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Carolina Sophia Vila Zambotto – Psicóloga formadapela Universidade São Marcos.Marisa Irene Siqueira Castanho – Docente do curso dePsicologia da Universidade São Marcos; Orientadorada Pesquisa de Iniciação Científica.
RELATO DE PESQUISA
CorrespondênciaUniversidade São Marcos, Curso de PsicologiaRua Clóvis Bueno de Azevedo, 176 – Ipiranga – SãoPaulo – SP – Brasil – 04266-040 – Tel. (11) 3491-0500E-mail: [email protected] / [email protected]
Carolina Sophia Vila Zambotto; Marisa Irene Siqueira Castanho
RESUMO – A pesquisa se propõe a pensar sobre a possibilidade do usodo jogo como mediador da aprendizagem do adulto considerando as novaspropostas de educação continuada e da educação para o terceiro milênio,especificamente no que concerne à aprendizagem de adultos. Baseia-se napsicologia sócio-histórica e apóia-se em teóricos que pensaram o jogo e odesenvolvimento humano em uma perspectiva histórica (Vygotsky) e dialética(Wallon). Trata-se de pesquisa bibliográfica que utiliza como estratégiametodológica um levantamento bibliográfico dos artigos, cujos títulos fazemreferência às propostas de educação e processos de ensino-aprendizagemdo adulto, com foco na educação para o terceiro milênio; às expectativas emrelação ao homem dentro destas propostas e ao jogo como recurso para odesenvolvimento esperado. Selecionaram-se as publicações a partir de 1990dos periódicos com conceito nacional A na última avaliação da ANPED eANPEPP. A análise do conteúdo do material coletado é o recurso utilizado nabusca de indicadores sobre a importância do jogo como mediador daaprendizagem do adulto. Os resultados mostram que a bibliografia sobre osjogos está desvinculada à da educação dos adultos, indicando que as relaçõesesperadas ainda estão por ser construídas.
UNITERMOS: Jogos e brinquedos. Educação continuada. Adulto.
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INTRODUÇÃOA questão central neste trabalho é pensar sobre
os processos de aprendizagem do homem adulto,face à complexidade e ao caráter de transi-toriedade que se imprime no cenário atual cujodesenvolvimento tecnológico e científico aceleraprocessos de produção, de comunicação e deaplicação dos conhecimentos em um ritmovertiginoso.
Tais demandas de desenvolvimento aceleradoda tecnologia e do conhecimento se agregam aosprincípios de uma sociedade neoliberal baseadano livre-mercado e na qual um mínimo depolíticas sociais e de intervenção do Estado,aliados a uma privatização generalizada daeconomia e dos bens de consumo, geram conco-rrência e competitividade entre as organizaçõespor um espaço no mercado. Como conseqüência,exige-se dos profissionais no mundo atual, quesejam homens autônomos, responsáveis,dinâmicos e abertos às transformações darealidade ao seu redor. Ou seja, existem múltiplasemergências e desafios ao homem que o colocam“diante de sua antiga necessidade de integrar, deconhecer, de organizar o que se encontra disperso,bem como de elucidar dúvidas e inquietações queadvêm de seu estar no mundo e da perplexidadediante dele”1.
Com o desenvolvimento cada vez mais velozda indústria e das tecnologias, e a ampla trocade informações proporcionada, principalmente,pela popularização da Internet, o mundo se vêdiante de uma nova realidade, mais complexado que a da ciência paradigmática vigente atéentão. Valoriza-se o conjunto de fatores e suasinter-relações, que devem ser necessariamentecompreendidos dentro de um contexto. Não hámais espaço para o pensamento estático efragmentado. A complexidade da realidadeatual, em que tudo é incerto, transitório eimprevisto, requer um homem que seja versátil,atento e esteja aberto às mudanças que acontecemao seu redor. É preciso ir além das leis da ordem
e do equilíbrio em direção a um diálogo entreopostos. Deste modo, acontece uma ruptura como pensamento moderno em que a diversidadesurge como o novo paradigma da pós-moder-nidade, que promove uma relação dialética entreoposições.
Nesse contexto, a educação aparece como umapossibilidade de luta, uma reivindicação para queo homem possa fazer parte desse movimento detransformação. E a educação de adultos assomacomo uma constante atualização e flexibilizaçãodos conhecimentos e das habilidades frente àproliferação de sentidos, o que exige cada vezmais da capacidade de assimilação psicológicado ser humano.
A educação é uma prática social e concreta,uma vez que ocorre em uma determinadasociedade e, portanto, se desdobra em um tempohistórico2. Deste modo, diante da nova realidade,as propostas educacionais devem procurarpromover um diálogo entre o indivíduo, a socie-dade e a natureza, buscando a integraçãoconstante do sujeito ao seu meio, concebendo-ocomo um indivíduo ativo na construção de seupróprio conhecimento.
No que diz respeito à educação de adultos,uma consulta aos relatórios internacionais daUNESCO3 possibilita situar o que seria aeducação de adultos: um conceito amplo, queenvolve desde a alfabetização até a integração eautonomia da mulher, passando pela desigual-dade e igualdade entre os diferentes gruposétnicos, a preparação para o trabalho, o ensinouniversitário e outros.
A leitura dos textos das conferências permitiuconstatar o que historicamente está presente emcada um dos momentos em que as conferênciasocorreram, como por exemplo: a preocupaçãocom uma educação libertadora das populaçõesdesfavorecidas, nas décadas de 60 e 70 do séculoXX4; um desvio do discurso para o desenvol-vimento de processos cognitivos próprios doadulto, com ênfase na necessidade de se difundir
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os experimentos alcançados na educação deadultos que definem um modelo específico(andragógico) e diferente do utilizado naeducação de crianças e adolescentes (peda-gógico)5; uma ênfase nas capacidades ecompetências próprias do ideário pedagógicocontemporâneo manifestado no relatórioDelors apresentado à UNESCO em 19966; porúltimo, o destaque ao desenvolvimento de compe-tências técnicas e profissionais para tornar ossujeitos capazes de assumir responsabilidadesfrente a um mundo desafiador7.
Paradoxalmente, foi possível verificar que,embora a preocupação com a educação de adultosesteja presente desde 1949 na UNESCO, osrelatórios das reuniões internacionais pouco dãoconta das prerrogativas e da possibilidade deviabilização dessa educação. No último relatórioproduzido a partir de uma reunião8 para sediscutir o que já foi realizado em relação àspropostas feitas na conferência de 1997, existiuuma dificuldade em se definir aprendizagem deadultos, uma vez que ela está intimamente ligadacom o nível de desenvolvimento obtido por cadapaís, ou seja: se os países industrializados estãopreocupados com a operacionalização daaprendizagem ao longo da vida e em aperfeiçoara chamada ‘Sociedade do Conhecimento’, tendocomo prioridade o uso da informação e datecnologia e o treinamento da sua força detrabalho, os países em desenvolvimento aindaestão focados em erradicar o analfabetismo,deixando de lado o paradigma da aprendizagempermanente. O relatório afirma que falta umadocumentação sistemática (qualitativa equantitativa) acerca de experiências referentes àaprendizagem de adultos e há poucos indíciosde como as descobertas científicas influenciam aprática e as políticas a respeito do assunto, econclui: “ainda que uma nova visão a respeitoda aprendizagem de adultos esteja de fatosurgindo, o respectivo discurso e ação ainda sãoincongruentes”9.
No contexto brasileiro, ao examinar a legis-lação sobre a educação de adultos, encontra-sea mesma dificuldade em se definir o que é aeducação e a aprendizagem de adultos. Oartigo 37 da Lei de Diretrizes e Bases daEducação Nacional, Lei 9394/96 estabelece quea educação de jovens e adultos “será destinadaaos jovens e aos adultos que não tiveramacesso ou continuidade de estudos no ensinofundamental e médio na idade própria”10. Nãohá, contudo, uma especificação sobre como sedaria tal ensino.
No que diz respeito à educação profissional,diz a lei, no artigo 39: “a educação profissional,integrada às diferentes formas de educação, aotrabalho, à ciência e à tecnologia, conduz aopermanente desenvolvimento de aptidões paraa vida produtiva” e, em parágrafo único destemesmo artigo, lê-se que “o aluno matriculadoou egresso do ensino fundamental, médio esuperior, bem como o trabalhador em geral, jovemou adulto, contará com a possibilidade de acessoà educação profissional”11. Não há como saber,no entanto, o que se define por ‘trabalhador emgeral’. Tampouco se especifica em que nível eem que tipo de ensino se daria a educaçãoprofissional.
Dentre as várias tentativas de promover aeducação de jovens e adultos em nossa realidade,destacam-se o CEDI (Centro Ecumênico deDocumentação e Informação, atualmente AçãoEducativa) e as propostas educacionais de PauloFreire, visando a alfabetização, e as iniciativasdo SESI e do SENAC, voltadas à educaçãoprofissionalizante e à preparação do jovem e doadulto para a inserção no mundo do trabalho.
Desse breve levantamento apreende-se comoa educação e a aprendizagem de adultos aindaestão fragmentadas, não havendo documentaçãoa respeito, nem programas que considerem oadulto em seu aspecto global, sem dividi-lo emcategorias e especificações. O presente trabalhotenta encontrar um conhecimento de base,
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circunscrever um ponto anterior às especifi-cidades de cada uma das áreas da educação deadultos, buscando integrá-las.
A abordagem histórico-social e a concepçãodo homem como um organismo ativo no mundo,duplamente construído como processo e comoproduto, constituem o suporte desta pesquisa.Segundo esta perspectiva, o homem se constituipor meio de interações complexas mediadassimbolicamente, por excelência, pelo uso deinstrumentos e pela linguagem. O processo deaprendizagem é visto como uma modalidade deação que acompanha de maneira contínua toda avida do indivíduo e está inserido em um processomais amplo, o da Educação. A aprendizagempressupõe a relação de um indivíduo com o outro,que possui um conhecimento e possibilita suatransmissão através de signos, isto é, de repre-sentações que substituem os objetos, eventos ousituações do mundo real e permitem ao homemcriar, imaginar, libertar-se do espaço e tempopresentes.
No âmbito da psicologia, para a sustentaçãoteórica da pesquisa recorreu-se a autores quetrouxessem uma visão de desenvolvimento e deaprendizagem compatível com as demandaspsíquicas do sentir, do agir e do pensar, típicasdo homem no terceiro milênio. Assim, optou-sepor trabalhar com a teoria de Wallon sobre aconstituição da pessoa como síntese de ummovimento dialético em que as oposições entre ointerno e o externo, as emoções e a razão, oorgânico e o social são regidos pela ambigüidadee pelos conflitos entre os campos psicológicos daafetividade, da inteligência e da motricidade emseu esforço de integração12. Na mesma linha deanálise do desenvolvimento do psiquismohumano, concebido na interdependência entre anatureza e o ambiente físico e social, optou-sepor Vygotsky, que entende que a compreensãosobre o homem não poderá dissociar as condiçõesmateriais de existência nas quais se constituema atividade e a consciência13.
De acordo com a fundamentação teóricaadotada na pesquisa, tem-se que o homem vaiconstruindo sua existência concreta através daprática, de suas relações com a natureza, com asociedade e consigo mesmo, o que coaduna como panorama da pós-modernidade, onde oconhecimento é entendido como algo inacabadoe com as novas propostas educacionais nas quaispropõe-se pensar o homem como um ser integralem constante relação dialética com o meio em quevive, ser de razão e de emoção na construção doconhecimento.
A partir dessa perspectiva teórica, o jogo podeser concebido como uma “linguagem da emoção”,podendo, com isto, servir como canal de expressãoe de comunicação que se integra a outras formasde linguagem em direção a uma integração deaspectos afetivos, cognitivos e corporais, numrompimento com a linguagem racional epragmática usual; por outro lado, como atividademediadora de processos de desenvolvimento ede novas aprendizagens.
Mediação é “a ação que relaciona doiselementos, que serve de ponte, de passagem, deuma coisa a outra. De modo mais especificamentefilosófico, mediação é a relação concreta pelaqual um dado elemento viabiliza a realizaçãode um outro”14. O jogo como atividade eminen-temente humana instaura-se em um limiar entreo objeto e o símbolo, a realidade e o imaginárioe, nesse sentido, pode ser considerado como uminstrumento de mediação. Uma combinação dasconcepções sobre o jogo, localizadas nos doisautores pesquisados, permite entender como ocaráter ficcional do jogo, de aparente liberdade,pode se apresentar como recurso fundamentalpara o desenvolvimento do homem frente àsdemandas da atualidade. O uso de instrumentose de signos implica em alterar, fundamental-mente, as funções e os processos psicológicos,sua estrutura e o fluxo de ação. É através dosinstrumentos que podemos escapar docondicionamento direto dos estímulos e das
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pressões do meio e modificar nossa maneira deperceber o contexto em que estamos inseridos15.Para Vygotsky, a importância do jogo recai sobrea possibilidade do homem ir além do contatoconcreto com a realidade empírica, numadimensão do imaginário que abre as perspectivasde sua emancipação, uma vez que passa a atuarorientado pelas idéias e significados que advêmde sua relação com o mundo.
Na perspectiva histórica e dialética16, a relaçãodo homem com o mundo é sempre permeadapelo trabalho, que é o que distingue o ser humanode outros animais. Assim, a partir dessa pers-pectiva, o trabalho é considerado como uminstrumento de mediação entre o homem e omundo. É ele que permite que o ser humano sereconheça como tal. A era moderna foi calcadana supremacia da razão em detrimento da emoçãoe da subjetividade humanas, o conhecimento foisendo fragmentado a tal ponto que o homem nãopôde mais se reconhecer em seu próprio trabalho.
É nesse sentido que Wallon17 afirma que parao adulto o jogo é considerado como lazer e, poreste motivo, é visto como uma atividade oposta auma atividade séria, ou seja, ao trabalho.Entretanto, diz o autor: “O jogo não é essen-cialmente o que não exige esforço, por oposiçãoao labor cotidiano, porque o jogo pode exigir efazer libertar quantidades de energia muito maisconsideráveis do que as necessárias para umatarefa obrigatória (...). O jogo não utiliza apenasas forças deixadas sem emprego pelo trabalho.Em particular, nem sempre se trata de receber oequilíbrio entre aptidões desigualmente postasà prova: exercícios motores depois do trabalhointelectual ou no trabalhador intelectual;distrações intelectuais depois de um trabalhomanual ou no trabalhador manual (...)17.
Para Wallon, a emoção é a primeira forma deorganização da realidade e a base do desenvol-vimento humano, sendo que, no adulto, as emoçõesestão subordinadas ao controle das funçõespsíquicas superiores. Assim, o caráter ambíguo
do jogo o faz surgir como uma possibilidade dereintegrar os aspectos das esferas cognitiva,afetivo/emocional e biológica do homem.
No que diz respeito ao jogo como estratégiade ensino, Campos18 afirma que o jogo é umaestratégia diferenciada “porque ela traz emseu bojo o caráter dialético, instável, ambiva-lente, ativo e progressivo de uma relação como conhecimento em uma perspectiva de cons-trução”. É com base nesses termos que, napesquisa, o jogo foi pensado como mediador daaprendizagem do adulto.
O objetivo foi o de investigar se o jogo temsido considerado como ferramenta importante empropostas de educação e aprendizagem do adulto,bem como levantar indicadores a respeito daimportância do jogo para o desenvolvimento depropostas educacionais para essa população quecorrespondam às expectativas de formação dohomem para o momento atual.
MÉTODOPara a elaboração da pesquisa, inicialmente,
foi realizado um levantamento bibliográfico dostítulos de artigos em publicações feitas a partirde 1990, que obtiveram o conceito Nacional A naúltima avaliação da ANPED (Associação Nacionalde Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), de2003, e da ANPEPP (Associação Nacional dePesquisa e Pós-Graduação em Psicologia), ano-base 2001. A opção por esses veículos como fontede informação se deu pela suposição de que essesperiódicos reúnem os trabalhos de grupos depesquisa relevantes, tanto na área da Educação,como da Psicologia que poderiam ser represen-tativos dos trabalhos publicados e das contri-buições atualizadas no campo do conhecimentoque é objeto deste estudo. O período de 1990 a2003 foi escolhido por se tratar de um momentosuficientemente abrangente dos fatos maisimediatos que culminaram com a revisão depolíticas educacionais como resposta às transfor-mações econômicas, políticas e sociais, como o
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caso do Brasil que teve uma nova Lei de Dire-trizes da Educação Nacional aprovada em 1994.
Foram consultados os sumários de todos osnúmeros dessas revistas e/ou periódicospublicados no período selecionado, a partir dosquais foi possível fazer um levantamento dostítulos dos artigos de interesse desta pesquisa.Tal levantamento foi orientado e organizado pelosseguintes critérios de leitura:
1. Propostas de educação e processos deensino-aprendizagem voltados para o adulto; ouseja, esperava-se selecionar artigos com algumareferência à educação e/ou aprendizagem deadultos.
2. Educação para o terceiro milênio eexpectativas em relação ao homem dentro dessaspropostas; isto é, esperava-se encontrar refe-rências aos processos educacionais esperadospara os dias atuais, como decorrência demudanças de paradigmas na área da ciência eda tecnologia, com repercussão na áreaeducacional.
3. Jogos como recurso educativo; ou seja, seo jogo aparecia como um recurso ou atividadevoltada para o desenvolvimento, a educação e/ou a aprendizagem e, em caso afirmativo, sobque perspectiva teórica.
Em um primeiro momento, a seleção dosartigos seria feita com base na associação dos trêscritérios. Tendo em vista que não foi encontradonenhum artigo que atendesse simultaneamentea todos os critérios de leitura, optou-se porselecionar os artigos que viessem a responder aum ou mais critérios.
O cumprimento dos passos e procedimentosdessa fase levou à seleção de cinco artigos nosperiódicos da ANPEPP e de oito artigos nosperiódicos da ANPED. Após a escolha dos textos,foi feita uma leitura dos artigos a fim de verificarsua aceitação ou não aceitação para esta pesquisa,com base nos critérios acima explicitados.
Uma vez realizada a seleção dos artigos,procedeu-se à leitura de cada um dos textos, comvistas à análise de conteúdo, de acordo comBardin19, buscando pôr em evidência algumascategorias, a partir dos critérios de leiturapreviamente discriminados.
A seguir, foi feita uma leitura exaustiva de cadaartigo, procurando respeitar a natureza do mesmo:texto teórico, relatório de pesquisa e assim pordiante. Esses conteúdos foram organizadospelos seguintes itens comuns: tema/problema;objetivos; perspectivas teóricas (englobando osprincipais conceitos trabalhados); procedimentosmetodológicos; resultados e conclusões.
Após essa organização dos artigos, realizou-se uma nova leitura do material produzido,buscando-se aprofundar a compreensão do temae identificar possíveis subtemas de cada artigo,bem como aprofundar a compreensão daperspectiva teórica, identificando os conceitos-chave a fim de que se pudesse proceder à análisee discussão dos conteúdos com base nesserecorte de dados.
RESULTADOS E DISCUSSÃOO Quadro 1 apresenta os cinco artigos
localizados nos periódicos da ANPEPP, sendo quetodos atenderam a pelo menos um dos critériospreestabelecidos. Quatro artigos foramselecionados com base no critério 3, referente aosjogos como recurso educativo, e um artigo combase no critério 1, referente às propostas deeducação e processos de ensino-aprendizagemvoltados para o adulto.
Dos periódicos de classificação Nacional A deacordo com a última avaliação da ANPED,inicialmente selecionaram-se oito artigos (Quadro2), dos quais, após uma leitura mais minuciosa,dois foram refutados por não atenderem a nenhumdos indicadores de leitura preestabelecidos. Doisartigos foram selecionados de acordo com ocritério 1, referente às propostas de educação eprocessos de ensino-aprendizagem voltados para
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o adulto; um artigo foi selecionado com base nocritério 2, relativo à educação para o terceiromilênio e expectativas em relação ao homemdentro dessas propostas; dois artigos foramescolhidos com base no critério 3, relativo aosjogos como recurso educativo; e um artigo foiselecionado a partir dos critérios 1 e 2, jámencionados.
Os artigos selecionados eram de naturezadiversa originários de palestras, de pesquisas,de revisão de literatura e, para a continuidadeda análise, foi necessária uma compilação sobnovos critérios de leitura. Assim, cada texto foiorganizado pelos seguintes ordenadores: tema,subtema, perspectiva teórica e conceitos de base.
O Quadro 3 apresenta os artigos de periódicosda ANPEPP cuja organização dos conteúdospermitiu encontrar dois grandes temas: o lugardo jogo na escola, para o qual selecionou-se umartigo; e o lugar da brincadeira na educaçãoinfantil, que foi localizado em quatro artigos.
O primeiro tema foi dividido em um únicosubtema: concepção de profissionais da educaçãosobre a importância do jogo na escola, que tempor fundamentação teórica autores que se baseiamna teoria interacionista de Jean Piaget. O mesmoartigo concebe o jogo como promotor do desen-volvimento da criança e facilitador da aprendi-zagem escolar; entretanto, não o conceitua.
O segundo tema, por sua vez, foi dividido emquatro subtemáticas, de acordo com os artigosselecionados: discussão de currículos da educaçãoinfantil na nova LDB; análise histórica dautilização do jogo na educação infantil; pers-pectiva sócio-construtivista e sua relação compráticas pedagógicas de educação infantil;elaboração de propostas, projetos e políticaspúblicas que integram o brincar como atividaderelevante e séria.
Analisando-se a perspectiva teórica adotadapelos autores dos textos, verifica-se uma ênfasena abordagem sócio-histórica de Vygotsky. Trêsartigos falam sobre a importância do brincar para
o desenvolvimento infantil. Um artigo afirma quea aprendizagem da criança é beneficiada desdeque haja conciliação entre propostas lúdicas epedagógicas. E um artigo traz uma revisãohistórica das funções atribuídas ao jogo.
De maneira geral, foi possível apreender dosartigos uma influência das concepções histórico-social e dialética na psicologia atrelada à áreada educação.
O Quadro 4 apresenta os artigos dos periódicosda ANPED organizados em quatro grandes temas:educação de jovens e adultos; propostas deeducação infantil; jogo; e processo de aprendi-zagem na criança, ênfase na leitura e na escrita.
O primeiro tema (educação de jovens eadultos) foi dividido em dois subtemas: educaçãobásica (alfabetização de adultos) e educação deprofessores. Dois dos artigos selecionadoscontemplam a primeira subtemática, enquantoobteve-se apenas um artigo que aborda osegundo subtema.
O segundo tema (propostas de educaçãoinfantil) foi dividido em dois subtemas encon-trados em um mesmo artigo: jogo e brincadeirana educação infantil; e práticas pedagógicas econcepções de professores de educação infantil.
O terceiro tema (jogo) foi dividido em umasubtemática: exploração do conceito de jogo,encontrada em um dos artigos selecionados.
O quarto tema (processo de aprendizagem nacriança; ênfase na leitura e na escrita) foi divididoem apenas um subtema: linguagem e formaçãode processo psicológicos superiores, encontradoem um artigo.
No que diz respeito à fundamentação teóricados artigos, percebeu-se que, de modo geral, aênfase é na perspectiva sócio-interacionista, comvisão histórica e dialética da educação e doprocesso de aprendizagem presente em cincoartigos.
Dois artigos consideram a brincadeira e obrinquedo como forma de educar crianças e umamaneira de alcançar formas mais complexas de
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Quadro 1 – Artigos encontrados em periódicos de classificação Nacional A de acordo com a última avaliação da ANPEPP(Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia) – ano-base 2001
A concepçãode educado-res sobre olugar do jogona escola
AntonioCarlosOrtega eClaudiaBroettoRosseti
Revistado Departa-mento dePsicologia daUniversidadeFederalFluminense,v.12, nº2 e 3,p.45-53, 2000.
Trabalho cujo objetivo é investigar a concepção de educadores sobre o lugar do jogona escola. Foram sujeitos deste estudo cem alunos de um curso de Especialização emPsicopedagogia, na cidade de Vitória – ES. Utilizou-se um questionário com questõesreferentes à concepção, importância e lugar do jogo na escola, bem como os possíveislimites de sua utilização. Verificou-se que, de maneira geral, todos os sujeitosconsideram importante a utilização de jogos na escola. Observou-se que a concepçãoe o lugar do jogo na escola aparecem mais relacionados à aprendizagem de conteúdose ao desenvolvimento da criança. A maioria dos sujeitos considera não haver limitesna utilização do jogo na escola. O fato dos educadores estarem em sala de aula ouatuarem como pedagogos, ou terem concluído a graduação há mais de dez anos oudurante a última década, não resultou em diferenças estatisticamente significantesna concepção desses profissionais sobre o lugar do jogo na escola.
Sim Critério 1
Atividadeslúdicas e aformação doeducadorinfantil
Ana SoaresJorge e VeraMariaRamos deVasconcellos
Revista doDepartamentode Psicologia –UFF, v.12 –nº 2 e 3, p.55-67, 2000.
Procurou-se discutir com as educadoras a importância do brincar na formaçãoda criança e na construção do conhecimento. Buscou-se deslocar o brincar dolugar secundário que normalmente ocupa no cotidiano da escola, planejando eestruturando com as professoras essas atividades não só dentro das salas comotambém nos espaços externos.
Sim Critério 3
A PerspectivaSócio-Construtivistana Psicologia ena Educação:O Brincar naPré-Escola
VanessaAlessandraThomazBoiko e MariaAparecidaTrevisanZamberlan
Psicologia emEstudo,Maringá, v.6,nº1, p.51-58,jan./jun.,2001.
O artigo aborda o sócio-construtivismo como sistema e seus principais pressupostos,e sua relação com práticas educativas, com a função da escola e do educador. A partirde diretrizes mais gerais, explicita a fundamentação para a proposição de um traba-lho pedagógico junto à criança na pré-escola, onde o brincar deve ser consideradoum componente curricular essencial.
Sim Critério 3
Jogo,Educação eCultura:“Senões eQuestões”
Marineide deOliveiraGomes
Psicologia emEstudo, c.5,nº 2, p.91-98,2000
O artigo objetiva situar a utilização do jogo na educação infantil, inserido no con-texto cultural dirigida à criança pequena. Para isso, recupera as funções atribuídasao jogo em nossa historia, analisa a produção de alguns brinquedos infantis usadospelas crianças brasileiras nas últimas décadas, a relação de crianças e professorescom os mesmos e a imagem de criança a eles subjacente. Aponta, como alternativacultural e educacional, o resgate dos jogos tradicionais infantis como forma deconstrução e/ou reconstrução de identidades individuais e coletivas, necessárias àformação de cidadão criativos e críticos.
Sim Critério 3
EducaçãoInfantil ePsicologia:Para quebrincar?
Eulina daRochaLordelo eAna MariaAlmeidaCarvalho
Psicologia:Ciência eProfissão /ConselhoFederal dePsicologia, 2392), p.14-21,2003
Discute-se o lugar da brincadeira no currículo da educação infantil. A partir danova LDB, coloca-se a tarefa de construir, ou reconstruir, em alguns casos,propostas de atendimento que contemplem as necessidades da criança emdesenvolvimento. A mudança constitui um problema face à tendência à aplicação,por analogia, de um modelo de instituição escolar a essa faixa etária, evidente naorganização do ambiente e das atividades proporcionadas à criança. Questiona-se avisão da brincadeira como meio através do qual a criança vai atingir objetivos esco-lares, representando uma visão de infância apenas como promessa de futuro, semimportância para o presente. Propõe-se uma orientação para a educação infantil queprivilegie um conceito de desenvolvimento como adaptação atual.
Critério 3Sim
Tí tu lo A u t o r Pub l i cação Resumo Selec ionado Cr i t é r io s
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Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68
26
3
Quadro 3 – Tema/Subtema e Perspectiva Teórica/Conceitos – ANPEPP
Lugar dabrincadeirana educaçãoinfantil
Elaboração de propostas,projetos e políticas públicasque integrem o brincarcomo atividade relevante eséria
1 Desenvolvimento a partir da visão sócio-histórica de Vygotsky como algo não-linear,fechado e previsível; importância do contexto sócio-cultural para o desenvolvimento;aprendizagem da criança beneficiada desde que haja conciliação entre propostas lúdicase pedagógicas; educador como mediador da aprendizagem da criança; brincadeira comoconstituidora do sujeito, de sua subjetividade e de seu conhecimento de mundo.
Discussão de currículos daeducação infantil na novaLDB
1 Revisão de literatura do modelo de ativação intrínseca com base em autores americanos:Deci e Ryan; Fogel, Lyra e Valsinei; e outros, pelo qual propõe-se uma leitura crítica do sócio-interacionismo de Vygotsky e a maneira como seus pressupostos de desenvolvimento eaprendizagem (construídos em uma psicologia soviética) foram transpostos para a realida-de atual; processos cognitivos são construídos num meio histórico-cultural e mediadospelos agentes sociais que interagem com os indivíduos. Desenvolvimento como processoaberto e indeterminado; importância e papel da escola na qualidade do desenvolvimento.Aprendizagem e conhecimento governados por processos tácitos e abstratos, que prevale-cem sobre o explícito e o concreto. Brincar, movimentar-se, interagir com parceiros comoações intrinsecamente motivadas no ser humano, obrigatoriedade desses comportamentosna criança é incongruente com a própria noção de motivação intrínseca.
Análise histórica da utiliza-ção do jogo na educaçãoinfantil
1 Revisão de literatura que recupera as funções atribuídas ao jogo na História, analisa aprodução de alguns brinquedos infantis usados pelas crianças brasileiras nas últimasdécadas, a relação de crianças e professores com os mesmos e a imagem de criança a elessubjacente; associação do jogo à educação; distinção entre jogo, brinquedo e brincadeira:jogo está relacionado diretamente à imagem, ao significado que lhe é atribuído pela socie-dade, compreendendo um sistema de regras, materializado ou não na forma de um objeto;brinquedo se caracteriza pela ausência de um sistema de regras, como um suporte para abrincadeira e é um real transformado a partir da imagem que o fabricante de brinquedostem de infância; brincadeira apresenta-se como a descrição de uma conduta estruturada.
Perspectiva sócio-construti-vista e sua relação compráticas pedagógicas deeducação infantil
1
Lugar dojogo naescola
Concepção de profissionaisda educação sobre a impor-tância do jogo
1 Jogo como promotor do desenvolvimento da criança e facilitador da aprendizagem esco-lar; desenvolvimento com base em autores brasileiros que têm por base teórica JeanPiaget; texto parece referir-se ao jogo sem conceituá-lo.
Te m a Subt ema Nº de Artigos Perspectiva Teórica / Conceitos
Educação na perspectiva teórica sócio-construtivista de Vygotsky como processo dinâmi-co e dialético; teoria e prática permeadas pelo contexto social, cultural, econômico e polí-tico; educação como instrumento de constituição do sujeito. Brincar é atividade funda-mental da criança e representa um espaço privilegiado de interação infantil e de constitui-ção do sujeito-criança como sujeito humano, produto e produtor de história e cultura;brincadeira como meio de constituição da subjetividade e a forma pela qual a criançacomeça a aprender; brincadeira impulsiona o desenvolvimento; brincar como importantena pré-escola, pois propicia a construção de uma identidade infantil autônoma, crítica ecriativa. Desenvolvimento como processo eminentemente social e histórico, otimizadopela aprendizagem e conduzido pela colaboração de outra pessoa mais capaz. Conheci-mento como mapeamento das ações e operações conceituais que provaram ser viáveis naexperiência do indivíduo; para ser convertido em saber, conhecimento deve ser significadopela atribuição e uso da palavra. Aprendizagem como resultado adaptativo que temnatureza social, histórica e cultural e para que ocorra é necessária uma interação decaráter formativo e proposital. Professor como mediador que promove o aprendizado e odesenvolvimento do aluno.
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Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68
26
4
Quadro 4 – Tema/Subtema e Perspectiva Teórica/Conceitos – ANPED
Educação deJovens eAdultos
Educação básica (alfabeti-zação de adultos)
2
Ler e escrever na perspectiva teórica de Jean Piaget, Emília Ferrero e Paulo Freire; ênfasena realidade e contexto dos sujeitos; suposição de que o uso de elementos ou situações davida cotidiana dos sujeitos favorece uma aquisição não mecanicista da leitura e daescrita; alfabetização e/ou aprendizagem de adultos vista como processo de aculturaçãoe letramento; ênfase nas práticas discursivas e nas diferentes possibilidades de acessoaos grupos letrados; relevância dos programas de alfabetização de agências queefetivamente contribuam para a desideologização das práticas discriminatórias.
Educação de professores 1
Reflexão teórica do iluminismo com visão histórica, crítica e dialética da sociedade eda educação; educação inserida num contexto histórico-social; professor deve estarpreparado cultural, afetiva e cognitivamente para desafios da atualidade;pós-modernidade (novos paradigmas críticos na teoria educacional, que possam darconta da heterogeneidade dos discursos pedagógicos e curriculares e da complexidade daprodução de significados nas culturas pós-modernas) como base da reflexão sobre oprofessor atual (que integra o velho e o novo); visão freireana de que o educador precisafazer do seu discurso a sua prática.
Jogo e brincadeira naeducação infantil
Práticas pedagógicas econcepções de professoresde educação infantil
1
Revisão histórica (ou historicismo) do conceito de infância e do atendimento à infância;interacionismo em oposição às leituras metafísicas e naturalistas sobre desenvolvi-mento; a partir de Rousseau, na sociedade ocidental, a brincadeira aparece como umaforma de educar as crianças através da utilização de objetos, do imaginário e do corpo econfigura-se como uma maneira de introduzir os pequenos no mundo adulto, atravésde suas imagens e suas representações.
Exploração do conceitode jogo
1Propostas deeducação in-fantil
Linguagem e formaçãode processos psicológicossuperiores
1
Revisão de literatura sobre o processo de desenvolvimento humano a partir da perspec-tiva sócio-histórica de Vygotsky, Luria, Leontiev e Yudovich com ênfase na aprendiza-gem da leitura e da escrita; brinquedo como instrumento para alcançar formas maiscomplexas de vida mental; interação com o meio permite que a criança adquira umsistema lingüístico que supõe uma reorganização de seu processo mental.
Te m a Subt ema Nº de Artigos Perspectiva Teórica / Conceitos
Revisão de literatura sobre o conceito de jogo ao longo da História, processo denominadoFilosofia Analítica; identificação do significado do jogo nos diferentes períodos históricos(Idade Média, Renascimento, Modernidade) com ênfase na concepção cultural de equipa-rar o jogo ao espontâneo, ao não-sério, à futilidade ou, ainda, reivindicar o aspecto sériodo jogo e associá-lo à utilidade educativa; identificação das relações entre jogo e educa-ção; distinção entre jogo, brincadeira e brinquedo.
Processo dea p r e n d i z a -gem na crian-ça; ênfase naleitura e naescrita
Jogo
JOGO E APRENDIZAGEM DO ADULTO
Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68
265
vida mental. Um artigo versa sobre os diferentes
significados do jogo na história, bem como sua
associação e relação com a atividade educativa e
a educação. Três artigos discorrem sobre a
importância de se considerar a educação de
adultos inserida num contexto histórico-social.
Dois artigos falam sobre a alfabetização e/ou
aprendizagem de adultos como processo de
aculturação e letramento.
No que diz respeito aos temas e subtemas
encontrados nos diferentes artigos de
periódicos da ANPED, verificou-se uma certa
heterogeneidade. No entanto, a perspectiva
teórica, apesar de diversificada, tende a adotar
uma visão histórico-dialética do processo de
aprendizagem.
Quanto à utilização de jogos/brincadeiras
como recurso educativo, três artigos discorrem
sobre a importância de se atrelar atividades
lúdicas às propostas pedagógicas da educação
infantil, não havendo nenhuma ocorrência quanto
à utilização de jogos e/ou brincadeiras na
educação de jovens e adultos, tanto nos periódicos
da ANPED, quanto nos da ANPEPP.
Podemos destacar da pesquisa realizada o fato
de que em relação ao critério de leitura referente
às propostas de educação e processos de ensino-
aprendizagem voltados para o adulto, foram
encontrados apenas três artigos dentre os
periódicos pesquisados com base na última
avaliação da ANPED. Dentre estes artigos,
percebe-se que, quando se referem ao ensino e/
ou aprendizagem de adultos, há uma tendência
de se enfocar a alfabetização. Encontra-se aí uma
discrepância em relação ao discurso das confe-
rências internacionais cujas propostas e
prerrogativas de ensino discorrem sobre a
importância de se propiciar aos indivíduos uma
constante atualização de seus conhecimentos e
habilidades.
Por um lado, podemos supor que a ênfase
dada à alfabetização de adultos reflete o atual
cenário brasileiro em que parte da população
chega analfabeta à idade adulta, o que corrobora
com o relatório da UNESCO referente à reunião
ocorrida em Bankok, em 2003, de que países em
desenvolvimento ainda continuam focados em
erradicar o analfabetismo em detrimento de
colocar em prática o paradigma da aprendizagem
ao longo da vida.
Por outro lado, há de se pensar que acepção
de aprendizagem de adultos tem sido utilizada
pelos pesquisadores, uma vez que a UNESCO
tem exposto a dificuldade em se definir o termo,
que abrange desde a aquisição da capacidade
de leitura e escrita até a educação vocacional,
entre outros.
No que diz respeito à psicologia, constata-se
que o ensino e a aprendizagem do adulto não
estão sendo discutidos, uma vez que não foi
encontrada nenhuma ocorrência dentre os
periódicos da ANPEPP.
Quanto ao segundo critério de leitura,
referente à educação para o terceiro milênio e
expectativas em relação ao homem dentro
dessas propostas, apreende-se a discrepância
entre o discurso pedagógico vigente e o que
está sendo efetivamente pesquisado e discutido
a esse respeito. Dentre os artigos selecionados
para esta pesquisa não se obteve dados que
levem a afirmar que há uma preocupação em
investigar sobre a possibilidade e métodos de
aplicação de conhecimentos científicos à
educação de adultos, bem como suas possíveis
conseqüências.
O terceiro indicador de leitura, referente aos
jogos como recurso educativo, foi o com o maior
número de ocorrências. Entretanto, todos os
artigos se referem ao jogo voltado para a educa-
ção de crianças. Dos periódicos da ANPED, três
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textos se referem à importância e/ou relevância
do uso do jogo quando do processo de ensino-
aprendizagem de crianças. Um dos textos faz
uma revisão histórica do conceito de infância e
do atendimento à infância em que a brincadeira
aparece como forma de educar as crianças
através da utilização de objetos, do imaginário
e do corpo, além de configurar-se como uma
maneira de introduzir a criança no mundo do
adulto através de suas imagens e represen-
tações. O segundo texto traz uma revisão sobre
o conceito de jogo, identificando seu significado
em diferentes períodos históricos (Idade Média,
Renascimento e Modernidade) e sua relação
com a educação. O terceiro texto refere-se ao
processo de desenvolvimento humano a partir
da perspectiva sócio-histórica de Vygotsky,
Luria, Leontiev e Yudovich em que o brinquedo
aparece como instrumento para alcançar formas
mais complexas de vida mental.
Dentre os periódicos da ANPEPP, todos os
artigos selecionados se referem ao jogo, sempre
atrelado ao universo infantil. Nota-se que os
artigos publicados em periódicos da área de
psicologia possuem uma maior uniformidade em
relação ao tema, uma vez que estão voltados à
reflexão acerca do jogo como recurso do
desenvolvimento e se propõem a pensar sua
utilização em sala de aula.
Em síntese, da leitura e análise dos artigos
selecionados, constatou-se uma certa homo-
geneidade no que diz respeito à perspectiva
teórica seguida pelos autores dos artigos dos
periódicos da ANPEPP, que tendem a adotar
uma visão histórico-social. Há, ainda, uma
tendência em se conceber o jogo como
facilitador da aprendizagem e do desenvol-
vimento infantil. Quanto aos artigos de
periódicos da ANPED, há uma maior dispersão
no que se refere ao conteúdo dos textos. Tanto
os artigos da ANPED como os da ANPEPP
não apresentaram ocorrência no que diz
respeito à utilização do jogo na educação e
aprendizagem de adultos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização da pesquisa permitiu afirmar que
apesar de a demanda atual requerer um homem
dinâmico e constantemente atualizado, e a
educação ao longo da vida estar sendo ampla-
mente discutida como a grande proposta para o
terceiro milênio, poucos estudos têm sido
efetivamente realizados neste sentido. No
universo pesquisado, apenas dois textos abordam
propostas de educação de adultos.
Quando se fala em educação e aprendizagem
de adultos ainda se tende a concentrar as
pesquisas em sua alfabetização e letramento.
Com exceção de um artigo que fala sobre o ensino
do professor, não houve ocorrências quanto à
educação e aprendizagem de adultos em outros
contextos, o que mostra não apenas a dificuldade
em se levantar dados para realizar esta pesquisa,
mas também para a seleção dos artigos
encontrados e sua posterior reflexão. Não foi
localizado qualquer artigo que versasse sobre o
uso do jogo como recurso para o desenvolvimento
e aprendizagem do adulto.
O homem de hoje não tem apenas uma relação
direta com o ato físico e concreto. As contingências
atuais demandam, cada vez mais, um homem
dinâmico que esteja constantemente atrelado a
relações mentais e abstrações. O jogo, como
propiciador de um espaço no imaginário, permite
criar um espaço para a abstração. Muito tem sido
estudado acerca do jogo como recurso pedagógico
na educação infantil e facilitador da aprendi-
zagem da criança. Piaget, Wallon e Vygotsky,
entre outros, mostraram a importância do lúdico
para o desenvolvimento e o aprendizado infantis.
JOGO E APRENDIZAGEM DO ADULTO
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Entretanto, para a realização da pesquisa não
foram encontrados estudos sobre a utilização do
jogo na educação de adultos.
Deste modo, verificou-se que embora as
propostas de educação para o terceiro milênio
tenham em seu bojo a idéia de uma educação
continuada e ao longo da vida, ainda permanece
SUMMARYAbout the possibility oh the game as mediator of adult learning
The research has as its goal to raise some thoughts about the usageof game/play as mediator of adult learning considering the new proposalsof lifelong learning and education for the third millennium, specificallyconcerning adult learning and education. It’s based on socio-historicalpsychology and on theoreticians who have considered game/play and thehuman development from a historical (Vygotsky) and dialectical (Wallon)perspective. It’s a bibliographical research that uses as a methodologicalstrategy a bibliographic uptake from articles which tittles have any sort ofreference to adult education and learning with focus on education for thethird millennium; expectations regarding mankind within these proposalsand game/play as a resource for the development expected from men in thenew millennium. Publications from 1990 were selected from periodicals whichhave been awarded with National A concept in the last evaluation fromANPED and ANPEPP. The analysis of the content found in the selectedmaterial is the resource used in order to find out some indexes about therelevance of game/play as mediator of adult learning. The results show thatthe bibliography about game/play is still not related to adult learning andeducation, indicating that the expected relations are yet to be built.
KEY WORDS: Play and playthings. Education, continuing. Adult.
a necessidade de se realizarem outras pesquisas
que possam vir a responder à questão orientadora
desta pesquisa, qual seja, a de que seria o jogo
um mediador importante para a aprendizagem
do adulto? Existe aí um amplo universo ainda a
ser explorado, seja pela psicologia, seja pela
educação.
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Artigo recebido: 25/09/2005Aprovado: 05/11/2005
Pesquisa de Iniciação Científica realizada no Cursode Psicologia com bolsa-auxílio pela Coordenadoriade Pesquisa da Universidade São Marcos no período de2003 a 2005.
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