar nos dedos os desenhistas e cartunistas negros. Se de um lado a retratao do negro nos meios de comunicao nem sempre feita por ele mesmo, so poucos os afro-brasileiros, enquanto desenhistas, que se envolvem com a questo racial. E, alm disso, ser um cartunista negro, preciso ser genial para ser aceito como um igual entre seus pares.

Este trabalho tem como objetivo mostrar atravs de exemplos como o cartunista negro Maurcio Pestana, se desenvolve um trabalho sobre conscincia racial. atravs de seu trabalho enquanto memria que possvel ter a mais completa radiografia das formas sutis e, s vezes nem to sutis, do racismo em nosso pas.

Neste trabalho queremos ressaltar atravs da arte das Histrias em Quadrinhos e Cartuns os temas abordados nesta trajetria da memria como mercado de trabalho, violncia policial e represso, a histria da mulher, os meios de comunicao e cidadania do ponto de vista do negro. O perfil do cartunista Maurcio Pestana enquanto comunicador ser abordado enquanto produtor de mensagens nas HQs, cartuns, cartazes e posters.

Palavras-chave: racismo, preconceito, conscincia negra, luta.

Questo racial no Brasil

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esde a chegada dos africanos no Brasil, vistos como seres inferiores, foram marginalizados. Fizeram-nos deixar de ser pessoa para ser coisa. um engano acreditar que a escravido se deu de modo pacfico e, como muitos pensam, que o negro foi passivo.

Passividade no caracterstica do povo negro. A escravido era um ato praticado com naturalidade nas civilizaes africanas. Os escravos eram oriundos de guerras. Os prisioneiros de guerra serviam como escravos dos ganhadores. Como explica Jaime Rodrigues: Os reinos africanos possuam uma organizao social complexa, que inclua a escravido. Porm, a escravido que existia no prprio continente no era igual escravido ocidental. O escravo no era uma propriedade; sua condio envolvia relaes militares, econmicas e polticas que o tornavam mais prximo de um servo medieval do que de uma simples mercadoria. Nas sociedades africanas anteriores ao trfico europeu, os escravos eram oriundos de povos vencidos em guerras, que deviam obedincia ao vencedor. Um indivduo ou seus parentes tambm podiam ser escravizados como forma de pagamento de uma dvida. [...] O senhor tinha o dever de proteger seus escravos, e em algumas sociedades eles eram incorporados prpria famlia do senhor, recebendo tratamento igual ao dos filhos legtimos. Alm disso, a escravido no era necessariamente hereditria.

Para justificar a escravido foram inventados inmeros argumentos. Foram realizadas pesquisas cientficas para saber qual a anomalia dava pele a cor negra. Uma outra justificativa da cor do negro foi buscada na natureza do solo e na alimentao, no ar e na gua africanos. [...] Outros aceitaram a explicao de ordem religiosa do mito camstico entre os hebraicos. Segundo ele, os negros so descendentes de Cam, filho de No, amaldioado pelo pai por lhe ter desrespeitado quando o encontrou embriagado, numa postura indecente. Na simbologia de cores da civilizao europia, a cor preta representa uma mancha moral e fsica, a morte e a corrupo, enquanto a branca remete vida e pureza. Nesta ordem de idias, a Igreja Catlica fez do preto a representao do pecado e da maldio divina. Por isso, nas colnias ocidentais da frica, mostrou-se sempre Deus como um branco velho de barba e o Diabo um moleque preto com chifrinhos e rabinho.

Disseminadas essas verdades o prprio negro passa a se questionar. At que ponto o branco tem razo? [...] Por presso psicolgica, acaba reconhecendo-se num arremedo detestado, porm convertido em sinal familiar. A acusao perturba-o, tanto mais porque admira e teme seu poderoso acusador. Perguntar-se- afinal se o colonizador no tem um pouco de razo. Ser que no somos mesmo ociosos e medrosos, deixando-nos dominar e oprimir por uma minoria estrangeira? A tecnologia superdesenvolvida pelo branco ajudaria a instaurar uma situao de crise na conscincia do negro. Neste sentido, em algumas culturas, o branco foi comparado a Deus e aos ancestrais.

Mas, todo ser vivente nasceu para a liberdade. Ento, onde havia escravido, existia um quilombo. A quilombagem foi a primeira manifestao contra a escravido. Foi o primeiro grande movimento negro contra a opresso do colonizador. De acordo com definio do rei de Portugal, em resposta consulta do Conselho Ultramarino, datada de 2 de dezembro de 1740, quilombo toda habitao de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que no tenham ranchos levantados nem se achem piles neles.

Para Joaquim Ribeiro, historiador, o quilombo [...] uma reao contra a cultura dos brancos, contra os seus usos e costumes; a restaurao da velha tribo afro-negra nas plagas americanas; a ressurreio do organismo tribal; o retorno, sobretudo, ao seu fetichismo brbaro[sic].

Diversos foram os quilombos brasileiros. O mais famoso deles foi sem dvida o Quilombo dos Palmares, que tem como grande smbolo e heri da resistncia, o guerreiro Zumbi dos Palmares.O aniversrio de sua morte, 20 de novembro, a data mais importante do Movimento Negro brasileiro: o Dia Nacional da Conscincia Negra. J o 13 de maio chamado de O Dia da Mentira e se transformou no Dia Nacional de Denncia Contra o Racismo.

Nos dias de hoje encontramos muitos Zumbis que lutam, com fora e f, por melhores condies de trabalho, por justia social, melhores condies de moradia, por cidadania. Essa luta rdua porque no Brasil, aps a abolio, criou-se e acreditou-se na mentira de que no Brasil no havia racismo. Que somos todos iguais perante a lei e que por isso no h discriminao.

Desde pequenininhos fomos acostumados e acostumamos com a idia de que no Brasil no h racismo, no h preconceito de cor, e que vivemos numa harmonia de raas a oferecer iguais oportunidades a negros e brancos, na democracia racial. [...] Quem defende a existncia da democracia racial, aponta como provas de falta de preconceitos os poetas, escritores e vultos histricos negros. Hoje, indicam como provas nossos atletas, cantores, compositores, pintores, escultores, atores e atrizes negros, alm claro, das mulatas exuberantes, que seriam aceitos e integrados na sociedade.

Para contestar todas as falsidades de um sistema mentiroso e hipcrita esses Zumbis se organizaram e deram origem a um movimento que luta por ideais de igualdade. So muitas as organizaes (quilombos) que fazem parte do Movimento Negro e que atuam em prol dos milhes de negros brasileiros. Dentre elas podemos destacar: MNU (Movimento Negro Unificado), Geleds, Fala Preta!, Casa de Cultura da Mulher Negra, UNEGRO (Unio de Negros pela Igualdade), entre tantas outras.

Diante de tantos quilombos, existe um Zumbi que grita sozinho e em nome de todos esses quilombolas: o cartunista Maurcio Pestana.

Maurcio Pestana e a conscincia do ser negro

F

ilho de uma tpica famlia negra, matriarcal, sofrendo das privaes que uma famlia com sete filhos em uma sociedade brasileira normalmente sofre, nasce, em 1963, Maurcio Pestana. Menino brilhante, da periferia de Santo Andr e que no tinha a idia da importncia que teria um dia na luta contra o racismo.

Consciente de sua negritude, Pestana sempre observou com olhos vidos tudo o que acontecia ao seu redor. Iniciou seus estudos artsticos na Escola Poliarte de So Paulo, no final dos anos 70. Em 1980, comea a publicar seus primeiros desenhos.

Maurcio Pestana, aos 39 anos, v hoje a questo racial com entusiasmo, como militante, como quem esteve durante 20 anos acompanhando toda a movimentao e assistindo a grandes progressos nas discusses sobre a questo racial. Mas, tambm com preocupao. A questo racial faz parte da pauta de todos os rgos do governo. Mas, a questo da insero do negro no mercado de trabalho, nos meios de comunicao, na sociedade continua quase da mesma forma. O aspecto poltico est bem melhor disseminado. S que continuamos com 2% de negros cursando uma faculdade, continuamos morando mal, os ndices de violncia crescem e o nmero de adolescentes negros mortos enorme, diz Pestana. Tudo o que se conseguiu at hoje ainda muito pouco diante da luta e do tempo que se tem ela tem.

A escolha do caminho

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ueria ser publicitrio. Fez Publicidade Na Escola Poliarte de So Paulo. Sua veia artstica foi mais forte. No final dos anos 70 trabalhava na Isto , no Jornal da Repblica, como arte finalista. Neste perodo, ainda adolescente, encontrou com alguns cartunistas importantes que haviam feito verdadeira revoluo no jornalismo brasileiro. Esses cartunistas criaram o Pasquim. Tiveram uma atuao muito forte denunciando o que a ditadura militar fazia no Brasil. Esses cartunistas eram Henfil, irmos Caruzzo, Jaime Leo, Luis carneiro, Alci, enfim, muitos cartunistas de alto nvel, militantes da esquerda da poca.

Sua grande influncia foi Henfil que o adotou como pupilo e lhe dava conselhos que mudariam definitivamente sua vida. Tinham o hbito de conversar, de trocar idias. Foi Henfil que o acordou e lhe disse o quanto brilhante era seu trabalho e que ele poderia dar um foco maior sobre as questes raciais, pois no havia, como ainda no h, muitos cartunistas negros no Brasil. Na poca eu era adolescente e j tinha conscincia da questo racial. Acho que a conscincia racial voc constri desde o nascimento. Tem gente que leva uma vida inteira para se descobrir negro, mas um dia se descobre. Na poca eu j tinha conscincia por trabalhar num local que era recheado por pessoas de muito talento, via as dificuldades dos poucos negros, mais dois colegas tambm arte-finalistas. Ento j se percebia que era um espao difcil, um espao disputado, conta Pestana.

Sua carreira se iniciou de maneira glamourosa. Seus primeiros cartuns foram publicados em O Pasquim. Seu trabalho foi muito elogiado. No Pasquim foi publicada uma pgina dizendo que nunca haviam visto algo de to criativo, de tanto talento e jovem, e que nunca havia publicado. At guardei a pgina. Isso pra mim foi muito importante porque serviu como incentivo. Depois Henfil me disse que aquilo s vinha para confirmar o que ele j havia previsto: eu tinha jeito pra coisa, diz o cartunista.

Para ele foi muito importante esse perodo na Isto porque todo cartunista precisa de muita informao. A revista o deixava a par de tudo o que acontecia no Brasil e no mundo, o senso crtico aguado, engajamento e conscincia poltica. Foi a partir da que passou a se dedicar aos assuntos relacionados a questo racial. Estava no olho do furaco. Vivia no turbilho de notcias. Estava no seio da comunicao.

Eu fiz o caminho inverso. Normalmente, comeamos de veculos pequenos e partimos para os grandes. Eu nasci no veculo da grande imprensa para fazer o trabalho sobre a questo racial, conta Pestana. Ele diz ainda que o mercado ainda est pobre de cartunistas negros. E que esses poucos cartunistas no se dedicam aos problemas do negro.

Maurcio Pestana sabe de sua importncia enquanto comunicador e negro. Sua carreira e sua escolha temtica vem para somar luta de tantos Zumbis.

A atmosfera da abertura poltica e o exacerbamento da situao econmica do pas foram fenmenos que iriam repercutir muito no meu trabalho no futuro. Pesquisando as inovaes, avesso s amarras das militncias ortodoxas, busquei logo processar meu projeto criativo, a partir de um profundo mergulho nos mistrios pagos da cultura negra, mas compreendendo o universo multicultural em que esta cultura est inserida. Da a busca de uma viso artstica, de um projeto esttico que imprime minha arte um corte epidermiolgico, interligando o passado, o presente e o futuro atravs do olhar e do ser negro.

A opo por uma linha polmica, provocando riso em situaes em que no se deve rir, concebeu ao meu trabalho uma careta indignada e singular da sociedade brasileira. Defini um indiscutvel trao de uma contraposio esttica e poltica, ao radiografar a intolerncia, a ao perversa da introjeo da misria, a violncia policial acasalada, a impunidade, o preconceito institucionalizado, a cidadania incompleta, o peso do desemprego e a ausncia dos iguais direitos de opes. Neste contexto, meus cartuns, cartilhas, psteres, cartazes ou tiras s vezes palanques e at plpitos profanos. Nessa contramo o processo evolutivo de meu trabalho no poderia ser diferente na medida em que a condio poltico-existencial torna inseparveis forma e contedo, criatura e criador, arte e a vida.

Maurcio Pestana

A questo racial no trabalho de Pestana

Maurcio Pestana, brasileiro, trinta e poucos anos, incansvel produtor de originalssimos cartuns e sem prolfico, um dos mais conhecidos e atuantes artistas grficos de nossa poca. Mas no foi somente em termos de pena, pincel e tinta que ele apareceu para dar o seu recado. De uma forma clara, determinada e concisa, Maurcio Pestana abriu espaos a tempos, conquistando a mdia atravs da reflexo inteligente de seu engajamento scio-cultural, expressadas em traos fortes e inconfundveis de seu temperamento artstico.

Sempre um sagaz crtico dos nossos infindveis problemas econmicos, sociais e culturais, Pestana tambm se destaca na luta em defesa das minorias ou maiorias tnicas, publicando seus cartuns realistas recheados de bom humor em inmeras revistas, folhetos, jornais e livros, numa imensa fila de editoras e instituies de todo o Brasil, fazendo repercutir suas mensagens em todos os cantos do pas.

Embora no se filie a nenhum movimento poltico-partidrio (o que se pressupe devido s suas posies sociais), Pestana, por suas razes culturais nascidas no prprio ambiente em que se criou, tem se revelado um gil combatente dentro de uma rea importante, mas limitada, da mdia, o que valoriza mais a sua obra se confrontarmos, ainda com as crticas internas, censuras oficiais e omisses de toda ordem que surgem desses rgos.

Mas nem s de fortes e magnficos traos o artista vem alcanando enorme xito. Os seus textos, dilogos e roteiros precisos, cheios de calor e compaixo pelo ser humano (que, no seu entender, o princpio e o fim de tudo) revelam um cartunista contemporneo, moderno e humanista, que, fazendo uso da palavra, cria imagens expressivas, tornando-as unssonas com a realidade de nosso tempo.

Paulo Hamasaki

O Cartum uma forma de expresso sinttica em que uma imagem acompanhada ou no de poucas palavras, capaz de expressar dimenses da realidade social, cultural, poltica e econmica de uma sociedade. Na maioria das vezes, com humor ou ironia, apreende a dinmica social com a eficcia de teses acadmicas.

Mas um grande cartunista no se produz facilmente. O talento inegavelmente um pressuposto essencial. No entanto, para que esse talento se realize plenamente, certas condies so necessrias, pois resulta de estudos, treino, pesquisa e informao, o que, em geral, no se encontra disponvel para a gente negra desse pas.

E isso o que torna mais surpreendente a performance de Maurcio Pestana. Mais um exemplo herico de resistncia e afirmao dos negros brasileiros, ante as impossibilidades que o racismo e a discriminao nos impe.

Numa arte exercitada por poucos, e na maioria absoluta brancos, Pestana emerge solitrio para questionar, desmentir a incapacidade negra alardeada pelo racismo. Num universo em que o negro se encontra excludo, talentos perdidos em favelas, palafitas, prises; prisioneiros da pobreza e da ignorncia poderiam estar aportando ao pas criatividade, originalidade e ticas diferenciadas de percepo da realidade e de enfrentamento das contradies sociais. No entanto, sendo negro preciso, como no caso de Pestana, ser genial para ser aceito como um igual entre seus pares.

Na arte do Cartum, que rene comunicao, informao, educao e poltica, todas as reas restritas aos mais afortunados desta complexa e excludente sociedade brasileira, surge um negro que consegue se manter evoluindo, amadurecendo, e sempre nos surpreendendo com sua arte.

Com sarcasmo, ironia, humor e a dor prpria dos grandes cartunistas, Pestana consegue nos fazer rir e chorar e refletir sobre nossa condio humana.

Pestana genial porque ao contrrio dos que o antecederam, no se limitou apenas a trabalhar o Cartum com um fim em si mesmo, mas como um meio de tocar a todos ns. Hoje, sua arte exprime preocupaes com a questo da mulher, da criana, do idoso, da cidadania, do consumidor, da auto-estima, enfim, dos Direitos Humanos.

So cartuns, cartazes, psteres, livros, cartilhas, etc, que compem uma obra nica em nosso tempo. O triste disso que aps 112 anos de abolio, o negro ainda tem que ser genial para ser respeitado em nosso pas.

Sueli Carneiro

Esses dois depoimentos deixam claro o posicionamento de pestana com a questo racial. Profissional multifacetado, aborda todo tipo de assunto com embasamento terico pois sabe da sua responsabilidade enquanto comunicador. Sua preocupao com o contedo e o contexto histrico, est presente em todos os seus trabalhos.

Maurcio Pestana procura de todas as formas se manter bem informado sobre todas as questes que envolvem a questo racial. Como ele mesmo diz: A informao primordial para um bom trabalho. Para isso utiliza todos os meios de comunicao que hoje temos disponveis. Mas de uma coisa ele faz questo: manter-se fora da estrutura humana dessas organizaes. Ele acredita que se fizer parte integrante de alguma entidade, poder ter sua viso impregnada de partidarismo e seu trabalho perderia o carter abrangente que tem hoje.

Experincias Internacionais

P

estana prepara cartilhas para diversas organizaes e entidades. Suas cartilhas contendo assuntos como mercado de trabalho, cidadania, sade, educao, etc, fazem grande sucesso. Em um desses trabalho, alis sua segunda cartilha, junto ao Conselho da Comunidade Negra realizado em 1986, abordou o assunto Mercado de trabalho. A cartilha entitulava-se: O negro no mercado de trabalho. Texto de Clvis Moura e charges de Pestana. A cartilha foi um sucesso.

A primeira tiragem foi de 3 mil exemplares. A segunda mais de 30 mil. A cartilha espalhou-se por todo o Brasil e chegou no exterior. Pestana recebeu convite para participar de exposies nos Estados Unidos. Seu trabalho altamente reconhecido nos Estados Unidos pelo pioneirismo no Brasil e pela falta de cartunistas que dediquem seu trabalho a essa questo. Pestana acreditava que voltaria dos Estados Unidos cheio de conhecimentos novos. Ficou surpreso. Tambm nos EUA so poucos os negros que atuam, apenas quatro. Seu trabalho tambm reconhecido na Europa.

Principais temas abordados

C

om trabalhos para prefeituras, Ongs, associaes, entidades de classe, Pestana tem um trabalho multifacetado. Sua prioridade sempre levantar a lebre para as questes raciais, mostrar o quanto nossa sociedade hipcrita ao afirmar que no h racismo no Brasil. Pestana tem como objeto tudo que de alguma forma oprime a populao.

De acordo com Pestana os temas preferidos por ele so mercado de trabalho, violncia e represso policial, histria da mulher, meios de comunicao, cidadania.

Seus livros mais polmicos so: O negro no mercado de trabalho, publicado em 1986 , que traz informaes histricas sobre o mercado de trabalho e a discriminao do negro desde o final do sculo XIX; Manual de Sobrevivncia do Negro Brasileiro, publicado em 1993, em portugus e ingls, traz inmeras situaes preconceituosas e alguns conselhos; e Racista, Eu? De jeito Nenhum..., publicado em 2001, que tem como foco os 20 anos de trabalho do cartunista. Os cartuns dessa publicao foram publicados de 1982 a 2001 em diversos jornais e revistas:

1982 Jornal O Pasquim

1983 Jornal do Pas, O So Paulo, revista Crtica da Informao

1984 Dirio do Grande ABC

1985 A Transio da Transao, Editora Press (livro)

1986 O negro no mercado de trabalho Conselho da Comunidade Negra do Estado de So Paulo (cartilha)

1987 Conselho da Comunidade Negra de So Paulo (livro e jornal)

1988 Dirio Popular

1989 Educao Diferenciada (livro)

1990 Gazeta Esportiva

1992 Palavras de um trabalhador negro, CEERT Centro de Estudos das Relaes do Trabalho e Desigualdades (livro)

1993 Manual de Sobrevivncia do Negro no Brasil GELEDES Instituto da Mulher Negra/ Editora Nova Sampa (livro)

1996 Abaixo o racismo, o preconceito e a discriminao, UNEGRO, Unio dos Trabalhadores pela Igualdade (livro)

1998 Cidadania no tem cor, Prefeitura Municipal de Vitria, ES (cartilha)

1999 O nego e a cidadania 500 anos depois, SENAC, METRO (exposio)

1999 Mulher Negra: sua situao na sociedade, Centro de Articulao de Populaes Marginalizadas (cartilha)

2000 Mapa da populao Negra no Estado de So Paulo, INSPIR, Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial, CEERT, Centro de Estudos das Relaes do Tarbalho e Desigualdade (cartilha)

2001 O negro em conferncia, Secretaria de Estado da Justia do estado de So Paulo (exposio)

ConclusoA

importncia do trabalho de Maurcio Pestana algo inegvel. Sua luta para denunciar o racismo incrustrado na sociedade brasileira nos faz repensar diversos valores. Sua arte tambm uma arma de conscientizao, que nos leva reflexo de nossos atos.

Militante pela causa e no por uma instituio chamado por amigos de ING Indivduo No Governamental. Sua trajetria profissional, recheada de bons conselhos e timas influncias, fez de Pestana um homem maduro apesar da pouca idade.

Traz em si, a humildade de quem est sempre procurando aprender e apreender mais e melhores informaes para poder exercitar o seu trabalho. Homem da comunicao tem em suas mos a arte e em seu corao um desejo: igualdade.

No ms de junho de 2003 lhe ser concedido o ttulo de Cidado Paulistano por trabalho realizado na conscientizao do voto junto comunidade negra.

Bibliografia

MOURA, Clvis. Histria do Negro Brasileiro. So Paulo, Ed. tica, 1992, p.84.

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Movimento Nego Unificado. 1978 1988 10 anos de luta contra o racismo. So Paulo,

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MUNANGA, Kabengele. Negritude Usos e Sentidos. Ed. tica, 1988, p.88.

PINSKY, Jaime. A escravido no Brasil. So Paulo, Ed. Contexto, 1992, p. 78.

RODRIGUES, Jaime. O trfico de escravos para o Brasil. So Paulo, 1997, p. 64.

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Publicaes de Maurcio Pestana

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PESTANA, Maurcio e XAVIER, Arnaldo. Manual de sobrevivncia do negro no Brasil. GELEDES, Instituto da Mulher Negra/ Editora Nova Sampa, 1993.

PESTANA, Maurcio e MOURA, Clvis. O negro no mercado de trabalho. So Paulo, Conselho da Comunidade Negra, 1986.

PESTANA, Maurcio. Documentao: Sinnimo de Cidadania. Braslia, Frum de Mulheres do MDA/ INCRA, 2003.

PESTANA, Maurcio. Negro Cidado levante e lute pelos seus direitos. So Paulo, UNEGRO, 1998.

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Jaime Rodrigues. O trfico de escravos para o Brasil. So Paulo, tica, 1997. p. 7.

Kabengele Munanga. Negritude: usos e sentidos.So Paulo, tica, 1988. p.15.

idem, p.26

Clvis Moura, Quilombos. So Paulo, tica, 1993, p.11.

Idem, p. 58 Op. Cit. Joaquim Ribeiro.

Movimento Negro Unificado. 1978 1988 10 Anos de Luta contra o racismo. So Paulo, Confraria do Livro, 1988. p.20.

Maurcio Pestana. O negro e a cidadania 500 anos depois. So Paulo, Cartilha de apresentao de exposio realizada no Sesc Itaquera, 2000.

Editor, quadrinista, ilustrador e roteirista. Foi um dos fundadores dos Estdios Maurcio de Sousa.

Filsofa ps-graduada em Filosofia da Educao pela USP (Universidade de So Paulo) Coordenadora Executiva do GELEDES Instituto da Mulher Negra.

Este livro, publicado com a parceria do Conselho da Comunidade Negra de So Paulo, foi a primeira publicao feita no Brasil em que se admitia o racismo em territrio nacional, segundo Pestana.

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