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QUIMIOTERAPIA METRONÔMICA NO TRATAMENTO DE METÁSTASE
LINFÁTICA DE ADENOCARCINOMA DE SACO ANAL CANINO - RELATO DE
CASO
METRONOMIC QUIMIOTHERAPY IN THE TREATMENT OF LYMPHATIC METASTASE OF CANNED ANAL BAG ADENOCARCINOMA - CASE REPORT
Isabella Andrade AMORIM 1 ; Thaiane de Souza FERNANDES 2 e Severiana
Cândida Mendonça Cunha CARNEIRO3
1 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Goiás, [email protected] 2 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Goiás 3 Pesquisadora Doutora do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás.
Resumo:
O adenocarcinoma do saco anal é uma neoplasia maligna, sendo localmente
invasiva e altamente metastática. Uma nova modalidade de quimioterapia,
denominada metronômica, vem apresentando bons resultados e criando novas
perspectivas no tratamento de neoplasias em cães. Portanto, objetivou-se relatar a
eficácia da quimioterapia metronômica no tratamento de metástase linfática de
adenocarcinoma de saco anal canino. Concluiu-se que a quimioterapia metronômica
com ciclofosfamida associada ao piroxicam se mostrou eficaz como tratamento
paliativo de metástase linfática de adenocarcinoma de saco anal canino contribuindo
para o controle local da neoplasia e para o tempo de sobrevida da paciente, visto
que, a mesma apresenta de sobrevida de 335 dias após o início de tratamento, com
qualidade, até o momento atual.
Palavras-chave: antineoplásicos, cão, oncologia veterinária
Keywords: antineoplastic, dog, veterinary oncology
Revisão de literatura:
O adenocarcinoma do saco anal é uma neoplasia que tem origem nas
glândulas apócrinas localizadas no interior do saco anal. É um câncer pouco
frequente em cães (POLTON e BREARLEY, 2007), corresponde a 2% de todas as
neoplasias cutâneas e 17% das neoplasias perianais nessa espécie (WOUDA et al.,
2013), em geral acomete pacientes adultos a idosos, não há predileção sexual.
Manifesta comportamento maligno, sendo localmente invasivo e altamente
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metastático, o que torna o prognóstico ruim (POLTON e BREARLEY, 2007). O
tratamento de eleição é a excisão cirúrgica da neoplasia e linfonodos regionais,
podendo ser complementado com terapias adjuvantes, como quimioterapia
antineoplásica e radioterapia, que também são indicadas como tratamento paliativo
de tumores inoperáveis (DALECK e DE NARDI, 2016).
Uma nova modalidade de quimioterapia, denominada metronômica, vem
apresentando bons resultados e criando novas perspectivas no tratamento de
neoplasias em cães (MUTSAERS, 2009). O princípio da quimioterapia metronômica
consiste na administração oral de baixas doses diárias de medicamentos
quimioterápicos, tem como ação a inibição das células endoteliais da vasculatura
crescente do tumor. As vantagens desta modalidade terapeutica consistem em
menores efeitos colaterais decorrentes do quimioterápico e o seu uso contínuo
impede a reparação e recuperação do efeito anti-angiogênico de fármacos
quimioterapêuticos no desenvolvimento de vasos sanguíneos tumorais (EL-ARAB et
al., 2012). Portanto, objetivou-se relatar a eficácia da quimioterapia metronômica no
tratamento de metástase linfática de adenocarcinoma de saco anal canino.
Descrição do Caso:
Uma cadela, com 12 anos de idade da raça poodle, foi submetida à castração
decorrente do diagnóstico de piometra e no momento cirúrgico observou-se uma
massa cística na região retroperitoneal cranial, realizou-se uma biopsia incisional e o
material encaminhado ao exame histopatológico, cujo laudo foi de: Metástase
linfática de provável origem ovariana. Para a confirmação, foi feito exame
imunoistoquímico, no qual o resultado foi de: Metástase de Carcinoma de Saco Anal.
Após esse resultado, o animal foi submetido à palpação dos sacos anais e notou-se
que havia um nódulo em região de saco anal direito, de aproximadamente três
centímetros, firme e não ulcerado. Foi realizado exame citopatológico nos sacos
anais direito e esquerdo, apenas a amostra do lado direito apresentou alterações,
cujo laudo foi de: Quadro proliferativo epitelial atípico. A fim de direcionar o
planejamento terapêutico, a paciente foi submetida à tomografia, a qual demonstrou
glândula perianal direita com aumento de volume e alteração no padrão de
atenuação, presença de massa linfonodos ilíacos e sub-lombares, bem como em
linfonodos pélvicos e vagina, promovendo um importante desvio dorsal de estruturas
de cólon descendente, bexiga urinária e segmento vaginal, não apresentava pontos
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de clivagem com os contornos da aorta descendente e sua bifurcação ilíaca, bem
como da veia cava caudal, concluiu-se então que era um caso inoperável.
Por esse motivo optou-se pela quimioterapia metronômica como tratamento
paliativo. O protocolo adotado utilizou ciclofosfamida, por via oral, uma vez ao dia,
na dosagem de 15mg/m², associado ao piroxicam por via oral, na dosagem de 0,3
mg/kg, uma vez ao dia. O acompanhamento segmento da paciente até o momento
está sendo feito a cada três meses, com a realização de exame físico,
ultrassonografia abdominal, radiografia torácica e exames laboratoriais, tais como
hemograma, creatinina e fosfatase alcalina.
No sétimo mês de tratamento, por meio do exame radiográfico constatou-se a
presença de duas lesões pulmonares, sugestivas de metástases. No décimo mês de
tratamento o hemograma apresentou leucopenia, decidiu-se então pelo ajuste da
frequência do tratamento e as medicações passaram a ser administradas apenas
três vezes durante a semana, nas segundas, quartas e sextas-feiras. Foi realizado
um hemograma depois de uma semana do ajuste da frequência das medicações e
os valores dos leucócitos haviam retornado a normalidade. Após o seguimento da
paciente por 11 meses, a mesma se apresenta estável.
Discussão:
No presente caso uma cadela de 12 anos de idade foi diagnosticada com
adenocarcinoma de saco anal, corroborando com Polton e Brearley, (2007) que
observaram a maior incidência da doença em animais idosos. O diagnóstico foi
possibilitado pela observação da metástase em linfonodos na região retroperitoneal
e realização de exame imunoistoquímico, posteriormente foi identificado o tumor em
região de saco anal direito, uma vez que a paciente não havia apresentado qualquer
sinal relacionado à neoplasia primária anteriormente. A ocorrência de metástases
presentes no momento do diagnóstico, encontra-se de acordo com Bennett et al.
(2002) e Brisson et al. (2004). Isso demonstra a importância de que cães,
principalmente em idades avançadas, devem ser submetidos a avaliações de rotina
de forma frequente, e durante essas avaliações o toque retal deve sempre ser
incluído, para que o diagnóstico precoce de neoplasias perianais, dentre elas o
adenorcacinoma de saco anal, seja realizado, possibilitando um melhor prognóstico
aos pacientes acometidos.
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Após a identificação de adenocarcinoma de saco anal, a paciente foi submetida
à tomografia, com a finalidade de direcionar o planejamento terapêutico, a qual
demonstrou a presença de metástases em linfonodos ilíacos e sub-lombares, bem
como em linfonodos pélvicos e vagina, em conformidade com Brisson et al. (2004),
que relataram que as metástases ocorrem por via linfática para os linfonodos sub-
lombares, sacrais e ilíacos, em consequência da elevada vascularização linfática
existente na submucosa dos sacos anais. Visto que o caso era inoperável pelo
comprometimento da aorta descendente e sua bifurcação ilíaca, bem como da veia
cava caudal, optou-se então pela quimioterapia metronômica como tratamento
paliativo, o protocolo utilizado incluiu ciclofosfamida, por via oral, uma vez ao dia, na
dosagem de 15mg/m², associado ao piroxicam por via oral, na dosagem de 0,3
mg/kg, uma vez ao dia, corroborando com Daleck e De Nardi (2016). Existem
poucos estudos sobre o uso de agentes citostáticos no tratamento de
adenocarcinomas de sacos anais em cães. Protocolos utilizando doxorrubicina,
cisplatina, epirrubicina, actinomicina D, gencitabina e clorambucila já foram
relatados, entretanto sem comprovação de eficácia terapêutica (WOUDA et al.,
2013). A administração metronômica de cloranbucila, na dose de 4 mg/m², a cada 24
horas, acompanhou a doença estável em dois animais e em um cão com
adenocarcinoma de saco anal progressivo, garantindo tempo de sobrevida de 245,
210 e 21dias respectivamente (DALECK e DE NARDI, 2016).
No presente relato, o tratamento se mostrou eficaz no controle do tamanho da
neoplasia primária, assim como das metástases, porém após 10 meses de
tratamento por meio de radiografia torácica, constatou-se a presença de lesões
pulmonares, o que poderia indicar suspeita de formação de metástase, pois de
acordo com Brisson et al. (2004), metástases distantes geralmente envolvem
pulmão , fígado, baço e vértebras.
Ao longo do segmento do animal, o único efeito adverso da quimioterapia
metronômica que o mesmo demonstrou foi mielossupressão, apresentada por um
episódio de leucopenia no décimo primeiro mês de tratamento e após o ajuste que
reduziu a frequência de administração do fármaco os valores de leucócitos
retornaram a normalidade dentro de uma semana. A ciclofosfamida, assim como a
maioria dos fármacos citotóxicos pode provocar mielossupressão e distúrbios
gastrointestinais, toxicidade hepática e renal (LECOUTEUR e WITHROW, 2007).
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Durante todo o acompanhamento da paciente no período de tratamento ela se
apresentou estável, além disso, a sobrevida da mesma é superior em relação ao que
é descrito na literatura. Considerando que o diâmetro tumoral é um fator prognóstico
dos adenocarcinomas de sacos anais, o tempo de médio de sobrevida em cães com
tumores maiores do que dois centímetros de diâmetro é de 292 dias (DALECK e DE
NARDI, 2016). No presente caso, a paciente apresentava um nódulo de
aproximadamente três centímetros em região de saco anal direito, além do que, no
momento em que foi realizado o diagnóstico já possuía metástase em linfonodos,
fato que está associado a tempo de sobrevida ainda menor, no entanto sob o
tratamento paliativo realizado, até o momento a cadela apresenta bom estado geral,
com 335 dias do início do tratamento.
Conclusão:
No presente relato, a quimioterapia metronômica com ciclofosfamida associada
ao piroxicam se mostrou eficaz como tratamento paliativo de metástase linfática de
adenocarcinoma de saco anal canino, contribuindo para o controle local da
neoplasia e para o tempo de sobrevida da paciente, visto que, a mesma apresenta
de sobrevida de 335 dias após o início de tratamento, com qualidade, até o
momento atual. Referências: BENNETT, Peter F. et al. Canine anal sac adenocarcinomas: clinical presentation and response to therapy. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 16, n. 1, p. 100-104, 2002. BRISSON, Brigitte A.; WHITESIDE, Douglas P.; HOLMBERG, David L. Metastatic anal sac adenocarcinoma in a dog presenting for acute paralysis. Canadian veterinary journal, v. 45, n. 8, p. 678-681, 2004. LECOUTEUR, Richard A.; WITHROW, Stephen J. Withrow & MacEwen's Small Animal Clinical Oncology. In: Elsevier Inc. 2007. DALECK, Carlos Roberto; DE NARDI, Andrigo Barboza. Oncologia em cães e gatos. São Paulo: Roca, v. 2, p. 410-413, 2016. EL-ARAB, Lobna R. Ezz; SWELLAM, Menha; EL MAHDY, Manal M. Metronomic chemotherapy in metastatic breast cancer: impact on VEGF. Journal of the Egyptian National Cancer Institute, v. 24, n. 1, p. 15-22, 2012. MUTSAERS, Anthony J. Metronomic chemotherapy. Topics in companion animal medicine, v. 24, n. 3, p. 137-143, 2009. POLTON, Gerry A.; BREARLEY, Malcolm J. Clinical stage, therapy, and prognosis in canine anal sac gland carcinoma. Journal of veterinary internal medicine, v. 21, n. 2, p. 274-280, 2007. WOUDA, R. M. et al. Evaluation of adjuvant carboplatin chemotherapy in the management of surgically excised anal sac apocrine gland adenocarcinoma in dogs. Veterinary and comparative oncology, 2013.
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